Universidade Católica de
Brasília. A autopercepção do envelhecimento a partir da dimensão da
imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora de plano de saúde em Brasília, Distrito Federal, Brasil.
Caio Alencar Mendonça
BRASÍLIA - JUNHO 2008
Universidade Católica de
Brasília.
Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia.
A autopercepção do envelhecimento a partir da dimensão da
imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora de plano de saúde em Brasília, Distrito Federal, Brasil.
Caio Alencar Mendonça Professora-Orientadora: Dra. Carmen de Jansen Cárdenas
Co-Orientador: Clayton Neves Camargos
BRASÍLIA - JUNHO 2008
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
CAIO ALENCAR MENDONÇA
A autopercepção do envelhecimento a partir da dimensão da imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora
de plano de saúde em Brasília, Distrito Federal, Brasil.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Gerontologia. Professora-Orientadora: Dra. Carmen de Jansen Cárdenas Co-Orientador: Clayton Neves Camargos
BRASÍLIA 2008
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
M539a Mendonça, Caio Alencar.
A autopercepção do envelhecimento a partir da dimensão da imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora de plano de saúde em Brasília, Distrito Federal, Brasil / Caio Alencar Mendonça. – 2008. 216 f.: il. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2008. Orientação: Carmen Jansen de Cárdenas.
1. Envelhecimento – Aspectos psicológicos. 2. Autopercepção. 3. Imagem corporal. I. Cárdenas, Carmen Jansen, orient. II. Título.
CDU 159.922.63
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
TERMO DE DEFESA
Dissertação de Mestrado defendida em 25 de junho de 2008, às 14h00, no Campus II da Universidade Católica de Brasília - UCB - na cidade de Brasília do Distrito Federal - DF -, e aprovada pela banca de examinadores.
Banca de examinação de Dissertação de Mestrado constituída por:
________________________________________ Examinadora Externa Convidada: Dra. Vivian Ferreira do Amaral Docente-Adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR - & da Universidade Federal do Paraná - UFPR -.
________________________________________
Examinadora Interna Convidada: Dra. Lucy Gomes Vianna Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília - UCB -.
________________________________________
Examinador Interno Convidado: Dr. Armando José China Bezerra Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília - UCB -.
________________________________________ Examinador Interno Suplente Convidado: Dr. Vicente de Paula Falheiros Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília - UCB -.
________________________________________ Docente-Orientadora: Dra. Carmen Jansen de Cárdenas
Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília - UCB -.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à orientadora - Professora-Doutora Carmen Jansen de Cárdenas - que
proporcionou total liberdade de escolha, não somente quanto ao tema desta pesquisa, mas,
também, porquanto às abordagens metodológicas e teóricas utilizadas nesta dissertação. Esta
sábia postura jamais significou negligência ou descaso de sua parte. Pelo contrário, possibilitou o
surgimento de uma ótima parceria entre a supracitada docente e seu orientando.
A presente pesquisa é fruto da generosidade de alguns expertises que contribuíram ao
aprimoramento científico deste autor: os Professores Drs. Armando José China Bezerra, Lucy
Gomes Vianna, Margô Karnikowski e Vicente de Paula Falheiros que fizeram refletir sobre a
atenção à pessoa idosa não exclusiva ao saber Médico, mas, impressivamente, ao Gerontológico.
Especialmente à amiga, colega de profissão e de Pós-Graduação em Gerontologia, Eneida
de Mattos Brito Oliveira Viana: ressalta-se a relação de reciprocidade acumulada desde os
tempos da graduação médica, no dia-dia da rotina profissional, afora o convívio no transcurso do
mestrado que serviram de estímulo à conclusão deste estudo.
Este trabalho contou ainda com o apoio de diversos outros amigos, colegas e parentes:
MUITO OBRIGADO!!!
Por fim, elencam-se as instituições colaboradoras à viabilização desta obra: a Rede Sarah
de Hospitais de Reabilitação pelo tempo concedido à formação deste “Neo-Gerontólogo”; a
Fundação de Seguridade Social pela gentileza da cessão de espaço às investigações aqui
apresentadas; e o Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em Gerontologia da UCB pelo
ambiente de desafios e de constante conhecimento.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
Especialmente ao Professor, Colega de setor da saúde, Amigo e
Companheiro, Clayton Neves Camargos, por me mostrar a importância das “categorias de pensamento”e de me conduzir a uma leitura de revelações pelas obras de Albert Stunkard, Amotz Zahavi, Ana Amélia Camarano, António Damásio, David Le Breton, Dominique Maingueneau, Georges Vigarello, Gilles Lipovetsky, Guita Debert, Marcel Mauss, Maria Cecília Minayo, Michael Grossman, Michel Foucault, Nancy Etcoff, Naomi Wolf, Paul Schilder, Pierre Boudier, Roland Barthes, Táki Cordás, Ulrich Renz e Umberto Eco - peças fundamentais na construção deste trabalho -; pelas conversas incansáveis, reflexões críticas e enriquecedoras no período embrionário deste estudo; pela concessão de espaço à concretização do campo de pesquisa; pelo rigor técnico no monitoramento das investigações in locus; por saber ouvir, aconselhar e apoiar nos momentos em que precisei; pelas longas horas em que trabalhamos juntos; pelo seu trabalho impecável na análise metodológica; pela leitura cuidadosa e pelas valiosas sugestões que procurei, ao máximo, incorporar nesta obra. E, sobretudo, por ter sido um parceiro decisivo durante todo período da minha formação em Gerontologia. De fato, um Orientador à vida e um Co-Orientador absolutamente imprescindível à esta dissertação.
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“Quando fores bem velha, à noite, à luz da vela. Junto ao fogo do lar, dobando o fio e fiando, dirás ao recitar meus versos e pasmando: Ronsard me celebrou no tempo em que fui bela. E entre as servas então não há de haver aquela, que já sob o labor do dia dormitando, se o meu nome escutar não vá logo acordando, e abençoado o esplendor que o teu nome revela. Sob a terra eu irei, fantasma silencioso, entre as sombras sem fim procurando repouso, e em tua casa irás, velhinha combalida, chorando o meu amor e o teu cruel desdém. Vive sem esperar pelo dia que vem; colhe logo, desde já, colhe as rosas da vida”. (RONSARD apud ECO, 2007, p. 166)
“Quand on observe un mur constellé de taches, ou formé d’une grande
variété de pierres, et que l’on imagine une scène, on croit discerner des paysages magnifiques, avez des montagnes, des rivières, des roches, des arbres, des plaines, de larges vallées et des collines; ou bien des scènes de bataille et des personnage en mouvement; ou encore des visages et des costumes étranges, et une infinité d’objets que l’on peut réduire à des formes parfaites, nettement dessinées. Elles apparaissent sur ces mur de façon vague, comme lorsque l’on imagine reconnaître dans le son d’une cloche un nom ou un mot qui vous vient à l’esprit.” (DA VINCI apud SILVERS, 1998, p. 62)
“Ergueu o lençol mas de repente a velha despertou e começou
a se debater, a gritar como se estivesse fora de si. Mas a menina era robusta e estava armada com o facão de caça do pai; conseguiu conter a avó o suficiente para ver o que estava lhe causando a febre. Lá onde deveria estar a mão direita, havia apenas um coto e já muito infeccionado. A menina fez o sinal-da-cruz e deu um grito tão grande que os vizinhos ouviram e correram num segundo. No primeiro olhar reconheceram na verruga um mamilo de bruxa; arrastaram a anciã, assim como estava, de camisola, pela neve afora, empurrando sua velha carcaça a pauladas até a borda da floresta, onde apedrejaram-na até a morte. Depois disso a menina foi viver na casa da avó, feliz e contente”. (CARTER apud ECO, 2007, p. 318)
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SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS 9
LISTA DE TABELAS 11
LISTA DE GRÁFICOS 11
RESUMO 12
ABSTRACT 13
RESUMÉ 14
CAPÍTULO I - DA APRESENTAÇÃO 15
DO PROBLEMA, DA HIPÓTESE, DOS OBJETIVOS E DA JUSTIFICATIVA 22 DO MÉTODO E DOS MATERIAIS 27 DAS POTENCIAIS LIMITAÇÕES DO ESTUDO 50
CAPÍTULO II - DA IMAGEM E SUAS VARIAÇÕES: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO PANORÂMICA E ESSENCIAL 51
DOS CICLOS DA VIDA, DO CORPO E DA BELEZA 56 DA IMAGEM CORPORAL 77 DA IMAGEM INVERTIDA E DA “JUVENIZAÇÃO” 88 DA IMAGEM MIDIÁTICA 117 DA IMAGEM SEXUAL 146 DOS DIREITOS CONTEMPORÂNEOS Á UMA IMAGEM SOCIOPOLITICAMENTE INCLUÍDA 154 DE UM REDIMENSIONAMENTO À IMAGEM DA PESSOA IDOSA 157
CAPÍTULO III - DA EFETIVAÇÃO DO CAMPO: SEUS RESULTADOS E SUAS DISCUSSÔES 159
DAS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS 160 DA PERCEPÇÃO SUBJETIVA DE ESTADO GERAL E DOS PROBLEMAS DE SAÚDE 171 DA CARACTERIZAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL 210
CAPÍTULO IV- DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS 242
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 257
ANEXOS 296
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: VANITAS, BERNARDO STROZZI, MUSEU PÚCHKIN, MOSCOU, 1630 (ECO, 2007, P. 158) 15
FIGURA 2: BUDAPEST (THE MODEL), ANDRES SERRANO (ECO, 2007, P. 165) 51
FIGURA 3: AS TRÊS IDADES DO HOMEM E A MORTE, HANS BALDUNG, 1539, MUSEO DEL PRADO, MADRI (PHAIDON, 1999, P. 24) 62
FIGURA 4: ESTUDO DE ETCOFF, IMAGEM DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL (ETCOFF ET AL., 2001), P. 540 72
FIGURA 5: ESTUDO DE ETCOFF, IMAGEM DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL (ETCOFF ET AL., 2001), P. 541 73
FIGURA 6: APRESENTADORA DE TELEVISÃO BRASILEIRA HEBE CAMARGO AOS 25 ANOS DE IDADE 100
FIGURA 7: APRESENTADORA DE TELEVISÃO BRASILEIRA HEBE CAMARGO AOS 72 ANOS DE IDADE 100
FIGURA 8: “ESCULPIMOS CORPOS”, PROPAGANDA EM OUTDOOR, DF-025, ESTRADA PARQUE AEROPORTO, BRASÍLIA-DF. DEZ. 2007. FOTOGRAFIA PRODUZIDA PELO AUTOR 119
FIGURA 9: MULHER GROTESCA, QUENTIN METSYS, LONDON NATIONAL GALLERY, LONDON-UNITED KINGDOM-UK, 1525-1530 (ECO, 2007, P. 171) 123
FIGURA 10: LA PETITE ABEILLE, TIPAYAPHONG, PIERRE ET GILLES, 2003 (PAUME, 2007, P. 334) 124
FIGURA 11: GISELE BÜNDCHEN, DESFILE DA GRIFE ESTADUNIDENSE DE ROUPAS ÍNTIMAS FEMININAS VICTÓRIA’S SECRET. VOGUE FRANCE, DEZ. 2006, P. 44 127
FIGURA 12: IMAGEM DE PEÇA PUBLICITÁRIA DE UMA CLÍNICA DE IMPLANTODONTIA E ESTÉTICA ORAL EM BRASÍLIA-DF 131
FIGURA 13: PRO-AGE: BEAUTY HAS NO AGE LIMIT, WWW.CAMPAIGNFORREALBEAUTY.COM, DOVE, 2008 132
FIGURA 14: ATRIZ BRASILEIRA SUZANA VIEIRA, 65 ANOS. DESFILE DE CARNAVAL DA ESCOLA DE SAMBA GRANDE RIO. RIO DE JANEIRO-RJ, 2003 133
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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FIGURA 15: CAPA DA REVISTA BRASILEIRA, DE PUBLICAÇÃO SEMANAL, “EPOCA”, EM 28 DE ABRIL DE 2008 139
FIGURA 16: THE MAX FACTOR BEAUTY CALIBRATOR - 1932 - (EASTON, 2004, P. 863) 159
FIGURA 17: PRIMEIRA-DAMA DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, D. MARISA LETÍCIA DA SILVA (LINHARES, 2008, P. 84) 195
FIGURA 18: BREAST AUGMENTATION PHOTOS - PATIENT 3649, SCOTT J. ZEVON MD, NEW YORK CITY BREAST AUGMENTATION, 2006. (CARIOU, 2006, P. 47) 200
FIGURA 19: 1979, PIERRE ET GILLES, 1979 (PAUME, 2007, P. 7) 201
FIGURA 20: ATRIZ ESTADUNIDENSE LINDA CARTER COMO A HEROÍNA MULHER-MARAVILHA. CARTÃO POSTAL 223
FIGURA 21: VENUS MARINE, LAETITIA CASTA, PIERRE ET GILLES, 2000 (PAUME, 2007, P. 242) 225
FIGURA 22: GRACE KELLY, HOWELL CONANT, 1955. CARTÃO POSTAL 228
FIGURA 23: AUDREY HEPBURN, HOWELL CONANT, 1961. CARTÃO POSTAL 229
FIGURA 24: MARILYN MONROE, BERT STERN, 1962. CARTÃO POSTAL 229
FIGURA 25: PÔSTER, DEAD BECOMES HER, 1992 230
FIGURA 26: ATRIZ ESTADUNIDENSE MERYL STREEP COMO “MADELINE ASHTON” EM DEATH BECOMES HER,1991 231
FIGURA 27: CONCORRENTES DO MISS UNIVERSO 1955. CARTÃO POSTAL 237
FIGURA 28: BRANCA DE NEVE, CENAS DO LONGA METRAGEM DE ANIMAÇÃO A BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES,WALT DISNEY, 1937 238
FIGURA 29: BRUXA MÁ, CENAS DO LONGA METRAGEM DE ANIMAÇÃO A BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES,WALT DISNEY, 1937 238
FIGURA 30: ATRIZ FRANCESA CATHERINE DENEUVE, DE 66 ANOS DE IDADE, CAMPANHA PUBLICITARIA, LOUIS VOUITTON, 2003. CARTÃO POSTAL 242
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1: VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS DA AMOSTRA ESTUDADA 161
TABELA 2: PROPORÇÃO DE MULHERES IDOSAS DE ACORDO COM A PERCEPÇÃO DE ESTADO GERAL DE SAÚDE POSITIVA - EXCELENTE/MUITO BOA E BOA - E NEGATIVA - REGULAR E RUIM - 171
TABELA 3: PROBLEMAS DE SAÚDE REFERIDOS PELAS MULHERES IDOSAS E CLASSIFICADOS DE ACORDO COM A CID-10 (2004) 181
TABELA 4: FREQÜÊNCIA ABSOLUTA E FREQÜÊNCIA RELATIVA DAS MULHERES IDOSAS SEGUNDO A ESCALA DA PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL REAL E IDEAL 210
TABELA 5: PERCENTAGEM DE MULHERES IDOSAS SATISFEITAS E INSATISFEITAS - MAGREZA E EXCESSO - COM A IMAGEM CORPORAL 212
TABELA 6: MEDIANA E RANK MÉDIO DA IDADE, MASSA CORPORAL, ESTATURA E IMC DAS MULHERES IDOSAS DE ACORDO COM A PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL 215
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: PERCENTUAL DE MULHERES IDOSAS AGRUPADAS EM 3 CATEGORIAS DE SILHUETAS 211
GRÁFICO 2: DISTRIBUIÇÃO DO IMC DAS MULHERES IDOSAS EM RELAÇÃO À PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL - SATISFEITO, INSATISFEITO PELA MAGREZA E INSATISFEITO PELO EXCESSO - 216
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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RESUMO
A autopercepção do envelhecimento a partir da dimensão da imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora de plano de saúde em Brasília, Distrito Federal, Brasil .
Introdução: A sociedade contemporânea supervaloriza o ser humano jovem, belo e ativo, discriminando o ancião, o feio e o inativo, considerando assim o envelhecimento como um momento improdutivo, de “feiúra” e sem perspectivas, tanto pessoal como social. Esse imperativo não perspectiva a totalidade dos valores associados à juventude, mas apenas aqueles referentes ao aspecto exterior, à imagem que se projeta à sociedade. Mais importante que as virtudes/defeitos da juventude são as impressões corporais transmitidas para o exterior, onde o “ser” é nitidamente subjugado ao “parecer”. Não se “é” jovem, mas tenta-se “parecer” jovem. Objetivo: Compreender o envelhecimento e suas interrelações à imagem corporal constituída pelos sinais autopercebidos do estado geral de saúde e sua mediação por fatores comportamentais, culturais e sociodemográficos. Materiais e métodos: Este trabalho, de corte transversal, caracteriza-se como quanti-qualitativo e descritivo correlacional, de investigação pedagógica inter e transdisciplinar, cujo universo amostral constitui-se por 60 mulheres idosas, na faixa etária de 60 a 72 anos, selecionadas por conveniência e, estratificação proporcional por beneficiárias assistidas pela atenção médica oferecida por um programa de promoção da saúde em uma operadora de atenção suplementar, na cidade de Brasília - Distrito Federal - DF - Brasil. Foi utilizado um questionário aplicado em forma de entrevista individual, com o intuito de obter informações referentes às características sociodemográficas - idade, estado civil, arranjo e renda familiar, escolaridade, classe econômica -, indicadores de saúde - percepção subjetiva e problemas de saúde auto-referidos -, e à percepção da imagem corporal utilizou-se a aplicação do questionário composto pela Escala de Figuras de Stunkard - Figure Rating Scale - FRS, escala de nove silhuetas, traduzida à língua portuguesa. Este protocolo foi associado aos resultados do Índice de Massa Corpórea - IMC - do conjunto de pesquisadas, obtidos por meio do peso e da estatura auto-referidos. À análise dos dados: utilizou-se de procedimentos da estatística descritiva, medidas de associação e análise não paramétricas, adotando-se o nível de significância de 5%. Resultados: A média de idade das mulheres idosas entrevistadas é de 66 anos, a maior concentração está na faixa etária de 60 a 64 anos (60,7%), ou seja, um grupo de senhoras relativamente jovens. A maioria é viúva (53%), recebe aposentadoria por meio de organismo governamental (100%), reside solitariamente (38,1%), possui Ensino Superior Completo (84%), apresenta um rendimento mensal médio de 10 salários mínimos (60,3%) e pertence majoritariamente à Classe Econômica A (68,8%). Em termos de indicadores de saúde: 65,3% das investigadas têm uma percepção de saúde positiva. Por outro lado, a maior parte do grupo referiu como a principal presença de “problemas de saúde” a necessidade de realização de intervenções cosmético-cirúrgicas (97,4%), sendo que 84% referiram ter realizado algum procedimento deste talhe, e o mais predominante foi a aplicação de toxina botulínica (40%). Quanto à insatisfação sobre a imagem corporal, especialmente ao peso referido, classificada por meio da Escala de Figuras de Stunkard: 54% das pesquisadas estavam insatisfeitas, principalmente pelo excesso ponderal (35,1%) que estava associado ao IMC, no qual o aumento da categoria deste Índice elevava o percentual de mulheres idosas insatisfeitas, mas não foi associada às características sociodemográficas ou aos indicadores de saúde. Entre as pesquisadas satisfeitas e insatisfeitas não houve diferenças em relação à idade e estatura, apenas evidenciaram-se diferenças na massa corporal e no IMC, nos quais as satisfeitas apresentam uma mediana menor que as insatisfeitas. Discussão: em geral, a insatisfação estava associada ao IMC, mas não à idade, à escolaridade, ao arranjo familiar, à classe econômica, à renda familiar, à percepção de saúde ou aos problemas de saúde auto-referidos pelas pesquisadas. E, sob essa dimensão, quando se pensa em promover a saúde, pensa-se em promover um corpo saudável, hígido, fisiologicamente compensado, o que o associa ao corpo belo, tanto como se beleza e saúde fossem sinônimas ou conceitos inteiramente interdependentes. Conclusão: Observou-se a prevalência do padrão ideal de um corpo magro, considerando que o grupo de pesquisadas com peso aparentemente adequado apresentou descontentamento com relação a sua imagem corporal, desejando alterá-la para adequar-se aos modelos esteticamente bem-sucedidos. Ademais, dicotomicamente, as mulheres idosas aqui analisadas auto-referiram um estado geral de saúde positivo. Entretanto, a bem da verdade, mesmo que o discurso seja saudável a intenção não necessariamente o será. Cabe salientar, nesse contexto, a necessidade de realização de outros traballhos que incorporem à mesma proposta a partir de uma abordagem diretamente qualitativa e que analise o discurso das mulheres idosas a respeito das expectativas sobre suas imagens corporais, atuais e desejadas, ante as motivações que estimulariam suas escolhas de hábitos e estilos de vida - quer sejam estes saudáveis ou não -.
Palavras-Chaves: Autopercepção, Beleza, Mulheres Idosas, Imagem Corporal & Juventude.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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ABSTRACT
The self-perception ageing from the size of body image in older women assisted by health insurance at Brasilia, Federal District, Brazil.
Introduction: The contemporary society super overvalues young human being, beautiful and active, considering the ageing an unproductive time, “ugly” and without prospects. That don’t submit all the values associated with youth, but only those relating to the external appearance, the image that is projected to society. More important than the benefits/defects of youth are the bodily impressions conveyed to the outside world, where “be” is distinctly subdued the “show”. Do not “is” young, but tries to “be” young. Objective: Understanding the ageing and its relationship to body image formed by self-perceptives signs of overall health status and its mediation by behavioral, cultural and social factors. Methodology: This study, in cross section, is characterized as quanti-qualitative and descriptive correlational, of educational research inter and cross regional, whose sample universe is up by 60 elderly women, from the bracket age of 60 to 72 years old, selected for convenience and, proportional stratification by assisted receiving medical attention offered by a health promotion programme in a carrier of additional attention, at Brasília - Federal District - Brazil. It used a questionnaire administered as a separate interview, in order to obtain information concerning the sociodemographic characteristics - age, marital status, family arrangement, education, economic class and family income - health indicators - subjective perception and health self-refer problems and body image perception used for the implementation of the questionnaire composed by Stunkard Figures Scale - Figure Rating Scale - translated to portuguese language. This protocol was linked to the results of Body Mass Index - BMI - of all the surveyed, obtained by the weight and stature self-refer. To data analysis: used up procedures of descriptive statistics, association measures and non-parametric analysis, adopting significance level of 5%. Results: The average of elderly women interviewed is 66 years old (60,7%), ie, a group of relatively young ladies. Most are widowed (53%), receive retirement through governmental departments (100%), lives alone (38,1%), has completed higher education (84%), has an average monthly income of 10 minimum wages (60,3%) and belongs primarily to the Economic Class A (68,8%). In terms of health indicators: 65.3% has a positive health perception. Moreover, most of the group mentioned as the main presence of “health problems” is the need for carrying out cosmetic-surgical interventions (97,4%), and that 84% reported having done any cut of this procedure, and the most predominant application was botulinum toxin (40%). About body image dissatisfaction, especially to the self-refer weight, classified by Stunkard Figures Scale: 54% of the surveyed were dissatisfied, mainly by weight excess (35,1%) which was associated with BMI, in which the increase in this Index category increased the dissatisfied percentage of elderly women, but wasn’t associated with sociodemographic characteristics or the health indicators. Among satisfied and dissatisfied surveyed there weren’t differences in the age and stature, only showed up differences in body weight and BMI, which one met a show that the median less dissatisfied. Quarrel: in general, the dissatisfaction was linked to BMI, but not to age, family arrangement, coach, family income, perception of health or the health problems mentioned by self-searched. And, on this dimension, when think to health promote, it’s thought to promote a healthy body, eutrophic, physiologically compensated, which combines the body and beautiful, if were both synonymous or concepts entirely interdependent. Conclusion: There was ideal standard prevalence of a body lean, whereas surveyed group weighing seemingly appropriate presented discontent with respect to their body image, desiring to amend it to enter into the models aesthetically successful. Moreover, in conflict, those analyzed elderly women self-reported a good general state of health. However, even if the speech is healthy not necessarily the intention will be. It noted in this context, the need for completion of other studies that incorporate the same proposal from a directly qualitative approach and to analyse the speech of elderly women about their expectations and body images, current and desired, before the motivations that stimulate their choices, habits and lifestyles - whether or not these healthy -.
Keys-Words: Beauty, Body Image, Elderly Women, Self-Perception & Youth.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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RESUMÉ
L’autoperception du vieillissement de la taille de l'image corporelle des femmes âgées assistée par une assurance santé à Brasilia, District Fédéral, Brésil.
Introduction: La société contemporaine survalorise les personnes jeunes, belles et actives et relègue au second plan les seniors, usés et inactifs, considérant le vieillissement comme un temps improductif, de « laideur » et sans perspectives, du point de vue individuel comme social. Cet impératif n’englobe pas toutes les valeurs propres aux jeunes, s’attachant uniquement à l'aspect extérieur, à l'image offerte à la société. Bien plus que les vertus ou les défauts de la jeunesse, ce sont des impressions corporelles qu’il importe de transmettre au monde extérieur, bien plus qu’« être », il convient de « paraître ». On n’« est » pas jeune, on tente de « paraître » jeune. Objectif: Comprendre le vieillissement et sa relation avec l'image du corps, autoperception des manifestations de l’état de santé général, passée au crible de facteurs comportementaux, culturels et sociaux. Méthodologie: Cette étude, une cohorte transversale, se caractérisant comme descriptive corrélationnelle, a été réalisée sur un échantillon de 60 femmes âgées de 60 à 72 ans. Elle a consisté en une stratification proportionnelle de personnes bénéficiant d’une assurance santé à Brasilia/DF (Brésil). On a recueilli, à l’aide d’un questionnaire rempli lors d’un entretien individuel, des données d’ordre socio-économique (âge, état civil, situation familiale, instruction, classe sociale et revenu familial), des indicateurs de santé (perception subjective de la santé, problèmes de santé autorapportés), ainsi que la perception de l'image corporelle, pour laquelle a été appliqué le questionnaire basé sur l’Echelle des Silhouettes Stunkard - Figure Rating Scale - FRS, traduit en portugais. Ce protocole a été associé aux résultats de l'Indice de Masse Corporelle-IMC des participantes, obtenu à partir du poids et de la stature autodéclarés. L'analyse des données a suivi les techniques de statistique descriptive, mesures d'association et analyses non-paramétriques, avec un seuil de signification de 5%. Résultats: L'âge moyen des femmes interrogées est de 66 ans, la plus grande concentration se situant dans la tranche d’âge de 60 à 64 ans (60,7%), soit un groupe de femmes relativement jeunes. La plupart sont veuves (53%), perçoivent une retraite d’un organisme gouvernemental (100%), vivent seules (38,1%), ont un niveau universitaire (84%), un revenu mensuel moyen correspondant à dix salaires minima (60,3%) et appartiennent en grande partie à la classe sociale « A » (68,8%). En termes d'indicateurs de santé, 65,3% ont une perception positive de leur santé. Néanmoins, la majorité d’entre elles indique comme principal "problème de santé" la nécessité d’interventions chirurgicales cosmétiques (97,4%), 84% déclarant s’être soumises à un traitement de cette nature, avec prédominance de l’application de toxine botulique (40%). Le taux d’insatisfaction quant à l'image corporelle, défini sur la base de l’Échelle des Silhouettes de Stunkard, s’élevait à 54%, essentiellement en référence à une surcharge pondérale (35,1%). Il a été associé à l’IMC, dont l’élévation est apparue en rapport direct avec l’augmentation du pourcentage de femmes âgées insatisfaites, mais non aux caractéristiques socio-économiques ou aux indicateurs de santé. On a constaté que, parmi les femmes examinées, satisfaites ou insatisfaites, âge et stature ne faisaient aucune différence, contrairement à la masse corporelle et à l’IMC, en moyenne inférieur chez les femmes satisfaites. Discussion: D’une façon générale, l'insatisfaction était liée à l'IMC, et non à l'âge, à la scolarité, à la situation familiale, à la classe sociale, au revenu familial, à la perception de la santé ou à des problèmes de santé mentionnés par le sujet. Et, à l’heure actuelle, parler d’entretien de la santé renvoie à un corps sain, équilibré physiologiquement, et donc beau, comme si beauté et santé étaient synonymes, voire deux concepts entièrement interdépendants. Conclusion: On a constaté la prévalence du modèle idéal d'un corps maigre, compte tenu du fait que les personnes du groupe étudié, dont le poids était apparemment adéquat, étaient insatisfaites de leur image corporelle, et souhaitaient la modifier pour s’approcher de modèles esthétiquement en vogue. Par ailleurs, ces mêmes femmes ont elles-mêmes évalué positivement leur état général de santé. Il faut néanmoins reconnaître que, même si le discours est sain, l’intention ne l’est pas nécessairement. Il est donc fondamental que soient réalisées d’autres études qui, à partir d’une approche directement qualitative, analysent le discours des femmes âgées sur leurs attentes en matière d’image corporelle, actuelle et souhaitée, en fonction de leurs motivations quant au choix de leurs habitudes et de leurs modes de vie.
