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TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Origem
Conceito
Classificação
Elementos comuns e distintivos entre responsabilidade civil contratual e
extracontratual
Dano
Ato ilícito
Nexo causal
Elemento distintivo da responsabilidade extracontratual
Culpa
O dever de reparação
A responsabilidade civil contratual. Repercussões no contrato de trabalho
A responsabilidade civil extracontratual
Responsabilidade objetiva
Teoria do risco
Responsabilidade subjetiva
Responsabilidade civil pré-contratual
Responsabilidade civil pós-contratual
Dano material
Dano moral individual
Dano moral coletivo
Hipóteses de ocorrência
A questão do ônus da prova. Princípio da aptidão para a prova.
A questão da competência da Justiça do Trabalho
Reparação de danos causados por acidente de trabalho
A prescrição aplicável
2
Prescrição constitucional para os créditos trabalhistas
Prescrição Civil. Regra de transição.
Direito intertemporal – CCB 1916 e CCB de 2002
a) Acidente de Trabalho
b) Assedio Moral
c) Assedio Sexual
d) Atos Ilícitos isolados
TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Aspectos gerais da responsabilidade civil:
O Código Civil de 2002 reservou o primeiro Livro da Parte Especial
ao Direito das Obrigações, que compreende os direitos pessoais e de
crédito. Está assentado no princípio da autonomia da vontade.
A responsabilidade civil surge precisamente do descumprimento de
uma obrigação. Explicita Álvaro Villaça de Azevedo: “ou o devedor deixa
de cumprir um preceito estabelecido num contrato, ou deixa de observar o
sistema normativo, que regulamenta sua vida. A responsabilidade nada
mais é do que o dever de indenizar o dano”1.
A responsabilidade civil oferece o suporte dogmático à reparação do
dano.
Origem da expressão:
Para Álvaro Vilaça de Azevedo a origem da expressão está no
“verbo latino respondere, de spondeo, primitiva obrigação de natureza
contratual do Direito romano, pela qual o devedor se vinculava ao credor
1 AZEVEDO, Álvaro Vilaça de. Teoria geral das obrigações: responsabilidade civil. 10
ª ed. São Paulo:
Atlas, 2004, p. 243.
3
nos contratos verbais por intermédio de perguntas e resposta (spondesne
mihi dare Centum? Spondeo); ou seja, prometes me dar um cento?
Prometo”2.
A responsabilidade civil fundamenta a obrigação de reparar um dano
por quem lhe deu causa, em razão de descumprimento de norma legal ou
contratual.
Conceito:
Álvaro Vilaça de Azevedo conceitua a responsabilidade civil como a
“situação de indenizar o dano moral ou patrimonial, decorrente de
inadimplemento culposo, de obrigação legal ou contratual, ou imposta por
lei, ou, ainda, decorrente do risco para os direitos de outrem”3.
Para Cláudio Brandão, “é a obrigação, genericamente considerada,
atribuída a toda pessoa, física ou jurídica, de reparar o dano causado, em
virtude de sua ação ou omissão, caracterizadora da violação de um dever
jurídico preexistente”4
Dallegrave Neto sustenta que a “responsabilidade civil, vista como
instituto jurídico, não contém definição legal, contudo, doutrinariamente,
pode ser concebida como a sistematização de regras e princípios que
objetivam a reparação do dano patrimonial ou a compensação do dano
extrapatrimonial causados diretamente por agente – ou por fato de coisas
ou pessoas que dele dependem – que agiu de forma ilícita ou assumiu o
risco da atividade causadora da lesão”5.
Sebastião Geraldo de Oliveira bem define o instituto:
2 AZEVEDO, Álvaro Vilaça de. Teoria geral das obrigações: responsabilidade civil. 10
ª ed. São Paulo:
Atlas, 2004, p. 276. 3 Op. Cit., p. 277.
4 BRANDÃO, Cláudio. Acidente do Trabalho e Responsabilidade Civil do Empregador. 2
ª ed. São Paulo:
Ed. LTr, 2006, p. 206. 5 DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade Civil no Direito do Trabalho, 3ª ed., São
Paulo: Ed. LTr, 2010, p. 100.
4
“Onde houver dano ou prejuízo, a responsabilidade civil é
invocada para fundamentar a pretensão de ressarcimento por
parte daquele que sofreu as conseqüências do infortúnio. É, por
isso, instrumento de manutenção da harmonia social, na medida
em que socorre o que foi lesado, utilizando-se do patrimônio do
causador do dano para restauração do equilíbrio rompido. Com
isso, além de punir o desvio de conduta e amparar a vítima, serve
para desestimular o violador potencial, o qual pode antever e até
mensurar o peso da reposição que seu ato ou omissão poderá
acarretar.”
Regia-se pelo art. 159 do CC de 1916; hoje, pelos artigos 186, 187 e
927 do Código Civil de 2002.
Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187 – Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 927- Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo. (...)
Classificação:
A responsabilidade pede ser contratual, decorrente da inexecução
obrigacional do contrato e extracontratual, do inadimplemento obrigacional
normativo.
Responsabilidade civil contratual:
5
À época da Lei das XII Tábuas, de 450 a. C., admitia-se a execução
pessoal do devedor. Com a proibição da execução pessoal, o patrimônio do
devedor deve responder por suas dívidas.
O art. 942, caput, do CC disciplina a execução do patrimônio do
devedor.
A responsabilidade civil contratual, segundo preceitua Dallegrave
Neto, “provém da inexecução de uma obrigação mantida previamente entre
as partes (ofensor e vítima).”6.
Distingue-se da responsabilidade extracontratual não pela existência
de um contrato mas pelo fato de o dano a ser reparado decorrer da execução
do contrato mantido entre as partes.
Explicita o mesmo autor, Dallegrave Neto, que “observa-se que o
traço delimitador entre as duas espécies não é simplesmente a pre-
existência ou inexistência de um contrato entre as partes, mas que o dano a
ser reparado advenha da inexecução de obrigação contratual mantida por
elas.”7
Responsabilidade civil extracontratual:
José de Aguiar Dias afirma que a responsabilidade extracontratual,
no direito brasileiro, assenta “no princípio da culpa” e que “os princípios
fundamentais estão condensados nos art. 159 e 160 do Código Civil”, que,
“consoante a lição de Pontes de Miranda, nesses princípios se consideram
as seguintes noções: 1) ato ilícito: ação ou omissão voluntária,
compreendendo a negligência, imprudência e o dolo; 2) limites do ato
ilícito: legítima defesa e deterioração ou destruição de coisa alheia para
remover perigo iminente; 3) reparabilidade do dano”8.
6 DALLEGRAVE NETO. Idem, p. 81.
7 DALLEGRAVE NETO. Idem, p. 81.
8 AGUIAR DIAS, José de. Da Responsabilidade Civil. Vol. II, 10º ed., Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1995,
p. 373.
6
A responsabilidade extracontratual fundamenta-se na noção de ato
ilícito e na culpa.
Para Dallegrave Neto, é “aquela decorrente de violação de dever
geral previsto em lei ou na ordem jurídica; é o ato ilícito que, por si só, dá
origem à relação jurídica obrigacional, criando para o causador do dano, o
dever de indenizar a vítima”9.
Também chamada de responsabilidade aquiliana, por referência à
Lex Aquilia de damno, do século III a C, a responsabilidade
extracontratual, modernamente, abrange a responsabilidade por ato ilícito,
que resulta do descumprimento de preceito legal, baseada na idéia de culpa
e a responsabilidade sem culpa, fundada no risco.
Ato ilícito – regulado no art. 186 do CCB (art. 159 CCB de 1916).
Culpa - elemento gerador da responsabilidade, assim, do dever de reparar.
Informa Álvaro Villaça de Azevedo que, primitivamente, aplicava-se
a pena do Talião, que deixou resquícios na Lei das XII Tábuas (Tábua VII-
De delictis – „Se alguém fere a outrem, que sofra a pena do Talião, salvo se
existiu acordo‟). A Lex Aquilia, plebiscito que se fez votar por proposição
do tribuno da plebe Aquílio, introduziu um novo delito civil – o damnum
injuria datum – que regula o prejuízo causado à coisa alheia.10
Thomas Marky esclarece que “a lex Aquilia exigia que a danificação
fosse feita iniuria, isto é, contra a lei. Mais tarde, os jurisconsultos
entenderam que a palavra iniuria não significava apenas o ilícito, o
contrário à lei, mas implicava, também, a culpabilidade do autor do dano.
Exigiu-se, pois, que o dano causado o fosse dolosa ou ao menos
culposamente, sendo imputável também a mais leve negligência”.11
9 DALLEGRAVE NETO. Idem, p.81.
10 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Idem, p. 245/6.
11 Apud AZEVEDO, Álvaro Villaça, Idem, p. 246.
7
Com o Código Napoleão, de 1804, o instituto da responsabilidade
civil foi sistematizado, fundado na idéia de que quem der causa a dano
alheio deve repará-lo.
Dano:
Como expõe José de Aguiar Dias:
“O dano é, dos elementos necessários á configuração da
responsabilidade civil, o que suscita menos controvérsia. Com
efeito, a unanimidade dos autores convém em que não pode
haver responsabilidade sem a existência de um dano, e é
verdadeiro truísmo sustentar esse princípio, porque, resultando a
responsabilidade civil em obrigação de ressarcir, logicamente não
pode concretizar-se onde nada há a reparar.”12
O dano que interessa ao estudo da responsabilidade civil é o que
constitui requisito da obrigação de indenizar e se classifica em: danos
patrimoniais e danos morais.
Ato ilícito:
Conceituado no Código Civil, nos artigos 186 e 187.
Nexo de causalidade:
A responsabilidade civil só se configura se houver relação causal
entre o fato e o dano.
