Uni FMU CENTRO UNIVERSITRIO CENTRO DE PS-GRADUAO E PESQUISA
CORPO: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVER NOSSO POTENCIAL DE EVOLUO PESSOAL
A viso do hatha-yoga, da bioenergtica, da psicologia formativa e do rolfing
VANESSA G. MALAG
SO PAULO 2006
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VANESSA G. MALAG
CORPO: INSTRUMENTO PARA DESENVOLVER NOSSO POTENCIAL DE EVOLUO PESSOAL
A viso do hatha-yoga, da bioenergtica, da psicologia formativa e do rolfing
Monografia apresentada ao Centro de Ps-Graduao e Pesquisa da Uni FMU Centro Universitrio, como requisito parcial para obteno do Ttulo Especialista em Yoga
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Ao Ivan,
meu companheiro de muitos caminhos.
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Agradecimentos
querida amiga Ana Nava, pelas longas conversas e pelas experincias e descobertas compartilhadas antes e ao longo desse trabalho. Ana Cristina, Ana Paula e Roberto, meus primeiros professores e mentores nesse caminho do yoga. Aos meus alunos, que me trazem a satisfao de poder ensinar e a possibilidade de aprender continuamente.
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Precisamos aprender a repensar a anatomia
como mais do que um simples materialismo
esttico, ilustraes de mortos, abstraes sob a
forma de frmulas fisiolgicas, idias a respeito
da natureza, em vez da natureza em si mesma.
A anatomia, na verdade, diz respeito a um
processo vivo, dinmico, um mistrio, uma
iniciao, a forma da experincia que d origem
ao sentimento, ao pensamento e ao. Refere-
se a ns como formas de sentir. [...] Conhecer a
anatomia emocional experimentar as dores do
desejo e da decepo, os conflitos do contato e
a luta pela satisfao, o sabor da intimidade e da
individualidade, o conhecimento do amor
condicional e incondicional.
(Stanley Keleman, 1992, pg. 174)
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RESUMO A viso de corpo e mente como algo integrado compartilhada em diversas escolas, tanto do Ocidente como do Oriente. O Ocidente partiu de uma viso integrada para uma diviso entre corpo e mente, idia preconizada no sculo XVII por Descartes, e que se difundiu no pensamento ocidental a partir da. No final do sculo XIX e incio do sculo XX esse conceito comea a ser revisto e a associao entre corpo e mente passa novamente a ser considerada no trabalho de alguns estudiosos. Hoje essa idia vem sendo retomada no Ocidente e comum admitirmos que problemas como estresse ou depresso afetam diretamente o corpo e a sade fsica. Mas, e o contrrio? O corpo tambm no influencia a mente? Se o corpo expressa nossas emoes, no seria possvel atravs do trabalho com o corpo, influenciar estados emocionais e mentais? O Hatha-yoga uma das escolas do Oriente que v o corpo e mente de forma integradas. O corpo o instrumento para a descoberta de si mesmo. No caminho do autoconhecimento, o Hatha-yoga prope que se parta daquilo que nos mais concreto, nosso prprio corpo, para ento atuar sobre aspectos mais sutis. A mesma viso do corpo como ferramenta para a autodescoberta vista em escolas do Ocidente, como a anlise bioenergtica, a psicologia formativa e o rolfing. Nesse trabalho tratamos dessas diferentes abordagens, comparando-as, ressaltando pontos de ligao entre elas e comentando aspectos em que podem ser complementares.
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PREFCIO
Durante minha adolescncia, era comum meus pais me dizerem: Arruma essa
postura, menina! No comeo eu acho que no dava muita importncia pra
isso. Depois, fui me dando conta, mas como me manter ereta? Eu at que
tentava, respirava fundo, jogava os ombros pra trs, alongava a coluna,
expandindo o peito. Mas quem disse que durava? Num esforo que me parecia
sobre-humano, eu podia mant-la, por vejamos, 5 minutos! E ento eu j
estava novamente no meu antigo padro, ombros voltados para dentro, a
barriga apontada para frente e o peso do corpo pendendo sobre a parte de trs
dos joelhos.
Sempre pratiquei esportes e o contato com o corpo me parecia algo familiar.
Pratiquei natao, vlei, basquete, capoeira e escalada, mas a postura,
continuava a mesma. Foi com o yoga, num processo lento e gradual, que
comecei a travar contato com novos padres e referncias em meu corpo.
Como acionar a musculatura das costas, deixando os ombros relaxados?
Como abrir o peito, sem erguer a cabea e tensionar a nuca? Como distribuir o
peso do meu corpo igualmente entre os ps? Como esticar as pernas sem
hiperextender os joelhos? Como manter meu centro de equilbrio numa postura
invertida?
Meu objetivo inicial com o yoga era trabalhar o corpo. Naquela poca, quando
comecei a praticar, meu conhecimento sobre o yoga se restringia s posturas
feitas em sala de aula e exerccios respiratrios. Procurando saber mais sobre
o assunto, recorri aos livros. Em diversos textos sobre o yoga era comum ouvir
sobre a unio entre corpo e mente. Mas o que isso significava?
Admitimos com naturalidade que a mente afeta diretamente nossa sade fsica.
Quantas vezes no escutamos: fulano passou tanto stress que teve uma
lcera. A parecia estar a relao entre corpo e mente. Mas no era s isso....
H vrios anos atrs, ainda na minha adolescncia, li o livro O corpo fala (de
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Pierre Weil e Roland Tompakow, Ed. Vozes). A idia de que o nosso corpo
espelha nossas emoes e sentimentos me despertou bastante interesse.
Segundo o livro, atravs do corpo, dizemos muito sobre ns mesmos. Numa
conversa, no apenas as palavras nos trazem informaes sobre nosso
interlocutor, mas a maneira com que ele se expressa com o corpo pode nos dar
informaes valiosas. A linguagem do cotidiano traduz continuamente como o
corpo expressa emoes e sentimentos. Fulano um sujeito casca-grossa....
Ela tem os ps no cho. Usamos expresses como essas no nosso dia-a-dia,
e muitas vezes, nem nos damos conta dessa relao.
Essa idia do corpo como reflexo de nossas emoes veio novamente tona,
muitos anos depois, a partir do meu contato com o yoga. No poderamos
tambm interferir na mente pelo corpo? No seria essa a proposta dos asanas
e pranayamas?
Na experincia de expandir e contrair, tensionar e relaxar, construir e
desconstruir uma postura fui aprendendo a identificar melhor meu prprio corpo
e a dar novas formas a ele. Ainda que ocorra de modo lento e progressivo,
assimilar uma nova forma envolve uma experincia de certa forma dolorosa.
medida que se vai incorporando um novo padro postural, a antiga referncia
comea aos poucos a parecer inadequada e pouco funcional. Como me portar?
Abro ou fecho o peito? Expando-me ou me contraio? A sensao inicial a de
no encontrar uma forma adequada, como se a nova forma ainda me fosse um
pouco estranha e a antiga, ento j no me servisse. Aos poucos vou
assumindo um novo corpo, mas percebo que no s isso. Eu por inteira, j
no sou mais a mesma.
A conexo mente e corpo comeou a parecer mais clara. Como experenciar as
coisas da vida, seno em meu prprio corpo? Como praticar o amor, se no me
entrego, se meu corao se mantm intocvel e escondido na armadura das
costas e na curvatura dos ombros? Como praticar o contentamento, se a
respirao antecipa os instantes e no se d tempo para que possam ser
desfrutados? Como ter determinao e perseverana se as pernas no se
sustentam?
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Dessa experincia nasceu a motivao para investigar como o yoga e outras
escolas do Ocidente enxergam essa relao corpo-mente.Como ver como uma
unidade, aquilo que tendemos a separar? Mais do que isso, como vivenciar
corpo e mente de forma integradas?
Nesse caminho, descobri o corpo como ferramenta para o autoconhecimento e
evoluo pessoal. medida que aprendemos a assumir novas formas, mudamos
no apenas essa camada visvel e concreta de ns mesmos (o corpo), mas a
maneira como vemos e interagirmos com o mundo. Nos abrimos para novas
escolhas e novas formas de experienciar o mundo a nossa volta.
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SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................... 1 A conexo mente-corpo.................................................................................. 1 O objetivo do trabalho..................................................................................... 2
AS BASES DO YOGA ........................................................................................ 3 Histria............................................................................................................ 3 O que o yoga? ............................................................................................. 8 O Yoga Sutras de Patanjali............................................................................. 8 Hatha-yoga ................................................................................................... 20
PSICOTERAPIA CORPORAL E OUTRAS ESCOLAS DO OCIDENTE........... 23 A ANLISE BIOENERGTICA ........................................................................ 24 A PSICOLOGIA FORMATIVA.......................................................................... 29 O ROLFING...................................................................................................... 38 O CORPO E AS EMOES............................................................................ 43
A dor agradvel .......................................................................................... 48 FUNDAMENTAO E ESTABILIDADE EMOCIONAL .................................... 51 RESPIRAO E EMOO.............................................................................. 58 POSTURA ERETA E PADRES POSTURAIS................................................ 61 CONCLUSO................................................................................................... 67 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................. 73
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INTRODUO
A conexo mente-corpo
H aproximadamente 400 a.C, Hipcrates, pai da medicina ocidental, j se
referia influncia da mente sobre o corpo. Na cultura oriental, bem antes
disso, h cerca de 5000 anos atrs, os primeiros textos de medicina ayurvdica
j tratavam o corpo e mente de forma integrada. Da mesma forma, a medicina
chinesa tambm relacionava corpo e mente.
No Ocidente, a diviso entre corpo e mente, preconizada por Descartes no
sculo XVII, levou a medicina a concentrar-se no corpo, deixando de lado
aspectos psicolgicos. Essa concepo dualista dominante na cultura
ocidental, que tornou possvel o surgimento da Psicologia como temos hoje,
como ramo teraputico separado da Medicina. Enquanto a Medicina estuda os
fenmenos orgnicos, a Psicologia, estuda os fenmenos psquicos. A relao
entre corpo e mente foi negligenciada pela psicologia durante anos. No sculo
XIX esse conceito comeou a ser revisto atravs dos estudos do mdico
austraco Wilhelm Reich. O trabalho de Reich levou ao aparecimento de outras
escolas, como a escola de Anlise Bioenergtica, baseada nos estudos do
mdico americano Alexander Lowen.
Atuando num campo distinto da psicologia e a partir de estudos realizados
sobre o colgeno, a bioqumica americana Ida P. Rolf desenvolveu na dcada
de 40 um processo de educao corporal denominado Rolfing. Segundo Ida
Rolf, o comportamento e as emoes esto diretamente ligados estrutura.
