UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CARNAVAL DAS ESCOLAS DE SAMBA DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO: COMUNICAÇÃO SEGMENTADA ATRAVÉS DE SITES
ESPECIALIZADOS
Por: Geissa Evaristo Tavares
Orientador
Prof. Fernando Lima
Rio de Janeiro
2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CARNAVAL DAS ESCOLAS DE SAMBA DA CIDADE DO RIO DE
JANEIRO: COMUNICAÇÃO SEGMENTADA ATRAVÉS DE SITES
ESPECIALIZADOS
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Comunicação
Empresarial
Por: Geissa Evaristo Tavares
3
AGRADECIMENTOS
A Deus, minha família, todos os
autores, amigos e colegas de trabalho.
Aos professores que, direta e
indiretamente, contribuíram para a
elaboração deste trabalho acadêmico.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos os
profissionais da comunicação jornalística
do carnaval, que assim como eu, amam
trabalhar no maior espetáculo da terra.
Dedico em especial aos colegas Bruno
Fillipo, pesquisador e historiador,
colunista do site O Dia na Folia e
coordenador do Instituto do Carnaval;
Anderson Baltar, produtor da TV Globo e
quem me auxiliou na bibliografia do tema;
Vicente Dattoli, assessor de imprensa da
LIESA e quem também muito me auxiliou
na bibliografia da pesquisa e, é claro, não
posso deixar de dedicar aos amantes de
samba e Carnaval, a quem proporciona
esta festa e aos sites especializados que
contribuem para a propagação dessa
“Fábrica de Sonhos”.
5
RESUMO
Esta pesquisa foi idealizada a partir da admiração e paixão pelo
Carnaval, festa popular que se tornou marca do Brasil, em especial, na cidade
do Rio de Janeiro. A constante industrialização das escolas de samba faz com
que a preparação do Carnaval, desde a escolha do enredo de uma Escola de
Samba até a sua apresentação final, que culmina no desfile, envolva notícias
de interesse comum e esse foi o ponto de estudo deste trabalho que teve
como preocupação principal descrever as inovações proporcionadas pela
Internet e apresentar as vantagens que a supersegmentação de interesses por
assuntos e afinidades proporcionam ao usuário através de sites
especializados.
6
METODOLOGIA
A linha de pesquisa deste trabalho é “comunicação, tecnologia e mídias
contemporâneas” já que trata-se de uma pesquisa sobre a comunicação do
carnaval das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro através dos sites
especializados.
Sendo o carnaval uma das maiores expressões da cultura popular
brasileira, o assunto do trabalho é “arte e cultura” que tem por objetivo
apresentar as inovações proporcionadas pela Internet e as vantagens que a
supersegmentação de interesses por assuntos e afinidades proporcionam ao
usuário através da cobertura diária dos sites especializados.
Devido à importância de se estudar a origem da comunicação do
carnaval das Escolas de Samba, foi necessário o uso de pesquisa bibliográfica
e de pesquisa documental como a consulta de textos de pesquisadores de
Carnaval, livros e teses.
Os principais livros pesquisados foram os seguintes:
1 – CABRAL, Sérgio. História das Escolas de Samba. Fascículos 1 a 8
2 - CABRAL, Sérgio. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
Lumiar Editora, 1996.
3 - CABRAL, Sergio - As escolas de samba. O quê, quem, como, quando e
porque. RJ, Fontana, 1974.
Além de conter informações valiosas, destaca a relação das escolas
com os jornais cariocas nos anos 30. A partir dessas informações levantadas,
pode-se dar uma nova direção para a monografia. Para esta pesquisa, foi
fundamental.
4 - ARAÚJO, Hiram. Carnaval: Seis Milênios de História. 2a ed., Rio de
Janeiro, Gryphus, 2003
O autor é médico e pesquisador de carnaval. Fundou o primeiro
Departamento Cultural de Escolas de Samba na Imperatriz Leopoldinense, foi
7
comentarista e produtoe de Carnaval da Rede Globo, assumiu e criou o curso
de jurados da LIESA – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de
Janeiro, criou cursos de Carnaval na UERJ – Universidade do Estado do Rio
de Janeiro e atualmente comanda o Centro de Memória do Carnaval,
localizado no Rio de Janeiro.
A pesquisa de análise dos sites deu-se através de acessos diários as
páginas da web no período de 2007 a agosto de 2010. A maior parte das
informações utilizadas provêm da convivência com os sambistas
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - A História das Escolas de Samba 11
CAPÍTULO II - As influências da mídia na popularização das
Escolas de Samba da cidade do Rio de Janeiro 18
CAPÍTULO III – Internet 29
CAPITULO IV – Sites especializados de carnaval 38
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 46
WEBGRAFIA 47
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
9
INTRODUÇÃO
O carnaval é uma das maiores senão a maior manifestação cultural
brasileira. As escolas de samba são consideradas empresas, pois arcam com
todos os tributos, têm patrocinadores de peso, recebem doações, cobram
ingressos de quem desejar ver os ensaios, além de mensalidades dos
integrantes e dos malfadados incentivos públicos. Não só atingem todas as
camadas da sociedade, como tem o poder de integrá-las. Desde o início do
século XX até os dias de hoje, principalmente nas grandes cidades do país,
muitas pessoas “consomem” o Carnaval carioca. A escolha desse tema deve-
se ao fato de que o Carnaval até hoje não foi abordado nas pesquisas de
Comunicação Empresarial. Esta monografia procura mostrar como os jornais
cariocas foram importantes na realização dos primeiros desfiles de escolas de
samba e traçar um panorama da atual situação da comunicação do carnaval
através da Internet. Para isso foram desenvolvidos quatro capítulos contando a
história, a influência dos meios de comunicação e a atual situação da
comunicação do carnaval, respectivamente. Consistindo posteriormente, na
enumeração dos conceitos da Web, sua história e características que serão o
pressuposto para o foco no assunto principal: os sites especializados no
Carnaval do Rio de Janeiro, através do acompanhamento da cobertura diária
das páginas de Carnaval.
No primeiro capítulo, é descrita a origem do samba, através da fusão de
outros ritmos. Para entender como o samba virou a expressão maior da cultura
brasileira, entretanto, é necessário saber como ele se desenvolveu.
No segundo capítulo apresentam-se as influências da mídia na
popularização do carnaval das Escolas de Samba da cidade do Rio de Janeiro
e a análise da transmissão dos desfiles através da televisão, considerado
pelos sambistas como falho de informações.
No terceiro capítulo a Internet aparece como novo tipo de mídia do
século XXI e identificam-se as suas vantagens em relação aos meios de
comunicação tradicionais, além de sua relação com o carnaval e seu público
segmentado.
10
No quarto e último capítulo descreve as análises dos principais sites de
carnaval e suas características, mostrando o benefício dos portais com a
cobertura diária do assunto, o que não acontece com os jornais impressos e
tampouco com a televisão.
11
CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DAS ESCOLAS DE SAMBA
Ao longo da segunda metade do século XIX, houve uma grande
migração de negros para o Rio de Janeiro. A decadência do cultivo de café no
Vale do Paraíba, o fim da Guerra do Paraguai, a seca nordestina de 1977, a
abolição da escravatura e o término da Campanha de Canudos fizeram com
que uma grande massa humana afluísse para o Rio. (LOPES,1993, p. 7).
Os principais destinos destes migrantes foram os bairros da Saúde e
Cidade Nova, próximos à Praça Onze. Aos poucos foram se espalhando pelos
morros. Estes negros provenientes de Congo e Angola praticavam o batuque,
um ritmo-dança com caráter religioso (‘samba’ significa ‘rezar’ no dialeto
banto).
As primeiras formas do samba carioca foram geradas pela comunidade
negra do Centro do Rio de Janeiro. Havia grandes reuniões musicais nas
casas das “tias baianas” da Saúde. A mais famosa delas era a tia Ciata. As
festas em sua casa eram espetaculares e todos os tipos de música se
misturavam. A casa de tia Ciata, próxima à Praça Onze (local onde ocorriam os
mais antigos desfiles), é considerada o local de nascimento do samba na
capital carioca. O sambista Ernesto dos Santos, o famoso Donga, assim
definiu as festas na casa da tia Ciata:
“Conforme a quantidade de pessoas, ou qualidade, uns preferiam brincar no quintal, onde
se realizavam os batuques, principalmente os mais velhos, com os seus pandeiros, e as baianas, estas ostentando balangandãs, camisu, cabeção
de crivo, saias bordadas e anáguas de crivo gomadas. Os calcanhares bem arranhados com cacos de telha. Combinava-se se o samba seria
corrido ou partido alto”. Se fosse partido alto, as veteranas focavam perto dos tocadores, raiadores e das cantoras de chula, estas com seus panos da costa, ou xales de rica
confecção. Assim que acabava a parte cantada, as baianas davam início à dança, rodando três vezes
12
em torno dos músicos, fazendo o miudinho (mexendo os quadris) e deixando cair os xales até a cintura. Os sapateados das baianas ganhavam
aplausos. O conjunto musical era composto de pandeiros,
prato e faca de mesa, um dois violões, cavaquinho sem palheta e dois ou três cantores. Quando o
samba era importante mesmo, aparecia o maior flautista no gênero, o João Flautin.” (CABRAL,
1974, p. 4)
Naquela época, segundo Cabral (1996), as rodas de samba eram vistas
pela polícia mais como uma reunião criminosa, um ato de vagabundagem, do
que uma manifestação cultural. Sendo uma religião “pagã”, o batuque era
perseguido pela polícia. Com isso foi se laicizando e virando música (samba).
