Extração de amido. Tecnologia para extração de amido de papas
Marney Pascoli Cereda1
1. O amido:
O amido é um dos carboidratos mais disponíveis em nível mundial, ficando
apenas atrás da celulose. Seu baixo preço e múltiplas utilidades fazem dele um
“commodities” com alguns nichos de preços mais altos em razão de usos
específicos. Os amidos recebem o nome do vegetal de origem. Por exemplo,
amido de milho, de trigo, de mandioca, de batata, etc.
Praticamente todos os vegetais, inclusive a cana-de-açúcar acumulam
amido em um determinado estádio de desenvolvimento da planta mas para que o
amido seja extraído comercialmente uma série de características devem ser
consideradas.
Além da disponibilidade e baixo custo, é possível diferenciar as
propriedades funcionais, que dependem menos da extração que da fonte botânica.
Embora possam ser consideradas fontes botânicas as leguminosas não são
usadas como matéria-prima comercial. Os amidos disponíveis comercialmente
são apresentados na Figura 1. Na Ásia outros amidos são comerciais como os de
batata-doce, inhame e taro, mas não chegam a ser comercializados nesta forma
por ser a base para a fabricação de macarrões tipo “oriental”, feitos unicamente a
base de amido, contrariamente aos macarrões a base de farinha de trigo.
1 Professora e pesquisadora do Centro de Tecnologia e Análise do Agronegócio, Universidade Católica de Campo Grande, MS. E-mail: [email protected]
Fonte: Vilpoux, (2001).
Figura 1: Principais matérias-primas usadas na produção mundial de amido
expressa em milhões de toneladas por ano.
A maioria desses amidos comerciais é disponível em sua forma natural ou
“nativa”, exatamente como extraído da planta. Esses produtos comerciais nativos
são constituídos quimicamente de amido quase puro, com poucas substâncias
acompanhantes, que variam em composição e quantidade com o método de
extração. Quando se diz que amido foi extraído, está se falando dos grânulos
insolúveis em água fria.
O amido encontra-se na forma de grânulos formados por dois
polímeros de glicose, a amilose e amilopectina, distribuído em regiões cristalinas e
amorfas alternadas. A região cristalina ou micelar é composta principalmente por
amilopectina, sendo resistente à entrada de água e ao ataque enzimático.
Algumas raízes e tubérculos (mandioca, batata, araruta) e os
grãos de cereais são as fontes mais importantes de amido, com teores acima de
60% (POORE et al., 1993 apud Lopez e Stumpf Junior, 2005). O sorgo apresenta
teor médio de 72% de amido (NOCEK e TAMINGA, 1991 apud Lopez e Stumpf
Junior, 2005) com variação em função do cultivar, do ano e das condições
climáticas.
O amido é o polímero natural mais importante depois da
celulose, mas tem uso ainda mais amplo. As matérias-primas para extração
comercial de amido são os cereais e as raízes e tubérculos (CEREDA et ali.,
2001).
3.1. Características do amido
As propriedades do amido são resultados de características
tais como tamanho dos grânulos, teores de amilose e amilopectina e tipo de
cadeias destes polímeros. Dependem também de outros constituintes que estão
presentes no amido como o fósforo ou de resíduos da extração (CEREDA et ali.,
2001).
O amido é um polímero de elevado peso molecular e fornece
de 70 a 80% de calorias consumidas pelo homem em todo o mundo. (WHISTLER
e BEMILLER, 1997) além de ser facilmente convertido em muitos derivados por
processos químicos e bioquímicos, é uma fonte potencial e renovável que possui
papel importante em vários campos da vida do homem (HIZUKURI et al., 1997).
Para extrair o amido é necessário romper o tecido da matéria-
prima o que se faz por moagem do grão macerado em água e amolecido ou por
ralação seguida de peneiragem para separação da fibra no caso das raízes e
tubérculo. Durante a extração parte dos constituintes do citoplasma da célula
vegetal podem permanecer no amido, prejudicando sua qualidade por interferir
com suas propriedades.
