XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS
TEORIA DO ESTADO
ARMANDO ALBUQUERQUE DE OLIVEIRA
ILTON NORBERTO ROBL FILHO
SÉRGIO URQUHART DE CADEMARTORI
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T314
Teoria do estado [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI/UFS;
Coordenadores: Ilton Norberto Robl Filho, Armando Albuquerque de Oliveira, Sérgio
Urquhart de Cademartori – Florianópolis: CONPEDI, 2015.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-066-4
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: DIREITO, CONSTITUIÇÃO E CIDADANIA: contribuições para os objetivos de
desenvolvimento do Milênio
1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Brasil – Encontros. 2. Teoria do estado. I.
Encontro Nacional do CONPEDI/UFS (24. : 2015 : Aracaju, SE).
CDU: 34
Florianópolis – Santa Catarina – SC www.conpedi.org.br
XXIV ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI - UFS
TEORIA DO ESTADO
Apresentação
Na contemporaneidade, a discussão conjuntural de temas tais como os dilemas da
democracia, a globalização e seus desafios, as novas tecnologias e os impasses suscitados por
elas etc. não obstam - e até favorecem - a revisitação às bases teóricas que fundamentam a
política e o Direito. Trata-se de examinar mais uma vez os fundamentos ideológicos e - por
que não dizê-lo - lógicos que viabilizam o exercício do poder e a soberania populares. Daí a
extrema importância que o Grupo de Trabalho "Teorias do Estado", constituído no XXIV
Encontro Nacional do CONPEDI - UFS, adquiriu ao oportunizar a apresentação das mais
variadas reflexões sobre esse tema clássico. Relembre-se com Bobbio, abordando a obra de
Max Weber, que um clássico é aquele que por mais revisitado que seja, sempre deixa uma
lição para os estudiosos em todas as épocas. Sem dúvida este é o caso. Assim, a temática
enfrentada acerca das teorias do Estado apresentou-se bastante diversa, com estudos
envolvendo os seguintes assuntos: a) uma releitura das teorias clássicas, tais como a
separação de poderes, as bases contratualistas do Estado de Direito, a teoria weberiana do
Direito e do Estado, o liberalismo clássico e a abordagem kantiana da paz entre os Estados;
b) a adoção de uma perspectiva histórica, abrangendo um estudo comparativo entre os
Estados europeus e o brasileiro; c) estudos de conjuntura, tais como os que envolvem a
globalização, o neoliberalismo e a pós-modernidade; e d) enfoques pontuais, debatendo
temas específicos, tais como aquisição e perda da nacionalidade, papel dos militares,
princípio da subsidiariedade, exação fiscal, municipalismo como teoria da federação,
planejamento participativo etc. A riqueza dos debates suscitados pelas apresentações de todos
esses assuntos ficou evidente na extensão do tempo empregado para desenvolvimento de
todos os trabalhos: quase sete horas de candentes discussões, envolvendo não só os
apresentadores, como também os coordenadores do Grupo de Trabalho, todos entusiastas dos
temas ali postos em pauta.
IMPORTÂNCIA DOS CLÁSSICOS PARA O ESTUDO DO ESTADO: UMA ANÁLISE DO CONTRATUALISMO FRANCÊS E INGLÊS
THE IMPORTANCE OF CLASSICS FOR STATE STUDY: AN ANALYSIS OF BRITISH AND FRENCH CONTRACTUALISM
Galanni Dorado de Oliveira
Resumo
O presente trabalho busca identificar os principais traços dos modelos clássicos de Estado
elucubrados pelas correntes contratualistas em França (Rousseau e Sièyes) e Inglaterra
(Hobbes e Locke) cuja difusão continua influenciando os trabalhos atuais. Assim, a partir da
discussão das principais falhas teóricas e das razões pelas quais se crê na superação desses
modelos, tenta-se discutir qual a importância atual da leitura e do estudo dessas obras.
Palavras-chave: Contratualismo; modelos de estado; importância dos clássicos contratualistas.
Abstract/Resumen/Résumé
This study aims to identify the main features of the classic models of state elaborated by
contractualists in France (Rousseau and Sieyes) and England (Hobbes and Locke) that
continues to influence current papers. Thus, based on a critical analysis of the main
theoretical failures and the reasons that lead us to believe in overcoming these models, this
article attempts to identify the current importance of reading and study of these papers.
Keywords/Palabras-claves/Mots-clés: : contractualism; state models; importance of contractualists.
202
1. INTRODUÇÃO
Quando se volta o olhar aos estudos jurídicos empreendidos no ramo da teoria
do estado encontramos uma grande variedade de produção cientifica, o que dificulta
identificá-las como pertencentes a um mesmo ramo.
Essa diversidade é produto tanto da dificuldade em se estabelecer um método
tipicamente jurídico para a compreensão do Estado e suas questões afetas, quanto pela
existência de diversas áreas do conhecimento voltadas a estudá-lo como, por exemplo, a
filosofia política, a sociologia política e a ciência política. Com efeito, parece existir, no
campo do direito, confusão quanto aos métodos e objetivos desses diversos ramos, de
modo que os estudos empreendidos nesta área do conhecimento acabam por adotar um
certo sincretismo metodológico.
