Gabinete do Desembargador Francisco Vildon J. Valente
5218388.60(22 Ka)
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5218388.60.2017.8.09.0000
COMARCA DE JUSSARAAGRAVANTE: SANEAMENTO DE GOIÁS S.A - SANEAGO
AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSRELATOR: DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
RELATÓRIO
Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de
efeito suspensivo, interposto contra decisão interlocutória, proferida peloilustre juiz da comarca de Jussara, Vôlnei Sila Fraissat, nos autos da Ação
Civil Pública, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, em desfavor daSANEAGO.
O Autor (Ministério Público) narrou, na inicial da ação, que
deu origem ao presente recurso, que foi instaurado inquérito administrativo,em razão da notícia de vazamento de esgoto no município de Jussara/GO,
especificamente na Av. A, entre as ruas 6 e 7, do Bairro Nortista.
Aduziu que foi elaborado abaixo-assinado, por 24 (vinte equatro) pessoas, moradores do bairro, pedindo para que o problema fosse
solucionado.
Elucidou que alguns dos moradores possuem residências,nas quais o esgoto passa dentro de suas propriedades e o referido sistema
vem apresentando vazamento, decorrente da incapacidade dele de sucçãode dejetos, fazendo com que o esgoto transborde, causando maus odores e
contaminando o local.
Alegou que, sendo de responsabilidade da Ré (Saneago),
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por força da Lei estadual nº 6.680/67, a prestação dos serviços de
abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, esta se manteveinerte, ao ser oficiada, por 02 (duas) vezes, para prestar informações acerca
das medidas inerentes à correção do sistema de esgoto no local.
Requereu, em sede de tutela antecipada de urgência, aintimação da Ré, para que tomasse as devidas providências, sendo estas
delineadas nos pedidos constantes na exordial.
Pleiteou, ainda, a inversão do ônus da prova.
A decisão agravada foi proferida nos seguintes termos:
“(…) De início, verifica-se que há elementos que evidenciem a
probabilidade do direito, em atenção aos documentosacostados aos autos (inquérito civil público / fotos e
documentos), denota-se que o local, de fato, vem enfrentandosérios problemas acerca do vazamento de esgoto, alagando as
casas dos moradores e produzindo maus odores econtaminando o local, expondo a risco a vida de todos os
moradores do local, haja vista a alta probabilidade de contrairdoenças.
No que se refere ao perigo de dano ou risco ao resultado útil
do processo, tem-se que, caso não sejam tomadas as devidasprovidências acerca das medidas inerentes a manutenção da
rede de esgoto no local, os moradores do local poderão vir acontrair doenças, colocando em risco a vida de todos os
moradores da cidade de Jussara/GO.
Por fim, em tese, poderá sim haver a irreversibilidade doprovimento, no entanto, confronta-se com o direito da
coletividade, o que prepondera tal interesse em relação aodireito do ente estatal. Desta forma, é mais prudente, por
parte do Poder Judiciário, conceder a liminar em detrimento deum eventual prejuízo financeiro do requerido do que o prejuízo
em relação à vida, saúde e segurança da coletividade.
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No mais, é indiscutível a responsabilidade pela manutenção etratamento de esgoto, reforçado inclusive pelo advento da Lei
Estadual nº 6.680/67.
Posto isso, DEFIRO parcialmente o pedido a Tutela Provisóriade Urgência Antecipada Incidental.
No que se refere ao pedido de inversão do ônus da prova,
deixo para analisá-lo após a apresentação de defesa, sendo omomento da confecção de Decisão Saneadora mais oportuno
para sua análise.