A literatura denomina os componentes fibras, açúcares totais
e proteínas que ficam após a extração de fração não amido. Menor fração não
amido proporciona maiores rendimentos de extração e processos industriais mais
simples (FRANCO et al., 2001). Confirmando essa afirmação, Sarmento, (1997))
complementa que a indústria considera indesejável a presença de outros
componentes como fibras, cinzas, proteínas, matéria graxa e carboidratos na
matéria-prima amiláceas de vegetais, por dificultar o processo de purificação do
amido, podendo ainda, alterar a qualidade e interferir em suas propriedades.
Por outro lado, a fração não amido pode gerar interessantes
co-produtos e que reduzem o custo de extração. Um exemplo é dado na extração
de amido de milho, aonde o amido chega a ser co-produto de extração de óleo e
proteína, onde a proteína é um co-produto valioso. Os açúcares totais são
representados por carboidratos não amido, principalmente por sacarose, frutose e
glicose (FRANCO et al., 2001).
Outro exemplo é o do trigo, onde o glútem é co-produto
bastante valorizado (VILPOUX, 2003).
Apesar do grande número de informações disponíveis sobre
o tamanho e forma dos grânulos de amido, esses dados ainda não foram
adequadamente explorados, não sendo disponíveis correlações com outras
propriedades do amido analisado (FRANCO et al., 2001).
4. Grânulos de amido
As características do amido dependem principalmente do local onde é
estocado na planta.
4.1.O grânulo de amido
Os amidos podem ser subdividos em amidos de cereal e
amidos derivados de raízes e tubérculos, sendo que os grânulos de diferentes
fontes botânicas vão variar na composição, forma e tamanho. Como exemplo, os
amidos de cereais são em geral menores e contêm mais resíduos de proteínas e
lipídios que os amidos de raízes e tubéculos (HERMANSSON e SVEGMARK,
1996).
Figura 2. Formato e tamanho de grânulos de amido de diferentes fontes
botânicas.
O amido é único dentre os carboidratos, por ocorrer
naturalmente na forma de grânulos, que são compostos de uma mistura de dois
polímeros: um polissacarídeo essencialmente linear chamado amilose e um
polissacarídeo altamente ramificado denominado amilopectina, em proporções
que variam com a espécie e o grau de maturação da planta (WHISTLER e
BEMILLER, 1997).
A estrutura do grânulo de amido está intimamente ligada ao
seu desenvolvimento na célula viva. O amido armazenado nas células das
sementes, raízes e tubérculos, encontram-se depositados como grânulos
insolúveis, apresentando forma e dimensões diversas (FRANCO et al., 2001).
4.2. Tamanho dos grânulos de amido
O tamanho dos grânulos de amido está compreendido
entre 1 a 100 μm. Tamanho e forma dos grânulos variam com a espécie,
enquanto que a distribuição de tamanho varia com o estágio de
desenvolvimento da planta e forma de tuberização (Tabela 1).
O tamanho e a forma dos grânulos de amido estão entre os
fatores importantes para estabelecer os usos potenciais do amido. Grânulos
menores de 2,0 μm, por exemplo, podem ser usados como substitutos de gordura
devido ao tamanho ser semelhante ao dos micélios de lipídeos (CEREDA e
VILPOUX, 2003).
Por estar ligada ao desenvolvimento da planta, a estrutura do
amido está também intimamente relacionada às condições agronômicas do local
em que se dá o cultivo. Alterações de clima, como temperatura e chuvas, podem
influir na formação do grânulo e na deposição do amido. Esses fatores por sua vez
podem influir sobre o tamanho e o formato do grânulo de amido (DAIUTO, 2005).
