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Revista Capital 1

Nº2

7 .

Ano

03

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Março de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

TURISMOMaputo vai ter CartaEconómica

PORTUGALCônsul: «Investe-se num pouco de tudo»

PONTO DE MIRABlocos de integração vitais aos mercados financeiros

O calcanhar de Aquiles da Economia

Economy’s Aquiles’ heel

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OPINÃO

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Editorial

O cordão umbilicalA nomenclatura sócio económica tem coisas que a razão (e o cidadão comum),

às vezes, têm dificuldade em compreender. Há os países de economia emer-gente, os países em vias de desenvolvimento, os países desenvolvidos, os ditos

desenvolvidos e até já se falou em países do terceiro mundo e de outros mundos, não paralelos, mas bem reais e com problemas concretos que urge resolver.Moçambique estará num dos casos anteriormente citados e, como todos os países, procurará atingir o patamar superior e afastar-se cada vez mais do estádio inferior.Neste preciso momento discute-se o Orçamento Geral de Estado e, como em quase todos os anos, faz-se apelo ao velho aforismo de: cada cabeça sua sentença. Para uns a culpa é do governo que não governou bem nos anos anteriores e não transmitiu confiança aos doadores, enquanto que, para outros, a culpa é destes porque colocam a fasquia demasiado alta e se intrometem na gestão do país enquanto se deviam apenas preocupar com a vigilância da correcta aplicação dos seus fundos.Estes últimos esquecem-se que é muito difícil estabelecer a fronteira entre supervisão de investimento de Estado e intromissão em assuntos de Estado. Afinal, quando se dá e quando se recebe, uma coisa é essencial, a confiança mútua.O Orçamento Geral do Estado continua a contar com uma percentagem bastante ele-vada de fundos provenientes da doação de países terceiros e estes, antes de se enten-derem com o país alvo das suas atenções, devem entender-se primeiro entre si e falar a uma só voz.Foi justamente no dealbar destas negociações que se verificou a visita oficial do Pri-meiro Ministro português a Moçambique e que, pela dimensão da comitiva e impor-tância dos dossiers em análise, se revelou um acontecimento de monta nas relações entre os dois países.Moçambique e Portugal mesmo se nunca viveram realmente de costas voltadas, ter-se-ão inúmeras vezes encarado de esguelha, com um olhar oblíquo e deixaram escapar algumas oportunidades de aproveitar o facto de falarem a mesma língua e estarem umbilicalmente ligados à nascença, mesmo se o corte do cordão se possa ter revelado difícil de realizar e traumatizante na sequência.Armando Guebuza e José Sócrates trabalharam bastante em conjunto, assim como as respectivas delegações. Os memorandos que estiveram sobre a mesa abordam ques-tões económicas mas não só; da cooperação militar à cultural, da educação às preo-cupações com as alterações climáticas, os dois países manifestaram abertamente a vontade de continuarem na senda do entendimento e do progresso, na continuidade, aliás, do que se verifica já nos últimos anos.Portugal será actualmente um dos principais países parceiros de Moçambique, no as-pecto económico, e poderá sê-lo também em outras áreas da sociedade que, embora não pareçam à primeira vista, poderão revelar-se cruciais no futuro.

Ficha Técnica

Ricardo [email protected]

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sitoe; Sérgio Mabombo – [email protected] Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected] ; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Fer-reira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR – Colaboradores: Ednilson Jorge; Fátima Mimbire – Colunistas: António Batel Anjo, Benjamin Bene, E. Vasques; Edgar Baloi; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Gonçalo Marques (Ferreira Rocha & Associados); Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Manuel Relvas (Ernst & Young); Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Nelson Saúte; Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rolando Wane; Rui Batista; Samuel Zita, Sara L. Grosso – Fotografia: Helga Nunes (Capa), Joca Faria; Luis Muianga; Sara Diva; 999– Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Design e Grafismo: SA Media Holding – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Ana Cláudia Machava - [email protected]; Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Re--gisto: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não neces-sariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

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Sumário

12PORtugal

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17tuRISmO

“Investe-se num pouco de tudo”

Quem são, como vivem, onde investem as comunidades estrangeiras que escolheram Moçambique como terra de trabalho e vivência? Um novo espaço periódico na Revista CAPITAL que se inicia com uma entrevista à Cônsul Geral de Portugal em Maputo, Graça Gonçalves Pereira realizada a poucos dias da visita do Primeiro Ministro Português ao território moçambicano.

“As pedras no sapato” da economia

Os desafios de ordem económica que Moçambique enfrenta, entre o impacto da crise económica e diante da recuperação dos seus índices de desenvolvimento, servem de pano de fundo à grande entrevista que Helga Nunes realizou a João Mosca, doutorado em economia e agrária e sociologia rural e onde este reflecte sobre a actualidade do país e aponta problemas e soluções.

23 EfEItO COlatERalNúmeros que nos desafiam

Helga Nunes compilou relatórios, analisou documentos, investigou decisões e propõe-nos uma reflexão sobre diversos números relacionados com a economia de Moçambique e com projectos de desenvolvimento que nem sempre, no seu início, mostram todo o seu potencial.

Sofid garante euros para Moçambique

As divisas constituem um dos elementos preponderantes para o desenvolvimento da economia de qualquer país. Aproveitando a visita do Primeiro Ministro Português a Moçambique foi rubricado um protocolo que institui o fundo luso-moçambicano para apoio aos investimentos de Portugal em Moçambique e é nesse âmbito que a Sofid pretende exercer a sua actividade.

24ENtREvISta

Carta Económica do TurismoPromove inteligência de mercado

Diversas instituições sediadas em Maputo resolveram criar o Grupo Consultivo de Turismo da Cidade de Maputo e pretendem que se transforme num organismo inovador que irá divulgar as potencialidades turísticas desta metrópole. Sérgio Mabombo entrevistou Quirin Laumans, director da Organização Holandesa para o Desenvolvimento que integra o grupo agora criado.

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40fISCalIdadE

34ambIENtE

Hora do planeta estreia em Moçambique

O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) vai implementar pela primeira vez em Moçambique neste mês de Março, a Hora do Planeta, a exemplo do que já acontece em mais de 4 mil cidades espalhadas por todo o mundo. Florêncio Marerua, presidente do WWF – Moçambique explica o que representa esta iniciativa que visa essencialmente reduzir o impacto do aquecimento global.

A tributação das mais-valias auferidas por entidades não residentes

Cláudia Adão, consultora na empresa PricewaterhouseCoopers efectua neste número uma breve abordagem a este assunto onde se debruça sobre o conceito que o abrange e sobre a própria determinação das mais-valias. Um tema sempre interessante numa economia como a moçambicana onde inúmeras sociedades não “residentes” e prestatárias de serviços exercem a sua actividade.

EfEItO COlatERal 50 EStIlOS dE vIda

Do cinema aos livros, passando pela música de Lhasa de Sela, pela arquitectura, pelo filme “Invistus” e por um arroz de pato de se lhe tirar o chapéu, tudo isso encontra nos estilos de vida, além de uma fotolegenda que tem muito que lhe diga e que requer mais atenção destes publicitários que, desta vez, são mesmo uns exagerados.

48OPINIÃO

Angola, um país de contrastes

Os contrastes que se deparam ao visitante que demanda Angola, suas terras e suas gentes, aqui apresentados por Carlos Ferreirinha, presidente da MCF, Consultoria & Conhecimento, especializada nas ferramentas do Luxo e Premium, com actuação no Brasil e América Latina.

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bOlSa dE valORES

Capitoon

Em tudo na vida há opções«Está no seu direito, como zulu. Mas só levou uma das suas mulheres para a reunião com o Papa»,Jeremmy Gordon, biógrafo do presidente sul-africano Jacob Zuma, referindo-se à sua poligamia

Efeito Matrix«Esquivámo-nos à bala, mas foi à justa»,Barack Obama, presidente dos EUA, perante os responsáveis pela segurança nacional, após as falhas no sistema de informações que permitiram a tentativa falhada de atentado do Dia de Natal a bordo de um avião da Northwest Airlines.

Perdida no espaço?«A resposta a algumas perguntas é: ‘Não sei’. Não posso ter aprendido tudo em escassas semanas»,Catherine Ashton, alta-representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros

Convivência segura«Boas vedações fazem bons vizinhos», Ehud Barak, ministro da Defesa israelita

COISAS QUE SE DIZEM…

EM ALTA

PORTUGAL. Governo português duplica crédito para o Banco Luso Moçambicano de Investimen-tos, no âmbito do fortalecimento das suas relações económicas com Moçambique. Neste contexto, será criado, em Moçambique, o Banco Luso Mo-çambicano de Investimentos (BLMI). Para o efei-to, o ministro moçambicano das Finanças, Manuel Chang, e o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Fernando Faria Oliveira, assinaram um me-morando de entendimento, que visa o segundo aditamento à linha de crédito concessional cele-brada em Julho de 2008, entre o Governo moçam-bicano e a CGD. O aditamento amplia a linha de crédito dos anteriores 200 milhões de euros para um montante máximo de 400 milhões de euros.

ÁFRICA DO SUL. A economia sul-africana deverá crescer 2,3% este ano e 3,6% em 2011, depois de sofrer uma contracção de 1,8% em 2009, disse on-tem o ministro sul-africano das finanças da África do Sul, Pravin Gordhan. Na apresentação, peran-te o Parlamento, do Orçamento do Estado para 2010/2011, Pravin Gordhan traçou ambiciosas metas de criação de postos de trabalho e melhoria nas prestações do sector público.

TELEFONIA MÓVEL. O número de assinantes de telefone móvel na África passou de 10 milhões em 2000 para 180 milhões em 2007, segundo um estudo do Banco Mundial apresentado em Addis Abeba, a capital etíope, noticiou a Panapress.

EM BAIXA

ENERGIA. A Eskom está sem capacidade para satisfazer necessidades energéticas em 2011. A empresa sul-africana de fornecimento de energia eléctrica recomendou que a África do Sul deve cen-trar as suas atenções no uso eficiente de energia dado que não será capaz de fazer face à procura de electricidade a partir do próximo ano. Moçambi-que poderá sofrer graves consequências como re-sultado das soluções que o governo de Jacob Zuma está a desenvolver.

FOME. A população da província de Tete está a padecer de fome, necessitando de uma rápi-da assistência alimentar. A gravidade da situ-ação levou o deputado Eduardo Mulémbwè a declarar alarme para os moradores dos distri-tos de Changara, Mágoè, Cahora Bassa, Moati-ze, Marávia e Mutarara, que no total têm mais de 85 mil habitantes a padecerem de fome.

REDE JUDICIÁRIA. Segundo Centro de Integrida-de Pública, a implantação da rede judiciária, no-meadamente, tribunais, procuradorias, polícia de investigação criminal, cadeias, médicos legistas, entre outros, em todos os distritos do país, con-tinua a ser deficiente e não existe uma estratégia clara e consertada de implantação das instituições do sector da justiça, afectando em grande medida o acesso à justiça pelos cidadãos.

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mOçambIquE

LAMCompanhia cresce apesar da crise

Apesar da crise financeira internacional, a empresa Linhas Aéreas de Moçambi-que (LAM) registou um crescimento do seu volume de negócios em 6% nos voos domésticos, enquanto nas rotas regionais o aumento registado foi de 8% durante o exercício económico de 2009. Falando durante a cerimónia de atribui-ção de certificados às melhores agências de viagens em Moçambique, Jeremias Tchamo, afirmou que o objectivo da LAM é de dar continuidade ao actual sucesso da empresa de modo a tornar-se na melhor operadora a nível do continente africano. Segundo aquele dirigente, a perspectiva da empresa sempre foi a de manter o ciclo de crescimento e deste modo encontrar um meio sustentável através da oferta de ser-viços seguros e rentáveis de alta qualidade a preços competitivos.Em 2009, a companhia conseguiu alcançar o nível operacional e de pontualidade em 90 por cento nas 10.280 viagens realiza-das.Actualmente, a LAM está no processo de aquisição de seis aviões, quatro dos quais adquiridos no Brasil. O valor total aplica-do na modernização é de 100 milhões de dólares.A LAM reforçou ainda a frequência dos voos inter-provinciais e, em 2009, come-çou a explorar novos destinos regionais, como Luanda, tendo também adiciona-do voos para Joanesburgo, Dar-es Salam e Nairobi. A exploração de novas rotas incluem ainda Maputo-Cidade do Cabo (actualmente explorada pela South Africa Airwais), Tete-Joanesburgo, e Nampula – Nairobi, cuja formalização já foi submetida junto ao Instituto de Aviação Civil de Mo-çambique (IACM).

INVESTIMENTOSCrise não afastou investidores de Moçambique A economia de Moçambique está a crescer muito acima da média regional, dado que os investidores internacionais continua-ram a apostar no país apesar da crise in-ternacional e do contexto adverso global. Entretanto, o país tem de melhorar mais o ambiente de negócios, de acordo com o gabinete de estudos do Banco português BPI.

De acordo com as últimas projecções, a eco-nomia terá crescido 4,5% em 2009, abran-dando em relação a 2008 (6,8 por cento) e à média dos últimos três anos (7,5%). Mas, o desempenho ficou muito acima da mé-dia da África subsaariana do ano passado (1,3%) e o mesmo deverá acontecer este ano (previsão de 4,1%). O Centro de Promoção de Investimentos (CPI) aprovou, em 2009, projectos ava-liados em 5,8 mil milhões de dólares, que criaram 125 mil postos de trabalho nos diversos sectores, nomeadamente agro-florestal, hotelaria e turismo. O director do CPI, Mahomed Rafique, apontou recentemente Portugal, Ín-dia, Ilhas Maurícias e Noruega como al-guns dos países que investiram na área agro-florestal, especialmente em planta-ções para a produção de pasta de papel. O sector mineiro e de hidrocarbonetos de-verá receber este ano investimentos de mais de 1.300 milhões de dólares, segundo pre-visões avançadas em Fevereiro pela minis-tra dos Recursos Minerais, Esperança Bias. Apesar da crise económica e financeira internacional de 2008 e 2009, o sistema bancário do país mostrou-se resisten-te. Previsões para a economia moçambi-cana apontam para a aceleração em 2010 (5,5%) e em 2011 (6%).

PORTO DE MAPUTOPorto vai processar 8.7 milhões de toneladas de carga em 2010

O Porto de Maputo deverá processar este ano 8.7 milhões de toneladas de carga, número que deverá subir para 26.2 mi-lhões de toneladas em 2015, segundo o director de desenvolvimento do Porto. No entanto, o valor de 8.7 milhões de to-neladas - a ser registado este ano - encon-tra-se ainda muito longe do observado em 1971, ano em que o porto processou 17 milhões de toneladas. A infraestrutura irá processar, até 2020, 34.2 milhões de toneladas de carga, alcan-çando 48.6 milhões de toneladas até 2030. O investimento de capital previsto para a melhoria de serviços, infra-estruturas, equipamento, estradas, vias-férreas, cais e drenagem do canal atinge a soma de 749.1 milhões de dólares a serem empre-gues durante os próximos 20 anos. A capacidade da carga ferroviária no Por-to irá aumentar dos actuais 10 comboios por dia até alcançar 36, no ano 2030. A actual capacidade para processar 500 ca-miões (embora apenas 320 sejam proces-sados) aumentará até três mil no ano 2015 e até 4.800 camiões por dia em 2030. Os factores primordiais que influenciam o sucesso da execução do plano-mestre continuarão a ser o compromisso da di-recção e dos accionistas do porto de Ma-puto no sentido de alcançarem e mante-rem um serviço de confiança e de custo efectivo para todos os intervenientes do Corredor de Maputo.

