Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.218 - MG (2011/0169279-7) RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINORECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A ADVOGADOS : RAFAEL MARTINS PINTO DA SILVA E OUTRO(S)
CRISTIANO KINCHESCKI E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADOS : SARA REGINA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
AFFONSO HENRIQUES PRATES CORREIA E OUTRO(S) EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO EDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR
EMENTA
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. 1. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. INEXISTENTE. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC/73. AFASTADA. 2. CONTRATO INTERNACIONAL. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL. ELEIÇÃO. PRAZO PRESCRICIONAL. VALIDADE. VIOLAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA. NÃO CONFIGURADA. PRESCRIÇÃO. AFASTADA. 3. FATO DO PRÍNCIPE. EFEITOS SOBRE CONTRATOS PRIVADOS. INADIMPLEMENTO. ROMPIMENTO DO LIAME OBJETIVO. RESTITUIÇÃO DAS PARTES AO STATUS QUO ANTE. 4. CONDIÇÃO SUSPENSIVA EXPRESSA. ABSOLUTA IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. RECONHECIDA. NEGÓCIO JURÍDICO SUBORDINADO. INVALIDADE. ART. 116 DO CC/16. 5. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA PARTE, PROVIDO.1. Não configura violação do art. 535 do CPC quando o acórdão recorrido expõe, de forma expressa e coerente, os fundamentos adotados como razão de decidir.2. Em contratos internacionais, é admitida a eleição de legislação aplicável, inclusive no que tange à regulação do prazo prescricional aplicável. Prescrição afastada, in casu , diante da aplicação do prazo previsto na lei contratualmente adotada (lei do Estado de Nova Iorque - Estados Unidos da América).3. O fato do príncipe, caracterizado como uma imposição de autoridade causadora de dano, de um lado, viabiliza a responsabilização do Estado; e, de outro, rompe do liame necessário entre o resultado danoso e a conduta dos particulares, configurando, em disputas privadas, nítida hipótese de força maior.4. Assim, reconhecida a absoluta impossibilidade jurídica de cumprimento do contrato entre particulares, devem as partes serem restituídas ao status quo ante . No caso, resolve-se o contrato de cessão e de empréstimo a ele vinculado, devendo os montantes liberados serem restituídos ao Banco e recobrando a construtora os direitos relativos aos créditos cedidos.5. Constante do contrato cláusula suspensiva, juridicamente impossível, tem-se configurada a específica hipótese de incidência do art. 116 do Código Civil de 1916, vigente à época, e, por consequência, a invalidade dos negócios a ela subordinados. Desse modo, também por essa via, impõe-se a restituição das partes ao status quo ante .6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conhecer em parte do recurso especial e, nesta parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze (Presidente), que lavrará o acórdão.
Vencido o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Votaram com o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze os Srs. Ministros Moura
Ribeiro e Isabel Galotti. Impedidos os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva e João Otávio de
Noronha. Brasília, 21 de junho de 2016 (data do julgamento).
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MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.218 - MG (2011/0169279-7)RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINORECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A ADVOGADA : MAGDA MONTENEGRO E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADO : AFFONSO HENRIQUES PRATES CORREIA E OUTRO(S)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO (Relator):
Trata-se de recurso especial interposto por BANCO DO BRASIL S/A em
face de acórdão do extinto Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais.
Extrai-se dos autos que EDIFICADORA S/A, um das empresas da
holding MENDES JÚNIOR PARTICIPAÇÕES S/A, prestou serviços ao
governo do Iraque desde o final da década de 70 até o início da década de 90.
O governo brasileiro atuou como interlocutor junto às autoridades
iraquianas, pois era do interesse nacional exportar bens e serviços para aquele
país, de modo a contrabalançar a alta dependência do Brasil ao petróleo do
Oriente Médio.
Na década de 80, o Iraque entrou em guerra contra o Irã, deixando de
honrar os seus compromissos financeiros com a MENDES JÚNIOR, o que
levou à paralisação das obras, em 1987.
Houve, então, negociações entre a construtora e os governos brasileiro e
iraquiano para que as obras fossem retomadas.
Como resultado das negociações, o governo brasileiro celebrou com a
MENDES JÚNIOR, em julho de 1989, um "contrato de cessão de créditos"
pelo qual a construtora cedia os créditos que detinha com o governo do Iraque,
recebendo, em compensação, a amortização/liquidação de dívidas contraídas
com o Banco do Brasil.
Em outubro de 1989, MENDES JÚNIOR INTERNATIONAL
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COMPANY e o BB GRAND CAYMAN (subsidiária do BANCO DO
BRASIL) celebraram, em Nova York, um contrato de empréstimo (loan
agreement ) da ordem de 45 milhões de dólares, com o objetivo de restaurar a
liquidez da construtora, abalada pela inadimplência do governo iraquiano.
Menos de um ano depois, porém, em agosto de 1990, o Iraque iniciou
uma guerra de agressão contra o Kuwait, o que culminou com o envolvimento
de diversas potências beligerantes na chamada "Guerra do Golfo".
No mesmo mês, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das
Nações Unidas) impôs um embargo econômico ao Iraque.
O Brasil, como membro da ONU, aderiu ao embargo, emitindo, no
âmbito interno, o Decreto 99.441/90.
Por força desse decreto, a MENDES JÚNIOR viu-se obrigada a encerrar
suas atividades no Iraque.
A partir de então, surgiu controvérsia a respeito da eficácia da
abrangência cessão de créditos.
Sob a ótica do BANCO DO BRASIL, ora recorrente, a cessão estaria
subordinada a uma condição suspensiva, que seria o reconhecimento e
pagamento, pelo governo iraquiano, dos créditos alegados pela MENDES
JÚNIOR.
Com a deflagração da guerra e o rompimento de relações comerciais com
o Iraque, não foi possível obter o reconhecimento da dívida perante o governo
iraquiano.
Sendo juridicamente impossível a realização da condição suspensiva, a
cessão de créditos seria ineficaz, não havendo falar em amortização ou
liquidação dos empréstimos contraídos pela MENDES JÚNIOR.
Ainda que abstraída a questão da natureza da cessão, entende o BANCO
DO BRASIL que a cessão não abrangeria o loan agreement , pois este contrato
fora celebrado em data posterior à cessão.Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 4 de 56
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Com base nesses entendimentos, o BANCO DO BRASIL ajuizou
execução contra a MENDES JÚNIOR E OUTROS, perante o juízo de origem,
com base no loan agreement e nas notas promissórias emitidas em garantia.
O juízo de origem acolheu o argumento de que o loan agreement não
estaria abrangido pela cessão de créditos e julgou improcedentes os embargos
opostos à execução (fls. 851/856).
Em grau de apelação, o Tribunal de origem reformou a sentença para
extinguir a execução, sob fundamento de ausência de certeza e liquidez do
título executivo, acolhendo a tese de "fato do príncipe".
O acórdão recorrido foi sintetizado nos seguintes termos:
EMBARGOS À EXECUÇÃO - PRESCRIÇÃO DOS TÍTULOS - APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA - NULIDADE DE SENTENÇA AFASTADA - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO E NOTAS PROMISSÓRIAS VINCULADAS A CESSÃO DE CRÉDITO - FATO DO PRÍNCIPE - ILIQUIDEZ E INCERTEZA AFERIDAS - IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO - PROCEDÊNCIA DA INCIDENTAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS FIXAÇÃO - EQÜIDADE E MODERAÇÃO.
Estabelecendo o título que a Lei de Nova York será aplicada no caso de execução do contrato, devem ser obedecidos os prazos prescricionais da lei estrangeira, o que não atenta contra a ordem pública do nosso país.
Não é nula a sentença que contém os requisitos estampados no artigo 458 do Código de Processo Civil, visto que havendo fundamentação, ainda que sucinta, de modo a transparecer as razões da convicção do julgador, não há de se lhe atribuir nulidade.
Verificando-se do contexto histórico que ensejou a emissão dos títulos excutidos, bem como das provas acostadas aos autos que o contrato e notas promissórias que embasaram a demanda executiva encontram-se vinculados a pacto de cessão de crédito e que, ainda, em decorrência de fato do príncipe, o Governo Brasileiro, sub-rogou-se na responsabilidade pelo pagamento dos créditos ali inseridos, ausente a certeza e liquidez exigidos pelo nosso ordenamento como necessários aos títulos que sustentam execução.
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Os honorários advocatícios fixados em razão da sucumbência estão adstritos a critérios de valoração delineados na lei processual, quais sejam, o grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço, sendo que, em se tratando de embargos à execução de grande complexidade em que a tramitação do feito se arrastou por vários anos e, ainda, que não houve condenação, justifica-se que essa verba seja arbitrada em valor certo, em conformidade com a realidade traçada nos autos. (fl. 949)
Daí a interposição do presente recurso especial pelo BANCO DO
BRASIL, no qual alega violação dos arts. 20, 118, 120 e 1073 do Código Civil
de 1916 (atualmente arts. 44, 985, 997, 125, 129 e 295 do Código Civil de
2002), o arts. 535, incisos I e II, e 596 do Código de Processo Civil e art. 19,
inciso I, alínea f, e inciso VII, da Lei 4.595/64, a albergar as seguintes teses
recursais: (a) negativa de prestação jurisdicional; (b) inaplicabilidade da cessão
de crédito ao caso concreto; (c) impossibilidade de se confundir as pessoas
jurídicas da União e do Banco do Brasil S/A; (d) ausência de responsabilidade
pelo fato do príncipe.
Contrarrazões às fls. 1156/1186.
O recurso especial foi inadmitido na origem, tendo-se dado provimento
ao agravo (Ag 813.112/MG) para determinar a subida dos autos.
É o relatório.
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VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO (Relator):
Eminentes colegas, o recurso especial merece parcial provimento.
Inicialmente, não há nulidade por omissão, tampouco negativa de
prestação jurisdicional, no acórdão que decide de modo integral e com
fundamentação suficiente a controvérsia posta. O Tribunal de origem, no caso,
julgou com fundamentação suficiente a matéria devolvida à sua apreciação.
Ademais, o juízo não está obrigado a se manifestar a respeito de todas as
alegações e dispositivos legais suscitados pelas partes.
No mérito, a questão central da controvérsia diz respeito, em síntese, à
interpretação das seguintes cláusulas do contrato de cessão de créditos, litteris :
CLÁUSULA PRIMEIRA: MENDES JUNIOR cede ao BANCO , e este aceita os créditos decorrentes da indenização dos direitos reclamados pela MENDES JUNIOR no contexto da execução dos contratos de construção celebrados com os seguintes organismos estatais iraquianos: [...].
.........................................................
CLÁUSULA TERCEIRA: Os supramencionados créditos da MENDES JUNIOR foram submetidos a exame dos consultores internacionais especializados Arthur Andersen S/C e Thomas Akroyd Consultants, havendo os respectivos pareceres concluído pela procedência dos direitos àqueles créditos.
.........................................................
CLÁUSULA QUARTA: Os créditos cedidos pela MENDES JUNIOR ao BANCO, e identificados na cláusula terceira acima, dentro da ordem de prioridade e até os seus respectivos montantes, destinar-se-ão a:
a) liquidação, junto à BB-Leasing Co. Ltd. empresa coligada ao Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 7 de 56
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BANCO, dos compromissos da MENDES JUNIOR sob o "Lease Agreement" celebrado em 06.06.86, [...];b) ressarcimento, ao BANCO, dos valores resultantes de eventual execução, pelas entidades iraquianas, das garantias emitidas pelo BANCO para cobertura dos débitos e compromissos da MENDES JUNIOR no Iraque, [...];c) amortização, junto ao BANCO, nos novos prazos pactuados , dos valores já emprestados à MENDES JUNIOR, para a solução de problemas de liquidez da empresa.
.........................................................
CLÁUSULA SÉTIMA: A presente cessão é celebrada sob a condição de que os créditos, objeto do contrato, sejam reconhecidos e pagos pelos organismos estatais iraquianos devedores , mencionados na cláusula primeira.
CLAÚSULA OITAVA: Não constituindo o presente contrato novação quanto a pagamentos, prazos, importâncias e demais condições das obrigações da MENDES JUNIOR para com o BANCO, este só lhe dará quitação dos débitos quando efetivamente receber os respectivos valores de seus créditos, podendo o BANCO, desde que o Governo Iraquiano não reconheça os créditos objeto deste Contrato, no prazo de 18 meses, [...], exigi-los diretamente da MENDES JUNIOR. (fls. 158/163, sem grifos no original)
O Tribunal a quo, analisando o preâmbulo do contrato, as cláusulas
supracitadas e o contexto histórico anterior e posterior à celebração, entendeu
que os créditos teriam sido cedidos ao BANCO DO BRASIL e que a cessão,
inicialmente condicional, teria se tornado incondicional em razão do fato do
príncipe (embargo econômico ao Iraque).
A propósito, transcreve-se o seguinte trecho do acórdão recorrido:
Tal disposição [cláusula primeira] demonstra que o banco não firmou o contrato como mandatário do Governo, mas em seu nome próprio como cessionário dos créditos da Mendes Junior, devidos pelo Governo Iraquiano, tanto que foi o Banco do Brasil quem nomeou a Petrobrás como sua mandatária no recebimento dos créditos oriundos do Iraque, como se infere da cláusula quinta do pacto.
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................................................................
Nesse sentido, entendo que a declaração expressa no contrato de cessão de crédito tornou-se incondicional, já que o seu cumprimento mostrou-se inviável, em razão do embargo econômico a que aderiu o Brasil [...]. Como consequência do fato do príncipe, o Governo Brasileiro, através da União, tomou para si as responsabilidades contratuais da Mendes Junior junto ao Governo Iraquiano.
................................................................
Dessa forma, não restam dúvidas de que o exequente, Banco do Brasil, na qualidade de titular do créditos cedidos pela Mendes Júnior, relativos ao Governo do Iraque, não pode exigir o seu pagamento, visto que os executados não poderiam mais fazê-lo, a uma porque não são mais titulares do crédito, tendo em vista a cessão realizada e a duas, em decorrência do fato do príncipe ocorrido sem a sua participação (fl. 982/990, passim )
Essas conclusões o Tribunal a quo, porque fundadas na interpretação do
contrato de cessão e na análise do contexto histórico da época, são
incontrastáveis no âmbito desta Corte Superior, em razão do óbice das Súmulas
5 e 7/STJ.