Ao realizar um trabalho que buscava promover uma postura mais equilibrada e
a integrao estrutural, ela acreditava que promoveria no apenas o bem-estar
fsico, mas tambm o mental e espiritual.
Assim, pouco a pouco vamos notando no Ocidente uma retomada da idia que
associa o corpo mente. Hoje nos parece natural o fato de que estados
psquicos como estresse, ansiedade ou depresso contribuem para o
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aparecimento de doenas, mas ainda no parece claro que nessa relao
mente e corpo, no apenas o mental afeta o fsico, mas o contrrio tambm
verdadeiro. Se nosso corpo expressa nossas emoes, ser que mudando
certos aspectos corporais podemos influenciar o mental e o emocional?
O objetivo do trabalho
O objetivo desse trabalho investigar como algumas escolas do oriente e do
ocidente enxergam a relao corpo-mente e em especial, o papel que o corpo
assume como instrumento para se desenvolver o potencial de evoluo
pessoal que reside dentro de ns mesmos .
Do oriente, analisaremos a viso do Hatha-yoga e, das escolas ocidentais, os
trabalhos realizados por Alexander Lowen, Stanley Keleman e Ida Rolf. Nossa
proposta a de apresentar relaes entre o Hatha-yoga e os trabalhos
desenvolvidos no ocidente por esses estudiosos.
No Hatha-yoga, corpo e mente so uma estrutura nica e inseparvel. Da
mesma forma, as demais escolas abordadas nesse trabalho se dedicam a
estudar as manifestaes comportamentais e energticas da mente sobre o
corpo, e do corpo sobre a mente, tratando-os em seu conjunto e no como
elementos dissociados. O ponto-chave de aproximao entre esses sistemas
de conhecimento a viso integrada entre corpo e mente e o objetivo do
encontro de si mesmo. Ainda que tragam tcnicas distintas e sejam completos
em si mesmos, podem ser complementares e o que pretendemos investigar
aqui. Antes de avanar nessa investigao, vamos apresentar o ponto de
partida das bases conceituais que os formam.
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AS BASES DO YOGA
Histria
Acredita-se que o yoga tenha surgido com os drvidas, povo que habitava a
regio do Vale do Indo, que hoje corresponde ao norte da ndia e parte do
Paquisto. Estima-se que a civilizao do Vale do Indo, representada por duas
grandes cidades, Mohenjodaro e Harappa, tenha existido entre 3000 a.C e
1500 a.C. Apenas no comeo do sculo XX que essas cidades foram
redescobertas e at hoje os estudos arqueolgicos continuam na regio, onde
foram encontrados diversos objetos, cermicas, utenslios e brases, que nos
contam um pouco sobre a cultura e os costumes dessa civilizao. Entre esses
objetos, uma espcie de selo, retratando uma figura em postura de ltus a
primeira indicao da prtica do yoga. A civilizao do Vale do Indo possua
uma escrita prpria, que, infelizmente no foi desvendada at hoje. No h,
portanto, como saber, se j naquele perodo, existia algum tipo de registro
escrito sobre o yoga. Tampouco se sabe como se deu o desaparecimento
dessa civilizao . Essa uma questo que divide os historiadores, mas boa
parte deles, acredita que o que tenha colaborado para o desaparecimento dos
drvidas foi a invaso da regio por um povo indo-europeu, conhecido como
ria. Os rias subjugaram a populao local, impondo sua prpria tradio.
dentro da tradio ariana que surgem os primeiros textos indianos, os Veda,
textos que eram em sua maioria de cunho ritualstico. Na tradio ariana havia
uma rgida diviso social e dentro dessa diviso social, os brmanes, que
representavam a classe religiosa, eram os detentores dos conhecimentos
presentes nos Veda.
O termo yoga com a conotao que conhecemos hoje aparece por volta de 800
a.C, nos textos finais dos Veda, as Upanishads. Ao contrrio dos hinos e rituais
expostos nos Veda, as Upanishads relatam dilogos entre um mestre e seus
discpulos, que vivem isolados na floresta, levando uma vida asctica. Indcios
da prtica de yoga j aparecem em textos anteriores a esse, como o Atharva-
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Veda, texto mais ou menos contemporneo das primeiras Upanishads, que
menciona a existncia desses grupos ascticos e os descreve como
praticantes de misteriosas disciplinas respiratrias.
As Upanishads descrevem uma nova forma de acesso ao sagrado. Os critrios
para aquisio do conhecimento transmitido por elas no estavam relacionados
classe social como ocorria com os Veda, mas sim s qualificaes
psicolgicas por parte de quem buscava esse saber. As Upanishads
apresentam uma profunda mudana de valores, voltando a ateno do mundo
exterior para o mundo interior. O ascetismo representa a renncia ao mundo
exterior, de onde a felicidade no pode ser alcanada. A dor e sofrimento
humanos so causados pela ignorncia, pelo desconhecimento do homem de
que sua essncia a mesma essncia do universo, brahman. Para alcanar a
felicidade preciso experienciar essa identidade com brahman atravs do
yoga.
Durante esse perodo, vrios textos mencionam a importncia do yoga, mas
sem explicaes minuciosas sobre o mtodo. A mais antiga exposio
sistemtica do yoga que chegou at ns o Yoga Sutras, compilado por
Patanjali entre os sculos II a.C e IV d.C. Patanjali no inventou o yoga e as
prticas descritas no Yoga Sutras, apenas registrou o conhecimento existente
no seu tempo e que foi preservado ao longo dos sculos atravs da
transmisso oral de mestre para discpulo. O Yoga Sutras escrito dentro
desse mesmo contexto das Upanishads, que envolve a idia da renncia e
asceticismo. O Yoga Sutras de Patanjali, tambm conhecido como Raja Yoga,
d nfase a aspectos meditativos da prtica .
O Bhagavad-Gita, escrito entre os sculos IV a.C e IV d.C, outro texto
importante sobre o yoga e representa uma sntese entre os dois pontos-de-
vista, na medida em que procura unir valores, at ento dspares. O Bhagavad-
Gita apresenta diferentes vias para a prtica do yoga. Cada indivduo livre
para escolher a forma de yoga que est em afinidade com seu carter, sem a
necessidade de abandonar seus deveres sociais e viver uma vida asctica.
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Assim como no Bhagavad-Gita, nos anos que se seguem, novos movimentos e
escolas aparecero, propondo diferentes caminhos para a prtica do yoga. At
essa poca nenhum dos textos sobre yoga chega a detalhar e explicar tcnicas
envolvendo o trabalho fsico. Ser apenas por volta do sculo IX que o corpo
comea a ser encarado como instrumento de transcendncia. Entre os sculos
IV d.C e XII d.C aparece na ndia um movimento cultural chamado Tantrismo.
O Tantrismo foi um movimento de revalorizao da natureza, dos aspectos da
vida mundana e de recuperao dos valores negados pelas tradies
ascticas. Ao contrrio dos ascetas que viam o corpo como um mero acmulo
de vsceras, cujo destino final morrer e apodrecer, no tantrismo o corpo
visto como instrumento do homem em sua busca espiritual. O Tantrismo com
todas as transformaes culturais, sociais e religiosas que acarretou, trouxe
uma forte influncia ao yoga.
O Hatha-yoga, de onde vieram as posturas fsicas (asanas) to em voga hoje
no Ocidente, surgiu entre os sculos IX e X.d.C e recebeu influncia direta do
Tantrismo. Ao invs de abandonar as sensaes corporais, o hatha-yoguin
passa a valorizar o culto ao corpo para o desenvolvimento da alma. O Hatha-
yoga, entretanto, no se ope s idias contidas no Yoga Sutras. Na viso do
Hatha-yoga e do tantrismo, o homem, vivendo ento num mundo desorientado,
no tinha como transcender a partir do caminho apontado no Yoga Sutras. Era
preciso utilizar meios especficos e adequados para os novos tempos. O foco
das prticas passa a ser o corpo, usado como ponto de partida para a
investigao das realidades mais sutis . Diz Tara Michal (1975, pg. 165): o
yogi que segue a via tntrica no procura desapegar-se do mundo fenomenal
apoiando-se sobre as foras do intelecto; ele visa a transmutar toda a natureza,
a partir de sua forma mais grosseira, a manifestao corporal.
O fato de no encontrarmos nos textos anteriores ao Hatha-yoga e ao
tantrismo a exposio de prticas fsicas, no significa que essas no
existissem. Os asanas e pranayamas (tcnicas que envolvem o trabalho fsico)
so mencionados no Yoga Sutras, mas no h nenhum detalhamento sobre
essas tcnicas. No Yoga Sutras no h enfoque sobre o corpo e sim sobre os
mecanismos de controle da mente. Uma explicao que se d para isso que
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o Yoga Sutras apresenta um ensinamento para iniciados, que j tinham
domnio sobre as tcnicas fsicas.
Os principais textos sobre o Hatha-yoga so o Hatha Yoga Pradpik, o e o
Shiva Samhit e so neles que encontramos as primeiras descries sobre
asanas. O Hatha Yoga Pradpik foi escrito durante o sculo XIV e descreve 16
posturas . O Gheranda Samhit um manual do sculo XVII que se baseou no
Hatha Yoga Pradpik e apresenta 32 posturas. O Shiva Samhit do sculo
XVIII e o que apresenta o maior nmero de posturas, 84. Alm de
apresentarem diferentes asanas, esses textos apresentam tcnicas de controle
do alento (pranayamas), tcnicas de purificao, entre outras. No podemos
afirmar que as datas desses textos correspondem a data de criao do Hatha-
yoga. Pela tradio indiana, o conhecimento era transmitido de mestre para
discpulo oralmente e da, podemos deduzir que essas prticas eram bem mais
antigas que os textos a seu respeito.
O Yoga no Ocidente
O Yoga chegou ao Ocidente a partir da presena de portugueses e ingleses na
ndia, que traduziram para seus idiomas textos tradicionais. A primeira traduo
em ingls do Bhagavad Gita de 1785. Em 1893, Swami Vivekananda vai para
os Estados Unidos para uma palestra no Primeiro Parlamento de Religies do
Mundo, onde fala sobre o Raja Yoga. Depois disso palestrou durante dois anos
em diferentes cidades da Europa.
Yogananda foi outra figura importante na disseminao do Yoga na Amrica.
