Roteiro para a Cidadania e Igualdade
Grupo de Trabalho sobre Ambiente e
Bem-estar
Recomendações e propostas
Documento de trabalho preparado por Álvaro Cidrais
(FAJUDIS)
ANIMAR, julho de 2017
Conteúdo do documento
0. Ficha Técnica de Entidades do Grupo de Trabalho...........................................................3
1. Enquadramento ............................................................................................................4
2. Processo de auscultação ................................................................................................4
3. Resumo das sessões ......................................................................................................6
4. Constatações e conclusões gerais da auscultação.......................................................... 12
5. Recomendações e propostas ....................................................................................... 15
0. Ficha Técnica de Entidades do Grupo de Trabalho
Dinamizador do GT e das sessões de auscultação
Álvaro Cidrais - FAJUDIS
Entidades Locais/Regionais envolvidas
- Câmara Municipal Tomar
- IEFP Tomar
- Cena Aberta – Companhia Teatral de Santarém
- Rancho Folclórico do Casal Sentista
- Centro Recreativo e Musical do Outeiro Grande
Especialistas Convidados/as
- Arminda Neve - Investigadora no ISCSP
- Cecília Delgado – Investigadora LNEC
- Daniela Mendes –Dirigente da Associação Krer +
- Isabel Beja – Sócia-gerente Geostratégia
- Isabel de Sousa - Investigadora do CLISSIS
- Isabel Rebelo – Dirigente da cooperativa SEIES
- Marina Antunes – Diretora do ISSS da Universidade Lusíada de Lisboa
- Marta Ferraz – Diretora técnica ARIA
As sessões de auscultação decorreram a 23 e 24 de junho de 2017. O processo de auscultação
de especialistas convidados foi feito através correio electrónico, por convite, no período entre
15 e 28 de julho. A redacção deste documento (versão ainda provisória) foi realizada entre 4 e
8 de agosto. Este documento será enviado de novo para auscultação dos associados ANIMAR
no início do mês de setembro.
1. Enquadramento
A Animar tem vindo a articular com a Sr.ª Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade
Dr.ª Catarina Marcelino, a operacionalização do Roteiro Cidadania em Portugal que para a
Animar se tornou num processo e oportunidade de aprendizagem, de partilha e de
constituição de plataformas colaborativas locais e nacionais, para alavancagem de parcerias de
ação territorial nos domínio da Cidadania e Igualdade.
Neste contexto, foi criado o grupo de trabalho sobre Ambiente e Bem-Estar que tem como
finalidade: Dar voz às comunidades com menores condições de proximidade aos sistemas
institucionais de cidadania, apresentando sugestões e recomendações de governação. Este
grupo teve a FAJUDIS como entidade dinamizadora, sendo o trabalho de animação e
sistematização de ideias da responsabilidade de Álvaro Cidrais.
Para delimitar a temática de reflexão (extremamente vasta), considerou-se conveniente focar
numa orientação consensualizada à escala global: os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável 2030 (ODS 2030), que referimos de seguida. Como tal, considerou-se pertinente
trabalhar em torno dos 17 objetivos, não descendo à escala das suas medidas e indicadores de
avaliação.
2. Processo de auscultação
Para contrariar a hipervalorização do «olhar urbano», de base técnica e tendencialmente
centralista, que habitualmente ocorre na abordagem às políticas nacionais, optou-se por uma
solução diferente de auscultação de cidadãos e cidadãs residentes em contextos urbanos de
menor dimensão e em espaços rurais. Assim, escolheu-se a região de Tomar- Santarém para
realizar este trabalho. Considera-se que esta abordagem tem um elevado potencial para ser
alargada a outros territórios em moldes semelhantes, envolvendo um leque mais alargado de
instituições e cidadãos.
Para se atingir os resultados desejados, no espírito da iniciativa que lhe dá origem, considerou-
se essencial começar este processo reflexivo com base na auscultação de cidadãos/ãs que, na
maioria dos casos não tem voz nem proximidade com o poder, sendo pessoas que, por
diversos motivos, são alvo de exclusão de diferentes níveis, devido à idade, ao género, à
origem étnica, à ausência de emprego, às baixas qualificações ou à sua localização geográf ica
em contextos de menor proximidade aos serviços de bem-estar e qualidade de vida.
Nessa medida, com a intervenção da FAJUDIS, o apoio da delegação do IEFP de Tomar, a
Câmara Municipal de Tomar, a Cena Aberta – Companhia Teatral de Santarém, o Rancho
Folclórico do Casal Sentista, e o Centro Recreativo e Musical do Outeiro Grande, foram
realizadas 6 sessões de auscultação, nas quais foram auscultados 68 cidadãos/ãs (40 do sexo
feminino e 28 do sexo masculino), entre os 13 e os 87 anos, (10 pessoas, com idades entre 10 e
os 19 anos + 8, dos 20 aos 29 + dos 7, dos 30 aos 39 + 11, dos 40 aos 49 + 16, dos 50 aos 59 +
8 pessoas, dos 60 aos 69 + 8, dos 70 em diante) que se posicionaram sobre as questões do
Bem-estar e do Ambiente. Destas, 3 pessoas não sabem ler nem escrever, 14, possuem menos
do que a 4ª classe, 26, possuem entre o 6º e o 8º ano, 10 possuem o 9º ano, 5º possuem entre
o 10º e o 12º ano e 10 pessoas possuem frequência universitária. Os grupos etários mais
avançados possuem menores qualificações. Este padrão apenas é contrariado no grupo dos
Flecheiros onde os níveis de instrução/qualificação são os mais baixos.
