UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
André Sbardelini
Arthur Pereira Neto
Danilo Cisotto
INSPEÇÃO, MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO
DE MARQUISES E SACADAS
CURITIBA
2008
André Sbardelini
Arthur Pereira Neto
Danilo Cisotto
INSPEÇÃO, MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO
DE MARQUISES E SACADAS
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao
Curso de Pós-graduação em Patologia nas Obras
Civis da Faculdade de Ciências Exatas e de
Tecnologia da Universidade Tuiuti do Paraná,
como requisito parcial para a obtenção do título de
Especialista.
Orientador: Msc. Luis César S. De Luca
CURITIBA
2008
III
TERMO DE APROVAÇÃO
André Sbardelini
Arthur Pereira Neto
Danilo Cisotto
INSPEÇÃO, MANUTENÇÃO E RECUPERAÇÃO
DE MARQUISES E SACADAS
Este trabalho de conclusão foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Especialista em Patologias na Obras Civis no Curso de Pós-Graduação Especialização em Patologias nas Obras Civis da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 14 de Agosto de 2008.
____________________________________________________________
Curso de Pós-Graduação Especialização em Patologias nas Obras Civis
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: Prof. M.Sc. Luís César Siqueira De Luca
Prof. César Henrique Sato Daher,
Esp.;Thomas Carmona, M.Sc.;
Armando Edson Garcia, Dr.;
Universidade Tuiuti do Paraná – Departamento de Engenharia Civil
IV
DEDICATÓRIA
Dedicamos este trabalho a nossas famílias, ao nosso mais novo amigo, o
professor e mestre Luis César S. De Luca, e toda a comunidade acadêmica, dedicada
ao desenvolvimento e evolução da tecnologia.
Mesmo que eu ande pelo vale da
sombra da morte, nada temerei,
pois tenho Deus ao meu lado.
V
Salmo 23.4
AGRADECIMENTOS
Aos nossos pais, que com constante e amorosa assistência e dedicação, permitiu o nosso crescer intelectual e humano, proporcionando amor, compreensão, incentivo e equilíbrio, sem os quais não estaríamos hoje nos dedicando com tanto esforço e determinação a este curso de graduação.
Nosso agradecimento a todo o corpo docente do curso de Patologias nas Obras Civis e em especial ao professor Luis César S. De Luca, que sempre teve a preocupação de indicar a melhor forma de organizar o contexto desse trabalho, e também pelas suas palavras de conforto, e auto-estima, naquelas horas em que, elas eram sempre necessárias.
Ao Engenheiro César Sato Daher, coordenador do curso de Engenharia Civil, que sempre trabalhou para contribuir com a excelência do curso, e que nos propiciou a possibilidade de facilmente ingressar no mercado de trabalho com êxito.
Às pessoas amadas, e amigas de todas as horas, agradecemos por toda a compreensão e apoio, que souberam com o passar do tempo nos dividir com nossa outra paixão, a Engenharia.
VI
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...................................................................................... IX
LISTA DE TABELAS..................................................................................... XI
LISTA DE SÍMBOLOS E NOTAÇÕES QUÍMICAS.................................. XII
RESUMO.......................................................................................................... XIII
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 1
1.1. OBJETIVO GERAL......................................................................... 1
1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................... 2
1.3. JUSTIFICATIVA............................................................................. 2
1.4. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO......................................... 4
2. ESTRUTURAS EM BALANÇO – SACADAS E MARQUISES............. 5
2.1. TIPOS DE SACADAS E MARQUISES.......................................... 5
2.2. COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE SACADAS E
MARQUISES EM BALANÇO............................................................ 7
2.2.1. Carregamentos atuantes em lajes em balanço..................... 7
2.3.PROBLEMAS E ACIDENTES ESTRUTURAIS COM
SACADAS E MARQUISES.............................................................. 8
2.3.1 Problema com fissuras nas sacadas do edifício Anice
Daher................................................................................... 8
2.3.2 Acidentes estruturais com marquises.................................. 10
2.3.3 Proibição da construção de marquises na cidade do
Rio de Janeiro...................................................................... 13
3. PRINCIPAIS AGENTES CAUSADORES DE COLAPSO....................... 14
3.1. ERROS DE PROJETO....................................................................... 14
3.2. ERROS DE EXECUÇÃO.................................................................. 16
VII
3.2.1. Disposição incorreta das armaduras..................................... 16
3.2.2. Escoramento incorreto.......................................................... 18
3.3. CORROSÃO NAS ARMADURAS................................................... 19
3.3.1. Tipos de corrosão.................................................................. 20
3.3.2. Corrosão das armaduras por cloretos................................... 21
3.3.3. Corrosão das armaduras por carbonatação.......................... 22
3.3.4. Fissuração do concreto devido à corrosão........................... 23
3.4. FISSURAÇÃO.................................................................................... 24
3.5. SOBRECARGA.................................................................................. 27
4. PATOLOGIA DE MARQUISES E SACADAS.......................................... 30
4.1. MÉTODO DE INSPEÇÃO DE SACADAS E MARQUISES........... 30
4.1.1. Dados cadastrais da edificação............................................. 30
4.1.2. Informações gerais................................................................ 31
4.1.3. Planta de situação da marquise ou sacada............................ 31
4.1.4. Levantamento geométrico dos elementos estruturais
de uma marquise ou sacada.................................................. 32
4.1.5. Verificação do sistema de drenagem e impermeabilização.. 34
4.1.6. Ensaio de esclerometria no concreto.................................... 35
4.1.7. Avaliação das armaduras com respeito as suas condições
mecânicas e corrosão........................................................... 35
4.1.8. Determinação das alturas relativas....................................... 36
4.1.9. Quadro de Análise de Diferenças de Alturas....................... 37
4.1.10. Avaliação do teor de cloretos............................................. 37
4.1.11. Avaliação da corrosão por potencial elétrico de
Semipilhas.......................................................................... 38
4.1.12. Avaliação da carbonatação................................................. 40
4.1.13. Verificação da estabilidade segundo NBR 6118 em
função de cargas existentes................................................ 41
4.2. MANUTENÇÃO DE MARQUISES E SACADAS........................... 42
VIII
5. TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE MARQUISES
E SACADAS................................................................................................... 42
5.1. INTERVENÇÕES DEVIDO A ERROS DE PROJETO................... 42
5.1.1. Demolição da estrutura........................................................ 43
5.2. INTERVENÇÕES DEVIDO A CORROSÃO NAS
ARMADURAS.................................................................................. 43
5.2.1. Inibidores de corrosão.......................................................... 43
5.2.2. Emendas nas armaduras corroídas...................................... 45
5.3. INTERVENÇÕES DEVIDO A FISSURAÇÃO DO CONCRETO.. 45
5.3.1. A técnica de injeção de fissuras........................................... 46
5.3.2. A técnica de selagem de fissuras.......................................... 47
5.3.3. Costura das fissuras (grampeamento).................................. 47
5.4. INTERVENÇÕES DEVIDO A SOBRECARGA NA
ESTRUTURA.................................................................................... 48
5.5. INTERVENÇÕES NA SUPERFÍCIE DE CONCRETO.................. 49
5.5.1. Polimento............................................................................. 49
5.5.2. Lavagem............................................................................... 50
5.6. REFORÇO ESTRUTURAL............................................................... 52
5.6.1. Reforço estrutural em lajes em balanço................................ 53
5.6.2. Reforço de viga submetida à torção...................................... 55
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA NOVOS
TRABALHOS........................................................................................................ 57
6.1. Considerações finais ............................................................................... 57
6.1. Recomendações para novos trabalhos .................................................... 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 60
IX
LISTA DE FIGURAS
Figura Pg.
1.1. Queda da marquise do Hotel Canadá no RJ (GOLDFARD, 2007).......... 3
1.2. Colapso de uma sacada na cidade de Curitiba (PEREIRA, 2007)............ 3
2.1. Tipos de sacadas apropriadas para edifícios em alvenaria estrutural
(RAUBER, 2005)...................................................................................... 5
2.2. Formas de introdução de sacadas em balanço (RAUBER, 2005)............. 6
2.3. Dois tipos de sistemas estruturais de marquises: (a) laje diretamente
engastada e (b) laje apoiada sobre vigas engastadas(MEDEIROS
e GROCHOSKI, 2007).............................................................................. 6
2.4. Carregamentos em lajes em balanço (CAMACHO, 2004)....................... 8
2.5. Fachada do Edifício Anita Daher.............................................................. 9
2.6. Fissuras na sacada do 1º andar do edifício................................................ 9
2.7. Rotacionamento da laje da sacada em relação à viga de engaste.............. 10
2.8. Marquise da UEL após o colapso.............................................................. 11
3.1. Origens de problemas patológicos das edificações
(Motteu e Cnudde, 1989 apud. Melhado, 1994......................................... 15
3.2. Espaçamento irregular em armaduras de lajes (SOUZA e RIPPER, 1998) 17
3.3. Armadura negativa da laje fora de posição (SOUZA e RIPPER, 1998).... 17
3.4. Escala de momento sem escoramento (MEDEIROS e GROCHOSKI,
2007)........................................................................................................... 18
3.5 Tipos de escoramento em estruturas em balanço (MEDEIROS
e GROCHOSKI, 2007)............................................................................... 19
3.6. Processo de corrosão................................................................................... 20
X
3.7. Mapeamento de fissuras (GOMES et al., 2007)......................................... 24
3.8. Exemplo de camadas de sistemas de impermeabilização sobrepostas
sobre laje de marquise (MEDEIROS e GROCHOSKI, 2007).................... 27
3.9. Marquise deformada pela sobrecarga de painel publicitário (RIZZO,
2007)............................................................................................................ 29
4.1. Situação e elementos estruturais de uma marquise (JORDY e MENDES,
2007)........................................................................................................... 31
4.2. Geometria dos elementos estruturais (JORDY e MENDES, 2007)........... 32
4.3. Medição da seção transversal de armadura em viga de marquise
(JORDY e MENDES, 2007)....................................................................... 33
4.4. Posição de armaduras em planta referida às peças em concreto (JORD
e MENDES, 2007)...................................................................................... 33
4.5. Posição de armaduras em corte referido às peças em concreto (JORDY
e MENDES, 2007)...................................................................................... 34
4.6. Obstruções no sistema de drenagem de marquises em centros urbanos..... 34
4.7. Verificação da integridade estrutural do aço dentro de viga de
marquise (JORDY e MENDES, 2007)....................................................... 36
4.8. Medida da profundidade de carbonatação com paquímetro (DUGATTO,
2006)........................................................................................................... 40
5.1. Exemplo da técnica de injeção de fissuras (SALES, 2005)....................... 47
5.2. Esquema típico do grampeamento de uma laje (VEDACIT, 2007)........... 48
5.3. Superfície antes e depois do polimento (ABREU, 2007)........................... 50
5.4. Reforço na parte superior da laje (adaptada de PIANCASTELLI, 2004)... 54
5.5. Reforço por embutimento na armadura (PIANCASTELLI, 2004)............. 54
5.6. Exemplo de reforço da viga submetida à torção (PIANCASTELLI, 2004) 55
5.7. Artifício estrutural para eliminar ou reduzir o esforço de torção em vigas
(PIANCASTELLI, 2004)............................................................................ 56
XI
LISTA DE TABELAS
Tabela Pg.
