MARIA LUCIA MARIANO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE JOVENS SOBRE SUCESSO E SOBRE FRACASSO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O
ENSINO/APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco
2009
MARIA LUCIA MARIANO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE JOVENS SOBRE SUCESSO E SOBRE FRACASSO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O
ENSINO/APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do Curso de Pós-Graduação em Psicologia Educacional, do Centro Universitário FIEO, para a obtenção do título de Mestre em Psicologia Educacional. Área de concentração: Ensino-aprendizagem. Linha de pesquisa: Ensino-aprendizagem no contexto social e político. Orientadora: Prof. Dra. Maria Laura Puglisi Barbosa Franco. Co-orientadora: Prof. Dra. Marisa Irene Siqueira Castanho
CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO Osasco
2009
Mariano, Maria Lúcia
Representações sociais de jovens sobre sucesso e sobre
fracasso e sua contribuição para o ensino/aprendizagem de
História/ Maria Lúcia Mariano; orientação de Maria Laura
Puglisi Barbosa Franco. – Osasco : UNIFIEO, 2009.
90p. (número de páginas)
Dissertação (mestrado) Psicologia Educacional
1. Ensino-aprendizagem. 2. Psicologia Educacional. 3. Franco,
Maria Laura Puglisi Barbosa Franco
CDU 37:159.953.5.
MARIA LUCIA MARIANO
FOLHA DE APROVAÇÃO Dissertação apresentada no Centro Universitário UNIFIEO para obtenção do título
de Mestre em Psicologia Educacional.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE JOVENS SOBRE SUCESSO E SOBRE FRACASSO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O
ENSINO/APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA.
Aprovado em: 01 de setembro de 2009.
BANCA EXAMINADORA:
----------------------------------------------------------------------------------------------
Nome: Dra. Maria Laura Puglisi Barbosa Franco Instituição: Centro Universitário FIEO
----------------------------------------------------------------------------------------- Nome: Dra. Marisa Irene Siqueira Castanho Instituição: Centro Universitário FIEO
----------------------------------------------------------------------------------------
Nome: Dra. Marisa Todescan Dias da Silva Baptista Instituição: Universidade São Marcos
----------------------------------------------------------------------------------------
Nome: Dra. Márcia Siqueira de Andrade Instituição: Centro Universitário FIEO
Dedicatória À honra e glória de DEUS, que me presenteou com a vida para poder buscar o sucesso e me presenteia com a força para poder enfrentar os fracassos. A meus pais, a quem devo tudo!
Agradecimentos
Aos jovens desta pesquisa pela colaboração.
Aos diretores da escola pública estadual e da escola particular que autorizaram a
realização da pesquisa nas instituições de ensino.
À professora Dra. Maria Laura Puglisi Barbosa Franco, pela paciência, acolhimento,
carinho e disponibilidade com que me orientou no decorrer deste trabalho.
À professora Dra. Marisa Irene Siqueira Castanho, também pelo seu acolhimento,
seu carinho, sua paciência e disponibilidade e ajuda valiosa sendo minha co-
orientadora.
À professora Dra. Márcia Siqueira de Andrade e Dra. Marisa Todescan Dias da Silva
Baptista pela leitura atenta do trabalho e pelas sugestões apresentadas no exame
de qualificação.
Aos queridos amigos, companheiros do curso de mestrado, que estarão sempre em
meus pensamentos.
A todos os professores que fizeram parte deste mestrado e que, como ensinantes,
ampliaram o meu conhecimento.
E a todos que contribuíram direta ou indiretamente com esse trabalho.
MARIANO, Maria Lucia. Representações Sociais de jovens sobre sucesso e sobre fracasso e sua contribuição para o ensino/aprendizagem de História. 2009. 80f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Educacional) – Curso de Pós-Graduação em Psicologia Educacional, Centro Universitário FIEO, Osasco.
RESUMO O objetivo desta pesquisa foi identificar analisar e interpretar as representações
elaboradas por jovens de dois diferentes segmentos educacionais e sociais a
respeito do sucesso e do fracasso e sua contribuição para o ensino/aprendizagem
de História. Visto que, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino Médio - PCN (2000), a História enquanto disciplina escolar possibilita ampliar
estudos sobre as problemáticas contemporâneas. Entende-se que representações
são formas de organização simbólica do pensamento que se estruturam em três
dimensões relevantes, a sócio-cognitiva, sócio-afetiva e a sócio-histórica. A dinâmica
entre estas três dimensões, cujo eixo comum é o social, é responsável pela
construção das Representações Sociais do fracasso e sucesso na vida dos jovens.
Os participantes foram alunos da rede pública e particular de ensino da cidade de
Ibiúna, interior de São Paulo, na faixa etária de 15 a 18 anos, dos 2º e 3º anos do
Ensino Médio, do turno diurno, totalizando 40 participantes. Foram utilizadas,
como técnica e coleta de dados, questionários compostos de questões
abertas e fechadas e o procedimento de associação livre por meio de três
palavras que os jovens relacionaram a sucesso e a fracasso. Os dados
coletados foram contextualizados e tratados pelos procedimentos de análise
de conteúdo. As categorias foram criadas a posteriore, ou seja, foram criadas
a partir dos conteúdos expressos pelos participantes. Foram identificadas as
convergências e as divergências entre os jovens do mesmo grupo social e
nos dois grupos pesquisados, indicando que, as Representações Sociais sobre
sucesso para os grupos pesquisados são construídas com base nos elementos
relacionados a atributos pessoais. E as Representações Sociais sobre fracasso, são
construídas com base nos elementos materiais e concretos e relacionadas à falta de
atributos pessoais.
Palavras- chave: Representações Sociais, jovens, sucesso, fracasso.
MARIANO, Maria Lucia. Social Representations of young on success and failure and its contribution for education/learning of History. 2009.80f.Dissertation (master's degree in educational psychology) – post-graduate course in educational psychology, University Centre FIEO, Osasco.
ABSTRACT
The objective of this research was to identify, to analyze and interpret the
representations elaborated for young of two different educational and social
segments regarding the success and of the failure and its contribution to the history
teaching/learning. Since, according to the national curriculum parameters school-
PCN (2000), the history while school discipline allows studies on contemporary
issues. It is understood that representations are symbolic forms of organization of
thought that if structure into three dimensions relevant socio-cognitive, affective and
social and socio-historical. The dynamics between these three dimensions, whose
common social axis, is responsible for the construction of Social Representations of
failure and success in the lives of young people. Participants were students of public
and private network of the city of Ibiúna, Interior of São Paulo, aged 15 to 18 years, 2
and 3 years of high school, period morning, totaling 40 participants. Were used, as
data collection and technical, questionnaires composed of open and closed
questions and free association procedure through three words that young people
drew to success and failure. The data collected were contextualizados and treated by
content analysis procedures. The categories were created posteriori, that is were
created from the content expressed by the participants. Were identified similarities
and differences between young people from the same social group and two groups
searched, indicating that the Social Representations about success for groups
searched are constructed on the basis of personal attributes related elements. And
Social Representations are built on failure, on the basis of concrete and related
materials and the lack of personal attributes.
Word-key: Social Representations, young, success, failure.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................11
2 OBJETIVO.....................................................................................................14
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.....................................................................15
3.1 REPRESENTAÇÃO SOCIAL, A MÍDIA E O JOVEM.....................................20
4 JOVENS.........................................................................................................23
4.1 JOVENS E O ENSINO MÉDIO......................................................................29
4.2 A DISCIPLINA DE HISTÓRIA ENSINO MÉDIO.............................................31
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................36
5.1 COLETA DE DADOS......................................................................................36
5.1.1 Caracterização da cidade.............................................................................38
Figura 1 - Represa........................................................................................40
Figura 2 - Cachoeiras...................................................................................40
Figura 3 - Campo de Golf.............................................................................40
Figura 4 - Grutas de São Sebastião............................................................41
Figura 5 - Campo de Beisebol YAKULT......................................................41
Figura 6 - Templo Budista.............................................................................41
Figura 7 - Parque do Jurupará......................................................................41
Figura 8 - Academia SEICHO-NO-IE...........................................................41
Figura 9 - Pousada.......................................................................................41
Figura 10 - Pesqueiro.....................................................................................41
5.1.2 Caracterização das escolas.........................................................................42
Figura 11 - Escola Particular - Unidade I........................................................43
Figura 12 - Escola Particular - Unidade II.......................................................43
Figura 13 - Escola Pública Estadual...............................................................44
5.1.3 Caracterização dos participantes................................................................45
6 RESULTADOS...............................................................................................47
6.1 APLICAÇÃO E RECEPTIVIDADE..................................................................47
6.1.1 Escola particular...........................................................................................47
Tabela 1: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “sucesso” – escola particular..........................................................48
Tabela 2: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “fracasso” – escola particular.........................................................49
Tabela 3: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “sucesso”, já agrupadas por categorias. Escola particular...........51
GRÁFICO 1 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PARTICULAR.
PALAVRA DE ORIGEM “SUCESSO”............................................................ 52
Tabela 4: Palavras emitidas pelos sujeitos na associação livre
- estímulo “fracasso”, já agrupadas por categorias. Escola particular...........55
GRÁFICO 2 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PARTICULAR.
PALAVRA DE ORIGEM “FRACASSO”...........................................................56
6.1.2 Escola pública estadual................................................................................58
Tabela 5: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “sucesso” – escola pública estadual..............................................59
Tabela 6: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “fracasso” – escola pública estadual.............................................60
Tabela 7: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “sucesso”, já agrupadas por categorias. Escola pública
estadual...........................................................................................................61
GRÁFICO 3 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PÚBLICA
ESTADUAL. PALAVRA DE ORIGEM “SUCESSO”......................................62
Tabela 8: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre
- estímulo “fracasso”, já agrupadas por categorias. Escola pública
estadual.........................................................................................................67
GRÁFICO 4 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PÚBLICA.
PALAVRA DE ORIGEM “FRACASSO”............................................................68
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................72
REFERÊNCIAS..........................................................................................................76
ANEXOS
A – Autorização para realização da pesquisa na escola pública estadual.
B – Autorização para realização da pesquisa na escola particular.
C – Modelo do questionário.
D- Aprovação pelo Comitê de Ética do Centro Universitário FIEO.
1 – INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objeto de estudo as Representações Sociais sobre
sucesso e sobre fracasso, elaboradas por parte de jovens pertencentes a dois
segmentos educacionais diferentes, de uma escola particular e de uma escola
pública estadual, localizadas na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo.
A decisão de valorizar o estudo das Representações Sociais como categoria
analítica nas áreas da Psicologia Educacional se dá por serem elas elementos
simbólicos que os indivíduos expressam mediante o uso da linguagem, oral ou
escrita, gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada.
A escolha da categoria “jovem” justifica-se pela importância de pesquisas que
contribuam para o desenvolvimento de propostas educacionais.
A investigação sobre sucesso e sobre fracasso surgiu a partir do resultado
obtido em uma investigação anterior, mais ampla, de um Projeto Temático e
Integrado de Pesquisa em Representações Sociais de Jovens e Professores e suas
Implicações para o Processo de Ensino e Aprendizagem (FRANCO, 2007a). A
referida pesquisa teve por objetivo, investigar e analisar algumas das
Representações Sociais de jovens de diferentes grupos sociais e espaços
educacionais. Para tal, foram contatados jovens residentes na cidade de São Paulo,
provenientes de Escolas Públicas e Particulares, de um Curso Profissionalizante
noturno; outros vinculados a atividades oferecidas por uma Organização Não
Governamental, a EDUCAFRO (Educação e Cidadania de Afro-descendentes e
Carentes); e também de uma Escola destinada a jovens de alto poder aquisitivo.
Nessa investigação foi aplicado aos jovens um questionário reflexivo
composto por várias questões, sendo que duas dessas questões foram: qual o
sonho da sua vida? E, o que você faria para que seu sonho tornasse realidade?
Algumas das respostas que apareceram para a primeira questão apontada foram:
ter sucesso na vida e evitar o fracasso. As respostas que surgiram para a segunda
pergunta foram vagas e imprecisas. Nenhum dos participantes sabe o que fazer
para ter sucesso na vida e evitar o fracasso.
Outro fator que justifica indagar sobre sucesso e sobre fracasso é o fato de
que, na área da Psicologia Educacional aliada a área de Representação Social
existe a tendência muito forte de se trabalhar com Representação Social sobre
escola, sociedade, educação, professores, porém é muito raro encontrar literatura e
pesquisas que trabalhe com Representação Social sobre sucesso. O que pode ser
encontrado relativamente próximo são livros de autoajuda, direcionados a palestras,
treinamentos, tanto no mercado de trabalho como em relacionamentos, tais como:
Tavares (1991); Pereira (1995); Shinyashiki (1993; 2002); Osho (2002).
Destacamos que os livros de autoajuda fazem referência a conseguir sair de
alguma situação de fracasso, que é ruim para o indivíduo e para a própria
sociedade. Tais obras vêm ao encontro dos anseios de muitas pessoas que não
conseguiram realizar algum objetivo e buscam uma maneira de chegar ao sucesso,
elaborando uma direção de superação. Mas este não é o foco desta pesquisa.
Neste trabalho nos interessamos em pesquisar as Representações Sociais
que orientam as ações dos jovens no mundo, tendo em vista que, como diz Leontiev
(2004), a Representação Social é uma orientação para a ação.
As afirmações introdutórias deste trabalho de pesquisa nos inquietam como
educadora, atuando na formação de jovens, como professora de História, há 18
anos. Preocupamo-nos com o fato de, os jovens, exatamente por estarem em
processo de formação de suas identidades, viverem de maneira intensa, por
aceitação ou oposição, as circunstâncias do mundo que habitam.
Em especial, são os jovens e as crianças, hoje, alvo da indução feita pela
mídia que veicula valores e produtos de toda ordem: música, roupas, moda, estilo,
esporte, lazer, comida, comportamento, etc. prontos a serem “consumidos”, tendo
em vista as exigências e pressões sociais em ser bem realizados e bem sucedidos.
Dentre outros, esse conjunto de argumentos é que nos leva a questão que o
trabalho pretende responder: Representações Sociais de jovens sobre sucesso e
sobre fracasso e sua contribuição para o ensino/aprendizagem de História. Visto
que, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio - PCN
(2000), a História enquanto disciplina escolar, ao se integrar na área Ciências
Humanas e suas Tecnologias para o Ensino Médio, possibilita ampliar estudos sobre
as problemáticas contemporâneas. Vivemos em uma sociedade tecnológica,
entendida aqui como a sociedade contemporânea, na qual as relações sociais
encontram-se profunda e intensamente marcadas pelas mídias e demais
tecnologias, ganhando novas configurações. O ensino de História pode
desempenhar um papel importante na configuração da identidade ao incorporar a
reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações pessoais com o grupo de
convívio, suas afetividades, sua participação no coletivo e suas atitudes de
compromisso com classes, grupos sociais, culturas e valores, que fornecerá valiosos
subsídios para serem trabalhados na sala de aula. Tais observações tendem a
tornar as aulas de História e outras disciplinas mais realistas e, portanto qualificadas.
Consequentemente destaca-se a importância que significa para professores e
alunos conhecer e discutir sobre uma série de assuntos e temas relacionados a
disciplinas decorrentes do cotidiano. Por isso estamos interessadas em jovens que
no momento da pesquisa são jovens alunos do Ensino Médio.
A contribuição deste trabalho reside na possibilidade de continuar gerando
perspectivas de análise a respeito do participante, no caso desta pesquisa, de
jovens na faixa etária de 15 a 18 anos, face às expectativas, de sucesso e de
fracasso, nos contextos de produção de bens materiais e simbólicos na realidade
atual.