Definiram-se os conceitos de Bem-estar e de Ambiente.
O Ambiente foi definido como um sistema complexo e integrado, «o Meio», a envolvente
integrada entre Natureza, Economia e Espaço Social. As pessoas tendiam para equiparar
«Ambiente» a «Natureza».
Quanto ao bem-estar, foi definido como um estado subjectivo e pessoal de sentimento de
conforto, agrado e boa-disposição. Neste caso, um objectivo individual com uma dimensão
colectiva e co-responsável, também influenciado pelo ambiente.
Foram realizadas 6 sessões de auscultação, com abordagens diferentes, adequadas a cada
grupo/situação específica de auscultação.
Foram dinamizadas 5 sessões com base nos ODS 2030 e 1 com uma orientação baseada no
encadeamento sequencial de perguntas chave:
1. O que é para si o bem-estar?
2. Como se constrói, na perspectiva dos ODS 2030?
3. Que orientações/recomendações/medidas poderemos indicar ao governo para
concretizar esta abordagem?
Em 5 sessões, foi entregue uma folha com os ODS 2030 a cada pessoa e pedido que
identificasse os 5 ODS mais importantes e os 5 menos relevantes. Depois deste processo de
selecção, iniciou-se o debate em torno das 3 perguntas chave, tentando perceber o sentido de
orientação de cada grupo sobre estas temáticas. As «conversas» baseadas numa abordagem
adaptada de focus-group foram abertas, havendo uma moderação «provocadora» por parte
do dinamizador/animador das sessões baseada em questões e na partilha de ideias que
emergiram no âmbito de outros grupos de auscultação.
A conversa com a família de etnia cigana residente no acampamento dos Flecheiros foi dirigida
de outro modo, não tendo sido apresentados os ODS 2030 como ponto de partida,
pretendendo uma abordagem menos formal de modo a conseguir captar as percepções que as
diferentes pessoas presentes têm sobre as suas condições de vida, de bem-estar e de
ambiente, tentando também perceber o seu sentir e os aspectos que mais valorizam neste
contexto temático.
Seguidamente, apresenta-se um resumo dos conteúdos de cada um destes grupos de
auscultação.
3. Resumo das sessões
Tomar 1 – IEFP – grupo de 9 formandos/as do curso de pastelaria, NÍVEL 3 (5 mulheres e 4
homens, entre os 19 e os 56 anos)
O que é preciso para ter bem-estar?
Bem-estar é: Acordar todos os dias e ver os filhos; Ter saúde; Ter alimentos de qualidade; Estar
bem comigo; Ter dinheiro; Conviver; Haver igualdade; Haver respeito; Dar-me bem com as
outras pessoas; Ter um diálogo saudável; Ajudar alguém; Ver a outra pessoa bem; Darmo-nos
todos/as bem.
Debate sobre «Como construir o bem-estar?»:
Somos todos e todas muito diferentes! A questão económica cria desigualdades. A sociedade,
a publicidade, promove o consumo e a dependência. Vivemos numa sociedade de conforto
pela posse de bens materiais. Cabe-nos o poder de contrariar essa tendência … usando a
tecnologia, os telemóveis de modo útil e consciente. O que nos traz bem-estar é ter emprego,
a casa, a dinheiro. Mas, o bem-estar não tem que ver só com estes aspectos, tem que ver com
o amor, a amizade, a família, a compaixão, etc. E com o sentido de
justiça/equilíbrio/igualdade.
Orientações para a promoção da melhoria do Ambiente e do Bem-estar:
- Ter pleno emprego para ganhar autonomia e tempo para pensar nas outras coisas
- Mais consciência sobre o que andamos a fazer com o ambiente (integrando as 3 dimensões)
- Mais fiscalização e controlo sobre o que deve ser feito
- Pensar no que devemos fazer para ser feliz e não apenas para sobreviver ou consumir
- Melhor trabalho das autarquias
- Aumentar a corresponsabilidade e o respeito entre as pessoas
- Ajudar as pessoas que mais precisam, nomeadamente as que são portadoras de deficiência
- Reduzir a burocracia
- Tratar pessoas com doenças específicas
- Olhar pelas pessoas
Tónicas centrais:
Saúde; Diversidade; Igualdade/justiça; Consciencialização; Educação; Entreajuda/apoio;
Inclusão. Mais introspecção e respeito.
Tomar 2 – IEFP – grupo de formandos/as do curso de logística NÍVEL 3 (8 mulheres e 9
homens, entre os 18 e os 60 anos de idade)
O que é preciso para ter bem-estar?
Ter saúde e educação; Ter saúde e os bens necessários; Ter um emprego estável; Ter apoio;
Não se sentir excluído/a; Ter os bens necessários (afeta muito saber que não se tem meios);
Ter uma vida saudável para todos e todas em todas as idades; Ter casa, saúde e trabalho;
Igualdade; O bem-estar decorre de tudo o que nos rodeia; Ter saúde, educação e trabalho (4
pessoas), o resto vem por acréscimo.
Debate sobre «Como construir o bem-estar?»:
Ter saúde e emprego é uma base tão importante como ter uma boa relação com as outras
pessoas e saúde mental. As pessoas que têm sofrimento sócio afetivo sentem mais
necessidade de buscar os prazeres efémeros, por isso, consomem tudo o que podem –
facilmente entram em consumos e dependências – e vivem uma vida esquizofrénica, sem
afeto. A saúde mental é a coisa mais importante, por isso, a entreajuda também é essencial,
bem como o apoio psicológico e o acompanhamento hospitalar em certas situações. Há muita
exclusão psiquiátrica (e ao nível da psicologia) de diferentes tipos de pessoas/doenças (mais e
menos graves).
