TABAGISMO E OS EFEITOS NO SISTEMA OSTEO MUSCULAR Smoking and the effects on the musculoskeletal system
MICHELON, S.M.S. 1, ROTHERNBUHLER, R.2
1 Acadêmica do curso de fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná/ Curiti-
ba/ Paraná/ Brasil 2 Docente do curso de fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná/ Curitiba/
Paraná/ Brasil
_______________________________________________________________ Contato: Stella Maria Santos Michelon
1
Resumo: Este trabalho tem como objetivo identificar os efeitos do tabagismo
no sistema osteomuscular através da aplicação de questionários e apoiando-se
na revisão de literatura disponível. Participaram desse estudo de opinião trans-
versal, 180 voluntários, sendo 90 do grupo controle e 90 do grupo alvo. O pri-
meiro grupo respondeu o “Questionário Adaptado – APEC Questionnaire THE
QUENN´S MEDICAL CENTER – Honolulu, Hawaii – Anesthesia Preoperative
Evaluation Center (APEC)”. No segundo grupo além do questionário, também
foi aplicado o “Teste de Fagerström” para determinar o nível de dependência à
nicotina. O estudo encontrou correlações estatisticamente significativas entre
tabagismo, dor nas costas e problemas respiratórios. As demais variáveis não
apresentaram relevância neste estudo.
Palavras chaves: Tabagismo, dor nas costas, osteomuscular, biomecânica
respiratória.
Abstract: The objective of this study is identify the effects of smoking on the
musculoskeletal system through the use of questionnaires and relying on the
review of available literature. Participated in this opinion and transversal study,
180 volunteers, 90 of the control group and 90 of the target group. The first
group responded to the Questionnaire Adapted - APEC Questionnaire THE
QUENN'S MEDICAL CENTER - Honolulu, Hawaii - Anesthesia Preoperative
Evaluation Center (APEC). In the second group, in addition to the question-
naire, we also applied the "Fagerström Test" to determine the level of nicotine
dependence. The study found statistically significant correlations between
smoking, back pain and breathing problems. The other variables showed no
significance in this study.
Key words: Smoking, back pain, musculoskeletal, respiratory biomechanics.
2
Introdução
O tabagismo é hoje, a principal causa de enfermidades evitáveis e inca-
pacidades prematuras. De acordo com o Ministério da Saúde do Brasil, a maior
concentração de tabagistas encontra-se nas cidades da região Sul do país, e
com menores proporções na região Nordeste1.
O tabagismo é considerado um fator de risco para fraturas, sendo a os-
teomielite a principal complicação2. Fumar pode provocar efeitos adversos so-
bre a força do osso através da toxicidade direta da nicotina no osso3,4, pois pro-
voca vasoconstrição periférica e isquemia tecidual e diminui a tensão de oxigê-
nio. Além disso, o tabagismo pode afetar indiretamente a força do osso através
da diminuição da absorção intestinal de cálcio5, aumento do metabolismo e
diminuição da produção de estrogênio, tem um impacto negativo sobre a cica-
trização óssea6 e inibe a neovascularização e diferenciação dos osteoblastos7.
A nicotina reduz a eficácia do estrógeno, pode neutralizar os efeitos an-
tioxidantes das vitaminas C e E e levar a um risco significativamente maior de
fratura óssea8,9. Sabe-se que a exposição intra uterina à nicotina retarda o
crescimento do esqueleto, resultando em aumento do risco de fraturas na vida
adulta10.
Fisiopatologicamente falando, nestes pacientes ocorre vasoconstrição
arteriolar, hipóxia celular, desmineralização óssea e atraso na revasculariza-
ção. Considera-se que os fumantes têm uma deficiência significativa de oxigê-
nio (hipóxia) ao nível celular durante o processo de cicatrização óssea11,12. A
nicotina diminui a produção de fibroblastos (principais células responsáveis pe-
la reparação tecidual), além disso, o monóxido de carbono encontrado na fu-
maça do cigarro reduz os níveis de oxigênio, vital para o metabolismo celular13.
