RELATÓRIO SOBRE A AVALIAÇÃO DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR (Diagnóstico e questões para debate)
GRUPO DE TRABALHO PARA A AVALIAÇÃO DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
João Guerreiro (CNAES), Coordenador
Afonso Costa (MCTES)
Antonieta Lima Ferreira (ME)
Carlos Maia (CCISP)
João Oliveira Baptista (DGEEC)
João Queiroz (DGES)
João Sobrinho Teixeira (CCISP)
José Amado da Silva (APESP)
Madalena Alarcão (CRUP)
Pedro Barrias (MCTES)
Pedro Teixeira (CRUP)
OUTUBRO.2016
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3
ÍNDICE
SUMÁRIO EXECUTIVO ............................................................................... 5
0. NOTA PRÉVIA .................................................................................... 9
1. ENQUADRAMENTO .............................................................................. 11
2. MODALIDADES DE ENSINO SECUNDÁRIO ........................................................ 17
2.1 Cursos do Ensino Secundário ....................................................................... 17
2.2 Características dos estudantes das várias modalidades de ensino secundário ........... 21
2.3.Determinação da classificação final nas várias modalidades de ensino secundário ..... 24
2.4 Desalinhamentos das classificações internas ................................................... 27
2.5 Comentários intercalares ........................................................................... 29
3. CURSO DE ENSINO PÓS-SECUNDÁRIO........................................................... 31
4. VIAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR ......................................................... 33
4.1 Licenciaturas e Mestrados Integrados ............................................................ 33
4.2 Técnicos Superiores Profissionais (TeSP) ........................................................ 39
4.3 Classificações para efeitos de Acesso ao Ensino Superior .................................... 39
4.4.Variabilidade das classificações dos exames finais ............................................ 44
4.5.Comentários intercalares .......................................................................... 46
5. PERCURSO DOS DIPLOMADOS: DO ENSINO SECUNDÁRIO AO ENSINO SUPERIOR ............... 47
5.1 Caracterização da transição: do ensino secundário ao ensino superior .................... 47
5.2 Comentários intercalares ........................................................................... 56
6. MODALIDADES DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR EM DIVERSOS PAÍSES EUROPEUS ........... 57
7. NOVOS PÚBLICOS ............................................................................... 61
8. QUESTÕES PARA DEBATE ....................................................................... 67
8.1. Alguns princípios .................................................................................... 67
8.2. Principais questões para debate ................................................................. 70
8.2.1. Novos Concursos Especiais de Acesso ao Ensino Superior e simplificação das
condições de certificação para acesso ao Ensino Superior ................................ 70
8.2.2. Dinamização de Concursos Especiais existentes .................................... 72
8.2.3. Ajustamentos na utilização dos resultados do ensino secundário .................. 74
9. NOTA FINAL ..................................................................................... 77
10. ANEXOS ........................................................................................ 79
10.1 Despacho do MCTES ................................................................................ 79
10.2 Prosseguimento dos estudos dos alunos dos curso profissionais ........................... 80
10.3 Exemplo de normalização ........................................................................ 82
4
5
SUMÁRIO EXECUTIVO
Uma maior criação de riqueza, o incremento da qualidade de vida e o aumento do
rendimento disponível são resultados de sociedades caracterizadas por um elevado
nível de qualificação dos seus recursos humanos. Portugal apresenta ainda um
enorme défice na qualificação dos seus cidadãos, quando comparamos o nosso país
com os países da OCDE. Esta situação agrava-se se essa comparação abranger a
população com formação superior. Apenas 20% da população com idades entre 15 e
64 anos tem formação superior, o que contrasta com valores sempre acima dos 30%
da quase generalidade dos países da União Europeia. Poder-se-ão identificar as
razões, muitas delas históricas, que conduziram a esta situação. A esse quadro
deverá acrescentar-se o fluxo de cidadãos detentores de um grau do ensino superior
que, nos últimos anos, procuraram desenvolver as respetivas capacidades
profissionais no exterior do país.
A avaliação do sistema de acesso ao ensino superior permitiu caracterizar a atual
situação e identificar problemáticas que sugerem soluções que vão no sentido de
alargar a capacidade de intervenção do ensino superior na qualificação dos cidadãos
portugueses.
O desafio que está lançado obrigará ao aproveitamento generalizado das capacidades
instaladas na rede do ensino superior (público e privado) e, simultaneamente, à
criação ou à melhoria das vias de acesso aos diversos níveis e graus em que se
organiza o ensino superior.
A existência de um pouco mais de 20% dos jovens com idades compreendidas entre os
20 e os 24 anos que não estudam nem trabalham, um nível de escolarização superior
da população com idades entre 25 e 64 anos ainda relativamente baixo (23%), quando
6
comparado com países europeus (média da OCDE, 35%), ou uma baixa taxa de
escolarização dos jovens com idades entre 20 e 29 anos (20%), são indicadores1 que
traduzem níveis moderados de qualificação e que obrigam a procurar vias de
intervenção que possam, tão rapidamente quanto possível, inverter aquelas
tendências e reduzir as diferenciações.
O desenvolvimento das sociedades está cada vez mais dependente da qualidade dos
seus recursos humanos e da crescente incorporação de conhecimento nas diversas
atividades. Neste quadro o papel do ensino superior, proporcionando uma maior
qualificação da população, é um elemento determinante no desenvolvimento e
afirmação das sociedades. Para além dos impactes positivos nos domínios
económicos, sociais ambientais e culturais que a formação superior arrasta, sublinhe-
se que, no plano individual, o salário de um cidadão com formação superior é, em
média, quase 70% superior a quem tem apenas o ensino secundário completo2.
Portugal está ainda comprometido com um dos cenários da Europa 2020: 40% da
população com idades entre os 30 e os 34 anos deveriam ter formação superior em
2020.
O presente Relatório identifica algumas alterações estruturais que a sociedade
portuguesa em geral e o sistema educativo em particular sofreram nos últimos anos,
as quais, para além do padrão demográfico, deverão condicionar, no futuro, o seu
funcionamento.
De forma sintética, note-se que:
O ensino obrigatório foi recentemente alargado para 12 anos, aumentando o
fluxo de jovens que completam a formação secundária;
Os cursos profissionalizantes (profissionais e de aprendizagem), equivalentes
ao 12º ano e concedendo dupla certificação (escolar e profissional), são agora
responsáveis por 45% dos alunos que frequentam o ensino secundário;
Foram criados no âmbito do ensino superior politécnico os cursos Técnicos
Superiores Profissionais, inseridos no nível 5 do Quadro Europeu de
Qualificações;
Reforça-se e generaliza-se a convicção das vantagens económicas e sociais,
mas também individuais, alcançadas por via da obtenção de um diploma do
ensino superior.
As instituições de ensino superior intensificaram a apresentação de propostas
de novas linhas de formação de geometria variável, adaptadas aos diferentes
públicos (jovens, ativos, etc.) e às diversas problemáticas económicas,
sociais, culturais, associativas e/ou empresariais.
1 OCDE – Education at a Glance 2016.
2 Idem.
7
O Relatório avança finalmente com um conjunto de questões que permitirão
sustentar estratégias e justificar decisões que melhorem os mecanismos associados
ao acesso ao ensino superior.
As questões abordadas no Relatório podem ser sintetizadas:
Criação de uma via de acesso ao ensino superior para os diplomados com
cursos secundários profissionalizantes. Estes cursos (profissionais e de
aprendizagem) atingiram uma expressão significativa no panorama do ensino
secundário e não foram, entretanto, definidos mecanismos ajustados que
promovam o respetivo acesso ao ensino superior. Sugere-se a criação de um
percurso natural e coerente, de matriz profissionalizante, associando estes
cursos à oferta das escolas politécnicas.
Melhoria do acesso ao ensino superior para os diplomados com cursos
secundários artísticos especializados. À semelhança dos cursos profissionais,
não existe um percurso coerente para o acesso ao ensino superior, sendo
estes diplomados obrigados a submeterem-se a determinadas avaliações
frequentemente alheadas dos itinerários escolares frequentados. Sugere-se a
criação de uma via especifica de acesso ao ensino superior.
Organização do acesso aos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (ensino
superior) através de um Concurso Nacional, garantindo-se um quadro de
preferências e prioridades regionais e habilitacionais;
Ajustamento do conteúdo das provas para avaliação das capacidades para a
frequência do ensino superior para maiores de 23 anos, autonomizando-as dos
referenciais do ensino secundário e ajustando-as aos perfis exigidos para a
frequência do ensino superior (níveis de conhecimento, aptidões cognitivas,
experiências profissionais consolidadas e progressivas, intervenção cidadã,
etc.), evitando que a prova seja uma repetição dos exames finais do ensino
secundário;
Lançamento de uma campanha de mobilização para atrair novos públicos para
o ensino superior, diversificando as linhas de formação oferecidas, os modelos
de organização da formação, os calendários, as parcerias, encontrando
soluções flexíveis para responder positivamente a necessidades reais ou
latentes;
Normalização das classificações dos exames finais do ensino secundário,
superando a variabilidade inter-anual que é normalmente provocada por
alterações nos respetivos níveis de exigência. Este processo levaria à
calibração das classificações, assegurando-se que, em cada ano, a média
globalmente fixada fosse respeitada;
Regulação das diferenciações excessivas das classificações internas do ensino
secundário, reduzindo os desvios (positivos e negativos) introduzidos por
desalinhamentos exagerados nas notas internas e garantindo um maior grau
de equidade nas candidaturas ao Concurso Nacional de Acesso.
A preocupação do Grupo de Trabalho que elaborou o presente Relatório foi a de,
para além de reconhecer os aspetos positivos e consolidados do presente sistema de
acesso ao ensino superior, caracterizar os diversos aspetos que, não obstante, têm
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dificultado o acesso ao ensino superior. Pretende-se suscitar o debate em torno deles
e, simultaneamente, sugerir pistas para solucionar os diversos problemas abordados.
Os eventuais ajustamentos deveriam obrigar a um consenso alargado entre os
diversos atores que intervêm no sistema educativo, embora com a preocupação
primeira de contribuir para um maior nível de qualificação da população portuguesa.
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0. NOTA PRÉVIA
Através de Despacho3, o Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
decidiu lançar uma iniciativa no sentido de avaliar os mecanismos de acesso ao
ensino superior. No referido Despacho, aquele membro do Governo evoca a
necessidade de refletir sobre o alargamento e o aprofundamento da democratização
do ensino superior, visando em particular a modernização e a adequação do sistema
de acesso a novos contextos.
Esta problemática é tanto mais pertinente se retivermos que Portugal assumiu o
desafio de ter, em 2020, 40% da população com idades compreendidas entre os 30 e
34 anos com formação superior.
O desafio da democratização convoca igualmente a possibilidade de alargar o acesso
ao ensino superior a novos e diversificados públicos, mobilizando candidatos fora da
idade de referência de ingresso, ativos com experiências profissionais enriquecedoras
e multifacetadas ou outros segmentos da população que pretendem retomar os seus
estudos, que estão interessados em adquirir novos conhecimentos ou que se propõem
melhorar os seus níveis de literacia científica, social ou cultural.
Assim, através do citado Despacho, foi criado um Grupo de Trabalho constituído
pelos seguintes membros:
Afonso Costa (MCTES)
Antonieta Lima Ferreira (ME)
Carlos Maia (CCISP)
João Guerreiro (CNAES), que coordenou
João Oliveira Baptista (DGEEC)
João Queiroz (DGES)
João Sobrinho Teixeira (CCISP)
José Amado da Silva (APESP)
Madalena Alarcão (CRUP)
Pedro Barrias (MCTES)
Pedro Teixeira (CRUP)
3 Despacho nº 6930/2016, de 12 de maio de 2016, em anexo (pág. 72).
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No decorrer da sua atividade, o Grupo de Trabalho consultou as seguintes instituições
e associações:
AEEP – Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo
ANQEP – Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino profissional
Associações de Estudantes (do ensino politécnico e universitário)
CNE – Conselho Nacional de Educação (Comissão de Ensino Superior, Investigação e
Cultura Científica)
CONFAP – Confederação Nacional das Associações de Pais
IAVE, I.P. – Instituto de Avaliação Educativa, I.P.
IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional
TP – Turismo de Portugal
O Relatório que é apresentado não pretendeu apontar para um só caminho. Discute e
avalia o sistema vigente e coloca à discussão alternativas que contribuem para
alargar a base social do ensino superior, reconhecendo que este nível de ensino
deverá desempenhar um papel decisivo nas qualificações da população portuguesa.
Admite-se que algumas das propostas para debate sejam eventualmente dissonantes
não só com a prática tradicional da transição do ensino secundário para o superior,
como também com as atividades consolidadas desenvolvidas pelas instituições de
ensino superior. Mas tem de reconhecer-se que nos últimos vinte anos se registaram
alterações estruturais no sistema educativo e nas exigências da sociedade, situação
que obriga a repensar o papel do ensino superior e das atividades que resultam do
desenvolvimento deste sistema.
As alterações a introduzir nos mecanismos de acesso ao ensino superior deverão
suscitar consensos alargados para que possam ser coletivamente assumidas. Mas,
reconhece-se, que o nível a que se chegou nalgumas das distorções que atingem o
acesso ao ensino superior obriga a que essa intervenção seja imperativa e que
permita suscitar maior ligação entre as instituições de ensino superior e a sociedade.
A continuidade dos mecanismos de acesso vigentes é assegurada, propondo-se aí
apenas alguns ajustamentos decorrentes de distorções evidentes e reconhecidas
como perturbadoras da equidade que se pretenda para o sistema. E propõem-se
novas vias de acesso, bem com a dinamização de percursos de acesso existentes mas
com graus de utilização moderados face aos seus potenciais.
A discussão pública, prevista no Despacho que constituiu o Grupo de Trabalho, será
certamente profícua para consolidar estratégias e para abrir novas vias de reforço do
papel que o ensino superior desempenha nas qualificações da população portuguesa.
11
1. ENQUADRAMENTO
Um dos objetivos da Europa 2020, adotado por todos os países da União Europeia,
aponta para que, em 2020, 40% dos cidadãos que integram o segmento etário dos 30
aos 34 anos tenham uma formação superior (ou equivalente). De acordo com o
EUROSTAT, aquele indicador quedava-se em Portugal, em 2015, pelos 32%, enquanto
na União Europeia (UE28), para aquele mesmo ano, os diplomados com formação
superior atingiam já os 39% do referido grupo etário (Quadro 1). Deverá, assim,
fazer-se um esforço adicional para que Portugal possa atingir, em 2020, uma posição
o mais próxima possível do objetivo estabelecido para o conjunto da União Europeia.
Quadro 1
POPULAÇÃO COM IDADES ENTRE 30 E 34 ANOS (%) COM
FORMAÇÃO SUPERIOR, EM PERCENTAGEM DA POPULAÇÃO TOTAL
PAÍS ANOS
2011 2015
Espanha 41,9 40,9
França 43,1 45,1
Holanda 41,2 46,3
Irlanda 49,7 52,3
Portugal 26,7 31,9
União Europeia (28) 34,8 38,7
Fonte: EUROSTAT, 2016
As razões que justificam este diferencial entre Portugal e a União Europeia são
diversas, refletindo um decréscimo continuado de candidatos ao sistema de ensino
superior que se verificou desde 2010, independentemente das formas de ingresso. O
próprio Concurso Nacional de Acesso regista flutuações anuais, por vezes
significativas, no número de candidatos que concorrem às suas diversas fases. Aquele
diferencial resulta, em parte, dos baixos níveis históricos de qualificação da
população portuguesa, das tendências demográficas verificadas nos últimos vinte
12
anos e, ainda, do fluxo de jovens diplomados que nos últimos anos emigraram e
procuraram desenvolver as suas atividades profissionais no estrangeiro. A estas
razões poderia acrescentar-se não só a desadequação do sistema de acesso ao ensino
superior para os potenciais candidatos que completam os cursos profissionais ou de
aprendizagem, mas também o atraso que se verificou na adoção de linhas de
formação superior de curta duração4. Merece ainda reparo a dificuldade que as
instituições de ensino superior têm de mobilizar segmentos da população ativa,
empregada ou no desemprego, designados novos públicos, e promover a sua
integração em linhas de formação ajustadas a necessidades conjunturais.
A taxa de escolarização5 dos jovens em idade de frequentar o ensino superior tem
registado alterações mínimas (Quadro 2). Nos cinco anos indicados verificou-se
globalmente que o decréscimo nas inscrições nas instituições de ensino superior foi
mais acentuado que a quebra da população residente inserida naquelas faixas
etárias. Esta tendência não tem permitido aumentar as taxas de escolaridade em
Portugal, pelo que o fosso existente entre o nosso país e a situação média dos países
da União Europeia foi agravado. Dados recentemente publicados pela OCDE, ainda
que correspondentes à situação existente em 2012/2013, permitiam comparar
Portugal com outros países da União Europeia (Quadro 3) e confirmar o esforço que
ainda deve ser realizado para se atingir níveis de qualificação semelhantes aos nossos
diretos parceiros europeus.
Quadro 2
TAXAS DE ESCOLARIZAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR* (%)
ANO IDADES (anos)
18 19 20 21 22 23
2010/11 26,5 35,6 38,0 33,2 25,5 17,9
2011/12 25,0 34,9 38,8 32,7 24,8 17,3
2012/13 25,4 34,4 38,5 33,3 24,2 17,1
2013/14 24,5 34,9 40,3 33,8 25,2 16,9
2014/15 25,4 34,3 38,8 34,5 24,9 16,8
*Não inclui os estudantes inscritos em CET nem os estudantes em mobilidade internacional
Fonte: DGEEC, 2016
As instituições de ensino superior têm desenvolvido esforços no sentido da atração de
novos públicos, designadamente cidadãos na situação de ativos. E fazem-no através
da abertura do sistema de ensino superior a camadas da população que pretendem
retomar os seus estudos, que estão interessadas em adquirir novos conhecimentos,
que investem na valorização das suas habilitações ou que se propõem melhorar os
seus níveis de literacia científica, social ou cultural.
4 Recorde-se que os Cursos de Técnicos Superiores Profissionais, modalidade de ensino superior curto, foram recentemente criados (através do Decreto-Lei nº 43/2014, de 18 de março).
5 Taxa de escolarização: percentagem dos estudantes matriculados no ensino superior segundo a idade relativamente à população residente da mesma faixa etária.
13
Mas também neste capítulo a situação portuguesa é profundamente desequilibrada
quando comparada com o panorama da União Europeia. A população que tem uma
formação superior abrange apenas 20% do grupo etário dos 15 aos 64 anos (Quadro
4), o que contrasta com a situação dos países europeus aí considerados, para os quais
mais de 30% da população desse grupo etário tem um nível superior de escolaridade.
