Universidade Cândido Mendes Pró- Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Diretoria de Projetos Especiais Projeto A Vez do Mestre Pós- Graduação “Lato Sensu” Curso de Psicopedagogia
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A PSCICOPEDAGOGIA:
COMPLEMENTANDO AÇÕES
Ana Claudia Carvalho Teixeira Valle
Rio de Janeiro, 2003
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Ana Claudia Carvalho Teixeira Valle
A Orientação Educacional e a Psicopedagogia:
Complementando Ações.
Monografia apresentada por Ana Claudia Carvalho Teixeira Valle à Universidade Cândido Mendes na Pós- Graduação “Lato Sensu”, como pré requisito para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.
Orientadora: Maria Esther de Araújo Oliveira
Rio de Janeiro,2003
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Ana Claudia Carvalho Teixeira Valle
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A PSICOPEDAGOGIA:
COMPLEMENTANDO AÇÕES
Aprovada em:______/______/_______
Banca Examinadora
Profª Maria Esther de Araújo Oliveira
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“ Cada criança é como todas as crianças, como algumas crianças e como nenhuma outra criança.”(Morris,1984)
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AGRADECIMENTOS
A DEUS por estar presente em todo meu percurso, orientando meus passos, me confortando nas horas difíceis e tornando possível a realização dessa meta. Aos meus filhos, Ygor Napoleon e Hannah por estarem ao meu lado, “entendendo a minha ausência” em alguns períodos de suas vidas, demonstrando muito amor, carinho e compreensão ao final de cada dia. A minha família pelo incentivo aos meus estudos. A minha amiga Mariluce por ter me “socorrido” nos momentos difíceis da elaboração da minha monografia, me confortando com muito carinho e palavras de incentivo a minha caminhada. A todos vocês minha eterna gratidão!
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SUMÁRIO
Resumo
Introdução_____________________________________________________________7
Capítulo I - A trajetória da Orientação Educacional no Brasil_____________________8
Capítulo II - A ação do Orientador Educacional______________________________17
2.1- A Orientação Educacional Tradicional___________________________17
2.2- A Orientação Educacional Progressista____________________________20
Capítulo III- O Psicopedagogo Institucional- Atuação Escolar___________________23
Capítulo IV - A Psicopedagogia e a Orientação Educacional –
ComplementandoAções______________________________________29
Conclusão____________________________________________________________35
Anexos______________________________________________________________39
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RESUMO
O trabalho discute a trajetória do Orientador Educacional, buscando novos
caminhos para o aperfeiçoamento de sua prática, em especial dando ênfase a
Psicopedagogia como mais um instrumento utilizado para o seu crescimento.
Utiliza-se como básica teórica Regina Leite Garcia, Isabel Solé, Clarisse Escott,
dentre outros, os quais defendem a ação do Orientador Educacional consciente de seu
papel e buscando novos espaços para sua atuação na escola.
Buscar pressupostos teóricos dentro da Psicopedagogia é mais uma forma de
fortalecer a atuação da Orientação Educacional, utilizando um recurso a mais como
instrumento de melhoria da sua prática. A Psicopedagogia e a Orientação podem e
devem atuar no mesmo espaço como forma de complementação de ações.
Este trabalho divide-se em quatro capítulos. O primeiro capítulo apresenta a
criação do cargo de Orientação Educacional e suas modificações segundo as legislações
anteriores até os dias atuais.
O segundo capítulo discute a ação da Orientação Educacional nas tendências:
Tradicional e Progressistas e as implicações em sua prática segundo a corrente de
trabalho escolhida.
O terceiro capítulo expõe como a Psicopedagogia pode contribuir para o
crescimento e aperfeiçoamento do trabalho da Equipe Técnico Pedagógica na escola.
Por fim, o quarto capítulo propõe a ação conjunta do Psicopedagogo e a
Orientação Educacional como forma de complementação teórica e prática com objetivo
de assessorar alunos e professores no processo de ensino e aprendizagem.
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INTRODUÇÃO
Diante da prática docente do Orientador Educacional, observa-se a insatisfação
dos professores em relação ao Serviço de Orientação Educacional, principalmente
porque associam a figura do Orientador Educacional à psicologia e ao assistencialismo,
não correspondendo, segundo os professores, as reais necessidades da escola.
Há uma grande ambigüidade com relação ao papel do Orientador Educacional
dentro da escola. Por vezes, ele é solicitado como se fosse um “mágico” para resolver
sozinho as questões que permeiam entre alunos, escola, família e indisciplina. Por
outras vezes, sua presença é dispensada por professores ou até mesmo pela equipe da
escola, pois acham desnecessária sua posição diante de algum fato, pois é extremamente
“descartável” sua atuação.
A indefinição do seu papel gera insatisfação profissional. Assim, faz-se
necessário conseguir definir, especificar e delimitar claramente a função do Orientador
Educacional na escola.
Diante de tantos impasses e desencontro, questiono: Quais seriam realmente as
atribuições do Orientador Educacional na escola? Que outros campos dos saberes, como
conhecimentos psicopedagógicos o Orientador Educacional pode utilizar para aprimorar
sua prática? Como a lei 9394/96 ampara a Orientação Educacional?
A presente pesquisa pretende discutir, tentar fazer compreender e responder
tantas indagações que permeiam na prática educacional.
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CAPÍTULO 1- A TRAJETÓRIA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
NO BRASIL.
A Orientação Educacional, assim como a Educação, está inserida num contexto
sócio-político-cultural e econômico que caracteriza de uma forma específica.
Após a 1ª Guerra Mundial, o Brasil despertou para o setor educacional com a
propagação das idéias escolanovistas.
