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S O PERDO CURA
Um livro baseado em Um Curso Em Milagres
Luiz Marcelo Oliveira
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Curar fazer feliz.
(T-5, Introduo, 1:1)
Toda cura liberao do passado.
(T-13, VIII, 1:1).
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ABREVIAES
T: livro texto de Um Curso Em Milagres.
LE: livro de exerccios de Um Curso Em Milagres.
M: Manual do Professores de Um Curso Em Milagres.
E: Esclarecimento de termos de Um Curso Em Milagres.
P:Suplementos a Um Curso Em Milagres: Psicoterapia: Princpios, Processo e Prtica.
C: Suplementos a Um Curso Em Milagres: A Cano da Orao: Orao, Perdo, Cura
Estrutura bsica de referncia:
Livro de Um Curso Em Milagres, captulo, seo, pargrafo, frases.
Exemplos de referncia:
T-31, V, 15:1-2.(Um Curso Em Milagres, Livro Texto, captulo 31, seo 5, pargrafo
15, frase 1 a 2).
T-28, I, 1:1, 4, 8; 2: 1. (Um Curso Em Milagres, Livro Texto, captulo 28, seo 1,
pargrafo 1, frases 1, 4 e 8; pargrafo 2, frase 1).
E-Introduo, 2:5. (Um Curso Em Milagres, Esclarecimento de Termos, pargrafo 2,
frase 5).
C-2, II, 1:1-3. (Um Curso Em Milagres, A Cano da Orao: Orao, Perdo e Cura,
captulo 2, seo II, pargrafo 1, frases 1 a 3).
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AGRADECIMENTOS
Muito obrigado a Marcos Rodrigues, amigo e terapeuta que me apresentou Um
Curso Em Milagres, cultivando-o dentro de mim. A Ken Wapnick, amigo e professor
que me ajudou a reler, corrigir e melhorar este livro, sem mencionar sua vasta e
inspiradora obra que me ajuda tanto a compreender o contedo do Curso. A Thais
Gualter, minha esposa e companheira, pelas correes, estmulo, refeies e apoio. A
Barth e a Joran, pela leitura do original, sugestes e palavras de carinho. A todos os
estudantes do Curso com quem trilho a jornada de cura. A minha famlia. Aos velhos
amigos. Aos escritores e artistas. A Lillian Paes, tradutora de UCEM pra nossa lngua.
A Foundation For A Course In Miracles.
A Jesus, ao Esprito Santo e a Deus.
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SUMRIO
Prefcio 07
Sobre o livro Um Curso Em Milagres 07
CAPTULO 1 - Princpios de Um Curso Em Milagres 10
1. Uma questo de identidade 11
2. A cura verdadeira 15
3. O perdo e a percepo santa 17
CAPTULO 2 O caminho para a cura 21
1. Nosso destino final Deus 22
2. Somos mente ao invs de corpo 23
3. No sabemos curar. Precisamos da ajuda do Esprito Santo 26
4. A cura comea com o perdo 275. Atravs do perdo, preparamos a mente para o sonho feliz 28
CAPTULO 3 Os doze gestos para o amor 30
1. Acolher 312. Ouvir 353. Observar o problema 37
3.1. Traduzir a queixa num pedido de amor 40
3.2. As idias no deixam a sua fonte 42
4. Observar a soluo 445. Assumir a escolha 476. Perdoar 49
6.1. O perdo verdadeiro acontece na mente 54
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7. Aceitar o merecimento 577.1. O que est a altura do nosso merecimento? 60
8. Re-interpretar o enredo 649. Sonhar feliz 67
9.1. A verdadeira felicidade 69
10.Ouvir a Voz do Esprito Santo 7211.Entregar tudo ao Esprito Santo 7412.Amar 78
Consideraes finais 81
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PREFCIO
Este livro sugere mais um programa possvel para a prtica da cura. Sua proposta
se baseia no livro Um Curso Em Milagres, que ensina a nos abrirmos para a Presena do
Amor. Ele nossa maior referncia e onde se encontra o conhecimento mais profundo.
Quem se sentir tocado aqui e desejar ir mais longe, deve procurar Um Curso Em
Milagres. O Curso completo, pois foi concebido por algum que realizou sua inteira
jornada de cura - Jesus. Eu, porm, sigo aprendendo minhas prprias lies de perdo.
Desta maneira, Um Curso Em Milagres a nossa referncia matriz.
Imagino que o motivo de escrever este livro que o Esprito Santo, muitas
vezes, inspira uma forma especfica de falar para tocar pessoas diferentes em lugares
diversos e em momentos de vida singulares - embora aprendamos que toda diferena
ilusria. Fico feliz com aqueles que possam ter lampejos a respeito de seu prprio
caminho, a partir da leitura deste livro.
Nosso desejo oferecer um programa simples e aberto. A cura transcende
normas, regras ou metodologias. Ela se d no ato da entrega, quando abandonamos a
idia de que sabemos sobre o amor para que simplesmente sejamos amor.
Sobre o livro Um Curso Em milagres
H vrios materiais que podem apresentar a histria de Um Curso Em Milagres
de maneira mais precisa e detalhada que este. De modo geral, ele uma canalizao
feita por Helen Schucman, com a ajuda de William Thetford, na qual a voz que dita o
texto se apresenta como Jesus. composto de trs livros: o Livro Texto, o Livro de
Exerccios e o Manual dos Professores. H ainda dois outros textos, canalizados
posteriormente: Psicoterapia: propsito, processo e prtica e A cano da orao.
Aqui vamos nos concentrar na prtica do perdo, apesar de Um Curso Em
Milagres abarcar muitos outros temas importantes. Escolhemos esse foco com intuito
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de, cada vez mais, experimentarmos liberao em nossa vida cotidiana, embora o
conhecimento metafsico do Curso tambm nos ajude bastante a compreender a prtica
do perdo.
A linguagem usada neste livro de base crist, assim como em Um Curso Em
Milagres. Entretanto, no o nome que damos s coisas que garante a Presena do
Amor. Ainda hoje comum eu resistir aos termos cristos. Durante sculos, a religio
tem sido usada para o controle e para fomentar medo. Assim como eu, acredito que
alguns leitores possam sentir o mesmo: em seu histrico de vida, receberam supostos
ensinamentos religiosos, que mais pareciam agressivos ataques liberdade e alegria
de viver. bvio para todos que a religio, de modo geral, no vem cumprindo o
propsito a que se prope: comungar, unir, acolher, religar a Deus. Pelo contrrio.Assim como outros empreendimentos, ela tem servido ao ego. Entretanto, condenar a
religio ou a cristandade tambm fazer um julgamento falso. Sempre que percebermos
algum tipo de diferena entre ns e os outros, que nos impea de amar, certo que
tenhamos escolhido a percepo errada. o jogo interminvel de demonizar o que
parece estar fora de ns, quando, na verdade, somos todos crianas procurando o
caminho de casa, atravs dos caminhos mais diversos. Padres, bispos, cardeais, pastores,
freiras, monges; catlicos, evanglicos, espritas, budistas, hindustas, etc, somos todosum s em essncia para alm de nossas diferenas aparentes.
A cada dia, tenho a impresso de experimentar um pouquinho mais o que a
palavra perdo significa. Ao longo do tempo que estudo Um Curso Em Milagres, com
grande curiosidade e dedicao, acreditava captar ser contedo profundamente, mas
hoje vejo que essa compreenso fruto de uma prtica gradativa, atenta e suave. Antes
costumava adaptar o contedo do Curso minha prpria interpretao pessoal e meus
desejos. Por isso, era to mais fcil compreend-lo. Era um encontro com o meu prpriopassado. No queria ouvir o que ele me contava de fato e ainda tenho bastante
resistncia. s vezes, consigo me abrir e me surpreendo com a magnitude do que est
sendo apresentado. E a percebo como estava distorcendo o seu contedo a fim de
adapt-lo ao meu delrio. Neste livro, tentei preservar ao mximo o significado dos
ensinamentos do Curso.
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Em resumo, para aqueles que no tiveram contato com Um Curso Em Milagres,
compartilho a experincia de que possvel sentir paz. O reencontro com um Deus
Eternamente Amoroso, ao invs de punitivo e cruel, nos abre caminho para a paz. H
bastante a fazer no sentido de desobstruir a estrada que leva a esse reencontro. Ns
mesmos construmos esses impedimentos e, assim, precisamos remov-los. Vamos
reaprender que nossa tarefa desconstruir uma srie de crenas negativas que temos
acerca de ns e do mundo. O fato de podermos reassumir a responsabilidade pelo que
ocorre dentro de nossas mentes nos restaura a conscincia de que podemos escolher
diferente agora. E, desta vez, escolheremos em nome do amor. Da gentileza, da amizade
e da ternura.
Este livro se prope como um convite. E espero que voc o aceite.
Muita luz, amm.
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CAPTULO 1
PRINCPIOS BSICOS DE UM CURSO EM MILAGRES
1. Uma questo de identidade
2. A cura verdadeira
3. O perdo e a percepo santa
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1. Uma questo de identidade
Um Curso Em Milagres se baseia na lembrana de nossa verdadeira identidade.
Neste aspecto, ele muito direto e claro: quem somos ns? Somos Esprito ao invs de
um corpo. Mas precisamos primeiro compreender o que esses termos significam, pois o
Curso usa algumas palavras usuais com um sentido diferente do que estamos
acostumados.
Em nossa mente, h dois sistemas de pensamento distintos: o sistema de
pensamento do ego e o sistema de pensamento do Esprito Santo. O Curso nos ensina
atravs do contraste entre ambos.
O sistema de pensamento do ego nos informa que somos um eu separado dos
outros e do universo. Ganhamos um nome e parecemos ter uma identidade singular e
especfica. Por exemplo, Jos ou Maria. Esse sistema de pensamento se baseia no
mundo da percepo, representado pelo corpo e pelos sentidos fsicos. Aquilo queparece real o que podemos tocar, cheirar, ouvir, saborear e ver. Existem tambm
nossas memrias e nossas fantasias, que tambm so constitudas por imagens, cheiros,
sabores, sons e texturas. A diferena entre aquilo que experimentamos com o corpo, de
um lado, e nossas fantasias e memrias, do outro, que consideramos, respectivamente,
uma como vida real e a outra como sonho ou iluso.
Durante toda a existncia, buscamos viver uma vida boa e evitamos coisas ruins
segundo nossa escala de valores e preferncias. Neste sentido, passamos boa parte do
tempo defendendo o ego, este eu separado que consideramos como ns mesmos.
Precisamos comer, respirar, ganhar dinheiro, evitar doenas, constituir famlia, etc.
