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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO TRABALHO - ESMAT
THIAGO ALBUQUERQUE ARAÚJO GOMES
REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
TRABALHISTA
João Pessoa
2010
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THIAGO ALBUQUERQUE ARAÚJO GOMES
REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
TRABALHISTA
Monografia apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Direito Material do
Trabalho e Processual do Trabalho Lato
Sensu da Escola Superior da Magistratura
– ESMAT, como requisito parcial à
obtenção de grau de Pós-Graduado em
Direito Material e Processual do Trabalho.
Área de atuação: Direito Processual do
Trabalho
Orientador: Prof. Ms. Sérgio Cabral dos Reis
João Pessoa
2010
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THIAGO ALBUQUERQUE ARAÚJO GOMES
REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
TRABALHISTA
Monografia apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Direito Material do
Trabalho e Processual do Trabalho Lato
Sensu da Escola Superior da Magistratura
do Trabalho - ESMAT, como requisito
parcial à obtenção de grau de Pós-
Graduado em Direito Material e
Processual do Trabalho.
Área de Concentração: Direito Processual
do Trabalho
Resultado: ______________________
João Pessoa, ____ de ____________ de 2010.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Ms. Sérgio Cabral dos Reis
Orientador
_____________________________________________
Prof.
Membro da Banca
_____________________________________________
Prof.
Membro da Banca
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 05
CAPÍTULO I SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, RECURSO
EXTRAORDINÁRIO E A INTRODUÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL............. 07
1.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL........................................................................... 07
1.1.1 Origem...................................................................................................................... 07
1.1.2 Características......................................................................................................... 07
1.1.3 Competência............................................................................................................ 09
1.2 RECURSO EXTRAORDINÁRIO............................................................................... 09
1.2.1 Origem...................................................................................................................... 09
1.2.2 Características......................................................................................................... 10
1.2.3 Cabimento em Matéria Trabalhista...................................................................... 12
1.2.4 Ius Postulandi e Recurso Extraordinário............................................................. 14
1.3 INTRODUÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL. EMENDA CONSTITUCIONAL
Nº. 45/2004, LEI 11.418/2006 E REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL..................................................................................................... 15
CAPÍTULO II PROCEDIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL
SEGUNDO O ARTIGO 543-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL..................... 17
2.1 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO.......................................... 17
2.2 NATUREZA JURÍDICA............................................................................................. 19
2.3 CONCEITO.................................................................................................................. 20
2.3.1 Causas Trabalhistas contendo Repercussão Geral.............................................. 25
2.4 PARADIGMAS DA REPERCUSSÃO GERAL NO DIREITO ESTRANGEIRO.... 27
2.5 ÔNUS DE DEMONSTRAÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL................................ 27
2.6 ARGÜIÇÃO DE RELEVÂNCIA................................................................................ 28
2.7 COMPETÊNCIA......................................................................................................... 28
2.8 QUORUM DE VOTAÇÃO......................................................................................... 30
2.9 DA IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO QUE NÃO CONHECE DO
RECURSO EXTRAORDINÁRIO POR AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL..... 32
2.10 AMICUS CURIAE.................................................................................................... 33
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2.11 EFICÁCIA DO NÃO-RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL........ 35
2.12 PUBLICIDADE DA DECISÃO................................................................................ 37
CAPÍTULO III REPERCUSSÃO GERAL NOS RECURSOS
EXTRAORDINÁRIOS MÚLTIPLOS........................................................................... 38
3.1 PROCEDIMENTO....................................................................................................... 38
3.2 EFICÁCIA DO RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL.................... 40
3.3 EFICÁCIA DO NÃO-RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL........... 43
3.4 VIGÊNCIA E DIREITO INTERTEMPORAL............................................................. 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 48
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 51
5
INTRODUÇÃO
A sociedade brasileira há muito sente necessidade de uma mudança no sistema
processual do país. A dificuldade em se ter acesso ao Poder Judiciário da população menos
favorecida economicamente em virtude do alto custo das ações judiciais, a demora na
prestação da tutela jurídica por parte dos órgãos e Tribunais são apenas algumas das muitas
queixas apresentadas pela sociedade.
Não tendo o condão de resolver definitivamente esses problemas, mas como sendo
uma arma importantíssima no combate a esse mal, foi publicada no dia 08 de dezembro de
2004 a Emenda Constitucional nº. 45, que ficou conhecida como Reforma do Judiciário, a
qual trouxe importantes inovações, dentre elas as súmulas vinculantes e a maior celeridade na
tramitação dos processos judiciais.
A grande quantidade de recursos existentes no ordenamento jurídico pátrio atual
acarreta uma lenta tramitação processual, passando-se anos para que uma questão, que a
princípio não deveria demorar tanto, seja resolvida definitivamente, pois muitos operadores
do Direito, agindo com má-fé, interpõem recursos meramente com finalidade protelatória,
prejudicando assim, o andamento do processo.
Antes de ser criada a lei que regulamenta o art. 102, § 3º, da Constituição Federal, a
doutrina majoritária já entendia não ser possível exigir-se a partir de tal dispositivo
constitucional a demonstração da repercussão geral nos recursos extraordinários, fazia-se
necessário a criação de uma lei específica que tratasse do tema.
A lei, de que trata o dispositivo constitucional veio a ser a Lei 11.418/2006, que
acrescentou dois artigos ao Código de Processo Civil, regulamentando a repercussão geral.
Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal editou a Emenda Regimental nº. 21,
publicada em 03 de maio de 2007, com o fim de dar efetividade à lei, decidindo que seria a
partir desta data que seria obrigatória a demonstração de repercussão geral nos recursos
extraordinários.
Este trabalho tem por objetivo analisar especificamente e de forma aprofundada a Lei
11.418 de 2006, sob a ótica do direito trabalhista, que veio a regulamentar o texto da
Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional nº. 45, dando aplicabilidade,
portanto, à norma constitucional; medida esta com fins a evitar a grande quantidade de
recursos extraordinários levados ao Supremo Tribunal Federal, permitindo assim, um melhor
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funcionamento da Suprema Corte, analisando como será o procedimento utilizado nos
julgamentos da repercussão geral.
Importante realizar um estudo minucioso sobre o que pretendeu o legislador ao
introduzir a repercussão geral, pois em meio a tantas desconfianças da sociedade no
ordenamento jurídico brasileiro em razão de seu lento funcionamento, tal instituto nasceu com
a árdua missão de literalmente “descongestionar” o Pretório Excelso, limitando assim a
possibilidade de interposição de recursos extraordinários.
A introdução da repercussão geral trará inegavelmente vantajosas mudanças para
nosso ordenamento jurídico, pois não é cabível que uma Corte Constitucional como é o STF
seja tolhido de sua função em virtude do péssimo uso do sistema recursal brasileiro.
É importante adentrar-se no estudo deste novo instituto para se compreender o que
realmente mudará em se tratando de interposição de recurso extraordinário, pois como sendo
o último remédio cabível, salta aos olhos não tratar-se de um recurso qualquer, mas sim um
recurso que seja capaz de guardar a Constituição da República.
O método de abordagem a ser utilizado será o dedutivo, o qual se inicia com um
problema na esfera do conhecimento científico, passando pela formulação de hipóteses e por
um processo de inferência dedutiva, em que testa a predição da ocorrência de fenômenos
abrangidos pela referida hipótese.
Em relação ao método jurídico e interpretação, este estudo adotará o método
sistemático, ou seja, o direito deve ser compreendido como um sistema para poder ser
pensado criticamente. Analisar-se-á os aspectos do Sistema Recursal Trabalhista pátrio, com
algumas comparações em relação a Direitos Estrangeiros, através de uma ponderação segura,
embutindo as normas dentro do sistema e discernindo acerca da natureza jurídica da
repercussão geral e os seus futuros efeitos no sistema jurídico vigente.
No que se refere à classificação quanto aos procedimentos técnicos utilizados, haverá
uma pesquisa bibliográfica constituída a partir de materiais já publicados, envolvendo
principalmente livros de autores e materiais disponibilizados na Internet. Além dos
mencionados instrumentos utilizar-se-á a legislação vigente, bem como o Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal e os julgamentos emanados por esta Corte.
A técnica de pesquisa a ser utilizada será a documentação indireta, pois será baseada
na leitura de materiais elaborados por terceiros. Dessa forma, serão utilizados dados primários
baseados na leitura de arquivos públicos e privados, bem como as fontes secundárias que
constituam a bibliografia e todas as fontes de leitura existentes acerca do tema que versem
acerca do objeto trabalhado nesta pesquisa.
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CAPÍTULO I
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, RECURSO EXTRAORDINÁRIO
TRABALHISTA E A INTRODUÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL
1.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
1.1.1 Origem
Na época colonial, após a vinda de Dom João para o Brasil, foi criada pelo Príncipe
Regente, a Casa da Suplicação do Brasil, em alusão à Casa de Suplicação de Portugal, já que
a comunicação entre a colônia e metrópole estava interrompida, fato este que marca o início
dos órgãos da Justiça nacional (CÔRTES, 2006).
Já durante o período monárquico, fora criado o Supremo Tribunal de Justiça o qual
substituiu a Casa de Suplicação, sendo composto por dezessete magistrados que eram
denominados de Conselheiros (CÔRTES, 2006).
O Supremo Tribunal Federal – STF, foi instalado oficialmente no Brasil no dia vinte e
oito de fevereiro de mil oitocentos e noventa e um, porém, no ano anterior, o Governo
Provisório da República editou o Decreto nº 848, que data do dia onze de outubro de mil
oitocentos e noventa, o qual estabeleceu as bases de fundamentação para seu funcionamento
(CÔRTES, 2006).
1.1.2 Características
Algumas das características principais do Supremo Tribunal Federal vêem previstas
nos artigos 101 a 103, da Constituição da República de 1988, dispondo de matérias acerca de
sua composição e competência.
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A característica principal do Supremo Tribunal Federal é, sem dúvida, a de guardião
da Constituição Federal, como estampado no artigo 102, caput, da Carta Magna, e o
legislador ao introduzir o instituto da repercussão geral só veio a reforçar a função principal
do STF.
O Pretório Excelso, como também é conhecido o Supremo Tribunal Federal, é
composto atualmente por onze Ministros, todos cidadãos, com mais de trinta e cinco e menos
de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada como
preceitua o artigo 101 da Constituição Federal (CF).
Conforme lembra Pedro Lenza (2005), a expressão de notável saber jurídico importa
em ser o Ministro bacharel em Direito, conforme transcrito abaixo:
(...) o art. 56, da Constituição de 1891, falava somente em notável saber, sem
qualificá-lo. A Constituição de 1934 (art. 74) passou a qualificar o notável saber de
jurídico. Em razão da permissão da Constituição de 1891, o STF já chegou a ter
Ministro que não era jurista, vale lembrar o médico Barata Ribeiro, nomeado pelo
Presidente Floriano Peixoto. Atualmente, contudo, e desde o parecer de João
Barbalho, de 1894, passou-se a entender que todo Ministro do STF terá que ser,
necessariamente, jurista, tendo cursado a faculdade de direito (LENZA, 2005, p.
351).
A forma de investidura dos Ministros na Suprema Corte dá-se através de escolha por
parte do Presidente da República, a qual dependerá de prévia aprovação por parte da maioria
absoluta do Senado Federal.
Há pertinente crítica a essa forma de investidura, pois que a mesma fere o princípio da
separação dos Poderes, por ser essencialmente política, conforme se vê:
O critério de escolha dos membros da Corte Suprema, como concebido no artigo
101 e seu parágrafo único da Carta Magna, revestido de nítida conotação política,
merecia, contudo, ter sido revisto, em homenagem ao princípio constitucional da
tripartição dos Poderes e à absoluta independência que, como previsto no artigo 2º
da mesma Carta, entre os referidos Poderes deve existir no Estado Democrático de
Direito.[...] Para garantir tal independência, seria importante, então, conferir-se ao
próprio Supremo Tribunal Federal a escolha de seus membros, a ser feita,
preferentemente, dentre os magistrados de carreira, com experiência sedimentada na
aplicação da lei, reservadas, naturalmente, as vagas do quinto constitucional,
destinadas ao Ministério Público e aos advogados (PEREIRA, 2006, p. 62).
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1.1.3 Competência
A competência do Supremo Tribunal Federal se divide de três formas: a prevista no
artigo 102, I, alíneas “a” a “r”, da Constituição Federal, dentre elas, julgar a Ação Direta de
Inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual; o Presidente da República
nas infrações penais comuns, etc. é originária; a competência prevista no artigo 102, II,
alíneas “a” e “b” como crime político, por exemplo, é recursal ordinária, e por último a
competência prevista no artigo 102, III, alíneas “a” a “d”, como declarar a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, é recursal extraordinária.
A Emenda Constitucional nº 45/2004 trouxe algumas alterações na competência do
Pretório Excelso, dentre elas a homologação de sentenças estrangeiras que passou a ser da
competência do Superior Tribunal de Justiça.
Outra mudança significativa trazida pela referida Emenda Constitucional, está na
ampliação da competência do STF, que passou a analisar em sede de recurso extraordinário
quando se julgar válida lei local contestada em face de lei federal, conforme previsto no artigo
102, III, d, da CF.