Segundo os pesquisadores Marília Barbosa da Silva e Arthur de Oliveira Filho:
Como, no período da escravidão, qualquer culto não cristão era considerado sacrilégio, os negros disfarçavam e fingiam que estava se divertindo, que seu canto era profano, era festa. Assim, o
tempo passou, e as gerações seguintes de negros acabaram por confundir as coisas, a cantar o
canto santo longe dos santos, nas festas, nas ruas, no carnaval. Virou samba mesmo.
(SILVA, FILHO, 1998, p. 75)
Nos morros do centro da cidade, especialmente no bairro do Estácio, o
samba começava a ganhar a forma que o tornaria conhecido em todo o país,
distanciando-se cada vez mais de outros ritmos como o maxixe e a marcha.
A primeira escola de samba, na verdade, nunca foi exatamente uma
escola de samba. Fundada por compositores do morro do Estácio como Ismael
Silva e Bide em 12 de agosto de 1928, a Deixa Falar era apenas um bloco
carnavalesco. Sendo os professores deste novo tipo de samba, a turma do
Estácio de Sá fundou uma Escola de Samba, a primeira de todas. Era a Deixa
Falar. Ismael conta como se deu este processo:
“Eu inventei a expressão escola de samba. Por causa da Escola Normal que havia no Estácio. A
gente falava assim: é daqui que saem os professores. Daqui é que veio a idéia do nome escola de samba. O prédio onde era a Escola
13
Normal ainda continua lá, na esquina da Joaquim Palhares com Machado Coelho. Agora é uma
escola primária.” (PORTO, 1974, p. 9)
Os criadores da Deixa Falar difundiram o samba por vários bairros do
Rio. No ano seguinte, Cartola e Carlos Cachaça transformariam o Bloco dos
Arengueiros em Estação Primeira de Mangueira. A Deixa Falar não tem um
bom desempenho num desfile entre ranchos carnavalescos e é extinta. Mesmo
com a curta existência, deixa um eterno legado aos sambistas, espalhando sua
arte pela cidade, dando início a uma nova forma de brincar o carnaval,
lançando instrumentos como o surdo e a cuíca, indispensáveis na percussão
da bateria.
Em 1º de maio de 1934, o delegado de polícia Dulcídio Gonçalves
sugere ao compositor Paulo Benjamin de Oliveira que mude o nome de sua
escola Vai Como Pode. Nascia assim, a Portela. Nos primeiros anos dos
desfiles das escolas de samba, a trilha sonora não era exatamente um samba
de enredo. As agremiações, na antiga Praça Onze, se apresentavam com
sambas de quadra ou de terreiro, e apenas com a primeira parte pronta, o
refrão. A segunda parte era feita na base do improviso, com os versos vindos
“de cabeça” na hora. A improvisação foi proibida em 1946, e para o enredo da
escola Prazer da Serrinha denominado Conferência de São Francisco, os
compositores Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola compõem aquele que é
considerado o primeiro samba-enredo da história, com a letra se enquadrando
perfeitamente nas exigências do gênero. Porém, o presidente da Prazer da
Serrinha, em cima da hora, trocou a obra por um samba de terreiro, o que
ocasionou num desastre na apresentação da escola. A crise estabelecida
originou, no ano seguinte, a criação de uma nova escola: o Império Serrano.
Em 1949, morria Paulo Benjamin de Oliveira, o popular Paulo da Portela. Seu
enterro foi acompanhado por uma multidão de quinze mil pessoas. Em 1953, é
fundado o Acadêmicos do Salgueiro.
A partir da proibição dos jogos de azar pelo governo de Eurico Gaspar
Dutra em 1946, o jogo do bicho passou a acompanhar a expansão das áreas
periféricas da cidade do Rio de Janeiro (as favelas dos morros centrais e os
14
bairros mais pobres dos subúrbios), com o controle das apostas efetuadas
gerando o respeito ao apostador e a confiança para com os bicheiros. Para
Cavalcanti (1994), o enriquecimento do bicheiro fez com que a confiança se
transformasse em patronagem: ajuda pessoal e benfeitorias públicas em troca
da lealdade da população. As escolas de samba também receberiam tais
benefícios e, com o belo desfile anual, se prestariam à integração positiva do
bicheiro à sociedade metropolitana.
A expansão da rede do jogo do bicho na cidade
preencheu, dessa forma, os vazios administrativos
deixados pelo poder público. Enraizando-se em seus
territórios de ação, neles encontrou as agremiações
locais: os clubes de futebol e as escolas de samba. Assim
sendo, à medida em que se demarcavam, em toda a
cidade, as grandes áreas territoriais de atuação de cada
banqueiro, iniciava se o relacionamento mais estreito
entre o “banqueiro” de um determinado território e as
agremiações nele sediadas.
(Cavalcanti, 1994: 32)
1.1 O Fenômeno Carnaval
Originário da cultura negra, e inspirado em religiões afro-brasileiras, o
Carnaval e aqui mais especificamente o desfile das Escolas de Samba é um
grande fenômeno de manifestação cultural popular tradicional especialmente
no Rio de Janeiro, onde os desfiles começaram e se consolidaram,
espalhando-se depois para outros estados, embora sem tanta repercussão.
Desde o começo do século passado e mais constantemente a partir da
década de 60, as quadras das agremiações e o desfile das Escolas de Samba,
principalmente as do Grupo Especial, são um dos raros lugares onde as
interações sociais, essa aparente união, entre as classes distintas acabaram
acontecendo. Haroldo Costa1 define a origem desse processo:
O samba e sua conseqüência direta - a escola de samba
- são, porém, produtos citadinos, que se interiorizaram à
15
medida que as camadas mais pobres da população foram
sendo empurradas para mais longe. O processo, aliás,
teve início com os ranchos, cujos primeiros agrupamentos
nasceram e viveram nos bairros da Saúde, Laranjeiras e
Catete. Se o samba hoje desce o morro, é por que antes
ele subiu.
No Rio de Janeiro, o carnaval tem várias características individuais e
peculiares na cidade, entre elas, o mecenato do jogo do bicho presente no
interior das Escolas de Samba da cidade e a relação do sambista entre o
morro e o asfalto. Como essa cidade foi pioneira nos Desfiles de Escolas de
Samba, ela acabou se tornando um paradigma para o resto do país
(principalmente para o estado de São Paulo, que também construiu o seu
Sambódromo; tem seus desfiles transmitidos pela mesma emissora de
televisão que transmite o evento no Rio de Janeiro, além de estar construindo
uma Cidade do Samba - local onde se concentram os barracões das escolas
de samba - nos mesmos moldes do projeto da construção feita no Rio de
Janeiro). O pesquisador e também produtor cultural Haroldo Costa2, explica
como é a relação do carnaval com a cidade do Rio de Janeiro:
Fenômeno e criação cariocas, a escola de samba é a
síntese do carnaval do Rio e a expressão maior do
carnaval brasileiro. Tanto é assim que o seu modelo tem
sido adotado com maior ou menor sucesso na maioria
dos Estados em detrimento até das suas manifestações
regionais, que devem ser preservadas, cultivadas e
mantidas.
Por isso o desfile no Rio de Janeiro parece imortalizar esta arte da
cultura tradicional. O carnaval como um todo, rompe as barreiras até as
regionais como citou o pesquisador Haroldo Costa.
A proposta das Escolas de Samba não é a de se tornar uma estrutura
fechada da qual não se tem acesso, e sim, têm a vontade de seduzir um
número cada vez maior de pessoas, inclusive as de classes sociais mais
1 COSTA, Haroldo. Salgueiro, Academia do Samba. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 9
16
elevadas, que estão no topo da pirâmide social, para que façam parte de seus
desfiles e garanta uma maior visibilidade na dinâmica social das grandes
escolas. As agremiações agem assim, como objeto de conciliação e mediação
entre os setores das diferentes classes da sociedade, e é isso que as faz
únicas enquanto instituições.
Para o pesquisador Hiram Araújo3:
No carnaval ficam suspensas às regras que controlam o
olhar. O mundo se abre ao poder ver e ao poder fazer,
com inversões como o pobre despertando a inveja do rico
e o estabelecimento das relações de desejo e profunda
lascívia. E acrescenta: “No carnaval celebram-se as
coisas abstratas e inclusivas como o sexo, a alegria, o
prazer, o luxo, o canto, a dança e a brincadeira.
É na capacidade que as Escolas de Samba têm de fazer viver junto, o
que habitualmente não costuma seguir essa ordem (o conflito, o contrário, a
diferença) que está todo o vigor de sua manifestação, embora quando o
diferente que não pertence àquele ambiente se faz presente, passa-se a
valorizar mais o indivíduo e não toda a coletividade.
