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Constitucional II

1. Concepes de ordenamento jurdico

Uma ordem jurdica integra uma dimenso normativa, na medida em que no existe direito sem norma

-complexo de regras investidas de carcter coercitivo

-podem ser regras ou princpios

-so produzidas por rgos que actuam na base de competncias que so reconduzidas s funes do Estado

So diversas as correntes doutrinrias que procuraram ceptualizar a noo de ordem jurdica:

a) Institucionalismo

Na viso de Santi Romano, o ordenamento jurdico seria uma instituio que manifestaria um conjunto de caractersticas tais como:

-sendo a sociedade uma realidade antecedente em relao ao direito, ambos se influenciariam reciprocamente, sendo o ordenamento jurdico o produto dessa inter-conexo

-um ordenamento jurdico possuiria 3 elementos:

-a sociedade como factor humano que:

-implicaria a criao do direito

-seria o objecto do ordenamento

-a ordem social como realidade:

-constituda por um conjunto de valores fundamentais de incidncia jurdica

-seria o fim do ordenamento

-a organizao que integraria uma dimenso algo hbrida, constituda por um conjunto de elementos instrumentais (rgos, pessoas e normas), tendentes realizao da ordem social

-o Estado no absorveria o nico ordenamento jurdico

Aceitar-se-ia a teoria da pluralidade dos ordenamentos, constituindo o ordenamento estadual uma ordem de tipo principal

-a constituio era a norma superior no tendo carcter global, inserindo-se no 3elemento

Em suma, esta construo assentaria no seguinte silogismo: o Estado uma instituio, uma instituio um ordenamento jurdico, o Estado um ordenamento jurdico.

Crtica:

O pensamento institucionalista, tal como foi elaborado originalmente por Santi Romano, apresenta vulnerabilidades:

-a hipervalorizao da sociedade e da ordem social como componentes do ordenamento

-ausncia de uma sistematicidade que permita compreender a relao funcional entre as componentes do ordenamento e os elementos da vertente conformada pela componente organizao (rgos, pessoas, estruturas e normas)

b) Jusnaturalismo

Para esta corrente:

-tal como o homem que, embora feito semelhana de Deus, seria uma criatura imperfeita, tambm a lei natural constituiria uma reproduo imperfeita da lei divina que regeria o universo

-a lei humana, ditada por quem tem o poder, deveria ser conforme aos princpios da lei natural e como tal, sujeita ao propsito da virtude e do bem comum

Na idade mdia, -a Escola Clssica Espanhola desenvolveu o pensamento tomista considerando que a o direito natural s adquiriria sentido jurdico quando ajustado a circunstncias fcticas e temporais

Daqui resultando a inexistncia de um s direito natural valido para todas as comunidades e povos, mas sim o pontificado de vrios direitos naturais

-Locke subordinou a lei positiva a valores da pessoa humana e da cidadania, destruir tais valores equivaleria, para o homem, a destruir-se a si prprio

Trata-se, contudo, de um uso subtil do direito natural para a defesa de direitos individuais

Entre o final do sculo XIX e o incio do sculo XX reemergiram correntes neo-tomistas as quais tero tido uma importncia expressiva no contedo das encclicas papais, onde o direito natural reafirmado sobretudo a respeito dos direitos inatos da pessoa humana, nos quais se contaria a propriedade privada.

Volvido o perodo da 2GM e como reaco civilizacional aos crimes de guerra e aos crimes contra a humanidade praticados, registou-se no Continente Europeu uma revivescncia racionalista das doutrinas do direito natural de raiz crist destacando a existncia de um direito superior lei, de origem divina e por via da qual a justia do direito positivo seria medida e avaliada.

O Jusnaturalismo racionalista de raiz crist foi concebido como um dever ser do direito, centrado nos seguintes postulados:

-reconhecimento da razo teolgica como fundamento do direito natural

-princpios e regras do direito natural como logros da razo humana e comum e recolhidos a partir da percepo dos valores ticos da humanidade

-universalizao dos princpios de conduta humana, sem prejuzo do reconhecimento de diferenas culturais e religiosas

-inexistncia de constituies axiologicamente neutras

-de entre os valores constitucionais prevalecentes estaria a dignidade da pessoa humana

-a prevalncia do valor da pessoa humana predicaria a existncia de um Estado de Direitos Humanos servido por 4 princpios centrais:

-a inviolabilidade da vida humana

-o livre desenvolvimento da personalidade

-a vinculao da investigao cientfica ao servio do homem

-a solidariedade

-a constituio seria um complexo normativo aberto a influxos externos e a uma normatividade informal ditada pelo costume e pela prtica constitucional, o que envolveria uma abertura e um pluralismo interpretativo das suas regras e princpios

Crtica:

Reparos:

-o primeiro consiste no facto de no lograr demonstrar os pressupostos da sua construo, os quais consistem em provar a existncia de um direito natural que opere como parmetro de validade do direito decidido

-em segundo lugar, sempre entendemos que, num Estado soberano, as normas que integram a hierarquia superior de um ordenamento so produto de uma deciso soberana fundamental imputada directa ou indirectamente ao povo, a qual no pode ser juridicamente limitada por outras normas jurdicas

Pretender-se que existam regras de direito natural, de fundamento religioso, acima das constituies pressuporia:

-uma pr-compreenso teolgica do direito, dificilmente aceitvel numa sociedade democrtica laica, onde a constituio consagra a separao entre as igrejas e o estado

-uma inaceitvel confuso entre moral e direito que so realidades autnomas geradas por fontes distintas

-em terceiro lugar, o facto de no existirem constituies axiologicamente neutras constitui uma evidncia, na medida em que toda a constituio ao regular o estatuto do poder e da sociedade de um Estado exprime uma opo politica ou ideolgica sobre o modelo de regime, de sistema de governo e de organizao social

c) Constitucionalismo moralmente reflexo

Emergiu no perodo subsequente reafirmao do Jusnaturalismo do ps-guerra, no universo anglo-americano e germnico uma corrente suprapositivista de recorte mais laico, o constitucionalismo moralmente reflexo:

-faz radicar a validade do direito positivo num conjunto de valores ticos e sociais imanentes ordem jurdica

Nos EUA, Dworkin um dos defensores mais marcantes da ligao entre a moral e o direito entendendo que:

-a constituio consiste numa ordem natural de valores radicada em ideias de justia

pelo que os operadores jurdicos estariam vinculados a interpretar e aplicar as normas da Lei Fundamental de acordo com os cnones de essncia moral

Tal corrente assenta nos seguintes postulados:

-a ordem jurdica repousaria em princpios jus-fundamentais plasmados na constituio que, tendo por base as noes de justia material e de dignidade humana, operariam como parmetros da validade das normas e da sua aplicao jurisdicional

-entre os princpios destacar-se-iam a dignidade da pessoa humana, a justia material, a tolerncia, o pluralismo, a liberdade, a verdade e a integrao da diversidade

-as antinomias concretas entre normas jurdicas positivistas seriam resolvidas pelo poder judicial, com recurso a princpios jurdicos como os descritos

-a constituio seria um complexo de princpios e regras abertas, em contnuo desenvolvimento, submetidas a uma pluralidade de intrpretes

-a norma seria direito interpretado

-a jurisprudncia constitucional assumir-se-ia como fonte inquestionvel do direito, condicionando o sentido da norma jurdica positiva e a respectiva evoluo

d) O neo-constitucionalismo

Trata-se de uma corrente doutrinal guiada pela pretenso de:

-criar uma nova Teoria da Constituio

-com ela conceber um novo paradigma de interpretao constitucional em matria de direitos fundamentais e de separao de poderes

Seria uma nova forma de conceber a teoria do direito, a teoria do Estado e a teoria da Constituio o qual predicaria um reencontro entre a tica e o direito atravs do imprio dos princpios constitucionais.