Tendo em vista as justificativas já arroladas segue-se o objetivo.
2 – OBJETIVO
- Identificar, analisar e interpretar as Representações Sociais que jovens
elaboram sobre sucesso e sobre fracasso e sua contribuição para o
ensino/aprendizagem de História.
3 - REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
Valorizar o estudo das Representações Sociais como categoria analítica é
importante, pois, como já foi dito, elas são elementos simbólicos que os indivíduos
expressam mediante o uso da linguagem oral ou escrita, gestual, silenciosa,
figurativa, documental ou diretamente provocada.
Segundo Moscovici (2007), as Representações Sociais (RS) compreendem
pensamentos, sentimentos, emoções, práticas, afetos e cognição, que se
apresentam em constante mudança no tempo e na história.
As Representações Sociais circulam, cruzam-se e se cristalizam
incessantemente através de uma fala, um gesto, um encontro, em nosso universo
cotidiano. A maioria das Relações Sociais estabelecidas, os objetos produzidos ou
consumidos, as comunicações trocadas, delas estão impregnados (MOSCOVICI,
2007).
Segundo Banchs (1991), as Representações Sociais se caracterizam por
serem autônomas, dinâmicas e mutáveis, fazendo parte da realidade social, o que
dará sustentação ao conteúdo representado. São, assim, formas de saberes
construídos na convivência cotidiana e por esta determinada, comportando
contradições e transformações.
Moscovici (2007) é capaz de demonstrar, a partir de sua própria análise de
textos fundantes na Psicologia Social Moderna, que o referencial explanatório
exigido para tornar os fenômenos sociais inteligíveis deve incluir conceitos
psicológicos e sociológicos. Conceito expresso via mensagens.
Mensagens estas que, como já dissemos, podem ser mediadas por várias
formas de linguagem, são construídas socialmente em um compasso interativo e,
portanto, estão necessariamente ancoradas no âmbito da situação concreta dos
indivíduos que as emitem.
Segundo Abric (2003) toda realidade é representada, ou seja, apropriada por
indivíduos e por grupos, reconstruída num sistema sócio-cognitivo. A realidade
social é o fato objetivo, apropriado e reconstruído pelo grupo ou pelo indivíduo, uma
vez que a experiência grupal se incorpora às estruturas cognitivas individuais.
E o estudo das Representações Sociais investiga como se formam e como
funcionam os sistemas de referência que utilizamos para classificar pessoas e
grupos e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana. Por suas
relações com a linguagem, a ideologia e o imaginário social e, principalmente, por
seu papel na orientação de condutas e das práticas sociais, as Representações
Sociais constituem elementos essenciais à análise dos mecanismos que interferem
na eficácia do processo educativo.
Mas o que entendemos por "Representações Sociais"? Nas sociedades
modernas, somos diariamente confrontados com uma grande massa de
informações. As novas questões e eventos que surgem no horizonte social
freqüentemente exigem por nos afetarem de alguma maneira, que busquemos
compreendê-los, aproximando-os daquilo que já conhecemos, usando palavras que
fazem parte de nosso repertório. Nas conversações diárias, em casa, no trabalho,
com os amigos, somos instados a nos manifestar sobre eles procurando
explicações, fazendo julgamentos e tomando posições. Estas interações sociais vão
criando "universos consensuais" no âmbito dos quais as novas representações vão
sendo produzidas e comunicadas, passando a fazer parte desse universo não mais
como simples opiniões, mas como verdadeiras "teorias" do senso comum,
construções esquemáticas que visam dar conta da complexidade do objeto, facilitar
a comunicação e orientar condutas.
Há muitas formas de conceber e de abordar as Representações Sociais,
relacionando-as ou não ao imaginário social. Elas são associadas ao imaginário
quando a ênfase recai sobre o caráter simbólico da atividade representativa de
sujeitos que partilham uma mesma condição ou experiência social: eles exprimem
em suas representações o sentido que dão a sua experiência no mundo social,
servindo-se dos sistemas de códigos e interpretações fornecidos pela sociedade e
projetando valores e aspirações sociais (Jodelet, 2001).
Na definição de Moscovici (2007), a Representação Social refere-se ao
posicionamento e localização da consciência subjetiva nos espaços sociais, com o
sentido de constituir percepções por parte dos indivíduos.
Quando falamos em Representações Sociais acreditamos que elas são
elaborações mentais construídas socialmente, a partir da dinâmica que se
estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento, seja ele
objetivo ou subjetivo, por meio da relação que se dá na prática social e histórica da
humanidade. Entendemos que as Representações Sociais são historicamente
construídas e estão estreitamente vinculadas aos diferentes grupos
socioeconômicos, culturais e étnicos que as expressam por meio de mensagens e
que se refletem, nos diferentes atos e nas diversificadas práticas sociais.
Daí a importância de conhecer os emissores em termos de suas condições de
subsistência, de sua situação educacional ou ocupacional e também ampliar esse
conhecimento, pela compreensão de um ser histórico, inserido em uma determinada
realidade social, com expectativas diferenciadas, dificuldades vivenciadas e
diferentes níveis de apreensão crítica da realidade (FRANCO, 2004).
Para Moscovici (2007), sujeito e objeto não são funcionalmente distintos, eles
formam um conjunto indissociável. Isso quer dizer que um objeto não existe por si
mesmo, mas apenas em relação a um sujeito (individuo ou grupo). Ao formar sua
representação de um objeto, o sujeito, de certa forma, o constitui e reconstitui em
seu sistema cognitivo, de modo a adequá-lo aos seus sistemas de valores, o qual,
por sua vez, depende de sua história e do contexto social e ideológico no qual está
inserido. Para este autor as Representações Sociais compreendem pensamentos,
sentimentos, emoções, práticas, afetos e cognição, que se apresentam em
constante mudança no tempo e na história.
Jodelet (2001), refletindo sobre aquilo que pareceu ser consensual entre os
estudiosos deste campo, apresenta o seguinte conceito:
[...] Representação Social é uma forma de conhecimento,
socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido, à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais (JODELET, 2001, p. 22).
Por esta razão atribuímos-lhe uma virtude preditiva, uma vez que, segundo o
que um indivíduo diz ou expressa a partir de diferentes configurações, não apenas
podemos inferir suas concepções de mundo, pensamentos, valores, sentimentos ou
emoções, como também podemos deduzir sua orientação para a ação (FRANCO,
2004).
A orientação para a ação conduz à percepção das Representações Sociais
como importantes indicadores que se refletem na prática cotidiana, tanto de
professores quanto de alunos, sem contar com os demais profissionais envolvidos
no exercício de suas competências, no âmbito da Psicologia Educacional.
As Representações Sociais têm como uma de suas finalidades tornar familiar
algo não-familiar, isto é, uma alternativa de classificação, categorização e nomeação
de novos acontecimentos e idéias, com as quais não tínhamos contato
anteriormente, possibilitando, assim, a compreensão destes a partir de idéias,
valores e teorias já preexistentes e internalizadas por nós e amplamente aceitas pela
sociedade (MOSCOVICI, 2007).
Para Vygotsky (1998) o significado de um objeto pode ser absorvido,
compreendido e generalizado a partir de suas características definidoras e pelo seu
corpus de significação. Já, o sentido implica a atribuição de um significado pessoal
e objetivado, que se concretiza na prática social e que se manifesta a partir das
Representações Sociais, cognitivas, subjetivas, valorativas e emocionais,
necessariamente contextualizadas. O sentido de uma palavra é um agregado de
todos os fatores psicológicos que surgem em nossa consciência, como resultado da
palavra. O sentido é uma formação dinâmica, fluida e complexa que tem inúmeras
zonas de sentido que variam em sua instabilidade.
As Representações Sociais expressam em geral tanto o significado quanto o
sentido das palavras. Assim sendo é importante usar a técnica da associação livre
que ultrapassa questões fechadas e o participante coloca o que pensa a partir de
uma palavra de origem sugerida. A primeira palavra citada é a mais próxima do
senso comum, que já está convencionado a significar isso ou aquilo. O sentido em
geral vem logo depois, associado à mesma palavra geradora, mas é um sentido
pessoal que passa pela vivência.
Segundo Vygotsky (1998), a dialética entre o externo e o interno é mediada
pela linguagem, pelas significações que emergem das relações sociais. Desse
modo, podemos dizer que a matéria-prima da consciência, isto é, da dimensão
subjetiva do indivíduo, é a linguagem, pois ela materializa e constitui as significações
construídas no processo social e histórico. Quando os indivíduos a interiorizam,
passam a ter acesso a estas significações que, por sua vez, servirão de base para
que possam significar suas experiências, e serão estas significações resultantes que
constituirão suas consciências, mediando, desse modo, suas formas de sentir,
pensar e agir.
A linguagem é um instrumento cognitivo que permite aos indivíduos lidarem
com objetos externos não presentes, abstrair, analisar e generalizar características
desses objetos, situações e eventos, bem como preservar, transmitir e assimilar
informações e experiências acumuladas pela humanidade ao longo da história
“Nesta perspectiva a análise do conteúdo das Representações
Sociais assenta-se nos pressupostos de uma concepção crítica e dinâmica da linguagem. Linguagem, aqui entendida, como uma construção real de toda a sociedade e como expressão da existência humana que, em diferentes momentos históricos, elabora e desenvolve representações sociais no dinamismo interacional que se estabelecem entre linguagem, pensamento, sentimentos e ação” (FRANCO, 2007 p.25).
De acordo com Franco (2007), esses pressupostos, se afastam de uma
concepção formalista da linguagem no bojo da qual se atribui um valor exagerado ao
conteúdo observável à primeira vista, sem levar em conta o latente, a hermenêutica
e toda a complexidade que acompanha a diferença que se estabelece entre
significado e sentido.
Utilizando-se da linguagem oral ou escrita, os indivíduos explicitam
conhecimentos, opiniões, sentimentos conscientes ou inconscientes, emoções,
crenças, valores, pensamentos absorvidos pela mídia e em diferentes situações
culturais e sociais, expectativas objetivas ou subjetivas. Estas mensagens, mediadas
pela linguagem, são construídas socialmente e, portanto, estão necessariamente,
aportadas no âmbito da situação concreta dos indivíduos que as emitem (FRANCO,
2004). E no caso dessa pesquisa é expressa via linguagem escrita.
Sob esta ótica, o contexto no qual se engendram e se constroem as
Representações Sociais assume grande importância, pois a partir delas pode-se
prever o comportamento do individuo que o emite. Isso se torna importante porque
direciona a parte pedagógica, direciona as aulas para o que o aluno expressa.
3.1 - REPRESENTAÇÃO SOCIAL, A MÍDIA E O JOVEM
Para Moscovici (2007) o objeto central da Psicologia Social deve ser o estudo
de tudo o que se refere à ideologia e à comunicação do ponto de vista da sua
estrutura e função. E nosso objeto de estudo básico central apóia-se na teoria das
Representações Sociais criadas e estão intimamente ligadas a outras teorias e
enfoques teóricos vinculados às áreas de comunicação e mídia.
De acordo com Barbosa e Rabaça (1987), o termo comunicação deriva do
latim communicare, com o sentido de tornar comum, partilhar, repartir, trocar
opiniões, associar ou conferenciar. A comunicação modifica a disposição mental das
partes envolvidas e inclui todos os procedimentos por meio dos quais uma mente
pode afetar outra. Isso envolve não somente a linguagem oral e escrita, como
também a música, as artes plásticas e cênicas, ou seja, todo comportamento
humano.
Percebemos o grande desenvolvimento tecnológico no decorrer dos anos,
como por exemplo, o avanço dos meios de comunicação. A televisão e a imprensa
como formadores de opinião influenciam o homem contemporâneo, reforçando
ideologias e interesses de quem está no poder, instigando a passividade, o
conformismo aos problemas sociais atuais e ao consumismo exagerado.
A expansão do jornalismo e da mídia como um todo na sociedade
contemporânea é muito intensa e utiliza espaços de comunicação. Esses espaços
de comunicação já eram utilizados na Antigüidade, como por exemplo, na Grécia
Antiga.
Usando termos da contemporaneidade, a mídia do homem grego era sua
própria fala e capacidade de oratória. Daí a importância dada à retórica na
Antiguidade (FINLEY, 1989).
Alguns oradores conseguiam exercer a influência desejada, enquanto outros
não (MARROU, 1998). Assim sendo, a retórica surgiu como formulação sistemática
dos métodos e das técnicas empregados pelos vitoriosos. Além de ser uma cultura
marcada pela oralidade, toda a comunicação interpessoal se dava em espaços
públicos e coletivos. Isso implica uma intensa comunicação verbal e vida
comunitária, formando um espaço de comunicação no próprio espaço público de
uma cidade. Atenas, por exemplo, era uma sociedade mediterrânea onde as
pessoas se juntavam fora de casa, nos dias de mercado, nos inúmeros momentos
festivos e, em qualquer altura, no porto e na praça da cidade. Os cidadãos
pertenciam a vários grupos formais e informais. Todos esses grupos forneciam
ensejo para se saberem novidades e para bisbilhotices, para discussões e debates,
para a contínua educação política.
Em Atenas a participação do povo acontecia na ágora, à própria “praça” da
cidade. A ágora representava um mundo compartilhado de significações, a partir do
qual a ação e a palavra de cada um podiam ser reconhecidas como algo dotado de
sentido e eficácia na construção da história. Ao partilhar a ágora, o indivíduo, ainda
que não fosse cidadão, com certeza se sentia informado das decisões políticas, dos
acontecimentos sociais, das ironias, sátiras e informações culturais. Há nesse
sentido uma semelhança muito grande com a mídia moderna (BARBOSA E
RABAÇA, 1987).
A retórica, tão importante para a comunicação na Antiguidade, está presente
na mídia hoje. Para Aristóteles, a retórica é a faculdade de descobrir em todo
assunto o que é capaz de persuadir (SANT‟ANNA, 1988). A mídia tem na retórica
um recurso fundamental para persuadir seu público, influenciando assim as
Representações Sociais sobre sucesso e sobre fracasso. A retórica é um método de
persuasão, é a técnica (ou a arte) de convencer o interlocutor através da oratória.
Tornou-se um meio prático para se compreender como o ser humano usa a
linguagem para modificar ou moldar nossa compreensão de realidade, nos
influenciando de uma forma apelativa.
De acordo com Chklovski (2005) essa função apelativa visa ao destinatário, a
quem se procura influenciar através do apelo contido na mensagem, seduzindo-o ao
consumo de mercadorias ou ao uso de serviços. Quando falamos de linguagem, não
se trata apenas de um canal de comunicação, a linguagem tem um poder imenso;
tem o poder de persuadir, visto que há muitas coisas que desejamos adquirir porque
ouvimos falar delas, porque nos deixamos persuadir de seus encantos. Aliás, já se
falava nisso na Antiguidade via Aristóteles. A força da mídia permeia os jovens o
tempo todo os levando a desejar o que é anunciado. E geralmente a mídia passa
em suas novelas românticas, nos seus seriados, ou até em inocentes comerciais a
necessidade do ter, não a do ser.
Segundo Sandmann (2005), o anúncio geralmente vale-se do testemunho de
um personagem rico e famoso, o qual, através de uma frase, remete o leitor a
aspirações de inteligência, criatividade e alta posição social, que são idéias
associadas, ao autor da frase na propaganda. E isso está estreitamente vinculado às
Representações Sociais elaboradas sobre sucesso no sentido de ser bem sucedido.
Conforme Coracini (2007), Aristóteles, em sua Retórica, refere-se ao testemunho
como um recurso argumentativo fortemente persuasivo; daí o seu uso na
publicidade, enfatizando a força argumentativa do discurso, que pertence a pessoas
famosas e admiradas, concedendo, assim, legitimidade e veracidade ao que é dito.