O efeito antiestrogênico da nicotina explica a relação de incidência de
osteoporose com tabagismo. O maior risco é na fase pós-menopausa, na mu-
lher tabagista, pois elas perdem significativamente mais osso cortical e tem
mais chances de desenvolver osteoporose quando comparadas àquelas não
fumantes8. O tabagismo está associado à redução da densidade mineral óssea
pós-menopausa, devido à alteração do metabolismo de cálcio por alterações
hormonais14. Embora a reposição de estrogênio proteja as mulheres do risco
de fraturas, esse efeito protetor não existe nas fumantes15.
3
Nos homens, o fumo em qualquer fase da vida tem efeitos negativos so-
bre o sistema esquelético, independente do peso e do uso de álcool ou cafeína.
Estudos demonstram que o fumo reduz o suprimento de sangue para os ossos
e que a nicotina atrasa a produção de osteoblastos e prejudica a absorção de
cálcio. Com menor massa mineral óssea, os fumantes de um modo geral, de-
senvolvem ossos mais fracos, ou seja, apresentam tendência à osteoporose15.
Há uma clara ligação entre tabagismo e dor lombar, que aumenta com a
quantidade e o tempo de que o individuo fuma. Fumar pode provocar hérnia de
disco através da tosse, ou levar a alterações patológicas do disco intervertebral
através de alterações na sua nutrição, pH, ou de minerais16.
Vários estudos demonstram uma relação entre a incidência de osteoatri-
te e o uso do tabaco. Uma possível explicação é que a nicotina auto regula as
glicosaminoglicanas e a atividade sintética do colágeno nos condrócitos articu-
lares de fumantes17. A artrite reumatóide é considerada uma doença multifato-
rial18,19, e um dos fatores de influência no desenvolvimento da patologia, é o
tabagismo. De acordo com um estudo recente, o tabagismo durante a gravidez
é considerado como um fator determinante para artrite reumatóide e outras po-
liartropatias inflamatórias durante os primeiros sete anos de vida20.
Fumantes apresentam um risco elevado para lesões do manguito rota-
tor, sendo duas vezes mais comum naqueles que fumam quando comparado
aos não fumantes. O tabagismo também tem um impacto negativo sobre a ci-
catrização muscular. Um estudo comparou os resultados de 25 pacientes, onde
os fumantes apresentaram maior grau de dor e perda da função muscular após
a cirurgia do que indivíduos não tabagistas21.
Contratura de Dupuytren é uma condição fibrótica deformante da fáscia
palmar. Sua etiologia ainda é desconhecida, porém o hábito de fumar está es-
tatisticamente associado à doença e pode estar envolvido em sua partenogê-
nese, produzindo oclusão microvascular e fibrose subseqüente e contratu-
ra22,23.
O objetivo deste estudo é revisar a literatura disponível para descobrir os
efeitos do tabagismo sobre o sistema osteomuscular além de identificar através
da aplicação de questionários, a relação existente entre a predisposição de
doenças do sistema músculo-esquelético em fumantes e não fumantes e ob-
4
servar se a quantidade de cigarros consumidos interfere nas patologias e se
existe diferença entre homens e mulheres, sejam fumantes ou não.
5
Materiais e Métodos
Este trabalho caracteriza-se como um estudo de opinião transversal,
onde os dados coletados foram tanto de natureza qualitativa como quantitativa,
além de uma revisão de literatura.
Para a realização desse estudo de revisão, foram selecionados artigos
publicados em periódicos indexados nas bases de dados Lilacs (Literatura La-
tino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), consultada por meio do
site da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) da Biblioteca Regional de Medicina
(BIREME) e Medline (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), acessa-
da por meio do PUBMED, publicados em inglês e português, que tratassem de
patologias osteomusculares, dor nas costas, tabagismo, mecânica respiratória,
lombalgia, músculos respiratórios e interação tóraco-abdominal.
A amostra consiste de um grupo controle composto por 90 indivíduos, de
ambos os sexos, estudantes universitário, com faixa etária entre 18 e 30 anos
que não sejam tabagistas. O público alvo da presente pesquisa foi composto
também por estudantes universitários, de ambos os sexos, com faixa etária
entre 18 e 30 anos que sejam tabagistas. A abordagem dos participantes foi
realizada em ambiente universitário, sendo eles selecionados de forma aleató-
ria. A avaliação qualitativa nesta pesquisa deve-se pela descrição, compreen-
são e interpretação dos dados coletados, em contraposição a algumas avalia-
ções quantitativas.