Mahomed Rafique, director do CPI

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INatuR

Na edição anterior o Dr. Bernardo Dramos, Direc-tor Geral do Inatur, referiu-se à missão do seu instituto e à gestão que realiza do património

do Estado. Neste número abordar-se-ão as zonas de interesse turístico e o que elas representam não ape-nas para o desenvolvimento do país mas no contexto de toda a política de planificação turística desenvolvida em Moçambique.

De Norte a Sul do país existe um esforço conjugado para que cada região não se limite apenas a uma oferta desgarrada e pontual de actividades turísticas mas que congregue à sua volta um conjunto de elementos e que da sua conjugação resulte a fixação dos turistas.

Uma das áreas de actuação do Inatur é a componente de fomento das actividades do sector de Turismo, de-senvolivimento das zonas de interesse turístico…

Na verdade, o Inatur não só faz a gestão de instâncias turís-ticas existentes. Sendo ele um factor de promoção e acelera-ção do crescimento do sector, tem a responsabilidade de ser o ponto de partida para o fomento e criação de novas instâncias turísticas. Nesse processo, o Governo entendeu que havia ne-cessidade de que, através do Instituto, podia tomar a dianteira de criar novas instancias, quer sejam de classe mundial, instân-cias integradas, instâncias que vão representar uma viragem daquilo que é o Turismo ou que tem vindo a ser o turismo até agora. Foram concebidos vários instrumentos de fomento, en-tre eles, os chamados Projectos Âncoras. Porquê Projectos Ân-coras? Porque pressupõe-se que o turismo, até agora, tem-se constituído em pólos, em ilhas. Temos o turismo na cidade de Maputo que é inerente a uma série de aspectos, fundamental-mente sediado no turismo do negócio; as pessoas vêm a Mapu-to, participam em conferências, em reuniões e há o turismo de lazer que encontramos em lugares como Ponta de Ouro, Bilene, Macaneta, Závora, Pemba mas que, entretanto, estas instâncias vão crescendo de forma isolada. Se formos a ver, do ponto de vista estratégico, é muito difícil a cada um destes pólos consiga constituir um elemento auto-suficiente de atracção de turistas. Porque apenas se oferece praia, e, quando o turista vai para lá, não encontra mais do que isso. Se um indivíduo se desloca para um festival cultural, quando vai a esse ponto não encontra mais do que um festival cultural. Foi nesta perspectiva que foram criados os Projectos Âncoras. Projectos Âncoras têm duas fun-ções: uma constituir, como o próprio nome diz uma “Âncora”, ou seja assumir-se como uma ancoragem e chamar uma série de outras actividades de desenvolvimento do sector e não só, para aquele lugar, e depois, a partir daí criar uma extensão, na horizontal, importante mas por outro constituir uma alavanca-gem numa perspectiva de, nesses locais, criar-se os chamados Projectos Integrados do Turismo.

O que são Projectos Integrados de Turismo? Seriam uma ins-tância completa, que tenta ser muito mais abrangente. No mes-mo lugar, o turista tem um hotel, no formato tradicional mas pode ter também um hotel-boutique, vai encontrar atracções culturais das comunidades em volta que vão prestar actividades culturais a esses centros turísticos, podemos ter centros de pro-dução de certas culturas agrícolas, em volta, que é para dar su-primentos aos hoteis. No mesmo lugar temos várias actividades turísticas atreladas. É importante referir que, neste momento, trabalhamos com duas naturezas dos chamados Projectos Ân-coras. Temos o Arco Norte que envolve as províncias de Cabo Delgado, Niassa e Nampula. É um projecto Âncora na perspec-tiva de criação de novos modelos de instâncias integradas tanto em áreas que já têm algum desenvolvimento de turismo como em áreas que podem ser consideradas virgens. Temos os outros Projectos Âncoras que visam as áreas que nunca foram explora-das. Estamos a falar de Cruisse/Jamal e outros. Estes, seriam, neste momento, os dois modelos que estamos a usar, um mode-lo de Âncora que representa a exploração de áreas não desen-volvidas e a reconfiguração de áreas já com actividade turística e um projecto Âncora que dedica especial atenção a projectos com grande potencial turístico mas que neste momento ainda não têm actividade turística. n

Entrevista ao Director Geral do Inatur

As zonas de interesse turístico

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PORtugal

Arsénia Sithoye (entrevista) . Luis Muianga (foto)

A Capital Magazine decidiu abrir um espaço mensal nas suas pá-ginas dedicado às comunida-des estrangeiras em Moçam-bique. Nesse sentido, e como existem no território uma série de comunidades trabalhadoras provenientes dos mais diver-sos continentes, optamos por analisar o seu ‘modus vivendi’ assim como a sua contribuição para a economia nacional. Nes-ta edição, e como Moçambique recebeu a visita oficial do Pri-meiro Ministro, José Sócrates, decidimos dar à estampa a Co-munidade de Portugal. Gra-ça Gonçalves Pereira, Cônsul Geral de Portugal em Maputo, fala-nos das idiossincrasias de um povo cuja história cruza com a de Moçambique.

Como analisa o seu trabalho em Mo-çambique?

Vim há cerca de um ano e três meses, tenho tentado, dentro das minhas atribui-ções, facilitar o intercâmbio entre Portugal e Moçambique, nomeadamente em termos das pessoas: Moçambicanos que queiram ir a Portugal pelos mais diversos motivos, e portugueses que tenham interesse em estar aqui em Moçambique. E esta é a minha fun-ção aqui, para além de cuidar de aspectos culturais, ligações que existem entre os dois países, os dois povos, e as culturas diferen-tes mas que nos enriquecem, porque tudo o que é diferente enriquece-nos. Esse é o meu objectivo. Por isso, desde que cheguei tentei animar o espaço do Consulado com eventos que passam a ser úteis para os artistas mo-çambicanos, portugueses e até para os de outra expressão e é nessa perspectiva que o diferente torna-se interessante. Quanto às comunidades portuguesas, tento que elas se integrem o melhor possível.

Como tem sido a integração dos por-tugueses no meio local?

Houve uma altura em que a comunidade portuguesa era maior. Logo a seguir à Inde-pendência provavelmente reduziu um bom bocado e, agora, com as evoluções dos dois

países, creio que há portugueses que têm uma grande curiosidade por África, em ge-ral, e por Moçambique, em particular.

Moçambique é um dos países mais encan-tadores de África, onde as pessoas são muito hospitaleiras, é um país em que a evolução tem sido previsível, com condições naturais extraordinárias, portanto é um país que as pessoas gostam. E isso tudo fez com que o número de portugueses aumentasse em Moçambique, e esses portugueses não estão ligados ao antigamente, é uma nova gente que tem no seu imaginário a questão de África porque fomos sempre muito ligados ao continente no geral e que tem interesses específicos em Moçambique, por esta evo-lução e pela natureza do país.

Portanto, eu diria que está a aumentar o número de portugueses. Não tanto como em Angola, mas de uma forma continuada e progressiva e penso que os dois países po-dem beneficiar com esse facto, bastando sa-ber gerir a situação. Os portugueses podem ser úteis e têm obviamente que se integrar na vida de cá e dar o seu contributo. E exis-tem muitos sectores onde podem intervir.

Em termos demográficos eu diria que está a subir lentamente em número e qualidade. Ou seja, as pessoas que estão a vir são mais qualificadas e podem ser mais úteis.

Quantos portugueses se encontram registados em Moçambique?

O registo no Consulado não é obrigatório. Como tal, as pessoas chegam e vão-se em-bora sem dizer nada. É dificil dar uma es-timativa porque há gente que está inscrita e já não está cá e há gente que está cá e não está inscrita. Em todo o país, e embora a maioria esteja em Maputo, estimamos que sejam aproximadamente 20 mil portugue-ses.

Qual tem sido a evolução das em-presas portuguesas no país?

Há empresas mais expressivas em termos de volume de negócios como as constru-toras que executam grandes obras como a ponte do Zambéze, que foi construída com a participação de uma empresa com capi-tais portugueses que é a Mota Engil. A Mota Engil actua em todo o norte e centro de Moçambique e em muitos países do mun-do, nomeadamente nos estados árabes, nos Estados Unidos da América, e em outros países africanos. Há perspectivas desta em-presa executar outras obras como a ponte sobre a Catembe. E há o sector das estradas e dos edifícios públicos, onde a empresa Soares da Costa também estará envolvida.

Talvez estes sejam os pontos mais expressi-vos em termos de contribuição. Há também muitas empresas na área da importação, ex-portação, consultoria, arquitectura, enfim, há uma grande variedade delas.

Quais são as principais áreas de in-tervenção?

A área da construção é uma delas. Mas existem muitas outras áreas como a de con-sultoria, de projectos, importação e expor-tação, produção propriamente dita, como por exemplo a CIMPOR (no fabrico de ci-mento) e na área de serviços públicos existe uma cooperação com a Águas de Portugal e a Electricidade de Portugal.

«Investe-se num pouco de tudo»

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«Investe-se num pouco de tudo»

Depois temos os grupos que são modelos como a Visabeira que intervém na área de TvCabo, hotelaria e restauração, na área das comunicações, entre outras. Portanto, eu penso que é uma grande variedade. Há também pequenas lojas, pequenos negócios a funcionarem como a Casa ADA que é uma antiga ervanária com produtos naturais. Te-mos os importadores de vinhos. E há pesso-as que vêm individualmente e exercem suas actividades como médicos, engenheiros, informáticos.

Quais as dificuldades ou facilidades de adaptação sentidas pelos portu-gueses em Moçambique?

Os portugueses têm normalmente uma boa capacidade de adaptação. Às vezes, queixam-se do processo de renovação de residência que tem sido um bocado demo-rado e complicado. Mas em termos de adap-tação, acho que é muito boa. A língua ajuda imenso porque é comum e as pessoas têm uma capacidade de entendimento e de inte-racção boas. E o aspecto que, por vezes, difi-culta a actividade é o processo de renovação de residência.

Qual tem sido a proveniência regio-nal?

Tínhamos alguns dados sobre a proveni-ência mas são pouco fiáveis neste momento porque estão desactualizados. Há gente que vem de toda a parte de Portugal com maior incidência para a capital e para o norte de Portugal, pois tal decorre por via das em-presas. E há, inclusivamente, uma empresa que nasceu em Braga que trabalha na área imobiliária, entre outras, que tendo nascido em Braga agora está em Moçambique, e é natural que venha muita gente dessa zona para cá. Mas temos também gente prove-niente do Porto e que Lisboa pois é muito mais fácil nesta ‘fase do campeonato’ vir gente dos grandes centros do que das pe-quenas cidades.

E a sua integração social ao meio?Há uma questão aqui que nos preocupa

muito que é o facto de os estrangeiros te-rem algumas limitações para comprar ca-sas, o que, por vezes, onera muito a estadia porque as pessoas querem sempre mais e os preços exigidos são um pouco disparatados. Isso é que tenho ouvido acerca da integra-ção social ao meio.

Como funciona a comunidade por-tuguesa em termos de hábitos, costu-mes e tradições de trabalho?

É natural que as pessoas mantenham os seus hábitos e costumes, e guardem aquilo que são. Mas elas rapidamente se integram e começam a funcionar de acordo com o lu-gar em que se encontram, e isso depende se elas ficam cá mais ou menos tempo. No ge-ral, integra-se facilmente, não se esquecen-do dos hábitos dos seus locais de origem.

Em relação às tradições de trabalho, não sei como era antigamente, mas há portu-gueses a trabalhar em quase todas as áreas, umas com mais ou menos especializações (mecânicos, agricultores) mas que não se-jam das profissões mais recentes. Portanto, acho que é uma composição muito rica e há um rejuvenescimento. Ou seja, há pessoas

muito antigas que ficaram cá desde o tempo colonial e há muitos jovens a chegarem - o que dá um novo rosto e uma nova dinâmi-ca nos trabalhos da comunidade e ao país que também teve o seu percurso. Portugal está na União Europeia e tem a sua maneira de estar e de ser e desenvolveu numa certa direcção.

E quanto às preferências em termos de investimentos?

Enquanto há países que são muito direc-cionados em termos do que querem inves-tir, ou onde vão investir, no caso de Por-tugal é muito variado, portanto há países que preferem investir na área da água, na área agrícola, mas eu acho que com Portu-gal não se passa isso, investe-se num pouco de tudo. Portanto, há muitas variedades, quer a nível de formação de pessoal, quer das áreas em que as empresas estão a traba-lhar, o que acaba por dar uma certa riqueza à comunidade, e para Moçambique, porque a empresa está cá, gera emprego e contribui para os impostos.n

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Paulo Deves (texto)

A Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento (SOFID) preten-de estar no mercado moçambicano

participando em iniciativas de desenvolvi-mento empresariais e mantendo relações muito fortes com as empresas portuguesas tendo em vista incitá-las a realizar a sua in-ternacionalização.

O que desperta o interesse desta insti-tuição financeira pelo mercado nacional segundo o seu Presidente da Comissão Executiva, Helder de Oliveira, é o facto de Moçambique estar a registar uma evolução positiva no domínio económico, o que abre boas perspectivas para as empresas lusas investirem na agricultura, indústria, ener-gia e turismo, sectores onde o país possui grandes oportunidades.

“Portanto, nós (SOFID), junto de em-presas portuguesas fazemos uma certa promoção do mercado moçambicano e de Moçambique como uma oportunidade de investimento”, frisou Helder de Oliveira.

Na entrevista que nos concedeu à margem do Seminário sobre Oportunidades de In-vestimento na Indústria com empresários portugueses, inserido no programa da vi-sita do Primeiro Ministro português, José Sócrates, realçou que possuem contactos com entidades moçambicanas a quem já manifestaram a sua disponibilidade para encontrar formas de cooperação «com vis-ta a identificar meios financeiros para pôr em acção os projectos de investimentos”.

Sublinhou que Moçambique está, por um lado, a fazer progressos significativos do ponto de vista económico, daí que as entidades internacionais tenham uma per-cepção de que é uma economia gerida em processos transparentes. “Nesse contexto, julgamos que por um lado essas oportu-nidades existem e por outro existem meios financeiros disponíveis para a concretiza-ção da intervenção de empresas portugue-ses no mercado moçambicano”, realçou.

Para suprir possíveis dificuldades finan-ceiras para projectos propostos, a SOFID tem várias formas de intervenção, sendo uma delas através do financiamento direc-to aos investimentos a médio prazo, entre três a 10 anos.

“Portanto, se nos falar em investimen-tos, é necessário que os capitais tenham uma durabilidade dentro do projecto semelhante àquilo que é a recuperação do próprio investimento”, avançou acres-centando que empresas portuguesas em

Portugal que queiram investir em Moçam-bique poderão ser apoiadas através de fun-dos de capital do risco, articulando para o efeito com instituições que são parceiras da SOFID, concretamente o Estado portu-guês que detem a maioria do capital desta instituição e os quatros maiores bancos portugueses, nomeadamente o BES, BCP, CGD e o BP.

Por outro lado, a SOFID, segundo Hel-der de Oliveira, tem uma ligação com entidades que actuam no plano bilateral, dispondo de uma capacidade financeira muito significativa.