Ante o exposto, intime-se o requerido para:
a) implantar, no prazo de 60 dias, sistema de registro de
ocorrência de vazamentos e/ou de outros eventos adversos nosistema de esgotamento sanitário;
b) orientar à população, por meio da divulgação na fatura de
água e esgoto, no sítio eletrônico do prestador do serviço e emmeios de comunicação de massa, de como proceder para
registrar ocorrências de vazamentos e/ou de outros eventosadversos no sistema de esgotamento sanitário;
c) solucionar vazamentos no prazo de até 10 (dez) dias a
partir do registro da ocorrência;
d) realizar, no prazo de 60 (sessenta) dias, manutençãocorretiva/preventiva em todos os ramais prediais (ligações de
esgoto) e na rede coletora de esgotos inseridos na bacia deesgotamento afetada;
e) elaborar e submeter à análise e aprovação da Agência
Goiana de Regulação (AGR), no prazo de 60 (sessenta) dias,plano de manutenção preventiva, com cronograma físico-
financeiro, dos ramais prediais de esgoto (ligações de esgoto)e da rede coletora de esgotos inseridos na bacia de
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esgotamento afetada;
f) elaborar e submeter à análise e aprovação da AGR, no prazo
de 60 (sessenta) dias, plano de ação, com cronograma físico-financeiro, para o combate às ligações clandestinas de água
pluvial na rede de esgoto;
g) iniciar a execução do plano de ação aludido em “g” após aaprovação deste pela AGR;
h) instalar, no prazo de 90 dias, tubo de inspeção e limpeza
(TIL) de ligação predial em todas as ligações de esgotoinseridas na bacia de esgotamento afetada;
i) substituir, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, a rede
coletora de esgotos, no trecho de ocorrência de vazamentos,por outra com diâmetro não inferior à 150 mm a ser lançada
no passeio ou no leito da via de tráfego, em conformidade comprojeto elaborado por profissional habilitado;
Será aplicada pena de multa pessoal e diária no importe de R$
1.000,00 (um mil reais) em caso descumprimento, limitada a100 (cem) dias, destinada ao Fundo de Defesa de Direitos
Difusos (Lei 7.347/85 artigo 13, §1º).
Cite-se a requerida para apresentar contestação no prazolegal.
Intime-se o Município de Jussara, para, querendo, ingressar
na demanda.
Promova a publicação de edital em órgão oficial, a fim de queeventuais interessados, querendo, possam intervir no processo
como litisconsorte s, em conformidade com a previsão legal doartigo 94, do Código de Defesa do Consumidor; (…).”
Irresignada, a SANEAGO interpôs o presente recurso de
Agravo de Instrumento. Em suas razões recursais, sustentou que, caso a
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tutela antecipada for mantida, o seu direito ao contraditório restará
prejudicado, pois a decisão agravada tem caráter de definitividade.
Aduziu que o prazo designado pelo MM. juiz, para asubstituição da rede de esgotos, no trecho de vazamentos, por outro com
diâmetro não inferior à 150 mm, a ser lançado no passeio, ou no leito da viade tráfego, não é suficiente, pois a execução de tal obra necessita de
procedimento licitatório, que não pode ser realizado de forma tão célere.
Salientou que qualquer obrigação de executar obras nosistema de rede coletora de esgoto da cidade poderá acarretar em
investimentos que a sobrecarregarão, em razão de inexistir planejamentoquanto à origem dos recursos e de prazo para amortização dos
investimentos.
Verberou que a espécie de saneamento esgotamentosanitário é constituída por atividades, infraestruturas e instalações
operacionais por coleta, transporte, tratamento e disposição final adequadosdos esgotos sanitários, desde as ligações prediais, até o seu lançamento
final no meio ambiente e que, em relação à construção de redes coletoras deesgoto, a Lei nº 11.445/2007 (que estabelece diretrizes para o saneamento
básico) não exige a sua instalação imediata, dentro de prazos determinados,mas que seja feita progressivamente, sem violação ao poder discricionário
da administração de definir quais setores são prioritários para receber osinvestimentos.
Teceu comentários acerca do uso indevido pela população
da rede de esgoto sanitário e vociferou que a manutenção da decisãoagravada lhe acarretará danos irreparáveis.
Pugnou, assim, pela concessão do efeito suspensivo à
decisão agravada e, no mérito, a sua reforma, em relação a obrigação desubstituir, no prazo assinalado pelo MM. magistrado, à rede coletora de
esgotos, no trecho onde ocorreu vazamentos, nos termos expostos.
