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ENTRE RUÍNAS
E MEMÓRIASA COMPOSIÇÃO DO LUGAR
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ENTRE RUÍNAS
E MEMÓRIASA COMPOSIÇÃO DO LUGAR
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Mariana Cristina Adão
Trabalho de Graduação Integrado I
Instituto de Arquitetura e Urbanismo
CAP Joubert José Lancha
GT Simone HelenaT. Vizioli
USP São Carlos
Jun/2014
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ÍNDICE
UNIVERSO PROJETUAL 7
AÇÕES PROJETUAIS 21
LUGAR 29
PROGRAMA 49
PROJETO 53
BIBLIOGRAFIA 75
6
7UNIVERSO PROJETUAL
UNIVERSO
PROJETUAL
8 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
9UNIVERSO PROJETUAL
O trabalho de um arquiteto engloba diversos fatores
que vão desde a construção até criação artística. No entan-
to, deve-se saber em qual medida utilizar tais fatores, pois
“enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcio-
nais, não é ainda arquitetura; quanto se perde em intenções
OGTCOGPVG�FGEQTCVKXCU��VWFQ�P¿Q�RCUUC�FG�EGPQITCƂC�q�(COSTA, 2011, p. 22)
Soma-se a isso, a dependência da arquitetura de seu
meio social e físico, da época na qual ocorre, das técnicas
GORTGICFCU��FQU�OCVGTKCKU�WVKNK\CFQU�G�FQU�TGEWTUQU�ƂPCP-
ceiros disponíveis.
“A história da arte mostra que a arquitetura sempre
foi parte integrante no processo da criação artística como
manifestação normal de vida. Ela engloba, portanto, a
própria história da arquitetura, constituindo-se, então, por
assim dizer, no ‘álbum de família’ da humanidade. É através
FGNC��CVTCXÅU�FCU�EQKUCU�DGNCU�SWG�PQU�ƂECTCO�FQ�RCUUCFQ��que podemos, refazer, de testemunho em testemunho, os
itinerários percorridos nessa apaixonante caminhada, não na
busca do tempo perdido, mas ao encontro do tempo que
ƂEQW�XKXQ�RCTC�UGORTG�RQTSWG�GPVTCPJCFQ�PC�CTVG�q�%156#��2011, p. 17)
A arquitetura, e outras formas de expressão artística,
representam memórias de um tempo, lugar e cliente deter-
minados, podendo este último ser apenas um indivíduo ou
toda uma sociedade.
O que observamos em arquitetura nos dias de hoje é
um grande descaso por essas memórias, sendo que, muitas
FGNCU�QW�U¿Q�FGUVTWÉFCU�RCTC�FCT�NWICT�CQ�PQXQ�QW�ƂECO�totalmente abandonadas, tornando-se lugares de riscos para
quem se atreve a desvendá-los.
10 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Dessa forma, o que procuro trabalhar no meu TGI é
como interferir nesse lugares, repletos de camadas – sendo
essas aqui trabalhadas como camadas do tempo – compon-
do com o contexto onde está inserido. O que pretendo é
fazer das memórias um passado vivo no presente.
Para isso, foi necessário pesquisar diferentes formas de
se trabalhar e interpretar a memória, por meio de teoria e
projetos arquitetônicos.
Pierre Nora é um dos autores que trabalha com esta
questão e cujo texto “Entre memória e história: a problemá-
VKEC�FQU�NWICTGUq�VTC\�WOC�XKU¿Q�FKHGTGPEKCFC�CQ�CPCNKUCT�C�Memória.
Nele, Nora descreve memória como oposição a história,
sendo a aceleração da história a causa da morte da memó-
ria.
Entretanto, apesar de colocar a memória como oposta à
história, o autor mostra que esta é essencial para a existência
daquela, uma vez que é a história que transporta a memória
através do tempo e que, com a distância e a mediação, a
memória passa a ser história.
Essa passagem de memória para história é caracteriza-
da pela mudança dos produtores de memória. Nos tempos
clássicos, os produtores de arquivos eram as grandes famí-
lias, Igreja e Estado, hoje, todos escrevem suas Memórias.