A melhoria continuada da taxa de abandono escolar precoce, que abrange a
população escolar entre 18 e 24 anos6, deverá manter-se como um dos objetivos das
instituições de ensino superior. Mas, para além do esforço das instituições, também
se defende que deverá haver uma reapreciação nos mecanismos de acesso ao ensino
superior. Reconhece-se que os procedimentos que atualmente estruturam o Concurso
Nacional de Acesso (a principal via de acesso ao ensino superior para os jovens)
foram genericamente estabelecidos há cerca de 20 anos, num cenário que era
caracterizado por uma forte procura do ensino superior (forte quando comparada
com a oferta de vagas) e por um fluxo de candidatos com origem praticamente
exclusiva nos designados cursos cientifico-humanísticos do ensino secundário.
Quadro 3
TAXAS DE ESCOLARIZAÇÃO NO ANO LETIVO 2012/13 EM ALGUNS
PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA (%)
PAÍS IDADES (anos)
18 19 20
Espanha 34,0 43,1 45,5
França 35,8 46,6 45,4
Holanda 23,5 35,5 41,1
Irlanda 31,5 56,7 57,1
Portugal* 25,4 34,4 38,5
*DGEEC, 2016
Fonte: OECD.Stat, 2015
Quadro 4
POPULAÇÃO COM IDADES ENTRE 15 E 64 ANOS,
COM NÍVEL SUPERIOR DE EDUCAÇÃO (%)
PAÍS IDADES (anos)
2006 2011 2015
Espanha 26,4 29,3 32,1
França 24,0 26,7 30,4
Holanda 26,2 28,0 30,5
Irlanda 27,7 33,3 37,4
Portugal 11,7 15,5 20,7
União Europeia (28) 20,0 23,7 26,7
Fonte: EUROSTAT, 2016
A situação alterou-se substancialmente, como ilustraremos mais adiante,
principalmente devido a três mudanças estruturais:
6 Retenha-se que no período 2005-2015, a taxa de abandono escolar foi reduzida em cerca de 24%, atingindo o seu valor mais baixo em 2015.
14
adoção do ensino obrigatório até ao 12º ano, aumentando a escolarização do
segmento dos jovens entre os 15 e os 17 anos;
criação de cursos profissionalizantes, que integram na atualidade cerca de
45% dos alunos do ensino secundário;
atração de novos públicos pelas instituições de ensino superior, abrangendo
designadamente cidadãos na situação de ativos.
Os cursos profissionalizantes são oferecidos pelas Escolas Secundárias, pelos Centros
de Formação do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e, ainda, por
entidades diversas contratualizadas para oferecerem formação equivalente ao ensino
secundário.
Nos últimos anos, perante estas novas realidades, foram introduzidos alguns
ajustamentos que pretenderam ajustar e ampliar as vias de acesso ao ensino
superior. Criaram-se diversos concursos especiais, mas manteve-se praticamente
inalterado o Concurso Nacional de Acesso. Neste foram inseridas adaptações que
deveriam concorrer para melhorar alguns dos seus procedimentos; mas deve
reconhecer-se que muitas delas tiveram um limitado impacte, pois a sua bondade
ficou refém da matriz que define o atual Concurso Nacional de Acesso7.
A abertura do ensino superior a novos públicos traduziu-se na institucionalização das
provas específicas destinada a avaliar a capacidade dos candidatos maiores de 23
anos, à possibilidade de, em certas condições, creditar experiências profissionais
densas e prolongadas e ainda na convocação de cidadãos que tenham abandonado os
seus percursos académicos para o reingresso nas instituições de ensino superior com
o objetivo de completarem as suas formações.
O sistema de acesso ao ensino superior não pode ser uma questão de números. Nas
sociedades atuais, onde o conhecimento é um instrumento de autonomia, de
criatividade e de desenvolvimento, com significativos e diversificados benefícios
individuais e sociais, a frequência do ensino superior deve constituir um desígnio
nacional que conjugue três níveis de exigências:
a) Garanta que a frequência do ensino superior esteja acessível a todos os
que preencham os requisitos de acesso, independentemente das condições
de rendimento das suas famílias e dos seus locais de residência;
b) Estabeleça que o mérito é o fator decisivo e que todos os candidatos que
revelem capacidades para frequentarem o ensino superior não fiquem, por
qualquer motivo, impedidos de o fazer;
7Ficou estabelecido, por exemplo, que as instituições públicas do ensino superior politécnico poderiam estabelecer preferências habilitacionais nas respetivas candidaturas, as quais estariam abertas a cursos artísticos especializados, tecnológicos, de Escolas profissionais, de aprendizagem, técnico-profissionais e outros profissionalizantes equivalentes ao 12º ano. As instituições poderiam fixar quotas até um máximo de 30% das suas vagas. Contudo, embora se reconheça a importância estratégica desta medida, ela esbarrou (esbarra) com a necessidade destes estudantes cumprirem os procedimentos que estão em linha com o CNA, isto é, exames relacionados com matérias maioritariamente alheias ao seu percurso escolar. O impacte prático desta medida foi, por isso, marginal.
15
c) Fomente uma maior qualificação da população, designadamente das
camadas jovens, entendendo o desígnio de formação superior na dupla
função de alavancagem da mobilidade social e de contribuição para o
desenvolvimento da comunidade no seu conjunto.
Tendo presente estas premissas, designadamente as taxas de escolarização da
população portuguesa, a criação de diversas opções no ensino secundário (muitas
delas orientadas para a dupla certificação), a adoção de doze anos de escolaridade
obrigatória, assim como a necessidade de investir numa maior qualificação da
população para responder aos desafios atuais do desenvolvimento das sociedades,
dever-se-ão encontrar novos percursos que contribuam para aumentar a frequência
do ensino superior e que respondam também a expectativas diferenciadas da
população estudantil. É neste quadro que se pretende avaliar as diversas vias de
acesso ao ensino superior e propor outras que se consideram mais ajustadas às novas
realidades, cumprindo os objetivos de promover uma maior qualificação da
população portuguesa.
16
17
2. MODALIDADES DE ENSINO SECUNDÁRIO
2.1 Cursos do Ensino Secundário
O ensino secundário organiza-se através de modalidades diversas, as quais conferem
diferentes padrões de qualificação. As principais modalidades que são oferecidas às
camadas jovens e que conferem um diploma de conclusão do Ensino Secundário são:
Cursos científico-humanísticos, que se desdobram em quatro áreas: ciências e
tecnologias, ciências socioeconómicas, línguas e humanidades e artes visuais. Estes
cursos constituem uma oferta educativa vocacionada para o prosseguimento de
estudos de nível superior (universitário ou politécnico).
a) Cursos científico-tecnológicos, identificados normalmente como cursos com
Planos Próprios, constituem experiências pedagógicas, inicialmente atribuídas
aos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo, mas recentemente
alargadas aos estabelecimentos públicos.
b) Cursos artísticos especializados, que se desdobram nas seguintes áreas: Artes
Visuais e Audiovisuais, Dança, Música, Canto e Canto Gregoriano.
Correspondem a um ensino que permite valorizar aptidões e desenvolver
talentos artísticos. Constituem uma oferta vocacionada, consoante a área
artística, para o prosseguimento de estudos ou orientada na dupla perspetiva
da inserção no mercado de trabalho e do prosseguimento de estudos.
c) Cursos profissionais são um dos percursos do nível secundário de educação,
caracterizado por uma forte ligação com o mundo profissional. A
aprendizagem realizada nestes cursos valoriza o desenvolvimento de
18
competências para o exercício de uma profissão, em articulação com o setor
empresarial local. Conferem dupla certificação, escolar e profissional, pelo
que preparam simultaneamente para o exercício de uma profissão e para o
prosseguimento de estudos de nível superior.
d) Cursos de aprendizagem, da responsabilidade dos Centros de Formação do
IEFP e das entidades suas parceiras, permitem obter uma certificação escolar
e profissional, privilegiando a inserção no mercado de trabalho, potenciada
por uma forte componente de formação realizada em contexto empresarial. A
dupla certificação garante igualmente o eventual prosseguimento de estudos
de nível superior.
e) Cursos Educação e Formação (CEF) são cursos de estrutura flexível e ajustada
ao perfil de entrada dos candidatos, no que respeita às habilitações de
acesso. As tipologias 5, 6 e 7 destes Cursos orientam-se para a conclusão do
12º ano de escolaridade e permitem também o prosseguimento dos estudos de
nível superior.
Há ainda duas outras modalidades que se destinam a adultos
f) Cursos Educação e Formação de Adultos (EFA) organizam-se numa perspetiva
de aprendizagem ao longo da vida. São cursos que permitem obter uma
certificação escolar ou uma dupla certificação, escolar e profissional, neste
caso privilegiando a inserção no mercado de trabalho e oferecendo uma forte
componente de formação realizada em contexto empresarial. Estão
igualmente orientados para o prosseguimento de estudos de nível superior.
Apenas os candidatos com idade igual ou superior a 23 anos podem frequentar
um Curso EFA de nível secundário ministrado em regime diurno ou a tempo
integral.
g) Cursos científico-humanísticos na modalidade de ensino recorrente. São
organizados em regime modular, de frequência presencial ou não presencial,
e vocacionados para candidatos com idade igual ou superior a 18 anos que
frequentaram, sem concluir, cursos já extintos. Podem também ser
frequentados por alunos abrangidos pela escolaridade obrigatória e com mais
de 16 anos ou por alunos maiores de 20 anos que não tenham completado uma
das opções dos cursos cientifico-humanísticos.
As normas em vigor estabelecem critérios que permitem a reorientação de percursos
(entre as diversas modalidades do ensino secundário) através do regime de
permeabilidade entre cursos afins ou através do regime de equivalência entre
disciplinas.
Os diplomados deste nível de ensino adquirem diplomas reconhecidos, no âmbito do
Quadro Nacional de Qualificações, com nível 3 (apenas vocacionados para o
prosseguimento dos estudos a nível superior) ou com nível 4 (cursos que têm dupla
19
certificação). Qualquer destes diplomas é reconhecido como nível 3 no Quadro
Europeu de Qualificação (QEQ/ISCED) (Quadro 5).
As modalidades profissionalizantes do ensino secundário têm, nos últimos anos,
registado uma enorme expansão (Quadro 6). Nos últimos dez anos, o número de
jovens que frequentaram os três anos dos cursos profissionais foi multiplicado por
três, superando os 100.000. Os cursos de aprendizagem aproximam-se dos 35.000
matriculados.
Quadro 5
NÍVEIS DE QUALIFICAÇÃO NACIONAL (QNQ) E INTERNACIONAL
(ISCED)
QNQ ISCED ORIENTAÇÕES CURSOS
3 3
Ensino secundário vocacionado para prosseguimento de estudos de nível superior
Cursos científicos-humanísticos
4 3 Ensino secundário com dupla certificação
Cursos Artísticos Especializados, Cursos Científico-Tecnológicos, Profissionais, Cursos de Aprendizagem e Cursos de Educação e Formação
5 4
Ensino pós-secundário, não superior, com créditos para prosseguimento de estúdios de nível superior
Cursos de Especialização Tecnológica
5 5 Ensino superior de ciclo curto
Cursos Técnicos Superiores Profissionais
6 6 Licenciatura Licenciados
Fonte: Guia Interpretativo do Quadro Nacional de Qualificações, ANQEP, 2014
International Standard Classification of Education, UNESCO, 2011
Os cursos cientifico-humanísticos mantiveram um contingente sempre acima dos
200.000 jovens, mas acusando uma descida, progressiva e moderada, ao longo dos
dez anos considerados.
20
Quadro 6
ALUNOS MATRICULADOS E ADULTOS EM ATIVIDADES DE FORMAÇÃO
E EDUCAÇÃO (ensino secundário)
MODALIDADE DE ENSINO
SECUNDÁRIO
ANOS LETIVOS TAXA DE CRESCIMENTO (%) 2005/6 2008/9 2011/12 2014/15
nº nº nº nº 2005/14 2008/14
Científico-humanísticos e Científico-tecnológicos
240.688 215.542 209.276 207.542 -13,8
Artísticos Especializados
2.063 2.527 2.341 2.521 +22,2
Profissionais 36.943 93.438 113.749 114.848 +210,9
Aprendizagem n.d. 13.584 21.056 33.030
+143,2
CEF 3.422 4.388 2.012 825 -75,9
EFA* 0 52.214 28005 19.830
-62,0
Recorrente* 64.284 18.208 6.058 9.807 -84,7
Outros** 0 98.426 28.741 5.215
-94,7
TOTAL 347.400 498.327 411.238 393.618 +13,3
*Cursos vocacionados para adultos
**Cursos vocacionais, RVCC, Formações modulares.
Fonte: DGEEC, 2016
Em termos relativos, os alunos mais jovens matriculados nos cursos regulares
representam mais de metade dos alunos que frequentam o ensino secundário (Quadro
7), não obstante a redução sofrida já assinalada. Os cursos profissionalizantes
atingem cerca de 45% do total dos alunos do ensino secundário. Prevê-se que esta
componente possa ainda crescer nos próximos anos.
Quadro 7
ALUNOS JOVENS MATRICULADOS NO ENSINO SECUNDÁRIO (%)
MODALIDADE DE ENSINO SECUNDÁRIO
ANOS LETIVOS
2005/6 2008/9 2011/12 2014/15
Científico-humanísticos e Científico-tecnológicos
85,0 65,4 60,1 57,9
Artísticos Especializados 0,7 0,8 0,7 0,7
Profissionais 13,1 28,4 32,6 32,0
Aprendizagem 0,0 4,1 6,0 9,2
CEF 1,2 1,3 0,6 0,2
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: DGEEC, 2016
Se a variável analisada incidir nos alunos que terminam os cursos secundários e
obtêm o seu diploma, a situação é ligeiramente alterada, com vantagem para os
cursos profissionalizantes (Quadro 8). Na verdade, os diplomados com cursos
profissionais e cursos de aprendizagem, a que se poderiam acrescentar os cursos
21
artísticos especializados, representaram, no último ano letivo de que dispomos de
informação (2014/15), cerca de 45% do total dos diplomados do ensino secundário.
Os cursos de aprendizagem, da responsabilidade do IEFP, tiveram um crescimento
significativo nos cinco últimos anos, contrastando com uma quase estabilidade dos
diplomados dos cursos regulares, dos cursos profissionais e dos cursos artísticos
especializados.
2.2 Características dos estudantes das várias modalidades de
ensino secundário
Não há muita informação que permita caracterizar os estudantes que frequentam as
várias modalidades do ensino secundário.
Em três anos letivos sucessivos, a idade média dos estudantes não tem sofrido
grandes alterações (Quadro 9). Os estudantes que frequentam a via cientifico-
humanística são os mais jovens; as idades mais elevadas aparecem nos cursos de
educação e formação que correspondem a uma modalidade flexível, destinada a
preencher as lacunas e as dificuldades de formação, constituindo uma opção de
recurso. Regista-se uma tendência para a redução dos candidatos a esta via.
Quadro 8
JOVENS QUE FREQUENTAM O 12º ANO DO ENSINO SECUNDÁRIO E
QUE TERMINAM O ENSINO SECUNDÁRIO, EM DIVERSOS ANOS
LETIVOS
TIPOLOGIA DE CURSOS
SITUAÇÃO 2010/ 2011
2011/ 2012
2012/ 2013
2013/ 2014
2014/15
Nº Nº Nº Nº Nº %
Cursos científico-humanísticos
Frequentam 61.958 62.886 61.916 62.349 63.214
Terminam 39.156 40.716 39.899 40.522 44.049 54,0
Cursos científico-tecnológicos
Frequentam 3.965 3.690 3.555 1.933 1.158
Terminam 2.675 2.490 2.550 1.527 1.040 1,3
Cursos artísticos especializados
Frequentam 700 752 807 825 820
Terminam 519 562 601 598 685 0,8
Cursos profissionais
Frequentam 33.456 33.273 32.103 35.638 34.701
Terminam 23.493 22.885 21.466 23.893 24.410 29,9
Cursos de aprendizagem*
Frequentam**
- - - - -
Terminam*** 5.455 5.540 5.326 6.682 11.389 14,0
TOTAL Terminaram 71.298 72.193 69.842 73.222 81.573 100,
0
*Cursos do Instituto do Emprego e Formação Profissional
**Os cursos de aprendizagem organizam-se em módulos e há normalmente duas edições que se iniciam por ano (abril
e setembro), pelo que não há correspondência com os anos letivos. O número de formandos que frequentam estes
cursos (nos módulos que preenchem os três anos) oscila entre os 38.000 e os 40.000 estudantes.
***Dados do IEFP, 2016
Fonte: DGEEC, 2016
22
Quadro 9
IDADE MÉDIA DOS ALUNOS INSCRITOS NO ENSINO SECUNDÁRIO*,
POR MODALIDADE DE ENSINO E POR ANO CURRICULAR
MODALIDADES DE CURSOS
INSCRITOS (média anual dos três anos letivos)
ANOS LETIVOS
2012/13 2013/14 2014/15
nº idade idade idade
Cientifico-Humanísticos
190.800 16,4 16,4 16,3
Cientifico-tecnológicos
4.040 17,2 16,5 16,3
Artísticos Especializado
2.470 16,7 16,7 16,6
Profissionais 110.100 17,6 17,5 17,4
Aprendizagem 33.200 19,9 20,0 20,2
CEF 1.500 20,1 21,3 21,8
*Escolas Secundárias de Portugal Continente
Fonte: Sistemas de Informação, DGEEC/ME, 2016
A habilitação dos familiares próximos é também uma característica que permite
diferenciar os alunos das várias modalidades do ensino secundário em função dos
respetivos contextos sociais. Embora não se possa dispor de informação referente a
todo o ensino secundário, as habilitações das mães dos alunos que concluíram os seus
cursos secundários no ano letivo 2013/14 nas escolas públicas de Portugal
Continental permitem identificar diferenciações importantes (Quadro 10). As
habilitações mais elevadas (ensino superior) têm maior expressão nas mães dos
diplomados do ensino artístico especializado (43,8%). Os diplomados pela via dos
cursos profissionais provêm de famílias com um nível habilitacional mais moderado;
apenas 4,8% das mães destes diplomados possui habilitação superior. A dimensão dos
casos em que a habilitação da mãe é desconhecida (cerca de 25%) pode colocar
algumas reservas nestes valores, embora permita apontar as principais tendências.