Contudo, independentemente do método adotado e dos objetivos do trabalho
algumas questões sempre estão presentes. O que é o Estado? Para que serve o Estado?
Qual o melhor modelo de Estado?
Inegável a existência de inúmeras dificuldades em se precisar o conceito de
Estado. A primeira delas é a inexistência de um modelo deontológico perfeito de Estado,
pois a sua concepção não está imune às ambições ideológicas. Esse fato denuncia o
engodo proclamado pelas diversas acepções de Estado defendidas ao longo da história
(Hobbes com o Estado AbsolutoI, Locke com a monarquia parlamentar, Montesquieu com
o Estado Limitado, Rousseau com a democracia).
Outra dificuldade emerge das características inerentes à linguagem, isto é, a
abertura de significados comportada pelo significante ‘Estado’. Com efeito1, termo
'Estado', em seu sentido clássico, Quatrocentista e Quinhentista, era empregado para
indicar “situação”, remetendo-se à divisão de poder de determinada sociedade. Por outro
lado, o sentido moderno do termo 'Estado', cuja difusão se deu graças à obra e ao prestígio
de Maquiavel, passou a definir uma formação histórica específica e relativamente recente,
I No próximo tópico serão abordadas as recentes interpretações segundo as quais Hobbes não é simples
defensor do Absolutismo, contudo, no momento, adotamos a visão tradicional de difundida por
BOBBIO.
203
fruto do processo de concentração de poder que marcou o fim do medievo.
No Brasil, os autores de Teoria Geral do Estado, altamente influenciados pelo
pensamento positivista de Georg Jellinek,2 frequentemente recorrem a um conceito amplo
de Estado. Dentro desse paradigma, embora admita ser impossível “dispor
cronologicamente, em ordem sucessiva apoiada na história os exemplos de Estado que
tenham realmente existido uns após os outros,”3 DALLARI verifica a evolução histórica
do Estado fixando as formas fundamentais as quais adotou através dos séculos. Essa
concepção ampla de Estado congênere à acepção clássica (mera forma de organização
política), na obra de Dalmo de Abreu Dallari, comporta equivocadamente a existência de
distintos modelos: Estado Antigo, Oriental ou Teocrático; Estado Grego; Estado Romano;
Estado Medieval e um Estado Moderno.
Não obstante o respeitável posicionamento desses consagrados teóricos, o
Estado Moderno, difere sobremaneira das demais organizações político/sociais antigas,
justificando a utilização do termo, neste trabalho, apenas em sentido mais estrito. Pois, ao
contrário das organizações que o precederam, o Estado Moderno é notadamente marcado
pela centralização do poder, ascensão de uma nova classe dominante – a burguesia –, e
por uma concepção específica do discurso jurídico que legitima a atuação estatal em
garantia de determinados direitos.
Assim, o Estado e o Direito por ele produzido só podem ser corretamente
compreendidos nos diversos contextos históricos em que se desenvolveram, superando,
o conceito demasiadamente amplo e incapaz de explicar as características essenciais do
Estado tal qual o entendemos,4 projeto racional e otimista de um mundo melhorado e
ordenado5.
Ademais, há necessidade de interpretar os diversos modelos de Estado
considerando não só o contexto histórico, mas também o cenário local ao qual se insere.
Este fato nos leva a conclusão da existência de variadas organizações estatais
consentâneas as diferentes especificidades locais, ou seja, a formação do Estado deu-se
de diferentes formas tanto nos diferentes momentos históricos quanto nos diversos
contextos locais. Assim, não há uma lógica universal informadora da criação dos Estados
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nacionais modernos.
Nessa feita, dada a complexidade segundo a qual a realidade se apresenta,
forçoso admitir que não existe um modelo prático ou axiológico capaz de exprimir
ontologicamente o que é o Estado Moderno, muito menos os direitos por ele garantidos.
Além disso, mesmo os modelos filosoficamente construídos não são passíveis de
interpretação integral, malgrado as incoerências características da filosofia e da natureza
humana cuja essência é a mudança.
Embora as dificuldades apresentadas, não se deve desconsiderar a importância
dos modelos teoricamente construídos, em especial, por fornecerem um panorama
simplificado da realidade e representarem as tentativas históricas de implementação de
determinado arquétipo estatal. Nesse sentido, pode-se adotar um modelo (a perspectiva
marxista de estado, por exemplo) tanto com a finalidade de estabelecer um recorte
metodológico, identificando as premissas adotadas, quanto como modelo teórico a ser
descontruído.
O presente trabalho busca identificar os principais traços dos modelos clássicos
de Estado descritos pelas correntes contratualistas na França e Inglaterra cuja difusão
continua influenciando os trabalhos atuais. Discutir-se-á, ainda, as principais falhas
teóricas e as razões pelas quais se faz crer na superação do modelo contratualista. Por fim,
será discutida a importância da leitura e estudo dessas obras.
2. O MODELO INGLÊS DE LOCKE E HOBBES
A formação do Estado Inglês foi marcada por intensas disputas políticas
intestinas, desde o século XV até XVII, que culminaram em 1689 na Revolução Gloriosa,
consolidando, basicamente, as conquistas da burguesia na Inglaterra. Nesse contexto de
transformações nascem as teorias de Thomas Hobbes e John Locke, ambos fortemente
influenciados e voltados a legitimar o discurso liberal, buscando garantir, assim, uma
nova estrutura jurídica de ideário burguês.