Todas as nossas iniciativas e os nossos pensamentos se ocupam de como podemos ser
felizes e como podemos evitar o fracasso. A nossa referncia sempre o eu. Se o eu
estiver bem, ok. Se o eu estiver mal, preciso mudar. Se o eu sentir prazer, ok. Se o
eu sentir dor, preciso remediar. Acreditamos fortemente que somos este corpo. E,
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assim, preciso defend-lo de todas as ameaas existentes num mundo hostil e
perigoso.
Alm de satisfazer as necessidades fsicas aparentes, precisamos conferir status
nossa prpria imagem pessoal. Talvez esse status venha na forma de umreconhecimento profissional, um casamento bem-sucedido, uma conquista invejvel,
uma qualidade tica, uma habilidade surpreendente, um prmio honroso, etc. No
importa a forma que tome, o ego exige uma imagem de sucesso. Pois, como vimos, esse
sistema de pensamento se baseia exclusivamente na idia de que somos indivduos
separados dos outros e, ento, devemos parecer mais especiais que eles, a fim de realar
essa diferena. Existe sempre alguma espcie de comparao, pois o julgamento a
base desse sistema de pensamento. No intuito de parecermos mais especiais que osoutros, vamos julg-los. Em muitos casos, at agiremos como vtimas para nos
sentirmos mais especiais.
O sistema de pensamento do Esprito Santo, porm, nos informa que somos
Esprito, em essncia. O termo Esprito quer dizer que somos eternos, sem forma,
para alm do tempo e do espao, perfeita Presena de Amor e unidade com o Todo.
Essa a nossa verdadeira identidade, no o ego. No Esprito, somos todos Um. No
existe o meu esprito e o seu esprito. Aquilo a que algumas religies chamam de
esprito no se aplica aqui: a projeo de qualquer imagem, no mbito fsico ou no,
uma forma particularizada de ego. O Esprito no se vincula a nada do mundo da
percepo, onde parece haver seres separados.
O Esprito Santo vai nos lembrar que esta nossa verdadeira identidade, no o
ego ou o eu. Ele vai nos ensinar que tudo o que chamamos de vida no passa de um
sonho da nossa mente. Ao contrrio do ego, que acredita existir alguma diferena entre
a nossa experincia acordados e o sonho, o Esprito Santo nos ensina que todo o mundo
da percepo um sonho, inclusive a idia de eu. Qualquer experincia aonde exista
alguma espcie de separao um mero sonho. como se a mente estivesse dormindo e
sonhando que algum.
Nossa verdadeira realidade estar junto a Deus num estado mental para alm de
qualquer idia de separao. Neste estado, no somos um corpo, nem um ego, nem um
eu separado. No somos Jos ou Maria. Tambm no existe mundo, universo ou
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qualquer coisa exterior a ns mesmos. No existe nenhuma diferena entre ns e os
outros, pois estamos unidos em Esprito. E por que, ento, parece to certo que sejamos
Jos ou Maria?
Porque em algum momento nfimo da eternidade, nossa mente teve um pequenopensamento de separao, a exemplo de: - como seria se eu fosse separada da minha
Fonte? Assim, ela comeou a sonhar com um mundo aonde essa separao fosse
possvel. Entretanto, tudo no passa de um sonho ilusrio. Por isso, a vida no sonho
to efmera e evanescente, mudando sem parar e culminando na morte. Na verdade, esta
no a Verdadeira Vida.
Neste sonho, aonde a separao parece ter ocorrido, o ego vai experimentar o
sofrimento pela primeira vez, embora o sofrimento seja tambm ilusrio. Quando temos
conscincia da unio com Deus, impossvel sofrer. Estamos em paz e nos sentimos
plenos. A vida no ego, contudo, sofrimento, pois essa a nica forma que ele tem
de se diferenciar de Deus, que absoluta plenitude e ausncia de limite. Para se
acreditar um eu separado, o ego precisa de um limite. De forma simples, o que nos
confere um limite: o amor ou a dor? A dor nos avisa que o nosso corpo foi invadido e a
nossa propriedade est sendo ameaada. No amor, contudo, somente h partilha e
comunho. Qualquer espcie de limite desaparece.
fcil observar como o sonho, inventado pelo ego, traz consigo a idia de
sofrimento. Ele baseado no princpio da escassez, que estabelece a falta como
fundamento. Basta olhar para a nossa rotina: precisamos comer devido fome, beber
devido sede, precisamos de algum devido necessidade de companhia, precisamos
de dinheiro pra comprar objetos ou contratar servios, etc. Nossas aes so todas
dirigidas para preencher algum tipo de falta que estamos sentindo. E nem sempre essa
falta precisa se expressar na forma de uma necessidade fsica, mas tambm em
exemplos como: - eu no sou bom suficiente pra fazer isso; eu no sei fazer as coisas
direito; eu no sei manter um relacionamento estvel; eu no sou capaz de conseguir um
emprego, etc.
Por isso, o Esprito Santo vai nos propor uma maneira de encontrarmos uma
sada verdadeira para todos os nossos problemas: o perdo, que age no sentido de
liberar toda a imensa carga de culpa que sentimos diante dos conflitos que estamos
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projetando. Conforme acreditamos na escassez, acabamos atacando o outro - como se
no existisse o suficiente pra todos, fortalecemos a idia de que s um pode ganhar,
jamais o conjunto. Toda essa guerra que ocorre dentro de nossa mente guarda uma
quantidade enorme de culpa inconsciente, pois, no ntimo, meu corao sabe que estou
atacando o meu irmo, no importa quem seja.
Toda essa culpa, na verdade, deriva apenas daquele nfimo instante em que
decidimos nos separar de Deus. Um Curso Em Milagres tem uma forma didtica e
simblica de descrever esse antigo momento: primeiro, acreditamos que ele de fato
tenha ocorrido; segundo, comeamos a nos sentir culpados por termos cometido um
ataque contra Deus, ao nos decidirmos separar Dele; terceiro, comeamos a sentir medo
de que Ele venha a nos atacar de volta, nos punindo e nos destruindo. Isso o queocorre no nosso inconsciente. Essa a estrutura que carregamos por toda nossa
existncia, acreditando que estamos separados dos outros, que os estamos atacando e
que seremos atacados de volta. Embora esse instante parea ter ocorrido h milhares de
anos, continuamos escolhendo reencen-lo a cada segundo.
Assim, o perdo desfaz todas essas crenas. Corrige essa percepo equivocada:
nunca nos separamos de nossa Fonte Infinita, nunca A atacamos, nem nunca seremos
atacados de volta. Tudo isso foi apenas um pesadelo que sonhamos enquanto
dormamos sobre o Seu Colo. Continuamos inocentes como sempre. O perdo nos
oferece a percepo correta de que somos um com a Fonte.
O Curso prope corrigir nossa percepo baseada no ego, desvelando a
percepo carinhosa do Esprito Santo que nos aguarda. Ele nos lembra de nossa
verdadeira identidade. No interior do sonho, a deciso a favor de qual guia seguir
sempre nossa. No entanto, o Curso absolutamente claro: se decidirmos pelo ego, o
resultado ser um pesadelo de sofrimento e dor. Podemos crer que haja algum benefcio
em viver num mundo de separao, mas ele incapaz de nos satisfazer, pois anuvia a
conscincia de nossa verdadeira identidade eterna, amorosa e imutvel. Conforme nos
disponibilizamos ao Esprito Santo, Ele age como mediador entre realidade e sonho,
facilitando um despertar gradual e gentil.
Neste momento da jornada, ainda temos um enorme medo de Deus, pois receb-
Lo em toda sua vastido perder qualquer idia de que sejamos um eu separado. Aos
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poucos, vamos reconhecendo por experincia prpria que perder esse eu liberdade e
descanso. O Esprito Santo nos revela suavemente que Deus quer o nosso abrao, no o
nosso fim. Ento, sorrimos pra Ele, convidando-O a retornar ao lugar de onde nunca
saiu: nosso corao.
Nada real pode ser ameaado.
Nada irreal existe.
Nisso est a paz de Deus.
(T-Introduo, 2:2-4)
2. A cura verdadeira
Todos ns estamos precisando de cura. Apegados ao sistema de pensamento do
ego, confundimos qual a nossa verdadeira identidade e isso j a doena. A cura que o
Curso prope a correo de nossa percepo sobre quem ns verdadeiramente somos.
Diferentemente das iniciativas do ego, que buscam curar o corpo por consider-
lo algo real, o Esprito Santo vem nos ensinar que a cura verdadeira est na mente. Ele
oferece um caminho definitivo, no maneiras paliativas de aliviar a dor. A cura
verdadeira se baseia sempre em corrigir a percepo errada, transformando-a na
percepo correta. Como vimos antes, em nossa mente, temos o poder de escolher entre
a percepo errada do ego e a percepo correta do Esprito Santo.
O princpio da doena a crena no corpo como nossa suposta identidade. A
mente que acreditou que tenha se separado de Deus, comea a sonhar que seja um ego,circunscrito por um corpo, lutando pra sobreviver. Conforme o ego se alimenta da
culpa, vamos sonhar que o corpo adoece, se degenera, envelhece e morre. Isso parece
assustador, caso de fato nos identifiquemos com o corpo, como se ele fosse nosso
verdadeiro ser. Neste sentido, o ego deseja a vulnerabilidade, j que precisa provar que
o corpo de fato exista.
A origem da doena a culpa. Fica fcil ver como qualquer tipo de escassez
um castigo contra si mesmo e contra os outros. Quem sofre se maltrata e acusa o
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mundo. A doena sempre envolve algum grau de julgamento e acusao. Assim, ela
um libi com intuito de demonstrar que algo fora est me atacando e eu no tenho culpa.
Pareo vtima de um ataque externo, embora o ataque venha de minha prpria mente.
Ele pode parecer vir de um vrus, uma bactria, uma pane misteriosa do organismo.
Pode parecer vir na forma de uma dificuldade em ganhar dinheiro, encontrar um
parceiro, realizar-se no trabalho, amar a famlia, etc. Tudo isso d consistncia ao ego,
uma vez que agora parece haver a realidade de algo fora (o universo) e de algo dentro
(o eu). Neste sentido, o ego aliado da doena, pois ela o ajuda a persuadir que o
corpo seja real.
Todas as solues a favor da cura, propostas pelo ego, so baseadas no medo e
na reparao do corpo. Assim, elas apenas reforam a causa da doena, embora de fatopaream ameniz-la. Nosso ego pode ser to sutil que mascara o fato de que sua
proposta de cura s a afirmao da doena. Se a cura verdadeira corrigir nossa
percepo errada de que sejamos um corpo, como poderia a cura confirmar o corpo
como nossa prpria identidade? Isso o oposto da cura. Ainda sim, o Esprito Santo vai
atuar de maneira gradual e gentil, at onde podemos aceitar Sua ajuda sem medo. Nem
sempre estamos dispostos a abrir mo da idia de que sejamos um corpo, ento Ele nos
acompanhar nos passos que estejamos dispostos a dar, nos ensinando atravs do amor,nunca atravs do sacrifcio.