A sua fora teve um forte projecto no universo latino-americano, com forte adeso no Brasil e no sistema mexicano e colombiano.

Traos dominantes:

-a constituio omnipresente (tudo pode ser constitucionalizado, no havendo espaos isentos de regulao) e assume uma funo dirigente

-a constituio dirigente uma constituio aberta de recorte principolgico, em que valores extra-juridicos de recorte moral presos noo de justia e dignidade humana passam a incorporar o sistema normativo

-a norma jurdica seria direito interpretado

-a jurisprudncia se assumiria como fonte transformadora do direito, condicionando o sentido da norma

-a comunidade aberta de intrpretes da constituio exerceriam:

-uma funo fiscalizadora de ordem negativa

-um controlo positivo de todo o direito ordinrio que no garanta uma efetivao mxima dos direitos fundamentais

-o valor principal da dignidade humana ancoraria a funo dominante da constituio contempornea como magma carta desses direitos

-haveria que reconhecer a existncia de uma unidade dogmtica entre todos os direitos fundamentais: assim, direitos civis e polticos e direitos sociais deveriam ter idntico valor

e) Correntes positivistas

O positivismo:

-consiste numa concepo descritiva da realidade jurdica conformada pelo direito decidido

-radicada num mtodo analtico e conceptual de base cientifica no comprometido com influxos ideolgicos, moralistas ou filosficos

-pretende construir uma teoria geral do direito

1. O positivismo normativo originrio

-a construo cientfica do positivismo normativo foi feita pela Escola de Viena nos alvores do sculo XIX da qua foi expoente Kelsen

defendeu por uma ideia de ordem jurdica por ele definida como um sistema articulado de normas

-foi configurado geometricamente na imagem de uma pirmide truncada em patamares normativos, hierarquicamente dispostos do topo base

Linhas gerais:

-a ordem jurdica constituiria um sistema de normas, hierarquicamente ordenadas e cujo elemento de unidade e justificao seria dado por uma norma hipottica fundamental pressuposta

-ao fazer assentar na norma hipottica, o fundamento da ordem jurdica, Kelsen procurou criar uma Cincia Jurdica afastada da moral, estas teriam o fundamento da respectiva validade noutras normas

-a validade-legitimidade de cada uma das normas derivaria de a sua criao ter sido concebida no respeito das regras de produo fixadas numa ordem imediatamente anterior e superior, o que levaria o direito a regular a sua prpria criao

-cada escalo normativo assumir-se-ia simultaneamente como consequncia e instrumento de aplicao de uma norma imediatamente superior e fundamento de produo jurdica de oura norma imediatamente inferior

-no que respeita ao Estado, adoptou-se uma posio monista, defendendo a existncia de um s ordenamento jurdico, caracterizado pelo seu carcter originrio

2. Positivismo normativo exclusivo

-advoga uma excluso absoluta de qualquer relao de dependncia do direito em relao moral

-destacam-se autores como Merkl, Hart e Raz

-procura corrigir o dfice positivista de Kelsen quanto norma de reconhecimento:

-a existncia e o contedo das normas jurdicas dependem dos factos sociais

-os juzes possuem discricionariedade para decidir no caso concreto, sem prejuzo de, nas restantes situaes, o significado da norma possa ser delimitado pelas regras prprias da linguagem ordinria e pelas razoes jurdicas, as quais constituram um limite latitude da interpretao das normas pelo judicirio

-quando uma norma condiciona um comando jurdico a uma medida de valor extrajurdico ela convoca um conceito externo ao sistema jurdico que dever ser apreciado pelo juiz para solucionar o problema, sem que tal facto torne o direito tributrio da moral ou determine a incorporao da moral no direito

-uma deciso de um juiz contrria aos standards morais poder ser injusta mas no ser por esse facto, invlida ou inconstitucional

3. Positivismo normativo inclusivo ou integrador

Foi a partir de Hart que o positivismo passou a aceitar, limitadamente, a ideia que que a validade do sistema jurdico poderia assentar em:

-elementos de ordem fctica (normas e factos sociais)

-princpios de justia e valores de ordem moral

entendeu que da norma superior de reconhecimento do sistema jurdico poderiam constar valores ticos

De forma sintetizada:

-a existncia e contedo das normas jurdicas depende de um conjunto de factos sociais que podem rever-se, a ttulo eventual, em cnones de ordem moral

-se uma regra superior de reconhecimento fundada na factualidade social, vier a declarar que a moral constitui uma condio de validade de outras normas, ento aquela passaria a assumir carcter vinculante e a interpretao da norma poderia vir a ser feita com base em princpios e cnones extrajurdicos, prprios da moral

-nos casos no regidos pelo direito onde se imponha uma tomada de deciso, os juzes teriam podes discricionrio em casos muito concretos para solucionar as controvrsias, podendo convocar para o efeito medidas de valor extra-jurdicas

Nem todos os expoentes do positivismo inclusivo so to claros quando ao papel interpretativo do juiz, cumprindo destacar a existncia de uma sensibilidade positivista que aceita a existncia na constituio de princpios normativos radicados em bens objectivos de raiz tica ou filosfica.

Em suma, trata-se de um positivismo inclusivo de valores tico-filosficos, desde que estes figurem de forma objectiva na constituio e lhes seja conferida consequente juridicidade.

Crtica ao positivismo normativo:

Objeces:

-ao reconduzir o ordenamento a um sistema de normas, essa construo desvaloriza uma importante componente desse ordenamento, composta pelo ncleo dirigente do processo de deciso do Estado de direito, ou seja, pelo conjunto de autoridades competentes para produzir, aplicar e fiscalizar a validade dessas normas

-uma construo positivista s pode, coerentemente, fazer radicar o fundamento do sistema normativo numa norma positiva ou de direito decidido e no numa norma pressuposta

-a pirmide normativa de Kelsen no se ajusta verdadeira natureza das funes do Estado previstas nas constituies

f) Decisionismo

Foi projectada por Carl Schmitt fundada na noo de soberania.

Considera que o ultimo fundamento de validade do direito se funda num acto de vontade, numa deciso soberana fundamental que assumiria o carcter de uma fora ordenadora

trata-se de um positivismo existencialista

Revela uma aproximao ao institucionalismo de Santi Romano, considerando que o direito antes de ser norma uma organizao, uma estrutura ou uma instituio, devendo esta preceder a norma

Critica o positivismo normativo que reduziria o ordenamento a uma soma de regras legais, dado que as normas no existiriam por si prprias, pois seriam produto de decises de poder.

As normas no criariam o ordenamento mas seriam, apenas, uma componente do mesmo ordenamento pelo que este, no seria apenas norma, mas tambm autoridade soberana.

Schmitt:

-coloca na deciso poltica constituinte a fonte de todo o sistema normativo: uma constituio no pode fundar-se numa norma-pressuposta de natureza costumeira dado que o que legitima o povo a tomar uma deciso fundamental constituinte a realidade factual e no uma norma que nem sequer existe nesse exacto momento

-no questiona a tese da hierarquia normativa piramidal da Escola de Viena, estabelecida a partir da lei constitucional em relao s restantes normas positivas

Pressupostos:

-o direito era deciso, resultando de um acto de vontade

-a unidade existencial pressuposta que representa o povo no poderia ser definida como uma deciso, constituindo antes uma unidade orgnica da qual brotaria o Estado

-o Estado, como unidade politica, reclamaria uma constituio sem a qual o mesmo no poderia ter existncia poltica e jurdica

-o fundamento da constituio no repousaria numa normas, mas no poder de deciso soberano

-o poder constituinte e a constituio so dificilmente separveis

-o titular do poder constituinte seria o povo soberano

-a constituio conformaria uma ordem poltica e jurdica de domnio derivada do poder constituinte como deciso fundamental soberana, omnipotente e garante da unidade poltica estadual

-valorizao da componente voluntarista da criao de direito atravs:

-de decises tomadas num quadro de normalidade

-de decises tomadas num quadro excepcional

Crtica:

Reparos:

-excesso de voluntarismo inerente sua concepo de ordenamento jurdico a qual subsidiariza a norma

-superlativismo na sua concepo de soberania como fonte poltica do ordenamento

-enfoque desproporcionado dado pureza e omnipotncia do poder constituinte em contraponto desvalorizao que confere ao importante papel transformador e integrativo da diversidade pluralista

g) Concepo adoptada

Um positivismo sistmico, existencialista e inclusivo

O ordenamento jurdico um sistema geral composto por um sistema de decises jurdicas e um sistema de decisores, articulados em torno de exigncias de unidade, coerncia, vocao e relao de pertena.

