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SOCIOLOGIA
MUNDO DO TRABALHO
Capítulo 1
A CONCEPÇÃO DE TRA-BALHO NOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA
Nesta unidade, abordaremos as concep-ções de trabalho nos clássicos. Primeiramente,trataremos da divisão do trabalho social paraÉmile Durkheim, das funções e das consequ-ências por ele apontadas.
Em seguida, veremos a colaboração deMarx na análise da divisão da produção social eseus desdobramentos, passando pela verificaçãoda divisão de classes, pela forma de extração dolucro por meio da maisvalia e por questões arespeito da infraestrutura e da superestrutura.
Em Weber, traremos o processo de racio-nalização do mundo e do trabalho e os refle.
xos sociais desse processo. Na análise da es
tratificação social, perceberemos alguns outroselementos que podem perpassar a relação detrabalho e a noção de classes sociais. Por fim,traremos uma análise comparativa entre ostrês clássicos da sociologia no que se refere atrabalho e classes sociais, comparando o quecada um entende por divisão do trabalho esuas consequências, perpassando, inclusive, aquestão da influência metodológica na forma-
ção do pensamento.
1.1. Divisão Social do Trabalho na Concepção de Émile Durkheim
A análise do sociólogo positivista ÉmileDurkheim não se mostra engajada, muito me-nos disposta a gerar grandes mudanças sociais,pois é caracterizada por se preocupar em traçar
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**ummétodo para o estudo da ordem social e os
seus mecanismos de manutenção.
Para Durkheim (1999), o conceito de fato
social é “toda maneira de fazer, fixada ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo umacoerção exterior; ou ainda, toda maneira de
fazer que é geral na extensão de uma sociedade
dada e, ao mesmo tempo, possui uma existên-
cia própria, independente de suas manifesta-
ções individuais”.
A partir desse conceito, extraímos os três
elementos do fato social: a) generalidade; b)
exterioridade e; c) coercitividade. Logo, temos
que o fato social é geral, porque abrange todos
os indivíduos de determinada sociedade; é ex-
terior, porque não depende de manifestações
do indivíduo para que exista; e é coercitivo,
porque determinada força social e leva o indi-
víduo a agir de determinada maneira dentro
da sociedade.
O fio condutor para que se entenda o mé-
todo durkheimiano é compreender que se tratade um estudo essencialmente analítico, pauta-
do na constante busca por regras de observação,
com objetivo de encontrar padrões que regem
determinada sociedade. Note que a regra ele-
mentar de observação dos fatos sociais é tratá
los como coisa, de forma a descartar completa-
mente todas as noções prévias para que possa
escapar das noções do senso comum. O que po-
demos considerar normal em uma determinadaépoca em uma sociedade? Seguindo essa linha
de raciocínio, Durkheim trouxenos regras de
distinção entre fato social normal e fato social
patológico. Vejamos o verbete patologia’ extra-
ído do dicionário Houaiss (2009):
Patologia: substantivo feminino
1 Rubrica: medicina.
Especialidade médica que estuda as doen-ças e as alterações que estas provocam noorganismo.
2 Rubrica: medicina.
Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico,em relação à normalidade, que constitua umadoença ou caracterize determinada doença.
3 Derivação: por extensão de sentido.Desvio em relação ao que é próprio ou adequa-do ou em relação ao que é considerado comoo estado normal de uma coisa inanimada ouimaterial.
O verbete possui três sentidos de modo,
mas o primeiro não nos é de grande interesse.
No segundo sentido, temse que patologia é
um desvio em relação à normalidade que cons-titua ou caracterize determinada doença. Por
extensão de sentido, temos que o patológico é
um desvio daquilo que é próprio ou adequado
em relação àquilo considerado normal.
Ficou claro que sempre que pensamos em
algo patológico, temos como referência algo
normal. Não saberiamos o que é patologia
se não soubéssemos o que é normalidade. O
normal é aquilo que segue os preceitos nor-mativos e observa a regularidade, aquilo que
é usual.
O que Durkheim faz nada mais é do que
transpor os conceitos de normal e patológico
aos fatos sociais. Um fato social é considerado
normal quando, em um dado período históri-
co, em determinada sociedade, obedece a cer-
ta regularidade. Será patológico quando o fato
social desviarse daquilo que é próprio naque-
la época e naquela sociedade.
O método de análise de Durkheim não
é o objeto central deste volume, no entanto,
uma breve introdução mostrouse essencial
para que pudéssemos encontrar a linha de ra-
ciocínio do sociólogo. Vamos, agora, analisar
a divisão social do trabalho. Nas palavras desse
pensador: “Para saber o que é objetivamente adivisão do trabalho, não basta desenvolver o
conteúdo da ideia que dela temos, mas é pre
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ciso tratála como um fato objetivo, observar,
comparar, e veremos que o resultado dessas
observações muitas vezes difere daquele que o
sentido íntimo nos sugere”.
Na introdução da obra Da Divisão do Tra-balho Social, Durkheim aborda a função dadivisão do trabalho no sentido de identificar
o seu papel na sociedade e seus efeitos. Iden-
tifica, primeiramente, que não se trata de um
fenômeno puramente econômico, reconhe-
cendo a crescente influência nas mais diversas
regiões da sociedade, inclusive nos setores ju-
rídico e administrativo.
As palavras “função” ou “papel” são des-tacadas pelo próprio Durkheim. Com uma
preocupação metodológica de evitar préjulga
mentos, ele esclarece que o termo função tem
dupla significação. Em determinado momen-
to, designa movimentos vitais e a abstração de
suas consequências; já em outro momento,
exprime uma relação de correspondência en-
tre tais movimentos e sua relação com o orga-
nismo. O sociólogo trabalhara nos termos dasegunda acepção da palavra.
A função mais clara da divisão do trabalho
social é elevar a produção de bens, tanto ma-
teriais como intelectuais, por meio da especia-
lização. Nas palavras de Durkheim: “Coloca
te em condições de cumprir proveitosamente
uma função determinada”.
No entanto, a divisão do trabalho socialpossui outra função que podemos perceber de
maneira mais imediata, eis que a primeira é
mais clara aos nossos olhos. Durkheim identi-
fica uma função moral de solidariedade entre
os indivíduos, o que gera coesão social.
A solidariedade social é um fenômeno mo-
ral responsável pela coesão entre os indivíduos
em determinada sociedade. De acordo com a
evolução da formação social, têmse tipos desolidariedade, cada uma com suas particulari-
dades. Durkheim classifica a solidariedade em
dois tipos: solidariedade mecânica e solidarie-
dade orgânica. Vejamos:
A solidariedade mecânica é característica
das sociedades précapitalistas, nas quais nãohouve desenvolvimento industrial, normal-
mente sociedades tribais ou rurais. São carac-
terizadas por apresentarem certa similitude
funcional, decorrente da divisão simples do
trabalho. A coerção social sobre os indivídu-
os é mais intensa por prevalecer a consciên-
cia coletiva sobre a individual. Normalmente,
nessas sociedades, o Direito tem o intuito de
punir o indivíduo para que sirva de exemploaos demais membros.
Nas sociedades caracterizadas pela solida-
riedade orgânica, visualizamos as sociedades
capitalistas, aquelas que tiveram um desen-
volvimento industrial e urbano. Tais socie-
dades, em decorrência da industrialização,
apresentam um grau mais elevado de dife-
renciação funcional. Cada membro cumpre
determinada função e tais funções são bem
variadas. Consequentemente a influência da
sociedade sobre o indivíduo diminui, redu-
zindo a sobreposição da consciência coletiva
na consciência individual. O Direito não visa
a punir para servir de exemplo, mas tem o
intuito primordial de reparar o dano causado
pelo crime. Observe a tabela a seguir para ter
o assunto resumido.
SOLIDARIEDADE MECÂNICA
Característica das sociedades précapitalistas
Similitude funcional
Prevalência da consciência coletiva
Divisão simples do trabalho
Prevalência do direito repressivo
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SOLIDARIEDADE ORGÂNICA
Característica das sociedades capitalistas
Elevado grau de diferenciação funcional
Afastamento da consciência coletiva
Divisão complexa do trabalho
Prevalência do direito restitutivo
Durkheim aponta como mais evidente aclassificação das regras jurídicas, de acordocom as sanções, que podem ser repressivas e
restitutivas. A primeira corresponde a tododireito penal; a segunda, ao direito civil, co-mercial, administrativo e constitucional.
Ao explicar o papel do direito nas socie-dades caracterizadas pela solidariedade mecâ-nica, Durkheim esclarece:
É essa solidariedade que o direito repressi- vo exprime, pelo menos no que ela tem de vital. De fato, os atos que ele proíbe e qua-
lifica como crime são de dois tipos: ou ma-nifestam diretamente uma dessemelhança
demasiado violenta contra o agente que asrealiza e o tipo coletivo, ou ofendem o ór-gão da consciência comum. (DURKHEIM,1999, p.80)
Durkheim traz dois tipos de consciência:
a) consciência individual;
b) consciência social (também chamadade consciência coletiva).
A consciência individual pertence ao sersubjetivo, individualiza o sujeito dentro dogrupo, é um estado mental que diz respeitoapenas ao indivíduo, ao passo que a consci-
ência social ou coletiva representa a socie-dade dentro do indivíduo, é um conjuntode crenças, tradições e práticas morais que,em seu conjunto, formam um ser social. Épossível observar um movimento cíclico naconstrução das consciências. As consciênciasindividuais constroem a consciência coletiva,que, por sua vez, é responsável por moldar asconsciências individuais.
Nas sociedades simples, nas quais é ve-rificada a divisão simples do trabalho, a se-melhança entre os indivíduos unifica o corposocial pelos sentimentos de simpatia e pelassemelhanças que existem entre os membrosdo grupo social.