O tamanho e a forma dos grânulos de amido são
característicos da planta de origem. As formas encontradas para o amido de
mandioca segundo Rickard et al., (1991) e Rosenthal et al., (1976) apud Roesler,
(2003) são redondas, truncadas, poligonal, cupuliforme, mitriforme. Para a batata
doce, a forma observada, foi esférica com diâmetro de 15 a 12 μm (FRANCO et
al., 2001 apud Roesler, 2003).
4. 2. Outras características do grânulo de amido
Por muito tempo, a estrutura de grânulo de amido foi
considerada suficientemente esclarecida; no entanto, estudos têm apresentado
estruturas ainda pouco elucidadas. BeMiller, (1997) apud Cereda et al., (2001) cita
a presença de poros na superfície de alguns grânulos. No caso dos grânulos de
amido de sorgo, esses poros atingem o interior do grânulo, formando túneis
penetrando provavelmente até uma cavidade no hilo. O interessante desses túneis
é que eles aumentam a área de atuação possível dos reagentes químicos e de
enzimas. Outros aspectos relevantes do grânulo de amido são os tipos de
organização interna e a natureza do envoltório externo. Existem diferentes níveis
de organização nos grânulos de amido, que vão desde áreas desorganizadas à
relacionadas até estruturas supramoleculares. A quantidade dos vários tipos de
estrutura está relacionada com a facilidade e o grau de inchamento do grânulo. O
autor indica que o grau de inchamento controla a eficiência de reações e
quantidade de substituição com reagente. Outro aspecto levantado por BeMiller,
(1997) apud Cereda et al., (2001) é o fato da parte externa do amido diferir da
parte interna, apesar de ter igual composição química.
O amido que se apresenta na forma de discretos grânulos
com forma e tamanho dependentes de sua fonte botânica, é composto
basicamente por dois tipos de macromoléculas: amilose e amilopectina. O amido
deve muito de sua funcionalidade a estas duas macromoléculas, assim como a
organização física das mesmas dentro da estrutura granular (BILIADERIS, 1991).
A proporção entre amilose e amilopectina é variável com a fonte botânica, o que
irá conferir características específicas à pasta de amido (CEREDA et ali., 2001). O
conteúdo desses polissacarídeos afeta a arquitetura do grânulo de amido, as
propriedades de gelificação e os atributos texturais (THOMAS e ATWELL, 1999).
A estrutura do grânulo do amido está intimamente ligada ao seu
desenvolvimento na célula viva. O amido armazenado nas células das sementes,
das raízes, dos tubérculos, etc., acha-se aí depositado como grânulos mais ou
menos brilhantes, apresentando forma e dimensões diversas. Nas células
vegetais, os grânulos são formados dentro de estruturas especiais denominadas
amiloplastos, envolvidos por uma matriz protéica, o estroma.
Para extrair os grânulos de amido há necessidade de romper ou
amolecer esse estroma para soltar os grânulos que serão depois arrastados com a
água e depositados sendo essa a base de sua purificação.
A microscopia aparece como uma ferramenta importante nos estudos
das características de grânulos de amido, acompanhamento de desenvolvimento
de plantas amiláceas, análise de produtos, acompanhamento de processos,
caracterização de resíduos, entre outros. O reconhecimento da origem botânica do
amido, através de microscopia é importante porque possibilita mesmo a pessoas
com pouca especialização, a descoberta de fraudes em partidas de amido,
ocasionadas por misturas indevidas de produtos amiláceas de diferentes origens
botânicas.
O tamanho e forma dos grânulos de amido são característicos da planta de
origem. A forma e tamanho de grânulo de amido de plantas mais comuns são
apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Variação da forma e diâmetro (μm) de grânulos de amido de algumas
fontes botânicas.
Nome CientíficoForma
Diâmetro (μm)
Maior Menor
Ipomoea batatas Esférica 15 12
Solanum batatas Ovalados 120 5
Manihot esculenta Esférica, semiesférica 12 11
Oryza sativa Poliédrica 6 6
Sorghum vulgare Poliédrica 15 14
Zea mays Poliédrica 15 12
Fonte: Hurtado, (1997) citado por Daiuto, (2005).