Maia (1996) relata que implementação da Orientação Educacional no Brasil ocorreu
na década de 20, período de constante agitação popular, quando grupos como o proletariado
urbano e facções da própria classe dominante demonstravam sua insatisfação com a crise
econômica do país. Baseada na produção e no comércio de café, o grupo de detinha o poder
econômico e político estava ligado as atividades agrárias e de exportação.
A classe dirigente, consciente do desejo da população de mudanças estruturais na
sociedade, conseguiu deslocar a crise política e econômica para a questão educacional.
Fundamentada em ideais liberais, foi dada ênfase à ascensão social via escolaridade.
O escolanovismo deslocou o enfoque político da educação para o aspecto técnico-
pedagógico.
O movimento de Renovação Educacional pretendeu mudar a qualidade do ensino,
através das reformas educacionais.
Em 1924, a Orientação Educacional surgiu no Brasil com os primeiros trabalhos no
Liceu de Artes e Ofício de São Paulo, pelo professor Roberto Mange, engenheiro suíço,
contatado pelo governo federal com objetivo de orientar os alunos para o curso de
mecânica.
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Ainda sob a direção de Roberto Mange, em 1930, foi criado um serviço de seleção,
orientação e formação de aprendizes matriculados em cursos mantidos pela Estrada de
Ferro Sorocaba.
O Serviço de Orientação foi oficializado em 1931 por Lourenço Filho, tendo sido
criado o primeiro serviço público de Orientação Profissional do Brasil, baseado em modelos
americanos, e extinguindo-se em 1935.
Em relação à literatura a respeito da Orientação Educacional, a primeira obra
nacional publicada é de Aracy M. Freire, em 1940, intitulada “A Orientação Educacional na
Escola Secundária”, porém, a grande propulsora da Orientação Educacional no Brasil foi
Maria Junqueira Schmidt através de cursos e conferências e documentos a respeito.
Em 1932, devido ao interesse político pela educação, os educadores progressistas
lançaram o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova.
De acordo com Maia e Garcia (1986, p.14), este Manifesto propunha a adaptação da
escola à nova sociedade urbano-industrial. Coube ao ensino industrial do Brasil iniciar em
caráter permanente os primeiros trabalhos de Orientação Profissional.
A partir de 1942, a Orientação Educacional foi contemplada na legislação brasileira,
tornando-se obrigatória. Segundo Grinspum (1987, p.15) no Estado Novo as leis orgânicas
além de reformular o ensino secundário, contribuíram para melhor ordenação da estrutura
educacional. O Orientador Educacional (O. E) aparece em quase todas as leis orgânicas
sobressaindo seu aspecto preventivo, segundo um enfoque psicológico, visando o
ajustamento adequado do aluno às normas pré-estabelecidas e a adaptação ao meio social.
A expressão Orientação Educacional apareceu pela primeira vez na Legislação
Federal Decreto-Lei nº 4073, de 30/01/42 (Lei Orgânica de Ensino Industrial), e visava a
adaptação profissional dos alunos ao mercado de trabalho.
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A seguir na lei de nº 4244, de 09/04/42 (Lei Orgânica do Ensino Secundário), e
depois a nº6141, de 28/12/43 (Lei Orgânica do Ensino Comercial).
A ênfase era dada ao ensino profissionalizante. A Orientação Profissional,
assinalada em todos os documentos legais, tinha como objetivo a identificação de aptidões,
interesse dos alunos e a escolha profissional.
De acordo com Pimenta (1989, p.130) “o desenvolvimento da Orientação
Educacional no ensino industrial é marcada pelas finalidades e procedimentos
característicos da Pedagogia Liberal Tradicional”. A prática da Orientação Profissional era
baseada na aplicação de testes psicológicos com a finalidade de selecionar os “mais aptos”,
associada à concepção de orientação enquanto ajustamento do aluno à sociedade, resultando
na justificação das diferenças sociais pelas diferenças individuais, bem como na correção de
alunos com “problemas de desajustes”. A utilização das técnicas de aconselhamento e
estudo de caso para o ajustamento dos indivíduos, fundamentada no atendimento individual,
foi difundida em todo o país e recebeu a denominação de “clínica –terapêutica porque
visava corrigir os” desajustamentos individuais “, e mais tarde a” clínica-preventista “,
porque pretendia prevenir o” aparecimento de possíveis desajustes “. Para essa orientação,
as questões de evasão, a repetência e o fracasso escolar constituíam anomalias psicológicas
e individuais que como tal precisavam ser tratadas”.
Neste período, também se iniciaram os eventos em Orientação Educacional com os
apoios dos órgãos governamentais oriundas do MEC no sentido de implementar e reforçar a
orientação, através de cursos, encontros e simpósios, jornadas e publicações.
A década de 60 apresentou fatos significativos para a Orientação. A Lei Diretrizes e
Bases 4024/61 foi importante no que se refere à Orientação, por ter assegurado a presença
do Orientador Educacional na escola, confirmando sua ação educativa no ensino médio.
Embora se mostrando pouco explícita em relação ao significado da Orientação Educacional,
a lei referiu-se à criação da Orientação Educacional e Vocacional em cooperação com a
família, deixando nítida a função preventiva e psicológica da orientação; preocupou-se
também em normalizar a forma deste profissional, aqui transcritas:
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“Art.38- Na orientação do ensino de grau médio serão
observadas as seguintes normas”:
V - instituição da orientação educativa e vocacional em
cooperação com a família.
Capítulo - Da Orientação Educativa e da Instituição
Art.62- A formação do orientador de educação será
feita em cursos especiais que atendam às condições
do grau, do tipo de ensino e do meio social a que se
destinam.
Art.63- Nas faculdades da filosofia será criado, para a
formação de orientadores de educação do ensino
médio, curso especial a que terão acesso os
licenciados em pedagogia, filosofia, psicologia ou
ciências sociais, bem como os diplomados em
educação física e os inspetores Federais do ensino,
todos com estágio mínimo de três anos no magistério.