Durante a visita do Primeiro-ministro José Sócrates a Moçambique, foi rubrica-do um protocolo que institui o fundo luso-moçambicano para apoio aos investimen-tos de Portugal em Moçambique, tudo na perspectiva de colocar à disposição dos operadores económicos recursos finan-ceiros significativos.

A SOFID, dependendo de si, pode fi-nanciar cada projecto em 2.5 milhões de euros, um pouco mais de três milhões de dólares norte-americanos, embora tenha capacidade de intervir com outras ins-tituições financeiras já referidas, quer com os accionistas, quer com o gestor-executivo, bem como com instituições fi-nanceiras europeias que estão disponíveis para investir em Moçambique, e com as quais a SOFID desenvolve uma relação de proximidade visto pertencerem ao mesmo espaço europeu.n

SOFID garante Euros para Moçambique

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Revista Capital 15

Cta

Lourenço Gadaga, economista

O presente trabalho tem como objectivo central apresentar as reais causas dos acidentes de viação que têm acontecido no nosso país e em todo mundo, com menor ou maior, impacto socioeconomico negativo, de-pendendo das circunstâncias socioculturais de cada país.

Nos próximos números da Re-vista CAPITAL prosseguir-se-á a publicação destas reflexões.

O quadro anexo mostra que de 1995 a 2004 o número de veículos cresceu 133%, enquanto o número de acidentes registados, tendo o ano de 1995 como base (100%), em 1996 desceu em cerca de de 4.8%. No ano 2000 esse quadro se reduz para menos 15%.

Entretanto, repare-se que em 2001, ano de interdição, neste número subiu, apre-sentando o índice de 4,9% e, pior, em 2004 a situação veio a agravar-se para 5,6% em relação ao ano 1995 e 11% em relação ao ano 2001.

Segundo os mesmos números, em 1995 houve um (1) acidente em cada 15 veícu-los, enquanto que essa relação em 2001 é de 1:29 e 1:32 em 2004.

O número de mortes no período entre 1999 e 2004 apresenta uma tendência de crescimento a níveis alarmantes após ter-se registado uma descida de 43.7% em 2000,

Analisadas, estas questões poderão tra-zer um espelho realista do impacto, isto é, dos efeitos, económicos e sociais que os acidentes rodoviários, nas nossa estradas, representam para a economia nacional.

Imagem de um acidente, No ano 2006

registaram-se 5122 contra 5411 aciden-tes de 2007 em todo o território nacional, portanto uma varição de pouco mais de 3%. Note-se que as únicas provincias com menos acidentes nesse período são as da Maputo cidade com uma redução na or-dem dos 6.5%, Provincia de Gaza 16,5% e provincia de Zambézia 18%. Note se ainda que no universo dos acidentes ocor-ridos durante este período, só a Provincia de Maputo registou o aumento de aciden-tes em quase 13%.

Se no ano 2002 os acidentes eram elevados, os dados dos acidentes do ano 2006/2007 não são nada encorajadores.

Note-se que durante o período de 2008 re-gistou-se um aumento 4.966 para, em segui-da, em 2009 se registarem 5.438 acidentes.

Perante este quadro observa-se que entre 2007 a 2008 houve uma relativa re-dução na ordem dos 8% e que essa re-lação vem traduzir-se, entre 2006 e 2009, em apenas 3% enquanto que em termos

de perdas vidas humanas regista-se um acréscimo asustador de quase 30%,

Pelos dados sobre acidentes ocorridos entre 2006 a 2009estabelece-se uma ima-gem nítida de que mesmo com as mais di-versificadas medidas administrativas que têm sido tomadas no sentido de reduzir e/ou prevenir os acidentes rodoviários, a si-tuação tende a aumentar e com enorme impacto negativo na economia dos opera-dores de transportes e do país.

O país não dispõe de dados sobre os custos económicos resultantes de aci-dentes em termos de danos materiais e ferimentos, custos esses que se traduzem na necessidade de importar medicamen-tos para os feridos, peças sobressalentes, para além de outros custos, mas estima-se que seja muito dinheiro, que pode atin-gir os 2,5% do PIB por ano. n

(continua)

Reflexões sobre acidentese Segurança Rodoviária (1)

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Revista Capital16

Rui de Carvalho, director do Jornal Público

O processo de integração cresceu muito rapidamente nos últimos tempos, a nível dos mercados fi-

nanceiros, onde as transacções financei-ras internacionais têm superado perma-nentemente o crescimento do comércio mundial.

Economistas, mais expressivos na análi-se e na discussão dos problemas de inte-gração de mercados, calculam que o nível de integração financeira ficou claramente demonstrado nos crashes sincronizados que se seguiram à queda de Wall Street há mais de mais de duas décadas. Porém, em África, inclusive em Moçambique, a prá-tica, apesar de bastante antiga, só agora começou a falar-se dela, com a criação de blocos regionais de comércio, caso da Zona de Comércio Livre (ZCL) da Co-munidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), em vigor desde Setembro de 2008.

Pelo mundo fora, a interconexão dos mercados existe desde o nascimento do capitalismo, mas a actual velocidade de transmissão, estritamente ligada aos avanços da tecnologia de informação e a escala de fluxos financeiros através de fronteiras nacionais são obviamente sem precedentes e merecem o rótulo das pro-fundas mudanças.

Para os governos de diversos países do mundo, a integração refreia os mercados financeiros e contribui de igual modo para a correcção de erros económicos e políti-cos em prazos cada vez mais curtos.

Defensores da perfeição de mercados consideram a integração de um passo qualitativo no que toca ao crescimento de mercados financeiros nos últimos tempos, pois é a partir dessa integração que os pa-íses do mesmo bloco conseguem consoli-dar os seus negócios e serviços.

Uma visão menos optimista lembraria a cegueira dos mercados financeiros nos anos que precederam à crise da dívida e sua tendência de cometer excessos tanto

na direcção optimista como na pessimis-ta, baseadas em informações frequente-mente incompletas.

Pequenos constrangimentos

Entretanto, como em qualquer campo de actividade, no mercado financeiro tam-bém não há belao sem senão; existem vá-rios constrangimentos que no fim acabam criando grandes flutuações no mercado. No caso vertente da ZCL da SADC, os agentes económicos reclamam a falta de políticas que defendem os investimentos estrangeiros. Ttodas as políticas estão vi-radas para a protecção dos nativos esque-cendo-se do papel que um agente econó-mico de fora pode exercer no crescimento da economia de um determinado país.

No caso específico da Suazilândia, oi sec-tor da economia está controlado pelo rei e seus familiares; qualquer um que vem de fora, quando pretende criar empresa é sujeito a envolver o respectivo rei, Mswati III, no caso de grandes empreendimentos, e ou familiares quando se fala de peque-nos e médios. Esta cultura não encoraja o investimento estrangeiro. Mas também pode-se compreender tratar-se de um problema que encontra sua explicação no facto de aquele país ser ainda um reino que usa políticas desconexas em relação à realidade actual.

Enquanto isso, Moçambique orgulha-se de ter políticas favoráveis ao investimento estrangeiro, mas há que repensar na situ-ação de um estrangeiro que chega em a Moçambique e quer formar a sua empre-sa. É que, ao que tudo indica, a situação não se diefere tanto dao que se vive na vi-zinha Suazilândia. Aliás, a única diferen-ça é que naquele país o estrangeiro que queira se iniciar no seu negócio tem que envolver directamente o rei, seus filhos, mulheres, entre outros membros da sua família, quando em Moçambique o cená-rio passa pela formação de uma sociedade em que o estrangeiro inclua moçambica-nos na estrutura accionista. Isto é pesado e em nada contribui para o crescimento da economia nacional.

Vamos dar carne aos que têem dentes para assim conseguirmos avançar no que ao crescimento do mercado financeiro diz respeito. Com isso, não quero dizer que os moçambicanos não tenham protago-nismo, apenas chamar a atenção para que tenhamos calma no tratamento de casos relacionados. n

Nota da Editora: Este espaço é reservado à opinião de directores, editores e jornalistas de

outros órgãos de comunicação social acerca dos temas abordados pela Capital Magazine, com o intuito de enriquecer o debate e dar voz a

outras opiniões.

PONtO dE mIRa

Blocos de integração vitais aos mercados financeiros

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Revista Capital 17

tuRISmO

Sergio Mabombo (texto) . Luis Muianga (foto)

O país conta a partir deste ano com o Grupo Consultivo de Turismo da Cidade de Maputo (GCTCM), um

organismo inovador que irá divulgar as po-tencialidades turísticas desta metrópole e disponibilizar informações de inteligência de mercado aos investidores do sector.

O GCTCM é constituído por um conjunto de instituições com interesse no desenvol-vimento do turismo na cidade de Maputo, nomeadamente o Município da Cidade de Maputo, o INATUR (Instituto Nacio-nal do Turismo), o Ministério do Turismo (MITUR), a Organização Holandesa para o Desenvolvimento (SNV) e a Associação dos Hotéis do Sul de Moçambique (AHSM). Com este organismo, as oportunidades tu-rísticas de negócio existentes na capital de Moçambique irão estar disponíveis na Car-ta Económica do Turismo, uma publicação periódica que irá ainda disponibilizar infor-mação actualizada relativa ao número de turistas que o País movimenta.

Os objectivos que a Carta Económica do Turismo persegue são, fundamentalmente, Contribuir para o desenvolvimento do Tu-rismo em Maputo; desempenhar o papel de “observatório” reflectindo a evolução e as perspectivas das actividades relacio-nadas com o sector turístico e analisar as tendências económicas globais e regionais, bem como as suas implicações sobre as ac-tividades turísticas. Por outro lado, a Carta irá contribuir também para que os parcei-ros do sector do turismo (público e privado) se unam com o propósito de desenvolver a actividade, partilhando a informação e evo-luindo na mesma direcção, e vai apresentar informações, análises e comentários, que estimulem as decisões das autoridades, ins-tituições, empresários, investidores e con-sumidores.

O marketing orientado para atrair mais turistas e assegurar que os mesmos perma-neçam durante mais tempo no país, geran-do mais lucros para as localidades turísticas, constitui uma das prioridades do GCTCM, segundo Quirin Laumans, director da Orga-nização Holandesa para o Desenvolvimento (SNV) a nível nacional.

A junção de sinergias e o trabalho conjun-to em prol do turismo representam a nova componente que o GCTCM traz para o mer-cado, atendendo a que antes as instituições

ligadas ao turismo exerciam as suas acções separadamente.

Entretanto, e embora o GCTCM tenha sido formalmente constituído este ano, os seus elementos integrantes já exerceram acções de impacto no sector do turismo. A esse propósito, João Munguambe, membro do organismo e director das Actividades Económicas do Conselho Municipal da Ci-dade de Maputo, aponta o Estudo da Cadeia de Valor do Turismo levada a cabo em 2009 (que foi tema de capa na edição de Outu-bro da Capital Magazine). Um esforço que trouxe à tona a influência exercida pelo tu-rismo de Maputo nos subsectores de restau-ração, acomodação, bebidas, entre outros.

Os resultados conseguidos com o referi-do Estudo trouxeram motivação suficiente para que o organismo (GCTCM) pretenda fazer de Maputo um destino capaz de re-ceber turistas e de capitalizar o seu carac-terístico turismo de Negócio e Eventos. O défice do turismo de passeio na ‘cidade das acácias’ constitui a preocupação maior para

o GCTCM. Contudo, pensa-se que esse as-pecto limitativo será superado após a cele-bração de um acordo com uma empresa de comunicação sul-africana, que procederá à promoção do Destino Maputo naquele país.

A questão que sobressai para alguns acto-res do turismo nacional passa por confirmar se a Carta Económica não será simplesmen-te mais um instrumento que visa informar sobre o sector na cidade de Maputo, tal como o fazem o blog do MITUR, o portal do Mozambique Tourism Investment Library, entre demais exemplos. Perante a dúvida, Quirin Laumans explica que a Carta Eco-nómica fará muito mais do que promover a imagem do país. O director da SNV aponta a componente ‘inteligência de mercado’ como uma das prerrogativas básicas do GCTCM.

A relevância dos números

Moçambique deverá passar a tomar as suas decisões no âmbito do turismo tendo por base os números verificados no sector, de modo a que as suas ofertas turísticas cor-respondam às necessidades do seu público-alvo.

De 2004 a 2009, o país duplicou para 1.5 milhões o seu número de turistas tendo ar-recadado no mesmo período 132.6 milhões de dólares. Se para muitos actores do sector do turismo estes números constituem mo-tivo para comemoração, Quirin Laumans, director da SNV em Moçambique, prefere antes analisar as decisões sugeridas por es-tes dados. Do universo de turistas em causa é fundamental saber quantos são os prove-nientes da China, de Paquistão, da Europa e da América, para atender melhor às suas es-pecificidades, uma vez que cada segmento de turistas possui necessidades e comporta-mentos diferentes.

Por outro lado, torna-se preocupante para o representante da SNV o facto de não exis-tir informação sobre a avaliação que os tu-ristas estrangeiros fazem sobre a sua esta-dia em Maputo, bem como sobre o tempo e o dinheiro que gastam na metrópole. Quirin Laumans conclui afirmando que com o co-nhecimento e o desenvolvimento do hábito de interpretação deste tipo de dados, o país pode vir a criar serviços ajustados às neces-sidades específicas dos seus turistas e pro-longar a estadia destes em Moçambique.n

Carta Económica do Turismo promove inteligência de mercado

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18

A globalização da economia mundial vem promovendo mudanças acele-radas que tornam o ambiente inter-

no das organizações cada vez mais comple-xo. Crescem à custa disso as exigências do mercado de trabalho, o que força a procura de profissionais competentes e com altos níveis de comprometimento, capazes de acrescentar valor nos resultados que a em-presa pretende atingir.

Visando compreender o comportamento organizacional em geral, a área da psicolo-gia organizacional vem estudando especifi-camente os antecedentes, correlatos e con-sequentes do construto comprometimento organizacional, buscando compreender a sua relação com muitos comportamentos do trabalhador e a natureza do vínculo en-tre este e a organização na qual trabalha.

Esse interesse é ampliado pela constata-ção de que as mudanças sócio-económicas, tecnológicas e culturais em andamento têm enfraquecido a intensidade do vínculo indivíduo-organização, Mowday. RT et al. apud Bastos (1993).

Este artigo tem como foco o comprome-timento organizacional com o objectivo de despertar a atenção de gestores de recur-sos humanos, fornecendo alguns “subsí-dios” no sentido de se entender melhor o comportamento das pessoas no ambiente de trabalho.

O comprometimento organizacional en-tendido em linhas gerais, como forte vín-culo do indivíduo com a organização, que o incita a realizar um considerável esfor-

ço em prol da organização, influi sobre a produtividade e é considerado por Bastos (1993) um melhor predictor de vários pro-dutos humanos no contexto de trabalho, a exemplo de rotatividade, absentismo e qualidade do desempenho.

Existe, entretanto, pouca concordância sobre o conceito de comprometimento or-ganizacional, podendo serem encontradas diversas definições. Mowday, Steers e Por-ter (1982) realçam a natureza afectiva (en-foque afectivo) do processo de identificação do indivíduo com os objectivos e valores da organização, bem como os sentimentos de lealdade; o desejo de permanecer; e, de se esforçar em prol da organização. Cola-boradores com um elevado comprometi-mento afectivo estão entusiasmados com o trabalho que realizam empenhados para o sucesso da organização, Meyer & Allen (1997).