Mots-Clé: Autoperception, Beauté, Image Corporelle, Jeunesse et Veillissement.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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CAPÍTULO I
DA APRESENTAÇÃO
FIGURA 1: Vanitas, Bernardo Strozzi, Museu Púchkin, Moscou, 1630 (ECO, 2007, p. 158).
[...] “Vanity, definitely my favorite sin” […] (O ADVOGADO Do Diabo, 1998)
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O aumento da população de pessoas idosas é um fenômeno mundial observado tanto em
países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. No Brasil estima-se que há 16,7 milhões de
pessoas com 60 anos ou mais de idade, o que representa 9,6% da população total (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE -, 2004/2005).
O que chama atenção a este número, além da magnitude, é a velocidade desse
crescimento, principalmente quando comparado com outras faixas etárias (RAMOS, TONIOLO,
CENDOROGLO, GARCIA, PAOLA, SANTOS, EBEL, NASRI, GONÇALVES, SANTOS,
FRAIETA, VIVACQUA, ALVES & TUDISCO, 1998). Com efeito, em 1980 existiam 16 idosos
para cada 100 crianças; em 2000, essa relação praticamente duplicou, passando para quase 30
pessoas idosas por 100 crianças (IBGE, 2002).
Todavia, a queda da taxa de fecundidade ainda é a principal responsável pela redução do
número de crianças, por outro lado a longevidade vem contribuindo progressivamente para o
aumento de pessoas idosas na população. Um exemplo é o grupo dos indivíduos de 75 anos ou
mais de idade, que teve o maior crescimento (49,3%) no último decênio, em relação ao total da
população de pessoas idosas (ibidem): estimativas apontam que o país, em duas décadas, terá 32
milhões de pessoas com idade acima de 60 anos, o que representará 13% da população brasileira
(RAMOS et al., 1998; VERAS, 1994; WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2002).
Esse aumento na expectativa de vida das pessoas, na maioria das vezes, não vem acompanhado
por melhoria da qualidade de vida (SCHNEIDER & GURALNIK, 1990).
Destarte, o elevado crescimento do contingente de pessoas idosas faz com que diversos
setores da sociedade se mobilizem para oferecer condições necessárias de vida a essa camada
geracional (VERAS, 1994).
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Até o século XIX, a velhice era tratada como uma questão periférica, porque sua
fundamental característica era a não possibilidade que uma pessoa apresentava de se assegurar
financeiramente. Assim, a noção de velho remeteria à incapacidade de produzir, de trabalhar
(PEIXOTO, 1998).
Dessa forma, segundo Peixoto (ibidem), era denominado velho - vieux - ou velhote -
veillard - aquele indivíduo que não desfrutava de status social - muito embora, o termo velhote
também fosse utilizado para denominar o velho que tinha sua imagem definida como bom
cidadão -.
Para demonstrar uma visão menos estereotipada da velhice, o termo idoso foi adotado
para caracterizar, tanto a população envelhecida, em geral, como aquela mais favorecida. A
partir de então, os “problemas dos velhos” passaram a ser vistos como “necessidades das pessoas
idosas” (ibidem).
Por outro lado, Neri & Freire (2000) entendem que a substituição dos termos velho ou
velhice por melhor idade, terceira idade, pessoa idosa, indicaria preconceito, pois, caso contrário,
essa troca de palavras não seria necessária.
Há ainda outros raciocínios acerca do envelhecimento, como, por exemplo, amadurecer e
maturidade, que significam a sucessão de mudanças ocorridas no organismo e a obtenção de
papéis sociais, respectivamente (ibidem).
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Considerando os mais variados termos, de distintos autores, sobre a questão da velhice,
percebe-se que a pessoa idosa conheceu, assim, uma série de modificações ao longo do tempo,
uma vez que as mudanças sociais reclamavam políticas coletivas ao envelhecimento, assim como
a construção ética do objeto “velho” (PEIXOTO, 1998).
Todavia, mesmo com a existência de inúmeros termos para denominar a fase da vida de
60 anos ou mais, não se deve negar que a velhice – ou qualquer outro termo apreendido –
constitui uma fase do desenvolvimento humano tão importante quanto as demais, merecendo,
portanto, toda a atenção e dedicação, tanto dos estudiosos do assunto, quanto da família, da
sociedade e, principalmente, dos profissionais que se ocuparão da prestação assistencial a esse
conjunto geracional da população, seja do Estado Nacional que seja (ibidem).
No setor da saúde tem-se enfatizado a preservação da autonomia funcional da pessoa
idosa por meio do controle de doenças comuns ao processo fisiológico do envelhecimento
corporal, principalmente as crônico-degenerativas, por meio do incentivo aos hábitos alimentares
adequados e da promoção de um estilo de vida ativo: em síntese, pode-se dizer que a promoção
de estilos e hábitos de vida saudáveis configura o grande desafio da saúde coletiva na atualidade
(CAMARGOS, MENDONÇA & VIANA, 2006).
A vida moderna, que ao mesmo tempo proporciona efeticácia nos serviços de saúde e
conforto resultante do avanço tecnológico, impacta negativamente quando contribui à inatividade
física, aos hábitos alimentares negativos e ao aumento do estresse por intermédio do modo
competitivo em que ocorrem as relações na sociedade. Conseqüentemente, todos esses
comportamentos interdependem entre si resultando prejuízos funcionais ao organismo, tanto
físicos como psicológicos (NERI & FREIRE, 2000).
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Nessa direção, o declínio funcional da pessoa idosa estaria associado com quedas e danos
físicos, doenças crônicas não transmissíveis, dependência de cuidados, alterações cognitivas,
institucionalização, mudanças na composição corporal (BROADWIN, GOODMAN-GRUEN &
SLYMEN, 2001) e redução do nível de atividade física (VIRTUOSO Jr., 2004).
As alterações nas dimensões corporais acontecem concomitantemente ao aumento da
idade, evidenciando-se na faixa etária mais envelhecida, onde os riscos à saúde são mais
potencializados. Dentre as alterações destacam-se: a redistribuição da gordura localizada nos
membros à parte central do corpo, a diminuição da massa magra (BEMBEN, MASSEY,
BEMBEN, BOILEAU & MISNER, 1995) e o incremento da gordura corporal total
(BROADWIN et al., 2001).
Nisso, observam-se evidências na literatura, onde as modificações quanto ao acúmulo e à
distribuição da gordura sejam devido ao declínio do volume de atividade física e à diminuição do
ritmo metabólico basal associado à manutenção ou ao aumento do aporte calórico, excedendo na
maioria das vezes as necessidades calóricas diárias (POSTON II & FOREYT, 1999): o excesso
de gordura corporal, principalmente na região central do corpo, constitui-se em um fator de risco
à saúde, estando associado com a presença de diversas doenças do tipo crônico-degenerativas
(REXRODE, BURING & MANSON, 2001).
O crescente aumento do sobrepeso e da obesidade nas últimas décadas surpreende os
epidemiologistas pela proporção avassaladora que atinge a população como um todo, em todas as
faixas etárias: estimativas da Organização Mundial da Saúde - OMS -, em 2000, apontaram à
existência de mais de 1 bilhão de adultos portadores de excesso ponderal, sendo 300 milhões
considerados obesos (WHO, 2003b).
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Atualmente, se estima que mais de 115 milhões de pessoas sejam acometidas de
problemas correspondentes à obesidade nos países em desenvolvimento (WHO, 2003a).
Para além disso, os distúrbios psicológicos, incluindo depressão, distúrbios alimentares,
imagem corporal distorcida e baixa auto-estima estão associados ao sobrepeso e à obesidade
(STUNKARD, FAITH & ALLISON, 2003). As prevalências de ansiedade e depressão são de 3 a
4 vezes mais altas entre indivíduos obesos (INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR THE
STUDY OF OBESITY, 2005). E, indivíduos portadores de obesidade também são
estigmatizados e sofrem discriminação social (UNITED STATES - U. S. - DEPARTMENT OF
HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1998; ibidem, 2001).
Nessa dimensão, a confiança percebida do indivíduo em realizar tarefas específicas -
auto-eficácia - pode determinar uma melhor percepção da imagem corporal, associada também a
uma maior satisfação corporal, o que parece ser um estímulo protetor contra o sobrepeso, uma
vez que estudos indicam que uma melhor percepção corporal esteja conectada ao padrão mais
ativo fisicamente e com melhores hábitos alimentares (LOLAND, 1998; SONSTROEM &
MORGAN, 1989).
A elevada prevalência de pessoas portadoras de excesso ponderal evidencia a necessidade
de elaboração de medidas específicas, direcionadas às diferentes faixas etárias em prol da
efetividade nas intervenções. Para isso, no entanto, faz-se necessário conhecer as reais
necessidades de subgrupos populacionais - crianças, adultos, pessoas idosas - em diferentes
realidades, por intermédio de levantamentos que identifiquem as relações entre os
comportamentos, proporcionados pela diversidade cultural, que afetam o desenvolvimento da
obesidade (LOLAND, 1998).
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Contudo, as pesquisas identificam uma maior longevidade da população brasileira, o que
torna o estudo das pessoas idosas uma necessidade precípua. Assim, sente-se a necessidade de
aprofundar a compreensão do cotidiano vivenciado por esses seres humanos e seus familiares
(RAMOS, 2003; VERAS, 1994).
Acredita-se que ao se discutir a etapa do envelhecimento humano seja preciso considerar
tanto os critérios cronológicos, como os eventos biológicos e fisiológicos - “biofisiológicos” -
que ocorrem ao longo desse período.
Ao comparar as idades cronológicas, biológicas e fisiológicas - “cronobiofisiológicas” -
de uma pessoa, ela não se apresenta no mesmo patamar, ou seja, a idade em si não representa o
estado do envelhecimento de uma pessoa, mas sim a combinação de vários fatores associados,
embora seja difícil tal avaliação. Nesse sentido percebe-se que o envelhecimento, como muitas
outras situações de vida, se apresenta diferente para cada ser humano (HAYFLICK, 1996).
Na verdade, essa forma de ser e de vivenciar essa etapa de vida se dá de maneira muito
singular, especialmente porque o ser humano é único. Por outro lado, muitos fatores teriam de
ser conhecidos para se entender à razão dessa singularidade, isto é: a forma de enfrentamento do
mundo; a cultura em que está inserto; o tipo de alimentação que utiliza; os hábitos de vida; o
enfrentamento das situações do cotidiano; a leitura da sociedade, dentre tantas outras
características (ibidem).
E, ao explorar essa miríade de possibilidades, lança-se luz em uma delas: a pessoa idosa,
sua corporeidade e suas vaidades.
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Do Problema, Da Hipótese, Dos Objetivos e Da Justificativa
Na cena contemporânea, apenas um único modelo estético é oferecido (RENZ, 2007); no
caso, um corpo jovem e magro, que determina indivíduos insatisfeitos e frustrados -
especialmente as mulheres (ETCOFF, 1999) -: o universo que norteia os códigos de
comportamentos sociais femininos influencia a construção da imagem que se tem do próprio
corpo, bem como do julgamento que é feito a respeito da imagem de outros corpos
(STUNKARD, 1977; ANDRADE, 2002).
A problemática se caracteriza quando a sociedade, na sua arena globalizada e tempo
atual, passa a exercer uma influência - sintonizada à mídia - relevante à estética corporal
feminina, proporcionando à mente da mulher uma insatisfação quanto à forma do corpo,
trazendo uma imagem distorcida de si, deixando-a vulnerável à emersão de transtornos da
autopercepção e auto-imagem corporal (ibidem).
Portanto, a presente investigação desenvolveu-se a partir da seguinte hipótese central: a
incidência, cada vez mais patente, dos eventos relacionados às dismorfias corporais no sexo
feminino e a intercessão sociocultural – em especial dos veículos midiáticos – à admissão,
muitas vezes acrítica, de investimentos cosmético-cirúrgicos na contemporaneidade, e seu
discutível valimento a respeito da projeção de corpos belos, saudáveis e jovens idealizados sob
medida à exultação coletiva e não rigorosamente individual.
[...] a mídia controla e dirige o desejo e reduz a amplitude de nossa faixa de preferência. Uma imagem que agrada a um grande grupo se torna um molde, e a beleza é seguida pelo seu imitador, e depois pelo imitador do seu imitador [...] (ETCOFF, 1999, p.13)
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A busca pelo alcance dessa projeção intercedida pela mídia pode sugerir que ao ser belo
se agrega uma suposta excelência social (ETCOFF, 1999): sendo assim, apenas o sucesso
profissional e/ou familiar não seriam suficientes, caso não estejam (in)diretamente vinculados à
satisfação da imagem corporal (STUNKARD, 1977).
Para alcançar essa satisfação diversas pessoas fazem uso de inúmeras estratégias
estéticas, algumas buscam com tanta veemência que se submetem aos tratamentos
cientificamente não comprovados, sem medir as conseqüências dessas exposições devido às
recompensas que tais investimentos poderão trazer para sua imagem e bem-estar emocional
(RENZ, 2007).
Logo, assiste-se a uma redefinição cultural da condição da beleza corporal quando na
contemporaneidade todos os processos humanos são banalizados pela hiperbiologização do
homem e sua realidade é progressivamente mediada pela tecnologia (FOUCAULT, 2007).
No discurso tecno-científico contemporâneo há uma insatisfação ou um desconforto com
o humano, levando-os ao pós-orgânico, ao pós-humano, proporcionados por uma potencialidade
de atividades (ibidem).
O supracitado autor (ibidem) ainda teoriza, de forma contundente e não menos polêmica,
que a visão do “homem-máquina” seria cada vez mais acentuada, visando sua (re)construção, sua
(re)modelação. Desta forma, entender-se-ia que o conhecimento tecno-científico modificaria a
corporeidade dos seres humanos e, este processo, seria também uma forma de educação aos
corpos na sociedade.
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Por esse motivo, a proposta de investigação deste trabalho ancorou-se no campo da
corporeidade, pelo fato de compreender que são no corpo que se aplicam as mais diversas
tecnologias de poder, especialmente aquelas que cingem à saúde, à beleza, à estética e ao
envelhecimento (ETCOFF, 1999; RENZ, 2007).
Portanto, procurou-se problematizar questões apoiadas na autopercepção da imagem
corporal acerca dos eventos dismórficos corporais: a busca por um corpo esteticamente belo por
parte das mulheres idosas - foco deste estudo - compõe esta pesquisa.
E, a partir desses princípios, caminhou-se na compreensão e na contextualização dos
sentidos atribuídos ao ser uma pessoa idosa, mulher e à busca pela construção de uma imagem e
corpo contemporâneos.
Este estudo teve como objetivo central ampliar a compreensão do envelhecimento e suas
interdependências à imagem corporal constituída pelos sinais autopercebidos do estado geral de
saúde e sua mediação por fatores comportamentais, culturais e sociodemográficos. Assim
acredita-se que iniciativas como estas poderão reduzir a distância entre os profissionais de saúde,
a pessoa idosa e seus familiares em face da senescência.
Ensejou-se ainda:
• Apresentar as características sociodemográficas - idade, estado civil, nível econômico e
escolaridade - e indicadores de saúde - percepção subjetiva de saúde e comprometimentos
do estado geral de saúde auto-referidos -;
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• Repercutir os conceitos - ordenados alfabeticamente - de Atenção Suplementar à Saúde,
Autopercepção, Beleza, Cenografia Corporal, Ciclos da Vida, Corpo, Envelhecimento,
Estado de Saúde, Estatuto do Idoso, Feiúra, Geriatria, Gerontologia, Imagem Corporal,
Juventude, Medicina Antiidade, Mídia, Promoção da Saúde e Tecnologia da Beleza;
• Caracterizar a insatisfação e a superestimação do tamanho corporal;
• Contextualizar a influência sociocultural e antropológica, especialmente dos veículos
midiáticos, à elaboração de um constructo de imagem corporal requerido pela cena
contemporânea a partir das mulheres idosas aqui pesquisadas;
• Refletir sobre os possíveis cenários que foram constituídos a partir da revisão
bibliográfica e da pesquisa de campo realizadas ao presente estudo.
A efetivação desta dissertação, tendo como plataforma de pesquisa um programa de
promoção da saúde de uma operadora de atenção suplementar cuja área de cobertura é uma
cidade de grande porte, a Capital da República Federativa do Brasil, pode se justificar pelas
seguintes razões:
O Distrito Federal - DF - não possui municípios e é constituído por 26 Cidades-Satélites,
sem descentralização financeira, caracterizando-se como uma Cidade-Estado (CAMARGOS,
PRADO, ASSIS & MERÇON, 2006).
Entretanto, apresenta-se com uma rede de assistência à saúde ascendente, hierarquizada e
descentralizada, cujas referências e contra-referências foram sendo fixadas, historicamente, por
aspectos geográficos e pelas facilidades de transportes e acessos (ibidem).
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Ademais, contextualiza-se (CAMARGOS et al., 2006):
Percebe-se ainda a dificuldade de acesso à alta complexidade, com a formação de extensas filas de espera às especialidades médicas, sendo o preenchimento das vagas disponíveis baseado no critério de chegada à fila e não o de necessidade e emergência clínica do caso. Em paralelo, observa-se também a ausência de controle do gestor distrital sobre a capacidade instalada e o total domínio dos profissionais de saúde sobre suas agendas, ocasionando a não adequação dos serviços aos recursos humanos disponíveis e ao preconizado pelos parâmetros assistenciais nacionais. (p. 305-306)
Tal questão provocou o fortalecimento do setor privado de atenção à saúde, em especial
de atenção suplementar (DACHS, 2002) - adiante, ver páginas (p.) 31-32, este conceito será
melhor apresentado - e, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS - (2007), o
DF é a terceira Unidade Federada - UF - em termos de volume de beneficiários inscritos em
operadoras de planos de saúde, e o mais relevante é que cerca de 38% do total de assistidos pela
área supletiva distrital são pessoas idosas.
No caso da operadora utilizada como campo à pesquisa desta dissertação, esse número
chega a 40% de seus beneficiários - destes, 52% são do sexo feminino - em todo o Brasil, e o DF
segue a mesma perspectiva estatística (ibidem).
E, boa parte dos estudos direcionados às pessoas idosas, que abordam comportamentos
correspondentes à imagem corporal, é realizada em grandes centros urbanos (ALVES, 2005;
BENEDETTI, PETROSKI & GONÇALVES 2004; LEBRÃO, 2003; RAMOS, 2003; SILVA,
2005).
Contudo, pela necessidade de identificar a interdependência de comportamentos
correspondentes à saúde em pessoas idosas assistidas, com certa freqüência, por modelos de
atenção à saúde de caráter preventivo e que têm a intenção de ativar estilos e hábitos saudáveis
de vida.
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Do Método e Dos Materiais
Em síntese, de acordo com Lakatos & Marconi (1996): “Pesquisar não é apenas procurar
a verdade; é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos”. Por
esta definição compreende-se que a pesquisa não é algo simples (p. 15).
A ação de pesquisar não pode ser entendida apenas como um mero processo
investigativo, um método simplório de inquirição: a pesquisa visa obter compreensões
aprofundadas acerca dos problemas estudados; investigar requer um planejamento minucioso das
etapas a serem observadas, como seleção do tema de pesquisa, definição do problema a ser
investigado, processo de coleta, análise e tratamento dos dados e, enfim, a apresentação dos
resultados.
É importante perceber que nem toda pesquisa é científica, ou pelos menos, nem toda
pesquisa possui fins científicos. Como afirmam Barros & Lehfeld (2003), a pesquisa científica
“É a exploração, é a inquirição e é o procedimento sistemático e intensivo que têm por objetivo
descobrir, explicar e compreender os fatos que estão inseridos ou que compõem uma
determinada realidade” (p. 30). Pode-se ver que a pesquisa científica exige um certo grau de
formalidade: há alguns pré-requisitos que devem ser observados para que a credencie como tal.
Para desenvolver qualquer pesquisa é primordial que se tenha um método claramente
definido e comprovadamente eficaz: segundo Fiorese (2003), “O método (metodologia) é o
conjunto de processos pelos quais se torna possível desenvolver procedimentos que permitam
alcançar um determinado objetivo” (p. 27). De forma análoga se pode dizer que o método exerça
ao pesquisador a mesma função do mapa aos viajantes.
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Portanto, uma estrutura metodológica bem definida é condição sine qua non para a
realização de uma pesquisa científica. O que se verifica nas palavras de Araújo (1993) quando
diz que “A ciência é, portanto, metódica. Pretende fornecer um modelo de realidade na forma de
um conjunto de enunciados, que permitem obter explicações acerca de fenômenos e que são,
além disto, suscetíveis de algum tipo de confirmação ou refutação, enfim de validação” (p. 19).
E, de uma parte, neste trabalho foram seguidos os princípios da pesquisa quantitativa de
base observacional e sistemática (CRESWELL, 2007; KATZ, ELMORE, & JEKEL, 2005): o
que caracterizou este estudo como descritivo, de corte transversal, e correlacional, por ensejar a
investigação da correspondência de percepção da imagem corporal às variáveis
sociodemográficas e indicadores de estado geral de saúde (THOMAS & NELSON, 2002).
O conjunto amostral foi constituído por mulheres idosas beneficiárias de uma operadora
de plano de saúde, todas residentes em Brasília - DF -, selecionadas por conveniência. A coleta
de dados foi realizada no período de 01 a 20 de março de 2008. O campo de pesquisa foi
efetivado em um Consultório Médico, em um Centro Clínico na Asa Sul em Brasília - DF -, de
propriedade do profissional credenciado à prestação assistencial à operadora de plano de saúde.
A amostra de conveniência foi composta a partir dos seguintes princípios:
(i) escolher os sujeitos que detêm os atributos relacionados ao que se pretende
estudar - no caso deste trabalho tratam-se essencialmente de pessoas idosas -;
(ii) que os sujeitos selecionados estivessem oficial e regularmente associados ao
programa de promoção da saúde de uma operadora de plano de saúde - todos
deveriam estar inscritos e sob supervisão médica no mínimo hà 90 dias -;
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(iii) que fossem estritamente do sexo feminino;
(iv) que considerasse o número de sujeitos conforme o pré-estabelecido no
planejamento do universo a ser estudado no campo de investigação, com
possibilidade de redução de até 15% do quantitativo planejado (DENZIN &
LINCOLN, 2000); assim, a amostra buscou certa representatividade numérica.
Nessa direção, planejou-se, idealmente, a escolha por conveniência de 60 entrevistados,
caracterizando, de fato, 60 sujeitos ativamente participantes do estudo, o que significou a
utilização de 100% do potencial planejado ao universo de pesquisados.
De outra parte, ensejou-se a realização de uma discussão qualitativa por meio de uma
análise crítica, aqui entendida como possibilidades interpretativas de caráter hipotético que
pudessem contemplar os sentidos que os sujeitos atribuem aos fenômenos e ao conjunto de
relações em que eles se inserem (ibidem; CHIZZOTI, 2006; FILHO, 2003; MINAYO, 2002).
De uma forma geral, as pesquisas qualitativas procuram a compreensão particular do
objeto estudado, não se preocupam com generalizações. Sua forma de coleta de dados é a
comunicação entre sujeitos envolvidos e o tratamento é feito por meio da hermenêutica, ou seja,
da interpretação, que é compreendida como o modo de aclaramento dos sentidos e significados
da palavra, das sentenças, dos textos, e que é desencadeada pela percepção (MINAYO, 2002).
Portanto, a generalização é abandonada e o foco da atenção investigativa é “centrado no
específico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos
fenômenos estudados” (MARTINS & BICUDO, 1989, p. 23-24).
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Esse modelo de pesquisa deve, em síntese, “substituir as correlações estatísticas pelas
descrições individuais e as conexões causais objetivas pelas interpretações subjetivas oriundas
das experiências vividas” (MARTINS & BICUDO, 1989, p. 23-24).
Esta pesquisa levou em conta os princípios éticos de respeito à autonomia das pessoas, de
acordo com a Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde -
CNS -, que regula às diretrizes e normas de pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL,
1996).
Logo, ao preceder a coleta de dados foi solicitada a autorização - por escrito e assinada a
punho - do responsável pelo gerenciamento da área técnica de promoção da saúde da operadora
de atenção suplementar utilizada locorregionalmente como plataforma de campo à pesquisa - ver
ANEXOS, p. 302 -; além da aprovação do protocolo de intervenção do estudo pelo Comitê de
Ética em Pesquisa - CEP - da Universidade GEAP - UniGEAP - da Diretoria Executiva da
Fundação de Seguridade Social - DIREX/GEAP - (Processo nº 0.082.02/08, parecer em
ANEXOS - ver p. 305 -).
Após o aceite foi realizado contato com os potenciais sujeitos a serem pesquisados,
informando-os dos objetivos da pesquisa e solicitando sua participação na mesma: as mulheres
idosas que aceitaram participar no estudo assinaram um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido em Pesquisa.
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Em razão de solicitação feita pela área técnica, no nível central, responsável pela gestão
em todo território brasileiro do programa de promoção da saúde da operadora de atenção
suplementar, este trabalho não divulgará detalhes sobre o Profissional Médico credenciado pelo
plano de saúde, tampouco sobre sua atuação técnica, além da estrutura interna do próprio
programa ou mesmo sobre a operadora em questão.
Aqui, neste momento, cabe destacar o entendimento conceitual sobre atenção supletiva
ou suplementar à saúde: a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, a saúde
passou a ser definida como “um direito de todos e um dever do Estado” (BRASIL, 1998, artigos
196 a 200), instituindo, assim, os princípios da universalidade, integralidade e eqüidade da
atenção à saúde.
Ao cumprimento desses princípios foi determinada pela Constituição Federal (ibidem) a
participação de instituições privadas no setor público de saúde: a partir daí, surgiu o sistema
complementar de saúde que pode ser definido como instituições não estatais que prestam
serviços de saúde de forma a complementar ao sistema público de atenção à saúde do Brasil, ou
Sistema Único de Saúde - SUS - (ARAÚJO, 2004; ALMEIDA, 1999).
Outra modalidade de sistema que deve ser reconhecida no âmbito da saúde do sistema
nacional é o suplementar, que também pode ser designado por: atenção suplementar ou atenção
supletiva à saúde (ibidem).