O Código Civil adotou a „teoria dos danos diretos e imediatos”, no
art. 403 do CC vigente (art. 1060 do CC de 1916), que dispõe: “Ainda que
a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os
12
AGUIAR DIAS, José de. Da Responsabilidade Civil, vol II, 10ª ed., Rio de janeiro: Forense, 1995, p.
713.
8
prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato,
sem prejuízo do disposto na lei processual”.
Excludentes de responsabilidade:
A culpa concorrente admite a distribuição dos prejuízos.
O fato de terceiro só exclui a responsabilidade do agente se for
constatada a culpa exclusiva do terceiro e o ato por ele causado for um ato
ilícito.
Cláudio Brandão elenca, como excludentes de responsabilidade:
a) Fato exclusivo da vítima
Sustenta que, “relativamente ao contrato de trabalho, é a atitude do
empregado que faz desaparecer o elemento de ligação entre o dano que
lhe foi propiciado e o fato que o originou, supostamente atribuído à
pessoa do empregador, como ocorre, por exemplo, com o ato proposital
de desativar, sem o conhecimento do empregador, mecanismo de
proteção existente em máquina desfibradora de sisal, destinado a
impedir a lesão nas mãos, mas que torna a produção mais lenta,
impedindo ganhos maiores, para os que percebem salário por obra.”13
A excludente só ocorre quando demonstrado que o ato que gerou o
dano foi exclusivo da vítima.
b) Fato exclusivo de terceiro
Explicita Cláudio Brandão que “a hipótese versada diz respeito ao ato
de terceiro que seja causa única e exclusiva do evento gerador do dano,
o qual equivale ao „caso fortuito ou força maior, por ser causa estranha à
conduta do agente aparente, imprevisível e inevitável e faz desaparecer
a relação de causalidade necessária para a configuração do dever de
reparação a unir o dano àquele a quem se busca imputá-la.”14
13
BRANDÃO, Cláudio. Idem, p. 253. 14
BRANDÃO, Cláudio. Idem, p. 254.
9
A disciplina existente é a do art. 930 do CC vigente (anterior art.
1520), que atribui o direito de regresso ao autor do dano, para receber a
indenização que houver pago.
c) Caso fortuito e força maior
São situações controvertidas. Caracteriza a força maior a inevitabilidade
e o caso fortuito a imprevisibilidade.
d) Cláusula de não indenizar
A cláusula é considerada inválida pela jurisprudência trabalhista, se
inserida no contrato de trabalho.
O dever de reparação:
O dever de reparar está positivado no art. 927, caput, do CC, por ato
ilícito e abuso de direito.
O parágrafo único do art. 927 do CC estabelece a obrigação de
indenizar sem culpa, instituindo a teoria do risco, fundada na
responsabilidade objetiva.
No que interessa ao direito do trabalho, dispõe o art. 932, III, CCB:
“São também responsáveis pela reparação civil: (...) o empregador ou
comitente, por seus empregados, no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele”.
A responsabilidade civil contratual. Repercussões no contrato de trabalho:
Como visto, a responsabilidade civil contratual provém de uma
obrigação mantida previamente entre as partes, que pode se manifestar de
forma objetiva quando o dano do empregado decorrer da regular, ordinária
execução do contrato de trabalho.
A responsabilidade civil extracontratual:
10
Na responsabilidade civil extracontratual, do tipo subjetiva, o ônus
da prova da existência do ato ilícito é da vítima.
Efeitos diversos resultam da opção por uma ou outra modalidade de
responsabilidade civil na apuração do dever de indenizar. A teoria da
responsabilidade objetiva, cujos elementos identificados são o dano, a
conduta e o nexo causal, prescinde da comprovação da culpa. Desse modo,
simples demonstração do nexo entre a conduta ilícita do empregador e o
dano sofrido pelo empregado é suficiente para que surja o dever de
indenizar.
Por sua vez, a teoria da responsabilidade subjetiva, além dos
elementos inerentes à anterior, requer a comprovação da culpa –
negligência, imprudência ou imperícia – na conduta causadora do eventus
damni. Nessa hipótese, v.g., o acidente de trabalho apenas enseja a
responsabilização do empregador se devidamente demonstrada sua conduta
culposa.
É inegável que, em atividade de alto risco à saúde e segurança dos
trabalhadores, deve o empregador providenciar alto padrão de segurança,
incluindo treinamento especializado para os empregados.
Ônus da prova:
É dever do empregador promover gestão racional das condições de
segurança e saúde do trabalho, adequadas ao risco da atividade exercida.
Ao deixar de providenciar essas medidas, o empregador viola o dever
objetivo de cuidado exigido em serviço de alto risco, configurando-se a
conduta culposa.
Nesse sentido, a apuração da culpa no acidente de trabalho deve
adequar-se à especial proteção conferida pelo ordenamento jurídico ao
trabalhador. Essa proteção concretiza-se, dentre outras formas, pela
11
inversão do ônus da prova, quando verificada a impossibilidade de sua
produção pelo empregado e a maior facilidade probatória do empregador.
Se o empregador não providencia as condições adequadas à
proteção do trabalhador, viola dever objetivo de cuidado, configurando-se a
conduta culposa.
Nesse sentido, a apuração da culpa no acidente de trabalho, v.g.,
deve adequar-se à especial proteção conferida pelo ordenamento jurídico ao
trabalhador. Essa proteção se concretiza, dentre outras formas, pela
inversão do ônus da prova, quando verificada a impossibilidade de sua
produção pelo empregado e a maior facilidade probatória do empregador.
A regra do artigo 333 do CPC, segundo o qual compete à parte que
alega comprovar fato constitutivo de direito, enquanto à parte contrária
compete provar fato modificativo, extintivo ou impeditivo, deve ser
aplicada subsidiariamente na esfera trabalhista. Aqui, vige o princípio da
aptidão para a prova, determinando que esta seja produzida pela parte que a
ela tem acesso, quando estiver fora do alcance da parte contrária.
Assim, infere-se na apuração da responsabilidade civil em
decorrência do acidente de trabalho que o ônus da prova também recai
sobre o empregador, que deve comprovar a inexistência da conduta
culposa. Se não se desonera do ônus que milita em seu desfavor, presume-
se a culpa, surgindo o conseqüente dever de indenizar os trabalhadores pelo
prejuízo sofrido.
Responsabilidade subjetiva.
Depende da comprovação da culpa, como visto.
Responsabilidade objetiva.
Teoria do risco
12
Trata-se de afirmar a responsabilidade objetiva do empregador pelos
danos causados ao empregado em virtude de acidente do trabalho nas
atividades de risco acentuado ou em outras de igual natureza.
Esse novo paradigma tem como marco, além da criação da OIT em
1919, a aprovação, em 10/12/1948, da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, da ONU, na medida em que incorporou o princípio da dignidade
da pessoa humana, como fundamento dos direitos humanos.
No plano do direito constitucional interno, a Carta Magna de 1946
instituiu o seguro contra acidentes do trabalho, não estatal, com custeio a
cargo do empregador (art. 157, XVII), como direito social do segurado,
além de assegurar higiene e segurança do trabalho (art. 157, VIII).
A Constituição da República de 1988 estabelece a proteção à saúde
do trabalhador em diversos dispositivos.
A teoria da responsabilidade objetiva, ou doutrina do risco, que
prescinde da prova da culpa e suas primeiras manifestações ocorreram no
final do século XIX.
Responsabilidade civil pré-contratual e pós-contratual.
Dallegrave Neto sustenta que “tanto o dano pré quanto pós-
contratual não decorrem da violação de obrigação principal do contrato,
mas da ofensa a um dever de conduta imanente à figura dos sujeitos do
contrato, pautado no princípio da boa-fé.”15
Dispõe o art. 422CC:
“Os contratantes são obrigados guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
boa-fé.”
15
DALLEGRAVE NETO. Idem, p. 106.
13
A indenização não considera o valor do contrato futuro ou pretérito,
mas as despesas e prejuízos daquele que ficou frustrado pela não
celebração do contrato.
Responsabilidade civil pré-contratual.
Diz-se da responsabilidade quando o vínculo jurídico ainda não se
formou.
O Código Civil de Portugal adotou a culpa in contrahendo, culpa
presumida pelo inadimplemento, no art. 227:
“Quem negocia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nas
preliminares como na formação dele, proceder segundo às regras da boa-fé,
sob pena de responder pelos danos que culposamente causar à outra parte.”
A reparação do dano pré-contratual atende aos interesses negativos,
assim, as despesas e prejuízos relativos à frustração da formação do
contrato.
Dallegrave Neto afirma que “o fundamento para a responsabilidade
civil pré-contratual é a tutela da confiança negocial que propugna pela
harmonia do comportamento das partes, solucionando eventual conflito
entre a vontade e a declaração manifestada”.16
Dallegrave Neto, com Antonio Junqueira Azevedo, ao contrário,
conclui que “a responsabilidade civil, nesse momento, resulta da quebra de
um dever específico de boa-fé negocial, motivo pelo qual o dano daí
emergente se enquadra na responsabilidade contratual”.
O dever de boa-fé dirige-se a todos os integrantes da relação jurídica.
Assim, o dever de não lesar, se absoluto, enquadra-se no conceito de
responsabilidade civil extracontratual; se relativo, como parte integrante de
16
DALLEGRAVE NETO. Idem, p. 108.
14
um contrato ou negócio, o dano resultante será reparado por violação ao
princípio da boa-fé, ensejando a responsabilidade civil do tipo contratual.
Responsabilidade civil pós-contratual.
Diz-se da responsabilidade em decorrência de contrato já extinto. A
responsabilidade persiste mesmo findo o contrato de trabalho. Exemplo
típico é o item II da Súmula 378 do TST:
“Súmula 378 (...)
II – São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento
superior a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário,
salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde
relação de causalidade com a execução do contrato de emprego.”
Também fundamenta-se na boa-fé objetiva e a competência persiste
da Justiça do Trabalho
O DANO NO CONTRATO DE TRABALHO
O contrato de trabalho.