Em 1920, ele foi convidado a representar a ndia em um Congresso , realizado
em Boston. Sua conferncia nesse Congresso e subseqentes palestras na
Costa Leste dos Estados Unidos foram entusiasticamente acolhidas, e em
1924 ele partiu para uma turn de conferncias atravs do continente. Durante
as trs dcadas seguintes, Paramahansa Yogananda contribuiu de maneira
profunda no sentido de criar no Ocidente uma percepo e uma apreciao
mais aguda da sabedoria espiritual do Oriente. Em Los Angeles ele
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estabeleceu a Sede Internacional da Self-Realization Fellowship, uma
instituio fundada por ele em 1920.
Essas primeiras aproximaes do Ocidente com o yoga estavam relacionadas
diretamente ao Vedanta e ao Raja Yoga, prticas com enfoque na meditao.
Os asanas ganharam maior proeminncia no Ocidente a partir do sculo XX,
quando se passou a olhar mais seriamente para os benefcios fsicos da
prtica. Na ndia, Paramahansa Madhavadasaji encorajou cientistas e mdicos
locais a explorar os aspectos fisiolgicos da prtica de asanas. Um de seus
estudantes, Kuvalayananda fundou o primeiro instituto voltado a essa
explorao, o Kaivalyadhama Ashram and Research Institute. Alm de
Kuvalayananda, que explorou os benefcios fsicos e psicolgicos da prtica do
yoga, dois outros mestres indianos, Swami Sivananda,de Rishikesh e T.
Krishnamacharya, de Mysore, colaboraram para essa disseminao,
expandindo o repertrio do Hatha-yoga (com um variado sistema de asanas e
tcnicas de pranayama) e apresentando-o tambm s mulheres. Grande parte
das escolas de Hatha-yoga presente hoje no Ocidente tiveram influncia no
trabalho desenvolvido por esses homens. O trabalho de Krishnamacharya
comeou por volta de 1930, quando recebeu um financiamento do maraj de
Mysore para dar aulas e disseminar o conhecimento sobre o yoga entre jovens
estudantes. Dois de seus alunos se destacaram e desenvolveram um estilo
prprio de yoga, hoje bastante difundidos no Ocidente. Pattabhi Jois
desenvolveu o ashtanga vinyasa yoga, uma prtica de Hatha-yoga que trabalha
com o sistema de vinyasa, que sincroniza respirao e movimento. B.K.S.
Iyengar criou uma escola conhecida pela nfase dada ao alinhamento postural
e utilizao de acessrios de apoio para a realizao dos asanas e que hoje
conhecida como Iyengar Yoga.
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O que o yoga? Para entender o que o yoga, vale a pena comear entendendo o que o yoga
no . Marcos Rojo (2003) comenta:
Infelizmente, por ignorncia ou apelo comercial, o Yoga
chegou ao Ocidente trazendo na bagagem conceitos que
no necessariamente pertencem ao seu universo. Por
parte de quem fala ou preconceito de quem escuta, j foi
confundido com faquirismos, autoflagelao, religio,
ginstica e prtica misteriosa para fanticos e iniciados
no esoterismo... (ROJO, 2003 pg.50)
Como vimos anteriormente, existem diferentes linhas e escolas de yoga,
entretanto todas elas buscam o mesmo objetivo. E que objetivo esse? A
palavra yoga vem da raiz snscrita yuj, que significar unir, juntar. Yoga significa
unio, integrao, unio do ser individual com o Ser absoluto, atemporal. O
yoga busca alcanar o conhecimento de si-mesmo, o conhecimento do atman,
do deus que habita dentro de ns mesmos.
O Yoga Sutras de Patanjali
No tratado de Patanjali yoga significa tanto o objetivo (unio) como o mtodo
que leva a esse objetivo. Yoga a supresso dos movimentos da conscincia,
aquietar sua mente. Somente silenciando a mente que poderemos remover
o sofrimento que vem do mundo fenomnico e encontrar a felicidade suprema.
Somente com a mente calma, poderemos nos encontrar com a nossa real
natureza. Para lidar com o sofrimento e alcanar esse objetivo, o Yoga Sutras
prope uma estratgia de oito passos ou oito partes, o Ashtanga Yoga
(ashta=oito, anga=membro).Quando falamos em passos, nossa tendncia
pensar linearmente. No caso do Ashtanga, o melhor seria pensar numa
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imagem em espiral em que a cada volta se percorre os vrios passos e esses
vo novamente se repetindo at que se chegue ao centro.
Os oito passos que compem o sistema de Patajali so:
1. Yamas 2. Niyamas 3. Asanas 4. Pranayama 5. Pratyahara 6. Dharana 7. Dhyana 8. Samadhi
Iyengar (2001a) compara os oito passos descritos no Yoga Sutras a uma
rvore. Os yamas e niyamas so as razes e os troncos, o que d base a essa
rvore, os alicerces da prtica.
Os yamas e niyamas so comumente interpretados como princpios ticos que
guiam nossos relacionamentos com os outros e com ns mesmos. Ainda que
possam conduzir a uma conduta tica, o objetivo maior da prtica dos yamas e
niyamas o de aquietar a mente. Os yamas e niyamas no foram definidos no
Yoga Sutras como princpios ticos para a conduta social, mas sim para a
conduta pessoal. Eles no implicam em sermos bons ou maus, mas nos
mostram como nossos atos trazem implicaes para ns mesmos.
1- Yamas
A palavra yama pode ser traduzida por refreamento e vem do verbo yam, que
significa refrear, restringir. Os yamas so: ahimsa, satya, asteya, brahmacharya
e aparigraha.
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AHIMSA no-violncia
Tornou-se mote da campanha nacionalista de Gandhi, quando ento se tornou
um conceito bastante conhecido no mundo contemporneo, inspirando
igualmente Martin Luther King. Swami Kuvalayananda (1963) v ahimsa no
apenas do ponto-de-vista fsico, mas da sua presena em pensamentos. A
violncia nos pensamentos pode ser pior do que a violncia em si, quando
praticada sem a inteno e sem ressentimentos. o caso, por exemplo, de um
cientista que utiliza animais em experincias, um aougueiro que mata
exercendo sua profisso, mas sem o desejo de matar.
A no-violncia no se aplica apenas aos outros, mas tambm na relao que
temos com ns mesmos. Se algum nos bate no estmago e ficamos sem ar,
fcil reconhecer essa situao como violenta. Por outro lado, difcil
reconhecer um comportamento como violento quando provocamos em ns
mesmos sensaes prejudiciais atravs de pensamentos e aes.
interessante observar tambm que quando agimos de forma violenta em
relao a algum, primeiro ferimos a ns mesmos. Quando voc est com
raiva, quem sofre? Voc sofre. Seus batimentos cardacos aumentam e sua
respirao se altera.
SATYA - veracidade
Satya implica em ser verdadeiro nos pensamentos, sentimentos, palavras e
aes. Taimni (2001) comenta que a mentira cria uma espcie de tenso
mental e emocional que nos impede de harmonizar e tranqilizar nossa mente.
ASTEYA no-roubar
O professor indiano Aadil Palkhivala (fonte: artigo publicado na Revista Yoga
Journal ver bibliografia) comenta que asteya no significa apenas no-
roubar, mas desenraizar crenas subconscientes ligadas a falta e carncia,
que causam cobia e a necessidade constante de acumular coisas.
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BRAHMACHARYA moderao dos sentidos
Tradicionalmente, brahmacharya traduzido como celibato. O termo
brahmacharya significa literalmente o que caminha com brahman. Gulmini
(2002) explica:
Esse termo era utilizado para designar o estudante
bramnico durante o perodo em que aprendia os Veda
aos ps de um mestre. Como a castidade era exigncia
disciplinar, brahmacharya tornou-se sinnimo de
continncia dos impulsos sensoriais, sobretudo o sexual
(lembremos que o sistema de Yoga de Patanjali de
cunho totalmente asctico). (GULMINI, 2002 pg. 268)
Iyengar (1979) argumenta que a maioria dos yoguis e sbios da antiga ndia
eram casados e que brahmacharya no significa uma austeridade forada.
Para ele, aquele que pratica brahmacharya o que v o sagrado em todas as
coisas.
Brahmacharya tambm pode ser visto como moderao dos sentidos. Quando
os sentidos esto esparramados, estamos fora de nosso centro. A busca
incessante pelo prazer (no apenas sexual) nas coisas que esto fora de ns,
nos afasta de encontrar nossa prpria essncia. Praticar brahmacharya no
significa nos abster do prazer ou deixar de buscar o prazer no que fazemos,
mas no sofrer na busca pela repetio do prazer.
APARIGRAHA no-possessividade
A prtica de aparigraha no significa que devamos banir nossos desejos e
aspiraes e nos livrarmos de todas as nossas posses para crescer
espiritualmente. No nosso mundo de hoje, inundado pela publicidade, a idia
de desejar mais e mais e de criar necessidades desnecessrias e a
compulsividade ao consumo so bastante visveis. Eu preciso comprar ...,
No posso ficar sem isso... A conscientizao de aparigraha nos liberta do
hbito de nos identificar com as coisas que nos rodeiam para nos
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aproximarmos da nossa prpria essncia. Dependemos de certas posses
materiais para viver (roupas, comida, casa), mas no devemos viver apenas
para manter essas posses.
2- Niyamas
Os niyamas so observncias que o yoguin deve seguir. So eles: saucha,
santosha, tapas, svadhyaya e isvara pranidhana.
SAUCHA - pureza
Saucha est associada idia de pureza, tanto externamente como
internamente, o que comemos, o que vemos, o que ouvimos e o que
pensamos. Na traduo de Gulmini (2002) temos: Da purificao surge a
repugnncia pelo prprio corpo e o no-contato com os outros. Uma traduo
praticamente igual a essa feita por Taimni (2001). Considerando o aspecto
asctico do Yoga Sutras, o corpo visto como algo sujo e preciso desapegar-
se dele para nos tornarmos sensveis e vermos as coisas como elas realmente
so.
J na viso de algumas escolas de Hatha-yoga, isso visto de forma distinta.
Iyengar (1998) esclarece que, ainda que o corpo se deteriore, o praticante no
deve v-lo com averso, mas deve mant-lo limpo e purificado como gratido a
sua prpria essncia (purusa). Atravs de saucha, o corpo o instrumento do
yoguin na busca do conhecimento espiritual.
SANTOSHA - contentamento
Taimni (2001, pg. 197) comenta: A principal causa da nossa constante
infelicidade a perptua conturbao da mente causada por todo tipo de
desejos. [...] Uma mente calma est apta a refletir em si mesma, a bem-
aventurana, inerente a nossa verdadeira natureza divina.
Marcos Rojo (2003, pg.58) d uma boa explicao sobre Santosha: ...
contentamento dar valor para o que j se tem, e no ficar olhando o que est
faltando. Ele explica ainda o contentamento com a seguinte frmula:
13
Contentamento = Aquisies / Expectativas. Ou seja, se sempre tivermos
mais expectativas que aquisies, o contentamento nunca vai ser igual a um.