Existe, assim, o dever de memória, cada um é historiador de
UK�OGUOQ��1�ƂO�FC�*KUVÏTKC�/GOÏTKC�OWNVKRNKEQW�CU�OGOÏ-
TKCU�RCTVKEWNCTGU��IGTCPFQ�C�/GOÏTKC�*KUVÏTKEC�
Nora diz que a memória passou do histórico ao psico-
lógico, do social ao individual, da repetição para a reme-
moração, do público ao privado e do coletivo aos homens-
11UNIVERSO PROJETUAL
-memória.
0QTC�VCODÅO�FK\�C�TGURGKVQ�FQ�ƂO�FC�EQNGVKXKFCFG�OG-
mória, das sociedades-memória – igrejas, escolas, famílias e
Estado – que faziam a transmissão de valores, e das ideolo-
IKCU�OGOÏTKC��SWG�FGƂPG�EQOQ�UGPFQ�C�RCUUCIGO�TGIWNCT�do passado para o futuro. Isso teve como causa o fenômeno
FC�OWPFKCNK\CÿQ�G�OKFKCVK\CÿQ�G�HQK�FGƂPKFQ�RGNQ�CWVQT�como meios de memória. Sem esses meios, a memória
cada vez menos é vivida no interior e sente necessidade de
suportes exteriores, ou seja, de se criar locais de memória,
SWG�U¿Q�FGƂPKFQU�EQOQ�NWICTGU�FG�JKUVÏTKC�EQO�XQPVCFG�FG�OGOÏTKC��+UUQ�GNG�FGƂPG�EQOQ�C�OCVGTKCNK\CÿQ�FC�OGOÏTKC�
O que se esquece, na arquitetura, é que esses lugares
não necessariamente precisam fazer parte da história de
uma sociedade inteira, sedo um marco de um tempo. Tam-
bém são considerados lugares de memórias locais com
UKIPKƂE¾PEKC�CRGPCU�RCTC�RGSWGPCU�EQOWPKFCFGU��QW��CVÅ�mesmo, uma família. O importante são as camadas presen-
tes nesses lugares. A Casa Lutzenberger, de Porto Alegre,
é um exemplo disso. Uma memória íntima e particular, mas
não menos importante que outras memórias.
Outra autora que também escreve sobre memória é
Maria Célia Paoli. Segundo ela, no texto “Memória, história
G�EKFCFCPKC��Q�FKTGKVQ�CQ�RCUUCFQq��JKUVÏTKC��OGOÏTKC��RCVTK-mônio e passado possuem sentidos múltiplos, pois vêm de
WOC�EWNVWTC�RNWTCN�G�EQPƃKVCPVG��#UUKO��RCVTKOÐPKQ�JKUVÏTKEQ�deve evocar dimensões da cultura como um passado vivo,
acontecimentos e coisas que merecem ser preservadas por-
SWG�U¿Q�EQNGVKXCOGPVG�UKIPKƂECVKXCU�GO�UWC�FKXGTUKFCFG��1W�seja, patrimônio histórico é um lugar de memória com uma
FKXGTUKFCFG�FG�TGNCÃÑGU�G�UKIPKƂE¾PEKCU��OCU�KUUQ�P¿Q�UKIPKƂ-
ca que todo lugar de memória é patrimônio histórico.
12 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Casa Lutzenberger
Porto Alegre / RS
Projetada pelo arquiteto e artista
plático Joseph Lutzenberger, em
1932, foi reformada por Kiefer
Arquitetos em 2010.
13UNIVERSO PROJETUAL
No entanto, como lembra a autora, observa-se que quan-
do se fala em patrimônio histórico pensa-se quase sempre
em uma imagem congelada, como museus, monumentos,
obras de arte e documentos, sendo a preservação desse
RCUUCFQ�FKUUQEKCFC�FG�UWC�UKIPKƂECÿQ�EQNGVKXC�G�NQPIG�FG�expressar as experiências sociais. Deve-se mudar essa visão
de patrimônio e a arquitetura é uma forte arma para essa
transformação.
Porém, isso não deve ser como vem ocorrendo, onde
há apenas duas ações possíveis para a história: destruição
ou conservação, sendo esta, a partir da preservação ou da
construção do passado.