O método de estudo foi mediante a aplicação de 2 questionários, sendo
“Questionário Adaptado – APEC Questionnaire THE QUENN´S MEDICAL
CENTER – Honolulu, Hawaii – Anesthesia Preoperative Evaluation Center (A-
PEC)” e o segundo “Teste de Fagerström”. O primeiro é composto pela historia
médica do indivíduo, contendo perguntas sobre problemas respiratórios, oste-
omusculares e dor nas costas, além de identificar se é tabagista ou não, a
quantidade de cigarros consumidos, há quanto tempo fuma e a última vez que
vez que fumou. O segundo questionário foi aplicado somente nos tabagistas, o
qual indica o grau de dependência ao cigarro através de seis questões de múl-
tipla escolha.
Para a análise estatística deste estudo foi usado o Teste de Fisher que
permite calcular a probabilidade de associações das características que estão
6
em análise em relação a uma variável qualquer que só admita duas alternativas
como resposta, positivo ou negativo. Foi atribuído relevância estatística para
valores com p < 0,05.
O projeto da pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética (CEP) da Uni-
versidade Tuiuti do Paraná, e os participantes assinaram um “Termo de Livre
Consentimento e Esclarecimento”.
7
Resultados A amostra total foi de 180 indivíduos participantes, sendo 90 do grupo
controle (não tabagistas) e 90 do grupo alvo (fumantes). As características
desses participantes são mostradas na TABELA 1. As variáveis deste estudo
que se mostraram relevantes foram à associação entre tabagismo e dor nas
costas e tabagismo e doença respiratória. As demais não obtiveram significân-
cia estatística.
TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DAS AMOSTRAS DOS GRUPOS DE FUMAN-
TES E NÃO FUMANTES SEGUNDO O SEXO
GRUPO FEMININO MASCULINO
n1 % n2 %
Fumantes 44 51,11 46 48,89
Não fumantes 51 56,67 39 43,33
Do total de tabagistas, 40 % apresentaram dor nas costas, enquanto que
apenas 25,6% dos não tabagistas relataram o mesmo problema. Quanto a pro-
blemas respiratórios, 23,3% dos fumantes relataram sofrer de algum desconfor-
to respiratório enquanto que 11,1% dos participantes do grupo controle relata-
ram alguma disfunção. Já os problemas músculo esqueléticos não mostraram
relevância alguma neste estudo, como mostra a TABELA 2.
8
TABELA 2 – DISTRIBUIÇÃO DAS AMOSTRAS DOS GRUPOS DE FUMAN-
TES E NÃO FUMANTES SEGUNDO AS QUEIXAS E TESTE DE PROPOR-
ÇÕES PARA COMPARAÇÃO DOS DOIS GRUPOS
FUMANTES NÃO FUMANTES VARIÁVEIS
Sim Não Sim Não
p
Dor nas costas 36
(40,0%)
54
(60,0%)
23
(25,6%)
67
(74,4%)
0,0411*
Problema respi-
ratório
21
(23,3%)
69
(76,7%)
10
(11,1%)
80
(88,9%)
0,0314*
Problema m
culo esqu
ús-
elético
6
(6,7%)
84
(93,3%)
5
(5,6%)
85
(94,4%)
0,7591
Análise: Considerando-se o nível de significância de 0,05 (5%), verifi-
ca-se a existência de diferença significativa entre as proporções de fumantes e
não fumantes com dor nas costas e problemas respiratórios, pois, em ambos
os casos p < 0,05, ou seja, a proporção de fumantes com dor nas costas e
também aqueles com problemas respiratórios é significativamente maior que
entre os não fumantes.
A relação entre dor nas costas e problemas músculo esquelético no gru-
po dos fumantes não apresentou relevância estatística, já que p>0,05, como se
observa na TABELA 3. O grau de dependência ao cigarro não mostrou influên-
cia para a predisposição de quaisquer complicações, como mostra o GRÁFICO
1. Os dados quanto ao sexo dos participantes e as complicações relacionadas
visualizam-se na TABELA 4.
9
TABELA 3– TESTE DE DEPENDÊNCIA ENTRE DOR NAS COSTAS E PRO-
BLEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO, GRUPO DOS FUMANTES
PROBLEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO DOR NAS
COSTAS Sim Não Total
p
Sim 4 32 36
Não 2 52 54 0,1900
Total 6 84 90
Análise: Considerando-se o nível de significância de 0,05 (5%), verifica-
se que não existe dependência significativa entre dor nas costas e problema
músculo esquelético, pois se encontrou através do Teste de Fisher, que p >
0,05.