O sistema suplementar de atenção à saúde é definido como um mercado constituído por
um grande número de empresas - operadoras - organizadas sob diversas personalidades jurídicas,
em dois grandes segmentos: o comercial e o não lucrativo (ibidem; ALMEIDA, 1998).
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No Brasil, nas últimas décadas, o mercado suplementar de atenção à saúde tem se
expandido de forma significativa: de acordo com pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 2000,
mais de 38 milhões de brasileiros estavam assistidos por pelo menos um plano ou seguro de
saúde, o que correspondeu a 24,5% da população do país (ARAÚJO, 2004; PINTO & SORANZ,
2004). E uma das marcas mais relevantes do sistema suplementar de saúde é o pré-pagamento
dos usuários pela utilização dos serviços prestados; sendo a comercialização de seus serviços a
sua principal característica (ALMEIDA, 1998).
Nos últimos 2 decênios, o aumento expressivo dessa prestação assistencial gerou novos
desafios para sua integração ao sistema de saúde brasileiro, e devido este crescimento foi
importante a criação de leis que regulamentassem essa nova modalidade de atenção: portanto, a
regulação de setor possui como marcos legais a Lei nº. 9.656/98, a Medida Provisória - MP
1.661/98 - atualmente a MP 2.097/01- e a Lei 9.961/00, que criou a ANS (PINTO & SORANZ,
2004).
Essa nova legislação dirigida ao mercado de operadoras de atenção supletiva à saúde
busca a padronização dos serviços ofertados, a elaboração de um sistema eficiente, a
fiscalização, a manutenção da estabilidade do mercado e o controle das irregularidades (ibidem).
Vale realçar que - a partir da Lei 9.656, de 03 de junho de 1998 - foram estipuladas novas
regras para o mercado supletivo de atenção à saúde, das quais, elencam-se: a ampliação das
coberturas assistenciais, o ressarcimento ao SUS pelos serviços prestados aos clientes das
operadoras ou seguradoras que forem atendidos na rede pública de saúde, o registro das
operadoras, o acompanhamento de preços pelo governo, a obrigatoriedade da comprovação de
soluções, reserva técnica, dentre outras que foram estabelecidas (ARAÚJO, 2004).
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Logo, para execução do campo de pesquisa: consultou-se previamente o Profissional
Médico responsável pela prestação de assistência às mulheres idosas no âmbito do programa de
promoção da saúde da operadora de atenção suplementar. Nisso, após a respectiva aprovação,
ocorreu à cessão de um período do tempo de consulta clínica à aplicação do instrumental de
pesquisa; as datas das entrevistas foram determinadas pelo próprio Profissional Médico e suas
pacientes em consenso com este pesquisador.
E, antes de os instrumentos serem aplicados, o pesquisador descreveu a intenção e o
objetivo central do estudo para cada uma das mulheres idosas integrantes da investigação, na
seqüência, por meio de técnica de entrevista aplicou individualmente o conjunto de instrumentos
avaliativos à pesquisada - face a face -: o preenchimento de todos os protocolos foi feito por este
autor em tempo real, a mão livre, mediante as respostas oferecidas pelos sujeitos entrevistados.
Nisso, o processo de obtenção das informações ocorreu por meio de entrevista
estruturada, bem como a aplicação do instrumental de pesquisa. E todos os contatos com as
mulheres idosas foram gravados em meio digital mediante a permissão das mesmas e
posteriormente transcritos. O equipamento utilizado para digitalização das entrevistas foi um
Mini Gravador Digital com 256 minutos, 32MB e Conexão USB VR636/F da marca Oregon -
Oregon Scientific Brasil -.
A entrevista é um encontro intencional entre corporeidades que se percebem. Contudo,
para que o pesquisador consiga perceber o outro, penetrar no seu mundo privado, na sua
subjetividade, é imprescindível ser flexível, ter uma postura ampliada, um olhar e uma escuta
atentivos (LABRONICI, 2002).
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Isso possibilita que o entrevistado se sinta menos tenso: porquanto, falar, responder
questionamentos, descrever uma situação experienciada, nem sempre é fácil, e às vezes pode
fazer vir à tona sentimentos permeados por emoções que deixaram marcas em seu corpo. Esse
método apresenta algumas características subjetivas, tais como a empatia, a intuição e a
imaginação (MARTINS & BICUDO, 1989).
Antes da realização das entrevistas no campo definitivo de pesquisa, todos os
instrumentos que seriam utilizados foram previamente testados – durante 5 dias consecutivos, 30
dias antes da realização do campo definitivo de estudo – por intermédio de um estudo piloto que
compreendeu 20 sujeitos pesquisados em características semelhantes aos componentes
estruturantes do campo final da pesquisa.
A investigação piloto teve sua plataforma dimensionada mediante a articulação de partes
de outros instrumentos já validados e empregados em estudos com pessoas idosas e não idosas
no Brasil e em diversos países do mundo, quais sejam:
a) Critério de Classificação Econômica Brasil (Associação Nacional de Empresa de Pesquisa -
ANEP, 2003) - ANEXOS, ver p. 296 -;
b) Levantamento de Comportamentos de Risco à Saúde/Problemas de Saúde Auto-Referidos
(CID-10, 2004; U.S. DEPARTAMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1998) -
ANEXOS, ver p. 298 -;
c) Escala de Figuras de Nove Silhuetas (STUNKARD, SORENSEN & SCHLUSINGER apud
KETY, ROWLAND, SIDMAN & MATTHYSSE, 1983) - ANEXOS, ver p. 300 -.
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Após a realização do teste de campo procedeu-se a realização da pesquisa definitiva,
cujas entrevistas constituiram-se por um conjunto instrumental de investigação cientificamente
validado. Quais sejam:
i. As características sociodemográficas foram avaliadas de acordo com
procedimento adotado pela ANEP (2003), e referem-se a idade, ao estado civil -
solteira, casada, viúva e divorciada -, nível de escolaridade - fundamental
incompleto, fundamental completo e médio incompleto, médio completo e
superior incompleto, superior completo -, situação ocupacional - aposentado,
pensionista e dona de casa -, arranjo familiar - mora só, só com o cônjuge, mais
filhos, mais netos ou outros - e renda familiar - até um salário; 1,1-3 salários; 3,1-
5 salários; 5,1-10 salários; e 10,1-30 salários -.
Ao nível socioeconômico também utilizou-se o procedimento adotado pela
ANEP (2003), que leva em consideração a posse de bens e a presença de
empregada mensalista, além do grau de instrução do chefe da família, e pode ser
classificado em classe socioeconômica A1 - 30 a 34 pontos -, A2 - 25 a 29 pontos
-, B1 - 21 a 24 pontos -, B2 - 17 a 20 pontos -, C - 11 a 16 pontos -, D - 6 a 10
pontos - e E - 0 a 5 pontos -.
Neste estudo, nenhuma idosa se classificou nas classes D ou E, e um
pequeno número na classe C. Assim, a amostra foi caracterizada em classe
socioeconômica A - A1 + A2 -, B - B1+B2 - e C - C -.
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ii. A percepção do estado geral de saúde foi baseada em 2 questões, empregada em
estudos internacionais (U.S. DEPARTAMENT OF HEALTH AND HUMAN
SERVICES, 1998), que aferem a auto-avaliação do estado geral de saúde e
comparada com seus pares em escala de resposta com 4 categorias.
A escala foi categorizada em 2 níveis: percepção negativa de saúde - ruim
e regular - e percepção positiva de saúde - boa e muito boa/excelente -.
As condições de saúde das mulheres idosas são referentes à presença de
doenças auto-referidas e foram analisadas de forma dicotômica: presença ou
ausência de doenças - nos últimos 3 anos de vida das pesquisadas - (ibidem).
E foram categorizadas, de acordo com a Classificação Internacional de
Doenças, versão 10 - CID-10 (2004) -, em problemas de saúde do aparelho
circulatório, respiratório, digestivo, geniturinário, sistema osteomuscular e do
tecido conjuntivo, metabólicas, neoplasias, doenças do ouvido, doenças dos olhos,
sistema nervoso, sangue e dos órgãos hematopoéticos, infecciosas e parasitárias.
Soma-se a este protocolo 1 item elaborado pelo autor relacionado à
realização de procedimentos cosmético-cirúrgicos - que foi testado e homologado
antecipadamente por intermédio da aplicação do teste piloto -. A análise também
se procedeu ao critério de dicotomia supra mencionado.
iii. A Escala de Figuras de Stunkard – Figure Rating Scale – FRS, ou escala de nove
silhuetas (STUNKARD, SORENSEN & SCHLUSINGER, 1983), traduzida à
língua portuguesa.
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A Escala de Figuras de Stunkard (STUNKARD, SORENSEN & SCHLUSINGER,
1983) - escala de nove silhuetas - procurou verificar a insatisfação com a imagem corporal - tipo
físico - atual e ideal, e a superestimativa do tamanho corporal.
Nessa direção, a satisfação corporal foi verificada por meio da supra comentada escala,
proposta por Stunkard (ibidem) que representa um continuum desde a magreza - silhueta 1 - até a
obesidade severa - silhueta 9 -, no qual a mulher idosa escolhe o número da silhueta que
considera mais semelhante a sua aparência corporal real - Acreal - e também o número da
silhueta que acredita ser mais semelhante à aparência corporal ideal - Acideal - considerada para
sua idade.
Para avaliação da satisfação corporal subtrai-se a aparência corporal real da aparência
corporal ideal, podendo variar de -8 até 8. Se essa variação for igual a 0, classifica-se a
pesquisada como satisfeita; e se diferente de 0, classifica-se como insatisfeita. Caso a diferença
seja positiva, significa insatisfação por excesso ponderal; e, quando negativa, uma insatisfação
pela magreza.
A Escala de Figuras de Stunkard para avaliação da aparência corporal porta validade
cientificamente verificada por meio do Coeficiente de Correlação de Pearson (ROWLAND,
ARKKELIN & CRISLER, 1991) com o IMC, apresentando valores estatisticamente
significantes: r=0,85-0,92 (MUELLER, JOOS, & SCHULL, 1985); r=0,69-0,77 (FITZGIBBON,
BLACKMAN & AVELLONE, 2000); r=0,78 (TEHARD, VAN LIERE, NOUGUE &
CLAVEL-CHAPELON, 2002). Além do que, possui reprodutibilidade de caráter prático de
escala com teste e reteste, que variam de r=0,55 a r=0,71 (THOMPSON, 1996; THOMPSON &
ALTABE, 1991).
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À aplicação do retro apresentado instrumento - Escala de Figuras de Stunkard
(STUNKARD, SORENSEN & SCHLUSINGER, 1983) -, as entrevistadas escreveram abaixo de
uma figura ilustrada a palavra “eu” para aquela que representasse a forma física atual, e “ideal”
para aquela que gostaria de alcançar.
Para a composição do conjunto de dados também se utilizou do Índice de Massa
Corpórea – IMC – às pessoas idosas, por meio do peso e estatura auto-referidos, segundo
parametrização consagrada internacionalmente (SAMPAIO & FIGUEIREDO, 2005;
PERISSINOTTO, PISENT, GRIGOLETTO & ENZIAND, 2007; SÁNCHEZ-GARCÍA,
GARCÍA-PEÑA, DUQUE-LÓPEZ, CEDILLO, CORTÉS-NÚÑEZ & REYES-BEAMAN,
2007).
Há quatro décadas, Keys, Fidanza, Karvonen, Kimura & Taylor (1972) sugeriram
chamar a massa corporal expressa pela razão do peso em quilogramas dividido pelo quadrado da
estatura em metros. A partir daí esta relação ficou popular na avaliação nutricional de adultos e
alguns passaram a chamá-la também de Índice de Quételet (1870) em homenagem a seu criador
(GARROW & WEBSTER, 1985).
Entretanto, é fundamental enfatizar que a exclusiva utilização desse Índice não é
suficiente para se recomendá-lo universalmente (ROCHE, 1984): é importante que se
correlacionem os valores de IMC com outras medidas independentes de composição corporal,
quais sejam: a Massa de Gordura Corporal - MGC - e/ou o Percentual de Gordural Corporal - %
PGC -.
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Ressalta-se que o IMC é utilizado pela Organização Mundial de Saúde – OMS – para
classificação do estado nutricional de adultos e idosos (CERVI, FRANCESCHINI & PRIORI,
2005).
Embora seja questionada a capacidade desse Índice para estimar a adiposidade central,
gordura corporal e classificar a obesidade em pessoas de diferentes idades, sexo e composição
corporal (GARROW, 1988; SANTOS & SICHIERI, 2005) seu uso é recomendado (GARROW,
1988), tendo em vista sua facilidade de aplicação (SANTOS & SICHIERI, 2005; ANJOS, 1992),
seu baixo custo e pequena variação intra e interavaliador (WHO, 1990) e também pela ausência
de outro índice tão simples ao “screening” de coletividades (SANTOS & SICHIERI, 2005).
Portanto, esse Índice, mesmo sendo um método rudimentar para quantificar a obesidade
ou mesmo o baixo peso, categoriza o indivíduo, pode predizer o risco de morbidades
relacionadas ao padrão ponderal e, em situações mais específicas, a morte prematura (ibidem;
WHO, 1990; ANJOS, 1992; CERVI, FRANCESCHINI & PRIORI, 2005): nesta pesquisa, para
avaliação da insatisfação corporal foi calculada a discrepância entre o número da figura
escolhida como atual e o número da figura escolhida como ideal. Quanto mais próximo do 0
fosse o resultado, menor a insatisfação. Quanto maior, mais as entrevistadas gostariam de possuir
um corpo menor do que o atual e vice-versa.
A superestimativa do tamanho corporal é avaliada de forma diferente: a terceira figura
corresponde ao IMC de 20 kg/m2 e a sexta figura ao IMC de 30 kg/m2. Quando uma entrevistada
com IMC < 20 kg/m2 escolhe, como representante do tamanho atual, uma figura igual ou maior
do que a quarta, ou quando uma pesquisada com IMC < 30 kg/m2 escolhe figura igual ou maior
do que a sexta, pode-se afirmar que ocorre a superestimação do seu tamanho corporal.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Adicionalmente ao questionário, as entrevistadas deveriam referir à idade, peso atual,
peso desejado e estatura real. Segundo Chor, Coutinho & Laurenti (1999) e Silveira, Araújo,
Gigante, Barros & Lima (2005), o relato do peso atual e ideal, bem como da estatura são
cientificamente satisfatórios, podendo ser utilizados em pesquisas populacionais quando a
aferição for inviável ou quando houver necessidade de tornar o estudo mais rápido ou diminuir
seu custo. Com base nesses dados foi calculado o IMC, adotando-se a classificação da OMS
(WHO, 1995).
Para o cômputo, análise e consolidação dos dados selecionados, e conseqüentemente
absorvidos pelo estudo, utilizou-se do software Sample Size Calculation for X Sectional Surveys
para cálculo do tamanho mínimo da amostra, admitindo-se o erro amostral máximo de 5% e
nível de confiança de 95%.
Para confecção do banco de dados foi utilizado o programa Epidata, versão 2.1b, e as
análises foram feitas por meio do pacote estatístico Statistical Package for the Social Science
(SPSS, 2002), versão 11.0. A análise descritiva dos dados serviu para caracterizar a amostra,
com a distribuição da freqüência, cálculo de tendência central - média e mediana - e de dispersão
- amplitude de variação, desvio padrão e intervalo de confiança -. Para todos os procedimentos
de análise, foi adotado o nível de significância de 5% (p<0,05).
À sua inclusão, todos os materiais utilizados - referenciais teóricos e visuais - foram
selecionados a partir das seguintes temáticas: autopercepção, beleza, “biofisiologia”,
comportamento da pessoa idosa, Geriatria e Gerontologia, imagem e corpo, intervenções
cosmético-cirúrgicas, juventude, Medicina Antiidade, mídia, sistemas de saúde e
socioantropologia corporal.
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Majoritariamente, 72,3%, dos recursos teóricos utilizados como estruturas basilares à
elaboração das investigações realizadas foram extraídos, entre maio de 2007 e maio de 2008, das
seguintes plataformas eletrônicas - base de dados/bibliotecas virtuais -:
- As estadunidenses* Up to Date (disponível em http://www.uptodate.com) e Elsevier
(disponível em: http://www.elsevier.com);
- A francesa Centre National de la Recherche Scientifique (disponível em:
http://cat.inist.fr), e;
- A latino-americana Lilacs/Scielo (disponível em: http://www.scielo.org).
Destarte, frente à estrutura de pesquisa aqui arquitetada, vale destacar que o campo
científico aponta uma tendência ao surgimento de um novo paradigma metodológico, um modelo
que consiga atender plenamente as necessidades dos pesquisadores.
Essa dicotomia positivista X interpretativo, quantitativo X qualitativo parece ceder
espaço a um modelo interpolado de pesquisa, o chamado “quanti-qualitativo”, ou o inverso,
“quali-quantitativo” - a depender do enfoque do trabalho -: se de um lado, os investigadores das
ciências da saúde e exatas se mostrariam aversos às metodologias qualitativas, de outro, os
cientistas sociais criticariam o enfoque positivista. Para tal, de acordo com Barros e Lehfeld
(2003):
Ao tratarmos das ciências sociais não podemos adotar o mesmo modelo de investigação das ciências naturais, pois o seu objeto é histórico e possui uma consciência histórico-social. Isto significa que tanto o pesquisador como os sujeitos participantes dos grupos sociais e da sociedade darão significados e intencionalidade às ações e às suas construções. (p. 32)
* A utilização do termo “estadunidense” - e não “norte-americano” - ocorre em razão de corresponder-se às informações cujas origens procedem necessariamente dos Estados Unidos da América do Norte - EUA -.
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Apesar da clara oposição existente entre as duas abordagens - quantitativa X qualitativa -
muitos autores, especialmente os da área social, entendem que o ideal é a construção de uma
metodologia que consiga agrupar aspectos de ambas as dimensões, como é o caso de Demo
(1995) quando diz que “Embora metodologias alternativas facilmente se unilateralizem na
qualidade política, destruindo-a em conseqüência, é importante lembrar que uma não é maior,
nem melhor que a outra. Ambas são da mesma importância metodológica” (p. 231).
Essa polarização do mundo - bem X mal, amor X ódio, grande X pequeno, velho X
jovem - é própria da ideologia positivista: a caracterização de posturas extremistas parece ser
danosa à ciência, pois às vezes é dada ao objeto uma significação que não condiz com sua
realidade, mas com o que está mais próximo dele (LAKATOS & MARCONI, 1996).
Assim, como o ser humano é composto de duas dimensões - matéria e espírito - também
é clara a idéia de que todas as coisas mundanas possuem, ao menos, uma representação objetiva
e outra subjetiva.
A visão reducionista que tem imperado no campo científico ocasiona uma diminuição da
importância dos objetos. Esse aspecto meramente pragmático da pesquisa quantitativa acaba
subjugando o real valor dos estudos. Por outro lado, autores defendem que a utilização apenas de
métodos qualitativos não é indicada, pois seria muito penoso construir teorias abrangentes a
partir de estudos isolados (ibidem; MAY, 2004; DEMO, 1995).
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Diante disso, os aspectos objetivos são, por vezes, necessários à ciência. Se tomar por
conta o campo das ciências da saúde, sobretudo, da Medicina, percebê-se que já é uma realidade
a utilização de abordagens “mistas”, ou seja, pesquisas que vêm fazendo uso de ferramentas de
ambas as dimensões (CRESWELL, 2007; DENZIN & LINCOLN, 2000).
Um discurso recente defendendo a importância dessa perspectiva dual é o de May (2004):
[...] ao avaliar esses diferentes métodos, deveríamos prestar atenção, [...] não tanto aos métodos relativos a uma divisão quantitativa-qualitativa da pesquisa social - como se uma destas produzisse automaticamente uma verdade melhor do que a outra -, mas aos seus pontos fortes e fragilidades na produção do conhecimento social. Para tanto é necessário um entendimento de seus objetivos e da prática (p. 146).
No setor da saúde, especialmente as formações que se propõem estudar o fenômeno do
envelhecimento a partir de um enfoque pluridimensional - caso da Gerontologia - há um contexto
favorável a utilização de metodologias de pesquisa que adotem uma perspectiva múltipla: o
cenário humano é, ao mesmo tempo, complexo e mutante. Se estudar “biofisologicamente” o ser
humano isoladamente já é um trabalho desafiador, entendê-lo no seu ambiente - ecossistêmico,
antropológico, comportamental, cultural, econômico, etc. - é uma tarefa ainda mais árdua.
Pois bem, o corpus deste estudo constitui-se a partir de um raciocínio quanti-qualitativo e
descritivo. E, de acordo com Roland Barthes (1971), o corpus de uma pesquisa “é uma coleção
finita de materiais, determinada de antemão pelo analista, conforme certa arbitrariedade -
inevitável - em torno do qual ele vai trabalhar” (p. 104).
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Certas recomendações de Barthes (1971) foram consideradas quando da materialização
do corpus desta exposição científica, quais sejam:
a) de uma dimensão: deveria ser expansível, de sorte que seus componentes saturassem
um sistema completo de paridades e dissemelhanças;
b) de outra: deveria ser o mais homogêneo possível.
Todavia, corpus heterogêneos são aceitáveis - como é o caso da estrutura quanti-
qualitativa da dissertação aqui apresentada -, mas tendo o cuidado de se estudar meticulosamente
a articulação sistemática das substâncias envolvidas, ou seja, “é preciso dar à própria
heterogeneidade uma interpretação estrutural” (p. 105).
Em seguida, Barthes (ibidem) esclarece que é preciso haver homogeneidade temporal,
isto é, “o corpus deve eliminar ao máximo os elementos diacrônicos, deve coincidir com um
estado do sistema, um ‘corte’ da história”.
Contudo, será preferível um corpus variado, mas restringido no tempo, a um corpus
estreito, mas de longa duração (ibidem). Dito de outra forma, o corpus é uma intersecção na
história, ou seja, a maioria dos materiais tem um ciclo natural de estabilidade e mudança. Os
materiais aqui estudados foram escolhidos dentro de um ciclo natural: eles deveriam ser
minimamente sincrônicos.
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Nisso, ressalta-se que o estudo construiu-se a partir de uma análise epistemológica:
“análise das estruturas teóricas de um discurso científico, à análise do material conceitual, à
análise dos campos de aplicação desses conceitos e das regras de utilização dos mesmos. [...]
Trata-se da análise das transformações dos campos do saber” (FOUCAULT, 2000, p. 189).
Analisar as transformações de um campo do saber requer ainda, o reconhecimento de que
o discurso científico é uma realidade tão complexa, que não basta investigá-lo sob uma
perspectiva apenas, pois, como ressalta Foucault (ibidem) há necessidade de abordá-lo em
diferentes níveis por meio de diferentes procedimentos metodológicos.
De uma forma mais ampla: a pesquisa investigou o “campo discursivo” sobre o
envelhecimento, juventude, corpo e beleza encenados por meio das mídias de grandes escalas
de consumo. Conforme Maingueneau (2005):
No universo discursivo, isto é, no conjunto dos discursos que interagem em um dado momento, a análise do discurso segmenta campos discursivos, espaços onde um conjunto de formações discursivas estão em relação de concorrência no sentido amplo, delimitam-se reciprocamente: [...], explicitamente ou não, numa certa conjuntura. (p. 27)
O campo não é uma estrutura estratégica, mas um jogo de equilíbrios instáveis entre diversas forças que, em certos momentos, move-se para estabelecer uma nova configuração. Um campo não é homogêneo: há sempre dominantes e dominados, posicionamentos centrais e periféricos. Um posicionamento dominado não é necessariamente ‘periférico’, mas todo posicionamento ‘periférico’ é dominado. (p. 19)
E, ainda, segundo o supracitado autor (ibidem), de acordo com a pragmática, todo ato de
fala pressupõe uma instituição, pois ao prometer, ao afirmar, ao interrogar, a linguagem está
agindo de acordo com determinadas condições próprias a ela.
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Seria por isso que os canais midiáticos, como potenciais aprazadores às tecnologias
contra o envelhecimento e produtoras da beleza estético-corporal, ao persuadirem seus
interlocutores prometendo algo mediante a aquisição de um produto ou serviço, colocar-se-iam,
por meio dos seus discursos, na posição de um locutor legitimado para fazê-lo.
Dessa forma, o interlocutor, seu público-alvo, aceita e crê no que está sendo acordado,
devido a esta prática social dele conhecida como lugar creditado para dizer o que diz
(MAINGUENEAU, 2005).
Ao enunciar, o discurso submete-se a regras que são constitutivas dessas tecnologias da
beleza: quando anunciam um produto ou serviço nos diferentes meios, este ato faz sentido
justamente por falar desse lugar que, como um jogo, possui regularidades que o identificam
(ibidem, 2001).
Por isso, o interlocutor, público-alvo, o reconhece como um discurso a ele dirigido, que
“impõe” a sua leitura e a sua posterior ação. Isto porque vai com ele se identificar, por se tratar
de um discurso produzido a partir de seus valores, crenças, ideologias, etc (ibidem).
Embora a pragmática não veja a questão da subjetividade enunciativa a partir da qual se
desenvolveu este trabalho, as considerações retro comentadas são pertinentes para situar a mídia
enquanto uma provável aprazadora às tecnologias da beleza e “antiidade”.
O discurso não é originário de um único sujeito, mas de outras vozes, outros discursos
que atravessam este acontecimento de linguagem, que é a enunciação, responsável pelo
funcionamento discursivo e pelo surgimento do enunciado (ibidem, 2001).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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O que se pretendeu - dentre outras questões - neste trabalho é estabelecer as patências dos
veículos midiáticos sobre envelhecimento, juventude, estética e beleza corporal a partir das falas
encenadas pelos textos midiáticos aqui explorados e que constituem o seu corpus de análise.
Sob essa dimensão escolheram-se entrevistas de revistas, comerciais de publicidade
impressa, outdoors, dentre outros gêneros do tipo discurso publicitário por se tratarem de
gêneros discursivos bastante difundidos na sociedade atual (MAINGUENEAU, 2001; 2005).
E, dos diversos métodos absorvidos ao balizamento do processo reflexivo sobre o corpo e
a tecnologia da beleza, um em especial merece destaque; a análise semiótica de imagens (ECO,
1979): o presente estudo também teve como plataforma estruturante de sua condução a
investigação analítica de imagens fotográficas, de obras de arte, e outras formas de
comunicações visuais procedentes de publicações de livros, magazines e peças publicitárias
destinados às discussões empreendidas no transcurso desta dissertação.
As imagens aqui apresentadas e estudadas foram inseridas no trabalho por meio de
equipamento eletrônico do tipo Scanner da marca HP-Scanjet 2400®, e praticamente todo seu
conjunto teve o colorido original esmaecido e trabalhado digitalmente em preto-e-branco por
meio do programa Microsoft Office Picture 2007 for Windows®.
Essa opção, feita por este autor, ocorreu para uniformizar a linguagem visual das
imagens, bem como oferecer um acabamento mais unívoco e que aproximasse as análises
semióticas de um processo genérico de interpretação.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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À exceção ocorre na Figura 8 (ver p. 119) que teve a manutenção do seu colorido por
duas razões: primeiro pela sua peculiaridade e destaque no contexto deste trabalho, em segundo
entendeu-se que a manutenção das cores originais poderia oferecer mais fidedignamente a
atração visual que essa imagem impacta aos seus apreciadores - que, de certo modo, poderão se
tornar seus consumidores -.
Destaca-se também que a supra comentada imagem (Figura 8) é oriunda de um retrato
produzido pelo próprio autor por meio de uma máquina fotográfica da marca SAMSUNG®,
modelo Digimax V700 – VARIOPLAN ZOOM 7.8-23.4mm do tipo óptico – 7.1 Mega Pixels.