Outra questão controvertida diz respeito à abrangência do contrato de
cessão de créditos, que, segundo o BANCO DO BRASIL, somente alcançaria
débitos anteriores à celebração do contrato.
Nesse ponto, também incide o óbice das Súmulas 5 e 7/STJ, pois o
Tribunal de origem, com base na cláusula quarta e, também, no contexto
histórico do contrato, concluiu que o 'loan agreement ' estaria abrangido pela
cessão de créditos, embora celebrado em data posterior.
A propósito, confira-se o seguinte trecho do acórdão recorrido:
Tais estipulações, certamente, enquadram-se no que estipula o item c da cláusula quarta do contrato de cessão de crédito, no sentido de que os créditos cedidos se destinariam a amortização junto ao Banco, nos novos prazos pactuados, dos valores já emprestados à Mendes Júnior, para solução de problemas de liquidez da empresa, já que
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constou expressamente do contrato de empréstimo excutido a sua destinação para os propósitos empresariais gerais da empresa.
Ademais, da leitura atenta do contrato de empréstimo, verifica-se a estipulação, no tópico 9, denominado de "Conta Corrente para Pagamento dos Empréstimos", em seu item b [...].
.........................................................................
Desta forma, resta patente nos autos, pelos próprios termos do contrato excutido a sua vinculação ao pacto de cessão de créditos, porquanto a que outro título estaria a empresa tomadora obrigada a empenhar esforços e realizar depósitos de valores oriundos das faturas devidas pelo Governo do Iraque na conta criada pelo Banco para pagamento do empréstimo?
Assim, cai por terra a alegação de que não haveria vinculação dos pactos, tendo em vista que a cessão foi firmada em junho de 1989, portanto, em data anterior ao contrato de empréstimo de outubro de 1989, tendo em visa que o mesmo se destinava a amortização junto aos bancos, nos novos prazos pactuados, dos valores já emprestados à Mendes Júnior, para solução de problemas de liquidez da empresa e os próprios termos do 'Loan Agreement', em que a instituição bancária deixa clara a criação de uma conta onde a Mendes Júnior deveria depositar valores auferidos junto ao Governo do Iraque.
Ademais, é a própria exequente quem confirma a vinculação dos contratos, posto que às fls. 226 dos autos da execução, postula seja descontado do créditos excutido o valor de US$ 750.000.000,00 (setecentos e cinquenta mil dólares) que recebeu das Ilhas Mauritânia. (fls. 984 s.)
Estando definido, em razão do óbice das Súmulas 5 e 7/STJ, que a cessão
de créditos tornou-se incondicional e que ela alcançou o loan agreement , resta
analisar a solução processual a ser dada aos embargos à execução.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais julgou procedentes os embargos
para extinguir a execução, sob o fundamento de que os títulos executivos
careceriam de liquidez e certeza.
Porém, no julgamento dos Recursos Especiais n. 203.356/MG,
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203.357/MG e 203.358/MG, em que se discutiu controvérsia semelhante a dos
presentes autos, esta Corte Superior entendeu que não seria cabível extinguir de
plano a execução sem antes fazer-se um encontro de contas para apurar
eventual saldo em favor da parte exequente, pois, caso exista saldo positivo, a
execução deve prosseguir, decotando-se o excesso.
A propósito, confira-se a ementa do acórdão proferido no REsp
203.358/MG, litteris :
Recurso especial. Titulo executivo. Cédula de crédito comercial. Vinculação à cessão de crédito. Matéria de direito. Cálculo aritmético. Prosseguimento da execução.1. Constitui matéria de direito verificar se o título de crédito, contra o qual não se investe quanto a sua regularidade, mas, sim, quanto a uma necessária apuração aritmética, tem, ou não, exigibilidade para sustentar a execução.2. Se o título não contém irregularidade, o ambiente processual adequado para apurar eventual excesso de execução é o patamar dos embargos à execução.3. Recurso especial conhecido e provido, em parte. (REsp 203.358/MG, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, Rel. p/ Acórdão Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/06/2000, DJ 04/09/2000)
Efetivamente, não se pode excluir a possibilidade de a cessão de créditos
não ser suficiente para compensar todo o valor do loan agreement , restando
saldo em favor do banco exequente, sendo de rigor, portanto, a realização do
encontro de contas.
Destarte, o parcial provimento do recurso é medida que se impõe nesse
tópico, seguindo-se a linha adotada no precedente jurisprudencial mencionado.
Ante o exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso
especial apenas para determinar a realização do encontro de contas
perante o juízo de origem.
É o voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2011/0169279-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.280.218 / MG
Números Origem: 20000004099218002 20000004099218003 200601488034 409921802
PAUTA: 18/11/2014 JULGADO: 18/11/2014
RelatorExmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministros ImpedidosExmo. Srs. Ministros : JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. MAURÍCIO DE PAULA CARDOSO
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/AADVOGADOS : JORGE ELIAS NEHME E OUTRO(S)
ALESSANDRO ZERBINI R BARBOSAADVOGADOS : ENEIDA DE VARGAS E BERNARDES E OUTRO(S)
CRISTIANO KINCHESCKI E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADOS : SARA REGINA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
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ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). CRISTIANO KINCHESCKI, pela parte RECORRENTE: BANCO DO BRASIL S/A Dr(a). EDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR, pela parte RECORRIDA: EDIFICADORA S/A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, dando parcial provimento ao recurso especial, pediu vista o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze. Aguarda o Sr. Ministro Moura Ribeiro. Impedidos os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente) e João Otávio de Noronha.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.218 - MG (2011/0169279-7)
VOTO-VENCEDOR
O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE:
Trata-se de recurso especial interposto por Banco do Brasil S.A.,
fundamentado na alínea a do art. 105, III, da Constituição Federal, no bojo de
embargos do devedor, opostos por Edificadora S.A. – empresa da holding Mendes
Júnior Participações S.A. – e outros.
Apesar do percuciente relatório, que abarcou todas as vicissitudes
históricas que circundam a presente lide, gostaria de pontuar as principais ocorrências
do presente processo, necessárias à construção da minha convicção.
Compulsando os autos, verifica-se que os embargos à execução opostos
no primeiro grau de jurisdição tiveram por objeto a pretensão de extinguir execução de
título executivo extrajudicial, proposta pelo recorrente, a fim de obter o pagamento de
45 milhões de dólares consubstanciados em notas promissórias e em contrato de
empréstimo (loan agreement ).
A recorrida, em sua petição de embargos, sustentou a ocorrência da
prescrição dos respectivos títulos de crédito, uma vez que a lei de Nova York,
escolhida pelas partes para fins de regular o referido contrato de empréstimo, não teria
sido juntada à petição inicial do recorrente. Outrossim, ainda que ultrapassada a
preliminar, argumentou a recorrida a ausência de liquidez e certeza dos títulos
executados, porquanto o contrato de financiamento estaria vinculado a um contrato de
cessão de créditos, firmado com o intuito de liquidação das dívidas existentes entre as
partes.
Em sentença, o juízo da 1ª Vara Cível de Belo Horizonte afastou a
prescrição e julgou improcedentes os embargos do devedor, determinando o
prosseguimento da execução.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, à unanimidade, rejeitou as
preliminares reiteradas pela recorrida e, no mérito, deu provimento à sua apelação, em
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acórdão assim ementado (e-STJ fl. 949/950):
EMENTA. EMBARGOS À EXECUÇÃO – PRESCRIÇÃO DOS TÍTULOS – APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA – NULIDADE DE SETENÇA AFASTADA – CONTRATO DE EMPRÉSTIMO E NOTAS PROMISSÓRIAS VINCULADAS A CESSÃO DE CRÉDITO – FATO DO PRÍNCIPE – ILIQUIDEZ E INCERTEZA AFERIDAS – IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO – PROCEDÊNCIA DA INCIDENTAL – HONO´RARIOS ADVOCATÍCIOS FIXAÇÃO – EQUIDADE E MODERAÇÃO. Estabelecendo o título que a Lei de Nova York será aplicada no caso de execução do contrato, devem ser obedecidos os prazos prescricionais da lei estrangeira, o que não atenta contra a ordem pública do nosso país.Não é nula a sentença que contêm os requisitos estampados no artigo 458 do Código de Processo Civil visto que havendo fundamentação, ainda que sucinta, de modo a transparecer as razões da convicção do julgador, não há de se lhe atribuir nuIidade.Verificando-se do contexto histórico que ensejou a emissão dos títulos excutidos, bem como das provas acostadas aos autos que o contrato e notas promissórias que embasaram a demanda executiva encontram-se vinculados a pacto de cessão de crédito e que, ainda, em decorrência de fato do príncipe, o Governo Brasileiro, sub-rogou-se na responsabilidade pelo pagamento dos créditos ali insrildos, ausente a certeza e liquidez exigidos pelo pagamento dos créditos ali inseridos, ausente a certeza e iliquidez exigidos pelo nosso ordenamento como necessários aos títulos que sustentam execução.
Opostos embargos de declaração pelo recorrente e pela recorrida, ambos
foram rejeitados (e-STJ, fl. 1038/1060).
Nas razões do presente recurso especial, o Banco recorrente aponta
violação dos arts. 535 e 596 do CPC, 20, 118, 120 e 1.073 do CC/16.
Sustenta, em síntese:
i) a existência de contradição na fundamentação do acórdão recorrido
quanto à distinção da personalidade jurídica do Banco do Brasil e da União, ora
observada, ora ignorada;
ii) a existência de omissão quanto à tese de que a cessão dos créditos
pertencentes à recorrida consistiam mero reforço de garantia, não extinguindo os
débitos exequendos;
iii) a impossibilidade de se vincular ao contrato de cessão de créditos os
débitos decorrentes de financiamento firmados após a cessão dos créditos, em
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especial, porque vinculados a partes distintas, diferenciando-se o Banco do Brasil e de
seu sócio, a União;
iv) a existência de fato do príncipe teria por consequência jurídica, no
máximo, assegurar o direito à indenização em ação eventualmente movida em face da
União, mas não pode servir de escudo para o descumprimento de obrigação
contratada entre o recorrente e a recorrida, tampouco resultar em exclusão da
condição suspensiva prevista expressamente no contrato;
v) por fim, a conclusão do TJ/MG resultaria, de forma transversa, na
exclusão da responsabilidade do cedente pela existência do crédito cedido.
Oferecidas as contrarrazões (e-STJ, fl. 1156/1186), a recorrida reitera
suas teses acerca da iliquidez e incerteza do título em execução, bem como as demais
preliminares, em especial, quanto à prescrição, suscitada desde a petição inicial dos
embargos.
O relator Min. Paulo de Tarso Sanseverino, conhecendo do recurso
especial, votou no sentido de dar-lhe parcial provimento, a fim de permitir a realização
de um “encontro de contas” para apuração de eventual débito remanescente para
prosseguimento da execução.
Em vista da complexidade das discussões trazidas, pedi vista dos autos
para melhor examinar as questões debatidas.
1. Adequação da tutela jurisdicional. Alegação de violação do art.
535 do CPC.
Todas as alegações trazidas pelo Banco recorrente deixam clara sua
insurgência quanto às conclusões alcançadas pelo Tribunal de origem, não se
identificando no acórdão qualquer omissão ou contradição interna. Isso porque as
contradições suscitadas restringem-se às consequências jurídicas extraídas pelo
Tribunal de origem dos fatos apurados, questões que na verdade se identificam com o
próprio mérito do recurso.
Assim, essas teses serão devidamente analisadas em tópicos específicos
no decorrer do voto, não se verificando, a princípio, qualquer mácula ao art. 535 do
CPC.
Dessarte, acompanho o relator Min. Paulo de Tarso Sanseverino, nesse Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 1 5 de 56
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ponto.
2. Da prescrição.
Antes de se adentrar ao mérito do recurso especial, por tratar-se de
questão preliminar de mérito, arguida desde a petição inicial dos embargos à execução
e devolvida nas contrarrazões, deve-se enfrentar a ocorrência da prescrição, bem
como, para tanto, fixar a validade da legislação aplicada na origem – lei do Estado de
Nova York.
Nesse ponto, sustenta a recorrida que a lei estrangeira não poderia ser
aplicável para fins de se regular o prazo prescricional, porquanto não fora juntada sua
cópia à inicial da execução. Ademais, assevera que, por tratar-se a prescrição de
matéria de ordem pública, não seria passível de convenção quanto ao direito aplicável,
sob pena de violação do art. 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro –
LINDB.
Quanto à imprescindibilidade de juntada da lei estrangeira à petição
inicial da execução de título extrajudicial, nota-se que o Tribunal de origem aplicou à
hipótese o art. 14 da LINDB, segundo o qual cabe ao juiz a faculdade de exigir a
juntada da lei alienígena aplicável.
Quanto à prescrição, tem-se, no caso concreto, o debate acerca de
contratos internacionais de direito privado, uma vez que firmados entre a Mendes
Junior International Company e Banco do Brasil S.A. – Filial de Gran Cayman (e-STJ,
fl. 64), com eleição expressa de que o contrato seria regido e interpretado pelas leis de
Nova York.
Nessas espécies contratuais, é comum a eleição de um direito, por
vezes, alheio a ambas as partes. É inclusive bastante comum a utilização de direitos
de diversos Estados, desmembrando-se o contrato quanto à lei de regência, no que se
denomina doutrinariamente de dépeçage (DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e
prático dos contratos, v. 1. 7ª ed. São Paulo : Saraiva, 2013. p. 694). Assim, se
admite que, em um mesmo contrato, seja aplicada uma multiplicidade de leis, por
exemplo, quanto à capacidade, a lei do Estado de origem das partes; quanto à
transferência de bem imóvel, a lei da situação do imóvel, etc.
Também em âmbito de direito internacional privado, a autonomia da
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vontade, embora não seja absoluta, ganha força e atualmente vem se consolidando,
de modo que se admite ”quase unanimemente que os parceiros de um contrato
internacional têm o direito de designar expressamente a lei que os rege” (STRENGER,
Irineu. Contratos internacionais do comércio. 4ª ed. São Paulo : LTr, 2003. p. 126).