Os grânulos de amidos de tubérculo e raízes diferem bastante dos de
cereais. Enquanto que em raízes e tubérculos o teor de proteína é mais baixo, nos
cereais ocorre uma forte matriz protéica que cimenta os grânulos e torna difícil sua
extração. O fato de raízes e tubérculos o número de grânulos por plastídeos ser
menor os deixa livres para se desenvolver com formato arredondado. Por outro
lado os grânulos de amidos de cereais são mais numerosos e acabam por tomar o
formado anguloso com arestas. Dentre os amidos de raízes e tubérculos, os de
batata são os maiores, o que facilita a decantação. Entretanto a batata tem mais
proteína que a mandioca, o que dificulta a extração, mas proporciona co-produtos
de maior valor agregado.
Os grânulos de amido de batata são conhecidos como um dos maiores de
amidos comerciais, muito parecidos em formato com os de mandioca. Os grânulos
de amido de mandioca apresentam diâmetros parecidos com os de amido de
milho, porém são morfologicamente diferentes. São ovais ou redondos com alguns
côncavo-convexos característicos. Não são vistos estriamentos nos grânulos e,
sobre luz polarizada, observa-se claramente a cruz de malta. O tamanho varia de
5 a 35µm de diâmetro com a média de 20µm. A fécula de batata doce é composta
de grânulos poligonais parecidos com os de milho, com 10 a 25µm de diâmetro. A
cruz de malta é distinta e cruza no hilo.
O amido que se apresenta na forma de discretos grânulos com forma e
tamanho dependente de sua fonte botânica, é composto basicamente por dois
tipos de macromoléculas: amilose e amilopectina. O amido deve ser muito de sua
funcionalidade a estas duas macromoléculas, assim como a organização física
das mesmas dentro da estrutura granular. A proporção entre amilose e
amilopectina é variável com a fonte botânica, o que irá conferir características
específicas à pasta de amido e também interferir em suas aplicações porque afeta
a arquitetura do grânulo de amido, as propriedades de gelificação.
A grande maioria dos amidos contém 20 – 30% de amilose e 70 – 80% de
amilopectina. Existem amidos que são constituídos de 100% de amilopectina
denominados amidos “cerosos”, e algumas variedades de amidos de milho
definidos como de alto teor de amilose como 50 e 70%. A amilose é
essencialmente um polímero linear formado por unidades de D-glicose, unidas
entre si por ligações glicosídicas α(1→ 4) como consta da Figura 4. O grau de
polimerização (DP) está usualmente na faixa de 500 – 6000 unidades de glicose.
Somente poucas ligações α(1→ 6) estão presentes, correspondendo de 09 a 90
pontos de ramificações.
Fonte: Adaptado de Wurzburg, (1986)
Figura 4. Estrutura molecular da amilose.
A amilopectina é uma molécula muito grande, altamente ramificada,
formada por unidades de D-glicose ligadas em α(1→ 4) e com 5 a 6% de ligações
α(1→ 6) nos pontos de ramificações (Figura 5). Possui um dos maiores pesos
moleculares relativos (107 -109 g/mol A molécula de amilopectina consiste de uma
cadeia principal C, que carrega o grupo redutor, e numerosas cadeias ramificadas
denominadas cadeias A e B. As cadeias A são conectadas às cadeias B ou C via
ligações α(1→ 6), mas não carregam qualquer ramificação, enquanto as cadeias
B, também conectadas a outras cadeias via ligações α(1→ 6), possuem uma ou
mais cadeias A ou B ligadas a ela nos pontos de ramificações.
Fonte: Adaptado de Wurzburg, (1986) citado por Cereda, (2001).
