Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
2
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas
Comissão de elaboração
Marilda Castelar Conselheira Federal Responsável
Especialistas
Ana Luísa de Araújo Dias Cecilia Maria Vieira
Clélia Prestes Zerbini Lia Vainer Schucman
Maria Aparecida Silva Bento Maria Lúcia da Silva
Elisabete Figueroa dos Santos Willivane Ferreira de Melo Luciene da silva Lacerda
Colaboradoras
Eliane Costa Glória Maria Machado Pimentel Mateus de Castro Castelluccio
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática da(o) Psicóloga(o)
Brasília, Dezembro de 2013
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
3
É permitida a reprodução desta publicação, desde que sem alterações e citada a fonte. Disponível
também em: www.cfp.org.br e em crepop.pol.org.br
1ª edição – 2013
Projeto Gráfico –
Diagramação –
Revisão – Liberdade de Expressão
Coordenação Geral/ CFP
Yvone Magalhães Duarte
Coordenação de Comunicação Social
Fernanda de Araújo Mendes
André Almeida (Editoração)
Equipe Técnica do Crepop/CFP
Monalisa Barros e Márcia Mansur Saadalah /Conselheiras responsáveis
Natasha Ramos Reis da Fonseca/Coordenadora Técnica
Klebiston Tchavo dos Reis Ferreira /Assistente administrativo
Equipe Técnica/CRPs
Renata Leporace Farret (CRP 01 – DF), Thelma Torres (CRP 02 – PE), Glória Pimentel(CRP 03 –
BA), Luciana Franco de Assis e Leiliana Sousa (CRP04 – MG), Fernada Haikal (CRP 05 – RJ),
Edson Ferreira (CRP 06 – SP), Carolina dos Reis (CRP 07 – RS), Ana Inês Souza (CRP 08 – PR),
Marlene Barbaresco (CRP09 – GO/TO), Letícia Maria S. Palheta (CRP 10 – PA/AP), Djanira Luiza
Martins de Sousa (CRP11 – CE/PI/MA), Juliana Ried (CRP 12 – SC), Katiúska Araújo Duarte (CRP
13 – PB), Keila de Oliveira (CRP14 – MS), Eduardo Augusto de Almeida (CRP15 – AL), Patrícia
Mattos Caldeira Brant Littig (CRP16 – ES), Zilanda Pereira de Lima (CRP17 – RN), Fabiana Tozi
Vieira (CRP18 – MT), Lidiane de Melo Drapala (CRP19 – SE), Vanessa Miranda (CRP20 –
AM/RR/RO/AC)
Referências bibliográficas conforme ABNT NBR 6022, de 2003, 6023, de 2002, 6029, de 2006 e
10520, de 2002.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
4
Direitos para esta edição – Conselho Federal de Psicologia: SAF/SUL Quadra 2,Bloco B, Edifício
Via Office, térreo, sala 104, 70070-600, Brasília-DF
(61) 2109-0107 /E-mail: [email protected] /www.cfp.org.br
Impresso no Brasil – Dezembro de 2013
Catalogação na publicação
Biblioteca Dante Moreira Leite
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Conselho Federal de Psicologia
Referências técnicas para Prática de Psicólogas(os) em políticas publicas de relações racias /
Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2013.
p.58
ISBN: 9788589208673
1. Psicólogos 2. Políticas Públicas 3. Relações raciais, racismo institucional
I. Título.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
5
XV Plenário
Gestão 2011-2013
Diretoria
Aluízio Lopes de Brito – Presidente
Humberto Cota Verona – Presidente licenciado
Deise Maria do Nascimento – Secretária
Monalisa Nascimento dos Santos Barros – Tesoureira
Conselheiros efetivos
Ana Luiza de Souza Castro
Secretária Região Sul
Flávia Cristina Silveira Lemos
Secretária Região Norte
Heloiza Helena Mendonça A. Massanaro
Secretária Região Centro-Oeste
Marilda Castelar
Secretário Região Nordeste
Marilene Proença Rebello de Souza
Secretária Região Sudeste
Clara Goldman Ribemboim – Vice-presidente
Conselheiros suplentes
Celso Francisco Tondin
Henrique José Leal Ferreira Rodrigues
Maria Ermínia Ciliberti
Sandra Maria Francisco de Amorim
Tânia Suely Azevedo Brasileiro
Roseli Goffman
Conselheiros suplentes
Angela Maria Pires Caniato
Márcia Mansur Saadallah
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
6
Conselheiros responsáveis:
Conselho Federal de Psicologia:
Márcia Mansur Saadalah e Monalisa Nascimento dos Santos Barrros
CRPs
Wagner Gonçalves Saltorato (CRP 01 – DF), Laís de Souza Monteiro (CRP 02 –PE), Denise Viana
Silva/ Verena Souza Souto (CRP 03 – BA), Marcus Macedo da Silva (CRP04 – MG), Analícia
Martins de Sousa (CRP 05 – RJ), Maria Ermínia Ciliberti (CRP 06 – SP), Alexandra Ximendes
(CRP 07 – RS), Liliane Ocalxuk (CRP 08 – PR), Wadson Arantes Gama (CRP 09 – GO), Maria
Eunice Figueiredo Guedes (CRP 10 – PA/AP), Aluisio Ferreira de Lima (CRP 11 – CE), Ana Maria
Pereira Lopes Lopes (CRP 12 – SC), Carla de Sant’ana Brandão Costa (CRP 13 – PB), Zaira de
Andrade Lopes (CRP14 – MS), Laeuza Farias (CRP15 – AL), Andrea dos Santos Nascimento/
Karina de Andrade Fonseca (CRP16 – ES), Julianne de Souza Soares (CRP17 – RN), Marisa
Helena Alves (CRP18 – MT) André Luiz Mandarino Borges (CRP19 – SE), Selma de Jesus Cobra
(CRP20 – AM/RR/RO/AC), Palônia Andrade Arrais (CRP21—PI), Jaqueline Lopes Teixeira
(CRP22—MA) e Jaqueline Medeiros Silva Calafate (CRP23 –TO)
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
7
APRESENTAÇÃO
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) apresenta à categoria e à sociedade o
documento Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática das (os) psicólogas
(os), produzido a partir do terceiro circuito1 da metodologia do Centro de Referência
Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop). Essa referência foi construída com
base nos princípios éticos e políticos norteadores do trabalho das (os) psicólogas (os) e
nos elementos sensíveis que perpassavam as desigualdades raciais no Brasil na
atualidade. A proposta desse documento é instalar uma reflexão sobre a atuação e
compromissos da Psicologia no campo das relações raciais e mais especificamente do
sofrimento psíquico oriundo do racismo presente na sociedade brasileira, partindo da
elaboração de diretrizes compartilhadas e legitimadas pela participação crítica da
categoria a partir de suas contribuições.
A presente referência reflete o processo de diálogo que os Conselhos vêm
construindo com a categoria, o movimento negro e a sociedade em suas diversas esferas
de manifestação, no sentido de se legitimar como instância reguladora do exercício
profissional. Por meios cada vez mais democráticos, esse diálogo tem se pautado por
uma política de reconhecimento mútuo entre os profissionais e pela construção coletiva
de uma plataforma profissional que seja também ética e política. Neste sentido, esta
publicação marca mais um passo no movimento de aproximação da Psicologia no campo
das Recentes Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
A priorização da produção de referências para atuação profissional de psicólogas
(os) surgiu a partir de uma demanda da categoria, observada no VII Congresso Nacional
de Psicologia-CNP, realizado em 2007 que sugeriu o tema para pesquisa no Crepop, no
intuito de mapear as experiências de atuação de psicólogas (os) já existentes e realizar
pesquisas acerca da presença e atuação de psicólogas (os) nas políticas públicas
dirigidas a este seguimento historicamente excluído em nossa sociedade. O Crepop após
investigar as políticas de promoção da igualdade racial, com a participação potencializada
de psicólogas (os) organizadoras (res) do I PSINEP, I Encontro Nacional de Psicólogas
(os) Negras (os) e Pesquisadoras (res) e, ao mesmo tempo a fim de incentivar a
1 O terceiro circuito consiste no processo de elaboração de referências técnicas, específicas para cada área investigada
com a participação de uma equipe Ah-doc. As referências produzidas devem considerar a realidade da prática apresentada pela investigação, mas também proporcionar o reconhecimento do melhor que pode ser feito pelos psicólogos, na direção do estabelecimento de pactos da categoria sobre o seu fazer.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
8
discussão com a categoria, o Sistema Conselhos opta por produzir uma Referência
Técnica para a prática da Psicologia no campo das Relações raciais e das recentes
Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial que se iniciam de forma mais
contundente apenas do século XXI, retomando uma etapa da metodologia do Crepop, já
antes utilizada de convocação de uma comissão Ah-doc com psicólogas (os) e
especialistas que possuem relevante contribuição nesta pauta. Espera-se contribuições
da categoria a partir de suas vivencias sugestões de formas de atuação para o
enfrentamento do racismo, nos mais diversos campos de atuação profissional.
Dessa forma, mantemos o compromisso do Conselho Federal e dos Regionais de
Psicologia ao abordar tema tão complexo e relevante para o país, de forma a qualificar
as(os) psicólogas(os) em todos os seus espaços de atuação.
ALUÍZIO LOPES DE BRITO
Presidente do Conselho Federal de Psicologia
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
9
INTRODUÇÃO
O Crepop – Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas -
O Crepop consiste em uma ação do Sistema Conselhos de Psicologia que dá
continuidade ao projeto Banco Social de Serviços em Psicologia, referindo-se a uma nova
etapa na construção da presença social da profissão de psicóloga (o) no Brasil.
Constituiu-se em uma maneira de observar a atuação da (o) psicóloga (o) e do movimento
da Psicologia no seu protagonismo social.
Nesse sentido, a ideia fundamental é produzir informação qualificada para que o
Sistema Conselhos possa implementar novas propostas de articulação política visando a
maior reflexão e elaboração de políticas públicas que valorizem o cidadão enquanto
sujeito de direitos, além de orientar a categoria sobre os princípios éticos e democráticos
para cada política pública.
Dessa forma, o objetivo central do Crepop se constituiu para garantir que esse
compromisso social seja ampliado no aspecto da participação das (os) psicólogas (os)
nas políticas públicas.
Entre as metas do Crepop, estão, também, a ampliação da atuação da (o)
psicóloga (o) na esfera pública, contribuindo para a expansão da Psicologia na sociedade
e para a promoção dos Direitos Humanos, bem como a sistematização e a disseminação
do conhecimento da Psicologia e suas práticas nas políticas públicas, oferecendo
referências para atuação profissional nesse campo.
Cabe também ao Crepop identificar oportunidades estratégicas de participação da
Psicologia nas políticas públicas, além de promover a interlocução da Psicologia com
espaços de formulação, gestão e execução em políticas públicas.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
10
Objetivo e Metodologia
O conjunto de ações em pesquisa desenvolvidas pelo Sistema Conselhos de
Psicologia, por meio do Crepop, está organizado a partir da diretriz Investigação
Permanente em Psicologia e Políticas Públicas, que consiste em pesquisar nacionalmente
o fazer das (os) psicólogas (os) diante das especificidades regionais.
A proposta de investigar a atuação de psicólogas (os) em políticas públicas
específicas visa a apreender sobre a prática profissional da (o) psicóloga (o). Todas as
áreas são eleitas a partir de critérios como: tradição na Psicologia; abrangência territorial;
existência de marcos lógicos e legais e o caráter social ou emergencial dos serviços
prestados.
A indicação para pesquisar através do Crepop a presença e as experiências de
psicólogas (os) nas políticas públicas de relações raciais como área de atuação
profissional de psicólogas (os) surgiu a partir de uma demanda da categoria observada no
VII CNP, realizado em 2010. Esse tema emergiu junto a tantos outros que apontavam
para o Sistema Conselhos a necessidade de maior qualificação e orientação para a
prática nos serviços públicos.
Um importante marco da preocupação do Sistema Conselhos com esta atuação é a
Resolução do CFP N º18/2002 que estabelece normas de atuação para psicólogas (os)
em relação ao preconceito e à discriminação racial.
Esse tema, entretanto, é emergente na Psicologia e ainda não tem políticas que
definam de forma explicita a atuação da (o) psicóloga (o). Sendo assim, este documento
foi produzido de acordo com a metodologia de elaboração de referências técnicas para
temas emergentes a partir de marcos lógicos legais das políticas já instituídas e da
reconhecida contribuição dos especialistas no campo das práticas psicológicas referente
às relações étnicas e raciais.
A proposta do Crepop de construir referência para atuação da Psicologia no campo
das políticas públicas relativas às relações raciais vem corroborar o fazer específico de
nossa profissão, dialogar com aqueles que historicamente foram excluídos e também
busca oferecer subsídios para que se reflita acerca do tema. Apontando as contradições
da Psicologia como uma ciência e que, por muito tempo, seja pela invisibilidade, ou seja,
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
11
pela cumplicidade, manteve-se alheia aos processos de exclusão e sofrimento psíquico
da população negra e afrodescendente brasileira.
Processo de Elaboração de Referência Técnica
Os Documentos de Referência são recursos que o Conselho Federal de Psicologia
oferece às (aos) psicólogas (os) que atuam no âmbito das políticas públicas como auxílio
para qualificação e orientação de sua prática profissional. Sua redação é elaborada por
uma Comissão Ad-hoc composta por um grupo de especialistas reconhecidos por suas
qualificações técnicas e científicas, por um conselheiro do CFP, mais um conselheiro do
Comitê Consultivo e uma (um) técnica (o) do Crepop. O convite aos especialistas é feito
pelo CFP e não implica remuneração, sobretudo, porque muitos desses são profissionais
que já vêm trabalhando na organização de política pública específica e recebem a
convocação como uma oportunidade de intervirem na organização da sua área de
atuação e pesquisa.