205
Thomas Hobbes (1588-1679),II não obstante ser frequentemente denominado de
filósofo do medo, não o utiliza como o principal argumento para legitimar a formação do
Estado. Não se pode entender a sua teoria apenas por uma nota, pois, na dicção do filósofo
é a contradição das paixões que move o homem a instituir o soberano, figura central do
Estado.
RIBEIRO, Renato Janine explicita o papel das paixões no pensamento do
filósofo:
Se o medo induz o homem a afastar-se da guerra natural, a esperança
posta no trabalho leva-o a buscar o Estado que lhe garanta vida e
conforto. […] Somam-se [assim] a negação da guerra e a afirmação da
Paz.6
Desse modo, são as paixões 'medo' e 'esperança' que nos inclinariam à paz, pois
o medo da morte acrescentado ao desejo de uma vida cômoda materializar-se-ia por meio
do Estado criado pelos próprios homens7.
Por outro lado, para John Locke (1632 – 1704)III nem o medo, nem a vontade de
garantir a vida impulsionaria os homens a criar o Estado, mas a necessidade de um
governo para atuar como juiz e proteger os direitos, mormente a propriedade, o grande
princípio basilar do Estado8.
Desse modo, para Locke “o objetivo do corpo político é garantir aos indivíduos
a preservação da vida, da liberdade e [principalmente] dos bens [propriedade]” e “o
melhor modo de se conseguir essa garantia é um legislativo fundado no consensoIV e um
II A obra de Hobbes, embora, tenha seguramente marcada de originalidade, não pode ser compreendida
fora do contexto histórico em que foi construída. Hobbes nasceu na Inglaterra, em 1588, durante um
período de grande tensão tendo em vista o medo da invasão espanhola e sua invencível. A invasão nunca
ocorreu, dada a sua derrota em 1588, mas o medo tornou-se marca da obra e vida de Hobbes, contudo
não as resume. Importante destacar, deste período histórico Inglês, são os intensos conflitos políticos e
religiosos entre o Rei e o Parlamento que culminaram em 1649, dois anos antes da publicação de o
Leviatã, na ascensão de Cromwell, Lorde Protetor da República. III Se por um lado o período histórico em que se desenvolveu a obra de Hobbes foi marcado pela luta da
burguesia pela ascensão, por outro a obra de Locke se desenvolve durante a supremacia Whig (liberal)
do parlamento inglês, momento em que a supremacia social e econômica da burguesia já estava
garantida e o triunfo da Revolução Gloriosa marcou uma nova estrutura social e política baseada nos
direitos individuais, livre iniciativa e no interesse privado. IV Cabe esclarecer que o consenso na teoria lockeana, difere substancialmente do consenso rousseauniano.
Para Locke, participariam do consenso, apenas, os indivíduos proprietários que compõe o Estado e cuja
vontade é expressa pelo legislativo, órgão essencialmente de controle das pulsões autoritárias do poder
do rei.
206
executivo dependente do legislativo”9.
Conquanto as obras de Locke e Hobbes sejam frequentemente tratadas em
antagonismo, adjetivando o primeiro como liberal e o segundo como absolutista, não se
pode esquecer, conforme acertadamente apontado por Renato Janine Ribeiro, que tanto a
filosofia política de Hobbes quanto a de Locke são teorias contratualistas segundo as quais
nenhum poder se sustenta sem a vontade expressa ou suposta do cidadão. 10
Ademais, o discurso hobbesiano não defende o arbítrio, ao contrário, pugna por
um soberano legítimo capaz de garantir o direito natural à autopreservação, ou seja,
Hobbes, ao delinear os contornos da legitimidade do Estado Absolutista, faz sob bases
sólidas do contrato em prol da vida e da paz, os mais preciosos direitos. Por outro lado, o
arbítrio, poder absoluto, remeter-se-ia somente a presciência de Deus, pois “ele nos
governa, não porque nos criou, mas por ter-nos à Sua mercê (Leviathan, cap. XXXI, p.
397), como reféns”.11 Embora para Hobbes apenas Deus seja o ente dotado de poder
absoluto, o papel da Igreja é secundário, pois para ele é evidente a sublevação e oposição
do Clero ao Estado.12
A crítica de Hobbes volta-se à teoria do governo misto, pois em seu ideal: “é
certo que o poder soberano não pode ser dividido, senão a preço da sua destruição”.13
Assim, indivisibilidade seria, característica inerente à soberania e a sua divisão resultaria
inevitavelmente na dissolução do Estado e guerra civil. Segundo Bobbio, a aversão de
Hobbes à teoria da divisão de poderesV pode ser explicada pelo panorama histórico em
que floresceu a sua reflexão: a disputa entre o rei e o parlamento na Inglaterra e a intensa
guerra civil.14
Assim, aceita-se o entendimento de Idete Teles15, segundo o qual Hobbes pode
ser interpretado como um filósofo liberal em suas premissas e um absolutista em
suas conclusões. Isto é, segundo a autora, Hobbes pode ser considerado um liberal, pois
o liberalismo luta contra uma concepção teocrática do poder absoluto dos reis, cujos
V BOBBIO destaca a confusão oriunda da difusão das 'teoria do governo misto' e a 'teoria da separação
dos poderes', tratadas acriticamente como sinônimas. Contudo, não nos interessa essa distinção, pois a
teoria de Hobbes se volta tanto contra a divisão de funções no Estado quanto a sua atribuição a órgãos
distintos. (BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. p. 104 e 105).