1.2 RECURSO EXTRAORDINÁRIO
1.2.1 Origem
Embora, tendo o Supremo Tribunal Federal se originado da Casa de Suplicação do
Direito português e posteriormente do Supremo Tribunal de Justiça, como já visto, o recurso
extraordinário não teve origem na suplicação, recurso cabível para a Corte lusitana, nem na
revista, cabível para o Supremo Tribunal de Justiça.
As origens do recurso extraordinário pátrio encontram-se writ of error do direito
saxônico, o qual posteriormente foi levado às colônias, inclusive, para os Estados Unidos, e
que tinha como principal função corrigir erros de direito.
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Assim, assevera Osmar Mendes Paixão Côrtes (2006, p. 189):
Portanto, apesar de eventuais semelhanças com o Direito português, em especial
com a revista e com a suplicação, o recurso extraordinário está intimamente
relacionado à preocupação com a manutenção do direito federal, em especial frente à
limitada autonomia dos Estados, num modelo federativo, bem presente nos Estados
Unidos da América.
Desta forma, assim como seu paradigma, o recurso extraordinário foi implantado no
Brasil visando à manutenção do direito federal, diante de uma relativa autonomia dos Estados.
1.2.2 Características
Existem diversas classificações a respeito dos recursos existentes no ordenamento
jurídico brasileiro, como recurso parcial ou total, aquele impugnando apenas parte da decisão
recorrida, enquanto este impugnaria todo o conteúdo da decisão.
No entanto, no presente momento, a classificação mais importante para análise das
características do recurso extraordinário se encontra na divisão entre recursos ordinários e os
recursos extraordinários ou excepcionais.
Recursos ordinários são aqueles destinados a apreciarem diretamente o direito
subjetivo da parte, ou seja, destinam-se precipuamente à reforma, invalidação, esclarecimento
ou integração da decisão recorrida, tutelando diretamente o direito de quem se sentiu
prejudicado pela decisão proferida.
Entre as espécies de recursos ordinários trabalhistas pode-se citar o recurso ordinário,
de revista, agravo de petição, embargos de declaração e agravo de instrumento.
Já os recursos extraordinários ou excepcionais, vêm previstos no texto da
Constituição, nos artigos 102 e 105, e, ao contrário do que ocorre com os recursos ordinários,
não se destinam a apreciar diretamente o direito subjetivo das partes litigantes, mas antes, e
como principal função, a uniformidade da legislação federal e na interpretação dada à
Constituição Brasileira.
Assim, encontram-se nesta classificação o recurso extraordinário para o Supremo
Tribunal Federal e o recurso especial para o Superior Tribunal de Justiça.
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Desta forma, o Pretório Excelso, ao analisar um recurso extraordinário, terá como
objetivo primordial manter a integralidade das normas constitucionais, exercendo sua função
estabelecida na Carta Magna de guardião da Constituição. Somente de forma secundária é que
o recurso extraordinário servirá para tutelar o direito subjetivo da parte, após ter-se dado uma
correta interpretação à Constituição (CÂMARA, 2007, p.59).
Em idêntico sentido está o entendimento de Ricardo de Barros Leonel (2007, p.168):
Como visto, ele (recurso extraordinário) deve servir prioritariamente ao interesse
público na uniformização da interpretação do direito constitucional, e apenas
secundariamente como veículo de manifestação da parte contra a sucumbência.
Nessa linha de raciocínio, torna-se fácil compreender o porquê de não ser
praticamente viável que todos os recursos extraordinários sejam examinados pelo
Pretório Excelso. Ora, como quase todos os casos concretos, em decorrência do
amplo perfil voltado ao estabelecimento de regras de garantia pela CF/1988,
possuem “algo” de constitucional, a possibilidade de interposição do recurso
extremo (presente na maioria das situações) acabaria por inviabilizar o exercício da
jurisdição constitucional do STF. Tanto é verdade que a própria jurisprudência do
Pretório Excelso, com o passar do tempo, foi sumulando entendimentos que criaram
óbices ao conhecimento do recurso extraordinário. Pela mesma ordem de idéias, o
STJ também seguiu essa tendência, considerando que sua função é o de guardião do
direito federal, e só secundariamente de examinar casos concretos (Grifo nosso).
Importante ressaltar que no recurso extraordinário e especial, em virtude de serem
destinados á uniformização da Constituição e de lei federal, respectivamente, não se discute
questões de fato, mas tão-somente de direito.
Deve-se observar também que no recurso extraordinário não se poderá alegar questão
constitucional inédita, deverá a mesma já ter sido alegada ao longo do processo e ter havido
algum pronunciamento pelo órgão a quo, a isto dá-se o nome de pré-questionamento.
Conforme salienta Rafael Tocantins Maltez (2007, p. 188):
Trata-se de um recurso excepcional, admissível apenas em hipóteses restritas,
previstas na Constituição com o fito específico de tutelar a autoridade e aplicação da
Carta Magna. É um recurso de fundamentação vinculada, adstrito às hipóteses de
cabimento constitucionalmente delineadas.
Tanto o recurso extraordinário como o recurso especial, somente serão admitidos
quando já tiverem sido interpostos todos os recursos ordinários possíveis. Ambos deverão ser
interpostos perante o Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal recorrido.
Questão interessante é a de ausência de previsão na Constituição sobre as decisões de
qual órgão prolator caberá a interposição de recurso extraordinário. Por existir essa lacuna,
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qualquer órgão jurisdicional ao proferir uma decisão e esta não ser passível de nenhum
recurso ordinário, caberá no caso o recurso extraordinário, como ocorre no caso das decisões
dos dissídios de alçada proferidos pelos Juízes das Varas do Trabalho, conforme se verá
adiante.
Por fim, o artigo 102, III, alíneas “a”, “b”, “c”, e “d”, da Constituição da República,
destaca as hipóteses em que caberá o julgamento de recurso extraordinário em única ou última
instância pelo Supremo Tribunal Federal, são elas: a) contrariar dispositivo desta
Constituição, b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei
ou ato de governo local contestado em face desta Constituição e d) julgar válida lei local
contestada em face de lei federal, esta última hipótese introduzida pela Emenda
Constitucional nº. 45/2004.
1.2.3 Cabimento em Matéria Trabalhista
A Consolidação das Leis do Trabalho trata do recurso extraordinário de forma muito
superficial, referindo-se a ele apenas no art. 893, § 2º, ao dispor que: “A interposição de
recurso para o Supremo Tribunal Federal não prejudicará a execução do julgado”.
Porém, sabe-se que a interposição do recurso extraordinário é perfeitamente
compatível com o sistema recursal trabalhista, além de tratar-se de um recurso de natureza
constitucional, não podendo, portanto, sofrer limitação por parte de lei infraconstitucional.
Na ausência de tratamento mais aprofundado por parte da lei celetista, faz-se
necessária a aplicação dos arts. 102, III, da CF, 541 do CPC e 321 a 329 do Regimento
Interno do STF.
Dispõe o caput do art. 102 da Constituição Federal que competirá ao STF julgar o
recurso extraordinário nas causas decididas em única ou última instância. Da leitura desse
dispositivo constitucional indaga-se quais decisões proferidas no âmbito do processo
trabalhista seriam capazes de permitir a interposição de recurso extraordinário.
Nota-se facilmente de início que referido recurso não poderá ser interposto contra as
decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho que ofendam diretamente a Constituição
Federal, pois segundo o disposto no art. 896, § 2º, da CLT, o recurso cabível será o de revista
ao TST.
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Por decisões de última instância, no âmbito trabalhista, tem-se como tal aquelas
julgadas pelo Tribunal Superior do Trabalho, órgão máximo trabalhista, cabendo a ele,
portanto, decidir as matérias relativas ao direito obreiro em última instância, em face de não
haver nenhum órgão superior do qual caiba algum outro recurso na Justiça do Trabalho.
Assim, as decisões proferidas pelo TST, sejam através das Seções Especializadas,
dentre elas podem-se encontrar a Seção de Dissídios Individuais – SDI e Seção de Dissídios
Coletivos – SDC, ou através do Órgão Especial do Tribunal, serão passíveis de recurso
extraordinário, desde que preencham os demais requisitos necessários, já que são decisões de
última instância.
Nesse sentido ensina Carrion apud Bezerra Leite (2008, p.847-848):
As decisões proferidas „em última instância‟, no processo trabalhista de cognição,
são as do TST (das Turmas, Seções especializadas ou Órgão Especial, esgotando
todos os recursos admissíveis, como quer a Súmula n. 281 do STF); esgotar todos os
recursos no TST significa que a impugnação à decisão da Turma seja apreciada pela
Seção Especializada respectiva, ou pelo Órgão Especial nas matérias de competência
deste; o não-cabimento do recurso a um desses órgãos implica dizer que, em tese, o
acórdão da Turma pode ser objeto de recurso extraordinário (assim, Manoel Antonio
Teixeira Filho, Sistema dos Recursos); (...) no processo de execução, são de „última
instância‟ os acórdãos das Turmas dos Tribunais Regionais que julgam os agravos
de petição, salvo se houver matéria constitucional; deles não cabe recurso para o
TST; a L. 7.701/88 tornou expresso o que já era tácito no sentido de não permitir o
recurso de revista, salvo ofensa direta à CF (L. 7.701/88, v. Índice da Legislação);
(...) em princípio, deve caber recurso extraordinário em qualquer uma das três
hipóteses do art. 102, III, da Constituição de 1988, que não restringiu o recurso
extraordinário na Justiça do Trabalho à mera inconstitucionalidade, como fez a
Emenda de 1977; (...) não há mais cabimento do extraordinário pela divergência na
interpretação de lei federal.
Já no que se refere á possibilidade de interposição de recurso extraordinário contra as
decisões proferidas em única instância no processo trabalhista, vislumbram-se duas hipóteses.
A primeira, sem maiores divergências refere-se às decisões proferidas pela Seção de
Dissídios Individuais 2 – SDI – 2 do TST, nos casos de julgamento de ações rescisórias e
mandados de segurança de competência originária do TST, que não couber a interposição de
embargos infringentes.
No que se refere à segunda hipótese de interposição de recurso extraordinário contra
decisões proferias em única instância pela Justiça do Trabalho, existe certa divergência quanto
à sua real possibilidade. Trata-se das decisões previstas no art. 2º, § 4º, da Lei n. 5.584/70, o
qual dispõe que “salvo se versarem, sobre matéria constitucional, nenhum recurso caberá das
sentenças proferidas nos dissídios da alçada a que se refere o parágrafo anterior, considerado,
para esse fim, o valor do salário mínimo à data do ajuizamento da ação”.
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Referida lei trata na verdade dos conhecidos dissídios de alçada, também chamado de
procedimento sumário, que são aqueles cujo valor da causa não ultrapasse a dois salários
mínimos.
Assim, a princípio, nos dissídios de alçada, que são da competência da Vara do
Trabalho, não seria possível a interposição de qualquer recurso contra decisão que resolvesse
a matéria, por expressa determinação legal, como visto acima.
No entanto, parte importante da doutrina e da jurisprudência, vem entendendo que
contra decisões proferidas em dissídios de alçada, desde que violem diretamente algum
dispositivo constitucional, caberia a interposição do recurso extraordinário.
Assim é o entendimento de Bezerra Leite (2008, p. 54):
A nosso sentir, portanto, em se tratando de decisão proferida por Juiz do Trabalho
ou Juiz de Direito no procedimento sumário (causa de alçada), por ser de única
instância, não caberá recurso ordinário para o Tribunal Regional do Trabalho, nem
recurso de revista para o Tribunal Superior do Trabalho, por expressa proibição
legal (Lei n. 5.584/70, art. 2º, § 4º), mas o recurso extraordinário para o Supremo
Tribunal Federal, desde, é claro, que se cuide de matéria exclusivamente
constitucional.
Para reforçar esse entendimento, o STF editou a Súmula 640 a qual dispõe que cabe
“recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de
alçada, ou por turma recursal de juizado cível especial e criminal”. Não resta dúvida de que o
procedimento sumário trata-se de causa de alçada, portanto, resta clara a possibilidade de
interposição direta de recurso extraordinário ao STF contra decisões proferidas em dissídios
de alçada, desde que ofendam a Constituição Federal.
1.2.4 Ius Postulandi e Recurso Extraordinário
Instituto há muito conhecido e utilizado no processo trabalhista, o ius postulandi, ou
seja, a prerrogativa de praticar os atos processuais sem a necessidade de intervenção de um
advogado, previsto no art. 791 da CLT, não pode ser utilizado quando da interposição do
recurso extraordinário, ainda que seja para recorrer de uma decisão prolatada no âmbito da
Justiça do Trabalho.
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Tal restrição baseia-se na ausência de permissão da Constituição Federal para sua
utilização, já que o recurso extraordinário é, antes de mais nada, um recurso constitucional; e
também pelo fato de o Supremo Tribunal Federal não ser um órgão trabalhista, não se
encaixando na regra contida na norma celetista, a qual prevê a utilização do ius postulandi
somente na Justiça do Trabalho.