E muitas vezes essa legitimidade pode influenciar as Representações Sociais.
4 – JOVENS
Tendo o jovem como referência, a primeira indagação que se mostra
pertinente diz respeito à concepção de jovem. A resposta a ser dada à pergunta “o
que é ser jovem?”, está diretamente ligada à categoria juventude e construir uma
definição para esta categoria não é uma tarefa fácil, principalmente, porque, além de
poder ser considerada um período de vida, seus critérios são históricos e sociais.
Muitos autores já se debruçaram sobre o tema, trazendo importantes contribuições1
(FRANCO, 2007).
Do ponto de vista histórico, de acordo com Gonçalvez (2005), o interesse pela
juventude desponta de tempos em tempos e pode ser entendido a partir de duas
visões principais.
“Na visão clássica, [a juventude] é entendida como uma categoria social
gerada por tensões inerentes à crise do sistema”. (GONÇALVEZ, 2005, p.56). Esta
visão acentua o conflito político, o engajamento do jovem nas lutas sociais e
políticas, nos movimentos estudantis e a participação juvenil e coletiva em busca de
um mundo melhor. Esta visão acentua o conflito político, o engajamento do jovem
nas lutas sociais e políticas, nos movimentos estudantis e a participação juvenil e
coletiva em busca de um mundo melhor.
Os levantes populares principalmente os ocorridos em meados do século
passado, foram saudados como rupturas contra regimes opressivos e injustos e
como pontos de partida para a construção de sociedades socialistas, em que as
desigualdades seriam eliminadas. No Brasil, foi expressiva a participação juvenil
contra o Golpe do Regime Militar nos idos dos anos 60 e 70. Esse período ficou
marcado na história pelas revoluções promovidas pelos jovens, que rompeu padrões
e comportamentos.
Paulatinamente, porém, as promessas de mudanças se tornaram falsas e a
desilusão com a política foi se acentuando. Essa desilusão e o enfraquecimento de
movimentos populares mais consistentes provocaram significativas mudanças
econômicas e sociais. Aos poucos, solidifica-se a globalização neoliberal, no bojo da
1 Dentre outros, destacam-se os artigos mais recentes, que compõem os livros: Retratos da Juventude Brasileira,
Instituto Cidadania, Fundação Perseu Abramo (2003); Juventude e Sociedade, Instituto Cidadania, Fundação
Perseu Abramo (2004), e a Revista de Sociologia da USP, Tempo Social, vol.17 (2005)
qual, as fronteiras nacionais deixaram, cada vez mais, de serem barreiras às trocas
comerciais e aos fluxos de capitais. Acentua-se a competição, o individualismo e a
necessidade de empreendimentos personalizados e, muitas vezes, solitários
(FRANCO, 2004).
Surge, então, a segunda visão relacionada à busca do que seria o motor
propulsor dos jovens de hoje. Motor este, que, em princípio, os levaria a procurar
caminhos individualistas, para o alcance de situações concretas mais adequadas às
suas aspirações. No entanto, fazendo um parêntese, diríamos que ao atribuir à
característica de individualista, somente ao jovem, pode ser considerada como uma
postura fragmentada, falsa e preconceituosa, pois na verdade é parcial. Hoje, em
maior ou menor proporção, todos nós somos individualistas (FRANCO, 2004).
Voltando ao jovem, de acordo com a literatura divulgada, os historiadores
atribuem aos jovens do século XXI, uma postura individualista e personalizada, seja
ela esperançosa ou pessimista frente ao futuro.
Embora participem, em grupo, de movimentos punks e até de protestos, nota-
se que tais movimentos estão circunscritos a situações contextuais, personalizadas
e, muitas vezes, incentivados pela mídia (FRANCO, 2004). Segundo essa autora,
outra concepção sobre jovem é que é a transição para a vida adulta. Porém
considerar o jovem como um sujeito social em transição para a vida adulta, não
significa descartar a indispensável necessidade de concebê-lo na categoria de ser e,
não apenas, de vir a ser. Perceber os jovens somente sob a ótica da transitoriedade
de sua situação dificulta enxergá-los como sujeitos de direitos e como agentes
sociais com características próprias e peculiares de uma determinada faixa etária.
Com isso, abandona-se a possibilidade de recuperar os elementos básicos que
constituem suas identidades e, conseqüentemente, os jovens passam a ser
concebidos pelo negativo, pela ausência, ou seja, não pelo sendo, mas pelo que
seriam.
Essa visão que se deixa pautar pela concepção de juventude como mera
transição
“decorre de uma compreensão da ordem social adulta como estática e rígida em oposição à pretensa instabilidade juvenil, fato que não se sustenta hoje, pois parte significativa do que denominamos condições contemporâneas da vida se inscrevem na insegurança, na turbulência e na transitoriedade” (SPOSITO, 2005 p. 129).
No mesmo compasso das posturas que atribuem à juventude um caráter de
transitoriedade, deparamo-nos com as concepções sobre juventude marcadas pela
ambigüidade.
Se por um lado, mesmo quando considerados individualistas, como já
discutimos, os jovens são também vistos, em muitos casos, como agentes
propulsores de mudança, como indivíduos ativos, emergentes, desprovidos de
preconceitos. Por outro lado, são vistos pela ótica negativa dos problemas sociais,
seja como protagonistas de uma crise de valores e de um conflito de gerações, seja
como portadores de defeitos (FRANCO, 2004).
Principalmente na mídia, é recorrente a associação dos jovens a sujeitos
inconseqüentes, propensos ao desvio e ao delito e perigosos para a sociedade.
Sob este aspecto é importante ressaltar que os jovens, quando enfocados
como “problema social”, ora de quem a sociedade tem que se proteger, ora a quem
ela deve acolher, não entram na agenda das políticas públicas...
”No Brasil, as demandas por políticas públicas de juventude permanecem como estados de coisas, precariamente resolvidos no âmbito de políticas destinadas a um público mais amplo _ com o qual os jovens têm que competir pelo espaço de entendimento _, sem chegar a se apresentar especificamente como problemas políticos” (RUA, 1998, p.3).
Numa perspectiva mais específica e que se encaminha para a discussão do
significado de jovens do ponto de vista social, há que se considerar, em primeiro
lugar, que os mesmos estão inseridos em uma sociedade constituída por pessoas
de diferentes faixas etárias. No que diz respeito à categoria jovem e por ocasião do
Ano Internacional da Juventude, a Assembléia Geral da ONU (1985), sem prejuízo
de outros Estados membros, considerou como jovens as pessoas entre 15 e 24
anos (FRANCO, 2007a).
Em 2000 a CEPAL reafirma a faixa etária definida, em 1985, e enfatiza que:
“o entorno etário escolhido é baseado em fundamentos apropriados, pois as entradas e saídas dessa fase coincidem com importantes períodos de transição no ciclo de vida. O limite inferior [15 anos] considera a idade em que já estão desenvolvidas as funções sexuais e reprodutivas, que diferenciam o adolescente da criança e repercutem na sua dinâmica física, biológica e psicológica. O limite superior [24 anos] diz respeito ao momento em que os indivíduos normalmente concluem o ciclo da educação formal, passam a fazer parte do mercado de trabalho e constituem suas próprias famílias, caracterizando assim, de forma simplificada, a transição para a fase adulta” (CAMARANO, 2003).
Tendo em vista a dificuldade de se definir jovens, escolhemos esta definição
da Assembléia Geral da ONU, que estabelece a faixa etária como argumento da
definição de jovem.
De acordo com o censo de 2000 a complexa realidade brasileira envolve 34
milhões de jovens de 15 a 24 anos de idade (IBGE, 2000), o que justifica a
importância de pesquisas que contribuam para o desenvolvimento de políticas
púbicas de ações para a juventude, nas diversas áreas.
Políticas públicas, de acordo com ABAD (2003) são formas de políticas
implementadas pelo Estado, que pretendem garantir o consenso social. Através de
iniciativas que contribuam para a redução de desigualdade e controle das esferas da
vida pública para garantir os direitos dos cidadãos. Mas as políticas públicas só
surtem efeitos esperados quando é levada em conta a opinião dos sujeitos para os
quais o beneficio será propiciado.
Portanto, políticas públicas específicas para os jovens são muito importantes,
pois, esta faixa da população mostra-se vulnerável a questões como desemprego,
violência e drogas.
Pensar num projeto de políticas públicas para jovens é pensar em políticas
que lhes assegurem uma escola acessível e de qualidade, formação profissional
adequada, oportunidades dignas de trabalho e renda, alternativas de lazer. O jovem
necessita de apoio, atenção e perspectivas de auto-realização (ABAD, 2003).
A vida cotidiana dos jovens deve ser levada em conta para a formulação das
políticas que visem o estimulo e participação da juventude. Visto que os jovens sem
educação e sem trabalho estão condenados ao subemprego, a sub cidadania e, por
tabela, a uma espécie de subvida marcada pela ausência de perspectivas e de
ambições positivas. São o que a ONU chama de uma “cultura impulsionada pela
mídia”, não podem aspirar aos bens e valores cultuados por essa mesma mídia
(IBASE, 2005).
Historicamente a educação ocupa o setor de gestão pública que mais
centralizou a formulação de políticas. Hoje, os jovens possuem mais acesso à
escolarização formal e permanecem nela por mais tempo, mostrando que a
juventude tem condições para alcançar novos objetivos a fim de melhorar sua vida.
Mas há a necessidade de que o jovem seja participativo nos debates sobre seu
cotidiano escolar. Para tanto, é necessário, criar mecanismos que estimulem a
participação e a integração dos jovens como protagonistas desse processo para que
as políticas públicas atendam efetivamente suas demandas e garantam a inclusão
destes no contexto de participação política da sociedade. Para tanto se faz
necessário o protagonismo juvenil.
De acordo com Rabêllo (2009), a palavra protagonismo juvenil significa “o
primeiro”, o principal lutador (proto+agos). A autora recorda ainda que a palavra
sugere “a personagem principal”, ou seja, a pessoa que desempenha ou ocupa o
primeiro lugar em um acontecimento. Para essa autora, qualquer projeto que tenha
por objetivo incentivar ou promover o protagonismo juvenil deve estar vinculado a
uma perspectiva pedagógica, tendo por objetivo a criação de espaços e de
mecanismos de escuta e participação. Para isso, no entanto, é preciso conceber os
jovens como fontes e não apenas como receptores ou porta-vozes daquilo que os
adultos dizem ou fazem em relação a eles.
Possivelmente, a instituição moderna que foi mais duramente atingida nos
últimos anos foi à família. O papel da família está relacionado ao momento social
vivido por ela, isto pode ser percebido através das mudanças ocorridas na sua
organização no decorrer dos anos.
A atenção e o acolhimento das crianças e jovens pelas famílias é uma prática
recente, desenvolvida a partir do século XVIII. Antes eram os aparelhos públicos,
mantidos pela comunidade, que educavam e socializavam os jovens, isso desde
Roma e Grécia da Antiguidade.
Até a Idade Média, as famílias eram extensas, tinham não só a função de
reprodução, mas também amplos cuidados com a valorização de seus costumes, de
suas vestimentas, produções artesanais, religião, profissão e outras manifestações
de vida dentro dela.
Com a revolução industrial a partir do Séc. XVIII houve grandes mudanças na
constituição da família, principalmente com relação à redução do número de seus
componentes e funções.
O capitalismo da época necessitava de homens descomprometidos, que
mantivessem apenas vínculos de trabalho e com isso o papel da família se torna
mais restrita como a proteção e o mínimo de educação aos filhos.
As mudanças ocorridas a partir do capitalismo, como o reforço da
individualidade, fez com que a importância da cultura familiar antes tão valorizada,
ficasse enfraquecida.
A família e a autoridade dos pais são muito importantes para o ser humano, é
nela que se dará o seu equilíbrio psicológico e moral. Isto é estabelecido pelas
relações de afeto, de solidariedade, de valorização de suas tradições, nas regras de
disciplina, no vínculo de coletividade entre outras manifestações familiares.
Entretanto hoje em dia, a partir das recentes mudanças tecnológicas, o tempo e o
espaço do mundo do trabalho invadiram a vida privada com intensidade, diminuindo
o tempo de convívio familiar (RABÊLLO, 2009).
Pesquisas recentes como as realizadas pela Consultoria em Políticas
Públicas (CPP) revelam que nas famílias brasileiras, o tempo de convívio familiar se
reduz a 6 horas diárias, sendo que três delas ocorrem à noite, quando a família sofre
uma dispersão tecnológica, divididas entre aparelhos de televisão e informática (no
caso das famílias que possuem esses aparelhos). Sendo assim, o diálogo, a troca
de interesses, a construção de valores sociais são catapultados do seio familiar.
E o dialogo é extremamente necessário, os jovens querem ser ouvidos. E nos
reportando ao espaço educacional, geralmente, nas escolas, os jovens não são
ouvidos. Então, onde os jovens nos dias de hoje aprendem? Segundo Rabêllo
(2009) estudos recentes na Europa revelam que a maioria dos jovens aprende e
define sua conduta a partir de seus grupos de iguais, formando uma “sub cultura” ou
“linguagem da adolescência”. De acordo com essa autora, hoje, o grupo dos iguais
está novamente a assumir a tarefa de socialização dos adolescentes; e, à medida
que as crianças se deslocam para a puberdade, a idéia dos pais acerca do bem e do
mal e do certo e do errado tornaram-se para elas cada vez mais irrelevantes. Os
jovens ouvem muito mais conselhos de seus iguais do que dos pais no campo dos
valores e dos problemas pessoais.
De acordo com Rabêllo (2009), o jovem gosta de ser desafiado quando está
aprendendo. E aprendem quando são desafiados a participar de experiências
significativas. Os jovens sentem necessidade de vivenciar os problemas para depois
buscar-lhes a solução. De forma que, para essa autora, a melhor maneira de tornar
a aprendizagem interessante para o jovem é propondo que identifiquem e depois
tentem resolver os problemas. O primeiro passo é identificar por quais temas os
jovens têm mais interesses, quer de natureza informativa e ou reflexiva.
Quanto mais próximo do jovem, mais eficazes serão as ações geradas pelas
políticas públicas. Por isso a importância de conhecê-los a partir de suas
características. Esse conhecimento se amplia quando se percebe as
Representações Sociais que elaboram sobre sucesso e sobre fracasso, assim tendo
condições de vislumbrar políticas públicas que possibilite que os jovens sejam bem
sucedidos de uma maneira geral, evidentemente guardando todos os limites
necessários ao processo de implantação política.
4.1 JOVENS E O ENSINO MÉDIO.
Visto que, o foco desta pesquisa, são jovens estudantes do Ensino Médio, se
justificam as observações a cerca da formação do aluno do Ensino Médio.
As observações a seguir foram elaboradas tendo como base os Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2000).
A formação do aluno do Ensino Médio deve ter como alvo principal a
aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de
utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação.
Propõe-se, no nível do Ensino Médio, a formação geral, em oposição à
formação específica; o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar
informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular,
ao invés do simples exercício de memorização.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei - 9.394/96 - explicita
que o Ensino Médio é a “etapa final da educação básica” (Art.36), o que concorre
para a construção de sua identidade. O Ensino Médio passa a ter a característica da
terminalidade, o que significa assegurar a todos os cidadãos a oportunidade de
consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental;
aprimorar o educando como pessoa humana; possibilitar o prosseguimento de
estudos; garantir a preparação básica para o trabalho e a cidadania; dotar o
educando dos instrumentos que o permitam “continuar aprendendo”, tendo em vista
o desenvolvimento da compreensão dos “fundamentos científicos e tecnológicos dos
processos produtivos” (Art.35, incisos I a IV).