A segunda grande perspectiva cuja géne-se é o trabalho de Becker (1960) enfatiza a função das recompensas e custos asso-ciados com a condição de integrante da organização (enfoque instrumental). O comprometimento é, neste caso, um me-canismo psicossocial cujos elementos side-bets ou consequências de acções prévias (recompensas e custos) que impõem limi-tes ou restringem acções futuras, Bastos (1993).

O indivíduo permanece na organização porque precisa e não tem alternativas ou devido aos custos associados à sua saída serem elevados (remuneração, status, os

múltiplos investimentos feitos no desen-volvimento de habilidades, contribuições feitas para fundos de pensão, etc.) e tor-nam custoso o abandono da organização.

Uma terceira vertente fundamenta-se nos estudos de Weimer (1982) e Weimer & Vardi (1990) que procuram cruzar os sistemas cultural e motivacional, reconhe-cendo-se que a cultura pode actuar direc-tamente no sentido de produzir membros “comprometidos”. Destacam-se ainda as pressões normativas internalizadas pelo indivíduo que se manifestam em padrões de comportamento que possuem como características o sacrifício pessoal, a per-sistência e a preocupação pessoal; os in-divíduos permanecem na empresa porque sentem que têm uma obrigação moral para com a organização.

Alguns autores ressaltam que vínculos fortes entre o indivíduo e a organização podem emergir quando as empresas aten-dem às necessidades e expectativas trazi-das pelo trabalhador. Face a essa realidade como é que os gestores estão actuando?

O grande desafio dos gestores de recur-sos humanos é apreender a realidade or-ganizacional a partir do indivíduo e da sua

subjectividade.n

(*) Psicóloga Organizacional e Chefe de Divisão de Gestão Estratégica de RH e Formação da Autoridade

Tributária de Moçambique

RECuRSOS humaNOS

ComprometimentoOrganizacional (1)

Maria Uamba *

Revista Capital

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19Revista Capital

ELETROTEC

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Quanto mais avançamos no século, mais novidades aparecem e mais ferramentas possuímos para lidar

com tais avanços, como por exemplo a in-formática. De facto, a cada mês, e todos os anos, são fabricadas máquinas com mais recursos de inteligência artificial. Aliás, os celulares seguem a mesma tendência, asse-melhando-se a computadores de bolso ou a mini-portáteis, e os televisores, que antes eram volumosos e da largura dum livro de 600 páginas, hoje são feitos de fino plasma. Ou seja, acedemos a equipamentos dos que antes só víamos

nos filmes do James Bond.Para acompanhar as economias mais de-

senvolvidas urge que avancemos com cele-ridade, pois diariamente somos surpreen-didos com novidades inesperadas e se não estivermos preparados, ficamos para trás, por isso somos obrigados a falar uma língua universal: a da tecnologia.

O recurso tempo é um outro factor que in-fluencia a nossa vida profissional. Quantas vezes ouvimos as pessoas dizer, por exem-plo, que não têm tempo, que terão que fazer isto ou aquilo, à hora de almoço ou ao fim do dia, ou ainda, que um dia deveria ter 48 horas?

Não podemos alterar o número de horas que um dia tem mas podemos interferir na criação de serviços que satisfaçam essas necessidades utilizando as ferramentas nas áreas de multimédia.

O Instituto Superior de Comunicação e Imagem de Moçambique (ISCIM), em parce-ria com a ed-rom – Produção de Conteúdos Multimédia, lançam no mercado moçambi-cano cursos de Comunicação Empresarial e Análise de Dados, como forma de satisfazer a necessidade de um segmento de mercado de profissionais com falta do recurso tempo para a formação. O ISCIM apresenta um le-que de alternativas de ensino para todos os que desempenham funções de gestão, con-sultoria, auditoria, ou outras que envolvam a preparação de relatórios, propostas e outras

comunicações empresariais que sejam fáceis de ler e compreender, que sejam capazes de persuadir e motivar a acção do público-alvo; a preparação de dados para análise através de transformações avançadas; organizar, ordenar e agrupar os dados; extrair infor-mação analítica, sob múltiplas perspectivas e critérios, de um grande volume de dados, em tempo recorde; realizar apresentações

presenciais e eficazes com elevado impacto.Este curso é integralmente em e-learning.

Contém manuais interactivos, estudos de caso, trabalhos práticos, fóruns de discussão, e ou-tras opções de interactividade disponíveis 24 horas por dia, todos os dias da semana.

Dispõe de apoio de um tutor on-line que o acompanha, orienta, esclarece dúvidas e co-menta e avalia os trabalhos. Esta é uma exce-lente oportunidade para começar um curso de capacitação caso não tenha tempo para fre-quentar um curso tradicional.

Sendo um curso em e-learning, não existe horário estabelecido para as actividades do mesmo. Existem sim prazos limite pelo que terá de gerir o tempo de modo a completar as actividades e a entregar os trabalhos práticos antes do prazo estabelecido. No que respeita ao tempo a despender, poderá necessitar de dedicar ao curso uma média de 4 a 5 horas por semana.

Um estudo elaborado por uma empresa de consultoria demonstra as vantagens da forma-ção on-line em termos de custos, facilidade de acesso, interactividade, oportunidade e impul-so de conclusão.

A formação on-line oferece as seguintes van-tagens: custos reduzidos; permite um acesso simples e fácil dos colaboradores à formação; responde de forma mais exacta a cada neces-sidade específica de formação (personaliza a formação); constitui uma forma de enriquecer a actividade dos formadores, de os realizar profissionalmente e de lhes alargar o campo de actuação.n

EmPRESaS

Revista Capital20

Avanços tecnológicos e a sua influência na educação

Nadim CassamoDirector Pedagógico do Instituto

Profissional de Comunicação e Imagem

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21

REgIÃO

Revista Capital

PUBGEISER

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Revista Capital22

Inaugurado Centro BCI Corporate da Polana, em Maputo

Foi inaugurado no passado dia 2 de Março, em Maputo, mais um Centro BCI Corporate dedicado

inteiramente às Grandes e Médias Empresas moçambicanas.

Com este novo espaço, o BCI já tem em funcionamento 4 Centros

BCI Corporate, o primeiro dos quais inaugurado em Nampula

em Dezembro de 2008.

Os Centros BCI Corporate estão preparados para oferecer um

acompanhamento personalizado e permanente das Empresas

através de Gestores dedicados e de produtos e serviços especial-

izados.

No âmbito do plano de expansão da rede comercial do BCI, foi in-augurado mais um Centro BCI Corporate, em Maputo, no passado dia 2 de Março. Com este novo espaço, o BCI já tem em funcionamento 4 Centros BCI Corporate, 3 dos quais em Maputo e 1 em Nampula, que foi o primeiro a ser inaugurado, em Dezembro de 2008.Os Centros BCI Corporate são inteiramente dedicados às Grandes e Médias Empresas moçambicanas e às Empresas estrangeiras com interesses em Moçambique, às quais oferecem um acompanhamen-to personalizado e permanente, através de Gestores dedicados, e a disponibilidade de produtos e serviços especializados.Nos Centros BCI Corporate, as Grandes e Médias Empresas podem contar com o melhor aconselhamento para apoio à instalação e gestão corrente, à gestão optimizada de recursos, ao financiamento de planos de investimento, ao suporte a projectos de internacional-ização ou operações com o exterior e no acesso a todos os serviços bancários especializados.A Cerimónia de inauguração foi presidida pelo Governador do Banco de Moçambique, Dr. Ernesto Gouveia Gove, que foi recebido pelo Presidente da Comissão Executiva do BCI, Dr. Ibraimo Ibraimo.Presentes na Cerimónia, o embaixador de Portugal em Moçambique, Mário Godinho de Matos, o Presidente da Assembleia Geral do BCI, António Vitorino, estavam também diversos membros do Conselho de Administração do BCI, assim como Presidentes e Administradores de Grandes Empresas e outras individualidades, que testemunharam mais um importante passo na expansão da Rede Comercial do BCI.

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Revista Capital 23

EfEItO COlatERal

Helga Nunes (texto)

O que podemos dizer sobre o pulsar da nossa economia? Após registar, desde o início da década, uma mé-

dia anual de 8.6%, o crescimento do Pro-duto Interno Bruto (PIB) de Moçambique abrandou para 6.2% em 2008. Em 2009, o crescimento abrandou graças à queda da procura global das matérias-primas mo-çambicanas, em particular do alumínio. A escassez de crédito e a baixa dos custos das matérias-primas estão a provocar quebras de produção e a anulação de vários projec-tos de investimento públicos e privados.

O quadro geral demonstra que o cresci-mento continua a ser suportado pelas ac-tividades de exportação, dominadas por mega-projectos de capital-intensivo, e que o restante sector privado continua estagnado. De acordo com o documento African Eco-nomic Outlook 2009, elaborado pelo BAD e pela OCDE, a situação reflecte o difícil clima dos negócios, onde os investidores nacio-nais são confrontados com uma regulamen-tação asfixiante, com a corrupção e com o disfuncionamento dos monopólios públicos que, por sua vez, determinam o aumento dos custos.

Mas como têm evoluído os sectores econó-micos? Em 2008, o sector agrícola contraiu-se em resultado das inundações e dos ciclo-nes que fustigaram o País e não conseguiu atingir o objectivo de 7.0% de crescimento anual, tendo a agricultura crescido abaixo dos 6.0%. No mesmo ano, a produção e as exportações do alumínio da Mozal caíram por duas razões: falhas de energia causadas pela central eléctrica sul-africana Eskom e a redução dos preços e da procura. A falta da energia afectou também o sector manu-factureiro e, em consequência, a produção industrial total caiu 5.1% num ano.

Moçambique pretende ser um importante produtor de biocarburantes, a fim de redu-zir a dependência do país dos combustíveis importados e, segundo estimativas, pode vir a produzir 40 milhões de litros de biodiesel e 21 milhões litros de etanol, por ano.

O sector mineiro apresenta um forte po-tencial. Projectos de investimento no car-vão, gás e electricidade poderão fazer de Moçambique um importante produtor de electricidade e um exportador de carvão.

Várias empresas estrangeiras que obtive-ram licenças para a exploração de petróleo, de gás e de minerais, tais como o titânio, o urânio e o ouro, estão a proceder a prospec-ções nas províncias de Tete e de Sofala. Foi concedida uma licença à companhia petro-lífera da Malásia Petronas para prospecção

na bacia do Rovuma (Cabo Delgado) e com-panhias estrangeiras tais como a Anadarko (EstadosUnidos), a Artumas (Canadá), a ENI (Itália) e a Hydro deNorsk (Noruega) desenvolvem também prospecções de pe-tróleo. A companhia Oilmoz assinou um acordo com a Shell Global Solutions com vista a realizar um estudo de viabilidade de uma refinaria que planeia construir em Ma-tutuine até 2014, e na calha continua a estar a tão aguardada refinaria de Nacala.

Os projectos minerais de maior viabilidade são aqueles cuja construção está já em exe-cução ou que têm financiamento já assegu-rado. Entre estes, encontra-se o desenvolvi-mento de um oleoduto ligando o porto de Maputo à África do Sul, ou o mega-projecto de extensão do gasoduto do grupo petroquí-mico Sasol que deverá investir 225 milhões de dólares de modo a aumentar a produção do gás de Pande e Temane para exportação para o mercado sul-africano. E em 2010, a companhia mineira australiana/sul-africa-na BHP-Billiton e a companhia sul-africana Industrial Development Corporation prevê-em extrair milhões de toneladas de carvão em Tete.

Mas nem tudo são rosas. Diversos pro-jectos mineiros encontram-se ameaçados. O projecto de 500 milhões de dólares para a exploração de titânio do Corridor Sands

foi adiado, em resposta às dúvidas acerca da sua rentabilidade, e o mega-projeto da VALE que conta com financiamento brasi-leiro para a extracção do carvão em Moatize (e cujas exportações deveriam começar em 2011) também foi adiado devido ao bloqueio dos mercados internacionais de crédito.

Os sectores da Indústria, Energia, Hotela-ria e Turismo, Agricultura e Construção fo-ram os que mais projectos de investimentos registaram em 2009, sendo que o Turismo é o sector que nitidamente lidera a lista.

Apesar do debate entre alguns sectores do Governo e analistas económicos, as políti-cas económicas não permitiram que o PIB crescesse na ordem dos 7% - conforme o previsto nas metas de crescimento da eco-nomia moçambicana. Ao mesmo tempo, a Balança Comercial de Moçambique em 2009 foi a mais negativa desde 2004.

A expectativa é que a contracção dos crédi-tos internacionais venha a reduzir os mon-tantes de IDE. Não obstante, a economia deverá estar relativamente protegida dos impactos directos da crise financeira mun-dial devido à deficiente integração do país nos mercados mundiais de capitais, e as previsões de crescimento para 2010 (5.2%) baseiam-se na hipótese da recuperação da economia mundial e da prossecução da ex-pansão agrícola.n

Números que nos desafiam

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Revista Capital24

ENtREvISta

Helga Nunes (texto e fotos)

Entre o impacto da crise mun-dial e diante da recuperação dos seus índices de desenvol-vimento, Moçambique enfren-ta sérios desafios de ordem económica. João Mosca, dou-torado em Economia e Agrária e Sociologia Rural, professor catedrático, investigador na Universidade Politécnica e au-tor de livros sobre economia, reflecte sobre a actualidade do país apontando problemas e soluções.

No âmbito das economias pobres, Moçambique é considerado um dos países mais seguros para o inves-timento externo. Não obstante, os mega-projectos parecem merecer a atenção dos investidores externos, quando a economia moçambicana revela precisar de projectos de me-nor dimensão para desenvolver o seu tecido empresarial. Que comentário lhe sugere esta realidade?Mega-projectos e PMEs não são contraditó-rios. Podem-se reforçar mutuamente. Um grande projecto pode gerar clusteres. Mas são as PMEs que criam mais emprego, têm um efeito redistributivo maior, produzem relações intersectoriais endogeneizando o crescimento e formam técnicos assumindo as tecnologias. Nos mega-projectos estes efeitos são muito menores. Por cada uni-dade de valor investido é importante saber quanto se gera de output, valor acrescenta-do, emprego, distribuição da renda a partir da criação de riqueza, etc.. Isso implica co-nhecer quais o sectores e regiões de maior rentabilidade. E temo que não se saiba. Há grande ignorância sobre a economia e a sociedade. Não me refiro à ignorância dos factos, mas dos mecanismos de funciona-mento da economia, como ela reage aos es-tímulos e às contrariedades. Por exemplo, como reage a economia com uma variação em 0,1% na taxa de juros? Sabe-se quais os efeitos que a integração na SADC provocará internamente, em que sectores, quais as zo-nas do país que melhor e pior se integrarão, que grupos sociais se beneficiarão, etc.?

Nos últimos anos, as assimetrias re-gionais têm vindo a acentuar ao in-vés de atenuar? Maputo ainda con-centra grande parte dos recursos e do investimento. Como reverter essa tendência?Pode-se reduzir as assimetrias num hori-

zonte temporal de longo prazo, com polí-ticas económicas activas de incentivo e de descriminação positiva com uma estraté-gia baseada no conhecimento científico da realidade e sabendo-se quais o incentivos para que sectores e em que regiões do país. Criando condições de atractividade para o investimento e para que as iniciativas locais possuam possibilidades e acessibilidade a recursos e o desenvolvimento seja também a partir “de baixo” ou “de dentro”. Para isso acontecer é importante que o Estado pos-sua políticas económicas e recursos que se destinem a estes objectivos. O mercado não tem resolvido estas questões, pelo con-trário, tem agravado. Há um liberalismo económico “puro e duro” porventura in-consciente dos seus verdadeiros efeitos, ou, sabe-se e eles são desejados para agendas pessoais e de grupos.