207
corolários estão presentes nas teorias contratualistas em que são forjadas as “ideias de
direito natural dos indivíduos e de sociedade civil (relações entre indivíduos livres e
iguais por natureza), com o que se quebra a ideia de hierarquia”. Nesse sentido, os
indivíduos são a origem e o destino do poder político cuja legitimidade está condicionada
ao consenso (ao pacto),16 o Estado Hobbesiano é constituído sob um pacto em que:
o homem não transfere e nem entrega direito algum ao soberano, apenas
renuncia ao direito de autogovernar-se com a condição de que o
soberano proteja e promova a vida do contratante.17
Por outro lado, é Locke quem leva o liberalismo às últimas consequências,
privilegiando os proprietários, por meio da concepção puritana segundo a qual a pobreza
seria a marca de um fracasso moral18. Acrescenta Michaud:
Partindo da afirmação da igualdade natural dos homens no estado de
natureza, mas concebendo-os como indivíduos livres para alienar suas
capacidades e vender sua força de trabalho, justifica afinal a
desigualdade da riqueza e dos direitos políticos. Passa-se de uma
igualdade formal a uma desigualdade real, [a marca do fracasso do
liberalismo].19
Locke opera a mais cruel das construções liberais, a legitimação da exploração
de classe, fortalecida pelo Estado fruto do pacto entre proprietários que formam o corpo
político, do qual não participa a classe assalariada20.
Segundo Mac Pherson, esse individualismo é necessariamente coletivismo,
pois afirma a supremacia da sociedade sobre os indivíduos. Contudo, a individualidade
só pode ser conseguida pelo acúmulo da propriedade e às custas da individualidade dos
outros (não proprietários). Desse modo, o funcionamento da sociedade política
fundamenta-se na superioridade de uns indivíduos proprietários sobre outros; porque se
assim não fosse, não poderia haver propriedade. Assim, ao discutir esse aparente conflito,
Mac Pherson acrescenta:
Os indivíduos que têm os meios de realizarem suas personalidades (isto
é, os proprietários) não precisam se reservar direitos em oposição à
sociedade civil, de vez que a sociedade civil é construída por e para
eles, e dirigida por e para eles.21
A concepção ambígua dos direitos naturais de Locke ajusta-se, assim,
perfeitamente à tradição do direito natural no common law, o direito à propriedade
existente desde o Estado de Natureza e não necessita de um Estado que o positive. Nesse
contexto, justifica-se a pretensão liberal de um Estado guardião cuja função é
208
essencialmente omissiva, de não interferência na esfera privada da sociedade civil,
verdadeiro reduto das liberdades e espaço da fruição dos direitos.
Mac Pherson conclui que, para Locke, a má administração não é aquela que
deixa os pobres em condições de mera subsistência, mas a que permite que ocorra um
desastre inusitado tal que os una em revolta armada, sendo a revolta uma violação do
respeito devido a seus superiores (os proprietários).22
Nesse cenário, pode-se concluir que tanto Hobbes quanto Locke legitimam os
seus modelos de Estado dirigindo o seu funcionamento em defesa, respectivamente, do
direito à vida e à propriedade.
3. O MODELO FRÂNCES DE ROUSSEAU E SIEYES
A experiência francesa mostrou-se diversa, Jean Jacques Rousseau inicia a obra
'Do contrato social: princípios do direito político’, declarando que “o homem nasce livre,
e por toda parte encontra-se a ferros23”; de modo que, para o filósofo, “o mal não era
imperfeição inata ao homem; provinha da degeneração da vida social24”.
No mesmo sentido, Émile Durkheim discute os fundamentos do contrato social
de Rousseau, explicitando que o grande problema da política contratualista rousseauniana
foi encontrar uma forma de governo que colocasse a lei, fundada na natureza e justificada
pela razão, acima do homem.25
Assim, a questão fundamental de Rousseau é “encontrar uma forma de governo
que coloque a lei acima do homem”.26 Assim, não bastava um modelo de Estado que
garantisse os direitos naturais, conforme pretendeu Locke e Hobbes, pois a realidade
francesa que se apresentava era outra. No contexto francês não bastaria reconstruir
hipoteticamente a história da humanidade a fim de legitimar o Estado vigente, tal qual foi
feito na Inglaterra por Hobbes e Locke. Fazia-se necessária, em verdade, definir o dever-
ser de toda ação política.27
Com efeito, Rousseau lança as bases para um Contrato Social legítimo capaz de
garantir a liberdade civil dos indivíduos. Defendeu que o direito não provém da força,
209
pois “a força não faz direito, e que não se obriga os indivíduos a obedecer senão às
autoridades legitimas”28, mas do consenso. Assim, o filósofo não se afastou da questão
fundamental contratualista - a imposição de limites ao poder arbitrário -, mas divergiu
substancialmente da concepção dominante na Inglaterra.
