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Corpos e expressão em movimento. A dança e a educação. Por que ensinar dança na escola?1

Sidinei Barbosa Varanda 2

Resumo: É sabido que a Educação Física aborda conhecimentos específicos a serem trata-dos pedagogicamente no contexto escolar e dentre esses conhecimentos, destaca-se a dan-ça, sendo esta, elemento da cultura corporal e como área de conhecimento, de expressão e movimento, mediadora na educação e cunhada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, faz parte da Educação Física escolar, com suas possíveis formas de fomentar as expressões, movimentos, educação e vivências no contexto escolar.Assim, o presente artigo, tem como objetivo observar e despertar o interesse dos alunos e até mesmo de professores para a pos-sibilidade de aulas de dança na escola, lembrando que desde sempre o homem dançou e que essa prática é considerada a mais antiga das artes, entendendo-a como expressão corporal e movimento, onde, pode-se afirmar que o corpo e movimento constituem uma unidade que opera por energia; que corpo, energia e movimento formam um todo e que não haverá mo-vimento sem corpo e ainda, promover a linguagem corporal do movimento, desenvolver a dança como forma de educação que procura desenvolver potencialidades integradas do ser que concorre para a educação integral e, sobretudo, refletir que a dança na escola deve valorizar as possibilidades expressivas de cada aluno, permitir a expressão espontânea e fa-vorecer o surgimento dela, abandonando a formação técnica formal, que pode vir a esvaziar o aspecto verdadeiramente educacional da dança. Este artigo foi desenvolvido tendo como base referências bibliográficas de várias literaturas, para ressaltar a importância de trabalhar a dança no ambiente escolar e, levando, assim, ao entendimento de que não é preciso for-mar bailarinos na escola, mas libertar os movimentos e trabalhar as expressões corporais.

Palavras-chave: Corpo. Movimento. Dança. Educação. Escola.

1 Orientador: Luís Fernando Correia. Graduação em Licenciatura em Educação Fisica pelo Centro Uni-versitário Claretiano e especialização em Educação Física Escolar pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais. Professor Assistente do Centro Universitário Claretiano, Batatais, SP, Brasil. E-mail: <[email protected]>.2 Graduada em Licenciatura Plena em Letras (2009) e Licenciatura em Educação Física (2011) pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP) e onde atualmente, cursa especialização em Educação Física Esco-lar. E-mail: <[email protected]>.

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Eu só acreditaria num deus que soubesse dançar. Apenas na dança eu sei como contar a parábola das coisas mais elevadas. Aqueles que eram vistos dançando eram tidos como insanos por aqueles que não con-seguiam ouvir a música. Dou como desperdiçado todo dia em que não se dançou. Dançar, em todas as suas formas, não pode ser excluído do currículo da educação nobre. Dançar com os pés, com ideias, com pa-lavras e, preciso acrescentar, que também se deve dançar com a caneta. Friedrich Nietzsche

1. INTRODUÇÃO

Dançar é definido como uma manifestação instintiva do ser humano, “[...] é executar movimentos corporais de maneira ritmada, em geral ao som de música, bailar, balançar, oscilar; sacudir-se, agitar-se, mexer-se, movimentar-se” (HOLLANDA, 1999).

Desde sempre o homem dançou. Antes de polir a pedra e construir abrigos, os homens já se movimentavam ritmicamente para se aquecer e comunicar. A dança, considerada a mais antiga das artes, é também a única que dispensa materiais e ferramentas, pois ela só depende do corpo e da vitalidade humana para cumprir sua função, enquanto instrumento de afirmação dos sentimentos e experiências individuais do homem.

As danças coletivas aparecem na origem da civilização e sua função associava-se à adoração das forças superiores ou dos espíritos, para obter êxito em expedições guerreiras ou de caça ou ainda para solicitar bom tempo e chuva. Mesmo com a simplicidade dos movimentos e repetições, os povos traduziam nessas danças, manifestações repletas de significado e eram fatos celebrados, que diante das comunidades, refletiam o verdadeiro sentido da comunhão entre os seres. Dessa forma “[...] pode-se perceber o valor da comunicação via dança nestas manifestações” (VOLP; GASPARI, 2010, p. 20).

Tudo no universo está em constante mutação e assim como o ar, a terra e todas as coisas da natureza estão em pleno movimento; nosso

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corpo também se encontra repleto de movimentos, energia e linguagens corporais, que segundo Brikman (1989, p. 13-14), “Podemos afirmar que o corpo e movimento constituem uma unidade que opera por energia; que corpo, energia e movimento formam um todo; que não haverá movimento sem corpo [...]”. Já Baiak (2007, p. 06) considera que “[...] é através do movimento das coisas que a história se faz; e foi através do movimento corporal que o homem primitivo começou a construir uma nova linguagem, a linguagem da dança”.

O corpo se expressa por meio da linguagem corporal e dos movimentos e de acordo com Laban (1978, p. 19), “O homem se movimenta a fim de satisfazer uma necessidade. Com sua movimentação, tem por objetivo atingir algo que lhe é valioso [...]”, dessa forma podemos perceber que o ser humano se comunica por intermédio de movimentos expressivos e linguagem corporal, para atingir sua verbalização.