Ele vai nos lembrar que toda doena mental. O corpo no tem absolutamente
nenhum poder de deciso, exceto a mente. A verdadeira cura a correo da percepo
errada dentro da mente. Comeamos a caminhar para a cura no instante em que
iniciamos o processo de lembrana de nossa verdadeira identidade, como Esprito. S
em pesadelos, poderamos sonhar com a idia de que ramos um corpo frgil, indefeso e
vulnervel a toda espcie de agonias. Mas isso no real. Nossa realidade est em Deus.Assim como Ele, somos eternos, invulnerveis, amorosos, imutveis, perfeitos e plenos.
Essa a nossa verdadeira segurana.
Ns, estudantes do Curso, podemos passar muitos anos tentando fazer alguma
transigncia ou algum acordo entre a cura da mente e a cura do corpo. Conforme nosso
apego ao ego grande, costumamos comear nossa jornada de cura acreditando que o
objetivo final seja curar o corpo, como, por exemplo, erradicar doenas ou extinguir
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todos os problemas do nosso enredo. Mas isso impossvel, caso no curemos a
verdadeira causa da doena: sem a percepo correta a respeito de quem realmente
somos, no podemos ter resultados definitivos. Sim, possvel curar o corpo por
algum tempo no interior do sonho. Vemos isso atravs dos avanos da medicina clssica
ou espiritual. Entretanto, esse tipo de cura no dura, pois a mente no curou a causa
da doena e, cedo ou tarde, ela tende a voltar. Sua causa a absurda crena de que haja
algum valor na dor.
O processo de cura verdadeira pedir ajuda ao Esprito Santo para lembrarmos
quem verdadeiramente somos. De fato, no somos um corpo, exceto em pesadelos de
dor e misria. Enquanto acreditarmos nisso, quase no vamos perceber que uma parte de
ns deseja a doena. Como o corpo poderia parecer ser real sem ela? Sem o limite? Sema fora da gravidade? Sem a morte? O ego precisa usar o sofrimento pra nos convencer
de que sejamos um corpo e esconder todo o fardo de culpa que carregamos em segredo.
Mas qualquer sonho aonde ocorra mudanas de qualquer ordem uma iluso. O nosso
Ser no est aprisionado em nada transitrio, instvel e voltil, tampouco limitado por
sentimentos de culpa, medo e carncia.
O processo de cura verdadeira nos traz inocncia e impecabilidade. O caminho
do Esprito Santo nos despertar do sonho gentilmente atravs da liberao da culpa.
Jamais houve pecado, nem atacamos Deus, exceto num pesadelo. No precisamos sentir
culpa pelo que no aconteceu. De modo idntico, ningum nunca nos atacou tambm.
Apenas estivemos sonhando um enredo de guerra, assassinato e morte. Ningum precisa
pagar por um sonho ingnuo como esses. Tudo que se precisa fazer corrigir a
percepo, expondo o sonho tal como : um mero sonho.
Nenhuma iluso pode ameaar a realidade de que continuamos no colo de Deus,
como sempre. Ele nunca nos expulsou do Paraso. Ns nunca O abandonamos. Nosso
querido vnculo continua puro e total. impossvel que jamais tenha existido alguma
mcula entre Ns. Essa lembrana nos faz ir para alm de qualquer idia de doena ou
sade, que se baseie no corpo como referncia.
3. O perdo e a percepo santa
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O perdo o meio de cura proposto pelo Esprito Santo. Age de modo muito
simples: se toda doena se origina da culpa, o perdo o gesto capaz de liber-la. No
importa qual a forma que a doena assuma, qualquer espcie de escassez se origina daausncia de perdo, que pode se expressar em problemas fsicos, profissionais,
financeiros, afetivos, familiares, conjugais, etc.
O Esprito Santo vai utilizar tudo que o ego forjou a favor do milagre, que
acontece quando trocamos a percepo errada pela percepo santa. Deste modo, Ele
vai nos ajudar a perdoar tudo o que estvamos condenando antes. Conforme
acreditamos que exista algum fora de ns, Ele vai nos lembrar de que, como vemos o
outro, vemos a ns mesmos. No momento que liberamos o mundo de toda carga de
culpa, ficamos livres tambm. Ao contrrio, sempre que julgamos algum como
causador de nosso sofrimento, estamos considerando que tambm podemos ser o
causador do sofrimento de algum. Essa idia implica que devamos ser perigosos,
ameaadores e perversos, justificando toda a culpa que sentimos, manifesta em
problemas, conflitos, doenas ou dificuldades.
H alguns estgios que precisamos compreender no que diz respeito didtica
do Curso. Primeiro, num instante nfimo e antigo, nossa mente desejou se separar de
Deus, que nossa perfeita e absoluta plenitude. Como se separar de Deus impossvel,
nossa mente precisou adormecer e sonhar. Segundo, nossa mente se dividiu em trs
instncias: o tomador de deciso, o ego e o Esprito Santo. Terceiro, nossa mente se
identificou fortemente com o ego, que lanou mo de vrios mecanismos de defesa
contra a conscincia da natureza ilusria do sonho e da nossa verdadeira identidade,
relegando, assim, o Esprito Santo a uma voz quase inaudvel.
O tomador de deciso a instncia que decide tudo o que vai ocorrer no roteiro
do sonho e tambm qual guia devemos seguir. Ele definiu todo o roteiro do filme, de
maneira que o sonho j foi sonhado e j aconteceu, embora o experimentemos de
maneira linear. Essa instncia, de modo geral, nos inconsciente. Na maioria das vezes,
ns nos preocupamos exclusivamente com o roteiro do sonho, quando, na verdade, ele
j foi escrito. Isso no significa que no exista a possibilidade de mudana do roteiro do
filme, mas que todas as mudanas possveis no roteiro j ocorreram tambm. E todas
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essas mudanas do roteiro carregam consigo a dualidade (prazer e dor, alegria e tristeza,
sucesso ou fracasso, etc.). Enquanto houver alguma identificao de nossa parte com o
corpo, a conseqncia ser experimentarmos resultados ambguos. Ora vamos estar
alegres, ora tristes, ora satisfeitos, ora insatisfeitos, etc.
O ego, como j vimos, a instncia da mente que acredita num eu separado.
Essa crena faz nascer todo o mundo da percepo, na verdade, um sonho ilusrio,
onde parecem existir seres e objetos separados. Este universo o palco da culpa, do
medo e da raiva, pois seu principio bsico o princpio da escassez. Parece no haver
suficiente pra todos: comida, dinheiro, afeto, oportunidades, petrleo, etc. No importa
a forma que o ego assuma para simbolizar a falta, ela vai estar l, pois ele a quer
exatamente ali. Sem ela, o ego no pode existir, pois a falta o limite que o ego precisapra existir. Na ausncia de falta, nosso ego desaparece.
OEspritoSanto a nossa lembrana de Deus, que nos fica guardada pra sempre
at o instante de nos abrirmos pra ela. Quando nossa mente se pensou separada de Deus,
esse pensamento foi corrigido de imediato pelo Esprito Santo, a resposta de Deus para
a crena na separao. Neste aspecto, o Esprito Santo um mediador entre o sonho e a
realidade. Ele nos ajuda a realizar o caminho de volta pra casa. Utiliza os nossos
smbolos de medo e os transforma em smbolos de perdo.
No mundo da percepo, o Esprito Santo nos ajuda a transformar nossos
relacionamentos especiais, enraizados no dio especial e no amor especial. Esses
relacionamentos partem da idia de que algum tenha o poder de nos destruir, no caso
do dio especial, ou o poder de nos fazer plenos, no caso do amor especial. Em ambos
os casos, existe um forte apelo crena na separao, pois algum fora parece ter o
poder de nos ferir ou a capacidade de nos completar. H uma tendncia a considerar
que o outro possui algo que nos falta e, assim, tanto no dio especial, quanto no amor
especial, precisamos ter raiva do outro. Ele tem a obrigao de nos dar o que nos falta,
caso contrrio, jamais pode ser amado por ns. Claro que isso no amor, pois o
Amor Verdadeiro no estabelece restries ou limites. J no relacionamento santo,
compreendemos, com a ajuda do Esprito Santo, que o outro traz a chave da nossa cura
e ns lhe trazemos a dele. S podemos voltar pra casa juntos e qualquer idia de
separao entre ns apenas adia o milagre. Como podemos deixar de amar aquele que
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veio nos curar? S podemos sentir gratido. Esse relacionamento santo a cura do
relacionamento especial.
A cura, portanto, no tem a ver com a forma do relacionamento, mas com o
propsito que estabelecemos pra ele. O propsito do ego se baseia em interessesseparados e exclusivistas. Ele no considera a possibilidade de ser feliz em conjunto,
ento, v o outro como um adversrio. J o propsito do Esprito Santo se baseia em
interesses compartilhados, nos ensinando que a nica ddiva real a comunho.
Com o tempo, vamos compreendendo que a maior parte de nossa culpa
inconsciente, de maneira que no podemos perceb-la. Ela se manifesta nos nossos
relacionamentos especiais na forma de sintomas, problemas ou situaes desagradveis.
Nosso ego vai nos dizer que a culpa do mundo, mas o Esprito Santo vai nos lembrar
que nada acontece por acaso sem nossa vontade ou consentimento. Se qualquer episdio
desagradvel acontecer no nosso enredo, certo que o tenhamos pedido pra acontecer,
com base na nossa culpa inconsciente. Nosso tomador de decises j o havia escolhido,
embora essa escolha no se apresente a ns de maneira consciente. Entretanto, temos o
poder de escolher o modo com o qual olhamos pros acontecimentos, decidindo a favor
do ego ou do Esprito Santo. Neste momento, escolhemos entre sofrimento e alegria,
respectivamente.
O milagre acontece quando o perdo desarma uma percepo de julgamento,
transformando-a numa ddiva. O enredo do filme j foi escrito e filmado, mas podemos
escolher v-lo pela tica do Esprito Santo ao invs da do ego. Isso nos vai liberando de
toda nossa culpa inconsciente, que nos fez projetar um pesadelo, transformando-o num
sonho feliz. Esse o atalho do Esprito Santo.
A escolha a favor da percepo santa nos abre caminho para o despertar suave egradual. Quando conclumos nossas lies de perdo, todo resduo de culpa liberado e,
assim, retiramos todas as barreiras contra a Presena do Amor. Neste momento,
decidimos aceitar a nossa identidade iluminada, junto ao poder de nossa mente de
projetar smbolos de perdo e ddivas de amor.