Sobre a absorção de tais conflitos e diferenças a pesquisadora Maria
Laura Cavalcante4 descreve:
O desfile das escolas de samba é uma forma ritual e
estética elaborada que expressa um processo vital em
fluxo constante. Sua vitalidade, que se renova e se revela
anualmente, resulta de sua capacidade de absorção e
expressão dos conflitos da cidade.
Muitos não percebem, porém, que essa é a principal dinâmica que
amortece e impulsiona a máquina dos desfiles das Escolas de Samba do Rio
de Janeiro, e acusam tomados com seu purismo e nostalgia, as agremiações
de estarem perdendo sua autenticidade característica. Dizem que os desfiles
de hoje em dia não são mais como os de antes. E ainda que antes o desfile
2 Idem. Ibdem. p. 9 3 ARAÚJO, Hiran. op. cit.. p. 28
17
tinha mais qualidade em décadas passadas e que, portanto, as coisas
deveriam voltar a ser como eram, como se esse retrocesso fosse possível.
Haroldo Costa5 explica:
(...) os componentes e artífices da escola estão sujeitos à
radiação informativa que nos chega através de todos os
métodos e meios. E seria incongruente que uma
agremiação destinada a recontar, a sua maneira,
episódios, interpretações, avaliações de fatos, pessoas e
fragmentos do nosso imaginário prescindissem de uma
linguagem contemporânea.
E conclui dizendo que: “Do ponto de vista estritamente carnavalesco, a
escola de samba, em sendo uma entidade coletiva e mutante, felizmente não
se cristalizou e tem disposição para trilhar novos caminhos”.
Ou seja, as transformações porque passaram os desfiles das Escolas
de Samba do Rio de Janeiro é natural aos movimentos e manifestações que
pretendem atravessar o tempo e se manterem. Afinal, não é só o que muda
constantemente, que permanece imutável.
4 CAVALCANTE, Maria Laura Viveiros de Castro. Carnaval Carioca: dos bastidores ao desfile. Rio de Janeiro, FUNARTE, UFRJ, 1994. p. 12
18
CAPÍTULO II
AS INFLUÊNCIAS DA MÍDIA NA POPULARIZAÇÃO DO
CARNAVAL DAS ESCOLAS DE SAMBA DA CIDADE DO
RIO DE JANEIRO
Nesse capítulo serão analisadas as influências da mídia na
popularização do Carnaval das Escolas de Samba da Cidade do Rio de
Janeiro. Para realização de tal análise foi necessário o levantamento e o relato
de algumas intersecções entre os meios de comunicação e as escolas de
samba.
De um reduto de sambistas e admiradores do ritmo do samba no bairro
do Estácio, Rio de Janeiro, o desfile das Escolas de Samba acabou se
estabelecendo, e ganhando proporções generosas, jamais imaginadas pelas
pessoas simples que o inventaram, décadas atrás. Sob o governo de Getúlio
Vargas, foi realizado o primeiro desfile das escolas de samba do Rio de
Janeiro. Evento que teria lugar na Praça Onze, com promoção do extinto jornal
Mundo Sportivo. Dezenove escolas participaram do desfile de 1932 e foi eleita
a Estação Primeira de Mangueira como a primeira campeã do carnaval
carioca, apesar das reclamações dos sambistas das outras escolas, fato
comum até hoje entre as agremiações concorrentes. Os resultados sempre
são contestados. (CABRAL, 1974, p.21) Foi talvez, o primeiro contato mais
íntimo entre a cidade e a cultura dos morros cariocas e vice-versa. O dono do
jornal, Mário Filho, que idealizou o desfile, e o repórter Carlos Pimentel, de
pseudônimo Paraíso (CABRAL, ESTEVES, 1998, p.43), responsável pela
organização do evento, têm, portanto, participação fundamental no processo
de ascensão de popularidade do samba.
Algumas notas publicadas pelo jornal O Globo no carnaval de 1932
são ideais para ilustrar o desconhecimento que a sociedade tinha com o
samba:
5 COSTA, Haroldo. op. cit. 2001. p. 213
19
A PRAÇA ONZE SERÁ TEATRO DE UMA GRANDE COMPETIÇÃO MUSICAL
O campeonato de sambas que o Mundo Esportivo
fará realizar (...) tem o seu maior elemento de sucesso rumoroso na quantidade enorme de
escolas (...) Não resta dúvida de que constituirá uma nota de pitoresco inédito no carnaval deste
ano. (...) os príncipes da melodia do malandro, as ‘altas patentes’ do samba (...) Terá o público
oportunidade de ouvir instrumentos mal conhecidos pela maioria da cidade. É o caso, por exemplo, da ‘cuíca’, cujo som se destaca de todos,
pois é único e inconfundível. (...) Além dos instrumentos conhecidos, outros aparecerão, por
certo, na hora da parada sonora, criados pela febre de improvisação que sempre empolga...
(CABRAL, 1974, p. 21)
Percebe-se a pouca familiaridade do jornalista (e, consequentemente,
de seus leitores) com elementos do morro como cuíca, que é escrita entre
aspas. Hoje qualquer habitante do Rio de Janeiro sabe o que é uma cuíca. Ela
é um ícone do samba, reconhecida em todos os lugares do mundo, pois, como
mostra a nota acima, no início dos anos 30 ela era desconhecida da “maioria
da cidade” e, logicamente, da grande maioria da população brasileira.
VINTE ‘ESCOLAS’ NO CAMPEONATO DE SAMBA
Domingo, na Praça Onze, o público assistirá a
um torneio que promete grande brilho, tal o encanto de sua originalidade. (...) O
acontecimento é inédito (...) O público que conhece a música do ‘malandro’ pelo disco, ainda não sentiu, talvez, o sabor que tem a melodia na boca do próprio ‘malandro’ (...) Dizem que uma
caixa de charuto usada por uma “alta patente” do samba vale, às vezes, uma orquestra completa.
(...) Com seus instrumentos bárbaros, as escolas conseguem verdadeiros milagres (...) Nos morros
da cidade, existem melodias ignoradas. Nem sempre a publicidade seduz o ‘malandro’, que não raro faz música para recreio interno ou por uma necessidade de expressão independente
de qualquer idéia de fama ou de dinheiro... (CABRAL, 1974, p. 22)
20
As melodias ignoradas dos morros do Rio já vinham conquistando
algum espaço. No texto acima há um trecho que registra que já se conhecia
alguma coisa da “música do malandro”. Deveria ser mesmo uma surpresa
agradável ouvir o samba legítimo, harmonioso, com seus instrumentos
“bárbaros”.
TUDO PRONTO PARA A PARADA DO SAMBA
Depois de amanhã, a Praça Onze será teatro do grande campeonato de samba (...) O Rio verá de
fato a massa encantadora dos morros descer para a Praça Onze.
O espetáculo não poderia ser mais pitoresco e sugestivo. (...) São pois centenas de bocas
cantando com a maior emoção as melodias mais graciosas da cidade(...) O samba dos morros (...) fica lá em cima, longe de qualquer possibilidade
de ser transportado para o disco. Há “malandros” que não admitem a vitrola porque
tem a impressão de que, na chapa, o samba perde a sinceridade, a graça emotiva e doce, o espírito delicioso. Assim sendo, fazem o samba para si e para o seu gozo interior (...) Escolas há que se
apresentarão com dezenas de “pastoras”. O coro feminino que se destaca... (CABRAL, 1974, p. 22)
Apesar da distância entre as realidades do morro e da cidade, o jornal O
Globo não se limitou a apoiar e divulgar o evento de 1932 e o segundo
campeonato, que também aconteceu extra-oficialmente, recebeu desta vez,
o patrocínio do jornal impresso. Novamente a campeã do concurso foi a
Estação Primeira de Mangueira, seguida da agremiação Acadêmicos do
Salgueiro em segundo e da Unidos da Tijuca (as duas últimas localizadas
no mesmo bairro) em terceiro lugar. De acordo com o pesquisador de
carnaval Hiram Araújo6, em comentário sobre o surgimento dos concursos
entre as escolas de samba do Rio de Janeiro, na sua obra: Carnaval; Seis
Milênios de História:
O ano de 1935 estabelece o ponto inicial dos concursos
oficiais das escolas de samba. Na verdade começam a
6 1 ARAÚJO, Hiram. Carnaval: Seis Milênios de História. 2a ed., Rio de Janeiro, Gryphus, 2003. p.227
21
ter vida legal a partir daí. Com o reconhecimento as
escolas de samba ingressam no calendário oficial do
carnaval carioca, ganham a sigla GRES e o direito de
recebimento de uma verba de ajuda para a confecção
dos seus carnavais, chamada subvenção.
Em dezembro daquele ano, pela primeira vez, a imprensa subiu o morro
em função da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. A Equipe
comandada por Jofre Rodrigues tinha Carlos Pimentel, o Paraíso, e Armando
Reis, que haviam se mudado para O Globo com a extinção do Mundo Sportivo.
(CABRAL, ESTEVES, 1998, p.46) Além disso, foi O Globo que organizou o
desfile das escolas de samba de 1933. A importância da imprensa como aliada
do samba do morro era tamanha que no desfile desse ano, o segundo painel
da Estação Primeira de Mangueira dizia: ”Salve a Imprensa”. (CABRAL, 1998,
p.52).