Consta nos PCNs (2000) que os conteúdos da Educação Física devem alcançar uma grande relevância de conhecimento no que concerne à cultura corporal, assim como áreas pertinentes que permitam aos alunos compreender o corpo como um todo sem fracioná-lo em parte física e cognitiva; assim neste bloco de conteúdos, podemos entender que incluir manifestações da cultura corporal devem ser baseadas nas características de intenção à expressão e à comunicação, por meios de gestos e com presença de estímulos sonoros como primordiais para o movimento corporal, e neste caso, dando destaque às atividades rítmicas como a dança ou brincadeiras cantadas.

Embora tenhamos conhecimento que o país seja tão rico em sua diversidade cultural e que a dança seja uma de suas manifestações mais expressivas entre os adolescentes e jovens, peca-se por não oferecer o ensino dessas manifestações no contexto escolar, como fator de relevante importância nas escolas e oportunizando ao professor, ser o mediador das manifestações expressivas e culturais tão ricas em nossa sociedade.

Dessa forma, o presente artigo tem por objetivo refletir sobre a linguagem corporal do movimento, dança-educação e o ensino da dança no contexto escolar, tendo como base referências bibliográficas.

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Apresentar-se-á a dança como área de conhecimento, de expressão e movimento, mediadora na educação e cunhada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, onde a dança faça parte das disciplinas escolares Artes e Educação Física, com suas possíveis formas de mediar as expressões, movimentos, educação e vivências no contexto escolar e salientar a afirmação de Nanni (2002, p. 130), que diz: “A Dança/Educação procurando desenvolver potencialidades integradas do ser, concorre para a educação integral. Ela é a expressão natural e verdadeira do ser humano”.

2. A DANÇA

Antes mesmo de o homem falar, ele dançou. Dançou para se manifestar, para se comunicar e para se expressar. Dançou para a beleza física, para a guerra, para a educação, para a fertilidade da terra e da sua própria espécie. Dançou em falecimentos, casamentos, nascimentos e dançou para os deuses para pedir sol ou chuva. O homem sempre dançou e como mostra Baiak (2007, p. 20), “O homem primitivo dançava porque não sabia falar, hoje os homens falam, mas continuam dançando, não como antes, mas dançam, mesmo depois de anos de evolução e transformação”.

A história da dança poderia ser tão longa quanto a história da humanidade. Não é possível dizer quando a dança tornou-se parte da cultura humana. A dança tem sido, certamente uma parte importante de cerimônias, rituais, celebrações e entretenimento desde antes do nascimento das primeiras civilizações humanas. Nanni (2003, p. 01) corrobora com este pensamento quando diz que: “A Dança - em sua essência - como manifestação primitiva, era um mergulho no mundo mágico, onde os movimentos espontâneos surgiram da imaginação, liberação em forma de súplica e agradecimento aos deuses. [...] mítica, lúdica e religiosa” - e ainda acrescenta que “A evolução e progresso da Dança através da história não é aleatória. Obedece a padrões [...] ou nascem da necessidade latente do homem de expressar seus sentimentos e emoções, desejos e interesses, sonhos ou realidade através [...] de Dança”.

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Dessa forma, pode-se compreender que a dança sempre existiu através dos tempos e em todas as épocas da história, ela teve sua relevância, seja através da representação de manifestações de seus povos, para aplacar seus deuses e espíritos, seja para expressar emoções, sentimentos e comunicar-se com os seus e traduzir suas características culturais. A dança é a manifestação natural do ser humano e segundo Sá Earp (apud NANNI, 2003, p. 1) “Dança é a expressão da harmonia universal em movimento” e tendo Baiak que concorda e acrescenta, quando ela diz que “A dança é uma linguagem universal, através da qual o corpo se expressa, e os humanos se entendem. Assim como todas as artes, a dança tem um papel importante na sociedade, a de unir homens, natureza e de ser muito maior do que nós” (BAIAK, 2007, p. 20).

Para denominar os tipos de dança que conhecemos hoje, Bland (1976) (apud VOLP; GASPARI, 2010, p. 49), “[...] denomina-as de as três faces da dança”, sendo elas: “Natural - simples prazer do movimento físico; Social - elemento coesivo no grupo e Estética - fusão perfeita do abstrato com o humano, da mente com a emoção, da disciplina com a espontaneidade”.

Os homens primitivos já dançavam. Nos grandes Impérios, os homens dançavam nos funerais, as mulheres dançavam elementos de acrobacias, dançavam do nascimento à morte, nas festas, no treinamento militar, na educação das crianças e para os gregos era importante dominar a arte de dançar tendo até a Musa da Dança Terpsícore, filha de Zeus. Em Creta “Os deuses ensinaram a dança aos mortais para que os honrassem e os alegrassem” e para os gregos, o sentido da dança era: “De essência religiosa, Dom dos imortais e Meio de comunicação com os deuses” (VOLP; GASPARI, 2010, p. 54-55). Roma muda a essência da dança, pois eles não tinham essa tradição e sofrem influências de outros povos como dos etruscos e gregos, mas quando Roma foi destruída, a dança já havia morrido. Na Idade das Trevas ou Idade Média a doutrina cristã foi o refúgio dos que procuravam bênçãos e paz espiritual, para limparem o corpo e a alma, onde a mesma era contra a dança, mesmo que fosse a dança religiosa e mesmo que numa determinada época fosse renegada num outro

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momento, Santo Agostinho (354-430 d.C.) também entendeu que a dança era benéfica e primordial na terra e no céu, e declarou enaltecendo-a: “Ó homem, aprende a Dançar! Caso contrário, os anjos não saberão o que fazer contigo”. (BAIAK, 2007, p.20)

Apesar da doutrina cristã se impor e proibir a dança em todas as regiões e em todas as situações observa-se que: “[...] a dança sobrevive nos vilarejos, nos festivais populares. Os ritos de fertilidade e as danças curativas garantiam a sobrevivência dos povos que as praticavam, por isso, mesmo que escondidas, elas continuavam sendo realizadas nos vilarejos até o século 16”. (VOLP; GASPARI, 2010, p.58).