As diretrizes gerais e orientadoras da organização curricular do Ensino Médio
são:
• Aprender a conhecer: Considera-se a importância de uma educação geral,
suficientemente ampla, com possibilidade de aprofundamento em determinada área
de conhecimento, priorizando o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento,
considerado como meio e como fim. Meio, enquanto forma de compreender a
complexidade do mundo, condição necessária para viver dignamente; para
desenvolver possibilidades pessoais e profissionais, para se comunicar, entendendo
que o aumento dos saberes que permitem compreender o mundo favorece o
desenvolvimento da curiosidade intelectual, estimula o senso crítico e permite
compreender o real, mediante a aquisição da autonomia na capacidade de discernir.
• Aprender a fazer: Enfatizando o desenvolvimento de habilidades e o
estímulo para o surgimento de novas aptidões, como condição de enfrentar novas
situações, sabendo, aplicar a teoria na prática.
• Aprender a viver: Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo o
conhecimento do outro e a percepção das interdependências, de modo a permitir a
realização de projetos comuns ou a gestão inteligente dos conflitos inevitáveis.
• Aprender a ser: A educação deve estar comprometida com o
desenvolvimento total da pessoa; supõe a preparação do indivíduo para elaborar
pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor,
de modo a poder decidir por si mesmo, frente às diferentes circunstâncias da vida.
Supõe ainda exercitar a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e
imaginação, para desenvolver os seus talentos e permanecer, tanto quanto possível,
dono do seu próprio destino.
A partir desses princípios gerais, o currículo deve ser articulado em torno de
eixos básicos orientadores da seleção de conteúdos significativos, tendo em vista as
competências e habilidades que se pretende desenvolver no Ensino Médio. Um eixo
histórico-cultural dimensiona o valor histórico e social dos conhecimentos, tendo em
vista o contexto da sociedade em constante mudança e submetendo o currículo a
uma verdadeira prova de validade e de relevância social.
O Ensino Médio estabelece a divisão do conhecimento escolar em áreas, uma
vez que entende os conhecimentos cada vez mais imbricados aos conhecedores,
seja no campo técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano da vida social. A
organização em três áreas – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da
Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias
– tem como base a reunião dos conhecimentos que compartilham objetos de estudo
e, portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições para que a prática
escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade.
No caso dos participantes dessa pesquisa, nos interessa a área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias, mais especificamente a área de História.
4.2 - A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO ENSINO MÉDIO
As observações a seguir da área específica de História foram elaboradas
tendo como base os Parâmetros Curriculares Nacionais de História no Ensino Médio
(2000).
A disciplina de História está incluída na Área de Ensino em Ciências
Humanas e suas Tecnologias, aqui entendida como a configuração a partir de um
conjunto de disciplinas específicas, cuja afinidade é definida pelo objeto comum de
estudos – o comportamento humano – e por pontos de intersecção das
metodologias específicas de produção desses conhecimentos, e cujas
especificidades ocorrem pelos focos diferenciados a partir dos quais olham o seu
objeto em relação ao espaço; ao tempo; à sociabilidade; aos processos de reflexão
sobre comportamentos e pensamentos, de onde decorrem peculiaridades
metodológicas importantes de serem preservadas.
A História enquanto disciplina escolar, ao se integrar na área Ciências
Humanas e suas Tecnologias para o Ensino Médio, possibilita ampliar estudos sobre
as problemáticas contemporâneas. Vivemos em uma sociedade tecnológica,
entendida aqui como a sociedade contemporânea, na qual as relações sociais
encontram-se profunda e intensamente marcadas pelas mídias e demais
tecnologias, ganhando novas configurações. O ensino de História pode
desempenhar um papel importante na configuração da identidade ao incorporar a
reflexão sobre a atuação do indivíduo nas suas relações pessoais com o grupo de
convívio, suas afetividades, sua participação no coletivo e suas atitudes de
compromisso com classes, grupos sociais, culturas e valores.
A partir do uso diário da televisão têm-se informações e a oportunidade do
lazer e do entretenimento dentro de casa; músicas, novelas, programas de humor,
entrevistas, noticiários, ampliando as fronteiras do entorno em que vivemos,
alterando nossos hábitos de vida e nossos horizontes de busca de oportunidades,
de compreensão do mundo, e as nossas relações com as pessoas. Destacamos
também a influência que a mídia exerce sobre os jovens, principalmente a vinculada
através da televisão, devido ao fácil acesso.
Com todos os recursos de que dispomos na atualidade encontramo-nos
imersos em uma sociedade complexa. Encarar, entender e compreender tal
sociedade, enquanto palco das relações humanas vividas na atualidade significa
encará-la em sua historicidade, com a qual convivemos, lidamos, e na qual também
tecemos na cotidianidade de nossas vidas, visto que somos produto e produtores
dessa história. Lembramos que a representação social é uma orientação para a
ação e a partir dela podemos prever o comportamento do individuo que o emite,
podendo assim trazer uma significativa contribuição para o ensino/aprendizagem de
História.
Os processos de globalização do mundo e da mundialização da cultura
desencadeados pela sociedade tecnológica em que vivemos recolocam as questões
da sociabilidade humana em espaços cada vez mais amplos, e trazem questões de
identidade pessoal e social cada vez mais complexas que precisam ser enfrentadas,
para uma melhor compreensão do mundo e da vida, permitindo aos alunos melhor
se situarem na realidade pós-moderna, de maneira consciente e construtiva, ou
criando vínculos produtivos e realizadores com esta realidade. A Representação
Social sobre sucesso e fracasso poderá ajudar os educadores na elaboração de
estratégias de metodologia que possibilite essa compreensão do mundo melhorando
as condições do jovem de se situar na realidade. Visto que o encontro dos homens
entre si e com o meio natural em que se inserem define, por intermédio das
Relações Sociais que travam para a sobrevivência, o espaço sociocultural de sua
existência, decorrente das transformações e criações que promovem nesse meio.
Na verdade, o que chamamos de realidade são representações que
construímos de suas múltiplas facetas, através das comunicações que conseguimos
estabelecer com os outros, com o mundo e com o conhecimento e que nos
aproximam em diferentes graus dessa realidade.
Por diferentes caminhos é possível buscar compreender a realidade e
elaborar uma visão de mundo.
Os objetivos de ensino da área de História voltam-se basicamente para a
construção da identidade pessoal e da identidade social do educando. E os
diferentes campos ou áreas de conhecimento com que o Ensino Médio trabalha,
podem se constituir em torno de três grandes categorias capazes de abrigar os
objetivos gerais pretendidos com o conhecimento neste nível de ensino, a saber:
- Representação e Comunicação.
- Compreensão e Investigação.
- Contextualização histórica e sociocultural.
Ter por meta o desenvolvimento desses três objetivos gerais no Ensino Médio
significa no caso do ensino da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias:
preparar agentes sociais para conviver com sua realidade e transformá-la no
exercício de uma cidadania orientada pela ciência e na observância da alteridade e
da solidariedade crítica/cooperativa; e por meio de projetos condizentes com o
modelo de democracia participativa, formar cidadãos capazes de lidar com situações
novas e inusitadas, no ritmo da suas ocorrências, de maneira desafiadora e
construtiva; estimular o desenvolvimento de seres humanos na integridade de suas
múltiplas dimensões (física, afetiva, intelectual, psicológica, social) e de suas
identidades sociais.
A História enquanto disciplina escolar, ao se integrar na área Ciências
Humanas e suas Tecnologias para o ensino médio, possibilita ampliar estudos sobre
as problemáticas contemporâneas, situando-as nas diversas temporalidades,
servindo como arcabouço para reflexão sobre possibilidades de mudanças e
necessidades das continuidades.
O papel das disciplinas que compõem a área de Ciências Humanas, para
essa faixa etária e o momento histórico que estão vivendo, deve ser entendido em
suas dimensões amplas que envolvem a formação de uma cultura educacional.
Trata-se de uma sociedade marcada pelo mundo tecnológico, com ritmos de
transformações aparentemente muito acelerados, com informações provenientes de
vários espaços, mas predominando a mídia audiovisual, com a fragmentação do
conhecimento sobre os indivíduos e a sociedade e pelo domínio do mito do
consumo.
As concepções políticas e as referentes às ações humanas no espaço
público e privado assim como as relações homem natureza estão sendo
modificadas. Os paradigmas científicos que sustentavam as bases fundamentais
dessas concepções estão sendo questionados e colocados em cheque pelas
realidades que glorificam o novo tecnológico, mas não solucionam problemas
antigos, como os das desigualdades, preconceitos, dificuldades de percepção do
“outro”, e outras formas de convivência e de estabelecer relações sociais.
Tais constatações sobre as incertezas e mitos vividos pelos jovens da atual
geração implicam em delimitar com maior precisão o papel educativo da área, no
sentido de possibilitar um ensino médio de caráter humanista capaz de impedir a
constituição de uma visão apenas utilitária e profissional das disciplinas escolares.
A História tem contribuído para as indagações relativas ao funcionamento das
sociedades de maneira a integrar as multiplicidades temporais, espaciais, sociais,
econômicas, culturais, presentes em uma coletividade, destacando estudos das
“mentalidades” como componentes fundamentais da realidade e da prática social.
A diversidade de tradições historiográficas e a pluralidade de vinculações
teóricas apontam para o ensino de História, muitas alternativas válidas e viabilidades
de criações pedagógicas. Desta forma, é importante considerar as diferentes
dimensões dos estudos históricos no sentido de que possibilitam forjar teorias de
ensino e aprendizagem. Nesse sentido as Representações sociais sobre sucesso e
sobre fracasso representam grande importância para que possamos direcionar as
aulas para o que o educando expressa.
Nessa perspectiva, as Representações Sociais no ensino de História
aumentam as condições de ampliar nossas práticas pedagógicas, contribuindo
substantivamente para a construção dos laços de identidade e consolidar a
formação de cidadania, pois pode desempenhar um papel importante na
configuração da identidade ao incorporar a reflexão sobre a atuação do indivíduo
nas suas relações pessoais com o grupo de convívio, suas afetividades, sua
participação no coletivo.
A contribuição mais substantiva das Representações Sociais sobre sucesso e
sobre fracasso direcionando o processo ensino/aprendizagem de História poderá ser
para a melhor compreensão da realidade do jovem na sociedade contemporânea e
mais efetivamente, para a possibilidade de desenvolver capacidades de apreensão
do tempo em seu sentido completo das vivências humanas, podendo favorecer a
formação do jovem como cidadão, aprendendo a discernir os limites e possibilidades
de sua atuação, na permanência ou na transformação da realidade histórica em que
vive.
Assim sendo a percepção das Representações Sociais são importantes
indicadores que se refletem na prática cotidiana, tanto de professores quanto de
alunos, pois como já dissemos direciona escolhas pedagógicas. Fornecem também
métodos que auxiliam a capacidade de relativizar as próprias ações e as de outras
pessoas no tempo e no espaço.
Desta maneira, trabalhar com Representações Sociais constitui uma escolha
pedagógica que pode contribuir de forma significativa para que os educandos
desenvolvam competências e habilidades que lhes permitam fazer uma reorientação
para a ação visto que nos dias atuais, a cultura capitalista, fornece uma valorização
do ter; e pode favorecer a reavaliação dos valores do mundo de hoje.
5 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1 - COLETA DE DADOS
Foram contatadas uma escola pública estadual e uma particular, por meio da
direção das mesmas, que autorizaram a pesquisa (ver anexos A e B).
Os dados foram coletados nas próprias escolas localizadas na cidade de
Ibiúna, interior de São Paulo. A escolha da cidade deveu-se ao fato da pesquisadora
residir lá e, as duas escolas, pública estadual e particular, tendo em vista a facilidade
de acesso e de trânsito no interior das mesmas, uma vez que a intenção era
contatar os jovens no próprio espaço onde circulam diariamente, em especial, as
salas de aula.
Aos alunos foi explicado que estávamos realizando uma pesquisa com jovens
de 15 a 18 anos de idade, para conhecer melhor suas idéias e expectativas. Foram
aplicados questionários aos alunos com questões fechadas para a caracterização
dos respondentes e foi incluída uma atividade de Associação Livre. Para sua
realização solicitou-se, aos jovens, que associassem três palavras, umas às outras,
bem livremente. Para a associação foram propostas as palavras sucesso e fracasso.
Além do questionário (ver anexo C), foi feita a observação no local.
Neste item serão desenvolvidas algumas observações sobre a aplicação do
questionário e em seguida será efetivada uma análise de conteúdo de significado e
sentido que foram surgindo livremente a partir das palavras geradoras: sucesso e
fracasso.
Os jovens foram todos de uma mesma sala de aula, cujo funcionamento se
efetiva no período diurno.
Para a interpretação das respostas foi utilizada a análise de conteúdo, que é
um procedimento de pesquisa que se situa em um delineamento mais amplo da
comunicação e tem como ponto de partida a mensagem (FRANCO, 2007b). Nesse
sentido, nosso ponto de partida foi à palavra escrita pelos participantes.
Os dados obtidos foram submetidos a uma Análise de Conteúdo, concebida
como um procedimento utilizado para fazer inferências a partir das mensagens. De
acordo com Franco (2007), uma importante finalidade da análise de conteúdo é
produzir inferências sobre qualquer um dos elementos básicos do processo de
comunicação: a fonte emissora; o processo codificador que resulta em uma
mensagem; a própria mensagem; o receptor da mensagem; e o processo
decodificador. A inferência é o procedimento intermediário que vai permitir a
passagem da descrição à interpretação.
Produzir inferência é, pois „la raison d‟ etre” da análise de conteúdo.
É ela que confere a esse procedimento relevância teórica uma vez que implica, pelo menos, uma comparação, já que a informação puramente descritiva, sobre conteúdo, é de pequeno valor. Um dado sobre o conteúdo de uma mensagem (escrita, falada e/ou figurativa) é sem sentido até que seja relacionado a outros dados. O vínculo entre eles é representado por alguma forma de reflexões teóricas que vai conferir consistência às vinculações efetuadas entre conteúdo e confronto teórico analítico e interpretativo. Assim, toda análise de conteúdo implica comparações; o tipo de comparação é ditado pela competência do investigador no que diz respeito a sua maior ou menor compreensão acerca de diferentes situações vivenciadas e refletidas e acerca do nível de conhecimento assimilado sobre diferentes abordagens teóricas (FRANCO, 2005, p.26).
Produzir inferências em análise de conteúdo tem um significado bastante
explicito e pressupõe a comparação dos dados.
As palavras associadas à palavra de origem foram consideradas indicadores
que possibilitaram a criação de categorias, a partir da análise dos indicadores e
levando em conta semelhanças, proximidade de sentidos e de significados.
Categorias aqui são entendidas como uma operação de classificação de
elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação, seguida de um
reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos (FRANCO,
2007).
Por exemplo: os indicadores referentes à “alegria”, “felicidade”, “sentir bem”
apresentados para a palavra “sucesso” foram organizados por proximidade e sentido
e foi criada a categoria emoções e sentimentos, que abrangesse os indicadores. O
mesmo procedimento foi usado para os indicadores da palavra “fracasso”.
5.1.1- Caracterização da cidade
As escolas situam-se na região central da Estância Turística de Ibiúna, cuja
distância da capital é de 71 km. Trata-se do 34º município em extensão territorial do
Estado de São Paulo tendo 1.093 km². Na realidade apenas 10% pode ser
considerada como zona urbana. O restante corresponde à área rural onde é
desenvolvida a agricultura e a pecuária de pequenos produtores e onde estão
situados os condomínios, sendo que a maior parte do território corresponde a áreas
de preservação ambiental.