Além da Estação Primeira de Mangueira, outras vinte e sete escolas de
samba participaram do desfile do carnaval de 1933. O desfile seria realizado
na Esplanada do Castelo, mas, devido a um desfile de corso, acabou sendo
transferido para a Praça Onze. A Estação Primeira de Mangueira foi,
novamente, a campeã do carnaval. Nesse ano, o regulamento do concurso foi
elaborado pelo jornal O Globo. Nele, uma regra chamava a atenção: seriam
desclassificadas as escolas que cantassem sambas que já haviam sido
“gravados ou conhecidos através do rádio e do teatro”. (CABRAL, 1974, P.24).
Em 1934, mais uma vez a imprensa promoveu o desfile das escolas de
samba. Na verdade, nesse ano foram dois os desfiles de escolas de samba
promovidos pela imprensa. Em janeiro o jornal O País realizou um desfile com
dezessete escolas, das quais três foram classificadas: A Estação Primeira de
Mangueira, a Vai como Pode e a Deixa Falar. (CABRAL, 1974, p.40)
O outro desfile foi organizado pelo jornal A Hora, no domingo de
carnaval. A Mangueira, porém não participou do desfile, alegando que não
seria justo pôr seu título em jogo sendo julgada por um júri popular, e que
participaria se os jurados entendessem de “literatura, melodia e poesia”, nas
22
palavras do próprio presidente da escola à época, Saturnino Gonçalves. O
segundo desfile aconteceu, mas não a competição. (CABRAL, 1974, p.41)
Um dos fatos mais importantes do ano foi a fundação, no dia seis de
setembro, da União das Escolas de Samba. O presidente da União, Flávio de
Paula Costa (da Deixa Falar) tratou logo de fazer um pedido à Secretaria de
Turismo, em nome da instituição, para que o desfile de 1935 fosse realizado na
Avenida Rio Branco. O apoio da imprensa ao samba continuava. Um repórter
do jornal A Nação foi apontado pela Diretoria de Turismo para promover o
desfile de 1935. Junto a Flávio de Paula Costa, o jornal tentou fazer com que o
concurso ocorresse na Avenida. A tentativa, porém foi em vão. O desfile
acabou acontecendo na Praça XI. A Portela consagrou-se campeã pela
primeira vez. No mesmo ano, o jornal A Nação promoveu o concurso: “Qual o
melhor compositor das nossas escolas de samba?” Os leitores recortavam
cupons publicados diariamente no jornal e votavam. Paulo da Portela foi o
vencedor com 44.709 votos. (CABRAL, 1974, p.41).
Em 1936 a Hora do Brasil transmitiu um programa para a Alemanha
com sambistas da Mangueira. Já a Rádio Cruzeiro do Sul anunciou aos jornais
que colocava seus microfones “à disposição das escolas de samba”.
No desfile das escolas de samba de 1936 sagrou-se campeã a Unidos
da Tijuca, mas o prêmio de melhor samba foi para O Destino Não Quis de
Cartola e Carlos Cachaça. Como a imprensa não podia deixar de polemizar, o
jornal A Nação declarou, por conta própria, a Estação Primeira da Mangueira,
como campeã do carnaval. (CABRAL, 1974, p.41). Nesta época, o jornal que
mais publicava notícias sobre escolas de samba era A Pátria. Não era por
menos, o jornal tinha em sua redação o carnavalesco Enfiado, que em 1937 foi
presidente da União das Escolas de Samba. O jornalista-carnavalesco dava
cobertura ampla às escolas de samba. (CABRAL, 1974, p.43)
Em 1937 A Pátria escolheu, novamente pelo voto dos leitores, o melhor
compositor das escolas de samba. Os dez mais votados iriam apresentar um
concurso na Feira da Amostra. Vale à pena constatar que entre os jurados
estavam Ayres de Andrade, diretor artístico da rádio Tupi, e Leflie Robert
Evans, diretor artístico da gravadora RCA Victor. No carnaval desse ano, o júri
23
do desfile das Escolas de Samba foi composto somente por jornalistas: Raul
Alves, Carlos Ferreira, Abílio Harry Alves e Lourival Pereira elegeram a escola
de samba Vizinha Faladeira campeã de 1937.
No final da década de 1930 o desfile das escolas de samba, que havia
se consagrado durante os últimos seis anos, já despontava como o principal
espetáculo do carnaval. A mídia dava total destaque às escolas de samba.
(CABRAL, 1974, p.57). Alguns ritmistas e compositores começaram a se
aproveitar dessa ascensão do samba e de suas escolas. Se a princípio os
jornalistas colaboraram para a divulgação e para o reconhecimento do samba
e de seus compositores, o rádio e as gravadoras deram condições (precárias)
de profissionalização a eles.
E a mídia não teria cumprido seu papel de divulgadora se não fosse a
conjuntura política do país. O nacionalismo de Vargas promoveu o samba
como ritmo nacional. O estilo musical foi utilizado para criar uma sensação de
unidade no povo brasileiro.
Chega a década de 60, data marcante para as Escolas de Samba,
primeiro porque é nessa época em que começam as transmissões pelas
emissoras de televisão, feitas primeiramente pela TV Continental (que hoje não
está mais no ar) já em 1960 através de flash, e é quando começa no Brasil o
período da ditadura militar, que interfere na relação da classe média da
sociedade com a Escolas de Samba, acuada diante da repressão militar da
época, a classe média se sente atraída para os ensaios e desfiles. O que
muitos resolveram chamar de embranquecimento do samba, o historiador
Hiram Araújo7 preferiu definir como um tipo de “sincretismo cultural”.
Em quase um século de tradição, o Desfile das Escolas de Samba,
parece não se esgotar. Sua vitalidade é crescente e proporcional a sua
constante transformação, se adequando a cada nova realidade que se
apresente e sem temer o que ainda possa surgir nos próximos anos.
Em meados da década de 70, aproximadamente 1975, a televisão a
cores chega ao Brasil, e como conseqüência disso, uma revolução estética na
transmissão dos desfiles das Escolas de Samba. É nessa década que surge
7 ARAÚJO, Hiram. Carnaval: Seis Milênios de História. 2a ed., Rio de Janeiro, Gryphus, 2003. p.231
24
também o mecenato do jogo do bicho, uma nova interferência nas escolas,
muito comum até hoje no interior das grandes agremiações.
Já na década de 80, foi à vez do meio artístico ser incorporado aos
desfiles, motivo de um grande aumento na audiência, aliado ao fato de que
nesta época o alcance da TV já era de mais de 75% do território nacional e
muitas casas, mesmo as mais afastadas das grandes cidades do Brasil, já
possuíam seu próprio televisor. Depois da construção do sambódromo, na rua
e a partir daí, avenida Marquês de Sapucaí, em 1984 esse “frisson” em torno
dos Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro ficou ainda maior.
Em 1984, com a construção da Passarela do Samba, os Desfiles já
estavam estabelecidos na programação dos telespectadores. A Passarela do
Samba, aliás, quando foi projetada, não faltaram recursos para que a
transmissão fosse feita da melhor maneira possível. Foi construída uma torre
exclusiva, para que dessa forma, as câmeras das emissoras pudessem subir
até o topo e ter uma visão privilegiada da Escola, uma visão do alto, de forma
que fosse filmada toda a escola na Marquês de Sapucaí. Essa torre hoje tem
grande influência nas escolas do grupo especial.
Hoje o Sambódromo, abriga uma quantidade de lugares que não é
mutável, o preço dos ingressos, muitas vezes (ou quase sempre) não é
acessível para a maioria da população, principalmente nas melhores posições,
nos lugares privilegiados para assistir os desfiles, sem contar a emissora de
televisão que compra o direito de transmissão da festa na Passarela do Samba
e consegue proibir outras emissoras de cobrir o evento, como se o carnaval
tivesse preço, a cultura é posta à venda, o desfile vira festa controlada.
Para a pesquisadora Maria Laura Cavalcante8:
A organização do espaço no Sambódromo é uma
hierarquia de visibilidade, os melhores lugares, que
permitem a visão da evolução de toda a escola na pista
são os mais caros. O televisionamento (...) foi previsto em
sua arquitetura: a imagem frontal que se tem do desfile é
única.
8 CAVALCANTE, Maria Laura Viveiros de Castro. op. cit. p. 57
25
Nos últimos anos, a rede de televisão Globo, tem transmitido os Desfiles
das Escolas através de uma cabine no alto do setor dois e próximo ao setor
quatro, construída com recursos da própria emissora exclusivamente para seu
uso durante as transmissões.
As luzes que proporcionam a iluminação do Sambódromo, também são
outro fator que só foi modificado para beneficiar as emissoras de televisão. O
tipo de iluminação utilizado hoje acaba mudando a tonalidade das cores
usadas e efeito contrastante no trabalho dos artistas que elaboraram o Desfile.
Até o horário em que o desfile será iniciado, é escolhido pela emissora que
transmite o evento, a fim de que não prejudique a audiência. Esses exemplos
são só alguns poucos que conseguem mostrar como é grande a interferência
das emissoras de televisão nos desfiles das Escolas de Samba.