10
GRÁFICO 1 – COMPARAÇÃO ENTRE OS FUMANTES QUE APRESENTAM
QUEIXAS (DOR NAS COSTAS, PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS, PROBLEMA
MÚSCULO ESQUELÉTICO) RELACIONADOS AO GRAU DE DEPENDÊNCIA
7
14
2
10
3
5 5
2
54
0
2
4
6
8
10
12
14
16
MB B MB E ME
Grau de dependência
Nº
de
ca
s
Dor nas costas Problemas respiratórios Problema músculo esquelético
NÍVEIS DE DEPÊNDENCIA AO CIGARRO:
MB: muito baixo
B: baixo
M: médio
E: elevado
ME: muito elevado
11
TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DAS QUEIXAS SEGUNDO OS SEXOS PARA
OS GRUPOS DE FUMANTES E DE NÃO FUMANTES
GRUPO E
SEXO
DOR NAS
COSTAS
PROBLEMAS
RESPIRATÓRIOS
PROBLEMA
MÚSCULO
ESQUELÉTICO
Fumantes Sim Não Sim Não Sim Não
Masculino 18
(39,1%)
28
(60,9%)
15
(32,6%)
31
(67,4%)
3
(6,5%)
43
(93,5%)
Feminino 18
(40,9%)
26
(59,1%)
6
(13,6%)
38
(86,4%)
3
(6,8%)
41
(93,2%)
Não fumantes Sim Não Sim Não Sim Não
Masculino 14
(35,9%)
25
(64,1%)
9
(23,1%)
30
(76,9%)
1
(2,6%)
38
(97,4%)
Feminino 22
(43,1%)
29
(56,9%)
12
(23,5%)
39
(76,5%)
5
(9,8%)
46
(90,2%)
Na TABELA 5 são apresentados dados relativos à avaliação entre o tes-
te de dependência, problemas respiratórios e músculo esquelético do grupo
alvo. Considerando-se o nível de significância de 0,05 (5%), verifica-se que não
existe dependência significativa entre problemas respiratórios e músculo es-
quelético, pois se encontrou através do Teste de Fisher, que p > 0,05.
12
TABELA 5 – TESTE DE DEPENDÊNCIA ENTRE PROBLEMAS RESPIRATÓ-
RIOS E PROBLEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO, GRUPO DOS FUMANTES
PROBLEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO PROBLEMAS
RESPIRATÓRIOS Sim Não Total
p
Sim 3 18 21
Não 3 66 69 0,1368
Total 6 84 90
A TABELA 6 apresenta a diferença entre fumantes e não fumantes que
apresentam dor nas costas, problemas respiratórios e problemas músculo es-
quelético, sendo os indivíduos do sexo masculino. No teste estatístico não foi
observada nenhuma diferença significativa, sendo que 39,1% dos fumantes
queixam-se de dor nas costas, quando que 35,9% dos não tabagistas relatam o
mesmo problema. Já em relação a problemas respiratórios, 32,6% dos indiví-
duos do grupo alvo afirmaram sofrer de algum desconforto respiratório, e
23,1% dos participantes do grupo controle também relatam o mesmo problema.
A variável problemas músculo esquelético é a que apresenta menor porcenta-
gem de indivíduos, sendo 6,5% do grupo dos tabagistas e 2,6% dos não fu-
mantes.
13
TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DAS AMOSTRAS DOS GRUPOS DE FUMAN-
TES E NÃO FUMANTES SEGUNDO AS QUEIXAS E TESTE DE
PROPORÇÕES PARA COMPARAÇÃO DOS DOIS GRUPOS, SEXO
MASCULINO
FUMANTES NÃO FUMANTES VARIÁVEIS
Sim Não Sim Não
p
Dor nas costas 18
(39,1%)
28
(60,9%)
14
(35,9%)
25
(64,1%)
0,7263
Problema
respiratório
15
(32,6%)
31
(67,4%)
9
(23,1%)
30
(76,9%)
0,3351
Problema
músculo
esquelético
3
(6,5%)
43
93,5%)
1
(2,6%)
38
(97,4%)
-
Análise: Considerando-se o nível de significância de 0,05 (5%), verifi-
ca-se que não existe diferença significativa entre as proporções de fumantes e
não fumantes com dor nas costas e problemas respiratórios, pois, em ambos
os casos p > 0,05. No caso, de problema músculo esquelético, o teste não se
aplica em virtude das baixas freqüências das ocorrências.