Nas sociedades complexas, a diferenciaçãosocial, ao contrário do que parece, não reduza coesão social. No entanto, as relações sociais
não são mais as mesmas, pois não prevalecemsentimentos de identificar o outro em si, mashá uma interdependência funcional cada umdepende daquilo que o outro faz e isso tam-bém gera coesão social.
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^ 1.1.1. Principais Conceitos
Fato social: “é fato social toda maneira de
fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre
o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda,
toda maneira de fazer que é geral na extensão
de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo,
possui uma existência própria, independente
de suas manifestações individuais”.
Coesão social: corresponde aos laços en-
tre os indivíduos que mantêm a sociedade or-
ganizada e harmônica. Tem bases diferentes,
de acordo com o tipo de solidariedade social.
Divisão social do trabalho: divisão do
trabalho em determinadas funções atribuídasaos indivíduos. Quanto mais evoluída é a so-
ciedade, mais complexa é a divisão do traba-
lho. Nas sociedades précapitalistas, ocorre de
forma simples; nas sociedades capitalistas in-
dustriais, de forma complexa.
Solidariedade social: fenômeno moral res-
ponsável pela coesão entre os indivíduos em de-
terminada sociedade. De acordo com a evoluçãoda formação social, temse tipos de solidarieda-
de, cada uma com suas particularidades.
Consciência individual/ consciência so-
cial: a consciência individual pertence ao ser
subjetivo, individualiza o sujeito dentro do gru-
po. São estados mentais que dizem respeito ape-
nas ao indivíduo, ao passo que a consciência so-
cial ou coletiva representa a sociedade dentro doindivíduo, é um conjunto de crenças, tradições
e práticas morais que, em seu conjunto, formam
um ser social.
^ 1.2. Marx e a Divisão do Trabalho
Segundo a socióloga marxistaleninista
chilena Marta Harnecker (1983), estudiosa do
materialismo histórico e dialético, ao analisar
a divisão do trabalho em termos marxistas, eiaapresenta três tipos de divisão do trabalho: 1)
divisão da produção social; 2) divisão técnica
do trabalho e; 3) divisão social do trabalho.
A divisão da produção social consiste na
divisão da produção em diferentes setores pro-
dutivos, esferas ou ramos de produção. São
exemplos apresentados pela autora a divisão
entre trabalho agrícola e trabalho industrial edivisão entre trabalho industrial e comercial. |____________ 1
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m A divisão técnica do trabalho ocorre den̂tro do mesmo setor, do mesmo processo deprodução. É típica da indústria moderna.Cada trabalhador realiza uma etapa do proces-
so produtivo, de modo que nenhum produza mercadoria do ponto inicial ao ponto final,pois o produto final é de todos aqueles parti-cipantes da produção. Isso gera os fenômenosde alienação e estranhamento da mercadoria,que serão vistos mais adiante.
A divisão social do trabalho é a distribui-ção de determinadas funções dentro de umasociedade a cada indivíduo. Divide, por exem-
plo, o trabalho manual do trabalho intelectual.Tal divisão não depende de critérios puramentetécnicos, mas, sobretudo, de critérios sociais.
1.2.1. O Método em Marx: o Mate- rialismo Histórico e Dialético
“A história da sociedade é a história daluta de classes”. Assim, Karl Marx e Friedrich
Engels ensinamnos no Manifesto do Partido Comunista. A partir dessa frase, podemos ini-ciar o estudo do materialismo histórico e dia-lético, pois nela podemos identificar o núcleodo novo critério de análise histórica.
Marx foi um pensador engajado e radical.Mais do que teórico do socialismo, foi pro-fundo estudioso do capitalismo em toda a suadinâmica e em suas contradições, abordando
a evolução dialética da economia, pois passaa periodizar a história de acordo com os mo-dos de produção. Para adentrar e compreendero pensamento de qualquer autor, sobretudo osclássicos, inicialmente, devese entender a suametodologia. É importante para nós sabermoscomo o pensador chegou à determinada con-clusão e quais etapas ele percorreu para provarsua tese. Compreender o método em Marx, de-nominado por Engels como “materialismo his-tórico e dialético”, é essencial para entender os
principais conceitos marxianos.
A dialética é a produção de argumentos,tendo como base a oposição das teses. Seuconceito foi debatido por Sócrates, Platão,
Aristóteles, Hegel, Marx é outros.Lenin (1870 1924)1traz nos cadernos fi-
losóficos que a dialética, em sentido restrito, é0 estudo das contradições contidas na essênciados objetos e o desenvolvimento é a luta doscontrários. De maneira simples, temos que omaterialismo histórico explica a realidade, apartir da produção material, considerando queesta é a base de toda ordem social, por ser algoque sempre existiu em todas as sociedades.
O método dialético de Marx é fundamen-talmente diverso do método hegeliano. Marxmantém a espinha dorsal da linha de raciocí-nio dialético hegeliano, imprimindolhe ba-ses materiais, rompendo com o idealismo quelhe era característico. Quanto ao materialis-mo, o marxismo apoiase em Feuerbach2, no
entanto, abandona o viés mecanicista que lheé característico, conferindolhe dinamicidadee historicidade.
Ou seja, Marx apoiase parcialmente emHegel, invertendo a dialética hegeliana e,parcialmente em Feuerbach, conferindo di-namicidade ao materialismo. O materialismomarxista é essencialmente econômico, pois
vê uma relação necessária entre as mudanças
no modo de produção material e os meios deexistência dos indivíduos. Para Marx, a es-trutura econômica da sociedade é a base realque condiciona a vida social. É o que o pen-sador expõe na décima tese sobre Feuerbach:“O ponto de vista do antigo materialismo é
1Vladimir Hitch Lenin, ou Lenine, foi líder do Partido Comunista eprimeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da UniãoSoviética. Esse revolucionário foi responsável em grande parte pelaexecução da Revolução Russa de 1917.
2 Ludwig Andreas Feuerbach (1804 —1872) foi um filósofo alemãoreconhecido pela teologia humanista.
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a sociedade ‘civil’; o ponto de vista do novo
materialismo é a sociedade humana, ou a hu-
manidade socializada”.
O método em questão é a junção de dois
outros: Marx herdou o materialismo de Feu-erbach e a dialética hegeliana, de modo que
um serviria de complemento ao outro. Marx
pega parte de cada um, descartando aqui-
lo que acredita não ser cabível. Aproveita o
materialismo feuerbachiano, descartando seu
mecanicismo e imprimindolhe historicidade;
e herda a dialética de Hegel, invertendo sua
lógica, pois parte do abstrato para chegar a um
concreto pensado. No caso da dialética hege-liana por si, a ideia é partir do concreto para
chegar ao abstrato.
Conforme nos recorda José Paulo Netto
(2002), “todo começo é difícil em qualquer ci-
ência”. Assim Marx nos ensina, logo no início
de sua principal obra, O Capital. Marx não nos
traz uma lógica pronta, aplicável diretamente a
análise de determinado objeto ou de sujeitos. Ao estudar o capitalismo, esse filósofo desco-
briu suas estruturas, dinâmicas reais. Na teoria
do capital, Marx reproduziu de forma ideal seu
movimento real, de forma a extrair as múltiplas
determinações que constituem o concreto. Mas
o que significa extrair as múltiplas determina-
ções de um objeto?
Na obra A Ideologia Alemã, Marx e En-
gels ressaltam que o ponto de partida de seuspressupostos são homens reais, suas ações
e condições materiais, tanto já encontradas
como produzidas. Não admite abstração, ex-
ceto daquilo que é imaginado. Assim, literal-
mente: “O primeiro pressuposto de toda his-
tória humana é naturalmente a existência de
indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a
constatar é, pois, a organização corporal destes
indivíduos e, por meio disto, sua relação dada
com o resto da natureza”.
O método materialista dialético, desse
modo, imprimiu o materialismo nas relações
dialéticas e teve sua análise realizada a partir da
realidade social, dos “homens de carne e osso”.
Como nos explica José Paulo Netto, “[...] a to-talidade concreta e articulada que é a socieda-
de burguesa é uma totalidade dinâmica seu
movimento resulta do caráter contraditório de
todas aŝ talidades que compõe a totalidade
inclusiva e macroscópica”.
Desse modo, conseguimos perceber como
Marx trabalha com as múltiplas determina-
ções de seu objeto de análise. Em síntese, o
que tornou propício o seu arcabouço teórico
foi a articulação de três categorias nucleares
de pensamento: a totalidade, a contradição e
a mediação.Verificamos que a análise materia-
lista dialética permite não só encontrar as leis
que expõem o movimento real dos fenômenos,
mas também é fundada nos fatos concretos.
O homem passa a se diferenciar dos ani-
mais quando começa a produzir seus meios desubsistência, pois, ao produzir seus meios de
vida, produz sua existência material, mesmo
que de forma indireta. O modo de produção
de seu meio de vida é pela reprodução daquilo
que a natureza lhe proporciona. O que o sujei-
to é coincide tanto com a forma de produção,
como com aquilo que é produzido. “O que os
indivíduos são, portanto, depende das condi-
ções materiais de sua produção”.
Diferentemente de Durkheim, que busca-
va afastarse do objeto de estudo para que pu-
desse aplicar as regras do método sociológico,
Marx não era um teórico neutro, que queria se
aproximar das ciências naturais, mas um pen-
sador radical, engajado, que se preocupou com
a análise de seu tempo. Como o próprio Marx
nos diz: “Os filósofos têm apenas interpretado
o mundo de maneiras diferentes; a questão,
porém, é transformálo”. Podemos dizer que o
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marxismo não se encaixa no conceito ‘burguês’
de ciência, por se tratar de uma análise social
propriamente impura.