É certo que, à época do julgamento da apelação a que se refere o presente recurso
especial, a admissão da autonomia da vontade quanto à eleição de legislação se
encontrava bem distante de um consenso. Ainda hoje há quem sustente que a LINDB,
ao suprimir do texto legal a menção à autonomia da vontade – prevista historicamente
no art. 13 da Lei de Introdução ao Código Civil de 1916 – teria revogado sua admissão
no direito pátrio.
Contudo, no direito internacional privado, os usos e costumes, a
autonomia da vontade e a força vinculante dos contratos, desde a lex mercattoria ,
tiveram papel central como principal fundamento de solução de conflitos das diferentes
legislações envolvidas.
Nessa ordem de ideias, novos tratados têm se preocupado em consolidar
a aplicação do princípio da autonomia à escolha da legislação. A Convenção de Roma
sobre a Lei Aplicável às Obrigações Contratuais, válida no âmbito da Comunidade
Europeia, por exemplo, estabelece em seu art. 3º: “1. O contrato rege-se pela lei
escolhida pelas partes.” Mais adiante se esclarece, quanto à prescrição, o art. 10 –
âmbito de aplicação da lei no contrato: “a lei aplicável ao contrato por força dos artigos
3º a 6º e do artigo 12 da presente convenção, regula […] a prescrição e a caducidade
fundadas no decurso de um prazo”. (disponível em http://eur-lex.europa.eu/legal-
content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:41980A0934&from=PT).
Além da referida Convenção de Roma, também Convenção da Haia
sobre a Lei Aplicável à Compra e Venda de Mercadoria, de 1986 (art. 7º) e Convenção
Interamericana sobre Direito Aplicável às Obrigações Contratuais, México, 1994 (art.
7º), prevêem a adoção do princípio. Esta última, assinada pelo Brasil, estabelece
expressamente: “o contrato rege-se pelo direito escolhido pelas partes”.
No entanto, deve-se ressalvar que essa convenção, além de não se
encontrar vigente à época do contrato e das notas promissórias ora executados,
excepciona expressamente sua aplicabilidade às obrigações decorrentes de títulos de
crédito.
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No direito interno, a autonomia da vontade quanto à livre escolha do
direito de regência de obrigações contratuais também vem ganhando força desde a
edição da Lei de Arbitragem (Lei n. 9.307/1996), e a possibilidade de livre escolha ou
mesmo de combinação de leis vem sendo admitida com tranquilidade pela doutrina e
jurisprudência nacionais.
É verdade, porém, que essa liberdade contratual no direito internacional
privado sofre limitações em diversos direitos nacionais, como é o caso do direito
brasileiro. E, nesse diapasão, ganha razoável relevância a baliza eleita pelo legislador,
nos termos do art. 17 da LINDB, quanto à imposição de respeito à ordem pública
interna, em especial, quanto ao Estado no qual se levará a julgamento a execução do
contrato, in casu , o Brasil.
Nas palavras do Prof. Irineu Strenger, define-se ordem pública como “[o]
conjunto de normas e princípios que, em um momento histórico determinado, refletem
o esquema de valores essenciais, cuja tutela atende de maneira especial cada
ordenamento jurídico concreto” (op. cit. p. 138), de modo a evitar que “princípios
cardinais do direito interno de cada país sejam profanados ou que interesses
econômicos de um Estado sejam prejudicados” (DOLINGER, Jacob. Direito
internacional privado: parte geral. 6ª ed. ampl. e atual. Rio de Janeiro : Renovar,
2001. p. 419).
Apesar da dificuldade de se qualificar o conceito de ordem pública, não
há dúvidas de que a segurança jurídica é valor extraído da própria Constituição
Federal, e que a prescrição é corolário inegável deste valor, com reflexos significativos
na pacificação de conflitos.
Contudo, a utilização de direito alienígena, o qual, no caso concreto,
disciplina a prescrição – apenas diferenciando-lhe o prazo –, não pode ser tido como
um regramento violador da ordem pública nacional. Noutros termos, a norma eleita não
afastou as consequências de estabilização de demandas pelo decurso do tempo, de
modo que não incidiu em violação do principio da segurança jurídica. Logo, uma vez
que se encontra preservado o instituto da prescrição, não há que se cogitar em ofensa
à ordem pública interna.
Ademais, também é valor tutelado pela ordem jurídica nacional, a
proteção à boa fé e à autonomia da vontade, que impõe aos contratantes a atuação Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 1 8 de 56
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transparente e coerente ao longo da negociação e mesmo após a extinção dos
contratos. Desse modo, tendo em vista que as partes livremente optaram pela
formalização da transação por meio de um contrato internacional, acertando de
comum acordo o afastamento da legislação brasileira e a eleição das leis do estado de
Nova York para regerem o contrato, admitir-se, em execução, o argumento de
inaplicabilidade da lei eleita configura manifesto vernire contra factum proprium , com o
qual a ordem pública não se compatibiliza.
Por último, porém não menos importante, ainda que se cogitasse aplicar
o prazo prescricional brasileiro à hipótese dos autos, deve-se ter em mente que a
execução destina-se à satisfação de crédito instrumentalizado em contrato, com
garantia em notas promissórias. Desse modo, o reconhecimento da prescrição dos
títulos de crédito não afastam a liquidez e certeza e, portanto, a exequibilidade da
obrigação constituída pelo instrumento particular (contrato), assinado pelo devedor e
por duas testemunhas, na forma do art. 585, II, do CPC, com a redação dada pela Lei
nº 8.953, de 13.12.1994 (antes de proposta a presente execução).
Nesse caso, o prazo prescricional aplicável seria o prazo das ações
pessoais então previstos no art. 177 do CC/16, c/c 206, § 3º, e 2.028 do CC/02.
Portanto, a ação proposta em 1995, dentro do lapso de 5 anos do vencimento da
primeira nota promissória, conforme consta da sentença (e-STJ, fl. 855), certamente
não estava prescrita.
3. Delineamento fático.
Conforme se declina na peça recursal, o cerne do debate consiste em
saber se há vinculação entre os contratos firmados entre as partes, sejam eles, o
contrato de cessão de crédito e o posterior contrato de empréstimo, bem como as
consequências decorrentes da não realização da cláusula de condição suspensiva
constante do contrato de cessão de crédito.
O acórdão recorrido, a partir da análise dos contratos e documentos
juntados ao longo da instrução processual, firmou o entendimento de que houve um
primeiro contrato de cessão de créditos firmado pelo Banco recorrente e pela empresa
recorrida.
Com efeito, do que se extrai do acórdão, apesar de o contrato de
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empréstimo ter sido firmado após o contrato de cessão de crédito, no qual se fez
referência expressa a dívidas anteriores da cedente recorrida, o Tribunal vinculou
ambos os contratos, com os seguintes fundamentos (e-STJ, fl. 984/985):
Ademais, da leitura atenta do contrato de empréstimo, verifica-se a estipulação, no tópico 9, denominado e "Conta Corrente para Pagamento dos Empréstimos", em seu item b, que merece a devida atenção e compreensão, qual seja:"A - O Banco deverá estabelecer e manter em seus livros uma conta corrente especial remunerada com juros designada de "Conta Corrente do Especial Remunerada da Mendes Júnior International Company” (a 'Conta Corrente para Pagamento dos Empréstimos') para receber e manter os fundos em dólares. De tempos em tempos, o Tomador deverá depositar, ou dirigir depósitos de fundos em dólares, na Conta Corrente para reembolsos. B – Sem limitar as outras obrigações do Tomador sob este contrato, o mesmo empenhará os seu melhores esforços para fazer com que fundos, num valor agregado de até US$45,900,000.00 devidos pelo Governo do Iraque por faturas aprovadas e não pagas ou retidas por contratos e devidas ao tomador, sejam depositadas na conta corrente para pagamento de empréstimos" (fl. 73).Desta forma, resta patente nos autos, pelos próprios termos do contrato excutido a sua vinculação ao pacto de cessão de créditos, porquanto a que outro título estaria a empresa tomadora obrigada a empenhar esforços e realizar depósitos de valores oriundos das faturas devidas pelo Governo do Iraque na conta criada pelo banco para pagamento do empréstimo?
Da mesma forma, assentou o TJ/MG a existência de cláusula contratual
na referida cessão de créditos, a qual subordinava a eficácia do negócio jurídico ao
reconhecimento e pagamento das dívidas pelo Governo do Iraque.
Por fim, encontra-se incontroverso nos autos que a adesão do Brasil ao
embargo econômico ao Iraque, impossibilitou a realização da condição expressa no
contrato de cessão de créditos.
Esses fatos encontram-se perfeitamente fixados no acórdão de origem e
não podem ser revistos nessa estreita via especial, conforme consubstanciado nos
enunciados n. 5 e 7, ambos da Súmula do STJ. Desse modo, não conheço do recurso
especial quanto à alegação de violação dos arts. 20 do CC/16 e 596 do CPC.
Contudo, com a devida vênia do Relator Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, entendo que as consequências jurídicas daí extraídas é matéria
estritamente de direito, sujeitas pois à apreciação desta Corte Superior.
Nessa ordem de ideias, impõe-se perquirir: i) quais os efeitos advindos da
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não realização da cláusula de condição suspensiva para a eficácia do contrato de
cessão de crédito; e ii) quais os efeitos que daí espraiam para o posterior contrato de
empréstimo vinculado ao primeiro contrato, em especial, quanto à liquidez e certeza
desse título e das notas promissórias a ele vinculadas.
Aliás, salienta-se que os precedentes desta Turma, citados pelo Relator
Min. Paulo de Tarso Sanseverino em seu voto (Recursos Especiais n. 203.356/MG,
203.357/MG e 203.358/MG), não representam um entendimento consolidado acerca
da situação concreta nos autos. Isso porque se adotou o voto médio proferido pelo
Min. Menezes Direito, em razão do impasse na votação. Na ocasião, de um lado, o
relator natural Min. Waldemar Zveiter, acompanhado do Min. Nilson Naves,
manifestou-se no sentido de não conhecer dos recursos, ante a aplicação dos óbices
materializados nos enunciados n. 5, 7 e 83 da Súmula do STJ. De outro lado, o Min.
Ari Pargendler inaugurou a divergência, a qual aderiu também o Min. Eduardo Ribeiro,
para entender pela exequibilidade dos títulos então sub judice .
4. Fato do Príncipe e suas consequências jurídicas. Alegação de
violação dos arts. 118, 120 e 1.073 do CC/16.
Inicialmente, entendeu o acórdão recorrido que, apesar da contratação
expressa de condição suspensiva ao contrato de cessão de crédito, sua realização
fora obstada por ato da União, em exercício da soberania, o que ensejaria o
reconhecimento da existência de fato do príncipe.
Com efeito, é questão fática o reconhecimento de que a edição do
Decreto n. 99.441/1990 obstou a realização da condição suspensiva prevista pelas
partes no contrato de cessão de crédito. No entanto, a questão controvertida
transborda a mera discussão acerca da concretização ou não do fato do príncipe,
impondo-se na verdade a verificação das consequências advindas da não
concretização da referida cláusula.
De forma bem simplificada e em harmonia com a doutrina atual, o
professor Fernando Noronha sintetiza o fato do príncipe como “a imposição de
autoridade que tenha gerado dano” (in Direito das Obrigações. 3ª ed. rev. E atual.
São Paulo : Saraiva, 2010. p. 650). Essa teoria tem por finalidade precípua apresentar
solução para a responsabilidade decorrente de fatos danosos que tenham em sua
origem uma imposição administrativa sofrida pelos particulares contratantes. Assim, Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 2 1 de 56
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se, de um lado, vincula-se o dano à causa de imposição do Estado, reconhecendo a
possibilidade de sua responsabilização; de outro lado, o fato do príncipe resulta em
rompimento do liame necessário entre o resultado danoso e a conduta do particular.
Em disputas entre particulares, portanto, a questão se resolve pelo
reconhecimento da existência de força maior, a qual, ao gerar a absoluta
impossibilidade de cumprimento do contrato, deve restituir as partes contratantes ao
status quo ante . Noutros termos, diante da existência de uma causa externa,
imprevisível e irresistível, emanada da Administração Pública, o direito não impõe a
qualquer das partes privadas o suporte exclusivo dos prejuízos daí advindos.
Esse raciocínio foi também utilizado por esta Corte Superior em outros
precedentes, nos quais se verificou a impossibilidade de qualquer das partes suportar
exclusivamente os resultados negativos de atos de governo. Nesse sentido:
CIVIL. PROPOSTA PARA COMPRA DE IMOVEL A PRAZO. ACEITAÇÃO. ARRAS. SUPERVENIENCIA DE LAMENTAVEL PLANO ECONOMICO. CESSAÇÃO DO PAGAMENTO DAS PRESTAÇOES PELOS PROPONENTES. FORÇA MAIOR (FACTUM PRINCIPIS ). EFEITOS: EXTINÇÃO DO VINCULO CONTRATUAL E DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. INAPLICABILIDADE DA TEORIA DA IMPREVISÃO. NÃO INCIDENCIA DO DISPOSTO NO ART. 12 DA LEI 8024/90. AUSENCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 1056 E 1097, CC. RECURSO DESACOLHIDO.I - O advento de plano econômico, que impôs o bloqueio e indisponibilidade da grande massa de dinheiro existente no mercado, impossibilitando o cumprimento, nas condições e prazos avençados, das promessas de compra e venda de imóveis celebradas e que previam prazo de pagamento para além de 180 dias, por parte de compromissários-compradores que contavam com recursos de poupança ou de outras aplicações financeiras para saldar as prestações assumidas, caracterizando a medida governamental factum principis , e de ser considerado como força maior motivadora da dissolução do vinculo contratual, impondo-se, em consequência o retorno ao status quo ante , com devolução das parcelas pagas, de molde a evitar o enriquecimento sem causa.(REsp 42.882/SP, Rel. Min. Salvio de Figueiredo Teixeira, Quarta Turma, DJ 8/5/1995, p. 12395)
Nessa trilha, tem-se que os créditos cedidos pela recorrida ao Banco do
Brasil não poderiam ser cobrados do governo iraquiano. Esse fato, por si só, já seria
suficiente para se concluir que as partes, Banco do Brasil e Mendes Júnior
Participações S.A., deveriam retornar a situação antecedente à formalização do
contrato, não se concluindo a referida cessão do crédito.