Orientações para a promoção da melhoria do Ambiente e do Bem-estar:
- Educação (5 pessoas)
- Educação das sensibilidades – o que queremos para nós e para os/as outros/as
- A Educação é fundamental
- Estabelecimento de regras e normas – valores para o desenvolvimento humano
- Parar para pensar e ganhar consciência
- Combater a corrupção
- Pensar e agir de acordo com o bem comum
- Contrariar o consumismo, promover a introspecção e a capacidade de perceber o que nos
está a acontecer
-Ter/mostrar informação mais detalhada sobre os temas do ambiente e bem-estar
- Pensar em todos e todas, ouvir mais o que o povo quer, decidir em função disso
Tónicas centrais:
Educação; Boas relações; Entreajuda/apoio; Inclusão; Saúde mental.
Tomar 3 – família cigana (8 homens entre os 14 e os 64 anos), habitando em condições
precárias, no acampamento dos Flecheiros.
O que é preciso para ter bem-estar?
Ser aceite; Ter casa para habitar em condições; Ter mais habilitações literárias; Ter trabalho e
emprego para as pessoas mais jovens.
Debate sobre «Como construir o bem-estar?»:
«A autarquia não olhava para nós como pessoas, mas, antes, como ciganos». «Vivemos assim
porque não temos outras condições. Queríamos viver numa casa tão boa, com água e luz,
como qualquer um». Temos um rótulo que nos exclui dos bens essenciais de educação,
formação, emprego, que potencializam a autonomia. Ninguém quer ter ciganos ao pé.
«Sofremos uma exclusão étnica perante o emprego, que nos lança no caminho de pobreza». O
desemprego e falta de rendimentos colocam a comunidade cigana numa situação de
fragilidade, promovendo a marginalidade. O cigano é uma pessoa com as mesmas ambições
que as outras, mas é sempre olhado de lado, com desconfiança. Este não é apenas um
problema das pessoas de etnia cigana, os refugiados, os africanos, muitos outros sofrem do
mesmo. Mas a exclusão é mais forte neste caso. Dificilmente um cigano consegue arranjar
emprego ou alugar casa. Basta que nos aceitem/respeitem e nos ajudem a ter melhores
condições de vida.
Orientações para a promoção da melhoria do Ambiente e do Bem-estar:
- Mudar a imagem negativa que a sociedade tem sobre «o/a cigano/a»
- Ajudar a ter as condições básicas de vida
- Criar melhores condições (diferentes/inspiradoras) de aprender integrados na sociedade mas
com a identidade respeitada
- Articulação direta entre o ACM e o Ministério da Educação e associações locais, através de
projetos socioculturais inclusivos com as escolas
- Criar percursos/escolas multiculturais com professores/as capacitados/as para lidar com as
várias culturas e capazes de seguir diversas linhas pedagógicas – são capazes de criar pontes e
destruir os preconceitos
- Escutar mais as pessoas … principalmente as que são excluídas
Tónicas centrais:
Inclusão (contrariando a rotulagem que exclui); Educação; Rendimento básico; Condições
básicas de qualidade de vida.
Santarém – Associação Teatro Cena Aberta (8 mulheres, entre os 13 e os 65 anos, ligadas ao
sector associativo e artístico)
O que é preciso para ter bem-estar?
Paz; Proteger as pessoas; Ouvir música; Conviver; Haver igualdade (de oportunidades); Justiça;
Educação; Ler e ensinar a ler; Haver trabalho; Fome zero; Pobreza zero; Praticar atividade
física; Dançar, Caminhar, Relaxar; Partilhar; Haver tomada de decisão em conjunto; Sentir
autonomia.
Debate sobre «Como construir o bem-estar?»:
A Natureza é o suporte de tudo, por isso é essencial preservar os ecossistemas e bens naturais
como a água. Depois, é preciso garantir a Paz e educar para a entreajuda e a amizade. Também
é preciso garantir trabalho e rendimentos para as pessoas poderem ter uma vida digna. Além
disso, é preciso cultivar o sentido artístico e a atividade física como motores de bem-estar e
saúde individual, mas também como criadores de boas relações entre as pessoas. O carinho, o
afeto, o amor a amizade são pilares essenciais do bem-estar, devem ser parte integrante de
toda a educação. Tudo isto deve ser desenvolvido no contexto de um sistema efectivamente
democrático onde as decisões são tomadas em conjunto.
Orientações para a promoção da melhoria do Ambiente e do Bem-estar:
- Promover a partilha
- Acabar com a violência e a discriminação
- Criar postos de trabalho reais
- Promover a democraticidade das tomadas de decisão
- Dar voz a todos/as, nomeadamente aos/às mais jovens
Tónicas centrais:
Garantir a Paz; Democracia; Proteção da Natureza e dos ecossistemas; Atividades físicas e
artísticas são essenciais; A partilha e as relações estão no centro do bem-estar.
Casal Sentista – Rancho Folclórico (8 mulheres e 4 homens, entre os 16 e os 79 anos)
O que é preciso para ter bem-estar?
Equilíbrio com a Natureza; Saúde; Trabalho; Educação; Justiça; Combater a desigualdade e a
pobreza; Cultura (sentido artístico); Andar na rua sem maus cheiros; Apoio às pessoas mais
frágeis; União, compromissos e bom senso.