A população oficial da cidade medida pelo IBGE (2005) é de 73.905
habitantes, sendo 46.777 de zona rural, 27.128 de zona urbana, embora a
população estimada pelas autoridades locais seja de 85 mil habitantes, e uma
população flutuante de final de semana de aproximadamente 30.000 pessoas.
Pessoas que vêm atraídos pelas belezas naturais, que incluem grande represa
como a de Itupararanga, cachoeiras, serras, vales e muita reminiscência de Mata
Atlântica. Porém, a maior parte dessas belezas naturais não pode ser desfrutada
pelos jovens de Ibiúna, pois está restrita aos donos das chácaras, população
flutuante de final de semana, que fecharam os acessos á represa e cachoeiras,
tendo-as para seu uso exclusivo.
Além dos turistas, Ibiúna também recebe nos finais de semana familiares e
convidados dos proprietários de várias centenas de chácaras de recreio, algumas
literalmente cinematográficas. São mais de 80 condomínios residenciais, 30% deles
de alto luxo, espalhados pelos quadrantes ibiunenses, inseridos em meio às belezas
naturais das diferentes regiões do município. Todas essas chácaras precisam de
manutenção permanente, consumindo uma variedade considerável de diversos
produtos, além do abastecimento normal de uma propriedade de alto luxo, que
possui embarcações, automóveis e veículos diversos. Para assegurar essa
necessária manutenção, contratam caseiros e outros trabalhadores que consomem
e têm a incumbência, muitas vezes, de manter a dispensa da propriedade
abastecida. São eles que fazem o contato com prestadores de serviços como
mecânicos e outros profissionais e fornecedores em geral.
A população flutuante, por um lado traz benefícios para o município, pois gera
empregos, contrata mão-de-obra especializada e paga impostos gerando subsídios.
Por outro, há alguns pontos negativos, oriundos da alta rotatividade pela contratação
de caseiros de fora sem a devida verificação de suas procedências, o que acaba por
culminar em suas dispensas do trabalho, aumentando o número de desempregados
e muitas vezes também o índice de criminalidade. Outro ponto negativo é o fato de
as terras onde se praticava a agricultura, ou se poderia praticá-la, serem
transformadas em loteamentos, diminuindo assim a produção agrícola, base da
economia do município.
Podemos notar que não se trata de uma simples cidade do interior, trata-se
de uma das 29 cidades do Estado de São Paulo consideradas Estância Turística. A
localização e o grande fluxo de população flutuante nos finais de semana fazem com
que Ibiúna não tenha uma vida só de interior, há contato direto com pessoas da
capital.
A particularidade da cidade de Ibiúna de não ser exatamente interiorana,
tende a influenciar as Representações Sociais elaboradas pelos jovens moradores
nos temas privilegiados pelo presente estudo, ou seja, sucesso e fracasso, que será
melhor, desenvolvido nos itens subseqüentes.
Colocamos fotos de Ibiúna para evidenciar suas belezas, um dos motivos da
presença significativa da população flutuante nos finais de semana. Lembramos que
os acessos à represa e cachoeiras estão fechados pelos donos das chácaras.
Outras opções de lazer são de alto custo, dificultando assim o acesso da grande
maioria dos jovens da cidade.
Figura 1 - REPRESA
Figura 2 - CACHOEIRAS
Figura 3 – CAMPO DE GOLF
FONTE: ARQUIVO PESSOAL
Figura 4 – GRUTAS DE SÃO SEBASTIÃO
Figura 5 – CAMPO DE BEISEBOL YAKULT Figura 6 – TEMPLO BUDISTA
Figura 7 – PARQUE DO JURUPARÁ Figura 8 – ACADEMIA SEICHO-NO-IE
Figura 9 - POUSADA Figura 10 - PESQUEIRO.
FONTE: ARQUIVO PESSOAL
5.1.2 – Caracterização das escolas
A escola particular escolhida funciona em duas unidades. Em 2008,
apresentava 239 alunos matriculados sendo que, na unidade I, 13 alunos estavam
matriculados no maternal; 12 alunos no jardim, 14 alunos no Pré I, 64 alunos no
Ensino Fundamental I (1º ano a 4ª série). Na unidade II, 76 no Ensino Fundamental
II (5ª a 8ª séries) e 59 alunos no Ensino Médio.
Os alunos são moradores do centro e de diversos bairros rurais que
circundam a escola e a maioria que mora nos bairros vai à escola de perua
contratada e paga mensalmente pelos pais. Sendo que o bairro mais próximo do
centro fica a 4 km. , o mais distante aproximadamente a 40 km.
A escola pública Estadual escolhida, em 2008 apresentava 1896 alunos
matriculados sendo que 703 alunos estavam matriculados no Ensino Fundamental
(5ª a 8ª séries), 569 no Ensino Médio e 624 na Educação de Jovens e Adultos –
EJA.
Os alunos são moradores do centro e de diversos bairros rurais que
circundam a escola e a maioria depende de ônibus, cujo passe é fornecido pela
Secretaria da Educação Municipal. Sendo que, o bairro mais próximo está distante 3
km do centro da cidade e o mais distante fica a aproximadamente 40 km.
No aspecto físico as escolas são bem estruturadas. Há uma grande diferença
no número de alunos matriculados: na escola pública estadual há aproximadamente
oito vezes mais alunos matriculados do que na escola particular.
Outro dado importante é o fato de que, na escola pública, dos 20 jovens
pesquisados, apenas 10% vieram de outra cidade, os demais, 90%, são ibiunenses.
O mesmo não ocorre na escola particular, onde 50% dos 20 alunos pesquisados são
de famílias ibiunenses. E 50% são provenientes de famílias que moravam em São
Paulo e até outros Estados e vieram morar em Ibiúna. Isso se explica pelas
condições de mercado devido ao aumento da população flutuante, que abriu novas
possibilidades de comércio no município, que fez com que muitos paulistas
mudassem para a cidade, trazendo seus filhos e os matriculando nas escolas
particulares. Filhos estes, que, provavelmente, em sua maioria, não ficarão em
Ibiúna, pois quando terminarem o Ensino Médio irão para outras cidades cursar o
Ensino Superior.
Fotos das escolas onde foram realizadas as pesquisas que mostram que no
aspecto físico as mesmas são bem estruturadas.
Figura 13 - ESCOLA PARTICULAR - UNIDADE I
Figura 14 - ESCOLA PARTICULAR - UNIDADE II
FONTE: ARQUIVO PESSOAL
Figura 15 – ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL
FONTE: ARQUIVO PESSOAL.
5.1.3 – Caracterização dos participantes
A pesquisa teve como participantes dois grupos de jovens provenientes de
famílias oriundas de camadas sócio-econômicas média, média baixa e baixa,
estudantes das redes, particular e pública estadual de ensino, totalizando 40 alunos.
Os jovens estudados são da cidade de Ibiúna, interior do Estado de São Paulo, na
faixa etária de 15 a 18 anos, alunos dos 2º e 3º anos do Ensino Médio, do turno
diurno.
Na escola particular o grupo é composto por 20 jovens, 12 do sexo feminino e
08 do sexo masculino e estão na faixa etária de 16 a 18 anos. São solteiros, não tem
filhos e moram com os pais ou familiares. A maioria, 13 dos 20 pesquisados são
sustentados pelos familiares, 06 tem parte de seus estudos sustentados pelos pais e
apenas 01 além do seu próprio sustento, contribui parcialmente para o sustento de
sua família.
A maioria, 16 pesquisados, trabalha ou já trabalhou. Os trabalhos citados
foram: Na empresa do pai, na loja da mãe, na loja dos pais, trabalha na roça do pai,
loja de plantas dos pais, na marcenaria do pai, no comércio do pai, no escritório do
pai, marketing com o pai, aulas de balé, monitor de recreação, monitora em um
pesqueiro, vendedora, comércio de roupas, loja de roupas, funções de adjunto de
secretaria para subsidiar os estudos. Destacamos que a maioria dos pesquisados
trabalham ou já trabalharam em estabelecimentos que pertencem aos pais. Apenas
um trabalha para subsidiar seus estudos na secretaria da própria escola onde
estuda.
Os pais em sua maioria são comerciantes e concluíram o Ensino Superior.
As famílias possuem de dois a quatro dependentes e a maioria apresenta
médio nível sócio-econômico e cultural, o que facilita, em parte, o trabalho da equipe
escolar na garantia de um bom envolvimento dos alunos com o trabalho
desenvolvido na escola.
Nos momentos de folga os pesquisados da escola particular namoram,
passeiam com amigos ou familiares, viajam oportunamente, descansam, assistem
televisão, lêem revistas, ouvem música, estudam, nadam em suas piscinas ou dos
condomínios, lêem livros e acessam a Internet na própria residência.
Na escola pública estadual o grupo é também composto por 20 jovens, 13 do
sexo feminino e 07 do sexo masculino e estão na faixa etária dos 15 aos 18 anos.
Todos são solteiros, não tem filhos e moram com pais ou familiares. A maioria, ou
seja, 14 dos pesquisados são sustentados pela família e 06 tem parte dos seus
gastos sustentados pelos pais.
Os pais em sua maioria são caseiros ou agricultores e não concluíram o
Ensino Fundamental.
O lazer dos alunos, bem como de suas famílias, se restringe a atividades
como andar de bicicleta, jogar bola, assistir televisão e ouvir música. A maioria
acessa a Internet nas lan houses.
Percebemos que em ambos os grupos de jovens, a mídia, com sua extensa
gama de produtos para o entretenimento, principalmente no caso da televisão, se
configura como uma possibilidade presente e preferida para ocupar o tempo
destinado ao lazer, isso com certeza influencia a representação social desses
jovens.
As famílias possuem de quatro a cinco dependentes e a maioria apresenta
baixo nível sócio-econômico e cultural, o que possivelmente exige um maior esforço
por parte da equipe escolar para garantir um bom envolvimento dos alunos com o
trabalho desenvolvido na escola e, conseqüentemente, a sua transformação em
agentes multiplicadores do núcleo familiar no qual estão inseridos.
Dos 20 pesquisados 13 trabalha ou já trabalhou. Os trabalhos citados foram:
trabalho em um lava rápido, gandula de quadra de tênis, ajudante de costureira, em
uma sorveteria, caseiro (2), babá (3), garçonete em restaurante, fazendo doce para
vender, vendedor de plantas na CEAGESP e secretária.
Possivelmente esses jovens poderão ter uma vivência mais diversificada e
próxima às condições trabalhistas do que os jovens da escola particular, que na
maioria trabalha com os pais, e a inserção no mercado de trabalho tende a ser bem
diferente, o que poderá ser aprofundado em estudos posteriores.
6 – RESULTADOS
6.1 – APLICAÇÃO E RECEPTIVIDADE
Durante a aplicação do questionário não se observou dúvidas. Os
participantes demonstraram interesse, alguns comentaram que se sentiram
importantes. Porém na escola pública estadual o interesse foi maior, queriam saber
do por que da pesquisa e se mostraram muito interessados nos resultados, o que
pode confirmar que se sentem valorizados quando são incluídos.
Os resultados a seguir apresentam as palavras expressas a partir dos
significados e sentidos atribuídos as palavras de origem sucesso e fracasso.
Os dados serão apresentados em duas etapas. Em primeiro lugar análise das
respostas expressas por alunos da escola particular. Na segunda etapa será feita
análise das respostas provenientes dos alunos da escola pública estadual.
6.4.1 Escola particular
A partir das palavras obtidas, passamos a construir tabela ilustrativa para
facilitar os procedimentos de agrupamentos, de classificações, de pré-análise,
procedimentos estes fundamentais para auxiliar a posterior criação de categorias e,
consequentemente, a efetiva possibilidade de inferir, analisar e interpretar os dados
a serem submetidos a uma Análise de Conteúdo.
Respostas obtidas a partir das palavras associadas á palavra de origem sucesso
provenientes dos alunos da escola particular.
Tabela 1: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre- estímulo “sucesso” – escola particular. SUCESSO SUCESSO
S1 1ª 2ª 3ª
Dinheiro Felicidade Empenho
S11 1ª 2ª 3ª
Superação Esforço Luta
S2 1ª 2ª 3ª
Felicidade Qualidade Estabilidade
S12 1ª 2ª 3ª
Esforço Luta Comemoração
S3 1ª 2ª 3ª
Felicidade Esforço Estudo
S13 1ª 2ª 3ª
Dinheiro Família Vida
S4 1ª 2ª 3ª
Alegria Superação Objetivo
S14 1ª 2ª 3ª
Riquesa Fama Estudo
S5 1ª 2ª 3ª
Trabalho Vida Eu
S15 1ª 2ª 3ª
Trabalho Meu futuro Alegria
S6 1ª 2ª 3ª
Trabalho Educação Família
S16 1ª 2ª 3ª
Estudo Alto confiança Dinheiro
S7 1ª 2ª 3ª
Felicidade Orgulho Merecimento
S17 1ª 2ª 3ª
Jogador Ator Presidente
S8 1ª 2ª 3ª
Felicidade Metas Conquistas
S18 1ª 2ª 3ª
Realização Conquista Correria
S9 1ª 2ª 3ª
Amar Sentir bem Dedicação
S19 1ª 2ª 3ª
Batalha Conquista Fé
S10 1ª 2ª 3ª
Dinheiro Profissão Não respondeu
S20 1ª 2ª 3ª
Conquistas Sonho Vitória
Obs. As palavras foram transcritas exatamente como foram escritas pelos participantes.
Respostas obtidas a partir das palavras associadas á palavra de origem fracasso provenientes dos alunos da escola particular.
Tabela 2: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre- estímulo “fracasso” – escola particular
FRACASSO
FRACASSO
S1 1ª 2ª 3ª
Tristeza Derrota Não respondeu
S11 1ª 2ª 3ª
Desistir Tristeza Derrota
S2 1ª 2ª 3ª
Falta de dedicação Azar Tristeza
S12 1ª 2ª 3ª
Derrota Tristeza Decepção
S3 1ª 2ª 3ª
Má informação Má vontade Preguiça
S13 1ª 2ª 3ª
Morte Violencia Fome
S4 1ª 2ª 3ª
Tristeza Tentativas Capacidade
S14 1ª 2ª 3ª
Perda Tristesa Desunião
S5 1ª 2ª 3ª
Esforço Não consigo Mente
S15 1ª 2ª 3ª
Tristeza Seguir em frente Nunca olhar p/ atras
S6 1ª 2ª 3ª
Drogas Morte Não respondeu
S16 1ª 2ª 3ª
Desemprego Pobreza Drogas
S7 1ª 2ª 3ª
Perda Ruína Vergonha
S17 1ª 2ª 3ª
Tentar Conseguir Desistir
S8 1ª 2ª 3ª
Desistir Incapaz Pensamento negativo
S18 1ª 2ª 3ª
Covarde Fraco Consequencia
S9 1ª 2ª 3ª
Não gostar Ir mal Não dedicar
S19 1ª 2ª 3ª
Medo Choro Dor
S10 1ª 2ª 3ª
Tristeza Não respondeu Não respondeu
S20 1ª 2ª 3ª
Força Esperança Recomeço
Obs. As palavras foram transcritas exatamente como foram escritas pelos participantes.
Conhecidas as palavras citadas pelos alunos, estas passaram a se constituir
em indicadores para a criação das categorias, a partir de uma pré-análise das
palavras. Os indicadores que surgiram permitiram a criação de categorias e de
subcategorias.