Figura 5. Estrutura molecular de amilopectina.
Ácidos graxos livres e lisofosfolipídeos formam complexos de
inclusão com amilose. Estes complexos existem no amido natural e são uma
característica do amido de batata. O teor de forfato natural em amido de batata faz
com apresente características únicas que o destacam como um amido natural com
propriedades de modificados.
3. Constituintes do amido:
O amido é constituído apenas de carboidratos. No entanto, o produto
industrial apresenta como acompanhantes substâncias tais como matéria graxa,
proteínas e cinzas. Essas substâncias são partes da própria planta de onde o
amido foi extraído. A quantidade delas no amido depende da composição da
planta e do método de extração e purificação. Quanto menor o teor destas
substâncias, melhor a qualidade do amido. Teores menores também refletem
processos de extração e purificação mais eficientes.
Métodos de laboratório não permitem extrações comparáveis com
aquelas industriais e as obtidas em pequena escala não podem ser comparadas
com extrações em plantas automatizadas. A composição química só tem portanto
valor para comparar as características dos amidos das diferentes matérias-primas
nas mesmas condições de extração. Ainda assim é possível generalizar sobre
substancias acompanhantes de amidos de cereais e de raízes e tubérculos.
A Figura 3 apresenta a composição de amido comercial, mostrando a
grande proporção de amido em relação a outros acompanhantes
H2O (%) Amido Fibras Matéria graxa Açúcares redutores Cinzas Proteína
Figura 6. Composição centesimal de amido extraído de mandioca.
4: Principais matérias-primas usadas na produção mundial de amido
expressa em milhões de toneladas por ano.
Quanto maior o teor de proteína e gordura na matéria-prima, maior a
dificuldade de extração, mais caro o processo e mais difícil conseguir amido de
boa qualidade. Por essa razão a extração de amido de raízes e tubérculos, como
o da mandioca é mais fácil que a extração de amido de cereais como o milho.
Para o amido de batata extraído comercialmente o teor de impurezas
acompanhantes pode variar de 4 a 11% do peso total das batatas. Os componetes
solúveis serão extraídos junto com a água. Ainda assim o teor de amido nos
tubérculos de batata representam mais de 2/3 de seu peso seco.
O amido contém traços de elementos minerais e sais
inorgânicos, como cálcio, potássio, magnésio e sódio, encontrados na sua forma
iônica (JACOBS, 1998 apud Serrano, 2004). O conteúdo de cinzas pode variar
dependendo da fonte do material natural, práticas agronômicas, procedimentos de
moagem, e tipos de modificações químicas que podem sofrer os amidos. O
conteúdo de cinzas no amido é inferior a 0,5% da matéria seca (THOMAS e
ATWEEL, 1999 apud Serrano, 2004).
Dos constituintes menores, os que mais influenciam as
propriedades funcionais dos amidos são os lipídeos e o fósforo. Presentes
principalmente nos cereais, os lipídeos afetam a gelificação, modificam o
comportamento reológico das pastas resultantes e inibem a cristalização das
moléculas, reduzindo assim a retro gradação (WANG e WHITE, 1994 apud
Serrano, 2004). O movimento de água dentro dos grânulos é inibido na presença
de lipídeos de superfície, enquanto o inchamento e a lixiviação da amilose são
reduzidos na presença de complexos amilose-lipídeos (RAEKER et al., 1998). .
O amido de cereais de um modo geral contém fósforo
principalmente na forma de fosfolipídeos (MEREDITH et al., 1978, 2004) enquanto
em amidos de raízes e tubérculos o fósforo se encontra principalmente na forma
de monoéster (HIZUKURI, 1970). Amidos de alguns cereais como milho, milho
ceroso, arroz e arroz ceroso também apresentam quantidades menores de
monoéster fosfato (6-15 ppm), que estão localizados principalmente no C-6 de
suas unidades glicosídicas (TABATA et al., 1975).