Nessa perspectiva, espera-se que esse processo de elaboração de referências
técnicas reflita a realidade da prática profissional e permita também que o trabalho que
vem sendo desenvolvido de modo pioneiro por muitas (os) psicólogas (os) possa ser
compartilhado, criticado e aprimorado, para uma maior qualificação da prática psicológica
no âmbito das Políticas Públicas (CFP, 2012).
Para construir as Referências Técnicas para Atuação da Psicologia no Campo das
Políticas Públicas de Relações Raciais, foi formada uma Comissão em 2011 com um
grupo de especialistas indicadas pelos plenários dos Conselhos Regionais de Psicologia e
pelo plenário do Conselho Federal. Assim, essa Comissão foi composta por especialistas
que voluntariamente buscaram qualificar a discussão sobre a atuação das (os) psicólogas
(os) neste campo.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
12
O Processo de Consulta Pública
A metodologia de elaboração de referências do Sistema Conselhos de
Psicologia/Rede Crepop utiliza o processo de consulta pública como uma etapa do
processo de referenciação e qualificação da prática profissional das (os) psicólogas (os)
em políticas públicas.
A Consulta Pública é um sistema utilizado em várias instâncias, inclusive
governamentais, com o objetivo de auxiliar na elaboração e coleta de opiniões da
sociedade sobre temas relevantes. Esse sistema articula representatividade e sociedade,
trazendo novas contribuições para formulação e definição de políticas públicas. O sistema
de consulta pública amplia a discussão da coisa pública, coletando de forma fácil, ágil e
com baixo custo às proposições da sociedade.
Para o Conselho Federal de Psicologia, o mecanismo de Consultas Públicas se
mostra útil por colher contribuições, tanto de setores especializados quanto da sociedade
em geral e, sobretudo, das (os) psicólogas (os), sobre as políticas e os documentos que
irão orientar as diversas práticas da Psicologia nas Políticas Públicas.
Para o Sistema Conselhos de Psicologia/Rede Crepop, a ferramenta de consulta
pública abre a possibilidade de ampla discussão sobre a atuação da Psicologia no campo
das políticas públicas de Relações Raciais, permitindo a participação e contribuição de
toda a categoria na construção sobre esse fazer da (o) psicóloga (o). Por meio da
consulta pública, o processo de elaboração do documento torna-se democrático e
transparente para a categoria e toda a sociedade.
Deste modo, faz-se urgente que as (os) psicólogas (os), entendendo a Psicologia,
enquanto ciência e profissão reflitam e posicionem-se a respeito dessa demanda
recorrente da população negra e afrodescendente. Para, não só, aprofundar seu
conhecimento sobre as questões étnicas e raciais, mas também para produzir um saber
embasado na realidade social e cultural desse seguimento social.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
13
EIXO 1: DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICO-JURÍDICA DA TEMÁTICA ESPECÍFICA EM FOCO
Compreender as relações raciais no Brasil exige contextualizar e historicizar quais
são os processos sociais, culturais, jurídicos, éticos e políticos que construíram a
sociedade brasileira e caracterizam, sobretudo, suas disparidades, desigualdades e
contradições, principalmente aquelas estabelecidas a partir da cor e/ou raça.
1. Reconhecer o problema para pensar a intervenção: O Racismo Enquanto Fato
Social
Ao discutir o racismo a partir da noção de fato social, diz-se deste, maneiras de ser
estabelecidas, ou habituadas na sociedade que afetam as ações dos sujeitos. Além de,
apresentar, como característica própria, a existência fora das consciências individuais,
são exteriores ao indivíduo, bem como se impõem a ele, independentemente da sua
vontade. Evidenciando-se frente às tentativas de se opor e resistir às forças coercitivas
(DURKHEIM, 1995).
É na resistência às convenções sociais que se torna perceptível o imperativo social
implícito nas atitudes que se tem no dia a dia. Ao perceber-se sendo discriminado,
penalizado ou apontado por um posicionamento diferente do estabelecido,
convencionado. A coerção deixa de ser sentida na habituação às convenções, quando
elas passam a ser naturalizadas nas relações sociais (DURKHEIM, 1995).
Diante de um posicionamento declarado contra o racismo, é possível que logo
manifestem questionamentos diversos acerca da conduta caracterizada como racista.
Invariavelmente, justifica-se a atitude racista por outras questões que não o preconceito e
a discriminação racial, talvez numa tentativa de que tal caracterização não seja repetida,
mantendo-se assim, a crença de que o racismo não existe ao evitar falar do assunto
(DOMINGOS, 2005; MUNANGA, 2008).
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
14
Em busca de considerar o conceito de racismo, numa perspectiva mais sociológica,
entende-se por este:
Uma ideologia essencialista que postula a divisão da humanidade em grandes
grupos chamados raças contrastadas que têm características físicas hereditárias
comuns, sendo estes últimos suportes das características psicológicas, morais,
intelectuais e estéticas e se situam numa escala de valores desiguais. Visto deste
ponto de vista, o racismo é uma crença na existência das raças naturalmente
hierarquizadas... (MUNANGA, 2003, p.6,7)
Dessa maneira, sempre existiriam raças superiores e inferiores. O estabelecimento
de critérios de elegibilidade para essa superioridade ou inferioridade pode ser arbitrário,
influenciado pelas dinâmicas sociais, culturais, econômicas e também históricas (LOPES,
2008).
Nas concepções de raça e etnia, que abrangem o aspecto social, Raça ―refere-se a
um conjunto de ascendentes e descendentes de uma família ou de um povo, os quais
conservam, por disposições hereditárias, caracteres físicos, culturais, ou outros,
semelhantes.‖ Diz-se de etnia, "um grupo ou categoria de pessoas conectadas por uma
origem comum" (ALGARVE, 2004, p.19).
Dessa forma, constata-se que a ideia de democracia racial se institucionalizou nos
contextos social, econômico e cultural da sociedade brasileira. Esta contribui para a
produção de representações sociais sobre uma convivência harmoniosa entre brancas
(os) e negras (os), ambos desfrutando de iguais oportunidades de existência. Contudo,
essas representações são puramente ideológicas, a serviço da manutenção de uma
lógica social excludente que impossibilita o tratamento adequado de problemas sociais
oriundos das relações raciais no Brasil (DOMINGOS, 2005; MUNANGA, 2008).
A crença da inferioridade das raças está enraizada na população e qualquer ação
que vai de encontro a essa crença é repreendida, como por exemplo, o número de negras
(os) na universidade que é inversamente proporcional a seu quantitativo populacional. Ao
tentar se atribuir essa realidade ao racismo surgem teorias, baseadas em casos isolados,
de que isso não é um problema social, pois, existiriam pessoas que não aptas para entrar
na universidade. Do mesmo modo, diante dos programas governamentais de reparação,
por exemplo, alguns segmentos da população logo reagem dizendo que as cotas irão
diminuir a qualidade das (os) profissionais formados, entretanto os estudos realizados por
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
15
universidades que adotaram o programa de cotas apontam o contrário (MACHADO,
2004).
Assim, o racismo é um fenômeno complexo e pode ser percebido na sociedade de
maneira mais evidente por meio das práticas discriminatórias. Estes modelos de pensar e
agir estão postos na sociedade de maneira convencional, coercitiva, de modo que negras
(os) e brancas (os) apresentam condutas que alimentam no imaginário social a
representação de superioridade entre as raças, sendo destinado a (o) negra (o) menor
importância ou valor dentro da sociedade. E, para além das atitudes preconceituosas,
com as quais o indivíduo lida constantemente, existem também os preconceitos que já
foram internalizados e não mais percebidos, como é o caso dos estigmas e estereótipos a
respeito da pessoa negra (TRINDADE; ACEVEDO, 2010).
Os estereótipos podem ser concebidos como crenças generalizadas, que, não
necessariamente têm fundamento na realidade, contudo, são resistentes a novas
informações, referem-se aos atributos pessoais de um grupo de pessoas e teriam como
função simplificar a maneira pela qual o mundo é interpretado. Ademais, o estigma pode
ser produto na sociedade da ação dos preconceitos e estereótipos sobre determinado
grupo (INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008; MYERS, 2000).
Sobre preconceito, é possível compreender seu conceito já a partir da etimologia
da palavra que:
... do latim prae, antes, e conceptu, conceito, este termo pode ser definido como o
conjunto de crenças e valores apreendidos que levam um indivíduo ou um grupo
a nutrir opiniões a favor ou contra os membros de determinados grupos, antes de
uma efetiva experiência com estes (CASHMORE2, 2000,p.196 apud ALGARVE,
2004, p.24)
Entende-se por estigma:
Um atributo que constantemente provoca descrédito sobre um indivíduo a tal
ponto de reduzi-lo e fragmentá-lo [...] carregam ou estão geralmente associados a
diversos aspectos de caráter negativo [...] são criações sociais que se originam
de atitudes carregadas de pré-conceitos de pessoas de um grupo sobre o outro...
(TRINDADE; ACEVEDO, 2010, p.56)
2 CASHMORE, E. Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus, 2000.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
16
A definição destes conceitos se faz necessária, pois, tal compreensão é
fundamental para a discussão acerca da questão racial no Brasil, tratada a seguir. E em
virtude da proposta deste guia de referência para atuação de psicólogas (os) nas políticas
de promoção da igualdade racial.
2. Movimentos Sociais e a Psicologia no Contexto das Relações Raciais Brasileira
Vale lembrar que, no Brasil, há mais negras (os) que não negras (os). No censo de
2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de
pessoas que se definiram como negras e pardas superou o de quem se autodeclarou
como branca: 50,7% e 47,7%, respectivamente. Não se trata, portanto, de uma minoria ou
de um segmento: estamos falando da população majoritária de um país.
A sociedade brasileira, especificamente entre as décadas de 1980 e 1990,
mobilizou-se e, por meio dos movimentos sociais, passou a exigir do Estado brasileiro a
criação e implementação de políticas públicas de atenção para todos os grupos
historicamente discriminados no país. Assim, os movimentos sociais proporcionaram à
sociedade a oportunidade de se organizar por novas demandas (GONH, 2002). Na forma
de um debate, estabeleceu-se, por meio desses movimentos, uma nova pauta com novos
espaços de discussão para a promoção e a defesa dos direitos humanos.
Parte dessas demandas foi absorvida pelo Movimento Negro no Brasil mesmo
antes de seu surgimento oficial no século XIX, enquanto representação da resistência
das(os) negras(os) na Pós-Abolição. Porém, somente recentemente, no século XXI, os
resultados do movimento passaram a influenciar as(os) profissionais da Psicologia e, na
atualidade, o tema ascende na Psicologia, que ganha um pouco mais de abertura para
colocar seu conhecimento cientifico e seus serviços à disposição da reflexão sobre as
Relações Raciais no Brasil, em especial, sobre o racismo ou ao que se convencionou
chamar de racismo institucional.
O termo - racismo institucional - foi cunhado e divulgado pelos ativistas integrantes
do grupo Panteras Negras StokelyCarmichael e Charles Hamilton em 1967. Define-se por
ser um racismo sistêmico, pois se constitui como um mecanismo estrutural que garante a
exclusão seletiva dos grupos racialmente subordinados - negros, indígenas, ciganos, para
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
17
citar a realidade latino-americana e brasileira da diáspora africana - atuando como
alavanca importante da exclusão diferenciada de diferentes sujeitos nesses grupos.
(BRASIL, Seppir, 2013)
Trata-se da forma estratégica como o racismo garante a apropriação dos resultados positivos da produção de riquezas pelos segmentos raciais privilegiados na sociedade, ao mesmo tempo em que ajuda a manter a fragmentação da distribuição destes resultados no seu interior. O racismo institucional ou sistêmico opera de forma a induzir, manter e condicionar a organização e a ação do Estado, suas instituições e políticas públicas – atuando também nas instituições privadas, produzindo e reproduzindo a hierarquia racial. (BRASIL, SEPPIR, 2013)
A prática de racismo institucional pode ser considerada, na atualidade, a principal
responsável pelas violações de direitos das (os) negras (os) e afrodescendentes.
Praticada em estruturas públicas e privadas do país, essa prática é marcada pelo
tratamento diferenciado, desigual, parco com negras (os) e afrodescendentes em políticas
como a de educação, trabalho e segurança pública e também nos meios de comunicação
brasileiros.
Assim, desde sempre, enfrentar o racismo de forma sistemática é central para que
o desenvolvimento do Brasil não se dê sem a conquista de fato da democracia racial.
3. A política Nacional de Promoção da Igualdade Racial
O Governo Federal, por meio da Medida Provisória Nº111/2003, convertida na lei
nº 10.678/03, criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial –
SEPPIR com status de Ministério, e instituiu a Política Nacional de Promoção da
Igualdade Racial. Considerada a primeira resposta efetiva oferecida por um governo a
uma antiga reivindicação do Movimento Negro, no sentido de implementação de uma
política específica, foi baseada, dentre outros instrumentos, na Convenção Internacional
sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação, da Assembléia Geral das Nações
Unidas, de 1965; no Documento Brasil sem Racismo, elaborado para o programa de
governo do Partido dos Trabalhadores - PT no ano de 2002; e no Plano de Ação de
Durban, produto da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial,
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
18
Xenofobia e Intolerância Correlata, ocorrida na cidade de Durban – África do Sul, em
2001.
Trata-se de uma política transversal e intersetorial, que mobiliza, além dos diversos
órgãos públicos, a sociedade civil e o setor empresarial. Sendo assim, foi elaborada
baseada em seis linhas de ação, a saber: Implementação de um modelo de gestão da
política de promoção da igualdade racial, com a preocupação de capacitar gestores e
lideranças de movimentos sociais e fortalecimento institucional da política e
aperfeiçoamento dos marcos legais; Apoio às comunidades remanescentes de quilombos,
visando o desenvolvimento das comunidades; Ações Afirmativas, referente ao incentivo a
adoção de ações afirmativas por empresas e universidades; Desenvolvimento e inclusão
social, buscando introduzir o recorte racial nos programas governamentais; Relações
Internacionais, de modo a estimular aproximação com países africanos e/ou com países
de alto contingente populacional afrodescendente; e, por fim, a Produção de
Conhecimento.