Nessa ordem de ideias, Rousseau defende o pacto, pois os direitos naturais à
liberdade e, especialmente, à igualdade, são melhores defendidos com a instituição do
soberano:
no estado natural, a liberdade de cada um só tem por limites as forças
do indivíduo, contudo a partir do pacto “ela é fundamentada, não sobre
a quantidade de energia da qual cada um dispõe, mas sobre a obrigação
sob a qual cada um se encontra de respeitar a vontade geral” eis porque
ela se tornou um direito.29
Nesse aspecto, somente a partir do pacto que os direitos naturais ganham
contorno de verdadeiros direitos cogentes.
A lógica da liberdade no pacto-social é pensada como a liberdade segundo a qual
cada indivíduo, tomado coletivamente sob a égide do supremo comando da Vontade
Geral, não se concede a ninguém e se mantém livre. Nesse sentido, somente a Vontade
Geral soberana, inalienável e indivisível é capaz de materializar um Estado Legítimo.
Ainda que não se desfaça por inteiro da teoria liberal, especialmente assinalado
pelo pacto-social, Rousseau distingue-se amplamente do liberalismo inglês, pois: 1) não
faz distinções quanto à natureza dos indivíduos (proprietários/não proprietário); e 2)
atribui ao 'ser social' (povo) a capacidade legiferante, uma vez que é munido tanto de
superioridade física quanto de moral para tanto.
Assim, o corpo político, engendrado pela teoria do Contrato Social de Rousseau,
é fonte de todos os direitos, deveres e de todos os poderes de quem exerce o poder
soberano, ou seja, aquele que exerce a vontade geral.30
Este 'ser' (soberano) é a soma de todas as vontades particulares, notadamente
voltada a toda coletividade, de modo que a regra (o direito), derivada do consenso, aplica-
se a todos. Em resumo:
a vontade geral é a media aritmética entre todas as vontades individuais
210
na medida em que elas se propõem como fim uma espécie de egoísmo
abstrato a ser realizado no estado civil.31
Embora inegável a influência do pensamento rousseauniano na ação
revolucionária francesa, a impossibilidade de um consenso, que comportasse todos
os indivíduos constituidores do corpo político, tornou-se um grande obstáculo à
praxis revolucionária.
Desse modo, destacou-se, no período revolucionário Francês, o pensamento
pragmático de Emmanuel Joseph Sieyès.32 O pragmatismo de Sieyès dá-se
principalmente pela defesa da atuação política do terceiro Estado, a burguesia, em nome
da vontade geral da nação identificada como o povo. Supera-se, assim, a impossibilidade
de consenso. Sieyès é inovador ao atribuir aos representantes da Nação o poder soberano
de instituir leis.
Na acepção de Rosseau o poder soberano pertenceria e somente poderia ser
exercido pelo povo em sua totalidade, contudo para Sieyès o poder soberano pertence
àNação, nesta perspectiva acrescenta Manuel Gonçalves Ferreira Filho:
Povo, para ele, [Sieyès], é um conjunto dos indivíduos, é um mero
coletivo, uma reunião de indivíduos que estão sujeitos a um poder. Ao
passo que nação é a encarnação de uma comunidade em sua
permanência, nos seus interesses constantes, interesses que
eventualmente não se confundem nem se reduzem aos interesses
dos indivíduos que a compõem em determinado instante.33 (grifo
nosso)
Destarte, a partir de Sieyès a vontade geral torna-se um conceito aplicável por
meio da representação daqueles que falam pelo povo, o Terceiro Estado (a burguesia).
4. FRACASSO E SUPERAÇÃO DOS MODELOS FRANCÊS E INGLÊS
Tanto o modelo de Estado Liberal Inglês quanto o modelo francês falharam, pois,
ambos se prestaram a legitimar a formação de uma estrutura social altamente
hierarquizada e segregacionista, de modo que o Estado Moderno, pretensamente
construído a fim de romper com os privilégios medievais e garantir direitos naturais e
universais, viabilizou o surgimento de um novo meio legítimo para a prática de
211
arbitrariedades e opressões.
O modelo de Estado Liberal fundou-se em elementos antinômicos, conforme
explicita Bonavides, foram eles “a liberdade”, negação do poder estatal e da
interferência na esfera privada; e a igualdade, “doutrina apologética do poder”.34
Na França, prevaleceu a igualdade, princípio que legitimou uma nova forma de
autoritarismo e segregação política impostas pelos revolucionários. Assim, ao tratar das
razões do fracasso do movimento revolucionário Frances, Pietro Costa assevera, a
“escassez de atenção demonstrada em relação às garantias, [típica do movimento
revolucionário francês], em relação aos mecanismos jurídico-institucionais capazes de
tornar efetivas as liberdades solenemente declaradas protegendo-as das intromissões do
poder”, logo evidenciou as suas mazelas.35
Pois, em nome do povo, a burguesia impôs o terror e o “estado de exceção”:
“princípios [da] defesa terrorista da liberdade republicana e da necessidade, a mais
santa de todas as leis, da salvação do povo”,36 eliminando qualquer vínculo que se
poderia ter com a nação.