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Esse mesmo resultado seria alcançado se se partisse de premissa
diversa, qual seja, a de que havia uma cláusula de condição suspensiva no referido
contrato de cessão, porém não concretizada. Pois bem, não implementada a condição
suspensiva, por qualquer outro fundamento que não a ocorrência do fato do príncipe, o
direito objeto do negócio jurídico a ela subordinado não alcança a eficácia;
transportando esse raciocínio para a situação concreta dos autos, tem-se que o crédito
não seria efetivamente cedido. E nem se argumenta que a cláusula condicional, ante
sua impossibilidade, seria tida por inexistente.
Ora, se há impossibilidade de realização da condição suspensiva na
hipótese dos autos, esse impossibilidade é jurídica, e não física ou material. Assim,
nos termos do art. 116 do CC/16, o resultado também por essa via será o
reconhecimento da invalidade do negócio condicionado, devendo as partes serem
restituídas ao status quo ante . Veja-se a regra vigente à época: “Art. 116. As condições
fisicamente impossíveis, bem como as de não fazer coisa impossível, têm-se por
inexistentes. As juridicamente impossíveis invalidam os atos a elas
subordinados.”
Daí deve-se concluir que, seja em razão do fato do príncipe ou não, a
ausência de concretização da condição importa, in casu , na absoluta ineficácia da
cessão do crédito. Por óbvio, não se está aqui afastando eventual relação de
responsabilidade da União na condução e construção de uma solução para uma
contenda histórica e política, que envolve de um lado a empresa brasileira e, de outro,
o Estado do Iraque. Entretanto, do ponto de vista jurídico, a conclusão deve ficar
restrita à aplicação da regra que, afinal, existia de forma clara à época dos eventos.
Por sua vez, afastada a eficácia do contrato de cessão de crédito, cai por
terra também a discussão quanto a sua vinculação ao contrato de empréstimo. Este
não se subordinando a qualquer condição, foi realizado e aperfeiçoado, com a
incontroversa transferência dos valores contratados. Vale ressaltar que, nos
embargos à execução, não houve qualquer impugnação à disponibilização efetiva dos
valores contratados a título de empréstimo, argumento este suscitado inoportunamente
em contrarrazões ao recurso especial (e-STJ, fl. 1181).
De toda sorte, reconhecendo as partes que, em razão de um evento
externo, imprevisto e irresistível (fato do príncipe), também este contrato teve seu
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adimplemento impedido, igualmente aqui seria aplicável a excludente da força maior, a
fim de resolver o contrato com a restituição das partes ao status quo ante , o que
significa, restituir os valores objeto do contrato de empréstimo.
Desse modo, não há dúvida quanto à existência do título que
consubstancia a obrigação (contrato de empréstimo), à quantidade de bens que é
objeto da obrigação (valor objeto do empréstimo), ou ao momento em que deveria ter
sido adimplida a obrigação. Tem-se, portanto, preenchidos os requisitos de
exequibilidade pelo contrato exequendo, requisitos estes que não são afastados
mesmo diante da oposição de embargos à execução.
Isso porque os embargos à execução, a despeito de inaugurar o
conhecimento amplo da demanda, com oportunidade de dilação probatória, e
constituírem a mais ampla e vigorosa via defensiva, podem corrigir os valores do título,
sem qualquer prejuízo ao prosseguimento da execução (DINAMARCO, Cândido
Rangel. Instituições de direito processual civil, v. IV. 3ª ed. São Paulo : Malheiros,
2009. p. 748). Aliás, de forma coerente, esta Corte Superior tem entendimento
tranquilo de que sequer a procedência de ação revisional de contrato afasta a
exequibilidade do título. Nesse sentido:
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL.EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. AÇÃO REVISIONAL JULGADA PROCEDENTE. LIQUIDEZ DO TÍTULO DA EXECUÇÃO.READEQUAÇÃO. PRECEDENTES.1. Não retira a liquidez do título possível julgamento de ação revisional do contrato originário, demandando-se apenas a adequação da execução ao montante apurado na ação revisional.2. Agravo regimental não provido.(AgRg nos EDcl no REsp 1210535/RS, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 11/09/2014)
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ACOLHIDOS, COM EFEITOS INFRINGENTES, A FIM DE CONHECER DO AGRAVO REGIMENTAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. ALTERAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS POR OCASIÃO DA PROCEDÊNCIA DA AÇÃO REVISIONAL. LIQUIDEZ DO TÍTULO. PRECEDENTES.1. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos infringentes, para o fim de reconsiderar a decisão que não conheceu do agravo regimental, procedendo-se à análise do agravo interno.2. Consoante jurisprudência desta Corte, a ação revisional não retira o requisito de liquidez do título exequendo, apenas impondo adequação da execução ao montante apurado na revisional.
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3. Embargos de declaração acolhidos com efeitos infringentes para negar provimento ao agravo regimental.(EDcl no AgRg no Ag 1006795/RS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 06/06/2013, DJe 28/06/2013)
Diante desse contexto, sob qualquer prisma que se enfoque a questão
dos autos, tem-se por inafastáveis os requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade do
título extrajudicial executado.
Por fim, ressalva-se que, resolvida a contenda extrajudicial,
aparentemente sob condução da União perante o governo iraquiano, caberá à
recorrida, após o pagamento dos débitos, o recebimento dos créditos recuperados.
À vista do exposto, com as mais honrosas vênias ao relator Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, voto no sentido de conhecer parcialmente do recurso especial e,
nesta parte, dar-lhe provimento para restabelecer a sentença de primeiro grau de
jurisdição, que julgou improcedentes os embargos e determinou o prosseguimento da
execução.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2011/0169279-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.280.218 / MG
Números Origem: 20000004099218002 20000004099218003 200601488034 409921802
PAUTA: 18/11/2014 JULGADO: 18/12/2014
RelatorExmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministros ImpedidosExmo. Srs. Ministros : JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/AADVOGADOS : JORGE ELIAS NEHME E OUTRO(S)
ALESSANDRO ZERBINI R BARBOSAADVOGADOS : ENEIDA DE VARGAS E BERNARDES E OUTRO(S)
CRISTIANO KINCHESCKI E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADOS : SARA REGINA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
AFFONSO HENRIQUES PRATES CORREIA E OUTRO(S)EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃOEDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze, divergindo do voto do Sr. Ministro Relator, conhecendo em parte do recurso especial e, nesta parte, dando provimento, pediu vista o Sr. Ministro Moura Ribeiro.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.218 - MG (2011/0169279-7)RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINORECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A ADVOGADOS : JORGE ELIAS NEHME E OUTRO(S)
ALESSANDRO ZERBINI R BARBOSA ADVOGADOS : ENEIDA DE VARGAS E BERNARDES E OUTRO(S)
CRISTIANO KINCHESCKI E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADOS : SARA REGINA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
AFFONSO HENRIQUES PRATES CORREIA E OUTRO(S) EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO EDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR
VOTO-VISTA
O EXMO. SENHOR MINISTRO MOURA RIBEIRO:
Trata-se de recurso especial interposto por BANCO DO BRASIL S.A.
com base no art. 105, III, a, da CF, contra acórdão do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais que deu provimento aos recursos de apelação interpostos pelos
devedores-embargantes, aqui recorridos, para julgar procedentes os embargos à
execução opostos assim ementado:
EMBARGOS À EXECUÇÃO - PRESCRIÇÃO DOS TÍTULOS -
APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA - NULIDADE DE SENTENÇA
AFASTADA - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO E NOTAS
PROMISSÓRIAS VINCULADAS A CESSÃO DE CRÉDITO - FATO
DO PRÍNCIPE - ILIQUIDEZ E INCERTEZA AFERIDAS -
IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO -
PROCEDÊNCIA DA INCIDENTAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
FIXAÇÃO - EQÜIDADE E MODERAÇÃO.
Estabelecendo o título que a Lei de Nova York será aplicada no caso
de execução do contrato, devem ser obedecidos os prazos
prescricionais da lei estrangeira, o que não atenta contra a ordem
pública do nosso país.
Não é nula a sentença que contém os requisitos estampados no
artigo 458 do Código de Processo Civil, visto que havendo
fundamentação, ainda que sucinta, de modo a transparecer as
razões da convicção do julgador, não há de se lhe atribuir nulidade.
Verificando-se do contexto histórico que ensejou a emissão dos
títulos excutidos, bem como das provas acostadas aos autos que o
contrato e notas promissórias que embasaram a demanda executiva
encontram-se vinculados a pacto de cessão de crédito e que, ainda,
em decorrência de fato do príncipe, o Governo Brasileiro,
sub-rogou-se na responsabilidade pelo pagamento dos créditos ali
inseridos, ausente a certeza e liquidez exigidos pelo nosso
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ordenamento como necessários aos títulos que sustentam execução.
Os honorários advocatícios fixados em razão da sucumbência estão
adstritos a critérios de valoração delineados na lei processual, quais
sejam, o grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a
natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço, sendo que, em se tratando de
embargos à execução de grande complexidade em que a tramitação
do feito se arrastou por vários anos e, ainda, que não houve
condenação, justifica-se que essa verba seja arbitrada em valor
certo, em conformidade com a realidade traçada nos autos (e-STJ,
fls. 949/950).
Na origem, o Banco do Brasil S.A. ajuizou Execução de Título
Extrajudicial em face de Edificadora S.A.; Mendes Júnior Participações S.A.
Mendespar; Jésus Murillo Valle Mendes e sua mulher Lúcia Andrade Mendes; Marcos
Valle Mendes e sua esposa Helvécia Guimarães Mendes; Alberto Laborne Valle
Mendes e sua mulher Edwirges Alves Mendes; e, Sânzio Valle Mendes e sua esposa
Maria Beatriz da Cunha Mendes, objetivando receber o valor de US$69,749,373.39
(sessenta e nove milhões, setecentos e quarenta e nove mil, trezentos e setenta e três
dólares e trinta e nove centavos) equivalente ao câmbio do dia 20.10.95 a
R$67.064.022,51 (sessenta e sete milhões, sessenta e quatro mil, vinte e dois reais e
cinqüenta e um centavos) em razão da garantia, representada por fiança e aval nas
notas promissórias emitidas por Mendes Júnior International Company, tomadora do
crédito, vinculadas ao Acordo de Empréstimo (Loan Agreement) de US$45.000.000,00
(quarenta e cinco milhões de dólares dos Estados Unidos da América) celebrado em
04.10.1989 .
Após a garantia do juízo, os devedores-embargantes, aqui recorridos,
apresentaram embargos à execução, no qual sustentaram a prescrição das notas
promissórias executadas, conforme disposto no art. 70 da Lei Uniforme; ausência de
liquidez dos títulos executados, por terem sido extintos em razão de contrato de
cessão de crédito celebrado com o banco-embargado, aqui recorrente, para quitar as
dívidas do Grupo Mendes Júnior; e, ainda, que o crédito contratado no Loan
Agreement foi garantido pelo Instituto de Resseguros do Brasil, sendo o beneficiário o
Banco do Brasil S.A., que não exerceu os seus direitos de credor garantido, pelo que
também por esta razão o débito está extinto.
O MM. Juiz de primeiro grau rejeitou as preliminares suscitadas pelos
devedores-embargantes, aqui recorridos, e, no mérito, julgou improcedentes os
embargos.
O Tribunal de origem, por sua vez, deu provimento aos recursos
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interpostos pelos devedores-embargantes, aqui recorridos, para
[...] reconhecer que os títulos exeqüendos estão vinculados ao
contrato de cessão de crédito firmados entre Banco do Brasil e
Mendes Júnior S/A, o que lhes retira a liquidez e certeza, não se
apresentando, por isso, como títulos hábeis a ensejar a execução,
devendo os embargos serem julgados procedentes, invertendo-se,
em conseqüência, os ônus sucumbenciais consignados na sentença,
devendo a parte embargada responder pelo pagamento das custas
processuais honorários advocatícios, que, nesta oportunidade, fixo
em R$20.000,00 (vinte mil reais) [e-STJ, fl. 995].
Embargos de declaração opostos e rejeitados (e-STJ, fls. 1.038/1.060).
Nas razões do recurso especial (e-STJ, fls. 1.095/1.111), o
banco-embargado, aqui recorrente, afirma, em preliminar, que está configurada ofensa
ao art. 535, I e II, do CPC, por não ter a Corte de origem, a despeito de instada a
fazê-lo por meio de embargos de declaração, sanado omissão acerca do
[...] fato de o ora recorrente (banco-embargado) agir em nome da
União por força do disposto no art. 19 da Lei nº 4.595/64, bem como
por ter o Tribunal mineiro concluído que, de um lado, a obrigação
tornou-se incondicional, por ter desaparecido a condição suspensiva
inserta no contrato, a partir da adesão do Brasil ao embargo
comercial da ONU ao Iraque e, de outro, que as cedentes não teriam
mais responsabilidade pela cessão, a partir da edição do Dec.
99.441/90.
Prosseguindo, assevera que estão malferidos os arts. 20, 118, 120 e
1.073, todos do CC/16; 586 do CPC; e, 19, I, f, c/c VII, da Lei nº 4.595/64, sob a
alegação de que é impossível atrelar a cessão de crédito ao título exequendo, por se
tratar de dois negócios jurídicos distintos; que não há como se confundirem as
pessoas jurídicas da União e Banco do Brasil S.A. e, por essa razão, contra a Mendes
Júnior ele poderia e pode fazer uso dos remédios judiciais para haver os seus créditos
(e-STJ, fl. 1.107); além de destacar a inocorrência do fato do príncipe.
Requer o provimento do apelo raro para afastar a vinculação entre os
títulos que deram origem à execução e o Contrato de Cessão juntado pelas recorridas,
reconhecendo-se, assim, a certeza e exigibilidade da dívida exequenda, com a
consequente improcedência dos embargos à execução (e-STJ, fls. 1.111).
Foram apresentadas as contrarrazões (e-STJ, fls. 1.156/1.186), nas
quais os devedores-embargantes reforçaram a preliminar da prescrição e, no mérito,
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reiteraram suas teses referentes à iliquidez e à incerteza do título executivo.