2.1 – Transmissão dos desfiles pela televisão
A audiência da transmissão dos desfiles vêm diminuindo a cada ano e
por isso mesmo, a emissora que atualmente é a única a fazer a transmissão
das Escolas de Samba do Grupo Especial, a Rede Globo, têm investido na
divulgação de notícias sobre as agremiações ao longo do ano, com tempo
determinado para este fim, para que, quando o carnaval chegar, talvez a sua
audiência possa crescer. Até porque a transmissão dos desfiles é um
investimento caro, e a situação das emissoras hoje, não é muito favorável para
grandes desperdícios e uso de maiores extravagâncias em suas produções
(mesmo as grandes produções).
Efeitos especiais têm pontuado as transmissões dos desfiles das
Escolas de Samba, que mesmo assim não conseguem fugir da monotonia e
ainda acabam confundindo os telespectadores, muitos não conseguem
diferenciar o que é realidade e o que é ficção na apresentação produzida pela
televisão. Propagandas excessivas em horas impróprias (enquanto os
comentaristas falam, por exemplo) também são um dos inconvenientes, sem
falar nas entrevistas sem conteúdo que se aproveite.
26
Os âncoras que são escalados para fazer a transmissão do evento
passam todo o tempo lendo os releases enviados pelas assessorias de
imprensa das agremiações, pois não têm conhecimento suficiente para
comentar os desfiles, só reconhecem, os artistas e personalidades, a maioria
de sua própria emissora e se prendem as informações passadas pelas
escolas.
Os câmeras das emissoras se detêm em filmar belas mulheres, corpos
masculinos bem lapidados e um ou outro efeito mais chamativo nos carros
alegóricos, como efeitos de luzes e movimentos. As imagens da transmissão
são pinçadas sem a menor noção de sequência do enredo do desfile da
escola, item que deveria ser respeitado pela emissora de televisão, pois o
enredo corresponde a um quesito de julgamento.
O som é outro detalhe que não escapa. A seqüência de erros das
emissoras, a fim de buscar uma “qualidade” (essas digitalizam a primeira
passagem do som com a bateria e depois simplesmente reproduzem a
gravação até o momento final do desfile), não deixa que o telespectador ouça
a evolução do intérprete, da harmonia de sua escola e da bateria, quesito
fundamental na diferenciação e reconhecimento de cada uma das
agremiações que estão se apresentando.
Os verdadeiros personagens dessa grande manifestação cultural
acabam sendo deixados de lado, muitos acabam esquecidos e são de grande
importância dentro da Escola e da sua comunidade. No lugar dos sambistas
ilustres das Escolas de Samba (não só os da velha guarda, mas também os
novos talentos de cada comunidade), quem ganha destaque na transmissão,
são as modelos, atrizes de filmes e novelas e socialites, “celebridades” já
conhecidas da grande massa que assiste televisão, agora também presentes
nesse contexto dos desfiles. Buscando como sempre a visibilidade, pois hoje
em dia, com a fama perecível, onde o sucesso pode durar um pouco mais do
que quinze minutos de aparição na tela da televisão é cada vez mais fácil cair
no esquecimento. Assim, acaba sendo válida qualquer forma de atores, atrizes
e cantores se manterem à vista dos espectadores da televisão.
Apesar de todo esse grande investimento financeiro das emissoras de
televisão para melhorar a transmissão deste evento, o que tem acontecido, é a
27
queda crescente na audiência dos desfiles das Escolas, ano a ano. Essa
resposta do telespectador pode ser um caminho para que a televisão repense
melhor a maneira de como fazer a transmissão desse evento tão
representativo de cultura popular, tanto brasileira quanto carioca.
2.2 - Análises da transmissão dos desfiles através da televisão
O desfile acontece. A televisão transmite. Mas, não é só a maneira
como flui o desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro
na Marquês de Sapucaí o que importa. A forma como as emissoras de
televisão fazem a transmissão desse evento também é muito importante,
afinal, a maioria das pessoas que assiste aos desfiles das Escolas o faz pela
tela de sua própria televisão, já que não existe lugar na passarela para todos
os interessados em assistir ao espetáculo, e muitos não têm condições
financeiras para comprar os ingressos. Por isso pretende-se nesse ponto da
pesquisa, fazer uma análise, sobre essa transmissão dos desfiles, feitas pelas
emissoras de televisão (canais abertos), sob a ótica de diversas interpretações
possíveis.
Mas de que maneira a televisão definiria o desfile das Escolas de
Samba? Como uma manifestação do folclore brasileiro, como manifestação de
uma cultura popular tradicional, puro espetáculo formulado pela mídia,
produção “made for tv”, apresentação meramente grotesca de corpos
femininos e masculinos rebolativos e seminus, ou mais uma representação de
um evento da cultura massiva? Em que conceitos essas emissoras de
televisão tem se baseado para fazer as transmissões de eventos dessa
natureza e grandeza? Conhecer essa resposta pode esclarecer o tipo de
abordagem que as emissoras fazem nas suas transmissões. O que elas
realmente valorizam?
Neste capítulo tentou-se mostrar, através dos mais variados conceitos
de estudiosos da cultura tradicional popular, pesquisadores e teóricos da
comunicação massiva, uma análise mais profunda da transmissão televisiva
desta grande festa que acontece todos os anos bem no centro da cidade do
28
Rio de Janeiro e que desperta a atenção e a curiosidade de tantos outros
estados brasileiros e de vários países em todo o mundo.
Afinal os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (grupo
especial) são hoje uma marca registrada da cultura popular tradicional de
nosso país, evento que movimenta não só o turismo, mas toda a economia,
seja formal, nos hotéis, shoppings e restaurantes, como na economia informal
(onde se encontram a maioria das pessoas que trabalha diretamente com o
carnaval), através de vendedores ambulantes de bebidas e souvenirs nos dias
dos desfiles, nas imediações da Passarela do Samba e também nos blocos
carnavalescos espalhados por toda a cidade.
29
CAPÍTULO III
INTERNET
3.1 – A evolução da internet no Brasil
O Brasil se conectou a rede mundial de computadores em 1990.
Em maio de 1995, teve início a abertura da Internet comercial no Brasil.
Diferentemente dos Estados Unidos, onde o surgimento dos portais decorreu
da evolução dos sites de busca, no Brasil os sites de conteúdo nasceram
dentro das empresas jornalísticas. Alguns deles nem tinham a concepção de
portal e evoluíram posteriormente para o modelo.
O primeiro site jornalístico brasileiro foi o do Jornal do Brasil, criado em
maio de 1995, seguido pela versão eletrônica do jornal O Globo. No ano
seguinte, o Grupo Folha lança o Universo Online (o UOL) e a Nutec o ZAZ,
numa época em que os usuários de Internet no país não passavam de 100 mil.
Segundo Ferrari (2003), o surgimento dos portais brasileiros na segunda
metade da década de 90 possui total relação com os conglomerados de mídia,
a maioria oriunda de oligarquias, justificando que esses mesmos grupos detêm
a liderança entre os portais, de maneira a considerá-los os “barões da Internet
brasileira”.
Em 1998, o Brasil já era a 19ª nação do mundo em número de hosts,
totalizando 117.200 contra 20.623.995 dos Estados Unidos, a primeira
colocada. Na América do Sul, posicionava-se em primeiro lugar seguido de
longe pela Argentina com 19.982. Nas Américas, sua colocação era a terceira,
estando atrás também do Canadá (839.141 hosts)9. No mesmo ano, a Receita
Federal começa a receber declarações de Imposto de Renda pela Internet,
com 26% entregues via rede.
De 1997 até o final de 2000, os sites brasileiros privilegiaram a oferta
abundante de conteúdo, mais voltado ao volume de notícias do que ao
aprofundamento da matéria. A partir do início de 2001, o mercado passou a
preocupar-se mais seriamente com a integração entre conteúdo de qualidade,
design acessível e viabilidade financeira – a ser obtida não mais com o aporte
30
abundante de capital dos investidores, mas com a obtenção de receita por
publicidade, prática que seria mais comum a partir de 2002. Porém, a
exigência sobre os portais seria maior, com a exigência do conteúdo variado,
muita informação e atualização em tempo real. Com a pressão do tempo e da
concorrência, a importância da qualidade editorial passou a ser subestimada
pelos portais. E os jornalistas, que viveram uma fase de empregos à vontade e
bons salários, logo tiveram de voltar à realidade. Em 2004, o mercado na
Internet cresceria novamente com os altos investimentos proporcionados pelo
Google, principal site de buscas da grande rede.
Procurando investir nas camadas populares, o iG lançou-se no mercado
em janeiro de 2000. Primeiro provedor de Internet grátis no Brasil, o iG, ao final
do primeiro mês, tinha quase 800 mil usuários cadastrados e uma média
próxima de 1,1 milhão de visitas diárias a sua home - page. O surgimento dos
portais gratuitos, aliado à expansão da rede de telefonia fixa, fez o número de
internautas se elevar no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope
em março de 2000, o número de usuários brasileiros de Internet havia crescido
1,2 milhão nos dois primeiros meses do ano. O ZAZ teria seu controle
acionado vendido ao grupo espanhol Telefônica. Reiniciou suas atividades em
maio de 2001 com um novo nome: Terra.
