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CLODOALDO TURCATO
Um homem que está sofrendo não faz a barba
Segunda Edição
Editora do Livre Pensador
Recife, Pernambuco
2013
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Titulo Original
Um homem que está sofrendo não faz a barba
Segunda Edição
Copyright @ 2013 by Clodoaldo Turcato
Copyright da edição @ 2013
Editora do Livre Pensador
Avenida Presidente Kennedy, 4834
Candeias
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em parte, constitui violação dos direitos autorais. (Lei
9.610/98).
Capa: Instituto do Livre Pensador
Ilustração de capa: Clodoaldo Turcato
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Índice
Dedicatória 05
Prefácio por mim mesmo 06
O Prato Principal 09
Um homem muito esperto 63
Um homem que está sofrendo não faz a barba 69
A pequena fortuna 73
A boa nova 86
O causa da estrada de Cabrobó 95
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Para Jessica, distante, mas
sempre presente em meu
coração. Tive poucos
momentos contigo... porém
eternos.
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Prefácio por mim mesmo
Este é meu quinto livro de contos. Neste trabalho
reuni apenas cinco estórias, todas cobertas de sarcasmo.
Ao contrário dos demais, esta não é uma coletânea, onde
reuni coisas escritas durante vinte anos, mas sim coisas
inéditas e produzidas este ano. É a primeira produção pós-
cadeia.
O Prato Principal abre este livro. É um conto
macabro, com uma definição moralista e hipócrita. De um
concurso milionário, pessoas comuns se defrontam com a
realidade de um bairro miserável em Olinda e todos os
meandros que cercam a pobreza. De tudo percebe-se a
extrema hipocrisia e maldade embutida nos personagens
que lutam pelos cem mil reais. Esta maldade é combatida
com engodo, pois o concurso não pode ser cumprido. De
toda sorte o engano só é percebido no final.
Na sequencia segue o conto Um homem muito
esperto. Uma narrativa leve revelando a inocência de um
homem, que de um lance genial engana dois malfeitores,
porém em seguida os confia seu segredo. E de enganador
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passa a ser enganado, para no final notar-se ingênuo e
gritar que não salvou nem seus arquivos magnéticos.
O conto titulo deste livro narra a desventura de um
homem que é abandonado pela sua esposa, porém mantém
sua rotina normal, levantando suspeitas de um velho
policial. Mesmo contra todas as tendências, no final é
desmascarado, junto com toda uma vida pregressa e expõe
o ódio por sua ex-esposa e pela vida que levava, o
desgosto com o filhos: caí a máscara.
A pequena fortuna relata um homem que reserva
dez mil reais, fruto de seu trabalho com lixo. Porém por
falta de sorte e medo de ser roubado deixa a caixa
contendo toda sua vida com um desconhecido. Este
homem, aparentemente honesto, passa a extorqui-lo e
leva-o diante de um Delegado corrupto leva metade de seu
dinheiro, metade de sua vida. Mesmo roubado não perde a
única coisa valiosa que a vida lhe coube: a honra.
No final temos A boa nova. O relato real de uma
mulher que engravida e imagina se redimir com todos ao
seu redor. A caminha da casa do pai, o primeiro que
saberia, recorda de sua vida até ali e de como a notícia
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mudará totalmente o rumo de sua história pessoal. No
entanto ao chegar encontra sua mãe na cama, sangrando:
fora obrigada a abortar. Ao dar com seu pai, este diz para
não se preocupar, tudo estava resolvido. No final apenas
as rosas sob a cova onde seu irmãozinho fora enterrado
teima em crescer frondosa, destoando da pequenez que é
sua vida presente.
Nesta segunda edição, incorporei o conto O causo
da estrada de Cabrobó, que escrevi no ano de 2012, para
aumentar o numero de páginas do livro e atender
necessidades gráficas. Esta passagem narra a desventura
de um matuto que sai de manhã de casa para compras de
Natal, e no caminho encontra uma viajante que o seduz e
rouba seu dinheiro.
É um texto singular, de fácil leitura, apresentando gente
comum, de pecados e defeitos, sem o véu de candura ou
moralismo barato. A vida pode ser divertida, mas sempre
será cruel, sem embargo.