Com efeito, a apologética do poder Rousseauniana falhou. Falhou também a
lógica legitimadora segundo a qual a própria natureza do corpo político bloquearia as
tentações despóticas na raiz, uma vez que o corpo político, pretensamente incapaz de
prejudicar os seus membros, voltou-se contra o povo.
Pietro Costa assevera o fracasso revolucionário explicitando:
Para os franceses não será possível traduzir em realidade o modelo
ideal, realizar a ordem dos direitos, reconduzir o soberano ao papel
de guardião da liberdade e da propriedade, senão inaugurando
uma titânica e explosiva 'política da vontade’: senão confiando à
nação soberana o papel de demiurgo, capaz de abater a ordem antiga e
realizar os direitos.37 (grifo nosso)
Desse modo, a práxis revolucionária foi incapaz de cumprir com a suas
promessas, estabelecendo um novo regime segregacionista e hierarquizado, tal qual o
antigo regime. Passou-se de um regime cuja legitimação estava fulcrada na natureza
divina do poder do rei, e do estado das coisas, para outro legitimado pela “vontade do
212
povo”. Nesse sentido, importante a lição de Friedrich Muller para quem a ideia de vontade
popular preencheu o espaço vazio criado pela destituição da figura divina da função
legitimadora das decisões políticas e legislativas.38
Se por um lado o modelo de Estado Liberal francês não tardou em evidenciar
suas falhas estruturais, por outro o modelo de Estado Liberal de aspirações inglesas faliu
lentamente devido ao recrudescimento das mazelas sociais e ao advento da crise
econômica.
Assim, a crítica ao Estado Liberal de aspirações inglesas alicerçou-se,
inicialmente, sobre as patentes desigualdades sociais, em especial, sob o contraste entre
a riqueza dos capitalistas e a miséria dos trabalhadores. Pois, embora as revoluções
liberais tenham libertado os entraves ao desenvolvimento econômico, não patrocinaram
a justa divisão da riqueza o que promoveu uma severa desigualdade social.39
O impacto da industrialização associado aos graves problemas sociais e
econômicos, assim como à constatação que liberdade e igualdade formal não geravam a
garantia do efetivo gozo dos direitos, promoveram, já no decorrer do séc. XIX, amplos
movimentos reivindicatórios em prol do reconhecimento de direitos que atribuíssem ao
Estado nova finalidade: o comportamento ativo voltado a realização da justiça social.40
Contudo, a superação do modelo liberal deu-se somente após a crise financeira
de 1929 e o Pós-Guerra que atestaram a evidente incapacidade do mercado de se auto-
organizar e promover a justa divisão de riqueza e a superar a crise.
A crise do modelo liberal e o surgimento de Estados com ideais sociais conduz
a conciliação dos conceitos de liberdade e igualdade por meio da introdução de ideais de
justiça distributiva na qualidade de escopo estatal.
Paulo Bonavides41 destaca que no Estado Social passa a existir certo consenso
filosófico indicando a superação dos conceitos de liberdade e igualdade formais tal qual
preceituava o liberalismo. Assim, os fatores econômicos e sociais passaram a ser
reconhecidos como indispensáveis à prática da verdadeira liberdade humana.
213
Por outro lado, a partir da superação do modelo liberal, abriu-se possibilidade
para uma nova etapa de positivação de direitos, nos quais se inserem os direitos de
segunda geraçãoVI, direitos sociais de cunho prestacional, tais como assistência social,
saúde, educação e trabalho42. Esses direitos passaram a ser assim denominados, segundo
a lição de Ingo Wolfgang Sarlet, pois são a densificação do princípio da justiça social,
correspondendo, ainda, às reivindicações das classes menos favorecidas, em virtude da
extrema desigualdade social.43
Em outra senda, Bresser-Perreira ensina que com a social democracia o Estado,
além de oferecer proteção social, passou a ser plural, pois o poder político se tornara
menos concentrado em uma elite.44 Destarte, o Estado complexificou-se
extraordinariamente de modo que seus escopos passaram a se dirigir a diversas demandas,
algumas, por vezes, antagônicas.
Pode-se verificar mudanças significativas tanto no campo teórico da legitimação
do Estado quanto no campo prático da atuação estatal propriamente dita. Cada vez mais,
os Estados Nacionais passaram a atuar ativamente regulando os campos econômicos e
promovendo bens e serviços na esfera social.
Nesse sentido, parece correto concluir que houve tanto uma superação teórica do
modelo engendrado pelos contratualistas quanto uma superação prática do Estado
construído a partir desse modelo.
5. CONCLUSÕES – QUAL A IMPORTÂNCIA DOS CLÁSSICOS?
A grande questão das doutrinas contratualistas que versaram sobre o Estado
Moderno foi tanto buscar formas de conter o poder soberano45 quanto formas de legitimar
o seu exercício.46
Porém, o crédito contratualista não está na concepção do direito e do Estado
VI Não se desconsidera que a classificação dos direitos humanos tem função didática e que todos os direitos
civis, políticos e sociais exerçam entre si forte relação de conexão.