Debate sobre «Como construir o bem-estar?»:
Precisamos de viver em equilíbrio com a natureza, cuidar uns dos outros e ter uma perspectiva
integrada de todos os aspectos da vida. Temos de saber usar a tecnologia, num contexto de
cultivo do egoísmo e do domínio dos interesses económicos, para promover a saúde e o bem -
estar. Os avanços da genética, da saúde e da tecnologia não chegam a todos e todas. Não se
usam todas as tecnologias disponíveis porque o mercado comanda as decisões. Ainda não
existe saneamento básico para todos. Os transportes são fundamentais para aumentar a
acessibilidade das pessoas com mais dificuldades aos bens básicos de qualidade de vida. A
qualidade dos alimentos (dos solos e dos processos ecológicos de produção) tem de ser uma
preocupação central. Os circuitos curtos e os consumos locais (numa perspectiva de economia
circular) são estruturantes. Existe uma imensa necessidade de aumentar a consciência
colectiva sobre estes assuntos (ambiente e bem-estar) e sobre a educação (com novas
perspectivas, em que a aprendizagem aberta, dinâmica e artísticas/criativa estejam presentes,
a par do desenvolvimento de competências tecnológicas). É importante desenvolver modos de
aprendizagem em que as crianças são levadas a pensar a partir da experiência prática. A
Educação Ambiental é fundamental.
Orientações para a promoção da melhoria do Ambiente e do Bem-estar:
- Trabalho pago dignamente para os/as jovens
- Valorização dos territórios rurais como suportes da vida urbana
- Promoção da agricultura renovável – recriação de rebanhos sustentáveis
- Coragem para assumir políticas ambientais com mecanismos de controlo, penalização e
responsabilização (individual e colectiva) – para evitar catástrofes como as de Pedrógão
- Educação com abordagem prática/experimental e não teórica, que mude hábitos, educando
para a cultura artística e a criatividade
- Políticas de incentivo a ações de sensibilização e participação como esta
- Criar processos para ajudar a aprender a gerir as tecnologias de informação de modo a
promover a consciencialização
Tónicas centrais:
Educação; Mudança de hábitos; Valorização do meio rural como suporte da natureza e da
alimentação saudável.
Outeiro Grande – Grupo Recreativo e Musical (10 mulheres e 4 homens, entre os 21 e os 84
anos)
O que é preciso para ter bem-estar?
Saúde (7 pessoas); Educação e Paz (4); Justiça; Menos guerras; Preservação da Natureza; Não
haver poluição; Igualdade para todos; Amor; Concórdia; Água de qualidade.
Debate sobre «Como construir o bem-estar?»
Perante o nosso nível económico e de qualidade de vida (país de elevado índice de
desenvolvimento humano) focamos os nossos problemas num segundo patamar de
desenvolvimento onde as relações se tornam mais importantes do que a posse dos bens. É
preciso ter respeito, por tudo e todos, criatividade, amor, cumprir as regras de educação em
relação ao ambiente, dialogando. Devemos saber acolher a opinião dos outros. Não podemos
esperar pelos outros para avançar. Devemos participar ativamente na nossa comunidade.
Devemos ser pessoas resilientes e com uma atitude positiva. Com solidariedade. Construir a
felicidade do outro torna-me mais feliz. O Desconhecimento, o individualismo e o
egocentrismo tornam-nos mais infelizes. A incapacidade de aceitar a diferença e de escutar o
outro cria desconfianças que reduzem o bem-estar. O papel das associações culturais e
recreativas é muito grande no cultivo do sentido de entreajuda e de comunidade , são
promotoras de saúde. As associações são um pilar do bem-estar. O mundo rural é muito
seguro. As aldeias com pessoas e boas relações são espaços de vida com elevado bem -estar.
São espaços de saúde mental e cidadania. Os transportes públicos são essenciais para as
pessoas que vivem nas aldeias «aldeões/ãs» acederem ao mesmo bem-estar dos urbanos.
Orientações para a promoção da melhoria do Ambiente e do Bem-estar:
- Criar apoios sociais para as pessoas ficarem mais nas aldeias - haver incentivos aos habitantes
das aldeias para se deslocarem às cidades onde encontram todos os bens de bem-estar
- Criar melhores condições para o desenvolvimento do associativismo e descentralizar
atividades para as aldeias – tem forte impacto na saúde mental das populações
- Aumentar o dinheiro disponível no Orçamento Participativo de Portugal
- Promover a produção de alimentos biológicos e sustentáveis
- Melhorar a educação (para o ambiente e para o desenvolvimento humano dos meios rurais)
Tónicas centrais:
Cumprida a base essencial de rendimentos e de condições de vida. As relações afectivas e de
proximidade são promotoras de saúde mental e bem-estar. O associativismo, a comunidade
e o mundo rural podem ser instrumentos de ligação positiva entre as pessoas e de promoção
da saúde e do bem-estar.
4. Constatações e conclusões gerais da auscultação
Neste trabalho constatou-se que a maioria da população auscultada desconhecia os ODS 2030,
a sua lógica holística e integradora, e que considera haver um diferente nível de relevância dos
objectivos indicados – alguns sendo considerados irrelevantes para o caso português.
Uma minoria (inferior a 1/3 da população, com níveis de escolaridade superior e de ensino
secundário) já tinha ouvido falar, considerando este assunto relevante.
Na medida em que o «nível de instrução» era mais baixo, o desconhecimento sobre os ODS
2030 aumentava. De acordo com a metodologia escolhida, fez-se um levantamento daqueles
que os cidadãos e cidadãs consideram ser mais (e menos) relevantes, criando-se, assim, a
seguinte hierarquia de valorização:
1º nível de objetivos mais valorizados
• Erradicação da pobreza - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os
lugares.