Art.64- Os orientadores de educação do ensino primário
formados no Instituto de educação em curso especial a que terão
acesso os diplomados em escolas normais de grau colegial e em
Institutos de Educação, com estágio mínimo de três anos no
Magistério Primário.
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A lei definiu o papel do Orientador e sua formação para que este cumprisse o papel
esperado pelo Estado, tendo a preocupação com o ajustamento do indivíduo às condições
dadas, do aluno à escola e do profissional ao mundo do trabalho. A lei destacou o
atendimento das aptidões individuais, propondo a individualização da educação, era preciso
então que o Orientador se capacitasse para tal exercício.
De acordo com bibliografia consultada, a LDB refletia o poder imperante da época.
A estrutura econômica pós-guerra, de substituição de importação e estímulo para a
industrialização nacional – estava reajustada devido à penetração do capital estrangeiro que
vinha suprir as necessidades de financiamento para o processo de industrialização.
O projeto político da época era sustentado pela ideologia nacional-
desenvolvimentista. Pretendia-se através deste projeto uma aliança entre burguesia e a
classe trabalhadora, mas o conflito entre as duas classes estava declarado. Iniciaram-se
debates políticos entre os dois grupos que lutavam pelo poder:
• os radicais de esquerda e os políticos
• os militares conservadores e a U.D.N.
Evidenciava-se a crise política com raízes econômicas e sociais.
Com o golpe de 64, teve início o período da ditadura militar, cuja bandeira
econômica se baseava na teoria do capital humano. Houve a internalização deste
capital que foi relevante para o processo de industrialização.
A política nacional era deflacionária privatista. O quadro financeiro era de
contenção de fortalecimento do capital e de controle do trabalho. Sendo assim, o
modelo de industrialização contribuiu para o aumento da concentração de renda
acentuando as dificuldades sociais.
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Devido à crise do ensino superior e as pressões exercidas pelos estudantes, surgiu à
reforma universitária de 68. A lei 5540/68 representou a ruptura política ao nível de
educação e os decretos lei 464 e 477 de 69 consolidaram o corte. Nesta lei, a
Orientação Educacional passou a ser oferecida em curso de graduação como
habilitação do curso de Pedagogia.
Neste contexto, foi divulgado o parecer 252/69 do Conselho Federal de Educação,
que modificou o nível de formação do Orientador Educacional diferente da Lei de
Diretrizes Bases.
A Orientação Educacional surgiu na lei 5564/68, que prevê o exercício da
profissão de Orientador Educacional o aconselhamento dos alunos, limitando-se à
seleção e orientação profissional.
Com o objetivo de atender as necessidades industriais preparando para a mão
de obra a nível médio, a nova lei 5692/71 referente ao 1º e 2º graus teve como eixo à
formação profissional. O ensino profissionalizante era obrigatório no 2º grau e tina
com finalidade conter a procura a nível superior pelos estudantes da classe média.
Nesta lei, o aconselhamento vocacional enfatizava os interesses e aptidões
inatas. A orientação pespassava todos os níveis, principalmente a sondagem de
aptidões e iniciação para o trabalho no 1º, e o aconselhamento vocacional ao nível
de 2º grau. Consagrava-se a Orientação Educacional, conforme se depreende das
palavras abaixo:
Art.1º- Será instituída, obrigatoriamente, a Orientação
Educacional, incluindo aconselhamento vocacional em cooperação
com professores, família e comunidade.
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Com a finalidade de adaptar-se a lei 5692/71, os Orientadores Educacionais
elaboraram um anteprojeto no IV Encontro Nacional de Orientação Nacional de
Orientação Educacional para reformular a lei 5564/68.
A regulamentação da profissão da Orientação Educacional veio, no entanto,
com o decreto nº 72.846 de 29-09-73, que normalizou as condições para o exercício
da profissão, e definiu seu papel distinguindo-se entre as atribuições privativas,
aquelas cuja coordenação estava sob sua responsabilidade e as outras que apenas
exigiam sua participação nos momentos importantes da vida escolar.
Na década 80, a Orientação direcionou o seu objeto de estudo para a escola
como um todo, dentro de um contexto sócio-histórico-político-social; o Orientador
Educacional começou a ser visto como educador, agente de transformação, colaborando
para o desenvolvimento do pensamento crítico-reflexivo dos indivíduos.
A Orientação tinha por objetivo desenvolver no cidadão a consciência crítica, a
participação e o comprometimento político. Sendo assim, o currículo passava a ser um
instrumento comum de trabalho do Orientador Educacional, este passa a Ter maior
envolvimento na democratização da escola pública, havendo um questionamento em
termos de participação na educação transformadora, seu trabalho estava geralmente
voltado para a pedagogia crítico-social dos conteúdos, com uma visão interdisciplinar
de educação.
A lei 7044/82 põe fim a obrigatoriedade do ensino profissionalizante, levando os
Orientadores a descobrirem novas formas de atuação no ensino educacional. Integrado
ao seu órgão de classe havia o envolvimento nas lutas de classe a favor dos
trabalhadores. Os Orientadores passavam a Ter uma visão mais generalista da educação,
participando de movimentos sociais, estando suas funções relacionadas à articulação de
forças dentro da comunidade escolar.
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Hoje, a nova lei de Diretrizes Bases 9394/96 em seu título sexto – Dos
Profissionais da Educação – no artigo 64 aborda a sua formação no Curso de Pedagogia;
formam-se os chamados Especialistas em Educação e os Institutos Superiores de
Educação os docentes do 1º segmento do ensino básico.
A nova lei, em seu artigo 62, determina a criação dos Institutos Superiores que
junto a Universidade se responsabilizarão pela formação dos professores de educação
básica.