Refere, no seu livro «Economican-do» , que o crescimento com equida-de exige um Estado que desempenhe as suas funções sem substituir a ini-ciativa privada, mas regulando-a e fiscalizando-a. E que a equidade e as suas condições atraem investimentos avultados que preferem operar em ambientes competitivos. Mas o que deve vir em primeiro lugar? O cresci-

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mento (riqueza) ou a equidade?É possível crescer simultaneamente. Teo-ricamente, os dois objectivos não são mo-mentaneamente contraditórios. Eventual-mente, crescer com equidade exige algum compromisso de curto prazo com a efici-ência estritamente económica. Mas a equi-dade não só é possível como necessária. As grandes desigualdades sociais e espaciais provocam instabilidade, resistências, po-dem reactivar elementos de conflitualidade política. Quando a pobreza é grande em ex-tensão e profundidade, a equidade é ainda uma questão de justiça e de inclusão social. E quando a pobreza é acompanhada com crescente desigualdades sociais e espaciais com acumulação de origem duvidosa, en-tão podem-se gerar climas de indignação e revolta. A equidade económica desenvolve o mercado interno e pode, a partir do incre-mento da procura, equilibrar as assimetrias de desenvolvimento intersectorial, social e espacial. Por estas razões, importa conside-rar como fundamental a questão da equi-dade. Os tecnocratas da economia não são simpatizantes desta opção.

“O recuo da pobreza é lento. As de-sigualdades sociais aumentam. Mo-çambique posiciona-se na cauda do ranking do Índice de Desenvol-vimento Humano e o Índice de Gini é muito baixo”. Perante este estado de coisas, os grandes projectos – su-portados com capitais externos - não contribuem para inverter a situação existente. Por quê essa perspectiva, e de que projectos fala em concreto (os associados ao sector dos minérios, turismo e energia)?Os mega-projectos geram pouco emprego por capital investido. Localizam-se num espaço muito limitado e com poucos efeitos e ligações com o território. Muitos extraem recursos com efeitos ambientais sérios. Não “internalizam” o conhecimento tecnológico e de gestão. Os efeitos redistributivos são muito limitados. Aumentam as desigual-dades sociais e espaciais. Isto acontece com quase todos os mega-projectos que existem em Moçambique. Mas os grandes projectos também são necessários. Como já referi, não há necessariamente um conflito entre grandes projectos e pequenas e médias empresas. Os mega-projectos contribuem para a balança comercial (mas não tanto como se supõe), dão prestigio ao país e po-dem atrair mais investimentos.

A propósito do lançamento da obra «Desafios para Moçambique 2010», do IESE, alguém referiu a propósito qual seria a prioridade em termos de estratégia para 2010 quando tudo no país parece ser prioridade. A agri-cultura é prioridade, os transpor-tes e comunicações são prioridade, o sector dos minérios, do turismo e da energia são prioridades… deixan-do pouca margem de manobra para uma aposta de facto eficaz. O que pensa desta reflexão?

Isso é verdade. Quando tudo é prioridade nada o é. Revela claramente a não existência de uma política económica para a economia real, falta de estratégia de desenvolvimento global do país e ausência de coragem políti-ca para tomar opções. Mais grave é quando há um vazio acerca de um projecto para o país que seja mobilizador de vontades pa-trióticas. Precisam-se ideais e as pessoas pensam nos reais (dólares). Dizer-se quais os sectores e territórios que não merecerão prioridade num período de médio prazo, pode provocar reacções políticas. Ou, con-trariamente, pode haver conscientemente a política de não ter política em benefício de interesses e agendas pessoais e de grupos. Ou ainda e também o predomínio ideológi-co do ultra liberalismos económico.Muitas vezes, culpabiliza-se a comunidade internacional e as organizações financeiras de excessiva “influência”. É verdade. Mas por parte da governação poucas alterna-tivas são apresentadas. Os negociadores nacionais e a governação são, na prática, também apologistas dessas políticas. São os “bons alunos” e, mais que isso, os “bem comportados”. A troco de quê, em realida-des onde quase tudo é business?

Os economistas referem em unísso-no que os grandes benefícios em ter-mos de políticas fiscais e as isenções de impostos afectam negativamen-te as receitas públicas, impedindo a redução da dependência face aos recursos doados e ao financiamento externo. Aliás, mais de 50% dos gas-tos do Estado são suportados pela cooperação internacional. É da opi-nião de que o Estado deve renegociar os acordos realizados com alguns mega-projectos?Estou de acordo. É necessário renegociar sabendo das capacidades (fortalezas) na negociação de forma a obter benefícios acrescentados sem que as vantagens de localização dos grandes projectos em Mo-çambique sejam comprometidas e o inte-resse económico dos investidores alterado. Mas também neste aspecto, Moçambique tem margem de negociação porque a maio-ria dos grandes projectos extraem recursos e eles não podem ser transferidos. A gover-nação possui experiência de negociação po-lítica mas não económica. É preciso trans-ferir essas habilidades para a economia e para isso necessita-se fundamentar as po-sições com conhecimento aprofundado das áreas em que se negoceia. Além disso, há um forte desequilíbrio entre os incentivos para os grandes projectos e aqueles que são oferecidos aos pequenos e médios investi-dores.As empresas devem pagar impostos. Não se deve camuflar isso com a chamada “res-ponsabilidade social”. O que os grandes projectos fazem quase nunca se integra nesse conceito. São pequenas acções, de-magógicas e mediaticamente manipuladas que substituem o Estado desresponsabili-zando-o.

Apesar de se dizer que a «economia moçambicana vai bem», com o PIB na ordem dos 6.1 por cento em 2009, persistem aspectos negativos como a alta taxa de juro (na ordem dos 20%), que permite que os bancos em Mo-çambique sejam dos mais rentáveis, e estima-se que o emprego em acti-vidades formais englobe apenas 450 mil trabalhadores (30% dos quais funcionários públicos). Por outro lado, entre 125 países, Moçambique está no 121.º lugar termos de compe-titividade. Existe uma manifesta fal-ta de iniciativa privada? A classe capitalista moçambicana possui 20 anos. Está em formação, não possui ca-pital, conhecimento e tradição. As políticas de promoção do capitalismo têm sido pro-fundamente erradas. São muito proteccio-nistas em vários aspectos, com concentra-ção de beneficiários, assentes em ligações promíscuas entre a política e os negócios, muitas vezes com comportamentos econó-micos ilícitos e pouco éticos. Distorce-se ainda mais a economia e os mercados, não se desenvolve com inclusão e não se pro-move a sociedade de mérito. Assim não se cria um capitalismo moderno, eficiente e

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competitivo. É necessário profissionalizar a economia, dar espaço às pessoas de méri-to independentemente das suas simpatias políticas ou de outras naturezas. É impor-tante que a sociedade civil lute para a apro-ximação das igualdades de oportunidades, de acesso e de influência nas decisões go-vernativas. Mas tem de ser a sociedade civil realmente não governamental.Os próprios empresários deveriam rejei-tar este ambiente promíscuo que distorce os mercados, gera ineficiências, perdas de competitividade e alimenta rendas sem contrapartidas ou são a troco de tráfego de influência. Não o fazem porque na maio-ria dos casos necessitam de protecção e de alguém junto ou no poder para que os negócios tenham êxito ou sejam possíveis. Esses mecanismos são propositadamente por parte de quem tem o poder. Essas teias de compromissos e dependências também estão politizadas. A partidarização da eco-nomia não é menos grave que a partidari-zação das instituições públicas. Duvido que saibamos quanto mal esses compromissos fazem aos nossos netos.

Perto de 60% das exportações mo-çambicanas são de alumínio realiza-do por uma empresa (a Mozal), que envolve investimento sul-africano, e cerca de 41% das importações pro-vêm da África do Sul. Não poderá ser considerada uma dependência excessiva em relação à economia sul-africana?A dependência é histórica. Em cada mo-mento com elementos de natureza política e social diferenciados e assentes em estru-turas económicas que sofreu mudanças.

Não me preocupa tanto os indicadores eco-nómicos que referiu ou outros. É mais im-portante saber se com esses indicadores a governação moçambicana mantém a sobe-rania ou está subserviente nas decisões das políticas económicas e sociais e mesmo de segurança. Há muitos países que possuem

indicadores económicos que podem pare-cer situações de grande dependência mas na realidade não o são. Aceitemos que esses indicadores revelam por si dependência. As elites rendeiras es-tão interessadas em reduzir a dependên-cia? Alterar ou reduzir a dependência im-plica rupturas na política económica e nos padrões de acumulação com os quais se está relacionado. É possível?De que modo pensa que as comuni-dades estrangeiras têm vindo a con-tribuir para o desenvolvimento do país? Referimo-nos, por exemplo, à comunidade sul-africana, brasilei-ra, portuguesa, chinesa, malawiana, zimbabueana…As sociedades caminham irreversivelmente para crescentes aberturas e disso ninguém se pode esquecer. O intercâmbio económi-co e cultural cria as riquezas da heteroge-neidade, da diversidade e do encontro de ideias, de tecnologias, de conhecimento etc.. Geram-se referências do mundo que ajudam a saber o que somos e onde esta-mos. Os países mais desenvolvidos são os que possuem tradição e sociedades mais abertas. Todas as economias emergentes estão a fazer aberturas políticas, económi-cas e de mobilidade dos cidadãos. O contrá-rio também é verdadeiro. No caso de Moçambique, existe muito na-cionalismo provinciano, proteccionismo com recurso a demagogias e a sentimentos supostamente patrióticos. É preciso intro-duzir reformas legislativas, por exemplo entre outras, na lei do trabalho que é muito rígida e proteccionista. O proteccionismo pode ser importante desde que seja tempo-rário e se utilize esse tempo para tornar a economia, a sociedade e as pessoas compe-titivas. É importante gerar a mentalidade de abertura intelectual, cívica, de tolerância e da interculturalidade. O proteccionismo sustenta ineficiências, falta de competitivi-dade, ausência de inovação e eleva os pre-ços ao consumidor em defesa de interesses de minorias.Assim, penso que os fenómenos migra-tórios são úteis ao desenvolvimento. Ad-mito porém que os riscos políticos sejam grandes. Que as sociedades têm níveis de maturidade democrática e de capacidade de integração dos imigrantes muito dife-rentes. E mais quando as memórias e os sentimentos menos positivos da coloni-zação estão presentes. Por outro lado, Moçambique e os moçambicanos não se podem esquecer que existe uma história de emigração. De acolhimento nos países vizinhos devido aos conflitos e a outros factores. Da solidariedade internacional e da cooperação que suporta hoje metade do orçamento do Estado, quase 80% do investimento, etc..Pode-se ainda falar de imigração qualifica-da, isto é permitir apenas técnicos especia-lizados e empresários investidores. É uma opção. Mas a emigração moçambicana de que me referi é especializada? Não é acon-selhável existirem discursos diferentes se-gundo se trate de emigração ou imigração.

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Quais foram os impactos mais evi-dentes da crise mundial na economia de Moçambique? Os impactos reflectiram-se principalmente no abrandamento do crescimento econó-mico, na redução da inflação por redução da procura interna (o que não é um sinal positivo ao contrário de alguns discursos politizados de responsáveis do Banco Cen-tral), na diminuição dos volumes exporta-dos com agravamento das receitas externas pelo efeito da baixa de preços de alguns bens exportados, nas receitas e despesas públicas, alguma perda de emprego e um compasso de espera em alguns investimen-tos externos. Mas não se sabe se tudo foi consequência da crise internacional ou de que forma a política económica moçambi-cana permitiu maior resistência ou vulne-rabilidade aos choques externos.Os efeitos, embora importantes, foram me-nores do que em outros países da SADC. Se retirar mérito a algumas medidas acertadas de defesa contra a crise, esse reduzido efei-to deveu-se sobretudo à baixa integração da economia principalmente do sector fi-nanceiro, e ao apoio externo. Nesse senti-do, seria preferível que os efeitos da crise

tivessem sido maiores. Significaria que Mo-çambique estaria mais desenvolvido e mais integrado na economia internacional.

E quais pensa vir a ser os maiores de-safios para Moçambique ao longo de 2010?Os desafios não são para 2010. São desafios de longo prazo. Por agora e possivelmente nos próximos anos, para o bem e para o mal, vislumbra-se mais a continuidade. Pa-rece que tudo vai bem.Quais os desafios? Por exemplo:• Aceitar a construção de uma sociedade

aberta, realmente democrática, inclusi-va, mais equitativa e menos partidari-zada e com desenvolvimento de organi-zações activas e realmente não governa-mentais ou partidárias.

• Caminhar para modelos de desenvolvi-mento com a configuração de padrões de acumulação que permitam a endo-geneização do desenvolvimento parale-lamente com uma integração regional e na economia internacional que interesse ao país.

• Reduzir a dependência aumentando em primeiro lugar a capacidade de definição

de políticas e estratégias que sustentem as negociações com os parceiros inter-nacionais. Depois, concentrar a coope-ração em sectores geradores de factores de desenvolvimento, como na constru-ção do capital produtivo, na formação do capital humano, no conhecimento e na formação da sociedade civil realmen-te não governamental nem partidista.

• Construir uma economia competitiva, eficiente, com um bom ambiente de ne-gócios, que promova as iniciativas das pequenas e médias empresas e assentes no mérito e profissionalismo.

• Fazer do Estado uma burocracia profis-sionalizada, eficiente, não partidarizada, com clara definição e aplicação de con-flitos de interesses e sem zonas de pe-numbra entre Estado, governo, partido no poder e empresas públicas.

• Reforço, capacitação e empoderamento das instituições públicas, privadas e da sociedade civil ao nível do território que promova o desenvolvimento rural.

• Não aceitar a formação sem qualidade, mesmo que em prejuízo da massificação do ensino, e aceitar a investigação sem impedimentos e dificuldades de acesso à informação para se constituir o capital de conhecimento o que não é o mesmo de capital humano.

• Encontrar novas formas de combate ho-lístico às epidemias.

Finalmente, o desafio principal é saber se as elites e a governação aceitam e promovam es-ses desafios. Se não aceitam, então deixam de fazer parte da solução e são parte do proble-ma. E sobre isso, tenho muitas dúvidas.n

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ambIENtE

Hora do planeta estreia em Moçambique

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Ser Mulher e EmpreendedoraA propósito do fenómeno do empreendedorismo feminino, Cláudia Tivane, consultora na área de Reengenharia de Processos Empre-sariais e Sistemas de Gestão da Qualidade, tece algumas considerações pertinentes ao mesmo tempo que traça o panorama profissional que as mulheres vivem no país.