5GIWPFQ�2CQNK��RTGUGTXCÿQ�Å�FGƂPKFC�EQOQ�C�EQPUVCPVG�produção do novo: o passado é visto como tendo pouco
UKIPKƂECFQ��CUUKO�VQTPC�UG�KPÖVKN�OCPVÆ�NQ��C�P¿Q�UGT�EQOQ�testemunho de algo superado. A construção do passado é
vista como um sentimento de nostalgia. Ambos possuem as
OGUOCU�RTGOKUUCU��P¿Q�UG�KORQTVCO�EQO�Q�UKIPKƂECFQ�EQNG-
tivo no passado e a história torna-se um processo acabado e
fechado.
Esse é um modo abstrato de se absorver a história,
sendo assim, ela não é uma forma de conhecimento, nem
TGHGTÆPEKC�EQO�C�SWCN�UG�RQUUC�TGƃGVKT�UQDTG�C�GZRGTKÆPEKC�social, o que gera uma sociedade sem cidadania.
Um exemplo inverso disso é o SESC Pompéia, onde o
passado é continuamente vivido e descoberto no presente e
ambos os tempos convivem harmoniosamente.
Segundo Nora, no passado, nação, história e memória
viviam em simbiose. Então, Estado-Nação foi substituído por
Estado-Sociedade, história como tradição de memória foi
substituída por história como laboratório das mentalidades
14 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
SESC Pompeia
São Paulo / SP
Lina Bo Bardi
1977-1986
15UNIVERSO PROJETUAL
do passado e a legitimação pelo passado cedeu lugar à le-
gitimação pelo futuro. Com a retomada de suas autonomias,
nação passa a ser um dado, história, uma ciência social e
memória, um fenômeno privado.
Entretanto, é necessário fazer com que a produção incida
sobre a questão da cidadania. Isso implica passar a história
e política de preservação e construção do passado para
UKIPKƂECÿQ�EQNGVKXC�G�RNWTCN��Q�SWG��UGIWPFQ�0QTC��Å�HGKVQ�EQO�FWRNC�VCTGHC��ETÉVKEC�¼�JKUVÏTKC�pFQU�XGPEGFQTGUq��FG�9CNVGT�$GPLCOKP��G��EQPUVTWÿQ�JKUVQTKQIT½ƂEC�FG�JQTK\QPVGU�de validade histórica.
#�JKUVÏTKC�pFQU�XGPEGFQTGUq�GUEQPFG�QWVTCU�PCTTCVKXCU�dos acontecimentos passados e presentes e torna-se a histó-
TKC�pQƂEKCNq��#�RQNÉVKEC�FG�RCVTKOÐPKQ�FKUUQ�FGTKXCFC�RTGUGTXC�apenas estes testemunhos, sem se importar se restaram
PGNGU�QU�EQPƃKVQU��#RQUVC�UG�SWG�P¿Q�J½�OGOÏTKC�RQRWNCT�QW�CNVGTPCVKXC�¼�FQ�RQFGT�SWG�UGLC�UWƂEKGPVGOGPVG�XCNKQUC�e ilegitima essas memórias. Essa talvez se articula como a
maior parte das políticas de preservação no Brasil.
O que tem sido feito é recriar a memória dos que per-
deram a visibilidade de suas ações e resgatar essas ações e
suas utopias não realizadas. Aposta na existência de memó-
rias coletivas e heterogêneas, mas que são fortes referências
de grupo, mesmo que com fraco nexo com a história “origi-
PCNq��7O�ITCPFG�FGUCƂQ�Å�HC\GT�EQO�SWG�GUUCU�GZRGTKÆPEKCU�silenciadas se reencontrem com a dimensão histórica.
É necessário produzir um direito ao passado com crítica
e subversão constante das versões instituídas. O reconheci-
OGPVQ�CQ�FKTGKVQ�CQ�RCUUCFQ�GUV½�NKICFQ�CQ�UKIPKƂECFQ�RTG-
sente da generalização da cidadania. Esse reconhecimento
aceita os riscos da diversidade e de encontrar as solicitações
16 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
por uma memória social que venham baseadas em seu valor
simbólico, mesmo que sejam locais, pequenas, quase fami-
NKCTGU��0¿Q�VGOG�TGUVCWTCT�G�RTGUGTXCT�Q�RCVTKOÐPKQ�GFKƂECFQ�UGO�RTGVGPFGT�EQPUGTXCT�Q�pCPVKIQq�QW�ƂZCT�Q�pOQFGTPQq��como no SESC Pompéia, onde o novo e o antigo “(...) estão
VTCDCNJCFQU�FG�HQTOC�SWG�WO�P¿Q�UG�KORQPJC�CQ�QWVTQ�q�(DE OLIVEIRA, 2006), e também na casa Lutzemberger que,
segundo Jorge Figueira, procura “(...) recriar um layer tem-
poral, que não tem de necessariamente moralizar ou denun-
ciar o tempo preexistente ou demonstrar um virtuosismo do
RTGUGPVG�q�(+)7'+4#���������'UUG�TGEQPJGEKOGPVQ�QTKGPVC-
-se pela produção de uma cultura que não repudie sua
própria historicidade, mas que possa dar-se conta dela pela
participação nos valores simbólicos da cidade.