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O preparo é visto no evento nº 1.
O MM. Juiz de Direito Substituto em 2º Grau, Dr.
Fernando de Castro Mesquita, concedeu a liminar de efeito suspensivo àdecisão agravada (evento nº 6).
O Agravado apresentou suas contrarrazões, no evento nº
12.
A Douta Procuradoria Geral de Justiça emitiu parecer,opinando pelo desprovimento do Agravo de Instrumento (evento nº 15).
É o relatório.
Vistos. Peço dia para julgamento.
Goiânia, 07 de novembro de 2017.
DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE Relator
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COMARCA DE JUSSARAAGRAVANTE: SANEAMENTO DE GOIÁS S.A - SANEAGO
AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSRELATOR: DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
VOTO
Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso,
dele conheço.
Como visto, trata-se de Agravo de Instrumento, com
pedido de efeito suspensivo, interposto contra decisão interlocutória,proferida pelo ilustre juiz da comarca de Jussara, Vôlnei Sila Fraissat, nos
autos da Ação Civil Pública, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, emdesfavor da SANEAGO.
O Autor (Ministério Público) narrou, na inicial da ação, que
deu origem ao presente recurso, que foi instaurado inquérito administrativo,em razão da notícia de vazamento de esgoto no município de Jussara/GO,
especificamente na Av. A, entre as ruas 6 e 7, do Bairro Nortista.
Aduziu que foi elaborado abaixo-assinado, por 24 (vinte equatro) pessoas, moradores do bairro, pedindo para que o problema fosse
solucionado.
Elucidou que alguns dos moradores possuem residências,nas quais o esgoto passa dentro de suas propriedades e o referido sistema
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vem apresentando vazamento, decorrente da incapacidade dele de sucção
de dejetos, fazendo com que o esgoto transborde, causando maus odores econtaminando o local.
Alegou que, sendo de responsabilidade da Ré (Saneago),
por força da Lei estadual nº 6.680/67, a prestação dos serviços deabastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, esta se manteve
inerte, ao ser oficiada, por 02 (duas) vezes, para prestar informações acercadas medidas inerentes à correção do sistema de esgoto no local.
Requereu, em sede de tutela antecipada de urgência, a
intimação da Ré, para que tomasse as devidas providências, sendo estasdelineadas nos pedidos constantes na exordial.
Pleiteou, ainda, a inversão do ônus da prova.
A decisão agravada foi proferida nos seguintes termos:
“(…) De início, verifica-se que há elementos que evidenciem aprobabilidade do direito, em atenção aos documentos
acostados aos autos (inquérito civil público / fotos edocumentos), denota-se que o local, de fato, vem enfrentando
sérios problemas acerca do vazamento de esgoto, alagando ascasas dos moradores e produzindo maus odores e
contaminando o local, expondo a risco a vida de todos osmoradores do local, haja vista a alta probabilidade de contrair
doenças.
No que se refere ao perigo de dano ou risco ao resultado útildo processo, tem-se que, caso não sejam tomadas as devidas
providências acerca das medidas inerentes a manutenção darede de esgoto no local, os moradores do local poderão vir a
contrair doenças, colocando em risco a vida de todos osmoradores da cidade de Jussara/GO.
Por fim, em tese, poderá sim haver a irreversibilidade do
provimento, no entanto, confronta-se com o direito da
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coletividade, o que prepondera tal interesse em relação ao
direito do ente estatal. Desta forma, é mais prudente, porparte do Poder Judiciário, conceder a liminar em detrimento de
um eventual prejuízo financeiro do requerido do que o prejuízoem relação à vida, saúde e segurança da coletividade.
No mais, é indiscutível a responsabilidade pela manutenção e
tratamento de esgoto, reforçado inclusive pelo advento da LeiEstadual nº 6.680/67.
Posto isso, DEFIRO parcialmente o pedido a Tutela Provisória
de Urgência Antecipada Incidental.