1. Levantamento de casos de desabamento de marquise e estruturas
similares no Brasil (Medeiros e Grochoski, 2007)...................................... 11
2. Sobrecargas e ações a serem tomadas......................................................... 49
XII
LISTA DE SÍMBOLOS E NOTAÇÕES QUÍMICAS
ABCP - Associação Brasileira de Cimento Portland
ASTM - American Society for Testing and Materials
Ca2+ - Íon de cálcio
Ca(OH)2 - Hidróxido de cálcio
CESA - Centro de Estudos Sociais Aplicados
CO2 - Gás carbônico
CREA - Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
H - Carga horizontal
H2O - Óxido de hidrogênio (água)
H2S - Gás sulfídrico
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
MPa - Mega Pascal
Na+ - Íon de sódio
NBR - Norma Brasileira
pH - Potencial hidrogeniônico
q - Carga acidental
RAA - Reação álcali-agregado
RJ - Rio de Janeiro
SO2 - Dióxido de enxofre
UEL - Universidade Estadual de Londrina
V - Carga vertical mínima
XIII
RESUMO
Este trabalho apresenta mecanismos causadores de manifestações patológicas e colapso, de marquises e sacadas, assim como as técnicas de recuperação, aplicáveis aos vários casos. Os principais agentes causadores de colapsos abordados são erros de projeto, erros de execução (disposição incorreta das armaduras e escoramento incorreto durante a execução), corrosão nas armaduras, fissuração, sobrecarga e reação álcali-agregado. Além disso, são apresentados casos de manifestações patológicas em marquises e sacadas, também são abordados ensaios para determinação das origens das manifestações patológicas e resistência das marquises e sacadas. Os ensaios abordados são esclerometria, avaliação do teor de cloretos pela titulação potenciométrica, avaliação da corrosão por potencial elétrico de semipilhas, avaliação da carbonatação utilizando a fenolftaleína. Outras verificações também são abordadas. Além disso, criou-se um método de inspeção de marquises e sacadas, o qual foi obtido a partir de métodos existentes, e por fim, são descritas técnicas de recuperação e reforço, como inibidores de corrosão, técnicas para o tratamento de fissuras e outras intervenções na estrutura da marquise ou sacada. As técnicas de reforço estrutural apresentadas para lajes em balanço são: o reforço das armaduras negativas e o reforço da armadura por embutimento. Para o reforço estrutural de vigas submetidas à torção é mostrada uma técnica de acréscimo de estribos e de barras longitudinais e, um artifício estrutural com contra peso, capaz de reduzir ou acabar com os esforços de torção. Palavras-chave: Marquises, sacadas, estruturas em balanço, fissuras.
1. INTRODUÇÃO
A temática deste trabalho é desenvolver um estudo sobre sacadas e marquises,
onde serão abordadas as principais causas para o surgimento de manifestações
patológicas e colapsos nestas estruturas, bem como, a inspeção e o tratamento a ser
aplicado em cada caso.
E para o desenvolvimento deste trabalho, foram abordados os seguintes tópicos.
Inicialmente foi desenvolvido um estudo sobre o tipo de sacadas e marquises, visando
determinar qual o comportamento estrutural dos mesmos. A seguir foi realizado um
levantamento de casos ocorridos recentemente, com estas estruturas. Neste
levantamento encontra-se um descritivo dos casos estudados, bem como, seus locais
de acontecimento, causas determinadas pelos responsáveis pela inspeção e também
dados referentes à obra, como idade das edificações, etc. E também é apresentado
neste levantamento um caso mais detalhado, onde foi possível o acesso ao local do
incidente, inclusive com a possibilidade de fazer uma inspeção superficial.
Depois de finalizado o levantamento de casos ocorridos recentemente, deu-se
início a um estudo das possíveis causas de manifestações patológicas e colapsos em
sacadas e marquises, e então foi desenvolvido um método de inspeção e manutenção
de sacadas e marquises baseado no método de Jordy e Mendes (2007), Gomes et al.
(2003) e Souza e Ferrari (2007).
E para finalizar este estudo, foram abordadas técnicas de recuperação e reforço
de marquises e sacadas, a fim de determinar qual método deve ser utilizado em cada
caso.
1.1 OBJETIVO GERAL
• Identificar os mecanismos causadores de manifestações patológicas e
colapsos, de marquises e sacadas, assim como as técnicas de recuperação
aplicáveis a cada caso.
2
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Abordar os mecanismos causadores mais freqüentes do colapso de
sacadas e marquises e suas respectivas causas;
• Abordar técnicas de reparo ou reforço de marquises e sacadas;
• Apresentar casos de colapso ou problemas patológicos de marquises e
sacadas;
• Identificar ensaios e métodos para determinação das origens das
patologias, assim como resistência, das marquises e sacadas;
• Apresentar um método para inspeção e manutenção de marquises e
sacadas, obtido a partir de métodos existentes.
1.3 JUSTIFICATIVA
Nas últimas décadas acidentes estruturais com sacadas, e principalmente
marquises de edifícios, tem aparecido com certa freqüência nos jornais. A queda de
uma sacada ou marquise pode gerar, além de gastos com reconstrução, a perda de
vidas.
Uma marquise ou sacada é uma estrutura em balanço, ou seja, apoiadas em
apenas uma extremidade. Essas estruturas normalmente são feitas de concreto. O
concreto é um material frágil, pois tem pouca deformação antes de romper. Concretos
convencionais têm boa resistência à compressão, porém pouca resistência à tração.
Estruturas em balanço são muito solicitadas, tracionadas na parte superior, com isso,
utilizam-se armaduras na parte superior para aumentar a resistência da estrutura à
tração. Problemas com a armadura superior de sacadas são um dos principais fatores
que levam esta estrutura ao colapso, como: sub-dimensionamento das armaduras, erro
na execução destas, corrosão das armaduras e sobrecarga na estrutura.
Como exemplo de colapso de marquise, cita-se, o Hotel Canadá no Rio de
Janeiro, que ruiu no início do ano de 2007, onde houve duas mortes e quatorze feridos.
Na época o edifício tinha 40 anos, e a marquise de 3 m ruiu causando um grande
estrago. As causas identificadas deste colapso foram a corrosão das armaduras, além
3
de uma sobrecarga na marquise. O Hotel estava com a fachada reformada, e neste
caso, segundo as leis da cidade do Rio de Janeiro, a marquise também deveria ser
reformada. Dias após a queda, o prefeito da cidade, Cézar Maia, decretou uma lei que
proíbe a construção de marquises nesta cidade. A Figura 1.1 apresenta a marquise,
após o colapso.
Figura 1.1. Queda da marquise do Hotel Canadá no RJ (GOLDFARD, 2007).
Cita-se como exemplo a queda de uma sacada do Edifício Champagnat (Figura
1.2) em uma área nobre de Curitiba, ocorrida no dia 03/04/2007. Por sorte não houve
feridos e apenas uma caminhonete que estava estacionada na rua foi danificada. As
causas deste acidente ainda estão sendo investigadas, porém a principal causa pode ter
sido a sobrecarga na sacada.
Figura 1.2. Colapso de uma sacada na cidade de Curitiba (PEREIRA, 2007).
4
Por isso, verifica-se a importância de aprofundar os conhecimentos nas causas e
mecanismos causadores do colapso de sacadas e marquises, assim como as patologias
aplicáveis a cada caso. Também se verifica a importância de identificar os métodos
preventivos aplicáveis a cada caso.
1.4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Neste estudo foram desenvolvidos os seguintes passos metodológicos descritos
a seguir de maneira sintética.
• Estudo das estruturas em balanço (sacadas e marquises);
• Levantamento dos casos de colapsos com estruturas em balanço ocorridos
recentemente;
• Estudo dos principais agentes causadores de colapsos e manifestações
patológicas em sacadas e marquises;
• Desenvolvimento do método de inspeção de marquises e sacadas;
• Estudo das técnicas de recuperação e reforço de sacadas e marquises.
5
2. ESTRUTURAS EM BALANÇO – SACADAS E MARQUISES
Neste capítulo foi desenvolvido um estudo dos tipos de sacadas e marquises, a
fim de determinar o seu comportamento estrutural, e também foram abordados
problemas e acidentes estruturais com estes tipos de estruturas.
2.1 TIPOS DE SACADAS E MARQUISES
Ao contrário do que muitos pensam, edifícios em alvenaria estrutural podem
apresentar elementos em balanço nas fachadas, projetados para fora da projeção da
edificação, como sacadas e marquises. Contudo, estes devem ser estudados, pois
podem introduzir cargas concentradas em áreas relativamente pequenas, elevando
consideravelmente as tensões de compressão, induzindo a formação de fissuras. Em
termos de desempenho, sacadas internas à projeção do edifício (nichos) ou com apenas
uma parte avançando, em balanço, em relação à projeção da fachada são mais
aconselhadas (Figura 2.1). Porém, as sacadas em balanço podem ser resolvidas com as
soluções apresentadas na Figura 2.2, aplicadas correntemente com bons resultados.
Logicamente, todas as vigas e transpasses devem ser dimensionados por cálculo
adequado (RAUBER, 2005).
(a) (b)
Figura 2.1. Tipos de sacadas apropriadas para edifícios em alvenaria estrutural
(RAUBER, 2005).
6
Figura 2.2. Formas de introdução de sacadas em balanço (RAUBER, 2005).
Já, as marquises se destacam por estarem sempre à frente das edificações, sendo
estas responsáveis pela proteção de transeuntes e cobertura contra as ações de
intempéries (sol e chuva) e quedas de objetos. São em sua maioria de concreto armado,
estas possuem normalmente uma forma retangular e são tratadas como lajes em
balanço em relação à fachada, integrante de projeto aprovado (MAGALHÃES et al.,
2001).
A Figura 2.3, a seguir, apresenta dois tipos de sistemas estruturais de marquises:
a laje diretamente engastada e a laje apoiada sobre vigas engastadas.
(a) (b)
Figura 2.3. Dois tipos de sistemas estruturais de marquises: (a) laje diretamente
engastada e (b) laje apoiada sobre vigas engastadas (MEDEIROS e
GROCHOSKI, 2007).
7
2.2 COMPORTAMENTO ESTRUTURAL DE SACADAS E MARQUISES EM
BALANÇO
As sacadas e marquises são consideradas uma laje em balanço da estrutura, ou
seja, há pelo menos uma borda livre. Normalmente tem-se uma ou três bordas livres.
Em geral, o esquema estrutural das marquises pode ser dividido em
longitudinal, com lajes vinculadas a vigas contínuas de bordo e de torção e, em
transversal, com lajes e vigas vinculadas a vigas em balanços ou a vigas engastadas e
apoiadas em tirantes.
Devido ao esquema estrutural principal, geralmente nas suas direções
transversais, as marquises apresentam pouca vinculação ao restante da estrutura,
configurando estruturas isostáticas ou, em alguns casos, estruturas com baixo grau de
hiperestaticidade. Assim, a perda de uma vinculação por fortuito que seja, pode ser
condição suficiente para sua instabilidade (JORDY e MENDES, 2007).
O concreto é considerado um material frágil, porém, no concreto armado, com
as armaduras, que é um material dúctil, o concreto armado passa a ser considerado um
material intermediário, ou seja, é dúctil e frágil. Em outras palavras, o concreto sofre
um pouco de deformação antes de romper-se.
Segundo Medeiros e Grochoski (2007) a marquise é uma exceção a esta regra
(tende a sofrer ruptura brusca, tipo frágil, sem aviso) e, por isso, é um componente
estrutural que, mais do que nunca, precisa ser perfeito no seu projeto, na sua execução
e na sua utilização.
Portanto, uma manutenção periódica pode-se evitar tragédias e também gerar
economia quando comparada com uma reforma emergencial. Assim, torna-se
necessário investir em vistorias e reparos para obter-se segurança.
2.2.1. Carregamentos atuantes em lajes em balanço
Segundo a NBR 6120/1980, nas lajes em balanço, que podem destinar-se a
sacadas ou marquises, além das cargas permanentes e acidentais, devem ser
considerados os seguintes carregamentos:
8
Figura 2.4. Carregamentos em lajes em balanço (CAMACHO, 2004).
onde:
• q = carga acidental do compartimento que lhe dá acesso;
• H = 0,8 kN/m, (carga horizontal);
• V = 2,0 kN/m (carga vertical mínima).
2.3 PROBLEMAS E ACIDENTES ESTRUTURAIS COM SACADAS E
MARQUISES
2.3.1 Problema com fissuras nas sacadas do edifício Anice Daher
O edifício Anice Daher, está localizado na Rua Princesa Izabel nº 210, bairro
São Francisco, e tem 15 anos de idade. Este edifício possui seis pavimentos, contando
com um andar subsolo, um térreo e quatro andares superiores.
Como alegado por alguns moradores no prédio, existem fissuras nas lajes das
sacadas, em praticamente todos os pavimentos. Então, um dos moradores acionou o
serviço de engenheiros (autores do trabalho), que em visita ao local, encontraram
situações de fissuração, em praticamente todas as lajes de sacada do edifício, o que
gerou a necessidade da realização de um diagnóstico, para possíveis intervenções. A
Figura 2.5 apresenta a fachada do edifício Anice Daher.