Em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística
(IBGE), 32,1 milhões de brasileiros acessaram a Internet em 2005. A maior
parte era de homens (16,2 milhões) e tinha entre 30 e 39 anos (5,8 milhões). O
maior índice dos que usam a Internet (33,9%) está na faixa entre 15 e 17 anos.
Na população de 10 anos ou mais de idade usuária da Internet no domicílio em
que morava, no período de referência dos últimos três meses, 52,1% tinha
somente a conexão discada, 41,2% unicamente por banda larga, e 6,7% tinha
ambas as formas de acesso. Na finalidade do acesso, a busca por educação e
aprendizado foi a opção mais assinalada pelos pesquisados (71,7%), seguida
pela comunicação com outras pessoas (68,6%), atividades de lazer (54,3%),
leitura de jornais e revistas (46,9%), interação com autoridades públicas ou
órgãos de governo (27,4%), busca de informações e outros serviços (24,5%),
9 Network Wizards, Jan/98.
31
transações bancárias ou financeiras (19,1%) e compra ou encomenda de bens
ou serviços (13,7%). As respostas podiam ser assinaladas de forma múltipla. O
IBGE entrevistou 408.148 pessoas em 142.471 domicílios brasileiros entre os
anos de 2004 e 2005.10
3.2 – Vantagens da Internet em relação aos meios de
comunicação tradicionais
A Internet é uma ferramenta de comunicação bastante distinta dos
meios de comunicação tradicionais – televisão, rádio, cinema, jornal e revista.
Pinho (2003: 49) enumera dez aspectos críticos que diferenciam a rede
mundial de tais mídias: não-linearidade, fisiologia, instantaneidade,
dirigibilidade, qualificação, custos de produção e de veiculação, interatividade,
pessoalidade, acessibilidade e receptor ativo.
Não-linearidade: A informação alojada na Internet é não-linear. Nela, o
hipertexto permite que o usuário se movimente mediante as estruturas de
informação do site sem uma seqüência predeterminada, mas saltando entre os
vários tipos de dados de que necessita. A principal característica do hipertexto
é a sua maneira natural de processar informação, funcionando de uma
maneira parecida com a mente humana, que trabalha por associações de
ideias e não recebe a informação linearmente. É normal o internauta, ao visitar
um site da Web, correr os olhos por toda a tela e fixar-se em um ou outro
lugar, em vez de ler palavra por palavra de uma página inteira, ajudando a
acumular conhecimento de acordo com o interesse e com a satisfação própria.
O que reforça a idéia de Lévy (1999: 85) dos navegadores de “pilhagem”,
denominação utilizada pelo autor para caracterizar internautas de interesses
não-relevantes por um assunto e prontos a desviar a qualquer momento para
outros links.
Fisiologia: A tela do computador afeta a visão humana de maneira
diferente do papel. A leitura à luz do monitor faz os olhos piscarem menos do
que as dezesseis vezes por minuto com a vista relaxada, o que pode causa
10 Jornal Zero Hora (Porto Alegre), 24/3/2007
32
fadiga visual e dores de cabeça. Por isso, quando as pessoas lêem textos
online, a leitura é mais vagarosa. Pinho (2003) recomenda que o texto
preparado para a Internet seja cerca de 50% mais curto do que o escrito para
papel.
Instantaneidade: Nos grandes acontecimentos, nenhum meio de
comunicação rivaliza com a cobertura feita pela TV, que divulga os fatos ao
vivo. Entretanto, na maioria das vezes, é preciso esperar pelas notícias no
telejornal da manhã ou da noite. O jornal é ainda mais lento: os fatos precisam
ser cobertos pelo repórter, a notícia é redigida e editada, as máquinas
precisam rodar o jornal para, finalmente, ser distribuído para as bancas e para
os assinantes apenas na manhã seguinte. A Internet, com uma velocidade
conseguida apenas pelo fax e pelo telefone, transmite as mensagens e os
arquivos quase instantaneamente. Muito rápida e abrangente, a rede mundial
permite transferir a mensagem, com som, cor e movimento, para qualquer
parte do mundo. Na mídia on-line, a instantaneidade da informação modificou
até mesmo o sentido do furo de reportagem, notícia importante publicada em
primeira mão por um órgão da imprensa antes dos seus concorrentes, como
destacam Marangoni, Pereira & Silva (2002):
Quando é o jornal impresso diário que dá um furo, ele o
manterá sobre os outros jornais durante o dia todo; uma
revista semanal terá um período de tempo de uma
semana (...). Já na mídia on-line isso não ocorre. Quando
um site dá uma notícia em primeira mão, em poucos
minutos, os outros já se apropriam da informação sem,
em alguns casos, dar o crédito.
(Marangoni, Pereira & Silva, 2002: 57)
Dirigibilidade: Os veículos de mídia impressa e de mídia eletrônica sofrem
severas restrições de espaço e de tempo. Porém, enquanto que na impressa,
um editor determina o que é ou não notícia e o que será ou não publicado, na
Internet a informação pode ser instantaneamente dirigida para a audiência sem
nenhum filtro. Por isso, a informação na Web é abundante, disponível e
33
constante. A informação é consumida pela necessidade ou desejo de estar
bem informado.
Qualificação: A Internet ainda é um veículo de números modestos se
comparados à TV. Mas a rede mundial apresenta um público jovem e
qualificado, com alto nível de escolaridade, elevado poder aquisitivo e um perfil
ocupacional em que predominam as posições de empresário, executivo e
autônomo. Por essas características, a audiência da Internet deve merecer a
atenção também como importante formadora de opinião.
Custos de produção e de veiculação: Os custos de produção da
televisão e da mídia impressa são bastante elevados com relação à Internet.
Depois dos investimentos iniciais em hardware e software, o uso da rede tem
um custo pequeno: publicar uma informação na World Wide Web ou enviar
uma mensagem de correio eletrônico geram despesas irrisórias mesmo
comparadas às tarifas telefônicas de longa distância.
Interatividade: A Internet permite diversas formas de interatividade nas
suas aplicações. Os grupos de discussão, bem como fóruns, chats e o site de
relacionamentos: Orkut e Twitter já têm embutido em seu propósito a interação
entre os participantes de um grupo com interesse focado em um assunto
específico. Na Internet, a organização não está falando para uma pessoa, mas
sim conversando com ela.
Pessoalidade: As novas tecnologias estão cada vez mais permitindo
aos seus usuários exercitar o ato de personalizar e customizar, possibilitando a
busca pela diferenciação pessoal e o registro da própria
Identidade: Na Internet, é possível enviar mensagens para uma outra
pessoa e dela receber uma resposta particular, algo que não ocorre na
televisão.
Acessibilidade: Um site Web está disponível ao acesso dos usuários
vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, trezentos e sessenta e
cinco dias por ano.
Receptor ativo: Enquanto na televisão e no rádio, uma mensagem
publicitária é veiculada a um telespectador passivo que sequer a solicitou, na
Internet, com os milhões de sites disponíveis na rede mundial, é necessário
34
puxar o interesse e a atenção do usuário, buscando a informação de maneira
mais ativa. Para isso, existem os sites especializados em divulgar produtos e
comercializá-los. Segundo Briggs & Burke (2004: 315), graças a esses sites, o
comércio tende a dominar a literatura da mídia, sendo visto como o auge da
revolução do consumo, um paraíso do comprador. Para Machado (2004), a
Internet é o embrião da TV digital, considerado o principal veículo de
comunicação do futuro. Nela, será possível a interatividade com o conteúdo e
com outros telespectadores, e possibilitará acesso a serviços e compra
eletrônicas, ações por sinal já corriqueiras na Internet.
3.3 – Internet e Carnaval
A Internet proporciona aos seus usuários uma gama de novidades,
informações, atrações e acessos então impensáveis ao público antes do
surgimento da grande rede, possibilitando o intercâmbio de culturas e de
costumes, facilitando o contato entre a diversidade de credos, os debates a
respeito de determinados assuntos, a solução de intermináveis dúvidas e de
download de arquivos, juntamente com a troca destes entre usuários.
No caso do Carnaval, em tempos pré-Internet, era comum do
aficionado pela festa só tomar conhecimento do samba-enredo oficial, dos
temas desenvolvidos pelas escolas de samba na ocasião em que o disco era
lançado nas lojas, em torno de 60 dias antes do Carnaval. Considerando que a
ideia do enredo de uma escola só poderia ser explicada superficialmente,
através do encarte do disco com o título do tema e a letra do samba de enredo.
Os demais detalhes só eram conhecidos de fato no dia do desfile. Os
moradores de outras cidades só podiam comprar fantasias para desfilar se
fossem adquiri-las pelo correio, ou pessoalmente na sede da escola em
contato físico com o presidente da ala escolhida ou através de pacotes
turísticos. Os próprios habitantes do Rio de Janeiro só tinham conhecimento
dos sambas concorrentes e das notícias das escolas se freqüentassem as
respectivas quadras. O Carnaval possuía apenas uma semana, encerrando-se
exatamente na quarta-feira de Cinzas.