214
como instrumentos de controle e legitimação do poder. Pietro Costa aponta que a tensão
existente entre a decisão 'despótica' e o respeito à ordem normativa é tema amplamente
debatido e presente desde a antiguidade, herdado e aprofundado pelo mundo medieval.47
A inovação contratualista está no método empregado, o “método racional”,
segundo o qual é possível reduzir o direito e a moral às análises demonstrativas próprias
das ciências exatas. Esse método tem consequências claras quanto ao olhar do jurista, o
qual deixa de ser mero interpretador das regras divinas, passando a descobridor das regras
universais de conduta, oriundas da própria natureza das coisas. Desse modo, os
jusnaturalistas rompem tanto com o ideal de jurista exegeta quanto com o modelo
aristotélico, para quem:
as leis naturais são leis comuns a todos os povos ou, mais
limitadamente, a todos os povos civilizados e que, portanto, são
inferíveis não de considerações gerais sobre a natureza humana, não da
natureza das coisas, mas, indutivamente de um tudo comprado das
diversas legislações.48
BOBBIO atribui à Hobbes o rompimento definitivo com a teoria aristotélica do
direito natural, pois foi o primeiro considerar que a descoberta do direito natural deve-se
ao estudo da natureza das coisas excluindo, assim, a necessidade de comparação das
diversas sociedades civilizadas.49
Desta forma, ao analisar as correntes contratualista (Inglesa e Francesa)
imbuídas pelo ideal do direito natural, Pietro Costas conclui que essas duas linhas do
pensamento filosófico se aproximam essencialmente ao adotarem um caráter dicotômico
entre Estado e Sociedade, de modo que a ação humana, organizada racionalmente, em
torno de alguns direitos naturais (liberdade, a propriedade, o contrato), é a força
instituidora do corpo político.50
Por outro lado, Pietro Costa evidencia, que apesar da proximidade dessas duas
correntes, as suas concepções sobre o direito natural diferem essencialmente, dando um
contraste então muito nítido “mesmo quando os dois mundos parecem se tocar”.
Enquanto na França os direitos naturais foram positivados por meio da expressão
da vontade geral; contrariamente, na tradição Germânica da common Law, não o foram,
pois coincidiram substancialmente com a ordem realizada, herança da tradição,
215
encontrando sua realização no sistema jurídico-constitucional vigente.51
Isto posto, são inegáveis os avanços trazidos pela visão finalística e racional do
Estado que propiciou um ambiente favorável à edificação das primeiras noções acerca
dos direitos do Homem; de um Estado com poder político limitado; bem como a
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (contexto da Revolução
Francesa), base para o reconhecimento de direitos políticos e civis, inalienáveis,
invioláveis e imprescritíveis, que pertenceriam a todos os homens.52
Nada obstante, as categorias engendradas pelos contratualistas (vontade do
povo, pacto social) mostraram-se insuficientes para explicar a realidade de modo que os
Estados constituídos a partir desses modelos ruíram, evidenciando a superação dessas
doutrinas. Nesse contexto, qual seria a importância de revisitar os clássicos
contratualistas?
Italo Calvino53 fornece algumas pistas para se identificar um clássico e a
importância de sua leitura.
A primeira delas é que, devido a sua particular influência, os clássicos são
aqueles livros dos quais, em geral, nunca se está lendo pela primeira vez. Assim, a
superação dos modelos contratualistas clássicos de Estado engendrados na França e
Inglaterra não diminui a sua importância, isto porque, a sua leitura, para além de um
exercício de erudição, fornece a possibilidade de descobrimos nele algo que sempre
soubéramos (ou acreditávamos saber) mas, desconhecíamos que ele o dissera primeiro.
Por outro lado, embora pareça equivocado acreditar que o ‘Estado’ hodierno
represente o grande Leviatã tal qual Hobbes ou a personificação da vontade geral como
em Rousseau, a leitura desses autores é importante por fornecer uma série de ideias
necessárias à compreensão do mundo em que vivemos, bem como, das diversas
produções cientificas e literárias a respeito da estrutura estatal.
Desse modo, a leitura crítica, com intuito de reconstruir as obras, fornece a
possibilidade de identificação das marcas das interpretações que precederam a nossas,
isto é, torna possível verificar os diversos recortes (muitas vezes descontextualizados)
216
realizados, a partir desses textos, pelos diversos discursos hodiernos a fim de legitimar o
exercício do poder. Para que tal finalidade possa ser alcançada, entretanto, é necessário
que o leitor não tome as respostas apresentadas, seja pela mais moderna produção ou pela
antiga como certas e acabadas. Exige-se, pois, esforço crítico a fim de que os clássicos
sejam analisados no contexto temporal em que foram produzidos e, ao mesmo tempo,
cotejados face à produção mais moderna.
Ademais, as obras contratualistas, como todos os clássicos, nunca terminaram
de expressar aquilo que tinham para dizer, isto é, a riqueza dessas construções teóricas
proporciona a quem as lê o contato com uma série de insights, ou seja, de ideias capazes
de inspirar novas explicações sobre as estruturas e as relações de poder que permeiam o
Estado hodierno. Contudo, adverte-se novamente que se deve tomar cuidado, sob pena de
ser anacrônico, com transposições acríticas das categorias por eles formuladas, como se
essas guardassem em si uma verdade inconteste e representassem perfeitamente a
realidade em que vivemos.
Por fim, ler os clássicos é importante, pois, lê-los é melhor do que não os ler.