'UUGU�XCNQTGU�UKODÏNKEQU�VCODÅO�U¿Q�KPENWÉFQU�PC�FGƂPK-ção de Nora dos lugares de memória, que, segundo ele, são
momentos da história arrancados do movimento da história,
lugares de história com vontade de memória, tudo o que
administra a presença do passado no presente. Os lugares
de memória possuem dois domínios: simples e ambíguos,
G�PCVWTCKU�G�CTVKƂEKCKU��G�VTÆU�UGPVKFQU��OCVGTKCN��UKODÏNKEQ�e funcional, presentes simultaneamente, porém, em graus
diversos.
O estudo dos lugares, segundo Nora, é uma encruzilha-
FC�GPVTG�FQKU�OQXKOGPVQU��Q�OQXKOGPVQ�JKUVQTKQIT½ƂEQ�s�WO�TGVQTPQ�TGƃGZKXQ�FC�OGOÏTKC�UQDTG�UK�OGUOC�s�G�Q�OQXK-OGPVQ�JKUVÏTKEQ�s�Q�ƂO�FG�WOC�VTCFKÿQ�FG�OGOÏTKC��'PVTG-
tanto, viver integralmente sob o signo da memória esvazia
os lugares daquilo que os fazem lugares de memória, haven-
do a necessidade de manifestações da vida social.
#�2TCÃC�FCU�#TVGU�Å�GZGORNQ�FGUUC�CƂTOCÿQ��7O�NKICT�de memória, onde o passado ainda é vivo e possui uma
17UNIVERSO PROJETUAL
Praça das Artes
São Paulos / SP
Brasil Arquitetura
2006-2012
18 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
intensa manifestação da vida social, ou seja, “(...) contém
OCTECU�G�OGOÏTKCU�FG�FKHGTGPVGU�ÅRQECU�q�2146#.�8+647-
VIUS, 2013).
Para aprofundar essa discussão, o texto “Estrutura dos
HCVQU�WTDCPQUq��FG�#NFQ�4QUUK��VTC\�C�SWGUV¿Q�FQU�HCVQU�WT-DCPQU��SWG�U¿Q�ENCUUKƂECFQU�RQT�GUUCU�OCPKHGUVCÃÑGU��CUUKO�como as obras de arte. O que os diferencia é que os fatos
urbanos são produzidos pelo público e as obras de arte,
para o público. Por isso, fatos urbanos não se explicam por
suas funções, que se alteram com o tempo. Também são
considerados coletivos, por serem progresso da razão huma-
na, e individuais, por serem uma forma organizada no tempo
e espaço. Devem ser vistos em suas totalidades, ou seja, em
EQPLWPVQ�EQO�Q�UKUVGOC�XK½TKQ��VQRQITCƂC�G�VWFQ�Q�SWG�GUV½�em seu entorno, e, como destaca o autor, deve-se entender
que conceituar um fato urbano é diferente de vivê-lo.
Rossi diz que fatos urbanos persistentes podem ser vistos
como monumentos, pois são fatos propulsores do desenvol-
vimento e se conservam durante a evolução da cidade.
Ainda segundo Rossi, a arquitetura da cidade pode ser
representada de duas formas divergentes: a cidade como
um grande artefato, ou seja, uma grande obra de engenha-
ria e arquitetura que cresce no tempo, ou por entornos limi-
tados, com arquitetura própria, e, portanto, forma própria.
Isso interfere diretamente na forma como se constituem as
permanências, podendo se tornar aberrações, quando estão
isoladas, não acrescentando nada nem podendo ser acres-
centadas, ou elementos propulsores, quando a forma do
passado assume uma função diferente, mas continua ligada
à cidade.