9
Figura 2.5. Fachada do Edifício Anice Daher.
Foram detectados dois problemas nas sacadas do edifício: um foi a fissuração
entre as laje da sacada e a vigas de apoio, como mostra a Figura 2.6.
Figura 2.6. Fissuras na sacada do 1º andar do edifício.
10
O outro problema encontrado foi o rotacionamento da laje da sacada em relação
à viga de apoio, como mostra a Figura 2.7. As causas destas manifestações patológicas
estão sendo estudadas para que se possa chegar a um diagnóstico.
Figura 2.7. Rotacionamento da laje da sacada em relação à viga de engaste.
2.3.2 Acidentes estruturais com marquises
a) Marquise do anfiteatro da Universidade Estadual de Londrina
Segundo Londrix (2006), de acordo com o relatório da Comissão no que se
referem ao projeto estrutural, os principais fatores que levaram ao desabamento da
marquise do Anfiteatro do CESA foram falhas de detalhamento em peças estruturais
da obra. Além disso, não foram consideradas corretamente todas as forças atuantes na
estrutura e também houve falhas de dimensionamento em peças estruturais.
Em relação à execução da obra, houve posicionamento incorreto e ausência de
ancoragem em armaduras; algumas peças foram executadas em desconformidade com
o projeto e o concreto utilizado nas peças apresentava resistência inferior à
especificada e foram detectadas falhas de concretagem em algumas peças estruturais.
Para a Comissão de Sindicância o colapso da marquise ocorreu devido à
somatória desses fatores. Com relação à manutenção da obra, a Comissão não detectou
falhas que pudessem provocar o desabamento. Foi constatada a existência de acúmulo
11
de água, porém o volume armazenado na marquise não representava uma carga
significativa para o desabamento da marquise do anfiteatro. A Figura 2.8 mostra a
marquise após o colapso.
Figura 2.8. Marquise da UEL após o colapso.
b) Resumo de casos do colapso de marquises no Brasil
A Tabela 1 apresenta um levantamento de casos de desabamento de marquises e
estruturas similares no Brasil.
Tabela 1. Levantamento de casos de desabamento de marquise e estruturas similares
no Brasil (Medeiros e Grochoski, 2007).
Edificação Ano do
Acidente
Idade da
Edificação Vítimas Tipo Estrutural Agentes causadores
Comp. do
balanço
Ed. Mercúrio - RJ 1990 ND 1 morto Laje sobre viga
engastada
Corrosão de
armadura agravada
por cobrimento
insuficiente
ND
Ed. Términus -RJ 1992 ND 1 morto e 2
feridos
Laje sobre viga
engastada
Corrosão das
armaduras,
sobrecarga devido a
impermeabilizações
superpostas
3 m
12
Tabela 1 (cont.). Levantamento de casos de desabamento de marquise e estruturas
similares no Brasil (Medeiros e Grochoski, 2007).
Restaurante
Tijuca - RJ 1992 37 anos nenhuma
Laje sobre
viga engastada
Dimensionamento
incorreto e
corrosão de
armaduras
1 m
Prédio da
BANDERN -
RN
1993 > 50 anos nenhuma
Laje engastada
em parede de
alvenaria
maciça
Corrosão de
armaduras ND
Ed. Tavares –
RJ 1995 ND 1 ferido Laje engastada
Excesso de água
por falta de
drenagem e
sobrecarga de
letreiro apoiado
sobre a marquise
2 m
Hospital
Municipal
Barata Ribeiro
– RJ
1996 48 anos nenhuma Laje engastada
Mal
posicionamento da
armadura
negativa,
sobrecarga devido
a sucessivas
camadas de
impermeabilização
superpostas
2,4 m
Hotel Palace –
BA 200 66 anos
1 morto e 2
feridos Não declarado ND
Ed. M.
D’Almeida 2001 ND
1 morto e 7
feridos Não declarado
Corrosão de
armaduras e
sobrecarga
ND
Ed. Granville 2004 24 anos nenhuma Laje engastada
Mal
posicionamento da
armadura negativa
ND
Anfiteatro do
CESA da UEL
– PR
2006 7 anos 2 mortos e 21
feridos
Laje sobre
viga engastada
Excesso de água
não drenada e
corrosão de
armaduras
5 m
Bar Parada
Obrigatória –
RJ
2006 50 anos 3 mortos e 4
feridos Não declarado
Corrosão de
armaduras ND
Hotel Canadá 2007 40 anos 2 mortos e 14
feridos Não declarado
Corrosão de
armaduras e
sobrecarga
3 m
13
2.3.3 Proibição da construção de marquises na cidade do Rio de Janeiro
No dia 9 de março de 2007 foi estabelecido o Decreto nº 27.663/07, que proíbe
a construção de marquises na cidade do Rio de Janeiro. Esta medida foi estabelecida
após a queda do Hotel Canadá, em Copacabana. Segundo Alencar (2007) a decisão da
Prefeitura ocorreu sem qualquer consulta aos órgãos de representação dos engenheiros
e arquitetos.
De acordo com Alencar (2007), as marquises são criadas para proteger o
transeunte do sol e da chuva tanto quanto da eventual queda de objetos dos andares
superiores, portanto são parte relevante da arquitetura dos edifícios e ao contrário do
que parece ao executivo municipal são elementos de segurança da edificação estando
presentes nas construções ao longo da história das cidades.
Nota-se na Tabela 1 que a maioria da ruína de marquises, como o Edifício
Canadá, são edifícios considerados “velhos”. Estes edifícios precisam de maior
freqüência de fiscalização da prefeitura, para analisar a estrutura, e maior freqüência
de manutenção, pois quanto mais velhos, são mais susceptíveis a problemas
estruturais.
Além da proibição da construção de marquises, o artigo 2º do Decreto nº
27.663/07 trata que: “No licenciamento de obras de reformas, modificação e
acréscimos nas edificações existentes que possuam marquises construídas sobre
logradouros e áreas de afastamento frontal deverá ser exigida a demolição das
mesmas”.
De acordo com Junqueira (2007) a redação do Art. 2° é inadequada, tendo em
vista que pune a os proprietários, engenheiros e arquitetos por uma falha da
administração pública, que não promoveu uma vistoria adequada na marquise no hotel
em Copacabana.
14
3. PRINCIPAIS AGENTES CAUSADORES DE COLAPSO
Neste capítulo foi realizado um estudo a fim de determinar quais são os
principais agentes causadores de colapsos e manifestações patológicas em sacadas e
marquises.
Durante a etapa de concepção da estrutura de uma sacada ou marquise, muitas
são as falhas possíveis de ocorrer. Elas podem originar-se durante o estudo preliminar
(concepção e lançamento da estrutura), na execução do anteprojeto, ou durante a
elaboração do projeto de execução.
Na execução, podem ocorrer falhas das mais diversas naturezas, associadas às
causas tão variadas como a falta de condições locais de trabalho (cuidados e
motivação), não capacitação profissional da mão-de-obra, inexistência de controle de
qualidade de execução, má qualidade de materiais e componentes, irresponsabilidade
técnica e até mesmo sabotagem (MATTJE, 2002).
Quando terminada a etapa de execução da sacada ou marquise, mesmo que
tenham sido executadas com qualidade adequada, estas estruturas podem ter durante a
sua vida útil, problemas patológicos por falta de manutenção adequada ou pela
utilização errônea. Por exemplo, uma marquise pode ser projetada apenas para
proteger os transeuntes e cobertura contra as ações de intempéries (sol e chuva) e
quedas de objetos. Porém, esta marquise pode ser utilizada incorretamente em um
carnaval, onde pessoas ficam em cima dela e “pulam”, o que pode acarretar em um
colapso devido à sobrecarga, não considerada durante o projeto.
3.1. ERROS DE PROJETO
Segundo Helene (1988) a maior parte dos problemas patológicos na Construção
Civil tem origem na etapa de projeto - variando de 36% a 49%, conforme o caso.
Segundo Motteu e Cnudde (1989) apud. Melhado (1994) também apontam a
ligação entre erros de projeto e problemas patológicos (Figura 3.1). Segundo os
autores, a fase de concepção e projeto é a principal origem de defeitos das construções,
15
participando com 46% do total das falhas. Outra colocação feita por eles destaca o fato
de que apenas 22% dos problemas ligam-se à fase de execução.
Figura 3.1. Origens de problemas patológicos das edificações (Motteu e Cnudde, 1989
apud. Melhado, 1994.
Constata-se que as falhas originadas ante-projeto equivocado, são responsáveis,
pelo encarecimento do processo de construção, ou por transtornos relacionados à
utilização da obra, enquanto as falhas geradas durante a realização do projeto
geralmente são as responsáveis pela implantação de problemas patológicos sérios. Os
problemas destas fases podem ser tão diversos como (PIANCASTELLI, 2004;
DAIHA, 2004):
• Lançamento inadequado à solução estrutural pretendida quer por balanços
excessivamente grandes, quer por regiões com esforços elevados;
• elementos de projeto inadequados (má definição das ações atuantes ou das
combinações mais desfavoráveis das mesmas, não consideração de cargas que
surgem em função do processo executivo; escolha infeliz do modelo analítico,
etc.);
• falta de uma drenagem eficiente nas estruturas de sacadas e marquises,
16
• ausência de impermeabilização nas estruturas de sacadas e marquises, as quais
podem ficar predispostas a patologias de corrosão;
• falta de compatibilização entre a estrutura e a arquitetura, bem como com os
demais projetos civis;
• especificação inadequada de materiais;
• detalhamento insuficiente ou errado, por exemplo, má distribuição da armadura
(congestionamento);
• detalhes construtivos inexeqüíveis;
• falta de padronização das representações (convenções);
• erros de modelagem, carregamento e dimensionamento;
• falta de controle da fissuração e,
• falta de controle das deformações.
Vale salientar que um dos pontos que mais podem afetar a durabilidade das
estruturas de sacadas e marquises é o detalhamento das barras. O projetista deve ter em
conta que o bom adensamento do concreto, em especial do cobrimento, depende
diretamente de bons afastamentos horizontais e verticais entre as barras.
Segundo Helene (1988), as falhas de planejamento ou de projeto são, em geral,
mais graves que as falhas de qualidade dos materiais ou de má execução, motivo pelo
qual é sempre preferível investir mais tempo no detalhamento e estudo da estrutura
que, por falta de previsão, tomar decisões apressadas a ou adaptadas durante a
execução.
3.2. ERROS DE EXECUÇÃO
3.2.1. Disposição incorreta das armaduras
Uma sacada ou uma marquise são estruturas em balanço, ou seja, apoiados em
uma extremidade e outra extremidade livre. Portanto, sujeita a momentos negativos e,
conseqüentemente, as armaduras devem estar dispostas na parte superior da laje e viga.
Estas armaduras devem ser executadas com cuidado especial.
17
O posicionamento incorreto das armaduras, que se pode traduzir na não
observância do correto espaçamento entre as barras (em lajes isto é muito comum),
como se vê na Figura 3.2, ou no deslocamento das barras de aço de suas posições
originais, muitas vezes motivado pelo trânsito de operários e carrinhos de mão, por
cima da malha de aço, durante as operações de concretagem – o que é praticamente
comum nas armaduras negativas das lajes (Figura 3.3) e poderá ser crítico nos casos de
balanço. O recurso a dispositivos adequados (espaçadores, pastilhas, caranguejos) é
fundamental para garantir o correto posicionamento das barras da armadura (LIMA e
PACHA, 2000).
Figura 3.2. Espaçamento irregular em armaduras de lajes (SOUZA e RIPPER, 1998).
Figura 3.3. Armadura negativa da laje fora de posição (SOUZA e RIPPER, 1998).
18
3.2.2. Escoramento incorreto
Muito cuidado precisa ser tomado quando se resolve escorar uma marquise.
Para isso, não se pode esquecer como uma marquise é armada e quais os esforços
atuantes na mesma. O escoramento isolado da ponta de uma marquise promove uma
mudança no comportamento estrutural da peça que, neste caso, passaria a trabalhar
como uma estrutura engastada em uma extremidade e apoiada na outra.