Como vê o empreendedorismo feminino em Moçambique? Em que estágio se encontra?Em Moçambique há pouca divulgação sobre o empreendedorismo feminino. Os dados estatísticos nesta área, como por exemplo o per-centual de mulheres dedicado ao empreendedorismo, os ramos de negócio preferidos e a taxa de sucesso desses empreendimentos não têm sido largamente divulgados à semelhança de outros países como o Brasil, EUA, China e outros. Entretanto, pelo que se pode acom-panhar e perceber, o empreendedorismo feminino vem ganhando espaço e importância em Moçambique sendo próprio, por um lado, de mulheres que buscam autonomia e independência, seja por necessidade financeira ou por desejo de alcançar os seus sonhos e ideais, e, por outro lado, motivado pela crescente taxa de desemprego. Qual tem sido a principal causa da falência das empresas?O que se tem constatado, pelo menos a nível de algumas microempresas moçambicanas, é o início de empreendimentos sem planifica-ção adequada e sem uma estrutura sólida. Depois do estabelecimento da empresa, estas são geridas ignorando-se os princípios básicos de gestão, empregando-se mão-de-obra não qualificada, com deficiente controlo interno, entre outros factores. Entretanto, não se pode deixar de considerar outros factores de ambiente externo que têm concorrido para a falência das empresas e que sobre os quais não há controlo, como por exemplo a crise económica, a concorrência desleal, alguma discriminação (de género) e a pressão da corrupção.O mercado empresarial moçambicano mostra alguma oportunidade ou abertura para a maior actuação feminina neste ramo de activi-dade? Não existe uma diferença em termos de oportunidades. Isto é, as oportunidades são as mesmas tanto para homens como para mulheres. Felizmente, as mulheres já conseguem identificar facilmente as oportunidades de negócio, têm conquistado o seu espaço no mundo empresarial e vêm ganhando muita visibilidade - situação que não se verificava há uns anos. O que se pode fazer para ampliar cada vez mais esse espaço?O governo tem introduzido várias mudanças que de certa forma ampliam cada vez mais este espaço. A título de exemplo, pode-se referir a introdução de licenciamento simplificado que permite a emissão imediata de licenças para o exercício da actividade empresarial, a introdução do regime de impostos simplificado, entre outras medidas. Contudo, ainda há obstáculos a transpor como é o caso da buroc-racia e da corrupção. Podia-se realizar eventos vocacionados e premiar as melhores iniciativas de mulheres.Acha que a mulher tem capacidade de liderança face à concorrência que se vive actualmente no nosso mercado? Não pode haver dúvidas sobre a capacidade da mulher na liderança. Ela tem atributos naturais que a colocam em vantagem em relação ao homem. Só para citar alguns, a mulher tem capacidade de realizar múltiplas tarefas, cuidando de vários assuntos ao mesmo tempo, é dedicada, disciplinada, tem senso de responsabilidade e perseverança. Há ainda uma grande vantagem que a mulher tem, a intuição, que lhe dá muita coragem de avançar nas decisões de alto risco. Estes atributos, agregados, fazem da mulher uma pessoa com preparação natural para os desafios da liderança. Obviamente que aspectos culturais têm influenciado muito para que as oportunidades de assumir os postos de liderança sejam, muitas vezes, cedidas ao género masculino. Que factores contribuem para o sucesso das empresas? Existem vários factores que contribuem para o sucesso de uma empresa, mas vou falar de alguns que os considero básicos. Uma correcta planificação estratégica, baseada na análise de factores do ambiente interno e externo que possam ter um impacto significativo sobre o negócio. E é também importante que haja uma clareza para todos os colaboradores da finalidade pela qual todos os esforços da empresa estão direccionados, do que se pretende alcançar e como alcançar.É necessário que haja um conhecimento profundo dos processos do negócio, monitoria destes processos e sua melhoria contínua; este factor deve ser aliado à capacitação, desenvolvimento e motivação dos colaboradores para que haja competências necessárias na execução dos processos do negócio. Por outro lado, a focalização no cliente deve ser prioritária para a organização. O cliente é a razão principal da existência das empresas, por isso devem ser muito bem entendidas as suas necessidades e permanentemente monitorada a sua satisfação relativamente aos serviços fornecidos.Por último, o acompanhamento e análise permanente das mudanças do mercado e reajustamento das estratégias e processos do negócio de acordo com as mudanças do mercado. Este acompanhamento permite que se opere dentro da legalidade vigente, com respeito pelas regras do mercado e que, continuamente, haja reajustamento contínuo entre os pontos fortes e fracos da empresa com as oportunidades e ameaças aos quais o negócio está exposto.

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No presente texto propomo-nos fazer uma breve abordagem sobre a tributação das mais-valias auferidas por entidades não residentes em Moçambique.

Conceito

Consideram-se mais-valias (ou menos-va-lias) realizadas os ganhos obtidos (ou as perdas sofridas) relativamente a elementos do activo imobilizado mediante transmis-são onerosa, ou qualquer que seja o título por que se opere, e, bem assim, as deriva-das de sinistros ou as resultantes da afecta-ção permanente daqueles elementos a fins alheios à actividade exercida, de acordo com o n.º 1 do Artigo 37.º do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRPC), aprovado pela Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro.O dispositivo legal supra estabelece, ainda, que as mais e as menos-valias são dadas pela diferença entre o valor de realização, líquido dos encargos inerentes, e o valor de aquisição, deduzido das reintegrações ou amortizações praticadas.Assim, considera-se valor de realização:

• No caso de troca, o valor de mercado dos bens ou direitos recebidos, acres-cido ou diminuído, consoante o caso, da importância em dinheiro conjunta-mente recebida ou paga;

• No caso de expropriações ou de bens sinistrados, o valor da correspondente indemnização;

• No caso de bens afectos permanente-mente a fins alheios à actividade exer-cida, o seu valor de mercado;

• Nos casos de fusão ou de cisão, o valor por que os elementos são inscritos na contabilidade da entidade para a qual se transmitem em consequência da-queles actos;

• Nos casos de alienação de títulos de dívida, o valor da transacção, líquido dos juros contáveis desde a data do

último vencimento ou da emissão, primeira colocação ou endosso, se ainda não houver ocorrido qualquer vencimento, até à data da transmis-são, bem como da diferença pela par-te correspondente àqueles períodos, entre o valor de reembolso e o preço da emissão, nos casos de títulos cuja remuneração seja constituída, total ou parcialmente, por aquela diferença; e

• Nos demais casos, o valor da respecti-va contraprestação.

A Tributação das mais-valias auferidas por entidades não residentes

fISCalIdadE

Cláudia AdãoConsultora

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Tratando-se de troca por bens futuros, o valor de mercado destes será o que lhes correspondia à data da respectiva troca efectuada pelos intervenientes.

Determinação das mais-valias

O valor dos rendimentos qualificados como mais-valias correspondente ao saldo apu-rado entre as mais e as menos-valias rea-lizadas no mesmo ano, de acordo com as seguintes regras, nos termos do artigo 40 do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (CIRPS), aplicado também às pessoas colectivas por força da alínea d) do n.º 1 do artigo 4 do CIRPC:

• Considerado em 50% do seu valor nos casos da alienação de direitos reais so-bre bens imóveis e afectação de quais-quer bens do património particular a actividade empresarial e profissional; de propriedade intelectual ou indus-trial e cessão onerosa de posições con-tratuais ou outros direitos inerentes a contratos relativos a bens imóveis;

• Na alienação de partes sociais consi-dera-se em:

l 75% do seu valor, quando as partes so-ciais ou outros valores mobiliários forem detidos durante menos de 12 meses;l 60% do seu valor, quando detidas por pe-ríodo entre 12 e 24 meses;l 40% do seu valor, quando detidas por pe-ríodo entre 24 e 60 meses; el 30% do seu valor, quando detidas por mais de 60 meses.

A mais-valia provem do valor de aquisição, deduzido das reintegrações ou amortiza-ções praticadas sobre o valor de aquisição, que será actualizado mediante a aplicação dos coeficientes de desvalorização da mo-eda publicados por Despacho do Ministro das Finanças, sempre que, à data da reali-zação, tenham decorrido, pelo menos, dois anos desde a data da aquisição. O valor dessa actualização é deduzido para efeitos

da determinação do rendimento tributável, de acordo com o disposto no Artigo 38.º do CIRPC.

Da tributação das mais-valias auferidas por entidades não residentes

Os rendimentos auferidos em Moçambique por entidades não residentes estão sujeitos a tributação no país.No caso das mais valias auferidas por en-tidades não residentes que tenham sede e/ou direcção efectiva num país com o qual Moçambique tenha rubricado uma Convenção para Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal (TDT), o rendi-mento será tributado nos termos previstos no referido tratado.Nas restantes situações aplica-se a legis-lação interna em vigor em Moçambique, que, nos termos do Artigo 45.º do CIRPC, corresponde às regras estabelecidas para a respectiva categoria do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRPS), como indicado no ponto anterior.Para o efeito, as entidades não residentes devem designar um representante com residência, sede ou direcção efectiva em Moçambique para cumprir com as suas obrigações fiscais, nos termos do artigo 43 do Regulamento do CIRPC.Ademais, a entidade não residente deve apresentar, no prazo de 30 dias após a transmissão que originou os ganhos, uma declaração periódica de rendimentos, des-de que, relativamente aos mesmos, não haja lugar a retenção na fonte a título defi-nitivo (n.º 4 e 5 do artigo 39 do regulamen-to do CIRPC).Efectivamente, as mais valias obtidas por não residentes não estão sujeitas a reten-ção na fonte, de acordo o estipulado no ar-tigo 67 do CIRPC.Assim, as regras gerais estabelecidas para a determinação deste tipo de rendimento não podem ser aplicadas de igual modo para entidades residentes e não residentes, dado que, no caso destas últimas, a tribu-

tação é feita pontualmente, sem que seja efectuado o cômputo anual das mais e menos valias auferidas fora de Moçam-bique.Nestes termos, dada a tributação pon-tual das mais-valias, as entidades não residentes que as obtenham são obriga-das a apresentar, no prazo de trinta dias uma declaração em que se especifiquem os ganhos da transmissão, indicando os respectivos valores de aquisição e realização.n

A Tributação das mais-valias auferidas por entidades não residentes

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fERREIRa ROCha

Nos dias que actualmente correm, tem sido prática frequente o recurso ao crédito de forma a dinamizar as

transacções comerciais. Mas não é somen-te no seio comercial que tal ocorre, sendo também frequente entre particulares.Porém, a devolução dos mesmos não é pa-cífica. Vezes sem conta, os credores vêem-se em situações delicadas, necessitando “correr” atrás dos seus devedores.Em termos judiciais, tal situação pode ser sanada com recurso à uma Acção Executi-va Para Pagamento de Quantia Certa, em Processo Ordinário. Neste tipo de acção, o credor requer que seja pago o valor em dívida ou, caso tal não seja possível, a no-meação, por parte do devedor, de bens à penhora.A penhora consiste, em linguagem menos técnica, na apreensão judicial de bens do devedor para, à custa deles, serem pagos os credores.Ela destina-se a individualizar os bens, mó-veis ou imóveis, e direitos que respondem pelo cumprimento da obrigação pecuniária através da acção executiva, e somente po-derá ser ordenada pelo Tribunal.Como proceder?Os trâmites iniciam-se com a propositura de uma Acção Executiva para o Pagamento de Quantia Certa, em Processo Ordinário. Nessa acção, o Exequente, que é quem pro-põe a acção (credor), requer que o executa-do (devedor) seja citado pelo Tribunal para proceder ao pagamento dos valores em dí-vida, ou nomear bens que sejam suficien-tes para o pagamento do crédito exequente e das custas de execução, dentro do prazo de 10 (dez) dias.A nomeação de bens à penhora, por parte do executado, encontra-se prevista no arti-go 833º do Código do Processo Civil.Efectivação da PenhoraApós a apresentação do requerimento, a nomeação de bens à penhora é ordenada por despacho do Tribunal, e notificado ao executado. A penhora de imóveis é feita mediante termo no processo pelo qual os

bens se consideram entregues ao deposi-tário. O termo é assinado pelo depositário, com a expressa indicação do exequente e do executado e a indicação de todos os ele-mentos necessários para a efectivação do registo.A penhora de bens imóveis deve ser regis-tada. Após o registo, o Certificado de Re-gisto e a Certidão dos Ónus que incidam sobre os bens abrangidos pela penhora devem ser juntos ao processo. Esta junção destina-se a citação dos credores com ga-rantia real sobre os bens penhorados, de

modo a que estes possam reclamar o res-pectivo crédito na execução.Quanto aos bens móveis, a sua penhora é ordenada em termos idênticos àqueles que valem para os bens imóveis.

Penhora de Direitos e Créditos

A penhora de um crédito do executado sobre um terceiro efectiva-se através da sua colocação à ordem do Tribunal. Des-te modo, há a considerar, para além do executado, o devedor desta parte, isto é, o terceiro devedor. A penhora do crédito é utilizada porque o terceiro não pode ser demandado na execução.Não constando este terceiro devedor do título executivo, ele não possui legitimida-de para assumir a posição do executado, o que impossibilita que o credor exequente se possa subrogar ao seu devedor e exercer contra o terceiro o direito de crédito deste devedor.A penhora de crédito incide sobre créditos respeitantes a prestações pecuniárias ou a entrega de coisas. Abrange também os ju-ros vencidos depois da penhora, desde que não sejam expressamente excluídos e so-bre eles não recaia qualquer garantia.O terceiro notificado deve declarar se o crédito existe, as garantias que a acompa-nham, em que data se vence e quaisquer outras circunstâncias que possam inte-ressar à execução. Este não se pode opor à penhora invocando a sua ilegalidade, podendo fazê-lo com fundamento na pre-terição de uma formalidade essencial (tal como a falta de notificação da penhora). Essa omissão constitui uma nulidade pro-cessual e o terceiro devedor, porque é o in-teressado na observância da formalidade, tem legitimidade para a arguir.n

(*) [email protected], colaborador da Ferreira Rocha & Asso-ciados - Sociedade de Advogados, Lda.

Nomeação de Bens à Penhora

Hugo Silvino Meirelles *

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OPINÃO

BCI

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Revista Capital44

PEtROmOC

Desde o seu início que a Petromoc dedica uma especial atenção aos novos projectos e vê neles mais uma forma de sustentabilida-de para a sua actividade. Essa política revelou-se justa e ajudou a empresa a cimentar o papel que hoje ocupa no panorama eco-nómico moçambicano. Impunha-se, portanto, ouvir o adminis-trador da Área Administrativa e Finanças da empresa, Zacarias Cossa, sobre o que foi feito e o que haverá ainda a realizar na área de projectos.

Atendendo à envergadura da empresa Petromoc, deve-rão ser inúmeros os projectos em que a empresa se en-volveu até agora?Com efeito. Desde que a Petromoc se transformou em sociedade anónima envolveu-se em vários empreendimentos. Diversificou os investimentos financeiros participando como accionista no novo terminal de combustíveis INPETRO na Beira, e no terminal de combustíveis Petrobeira, na mesma cidade. Participámos também como accionistas na distribuição de combustíveis, na Petromoc e Sasol e noutros sectores, como o agenciamento de viaturas ligeiras (Somotor), de camiões (Petroauto), transporte de combustíveis (Whatana, Lda), além de prestação de serviços de tecnologias de informação (ebs SA) e Petromoc Internacional, comercialização de combustíveis na região austral de África, entre outros.Mas os projectos de maior importância para a empresa são os in-ternos, onde destaco a modernização e expansão dos postos de abastecimento, além da reabilitação e incremento da infraestru-tura de armazenagem de combustíveis, embora com alguma difi-culdade dadas as nossas limitações financeiras. Só para este ano planeamos investir cerca de 40 milhões de dólares para estes dois segmentos de negócio da empresa.