• Fome zero e agricultura sustentável - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e
melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
• Saúde e bem-estar - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos/as,
em todas as idades.
• Vida terrestre - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e
reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade.
2º nível de objectivos mais valorizados
• Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos/as.
• Ação contra a mudança global do clima - Tomar medidas urgentes para combater a
mudança climática e seus impactos.
• Paz, justiça e instituições eficazes - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir
instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
3º nível de objetivos mais valorizados
• Água limpa e saneamento - Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e
saneamento para todos/as.
• Energia limpa e acessível - Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e
renovável para todos/as.
• Trabalho decente e crescimento económico - Promover o crescimento económico
sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e trabalho decente para
todos/as.
Objetivos menos valorizados
• Vida na água - Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares, e dos recursos
marinhos para o desenvolvimento sustentável.
• Redução das desigualdades - Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles/elas.
• Cidades e comunidades sustentáveis - Tornar as cidades e os assentamentos humanos
inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
Objetivos quase irrelevantes
• Igualdade de género - Alcançar a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e
meninas.
• Inovação de infraestrutura - Construir infraestrutura resiliente, promover a
industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação.
• Consumo e produção responsáveis - Assegurar padrões de produção e de consumo
sustentáveis.
• Parcerias e meios de implementação - Fortalecer os meios de implementação e revitali zar
a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Dos debates realizados ficou transparente um sentimento de frustração das pessoas com o
distanciamento entre governantes e cidadãos/ãs, e a ausência de auscultação, e de promoção
da participação por parte dos diversos níveis de governação, sendo esta iniciativa considerada
como uma excelente prática de envolvimento e promoção da cidadania.
É evidente uma grande descrença sobre os processos democráticos e eleitorais , que afasta os
cidadãos e cidadãs (de todas as idades e extractos socioculturais) dos processos participativos .
Em grande medida, a descrença resulta também da ausência de feedback sobre os processos
de participação.
A perspectiva dos objectivos de desenvolvimento sustentável foi considerada a f i losofia que
deveria estar subjacente a todas as políticas económicas, sociais e ambientais do país, numa
abordagem cada vez mais democrática, inclusiva e de corresponsabilidade.
A esmagadora maioria das pessoas escutadas/auscultadas considera o Ambiente (entendido
como «Natureza») um dos pilares fundamentais do Bem-estar, tendo um número significativo
considerado que as alterações climáticas e a poluição são dois problemas/desafios que o
governo tem de enfrentar com diverso tipos de políticas.
Quando apresentamos o Ambiente como um sistema complexo e integrado, «o Meio», a
envolvente integrada entre Natureza, Economia e Espaço Social, consideram que a igualdade
de oportunidades, a justiça e a equidade são os principais fatores determinantes de bem-estar.
De acordo com a auscultação, procurando criar uma síntese da essência das intervenções,
percebe-se que a Paz, a Saúde, o Rendimento (ou trabalho/emprego) e a Natureza sustentável
(água, solo, ar de qualidade e preservação da biodiversidade) são as bases essenciais do Bem -
estar. Representam um primeiro nível, indiscutível, de bem-estar e qualidade de vida. Uma vez
garantidas, podemos avançar para as restantes.
A justiça/equidade, o sentimento de inclusão, a habitação são elementos essenciais referidos
pela maioria dos cidadãos e cidadãs para se construir o bem-estar. Sem eles, apesar das
condições de 1º nível estarem cumpridas, não se consegue bem-estar! Portanto esta deverá
ser uma preocupação constante das políticas de desenvolvimento dos territórios.
De acordo com a maioria dos debates, a Consciencialização da situação actual deve ser uma
das prioridades de toda a política de construção de bem-estar. Por isso, o governo deve
garantir uma boa informação e uma boa educação a todas as pessoas. Neste sentido, as
escolas, as associações e as autarquias são pilares essenciais de promoção desta
consciencialização de carácter ambiental e de bem-estar. No fundo, a grande maioria das
pessoas ouvidas apontou para a necessidade de haver uma mais efectiva educação ambiental
e de bem-estar.
Nesta perspectiva, é unânime e consensual que o bem-estar de todos os cidadãos e cidadãs
deve ser o objetivo central de todas as políticas de todos os governos, não sendo necessário
existir um ministério específico, mas sendo um tema transversal a todas as políticas, uma
preocupação contínua do primeiro-ministro e do presidente da república.
Os ODS2030 mais valorizados pela ENEA são os menos relevantes para as pessoas auscultadas .
Ficou evidente que as pessoas auscultadas consideram que é mais fácil atingir as melhores
condições de bem-estar através de um trabalho de colaboração e com corresponsabilidade
baseada na auscultação e valorização de todos/as.
Fica evidente que a Educação, a Informação de Qualidade e a Consciencialização são três
aspectos fundamentais para o desenvolvimento de processos colectivos que promovam a
preservação da natureza e o desenvolvimento das condições de bem-estar.
Também fica claro que o acesso à Habitação, ao Emprego (e consequente rendimento) e a
transportes colectivos são considerados elementos fundamentais dos processos de inclusão.
Nos debates realizados em meios não urbanos, a dimensão territorial-local emergiu com muita
relevância, a par da importância das associações e do associativismo como elementos
estruturantes do desenvolvimento sustentável.
Também ficou clara a revalorização do rural como modo de produção de desenvolvimento
integrado e de suporte à qualidade da água, dos alimentos e do ar das cidades. Neste
contexto, emergiu também a importância da Economia circular e dos Circuitos Curtos como
elementos estruturantes da qualidade alimentar e da saúde. Realce-se a este propósito,
paralelamente, que, na agenda do HABITAT III, assume-se que a cidade deve ser resiliente e
sustentável, capaz de produzir os seus alimentos, em complemento com o meio rural em que
se insere. Neste entendimento, percebe-se que a população acaba por valorizar as questões
do consumo sustentável como um elemento essencial da concretização dos ODS 2030.