No que se refere ao pedido de inversão do ônus da prova,deixo para analisá-lo após a apresentação de defesa, sendo o
momento da confecção de Decisão Saneadora mais oportunopara sua análise.
Ante o exposto, intime-se o requerido para:
a) implantar, no prazo de 60 dias, sistema de registro deocorrência de vazamentos e/ou de outros eventos adversos no
sistema de esgotamento sanitário;
b) orientar à população, por meio da divulgação na fatura deágua e esgoto, no sítio eletrônico do prestador do serviço e em
meios de comunicação de massa, de como proceder pararegistrar ocorrências de vazamentos e/ou de outros eventos
adversos no sistema de esgotamento sanitário;
c) solucionar vazamentos no prazo de até 10 (dez) dias apartir do registro da ocorrência;
d) realizar, no prazo de 60 (sessenta) dias, manutenção
corretiva/preventiva em todos os ramais prediais (ligações deesgoto) e na rede coletora de esgotos inseridos na bacia de
esgotamento afetada;
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e) elaborar e submeter à análise e aprovação da Agência
Goiana de Regulação (AGR), no prazo de 60 (sessenta) dias,plano de manutenção preventiva, com cronograma físico-
financeiro, dos ramais prediais de esgoto (ligações de esgoto)e da rede coletora de esgotos inseridos na bacia de
esgotamento afetada;
f) elaborar e submeter à análise e aprovação da AGR, no prazode 60 (sessenta) dias, plano de ação, com cronograma físico-
financeiro, para o combate às ligações clandestinas de águapluvial na rede de esgoto;
g) iniciar a execução do plano de ação aludido em “g” após a
aprovação deste pela AGR;
h) instalar, no prazo de 90 dias, tubo de inspeção e limpeza(TIL) de ligação predial em todas as ligações de esgoto
inseridas na bacia de esgotamento afetada;
i) substituir, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, a redecoletora de esgotos, no trecho de ocorrência de vazamentos,
por outra com diâmetro não inferior à 150 mm a ser lançadano passeio ou no leito da via de tráfego, em conformidade com
projeto elaborado por profissional habilitado;
Será aplicada pena de multa pessoal e diária no importe de R$1.000,00 (um mil reais) em caso descumprimento, limitada a
100 (cem) dias, destinada ao Fundo de Defesa de DireitosDifusos (Lei 7.347/85 artigo 13, §1º).
Cite-se a requerida para apresentar contestação no prazo
legal.
Intime-se o Município de Jussara, para, querendo, ingressarna demanda.
Promova a publicação de edital em órgão oficial, a fim de que
eventuais interessados, querendo, possam intervir no processo
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como litisconsorte s, em conformidade com a previsão legal do
artigo 94, do Código de Defesa do Consumidor; (…).”
Irresignada, a SANEAGO interpôs o presente recurso deAgravo de Instrumento. Em suas razões recursais, sustentou que, caso a
tutela antecipada for mantida, o seu direito ao contraditório restaráprejudicado, pois a decisão agravada tem caráter de definitividade.
Aduziu que o prazo designado pelo MM. juiz, para a
substituição da rede de esgotos, no trecho de vazamentos, por outro comdiâmetro não inferior à 150 mm, a ser lançado no passeio, ou no leito da via
de tráfego, não é suficiente, pois a execução de tal obra necessita deprocedimento licitatório, que não pode ser realizado de forma tão célere.
Salientou que qualquer obrigação de executar obras no
sistema de rede coletora de esgoto da cidade poderá acarretar eminvestimentos que a sobrecarregarão, em razão de inexistir planejamento
quanto à origem dos recursos e de prazo para amortização dosinvestimentos.
Verberou que a espécie de saneamento esgotamento
sanitário é constituída por atividades, infraestruturas e instalaçõesoperacionais por coleta, transporte, tratamento e disposição final adequados
dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais, até o seu lançamentofinal no meio ambiente e que, em relação à construção de redes coletoras de
esgoto, a Lei nº 11.445/2007 (que estabelece diretrizes para o saneamentobásico) não exige a sua instalação imediata, dentro de prazos determinados,
mas que seja feita progressivamente, sem violação ao poder discricionárioda administração de definir quais setores são prioritários para receber os
investimentos.