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CAPTULO 2
O CAMINHO PARA A CURA
1. Nosso destino final Deus.2. Somos mente ao invs de corpo.3. No sabemos curar. Precisamos da ajuda do Esprito Santo.
4.
A cura comea com o perdo.
5. Atravs do perdo, preparamos a mente para o sonho feliz.
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1) Nosso destino final Deus.
Deus a nossa natureza original, a nossa essncia. Quando compreendermos enfim
que no somos o ego, perceberemos a ns mesmos apenas como Presena de Amor,
eterna, sem forma, infinita. Mas, no meio da estrada para a cura, vamos ter apenas
alguns vislumbres do que a nossa essncia. O Esprito Santo vai nos propiciar bons
lampejos da nossa verdadeira identidade, livre e plena, contudo ainda vamos ter grande
dificuldade em abrir mo do ego e da noo de que sejamos um corpo separado. Assim,
esses lampejos sero breves. No entanto, eles sero fortes o suficiente para nos fazer
iniciar o processo de cura.
Estar com Deus uma experincia direta, pois est alm do campo intelectual,
verbal ou simblico; vivida totalmente de vez, sem gradaes ou matizes. Por isso, o
Curso nos diz que Deus conhecido atravs da revelao direta. Estar com Ele
tambm uma experincia universal, pois est no corao de todos os seres, sem exceo,
uma vez que Ele a nossa essncia. Assim, Ele est disponvel pra todos, a toda hora e
em todo lugar, ultrapassando nomes, conceitos, crenas, culturas, contextos ou
ideologias. Transcende o tempo, o espao e a forma. Ele simplesmente .
Uma teologia universal impossvel, mas uma experincia universal no s
possvel como necessria. para essa experincia que o curso est dirigido (E-
Introduo, 2: 5-6).
Quando falamos de Deus e do amor a que Ele est associado, estes so apenas
nomes que damos a uma experincia inominvel. Deus no um conceito, tampouco
uma palavra, de maneira que pouco importa como O chamamos. A experincia direta
atravs da qual nos lembramos eternos, sem forma, infinitos, plenos e amorosos nos
leva memria de quem somos.
Deus desconhece restries pelo simples fato de que desconhece a diferena. Ele
no v o corpo ou o ego, que se baseiam na idia de separao. Como ele poderia ver
diferena se Nele somos todos um? Essa igualdade total s pode ocorrer numa dimenso
para alm da forma, do tempo e do espao. Para alm do corpo e do ego, somos paz e
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comunho absoluta. Por isso, enquanto nos percebermos como um indivduo,
negaremos a percepo de que sejamos um com Deus.
Deus a Causa. Assim, chamado de Pai, a Fonte Causadora da Vida. Ns, o Filho
de Deus, somos o Seu Efeito. Somos idnticos ao nosso Pai, mas isso no quer dizer quesejamos idnticos na forma, sim em essncia. Ele no tem forma, pois infinito. Como
vimos, o mundo da percepo, onde parecem haver formas diferentes umas das outras,
apenas um sonho do Filho de Deus. A natureza de Deus est para alm deste mundo.
Deus total. No posso senti-Lo se estabeleo limites. Neste sentido, no h meio
termo. Ao limitar, porque j me decidi pelo ego e renunciei conscincia do Amor de
Deus. Entretanto, Ele jamais se vinga. Permanece sempre disponvel, mesmo que
escolhamos o ego, turvando a percepo de que Ele esteja conosco. Nunca nos pune ou
exige o nosso sacrifcio. O poder de aceit-Lo ou neg-Lo absolutamente nosso.
Em suma, por mais que tentemos descrev-Lo, no mximo, apontamos para Ele,
mas a Sua definio impossvel: palavras so smbolos e Deus uma experincia
direta e real.
No busques o teu Ser em smbolos. No pode existir nenhum conceito para
representar o que tu s. (T-31, V, 15:1-2).
2) Somos mente ao invs de corpo
Em princpio, precisamos compreender que no existe nenhum mundo l fora.
Eu, assim como qualquer um, no sou um corpo, mas uma mente. Precisamos
distinguir os trs nveis diferentes apresentados pelo Curso: Esprito, mente e corpo. O
Esprito nossa verdadeira identidade eterna, infinita, imutvel e unida a Deus como
Cristo. A mente o nvel aonde exercitamos a escolha de nos percebermos unos com
Deus ou nos percebermos separados Dele - gerando, assim, um sonho onde aparentamos
ser um eu diferente dos outros. O corpo apenas uma projeo da mente identificada
com o ego, a fim de simbolizar a separao. O corpo incapaz de escolha e tudo que lhe
ocorre vem da mente. Alm disso, a mente no a mesma coisa que o crebro, segundo
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Um Curso Em Milagres. Ela no est restrita ao crebro. ela que projeta todo o
mundo da percepo: o universo, os outros corpos, o organismo, etc. O crebro apenas
recebe os comandos que a mente lhe fornece.
Como sou uma mente, no h nada exterior a mim mesmo, embora a percepoinsista em dizer que sou um corpo. A identificao com o ego tenta nos convencer de
que existe um mundo l fora, com leis prprias, autnomas e irreversveis. Parecemos
ser espectadores das leis desse mundo, que estava aqui bem antes de termos nascido.
Essa a grande farsa, que precisamos desconstruir. O mundo no existe. Ele
apenas uma projeo mental, semelhante projeo de um filme numa tela de cinema.
A nossa mente inventou o mundo, no o contrrio. Assim como o mundo l fora no
existe, o ego tambm no existe. Aquilo que chamamos de eu tambm se trata de uma
fico. Somos uma mente, no um corpo.
Neste sentido, tudo que acontece no mundo est acontecendo dentro da nossa
prpria mente e no devemos culpar ningum fora. o filme que nossa mente est
projetando. nossa escolha. No h nada fora nos forando a escolher o que
escolhemos ver. A estratgia do ego exatamente esconder que o poder de escolha da
mente. Pois, se isso ficar claro, ns nos reconhecemos mente, no ego e, assim,
estamos livres.
Na verdade, essa a nossa grande crise. Quando assumimos a responsabilidade pelo
mundo que vemos, reconhecemos que toda guerra interior. Isso pode gerar duas
reaes distintas: um sentimento de culpa to grande que preciso negar que esse fato
seja verdade (mantendo o mesmo ciclo de procurar culpados enquanto sou a aparente
vtima de tudo) ou reconhecer o imenso poder que tenho de modificar o contedo de
minha prpria mente, conforme decido pelo ego ou pelo Esprito Santo.
Mais uma vez, no existe nada l fora. um truque do ego: simular um universo
com leis autnomas sobre o corpo, que, por sua vez, tenta adaptar-se da melhor maneira
possvel.
Quando tenho um problema, costumo buscar a chave de sua soluo fora. Isso
satisfaz ao ego, que no quer a soluo. Se quero resolver algum problema, a primeira
coisa que devo fazer me voltar para dentro da mente. Ela criou o problema e ela pode
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solucion-lo, pois tanto o problema quanto a soluo no existem so projees
mentais. A busca pela soluo do lado de fora sempre infrtil. Quando busco fora,
acredito que o ego seja real e que o universo tambm. Acredito que o mundo me
contenha e que sou um corpo. E agora no existe soluo. Pareo no ter escolha, nem
poder de deciso.
Entretanto, quando estou consciente do quanto os meus pensamentos podem
modificar a percepo que tenho do mundo, comeo a entender que o problema e a
soluo so apenas projees mentais. Decido aquilo que acontece no interior da minha
mente. Ningum mais pode fazer isso por mim. Eu sou responsvel, no mais ningum.
No sentido oposto, o ego nos tenta convencer do contrrio. Porque ele precisa nos
persuadir de que somos um corpo, no uma mente. S num corpo, ele pode ser vtimado mundo. Quando me reconheo mente, entretanto, no posso ser vtima: sou o diretor
do meu prprio filme. Sou aquele quem decide acerca de qual professor deve me
ensinar sobre o roteiro de minha existncia: o ego ou o Esprito Santo.
Comeo a compreender que no h nada pra consertar do lado de fora. A nica
coisa que preciso corrigir minha prpria percepo do mundo. Se rejeito, acuso ou
condeno, o que h dentro de minha prpria mente que no consigo aceitar? Que
justificativa estou usando pra expulsar o dio que sinto e pra blasfemar os outros?
Nosso ego pode ser muito convincente em justificar o ataque aos outros.
Aquilo que a minha mente j contm o que vejo, no o contrrio. Mais uma vez, o
mundo l fora no existe. Eu sou o nico que pode escolher entre a percepo
equivocada do ego e a percepo correta do Esprito Santo. No sou um corpo, sim uma
mente. E, assim, posso escolher aquilo que vejo.
Nossa tarefa desconstruir a idia de que sejamos um corpo ao invs de umamente. No primeiro caso, nos consideramos um indivduo separado dos outros. No
segundo caso, nos consideramos uma mente unida aos outros, o que implica dizer que
somos um. Por incrvel que parea, percebemos que temos uma enorme resistncia em
desconstruir a idia de que sejamos um indivduo. H um desejo secreto de sermos
separados, a fim de que nos sintamos mais especiais.
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3) No sabemos curar. Precisamos da ajuda do Esprito Santo.
Nossas tcnicas, crenas, teorias, modelos ou mtodos no so capazes de nos curar.
Todas elas se baseiam numa tentativa de reparar alguma falta que o ego sente. Por isso,
se quisermos a cura, precisamos antes reconhecer que no sabemos curar. Caso
contrrio, j o teramos feito. quando damos conta de que no sabemos como curar
que a cura pode acontecer.
No cometas o equvoco de acreditar que compreendes o que percebes, pois o seu
significado est perdido para ti. (...) Enquanto pensares que conheces o seu significado,
no vers necessidade de perguntar isso a Ele [Esprito Santo]. (T-11, VIII, 2:3 e 5 chaves nossas).
A cura est diretamente associada ao perdo. No mundo dual, o apego ao ego gera
doena e a entrega ao Esprito Santo promove cura. Neste sentido, podemos at dizer
que a doena uma iluso, j que o ego tambm . Por outro lado, a disponibilidade
para o perdo a cura. como um fluxo de amor que, quando no interrompido,
transborda livremente. A dor ou o conflito, contudo, so sinais de que o amor foi
interrompido. Contudo, bom lembrar que o verdadeiro lugar da cura a mente e,
assim, ela transcende a idia de um corpo saudvel ou doente.
Podemos brincar com as palavras e dizer que a cura o oposto da culpa. Estamos
presos crena no pecado, mesmo se expressa em contedos religiosos, jurdicos,
normativos ou morais. No importa: o que fazemos parece errado, esprio, nojento e,
em conseqncia, passvel de punio. O ego adora se punir e tambm punir aos outros.
Esse o comeo da doena.
