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REFª: 26294053
RELATÓRIO DO ADMINISTRADOR- 155º CIRE
CARACTERIZAÇÃO
Tribunal Competente:
Ref. de autoliquidação:
Nº Processo:
Santo Tirso - Tribunal Judicial da Comarca do Porto
671/17.9T8STSUnidade Orgânica: Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3
Finalidade: Juntar a Processo Existente
ADMINISTRADOR JUDICIAL SUBSCRITOR
Nome: Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva
Morada: Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, 236
Localidade:
Código Postal: 4770-831 Castelões Vnf
Telefone: 252921115 Fax: Email:
Nº Registo: 366
NIF: 206013876
Peça Processual entregue por via electrónica na data e hora indicadas junto da assinatura electrónica do subscritor (cfr. última página), aposta nos termos previstos na Portaria n.º 280/2013, de 26 de Agosto
Documento processado por computador Relatório do Administrador - 155º CIRE REFª. 26294053Pág. 1/1
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Escritório: Correspondência: Telefone: 252 921 115
Quinta do Agrelo Apartado 6042Rua do Agrelo, 236 4774‐909 Pousada de Saramagos Fax: 252 921 115 4770‐831 Castelões VNF [email protected] www.nunooliveiradasilva.pt
Administrador Judicial – Economista – Contabilista Certificado
Exmo(a). Senhor(a) Doutor(a) Juiz de Direito
do Tribunal Judicial da Comarca do Porto ‐
Juízo de Comércio de Santo Tirso
Juiz 3
Processo nº 671/17.9T8STS
V/Referência:
Data:
Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”
Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na Quinta
do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão, contribuinte nº
206 013 876, Administrador da Insolvência nomeado no processo à margem
identificado, vem requerer a junção aos autos do relatório a que se refere o artigo 155º
do C.I.R.E., bem como o respectivo anexo (inventário).
Mais informo que não foi elaborada a lista provisória de créditos prevista no
artigo 154º do CIRE, uma vez que vai ser junto aos autos a relação de credores a que
alude o artigo 129º do CIRE.
P.E.D. O Administrador da Insolvência
Nuno Oliveira da Silva
Castelões, 5 de julho de 2017
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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”
Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)
Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3
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I – Identificação dos Devedores
Joaquim Manuel da Rocha Lopes, N.I.F. 202 859 045 e Mónia Susana
de Paiva Neves, N.I.F. 208 697 390, residentes na Rua João Ventura, nº 84, freguesia
e concelho de Valongo (4440-840).
II – Situação profissional e familiar dos devedores
Os devedores são casados entre si no regime de comunhão de adquiridos e residem
em casa própria com uma filha menor (10 anos).
A devedora esposa encontra-se desempregada desde 2014, não auferindo,
actualmente, qualquer rendimento.
Por sua vez, o devedor marido foi empresário em nome individual entre 5 de
Agosto de 2016 até 24 de Março de 2017, tendo-se dedicado, durante esse período ao
comércio de veículos automóveis ligeiros (CAE 45110) e à construção de edifícios -
residenciais e não residenciais - (CAE 41200). Não é possível ao signatário identificar de
forma precisa o rendimento auferido pelo devedor, contudo, de acordo com a declaração
de rendimentos – Modelo 3 do IRS – verificou que durante o ano de 2016, o devedor
marido declarou para efeitos fiscais prestação de serviços anuais no valor total de Euros
2.195,00, assim, o seu rendimento médio mensal ascendeu a cerca de Euros 439,00.
Importa ainda referir que através do portal “e-factura” constata-se a inexistência de
comunicação dos valores totais facturados mensalmente pelo devedor. Desde que cessou
a actividade, o devedor encontra-se desempregado e sem auferir quaisquer rendimentos1.
III – Actividade dos devedores nos últimos três anos e os seus
estabelecimentos (alínea c) do nº 1 do artigo 24º do C.I.R.E.)
1 Informação prestada pela mandatária dos devedores por email de 5 de Julho de 2017.
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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”
Relatório (artigo 155º do C.I.R.E.)
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Os devedores encetaram uma demanda empresarial enquanto sócios e gerentes da
sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda., NIPC 503 185 4262. Nesta qualidade
prestaram o seu aval em diversas operações financeiras celebradas pela sociedade
identificada, no valor de Milhares de Euros.