Art. 62- A formação de docentes para atuar na educação
básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de
graduação plena em universidades e institutos superiores de
educação, admitida como formação mínima para o exercício do
magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental a oferecida em nível médio, na modalidade
Normal.
Fez-se referência ao curso de Pedagogia no artigo 64:
Art.64- A formação de profissionais de educação para
administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação
educacional para a educação básica, será feita em cursos de
graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a
critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a
base comum nacional.
A nova Lei Diretrizes Bases excluiu o magistério como uma habilitação do curso
de Pedagogia. A lei não garante a docência como base na formação dos profissionais de
educação, isto significa que o curso de graduação em Pedagogia poderá formar apenas
os chamados especialistas.
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A lei em si é contraditória, pois no parágrafo único afirma:
Parágrafo Único - A experiência docente é pré-requisito para o exercício
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos termos das normas de cada
sistema de ensino.
É importante que se fique atento às implicações da nova Lei Bases na formação
dos profissionais de educação. É extremamente necessário que a formação do Pedagogo
esteja relacionada à área do magistério.
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CAPÍTULO II – A AÇÃO DO ORIENTADOR
EDUCACIONAL
O presente capítulo propõe apresentar a ação do Orientador Educacional
segundo as tendências Tradicional e Progressista.
2.1- Orientação Educacional Tradicional
As tendências liberais em seus estilos conservadores e renovadores têm marcado
a educação brasileira. A tendência liberal sustentava-se na idéia de preparação do
indivíduo por meio de aptidões individuais, para desempenhar papéis nesta sociedade.
Segundo Maia, (1996, p. 24) a doutrina liberal surgiu
como justificação do sistema capitalista que ao defender a
predominância da liberdade e das diferenças individuais da
sociedade, estabeleceu uma forma de organização baseada na
propriedade privada dos meios de produção.
Partindo do pressuposto de que a sociedade é justa e caberia à educação preparar
os indivíduos para se adaptarem a uma sociedade harmonia, tudo que fugisse a
harmonia precisaria ser reajustado. Neste enfoque, a ação da Orientação educacional
teria como objetivo detectar os alunos “problemas”, e com “desvios” e ajustá-los à
escola e à sociedade.
Assim a Orientação Educacional se colocou na escola de forma assistencialista,
como uma prestação de serviço conforme a necessidade da escola.
Dentro de uma concepção liberal tradicional de educação, as áreas básicas de
atuação do Orientador Educacional, segundo Garcia (1986), eram:
• Orientação psicológica/emocional;
• Orientação escolar;
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• Orientação familiar;
• Orientação vocacional.
Este tipo de atuação partia de um diagnóstico individual, através de técnicas
como estudo de casos, aconselhamento, utilizando observações, entrevistas,
questionários, inventários e teses.
A ação do Orientador Educacional que atendeu a uma concepção liberal
escolanovista se dava nas seguintes áreas:
o Orientação psicológica/emocional;
o Orientação de estudo;
o Orientação vocacional;
o Orientação do lazer e social.
O atendimento ao aluno era em grupo, através de sessões de grupos,
estudo de classes, atividades extraclasse, representação de classe e conselho de
alunos utilizando entrevistas, testes, questionários e listas de dificuldades para
desenvolver o autoconhecimento do aluno e o conhecimento do mundo que o
cercava, conhecendo aptidões, os interesses e as limitações do meio para que o
aluno pudesse fazer adequadamente sua escolha profissional.
O serviço de Orientação Educacional, através do atendimento direto ao aluno,
individualmente ou em grupo, procurava assisti-lo no processo de adaptações à escola,
aos valores, ao saber, e futuramente na adaptação ao mundo do trabalho.
A participação do Orientador Educacional no conselho de classe se fazia no
sentido de passar a recolher informações sobre os alunos que estão em atendimento no
Serviço de Orientação Educacional, bem como perceber aqueles alunos que iriam
precisar de atendimentos futuros.
20
Com a finalidade de no final do ano curso levar o aluno a escolher uma profissão
adequada às suas características pessoais, realizava-se a Orientação Profissional,
desenvolvida através da informação profissional, de questionário, sondagem de aptidões
e entrevistas. Esta prática acabava levando os alunos a uma análise do trabalho
totalmente desvinculada da realidade.
Segundo Ferreti (1982), a Orientação “Vocacional” praticada tradicionalmente é
fortemente marcada pelo liberalismo. A liberdade de escolha das aptidões e dos
interesses, a igualdade de oportunidades, a responsabilidade pessoal pelas escolhas, a
ênfase no individualismo – que as teorias psicológicas tem como referencial e
pressuposto - eram concepções da doutrina liberal.
“As teorias psicológicas tem em comum o pressuposto de que o indivíduo
gozava de certa liberdade na escolha da ocupação, Istoé, podia exercer pelo menos um
certo controle sobre seu futuro vocacional, enquanto as teorias não psicológicas não lhe
concediam estas amplitudes”. ( CRISTES, 1974, p.106, apud FERRETI ).
A ênfase no enfoque psicológico influenciou as pesquisas e práticas da
Orientação Profissional no Brasil.
Tradicionalmente a Orientação Educacional vem cumprindo o papel de assistir
ao aluno no processo de adaptação às normas escolares numa ação corretiva,
preventiva, e às vezes desenvolvimentista. Sua formação pautada numa certa
psicologia recebia informações fragmentadas, valorizava o aspecto técnico de sua
especialidade e trazia uma visão ingênua de Educação como instância de
democratização e promoção social. Sua prática era fundamentada nos pressupostos do
Positivismo e da Educação Liberal, reforçando o psicologismo que permeava em
algumas concepções de Educação.