Esses elementos propulsores tem grande carga de me-
19UNIVERSO PROJETUAL
mória. Porém, para Nora, o que chamamos hoje de memória
já não é mais memória, e sim, história. A memória verdadeira
é espontânea, social, coletiva, globalizante e imediata, como
gestos, hábitos e ofícios, enquanto a memória transforma-
da por sua passagem em história é voluntária, deliberada,
psicológica, individual, subjetiva e indireta. Isso compõe a
metamorfose contemporânea.
O que pretendo trabalhar no meu TGI é a coexistência
de memórias e tempos, pois acredito que há diversos meios
de se projetar em lugares repletos de memória sem recorrer
a uma ação totalmente destruidora ou conservadora.
20 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
21AÇÕES PROJETUAIS
AÇÕES
PROJETUAIS
22 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
23AÇÕES PROJETUAIS
É possível compor com o lugar, sem que este perca suas
memórias, mas some novas memórias? É com essa indaga-
ção que começo a pensar em quais ações projetuais adotar.
Falar em camadas do tempo vai além da passagem
cronológica, abrange também as memória, relações sociais,
econômicas... E na arquitetura podemos perceber como o
passado foi e o presente é contado. Assim, são essas cama-
FCU�SWG�KORQTVCO�RCTC�FGƂPKT�OKPJCU�CÃÑGU�RTQLGVWCKU�
24 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
PROCESSO
2CTC�FGƂPKT�CU�CÃÑGU�RTQLGVWCKU�HQTCO�HGKVCU�VTÆU�TGNGKVWTCU�do obejto de pré-TGI.
'O�OGW�QDLGVQ�FG�RTÅ�6)+�VTCDCNJGK�CU�SWGUVÑGU�FG�EC-
madas, materialidade, seleção e luz e sombra.
Objeto de pré-TGI
25AÇÕES PROJETUAIS
Montagem
Colagem
Xerox
26 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Procurei reforçar essas questões nas transcrições do
objeto, e a partir delas vieram dois conceitos importantes:
interdependência da obra e lugar e seleção.
A interdependêncis da obra e lugar�VTC\�C�CƂTOCÿQ�FG�que tanto o objeto depende do lugar quanto o lugar de-
pende do objeto para existirem como tais, ou seja, quando
XKUVQU�UGRCTCFCOGPVG��OWFCO�FG�UKIPKƂECFQ��
A seleção esconde ou revela situações do lugar, o que é
importante destacar para que a obra e o lugar convivam em
JCTOQPKC��RCTC�SWG�CU�OGOÏTKCU�FQ�RCUUCFQ�GUVCLCO�XKXCU�nas memórias do presente.
#�RCTVKT�FGUUCU�KFGKCU�FGƂPQ�OKPJC�CÿQ�RTQLGVWCN�UGPFQ�a COMPOSIÇÃO. Compor a obra com o lugar, de modo
que ambos se contaminem formando um só lugar com rica
diversidade.
A imagem ao lado traz uma síntese desse processo, no
qual pego como lugar de estudo a estação ferroviária de
São Carlos e suas memórias e procuro compor um lugar
QPFG�JCLC�CU�OGOÏTKCU�FQ�RCUUCFQ�G�FQ�RTGUGPVG�
27AÇÕES PROJETUAIS
28 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
29LUGAR
LUGAR
30 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
31LUGAR
milhaskm
200400
O lugar escolhido localiza-se no município de Lençóis Paulista / SP a 300 kM de São Paulo e 50 kM de Bauru. A cidade possui aproximadamente 61.500 habitantes.
N
32 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
33LUGAR
34 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
35LUGAR
36 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
Usos
Residencial
Serviço
Comercial
Institucional
Misto com habitação
Área verde
37LUGAR
38 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
N
Fluxos
Via arterial
Via coletora
Via local
39LUGAR
40 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
41LUGAR
Implantação e corte do terreno.
42 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
O lugar pertencia a uma antiga destilaria, construída às pressas em 1943, para suprir as necessidades energéticas FWTCPVG�C�5GIWPFC�)WGTTC�/WPFKCN��OCU��EQO�Q�ƂO�FC�IWGT-ra, logo foi abandonada.