Apesar de tudo, a dança começou a entrar nos castelos medievais como forma de entretenimento e cem anos depois, são dados os primeiros passos para a dança da corte e assim iniciar o Ballet Clássico. No começo da Renascença, as doenças arrasavam as aldeias, as danças eram intercaladas com as entradas de pratos nos recintos dos castelos; a aparência física não era tão importante e sim as boas maneiras. No apogeu da Renascença, pode-se destacar que:

Quando a censura religiosa se atenua um pouco, a concepção de dança/espetáculo vai mudando, as características dramáticas começam a aparecer e há um retorno aos mitos. Os espectado-res são passivos, e artistas e dançarinos passam a representar heróis e heroínas dos mitos. Essas alterações vão evoluindo para o que se denominou Dança da corte. (VOLP; GASPARI, 2010, p. 58).

Acredita-se que, o que se conhece hoje de dança deve muito ao casamento de Catherine de Médicis, italiana, com Henrique II da França, o que torna vital para a dança, pois ela traz toda sua vivacidade, alegria, paixão e interesse por artes, para uma França que está em ascensão. A partir daí grandes Academias de danças foram fundadas, grandes nomes da dança foram apresentados ao mundo, grandes bailarinos, incontáveis coreógrafos, os grandes ballets de repertórios, as músicas com seus compositores famosos, as grandes bailarinas que dançaram papéis que as imortalizaram, as grandes evoluções de passos, calçados e figurinos

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de ballets, os criadores de técnicas e seus defensores, as experiências e as loucuras dos personagens da dança, fazem e fizeram o que hoje conhecemos por dança e por conta de toda esta história, a dança sempre estará em constante evolução e transformação.

3. CORPOS EM MOVIMENTO

De acordo com Laban (1978, p. 67), “[...] corpo é nosso instrumento de expressão por via do movimento. O corpo age como uma orquestra, na qual cada seção está relacionada com qualquer uma das outras e é uma parte do todo”. Ossona (1988, p. 29) aponta que:

A necessidade de comunicação é inata no homem. Essa necessidade orientou seu próprio instinto para os meios mais apropriados com que se expressar, ser compreendido e entender as manifestações de outros indivíduos. Sem dúvida, na primeira tentativa de comunica-ção, o homem se utilizou do movimento como veículo [...].

Constata-se que tudo à nossa volta está em constante movimento, o ar, a terra, a água, os seres vivos e os corpos para se comunicar, para pensar, se repetir, transformar, para se expressar, para contar sua história através das épocas, para dançar, e segundo Laban (apud NANNI, 2002, p. 17):

As qualidades dos movimentos introduzem a ideia de pensar por movimento. Isto faculta ao homem modificar sua conduta de esforço tornando-os mais humanos e refinar seus hábitos de movimentos ao desenvolvimento de modalidades diferentes de configurações de es-forços selecionados e aprimorados durante os períodos da história até finalmente se tornarem expressivos; a partir daí se transformam em atividades rítmicas orientadas pelos impulsos interiores se constitu-indo em Dança.

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Constata Ossona (1988, p. 25), que: “Todo movimento, desde mecânico até o simbólico, contém sempre uma carga expressiva”. Em Brikman (1989, p. 15-16) observa-se que “[...] através do movimento no contexto do tempo e do espaço, a pessoa pode adquirir consciência do que acontece com seu próprio corpo”, e ainda “O movimento constitui uma unidade orgânica de elementos materiais e espirituais que se integram numa totalidade”.

“O corpo fala sem palavras. Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos outros. E eles têm muitas coisas a dizer a você. Também nosso corpo é antes de tudo um centro de informações para nós mesmos. É uma linguagem que não mente” (WEIL; TOMPAKOW, 2001, p. 02).

Rengel (2004, p. 05), ao se referir ao corpo no contexto histórico, diz o seguinte:

Historicamente, o corpo (e este é o corpo que se manifesta! Que se comunica com e no mundo! O corpo que dança!) sempre foi muito escondido e reprimido (como sabemos disto!). Não nos deixemos mais ser contaminados por esta idéia de corpo ser ”coisa” e mente, algo “superior”. Corpo tem vários aspectos, mas tudo (emoção, re-flexão, pensamento, percepção, etc.) é corpo. Nos nossos melhores e piores momentos o corpo está, o corpo é. Sem o corpo não conhec-emos, não sentimos e não pensamos.

A partir dessas colocações, acredita-se, então, que para que se possa desenvolver um trabalho corporal é pertinente conhecer o próprio corpo e esse é o primeiro passo para que o aluno desenvolva a capacidade de se movimentar perante um ritmo qualquer. Dessa forma, acredita-se que é imperativo que sejam pesquisados e analisados os movimentos e possibilidades corporais antes de qualquer atividade voltada à expressão corporal ou à dança. A partir desse conhecimento, o aluno poderá agregar um repertório de movimentos, expressões e ritmos e então, será capaz de assimilar as particularidades que a ação de dançar ou se expressar que traz consigo, tendo o discernimento de seus limites e das suas capacidades.