Um dos aspectos mais marcantes de todos os debates foi a sua tendência para colocar a
solução no campo da educação, referindo a necessidade de novas abordagens educativas, num
sentido de promoção de uma consciência mais sustentável, de acordo com os ODS 2030.
Esta perspectiva aponta muito no sentido da valorização das medidas apresentadas na
Estratégia Nacional de Educação Ambiental, conferindo-lhe bastante sentido.
Do mesmo modo, os debates realizados apontam muito no sentido da criação de mecanismos
de corresponsabilização e de governança integrada a diferentes escalas, que promovam a
participação efectiva dos cidadãos e da sociedade civil nos processos de decisão governativa.
5. Recomendações e propostas
a. Propostas decorrentes da auscultação dos cidadãos e cidadãs
Analisando o conteúdo dos diversos grupos de trabalho, constata-se que a orientação das
políticas deve ter um investimento fundamental na área da Educação, na Informação e na
Tomada de Consciência, de modo a desenvolver a cultura de corresponsabilidade e do bem
comum, seguida de perto pela melhoria dos processos de Decisão Democrática,
designadamente através do aumento da Auscultação Direta das populações.
A necessidade de investimento nas políticas ativas de Criação de Emprego Digno é outra
tónica acentuada, a par de uma forte preocupação com a Inclusão e o Combate às
Desigualdades e o bom Acesso à Saúde daqueles que mais precisam, nomeadamente os/as
que são portadores de deficiência ou se encontram mais fragilizados pela idade ou por alguma
situação de doença mental (temporária ou crónica).
De entre os diversos grupos, aqueles que têm população mais jovem com sensibil idade mais
artística, mas, ao mesmo tempo, rural salientaram a importância da Produção Saudável e dos
Circuitos Curtos e do Associativismo como fontes de desenvolvimento e de criação de
melhores condições de bem-estar e de preservação da natureza.
Em alguns dos grupos surgem outras orientações relevantes como sejam a necessidade do
controlo da cultura de consumismo, do controlo e da fiscalização das práticas promotoras de
danos ambientais ou de criação de situações de desigualdade , sendo referidas também a
necessidade de melhorar o trabalho das autarquias e de promover a desburocratização que,
em muitos casos, dificulta o acesso dos menos escolarizados aos processos de inclusão social e
de bem-estar a que têm direito.
As preocupações mais evidentes na promoção do bem-estar focam-se nos seguintes ODS 2030
que, deste modo, devem ser preocupação constante das diversas políticas do Governo:
• Erradicação da pobreza - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os
lugares.
• Fome zero e agricultura sustentável - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e
melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
• Saúde e bem-estar - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos/as,
em todas as idades.
• Vida terrestre - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e
reverter a degradação da Terra e deter a perda da biodiversidade.
• Educação de qualidade - Assegurar a educação inclusiva, e equitativa e de qualidade, e
promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos/as.
• Ação contra a mudança global do clima - Tomar medidas urgentes para combater a
mudança climática e seus impactos.
• Paz, justiça e instituições eficazes - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o
desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos/as e construir
instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
Foi no quadro deste entendimento, visando a apresentação de um conjunto de propostas
sintéticas e agregadoras – pragmáticas e exequíveis no curto prazo – que sistematizámos o
quadro que a seguir se apresenta.
Quadro de sistematização de ORIENTAÇÕES SUGERIDAS pelas cidadãs e cidadãos para as políticas na área do Bem-estar e Ambiente
Áreas de intervenção
Propostas de orientação
Justi ficação e observações referidas nas sessões de auscultação
Educação, informação e Consciencialização
A escola joga um papel central, devendo alterar os currículos e as práticas de modo a promover um ensino mais experimental e próximo
da realidade. A sociedade civil pode desenvolver mais projetos educativos no modo participativo. O governo devia disponibilizar mais informação através da televisão.
Pretende-se, assim, desenvolver a cultura de corresponsabilidade e do bem comum. Em alguns dos grupos surgem outras orientações relevantes
como sejam a necessidade do controlo da cultura de consumismo, modelos ativos de educação, que incorporem as artes , as atividades físicas e a produção agro-alimentar sustentável.
Promoção da Participação e da Decisão Democrática
As autarquias devem melhorar as suas práticas de colaboração com as associações e os grupos informais. O governo tem de mudar as suas
práticas, auscultando mais, melhorando os mecanismos de feedback e promovendo a desburocratização dos processos de participação e decisão. Os orçamentos participativos podem ser reforçados.
Existe pouca transparência sobre as decisões tomadas e uma percepção de elevados níveis de corrupção. A desburocratização é considerada
essencial para facilitar o acesso dos menos escolarizados aos processos de participação, decisão, inclusão social e de bem-estar a que têm direito. A informação disponível nos canais de televisão e nos jornais é pouco
credível.
Emprego e Inclusão
O governo deve garantir políticas de dignidade salarial e criar regras que diminuam as desigualdades e a precaridade do emprego. As autarquias devem fazer mais projetos de desenvolvimento local que criem emprego digno e sustentável nas questões l igadas ao
ordenamento, saneamento e preservação da qualidade ambiental.
Há necessidade de investimento nas políticas ativas de Criação de Emprego Digno nomeadamente em atividades de apoio às pessoas com mais carências e aos idosos, designadamente, com a criação de sistemas de transporte que promovam a Inclusão e o Combate às Desigualdades.