'O�LWNJQ�FG�������HQK�ƂTOCFQ�EQPVTCVQ�RCTC�CDTKICT�PGUVC�área a Casa da Cultura e o Museu Histórico da Cidade, que funcionou por 10 anos.
Em dezembro de 1989, iniciou-se o processo de tomba-mento pelo CONDEPHAAT.
0Q�ƂPCN�FG�������HQK�CDGTVQ�WO�EQPEWTUQ�RCTC�KORNCPVC-ÿQ�FQ�p%GPVTQ�/WPKEKRCN�FG�(QTOCÿQ�2TQƂUUKQPCN�2TGHGKVQ�+FGXCN�2CEEQNCq��EQO�EWTUQU�RTQƂUUKQPCNK\CPVGU��SWG�JQLG�encontram-se espalhados pela cidade. O projeto vencedor foi do Metrópole Arquitetos.
Nas páginas a seguir seguem algumas fotos do lugar. As maiores são atuais e as menores, de 1983.
Corte da torre.
43LUGAR
44 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
45LUGAR
46 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
47LUGAR
48 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
A atual situação do lugar gera as seguintes indagações:
O que deve ser mantido?
O que deve ser destruído?
O que deve ser recontruído?
De que forma deve ser reconstruído?
Quais memórias devem ser preservadas?
Essas indagações foram essenciais para a constituiçõa do projeto.
49PROGRAMA
PROGRAMA
50 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Biblioteca
Casa da Cultura
Espaço Cultural
Áreas culturais existentes
Área de intervenção
Eixos culturais existentes
Novo eixo cultural
N
51PROGRAMA
Biblioteca
Casa da Cultura
Museu
Espaço Cultural
52 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
A proposta é criar uma nova área que promova ativida-
des culturais, ampliando, assim, o polígono cultural existen-
te, que atualmente é composto por quatro áreas: Biblioteca
Municipal Origenes Lessa, Espaço Cultural Cidade do Livro,
Casa da Cultura Profª Maria Bove Coneglian e Museu Ale-
xandre Chitto.
A Casa da Cultura é um espaço cultural com diversos
programas, e engloba cursos de dança, teatro, música e a
orquestra de sopros da cidade. Entretanto, é um lugar sem
OWKVQ�GURCÃQ�G�GUVTWVWTC��Q�SWG�LWUVKƂEC�C�EQPUVKVWKÿQ�FG�uma nova área para abrigar a orquestra e a instrumentaliza-
ção musical.
Dessa forma, há a possibilidade de se criar um espaço
amplo que, além de servir como local de ensaio e apresenta-
ções, pode abrigar salas para ensino, trazendo novas opor-
tunidades para a sociedade.
A criação de uma nova área cultural, resulturá em um
novo eixo, ampliando o polígono cultural que encontra-se
concentrado no centro da cidade.
53PROJETO
PROJETO
54 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
55PROJETO
56 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
O primeiro passo para a concepção do projeto foi decidir
o que, da construção existente, permaneceria como ruína, o
que seria destruído e o que seria restaurado.
As ruínas cedem uma beleza ímpar ao lugar, entretanto,
oferecem riscos para quem as percorre, por estarem num es-
tado de degradaçõa muito grande. Assim, deve-se ter muito
cuidado com as áreas que permanecerão como ruínas.
Essas áreas farão parte dos percursos do projeto, que
convidam as pessoas a percorrerem todo o lugar, desven-
dando suas memórias e histórias.
As construções restauradas preservarão suas fachadas
em sua forma original e terão seus interiores reconstruídos
com novas estruturas, para não afetar o existente.
Planta da destilaria
Restauro
Ruínas
Retirado
57PROJETO
Galpão
Galpão
Torre
Cobertura
Tanque
Chaminé
N
58 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
,WPVQ�EQO�GUUC�RTKOGKTC�FGƂPKÿQ�FG�RTQLGVQ�XGKQ�C�ETKC-
ção de eixos que norteassem o projeto.
O primeiro deles é marcado por uma passarela que corta
toda a parte sul da área. Essa passarela compõe um percur-
so diferenciado que se inicia na torre, passa sobre as ruínas,
RGPGVTC�PQ�CWFKVÏTKQ�G�ƂPCNK\C�PC�N¾OKPC��7O�RGTEWTUQ�CDGT-to ao público que, além de ser contemplativo, faz a ligação
entre as três construções utilizadas pelo conservatório.