E quanto a projectos futuros ou em curso actualmente, quais os que poderá considerar mais significativos?O mais importante em curso é o Petroline, oleoduto que transpor-tará combustíveis líquidos da Matola a Kendall, avaliado em cerca de 700 milhões de dólares.Em Nacala, estamos na fase final da construção de um pipeline com três linhas, duas novas e reconstrução da existente, entre o

porto de Nacala e o nosso terminal de combustíveis.Na Matola, planeamos aumentar a capacidade de armazenagem do GPL e construção do gasoduto do porto da Matola para o ter-minal de Lingamo.Estamos ainda envolvidos em projectos de biocombustíveis, já em fase de produção mas ainda em quantidades não significativas, através da nossa associada ECOMOZ. Neste sector, o nosso prin-cipal constrangimento é o fornecimento de matéria-prima.

Fala-se muito na reactivação de uma refinaria em Mo-çambique. A Petromoc poderá integrar um projecto des-te tipo?Já refinámos hidrocarbonetos e poderemos fazê-lo no futuro. No que diz respeito aos projectos de refinaria amplamente divulga-dos, fomos convidados a integrar o projecto da OILMOZ que prevê uma refinaria na Província de Maputo, mas o nosso envolvimento é diminuto pelo que não dispomos de muitos detalhes.Também temos interesse em refinar o condensado de gás natural para produção de gás doméstico, mas ainda nos encontramos na fase incipiente de avaliação do projecto que, a ser implementado, permitirá que o país seja autónomo em relação a este produto.

Como se procede na Petromoc quanto a novos projec-tos? Procuram ou aceitam propostas de potenciais par-ceiros?Quanto à infraestrutura de armazenamento e outras afins, surgem essencialmente pela demanda que temos destes serviços, dado a localização estratégica dos nossos portos como vias para es-coamento dos combustíveis para países do Interior. Também nos envolvemos em projectos para os quais somos convidados, dado o valor acrescentado que, em geral, conferimos aos mes-mos.A Petromoc envolveu-se em diversos projectos, alguns dos quais não se relacionam com combustíveis, mas no seu Plano Estratégico para o quinquénio 2009/2013 a empresa pretende centrar-se em actividades afins ao seu negócio nuclear e redu-zir ou mesmo alienar outras participações que não sejam da linha de distribuição e comercialização de combustíveis.n

Milhões são investidos em projectos

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EmPRESaS

Petromoc

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ANGOLA

Governo e FMI avaliam acordo

O Governo angolano e o Fundo Monetário Internacional (FMI) procederam este mês em Luanda, à primeira avaliação trimes-tral do “Acordo stand by”, avaliado em mais de mil milhões de dólares. Trata-se da política mais comum de emprésti-mos do FMI, utilizada, desde 1952, em países com problemas de curto prazo na balança de pagamentos, e envolve 858,9 milhões de direitos especiais de saque (o equivalente a 1,4 mil milhões de dólares), permitindo que, pelo me-nos, 30% da despesa do Estado se ope-re na área social, durante a vigência do programa.

O empréstimo concedido ao Governo angolano tem a duração de 27 meses e será usado para compensar a balança de pagamentos bem como a recuperar o equilíbrio macroeconómico além de reforçar as reservas internacionais.

Angola anui de forma faseada a um fi-nanciamento de 1,4 mil milhões de dó-lares, a fim de pôr termo aos problemas relacionados com os desequilíbrios na sua balança de pagamentos e eliminar as repercussões da crise mundial.

No encontro, foi também avaliada junto com os técnicos do Ministério das Finanças a política fiscal referente ao ano 2009, o Orçamento Geral do Esta-do de 2010, a implementação da refor-ma fiscal em 2010 e a dívida pública. Foram igualmente revistas as recentes

tendências das reservas internacionais, a balança de pagamento e o mercado cambial.

INGLATERRABP aposta em RAS e Moçambique

A multinacional britânica BP anunciou, recentemente, que vai vender as suas sub-sidiárias na Namíbia, Malawi, Tanzânia, Zâmbia e Botswana para centralizar os seus investimentos na África do Sul e Mo-çambique onde emprega cerca de 1.760 trabalhadores. Esta decisão surge na se-quência de uma revisão das suas operações de refinaria e retalho, tendo concluído que esta companhia petrolífera deveria con-centrar as suas actividades nos países da região que oferecem maiores sinergias com a sua rede de distribuição, como é o caso de Moçambique e a África do Sul.

O director executivo da BP África, Sipho Maseko, a informou os governos e seus fun-cionários na África do Sul e Moçambique da pretensão da sua companhia em manter as suas operações nestes dois países, e que projecta realizar mais investimentos para aumentar a sua quota de mercado.

“Gostaria de salientar que a BP está e vai continuar a apostar em África. Nós temos operações de vulto em Angola, Mo-çambique, África do Sul, Argélia, Egipto e Líbia. Vamos continuar a crescer e in-vestir nestes mercados, sobretudo nas in-

fra-estruturas da cadeia de valor”, disse Sipho Maseko.

ÁFRICA DO SULApelo à redução de consumo de energia

Com vista a fazer face a crise de energia que afecta o país, o governo sul-africano lançou um apelo ao público consumidor para reduzir, no máximo, o consumo de electricidade, pelo menos em 10 %, como parte dos esforços do Executivo. O Go-verno do Presidente Jacob Zuma acredita que se a medida for acatada vai significar o incremento dos níveis das reservas de energia em cerca de 13%.

O Ministro na Presidência para a Comis-são Nacional do Plano divulgou que o Go-verno alocou ao sector de energia 60 mil milhões de rands, para além de um outro valor adicional avaliado em 125 mil mi-lhões de rands. Revelou ainda que haverá reajuste do preço de electricidade e que os sul-africanos precisam de analisar as pro-postas feitas pela companhia nacional de produção e distribuição de electricidade ‘Eskom’ de aumentar em 35 por cento o preço de electricidade nos próximos três anos para melhor compreenderem a com-plexidade do problema.

muNdO

CIP

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OPINÃO

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aNgOla

Carlos Ferreirinha *

Ritmo acelerado. Poeira. Gruas. Crescimento vigoroso. Frustrações. Custo de vida muito alto. Curiosi-

dade. Carros. Filas em postos de gasolina. Sim, muitas filas. Inacreditáveis filas. Gaso-lina barata? Não. Volume de carros. Ango-la. Nem mesmo completou sete anos desde o fim da Guerra e Luanda já surpreende. Como é possível manter um sorriso nos ros-tos diante de tantos obstáculos e tanto que precisa ser desenvolvido? Não há duvida al-guma que a explicação para isso é que além da esperança, existe uma tensão de curio-sidade. Já dizia o Sr. Walt Disney na teoria dos 4 C´s: sejamos curiosos!

A alegria nos serviços e a cordialidade do atendimento suplantam e muito as limita-ções técnicas que demandam evidentemen-te treinamento e capacitação. São novos passos que precisam ser dados nesta direc-ção. O conceito “comprometimento profis-sional” na prestação de serviços ainda está em sua fase inicial e básica. Estes obstáculos perdem a importância e relevância diante do sorriso que encanta e emociona. Em to-dos os lugares que se olha, tem movimento acelerado de mudança e transformação.

A teoria de Maslow ensina que o consu-mo acontece somente em quatro níveis de necessidades: segurança, fisiológica, indul-gência e status. Angola passa pelos quatro simultaneamente. E não há nada de errado nisso. Tudo que o mundo de alguma forma tem percebido sobre o homem que assume cada vez mais um novo papel no contexto do consumo, é devidamente percebido em Angola.

O homem angolano tem estilo, elegância e é vaidoso; carrega referências mundiais mantendo um estilo muito próprio e enten-de de marcas de prestígio sejam elas france-sas, italianas ou brasileiras. Qual o próximo

passo? Garanto: Spas, resorts, hotéis, cafe-terias, modelos privates dos Bancos, clíni-cas nas mais diversas áreas, principalmente as estéticas, moda, decoração de interiores.

A explosão de serviços especiais virá antes do comércio de luxo. Será difícil e lento o processo de ruas e centros de comércio para abrigarem as principais marcas de Luxo do mundo, mas não impossível. Apenas o tem-po será outro. Mas os Angolanos não dei-xarão de comprar ou de acessar produtos e serviços de Luxo ou Premium seja local-mente ou internacionalmente.

A era da “premiumzação” também já chegou a Angola e lentamente entrará no quotidiano das diversas camadas sociais. O termo Luxo já vem sendo inclusive utilizado principalmente pelas construtoras na apre-sentação dos surpreendentes condomínios residenciais. Num País onde praticamente tudo é importado, a tarefa da diferenciação não é tão simples; afinal não basta ser im-portado – em Angola, isso é comum.

No negócio do Luxo é fundamental que no consumo o desejo prevaleça em relação à razão. O filósofo francês Bertrand Russel afirmava que “toda a actividade humana nasce do desejo”. Os angolanos desejam e isto fará com que os hábitos de consumo sejam alterados. E junte a isso o facto de se-rem alegres, simpáticos, amigos, de terem o conceito família, a crença de que o amanhã será melhor do que hoje e definitivamente de ontem.

O grande desafio de países como o Brasil e Angola, é receber a modernidade de bra-ços abertos sem esquecer as tradições, as origens, o passado que formou o presente e que criou lastros para o futuro. n

* Presidente da MCF Consultoria & Conhecimento, especializada em ferramentas

de gestão e inovação do Luxo e Premium, com actuação no Brasil e América Latina

País de contrastes

O arroz é um dos cereais mais con-sumidos no mundo, fazendo parte da cesta básica da família Moçam-bicana. Encontrando-se na base da Pirâmide Alimentar, o arroz é rico em hidratos de carbono complexos, na forma de amido, uma importante fonte de energia para uma Alimen-tação Saudável. É recomendado que cerca de 50% da energia fornecida pela alimenta-ção diária deve ser proveniente dos hidratos de carbono, a principal fon-te de energia para o cérebro. Quando combinado com o feijão e outras leguminosas, o arroz torna-se uma importante fonte de prote-ína. Por ser um alimento isento de glú-ten e hipoalergénico, o arroz é in-dicado para portadores de doença celíaca, caracterizada por uma in-tolerância ao glúten. O arroz não possui colesterol e apresenta quantidade reduzida de sódio e de gordura, tornando-o ade-quado a qualquer dieta alimentar. O arroz nacional tia ROSA extra longo, dos campos do Chókwè, é a escolha ideal para quem procura um arroz com um sabor ainda mais fresco e de elevada qualidade. A excelência do sabor, textura e um rendimento inigualável, faz do tia ROSA extra longo, o seu arroz de eleição. Opte por uma alimentação variada incluindo o arroz no seu dia-a-dia.

Anouck Matos Nutricionista

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autO

Há já algum tempo a Toyota assumiu-se como o maior fabricante mundial de automóveis e detentora do modelo que mais milhões de exemplares vendeu em todo o mundo,

o célebre Toyota Corolla. Agora essa política de assumir os factos parece também ter-se transmitido à Toyota Moçambique que juntou o estado-maior nacional da marca, convidou a comunicação social e falou de si própria e do novo modelo do todo-o-terreno Land Cruiser Prado, um “brinquedo” que vale entre 140 e 160 mil dólares e cuja presença, “em novo”, no mercado moçambicano, não deverá ultrapassar as duas dezenas de unidades.

Com novidades interiores e exteriores em relação ao modelo que o precede, o agora apresentado Land Cruiser Prado necessita de uma distância de travagem substancialmente menor e outras inovações técnicas que o destacam da concorrência.

Uma das novidades do novo Prado é a recolha automática dos bancos que lhe aumenta a capacidade do compartimento de bagagem, assim como um mostrador multi-informação referente a consumos, características do controlo electrónico, sensores e ângulos dos pneus e assistência off-road.

No capítulo da segurança, o novo Land Cruiser Prado apresenta ainda um sistema electrónico de controlo da estabilidade do veículo (VSC) que detecta derrapagens em curva e compensa para corrigir a trajectória do veículo, além de estar equipado com air bags de cortina para todo o comprimento da terceira fila de bancos, uma novidade no sector automóvel, acrescenta ainda os air bags para o condutor (Dual-Stage) e passageiro, e ainda o air bag de joelho, outra inovação introduzida pela Toyota neste segmento.

A nível exterior, as novidades também são de monta e obedecem à herança Toyota que privilegia a Qualidade, Durabilidade e

Fiabilidade, características que a marca sempre reivindicou como fazendo parte do seu património.

O modelo em causa é dotado de suspensão KDSS, um sistema de suspensão dinâmico cinético que, traduzido para linguagem corrente, significa sistema electrónico de suspensão hidráulica que permite um desempenho optimizado da suspensão On e Off Road.

O novo Land Cruiser Prado também se encontra equipado com o sistema Craw Control que mantém uma velocidade baixa e constante do automóvel através do controlo automático do motor e da pressão hidráulica nas 4 rodas. Este equipamento ajuda a limitar a derrapagem dos pneus quando se acelera em superfícies escorregadias e, através de sensores instalados nas rodas, o sistema é capaz de avaliar se há riscos de os pneus rodarem em falso. Quando essa situação ocorra os travões serão accionados. Trata-se, afinal, da solução indicada para casos de atolamento.

Mas o novo Prado não se fica por aqui. De entre as inúmeras inovações destaca-se ainda o sistema de parqueamento avançado e multi-view que informa o condutor da distância entre o veículo e os obstáculos, através de um visor e de um alarme sonoro. Mas não só no parqueamento existe esta preocupação de segurança. O Pre Colision System funciona durante a condução normal e é composto por um radar que, através de ondas sonoras, detecta outros veículos e obstáculos que possam intervir na condução, minimizando assim o risco de colisões.

Um sem número de razões que justificam um mais aprofundado conhecimento deste novo Toyota Land Cruiser Prado e, porque não, uma visita ao concessionário e a marcação de um test drive que lhe permitirá ver (e sentir) todas as capacidades do modelo.n

Novo Land Cruiser Prado:A nova aposta da Toyota

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Revista Capital50

EStIlOS dE vIda

Quando meio mundo já converge na ideia segundo a qual Hollywood não tem mais histórias para contar, (não se liberta dos clássicos policiais de perseguição e explo-sões), eis que Clint Eastwood abre o baú da narrativa africana para recriar a vida de Nelson Mandela neste sublime filme «In-victus».

Na verdade, Invictus é o título de um po-ema de William Ernest Henley, cuja car-ga emocional inspirou Mandela à grandeza durante os 27 anos em que estava encarce-rado na prisão de Robben Island.

Basicamente, o guião do filme pretende mostrar como é que o ex-líder sul-africano descartou o cálculo político para se servir do cálculo humano (rugby), de modo a unir brancos e negros aquando da sua ascensão ao poder.

Contra todas as expectativas, Mandela (Morgan Freeman) não transformou a sua liderança na “comemoração de uma vin-gança mesquinha” contra os seus opres-sores, até porque compartilhar o seu espí-rito inspirador com François Pienaar (Matt Damon), o capitão dos Springbooks como é chamada a selecção sul-africana, iria trazer um impacto que só ele até então visualiza-va.

O mérito de Eastwood nesta sua 32.ª lon-ga-metragem como director, resume-se em grande medida na escolha das peças: Mor-gan Freeman, já indicado para concorrer ao Óscar de melhor actor, encarna Madiba de

uma forma única, enquanto Kile Eastwood faz a trilha sonora pela oitava vez nos filmes do pai. Por sua vez, Matt Damon faz uma interpretação discreta mas essencial en-quanto as vozes melodiosas dos Ladysmith Black Mambazo “africanizam” ainda mais a película.