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14. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. p. 65. 2 JELLINEK, Georg. Teoria general del estado. 2. ed. Mexico: Continental, 1958. 3 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 22. ed. atual. São
Paulo: Saraiva, 2001. p. 51. 4 HESPANHA, António Manuel. Cultura jurídica europeia: síntese de um milênio.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005. p. 19. 5 HESPANHA, António Manuel (2005, p. 92). 6 RIBEIRO, Renato Janine. Ao leitor sem medo: hobbes escrevendo contra o seu
tempo. 2.ed. Belo Horizonte, MG: UFMG, 1999. p. 22. 7 RIBEIRO, Renato Janine (1999, p. 22). 8 VÁRNAGY, Tomás. O pensamento político de John Locke e o surgimento do
Liberalismo. In: Filosofia política moderna: de Hobbes a Marx. Atilio Boron,
Renato Janine Ribeiro. Buenos Aires; São Paulo: CLACSO: Universidade de São
Paulo, 2006. p. 56. 9 BOBBIO, Norberto; BOVERO, Michelangelo. Teoria geral da politica: a filosofia
politica e as lições dos classicos. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p. 73. 10 RIBEIRO, Renato Janine (1999, p. 25). 11 RIBEIRO, Renato Janine (1999, p. 33). 12 RIBEIRO, Renato Janine. Thomas Hobbes, ou: a paz contra o clero. In: FILOSOFIA
política moderna: de Hobbes a Marx. Atilio Boron, Renato Janine Ribeiro. Buenos
Aires; São Paulo: CLACSO: Universidade de São Paulo, 2006. p. 27.
217
13 BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. 10. ed. Brasilia (DF): UnB,
2000. p. 102. 14 BOBBIO, Norberto. (2000, p. 102). 15 TELES, Idete. O contrato social de Thomas Hobbes: alcance e Limites. 2012. Tese
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1. Acesso em 20 de janeiro de 2014. 16 TELES, Idete. (2012, p. 151). 17 TELES, Idete. (2012, p. 157). 18 MICHAUD, Yves. Locke. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1991. p. 59. 19 MICHAUD, Yves. (1991, p. 59) 20 MACPHERSON, C. B. (Crawford Brough). A teoria política do individualismo
possessivo de Hobbes até Locke. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. p. 233-234. 21 MACPHERSON, C. B. (1979, p. 267). 22 MACPHERSON, C. B. (1979, p. 235-236). 23 ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social: ensaio sobre a origem das línguas.
São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 53. 24 MERQUIOR, Jose Guilherme. Rousseau e Weber: dois estudos sobre a teoria da
legitimidade. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1990. p. 17. 25 DUKEHEIM, Emile. O contrato social e a constituição do corpo político. In: O
PENSAMENTO político clássico: (Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu,
Rousseau). São Paulo: T. A. Queiroz, 1980. p. 353. 26 ROUSSEAU, Jean Jacques. Carta ao Marquês de Mirabeau(1767). In: Os Clássicos
da política. 13. ed. São Paulo: Atica, 2006. p. 139. 27 Os Clássicos da Politica. Francisco C Weffort (Org). Vol.1. 13. ed. São Paulo: Atica,
2006. p. 195. 28 ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social: princípios do direito político. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 15 29 ROUSSEAU, Jean Jacques. (2002, p. 357). 30 ROUSSEAU, Jean Jacques. (2002, p. 359). 31 ROUSSEAU, Jean Jacques. (2002, p. 361). 32 SIEYÈS, Emmanuel Joseph. A constituinte burguesa. (Qui est-ce que le tiers Etat).
Trad. Norma Azeredo. 4º ed. - Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2001. 33 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. O poder constituinte. 5. ed. rev. São Paulo:
Saraiva, 2007. p. 23. 34 BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social. 8. ed. São Paulo, SP:
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teoria, crítica. São Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 105. 36 COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo; SANTORO, Emilio. (2006, p. 106). 37 COSTA, Pietro; Zolo, Danilo; SANTORO, Emilio. (2006, p. 110). 38 MULLER, Friedrich. Fragmento (sobre) o poder constituinte do povo. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004.p. 21-22. 39 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. A reconstrução da democracia: ensaio
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41 BONAVIDES, Paulo. (2007, p. 62). 42 SARLET, Ingo Wolfgang. (2009, p. 57). 43 SARLET, Ingo Wolfgang. (2009, p. 58). 44 BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Construindo o Estado Republicano:
Democracia e Reforma da Gestão Pública. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p.
79. 45 BONAVIDES, Paulo. (2007, p. 40). 46 MERQUIOR, Jose Guilherme. Rousseau e Weber: dois estudos sobre a teoria da
legitimidade. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1990. p. 17. 47 COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo; SANTORO, Emilio. (2006, p. 100). 48 BOBBIO, Norberto. BOVERO, Michelangelo. (2000. p.15). 49 BOBBIO, Norberto; BOVERO, Michelangelo. (2000, p.17). 50 COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo; SANTORO, Emilio. (2006, p. 108). 51 COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo; SANTORO, Emilio. (2006, p. 110). 52 SARLET, Ingo Wolfgang. (2009, p. 44). 53 CALVINO, Italo. Por que ler os classicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
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