Na TABELA 7 nota-se a relação entre dor nas costas, problemas múscu-
lo esquelético e problemas respiratórios nas participantes, tanto tabagistas ou
não, do sexo feminino. Também não houve significância estatística neste teste
de dependência, sendo que 40,9% das fumantes queixam-se de dor nas costas
e 43,1% das não fumantes também relatam o mesmo problema. Para proble-
mas respiratórios nota-se uma percentagem maior de não fumantes, sendo de
23,5% aquelas que sentem algum desconforto respiratório, enquanto que ape-
nas 13,6% das fumantes relatam o mesmo problema. A incidência de proble-
mas músculo esqueléticos também se apresentou maior no grupo das não ta-
bagistas, sendo este de 9,8%, enquanto que 6,8% das tabagistas afirmam pos-
suir algum tipo de patologia.
14
TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO DAS AMOSTRAS DOS GRUPOS DE FUMAN-
TES E NÃO FUMANTES SEGUNDO AS QUEIXAS E TESTE DE
PROPORÇÕES PARA COMPARAÇÃO DOS DOIS GRUPOS, SEXO
FEMININO
FUMANTES NÃO FUMANTES VARIÁVEIS
Sim Não Sim Não
p
Dor nas costas 18
(40,9%)
26
(59,1%)
22
(43,1%)
29
(56,9%)
0,8290
Problema
respiratório
6
(13,6%)
38
(86,4%)
12
(23,5%)
39
(76,5%)
0,2223
Problema
músculo
esquelético
3
(6,8%)
41
(93,2%)
5
(9,8%)
46
(90,2%)
-
Análise: Considerando-se o nível de significância de 0,05 (5%), verifi-
ca-se que não existe diferença significativa entre as proporções de fumantes e
não fumantes com dor nas costas e problemas respiratórios, pois, em ambos
os casos p > 0,05. No caso, de problema músculo esquelético, o teste não se
aplica em virtude das baixas freqüências das ocorrências.
15
Discussão e Considerações Finais
Considera-se que o nível de tabagistas com dor nas costas e problemas
respiratórios foi estatisticamente significativo. Segundo a literatura, as altera-
ções na mecânica respiratória são decorrentes do encurtamento excessivo da
musculatura inspiratória e as principais causas desse encurtamento são: a-
gressões neuropsíquicas (estresse), aumento do volume de massa visceral,
postura inadequada, patologias respiratórias, fraqueza muscular e envelheci-
mento24.
Classicamente, considera-se a inspiração como a etapa ativa da respira-
ção e a expiração como essencialmente passiva, exceto durante a pratica de
exercícios físicos, tosse, vômito ou defecação25. Os músculos que interferem
diretamente na respiração são divididos em quatro grupos: Inspiradores princi-
pais: diafragma e intercostais externos; Inspiradores acessórios: escalenos,
esternocleiodomastóideo e serrátil anterior, além dos peitoral maior e menor,
grande dorsal, serrátil póstero-superior e as fibras superiores do sacro-lombar;
Expiradores principais: intercostais internos; e Expiradores acessórios: abdo-
minais, sacro lombar, longo dorsal, serrátil póstero-inferior, quadrado lombar e
triangular do esterno26.
O principal músculo da respiração é o diafragma, que se origina a partir
do dorso do processo xifóide, das cartilagens costais superiores e das vérte-
bras lombares; e insere-se no apêndice xifóide e na porção superior de L327. A
ação coordenada do diafragma com os músculos abdominais e do assoalho
pélvico promove a modulação entre as pressões diafragmática, intra-abdominal
e pleural, tornando-o capaz de promover a mobilização da caixa torácica (inspi-
ração) e participação no mecanismo de estabilização da coluna vertebral28.
Já que a respiração e a estática vertebral estão conectadas e o diafrag-
ma desempenha um papel decisivo para o controle postural, vários autores a-
firmam que as inserções diafragmáticas comprometem o músculo tanto com a
biomecânica da caixa torácica quanto com a organização da coluna vertebral.