1.3 INTRODUÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº.
45/2004, LEI 11.418/2006 E REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL
A Emenda Constitucional nº. 45/2004, que ficou conhecida como a Reforma do
Judiciário, trouxe significativas mudanças no sistema jurídico pátrio, com o fim de otimizar o
funcionamento do Poder Judiciário no Brasil, como a criação do Conselho Nacional de Justiça
e a celeridade processual.
Com o fito de diminuir a imensa quantidade de processos que chegam ao Supremo
Tribunal Federal através da interposição de recursos extraordinários, introduziu o reformador
constituinte o instituto da repercussão geral, que terá como função servir de verdadeiro óbice
a que todo e qualquer recurso extraordinário seja analisado pela Suprema Corte deste país.
Assim, a Emenda Constitucional nº. 45/2004, criou o § 3º, no artigo 102, da
Constituição Federal, dispondo o seguinte:
No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o
Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo, pela
manifestação de dois terços de seus membros.
Desta forma, os recursos extraordinários passaram a conter um verdadeiro “filtro”,
para que o Supremo Tribunal Federal analise somente o que for realmente importante do
ponto de vista constitucional para o país.
No entanto, pelo texto da Carta Magna conter a expressão “nos termos da lei”,
entendeu-se que referida norma constitucional não seria capaz de por si só produzir efeitos no
mundo jurídico, sendo, portanto, uma norma constitucional de eficácia limitada, e por isso,
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seria necessário a criação de uma norma infraconstitucional, no caso específico, uma lei
ordinária, que a complementasse.
Desta forma, o Senado Federal, através da Comissão Mista de Reforma do Judiciário
apresentou o Projeto de Lei 12/2006, que após ser ali aprovado, foi enviado à Câmara dos
Deputados para também ser votado por esta Casa, como está previsto no artigo 65 da
Constituição da República.
Após este trâmite, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº. 6.648/2006,
sofrendo algumas emendas em seu texto original, encaminhando-o para sanção do Presidente
da República como determina o artigo 66, da Carta Magna, como se vê in verbis:
“A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente
da República, que, aquiescendo, o sancionará”.
Assim, foi sancionada pelo Presidente da República, no dia dezenove de dezembro de
dois mil e seis, e publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte, a Lei nº. 11.418/2006,
que passou a regulamentar o instituto da repercussão geral, introduzindo os artigos 543-A e
543-B no Código de Processo Civil, passando a vigorar sessenta dias após sua publicação.
No entanto, a Lei nº. 11.418/2006 não estabeleceu todas as normas sobre a execução
da repercussão geral, ao contrário, dispôs em seu artigo 3º, que seria da competência do
Supremo Tribunal Federal editar tais normas através de seu Regimento Interno - RISTF.
Portanto, no dia três de maio de dois mil e sete, entrou em vigor a Emenda Regimental
nº. 21/07, dispondo sobre a execução da repercussão geral, alterando desta forma, diversos
artigos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
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CAPÍTULO II
PROCEDIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL SEGUNDO O ARTIGO
543-A DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
2.1 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO
Antes de se verificar detalhadamente a repercussão geral, faz-se obrigatória uma
análise, ainda que sucinta, a respeito das diferenças existentes entre o juízo de admissibilidade
e juízo de mérito, pois a compreensão destes facilitará o estudo a respeito daquele instituto.
Quando se provoca o Judiciário através de uma petição inicial, o juízo competente,
antes de adentrar no objeto do processo, ou seja, no mérito, analisa se aquela ação preenche
certos requisitos exigidos por lei; caso a resposta seja afirmativa, segue-se normalmente o
curso do processo; caso venha ocorrer alguma inobservância a tais requisitos, indefere-se a
petição, julgando improcedente o pedido sem resolução do mérito (art. 267, I, CPC). Tais
requisitos exigidos são denominados de condições da ação e pressupostos processuais.
Com os recursos, ocorre algo semelhante, embora, logicamente, com suas
especificidades. Ao ser prolatada uma decisão, havendo uma insatisfação da parte vencida e
sendo esta recorrível, ao se interpor o recurso cabível, haverá um juízo de admissibilidade a
seu respeito, lógica e cronologicamente anterior ao juízo de mérito, para se constatar se o
mesmo comporta todos os requisitos exigidos.
Esses requisitos exigidos em um juízo preliminar dividem-se em extrínsecos e
intrínsecos; os primeiros são os que estão presentes em quase todos os recursos possíveis
como tempestividade, preparo, regularidade formal, entre outros, respeitadas as
particularidades de cada recurso; já os segundos, são pressupostos que dizem respeito ao
recurso que se está interpondo como seu cabimento, legitimação e o interesse de recorrer.
No sistema recursal adotado pelo nosso Código de Processo Civil, quanto ao juízo de
admissibilidade, vigora a regra de que o mesmo é duplo ou bipartido, ou seja, caberá primeiro
ao juízo a quo, que proferiu a decisão impugnada, e onde são interpostos os recursos, realizar,
com a exceção do agravo de instrumento que é interposto diretamente perante o órgão que irá
18
julgá-lo, uma prévia análise se estão presentes os requisitos tidos como indispensáveis para
recebimento do recurso.
Tal se dá independentemente de provocação da parte, já que se trata de matéria de
ordem pública, portanto, deve ser vista de ofício.
Questão importante que não pode ser esquecida é que os órgãos judiciais, contra os
quais são interpostos os recursos, devem somente exercer o exame de admissibilidade do
mesmo, negando seguimento ou encaminhando-o à instância superior, não podem analisar a
questão de fundo da matéria, pois se verificaria a usurpação da competência do Tribunal ad
quem.
Vale ressaltar também, que tais exames nos Tribunais inferiores não vinculam os
Tribunais Superiores, e que somente nestes será realizado um juízo definitivo de
admissibilidade dos recursos.
Ultrapassada esta fase, e tendo sido conhecido o recurso, passa-se à análise de seu
mérito, que nada mais é que se não julgar o objeto do processo, dando procedência ou não às
pretensões do recorrente.
Torna-se importante definir exatamente a linha divisória entre esses dois tipos de
juízos realizados, pois deles decorrem diversos efeitos.
Assim é a lição de Câmara (2007, p. 66):
A distinção entre o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito é importante por
diversas razões, algumas das quais ficarão claras mais adiante, como, por exemplo, a
produção do efeito de substituir ou invalidar a decisão recorrida, que apenas as
decisões de mérito proferidas no julgamento dos recursos são aptas a produzir. Outro
ponto capaz de revelar a importância desta distinção é o do momento da formação
da coisa julgada. Sendo negativo o juízo de admissibilidade, o provimento que deixa
de admitir o recurso tem conteúdo meramente declaratório, limitando-se a tornar
certo que a decisão contra a qual se recorreu não admitia mais impugnação, e o
trânsito em julgado da mesma terá se dado no momento em que a mesma se tenha
tornado irrecorrível, e não no momento do julgamento do recurso. Assim, por
exemplo, interposta apelação contra uma sentença após o término do prazo legal,
terá a mesma transitado em julgado no momento do término daquele prazo, ainda
que a decisão sobre a inadmissibilidade do recurso intempestivo seja proferida
meses depois.
Tendo havido um juízo de admissibilidade negativo, não ocorre o efeito substitutivo
que está previsto no artigo 512, do CPC, ou seja, a decisão impugnada continua a existir no
mundo jurídico, e será ela que poderá ser atacada pela via da ação rescisória a partir de seu
trânsito em julgado, e não da decisão que não conheceu do recurso; havendo, ao contrário, o
conhecimento do recurso, e sendo prolatado um acórdão julgando-o procedente ou
19
improcedente, ocorrerá o efeito substitutivo, e será esta decisão que poderá ser atacada pela
ação rescisória.
2.2 NATUREZA JURÍDICA
Primeiramente é mister enfatizar que em face de a repercussão geral está
regulamentada pelos arts. 543-A e 543-B do CPC, artigos introduzidos pela Lei nº.
11.418/2006 deve-se compatibilizar tal instituto com o processo trabalhista, já que a lei
celetista nada prevê a respeito da repercussão geral.
Dessa forma, é perfeitamente aplicável o art. 769, da CLT o qual dispõe que: “Nos
casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do
trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título”.
Não há incompatibilidade alguma entre o instituto da repercussão geral, previsto nos
arts. 543-A e 543-B do Código de Processo Civil, com as normas processuais trabalhistas
previstas na Consolidação das Leis do Trabalho, até mesmo, por não haver nenhuma
incompatibilidade do recurso extraordinário com as normas celetistas.
Assim, também nos casos de recursos extraordinários contendo matéria trabalhista,
deverá o recorrente, empregado ou empregador, observar o que dispõe os artigos processuais
civis.
O artigo 543-A, § 2º, do CPC, com redação dada pela Lei nº. 11.418/2006, reza o
seguinte:
“O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciação exclusiva
do Supremo Tribunal Federal, a existência da repercussão geral.”
Depois de visto o conceito de juízo de admissibilidade e juízo de mérito, e suas
conseqüentes diferenças, além da leitura do dispositivo supra, torna-se fácil perceber que a
repercussão geral possui natureza jurídica de requisito de admissibilidade do recurso
extraordinário, inclusive em matéria penal, pois somente poderá o Pretório Excelso adentrar
no mérito após ter sido reconhecida a existência da repercussão geral.
De acordo com o artigo 541, caput do Código de Processo Civil, o recurso
extraordinário deverá ser interposto perante o Presidente ou Vice-presidente do Tribunal
recorrido, e que, evidentemente, como já dito acima, deverá ser realizado neste Tribunal um
juízo prévio de admissibilidade do recurso.
20
2.3 CONCEITO
Conforme já dito em linhas anteriores, o instituto da repercussão geral foi criado para
servir como um verdadeiro freio à imensidão de recursos extraordinários que chegam ao
Pretório Excelso, e que em sua grande maioria, não contêm em sua matéria questões de
relevância suficiente para serem julgados no Supremo, e desta forma, acabam por dificultar a
prestação jurisdicional deste Tribunal, além de desvirtuar sua real função, qual seja, de
guardião da Constituição.
Segundo o artigo 543-A, § 1o, do CPC, tem-se a seguinte redação: “Para efeito da
repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de
vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da
causa”.
Por tal dispositivo, verifica-se a intenção do legislador em aderir a conceitos vagos,
que não podem ser definidos de plano, são eles conhecidos como conceitos jurídicos
indeterminados.
Por definição de conceitos jurídicos indeterminados, transcreve-se importante
ensinamento de Montenegro Filho (2006, p.43):
Conceitos jurídicos indeterminados são termos ou expressões contidos em normas
jurídicas, que, por não terem exatidão em seu sentido, permitem que o intérprete ou
o aplicador possam atribuir certo significado, mutável em função da valoração que
se proceda diante dos pressupostos da norma. É o que sucede com expressões do
tipo “ordem pública”, “bons costumes”, “interesse público”, “segurança nacional” e
outras do gênero (...).
Ao dizer-se que a repercussão geral existirá quando houver questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, está-se utilizando dos conceitos
jurídicos indeterminados, pois, tais questões não possuem um conceito estanque, imutável, de
fácil percepção, ao revés, necessitam de interpretação, valoração conforme a época em que
são analisados.
Dizer o que seria importante do ponto de vista político ou econômico hoje em dia não
é tarefa das mais fáceis; pois eles não podem ser observados isoladamente, mas devem estar
de conformidade com todo o sistema atual, de acordo com a evolução da sociedade, o que é
importante politicamente hoje, certamente amanhã não o será e vice-versa.
21
O legislador usou de boa técnica ao utilizar tais termos, pois os costumes, as normas e
a sociedade mudam com muita rapidez atualmente, e não seria conveniente que se
conceituasse de forma estrita, fechada o que seria a repercussão geral, pois tal norma em
pouco tempo se tornaria letra morta por não acompanhar as evoluções do tempo, então tais
conceitos haveriam de ser atualizados continuamente.
Com a utilização dos conceitos jurídicos indeterminados, os Ministros do Supremo
poderão de acordo com a realidade atual dizer se a matéria é relevante do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico e futuramente reverem suas posições a respeito.
Segundo Maltez (2007, p. 190) leciona com bastante propriedade a respeito:
Hodiernamente tornou-se imprescindível à legislação adotar conceitos vagos. Isso
porque a complexidade das relações e a mutação de seus valores têm aumentado
vertiginosamente, assim como se modificam qualitativamente em períodos de tempo
cada vez mais reduzidos. Assim, os códigos, que antes pretendiam exaurir a matéria
tratada, agora não conseguem mais acompanhar a evolução dos fatos. De outra
banda, não é conveniente ou mesmo possível a cada movimento e necessidade a
modificação da legislação. Daí a importância dos conceitos vagos, que visam a,
justamente, completar o texto positivado, para se poder de forma eficaz, aplicar o
direito de modo adequado e de acordo com o momento ao caso concreto.