Fruto de dificuldades várias, esta sociedade veio a ser declarada insolvente:
1. Por sentença datada de 10 de Abril de 2014, foi proferida a declaração de
insolvência desta sociedade, no âmbito do processo com o nº
220/14.0TYVNG, que correu termos na Instância Central de Vila Nova de
Gaia - 2ª Secção de Comércio - J23;
2. A sociedade cessou a actividade para efeitos fiscais (IVA e IR) em 24 de
Novembro de 20144;
3. Resultado da qualificação da insolvência como culposa, por sentença de
30 de Junho de 2016 foi o devedor marido declarado inibido para o
exercício do comércio, bem como para ocupação de qualquer cargo de
titular de órgão de sociedade comercial ou civil, associação ou fundação
privada de actividade económica, empresa pública ou cooperativa pelo
período de dois anos.
Para além desta sociedade, o devedor marido foi ainda sócio e gerente da
sociedade Amazingloft Unipessoal Lda., NIPC 510 893 3255 e administrador da
sociedade Sonskuyn Investments, S.A., NIPC 510 918 3446.
2 Sociedade por quotas com sede na Rua Visconde Oliveira do Paço, 32, Sala V, 3.º, Campo, 4440-032 Valongo e com o capital social de Euros 149.639,36. Tinha como objecto social a construção de edifícios, comércio a retalho de tintas, vernizes e produtos similares, compra e venda de bens imobiliários - revenda dos adquiridos para esse fim. 3 Foi nomeado Administrador Judicial o Dr. Augusto Rosa Roberto. 4 Informação prestada pelo Administrador Judicial, Dr. Joaquim António da Silva Correia Ribeiro, por contacto telefónico de 28 de Junho de 2017. 5 Sociedade por quotas com sede na Rua Visconde Oliveira do Paço, 32, Sala V, 3.º, Campo, 4440-032 Valongo e com o capital social de Euros 1.000,00. Tinha como objecto social a construção de edifícios e outras obras de engenharia civil. Promoção imobiliária. Foi também esta sociedade declarada insolvente no âmbito do processo nº 1025/16.0T8STS, que correu termos na Comarca do Porto, Santo Tirso - Inst. Central - 1ª Sec.Comércio - J1, tendo este processo encerrado em Abril de 2017 por insuficiência da massa insolvente. 6 Sociedade anónima com sede na Rua João Ventura, nº 84, 4440-840 Valongo e com o capital social de Euros 50.000,00. O objecto social respeita Compra e venda de imóveis, revenda dos adquiridos para esse fim, arrendamentos, gestão e administração de imóveis; promoção imobiliária; construção civil e obras públicas; aluguer de maquinas e equipamentos para a construção e engenharia civil.
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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”
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A acrescer ao passivo assumido por reversão e pelos avais prestados, os devedores
são ainda demandados a título pessoal:
I. Por três contratos de mútuo com hipoteca celebrados com a Caixa Geral
de Depósitos, S.A. em Dezembro de 2006, Junho de 2007 e Junho de
20087, no montante global de Euros 375.000,00, cujo capital actualmente
em dívida ascende a cerca de Euros 345.000,008;
II. Pelo pagamento de custas e demais encargos legais pelo Processo Especial
de Revitalização nº 1484/16.0T8VRL9, foram os devedores condenados a
pagar o valor de Euros 7.032,90;
III. Pelo incumprimento do contrato de prestação de serviços outorgado com
a MEO – Serviços de Comunicação e Multimédia, S.A., resultante do não
pagamento de facturas referentes aos meses de Maio a Novembro de 2015,
no valor total de Euros 1.239,76.
Com o decurso do tempo, viram-se ainda os devedores demandados em diversos
processos de índole executiva.
As dificuldades em honrar os seus compromissos decorrem de dois factores:
1. Da insolvência da empresa em que os devedores ocupavam a posição de sócios
e gerentes e, consequência disso, o vencimento imediato de todas as
obrigações, nomeadamente daquelas em que os devedores prestaram aval;
2. Da celebração de negócios com um valor demasiado avultado que originaram
responsabilidades incompatíveis com os rendimentos auferidos pelos
7 Contrato de mútuo com hipoteca de 30 de Junho de 2008, no valor de Euros 75.000,00 para construção de habitação própria e permanente em incumprimento deste 11 de Janeiro de 2009 e outro contrato no valor de Euros 50.000,00 em incumprimento desde 11 de Maio de 2009. 8 Nestes contratos foi constituída hipoteca sobre o imóvel descrito na Conservatória do Registo Predial de Valongo sob o nº 4715 da freguesia de Valongo e inscrito na matriz predial urbana sob o artigo 7611º da freguesia e concelho de Valongo. 9 Que correu termos no Tribunal Judicial da Comarca de Vila Real - Juízo Local Cível de Vila Real - Juiz 2.