Para que o corpo responda e corresponda aos comandos das

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particularidades do trabalho expressivo da linguagem corporal, necessita-se criar uma disciplina, através da prática contínua de movimentos diferenciados, para que corpo se conheça e potencialize suas descobertas através de gestos e ações. Brikmam (1989, p. 16) sentencia que “[...] a expressão corporal funcionaliza a linguagem do corpo em suas estruturações, componentes e desenvolvimentos” e continua “[...] sua prática leva à manifestação da personalidade, a um conhecimento e uma consciência mais completos, para fora e para dentro de si mesmo [...] capaz de promover uma profunda transformação da atitude básica da personalidade” (BRIKMAN, 1989, p. 16).

Assim sendo, ressalta-se que os movimentos e expressões a serem trabalhados devem abranger o corpo como um todo e jamais de forma fragmentada, para que o aluno seja trabalhado em sua totalidade, fato que Laban (1978, p. 47) afirma que “[...] a fluência do movimento é francamente influenciada pela ordem em que são acionadas as diferentes partes do corpo”.

Nesse sentido, espera-se que, com o conhecimento adquirido sobre si mesmo, em relação aos movimentos e à linguagem corporal, o aluno esteja preparado para saber representar a sua vivência e o seu interior, tendo conhecimento dos outros, identificando e selecionando movimentos apropriados à sua atuação de forma mais simples, livre e primária, conforme afirma Laban (1978, p. 104), “[...] o melhor meio de adquirir e desenvolver a capacidade de usar o movimento como meio de expressão no palco é executar cenas com movimentos simples”. Brikman (1989, p. 19/99) complementa, dizendo:

A aptidão criadora se expressa na capacidade de transformar o próprio movimento corporal, isto é, na capacidade de perceber a peculiaridade de seu movimento, de suas possibilidades pessoais, e de enriquecê-las, tudo isso devido à aptidão de sentir da forma mais profunda, gerada por uma conexão íntima consigo mesmo, por uma harmonia interior, que gera, naturalmente, por sua vez, novas formas de movimento [...]. O hábito do movimento livre faz do movimento um ato de constante criação. A partir de uma imagem, de um desejo espontâneo não-util-itário, segue-se um desenvolvimento imprevisível.

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Pode-se inferir que, com o movimento o indivíduo transmuta comportamentos, que os torna visíveis ao seu redor. Segundo Nanni (2002, p. 17): “O movimento é a relação das atitudes internas com as formas externas permitindo ao indivíduo transformar seus símbolos de emoções, em ações através de padrões ritmados e interligados com o UNIVERSO. É o meio do HOMEM participar do ritmo Universal”.

Diante do exposto, nota-se que a expressão corporal e o movimento fazem uso de uma linguagem à qual as pessoas querem expor a si mesmas, aos outros e ao mundo; tudo é movimento, tudo gira através do movimento. Como diz Brikman (1989, p. 87) “O homem está constituído por uma mente que pensa, uma alma que sente e um corpo que expressa esse todo. O corpo não é apenas um veículo; constitui o principal modo de percepção e expressão do homem. A expressão corporal permite projetar a essência criadora do corpo”.

Na concepção de Strazzacappa (2001, p. 69), observamos que o “[...] indivíduo age no mundo através de seu corpo, mais especificamente através do movimento” e salienta que “[...] o movimento corporal que possibilita as pessoas de se comunicarem, trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem sentidos”.

Assim, diante dessas acepções, conclui-se que, o corpo é o canal pelo qual o indivíduo se expressa e se comunica através dos movimentos, visando que os mesmos sejam sinônimos de prazer e bem estar, como também, um veículo através do qual possa mostrar-se e expressar-se ao mundo.

4. DANÇA E EDUCAÇÃO

É importante ressaltar que os PCNs, privilegiam a dança, um elemento da cultura corporal, através da Educação Física escolar, como componente do conteúdo das Atividades Rítmicas e Expressivas, cabendo a mesma o objetivo de incentivar os alunos no experimento de movimentos próprios a fim de pesquisar e estudar o próprio corpo, dando origem aos novos movimentos.

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Gallardo (apud EHRENBERG, 2003, p. 57) ao se referir à dança, “[...] considera-a como uma forma de comunicação que se utiliza da linguagem corporal, podendo expressar idéias, sentimentos e emoções através de seus gestos” - e os autores Carbonera e Carbonera (2003, p. 07) definem a dança como:

A dança é movimento e não pode ser satisfatoriamente descrita, ver-balizada, é essencial vivê-la, senti-la, experimentá-la. É inerente ao ser humano, em qualquer um de nós, em qualquer homem ou mulher que transita pela rua. É necessário desmistificá-la, desenterrá-la, cul-tivá-la e compartilhá-la.

Fux sentencia que a dança “[...] é a poesia encarnada nos íntimos impulsos de um corpo, em seus ritmos e gestos” (FUX, 1983, p. 19) e para Collier (2001, p. 01), “A Dança apesar de sua origem popular e rotineira é considerada Arte, sendo a mais antiga manifestação artística criada pelo homem”.