E assim completa Leonel (2007, p. 173):
O STF, definindo o que entende por relevante questão econômica, política, social ou
jurídica, para fins de repercussão geral, não ficará “engessado”. Poderá em momento
ulterior rever sua posição, de acordo com a realidade inerente à modificação de
valores ao longo dos tempos, sempre mais evidente, pela própria dinâmica das
relações humanas na sociedade contemporânea.
Tal previsão, contudo, não é inteiramente nova no ordenamento jurídico brasileiro
atual, pois que a Medida Provisória 2.226/2001 introduziu o artigo 896-A na CLT,
estabelecendo que “o Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará
previamente se a causa oferece transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza
econômica, política, social ou jurídica”.
Evidentemente que o Supremo Tribunal Federal não pode pura e simplesmente definir
de forma discricionária que certa causa trazida a julgamento possui relevância econômica,
política, social ou jurídica e que outra não possua; necessário se faz haver uma valoração
22
objetiva a respeito, até mesmo para que as partes ou qualquer interessado exerça um controle
social.
É no final do citado artigo processual que talvez esteja a essência da repercussão geral,
quando se fala em ultrapassar os interesses subjetivos da causa.
Como recurso excepcional que é, o recurso extraordinário não tem por objetivo tutelar
diretamente o interesse subjetivo do empregador ou do obreiro como acontece com os
recursos ordinários e de revista, entre outros, mas sim para que haja uma correta aplicação da
Constituição Federal, e apenas reflexamente sejam tutelados os direitos da parte.
Para que esteja presente a repercussão geral, é necessário que o direito ali envolvido
interesse diretamente a uma gama de pessoas que não fazem parte daquela relação jurídica, e
que, portanto, transcende ao simples interesse individual dos litigantes.
A doutrina oferece exemplo de questões em que pode haver transcendência do
interesse das partes:
Assim, sendo, o recurso extraordinário só poderá ser admitido quando versar sobre
matéria de repercussão geral. Pense-se, por exemplo, em um recurso extraordinário
em que se discuta a constitucionalidade da lei que instituiu certo tributo federal. É
fácil imaginar que, reconhecida tal inconstitucionalidade pelo STF, haverá uma
enxurrada de demandas, em todo o país, ajuizadas por contribuintes que também
queiram se livrar da incidência tributária (CÂMARA, 2007, p. 140-141).
Sobre o tema, assim entendem Marinoni e Mitidiero (2007, p. 33):
A fim de caracterizar a existência de repercussão geral e, destarte, viabilizar o
conhecimento do recurso extraordinário, nosso legislador alçou mão de uma fórmula
que conjuga relevância e transcendência (repercussão geral = relevância +
transcendência). A questão debatida tem de ser relevante do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico, além de transcender para além do interesse
subjetivo das partes na causa. Tem de contribuir, em outras palavras, para
persecução da unidade do Direito no Estado Constitucional brasileiro,
compatibilizando e/ou desenvolvendo soluções de problemas de ordem
constitucional. Presente o binômio, caracterizada está a repercussão geral da
controvérsia.
Desta forma, procurou o legislador colocar um verdadeiro filtro para a interposição do
recurso extraordinário, além de fazer cumprir a real função do Supremo Tribunal Federal, até
mesmo por não ser uma terceira ou quarta instância do Judiciário para que o jurisdicionado
recorra até ele apenas por não se contentar com a decisão proferida pelo Tribunal a quo; deve
o mesmo provar que a questão é importante para a sociedade.
23
Segundo Alvim apud Côrtes (2006, p. 261), em importante ensino firma as bases da
repercussão geral:
O instituto da repercussão social potencializará no cenário judiciário, a importância
do papel do STF e, paralelamente, o „dispensará‟ de pronunciar-se sobre assuntos
rotineiros, cujo pronunciamento não se justifica, por inumeráveis argumentos. E,
entre outras razões, também não se justifica pelo imenso trabalho carreado aos
julgadores, como, ainda, certamente prejudica o julgamento de „casos importantes‟.
Ninguém honesto e de bom senso pode afirmar que possa haver expectativa social
de que um Ministro – por dotado que seja e reunindo todos os qualitativos para
integrar um tribunal culminante – profira milhares de votos no espaço de um ano.
Pode-se dizer que é uma situação inusitada e, em realidade, anômala.
Não é necessário que a questão constitucional debatida transcenda o limite subjetivo
da causa ao ponto de atingir todo um país, mas sim que haja um interesse coletivo a respeito
daquela questão capaz de repercutir para além das partes envolvidas no processo.
Existe outro critério definido na Lei 11.418/2006 em que obrigatoriamente existirá a
ocorrência da repercussão geral, conforme preceitua o artigo 543-A, § 3o, do CPC:
“Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar decisão contrária a súmula
ou jurisprudência dominante do Tribunal.”
Trata-se aqui, de um critério objetivo de verificação da repercussão geral, ou seja, não
cabe um juízo de valoração a respeito, bastando simples verificação de que a decisão recorrida
está em desacordo com súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal
para se verificar a existência de repercussão geral.
Assim, tendo sido interposto recurso extraordinário perante o Pretório Excelso, e
constatando-se que esta via recursal impugna decisão contrária a alguma súmula ou
jurisprudência pacífica deste Tribunal, presume-se a existência de repercussão geral, pois caso
contrário, estar-se-ia desrespeitando posições ali pacificadas.
Tal hipótese trata-se de verdadeira presunção de repercussão geral, conforme disposto
no § 1º, do art. 323 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual: “tal
procedimento não terá lugar, quando o recurso versar questão cuja repercussão já houver sido
reconhecida pelo Tribunal, ou quando impugnar decisão contrária a súmula ou a
jurisprudência dominante, casos em que se presume a existência de repercussão geral”.
É importante frisar que não há uma quantidade delimitada de decisões no mesmo
sentido para se dizer que se tornou uma jurisprudência dominante. Duas ou três decisões de
idêntico teor não são suficientes para se pacificar a jurisprudência, por isso, melhor adotar o
24
critério de reiteradas decisões na mesma direção que será capaz de pacificar a jurisprudência
do STF.
Este critério examinado aponta para uma grande tendência moderna no Judiciário
brasileiro: a uniformização vertical da jurisprudência. E outra não poderia ser a solução
adotada. Sendo o Supremo tribunal Federal o protetor da Constituição da República, deve
haver uma interpretação adequada das normas constitucionais e que tais interpretações sejam
obedecidas por todas as instâncias do Judiciário, não sendo de bom alvitre que cada juízo
monocrático ou órgão colegiado interprete de uma forma diferente.
Assim se posiciona a doutrina:
A não observância das decisões do Supremo Tribunal Federal obviamente debilita a
força normativa da Constituição, o que já indica, desde logo, a relevância e a
transcendência da questão levantada no recurso extraordinário interposto
reclamando a adequação da decisão ao posicionamento do Supremo Tribunal
Federal. Importa que a Constituição seja concretizada; a todos interessa essa fiel
observação (MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D., 2007, p. 39).
No mesmo sentido:
Nada obstante a omissão legislativa, a falta de unidade na interpretação e aplicação
das normas constitucionais configura repercussão geral da questão constitucional,
uma vez que apresenta reflexos na sociedade como um todo. É imprescindível que a
Constituição Federal tenha uma só interpretação em todos os Estados do País. Por
isso, deve-se considerar existente a repercussão geral quando a decisão recorrida
divergir de outra, proferida por distinto tribunal, à semelhança do que ocorre com o
recurso especial por dissídio jurisprudencial (art.105, III, c, da CF) (BARIONI,
2007).
Dos recursos extraordinários em que seja reconhecida a existência de repercussão
geral com base em decisão contrária a súmula ou posição dominante do STF podem advir
duas situações: a primeira se refere à confirmação, por parte do Supremo, de suas súmulas ou
jurisprudências dominantes, o que terminará por dar ensejo à criação das chamadas súmulas
vinculantes, que deverão ser obedecidas pelos órgãos do Judiciário e da Administração
Pública; a outra situação possível é que o Pretório Excelso reveja seu entendimento e cancele
súmulas ou modifique sua jurisprudência.
25
2.3.1 Causas Trabalhistas contendo Repercussão Geral
Para esclarecer mais sobre o que possa ser considerado importante para o Supremo
Tribunal Federal do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, mister se faz da
verificação de algumas de suas decisões reconhecendo a existência de repercussão geral em
causas trabalhistas.
AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO. ACESSO DE FUNCIONÁRIOS E
CLIENTES À AGÊNCIA BANCÁRIA FECHADA EM DECORRÊNCIA DE
MOVIMENTO GREVISTA. COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO.
EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
(...)
A discussão relativa à interpretação do artigo 114, incisos II e III, da Constituição
Federal e à fixação da Justiça competente, especializada ou comum, para processar e
julgar as ações de interdito proibitório em casos similares possui relevância jurídica
e extrapola os interesses subjetivos das partes, sendo pertinentes aos demais
processos em tramitação e aos que venham a ser ajuizados no país (STF, RE
579.648-RG/MG, Menezes Direito. Disponível em < stf.gov.br >. Acesso em
07/03/2010).
Nesta decisão cuja ementa foi acima transcrita, o Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, entendeu que a competência para julgar interdito proibitório resultante do
exercício do direito de greve pertencia à Justiça Comum, sendo matéria pertinente a direito
privado e não de natureza trabalhista.
O STF então, no julgamento do recurso extraordinário reconheceu a existência da
repercussão geral, já que a decisão sobre a quem pertencia a competência para julgar a
matéria acabaria por servir como norte para todas as demais causas similares a esta, dando
provimento ao recurso para fixar como sendo competente a Justiça do Trabalho para julgar
tais demandas.
PROCESSO TRABALHISTA. COMPETÊNCIA PARA EXECUTAR AS
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS DECORRENTES DE TODO O
PERÍODO LABORAL. ARTIGO 114, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. (...)
Trata-se de discussão relativa à competência para promover a execução de créditos
de contribuições previdenciárias e à fixação do alcance da norma do artigo 114,
inciso VII, da Constituição Federal. Além disso, a matéria é pertinente a inúmeros
processos em tramitação na Justiça do Trabalho. Assim, entendo presente a
repercussão geral (STF, RE 569.056/PA, Menezes Direito. Disponível em <
stf.gov.br >. Acesso em 07/03/2010).
26
Por sua vez, neste julgamento acima citado, o Instituto do Seguro Social – INSS,
interpôs recurso extraordinário contra decisão do Tribunal Superior do Trabalho que negou
provimento a agravo de instrumento em recurso de revista por entender não ser da
competência da justiça especializada a execução, de ofício, de contribuições previdenciárias
sobre todo o período trabalhado em que haja o reconhecimento dos serviços prestados, com
ou sem vínculo trabalhista, e não quando há apenas o pagamento das remunerações.
No julgamento do recurso extraordinário, o STF reconheceu a existência de
repercussão geral, já que a matéria era idêntica a diversos outros processos que tramitavam na
Justiça do Trabalho e que, portanto, ultrapassava o interesse subjetivo das partes da demanda,
além de ser uma questão relevante do ponto de vista social e jurídico. No mérito, o STF
julgou pela improcedência do recurso.
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR. CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA REGIDA POR LEGISLAÇÃO LOCAL ANTERIOR À CF/88.
COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DA CAUSA. EXISTÊNCIA DE
REPERCUSSÃO GERAL. QUESTÃO RELEVANTE DO PONTO DE VISTA
SOCIAL E JURÍDICO QUE ULTRAPASSA O INTERESSE SUBJETIVO DA
CAUSA.
(...)
A competência da Justiça do Trabalho está prevista na Constituição Federal.
Cabendo ao Supremo a guarda desta última, desencontros de entendimento quanto a
preceitos dela constantes devem ser por ele definidos.
No caso, o tema repercute consideradas inúmeras relações jurídicas que podem ser
submetidas ao Judiciário. Tudo recomenda que haja o crivo da matéria mediante o
recurso extraordinário, vindo à baila verbete a integrar a Súmula com eficácia maior.
Pronuncio-me pela existência da repercussão geral, tal como fez o relator, ministro
Ricardo Lewandowski (STF, RE 573.202-RG/AM, Marco Aurélio. Disponível em
<stf.gov.br >. Acesso em 07/03/2010).
Também nesta decisão, reconheceu-se a existência de repercussão geral, por ser a
matéria relevante do ponto de vista social e jurídico, já que a definição da competência para
julgar referida matéria seria afeta a todos os demais entes da Federação, além de ser objeto de
inúmeros processos tramitando com idêntica controvérsia.
No mérito, decidiu o Supremo não competir à Justiça do Trabalho o julgamento de
demandas entre o Poder Público e seus servidores que estavam submetidos a regime especial
regulado por lei local editada antes da promulgação da Constituição Federal de 1988.
27
2.4 PARADIGMAS DA REPERCUSSÃO GERAL NO DIREITO ESTRANGEIRO
O instituto da repercussão geral não é exclusivo do Direito brasileiro, muito pelo
contrário, valeu-se o legislador pátrio de institutos semelhantes aplicados no exterior,
especificamente os modelos adotados nos Estados Unidos e na Alemanha.
Quanto ao modelo norte-americano, a repercussão geral se assemelha ao writ of
certiorari, o qual teve origem no Judiciary Act de 1925, e que visa analisar somente os casos
que se apresentem como relevantes.