Suas ligações músculo-aponeuróticas com os músculos abdominais, quadra-
dos lombares e iliopsoas solidarizam inevitavelmente a respiração à mecânica
lombo-pélvica e dos membros inferiores, assim como sua intima relação com a
fáscia endotorácica e com os músculos intercostais fazem com que sua ação
16
sobre o tórax se perceba até a cintura escapular e coluna cérvico-dorsal, cujo
posicionamento depende da atitude postural do tórax, determinada pela mecâ-
nica respiratória28, 29,30.
Durante a inspiração, ocorre uma diminuição de todas as curvas fisioló-
gicas da coluna vertebral, por ação da musculatura antigravitacional ou múscu-
los da cadeia muscular póstero-anterior (PA), que se restituem durante a expi-
ração. A cadeia muscular ântero-posterior (AP) tem a função de manutenção
do ritmo e da mobilidade em todos os segmentos corporais, assume o papel na
respiração de complementar a ação da cadeia PA, reintroduzindo as curvaturas
cervical e lombar, através dos músculos escalenos e psoas, respectivamente29.
Os músculos escalenos são considerados pertencentes tanto das cadei-
as PA como AP, e alternam suas ações seja como inspiradores acessórios ou
como restauradores da lordose cervical. Quando trabalham demasiadamente,
promovem a antepulsão da cabeça29. Na coluna lombar, a curvatura fisiológica
se dá pelo equilíbrio entre o músculo diafragma (pertencente à cadeia PA), o
transverso do abdômen (cadeia PA) e psoas (fazendo parte da cadeia AP).
Quando este conjunto não trabalha de forma harmoniosa, ocorre uma hiperlor-
dose diafragmática-psoítica31. A cifose dorsal fisiológica sofre uma diminuição
menos acentuada durante a inspiração, ação realizada pelos músculos retos do
abdômen e triangular do esterno29.
Dentre os músculos abdominais, o transverso do abdômen, exerce uma
dupla função mecânica, importante tanto para a respiração como para a postu-
ra. Na inspiração ele projeta anteriormente as vísceras, facilitando a expansão
da caixa torácica e dos pulmões; independentemente do tempo respiratório, os
músculos diafragma e transverso do abdômen realizam uma co-contração re-
flexa de ajuste postural, que junto à contração perineal, aumenta a pressão
intra-abdominal, estabilizando a coluna lombar e preservando o eixo corporal30,
32.
O trabalho bem coordenado de toda a musculatura abdominal permite
ainda que o diafragma potencialize sua função de gerador de fluxo aéreo
quando aumenta a demanda respiratória, como ocorre durante a prática de ati-
vidades físicas, impedindo assim, as distorções posturais toracicas33. De qual-
quer modo, varias pesquisas apontam para o papel fundamental destes grupos
17
musculares, não apenas para a biomecânica respiratória, mas para a organiza-
ção postural em sua globalidade28.
A pelve, que é uma base de sustentação, transmite o peso do corpo aos
membros inferiores. O equilíbrio entre a pelve e a manutenção da lordose lom-
bar fisiológica é determinado pelo bom funcionamento dos músculos abdomi-
nais, paravertebrais e músculos do quadril, principalmente glúteos, pelve-
trocanterianos e iliopsoas. A deficiência de qualquer destas estruturas com-
promete a estabilidade das articulações sacro-ilíacas e o equilíbrio do conjunto,
gerando aumento do tônus da musculatura antagonistas, alem de desvios pos-
turais e lombalgia31.
O funcionamento global do sistema músculo-esquelético é determinado
pelas fáscias. Através destas redes de tecido conjuntivo, a tensão é transmitida
entre os músculos, que se encontram agrupados em cadeias, e suas intera-
ções produzem diferentes atitudes posturais. Cada articulação do corpo tam-
bém é influenciada por músculos de todas as cadeias musculares, que se en-
contram interligados nas cadeias articulares. Da mesma maneira, quando ocor-
re um desequilíbrio, todo o sistema osteomuscular precisa se reorganizar, o
que normalmente gera desvios e deformidades posturais29.