Saúde e Habitação
O governo deve criar programas específicos de apoio às famílias que têm pessoas portadoras de deficiência ou que estão a passar por problemas incapacitantes de doença física ou mental. Todas as famílias devem ter condições mínimas de salubridade dentro da habitação.
Os mecanismos de apoio existentes são insignificantes e incapazes de permitir uma vida digna às famílias, principalmente nas áreas da deficiência e da saúde/doença mental (crónica ou temporária). Estas situações fragilizam imenso as condições de bem-estar das famílias.
Produção Saudável e valorização rural
O governo e as autarquias devem desenvolver e apoiar os projetos
locais de produção agro-ambiental baseados nas perspectivas da Produção Saudável e dos Circuitos Curtos.
A produção agro-alimentar sustentável cria emprego de base local, novos
hábitos de consumo e gera sociedades e comunidades mais saudáveis e resil ientes.
Associativismo local
Deve haver melhor apoio ao Associativismo Local como fontes de desenvolvimento e de criação de melhores condições de bem-estar e de preservação da natureza. As associações devem ser levadas a trabalhar
mais de forma colaborativa.
Sendo as associações estruturas que nascem da vontade de colaboração dos cidadãos (seus associados), possuem um elevado poder de mobilização e capacidade para gerirem melhor os recursos em função das
necessidades locais.
Controlo e fiscalização
O controlo e a fiscalização das práticas promotoras de danos ambientais ou de criação de situações de desigualdade devem ser mais efectivas em todas as componentes e sobre todo o tipo de organizações e pessoas, de modo a garantir maior eficácia das políticas de governo.
Os recentes acontecimentos de Pedrogão Grande realçaram a necessidade de os mecanismos regulamentares existentes serem cumpridos e mais bem controlados.
b. Propostas decorrentes da perspetiva técnica
Baseados nestas orientações nascidas na auscultação dos cidadãos e cidadãs, foi elaborado este
documento, que foi partilhado por email e comentado por um grupo de «observador@s/especialistas»
reconhecidos nestas áreas de Inclusão Social, Bem-estar e Ambiente, com ampla sensibi lidade sobre
estas temáticas e sobre o panorama nacional das entidades que operam nestes sectores.
O grupo é composto por Arminda Neve - Investigadora no ISCSP; Cecília Delgado – Investigadora LNEC;
Daniela Mendes –Dirigente da Associação Krer +; Isabel Beja – Sócia-gerente Geostratégia; Isabel de
Sousa - Investigadora do CLISSIS; Isabel Rebelo – Dirigente da cooperativa SEIES; Marina Antunes –
Diretora do ISSS da Universidade Lusíada de Lisboa e Marta Ferraz – Diretora técnica ARIA1.
Todos se pronunciaram favoravelmente em relação ao trabalho e ao documento apresentado,
sugerindo apenas algumas pequenas melhorias que foram incorporadas na sua grande maioria.
Com base neste processo, podemos arriscar um outro conjunto de propostas com a seguinte estrutura
de pensamento:
1. É evidente em todo este processo de auscultação que existe uma necessidade de informação
clara aos cidadãos e cidadãs, que passa por processos educativos ativos, participados e por
projeto, a partir de uma base local/comunitária, mas com uma coerência nacional. Assim,
nasce a pertinência da afirmação da Estratégia Nacional de Educação Ambiental, como um
quadro transversal, integrador e agregador das iniciativas que pretendam promover o Bem-
estar e a qualidade do Ambiente.
2. Neste âmbito, nasce a relevância do desenvolvimento de um Observatório (em rede) que
sistematize a informação diversa destas áreas, numa forte articulação entre diferentes
organizações e instituições. Este observatório poderá agregar e disponibilizar informação
relevante para os processos de decisão e participação.
3. A relevância dada pelos cidadãos e cidadãs sobre a dimensão territorial nos processos de co -
criação da sustentabilidade ambiental e do bem-estar, bem como a sua vontade de serem
membros ativos dos processos de decisão – através de estruturas associativas de diferentes
tipologias – remete para a criação de um sistema nacional de colaboração que possa
constituir-se como uma rede de governanças territoriais articuladas entre si e capaz de abarcar
toda a diversidade sociocultural do país.
4. A evidente vontade de participar nestes processos de decisão, a manifesta necessidade de
cultivar as abordagens participativas, nomeadamente junto da população mais jovem, mas,
também, aproveitando o tecido associativo existente, sempre baseada nos ODS 2030 e nas
abordagens da economia circular, remetem para a pertinência e o reforço das abordagens
como o Orçamento Participativo de Portugal ou os orçamentos participativos de base local e
escolar.
5. Os orçamentos participativos podem ser, em si, o espaço natural de colaboração local e
regional para a resolução dos problemas identificados nesta auscultação, a partir de projetos
1 O documento final expressa o ponto de vista dos /as cidadãos auscultados, dos seus autores e das entidades e técnicos/especialistas envolvidos neste processo de reflexão.
locais que servem também como instrumentos de desenvolvimento de consciência e de
competências (pessoais, organizacionais e comunitárias) essenciais para o desenvolvimento
sustentável.
6. A transversalidade desta temática e a necessidade de dar coerência a todo este proce sso de
participação conjunta, guiada para a promoção do Bem-estar, remete para a pertinência de
criar ao nível central e, eventualmente ao nível regional, estruturas governativas que possam
promover articulações diversas entre ministérios, não exigindo – para já – a criação de um
ministério específico sobre o tema.