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O Prato Principal
São cinco pessoas sentadas à mesa: dois homens e
três mulheres - parece não se conhecerem. Chegaram no
horário a convite de Mister Person, também desconhecido.
“Comparecer impreterivelmente às 13h00min. do dia 14.
Qualquer atraso acarretará em imediata eliminação do
concurso. A porta será aberta às 12h50min. e fechada às
13h03min. Grato Mister Person”. Finalizava o bilhete seco
e direto, sem mais delongas. Alguns não levaram a sério e
deram com a porta trancada. Ao baterem não obtiveram
respostas. Quem insistisse recebia o convite de um sujeito
alto e forte de plantão pra retirar-se ou teria confusão. E
poucos gostariam de ter confusão com um sujeito como
aquele.
_ Tenho o convite, passei na prova, retrucaria
indignado o atrasado.
_ Se insistir em importunar Mister Person, vamos
ter que conversar diferente, ameaçava o vigia.
O negócio era particularmente estranho para quatro
que atrasaram. Uma moçoila de grandes atributos chegou
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sete minutos depois do horário, usou todo o seu charme,
porém foi barrada. Nem os lindos seios quase a mostra
foram suficientes para convencer ao guardião abrir
passagem.
_ Os ingleses são criteriosos quanto à pontualidade,
disse um transeunte que assistia ao desconsolo da
pequena.
E lá se foi a destemida cheia de palavras chulas,
para a Inglaterra, sua Rainha e seus horários. Logo ela que
nunca precisou mais que um sorriso para as portas se
escancararem.
Enfim, narrados estes pormenores, restaram cinco.
Todos brasileiros, pouco dados à pontualidade, porém
temerosos a serem eliminados da possibilidade da
premiação oferecida por Mister Person. Depois de
vencerem noventa concorrentes nas provas iniciais e cinco
pelos atrasos, o mínimo da fortuna já lhes era assegurada,
pois seriam premiados os dez classificados e do quinto em
diante o prêmio era bem razoável. Todos estavam aos
sorrisos.
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Conduzidos à sala de jantar, assentaram-se de
forma adequada: os Cavalheiros de um lado e as Senhoras
do outro. Cumprimentaram-se cordialmente sem
apresentações, talvez para intimidarem-se ou por pura
timidez, sabe-se lá. Cada qual avaliou seus concorrentes
em silêncio, alguns com gostos outros com desgostos, de
lado, tentando não dar a perceber-se, sem nenhum
comentário, quietos, enquanto aguardavam o anfitrião e o
final da disputa.
Nossos Personagens estão dispostos ao redor de
uma mesa grande de madeira com onze lugares, seis deles
vazios pelos motivos acima. As cadeiras são altas e
confortáveis, comedidas nos artefatos. Simples, porém
sofisticados, combinando com a decoração vitoriana da
sala. Sobre a mesa talheres em prata, pratos de porcelana e
tigelas em aço inoxidável contendo pratos frios e saladas
diversas. Ao centro espaço para o prato principal que não
fora mencionado. Especulava-se qual seria: Porco
recheado, carne de boi com aqueles temperos
apimentados. Não! Não! Mister Person haveria de servir
alguma carne de caça, típico dos ingleses, talvez um
coelho... Também poderia ser alguma ave, patos ou
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marrecos, tão bem falados na alta culinária inglesa. Por
certo não seriam peixes... frutos do mar em geral,
improvável, os ingleses não são dados a tais iguarias. A
baixela no centro não dava qualquer indicativo, apenas
que era grande o suficiente para todos se fartarem.
A moça da esquerda chama-se Tayla Kauane da
Silva. Tem vinte e dois anos, cabelos loiros encaracolados,
alta, seios médios e pernas bem distribuídas. Os vulgos
diriam se tratar de uma moça muita bonita, com algum
respeito. Algum folgazão soltaria termos menos decentes.