Conforme estabelecido pela Emenda Constitucional nº. 45/2004 e a Lei nº.
11.418/2006, os quais regulamentam que competirá exclusivamente ao Supremo Tribunal
Federal a análise quanto à existência ou não da repercussão geral, assim também ocorre nos
Estados Unidos, em que a seleção dos casos relevantes caberá exclusivamente à Suprema
Corte daquele país.
Já quanto ao modelo adotado pela Alemanha, conhecido como grundsätzliche
Bedeutung der Rechtssache, a seleção de casos que contenham relevância caberá ao Tribunal
de origem (LEVADA, 2007, p.90).
2.5 ÔNUS DE DEMONSTRAÇÃO DA REPERCUSSÃO GERAL
Conforme preceitua o artigo 543-A, § 2º, do CPC, caberá ao recorrente demonstrar a
existência de repercussão geral em preliminar de recurso extraordinário, ou seja, não poderão
os ministros do Pretório Excelso reconhecer de ofício a existência ou não deste requisito de
admissibilidade.
Mantendo-se inerte o recorrente a este respeito, fatalmente o recurso extraordinário
não será conhecido.
Algumas colocações, no entanto, são necessárias. É possível que ao elaborar o recurso
extraordinário, o recorrente deixe para argüir a existência de repercussão geral em seu final,
em vez de fazê-lo em um tópico no início da peça. No caso estará configurado um mero erro
quanto à forma, mas que não desobedece ao exigido na lei, e que, portanto, deverá ser
admitido, haja vista que vigora no Direito brasileiro o princípio da instrumentalidade das
formas, não havendo qualquer prejuízo para alguma das partes neste caso.
28
2.6 ARGÜIÇÃO DE RELEVÂNCIA
A repercussão geral não é um instituto inteiramente novo no ordenamento jurídico
brasileiro, durante a vigência da Constituição de 1967, alterada pela Emenda Constitucional 1,
de 1969, através da Emenda 2, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, art. 308,
caput, foi criada o instituto da argüição de relevância que tinha também como fundamento
impedir que todo e qualquer recurso extraordinário chegasse ao Supremo.
No entanto, mesmo que numa primeira análise possam parecer idênticos, ambos os
institutos em pouco se assemelham.
Um dos pontos que diferenciam os institutos está no fato de que a argüição de
relevância tinha como objetivo levar a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal algum
recurso extraordinário que a princípio não seria ali julgado, enquanto que com a repercussão
geral acontece o oposto, impedir que algum recurso extraordinário a principio capaz de ser
julgado pelo Pretório, chegue ao mesmo.
Neste sentido Côrtes (2006, p. 260) se expressa:
Mas há, todavia, diferenças. A “argüição” inseria-se num sistema onde a regra seria
o não-exame pelo Supremo Tribunal Federal (§ 1º, do artigo 119), nas hipóteses das
alíneas a (violação) e d (divergência). Na atual “repercussão”, cria-se apenas um
pré-requisito (a demonstração da repercussão geral das questões constitucionais),
sem nenhuma disposição no sentido de que o Tribunal indicará as causas
excepcionais que serão apreciadas e sem referência a uma ou outra alínea específica.
A argüição de relevância existiu em um dos momentos mais obscuros da história
recente do Brasil, e tinha como características ser seu julgamento em sessão secreta e não
haver a necessidade de fundamentação, o que não acontece com a repercussão geral, já que a
própria Constituição Federal exige expressamente em seu art. 93, IX, que todos os
julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário sejam públicos e fundamentadas todas as
decisões.
2.7 COMPETÊNCIA
A EC nº. 45/2004, ao introduzir o § 3º ao artigo 102, da CF, mencionou que o
Supremo seria competente para apreciar a existência ou não da repercussão geral, porém,
29
houve quem entendesse que também seria possível que o Tribunal de origem verificasse a
presença da repercussão geral, já que a este sempre competiu verificar os demais requisitos de
admissibilidade do recurso extraordinário.
Com o advento da Lei nº. 11.418/2006 que veio regulamentar o assunto, espancou-se
de vez qualquer dúvida que ainda restasse quanto à possibilidade dos Tribunais a quo
examinarem a repercussão geral, pois a redação do § 2º, do artigo 543-A, do CPC, foi clara ao
estabelecer que compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal a apreciação da
existência de repercussão geral.
O Supremo Tribunal Federal publicou em sua página na internet um estudo sobre a
repercussão geral esclarecendo os principais pontos da matéria, e estabeleceu que competirá
de forma concorrente tanto ao Tribunal ou Turma Recursal de origem como à Suprema Corte
a análise da existência de preliminar formal; o que não altera o sentido do que está disposto
no artigo supra-mencionado, visto que o Tribunal recorrido só poderá analisar se a forma foi
corretamente preenchida e não decidir sobre a existência ou não da repercussão geral.
Em suma, ao Tribunal Superior do Trabalho e ao Juiz do Trabalho que prolatou
decisão em sede de dissídio de alçada, só caberá analisar se o recorrente realmente
demonstrou na preliminar de seu recurso extraordinário a existência de relevância e
transcendência da questão, estando presente tal manifestação, não poderão tais Tribunais
verificar a real existência de referida questão, já que isto compete exclusivamente ao STF.
A doutrina oferece boas razões utilizadas pelo legislador para conferir exclusividade
ao Pretório Excelso na apreciação da repercussão geral:
A análise quanto à presença de repercussão geral não pode ser objeto de decisão
pelo presidente do tribunal a quo quando do juízo de admissibilidade do recurso
extraordinário, pois, ao contrário do juízo monocrático realizado na segunda
instância, a questão deve ser decidida em sessão pública (GOMES JUNIOR, apud
LEVADA, 2007).
Caso ocorra de o Presidente ou Vice-presidente do Tribunal recorrido adentrar no
exame da existência de repercussão geral, o mesmo estará usurpando a competência do
Pretório Excelso e seu ato será passível de reclamação perante o mesmo. Esta reclamação é
uma ação constitucional prevista no artigo 102, I, alínea “l”, da CF, que tem como
fundamento precípuo preservar a competência do Supremo Tribunal Federal.
30
E outra solução não poderia haver, pois é importante e necessário que o Supremo
escolha quais recursos realmente têm importância de serem julgados, pois o mesmo além de
realizar um juízo jurídico, também realiza um político.
2.8 QUORUM DE VOTAÇÃO
Após verificado que competirá exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal a análise
sobre a repercussão geral, chega-se ao próximo ponto que é saber com quantos votos os
ministros poderão determinar se uma dada questão possui esse requisito.
Para compreensão dessa questão, mister observar em conjunto o artigo 102, § 3º, da
CF com o artigo 543-A, § 4º, do CPC.
O artigo 102, § 3º, da Constituição Federal, reza o seguinte:
No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das
questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o
Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros.
Já o artigo 543-A, §4º, do Código de Processo Civil, assim dispõe: “se a Turma decidir
pela existência da repercussão geral por, no mínimo, 4 (quatro) votos, ficará dispensada a
remessa do recurso ao Plenário”.
A norma constitucional nos informa que o recurso extraordinário só poderá ser tido
como carente de repercussão geral se dois terços dos ministros da Suprema Corte votarem
neste sentido. Não se obtendo o número necessário de votos, o recurso deverá ser
obrigatoriamente conhecido e julgado seu mérito.
O Supremo Tribunal Federal é composto no total por onze Ministros, que são
divididos por Turmas compostas por cinco Ministros, mas que juntos, compõe o Plenário do
Tribunal.
Quando a norma constitucional afirma que o quorum necessário para que se negue
seguimento ao recurso extraordinário por ausência de repercussão geral seja de dois terços dos
membros do Supremo Tribunal Federal, ela está se referindo à totalidade dos Ministros, ou
seja, ao Plenário e não às Turmas isoladamente.
31
Portanto, somente por dois terços dos onze Ministros, ou seja, oito votos, é que se
negará existência da repercussão geral; só o Plenário poderá deixar de conhecer um recurso
extraordinário, afirmando que ao mesmo falta aquele requisito de admissibilidade.
No entanto, para que o recurso seja conhecido, e que, obviamente, seja reconhecida a
repercussão geral, não é necessário que o mesmo seja levado ao Plenário do Pretório Excelso,
pois para admissão da repercussão geral, é necessário que quatro, dos cinco Ministros que
compõem uma Turma, reconheçam sua existência. Caso não seja atingido este quorum, o
Relator do processo encaminhará de ofício o recurso ao Plenário para deliberação acerca da
questão.
Rodrigo Barioni (2007, p. 226) esclarece bem a respeito:
Levado o recurso extraordinário a julgamento pela Turma, e desde que constatada a
existência da “repercussão geral” por pelo menos quatro Ministros, será ele julgado
no mérito. Mas, se for rejeitada a alegação de repercussão geral, caberá a remessa ao
plenário do Supremo Tribunal Federal para deliberar sobre o assunto. Haverá, aí,
duplo juízo sobre a questão constitucional alegadamente de repercussão geral. O
acolhimento da repercussão geral pelo Plenário implica a devolução dos autos à
Turma para o julgamento de mérito do recurso extraordinário; a rejeição, o
indeferimento do processamento do recurso, sem direito a recurso.
Em suma, somente o Plenário do Supremo Tribunal Federal poderá decidir pela
inexistência de repercussão geral em um recurso extraordinário, sendo exigido o voto de oito
Ministros neste sentido; ao revés para ser admitido como relevante e transcendente, a matéria
não precisa ser levada a Plenário, o que se dará em uma das Turmas, bastando que quatro
Ministros votem positivamente quanto à existência de referido requisito.
Há, no entanto, hipóteses em que o Relator poderá julgar monocraticamente o recurso,
sem necessidade de encaminhá-lo para verificação da Turma ou do Pleno.
Tal ocorrerá quando já houver entendimento sedimentado no Pretório Excelso de que
determinada matéria não possui relevância e transcendência conforme preceitua o artigo 543-
A, § 5º, do CPC, o mesmo pode se dar quando o recurso se fundar na hipótese do § 3º, do
mesmo artigo, em que o Relator poderá negar seguimento a recurso manifestamente contrário
a súmula ou jurisprudência do Tribunal, ou dar-lhe provimento caso seja a decisão recorrida
que esteja em desacordo a tais súmulas ou jurisprudência, conforme artigo 557, § 1º-A, do
CPC.
O artigo 21, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, também prevê a
possibilidade de julgamento monocrático do Relator quando o recurso for manifestamente
improcedente, quando não conhecer em caso de incompetência manifesta ou no caso previsto
32
no artigo 543-B, § 4º, do Código de Processo Civil, em que o Relator poderá reformar ou
cassar liminarmente acórdão proferido por Tribunal a quo.
Note-se, contudo, que em todas as situações acima, o Relator, em nenhuma delas,
decidirá monocraticamente pela existência ou não da repercussão geral, mas apenas aplicará
os entendimentos predominantes do Tribunal quanto à situações já julgadas.
Pode ocorrer, porém, de a Suprema Corte rever suas teses a respeito de alguma matéria
que já se encontrava pacífica como ausente de repercussão geral. Neste caso, não poderá o
Relator negar seguimento ao recurso monocraticamente.
O Regimento do Supremo Tribunal Federal em seus artigos 323, caput; 324, caput, e
parágrafo único, estabeleceu que não sendo o recurso extraordinário inadmitido por outra
razão, o Relator enviará para os demais Ministros, por meio eletrônico, cópia sobre seu
entendimento a respeito da existência ou não da repercussão geral, e que, os Ministros, dentro
de um prazo comum de vinte dias enviarão para o Relator seus respectivos entendimentos;
ultrapassado esse prazo sem manifestação, dar-se-á por existente a repercussão geral.
Recebendo as manifestações dos demais Ministros, o Relator juntará aos autos e sendo
o entendimento favorável à existência de relevância, julgará o recurso ou pedirá dia para seu
julgamento, após vista ao Procurador-Geral, se necessária, tudo conforme redação do artigo
325 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. Sendo negada a existência,
formalizará e subscreverá decisão de recusa de recurso.
2.9 DA IRRECORRIBILIDADE DA DECISÃO QUE NÃO CONHECE DO RECURSO
EXTRAORDINÁRIO POR AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL
Logo no caput do artigo 543-A, do CPC, observa-se que, quando o Supremo Tribunal
Federal, entender que a questão discutida não contém repercussão geral, a decisão que negar
conhecimento ao recurso extraordinário, será irrecorrível.
O artigo 326, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal também dispõe que
“toda decisão de inexistência de repercussão geral é irrecorrível e, valendo para todos os
recursos sobre questão idêntica, deve ser comunicada, pelo(a) Relator(a), à Presidência do
Tribunal, para os fins do artigo subseqüente e do artigo 329”.
33
Tal irrecorribilidade não é absoluta, tendo em vista que sempre que houver
obscuridade, omissão ou contradição em uma decisão, caberão embargos declaratórios com
vistas a elucidar tal falha.