Essa mudança de comportamento pode levar a modificações consideráveis nos
diagramas de esforços solicitantes na marquise, como mostra a Figura 3.4 e 3.5. Desse
modo, na ausência de cálculos e/ou verificações que provem o contrário, a forma mais
correta de se realizar o escoramento de uma marquise é introduzir apoios ao longo de
toda a sua extensão com escoras desde sua extremidade até o engaste (MEDEIROS e
GROCHOSKI, 2007).
Obviamente, não se podem retirar prematuramente os escoramentos, o que pode
resultar em deformações indesejáveis na estrutura e, em muitos casos, em acentuada
fissuração. Segundo Lima e Pacha (2000), a remoção incorreta dos escoramentos
(especialmente em balanços, casos em que as escoras devem ser sempre retiradas da
ponta do balanço para o apoio), o que provoca o surgimento de trincas nas peças,
como conseqüência da imposição de comportamento estático não previsto em projeto
(esforços não dimensionados).
Figura 3.4. Escala de momento sem escoramento (MEDEIROS e GROCHOSKI,
2007).
19
Figura 3.5. Tipos de escoramento em estruturas em balanço (MEDEIROS e
GROCHOSKI, 2007).
3.3. CORROSÃO NAS ARMADURAS
O concreto, devido à sua natural alcalinidade, proporciona ao aço além da
proteção química (pH > 12), a física, proveniente do recobrimento da armadura.
Talvez, por esse motivo, acreditava-se que as obras construídas em concreto seriam
eternas. Porém, o aço submerso no concreto está sujeito ao ataque de agentes
agressivos, causando problemas de corrosão (NÓBREGA e SILVA, 2002).
Segundo Gentil (2003) et al. Freire (2005), de uma forma geral, a corrosão é
definida como sendo a deterioração de um material, geralmente metálico, por ação
química ou eletroquímica do meio ambiente, aliada ou não a esforços mecânicos. Em
20
alguns casos, a corrosão pode ser admitida como sendo o inverso do processo
metalúrgico, conforme mostra a Figura 3.6, cujo principal objetivo é a extração do
metal a partir dos seus minérios ou de outros compostos.
Figura 3.6. Processo de corrosão.
3.3.1. Tipos de corrosão
A corrosão pode classificar-se segundo a natureza do processo e segundo sua
morfologia. Segundo a natureza do processo, classifica-se a corrosão em química e
eletroquímica.
A corrosão química, também chamada de corrosão seca, pois ocorre sem a
presença de água e ocorre por uma reação gás-metal e resulta em uma película de
óxido. Este processo ocorre em temperaturas elevadas, é um processo extremamente
lento e não provocam deterioração substancial das superfícies metálicas, exceto se
existirem gases extremamente agressivos na atmosfera.
Segundo Helene (1986), este fenômeno ocorre preponderantemente, durante a
fabricação das barras. Ocorre a formação sobre a superfície de uma película compacta,
uniforme e pouco permeável, podendo até servir de proteção relativa contra a corrosão
de natureza eletroquímica.
De acordo com Polito (2006), a corrosão eletroquímica ou em meio aquoso
resulta-se da formação de uma célula de corrosão, com eletrólito e diferença de
potencial entre pontos da superfície. Se qualquer um destes elementos for retirado, ou
se não houver a entrada de oxigênio o processo é paralisado.
Na corrosão eletroquímica, os elétrons movimentam-se no metal, partindo das
regiões anódicas para as catódicas, completando-se o circuito elétrico através do
eletrólito, que é uma solução iônica (FREIRE, 2005).
21
Segundo Gentil (2003) et al. Freire (2005), a corrosão eletroquímica da
armadura pode ter as seguintes formas:
• corrosão uniforme: corrosão em toda a extensão da armadura quando
fica exposta ao meio agressivo;
• corrosão puntiforme ou por pite: os desgastes são localizados sob a
forma de pequenas cavidades, também chamados alvéolos;
• corrosão intragranular: processa-se entre os grãos dos cristais do
metal e quando os vergalhões sofrem, principalmente, tensões de
tração, podem fissurar ou fraturar perdendo a estabilidade;
• corrosão transgranular: realiza-se intragrãos da rede cristalina,
podendo levar à fratura da estrutura, quando houver esforços
mecânicos; e
• fragilização pelo hidrogênio: corrosão originada pela ação do
hidrogênio atômico na sua difusão pelos vergalhões da armadura,
propiciando a sua fragilização e, em conseqüência, a fratura.
A corrosão uniforme não é tão prejudicial à estrutura, pois ela ocorre em toda a
extensão da barra. Já as quatro últimas formas podem ser extremamente prejudiciais à
estrutura de concreto quando existem ações conjuntas de solicitação mecânica e meio
corrosivo, pois ocasionam a corrosão sob tensão fraturante, podendo provocar a
ruptura da armadura.
3.3.2. Corrosão das armaduras por cloretos
Al-AMoudi e Maslehuddin (1993) apud. Dal Ri (2002) afirmam que a corrosão
das armaduras é devida, principalmente aos íons cloretos, e que as condições
agressivas do meio-ambiente, caracterizadas por elevadas temperaturas, variação de
umidade e presença de íons agressivos como sais de cloreto e sulfato, são entendidos
como principais fatores contribuintes na deterioração da estrutura de concreto.
22
Os cloretos podem ser encontrados nos concretos de duas formas: como cloreto
livre, solúvel ou dissociável, na forma de íon na água dos poros, ou como cloreto
combinado, formando parte das fases hidratadas do cimento. O primeiro trata-se do
cloreto realmente agressivo à armadura e, o segundo, geralmente se encontra
combinado na forma de cloroaluminato conhecido como sal de Friedel (DAL RI,
2002).
Delagrave et al. (1996) apud. Dal Ri (2002) descreve que os íons cloreto
normalmente penetram no concreto por capilaridade ou difusão. Eles migram para o
aço, destruindo a camada passivadora e podendo desencadear o processo corrosivo,
podendo interagir com alguns hidratos da pasta de cimento.
As corrosões devido aos íons de cloreto ocorrem principalmente em áreas em
torno do mar, devido à presença de cloreto de sódio na atmosfera, mas podem ocorrer
em regiões continentais devido à contaminação de agregados ou pela utilização de
águas salobras.
Segundo Fortes (1995) apud. Dal Ri (2002), um valor médio aceito para o teor
de cloreto é de 0,4% em relação à massa de cimento ou 0,05% a 0,1% em relação à
massa do concreto. Na América do Norte, segundo Neville (1997), o teor de cloreto no
concreto armado é fixado em 0,15% da massa de cimento.
A NBR 6118 (2003) não especifica o teor máximo de cloreto admissível de
concreto, apenas especifica que “quando o risco de contaminação por cloretos for alto,
deve-se enquadrar esse trecho da estrutura na classe IV. É o caso da zona de respingos
de maré”. A NBR 6118 não permite o uso de aditivos contendo cloreto na sua
composição em estruturas de concreto armado ou protendido.
3.3.3. Corrosão das armaduras por carbonatação
Segundo Polito (2006), normalmente a carbonatação é condição essencial para
o início da corrosão da armadura no interior do concreto. A alcalinidade do concreto é
obtida principalmente pela presença de Ca(OH)2 (hidróxido de cálcio), liberado das
reações do cimento e pode ser reduzida com o tempo.
23
Os constituintes presentes na atmosfera que podem causar a redução do pH são
o CO2 (gás carbônico), o SO2 (dióxido de enxofre), e o H2S (gás sulfídrico), sendo que
o principal é o primeiro, daí o nome de carbonatação (POLITO, 2006).
Segundo Freire (2005) a conseqüência da carbonatação é a redução da
alcanilidade do concreto, devido à lixiviação dos compostos cimentícios, que reagem
com os componentes ácidos da atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2),
resultando na formação de carbonatos e H2O.
Pelo fato do concreto ser um material poroso, o CO2 presente no ar penetra,
com certa facilidade, através dos poros do concreto até o seu interior. Com isso
acontece a reação do CO2 com o hidróxido de cálcio, provocando a carbonatação
(FREIRE, 2005).
3.3.4. Fissuração do concreto devido à corrosão
A corrosão das armaduras é um processo eletroquímico que provoca a
degradação (oxidação) do aço do concreto. Os fatores que afetam este fenômeno estão
associados essencialmente às características do concreto, ao meio ambiente e à
disposição das armaduras nos componentes estruturais afetados.
Os danos causados pela corrosão de armaduras geralmente manifestam-se
através de fissuras no concreto paralelas à direção do reforço, delaminação e/ou
lascamento do cobrimento. Em componentes estruturais que apresentam um elevado
teor de umidade, os primeiros sintomas de corrosão evidenciam-se por meio de
manchas de óxidos na superfície de concreto.
Os danos por corrosão podem afetar a capacidade portante dos componentes
estruturais, em função da perda de seção transversal das armaduras, da perda de
aderência entre o aço e o concreto e da fissuração deste. Mesmo assim, a
deteriorização progressiva das estruturas por corrosão provoca lascamentos de
material, que podem comprometer a segurança das pessoas.
A corrosão é um processo que ocorre na fase aquosa; no caso de concreto armado, o
fenômeno ocorre na solução existente nos poros internos.
24
O fenômeno é observado com freqüência em concretos de baixa qualidade,
elaborados com altas relações água/cimento e, por conseguinte que apresenta elevada
porosidade, assim como em componentes estruturais afetados por umidade ou ciclos
de molhagem (Husni, Benítz, Manzelli, Macchi, Charreau, Risetto, Luco, Guitelman,
Morris, 2003)
3.4. FISSURAÇÃO
As fissuras podem ser consideradas como manifestações patológicas
característica das estruturas de concreto. Para que se consiga identificar com precisão
causa(s) e efeito, é necessário desenvolver análises consistentes, que incluam a mais
correta determinação da configuração das fissuras, bem como da abertura da extensão
e da profundidade das mesmas.
Ao se analisar uma estrutura de concreto que esteja fissurada, os primeiros
passos a serem dados consistem na elaboração do mapeamento das fissuras e em sua
classificação, que vem a ser definição da atividade ou não das mesmas. Classificadas
as fissuras e de posse do mapeamento (Figura 3.7), pode-se dar início ao processo de
determinação de suas causas, de forma a estabelecer as metodologias e proceder aos
trabalhos de recuperação ou de reforço (GOMES et al., 2007).
Figura 3.7. Mapeamento de fissuras (GOMES et al., 2007).
25
a) Deficiências de projeto
As falhas acontecidas em projetos estruturais podem ser as mais diversas,
assumindo correspondentes fissuras a configuração própria ao tipo de esforço a que
estão submetidas.
Também nos casos em que o esforço predominante é compressivo, seja em
situação de compressão simples ou de flexão composta, poderão ser desenvolvidos
quadros de fissuração de alguma importância.
b) Contração plástica
Este processo de fissuramento é mais comum em superfícies extensas com as
fissuras sendo normalmente paralelas entre si fazendo ângulo de aproximação de 45º
com os cantos, sendo superficiais, na grande maioria dos casos (GOMES et al., 2003).
c) Assentamento do concreto - Perda de aderência da armadura
A fissuração por assentamento do concreto ocorre sempre que este movimento
da massa é impedido pela presença de fôrmas ou de barras
da armadura, sendo tanto maior quanto mais espessa for a camada de concreto.