Dentro de uma tendência pedagógica não-diretiva, o Orientador Educacional foi
definido com facilitador de relações. Esta abordagem não-diretiva era assentada
na psicologia de Carl Rogers, cuja tese é que o aluno dispunha de um potencial
21
interno e espontâneo de auto-realização, podendo assim tomar suas próprias
decisões, desde que seja promovido em clima de aceitação e livre de ameaças.
Uma das condições necessárias para uma aprendizagem seria o desenvolvimento
na escola e nas relações interpessoais.
Porém, as relações interpessoais visavam estabelecer a harmonia entre
classes sociais, entretanto, os interesses de classes são contrários.
De acordo com uma pesquisa realizada por Pimenta (1990), foi
constatado que o modelo teórico de Orientação que se desenvolveu nos estados
de Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul
assentou-se nas contribuições da psicologia (diferencial, evolutiva das relações
humanas e das relações pessoais) e partiu de uma concepção do aluno um ser
ideal. De modo geral estas contribuições foram sistematizadas nos enfoques
clínico-terapêutico, clínico-preventivo e desenvolvimentista, enfatizando o
trabalho com o aluno na escola, ou seja, dentro de um enfoque tradicional da
Orientação Educacional.
2.2 – Orientação Educacional Progressista
Numa sociedade desigual e capitalista, a grande maioria da população se
constitui de segmentos sociais menos favorecidos pelo domínio dos meios de produção.
Estes segmentos é que proporcionavam o aumento do capital para o enriquecimento de
poucos e que não participavam nos lucros oriundos de sua produção.
Era do interesse da sociedade capitalista que o indivíduo fosse ajustado à
realidade e aceitasse a sua condição de classe sem questionar.
Para Bourdieu (1986), o que a escola faz é um tipo de violência simbólica à
medida que introduz a cultura dominante em detrimento da cultura popular; sendo
assim, ela incorpora os interesses e as ideologias da classe dominante. A escola,
22
enquanto parte da sociedade capitalista, prepara as consciências através da inculcação
ideológica para que o indivíduo sirva aos interesses do capital.
O que os educadores e Orientadores Educacionais poderiam fazer pela
emancipação das camadas populares? O que os Orientadores Educacionais, através da
revisão de seu papel, poderiam fazer pela melhoria e democratização da escola pública?
De acordo com os autores pesquisados, dentro de uma perspectiva crítico
dialética, o trabalho do Orientador na área da educação se caracteriza pela necessidade
de transformação social.
No sentido de contribuir para a democratização do saber sistematizado,
possibilitando às classes subalternas o domínio do patrimônio cultural da humanidade.
Sua ação deve estar direcionada ao esclarecimento maior das camadas populares para
que a partir da compreensão dos limites impostos pela organização da sociedade,
pudessem se estruturar em blocos, delineando interesses específicos e constituindo
forças ativas e determinadoras do processo-histórico social (PROSPECTIVAS-1986,
p.63).
Dentro desta perspectiva progressista, a Orientação Educacional participa do
projeto político- pedagógico- social através da compreensão do espaço escolar,
definindo assim um plano de ação. A definição deste plano de ação deverá ter como
questões orientadoras o que e como fazer para que o projeto político - pedagógico se
efetive dentro da realidade da escola em que trabalha, tendo como base os problemas
que são identificados na prática político-pedagógico da escola.
O Orientador Educacional atua a partir da identificação de problemas concretos
após sua análise.
Segundo Saviani (1982), na identificação de problemas é necessária a efetivação
de uma reflexão rigorosa, radical e de conjunto, que implica na adoção de uma
metodologia científica nas etapas de análise, na busca de manifestações e constatação e
23
no delineamento das relações do problema dentro de um contexto mais amplo
(PROSPECTIVA - 1986).
Conforme Pimenta (1985), a escola é um espaço concreto de ação do educador,
que deve assumir o papel de transmissão do saber sistematizado de forma a permitir o
melhor entendimento do mundo por aqueles que tem acesso à educação formal.
Sendo assim, a ação do Orientador Educacional hoje, deve ser refletida a partir
de projeto político-pedagógico.
24
CAPÍTULO III - O PSICOPEDAGOGO NA ESCOLA
A psicopedagogia surgiu como uma necessidade de compreender os problemas
de aprendizagem, refletindo sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento
cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de aprendizagem.
Atualmente as construções psicopedagógicas extrapolaram as questões
relacionadas apenas aos “problemas” e suas pesquisas, e se dirigem para duas vertentes:
a psicopedagogia curativa ou terapêutica e a psicopedagogia preventiva.
A pesquisa monográfica se deterá em discutir a psicopedagogia institucional, ou
seja, o psicopedagogo atuando dentro do espaço escolar.
Considerando o trabalho na instituição escolar, segundo Escort (1997)
identificam-se duas naturezas de trabalhos psicopedagógicos:
• Uma psicopedagogia curativa – voltada para grupos de alunos que
apresentam dificuldades na escola, com o objetivo de reintegrar e readaptar o
aluno às situações de sala de aula, possibilitando o respeito às suas
necessidades e ritmos.
• Uma psicopedagogia de assessoramento – voltada para assessoria junto a
pedagogos, orientadores e professores. Objetiva trabalhar questões
pertinentes às relações vinculadas professor-aluno e redefinir os
procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e cognitivo, através da
aprendizagem de conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento.
• A psicopedagogia em sua abordagem institucional propõe a analisar a
instituição escolar e suas relações de aprendizagem a partir de uma
abordagem crítica e sistêmica.(FAGALI, 2001, p.64)
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A instituição escolar é um espaço de construção do conhecimento não só para o
aluno, mas para todos nela envolvida. Na escola, o psicopedagogo tem como foco a
prevenção das dificuldades de aprendizagem, auxiliando no resgate da identidade da
instituição com o saber e, portanto, com a possibilidade de aprender. A reflexão sobre o
indivíduo e o coletivo traz a possibilidade da tomada de consciência e da inovação
através da criação de novos espaços de relação com a aprendizagem.