Isso no significa que no devemos ter expectativas e desejar novas coisas.
Estudamos, esperando passar na prova; viajamos, esperando nos divertir...
Boa parte do que fazemos tem uma expectativa futura. O problema
apoiarmos totalmente nossa felicidade na realizao dessas expectativas. Se
no encontrarmos contentamento no que temos hoje, estaremos numa busca
incessante pela felicidade que nunca ser alcanada, j que sempre haver
novos desejos.
TAPAS - determinao
Tapas vem da raiz tap, que significa queimar, calor. Citando Taimni (2001,
pg.181): O significado da palavra deriva, provavelmente do processo de
submeter-se o ouro impuro a um forte calor, atravs do qual todas as
impurezas so queimadas, permanecendo somente o ouro puro.
Tapas combina em si o significado de diversas palavras: autodisciplina,
purificao, determinao e se refere ao esforo para se alcanar um
determinado objetivo.
SVADHYAYA auto-reflexo
Svadhyaya muitas vezes traduzido como leitura dos textos sagrados. O
significado por trs de svadhyaya parece ir bem alm disso, e alguns autores o
traduzem por auto-estudo, auto-reflexo. Svadhyaya est associado idia de
interiorizao, de autoconhecimento e busca por aquilo que realmente somos.
Fazer uso das nossas atividades como espelho para descobrir mais sobre ns
mesmos, seja a prtica de asanas ou nosso relacionamento com os outros e
ns mesmos, uma forma de se praticar svadhyaya.
ISVARA PRANIDHANA - entrega
Isvara Pranidhana interpretado como consagrao ao Senhor, e pode ser
visto como ato de entrega, no necessariamente a Deus, mas a algo maior que
si mesmo. Isso significa fazer o melhor que podemos, sabendo que o resultado
final no est em nossas mos.
14
Isvara Pranidhana se aproxima muito do conceito de f exposto por Lowen
(1983):
A f uma qualidade do ser: de estar em contato
consigo mesmo, com a vida e com o universo. uma
sensao de pertencer a uma comunidade, a um pas e
Terra. Acima de tudo a sensao de estar assentado
no prprio corpo, na prpria humanidade e na sua prpria
natureza animal. Ela pode ser todas essas coisas porque
uma manifestao da vida, uma expresso da fora
vital que une todos os seres.
(LOWEN, 1983 pg.151/152)
3. Asanas
Asanas so posturas psicofsicas que conferem estabilidade ao corpo e, assim
como os passos anteriores (yama e niyama), tm o propsito de acalmar as
inquietaes da mente.
No Yoga Sutras, o primeiro aforismo que aborda o asana (sutra II-47)
comumente traduzido como: o asana deve ser estvel e confortvel. Swami
Kuvalayananda (1963, pg. 26) afirma: asana aquilo que contribui para a
estabilidade e para a sensao de bem-estar. De acordo com ele, esse
aforismo traduzido erroneamente por o asana estvel e confortvel , o que
pode se fazer pensar que para praticar asanas, basta adotar uma postura fcil
de realizar e manter. Ele comenta que o Hatha Yoga Pradipika, no aforismo I-
17 faz a mesma colocao, ao definir asana como aquilo que contribui para
estabilidade, sade e flexibilidade.
Em relao a isso, Iyengar (1998) comenta que Patanjali descreve nesse sutra
o asana em sua perfeio. No se pode dizer que uma postura um asana,
apenas por ser confortvel. Disciplina e ateno devem ser aplicadas na
prtica de cada asana, que deve ser executada com firmeza e estabilidade.
15
Atravs do asana o yogi busca a inteligncia e a conscincia que est
escondida em seu corpo, e a partir da que poder acessar sua prpria
essncia. Segundo ele, a perfeio no asana alcanada quando o corpo,
mantendo-se firme e estvel, cessa qualquer tipo de esforo, e assim, funde-se
com sua essncia. Quando o praticante alcana esse estado de equilbrio,
ateno e relaxamento se fazem presentes simultaneamente, e o praticante
ento no pode mais ser atingido por dualidades como prazer e dor. O efeito
do asana pr fim s diferenciaes entre corpo e mente, mente e alma.
Quando corpo, mente e alma esto unidos em uma postura perfeita, o
praticante alcana o estado de felicidade suprema.
Segundo Swami Satyananda Saraswati (2002) o aforismo de Patanjali que
define o asana interpretado como uma postura estvel e confortvel. Ele
comenta que no contexto do Yoga Sutras o asana deve ser praticado para
desenvolver a capacidade de se sentar confortvel numa posio por um longo
tempo, como necessrio para a meditao. Ele comenta que no Raja Yoga,
asana se refere a uma posio sentada, enquanto que no hatha yoga isso
significa algo mais. Asanas so posies especficas do corpo que abrem os
canais de energia e centros psquicos. Eles so ferramentas para aumentar
nossa conscincia e para promover uma base estvel para a explorao de
nosso corpo, respirao e mente. Saraswati (ibid.) afirma:
A mente e o corpo no so entidades separadas, ainda
que haja uma tendncia para pensarmos e agirmos como
se fossem. [...] A prtica de asanas integra e harmoniza
corpo e mente. Tanto o corpo como a mente permitem o
desenvolvimento de tenses e ns.[...] O objetivo do
asana aliviar esses ns. Os asanas aliviam as tenses
mentais , lidando com elas no nvel fsico, atuando
somtica e psicologicamente atravs do corpo e da
mente. Por exemplo, tenses emocionais podem
bloquear o funcionamento normal dos pulmes, do
diafragma e prejudicar o processo respiratrio.
(SARASWATI, 2002 pg. 11)
16
O trabalho com o corpo nos faz despertar para experincias mais sutis. Como
afirma Rojo (2003):
fcil perceber no corpo as modificaes provocadas
por uma alterao emocional. Algum tenso logo
apresenta ombros suspensos e rgidos com alterao no
tnus muscular. Algum deprimido pode apresentar uma
postura de flexo ou inclinao da cabea para frente. A
idia do yoga seguir o caminho do fsico para o mental,
interferir onde as emoes interferem;ou seja,
primeiramente no tnus muscular, na postura, e
posteriormente na respirao. (ROJO, 2003 pg.61)
Pedro Kupfer (extrado do artigo Asana: pensando com o corpo - ver
bibliografia) tambm faz uma colocao interessante sobre o papel dos asanas
dentro do caminho do yoga: O Yoga quer dar um corpo novo ao praticante,
que ele mesmo ir construir, clula por clula, fibra por fibra. Usando esse novo
corpo como instrumento, ele poder avanar a passos largos em direo
meta do Yoga. De acordo com ele, a construo desse novo corpo possibilita
ao praticante perder a identificao com o antigo corpo, vinculado couraas
de tenso muscular e samskaras , impresses mentais subconscientes.
4. Pranayama
Segundo Pedro Kupfer:
A palavra pranayama deriva de dois termos snscritos:
prana , que significa alento, fora vital, respirao,
energia, vitalidade e ayama, expresso que, segundo o
Amarakosha , significa extenso, intensidade,
propagao, dimenso. Prnyma, ento, o processo
atravs do qual se expande e intensifica o fluxo da
energia no interior do corpo. Em outra acepo, esta
17
palavra estaria formada pelos vocbulos prna,
designando a energia vital e yama, que significa controle,
domnio, reteno, pausa. Donde, pode traduzir-se
tambm como domnio da bioenergia, utilizando tcnicas
respiratrias. (extrado do artigo: Fora vital, respirao
e conscincia ver bibliografia)
A vida est intimamente ligada respirao. Podemos passar alguns dias sem
nos alimentar, mas no muito tempo sem respirar. Respirar bem, significa viver
melhor. Os pranayamas melhoram as funes respiratrias em geral, mas
formam tambm um dos mais importantes canais de acesso para as emoes.
A respirao a primeira funo fisiolgica que se altera quando mudamos
nosso comportamento. Todos os estados emocionais afetam a respirao.
Kupfer comenta que cada estado emocional corresponde a um ritmo
respiratrio. Uma respirao profunda e ritmada demonstra satisfao,
segurana e serenidade, enquanto que respirao curta e rpida denota
ansiedade, insegurana ou medo. Aprendendo a manipular o ritmo respiratrio
conseguimos modificar e sutilizar as emoes, o que interfere diretamente em
nossa qualidade de vida.
A atividade da mente e da respirao andam de mos dadas. Quando a
respirao est agitada, a mente acompanha sua velocidade. Os pranayamas,
assim como os trs primeiros passos descritos por Patanjali nos ajudam a
controlar e acalmar nossa mente.
5. Pratyahara
Pratyahara a retrao dos sentidos, com o intuito de centrar-se em si mesmo.
Constantemente somos bombardeados por imagens, sons e sensaes, que
nos arrastam para a experincia externa e agitam a mente. Pratyahara induz a
um estado de relaxamento profundo e consciente, preparatrio para a
18
meditao, a partir do momento em que nos desvinculamos dos estmulos
vindos do mundo exterior. Como menciona Michael (1975):
Liberar-se da sujeio dos sentidos de importncia
primordial para o yogin, pois so os poderosos impulsos
dos sentidos que constantemente agitam e submergem o
esprito. O indivduo no pode absorver-se na
conscincia pacificada do Eu, enquanto no tiver
dominado a influncia dispersiva dos sentidos.
(MICHAEL, 1975 pg.90)
6. Dharana
Dharana traduzido como concentrao. A palavra concentrao muitas
vezes tomada com um sentido diferente em nosso dia-a-dia. importante no
confundir a concentrao intelectual com a concentrao yguica, que diferem
em seus propsitos e na maneira como so conduzidas. Na concentrao
intelectual canalizamos nossa ateno numa determinada direo e a partir de
uma idia vamos desenvolvendo outras idias. Na concentrao yguica, voc
comea com vrios pensamentos e vai aos poucos diminuindo, focalizando sua
ateno em uma nica idia. Dharana portanto, a ateno em um nico
ponto, uma concentrao que pode ter como apoio um objeto para observao,
como por exemplo, um smbolo, uma imagem ou um som especfico.
7. Dhyana
Dhyana traduzido como meditao. Quando, em Dharana, a ateno chega a
seu pice, transforma-se em concentrao extrema, ou Dhyana. Enquanto em
Dharana, a concentrao em um nico ponto s atingida por alguns
instantes, em Dhyana a concentrao se torna prolongada e ininterrupta.