As fissuras formadas pelo assentamento do concreto acompanham o desenvolvimento
das armaduras, e provocam a criação do chamado efeito de parede, que consistem na
formação de um vazio por baixo da barra, que reduz a aderência desta ao concreto
Gomes et al. (2003).
d) Movimentação de fôrmas e escoramentos
Segundo Gomes et al. (2003), o movimento de formas e escoramentos pode
acarretar em:
26
• Deformação acentuada da peça, gerando alteração de sua geometria, com perda
de sua resistência e desenvolvimento de um quadro de fissuração;
• Deformação das fôrmas, por mau posicionamento, por falta de fixação
adequada, pela existência de juntas mal vedadas ou de fendas, ou por absorção
da água do concreto, permitindo a criação de juntas de concretagem não
previstas, o que leva a fissuração.
e) Retração plástica do concreto
Logo após o adensamento do concreto e acabamento da superfície do concreto
pode-se observar o aparecimento de fissuras na sua superfície. Essa retração plástica é
devida à perda rápida de água de amassamento, seja por evaporação, seja por absorção
Dal Molin (1988).
f) Reações expansivas
As reações álcali-agregado podem originar fissuras devido à formação de um
gel expansivo dentro do concreto (PAULON, 1981 apud, SABBAG, 2003).
g) Outras causas
Há muitas outras causas que podem causar fissuras no concreto como:
• Retração térmica;
• Retração hidráulica;
• Deformidade excessiva do concreto armado;
• Movimentação higroscópica;
• Atuação de sobrecargas;
• Recalque de fundação;
• Alterações químicas dos materiais de construção;
• Corrosão nas armaduras (item 3.3 deste trabalho)
27
• Desagregação do concreto;
• Carbonatação do concreto;
• Desgaste do concreto;
• Outras causas;
3.5. SOBRECARGA
A aplicação de cargas não previstas em projeto é muito comum em lajes de
sacadas ou marquises antigas, e pode ser tanto um fator prejudicial a sua durabilidade
como o próprio agente causador isolado da ruína da estrutura (MEDEIROS e
GROCHOSKI, 2007).
Anomalias relacionadas às instalações de drenagem de águas pluviais são
prejudiciais ao desempenho das estruturas de sacadas ou marquises, uma vez que
através delas podem ocorrer em situações específicas, o acúmulo de água sobre as lajes
das marquises e, como conseqüência, introdução de sobrecarga excessiva (JORDY e
MENDES, 2007). Este acúmulo de água pode ocorrer quando o sistema de drenagem
está sub-dimensionado ou quando as tubulações estão obstruídas.
Outra sobrecarga freqüente acontece quando muitas empresas do ramo tendem a
tomar o caminho mais fácil para a renovação dos sistemas de impermeabilização
vencidos das marquises. Ao invés de remover todo o sistema antigo juntamente com
sua argamassa de proteção para só então aplicar a nova impermeabilização, instala-se
o sistema novo sobre o antigo como exemplificado na Figura 3.8.
Figura 3.8. Exemplo de camadas de sistemas de impermeabilização sobrepostas sobre
laje de marquise (MEDEIROS e GROCHOSKI, 2007).
28
O caso mais crítico que Medeiros e Grochoski (2007) observaram foi uma
marquise com laje de 7 cm de espessura com inúmeras camadas de impermeabilização
superpostas totalizando 56 cm.
Este tipo de ocorrência se não foi a única causa, mas foi um dos agravantes nos
casos do desabamento das marquises do edifício Términus em 1992 e do Hospital
Municipal Barata Ribeiro em 1996, ambos no Rio de Janeiro.
De acordo com Gonçalves (2006), uma marquise normalmente é dimensionada
para suportar, além de seu próprio peso e do sistema de impermeabilização, e
sobrecargas leves, decorrentes de serviços de manutenção de sua superfície. Não
podem, em absoluto, servir como área de estocagem do entulho de demolição de
fachadas, a menos que esteja adequadamente escorada.
Segundo Medeiros e Grochoski (2007), outra fonte de sobrecargas em
marquises é a instalação de equipamentos como ar-condicionado entre outros e de
estruturas secundárias como letreiros, uma vez que muitas lojas têm marquises em sua
fachada. Esta foi umas das causas do desabamento da marquise do edifício Tavares, no
Rio de Janeiro, em 1995.
Ainda sobre este aspecto é importante salientar que os esforços do vento sobre
estes letreiros são transmitidos à marquise que pode ter sua estabilidade ameaçada,
podendo vir a ruir. Portanto, não se trata simplesmente de suporte ao peso da estrutura
do painel.
Segundo Rizzo (2007) a instalação de painéis publicitários impõe uma carga
vertical decorrente do peso e um esforço de flexão decorrente da força do vento
incidindo sobre o painel. Via de regra, esse último aspecto é desprezado. Mas veleiros
impulsionados pela força do vento. Essa mesma força que move uma embarcação pode
derrubar uma marquise. A Figura 3.9 mostra uma marquise deformada pela sobrecarga
de painel publicitário.
29
Figura 3.9. Marquise deformada pela sobrecarga de painel publicitário (RIZZO, 2007).
Outro tipo de sobrecarga em marquises, freqüente em épocas de festa, como o
carnaval, é a utilização das marquises como “camarote”. De acordo com Medeiros e
Grochoski (2007), as marquises não são projetadas para absorver o peso e o impacto
provocado por dezenas de pessoas pulando e dançando sobre ela. Em Recife e
Salvador, o poder municipal tem um programa de inspeção e interdição das marquises
da cidade na época do carnaval, como ilustrado pelos trechos das matérias
apresentados a seguir:
Outro caso que pode levar a sobrecarga é a falta de limpeza e de aplicação de
desmoldantes nas fôrmas antes da concretagem, o que acaba por ocasionar distorções e
"embarrigamentos" natos nos elementos estruturais (o que leva à necessidade de
enchimentos de argamassa maiores dos que os usuais e, consequentemente, à
sobrecarga da estrutura) (LIMA E PACHA, 2000).
Além disso, essas sobrecargas descritas podem não levar a estrutura ao colapso,
mas podem causar trincas e fissuras nas marquises, o que pode favorecer a penetração
de água e agentes agressivos, o que pode causar corrosão das armaduras, e, por
conseguinte, levar a estrutura à ruína.
30
4. MÉTODO DE INSPEÇÃO DE SACADAS E MARQUISES
Neste capítulo foi desenvolvido um método de inspeção de sacadas e marquises,
baseado em métodos já existentes.
4.1. MÉTODO DE INSPEÇÃO DE SACADAS E MARQUISES
Devido ao cenário de desastres recentes ocorridos com marquises e sacadas no
Brasil, como exposto anteriormente, é de suma importância o estabelecimento de
medidas com vistas à análise das reais condições de funcionamento das marquises
existentes. Tais medidas visam o estabelecimento de um plano de manutenção
preventiva e de providências imediatas como a recuperação e/ou reforço da marquise
(SOUZA e FERRARI, 2007).
O método de inspeção de marquises e sacadas proposto abaixo, foi elaborado
utilizando como base os métodos de inspeção sugeridos por Jordy e Mendes (2007),
Gomes et al. (2003) e Souza e Ferrari (2007).
4.1.1. Dados cadastrais da edificação
Primeiramente, deverão ser obtidos os dados cadastrais da edificação, os quais
são:
• Nome da edificação;
• Tipo de Edificação (comercial, público, residencial ou religioso);
• Endereço;
• Data da construção;
• Nome do síndico ou órgão responsável pela obra;
• Agressividade do ambiente.
31
4.1.2. Informações gerais
Também deverão ser obtidas informações gerais, como:
• Identificação da construtora;
• Identificação dos projetistas estruturais (os mesmos deverão ser comunicados
sobre a inspeção da marquise);
• CREA do Responsável Técnico da Marquise;
• Utilização da edificação versus concepção de projeto;
• Caracterização da edificação;
• Registros de intervenções anteriores na marquise em avaliação;
• Análise dos projetos da edificação (projeto versus utilização da marquise).
4.1.3. Planta de situação da marquise ou sacada
A marquise ou sacada em análise deve ser localizada em relação à edificação e
aos logradouros por meio da elaboração de planta de situação. Nessa planta devem ser
identificados os posicionamentos de todos os seus elementos estruturais conforme é
mostrado na Figura 4.1 (JORDY e MENDES, 2007). Também deve ser apresentado na
planta o índice cadastral da Prefeitura Municipal.
Figura 4.1. Situação e elementos estruturais de uma marquise (JORDY e MENDES,
2007).
32
4.1.4. Levantamento geométrico dos elementos estruturais de uma marquise ou sacada
Deverá ser obtida “in loco”, a espessura e a largura da marquise ou sacada com
o uso de trenas, por se tratar de um equipamento de fácil manuseio e barato, podendo
também ser utilizado o teodolito, caso se tenha a disponibilidade do mesmo. Em
seguida, deve-se realizar o mapeamento da armação que consiste na obtenção da bitola
das barras de aço existentes e o respectivo espaçamento entre elas (GOMES et al.
2003). A obtenção destes dados é de extrema importância para verificações estruturais.
A representação geométrica das peças em concreto deve ser registrada em
desenhos em planta e cortes específicos, como mostrado na Figura 4.2.
Figura 4.2. Geometria dos elementos estruturais (JORDY e MENDES, 2007).
Para determinação da malha de armadura, diâmetro das barras e cobrimento de
concreto das barras de concreto; pode-se utilizar um método não-destrutivo, para isso
utiliza-se o aparelho “Profometer 5+” (PROCEQ, 2008). Segundo Gomes et al.
(2003), o funcionamento deste aparelho consiste em percorrer manualmente toda a
área da marquise ou sacada a ser estudada com um sensor que emite ondas disparando
um sinal sonoro ao detectar o início e o final de barras de aço existentes.
Há um programa de computador da empresa PROCEQ, fabricante do aparelho
“Profometer 5+”, que permite ao operador visualizar os resultados recebidos da
unidade de leitura de dados em formato gráfico ou numérico, dessa forma permitindo
que eles sejam editados para preparação de relatórios ou para execução de análises, ou
armazenados para utilização posterior.
33
Muitas vezes são inexistentes os projetos, especificações e as plantas de formas
ou de armaduras, ou dificuldade financeira em fazer um ensaio não-destrutivo, então
se verifica a necessidade a execução de cortes no concreto para elucidação e
levantamento das seções de aço, assim como para verificação de suas integridades e
estados de conservação. A Figura 4.3. mostra a medição da seção transversal de
armadura em viga de marquise
Figura 4.3. Medição da seção transversal de armadura em viga de marquise (JORDY e
MENDES, 2007).
Após isso, as posições de aços em relação às peças estruturais de concreto
devem ser registradas em plantas e cortes (Figuras 4.4 e 4.5), sendo subsídios para
verificação da estabilidade estrutural (JORDY e MENDES, 2007).
Figura 4.4. Posição de armaduras em planta referida às peças em concreto (JORDY e
MENDES, 2007).
34
Figura 4.5. Posição de armaduras em corte referido às peças em concreto (JORDY e
MENDES, 2007).
4.1.5. Verificação do sistema de drenagem e impermeabilização
Deverá ser verificada a impermeabilização nas marquises, as anomalias que
podem ocorrer são a ausência de impermeabilização na parte superior da marquise ou
então a sobreposição de sistemas de impermeabilização, que podem acarretar em uma
sobrecarga. Nas sacadas devem ser verificados as condições do piso, normalmente
cerâmico, e também as juntas destes.
Segundo a NBR 9575/2003, a situação do sistema de drenagem de águas
pluviais deve ser verificada não somente em face da capacidade de atendimento ao
dimensionamento hidráulico, mas, também, considerando as obstruções causadas por
sobreposições nas impermeabilizações junto aos ralos, ou seja, obstruções destes como
mostrada na Figura 4.6 devem ser coibidas.
Figura 4.6. Obstruções no sistema de drenagem de marquises em centros urbanos.
35
4.1.6. Ensaio de esclerometria no concreto
Segundo a NBR 7584/1995, o ensaio de esclerométrico é um ensaio que mede a
dureza superficial do concreto, fornecendo elementos para a avaliação da qualidade do
concreto endurecido.
Gomes et al. (2003) propõe para detecção das áreas de reboco ou emboço que
apresentem patologias (descolamento, esboroamento, perda de aderência, etc.) devem-
se realizar ensaios com um esclerômetro pendular. São escolhidos pontos aleatórios na
marquise e realizadas três medições para cada ponto, tomando-se como valor de
medição a média ponderada destes valores obtidos.
Valores situados numa faixa fornecida pelo fabricante indicam perda de
aderência do emboço/reboco com o substrato e/ou a presença de alguma patologia do
gênero, necessitando-se de uma análise visual detalhada e, dos resultados obtidos
quanto à corrosão das armaduras para se obter o diagnóstico preciso da patologia
existente.