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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”
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devedores, de que são exemplo os contratos de mútuo outorgados com a Caixa
Geral de Depósitos, S.A..
No entanto, não pode o signatário deixar de constatar a falta de coerência
encontrada entre os rendimentos dos devedores e as despesas que os mesmos parecem
suportar. Vejamos:
1. Na petição inicial os mesmos indicam as seguintes despesas mensais
a. Cerca de Euros 100,00 para energia eléctrica, água, gás e telefone;
b. Cerca de Euros 500,00 para despesas com alimentação;
c. A estes valores acrescem as despesas com educação, vestuário e saúde,
para um agregado familiar composto por três pessoas, inclusive, uma filha
em idade escolar;
2. No entanto, o signatário não consegue compreender, como os
devedores conseguem, desde pelo menos o ano de 2014,
sobreviver, já que os rendimentos declarados a nível fiscal são
praticamente inexistentes:
a. Ano de 2014: rendimento de Euros 2.996,88;
b. Ano de 2015: rendimento de Euros 0,00 (dada a inexistência de declaração
de rendimentos);
c. Ano de 2016: rendimento de Euros 2.195,00.
Posto tudo isto, é convicção do signatário que as incongruências indicadas entre
os rendimentos auferidos e/ou os bens de que os devedores disponham se encontra
desconforme face ao indicado pelos devedores, ou então os mesmos encontram-se a
constituir passivo para suportar as despesas inerentes ao seu quotidiano.
Sem rendimentos nem património suficientes para responder pelas suas
obrigações, os devedores viram-se na obrigação de se apresentar a tribunal, o que vieram
a fazer:
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1. Em 2016 (sentença de 22 de Setembro de 2016) os devedores deram início a um
Processo Especial de Revitalização, que correu termos sob o nº 1484/16.0T8VRL no
Tribunal Judicial da Comarca de Vila Real Juízo Local Cível de Vila Real - Juiz 2,
tendo sido nomeado para as funções de Administrador Judicial Provisório, o Dr.
António Francisco Cocco Seixas Soares;
2. Face à inviabilidade de obtenção de acordo para a aprovação de um plano de
revitalização, não veio o mesmo a ser aprovado pelos credores, pelo que se declarou
encerrado este processo em Fevereiro de 2017;
3. Assim, em Fevereiro deste ano vieram os devedores apresentar-se à insolvência, o
que veio a resultar no presente processo.
IV – Estado da contabilidade dos devedores (alínea b) do nº 1 do artigo 155º
do C.I.R.E.)
Não aplicável.
V – Perspectivas futuras (alínea c) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.)
Os devedores apresentaram o pedido de exoneração do passivo restante, nos
termos do artigo 235º e seguintes do Código da Insolvência e da Recuperação de
Empresas.
Estabelece o nº 4 do artigo 236º do Código da Insolvência e da Recuperação de
Empresas que na assembleia de apreciação do relatório é dada aos credores e ao
administrador da insolvência a possibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento do
pedido de exoneração do passivo.
Por sua vez, o artigo 238º do Código da Insolvência e da Recuperação de
Empresas enumera as situações em que o pedido de exoneração do passivo é liminarmente
indeferido.
A aceitação do pedido de exoneração do passivo determina que durante um
período de 5 anos o rendimento disponível que os devedores venham a auferir se
considere cedido a um fiduciário. Integram o rendimento disponível todos os rendimentos
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que advenham a qualquer título aos devedores com exclusão do que seja razoavelmente
necessário para o sustento minimamente digno dos mesmos e do seu agregado familiar,
não podendo exceder três vezes o salário mínimo nacional (subalínea i da alínea b) do nº
3 do artigo 239º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas).
Actualmente o salário mínimo nacional mensal é de Euros 557,0010. De acordo
com o acima referido, o rendimento mensal dos devedores mostra-se, de momento, nulo.
De acordo com a alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE, o pedido de
exoneração é liminarmente indeferido se os devedores tiverem incumprido o dever de
apresentação à insolvência ou, não estando obrigados a se apresentar, se tiverem abstido
dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com
prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem
culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica.