Para além das ações vinculadas diretamente a SEPPIR, outras ações e programas
ressaltam o caráter intersetorial da política, por exemplo:
A Cor da Cultura - projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira por
meio de programas audiovisuais. Parceria entre o Ministério da Educação e Cultura
(MEC), Fundação Cultural Palmares (FCP), Canal Futura, Petrobrás e Centro de
Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN). Iniciado em 2004, o projeto está
apoiado na Lei 10.639/03, que estabelece o ensino da história da África e das (os) negras
(os) nas escolas brasileiras;
Saúde da População Negra - Em 2009, através da Portaria nº992, o Ministério da
Saúde (MS) instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Entre as
diretrizes da Portaria estão a inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra
nos processos de formação e educação permanente das (os) trabalhadoras (es) da saúde
e no exercício do controle social da saúde; e o reconhecimento dos saberes e práticas
populares de saúde, incluindo aqueles preservados por religiões de matrizes africanas;
Planseq Afro-descendente – Plano Setorial de Qualificação, uma ação do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), oferece a oportunidade de qualificação para o
exercício de profissões, aprendizagem sobre a teoria e aplicação da Consolidação das
Leis Trabalhistas (CLT), os princípios de Segurança no Trabalho e Noções de Cidadania.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
19
Tem foco em cinco eixos do setor de serviços: curso de operadora (or) de telemarketing,
consultora (or) de vendas, recepcionista, promotora (or) de vendas e cuidados de pessoas
com anemia falciforme;
Planseq -Trabalho Doméstico e Cidadão (TDC) :Desenvolvido em parceria entre
a SEPPIR o MTE e a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas, trata-se da
primeira iniciativa de governo exclusivamente voltada para a qualificação social e
profissional das (os) trabalhadoras (res) domésticas (os). Além de oferecer qualificação
social e profissional, o TDC abrange questões fundamentais para o exercício da cidadania,
como a elevação de escolaridade, o fortalecimento da auto-organização das (os)
trabalhadoras (res) domésticas (os) e o desenvolvimento de projetos para intervenção em
políticas públicas.
PIBIC Ações Afirmativas – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC). O Ministério da Ciência e Tecnologia, através do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) assinou, em 2009, um acordo de
cooperação com a SEPPIR para a distribuição de bolsas a alunos que entraram nas
universidades públicas através do sistema de ações afirmativas. O objetivo é estimular a
renovação acadêmica e enfrentar a evasão escolar.
Programa Brasil Quilombola (PBQ): a partir do Decreto Nº 6.261/2007 reúne
ações do governo federal para as comunidades remanescentes de quilombos. As metas e
recursos do PBQ envolvem 23 ministérios e órgãos federais. Dentre as principais
realizações estão: Regularização Fundiária, Certificação, Luz para Todos, Bolsa Família,
Desenvolvimento local, Desenvolvimento agrário.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
20
4. Alguns Marcos Lógicos, Legais e outros Documentos
Marcos Lógicos
Nº PUBLICAÇÃO ANO EMENTA / LINK
01
Mapa da
População
Negra
2000
Estudos sociodemográficos e análises espaciais referentes aos municípios com a
existência de comunidades remanescentes de quilombos. Confira também o mapa da
distribuição espacial da população segundo cor ou raça- Pretos e Pardos – 2000.
LINK: http://www.seppir.gov.br/publicacoes/mapaibge.pdf
02 Declaração
de Durban 2001
Declaração e Programa de Ação adotados na III Conferência Mundial de Combate ao
Racismo, Discriminação Racial, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata.
Serviu para reforçar o compromisso das nações em torno do cumprimento da Declaração
e Plano de Ação de Durban, com o revigoramento das ações e iniciativas e soluções
práticas no combate ao racismo.
LINK: http://www.inesc.org.br/biblioteca/legislacao/Declaracao_Durban.pdf/
03
Programa
Brasil
Quilombola
2004
Programa Brasil Quilombola, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial – SEPPIR, que se constitui em uma política de Estado para atenção e
cuidado às áreas remanescentes de Quilombos.
LINK: http://www.seppir.gov.br/publicacoes/brasilquilombola_2004.pdf
04
Política
Nacional de
Saúde
Integral da
População
Negra
2007
Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, da Secretaria Especial de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, que define os princípios, a marca,
os objetivos, as diretrizes, as estratégias e as responsabilidades de gestão, voltados para
a melhoria das condições de saúde desse segmento da população.
LINK:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacao_negra.pdf
05
Plano
Nacional de
Promoção da
Igualdade
Racial
(Planapir)
2009
Idealizado em 2005, com base nas propostas apresentadas na I Conferência Nacional de
Promoção da Igualdade Racial (Conapir), o Plano indica ao Estado as metas para
superar as desigualdades raciais existentes no Brasil, por meio da adoção de políticas de
ações afirmativas, associadas às políticas universais.
LINK: http://www.seppir.gov.br/planapir
06
Relatório de
Avaliação do
Plano
Plurianual
(PPA) 2008-
2011
2011
A contínua melhoria da qualidade de políticas públicas e sua efetividade junto à
sociedade é um princípio que eleva os desafios para a gestão pública e ressalta a
importância da avaliação da ação governamental. Nesse sentido, os resultados
apresentados no Relatório de Avaliação do PPA 2008 – 2011 devem ser debatidos, de
modo a permitir o avanço da democracia na interação entre o Estado e a sociedade.
LINK: http://www.cgu.gov.br/publicacoes/AvaliacaoPPA/index.asp
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
21
Marcos Legais
Nº PUBLICAÇÃO ANO EMENTA / LINK
01 Decreto nº
65.810 1969
Promulga a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.
LINK: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836
02
Constituição
da República
Federativa do
Brasil
1988 Art. 5º da Constituição Federal: Decreta a prática do racismo como crime inafiançável e imprescritível.
LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
03
Constituição
da República
Federativa do
Brasil
1988
Art. 68 ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias) da Constituição Federal: Garante às comunidades remanescentes de quilombos o título definitivo das terras que ocupam.
LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm#adct
04 Lei nº 7.716 1989
Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.
LINK1: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm
LINK2: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/Mensagem_Veto/anterior_98/VEP-LEI-7716-1989.pdf
05 Lei nº 9.459 1997
Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor, e acrescenta parágrafo no art. 140 do decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940.
LINK: http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/legis04.pdf
06 Lei nº 10.639 2003 Inclui nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira" no currículo oficial da Rede de Ensino.
LINK: http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/legis05.pdf
07 Decreto nº
4.886 2003 Institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PNPIR.
LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/D4886.htm
08 Decreto nº
4.887 2003
Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos Quilombos.
LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2003/d4887.htm
09 Lei nº 10.678 2003 Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras providências.
LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.678.htm
10
Decreto s/nº,
de 08 de
Novembro de
2005
2005
Institui o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) para elaborar proposta de formulação do Plano Nacional de Políticas de Promoção de Igualdade Racial, e dá outras providências.
LINK: http://www.sintese.com/norma_integra.asp?id=2287
11 Decreto nº 2007 Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
22
6.040 LINK: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6040.htm
12 Decreto nº
6.261 2007
Dispõe sobre a gestão integrada para o desenvolvimento da Agenda Social Quilombola no âmbito do Programa Brasil Quilombolas, e dá outras providências.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/ D6261.htm
13
Decreto de 7
de Novembro
de 2008
2008 Dá nova redação ao art. 1o do Decreto de 19 de outubro de 2007, que convoca a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil03/Ato2007-2010/2008/Dnn/Dnn11824.htm
14 Decreto nº
6.509 2008
Dá nova redação a dispositivos do Decreto no 4.885, de 20 de novembro de 2003, que dispõe sobre a composição, estruturação, competências e funcionamento do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial - CNPIR, e dá outras providências. LINK:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Decreto/D6509.htm# art2
15 Decreto nº
6.872 2009
Cria o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir). Após ser pactuado em praticamente todos os ministérios civis, sob a coordenação da Casa Civil e da Secretaria Adjunta da Seppir, o Planapir foi publicado em decreto do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6872.htm
16 Lei nº 12.288 2010
Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Altera as Leis nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989; nº 9.029, de 13 de abril de 1995; nº 7.347, de 24 de julho de 1985; e nº 10.778, de 24 de novembro de 2003.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm
17 Lei nº 12.314 2010
Altera as Leis nº 10.683, de 28 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios; 8.745, de 9 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a contratação por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público; e de 8.029, de 12 de abril de 1990, que dispõe sobre a extinção e dissolução de entidades da administração pública federal; revoga dispositivos da Lei nº 10.678, de 23 de maio de 2003; e dá outras providências.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/ l12314.htm
18 Decreto nº
7.261 2010
Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República, e dá outras providências.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7261. htm
19 Lei nº 12.519 2011
Institui o dia 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (BRASIL, 2011). O reconhecimento, em 2012, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como prática constitucional a adoção da política pública de cotas para negros nas universidades públicas brasileiras.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12519.htm
20 Lei nº 12.391 2011
Inscreve no livro dos Heróis da Pátria os nomes dos heróis da “Revolta dos Búzios” - João de Deus do Nascimento, Lucas Dantas de Amorim Torres, Manoel Faustino Santos Lira e Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga.
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12391.htm
21 Lei nº 12.735 2012 Tipifica condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, que sejam praticadas contra sistemas informatizados e similares; e dá outras providências.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
23
LINK:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12735.htm
Resoluções
5. Serviços e Dispositivos
Tendo em vista o caráter intersetorial, Todas as ações da SEPPIR estão vinculadas a
outros programas e ministérios. Não havendo serviços específicos.
Apesar do número de ações efetivamente relacionados à política ser pequeno a
incorporação desta em outros setores é facilmente percebida, bem como a contribuição
da sociedade civil no incentivo e implementação das ações.
Entretanto, foram identificados núcleos, centros de estudo e pesquisa, alguns ligados
a universidades federais e estaduais, com atividade de estudo e produção de
conhecimento sobre a diversidade étnico-cultural.
Neste sentido é importante destacar o Encontro Nacional de Psicólogos (as)
Negros(as) e Pesquisadores - PSINEP, que a partir de articulações iniciadas,
oficialmente, no ano de 2008, um grupo de psicólogos (as), pesquisadores (as) da
temática racial e ativistas de organizações do movimento social brasileiro organizou o I
PSINEP ocorrido em outubro de 2010 e antes foram realizados seis encontros
preparatórios em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Salvador, Brasília e São Paulo.
Nº PUBLICAÇÃO ANO EMENTA / LINK
01 Resolução
CFP n.º 18 2002
Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação ao preconceito e à discriminação racial.
LINK: http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2002/12/ resolucao 2002_18.PDF
02 Resoluções
da II Conapir 2009
Propostas aprovadas durante a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
LINK: http://www.seppir.gov.br/publicacoes/iiconapir.pdf
03 Resoluções
da III Conapir
2013 Propostas aprovadas durante a III Conferência Nacional de
Promoção da Igualdade Racial.
LINK
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
24
O Encontro contou com a adesão do Sistema Conselhos de Psicologia, apresentando
resultados significativos para a construção de estratégicas, ações e conhecimentos
acerca do impacto do racismo na construção da subjetividade dos brasileiros e rompendo
com as ideias superficiais na Psicologia sobre as relações raciais no Brasil. Deste modo,
e dando visibilidade ao papel da Psicologia para a concretização de uma sociedade justa
democrática e livre do racismo.
Um dos importantes desdobramentos deste encontro foi a criação da Articulação
Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) de Relações Raciais e
Subjetividades – ANPSINEP, e tem como missão de ―Articular a produção de
conhecimento e a ação política, no campo da Psicologia, sobre o impacto do racismo na
construção das subjetividades e nas relações raciais”. E organizar outros encontros
nacionais, como o II PSINEP previsto para 2014.
6. Espaços para atuação de psicólogas (os):
Em relação à atuação da (o) psicóloga (o) é identificada, com raras exceções, uma
indefinição do fazer nestas políticas. Muitas (os) destas (es), apesar de realizarem
atividades propostas na Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, nos espaços
de atuação, não visualizam o seu fazer como contemplando tais ações e sim como algo
que faz parte da rotina de trabalho considerando a realidade da população usuária dos
serviços públicos, na sua maioria afrodescendentes.
Não fica explicito, dentro dos programas, ações de intervenção social, mas sim, ações
de cunho estratégico, logo as (os) psicólogas (os) não estão alocados de forma definida
nos programas.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
25
6.1 Alguns aspectos importantes na atuação de psicólogas(os) nos campos tradicionais:
Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) e a Reforma Psiquiátrica da Saúde Mental vêm
sendo constantemente ameaçados, por equipes descomprometidas com as reformas, e
lutas sociais históricas que os originaram. Na formação e na educação permanente dos
profissionais ―psi‖ o Plano Nacional de Saúde Integral da População Negra precisa ser
estudado e incorporado. A tarefa é identificar práticas, processos e métodos culturalmente
apropriados para a cura/tratamento da saúde da população negra – terapia pos-
colonialista. A categoria de análise cor/raça deve ser considerada como componente
importante dos determinantes sociais da saúde e o quesito cor/raça nos sistemas de
informação de saúde precisam ser tratados e estarem presentes na organização dos
serviços de saúde e nas ações de promoção e prevenção. (AKINYELA, 2002)
Educação
No contexto da educação brasileira temos a conquista da Lei 10.639 de 21 de
março de 2003 que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana em todas as escolas públicas e particulares. Essa lei é acompanhada do Parecer
CNE/CP 003/2004 que orienta diretrizes nacionais para a educação das relações
etnicorraciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Este Parecer
é um importante documento que foi redigido após ampla consulta nacional ao Movimento
Negro e contém conceitos importantes relacionados a políticas de reparação, de
reconhecimento e de valorização de ações afirmativas; e ao que significa educar para as
relações etnicorraciais, apresentando princípios para esta, sendo: consciência política e
histórica da diversidade, fortalecimento de identidades e de direitos, ações educativas de
combate ao racismo e a discriminações. Os profissionais ―psi‖ tem papel fundamental na
transformação destes processos educativos, pois eles estão intimamente relacionados à
identidade social e cultural do povo brasileiro como um todo.