Com o passar dos tempos e dos fatos históricos, o homem evoluiu e com ele a dança também, tanto em seus conceitos quanto na própria forma de movimentar-se e de enxergar seu novo lugar na sociedade, como afirma Nanni (2003, p. 07):

Como toda atividade humana, a Dança sofreu o destino das formas e das instituições sociais. Assim, essas perspectivas abrem uma relação entre as peculiaridades, características e o caráter dos movimentos dançantes e o desenvolvimento sócio-cultural dos povos em todos os tempos.

A partir desses levantamentos, observa-se que, a dança aliada às mudanças promovidas no indivíduo, na história, na sociedade e alicerçada pela educação é um relevante estímulo para o espírito, que colabora para a evolução das capacidades do homem, promovendo o desenvolvimento físico, mental e sua parte emocional. “A dança permite, pelo processo educacional, a utilização do processo criativo, e por meio deste, criar novas

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formas e explorá-las até seu limite”, o que afirma Nanni (2002, p. 129) e ainda complementa “A dança predispõe o homem a desenvolver e aprimorar suas características sensoriais, emocionais, afetivas, sensibilizando pela apreciação do belo, do estético e do moral por ser uma arte conceitual”.

Para oportunizar aos alunos, no quesito de aprimorar os elementos da cultura corporal do movimento, nota-se que a dança é um elemento importante na educação escolar, por observar que a aprendizagem ocorre através das relações externas e internas de um indivíduo, através do aumento da sociabilização, criatividade, comunicação e a sua consciência corporal.

De acordo com o dicionário, reza-se a educação como:

Ato ou efeito de educar (-se). Processo de desenvolvimento da capaci-dade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Os conhecimen-tos ou as aptidões resultantes de tal processo; preparo. O cabedal científico e os métodos empregados na obtenção de tais resultados; instrução, ensino. Nível ou tipo de ensino. Aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas. (HOLLANDA, 1999).

No que tange à Educação, é célebre a frase do educador Paulo Freire que afirma: “Ninguém educa ninguém, mas ninguém se educa sozinho” e ainda “A educação pode contribuir para que as pessoas se acomodem ao mundo em que vivem ou se envolvam na transformação dele” (BARRETO, 1998 p. 59-61).

Ao se referir ao corpo e aos movimentos de expressão corporal, mais especificamente, a dança, Rengel (2004, p. 05-06) é bem enfática, ao relacionar a omissão da Educação e ao conhecimento do corpo para o indivíduo, ao afirmar que:

A Educação é falha com o “corpo”. Pelo fato de não serem suficiente-mente estimulados e educados para tal, muitos jovens, crianças e mesmo adultos não percebem o quanto é importante o movimento e a dança para o bem-estar, e nem mesmo aprendem a desenvolver

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a apreciação estética que existe em ambos, apresentam falta de co-ordenação motora entre braços e pernas, não têm uma postura sau-dável, têm falta de equilíbrio, entre outros problemas.

No entanto, Ehrenberg (2003, p. 57-58) já mais otimista, entende que tanto a dança quanto a educação podem estar juntas, neste processo de ensino/aprendizagem ao salientar que:

Tanto a dança como a educação podem fazer parte de um projeto unificado, se acreditarmos que a dança é uma manifestação cultural do ser humano e que, através da vivência contextualizada, torna-se possível o acesso a ela e a possibilidade de sua produção cultural. A escola pode possibilitar o acesso a esse patrimônio cultural, porque a dança é cultura, é história, é patrimônio da humanidade.

Os autores Carbonera e Carbonera (2008, p. 44), ressaltam a seguinte afirmação no que se refere à dança e o processo educacional:

Poderíamos dizer então, que a Dança enquanto um processo educa-cional, não se resume simplesmente em aquisição de habilidades, mas sim, poderá estar contribuindo para o aprimoramento das habilidades básicas, dos padrões fundamentais do movimento, no desenvolvi-mento das potencialidades humanas e sua relação com o mundo.

Vale ressaltar que a educação pela dança, mostra hoje um fator de extrema importância, sobretudo se for permitido utilizar como manifestação cultural do movimento, no contexto escolar, o que viria a enriquecer as aulas de Educação Física, devido ao seu grande crescimento e riqueza de expressão e atitudes. Nanni (2003, p. 03) destaca com relevância sua importância, “Da virada do século até hoje, o enriquecimento do ensino da dança viria, através de métodos modernos, onde o corpo é usado como um todo com inúmeras possibilidades e infinitas combinações de formas e movimentos como meio de expressão e comunicação”. Ehrenberg (2003, p. 57) também considera a dança como uma forma de comunicação que

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se utiliza da linguagem corporal, podendo expressar idéias, sentimentos e emoções por intermédio de seus gestos e por isso ela diz que, “[...] reconhecer o valor cultural que a dança incorpora, passamos a adotar o seu como nosso conceito de dança, além de relacioná-lo diretamente à educação, afinal esta é uma manifestação artística que possibilita formas de criação e apreensão cultural”. E ainda complementa:

Tanto a dança como a educação podem fazer parte de um projeto unificado, se acreditarmos que a dança é uma manifestação cultural do ser humano e que, através da vivência contextualizada, torna-se possível o acesso a ela e a possibilidade de sua produção cultural. A escola pode possibilitar o acesso a esse patrimônio cultural, porque a dança é cultura, é história, é patrimônio da humanidade. (EHREN-BERG, 2003, p. 57-58).

5. DANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR

Embora já dito que os PCNs orientem que a Educação Física oportunize e valorize os alunos desde muito cedo, no quesito da democratização, humanização e diversificação de sua conduta pedagógica, observa-se que, na maior parte das escolas, o exercício de jogos competitivos ainda prevalece, em detrimento da dança e das atividades expressivas, usando-as como atividades extracurriculares onde o aluno faz a opção, caso queira.

Diante desta realidade, Collier (2001, p. 03) infere:

Para que a dança saia dos planejamentos e passe a ser conteúdo pre-sente nas aulas de Educação Física é mister que se modifique a visão que a sociedade tem da mesma. Esta modificação começa na escola com a valorização do movimento natural e criativo que permita a ex-pressão dos seus participantes.

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Para Ferreira (2009), é importante a exposição de treinos e ensinos pedagógicos e raciocínios teóricos que oportunizem a dança no contexto escolar e que a mesma possa ser um instrumento que colabore no decurso do ensino e aprendizagem dos alunos.

A escola pode oferecer a dança como suporte da comunicação e da expressão corporal. A dança na escola pode desenvolver contínuas ex-periências que se iniciam espontaneamente evoluindo para temas de dança formalizada. Por meio da dança, a escola pode contribuir para o resgate da cultura brasileira como forma de despertar a identidade social do aluno no projeto de construção da cidadania, além de pro-mover uma maior interação social e fazê-lo participar do processo de ensino/aprendizagem. (FERREIRA, 2009, p. 12-13)

Ferreira (2009, p. 13) ainda alerta que a dança na escola, “[...] deve estar voltada para auxílio, aquisição e manutenção da saúde e aptidão social, mental, psíquica e física” e fala da parceria com a Educação Física, analisando: “Sua prática deve contribuir para a consecução dos objetivos primeiros da Educação Física: formação básica e educação dos movimentos”.

Coaduna-se com essas reflexões a autora Strazzacappa (2001, p. 71) ao ressaltar que:

A dança no espaço escolar busca o desenvolvimento não apenas das capacidades motoras das crianças e adolescentes, como de suas capaci-dades imaginativas e criativas. As atividades de dança se diferenciam daquelas normalmente propostas pela educação física, pois não car-acterizam o corpo da criança como um apanhado de alavancas e ar-ticulações do tecnicismo esportivo, nem apresentam um caráter com-petitivo, comumente presente nos jogos desportivos. Ao contrário, o corpo expressa suas emoções e estas podem ser compartilhadas com outras crianças que participam de uma coreografia de grupo.

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Marques (2007, p. 17), também empenhada na concretização da dança na escola, tem o seguinte pensamento:

[...] Neste mar de possibilidade, características da época em que vive-mos, talvez seja este o momento mais propício para também refletir-mos criticamente sobre a função e o papel da dança na escola formal, sabendo que este não é – e talvez não deva ser - único lugar para se aprender dança com qualidade, profundidade, compromisso, am-plitude e responsabilidade. No entanto, a escola é hoje, sem dúvida, um lugar privilegiado para que isto aconteça e, enquanto ela existir, a dança não poderá continuar mais sendo sinônimo de” festinhas de fim-de-ano.

Diante dessas perspectivas, os autores Carbonera e Carbonera (2008, p. 38) fazem a seguinte reflexão em relação à dança no contexto escolar:

A dança no contexto escolar pode ser uma forma muito construtiva de experiência lúdica, pois está ao alcance de todos, uma vez que seu instrumento principal é o corpo. Sem a intenção de formar bailari-nos, a escola pode proporcionar ao aluno um contato mais efetivo e intimista com a possibilidade de se expressar criativamente com o movimento [...]. A dança é, sem dúvida, uma das maiores catalisado-ras da manifestação e expressão do movimento humano. No âmbito educativo, ela é pedagógica e ensina tanto quanto os esportes, jogos e brincadeiras. A dança pode (e deve) ser usada como meio de crítica social para o questionamento de valores preestabelecidos, padrões re-petitivos e modismos, como, por exemplo, as coreografias com fortes apelos sexuais, que aparecem incessantemente em programas de TV.

Ehrenberg (2003, p. 13) também tem a visão de que a dança agrega valores no contexto escolar, por meio da Educação física quando objetiva: “A Educação Física possui conhecimentos específicos a serem tratados pedagogicamente no contexto escolar. Entre esses conhecimentos, encontra-se a dança” e em sua perspectiva, Ferreira ressalta a modalidade no contexto escolar: “Na Dança Escolar, devem-se valorizar as possibilidades

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expressivas de cada aluno, permitir a expressão espontânea e favorecer o surgimento dela, abandonando a formação técnica formal, que pode vir a esvaziar o aspecto verdadeiramente educacional da dança” (FERREIRA, 2009, p. 15).

Marques (2007, p. 24), com base em seus estudos da dança na escola, destaca o seguinte apontamento:

A escola pode, sim, fornecer parâmetros para sistematização e apro-priação crítica, consciente e transformadora dos conteúdos específi-cos da dança e, portanto, da sociedade. A escola teria, assim, o papel não de “soltar” ou de reproduzir, mas sim de instrumentalizar e de construir conhecimento em/ por meio da dança com seus alunos, pois, ela é forma de conhecimento, elemento essencial para a educa-ção do ser social.

Pode-se depreender, com base nesses autores que, as aulas de dança no contexto escolar, podem envolver tanto o aluno quanto o ambiente em que estão, oportunizando para que os mesmos busquem novas maneiras de movimento diante da realidade em que vivem, incitando a troca de informações com os colegas e sendo a facilitadora na resolução dos problemas propostos, criando relações e como conseqüência, produzir mais conhecimento.