Na sessão de julgamento realizada aos 18/11/2014, o em. Ministro
Relator apresentou seu voto no sentido de dar parcial provimento ao apelo raro apenas
para determinar a realização do encontro de contas perante o juízo de origem porque
[...] no julgamento dos Recursos Especiais n. 203.356/MG,
203.357/MG e 203.358/MG, em que se discutiu controvérsia
semelhante a dos presentes autos, esta Corte Superior entendeu
que não seria cabível extinguir de plano a execução sem antes
fazer-se um encontro de contas para apurar eventual saldo em favor
da parte exequente, pois, caso exista saldo positivo, a execução
deve prosseguir, decotando-se o excesso.
E,
[...] Efetivamente, não se pode excluir a possibilidade de a cessão de
créditos não ser suficiente para compensar todo o valor do loan
agreement, restando saldo em favor do banco exequente, sendo de
rigor, portanto, a realização do encontro de contas.
O em. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, após pedido de vista,
divergiu, na sessão aos 18/12/2014, para conhecer parcialmente do recurso especial
e, nesta parte, dar-lhe provimento para restabelecer a sentença de primeiro grau de
jurisdição, que julgou improcedentes os embargos e determinou o prosseguimento da
execução . Asseverou que afastada a eficácia do contrato de cessão de crédito, cai por
terra também a discussão quanto a sua vinculação ao contrato de empréstimo .
Ao concluir, destacou que, sob qualquer prisma que se enfoque a
questão dos autos, tem-se por inafastáveis os requisitos de liquidez, certeza e
exigibilidade do título extrajudicial executado.
Após tal voto, pedi vista para melhor pensar sobre o caso.
O núcleo do tema é definir se há, ou não, título certo e exigível.
Inicialmente, observa-se que não se viabiliza o recurso especial pela
indicada violação do art. 535 do CPC. Isso porque, embora rejeitados os embargos de
declaração opostos, a matéria em exame foi devidamente enfrentada pelo Tribunal de
origem, que emitiu pronunciamento de forma fundamentada, sustentando que 1) a
distinção entre as personalidades jurídicas da União e do Banco do Brasil S.A. é
irrelevante na espécie, porque foi este que sucedeu a Mendes Júnior Engenharia S.A.
na titularidade dos créditos oponíveis ao Iraque, tanto que foi o Banco do Brasil quem
nomeou a Petrobrás como sua mandatária ; e, 2) o implemento da condição suspensiva Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 3 0 de 56
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ficou prejudicado pelo "fato do príncipe", afirmando ainda que o banco embargado
deve obediência aos atos de autoridade e aos seus efeitos e que não se está a afirmar
que o Banco do Brasil não tem direito ao crédito, mas que não pode exigi-lo da
Mendes Júnior (e-STJ, fls. 1.044/1.046).
Além disso, basta ao órgão julgador declinar as razões jurídicas que
embasaram a decisão, como fez, não sendo exigível que se reporte de modo
específico a determinados preceitos legais.
Desse modo, é de se afastar a alegada violação do art. 535 do CPC.
Nesse sentido, veja-se o seguinte precedente desta Terceira Turma:
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RECURSO INCAPAZ DE
ALTERAR O JULGADO. PREVIDÊNCIA PRIVADA. ANTECIPAÇÃO
DE TUTELA. REVOGAÇÃO. IRREPETIBILIDADE. VERBA
ALIMENTAR. SÚMULA Nº 83/STJ. INCIDÊNCIA.
JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA
DE VIOLAÇÃO. SÚMULA Nº 126/STJ. APLICAÇÃO.
Omissis.
3. Não subsiste a alegada ofensa ao artigo 535 do CPC, pois o
tribunal de origem enfrentou as questões postas, não havendo
no aresto recorrido omissão, contradição ou obscuridade.
4. Omissis.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl no AREsp nº 101.836/RS, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, Terceira Turma, DJe 5/9/2014)
Antes ainda de adentrar no mérito, passo a analisar, em preliminar, a
suscitada prescrição dos títulos extrajudiciais.
A cláusula 25 do denominado Loan Agreement estabelece que este
Contrato e as Notas Promissórias serão regidos e interpretados de acordo com as Leis
do Estado de Nova York e que
Em relação com quaisquer medidas judiciais no Brasil relacionadas
com este Contrato, o Tomador (Mendes Júnior S.A. e outros), pela
presente, reconhece que qualquer demanda, ação ou medida judicial
no que diz respeito a este Contrato e Notas Promissórias poderá ser
levado a qualquer tribunal localizado na Republica Federativa do
Brasil ou qualquer tribunal estadual ou federal localizado no Estado
de Nova York, e o Tomador, pela presente se submete à jurisdição
não exclusiva dos referidos tribunais em relação com qualquer
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demanda, ação ou medidas judiciais, e por este, renuncia a
reivindicar que tal demanda, ação ou medida judicial foi levada a um
foro inconveniente (e-STJ, fl. 98).
Os aqui recorridos aduziram que não se poderia aplicar a Lei de Nova
Iorque no que tange à prescrição porque, por se tratar de questão de ordem pública,
tal incidência afrontaria o art. 17 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
O referido dispositivo dispõe que as leis, atos e sentenças de outro
país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil,
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública , isto é, o conjunto de
princípios jurídicos e morais pelos quais se orienta a sociedade em determinado
momento, e os bons costumes . Ou seja, esta norma estabelece a inaplicabilidade do
direito estrangeiro quando ele for incompatível com a ordem pública brasileira.
Em que pese a dificuldade doutrinária para se definir ordem pública, a
meu sentir, no caso concreto, não há que se falar em ofensa na aplicação das leis do
Estado de Nova Iorque porque mais benéfico ao credor o prazo prescricional.
Conforme ressaltado pelo professor Doutor JACOB DOLINGER:
A doutrina brasileira de direito internacional privado, na sua
unanimidade, defende que a prescrição extintiva deve ser regida
pela mesma lei que rege a substância do ato e entende que a ordem
pública no direito internacional não impede a aplicação de lei
estrangeira que estabeleça prazo diverso daquele fixado pela lei
brasileira.
[...]
Não fere a ordem pública do direito internacional privado brasileiro a
aplicação de lei estrangeira que estabeleça prazo prescricional mais
longo daquele adotado na lei brasileira (e-STJ, fls. 786/787).
Além disso, conforme salientado pelo em. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, em seu voto-vista, também é valor tutelado pela ordem jurídica nacional, a
proteção à boa fé e à autonomia da vontade, que impõe aos contratantes a atuação
transparente e coerente ao longo da negociação e mesmo após a extinção dos
contratos.
Daí por que deve ser privilegiado o livremente acordado entre as
partes que afastaram a legislação brasileira e elegeram as leis do Estado de Nova
Iorque para reger o contrato, presente, portanto, a não ocorrência de ofensa à ordem
pública.
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Quanto ao mérito, após análise dos presentes autos, constato que o
contrato de empréstimo (loan agreement ) em execução não está vinculado a nenhum
outro documento que lhe possa tirar a força executiva.
Nesse contexto, é de grande valia breve digressão dos fatos para
exata compreensão da quaestio , especialmente do contexto político e econômico do
País à época em que a devedora Mendes Júnior passou a trabalhar no Iraque, de
modo a situar o débito exequendo.
Esse cenário se estabeleceu no início da década de 70, quando o
preço do petróleo subiu demasiadamente no mercado mundial, ocasionando a primeira
grande crise, em 1973, derivada de protesto pelo apoio prestado pelos Estados Unidos
a Israel durante a Guerra do Yom Kippur, tendo os países árabes organizados na
OPEP aumentado o preço daquela matéria prima em mais de 300%. Isso, prejudicou
sobremaneira países como o Brasil, dependentes da importação daquele produto,
sendo que o seu maior fornecedor à época era o Iraque.
Diante dessa situação, o governo brasileiro decidiu priorizar a
exportação de bens e serviços para o Iraque, de maneira que também houvesse uma
dependência daquele país em relação às nossas exportações, garantindo, assim, o
imprescindível e estratégico fornecimento de petróleo e seus derivados ao povo
brasileiro e, ao mesmo tempo, consolidando a balança comercial.
Como pontapé inicial, foi celebrado o Acordo de Cooperação
Econômica e Técnica Brasil-Iraque, subscrito em 11/5/1977, devidamente aprovado
pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 117, de 12/12/1977, e
ratificado pela Presidência da República, pelo Decreto nº 81.136, de 29/12/1977.
Com isso, a Mendes Júnior foi convidada a participar, a partir de 1978,
da execução de obras de grande porte e complexidade no Iraque, especialmente do
projeto ferroviário daquele país (Ferrovia Bagdá-Al Q'Aim-Akashat, com 550 km de
extensão).
Além da ferrovia, a ação coordenada do governo brasileiro possibilitou
a execução de duas outras grandes obras pela Mendes Júnior, totalizando US$ 2,1
bilhões, tendo a execução de tais obras gerado, em contrapartida, ingresso de divisas
no Brasil em cerca de US$ 1,0 bilhão (e-STJ, fl. 121).
Durante toda a atuação da Mendes Júnior no Iraque perdurou o
relacionamento entre os governos brasileiro e iraquiano, que a partir de setembro de
1980 se viu em guerra como o Irã, o que comprometeu suas reservas, tornando-se
inadimplente com as suas obrigações financeiras internacionais.
Assim, em 1983, a Mendes Júnior, com o auxílio do governo brasileiro,
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apresentou ao governo iraquiano a reivindicação de pagamento dos custos
extraordinários ocorridos na execução de obras naquele país, causados pela guerra
com o Irã.
A ocorrência de custos adicionais foi reconhecida pelos dois governos
que, mediante a criação de um comitê Ad Hoc, firmaram aos 15/5/1984 acordo relativo
à forma de compensação a ser feita, que estabelecia a adjudicação de três outras
obras à Mendes Júnior.
Entretanto, o empreendimento ruiu porque o Iraque não o
implementou, o que levou ao agravamento da situação financeira da Mendes Júnior.
Segundo a construtora, a parte não implementada do acordo deu
ensejo a indenização equivalente a US$ 217,2 milhões. Ainda, além dos custos
extraordinários decorrentes da guerra, a Mendes Júnior se viu obrigada a incorrer em
gastos adicionais de natureza extremamente diversificada, no montante de US$ 199,7
milhões (e-STJ, fl. 123), totalizando US$ 416,9 milhões.
Em face disso, outra alternativa não restou à Mendes Júnior senão a
paralisação das obras que desenvolvia no Iraque, fato ocorrido em dezembro de 1987,
afetando o relacionamento entre os dois países. Por conseguinte, o governo do Iraque
começou a pressionar o governo brasileiro para retomada das obras, valendo-se, para
tanto, da dependência brasileira em relação ao petróleo iraquiano.
Do esforço governamental para garantir o suprimento de petróleo no
País e também para resolver as pendências da Mendes Júnior no Iraque, foram
aprovadas as seguintes proposições, extraídas da carta denominada PRES-1077-88,
de lavra do Presidente da Petrobrás, encaminhada ao então Ministro de Estado das
Minas e Energias, Dr. Antônio Aureliano Chaves de Mendonça, datada de 15 de
agosto de 1988:
a) absorção, pelo Governo Brasileiro, da indenização devida à
Mendes Júnior no contexto de suas operações no Iraque
subrogando-se o primeiro nos direitos e obrigações da mencionada
empresa sob os respectivos contratos celebrados naquele país,
absorção esta a ser efetivada através de mecanismos a serem
desenvolvidos pelo Governo Brasileiro, para lastrear essa decisão
através da confirmação dos valores reclamados pela Mendes Júnior,
é conveniente a contratação de consultores internacionais
independentes;
b) que o Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil S.A. adotem
medidas de recomposição dos compromissos a descoberto da
Construtora Mendes Júnior, de forma a restabelecer níveis
adequados à liquidez da empresa;
c) que seja desenvolvida estratégia para prosseguir os
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entendimentos diretos exclusivamente entre os dois Governos sobre
as questões relacionadas com o contencioso que envolve a Mendes
Júnior, visando ao ressarcimento da indenização originalmente
devida à referida empresa;
d) que tendo em vista a adoção das medidas sugeridas nos itens a,
b e c, seja implementado o Protocolo Comercial de 07-12-87,
visando sobretudo a evitar o rompimento dos vínculos de natureza
comercial com o Iraque e a conseqüente perda de mercado (e-STJ,
fls. 125/126).
Como fruto, foi celebrado o Contrato de Cessão de Créditos realizado
entre a Construtora Mendes Júnior S.A., em conjunto com a sua coligada Mendes
Júnior International Company e o Banco do Brasil S.A. (e-STJ, fls. 157/165), firmado
aos 28 de julho de 1989, com as seguintes considerações:
- que a Construtora Mendes Júnior S.A. em conjunto com sua
coligada Mendes Júnior International Company (sendo ambas as
empresas a seguir denominadas conjuntamente 'MENDES
JÚNIOR'), desenvolveu relevantes operações de exportação de bens
e serviços para o Iraque, operações estas que se viram afetadas em
conseqüência da guerra Irã-Iraque;
- a proposição da PETROBRÁS - Petróleo Brasileiro S.A. contida
na Carta PRES-1077/88 de 15.08.88, aprovada pelo
Excelentíssimo Senhor Presidente da República em 17.08.88, no
sentido de que o Governo Federal absorva a indenização devida
à MENDES JÚNIOR no contexto de suas operações no Iraque,
subrogando-se nos direitos e obrigações das mencionadas
empresas decorrentes dos respectivos contratos celebrados
naquele país ;
- que conforme enfatizado na mencionada carta nas atuais
circunstâncias é plenamente justificada a intenção do Brasil de
prosseguir na política de incremento da exportações para o Iraque,
tornando-se para isso indispensável o equacionamento do
contencioso derivado das operações da MENDES JÚNIOR que se
tem constituído em entrave à implantação de novos negócios
naquele país;
- que para instrumentar a absorção acima citada, ficou resolvido
fazer-se ao Banco do Brasil S.A., em nome do governo brasileiro, a
cessão dos créditos referentes à indenização devida à MENDES
JÚNIOR, e, proceder-se à verificação da existência de tais créditos
por consultores internacionais, obrigando-se a MENDES JÚNIOR a
acertar o resultado das conclusões dos referidos consultores;
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- que os consultores internacionais independentes ARTHUR
ANDERSON S/C, com matriz na cidade de Genebra, Suíça e
THOMAS AKROYD CONSULTANTS, com sede na cidade de
Londres, Inglaterra, ambos aceitos pelo Banco do Brasil S.A. e
PETROBRÁS, emitiram pareceres pronunciando-se favoravelmente
quanto a existência dos mencionados créditos da MENDES JÚNIOR;
e,
- que a PETROBRÁS, como representante do Governo Brasileiro,
atuará como mandatária do Banco do Brasil S.A. perante o Governo
Iraquiano com o objetivo de obter o pagamento dos créditos
reclamados (grifo nosso).