Portanto, para se tratar a beleza nada mais adequado do que percebê-la na sua essência, e
esta percepção se monta justamente a partir de imagens visualmente concretas: a breve análise
semiótica apresentada neste ensaio teve como base de exploração a beleza corporal humana e
suas variações a partir do cinzel de Foucault (1993), ao descrever tão habilmente o corpo
humano que pode ser submetido, utilizado, transformado e aperfeiçoado, inserido numa máquina
de poder que o esquadrinha, o desarticula e o repõe.
E de Rodrigues (1980) afirmando que: “[...] ele é, sem dúvida, o mais natural, o mais
concreto, o primeiro e o mais normal patrimônio que o homem possui” (p. 47).
Para Merleau-Ponty (1945), o corpo próprio diferencia-se dos outros corpos físicos, é um
todo, indivisível da consciência; como totalidade, vive o espaço e o tempo e é a própria
expressão do “ser-no-mundo” e é assim que participa, comunga e comunica.
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Com relação à iniciação à pesquisa com imagens, os depoimentos de Garcia (1968)
traduzem um campo entre a arte e a pesquisa que envolve um discurso, cujo trabalho como
artista visual dialoga com a pesquisa que desenvolve sobre corpo e imagem, que define como um
espaço poético em que a leitura crítica se (des)constrói diante do fazer artístico, emergindo a
paisagem inebriante do (des)conhecido, numa dedicação num processo de criação a um
experimentar íntimo e passional com a produção da fotografia e do vídeo, sobretudo ao tentar
enfocar a transversalidade de técnicas digitais.
No decurso da produção metodológica, a análise do conteúdo e a interpretação referencial
franquearam a concatenação da reflexão filosófica com a atenção ao campo empírico como uma
dimensão compreensiva.
Durante esse processo buscou-se uma rede de relações que colaboraram à percepção das
regularidades, das transformações, rupturas e continuidades nas estruturas de produção científica
em saúde, nas suas formas de racionalidade, nos objetos estudados, nos procedimentos
metodológicos adotados, nos conceitos de corpo, autopercepção, mídia, juventude e
envelhecimento, cuja sistematização está demonstrada nesta dissertação, organizada em quatro
capítulos.
Como uma metapesquisa, este estudo não se pretendeu a um julgamento de produção
analisada, mas sim de buscar elementos teóricos que pudessem propiciar a reflexão sobre a
racionalidade científica - especialmente dos saberes concernentes ao setor da saúde - e seus
desdobramentos no campo das práticas de atenção geriátrica e gerontológica à pessoa idosa.
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Das Potenciais Limitações do Estudo:
Elencam-se:
a) por conta de não poder generalizar-se à população global por abranger somente as
mulheres idosas que participam de um programa de promoção da saúde de uma operadora de
atenção suplementar - exclusivamente na cidade de Brasília - DF -;
b) por conta do alto nível de escolaridade e das condições socioeconômicas das mulheres
idosas participantes que poderiam ter interferido nas investigações realizadas e seus produtos
correspondentes;
c) por conta da não associação ativa das informações socioeconômicas, da percepção do
estado geral de saúde e da autopercepção da imagem corporal que poderia trazer resultados
preditivos mais específicos, além de outras hipóteses, que não puderam ser trabalhados por este
estudo ou ainda aventados de forma sistemática de sorte que pudessem auferir um extrato mais
concludente a respeito do perfil da amostra pesquisada - apesar das conjeturas aqui realizadas
com base no referencial teórico utilizado à dissertação -.
Entretanto, compreende-se que essas questões - em razão dos apontamentos preambulares
realizados no bojo do trabalho - poderão receber um tratamento melhor acabado por meio de
uma pesquisa de base mais concretamente aprofundada, como é o caso de uma tese de
doutoramento que pretende ser desenvolvida futuramente pelo autor: destarte, o intento é que
esta dissertação seja ofertada a outros pesquisadores pela oportunidade de obra original e pelo
abarcamento das diferentes áreas científicas exploradas à sua elaboração. Com efeito, ensejou-se
auferir uma investigação pedagógica inter e transdisciplinar (NICOLESCU, 1999).
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CAPÍTULO II
DA IMAGEM E SUAS VARIAÇÕES: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO PANORÂMICA E ESSENCIAL
FIGURA 2: Budapest (The Model), Andres Serrano (ECO, 2007, p. 165).
“Ah! Se os velhos pudessem e os jovens soubessem [...]” (sentença popular francesa de autor desconhecido)
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Para Beauvoir (1990), seguindo a posição existencialista de Sartre, a noção de projeto de
vida é fundamental para pensar a questão da subjetividade e do tempo. A autora afirma que as
pessoas idosas continuam a se identificar com a imagem do que foram em sua juventude. Mesmo
dizendo-se agora aposentadas, continuam evocando lembranças, o que lhes garante a convicção
de permanecerem imutáveis ao tempo, e que no entendimento da autora é sinônimo de segurança
e afirmação pessoal.
Sabe-se que envelhecer difere de pessoa para pessoa, ou seja, existem vários fatores que
influenciam no passar dos anos, tais como o tempo, a hereditariedade e o meio ambiente. A
mídia também interfere na concepção da sociedade e influencia a pessoa idosa que passa a se
comportar assim como é apresentado pelos canais de comunicação (MASCARO, 1997).
No transcurso dos séculos, essa visão passou por várias modificações, não obstante, vale
entender como se dá a atuação dos profissionais que transitam pelo universo da pessoa idosa:
segundo Paquet & Carlson (1999) e Camargos, Mendonça & Viana (2006), a formação Médica
propõe o especialista, o Geriatra, o profissional que se ocupa das doenças correspondentes ao
envelhecer na sua dimensão “biofisiológica”. Quando o espectro de atuação é ampliado e outras
categorias - inter e trans - disciplinares assumem a atenção à pessoa idosa, estabelece-se o
Gerontólogo, que é o profissional que trata dos aspectos acerca da macrodinâmica do
envelhecimento (ibidem).
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A Geriatria edifica a Gerontologia e vice-versa: são ciências indissociáveis e contribuem
ao rastreamento preambular e diagnóstico da situação da pessoa idosa, bem como à
hierarquização da qualidade dos cuidados que deve receber, com campos de atuação distintos, no
entanto, complementares (PAQUET & CARLSON, 1999). E, para Sant’Anna (1997), a criação
da Gerontologia não foi apenas a criação de uma nova nomenclatura, mas sim a possibilidade de
se entender a velhice como um processo inerente à vida, onde não mais haveria a preocupação
em se encontrar uma “cura” para o envelhecimento “biofisiológico”.
Debert (1994) salienta que o novo enfoque dado à questão do envelhecimento tende a
transformar essa experiência em algo radicalmente diferente para homens e mulheres.
Contemporaneamente circulam várias visões de velhice entre as pessoas, e um dos conceitos
mais comuns e errôneos é o da pessoa idosa vista como um ser triste e portador de doenças: na
sociedade capitalista, com a associação entre a aposentadoria e a velhice, esta passa a ser
associada à inutilidade, à dependência e à pobreza (CAMARANO, 2001).
Mas, como será que a pessoa idosa se sente, como ela percebe o seu envelhecimento?
Pois bem, atualmente a OMS (WHO, 2002) determina que indivíduo idoso é aquele que,
cronologicamente, nos países em desenvolvimento atingiu 60 anos de idade. Entende-se ser esta
uma conceituação estabelecida para fins de classificação oficial ou normativa que facilita a
criação de programas de saúde entre outras situações: essa idade é percebida como marco do
início da velhice; porém acrescentam que a idade funcional e “biofisiológico” difere entre os
indivíduos e, portanto, não pode ser padronizada (SILVA & PETROSKI, 1999).
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Essa questão passa pelo fato da unicidade humana, possibilitando que os seres humanos
vivenciem ou enfrentem de forma igualitária uma etapa de suas vidas. Nessa perspectiva, se
adotam essas convenções cronológicas como referenciais e não como estereótipos, pois existem
diversidades culturais, sociais, econômicas e individuais que interferem nessa padronização
(SILVA & PETROSKI, 1999).
Crê-se que a sabedoria da pessoa idosa transcende a sua experiência de vida. A sabedoria
se apóia no vivido, no interpretado, no confabulado, mediante o cotidiano trilhado. Nas culturas
de países não capitalistas, onde o resultado não é a tônica fundamental, a pessoa idosa assume
uma posição de chefe, como no caso de alguns países orientais, diferentemente daquele atribuído
aos países capitalistas, em que a ênfase está no novo, daí incluindo a pessoa no início da fase
adulta, pois o importante é o que produz lucro no menor tempo possível (ibidem) – o que geraria
eficiência (COLLECTIFE, 2004) – .
Portanto, freqüentemente ocorre conflito em julgar o ser pessoa idosa, conforme a
classificação da OMS (WHO, 2002), que se baseia na idade cronológica: entende-se que a
velhice consiste na deterioração característica de certas funções orgânicas, mentais ou espirituais,
não patológica, que ocorrem independentemente da cronológica e que são influenciadas por
diversos fatores externos e internos do indivíduo (ARGOUD, 1998; FREITAS, PY, CANÇADO
& GORZONI, 2002).
Para este estudo considerou-se, também, o envelhecimento condicionado às modificações
físicas inevitáveis, de caráter “biofisiológico”, que iniciam de maneira gradual, geralmente a
partir da terceira década de vida. A quantidade de pessoas com envelhecimento orgânico varia
consideravelmente em intensidade entre os indivíduos idosos sadios (ibidem; CALDAS, 2003).
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Dessa forma, os fatores que interferem na velocidade do envelhecimento seriam
principalmente os dietéticos, a atividade física, ingesta de álcool, consumo de fumo, ocorrência
de doenças, estresse e o estilo de vida (WHO, 2002). As doenças ocorrem em todas as faixas
etárias: o envelhecimento não é uma fase específica em que elas se manifestam, embora ocorram
limitações dos aspectos “biofisiológicos” (ARGOUD, 1998; SILVA, 1999; FREITAS et al.,
2002).
Essa constatação é reforçada, quando se identificam pessoas idosas com aspecto e saúde
regulares, que, ao longo de suas vidas, desenvolveram hábitos de saúde, higiene física e mental
com qualidade de vida. Diferentemente dos jovens portadores de aspectos de vida envelhecidos,
que não se preocuparam em gerar uma forma saudável de ser e envelhecer (SILVA, 1999).
Tem-se valorizado a avaliação que cada um faz da sua saúde muito embora se admita o
seu caráter subjetivo. Contudo, as investigações têm mostrado que essa avaliação se associa com
a avaliação objetiva da pessoa idosa e seu estado de envelhecimento, com a frequência das
consultas médicas solicitadas e com outras variáveis de caráter psicológico como a depressão,
ansiedade e o bem-estar (LEE, CHOI, & LEE, 2001; GALL & SZWABO, 2006).
Na mesma concepção, os sujeitos percebem seu envelhecimento quando tomam
consciência de alguns sinais. Alguns os notam por volta dos 40 anos, levando os sujeitos a se
depararem repentinamente com fatos que indicam que eles tenham se tornado pessoas idosas.
Outros fenômenos acontecem gradualmente, levando as pessoas a sentirem que estão
envelhecendo, progressivamente. De qualquer forma, essas marcas – especialmente físicas –
tendem a ser percebidas com certo pesar: a velhice parece ser temida (ARGOUD, 1998; ibidem).
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Dos Ciclos da Vida, Do Corpo e Da Beleza
E, por sua vez, a pessoa idosa - por geralmente significar ao senso comum a
representação física do final da vida (SANTOS, 2003) - é identificada à fase das perdas, das
dependências, da solidão, do afastamento, da depressão, do ressentimento, em que surgem os
problemas de identidade, de inferioridade, de confusão mental, de dificuldade geral de
adaptação, dos problemas de relacionamento e, de forma popular, da impotência sexual.
O ser humano é uno, um ser integral (VYGOTSKY & LURIA, 1996): a sua saúde
depende do equilíbrio entre o biológico, o psicológico e o social (MINAYO, 2002). Quando
alguma dessas áreas está muito comprometida, sobrecarrega as demais, facilitando o surgimento
do desequilíbrio. Dessa forma, compreende-se que envelhecer é um processo muitas vezes
negado e ignorado pelo ser humano, em virtude de culturalmente esse processo representar a
última fase dos ciclos da vida em que somente resta aguardar a morte.
Cabe aqui interpor a conceituação de ciclos da vida, e ocorrem certos aspectos que
minimamente justificariam o estudo do funcionamento dos seres vivos a partir da dimensão do
tempo em ciclos:
Primeiramente, o caráter dinâmico dos fenômenos vitais limitaria o alcance de
observações nas quais a vida é destacada, como, por exemplo, em um tecido examinado em
microscópio. Esse olhar teria o valor de um instantâneo: uma fotografia que congela o objeto.
Em segundo, a demonstração da existência de mecanismos internos produtores de tempo,
os assim chamados “relógios biológicos” (BRANDSTAETTER, 2004), obrigaria a reler muito
do que se sabe sobre as relações temporais dos organismos com seus ambientes.
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Atualmente, já não é possível entender as oscilações comportamentais como meras
respostas aos estímulos ambientais, na medida em que a responsividade dos organismos é
sabidamente modulada pelos seus sistemas de temporização, ou sistemas de organização dos
tempos e suas fases (BRANDSTAETTER, 2004), aqui compreendidos como ciclos da vida.
Portanto, essa idéia remeteria aos estágios de desenvolvimento humano como um modo
de organização dos diversos ciclos vitais (ibidem). E estes seriam mediados por transformações:
processos “biofisiológicos” que ocorreriam ao longo de toda a trajetória do sujeito e estariam
relacionados a um conjunto complexo de fatores.
Na abordagem históricocultural encontra-se a postulação do desenvolvimento humano
como sendo resultado da interação entre quatro planos genéticos: a filogênese, a ontogênese, a
sociogênese e a microgênese (VYGOTSKY & LURIA, 1996).
Os ciclos da vida focalizariam o indivíduo isolado e as transformações que ocorreriam
para todos os seres humanos de forma similar (BRANDSTAETTER, 2004), em ilustração: o
aparecimento dos dentes, a capacidade de caminhar, a aquisição da linguagem, o
amadurecimento sexual e o envelhecimento do organismo.
A imensa multiplicidade de conquistas no transcurso dos ciclos da vida - que ocorreriam
ao longo da história individual - geraria uma complexa configuração de processos de
desenvolvimento que seria absolutamente singular para cada sujeito.
Em cada situação de interação com o mundo externo, o indivíduo encontrar-se-ia em um
determinado momento de sua trajetória particular, trazendo consigo certas possibilidades de
interpretação e (re)significação do material que obteria dessa fonte externa.
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Com efeito, a vida humana tem sido dividida em: infância, adolescência, idade adulta e
velhice (PALACIOS apud COLL, PALACIOS & MARCHESI, 1995; BRANDSTAETTER,
2004). Estas etapas têm sido apresentadas como universais e associadas as características
comuns a todas as pessoas e a todos os grupos humanos.
Assim sendo:
A infância, onde aconteceriam experiências com repercussão determinante e
configuradora de todo o desenvolvimento posterior; a adolescência como época de mudanças
drásticas e turbulentas; a idade adulta como o momento de estabilidade e ausência de mudanças
importantes, e; a velhice como sinônimo de “deterioração” dos processos “biofisiológicos”
(PALACIOS, 1995).
Entretanto, por não levar em conta aspectos da história cultural e individual dos sujeitos,
essa perspectiva não contemplaria a multiplicidade de possibilidades de desenvolvimento dos
ciclos da vida humana, que para ser mais completa deveria absorver:
“1) a etapa da vida em que a pessoa se encontra; 2) as circunstâncias culturais, históricas e sociais nas quais sua existência transcorre e 3) experiências particulares privadas de cada um e não generalizáveis a outras pessoas” (ibidem, p. 9).
Essa dimensão tampouco assumiria a própria essência dos ciclos da vida, isto é, a
possibilidade de auto-desafiar-se e de superar-se inerente à condição humana (VYGOTSKY &
LURIA, 1996): como explicar os inúmeros casos de pessoas que superam condições adversas
ocorridas em sua infância? Ou dos jovens que percebem sua adolescência mais como
continuidade do que como ruptura com seu percurso anterior? Onde ficaria o potencial
transformador das intervenções educativas na idade adulta? E as pessoas idosas que iniciam uma
nova atividade em idade avançada e tornam-se ainda mais criativas, produtivas e independentes?
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Diante dessas reflexões, a questão não é eliminar a divisão do percurso vital por meio de
um categorização em ciclos, mas historicizar sua compreensão, o que admitiria uma aplicação
mais expandida e com maior potência do seu próprio conteúdo. Portanto, toda sociedade seria:
[...] organizada por idades e toda sociedade tem um sistema de expectativas sociais com relação ao comportamento apropriado às idades. O indivíduo passa por um ciclo socialmente regulado do nascimento à morte tão inexoravelmente como passa pelo ciclo biológico: uma sucessão de status de idade delineados socialmente, cada um com seus direitos, deveres e obrigações reconhecidos. (MERRIAN & CAFFARELLA, 1999, p. 120)
É nesse sentido que a idéia dos ciclos da vida poderia ser mais benfazeja para uma
compreensão minuciosa do fenômeno do desenvolvimento humano, do que a idéia
tradicionalmente repercutida dos estágios em seções não interdependentes: não remeteria a uma
passagem por um percurso abstrato - natural - da vida humana, mas por um percurso
contextualizado historicamente - cultural -.
Pode ser que se permaneça, mais uma vez, falando em crianças, jovens, adultos e pessoas
idosas. Mas será importante dar substância a esses ciclos da vida, conectando-os aos modos
concretos de inserção dos sujeitos ao seu mundo social, às situações históricas e culturais
específicas, e não exclusivas aos saberes “biofisiológicos”.
Acredita-se, dessa forma, que as pessoas estejam em constante dinamicidade,
independentemente do período em que estejam vivendo. O envelhecimento marca a fase de
reorganizar a vida: apresentar comprometimentos do ponto de vista dermatológico - com a
presença das rugas senis - e do aparelho locomotor - limitações à deambulação - poderia
significar que, apesar das restrições, é a vida que continua vencendo (RAMOS, 1997; 2005).
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Nesse pensar, percebe-se o quão importante é a forma da leitura do mundo: é como se
autopercebe em termos de imagem - especialmente a corporal -, como os indivíduos se colocam
perante si mesmos e em relação ao mundo. Neste estudo fundamentou-se o conceito de corpo por
meio das concepções de Goellner (2003) e de Goldenberg (2002) que dão uma dimensão cultural
para o seu entendimento: “o corpo [...] é uma construção cultural e algo não ‘natural’. Nesse
sentido, também é roupa, máscara, veículo de comunicação carregado de signos que posicionam
os indivíduos na sociedade” (GOLDENBERG, 2002, p. 10). E, Goellner (2003):
Pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura é, simultaneamente, um desafio e uma necessidade. Um desafio porque rompe, de certa forma, com o olhar naturalista sobre o qual muitas vezes o corpo é observado, explicado, classificado e tratado. Uma necessidade porque ao desnaturalizá-lo revela, sobretudo que o corpo é histórico. Isto é, mais do que um dado natural cuja materialidade nos presentifica no mundo, o corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos etc. Não é, portanto algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante ao desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem como suas leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os corpos, os discursos que produz e reproduz. (p. 28)
No início da humanidade o corpo físico foi fundamental à sua sobrevivência
(PELEGRINI, 2006-07). Na Antigüidade, o corpo era visto como elemento de glorificação e de
interesse do Estado: nas cidades gregas não se descurava do modo de instrução corporal, além da
exigência de um corpo saudável e fértil (ibidem). O imaginário de “beleza ideal” surgiu por meio
da cultura grega, na qual seus artistas se baseavam em mitos e deuses (BIM, 2002):
O ideal grego da perfeição era representado pela Kallokagathia, termo que nasce da união de Kállos (genericamente traduzido como “belo”) e Agathós (termo usualmente traduzido como “bom”, mas que cobre toda uma série de valores positivos). Observou-se que a virtude de ser Kalos e Agathos definia genericamente aquilo que corresponderia, no mundo anglo-saxônico, à noção aristrocrática de gentleman, pessoa de aspecto digno, de coragem, estilo, habilidade e conclamadas virtudes esportivas, militares e morais. À luz desse ideal, o helenismo elaborou uma vasta literatura sobre a atrelação entre feiúra física e feiúra moral. (ECO, 2007, p. 23)
Nesta tensão, o homem Kállos e Agathós não apenas considera ‘mais preciosa a beleza que está na alma do que aquela que está nos corpos’ e, portanto, poderá cuidar de um jovem que possua muita virtude mesmo que possua ‘poucas flores no corpo’, como se não detém a beleza de um só corpo e, através da experiência de diversas belezas, tenta alcançar a compreensão do Belo e Si, da Beleza hiperurânia, da Beleza como Idéia. (ibidem, p. 28)
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Por sua vez, não muito diferente da Antigüidade, a sociedade contemporânea
supervaloriza o ser humano portador de um corpo belo e ativo, discriminando o feio e inativo,
considerando assim o envelhecimento como um momento improdutivo, de “feiúra” e sem
perspectivas, tanto pessoal como social; dessa forma, marginaliza-se a pessoa idosa (SANTOS,
2003).
Isso gera sentimentos de frustração, incapacidade e afastamento do convívio social nas
pessoas idosas, com freqüente distanciamento educacional em relação à juventude, o que limita a
compreensão e a participação em um mundo cada vez mais tecnológico e informatizado
(PAPALIA & OLDS, 2000; RAMOS, 1997; 2005).
A imagem que o tempo presente “elegeu” como a ideal, aproxima-se bastante daquela
evidenciada pelos jovens, de onde resulta o imperativo ético de “manter-se jovem o maior tempo
possível”: esse imperativo não perspectiva a totalidade dos valores associados à juventude, mas
apenas aqueles referentes ao aspecto exterior, à imagem que se projeta à sociedade (MERSKIN,
2004). Mais importante que as virtudes/defeitos da juventude são as impressões corporais
transmitidas para o exterior, onde o “ser” é nitidamente subjugado ao “parecer”. Não se “é”
jovem, mas tenta-se “parecer” jovem.
O corpo e sua conservação mobilizam cada vez mais as paixões e a energia estética da
beleza. Para além da mudança no valor que se agrega ao corpo - do corpo bem vestido ao corpo
“em forma” -, interessa especialmente a passagem do culto ao corpo para um valor em si - o que
deixa implícita as relações históricas de poder e a ideologia que estão por trás da visão de mundo
que alicerçam a busca incessante pela beleza e juventude, associadas diretamente, sem
intermediários, ao sucesso - (RENZ, 2007).
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Com o envelhecimento ocorreriam as perdas das referências identificatórias, e também a
perda da juventude, da beleza física e da saúde plena (MERSKIN, 2004). Dessa maneira, as
possibilidades para o sujeito poderiam constituir-se em experiências adaptativas e criativas de
lidar com as avarias cronológicas da beleza corporal, utilizando-se de mecanismos de defesa
adaptativos e até de formas sintomáticas e patológicas de lidar com elas.
Em especial à negação do corpo depauperado e feio que se associaria diretamente à
imagem pejorativa do envelhecimento, em antagonismo com o sucesso da juventude e sua beleza
permanentemente embutida (ibidem).
FIGURA 3: As três idades do homem e a morte, Hans Baldung, 1539, Museo del Prado, Madri (PHAIDON, 1999, p. 24). Acervo pessoal do autor.
Essas quatro figuras, em face, são
uma alegoria das três idades do homem, dos
ciclos da vida: a morte é representada como
um esqueleto segurando uma ampulheta. Em
torno dela há um bebê adormecido - infância
-, uma jovem - juventude - e uma mulher
idosa - velhice -: é uma metáfora visual do
curso do tempo sobre o corpo (JOLY, 2005;
GOODMAN, 1976).
É como registram Camargos, Mendonça e Viana (2006):
O compêndio das ligações antropológicas da sociedade com suas pessoas idosas sucumbe ao medo pungente de amadurecer, do temer a velhice, do terror da ancianidade, do inexorável destino e do quanto ele é despropositado: tal qual Hebe, filha de Juno e deusa da juventude, receia-se a vetustez por chegar até ela em débito consigo mesmo ou com a sensação de deslocamento em sua inserção social, da possibilidade de se abrigar num monturo de olvidamento sem um somatório moderado de conhecimentos necessários para o amparo nesse estádio da vida. (p. 226)
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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No presente, as práticas de beleza – apesar de ainda se apoiarem na construção de um
espetáculo ilusório – privilegiam a conservação de um corpo jovem e esbelto: o objetivo é o de
se importar um pouco menos com a sofisticação da aparência e dar mais importância ao
rejuvenescimento, à tonificação, ao fortalecimento da pele, até porque se entende que ao
conseguir represar a juventude, de alguma maneira, como um bônus, recebe-se um mínimo de
beleza (LIPOVETSKY, 2000).
Instala-se, portanto, o momento da “antiidade” e “antifeiúra”, “pró-beleza”: a obsessão
pela juventude e sua suposta beleza correspondente seguirá em expansão (ibidem).
E o que seria beleza? Qualquer discussão a seu respeito chega sempre, antes ou depois –
mas geralmente chega pronta – o momento em que alguém exclama indignado: “Mas a beleza é
algo relativo!” Seguramente, trata-se de uma sentença que terá muito eco. “É verdade”, dirá
outro, “Cada coisa tem uma beleza particular”. Ou bem: “A beleza está em quem a contempla”,
“Tem relação às preferências de cada um...”, “Uns preferem as louras, outros as morenas, alguns
gostam das mais magras e outros das mais ‘cheinhas’”.
Então, seria o conceito de beleza unicamente uma questão de opiniões disjuntas?
A resposta possivelmente será negativa. E não poderia ser o contrário, a beleza pode ser
considerada um acúmulo atávico de significados antropológicos, interdependentes, que vão
(re)criando possibilidades de construções culturais da corporeidade a partir das relações humanas
(LE BRETON, 2003; VIGARELLO, 2006).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Observa-se o caso do Egito antigo; e não precisamente porque os egípcios tenham
descoberto a beleza, mas sim porque seu sentido de beleza deixou vestígios importantes: na
cidade de Berlim, Alemanha, se encontra o busto de Nefertite, cujo nome significa algo como “A
bela chegou” (DAUXOIS, 2007), e hoje é para a humanidade como foi a 3 mil anos junto ao
Nilo, símbolo e metáfora da beleza.
No transcurso da história humana até o presente momento, em especial com a
mundialização, a indústria de tecnologia da saúde passou a buscar soluções e alternativas para a
população que vive uma perspectiva bastante promissora de longevidade e qualidade de vida;
caracterizando assim um novo processo de industrialização da construção do corpo: a indústria
da tecnologia à beleza corporal, e também como é conceituada por Camargos, Mendonça &
Almeida (2008) e Camargos & Assumpção (2007), a tecnologia da beleza, ou seja, “toda e
quaisquer técnicas, procedimentos e insumos que sejam estrategicamente utilizados com a
finalidade exclusiva da construção do corpo a partir de padrões de beleza e imagens
esteticamente perfeitos” (ibidem, p. 140).
Porém, na prática, verifica-se que estudos que consagrem essas novas tecnologias não se
dão em escala efetiva e, também, que resultados insatisfatórios não alteram a aplicação por
alguns indivíduos de procedimentos que foram precocemente divulgados e acriticamente
incorporados (ibidem): a adoção e a disseminação do uso da tecnologia da beleza ligada a novos
produtos e procedimentos requerem o balizamento dos resultados práticos, rotineiros, dessa
aplicação (RENZ, 2007).