Ainda que não seja capaz de modificar o julgado, com algumas exceções, os embargos
declaratórios interpostos contra decisão que não conhece do recurso extraordinário por falta
de repercussão geral exercem importante papel no ordenamento jurídico brasileiro, pois é
imprescindível a clareza a respeito do entendimento da Suprema Corte sobre a existência de
relevância em determinada questão, pois não há como haver uma vinculação vertical sobre a
interpretação da Constituição sem haver certeza sobre o real sentido dessa interpretação.
Para interposição dos embargos de declaração, não é necessário que realmente haja
obscuridade, omissão ou contradição no julgado, mas sim que haja afirmação fundamentada
alegando tais erros, pois caso entenda-se o contrário, haveria a insegurança jurídica do
recorrente em ver seu embargo declarado protelatório, no que resultaria em responsabilidade
por improbidade processual.
2.10 AMICUS CURIAE
Preceitua o artigo 543-A, § 6º, do CPC o seguinte: “O Relator poderá admitir, na
análise da repercussão geral, a manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado,
nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”.
Ao dispor que o Relator poderá admitir a manifestação de terceiros, o legislador está
se referindo à figura do amicus curiae, expressão em latim que significa “amigo da Corte”.
Por não ter sido ainda sistematizado no ordenamento jurídico brasileiro, torna-se um
pouco difícil a tarefa de conceituar com precisão o real sentido do instituto do amicus curiae,
porém, pode-se utilizar preciosa lição a respeito para melhor compreensão:
É o amicus curiae verdadeiro auxiliar do juízo. Trata-se de uma intervenção
provocada pelo magistrado ou requerida pelo próprio amicus curiae, cujo objetivo é
o de aprimorar ainda mais as decisões proferidas pelo Poder Judiciário. A sua
participação consubstancia-se em apoio técnico ao magistrado (DIDIER JR., F. apud
AGUIAR, M. C., 2005, p. 04).
Há na doutrina pátria quem entenda ser o amicus curiae um tipo de assistência
qualificada, enquanto outros entendem ser uma forma especial de intervenção de terceiros. No
34
entanto, o entendimento mais razoável acerca da natureza jurídica deste instituto se encontra
na teoria de que o mesmo seria um auxiliar da justiça, já que não teria ele interesse em ver
alguma das partes lograr êxito, mesmo que sua atuação pudesse levar a este caminho.
Neste sentido é o posicionamento de Aguiar (2005, p. 58):
Lastreando-se em tal papel, afigura-se claramente absurda a atribuição de outra
natureza jurídica ao instituto que não a de auxiliar do juízo. Deve-se perceber,
inicialmente, que, consoante a melhor doutrina, a enumeração das espécies de
auxiliar no Código de Processo Civil (art.139 e seguintes) é meramente
exemplificativa. Ademais, o principal fito da admissão de uma pessoa ou entidade,
completamente estranha à causa, é justamente a contribuição que poderá prestar à
Corte, das mais diversas formas, ampliando o contraditório e trazendo a lume
questões que poderiam escapar ao órgão julgador, municiando-o com o máximo de
informações possíveis acerca do thema decidendum, da hermenêutica normativa, de
suas implicações e repercussões, de forma a brindar suas decisões com maior
qualidade e legitimidade.
No que se refere exclusivamente à participação do “amigo da Corte” no recurso
extraordinário, o mesmo só poderá intervir para demonstrar aos Ministros do Supremo
Tribunal Federal que em tal controvérsia existe a repercussão geral ou não, ou seja, ele será
admitido mesmo que seja para demonstrar a inexistência de relevância e transcendência da
questão; jamais poderá se pronunciar com o intuito de ver obtida esta ou aquela decisão, nem
tampouco que alguma das partes seja vencedora do pleito. Será a eficácia reflexa da decisão
do processo que permitirá a intervenção
Portanto, resta evidente, que o principal objetivo da intervenção do amicus curiae é
subsidiar os Ministros para que os mesmos formem uma convicção mais aprofundada acerca
de determinada questão, é o conhecido “princípio da colaboração” no âmbito processual.
Esse subsídio contendo as informações necessárias para o correto posicionamento dos
julgadores normalmente se dá por meio de memoriais, mas nada impede que tal aconteça por
meio de sustentação oral, se assim entenderem os Ministros mais convenientes.
Antes de o legislador prever a participação do amicus curiae quanto à questão da
repercussão geral, o ordenamento processual pátrio já se valia desse instituto em duas
hipóteses: no incidente de inconstitucionalidade e nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade
e Ações Declaratórias de Constitucionalidade.
Nas duas hipóteses mencionadas acima, os dispositivos que as regulam são taxativos
ao afirmar que não cabe recurso contra a decisão do relator que admite a participação do
amicus curiae.
35
O artigo 543-A, § 6º, do CPC, no entanto, foi omisso quanto a qualquer tipo de
impossibilidade de se interpor recurso contra decisão do relator, tendo gerado opinião de
alguns de que tal decisão seria recorrível.
O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, no entanto, em seu artigo 323, §
2º, dispõe que o relator poderá admitir de ofício ou mediante requerimento, em prazo que
fixar, manifestação de terceiros, e que tal decisão será irrecorrível, estancando assim qualquer
tipo de dúvida.
Importante registrar, por fim, que o amicus curiae somente poderá ter sua
manifestação admitida se a mesma estiver subscrita por procurador habilitado.
2.11 EFICÁCIA DO NÃO-RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL
Como já analisado em momento anterior, somente o Plenário do Supremo Tribunal
Federal poderá dar a palavra final a respeito da não existência de repercussão geral na
controvérsia debatida.
Torna-se importante saber agora qual a eficácia de uma decisão do STF que nega
existência de repercussão geral, com relação a outros processos em que se tem a mesma
controvérsia discutida.
A respeito da questão, preceitua o artigo 543-A, § 5º, do CPC:
“Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos
sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos
termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”.
A doutrina faz uma crítica à redação do texto, quando o mesmo se refere a recursos
sobre mesma matéria, conforme transcrito in verbis:
Na realidade, o que autoriza a expansão da apreciação a respeito da inexistência de
repercussão geral não é o fato de outros recursos extraordinários versarem sobre
“matéria idêntica”, tal como está em nossa legislação. De modo nenhum. Temos de
ler a expressão como se aludisse à “controvérsia idêntica”. A matéria pode ser a
mesma, embora a controvérsia exposta no recurso extraordinário assuma contornos
diferentes a partir desse ou daquele caso. O termo “matéria” é evidentemente mais
largo que “controvérsia” (MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D., 2007, p. 52).
36
Pela leitura do texto, nota-se que a principal finalidade é não submeter ao Pretório
Excelso questão idêntica a outras que já foram julgadas e que não foi reconhecida a existência
da repercussão geral.
A partir do momento em que determinada controvérsia é posta à análise da Suprema
Corte, e a mesma verifica não haver ali o requisito da repercussão geral, tal decisão servirá de
precedente para todas as outras que sejam idênticas. Não haveria sentido o Supremo ter que
analisar sempre uma controvérsia, se já há entendimento de que a mesma não é relevante.
Esta, aliás, é uma das finalidades da repercussão geral, evitar que o Pretório Excelso
analise diversas vezes uma questão constitucional, conforme publicação de estudos na pagina
da internet do Supremo sobre repercussão geral.
O citado dispositivo processual diz que todos os recursos que se fundarem na mesma
matéria, ou como preferem alguns, na mesma controvérsia, deverão ser liminarmente
rejeitados, salvo revisão da tese, e conclui informando que tal processamento se dará de
acordo com o RISTF.
Tendo não só o artigo 543-A, § 5º, do CPC, mas a própria Lei nº. 11.418/06 que
acresceu tal artigo, conferido ao Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal o dever de
estabelecer as normas necessárias à execução desta lei, competiu ao STF definir a quem
caberia rejeitar liminarmente os recursos extraordinários com idêntica matéria do qual o
mesmo já se pronunciara sobre a inexistência de repercussão geral.
O RISTF estabeleceu que competirá à Presidência do Tribunal rejeitar liminarmente
tais recursos extraordinários, mas que igual competência exercerá o Relator sorteado, quando
o recurso não tiver sido rejeitado pela Presidência, e que deverá o mesmo comunicar tal
rejeição à Presidência do Pretório Excelso, tudo de acordo com o artigo 327, caput, e seu § 1º,
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
Assim leciona a doutrina:
É imperioso observar que esse efeito vinculante somente acontecerá para as decisões
que negarem o requisito da repercussão geral. De outra forma, as outras decisões que
reconhecerem a presença do aludido requisito não terão esse efeito vinculante no
que diz respeito a outros recursos que digam respeito à mesma matéria (MALTEZ,
2007).
Tais dispositivos demonstram claramente a existência de vinculação horizontal das
decisões que negam seguimento ao recurso extraordinário por falta de repercussão geral.
37
2.12 PUBLICIDADE DA DECISÃO
Segundo reza o artigo 543-A, § 7º, do CPC: “A Súmula da decisão sobre a repercussão
geral constará de ata, que será publicada no Diário Oficial e valerá como acórdão”.
De igual forma, trata o parágrafo único, do artigo 325, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal:
“O teor da decisão preliminar sobre a existência da repercussão geral, que deve
integrar a decisão monocrática ou o acórdão, constará sempre das publicações dos
julgamentos no Diário Oficial, com menção clara à matéria do recurso”.
Da mesma maneira estabelece o artigo 329, também do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal ao dispor que “a Presidência do Tribunal promoverá ampla e
específica divulgação do teor das decisões sobre repercussão geral, bem como formação e
atualização de banco eletrônico de dados a respeito”.
Como toda decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, e como é a regra no
ordenamento jurídico brasileiro, devem elas ser públicas, para que toda a sociedade tenha
conhecimento a respeito de seu teor. A eficácia da decisão depende de sua publicação.
38
CAPÍTULO III
REPERCUSSÃO GERAL NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS
MÚLTIPLOS
3.1 PROCEDIMENTO
No artigo 543-B, também introduzido no Código de Processo Civil pela Lei nº.
11.418/2006, o legislador tratou da hipótese de interposição de vários recursos extraordinários
com idêntica controvérsia, dispondo de que maneira tais recursos deverão ser processados
tanto nos Tribunais de origem quanto no Supremo Tribunal Federal.
Assim, dispõe o caput do artigo 543-B, do CPC, que “quando houver multiplicidade
de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será
processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o
disposto neste artigo”.
Desta forma, conferiu a lei ao RISTF competência para dispor acerca de como se dará
o processamento de recursos extraordinários em que se verifique identidade de questão
constitucional entre eles.
Algumas poucas críticas são feitas ao referido dispositivo processual, como se
vê in verbis:
A pretensão legislativa, todavia, parece-nos inoportuna. O primeiro ponto a ser
destacado é a tentativa de fazer com que, nos casos em que houver diversos recursos
com o mesmo tema constitucional, o Supremo Tribunal Federal aprecie apenas
alguns deles, para conferir a existência da repercussão geral da questão
constitucional, evitando, conseqüentemente, o excesso de trabalho na Corte
Suprema. O equívoco reside em supor que a existência de inúmeros recursos
extraordinários sobre o mesmo tema pode não representar caso de repercussão geral.
Em linha de princípio, a existência de “múltiplos recursos” sobre a mesma hipótese
constitucional caracteriza repercussão geral. Observe-se o exemplo já mencionado
acima: se a constitucionalidade de um tributo é questionada individualmente por
milhares de pessoas físicas ou jurídicas, evidente que o tema apresenta aspecto
socialmente relevante, a merecer o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal.
Ao desconsiderar esse fato, o dispositivo previsto no Projeto de Lei abre margem a
que se negue a repercussão geral a questões constitucionais que afetem grande
número de relações jurídicas (BARIONI, 2007, p. 223).
39
No entanto, referida crítica não merece prosperar, já que o posicionamento processual
tem nítida finalidade de otimizar as atividades do Pretório Excelso e garantir a segurança
jurídica, dando a mesma solução jurídica para todos, pois que desta forma, impedirá que este
Tribunal decida repetidas vezes no mesmo sentido sobre a existência ou não de repercussão
geral sobre questões às quais já se pronunciou, bastando a análise de alguns poucos recursos
que servirão de paradigma para os demais recursos semelhantes.
Conforme se depreende da leitura do artigo 543-B, § 1º, do CPC, caberá ao Tribunal
Superior do Trabalho ou ao Juiz do Trabalho, quando de decisão em dissídios de alçada, ao
verificar a existência de multiplicidade de recursos extraordinários sobre controvérsia
idêntica, selecionar um ou mais recursos, os quais representarão os demais, que ficarão
sobrestados, ou seja, paralisados até o julgamento daqueles.
Portanto, o Tribunal Superior do Trabalho não poderá exercer juízo de admissibilidade
sobre os recursos sobrestados enquanto não forem julgados os demais recursos
representativos enviados ao Supremo Tribunal Federal.
Entretanto, pode ocorrer de os Tribunais a quo não observarem o que dispõe o texto do
dispositivo acima e enviarem ao Supremo múltiplos recursos extraordinários que tenham o
mesmo tema. Neste caso, o parágrafo único do artigo 328, do Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, determina que a Presidência do Tribunal ou o Ministro Relator selecionem
os recursos representativos da controvérsia, determinando a devolução dos demais para os
Tribunais ou Turmas de juizado especial de origem para que observem o disposto no artigo
543-B, do Código de Processo Civil.