Continuando a análise do pacto de cessão de crédito, verifica-se, de
suas principais cláusulas:
CLÁUSULA PRIMEIRA: MENDES JÚNIOR cede ao BANCO, e este
aceita os créditos decorrentes da indenização dos direitos
reclamados pela MENDES JÚNIOR no contexto da execução dos
contratos de construção celebrados com os seguintes organismos
estatais iraquianos: Ministry of Transport e Communication/IRR -
Iraqi Republic Railways; Ministry of Bousing and Construction/SORB
- State Organization for Roads and Bridges; and Ministry of
Irrigation/RSOIP - Rafidain State Organization for Irrigation Projects.
CLÁUSULA TERCEIRA: Os supramencionados créditos da
MENDES JÚNIOR foram submetidos a exame dos consultores
internacionais especializados Arthur Andersen S/C e Thomas Akroyd
Consultants, havendo os respectivos pareceres concluído pela
procedência dos direitos àqueles créditos.
Tais créditos, que totalizam US$ 421.574.422,38 (quatrocentos e
vinte e um milhões, quinhentos e setenta e quatro mil,
quatrocentos e vinte e dois dólares e trinta e oito centavos),
correspondem a:
- US$ 217.227.600,00 (duzentos e dezessete milhões, duzentos e
vinte e sete mil e seiscentos dólares), relativos à cobrança da
indenização do lucro que não ocorreu até hoje decorrente da
falta de adjudicação pelo Iraque de duas novas obras à
MENDES JÚNIOR, não obstante o Acordo celebrado entre os
dois Governos em 15.05.84 ;
- US$ 204.346.822,38 (duzentos e quatro milhões, trezentos e
quarenta e seis mil, oitocentos e vinte e dois dólares e trinta e oito
centavos) relativos à cobrança da indenização dos custos
adicionais incorridos pela MENDES JÚNIOR até novembro/87,
no curso da execução das obras referidas na cláusula primeira
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do presente .
CLÁUSULA QUARTA: Os créditos cedidos pela MENDES JÚNIOR
ao BANCO, e identificados na cláusula terceira acima, dentro da
ordem de prioridade e até os seus respectivos montantes
destinar-se-ão a:
a) liquidação, junto à BB-Leasing Co. Ltd. Empresa coligada ao
BANCO, dos compromissos da MENDES JÚNIOR sob o 'Lease
Agreement', celebrado em 06.06.86 , que hoje montam a US$
251.561.565,84 (...), conforme apurado em 31.05.89;
b) ressarcimento, ao BANCO, dos valores resultantes de
eventual execução, pelas entidades iraquianas, das garantias
emitidas pelo BANCO para cobertura dos débitos e
compromissos da MENDES JÚNIOR no Iraque , equivalentes a
US$ 206.072.108,86 (...) calculados em 31.05.89 (...):
[...]
c) amortização, junto ao Banco, nos novos prazos pactuados,
dos valores já emprestados à Mendes Júnior , para solução de
problemas de liquidez da empresa (e-STJ, fls. 158/162).
Posteriormente, aos 4 de outubro de 1989, os devedores-recorridos
contrataram um empréstimo de US$ 45.000.000,00 (quarenta e cinco milhões de
dólares) com o banco-recorrente, no qual o produto seria utilizado para fins
empresariais gerais (e-STJ, fls. 64/99).
Da leitura desse pacto, constata-se a estipulação no item B do tópico
9º, denominado de Conta Corrente para Pagamento dos Empréstimos , o seguinte:
- Sem limitar as outras obrigações do Tomador sob este Contrato, o
mesmo empenhará os seus melhores esforços para fazer com que
fundos, num valor agregado de até US$ 45.900.000,00 devidos pelo
Governo do Iraque por faturas aprovadas e não pagas ou retidas
por contratos e devidas ao Tomador, sejam depositadas na
Conta Corrente para Pagamento de Empréstimos (e-STJ, fl. 79,
grifo nosso).
A partir disso, apurara a vinculação do contrato de cessão de crédito
ao título exequendo, qual seja, loan agreement .
Segundo os devedores-recorridos, não há liquidez e certeza nos títulos
que se consumiram com a absorção do Loan Agreement pelo Contrato de Cessão de
Direitos firmado (e-STJ, fl. 1.186).
Em verdade, não é esta a realidade dos autos.
Isso porque, conforme AVISO/Nº 055/92, assinado pelo Ministro de
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Estado da Economia, Fazenda e Planejamento, Marcílio Marques Moreira, endereçado
ao Presidente do Banco do Brasil S.A., datado de 13/1/1992, verifica-se que:
Em 28 de julho de 1989 a Construtora Mendes Júnior e a
Mendes Júnior International Company firmaram com o Banco
do Brasil, um contrato de Cessão de Créditos (...) de sua
titularidade junto a diversas entidades governamentais
iraquianas.
A referida cessão teve origem em proposta da PETROBRÁS para
que o Governo Brasileiro absorvesse a indenização devida à Mendes
Júnior pelo Governo Iraquiano, subrogando-se nos direitos e
obrigações da Empresa, decorrentes dos contratos celebrados com
aquele pais: tal proposta consubstanciou-se na carta PRES-1077/88
de 18.08.88 (...) aprovada formalmente pelo Exmo. Sr. Presidente da
República em 17 do mesmo mês, em documento encaminhado pelo
então Ministro Aureliano Chaves (...). A intervenção do Governo
Brasileiro seria, na visão da PETROBRÁS, justificada pela prática
internacional, pois todos os países que tinham empresas executando
obras no Iraque estariam dando apoio às mesmas para solução dos
seus problemas.
Posteriormente, foi elaborada, no antigo Ministério da Fazenda,
a partir da proposta formulada pelo Banco do Brasil, um
esquema para equacionamento das pendências da Mendes
Júnior com o Iraque, em que se previa, inter alia, a cessão dos
créditos da Mendes Júnior ao Banco do Brasil e a contratação
pela Mendes Júnior de consultores internacionais
independentes, aprovados pela PETROBRÁS e Banco do Brasil,
que definiriam os valores e a procedência legal das
indenizações reclamadas pela Mendes Júnior. Tal esquema foi
encaminhado pelo então Secretário Geral do Ministério da
Fazenda ao Dr. Mário Jorge Gusmão Berard, então Presidente
do Banco do Brasil, pelo ofício SGMF/Nº 085 de 14.04.89 [...]
Os consultores internacionais independentes foram contratados e
emitiram pareceres pronunciando-se favoravelmente quanto à
existência dos créditos a favor da Mendes Júnior (5º considerando
do Contrato de Cessão) e dessa forma a cessão foi contratada, com
o Banco do Brasil, AGINDO EM NOME DO GOVERNO
BRASILEIRO, e, em consonância com os termos do Contrato de
Cessão, a PETROBRÁS constituída como mandatária do Banco do
Brasil perante o Governo Iraquiano, com o objetivo de obter o
pagamento dos créditos reclamados (Procuração encaminhada à
PETROBRÁS pela carta DIRIN-281 de 13.09.89, Doc. 5, anexo).
Em 4 de outubro de 1989 a Mendes Júnior contratou um
empréstimo de US$ 45.000.000,00 (Quarenta e cinco milhões de
dólares) com o Banco do Brasil para fazer face às despesas de
remobilização, empréstimo esse concedido a pedido do
Governo Brasileiro, pois, nas negociações que culminaram no
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Superior Tribunal de Justiça
acordo com o Governo Iraquiano para retomada das obras por
parte da Mendes Júnior, ficaram suspensas todas as
reivindicações de parte a parte, razão pela qual, as autoridades
iraquianas entenderam que essa suspensão de reivindicações
abrangia inclusive o pagamento de faturas, em valor
equivalente, apresentadas pela Mendes Júnior e em fase de
processamento para pagamento pelos clientes iraquianos.
Entre outubro de 1989 e julho de 1990 a Mendes Júnior
remobilizou-se paulatinamente, enviando um total de 490
funcionários para o Iraque, com vistas à retomada das obras
cujo início dependia da prorrogação por parte do Governo
Brasileiro do prazo de utilização das linhas de crédito do FINEX,
que permitiria o financiamento dos serviços a serem prestados
pela Mendes Júnior no Iraque. Essa prorrogação veio a acontecer
em 27 de julho de 1990, por despacho da então Ministra Zélia
Cardoso de melo. A 2 de agosto o Iraque invadiu o Kwait (e-STJ, fls.
184/187, grifo nosso).
Daí a primeira assimetria entre os dois contratos, Loan Agreement e
Cessão de Crédito. Este foi celebrado em razão de créditos pertencentes à Mendes
Júnior, relativos à cobrança da indenização do lucro que não ocorreu até hoje
decorrente da falta de adjudicação pelo Iraque de duas novas obras à MENDES
JÚNIOR — descumprimento do acordo celebrado pela Comissão Mista Ad-Hoc
firmado aos 15/5/1984 (e-STJ, fls. 137/146) — e à cobrança da indenização dos
custos adicionais incorridos pela MENDES JÚNIOR até novembro/87, no curso
da execução das obras referidas na cláusula primeira do presente (e-STJ, fl. 123);
aquele foi celebrado para fazer face às despesas de remobilização e está
vinculado a créditos relativos ao pagamento de faturas, em valor equivalente,
apresentadas pela Mendes Júnior e em fase de processamento para pagamento
pelos clientes iraquianos (e-STJ, fl. 186).
Não foi por acaso que o contrato de empréstimo (loan agreement )
dispôs que a construtora-devedora, aqui recorrida, empenhará os seus melhores
esforços para fazer com que fundos, num valor agregado de até US$ 45.900.000,00
devidos pelo Governo do Iraque por faturas aprovadas e não pagas ou retidas por
contratos e devidas ao Tomador, sejam depositadas na Conta Corrente para
Pagamento de Empréstimos (e-STJ, fl. 79, grifo nosso).
Essa dessemelhança, ressalto, é percebida em grande parte da
documentação trazida pelos próprios devedores-recorridos, além, é claro, do
supracitado AVISO/Nº 055/92.
Na nota VIPIN-274, de 11/11/1988, citada no PARECER
CONJUR/CONSU nº 5.293, de 17/6/1992, há a seguinte passagem:
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Superior Tribunal de Justiça
10º) O esquema para a retomada dos trabalhos pela Mendes
Júnior no Iraque não deverá requerer desembolsos do Governo
brasileiro, uma vez que , ao reiniciar as obras, aquela empresa
terá liberado em seu favor o pagamento, pelo Governo do
Iraque, de faturas já aprovadas e ainda não liquidadas, bem
como a liberação de retenções contratuais efetuadas, num valor
total equivalente a US$ 45,9 milhões , sendo:
US$ milhões
- faturas aprovadas e ainda não pagas.........................................20,8
- retenções contratuais a serem devolvidas a empresa............25,1
(e-STJ, fl. 212).
No PARECER CONJUR/CONSU nº 5.293, veja-se o seguinte trecho:
Nesse contexto, foram retomadas as obras , obtidas as liberações
alfandegárias dos equipamentos no Iraque, firmado contrato de
cessão de créditos sob a condição de que tais créditos fossem
reconhecidos e pagos pelos organismos estatais iraquianos ,
iniciados contatos com o Iraque para a prorrogação dos prazos de
utilização das linhas de crédito e celebrado contrato entre o Banco
do Brasil e a Mendes Júnior., no valor de US$ 45 milhões, para
gastos nas obras (e-STJ, fl. 242).
No Of. PRESI-93/00608, assinado pelo então presidente do Banco do
Brasil — BB, Alcir Augustinho Calliari, datado de 21/6/1993, endereçado ao Secretário
do Tesouro Nacional, com o objetivo de identificar solução para as pendências entre o
credor, o Instituto de Resseguros do Brasil e o Grupo Mendes Júnior, destacou que:
O Parecer PGFN/PGA nº 201/93 (processo nº
10168.007754/92-60) foi aprovado em 26.02.93 pelo Exmo. Sr.
Ministro de Estado da Fazenda, que o encaminhou, na mesma
data, à Ministra-Chefe da Secretaria de Planejamento,
Orçamento e Coordenação da Presidência da República , através
do Aviso nº 152/MF, para as providências necessárias a sua
operacionalização, motivo pelo qual relaciono a seguir os
créditos do Banco do Brasil para atender compromissos da
Mendes Júnior S.A., a fim do que sejam alocados os recursos
indispensáveis a sua liquidação :
[...]
b) operação de capital de giro (adiantamento), no valor original
de US$ 45 milhões, junto ao BB-GRAND CAYMAN, visando a
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retomada das obras no Iraque, equivalente a faturas retidas da
Mendes Júnior S.A. a serem liberadas após início dos serviços,
também objeto de cobertura securitária do IRB (certificado nº
403) :
- Valor atualizado até 31.03.93: US$ 57,305 mil (e-STJ, fl. 266,
grifo nosso).
Por conseguinte, por tudo o que foi desvendado até agora, é possível
afirmar que o contrato de empréstimo (loan agreement ) em execução não está
vinculado a nenhum outro documento que lhe possa tirar a força executiva, em
especial o pacto de Cessão de Créditos realizado entre a Construtora Mendes Júnior
S.A., em conjunto com a sua coligada Mendes Júnior International Company e o
Banco do Brasil S.A.
Na realidade, a única correspondência entre o Loan Agreement e o
contrato de Cessão de Créditos é que eles têm origem no Despacho da Presidência da
República, de 17/8/1988 — proferido em relação ao Parecer PRES-1077/88, de
18/8/1988, da Petrobrás, e coerente com os entendimentos existentes entre os
governos brasileiro e iraquiano.
Nessa conjuntura, concluo que o banco-recorrente é credor dos
devedores-recorridos, detentor que é de título extrajudicial regular, que pode
embasar a execução manejada, porque não está vinculado ao contrato de cessão
de crédito.
Este é o direito a ser aplicado à espécie.