Qualquer escola precisa ser organizada sempre em função da
melhor possibilidade de ensino e ser permanentemente
questionada para que seus próprios conflitos não resolvidos,
não apareçam nas salas de aula, sob a forma de distorções do
próprio ensino. Nessas situações fica o aluno (o aprendente)
como depositário desses conflitos e, conseqüentemente,
apresentando perturbações em seu processo de aprendizagem.
(BLEGER apud WEISS, 1992, p.32)
A ação do psicopedagogo está centrada na prevenção do fracasso e das
dificuldades escolares, não só do aluno como também dos educadores e demais
envolvidos neste processo. Faz-se necessário que a intervenção psicopedagógica invista
na melhoria das relações de aprendizagem e na construção da autonomia não só dos
alunos, mas, principalmente dos educadores.
A dimensão institucional da educação está constituída em dois
espaços: por uma parte externa, o lugar concreto, e por uma
outra interna, simbólica, de todos e de cada um dos integrantes
que participam em tal processo, onde reside e toma sentido na
organização desta dimensão institucional.(BULTEMAN, 1994,
p.18)
26
Nessa relação todos ensinam e todos aprendem a partir de suas possibilidades
individuais, de seus conhecimentos e, também, de sua dimensão afetiva, incluindo, aqui,
as expressões de afeto, amor, medo, raiva ou agressividade.
Considerando que a aprendizagem se dá a partir da dinâmica das relações entre
todos os envolvidos nesse processo o diagnóstico psicopedagógico na escola não pode
centrar-se apenas nas questões individuais do aluno.
A organização da intervenção psicopedagógica em nível
institucional tem início no diagnóstico onde, através de um
olhar alimentando por esse campo do conhecimento, é possível
identificar as dificuldades, os obstáculos, relações e
possibilidades dos sujeitos envolvidos na instituição.(ESCOTT,
1997, p.34)
Alguns pontos podem ser indicados para a investigação e análise
psicopedagógica institucional:
• Dados de identificação da escola (histórico da instituição);
• Organização da instituição;
• Organização político-pedagógica – concepção e epistemológica;
• Relações interpessoais, de poder e com o conhecimento em todos os níveis
da instituição.
Após a coleta e investigação dos diferentes aspectos institucionais, o
psicopedagogo deverá proceder à análise dos dados, buscando identificar as possíveis
fraturas nas relações com o conhecimento entre os diferentes sujeitos que a compõe.
O planejamento da intervenção psicopedagógica na escola parte das fraturas e
necessidades expressas pelos sujeitos – professores, alunos e pais, bem como das
possibilidades da escola e do próprio psicopedagogo, viabilizar, através de técnicas,
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discussões, reuniões, e sensibilização, o resgate e a ressignificação da relação com o
aprender, foco da ação do psicopedagogo na instituição.
O psicopedagogo deve atuar como um mediador capaz de
integrar e sintetizar as várias áreas do conhecimento junto à
equipe escolar. É de fundamental importância instrumentalizar
o professor para lidar com essa questão, tornando acessível os
conhecimentos necessários para o trabalho com as dificuldades
de aprendizagem.(SCOZz, 1992, p.64)
A ação do psicopedagogo na instituição é, sobretudo, coletiva.
A psicopedagogia, na medida em que circula entre a Pedagogia e a Psicologia
permite um olhar não só as questões intelectuais e cognitivas, mas também aos aspectos
simbólicos envolvidos no ato de aprender, permitindo o rompimento da armadura criada
pela escola, que põe a criança em estado de prisão aos aspectos lógicos, puramente
intelectuais e conteudistas da aprendizagem.
Para o campo teórico da Psicopedagogia, a dificuldade de aprendizagem pode
ser entendida como um sintoma dinâmico entre o sujeito que “não aprende” e o meio
familiar e social em que vive, onde esse não aprender tem um significado.
Na perspectiva da Psicopedagogia Institucional, faz-se necessário lançar um
olhar especial sobre as dificuldades de aprendizagem denominados processos reativos.
Muitas são alternativas de ação apontadas pela Psicopedagogia, que viabilizam,
a partir da investigação diagnóstica, novas formas de ação que funcionam como uma via
positiva às questões simbólicas e afetivas dos alunos. Tais alternativas contribuirão para
o desenvolvimento cognitivo dos mesmos. O brinquedo, o jogo, a expressão simbólica,
a dramatização, entre outros, funcionam como organizadores da realidade interna e
externa, tanto em nível cognitivo quanto em nível afetivo.
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O sujeito, através da formação e utilização das diversas
manifestações simbólicas – linguagem, imagem mental,
brincadeira simbólica, desenho representativo, fabulação
lúdica, adquire condições de gradativamente, ir se percebendo
como alguém que constrói a própria história de vida de modo
ativo e interativo, tomada de consciência da lógica subjacente
às ações.(OLIVEIRA, 1994, p.40)
Para Freud (Escott apud Freud, 1997), ao brincar, a criança organiza sua
realidade psíquica, enquanto que para Piaget(Escott apud Piaget, 1997) a brincadeira
reflete o comportamento cognitivo da criança, sua organização e hipóteses em relação
do meio.
A Psicopedagogia em sua ação preventiva pode, portanto, colaborar para sua
adaptação e prevenção das dificuldades de aprendizagem. É através da elaboração de
um diagnóstico cuidadoso, com o levantamento de dados e observações do aluno, bem
como da busca de uma fundamentação teórica consistente, que o psicopedagogo
institucional poderá instrumentalizar o educador na criação de novos fazeres
pedagógicos.