O contrato de trabalho é um negócio jurídico celebrado entre duas
pessoas, capazes, sujeitos de direitos e deveres, com o objetivo de
prestação dos serviços contratados, mediante remuneração e subordinação.
Está protegido pela lei.
O art. 104 do CC dispõe que todo negócio jurídico deve ter agente
capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma
prescrita ou não defesa em lei.
Definição: “contrato de trabalho stricto sensu é o negócio jurídico pelo qual
uma pessoa física (empregado) se obriga, mediante o pagamento de uma
15
contraprestação (salário), a prestar trabalho não eventual em proveito de
outra pessoa, física ou jurídica (empregador), a quem fica juridicamente
subordinada” (Délio Maranhão)17
As obrigações principais já foram vistas. Outros deveres decorrentes
do contrato de trabalho:
Probidade
Lealdade
Informação
Proteção
Fidelidade
Respeito
Danos. Tipificação.
O dano é a própria essência da responsabilidade civil, sem ele não há
que se falar nesta.
Dallegrave Neto conceitua dano:
“como a lesão a interesses juridicamente tuteláveis. Quando o dano
repercute sobre o patrimônio da vítima, entendido como aquele suscetível
de aferição em dinheiro, denominar-se-á dano patrimonial. Ao revés,
quando a implicação do dano violar direito geral de personalidade,
atingindo interesse sem expressão econômica, dir-se-á, então, dano
extrapatrimonial.”18
Dano material ou patrimonial.
17
Instituições de Direito do Trabalho, Ed. LTr, São Paulo, 1999, p. 245-246. 18
DALLEGRAVE NETO. Idem, p. 138.
16
Compreende as perdas e danos, assim, os danos emergentes e os
lucros cessantes – art. 402 CC – que devem ser provados pela vítima,
concretamente. Enseja precisa e integral reparação.
Nos termos do art. 950 do Código Civil, a indenização a título de dano
material engloba: (i) o dano emergente, (ii) o lucro cessante e (iii) pensão
proporcional à importância do trabalho para o qual se inabilitou ou à
depreciação que sofreu.
O dano emergente deve corresponder ao valor das despesas gastas
com o tratamento (médico, psicológico) até a recuperação.
O lucro cessante diz respeito aos valores que os trabalhadores
concretamente deixarem de auferir até o fim da convalescença.
O pensionamento, por sua vez, é devido se, após a convalescença,
restarem seqüelas que reduzam a capacidade laborativa dos trabalhadores.
“Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não
possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de
trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes
até o fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância
do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.”
“Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a
indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.”
Dano moral individual.
O dano moral tem natureza imaterial e, por isso mesmo, é
compensado com o pagamento de uma indenização, não no seu sentido
literal, pois esta tem pertinência com o ato lícito, mas com uma reparação
pecuniária que a jurisprudência tem convencionado estabelecer para
compensar o dano moral, objetivando atenuar os prejuízos decorrentes da
lesão a uma esfera que não é patrimonial, que é personalíssima da pessoa e
17
que atinge, ou pode atingir, direitos da personalidade como está na
Constituição: à honra, à intimidade, à vida privada, à imagem, à saúde,
especialmente a saúde mental, à própria dignidade da pessoa humana e a
sua integridade física e moral. E secundariamente constitui um desestímulo
à prática de condutas lesivas dessa natureza. O pagamento tem a natureza
jurídica, portanto, de sanção pela prática de um ato ilícito.
O que gera a obrigação de indenizar é a prática do ato ilícito que
provocou o dano moral, freqüentemente acompanhado de um dano
material, daí a concomitância das duas indenizações, via de regra.
Dano moral coletivo.
No dano moral coletivo, o sujeito passivo atingido é uma
coletividade e a reparação reverte em favor dela.
Acentua o Prof. Arion Sayão Romita que “o dano moral coletivo
tanto pode afetar o interesse dos indivíduos considerados como membros
do grupo quanto o direito cujo titular seja o próprio grupo. Neste sentido, a
Lei nº 7.347, de 1985, que regula a ação civil pública, prevê expressamente
a possibilidade do reconhecimento de dano moral coletivo, ao incluir, no
art. 1º, IV, a referência a responsabilidade por danos morais e coletivos
causados “a qualquer outro interesse difuso ou coletivo”. Pode-se, então,
entender por dano moral coletivo aquele que decorre da violação de direitos
de certa coletividade ou a ofensa a valores próprios dessa mesma
coletividade, como sucede, por exemplo, com a crença religiosa, o
sentimento de solidariedade que vincula os respectivos membros, a repulsa
a atos de discriminação contra membros da coletividade ou do próprio
grupo, como tal. Cabe lembrar, a propósito, disposição expressa de lei
vigente no Brasil (art. 81, parágrafo único, do Código de Defesa do
Consumidor – Lei nº 8.078, de 1990), em cujos termos entende-se por
18
interesses ou direitos coletivos os transindividuais de natureza indivisível
de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou
com a parte contrária por uma relação jurídica base.”
A valorização dos direito humanos, dos direitos de terceira geração
(à solidariedade, à paz, ao meio ambiente adequado, ao patrimônio comum
da humanidade), assim, da dignidade da pessoa humana e dos direitos da
personalidade, propiciou a consideração da coletividade de pessoas como
titulares de direitos.
Para Xisto Tiago de Medeiros Neto:
“como nota característica do desenvolvimento do instituto da
responsabilidade civil observa-se a crescente ampliação do elenco dos
danos passíveis de ressarcimento, o que trouxe como conseqüência a
abrangência da obrigação de reparar lesões a bens e valores jurídicos
titularizados por coletividades de pessoas.”19
Para Carlos Alberto Bittar Filho:
“Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo
menção ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade
(maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira
absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico.”20
Na jurisprudência do TST destacam-se os seguintes acórdãos:
RR 391/2001-024-01-00.6; RR 1156/2004-004-03-00.9; AIRR
561/2004-096-03-40.2; RR 146070/2004-900-01-00.7; RR 1557/2004-020-
05-00.7; RR 98921/2004-014-09-00.0; RR 1776/2003-003-06-40.9.
Xisto de Medeiros Neto conceitua dano moral coletivo: “corresponde
à lesão injusta e intolerável a interesses ou direitos titularizados pela
coletividade (considerada em seu todo ou em qualquer de suas expressões –
grupos, classes ou categorias de pessoas), os quais possuem natureza
19
MEDEIROS NETO, Xisto Tiago. Dano Moral Coletivo. 2ª ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 123.
20 Apud MEDEIROS NETO, Xisto Tiago. Idem, p. 128.
19
extrapatrimonial, refletindo valores e bens fundamentais para a
sociedade.”21
Reparação de danos advindos da relação de trabalho.
É paradoxal o valor da indenização fixada nas hipóteses de dano
moral. Nos dissídios individuais, observamos que essas indenizações
flutuam entre 2 mil, 20 mil, 250 mil, 435 mil, como houve uma que foi
reduzida pela 5ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho de 435 para 50
mil. Nas hipóteses de dano moral coletivo temos acórdão importante da 6º
Turma do TST, da lavra do Ministro Aloysio Corrêa da Veiga, onde essa
questão foi examinada. Foi configurado dano moral coletivo pela utilização
da Justiça do Trabalho para homologar rescisões contratuais com mais de
um ano de casa sem que houvesse conflito, apenas para liberar o
empregador e o empregado de comparecerem ao sindicato. Foi considerado
ato atentatório à dignidade da Justiça, e se estabeleceu um valor de 30 mil
reais a ser recolhido ao PAT. Já no Rio Grande do Norte o Tribunal
Regional do Trabalho, em decisão pioneira, muito citada, manteve a
sentença e fixou condenação de 1 milhão de reais, por dano moral coletivo
decorrente de assédio moral contra empregados que não obtinham ou não
atingiam metas de venda, cotas de vendas pré-estabelecidas, e por isso
eram punidos com obrigação de fantasiar-se, de fazer flexões de braço,
assistir reuniões em pé, dançar na boquinha da garrafa e outras prendas. O
Tribunal impôs o pagamento de 1 milhão de reais ao Fundo de Amparo ao
Trabalhador. Isso apenas para verificar a grande diferença de valores
atribuídos e a riqueza das hipóteses. Já o TRT da 10ª Região, para inibir a
contratação de professores por estabelecimento de ensino por meio de
cooperativas, atribuiu 100 mil reais também a título de dano moral coletivo.
21
MEDEIROS NETO, Xisto Tiago. Idem, p. 137.
20
Em outra situação, onde identificou trabalho em condição análoga à de
escravo, fixou valor de 30 mil reais. Já a Primeira Vara de Paulínia em
sentença condenou a pagar 2 milhões de reais por dano moral coletivo,
porque a empresa não autorizava, ou proibia por resolução, o afastamento
de empregados acidentados do trabalho.
O arbitramento do dano moral, pelas próprias circunstâncias que o
definem, tem ocorrido de forma preponderantemente subjetiva, como já
referido, segundo critérios de justiça e eqüidade, ainda que, em cada
situação específica, seja dada ao magistrado a oportunidade de fixar
parâmetros à apreciação do dano sofrido.
Os juizes, muitas vezes, adotam, para fixar as indenizações por danos
morais, critérios de proporcionalidade e de razoabilidade. Considera-se o
tamanho da dor, do sofrimento, da humilhação, o grau de culpa do lesante,
a sua condição econômica de suportar o pagamento, o tempo de serviço do
empregado.