Teceu comentários acerca do uso indevido pela populaçãoda rede de esgoto sanitário e vociferou que a manutenção da decisão
agravada lhe acarretará danos irreparáveis.
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Pugnou, assim, pela concessão do efeito suspensivo à
decisão agravada e, no mérito, a sua reforma, em relação a obrigação desubstituir, no prazo assinalado pelo MM. magistrado, à rede coletora de
esgotos, no trecho onde ocorreu vazamentos, nos termos expostos.
O preparo é visto no evento nº 1.
O MM. Juiz de Direito Substituto em 2º Grau, Dr.Fernando de Castro Mesquita, concedeu a liminar de efeito suspensivo à
decisão agravada (evento nº 6).
O Agravado apresentou suas contrarrazões, no evento nº12.
A Douta Procuradoria Geral de Justiça emitiu parecer,
opinando pelo desprovimento do Agravo de Instrumento (evento nº 15).
Após detida análise dos autos, entendo que a pretensão
recursal não merece acolhida.
De antemão, esclareço que a análise do presente recurso
está adstrita à matéria efetivamente decidida no ato hostilizado, visto que,
frise-se, o Agravo de Instrumento é um recurso secundum eventum litis, logo,
deve o Tribunal limitar-se apenas ao exame do acerto, ou desacerto da decisão
atacada, no aspecto da legalidade, uma vez que ultrapassar seus limites, ou
seja, perquirir sobre argumentações meritórias, ou matérias de ordem pública
não enfrentadas no decisum recorrido, seria antecipar ao julgamento de
questões não apreciados pelo juízo de primeiro grau, o que importaria, como
dito alhures, em vedada supressão de instância.
Neste sentido, oportuna a transcrição de julgados deste
Sodalício:
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“AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1- SECUNDUM EVENTUM
LITIS. O agravo de instrumento é um recurso secundum
eventum litis e por este motivo deve se restringir às questões
analisadas na decisão recorrida, sob pena de supressão de
instância. (...) AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO.” (TJGO,
AGRAVO DE INSTRUMENTO 278727-12.2013.8.09.0000, Rel.
DR(A). MARCUS DA COSTA FERREIRA, 6ª CÂMARA CÍVEL,
julgado em 05/11/2013, DJe 1430 de 20/11/2013).
“(…) 3. O agravo de instrumento constitui recurso 'secundum
eventum litis', razão pela qual deve este egrégio Tribunal
limitar-se ao exame do acerto ou desacerto do que ficou
decidido pelo magistrado singular, sendo vedada a análise
de matéria que não tenha sido apreciada na decisão
agravada, sob pena de supressão de instância. (...)”
(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 216679-
17.2013.8.09.0000, Rel. DES. ELIZABETH MARIA DA SILVA, 4ª
CÂMARA CÍVEL, julgado em 31/10/2013, DJe 1424 de
11/11/2013). Grifei.
Com efeito, o deferimento do pedido de antecipação da
tutela está condicionado à presença dos seguintes requisitos: plausibilidade
das alegações e perigo de dano irreparável, ou de difícil reparação.
Nesse contexto, o deferimento, ou a denegação de
liminares, reside no poder discricionário do MM. julgador, informado pelo
princípio do livre convencimento motivado e ocorre após a análise e
adequada avaliação dos elementos acostados aos autos, com o escopo de
perquirir a existência dos requisitos autorizadores da medida.
Destarte, compete ao órgão revisor o mister da aferição
de tais requisitos, cabendo a reforma da decisão, que a liminar, somente se
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esta for ilegal, ou abusiva.