1.2.2. A Divisão do Trabalho, Forças
Produtivas e Relações de Produção
Segundo Marx, sabemos que “o modo de
produção da vida material condiciona o pro-
cesso da vida social, política e esjnhitual em
geral”. Entendemos também que o referido
autor defende claramente que a anatomia da
sociedade civil deve ser buscada com base na
economia política.
Vimos que o que o indivíduo é depende
essencialmente das condições materiais de
produção, assim como, em geral, toda confi-
guração social. Os conceitos de infraestrutura
e superestrutura são primordiais para a com-
preensão da configuração de um Estado, pois
a infraestrutura é a base real sobre a qual se
ergue a superestrutura, que é arcabouço ins-
titucional do Estado. A infraestrutura aproxi
mase da ideia de existência, ao passo que asuperestrutura está próxima da ideia de cons-
ciência. Vejamos:
a) Infraestrutura: base material que con-
siste nos os meios materiais de produção, ou
seja, meios de produção e força de trabalho.
b) Superestrutura: o sistema institucional
de idéias, culturas, sentimentos, instituições
jurídicas e políticas, que constituem a consci-
ência social erguida sobre a base material.
Seguindo esse raciocínio, no prefácio da
obra Contribuição à Crítica da Economia Polí-
tica (1859), Marx esclarece o fio condutor do
desenvolvimento de seus estudos:
O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus
estudos, pode resumirse assim: na produ-
ção social da sua vida, os homens contra-em determinadas relações necessárias e
Q>] independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma deter-minada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais.O conjunto dessas relações de produção forma a estru-
tura econômica da sociedade, a base real sobre se levanta a superestrutura jurídica epolítica e à qual correspondem determina-das formas de consciência social. O modo
dé produção da vida material condiciona oprocesso da vida social, política e espiritualem geral. Não é a consciência do homem quedetermina o seu ser, mas, pelo contrário, oseu ser social é que determina a sua consci-ência. (MARX, s/d, p. 301)
A seguir, um quadro esquemático para
melhor fixar esse importante tema:
A SUPERESTRUTURA E A INFRAESTRUTURA NO PENSAMENTO MARXIST
DETERMINA
INFRAE STRUTURA MEIO DE PRODUÇÃO
(EXISTÊNCIA)
O processo de trabalho, em termos ge-
rais, é todo processo de transformação de um
determinado objeto em outro produto, utili
zandose instrumentos de trabalho.
O objeto inicial pode estar em seu estadonatural ou já ter sido trabalhado.3r • ' "
O B J E T O ----- ------ ► TRANSFORMAÇÃO-----------► PRODUTO
F AT IVIDADE
HUMANA
INDUSTRIA
AGRICULTURA
COMÉRCIO
MINERAÇÃO
ESTADO (RELAÇÕES POLÍTICAS)
SOCIEDADE (RELAÇÕES SOCIAIS)
__________RcUGlAO__________
CULTURA
_______ JUSTIÇA (LEIS) ________
3 Fonte: HARNECKER, Marta. Os conceitos elementares
do materialismo histórico. São Paulo: Global, 1983, p. 32.
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FORÇA DE PRODUÇÃO ̂ Assim, temse um objeto inicial que passará
por um processo de transformação e se tornará
um produto útil. Tal transformação é realizada
pela atividade humana, por meio do uso de ins-
trumentos de trabalho. São apresentados três
instrumentos de trabalho, quais sejam: o objeto
a ser trabalhado; os meios de trabalho ou meios
de produção; e força de trabalho.
FORÇA DE TRABALHO
+
MF.IOS DE PRODUÇÃO
RELAÇÕES OE
PRODUÇÃO
OBJETO :______!
+ 1
MFIODt TRABALHO
a) O objeto: pode ser matéria bru-
ta. Esta é proveniente diretamente da na-
tureza, não há manufatura prévia. São
exemplos de matéria bruta: frutos, mi-
nerais etc. Também pode ser matériaprima, ou seja, aquela que sofreu modifi-
cação pelo trabalho humano. São exemplos
de matériaprima: madeira, borracha etc.
b) Meios de trabalho ou meios de
produção: em sentido amplo, são as con-
dições materiais indispensáveis à realiza-
ção do trabalho; em sentido estrito, são
as ferramentas que intermediam o traba-lhador e o objeto trabalhado.
c) Força de trabalho: é a atividade
humana desenvolvida no processo de
produção, é a energia humana aplicada
no processo de trabalho. O salário é o
equivalente monetário à força trabalho.
Como resultado, temse o produto, que é
o objeto final, que resulta do processo de tra-
balho matéria bruta ou matériaprima tra-
balhada pela atividade humana, utilizandose
meios de produção. Para que seja mercadoria,
o produto tem de ter um valor de uso, ou seja,
deverá suprir alguma necessidade. O concei-
to de valor de uso será melhor abordado mais
adiante. Por hora, vamos ver o quadro e com-preender o assunto com maior facilidade.
Todo processo de trabalho implica deter-
minadasrelações de produção. As relações de
produção consistem na somatória das relações
técnicas e sociais dentro do processo produti-
vo. No processo de trabalho, os homens esta-
belecem determinadas relações pessoais entre
si. Tais relações são determinantes no caráter
assumido historicamente pela sociedade, pois,
na visão marxiana, a produção está incondi-
cionalmente determinada pela história.
As forças produtivas são os elementos do
processo de trabalho considerados a partir
de sua capacidade de produção, sua potência
produtiva, em especial, a força de trabalho eo meio de produção. As forças produtivas de
uma determinada nação são medidas a partir
do grau de desenvolvimento atingido pela di-
visão do trabalho, Assim, segundo a conceitu
ação dada por Marx e Engels:
A divisão do trabalho no interior de uma
nação leva, inicialmente, à separação entre o
trabalho industrial e comercial, de um lado,e o trabalho agrícola de outro, e, com isso,
a separação da cidade e do campo e a oposi-
ção de seus interesses. Seu desenvolvimento
ulterior leva à separação entre o trabalho co-
mercial e o trabalho industrial. Ao mesmo
tempo, através da divisão do trabalho dentro
destes diferentes ramos, desenvolvemse dife-
rentes subdivisões particulares umas em rela-
ção a outras é condicionada pelo modo peloqual se exerce o trabalho agrícola, industrial
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^ e comercial (patriarcalismo, escravidão, es\ tamentos e classes) estas mesmas condições
mostramse ao se desenvolver o intercâmbioentre as diferentes nações. (MARX; EN-
GELS, 1999, p.29)Como é possível extrair do trecho citado
da obra de Marx e Engels, a divisão do trabalhoacaba por separar indústria e comércio, cidadee campo, e criar oposição entre seus interesses.Isso se mostra nas mais diversas configuraçõessociais e em suas subdivisões.
Assim, os autores dividem as formas de
propriedade em três, na ordem que segue:a) Propriedade tribal: tratase deuma extensão da família. Existem chefespatriarcais da tribo, outros membros e osescravos; corresponde a uma fase aindanão desenvolvida da produção, na qualo grupo se alimenta daquilo que caça epesca, da criação de animais e até mesmoda agricultura. Pressupõem terrenos não
cultivados, por isso a agricultura seriaeventual. A divisão do trabalho encon-trase pouco desenvolvida e limitada auma extensão da divisão natural do tra-balho existente na família, sobretudo adivisão sexual.
b) Propriedade comunal estatal:caracterizada pelo surgimento da pro-priedade privada encontrada na antigui-
dade, a partir da reunião de várias tribosque formam cidade com propriedadecoletiva dos chamados cidadãos ativos.
Já pode ser encontrada oposição entrecidade e campo e permanece a explora-ção do trabalho escravo. É resultado daunião entre tribos que formam uma ci-dade por meio de acordo ou conquista.O primeiro tipo de propriedade privadaque existe é a propriedade privada mó- vel, desenvolvendose, posteriormente,
a propriedade imóvel, que, naquele mo-mento, era exceção e estava subordinadaà propriedade comunal. Era a proprie-dade privada comum daqueles conside-
rados cidadãos, devendo lembrar quemulheres, crianças e escravos não se en-quadravam nessa categoria. Em virtudedo crescimento da propriedade privavaimóvel e o desenvolvimento da divisãodo trabalho, decai a estrutura comunalde produção.
c) Propriedade feudal ou estamen- tal: é a terceira forma de propriedade,
marcada pela expansão da agricultura, domovimento da cidade em direção ao cam-po. Diferentemente do que aconteceu nassociedades grega e romana, o desenvolvi-mento feudal começa em um territóriomais extenso, com a população (tambémchamada de estamentos —grupos sociais)dispersa em uma grande área. Nos últimosanos do Império Romano, houve signifi-
cativa queda das relações comerciais e dasdemais forças produtivas. Assim, a estru-tura hierárquica da propriedade fundiáriae o poder sobre as armas deram à nobre-za o poder sobre os servos. Aos poucos,houve novo movimento migratório, dessa
vez do campo em direção à cidade. Assim,originaramse as corporações de ofício(associações de pessoas qualificadas para
trabalhar em uma determinada função),que herdaram das configurações sociais docampo, o que originou nas cidades umahierarquia semelhante.
O modo de pensar, o modo de existir eos produtos resultantes disso são determina-dos pelos modos como os homens desenvol-
vem sua produção material. A consciêncianão determina a existência, mas, ao contrário,corresponde à vida real, aos indivíduos reais e
vivos, assim como vemos nas palavras de Marx
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e Engels:
Não tem história, nem desenvolvimento;mas homens, ao desenvolverem sua produçãomaterial e seu intercâmbio material, trans-formam também, com esta sua realidade, seupensar e os produtos de seu pensar. Não é aconsciência que determina a vida, mas a vidaque determina a consciência. Na primeiramaneira de considerar as coisas, partese da
consciência como do próprio indivíduo vivo;
partese dos própriosindivíduos reais e vivos,e se considera a cons-
ciência unicamentecomo sua consciência.(MARX; ENGELS,1999, p. 38)
Os homens trans-
formam a sua maneira
de pensar e os pro-
dutos provenientes
dela de acordo com o
desenvolvimento da produção material e
do intercâmbio dessa
produção. Isso deter-
mina as relações so-
ciais, as maneiras de
agir e a consciência
do próprio indivíduo.