As diferenças existem igualmente nos desempenhos validados pelas provas finais do
3º ciclo do ensino básico (Figura 1). Para os estudantes inscritos no ano 10º ano do
letivo de 2014/15, foi possível analisar os seus desempenhos no ano imediatamente
anterior, durante o qual frequentaram o 9º ano (do 3º ciclo do ensino básico). As
diferenças entre os estudantes da via cientifico-humanística e os da via profissional,
neste domínio, são significativas, com classificações mais baixas atingidas pelos
alunos dos cursos profissionais.
23
Quadro 10
HABILITAÇÃO DA MÃE DOS DIPLOMADOS
NAS VÁRIAS MODALIDADES DO ENSINO SECUNDÁRIO PÚBLICO*
(2014)
CURSOS ALUNOS**
(nº)
HABILITAÇÃO DA MÃE (%)
Ensino superior
9º ano ou 12º ano
6º ano ou menos
Científico-humanísticos 24.995 30,6 44,5 24,9
Científico-tecnológicos 98 16,3 52,1 31,6
Artísticos especializados
482 43,8 43,8 12,4
Profissionais 8.772 4,8 39,3 55,9
*Escolas públicas de Portugal Continental
**Alunos com respostas válidas
Fonte: DGEEC
Figura 1
CLASSIFICAÇÃO MÉDIA EM ALGUNS EXAMES DO 9º ANO (2013/14)
DOS ALUNOS MATRICULADOS NO 10º ANO* EM 2014/15
*Escolas Secundárias de Portugal Continental
Finalmente a taxa de retenção ou de desistência é igualmente diferenciada quando analisamos os alunos que estão inscritos nas diversas modalidades de ensino secundário, com valores sensivelmente mais moderados para as vias profissional e científica-tecnológica (Quadro 11), situação justificada porventura em resultado da
61% 60%
47%
39%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Exame de Português do 9.º ano Exame de Matemática do 9.º ano
Classificação média
Alunos dos cursos científico-humanísticos Alunos dos cursos profissionais
24
estrutura modular adotada pelos cursos profissionais (não existe o conceito de ano curricular) e pelo perfil particular dos cursos científico-tecnológicos.
Quadro 11
TAXAS DE RETENÇÃO OU DESISTÊNCIA DOS ALUNOS INSCRITOS NO
ENSINO SECUNDÁRIO*, POR MODALIDADE DE ENSINO
MODALIDADES DE CURSOS
ANO LETIVO
2012/13 2013/14 2014/15
Inscritos Taxa Inscritos Taxa Inscritos Taxa
nº % nº % nº %
Científico-humanísticos 190.127 21 189.832 21 192.600 18
Científico-tecnológicos 4.576 20 3.814 9 3.731 7
Artísticos Especializados 2.462 15 2.529 15 2.430 18
Profissionais** 110.750 14 111.590 14 107.966 13
*Escolas Secundárias de Portugal Continental
**Taxas extrapoladas a partir de informações de um subconjunto de 57% do total dos alunos do ensino profissional
Fonte: DGEEC, 2016
2.3.Determinação da classificação final nas várias modalidades
de ensino secundário
As várias modalidades do ensino secundário têm procedimentos diferentes para o
cálculo das respetivas classificações finais. Estas classificações resultam sempre de
uma conjugação da avaliação contínua e das provas finais.
Quadro 12
MECANISMOS UTILIZADOS PARA DETERMINAR A CLASSIFICAÇÃO
FINAL DOS CURSOS CIENTÍFICO-HUMANÍSTICOS E CIENTÍFICO-
TECNOLÓGICOS
CURSOS
Disciplinas sem exame Disciplinas com
exame Classificação Final
anuais bienais trienais Alunos
internos
Alunos autopro-postos
Científico-humanístico
s
CFD = CIF
CFD = (10º + 11º) /2
CFD = (10º + 11º +
12º) /3
CFD = (7*CIF +
3*CE) /10 CFD = CE CFC = MCD
Científico-tecnológicos
CFD = CIF
CFD = (10º + 11º) /2
CFD = (10º + 11º +
12º) /3
CFD = CE CFC = (8*MCD +
2PAT) /10
CFD – Classificação Final da Disciplina PAT – Prova de Aptidão Tecnológica
CIF – Classificação Interna Final CFC – Classificação Final do Curso
CE – Classificação de Exame Final MCD – Média Aritmética Simples das CFD
No que respeita aos cursos científico-humanísticos e científico-tecnológicos, os
alunos terminam os cursos e obtêm as classificações finais de acordo com as regras
25
expostas no Quadro 12. Para os alunos internos, a classificação final das disciplinas
com exame integra a avaliação contínua, com uma ponderação de 70%, e o resultado
do exame, com uma ponderação de 30%.
A Prova de Aptidão Tecnológica realizada pelos alunos dos cursos científico-
tecnológicos consiste na apresentação e defesa perante um júri de um projeto que é
concebido/construído ao longo do curso (consubstanciado num produto, material ou
intelectual, numa intervenção ou numa atuação) e que é acompanhado por um
Relatório Final. Esta Prova pretende refletir o nível de conhecimentos, de
competências profissionais e de capacidades de conceção adquiridas ao longo da
formação do aluno.
No caso dos cursos artísticos especializados (Quadro 13), os alunos são submetidos a
uma Prova de Aptidão Artística que consiste na defesa, perante um júri, de um
projeto através do qual são avaliados os saberes e as competências técnico-artísticas
adquiridas ao longo do período de formação.
A Prova de Aptidão Artística é um instrumento de avaliação final, com uma
ponderação de 20% na classificação final e avaliada por um júri que integra
elementos externos. Estes transportam para essa avaliação outros critérios de
apreciação que incidem nos conhecimentos, nas aptidões e nas atitudes, atribuindo à
Prova de Aptidão Artística uma relevância completamente distinta dos outros
instrumentos de avaliação.
O referido júri é constituído por um mínimo de quatro elementos. Integra
habitualmente o Diretor da Escola, o Diretor do Curso, o Diretor da Turma, o
Professor-orientador do projeto, um representante de associações empresariais ou de
empresas de setores afins ao curso, um representante de associações sindicais
também de setores afins ao curso e, ainda, uma personalidade de reconhecido mérito
na área artística do curso ou de um setor de atividade com afinidade com o curso.
Quadro 13
MECANISMOS UTILIZADOS PARA DETERMINAR A CLASSIFICAÇÃO
FINAL DO ENSINO ARTÍSTICO ESPECIALIZADO
CURSOS
Disciplinas sem exame Classificação Final
anuais bienais trienais
Artísticos especializados
CFD = CIF CFD = (10º +
11º) /2 CFD = (10º + 11º + 12º) /3
CFC = (8*MCD + 2* PAA) /10
CFD – Classificação Final da Disciplina CFC – Classificação Final do Curso
CIF – Classificação Interna Final MCD – Média Aritmética Simples das CFD
CE – Classificação de Exame Final PAA – Prova de Aptidão Artística
Nos cursos de carácter profissionalizante (Quadro 14), merece destaque as
componentes que se realizam em contexto de trabalho e as Provas de Aptidão
Profissional e de Avaliação Final. Recorde-se que são cursos que conferem dupla
26
certificação, permitindo não só uma entrada imediata no mercado de trabalho, como
também criam condições para o prosseguimento dos estudos de nível superior.
A Prova de Aptidão Profissional, realizada pelos alunos dos cursos profissionais,
consiste na apresentação e defesa perante um júri de um projeto multidimensional
que é concebido/construído ao longo do curso (consubstanciado num produto,
material ou intelectual, numa intervenção ou numa atuação) e que é acompanhada
por um Relatório Final. Esta Prova pretende refletir o nível de conhecimentos, de
competências profissionais e de capacidades de conceção adquiridas ao longo da
formação do aluno.
A defesa desta Prova é feita perante um júri composto pelo Diretor da Escola ou
Diretor Pedagógico, o Diretor do Curso, o Diretor de Turma ou Orientador Educativo,
o Professor Orientador do Projeto e elementos externos à Escola. Estes últimos
elementos são normalmente vários e representam associações empresariais (ou
empresas de setores afins ao curso), associações sindicais, aos quais se junta uma
personalidade de reconhecido mérito na área da formação profissional ou dos setores
de atividades afins ao curso.
A Formação em Contexto de Trabalho é outra das componentes curriculares dos
cursos profissionais, e integra um conjunto de atividades profissionais, desenvolvidas
em empresas ou noutras organizações ao longo de um período de duração variável e
visam a aquisição ou o desenvolvimento de competências técnicas, relacionais e
organizacionais relevantes para o perfil profissional. Neste período o aluno é
acompanhado por um tutor da empresa (ou da instituição onde realiza a formação) e
orientado por um professor do Curso.
27
Quadro 14
MECANISMOS UTILIZADOS PARA DETERMINAR A CLASSIFICAÇÃO
FINAL DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE (PROFISSIONAIS E DE
APRENDIZAGEM)
CURSOS Disciplinas Provas Finais Classificação Final
Profissionais CFD = CIF
*Formação em Contexto de Trabalho; *Prova de Aptidão Profissional
CFC = [2*MCD + (3*FCT + 7*PAP) /10] /3
Aprendizagem CFp = (FSC + FC + 2FT + FP)/5
*Prova de Avaliação Final CFC = (3 CFp + PAF)/4
CFD – Classificação Final da Disciplina CIF – Classificação Interna Final CFC – Classificação Final do Curso MCD – Média Aritmética Simples das CFD FCT – Classificação da Formação em Contexto de Trabalho PAP – Prova de Aptidão Profissional PAF - Prova de Avaliação Fina
FSC – Classificação de Formação Sociocultural FC – Classificação de Formação Científica FT – Classificação de Formação Tecnológica FP – Classificação de Formação Profissional em Contexto de Trabalho CFp – Classificação Final do Percurso de Formação (correspondente a um ano de formação)
A Prova de Aptidão Profissional tem uma ponderação de 23% na classificação final do
curso e a Formação em Contexto de Trabalho pesa 10% na referida classificação final.
A avaliação contínua representa 2/3 da classificação final.
Nos cursos de aprendizagem, a classificação final de cada período é o resultado da
avaliação das componentes (sociocultural, científica e tecnológica), bem como da
Formação Profissional em Contexto de Trabalho.
A classificação final integra o resultado da Prova de Avaliação Final. Esta tem um
figurino próximo da Prova de Aptidão Profissional dos cursos profissionais, embora
tenha uma componente de execução mais vincada. O júri é, neste caso, constituído
pelo Responsável Pedagógico, por Formadores das várias componentes (tecnológica,
sociocultural, científica) e pelo Tutor. A Prova de Avaliação Final tem uma duração
que varia entre 12 a 18 horas e tem uma ponderação de 25% na classificação final do
curso.
2.4 Desalinhamentos das classificações internas
A avaliação contínua suscita algumas questões relacionadas com os diferentes
processos pedagógicos e normas de classificação utilizados pelas Escolas secundárias,
públicas e privadas. As variadas escalas de valorização do trabalho dos alunos, as
perceções relativas aos seus desempenhos e critérios dos professores conduzem a que
seja difícil encontrar uma homogeneidade na classificação dos resultados escolares.
Esta questão é tanto mais aguda quanto se sabe que as classificações internas são
utilizadas para a determinação da classificação final do ensino secundário e,
posteriormente, para a seriação no acesso ao ensino superior, como veremos mais
adiante.
28
Estudos recentes8 caracterizaram e mediram as diferenças entre as classificações
internas dos alunos do ensino secundário que obtiveram os mesmos resultados nos
exames nacionais, permitindo comparar os critérios de avaliação interna utilizados
nas diferentes escolas. Cada escola é comparada com o padrão definido pela média
das escolas do país9. Os resultados desses estudos revelam que, embora seja reduzido
o número de Escolas que apresentam um afastamento significativo relativamente ao
comportamento médio nacional na atribuição das classificações internas, essas
diferenciações são significativas, persistentes no tempo e têm padrões regionais
definidos (Figura 2). Não se advoga a coincidência entre resultados de avaliação
interna e externa, pois constituem processos de avaliação diversos na sua natureza,
objeto e propósitos. A persistência desses desvios introduz óbvias desigualdades nas
posições relativas das classificações dos alunos e, por arrasto, na seriação no acesso
ao ensino superior. A limitação de entradas nalguns cursos, por força do numerus
clausus, pode, em certos casos, prejudicar fortemente a concretização das opções de
alguns candidatos ao ensino superior que, por décimas, se vêm ultrapassados por
outros candidatos.
Figura 2
INDICADOR DE ALINHAMENTO DAS CLASSIFICAÇÕES INTERNAS NO
ENSINO SECUNDÁRIO DE ALGUNS CONCELHOS – TODAS AS
DISCIPLINAS (2007 – 2015)
Fonte: DGEEC, 2016
Não é fácil encontrar solução para esta questão, que decorre da autonomia das
Escolas (e dos professores) e que é outorgada no âmbito das orientações curriculares.
Contudo, sem interferir nessa autonomia, será possível sugerir mecanismos que
levariam as Escolas que, de forma persistente, se afastassem com diferenças
significativas do comportamento médio das classificações internas do ensino
8 DGEEC, 2016
9 O indicador do alinhamento das classificações internas de uma escola mede o desvio dos seus critérios em relação à média dos critérios do conjunto das escolas. Ver nota técnica em http://infoescolas.mec.pt
-30
-20
-10
0
10
20
30
40
50
2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5
UNIDADES DE DESVIO PADRÃO AMOSTRAL
Porto Braga Sintra Lisboa
29
secundário a refletir sobre as suas práticas de avaliação. Tentar-se-ia, dessa
maneira, reduzir as diferenças detetadas e contribuir para uma maior credibilização
da avaliação contínua e uma maior equidade do Concurso Nacional de Acesso.
2.5 Comentários intercalares
Em síntese, e após a breve apresentação das diversas modalidades de ensino
secundário, podem sublinhar-se os seguintes aspetos:
A obrigatoriedade generalizada de 12 anos de escolaridade, associada à oferta
de cursos vocacionados para a educação e formação de adultos, teve reflexos
importantes no contingente de alunos que frequentam as diversas
modalidades do ensino secundário (rondando os 400.000/ano);
Os cursos profissionalizantes têm registado uma presença significativa,
aumentando a sua capacidade de atração no conjunto dos alunos que
frequentam o ensino secundário;
Os resultados do ensino secundário, em termos do número de alunos que
obtiveram o respetivo diploma, acusaram um acréscimo nos últimos anos
provocado maioritariamente pelos diplomados dos cursos de aprendizagem;
Os cursos de Educação e Formação, os cursos científico-humanísticos na
modalidade de ensino recorrente e os RVCC (Reconhecimento, Validação e
Certificação de Competências), orientados para a qualificação de adultos,
reduziram conjuntamente a sua importância;
O perfil dos alunos dos vários cursos de ensino secundário é diferente na
idade, nas classificações obtidas no 3º ciclo do ensino básico, no contexto
social e, também, nas taxas de retenção e desistência;
As componentes de avaliação final dos vários cursos do ensino secundário são
diferentes. A avaliação contínua contribui normalmente com uma ponderação
igual ou superior a 65% para a Classificação Final do Curso (CFC).
Em suma, os diplomados das diferentes modalidades de ensino secundário estão
condicionados, de forma diferenciada, pelos mecanismos de acesso ao ensino
superior.
30
31
3. CURSO DE ENSINO PÓS-SECUNDÁRIO
Criados inicialmente em 199910, os Cursos de Especialização Tecnológica sofreram em
2006 uma profunda reorganização11. Como formações pós-secundárias visavam
conferir, no âmbito do Quadro Nacional de Qualificações, uma qualificação de nível 5
(Quadro 5).
As condições de acesso aos CET possibilitaram a admissão dos titulares de um curso
do ensino secundário (ou equivalente), dos detentores de uma qualificação
profissional de nível 3 e ainda daqueles que, não tendo concluído o ensino
secundário, tivessem frequentado com sucesso os 10º e 11º anos desse nível de
ensino. Os CET eram oferecidos pelas instituições de ensino superior (principalmente
pelas instituições politécnicas), por escolas secundárias e por outras instituições
responsáveis por vertentes de ensino profissional (IEFP, Turismo de Portugal, etc.).
Os diplomados com formação adquirida nos CET constituíram um dos segmentos que
reforçou o fluxo da procura do ensino superior, permitindo que o respetivo ingresso
se realizasse através de um Concurso Especial. O subsistema politécnico acolheu
maioritariamente o fluxo de candidatos com diplomas pós-secundário.
As instituições de ensino superior deixaram, a partir do ano letivo 2015/16, de poder
oferecer novos CET e estes cursos serão totalmente desativados no ensino superior
após 31 de dezembro de 2016. A partir dessa data, a oferta de cursos não
conducentes a grau acolhendo jovens com o ensino secundário completo centrar-se-á
na oferta de cursos superiores designados TeSP (Técnicos Superiores Profissionais). Os
10 Portaria nº 989/99, de 3 de novembro.
11 Decreto-Lei nº 88/2006, de 23 de maio.
32
CET manter-se-ão ativos apenas na oferta do Instituto do Emprego e Formação
Profissional, do Turismo de Portugal e de outras instituições protocoladas com os
Ministérios do Emprego e da Economia.
33
4. VIAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
4.1 Licenciaturas e Mestrados Integrados
As vias de acesso ao ensino superior são variadas. Podem resumir-se nas seguintes
modalidades:
a) Concurso Nacional de Acesso (ensino superior público);
b) Concursos Institucionais (ensino superior privado);
c) Concurso Especiais (maiores de 23 anos, CET, TeSP, Titulares de cursos
superiores, Titulares de cursos superiores para Medicina, Estudantes
Internacionais);
d) Concursos Locais (música, teatro, dança);
e) Regimes especiais (missões diplomáticas no estrangeiro ou em Portugal,
oficiais das forças armadas, bolseiros dos PALOP, desportistas de alta
competição, naturais de Timor-Leste).
O Concurso Nacional de Acesso (CNA) tem sido a via maioritária que permite o
ingresso no ensino superior público (Quadro 15). No ano letivo de 2014/15 esse fluxo
foi responsável por mais de 75% do número de inscritos no 1º ano (e pela 1ª vez) nas
instituições públicas de ensino superior (83,2% nas universidades e 64,8% nas escolas
e institutos politécnicos).
O ingresso no ensino superior privado é principalmente concretizado através dos
Concursos Institucionais (Quadro 15), da responsabilidade de cada uma das
instituições, tendo atingido, no ano letivo 2014/15, cerca de 58% das entradas nestas
34
instituições (62,1% nas universidades privadas e 47,1% nos institutos politécnicos
privados).