Esses pensamentos vêm de encontro ao que sugere Ferreira (2009, p. 16), no que concerne aos conteúdos de uma aula de dança escolar:

Os conteúdos selecionados para uma aula de Dança escolar devem promover uma concepção científica do mundo, a formação de inter-esse, e devem emergir da realidade dinâmica e concreta do aluno. As-sim, quando se fala em valorizar a capacidade expressiva espontânea de aluno, sugere-se trabalhar com danças de livre interpretação, com interpretação de temas figurados, com conteúdos relacionados a re-alidade e com expressão corporal geral.

Ferreira (2009) enfatiza que deve dar prioridade aos alunos para o

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desenvolvimento dos movimentos naturais, trabalhando as qualidades lúdicas deles, e ainda, oportunizar suas manifestações criativas como fontes de comunicação e do poder da expressão corporal, e agregando ainda os quatro impulsos primários que o individuo possui: sentimento, ritmo, movimento e expressão, onde todos unidos formarão a base para o estímulo da dança.

A Dança escolar tem que se preocupar com a formação ética, a adapta-ção social, a organização do trabalho, o tratamento da informação e com o desenvolvimento psicomotor da criança, competências essas que são primordiais no cotidiano humano. (FERREIRA, 2009, p. 28).

Marques (2007, p. 85/101) a partir de seus estudos, pesquisas, conhecimentos e trabalhos sobre implantar a dança no contexto escolar, faz a seguinte análise:

A valorização da dança como forma de conhecimento, a mudança de atitude e o nível de compromisso com a educação podem ser consid-erados como um salto qualitativo nos programas da rede municipal, se não o mais importante dos ganhos desse processo educacional [...] A dança na escola tem como compromisso social ampliar o escopo, a visão e as vivências corporais do aluno em sociedade a ponto de torná-lo um sujeito criador-pensante de posse de uma linguagem artística transformadora.

Hoje se fala da dança educativa ou dança-educação, dança expressiva, dança moderna ou ainda dança criativa que de acordo com Marques (2007, p. 141-142), todas podem ser sinônimos da própria dança que se ensina nas escolas, ao ressaltar que:

O processo histórico tanto da dança quanto da educação das últi-mas décadas/séculos já pode ser visto, analisado e desconstruído a partir de uma perspectiva mais crítica. Será que ainda necessitamos

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de tantos termos diferentes, e ao mesmo tempo semelhantes, para nos referirmos à dança em contexto educacional dirigida às crianças e aos jovens? Porque, afinal de contas, não serão todas as danças realmente educativas se forem ensinadas de tal modo que os alunos possam compreender, sentir, verbalizar, contextualizar e apreciar aquilo que estão fazendo? Será que não poderíamos dizer que estamos simples-mente ensinando “dança” nas escolas.

Marques (2007, p. 142), atenta ao fato da dança e educação, nos dias de hoje:

[...] todos estes sobrenomes e / ou apelidos dados à dança por educa-dores são consequências, reflexos e ao mesmo tempo combustíveis do processo de escolarização por que passou – vem passando – a dança em nossas instituições de ensino. Com todas estas nomenclaturas, acabamos assumindo realmente uma diferença entre a dana produz-ida na sociedade e a dança presente nas escolas. A primeira é arte, a segunda é educação.

Steinhilber (apud CARBONERA; CARBONERA, 2008, p. 40) diz que: “Uma criança que participa de aulas de dança (...) se adapta melhor aos colegas e encontra mais facilidade no processo de alfabetização” e Pereira et al (apud CARBONERA; CARBONERA, 2008, p. 41) comenta que:

[...] a dança é um conteúdo fundamental a ser trabalhado na escola: com ela, podem-se levar os alunos a conhecerem a si próprios e/com os outros; a explorarem o mundo da emoção e da imaginação; a cria-rem; a explorarem novos sentidos, movimentos livres. Verifica-se as-sim, as infinitas possibilidades de trabalho do/para o aluno com sua corporeidade por meio dessa atividade.

A partir dessas acepções, pode-se notar que o terreno de domínio dos conteúdos da dança é muito rico e variado e deve-se entender como uma ajuda ao processo de ensino-aprendizagem, com os aspectos voltados

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ao corpo, à diversidade cultural e tendo a escola como facilitadora dos valores e vivências corporais que o aluno carrega consigo, e assim, permitir o aprendizado e a bagagem de significados agregados à sua realidade para que se tornem relevantes e expressivos ao seu cotidiano.

Baiak (2007) observa que o professor pode proporcionar atividades fundamentadas nos princípios da dança aos alunos, no contexto escolar e salienta “[...] que podem estimular, motivar, comunicar e fazer uma interação entre as crianças, facilitando o relacionamento interpessoal e a exploração ambiental” - e ainda destaca:

O professor ainda trabalha como mediador, ele dá informações, mas não esquece das informações que o aluno possui, deixando-o dar sua opinião. Ele dá sentido ao conteúdo e direções para o aluno buscar soluções para seus problemas; dessa forma o aluno produz saber, pois faz relações das informações já existentes com as novas [...] estas ativ-idade estimulam a capacidade de solucionar problemas de maneira criativa; desenvolvem a memória; o raciocínio; a autoconfiança e au-toestima, fazendo com que o indivíduo tenha uma melhor relação com ele próprio e com os outros; além de ampliar o repertório de movimento do aluno. (BAIAK, 2007, p. 31).