Com base nos dados obtidos anteriormente, os mesmos são lançados na
Planilha de Cálculo de Armação da Marquise em anexo, onde a partir dos dados de
saída desta será verificado se a marquise executada atende ou não as especificações de
cálculo de armação.
4.1.7. Avaliação das armaduras com respeito as suas condições mecânicas e corrosão
Após a execução dos cortes no concreto devem ser verificadas as armaduras
expostas quanto as suas integridades estruturais, isto é, danos por diminuição de seção
resistente causados por processos corrosivos, como é mostrado na Figura 4.7.
36
Figura 4.7. Verificação da integridade estrutural do aço dentro de viga de marquise
(JORDY e MENDES, 2007).
4.1.8. Determinação das alturas relativas
Gomes et al. (2003) propôs para a determinação das alturas relativas, quando
primeiramente, realiza-se um reconhecimento do objeto de estudo e, procede-se a
definição dos pontos a serem avaliados. Sendo que o número de pontos a serem
avaliados é no mínimo de seis pontos e fica a critério do responsável pela medição
acrescentar outros pontos que sejam relevantes para a avaliação.
Primeiramente define-se o ponto de referência, que deve ser o primeiro ponto
da esquerda próximo ao engaste da marquise ou sacada, tendo como referência o
operador estando de frente para a marquise. Em seguida, passe-se para a fase de
nivelamento do nível de bolha do tripé. Depois, loca-se este ponto com relação a
distância até a parede de engaste da marquise ou sacada e a extremidade da mesma.
Tendo estes procedimentos anteriores sidos executados, procede-se para a realização
da obtenção da leitura vertical com relação à base do tripé situado no ponto de
referência até a superfície inferior da marquise.
Tendo terminado o procedimento quanto ao ponto de referência, parte-se para a
realização das medições dos demais pontos previamente estabelecidos, sendo que o
tripé do ponto de referência permanece inalterado até o término do trabalho e, utiliza-
se o segundo tripé para a obtenção de dados dos outros pontos. Nos outros pontos,
deve-se inicialmente realizar o nivelamento do nível de bolha do tripé.
37
Em seguida, coloca-se o nível de três eixos perpendiculares a laser para o
nivelamento da base do segundo tripé. Tal nivelamento é auxiliado por uma mira
(acessório do nivelador), onde o laser que se encontra instalado no tripé de referência
que será projetado sobre a mesma. Depois, loca-se este ponto com relação a distância
até a parede de engaste da marquise ou sacada e a extremidade da mesma. Tendo estes
procedimentos anteriores sidos executados, procede-se para a realização da obtenção
da leitura vertical com relação à base do tripé até a superfície inferior da marquise ou
sacada.
4.1.9. Quadro de Análise de Diferenças de Alturas
Através das leituras das alturas realizadas no item anterior, obtêm-se as
diferenças de desnível de todos os pontos em relação ao ponto de referência.
Tal leitura é importante para avaliar as diferenças de nível entre os pontos na
marquise, tendo como um limite máximo de desnível a flecha admissível calculada. É
possível verificar se a deformação da marquise ou sacada está ocorrendo, com maior
ou menor intensidade, em relação ao sentido perpendicular ao engaste ou paralelo a
este e, ainda num sentido inclinado ao engaste (GOMES et al, 2003). Por conseguinte,
analisa-se a origem da deformação da estrutura.
4.1.10. Avaliação do teor de cloretos
Sabe-se que em zonas costeiras, normalmente tem-se maior intensidade de
ataque de cloretos do que em zonas distantes do mar, devido à presença de uma
concentração grande de sais na atmosfera, e isto, favorece a corrosão nas armaduras de
concreto. Segundo Neville (1997) apud Silva et al. (2006), os cloretos também podem
ser incorporados ao concreto através de agregados contaminados, uso de água do mar
ou água salobra ou por aditivos de cloretos, acelerando assim, o processo de corrosão
das armaduras. Portanto, a avaliação do teor de cloretos pode ser indispensável em
cidades litorâneas como o Rio de Janeiro, onde houve muitos colapsos com marquises.
38
Existem vários métodos para determinação do teor de cloretos no concreto
como a gravimetria, a titulometria, a potenciometria e métodos microanalíticos, como
a cromatografia de íons. Abaixo será descrito o método da titulação potenciométrica
que é abordado por PEREIRA e CINCOTTO (2001). Este método foi comprovado
com eficiência e confiabilidade por diversos autores, para a determinação do teor de
cloretos no concreto.
A titulação potenciométrica é o método adotado pela ASTM para a
determinação de cloreto total em concreto, segundo a norma ASTM C 1152 (1999), e
do cloreto solúvel em água, para cimento, mas também aplicável para concreto. Vale
salientar que este método é utilizado pela ABCP - Associação Brasileira de Cimento
Portland e o IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
Dispondo-se de um potenciômetro, a determinação é feita com um único
eletrodo, indicador, o qual depende do tipo de reação envolvida. Para a determinação
do cloreto o eletrodo empregado é o de prata-cloreto de prata (BASSETT et al., 1981
apud. PEREIRA e CINCOTTO, 2001).
Este eletrodo constitui-se em um fio de prata, ou de platina prateado por
depósito eletrolítico, recoberto com uma fina película de cloreto de prata, imerso em
uma solução de cloreto de potássio de concentração conhecida, cujo potencial lido
depende da concentração de cloreto da solução, permitindo o seu acompanhamento ao
longo da titulação (BASSETT et al., 1981 apud. PEREIRA e CINCOTTO, 2001).
4.1.11. Avaliação da corrosão por potencial elétrico de semipilhas
A avaliação da corrosão por potencial elétrico de semipilhas poderá ser
realizado, caso haja indícios/comprovações de corrosão nas armaduras, para
determinar as causas e, por conseguinte aplicar o tratamento necessário nestas
armaduras. Casa D’Água (2006) descreve o método de avaliação da corrosão por
potencial elétrico de semipilhas, os quais deverão ser atendidos algumas
particularidades:
39
• a superfície do concreto, nas regiões onde será feito o teste, não deverá
apresentar desplacamentos ou trincas;
• é necessário que haja continuidade elétrica entre as barras das armaduras das
estruturas;
• o teste deverá ser executado em um dia considerado típico. Por exemplo, evitar-
se-á a situação de estruturas molhadas ou úmidas, devido a chuvas que tenham
caído na véspera.
A análise com a semi-pilha nos dá uma indicação momentânea do equilíbrio
existente no estado de corrosão ao longo das armaduras, que muda, efetivamente, à
medida que a umidade e outros fatores são alterados. Todo e qualquer processo de
corrosão deflagrado ao longo das armaduras será detectado pelos potenciais da semi-
pilha, a não ser que este processo seja ainda muito incipiente. Em certos casos, as
carepas de corrosão formadas, tanto de magnetita quanto hematita (pois possuem
estrutura de poros semelhantes) formarão um escudo ao circuito existente, impedindo a
medição dos potenciais. Neste caso, está se medindo os potenciais da magnetita, que é
um óxido estável, iludindo o operador da semi-pilha já que os potenciais deste metal
não sugerem corrosão. Esta situação não é fácil de ser observada. Logo, torna-se
importante abrir ”janelas”, de modo a checar o produto da corrosão. Naturalmente, os
potenciais levantados variam de estrutura para estrutura e devem ser avaliados
individualmente.
Quando se avalia os efeitos da corrosão, torna-se importante analisar sua
relação produção/quantidade dos produtos de corrosão formados. A umidade do
concreto e a possibilidade haver surgimento de corrosão por pites ou mesmo
generalizada, ao longo da superfície da armadura, poderão ser parcialmente
determinadas tanto pela análise das barras afetadas quanto pela resistência elétrica do
concreto (resistividade). Se estivesse analisando a condição de surgimento de corrosão
por pites, dever-se-á considerar o histórico as condições do ambiente, o que poderá ser
feito tanto investigando a possível fonte de cloretos (ou o maior local de evidência) e
de outros contaminantes, como o nível de molhagem do concreto.
40
4.1.12. Avaliação da carbonatação
Caso haja indícios de carbonatação, pode-se avaliar a profundidade de
carbonatação. Dugatto (2006) descreve um ensaio químico com a utilização de
fenolftaleína para determinar a profundidade de carbonatação.
Para se ter a medida de profundidade de carbonatação, deve-se extrair da laje da
marquise ou sacada uma amostra. Os testemunhos extraídos devem ser conservados
rapidamente em recipientes estanques, com o menor conteúdo possível de ar.
Após isso, rompe-se o corpo de prova e em seguida efetuar a medida sobre a
fratura fresca o mais rápido possível, pois as superfícies expostas se carbonatam
rapidamente.
Conseguida uma fratura recente e ortogonal a superfície do componente de
concreto, pulveriza-se uma solução de fenolftaleína a 1% e esperara-se por dois
minutos até ser alterada a sua cor.
Logo alterada a cor, efetuar a medida com um paquímetro com precisão de
milímetros, e efetuar no mínimo 5 medidas em pontos diferentes e calcular a média
aritmética, para poder obter um resultado mais preciso.
De posse, as profundidades de carbonatação e os respectivos cobrimentos,
pode-se fazer um gráfico com estes resultados. A Figura 4.8 apresenta um exemplo de
medida da profundidade de carbonatação com paquímetro.
Figura 4.8. Medida da profundidade de carbonatação com paquímetro (DUGATTO,
2006).
41
4.1.13. Verificação da estabilidade segundo NBR 6118 em função de cargas existentes Na análise estrutural da estabilidade de marquises ou sacadas devem ser
seguidos os preceitos da NBR 6118 (2003), englobando as condições ambientais,
carregamentos atuantes, esquema estrutural, geometria dos elementos estruturais,
posicionamento e densidade das armaduras, análise de seções resistentes, avaliação de
deformações e, conforme o caso, análise dinâmica (JORDY e MENDES, 2007).
4.2. MANUTENÇÃO DE MARQUISES E SACADAS
Segundo Gomes et al. (2003), as marquises devem ser projetadas, calculadas,
detalhadas e construídas sob a consideração do ambiente que as envolve,
considerando-se sempre que devam tornar possível, durante a sua vida útil, o
desenvolvimento da mais apropriada manutenção, o que implica poderem ser
comodamente inspecionáveis.
Por outro lado, os pontos mais vulneráveis desta estrutura devem sempre estar
perfeitamente identificados, tanto na fase de projeto quanto na de construção, para que
seja possível estabelecer, para estes pontos, um programa mais intensivo de inspeções
e um sistema de manutenção particular (GOMES et al., 2003).
42
5. TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO E REFORÇO DE MARQUISES E
SACADAS
Neste capítulo foram estudadas as técnicas de recuperação e reforço de
marquises e sacadas utilizadas atualmente, a fim de se determinar qual a técnica a ser
empregada em cada caso de manifestação patológica.
Após a inspeção, é realizado o parecer técnico de uma marquise ou uma sacada.
Com isso são fornecidos subsídios para avaliação, determinação das causas e
diagnósticos que, por conseguinte, será realizada a tomada de decisão quanto às
soluções, que poderão ser a recuperação, o reforço ou a demolição da estrutura de
marquise ou sacada em análise.
Segundo Jordy e Mendes (2007) a recuperação será indicada no caso de perda
de desempenho por diminuição da seção de aço ou de concreto (além de limites
considerados) motivados por anomalias, para restauração da capacidade resistente da
estrutura. O reforço estrutural será indicado quando as sobrecargas permanentes ou
acidentais atuantes estiverem além da capacidade resistente da estrutura.
A decisão por demolição deve ser considerada levando-se em conta custos para
recuperação ou reforço versus custos para demolição ou aspectos arquitetônicos ou
aspectos legais. No caso de demolição da marquise é indicada a verificação da
estrutura na região de influência da estrutura demolida (JORDY e MENDES, 2007).
5.1. INTERVENÇÕES DEVIDO A ERROS DE PROJETO
Sabe-se que a maior parte dos problemas patológicos provém de erros de
concepção e projeto. Diagnosticar a manifestação patológica deve-se tomar uma
decisão no que fazer. Devido a erros de projeto podem ser realizadas algumas
intervenções como:
• Limitações do uso da estrutura;
• Reparo estrutural;
• Reforço estrutural;
43
• Demolição da estrutura.