Repensar a escola à luz da psicopedagogia significa, então,
realizar a leitura de todo o processo que inclui não só os
aspectos didático-metodológicos, como também as questões
relacionais e sócio-culturais, privilegiando o ponto de vista de
quem ensina e de quem aprende, envolvendo e comprometendo
a todos de forma a construir um espaço prazeroso de trocas,
onde o conhecimento e aprendizagem tornam-se o centro de
tudo.(ESCOTT, 1997, p.51)
Essa dinâmica prazerosa traz a possibilidade do desenvolvimento da autonomia
do pensamento do aluno, da construção sadia da sua personalidade enquanto ser social e
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da otimização da sua relação com o conhecimento e sucesso escolar, pois desejar
aprender é desejar a vida.
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CAPÍTULO IV - A PSICOPEDAGOGIA E A ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL - COMPLEMENTANDO AÇÕES.
A Orientação Educacional pode ser entendida em dois sentidos, constitutivos e
complementares.
Orientar consiste em proporcionar informação, orientação e assessoria a alguém
para que possa tomar decisões mais adequadas. No âmbito educacional, a função
orientadora é inerente à função docente, está ligada a um sentido amplo, tende a
proporcionar os meios necessários para a formação integral do aluno, em todas as suas
capacidades cognitivas, lingüísticas e motoras, ou seja, de equilíbrio pessoal.
“A orientação é uma função estruturadora da intervenção
psicopedagógica, um recurso disponível às instituições educacionais
em seu conjunto e seus diversos subsistemas. (SOLÉ - 2001-p. 20)”.
Intervenção e Orientação aparecem indissoluvelmente ligadas. A caracterização
usada atualmente sobre a intervenção psicopedagógica, inclui uma ampla variedade de
conceitos e tarefas exercidas por profissionais formados em diferentes áreas de
disciplinares.
Observa-se no momento atual, uma tendência nas disposições ditadas pelas
diferentes administrações educacionais, vincular a Orientação Educacional com a
Intervenção Psicopedagógica.
Fajardo (1996), defende a realização consciente da tarefa de orientação que todo
professor, com diferente grau e diferentes funções, materializa de forma inerente à sua
prática docente.
Nesse contexto, entende-se que a intervenção psicopedagógica é um recurso
especializado a serviço dessa orientação, que compete à instituição em seus diversos
planos e da ação educacional em seu conjunto.
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Podemos considerar, diferentes áreas de intervenção que são de competência do
Serviço de Orientação Educacional:
• Apoio específico a certos alunos;
• Orientação para todos;
• Assessoramento para o corpo docente;
• Intervenção
Em um sentido mais amplo, é uma intervenção que, adotando a terminologia de
Ainscow (1995, p.32), “assume uma perspectiva curricular diante da perspectiva
individual”.
Mostra-se clara a necessidade de considerar de forma contextualizada as
dificuldades de aprendizagem que determinados alunos apresentam e a levar em
consideração, na intervenção, todos os fatores como, organicionais e curriculares,
vinculados à interação direta na sala de aula, envolvidos no desenvolvimento efetivo
dos processos de ensino e aprendizagem.
A concretização prática organizacional, curricular e coesão institucional,
pressupõem a implementação de processos de assessoramento de construção conjunta
envolvendo o psicopedagogo e outros profissionais, nos quais cada um participa a partir
de sua formação peculiar e contribui com seus conhecimentos específicos, experiências
de objetivos compartilhados.
Podemos caracterizar o campo profissional da psicopedagogia
como aquele para qual conflui um conjunto de profissionais –
basicamente psicólogos, pedagogos e psicopedagogos, cuja
atividade fundamental tem haver como as pessoas que
encontram quando levam a cabo novas aprendizagens, com as
intervenções dirigidas a ajuda-las a superar estas dificuldades
e, em geral, com as atividades especialmente pensadas,
planejadas e executadas para que elas aprendam mais e melhor.
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De um ponto de vista genérico, podemos dizer que o trabalho
psicopedagógico está intimamente vinculado à análise, ao
planejamento, ao desenvolvimento e à modificação de processos
educacionais. (COLL, 1996, p.33).
A Orientação Educacional e a Psicopedagogia, ambas requer profissionais
estratégicos e reflexivos que analisem, avaliem e interpretem os fenômenos que
precisam enfrentar, que contribuam com sua visão para que outros tomem decisões que
permitam otimiza-los, que colaborem, discutam e cheguem a acordos. O compromisso
político e ideológico encontra-se profun damente relacionado com um compromisso
ético.
A intervenção e orientação psicopedagógica ocorre durante uma situação de
crise, de mal-estar ou de estresse psicológico que afeta uma instituição, uma pessoa ou
um grupo. Exige ainda, a avaliação contínua da própria atuação, que significa não só ser
responsável pelos eventuais sucessos e fracassos alcançados, mas, também, assumir as
responsabilidades que lhe caibam.
Pedagogos e Psicopedagogos podem atuar no mesmo campo profissional,
mesmo que sejam formados em tradições disciplinares diferentes. A realidade
educacional há tempo vem reclamando de profissionais preparados para o campo de
intervenção e orientação psicopedagógica. Há uma extrema necessidade de se trabalhar
nas escolas em caráter interdisciplinar, pedagogos, psicólogos e psicopedagogos.Cada
qual com sua especificidade ocasionando conhecimentos complementares.
O modelo preventivo ou educacional escolhidos da escola presta-se especial
atenção à vertente educacional do trabalho psicopedagógico, tendo com objetivo
prevenir o fracasso escolar e os problemas de aprendizagem em geral.É imprescindível
analisar todos os elementos da instituição escolar.