Segundo estudo publicado na página oficial do STF na internet, os Tribunais deverão
encaminhar no máximo três recursos que sejam representativos de cada matéria, ficando os
outros sobrestados, inclusive os agravos de instrumento.
Importante observar, todavia, que os Tribunais a quo não deverão encaminhar ao
Supremo qualquer recurso extraordinário como paradigma dos demais. Deverão ser
escolhidos aqueles recursos que melhor representem a controvérsia, pois que este servirá de
base para convencimento dos Ministros quanto à existência de repercussão geral na questão.
A doutrina diverge quanto à possibilidade de o ato de sobrestamento dos recursos
extraordinários do Presidente do Tribunal recorrido ser passível de recurso ou não.
No entanto deve-se entender pela impossibilidade de interposição de recurso, já que
não há previsão legal quanto à possibilidade de interposição de qualquer recurso contra
decisão de sobrestamento, além de assim se atingir a finalidade pretendida de celeridade
processual.
40
3.2 EFICÁCIA DO RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL
Os recursos extraordinários enviados ao Supremo Tribunal Federal como
representativos dos demais recursos sobrestados, serão distribuídos entre as Turmas do
Tribunal e ali passarão por um juízo de admissibilidade por parte dos Ministros, inclusive,
como já visto, também será verificada a existência de repercussão geral.
Decidindo a Turma ou, se necessário, o Pleno do Pretório Excelso pela existência de
repercussão geral da questão constitucional debatida, poderão ocorrer diversos
desdobramentos conforme se verá adiante.
O art. 543-B, § 3º, do CPC dispõe que “julgado o mérito do recurso extraordinário, os
recursos sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de uniformização ou Turmas
Recursais, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se”.
Segundo este dispositivo, o Supremo Tribunal Federal reconhece a existência de
repercussão geral ao realizar um juízo de admissibilidade sobre o recurso, e posteriormente
exerce um juízo de mérito, que a depender de seu teor, autorizará o Tribunal a quo a retratar-
se ou a declarar prejudicados os demais recursos extraordinários.
Surge então, duas possibilidades: ou o Pretório Excelso reforma a decisão proferida
pelo Tribunal de origem, ou julga no mesmo sentido confirmando o acórdão impugnado.
Assim, ocorrendo a primeira hipótese, ou seja, tendo o Supremo conhecido do recurso
e lhe dado provimento reformando a decisão recorrida, abrir-se-á para o Tribunal recorrido a
possibilidade de retratar-se quanto ao seu acórdão, já que o mesmo estará em confronto com o
entendimento da Suprema Corte.
Em outras palavras, tendo o Pretório Excelso decidido de forma diversa da do Tribunal
Superior do Trabalho, este poderá julgar novamente os mesmos processos dos quais foram
interpostos recursos extraordinários e que se encontravam sobrestados, logicamente, neste
novo julgamento, o teor do acórdão deverá estar perfeitamente compatível com o teor da
decisão proferida pelo Pretório STF.
Ao se retratar, o TST poderá acolher a pretensão do recorrente e julgá-la procedente,
caso no primeiro momento tenha decidido pela sua improcedência, assim como também
poderá se dá o contrário, ou seja, ter julgado procedente, e após retratar-se, julgar
improcedente tal pretensão.
41
O art. 543-B, § 3º, do CPC, diz que o Tribunal de origem também poderá declarar
prejudicados os recursos extraordinários quando o mérito dos mesmos é apreciado pelo
Supremo Tribunal Federal.
Ao contrário da hipótese anterior em que o Tribunal a quo retrata-se de sua decisão
por esta se encontrar em desacordo com a decisão tomada pela Suprema Corte, agora o
referido Tribunal poderá declarar prejudicados os recursos extraordinários por terem sido os
recursos representativos julgados improcedentes, ou seja, agora o STF confirma a decisão
impugnada, negando provimento à pretensão do recorrente.
Portanto, a retratação caberá quando o Supremo Tribunal Federal entender não ter
razão o Tribunal recorrido, e assim, reformar sua decisão; por outro lado, quando o Pretório
Excelso entender que a decisão impugnada deu a solução adequada à tese constitucional,
caberá ao Tribunal Superior do Trabalho declarar os recursos extraordinários sobrestados
como prejudicados.
Tanto a retratação, como a declaração de recursos extraordinários prejudicados
estabelecidos pela Lei nº 11.418/2006, demonstram nítido caráter vinculativo a respeito das
decisões do Supremo Tribunal Federal, como endossam alguns:
Essas duas hipóteses demonstram, mais uma vez, que os efeitos da decisão a
respeito da repercussão geral da questão constitucional debatida se expandam para
além do caso examinado e alcançam outros similares, que não foram diretamente
julgados pelo Pretório Excelso (LEONEL, 2007, p. 191).
Em idêntico teor:
Adicione-se, também, que a regra pretende trazer um “efeito vinculante” às decisões
do Supremo Tribunal Federal, determinando que os recursos sejam considerados
prejudicados, se a decisão impugnada estiver em conformidade com a orientação
fixada no julgamento do recurso extraordinário (BARIONI, 2007, p. 228).
Conforme já dito, a tendência atual é justamente a de dar poder vinculante às decisões
do Supremo tribunal Federal, sendo necessário e útil, transcrever aqui o entendimento do
Ministro Gilmar Mendes exposto no RE 376852/SC:
Esse novo modelo legal traduz, sem dúvida, um avanço na concepção vetusta que
caracteriza o recurso extraordinário entre nós. Esse instrumento deixa de ter caráter
marcadamente subjetivo ou de defesa de interesse das partes, para assumir, de forma
decisiva, a função de defesa da ordem constitucional objetiva. Trata-se de orientação
que os modernos sistemas de Corte Constitucional vêm conferindo ao recurso de
amparo e ao recurso constitucional (Verfassungsbeschwerde). Nesse sentido,
42
destaca-se a observação de Häberle segundo a qual „a função da Constituição na
proteção dos direitos individuais (subjetivos) é apenas uma faceta do recurso de
amparo‟, dotado de uma „dupla função‟, subjetiva e objetiva, „consistindo esta
última em assegurar o Direito Constitucional objectivo‟ (Peter Häberle, O recurso de
amparo no sistema germânico, Sub Judice 20/21, 2001, p. 33 (49)). Essa orientação
há muito mostra-se dominante também no direito americano (MENDES apud
MARINONI; MITIDIERO, 2007, p. 68).
Pode ocorrer, porém, de mesmo quando Supremo Tribunal Federal ter reformado a
decisão recorrida, o Tribunal a quo optar por não retratar-se quanto à sua decisão, mantendo,
assim, o mesmo entendimento proferido em seu acórdão recorrido.
Neste caso, a solução encontra-se no art. 543-B, § 4º, do CPC, o qual estabelece que
“mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal Federal, nos termos do
Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação
firmada”.
Ocorrida tal hipótese, deverão os recursos extraordinários que ficaram sobrestados
serem enviados à Suprema Corte, e que os mesmos deverão ser admitidos, pois que como foi
reconhecida a existência de repercussão geral em seus paradigmas, assim também deverá sê-
lo com aqueles, a não ser, logicamente, que ocorra de não preencherem algum outro requisito
de admissibilidade do recurso, como, por exemplo, a tempestividade.
Analisando o mérito do recurso, poderá o Supremo cassar ou reformar, liminarmente,
o acórdão impugnado. É importante distinguir estas duas situações, haja vista que produzem
efeitos diferentes.
Quando se fala em reforma de uma decisão, está-se referindo à prolação de outra
decisão capaz de modificar a proferida anteriormente. Haverá uma modificação no teor da
decisão por esta conter error in iudicando (vício no julgamento).
Por vício no julgamento entende-se o seguinte:
Ocorre o error in iudicando quando o magistrado atribui ao direito positivo uma
vontade que não é a sua verdadeira, ou seja, quando o juiz profere uma declaração
errônea da vontade concreta da lei. Em outros termos, toda vez que se interpuser
recurso contra uma decisão sob o fundamento de que a mesma deu errônea solução à
questão sobre a qual versa, o objeto de tal recurso será a reforma da referida decisão
judicial (CÂMARA, 2007, p. 56).
Portanto, quando o Supremo Tribunal Federal entender que a solução dada pelo
Tribunal de origem à questão constitucional debatida no processo não for a mais adequada, e
em não havendo retratação, referida decisão será reformada liminarmente pelo Pretório
Excelso.
43
Diferentemente da reforma, a cassação tem por finalidade invalidar a decisão
recorrida, por esta apresentar alguma nulidade, ou seja, a cassação visa a expurgar do mundo
jurídico sentença ou acórdão que contenha error in procedendo (vício de forma).
Desta forma, o jurista Alexandre Freitas Câmara também tece importantes
comentários a respeito da questão:
Situação diversa é a que se tem quando o recurso é interposto sob o fundamento de a
decisão impugnada ter sido proferida com error in procedendo. Este é um vício de
forma, ao contrário do anterior, em que se tinha um vício de conteúdo. O error in
procedendo está sempre ligado ao descumprimento de uma norma de natureza
processual e consiste em vício formal da decisão, que acarreta sua nulidade. Nesta
hipótese, o objeto do recurso não será a reforma da decisão recorrida, mas sua
invalidação (CÂMARA, 2007, p. 57).
A principal diferença entre se reformar ou se cassar uma decisão, está em que na
primeira hipótese a nova decisão acarretará o efeito substitutivo, ou seja, como não podem
existir duas sentenças ou acórdãos no mesmo processo, a decisão reformada é substituída pela
nova decisão, esta sim, que poderá, eventualmente, ser atacada por recurso ou ação rescisória.
Já na cassação, a nova decisão anula a sentença ou acórdão proferidos, e remete ao
órgão que havia prolatado, para que o mesmo profira nova decisão sobre a mesma questão.
Como a lei fala da possibilidade da decisão do Tribunal de origem ser reformada ou
cassada liminarmente pelo Supremo Tribunal Federal, a solução mais conveniente e prática
seria a de conferir ao Ministro Relator tal poder, e foi isto que fez o Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal em seu art. 21, § 1º, ao dispor que poderá o Relator cassar ou
reformar, liminarmente, acórdão contrário à orientação firmada nos termos do art. 543-B do
Código de Processo Civil.
3.3 EFICÁCIA DO NÃO-RECONHECIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL
Analisado no tópico anterior a eficácia do reconhecimento da repercussão geral
quando há a interposição de múltiplos recursos extraordinários com idêntica controvérsia,
passa-se ao estudo agora, de situação inversa, ou seja, não se conhece do recurso por ausência
de repercussão geral.
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Tendo o Tribunal de origem selecionado os recursos que servirão como paradigmas
para os outros que tratem da mesma matéria e os enviado ao Supremo Tribunal Federal, e lá
havendo oito votos no sentido da não existência de repercussão geral, o que, como visto, só
poderá ocorrer através de julgamento pelo Plenário, tal decisão afetará todos os recursos que
ficaram sobrestados.
Assim dispõe o artigo 543-B, § 2º, do Código de Processo Civil: “Negada a existência
de repercussão geral, os recursos sobrestados considerar-se-ão automaticamente não
admitidos”.
Segundo Ricardo de Barros Leonel (2007, p. 189), sobre a questão, assim se
pronuncia:
Aqui, o que se tem, na verdade, é uma espécie de expansão da eficácia da decisão do
STF a respeito da análise da repercussão geral. A lei está dizendo, em outras
palavras, que a negativa de processamento, nesse caso, atinge os outros recursos
extraordinários sobrestados. É como se a decisão do Pretório Excelso tivesse
examinado cada uma das impugnações, e dito, quanto a todas elas, que não ostentam
o novo requisito de admissibilidade.
Neste caso, os Tribunais de origem deverão proferir um despacho em cada um dos
recursos extraordinários que ficaram sobrestados, declarando-os prejudicados, pois que em tal
caso, todos se mostrarão ausentes do requisito de admissibilidade da repercussão geral da
questão constitucional debatida, sendo importante, também, acostar aos autos cópia da
decisão do Pretório Excelso não conhecendo do recurso representativo.
Tal situação só ocorrerá como parece óbvio, nos casos em que o Supremo deixa de
conhecer do recurso extraordinário por ausência de repercussão geral. Quando este Tribunal
não admite o recurso, mas por ausência de outro requisito de admissibilidade, tal decisão não
poderá afetar os demais recursos sobrestados, que deverão ser enviados à Suprema Corte.
3.4 VIGÊNCIA E DIREITO INTERTEMPORAL
O artigo 4º, da Lei nº. 11.418/2006, estabelece o seguinte: “Aplica-se esta Lei aos
recursos interpostos a partir do primeiro dia de sua vigência”.
E completa o artigo 5º, da mesma lei: “Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após
a data de sua publicação”.
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Portanto, percebe-se, a partir da leitura dos citados artigos, que a demonstração da
existência de repercussão geral das questões constitucionais só passará a ser obrigatória após
o início de vigência da lei que a regulamenta.