Da análise desta disposição legal verifica-se que, para além do incumprimento de
apresentação à insolvência se torna necessário que disso advenha prejuízo para os
credores e, ainda, que os devedores saibam, ou não possam ignorar sem culpa grave, não
existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Tal significa
que, se do atraso na apresentação não advier prejuízo para os credores, o mesmo não deve
ser negativamente valorado. E ainda é necessário que os devedores saibam que a sua
situação é definitiva, no sentido de não ser alterável a curto prazo, ou que não possam
deixar de disso estar consciente, a não ser por inconsideração grave. Tais requisitos são
cumulativos.
A nível doutrinal e jurisprudencial têm existido diferentes entendimentos sobre o
segundo requisito (advir prejuízo para os credores): enquanto uma corrente defende que
a omissão do dever de apresentação atempada à insolvência torna evidente o prejuízo para
os credores pelo avolumar dos seus créditos, face ao vencimento dos juros e consequente
avolumar do passivo global do insolvente, outra corrente defende que o conceito de
prejuízo pressuposto no normativo em causa consiste num prejuízo diverso do simples
vencimento dos juros, que são consequência normal do incumprimento gerador da
10 De acordo com o Decreto-Lei n.º 86-B/2016 de 29 de Dezembro, que entrou em vigor no dia 1 de Janeiro de 2017.
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insolvência, tratando-se assim dum prejuízo de outra ordem, projectado na esfera jurídica
do credor em consequência da inércia do insolvente (consistindo, por exemplo, no
abandono, degradação ou dissipação de bens no período que dispunha para se apresentar
à insolvência), ou, mais especificamente, que não integra o ‘prejuízo’ previsto no artigo
238º, nº 1, d) do C.I.R.E. o simples acumular do montante dos juros.
O signatário tem defendido esta última posição, entendendo que não basta o
simples decurso do tempo para se considerar verificado o requisito em análise (pelo
avolumar do passivo face ao vencimento dos juros). Tal entendimento representaria uma
valoração de um prejuízo ínsito ao decurso do tempo, comum a todas as situações de
insolvência, o que não se afigura compatível com o estabelecimento do prejuízo dos
credores enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente. Enquanto
requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente, o prejuízo dos credores
acresce aos demais requisitos – é um pressuposto adicional, que aporta exigências
distintas das pressupostas pelos demais requisitos, não podendo por isso considerar-se
preenchido com circunstâncias que já estão forçosamente contidas num dos outros
requisitos. O que se pretende valorizar neste quesito, como acima foi posto em evidência,
é a conduta dos devedores, de forma a apurar se o seu comportamento foi pautado pela
licitude, honestidade, transparência e boa-fé no que respeita à sua situação económica,
devendo a exoneração ser liminarmente coarctada caso seja de concluir pela negativa.
Ao estabelecer, como pressuposto do indeferimento liminar do pedido de
exoneração, que a apresentação extemporânea dos devedores à insolvência haja causado
prejuízo aos credores, a lei não visa mais do que penalizar os comportamentos que façam
diminuir o acervo patrimonial dos devedores, que onerem o seu património ou mesmo
aqueles comportamentos geradores de novos débitos (a acrescer àqueles que integravam
o passivo que estava já impossibilitado de satisfazer). São estes comportamentos
desconformes ao proceder honesto, lícito, transparente e de boa-fé cuja observância por
parte os devedores é impeditiva de lhe ser reconhecida a possibilidade (verificados os
demais requisitos do preceito) de se libertarem de algumas das suas dívidas, e assim,
conseguir a sua reabilitação económica. O que se sanciona são os comportamentos que
impossibilitem (ou diminuam a possibilidade de) os credores obterem a satisfação dos
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seus créditos, nos termos em que essa satisfação seria conseguida caso tais
comportamentos não ocorressem.