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Esse novo cenário faz com que se procure organizar as condições de como se negocia o
tempo, os recursos financeiros, os locais disponíveis para alimentação, as compras, a manutenção
da saúde e da imagem corporal por meio da aquisição de insumos e técnicas cosméticas com a
finalidade de (re)construir o corpo na perspectiva de objeto de desejo, inserção ou ascensão
social (ETCOFF, 1999).
Destarte, cabe resgatar a máxima de Juvenal (2005): Mens Sana in Corpore Sano -
pronunciada na Antigüidade greco-romana - subsume as compreensões de corpo, saúde e
educação reapropriadas e reorganizadas por teorias científicas e pedagógicas nos séculos XIX e
XX (TAVARES & DaCOSTA, 1999).
Juvenal (JUVENAL, 2005; BORNHEIM, 1994) viveu em uma época de soberanias
mistificadas, onde a ciência deveria estar a serviço do Estado, e entende-se por Estado àquele
tempo como uma entidade mediada por uma miríade de deuses que nada mais eram do que
representações das aspirações e dominíos das políticas que regiam o período (BORNHEIM,
1994).
O corpo deveria apresentar-se jovem e musculoso: resultado de atividades físicas
extenuantes que ofereciam, tal qual na atualidade, a idéia de saúde, ou seja, um corpo atlético e
juvenil necessariamente seria um corpo saudável, pois a juventude e seus músculos significavam
êxito, divindade, não apenas beleza, mas, sobretudo, poder (ibidem):
Alguém pareceu confiante demais em sua própria força, na maravilha de seus músculos; mas a maioria é vítima do dinheiro; quando o acumulam com paixão, quando ultrapassam os outros patrimônios como a baleia bretã o faz com o golfinho. Lembrem-se dos tempos cruéis que Nero cercou a casa de Longinus, os grandes jardins do rico Sêneca e o palácio suntuoso dos Laterani; raramente o pretoriano sobre até a mansarada. [...] O desejo mais comum, que se escuta em todos os templos, é o de que nossas riquezas e recursos aumentem, que o nosso cofre seja forte e o mais guarnecido do fórum. (JUVENAL, 2005, p. 1)
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Devemos nos preocupar em fazer preces, ir diante dos altares, oferecer entranhas e os chouriços sagrados de um porco em sacrifício? O que é ainda preciso implorar é um espiríto são e um corpo são. Peça uma alma enérgica livre dos terrores da morte e que valha o término da vida o número dos bens naturais; uma alma que tenha a força para suportar toda dor, que ignore a cólera, que não tenha paixões, que coloque os trabalhos e as provas de Hércules acima dos amores de Sardanapalo, de suas festas e de seus leitos aveludados. Eu designo aí o que cada um pode dar a si próprio; uma vida tranqüila só tem um caminho, aquele que passa pela virtude. Oh Fortuna, você está sem poder, se nós temos a sabedoria. Somos nós, tenha certeza, que te fazemos deusa, nós que te damos lugar no céu. (JUVENAL, 2005, p. 12)
Por reconhecer que a concepção orgânica de natureza influencia os conceitos de corpo,
saúde, atividade física e cultura subsumidos na máxima de Juvenal e existir em sua época
diferentes explicações sobre a natureza, buscam-se elementos para a interpretação desse
conceito nos escritos pré-socráticos, pois se considera que exerceram influência emblemática
no referencial da prática de saúde e da atividade física na Antigüidade, contribuindo, portanto,
com a discussão sobre o desenvolvimento da tecnologia da beleza no transcurso da história da
humanidade (CAMARGOS & ASSUMPÇÃO, 2007; CAMARGOS et al., 2008).
Para os filósofos pré-socráticos, a natureza é physis e é representada a partir de uma
concepção orgânica, cujas partes são reconhecidas como elementos de um todo. O conceito de
physis não expressa algo que é estático, pois possui dinamicidade. Trata-se do princípio de
tudo, trata-se do próprio ser em relação com as outras partes integrantes da natureza
(BORNHEIM, 1994).
Essa concepção de natureza era regida pelo princípio do cosmos, que além de
relacionar as partes com o todo, considera que os opostos não estão em contraposição, mas se
complementam. Apolo e Dionísio, vida e morte, vigília e sono, saúde e doença, juventude e
velhice, obesidade e magreza, atividade física e sedentarismo, percebe-se, assim, que não há
uma ruptura entre natureza e cultura: as ações humanas não estão em oposição à natureza,
mas, sobretudo, emergem dela (ibidem).
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Contemporaneamente vive-se imerso em uma cultura tecnológica que embaça as antigas
oposições modernas, as fronteiras não são mais seguras, as ondas eletromagnéticas atravessam o
planeta e os corpos: já não se pode dizer o que é irreal, o que é corpo e o que é mente, o que é
juventude e o que é velhice, o que é vida e o que é morte. Ao imbricar-se com os artefatos
tecnológicos, o indivíduo colocou o mundo e a si mesmo em cheque.
Logo, a importância oferecida ao rejuvenescimento da aparência física está mais
explícita, uma vez que informações relacionadas à saúde, alimentação, exercícios físicos e
cosméticos a cada dia ocupam um espaço comercialmente impressivo nos meios de comunicação
(MAISONNEUVE, J. & SCHWEITZER, 1984).
E o corpo passa a ser exibido em um contexto mercantil, compondo uma imagem de
desejo ao consumo, enfim, passa a ser uma reflexão cenográfica das aspirações midiáticas e de
seus consumidores: é como se o corpo representasse um cenário catalisador da beleza e suas
infinitas possibilidades.
Segundo Polieri (1971), a cenografia é uma arte, técnica e ciência de projetar e executar a
instalação de cenários para espetáculos: alguns autores confundem com um segmento da
arquitetura. Entretanto, a arquitetura cênica ou arquitetura cenográfica ocupa-se mais
especificamente da geração dos cenários arquitetônicos internos ou externos.
Em analogia, projetando seu significado à beleza corporal, de início pode-se raciocinar a
cenografia como uma parte importante do espetáculo de exibição, pois oferecerá condições de
seu portador contar a cultura em que se passa a sua história de vida, e exibir o corpo em que se
passa essa história.
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Pelo cenário, enseja-se a compreensão das personalidades dos atores cenografados, aqui
entendidos como corpos.
E, de acordo com Maingueneau (2001):
[...] a cenografia não é simplesmente um quadro, um cenário, como se o discurso aparecesse inesperadamente no interior de um espaço já construído e independente dele: é a enunciação que, ao se desenvolver, esforça-se para constituir progressivamente o seu próprio dispositivo de fala. (p. 87)
Assim, o corpo como cenário poderá se legitimar porque o seu exercício pressupõe um
lugar de enunciação, que pode ser enunciado por qualquer sujeito que o exiba. A cenografia dos
corpos na história da humanidade, em muitos momentos limitou-se - com algumas exceções - à
exposição dos rostos de celebridades ancorando um testemunho que evidenciou as qualidades do
corpo; em todos eles, esta era a via de acesso ao mesmo (WOLF, 1992; SCRANTON, 2000;
HOLMLUND, 2001).
E, na difusão das tecnologias da beleza, de modo geral, o controle da enunciação e o
corpo como seu co-enunciador - na verdade seu consumidor - faz com que o discurso encenado
diga o que quiser suscitando destes consumidores a atenção, o entendimento e a adesão ao
proposto por essas tecnologias (MAISONNEUVE, J. & SCHWEITZER, 1984).
Ao considerar a afirmativa de Maingueneau (2001) quando diz que “enunciar não é
somente expressar idéias, é também tentar construir e legitimar o quadro de sua enunciação” (p.
92); assegura-se que nas exibições da cenografia corporal, a idéia ilusória das tecnologias da
beleza hipoteticamente transformarem toda uma historia de vida poderá receber aceitação devido
à legitimidade do cenário - aqui percebido como o próprio corpo - de sua enunciação.
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Nesse contexto, o culto ao corpo está diretamente associado à cenografia de poder, de
beleza e de mobilidade social, sendo crescente a insatisfação das pessoas com a própria
aparência (BENTOLILA, 2005): segundo Wolf (1992), Etcoff (1999), Lipovetsky (1999),
Holmlund (2001) e Paál (2004), nos campos socioantropológico e comportamental, diretamente
relacionada à beleza física encontra-se à representação mental de que homens e mulheres belos
devem ser jovens, alegres, comunicativos, bem-sucedidos, inteligentes, agradáveis e evolar
encanto no espaço social onde estão inseridos. E Eco (2007) controverte:
Se examinamos os sinônimos de belo e feio, veremos que, enquanto se considera belo aquilo que é bonito, gracioso, prazenteiro, atraente, agradável, garboso, delicioso, fascinante, harmônico, maravilhoso, delicado, leve, encantador, magnífico, estupendo, excelso, excepcional, fabuloso, legendário, fantástico, admirável, apreciável, espetacular, esplêndido, sublime, soberbo; é feio aquilo que é repelente, horrendo, asqueroso, desagradável, grotesco, abominável, vomitante, odioso, indecente, imundo, sujo, obsceno, repugnante, assustador, abjeto, monstruoso, horrível, hórrido, horripilante, nojento, terrível, terrificante, tremendo, monstruoso, revoltante, repulsivo, desgostante, aflitivo, nauseabundo, fétido, apavorante, ignóbil, desgracioso, desprezível, pesado, indecente, deformado, disforme, desfigurado (para não falar das formas como o horror pode se manifestar em territórios designados tradicionalmente para o belo, como o legendário, o fantástico, o mágico, o sublime). (p. 16-18)
E da dimensão “biofisiológica”? Existiria uma reação espontânea, inata, à representação
visual da beleza? Nancy Etcoff (1999), neurocientista da Universidade de Harvard, realizou uma
pesquisa que procurou responder a seguinte pergunta: que relação existe entre o processo de
reconhecimento de um rosto e o processo de reconhecimento da beleza?
Um caso neurológico trouxe à Etcoff uma pista importante: depois de um acidente
automobilístico, um homem de 45 anos sofreu graves lesões na parte esquerda de seu cérebro, de
modo que passou a sofrer de “cegueira” para seus entes queridos. Este homem, após sua
convalescência, manteve as capacidades cognitivas e funcionais perfeitamente preservadas.
Entretanto, não podia recordar de nenhum rosto anteriormente conhecido, nem mesmo da sua
esposa, tampouco de seus filhos.
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O que fazia aquele indivíduo tão importante às pesquisas sobre a beleza é o fato de que,
apesar de tudo, podia julgar com literalidade o atrativo dos rostos que via (ETCOFF, 1999).
Quando lhe mostravam fotografias com rostos de pessoas desconhecidas, esse homem realizava
avaliações estéticas tão parecidas com as dos demais indivíduos. De certo, Etcoff deduziu que os
reconhecimentos da beleza e das identidades dos rostos devem seguir circuitos neuronais
distintos.
Etcoff e sua equipe realizaram um estudo (AHARON, ARIELY, CHABRIS, O'CONNOR
& BREITER, 2001), com apoio da ressonância magnética funcional, que se dividiu em três
partes: em primeiro lugar, um grupo de homens - de idade entre 21-35 anos -, heterossexuais,
analisou fotografias de 80 mulheres e homens - respectivamente 40 de cada sexo - atraentes,
“comuns” e repulsivos. A atribuição dos pesquisados era apenas pontuar a beleza dos rostos
apresentados - não foi permitida a participação de mulheres em razão, de como já demonstrado
em diversos outros estudos, a percepção estética feminina sofre alterações durante o ciclo
menstrual - (ibidem, 1999).
Na segunda parte foram mostradas as mesmas fotografias a outro grupo de pesquisados -
de idade entre 21-25 anos -, 15 sujeitos também do sexo masculino - todos heterossexuais -, que
teriam que apertar uma tecla para decidir o tempo que desejavam se dedicar à apreciação de cada
imagem: um total de 40 faces humanas desconhecidas, 20 homens e 20 mulheres. A terceira
parte consistiu em 6 sujeitos do sexo masculino - de idade entre 21-28 anos, todos
heterossexuais, que apenas apreciavam as fotografias enquanto seus cérebros eram observados
por meio de tubos de ressonância magnética.
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O resultado: os pesquisados do primeiro grupo estiveram, entre si, bastante de acordo na
pontuação. O segundo grupo desenvolveu uma verdadeira obsessão: nos 40 minutos que
dispunham, cada participante apertou o teclado uma média de 7 mil vezes somente para divertir-
se com as mulheres que consideravam bonitas.
No experimento com a ressonância magnética funcional, o cérebro dos pesquisados não
ficou impassível ante a visão dos rostos belos: o equipamento registrou uma grande atividade na
área conhecida como sistema de recompensa, entretanto, esta atividade apenas se manifestou
quando haviam mulheres belas à vista. O mesmo circuito neuronal se mostrou indiferente ante
aos demais rostos - de homens e mulheres menos atraentes -: os mesmos que o segundo grupo de
entrevistados havia ignorado. E, ainda: o sistema de recompensa indicou uma diminuição da
estimulação quando os pesquisados tiveram que observar os homens atraentes.
O sistema de recompensa é parte integrante do sistema límbico e um dos mais antigos
componentes do SNC. Está formado por uma rede neuronal com ramificações no fundo do
cérebro, no diencéfalo - com amídala cerebral e outros grupos de neurônios - e o córtex cerebral.
Esse sistema se ocupa de criar uma expectativa positiva ante aos prazeres da vida (THOMAS,
DREVETS, WHALEN, ECCARD, DAHL, RYAN & CASEY, 2001; THUT, SCHULTZ,
ROELCKE, NIENHUSMEIER, MISSIMER, MAGUIRE & LEENDERS, 1997).
Esse sistema de motivação se põe em marcha, por exemplo, ante a expectativa de uma
comida apetitosa, quando se pensa em uma grande qüantia de dinheiro, ou quando se pensa no
objeto da paixão: a dopamina, uma substância neurotransmissora, se encarrega da comunicação
entre as partes que compõem o sistema de recompensa (THOMAS et al., 2001; THUT et al.,
1997).
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FIGURA 4: estudo de Etcoff (2001), imagem de ressonância magnética funcional.
[…] Post-Hoc Analysis (for General Effects of Beauty, along with Its Specific Contrasts) Bilateral activation of the SLEA in the general contrast of all faces versus baseline (first row) and the general and specific effects of beauty (rows 2–5). Rows 2 and 3 are the positive and negative results of the general effect of beauty (B versus A). Row 4 shows the positive activation for the comparison of beautiful female faces versus average female faces (BF versus AF), and the negative activation (row five) for the comparison of beautiful male faces versus average male faces (BM versus AM). The SLEA activation (rectangles) in the contrast of all faces versus baseline and the general effect B versus A, coincided with the foci of signal changes observed in the comparison for the specific effects (BF versus AF, and BM versus AM). Note that activations in the specific contrasts are additive and are thus observed in the general contrast. (ETCOFF et al., 2001, p. 540)
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FIGURA 5: estudo de Etcoff (2001), imagem de ressonância magnética funcional.
[…] Post-Hoc Analysis (for General Effects of Gender, along with Its Specific Contrasts) Activation of the left NAc in at least two of three contiguous brain slices for the contrast of all faces versus baseline (row 1) but not the general effect of gender (rows 2 and 3 for positive and negative signal changes, respectively). Row 4 shows the positive signal changes from the comparison of beautiful female faces versus beautiful male faces (BF versus BM), while row 5 shows the negative signal changes of the comparison of average female faces versus average male faces (AF versus AM). Activation in the left NAc (in boxes) can be observed as foci of opposite signal change (positive BF versus BM, and negative AF versus AM). This explains the absence of this activation in the general effect of gender. (ETCOFF et al., 2001, p. 541)
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Os resultados nos experimentos de Etcoff (2001) demonstraram que a beleza oferece ao
cérebro uma espécie de recompensa e que o sentimento estético está profundamente arraigado à
condição biológica humana, uma condição formada ao longo de milhões de anos de
“bioevolução”.
Como demonstrou o experimento com o primeiro grupo, aparentemente os seres humanos
dispõem de um sentido estético completamente independente dos interesses sexuais que permite
distingüir a beleza das pessoas. Por outra parte, conta-se com uma instância estética diferente que
é responsável pela excitação experimentada pelos neurônios do segundo grupo, uma excitação
relacionada ao sexo.
Assim, pois, a beleza se manifesta no cérebro humano de formas diferentes: como uma
beleza objetiva e desinteressada que simplesmente se gosta e, por outra parte, como uma beleza
apetitosa, atraente e sedutora que oferece a sua recompensa.
Os resultados do experimento corroboram as teses de dois filósofos muito diferentes: de
um lado, a tese de Platão (SANTAELLA, 2000), que identifica a beleza e o desejo erótico e, por
outra parte, a de Kant (SIEBERS, 1998), onde o sentimento estético é um prazer desinteressado
que nada tem a ver com o desejo.
Os resultados do experimento realizado por Etcoff e colaboradores (2001) sugeriram que
o cérebro compreende e entende os dois vértices da beleza: é possível que o gosto e o desejo se
encontrem em zonas cerebrais distintas. Por assim dizer, Platão e Kant estariam sentados no
cérebro humano um de frente ao outro.
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A construção do cérebro humano não se reduz a um produto de milhões de anos de
evolução filogenética (ZEKI, 2002): a principal diferença deste cérebro é a sua capacidade para
produzir e ser produzido pela cultura. Inclusive, como se pôde observar nos estudos de Etcoff
(2001), as técnicas avançadas de imagem permitem identificar a atividade interna do cérebro
quando confrontado com o mundo externo, providenciando um meio privilegiado para entender
as suas funções.
Esse fato é particularmente relevante, sobretudo no que diz respeito ao sistema visual: na
verdade, os investigadores contemporâneos que têm se dedicado a descobrir e a interpretar o
cérebro visual perseguem a ligação entre arte e neurociências, de forma a desenvolver uma
imagem compreensível da natureza humana (ZEKI, 2002).
Essa questão abre a possibilidade de um novo campo de experiências científicas,
atualmente denominado Neuroestética: no qual os cientistas procuram tornar mais compreensível
a experiência estética de um ponto de vista biológico. As conclusões preambulares sugerem que
a arte pode oferecer informação extensa sobre os sistemas perceptivos do cérebro, enquanto que
a neurociência fornece trilhas interessantes acerca do modo como a mente processa as diferentes
expressões artísticas (ibidem).
Entretanto, em princípio, a sua base de fundamentação científica é trabalhar a estética a
partir das belas artes (ibidem), diferentemente dos trabalhos de Etcoff (1999; 2001) que se
apóiam na perspectiva da reação ante a beleza física, corporal, e seus desdobramentos sobre o
comportamento humano.
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E, em uma sociedade que envelhece, a juventude - e a possibilidade associada de possuir
a beleza - é um ativo escasso e, como é conseqüente e peculiar, um objeto de veleidade. A
própria ciência homologa a pugna à idade, e alvitra uma Medicina Antiidade (RAMOS, 2005).
De acordo com Butler, Fossel, Harman, Heward, Olshansky, Perls, Rothman, Rothman,
Warner, West & Wright (2002), Otero, Zunzunegui, Rodríguez-Laso, Aguilar & Lázaro (2004),
Binstock (2004), Dung (2005) e De Goursac (2006), o conceito de “Medicina Anti-
envelhecimento”, “envelhecimento saudável”, “antiidade” é abalizado por uma de esteira de
ações próativas à promoção da saúde que poderá abranger a prevenção, detecção precoce, o
tratamento e a reversão - por meio de técnicas e tecnologias específicas - de disfunções e
morbidades atinentes ao tornar-se uma pessoa idosa: ou seja, o envelhecimento tem a sua
substância confinada à doença.
Portanto, a imagem corporal se torna um fator de grande relevância para um sentimento
de percepção bem-sucedida de si mesmo frente ao mundo em que se vive. A bem da verdade se
tornaria uma possibilidade de inclusão social, de permanência exitosa na própria vida. E grande
parte da civilização contemporânea acaba por idolatrar a beleza e a juventude (CODO &
SENNE, 1985).
No Brasil, a Medicina Antiaging não é reconhecida como especialidade médica. Mas há cursos de pós-graduação oferecidos por universidades privadas. [...] ‘Dizem que a antiaging não tem comprovações científicas, mas tudo o que é novo demora a ter seus efeitos comprovados’, diz Horibe. (RUBERTI, MELO & FRUTUOSO, p. 72, 2008)
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A busca pelo ser belo é absorvente e deixa os indivíduos vulneráveis a pagarem qualquer
que seja o valor; e são incontáveis os tipos de procedimentos existentes para adqüirir, aumentar
ou preservar a beleza, e prolongar a juventude, e eles podem se justificar por meio das
recompensas emocionais, sociais e até materiais proporcionadas pela sensação de estar belo e
jovem (RENZ, 2007). Como profetizou Alencar (1854):
Imagine-se a posição desgraçada de um homem que, tendo-se casado, leva para casa uma mulher toda falsificada. Quando a cabeleira, o olho de vidro, os dentes de porcelana, o peito de algodão, as anquinhas se forem arrumando sobre o toilete, quem poderá avaliar a tristíssima posição dessa infeliz vítima do progresso e da indústria humana [...] (p. 08)
Da Imagem Corporal
E, então, o que seria imagem corporal?
Existem diversas visões sobre como seria adequado e funcional definir a imagem
corporal. Contudo, conceituar imagem corporal não é algo tão simples. Almeida, Santos, Pasian
& Loureiro (2005), afirmam que o termo imagem corporal refere-se a uma ilustração que se tem
na mente acerca do tamanho, imagem e forma do corpo, como também aos sentimentos
relacionados a essas características bem como às partes que o constituem. Para Cordás &
Castilho (2004), o conceito de imagem corporal envolve 3 componentes, quais sejam:
1. Perceptivo: maneira na qual se percebe a própria aparência física, incluindo a estimativa do tamanho corporal e do peso. 2. Subjetivo: satisfação com a aparência, envolvendo o nível de preocupação e ansiedade associada a ela. 3. Comportamental: situações que o indivíduo evita por lhe causar desconforto em relação a sua aparência física. (p. 164)
Para melhor compreensão do assunto em relação à definição de imagem corporal, o
presente estudo discutirá a imagem visual enxergada através dos olhos, e os aspectos que a
interferem, bem como a diferença entre imagem e esquema corporal.
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Antes de tudo, é importante entender o que é imagem corporal divisando daquilo que ela
não é: segundo Turtelli (2003), existem 3 idéias a respeito de imagem corporal que impedem
uma abordagem conceitualmente fechada sobre a matéria, quais sejam:
1. Imagem corporal não é um órgão do corpo: ela é fisiológica e psicológica, podendo se modificar tanto por alterações no corpo, quanto pelo aprendizado. 2. Imagem corporal não é um desenho ou uma fotografia do corpo: para exercer as ações, o ser humano não depende de sua imagem, no sentido visual. 3. Imagem corporal não é uma pequena pessoa que temos na cabeça: ela está em estreita relação com a personalidade. (p. 46)
Ao raciocinar o sentido da palavra “imagem”, provavelmente uma das primeiras
significações, a que surge é a de imagem visual, isto é, a imagem desenhada, fotografada, que
visualiza algo ou alguém.
Dessa maneira é encontrada a definição, como representação gráfica, plástica ou
fotográfica de pessoa ou de objeto (FERREIRA, 2001). No entanto, as imagens não são apenas
visuais e a imagem do corpo inclui muitos fatores além daquele da aparência.
A imaginação é o mecanismo de comunicação entre percepção, emoção, mudança
corporal, e é entendida como um processo de pensamento que evoca e usa os sentidos
(ACHTERBERG, 1996).
As imagens não ocorrem necessariamente como memórias ou imaginações de situações;
são também representações de sensações e processos de pensamentos do tempo presente de cada
indivíduo (ibidem).
Segundo Damásio (2000) é principalmente, por meio de imagens, que constantemente são
captadas informações sobre o meio ambiente e o corpo. Por intermédio dos sentidos o indivíduo
forma imagens visuais, sonoras, olfativas, de palavras, de ações e assim sucessivamente.
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Refiro-me ao termo imagens como padrões mentais com uma estrutura construída com os sinais provenientes de cada uma das modalidades sensoriais – visual, auditiva, olfativa, gustatória e sômato-sensitiva. A modalidade sômato-sensitiva [...] inclui várias formas de percepção: tato, temperatura, dor, e muscular, visceral e vestibular. (DAMÁSIO, 2000, p. 124)
Para fazer uma representação visual geralmente combinam-se diversos tipos de imagens.
Quando se consome um alimento, por exemplo, existe a representação visual da comida, sua cor,
forma, volume, textura, aroma e sua consistência quando ocorre a mastigação (ibidem).
Essas imagens que são formadas a partir de informações sensoriais advindas do meio
externo ou do interior do corpo são chamadas de imagens perceptivas, mesmo surgindo a partir
de informações que estão sendo recebidas do meio externo ou do corpo no presente; existe
também uma participação da memória do passado na formação dessas imagens (ibidem).
Uma segunda categoria é a das imagens evocadas: estas se formam quando é recordado
algo do passado, quando se pretende fazer planos para o futuro ou simplesmente fantasiar uma
situação (ibidem).
As imagens não são armazenadas em forma de fotos ou filmes de cenas da vida, e são
reconstruídas a cada vez que algo importante é lembrado. As imagens formadas por meio das
lembranças - imagens evocadas - são tentativas de réplicas dos padrões neurais que ocorrem no
córtice sensorial primário quando a imagem é experimentada pela primeira vez (ibidem;
YUDOFSKY & HALES, 2006).
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Esses padrões são apreendidos e passam a existir como modelos potenciais de atividade
neural, formando representações dispositivas. Quando o indivíduo experimenta a mesma situação
vivida anteriormente, porquanto da formação da imagem, essas representações dispositivas são
disparadas nos mesmos córtices sensoriais primários onde os padrões de disparo correspondentes
às imagens perceptivas incidiram outrora (DAMÁSIO, 2000; YUDOFSKY & HALES, 2006).
Dessa maneira, o indivíduo experimenta novamente a mesma sensação que teve quando
ocorreu o fato original (ibidem).
Entretanto, nem todos os componentes que estavam presentes na imagem perceptiva vêm
juntamente com as sensações, por exemplo: cor, claridade, temperatura, odor, som e outros.
Estes elementos não estão todos armazenados em um único espaço cerebral (YUDOFSKY &
HALES, 2006).
De tempo em tempo que uma imagem é criada, seja perceptiva ou evocada, fará parte de
sua construção o significado que esta imagem tem. Nesse sentido, integram-se a memória, a
emoção e a cognição. Assim, a cada vez que se imagina algo, cria-se uma imagem no tempo
presente, dando-lhe a interpretação atualizada do fato que ocorreu. Portanto, as lembranças vão
se modificando junto com o desenvolvimento (ibidem; DAMÁSIO, 2000).
Têm-se, assim, as imagens criadas e recriadas a cada momento em que se percebe ou se
recorda de algo, ou ainda quando se faz planos para o futuro. Essas são construções
momentâneas ligadas tanto à percepção, quanto à memória e ao raciocínio.
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A formação de uma imagem será diferente a cada vez, de acordo com as distintas
interpretações e significados que são produzidos às situações modificadas pelas experiências e
diversas circunstâncias que são vivenciadas (DAMÁSIO, 2000). As imagens de cada indivíduo
são exclusivas: todo ser humano possui uma forma única de vivenciar o mundo.
Essas diversas imagens [...] são construções do cérebro. Tudo o que se pode saber ao certo é que são reais para nós próprios e que há outros seres que constroem imagens do mesmo tipo. [...] Não sabemos, e é improvável que alguma vez venhamos, a saber, o que é a realidade 'absoluta'. (p. 132)
As imagens formadas a partir do mundo exterior não se diferem na qualidade das imagens
produzidas pelo próprio indivíduo. Em ambos os casos, as imagens ocorrem dentro de cada
pessoa, de acordo com suas referências individuais e sociais (ibidem).