2. A Teoria da lei

a) Reserva da lei

A noo de reserva geral de lei implica:

-uma prioridade exclusiva de regulao de determinadas matrias pela lei ordinria

-a supremacia da lei sobre outros actos normativos internos que lhe confiram concretizao e execuo, a qual resulta da superioridade hierrquica dos actos legislativos sobre os actos das funes secundrias

Funda-se no princpio da separao de poderes (111 n1)

1. Quanto ao rgo

3 sub-tipos de reservas especficas:

-reserva de lei geral e abstracta (18 n3)

-reserva da lei de contedo geral: respeita s leis de base (112 n2)

-reserva de lei de contedo necessariamente no retroactivo (18 n3, 29 n2 e 103 n3)

2. Quanto ao rgo

Haver que considerar:

-a reserva absoluta de competncia legislativa da AR

-a reserva relativa da AR (165): composta por matrias relativamente s quais a AR o rgo normalmente competente para legislar, sem prejuzo de poder livremente autorizar o Governo e as assembleias regionais a legislar sobre as mesmas

-a reserva exclusiva de competncia legislativa do Governo (198 n2)

-reservas exclusivas de competncia legislativa das regies autnomas (227 n1)

Em algumas das matrias referidas na reserva absoluta e relativa de competncias da AR, haver a distinguir:

-reservas de densificao total: abrange toda a extenso da matria listada

-domnios reservados: apenas uma parcela de uma matria disciplinada por lei do rgo titular da reserva

3. Quanto natureza do acto legislativo

Fala-se em:

-reserva de lei comum: reporta-se a leis aprovadas por maioria simples que esgotam as matrias englobadas na reserva absoluta ou relativa do Parlamento

-reservas de lei reforada pela sua parametricidade material: caso das bases integradas na reserva absoluta ou relativa do Parlamento, as quais so regidas por leis de contedo subordinante ao de outras

-reservas de lei reforada pelo procedimento: caso das leis orgnicas integradas na reserva absoluta de competncia da AR mas aprovadas mediante um procedimento legislativo mais exigente que o comum, o qual aumenta a sua rigidez

b) A tipicidade da lei

Lei: acto jurdico definido:

-pelo seu contedo poltico

-pela sua fora (112 n5)

-pela sua forma (112 n1)

A tipicidade implica que a lei seja reconhecida, com base num conjunto de caractersticas estruturais entre os demais actos jurdico-pblico.

Do princpio da tipicidade de lei decorre que:

- na constituio que reside a verdadeira fonte de lei

-a lei no pode ser objecto de interpretao, integrao, modificao, suspenso e revogao com eficcia externa por actos no legislativos

-nenhuma lei pode criar outras formas e categorias de actos legislativos: s a constituio ttulo habilitante para o efeito

-certos tipos de deslegalizao devem ter-se como manifestamente proibidos

-consiste numa operao determinada pela lei, atravs da qual esta confere natureza regulamentar a normas que, precedentemente revestiam forma e valor legal

-existem formas de deslegalizao inconstitucionais:

-o caso de leis que desgraduam alguns dos seus preceitos ou preceitos de outras leis, conferindo-lhes natureza regulamentar

-o caso em que a lei rebaixa alguns dos seus preceitos, ao permitir sem mais a sua revogao ou modificao por normas regulamentares

O n1 do art. 112 enuncia as trs formas especficas de lei ordinria:

-lei

-decreto-lei

-decreto legislativo regional

Trata-se de uma enumerao taxativa

3. Relaes entre categorias de leis

a) Critrios estruturantes das relaes inter-legislativas

A operatividade dos actos legislativos guiada por princpios ou critrios dogmticos de ordem lgica e teleolgica, destinados a solucionar eventuais antinomias entre as diversas categorias legais.

Os princpios:

-lgicos:

-emergem em qualquer ordenamento democrtico-pluralista

-so condies imanentes da sua coerncia, unidade e vocao de completude

-teleolgicos:

-resultam de uma opo especfica de programao de poltica constitucional para a estruturao das relaes entre leis num Estado concreto (variando a sua incidncia de ordenamento para ordenamento)

-a sua consagrao depende:

-da arquitectura do sistema poltico de governo

-da diviso de tarefas entre rgos e do modelo de organizao territorial

1. Critrios lgicos

a. Critrio da cronologia

-faz preferir a vontade de legitimidade poltica mais recente, relativamente vontade mais antiga

-pressupe que a actividade legislativa seja exercida contnua e adaptativamente, prevenindo contradies suscetpveis de serem geradas por leis incidentes sobre a mesma situao de facto, em tempos diferentes

Pressupostos da aplicao do princpio:

-sucesso cronolgica entre duas leis

-existncia de um contedo isomrfico (identidade de fim) e isomtrico (identidade de mbito de aplicao) das duas leis em tenso

-existncia de uma inteno revogatria expressa da lei mais recente ou uma contradio entre o contedo das duas leis, a qual propicia uma revogao tcita

b. Princpio da especialidade

-reza que quando duas leis de densidade ou extenso distinta regularem de modo diverso a mesma situao, o ordenamento concede prevalncia previso menos ampla (lei especial) sobre a mais ampla (lei geral)

-a lei geral menos densa, detalhada ou pormenorizada do que a outra lei que dispe sobre aspectos parcelares ou particularizantes da mesma realidade

-a lei geral ter agregada s si comandos jurdicos portadores de uma maior generalidade (pluralidade de destinatrios) e abstrao (multiplicidade de situaes jurdicas regulveis)

O critrio da especialidade prevalece a ttulo relativo sobre o princpio cronolgico, mas cede perante um confronto com qualquer dos critrios teleolgicos.

2. Critrios teleolgicos

a. Princpio da hierarquia

-supe uma estrutura escalonada entre leis, no mbito da qual as de escalo superior prevalecem sobre as de escalo ou grau inferior

-a hierarquia formal:

-traduz-se na aptido de uma lei, reconhecida pelo ordenamento como detendo um grau superior, em poder revogar ou condicionar a validade de outra ou de outras leis de grau inferior, sem que o inverso possa suceder

-a hierarquia material:

-trata-se da faculdade detida por certas leis-sujeito de natureza subordinante em poderem vincular o contedo de outras leis que com elas devam coexistir numa posio subordinada

b. Princpio da competncia

-justifica a atribuio a um determinado rgo, com eventual excluso dos demais, do poder de editar actos legislativos em relao a uma matria e num espao territorial determinado e num prazo devido

-pressupe uma separao de rgos, de categorias legais, de esferas materiais e de domnios territoriais e tempos de vigncia

-os seus fundamentos constitucionais repousam no princpio da separao de poderes

Quando a um rgo atribuda competncia legislativa:

-ele deve esgotar essa reserva, sendo-lhe interdito limitar-se a enunciados incompletos, indeterminados ou imprecisos que pressuponham que outro rgo venha completar esses enunciado

As autorizaes legislativas de um rgo a outro dependem de uma expressa habilitao constitucional

Tal exclui fenmenos de substituio ou devoluo de poderes legislativos entre rgos constitucionais, no autorizados pela Lei Fundamental.