Como a doena incomoda, procuramos remdios ou solues exteriores. O
problema que procuramos a cura a partir da perspectiva do ego, que o fomentador da
doena e seu fiel protetor. Essa busca infrtil tambm se apresenta de maneiras muito
diversas: seguir uma rigorosa ritualstica espiritual, pagar promessas, aferrar-se a
crenas, criar teorias, fazer mandingas enfim, lanar mo de uma srie de mgicas.
Na verdade, no sabemos o caminho da cura. Se soubssemos, no estvamos
sofrendo. O Esprito Santo dirige a cura e tudo que podemos fazer Lhe entregar nossa
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pequena disponibilidade. Ele nos ensina uma percepo bem mais generosa de ns
mesmos e dos outros. Ele tem a chave para liberar o fluxo interrompido, que se
transformou em dor devido nossa luta contra aquilo que natural.
A senha, portanto, pra cura assumir: - eu no sei curar. assim que damos espaopara o Esprito Santo agir e liberar todos os ns que pareciam impossveis de desatar.
Seu trabalho sempre no sentido de nos lembrar de que no somos um indivduo.
Quanto mais apegados idia de que somos um individuo, mais adoecemos. Diluindo o
ego, o processo de cura comea.
4) A cura comea com o perdo.
Todo conflito s pode existir aonde no houve perdo. Mais uma vez, a palavra
perdo no tem substncia alguma o que importa o sentimento de liberao que
nasce diante daquilo que parecia um problema. O perdo, de que falamos aqui, no tem
nada a ver com moralidade, sim com uma deciso mental de escolher a inocncia ao
invs do julgamento.
A mente que projeta o conflito contm o conflito. Tudo o que ns percebemos est
no interior da nossa mente e, portanto, torna-se algo nosso. O perdo fundamental
por isso. O conflito jamais est fora. No adianta afastar-se do problema, como se ele
estivesse fora.
Em geral, aquilo que no perdoamos algum aspecto de nosso enredo pessoal que
precisa ser integrado. Esse aspecto excludo, representado por uma pessoa ou um
episdio especfico, precisa encontrar um lugar no nosso corao; caso contrrio, insiste
na forma de um problema repetitivo, que reaparece de tempos em tempos, com apenas
uma roupagem diferente.
Como dissemos, no somos um corpo ou um ego, sim uma mente. Nada
preciso fazer no plano externo. Tudo acontece dentro. Aquele que vejo como causador
do sofrimento apenas uma projeo mental minha. Eu o vejo assim porque preciso de
algum para culpar pela minha prpria infelicidade. esse sofrimento que me confere
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uma identidade: uma sensao de que o meu ego existe. Sem sofrimento, o ego no tem
do que se queixar e desaparece. Sem o sofrimento, redescubro que no sou um
indivduo, tampouco um corpo.
Como a nossa mente ainda est apegada a padres negativos de culpa e medo,precisamos eleger pessoas no nosso enredo pessoal, a fim de lanar-lhes a
responsabilidade por nosso sofrimento. Mas isso s um truque do ego. Ele pensa que,
se jogar a culpa pra fora, vai livrar-se dela. A questo que ns no somos um corpo e,
ento, no existe fora. Ao lanar a culpa pra fora, o ego no faz nada alm de
identificar-se com a culpa, pois a mantm dentro da mente. Culpar algum fora ou a si
prprio d no mesmo. A culpa continua no mesmo lugar: na mente. Por isso, o perdo
atua como cura dentro da mente. Desfaz os pensamentos de ataque que eu tinha arespeito daquela pessoa ou situao. Se vejo algum tipo de conflito, na mente que ele
precisa ser resolvido. E, tambm dentro da mente, o conflito encontra uma soluo.
5) Atravs do perdo, preparamos a mente para o sonho feliz.
O perdo facilita a aurora de um sonho feliz. Um filme mais suave e alegre. Pelo ato
do perdo, liberamos a culpa e passamos a ver o divino. Muitas vezes aforma do sonho
no importa, mas o contedo do sonho se transforma em flor.
Em primeiro lugar, tu vais sonhar com paz e ento despertars para ela. A tua
primeira troca do que fizeste pelo que queres a troca dos pesadelos por sonhos felizes
de amor. (T-13, VII, 9:1-2).
Como j vimos, todo o mundo a que chamamos de mundo real apenas um
sonho, assim como tambm a noo de um eu separado. Nossa realidade estar unido
a Deus, numa dimenso eterna, sem forma, imutvel, infinita e para sempre amorosa.
Enquanto ainda nos identificarmos com um ego, como se fossemos um indivduo
diferente dos outros, nossa mente estar adormecendo e sonhando. Neste aspecto,
podemos sonhar um pesadelo, cujo enredo nos aparece cheio de dio e medo, ou
podemos sonhar um sonho feliz, cujo enredo se apresenta como uma oportunidade de
perdo e partilha.
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Nossa tarefa, ento, inocentar toda espcie de vida. Um trabalho firme e motivado
no sentido de des-culpabilizar o mundo. Observando nosso apego ao ego e que
conseqncias ele nos tem reservado, comeamos a compreender de onde vem a dor.
Nosso maior apego talvez seja esse insistente jogo de vitimizao, ao qual parecemos
estar submetidos sem poder de escolha e que, no inconsciente, temos um estranho
prazer em jogar. Parece haver uma parte de ns que se deleita com os problemas e
orgulha-se da dor. Pois a dor o estandarte que ego carrega como triunfo sobre Deus.
O sonho feliz significa que iniciamos o processo de desconstruir a idia de que
sejamos um corpo, um ego ou um indivduo separado. O resultado disso que nos
abrimos para uma percepo mais vasta de ns mesmos e do universo. O Esprito Santo
recebe de ns carta branca pra atuar na nossa mente, ajudando-nos a remover osbloqueios conscincia da Presena do Amor. E suavemente vamosrelembrando nossa
verdadeira identidade eterna e plena.
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CAPTULO 3
12 GESTOS PARA O AMOR
1. Acolher
2. Ouvir
3. Observar o problema
4. Observar a soluo
5. Assumir a escolha
6. Perdoar
7. Aceitar o merecimento
8. Re-interpretar o enredo
9. Sonhar feliz
10. Ouvir a Voz do Esprito
11. Entregar tudo ao Esprito Santo
12. Amar
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1) Acolher
Todos ns queremos colo. Em algum nvel, nos sentimos rejeitados, excludos ou
estrangeiros. Entretanto, quando buscamos colo, pressupomos que seremos atacados,
como diversas vezespareceu acontecer em nossa existncia. Logo, estamos em dvida
quanto a nos abrirmos. H inmeras fantasias de que, se revelarmos como nos sentimos
no ntimo, seremos julgados e punidos. No podemos compartilhar aquilo que nos aflige
nem aquilo que desejamos profundamente, pois prevemos que seremos crucificados.
Ento, o medo cala o nosso corao.
O primeiro gesto para a cura cultivar um espao de confiana onde possamosamolecer as defesas e nos abrirmos outra vez. De modo geral, nos achamos diante de
um jri, mesmo que interno. como no mito do julgamento final: o deus vingativo
condena cada defeito impuro do seu filho, com uma lista detalhada de todos os seus
pecados, embora Deus jamais possa faz-lo. Assim, diante de um juiz, no diante de um
amigo, como podemos nos abrir?
Quem confia em algum relacionamento j realiza um avano sem precedentes.
Pode ser um relacionamento com qualquer pessoa: famlia, terapeuta, cnjuge, amigo,
colega de trabalho, animal de estimao, etc. Parece pouco, porque o nosso ego avalia
os grandes avanos pelo sensacionalismo e pelo estrondo. O fato de iniciarmos uma
relao com algum, orientada pela inocncia, no pelo medo ou pela condenao,
uma enorme mudana na maneira de se relacionar. uma verdadeira revoluo.
Esse primeiro gesto decisivo para o incio da cura. Pode ser adiado no tempo,
mas sem ele o processo no acontece. Todos ns precisamos de um olhar de ternura
para que comecemos a lembrar quem somos. Parecemos presos a problemas. Estamos
sentindo medo. Num relacionamento baseado na confiana, porm, temos a chance de
lembrar que tudo isso pode ser diferente. O acolhimento, portanto, nos recorda que
existe um jeito amigo e calmo de se relacionar com o mundo. E isso no demonstrado
em palavras, sim no corao do prprio relacionamento. Simplesmente aceitamos que
tanto eu quanto o outro somos Deus, embora tenhamos esquecido. Em essncia, j
somos perfeitos. Acolher permitir o repouso e a naturalidade. Ento, ns nos sentimos
queridos, amados, aquecidos. Tambm desenvolvemos um grande sentimento de
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aceitao por ns mesmos e pelos outros, estabelecendo um relacionamento carinhoso
com o mundo.
Num mbito didtico, interessante pensarmos em dois tipos de relacionamento
que proporcionam acolhimento, embora eles sejam o mesmo em essncia. O primeiro o nosso relacionamento direto com Deus, que a Fonte Infinita de Amor, enquanto
todas as outras fontes aparentes so efmeras. Este colo que todos buscamos, no ntimo,
o colo de Deus. O segundo o relacionamento com o outro, que, neste mundo, o
meio para alcanarmos Deus.
No nosso relacionamento com Deus, ns nos voltamos para um espao interior
vasto e infinito. O Manual dos Professores, do Curso, at nos sugere que reservemos um
perodo breve dedicado comunicao com o Esprito Santo pela manh e outro noite.
Esses pequenos vislumbres de como ser embalado no colo de Deus agem como um
abrao caloroso que proporciona alegria, paz e afeto. Neste instante, ns nos sentimos
verdadeiramente amados e nosso corao transborda com o desejo de repassar esse
amor a quem nos rodeia. Para tal, necessrio que nos disponibilizemos pra experincia
de que somos para alm do corpo e do ego. Encontramos dentro de ns o altar onde nos
reconhecemos eternos, imutveis e infinitos. Redescobrimos nossa ligao permanente
com a Matriz da Vida. Temos o lampejo de que somos um com o Todo. O Esprito
Santo e Jesus podem nos ajudar bastante nestes momentos de recolhimento.
J dentro do sonho, o nosso relacionamento com o outro o atalho para o
reencontro com Deus. Conforme acreditamos que somos corpos separados, um vnculo
amoroso com o outro re-integra algo que parecia separado. Esse relacionamento santo
no porque nos vemos como dois corpos separados, mas sim porque nele reside a fora
de nossa unio de propsito, que ocorre no nvel da mente. Apenas juntos podemos
lembrar que somos Um. Deus o encontro entre dois irmos. Por isso, o Curso sempre
nos ensina que o templo do Esprito Santo um relacionamento. Estendendo a mo para
algum, estendo a mo pra Deus e, ento, recebo a ajuda que pareo dar. O interessante
de um relacionamento que ele pode nos revelar toda a nossa prpria culpa
inconsciente, projetada sobre o outro. Em momentos de contemplao ou recolhimento
nem sempre essa culpa se torna manifesta.