Portanto, o mundo externo só existe na medida em que cada um exista nele, se tornando
parte de cada indivíduo. Nisso, os limites do corpo tornam-se mutáveis de acordo com as
atitudes, atenções, desejos, motivações e signos recebidos pelo indivíduo a partir da impressão
coletiva (ibidem).
Provavelmente, a principal polêmica quando se trata da definição de imagem corporal é a
distinção, ou não, entre imagem corporal e esquema corporal. De maneira elementar pode-se
dizer que a atribuição à imagem corporal advém de características psicológicas, subjetivas e dos
traços biológicos, servindo como base para a construção da imagem corporal: segundo Olivier
(1995), o esquema corporal é mais associado às questões neurológicas, enquanto a imagem
corporal é ligada à psicologia e à psiquiatria. Sob esse raciocínio conceitua-se:
[...] uma organização neurológica das diversas áreas do corpo, de acordo com a importância de inervação somática que elas recebem. É antes um dado a priori, biologicamente determinado, anatomicamente situado na chamada área do esquema corporal do córtex cerebral (giro supramarginal e regiões vizinhas). (ibidem, p.15)
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Enquanto imagem corporal:
[...] o conceito – e a vivência – que se constrói ‘sobre’ o esquema corporal, e que traz consigo o mundo das significações. Na imagem, estão presentes os afetos, os valores, a história pessoal, marcada nos gestos, no olhar, no corpo que se move, que repousa, que simboliza. (OLIVIER, 1995, p. 18)
Alguns autores unificaram este conceito; Le Boulch (1992) relata:
Se trata nesse caso de uma forma de traduzir em duas linguagens diferentes, uma fisiológica, outra psicológica, uma só e mesma realidade fenomenológica que é aquela ‘do corpo próprio’. Em outras palavras, identificamos completamente as duas noções, em vez de querer completar uma com a outra e raciocinar assim em dois sistemas heterogêneos. (p. 188)
Paul Schilder (1999), explicando o que considera imagem corporal e o que considera
estar envolvido em sua construção, oferece uma noção clara da complexidade do assunto e da
unidade entre os aspectos ditos “biológicos” e “psicológicos” - “biopsicológicos” -:
Há sensações que nos são dadas. Vemos partes da superfície do corpo. Temos impressões táteis, térmicas e de dor. Há sensações que vêm dos músculos e seus invólucros, indicando sua deformação; sensações provenientes da inervação dos músculos; e sensações provenientes das vísceras. Além disso, existe a experiência imediata de uma unidade do corpo. Esta unidade é percebida, porém é mais do que uma percepção. [...] Embora nos tenha chegado através dos sentidos, não se trata de uma mera percepção. Existem figurações e representações mentais envolvidas, mas não é uma mera representação. Mas além de sua função como um órgão de atenção local, o córtex sensorial é também um armazém de impressões passadas. [...] Elas formam seus próprios modelos organizados, que podem ser denominados esquemas. Estes modificam as impressões produzidas pelos impulsos sensoriais que entram, de tal maneira que a sensação final de posição ou de localização emerge na consciência carregada de uma relação com alguma coisa que aconteceu antes. (p.7-8)
Em sua obra, o autor (ibidem) discorre longamente sobre os inúmeros aspectos
relacionados à imagem corporal. Ele evidencia que além das impressões passadas, também
fazem parte da imagem corporal as relações com o meio externo e com o próprio indivíduo a
cada instante, bem como seus desejos para o futuro: “A imagem corporal não se baseia apenas
em associações, memória e experiências, mas também em intenções, aspirações e tendências”
(ibidem, p. 318).
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Pois bem, no decorrer de seu estudo sobre imagem corporal, Schilder (1999)
constantemente afirma como as experiências psicológicas fazem parte dos aspectos fisiológicos –
as experiências psicológicas estão no corpo, ou seja, nos órgãos, nos músculos – e como os
aspectos fisiológicos, inevitavelmente estão em experiências psicológicas próprias. Assim,
segundo o autor, não se pode afirmar que exista no homem dimensões somente fisiológicas ou
somente psicológicas.
Em outras palavras, essa visão apresentada pelo autor nada mais é do que uma visão
integrada do corpo, uma tentativa de superação da dualidade representada pelo “corpo” e pela
“mente”. Assim, Schilder (ibidem) usa os termos esquema corporal, modelo postural do corpo ou
imagem corporal indistintamente.
De acordo com Schilder (ibidem) e Le Boulch (1992), a imagem corporal é construída
inicialmente, quando criança, junto às etapas do desenvolvimento motor:
[...] ela dispõe de uma imagem do corpo operatória, a partir da qual poderá exercer sua disponibilidade. Esta conquista passa por vários estágios de equilíbrio, que correspondem aos estágios da evolução psicomotora. (LE BOUCH, 1992, p. 18)
Além disso, os fatores sociais, emocionais e mentais também influenciam nessa
construção (BARROS, 2001). A combinação das atitudes sobre a aparência corporal
relacionando-a com o autoconceito, visto que as atitudes consideradas normais pela sociedade do
indivíduo com seu próprio corpo espelham aspectos importantes da sua identidade.
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Portanto, percebe-se que o conceito do seu próprio corpo é definido em longo prazo, e
influenciado pelo grau de sentimento de satisfação ou insatisfação com as várias partes do corpo.
Para que ocorra uma construção saudável da imagem corporal é essencial que exista uma relação
de troca de experiências vividas a todo instante. Dessa forma, não existiriam espaços relacionais
para exclusões sociais (BARROS, 2001).
Nisso, existe uma intrínseca conexão entre as imagens corporais das pessoas,
caracterizando, portanto, um processo dinâmico e constante. Entretanto, existiria uma imagem
corporal coletiva: “todos estruturam sua imagem corporal em contato com os outros”
(SCHILDER, 1999, p. 302).
Ocorre uma troca permanente de modo que várias partes de imagens corporais comuns às
pessoas se encontram e se relacionam emocionalmente. Assim sendo, a construção da imagem
corporal de cada pessoa é um processo que se deve à incorporação de diversas partes das
imagens dos outros que mais lhe chama atenção.
O fator emocional é de grande valia nesse processo, pois quando interagido com pessoas
de quem se gosta, as experiências sentidas são mais intensas, adquirindo um significado
emocional em relação às diversas partes do corpo (BARROS, 2001). Os sentidos tornam-se
primordiais na interação entre corpos:
Primeiro, temos uma impressão sensorial do corpo do outro. Esta impressão adquire seu significado real através de nosso interesse emocional pelas diversas partes do corpo. (SCHILDER, 1999, p. 250)
Após incorporar essa sensação ao corpo é construída a imagem corporal daquele instante:
este momento crucial poderá durar vários minutos ou modificar-se novamente ao perceber uma
nova sensação ou um novo olhar sobre o corpo.
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Isso se deve a maleabilidade da imagem corporal que jamais é estática. Pelo contrário,
transforma-se a cada novo sentido, a cada envolvimento com diferentes pessoas, sejam elas
próximas ou não do convívio social (BARROS, 2001):
Consciente ou inconsciente, a imagem que temos de nós mesmos muda, dependendo da aceitação e julgamento que os outros fazem de nossa imagem. Há uma constante inter-relação na qual não se sabe ao certo onde começa e onde termina. (p. 87)
Um adequado relacionamento social pode gerar uma formação da imagem corporal de
modo a satisfazer o indivíduo. Além disso, o fato de querer passar uma imagem daquilo que
realmente é pode trazer a conotação de que se deseja mostrar ao outro o que existe de melhor em
si próprio: surge uma relação de olhar e ser olhado, desejar e ser desejado (ibidem). Schilder
(1999) afirma que qualquer objeto - inclusive as roupas - que se conecte ao corpo passa a
incorporar-se a ele. Qualquer roupa vestida torna-se parte da imagem corporal. Ou seja, ao vestir
uma roupa escolhe-se, mesmo que inconscientemente, a postura social que se pretenderá exibir.
As roupas podem oferecer a ilusão de um poder mágico de supremacia e liberdade de
expressão. Com elas, pode-se ser mais forte e determinado ou feio e perdedor. O vestuário,
portanto, poderia ser utilizado como máscara plástica e maleável capaz de modificar a imagem
corporal (ibidem). E surge o que Schilder (ibidem) discute como sendo uma mutilação corpórea:
“[...] há um jogo contínuo com o corpo e com a imagem corporal” (p. 228).
O espaço no qual circunda os relacionamentos, que pode ser o próprio corpo ou o mundo
das relações em que se vive, é cingido pela imagem corporal. As imagens corporais conectam-se
por meio de uma proximidade espacial que favorece o contato entre corpos e suas experiências; e
um desses contatos é feito por meio daquilo que é considerado belo.
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A partir do instante que algo importante é observado, passa-se a interagir com este objeto
- por exemplo: o corpo de outra pessoa - e incorporam-se partes de sua imagem corporal e doam-
se as próprias imagens. Contudo, Estabelece-se uma relação íntima que determinaria o chamado
câmbio de imagens corporais (SCHILDER, 1999).
Existe, em síntese, uma conexão intermitente entre imagens corporais que são definidas
no instante da troca de um olhar ou do toque. É um intercâmbio entre sensações que alteram
significativamente a imagem corporal, pois é um fenômeno permanente e dinâmico (BARROS,
2001).
A imagem corporal não existe per si, ela é uma parte do mundo e está presente em toda
experiência social, que inclui a personalidade, o corpo e o mundo. A imagem só adquire suas
possibilidades porque o corpo não é isolado (SCHILDER, 1999): ao mesmo tempo em que é
construída por meio dessa conexão entre corpos, também é eliminada no mesmo instante
(ibidem). Ou seja, quando modificada com a troca de sensações corporais, a imagem anterior é
substituída desenvolvendo uma nova a partir da observação de outro corpo.
Destarte, pode-se afirmar que se trata de um processo permanente e indefinido. Jamais se
tem uma imagem fixa, pois ela estará se transformando de acordo com as relações socialmente
estabelecidas: a supressão da imagem nada mais é do que um modo de renovação corporal, tendo
esta, um significado importante à vida. Contudo, a imagem corporal poderia ser considerada um
ponto decisor em relação à renovação do pacto relacional de inclusão bem-sucedida da pessoa
idosa com seu grupo social.
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Em suma, para este estudo o conceito de imagem corporal estruturou-se pela reunião dos
conceitos de corpo, beleza, envelhecimento, juventude, mídia e autopercepção do estado geral de
saúde - que adiante, no Capítulo III (ver p. 159-241), será tratado mais detidamente por este
autor -, afora os argumentos científicos, apresentados neste momento, de Le Boulch (1992),
Achterberg (1996), Schilder (1999), Damásio (2000), Ferreira (2001), Turtelli (2003), Cordás &
Castilho (2004), Almeida (2005) e Yudofsky & Hales (2006).
Esses autores (ibidem) possuem diferentes sistemas de pensamentos (FOUCAULT,
2000), mas que apresentam correlação entre si - sem arrivismos - e especialmente ao corpus
estruturante deste estudo.
Outro ponto é que esses autores, apesar de suas especificidades conceituais, reconhecem a
existência de diferentes tipos de conhecimentos sem hierarquizá-los: buscam romper com os
determinismos e conciliam ciência biológica, antropologia, sociologia, filosofia, história,
comportamento e, também, tecem críticas a idéia de verdade absoluta.
Sob essa perspectiva reforçar-se-ia, de certa maneira, a crescente valorização da beleza
corporal e da juventude nas sociedades de consumo pós-industriais, refletida nos meios de
comunicação de massa, que exporiam como modelos de corpos ideais um corpo esteticamente
perfeito: rompendo as barreiras das possibilidades antropométricas das composições corporais
femininas, sem gordura, completamente esguias, esquálidas e, sobretudo, jovens (STUNKARD,
1977).
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Da Imagem Invertida e Da “Juvenização”
Nessa corrente, caracterizam-se as morbidades da imagem contemporânea, as dismorfias
corporais: o Transtorno Dismórfico Corporal - TDC - é um transtorno à saúde mental que se
caracteriza por afetar a percepção que o indivíduo tem da própria imagem corporal, levando-o a
ter preocupações irracionais sobre defeitos em alguma parte de seu corpo - por exemplo: nariz
torto, olhos desalinhados, imperfeições na pele e rosto extremamente envelhecido, etc. -
(PHILLIPS, MCELROY, HUDSON & POPE, 1995).
Essa percepção distorcida pode ser totalmente falsa - imaginária - ou estar baseada em
alterações sutis da aparência, resultando numa reação exagerada a respeito, com importantes
prejuízos no funcionamento pessoal, familiar, social e profissional (ibidem).
O TDC é conceituado como um transtorno do espectro obsessivo-compulsivo a partir de
evidências oriundas de estudos psicopatológicos, genéticos e terapêuticos (ibidem; RAUCH,
PHILIPS, SEGAL, MAKRIS, SHIN, WHALEN, JENIKE, CAVINESS & KENNEDY, 2003)
que apontam diversas semelhanças com o Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC -: por
exemplo, ambos se caracterizam por pensamentos desagradáveis indesejados que conduzem a
comportamentos compulsivos e repetitivos, tomando tempo e causando sofrimento, vergonha,
baixa auto-estima e, em casos mais graves, isolamento social e total incapacidade funcional
(RAUCH et al., 2003).
As vivências de incompletude que precedem certos comportamentos repetitivos no TOC
ocorrem de forma semelhante no TDC, no sentido de gerar uma sensação incômoda constante de
que algo não está “em ordem” ou “como deveria estar” (PHILLIPS et al., 1995).
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Ambos parecem priorizar impressões internas, ignorando percepções reais ou a opinião
alheia - portadores de TDC desconsideram o que estão vendo no espelho da mesma forma que os
portadores de TOC desconsideram que a porta já está chaveada e voltam a verificar várias vezes
(PHILLIPS et al., 1995) -.
Outras semelhanças incluem o curso crônico e flutuante da doença, as freqüentes
comorbidades com depressão e transtornos ansiosos, e a distribuição paritária entre os sexos
(ibidem; ROSENBERG, 2004). Do ponto de vista genético, existe uma maior agregação familiar
de indivíduos com TDC em parentes de portadores de TOC.
Por último, ambos os transtornos são tratados de forma semelhante com abordagens
psicoterapêuticas - terapias cognitivocomportamentais - e farmacológicas - inibidores seletivos
de recaptação da serotonina, que podem ser potencializados com neurolépticos nos casos mais
graves - (RAUCH, 2003).
As diferenças, entretanto, existem. Apesar de alguns portadores de TOC possuírem crítica
prejudicada em relação a suas obsessões, isto é bem menos comum do que no TDC, que se
caracteriza por apresentar idéias supervalorizadas ou prevalentes, de natureza egossintônica.
Enquanto os portadores de TOC tendem a ter obsessões de diferentes conteúdos - agressivo,
sexual, religioso, simetria, contaminação, somático, etc. -, portadores de TDC se atêm a questões
corporais, envolvendo uma ou mais preocupações, simultânea ou sucessivamente
(ROSENBERG, 2004).
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A anorexia nervosa e a mais recentemente descrita “anorexia inversa” - dismorfia
muscular ou vigorexia - são igualmente caracterizadas por distorções da auto-imagem e idéias
prevalentes sobre excesso de peso e musculatura pouco desenvolvida, respectivamente, numa
aproximação fenomenológica evidente com o TDC (POPE, PHILLIPS & OLIVARDIA, 2000).
Com efeito, pesquisas de populações realizadas por Hsu (1996) e Fairburn & Beglin
(1990) demonstraram que as taxas de prevalência para anorexia e bulimia nervosas em vários
grupos sociais pesquisados, giram em torno de 0,5-1%. Esses estudos expuseram ainda que os
casos de transtornos são mais evidentes em mulheres do que em homens, em uma proporção de
10:1 (HSU, 1996).
No caso das populações de mulheres idosas, o traçado epidemiológico obedece
exatamente o que os valores para a coletividade geral apresentam, ou seja: tanto a freqüência da
apresentação dessas morbidades é a mesma, mas também se relata que nessa faixa etária e sexo a
prevalência média é de até 1,0% (SILVER, 1988; CARMICHAEL & CARMICHAEL, 1995;
ALLAZ, BERNSTEIN, ROUGET, ARCHINARD & MORABIA, 1998; MORLEY, 2001;
LEWIS & CACHELIN, 2001).
Existem duas hipóteses, “biofisiológicas”, cientificamente mais utilizadas para conceituar
as potenciais causas dos transtornos alimentares (CORDÁS & CASTILHO, 2004, p. 38):
• Hipótese neurocomportamental: alterações antes mesmo de a pessoa reduzir seu
peso, no sistema nervoso central - SNC -, que resultariam mudanças na
capacidade de sentir fome e saciedade, no humor e até nos pensamentos e
comportamentos, provocando assim, os sintomas de anorexia e bulimia nervosas;
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• Hipótese do jejum: todas as alterações físicas nos transtornos alimentares seriam
causadas por redução da quantidade de alimentos ingerida, de forma semelhante
ao que ocorre na desnutrição.
Em 1950 foi realizado o “Experimento de Minnesota”, nos Estados Unidos da América
do Norte - EUA, onde os voluntários passaram a fazer uma dieta rigorosamente restritiva,
apresentando redução ponderal. Estas pessoas ficaram mais cansadas, irritadas, apáticas, sem
concentração, deprimidas e se movimentaram menos (CORDÁS & CASTILHO, 2004).
Essa pesquisa detectou que, ao reduzir drasticamente a quantidade de alimentos
consumidos ou mesmo realizar jejum completo - ambos em tempo prolongado - caracterizaram-
se alterações hormonais importantes, em especial sobre os hormônios tireoidianos: os níveis do
Hormônio Estimulador da Tireóide - TSH - ficaram abaixo do normal e dos hormônios
Triiodotiroxina - T3 - e Tetraiodotiroxina - T4 - elevados, causando supressão na produção de
TSH na intenção de diminuir a produção e os níveis de hormônios da tireóide, inclusive,
emulando um quadro de hipertireoidismo (ibidem; BUSSE, 2003; BRANDÃO, 2002).
Tais alterações foram muito parecidas com aquelas encontradas em indivíduos portadores
de anorexia nervosa: “[...] felizmente, ficamos em carne e osso para não perder o gosto do
mundo [...]” (LE BRETON, 2003, p. 223).
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Contudo, corpos “jovens”, “sarados”, “turbinados” - termos vigentes na mídia como
sinônimos de saúde e beleza - promovidos com os discursos da tecnologia da beleza
(CAMARGOS & ASSUMPÇÃO, 2007; CAMARGOS et al.; 2008) interessam à economia, ao
padrão moral e ao discurso científico de cada época. Agrada também, tecnicamente, aos
profissionais que trabalham essas tecnologias (MERSKIN, 2004).
Sob esse raciocínio constroem-se marcas “cultucorporais”: a mulher brasileira e a sua
beleza devem ser sensuais, mas não uma sensualidade inocente e sim que beira à lascívia, um
corpo sexual. Inclusive, culturalmente não se permite nada menos que a beleza, o sinônimo de
mulher brasileira seria “beleza sexual”, tal como afirma o poeta Vinicius de Moraes: “As feias
que me desculpem, mas beleza é fundamental” (CÍCERO & FERRAZ, 2005, p. 51), e ainda
reitera na letra da sua canção Garota de Ipanema:
[...] Moça do corpo dourado Do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema É a coisa mais linda que eu já vi passar [...] (JOBIM & MORAES, 1962)
No Brasil, seguem-se muito mais as marcas de aparência física que integram status e
condição social do que as regras físicas ou delimitações geracionais (FREYRE, 1978):
possivelmente, as mulheres pesquisadas para este estudo constituíram - direta ou indiretamente -
a “geração Garota de Ipanema” onde, à época, ser uma “Garota de Ipanema” significava ser bela
e bem-sucedida, e sugere-se que toda essa beleza e sucesso apenas se validaria à medida que se
mantiver, apesar do passar dos anos, os atributos de ascenção social franqueados por portar uma
imagem “Garota de Ipanema”.
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Nessas hierarquias sociais da aparência, os vários tipos de corpo - infantil, jovem, adulto,
maduro, idoso, etc. - tornam-se variáveis visíveis de uma discriminação social cujo componente
etário vem se tornando cada vez mais latente (FREYRE, 1978): numa sociedade em que as
relações sociais são antes de tudo utilitárias (ibidem), a conformidade com o ideal de beleza é um
valor de mercado como outro qualquer, e encontra-se aqui mais uma vez a metáfora do corpo
como moeda, um fetiche que se vende, se constrói e se dá como um sinal que circula tanto no
consenso dos brasileiros quanto nas retóricas repetidas pela mídia, tanto nos bastidores da vida
social quanto nos palcos.
E no reino animal, à luz da “biopsicologia” evolucionista, quando os chimpanzés machos
têm que eleger entre várias fêmeas com os genitais dilatados, escolhem sempre a de mais idade:
em muitas espécies animais, a beleza é precisamente um sinal de amadurecimento (RIDLEY,
2002).
Quanto mais idoso é um Pavão Real, mais largas são as plumas da sua calda e de seus
adornos (ibidem). Entre os homens, ao contrário, o padrão juvenil, ao mesmo tempo erotizado,
do tipo Lolita (MERSKIN, 2004) - em alusão ao filme homônimo do cineasta britânico Stanley
Kubrick, baseado no romance do mesmo nome do russo Vladimir Nabokov, que trata da paixão
obsessiva de um homem de meia idade por uma adolescente (LOLITA, 1962) - geralmente é o
seguinte: “dezessete anos, cabelos louros...” (MERSKIN, 2004, p. 124).
Em uma idade precoce a mulher já tem alcançado o ponto mais alto de sua beleza. A
curva da beleza masculina é menos dramática, pelo menos até o momento: não alcança alturas
vertiginosas, tampouco declina abruptamente (ibidem; JOHNSTON, HAGEL, FRANKLIN,
FINK & GRAMMER, 2001, p. 253).
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A explicação da teoria da evolução às diferentes curvas da beleza de ambos os sexos é
muito clara: a mulher, diferentemente do homem, somente é fértil durante um breve período de
sua vida (JOHNSTON et al., 2001).
A partir dos 30 anos, a fertilidade feminina diminui significativamente; o homem, pelo
contrário, segue sendo fértil até quase o final de sua vida. Isto é: segundo a lógica evolucionista
da procriação, a juventude indicaria a qualidade feminina mais codificada, daí a preferência do
homem pela juventude teria certo fundamento biológico (ibidem).
A biologia evolucionista proporia explicações para o desejo intenso pela juventude; em
primeiro lugar: uma mulher jovem tem adiante toda a sua vida fértil e, conseqüentemente, é de
grande interesse para um potencial parceiro como veículo de transmissão de seus próprios genes
(SYMONS, 1981).
Em segundo lugar, dado que em épocas pretéritas as mulheres davam à luz e
amamentavam em idades muito jovens, segundo Symons (ibidem), a probabilidade de
infertilidade chegava até 99%. Agora bem, se o homem praticava sexo com mulheres muito
jovens, as probabilidades de deixarem descendentes eram muito mais altas. E, de acordo com
Buss (2003):
Em todo o mundo, os homens querem encontrar esposas jovens, atraentes e que lhes sejam fiéis até o final de seus dias. Nem o capitalismo, nem a estupidez do macho alfa branco, nem a lavagem cerebral que é feita pela publicidade são os responsáveis por esta preferência. É uma preferência universal e não existe nenhuma cultura em todo o mundo que seja exceção a esta regra. (p. 96. trad. autor)
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E de uma outra perspectiva, ou seja, da dimensão socioeconômica e profissional?
Para expandir ainda mais essa discussão, no estudo Beauty and The Labor Market
(HAMERMESH & BIDDLE, 1994) foram pesquisados os registros de diversos sujeitos contidos
em censos demográficos e a partir destes foi avaliada a aparência dos pesquisados em uma escala
de 5. Conclusão: os indivíduos considerados mais belos - 30% dos registrados - eram mais
jovens - 28% - e melhores remunerados financeiramente do que a média - 5% -, enquanto os
menos atraentes eram pessoas idosas - 19%, deste montante 88% eram do sexo feminino - e
recebiam entre 5-10% menos do que o grupo total de pesquisados.
Em outro trabalho, Why Beauty Matters (MÖBIUS & ROSENBLAT, 2003), os sujeitos
foram divididos em 2 grupos, denominados empregados e empresários, que deviam jogar o
seguinte jogo: os empregados teriam que resolver por computador uma tarefa standardizada cuja
dificuldade evoluía a cada fase. Em continuação, os pontos seriam obtidos em razão de seus
resultados.
Depois de cada fase procediam à negociação do valor da remuneração. A partir do
currículo do empregado, que incluía os resultados obtidos até o momento, assim como as
expectativas do candidato às próximas fases, o empresário propunha um determinado nível
salarial (ibidem).
Isso quer dizer que o jogo tratava de simular um mercado laboral: algumas vezes o
empresário teria que negociar o salário unicamente a partir de um currículo escrito, enquanto
outras vezes poderia ver a fotografia do candidato, e em outras; o empresário e o candidato
deveriam negociar o salário por telefone ou face a face (ibidem).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Resultado: o estudo (MÖBIUS & ROSENBLAT, 2003) não pôde comprovar que as
capacidades profissionais dos candidatos mais belos foram diferentes das capacidades dos menos
belos. Contudo, os mais belos e mais jovens - 67% do universo de pesquisados - conseguiram um
salário 12% acima da média geral.
A questão verdadeiramente importante é a origem dessa preferência: o experimento pôde
constatar que a preferência pela beleza tem duas causas principais, quais sejam; de uma parte, os
indivíduos jovens e belos inspiraram uma maior confiança; de outra parte, possuíram mais
autoconfiança e contavam com melhores capacidades comunicativas, que lhes foram de grande
utilidade no momento da negociação salarial. Em poucas palavras, os mais jovens e fisicamente
atraentes foram os que melhor souberam se vender (ibidem).
Em direção diametralmente oposta “chamamos feio tanto a quem possui três olhos como
a quem só tem um”, escreveu no século XIII Guillermo de Auvernia em seu Tratado sobre o bem
e o mal (SARANYANA, 1983, p. 170). Por sua vez, Nietzsche refletiu:
“no belo, o ser humano se coloca como medida da perfeição;” [...] “adora nele a si mesmo. [...] No fundo, o homem se espelha nas coisas, considera belo tudo o que lhe devolve a sua imagem. [...] O feio é entendido como sinal e sintoma de degenerescência [...] Cada indício de esgotamento, de peso, de senilidade, de cansaço, toda espécie de falta de liberdade, como a convulsão, como a paralisia, sobretudo o cheiro, a cor, a forma da dissolução, da decomposição [...] tudo provoca a mesma reação: o juízo de valor ‘feio’. [...] O que odeia aí o ser humano? Não há dúvida: o declínio de seu tipo.” (apud ECO, 2007, p. 15)
Os seres humanos tendem a considerar qualquer desvio de padrão como algo negativo,
anormal: quem não é como os demais é diferente, anormal. Chega-se a pensar que no cérebro
existe algum tipo de circuito neuronal que obriga a associar em ação reflexa o belo com o bom,
agradável e inofensivo e, por outro lado, o feio com o malvado, astuto e intratável (ETCOFF,
1999).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Tudo isso condicionaria, naturalmente, o modo de se relacionar entre as pessoas. E, desta
maneira, colidir-se-ia com uma das mais profundas convicções que afirma que não se deve guiar
pelas aparências, que não se deve basear nas aparências “exteriores”, e sim no aspecto “interior”
das pessoas. Por que os seres humanos vieram ao mundo com uma constituição tão dicotômica?