Michael (1975) esclarece:
Quando o controle sobre a ateno se consolida, os
inumerveis pensamentos e distraes que intervinham e
se imiscuam no esprito, frustrando-o em sua
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concentrao, diminuem de freqncia e importncia, e a
partir da a lucidez do yogin se intensifica, eliminando
toda sonolncia, dissipando toda bruma mental, toda
sombra, toda reserva, e revelando o objeto numa
claridade direta e fixa. A meditao conduz ao Samadhi.
(MICHAEL, 1975, pg.94)
8. Samadhi
Segundo o Yoga Sutras (apud MICHAEL, 1975, pg.94), Quando s o objeto
meditado resplandece na conscincia, que aparece esvaziada de sua prpria
forma, tem-se o Samadhi. Nesse momento, o objeto de observao e o
observador se fundem em pura conscincia, tornando-se um s. A dualidade
entre sujeito e objeto abolida. Samadhi a liberao, o estado de iluminao,
em que o contemplador se absorve na conscincia universal.
Como mencionamos anteriormente, para Patanjali, yoga tanto o meio como o
fim. Vyasa (apud MICHAEL, 1975, pg. 95) afirma o Yoga deve ser conhecido
por meio do Yoga, o prprio Yoga conduz ao Yoga. Aquele que se aplica sem
descanso ao Yoga, no final encontra no Yoga uma alegria permanente.
Samadhi o objetivo ltimo do yogin. Em Samadhi ele deixa sua conscincia
individual ento capaz de entrar na essncia de seu ser, estando assim
liberado de todo o sofrimento.
20
Hatha-yoga
O Hatha-yoga se coloca como complemento ao Yoga Sutras de Patanjali e
como meio para alcan-lo. A afirmao da Hatha Yoga Pradipika (SOUTO,
2000 pg.35) confirma isso: Sado o Todo-poderoso senhor Shiva (Adinatha),
que ensinou o conhecimento do Hatha Yoga. Este conhecimento como uma
escada, para o praticante que procura alcanar o elevado Raja Yoga em sua
busca espiritual.
Hatha significa em snscrito fora, violncia. A interpretao do Hatha-yoga
como yoga da fora vai de encontro ao enfoque dado ao corpo e idia de se
partir do mais grosseiro para o mais sutil na busca pela transcendncia. Outra
interpretao de que o Hatha-yoga a unificao do sol (ha) com a lua (tha).
O sol, nesse caso corresponde energia masculina e a lua energia feminina,
que circulam em nosso corpo atravs de canais de energia denominados nadis.
Esses canais podem chegar a 72 mil, segundo alguns textos. Devesa (2003,
pg. 112) comenta:
Apesar de vrios autores modernos buscarem uma relao entre canais e
anlogos no corpo denso (nervos, artrias e veias), no existe qualquer relao
entre canais de energia sutil e regies anatomicamente definidas do corpo
fsico.
A energia vital ou prana entra em ns a partir da respirao atravs de dois
nadis importantes, ida e pingala, que partem respectivamente das narinas
esquerda e direita. Ida representa a energia feminina e pingala a energia
masculina. Um dos mais importantes canais de energia o sushuma nadi, uma
canal central que corre no interior do eixo cerebroespinhal. Ao longo do trajeto
de sushuma encontramos cruzamentos de canais sutis que, em alguns pontos
se entrecruzam , dando origem a um turbilho circular de energia, denominado
chakra. No sushuma nadi se encontra adormecida a kundalini, energia
criadora, que ao ascender atravs dos chakras e alcanar o topo da cabea,
leva ao Samadhi. A kundalini se representa simbolicamente como uma
21
serpente, enroscada na base da coluna. O objetivo do Hatha-yoga fazer
despertar a serpente e ascend-la atravs de sushuma nadi.
Apresentamos a seguir uma breve descrio dos sete principais chakras:
1) Muladhara, que significa fundao, a base raiz. Localiza- na regio entre o nus e os genitais, na base da espinha dorsal. Est relacionado s
necessidades bsicas do indivduo, como alimentao, sono, sexo, etc; e a
sensao de estabilidade e firmeza tanto no plano fsico como psicolgico.
2) Svadhisthana, que significa lugar ou morada do ser. Localiza-se no baixo ventre e na cintura plvica no nvel dos rgos genitais, atuando sobre eles e
sobre o sistema urinrio. Est relacionando a funo sexual e a experincia de
aproximao com o outro.
3) Manipura, que significa "cidade das gemas" ou "cidade da jia resplandecente". Localiza-se no plexo solar, na regio do umbigo,
compreendendo todo o sistema digestivo. Est associado a expansividade e
sociabilidade e as sensaes de prazer e dor.
4) Anahata, que significa no golpeado, no tocado. Localiza-se no plexo cardaco, na regio do corao e relaciona-se com as funes afetivas.
5) Vishuddha, que significa purificao. Compreende todas as estruturas da boca, pescoo e garganta. Est associado a expressividade, criatividade e fala.
6) Ajna, que significa autoridade, comando, poder ilimitado. Localiza-se um pouco acima das sobrancelhas e entre elas e compreende os olhos, ouvidos e
nariz. Relaciona-se a capacidade de visualizar e compreender conceitos em
um nvel que vai alem do racional e ao despertar da intuio.
7) Sahashara, que significa o de mil ptalas. Localiza-se no topo da cabea. Este chakra relaciona-se com dimenso transcendente da vida. Quando a
22
kundalini ascende a sahashara que se d o Samadhi, o estado de comunho
com todas as coisas.
De acordo com Swami Satyananda Saraswati (2002) a prtica dos asanas no
apenas fortalece o corpo, mas ativa e desperta os centros responsveis pela
evoluo da conscincia, estimulando os chakras e distribuindo a energia
gerada pela kundalini por todo o corpo. Para ele, o objetivo principal do Hatha-
yoga balancear o fluxo entre ida e pingala. Quando ida e pingala se
equilibram e a mente controlada, ento, sushuma, que o nadi mais
importante, comea a fluir. Quando sushuma flui, a kundalini desperta e
ascende sobre os chakras.
Pedro Kupfer comenta que o trabalho do Hatha-yoga um longo caminho
atravs de aes purificatrias, fsicas e psquicas, que visam limpar o espelho
da alma para que ela possa refletir sua verdadeira face. Esse trabalho inclui a
prtica dos yamas e niyamas, o uso do corpo atravs dos asanas, a purificao
da energia vital atravs dos pranayamas e a purificao do psiquismo atravs
da meditao . (Extrado do artigo O corpo o templo da divindade ver
bibliografia)
Concluindo, o Hatha-yoga um caminho, que, tendo o corpo como ponto de
partida, busca o aperfeioamento nas dimenses sutil, emocional, mental e
psquica para a realizao do objetivo final de todas as forma de yoga, a
libertao da ignorncia e a integrao com brahman, essncia de todas as
coisas.
23
PSICOTERAPIA CORPORAL E OUTRAS ESCOLAS DO OCIDENTE
A psicoterapia corporal ou somtica tem suas razes nos trabalhos
desenvolvidos por Wilhelm Reich (1897- 1957), depois de seu afastamento do
movimento psicanaltico. Reich foi aluno e colaborador de Freud e em seu
trabalho como psicanalista comeou a observar que muitos de seus pacientes
no progrediam dentro do tratamento psicanaltico. Reich percebeu que muitos
deles resistiam ao tratamento, ainda que de forma inconsciente, e que essa
resistncia, era muitas vezes, expressa no prprio corpo do paciente, sob a
forma de tenses. Comea ento a dedicar-se a um mtodo prprio de trabalho
que buscava integrar mente e corpo. Para Reich, o corpo contm a histria de
cada indivduo e atravs dele que podemos resgatar as emoes mais
profundas e restabelecer a mobilidade biopsquica, flexibilizando e rompendo
couraas e armaduras emocionais que funcionam como mecanismos de
defesa.
A psicoterapia corporal se divide hoje em uma srie de vertentes, que trabalham
com a idia da interao entre os aspectos fisiolgicos e orgnicos e os
processos emocionais, afetivos e psquicos. Nesse trabalho abordaremos em
particular, a anlise bioenergtica de Alexander Lowen e a psicologia formativa
de Stanley Keleman. Saindo do campo da psicologia corporal, mas explorando a
mesma idia de corpo e mente integrados, est o trabalho realizado por Ida Rolf,
que tambm analisaremos aqui.
24
A ANLISE BIOENERGTICA
A anlise bioenergtica foi sistematizada por Alexander Lowen e John Pierrakos,
a partir do trabalho de Reich, de quem Lowen foi aluno. Ainda que adotando uma
abordagem teraputica distinta da de Reich, Lowen foi fortemente influenciando
por ele. Reich observou em seu trabalho na clnica psicanaltica que as
resistncias apresentadas por seus pacientes no se manifestavam somente
atravs da fala, mas em gestos, na maneira de falar, na maneira de andar, etc.
Essas resistncias tambm estavam relacionadas musculatura corporal,
atravs de tenses que limitavam o movimento e a respirao, e que Reich
denominou couraa muscular. Lowen comenta sobre isso (1977):
A formulao de Reich a respeito da identidade funcional
entre a tenso muscular e o bloqueio emocional foi um
dos grandes insights desenvolvidos no curso de terapia
analtica de problemas emocionais. Abriu a porta para um
novo campo de investigao analtica e Reich foi o
primeiro a explorar suas possibilidades. (LOWEN, 1977
pg. 30)
Para Reich a expresso corporal a perspectiva somtica da expresso
emocional, que vista no nvel psquico como carter. Ele elaborou o
conceito de que o carter e a atitude muscular eram funcionalmente idnticos e
serviam a mesma funo energtica. Assim, no era necessrio depender
apenas de sonhos ou da tcnica de associao livre para chegar at os
impulsos inconscientes e suas resistncias. Os trabalhos realizados a partir
dessas formulaes levaram ao uso da respirao no procedimento
teraputico. Em relao a isso Lowen (1977) observa:
A anlise do nvel somtico havia revelado que os
pacientes prendiam sua respirao e chupavam a barriga
25
a fim de suprimir ansiedade e outras sensaes... Em
situaes que so vividas como amedrontadoras ou
dolorosas, prende-se a respirao, contrai-se o diafragma
e enrijece-se os msculos abdominais. A descarga da
tenso resulta em suspiro. Se este padro se torna
crnico, o peito est sempre numa postura de inspirao
do ar, a respirao baixa e o estmago duro. (LOWEN,
1977, pg. 31)
Lowen partiu do conceito de couraa muscular de Reich para o desenvolvimento
de seu prprio trabalho, que se baseava no seguinte questionamento: Se
estrutura corporal e temperamento esto relacionados, possvel modificar o
carter de um indivduo sem uma alterao de sua estrutura corporal e de sua
mobilidade funcional? Ao mudar a estrutura e aprimorar sua mobilidade, no
poderamos efetuar as modificaes no temperamento, desejadas pelo
paciente? Como define o prprio Lowen (1977, pg. 16), o terapeuta bioenergtico analisa
no apenas o problema psicolgico do paciente como o faria qualquer analista,
mas tambm a expresso fsica do problema, na medida em que manifesto em
sua estrutura corporal e movimento.