Assim, no caso de o Governo ser beneficirio de uma autorizao legislativa da AR no pode o mesmo subdelegar o poder de legislar sobre essa matria nas assembleias legislativas regionais. To pouco pode a AR renunciar s suas competncias legislativas, transferindo-os para outros rgos.

Se as normas constitucionais de competncias legislativas a um rgo forem objecto de reviso constitucional, tal facto no afectar a validade das leis produzidas ao abrigo do direito constitucional antigo, valendo o efeito da reviso apenas para o futuro:

-assim, se uma reviso retirar ao Governo a competncia legislativa sobre uma matria, os decretos-leis produzidos at data da entrada em vigor da lei de reviso sero conformes constituio

c. Princpio do procedimento agravado

-justifica o regime jurdico traduzido por uma maior rigidez ou fora passiva libertada por certas leis ordinrias, como consequncia da associao entre uma reserva de competncia exclusiva de acto legislativo e um caminho de produo especializado e agravado que a constituio determina para o mesmo acto

3. Cmulo, coliso e preferncia de critrios

O critrio da competncia afigura-se como o princpio estruturante mais forte, limitando a incidncia dos demais (nenhuma norma pode incidir em matrias de reserva, formal ou orgnica, de natureza alheia)

O critrio hierrquico:

-prevalece sobre os critrios lgicos

-completa o critrio da competncia

-pode combinar-se com o critrio de procedimento agravado

O critrio do procedimento agravado:

-promove relaes de separao entre categorias legais

- um critrio complementar em relao aos princpios da hierarquia e da competncia

Os critrios lgicos:

-revestem natureza supletiva em face dos teleolgicos, ocupando o critrio cronolgico a ltima posio na cadeia

4. Categorias de actos legislativos

Os actos legislativos devem definir-se como todos aqueles:

-cujo procedimento formativo corresponda ao itinerrio geral de produo ordinria fixado na constituio

-cujos normas se encontrem investidas numa hierarquia comum

b) As leis de valor reforado

-so todas as normas legais que, nos termos da constituio, se devam fazer respeitar, passiva ou activamente, por outros actos legislativos, sob pena de ilegalidade destes ltimos

Critrios de identificao das leis reforadas:

-2 procedimentais:

-so leis reforadas as leis orgnicas e as leis aprovadas por maioria de 2/3

-material da parametricidade pressuposta:

-por via interpretativa so identificadas como reforas as leis que sejam pressuposta normativo necessrio de outras (leis de base, de autorizao legislativa e de enquadramento)

-residual da imposio activa e passiva de respeito:

-permite atribuir valor reforado a leis:

-que devam fazer-se respeitar nos termos constitucionais por certos actos legislativos que venham a ser emitidos (leis de base e de enquadramento do universo concorrencial)

-duplamente reforadas

Os 4 critrios operativos acabaram por se reconduzir a dois critrios centrais (112 n3):

-atribuio de valor reforado a leis que, em razo do seu procedimento especial e agravado, ostentam uma maior rigidez ou fora passiva do que a legislao comum

-atribuio de valor reforado s leis que sejam parmetro material de outras, seja por constiturem seu pressuposto necessrio, seja porque devam ser respeitadas pelas segundas

Leis reforadas:

-em sentido prprio: correspondem s leis ordinrias rigidificadas pelo procedimento (leis orgnicas e leis aprovadas por 2/3)

-em sentido imprprio: so os actos legislativos materialmente paramtricos (leis de base, de enquadramento e de autorizao legislativa)

As leis duplamente reforadas cumulam os predicados das duas categorias anteriores.

c) As leis orgnicas

- a nica categoria unitria de lei reforada cujo valor foi expressamente reconhecido pela constituio

-abarcam os seguintes domnios:

-matrias poltico-institucionais de mbito nacional

-disciplina de direitos fundamentais de natureza poltica

-matrias relativas autonomia territorial, as quais se podem decompor em domnios de natureza eleitoral, financeira e organizativa

-requisitos formais:

-o modo de revelao traduz-se pela necessria justaposio de uma legenda ou ttulo privativo lei orgnica no acto legislativo

-aprovao, em votao final global, por maioria absoluta dos deputados em efectividade de funes (168 n5)

-a votao na especialidade processa-se mediante aprovao das normas por maioria simples (116 n3), excepto:

-148, 149, 239 n3: aprovao em Plenrio por maioria de 2/3

-255: aprovao pela maioria absoluta dos deputados efectivos

d) As leis de base

-consistem numa categoria legal que contm princpios e diretrizes genricas, designados de bases gerais

-traam as opes polticas primrias e fundamentais de um determinado regime jurdico, cuja disciplina carece ser desenvolvida e concretizada por legislao subordinada de carcter comum

Competncia para a respectiva aprovao:

-tanto a AR, como o Governo, como as assembleias legislativas regionais

-a AR dispe da faculdade de emitir leis de base no mbito:

-de duas matrias da sua reserva absoluta (164 d) e i))

-da sua reserva relativa (165 f), g), n), t), u) e z))

-da sua competncia concorrncia alternada com o Governo e concorrncia paralela com as Assembleias Legislativas das Regies Autnomas (161 c))

-o Governo pode aprovar decretos-leis de base:

-mediante uma autorizao legislativa, na esfera da reserva relativa da AR (198 n1 b) e 165 n1)

-no mbito da concorrncia alternada com a AR e concorrncia paralela com as assembleias legislativas regionais

-as Assembleias Legislativas Regionais podem aprovar mediante autorizao legislativa, decretos legislativos regionais de bases nas matrias respeitantes a bases gerais previstas na reserva relativa da AR

1. Categorias de leis de bases e respectivo regime

Duas categorias de leis de bases:

-as bases gerais editadas ao abrigo das competncias concorrenciais entre o Governo e a AR

-as bases que integram a reserva de competncia da AR

a. As bases gerais reservadas AR

-podem as mesmas ser aprovadas exclusivamente pela AR ou pelo Governo e, em certas matrias, pelas assembleias legislativas das regies autnomas, se a AR aprovar para os devidos efeitos uma lei de autorizao legislativa

Predicados:

-os rgos que dispem de competncia para as desenvolver no podem proceder a essa densificao seno atravs de acto legislativo: ser inconstitucional o desenvolvimento de princpios e de bases geras dos regimes jurdicos mediante regulamento administrativo

-vigorando uma lei de bases respeitante reserva parlamentar, o Governo e as assembleias legislativas das regies devem necessariamente respeit-la

b. As bases da esfera concorrencial

-os actos legislativos de bases da esfera concorrencial podem ser editados por estes dois rgos, ao abrigo das normas que fundamentam as respectivas competncias concorrentes, o que supe a possibilidade de leis e decretos-leis com esta natureza se poderem revogar, derrogar ou suspender reciprocamente

No que respeita ao poder legislativo do Governo importa diferenciar dois cenrios:

-se um decreto-lei, facultativamente invocar uma lei de bases como seu parmetro normativo de referncia deve subordinar-se aos seus princpios e directrizes (112 n2)

ocorrendo um fenmeno de autovinculao normativa, decorre a ilegalidade do decreto-lei que no respeite essa relao subordinante (112 n 2 e 3)

A lei de bases da rea concorrencial uma lei de valor reforado enfraquecida, na medida em que no se contra protegida por uma reserva de competncia parlamentar

2. Em que consistem e no consistem as bases gerais

No sero bases gerias:

-as disposies normativas cuja densidade no consista uma efectiva liberdade conformadora de legislador complementar para criar regimes jurdicos portadores de opes polticas fixadas em normao legal sub-primria: as normas com uma especificao quase total no podem ser tidas como bases

-normas que apenas consintam a edio de leis-medida

-normas gerais que produzam eficcia intersubjetiva nos seus destinatrios sem carecerem de uma norma legal de imediao

-normas legais que procedam a meras remisses de regime para outras leis

-os decretos-leis cuja emisso invocada ao abrigo da alnea c) do n1 do 198

3. Vicissitudes inerentes relao de dependncia entre as bases gerais e a respectiva legislao complementar

Quatro questes:

1. A faculdade de uma lei de bases poder, ou no, revogar legislao complementar

-o papel constitucional das leis de bases no o de revogar legislao complementar mas de coexistir com esta, num quadro de prevalncia material

-se uma lei de bases nova revogar substitutivamente ou alterar uma lei de bases precedente:

-na esfera concorrencial uma lei de bases oriunda, de um ou de outro rgo, pode revogar:

-a legislao que subsistia antes mesmo de existirem bases gerais sobre a matria

-leis complementares da lei de bases revogadas

-no campo das bases de reserva absoluta da AR:

-a hierarquia material das bases gerais est delimitada pela natureza substancial do seu poder de vinculao e pelo seu objecto, no sendo acompanhada por uma hierarquia formal

2. Os efeitos que a revogao de uma lei de bases pode ter na subsistncia da legislao complementar

-se uma lei de bases em vigor vier a ser revogada sem substituio, ser que a sua cessao de vigncia determina a caducidade dos diplomas legais que a complementavam?

-considera-se que essa caducidade no tem lugar: o acto desenvolvido no faz depender a sua vigncia da subsistncia da mesma lei-parmetro

Do 112 n2 decorre uma relao de subordinao material entre lei-sujeito e lei-objecto que impe que o contedo do diploma de desenvolvimento se subordine ao contedo da lei parmetro

mas no emerge uma relao de dependncia formal que determine necessariamente a caducidade da lei objecto se a lei sujeito for revogada, com ou sem substituio e a nova lei de bases no contiver uma clusula revogatria da legislao complementar

3. As consequncias de alteraes introduzidas numa lei de bases na correspondente legislao complementar

-as alteraes no determinam a caducidade das normas legais de desenvolvimento, mas obrigam alterao destas ltimas de forma a assegurar a conformidade com os parmetros objecto de modificao, sob pena de ilegalidade superveniente

4. O impacto jurdico da no edio de leis de bases da reversa parlamentar

e) As leis de enquadramento

Os actos legislativos de enquadramento ou leis-quadro no se encontram definidos na Constituio Portuguesa.

Considera-se que as leis-quadro:

-so actos legislativos paramtricos de outras leis

-estabelecem vnculos normativos de densidade varivel s normas legais que as desenvolvem ou concretizem e fixem regras procedimentais que dispem sobre aspectos da produo das segundas

-so normas primrias sobre:

-a normao que projectam vnculos de ordem material

-legislao de contedo mais detalhado que por elas pressuposta

-encontram-se investidas numa supremacia hierrquica material

-so leis de parametricidade varivel, na medida em que podem ser idnticas s leis de bases quando fixam princpios e directrizes gerais ao contedo de outras leis

Competncia para a sua edio:

-integram a reserva da competncia da AR

-o facto que, na constituio figuram menes avulsas a leis-quadro relativas a matrias da reserva relativa do Parlamento (ex: 293)

entende-se que o ordenamento admite a existncia de leis-quadro no mbito das matrias reservadas AR e na esfera concorrencial entre este rgo e o Governo

No hemisfrio concorrencial:

-os dois rgos podem em tese proceder edio de bases e proceder, reciprocamente, ao respectivo desenvolvimento, densificao e revogao

A revogao substitutiva de uma lei-quadro no tem como efeito a caducidade da legislao dela dependente

em regra, a substituio de uma lei-quadro por outra ou alteraes nas normas de enquadramento, impem modificaes nos diplomas legais delas dependentes, sob pena de ilegalidade superveniente dos segundos

f) As leis de autorizao legislativa

Nos termos do 165 b) e 227 n2 a AR podem conferir autorizaes legislativas ao Governo e, sobre algumas matrias, s assembleias legislativas regionais

Considera-se que estas assumem a natureza jurdica de uma delegao de poderes, j que supem:

-uma norma habilitante que permite a um rgo normalmente competente autorizar um rgo eventualmente competente a exercer poderes pblicos sobre as matrias atribudas competncia do primeiro

-a faculdade de o rgo normalmente competente podes condicionar o exerccio de poderes cometidos ao rgo eventualmente competente

-a susceptibilidade de o rgo normalmente competente recuperar a todo o tempo, os poderes condicionalmente atribudos ao rgo eventualmente competente

1. O contedo necessrio da lei de autorizao

-no uma lei puramente formal, mas uma lei-parmetro de outros actos legislativos que projecta nestes, o seu contedo normativo subordinante, dado que de acordo com o 165 n2, deve definir:

-o objecto

-o sentido: quando violado existe uma ilegalidade (o tribunal tem visto como uma inconstitucionalidade orgnica)

-a extenso: delimitao do objecto (que domnios desta matria so objecto de autorizao)

-a durao da autorizao: perodo para usar a autorizao, findado o perodo j no pode legislar sobre essa matria

O contedo da lei de autorizao necessariamente incompleto: no podendo regular directamente as situaes da vida, mas operar apenas atravs da legislao delegada

A tenso entre lei de autorizao e decreto-lei ou decreto legislativo regional autorizado regulada pelos princpios da:

-competncia:

-a lei de autorizao delimita o mbito das matrias onde o rgo delegado pode fazer incidir a sua legislao subordinada

-hierarquia material:

-a primeira lei pode fixar directrizes, mais ou menos densas ao contedo do diploma autorizado, as quais este deve acatar sob pena de invalidade

Se o decreto-lei autorizado no observar o sentido da autorizao estar a violar vnculos materiais de subordinao e, como tal o princpio da hierarquia substancial inerente s leis de autorizao (112 n2)

Se o acto legislativo:

-ultrapassar o objecto e a extenso da mesma autorizao, lesar o princpio da competncia, pois praticar uma invaso indevida num domnio de uma matria reservada a outro rgo, pelo facto de a matria regulada no se encontrar coberta pela lei de autorizao que circunscreveu o mbito material onde o rgo delegado poderia legislar

-no observar os limites temporais registar-se- uma inconstitucionalidade orgnica, pois o rgo delegado legislar sem cobertura habilitante, sobre uma matria de reserva alheia que se encontrava vedada depois de transcorrido um determinado prazo

a. O contedo mnimo

O ordenamento no admite:

-autorizaes legislativas em branco, isto significa que uma lei de autorizao, para que possa ser tida com o conforme do 165 n2 no pode esgotar-se na enunciao de uma matria

-autorizaes implcitas, j que a vontade de autorizar ter de se encontrar semanticamente presente num enunciado normativo que se reporte de forma perceptvel

2. Cessao da autorizao legislativa e outras vicissitudes

a. Caducidade

A autorizao cessa:

-por virtude do termo do prazo fixado para a sua utilizao

-em razo de vicissitudes que afectem os rgos normal e eventualmente competente

Se os decretos-lei autorizados no forem aprovados, promulgados e referendados dentro do prazo-limite para a sua utilizao, alei de autorizao caduca por decurso do prazo no podendo mais ser utilizada.

b. Revogaes

A AR pode fazer cessar a autorizao legislativa revogando a lei delegante antes da sua utilizao, ou seja, antes de emitido um acto legislativo autorizado que esgote.