Herança genética ou dos veículos midiáticos? Featherstone (apud DEBERT, 1994) argumenta
que, nas sociedades ocidentais contemporâneas, o processo exacerbado pela busca de uma
conduta e um procedimento que determine uma imagem corporal esteticamente bela ocorre “[...]
pela forte ênfase na aparência física, na imagem visual que é um dos elementos fundamentais
que impulsiona a cultura de consumo”. (p.67)
O mesmo autor fala do volume de imagens e réplicas do corpo humano, em que as
imagens da juventude, saúde e beleza são aquelas usadas para vender mercadorias e experiências
por meio de anúncios. De toda forma, movidos pelo desejo autêntico de ter uma aparência
adequada aos padrões dimanados pelos canais midiáticos, um volume expressivo de pessoas
recorrem à cirurgia plástica como quem vai às compras: soma-se ao exposto, de acordo com a
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - SBCP -, o fato de o Brasil ser classificado como o
segundo país em todo o mundo que mais realizou procedimentos cosmético-cirúrgicos no ano de
2005 (SBCP, 2006).
Na mesma direção, segundo o Instituto de Pesquisas Euromonitor (ABIHPEC, 2007), o
Brasil elevou-se da quarta para a terceira posição no ranking mundial de consumo de produtos
cosméticos, ultrapassando países como a França, a Alemanha e a Inglaterra: o que o ergueu
àquele patamar foi o aumento do consumo desses produtos, que representou um crescimento de
26% em dólares, contra um crescimento estimado de 1,2% no mercado global (ibidem).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Em contrapartida, a população brasileira apresenta 30% de sobrepeso, 11% de obesidade
e 83% são sedentários (IBGE-POF, 2002-2003): aproximadamente 80% das doenças cardíacas,
acidentes vasculares cerebrais, diabetes tipo II, e 40% dos cânceres associam-se ao peso
excedente e à ausência da prática regular de atividade física (WHO, 2003b; GREGG, CHENG,
CADWELL, IMPERATORE, WILLIAMS, FLEGAL, VENKAT & WILLIAMSON 2005).
O Informe Anual da Junta Internacional de Fiscalización de Estupefacientes (JIFE, 2006)
aponta o Brasil como o maior consumidor mundial de supressores de apetite, os anorexígenos
anfetamínicos - substâncias emagrecedoras -: e assinala uma dicotomia, onde os indivíduos
buscam, por um lado, à edificação da imagem do esteticamente belo, entretanto, de outro,
adotam hábitos e estilos de vida que os distanciam da possibilidade de possuírem um corpo que
seja consoante com os padrões de beleza difundidos. É como afirmam os próprios canais
midiáticos:
Lábios carnudos, seios empinados, bumbum durinho e medidas de modelo. Basta ligar a tevê, folhear as revistas ou observar os outdoors para perceber que essas são as principais armas de beleza e sedução das mulheres. Como nem todas nascem com esses atributos ou se contentam com a maneira como vieram ao mundo, a insatisfação com a aparência pode desencadear uma vaidade desenfreada. Com isso, muitas mulheres (e homens também) estão se sujeitando a procedimentos estéticos que nem sempre conseguem, em um passe de mágica, transformá-las em princesas. Pior: muitas vezes, as deixam deformadas ou com problemas de saúde – por causa de barbeiragens médicas, produtos perigosos e irresponsabilidade delas próprias. Na tentativa de contornar a genética ou driblar a lei da gravidade, vale tudo: cirurgias, implantes, preenchimentos, lipoaspirações, escovas definitivas, bronzeamento artificial, remédios para emagrecer, além de muita malhação. (RABELO & JORDÃO, 2008, p. 36)
Estima-se que 20% das cirurgias estéticas realizadas no Brasil sejam absolutamente
desnecessárias (CHAVOIN, 2003). Outro padrão de excesso é a idade média daqueles que se
submetem a essas tecnologias neste país: presentemente está em 35 anos (SBCP, 2006).
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É patente que somente existem “vendedores de excessos” porque há quem os “compre”.
Entretanto, é abstruso evadir-se da atmosfera de fantasia que envolve o universo das tecnologias
da beleza e rejuvenescimento, em especial da cirurgia plástica: nos canais midiáticos,
celebridades esculturais comunicam a mensagem de que é possível eleger um corpo novo com a
mesma facilidade de quem decide comprar esta ou aquela roupa (CARIOU, 2003; RENZ,
20007).
Nas clínicas de estética e cirurgia cosmética, o transitar permanente desses corpos
celébres estimula o indivíduo comum a se submeter às tecnologias baldias, oferecidas por
profissionais apócrifos do ponto de vista da habilitação cosmético-cirúrgica (ibidem).
Por sua vez, segundo a SBCP (2006), cerca de 37% dos procedimentos cosmético-
cirúrgicos realizados são destinados às mulheres idosas: a preocupação com a estética facial e
corporal dessa parcela da população brasileira é realmente impressiva, e a cada dia se torna mais
difícil separar, inclusive em termos de atitudes, as avós das netas.
O que inclusive sugeriria denotar que quanto melhor as manobras utilizadas para a
apresentação de uma aparência cada vez mais jovem e até mesmo “atemporal”, melhor seria a
pré-disposição genética daquela mulher idosa em driblar os efeitos estéticos do envelhecimento.
Nesse sentido, a soberania genética também superlativa os gêneros por meio de privilégios que
advêm da exploração e exclusão dos gêneros subalternos. Institui para os gêneros hegemônicos
padrões que seriam inalcançáveis numa competição igualitária (FREYRE, 1978).
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A recorrência abusiva às tecnologias estéticas corporais, a inflação de mulheres louras, ou
da “lourização”, na televisão nacional, é um exemplo dessa disparidade (ALENCAR, 2002;
RENZ, 2007): só entre as apresentadoras aparece Adriane Galisteu, Angélica, Eliana, Didi
Wagner, Xuxa, Ana Maria Braga e Hebe Camargo, a “matriz” de todas, entre muitas outras
(ALENCAR, 2002).
Diz o senso popular: “No Brasil, as mulheres não envelhecem, ficam louras [...]” (autoria
desconhecida)
FIGURAS 6 e 7: apresentadora de televisão brasileira Hebe Camargo, respectivamente, aos 25 anos e aos 72 anos de idade. Acervo pessoal do autor.
“Não sinto o peso do tempo, não me sinto uma mulher velha. Diria até que sou uma velhinha sem vergonha”. (CAMARGO apud BOSCOV, 2008, p. 94)
Entretanto, a cirurgia cosmética tem como principio básico a cura? Qual cura? Do
envelhecimento? Da “feiúra”? Do incômodo de um corpo que espontaneamente deflagra os
sinais de seu tempo cronológico? É uma resposta extremamente complexa de expressar!
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Ao ensaiar uma resposta chegar-se-ia a seguinte máxima: “uma certeza inoportuna”;
“certeza”, pois considerar-se-ia o momento - em princípio cronológico - das circunstâncias em
que o corpo se encontraria e da propagação “biofisiológica” dos anos.
“Inoportuna”, pois essa suposta “certeza” seria contestada pelo convite à presença de
tecnologias da beleza que - de alguma maneira - recuperariam uma imagem jovem, bela e magra,
como por um “efeito máquina do tempo”: desarrimando todo um acúmulo de vida tão caro à
manutenção da identidade pessoal, ou mesmo o corpo pudesse ser (re)construído tal qual um
aparelho eletrônico e depois comercializado como um produto descartável em uma unidade
negocial.
A cena atual denuncia o fato de se viver em um terrível paradoxo, e a possibilidade
oferecida de, enfim, prolongar os dias é vivida como algo de negativo. E moldada em valores
como o progresso e a juventude, a sociedade contemporânea lida precariamente com o número
crescente daqueles que, envelhecendo, beneficiam-se de um alongamento sem precedentes da
esperança de vida (RENZ, 2007). Por outro lado: ser jovem, tornar-se belo, permanecer jovem e
belo seria um acontecimento; uma vez que se atravessariam, de maneira soberana, os diversos
produtos da interação humana apenas com dois componentes, a beleza e a juventude,
independentemente de serem comprados ou não (VERNON & BENNET, 1995; ETCOFF, 1999;
VINCENT, 2007).
É como disse Beaumarchais (2006), “nobreza, fortuna, dignidade, beleza e juventude [...]
Que fizeste para merecer tantas vantagens? Tiveste o trabalho de nascer, nada mais!” (p. 11, trad.
autor): a juventude - desde épocas pretéritas - passaria a ser um ativo muito estimado e
extremamente cobiçado (FINKEL, 2003; VINCENT, 2007).
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Portanto, o conjunto dos indivíduos das mais diversas idades, em um determinado
período, constituiria a base à compreensão da diferença entre geração e grupo etário: o que
distingüiria uma geração de outra não seria meramente a faixa etária que as delimita, mas
principalmente o conteúdo que ela simboliza, que atua como elemento de distinção das demais
gerações (HALL, 1997).
Numa perspectiva histórica, a exemplo de Castro (apud NOVAES, PORTO &
HENRIQUES, 2002), ocorre o redimensionamento da categoria geração:
“[...] quando a idade é processada pela história e a cultura, temos o tema gerações. Alude à época em que o indivíduo é socializado. “Gerações de realidade”. Cada época tem sua episteme. Ser integrante de uma geração distinta significa diferenças no plano da memória social.” (p. 18)
Castro (ibidem) chega a afirmar o duplo significado da geração: um corte - um período
em uma trajetória de vida - e um tempo, um ethos político, econômico e cultural.
As diversas gerações trazem características e marcas próprias, compartilhadas por todo o
universo social, devendo observar-se que as gerações não se apresentam sob a égide de
determinado grupo, mas como referência a todos os grupos que formam o conjunto social
(ibidem). E segundo Stenger (1991), essa síntese seria justamente o conteúdo geracional:
determinados fenômenos culturais acabam simbolizando diferentes grupos etários e, como
conseqüência, uma geração inteira.
Em cada geração ocorreria, portanto, um sentido próprio oriundo das vontades dos
indivíduos e das tendências de natureza política, econômica e cultural: as atividades de cada
geração e as mudanças de conteúdo seriam os “sintomas” e apontariam às mudanças de sentidos
de uma geração para outra.
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Para Margulis & Urresti (apud CUBIDES, TOSCANO & VALDERRAMA, 1998), a
juventude é mais do que uma palavra, ultrapassando, devido à sua complexidade, as definições
apressadas que encontram nas faixas etárias um crivo demarcador: as idades não podem definir a
juventude, justamente por ser a mesma múltipla e relativa, não existente no singular; a juventude
não existe segundo categoria per si, mas se desdobra em matizes que as características de cada
geração, classe, lugar, linguagem e formas de sociabilidade contribuem para configurar (ibidem).
Contudo, parte-se da premissa de que a forma de viver e representar o vivido varia de
acordo com o contexto, e os “territórios” sociohistórico e cultural vão desenvolver uma categoria
de importante valor heurístico: a(s) moratória(s). Segundo os supracitados autores (ibidem), os
jovens seriam privilegiados por uma “moratória social”, pois ter a possibilidade de retardar o
momento de assumir de forma plena as responsabilidades econômicas e familiares não é uma
concessão disponível para todas classes sociais:
“A moratória social alude ao que, com a modernidade, grupos crescentes, que pertencem comumente a setores sociais médios e altos, postergam a idade do casamento e da procriação para que durante um período cada vez mais prolongado, tenham a oportunidade de estudar e de avançar a sua capacitação em instituições de ensino [...]” (ibidem, p. 5, trad. autor)
E os autores (ibidem) acrescentam ainda a idéia de “moratória vital”: não é porque se
basear no corpo como a manifestação primeira e mais evidente da juventude seja reducionista
que a idade não seja levada em conta para se pensar a juventude como categoria social.
Independente da “moratória social”, jovens são todos aqueles que gozam de um “plus de tempo,
um excedente temporal, que é consideravelmente maior que das gerações anteriores
coexistentes”. (ibidem, p. 10)
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Margulis & Urresti (1998) denominam “facticidade” a relação existente entre essas duas
moratórias, a “social” e a “vital”, pois combinadas levam ao entendimento de que “a juventude
não seja apenas uma palavra, uma estética ou uma moratória social, mas um posicionamento
temporal” (p. 10): a denominada “estética jovem” tem sido utilizada como termômetro para
classificar a juventude, mas segundo os autores (ibidem) essa percepção não tem força para
encerrar o conceito.
Se a juventude é transmitida como motivo estético ou fetiche publicitário, por meio de
estilos de vida, gostos, preferências, imagens e indumentárias, entretanto, esse conjunto de
signos desenha não a juventude, mas a “juvenização” - oferecida como produto mercadológico,
podendo ser adquirido por aqueles que desejarem consumi-lo independentes da faixa etária
(ibidem) -.
Para ficar claro o conceito de juventude apresentado, além de categorizar a
“juvenização”, os autores (ibidem) distingüem juventude de jovialidade, ou seja, do jovem com o
juvenil: isto significa que é possível ser juvenil sem ser jovem.
Por outro lado, não seria verdadeiro que para ser um indivíduo idoso a ostentação dos
ditos signos da juventude - “juvenização” - devam estar presentes. Daí a importância do
acréscimo da idéia de “moratória vital”, pois instauraria um menor espaço de irreversibilidade
aos caminhos escolhidos, potencializando-se as possibilidades de entrega do “hoje” às pessoas
idosas, pois a impressão de se ter qualquer que seja o tempo pela frente tornar-se-ia vívida e
pulsante:
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À escala do cosmos, a espécie humana, surgida por um acaso infinitesimal, durará um breve momento. E dentro dele, cada um de nós não chega quase a existir. E no entanto, é por esse instante de impensável brevidade de duração, que é nosso dever mobilizar todo o esforço de uma intensa atenção para que o melhor do universo se não destrua. Porque nesse mínimo está o máximo concebível da grandeza e do milagre. A vida. Tão pouco e tão tanto. Que importância, em face disso, tem o minimal acidente de se terem, como eu, oitenta anos? (FERREIRA, 1998, p. 280)
Destarte, o ser, estar e parecer jovem, na atualidade, talvez sinalize a potência, a criação
do novo, ou seja, a emergência de outros padrões regulatórios e civilizatórios para este século.
Isto perspectivaria que a juventude associada a beleza permitiriam o tão aspirado lugar de
destaque social que todos procurariam e, portanto, caracterizariam a cenografia do
acontecimento: onde o indivíduo passaria a acontecer a partir da beleza e da juventude. Até
mesmo porque, na corrente conjuntura social, o binômio “feio-velho” remeteria a imagem do
fracasso - no sentido strictu do termo - (BENTOLILA, 2005).
Esse binômio se refletiria em toda a sociedade e poderia ser percebido não só pelo modo
dos jovens ou das pessoas idosas se comportarem, mas de toda a sociedade, bastando observar a
maneira como os adultos assumem determinadas condutas e posturas exercitadas, até então, pela
juventude (DEBERT, 1999; MERRIAN & CAFFARELLA, 1999; MERSKIN, 2004).
Nota-se que - pela “juvenização” assumida coletivamente como um valor: o culto ao
corpo, as intervenções cosmético-cirúrgicas, as mudanças na moda e, com isto, nos estilos de
vida - todos querem ser jovens (ETCOFF, 1999): se todos são jovens, com quem ou o quê se
faria o confronto à transformação da identidade individual nas diversas fases dos ciclos da vida?
De toda forma, as tecnologias da beleza trariam uma sensação de aproveitamento extremo
das possibilidades corporais, como se o corpo dissesse: “agora cheguei ao limite da razão, isto é
o de mais desafiador que posso fazer - contra?! - a mim mesmo!” Seria a autonomia mor do
biopoder (BENTOLILA, 2005).
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No entanto, apesar de ser inegável o peso que a evolução biológica trouxe, e ainda trará,
para o entendimento desse corpo, mesmo assim, a equação da beleza X juventude não poderia
ser resumida às variáveis “biofisiológicas” - que não seriam concludentes -.
O discurso por mais racional que seja não poderia ser resolvido em uma única dimensão.
Seria exatamente isto: a equação tornar-se-ia complexa, e extremamente sofisticada de ser
decomposta em razão das demais variáveis - socioantropológicas, comportamentais, históricas,
sanitárias, etc. - que comporiam esse conjunto mínimo de informações que levaria a apresentação
da beleza corporal praticada no transcurso da história da humanidade. Por conseguinte, o valor
biológico seria mais um valor, não menos ou mais relevante, que somado aos demais retro
elencados resultaria um novo valor, que seria mutável a partir dos tempos em que o homem
atravessaria.
Freud (1980) dizia que “a anatomia é o destino” (p. 161), pois todos os símbolos de um
estatuto social são extensões do eu e o corpo passa dessa maneira do estatuto atribuído ao
estatuto adquirido. Para além disso, a anatomia corporal deixaria de ser um destino para tornar-se
um projeto, uma projeção do eu na imagem do corpo: as aparências seriam manipuladas, a
sedução lutaria contra o destino anatômico.
Por sua vez, Morris (2004) utilizou como método para explicar o comportamento humano
as mesmas bases trabalhadas pela biologia para elucidar o comportamento dos animais: aspectos
competitivos como alimentação, disputa por territórios e reprodução são destacados como
similares entre as diversas espécies. Desta forma, esse autor (ibidem) aproxima a espécie humana
de seus antepassados imediatos e afirma que apesar de estar no fastígio da evolução, o ser
humano não está tão distante quanto parece de seus ancestrais mais incensados - os símios -.
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O retro comentado autor (MORRIS, 2004) é exímio nas constatações dos fatos e nas
interrogações sobre peculiaridades da espécie humana, quais sejam: “Por que somos isentos de
pêlos?”, “Por que rimos?”; “Para que serve o lóbulo de nossas orelhas?”, “Por que temos uma
penugem característica sobre nossas cabeças?” (p. 31); e mostra como a teoria do uso e desuso e
da evolução das espécies explicariam tais fatos. Porém, não se consegue preencher uma lacuna;
como o código genético captaria as informações das necessidades de adaptação, para finalmente
adaptar as próximas gerações aos meios onde vivem?
Aliás, muitas vezes brilhantes e complexas soluções são oferecidas para essas novas
adaptações, o que deixa muita dúvida sobre se as funcionalidades encontradas não seriam meros
acasos. Nada disso fica claro, e entraria em conflito com um fato difícil de negar: seres humanos
também são produzidos a partir de redes complexas de moléculas, o que os reduziria à autoridade
das leis da química (ibidem).
A dicotomia se intensificaria quando o mundo se tornaria o responsável pela oferta das
incitações necessárias, por exemplo, para desencadear as reações químicas essenciais às
mutações genéticas. A resposta plausível seria a existência de uma base estimuladora exógena do
comportamento por trás de tudo, ou seja, a cultura:
No seu ensaio sobre A expressão dos sentimentos no homem e nos animais, Darwin destacava que aquilo que provoca aversão em uma determinada cultura, não o faz em outra e vice-versa, mas concluía dizendo que, contudo, ‘parece que os diversos movimentos descritos como expressivos do desprezo e do nojo são idênticos em grande parte do mundo’. Ora, é certo que conhecemos algumas das manifestações de aprovação evidentes diante de algo que nos parece belo por ser fisicamente desejável: basta pensar no alvoroço vulgar à passagem de uma bela mulher ou nas manifestações incovenientes de alegria do glutão diante de seu prato predileto. Mas, nestes casos, não se trata de expressões de gozo estético, mas antes de algo que se assemelha aos grunhidos de satisfação ou até mesmo aos arrotos emitidos em algumas civilizações para manifestar aprovação depois de uma refeição (embora nestes casos se trate de uma forma de etiqueta). (ECO, 2007, p. 19)
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Entretanto, a depender da interpretação aos achados “biofisiológicos”, aproximar-se-ia de
um território delicado das relações humanas, a eugenia: no século XIX ousou explicar
biologicamente o homem - enfatizando a raça e o nascimento -, e postulou uma identidade
sociobiológica quando se propôs a uma intervenção científica na sociedade (SOARES, 2001).
A eugenia permitiu a utilização do argumento da raça para justificar toda a exploração de
classe, e traduziu as preocupações de uma determinada camada social em manter a sua
hegemonia (ibidem): “a estética do universo eugênico não admitia o diferente, o feio, o doente, o
fraco, o feminino, o velho, o fisicamente limitado, o impotente, o depassado, o miscigenado, o
pobre e o fracasso [...] era um mundo esteticamente exclusivo ao padronizado, ao belo, ao
saudável, ao forte, ao masculino, ao jovem, ao fisicamente ultra-potente, ao viril, ao progresso,
ao puro, ao rico e ao sucesso [...]” (EAGLETON, 1991, p. 54, trad. autor).
As teorias eugênicas foram poderosos instrumentos nas mãos de uma minoria,
supostamente superior às demais, para auto-intitular-se a única classe capaz de manter a ordem e
de viabilizar, a partir dela, o progresso - “Ordem e Progresso”: os dizeres da bandeira brasileira
expressam nitidamente este comando social -. Segundo Soares (2001), “a superioridade da classe
dominante era apontada por esta ciência que aprisionava o homem dentro de um fatalismo
hereditário” (p. 19).
Por meio dessa ciência eugênica - “biofisiológica” - delimitaram-se as funções de classe,
perpetuando a harmonia da ordem social vigente: “se o homem é um ser biológico e todas as
suas ações se explicam a partir de causas biológicas, como postulam as teorias científicas do
século XIX, ganharão espaço na sociedade profissionais que dominem o conhecimento sobre o
biológico” (ibidem).
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Daí a necessidade mister de se atentar à maneira como se resolvem os conceitos
“científico-biofisiológicos” que estudam o corpo humano e seus desdobramentos
correspondentes:
“Nos jovens, a roupa deve ser colocada a serviço da educação. O jovem que, no verão, anda por aí de calças compridas, enrolado nas roupas até o pescoço, perde, já no vestir, um impulso para a educação física [...] A jovem deve aprender a escolher seu cavalheiro. Se hoje em dia a perfeição corpórea não tivesse sido empurrada para o segundo plano pela nossa moda descuidada, centenas de milhares de moças certamente não teriam sido seduzidas por repugnantes bastardos judeus de pernas tortas.” (Hitler apud ECO, 2007, p. 268)
No entanto, de outra parte, no caso do recorte socioantropológico, vale destacar que se
trata de uma variável cujo valor é tão ou mais importante, a depender da maneira que se aplica à
equação da beleza e juventude, na determinação dos padrões e comportamentos humanos frente
aos seus corpos.
De acordo com Lévi-Strauss (2003), “a antropologia pratica um corte perpendicular que a
obriga a considerar simultaneamente todos os níveis” (p. 29) de uma cultura específica: o
significado do corpo varia de acordo com a sociedade, varia em função do estatuto do indivíduo
naquele contexto. Desse modo, a aparente realidade imutável, que sigfinica que todos os
indivíduos têm corpo, precisaria ser pensada em um contexto cultural específico. Assim, o corpo
não falaria per si, se ele anuncia algo seria aquilo que a própria cultura o autorizaria a falar.
De fato, essa preocupação impressiva com a beleza coporal e suas tecnologias
correspondentes foram definidas por Marcel Mauss (2005) em meados do século XX: na sua
classificação das técnicas corporais, Mauss isola as técnicas de cuidado com o corpo e se espanta
com o fato de que estas são “quase de ontem” mesmo se “enquanto os ancestrais gauleses nem
usavam sabão, toda a América Central e do Sul se lavava com madeira de Panamá, ou brasil,
cujo nome deste empório.” (p. 382).
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Por outro lado também, cabe lembrar que foi somente em 1950 que Mauss (2005)
declarou que o homem não é o produto do seu corpo, mas é ele quem produz seu próprio corpo
em interação com os outros, por meio da sua imersão no universo simbólico e visual da sua
cultura.
O corpo não é uma fatalidade, uma natureza, mas ele é objeto de uma construção social,
cultural, individual. É somente a partir desse momento que uma verdadeira “antropologia do
corpo” vai nascer considerando o corpo como uma ficção da cenografia social (ibidem).
O conceito de corpo remete à questão da natureza e da cultura, e abre um leque
diferenciado de posicionamentos teóricos, filosóficos e antropológicos. O corpo não se revela
apenas enquanto componente de elementos orgânicos, mas também como fato social,
psicológico, cultural, religioso: está dentro da vida cotidiana, nas relações de produção e troca, é
um meio de comunicação, pois por meio de signos ligados à linguagem, gestos, roupas,
instituições às quais pertencem permitem sua ligação com o outro corpo (ibidem).
Logo, o corpo se torna um lugar onde se institui idéias, emoções e linguagens, sendo uma
interação sensório-motora dos sentidos à ação. Na sua subjetividade está sempre produzindo
sentidos que representam sua cultura, desejos, paixões, afetos, emoções, enfim, o seu mundo
simbólico. Neste jogo o corpo fala e é também falado pelos outros, sendo um múltiplo lugar de
significações, que a cultura permite revelar (BAUDRILLARD, 1995).
Na verdade, o corpo também, além de biológico, seria considerado como um objeto
cultural que apresentaria uma grande variedade de estados e que suscitaria uma imensa gama de
atitudes.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Afinal, a atual preocupação com a beleza corporal deveria também ser associada a essa
onda de neonarcisismo e eterna juventude corporal, colocada em evidência por Baudrillard
(1995), movimento que faria da aparência física ao mesmo tempo um capital e um investimento.
Mesmo gozando de perfeita saúde, o corpo não seria perfeito e “deveria ser corrigido”
por numerosos rituais de autotransformação, sempre seguindo os conselhos das imagens-normas
veiculadas pelos sinais culturais e, como peça de resistência, apareceria a mídia (ibidem): o
corpo seria apresentado como um objeto a ser reconstruído tanto em seus contornos quanto em
seu gênero (SAL, 1993; CARIOU, 2003).
Assim, cumpriria uma função ideológica, isto é, a aparência funcionaria como garantia
ou não da integridade de uma pessoa, em termos de grau de proximidade ou de afastamento em
relação ao conjunto de atributos que caracterizariam a imagem do indivíduo em termos do
espectro das tipificações.
Por meio de complexos mecanismos de incorporação de estereótipos corporais, o corpo
tornar-se-ia então uma superfície virtual, um terreno onde seriam cultivadas identidades sexuais
e sociais: saturado de estereótipos, ele apareceria como um quadro inacabado e se transformaria
em imagem do corpo - o corpo se tornaria um objeto de autoplastia -.
Nessas metamorfoses - “biosocioantrocomportamentais” -, o ícone por excelência
continuaria sendo o cantor estadunidense Michael Jackson: primeiro negro a ter literalmente
alterado de cor, de cabelo, de rosto, para surgir cada vez mais com a tez espectral, marmórea, e
menos humano...
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E os critérios de classificação do mundo social, ainda que utilizem propriedades físicas
tais como o sexo ou a idade - não se limitam a descrever sua natureza “biofisiológica” -
(FOUCAULT, 2007).
A idade em si mesma, tal como o gênero, tem diferentes significações segundo o contexto
ou o período histórico, pois, apesar dos ciclos da vida não terem sofridos alterações,
modificaram-se as idéias, os discursos e as imagens produzidos sobre elas e, principalmente,
sobre a velhice (ALGADO-FERRER, 1996).
As abordagens formuladas sobre a velhice, com freqüência, ultrapassam as observações
objetivas e isentas de juízos de valor e definem modelos e normas adequadas de comportamento.
E os conceitos sobre a senescência, em geral, tendem a homogeneizar um coletivo, cujo único
elemento intersectivo é pertencer a uma determinada idade social e culturalmente determinada
(ibidem).