O poema de William Henley ganha um al-cance profundo e real neste filme, na medi-da em que recria perfeitamente a biografia do prisioneiro Mandela: (…) “e mesmo a ameça dos anos, há-de encontrar-me des-temido. Não importa o quão estreito o por-

tão, o quão repleto de penas o verecticto: Eu sou o mestre do meu destino”.

Se muitos realizadores não conseguem trazer de forma criativa o desenlace dos seus filmes, certamente podem ter no In-victus uma verdadeira lição. Clint Eastwood traz um facto relativamente pequeno, como a vitória dos Springbooks na Copa de 95, e oferece-o num impacto gigantesco: a elimi-nação do ódio e a aproximação das raças.

Sérgio Mabombo

CINESCÓPIO

Mandela “Invictus”

FOTOLEGENDA

Faz meses que este outdoor me entra pelos olhos adentro. Situa-se na avenida Julius

Nyerere, na esquina da rua que nos conduz à fabulo-

sa obra arquitectónica que dá pelo nome de

Instituto de Meteo-rologia.

O anúncio, que veio substituir o da Lurdes Mutola, não é nada meigo

em termos de di-mensão e ocupa um

prédio inteiro com uma imagem familiar, e ternu-

renta, que apela a um verdadeiro espírito de proximidade. Aliás, o slogan da Mcel está lá e diz tudo: «Juntos em todo o

lado». Para o condutor mais atento, a meni-na da foto (com o devido respeito pela sua nítida inocência, que não é para aqui cha-mada) mais parece que faz um daqueles cé-lebres sinais feios – quase semelhante a um palavrão cabeludo. Repare bem, pois o dedo que se encontra firme e hirto entre o indica-dor e o anelar torna-se um tanto ou quan-to suspeito. E o efeito ainda é mais curioso quando a visualização do anúncio decorre dentro de um automóvel em andamento... Experimente só!

O que pretende a Mcel transmitir com aquele sinal? Será que a Semiótica nos irá ajudar a interpretar a mensagem? Bem… Eis mais um desafio a ter em conta numa altura em que pouco ainda se sabe sobre a génese das ideias e decisões, apesar do es-forço dos comunicólogos.

De dedo em riste!

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Revista Capital 51

NA BOCA DO MUNDO

Durante estes últimos dias Moçambique tem vindo a ser referenciado em diversos meios de comunicação mundiais. O assun-to: O documentário sobre o “Paraíso Per-dido” do canal National Geographic sobre o Parque Nacional da Gorongosa. Além da inegável qualidade do documentário e da sua importância para ajudar a atingir o objectivo de retomar o estatuto de uma das melhores reservas africanas, é justo referenciar o meritório trabalho de Greg Carr, tanto no trabalho desenvolvido na recuperação e divulgação do Parque como na indispensável relação estabelecida com as populações que interagem com o mes-mo espaço.

Num mundo onde a sustentabilidade está cada vez mais relacionada com a capacidade de desenvolver a partilha de conhecimen-tos. O exemplo vindo da Gorongosa mostra que a criação de soluções que estão centra-das nas pessoas e no seu habitat natural se

sobrepõem naturalmente às soluções ape-nas baseadas na rentabilidade económica.

No dia em que escrevo este texto, o dito do-cumentário recebe um prémio e provavel-mente não será o único… O filme “Africa’s Lost Eden”, produzido pela National Ge-ographic, foi anunciado em Berlim como um dos vencedores de um concurso em que participaram 102 filmes de 32 países.

O filme “Africa’s Lost Eden”, que conta a história do Projecto de Restauração do Parque Nacional da Gorongosa, mere-ceu os maiores elogios do Júri do Fes-tival que lhe atribuíram o Prémio Ouro na categoria TV-Viagens e o Grande Prémio Diamante em todas as catego-rias (Vencedor Absoluto do Festival).

Rui Batista

Paraísos perdidos

Lhasa de Sela, ou a cantora nómada, como muito carinhosamente lhe chamavam, con-ta com apenas três albuns lançados. Pos-suidora de uma voz imortal, acompanhada da guitarra acústica e de muitos e variados instrumentos, como o banjo ou o acordeão, é detentora de melodias sublimes. A sua voz invulgar, é de arrepiar. Dotada de uma tom grave, ampla, poderosa, e no entanto suave, capaz de rasgar almas em emoção, às ve-zes em tons ébrios, mas sem nunca perder a sobriedade das musicas que canta. Nos três albuns que lança é possivel ouvi-la a cantar em espanhol e inglês, sendo traba-lhos distintos uns dos outros, há sempre a sensação que podem ser tocados à beira de uma estrada perdida, com uma fogueira

como pano de fundo numa noite enfeitiça-da por músicas de encantar, e quase que se pode ouvir, como diz uma delas: “He venido encendida al desierto pa’ quemar porque el alma prende fuego cuando deja de amar”.

Quem já ouviu o album La lorrona, ao som de um copo de vinho e rodeado de amigos, sabe concerteza do que estou a falar.

Nascida nos Estados Unidos, filha de um professor de origem mexicana e de mãe fo-tógrafa, teve uma infância nómada, a bordo de um autocarro escolar, onde a televisão é banida para dar lugar a pequenos teatros, que realizava no entretem familiar. Isto num país, cujo apelo ao consumismo é a palavra de ordem. Lhasa viveu de forma desprendi-da, simples e única, e cantava como se fosse

algo de que ne-cessitava, como co-mer, beber ou respirar.

Morreu a 1 de janeiro de 2010, no Canadá, onde morava há uns anos, com apenas 37 anos, vítima de um cancro da mama. Uma perda irrepará-vel numa manta de retalhos acórdicos que invade dias e noites de vadiagem rebelde, errante, digna de uma mulher que afaga a bola de cristal em busca do som perfeito.

Sara L. Grosso

BENVINDO AOS SEUS OUVIDOS

Lhasa de Sela, a mulher errante

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Vou ser franca. A primeira vez que entrei no café-restaurante ‘Paraíso dos Sabores’ a minha impressão visual não foi das me-lhores. O sítio assemelhava-se a um esta-belecimento antigo a precisar de um bom facelifting, ou até mais do que um – à se-melhança de outros locais mais emblemá-ticos da cidade de Maputo como o célebre ‘Continental’, que agora está fechado para obras. Mas lá iremos um dia!

Um dos problemas que se coloca no Pa-raíso é que a sua aparência faz sugerir uma velha matrona que arrasta os pés no chão. Outro, é que ninguém parece saber onde se localiza embora esteja numa esquina pa-norâmica que abrange a Eduardo Monlane e a Mártires da Machava. E outro ainda é que antigamente possuía um nome muito mais giro e sonante (Wimbi) para além de ser muito mais fácil de memorizar. Mas adiante…

O ‘Paraíso dos Sabores’ é um café inte-ressante por diversas razões. A primeira,

porque abre muito cedo, quase de mati-na. A segunda, porque possui o melhor café da cidade (que me desculpem os locais que desconheço). A terceira, porque o café ainda tem um preço em con-ta (o qual não irei divulgar, pois dê lá um salto se quiser saber). A quarta, porque possui ar condicionado sempre bem tem-perado. A quinta, porque o frequentador tem uma zona onde pode fumar e dar cabo da sua saúde. A sexta, porque serve um ar-roz de pato às quintas-feiras de se lhe tirar o chapéu. A sétima, porque possui Internet

w i -reless e uma

pequena zona com jornais e revistas. E por aqui me fico pois adoro o número 7 pela simbologia que representa.

A questão do bom atendimento também é louvável, mas como diz a minha irmã e bem: «Não fazes mais nada do que a tua obrigação!». E é bem verdade.

Helga Nunes

Pancho Guedes, arquitecto de referência, está de volta a Maputo. Está de volta em pessoa, na visita que realizou ao país de 3 a 5 de Março. E está de volta na exposição que o Consulado Geral de Portugal organizou em sua homenagem, inaugurada no pas-sado dia 4, que exibe perspectivas distintas do surpreendente trabalho de Guedes, com particular incidência nos projectos de Mo-çambique das décadas de 50 e 60.

Através das fotos dos edifícios (passadas e presentes) e desenhos dos projectos de Pancho Guedes, estão expostos alguns dos seus 25 estilos, desde o Stiloguedes, o mais emblemático, aos Espaços Torcidos e Revi-rados, à Elegante Arte de Curvar Espaços, às Maneiras Arqueadas, às Torres Tempo-rárias e Fatias de Rua, às Escapadelas Ne-

oclássicas, Palhotas e Palácios de Capim, Pedaços de Aldeia, Palácios Euclidianos, Pechinchas num Estilo Mato Tropical, Cai-xotes e Prateleiras Habitáveis, entre outros.

Os textos, na sua grande maioria do pró-prio Guedes, seleccionados por Graça Gon-çalves Pereira, Cônsul-Geral de Portugal em Maputo e organizadora da exposição, expõem a “pessoalidade” que envolve cada um dos estilos arquitectónicos. A secção de Desenhos, Pintura, Escultura e Murais é um extra delicioso deste desafio ao forma-lismo. Um extra que é, afinal, a essência, já que “(…) o desenho é o prisma através do qual Pancho percebe e cria os seus mundos” (Pedro Guedes, Catálogo da exposição de Pancho Guedes no Museu Berardo, Lisboa, 2009)

Amâncio d’Alpoim Miranda Guedes (1925) nasceu em Portugal e terá passado grande parte da sua vida em Moçambique. As suas décadas mais criativas, os anos 50 e 60, foram vividas neste país, tendo o ar-quitecto deixado um riquíssimo espólio de mais de 500 projectos.

Pancho Guedes – A Aventura da Arquitec-tura, o Desafio ao Formalismo estará expos-ta até 31 de Março

Regularmente são organizadas “City Ar-quitecture Tours” em torno da obra de Pan-cho Guedes em Maputo (contactos: Jane Flood 8241905744)

Rita Neves, PLMJ

Pancho Guedes

– A aventura da arquitectura, o desafio ao formalismoConsulado Geral de Portugal em Maputo 4 a 31 de Março 2010

GALERIA

Paraíso dos Sabores e as 7 razões

EStIlOS dE vIda

LUGARES PARA ESTAR

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OPINÃO

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PENa CaPItal

Lembro-me perfeitamente da D. Mimi, minha professora da instrução primária, do alto da sua imponente bata branca nos dizer: hoje o tema da redacção é… e era variável, da importân-

cia da vaca, até ao que fizeram no fim-de-semana, tudo passava pela cabeça da ditosa senhora. Minto! Tudo menos o título desta croni-queta. Nunca a boa senhora nos falou dos impostos, talvez porque naquela altura havia uma ditadura em Portugal e o Salazar não gos-tava que se falasse de impos-tos. Ao que parece o que ele gostava era que se pagassem os impostos. Ou talvez por-que a D. Mimi não gostasse de impostos, ou por qualquer outra razão que não cabe aqui para o caso, a verdade é que até hoje nunca fiz uma redac-ção sobre os impostos.O que me valeu foi que a edi-tora desta revista, ao ouvir o meu lamento, quase apopléc-tico, me instou: ó homem, vá lá, fala lá sobre os teus impos-tos!(Isto é um exercício de esti-lo meu, porque a Drª Helga nunca fala assim. Ela terá dito: então faça o favor de proceder à elaboração de um texto onde aborde a temática sempre interessante da carga fiscal que se encontra suspen-sa sobre a cabeça de cada cidadão, qual espada de Dâmocles.)Mas eu é que interpretei à minha maneira e vai daí escrevi aquilo, ali de cima, do qual me penitencio.Seja como for e o que tem de ser tem muita força, cá vai:

Redacção

Os impostos que eu pago(já viram, até parece o título)

Eu gosto muito de pagar impostos. Quando vou às repartições e te-nho de fazer fila para lá deixar o meu rico dinheirinho que tanto me custou a ganhar fico tão contente que até choro. Uma vez uma senhora até se enganou e pensava que eu estava a chorar de tristeza e chorou comigo e depois foi um senhor e mais outro e outro ainda e quando dei por mim estava toda a gente a chorar com o impresso na mão e a mão no coração (a proteger a carteira) e a gritarem que era uma vergonha, não se devia pagar impostos, e porque torna e porque deixa. Foi aí que eu disse: alto lá, que eu choro de alegria quando pago o meu imposto pois sei que ao dar este dinheiro ao governo estou a contribuir para o progresso do país.Nessa altura as pessoas que estavam na fila enxugavam as lágrimas e, talvez meia dúzia delas, esticaram o dedo indicador e batiam com ele na testa enquanto olhavam para mim com um olhar estranho.

Se calhar estavam a dizer que eu era muito inteligente e com bom senso!De qualquer forma eu gosto de pagar impostos porque sei que esse dinheiro vai servir para reparar mais estradas e construir outras; para tirar o lixo das ruas, para pintar passadeiras nas faixas de ro-dagem para os peões passarem sem serem atropelados por moto-ristas cegos que não vêem a sinalização; para melhorar o abaste-

cimento de água às populações como acontece no Bairro da Liberdade na Matola, onde há tanta água nas torneiras como boas intenções na cabeça de um agiota; para construir esco-las e colocar vidros nas janelas das outras que já foram cons-truídas mas que se esqueceram de as acabar; para haver mais hospitais e postos médicos a funcionar; para isso tudo.Os meus impostos ajudam a fazer tanta coisa que eu até me espanto, tanto que um destes dias dei comigo a cismar: ó José, mas com todos os impos-tos que se pagam porque é que o mundo não está melhor? Isto perguntava eu a mim próprio porque eu gosto muito de per-guntar coisas. E como ninguém me soube responder resolvi es-crever uma carta ao dono dos

impostos a perguntar porque é que não se faziam mais coisas com o dinheiro todo que as pessoas pagam. E eu dizia, pois! Há tanto comércio em Moçambique, tantas lojas, tantas ferragens, tantas igrejas, tantas retrosarias, tantos vendedores ambulantes, tantos restaurantes, tantas barracas, toda esta gente a pagar impostos, isso deve dar para fazer muito mais coisas.Quando acabei a carta dei-a ao senhor Ezequiel que é o proprietá-rio da barraca onde eu mata-bicho quando tenho mola, porque é a pessoa mais importante que eu conheço e dizem que ele trabalha nas finanças e que se dá com toda a gente.Dois dias depois recebi a resposta do dono dos impostos. Também vinha escrita à mão, como a minha, também tinha uns errozitos de ortografia, como a minha, mas era verdadeira porque vinha assi-nada: Dono dos Impostos.

E foi aí que eu fiquei muito mais sossegado e sem preocupações.Dizia assim: “Amigo José (sou eu), não fique preocupado com o dinheiro dos impostos porque ele é tanto que resolvemos guardá-lo para quando os moçambicanos forem todos velhotes e já não puderem trabalhar. Nessa altura vamos distribuí-lo pelos necessi-tados e há-de chegar também para si.”E para me sossegarem até diziam em que dia é que isso ia aconte-cer, vai ser no dia 30 de Fevereiro dum próximo ano.É por isso que eu pago mais impostos. Sei que vou beneficiar no futuro.

Os impostos que eu pago

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OPINÃO

Revista Capital 55

PUB MANICA (repetir)

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OPINÃO

Revista Capital56

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