O segundo eixo mostra-se como uma continuação do
primeiro, a medida que se inicia em uma das extrimidades
do anterior. Este eixo é quase totalmente composto pela
N¾OKPC��%QO�Q�VÅTOKPQ�FC�EQPUVTWÿQ��KPKEKC�UG�WO�PQXQ�percurso, a 50 centímetros do solo, por um tablado de
madeira, que se transforma gradativamente em uma esca-
da, atingindo o ponto mais alto do lugar: um tanque, agora
como forma de um mirante. Desse ponto é possível ver uma
grande extensão da cidade, além de todo o parque e o
conservatório.
Implantação
Eixo Passarela
� 'KZQ�.¾OKPC�/KTCPVG
59PROJETO
N
60 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
61PROJETO
62 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
Além dos percursos formados pelos eixos, outros percur-
UQU��P¿Q�OGPQU�KORQTVCPVGU��VCODÅO�U¿Q�FGƂPKFQU�CVTCXÅU�dos acessos e caminhos. Estes percursos, como nos dois
anteriores, também geram enquadramentos e surpresas a
quem os percorre.
N
63PROJETO
7O�FGNGU��GPVTG�CU�TWÉPCU��EQPƂIWTC�UG�GO�WO�RGTEWTUQ�de contemplação. É possível fazê-lo de diferentes maneiras.
Também neste percurso encontra-se uma área de estar com
café localizado no galpão restaurado.
64 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
O pedestre, ao chegar pela praça, vai des-
cobrindo, aos poucos, as memórias do lugar. A
vegetação abre-se gradativamente para o antigo,
criando enquadramentos do lugar.
Outro percurso é melhor visto como o início
de dois outros percursos. Um, subindo o talude
em direção norte, que dá acesso à área mais den-
sa de vegetação. Outro, percorrendo a parede
externa do foyer, em direção ao sul. Aqui acon-
tece a entrada principal de convidados para os
concertos.
1�RGTEWTUQ�UGIWKPVG�EQPƂIWTC�UG�EQOQ�WOC�área de passagem, dando, também, acesso ao
café que possui em uma das extremidades o
foyer, e na outra, uma pequena praça para recep-
cionar, principalmente, professores e funcionários
do conservatório, cuja a entrada principal encon-
tra-se na torre.
65PROJETO
Seguindo o percurso há um extenso grama-
do que não se caracteriza propriamente em um
caminho, mas muito mais um estar. Em dias de
apresentações, este gramado pode se transfor-
mar em um auditório a céu aberto, uma vez que
o prédio do auditório tem a possibilidade de se
abrir para o exterior.
O pedestre, ao chegar pela praça, vai des-
cobrindo, aos poucos, as memórias do lugar. A
vegetação abre-se gradativamente para o antigo,
criando enquadramentos do lugar.
1�RGTEWTUQ�UGIWKPVG�EQPƂIWTC�UG�EQOQ�WOC�área de passagem, dando, também, acesso ao
café que possui em uma das extremidades o
foyer, e na outra, uma pequena praça para recep-
cionar, principalmente, professores e funcionários
do conservatório, cuja a entrada principal encon-
tra-se na torre.
66 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
No percurso seguinte têm-se uma apreensão
quase total da área, deixando apenas o existente
ser descoberto gradativamente.
O último percurso é mais direcionado para a
escola que existe ao norte da área. Aqui há uma
ligação entre a escola e o segundo eixo do proje-
to, passando pela área dos tanques, onde haverá
objetos sensoriais lúdicos, que tenham mais rela-
ção ao som, fazendo com que quem passe por ali
sinta a curiosidade de participar da sociabilidade
G�FKP¾OKEC�FQ�NWICT�
67PROJETO
#�RCTVKT�FQU�RGTEWTUQU�Å�RQUUÉXGO�CRTGGPFGT�C�FKP¾OKEC�do lugar e um pouco do que ocorre em cada uma das cons-
truções.
Uma das áreas mais sociais do projeto torna-se o pátio
do café, pois acaba atraindo não apenas músicos, alunos
e funcionários, mas também toda a população da região e
quem estiver passando pelo local.