A Lei 11.418/2006 foi sancionada no dia dezenove de dezembro de dois mil e seis, e
publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia seguinte, passando a correr então, a partir
deste dia, o prazo da vacatio legis, estabelecido no referido artigo 5º para que a mesma
entrasse em vigor.
Desta forma, os recursos extraordinários interpostos antes da publicação da lei, assim
também como aqueles interpostos depois de sua publicação, mas antes de decorrida a vacatio
legis, ficariam desobrigados de demonstrarem a existência de repercussão geral, a qual
somente seria exigível em meados de fevereiro de dois mil e sete, quando então estariam
decorridos os sessenta dias previstos na legislação.
O critério adotado pelo legislador foi alvo de duras críticas por parte dos juristas, pois
eles afirmam que o artigo 4º, da Lei nº. 11.418/2006, encontra-se eivado de
inconstitucionalidade por ferir o direito adquirido, pois que ao se exigir a demonstração de
repercussão geral após a vacatio legis dos sessenta dias, ou seja, a partir do momento da
interposição do recurso, sem ser observado nenhum outro critério, a lei estaria retroagindo a
casos pendentes, que teriam se iniciado antes da vigência da lei.
Assim entendem alguns juristas:
Vale dizer: o art. 4º da Lei 11.418 de 2006 fere a garantia constitucional da
irretroatividade das leis (art. 5º, XXXVI, da CF), porquanto desrespeita o direito
processual adquirido ao conhecimento e ao julgamento do recurso extraordinário de
acordo com a lei vigente ao tempo do termo inicial do prazo para sua interposição.
Logo, ao contrário do que pretende impor a legislação, a demonstração da
repercussão geral da questão levantada em recurso extraordinário somente poderá
ser exigida dos recursos cujo prazo para interposição teve início após a sua vigência.
Do contrário, haverá evidente afronta à Constituição, por violação a um direito
processual adquirido (MARINONI; MITIDIERO, 2007, p. 75).
Neste sentido também entende Ricardo de Barros Leonel:
Assim, se em razão de determinado acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
Estado nasceu para o sucumbente o direito à interposição do recurso extraordinário,
os requisitos que poderão ser exigidos (pressupostos de admissibilidade) para o
conhecimento desse recurso são aqueles então vigentes.
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E continua:
Se lei superveniente institui um novo pressuposto de admissibilidade para o
conhecimento de recurso cujo prazo de interposição já se havia iniciado (na vigência
da lei anterior), tal requisito será inexigível para aquele caso. Entendimento
contrário significaria, na prática, aplicar a lei de forma retroativa, ou seja, impondo o
cumprimento da nova exigência a direito processual adquirido surgido
posteriormente à vigência da lei (LEONEL, 2007, p. 194).
Todavia, o entendimento predominante e mais coerente com o sistema processual
vigente, destaca que a lei nova deverá ser aplicada aos processos pendentes, mas que atingirá
somente os atos que ainda não foram praticados, permanecendo inalteráveis e perfeitamente
válidos os atos processuais pretéritos.
Portanto, não se deve entender que o artigo 4º, da Lei nº 11. 418/2006, seja
inconstitucional por estabelecer que a demonstração da repercussão geral se dará com o início
de sua vigência e não com o início do prazo para recorrer como preferem alguns, pois se após
o término do prazo da vacatio legis, ainda não tiver sido interposto o recurso extraordinário, o
mesmo deverá se submeter às alterações processuais introduzidas pela referida lei.
Tal se dará pelo fato de que somente os atos já praticados antes do início de vigência
da nova lei é que encontram-se protegidos pela égide do direito adquirido, os demais, deverão
ser regidos pela nova legislação, não significando, isto, retroatividade da lei.
Desta forma entende Santos (2007, p. 30):
Também a lei processual não tem efeito retroativo. Também ela não se aplica a fatos
ou atos passados, regulados por lei anterior, os quais permanecem com os efeitos
produzidos ou a produzir. A lei nova atinge o processo em curso no ponto em que
este se achar, no momento em que ela entrar em vigor, sendo resguardada a inteira
eficácia dos atos processuais até então praticados. São os atos posteriores à lei nova
que se regularão conforme os preceitos desta
O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Agravo de Instrumento (AI nº. 664.567), em
que se pretendia anular decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o qual não tinha
admitido recurso extraordinário interposto no dia doze de abril de dois mil e sete, sob o
fundamento de que o mesmo não continha a preliminar de repercussão geral, adotou o mesmo
critério utilizado pela Lei nº. 11.418/2006, ou seja, que a demonstração da existência de
repercussão geral das questões constitucionais somente seria obrigatória a partir da
interposição do recurso extraordinário, e não a partir do início do prazo de sua interposição.
No entanto, decidiram os Ministros do Pretório Excelso por unanimidade que o prazo
inicial para exigir-se a preliminar de repercussão geral seria a data em que entrou em vigor o
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Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, ou seja, três de maio de dois mil e sete, e
não mais os sessenta dias da vacatio legis previsto na Lei nº. 11.418/2006.
O Ministro Sepúlveda Pertence assim se pronunciou em seu voto no AI nº 664.567:
O equívoco da decisão agravada está, isto sim, em exigir, antes das normas
regimentais implementadas pelo Supremo Tribunal Federal, que o recorrente
buscasse demonstrar, na petição do RE, a repercussão geral da questão.[...]É que a
determinação expressa de aplicação da L. 11.418/06(art.4º (13)
) aos recursos
interpostos a partir do primeiro dia de sua vigência não significa a sua plena eficácia.
Tanto é assim que ficou a cargo do Supremo Tribunal Federal a tarefa de
estabelecer, em seu Regimento Interno, as normas necessárias à execução da L.
11.418/06 (art. 3º (14)
).[...] Na verdade, o objetivo do art. 4º da L. 11.418/06 foi tão-
somente evitar a aplicação retroativa do requisito da repercussão geral: sem ele, com
efeito, poderia surgir a tentadora interpretação de que a repercussão geral seria
exigida quanto aos recursos interpostos antes da vigência da Lei, notadamente os
recursos interpostos após a EC 45.
(...)
Parece fora de dúvida que, sendo imprescindível a referida emenda regimental para a
execução da L. 11.418/06, seria ilógico exigir que os recursos interpostos antes da
vigência daquela contenham uma preliminar em que o recorrente demonstre a
existência da repercussão geral (Art.543-A, §2º, introduzido pelo art. 2º da L.
11.418/06)1.
Portanto, apesar da Lei nº. 11.418/2006 disciplinar a questão dispondo que a exigência
de repercussão geral se daria com sua entrada em vigor, tal obrigatoriedade só se verifica a
partir da entrada em vigor do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, pois será este
o responsável por estabelecer normas de execução da citada lei.
1 Disponível em: <www.stf.gov.br>. Acesso em: 07/03/10.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o início do presente trabalho, procurou-se elencar elementos doutrinários e
legais, para que, imbuídos de tais informações, fosse possível formar um alicerce cientifico,
lógico e cabal acerca do instituto da repercussão geral das questões constitucionais discutidas
no processo.
O Supremo Tribunal Federal teve origem na Casa de Suplicação do Brasil e no
Supremo Tribunal de Justiça, mantendo a característica de Corte Constitucional, destinada à
guarda da Constituição, estabelecendo uma correta interpretação a seu respeito, tendo como
grande instrumento para a realização de sua função o recurso extraordinário, o qual tem
origens no Direito anglo-saxão, e que foi fortalecido agora pela criação da repercussão geral.
A repercussão geral foi introduzida no ordenamento jurídico pátrio pela Emenda
Constitucional nº 45/2004, a qual introduziu o §3º, ao artigo 102 da Carta Magna. Em
momento posterior, fora sancionada a Lei 11.418/2006 que passou a regulamentar a
repercussão geral, e mais adiante modificou-se o Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, através da Emenda Regimental nº. 21/07 o qual trouxe normas acerca da execução do
instituto.
Sem dúvida a intenção do legislador foi a de racionalizar o exercício da atividade
judiciária no país, de forma a tornar os processos mais céleres e eficazes para o
jurisdicionado, fortalecendo ainda mais o poder de guardião da Constituição Federal dado ao
Supremo Tribunal federal.
A repercussão geral apresenta-se como um requisito intrínseco de admissibilidade dos
recursos extraordinários, de forma que de agora em diante, todos os recursos extraordinários
interpostos perante a Suprema Corte, deverão passar pela análise da repercussão geral.
O legislador acertou ao utilizar-se dos chamados conceitos jurídicos indeterminados
para conceituar a repercussão geral, de forma que os Ministros do STF poderão sempre rever
suas teses sem a necessidade de alguma alteração na legislação, sendo necessário apenas que a
matéria discutida seja relevante e que transcenda aos interesses subjetivos das partes da
demanda.
A repercussão geral encontra institutos semelhantes no Direito norte-americano e
alemão.
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A repercussão geral guarda semelhanças com a argüição de relevância, instituto que
vigorou no país durante alguns anos até a entrada em vigor da Constituição de 1988, por
serem ambas, formas de se reduzir a quantidade de recursos extraordinários no STF, mas por
a argüição de relevância ser julgada em sessão secreta e sem necessidade de fundamentação,
não possuem mais semelhanças.
Caberá ao recorrente a obrigação de demonstrar no recurso extraordinário a existência
de repercussão geral, sendo omisso, seu recurso não será conhecido. Somente o Pretório
Excelso tem competência para verificar a real existência ou não da repercussão geral, cabendo
aos Tribunais de origem unicamente verificar a alegação formal do recorrente no recurso.
Caso haja usurpação de competência pelo Tribunal a quo, será possível a interposição de
reclamação perante o STF.
Os Ministros do STF só poderão deixar de conhecer do recurso extraordinário sob a
fundamentação de ausência de repercussão geral, se dois terços, ou seja, oito Ministros
votarem neste sentido.
Desta maneira, apenas o Plenário do Pretório Excelso poderá se pronunciar acerca da
inexistência de repercussão geral, não sendo atingido esse quorum, reconhece-se a existência
de repercussão geral e o recurso é conhecido.
Para que a repercussão geral seja reconhecida, é necessário apenas que quatro
Ministros votem pela sua existência, como cada Turma do STF possui cinco ministros, poderá
a Turma reconhecer sua existência sem necessidade de levar a julgamento pelo Plenário, o
que ocorrerá somente na hipótese de não atingido esse quorum.
Quando o Supremo Tribunal Federal decidir pela inexistência de repercussão geral,
esta decisão não será passível de recurso, a não ser os embargos de declaração, e atingirá a
todos os recursos extraordinários de matéria idêntica.
A Lei nº. 11.418/2006 prevê a possibilidade da participação do amicus curiae, que é
um auxiliar da justiça, e teria como objetivo ajudar os Ministros quanto à existência ou não da
repercussão geral.
Todas as decisões do STF a respeito da existência ou não de repercussão geral serão
publicas, constando no Diário da União e suas súmulas valerão como acórdãos.
A análise da repercussão geral nos recursos extraordinários múltiplos será feita de
forma semelhante ao feito no caso dos recursos singulares, com algumas poucas adaptações.
Quando o Tribunal de origem verificar a existência de vários recursos extraordinários
com idêntica controvérsia, selecionará em torno de três recursos que bem representem a
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matéria discutida, para que sirvam de paradigmas para os demais, que ficarão sobrestados
esperando o julgamento do STF quanto aos recursos representativos.
Tendo o STF negado a existência de repercussão geral nos recursos paradigmas, todos
os demais que ficaram sobrestados serão considerados automaticamente como não- admitidos,
devendo os Tribunais de origem, juntar em cada um deles, súmula do Supremo Tribunal
Federal a respeito do julgamento.
Caso o Pretório Excelso entenda haver repercussão geral nos recursos representativos,
abrir-se-á para os Tribunais de origem a possibilidade de retratar-se ou declarar os recursos
sobrestados prejudicados. Não havendo retratação, a decisão poderá ser cassada ou reformada
liminarmente pelo STF.
A Lei 11.418/2006 passou a vigorar sessenta dias depois de sua publicação no Diário
Oficial da União, ocorrida em vinte de dezembro de dois mil e seis, a chamada vacatio legis.
No entanto, apesar da lei prevê a exigibilidade de demonstração da repercussão geral a
partir de sua vigência, entendeu o Supremo Tribunal Federal, que a repercussão geral só
passou a ser exigível a partir do dia três de maio de dois mil e sete, data da entrada em vigor
da Emenda Regimental nº. 21/07, que alterou diversos artigos de seu Regimento Interno, por
ser este o responsável a estabelecer as normas de execução da repercussão geral.
Assim, a repercussão geral se mostra como um forte instrumento na luta por um
Judiciário mais eficaz e célere, liberando sua Corte Máxima para realizar um controle
constitucional mais forte, com o intuito de conferir à Constituição Federal uma interpretação
mais unânime, vinculando os demais órgãos do Judiciário, evitando que questões com pouca
ou nenhuma importância para a sociedade em geral, sejam julgadas pelo Supremo Tribunal
Federal.
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