A seguir é descrito uma abordagem da necessidade de demolição da estrutura
em certos casos. Reparos e reforços estruturais estão descritos nos próximos tópicos
deste trabalho, pois certos reparos e reforços devido a erros de projeto são semelhantes
a reparos e reforços devido a patologias geradas na execução ou durante a vida útil da
marquise ou sacada.
5.1.1. Demolição da estrutura
Segundo Gomes et al. (2003), em muitas situações, uma obra de recuperação ou
reforço exige que parte da estrutura, ou mesmo que a estrutura como um todo, seja
demolida, normalmente por notória incapacidade de reaproveitamento, ou, por outro
lado, ainda que esteja sã, por não estar integrada num futuro processo de reconstrução
ou de melhoramento.
A demolição mais tradicional é a executada por martelos demolidores pesados,
normalmente pneumáticos, sendo muito comum a situação de existirem vários
martelos trabalhando em conjunto, recebendo ar de um mesmo compressor, que para
tanto deve ser convenientemente dimensionado (GOMES et al., 2003).
5.2. INTERVENÇÕES DEVIDO A CORROSÃO NAS ARMADURAS
5.2.1. Inibidores de corrosão
Inibidores de corrosão vêm sendo usados como método complementar de
proteção. São adicionados na água de amassamento dos concretos e argamassas de
cimento Portland, durante a execução da estrutura (LIMA et al., 2001). Segundo
Maeder (1996) apud Lima et al. (2001) estes também podem ser usados em
argamassas de reparo para estruturas em ambientes de alta agressividade, como em
regiões litorâneas, ou áreas industriais.
44
As argamassas de reparo exercem uma proteção indireta sobre o aço,
restabelecendo sua película passivadora. São geralmente constituídas por uma mistura
de agregados finos selecionados e um aglomerante cimentante que pode ser orgânico
(acrílico, epóxicos, poliuretano) ou a base de cimento Portland (TROCÓNIS et al.,
1997 apud LIMA et al. 2001).
Os inibidores de corrosão da armadura de concreto mais utilizados
comercialmente são à base de nitrito de cálcio e nitrito de sódio e os orgânicos
principalmente a base de aminas (FREIRE, 2005). Os principais tipos de inibidores de
corrosão são:
• inibidores anódicos, atuam retardando ou impedindo a reação no ânodo.
Reagem com o produto de corrosão formado inicialmente, produzindo uma
camada aderente e insolúvel na superfície do metal. Ex.: hidróxidos,
carbonatos, silicatos, boratos e fosfatos terciários de metais alcalinos;
• inibidores catódicos, que atuam reprimindo as reações catódicas. Mais
propriamente, atuam impedindo a difusão do oxigênio e a condução de elétrons,
inibindo o processo catódico. Ex.: Sulfatos de zinco, de magnésio e de níquel;
• inibidores de adsorção (mistos), funcionam como películas protetoras de
regiões catódicas e anódicas, interferindo na ação eletroquímica. Ex.: colóides,
aldeídos, aminas, compostos heterocíclicos nitrogenados, polifosfatos e uréia.
Nitrito de cálcio
O nitrito de cálcio é um inibidor de caráter anódico, que modifica as
propriedades químicas nas superfícies do aço. De forma geral, pode-se dizer que o
nitrito de cálcio auxilia a película passivadora a não se dissolver para formação de íons
complexos com os íons agressivos.
De acordo com Heleba e Weil (1991) apud. Freire (2005) o nitrito de cálcio age
quimicamente de três maneiras:
• oxidando os óxidos ferrosos a óxidos férricos (passivação);
45
• o ânion nitrito adsorve-se quimicamente à superfície do aço, fortalecendo a
camada de passivação; e
• defeitos na camada de passivação são revestidos com íons nitrito, existindo,
então, uma menor suscetibilidade ao ataque por íons agressivos.
5.2.2. Emendas nas armaduras corroídas
Um modo a corrigir certos tipos de corrosões, é executar emendas nas
armaduras corroídas. Segundo Gomes et al. (2003), para isto é necessário que o
comprimento de emenda seja suficiente para garantir que sejam transferidos para a
barra de complementação os esforços que solicitam a barra corroída, de forma que o
trabalho solidário das duas efetivamente se consolide.
5.3. INTERVENÇÕES DEVIDO A FISSURAÇÃO DO CONCRETO
A fissura se caracteriza por uma abertura em linha irregular que contorna os
agregados graúdos e tem como parâmetros de qualificação a sua abertura média,
profundidade, extensão e distribuição (DER-SP, 2006).
Segundo Gomes et al. (2003), o tratamento de peças fissuradas está diretamente
ligado à perfeita identificação da causa da fissuração, ou, dito de outra forma, do tipo
de fissura com que está a lidar, particularmente no que diz respeito à atividade
(variação de espessura) ou não da mesma, e da necessidade ou não de se executar
reforços estruturais.
No tratamento de fissuras passivas, a injeção de resinas de epóxi deve ser
executada quando existe um problema estrutural, onde a principal demanda é a
recuperação da correta e eficiente distribuição das forças dinâmicas e a conseqüente
proteção da armadura contra a corrosão recuperando a condição de rigidez e estática
da estrutura (CALDAS, 2007). Vale salientar que as resinas epóxi, normalmente são
mais resistentes que o concreto, além de serem aderentes ao concreto.
No tratamento de fissuras ativas deve-se promover a vedação, cobrindo os
bordos externos das mesmas e, eventualmente, preenchendo-as com material elástico e
46
não resistente (GOMES et al. 2003). Para tratar este tipo de fissuras podem ser
utilizada a resina poliuretânica ou a resina acrílica.
5.3.1. A técnica de injeção de fissuras
É a técnica que garante o preenchimento do espaço entre as faces da fissura para
restabelecer o monolitismo da peça, ou simplesmente, vedar a penetração de
substâncias presentes no meio externo.
Segundo Gomes et al.(2003), o processo de injeção deve observar os seguintes
passos :
• abertura dos furos ao longo do desenvolvimento da fissura, com diâmetro da
ordem dos 10 mm e não muito profundos (30 mm), e espaçamento entre 50 e
300 mm;
• exaustiva e consciente limpeza da fenda e dos furos, com jatos de ar
comprimido e posterior aspiração;
• os furos, são fixados tubinhos plásticos, de diâmetro menor que o da furação,
através dos quais serão injetados os produtos;
• a selagem entre os furos e dos tubinhos, é feita pela aplicação de uma cola
epoxídica bicomponente, em geral aplicada com espátula ou colher de pedreiro;
• antes de iniciar a injeção, a eficiência do sistema deve ser testada, pela
aplicação de ar comprimido. Se houver obstrução de um ou mais tubos, será
indício de que haverá necessidade de reduzir o espaçamento entre os furos;
• testado o sistema e escolhido o material, a injeção pode iniciar, tubo a tubo,
sempre com pressão crescente, escolhendo-se normalmente como primeiros
pontos aqueles situados em cotas mais baixas.
A Figura 5.1 mostra um exemplo de aplicação da técnica de injeção de fissuras.
A fissura possuía abertura de 1 mm, mas para facilitar a injeção, foi feito um furo de
14 mm. O material utilizado foi a resina epoxídica.
47
Figura 5.1. Exemplo da técnica de injeção de fissuras (SALES, 2005).
5.3.2. A técnica de selagem de fissuras
A técnica de selagem de fissuras é utilizada para a vedação dos bordos das
fissuras ativas, com material deformável. O tratamento depende do tamanho da fissura,
porém, é necessário um material resistente mecanicamente e quimicamente e ainda
aderente ao concreto. Para fissuras até 30 mm, faz-se o enchimento da fenda com grout
e depois é realizada a selagem das bordas com resina epóxi (SALES, 2005).
Para fissuras acima de 30 mm, a selagem passa a ser encarada como se fosse
uma vedação de uma junta de movimento e que prevê a inserção de um cordão em
poliestireno extrudado, para apoio e isolamento do selante do fundo da fenda (GOMES
et al., 2003).
5.3.3. Costura das fissuras (grampeamento)
A costura das fissuras (grampeamento) é indicada quando a laje de concreto
possuir deficiências isoladas de capacidade de resistência à tração. Este método
funciona como uma armadura adicional a laje.
As etapas de execução da técnica de costura de fissuras são (Gomes et al.,
2003):
48
• sempre que possível, descarregamento da estrutura, pois o processo em questão
não deixa de ser um reforço;
• execução de berços na superfície do concreto, para assentamento das barras de
costura, incluindo, se a opção for ancoragem mecânica, a execução de furação
no concreto para amarração das extremidades dos grampos;
• se a opção for esta, injeção da fenda com resinas epoxídicas ou cimentícias,
fazendo a selagem a um nível inferior ao berço executado;
• colocação dos grampos e complementação dos berços executados com o mesmo
adesivo utilizado para selagem;
• as fendas devem ser costuradas nos dois lados das peças, se for o caso de se
estar lidando com peças tracionadas.
A Figura 5.2 mostra um esquema típico do grampeamento de uma laje.
Figura 5.2. Esquema típico do grampeamento de uma laje.
5.4. INTERVENÇÕES DEVIDO A SOBRECARGA NA ESTRUTURA
A atuação de sobrecargas em lajes de marquises e sacadas é muito comum,
como o descrito no Capítulo 3.5 deste trabalho. A Tabela 2 apresenta as principais
sobrecargas e as atitudes a serem tomadas aos respectivos casos. Deve salientar que
quando estas sobrecargas agem na estrutura, as estruturas devem ser analisadas para
verificar se houve algum problema na estrutura, seja de trincas ou corrosão, ou a até
um sério problema estrutural.
49
Tabela 2. Sobrecargas e ações a serem tomadas.
Sobrecarga Ação a ser tomada
Acúmulo de água – sistema de
drenagem subdimensionado Refazer o sistema de drenagem
Acúmulo de água – obstrução do
sistema de drenagem Limpeza do sistema de drenagem
Sistemas de impermeabilização
sobrepostos
Retirada dos sistemas de
impermeabilização e instalação de um
único sistema
Equipamentos instalados
(ar-condicionado, letreiros, etc.)
Retirada destes equipamentos ou reforço
da estrutura
Pessoas utilizando indevidamente as
estruturas
Retirada destas pessoas e verificação da
estrutura
5.5. INTERVENÇÕES NA SUPERFÍCIE DE CONCRETO
5.5.1. Polimento
Quando a superfície do concreto está muito áspera, devido a problemas
executivos ou ao desgaste de utilização, o polimento da superfície é necessário, tanto
em marquises como em sacadas.
No caso das marquises, o polimento se faz necessário para deixar a superfície
lisa. Já nas sacadas, o polimento pode ser necessário para garantir um desempenho do
sistema de revestimento.
Para polir a superfície do concreto, normalmente são utilizadas lixadeiras
portáteis ou politrizes. A Figura 5.3. apresenta uma superfície antes e depois do
polimento.
50
Figura 5.3. Superfície antes e depois do polimento (ABREU, 2007).
5.5.2. Lavagem
Gomes et al. (2003) apresenta vários tipos de lavagens da superfície de
concreto, aplicadas aos vários casos, principalmente na recuperação de marquises, as
quais estão descritas abaixo:
• Pela aplicação de soluções ácidas: A lavagem de superfícies por soluções ácidas
tem por objetivo a remoção de tintas, ferrugem, graxas, carbonatos, resíduos e
manchas de cimento. Preliminarmente, a superfície deve ser abundantemente
molhada, para prevenir a penetração do ácido no concreto sadio. Após tal
procedimento, pode-se aplicar a solução de ácido muriático (ácido clorídrico
comercial) e água, na proporção de 1:6. A lavagem final deve ser abundante,
primeiramente com a utilização de uma solução neutralizadora de amônia em
água (1:4), e depois com jatos de água natural.
• Com jatos de água: A lavagem pela aplicação de jatos de água sob pressão
controlada é largamente utilizada como técnica de limpeza e preparação do
substrato para a futura recepção do material de reparação da laje.