Veste-se de forma honesta, porém vulgar, perdoável já que
não nunca teve cultura além da televisão. Sua beleza a
torna suportável; unhas bem cuidada, com esmalte
cintilante, desses usados por adolescentes. Sua maquiagem
é carregada, com muito pó, branco que da ainda mais luz
ao seu rosto, com olhos de uma cor cinza depreciativo,
numa face que bastava pequenas correções, sem tanto
contraste claro. Tem cílios postiços, logo se percebe, o que
não é de todo mau, sob lentes de contato cor amêndoa que
em muito estragam seus olhos azuis. Talvez pretendesse
combinar com seus brincos de pedra e colares feitos por
algum Xavante do Alto do Xingú. De qualquer forma, o
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que salva sua aparência empobrecida são os dentes,
tímidos e grandes, brancos como leite, escovados e bem
tratados em uma higiene regular. Quando sorriu, mesmo
de cabeça baixa, dissipou todos os defeitos até então
constatados. Pena que risse tão pouco, dado ao ambiente
em que estava. Imagino que seu principal meio de sedução
seja o sorriso. Encantadora. Pena que ao sentar-se cometeu
a indelicadeza de atender ao telefone móvel, um desses
modelos que chamam de Smartphones, ou coisa que o
valia, repletos dessas novas tecnologias que o mercado
oferece. A dita responde, aos olhos incrédulos, a uma
mensagem de sua amiga querendo saber como são a casa,
as pessoas, o que vestem... Essas pequenezes, que dedos
rápidos tateiam em resposta, monossílabos, abreviaturas
típicas dessa linguagem horrível que compõe os papos
virtuais, usual entre jovens. Vez por outra olha para os
lados como temendo a chegada do anfitrião, ou os olhares
de censura dos demais um tanto irritados com os ruídos do
teclado. Em seus dedos vejo dois anéis e uma aliança. Pelo
menos um anel é de ouro. Nada indica que seja de
compromisso, sugere que seja dado por algum (alguma)
admirador – uma Senhorita de tão bons afeitos terá sua
orla de queridos, suponho. Dá impressão que ela
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desconhece o valor financeiro da peça. É uma impressão
apenas, afinal não temos condições de avaliar seus valores.
O que nos leva a crer é o uso do anel. Colocado no dedo
anular, sem esmero, logo neste dedo de pouca valia. Então
está é a associação que fazemos – pobre. As unhas são
naturais e longas, o que nos surpreende, já que na primeira
olhadela imaginei serem postiças. As mãos demonstram
pouca lida e distância de detergentes e ácidos. Finas e
delicadas, bem apegadas a braços longos e finos,
aglutinadas aos ombros cândidos, cobertos por uma blusa
de lã branca, sobre uma malha de viscose que marca seus
seios firmes, guardados devidamente por um sutiã
adequado. A barriga é enxuta. ( A blusa é curta e nos
permite este olhar, nem tão indiferente). É quase de se
afirmar que não tenha filhos e pratique algum esporte ou
frequente academias. Um olhar obsceno (que não cabe a
um interlocutor) não relutaria em sonhar com aquele
ventre despido e acabamos concordando que seria grave
falha esconder aquela silhueta, ao passo que dois dedos
acima da cintura nos dariam outros detalhes que a veste
esconde. O quadril se enquadra no padrão das grandes
modelos. Alguns gostariam de mais carnes, se bem que
não lhe falte, principalmente nos glúteos. Vemos tudo por
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descuido dela, não por desrespeito, afinal poderia usar um
vestido composto em vez desta calça acochada e furtaria
ao nosso olhar as zonas erógenas, pernicioso, que fazemos
agora. É, meus caros. Está tão apertada que supomos
algum desconforto daquela vestimenta. Por certo fere as
laterais, próximo a vagina, causando esfoles nada
agradáveis. A todo instante ela verifica a calça, puxa a
cintura na parte de trás, lutando para não mostrar a
calcinha. E faz bem, pois até agora não percebemos ao
menos a cor. Bem, cá estamos para uma narrativa e
desnudá-la cabe a quem o mereça. Dito que se supõe que
as coxas e pernas sejam proporcionais em beleza aos pés
pequenos e zelados por bons sabões. O que se mostram
dentro de uma sandalhota branca feita com tacos, são
dedos com poucas marcas e calcanhares lisos, combinados
e sem rachaduras. De todo, é uma mulher em descabida
beleza, mal vestida e sem os cuidados que a tornariam
ainda mais bela. Se escrevemos dos atributos físicos, e
faltou realçar a pela branca, o que dizer dos intelectuais?
Ora, não é tola de toda; classificou-se em décimo lugar em
uma prova média e como os outros não eram ignorantes.
Conclui-se ser bela e inteligente o suficiente para