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Antes de podermos acolher qualquer um, precisamos nos sentir plenamente
amados por Deus, que nunca deixou de nos amar, embora tenhamos esquecido. Essa
lembrana de que sejamos sem forma, sem tempo e sem espao nos traz a conscincia
de que o sonho uma iluso e de qual o nosso verdadeiro lar.
Um Filho de Deus s feliz quando sabe que est com Deus. Esse o nico
ambiente em que ele no vivenciar tenso, porque o seu lugar. tambm o nico
ambiente digno dele, porque seu prprio valor est alm de qualquer coisa que ele possa
fazer. (T-7, XI, 2: 6-8).
Esse o nico colo perfeito. Entretanto, o reencontro definitivo com Deus est
no fim da jornada, no momento em que conclumos nossas lies de perdo. Durante o
processo de cura, o Esprito Santo lembrar que nosso valor no depende daquilo que
fazemos ou conquistamos. Este o sentido de: seu prprio valor [do Filho de Deus]
est alm de qualquer coisa que ele possa fazer. Nossa natureza sem forma, estvel,
eterna e inocente garante o nosso valor real, independentemente dos graus de
especialismo que o ego possa inventar.
No so as coisas fora que podem nos acolher, mas o fato de as entregarmos
conduo do Esprito Santo. Neste mundo, podemos fluir com Ele ao caminhar, comer,
fazer amor, jogar bola, viajar, trabalhar, conversar, etc. No a atividade em si que
garante o vnculo, contudo a disponibilidade para senti-Lo. Todas as atividades so
ilusrias, mas o seu contedo de amor pode ser real, caso peamos a ajuda Dele.
Esse acolhimento, portanto, uma mera extenso do Amor do Cu. De repente,
o Amor nos chega at alcanar quem nos rodeia. Ou mesmo, vemos o Amor em quem
nos rodeia e Ele nos toca. No somos corpos, sim uma mente unificada; portanto, no
importa de onde o Amor parea ter vindo, pois Ele sempre vem da mesma Fonte.
Aceit-Lo talvez seja o nosso gesto mais generoso. Racionalmente parece bvio
e fcil. Mas o nvel de culpa e medo em nossa mente ainda to grande que achamos
no merec-Lo. Quando decidimos dizer: - aceitamos o Amor Infinito de Deus;
redescobrimos a fonte da cura e agora podemos estend-la. Sem isso, nos relacionamos
com os outros atravs de nossas prprias expectativas e carncias, cobrando-lhes que
sejam diferentes e adiando a chance de cultivar uma relao santa. Isso o que o
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Esprito Santo vem nos relembrar: o acolhimento nasce do seio de um relacionamento
gentil cujo propsito conjunto.
Se buscarmos no outro o esteio seguro para nos preencher de amor, nos
frustraremos duramente. Esse amor do dar para receber um jogo de barganha doego, que maquia o princpio da escassez. Quem ama no fala pelo ego, que age sempre
pelo sentimento de falta e carncia e, assim, no conhece a integridade do amor.
Riqueza, elogio, reconhecimento, aprovao, status, destaque, enfim, no tm o
poder de nos preencher. Tudo isso neutro, apenas mais uma inveno da mente, cujo
significado estabelecido por ns. No mundo, isso parece necessrio e claro que
respeitamos esse sentimento. Enquanto nos acreditarmos corpos, precisaremos de todas
essas coisas ou assim parecer. Entretanto, se insistirmos em buscar amor no plano
externo, ficaremos presos a um tipo de busca inglria e dolorida. O desejo nunca cessa,
porque a causa do desejo nunca satisfeita. Sempre que buscamos alguma coisa fora,
parece-nos que o objeto do desejo tem a capacidade de nos satisfazer. Mas essa
sensao de falta maior e logo retorna, nos impelindo a uma nova busca. S o acesso
ao amor rompe esse ciclo do desejo. A causa do desejo o sentimento de incompletude,
que s o amor pode satisfazer. Isto , a causa do desejo a sensao de falta de amor.
Buscar satisfazer essa falta no plano exterior procurar no lugar errado.
Sem essa conscincia, prosseguimos buscando a satisfao fora, sem nunca a
alcanarmos de fato. No h descanso. como um vcio. O acolhimento parece
impossvel, pois a sensao de falta enorme. Ao invs de paz, ficamos ansiosos. E isso
justifica julgar, roubar e at matar. Isso justifica tratar o outro como adversrio, no
como amigo. Pois de onde o ego olha, no possvel ser feliz em conjunto.
O Esprito Santo nos ensina que s h acolhimento verdadeiro quando nosdisponibilizamos para a percepo correta de ns mesmos e do mundo. Neste sentido, o
acolhimento real nasce no interior de um relacionamento, quando dois ou mais se
lembram que so Cristo. No instante em que deitam mansamente no colo de Deus e,
ento, reconhecem mutuamente a sua natureza inocente e imaculada. Na verdade, o
outro Deus, embora nem sempre consigamos v-lo assim. Por isso, a confiana num
relacionamento to importante: desvenda Cristo em ns.
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Por incrvel que parea, temos medo de receber o amor do Esprito Santo. um ato
de coragem e humildade aceitarreceb-lo. Alis, a nica forma eficaz de acolher a si
e ao outro. Em princpio, difcil reconhecer que ns mesmos, devido culpa,
fortalecida por crenas flagelantes e proibitivas, erigimos barreiras contra o amor.
Julgamos no merec-lo e, assim, nos decidimos pela escassez. Deus nunca nos puniu,
ns mesmos o estamos fazendo, acreditando que somos separados Dele.
Aceitar o acolhimento do Esprito Santo nosso primeiro ato de generosidade. E s
acharemos esse acolhimento quando nos voltarmos pra Deus. Podemos at dar-Lhe
outro nome, mas s essa Fonte Infinita nos acolhe verdadeiramente. Todas as outras
possibilidades podem ser meios para alcanar o colo perfeito, mas, em si mesmas, no o
oferecem. Dar-se carinho, aquecer, amar: aprender que s amor a proteo real. Aquicomea a cura.
2) Ouvir
Ouvir com presena tem uma enorme fora curativa. O ego, como de costume,
questiona a eficcia do simples ouvir, porque no parece haver nada de especial. No
entanto, uma forma de vnculo profundo: quem escuta abre as portas da alma. Quando
vem do corao, nos sentimos totalmente acolhidos e aceitos. uma das maiores ofertas
que podemos oferecer.
No importa se a prtica da escuta volta-se para si mesmo ou para o outro. Em
ambos os casos, conforme j vimos, somos uma mente e no um corpo. Logo, tudo faz
parte de nosso aprendizado. No h nenhum mundo l fora. O que o corao diz ou oque o outro diz sempre nos ensina algo precioso sobre ns mesmos. O importante que
ouamos a alma, o que nem sempre significa ouvir as palavras.
O problema que, de modo geral, nossos hbitos no tm sido favorveis escuta
presente. A enorme quantidade de informao, a pressa e o super estmulo de imagens e
sensaes (publicidade, tv, cinema, internet, jogos eletrnicos, etc) dificultam nossa
capacidade de ouvir o interior. Esse um gesto primitivo e simples. Porm, temos
entulhado uma considervel quantidade de lixo mental que nos impede de ouvir com
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presena. Basta alguns minutos em silncio e nossa cabea no pra: preocupaes,
contas a pagar - o passado e o futuro. E, quanto menos ouvimos nossa alma, mais
precisamos de coisas exteriores pra nos dizer o que devemos fazer. No devemos fazer
nada: ouvir suficiente. Toda resposta est disponvel num lugar silencioso dentro de
ns, onde o Esprito Santo nos fala. Todavia, o ego atrai o barulho e o caos, pois assim
nos faz crer que o mundo seja real e nos faz esquecer que somos uma mente.
Costuma ser muito difcil ouvir as verdadeiras intenes do nosso ego. preciso
muita prtica e honestidade para ouvir suas demandas. Nosso ego evita a clareza e a
transparncia, pois, quando percebemos suas reais intenes, desnudamos todo o dio
escondido sob um complexo sistema de defesa. No costuma ser agradvel quando
comeamos a ouvir a voz do ego como ela de fato . Exige maturidade perceber oquanto carregamos sentimentos de mgoa, inveja e vingana, disfarados sob a forma de
argumentos racionais ou comentrios despretensiosos. Entretanto, neste instante, a voz
do Esprito Santo nos lembra do perdo e da inocncia que jamais perdemos, apesar de
todo hino de morte que possamos ter sonhado cantar. Ouvir o interior permite
reconhecer a inquietude do nosso ego e a serenidade de nosso Esprito. Para que isso
acontea, preciso dar tempo ao corao. preciso parar e esperar.
Eu no preciso fazer nada, exceto no interferir. (T-16, I, 3:12).
Essa nossa dificuldade inicial. O ego gosta do domnio e da destreza. Mas quem
quer se curar de verdade logo aprende que est seguro quando no sabe o caminho;
segue por vias misteriosas, sem a antiga falsa sensao de controle. Do no saber, nasce
o caminho verdadeiro.
No preciso considerar o que devo fazer, porque, quando escuto o Esprito Santo,
torna-se impossvel eu fazer algo errado. A caminhada orientada por algo muitoMaior. A forma do aprendizado totalmente varivel, embora o contedo seja idntico
(amar). Nossa parte limpar o terreno para a escuta. Essa nossa tarefa mais trabalhosa.
Nem sempre as palavras dizem o que o corao sente. s vezes, o que dizemos nos
afasta do que sentimos, num movimento de defesa para abafar o problema. No so as
palavras necessariamente que nos comunicam sobre o interior. a linguagem do
corao.
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Quando ouvimos essa linguagem sem censura ou julgamento, compreendemos que
no existe pecado, tampouco condenao. A verdadeira escuta preserva nossa inocncia,
mesmo se nos julgamos o contrrio. Acolher o que o corao diz ouvir sem culp-lo.
Esse jeito de escutar um estado de conscincia cativo e libertador. Uma grande forma
de acolhimento: um abrao no que est para alm das palavras. Ouvir com inocncia
um gesto transformador. Sobretudo quando nos voltamos para a inocncia original que
mora dentro de todos ns.
3) Observar o problema
Com freqncia, parecemos presos a um problema, do qual nos queixamos.
Sentimos insatisfao em algum aspecto da existncia. Temos uma dificuldade diante da
qual nos sentimos impotentes e vtimas das circunstncias. E acreditamos que ela seja
real e autnoma.