Em relação às categorias e subcategorias abertas, faz-se necessário
esclarecer que:
Atributos pessoais, aqui estão entendidos como uma categoria mais ampla
na qual estão inseridas subcategorias. Nos atributos pessoais aparecem
palavras que foram relacionadas a desenvolvimento pessoal. E também
palavras citadas mais próximas a esforço. Entendemos também como
atributo pessoal as palavras relacionadas a conquistas e vitórias, assim
como também as relacionadas a metas, que foram colocadas em
subcategorias. Trata-se do sentido pessoal que caracteriza a consciência
individual do sujeito particular.
Elementos materiais e concretos foram vistos como algo visível, como Por
exemplo: dinheiro, riqueza, jogador, ator.
Na categoria emoções e sentimentos, esclarecemos que de acordo com
Leite (2005) as emoções se relacionam com diferentes tipos de fenômenos
e apresenta-se sempre de forma opositiva como: certo/errado, bom/ruim,
sucesso/fracasso. E no entender de Leontiev (2004) elas seriam forças
essenciais do processo que conectam necessidade e motivo. Assim, as
emoções não nos são dadas, elas advêm. Portanto as emoções, de acordo
com esse autor, são impulsos que nos movem para a ação. Sentimento é a
emoção filtrada e de acordo com Leite (2005) vinculá-se com atividade
dominante como agir, buscar, fazer, conseguir alguma coisa.
1a) Na tabela a seguir estão explícitos os indicadores e as categorias correspondentes. O total de palavras escritas equivale a 59.
Tabela 3: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre – estímulo “sucesso”, já agrupadas por categorias. Escola particular. 59 palavras
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS INDICADORES Nº %
Relacionados á atributos pessoais
Autoconfiança
Eu
Fé
26
45%
Relacionados á esforço pessoal
Esforço (3)
Luta (2)
Batalha
Empenho
Objetivo
Dedicação
Correria
Relacionados á conquistas
Conquista (4)
Superação (2)
Realização
Vitória
Merecimento
Comemoração
Relacionados á metas.
Meta
Meu futuro
Sonho
Relacionados á elementos materiais e concretos
Dinheiro (4)
Riqueza
Jogador
Fama
Ator
Estabilidade
Presidente
14
24%
Relacionados á trabalho
Trabalho (3)
Profissão
Relacionados á emoções e sentimentos
Felicidade (5)
Alegria (2)
Amar
Orgulho
Sentir bem
10
17%
Relacionados á educação
Estudo (3)
Educação
04 6%
Relacionados á família
Família (2) 02 3%
Outros Vida (2)
Qualidade
03 5%
Obs.: As porcentagens foram calculadas a partir do total de palavras explicitadas (e não a partir do número de alunos) e, posteriormente, registradas nas categorias criadas.
A seguir apresentamos gráfico ilustrativo das porcentagens a partir das categorias criadas.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
RELACIONADOS Á ATRIBUTOS PESSOAIS
RELACIONADOS Á ELEMENTOS MATERIAIS E CONCRETOS
RELACIONADOS Á EMOÇÕES E SENTIMENTOS
RELACIONADOS Á EDUCAÇÃO
RELACIONADOS Á FAMÍLIA
OUTROS
GRÁFICO 1 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PARTICULAR.
PALAVRA DE ORIGEM “SUCESSO”
1b) Análise
A categoria com maior número de respostas está concentrada na
representação de que o sucesso está estritamente ligado aos atributos pessoais.
A partir das palavras emitidas por parte de 20 jovens pesquisados obtivemos
um total de 59 palavras associadas á sucesso, das quais 45% ou seja, 26 palavras
relacionam sucesso a atributos pessoais inerentes á desenvolvimento pessoal:
autoconfiança, eu e fé. Sendo que, atributos pessoais, quer sejam de ordem
cognitiva, afetiva e social, foram vista numa categoria mais ampla na qual estão
inseridas subcategorias. São subcategorias que apresentam uma significação que
está relacionada a atributos, porém com um colorido especial. Foi criada uma
subcategoria onde as palavras são mais próximas á esforço tais como: esforço
citada três vezes, luta citada duas vezes, batalha, empenho, objetivo, dedicação e
correria, sendo todas da categoria mais ampla, porém com alguma especificidade de
significado mais particular. Foi criada uma subcategoria na qual as palavras citadas
foram relacionadas a conquistas, tais como: conquista citada quatro vezes,
superação citada duas vezes, realização, vitória, merecimento e comemoração. E
também uma subcategoria relacionada á metas, cujas palavras citadas foram: meta,
meu futuro, sonho.
24%, ou seja, 14 palavras emitidas para sucesso foram relacionadas a
elementos materiais e concretos, tais como: dinheiro citada quatro vezes, riqueza,
jogador, fama, ator, estabilidade, presidência. Sendo que elementos materiais e
concretos foram considerados como algo visível. Neste caso e tendo em vista a
força da mídia que permeia os jovens é possível que se estabeleça a seguinte
relação: a palavra fama pode ser relacionada ás palavras jogador, ator e
presidência, pois se supõe e também é divulgado pela mídia, que jogador, ator e
presidência, tenham a fama e o dinheiro.
Trata-se da categoria com palavras concentradas na representação de que o
sucesso é ter dinheiro, fama, conquistar, realizar seus objetivos. E isso é colocado o
tempo todo na mídia. Foi criada a subcategoria trabalho, onde aparece a palavra
trabalho citada três vezes e profissão.
17%, ou seja, dez palavras emitidas para sucesso foram relacionadas á
emoções e sentimentos: felicidade citada cinco vezes, alegria citada duas vezes,
amar, orgulho e sentir bem.
6% (quatro palavras citadas) foram relacionadas á educação. Vale destacar
que, em nossa sociedade, pessoas que gostam de estudar, são consideradas
pessoas que pensam no seu futuro, portanto subtendesse que isso leve ao sucesso.
Inclusive essa é a minha fala aos alunos enquanto educadora.
3%, ou seja, duas palavras emitidas foram relacionadas á família, palavra
citada duas vezes. A família é a unidade básica da sociedade. Representa um grupo
social primário que influencia e é influenciada por outras pessoas e instituições. Isso
demonstra que alguns ainda vêem a família associada ao sucesso, possivelmente
por viverem o sucesso em família.
No item outros foram classificados palavras que não se enquadram em
nenhuma das categorias anteriores. São 5%, ou seja, três palavras: vida citada duas
vezes e qualidade.
Em seu conjunto, as representações construídas por esses jovens mostram
que valorizam o esforço individual, tendo claros que devem se esforçar e lutar para
conquistar suas vitórias.
1c) Na tabela a seguir estão explícitos os indicadores e as categorias
correspondentes para a palavra de origem “fracasso”. A abertura das categorias
permitiu a criação de subcategorias. O total de palavras escritas equivale a 56.
Tabela 4: Palavras emitidas pelos sujeitos na associação livre - estímulo “fracasso”, já agrupadas por categorias. Escola particular. 56 palavras.
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS INDICADORES Nº %
Relacionados á elementos materiais e concretos
Morte (2)
Drogas (2)
Violência
Fome
Pobreza
Desemprego
17
30,5%
Relacionados á
derrotas.
Derrota (3)
Perda (2)
Ruína
Azar
Ir mal
Incapaz
Relacionados á emoções e sentimentos
Tristeza (8)
Vergonha
Decepção
Medo
Dor
Não gostar
Choro
16
28,5%
Relacionados á
negatividade
Pensamento negativo
Desunião
Atributos pessoais
Relacionados á
esforço pessoal
(negativo)
Desistir (3)
Falta de dedicação (2)
Má vontade
Preguiça
Não consigo
Covarde
Fraco
10
18%
Relacionados á
esforço pessoal
(positivo)
Tentativas (2)
Esforço
Seguir em frente
Nunca olhar p/ atrás
Força
Esperança
Recomeço
Conseguir
09
16%
Outros Capacidade
Mente
Conseqüência
Má formação
04
7%
Obs.: As porcentagens foram calculadas a partir do total de palavras explicitadas (e não a partir do número de alunos) e, posteriormente, registradas nas categorias criadas.
A seguir apresentamos gráfico ilustrativo das porcentagens a partir das categorias criadas.
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
RELACIONADOS Á ELEMENTOS MATERIAIS E CONCRETOS
RELACIONADO A EMOÇÕES E SENTIMENTOS
ESFORÇO PESSOAL (NEGATIVO)
ESFORÇO PESSOAL (POSITIVO)
OUTROS
GRÁFICO 2 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PARTICULAR. PALAVRA
DE ORIGEM “FRACASSO”
1 d) Análise
A categoria com maior número de palavras está concentrada na
representação de que o fracasso está relacionado a elementos materiais e concretos
negativos que por sua vez, geram as emoções e sentimentos negativos.
A partir das palavras apresentadas pelos 20 jovens pesquisados obtivemos
um total de 56 palavras associadas á fracasso, das quais 30,5%, ou seja, 17
palavras foram relacionadas á elementos materiais e concretos como: drogas e
morte citada duas vezes, violência, fome, pobreza e desemprego. Foi criada uma
subcategoria relacionada à derrota onde aparecem as palavras: derrota citada três
vezes, perda citada duas vezes, ruína, azar, ir mal, incapaz.
Em seguida 28,5%, 16 das palavras expressas foram relacionadas a emoções
e sentimentos colocadas em uma categoria mais ampla: tristeza, citada oito vezes,
vergonha, decepção, medo, dor, choro e não gostar. Foi criada a subcategoria
relacionada á negatividade, onde aparecem as seguintes palavras: pensamento
negativo e desunião. O que vem confirmar que elementos materiais e concretos
negativos levam os jovens a sentirem emoções e sentimentos negativos.
18%, ou seja, 10 palavras citadas foram relacionadas á falta de esforço
pessoal, tais como: desistir citada três vezes, falta de dedicação citada duas vezes,
má vontade, preguiça, não consigo, fraco e covarde.
16%, 09 das palavras expressas para fracasso foram relacionadas á esforço
pessoal no sentido positivo, sendo as palavras citadas: tentativas duas vezes,
esforço, seguir em frente, nunca olhar pra trás, força, esperança, recomeço,
conseguir. Concluímos assim que, tais palavras citadas colocam o fracasso não
como algo essencialmente negativo, mas sim como incentivo para se tentar
novamente. Isso nos reporta ao filósofo alemão Nietzsche (2003), para quem, as
dificuldades que passamos constantemente nos dão pistas do que pode estar errado
em nossas vidas, se observarmos e refletirmos de modo adequado podendo apontar
o melhor caminho para torná-la melhor. Para esse filósofo devemos encarar nossos
fracassos e dificuldades para aprendermos com eles. Porém isso só poderá ser
confirmado mediante a realização de um grupo focal (que é a reunião do
pesquisador e pequenos grupos de participantes, para avaliar conceitos e tirar
dúvidas) ou um debate. O que pode ser desenvolvido ou escrito em aulas de
Literatura ou até mesmo de História.
No item outros foram classificados palavras que não foram enquadradas em
nenhuma categoria arrolada, 7%, ou seja, quatro palavras citadas: capacidade,
conseqüência, mente e má formação.
6.4.2 Escola Pública estadual
A partir das palavras obtidas, passamos a construir tabela ilustrativa para
facilitar os procedimentos de agrupamentos, de classificações, de pré-análise,
procedimentos estes fundamentais para auxiliar a posterior criação de categorias e,
consequentemente, a efetiva possibilidade de inferir, analisar e interpretar os dados
a serem submetidos a uma Análise de Conteúdo.
Respostas obtidas a partir da palavra de origem sucesso provenientes dos alunos
da escola pública estadual.
Tabela 5: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre- estímulo “sucesso” – escola pública estadual. SUCESSO SUCESSO
S1 1ª 2ª 3ª
Superar Acontecer Vencer
S11 1ª 2ª 3ª
Lutar Humildade Trabalho
S2 1ª 2ª 3ª
Dedicação Esforço Conquista
S12 1ª 2ª 3ª
Inteligência Honestidade Simpatia
S3 1ª 2ª 3ª
Criatividade Diferencial Oportunidade
S13 1ª 2ª 3ª
Trabalho Família Esforço
S4 1ª 2ª 3ª
Determinação Força de vontade Garra
S14 1ª 2ª 3ª
Felicidade Crescimento Vontade
S5 1ª 2ª 3ª
Dedicação Esforço Realização
S15 1ª 2ª 3ª
Trabalho Família Filhos
S6 1ª 2ª 3ª
Música Dinheiro Talento
S16 1ª 2ª 3ª
Felicidade Objetivo Persistência
S7 1ª 2ª 3ª
Conquista Dinheiro Fama
S17 1ª 2ª 3ª
Impresário Cantor Dinheiro
S8 1ª 2ª 3ª
Vitória Estrela Inteligência
S18 1ª 2ª 3ª
Orgulho Acerto Dinheiro
S9 1ª 2ª 3ª
Dedicação Educação Motivação
S19 1ª 2ª 3ª
Esforço Capacidade Crescimento
S10 1ª 2ª 3ª
Simpatia Carisma Brilho
S20 1ª 2ª 3ª
Inteligência Honestidade Controle
Obs. As palavras foram transcritas exatamente como foram escritas pelos participantes.
Respostas obtidas a partir da palavra de origem fracasso provenientes dos
alunos da escola pública estadual.
Tabela 6: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre- estímulo “fracasso” – escola
pública estadual.
FRACASSO FRACASSO
S1 1ª 2ª 3ª
Perder Tristeza Inresponsabilidade
S11 1ª 2ª 3ª
Fraquesa Desistência Egoísmo
S2 1ª 2ª 3ª
Superação Negatividade Preguiça
S12 1ª 2ª 3ª
Preguiça Trapassa Pensamentos negativos
S3 1ª 2ª 3ª
Horrível Descarte Egoísmo
S13 1ª 2ª 3ª
Desistir Preguiça Negatividade
S4 1ª 2ª 3ª
Desanimo Falta de vontade Ganância
S14 1ª 2ª 3ª
Tristeza Motivo Influência
S5 1ª 2ª 3ª
Negatividade Desemprego Preguiça
S15 1ª 2ª 3ª
Desistir Não correr atrás Vergonha na cara
S6 1ª 2ª 3ª
Ambição Roubar Preguiça
S16 1ª 2ª 3ª
Infelicidade Insatisfação Sem persistência
S7 1ª 2ª 3ª
Desistir Infelisidade Insatisfação
S17 1ª 2ª 3ª
Provas Fora Mentira
S8 1ª 2ª 3ª
Derrota Falta de grana Burrice
S18 1ª 2ª 3ª
Erro Decepção Tristeza
S9 1ª 2ª 3ª
Desemprego Preguiça Negatividade
S19 1ª 2ª 3ª
Um motivo Influencia Cabeça
S10 1ª 2ª 3ª
Preguiça Trapassa Derrota
S20 1ª 2ª 3ª
Burise Desonestidade Descontrole
Obs. As palavras foram transcritas exatamente como foram escritas pelos participantes. Conhecidas as palavras citadas pelos alunos, estas passam a se constituir em indicadores para a criação das categorias, a partir de uma pré-análise das palavras. Os indicadores que surgiram permitiu a criação de categorias e de subcategorias. 2a) Na tabela a seguir estão explícitos os indicadores e as categorias correspondentes a palavra de origem “sucesso”. O total de palavras escritas e observadas equivale a 60.