À falta de parâmetros definidos, fica aberta a possibilidade à adoção
de critérios subjetivos na fixação da indenização, de modo que um Juiz,
considerando a dor provocada por determinada lesão que considere grande,
fixe em 1 milhão o valor da indenização. Outro pode não considerá-la tão
grande, fixando-a em 500 mil. O Tribunal poderá reduzir o valor para 300
mil. A adoção da argumentação valorativa contém elementos de conteúdo
individualizante que podem retirar a importância histórica e institucional do
princípio que ampara a pretensão reparatória assim como a sua própria
normatividade. Essa, a delicadeza da matéria, uma vez que o dano moral
não tem valor fixo.
“Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade
da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.”
21
Em Tribunais Superiores, para tentar uniformizar esses valores, há
barreiras, como as das Súmulas 126 do TST, no STJ nº 7, 279 do STF, que
consideram insuscetível de revisão matéria de fato. Mas, o que está
ocorrendo é que tanto o Tribunal Superior do Trabalho quanto o Superior
Tribunal de Justiça, quando consideram exorbitantes ou irrisórios os
valores, reformam as decisões recorridas, para buscar uma uniformização
entre as hipóteses ocorrentes.
É necessário que a segurança jurídica, princípio fundamental, seja
efetivamente implementado, que o Poder Judiciário tome decisões que
satisfaçam a um só tempo a exigência de segurança jurídica, de certeza do
Direito, de justiça e eqüidade. A argumentação valorativa parece
inadequada. A teoria do balanceamento dos princípios, desenvolvida na
Alemanha por Robert Alexy, que tem inspirado a adoção dos critérios da
proporcionalidade e da razoabilidade, requer a adoção de um meta
princípio que regula como se desenvolve a coesão entre os demais
princípios. Esse meta princípio é o da proporcionalidade, que se divide em
três outros subprincípios, o da adequação, da necessidade e da
proporcionalidade em sentido estrito. Os argumentos que têm sido
utilizados, na jurisprudência em torno desta matéria, para priorizar um
princípio ou outro são individuais, dizem com o pensamento do juiz, de
modo que a decisão para que lado a balança vai pesar depende do
pronunciamento da pessoa que vai julgar. O subjetivismo, entretanto,
parece inadmissível num sistema jurídico em que se pretende uma
aplicação íntegra e coerente do Direito.
O que o Magistrado deve postular e buscar ao interpretar e aplicar o
Direito? A coerência, ele deve levar em consideração a história da
comunidade, que revela os princípios constitucionais, o que garante a
compreensão de que a sociedade está estruturada no ideal da igual
consideração e respeito; o texto legal, a intenção do legislador, o conteúdo
22
das decisões pretéritas, no contexto em que foram produzidas, buscando, a
partir do caso concreto, observar e verificar como se poderia manter íntegro
o desenvolvimento do Direito, como ensina Ronald Dworkin. E isso,
sempre na concepção de que não se pode igualar princípios e valores. O
juiz deve levar em consideração os elementos assinalados - o conteúdo dos
precedentes, quem os formulou, em que circunstâncias, - e, nessa
perspectiva, compreender a justificativa daquela decisão e aplicar de forma
coerente o direito, considerando o caráter normativo do princípio, evitando-
se assim disparidades que podem ocasionar o aumento da litigiosidade, sem
qualquer proveito para o desenvolvimento do instituto.
O estudo passa pela questão da influência dos direitos fundamentais
sobre a legislação do direito privado. São princípios constitucionais que
estão dando sustentação e fundamento à reparação. Nessa perspectiva,
constitui imperativo da lógica normativa que a legislação no campo do
direito privado esteja vinculada aos direitos fundamentais e segundo o
princípio da primazia da Lei Superior. As normas do direito privado
representam, simultaneamente, uma intervenção nos direitos fundamentais;
garantia de proteção dos direitos fundamentais e, assim, concretização de
direitos fundamentais.
Reparação de danos causados por acidente de trabalho.
O constituinte, ao estabelecer os direitos dos trabalhadores, previu
duas indenizações, autônomas e cumuláveis: a acidentária, a ser exigida do
INSS, lastreada na responsabilidade objetiva; e a de natureza civil, a ser
paga pelo empregador, quando incorrer em dolo ou culpa.
É o que se observa, dos termos do art. 7º, inciso XXVIII, da
Constituição da República, que dispõe serem direitos dos trabalhadores (i)
o seguro contra acidentes de trabalho, além da (ii) indenização pelos
23
danos sofridos, quando o empregador incorrer em dolo ou culpa. Observe-
se:
“Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando
incorrer em dolo ou culpa;”
A primeira proteção, de natureza previdenciária, é exigível do INSS
por meio da Justiça Comum. Essa proteção, no entanto, não se vincula a
uma segunda, que decorre diretamente da relação de trabalho e consiste na
indenização pelos danos material e moral. A competência para apreciação e
julgamento dessa segunda pretensão é da Justiça do Trabalho.
Nos termos do artigo 7º, inciso XXVIII, da Constituição da República,
sede material da obrigação de indenizar, o dano por acidente de trabalho dá
ensejo a dupla esfera protetiva. A primeira proteção é o seguro social, de
natureza previdenciária, da competência da Justiça Comum. A segunda
decorre diretamente da relação de trabalho e consiste na indenização pelos
danos material e moral. A competência para apreciação e julgamento dessa
segunda pretensão é da Justiça do Trabalho.
A questão da competência da Justiça do Trabalho.
A Emenda Constitucional nº 45/2004 dispôs expressamente, no Art.
114, Inciso VI, que “compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as
ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação
de trabalho.” No mesmo sentido, dispõe a Súmula nº 736, do Supremo
Tribunal Federal.
24
Até a entrada em vigor da Constituição da República de 1988, a
orientação jurisprudencial assentava-se na impossibilidade de
ressarcimento do dano moral. O advento da Carta Magna estabeleceu, entre
os direitos fundamentais, a indenização por dano moral, encerrando as
discussões doutrinárias e jurisprudenciais sobre sua existência. Nesse
sentido, observe-se o disposto no artigo 5º, incisos V e X, da Constituição:
“V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;”
“X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação;”
Com base no entendimento de que o dano moral se configura com a
caracterização do ato ilícito, o Código Civil de 2002 atualizou a previsão
normativa sobre o assunto, no artigo 186.
Na esfera trabalhista, a reparação dos danos morais visa à proteção
da dignidade do trabalhador.
A competência material da Justiça do Trabalho para o julgamento
das ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrente da
relação de trabalho, antes mesmo da EC 45/2004, já era afirmada pelo
Tribunal Superior do Trabalho, em jurisprudência sumulada.22
O acidente
de trabalho, contudo, não integrava necessariamente tais hipóteses, sendo
controvertido o tema da competência material, em especial considerando o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, pela competência da Justiça
Estadual, consagrado na então
Súmula 15/STJ: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar os litígios
decorrentes de Acidente do Trabalho.”
22
Súmula nº 392 do TST – DANO MORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
(conversão da OJ nº 327 da SBDI1). Nos termos do art. 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é
competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da
relação de trabalho.”
25
Posteriormente à EC 45/04, em célebre decisão, o Supremo Tribunal
Federal, no julgamento do CC 7207-1, alterou entendimento – que se
compatibilizava com o do STJ – concluindo pela competência da Justiça do
Trabalho, também quando a indenização postulada decorrer de dano
causado por acidente de trabalho, em acórdão assim ementado:
“EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA
JUDICANTE EM RAZÃO DA MATÉRIA. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS
DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO,
PROPOSTA PELO EMPREGADO EM FACE DE SEU (EX-)
EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO. ART. 114 DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO
ANTERIOR E POSTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL
Nº 45/04. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSOS EM CURSO
NA JUSTIÇA COMUM DOS ESTADOS. IMPERATIVO DE
POLÍTICA JUDICIÁRIA.
1. Numa primeira interpretação do inciso I do art. 109 da Carta
de Outubro, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações
de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de
acidente do trabalho, ainda que movidas pelo empregado contra
seu (ex-)empregador, eram da competência da Justiça comum
dos Estados-Membros.
2. Revisando a matéria, porém, o Plenário concluiu que a Lei
Republicana de 1988 conferiu tal competência à Justiça do
Trabalho. Seja porque o art. 114, já em sua redação originária,
assim deixava transparecer, seja porque aquela primeira
interpretação do mencionado inciso I do art. 109 estava, em boa
26
verdade, influenciada pela jurisprudência que se firmou na Corte
sob a égide das Constituições anteriores.
3. Nada obstante, como imperativo de política judiciária -- haja
vista o significativo número de ações que já tramitaram e ainda
tramitam nas instâncias ordinárias, bem como o relevante
interesse social em causa --, o Plenário decidiu, por maioria, que
o marco temporal da competência da Justiça trabalhista é o
advento da EC 45/04. Emenda que explicitou a competência da
Justiça Laboral na matéria em apreço.
4. A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça
comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito.
É dizer: as ações que tramitam perante a Justiça comum dos
Estados, com sentença de mérito anterior à promulgação da EC
45/04, lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente
execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado,
hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se
encontram, com total aproveitamento dos atos praticados até
então. A medida se impõe, em razão das características que
distinguem a Justiça comum estadual e a Justiça do Trabalho,
cujos sistemas recursais, órgãos e instâncias não guardam exata
correlação.
5. O Supremo Tribunal Federal, guardião-mor da Constituição
Republicana, pode e deve, em prol da segurança jurídica, atribuir
eficácia prospectiva às suas decisões, com a delimitação precisa
dos respectivos efeitos, toda vez que proceder a revisões de
jurisprudência definidora de competência ex ratione materiae. O
escopo é preservar os jurisdicionados de alterações
jurisprudenciais que ocorram sem mudança formal do Magno
Texto.
27
6. Aplicação do precedente consubstanciado no julgamento do
Inquérito 687, Sessão Plenária de 25.08.99, ocasião em que foi
cancelada a Súmula 394 do STF, por incompatível com a
Constituição de 1988, ressalvadas as decisões proferidas na
vigência do verbete.