Assistência Social
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
26
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) foi construído olhando-se para o
SUS, é importante que os profissionais da Psicologia atuantes no SUAS estejam atentos
aos caminhos da política pública. Considerando a temática racial e/ou da população negra
e afrodescendente. Pois, é essa população, a (o) principal beneficiária (o) do sistema.
Psicólogas (os) que atuam nos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), em
especial o CRAS Quilombola, os Centros de Referência da Assistência Social
Especializada (CREAS), com destaque para o CREAS População em situação de Rua,
precisam identificar (assim como vem fazendo a Educação e a Saúde) o perfil da
população atendida e organização do atendimento em consonância com a especificidade
desta.
Nas organizações/instituições/empresas
Embora as organizações/instituições/empresas proclamem suas intenções de não
discriminar; o que se entende é que é necessário criar procedimentos e normas
administrativas para prevenir a ocorrência da discriminação e promover ações que
busquem corrigir as desigualdades e garantir a igualdade de oportunidades e tratamento
no trabalho.
A (O) psicóloga (o) organizacional e do trabalho são figuras fundamentais neste
contexto, no sentido de que podem desenvolver um papel estratégico na promoção da
igualdade racial no trabalho já que frequentemente atuam como mediadores nas relações
que se estabelecem entre empregadoras (es) e trabalhadoras (es).
As recentes mudanças no mundo do trabalho, as novas formas de organização, a
reestruturação produtiva e a globalização colocam novos desafios para as instituições
ligadas ao mercado de trabalho, principalmente no que diz respeito a processos de
exclusão de grupos que se tornaram vulneráveis ao longo da história. No entanto,
prevalece ainda uma grande dificuldade para a abordagem das desigualdades raciais.
Não raro, o termo diversidade é utilizado pelas instituições do Estado e pelas (os)
empregadoras (es) para relativizar e evitar o enfrentamento da discriminação racial.
Assim, é fundamental focalizar, compreender e problematizar o trabalho da (o)
psicóloga (o) organizacional e do trabalho e no interior das organizações. Ademais, o
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
27
desafio do enfrentamento ao racismo institucional está posto às políticas públicas e
também à atuação da psicologia.
Contudo, fica o questionamento: como partir ao enfrentamento desse complexo
quadro? Como avançar concretamente na superação do racismo e das desigualdades
raciais? Como a atuação da Psicologia por meio da sua entrada cada vez maior nas
políticas públicas pode contribuir a esse processo?
Sem dúvida, há um grande desafio pela frente, mas que deve ser tomado como
elemento primordial na construção de uma sociedade mais justa e verdadeiramente
equânime.
EIXO 2: O RACISMO INSTITUCIONAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS
1. O Racismo Na Sociedade Brasileira
O Brasil, última nação das Américas a abolir a escravidão, manteve o regime
escravocrata por mais de 300 anos em vigor usando a mão de obra das (os) negras (os)
trazidos do continente africano.
Estes uma vez separados de seus laços de relações pessoais, desconhecedores da
língua e dos costumes da nova terra, passaram a ser entendidos como propriedade, uma
peça ou coisa, perdendo sua origem. Assim, se produziu e disseminou uma imagem da
(o) negra (o) desumanizada e destituída de identidade (SCHWARCZ, 2001; INSTITUTO
AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008).
Ao fim do processo de escravização, a (o) negra (o) é submetido a outras
circunstâncias não menos devastadoras para sua subjetividade como, por exemplo, a
exclusão do processo produtivo a partir da abolição da escravatura. A abolição promoveu
uma situação social onde foram reforçados estigmas e estereótipos sobre a figura da (o)
negra (o), tais como: pecadoras (es), desprovidas (os) de inteligência, desordeiras (os),
maliciosas (os), sujas (os), animais, entre outros, que se propagaram na sociedade.
Concomitantemente, uma série de novos modelos teóricos internacionais negava a
igualdade e a transformavam em matéria de utopia. Portanto, passou-se a divulgar teorias
racistas em que as desigualdades sociais eram naturalizadas, tendo por base uma ciência
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
28
positiva e determinista (SCHWARCZ, 2001; INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE,
2008; TRINDADE; ACEVEDO, 2010).
Dessa maneira, a concepção de raça era introduzida a partir de uma perspectiva
biológica da época e a definição dos grupos reconhecidos como superiores em função de
características e aparência físicas, garantindo a esse grupo a condição de humano, de
sujeito de direitos, que pode exercer sua cidadania.
Assim, diante da promessa de uma igualdade jurídica, que colocaria as (os) negras
(os) numa condição de cidadãos, que até então lhe havia sido negada, a resposta foi a
comprovação científica da desigualdade biológica entre os homens, justificando a
escravidão a partir de uma suposta inferioridade do negro e a crença na supremacia de
um grupo sobre o outro sustentada pela ciência do século XIX. (SCHWARCZ, 2001;
INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008; TRINDADE; ACEVEDO, 2010).
Entretanto, no Brasil, a miscigenação foi vista como uma solução para o que se
considerava o fracasso do país, devido ao número de negras (os) que aqui existiam. As
teorias serviram para explicar a desigualdade social como resultado da inferioridade racial
e apostaram numa miscigenação positiva.
A partir da segunda metade do século XIX, há uma entrada maciça de imigrantes
brancas (os), dando corpo no Brasil a um pensamento bastante particular que descobre
no cruzamento entre as raças a possibilidades de branqueamento. Dessa forma,
paralelamente ao processo que culminaria com a libertação das (os) escravas (os),
iniciou-se uma intensa política de incentivo à imigração européia (SCHWARCZ, 2001;
CARONE, 2009; MUNANGA, 2008).
A abolição se realizou a partir de três grandes leis abolicionistas; Ventre Livre
(1871), Sexagenários (1885) e Áurea (1888), cronologia revela o andamento moderado do
processo. Contudo, antes da Lei Áurea, que aboliu a escravidão, muitos já haviam
concretizado sua liberdade. Neste processo de libertação dos negros escravos não se
previam projetos de incorporação da mão-de-obra e nem ressarcimento (SCHWARCZ,
2001).
O resultado foi jogar essa imensa população, num processo de competição desigual,
com a mão-de-obra imigrante e branca. Ademais, ao invés do estabelecimento de
ideologias raciais oficiais, passou a ser projetada uma imagem de democracia racial,
ocultando a violência que foi o processo de escravidão no Brasil, bem como das diversas
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
29
revoltas e revoluções lideradas ou realizadas com a colaboração das (os) negras (os)
(SCHWARCZ, 2001; HOFBAUER, 19993 apud TRINDADE; ACEVEDO, 2010).
Nesse contexto, não se percebiam no país manifestações de conflito étnico ou
regional, além de nenhuma medida racial oficial ter sido instituída até aquela época.
Porém, cresciam os argumentos favoráveis ao branqueamento, reforçados por uma
pressão cultural exercida pela elite branca colonizadora que de forma imperativa estavam
colocados como ideal de ser humano branco e cristão, restando ao negro a negação da
sua própria existência. Assim, a inexistência de categorias explícitas de dominação racial
incentivava ainda mais o investimento na imagem oficial de um paraíso racial e na
recriação de uma história em que a miscigenação apareceria associada a uma herança
portuguesa e a sua suposta tolerância racial manifesta num modelo escravocrata mais
brando (SCHWARCZ, 2001; DOMINGOS, 2005; CARONE, 2009).
Diferentemente do que aconteceu em outros países que escravizaram os negros, a
abolição da escravidão no Brasil foi transmitida historicamente como um presente por
parte do grupo dominante, naturalizando uma hierarquia social e a aceitação da existência
de diferenças raciais e biológicas entre os grupos. A cultura da miscigenação trouxe
consigo a lógica de que quanto mais branco, melhor, superior. Ser branco passa a ter
peso de status social, atributo de valor relevante na sociedade. Com o passar dos anos,
vão se criando novas formas de manutenção desse pensamento, porém, de forma
subentendida, tornando cada vez mais difícil revelar o problema para encarar a situação
(SCHWARCZ, 2001; BENTO, 2009).
As manifestações racistas cotidianas são veladas e a diversidade dos seus impactos
na vida de negras (os) e brancas (os) é ocultada numa tendência a fugir ou esquecer as
condições de discriminado e de discriminador vivenciadas pelos sujeitos.
A institucionalização dessa prática pode ser observada em questões históricas das
políticas de saúde nas quais se refletem essas desigualdades, a partir de dados
epidemiológicos que evidenciavam a diminuição da qualidade e da expectativa de vida da
população negra, tanto pelas altas taxas de morte materna e infantil, como pela violência
vivenciada, de forma mais intensa, por esse grupo populacional.
O racismo institucional possibilita a não percepção real do racismo, muitas vezes
3 HOFBAUER, A. Uma história de branquitude, ou o negro em questão. Tese (Doutorado em Ciência Social)- Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1999.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
30
embutido nas instituições públicas e privadas, sobretudo porque o Brasil constituiu-se
sobre o mito da democracia racial 4 , ou seja, sobre a naturalização da ideia de que
vivemos em uma sociedade integrada e igualitária, sem diferença de tratamento entre
negros e brancos. Esse mito se consolida juntamente com a negação da existência do
racismo, pois não se fala de algo que não existe.
A máxima da democracia racial torna-se amplamente difundida, seja na imprensa ou
na produção literária como em certas obras de Monteiro Lobato que, desde o início do
século XX, como uma das mais bem sucedidas políticas culturais de inibição das
manifestações contra essas ações discriminatórias.
Desse modo, pesquisadores como Hasenbalg (1979/2005), Hasenbalg e Silva
(1988), Guimarães (1999/2009), Bento (2002) e Telles (2003) ratificam que o racismo
institucional é um reflexo do processo histórico de desigualdade vivido cotidianamente
pelas (os) negras (os) e afrodescendentes no Brasil e está intrinsecamente associado ao
racismo.
Para tais autores, o racismo, institucional ou não, estrutura o Estado brasileiro. Ele é
um dos principais organizadores das desigualdades materiais e simbólicas vividas pelo
povo brasileiro. Ele estrutura as condições e possibilidades de trabalho, de estudo, de
vínculo (incluindo o casamento e os vínculos amistosos), de liberdade, de lugar (ou não
lugar) onde morar, a forma de morrer etc. Afeta a possibilidade de as (os) negras (os)
garantirem o presente, planejarem o futuro, realizarem sonhos, satisfazerem
necessidades. Também afeta as condições materiais e simbólicas das (os) brancas (os),
que, de maneira geral, usufruem das situações mais privilegiadas.
Considerar as relações raciais no Brasil é certamente um tema que traz à tona
muitas discussões. O debate racial neste país passa pela trajetória histórica, desde o
período da escravidão, seguindo na constituição da população brasileira marcada pela
miscigenação racial. A construção racial foi, nos diferentes momentos da história, sendo
perpassada, moldada e também reproduzida por participações de diversos segmentos,
como academia, movimentos sociais e também do Estado, particularmente por meio das
políticas públicas.
4 Mito da Democracia Racial: Termo utilizado por Gilberto Freire em sua obra Casa Grande e Senzala.
Também utilizado por Florestan Fernandes ao se reportar ao trabalho de Gilberto Freire.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
31
2. Políticas Públicas em meio ao Racismo institucional
Tem-se, aqui, a noção de políticas públicas como meios fundamentais do alcance do
Estado a toda população, primando pela garantia de direitos fundamentais como saúde,
educação, habitação, lazer, cultura, segurança e assistência social. As políticas públicas
estão pautadas na democratização de recursos e enfrentamento das desigualdades,
melhorando as condições de vida dos cidadãos. Contudo, o racismo presente na
sociedade brasileira impacta também no nível das políticas públicas, por meio do
chamado racismo institucional (RI).
Cunhado na década de 60, nos Estados Unidos, o conceito de racismo institucional
(RI) destaca a falha do Estado em prover assistência igualitária devido à origem étnica,
cor e cultura de determinados grupos. Desse modo, o RI expõe e mantém determinados
grupos, como negros e índios, em condições desfavoráveis de vida, bem como em
menores condições de acesso a serviços e pior qualidade de assistência.
O racismo institucional pode ser evidenciado por meio de duas dimensões
interdependentes de análise: a dimensão político-programática e a dimensão das
relações interpessoais.
A dimensão político-programática está relacionada a ações amplas, voltadas à
coletividade, cujo impacto no sujeito é posterior à ação maior, como consequência desta.
Refere-se a prioridades e escolhas de gestão que privilegiam ou negligenciam
determinados aspectos, infligindo condições desfavoráveis de vida à população negra
e/ou corroborando o imaginário social de inferioridade. Desse modo, fazem parte dessa
dimensão:
- A forma submissa e caricaturada como as (os) negras (os) do período colonial são
retratados nos livros escolares. O não reconhecimento das (os) líderes e das diversas
formas de resistência negra à escravização e a não consideração destes como parte
relevante do conteúdo a ser trabalhado nas aulas de história.
- O não investimento no combate de doenças e agravos mais prevalentes na
população negra, levando a alta morbimortalidade por condições que poderiam ser
evitadas por meio de políticas públicas eficazes.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
32
- A manutenção da percepção errônea e limitada da cultura negra como folclore, não
valorizando a relevante contribuição dessa população à cultura brasileira.
Já a dimensão das relações interpessoais destaca as formas de se relacionar
estabelecidas entre as diversas pessoas envolvidas nas políticas públicas. Inclui a relação
entre gestores e profissionais, entre profissionais e usuárias (os) e entre os próprios
profissionais. São ações diretas, voltadas a sujeitos, apresentadas como descrédito,
desmerecimento e desvalorização daquelas (es) atrizes (atores) sociais devido a sua
cor/origem étnicarracial. Assim, profissionais negras (os) são considerados menos
competentes e usuárias (os) negras (os) são percebidos como problema ou não recebem
o mesmo tratamento que usuárias (os) brancas (os). São exemplos dessa dimensão:
- Crianças negras na escola são consideradas crianças ―problema‖, tendo menor
investimento por parte de educadores.