A tcnica envolve a leitura do corpo, da expressividade de seus movimentos,
procurando analisar e elaborar o significado das tenses musculares crnicas e
uma tentativa sistemtica de liber-las.
Para Lowen (1977, pg. 13/14) , a psicanlise apresenta uma precariedade em
sua tcnica, ao no considerar o corpo diante dos conflitos psquicos e
emocionais. A palavras e as idias so insuficientes para promover a
transformao necessria, limitando-se muitas vezes um autoconhecimento
intelectual. A anlise bioenergtica se prope a conjugar o trabalho corporal que
busca propiciar um contato maior com o prprio corpo, sensaes e sentimentos;
com o processo analtico, que tenta elaborar estes contedos, tendo como
26
referncia a histria do indivduo.
A bioenergtica trabalha com a hiptese de que h uma energia fundamental
no ser-humano. Os processos psquicos e somticos so determinados pela
operao dessa energia, que Lowen denomina bioenergia. A anlise
bioenergtica ajuda a pessoa a compreender seus problemas emocionais, a
natureza e a origem dos conflitos internos e trabalha para liberar os padres de
tenso muscular. A tese fundamental da bioenergtica de que o acontece
com a mente se reflete no corpo e vice-versa.
Lowen desenvolveu posies e exerccios que propiciam um maior contato com o
corpo e sua vitalidade. Veio da o conceito de grounding, que tornou-se uma
caracterstica da abordagem bioenergtica: a vitalidade das pernas, a respirao
profunda, a sensao de proximidade com o solo; o contato com a realidade,com
o seu corpo e sua sexualidade.
Lowen (1977) coloca que o problema da segurana emocional no pode ser
separado em uma pessoa, da questo da segurana fsica do seu andar. Ainda
que o problema possa ser resolvido ao nvel verbal, desaparece mais rpida e
completamente em uma terapia que combine a anlise com um trabalho direto do
distrbio fsico. A terapia bioenergtica tem como objetivo fazer com que o
paciente trave contato com seus ps e com o cho e, ao mesmo tempo, torn-lo
consciente da relao entre seu problema emocional e sua correspondncia
fsica. Lowen (1983) afirma:
Levar os sentimentos ao ventre para que a pessoa possa
sentir suas entranhas, e s suas pernas para que ela as
sinta como razes mveis, chama-se fundamentar o
indivduo. A pessoa assim assentada sente que tem um
apoio slido no cho e a coragem para se erguer ou
movimentar-se como desejar. (LOWEN, 1983, pg. 39)
Estar fundamentado estar em contato com a realidade, o que em nossa
27
linguagem so sinnimos. Dizemos que uma pessoa realista a aquele que tem
os ps no cho, enquanto que a pessoa que vive em sonhos, est nas nuvens.
Lowen (1983) complementa:
Grounding um conceito bioenergtico e no apenas uma
metfora psicolgica. Quando colocamos um fio terra num
circuito eltrico fornecemos uma sada para a descarga de
sua energia. No ser humano, sua fundamentao tambm
serve para liberar ou descarregar as excitaes do corpo.
A energia em excesso do organismo vivo est
constantemente sendo descarregada atravs da
movimentao ou do aparelho genital. Ambas so funes
da parte inferior do corpo. A parte superior incumbida
principalmente de energizar na forma de comida, oxignio
ou estmulos sensoriais e excitaes. [...] Se a pessoa no
pode se carregar adequadamente, ficar fraca,
descarregada, e mostrar uma falta de vitalidade. Se ela
no puder se descarregar adequadamente ficar suspensa
no ar. (LOWEN, 1983, pg.42)
A funo de descarga est associada ao prazer. O indivduo incapaz de
descarregar um estado de tenso sente dor, ainda que ela no seja consciente.
Ele procura amortecer sua dor, enrijecendo partes do seu corpo e tem medo de
liberar a rigidez, porque essa poder evocar novamente a dor. A pessoa numa
condio como essa, passa a sentir falta de prazer em relao vida, sua
respirao fica restrita, seu apetite e seu interesse pela vida diminuem. Lowen
(1983) diz : [...] qualquer distrbio na fundamentao como a destruio de
algumas das razes que mantm a vida de uma rvore. Destrua as razes e veja
quanto tempo ela se manter ereta e viva.
De acordo com Lowen (1977) , toda conduta teraputica que pretende
fundamentar uma pessoa deve realizar uma liberao significativa de suas
tenses musculares. No podemos evitar a rigidez no corpo que vem com a
28
idade, mas podemos evitar a rigidez que vem de tenses musculares geradas por
conflitos emocionais no resolvidos. Na anlise bioenergtica, a pessoa volta a
ter contato com suas tenses, a fim de que possa perceb-las e se tornar
consciente do seu significado. Que aes esto sendo evitadas
inconscientemente a partir dessa tenso? Como ela age para limitar sentimentos
e sensaes? Que efeito causa no comportamento e nas atitudes?
Lowen (1977) coloca que mesmo o analista freudiano tradicional analisa a
expresso facial de seu paciente, mas so poucos os terapeutas analticos que
analisam a forma e movimento da parte inferior do corpo. O paciente tem uma
postura ereta? O peso das pernas est colocado sobre as pernas ou sobre o
sacro? Como o peso do corpo distribudo nos ps? A postura de uma pessoa,
a maneira com que ela fala e se move nos ajuda a entender melhor quem ela .
De acordo com ele no possvel uma mudana no indivduo, se no h um
trabalho em dois nveis, o somtico e o psquico. No nvel somtico, a
bioenergtica trabalha com o aumento na mobilidade, coordenao e controle, e
no psquico, atua com a reorganizao dos pensamentos e atitudes. Lowen
(1977, pg. 115) afirma: No possvel realizar a terapia bioenergtica sem uma
elaborao das atitudes e comportamentos cotidianos e das foras genticas e
dinmicas que fizeram com que tais atitudes e comportamentos surgissem.
A funo teraputica ajudar o paciente a encontrar seu caminho de auto-amor e
auto-aceitao e desenvolver a f em si mesmo.
29
A PSICOLOGIA FORMATIVA
A psicologia formativa desenvolvida por Stanley Keleman se baseia no fato de
que o corpo de uma pessoa moldado por suas experincias internas e
externas, crescimento, relacionamentos, trabalho, resoluo de problemas, etc.
Sua forma impressa pelas tenses e desafios da existncia e as respostas
que cada um d ao mundo cria sua forma emocional nica. Keleman comenta
que se pudssemos fotografar nossa vida e projet-la quadro por quadro,
perceberamos que somos seqncias mveis de formas emocionais variadas.
Geneticamente recebemos um corpo, mas tambm construmos um corpo a
partir do modo como nos usamos e de nossas experincias.
De acordo com a psicologia formativa no temos um corpo, somos o corpo.
Nosso corpo pulsa e tem experincias. As emoes acontecem atravs dele.
Se choramos, se rimos, se sentimos dor ou prazer, isso sentido em nosso
corpo.
Keleman acredita que no se pode mudar a mente sem mudar o corpo e
enfatiza que seu mtodo se baseia na experincia vivenciada e no na
construo terica de idias. O insight psicolgico importante, mas no cria
por si s, mudana suficiente.
Segundo Keleman (1992), um dos elementos caractersticos de matrias vivas
sua capacidade de se expandir e se contrair, de se alongar e se encurtar,
inchar e encolher. O organismo humano visto como uma bomba pulstil,
composto de uma srie de tubos e camadas. Sobre isso, ele desenvolve alguns
questionamentos:
O que acontece, dentro de ns, quando estamos
emocional e psicologicamente estressados? O que
acontece com nossos tubos? O que acontece com o
relacionamento entre as bolsas de nossos tubos e os
outros tubos que os envolvem? Como nos organizamos
30
para nos proteger? Fuga ou luta, colapso ou rigidez?
(KELEMAN, 1992, pg. 17)
Padres contnuos de estresse emocional podem fazer com que esses tubos e
camadas se tornem rgidos e alongados, inchados, densos e comprimidos ou
frgeis e em colapso. Os perigos internos ou externos mudam nossa forma,
mas apenas temporariamente. Voltamos a um estado normal, quando o perigo
passa. Entretanto, em algumas situaes a reao pode persistir, passando a
fazer parte da nossa estrutura. Essa continuidade de uma resposta temporria
que identificada como estresse. Keleman (1992, pg. 80) afirma: Muitas
pessoas esto sempre em um estado de retesamento moderado contra um
perigo que elas no conseguem articular plenamente.
O estresse perturba os padres de pulsao, diminuindo a amplitude da
pulsao celular e afetando nossos sentimentos, pensamentos e aes.
Podemos nos superexpandir e perder a capacidade de recuar ou o contrrio,
nos encolher e perder a capacidade de expanso. Keleman (1992) comenta:
O organismo lida de duas formas com agresses
contnuas ou cumulativas. Ou resiste ou cede. Resistir
requer que o organismo fique em p, perante o ataque,
para repeli-lo. Ceder requer que o organismo se renda,
aceite a agresso e recue para um nvel inferior de
funcionamento. Ao resistir, o organismo torna-se mais
slido, se enrijece ou se retesa. Ao criar mais forma,
estrutura, limites e solidez, o organismo torna-se
overbound. Ao ceder, o organismo amolece, rende-se,
assemelha-se mais ao lquido. Ao criar menos forma,
menos limite e um estado mais liquefeito, o organismo
torna-se underbound. (KELEMAN, 1992, pg.90)
31
Os msculos desempenham o papel de assegurar o movimento, tanto da
estrutura total do organismo, como tambm de substncias internas. Alm
disso, sustentam a postura e provm informaes sobre auto-identidade e
limites. Keleman (1992) afirma que os msculos reagem instantaneamente
experincia.
Sentimo-nos retesados em situaes tensas ou
experimentamos uma certa agitao no corao, como
medo ou alegria. Os msculos permitem um contato
imediato com a realidade: externamente, pela ao do
esqueleto, e internamente, pelo aumento ou reduo do
batimento cardaco e da atividade do sistema digestivo.
(KELEMAN, 1992, pg. 49)
Ele complementa (1992, pg.72): Um msculo normal, ou contido, elstico,
capaz de expanso ou contrao plenas. O msculo firme, suave, com
flexibilidade e elasticidade.