O cenário atual do ensino secundário português, que alimenta quase totalmente o
Concurso Nacional de Acesso (CNA), sofreu como vimos profundas mudanças. As
diferentes modalidades sofreram ajustamentos (algumas reduziram-se; outras
reforçaram-se) e o ensino profissionalizante, nas suas várias componentes, afirmou-
se como opção de dimensão significativa. Esta modalidade representou, no ano letivo
2014/15, cerca de 45% dos jovens que frequentaram o nível de ensino secundário,
como se afirmou (Quadro 7).
Quadro 15
ESTUDANTES INSCRITOS NO 1º ANO, PELA 1ª VEZ, NO ANO LETIVO
2014/15, POR FORMA DE INGRESSO* (%)
FORMA DE INGRESSO UNIVERSITÁRIO POLITÉCNICO
TOTAL** PÚBLICO PRIVADO PÚBLICO PRIVADO
Concurso Nacional de Acesso
83,2 64,8 61,2
Concurso local 0,8 2,0 1,1
Concurso Institucional
62,1 47,1 10,9
Provas para maiores de 23 anos
4,2 12,6 7,4 23,2 7,4
Mudança de curso 7,3 15,8 11,0 19,4 10,3
Titulares de outros cursos superiores
2,6 3,6 4,3 3,6 3,4
Titulares de CETs 0,7 5,8 9,8 6,2 4,8
Outras formas de ingresso
1,2 0,1 0,7 0,5 0,9
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
TOTAL (nº) 30.215 8.964 22.669 3.235 65.083
*Não estão incluídos os inscritos que ingressaram ao abrigo do Estatuto do Estudante Internacional.
**Total público e privado, politécnico e universitário.
Fonte: DGEEC
35
Quadro 16
ESTUDANTES INSCRITOS NO 1º ANO, PELA 1ª VEZ, NO ANO LETIVO
2014/15, NAS OUTRAS FORMAS DE INGRESSO*
FORMA DE INGRESSO
UNIVERSITÁRIO POLITÉCNICO
TOTAL**
PÚBLICO PRIVADO PÚBLICO PRIVADO
Bolseiros nacionais de países africanos de expressão portuguesa
222 4 141 0 367
Praticantes desportivos de alto rendimento
74 3 12 2 91
Naturais e filhos de naturais de Timor-Leste
27 0 0 3 30
Cidadãos portugueses bolseiros ou funcionários públicos no estrangeiro
16 0 4 0 20
Acesso especial ao curso de Medicina
14 0 0 0 14
Funcionários diplomáticos 10 2 0 0 12
Outras formas de ingresso*** 29 3 8 0 40
TOTAL 392 12 165 5 574
*Não estão incluídos os estudantes internacionais.
**Total público e privado, politécnico e universitário.
***Oficiais do quadro permanente das forças armadas, transferência de cursos preparatórios, funcionários
estrangeiros em missão diplomática em Portugal, Transferências de inscritos ao abrigo de concursos especiais
Fonte: DGEEC, 2016.
As “outras formas de ingresso”, referidas no Quadro 15, podem ser desagregadas e
analisadas com maior detalhe (Quadro 16). Os bolseiros nacionais dos Países
Africanos de Expressão Portuguesa, naturais de Timor Leste e os praticantes de
desporto de alto rendimento ocuparam uma parcela significativa das vagas criadas
para estes Concursos Especiais.
Concurso Nacional de Acesso. O modelo existente de transição do ensino secundário
para o ensino superior, criado há 20 anos, adequou-se a um período em que a via
científico-humanista era predominante nos percursos formativos do ensino
secundário. As instituições do ensino superior, de acordo com as possibilidades
abertas pela Lei de Bases do Sistema Educativo, têm utilizado os resultados do ensino
secundário para organizar o acesso ao ensino superior. O Concurso Nacional de
Acesso foi, por isso, estruturado através do recurso às classificações internas do
ensino secundário, aos seus exames finais e também aos resultados de algumas
36
disciplinas consideradas nucleares para o ingresso em cada uma das licenciaturas (ou
mestrados integrados).
As instituições de ensino superior, dentro de certos intervalos, intervêm na fixação
das condições de acesso, não só definindo os critérios específicos para cada par
instituição/curso, como também fixando as ponderações das classificações que
utilizam.
Este quadro subordina-se, finalmente, às disposições legais que obrigam à fixação de
disciplinas nucleares para certas áreas de formação e à obtenção de classificações
mínimas para essas mesmas disciplinas.
As vagas definidas no âmbito do Concurso Nacional de Acesso, para além do
contingente geral (candidatos que realizaram os exames finais do ensino secundário),
integram obrigatória e prioritariamente diversos contingentes especiais que
preenchem uma certa percentagem das vagas globais. Nestes casos estão os
seguintes contingentes com as respetivas quotas máximas:
Candidatos oriundos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, que
pretendem escolher cursos não ministrados, respetivamente, nas
Universidades dos Açores e da Madeira (3,5% para cada caso);
Candidatos emigrantes portugueses e familiares (7%);
Candidatos a prestar serviço militar efetivo (2,5%);
Candidatos portadores de deficiência física ou sensorial (2%).
Perante o alargamento do sistema de apoios sociais e a convergência dos sistemas de
ensino superior (após a reforma de Bolonha), pode questionar-se a pertinência da
manutenção de alguns dos referidos contingentes especiais.
Nos últimos anos os candidatos que ingressaram no ensino superior através destes
contingentes especiais oscilaram em redor de 1200/1300 (Quadro 17), evidenciando-
se os candidatos das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
37
Quadro 17
CANDIDATOS COLOCADOS AO ABRIGO DOS CONTINGENTES
ESPECIAIS NO CONCURSO NACIONAL DE ACESSO, EM DIVERSOS
ANOS
REGIMES ANOS
2011 2012 2013 2014 2015
Açores, cursos no continente 282 349 324 330 411
Madeira, cursos no continente 546 527 449 537 620
Emigrantes 131 129 98 116 167
Militares 79 56 28 30 20
Portadores de deficiência física 120 115 127 128 120
TOTAL 1.158 1.176 1.026 1.141 1.338
Fonte: DGES, 2016
Simultaneamente os Concursos Especiais permitiram, de forma complementar ao
Concurso Nacional de Acesso e aos Concursos Institucionais, captar outros públicos
para o ensino superior. De forma sintética valerá a pena evocar algumas
características desses Concursos.
Maiores de 23 anos. A partir do ano letivo 2006/7 foi definida uma via de acesso ao
ensino superior para candidatos maiores de 23 anos. Estes deveriam submeter-se a
uma avaliação das capacidades para a frequência de cursos superiores, a qual deveria
valorizar os percursos e as experiências profissionais. A concretização do processo de
avaliação, bem como a respetiva seleção, foi atribuída às diversas instituições de
ensino superior, as quais ficaram responsáveis pela organização dos respetivos
concursos (concursos com carácter local). No ano letivo de 2014/15, o fluxo de
candidatos maiores de 23 anos que acederam ao ensino superior público atingiu 5,5 %
do total dos novos inscritos, enquanto no ensino superior privado esse contingente
superou os 15 % dos inscritos.
CET. A criação dos Cursos de Especialização Tecnológica (CET), de nível pós-
secundário, já referidos, permitiu igualmente definir perfis profissionais que
respondessem a necessidades sociais e económicas. Os diplomados com um DET
(Diploma de Especialização Tecnológica) tiveram a possibilidade de aceder ao ensino
superior, orientando-se maioritariamente para os cursos do ensino superior
politécnico. Para esta via de acesso foi fixado um contingente que representou uma
percentagem do número global de vagas para os diversos cursos de 1º ciclo (e de
mestrados integrados). No ano letivo de 2014/15, o fluxo de candidatos diplomados
com DET que entraram no ensino superior público representaram 4,6 % do total dos
inscritos, enquanto no ensino superior privado esse contingente abrangeu 5,8 % dos
inscritos.
38
Titulares de outros cursos superiores12. O acesso ao ensino superior ficou igualmente
aberto a titulares de cursos superiores, estando permitida a inscrição destes
diplomados em qualquer licenciatura ou mestrado integrado. No ano letivo de
2014/15, o fluxo de candidatos diplomados com cursos superiores que entraram no
ensino superior público atingiu 3,3 % do total dos inscritos, enquanto no ensino
superior privado esse contingente abrangeu 3,6 % dos inscritos.
Estudante Internacional. O Estatuto do Estudante Internacional foi adotado em 2014
e permite o acesso ao ensino superior de candidatos que não sejam nacionais de um
Estado membro da União Europeia e que não tenham residido em Portugal, de forma
ininterrupta, durante os últimos dois anos (contados até 31 de agosto do ano em que
se queiram inscrever). Para este segmento, foi igualmente definido um contingente
que é função do número total de vagas autorizadas para cada instituição
(normalmente um máximo de 20% do contingente geral). Os estudantes
internacionais que se matricularam no ensino superior português ao abrigo deste
Estatuto passaram de 523 (ano letivo 2014/15) para 1.172 (ano letivo 2015/16)
(Quadro 18).
Quadro 18
ESTUDANTES INTERNACIONAIS MATRICULADOS NOS SUBSISTEMAS
DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICOS E PRIVADOS NOS ANOS LETIVOS
2014/15 E 2915/16
ESPAÇOS GEOGRÁFICOS
ANO LETIVO 2014/15 ANO LETIVO 2015/16
E.S.Público E.S.Privado E.S.Público E.S.Privado
Univ. Pol. Univ. Pol. Univ. Pol. Univ. Pol.
ÁFRICA 104 135 45 19 201 339 90 32
AMÉRICA 146 18 15 19 315 77 23 10
ÁSIA 7 5 5 4 26 18 - 2
EUROPA* 2 - - 2 4 18 5 12
TOTAL setorial 259 158 62 44 546 452 118 56
TOTAL pub/priv 417 106 998 174
TOTAL anual 523 1.172
*Países não membros da União Europeia
Fonte: DGES, 2016
Concursos Locais. São concursos destinados a perfis profissionais específicos,
normalmente associados a algumas das artes performativas (música, teatro e dança).
Os candidatos a estes concursos submetem-se a provas específicas locais adequadas
às respetivas áreas vocacionais. Os concursos locais carecem, contudo, de
autorização governamental, sendo criados e regulados por Portaria.
12 Não inclui os TeSP.
39
Regimes Especiais. Abrangem segmentos diminutos de potenciais candidatos e
destinam-se a resolver situações criadas por força do desempenho de profissões ou
de compromissos internacionais. No primeiro caso estão os oficiais das forças
armadas em missões de soberania, os diplomatas em missão no estrangeiro ou os
desportistas de alta competição. No segundo caso estão os bolseiros dos PALOP e os
naturais de Timor-Leste (Quadro 16).
4.2 Técnicos Superiores Profissionais (TeSP)
Recentemente foram criados os Cursos Técnicos Superiores Profissionais, cursos
superiores não conducentes a grau. São formações exclusivamente oferecidas pelas
escolas e institutos politécnicos e concebidos com base em parcerias alargadas com
empresas e instituições do mundo profissional.
O ingresso nestes cursos superiores está aberto aos titulares de um curso do ensino
secundário (ou equivalente) ou a candidatos maiores de 23 anos que tenham
realizado as provas para avaliação das respetivas capacidades. Nos dois casos, o
acesso faz-se através de concursos organizados localmente por cada instituição de
ensino superior.
Os TeSP correspondem a um perfil profissional com um nível de qualificação 5 do
Quadro Europeu de Qualificações e respondem a necessidades bem definidas e
tipificadas dos sistemas produtivos, administrativos, associativos e sociais. As
parcerias que dão suporte à criação de cada um destes cursos, mas também as
capacidades desenvolvidas através deste nível de qualificação, asseguram que o
perfil destes Técnicos permite uma integração imediata no mercado de trabalho.
Os cursos TeSP têm uma duração normal de quatro semestres (120 ECTS) e
organizam-se em três componentes: formação geral e científica, formação técnica e
formação em contexto de trabalho13.
Entretanto sublinhe-se que no ano letivo de 2015/16, o primeiro ano no qual os TeSP
funcionaram em pleno, as inscrições realizadas ultrapassaram os 6.500 estudantes14.
4.3 Classificações para efeitos de Acesso ao Ensino Superior
Como está estipulado na Lei de Bases do Sistema Educativo português, as provas de
ingresso no ensino superior podem ser da responsabilidade direta das instituições de
ensino superior ou, pelo contrário, podem resultar da utilização dos exames nacionais
do ensino secundário, no caso de se entender que esses mesmos exames satisfazem
os objetivos que se pretendem alcançar com as provas de ingresso. Esta última opção
13 Decreto-Lei nº 63/2016, de 13 de setembro.
14 Informação da DGES, 2016.
40
foi adotada nos últimos 20 anos em Portugal pelo ensino superior. Para além de
admitir apenas candidatos com o ensino secundário completo, o ensino superior
utiliza as classificações dos seus exames finais para seriar os candidatos e, nalguns
casos, em função de certas classificações, para os impedir de ingressarem no ensino
superior.
No caso dos alunos que frequentam os cursos científico-humanísticos e científico-
tecnológicos, o acesso ao ensino superior baseia-se na classificação final do ensino
secundário e nos resultados dos exames nacionais das disciplinas definidas como
provas de ingresso para cada par instituição/curso. A ponderação destas duas
classificações é definida por cada instituição e para cada curso, e oscila em
intervalos bem definidos: a classificação final do secundário não pode ser inferior a
50% e os resultados dos exames requeridos como provas de ingresso têm de ser iguais
ou superiores a 35% (Quadro 19).
E embora a condição necessária para ter acesso ao ensino superior seja a titularidade
de um diploma do ensino secundário, há uma disposição entretanto adotada que
obriga a que a classificação obtida nos exames nacionais definidos como provas de
ingresso não possa ser inferior a 95 (na base 200)15. Refira-se que esta disposição, no
quadro legal vigente, tem dificuldade em conviver com a autonomia concedida às
instituições para fixarem as classificações mínimas e com a obrigatoriedade
normativa de valorizar o percurso educativo do ensino secundário e a relevância da
avaliação contínua.
A conjugação da classificação final do ensino secundário e dos resultados nas provas
de ingresso que são adotadas para acesso a determinado curso conduz a que os
exames finais do secundário tenham uma ponderação na determinação da nota de
ingresso sempre acima dos 45%.16
15 Decreto-Lei nº 296-A/98, de 25 de setembro, com diversas alterações.
16 Na determinação da classificação final do ensino secundário, a ponderação da classificação do exame (CE) é de 30%. Na determinação da classificação de acesso ao ensino superior, a classificação do exame (CE) é novamente utilizada, agora com uma ponderação que oscila entre 35% e 50%. Notando que apenas algumas disciplinas do ensino secundário têm exame final, a classificação do exame (CE) irá ter, na classificação de acesso ao ensino superior, uma ponderação sempre superior a 45%, podendo chegar a quase 60%.
41
Quadro 19
MECANISMOS UTILIZADOS PARA DETERMINAR A CLASSIFICAÇÃO
FINAL DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PARA OS DIPLOMADOS DOS
CURSOS CIENTÍFICO-HUMANÍSTICOS E CIENTÍFICO-TECNOLÓGICOS
DO ENSINO SECUNDÁRIO
CURSOS EXAMES CLASSIFICAÇÃO
(fórmula de cálculo*)
Científico-humanísticos Utilizam as classificações
dos exames nacionais definidos como provas de ingresso exigidas pelo par
instituição/curso
CFCEPE = a*CFC + b1*CE1 + b2*CE2 + b3*CE3
Científico-tecnológicos
*Poderão ser exigidas uma, duas ou três provas de ingresso.
CFCEPE – Classificação Final do Curso para Efeitos de Prosseguimento de Estudos
CFC – Classificação Final do Curso do Ensino Secundário.
CE – Classificação Final do Exame de Disciplina. O número de exames depende do critério fixado por cada instituição
de ensino superior.
a – ponderador que não poderá ser inferior a 50%.
b – ponderador corresponde à soma dos diversos bx, relativos às diversas provas de ingresso exigidas, o qual não
poderá ser inferior a 35%.
No que respeita aos cursos artísticos especializados, a determinação da classificação de acesso segue outro modelo
de ponderação (Quadro 20).
Quadro 20
MECANISMOS UTILIZADOS PARA DETERMINAR A CLASSIFICAÇÃO
FINAL DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PARA OS DIPLOMADOS DOS
CURSOS ARTÍSTICOS ESPECIALIZADOS DO ENSINO SECUNDÁRIO
CURSOS
EXAMES CLASSIFICAÇÃO
Matérias que fazem parte do Currículo do curso
Matérias que não estão diretamente inseridas no curso
Fórmula de cálculo
Artísticos especializados
Português Outros exames exigidos pelo par instituição/curso
CFCEPE = (7*CFC + 3*M) / 10
CFCEPE – Classificação Final do Curso para Efeitos de Prosseguimento de Estudos
CFC – Classificação Final do Curso do Ensino Secundário
M – Média aritmética simples de dois exames nacionais realizados na condição de autopropostos
Um elemento chave na determinação da classificação para efeitos de acesso ao
ensino superior, não só nos cursos artísticos especializados como também nos cursos
profissionais (Quadro 21), resulta da obrigatoriedade a que os candidatos estão
submetidos de realizarem dois (ou três) exames finais (português e outros) que
avaliam matérias integradas no currículo dos cursos científico-humanísticos. Embora
a disciplina de português tenha programas convergentes nas diferentes modalidades
42
de ensino secundário, as outras disciplinas incidem sobre matérias que, no caso dos
cursos artísticos especializados e muito particularmente dos profissionalizantes, não
fizeram parte dos respetivos currículos, em qualquer dos três anos dos referidos
percursos.
Foi perante esta disfunção que a Assembleia da República se pronunciou
recentemente17, sugerindo uma revisão dos procedimentos de acesso aos cursos
artísticos especializados. Recomendação que, exatamente pelas mesmas razões, se
poderia alargar aos cursos profissionais.
Aquela obrigatoriedade explica, em grande parte, o facto de os candidatos que
pretendem ingressar num grau do ensino superior (licenciatura ou mestrado
integrado) serem maioritariamente originários dos designados cursos regulares18.