Sobre o tema, veja-se os seguintes julgados desta Corte
de Justiça:
“(...) II - A concessão ou não da antecipação dos efeitos
da tutela jurisdicional está adstrita ao prudente arbítrio
e ao livre convencimento do juiz, em estrita observância
aos requisitos legais estabelecidos para a espécie (CPC,
art. 273). III - Em respeito ao poder discricionário do
magistrado, a modificação de seus julgados pelo juízo ad
quem somente é admissível quando houver abuso de
autoridade ou decisões teratológicas.” (TJGO, AGRAVO DE
INSTRUMENTO 294339-87.2013.8.09.0000, Rel. DR(A).
CARLOS ROBERTO FAVARO, 1A CÂMARA CÍVEL, julgado em
24/09/2013, DJe 1402 de 07/10/2013). Grifei.
“(...) II - Os critérios para a aferição da tutela
antecipatória estão na faculdade de o juiz, no gozo do
poder discricionário que a atividade judicante lhe
confere, cabendo-lhe decidir sobre a conveniência de sua
concessão, quando relevantes os fundamentos
esposados pelo suplicante que configurem o temor do
dano jurídico, nos termos do artigo 273, I, do Código de
Processo Civil.” (TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 99435-
67.2013.8.09.0000, Rel. DR(A). WILSON SAFATLE FAIAD, 6A
CÂMARA CÍVEL, julgado em 23/07/2013, DJe 1355 de
01/08/2013). Grifei.
No caso em questão, tenho que a Agravante não
comprovou, de maneira inequívoca, a verossimilhança de suas argumentações,
de que o decisum agravado precisa ser reformado, visto que a ação civil
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pública, que deu origem ao presente recurso, demonstrou a configuração dos
pressupostos ensejadores para que fosse deferida a tutela antecipada.
Analisando os autos, verifiquei a presença do perigo de
dano aos moradores da região afetada pelo esgoto, visto que as providências
determinadas pelo digno dirigente processual visaram a resguardar o princípio
da dignidade da pessoa humana, bem assim, proteger o meio ambiente, de
forma a buscar o equilíbrio ecológico, além do fato de ser uma questão de
emergência.
Nesta senda, cabe à Ré, ora Agravante (Saneago), realizar
serviços imediatos, visando à tutela do meio ambiente, à saúde da população
diretamente atingida, bem como aos interesses da coletividade.
Neste contexto, a documentação colacionada aos autos,
acompanhada de fotos, demonstram a gravidade da situação, e que os
moradores do Bairro Nortista, na avenida A, entre as ruas 6 e 7, têm tido,
diariamente, seus direitos à saúde e à dignidade humana atingidos, tendo em
vista que o esgoto percorre seus imóveis residenciais, com os problemas de
vazamento apresentados pelo Autor, ora Agravado.
Cumpre-me salientar que o referido problema de
vazamento de esgoto é oriundo da incapacidade do sistema de succção de
dejetos instalado no local e, em decorrência disto, o esgoto transborda,
causado maus odores e contaminação no na casa dos cidadãos.
Sobre a questão, não há dúvidas de que a responsabilidade
da prestação dos serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de
esgotos, por lei, é da Ré, ora Agravante (SANEGO), tendo em vista que a Lei
Estadual nº 6.680/67 (que autorizou a criação da Saneamento de Goiás S/A)
assim dispõe:
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“Art. 2º – A SANEAGO atuará como prestadora de serviços de
saneamento básico no Estado, por meio de concessão e gestão
associada na forma constitucional prevista, cumprindo-lhe efetuar
estudos, elaborar projetos, realizar obras, operar e praticar a
exploração de serviços de saneamento básico, na forma de lei,
considerada como conjunto de serviços, infraestrutura e
instalações operacionais de abastecimento de água potável,
esgotos sanitários, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,
bem como drenagem e manejo de águas pluviais urbanas.”
Assim, cumpre-me registrar que agiu com acerto o Autor,
ora Recorrido, quando asseverou, que “é fato que a ausência de saneamento
básico é causa de mortalidade infantil, além de poder causar diversas
moléstias, como diarreias, leptospirose, amebíase, hepatite infecciosa,
infecções na pele e nos olhos, esquistossomose, malária, febre amarela,
dengue, elefantíase, poliomiolite, hepatite do tipo A, disenteria amebiana,
febre fifoide, cólera, ascaridíase (lombriga), teníase”.