A figura apresentada a seguir ilustra como se caracterizam diferentes
estruturas musculares:
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Fonte: Anatomia Emocional, pgs. 96 e 97
Os msculos overbound oferecem muita resistncia e so slidos demais.
Podem ser densos ou rgidos, cheios de ns. Msculos rgidos tm dificuldade
para se contrair e os msculos densos para se expandir. J os msculos
underbound criam pouca resistncia. Podem ser inchados, intumescidos como
se estivessem cheios de gordura, liquido ou ar ou frgeis e atrofiados.
Msculos inchados ou frgeis no conseguem prover os limites que ajudam a
gerar presso e o organismo extravasa ou entra em colapso. De acordo com
Keleman numa sensao de bem-estar e tranqilidade , observa-se que o
diafragma e a parede corporal so moles, mas firmes, o peito e o abdmen so
flexveis, podendo se expandir e se contrair. Sob estresse contnuo, o corpo se
33
fixa nas emoes de emergncia, caminhando para a rigidez ou colapso.
Acerca disso Keleman (1992) faz a seguinte considerao:
As emoes expressam um clima interno e se
relacionam com a motilidade e a pulsao. Essa relao
recproca. A pulsao gera emoo e sentimento.
Emoo e sentimento influenciam a pulsao. Pulsao
um bombeamento. Quando o bombeamento
superestimulado, os sentimentos so exaltados e
inflados. Quando o bombeamento restrito, diminuem a
expresso emocional e o sentimento. A raiva e a fria
nos retesam e nos enrijecem, e a pulsao aumenta. A
tristeza e a derrota nos liquefazem e nos amolece, e a
pulsao diminui. A expresso emocional, dessa forma,
afetada pela perpetuao de um padro de estresse.
(KELEMAN, 1992, pg. 105)
As imagens apresentadas a diante seguem uma seqncia que vai do
enrijecimento compactao depois ao inchao e por fim, ao colapso De um
lado, a pessoa torna-se maior, que o caso das estruturas rgida e inchada, e
de outro, torna-se menor, que o que se v nas estruturas densa e em
colapso. Cada um dos tipos apresentados envia uma mensagem emocional ao
mundo. Tanto a rigidez como o inchao so perturbaes da expanso, mas
suas intenes so distintas. A rigidez visa manter o outro afastado e o
inchao, trazer o outro para perto. O mesmo se passa com a densidade e o
colapso, que so perturbaes de compactao. A densidade tem por objetivo
afastar o outro e o colapso serve para trazer o outro para perto.
34
Fonte: Anatomia Emocional, pg. 160
Keleman observa que alguns indivduos trazem caractersticas como as da
imagem, sendo predominantemente rgidos, densos, inchados ou em colapso.
Outros so combinaes desses tipos, assumindo estruturas diferentes nas
partes de cima e de baixo do corpo, ou em diferentes camadas e bolsas.
Keleman (1992, pg. 164) explica: As camadas e bolsas, organizadas para
resistir s agresses contnuas, podem tambm ter camadas e bolsas
compensatrias. [...] Uma cabea superexcitada pode ser uma compensao
para uma pelve subexcitada. Vsceras rgidas podem compensar msculos
fracos.
35
Todas essas estruturas expressam o presente imediato do indivduo, como ele
v o mundo e interage com ele para obter contato e realizao. Para Keleman
no h forma perfeita, tipo ideal ou estrutura melhor do que outra, mas sim uma
forma que funcional para quem a utiliza.
Keleman afirma que muitas vezes nossos problemas persistem porque no
sabemos como organiz-los ou desorganiz-los. Podemos estar excitados,
sem saber o que fazer com isso ou podemos estar com raiva e no conseguir
nos acalmar. Podemos ser incapazes de criar uma experincia satisfatria, o
que leva muitas vezes, ao distresse emocional. Se no entendermos nosso
comportamento somtico e continuamos a nos identificar com velhos padres
no h como mudar nossa histria. Keleman (1995) comenta sobre isso:
Quando as coisas no vo bem emocionalmente,
procuramos motivos ou justificativas biogrficas para
nosso prprio comportamento ou alheio. Os problemas
so analisados em termos de causalidade: Quem
comeou a briga? Quais eram as circunstncias ou o
motivo? Mas algum tambm poderia perguntar: Como
me usei para entrar nessa briga? Usei uma voz exigente
e uma postura agressiva? Endureci para lutar ou me
encolhi rejeitado? As respostas a essas questes
expem a natureza somtica e emocional do
comportamento e revelam como palavras, emoes,
pensamentos e gestos musculares se conectam.
(KELEMAN, 1995, pg. 15)
O procedimento que Keleman prope para descobrir o prprio processo
organizador chama-se metodologia do COMO. O primeiro passo na
metodologia identificar e experimentar como se realiza uma determinada
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atividade. Ele torna explcito o seu modo de se usar em determinada situao,
ajudando a tornar consciente seus padres de sensao.
A metodologia do COMO envolve 05 estgios:
1. O primeiro estgio a percepo de como se est, o que est acontecendo,
qual seu padro postural , qual sua imagem na situao presente . Aqui
observamos como lidamos com um problema, com um conflito interno e como
corporificamos essa experincia.
2. No segundo estgio observa-se como se cria essa imagem e como ela
perpetuada muscularmente. Essa percepo acontece intensificando
muscularmente e em pequenos passos a organizao.
3. No terceiro estgio o objetivo desfazer, passo a passo, a organizao
observada no estgio anterior. Como acabo com esse modo de me
corporificar? Utiliza-se aqui o exerccio da sanfona. Intensifica-se ao mximo
um padro de tenso e ento volta-se atrs, afrouxando e relaxando, at
experimentar a sensao de alongamento muscular. Keleman (1995, pg. 28)
sugere: Se voc percebe sua barriga contrada, pode usar a prpria sensao
de contrao para desfaz-la. Contraia com fora, menos, mais, menos, at ter
a sensao de poder deixar o abdmen descer.
4. O quarto estgio um momento de pausa e reorganizao, de receber e
perceber as respostas somtico-emocionais que emergem.
5. O quinto estgio o incio de uma nova organizao, ou a repetio da antiga
referncia. Como uso o que aprendi? Nesse ponto h a escolha. Posso
esquecer o que acabo de experimentar e continuar com o modo anterior ou
posso usar o que acabo de aprender e formar uma nova resposta.
A metodologia do COMO para Keleman a ferramenta para se explorar o
processo pessoal. Keleman (1995, pg. 27) diz : Em vez de se remoer, se
questionar, procurar as faltas, se culpar, use o COMO para deixar que sua forma
lhe fale, ensinando como uma resposta a um evento externo se configura de
dentro para fora.
Quando nos perguntam: como voc quando est com raiva? Na maioria das
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vezes respondemos usando palavras que tentem explicar nosso estado
psicolgico. Dificilmente pensamos em como nosso corpo est no momento de
raiva. Que forma ele assume? Como desorganizar essa forma? So esses
questionamentos que nos trazem a metodologia de Keleman.
Na metodologia do COMO parte-se muito mais da experincia direta do que da
interpretao. Em cada situao nos organizamos para lidar com as
necessidades presentes, buscando o contato e apreenso das formas que o
corpo assume com a experincia. Em sua psicologia formativa, Keleman
reconhece o ser humano como possuidor da habilidade de influenciar suas
prprias atitudes e comportamentos, o ser-humano agente de criao do seu
existir.
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O ROLFING
O Rolfing ou Integrao Estrutural , como oficialmente denominado, foi
criado na dcada de 40 pela cientista norte-americana Ida Rolf. Como
bioqumica, Ida Rolf se especializou no estudo do colgeno, um dos
componentes qumicos do tecido conjuntivo chamado fscia. O Rolfing um
processo de educao corporal, realizado atravs da manipulao da fscia.
A fscia envolve os msculos e as fibras musculares, suportando os msculos
e mantendo a relao desses com os ossos, determinando, assim, a forma do
corpo. Em relao a fscia, Rolf (1999) explica:
[...] a fscia freqentemente confundida com msculo.
O msculo est dentro da fscia, como a polpa de uma
laranja est contida dentro de suas paredes celulares de
separao [...] O msculo uma unidade altamente
contrtil e pronta para reagir; a fscia j no assim.
Como camada protetora, tem que ser mais estvel.
(ROLF, 1999, pg. 24)
Em seus estudos, ela fez uma descoberta importante, a de que a fscia reage
aplicao de presso e calor. Diversos fatores, como traumas, acidentes,
doenas ou estados depressivos podem contribuir para o enrijecimento da
fscia, afetando o equilbrio do organismo. Quando submetida a um esforo
contnuo e excessivo, a fscia se adensa, engrossa e perde a elasticidade.
Com o adensamento do tecido, as relaes entre os msculos ficam
prejudicadas e o corpo adota um novo padro postural para se adaptar nova
situao. Para Rolf, o tnus fascial, ou seja, sua elasticidade essencial para
o bem-estar.
Rolf (1999, pg. 29) fala em relao ao msculo: no h outro tecido cujas
funes envolvam tantas mudanas oscilatrias na qumica, no estado fsico,
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na energia e nas dimenses. Com suas contraes e relaxamentos, os
msculos controlam o exato pulso da vida no homem e no animal.
No Rolfing, trabalha-se com a presso e manipulao da fscia, a fim de ela
se torne mais solvel e permita que as estruturas envolvidas em seu tecido
alterem seu arranjo e se adaptem em uma relao mais eficiente com as
demais partes do corpo. O Rolfing, atravs de uma srie de 10 sesses,
procura liberar padres de estresse causados por problemas fsicos e
emocionais. Traz o corpo para o presente ao anular a memria de limites e
padres que no so mais necessrios, restabelecendo relaes mais
apropriadas e econmicas do ponto de vista energtico. Em cada sesso
trabalha-se um segmento especfico do corpo (cabea, pescoo, trax, pelve,
pernas e ps) com o intuito de organiz-los em torno de um eixo vertical.
Ida Rolf (1999, pg. 21) menciona: Muitos de nossos concidados poderiam ser
mais propriamente caricaturas do que modelos de campos de energia humana.
A linguagem de seus corpos denota o uso errado que fazem da energia
gravitacional.
Fonte: Rolfing, pg. 19
O Rolfing procura trazer ao indivduo
um melhor alinhamento em relao
gravidade e maior coordenao de
movimentos. O corpo ganha equilbrio
e economia funcional, no precisando
gastar tanta energia para realizar
movimentos bsicos, como ficar de p
ou caminhar.