Exposta esta questão, verificamos assim que o indeferimento do pedido de
exoneração do passivo restante por violação do dever de apresentação à insolvência
passará pela verificação cumulativa de três pressupostos:
A. Incumprimento do dever de apresentação à insolvência ou, não estando os devedores
obrigados a se apresentar, se se tiverem abstido dessa apresentação nos seis meses
seguintes à verificação da situação de insolvência;
B. Inexistência de perspectivas sérias de melhoria da situação financeira os devedores
que os mesmos conhecessem ou não pudessem ignorar sem culpa grave;
C. Existência de prejuízo para os credores, decorrente do atraso dos devedores na
apresentação à insolvência;
Assim, devemos ter em consideração a seguinte situação fática:
1. Em Julho e Agosto de 2013 os devedores passaram a incumprir os contratos de mutuo
com hipoteca que outorgaram com a Caixa Geral de Depósitos, S.A., nomeadamente
para a construção da casa de morada de família;
2. Os devedores avalizaram dois contratos que esta entidade bancária outorgou com a
sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda., cujo incumprimento data também de
Julho e Agosto de 2013;
3. Pelas facturas vencidas entre Junho e Novembro de 2015, os devedores constituíram
passivo no valor de Euros 1.239,76 junto da MEO – Serviços de Comunicação e
Multimédia, S.A.;
4. Em 10 de Abril de 2014 foi a sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda. declarada
insolvente no âmbito do processo com o nº 220/14.0TYVNG;
5. Em 17 de Outubro de 2016 foi proferida a declaração de insolvência da sociedade
Amazingloft Unipessoal Lda., no âmbito do processo nº 1025/16.0T8STS, tendo este
processo encerrado em Abril de 2017 por insuficiência da massa insolvente;
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6. Enquanto representantes das sociedades referidas os devedores viram ainda revertido
perante si todo o passivo que as mesmas acumularam perante a Fazenda Nacional11
e a Segurança Social;
7. Os devedores fizeram aumentar o seu passivo junto da Fazenda Nacional pelo não
pagamento de valores de IMI referentes aos anos de 2015 e 2016 no valor que ascende
a cerca de Euros 4.000,00;
8. E ainda por valores de taxas de portagem acumuladas entre os anos de 2010, 2011,
2013, 2014, 2015, 2016 e 2017, num valor superior a Euros 30.000,00;
9. Do incidente de qualificação de insolvência que correu no âmbito do processo de
insolvência da Joaquim Moutinho Lopes, Lda., a qual foi considerara culposa, por
decisão de 30 de Junho de 2016 resultou o seguinte:
a) Inibição do devedor para administrar património de terceiros durante um
período de 2 anos;
b) Inibição do devedor para ocupação de qualquer cargo de titular de órgão da
sociedade comercial ou civil, associação ou fundação privada de actividade
económica, empresa pública ou cooperativa durante um período de 2 anos;
c) Foi ainda o devedor condenado a indemnizar os credores no montante dos
créditos reconhecidos por sentença e não satisfeitos no âmbito da insolvência,
até às forças do seu património;
d) Assim, veio Manuel Lino dos Santos Martins Pereira (credor reclamante no
âmbito do processo de insolvência da referida sociedade) reclamar que lhe
fosse reconhecido um crédito no valor de Euros 67.307,95;
10. Em Setembro de 2016 os devedores foram ainda condenados a pagar a quantia de
7.032,90 no âmbito do Processo Especial de Revitalização que correu sob o nº
1484/16.0T8VRL;
11 Por valores referentes a IVA, IRC, IUC e IRS não liquidados.
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11. Os devedores foram ainda demandados judicialmente no âmbito da acção executiva
nº 220/14.0TYVNG.112, que correu termos na Instância Central de Vila Nova de Gaia
- 2ª Secção de Comércio - J2, bem como em diversas execuções de índole fiscal, no
âmbito das quais terá mesmo resultado a penhora da casa de morada de família13;
12. De acordo com os valores reclamados, os insolventes são detentores de um passivo
superior a MEIO MILHÃO DE EUROS;
Pelos factos acima expostos, entende o signatário que a situação de instabilidade
financeira não é de todo recente, pois, pelo menos desde o ano de 2013 que os devedores
demonstram dificuldades financeiras pelo incumprimento dos contratos de mútuo que
outorgaram com o Caixa Geral de Depósitos, S.A. Com a declaração de insolvência da
sociedade Joaquim Moutinho Lopes, Lda. em Abril de 2014 e a consequente situação de
desemprego que os devedores, encontram-se esgotadas todas expectativas de melhoria
da sua situação financeira.
Com a declaração de insolvência das empresas em que os devedores
desempenharam a posição de sócios e gerentes, venceram-se todas as obrigações
assumidas pelas referidas empresas e, por todos os avais prestados, constituíram-se os
aqui devedores solidariamente responsáveis pelas mesmas. Sendo o passivo destas
empresas claramente superior ao activo, não poderiam os devedores afastar a
possibilidade de serem responsabilizados pelo passivo que garantiram.