Pode-se inferir por meio desses autores, que a sociedade e a escola não podem mais ficar alheias à contribuição que a dança agrega aos alunos tanto no papel social, cultural e político, através do corpo com os movimentos e da expressão corporal, onde Marques (2007, p. 25) enfatiza “[...] o corpo que dança e o corpo na dança tornam-se fonte de conhecimento sistematizado e transformador”. E vai além:

Esta forma de apreensão de conhecimento tem relação muito próxima com o corpo em movimento, ou com a linguagem corporal, pois nos-sos alunos não mais apreendem o mundo somente por meio de pala-vras, mas principalmente das imagens e dos movimentos. A dança, portanto, como uma das vias da educação do corpo criador e crítico,

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torna-se praticamente indispensável para vivermos presentes, críticos e participantes na sociedade atual. (MARQUES, 2077, p. 25-26).

A partir desses levantamentos, percebe-se que, pelo fato de o país ter uma diversidade cultural tão grande e tendo na dança uma de suas expressões mais significativas, abres-se um grande leque de possibilidades na aprendizagem, resta a possibilidade de que a escola inclua a modalidade no contexto escolar, uma vez que a linguagem utilizada pela dança é privilegiada para que possa trabalhar, discutir e incentivar a pluralidade cultural no âmbito escolar e na sociedade.

É de se levar em conta com essa possível inclusão no contexto escolar, que o professor deva ir sempre ao encontro com a realidade do aluno e considerar a vivência que o mesmo teve através de diferentes ritmos de dança, tendo a consciência de que a idéia não é formar bailarinos, mas sim ampliar a prática de forma crítica, englobando os aspectos sociais, afetivos, cognitivos, culturais e políticos da dança na sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os estudos desses autores e no decorrer dessas reflexões, falou-se em corpos, movimento, expressão corporal, dança, educação, dança na escola e a dança agregada à Educação Física, conduzindo o aluno, de forma interdisciplinar, no contexto escolar.

Por intermédio dos PCNs, estabelece-se que a dança, uma vez reconhecida como elemento da cultura corporal, possa estar integrada diretamente às propostas escolares, e mantendo um vínculo também da relação de troca desta modalidade com a sociedade.

Considerando essas reflexões, espera-se que a dança enquanto um processo educacional, não se sintetiza simplesmente em aquisição de habilidades, mas sim, deverá contribuir para o aperfeiçoamento das habilidades básicas, dos padrões fundamentais do movimento: estimulando,

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motivando, comunicando e desenvolvendo as potencialidades humanas e em suas relações com o mundo.

Dessa forma, a partir desses levantamentos, observa-se que o trabalho de dança no contexto escolar pode ser rico com a participação ativa dos alunos, sendo o educador um importante mediador no processo de ensino-aprendizagem levando ao pensamento de que a educação através da dança possibilita a formação de cidadãos com uma visão mais crítica, reflexiva, autônoma e participativa na sociedade em que estão inseridos.

É sabido que a dança assim com a arte é nova dentro da educação, mas para que esta saia dos planejamentos e passa a ser conteúdo nas aulas de Educação Física escolar é pertinente que toda a sociedade se transforme, sendo importante começar com as mudanças na escola, buscando a valorização do movimento natural e criativo, consentindo a expressão corporal dos alunos com toda sua bagagem de vivências.

Deve-se oportunizar aos alunos o acesso à dança, pois, ela é um veículo de transformação pela humanização do ser, e que não é só movimento, mas também pensamento que se dá através do corpo e mente, além de cumprir um de seus objetivos, que é a de formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos e preparados para viverem em perfeita harmonia com a sociedade que os abriga.

Assim, dança e educação, nesse processo de ensino-aprendizagem, caminham juntas estabelecendo uma troca de informações entre o aluno e o ambiente escolar, buscando estímulo, por meio da dança, para entender o movimento como força de vida.

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Title: Bodies and expression in movement. The dance and education. Why teach dancing at school?Author: Sidinei Barbosa Varanda.

ABSTRACT: It is known that Physical Education covers specific knowledge to be treated pedagogically in school context and among these knowledge, stands out the dance, this being, body culture element and as a knowledge area, expression and movement, a mediator in education and coined by National Curriculum Parameters, is part of school physical education, with its possible ways to encourage the expressions, movements, education and experiences in the school context. Thus, this article aims to observe and to arouse the interest of students and even teachers to the possibility of dance lessons at school, noting that since always the man danced and that this practice is considered the oldest of the arts, understanding it as corporal expression and movement, where it can be said that the body and movement constitute a unit that operates by energy; that body, energy and motion form a whole and that there will be no movement without body and also promote the language body movement, where it can be said that the body and movement constitute a unit that operates by energy; that body, energy and motion form a whole and that there will be no movement without body and also promote the body language of movement, to develop the dance as a form of education that seeks to develop integrated capabilities that competes to be the integral education and, above all, reflect that the dance at school should enhance the expressive possibilities of each student, allow spontaneous expression and encourage the emergence of it, leaving the formal technical training, which could undermine the educational aspect truly dance. This article was developed on the basis of various literature references, to emphasize the importance of working the dance in the school environment and, thus leading to the understanding that there is no need to train dancers in school, but release the movements and bodily expressions work.Keywords: Body. Movement. Dance. Education. School.