J a revogao da lei de autorizao, em perodo posterior sua utilizao, no produz qualquer efeito na vigncia do diploma autorizado, dado que a competente autorizativa da primeira lei j tinha cessado com a referida utilizao.

Se a AR aprovar uma lei sobre o objecto da autorizao, antes desta ter sido autorizada, entende-se que revogou tacitamente a lei delegante, salvo se tiver atribudo primeira lei uma vigncia transitria.

A AR pode revogar o diploma autorizado, da mesma forma em que pode fazer cessar a sua vigncia

esta revogao implica o termo da autorizao, salvo se o diploma revogado incidir apenas sobre uma parcela do objecto da delegao

5. A actividade legislativa dos rgos constitucionais da repblica

a) A actividade legislativa da Assembleia da Repblica

1. O primado da assembleia no exerccio da actividade legislativa

A noo de primado envolve o reconhecimento da supremacia do poder parlamentar de entre os rgos titulares da funo legislativa, a qual supe que o ncleo fundamental da mesma actividade seja cometido ao seu domnio decisrio, dele decorrendo:

-uma reserva de competncia que abarca as matrias mais essenciais

-a faculdade de legislar sobre as restantes matrias

-a aptido para condicionar e controlar o exerccio dessa actividade pelos restantes rgos

O primado legislativo parlamentar no sinnimo de centralidade legislativa, noo que envolve a faculdade de produzir e conceber o maior nmero de leis por parte de um rgo titular da funo legislativa

Em Portugal, essa centralidade radica no Governo que quantitativamente o principal legislador

2. Tipologia das competncias legislativas

A Assembleia pode exercer 2 tipos de competncia legislativa:

-genrica:

-161 c): faculdade de poder legislar sobre todas as matrias, excepto as reservadas pela Constituio ao Governo

-supe a faculdade de o Parlamento legislar para todo o territrio ou para parte dele, sendo certo que, no mbito regional, a legislao autonmica tem preferncia aplicativa sobre as leis da AR que incidem sobre a chamada esfera concorrencial paralela

-reservada:

-absoluta:

-supe a faculdade exclusiva de a AR legislar sobre um conjunto de matrias, com a excluso total dos demais rgos legislativos

-relativa:

-integra matrias, relativamente s quais o Parlamento pode legislar a todo tempo, independentemente de, a pedido do Governo ou das assembleias legislativas regionais, conceder a estes rgos uma autorizao legislativa

3. A densidade reguladora

-nvel de concretizao ou pormenorizao normativa que comporta o contedo de uma dada lei, aferido em termos do grau de generalidade e abstrao das suas regras

Leis que:

-fixam uma disciplina primria com normas de grande generalidade e abstrao tm um baixo grau de densidade reguladora

-editam regimes pormenorizados e disciplinas especiais de objectivo detalhe ostentam um elevado grau, em termos de densidade reguladora

Reserva de densificao total:

-a lei parlamentar ter de consumir a integridade do respectivo mbito, no podendo reparti-lo com decretos-leis e decretos legislativos regionais

-nvel integral de uma reserva:

-164 a) b) c) h) j)

-este nvel implica 2 requisitos:

-que toda a dimenso inovadora de uma disciplina normativa que recai sobre uma matria tenha de ser consumida por lei

-que a lei em considerao seja, necessariamente, um acto legislativo da AR

-no admitida a emisso de leis de bases ou de enquadramento, leis de autorizao legislativa e reservas de regimes gerais: sero organicamente inconstitucionais actos legislativos de rgos que regulem parcelas destas matrias que no assumam o contedo intrinsecamente administrativo

-nvel relativo:

-165 n1 a) b) o)

-situao em que lei parlamentar ou acto legislativo governamental ou regional autorizados pelo Parlamento devem, igualmente, consumir ou esgotar toda a dimenso primria ou inovadora de uma matria ou domnio material inscrito na reserva relativa da AR

-no nvel relativo o acto legislativo deve consumir atravs da normao detalhada, todo o domnio inovador de matria integradas na reserva parlamentar, no deixando espao para uma coabitao entre legislao de bases ou de enquadramento emitida por um rgo e legislao complementar emitida por outro

-nvel de generalidade na regulao de matria:

-164 r); 165 d) e) h)

-a reserva parlamentar de regulao primria de uma matria inscrita na sua reserva absoluta ou relativa restringe-se a normas de contedo geral, podendo o Parlamento ou outros rgos legislativos, como o Governo, adoptar disciplinas igualmente inovadoras, mas de natureza especial, contidas em normas mais densas ou pormenorizadas

-nvel bsico ou de enquadramento:

-164 i) n), 165 f) g) t) u) z)

-corresponde disciplina menos densa da legislao parlamentar, pressupondo que ao Parlamento da Repblica se encontra reservada a edio de normao legal primria, de contedo incompleto

4. O procedimento legislativo parlamentar

-sucesso encadeada de actos ou fases tidos como juridicamente necessrio para a produo e revelao de uma norma legal, por parte de um rgo competente para o efeito

-pode assumir a natureza de procedimento:

-principal ou comum: consiste na tramitao dos actos tpicos de uma forma legal fixada pela Constituio e por normas regimentais

-especiais ou especializados: so os que supem, para a formao de um acto legislativo, a adopo de trmites dotados de elementos diferenciados em relao ao procedimento comum

A. Faseologia

1. A iniciativa legislativa

-momento de instaurao, iniciao ou propulso do procedimento legislativo parlamentar

-estdio em que os titulares da AR como outros rgos (investidos constitucionalmente nesse poder de iniciao) colocam em marcha o procedimento, mediante a apresentao naquele rgo parlamentar de um projecto ou proposta de lei, tendo em vista a sua discusso e eventual aprovao como acto legislativo

Competncia e iniciativa legislativa:

-competncia: um pressuposto de acto legislativo, consistindo no poder funcional atribudo a um rgo para aprovar uma norma legal

-iniciativa: consiste num acto legislativo respeitante ao procedimento produtivo da lei, destacando-se como o seu primeiro estdio ou fase

No procedimento legislativo parlamentar, os sujeitos a quem atribudo o poder de iniciativa no so, necessariamente, os mesmos que intervm no exerccio da competncia legislativa para a aprovao das leis da AR

A iniciativa legislativa heternoma:

-quando so rgos constitucionais diversos da AR a exercer o poder de iniciao do procedimento legislativo, exerccio que assume a forma de proposta de lei

-dispem de poder o Governo, as AL das regies autnomas em relao s matrias que lhes respeitem e os grupos de cidados eleitores

Vicissitudes da iniciativa:

-os projectos e propostas de lei definitivamente rejeitados no poder ser renovados na mesma sesso legislativa

-se os actos de iniciativa no tiverem sido votados na sesso legislativa em que tiverem sido apresentados os mesmos no caducam

-a caducidade ocorre com a demisso ou a dissoluo do rgo proponente, salvo as iniciativas legislativas que j tenham sido votadas na especialidade

2. A instruo

-visa recolher dados, pareceres e outros elementos cognitivos que permitam aos decisores apreciar a oportunidade e o contedo da iniciativa legislativa

-podem implicar um exame puramente interno, realizado em comisso parlamentar

O exame interno em comisso:

-implica a elaborao de um parecer sobre as iniciativas

-tendo em vista a elaborao do seu parecer, a comisso pode: proceder a estudos, requisitar documentos e requerer informaes, pereceres e a audio de peritos e especialistas

As consultas e as audies externas:

-audies participativas

-consultas obrigatrias (matrias):

-54 n5: direitos das comisses de trabalhadores

-56 n2: direitos das associaes sindicais

-77 n2: participao das associaes de professores, de alunos e de pais na definio da poltica de ensino