- A não qualificação da existência de um sofrimento psíquico oriundo do racismo
acarreta a culpabilização da pessoa negra em processos terapêuticos.
- Hesitação/recusa de usuárias (os) em ser atendidos por profissionais negras (os).
- Consultas de mulheres negras em serviço de saúde durar menos que consultas de
mulheres brancas.
- Profissionais em cargos de chefia indicarem que profissionais negras (os) devem
prender o cabelo quando a função realizada não exige cabelo preso e outros profissionais
não negras(os) não recebem a mesma orientação.
- Agentes de saúde com atribuições de realizar visita domiciliar não entrar em
terreiros de religiões de matriz africana, não atendendo à população que ali reside.
O tratamento diferenciado não é explicitamente atribuído à cor da pele e à origem
étnicarracial. De modo geral, as pessoas costumam negar que a raça/cor seja o motivo
das atitudes em questão. Contudo, a sistemática com que essas situações ocorrem, bem
como, a ausência de outros fatores que possam explicar a situação, torna o quadro
bastante visível. È necessário fazer uma reflexão, considerar as pessoas brancas que são
atendidas/trabalham no mesmo serviço e perceber como o processo se desenvolve com
elas, se as mesmas atitudes e tratamentos diferenciados também ocorrem, se a
percepção negativa também está presente. Dada a não verbalização, a expressão do RI
na dimensão pessoal nem sempre é fácil de perceber, até mesmo pela vítima, mas, em
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
33
maior ou menor grau, tem impacto negativo sobre o sujeito que é vítima da violência, que
pode se sentir diminuído, constantemente desafiado e humilhado.
No caso das (os) usuárias (os), por ter a sensação de que não é bem recebido, a
reação pode ser não buscar mais o serviço, evadir-se da escola, não procurar mais
atendimento nas Unidades de Saúde ou Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS), entre outros. Portanto, combater o racismo institucional, particularmente na
dimensão interpessoal, está diretamente relacionado a acolhimento e humanização da
assistência, temas tão caros a atuação das (os) psicólogas (os).
A Psicologia está presentes em muitos campos de atuação profissional com equipes
multiprofissionais de saúde, educação, assistência, segurança, judiciário, sistema
prisional, trânsito, cultura, esporte, trabalho, pesquisa etc. Mas é importante sempre nos
questionarmos acerca de: com que compromisso social? Utilizando quais princípios e
teorias? Preparados para uma atuação inclusiva de fato? Como são abordados os mais
diversos sofrimentos psíquicos? Quais as ferramentas que disponíveis para a intervenção
no campo das relações raciais nos mais diversos contextos? Para então, desse modo,
continuar avançando na construção da Psicologia enquanto ciência e Profissão.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
34
EIXO 3: PSICOLOGIA E A ÁREA EM FOCO
Contribuições Históricas da Psicologia com as Relações Raciais
A discussão sobre das relações raciais teve importância fundamental na formação
da autoimagem brasileira, sendo recorrente nas produções sociológicas e literárias a
partir da segunda metade do século XIX: o Brasil se definia pela raça. A partir de 1870,
foram introduzidas no Brasil, ideias tais como o positivismo, o evolucionismo social e o
darwinismo [social] que seriam utilizados como importantes aportes teóricos para a
construção das teorias sobre a relação entre raça e alienação mental (ODA, 2001).
A Escola Nina Rodrigues, Afrânio Peixoto, Arthur Ramos - para citar os mais
importantes - são os principais pensadores do ideário eugenista e também higienista,
aplicado ao Brasil no século XIX e primeira metade do século XX e incluem, em suas
teorias, a ideia de degenerescência racial, introdução do elemento europeu para
melhoramento racial e a criação das instituições totais para segregação das pessoas
consideradas não normais.
O exemplo da Escola Nina Rodrigues, que se autorretratava como um grupo de
intelectuais lutando pela implantação do progresso científico no país deixava implícita a
visão da ciência como anjo tutelar da sociedade (CORRÊA, 2001).
Assim como Nina Rodrigues, Arthur Ramos teve suas ideias fundamentadas no
pensamento racial europeu, instrumental, conservador e autoritário, que definia identidade
nacional respaldando-se nas hierarquias sociais já bastante cristalizadas do Velho Mundo,
pensando a nação brasileira em termos raciais, antes mesmo de ser pensada em termos
de cultura ou economia (MENEZES, 2002).
Desse modo, formaram-se os Serviços de Higiene Mental, os Centros de
Orientação Infantil e Juvenil e dos Setores de Psicologia Clínica das décadas seguintes.
Nesse sentido, vale lembrar que o ―espaço psi‖, que se estrutura no Brasil nos anos 30,
40, e 50 do século XX é feito em cima da ―carência‖, da ―falta‖ das crianças ―problemas‖,
das crianças com ―dificuldades‖ de aprendizagem e/ou emocional‖ (COIMBRA, 1995;
PATTO, 1990).
Vale lembrar, ainda, que a lei que dispõe sobre os cursos de formação em
Psicologia e regulamenta a profissão de psicóloga (o) (Lei nº 4.119/62) em seu artigo 13,§
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
35
1º afirma que:
Constitui função privativa da (o) Psicóloga (o) a utilização de métodos e técnicas psicológicas com os seguintes objetivos: a) diagnóstico psicológico; b) orientação e seleção profissional; c) orientação psicopedagógica; d) solução de problemas de ajustamento.
Embora essas práticas mencionadas acima continuem coexistindo em muitos
campos de atuação profissional. Muitas mudanças que se processaram na Psicologia e
em suas práticas avançaram desde então.
Dentre os movimentos de mudança da Psicologia, mas relacionados a este
contexto destacam-se: Nos anos 70 e 80, o Sistema Conselhos de Psicologia se engajou
no Movimento de Reforma Sanitária; nos anos 80 e 90, Movimento da Reforma
psiquiátrica e Luta Antimanicomial. Ainda nos anos 90 surgem mudanças significativas da
Profissão no Sistema Conselhos, instituindo o compromisso social da Psicologia - por
uma profissão diferente, é criada uma Comissão de Direitos Humanos no CFP e nos CRs.
Em 2000 e 2001, respectivamente, o Conselho Regional de São Paulo - CRPSP lança
duas publicações que introduzem no Sistema Conselhos a discussão sobre as ações
afirmativas e o debate sobre a inclusão no trabalho e os exemplos dos projetos de
Diversidade no Trabalho5. Em 2002, a Comissão Nacional de Direitos Humanos lança a
campanha ―O Preconceito Racial Humilha, A Humilhação Social Faz Sofrer‖ que propõe
pela primeira vez um debate nacional sobre o racismo no âmbito do Sistema Conselhos.
Neste mesmo ano é realizado o concurso de artigos e também pela primeira vez a revista
Ciência e Profissão publica um número especial sobre Relações Raciais.
E também como resultado dessa reflexão, o CFP publica a Resolução nº18/2002,
estabelece normas de atuação para as (os) psicólogas (os) em relação ao preconceito e à
discriminação racial. E, no ano seguinte, a Comissão de Direitos Humanos publica um
documento intitulado ―Os Direitos Humanos na prática profissional dos psicólogos‖ (2003).
A partir das palestras do Seminário Nacional da Comissão de Direitos Humanos, foi
publicado o livro da Comissão de Direitos Humanos ―Psicologia e Direitos Humanos:
subjetividade e exclusão‖ (2002). Fruto desse processo de discussão, em 2005, é lançado
o terceiro Código de Ética Profissional e tem seus princípios fundamentais baseados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. (CFP/CRP SP, 2013).
5 Ação afirmativa e diversidade no trabalho: desafios e possibilidades (Bento, 2000) e Inclusão no trabalho: desafios e
perspectivas (Bento e Castelar, 2001), ambos publicados pelo CRPSP e Casa do Psicólogo .
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
36
Atualmente, diversas bibliografias trazem contribuições significativas para a
Psicologia das relações raciais. Refletindo, por exemplo, que, diante de tamanha
exposição a diversas vulnerabilidades, é de esperar-se que a população negra sofra os
efeitos psíquicos e psicossociais do racismo, podendo haver inclusive desenvolvimento de
enfrentamento da situação (NASCIMENTO, 2008; CARNEIRO e CURI, 1994; LOPES,
1994) e resiliência (PRESTES, 2012), mas, inúmeras outras vezes, tendo como resultado
danos e comprometimentos psicológicos, além de orgânicos, como descreve Werneck
(2006) e Santos (2004). Os efeitos psicológicos incluem comprometimento da autoestima,
com submissão ao processo identitário de branqueamento, como descrito por Bento, 2009,
entre outros efeitos. Outras teorias versaram sobre a formação da identidade negra
(SOUZA, 1990), o efeito do racismo nessa formação e na autoestima (SILVA, 1999;
PODKAMENI e GUIMARÃES, 2011), ou ainda sobre ―Negritude e sofrimento psíquico‖
(REIS FILHO, 2005). Nogueira (1999) informa sobre as questões simbólicas associadas
ao corpo negro.
Cabe citar o primoroso trabalho de organização de referências relacionadas à
temática das relações raciais em Psicologia. Trata-se do Guia de Referências 'Psicologia
e Relações Raciais', já em sua segunda edição, organizado pelo Grupo de Trabalho
―Psicologia e Relações Raciais‖ da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Regional
de Psicologia da Bahia. Disponível também no site do respectivo Conselho e no site do
CFP na página Relações Étnico-Raciais, traz uma relação de livros, artigos, legislação da
Psicologia, legislações e documentos gerais, leituras complementares, sites, fontes de
publicações online, filmes e documentários, museus e locais onde pesquisar, além de
receber novas contribuições online, no intuito de manter tais referências atualizadas.
Ainda, neste sentido, é importante destacar que na Psicologia ainda encontram-se
poucos trabalhos sobre a experiência e construções cotidianas do próprio sujeito branco,
como pessoa racializada. Trata-se da experiência da própria identidade branca que,
segundo Ruth Frankenber (2004), é vivida imaginariamente, como se fosse uma essência
herdada e um potencial que confere ao indivíduo poderes, privilégios e aptidões
intrínsecas.
Portanto, um dos trabalhos dentro da Psicologia deve ser o de demonstrar a
suposta neutralidade que faz com que grande parcela da sociedade tenha privilégios e
não os perceba. Maria Aparecida Bento (2002) argumenta que os brancos, em nossa
sociedade, agem por um mecanismo que ela denomina de pactos narcísicos, os quais
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
37
constituem alianças inconscientes tecidas de modo a recalcar certos elementos (como,
por exemplo, a responsabilidade sobre a escravização dos negros, bem como a posterior
expropriação de uma série de possibilidades e direitos dessa população) e inculcar
crenças outras, de acordo com a necessidade psíquica dos grupos. Verifica-se haver algo
como um acordo entre os brancos, regido por crenças como superioridade e meritocracia,
de modo a justificar seus privilégios e as desvantagens das (os) negras (os).
Pensando no campo da Psicologia, algumas hipóteses foram feitas para justificar a
falta de estudos que pensam a branquitude. A primeira é o fato de que a grande maioria
das (os) psicólogas (os) e pesquisadoras (es) sejam brancas (os) e socializadas (os) entre
uma população que se acredita desracializada, colaborando para retificar a ideia de que
quem tem raça é o outro e mantendo a branquitude como identidade racial normativa. A
outra hipótese é a de que desvelar a branquitude é expor os privilégios simbólicos e
materiais que as (os) brancas (os) obtêm em uma estrutura racista e, assim, os estudos
sobre brancas (os) apontam que o ideal de igualdade racial em que as (os) brasileiras (os)
são socializadas (os) e operam para manter e legitimar as desigualdades raciais.
Autoras contemporâneas críticas da branquitude, como Schucman (2012), Bento
(2002), Piza (2002), assim como aqueles identificados como responsáveis pelos primeiros
estudos críticos da temática, apontam para a importância de estudar as (os) brancas (os),
com o intuito de desvelar o racismo, pois estes, intencionalmente ou não, têm um papel
importante na manutenção e legitimação das desigualdades raciais.
A segunda parcela significativa da sociedade, a população branca, também sofre
efeitos psíquicos do racismo, influenciada pelos elementos da branquitude, em forma de
uma identidade em parte incoerente, com privilégios e falsa crença em seu potencial e no
potencial de não brancas (os), incluindo amarelas (os), indígenas e, majoritariamente,
negras (os).
É importante que a branquitude seja desvelada.
As relações raciais no Brasil delimitam, portanto, espaços sociais pré-determinados
para diferentes sujeitos e têm como explicação sociológica e histórica, segundo
Gonçalves Filho (2008), a dominação política empenhada pelo grupo social branco, com
humilhação social do grupo social negro. Para a dominação política, foi utilizada como
estratégia o racismo, ou seja, a ideologia de superioridade, hierarquização e poder do
branco sobre os não brancos. O racismo, que foi estratégico em determinado momento
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
38
histórico, continua servindo à manutenção de privilégios, reverberando, ainda hoje, na
sociedade brasileira em forma de preconceito racial e discriminação racial.
Para uma melhor compreensão dos assuntos tratados no presente documento:
entende-se que o preconceito racial pode ser definido como o conjunto de pensamentos e
sentimentos pejorativos em relação ao negro, fruto da internalização de representações
sociais estereotipadas, levando a percepções deturpadas, com disposição a avaliações,
crenças e afetos pré-determinados e negativos. Já a discriminação racial se refere a
comportamentos de distinção com prejuízo para negros, podendo se manifestar como
privação de direitos ou diferença de tratamento. Logo, racismo, preconceito e
discriminação são constituintes imbricados na dinâmica das relações raciais no Brasil e
devem ser considerados como determinantes sociais das desigualdades e das condições
de saúde (INSTITUTO AMMA PSIQUE e NEGRITUDE, 2008).