7. Este conjunto de medidas/recomendações consegue, assim, no quadro institucional,
financeiro e regulamentar existente, recorrendo a diversos instrumentos operacionais que já
estão no terreno, afirmar uma abordagem de desenvolvimento sustentável, na perspectiva
dos ODS 2030, com maior participação dos cidadãos, cidadãs e organizações, contrariando em
grande medida a elevada distância percepcionada entre os cidadãos e as instituições de
governação, permitindo, ao mesmo tempo, enquadrar os públicos em situação de exclusão (de
diferentes tipos) nos processos de cidadania ativa, contrariando parte das desigualdades que
foram identificadas na auscultação.
Refira-se ainda, a título final, que para se conseguir atingir um progresso contínuo na melhoria do
bem-estar e no desenvolvimento das melhores condições ambientais (assumindo o ambiente
como o sistema integrado de condições económicas, sociais e naturais) se considera essencial
garantir a articulação transversal entre políticas de nível nacional, regional e local, numa
abordagem de construção continuado de processos de governança multinível e multi -escala -
envolvendo cidadãos/ãs, grupos informais, associações, empresas, autarquias e demais órgãos do
Estado -, sempre a partir de uma base local.
Nestas reflexões ficou evidente a importância do reforço dos processos democráticos e
participativos que buscam esbater as desigualdades e reforçar a consciência coletiva e a
corresponsabilidade. Deste modo, as abordagens do tipo SPIRAL deverão ser privilegiadas na
definição e na acção de promoção do desenvolvimento sustentável numa plataforma de
colaboração e corresponsabilidade, bem como todos os processos que permitam envolver cada
vez mais os jovens e as pessoas em situação de exclusão (de qualquer tipo).
Salientamos também a importância que os baixos níveis de qualificação detêm na diminuição de
condições de participação nos processos de decisão complexos e burocratizados, sugerindo uma
atenção constante do governo no sentido de promover a máxima simplificação possível ou
garantir a existência de mediadores de inclusão e dinamização dos processos de participação de
todos/as, designadamente dos públicos mais vulneráveis.
Em face disto, estruturou-se as recomendações no quadro seguinte.
Quadro de sistematização de propostas e recomendações – Grupo de Trabalho de Ambiente e Bem-estar
Propostas
Regulamentação
Configurações institucionais
Fontes de Financiamento
Exemplos e instrumentos operacionais
Apoio/reforço da Estratégia Nacional de Educação Ambiental (com algumas adaptações no sentido de aproximar às perspectivas e convicções das populações) e com incidência no contexto escolar
O enquadramento legal existente é
suficiente. Não necessita de alterações
específicas.
Desenvolvimento de um Observatório em Rede que analisa os indicadores e as
tendências (dinamizado por uma organização de intermediação da sociedade civil, englobando entidades dos
três sectores, nomeadamente, universidades), partilhando a informação nos canais de comunicação livre, envolvendo o sistema escolar.
Fundo Ambiental, complementado pelos FEEI e outras fontes de financiamento internacional para a promoção do Ambiente e Bem-
estar (incluindo as dimensões educação, informação e saúde).
Diversos projetos desenvolvidos pelas ONGA, as associações de desenvolvimento local e algumas
empresas funcionam como boas práticas de partilha e replicação.
Reforço do Valor da dimensão «Ambiente e Bem-estar» nas redes e nos sistemas de governação integrada de base territorial
O enquadramento
legal existente é suficiente. Não necessita de alterações
específicas.
Uma ONG nacional pode dinamizar uma
Rede Nacional de Promoção do Bem-estar que articula a ação das múltiplas redes (sociais, de empregabilidade, educativas, etc.) de base territorial, focando-as nos
ODS2030 e articulando diferentes agentes e articula com o Observatório.
Orçamento Geral do Estado,
complementado pelos FEEI e outras fontes de financiamento internacional para a promoção do Ambiente e Bem-estar (incluindo
as dimensões educação, informação e saúde).
As redes sociais municipais devem
basear-se na abordagem SPIRAL, centrada no bem-estar. Os CLDS e outras estruturas de desenvolvimento local (Associações de Desenvolvimento
Local e os processos de DLBCs) permitem concretizar esta abordagem.
Reforço financeiro do Orçamento Participativo Portugal com uma tónica de apoio específico a projetos de jovens no âmbito dos ODS 2030
O enquadramento legal existente é suficiente. Não
necessita de alterações específicas.
O sistema actualmente existente pode ser l igeiramente afinado para o adequar a uma escala mais vasta de intervenção
numa perspectiva de governança integrada com o apoio organizações locais ou distritais que representam todas a
redes especializadas em cada ODS 2030.
Orçamento Geral do Estado, complementado por FEEI e outras
fontes de financiamento internacionais destinadas à promoção da participação e cidadania
No âmbito da ENEA, o IPDJ pode promover o envolvimento associações juvenis e outras ONGs nacionais
podem promover o envolvimento de associações locais nos processos de participação e concretização de
projetos nestas áreas.
Criação de uma equipa interministerial ou unidade de missão do Desenvolvimento Territorial baseada na concretização local dos ODS 2030
Carece de
aprovação no conselho de ministros.
Equipa de trabalho da Presidência do
Conselho de Ministros a funcionar numa perspetiva de promoção da governança integrada de base territorial, com o apoio
das redes Nacionais, com a representação de todas a redes especializadas em cada ODS 2030 e outras entidades da economia social.
Orçamento Geral do Estado, no
âmbito da ENEA.
Unidades de missão, designadamente de Valorização do Interior e da
Iniciativa Bairros Críticos.