Partimos da vida real
para ter um parâmetro de consciência e não
o contrário. Partin-
do desse pressuposto,
temse o processo de
desenvolvimento das
condições materiais
de existência. Assim,
temse a crítica ao
idealismo pelas abstrações separadas da história real. Marx e Engels trabalham a história como
oprimeiro pressuposto de toda a existência hu-
mana:
(...) Mas, para viver, é preciso antes de tudocomer, beber, ter habitação, vestirse e algu-mas coisas mais. O primeiro ato histórico é,portanto, a produção dos meios que permi-tam a satisfação dessas necessidades, a produ-
ção da própria vida material, e de fato este é
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um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, comohá milhares de anos, deve ser cumprido to-dos os dias e todas as horas, simplesmentepara manter os homens vivos. (MARX; EN-
GELS, 1999, p. 39)
Em seguida, são descritos os momentos
da atividade social que coexistem desde os pri
mórdios da história:
a) Deve ser observado o fato fundamental
em toda a sua extensão e significação, e ren-
derlhe toda a justiça. Os alemães ignoraram a
história e as condições materiais sobre as quaisfoi construída.
b) Satisfeita a primeira etapa, o segundo
passo é produzir novas necessidades.
c) A terceira é a reprodução por meio do
estabelecimento da relação familiar.
d) Por fim, serão estabelecidas as relações
sociais.
Na sequência da obra A Ideologia Alemã, é
analisada a divisão do trabalho. Marx e Engels
esclarecem que a primeira forma foi a divisão
sexual do trabalho, esclarecendo que a men-
cionada divisão acontece efetivamente a partir
do momento em que são estabelecidas as divi-
sões entre o trabalho material e o espiritual, o
que inicia contradições nas relações existentes
com as forças produtivas.
No mais, é possível observar uma identida-
de entre propriedade privada e divisão do tra-
balho, de forma que “a primeira enuncia em
relação à atividade, aquilo que se enuncia na
segunda em relação ao produto da atividade”.
Assim, os autores apontam como seria a
divisão de trabalho na sociedade comunista:
(...) na sociedade comunista, onde cada umnão tem uma esfera de atividade exclusiva,
mas pode aperfeiçoarse no ramo que lheapraz, a sociedade regula a produção geral,dandolhe assim a possibilidade de hoje fazertal coisa, amanhã outra, caçar pela manhã,pescar à tarde, criar, animais ao anoitecer, cri-ticar após o jantar, segundo meu desejo, sem
jamais tornarme caçador, pescador, pastorou crítico. (MARX; ENGELS, 1999, p. 47)
Os pensadores ensinam que as lutas pon-
tuais são formais e ilusórias e, dentro delas,
desenvolvemse lutas reais entre as diferen-
tes classes, pois todas aspiram a dominação.
Finalizando o raciocínio, trazem o conceito
de comunismo como um ideal para o qual asociedade deve se dirigir.
“A utilização da força de trabalho é o pró-
prio trabalho”. Assim Marx começa o quinto
capítulo de O Capital e continua o raciocínio,
dizendo que o consumo da força de trabalho
faz que o trabalhador trabalhe e, para que o
trabalho reapareça em forma de mercadorias,
ele deverá ser empregado no que Marx deno-
mina valor de uso, que serve para satisfazer as
necessidades de qualquer natureza.
Retomando o que Marx elenca como os
três elementos do processo de trabalho:
1. A atividade adequada a um fim, isto é,
o próprio trabalho.
2. A matéria a que se aplica o trabalho, o
objeto de trabalho.
3. Os meios de trabalho, o instrumental
de trabalho.
Meio de trabalho é uma coisa ou um com-
plexo de coisas que intermediam o trabalhador
e o objeto de trabalho, que dirigem a atividade
do trabalhador sobre o objeto. Assim, no pro-
cesso de trabalho, o homem realiza determi-
nada atividade com o fim no objeto, atuando
pelo instrumental de trabalho.
Os produtos do processo de trabalho têm
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dupla função, segundo Marx, ao explicar “quepodem servir ao consumo individual comomeio de subsistência ou a novo processo detrabalho como meios de produção”.
Assim, o autor conclui: “Os produtos detrabalho anterior que, além de resultado cons-tituem condições de existência do processo detrabalho, só se mantêm e se realizam como va-lores de uso através de sua participação nesseprocesso, do seu contato com o trabalho vivo”.
A mercadoria existe para satisfazer as ne-cessidades humanas “do estômago ou da fan-tasia”, seja de forma imediata ou como meiode produção de outra mercadoria, pois, en-quanto não há consumo, não se fala em mer-cadoria. Logo, o que se faz para uso próprionão se encaixa nesse conceito, pois a merca-doria é a forma elementar da riqueza. A mer-cadoria é essencialmente composta por doisfatores: valor de uso e valor de troca.
a) Valor de uso: Marx ensinanos
que a “utilidade de uma mercadoria fazdela um valor de uso”, ou seja, seu valoré determinado pelas qualidades particu-lares da mercadoria e não depende daquantidade de trabalho nela empregada,mas de suas qualidades úteis. Tal valorrealizase com a utilização ou consumoda mercadoria. O valor de uso constituiconteúdo material da riqueza, seja qual
for sua forma social.
b) Valor de troca: apresentase comouma relação quantitativa, expressa em ter-mos monetários. E a proporção por meioda qual os valores de uso de uma espéciese trocam por valores de uso de outra. Nãose trata de uma relação fixa, pois mudaconstantemente de acordo com o tempo
e o espaço. O valor de troca, portanto,apresentase como algo “casual e pura-mente relativo”. E o modo que se pode
' quantificar o valor de uma mercadoria,tornandoo comparável ao valor de outra.
Podemos verificar que há uma contradição
entre os termos valor de uso e valor de troca,pois deve ser considerado o valor de troca comoum meio pelo qual as mercadorias podem serquantificadas, comparadas. A quantificação
justificase, pois, para a realização das trocas,é imprescindível um parâmetro comparativo.Marx ensina que: “Uma coisa pode ser valorde uso sem ser valor. É o que sucede quandoa utilidade para o ser humano não decorre do
trabalho. (...) Uma coisa pode ser útil e produtodo trabalho humano sem ser mercadoria”.
A mercadoria é o cerne do capital, poistoda produção capitalista passa a ter forma demercadoria, que, por sua vez, é um valor de usoque é voltado para satisfazer as necessidadeshumanas. Por sua vez, o valor de troca que équantificável e possui um equivalente monetá-rio —preço, dinheiro —é uma relação. Pergun-
tase, portanto: qual é o papel do trabalho?
O trabalho tem o papel de definir os valo-res de troca. Mas esse trabalho em questão nãoé o trabalho individual, não é o tempo que cadatrabalhador gasta para produzir determinadamercadoria. Tratase de um trabalho homogê-neo. Dessa análise, são excluídas as diferençasentre os mais variados tipos de processos de tra-
balho. Assim, existem dois tipos de trabalho: oútil e o abstrato.
O trabalho útil analisa as especificidades dosprocessos de trabalho, em que essas qualidadespeculiares são necessárias para produzir valoresde uso de cada mercadoria de forma singular.
Ao desaparecer o caráter útil dos produtos dotrabalho, também desaparece o caráter útildos trabalhos neles corporificado, desvane-cemse, portanto, as diferentes formas de tra-balho concreto, elas não mais se distinguem
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í, umas das outras, mas reduzemse, todas a\3
uma única espécie de trabalho, o trabalhohumano abstrato.(MARX, 1984, p. 45)
valor de uso. O preço da mercadoria é o equiva-
lente monetário do valor. Passamos, portanto,
ao estudo da maisvalia.
De maneira diversa, o trabalho abstrato
não leva em consideração tais peculiaridades,o que proporciona a criação do valor de troca.
Assim, o valor da mercadoria é medido com
base no trabalho abstrato e no gasto de tra-
balho humano de forma homogênea. Temos
aqui a “força média de trabalho social”. Marx
nos traz o seguinte esquema argumentative:
Se o valor de uma mercadoria é determinado
pela quantidade de trabalho gasto durantesua produção, poderia parecer que quantomais preguiçoso ou inábil um ser humano,tanto maior o valor de sua mercadoria, poisele precisa de mais tempo para acabála. To-davia, o trabalho que constitui a substân-cia dos valores é o trabalho humano ho-mogêneo, dispêndio de idêntica força de trabalho. Toda força de trabalho da socie-
dade, que se revela nos valores do mundo das mercadorias, vale, aqui, por força detrabalho única, embora se constituía de inú-meras forças de trabalho individuais. Cadauma dessas forças individuais de trabalho seequipara às demais, na medida em que pos-sua o caráter de uma força média de trabalhosocial, e atue como essa força média, preci-sando, portanto, apenas do tempo de traba-lho em média necessário ou socialmente ne-
cessário para a produção de uma mercadoria.(MARX, 1984, p. 46)
Tempo de trabalho socialmente necessário
é o tempo de trabalho requerido para produ-
zir um valor de uso qualquer, nas condições de
produção socialmente normais, existentes, e
com o grau social médio de destreza e intensi-
dade do trabalho. O que determina a grandeza
do valor, portanto, é a quantidade de trabalhosocialmente necessário ou o tempo de trabalho
socialmente necessário para a produção de um
1.2.3. A MaisValia A diferença entre produção de valor e pro-
dução de maisvalia está no fato de o processo
de produção de valor durar até o ponto em
que o valor da força de trabalho pago pelo ca-
pital é substituído por um equivalente. Se ul-
trapassado esse ponto, o processo de produzir
valor tornase produção de maisvalia.