7. Conflito de competência que se resolve, no caso, com o
retorno dos autos ao Tribunal Superior do Trabalho” (STF-CC-
7.204/MG, Tribunal Pleno, Rel. Min. Carlos Britto, DJ
09.12.2005)
A conclusão é no sentido de que a alteração da competência prevista
no inciso VI, do artigo 114, decorrente da Emenda Constitucional, limitou-
se à questão do acidente de trabalho. Anteriormente a ela, já se reconhecia
a competência da Justiça do Trabalho para o processamento de demandas
cuja causa de pedir remota (legislação aplicável) se reportava à legislação
civil – v.g., indenização por danos morais em decorrência de despedida por
justa causa vexatória ou assédio moral.
Após o advento da Lei nº 9.032/95 os benefícios acidentários foram
equiparados aos previdenciários. As prestações têm o mesmo valor. O
segurado não tem mais interesse em discutir o enquadramento como
acidente na Justiça Comum para fins de percepção do benefício
previdenciário.
Corrobora esse entendimento a Súmula nº 736, editada recentemente
pelo Supremo Tribunal Federal, que dispõe sobre a competência desta
Justiça Especializada.
A prescrição aplicável.
Prescrição constitucional para os créditos trabalhistas
Prescrição Civil. Regra de transição.
28
Direito intertemporal – CCB 1916 e CCB de 2002
Considere-se que a natureza da pretensão define a prescrição
aplicável.
a) Prevalência da tese da prescrição própria dos créditos trabalhistas:
A SDI-1, do Tribunal Superior do Trabalho, em sessão realizada no
dia 21/11/2006, acórdão publicado no D.J. de 02/02/2007, decidiu pela
aplicação da prescrição constitucional-trabalhista, prevista no art. 7º,
XXIX, da Constituição da República, como se depreende da ementa:
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DECORRENTE DA
RELAÇÃO DE EMPREGO. APLICAÇÃO. PRAZO
PRESCRICIONAL PREVISTO NO ARTIGO 7º, XXIX, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. MATÉRIA DE DIREITO. MÁ-
APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 126/TST. VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 896 DA CLT. RETORNO DO PROCESSO AO TRT DE
ORIGEM. A Turma, ao definir que o prazo prescricional para postular
indenização por dano moral decorrente de vínculo empregatício é de
dois anos, nos termos do artigos 7º, XXIX, da Lei Maior, deveria ter
determinado o retorno do processo ao TRT de origem, ao invés de não
ter conhecido da Revista com suporte na Súmula nº 126/TST. Isto
porque o debate da questão tem contornos jurídicos e não fáticos, pois
ficou definido que, na hipótese de indenização por danos morais
decorrente da relação de emprego, a prescrição a ser aplicável é a
prevista na Constituição da República, e não a do artigo 205, do atual
Código Civil. Recurso de Embargos provido. (TST-E-RR-333/2005-
29
002-20-00.5, SBDI-1, rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula, D.J.
02/02/2007)
Essa corrente, que prevaleceu, considera que a prescrição aplicável
tem pertinência com a natureza do vínculo estabelecido.
b) Prevalência da tese da prescrição própria dos créditos civis: essa tese se
baseia na concepção de que a prescrição, instituto de direito material, não
guarda relação com o órgão incumbido de apreciar o litígio. Assim, se o
pedido basear-se em regra de direito civil, será aplicável a prescrição
indicada no Código Civil.
O TST passou a proclamar, quando ajuizada a ação anteriormente à
decisão do STF na Justiça Estadual, excepcionalmente, a incidência da
prescrição civil, nestes termos:
RECURSO DE EMBARGOS. ACIDENTE DE TRABALHO. DANOS
MORAIS E MATERIAIS. AÇÃO AJUIZADA NA JUSTIÇA COMUM E
REMETIDA À JUSTIÇA DO TRABALHO APÓS A EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 45/2004. DIREITO INTERTEMPORAL.
SEGURANÇA JURÍDICA. REGRA DE TRANSIÇÃO. APLICAÇÃO DA
PRESCRIÇÃO CÍVEL.
A prescrição de dois anos, para ajuizamento de ação na Justiça do
Trabalho, como determina o art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, não
alcança ações cuja data da lesão já transcorrera em mais da metade pela
regra da prescrição de vinte anos, conforme determina o art. 2028 do
Código Civil de 2002. A alteração da competência para o julgamento das
ações relativas a acidente de trabalho, conforme EC 45/2004, não
possibilita a aplicação imediata da regra de prescrição trabalhista, pois
30
quando da redução dos prazos prescricionais (arts. 205 e inc. V do art.
206), estabeleceu-se a regra de transição, com o objetivo de assegurar o
princípio da segurança jurídica. Considerando que a ação foi interposta
após janeiro de 2003 (data da vigência do Código Civil de 2002) e que já
havia transcorrido mais de dez anos da ciência do dano, o prazo aplicável
ao caso sob exame é o de vinte anos, razão por que não se encontra
prescrita a pretensão ao pagamento da indenização correspondente.
Proposta a ação em 2004, antes da vigência da EC n.º 45/2004, na Justiça
Comum em relação a contrato extinto em 1988, com a aposentadoria do
reclamante em virtude de acidente de trabalho, e apenas e tão-somente
declinada a competência para a Justiça do Trabalho em 2005, não pode o
autor ser surpreendido pela mudança da competência, adotando prazo
prescricional de dois anos, pois já tinha adquirido o direito a ver a sua
pretensão julgada sob a regra de prescrição anterior.
Embargos conhecidos e providos.” (TST-E-RR-2917/2005-342-01-00.2,
SBDI-1, Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga, DJ 16.05.2008).
Mais recentemente, em sessão da SDI1 de 21/05/2009, afirmou-se a
incidência da prescrição civil à ação ajuizada na Justiça do Trabalho após a
decisão do STF e da EC 45/2004 objetivando reparação por danos morais,
ao fundamento de que o acidente ocorrera em 1997, antes da afirmação da
competência material da Justiça do Trabalho (ERR 406/2006-153-00.8).
O fundamento foi o de que “as partes não podem ser surpreendidas
pela alteração do prazo prescricional mais restrito, especialmente quando
essa alteração foi motivada pela transmudação da competência material e
não pela legislação que define os prazos prescricionais.
iii) a prescrição civil e a regra de transição do Código Civil de 2002:
31
Considerando a hipótese de utilização da regra de prescrição civil, é
importante salientar a regra de transição prevista no novo Código:
a) regra do Código Civil de 1916: previa o artigo 177, do Código
Civil revogado, que a prescrição para ações pessoais, aí inclusas as ações
para reparação de danos, seria de 20 (vinte anos):
Art. 177 – As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20
(vinte) anos, as reais em 10 (dez), entre presentes, e entre ausentes em
15 (quinze), contados da data em que poderiam ter sido propostas.
b) regra do Código Civil de 2002: na atual sistemática, a prescrição
para reparação de danos foi contemplada, especificamente, com norma
própria, que prevê um prazo de 3 (três) anos:
Art. 206. Prescreve:
(...)
§ 3º Em três anos:
(...)
V – a pretensão de reparação civil.
c) regra de transição estabelecida no novo código: para a pretensão
cujo prazo prescricional se iniciou na vigência do Código Civil de 1916
mas foi surpreendido com o novo tratamento legal ainda em curso, foi
estabelecida a seguinte regra de transição:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por
este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.
32
Segundo a regra de transição, portanto, deverá ser considerado o
prazo prescricional anterior, no particular de 20 anos, quando, no momento
da entrada em vigor do novo Código já houver transcorrido mais da metade
de seu prazo, ou seja, de 10 anos. Segundo o artigo 2.044, a vigência se deu
um ano após sua publicação, em 10 de janeiro de 2003.
Assim, para as demandas cuja causa de pedir remota – a violação do
direito – se deu até a data de 9 de janeiro de 1993, será aplicada a regra da
prescrição de vinte anos.
Por outro lado, se a causa de pedir remota for posterior a 9 de janeiro
de 1993, e, portanto, tendo transcorrido ao menos a sua metade, quando da
data de vigência do novo Código, a prescrição a contar será a nele
estabelecida – três anos.
Há jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho sustentando que
esse prazo começa a fluir da data de vigência do novo Código Civil. Assim,
só as ações ajuizadas após 10/01/2006 estarão prescritas. Veja-se:
RR - 2820/2005-342-01-00 PUBLICAÇÃO: DJ - 23/05/2008 AC. 1ª
TURMA – Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa.
RECURSO DE REVISTA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO.
AJUIZAMENTO PERANTE A JUSTIÇA ESTADUAL ANTERIOR À
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004. PRESCRIÇÃO. PRAZO.
Hipótese em que a ação de indenização por acidente do trabalho foi
ajuizada perante o Juízo de Direito da Comarca de Volta Redonda RJ, que,
em razão do advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, declinou da
competência à Justiça do Trabalho em face do disposto no art. 114, VI, da
Constituição Federal. Assim, ocorrendo o ajuizamento da ação ordinária
junto à Justiça Estadual, anteriormente ao advento da Emenda
33
Constitucional nº 45/2004, não há falar em prescrição trabalhista. Nesse
caso, a alteração da competência em razão da matéria (art. 87 do CPC) não
tem o condão de operar a incidência da prescrição trabalhista regulada pelo
art. 7º, XXIX, da Constituição Federal, porque aplicável à situação
preexistente o prazo de prescrição previsto no art. 206, § 3º, V, do Código
Civil. Consoante jurisprudência e doutrina, atentas aos princípios da
segurança jurídica, do direito adquirido e da irretroatividade da lei, firmada
a posição segundo a qual se aplica o prazo prescricional de três anos,
contados a partir da vigência do novo Código Civil, ou seja, 11 de janeiro
de 2003, e não da data da ocorrência do fato danoso. No caso em questão, a
pretensão do Reclamante não se encontra prescrita, pois o ajuizamento da
ação ocorreu em 22/11/2004, antes, portanto, do decurso do prazo
prescricional de três anos previsto na vigente legislação civil. Recurso de
revista conhecido e provido.