Delineada a sociedade brasileira em termos raciais e identificados seus
personagens, fica mais coerente pensar em suas necessidades, que ainda precisarão, na
prática profissional da (o) psicóloga (o), serem associadas a necessidades advindas dos
recortes de classe, gênero, geracional, entre outros. O que torna as relações raciais um
tema transversal também em todas as frentes de atuação profissional das (os) psicólogas
(os), conforme será tratado a seguir.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
39
EIXO 4: ATUAÇÃO DA(O) PSICÓLOGA(O) NA DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO E
PROMOÇÃO DA IGUALDADE
Considerando-se o recorte racial, as necessidades da sociedade brasileira são de
igualdade racial, respeito à diversidade, equidade em saúde, para que, do ponto de vista
psicossocial, o racismo não seja um determinante de adoecimento psíquico.
Especialmente em políticas públicas, todas essas necessidades se repetem e ainda se
torna necessário adicionar a interferência e necessidade de enfrentamento do racismo
institucional.
Uma vez que a sociedade brasileira é majoritariamente negra, identificar-se como
branca, negando ou discriminando sua parcela afrodescendente é, no mínimo, um
problema de autoconceito, que compromete uma identificação nacional saudável e
realista, além de autoimprimir violências simbólicas diária e historicamente.
Diante desse quadro, a Psicologia brasileira posiciona-se como cúmplice do racismo,
tendo produzido conhecimento que o legitimasse, validando cientificamente estereótipos
infundados por meio de teorias eurocêntricas, muitas vezes, discriminatórias, inclusive por
tomar por padrão uma realidade que não contempla a diversidade brasileira. É também
conivente com sua perpetuação, silenciando-se diante dessa situação, deixando de dispor
de seu arsenal (justamente tão apropriado para questões de identidade, autoestima,
relacionamento interpessoal e dinâmicas psicossociais) para enfrentamento do problema,
omitindo-se de participar do enfrentamento político do racismo, silenciando a temática em
suas produções acadêmicas, não acolhendo seus efeitos diante de demandas
repetidamente escancaradas e ignoradas, reafirmando invisível a demanda de mais da
metade da população brasileira.
Para salientar a contradição e importância do enfrentamento do racismo proposto
neste eixo. Destacam-se dois dos princípios fundamentais de nosso código de Ética:
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
40
Referenciando a prática no campo das políticas públicas de promoção da Igualdade
racial
Ao propor referências para o trabalho da (o) psicóloga (o) em políticas públicas com
atenção devida às relações raciais, é fundamental analisar o papel das políticas públicas
em relação à temática, para que a (o) psicóloga (o) tenha uma atuação comprometida
com as necessidades da população brasileira. É importante debater sobre a natureza das
ações desenvolvidas nos diversos serviços e como podem essas ações contemplar
efetivamente o recorte racial oferecendo às (os) usuárias (os) uma atuação condizente
com cada pessoa e cada contexto, podendo, ainda, contribuir com esse olhar diferenciado
em atuações interdisciplinares e estando de acordo com os princípios éticos que norteiam
a prática da (o) psicóloga (o).
A sociedade brasileira é formada por uma maioria negra, a qual, por influência do
racismo, encontra-se em condições de desigualdade em relação à população branca,
detentora do capital financeiro, poder político, melhores níveis de escolaridade, melhores
remunerações, melhores condições de acesso a trabalho e estudo, maior reconhecimento
profissional, conforme exposto por Jaccoud (2009), além de condições de maior
segurança pública e configurando-se como padrão de beleza e confiabilidade.
A população negra, além de não dispor dos privilégios citados, enfrenta diariamente
a insegurança de uma maior exposição à violência e à injustiça social, com imposição da
hegemonia branca, tendo de conviver com a intolerância e desrespeito de sua
religiosidade e não reconhecimento de sua contribuição histórica para a ciência e o
progresso do país, ou seja, com a negação e desvalorização da negritude na formação da
identidade brasileira. Cabe salientar que as condições desfavoráveis da população negra
em relação à população branca foram exaustivamente encontradas em pesquisas,
inclusive quando negras (os) e brancas (os) compartilham a mesma caracterização de
classe; o que denota como insuficiente e equivocada a argumentação de que o problema
do negro no Brasil é um problema de classe (BENTO, 1995; BENTO, 2000; CAMPANTE,
CRESPO & LEITE, 2004; DIEESE, 1999; HENRIQUE, 2001; PAIXÃO & CARVALHO,
2008; PAIXÃO & GOMES, 2008; SANTOS, 2009; SOARES, 2000).
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
41
É fato que as (os) negras (os) se encontram em desvantagens de acesso a recursos
e bens posicionais, como bem pontuam os indicadores sociais relacionados aos índices
de mortalidade da população brasileira; no acesso ao sistema de ensino; na dinâmica do
mercado de trabalho; nas condições materiais de vida e no acesso ao poder institucional;
políticas públicas; e marcos legais. Esses dados estão expressos no Relatório Anual das
desigualdades Raciais no Brasil: 2007, 2008, produzido pelo Laboratório de Análises
Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais da UFRJ6, o qual
evidenciou uma importante realidade: os brasileiros brancos vivem em ―um país‖ com
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) médio, equivalente à 44ª melhor posição do
mundo, enquanto que os brasileiros negros vivem ―em um Brasil‖ onde o IDH médio é
equivalente ao 104º lugar (PAIXÃO e CARVANO, 2008).
Uma forma de evidenciar e exemplificar as desigualdades existentes entre brancos
e negros é por meio da análise do diferencial salarial. Percebe-se que, à medida que se
caminha rumo ao topo da hierarquia de renda, é crescente o grau de discriminação e o
déficit salarial das (os) negras (os) em relação as (os) brancas (os) (BIRDEMAN e
GUIMARÃES, 2004; SOARES, 2000). No entanto, é possível notar que a discriminação
racial também se faz presente e forte dentre a classe de operárias (os) (BENTO, 1995),
principalmente no que tange ao tratamento dado as (os) negras (os) e às relações
estabelecidas entre trabalhadoras (es) brancas (os) e negras (os), demonstrando que
para aqueles que estão na base da sociedade, diante das mesmas condições de
exploração e escassez de recursos, a brancura é o elemento diferencial, o privilégio em si.
1. Estratégias e Possibilidades de Enfrentamento do Racismo Institucional nas
Políticas Públicas
Considerando a extrema necessidade de intervir nesse complexo cenário, são
destacados, a seguir, passos importantes a essa intervenção. Busca-se, aqui, contribuir
com ações desenvolvidas no âmbito da gestão que possibilitem a visualização e
enfrentamento das iniquidades.
6 Para um aprofundamento do tema ver os dados produzidos em: http://www.laeser.ie.ufrj.br/ relatorios_gerais.asp
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
42
a) Quesito “Cor” - Para possibilitar a intervenção, torna-se fundamental conhecer
o panorama e identificar os pontos críticos. Assim, cabe inicialmente identificar as ações
já desenvolvidas pelos serviços e que podem evidenciar as desigualdades raciais. Para
tanto, é crucial que o quesito cor esteja presente nos formulários, fichas cadastrais das
(os) usuárias (os), de modo a poder visualizar o perfil da população atendida, bem como a
forma com que as ações alcançam os diferentes grupos raciais. Tal como a variável renda,
sexo e idade, a raça/cor é também de grande relevância ao conhecimento do perfil da (o)
usuária (o) atendida (o) e suas especificidades, e é elemento essencial ao
reconhecimento das desigualdades.
Primeiramente, cabe perguntar: o quesito cor faz parte do cadastro da população
atendida no serviço? Caso ele não conste nos formulários de rotina, cabe inseri-lo, de
modo a possibilitar traçar o perfil da população atendida, suas demandas e necessidades.
Nos casos em que o quesito raça/cor já faz parte dos documentos, cabe verificar
cuidadosamente a forma de apresentação do quesito e o modo do seu preenchimento, o
qual pode ser verificado através do padrão das respostas obtidas.
De modo a padronizar as informações, possibilitando o comparativo com dados da
população geral, o quesito cor deve ser apresentado de acordo com as categorias que
constam no IBGE, a saber: branca, parda, preta, amarela e indígena. Vale ressaltar que,
pelo IBGE, a soma das categorias parda e preta é o que corresponde à população negra.
Destaca-se, ainda, que a escolha da categoria não deve ser feita pela (o) profissional,
mas sim auto declarada, sendo considerada a resposta fornecida pela (o) usuária (o).
Outro ponto importante de ser analisado é o padrão de respostas ao quesito,
sendo importante considerar o número de formulários sem o preenchimento do quesito
cor. É comum que essa informação não seja considerada, o que pode apontar uma série
de questões que merecem ser trabalhadas mais detalhadamente. É possível que esse
fenômeno se deva a questões relativas tanto aos profissionais quanto aos usuários. As(os)
profissionais podem não considerar relevante o preenchimento desse item, ou mesmo
acreditar que podem ofender a(o) usuária(o) com a pergunta, em ambos os casos
evitando fazer o questionamento. Por outro lado, a(o) usuária(o) pode não saber como ou
não querer responder, evitando o questionamento e desejando seguir em frente no
preenchimento. Em ambos os casos, destaca-se a necessidade premente de trabalhar as
relações raciais com a equipe, para que esta tenha clareza quanto à importância do
quesito cor bem como das questões que ele faz emergir.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
43
Após ter os dados sobre o perfil racial da população atendida, cabe proceder à
análise, atentando para possíveis distorções e/ou diferenças nos serviços/ qualidade da
assistência oferecida. Se possível, verificar séries históricas, bem como fazer o
cruzamento do quesito raça/cor com outros dados, tais como gênero, idade e
escolaridade, considerando o aumento do acesso ao serviço/melhoria dos resultados. Ao
fazer esse movimento, diferenças significativas podem emergir, diferenças que
permaneceriam invisibilizadas, caso a raça/cor não fosse levada em consideração.
Exemplos:
Entre 1980 e 1991, a mortalidade infantil declinou consideravelmente no Brasil. Fatores como melhoria nas condições sanitárias, imunização, melhor acesso a condições de saúde e educação, entre outros, foram fundamentais a este avanço. Porém, ao desagregar o dado da mortalidade infantil por raça/cor, observa-se que a desigualdade já existente entre a morte de crianças brancas e negras aumentou. Em 1980, a cada 1000 nascidos vivos, morriam 96 crianças negras e 76 brancas; Em 1990, a cada 1000, morriam 72 negras e 43 brancas. Ou seja, em 1980, as crianças negras morriam 21% mais que crianças brancas e, em 1991, essa diferença aumentou para 40% (CUNHA apud OLIVEIRA, 2002; CUNHA apud LOPES 2004). Em fevereiro de 2011, o levantamento do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), que reúne informações de pessoas interessadas em adotar e crianças/adolescentes disponíveis para a adoção, destacou dados importantes acerca do perfil de crianças desejadas. O levantamento indicou que, entre as 27.437 pessoas cadastradas como pretendentes 91% querem adotar crianças brancas. O levantamento aponta ainda que o número de crianças e adolescentes em condições de ser adotados é de 4.914, muito menor que o número de interessados em adotar. Contudo, as exigências dos pretendentes relativas à idade, ao sexo e a cor das crianças, muitas vezes, inviabilizam o processo de adoção, dado que a realidade das crianças a espera de uma família poucas vezes corresponde ao perfil desejado pelos pretendes de meninas, brancas e de até dois anos de idade. Essas análises evidenciam o quanto a raça/cor interfere na população e no alcance das políticas públicas a esta. Portanto, não considerar o quesito cor como relevante é silenciar a respeito das desigualdades já existentes, perpetuando-as e aprofundando-as cada vez mais.
b) Sensibilizar gestoras (es) e profissionais - Considerando a história de silêncio
da sociedade brasileira acerca da identidade racial e das desigualdades, faz-se de
extrema pertinência que gestoras (es) e profissionais da assistência tenham a
possibilidade de refletir sobre a questão antes de discuti-la com a população. É importante
que as (os) profissionais façam a reflexão sobre si próprios, como sujeitos constituídos em
uma sociedade cujo imaginário social demarca a (o) negra (o) em um lugar inferior,
oprimido e menos valorizado ocupando subempregos ou restritos a arte e esporte. Por
outro lado, cabe também a reflexão de que essa mesma sociedade valoriza socialmente a
população branca, tomando como ―natural‖ a melhor posição social ocupada por este
grupo.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
44
Essa naturalização de papéis pode ser percebida quando há certo desconforto e
estranhamento ao ver uma criança branca moradora de rua, como se essa criança não
devesse estar em tal condição, o que por outro lado não ocorre quando é uma criança
negra na mesma situação. O mesmo tipo de estranhamento é percebido quando um
adolescente branco é flagrado furtando ou usando drogas e quando uma criança branca é
deixada para adoção. Dessa forma, é de grande importância que a equipe que atua na
assistência direta à população possa refletir acerca dessas questões, refletindo e
desnaturalizando conceitos, de modo que a sua prática não venha a privilegiar nem
desfavorecer usuários por conta de sua origem étnica.
Nesse sentido, destaca-se o pioneirismo e relevância das psicólogas do Instituto
AMMA Psique Negritude, que desenvolveram uma metodologia de sensibilização de
gestores e profissionais para a identificação e abordagem do racismo institucional. Essa
metodologia foi testada e validada ao ser aplicada com gestores e servidores públicos das
cidades de Salvador/BA e Recife/PE, por meio do Programa de Combate ao Racismo
Institucional. Materiais decorrentes dessa experiência encontram-se indicados ao fim
deste guia, sendo um importante suporte a psicólogas (os) que busquem planejar e
desenvolver ações voltadas à temática.