Preenchidos os dois primeiros pressupostos, resta verificar se de tal atraso resultou
algum prejuízo para os seus credores.
Pelo exposto, verifica-se que já depois de se encontrar em situação de insolvência,
e sabendo que de forma alguma poderia reverter tal situação, os devedores fizeram
aumentar o seu passivo junto da Fazenda Nacional, por valores repetidos e sequenciais
referentes a taxas de portagem durante os anos de 2010, 2011, 2013, 2014, 2015, 2016
12 No âmbito desta execução foi também penhorada a casa de morada de família. 13 Penhorada no âmbito do processo executivo nº 1899201401039121 pela apresentação 9115 de 08 de Maio de 2015.
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e 2017 e a IMI referente aos anos de 2015 e 2016, no valor total que ascende a cerca de
Euros 34.000,00. Face ao exposto, o signatário considera intolerante esta conduta
negligente dos devedores.
Conclui o signatário que do atraso dos devedores na sua apresentação à
insolvência gerou um acumular sucessivo de passivo e a constituição de novas dívidas, o
que não teria sucedido com a sua apresentação atempada, criando dificuldades crescente
de ressarcimento dos créditos dos seus credores. Claramente tal situação foi o fruto da
inoperância dos devedores num momento em que não poderiam mos mesmos
desconhecer que se encontravam numa posição de ruptura financeira da qual não
conseguiriam recuperar.
Por todo o exposto, entende o signatário que está preenchida a totalidade dos
pressupostos previstos na alínea d) do nº 1 do artigo 236º do CIRE por violação do seu
dever de apresentação à insolvência.
Posto isto, conclui assim o signatário pelo indeferimento do pedido de
exoneração do passivo restante apresentado pelos devedores nos termos do disposto
na alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE.
Face ao exposto, o signatário entende que os credores deverão deliberar no sentido
da liquidação do activo constante do inventário elaborado nos termos do disposto no
artigo 153º do CIRE.
O Administrador da Insolvência
Nuno Oliveira da Silva
Castelões, 5 de Julho de 2017
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Insolvência de “Joaquim Manuel Rocha Lopes e Mónia Susana
de Paiva Neves” Processo nº 671/17.9T8STS da Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de
Santo Tirso - Juiz 3 de Santo Tirso
( A r t i g o 1 5 3 º d o C . I . R . E . )
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Insolvência de “Joaquim Manuel da Rocha Lopes e Mónia Susana de Paiva Neves”
Processo nº 671/17.9T8STS do Tribunal Judicial da Comarca do Porto - Juízo de Comércio de Santo Tirso - Juiz 3
Inventário (artigo 153º do Código da Insolvência e da Recuperação das Empresas)
Página 1 de 1 do Inventário
Relação dos bens e direitos passíveis de serem apreendidos a
favor da massa insolvente:
Verba Tipo Localização Descrição da Verba Valor
1 Bem
Imóvel
Rua João Ventura, nº 84, freguesia e concelho de Valongo (4440-840).
Prédio urbano destinado a habitação, composto por casa de rés-do chão, andar e anexos, freguesia e concelho de Valongo; descrito na Conservatória do Registo Predial de Valongo sob o nº 4715/20050224 da freguesia de Valongo e inscrito na respectiva matriz urbana sob o artigo 76118º, da freguesia de Valongo, concelho de Valongo (teve origem no artigo 576º).
Valor Patrimonial:
Euros 233.550,00
2 Bem
Móvel
Conta de activos financeiros nº 0837.041923.344 que apresenta um saldo referente a 320 acções EDP Renováveis com a valoração actual de Euros 2.227,20, na Caixa Geral de Depósitos, S.A..
3 Bem
Móvel
Veículo da marca KAWASAKI, modelo ZZ-R1100, com a matricula 41-54-ET, de 1995.
a)
a) O signatário desconhece o paradeiro deste bem.
Estão em curso diligências para se apurar se os devedores são possuidores de alguma
participação social na sociedade anónima “Sonskuyn Investments, S.A.” da qual é
administrador
O Administrador da Insolvência
Nuno Oliveira da Silva
Castelões, 5 de Julho de 2017
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Índice da Peça ProcessualAnexo nº 1 - Requerimento
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Esta assinatura electrónica substitui a assinatura autógrafa.
Quarta-feira, 05 de Julho de 2017 - 19:46:08 GMT+0100