RR - 969/2006-101-03-00 PUBLICAÇÃO: DJ - 20/03/2009 ACÓRDÂO
8ª TURMA- Rel. Min. Maria Cristina Peduzzi
RECURSO DE REVISTA PRELIMINAR DE NULIDADE POR
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL Aplica-se o art. 249, §
2º, do CPC. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS
PRESCRIÇÃO CIVIL 1. A C. Subseção I Especializada em Dissídios
Individuais recentemente decidiu que devem ser adotadas as regras de
prescrição civil para as ações de dano moral ajuizadas na Justiça Comum
anteriormente à vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, por
aplicação do princípio da segurança jurídica. Precedentes. 2. No caso
vertente, a decisão regional registrou que a comprovação da lesão ocorreu
em 19/10/1994, não havendo transcorrido mais da metade do prazo de vinte
anos previsto pelo Código Civil de 1916 quando da entrada em vigor do
Código Civil, em 11/1/2003. 3. Transcorridos menos de dez anos (metade
34
do tempo estabelecido na lei revogada), é forçoso reconhecer que o direito
sobre o qual se controverte é sujeito ao prazo prescricional previsto no art.
206, § 3º, V, do Código Civil de 2002. 4. Considerando o princípio da
Segurança Jurídica, cumpre ressaltar que esses três anos devem ser
contados a partir da vigência do novo Código, ou seja, 11 de janeiro de
2003, e não da data da ocorrência do fato gerador do direito. Precedente.
Recurso de Revista conhecido e provido.
ASSÉDIO MORAL
1. Conceito
Em exaustiva monografia sobre o tema, os Professores Sergio
Gamonal Contreras e Pamela Prado López definem o assédio moral:
“processo constituído por um conjunto de ações ou omissões, no âmbito
das relações de trabalho públicas e privadas, em virtude do qual um ou
mais sujeitos assediadores criam um ambiente laboral hostil e intimidatório
em relação a um ou mais assediados, afetando gravemente sua dignidade
pessoal e causando danos à saúde dos afetados com vistas a obter distintos
fins de tipo persecutório.”23
A figura jurídica é recente. Atribui-se sua descoberta ao psicólogo
alemão Heinz Leymann, que “nos anos oitenta descreveu e analisou os
distintos comportamentos hostis que se apresentam nas organizações,
particularmente nas relações de trabalho e mais especificamente ainda na
empresa em relação a seus empregados”24
.
A teoria do assédio moral tem assento no princípio da dignidade da
pessoa humana, que, no Brasil, constitui fundamento da República, como
prevê o artigo 1º, inciso III, da Constituição. Decorre também do direito à
saúde, mais especificamente, à saúde mental, abrangida na proteção
23
Gamonal, 2006, pág. 23, tradução livre. 24
Apud Gamonal, 2006, pág. 9, tradução livre.
35
conferida pelo artigo 6º e o direito à honra, previsto no artigo 5º, inciso X,
ambos da Carta Magna.
A amplitude das hipóteses possíveis de serem enquadradas como
assédio moral dificulta a precisão conceitual, desde que pode alcançar
situações de ressentimento justificado que acabam por desestabilizar
emocionalmente o trabalhador em decorrência da continuidade de
procedimento incômodo e injustificado causador do constrangimento no
ambiente de trabalho.
2. Características.
O assédio moral diz respeito a um tipo específico de dano ao
patrimônio moral. É uma a) violência pessoal; b) necessariamente moral e
psicológica; c) multilateral (pode ser horizontal: entre colegas de mesma
hierarquia; vertical descendente: do superior hierárquico ao seu
subordinado; ou mesmo vertical ascendente: que parte do grupo
subordinado e se dirige ao seu superior direto); d) individual ou
coletivamente sentida.
Encontra, na doutrina internacional, expressões sinônimas:
“mobbing”, “harcèlement”, “bullying”, „harassment”. Em português,
também, terror psicológico.
Tem caráter interdisciplinar: envolve as áreas da psicologia,
medicina, medicina do trabalho, administração de empresas e outras afins.
O assédio moral se configura pela insistência impertinente, com
propostas, perguntas ou pretensões indevidas. Resulta de um conjunto de
atos, não perceptíveis pelo lesado como importantes em um primeiro
momento, mas que, na seqüência, unidos, destinam-se a expor a vítima a
situações incômodas, humilhantes e constrangedoras. Identifica-se na
ocorrência de comportamentos comissivos ou omissivos que humilham,
36
constrangem e desestabilizam o trabalhador, afetam a auto-estima e a
própria segurança psicológica, causando estresse ou outras enfermidades.
São exemplos de procedimentos omissivos: a) a indiferença em
relação ao outro; b) ignorar a vítima; c) atitudes de desprezo; d) silêncio. E
de atos concretos: a) rigor excessivo no trato com o trabalhador; b)
exigência de cumprimento de tarefas desnecessárias ou exorbitantes; c)
tratamento desrespeitoso, humilhante; d) imposição de isolamento ao
empregado; e) ausência de atribuição de serviços, inação compulsória; f)
constranger, ameaçar; g) expor, a terceiros, a intimidade da vítima; h)
cercear o exercício de mister habitual; i) restringir a atuação profissional; j)
impor jogo de prendas, que resultam em exposição ao ridículo; entre tantas
outras modalidades.
Tem por finalidade: a) desestimular; b) desacreditar; c) deprimir; d)
isolar; e) fragilizar a auto-estima do assediado. No âmbito do Direito do
Trabalho, tais fins se dirigem, na maior parte das vezes, à extinção contrato
de trabalho por iniciativa do trabalhador.
3. Assédio moral x assédio sexual.
São figuras afins que, entretanto, não se confundem. No assédio
sexual, a violência tem direção vertical e sentido descendente, ou seja,
ocorre no âmbito de uma relação de sujeição hierárquica, onde a
subordinação jurídica é utilizada como instrumento de obtenção de favores
de ordem sexual. Nesse contexto, o assédio sexual é de mais fácil
percepção e combate do que o assédio moral.
O assédio sexual foi tipificado como crime, pela Lei nº 10.224/2001,
que acresceu o item A ao artigo 216 do Código Penal:
37
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função."
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
4. Disciplina do assédio moral.
No Brasil, não há previsão em lei federal acerca do assédio moral.
Há diversos projetos de lei atualmente tramitando no Congresso Nacional
sobre o tema.
No âmbito municipal, há leis coibindo a prática do assédio moral,
aplicáveis aos servidores da administração pública local, como é o caso de
São Paulo, Campinas, Iracemápolis e Guarulhos, no Estado de São Paulo, e
de Natal (RN). No plano estadual, a Lei nº 3.921/2002, do Rio de Janeiro,
proíbe, no âmbito dos três Poderes do Estado, da administração direta,
autárquica, fundacional, e indireta, o exercício de qualquer atitude ou
postura que se possa caracterizar como assédio moral no trabalho.
No plano infra legal, o Decreto nº 3.048/1999 (Regulamento da
Previdência Social), em seu Anexo II, considera como agente etiológico ou
fator de risco de natureza ocupacional condições difíceis de trabalho e o
desacordo com patrão ou colegas de trabalho, o que pode vir a caracterizar,
para fins previdenciário, doença ou acidente do trabalho que devem ser
combatidos pela empresa, com a utilização dos meios para a adoção das
medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do
trabalhador; cumprimento das normas de segurança e higiene do trabalho;
prestação de informações pormenorizadas, às autoridades competentes, dos
riscos da operação a executar e do produto a manipular; bem como se
sujeitar à fiscalização do Ministério da Previdência e Assistência Social e
38
dos sindicatos obreiros, nos termos do artigo 19, parágrafos, e seguintes, da
Lei nº 8.213/1991. É possível inserir, na previsão legal, hipóteses de
assédio moral.
Destaca-se a existência de cláusulas em convenções e acordos
coletivos de trabalho dispondo sobre prevenção à prática de assédio moral
nas dependências das empresas.
5. A visão da jurisprudência.
Destaca-se o seguinte acórdão do TRT da 3ª Região (jurisdição no
Estado de Minas Gerais), relatado pela Juíza e Professora Alice Monteiro
de Barros, pela abordagem teórica e analítica da figura em estudo:
“ASSÉDIO MORAL. CARACTERIZAÇÃO.
O termo "assédio moral" foi utilizado pela primeira vez pelos
psicólogos e não faz muito tempo que entrou para o mundo jurídico. O
que se denomina assédio moral, também conhecido como mobbing
(Itália, Alemanha e Escandinávia), harcèlement moral (França), acoso
moral (Espanha), terror psicológico ou assédio moral entre nós, além
de outras denominações, são, a rigor, atentados contra a dignidade
humana. De início, os doutrinadores o definiam como "a situação em
que uma pessoa ou um grupo de pessoas exercem uma violência
psicológica extrema, de forma sistemática e freqüente (em média uma
vez por semana) e durante um tempo prolongado (em torno de uns 6
meses) sobre outra pessoa, a respeito da qual mantém uma relação
assimétrica de poder no local de trabalho, com o objetivo de destruir
as redes de comunicação da vítima, destruir sua reputação, perturbar o
exercício de seus trabalhos e conseguir, finalmente, que essa pessoa
acabe deixando o emprego" (cf. Heinz Leymann, médico alemão e
39
pesquisador na área de psicologia do trabalho, na Suécia, falecido em
1999, mas cujos textos foram compilados na obra de Noa Davenport e
outras, intitulada Mobbing: Emotional "Abuse in The American Work
Place"). O conceito é criticado por ser muito rigoroso. Esse
comportamento ocorre não só entre chefes e subordinados, mas
também na via contrária, e entre colegas de trabalho com vários
objetivos, entre eles o de forçar a demissão da vítima, o seu pedido de
aposentadoria precoce, uma licença para tratamento de saúde, uma
remoção ou transferência. Não se confunde com outros conflitos que
são esporádicos ou mesmo com más condições de trabalho, pois o
assédio moral pressupõe o comportamento (ação ou omissão) por um
período prolongado, premeditado, que desestabiliza psicologicamente
a vítima. Se a hipótese dos autos revela violência psicológica intensa
sobre o empregado, prolongada no tempo, que acabou por ocasionar,
intencionalmente, dano psíquico (depressão e síndrome do pânico),
marginalizando-o no ambiente de trabalho, procede a indenização por
dano moral advindo do assédio em questão” (TRT-RO-01292-2003-
057-03-00-3, 2ª Turma, Relª Juíza Alice Monteiro de Barros, DJ
11.08.2004)
Os fatos mais recorrentes são a inação compulsória, humilhações
verbais por parte de superiores – inclusive pela utilização de palavras de
baixo calão –, coações psicológicas com a finalidade de adesão do
empregado a PDV ou à demissão, atribuição de tarefas estranhas ou
incompatíveis com o cargo ou com o tempo em que são exigidas,
divulgação de comentários maliciosos visando a subestimar esforços, com
prejuízos à saúde mental do trabalhador. A regularidade dos atos punitivos
deve se prolongar no tempo.