Observar o problema nos ajuda a v-lo exatamente na forma em que ele se
apresenta. Como somos uma mente, no um corpo, observamos o problema dentro de
ns. O que me gera dificuldade? O que parece estar no mundo l fora que me irrita? O
que enfim eu odeio?
A forma do problema diz muito a respeito de quais bodes expiatrios eu uso para
justificar minha raiva interna. Pode ser um membro familiar, um chefe, um colega de
trabalho, um cnjuge, etc. Pode ser a falta de dinheiro, de perspectiva, de paz, de tempo,
de felicidade; sempre uma falta queparece exterior.
Tudo isso me informa qual o enredo tenho escolhido para representar meu prprio
sofrimento. E, claro, esse enredo conta sobre minha prpria identidade como ego: o que
considero admirvel e o que considero desprezvel; quem o mocinho e quem o
bandido.
O mundo nos parece muito real e suas experincias mais ainda. Na nossa jornada de
perdo, iniciamos o processo de cura a partir de nossa histria especfica. A forma dela
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muito singular, embora o contedo seja idntico s histrias de outras pessoas: a busca
pelo amor.
Neste momento, ainda no nos demos conta de que pode ser diferente. Em geral,
ns nos esquecemos que podemos escolher a favor do amor ao invs do medo, j que oproblema est em nossa mente, no fora.
Neste estgio do processo de cura, o gesto de observar o problema parte dos temas
especficos de nosso enredo pessoal at chegarmos ao contedo universal, o amor. No
fim, o nico problema que precisa ser transformado a nossa deciso de culpabilizarao
invs de amar. E essa deciso se encontra na mente, no fora dela. Entretanto, o
problema que vivemos nos parece muito convincente e real. Como no culpar o
problema? Como no culpar o pai severo, a me insuficiente, o chefe chato, o colega de
trabalho invejoso, o marido ausente, a esposa queixosa? Parece-nos evidente que o
problema est fora ao invs de dentro de nossa mente. Ora, o outro que assim, no
eu o ego acusa ele tem de mudar, porque ele o problema.
O gesto de observar o problema importante no porque seja real ou tenha valor,
mas porque, no momento, tem valorprans.
Ningum pode escapar das iluses a no ser que olhe para elas, pois no encar-las
a forma de proteg-las. (T-11, V, 1:1).
O problema uma defesa, que nosso ego inventa, para evitar a conscincia da
Presena de Deus. como uma cortina de fumaa para despistar o fato de que somos
Esprito, no um corpo. Porm, todo problema do ego pode ser transformado em ddiva
pelo Esprito Santo. Qualquer relao de dio pode se tornar um relacionamento santo,
dependendo da deciso interna. No h nada no mundo que seja inerentemente mau ou
bom. Embora o universo tenha sido projetado pelo ego, cujo objetivo era separar, ele
pode ganhar um novo propsito por parte do Esprito Santo. o modo pelo qual nos
relacionamos com o mundo que nos faz sofrer ou sorrir. Todo problema, em sua origem,
guarda um julgamento contra algum. A culpabilizao a causa do problema: jogar a
culpa pra fora no resolve, pois ela continua dentro da mente.
Quando culpo o outro, o problema parece estar fora e no tem mais como ser
resolvido, a no ser que o outro mude. E agora no depende de mim. H uma parte
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dentro de ns que deseja ver o problema fora porque, assim, no precisamos mover uma
palha: ora, a culpa do outro mesmo. O ego precisa ser vtima. No pode se deparar
com o fato de que o caos de sua prpria vida um reflexo de como v a si mesmo, no
de como o outro o trata.
Na verdade, este o problema principal: o ego me diz que no sou responsvel pelo
mundo que vejo que ele existe fora e, em essncia, sou sua vtima. Contudo, o mundo
um mero reflexo de como vejo a mim mesmo. No posso receber dele aquilo que no
lhe tenha dado; no posso ver nada que eu mesmo no tenha colocado l.
H uma maneira muito delicada e suave de observar o problema. Em breve,
compreendemos o quanto escolhemos o outro para representar o inimigo de nossa
felicidade. Estamos insatisfeitos conosco mesmos e o usamos pra abafar esse
sentimento.
Em princpio, porm, interessante que apenas observemos tudo o que nos
incomoda e nos atrapalha. Numa postura curiosa de pesquisador, contemplamos o filme
de nosso sofrimento. Sentamos e assistimos: com todas as letras, qual o problema de
fato? Quem me incomoda? Que sentimento esse? De quem pareo ter dio? Basta
observar o problema com presena e, ento, vemos claramente. Precisa apenas ser um
gesto sem julgamento.
Neste instante, nossa atitude no nos impele a consertar o problema. No preciso.
Primeiro, olhamos para exatamente como ele se apresenta, sem neg-lo, diminu-lo ou
exager-lo. Aguardamos que ele nos conte o que deseja contar e evitvamos ouvir. E
agora que o problema ganhou o espao digno pra se expressar j no fala com a mesma
violncia de antes. A defesa contra o simples gesto de observar o problema desperdia
muito mais energia do que v-lo como ele . Sem culpa.
Se olharmos para o mundo, desprovidos de nossas incansveis justificativas,
percebemos que o problema muito simples. No cerne da queixa, havia um: - estou
com medo. Ou: - sinto muito raiva disso e etc.
A idia de observar o problema nada tem a ver com ser detalhista e analtico. Tais
mincias j fazem parte do olhar sofisticado do ego que, na verdade, deseja no ver o
que .
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A anlise da motivao egtica muito complicada, muito obscura e nunca feita
sem o envolvimento do teu prprio ego. (T-12, I, 2:1).
No necessrio ir muito longe. O corao muito modesto e tem desejos infantis.
Podem estar disfarados, cobertos de ouro, mas, em essncia, so desejos totalmentecomuns, como a fantasia de ser amado e querido ou especial e idolatrado. s isso.
Quando chegamos a essa concluso, percebemos o quanto somos iguais. Desejamos o
mesmo: amor.
Neste mundo, todos estamos travando uma dura batalha. assim que nasce nosso
verdadeiro sentimento de compaixo. Estamos identificados com severos padres de
carncia e falta. Todos ns. E, embora estejamos relembrando que tudo isso se trata de
um sonho, sabemos que essa conscincia nos chega aos poucos, no tempo certo de
florescermos.
3.1 Traduzir a queixa num pedido de amor
Sempre que nos queixamos estamos acusando algum por nossa prpria dor. uma tentativa tola de nos livrarmos do problema lanando-o sobre outro. Contudo,
como j vimos, a culpa permanece em nossa prpria mente, no sendo de fato liberada.
Toda queixa acontece devido ao princpio de escassez do ego: se um ganha, o
outro tem que perder. A existncia se torna uma guerra de ou eu ou voc. Tudo vira uma
questo de sobrevivncia. J que no existe o bastante para todos e algum tem de se
sacrificar, que no seja eu.
Na verdade, portanto, toda queixa um pedido de amor. Num relacionamento de
casal, por exemplo, uma esposa pode acusar o marido de ser indiferente e egosta, mas,
no ntimo, apenas sente falta da sua presena. A diferena que, na queixa, h um jeito
arrogante de condenar o outro, acompanhado de um enredo exaustivo que busca
justificar quem est certo e que nunca chega soluo. No pedido de amor, por outro
lado, h um jeito manso e receptivo. Compreendemos que estamos nos sentindo
incompletos e carentes, reconhecendo da o motivo de estarmos reclamando. Nossa
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queixa no vem pelo fato de o outro agir como age. O problema principal nos vermos
incompletos, nos identificando com um corpo cheio de necessidades urgentes e um ego
cheio de fantasias especiais, exigindo que algum as preencha inteiramente
semelhante a um beb.
Neste sentido, traduzir a queixa num pedido de amor traz luz o princpio da
escassez que gera o comportamento acusatrio. Culpamos o outro por nosso sentimento
de privao, criado por nossa prpria crena na falta. Decidimos acreditar que os
recursos e os bens no so suficientes, e, em essncia, que no existe amor bastante para
todos neste mundo, embora isso no seja verdade at mesmo dizemos que Deus no
ama a todos. No pedido de amor, entretanto, compreendemos que esse sentimento de
escassez surgiu do interior de nossa prpria mente, quando decidimos acreditar quesomos um corpo e um ego sem poder de deciso, refm do sacrifcio e da insuficincia.
Assim, preparamos o terreno para relembrarmos nosso poder de deciso de escolher
entre o princpio da escassez (no qual o ego ensina que impossvel que todos ganhem
em conjunto) e o princpio da partilha (no qual o Esprito Santo ensina que o nico
ganho verdadeiro o ganho de todos).
Quando resgatamos a conscincia de que no h necessidade de sacrifcio ou
privao de qualquer espcie (nem do outro nem de si), nosso corao acalma e a
certeza de paz se fortalece. Passamos a ficar atentos s justificativas insanas do ego para
culpar o outro e sua crena de que s um pode ganhar. A antiga compulso por vitria
e domnio cede ao sentimento de comunho e partilha.
Quando estamos hipnotizados pela queixa, responsabilizamos o outro pelo
conflito, agindo como se fossemos vtimas. Quando, porm, traduzimos a queixa num
simples pedido de amor, temos a chance de perceber nossa prpria responsabilidade em
nos identificarmos com um ego carente: acredito que o outro precisa fazer o que desejo
para me sentir pleno e, desta maneira, exponho o modo como me vejo - incompleto e
dependente. E isso, em geral, transforma uma exigncia hostil num convite humilde.
Fica mais fcil ver a fragilidade do prprio ego, gritando exasperado por amor. Torna-se
evidente que todas as nossas exigncias so criadas pela nossa prpria percepo
distorcida de no nos reconhecermos ntegros.
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O amor no est fora. E o pedido por ele expe o quanto ainda o busco fora e
custa de algum. Ainda sim, mais claro que a queixa, pois escancara como estou me
privando de amor no interior de minha prpria mente. H uma enorme diferena entre: -
voc no me faz feliz; e: - me ajude a ser feliz, porque no estou conseguindo sozinho.
Isso o que evitamos olhar. Quem est nos privando do amor, se ele vem do nosso
corao? Por que no reconhecemos no nosso interior o amor pelo qual estamos
pedindo?
3.2 As idias no deixam a sua fonte
Permanecemos bastante atentos quilo que dizemos e vivenciamos. Com
freqncia, as nossas palavras e as nossas lembranas servem para manifestar como
vemos a ns mesmos e ao mundo. Muitas vezes, algumas delas insistem em voltar e isso
d indcios de como tais idias so fortes na nossa mente, embora procuremos neg-las.