Esta fundamentação teórica justifica importância da biomecânica tóraco-
abdominal para a manutenção e bom funcionamento do sistema músculo es-
quelético. Dentre os resultados obtidos pelas pesquisas, notou-se que os indi-
víduos fumantes apresentam dores nas costas e problemas respiratórios, pro-
vavelmente porque o habito de fumar altera a mecânica respiratória, alterando
assim todo o equilíbrio estático e dinâmico do corpo humano.
Conclui-se que pelos efeitos danosos da nicotina no organismo humano,
como a redução na absorção de cálcio, hipóxia celular, inibição da diferencia-
ção dos osteoblastos e atraso da revascularização, problemas como redução
da força do osso e retardo no processo de cicatrização óssea e muscular são
achados comuns em indivíduos tabagistas. De acordo com os dados obtidos
nesta pesquisa, os fumantes apresentaram tanto dor nas costas como proble-
mas respiratórios, isto se justifica através literatura, onde estudos comprovam
que a dor lombar aumenta tanto com a quantidade como com o tempo que o
individuo fuma, assim como a tosse provocada pelo cigarro pode provocar hér-
nia de disco ou levar a alterações patológicas do disco intervertebral16.
18
Desta forma, há necessidade de estudos adicionais para avaliar a rela-
ção entre tabagismo, dor nas costas e problemas respiratórios, atingindo uma
população com faixa etária acima de 30 anos, principalmente mulheres na fase
do climatério e pós-menopausa, já que as mesmas apresentam influencias
hormonais significantes para osteoporose, especialmente quando são tabagis-
tas. Como a literatura apresenta poucos estudos sobre tabagismo e indivíduos
do sexo masculino, vale salientar a importância de estudos para este grupo, já
que segundo dados do Ministério da Saúde do Brasil, eles são os principais
consumidores de cigarros.
19
Questionário Adaptado – APEC Questionnaire THE QUENN´S MEDICAL CENTER – Honolulu, Hawaii – Anesthesia Preoperative Evaluation Center
(APEC) Nome:__________________________________________________________ Data:____/_____/_____ Data de Nascimento:____/______/____ Idade: _______ Sexo:_____ Fone:________________________ Historia Médica Problemas Cardiovasculares ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________________________________________________________________ Problemas Respiratórios ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________________________________________________________________ Problemas hepáticos/gastrointestinal ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________________________________________________________________ Diabetes ( ) Sim ( ) Não _______________________________________________________________ Sente dor nas costas ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________________________________________________________________ Algum problema músculoesquelético ( ) Sim ( ) Não ______________________________________________________________________________________________________________________________ Ou-tros:________________________________________________________________________________________________________________________ Antecedentes Familiares: _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Tabagista ( ) Sim ( ) Não Quantidade _______________________________________________________________ Há quanto tempo usa _______________________________________________________________ Ultima vez que usou _______________________________________________________________
20
Faz uso de álcool ( ) Sim ( ) Não Quantidade _______________________________________________________________ Usa algum tipo de droga ( ) Sim ( ) Não _______________________________________________________________ Outros: ______________________________________________________________________________________________________________________________
21
Teste de Fagerström
1. Quanto tempo após acordar você fuma o seu primeiro cigarro? Dentro de 5 minutos = 3
Entre 6-30 minutos = 2
Entre 31-60 minutos = 1
Após 60 minutos = 0
2. Você acha difícil não fumar em lugares proibidos, como igrejas, biblio-tecas, cinemas, ônibus,etc.? Sim = 1
Não = 2
3. Qual cigarro do dia traz mais satisfação? O primeiro da manhã = 1
Outros = 0
4. Quantos cigarros você fuma por dia? Menos de 10 = 0
De 11 a 20 = 1
De 21 a 30 = 2
Mais de 31 = 3
5. Você fuma mais freqüentemente pela manhã? Sim = 1
Não = 0
6. Você fuma, mesmo doente, quando precisa ficar de cama a maior parte do tempo? Sim = 1
Não = 0
22
Conclusão sobre o grau de dependência: 0 – 2 pontos = muito baixo
3 – 4 pontos = baixo
5 pontos = médio
6 – 7 pontos = elevado
8 – 10 pontos = muito elevado
Uma soma acima de 6 pontos indica que, provavelmente, o paciente
sentirá desconforto (síndrome de abstinência) ao deixar de fumar.
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