40
Do Tribunal Superior do Trabalho, destaca-se:
RECURSO DE REVISTA - ASSÉDIO MORAL – CARACTERIZAÇÃO
O Eg. Tribunal Regional consignou a ocorrência de assédio moral, uma vez
que a Ré submeteu o Autor a situações constrangedoras, como danças
vexatórias, obrigação de utilização de fantasias, nomes pejorativos e
proibição de ida aos banheiros quando não cumpridas as cotas de
venda. Incidência da Súmula nº 126. (...) (RR-332700-51.2007.5.12.0001,
Relatora Ministra: Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 8ª Turma, Data de
Publicação: 26/02/2010)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DO
RECLAMADO - ASSÉDIO MORAL - VALOR ARBITRADO A
TÍTULO DE INDENIZAÇÃO - NÃO OCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO
DIRETA DO ART. 944 DO CC. 1. Consoante o disposto no art. 944 do
CC, a indenização mede-se pela extensão do dano. 2. -In casu-, o Regional
impôs a indenização de R$ 100.000,00 em face da comprovação do assédio
moral sofrido pela Reclamante que, ocupante do cargo de gerência, ao ser
reintegrada no emprego por força de antecipação de tutela, passou a ser
perseguida e humilhada, com a designação para o exercício de tarefas
muito abaixo de sua formação profissional (separar e contar
documentos velhos, além de cortar papéis para servir de brochura) em
local inóspito, sem ventilação, no subsolo do prédio da agência
bancária, em condições precárias de higiene (com ratos na tubulação e
baratas no ambiente). 3. Nesse contexto, não se vislumbra violação do
dispositivo legal supramencionado, tendo em vista que o valor devido
como indenização por dano moral decorre da livre persuasão racional do
juiz, prevalecendo a avaliação do referido dano por seu arbitramento, nos
exatos termos da diretriz do -caput- do comando legal em comento. 4. Por
fim, não restaram violados, igualmente, os arts. 5º, II, e 93, IX, da CF, já
que, para se concluir pela violação do art. 5º, II, da CF, seria necessário
verificar prévia vulneração às normas infraconstitucionais que regem a
matéria, restando ainda ileso o art. 93, IX, CF, uma vez que devidamente
explicitados os fundamentos pelos quais o Regional atribui o valor da
indenização. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR-112940-
65.2006.5.01.0026, Relatora Juíza Convocada: Maria Doralice Novaes, 7ª
Turma, Data de Publicação: 09/10/2009)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PEDIDO
DE INDENIZAÇÃO POR ASSÉDIO MORAL. DEFERIMENTO DE
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. JULGAMENTO ‘EXTRA
PETITA’ NÃO CARACTERIZADO. O Tribunal Regional concluiu não
41
ter sido caracterizado o assédio moral, na medida em que as agressões
verbais ofensivas à honra e dignidade da reclamante não foram praticadas
com a reiteração necessária para caracterizar assédio moral. Ao valorar os
fatos e provas, a Corte de origem inferiu tratar-se de hipótese ensejadora de
indenização por dano moral, porquanto as expressões de baixo calão foram
direcionadas à reclamante, em público, enquanto encontrava-se grávida,
caracterizando nítida tratamento discriminatório e humilhante. Não se
configura julgamento -extra petita-, porquanto o Tribunal apenas procedeu
ao adequado enquadramento jurídico dos fatos, não se divisando ofensa aos
arts. 128, 293 e 460 do CPC. Agravo de instrumento a que se nega
provimento. (AIRR-61840-61.2007.5.03.0097, Relator Ministro: Walmir
Oliveira da Costa, 1ª Turma, Data de Publicação: 11/09/2009)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSÉDIO MORAL.
CONFIGURAÇÃO. EFEITOS. Decisão de Tribunal Regional do Trabalho
mantendo a sentença que condenara o reclamado a pagar ao reclamante
indenização por dano moral, haja vista a configuração de assédio moral.
Hipótese em que ficou constatado que o reclamante, posteriormente ao
tratamento de saúde a que foi submetido por LER e às eleições em que
se sagrou vitoriosa a chapa que integrou como dirigente sindical, foi
rebaixado da função de gerente, ocupando uma mesa no meio do
recinto do trabalho e com suas tarefas minimizadas, porquanto cumpria
funções que não executava há vinte anos. Particularidade em que a Corte
Regional também destacou a existência de situações a corroborar o assédio
moral no caso em exame. Manutença dessa decisão à míngua de recurso de
revista que não preenche os pressupostos de admissibilidade do artigo 896
da CLT. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (AIRR-15740-
85.2006.5.24.0004, Relator Ministro: Horácio Raymundo de Senna Pires,
6ª Turma, Data de Publicação: 05/06/2009)
RECURSO DE REVISTA. 1. ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO.
CABIMENTO. 1. A produtividade do empregado está vinculada ao
ambiente de trabalho saudável e à sua satisfação. 2. A construção de um
ambiente de trabalho propício ao crescimento pessoal e profissional
depende do modo de atuação do empregador na condução e direção da
atividade econômica. 3. Adoção de prendas e castigos como justificativa
para aumento da produtividade implica violação do dever de respeito à
dignidade da pessoa humana. 4. Tal procedimento configura assédio
moral e autoriza a reparação pelo dano sofrido. Recurso de revista
conhecido e provido. (RR-98500-13.2006.5.03.0025, Relator Ministro:
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, 3ª Turma, Data de Publicação:
22/05/2009)
42
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PRESSÃO PSICOLÓGICA
PARA O ATINGIMENTO DE METAS DE PRODUÇÃO - RESTRIÇÃO
DE UTILIZAÇÃO DO SANITÁRIO E DO BEBEDOURO - EXPOSIÇÃO
A SITUAÇÕES CONSTRANGEDORAS - CONDUTA IMPRÓPRIA DO
RECLAMADO - MEDIDAS INCOMPATÍVEIS COM OS DIREITOS DA
PERSONALIDADE CONSTITUCIONALMENTE PROTEGIDOS -
DECISÃO REGIONAL PROFERIDA À LUZ DO ART. 5º, X, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. Conforme estabelece o art. 5º, X, da CF,
o dano moral passível de indenização diz respeito à violação da imagem,
honra, vida privada e intimidade da pessoa. 2. Na hipótese dos autos, o
Regional consignou que o Reclamado, com o intuito de controlar as suas
metas de produção, adotava para seus empregados condutas claramente
constrangedoras. Nesse contexto, registrou o TRT que a Empresa
restringia a ida de seus funcionários ao sanitário a apenas duas ou três
vezes ao dia, com duração de cinco minutos cada uma delas, e com a
sujeição, em algumas ocasiões, a autorização do superior hierárquico,
o qual poderia, inclusive, ir buscar o funcionário que demorasse mais
do que cinco minutos no sanitário, havendo, ainda, determinação para
que o empregado que fosse ao toalete deixasse seu crachá pendurado
nas vassouras. Por outro lado, as saídas para beber água também eram
controladas. Ademais, havia no Reclamado diretriz, constante do seu
regulamento, para a medição da produtividade, sendo utilizado para
tanto um cronômetro, que calculava o tempo de trabalho dos
funcionários quando a produtividade não era satisfatória, ocasião em
que algum funcionário do Reclamado, com o aparelho na mão, se
posicionava na frente do empregado cujo tempo de trabalho estava
sendo contado, o que causava bastante nervosismo em alguns deles.