Altos teores de fosfolipídeos provocam redução da
retrogradação de amidos (LIN e CZUCHAJOWSKA, 1998). A remoção dos
fosfolipídeos por desengorduramento das amostras torna o grupo hidroxil das
unidades da glicose disponível para formação de novas ligações de hidrogênio
que resultam em aumento da retrogradação.
4. Propriedades funcionais do amido:
O amido extraído dos tecidos vegetais é denominado amido natural
ou nativo. Há inúmeras aplicações para o amido nativo, mas em alguns tipos
específicos de usos essas propriedades do amido natural não são suficientes,
sendo necessário introduzir outras para obter melhor desempenho. Esses amidos
são denominados amidos modificados. As modificações são sempre consideradas
em relação as propriedades do amido nativo.
Para preencher as várias demandas para funcionalidades em
produtos amiláceas diferentes, o amido processado industrialmente pode ser
modificado enzimaticamente, fisicamente ou quimicamente. Na maioria das
modificações químicas do amido, normalmente referidas como derivatizações
químicas, a forma granular é mantida e grupos hidroxilas são parcialmente
substituídos produzindo éteres ou ésteres de amido, assim como amidos
aniônicos e catiônicos. Outros tipos de derivações químicas são a oxidação e as
ligações cruzadas.
A geleificação do amido ocorre quando os grânulos são expostos a
umidade e temperaturas elevadas, condições que determinam ruptura das
ligações de hidrogênio mais fracas, que unem as cadeias de amilose e
amilopectina, resultando em absorção de água e conseqüente intumescimento dos
grânulos, causando exsudação de parte da amilose tornando os grânulos mais
susceptíveis á digestão enzimática.
5. Processos de extração de amido:
Qualquer processo de extração de amido inclui uma ralação (raízes e
tubérculos) ou uma moagem, seguidos de separação do amido da fibra ou bagaço
constituído pelas paredes celulares. Como o amido é insolúvel em água fria, a
suspensão de amido em água é agitada para remover impurezas, a água trocada
diversas veze, finalmente o amido é decantado e seco.
O amido pode ser extraído de diversas matérias-primas por processo físico
constituído de moagem e separação em peneiras e centrífugas.
A moagem dos cereais deve ser maior energética que a ralação das
raízes e tubérculos, e além do mais, deve ser precedida de processo de
maceração em água, o que encarece o processo.
Singh e Eckhoff, (1998) apresentam em seu artigo uma cuidadosa revisão
sobre as metodologias usadas em laboratório ou em escala piloto para extração
de amido. Segundo os autores a extração de amido de cereais é dificultada pela
presença de proteínas e de gordura, esta quase que totalmente concentrada no
germem do grão. Para extrair o amido as metodologias existentes propõem a
maceração do grão inteiro em água ou solução de água - ácido lático (método
mais rápido), seguido na moagem dos grãos inchados e amolecidos. A esta
solução de água - ácido lático é acrescentado metabisulfito de sódio, como forma
de controlar as fermentações e dissolver parte da proteína que está presente no
endosperma dos cereais e que dificulta a extração e a purificação do amido.
O autor informa ainda que na industrie, os grãos são macerados num fluxo
contracorrente, com solução 0,1-0,2% de SO2 a 50-55°C, por 24 a 38 horas, o que
proporciona amido com concentrações baixas de SO2, para o qual há limites na
legislação européia. A Figura 7 apresenta um esquema completo da extração de
amido comercial de milho.
Fonte: Lopes Filho et al., (1999).
Figura 7: Fluxograma da extração do amido de milho.