Tabela 7: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre – estímulo “sucesso”, já agrupadas por categorias. Escola pública estadual. 60 palavras. CATEGORIAS SUBCATEGORIAS INDICADORES Nº %
Relacionados á atributos pessoais
Inteligência (3)
Simpatia (2)
Honestidade (2)
Criatividade
Talento
Carisma
Brilho
Humildade
Capacidade
39
65%
Relacionados á esforço pessoal
Esforço (4)
Dedicação (3)
Força de vontade (2)
Determinação
Garra
Luta
Objetivo
Persistência
Controle
Relacionados á conquistas
Conquista (2)
Crescimento (2)
Oportunidade
Superar
Acontecer
Vencer
Realização
Vitória
Acerto
Relacionados á elementos materiais e concretos
Dinheiro (4)
Fama
Empresário
Cantor
Música
11
19%
Relacionados á trabalho
Trabalho (3)
Relacionados á emoções e sentimentos
Felicidade (2)
Orgulho
Motivação
04 6,5%
Relacionados á família
Família (2)
Filhos
03 5%
Relacionados á educação
Educação 01 1,5%
Outros Diferencial
Estrela
02 3%
Obs.: As porcentagens foram calculadas a partir do total de palavras explicitadas (e não a partir do número de alunos) e, posteriormente, registradas nas categorias criadas.
A seguir apresentamos gráfico ilustrativo das porcentagens a partir das categorias criadas.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
RELACIONADOS Á ATRIBUTOS PESSOAIS
RELACIONADOS Á ELEMENTOS MATERIAIS E CONCRETOS
RELACIONADOS Á EMOÇÕES E SENTIMENTOS
RELACIONADOS Á FAMÍLIA
RELACIONADOS Á EDUCAÇÃO
OUTROS
GRÁFICO 3 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL.
PALAVRA DE ORIGEM “SUCESSO”
2b) Análise
A categoria com maior número de palavras está concentrada na
representação de que o sucesso é algo que depende de cada individuo. Isso nos
remete á esforço pessoal, ao pensamento de que nada é dado de graça. E isso é
colocado o tempo todo na mídia, na família e na escola. O que tem significado e
sentido razoável porque se supõe que a maioria que se esforça obtém sucesso e
isso deveria estimular os jovens a estudar.
A partir das palavras apresentadas pelos jovens pesquisados obtivemos um
total de 60 palavras associadas á sucesso, das quais 65% ou seja, 39 palavras
foram relacionadas á atributos pessoais. Sendo que atributos pessoais, quer, sejam
de ordem cognitiva, afetiva e social, foi vista numa categoria mais ampla na qual
estão inseridas subcategorias. Na categoria relacionada a atributos pessoais, as
palavras expressas foram relacionadas á desenvolvimento pessoal, tais como
inteligência citada três vezes, simpatia e honestidade citadas duas vezes,
criatividade, talento, carisma, brilho, humildade e capacidade. Foi criada uma
subcategoria na qual as palavras citadas são mais próximas a esforço tais como:
esforço citada quatro vezes, dedicação citada três vezes, força de vontade citada
duas vezes, determinação, garra, luta, objetivo, persistência e controle. Foi aberta a
subcategoria conquistas, onde aparecem as seguintes palavras: conquista e
crescimento citadas duas vezes, superar, acontecer, vencer, realização, vitória e
acerto.
19%, ou seja, 11 palavras escritas para sucesso foram relacionadas a
elementos materiais e concretos numa categoria mais ampla: dinheiro citada quatro
vezes, fama, empresário, cantor, música e oportunidade. O empresário
historicamente é visto como alguém que tem dinheiro, mas recentemente, tendo em
vista a força da mídia que permeia os jovens é possível que se estabeleça a
seguinte relação: fama, que é o principal requisito para o status de celebridade, ou
seja, uma pessoa amplamente reconhecida pela sociedade pode ser relacionada ás
palavras cantor e empresário, pois se supõe e também é divulgado pela mídia, que
cantor e empresário tenham a fama e o dinheiro. Também foi criada a subcategoria
trabalho, palavra citada três vezes. Isso demonstra que essa porcentagem de jovens
relaciona também suas vitórias a elementos materiais e concretos. Embora sejam
poucas as expectativas de sucesso passadas pela mídia através do trabalho,
quando é alarmante o número de desempregados no Brasil.
6,5%, ou seja, quatro palavras expressas foram relacionadas á emoções e
sentimentos: felicidade citada duas vezes, orgulho e motivação. As emoções
impulsionam as variadas formas de atividade do homem garantindo sua formação,
existência e desenvolvimento como indivíduo e personalidade no sistema das
relações sociais.
5% (três palavras) escritas para sucesso foram relacionadas á família:
aparece a palavra família citada duas vezes e filhos. Isso demonstra que alguns
ainda vêem a família associada ao sucesso, possivelmente por viverem o sucesso
em família.
1,5%, ou seja, uma única palavra citada foi relacionada á educação.
No item outros foram classificados palavras que não foram enquadradas em
nenhuma categoria arrolada. Foram duas palavras, ou seja, 3%: diferencial e estrela.
Em seu conjunto, as representações construídas por esses jovens mostram
que valorizam o esforço individual e que esse esforço é importante para a
construção de sua história de sucesso, a qual depende de cada um.
As Representações Sociais sobre sucesso para o grupo de jovens
pesquisados são construídas com base nos elementos relacionados a atributos
pessoais.
Na escola particular obtivemos um total de 59 palavras associadas ao
sucesso, das quais 45% relacionam sucesso a atributos pessoais inerentes á
desenvolvimento pessoal, e também palavras mais próximas a esforço. Assim como
também, palavras relacionadas a conquistas e metas. Em sua maioria, as palavras
são concentradas na representação de que o sucesso está estritamente ligado aos
atributos pessoais.
Na escola pública estadual obtivemos um total de 60 palavras associadas ao
sucesso, das quais 65% foram relacionadas também a atributos pessoais. Sendo
palavras ligadas a desenvolvimento pessoal, a esforço e conquistas. Aqui não
aparecem palavras relacionadas a metas que apareceram na escola particular.
Portanto, tanto na escola particular como na escola pública estadual, as
palavras para sucesso são concentradas na representação de que o sucesso é algo
que depende deles, que depende do esforço pessoal de cada um.
Concluímos que a perspectiva do sucesso que está presente no grupo de
jovens da escola particular, também está presente no da escola pública. A maioria
das palavras é concentrada na representação de que o sucesso está estritamente
ligado aos atributos pessoais, sendo isso comum aos dois grupos, embora, na
escola pública a porcentagem seja bem maior. Na escola particular aparecem 45%
de palavras relacionadas a essa categoria e na escola pública são 65% das
palavras. Percebemos assim que o esforço pessoal, embora seja valorizado pelos
dois grupos tem um peso maior para os jovens da escola pública.
Em segundo lugar, em ambos os grupos as palavras foram relacionadas na
categoria elementos materiais e concretos como dinheiro e riqueza, porém mais
valorizado pelos jovens da escola particular com 24%, e para os jovens da escola
pública 19%.
Em terceiro lugar, também em ambos os grupos aparece palavras na
categoria emoções e sentimentos, tais como felicidade e alegria, porém com maior
destaque para jovens da escola particular com 17%, e para os jovens da escola
pública apenas 6,5%.
Há uma diferença em relação ao quarto lugar, visto que para os jovens da
escola particular 6% das palavras aparecem na categoria educação e para os jovens
da escola pública estadual, 5% das palavras citadas aparecem na categoria família.
A mesma diferença aparece em relação ao quinto lugar aonde as palavras
citadas na escola particular são de 3% na categoria família, e para os jovens da
escola pública 1,5% na categoria educação.
Na categoria outros na escola particular tivemos 5%; e na escola pública 3%.
Destaca-se, portanto, a atribuição de características pessoais como esforço,
dedicação, inteligência como condição para o sucesso, o que não pode ser
desperdiçada; pois como já foi dito anteriormente, isso precisa estimular os jovens a
estudar e oferece um campo aberto para educadores e psicólogos educacionais.
Visto que há necessidade de formação dos jovens com base em conhecimentos e
competências, de modo que possam interagir com as profundas mudanças
socioeconômicas, tecnológicas e culturais da contemporaneidade. Há também
necessidade que se desenvolva a cidadania democrática, aqui entendida como a
compreensão histórica das relações estruturantes do mundo econômico e social, de
forma que a sociedade seja percebida como passível de ser transformada.
Conhecidas as palavras citadas pelos alunos para “fracasso”, estas passam a
se constituir em indicadores para a criação das categorias, a partir de uma pré-análise
das palavras. Os indicadores que surgiram permitiu a criação de categorias e de
subcategorias.
2c) Na tabela a seguir estão explícitos os indicadores e as categorias
correspondentes para a palavra de origem “fracasso”. O total de palavras escritas e
observadas equivale a 60.
Tabela 8: Palavras emitidas pelos participantes na associação livre – estímulo
“fracasso”, já agrupadas por categorias. Escola pública estadual. 60 palavras.
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS INDICADORES Nº %
Relacionados á atributos pessoais (negativo)
Egoísmo (2)
Burrice (2)
Ganância
Ambição
Desonestidade
Mentira
24
40%
Relacionados esforço pessoal (negativo)
Preguiça (7)
Desistir (4)
Irresponsabilidade
Não correr atrás
Sem persistência
Descontrole
Falta de vontade
Relacionados á emoções e sentimentos.
Tristeza (3)
Insatisfação (2)
Infelicidade (2)
Desânimo
Fraqueza
Decepção
Vergonha na cara
Horrível
17
28%
Relacionados á negatividade
Negatividade (4)
Pensamentos
negativos
Relacionados á elementos materiais e concretos (negativo)
Desemprego (2)
Falta de grana
11
19%
Relacionados á derrota.
Trapaça (2)
Derrota (2)
Perder
Descarte
Fora
Erro
Outros Motivo (2)
Influência (2)
Provas
Roubar
Superação
Cabeça
08
13%
Obs.: As porcentagens foram calculadas a partir do total de palavras explicitadas (e não a partir do número de alunos) e, posteriormente, registradas nas categorias criadas.
A seguir apresentamos gráfico ilustrativo das porcentagens a partir das categorias criadas.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
RELACIONADOS Á ATRIBUTOS PESSOAIS (NEGATIVOS)
RELACIONADOS Á EMOÇÕES E SENTIMENTOS
RELACIONADOS Á ELEMENTOS MATERIAIS E CONCRETOS
OUTROS
GRÁFICO 4 - GRÁFICO DAS CATEGORIAS – ESCOLA PÚBLICA. PALAVRA DE
ORIGEM “FRACASSO”
2 d) Análise
A categoria com maior número de palavras expressas está concentrada na
representação de que o fracasso é algo que depende de atitudes que não geram
esforço e luta.
A partir das palavras emitidas pelos jovens pesquisados obtivemos um total
de 60 palavras associadas a fracasso, das quais 40% ou seja, 24 palavras citadas
foram relacionadas á atributos pessoais no sentido negativo. Sendo que atributos
pessoais foram vistos numa categoria mais ampla. Inerentes á desenvolvimento
pessoal apareceram palavras tais como: egoísmo citada duas vezes, burrice citada
duas vezes, ganância, ambição, desonestidade e mentira. Foi criada uma
subcategoria na qual estão inseridas palavras mais próximas á falta de esforço tais
como: preguiça citada sete vezes, desistir citada quatro vezes e irresponsabilidade,
não correr atrás, sem persistência, descontrole e falta de vontade.
28 %, ou seja, 17 palavras colocadas para fracasso foram relacionadas á
emoções e sentimentos negativos, colocadas em uma categoria mais ampla:
tristeza, citada três vezes, insatisfação e infelicidade, citada duas vezes, desânimo,
fraqueza, decepção, vergonha na cara e horrível. Foi criada a subcategoria
relacionada á negatividade, onde aparecem as seguintes palavras: negatividade
citada quatro vezes e pensamentos negativos.
19%, ou seja, 11 palavras foram relacionadas à falta de elementos materiais e
concretos como desemprego citada duas vezes e falta de grana. Foi criada uma
subcategoria relacionada á derrota onde aparecem as palavras: trapaça e derrota
citada duas vezes, perder, descarte, fora e erro.
No item outros foram classificados palavras que não foram enquadradas em
nenhuma categoria aberta, 13%, ou seja, oito palavras: motivo e influência citada
duas vezes, provas, roubar, superação e cabeça. Subtendendo-se que provas
podem ser consideradas fracasso para o participante, porém só poderíamos
confirmar através de um grupo focal.
Em seu conjunto, as representações construídas por esses jovens mostram
que o fracasso é algo que depende deles mesmos quando não se esforçam e não
se empenham para conquistar seus objetivos.
As Representações Sociais sobre fracasso, para os grupos de jovens
pesquisados, são construídas com base nos elementos materiais e concretos e
relacionadas à falta de atributos pessoais.
Em relação ao fracasso, na escola particular obtivemos um total de 56
palavras associadas a fracasso, das quais 30,5% foram relacionadas á elementos
materiais e concretos, entendido aqui como algo visível e também palavras
relacionadas à derrota, aqui entendido como perda ou situação que leva a perda.
Trata-se da categoria com maior número de palavras concentradas na
representação de que o fracasso está relacionado a elementos materiais e concretos
negativos.
Na escola pública estadual, a partir das palavras emitidas pelos jovens
pesquisados obtivemos um total de 60 palavras associadas a fracasso, das quais
40% foram relacionadas a atributos pessoais no sentido negativo. Sendo que
atributos pessoais foram vistos numa categoria mais ampla, inerentes a
desenvolvimento pessoal e também palavras mais próximas a falta de esforço.
Trata-se da categoria com maior número de palavras expressas concentradas na
representação de que o fracasso é algo que depende de atitudes que não geram
esforço e luta por parte desses jovens em questão.
Há diferenças significativas nas Representações Sociais sobre o fracasso, se
considerarmos que dois conjuntos bastante distintos de palavras se evidenciaram:
para os jovens da escola particular, o fracasso se liga a elementos materiais e
concretos ou no caso, falta deles, como por exemplo, desemprego, pobreza, fome e
também a derrotas, sendo 30,5% das palavras citadas. Tal categoria aparece em
terceiro lugar no grupo de jovens da escola pública. Em contrapartida, para este
grupo, a maioria das palavras citadas, 40%, relaciona fracasso a atributos pessoais
no sentido negativo, onde as palavras são inerentes a falta de desenvolvimento
pessoal e a falta de esforço. Evidenciando assim que, para esse grupo de jovens, o
fracasso depende deles mesmos por não terem atitudes de esforço e luta que
acabam os levando ao fracasso.
Em segundo lugar, em ambos os grupos as palavras estão na categoria
emoções e sentimentos tais como tristeza e medo com 28,5% das palavras escritas
na escola particular e para os jovens da escola pública 28%.
Em terceiro lugar, aparece diferença, pois para os jovens da escola particular,
as palavras emitidas foram colocadas na categoria esforço pessoais no sentido
negativo, ou seja, falta de esforço pessoal com 18% e para os jovens da escola
pública as palavras são relacionadas a elementos materiais e concretos, sendo 19%
das palavras escritas.
Há uma diferença em relação ao quarto lugar, visto que para jovens da escola
particular 16% das palavras emitidas estão na categoria esforço pessoal, no sentido
positivo, tais como esperança, recomeço e esforço. Concluímos assim que, tais
palavras citadas colocam o fracasso não como algo essencialmente negativo, mas
sim como incentivo para se tentar novamente.
Na categoria outros, na escola particular tivemos 7%; e na escola pública
13%.
7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objeto de estudo as Representações Sociais sobre
sucesso e sobre fracasso e sua contribuição para o ensino/aprendizagem de
História. Estas representações foram elaboradas a partir de dois grupos de jovens
que pertenciam a dois segmentos educacionais diferentes: uma escola particular e
uma escola pública estadual, localizadas na cidade de Ibiúna, interior de São Paulo.
Trata-se de um estudo de uma única e parcial realidade, de cidade do interior
paulista, mas cujos dados apontam questões pertinentes para reflexões nas áreas
da Pedagogia, da Psicologia Educacional e de História.