-98: participao dos trabalhadores rurais e dos agricultores na definio da poltica agrcola

-249

-229 n2

Especificidades na audio das regies autnomas:

-se a matria disser respeito s regies autnomas sero Presidente da Assembleia da Repblica que promover a audio

3. A fase constitutiva:

-expresso de acto de vontade do legislador no sentido da positivao de uma lei

-haver 3 fases aprovatrias:

-discusso e votao na generalidade:

-pressupe um debate que incida sobre os princpios e o sistema do acto de iniciativa, ou seja, sobre o esprito e a estrutura interna do acto pr-legislativo

-volvida a discusso, cada projecto ou proposta de lei votado em Plenrio sendo certo que uma votao favorvel apensa garante que o acto de iniciativa ser objecto de votao na especialidade

-discusso e votao na especialidade:

-versa sobre cada artigo, nmero ou alnea de um projecto ou proposta de lei

-realiza-se em Plenrio no entanto, a grande maioria dos diplomas so discutidos nas comisses (150), sem prejuzo de o Plenrio poder, a todo o tempo, avocar a si a votao na especialidade

-votao final global:

- por meio dela que o processo aprovatrio originrio se encontra concludo e que a AR exprime uma manifestao definitiva da sua vontade normativa, com forma de decreto, sendo o mesmo enviado para promulgao do PR, de modo a ganhar existncia jurdica como lei

-uma lei apenas aprovada na generalidade e especialidade dever ser tida como juridicamente inexistente

-quando aprovado em comisso, o texto enviado para Plenrio para votao final

-no precedida de discusso, podendo, no entanto, cada grupo parlamentar fazer uma declarao de voto oral

-finda a votao final global, a comisso procede redao final dos actos aprovados, no podendo alterar o pensamento legislativo, mas apenas aperfeioar o estilo e a sistematizao do texto

4. Fase de controlo de mrito

-reporta-se ao estdio em que o acto legislativo aprovado pela AR remetido sob forma de decreto ao PR para promulgao

-o PR aprecia livremente o contedo do diploma e formula um juzo de oportunidade positivo (promulgao) ou negativo (veto), o qual se designa por controlo de mrito

O PR dispe de 20 dias, contados desde a data de recepo do diploma, para usar a sua faculdade de promulgar ou vetar, se tiver dvidas sobre a conformidade do acto com a Constituio, pode, no prazo de 8 dias sobre a data da recepo, suscitar a fiscalizao preventiva junto do TC:

-se este se pronunciar pela inconstitucionalidade, o PR deve vetar o decreto

-se este se pronunciar no sentido da no inconstitucionalidade, o PR ter um prazo de 20 dias, contados da data de publicao dessa deciso, para usar a faculdade de promulgar ou vetar politicamente

Em caso de veto, o acto reapreciado pelo Parlamento, instituio que pode assumir 3 condutas:

-desistncia do diploma porque:

-a bancada maioritria no possui a maioria suficiente para a confirmao

-prefere no afrontar o PR com essa confirmao

-acaba por dar razo s objeces presidenciais

-confirmao do diploma com superao do veto:

-mediante voto favorvel da maioria absoluta dos deputados em efectividade de funes

-por fora da regra especial que impe maioria agravada de 2/3 dos deputados presentes, desde superior maioria absoluta dos efectivos, se se tratar de diplomas que devam ser promulgados como leis orgnicas

-reformulao do diploma vetado, tendo em vista a reapreciao do acto pelo PR

Veto:

-categorias:

-veto-sano: supe uma discordncia absoluta do PR em relao ao mrito global do diploma

-veto-construtivo: implica uma discordncia parcial ou condicionada em relao oportunidade do diploma, especificando a fundamentao do veto as matrias onde recaem essas objeces

-o veto por inconstitucionalidade e o veto poltico distinguem-se em razo:

-do objecto:

-o veto por incons. sanciona actos pr-normativos inconstitucionais

-o veto poltico bloqueia a existncia jurdica de actos pr-normativos

-da natureza:

-o veto por incons. um veto vinculado a uma pronncia do TC

-o veto poltico um controlo negativo, livremente exercido pelo Chefe de Estado

5. Fase integrativa de eficcia: a publicao e a data de entrada em vigor

Existe uma obrigatoriedade de publicao das leis promulgadas no Dirio da Repblica, a falta desta publicao imposta a ineficcia jurdica do acto

A data do diploma a data da sua publicao, a data do dia em que o Dirio da Repblica se torna disponvel no stio da Internet gerido pela Imprensa Nacional-Cada da Moeda

O incio da vigncia ocorre na data fixada no diploma, a qual nunca pode ser o dia da publicao, a entrada em vigor ocorre aps se ter esgotado uma vacatio legis de 5 dias contados a partir do dia da publicao

Se uma lei for aplicada antes da sua publicao ou antes do termo da sua vacatio legis, os actos produzidos ao abrigo dessa publicao sero absolutamente ineficazes

5. A apreciao parlamentar de actos legislativos de outros rgos constitucionais

A apreciao parlamentar constitui uma manifestao do primado da AR sobre os restantes rgos constitucionais, no que respeita ao exerccio da funo legislativa.

Encontram-se submetidos ao regime de apreciao parlamentar:

-todos os decretos-lei, salvo os aprovados no exerccio da competncia legislativa exclusiva do Governo

-os decretos legislativos regionais que tenham sido objecto de uma autorizao legislativa da AR

Se o Governo revogar o decreto-lei ou o decreto-legislativo regional objecto de alterao, at ao termo do processo de apreciao parlamentar, este ser automaticamente encerrado: caducando por falta de objecto

b) A actividade legislativa do governo

1. Tipologia das competncias legislativas do Governo

O governo titular de 4 tipos de competncia legislativa:

-concorrenciais alternadas:

-o governo dispe da faculdade de legislar sobre todas as matrias, menos as reservadas pela Constituio AR, e esta dispe de faculdade de legislar sobre todas as matrias, excepto as reservadas ao Governo

-destaca-se a existncia de um vasto campo de confluncia de matrias, onde os dois rgos podem simultaneamente legislar: rea de competncias concorrenciais

-o tipo de concorrncia em presena assume natureza alternada: os dois rgos podem, a todo o tempo

-com as assembleias legislativas das regies autnomas, o Governo desenvolve uma concorrncia paralela: emite diplomas para vigorarem em todo o territrio ou em parte dele, mas se esse decretos-leis colidirem com decretos-legislativos das regies, os decretos legislativos regionais tm nas regies aplicao preferencial sobre os decretos-leis

-exclusivas:

-198 n2: da exclusiva competncia do Governo legislar sobre a matria respeitante sua organizao e funcionamento

-os decretos-leis reportados a estes domnios no podem ser submetidos a apreciao parlamentar e, se vetados pelo PR, o Governo no os pode transformar em propostas de lei, na medida em que ao Parlamento est vedada a faculdade de legislar sobre a organizao e funcionamento do Governo

-complementares:

-198 n1: consiste na faculdade de o Governo desenvolver e concretizar leis de base mediante decretos-leis de contedo sub-primrio, os quais se encontram materialmente subordinados a essas leis que so seu parmetro e detm valor reforado

-delegadas:

-198 n1 c): compete ao Governo aprovar decretos-leis em matrias da reserva relativa de competncias da AR, mediante autorizao legislativa

2. O procedimento legislativo governamental

A. A iniciativa

-cabe ao membro do Governo proponente que em regra o Ministro competente em razo da matria

-estdios da iniciativa:

-o impulso legislativo: conjunto de operaes jurdicas metodolgicas e tcnicas que concorrem para a colocao em marcha da iniciao do procedimento legislativo

-percepo e definio do problema impulsionante: este resulta de uma realidade insatisfatria que requer soluo