A experincia da Integrao Estrutural, promovida pelo Rolfing, no atinge
apenas o aspecto fsico, mas tambm o psicolgico. A respeito disso, Rolf
(1999) comenta:
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[...] sussurramos que somos infelizes por causa de
nossas emoes depresso crnica, frustrao, raiva,
ressentimento, tristeza, avidez, irritabilidade. A dor nas
costas, a dor no pescoo, a tenso nos ombros parecem-
nos secundrias. E ento? A resposta que, medida
que a estrutura vai se tornando mais apropriada, os
distrbios emocionais podem diminuir e de fato,
diminuem. (ROLF, 1999, pg.3)
Ela complementa:
A premissa da psicoterapia moderna que as
circunstncias exteriores do homem so uma projeo de
seu eu interior, muitas vezes oculto. Essa premissa pode
ser vista sob um ngulo diferente: o estado emocional de
um homem pode ser visto como a projeo de seus
desequilbrios estruturais. [...] um homem que busca a
integrao da estrutura de seu corpo experimenta o elo
bsico que existe entre estrutura e emoo. medida
que caminha em direo ao equilbrio estrutural, percebe
que seu aspecto psicolgico tambm est mudando.
Para sua satisfao, consegue sentir que seus problemas
psicolgicos so verdadeiros espinhos cravados na
carne, que s desaparecero na medida em que as
barreiras dentro da carne forem derrubadas e na medida
em que for estabelecido o livre fluxo da energia do corpo
e seus fluidos. (ROLF, 1999, pgs. 3 e 4)
Assim, medida que a relao entre a gravidade e o corpo humano evolui, os
desconfortos fsicos crnicos diminuem e as mudanas somticas e
psicolgicas vo ocorrendo de forma progressiva. Uma nova conscincia
41
despertada, proporcionando uma postura mais equilibrada e ntegra diante da
vida.
No Rolfing, h uma grande nfase no trabalho de alinhamento postural. Rolf
(1999) ressalta o papel da pelve nesse equilbrio estrutural, fazendo uma
relao com a importncia que essa assume dentro do yoga. O tantrismo
reconhece a pelve como a rea que conserva a kundalini, energia criadora.
Alm disso a pelve o local fisiolgico de fatores ligados a sexualidade e
fertilidade. H muito anos os homens acreditam na importncia da pelve, sendo
que a prpria palavra sacro, significa osso sagrado. Rolf concorda com os
sbios da antiguidade que a pelve a chave para o bem-estar do homem, mas
em sua viso, no a pelve em si a chave desse benefcio, mas a relao do
ser-humano atravs da pelve com o campo gravitacional.
Vimos anteriormente que Lowen v a segurana emocional diretamente
relacionada a segurana fsica no andar. Ida Rolf (1999, pg. 11) expressa a
mesma opinio: [...] quando nossas duas pernas no esto adequadamente
embaixo do nosso corpo, ficamos inseguros, e agimos e sentimo-nos dessa
forma.
Ela ilustra isso com a histria de um homem, que quando criana sofre um
acidente de bicicleta. No acidente ele no sofre nenhuma fratura e a me julga
que no h dano algum, entretanto ele passa ao longo dos anos a ter
dificuldades em seu andar. J adulto ele recorre ao psicoterapeuta para lhe
ajudar com seu problema de insegurana emocional. Rolf acredita que um
psicoterapeuta pode fazer muito pouco para um homem nessa situao. Para
ela, os problemas emocionais desse homem esto vinculados a seus padres
estruturais e musculares. Enquanto no houver a mudana fsica, ele ficar
preso a seu problema.
Acerca disso, Rolf (1999) comenta ainda:
muito freqente as pessoas predominantemente
interessadas em seu desenvolvimento psquico no
perceberem que o conhecimento psquico melhor
42
fundamentado e sustentado por um corpo fsico cuja
sensibilidade e vigor permitem que os eventos psquicos
ocorram naturalmente e com a sustentao adequada. A
estrutura estvel oferecida por um sistema mesodrmico
adequado tem um papel muito mais importante na
canalizao das energias psquicas do que se reconhece
habitualmente. (ROLF, 1999, pg. 266)
43
O CORPO E AS EMOES
Nas diferentes abordagens que mencionamos aqui (Hatha-yoga, bioenergtica,
psicologia formativa e rolfing), o corpo visto como o caminho para se descobrir
quem se .
Para Iyengar (1979, pg.41), negligenciar o prprio o corpo e no encar-lo como
algo divino, negar a vida universal da qual ele parte. As necessidades do
corpo so as necessidades do esprito que habita o corpo. Onde termina o corpo
e comea a mente? Onde termina a mente e comea o esprito? Eles no podem
ser divididos porque esto inter-relacionados e so diferentes aspectos da
mesma conscincia divina.
Ida Rolf (1999, pg. 23) afirma em relao a isso: O corpo do homem no
apenas um instrumento de sua auto-expresso, ele prprio. Uma pessoa em
dificuldades modifica inconscientemente seu corpo, solidificando sua atitude
mental no concreto biolgico. Se alguma coisa que lhe incomoda
espiritualmente, mentalmente ou emocionalmente isso ir evidenciar-se em seu
corpo.
O Rolfing trabalha o corpo atravs da manipulao da fscia, enquanto que a
bioenergtica faz uso de exerccios. Da mesma forma, os asanas nos ajudam a
aliviar tenses internas e emocionais de nossos corpos. medida que
trabalhamos o corpo no Hatha-yoga, comum que questes emocionais venham
tona.
A revista Yoga Journal publicou em Abril de 2004 um artigo abordando essa
situao e entrevistou diversos professores de yoga. Os asanas no so
prescritos para questes emocionais como muitas vezes so para aspectos
fsicos, entretanto, a maioria dos professores entrevistados concorda que
algumas posturas parecem iniciar mais do que outras respostas emocionais.
Posturas que trabalham aberturas de peito como as retroflexes e tores foram
algumas das posturas mencionadas.
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Por que isso parece ocorrer durante a prtica dessas posturas? As retroflexes
so posturas que do nfase a abertura dos msculos da parte frontal do corpo,
agindo sobre os chakras anahata (no corao) e manipura (ao redor do umbigo) .
Posturas como Bhujangasana, Ustrasana, Matsyasana e Urdhva Dhanurasana,
so exemplos de retroflexes realizadas no Hatha-yoga. J as tores, estimulam
e tonificam os rgos da regio abdominal. Ardha matsyendrasana e
marichyasana so alguns exemplos de tores.
Abaixo apresentamos algumas ilustraes dessas posturas, com a descrio de
seus efeitos:
Matsyasana Postura do Peixe Alguns dos benefcios dessa postura so o alongamento dos msculos intercostais e o estmulo nos rgos e msculos da regio da barriga e pescoo
Ustrasana Postura do Camelo Essa postura estimula os rgos abdominais, alongando toda a regio do abdmen e peito. Tambm ajuda a fortalecer a musculatura das costas e coxas.
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Marichyasana Estimula os rgos da regio abdominal, prevenindo e reduzindo problemas estomacais e intestinais.
Urdhva Dhanurasana Postura do Arco-erguido Proporciona um alongamento intenso na regio peitoral e abdominal e nas pernas e braos
Segundo Ken Dychtwald (1984), a cavidade abdominal a regio mais vulnervel
e desprotegida de nosso corpo. Se nos locomovssemos de quatro como vrios
animais, teramos a proteo das costas e dos membros nas laterais, mas com o
desenvolvimento da postura ereta, passamos a expor nossa barriga ao mundo.
No interior da regio abdominal esto muitos de nossos rgos vitais, nossas
vsceras e nossos sentimentos. da que brotam nossas emoes, fluindo para
baixo, inundando a pelve e pernas e fluem para o alto, atravs do diafragma,
atingindo o peito.
De acordo com Lowen (1983) o ventre a sede da vida:
[...] nos assentamos no ventre e mantemos contato
atravs dele com o assoalho plvico, os rgos sexuais e
as pernas... Na mitologia antiga, o diafragma era
relacionado superfcie da Terra. Tudo acima da
superfcie era luz e, portanto, consciente. Abaixo da
superfcie estava a escurido que representava o
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inconsciente. (LOWEN, 1983, pg. 38)
Estando-se em seu prprio ventre e sentindo-se bem, evita-se a diviso entre
consciente e inconsciente, entre corpo e ego, e o indivduo se sente centrado e
integrado fisicamente e psicologicamente.
Para Lowen (1983), uma pessoa deprimida tem um buraco no corpo, uma
sensao de vazio interior, que se reflete em falta de sensaes na barriga. A
energia no flui dessa regio para as partes inferiores do corpo, em funo do
medo de que no haja onde se apoiar, ao deixar-se o fluxo passar. O resultado
desse bloqueio que a parte inferior do corpo fica desenergizada, o que contribui
ainda mais para a sensao de insegurana.
Em relao a regio do peito, Dychtwald (1984) diz:
o peito onde os sentimentos e sensaes so
focalizados, ampliados e traduzidos. [...] Uma vez que o
peito responsvel pela integrao harmoniosa desses
diversificados aspectos comportamentais, tende a
modelar-se de acordo com as formas que refletem o estilo
que o indivduo empregar para lidar com estes elementos
de sua vida. Contrariamente, o modo como o indivduo
relaciona-se com as dimenses passionais, expressivas e
interpessoais de si mesmo ser fortemente influenciado
pela natureza e pela estrutura desta regio de seu
corpomente. (DYCHTWALD, 1984, pg. 145)
A existncia de couraas ou bloqueios na regio abdominal ou no peito pode
impedir que a energia flua pelo corpo. Acerca disso Lowen (1983) faz o seguinte
comentrio:
A pessoa que pensa que se conhece mas est sem
contato com a qualidade e o significado de suas reaes
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fsicas est funcionando sob uma iluso. Confunde as
intenes com as aes. Em seu corao a pessoa quer
sair em busca, mas esse impulso no pode fluir livremente
por causa de sua armadura muscular. (LOWEN, 1983, pg.
186)
Lowen quer dizer com isso, que, ainda que haja uma inteno consciente por
parte do indivduo da necessidade de uma mudana, essa no pode acontecer,
porque o seu corpo no possibilita a mudana. necessrio romper esse
bloqueio, essa couraa muscular para que a mudana se concretize.
O fato de emoes virem tona durante a prtica de asanas, est diretamente
relacionado quebra de determinados padres posturais e couraas. No
tratamento com seus pacientes, Lowen relata diversas situaes em que a prtica
de algum exerccio bioenergtico leva a liberao de emoes at ento
escondidas.
Lowen (1983, pg.40) afirma: Quando um paciente comea a permitir que as
se