Desta forma, restou demonstrado que a população local
está exposta ao risco de contrair diversas doenças, o que caracteriza uma
situação de emergência, podendo se submeterem ao perigo de dano à saúde,
ou, inclusive, risco de morte, razão pela qual não podem esperar as
providências a cargo da Ré/Agravante, de acordo com a simples vontade desta.
A propósito:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA COM PEDIDO DE
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. PROBLEMAS ESGOTO
IMÓVEL RESIDENCIAL. REPAROS NECESSÁRIOS. RISCO À SAÚDE
DOS MORADORES. A concessão da tutela de urgência está
condicionada à presença da probabilidade do direito que o autor
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alega na petição inicial e, ainda, do perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, de acordo com o livre convencimento
do juiz, de sorte que a decisão que analisa tal pleito somente é
passível de reforma ou cassação quando a parte insurgente
demonstrar a incomportabilidade ou a ilegalidade do
pronunciamento, ou ainda, quando este se afigurar teratológico, o
que não é o caso dos autos, já que é incontroversa a
existência de problemas no esgoto da residência da
autora/agravada, que vinham sendo, ainda que
voluntariamente, solucionados pela agravante. Ademais, a
dispensação irregular de esgoto pode acarretar doenças,
sem prejuízo do odor provocado, o que coloca em risco a
saúde dos moradores. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO MAS IMPROVIDO.” (TJGO, Agravo de Instrumento
(CPC) 5039657-42.2017.8.09.0000, Rel. MAURÍCIO PORFÍRIO
ROSA, 1ª Câmara Cível, julgado em 13/06/2017, DJe de
13/06/2017). Grifei.
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TRANSBORDAMENTOS DE FLUXO NA
REDE DE ESGOTO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. ATIVIDADE
DE RISCO DELEGADA. A empresa prestadora do serviço de
tratamento de esgoto sanitário exerce atividade de risco
delegada pelo Poder Público, cuja responsabilidade é
objetiva, devendo responder por sua omissão no que
tange ao dever de preservar e proteger o meio ambiente,
evitando o risco à saúde pública da população que habita
na localidade, onde ocorrem os transbordamentos
constantes de fluxo na rede de esgoto. APELO PROVIDO.”
(TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 13342-78.2006.8.09.0087, Rel. DR(A).
SÉRGIO MENDONÇA DE ARAÚJO, 4A CÂMARA CÍVEL, julgado em
23/05/2013, DJe 1316 de 06/06/2013). Grifei.
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É de geral sabença que a administração não possui recursos
para resolver todos as necessidades da população, todavia, existindo, inclusive,
a possibilidade de que o investimento em uma área possa implicar em escassez
de recursos para a outra. Entretanto, mas como bem salientado no parecer da
Douta Procuradoria Geral de Justiça, tais razões não inviabilizam o fato de que
deve o Administrador priorizar socorrer os direitos fundamentais, tal como
ocorre na presente hipótese, não devendo prevalecer alegações de cláusula da
reserva do possível, por envolver implantação de política pública, quando há
risco de comprometimento do núcleo básico que qualifica o mínimo existencial.
Importante salientar, ainda, que o artigo 225 da CF/188
garante, a todos, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, por
ser um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
razão pela qual, impõe-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Sobre o tema:
“(…). III- O princípio da reserva do possível, a ser
observado para conferir condições de adimplemento das
obrigações impostas ao ente público, queda-se à garantia
de alta relevância social, substanciados no direito à vida e
à saúde, cuja omissão do ente público, em implementar
políticas públicas, implica em responsabilidades. No
confronto de normas, aqui considerados os princípios da
reserva do possível com o da dignidade da pessoa humana
(leia-se: comprometimento de um mínimo existencial do
indivíduo), vinga-se a relevância deste último. (…).
RECURSO IMPROVIDO.” (TJGO, DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
38174-71.2011.8.09.0162, Rel. DES. LEOBINO VALENTE
CHAVES, 2A CÂMARA CÍVEL, julgado em 26/11/2013, DJe 1446
de 12/12/2013). Grifei.