-formao da estratgia de deciso: definido o problema, importar conceber um plano integrado

-concepo do diploma: o impulso em sentido estrito implica a expresso de um acto pblico de vontade por fora do qual o decisor coloca em marcha os trabalhos preparatrios de elaborao de um acto legislativo

-controlo interno ou endoprocedimental: que pode decompor-se numa possvel avaliao prvia de impacto normativo ou de encargos administrativos do diploma, ou na emisso de pareceres jurdicos por parte de outros membros do Governo

-formalizao da iniciativa: traduz-se na remisso ao Secretrio de Estado da Presidncia do Conselho de Ministros de um projecto do decreto-lei ou um projecto da proposta de lei assinado pelo membro do Governo proponente

B. A fase instrutria

-desdobra-se nos seguintes estdios procedimentais:

-saneamento e acompanhamento: o Secretrio de Estado da presidncia realiza uma apreciao preliminar do acto e poder submeter os projectos de diploma a um controlo de validade e qualidade normativa formal e material

-circulao pelos gabinetes ministeriais: a circulao dos projectos de diploma a submeter apreciao do Conselho de Ministros destinada a promover o acesso aos diplomas por todos os Ministros

-reunio de Secretrios de Estado e actos complementares

-audio das regies autnomas

C. Fase de aprovao

-mtodos de aprovao: o conselho de ministros o rgo que aprova os Decretos-Leis do Executivo, bem como as propostas de lei que o Governo apresenta junto da AR

D. Controlo de mrito

-136 n1: o decreto aprovado pelo Conselho de Ministros, depois de assinado pelo Primeiro-Ministro e pelos ministros competentes em razo da matria, remetido ao PR para promulgao tendo este 40 dias para promulgar ou vetar politicamente

-no caso de veto poltico este insuprvel, tendo carcter absoluto, devendo o PR comunicar por escrito ao Governo o seu sentido

c) A actividade legislativa das regies autnomas

1. Introduo autonomia legislativa regional

A Repblica Portuguesa consiste num Estado unitrio que compreende uma regionalizao poltico-administrativa de carcter perifrico ou parcial:

-o regime jurdico compreende dois arquiplagos que so investidos constitucionalmente na natureza jurdica de regies dotadas de autonomia poltico-administrativa, com rgos de governo prprios e regidas por estatutos autonmicos

-o Estado Portugus unitrio s na medida em que pressupe uma s fonte de poder constituinte e uma s Constituio

Modelos de repartio horizontal de poderes legislativos entre o Estado e os entes autnomos:

-visam distribuir as competncias legislativas do Estado e das regies por matrias, atravs de listagens explcitas e implcitas:

-o modelo de lista nica estadual: supe a enumerao constitucional das competncias do poder central numa lista de matrias afectas aos rgos de soberania, ficando por excluso, as matrias no enumeradas, diferidas s colectividades autnomas

-o modelo de lista autonmica: implicava uma enumerao das competncias regionais na Constituio

-o modelo da lista plural: pressupes:

-a enumerao constitucional das matrias da competncia do poder central e dos poderes autonmicos

-a definio do elenco dos domnios de concorrncia entre ambos

-a eventual consagrao de clusulas de determinao de competncias estaduais e autonmicas

O propsito do critrio horizontal consiste na arrumao das matrias da competncia legislativa, entre centro e periferia, em listas tao completas quando possvel

No atingiu os seus objectivos de modo satisfatrio, da a necessidade da utilizao de clusulas gerais destinadas a solucionar conflitos normativos entre legislao do poder central e dos entes autnomos:

-clusulas de supletividade: permitem ao direito estadual assumir natureza supletiva do direito autonmico

-clusulas de subsidiariedade: conferem em domnios concorrenciais preferncia ao direito mais prximo dos cidados

-clusulas de supremacia do direito do Estado ou do direito autonmico em domnios concorrenciais paralelos: impem a prevalncia aplicativa de um dos direitos em tenso em cenrios concorrenciais

2. Repartio de competncias

A. Distribuio horizontal de competncias

-em termos de modelo de repartio de competncias entre o Estado e as Regies, o paradigma da lista plural conservou-se com a reviso constitucional de 2004, mas com um retorno parcial arquitectura primitiva, no sentido da equao de 2 listas constitucionais de poderes respectivamente, estaduais e regionais e uma lista sub-constitucional de enumerao de poderes regionais

Foi conservada na constituio:

-uma listagem de matrias de competncia estadual: exclusivamente reservadas aos rgos de soberania

-uma listagem por via remissiva de matrias de competncias legislativas regionais com carcter delegado

-e uma remisso importante das restantes matrias de virtual competncia autonmica para uma terceira lista regional de natureza infra-constitucional inscrita nos estatutos, a qual coexiste num universo concorrencial paralelo com competncias dos rgos de soberania integradas numa reserva mvel

B. Taxatividade da enumerao das matrias

A reviso de 2004 reforou a listagem das competncias regionais comuns, resultando da imposio de uma taxatividade da enumerao constitucional e estaturia dos poderes legislativos das regies:

-227 n 1~

-228 o)

C. Clusulas gerais

Torna-se relevante o uso de limites competncia regional sediados em clusulas gerais:

- o caso dos conceitos jurdicos indeterminados do mbito regional

- o caso da reserva de competncias dos rgos de soberania na sua variante mvel ou no expressa

D. Sntese sobre o modelo de repartio horizontal de competncias vigente

1 listagem: verifica-se a existncia de 3 listas de enumerao de matrias sobre as quais recaem competncias legislativas:

-uma lista constitucional de competncias expressas dos rgos de soberania

-outra lista constitucional de matrias da competncia legislativa das regies autnomas previstas

-um lista de matrias da competncia regional necessariamente enumeradas nos estatutos poltico administrativos

2 concorrncia paralela

3 clusulas gerias

3. Tipos de competncia

-comum:

-competncia que tem por objecto, o maior acervo de matrias sujeitas ao exerccio de poderes legislativos regionais

-os decretos-legislativos regionais aprovados ao abrigo deste tipo de competncia devem incidir sobre matrias enumeradas nos estatutos poltico-administrativos, devem conter-se no mbito regional e devem respeitar a reserva explcita ou implcita de competncia dos rgos de soberania

-delegada:

-no podem legislar sobre todas as matrias da reserva relativa da AR (227 n1 b) )

-complementar:

-corresponde faculdade de desenvolver e concretizar o contedo de leis de bases e leis de enquadramento e ditar disciplinas de contedo especial no contrrias a regimes gerais da reserva da AR

-desenvolvimento de leis de bases e leis-quadro reservadas e no reservadas aos rgos de soberania (227 n1 c) )

-mnima ou residual:

-faculdades directamente praticveis sobre determinadas matrias a partir da Constituio

-para a transposio de directivas:

-competncia que se exerce mediante a instrumentalizao de cada uma das competncias antecedentes, em razo da matria (112 n8)

4. Sntese sobre as relaes de tenso entre actos legislativos do Estado e das Regies

Os tribunais comuns dispem de uma ampla margem de competncia para solucionar antinomias derivadas das relaes entre as leis do Estado e das Regies (204)

A. Soluo de antinomias no plano jurisdicional

-combinao do controlo da constitucionalidade e legalidade com o princpio da especialidade

Caem no mbito dos juzos de inconstitucionalidade:

-a violao do objecto e extenso (orgnica) e durao (material) das leis de autorizao legislativa

-a incurso de norma legal do Estado ou de decreto-legislativo regional, na reserva de estatuo (formal)

-a violao do limite positivo do mbito regional por decreto legislativo regional que incursione no campo vedado das competncias expressamente reservadas aos oragos de soberania

B. Soluo de antinomias pelo operador administrativo

-a prevalncia da lei especial em reas de concorrncia

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