Como já dito anteriormente, este galpão terá sua facha-
da restaurada e seu interior será reconstruído de modo que
o novo uso e as memórias coexistam harmoniosamente.
Uma cobertura de estrutura metálica e vidro faz a transi-
ção entre o auditório e o café.
Acesso a partir do
auditório
Acesso a partir
das ruínas
4,8
0
19,6
0
12,30
68 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
A torre é outra existência que terá sua fachada restaura-
da. Seus cinco andares serão reconstruídos e abrigarão salas
de professores e administração do conservatório. A escada
e elevador que dão acesso à passarela serão abertos ao
público.
Acesso à passarela
Entrada da torre
25,5
0
11,009,00
9,0
0
69PROJETO
O auditório é o nó articulador de todo o projeto. Cons-
truído com concreto pré-fabricado, terá capacidade para
aproximadamente 300 pessoas.
Internamente é cortado pela passarela, que, em seu inte-
rior, perde a cobertura, transformada em um guarda corpo.
Anexo ao auditório, encontra-se o foyer, cuja a cober-
tura, junto com a cobertura do estacionamento, é o piso
FQ�R½VKQ�CDCKZQ�FC�N¾OKPC��'UVG�HQ[GT�FKXKFG�UG�PQ�UGPVKFQ�longitudinal, para que a parte mais próxima ao palco seja a
entrada dos músicos.
O palco, por sua vez, abre-se para o gramado a sua fren-
te, tendo, assim, a possibilidade de concertos ao ar livre.
Entrada do público a
partir da avenida
Entrada do público a
partir do estaciona-
mento
Entrada de músicos
13
,00
25,0540,10
Saída para o café
70 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
#�N¾OKPC�RQUUWK�GUVTWVWTC�FG�EQPETGVQ�CTOCFQ�GPXQNXKFC�por uma “pele” de brise de aço corten.
Aqui se localizará salas de aulas práticas, teóricas e salas
de ensaio no centro, sendo a circulação pela laterais.
Os pilares possuem seu centro vazado para a passagem
de instalações elétricas e hidráulicas.
Seu térreo vazado oferece-lhe ainda mais leveza, contra-
pondo com a estrutura mais pesada do auditório, além de
ser um grande pátio de convivência entre alunos, professo-
res e músicos.
Acesso à passarela
Acesso pelo pátioAcesso pelo parque
10,0
0
60,2716,3
8
71PROJETO
O projeto visa, prioritariamente, a harmonia entre as
memórias existentes com as memórias que virão a existir. As
PQXCU�UQEKCDKNKFCFG�G�FKP¾OKEC�GUVCT¿Q�GO�EQPUVCPVG�EQP-
tato com o passado, dando continuação a sua história antes
interrompida e abandonada.
72 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
73PROJETO
74 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
75BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
76 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
77BIBLIOGRAFIA
Livros
COSTA, Lúcio. Arquitetura. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Pontifícia Universidade Católica de São Pau-lo. Departamento de História. Projeto História 10. São Paulo, 1981, p. 7-28.
PAOLI, Maria Célia. Memória, história e cidadania: o direito ao passado. In: São Paulo (cidade). Secretaria Municipal de Cultura. Departamento do Patrimônio Histórico. O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania/DPH. 1992, p. 25-28.
ROSSI, Aldo. Estrutura dos fatos urbanos. In: ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2004. Parte I, p. 13-59.
Artigos de revistas
FIGUEIRA, Jorge. Nem passivo, nem ostensivo. Revista aU, São Paulo, ano 27, n 225, p. 43-47, Dez./2012.
FRAJNDLICH, Rafael Urbano. Sonoro monólito. Revisa aU, São Paulo, ano 28, n 227, p. 24-33, Fev./2013.
Websites
DE OLIVEIRA, Olivia. Repasses. A depredação material e espiritual da obra de Lina Bo Bardi. Arquitextos, São Pau-lo, ano 06, n. 068.01, Vitruvius, jan. 2006 <http://www.vitru-vius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.068/387> Acesso
78 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
em 15 abr 2014.
PORTAL VITRUVIUS. Praça das Artes. Projetos, São Paulo, ano 13, n. 151.03, Vitruvius, jul. 2013 <http://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.151/4820> Acesso em 15 abr 2014
79BIBLIOGRAFIA
80 ENTRE RUÍNAS E MEMÓRIAS
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