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Diante de tais argumentos, ao menos por hora, não verifico
razão nas teses da Agravante, de prevalência do interesse público, de
conveniência e oportunidade da Administração Pública, de prazo exíguo para
instaurar procedimento licitatório, ou de que Lei nº 11.445/2007 (que
estabelece diretrizes para o saneamento básico) não exige a instalação do
esgoto de forma imediata, pois estaria indo contra as prerrogativas
constitucionais indisponíveis.
Sob esse prisma, dentro de uma análise possível, neste
momento processual, entendo que a decisão agravada deve ser mantida, pois
o nobre julgador observou estarem presentes os requisitos elencados para
profería-la, diante do risco de dano irreparável, ao resultado útil ao processo.
Destarte, não constatada teratologia, ou ilegalidade na
decisão e ausente a verossimilhança das alegações, o desprovimento do
recurso é a medida que se impõe.
EM FACE DO EXPOSTO, conheço do presente recurso de
Agravo de Instrumento e lhe nego provimento, para manter a decisão, por
estes e por seus próprios e jurídicos fundamentos. De consequência, revogo
a liminar concedida no evento nº 6.
Goiânia, 14 de dezembro de 2017.
DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE Relator
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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 5218388.60.2017.8.09.0000
COMARCA DE JUSSARAAGRAVANTE: SANEAMENTO DE GOIÁS S.A - SANEAGO
AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSRELATOR: DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVILPÚBLICA. VAZAMENTO DE ESGOTO. RISCO AO MEIOAMBIENTE, À SAÚDE E À COLETIVIDADE.NECESSIDADE DE CORREÇÃO DO SISTEMA LOCAL.ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA. AUSÊNCIADOS REQUISITOS PARA MODIFICAR O DECISUM.DECISÃO MANTIDA.1. O agravo de instrumento é um recurso secundum eventumlitis e deve ater-se ao acerto, ou desacerto da decisãocombatida, a qual somente poderá ser reformada, peloTribunal ad quem, quando evidente a sua ilegalidade,arbitrariedade, ou teratologia. 2. A concessão da antecipação dos efeitos da tutela estácondicionada à existência de prova inequívoca, capaz dedemonstrar a verossimilhança das alegações da parte Autora,bem assim, ao perigo de dano irreparável, ou de difícilreparação, conforme o disposto no artigo 300 do NCPC/2015.3. Restando demonstrada a existência de vazamento deesgoto que atinge a população, residente no local, e asituação de emergência, diante do risco ao meio ambiente, àsaúde dos moradores locais, e de dano à coletividade, deveprevalecer o decisum, que estipulou o prazo de 60 (sessenta)dias, para a correção do problema, pela Ré/Agravante. 4. Presentes os requisitos autorizadores do benefíciopostulado, só é permitida a reforma da decisão, que deferiua tutela antecipada, quando comprovada a sua ilegalidade,ou contradição com as provas carreadas aos autos,circunstâncias não visualizadas no presente caso. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO EDESPROVIDO.
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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de AGRAVO
DE INSTRUMENTO Nº 5218388.60.2017.8.09.0000, DA COMARCA
DE JUSSARA.
Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em
sessão pelos integrantes da Terceira Turma Julgadora da Quinta Câmara
Cível, por unanimidade de votos, em conhecer do Agravo e desprovê-lo,
nos termos do voto do relator.
Votaram com o relator, o Juiz de Direito Substituto em
Segundo Grau Diác. Dr. Delintro Belo de Almeida Filho (Subst. do Des. Olavo
Junqueira de Andrade) e o Desembargador Alan S. de Sena Conceição.
Presidiu a sessão o Desembargador Alan S. de Sena
Conceição.
Representou a Procuradoria Geral de Justiça o Dr.
Rodolfo Pereira de Lima Júnior.
Goiânia, 14 de dezembro de 2017.
DES. FRANCISCO VILDON J. VALENTE Relator
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