Quadro 21
MECANISMOS UTILIZADOS PARA DETERMINAR A CLASSIFICAÇÃO
FINAL DO ACESSO AO ENSINO SUPERIOR PARA OS DIPLOMADOS DO
ENSINO PROFISSIONALIZANTE
CURSOS
EXAMES CLASSIFICAÇÃO
Matérias que fazem parte do
Currículo do curso
Matérias que não estão diretamente inseridas no curso
Fórmula de cálculo
Profissionais Português Uma ou duas disciplinas exigidas
pelo par instituição/curso
CFCEPE = (7*CFC + 3*M) / 10
Aprendizagem Viver em
Português*
*”Viver em Português” é a designação utilizada nos Cursos de Aprendizagem
CFCEPE – Classificação Final do Curso para Efeitos de Prosseguimento de Estudos
CFC – Classificação Final do Curso
M – Média aritmética simples de dois exames nacionais realizados na condição de autopropostos
Veja-se, por exemplo, o ano letivo de 2014/15. Cerca de 80% dos jovens que
frequentam o que se designa por cursos regulares no Continente ingressaram nas
instituições de ensino superior (em cursos conducentes a grau, mas também em CET
e em TeSP, naturalmente estes em menor dimensão pois a sua oferta era ainda
reduzida), enquanto apenas 15% dos candidatos que fazem o percurso secundário
através dos cursos profissionais ingressaram nas mesmas opções oferecidas pelas
universidades e politécnicos (Quadro 22). O ingresso destes últimos diplomados em
cursos conducentes a grau (licenciaturas e mestrados integrados) foi apenas de 5,3%.
17 Resolução da Assembleia da República nº 34/2016, sobre o ensino artístico especializado (DR 1ª série, nº 35, 19 de fevereiro de 2016).
18 Cursos científico-humanísticos e cursos científico-tecnológicos.
43
Não se dispõe de informação semelhante no que respeita aos cursos de aprendizagem
(IEFP).
Quadro 22
JOVENS QUE FREQUENTARAM O 12º ANO DO ENSINO
SECUNDÁRIO*, QUE TERMINARAM O ENSINO SECUNDÁRIO* E QUE
INGRESSARAM NUMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR -
2014/2015
CURSOS DO ENSINO SECUNDÁRIO
Cursos regulares*** Cursos artísticos especializados
Cursos profissionais
Nº % % Nº % Nº %
Frequentaram o ensino secundário
60.238
100 825 100 34.169 100
Terminaram o ensino secundário
39.480
65,5 100 598 72,5 100 23.893 69,9 100
Ingressaram numa instituição de ensino superior
Total 31.35
4 79,4 316 52,8 3.489
14,6
GRAU** 30.88
6 78,2 309 51,7 1.261
5,3
CET 457 1,2 7 1,1 2.162 9,1
TESP 11 0 0 0 66 0,3
*Escolas Secundárias do Continente.
**Licenciaturas ou Mestrados Integrados.
***Cursos regulares: cursos científico-humanísticos + cursos científico-tecnológicos
Fonte: DGEEC, 2016
A mesma conclusão se poderá retirar analisando os estudantes colocados e
matriculados no ensino superior através do Concurso Nacional de Acesso, no final da
3ª fase. Os candidatos com origem nos cursos regulares (científico-humanísticos e
científico-tecnológicos) ocuparam cerca de 90% das vagas (Quadro 23), enquanto os
diplomados pelas vias profissionalizantes apenas preencheram um pouco mais de 4%
das vagas.
As taxas de prosseguimento de estudos podem ser analisadas no quadro regional. Os
detentores de diplomas de cursos secundários profissionais, obtidos nas escolas
secundárias do interior do país Castelo Branco, Guarda e Bragança, mas também
Leiria registam taxas de prosseguimento de estudos superiores a 29% (Anexo 2, pág.
74). Os valores mais baixos revelam-se nos distritos de Aveiro, Faro, Lisboa e Setúbal.
A situação a nível concelhio, importante para poder programas iniciativas adequadas
a este segmento da população juvenil é muito diferenciada (Anexo 2, pág. 73).
Quadro 23
44
ESTUDANTES MATRICULADOS NO ENSINO SUPERIOR APÓS
COLOCAÇÃO ATRAVÉS DO CONCURSO NACIONAL DE ACESSO NO
FINAL DA 3ª FASE – 2013 E 2015, POR TIPOLOGIA DE ORIGEM
CURSOS DO ENSINO SECUNDÁRIO DE ORIGEM
2013 2015
Nº % Nº %
Científico-humanísticos 36.246 87.2 38.393 87.1
Científico-tecnológicos 1.058 2.6 691 1.6
Artísticos especializados 279 0.7 393 0.9
Recorrente 1.242 3.0 1.630 3.7
Profissional 1.644 4.0 1.868 4.2
Aprendizagem 92 0.2 115 0.3
EFA 647 1.6 560 1.3
Outros (emigrantes, etc.) 360 0.9 421 1.0
TOTAL 41.568 100.0 44.071 100.0
Fonte: DGEEC
4.4.Variabilidade das classificações dos exames finais
A utilização do exame nacional permite encontrar um indicador que, pelo menos
teoricamente, introduz equilíbrio, homogeneidade e, no limite, equidade na
apreciação que faz dos alunos, no âmbito das disciplinas ou dos cursos.
Nos últimos anos, a avaliação do comportamento das classificações de exames
permitiu detetar, em alguns casos, uma significativa variabilidade inter-anual. Essa
variabilidade é maior numas disciplinas e mais reduzida noutras. Reconhecendo-se
que as provas de exame são elaboradas segundo modelos que integram níveis de
conhecimento, capacidades de discernimento, rapidez de raciocínio e outras
capacidades cognitivas correspondentes genericamente a um determinado estrato
etário, a sua excessiva variabilidade pode ser questionável. O ensino superior deverá,
por isso, repensar a utilização destas classificações de forma a poder diminuir a
volubilidade que se verifica na determinação dessas classificações. A título de
exemplo refira-se que a classificação na prova de Matemática A correspondente ao
percentil 50 (isto é, a classificação limiar acima da qual se situaram metade dos
alunos e abaixo da qual se situou a outra metade) variou, nos últimos anos, entre um
máximo de 14,6 e um mínimo de 8,6 (Figura 3-B), o que representa uma enorme
amplitude de variação para alunos que estão genericamente na mesma posição
relativa. As diferenças entre a variabilidade inter-anual das classificações internas e
das classificações nos exames podem ser bem ilustradas através da Figura 3.
Figura 3
45
MÉDIAS NACIONAIS DAS CLASSIFICAÇÕES INTERNAS E DOS EXAMES
NACIONAIS PORTUGUÊS E MATEMÁTICA A (2007-2015)
Fonte:DGEEC, 2016
8
9
10
11
12
13
14
15
2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5
CLASSIFICAÇÃO MÉDIA NACIONAL
ANO DE EXAMES Português Matemática A
Classificações internas 3 A
8
9
10
11
12
13
14
15
2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5
CLASSIFICAÇÃO MÉDIA NACIONAL
ANO DE EXAMES
Classificações nos exames
Português Matemática A
3 B
46
4.5.Comentários intercalares
As diversas vias de acesso ao ensino superior permitem referir os seguintes aspetos:
A diversidade de acessos é grande e estrutura-se em função das
características dos segmentos da população que se pretendem captar.
Concursos nacionais, institucionais, especiais, locais preenchem a panóplia de
soluções que permitem o acesso ao ensino superior;
Os diversos concursos refletem formas de organização diferenciadas.
Enquanto alguns são nacionais (Concurso Nacional de Acesso e Concursos
Especiais), outros são locais (Concursos Institucionais, Maiores de 23 anos e
TeSP). Outros ainda têm um carácter local, mas condicionados por decisões
governamentais (os designados por Concursos Locais);
O Concurso Nacional de Acesso, estruturado há 20 anos, utiliza os resultados
dos cursos científico-humanísticos e científico-tecnológicos por entender que
as provas realizadas no âmbito destas modalidades de ensino secundário
satisfazem os objetivos de avaliação necessários para o acesso ao ensino
superior. As classificações internas e as classificações das provas finais das
outras modalidades de ensino secundário (sobretudo profissionalizantes) não
mereceram ainda uma avaliação e um reconhecimento que visasse a sua
eventual utilização como provas de acesso e ingresso no ensino superior;
Neste quadro, seria pertinente que as instituições de ensino superior, nos
termos da Lei de Bases do Sistema Educativo, pudessem entender de forma
equitativa os resultados finais das diferentes modalidades de ensino
secundário e atribuíssem relevância aos diferentes resultados, permitindo-se
utilizá-los de acordo com critérios eventualmente ajustados a cada curso ou a
cada par instituição/curso.
Finalmente interessa sublinhar as variações inter-anuais existentes nas
classificações dos exames finais, o que obriga a uma reflexão sobre as causas
desta situação e a conceber instrumentos que permitam matizar estas
variações.
47
5. PERCURSO DOS DIPLOMADOS: DO ENSINO SECUNDÁRIO
AO ENSINO SUPERIOR
5.1 Caracterização da transição: do ensino secundário ao ensino
superior
É interessante analisar os resultados dos percursos dos estudantes que acedem ao
ensino superior um ano após o seu ingresso nas licenciaturas e nos mestrados
integrados. Esta apreciação permite encontrar explicações para o desempenho destes
estudantes e relacionar esse comportamento com a modalidade do ensino
secundário, com o tipo de instituição escolhida (universitária ou politécnica, pública
ou privada) e, ainda, com algumas características dos respetivos contextos sociais.
A transição entre os dois níveis de ensino (do secundário para superior) revela
coerências diferenciadas que dependem, em grande parte, das opções seguidas para
obterem o diploma do ensino secundário. Refira-se, por exemplo, a situação dos
diplomados do ensino secundário que concluíram os seus percursos neste nível de
ensino no ano letivo 2013/14 (Quadro 24). Um número significativo dos diplomados
dos cursos regulares (cursos científico-humanísticos e científico-tecnológicos), um
ano após terem terminado os seus cursos secundários, estudava numa instituição de
ensino superior (78%). Situação que contrasta com os diplomados dos cursos artísticos
especializados (52%) e, de forma ainda mais marcante, com os diplomados dos cursos
profissionais (6%).
Recorde-se que os diplomados com o ensino profissional secundário adquirem uma
dupla certificação: escolar e profissional. A inserção no mundo do trabalho é, por
48
isso, uma opção natural. Mas admite-se, contudo, que o fluxo de estudantes desta
modalidade que chega ao ensino superior tem sido excessivamente diminuto se
comparado com o seu potencial. São valores que se afastam do padrão das antigas
Escolas Profissionais (estimativas apontam para que cerca de 20% dos diplomados
tinham então acesso ao ensino superior) ou da realidade das opções profissionais
verificada noutros países19.
Quadro 24
SITUAÇÃO EM DEZEMBRO DE 2014 DOS DIPLOMADOS EM 2013/14
DO ENSINO SECUNDÁRIO E DOS CET EM PORTUGAL CONTINENTAL
(%)
SITUAÇÃO EM DEZEMBRO DE 2014
DIPLOMADOS DO ENSINO
SECUNDÁRIO
DIPLOMADOS CET
Cursos regulares
Cursos Artísticos
Especializados
Cursos Profissionais
Não se encontram a estudar
17 45 82 32
Estudam para um grau numa instituição de ensino superior
78 52 6 68
Estudam para um CET numa instituição de ensino superior
1 1 9 -
Estudam para um TeSP numa instituição de ensino superior
0 0 0 -
Estudam para um CET noutra instituição
0 0 1 -
Estudam no ensino secundário
4 2 2 -
Fonte: DGEEC, 2016
Um outro indicador revela o que acontece no prosseguimento de estudos após um ano
de frequência de uma instituição do ensino superior. A situação é relativamente
estável no ensino superior público, com cerca de 80% dos estudantes a
permanecerem na mesma instituição e no mesmo curso (Quadro 25). Os abandonos
no final do primeiro ano rondam os 10%, com uma incidência ligeiramente maior no
subsistema politécnico público.
No domínio do ensino superior privado (Quadro 26), a fidelização não se afasta muito
dos valores do setor público, com uma incidência menor no subsistema universitário
privado, embora superando sempre os 80% (inscritos no mesmo ou noutro curso).
A transição do ensino secundário para o ensino superior está naturalmente muito
condicionada pelo percurso anterior, marcado não só pela modalidade de ensino
secundário, como também pelas condições socioeconómicas de enquadramento dos
19 Em França, por exemplo, 58,6% dos jovens que adquiriram o diploma de “Bachelier professionnel” em 2013 entraram no ensino superior. Esse fluxo era de 22,8% em 2005 (Lerminiaux, 2015).
49
jovens estudantes e, ainda, pelas preferências individuais que as diversas situações
geram.
Quadro 25
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES UM ANO APÓS AS SUA INSCRIÇÕES NO
1º ANO PELA PRIMEIRA VEZ, EM LICENCIATURAS DO ENSINO
SUPERIOR PÚBLICO
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES UM ANO APÓS A INSCRIÇÃO
Primeira inscrição no ensino universitário
Primeira inscrição no ensino politécnico
2011/12 2013/14 2011/12 2013/14
% % % %
Inscritos no mesmo curso
78,3 81,0 79,8 80,9
Inscritos noutro curso 9,7 10,0 7,5 8,2
Diplomados no mesmo curso
0,1 0,1 0,1 0,2
Não encontrados no ensino superior
11,8 8,9 12,6 10,7
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: DGEEC, 2016
Quadro 26
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES UM ANO APÓS AS SUA INSCRIÇÕES NO
1º ANO PELA PRIMEIRA VEZ, EM LICENCIATURAS DO ENSINO
SUPERIOR PRIVADO
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES UM ANO
APÓS A INSCRIÇÃO
Primeira inscrição no ensino universitário
Primeira inscrição no ensino politécnico
2011/12 2013/14 2011/12 2013/14
% % % %
Inscritos no mesmo curso 69,8 75,6 79,1 76,7
Inscritos noutro curso 11,9 10,6 6,1 7,7
Diplomados no mesmo curso
1,0 1,1 0,3 0,3
Não encontrados no ensino superior
17,2 12,7 14,4 15,3
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: DGEEC, 2016
Um aspeto importante que permite igualmente caracterizar os diferentes percursos
de transição diz respeito à mobilidade geográfica na transição entre o ensino
secundário e o ensino superior. Com as exceções dos distritos de Lisboa, Porto e
Coimbra, que garantem que uma percentagem elevada dos seus estudantes do ensino
secundário regular se mantêm nas instituições de ensino superior desses mesmos
50
distritos, os estudantes que são originários dos outros distritos revelam uma
propensão elevada para a mobilidade geográfica, inscrevendo-se em instituições de
ensino superior fora do distrito onde completaram o ensino secundário (Figura 4).
Recorde-se que em todos os distritos do Continente estão sediadas instituições
públicas de ensino superior.
Figura 4
TAXAS DE INSCRIÇÃO EM 2014/15 DOS DIPLOMADOS QUE
TERMINARAM O ENSINO SECUNDÁRIO REGULAR EM 2013/14, NAS
INSTITUIÇÕES DO ENSINO SUPERIOR DOS DISTRITOS DE ORIGEM
Fonte: DGEEC, 2016
Os estudantes do ensino secundário profissional apresentam, porém, um grau de
mobilidade bem mais moderado, havendo uma maior tendência para ingressarem no
ensino superior em instituições que se localizam no mesmo distrito (Figura 5).
Figura 5
TAXAS DE INSCRIÇÃO EM 2014/15 DOS DIPLOMADOS QUE
TERMINARAM O ENSINO SECUNDÁRIO PROFISSIONAL EM 2013/14,
NAS INSTITUIÇÕES DO ENSINO SUPERIOR DOS DISTRITOS DE
ORIGEM
87%
80% 75%
51%
45% 43% 41%
32% 32% 31% 28% 28%
21% 19% 17% 14%
9% 8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Diplomados do ensino secundário regular (31354 alunos) (científico-humanistícos e científico-tecnológicos)
51
Fonte: DGEEC, 2016
O resultado do percurso no ensino superior, no final da primeira inscrição no 1º ano,
revela-se desigual. Essas desigualdades podem ser analisadas em função das áreas
CNAEF20 correspondentes aos cursos em que estão inscritos (Figura 6) ou confrontadas
com as notas de ingresso no ensino superior público (Figura 7).
Verifica-se que o grau de fidelização ao curso escolhido é maior nos domínios da
“Saúde e Proteção Social” (86,7%) e menor nas “Engenharias, Industrias
Transformadoras e Construção” (76,8%). A taxa de abandono dos diferentes domínios
científicos nos quais se inscreveram é variável e sempre próxima dos 10% (Figura 6).
Por outro lado, os estudantes que tiveram notas de ingresso no ensino superior mais
elevadas são aqueles que revelam maior estabilidade nos cursos que escolheram
(Figura 7). Cerca de três quartos dos estudantes que ingressaram no ensino superior
público com uma nota de 10 estão inscritos no mesmo curso; a taxa de abandono
destes estudantes é de 10%. Aqueles que obtiveram notas mais elevadas, acima de
16, registaram apenas um abandono que ronda os 3%.
Figura 6
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES NO ANO LETIVO DE 2014/15, APÓS A
RESPETIVA INSCRIÇÃO NO 1º ANO PELA 1ª VEZ EM 2013/14,
SEGUNDO AS DIVERSAS CNAEF NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO
20 Classificação Nacional das Áreas de Educação e Formação.
79% 79% 76%
72% 71% 69% 69%
63% 63%
55% 53% 51% 50% 49%
37% 34%
24%
13%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90% Diplomados do ensino secundário profissional (3489 alunos)
52
Figura 7
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES NO ANO LETIVO DE 2014/15, APÓS A
RESPETIVA INSCRIÇÃO NO 1º ANO PELA 1ª VEZ EM 2013/14,
SEGUNDO AS DIVERSAS NOTAS DE INGRESSO NO ENSINO SUPERIOR
PÚBLICO
Fonte: DGEEC, 2016
Se observarmos o mesmo padrão de comportamento, agora em função das diversas
formas de ingresso, verificamos que a maior taxa de desistência se encontra nos
estudantes que ingressaram através do Concurso Especial “Titulares de Outros Cursos
Superiores” (Figura 8). O regime geral (Concurso Nacional de Acesso e Concursos
Locais) é maioritariamente estável, pois cerca de 94% dos estudantes que acederam
por estas vias se conservam a estudar no final do primeiro ano do 1º ciclo (84% no
53
mesmo curso, 5% noutro curso da mesma instituição e um pouco mais de 5% num
curso de outra instituição).
Figura 8
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES NO ANO LETIVO DE 2014/15, APÓS A
RESPETIVA INSCRIÇÃO NO 1º ANO PELA 1ª VEZ EM 2013/14,
SEGUNDO AS DIVERSAS FORMAS DE INGRESSO NO ENSINO
SUPERIOR PÚBLICO
Fonte: DGEEC, 2016
Finalmente verifica-se que os beneficiários dos Serviços de Ação Social com
candidaturas aceites são os que mais se mantêm nos mesmos cursos no final do
primeiro ano de frequência do ensino superior (Figura 9). Dos estudantes que não se
candidataram a apoios sociais ou que tiveram as suas solicitações rejeitadas, 80%
mantém-se no ensino superior, embora alguns deles tenham mudado de curso ou de
estabelecimento. Apenas cerca de 9% destes não estava, naquele ano letivo, no
ensino superior.