Grãos de Milho
água imersão Água de imersão
Quebra sementes/Moagem grossaágua
estufa
Maceração dinâmica
moagem
Separação do germe peneiras água
estufaÁgua do amido
água Segunda moagem
decantação
Sólidos
massa
GERMEM
Separação da fibraÁgua decantação + água
Fibra grossaFibra fina
Decantação(glúten – amido)
Mesa de amido Água decantação + água
Água/proteína estufa
filtragem AMIDO
Água do filtrado estufa
GLÚTENestufaSÓLIDOS
estufa
FIBRA
A extração do amido de matérias-primas tuberosas é facilitada pelo baixo
conteúdo de gordura e de proteína, mas se essas características facilitam a
extração, também limitam as possibilidades de co-produtos que possam ser
comercializados e ajudar a reduzir o custo de produção. Um outro diferencial é
que o amido de raízes e tubérculos é mais neutro, menos colorido e pode ser
usado para produtos mais finos, por não conferir sabor, odor ou cor ao produto.
A extração do amido de forma comercial é feita por magem
ou ralação, separação de fibra e suspensão de amido em água, centrifugação,
purificação, desidratação e secagem (Figura 8). Amidos não comerciais podem
exigir etapas extras.
Água →Lavagem↓
descascamento → cascas↓
Picagem↓
Ralação↓
Extração→→→→→→ Bagaço(peneira de 130 μm)
↓Extração→→→→→→ Bagaço
(peneira de 70 μm)↓
Primeira centrifugação↓
Segunda centrifugação↓
Filtração↓
Secagem↓
Empacotamento
Fonte: Jacquey, (1999).
Figura 8: Fluxograma da extração comercial de amido de mandioca
A extração do amido de batata (papa) segue o mesmo fluxograma da figura
5. A maior diferença está no maior teor de proteina, que produz um efluente que,
ao contrário da mandioca, pode gerar um co-produto com teor razoável de
nitrogênio quando comparado ao baixo teor apresentado nos efluentes das
empresas comerciais extratoras de amido de mandioca, caracterizando um
resíduo que deve ser tratado, com custos e sem benefícios diretos ao empresário.
A política de compra de créditos de carbono poderia pelo menos amenizar os
custos deste processo obrigatório.
3.5. Equipamentos comerciais
O amido é um “commodities” e como tal seu uso é regulado pelo preço. Na
Amárica Latina o milho ainda domina o mercado de amido, seguido pelo amido de
mandioca principalmente processado no Brasil. O amido de batata só é extraído
como co-produto do corte no processamento de batata “chips” e “french fries”. A
opção para industrializar o amido de mandioca veio com os colonizadores
alemães do sul do Brasil e foi calcada no sistema indutrial da extração de amido
de batata na Alemanha e Holanda. Em nível mundial a Tailândia também adotou
equipamento semelhante com pequenas modificações que foram absorvidas da
China. Maiores informações sobre a comparação entre esses tres paises podem
ser encontradas na publicação de Vilpoux (2004).
Para ganhar competitividade as empresas brasileiras extratoras e
modificadoras do amido de mandioca (fecularias) têm aumentado seu período de
funcionamento e diminuido a ociosidade da indústria . E o único país produtor a
extrai amido o ano todo e não apenas nos períodos de maior rendimento.
Também nesse espírito as industrais comerciais tem tamnaho mínimo de
200 toneladas de raízes por dia e estão caminhando rapidamente para 200
toneladas de raízes por dia. Esse fato desistimulou a comercialização ou mesmo a
fabricação de unidades de menor capacidade. A cerca de 8a 10 anos existia no
Nordeste brasileiro algumas epresas que faziam equipamentos para 2 a 5
toneladas de raízes por dia, mas elas se tornaram onerosas e ficou mais barato
para os clientes comprarem o amido das grandes empresas.
3.6. Conclusões
Qualquer equipamento que seja usado para mandioca ou batata-dece
poderá também ser usado para extrair amido de papa. Neste caso é importante
contatar uma empresa com experiência em montar indústrias no experior. Não é
uma questão tecnológica, mas sim economica que o mercado mundial esteja
ficando pouco variado.
REFERÊNCIAS
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