Em Um Curso Em Milagres, um valioso princpio o de que as idias no
deixam a sua fonte. Grosso modo, tudo que est em nossa mente dividida no pode
desaparecer pelo fato de jogarmos pra fora. Uma boa analogia no plano externo o que
fazemos com o lixo, quando no o reciclamos. No existe fora. E, a fim de ignoramos
esse fato, o ego utiliza diversos mecanismos defensivos. Os smbolos, os conceitos ou
as recordaes que carregamos fazem parte do corolrio de nossa mente, mesmo que
recorramos a frases como: isso j no importante pra mim; no penso mais nisso;
nunca mais eu quis fazer aquilo, etc. A mente s compreende a incluso das idias.
Portanto, se voltamos com freqncia a um tema especfico, mesmo que queiramos
minor-lo, ele ainda est presente. Se algum personagem insuportvel reaparece no
nosso filme, porque continuamos carregando-o em nossa mente. Ainda no o
perdoamos.
Observar o problema ficar atento ao que acontece em nossa atividade mental.
Os smbolos, os temas, as palavras, os episdio, as vivncias recorrentes ajudam muito a
entender como conceituamos o mundo e a ns mesmos. Por exemplo, posso ter fortes
ideais pacifistas, participar de campanhas contra a guerra e falar continuamente de como
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a violncia algo absurdo e intolervel. Ainda sim, a guerra que habita em minha
mente.
Tudo isso nos lembra que, se estamos presos a um problema, no por meio da
negao que vamos transform-lo. Os mecanismos de defesa atrapalham a observaodo problema exatamente como ele se apresenta. Todos esses mecanismos parecem
muito racionais e lgicos. So artifcios egicos minuciosos na prtica de esconder o
que realmente .
O problema no desaparece assim. O perdo que transforma o problema numa
ddiva. Mas, para perdoar, preciso antes reconhecer que houve alguma espcie de
acusao. necessrio observar a quantidade de sentimentos negativos que guardamos
em nossa mente e depositamos em nossos adversrios, inimigos e desafetos (em geral,
quem est mais perto). O dio no est l, mas dentro. Ningum fora tem o poder de me
fazer odiar, exceto se decido assim.
O Esprito Santo parte dos nossos smbolos de dio e os transmuta em smbolos
de amor. A guerra travada no interior da prpria mente comea a ser pacificada
exatamente no mesmo lugar.
Como de fato vem a ser estranha essa guerra contra ti mesmo! (...) to certo
que ters medo daquilo que atacares como certo que amars o que perceberes sem
pecado. (T-23, Introduo, 2:1 e 4).
O problema, portanto, sempre um acontecimento onde h um algoz e uma
vtima. Na nossa histria pessoal, ns nos identificamos ao papel da vtima, recorrendo
a um sem-nmero de argumentos pra convencer o quanto temos sido injustiados. E
isso mantm a guerra no interior da nossa mente para, todos os dias, a reencenarmos
com testemunhas diferentes. O problema no termina enquanto mocinho e bandido
apenas invertem o papel, mas quando, enfim, percebem que so amigos e co-
participantes de um mesmo propsito: amar.
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4) Observar a soluo
Quando observamos o problema com presena (briga com cnjuge, familiares,
conflito no trabalho, dvidas, problemas de sade, luto, etc), podemos ver a soluo de
imediato. O gesto de no julgar desnuda naturalmente a raiz do conflito. No preciso
fazer nada. Basta ver com o mnimo de resistncia. O ego, entretanto, costuma gritar por
razo e justia. Como j vimos, ele no quer a soluo, sim um roteiro onde se confirma
como vtima.
Quando esperamos o ego silenciar, porm, reconhecemos que todo problema nasce
de um erro de percepo. S na mente, existe soluo. No fora. Por isso, a curaverdadeira ocorre na mente. Qualquer problema que vivenciamos apenas um erro de
percepo, que esconde uma resposta bvia e amorosa. Podemos cham-la de milagre,
recorrendo linguagem do Curso. possvel escolher diferente. A primeira coisa
efetiva a fazer , em aparncia, nada fazer: no tentar mudar nada fora, sim a mente.
Essa a escolha real.
O milagre nada faz. (...) Ele no acrescenta, apenas retira. (...) O milagre apenas
mostra que o passado se foi e o que se foi verdadeiramente no tem efeitos. (...) Todos
os efeitos da culpa j no esto mais aqui. (T-28, I, 1:1, 4, 8; 2: 1).
O milagre acontece sempre que modificamos de uma percepo de julgamento
tpica do ego para uma percepo de perdo, oferecida pelo Esprito Santo. O problema,
portanto, j traz a semente da cura. Enquanto essa semente no for regada, ele insiste em
aparecer como se existisse fora, como se tivesse vida prpria e no houvesse nenhum
investimento de nossa parte.
Perceber o mundo atravs do julgamento refora o problema e a idia de separao.
O ego, que se alimenta do papel de vtima, aproveita o conflito para gritar ao mundo o
quanto vem sendo lesado injustamente. Alm disso, esse tipo de atitude exclui a
responsabilidade da prpria pessoa em escolher. A postura de vtima uma posio
muito atraente para quem no quer assumir a prpria responsabilidade. Quando
ouvimos o enredo da vtima, parece-nos que ela no tem escolha. Isso tudo que o ego
quer: esconder que somos uma mente e temos um vasto poder de escolha.
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O ego deseja o aparecimento de um nmero infinito de problemas, pois assim d
realidade e consistncia s iluses. Ele venera a dor e o desconforto, a queixa e a
lstima, a doena e a morte, a misria e a falta. Pois tudo isso nos faz crer que no temos
opo. O mundo parece ser real. Ele est l fora e no podemos fazer nada em relao a
isso. E, assim, nos perdemos no filme como se ele fosse real, ignorando que somos o
diretor de nossa mente, no o personagem impotente que vive cercado de problemas.
Entretanto, embora o ego negue a todo custo, o poder de deciso sempre nosso.
Ningum pode escolher por ns o modo como percebemos o mundo. Temos a opo de
pedir ajuda ao Esprito Santo para que Ele nos ajude a corrigir nossa percepo
equivocada, materializada num problema especfico. O problema no est fora e, logo,
precisa ser corrigido na mente, que o seu lugar de origem.
Como estamos muito presos ao vcio do ego de julgar e punir, precisamos do apoio
do Esprito Santo para nos apresentar uma nova maneira de ver: onde havia um
problema agora nascer uma soluo. Esse milagre se inicia sempre com uma mudana
interior da mente, que desiste de acusar o que parecia estar fora e responsabiliza-se pelo
que v. Uma vez que assume a responsabilidade pelo que v, assume tambm o poder
de ver diferente. O dio que antes projetava pra fora reconhecido como uma escolha a
favor da crena na separao, que considera o outro como empecilho. Agora, porm,
compreendemos que esse tipo de pensamentojo problema. Na verdade, nunca houve
nenhum problema fora, apenas esse. O problema sempre aparece quando escolho o
pensamento de que eu sou separado do outro e a realizao de nossos desejos parece
algo excludente. Portanto, necessrio que, antes de o problema se apresentar, eu tenha
decidido crer na separao e na escassez. Esse o hino do ego. Por outro lado, posso
reconhecer a raiz do problema, voltando-me pra minha mente e decidindo diferente.
Essa percepo amorosa, ao invs da percepo acusatria, depende apenas de nossa
disponibilidade, no de nossa ao. Quando tentamos resolver um problema, comum
que recorramos s solues do ego, que no so solues verdadeiras. Neste sentido,
observar a soluo diz respeito a apenas observar com presena, sem absolutamente
tentar resolver nada. Quem tenta resolver o ego, que, na verdade, pretende dar
realidade e consistncia ao problema. Por outro lado, podemos oferecer nossa
disponibilidade de ver e ouvir de acordo com o que o Esprito Santo nos apresenta. E
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essa uma percepo muito diferente da do ego. O Esprito Santo nos mostra a soluo
clara e simples: transformar a prpria mente, pois aquilo que ela v o que ela guarda.
Esta a soluo: perdoar onde antes havia dio. Simplesmente porque compreendemos
que aquilo que damos o que recebemos em todo precioso segundo. O mundo apenas
um espelho de nossa mente. E o problema apenas um reflexo de nossa prpria
confuso interna. A soluo olhar pra dentro e se perdoar. Pois, se o universo nos
parece catico ou hostil, um mero retrato de nossa mente.
A tendncia do nosso ego pensar que observar a soluo, de acordo com o Esprito
Santo, significa no ser prtico. Entretanto, exatamente o contrrio. Nossa ansiedade
em resolver problemas atrapalha nossa capacidade de ver a soluo. E, assim,
ingressamos num ciclo onde, quanto mais tentamos resolver problemas, mais eles semultiplicam. Esse o objetivo do ego.
Meios como a orao, a meditao ou o mero silenciar podem ajudar muito a
sintonizar o Esprito Santo, embora haja muitas outras formas de faz-lo. O mais
importante, porm, reservarmos um tempo no qual esperamos o ego calar e nos
disponibilizamos a ouvir a Voz Serena do Esprito Santo, nos orientando a como pensar
e agir. Nossa prpria percepo muito viciada e parcial. Todavia, no precisamos
optar por ela. Temos todo o poder de escolher ouvir o Esprito Santo, ao invs do ego, e
o resultado de ouvir cada um desses professores diametralmente oposto. O Esprito
Santo fala em nome do amor, da verdade e da comunho. O resultado disso s pode ser
o sentimento de paz. O ego, por outro lado, fala em nome do medo, do dio e da
separao. O resultado disso s pode ser a ausncia de paz.
Sempre que um problema nos aparece, certo que o procuramos. E eis uma
nova chance de escolher o Esprito Santo ao invs do ego, a inocncia ao invs do
julgamento, a soluo ao invs do problema. O conflito s existe no interior de nossa
mente e negar isso adiar a soluo.
Agora fica cada vez mais claro que temos o poder de escolher. Estamos diante
de uma bifurcao e preciso decidir qual guia queremos seguir. No h como ouvir o
ego e o Esprito Santo ao mesmo tempo. Quando um fala, o outro cala. tempo de
assumir a escolha, pois me reconheo como aquele que decide a respeito de minha
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prpria percepo. E, assim, resgato a conscincia de que toda soluo nasce no interior
de mim mesmo.
5) Assumir a escolha
Como temos observado, fazemos escolhas o tempo todo.
Entretanto, apenas duas escolhas so de fato possveis: optar pelo sistema de
pensamento do ego ou pelo sistema de pensamento do Esprito Santo. Entre essas duas
possibilidades, costumamos escolher o sistema de pensamento do ego. De modo geral,no estamos em paz e isso fruto de uma deciso realizada na mente.
Conforme o Curso afirma claramente, no podemos ser conduzidos por eventos
exteriores a ns mesmos. Nossa poder de deciso determina todas as situaes nas quais
nos encontramos. No existe acaso ou a
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