54
Figura 9
SITUAÇÃO DOS ESTUDANTES NO ANO LETIVO DE 2014/15, APÓS A
RESPETIVA INSCRIÇÃO NO 1º ANO PELA 1ª VEZ EM 2013/14, EM
LICENCIATURAS DO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO,
SEGUNDO A CONDIÇÃO DE BENEFICIÁRIO DOS SERVIÇOS DE AÇÃO
SOCIAL
Fonte: DGEEC, 2016
A situação dos diplomados, no ano letivo imediatamente posterior ao ano em que
obtiveram o diploma do ensino secundário público, pode igualmente ser analisada em
função do seu contexto social, com referência particular às habilitações académicas
da mãe (Quadro 27).
55
Quadro 27
SITUAÇÃO EM 2014/15 DOS DIPLOMADOS EM 2013/14 DO ENSINO
SECUNDÁRIO PÚBLICO, POR MODALIDADE DE ENSINO E POR
HABILITAÇÃO DA MÃE DO ALUNO DIPLOMADO (%)
Situação do diplomado em 2014/15
Mo
dal
idad
e d
o
ensi
no
sec
un
dár
io
Hab
ilita
ção
da
mãe
Alu
no
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3/
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14
Não
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Estu
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en
sin
o
secu
n-d
ário
Nº % % % % % %
Cursos científi-co-huma-nísticos
Ensino superior 7659 8 92 88 1 0 3
9.º ano ou 12.º anos completos
11124 15 85 79 1 0 4
Até ao 6.º ano completo
6212 23 77 72 1 0 4
Desconhecida 7451 19 81 75 1 0 4
Cursos profis-sionais
Ensino superior 424 53 47 14 29 3 1
9.º ano ou 12.º anos completos
3448 75 25 7 16 2 1
Até ao 6.º ano completo
4900 87 13 4 8 1 1
Desconhecida 4442 82 18 5 8 2 2
Cursos científi-co- tecno-lógicos
Ensino superior 16 25 75 56 13 6 0 9.º ano ou 12.º anos completos
51 49 51 39 8 0 4
Até ao 6.º ano completo
31 81 19 10 10 0 0
Desconhecida 25 84 16 16 0 0 0
Ensino artísti-co especializado
Ensino superior 211 35 65 63 0 0 1
9.º ano ou 12.º anos completos
211 45 55 51 1 0 2
Até ao 6.º ano completo
60 52 48 45 0 0 3
Desconhecida 71 65 35 32 3 0 0
Fonte: DGEEC, 2016
Os estudantes que frequentaram o ensino secundário científico-humanístico são os
que maioritariamente se mantêm a estudar, embora esse comportamento dependa
da habilitação académica das respetivas mães: habilitações mais baixas
correspondem a maiores abandonos. Mas maioritariamente conservam a sua inserção
em instituições de ensino superior.
56
Os estudantes que concluíram os cursos profissionais não prosseguiram, na sua grande
maioria e no ano letivo seguinte, os seus estudos. As variações relevantes registam
também um grau de dependência com as habilitações académicas da mãe e têm
normalmente um mesmo comportamento: quanto maior habilitação, mais
estabilidade existe na frequência das várias opções do ensino.
No domínio do ensino artístico especializado, a opção pelo prosseguimento do estudo
é moderada e varia entre 48% (para estudantes cuja mãe tem uma habilitação igual
ou inferior ao 6º ano completo) e 65% (para aqueles cuja mãe tem uma habilitação
completa superior).
5.2 Comentários intercalares
O abandono após a primeira inscrição no 1º ano do ensino superior
(licenciaturas e mestrados integrados) ronda os 10% nas instituições públicas e
15% nas instituições privadas;
Ainda neste âmbito, uma percentagem muito elevada dos jovens que
concluíram o ensino secundário profissional não prosseguem os seus estudos;
Os candidatos com origem no ensino secundário profissional têm uma maior
tendência para escolher instituições de ensino superior dos respetivos
distritos; os candidatos diplomados pelo ensino regular (científico-
humanísticos e científico-tecnológicos) revelam um grau de mobilidade
geográfica maior, com exceção dos distritos de Lisboa, Porto e Coimbra;
O sucesso dos estudantes após a primeira inscrição no 1º ano do ensino
superior depende muito da área científica do curso, da classificação e da
forma de ingresso no ensino superior. A área da saúde é a mais estável. É no
regime geral de acesso ao ensino superior que se verifica um menor
abandono; as médias mais elevadas das classificações de acesso contribuem
também para uma menor taxa de abandono.
O contexto social revela também condicionalismos no percurso dos
estudantes. A habilitação da mãe do estudante introduz um grau de
diferenciação no acesso ao ensino superior e na sua permanência nesse nível
de ensino. Neste domínio, os beneficiários dos apoios da Ação Social têm uma
taxa de abandono mais pequena que os estudantes que não se candidataram
ou que viram as suas candidaturas rejeitadas.
57
6. MODALIDADES DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR EM
DIVERSOS PAÍSES EUROPEUS21
Uma apreciação sobre as diversas modalidades de acesso ao ensino superior em
países da União Europeia permitiu encontrar três tipologias que prevalecem
maioritariamente nesses países (Quadro 28). As referidas tipologias podem
sumariamente descrever-se do seguinte modo:
A – Acesso livre. O acesso ao ensino superior é caracterizado apenas pela exigência
de um diploma do ensino secundário. Todos os candidatos que tenham completado
com êxito o ensino secundário podem ingressar no ensino superior, embora haja
alguns domínios para os quais existem restrições (medicina, artes, etc.).
Normalmente nestes sistemas o primeiro ano dos diversos 1ºs ciclos do ensino
superior é muito exigente, o que obriga a que um número significativo de estudantes
seja obrigado a mudar de eixo de formação após o insucesso do 1º ano (ou sucesso
relativo), transferindo-se normalmente para outro curso e, eventualmente, para
outra instituição. Sublinhe-se que frequentemente esta alteração de rumo é apoiada
por um acompanhamento tutorial que tem como função evidenciar vocações e
aconselhar percursos de formação alternativos e mais adequados. A conclusão do
ensino secundário obriga normalmente a um exame nacional.
B- Acesso liderado pelas instituições de ensino superior. O acesso ao ensino
superior é uma responsabilidade das instituições de ensino superior. Estas aceitam as
21 Contribuição da DSAES/DGES.
58
candidaturas (obrigatoriamente instruídas com o diploma do ensino secundário) e
desenvolvem um conjunto de iniciativas (provas, entrevistas, avaliação curricular,
etc.) com vista a aceitarem (ou não) o candidato. O sistema de acesso é da exclusiva
responsabilidade das instituições de ensino superior.
C- Acesso condicionado. O acesso ao ensino superior está estruturado com uma
componente de avaliação externa que condiciona o ingresso no ensino superior. Os
candidatos são avaliados através de provas regionais ou nacionais que deverão incidir
em áreas científicas convergentes com as escolhas de 1ºs ciclos, admitindo-se
normalmente a existência de classificações mínimas.
Deverá entender-se estas tipologias como grandes tendências. Na verdade, o que se
verifica na atualidade em praticamente todos os países é a criação de diversas vias
de acesso ao ensino superior, traduzidas em percursos que permitam valorizar as
diferentes modalidades de ensino secundário e garantir o prosseguimento dos estudos
se concretize com coerência. Esta visão articula-se com a oferta formativa do ensino
superior, cada vez mais diversificada e garantindo respostas positivas às diversas
necessidades e solicitações da sociedade, desde as áreas mais profissionalizantes e
tecnológicas às opções de investigação e de criação.
No que ao ensino secundário diz respeito, a diversidade nos países europeus é
enorme. Veja-se o exemplo francês, que organiza o ensino secundário em torno de
três modalidades de “Bacheliers”: geral, técnico e profissional22. O acesso ao ensino
superior está apenas dependente da conclusão do “Bachelier”, mas os diplomados de
cada uma daquelas modalidades têm restrições na escolha que fazem das instituições
e formações de ensino superior. Os “Bacheliers” profissionais não têm acesso pleno
às universidades e optam maioritariamente (cerca de 75%) por formações superiores
curtas. Não obstante, cerca de 58,6% dos “Bacheliers” profissionais que obtêm os
seus “Baccalauréat” prosseguem os seus estudos no ensino superior (2014).
O caso belga é ligeiramente diferente. O ensino secundário termina com o CESS
(“Certificat d’Enseignement Secondaire Supérieur”), que está organizado em cinco
modalidades: geral, transição, técnico, artístico e profissional. Os diplomados destas
modalidades têm total liberdade de escolha no acesso ao ensino superior, com
algumas exceções que, aliás, se aplicam a todas as cinco modalidades referidas. Há
ainda uma via suplementar de acesso ao ensino superior para candidatos que não
tenham o CESS; nestes casos são as próprias instituições de ensino superior que
organizam provas especiais para avaliar as capacidades dos candidatos e decidem
autonomamente sobre a sua admissão.
Uma das modalidades que começa a ter uma expressão interessante ao nível do
ensino superior são as designadas formações em alternância. Praticadas desde há
muito na Alemanha, começam a ser adotadas noutros países em formações de nível
superior. Em França muitos dos diplomados da modalidade “Bachelier” profissional
22 Em 2014 a distribuição do número de “Bacheliers” era a seguinte: Gerais - 48,9%; Profissionais – 30,5%; e Tecnológicos – 20,7%.
59
inserem-se em contratos de profissionalização, que correspondem a parcerias entre
empresas e instituições de ensino superior para formações de geometria variável,
algumas delas conducentes a grau (licenciaturas profissionais correspondentes a um
curso superior curto de dois anos acrescido de um terceiro ano). Ao nível do ensino
superior, as opções podem variar entre linhas com maior expressão científica e eixos
mais profissionalizantes.
Quadro 28-A
RESUMO DOS SISTEMAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR DE
DIVERSOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA
PAÍSES
FORMAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
Acesso livre Acesso
condicionado pelas instituições
Acesso condicionado pela Administração
Bélgica flamenga
Todos os cursos, com exceção da medicina, medicina dentária e artes.
Bélgica francófona
Todos os cursos, com exceção das ciências aplicadas, das artes e da formação de professores, para os quais é necessário um exame de aptidão
Dinamarca
O acesso ao ensino superior depende do cumprimento de requisitos específicos (notas obtidas, combinação de disciplinas curriculares, etc.). Há possibilidade de introduzir numerus clausus em algumas formações. Existem provas de aptidão para a música e as artes.
Espanha
O acesso ao ensino superior está dependente de uma prova nacional organizada pelo Ministério (PAU – Prova de Acesso à Universidade).
60
Quadro 28-B
RESUMO DOS SISTEMAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR DE
DIVERSOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA
PAÍSES
FORMAS DE ACESSO AO ENSINO SUPERIOR
Acesso livre Acesso condicionado pelas
instituições Acesso condicionado pela Administração
França
Após obter o diploma do ensino secundário, o estudante tem acesso às universidades. Exceções são as “Grandes Écoles” e alguns Institutos de Tecnologia.
“Grandes Écoles” definem regras próprias para admitirem candidatos, eventualmente organizando cursos de preparação.
Holanda
As instituições definem as condições de acesso. Cada subsistema de ensino superior identifica o diploma do ensino secundário que é exigido para o respetivo acesso. Para alguns cursos são definidas limitações (numerus clausus). Em certas condições a seleção pode assumira forma de um sorteio.
Irlanda
As instituições definem, para cada curso, os requisitos mínimos para o acesso. Os resultados do secundário são utilizados para seriação. Alguns cursos obrigam a numerus clausus.
Reino Unido
As instituições de ensino superior determinam as suas próprias condições de acesso, para cada curso.
Fonte: informação preparada pela DSAES/DGES
61
7. NOVOS PÚBLICOS
A avaliação que foi efetuada nos capítulos anteriores incidiu na população
maioritariamente jovem que conclui as diversas modalidades do ensino secundário.
Contudo torna-se decisivo abordar igualmente os outros públicos. Estes incluem
segmentos da população, maioritariamente ativos, empregados ou desempregados,
que por motivos diversos não adquiriram na altura própria formação superior (ou
abandonaram os seus estudos) e estão potencialmente disponíveis para ingressarem
(ou reingressarem) no ensino superior. Alguns possuem um diploma do ensino
secundário, outros têm experiência de frequência do ensino superior, outros ainda
são depositários de uma experiência profissional intensa e multifacetada. Estes
últimos potenciais candidatos possuem uma formação diferenciada, com
componentes de conhecimento adquiridos através das experiências profissional e
cidadã, mas também em resultado do desenvolvimento de capacidades de
intervenção, de conceção, de gestão e de decisão que foram adquirindo ao longo da
vida e que os coloca em posição de poderem, porventura de forma privilegiada,
frequentar com sucesso linhas de formação formal nas instituições de ensino
superior.
Este último segmento da população, naturalmente heterogéneo, deverá ser
considerado nos seus diversos componentes. A possibilidade de mobilizar uma parte
desse segmento constitui um repto para as instituições de ensino superior. Obriga a
um esforço adicional para identificar áreas de formação específicas, para eventuais
ajustamentos a ciclos de estudo (naturalmente no âmbito das suas acreditações) ou,
inclusivamente, para a criação de novas áreas de formação, por forma a responder
positivamente a necessidades sociais latentes e/ou potenciais.
62
Mas, importa recordar, Portugal tem um desafio específico que aponta para que se
alcance em 2020 um dos objetivos da Europa 2020: 40% da população com idades
entre 30 e 34 deverão ter nessa data uma formação superior ou equivalente23.
De acordo com o Quadro 4, apenas 20% da população portuguesa tinha, em 2015, um
nível superior de formação. Este valor contrasta com a média da União Europeia
(27%) e com alguns países membros, designadamente a Espanha, França, Holanda e
Irlanda, que têm mais de 30% das respetivas populações com formação superior.
Nos Censos de 2011, o panorama da população portuguesa era o seguinte (Quadro
29):
Quadro 29
POPULAÇÃO DE ACORDO COM O SEU NÍVEL DE ESCOLARIDADE -
2011
NÍVEL DE ESCOLARIDADE Nº %
Nenhum nível de escolaridade 895.140 8,5
Ensino pré-escolar 261.805 2,5
Ensino básico 5.912.398 55,9
Ensino secundário 1.770.324 16,8
Ensino pós-secundário 92.611 0,9
Ensino superior 1.629.900 15,4
TOTAL 10.562.178 100,0
Fonte: INE, Censos, 2011
Os dados do Censo de 2011 permitem também conhecer como se repartem os níveis
de escolaridade pelos grupos etários. O peso da população com 65 e mais anos, que
não tem nível algum de escolaridade atinge quase 5% da população residente, o que
marca indubitavelmente o perfil demográfico português (Quadro 30).
Mas o grupo etário que integra a população que tem 20 a 24 anos (que terão 30 a 34
anos em 2020), que se distribuía então pelos dois níveis de escolaridade (ensino
básico e ensino secundário e pós-secundário), atingia, em 2011, cerca de 350.000
residentes. Com situações diferenciadas nos respetivos níveis de escolaridade (nível
23 Este é um desafio identificado num pilar de desenvolvimento que entende como prioridade
a qualificação e formação através de uma aposta no aumento dos níveis de qualificação da
população portuguesa, muito especialmente dos adultos, o que também constitui objetivo
central do recentemente apresentado Programa Qualifica.
63
completo, incompleto ou a frequentar), este grupo assumirá cinco anos mais tarde
(2016) outras características, designadamente, atingirão idades superiores a 23 anos.
Exige uma atenção especial pelo potencial que existe no que respeita à possibilidade
deste grupo, ainda que parcialmente, poder frequentar o ensino superior.
Quadro 30
POPULAÇÃO RESIDENTE COM 15 E MAIS ANOS, SEGUNDO O GRUPO
ETÁRIO, POR NÍVEL DE ESCOLARIDADE24
GRU-POS DE
IDADES
NENHUM NÍVEL DE
ESCOLARIDADE ENSINO BÁSICO
ENSINO SECUNDÁRIO E
PÓS-SECUNDÁRIO
ENSINO SUPERIOR
TOTAL
Nº % Nº % Nº % Nº % %
15-19 2.025 0,4 171.884 30,4 333.849 59,1 57.492 10,1 100,0
20-24 4.502 0,8 148.652 25,5 212.33 36,5 216.578 37,2 100,0
25-29 7.274 1,1 190.905 29,1 219.713 33,5 238.184 36,3 100,0
30-34 10.387 1,3 261.956 33,9 240.596 31,1 260.628 33,7 100,0
35-64 104.890 2,4 2.763.514 62,8 780.659 17,7 753.764 17,1 100,0
>64 412.793 20,5 1.419.977 70,7 74.040 3,7 103.254 5,1 100,0
Fonte: Censos 2011, INE
A comparação da situação demográfica de 2011 a 2015 (Quadro 31 e 32) permite
detetar duas tendências:
Redução da população residente, com especial incidência nos grupos que, em
2011, tinham idades compreendidas entre 15 e 24 anos (Quadro 31). O grupo
de idades de 15-19 anos (2011) fica reduzido, em 2015, em cerca de 20.000
indivíduos (grupo de idades 20-24 anos). E o grupo de idades de 20-24 anos
(2011) fica reduzido, em 2015, em cerca de 25.000 indivíduos (grupo de
idades 25-29 anos);
Redução da população residente inserida no grupo etário dos 30 aos 34 anos,
com um nível de escolaridade completa de ensino secundário e pós-
secundário e de ensino superior (Quadro 32). São aliás os dois únicos
segmentos da população que têm um crescimento negativo, com uma
expressão significativa nos possuidores de ensino superior completo.