Por fim, quando as metas de produção não eram alcançadas, havia
muita pressão por parte do Reclamado, que cobrava dos empregados o
seu alcance sob pena de terem que trabalhar além do normal ao longo
da jornada. 3. Assim, concluiu o Regional que havia nos autos farto
conjunto fático-probatório caracterizando o assédio moral e o terror
psicológico vivenciados pelos Obreiros no ambiente de trabalho, o que lhes
causava verdadeira angústia quanto à manutenção de seus empregos e ao
sustento de suas famílias. 4. Neste contexto fático e à luz do que estabelece
o art. 5º, X, da CF, segundo o qual são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação,
revela-se acertada a conclusão a que chegou a Corte de origem, pois,
independentemente dos motivos que justificariam o zelo pela
produtividade, o Reclamado deveria observar critérios de razoabilidade,
devendo o Empregador, que é responsável direto pela qualidade das
43
relações e do ambiente de trabalho, adotar medidas compatíveis com os
direitos da personalidade constitucionalmente protegidos. Recurso de
revista não conhecido. (RR-118600-44.2007.5.20.0004, Relator Ministro:
Ives Gandra Martins Filho, 7ª Turma, Data de Publicação: 15/05/2009)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. ASSÉDIO MORAL. DESPROVIMENTO. Não demonstrada
divergência jurisprudencial no caso dos autos em que há condenação em
dano moral no importe de R$200.000,00 contra o Banco, em razão de
assédio moral, quando da aquisição do BBV pelo Banco Bradesco, visto
que o autor que era o gerente da agência passou a não mais ter mesa de
trabalho, sentando-se na cadeira dos clientes, trabalhando em pé,
mesmo com costelas fraturadas, caracterizando-se a figura intitulada
mobbing. Agravo de instrumento desprovido. (AIRR-29440-
93.2004.5.01.0019, Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, 6ª Turma,
Data de Publicação: 21/11/2008)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. ASSÉDIO
MORAL. SÚMULA 126/TST. O e. TRT condenou a Reclamada ao
pagamento de danos morais em face da caracterização de discriminação
operada no curso do contrato de trabalho, em que a empregadora não só
deixou o empregado sem desenvolver as atividades para as quais fora
contratado, como também proibiu seu acesso às dependências da
empresa, humilhando-o e ferindo o seu decoro profissional, vero
procedimento que se convencionou denominar de psicoterror,
flagrante assédio moral. Eloqüentes as palavras do texto decisório
regional: -(...) Ao não lhe oferecer trabalho, a empresa feriu a dignidade e a
auto-estima do empregado, visto que é extremamente constrangedor para
uma pessoa acostumada a laborar, ser colocada à margem da cadeia
produtiva. Como se sabe, o trabalho dignifica o homem e é através dele que
o ser humano se sente participante da coletividade, ciente de que está
contribuindo para o progresso do país. Nada mais dignificante do que se
sentir merecedor do salário auferido, razão pela qual a mera percepção de
remuneração sem a contraprestação laboral, embora não lhe traga prejuízos
de ordem financeira, indubitavelmente atinge seu psicológico (...)-. Nesse
contexto, o artigo 4º da CLT não viabiliza a admissibilidade do recurso de
revista da Reclamada, pois o argumento de que o empregado ficara -à
disposição- não se evidencia diante dos fatos consignados pelo e. TRT. E
para se chegar à conclusão distinta, necessário seria o reexame de fatos e
provas, procedimento vedado nesta instância extraordinária, a teor da
Súmula 126/TST. Agravo de Instrumento a que se nega provimento.
(AIRR-70940-86.2006.5.13.0003, Relator Ministro: Horácio Raymundo de
Senna Pires, 6ª Turma, Data de Publicação: 06/06/2008)
44
7. Reparações devidas.
7.1. Rescisão indireta: em qualquer hipótese de terror psicológico, caberá,
nos termos do artigo 483, principalmente pelas alíneas “a”, “b”, “e” e “g”,
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o pleito de que reste
caracterizada a rescisão indireta do contrato de trabalho, com as
conseqüências previstas pela legislação trabalhista: saldo de salário, aviso
prévio, férias vencidas e proporcionais, o adicional de 1/3, os depósitos do
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), a multa fundiária de
40%, a gratificação natalina, como se o contrato de trabalho tivesse sido
extinto sem justa causa.
Há de se considerar também a possibilidade de a nulidade absoluta
do ato de dispensa gerar direito à reintegração, fundada na garantia
constitucional da não discriminação, que tem ensejado outras hipóteses de
reintegração, como é o caso dos aidéticos, grevistas etc.
7.2. Indenização por danos morais: conseqüência do reconhecimento do
assédio moral é a condenação do agressor em reparação por danos morais.
7.3. Indenização por danos materiais: também é possível divisar a
reparação por danos materiais, nas hipóteses, v.g., em que do assédio moral
decorram prejuízos de ordem psicológica em gravidade tal que importem
em gastos ao trabalhador, como remédios e tratamentos.
8. O combate ao assédio moral.
45
A moderna doutrina laboral prioriza as relações humanas no
trabalho, com a adoção de medidas de prevenção a acidentes e
enfermidades, assecuratórias de plenas condições de segurança e saúde para
o exercício do trabalho.
O empregador de hoje, ciente da função social da empresa e da sua
responsabilidade em assegurá-la, deve implementar programas de
prevenção e proteção contra práticas viabilizadoras de assédio moral.
ACIDENTES DO TRABALHO
A terceira lei acidentária brasileira, o Decreto 7036, de 10/11/1944, é
que, primeiro, ampliou o conceito de acidente do trabalho, abrangendo as
concausas, o acidente in itinere e a possibilidade de acumular a ação
acidentário com a responsabilidade civil. Outras leis foram editadas
(Decreto-lei 293, de 28/02/1967, Leis 5316, de 14/09/1967 e 6367, de
19/10/1976.
A disciplina, hoje, está na Lei 8213, de 24/07/1991, nos artigos 19 a
23, regulamentada pelo Decreto 3048, de 06/05/1999.
Alexandre Agra Belmonte aponta os aspectos centrais:
“conceito de acidente do trabalho abrangendo lesão corporal,
perturbação funcional ou doença que cause a morte ou a perda ou redução,
permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho, incorporação das
concausas, previsão do acidente in itinere, seguro obrigatório, plano
específico de benefícios previdenciários acidentários e responsabilização
do empregador pelos acidentes causados por sua culpa ou dolo.”25
Como já visto, combinados os arts. 114, VI e 7º, XXVIII, da
Constituição da República, a competência para o julgamento da ação
25
BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de Responsabilidade Trabalhista: Danos Morais e Patrimoniais
nas Relações de Trabalho. 2ª ed., São Paulo: LTr, 2009, p.171.
46
fundada na responsabilidade civil do empregador, objetivando reparação
pelo dano material e moral decorrente do acidente do trabalho é da Justiça
do Trabalho. A ação acidentária, promovida contra o Estado, que discute a
relação de custeio e benefício, é da competência da Justiça Comum
(enquadramento, valor do benefício etc.).
Como acentua Alexandre Agra Belmonte:
“são considerados acidentes do trabalho quaisquer lesões à vida ou à
integridade física do empregado como decorrência do exercício do trabalho
a serviço da empresa durante o horário de trabalho ou in itinere, que cause
a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade
para o trabalho, bem como as doenças profissionais, as doenças do
trabalho, os atos de agressão e de imprudência provindos de terceiros,
companheiro de trabalho ou pessoa privada do uso da razão, e as
concausas.”26
O mesmo Autor define Concausa:
“é outra causa que, juntando-se à causa principal, contribui para o
resultado ou agravamento do dano. A concausa é uma circunstância que
vem a reforçar a causa principal.
As concausas podem ser preexistentes e supervenientes (ou
concomitantes).
São preexistentes as constituídas por circunstâncias já existentes
quando da conduta do agente, caso da diabetes da vítima, enquanto as
supervenientes são constituídas por novas circunstâncias, como ocorre
quando o socorro da vítima atropelada demora a chegar. Nenhuma delas
influi no resultado final; apenas o reforça.”27
A reparação acidentária, a cargo da previdência, proveniente do
seguro obrigatório, fundamenta-se na teoria do risco integral, de natureza
26
BELMONTE, Alexandre Agra. Idem, p. 172. 27
BELMONTE, Alexandre Agra. Idem, p. 37.
47
objetiva, sendo devida mesmo havendo culpa da vítima e independe da
reparação a cargo do empregador, fundada na responsabilidade civil deste
e, assim, da conjugação do ato ilícito, do dano, do nexo de causalidade e da
culpa.
OUTRAS HIPÓTESES DE DANO MORAL DECORRENTES DA
RELAÇÃO DE TRABALHO
Atos isolados ou não, ocorrentes no âmbito da relação de trabalho, se
considerados ilícitos, podem geral a obrigação de reparação:
“DANO MORAL. PRESENÇA DE SUPERVISOR NOS
VESTIÁRIOS DA EMPRESA PARA ACOMPANHAMENTO DA
TROCA DE ROUPAS DOS EMPREGADOS. REVISTA VISUAL.
1. Equivale à revista pessoal de controle e, portanto, ofende o direito à
intimidade do empregado a conduta do empregador que, excedendo os
limites do poder diretivo e fiscalizador, impõe a presença de
supervisor, ainda que do mesmo sexo, para acompanhar a troca de
roupa dos empregados no vestiário.
2. O poder de direção patronal está sujeito a limites inderrogáveis,
como o respeito à dignidade do empregado e à liberdade que lhe é
reconhecida no plano constitucional.
3. Irrelevante a circunstância de a supervisão ser empreendida por
pessoa do mesmo sexo, uma vez que o constrangimento persiste, ainda
que em menor grau. A mera exposição, quer parcial, quer total, do
corpo do empregado, caracteriza grave invasão à sua intimidade,
traduzindo incursão em domínio para o qual a lei franqueia o acesso
somente em raríssimos casos e com severas restrições, tal como se
48
verifica até mesmo no âmbito do direito penal (art. 5º, XI e XII, da
CF).
4. Despiciendo, igualmente, o fato de inexistir contato físico entre o
supervisor e os empregados, pois a simples visualização de partes do
corpo humano, pela supervisora, evidencia a agressão à intimidade da
Empregada.
5. Tese que se impõe à luz dos princípios consagrados na Constituição
da República, sobretudo os da dignidade da pessoa, erigida como um
dos fundamentos do Estado Democrático de Direito (art. 1º, inciso
III), da proibição de tratamento desumano e degradante (art. 5º, inciso
III) e da inviolabilidade da intimidade e da honra (art. 5º, inciso X).
6. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento para
julgar procedente o pedido de indenização por dano moral” (TST-
2195/1999-009-05-00.6, 1ª Turma, Rel. Min. João Oreste Dalazen, DJ
09.07.2004)
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BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de Responsabilidade
Trabalhista:danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. 2ª ed.,
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