Em síntese, o valor de uso referese aouso ou consumo de uma mercadoria, ao passo
que o valor de troca referese à quantidade, à
proporção em que valores de uso de espécies
diferentes são trocados entre si. Sabese que
o trabalho produz o valor, que manifestase
de duas formas: a) quando o processo produz
mercadorias; b) quando o processo de pro-
dução gera a maisvalia. O valor da força de
trabalho é o valor do próprio sustento do tra-balhador e de seus dependentes, o restante é o
sobretrabalho, que é apropriado pelo proprie-
tário dos meios de produção.
Marx conceitua maisvalia da seguinte for-
ma: “A mais valia se origina de um excedente
quantitativo de trabalho, da duração prolon-
gada do mesmo processo de trabalho, tanto no
processo de produção de fios, quanto no pro-cesso de produção de artigos de ourivesaria”.
A maisvalia ainda pode ser dividida em
maisvalia absoluta e maisvalia relativa:
a) Maisvalia absoluta: é o prolonga-
mento do dia de ofício, a partir da intensi-
ficação do ritmo de trabalho, por meio de
controles impostos aos operários, de modo
a obrigar o trabalhador a trabalhar em umritmo mais acelerado e intenso para que
produza mais mercadorias e, consequen
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^ temente, mais valor, sem que sejam altera-das a duração da jornada e a apropriaçãodesse sobretrabalho pelo capital.
b) Mais-valia relativa: tem comoponto de partida a maisvalia absoluta.Nesse caso, dividimos o dia de trabalhoem duas partes: a primeira é o trabalhonecessário e a segunda, o sobretrabalho.
A dinâmica é prolongar o sobretrabalhoe reduzir o trabalho necessário. Para tan-to, o trabalho necessário é encurtado porintermédio de métodos que permitem
que o equivalente do salário do trabalhoseja produzido em menos tempo.
A diferença entre as duas consiste no fatode que a produção da maisvalia absoluta se re-fere apenas em redor da extensão do dia de tra-balho; a produção da maisvalia relativa alterasignificativamente os processos técnicos dotrabalho e os agrupamentos sociais. O capital
é o dinheiro aplicado no processo produtivo eserá ampliado por meio da maisvalia. A com-posição orgânica do capital consiste em capitalconstante e capital variável.
a) Capital constante: é compostopor matériaprima somada aos meios detrabalho. É fixo.
b) Capital variável: consiste na for-
ça trabalho. Varia com o tempo.O lucro é a forma mais visível da maisva-
lia. Ele é gerado por meio do capital variável,pois apenas este cria valor. O capital constan-te não gera lucro, pois não tem a capacidadede criar mais valor, uma vez que ele é apenastransferido para o produto. Com o aumentoda mecanização do processo produtivo, é re-
duzida a extração da maisvalia. Portanto, háuma tendência na queda da taxa de lucro emlongo prazo.
1.2.4. Alienação, Estranhamento e Fetiche da Mercadoria
Marx trabalha os conceitos de alienação e
estranhamento nos Manuscritos E conômicos- Filosófícos (1844).O fundamento do conceitomarxiano de alienação encontrase no exercí-cio da atividade laborai que tem a capacidadede coisificar o trabalhador, a ponto de tornar aexistência deste e de suas habilidades em fun-ção do objeto, existindo apenas para o capital.
Assim, no âmbito da economia política, aque-le que não trabalha, que não produz mercado-
ria simplesmente não existe.Convém conferirmos a transcrição do tre-
cho dos Manuscritos Econômicos-Filosófícos, de Marx:
O trabalhador tornase tanto mais pobrequanto mais riqueza produz, quanto mais suaprodução aumenta em poder e extensão. Otrabalhador tornase uma mercadoria tanto
mais barata, quanto maior o número de bensque produz. Com a valorização do mundodas coisas, aumenta em proporção direta adesvalorização do mundo dos homens. Otrabalho não produz apenas mercadorias;produzse também a si mesmo e ao trabalha-dor como uma mercadoria, justamente namesma proporção com que se produz bens.(MARX, 2006, p.lll)
O produto opõese ao trabalhador comoalgo que lhe é estranho e como se existisse deforma independente da que ele produziu. Oproduto do trabalho é o trabalho coisificadoe fixado em uma mercadoria, um objeto quese transformou em coisa física, é a objetivaçãoe coisificação do trabalho. Assim, Marx con-ceitua que a realização do trabalho implica si-multaneamente sua objetivação.
Por isso, segundo Marx, a realização dotrabalho aparece na esfera da economia po-
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lítica como a não realização ou frustração do
trabalhador, e a objetivação mostrase como
uma perda e a servidão do objeto. Conse-
quentemente, a apropriação mostrase como
alienação.Em sua análise, esse autor segue nos mos-
trando que tais consequências derivam, aci-
ma de tudo, da relação entre o trabalhador
e o produto de seu trabalho. O trabalhador
percebe sua produção como um objeto estra-
nho. Isso porque, quanto mais o trabalhador
se esgota enquanto ser, mais poderosa fica sua
criação diante dele mesmo, mais poderoso fica
o mundo das coisas, mais pobre ele fica na sua
vida interior, menos pertence a si próprio. Leia
mais um trecho da obra de Marx:
(...) O trabalhador põe sua vida no objeto;porém agora ela já não lhe pertence, mas simao objeto. Quanto maior sua atividade, maiso trabalhador se encontra objeto. O que seincorporou no objeto do seu trabalho já não
é seu. Assim, quanto maior é o produto, maisele fica diminuído. A alienação do trabalhadorno seu produto significa não só que o trabalhose transforma em objeto, assume uma existên-cia externa, mas que existe independentemen-te, fora dele e a ele estranho e se torna umpoder autônomo em oposição a ele; que a vidaque deu ao objeto se torna uma força hostil eantagônica. (MARX, 2006, p. 112)
A regra que percebemos é a de que a alie-nação do trabalhador no objeto produzido se
mostra nas leis da economia política da se-
guinte forma: quanto mais o trabalhador pro-
duz, menos ele consome. A leitura de mais
um trecho dos escritos desse pensador escla-
rece melhor.
Já que o trabalho alienado aliena a natureza
do homem, aliena o homem de si mesmo, oseu papel ativo, a sua atividade fundamen-tal, aliena do mesmo modo o homem a res
' peito da espécie; transforma a vida genéricaem meio da vida individual. Primeiramente,aliena a vida genérica e a vida individual; de-pois, muda esta última na sua abstração emobjetivo da primeira, portanto na sua formaabstrata e alienada. (MARX, 2006, p. 116)
No trabalho alienado, verificamos a de
sumanização do trabalho, tornandoo como
coisa, a ponto de permitir a quantificação
do trabalho humano. O caráter fetichista da
mercadoria ocorre pela falta de capacidade da-
queles que produzem. Por meio da troca mer-
cantil, dos produtos de seus trabalhos, acabam
por estabelecer uma relação social que, por serum atributo social do trabalho, fica oculta na
aparência de objeto.
1.2.5. As Relações de Produção e a
Estrutura de Classes
Ao se pensar na concepção marxiana,
muito se fala sobre a divisão da sociedade em
classes. Para Marx, no entanto, ele não nos
apresentou uma teoria ampla e sistematizadade classes sociais, embora o entendimento da
sociedade em classes seja imprescindível para
a compreensão do pensamento marxista em
geral. Classes sociais são posições que os in-
divíduos ocupam no sistema produtivo. Ao
contrário do que aparenta, Marx não apre-
senta uma visão bipartida de classes sociais,
inclusive pode ser encontrada em suas obras
a menção de cerca de dezesseis classes sociais.
No entanto, ele aponta três grandes classes da
moderna sociedade burguesa:
1) os proprietários de capital;
2) os proprietários da terra; e
3) os trabalhadores (proprietários da for-
ça de trabalho).
Sabemos que, no processo produtivo, sãoestabelecidas relações de produção, que com-
preendem a somatória das relações técnicas
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j e sociais. O que nos interessa neste momení to são as relações sociais de produção, poiso conjunto dessas relações forma a estruturaeconômica da sociedade, eis que o materia
lismo histórico concebe a história a partir daluta de classes e da determinação das formasideológicas pelas relações de produção.
No trecho a seguir, Marx explica que a so-ciedade moderna industrial tem a capacidadede unir desconhecidos que possuem os maisdiversos interesses num mesmo ambiente. Noentanto, eles possuem um interesse comumcontra seu explorador, um interesse geral, um
mesmo pensamento de resistência: a coalizão.O primeiro objetivo comum é a manutenção dosalário. À medida que os detentores dos meiosde produção também se reúnem em um mes-mo pensamento de repressão, a manutenção daassociação mostrase mais importante do quea manutenção do salário. Caso uma associaçãode trabalhadores chegue a esse ponto, adquiriráocaráter político, pois a “dominação do capitalcriou para essa massa uma situação comum, in-teresses comuns”. Nas palavras de Marx:
A grande indústria aglomera num mesmolocal uma multidão de pessoas que não seconhecem. A concorrência divide os seus in-teresses. Mas a manutenção do salário, esteinteresse comum que têm contra o seu pa-trão, os reúne num mesmo pensamento de
| resistência coalizão. A coalizão, pois, temsempre um duplo objetivo: fazer cessar en-tre elas a concorrência, para poder fazer umaconcorrência geral ao capitalista. Se o primei-ro objetivo da resistência é apenas a manu-tenção do salário, à medida que os capitalis-tas, por seu turno, se reúnem em um mesmopensamento de repressão, as coalizões, ini-cialmente isoladas, agrupamse e, em face
do capital sempre reunido, a manutenção daassociação tornase para elas mais importan-te que a manutenção do salário. [...] Nessa
^ luta verdadeira guerra civil , reúnemse ese desenvolvem todos os elementos necessá-rios a uma batalha futura. Uma vez chegadaa esse ponto, a associação adquire um caráterpolítico. (MARX, 2004)
As classes sociais basicamente podem serdivididas entre aqueles que detêm os meiosde produção e aqueles que vendem sua forçade trabalho. Ambas coexistem numa relaçãona qual os que possuem os recursos materiaisde produção exploram os que necessitam
vender sua força de trabalho, estes que estãoem maior número.