24 Completo, incompleto e a frequentar.
64
Quadro 31
POPULAÇÃO RESIDENTE POR GRUPOS ETÁRIOS
GRUPOS DE IDADES
POPULAÇÃO RESIDENTE
2011 2015
Nº % Nº %
0-14 1.572.329 14,9 1.485.557 14,4
15-19 565.250 5,4 560.363 5,4
20-24 582.065 5,5 545.132 5,3
25-29 656.076 6,2 557.449 5,4
30-34 773.567 7,3 640.029 6,2
35-64 4.402.827 41,7 4.429.600 42,8
>64 2.010.064 19,0 2.123.200 20,5
TOTAL 10.562.178 100,0 10.341.330 100,0
Fonte: INE, Censos, 2011 e INE, Estimativas Anuais da População Portuguesa, 2016
Quadro 32
POPULAÇÃO RESIDENTE COM 15 E MAIS ANOS, POR GRUPO ETÁRIO
E NÍVEL DE ESCOLARIDADE COMPLETA (SECUNDÁRIO, PÓS-
SECUNDÁRIO E SUPERIOR), EM 2011 E 2015
IDADES
Ensino secundário e pós-secundário completo
Ensino superior completo
2011 2015 2011/15 2011 2015 2011/15
Nº % Nº %
15-19 86.308 111.800 +29,5 --
20-24 277.386 312.900 +12,8 76.522 107.500 +40,5
25-29 200.163 200.500 +0,2 191.201 193.300 +1,1
30-34 208.005 206.200 -0,9 221.389 208.000 -6,0
35-64 658.252 849.100 +29,0 662.183 887.000 +34,0
>64 69.710 83.100 +19,2 93.447 122.400 +31,0
1.499.824 1.763.600 +17,6 1.244.742 1.518.200 +22,0
Fonte: INE, Censos, 2011 e INE, Inquérito ao Emprego25
, 2016
Deve admitir-se que o alargamento do acesso ao ensino superior através dos novos
públicos se poderá fazer por via do ingresso nos cursos TeSP, das provas para
avaliação das capacidades para maiores de 23 anos e, ainda, do reingresso de antigos
estudantes que, por motivos diversos, não concluíram as suas licenciaturas (ou
mestrados integrados).
25 Embora o INE aconselhe prudência na utilização das estatísticas demográficas que produz no âmbito do Inquérito ao Emprego (neste caso as estatísticas de 2015), elas permitem, contudo, identificar tendências evolutivas.
65
No censo de 2011 consegue-se identificar o número de antigos estudantes do ensino
superior que, nesse ano, tinham um nível de escolaridade de “ensino superior
incompleto”, não estando também a frequentá-lo. No grupo etário entre os 20 e os
34 anos, foram recenseados cerca de 70.000 indivíduos (Quadro 33). Não se conhece
a situação nos últimos anos, mas este grupo continuará seguramente a ter expressão
e integrará públicos que poderiam ser objeto de mobilização por parte das
instituições de ensino superior.
Quadro 33
POPULAÇÃO RESIDENTE SEGUNDO O GRUPO ETÁRIO COM NÍVEL DE
ESCOLARIDADE NO ENSINO SUPERIOR – 2011
ENSINO SUPERIOR
GRUPOS ETÁRIOS
17-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 OUTROS
Completo -- 43.646 151.119 184.958 170.144 117.350 389.330
Incompleto -- 9.094 23.811 38.143 36.678 23.404 61.266
A frequentar
56.243 163.838 63.254 37.527 23.836 14.629 20.381
Fonte: INE, Censos, 2011
Um outro segmento dos eventuais novos públicos abrange a população ativa
empregada que nunca frequentou o ensino superior ou que tem formação superior
incompleta. Este grupo, de acordo com os diversos escalões etários, é numeroso. Por
exemplo, o grupo etário dos 25 aos 34 anos que tem um nível de escolaridade
completo de ensino secundário deverá superar os 300.000 indivíduos (Quadro 34).
A mobilização deste grupo para a frequência de cursos TeSP, para a organização de
linhas de formação conducentes a grau em concertação com entidades do mundo
empresarial, associativo ou institucional ou para o reingresso no ensino superior para
aqueles que já o frequentaram, deverá constituir uma estratégia das instituições de
ensino superior para reforçar a abertura destas à sociedade e para contribuir para
níveis mais elevados de qualificação da população.
Quadro 34
66
POPULAÇÃO EMPREGADA POR LOCAL DE RESIDÊNCIA, POR GRUPO
ETÁRIO E POR NÍVEL DE ESCOLARIDADE MAIS ELEVADO COMPLETO
– 2015
Unidade: milhares
REGIÕES
GRUPOS ETÁRIOS
TOTAL 25-34 35-44 45-54
3º ciclo
Secun-dário
3º ciclo Secun-dário
3º ciclo Secun-dário
3º ciclo Secun-dário
NORTE 333,9 374,3 85,4 108,5 101,8 115,8 84,1 67,4
CENTRO 170,6 174,2 38,3 47,9 52,2 50,2 44,3 39,4
LVT 303,3 429,3 60,9 112,9 87,4 137,2 86,8 92,6
ALENTJ. 47,7 55,9 9,6 18,6 14,5 17,0 12,4 10,6
ALGAR. 48,7 54,8 11,6 15,7 13,9 16,8 13,4 10,5
AÇOR. 23,3 21,6 6,8 8,2 7,6 6,0 a) a)
MADEI. 20,3 23,2 6,0 7,0 6,4 7,7 a) a)
TOTAL 947,7 1133,2 218,7 318,7 283,6 350,7 249,1 227,8
a) Dados sem segurança estatística
Fonte: INE, Inquérito ao Emprego, 2016
Embora o propósito desta avaliação incida no acesso global ao ensino superior, vale a
pena voltar a realçar o objetivo da Europa 2020 orientado para garantir que, em
2020, 40% da população com idades de 30 a 34 anos tenha formação superior. A
Direção Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC) analisou recentemente
os diversos cenários possíveis para se atingir, em 2020, aquele objetivo26. No período
entre 2016 e 2020, para o cenário que permitiria cumprir aquele objetivo, seria
necessário formar com diplomas do ensino superior cerca de 20.000 indivíduos, os
quais deveriam estar inseridos em 2020 naquela faixa etária. Não será um objetivo
fácil; o aproveitamento de todos os mecanismos de acesso que facilitem a entrada no
ensino superior da população com idades entre os 25 e os 30 e que reúna condições
para tal é um desafio que está colocado às instituições de ensino superior no seu
conjunto.
Mas, como se afirmou, a possibilidade de mobilização de outros segmentos e grupos
da população é enorme, e a capacidade de mobilização das instituições de ensino
superior é fundamental, naturalmente inserida num ambiente social favorável para
que esse desígnio se concretize.
26 DGEEC, Diplomados com Ensino Superior (População dos 30 aos 34 anos – dados e projeções), julho.2016.
67
8. QUESTÕES PARA DEBATE
8.1. Alguns princípios
O diagnóstico da situação permitiu ao Grupo de Trabalho aprofundar a reflexão sobre
o acesso ao ensino superior. Essa reflexão beneficiou igualmente das diversas
contribuições proporcionadas pelas entidades e personalidades consultadas no
decorrer dos trabalhos do Grupo de Trabalho. O balanço permite defender que os
ajustamentos e as novas opções que se deverão encontrar para os mecanismos de
acesso ao ensino superior necessitariam de integrar os seguintes princípios:
Valorização dos diferentes percursos educativos das várias modalidades do
ensino secundário (nomeadamente dos percursos artísticos especializados e
profissionalizantes) e utilização dos resultados nas suas diversas componentes,
o que contribuirá para aumentar a equidade no processo de acesso ao ensino
superior.
O acesso ao ensino superior utiliza, através do Concurso Nacional de Acesso,
os resultados finais das modalidades do ensino secundário regular (científico-
humanísticos e científico-tecnológicos). O atual sistema não considera de
forma análoga os resultados da frequência e finais dos restantes percursos
formativos (artísticos especializados e profissionalizantes). Estes diplomados,
embora habilitados com o curso do ensino secundário (ou equivalente), não
encontram uma transição lógica e coerente para o prosseguimento de seus
estudos a nível superior (cf. capítulo 4.3). Todas as modalidades de ensino
secundário permitem o prosseguimento de estudos a nível superior, embora
algumas delas estejam também vocacionadas para a inserção no mundo do
trabalho. Mas o sistema de acesso ao ensino superior não está preparado para
68
explorar a diversidade de resultados oferecidos pelas várias modalidades de
ensino secundário. Deste modo, o sistema de ensino superior tem tido
dificuldade em mobilizar todos os possíveis candidatos que,
independentemente dos percursos seguidos no ensino secundário, revelem
capacidades bastantes para a frequência do ensino superior.
Valorização das diversas vias de acesso ao ensino superior, designadamente do
Concurso Nacional de Acesso, dos Concursos Institucionais e dos Concursos
Especiais, reconhecendo o mérito das diversas vias e garantindo um quadro de
estabilidade com reconhecimento social.
Este princípio deverá ser entendido de forma dinâmica, admitindo a
estruturação de novas componentes dos Concursos Especiais e ajustando
alguns dos critérios utilizados no Concurso Nacional e nos Concursos
Institucionais. O advento de novas realidades, traduzidas na adoção de 12
anos de ensino obrigatório, no crescimento sustentado das opções
profissionalizantes do ensino secundário, na criação dos TeSP como formação
de nível superior, assim como na atração de novos públicos, confere ao ensino
superior um papel acrescido na qualificação da população. Nos últimos anos,
as vias de acesso ao ensino superior foram ampliadas com a introdução de
alguns novos Concursos Especiais destinados aos maiores de 23 anos, aos
estudantes internacionais, aos titulares de CET e aos diplomados através dos
cursos TeSP. Este dinamismo responde à necessidade de definir percursos com
lógica e coerência específicas, como foi o caso da criação dos TeSP
exclusivamente da responsabilidade do subsistema de ensino superior
politécnico. Novas vias deverão ser estabelecidas e novas ofertas formativas a
nível do ensino superior deverão ser criadas, garantindo-se percursos
coerentes, defendendo-se a igualdade de oportunidades e incentivando-se a
mobilização e inclusão de talentos.
Redução das influências entre a conclusão do ensino secundário e o acesso ao
ensino superior, minimizando as interferências entre o percurso final do
ensino secundário e a possibilidade de ingresso no ensino superior.
A utilização das classificações internas e dos exames do ensino secundário no
Concurso Nacional de Acesso e nos Concursos Institucionais, associada às
limitações de entrada no ensino superior (numerus clausus), introduz
solicitações e pressões nos percursos do ensino secundário, designadamente
nos períodos finais. Entende-se que há um natural estímulo ao reajustamento
das suas atividades, concentrando-as no sentido de criar as melhores
condições para garantir bons resultados que permitam o acesso ao ensino
superior. Esta tendência, no entanto, para além de desestruturar alguns dos
seus domínios curriculares, conduz a que, muitas vezes, haja a tentação de
inflacionar as classificações internas. Os referenciais de aprendizagem deste
nível de ensino são não poucas vezes alterados perante as exigências de
preparação dos exames finais. E a diversidade curricular é frequentemente
69
reduzida pela necessidade de afetar tempos letivos à preparação dos exames.
Defende-se neste princípio a redução dessas interferências não só no sentido
de permitir a concretização dos referenciais de aprendizagem próprios do
ensino secundário, como também para garantir a devida relevância curricular
na certificação do ensino secundário.
Atribuição de maior autonomia às instituições do ensino superior na escolha e
utilização dos critérios para ingresso nos pares instituição/curso.
O papel das instituições na escolha dos seus estudantes é hoje limitado. Nos
Concursos Especiais e nos Concursos Locais essa responsabilidade é
plenamente assumida pelas instituições, através da conceção de exames
escritos, da realização de provas orais, de avaliações curriculares ou de
procedimentos que permitem a validação do acesso a percursos escolares
e/ou profissionais. No que respeita ao Concurso Nacional de Acesso e aos
Concursos Institucionais, as instituições têm utilizado as classificações dos
exames do ensino secundário com ponderações que adotam de acordo com
intervalos de variação legalmente definidas. Trata-se, através deste princípio,
de defender o alargamento dessa capacidade e de atribuir às instituições de
ensino superior a possibilidade de ampliar o conjunto de indicadores de
resultados a considerar (designadamente das várias modalidades do ensino
secundário) na fórmula compósita que permite o ingresso nos seus cursos.
Esta prática obriga a definir ponderações ajustadas ao perfil de candidatos
que estarão em condições de ingressar no ensino superior. Trata-se ainda de
permitir que as instituições de ensino superior possam organizar provas
específicas de acesso para determinados segmentos de potenciais candidatos,
à semelhança do que acontece hoje com os concursos para candidatos
maiores de 23 anos e o acesso aos cursos TeSP. Esta possibilidade poderá ser
virtuosamente compatibilizada, ao nível de cada instituição, com a definição
de prioridades regionais ou preferências temáticas, convergentes com as
áreas de especialização dessa instituição e com as realidades predominantes
do respetivo contexto socioeconómico.
Articulação entre as estratégias institucionais e os percursos curriculares das
escolas do ensino secundário e das instituições do ensino superior, criando
sinergias e racionalizando recursos em favor de perfis de aprendizagem
integrados e coerentes.
Este princípio, de carácter transversal, propõe uma maior cooperação entre
os dois níveis de ensino, permitindo uma melhor integração das
aprendizagens. As relações são, na atualidade, promovidas em redor de dias
abertos, de programas de iniciação à investigação, de escolas de verão,
sempre com um objetivo de captação privilegiada de candidatos. Para além
deste nível de relacionamento, interessa fomentar uma maior articulação
entre as dinâmicas dos dois níveis de ensino, criando pontes de colaboração,
identificando percursos coerentes, valorizando processos de aprendizagem
70
com continuidade e até promovendo a utilização racional de equipamentos e
infraestruturas.
8.2. Principais questões para debate
As questões para debate integram novos procedimentos que incidem, de forma
complementar aos mecanismos vigentes, em três áreas fundamentais:
Criação de outras vias de acesso ao ensino superior, traduzidas em novos
concursos especiais, garantindo a exigência e a qualidade dos percursos
formativos (temas A, B e C);
Aprofundamento de alguns concursos especiais já existentes, reajustando ou
ampliando a capacidade de mobilização de novos públicos (temas D, E e F);
Introdução de ajustamentos na utilização dos resultados do ensino secundário
(variantes científico-humanística e científico-tecnológica), tentando reduzir
distorções que essa utilização tem provocado (temas G e H).
Estas questões traduzem problemáticas específicas no âmbito do sistema nacional de
acesso ao ensino superior, pelo que podem suscitar soluções autónomas e decisões
segmentadas.
8.2.1. Novos Concursos Especiais de Acesso ao Ensino Superior e simplificação
das condições de certificação para acesso ao Ensino Superior
Tema A - Criação de um Concurso Especial de acesso ao ensino superior para os
diplomados dos cursos profissionalizantes (cursos profissionais e cursos de
aprendizagem)
O ponto de partida para acolher esta hipótese indica que as instituições de ensino
superior politécnico deveriam utilizar as classificações das diversas componentes
curriculares destes cursos para a formação da nota de candidatura, designadamente:
Classificações das disciplinas consideradas nucleares para o ingresso no curso
superior;
Prova de Aptidão Profissional (PAP) – cursos profissionais;
Prova de Avaliação Final (PAF) – cursos de aprendizagem;
Formação em Contexto de Trabalho (FCT) – cursos profissionais;
Formação em Contexto Profissional de Trabalho (FP) - cursos de
aprendizagem.
Estes resultados, utilizados através de ponderações ajustadas, permitiriam definir
procedimentos para estruturar o acesso às escolas do ensino superior politécnico.
71
Esta hipótese tem como pressuposto a supressão da utilização dos exames nacionais
da modalidade científico-humanística como condição de acesso dos diplomados com
cursos profissionalizantes ao ensino superior, abordada no Tema C (exposto adiante).
A.1 – Utilização das classificações das componentes curriculares do ensino secundário
profissionalizante (classificação das disciplinas e das PAP, PAF, FCT E FP) em
conjunto com uma prova de ingresso, coordenada, elaborada e executada pelas
instituições de ensino superior politécnico, no quadro de um concurso especial com
vagas próprias (fixação de uma quota percentual das vagas anualmente aprovadas
para cada par curso/instituição).
A nota de candidatura seria calculada considerando as classificações das
componentes curriculares referidas e a classificação da prova de ingresso com uma
ponderação adequada.
A.2 – Ajustamento dos atuais exames finais do ensino secundário, estruturando o seu
conteúdo em módulos gerais e outros específicos, estes últimos incidindo nas
matérias específicas de cada modalidade de ensino secundário.
Este sistema evitaria a multiplicação de momentos de exame e integraria num só
exame a diversidade das matérias das várias modalidades de ensino secundário.
A nota de candidatura seria calculada considerando as classificações das
componentes curriculares referidas e a classificação da prova de ingresso (módulo
geral e módulo específico), reservando-se uma quota das vagas aprovadas para serem
afetadas a esta modalidade de acesso.
Tema B – Criação um Concurso Especial de acesso aos cursos das áreas artísticas
do ensino superior para os diplomados dos cursos artísticos especializados.
O ponto de partida para acolher esta hipótese indica que as instituições de ensino
superior deveriam utilizar as classificações das diversas componentes curriculares
destes cursos para a formação da nota de candidatura, designadamente:
Classificações das disciplinas consideradas nucleares para o ingresso no curso
superior;
Prova de Aptidão Artística (PAA) – cursos artísticos especializados.
Estes resultados, utilizados através de ponderações ajustadas, permitiriam definir
procedimentos para estruturar o acesso ao ensino superior (universitário e
politécnico).
Esta hipótese tem como pressuposto a supressão da utilização dos exames nacionais
da modalidade científico-humanística como condição de acesso dos diplomados com
cursos artísticos especializados ao ensino superior, abordada no Tema C (exposto
adiante).
72
B.1 – Utilização das classificações das componentes curriculares do ensino secundário
profissionalizante (classificação das disciplinas e da PAA) em conjunto com uma
prova de ingresso, coordenada, elaborada e executada pelas instituições de ensino
superior, no quadro de um concurso especial com vagas próprias (quota percentual
das vagas aprovadas).
A nota de candidatura seria calculada considerando as classificações das
componentes curriculares referidas e a classificação da prova de ingresso com uma
ponderação adequada.
B.2 – Ajustamento dos atuais exames finais do ensino secundário, estruturando o seu
conteúdo em módulos gerais e outros específicos, estes últimos incidindo nas
matérias específicas de cada modalidade de ensino secundário.
Este sistema evitaria a multiplicação de momentos de exame e integraria num só
exame a diversidade das matérias das várias modalidades de ensino secundário.
A nota de candidatura seria calculada considerando as classificações das
componentes curriculares referidas e a classificação da prova de ingresso (módulo
geral e módulo específico), reservando-se uma quota das vagas aprovadas para serem
afetadas a esta modalidade de acesso.
Tema C – Supressão dos exames nacionais como condição para a certificação dos
diplomados dos cursos artísticos especializados e profissionais para candidatura
ao ensino superior.