A pesquisa promoveu um grande aprendizado, à medida que pudemos
observar, ao longo de nosso trabalho, que as Representações Sociais se constituem
como uma aliada dos profissionais ligados à Educação e à Psicologia Educacional,
porque propicia um amplo conhecimento dos participantes com o qual trabalhamos.
A Representação Social assume grande importância, e a partir dela pode-se prever
a necessidade do indivíduo que a emite. Isso se torna importante porque direciona a
parte pedagógica, ou seja, direciona as aulas para aquilo que o aluno expressa, pois
a Representação Social procura, na medida do possível, prever as necessidades de
cada indivíduo e as do grupo.
Observamos que as Representações Sociais são elaboradas a partir do
senso comum, no cotidiano mais amplo, logo se subentende que elas guardam as
nuances e o colorido especial dependendo das circunstâncias dos espaços sociais e
culturais que os sujeitos habitam.
No caso desta pesquisa, buscamos apreender as Representações Sociais
sobre sucesso e sobre fracasso, ancoradas nas situações concretas vividas pelos
participantes que as emitiram e que estão na base das suas ações. O que os jovens
pensam sobre sucesso e sobre fracasso pode possibilitar aos educadores a
utilização de estratégias adequadas para que esses temas sejam discutidos e
incorporados na vida desses jovens, a fim de lhes proporcionar uma reflexão sobre a
realidade vivida, sobre o lugar que ocupam e o desenvolvimento de uma visão crítica
sobre como estão sendo preparados para a vida. Como já foi dito, também são
elementos a mais para a ação do professor e do psicólogo educacional para atuar
junto ao jovem. E em termos mais amplos poderão contribuir para uma melhor
compreensão das diversas motivações, desejos, expectativas referenciadas pelos
espaços sociais e educacionais aos quais os jovens pertencem.
A partir da análise das Representações Sociais supomos que, de fato, foi
legítima a análise que fizemos sobre o sucesso e o fracasso na vida dos jovens
participantes.
As Representações Sociais sobre sucesso para o grupo de jovens
pesquisados são construídas com base nos elementos relacionados a atributos
pessoais. Concluímos que a perspectiva do sucesso que está presente no grupo de
jovens da escola particular, também está presente no da escola pública. A maioria
das palavras é concentrada na representação de que o sucesso está estritamente
ligado aos atributos pessoais.
E as Representações Sociais sobre fracasso, para o grupo de jovens
pesquisados, são construídas com base nos elementos materiais e concretos e
relacionadas à falta de atributos pessoais. Para os jovens da escola particular, o
fracasso se liga a elementos materiais e concretos ou no caso, falta deles, como por
exemplo, desemprego, pobreza, fome e também a derrotas. Para os jovens da
escola pública, o fracasso depende deles mesmos por não terem atitudes de esforço
e luta que acabam os levando ao fracasso.
Como síntese das análises feitas, consideramos a importância da categoria
atributos pessoais para o trabalho educacional do jovem. Principalmente no que se
relaciona à força de vontade, que é a energia que, ao que parecem, os jovens
supõem ser fundamental para impulsionar a realização das coisas e obtenção do
sucesso. Estudos dessa natureza podem fornecer pistas interessantes para o
surgimento de propostas educacionais, propondo que se potencialize pelo diálogo a
compreensão dos indivíduos sobre sua própria realidade e as estruturas cognitivas e
emocionais com as quais operam no mundo.
O ritmo das mudanças em nosso mundo é o mais rápido já alcançado em
termos de inovação. Mas pudemos perceber que muitos buscam o sucesso através
do esforço pessoal.
No caso dos jovens desta pesquisa percebemos que os mesmos estão
abertos para aprender, basta que sejam direcionados para isto, visto que valorizam
demasiadamente o esforço e a dedicação na conquista do sucesso. Essa
valorização do esforço é uma característica importante que demonstra os valores
desses jovens, o que pode ser uma grande oportunidade de avançar em direção ao
sucesso dos objetivos. Para isso não se pode desprezar esse contingente jovem
impedindo-os de ter acesso ás oportunidades de que precisam para se desenvolver
como parte ativa e protagonista para que, assim possam estar realmente inseridos
na sociedade em que vivem.
Destacamos que é preocupante que na escola particular apenas 04 palavras
e na escola pública apenas uma palavra emitida para sucesso tenham sido
relacionadas à educação.
Faz-se necessário que os educadores procurem se aproximar da cultura
adolescente. Pois, de acordo com Zibas (2004), se há distanciamento, afunila a
cultura da escola, empobrece as trocas entre os sujeitos do mundo escolar e
converte, muitas vezes, o conteúdo das disciplinas em elemento aversivo aos
alunos. Além disso, está muito evidente que, mesmo para aqueles jovens que
conseguem terminar o ensino médio, o baixo crescimento econômico do país e, em
alguma proporção, as novas estruturas produtivas já automatizadas tornam as
oportunidades de trabalho muito escassas. Essa falta de perspectiva tende a induzir
o estudante a desinteressar-se pelas atividades escolares. Na verdade, o jovem vive
um paradoxo: de um lado, sabe que precisa do certificado do ensino médio para a
obtenção de um emprego formal; por outro, também percebe que, mesmo que
obtenha o certificado, suas chances no mercado de trabalho são muito pequenas.
Nesse quadro, a sensibilidade de educadores à cultura juvenil (por exemplo, à
música, à dança, às “tribos”, à moda) torna-se uma exigência pedagógica como
meio de enriquecimento dos conteúdos disciplinares e forma de construir uma
identificação positiva do aluno em relação à escola. Nessa perspectiva, no entanto, a
aproximação aqui discutida não deve significar a simplificação do currículo ou mero
instrumento de sedução dos jovens para facilitar o trabalho docente.
A construção das Representações Sociais é um processo intimamente ligado
à memória do indivíduo e da sociedade. Representar é, portanto, pôr em atividade o
acervo de memória que define uma sociedade. E o funcionamento desse acervo não
a torna estática, mas faz ser controlado o processo de construções e revisões de
valores, costumes, tradições, enfim daquilo que as coisas significam. Esse controle é
resultado da construção de sentidos para o funcionamento da sociedade.
E só há sentidos para as coisas, surgidos a partir da construção de um
conhecimento objetivo, em um tempo histórico específico que corresponda aos
interesses das populações ao longo de suas construções. E as Representações
Sociais são ferramentas poderosas para tal feito já que se constituem enquanto
mediadores, códigos entre aquilo que se vê e aquilo que se fala. E as
Representações Sociais têm caráter dinâmico, integrando a dimensão histórica com
o aqui e agora.
Sucessos e fracassos fazem parte de um processo de aprendizagem -
através do qual nos preparamos para enfrentar situações novas. E para enfrentar
novas situações é preciso que as competências sócio-históricas sejam vistas como
possibilidade de que os jovens, aprendendo inevitavelmente a viver em meio à
insegurança, à incerteza, submetidos ao desemprego ou a ocupações precárias,
possam perceber as contradições do processo e os caminhos para a construção de
uma sociedade menos desigual.
A contribuição deste trabalho reside na possibilidade de continuar gerando
perspectivas de análise, face às expectativas, de sucesso e de fracasso, nos
contextos de produção de bens materiais e simbólicos na realidade atual.
Destacamos a importância da realização de um grupo focal para que sejam sanadas
eventuais dúvidas sobre algum conceito, dessa forma colocamos a importância da
realização do mesmo que poderão ser retomados nas aulas de História.
REFERÊNCIAS
ABAD, Miguel. Crítica política das políticas de juventude. In FREITAS, Maria Virgínia
de e PAPA, Fernanda. Políticas públicas: juventude em pauta. São Paulo: Cortez:
Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação: Fundação Friedrich Ebert,
2003.
ABRIC, J.C. Méthodes d’étude des représentations sociales. Ramonville Saint-
Agne: Érès, 2003.
ARISTÓTELES. Physis, ethos e nomos. (Trad. Constança M. César). São Paulo:
Paulus, 1999.
BANCHS, M. A. Representaciones sociales: pertinencia de su estudio y
posibilidades de aplicación. Boletim de AVEPSO, vol. XIV, n. 3, dic. 1991.
BARBOSA, G. & RABAÇA, C. Dicionário de Comunicação. São Paulo: Ática, 1987.
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais
Ensino Médio / Secretaria de Educação Ensino Médio. Brasília: MEC/SEF, 2000.
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais
Ensino Médio / História Secretaria de Educação Ensino Médio. Brasília: MEC/SEF,
2000.
CAMARANO, A.. A. et alli “Transição para a vida adulta: novos ou velhos
desafios?” in Boletim Mercado de Trabalho : Conjuntura e Análise no.21,Rio de
Janeiro, Ipea, 2003
CHKLOVSKI, V. (2005) "A arte como procedimento" in Teoria da literatura –
formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 2005.
Consultoria em Políticas Públicas (CPP) www.politicaspublicas.com.br..
Juventudes e ação política www.jap.org.br 17/06/2008– acesso em 28/10/2008)
CORACINI, M. A celebração do outro – arquivo, memória e identidade.
Campinas: Mercado de Letras, 2007.
FINLEY, M. I. Democracia antiga e moderna. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1989
FRANCO, Maria Laura P. B. Representações Sociais, Ideologia e
Desenvolvimento da Consciência. Cadernos de Pesquisa. Fundação Carlos
Chagas. São Paulo: Autores Associados, V. 34, n. 121, p. 169-186. jan./abr. 2004.
FRANCO, Maria Laura P. B. (coord.). Representações sociais de jovens e
professores e suas implicações para o ensino/aprendizagem. Projeto Temático.
Programa de Mestrado em Psicologia Educacional. Centro Universitário FIEO –
UNIFIEO. São Paulo, 2007 a. mimeo.
FRANCO, M. L. P. B. Análise de Conteúdo. 2ª edição. Brasília, D. F.: Liber Livros,
2007b (Série Pesquisa v. 6).
GONÇALVEZ, H. M. “Juventude Brasileira, entre a tradição e a modernidade”, in
Revista de Sociologia da USP, Tempo Social, vol. 17, no. 2, São Paulo, 2005
IBASE. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – 2005
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Censo Demográfico:
Caracterização da População e dos Domicílios, Brasília: IBGE, 2000.
INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Censo Demográfico:
Caracterização da População e dos Domicílios, Brasília: IBGE, 2005.
JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: JODELET, D.
(Org.). As Representações Sociais. Tradução Lilian Ulup. Rio de Janeiro: EdUERJ,
2001.
LEITE, Ivanise. Emoções, sentimentos e afetos (uma reflexão sócio-histórica)
2ª edição. Araraquara: Junqueira & Marin editores, 2005.
LEONTIEV, A. O Desenvolvimento do Psiquismo. Livros Horizonte, 2004
MARROU, H-I. Educação e Retórica in: FINLEY, M. (org). O Legado da Grécia.
UnB, Brasília, 1998.
MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social.
Rio de Janeiro, Vozes, 2007.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Cia de Letras, 2003.
Título original: Also sprach zarathustra: Ein buch fer alle und keinem.
OSHO. O livro dos segredos – vol. 2. São Paulo: Ícone, 2002.
PEREIRA, HJ. Criando Seu Próprio Negócio–Como Desenvolver o Potencial. Motivos de
Sucesso e de Fracasso Empresarial, Brasília 1995.
RABÊLLO, E.T. e PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano.
Disponível em <http://www.josesilveira.com> 2009.
RUA, M.G. “As políticas públicas e a juventude nos anos 90”. In: BRASIL.
Ministério do Planejamento e Orçamento. CNPD - Comissão Nacional de População
e Desenvolvimento. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília:
CNPD, 1998.
SANDMANN, A. A linguagem da propaganda. São Paulo: Contexto, 2005
SANT‟ANNA, A. Propaganda: Teoria, Técnica e Prática. São Paulo: Pioneira,
1988.
SHINYASHIKI, R. O sucesso é ser feliz. São Paulo: Editora Gente, 2002.
SHINYASHIKI, R. Sem medo de vencer. São Paulo: Editora Gente, 1993.
SPOSITO, M. P. “Algumas reflexões sobre as relações entre juventude e escola
no Brasil” in Retratos da Juventude Brasileira: análises de uma Pesquisa Nacional,
Instituto Cidadania, Fundação Perseu Abramo, São Paulo, 2005.
TAVARES, M. C. Planejamento Estratégico: A Diferença entre Sucesso e
Fracasso Empresarial. São Paulo: Harbra, 1991.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes,
1998.
ZIBAS, D. M. L. A reforma do ensino médio nos anos de 1990: o parto da montanha e as novas perspectivas. São Paulo: Fundação Carlos Chagas (Textos F.C.C., n. 28), 2004.
ANEXO A
Autorização para realização da pesquisa na escola pública
ANEXO B
Autorização para realização da pesquisa na escola particular
ANEXO C
Modelo do questionário
Prezado (a) jovem
Estamos realizando uma pesquisa com jovens de 15 a 18 anos de idade, para
conhecer melhor suas idéias e expectativas.
Por isso estamos nos dirigindo a você e contamos com sua colaboração para
responder a este questionário.
Não existem respostas certas e erradas. Queremos apenas saber o que você
pensa e suas opiniões.
Como sua colaboração é muito importante, pedimos que responda às
questões da forma mais sincera e completa possível.
Seu anonimato será garantido.
Qualquer dúvida, pergunte ao aplicador.
Desde já agradecemos!
Questionário 1) Dados pessoais:
Nome:_________________________________________sexo:______________
Data de nascimento:___________________Idade:______Estado civil:________
Escola:______________________________série:______Período:___________
Local de nascimento (cidade):________________________________________
Há quanto tempo reside em Ibiúna:____________________________________
Endereço (rua e bairro):_____________________________________________
2) Dados dos pais:
Local de nascimento do pai:____________________da mãe:_______________
Idade do pai:________________________________da mãe:_______________
Grau de escolaridade do pai:___________________da mãe:_______________
Profissão do pai:_____________________________da mãe:______________
3) Outros dados:
Você mora com:
( ) seus pais ou familiares
( ) com esposo(a) e ou filhos
( ) com amigos
( ) sozinho
Qual a sua participação na vida econômica de sua família:
( ) minha família me sustenta
( ) minha família sustenta parte dos meus estudos
( ) sou responsável por meu sustento, não recebo nenhuma ajuda financeira
( ) além do meu próprio sustento, contribuo parcialmente para o sustento de minha família ou de outra pessoa.
( ) sou o principal responsável pelo sustento de minha família.
Você trabalha ou já trabalhou
( ) sim ( ) não
Se você trabalha ou já trabalhou, escreva o que faz ou o que fazia?
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Você tem algum incentivo em casa para: (marque mais de uma se for o caso)
( ) estudar
( ) ir á escola
( ) ler (livros, revistas etc.)
( ) fazer lição de casa ou trabalhos escolares
( ) não tenho incentivo
Quais os principais motivos pelos quais você frequenta a escola? (marque mais
de um se for o caso)
( ) aumentar seu conhecimento
( ) obter, no futuro, qualificação profissional
( ) conseguir melhorar de vida
( ) é importante para você
( ) é importante para sua família
( ) encontrar amigos
( ) outros motivos. Quais?_____________________________________________________________________________________________________________________________
Associação livre
Associação livre significa associar palavras umas às outras, bem
livremente.
Por exemplo, após a palavra boneca eu posso me lembrar de menina,
brinquedo, infância. Ou outras coisas. É bem livre e pessoal.
Agora é a sua vez. Depois de cada palavra que está escrita abaixo, escreva
mais três, que, em sua opinião, estão associadas.
SUCESSO:_________________, __________________, _________________
FRACASSO:________________, __________________, _________________
ANEXO D
Aprovação pelo Comitê de Ética do Centro Universitário FIEO.