As classes sociais originamse a partir deuma divisão diferenciada do trabalho, que per-mite a acumulação de excedentes de produçãopor uma minoria social que se coloca em opo-sição à massa de trabalhadores, em uma relaçãode exploração. Isso pode ser representado gra-ficamente por meio de uma pirâmide, na qualos trabalhadores são numericamente em maiornúmero e a burguesia, em menor número. Noentanto, esta última encontrase no topo em
virtude da relação de exploração:
Mas por que trabalhar de forma bipartida?Onde fica a classe média?
A classe média é composta por pequenosburgueses, que não são exploradores nem ex
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“[...] Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os pro-
letários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. Proletários
de Todos os Países, Univos!”
(MARX e ENGELS, 1848)
Disponível em: . Acesso em: 14 fev. 2014.
piorados e tendem, em certo momento, a se
polarizar, de forma que a classe média tende a
se proletarizar, pois, em determinado estágio
do capitalismo, vai perder este espaço.
De maneira simplificada, trabalharemos
as classes sociais de forma bipartida, na qual
há exploradores e explorados, dominantes e
dominados, de forma que os primeiros pos-
suem os recursos materiais e os últimos neces-
sitam vender sua força de trabalho. Tais rela-
ções constituem o eixo central da organização
política do Estado capitalista.
O Estado moderno e todo seu aparato ju-
rídico e cultural têm como objetivo garantir os
interesses da classe dominante e a permanência
das relações de exploração, pois compõe uma
superestrutura que tem por base uma infraes
trutura que possui essa configuração. Aqueles
indivíduos pertencentes à classe dominante têm
consciência de que dominam enquanto classe
e que determinam todo um período histórico
em virtude disso. Eles têm uma posição domi
http://prescesaressurgir.blogspot.com.br/2013/02/um-espectro-ronda-o-mundo-l65-anos-do_25http://prescesaressurgir.blogspot.com.br/2013/02/um-espectro-ronda-o-mundo-l65-anos-do_25
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nante enquanto seres pensantes e produtores de
idéias. São aqueles que podem regulamentar a
produção e a distribuição de pensamentos, pois
suas idéias também são dominantes.
% De forma diversa, um trabalhador vendesua força de trabalho por necessidade de sub-
sistência. Ele tem de fazêlo, pois é o meio que
tem de empregar seus dotes produtivos. O con-
ceito da divisão em classes passa a ser útil na
medida em que agrupa interesses comuns de
pessoas unidas por uma necessidade coletiva.
A teoria da consciência de classe preten-
de identificar como os indivíduos se tornam
conscientes desse interesse e de situação co-
muns, uma vez que passam a se unir e a se
organizar em uma estratégia cooperativa.
Marx defende que a condição de liberdade
da classe trabalhadora é a abolição de todo e
qualquer tipo de classe social, a abolição da
mistura de diversas classes, ainda diferenciadas
erroneamente (operários, artífices, pequenos
comerciantes etc. o terceiro estado), da or-dem burguesa, de todos os estados, das ordens
da sociedade feudal e de todas as ordens. No
prefácio de Contribuição à Crítica da Econo-
mia Política, Marx defende:
Nenhuma forma social desaparece antes quese desenvolvam todas as forças produtivasque ela contem, jamais aparecem relações deprodução novas e mais altas antes de amadu-
recerem no seio da própria sociedade antigaas condições materiais para sua existência.(...). As forças produtivas, porém, que sedesenvolvem no seio da sociedade burguesacriam ao mesmo tempo, as condições ma-teriais para as soluções desse antagonismo.Com esta formação social se encerra, por-tanto, a préhistória da sociedade humana.(MARX, s/d, p. 302)
Nesse sentido, esgotadas todas as formas pro-
dutivas do capitalismo, temos que, no curso do
seu desenvolvimento, a classe trabalhadora subs-
tituirá a antiga sociedade civil por uma associação
na qual não existirão classes sociais ou antagonis-
mo de classes, pois não haverá mais poder políti-
co nos moldes do Estado burguês, uma vez queo poder político é a síntese do antagonismo na
sociedade civil e garantidor da permanência das
relações de exploração. Nas palavras de Marx:
Ao chegar a uma determinada fase de desen- volvimento, as forças produtivas materiais dasociedade se chocam com as relações de pro-dução existentes ou o que não é senão a suaexpressão jurídica, com as relações de pro-
priedade dentro das quais se desenvolveramaté ali. De formas de desenvolvimento dasforças produtivas, estas relações se convertemem obstáculos a elas. E se abre,' assim, umaépoca de revolução social. Ao mudar a baseeconômica, revolucionase, mais ou menosrapidamente, toda a imensa superestruturaerigida sobre ela. (MARX, s/d, p. 302303)
Existem dois meios possíveis por meio dos
quais o capitalismo está fadado ao fracasso: omecanismo sociológico e o mecanismo econô-
mico. O mecanismo sociológico é a revolução
iniciada a partir da tomada da consciência de
classe e o choque das forças produtivas com as
relações de produção. O mecanismo econômi-
co, de forma simplória, ocorrería pela autodes
truição do sistema pela excessiva mecanização e
redução do capital variável e a constante queda
dos lucros, pois o capital constante é gerado
pela matériaprima e pelos meios de produção
—não geram lucro, apenas o transferem. O ca-
pital variável é gerado pela força trabalho. So-
mente este é capaz de criar lucro.
Aproveite o resumo a seguir, com os prin-
cipais conceitos criados por Karl Marx.
PRINCIPAIS CONCEITOS:
Materialismo histórico: o materialismohistórico explica a realidade a partir da produ-
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ção material, considerando que esta é a base
de toda ordem social, por ser algo que sempre
existiu em todas as sociedades.
̂ Infraestrutura e superestrutura: infra
estrutura é a base material da produção, ouseja, constitui os meios de produção e a for-
ça de trabalho sobre os quais se ergue uma
superestrutura, que consiste em um sistema
institucional de idéias, culturas, sentimen-
tos, instituições jurídicas e políticas que for-
mam a consciência social, erguido sobre a
base material.
Divisão do trabalho: a divisão da pro-
dução social em determinados ramos de pro-dução. Dividese em divisão da produção
social, divisão técnica do trabalho e divisão
social do trabalho.
Processo produtivo: é todo o processo
de transformação de um determinado objeto
em outro produto, utilizandose instrumen-
tos de trabalho.
Força de trabalho: é a atividade huma-na desenvolvida no processo de produção, a
energia humana aplicada no processo de tra-
balho. O salário é o equivalente monetário à
força de trabalho.
Meio de trabalho/ meio de produção:
pode ser dividido em meio de trabalho em
sentido amplo e meio de trabalho em sentido
estrito. Em sentido amplo, são as condições
materiais indispensáveis à realização do tra-balho; em sentido estrito, são as ferramentas
que intermedeiam o trabalhador e o objeto
trabalhado.
Relações sociais de produção: no pro-
cesso de trabalho, os homens estabelecem de-
terminadas relações pessoais entre si. Tais re-
lações são determinantes no caráter assumido
historicamente pela sociedade, pois, na visãomarxiana, a produção está incondicionalmen-
te determinada pela história.
Valor de uso/ valor de troca: o valor de
uso é determinado pelas qualidades particu-
lares da mercadoria e não depende da quanti-
dade de trabalho nela empregada, mas de suasqualidades úteis. Tal valor realizase com a
utilização ou o consumo da mercadoria. Valor
de troca é o modo pelo qual se pode quanti-
ficar o valor de uma mercadoria, tornandoo
comparável ao valor de outra. Apresentase
como uma relação quantitativa, expressa em
termos monetários. E a proporção por meio
da qual os valores de uso de uma espécie se
trocam por valores de uso de outra. Não setrata de uma relação fixa, pois muda constan-
temente de acordo com o tempo e o espaço.
O valor de troca, portanto, apresentase como
algo “casual e puramente relativo”.
Mercadoria: toda a produção capitalista
passa a ter forma de mercadoria, que, por sua
vez, é um valor de uso voltado para satisfazer
as necessidades humanas.
Trabalho útil e trabalho abstrato: o tra-
balho útil analisa as especificidades dos pro-
cessos de trabalho, em que essas qualidades
particulares são necessárias para produzir
valores de uso de cada mercadoria de forma
singular. O trabalho abstrato não leva em
consideração tais peculiaridades, o que pro-
porciona a criação do valor de troca. Assim,
o valor da mercadoria é medido com base notrabalho abstrato e no gasto de trabalho hu-
mano de forma homogênea.
Mais-valia: a maisvalia originase de um
excedente quantitativo de trabalho, da duração
prolongada do mesmo processo de trabalho,
tanto no processo de produção de fios quanto
no processo de produção de artigos de ouri
vesaria. Dividese em: a) maisvalia absoluta:
é prolongamento do dia de trabalho, a partirda intensificação do ritmo de trabalho; e b)
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determina a existência, mas o contrário. A existên-cia determina a consciência. Isso mostra os reflexosda esfera econômica nas demais relações sociais.