Supressão da obrigatoriedade de realização dos exames da via cientifica-humanista,
atualmente imposta a todos os alunos que concluíram os cursos artísticos
especializados e os profissionais, e que pretendam prosseguir os estudos no ensino
superior, mesmo quando estes exames não são provas de ingresso para os cursos a
que os alunos se candidatam. Esta obrigatoriedade constitui uma exigência recente27
que impõe aos diplomados dos cursos artísticos especializados e profissionais a
realização, como alunos autopropostos, do exame final de português e um outro
exame (ou dois outros exames), de livre escolha, de entre os que são oferecidos na
variante científico-humanística.
8.2.2. Dinamização de Concursos Especiais existentes
Tema D – Criação de um Concurso Nacional (ou uma componente do atual
Concurso Nacional de Acesso) para acesso aos cursos Técnicos Superiores
Profissionais (TeSP) do ensino superior politécnico público.
27 Decreto-Lei 139/2012, de 29 de agosto.
73
Esta hipótese consiste na estruturação de um concurso nacional para o acesso dos
diplomados das diversas modalidades dos cursos secundários aos cursos Técnicos
Superiores Profissionais oferecidos pelo ensino superior politécnico público.
Sugere-se que esta avaliação possa constituir uma componente do Concurso Nacional
de Acesso, evitando deste modo a duplicação de colocações de difícil articulação.
Os critérios de seriação seriam definidos em função dos resultados dos percursos do
ensino secundário, havendo a possibilidade de estabelecer preferências regionais e
habilitacionais.
Tema E – Alteração dos conteúdos das provas para apuramento de capacidades
para candidatos maiores de 23 anos
As provas para avaliação das capacidades de candidatos ao ensino superior para
maiores de 23 anos são concebidas e realizadas pelas diversas instituições de ensino
superior.
Os referenciais até hoje utilizados para elaborar estas provas são, em muitos casos,
os dos exames finais do ensino secundário, nas modalidades científico-humanística e
científico-tecnológica.
Sugere-se que as instituições de ensino superior reestruturem estas provas, ajustando
os seus conteúdos, de forma a generalizar um processo de avaliação que combine o
nível mínimo de conhecimentos dos candidatos, as suas aptidões cognitivas e os
valores associados e adquiridos ao longo das suas experiências profissionais, evitando
que a prova seja uma repetição dos exames finais do ensino secundário.
A utilização exclusiva dos referenciais do ensino secundário transforma esta prova
numa espécie de exame alternativo, de conteúdo semelhante, do ensino secundário.
A prova deve dirigir-se a candidatos que têm percursos profissionais intensos e ricos e
que pretendem acrescentar conhecimento às suas experiências profissionais, pelo
que o seu conteúdo deverá ser adequado a este objetivo.
Tema F – Criação no sistema de ensino superior de opções de formação
específicas para acolher novos públicos (maiores de 23 anos, reingressos,
formações complementares, etc.)
Criação de uma campanha de mobilização com vista a atrair novos públicos para o
ensino superior, para a frequência de cursos Técnicos Superiores Profissionais,
Licenciaturas e Mestrados Integrados, com incidência em diversos segmentos da
população:
74
Indivíduos maiores de 23 anos, ativos ou não, eventualmente criando cursos
temáticos transitórios orientados para necessidades regionais e locais;
Antigos estudantes que tenham abandonado os estudos, criando mecanismos
específicos de reingresso através de creditação dos percursos anteriores e das
respetivas experiências profissionais;
Ativos empregados, estruturando linhas de formação dedicadas conducentes a
grau ou a diplomas de TeSP, organizadas com base em parcerias com
instituições (empresas, consórcios de empresas e outras organizações);
Bacharéis e Licenciados pré-Bolonha, para adquirirem os seus novos graus de
licenciado e de mestre.
Esta campanha de mobilização visará não só o objetivo de conseguir que 40% da
população com idades compreendidas entre 30 e 34 tenha, em 2020, formação
superior, mas também para reforçar a abertura e relacionamento das instituições de
ensino superior com as empresas, com as instituições, com as associações e, em
geral, com a sociedade, institucionalizando modelos de formação flexíveis, ajustados
a necessidades sociais, e garantindo um diálogo institucional permanente com os
diversos contextos.
Defende-se a dinamização de muitas iniciativas positivas já existentes e aponta-se
para uma forte intervenção da parte das instituições de ensino superior na
mobilização e acolhimento destes novos públicos, designadamente em termos de
estruturação dos cursos, de perfil e formação do corpo docente, de métodos
pedagógicos, de horários de funcionamento, de critérios de avaliação, de utilização
de novas tecnologias, de melhor identificação das competências a adquirir, etc.
Serão modalidades de organização específicas, preparadas para responder à situação
dos novos públicos e à criação de condições de sucesso, num universo onde a taxa de
abandono tem sido elevada porventura por inadequação das condições
excessivamente padronizadas de funcionamento que predominam nas instituições.
8.2.3. Ajustamentos na utilização dos resultados do ensino secundário
Tema G – Normalização das classificações dos exames finais do ensino secundário
Proposta de normalização das classificações dos exames finais do ensino secundário,
reduzindo os problemas suscitados com a variabilidade inter-anual.
A variação detetada nos resultados dos exames ao longo dos anos poderá ter duas
causas: profunda alteração do perfil da população que se submete a exame ou
variabilidade excessiva dos instrumentos de avaliação.
A primeira causa é de difícil compreensão pois a mudança do perfil da população
estudantil deverá, em princípio, resultar de um processo de médio ou longo prazo.
75
A segunda causa, atribuindo a variabilidade dos resultados dos exames à alteração do
nível de exigência de algumas das provas é, porventura, a mais plausível.
A evolução normal deste sistema de avaliação deveria admitir apenas variações de
curto prazo de pequena dimensão e remeteria as variações de longo prazo para
causas relacionadas com a deterioração ou aperfeiçoamento dos processos de
aprendizagem, com a eficiência do sistema, com novos quadros de exigência,
situações que não deveriam condicionar o curto prazo.
Nesse sentido, a normalização das classificações obrigaria a encontrar uma nova série
de dados, organizados segundo um padrão baseado em modelo teórico ou utilizando
comportamentos “históricos”, de forma a tornar equivalentes as médias dos diversos
anos.
Esta solução poderia passar pelo estabelecimento de uma média fixa, que deveria
corresponder a um valor razoável, determinado em função de uma de três hipóteses:
média dos últimos dez anos de resultados dos exames finais do secundário; média de
valor fixo, por exemplo 12; ou ainda média adotada de sistemas de ensino secundário
europeus e identificados como modelo para um nível de desenvolvimento social
semelhante ao português.
A normalização de classificações passaria então por um processo de calibração das
classificações dos exames para que, em cada ano, a média fixada fosse sempre
respeitada. Em particular, quaisquer variações anuais bruscas, resultantes do nível
de dificuldade dos exames, seriam automaticamente corrigidas através da
recalibração do processo de classificação, de modo a que as referidas variações não
se refletissem nas classificações finais dos alunos e garantindo que as médias
nacionais permanecessem estáveis (Cf. Exemplo, anexo 3, pág. 75).
Este procedimento permitiria igualmente matizar a exigência introduzida em 2008 no
sentido de impor uma classificação mínima nas provas de ingresso exigidas pelos
diferentes cursos28. A relevância da avaliação contínua no ensino secundário e a
atribuição da competência às instituições de ensino superior para a fixação anual das
classificações mínimas, atribuições legalmente contempladas, ficam no mínimo
diminuídas perante a referida fixação administrativa ocorrida em 2008. Esta
interferência, associada ao carácter aleatório que os exames sempre possuem,
tornam pertinente o tema da normalização das classificações dos exames de
ingresso.
Tema H – Regulação das diferenciações excessivas das classificações internas do
ensino secundário
28 Decreto-Lei nº 90/2008, de 30 de maio, que altera o disposto no Decreto-Lei nº 296-A/98, de 25 de setembro, fixando a classificação mínima das provas de ingresso exigidas pelos cursos superiores.
76
Hipótese de regulação da utilização, no regime geral de acesso, das classificações
internas do ensino secundário que apresentem desalinhamentos excessivos e
persistentes.
Este procedimento permitiria adotar medidas com impacto na utilização das
classificações internas para efeitos de acesso ao ensino superior. A medida de
regulação introduziria limites máximos para os desvios das classificações internas
utilizadas no Concurso Nacional de Acesso. As classificações de escolas que
ultrapassassem aqueles limites máximos durante vários anos, correspondendo a
desalinhamentos excessivos e sucessivos nas suas classificações internas, seriam
submetidas a regras de ajuste. O ajuste seria apenas introduzido para efeitos de
acesso ao ensino superior, podendo traduzir-se na adoção de ponderações corrigidas
na utilização das notas internas das escolas desalinhadas ou por ajuste direto da nota
interna no cálculo da nota de candidatura. Em ambos os casos, o efeito do ajuste
apontaria para neutralizar as consequências dos desalinhamentos excessivos nas
candidaturas ao Concurso Nacional de Acesso, colocando em pé de igualdade os
candidatos oriundos de todas as escolas do país.
O estabelecimento de regras transparentes, definidas por antecipação e com efeito
apenas em anos futuros, permitiria ainda que todas as escolas ajustassem os seus
critérios, sendo expectável que apenas um número muito reduzido acusasse desvios
excessivos. Sublinhe-se que esta medida salvaguardaria a autonomia das escolas na
atribuição das classificações internas, pois todos os ajustes previstos nesta proposta
seriam adotados apenas para as candidaturas ao Concurso Nacional de Acesso.
77
9. NOTA FINAL
O Relatório integra-se numa visão que reconhece que o desenvolvimento da
sociedade depende de uma aposta forte na qualificação da população. Este aspeto é
decisivo não só para garantir uma afirmação individual mais livre e autónoma dos
cidadãos, como também para melhorar os desempenhos económicos, sociais e
culturais que caracterizam as sociedades. O desenvolvimento, nas suas várias
componentes, está intimamente relacionado e dependente da maior qualificação da
população que nele participa.
Não obstante a evolução dos últimos anos em Portugal, no âmbito da qual assistimos
à instalação de bolsas qualificadas de atividades criativas e inovadoras, o país
continua deficitário em inúmeros patamares, sendo a educação e a formação um dos
domínios que regista atrasos crónicos. O diagnóstico sumário que é apresentado neste
Relatório fundamenta esta apreciação.
O Relatório aponta para uma caracterização dos segmentos da população que estão
no sistema educativo a montante do ensino superior e que podem ser atraídos para as
suas várias ofertas. Incluem-se os jovens que terminam as várias modalidades do
ensino secundário e que, devido à ausência de maior flexibilidade no sistema de
transição para o ensino superior, não têm tido iguais oportunidades para
prosseguirem os seus estudos a nível superior.
Mas o Relatório recupera também a problemática dos ativos adultos que, por motivos
vários, não tiveram possibilidade de frequentar no seu tempo o ensino superior e de
retirar daí os benefícios sociais e individuais que são reconhecidos.
A adoção de qualquer proposta destinada a melhorar, alargar, aprofundar, criar ou
ponderar as vias de acesso ao ensino superior deveriam ser acompanhadas por
mecanismos de monitorização ou, pelo menos, pela obrigatoriedade de realizar,
periodicamente, uma avaliação. Assim poder-se-iam corrigir, em tempo útil, desvios
grosseiros e iniquidades que possam resultar dessas novas realidades.
O facto das diversas modalidades do ensino secundário não serem, na atualidade,
tratadas com igual dignidade e reconhecimento no acesso ao ensino superior resultou
porventura da ausência de avaliação de impactes e de resultados do atual sistema,
situação que talvez pudesse ter sido superada através de uma apreciação externa
atempada.
78
Também no domínio dos novos públicos, o sistema de ensino superior não encontrou
ainda soluções mais flexíveis para, garantindo a exigência e a qualidade, conseguir
atrair camadas da população que têm percursos com uma componente profissional
mais vincada, percursos esses diferentes daqueles jovens que ingressam diretamente
do ensino secundário. Este segmento da população poderia alterar seguramente os
seus desempenhos se pudesse conciliar e integrar as suas experiências profissionais
com uma componente de formação formal proporcionada pelas instituições de ensino
superior.
Finalmente estes mecanismos de maior abertura e garantia de coerência dos
percursos formativos necessitam de um diálogo forte entre instituições dos diversos
níveis de ensino, convocando inclusivamente as áreas de formação do IEFP,
responsáveis pelos cursos de aprendizagem. A melhor articulação curricular e
coerência das formações impõem o aprofundamento desse diálogo inter-institucional.
Mas também os recursos materiais, as infraestruturas e os equipamentos deveriam
ser objeto de utilizações partilhadas em benefício de todos os intervenientes.
O alargamento do acesso ao ensino superior, no quadro proposto pelo presente
Relatório, deverá conciliar a afirmação da exigência e da qualidade, o
reconhecimento e credibilidade dos diversos patamares do sistema educacional, a
necessidade de mobilizar diferentes segmentos da população e a flexibilidade e
coerência na estruturação da oferta educativa.
79
10. ANEXOS
10.1 Despacho do MCTES
80
10.2 Prosseguimento dos estudos dos alunos dos curso
profissionais
CURSOS PROFISSIONAIS
TAXAS DE
PROSSEGUIMENTO DE
ESTUDOS EM 2014/2015
DOS DIPLOMADOS QUE
CONCLUIRAM O ENSINO
SECUNDÁRIO EM
2013/2014
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CURSOS
PROFISSIONAIS
TAXAS DE
PROSSEGUIMENTO
DE ESTUDOS EM
2014/2015 DOS
DIPLOMADOS QUE
CONCLUIRAM O
ENSINO
SECUNDÁRIO EM
2013/2014
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10.3 Exemplo de normalização
Este exemplo de normalização recorre a um modelo simples. Existem outros modelos, alguns deles vulgarizados em países da OCDE.
A simulação é realizada a partir dos resultados da prova de Matemática A (exame de 2014 e de 2015), com os seguintes pressupostos:
A média das classificações não normalizadas obtidas no exame em 2014 foi de 7,9 valores;
A média das classificações não normalizadas obtidas no exame em 2015 foi de 9,91 valores.
Procedeu-se à normalização das classificações em função de uma média padrão, que foi fixada em 12 valores. Este valor passaria hipoteticamente a ser a referência para o acesso ao ensino superior. A simulação obrigou ao ajustamento de dezenas de milhares de classificações individuais (75.000 em 2015 e 65.500 em 2015) apuradas naqueles dois anos, normalizando-as e ajustando-as à média 12.
O resultado apurado para 2014 aponta para que 32,3% dos alunos teriam resultados inferiores a 95 (na base 200); utilizando os dados reais desse ano, antes da normalização, aquele valor seria de 63%.
O resultado encontrado para 2015 é semelhante: cerca de 32,7% dos alunos teriam resultados inferiores a 95 (na base 200), enquanto a utilização das classificações reais levou a que 46,2 % dos alunos não atingisse a classificação mínima de 95.
A média 12 foi definida nesta simulação adoptando-se um valor equilibrado que corresponde genericamente à possibilidade de admissão de um contingente que corresponda, em valores relativos normalizados, a uma preparação satisfatória. Poder-se-ia fixar um outro valor para essa média, eventualmente calculado em função das classificações obtidas ao longo do percurso do secundário (avaliação contínua). Mas, após a fixação de um determinado valor, ele deveria ser utilizado para a normalização das classificações de todas as disciplinas e de forma estável durante alguns anos.
Finalmente, como atrás se afirmou, esta simulação é apenas um exemplo que reflete um dos vários procedimentos utilizados para normalizar dados. Reduz a variação inter-anual (através dos dois exemplos utilizados, que são completamente diferentes, a possibilidade de se atingirem classificações acima dos 9,5 afetou nos dois casos uma percentagem semelhante dos alunos). Garante ainda que as posições relativas das classificações obtidas nos exames são mantidas não havendo nessa matéria qualquer interferência do procedimento de normalização.
O quadro seguinte contém a comparação, para os exames de Matemática A realizados nos anos de 2014 e 2015, das classificações não normalizadas e normalizadas.
83
NORMALIZAÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES DOS EXAMES DE MATEMÁTICA A,
REALIZADOS NOS ANOS LETIVOS DE 2014 E 2015
2014 2015
Classificações não normalizadas
(% acumuladas)
Classificações normalizadas
(% acumuladas)
Classificações não normalizadas
(% acumuladas)
Classificações normalizadas
(% acumuladas)
0 - 5 0,8 0,6 0,4 0,4
5 – 10 2,8 1,7 1,3 1,2
10 – 15 5,4 2,6 3,3 2,3
15 – 20 8,9 4,0 5,6 3,3
20 – 25 11,8 5,2 7,6 5,2
25 – 30 15,8 7,2 10,8 6,6
30 – 35 18,6 8,4 12,2 8,6
35 – 40 23,0 10,5 15,3 10,3
40 – 45 26,0 11,8 17,3 11,7
45 – 50 30,7 13,7 20,7 13,7
50 – 55 33,3 15,8 22,5 15,3
55 – 60 38,9 18,0 26,4 17,2
60 – 65 41,8 18,6 28,5 19,5
65 – 70 47,0 21,5 32,7 21,2
70 – 75 49,7 23,8 34,8 22,5
75 – 80 54,9 25,8 39,0 25,8
80 - 85 56,8 27,6 40,5 27,6
85 – 90 62,0 29,9 45,2 29,9
90 – 95 63,0 32,3 46,2 32,7
95 - 100 68,4 33,3 51,3 34,5
100 - 105 70,8 36,4 53,8 37,1
105 – 110 74,6 38,9 57,9 39,0
110 – 115 76,3 40,6 59,9 40,5
115 – 120 79,8 41,8 63,9 44,0
120 – 125 81,3 45,4 65,7 45,7
125 – 130 84,3 47,0 69,6 46,2
130 – 135 85,6 49,3 71,4 50,8
135 – 140 88,1 51,6 75,0 55,3
140 – 145 89,2 53,4 76,6 59,8
145 – 150 91,4 59,1 79,9 64,5
150 – 155 92,2 67,4 81,4 69,1
155 – 160 93,9 74,1 84,6 73,4
160 – 165 94,6 80,5 85,9 76,6
165 – 170 95,9 85,2 88,7 81,3
170 – 175 96,5 89,2 90,1 85,1
175 – 180 97,6 92,2 92,9 88,4
180 – 185 98,0 95,1 94,2 91,6
185 – 190 98,9 97,3 96,6 94,2
190 – 195 99,3 98,8 97,8 97,6
195 - 200 100,0 100,0 100,0 100,0
Número de candidatos
74.929 65.533
Média 7,9 12,0 9,91 12,0