35
Com a Internet, o simpatizante pode saber das novidades das escolas
muito antes do Carnaval; ouvir os sambas-enredo concorrentes de diversas
escolas; debater nos fóruns de discussão; escolher e comprar fantasias, ler as
sinopses dos enredos; “baixar” sambas de todas as épocas e de todas as
localidades; ver fotos e vídeos de desfiles atuais e antigos; conhecer detalhes
da história das escolas e os membros da diretoria de cada uma; conferir as
opiniões de colunistas especializados, etc. Eis os detalhes das principais
virtudes da Internet no mundo do Carnaval:
Notícias das escolas: Os sites fazem a cobertura do Carnaval durante
todos os dias por ano. São noticiadas, diariamente, as atividades das escolas
mesmo em época distante dos desfiles. É possível sabermos das
movimentações do “mercado” do Carnaval, como o troca-troca nas escolas de
carnavalescos, intérpretes, casais de mestres-sala e portas-bandeiras, rainhas
de bateria, etc.; os anúncios dos enredos no momento em que eles são
confirmados;chamadas para eventos nas quadras das escolas, como shows,
feijoadas, exposições, apresentações dos protótipos das fantasias e
premiações; cobertura de eleições internas nas escolas de samba; anúncios
de cortes de sambas nas eliminatórias; cobertura de ensaios técnicos;
comunicados das Ligas, entre outras atividades.
Sinopses de enredos: A sinopse é um texto elaborado pelo
carnavalesco que apresenta o tema-enredo da escola e mostra como ele será
desenvolvido no desfile, além de descrever detalhes e a divisão de etapas.
Essa sinopse, quando pronta, é repassada aos compositores para que,
baseados nas informações contidas no texto, façam o samba-enredo que
concorrerá nas eliminatórias. Os sites de carnaval e das próprias escolas
disponibilizam as sinopses na íntegra para que o aficionado saiba o que
exatamente sua escola apresentará no desfile e para os compositores
iniciarem as suas obras
Colunas: Assim como em jornais e revistas, alguns sites de Carnaval
também possuem colunistas, especialistas no assunto, que comentam a
36
respeito dos fatos que mais repercutem no Carnaval em determinado
momento.
Sambas concorrentes: Todas as escolas promovem concursos entre
seus compositores para determinar qual samba-enredo será o hino oficial do
desfile no Sambódromo. Em cada agremiação, são dezenas de sambas
concorrentes que compõem as eliminatórias de samba-enredo e os chamados
“cortes” de samba. Dependendo do critério de cada escola, há a divisão por
etapas e, em cada uma, pode haver um grande ou pequeno número de
desclassificações – a cada etapa, os sambas são defendidos ao vivo nas
quadras –, até sobrar poucas parcerias para disputar a final de samba-enredo,
de onde apenas um se credenciará a ser o oficial da agremiação. Há casos
em que fusões entre parcerias ocorrem. Os sites de Carnaval permitem que o
internauta acompanhe etapa por etapa dos cortes de cada escola, o SRZD-
Carnavalesco, por exemplo, permite que o internauta acompanhe em tempo
real as escolhas de samba-enredo com cobertura realizada diretamente da
quadra. Os demais permitem realizar o download de sambas concorrentes,
acompanhar as respectivas letras disponibilizadas pelos sites. Assim, o samba-
enredo11 de uma determinada agremiação já pode ser conhecido antes mesmo
do lançamento do CD, em que cada samba campeão é regravado pelos
respectivos intérpretes oficiais.
Fóruns de discussão/ Espaço de comentários: Temas referentes ao
Carnaval são debatidos, com opiniões de níveis e posturas diversificados,
informações e notícias das escolas postadas, dúvidas apresentadas e
solucionadas, e os usuários interagindo entre si pela afinidade de interesses,
confraternizando-se (ou não). Reúnem, além de simpatizantes, também
compositores, carnavalescos, puxadores, ritmistas etc. Os sites que
possibilitam aos seus usuários esta modalidade são: Galeria do Samba,
através do Espaço Aberto e SRZD-Carnavalesco, através dos comentários que
11 A disponibilidade de um samba-enredo concorrente depende da própria parceria de compositores, que registra seus sambas em estúdios contratando cantores profissionais.
37
podem ser postados por usuários cadastrados em todas as notícias
publicadas.
38
CAPÍTULO IV
SITES ESPECIALIZADOS DE CARNAVAL
A seguir, uma análise dos três principais sites de Carnaval existentes na
rede, a gama de atrações que oferecem e as características de cada um.
4.1 – SRZD- Carnavalesco -
http://www.sidneyrezende.com/carnavalesco
O site surgiu em 2006 através do então repórter do site O Dia Na Folia, Alberto
João, que observou que a quantidade de acessos do site em que trabalhava
era superior a todas as outras editorias. Sendo assim, demitiu-se do Grupo O
Dia e criou o seu próprio site. Três meses depois, procurado pelo jornalista
39
Sidney Rezende firmaram sociedade e passou a adotar a nomenclatura SRZD-
Carnavalesco. Atualmente é o portal mais visitado e respeitado pelo público.
Em seu conteúdo, disponibiliza notícias instantaneamente, áudios dos
sambas concorrentes, análises dos ensaios técnicos, além da cobertura em
tempo real da escolha dos sambas-enredo, dos desfiles das Escolas de
Samba Mirins, Acesso e Especial e das apurações.
4.2 – O Dia na Folia - http://odia.terra.com.br/portal/odianafolia/
É uma parte suplementar do site do jornal O Dia, do Rio de Janeiro. Sua
principal virtude é a divulgação de notícias sobre Carnaval, que ocupam toda a
40
página inicial e são adicionadas diariamente. Há uma galeria de fotos de
ensaios e eventos das escolas de samba passando pelas de Acesso, das
escolas mirins até os blocos carnavalescos. Há disponibilidade de informações
gerais sobre as escolas de samba e os blocos do Rio de Janeiro, de enquetes
e de duas colunas. Não há fórum de discussão, nem chats e atualmente não
são inclusos os áudios dos sambas concorrentes das agremiações na época
das eliminatórias de sambas-enredo.
4.3 – Galeria do Samba -
http://www.galeriadosamba.com.br/V41/
41
O site existe desde 1999, com o domínio registrado na metade de
2000. O conteúdo do Galeria do Samba é formado por um grande banco de
dados com informações sobre escolas de samba atuais e do passado e
informações sobre todos os desfiles desde o primeiro em 1932, com os
enredos apresentados, mais de 1.400 letras de samba-enredo, resultados dos
desfiles, notas, jurados, premiações, discografias, agenda dos eventos, etc.
Não há conteúdo para download. A interação acontece basicamente
através de ferramentas de pesquisa que apresentam de forma rápida e simples
todo o conteúdo do site. Notícias exclusivas sobre Carnaval são publicadas
diariamente, através do trabalho de um jornalista que atua exclusivamente para
a página.
O Galeria do Samba possui um fórum de discussão, o “Espaço
Aberto”. Existente desde dezembro de 2000, o fórum tem mais de 5.000
usuários cadastrados e cerca de 500 participaram pelo menos uma vez nos
últimos seis meses. Numa pesquisa entre 56 pessoas freqüentadoras do
“Espaço Aberto”, foi apontado que 53% dos usuários têm entre 21 e 35 anos,
23% estão entre 31 e 40, 20% se situam na faixa etária de 15 a 20 e há 4%
acima de 41 anos.
Além destes três sites apresentados, atualmente os sambistas contam
com outros sites do mesmo segmento e que também possuem um número
“fiel” de usuários. São eles:
Site Tudo de Samba - http://www.tudodesamba.com.br/;
Site O Batuque - http://www.obatuque.com/obatuquenovo/;
Site Esquina do Samba - http://www.esquinadosamba.com.br/;
Site 10 Nota10 - http://www.10nota10.com/ e;
Site Tititi do Samba - http://www.tititidosamba.com.br/
42
CONCLUSÃO
A Internet é um veículo de comunicação diferenciado dos demais por
promover aos seus usuários acessos então inimagináveis nos meios mais
tradicionais. Porém, a grande rede não pode ser considerada efetivamente a
substituta do jornal, do rádio e da televisão, até por seu acesso ainda ser um
tanto restrito às classes sociais mais baixas, pela não-linearidade das páginas
– caracterizada pelo hipertexto – dificultar a atenção dada pelo internauta a um
único tema e pelo desconforto provocado pela luz do monitor aos olhos. O
dinamismo da Internet, formalizado pelo elevado número de sites de conteúdos
especializados, acarreta no desconhecimento por parte dos usuários à grande
maioria dessas páginas.
Se a grande rede, pelas razões acima, ainda não está substituindo por
completo os veículos tradicionais – servindo, por enquanto, como um meio
adicional –, por outro lado ela se fortalece graças à sua velocidade. A
instantaneidade possibilita que notícias, fotos, áudios e vídeos sejam
publicados quase em tempo real às suas ocorrências. A diversificação dos
assuntos permite que os interessados por um tema determinado saibam
rapidamente dos detalhes escritos, como a história e os membros
participantes, e também acompanhem suas respectivas partes multimídia, se
disponíveis. Cada tema inspira a criação de dezenas de sites em média, cujos
surgimentos em massa são favorecidos pelos baixos custos de produção, cada
qual com a sua visão editorial e pelas distintas maneiras de revelar o conteúdo.