• Jatos de areia: Pode ser considerada como a principal tarefa na preparação das
superfícies para a recepção dos materiais de recuperação, sendo utilizada
51
posteriormente aos trabalhos de corte e apicoamento do concreto. A aplicação
do jato de areia pode ser suficiente, também, para garantir a retirada de todos os
resíduos de corrosão do concreto e das barras da armadura.
• Escovação manual: Uma técnica a ser aplicada exclusivamente em pequenas
superfícies e, muito particularmente, no caso de pequenas extensões de barras
de aço que estejam com evidência de corrosão ou mesmo que simplesmente
careçam de limpeza para implementação de suas capacidades aderentes. Em
qualquer situação, depois deste trabalho dever-se-á passar à aplicação de
limpeza por jatos de ar comprimido sobre as superfícies tratadas.
• Apicoamento: É a retirada da camada mais externa do concreto, normalmente
com o intuito de potencializá-la para a complementação com uma camada
adicional de revestimento, em concreto ou argamassa, para aumento da
espessura de cobrimento das armaduras. Assim, as espessuras de apicoamento
são, em geral, de até 10 mm. O apicoamento pode ser realizado mecanicamente,
através do uso de martelos pneumáticos ou elétricos, e manualmente, com a
utilização de ponteiros. A estes trabalhos deve seguir-se a limpeza pela
aplicação de jatos de ar comprimido ou de água.
• Saturação: Trata-se de um processo exclusivamente preparatório de superfícies
e que visa garantir melhor aderência das mesmas aos concertos ou às
argamassas de base cimentícia que sobre elas serão aplicadas. O tempo de
saturação deve ser em média de 12 horas.
• Corte: O corte pode ser definido como sendo a remoção profunda de concreto
degradado. Tal tarefa tem como razão de eliminar qualquer processo nocivo à
boa saúde das armaduras. Assim, o corte de concreto justifica-se sempre que
houver corrosão do aço das armaduras, já implantada ou com possibilidade de
vir a acontecer, como no caso de concreto segregado, e deve garantir não só a
remoção integral do concreto degradado, como também a futura imersão das
52
barras em meio alcalino. Para tanto, o corte deverá ir além das armaduras, em
profundidade, pelo menos superior a dois cm. O equipamento tradicional
utilizado no corte do concreto é o martelo demolidor (de 6 a 10 kg), com
ponteiro terminando em ponta viva. Após os trabalhos de corte,
necessariamente a limpeza incluirá jatos de areia, ar comprimido, e água, nesta
seqüência.
5.6. REFORÇO ESTRUTURAL
O procedimento de reforço estrutural visa aumentar a resistência dos elementos
estruturais envolvidos e utiliza-se o menor número possível de intervenções. A escolha
reforço estrutural depende do diagnóstico da patologia. Faz-se então, necessário um
projeto de reforço informando materiais e metodologia dos trabalhos a seguir, já se
pressupondo que os trabalhos de recuperação são inaplicáveis ou foram aplicados sem
resultados satisfatórios.
O reforço estrutural pode ser necessário em decorrência de inúmeros fatores:
erros de projeto ou execução, deterioração resultante do envelhecimento natural, da
ação de agentes agressivos ou devido a acidentes como choques e incêndio, mudança
no tipo de utilização original, ou através do aumento dos carregamentos incidentes ou
por alterações na geometria (SOUTO FILHO, 2002).
Segundo Holtz (2007), os procedimentos necessários para instalação de reforço
são:
• diagnosticar o problema adotando-se medidas emergenciais quando necessário;
• analisar a viabilidade de aplicação de reforço;
• investigar o estado da estrutura com o auxílio de ensaios não destrutivos,
considerando-se sua rigidez e redistribuição de cargas;
• selecionar o material e a melhor técnica a ser utilizada;
• elaborar um projeto detalhado;
• executar o projeto com rigoroso controle de qualidade.
53
Os cálculos de reforço são realizados seguindo a NBR 6118 (2003). Deve-se
tomar atenção especial à aderência entre concreto original e o concreto de reforço, para
que não haja problemas de funcionalidade concomitante. Ainda vale salientar, que no
caso de pilares e vigas devem ser considerados os estados iniciais de tensão e
deformação, já no caso de lajes, são menos significativos, pois parcela da carga
permanente em relação à carga total é normalmente menor do que nos casos de pilares
e vigas.
5.6.1. Reforço estrutural em lajes em balanço
Gomes et al. (2003) sugere que o reforço pode ser efetuado através do aumento
do número de armaduras, casos em que se pretende adequar ou ampliar a capacidade
resistente da peça, ou como recuperação, quando, por corrosão, geralmente as barras
existentes perdem parte de sua seção original e necessitam de complementação para
que as condições de segurança e de desempenho sejam restabelecidas. Esse reforço
pode ser realizado, devido:
• reforço das armaduras negativas, em que se faz inicialmente, os trabalhos de
ranhura na laje, seguido de limpeza, colocando as novas barras na posição
necessária. Então, aplica-se resina epóxi e recobrem-se as barras com
argamassa de base mineral ou grout, dependendo da necessidade ou não de a
estrutura entrar rapidamente em serviço, e utilizando o artifício da contra-flexa
antes do fechamento das ranhuras, para que a cara seja transferida à nova
armadura;
• reforço das armaduras positivas, que para sua execução, retira-se o
revestimento, apicoa-se toda a face inferior da laje, colocam-se as novas
armaduras em posição (preferencialmente telas soldadas) fixadas com grampos
e arames ou pinos aplicados com pistolas, e recobrem-se as armaduras, usando-
se epóxi e argamassa de base mineral ou grout, ou então concreto ou argamassa
projetada, conforme citados nos tópicos anteriores.
54
Nas lajes em balanço, como marquises e sacadas, os reforços comumente
utilizados são devidos a esforços de flexão. Segundo Piancastelli (2004), o reforço à
flexão das estruturas em balanço de marquises e sacadas podem ser obtidas pelo
acréscimo de armadura na zona de tração, como mostra a Figura 5.4.
Figura 5.4. Reforço na parte superior da laje (adaptada de PIANCASTELLI, 2004).
Outra solução para os momentos negativos (que tracionam a face superior da
laje), é o reforço da estrutura de marquise ou sacada pelo acréscimo da seção de
concreto da zona comprimida.
Ainda segundo Piancastelli (2004), uma solução alternativa para reforço da
região de momentos negativos, pode ser obtida através da abertura de sulcos e
posterior fixação da armadura com argamassa polimérica ou de resina, mais ponte de
aderência, como mostra a Figura 5.5.
Figura 5.5. Reforço por embutimento na armadura (PIANCASTELLI, 2004).
55
Adição de chapas e perfis metálicos
Quando se trata de adicionar capacidade resistente, uma opção muito eficiente e
de rápida execução, recomendada principalmente para situações que requerem
emergência ou não permitem grandes alterações na geometria das peças, é a de reforço
exterior por colagem - ou chumbamento - de chapas metálicas, com a ajuda de resinas
injetadas (GOMES et al., 2003).
A colagem de chapas metálicas ao concreto requer a utilização de resinas com
altas capacidades de aderência e resistência mecânica. A superfície de chapa metálica
que ficará em contato com a resina também deve ser objeto de cuidadoso tratamento,
para que possa potencializar o máximo de capacidade aderente (GOMES et al., 2003).
5.6.2. Reforço de viga submetida à torção
O reforço à torção é normalmente obtido com o acréscimo de estribos e de
barras longitudinais, implicando num encamisamento total da peça reforçada. De
forma diferente do cisalhamento, o reforço à torção exige que as armaduras
longitudinais sejam ancoradas no pilar. Isso pode ser feito por colagem com adesivos
estruturais (PIANCASTELLI, 2004).
A Figura 5.6 apresenta um exemplo de reforço da viga submetida à torção.
Figura 5.6. Exemplo de reforço da viga submetida à torção (PIANCASTELLI, 2004).
56
Também se pode executar artifícios estruturais capazes de reduzir ou anular o
momento de torção que exige o reforço. São vários os artifícios estruturais que podem
ser executados, variando com o caso estudado. Obviamente, a materialização desses
artifícios implica em intervenções, às vezes, semelhantes às de reforço, mas de maior
facilidade executiva (PIANCASTELLI, 2004). A Figura 5.7 apresenta exemplo de um
desses artifícios estruturais, onde se executa um contra-peso na estrutura.
Figura 5.7. Artifício estrutural para eliminar ou reduzir o esforço de torção em vigas
(PIANCASTELLI, 2004).
57
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS
TRABALHOS
6.1. Considerações finais
Primeiramente, coloca-se como fator relevante a concepção e projeto de
marquises e sacadas, pois se sabe que a maior parte dos problemas estruturais são
originados nesta fase. Deve-se fazer um projeto com critério rigoroso, pois estas
estruturas em balanço comportam-se diferentemente de outras e são mais passíveis a
problemas estruturais.
O projeto (detalhamento) e execução das armaduras, devem ser realizadas com
critérios extremamente rigorosos, pois no caso de detalhamento, o bom adensamento
do concreto, em especial o cobrimento, depende diretamente de bons afastamentos das
armaduras verticais e horizontais. Além disso, o detalhamento insuficiente ou errado
pode levar a estrutura a ter manifestações patológicas.
O escoramento das estruturas em balanço deve ser realizado com muito
cuidado. A forma mais correta de se realizar o escoramento de uma marquise ou
sacada em balanço é introduzir apoios ao longo de toda a sua extensão com escoras
desde sua extremidade até o engaste. A retirada dos escoramentos no tempo certo deve
ser realizada, da extremidade ao engaste.
Para evitar a corrosão das armaduras, dois fatores são relevantes: o concreto da
estrutura tem que ter um cobrimento adequado, e uma impermeabilização em perfeito
estado, para que não haja penetração de água e agentes agressivos. No projeto de
marquises devem-se evitar grandes balanços e, no projeto de sacadas devem-se evitar
balanços, projetando as sacadas internamente à projeção do edifício ou com apenas
uma parte avançando, em balanço, em relação à projeção da fachada. Também devem
ser considerados todos os carregamentos e combinações desfavoráveis que atuarão e
poderão atuar na estrutura, além disso, não pode-se esquecer dos carregamentos (carga
acidental, carga horizontal e vertical mínima).
58
Outro motivo para haver critérios rigorosos no projeto e execução destas
estruturas é que as estruturas em balanço tendem a sofrer ruptura brusca, tipo frágil,
sem aviso.
Portanto, um projeto rigoroso, uma boa execução e manutenções periódicas
podem-se evitar tragédias e também gerar economia quando comparada com uma
reforma emergencial. Assim, torna-se necessário investir em vistorias e reparos para
obter-se segurança.
A ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural),
enviou no dia 28 de junho de 2007, ao vereador Domingos Dissei - vice-presidente da
Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara Municipal
de São Paulo -, uma minuta de projeto de lei, que pretende tornar obrigatória a vistoria
técnica estrutural para a avaliação das condições de uso e manutenção de marquises e
sacadas construídas em todos os edifícios da cidade.
6.2. Recomendação para novos trabalhos
Como sugestão para futuros trabalhos, vale apena citar um estudo importante a
ser realizado a fim de descobrir qual é a eficácia de normas e regulamentações
existentes quanto a inspeção e manutenção de sacadas e marquises, pois com o
aparecimento de recentes colapsos de marquises e sacadas é de extrema importância a
inspeção técnica destas, principalmente de marquises. As edificações consideradas
“velhas”, com mais de 30 anos, tendem a ser mais susceptíveis a problemas estruturais,
e estas anomalias se não inspecionadas, podem levar a estrutura a ruína.
Além disso, é importante a adequação de uma norma para inspeção de
marquises como ação preventiva de acidentes, sendo instrumento essencial para a
garantia de durabilidade da construção, com a finalidade de registrar danos e
anomalias e de avaliar a importância que os mesmos possam ter do ponto de vista do
comportamento e da segurança estrutural.
Inúmeros são os edifícios nas metrópoles que sofrem ou sofrerão de algum tipo
de manifestação patológica durante a sua vida útil. Tais manifestações são geralmente
oriundas de projetos inadequados ou impraticáveis, do emprego de métodos
59
deficientes de execução, de cargas excessivas, e das condições de exposição e
inexistência de manutenção preventiva.
60
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