2. Discriminação Institucional
Discriminação institucional pode ser entendida como ações no âmbito
organizacional ou da comunidade, que independem da intenção de discriminar, mas têm
impacto diferencial e negativo em membros de um grupo determinado. Por exemplo,
práticas informais que dificultam o acesso de empregadas (os) a experiências
significativas para ocupação de cargos de comando, bem como poucas oportunidades
para participarem de treinamentos de qualidade, gerando menor competitividade para
ascensão a cargos de direção. Nenhuma empresa brasileira declara por escrito: ―não
aceitamos negras (os) para o cargo de chefia‖. Mas o resultado é a quase invisibilidade
desse segmento nos lugares de comando das grandes empresas.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
45
Assim, na questão da discriminação institucional, importa pouco a intenção do
agente. O que interessa são os efeitos de sua ação. Esses efeitos só se verificam
perscrutando-se, por exemplo, o número de pessoas negras nos diferentes postos de
trabalho da empresa.
Práticas aparentemente neutras, no presente, refletem, perpetuam, o efeito de
discriminação praticada no passado. Haja vista que, crianças negras compõe, em
algumas instituições, o segmento majoritário de classes especiais que abrigam crianças
diagnosticadas como "problemas‖, gerando resistências e baixas expectativas quanto a
seu futuro, na(os) profissionais que cuidam delas.
No entanto, segundo Rosemberg (2012), o histórico de vida desse segmento pode
ajudar a entender isso. As crianças pequenas negras (0 a 6 anos) são o segmento social
brasileiro com o maior contingente de pobres e indigentes; vivem em domicílios com as
piores condições de saneamento básico; frequentam estabelecimentos educacionais com
piores condições de infraestrutura (água, luz, esgoto), escolas com brinquedos, livros e
espaços externos e internos insuficientes e inadequados; têm as (os) professoras (es)
com a mais baixa qualificação e pior remuneração do sistema educacional brasileiro; têm
o custo per capita mais baixo, foi o nível de ensino que menos cresceu durante a década
de 90. Ou seja, a história de discriminação sistêmica constitui um contexto com forte
impacto no desenvolvimento dessa criança.
Assim, a Discriminação institucional tem forte componente estrutural e histórico.
Muitas vezes, um (a) adolescente diagnosticado como difícil, como tendo problemas
emocionais, pois não aceita seu corpo ou sua identidade, pode ser alguém com uma
história de exclusão de equipamentos educacionais de boa qualidade, que lhe tivessem
possibilitado o contato com o patrimônio cultural de seus antepassados, por meio de
livros, brinquedos, ambiente físico, políticas educacionais em geral. Esse tipo de
discriminação pode ter o caráter rotineiro e contínuo. Nesse sentido, um diagnóstico na
instituição é de fundamental importância.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
46
a. Diagnosticando a Discriminação Institucional
Pode-se ter este diagnóstico a partir de algumas questões centrais:
Os projetos/programas da instituição ou da área contemplam a perspectiva racial?
Busca-se garantir que o perfil racial das (os) funcionárias (os) seja plural?
Procura-se assegurar que o perfil racial das chefias contemple negras (os)?
Preocupa-se em contemplar a perspectiva negra na concepção, implementação e
monitoramento dos projetos/políticas?
Os materiais de comunicação, os processos de formação, os instrumentos e
metodologias, os serviços, os produtos, o orçamento da instituição consideram e
incluem as questões raciais?
Ou seja, o diagnóstico da discriminação institucional, pode ter, como ponto de
partida, o levantamento da história da instituição com as relações raciais e com pessoas
negras; pesquisas nos processos de recursos humanos; o censo de funcionárias (os), o
levantamento de práticas da organização com a comunidade, parceiros, bem como a
investigação a respeito do perfil da clientela, dos fornecedores, dos prestadores de
serviços em geral. Com base nesse diagnóstico, é possível identificar a discriminação
institucional e os elementos que obstaculizam a igualdade de oportunidade e tratamento e
traçar um plano de ação para democratizar a instituição. Esse plano de ação pode ser
construído, discutido e implementado assegurando corresponsabilidade dos funcionárias
(os), gestoras (es), parceiras (os), clientes.
Destaque-se ainda que o plano de ação necessita se refletir nos códigos de
conduta, na missão da instituição, nos princípios; enfim, na maneira como a instituição se
posiciona, interna e externamente.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
47
b. Enfrentando a Discriminação Institucional
Uma política de combate à discriminação institucional necessita estar apoiada em
valores éticos fundados na busca da igualdade e da justiça, fortemente conectada à
responsabilidade social das instituições.
Em sociedades desfiguradas por séculos de discriminação generalizada, não é
suficiente que as instituições se abstenham de discriminar, sendo necessária uma ação
positiva comprometida com a promoção da igualdade. Estamos, então, falando de ação
afirmativa que pode ser considerada uma política de promoção da igualdade ou ainda
política de inclusão. Trata-se de um comportamento ativo das instituições no sentido de
garantir, fomentar, propiciar a igualdade em contraposição à atitude negativa, passiva,
limitada à mera intenção de não discriminar. A nota característica da ação afirmativa,
portanto, distingue-se por um comportamento atuante das instituições, favorecendo a
criação de condições que permitam a todos beneficiar-se da igualdade de oportunidade e
de tratamento e eliminando qualquer fonte de discriminação, direta ou indireta.
Você sabe os efeitos psicossociais do racismo na constituição da subjetividade?
Como psicóloga (o), você já pensou em como o racismo pode afetar nas diversas áreas
da vida e do cotidiano de negras e negros brasileiras (os) e, ao mesmo tempo, privilegiar
pessoas brancas? Você já pensou que, como professor (a) e formador (a) de opinião, é
uma pessoa privilegiada para contribuir com a luta antirracista?
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
48
EIXO 5: RELAÇÕES RACIAIS E O ENSINO DE PSICOLOGIA
Nos eixos anteriores, foi apresentado o histórico da psicologia na temática das
relações raciais. Neste capítulo, será apresentado um panorama geral sobre o que a
Psicologia está pensando e fazendo na temática das relações raciais, no âmbito
acadêmico.
Os trabalhos acadêmicos sobre a Psicologia das relações raciais, atualmente,
começam a tomar algum volume, mas, ínfimo diante da influência maciça dessas relações
na dinâmica social brasileira. Segundo Silva (2001, p. 3), ―esse fato revela a presença de
um pacto de omissão e cumplicidade da nossa disciplina para com o mito vigente,
hegemônico e opressivo, da existência de uma „democracia racial’‖.
Ferreira (2000), em sua tese de doutorado, fez uma revisão da literatura de 1987
a 1997, encontrando, dentre 4.911 trabalhos examinados (entre artigos de periódicos
brasileiros de Psicologia, dissertações e teses, tanto de doutorado quanto de livre-
docência) apenas três trabalhos publicados sobre a temática negra, além de outros nove
em processo de publicação. O silêncio quase absoluto e o parco conteúdo informam a
negação da temática na sociedade e repetida na Psicologia. Contudo, cabe salientar que,
na análise do pouco conteúdo encontrado, permite identifica-se o discurso da ciência
psicológica sobre essa população. Sendo um destes elementos discursivos a afirmação
da existência de preconceito, baseado em estereótipos, em relação a negras (os).
Em um importante mapeamento realizado por Santos (2010) aponta autores que
estão na base da Psicologia Social brasileira e abordaram as relações raciais.
Curiosamente, eles são os principais responsáveis pela organização dos primeiros cursos
de Psicologia Social no Brasil e, consequentemente, pela delimitação do campo da
Psicologia Social. Suas contribuições estão situadas entre a década de 1930 e 1950. São
eles: Raul Carlos Briquet (1887-1953); Donald Pierson (1900-1995); Aniela Meyer
Ginsberg (1902-1986); Arthur Ramos de Araújo Pereira (1903-1949); Virgínia Leone
Bicudo (1915-2003); e Dante Moreira Leite (1927-1976).
Porém, destaca-se a ambiguidade e o silenciamento que tem pautado o enfoque
das relações raciais dentro da Psicologia no Brasil. Pois, apesar de verificarmos estudos
fundantes da área de Psicologia Social, por exemplo, durante um longo período posterior
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
49
à produção dos autores listados acima pelo professor Alessandro Santos (2011), a
Psicologia manteve-se reticente no que tange à temática etnicorracial.
Na busca por superar esta realidade, uma das funções do presente guia de
referência é dar força a um terceiro momento histórico da psicologia a respeito das
relações raciais, em que a Psicologia tenha voz e posicione-se no enfrentamento do
racismo, com teorias e práticas em prol da igualdade racial e saúde psíquica das (os)
brasileiras (os) das diversas configurações raciais.
Como bem expõe Silva (2001, p. 17), a Psicologia poderá contribuir para melhor
compreensão, enfrentamento e superação de sentimentos envolvidos em relações raciais
racistas, além de colocar sua teoria e técnica a serviço da compreensão sobre a
―construção subjetiva da negritude‖. E ainda afirma que o preconceito racial
―aprisiona energias sociais muito importantes. Temos então, na sociedade brasileira, um aprisionamento de energias e forças emocionais muito significativas. Não somente dos sujeitos que sofrem a discriminação e são limitados por isso, na expressão de todas as suas potencialidades, reduzidos aos limites que lhes são impostos em suas oportunidades, restringindo a diversidade que nos constitui. Mas, repetindo Guerreiro Ramos, o preconceito racial é uma ―patologia do branco racista‖, sendo que é justo pensar que por parte dos sujeitos que discriminam, se evidencia também um aprisionamento de importantes forças psíquicas, roubadas através do preconceito que eles alimentam em relação a um grande contingente de integrantes da sociedade na qual ele vive. Essas forças poderiam ser colocadas em uma sinergia – brancos e negros, transcendendo a questão étnica (sic) – rumo à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, em benefício de todos que nela vivem (sic).‖(SILVA, 2001, p. 17)
De acordo com Ansara (2008), o sentimento de pertença ao grupo negro, por
parte de todas (os) as (os) brasileiras (os) que têm a parcela negra em sua constituição
social e, em especial, por parte de negras (os), permite a construção de uma identidade
coletiva saudável, estimulante de laços e coesão, instigante de perspectiva positiva em
relação a sua própria capacidade. Dessa forma, entende-se que a identidade individual
negra ou coletiva com reconhecimento da parcela negra, pautadas em valoração positiva
contribui para aumento da autoconfiança, autoestima e potencial da sociedade como um
todo.
Seria empobrecida a reflexão de que o compromisso da Psicologia com a
temática das relações raciais significaria algo específico da área de Psicologia Social, ou
mesmo que significaria a defesa do desenvolvimento de teorias e técnicas específicas
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
50
para essa população. Ambas as hipóteses podem contribuir para a temática, mas o
compromisso da Psicologia e de cada psicóloga (o) não se esgota aí. Este guia de
referências pretende incentivar a Psicologia das relações raciais menos como disciplina
ou particularidade e mais como tema a ser transversalizado em cada área, cada prática,
cada técnica, independentemente da (o) profissional ou beneficiária (o) serem negras (os),
afinal, como exposto até aqui, as relações raciais racistas como hoje configuradas no
Brasil atingem todas as cores/raças/etnias.
5.1 Formação para atuação em Psicologia
A formação da (o) psicóloga (o) é um momento privilegiado para a construção de
conhecimento, de saberes e de práticas sobre diversos assuntos vividos no cotidiano dos
sujeitos. Portanto, é nesse momento que se faz necessário apresentar aos estudantes
temas relevantes, para despertar o interesse na busca do conhecimento e possibilitar o
reconhecimento dos aspectos que envolvem as relações raciais e seus efeitos psíquicos
presentes no cotidiano em nossa sociedade. Ao mesmo tempo, a distribuição e frequência
dos temas tratados na graduação, ilustram o que, provavelmente, será considerado
relevante pelas (os) psicólogas (os) formadas (os).
Durante a formação, portanto, as teorias e as reflexões sobre elas devem fornecer
elementos para uma leitura crítica da realidade que permita formular e subsidiar as
práticas interventivas. Contudo, tal como já apontado neste guia, apesar das
preocupações e da luta contra a discriminação racial serem fundamentais para uma
sociedade mais justa e humana, nas grades curriculares das faculdades de Psicologia
brasileiras, ou mesmo nos conteúdos curriculares raramente encontramos qualquer
menção ao tema do racismo ou das relações raciais nas disciplinas obrigatórias. Esta é
uma situação que precisa ser modificada, pois, a categoria raça é um dos fatores que
constitui, diferencia, hierarquiza e localiza os sujeitos em nossa sociedade. Portanto, deve
ser inserida na formação das (os) profissionais da área.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
51
5.2 Desafios
Formar psicólogas (os) e professoras (es) que se sensibilizem para com a temática
racial e incluam-na de forma transversal nas diversas disciplinas da Psicologia. Nesse
sentido, vale salientar que o ensino de História da África e das Relações Raciais é uma
realidade apenas na formação de professoras (es) de poucos cursos como, por exemplo,
em Pedagogia, e podem ser úteis. No nosso caso, esses conteúdos devem estar
presentes de forma transversal em disciplinas ou conteúdos de Psicologia no ensino
médio, em cursos de curta duração, especializações e na graduação de vários cursos nas
áreas da saúde e das ciências sociais. Em todos esses espaços, torna-se fundamental a
sensibilização para os aspectos psicológicos envolvidos nas relações raciais no Brasil. No
fim do presente documento encontram-se algumas referências para este trabalho.
5.3 Propostas e caminhos possíveis
Propomos que – além de disciplinas específicas que denunciem o racismo,
trabalhem as identidades raciais negras de forma positivada, apresentem exemplos como
as (os) psicólogas (os) podem atuar na desconstrução dos preconceitos e das práticas
discriminatórias que compõem este contexto – o tema da raça e do racismo seja inserido
transversalmente na formação das (os) psicólogas (os) para que os efeitos psicossociais
do racismo em brancos e negros sejam compreendidos como fator na constituição dos
sujeitos. Desta forma, é preciso que as (os) atuais e futuras (os) psicólogas (os)
compreendam de forma mais ampla e específica como se dão as relações raciais
existentes na sociedade, e principalmente que há um sofrimento psíquico peculiar, sutil e
explícito presente no cotidiano da vida de pessoas negras; seja nas relações institucionais
em especial na escola, no trabalho, na família e também nas outras relações sociais como
no esporte, no lazer, nos cultos religiosos, na segregação territorial, na luta de classes,
etc.