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A intervenção a partir de um enfoque educacional define como seu objeto os
processos de ensino e aprendizagem que a escola estabelece e implementa. Os
conhecimentos e as estratégias fundamentam-se ao conhecimento psicoeducacional,
como: teorias da instrução, explicações sobre os processo de ensino e aprendizagem,
formação que permita identificar e atuar sobre as dificuldades de aprendizagem. Há uma
necessidade também de conhecer sobre a organização e as din\ãmicas institucionais.
Trabalha-se com alunos, professores, família e outros serviços.
A orientação e intervenção psicopedagógica, define sua tarefa como
complementar à de outro profissionais da escola, com os quais colabora, a partir de sua
perspectiva específica, para alcançar as finalidades que lhe são próprias.
Um enfoque educacional priorizará os aspectos vinculados com
o processo de ensino e aprendizagem, inclusive quando o
beneficiário da intervenção for um aluno concreto, privilegiará
as intervenções de tipo preventivo e enriquecedor, de tipo
fundamentalmente indireto, sem por isso evitar as corretivas,
mesmo quando em certas ocasiões se trabalhe diretamente com
os alunos, levando em consideração a pluralidade de contextos
em que estes se desenvolvem. (SOLÉe, 2001, p.46)
Trabalhar a partir de um enfoque educacional, nos permite fazer intervenções
com os agentes educacionais, incluindo os diversos contextos, ou seja, uma intervenção
que começa corretiva, porém, adota também dimensões preventivas e enriquecedoras.
Adoção de um enfoque educacional na intervenção psicopedagógica representa
considerar as características específicas do contexto de intervenção.
Faz-se necessário contextualizar a intervenção, de levar em consideração a
realidade na qual seda, levamdo a adotar decisões diferentes, em consideração a
diversidade de instituições e de sistemas nos quais se realizam as intervenções.
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Ao caracterizarmos uma ação psicopedagógica como instigadora, assessora e
orientadora de processo de mudança na instituição, estamos atribuindo-lhe um papel de
formação de conhecimentos na própria escola. A tarefa de assessoramento e orientação
pode ser considerada como um processo de construção conjunta entre toda a equipe
escolar. O contexto de colaboração não é algo que aparece pronto, mas vai sendo
negociado e construído por todos.
Não se postula a imposição de uma visão sobre a outra, nem uma “mudança”
que vem de fora; o assessoramento e a orientação somente podem contribuir para
questionar determinadas representações e formas de agir, e para encontrar outras mais
satisfatórias.
“A existência de pontos de vista diferentes entre membros de um grupo é sempre
algo esperado, e não constitui em si mesma um obstáculo, mas uma realidade. (SOLÉ,
2001p. 67)”.
Diante tantos obstáculos às instituições educacionais estão já alguns anos
tentando encarar os desafios que representa educar alunos diferentes em todas as suas
capacidades.
As dificuldades estendem-se ás tarefas de desenvolvimento curricular que atenda
a demanda, e reconhecimento de tomada de decisões de forma conjunta entre
professores, orientadores, supervisores, psicólogos e psicopedagogos para encontrar a
melhor forma de superar obstáculos encontrados no caminho do grupo.
As dificuldades são inúmeras, ao ponto que muitos docentes e profissionais da
área se sintam sobrecarregados e progressivamente tomados pelo desânimo, cuja
concentração pratica é vista com algo distante.
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Faz-se necessário tomarmos o assessoramento e a orientação psicopedagógica,
como mais um recurso importante a ser utilizado de forma global para as instituições,
visando medidas para a qualidade do nosso sistema educacional.
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CONCLUSÃO
A figura do Orientador Educacional desde sua criação esteve ligada ao
assistencialismo, conforme a pesquisa demonstra no primeiro capítulo. A função do
Orientador Educacional não foi criada segundo a demanda da escola, por isso, justifica
tanta insatisfação com relação ao seu trabalho. No início de sua criação, o papel do
Orientador Educacional era voltado para o ajustamento do indivíduo e atender ao
mercado de trabalho da época, através da técnica de Orientação Vocacional, segundo as
aptidões inatas do aluno, aptidões essas que estavam muito ligadas as suas condições
sócio - econômicas.
Já na década de oitenta, o Orientador Educacional começou a introduzir uma
linha de trabalho mais crítica, utilizando o currículo através dos conteúdos, como forma
de democratizar o ensino.
De acordo com o corpo do trabalho, pode-se observar que a Orientação
Educacional passou por várias modificações e obstáculos para aprimorar sua linha de
atuação, buscando sempre seu espaço e interação com a escola.
A Psicopedagogia é mais um componente que está ao alcance dos Orientadores
Educacionais com forma de complementar sua atuação dentro do espaço escolar.
A junção das duas ciências, com o a psicologia e pedagogia, traz um olhar
diferente e consistente com relação aos alunos no processo ensino - aprendizagem,
tendo como foco o combate ao fracasso escolar.
O Orientador através de sua coleta de dados complementa a intervenção e ação
psicopedagógica institucional escolar. O alvo é o aluno e o objetivo é ajuda-lo a vencer
suas dificuldades. Dificuldades essas, que todos que fazem parte do processo, como,
alunos, professores, família, escola, devem pegar para si a responsabilidade que lhe
cabem.
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A intervenção e a Orientação interligadas complementam suas ações devido a
um trabalho interdisciplinar e a variedades de conceitos em diferentes áreas, trazendo
um novo olhar aos problemas encontrados no ambiente escolar.
As dificuldades são inúmeras a serem ultrapassadas até chegarmos ao desejado,
porém é notório que as ciências, as teorias, os teóricos, os profissionais da área de
educação, em ação conjunta, estão em permanente processo de construção de novos
caminhos, em busca da qualidade do sistema educacional.
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BIBLIOGRAFIA.
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ANEXOS