1.3. A Concepção Weberiana de Trabalho e os Processos de Racio-
nalização do Mundo
Weber foi provavelmente o mais rigoroso
cientista social entre os clássicos da sociologia.
Sua obra parte do princípio fundamental de
distinção entre o desenvolvimento conceituai
racional do pesquisador e as paixões humanas,
que seriam, fatalmente,. uma ameaça à vali-dade das idéias apresentadas. Como poderia,
A ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de modo racional referente a fins: por expectativas quanto ao com
* portamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas como condições ou meios paraalcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, como sucesso; 2) de modo racional referente a valores: pela
crença consciente no valor —ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua interpretação —absoluto e inerente a determinado
comportamento como tal, independentemente do resultado; 3) de modo afetivo, especialmente emocional: por afetos ou estadosemocionais atuais; 4) de modo tradicional: por costume arraigado. (WEBER, 2009)
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com o exigido rigor científico, um autor usarseus textos como disseminação de suas opini-ões e visões individuais de mundo?
lP Dessa maneira, podemos perceber uma
clara distinção perspectiva entre as três prin-cipais correntes clássicas da sociologia. En-quanto Durkheim se apoiava no positivismopara criar uma concepção conservadora da re-alidade e legitimar as instituições burguesas eMarx criava seu materialismo histórico dialé-tico para contestar essas instituições e elaboraruma teoria da revolução, Weber, ao menos emtese, evitava se posicionar a respeito dos even-tos sociais, os quais observava e se limitava aelaborar um processo de descrição e interpre-tação dos eventos. Não cabería ali, portanto,a busca pelo “dever ser”, se não apenas umaobservação do que é.
Esse “ser” social é, segundo a obra de We-ber, decorrente fundamentalmente do indiví-duo e das ações individuais orientadas pelas
ações de outros sujeitos. É sujeito todo aqueleque exerce o papel de agente social, em que nãoé necessário mais do que uma orientação sub-
jetiva para a realização da ação e de um senti-do, ou seja, ser realizada por alguém para outroalguém ou orientada pela ação desse outro. Ocaráter vetorial do sentido da ação social con-fere toda a dinâmica da sociedade na concep-ção weberiana. Segundo o clássico, a sociedade
nada mais é do que essa teia de ações e relaçõesdesenvolvidas entre os indivíduos, importandomenos as instâncias macrodimensionais, comoa economia e as instituições, e mais o sentidosubjetivo, atribuído pelos próprios indivíduosàs suas ações sociais.
Weber é, inclusive, um grande críticoda sobreposição da esfera econômica sobre
outras no processo de análise dos fenômenospela ciência da sociedade. Dada sua lógica im-parcial, não faz sentido traçar uma oposição
dele com as outras teorias clássicas, inclusivea filosofia política e econômica do marxismo.O que existe é, na verdade, uma diferençaperspectiva. Enquanto Marx entende a ques-
tão econômica como decisiva para a dinâmicada luta de classes e, consequentemente, paratoda a construção histórica social, Weber ape-nas parte do princípio subjetivo, apontando aeconomia como mais um elemento da vida emsociedade, dentre tantos outros.
E nesse momento que surgem seus pri-meiros apontamentos sobre o conceito detrabalho e as idéias de racionalização e buro-
cracia, que o acompanharão ao longo de suasprincipais obras.
1.3.1. Racionalização e Trabalho
Despreocupado em legitimar determina-do tipo de organização social, Weber não se-guiu o padrão adotado por outras correntessociológicas para definir o trabalho e as classessociais. Ao contrário, a sua noção de trabalho
é muito mais interpretativa, a partir das suasidéias a respeito do mundo ocidental modernoe do capitalismo. Nas classes sociais, Weber es-tipula um novo quadro que não dá preponde-rância à divisão classista econômica, mas noslembra de inúmeras divisões culturais existen-tes ao redor do planeta.
Segundo Weber, não é o sistema de trocasmonetárias que marca a caracterização funda-
mental do capitalismo ocidental moderno, masprincipalmente, um processo ferrenho de racio-nalização das ações e relações sociais. O autorreafirma que, de uma forma ou outra, semprehouve um sistema de trocas mediante algumpeso em moeda ou pedras preciosas. Contudo,a modernidade no ocidente passa, sim, por umprocesso que a particulariza em relação a todosos períodos históricos anteriores: a racionaliza-ção da vida social.
Em sua principal obra, A Etica Protestante e
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o Espírito do Capitalismo, Weber traça uma es-clarecedora investigação pelos elementos histó-ricos da transição feudocapitalista que levarama construir o cenário ocidental tal qual acom-
panhamos hoje. Somos levados logo a entenderde que maneira as doutrinas religiosas vigentessão capazes de determinar um modus operan- di das relações sociais. Dessa maneira, a anti-ga civilização europeia organizavase tal qual omodelo vigente da época em virtude de sua su-bordinação completa aos dogmas da Igreja Ca-tólica. Sem uma reelaboração da própria ideiade religião, não seria possível a reelaboração da
própria dinâmica da vida social.O desenvolvimento da ética protestante
se dá, inicialmente, pelo rompimento coma antiga ideia de salvação divina católica, naqual o pecado era possível de ser eliminadomediante o pedido de perdão. Na nova con-cepção de vida ascética, o reino do céus nãoera mais algo conquistável, mas destinado aeleitos. Seria preciso, portanto, um comporta-
mento adequado, uma postura de “escolhido”(embora Weber não use o termo), de alguémque possua o que é chamado de providênciadivina. E, portanto, muito mais arriscado eproblemático na lógica protestante cometerpecado do que fora anteriormente no mundocatólico. Tal definição permite que o trabalho
ocupe, ao contrário do que acontecia antes,uma posição de destaque na vida social do ho-mem moderno. Ao trabalhar, ainda que inicieuma vida mais mundana, o fiel não está tão
propenso a praticar ou desejar o pecado.O trabalho seria, então, o primeiro fato
fundamental exigido pela ética protestante eque permitiria a ascensão do capitalismo. Emseguida,, viria a ideia de acumulação, uma vezque, ainda sendo a vida moderna mais munda-na, não se permitia por meio da ética religiosao uso da riqueza conquistada via trabalho paraprazeres carnais e afins. Logo, esta deveria ser
acumulada, sendo por si só um objetivo vital.O dueto trabalho acumulação foi o prato cheioque a ascendente burguesia esperava para a cria-ção não apenas de um sistema religioso, mastambém legal, social e econômico, baseado nasduas premissas.
Pelas constatações weberianas na obra A Etica Protestante e o Espírito do Capitalismo, é absolutamente explicável a atual lógica demoralização do trabalho sofrida pelo homemmoderno e a consequente racionalização desuas ações. Enquanto, no feudalismo, as pai-xões eram ponto importante da vida cotidia-na, as ações sociais passaram a se tornar cada
vez mais racionais ao longo dos séculos. É fácilobservarmos essa moralização do trabalho nas
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nossas relações atuais. Basta perceber a impor-tância que o “trabalhar” atingiu em nível socialnos dias de hoje. O trabalho ganha um status de fim em si, independentemente da satisfa-ção, da subsistência ou do valor que gere —o
importante é trabalhar. A palavra “trabalha-dor” tornase elogiosa, na mesma medida emque ser uma pessoa “à toa” ganha contornosgravemente pejorativos.
Concluímos, assim, a concepção weberiana de trabalho. Não existe uma orientação nosentido de elaborar um conceito e desenvolvêlo,mas a observação da construção histórica, per-
mitindo ao leitor a interpretação da conclusãofinal. Weber consegue seguir sua premissa enão direcionar o pensamento do leitor.
1.3.2. Burocracia
Apesar da conotação negativa que o termó“burocracia” adquiriu ao longo dos anos, comoum conjunto infindável de normas que atrapa-lhariam o pleno funcionamento das instâncias
públicas ou até privadas, Weber lança mão doconceito sem fazer, mais uma vez, uso de juízosde valor com relação ao caráter positivo ou nãodo emprego da mencionada palavra na esferaestatal moderna. Antes de mais nada, Weberenxergou o Estado moderno como um aparatoextremamente burocratizado. Weber define bu-rocracia como um aparato técnicoadministrativo, formado por profissionais especializados,
selecionados segundo critérios racionais e quese encarregam de diversas tarefas importantesdentro do sistema.
Se a racionalização da vida é um processode destaque no mundo moderno, ninguém étão racionalizado quanto o funcionário públi-co. Ali, a burocracia atinge seu nível máximo.
Sem lançar juízos, Weber apenas consta-
ta que a modernidade, em especial no apara-to estatal, está profundamente racionalizada.
Contudo, na contramão da noção de que oexcesso de normas seja um prejuízo, o autorentende a hierarquia e a normatização comogeradores de um modelo mais eficiente de ad-ministração, válido para o âmbito privado ou
público. Portanto, quando se trata de Weber,não temos de entender burocracia como umaspecto positivo ou negativo, mas, como naspalavras do próprio autor, “um modelo legiti-mo de dominação”.
1.3.3. Classe Social
A revisão do papel da economia na teo-ria de Max Weber não é, em nenhum outro
momento, tão bem observada quanto na suaconcepção de classes sociais. Vale, aqui, ape-nas uma breve apresentação das idéias weberianas, já que até pelo fato de o autor diminuiro papel da economia na estratificação socialfica mais difícil associar o conceito em questãoà sua noção sobre o mundo do trabalho.
Weber apresenta, além da riqueza, fatorescomo o prestígio, a linhagem e a educação
como elementos dessa estratificação. Assim,além das classes sociais, existiriam castas eestamentos capazes de promover uma hierar-quização social. É importantíssimo destacaro “além das classes sociais”, pois Weber nãodesconsidera a existência de classes, mas, sim,agrupa outros elementos formadores da es-tratificação, como também, numa clara opo-sição a Marx, outras vias de transformaçãosocial além da revolta das classes populares.