Em aparte, acrescento:
A decisão a que se chega não pôde ser sinalizada por compromissos
de políticos ou do governo brasileiro ou ditada por aspectos sociais. E é por esse
motivo que a direção tomada está estritamente dentro dos autos e corresponde à
minha convicção, lastreada na prova produzida e no direito aplicável.
Em que pese a conclusão acima, não posso fechar os olhos para o
enredo que envolveu os governos brasileiro e iraquiano, o Banco do Brasil S.A. e a
Mendes Júnior.
É cristalino, consoante a farta documentação trazida aos autos, que o
governo brasileiro considerou indispensável ao nosso desenvolvimento econômico a
permanência do Grupo Mendes Júnior no Iraque e, por essa razão, não olvidou
esforços, às vezes pouco ortodoxos, nesse desiderato.
Dentre as ações que se seguiram, tem-se o Despacho presidencial, de
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17/8/1988, proferido em relação ao Parecer PRES-1077/88, de 15/8/1988, da
Petrobrás, que deu origem à própria cessão de créditos, à concessão do loan
agreement de US$ 45 milhões pelo BB - Grand Cayman e à reabertura das linhas de
crédito FINEX, todas voltadas à permanência da Mendes Júnior no Iraque e a
retomada das obras paralisadas por força do descumprimento de obrigações
assumidas por aquele país.
O que se vê dos autos — pelo menos até o julgamento pelo Tribunal
de Contas da União do processo TC-013.383/91-4 (Inspeção Extraordinária realizada
na área internacional do Banco do Brasil S.A.), em que se determinou à Direção do BB
adotasse as medidas cabíveis, na esfera judicial, com vistas ao recebimento de seus
créditos — , é a busca para resolver as pendências existentes entre a União e o Grupo
Mendes Júnior, decorrentes de contratos firmados no Iraque.
Embora evidente o esforço dos devedores-recorridos em sustentar a
ausência de liquidez dos títulos executados, por terem sido extintos em razão do
contrato de cessão de crédito, eles, como dito, não trouxeram nenhuma prova capaz
de lhes tirar a força executiva.
Em suma: a dívida em execução, de US$ 45 milhões de dólares, não
está amarrada à cessão de crédito de outros tantos milhões de dólares.
Assim, merece reforma o acórdão recorrido, o que implica a
improcedência dos embargos à execução.
Nessas condições, pelo meu voto, rendendo minhas homenagens ao
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Relator, e, quanto à fundamentação, ao
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso
especial para restabelecer a sentença de primeiro grau.
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Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2011/0169279-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.280.218 / MG
Números Origem: 20000004099218002 20000004099218003 200601488034 409921802
PAUTA: 18/11/2014 JULGADO: 07/04/2015
RelatorExmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Ministros ImpedidosExmo. Srs. Ministros : JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/AADVOGADOS : JORGE ELIAS NEHME E OUTRO(S)
ALESSANDRO ZERBINI R BARBOSAADVOGADOS : ENEIDA DE VARGAS E BERNARDES E OUTRO(S)
CRISTIANO KINCHESCKI E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADOS : SARA REGINA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
AFFONSO HENRIQUES PRATES CORREIA E OUTRO(S)EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃOEDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Moura Ribeiro, acompanhando a divergência do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze, verificou-se inexistência de quorum. O julgamento está suspenso no aguardo de voto de Ministro da 4ª Turma.
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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.280.218 - MG (2011/0169279-7)
VOTO
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI: Trata-se de recurso especial
interposto pelo Banco do Brasil que se volta contra acórdão que recebeu a seguinte
ementa (e-STJ fl. 949/950):
EMBARGOS À EXECUÇÃO - PRESCRIÇÃO DOS TÍTULOS -
APLICAÇÃO DA LEI ESTRANGEIRA - NULIDADE DE SENTENÇA
AFASTADA - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO E NOTAS
PROMISSÓRIAS VINCULADAS A CESSÃO DE CRÉDITO - FATO
DO PRÍNCIPE - ILIQUIDEZ E INCERTEZA AFERIDAS -
IMPOSSIBILIDADE DE PROSSEGUIMENTO DA EXECUÇÃO -
PROCEDÊNCIA DA INCIDENTAL - HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS FIXAÇÃO - EQUIDADE E MODERAÇÃO.
Estabelecendo o título que a Lei de Nova York será aplicada no caso
de execução do contrato, devem ser obedecidos os prazos
prescricionais da lei estrangeira, o que não atenta contra a ordem
pública do nosso país.
Não é nula a sentença que contém os requisitos estampados no
artigo 458 do Código de Processo Civil, visto que havendo
fundamentação, ainda que sucinta, de modo a transparecer as
razões da convicção do julgado, não há de se lhe atribuir nulidade.
Verificando-se do contexto histórico que ensejou a emissão dos
títulos excutidos, bem como das provas acostadas aos autos que o
contrato e notas promissórias que embasaram a demanda executiva
encontram-se vinculados a pacto de cessão de crédito e que, ainda,
em decorrência de fato do príncipe, o Governo Brasileiro,
sub-rogou-se na responsabilidade pelo pagamento dos créditos ali
inseridos, ausente a certeza e liquidez exigidos pelo nosso
ordenamento como necessários aos títulos que sustentam
execução.
Os honorários advocatícios fixados em razão da sucumbência estão
adstritos a critérios de valoração delineados na lei processual, quais
sejam, o grau de zelo profissional, o lugar de prestação do serviço, a
natureza e importância da causa, o trabalho realizado pelo advogado
e o tempo exigido para o seu serviço, sendo que, em se tratando de
embargos à execução de grande complexidade e que a tramitação
do feito se arrastou por vários anos e, ainda, que não houve
condenação, justifica-se que essa verba seja arbitrada em valor
certo, em conformidade com a realidade traçada nos autos.
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Superior Tribunal de Justiça
O Banco do Brasil S/A afirma que "os fundamentos e razões de decidir
do Tribunal local podem ser assim sintetizados" (e-STJ fl. 1098):
a) A obrigação exeqüenda carece de liquidez e certeza (CPC, art.
586), porque o Contrato que lhe deu origem, firmado em 04 de
outubro de 1989 (fl. 899) Iastreado pelos títulos exeqüendos
garantidos pelos embargantes-executados, está vinculado ao
Contrato de Cessão de Créditos, celebrado em 28.07.89, pelo qual
as empresas Mendes Júnior cederam os créditos decorrentes de
serviços prestados ao Governo do Iraque;
b) A condição expressa nas cláusulas sétima e oitava do referido
contrato de Cessão não mais existe em face de ter o Governo
Brasileiro, aderindo ao embargo econômico da ONU ao Iraque em
1990 (Dec. 99441/90) tornado inviável o pagamento, por parte
daquele país, dos créditos reclamados pelas empresas Mendes
Júnior (fl. 902). O adimplemento da condição suspensiva ficou
obstaculizado pelo fato do príncipe (fl. 958); nesse sentido, a
declaração expressa no contrato (g.n.) de cessão de crédito
tornou-se incondicional, já que seu cumprimento mostrou-se inviável
(fl. 904).
c) A Administração pode causar dano ou prejuízo aos administrados
e muito mais aos seus contratantes (fl. 904). O fato do príncipe pode
externizar-se em lei, regulamento ou qualquer outro ato geral do
Poder Público, que atinja a execução do contrato.
Alega a instituição financeira recorrente que houve ofensa aos arts.
535 e 596 do Código de Processo Civil de 1973; 20, 118, 120 e 1.073 do Código
Civil de 1916 (atuais arts. 44, 985, 997, 125, 129 e 295) e ao art. 19 da lei 4.595/64.
Contrarrazões às e-STJ fls. 1.156/1.186, em que os recorridos alegam
prescrição dos títulos em que se funda a execução, ausência de ofensa ao art. 535
do Código de Processo Civil, bem como incidência das Súmulas 5 e 7 do STJ.
Passo a examinar as alegações por capítulos.
1. PRELIMINAR DAS CONTRARRAZÕES - PRESCRIÇÃO.
Relativamente à alegação de prescrição, aviada nas contrarrazões do
recurso especial, acompanho o entendimento adotado pelo acórdão recorrido e
pelos demais votos já proferidos neste órgão julgador, no sentido de afastá-la.
De fato, entendo que não há óbice a que partes submetam o contrato
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às Leis de outro Estado e, ao mesmo tempo, estabeleçam que a avença possa ser
executada no Brasil, desde que não haja ofensa à soberania nacional, à ordem
pública e aos bons costumes.
Neste sentido, é a redação do já reiteradamente citado art. 17 do
Código Civil de 1916:
Art. 17. As leis, atos, sentenças de outro país, bem como as
disposições e convenções particulares, não terão eficácia, quando
ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.
Ainda que a prescrição seja matéria de ordem pública, cujo
conhecimento deva ocorrer de ofício, entendo que não há impedimento a que as
partes permitam a utilização de outro prazo previsto em legislação estrangeira, de
modo a adequar a cobrança do crédito à realidade do contrato e da relação
comercial estabelecida entre os contratantes.
O fato de a legislação do Estado de Nova Iorque (adotada no caso
concreto) prever um prazo prescricional diferente do adotado pela lei brasileira não
afeta a soberania nacional, a ordem pública ou os bons costumes.
É uma regra de prescrição tal qual ocorre no Brasil, apenas com
conteúdo material diverso, qual seja, o tempo.
A existência de diferença entre os prazos apenas privilegiará um dos
contratantes (ora o credor, ora o devedor), no entanto, não afronta o sistema judicial
brasileiro.
Ao contrário, permite, no caso, que as partes tenham mais tempo de
submeter as questões relativas ao contrato ao crivo do Poder Judiciário. Amplia o
tempo de acesso à Justiça.
Diferentemente seria se a prescrição fosse afastada por completo,
hipótese não admitida em nosso ordenamento para relações patrimoniais de cunho
privado.
No caso, as partes, dispondo sobre direito disponível em relação
eminentemente privada, podem se submeter a uma legislação que elasteça ou
diminua o prazo para o exercício da pretensão jurisdicional, sem que isso macule o
ordenamento jurídico pátrio.
Assim, adotando os fundamentos já apresentados, afasto a preliminar
de prescrição invocada pela recorrida.
2. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 535 DO CÓDIGO DE
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Superior Tribunal de Justiça
PROCESSO CIVIL DE 1973.
Assim como os Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio
Bellizze e Moura Ribeiro afasto a alegação de ofensa ao art. 535 do CPC de 1973.
Com efeito, o acórdão recorrido não se ressente de vício de prestação
jurisdicional, tendo apresentado fundamentação suficiente à solução dada à causa,
tendo o Tribunal de origem se pronunciado sobre as questões argüidas pelo banco,
sem incorrer em omissão, obscuridade ou contradição.
3. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 596 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL DE 1973; 118, 120 E 1.073 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916.
Relativamente ao art. 596 do Código de Processo Civil de 1973, alega
a instituição financeira impossibilidade de vinculação de dois negócios jurídicos
independentes.
Sustenta que a tese abraçada pelo acórdão recorrido não sobrevive a
uma comparação entre as datas dos contratos, atestados pela própria decisão
recorrida ao evidenciar que o contrato de cessão de créditos (28.7.1989) antecede o
contrato denominado Loan Agreement (4.10.1989).
Argumenta que, após a concretização da cessão de créditos, a
Mendes Júnior realizou novos empréstimos, mas que não foram abrangidos pela
cessão de crédito realizada muito anteriormente (e com o fim de amortizar valores já
emprestados).
Repisa a tese de que é pessoa jurídica distinta da União e que "como
dito, o Banco do Brasil, no indigitado contrato de cessão, de um lado atuou como
agente da União, consoante competência que lhe foi outorgada pelo art. 19, inciso
1, alínea f, c/c o inciso VII da Lei nº 4.595, de 31.12.64. De outro, nenhuma
participação teve no ato que, segundo a decisão recorrida, teria obstado o
cumprimento da cessão" (e-STJ fl. 1.107).
Conclui que (e-STJ fl. 1.108):
Se não foi ele - Banco do Brasil - quem editou o Decreto 99.441/90,
como, também, não foi ele quem determinou a retirada da Mendes
Júnior do Iraque, é, pois, IMPOSSÍVEL DIZER QUE O BANCO DO
BRASIL SEJA RESPONSÁVEL POR QUALQUER PREJUÍZO
PORVENTURA CAUSADO EM RAZÃO DESSES FATOS, A QUEM
QUER QUE SEJA, posto que a responsabilidade das pessoas
jurídicas regidas pelo Direito Privado (Constituição Federal, art. 173,
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§ 1º, II) somente pode decorrer de "ação ou omissão voluntária,
negligência, ou imprudência", a teor do art. 159 do então vigente
Código Civil, sendo, pois, imprescindível a existência de dolo ou
culpa para a responsabilização do Banco do Brasil, O QUE
INOCORRE NO CASO PRESENTE.
Em vista disso, fica patente o equívoco em que, data vênia, incorreu
o Tribunal de Alçada de Minas Gerais: decretar incerta e ilíquida a
dívida exequenda em razão de um ato do qual não participou o
credor, mas, sim, o Governo Brasileiro.
Quando muito, poderia esse ato gerar, para a União o dever de
indenizar os prejuízos causados com a edição do Decreto 99.441/90,
de modo que a Mendes Júnior teria ação contra a União para dela
haver a indenização porventura devida.
Conforme acima relatado, o recurso se funda em: a) ausência de
vinculação dos contratos de cessão de crédito e empréstimo; b) distinção entre
União e banco credor; c) ausência de responsabilidade pelo ato da União, de modo
que o fato do príncipe não pode afetar a exeqüibilidade do título.
No que toca à alegação de que os contratos não estão vinculados,
assim constou do acórdão recorrido (e-STJ fls. 983/985):
(...) na análise do pacto de cessão de crédito, verifica-se, em sua
cláusula quarta que, "os créditos cedidos pela Mendes Júnior ao
Banco, e identificados na cláusula terceira acima, dentro da
ordem de prioridade e até os seus respectivos montantes
destinar-se-ão a: (...) c) amortização, junto ao Banco, nos novos
prazos pactuados, dos valores já emprestados à Mendes Júnior,
para solução de problemas de liquidez da empresa" (fl. 156).