5.4 Experiências Exitosas
Algumas experiências na formação já foram realizadas e pareceram exitosas.
Como, por exemplo, grupos de estudos focais sobre Racismo para reflexão sobre o tema
das relações raciais privilegiaram as leituras orientadas, resenhas com apresentação para
o coletivo; cinedebates, palestras em sala de aula; visita a museus, exposições
temporárias; participação em eventos diversos relacionados ao tema fora da universidade,
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
52
onde os conteúdos abordados e as discussões estivessem relacionadas aos conceitos -
raça, branquitude e branqueamento no Brasil, assim como, a história e conquistas do
movimento negro; inclusão e exclusão no trabalho, medidas compensatórias e reparação
(ações afirmativas); identidade e o processo de tomada de consciência negra;
religiosidade africana e afro-brasileira; noções básicas sobre relações raciais, direitos
humanos, racismo, sofrimento psíquico e formas de intervenção. (CASTELAR e SANTOS
2012).
Nesse sentido, é estimulador saber que uma pesquisa feita com alunas (os) da
Universidade de São Paulo, pelo professor e pesquisador Alessandro Oliveira dos Santos
(2010) demonstrou que as (os) alunas (os) de Psicologia consideram a raça uma
categoria importante na compreensão das desigualdades e o tema relações étnico/raciais
relevante na formação e prática profissional da (o) psicóloga (o). Isso mostra uma
abertura para a abordagem desses temas e para o enfrentamento do racismo. Nessa
mesma pesquisa, ele constatou que havia, contudo, uma resistência das (os) professoras
(es) em falar do assunto, portanto, cabe a nós este primeiro passo. A mesma pesquisa
mostrou que a discussão sobre cotas raciais no ensino superior foi um dos fatores que
possibilitou falar abertamente do racismo e das relações étnico/raciais, em sala de aula.
Entretanto, até os dias atuais é comum presenciar sua radicalização nos debates travados
na academia, portanto, torna-se fundamental a divulgação das avaliações das diversas
experiências das diferentes universidades, além do aprofundamento das discussões.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
53
BIBLIOGRAFIA
1° Encontro Nacional de Psicólogos(as) Negros(as) e Pesquisadores(as) sobre Relações raciais e Subjetividades no Brasil (PSINEP,2010). Disponível em <http://anpsinep.cfp.org.br/arquivos/ipsinep/>. Acesso em 04 nov. 2013.
ALGARVE, A. V. Cultura negra na sala de aula: pode um cantinho de Africanidades elevar a auto-estima de crianças negras e melhorar o relacionamento entre crianças negras e brancas?. 2004. Dissertação (Mestrado). São Carlos: UFSCar. Disponível em <http://www.ufscar.br/~neab/documentosBV/DissVAA.pdf>. Acesso em 22 nov. 2013.
ANSARA, Soraia. (2008). Memória Política, Ditadura Militar e Repressão no Brasil. Curitiba, PR, Brasil: Juruá
ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. A Psicologia no Brasil: um ensaio sobre suas contradições. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 32, n. spe, 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932012000500005&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 25 nov. 2013.
Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras (ANPSINEP). Disponível em <http://anpsinep.cfp.org.br/apresentacao/>. Acesso em 04 nov. 2013.
BENTO, M. A. S., A mulher negra no mercado de trabalho. Estudos Feministas, 3(2): 279-288, 1995.
BENTO, M. A. S. (org). Ação afirmativa e diversidade no trabalho: desafios e possibilidades. São Paulo: CRPSP e Casa do Psicólogo, 2000.
BENTO, M. A. S.. Raça e gênero no mercado de trabalho. In M. I. B. ROCHA (Org.).Trabalho e gênero: mudanças, permanências e desafios. Campinas: ABEP, NEPO/UNICAMP e CEDEPLAR/UFMG; São Paulo: Editora 34, 2000. p. 295-307.
BENTO, S. A. M.. Branqueamento e branquitude no Brasil. In: CARONE, I.; BENTO, S. A. M. (Orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. Capítulo 2, p. 25-57.
BENTO M.A.S. e CASTELAR M, organizadores. Inclusão no trabalho: desafios e perspectivas. São Paulo: CRPSP e Casa do Psicólogo, 2001.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
54
BRASIL. Medida Provisória nº 111, de 21 de março de 2003. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/Antigas_2003/111.htm>. Acesso em 04 Nov. 2013.
BRASIL. Decreto nº 6.261, de 20 de novembro de 2007. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6261.htm>. Acesso em 04 Nov. 2013.
CAMPANTE, F. R.; CRESPO, A. R. V.; LEITE, P. G. P. G.. Desigualdade salarial entre raças no mercado de trabalho urbano brasileiro: Aspectos regionais. Revista Brasileira de Economia, 58(2): 185-210, 2004.
CAMPOS, Regina Helena de Freitas; BERNARDES, Lúcia Helena Garcia. A revista Psicologia: Ciência e Profissão: um registro da história recente da Psicologia brasileira. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 25, n. 4, 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932005000400002&lng=en&nrm=iso>. Accesso em 25 nov. 2013.
CARONE, I.; BENTO, S. A. M. (Orgs.). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
CASTELAR, Marilda; SANTOS, Carolina Conceição de Oliveira. Relações Raciais no Ensino de Psicologia: uma experiência de sensibilização. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, Salvador, dez. 2012; 1(1): 75-86. Disponível em http://www5.bahiana.edu.br/index.php/psicologia/article/view/43/43 Acesso em 28.11.2013.
Conselho Federal de Psicologia. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005. Disponível em < http://site.cfp.org.br/legislacao/codigo-de-etica/>. Acesso em 25 nov. 2013.
Conselho Federal de Psicologia. Jornal do Federal. Conselho Federal de Psicologia - Ano XXII nº 99 - dez. 2010. Disponível em < http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/03/jornal_federal_99.pdf>. Acesso em 25 de nov. 2013.
Conselho Federal de Psicologia. Jornal do Federal, Edição Especial. Ano XXIII Nº 104 - jan/ago 2012. Disponível em < http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/01/Jornalespecial1.pdf>. Acesso em 25 de nov. 2013.
Conselho Federal de Psicologia. Legislação. A Psicologia Pela Igualdade Étinico-Racial. 2013. Disponível em <http://relacoesraciais.cfp.org.br/?p=13>. Acesso em 25 de nov. 2013.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
55
Conselho Regional de Psicologia 3ª Região BA. Psicologia e Relações Raciais: Guia de Referências, 2a Ed. Salvador: Conselho Regional de Psicologia da Bahia – 3a
Região, 2010.
Conselho Regional de Psicologia 3ª Região BA. Políticas Públicas de Promoção da Igualdade Racial: cenário baiano. Autoras: Gisele Lopes e Glória Pimentel. Informativo do Conselho Regional de Psicologia 3ª Região BA. Ano 04 - Edição nº 09. julho/setembro de 2012. Disponível em <http://www.crp03.org.br/img/jornal_crp_agosto.pdf>. Acesso em 04 nov. 2013.
Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região (Org.). Exposição 50 anos da psicologia no Brasil: A História da psicologia no Brasil. Conselho Regional de Psicologia da 6ª Região - São Paulo: CRPSP, 2011. Disponível em <http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao/pdf/catalogo50anos.pdf>. Acesso em 25 nov. 2013.
Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial. Disponível em <http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/discrimina/lex81.htm>. Acesso em 04 nov. 2013.
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.Mapa da população negra no mercado de trabalho. São Paulo: INSPIR/DIEESE, 1999.
Declaração e Programa de Ação adotados na III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. Durban – África do Sul, 2001. Disponível em <http://www.inesc.org.br/biblioteca/legislacao/Declaracao_Durban.pdf/view>. Acesso em 04 Nov. 2013.
DOMINGOS, P. O mito da democracia racial e a mestiçagem no Brasil (1989-1930). Diálogos Latinoamericanos, n.10: Universidad de Aarhus, 2005. Disponível em <http://www.redalyc.org/pdf/162/16201007.pdf >. Acesso em 22 nov. 2013.
DURKHEIM, È. As regas do método sociológico. São Paulo: Editora Nacional, 1995.
FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. Rio de Janeiro: Fator. 1980.
FERREIRA, Ricardo Franklin. Afro-descendente: identidade em construção. São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas, 2000.
FRANKENBERG, Ruth. A miragem de uma Branquitude não marcada. In: WARE, Vron
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
56
(org.). Branquidade: identidade branca e multiculturalismo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. p. 307-338.
HASENBALG, C., Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
HENRIQUES, R. Desigualdade Racial no Brasil: Evolução das condições de vida na década de 90. Rio de Janeiro: IPEA, 2001.
HOFBAUER, A. Uma história de branquitude, ou o negro em questão. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1999.
INSTITUTO AMMA PSIQUE E NEGRITUDE. Os efeitos psicossociais do racismo. Edição e entrevistas de Fernanda Pompeu. São Paulo: Imprensa Oficial do estado de São Paulo, 2008.
JACCOUD, Luciana. Pobres, Pobreza e Cidadania: os desafios recentes da proteção social. Rio de Janeiro: IPEIA 2009. Disponível em http://repositorio.ipea.gov.br/ bitstream/11058/1598/1/TD_1372.pdf .Acesso 28.11.2013.
LOPES, Véra Neusa. Racismo, Preconceito e Discriminação. In: MUNANGA, K. (Org.) Superando o racimo na escola. Brasília: Ministério da educação, secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008. p.181-200.
MACHADO, E. A. Desigualdades raciais e ensino superior; um estudo sobre a introdução das “leis de reserva de vagas para egressos de escolas públicas e cotas para negros, pardos e carentes” na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2000-2004). 2004. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em < http://www.redeacaoafirmativa.ceao.ufba.br/ uploads/ufrj_tese_2004_EAMachado.pdf>. Acesso em 25 nov. de 2013.
MUNANGA, K. Palestra: Uma Abordagem Conceitual Das Noções De Raça, Racismo, Identidade e Etnia. Seminário Nacional Relações Raciais e Educação, 3, 2003. Rio de Janeiro: PENESB. 05 nov. de 2003.
MUNANGA, K. (Org.) Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da educação, secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2008.
PAIXÃO, M.; GOMES, F. Histórias das diferenças e das desigualdades revisitadas: notas sobre gênero, escravidão, raça e pós-emancipação. Estudos Feministas, 16(3): 949-964, 2008.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
57
PAIXÃO, M.; CARVANO, L. M. (Orgs.) Relatório Anual das desigualdades raciais no Brasil; 2007-2008. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2008.
PEREIRA, E. M. Psicologia Social dos Estereótipos. São Paulo: EPU, 2002.
PIZA, Edith. Porta de vidro: uma entrada para branquitude. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida da Silva (Orgs.). Psicologia Social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ, Brasil: Vozes, 2002.p. 59-90.
PRESTES, Clélia R. S.. Da resistência à resiliência: a superação do racismo por mulheres negras de geração a geração. Palestra proferida no COPENE (Congresso de Pesquisadores Negros). Florianópolis, 2012.
Revista Psicologia Ciência e Profissão, 2002, ano 22, no 4, disponível em: http://www.bvs-psi.org.br
SANTOS, A. O. Relações históricas da psicologia com o racismo: a produção de conhecimento, a prática e a formação. Palestra proferida no I Encontro Nacional de Psicólogos (as) Negros (as) e Pesquisadores (as) sobre Relações Interraciais e Subjetividade no Brasil (I PSINEP). 2011. Disponível em: <http://anpsinep.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/06/i-psinep-aqui-estamos.pdf?issuusl=ignore>. Acesso em 30 jan. de 2013.
SANTOS, A. O.; SCHUCMAN, LiaVainer; MARTINS, Hildeberto Vieira. Breve histórico do pensamento psicológico brasileiro sobre relações étnico-raciais. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 32, n. spe, 2012. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932012000500012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 03 nov. 2013.
SANTOS, E. F.; SCOPINHO, R. A. Fora do jogo? Jovens negros no mercado de trabalho. Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 63 (no.spe.): 26-37, 2011.
SANTOS, J. A. F.. A interação estrutural entre a desigualdade de raça e de gênero no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 24(70): 37-60, 2009.
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Programa Brasil Quilombola. Disponível em <http://www.portaldaigualdade.gov.br/acoes/pbq>. Acesso em 04 nov. 2013.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
58
SCHUCMAN, LiaVainer: Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. 2012. Tese (doutorado). Departamento de Psicologia Social. Universidade de São Paulo. São Paulo.
SCHWARCZ, L. M. Racismo no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2001.
SILVA, Marcus Vinícius de Oliveira. Conferência proferida no I Congresso Nacional Psicologia Ciência e Profissão - USP/São Paulo, 2001.
SILVA M.V.O., (coord). Psicologia e dreitos humanos: subjetividade e exclusão. São Paulo: CFP e Casa do Psicólogo; 2004.
SOARES, S. S. D.. O perfil da discriminação no mercado de trabalho: Homens negros, mulheres brancas e mulheres negras. Brasília: IPEA, 2000.
THEODORO, M.. A formação do mercado de trabalho e a questão racial no Brasil. In: THEODORO (org.), JACCOUD, OSÓRIO e SOARES. As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil: 120 anos após a abolição. Brasília: IPEA, 2008.
TRINDADE, P. V. L., ACEVEDO, R. C. Representação Social de Indivíduos Afro-Descendentes em propagandas: Proposta de um Modelo Explicativo do Fenômeno. Revista de Administração da UNIMEP, v.8, n.2, Maio/Agosto, 2010.
Relações Raciais: Referências Técnicas para a Prática do(a) Psicólogo(a)- VERSÂO PARA CONSULTA PÙBLICA- Dezembro 2013.
59