É preciso aplicar o conceito à realidadepara fazer uma associação interessante em relaçã̂ ao trabalho e à noção weberiana de clas-ses sociais. Em primeiro lugar, temos o fatoreconômico, que a teoria marxista elabora commais cuidado: a desigualdade entre os pos-suidores do meios de produção e os não pos-
suidores, a qual Weber não nega a distinção.Existe, portanto, outras distinções, como, por
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exemplo, quando o autor aponta o prestígio
como fato de hierarquização social. Podemos
observar na prática como as distinções do so-
ciólogo estavam corretas.
Não é apenas econômica a diferença exis-
tente entre um profissional intelectual e um
profissional de trabalho braçal, ou seja, não é
simplesmente por ganhar mais que se torna
mais interessante e desejável ser um intelec-
tual do que valerse do trabalho físico, mas
também pelo prestigio envolvido nas duas
profissões. Na primeira, há toda uma carga de
valorização social advinda da ideia do “conhe-
cimento”, de todo o estudo requerido para aocupação do cargo. Na contramão, o trabalha-
dor braçal não goza do mesmo valor, sendo
tido como alguém sem estudo, malpreparado
para o mundo do trabalho e, consequente-
mente, útil apenas para as que seriam conside-
radas funções banais.
nidade e sua função moral é integrar funções
diferentes e complementares que, de outra for-
ma, causariam a perda dos laços comunitários.
(D) A ação social, na sociedade moderna, é
motivada apenas por interesses econômicos,porque os meios para produzir estão concen-
trados nas mãos de apenas uma classe social.
(E) A expansão da produção capitalista teve
como base a separação entre trabalhadores e
os meios de produção, assim como a dissemi-
nação da propriedade privada.
Resposta: alternativa B.
Justificativa
Para Weber, a baseyû tural não é exclusivamente
determinante, mas a cultura é essencial para a com-
preensão da sociedade moderna, pois, no sistema
capitalista, é essencial a busca pelo bom desempe-
nho na aquisição e no acúmulo do capital, que deve
ser feito por meio da racionalização característica
do trabalho existente em algumas culturas.
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1.4. Análise Comparativa das Relações de Trabalho e Classes So-
ciais em Durkheim, Marx e Weber
Vamos começar falando de Durkheim,mais precisamente da divisão do trabalho.Devemos inicialmente lembrar que, para ele,
a divisão do trabalho é realizada a partir dedeterminadas funções que são atribuídas aosindivíduos. A partir daí, temos que a evoluçãoda sociedade deve ser analisada de acordo coma complexidade da divisão do trabalho, lem-brando que, em sociedades précapitalistas,esta ocorre de forma simples, e nas sociedadescapitalistas industriais, de forma complexa. Acomplexidade da divisão do trabalho, portan-to, relata a complexidade de uma sociedade, aevolução dela, já que a função da divisão dotrabalho é unila e integrála.
Devemos lembrar que Émile Durkheimera um evolucionista, de forma que a socie-dade deve ser vista como um organismo vivo,e leis semelhantes às da teoria da evolução,de Charles Darwin, deveriam ser identifi-
cadas no meio social. Tomemos os dois ele
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mentos mencionados neste tópico: “A partir
do grau de complexidade da divisão do tra-
balho podemos medir o grau de evolução de
determinada sociedade”; e também “uma so-
ciedade evolui de forma semelhante aos seres vivos”. Pois bem, para Durkheim, temos que
o trabalho divide a sociedade de forma es-
pontânea, de acordo com as atribuições pes-
soais dos indivíduos. Logo, as desigualdades
sociais seriam um reflexo que expressariam as
desigualdades naturais.9%
Devemos nos ater, ao pensar em trabalho
do ponto de vista de Durkheim, ao fato de
que ele foi precursor do pensamento chama-
do darwinismo social. Logo, se depararmos
com questionamentos acerca da função e dos
motivos da divisão social do trabalho, temos
de pensar primeiramente que o sociólogo eni
análise pretendia aproximar a sociologia das
demais ciências da natureza, em diversos mo-
mentos transpondo os conceitos destas para
a análise social. Devemos lembrar neste mo-mento que, ao contrário de Marx, Durkheim
era um estudioso da ordem social, de modo
que analisava os elementos que mantiveram
a coesão social. Enquanto a ordem estivesse
sendo mantida, haveria progresso social. A
divisão do trabalho era o que gerava coesão e
caracterizava a solidariedade predominante.
A função mais clara da divisão do trabalhosocial é elevar a produção tanto de bens ma-
teriais como dos intelectuais, por meio da es-
pecialização. Entretanto, a divisão do trabalho
social tem outra função que podemos perce-
ber de maneira mais imediata: a função moral
da solidariedade entre os indivíduos, que gera
coesão social.
Já Marx observa as contradições e as rela-ções de exploração do capitalismo. Para este
pensador, enquanto determinada classe social
é proprietária de meios de produção, outra
tem necessidade de vender sua força de tra-
balho para suprir suas necessidades e ainda se
submete a ser explorada paragerar lucro aos
detentores dos meios de produção, que usam amaisvalia. Seguindo essa lógica, a divisão não
teria nada de natural e em nada estaria ligada
com as capacidade individuais dos trabalhado-
res, pois, naquelas condições, eles não teriam
formas de ascensão social.
Nesse sentido, na concepção de Marx, a
divisão do trabalho segue a lógica da proprie-
dade privada, no sentido de garantir a explo-
ração de uma classe sobre a outra. Ambas asclasses encontramse sempre em contradição,
decorrente da relação de dominação e explo-
ração. Marx traz a evolução dialética da eco-
nomia, pois passa a periodizar a história de
acordo com os modos de produção. Um meio
possível de derrubada do sistema capitalista e
o fim da exploração de uma classe sobre outra
seriam a revolução do proletariado.
Para Durkheim, a revolução não seria
um fato social normal, pois um fato social
normal em um momento histórico obedece a
certa frequência em um determinado tempo.
Uma revolução seria um fato social patológi-
co, porque, além de não colaborar no sentido
de manter a ordem vigente, é um aconteci-
mento que, em um determinado recorte tem-
poral, não obedece a uma frequência em umsegmento social.
/ Weber parte sua análise da perspectiva do
/ indivíduo. O agir socialmente é individual, e
tal ação gera relações sociais que caracterizam
a sociedade como um todo. As regras sociais
e as instituições têm por base as relações es-
tabelecidas entre os indivíduos na forma de
agir socialmente.
Em se tratando da relação trabalho e clas-
ses sociais no pensamento weberiano, deve
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mos relembrar o fator econômico, enquanto
retomamos que a teoria marxista a elabora
com mais cuidado, observando a desigualda-
de entre os possuidores do meios de produção
e os não possuidores. Weber não nega a dis-
tingo, entretanto, traznos outras distinções
que designam hierarquia social por exemplo,
quando o autor aponta o prestígio comcTfato
de hierarquização social, podemos observar na
prática outros quesitos além do fator econô-
mico apontado por Weber, dentre eles a pró-
pria cultura. 0̂
Vimos que não é apenas econômica a di-
ferença existente entre um médico e um var-
redor de rua, ou seja, não é simplesmente por
ganhar mais dinheiro que se torna mais comu
mente interessante e desejável ser médico doque ser varredor, mas também pelo prestigio
envolvido nas duas profissões, que é cultural-
mente estabelecido. Na primeira, há toda uma
carga de valorização social advinda da ideia do
“intelectual”, daquele “salvar vidas”, de todo
o estudo requerido para a ocupação do car-
go. No caso do varredor, na nossa cultura, ele
não goza do mesmo valor, sendo tido como
alguém não estudado, malpreparado para omundo do trabalho e, consequentemente, útil
apenas para o que seria considerado pela socie-
dade uma função banal.
Para Durkheim, isso seria diferente: o var-
redor seria varredor porque ele naturalmente
não tem dons necessários para ocupar a po-
sição de médico. A divisão do trabalho segue
a mesma linha da natureza, ocorre de acordo
com as capacidades naturais do ser social.
' No aspecto relacionado ao binômio cul
\ tura e áo trabalho, Weber percebe que houve
ascensão social e desenvolvimento econô
. mico em determinados países protestantes
analisando as relações sociais. O capitalis-
mo, pãra Weber, consiste na racionalização do
•mundo e, a partir disto, pressupõe que uma
■administração complexa em que há adminis
tração do lucro e mão de obra livre propicia
' o desenvolvimento do pensamento capitalista,
d í i d i li d é i i li
Weber percebe isso ao analisar empirica
mente o surgimento do capitalismo nos países
predominantemente protestantes, nos quais
os indivíduos acreditaram na ideia da pre-
destinação divina, de que a aquisição de bens
materiais, por meio do sucesso no trabalho,
era tido pelo indivíduo como um presente deDeus. Outro fator que permi-
tiu o sucesso industrial dos pa-íses protestantes calvinistas foi
a ideia de fuga do pecado e da
negação ao ócio.
Podemos pegar um possí-
vel contraponto em Marx, uti-
lizando a noção de superestru
tura, pois, conforme falamos,
esse pensador defende que o Estado modernoe todo o seu aparato jurídico e cultural têm
como objetivo garantir os interesses da clas-
se dominante e a permanência das relações de
exploração, pois compõe uma superestrutura
que tem por base uma infraestrutura com essa
configuração.
Essa valorização e hierarquização nada
mais seria, do que a tentativa daqueles indi-
víduos pertencentes à classe dominante, estes
que têm consciência de que dominam enquan-
to se mantiverem na posição de seres pensantes
produtores de idéias e criadores de prestígio.̂