Entre tantos assuntos, o Carnaval foi adotado para esta análise. Este é
um tema divulgado pela mídia impressa e televisiva apenas nas vésperas do
desfile, se estendendo até um pouco depois da Quarta-Feira de Cinzas. Em
contrapartida, a cobertura de Carnaval por estes sites é realizada durante
todos os 365 dias do ano. Se compararmos a cobertura intensa e detalhada
dos sites às superficiais das mídias tradicionais, em que basicamente
acontecimentos fúteis são divulgados, será percebida uma diferença
acentuada. Quando que emissoras de televisão ou jornais divulgariam notícias
sobre a ida de uma porta-bandeira para uma outra escola, o anúncio de um
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enredo ou os sambas concorrentes classificados para a próxima etapa das
eliminatórias? Virtudes exclusivas da Internet. Os ensaios técnicos das
agremiações na Passarela do Samba, a poucos dias dos desfiles oficiais,
ganham um status de espetáculo com a avaliação dos erros e acertos
praticados por cada escola, e o conseqüente apontamento dos fatores que
estas podem usufruir a fim de corrigir os equívocos cometidos no ensaio e não
repeti-los na apresentação oficial. Dezenas de fotos e até os áudios e os
vídeos destes ensaios são disponibilizados rapidamente. As justificativas dos
jurados para as notas diferentes de dez dadas às escolas na apuração, bem
como a audição de inúmeros sambas concorrentes e o acompanhamento da
disputa musical entre os compositores das agremiações para a definição do
samba-enredo oficial, são acessíveis a todos graças à Internet.
Nas comunidades virtuais, formalizadas pelos fóruns e listas de
discussões, a interatividade permite a solução de dúvidas e fortalece os laços
de amizade virtuais ou centraliza conflitos entre um usuário e outro, com
possíveis interferências dos moderadores. Sá (2000) faz uma descrição dos
membros de uma comunidade sobre Carnaval.
Podemos pensar o núcleo da lista de discussão como
formada por um tipo específico de mediadores –
membros da classe média com domínio de uma
ferramenta tecnológica, que são ao mesmo tempo
participantes ativos do mundo do Carnaval, em torno do
qual se agregam novos membros, “simpatizantes”, mas
talvez menos comprometidos com esta militância. No
espaço da lista, estes últimos podem socializar com estas
pessoas que estão “dentro”, que “entendem” de samba
através da participação – mas não são exatamente os
negros analfabetos dos morros – dispondo de sofisticadas
ferramentas tais como o bom texto, que substitui aqui o
bom papo cultivado nos botequins cariocas, e o
computador. Neste caso, o papel da tecnologia é o de
potencializar a comunicação de uma comunidade
construída em bases locais, ampliando as possibilidades
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de construção da identidade carioca/sambista com base
no pertencimento para além da comunidade
geograficamente demarcada, e possibilitando assim a
entonação de um carioquismo virtual.
(Sá, 2000)
No fórum “Espaço Aberto” do site Galeria do Samba, a maioria de seus
freqüentadores possui idade entre 21 e 35 anos e estão inclusos entre eles
compositores, mestres de bateria, dirigentes de escolas, intérpretes, entre
outros foliões que desfilam anualmente, que se simpatizam pelo ritmo mesmo
sem freqüentar as quadras das agremiações, que se recordam de histórias do
Carnaval nunca contadas ou então até mesmo esquecidas pelo público em
geral. A interação destes membros também permite a troca de arquivos raros,
como sambas-enredo antigos, sambas ao vivo, de quadra e concorrentes de
diversas épocas. As listas e fóruns de discussão, além de alguns sites de
Carnaval que publicam material enviado pelos internautas, reforçam a ideia do
receptor ativo, resultando num notável contraponto à passividade existente na
televisão e no rádio. O mesmo ocorre nas escolas virtuais, em que os próprios
foliões podem fundar agremiações particulares, compor sambas-enredo e
“desfilar” com alegorias e fantasias feitas por computador numa “passarela
virtual”, mediante obediência às regras impostas.
O mundo virtual da Internet está proporcionando uma inovação à
comunicação, sendo ágil e instantânea. Basta um clique em um hyperlink ou
em uma foto que a informação desponta de forma rápida, objetiva e sem
rodeios. É preciso contextualizar e informar os leitores sem ser maçante, pois
eles precisam de informação, mas não têm tempo de folhear um periódico
inteiro. A dinâmica e agilidade da linguagem da comunicação, além do baixo
custo de produção da Internet, serviram também para criar um novo cenário
dentro da comunicação: o ciberespaço, a cibercultura e a elaboração de sites
com conteúdos especializados.
A popularização da Internet tem possibilitado a criação destes novos
canais e veículos de comunicação segmentados e especializados, os quais
buscam não um público-alvo genérico, mas sim pequenos nichos de audiência
espalhados pelo ciberespaço. Por isso, a permanência de sites especializados
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dentro da rede mundial de computadores tem a função de preservar e
disseminar conhecimentos entre os usuários. Tendo estes uma função
importante, a de re-alimentar o conteúdo da página gerando além da
interatividade a divulgação dessas páginas.
Os sites especializados surgem como uma alternativa não só para
divulgação de informações, mas também como redes de relacionamentos,
troca de ideias sobre o tema Carnaval, fazendo deste meio uma ferramenta
para a preservação e divulgação da cultura popular e do Carnaval carioca. A
Internet permite que o folião, morador ou não do Rio de Janeiro, sinta como se
estivesse em uma quadra de escola de samba, mesmo que ela seja restrita
apenas às informações presentes no monitor do computador, porém
suficientes para nos situar neste ambiente festivo e desconhecido por boa
parte destes simpatizantes de Carnaval. A folia pode ser comemorada em
plena rede. E em qualquer dia do ano.
46
BIBLIOGRAFIA
ARAÚJO, Hiram. Carnaval: Seis Milênios de História. 2a ed., Rio de Janeiro,
Gryphus, 2003.
BRIGGS, Asa e BURKE, Peter. Uma História Social da Mídia – De
Gutenberg à Internet. São Paulo. Jorge Zahar Editor, 2004
CABRAL, Sérgio. História das Escolas de Samba. Fascículos 1 a 8.
CABRAL, Sérgio. As Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro.
Lumiar Editora, 1996.
CABRAL, Sergio - As escolas de samba. O quê, quem, como, quando e porque. RJ, Fontana, 1974. CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Carnaval Carioca: Dos Bastidores ao Desfile. Rio de Janeiro. UFRJ, 1994.
COSTA, Haroldo. 100 anos de Carnaval no Rio de Janeiro. São Paulo,
Irmãos Vitale, 2001.
COSTA, Rogério da. A Cultura Digital. São Paulo. Publifolha, 2002.
FERREIRA, Felipe. Guia do carnaval no Rio de Janeiro: 98. Rio de Janeiro: Editora Altos da Glória, 1998.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Editora 34, 1999.
LOPES, Nei. O Negro e sua Tradição Musical – Partido Alto, Calango, Chula
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MARANGONI, Reinaldo; PEREIRA, Luciano Iuri & SILVA, Rafael Rodrigues. WebJornalismo: uma reportagem sobre a prática do jornalismo online. 2ª edição. Indaiatuba: Rumograf, 2002 PINHO, J.B. Jornalismo na Internet: Planejamento e Produção da Informação On-line. São Paulo. Summus, 2003. SILVA, Marília Barbosa da, FILHO, Arthur de Oliveira. Cartola, os tempos idos. Rio de Janeiro: Editora Gryphus, 1998.
47
WEBGRAFIA
SRZD- Carnavalesco - http://www.sidneyrezende.com/carnavalesco - Acesso em 18 de agosto de 2010. Galeria do Samba - http://www.galeriadosamba.com.br/V41/ - Acesso em 18 de agosto de 2010. O Dia na Folia - http://odia.terra.com.br/portal/odianafolia/http:// - Acesso em 18 de agosto de 2010. MACHADO, Gilber. Da Internet à TV digital. 2007. < http://www.ebrand.com.br/artigo_escolhido.asp?ido=11 > - Acesso em 17 de julho de 2010.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
A HISTÓRIA DAS ESCOLAS DE SAMBA 11
1.1 - O fenômeno Carnaval 14
CAPÍTULO II
AS INFLUÊNCIAS DA MÍDIA NA POPULARIZAÇÃO DO
CARNAVAL DAS ESCOLAS DE SAMBA DA CIDADE DO
RIO DE JANEIRO 18
2.1 – Transmissão de desfiles pela televisão 25
2.2 – Análise da transmissão dos desfiles através da televisão 27
CAPÍTULO III
INTERNET 29
3.1 – A evolução da internet no Brasil 29
3.2 – Vantagens da Internet em relação aos meios de
comunicação tradicionais 31
3.3 – Internet e Carnaval 34
49
CAPÍTULO IV
SITES ESPECIALIZADOS DE CARNAVAL 38
4.1 – SRZD-Carnavalesco 38
4.2 – O Dia na Folia 39
4.3- Galeria do Samba 40
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 46
WEBGRAFIA 47
ÍNDICE 48
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre
Título da Monografia: Carnaval das Escolas de Samba da Cidade do Rio de
Janeiro: comunicação Segmentada através de sites especializados
Autor: Geissa Evaristo Tavares
Data da entrega: 19/08/2010
Avaliado por: Fernando Lima Conceito:
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