É a partir da análise de tal condição, que se apurará a vinculação do
presente contrato de cessão de crédito ao título exeqüendo, qual
seja, o contrato de empréstimo, do qual se originaram as notas
promissórias excutidas, observando-se a respeito que:
O contrato denominado de Loan Agreement (fl. 25-57), firmado em
04 de Outubro de 1989, traduzido às fl. 58-93, estipulou que:
"Considerando que por solicitação do Tomador, o Banco
acordou em fazer os empréstimos ao tomador, de tempos em
tempos em conformidade com os termos e as provisões deste
contrato em um valor agregado total de, mas não
ultrapassando a US$ 45.000.000,00 para os propósitos gerais
da empresa do Tomador" (fl. 59) e, ainda, "o Tomador utilizará
o produto do empréstimo para fins empresariais gerais" (fl.
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80)."
Assiste, portanto, razão ao Banco do Brasil quando alega que foram
cedidos pela Mendes Júnior os créditos em face do Iraque, especificados na
cláusula terceira do contrato de cessão, em troca da amortização, junto ao Banco,
dos valores já emprestados à empresa, na data do contrato de cessão, data esta
incontroversamente anterior ao contrato de empréstimo ora executado (Loan
Agreement ).
A propósito, transcrevo da sentença:
"Também nenhuma razão assiste aos embargantes ao afirmarem
extintos os valores reclamados pelo credor por força do ''contrato de
cessão de créditos realizado entre a Construtora Mendes Júnior S/A,
em conjunto com a sua Coligada Mendes Júnior Internacional
Company, e o Banco do Brasil S/A'', anexado, por cópia às f. 151 e
seguintes destes autos.
Nesta avença, celebrada aos 29 de julho de 1.989, foram cedidos ao
Banco do Brasil S/A ''os créditos decorrentes da indenização dos
direitos reclamados pela Mendes Júnior no contexto da execução
dos contratos de construção celebrado com os seguintes organismos
estatais iraquianos: Ministry of Transport Comunication/IRR - Iraqui
Republic Railways; Ministry of Bousing and Construction/SORB -
State Organization of Roads and Bridges; and Ministry of
Irrigation/RSOIP - Rafidain State/ Organization for Irrigation Projects''
(cf. cláusula primeira, às f. 152).
Os valores destes créditos, quando recebidos, destinar-se-iam à
liquidação e ao ressarcimento dos valores consignados na cláusula
quarta do contrato (cf. f. 155 e 156), entre os quais não estão
incluídos os valores reclamados na execução ora embargada.
Ressalte-se, ademais que os títulos exequendos foram constituídos
em outubro de 1.989 (cf. f. 12 a 132 e 133 a 162 dos autos da
execução), após, portanto, a celebração do contrato de cessão de
crédito, firmado em julho de 1.989, não podendo, via de
conseqüência, serem alcançados por este.
Desta forma, devem ser afastadas todas as alegações feitas na
exordial visando a desconstituição dos títulos exequendos, fundadas
que foram no referido contrato de cessão de créditos, o que torna
desnecessário a análise das mesmas."
Não impressiona a alusão feita pelo acórdão recorrido à existência de
cláusula no Loan Agreement prevendo a existência de conta corrente remunerada
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Superior Tribunal de Justiça
em nome da Mendes Júnior para pagamento de empréstimos, na qual deveriam ser
vertidos pelo tomador valores em dólares devidos pelo Governo do Iraque por
faturas aprovadas e não pagas.
Com efeito, conforme se depreende da leitura do acórdão recorrido, o
contrato de cessão anteriormente celebrado, para pagamento de valores já
emprestados pelo Banco do Brasil, não implicava a cessão de todas as obrigações
do Iraque passadas, presentes e futuras, em relação à Mendes Junior, mas apenas
das especificadas em sua cláusula terceira.
O voto do Ministro Moura Ribeiro bem esclarece a existência de
diferentes créditos da Mendes Júnior contra o Governo do Iraque:
Daí a primeira assimetria entre os dois contratos, Loan Agreement e
Cessão de Crédito. Este foi celebrado em razão de créditos
pertencentes à Mendes Júnior, relativos à cobrança da
indenização do lucro que não ocorreu até hoje decorrente da
falta de adjudicação pelo Iraque de duas novas obras à MENDES
JÚNIOR - descumprimento do acordo celebrado pela Comissão
Mista Ad-Hoc firmado ao 15/5/1984 (e-STJ, fls. 137/146) - e à
cobrança da indenização dos custos adicionais incorridos pela
MENDES JUNIOR até novembro/87, no curso da execução das
obras referidas na cláusula primeira do presente (e-STJ, fl. 123);
aquele foi celebrado para fazer face às despesas de remobilização e
está vinculado a créditos relativos ao pagamento de faturas, em
valor equivalente, apresentadas pela Mendes Júnior e em fase
de processamento para pagamento pelos clientes iraquianos
(e-STJ, fl. 186).
Tenho, portanto, que assiste razão ao recorrente quando afirma que,
sem necessidade de reanálise de provas dos autos, com base apenas nos fatos
expostos no acórdão recorrido, é possível, como o fez a sentença, estabelecer a
ausência de vínculo entre a cessão de crédito, ocorrida em julho de 1989, e o novo
empréstimo concedido pelo Banco recorrente à mesma empresa em outubro de
1989, para fins empresariais gerais.
A propósito da condição suspensiva à qual estava sujeito o contrato de
cessão de créditos anterior ao Loan Agreement ora em execução, consta do
acórdão recorrido (e-STJ fl. 986):
Alega o credor que o contrato de cessão de crédito contém
condição, em suas cláusulas sexta e sétima, verbis:
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"Cláusula Sétima: A presente cessão é celebrada sob condição
de que os créditos objeto deste contrato, sejam reconhecidos e
pagos pelo organismos estatais iraquianos devedores,
mencionados na cláusula primeira.
Cláusula oitava: Não constituindo o presente contrato novação
quanto a pagamentos, prazos, importâncias e demais
condições das obrigações da Mendes Júnior para com o
Banco, este só lhe dará quitação dos débitos, quando
efetivamente receber os respectivos valores de seus créditos,
podendo o Banco, desde que o Governo Iraquiano não
reconheça os créditos objeto deste Contrato, no prazo de 18
meses contados a partir desta data, prorrogável de comum
acordo entre as partes, exigi-los diretamente da Mendes
Júnior" (fl. 157).
Contudo, nesse aspecto também não merecem guarida as
assertivas do exeqüente, visto ser notório que o Governo brasileiro,
através do Decreto 99.441-90, firmado em 07 de agosto de 1990,
para dar efetividade Resolução n. 661-90 do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, que decretava boicote financeiro ao raque (fl.
167-1 69), acabou por impedir que organismos brasileiros
buscassem junto ao Governo Iraquiano qualquer tipo de
ressarcimento.
(...)
Certo é que a época da edição do aludido decreto, que, repita-se,
efetiva a adesão do país ao embargo internacional ao Iraque, ainda
não havia decorrido o prazo de dezoito meses previsto no contrato
de cessão de crédito, para que se implementasse a condição
suspensiva, o que, em decorrência do fato do príncipe,
consubstanciado na edição do Decreto 99.441 pela União, acabou
por inviabilizar o seu cumprimento.
(...)
Nesse sentido, entendo que a declaração expressa no contrato
de cessão de crédito tornou-se incondicional, já que o seu
cumprimento mostrou-se inviável, em razão do embargo
econômico a que aderiu o Brasil engendrado em razão da
invasão do Irã pelo Iraque. Como conseqüência do fato do
príncipe, o Governo Brasileiro, através da União, tomou para si
as responsabilidades contratuais da Mendes Júnior junto ao
Governo iraquiano. (grifo não constante do original).
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Entendo, todavia, que a anterior cessão de créditos, além de sem
vínculo com o posterior Loan Agreement , também não aproveita à parte recorrida,
porque submetida a condição que não se implementou, conforme entendimento
expresso no voto do Ministro Marco Aurélio Bellizze, a cujos fundamentos adiro:
"Inicialmente, entendeu o acórdão recorrido que, apesar da
contratação expressa de condição suspensiva ao contrato de cessão
de crédito, sua realização fora obstada por ato da União, em
exercício da soberania, o que ensejaria o reconhecimento da
existência de fato do príncipe.
Com efeito, é questão fática o reconhecimento de que a edição do
Decreto n. 99.441/1990 obstou a realização da condição suspensiva
prevista pelas partes no contrato de cessão de crédito. No entanto, a
questão controvertida transborda a mera discussão acerca da
concretização ou não do fato do príncipe, impondo-se na verdade a
verificação das consequências advindas da não concretização da
referida cláusula.
(...)
Nessa trilha, tem-se que os créditos cedidos pela recorrida ao Banco
do Brasil não poderiam ser cobrados do governo iraquiano. Esse
fato, por si só, já seria suficiente para se concluir que as partes,
Banco do Brasil e Mendes Júnior Participações S.A., deveriam
retornar a situação antecedente à formalização do contrato, não se
concluindo a referida cessão do crédito.
Esse mesmo resultado seria alcançado se se partisse de premissa
diversa, qual seja, a de que havia uma cláusula de condição
suspensiva no referido contrato de cessão, porém não concretizada.
Pois bem, não implementada a condição suspensiva, por qualquer
outro fundamento que não a ocorrência do fato do príncipe, o direito
objeto do negócio jurídico a ela subordinado não alcança a eficácia;
transportando esse raciocínio para a situação concreta dos autos,
tem-se que o crédito não seria efetivamente cedido. E nem se
argumenta que a cláusula condicional, ante sua impossibilidade,
seria tida por inexistente.
Ora, se há impossibilidade de realização da condição suspensiva na
hipótese dos autos, essa impossibilidade é jurídica, e não física ou
material. Assim, nos termos do art. 116 do CC/16, o resultado
também por essa via sera o reconhecimento da invalidade do
negócio condicionado, devendo as partes serem restituídas ao status
quo ante. Veja se a regra vigente à época: "Art. 116. As condições
fisicamente impossíveis, bem como as de não fazer coisa
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impossível, têm-se por inexistentes. As juridicamente impossíveis
invalidam os atos a elas subordinados".
Daí deve-se concluir que, seja em razão do fato do príncipe ou não,
a ausência de concretização da condição importa, in casu , na
absoluta ineficácia da cessão de crédito. Por óbvio, não se esta aqui
afastando eventual relação de responsabilidade da União na
condução e construção de uma solução para uma contenda história
e política, que envolve de um lado a empresa brasileira e, de outro, o
Estado do Iraque. Entretanto, do ponto de vista jurídico, a conclusão
deve ficar restrita à aplicação da regra que, afinal, existia de forma
clara à época dos eventos.
Por sua vez, afastada a eficácia do contrato de cessão de crédito,
cai por terra também a discussão quanto a sua vinculação ao
contrato de empréstimo. Este não se subordinando a qualquer
condição, foi realizado e aperfeiçoado, com a incontroversa
transferência dos valores contratados. Vale ressaltar que, nos
embargos à execução, não houve qualquer impugnação à
disponibilização efetiva dos valores contratados a título de
empréstimo, argumento este suscitado inoportunamente em
contrarrazões ao recurso especial (e-STJ, fl 1181).
De toda sorte, reconhecendo as partes que, em razão de um evento
externo, imprevisto e irresistível (fato do príncipe), também este
contrato teve seu adimplemento impedido, igualmente aqui seria
aplicável a excludente da força maior, a fim de resolver o contrato
com a restituição das partes ao status quo ante , o que significa,
restituir os valores objeto do contrato de empréstimo.
Desse modo, não há dúvida quanto à existência do título que
consubstancia a obrigação (contrato de empréstimo), à quantidade
de bens que é objeto da obrigação (valor objeto do empréstimo), ou
o momento em que deveria ter sido adimplida a obrigação. Tem-se,
portanto, preenchidos os requisitos de exequibilidade pelo contrato
exequendo, requisitos estes que não são afastados mesmo diante
da oposição de embargos à execução.
Considero, portanto, ofendido o art. 118 do Código Civil de 1916,
segundo o qual "subordinando-se a eficácia do ato à condição suspensiva,
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa."
Com efeito, a partir do fato incontroverso de que não ocorreu a
condição suspensiva - pagamento pelo Iraque dos créditos cedidos - o acórdão
recorrido, ao invés de reputar não adquirido o direito visado pelo contrato, teve por
inexistente a condição expressamente pactuada, transformando em "incondicional"
um contrato que as partes expressamente estabeleceram condicional. Documento: 1365937 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2016 Página 5 3 de 56
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Por outro lado, o ressarcimento por eventual prejuízo sofrido pela parte
recorrida em decorrência do fato do príncipe - adesão do Brasil ao embargo
econômico ao Iraque, por meio do Decreto 99.441/90 - haveria de ser postulado em
face da União e não do Banco do Brasil.
Em face do exposto, com a devida vênia do eminente Relator,
acompanho a divergência.
É como voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA
Número Registro: 2011/0169279-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.280.218 / MG
Números Origem: 20000004099218002 20000004099218003 200601488034 409921802
PAUTA: 21/06/2016 JULGADO: 21/06/2016
RelatorExmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Relator para AcórdãoExmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Ministros ImpedidosExmo. Srs. Ministros : JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
SecretáriaBela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/AADVOGADO : CRISTIANO KINCHESCKI E OUTRO(S)RECORRIDO : EDIFICADORA S/A E OUTROSADVOGADOS : SARA REGINA DE OLIVEIRA E OUTRO(S)
AFFONSO HENRIQUES PRATES CORREIA E OUTRO(S)EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃOEDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR
ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Contratos Bancários
SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentação Oral : Dr(a). RAFAEL MARTINS PINTO DA SILVA, pela parte RECORRENTE : BANCO DO BRASIL S/A Sustentação Oral : Dr(a). EDSON QUEIROZ BARCELOS JÚNIOR, pela parte RECORRIDO : EDIFICADORA S/A
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o indeferimento do pedido de adiamento e a renovação dos votos anteriormente proferidos, a Ministra Isabel Gallotti proferiu seu voto acompanhando a divergência e, a Terceira Turma, por maioria, conheceu em parte do recurso especial e, nesta parte, deu-lhe provimento, nos
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termos do voto do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze (Presidente), que lavrará o acórdão. Vencido o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Votaram com o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze os Srs. Ministros Moura Ribeiro e Isabel Galotti. Impedidos os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva e João Otávio de Noronha.
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