E, de acordo com o contexto social seriam diferentes os critérios para sua
homogeneização. Em resumo, o que se observa é que a velhice seria um conceito em permanente
processo de mudança. Essas mudanças se mostrariam diretamente relacionadas com outros
fatores presentes na realidade socioeconômica que não refleteriam necessariamente as
transformações físicas do processo de envelhecimento (ibidem).
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Um estudo realizado por Belo (1990) ressaltou a importância de identificar e desvelar os
discursos sobre o envelhecimento: constatou-se a existência de um processo de exclusão e
marginalização das pessoas idosas, legitimado por um discurso dominante nas décadas de 1970 e
princípios de 1980, que apresentava a velhice como sinônimo de improdutividade e decadência.
Esse estudo criticava o discurso “biologicista” que atribuía a segregação das pessoas
idosas a uma causa natural, como se, na velhice, as pessoas fossem fisicamente incapazes de
participar das diversas estruturas sociais. Ao contrário desta idéia, se demonstrou que a
marginalização dos velhos e das velhas, resultava de sua pouca utilidade econômica nas
sociedades que participam da expansão do capitalismo internacional (ibidem).
Em raciocínio similar, Haddad (1989), na sua análise da produção científica sobre a
velhice, concluiu que, estes saberes, aparentemente neutros, se constituiram de uma ideologia.
Esta ideologia, por meio da criação de um conjunto de representações e normas objetivas, buscou
ensinar as pessoas a atuar conforme algumas prescrições: sua função era a de reorganizar os
comportamentos, de maneira a diminuir o custo social da manutenção das pessoas idosas.
A sinonimía entre doença e velhice permitiu justificar a exclusão da pessoa idosa,
mediante a responsabilização unicamente dos aspectos “biofisiológicos” do envelhecimento: em
outras palavras, a lógica dominante afirmou que a pessoa idosa não podia participar da sociedade
pela condição natural de incapacidade física e mental. Essa lógica permitiu ocultar os aspectos
políticos e econômicos presentes na marginalização imposta a grande parte deste grupo de
população (ibidem).
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Atualmente, se defende a perspectiva de revalorização da pessoa idosa por meio do
estímulo a sua participação e produtividade. No entanto, uma análise mais exigente desta
tendência permite a identificação dos riscos de produção de um discurso sobre a velhice que,
igualmente, homogeneiza este grupo social e prescreve modelos de comportamentos –
especialmente dirigidos à produção do corpo belo, jovem e saudável – (HADDAD, 1989).
O biológico é político afirmou Michel Foucault (2007) em sua análise do exercício do
poder no Estado moderno: a imposição de um comportamento frágil, submisso da mulher foi
historicamente justificado por meio de explicações baseadas na constituição do corpo feminino
(SAL, 1993; BOUDIER, 2005).
De forma análoga, observa-se que o discurso “biologicista” sobre a velhice, conduz a
construção de normas de comportamento padronizadas a serem seguidas por este grupo de
população. Em um contexto em que o exercício do poder não está dissociado da produção do
saber (FOUCAULT, 2007) é fundamental observar as causas e influências dentro do coletivo
desse novo discurso dominante sobre a velhice.
É bem verdade que os avanços da Medicina e das medidas sociosanitárias propiciaram
melhorar a saúde da população em geral, e das pessoas idosas em especial (WHO, 2002). No
entanto, será esta a razão para que a frágil velhice se transforme - no discurso - no símbolo da
boa idade? Nem todas as pessoas idosas têm acesso aos avanços das ciências medicinais
(VINCENT, 2006) .
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Esse fato já evidencia que o discurso universalista de “velhice saudável e produtiva”
oculta a realidade de grande parte deste grupo de população. Apesar disto, observa-se que os
discursos sobre a velhice se deslocam de um enfoque homogeneizador centrado nas doenças e
debilidade das pessoas para um outro, igualmente unificador, que as apresenta como seres de
significativa produtividade porquanto ao parecerem belas, jovens e, sobretudo, saudáveis
(DEBERT, 1999).
De toda forma, cabe ressaltar, que o homem desde o início de sua história, não se
preocupava com o envelhecimento, mas sim com a juventude (VINCENT, 2006).
O tempo de vida médio do ser humano era muito reduzido devido às condições precárias
de vida, fragilidade diante às doenças, o desconhecimento da etiologia das mesmas, como
também eram presas fáceis dos predadores mais ameaçadores (ibidem). Mais adiante se inicia
contra a perda da juventude, o aparecimento das doenças e a morte e o seu grande desafio;
vencer o envelhecimento (FINKEL, 2003):
Hesíodo descreveu uma raça dourada constituída por um povo que vivia centenas de anos
sem envelhecer e que morria dormindo quando chegasse seu dia (ibidem).
Os gregos acreditavam existir um povo que habitava em terras longínquas ao norte e que
vivia milhares de anos. Aristóteles e Galeno acreditavam que cada pessoa nascia portando uma
quantidade de calor interno que iria se dissipando com o passar dos anos, considerando então a
terceira idade o período final dessa dissipação de calor. Aristóteles, por sua vez, sugeria o
desenvolvimento de métodos que evitassem a perda de calor, o que supostamente prolongaria a
vida, dando certo cunho científico ao “problema” (ibidem).
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Há alguns séculos atrás o navegador espanhol Napoleón Baccino Ponce de León
enlouqueceu em sua busca pela “Fonte da Juventude” (GONZÁLEZ-RUBIO, 2003; WEISS,
2004): é uma utopia, pois se trata da busca da vida eterna em um corpo jovem.
A maioria dos povos sempre apelou à fantasia quando procurava tão miraculosa “fonte”
(VINCENT, 2007): alguns pensaram em encontrá-la em longínquas ilhas, outros em rios
caudalosos, alguns em preparados extraídos de testículos caninos, e outros ainda em ser a
longevidade dependente de uma vida reta e disciplinada (GOETZ, 2002; OVERALL, 2004).
O primeiro trabalho científico sobre o envelhecimento foi elaborado, em 1867, pelo
Médico francês Jean Martin Chacot intitulado Estudo Clínico Sobre a Senilidade e as Doenças
Crônicas. Charcot não se preocupava em estudar a imortalidade, mas o processo de
envelhecimento, suas causas e as conseqüências sobre o organismo (GOETZ, 2002).
O cientista russo Ilya Ilyich - Prêmio Nobel de Medicina em 1908 - acreditava que o
processo de envelhecimento era resultado de substâncias venenosas produzidas no intestino
grosso pela deterioração de alimentos. E preconizava que a ingestão regular de leite ou iogurte,
bem como o uso de laxantes, eram hábitos que deveriam ser adotados para “esterilizar” o trato
digestório, especialmente o intestinal (OVERALL, 2004).
Destarte, a história mostra que o desejo em prolongar a vida, retardar ou controlar o
envelhecimento é intrínseco ao ser humano, e faz parte de sua procura pela felicidade plena
(ibidem; VINCENT, 2006; 2007).
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A busca permanece e quanto mais se avançam as pesquisas científicas, os processos se
modernizam abrindo novos espaços para que a sociedade alcance seu tão almejado estado
completo de juventude, beleza e bem-estar (OVERALL, 2004).
Entretanto, o homem qualificaria a juventude e a beleza em um resumo de “corpo
sarado”, buscando assim concretizar o mito da imortalidade, apesar do passar cronológico dos
anos: como as ninfas que não eram imortais, mas permaneciam belas e jovens até suas mortes.
Contudo, a sociedade contemporânea parece não conseguir negociar positivamente os limites
impostos pelo envelhecimento e a morte (ibidem, VINCENT, 2007).
Da Imagem Midiática
Uma das implicações do aumento do número de pessoas idosas é a construção da sua
imagem apresentada pela mídia: a constituição dessa imagem não é realizada sem propósito; uma
indústria inteiramente voltada para esse gênero vem sendo montada e expandida com a ajuda do
apelo midiático a adoção de um novo estilo de vida pelos indivíduos idosos (GERBNER, 1998).
A mídia, sobretudo a televisiva, tem presença constante no cotidiano das pessoas e em
decorrência dessa onipresença, exerce certa influência nos valores, opiniões e comportamento da
sociedade (ibidem). Analisando as formas de representação da pessoa idosa pela mídia televisiva
percebem-se as mudanças ocorridas na construção dessa imagem: de acordo com Beauvoir
(1990), nas sociedades ocidentais, a velhice foi - e ainda é -, associada a uma imagem
estereotipada.
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Para além disso, o “corpo jovem e em forma” passa a integrar o estilo de vida de muitas
pessoas, consoante suas crenças, nível socioeconômico e cultural. Ele significa “saúde” para
grande parte das revistas de consumo popular, cujas capas tratam o emagrecimento, exercícios
físicos, dietas, sensualidade e o corpo “ideal”: as mídias coletivas apresentam, genericamente,
dicas e receitas à meta do corpo perfeito (MERSKIN, 2004).
Dessa maneira, a estética, nos veículos midiáticos, se encontra no cerne das performances
necessárias para que um sujeito seja admirado, invejado e cobiçado na contemporaneidade. Isto
independentemente de seu padrão etário ou mesmo de gênero (ibidem): esses veículos são
caracterizados por explorar exaustivamente tópicos corporais, em especial os femininos, tais
como; sexo, cabelo e maquiagem, como encontrar o parceiro ideal, etc (FREDERICK, FESSLER
& HASELTON, 2005).
A terceira onda do movimento feminista discute que, embora as mídias da atualidade –
com destaque às visuais – enfatizem um discurso contra discriminação à mulher, por outro lado,
contribuem à opressão da imagem física, e à veneração da exposição sexual feminina e da
imagem do corpo perfeito, inclusive estimulando a criação de corpos virtuais a partir de imagens
reais por meio de técnicas de computação gráfica: que não só estimulariam o consumo da
tecnologia da beleza, como gerariam uma busca bastante complexa e distante das possibilidades
concretas de grande parte dos indivíduos (WOLF, 1992; FREDERICK et al., 2005).
Portanto, cada época tem os seus referenciais de beleza que devem ser “perfeitamente
harmoniosos; assim, a indumentária, o penteado e mesmo o gesto, o olhar e o sorriso (cada época
tem seu porte, seu olhar e seu sorriso) [formando] um todo de completa vitalidade”
(BAUDELAIRE, 1997, p.25).
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Quem define os referenciais de beleza para homens e mulheres se encontra no mundo
mediado pelas revistas, canais de televisão, indústria cinematográfica, outdoors, canais de rádio
dentre outros, que, como lembra Rocha (1995), são sustentados pelo sistema publicitário que
bombardeia qualquer espectador desses meios de comunicação, apresentando quem ele deve ser,
como e quando, para se sentir seguro e aceito, e, se possível, desejado graças a sua performance
sensual, que deve ser atualizada a todo o momento.
FIGURA 8: “Esculpimos Corpos”, propaganda em outdoor, DF-025 (Estrada Parque Aeroporto), Brasília-DF. Dez. 2007. Fotografia produzida pelo autor.
É a beleza comprada - negocia-se o corpo -: a imagem (Figura 8) é um outdoor que
oferece a “escultura do corpo”, como se este fôsse massa mineral tal qual uma pedra de mármore
a ser talhada.
A fotografia do outdoor não é mero acessório ilustrativo da publicidade escrita, o retrato
e seu colorido “são” uma propaganda - per si -: da mesma maneira, o texto escrito não é simples
descrição da foto. Esse texto de diferentes domínios semióticos constrói, ao mesmo tempo, e sem
ser redundante, uma encenação que determina a caracterização do corpo digno de ser desejado e
as condições em que ele pode ser exibido (JOLY, 2005).
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Ou seja, o texto verbal e o texto não verbal portam a mesma importância aos efeitos de
sentidos suscitados em determinadas práticas discursivas (MAINGUENEAU, 2001; JOLY,
2005): o corpo - mesmo vivo - poderia ser esculpido como matéria morta por meio das
tecnologias da beleza que estariam supostamente habilitadas a efetivarem tais esculturas
anatômicas. E os modelos dessa peça comercial possuem “belezas esculpidas” - bem provável,
“cronobiofisiologicamente” jovens -.
Portanto, marca-se um elemento que além da imagem - aliás um potencial produtor da
corporeidade contemporânea de consumo - denominado mídia, ou veículos midiáticos que
inicialmente para efeito operativo: implica à criação, reprodução e difusão de sistemas de
atitudes e modos de agir, de costumes e instituições, valores espirituais e materiais (BERGER,
1999).
Contudo, deve-se admitir que justamente nesse âmbito constitui-se um grande e
complexo mercado de “bens” simbólicos ou “textos” culturais. Presentemente, mais que nunca
na história, os agentes privilegiados no processo de (re)criação e difusão de valores,
comportamentos, gostos, idéias, personagens virtuais e ficção são as grandes empresas
transnacionais da mídia, da publicidade e do entretenimento (ibidem; ADORNO, 2006;
ADORNO & HORKHEIMER, 1985).
Essas corporações, cujas empresas conjugam televisão, computadores, internet, vídeo,
cinema, aparelhos de diversão eletrônicos, e também rádios, revistas, jornais, outdoors, banners
e outras formas de comunicação imagética, sonora e/ou virtual, são agentes sociais poderosos
(ibidem).
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A presença ubíqua de um sistema midiático, a sua ação pervasiva e constante, e o poder
simbólico de que dispõe estão provocando modificações profundas no âmbito da cultura, em
todos os seus aspectos. Talvez a mais importante dessas transformações seja o fato de que a
própria cultura é cada vez mais midiatizada (ADORNO, 2006).
Por mídia - também denominada de canais ou veículos midiáticos -, entende Thompson
(1995) “como o processo histórico do rápido crescimento e da proliferação de instituições e
meios de comunicação de massa nas sociedades ocidentais, que, por intermédio de suas redes de
transmissão, tornaram formas simbólicas mercantilizadas acessíveis a um grupo cada vez maior
de receptores” (p. 21).
Em outros termos, a produção e a difusão das formas simbólicas - que refletem as
experiências e as visões de mundo das pessoas - são sempre mais mediadas pelas instituições e
pelos aparatos técnicos da mídia -. Portanto, a cultura “passa” ou “acontece” cada vez mais na e
por meio da mídia. Isto implica que a mídia se torna ao mesmo tempo acontecimento, produção e
divulgação cultural. Um dos resultados desse processo é a produção da cultura midiática
(ibidem). Eco (2004) e Leão (2007) apontam:
Aqueles que visitam uma exposição de arte de vanguarda, que compram uma escultura ‘incompreensível’, vestem-se e penteiam-se segundo os cânones da moda, usam jeans ou roupas assinadas, maquiam-se segundo o modelo de Beleza proposto pelas revistas de capas cintilantes, pelo cinema pela televisão, ou seja, pelos mass midia. Eles seguem os ideais de Beleza propostos pelo consumo comercial, aquele contra os quais a arte das vanguardas lutou durante mais de cinqüenta anos. Como interpretar essa contradição? Sem a tentar explicá-la: Essa é a contradição típica do séc. XX. (ECO, 2004, p. 6)
[...] Ah, cansa muito querer ser chique. É preciso estudar com afinco as revistas da moda e ter uma memória prodigiosa para soltar a informação certa na hora certa. [...] (LEÃO, 2007, p. 105)
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Não menos significativa é a indústria da moda - os anúncios publicitários e os desfiles
podem ser considerados a celebração da vaidade -: em seu orbe produzem-se os maiores marcos
reguladores da corretagem da cenografia corporal. E Wintour (apud BROCKES, 2006) assevera
de modo incisivo:
“[…] I think that's nonsense. It wants to celebrate women. And I think one of the things that's happening in fashion today is that there's so much more fashion available at so many different price levels. I think women look better than they've ever looked. And if a woman feels bad about herself, then there's something more seriously wrong with that woman than the fashion industry. […]” (p. 37)
Portanto, nesse território - independentemente dos reflexos em seus consumidores - são
publicados ideais de padrões etários, circunferências de cinturas, cores e texturas de cabelos,
tonalidades de pele, pesos e estaturas, volumes de bíceps, tipos de narizes, formatos de bocas,
tamanhos de próteses de silicone, medidas de pênis, enfim, a imagem passa a ser negociada de
maneira fragmentada, cada parte tem um valor que no seu conjunto, conforme a proximidade da
perfeição comercial poderá valer cifras extraordinárias (FREDERICK et al., 2005).
O parecer, adorno e certos efeitos estéticos fazem parte da história da humanidade,
porém, isto não significa que a moda tenha sempre estado presente no decurso dessa
historicidade. Como afirma Lipovetsky (1999), “a moda não pertence a todas as épocas nem a
todas as civilizações” (p. 38) avigorado por Leão (2008):
Nesse mundo as pessoas são classificadas por símbolos. Dependendo da marca dos relógios, que são muitos, das malas, dos sapatos, dos óculos, do hotel em que se hospedam, dos restaurantes que freqüentam, das amizades que têm e do conhecimento do que está na moda naquele momento, elas serão – ou não – admitidas nesse paraíso do qual só eles fazem parte. É uma espécie de clube sem carteirinha, onde em qualquer lugar do mundo eles se reconhecem. E ai de quem, por um acaso cruel, aterrisar no grupo sem pertencer a esse olimpo. Vai ser tão maltratado – e por maltratado se entende ignorado – que levará anos para se recuperar e se sentir, de novo, um ser humano. (p. 105)
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No final da Idade Média - século XV - e começo da Renascença, as aglomerações nos
centros urbanos e a organização da vida nas côrtes incitaram nas pessoas um desejo pela
competição e imitação (VIGARELLO, 2006; ECO, 2007). Essa necessidade de mimetizar
lançamentos propostos por indivíduos ou grupos de prestígio acontecia por medo de isolamento,
receio de não fazer parte desse núcleo inovador - fato que, segundo Leão (2008), parece
permanecer até os tempos atuais -; foi aí que o sistema de moda teve seu início (ibidem).
Ainda no século XV: há muitas representações da mulher idosa, símbolo da decadência
física e moral, em oposição ao elogio canônico da juventude como estandarte de beleza e pureza;
no Renascimento, a feiúra feminina associada à ancianidade tornou-se, antes, objeto de
divertimento burlesco, com o elogio irônico de modelos que se afastam dos canônes estéticos
dominantes (ECO, 2007).
FIGURA 9: Mulher Grotesca, Quentin Metsys, London National Gallery,
London-United Kingdom-UK, 1525-1530 (ECO, 2007, p. 171).
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Isso mostra que a moda é totalmente vinculada à cultura de uma sociedade de moda. Em
vista disso é possível perceber que a moda é essencial para o entendimento das representações
sociais, pois a roupa é uma ferramenta às pessoas manifestarem o que elas são e o que elas
desejam dentro de uma coletividade: a roupa é uma forma de expressão da individualidade
humana (VIGARELLO, 2006).
A moda é, notoriamente, um fenômeno cultural (ibidem) e, apesar da sociedade
condicionar-se ao seguimento de determinadas regras devido sua herança cultural, não é possível
um indivíduo absorver todos os aspectos de sua cultura, todo seu sistema de signos e
significados. Porém, é importante e necessário um grau mínimo de informação, para que ocorra
uma socialização saudável (LIPOVETSKY, 1999).
FIGURA 10: La Petite Abeille, Tipayaphong, Pierre et Gilles, 2003 (PAUME, 2007, p. 334).
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Conhecer o significado de cada estilo de roupa, cor e demais signos favorece a construção
de uma imagem real, que esteja dentro dos conceitos que se deseja propagar. Saber se expressar
não se restringe ao verbal, mas também à maneira de se vestir (LIPOVETSKY, 1999; 2005): “o
mundo se tornou um imenso supermercado de produtos tão iguais, que nivela as pessoas e anula
o desejo”. (LEÃO, 2008, p. 105)
A moda, em seu patamar mais exacerbado tem como plataforma estrutural o luxo, ou a
exclusividade que ele pode provocar: “De Platão a Políbio, de Epicuro a Epicteto, de Santo
Agostinho a Rousseau, de Lutero a Calvino, de Mandeville a Voltaire, de Veblen a Mauss,
durante 25 séculos o supérfluo, a aparência, a dissipação das riquezas jamais deixaram de
suscitar o pensamento de nossos mestres”, afirma Lipovetsky (2005, p. 17), lembrando que o
interesse pelo luxo já é história antiga.
Entretanto, o luxo está relacionado ao ser humano, ao comportamento e à cultura. Faz-se
então necessário tratar o luxo sob o ponto de vista social (ibidem).
Mesmo que algumas teorias do luxo sejam centradas nas lutas simbólicas das classes
sociais, tenham como parâmetros valores econômicos - financistas -, o luxo vai além e
acompanha as transformações sociais (ibidem):
E os muito ricos, muito ricos mesmo, homens e mulheres, têm uma coisa em comum: nunca ninguém ouviu, e jamais ouvirá, um deles dando uma gargalhada. No máximo eles sorriem. (LEÃO, 2008, p. 109)
Os membros das classes “altas” sempre consideraram desagradáveis ou ridículos os gostos das classes “baixas”. Poderíamos dizer, é certo, que os fatores econômicos sempre pesaram nestas discriminações, no sentido em que a elegância sempre foi associada ao uso de tecidos, cores e pedras caríssimos. Mas muitas vezes o fator discriminante não era econômico, mas cultural. É uma experiência habitual destacar a vulgaridade do novo-rico que, para ostentar sua riqueza, ultrapassa os limites que a sensibilidade estética dominante estabelece para o “bom gosto”. (ECO, 2007, p. 394)
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O corpo, nesse sentido, passa a ser um objeto de luxo quando se apresenta
milimetricamente trabalhado à luz da perfeição da estética e da beleza: são corpos belos, juvenis,
bem-sucedidos, desejados e, portanto, luxuosos. Sob essa perspectiva, a juventude seria um luxo
à cena social contemporânea.
Para atingir o status de luxo a cenografia corporal precisaria ser exaustiva e
incansavelmente trabalhada a partir das tecnologias da beleza, e ao alcançar esse patamar
contrairia um valor de mercado bem acima das demais, adquirindo a denominada exclusividade,
como uma grife extremamente cara, e caracterizar-se-ia por sua “forma” como um produto de
alto luxo:
[...] Além disso é complicado definir a sensibilidade estética dominante: não é necessariamente aquela de quem detém o poder político e econômico, mas antes a que é fixada pelos artistas, pelas pessoas cultas, por quem é considerado (pelo mundo literário, artístico e acadêmico ou pelo mercado da arte e da moda) perito em “coisas belas”. Mas trata-se de um conceito muito volátil. [...] (ECO, 2007, p. 394)
Diante do exposto, quanto ao valor da “forma” do corpo como ditame de beleza
imperativa na época contemporânea, uma obra de grande significância publicada por dois
psicólogos, Wanderley Codo & Wilson Alves Senne (1985), trata da obsessão em cuidar do
corpo:
O cuidado com o corpo e sua cenografia foi se transformando em doença, fixação, e o que
era exação virou idolatria, ou seja, “corpolatria”. Nessa obra (ibidem), os autores estudaram a
forma como a sociedade está redescobrindo o corpo, paralelamente à revalorização do prazer.
Ocorre a caracterização do culto ao corpo, na condição religiosa; isto é, em tudo, semelhante a
qualquer religião dogmática e idolátra e, “assistimos hoje ao surgimento de um novo universo
mágico: a corpolatria”. (ibidem, p. 12)
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[...] Como foi bom eu ter aparecido Nessa minha vida já um tanto sofrida Já não sabia mais o que fazer Prá eu gostar de mim, me aceitar assim Eu que queria tanto ter alguém Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém Longe de mim nada mais faz sentido Prá toda vida eu quero estar comigo Eu me amo, eu me amo Não posso mais viver sem mim [...] (ROGER, 1997)
“Eu me amo” é a frase utilizada no estudo de Codo & Senne (1985) para explicar a marca
mais evidente da “corpolatria”, que é o narcisismo. Os autores caracterizaram o narcisismo como
uma morbidade que hoje se tornou ideologia: a valorização do corpo aparece sob forma
nitidamente individualista. Dessa forma, a beleza passaria a ser um fator sine qua non para a
sobrevivência, devendo gerar um glamour suficientemente fascinante para ser vendida.
FIGURA 11: Gisele Bündchen, desfile da grife estadunidense de roupas íntimas femininas Victória’s Secret, 2006. Vogue France, dez. 2006, p. 44, acervo pessoal do autor.
[...] Eu nunca tinha visto mulheres com um cabelo louro tão brilhante, não sabia que esses reflexos custavam seis mil dólares anuais para serem mantidos, nem que outros, que estavam mais por dentro, eram capazes de identificar os coloristas depois de uma olhadela rápida no produto final. Nunca tinha visto homens tão bonitos. Eram perfeitamente sarados – não musculosos demais porque “isso não é sexy” – e exibiam sua incessante dedicação à ginástica em elegantes golas rulês e calças de couro justas. Bolsas e sapatos que eu nunca tinha visto em pessoas de verdade gritavam Prada! Armani! Versace! [...] (WEISBERGER, 2006, p.15)
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Então, o cuidado com a imagem corporal, procurando a aparência jovem e saudável, é
priorizado: eis o narcisismo (FREUD, 1980)! De acordo com Codo & Senne (1985), a
publicidade tem grande participação na intervenção dessa idéia, que também é, de sobremaneira,
influenciada pela moda. No contexto discutido, a imagem é construída por meio de padrões de
beleza baseados em aspectos consumistas (ADORNO, 2006).
Portanto, a imagem corporal para ser bem-sucedida deve se apoiar em padrões estéticos
belos, jovens e exitosos onde o indivíduo se torne o próprio objeto de sua contemplação: é
exatamente como o mito de Narciso que se tornou “vítima” da sua própria “beleza”
(BULFINCH, 2002).
Mais atrás, o culto ao corpo foi uma característica marcante da sociedade helênica
(ibidem): a estatuária clássica revela o quanto os gregos valorizavam a estética. Paradoxalmente,
essa mesma sociedade produziu o mito de Narciso, que funciona como uma crítica cultural aos
excessos da vaidade - e impressivamente atual -. Conforme Grimal (2000):
Chegado à idade adulta, Narciso foi objeto de paixão de grande número de moças e ninfas. Mas ele ficava insensível. Finalmente a ninfa Eco apaixonou-se por ele, mas não conseguiu mais do que as outras. Desesperada, Eco retirou-se na sua solidão, emagreceu e de si mesma em breve não restou mais do que uma voz gemente. As jovens desprezadas por Narciso pediram vingança aos céus. Nêmesis ouviu-as e fez com que, num dia de calor, depois de uma caçada, Narciso se debruçasse sobre uma fonte, para se dessecar. Nela viu seu rosto, e imediatamente ficou apaixonado. A partir de então, torna-se insensível a tudo que o rodeia, debruça-se sobre sua imagem e deixa-se morrer. No Estige, procura distinguir o traço dos amados. No lugar onde morreu, brotou a flor à qual foi dado o seu nome, o narciso. (p. 322)
Segundo Freud (1980), o narcisismo é um termo escolhido por Näke, em 1899, para
designar um comportamento no qual o indivíduo oferece ao seu próprio corpo o status de um
objeto sexual, e agrada-o até o alcance da sua satisfação plena.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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E, traços isolados desse comportamento são recorrentes em diversos grupos sociais
independentemente do contexto geracional ou de gênero: nesse universo, os indivíduos vivem
em um registro especular, no qual o que lhes interessa são as suas próprias imagens, assumindo
assim um lugar exibicionista em que não existe mais espaço às trocas intersubjetivas (FREUD,
1980).
No Brasil, a erotização dessa “imagem-exibição” ocorre de forma expressiva com o corpo
feminino. Com efeito pode-se observar o destaque oferecido à mulher em propagandas de
bebidas alcóolicas - especialmente as cervejas -: mudam-se os “opcionais” - loura ou morena,
olhos pretos ou azuis, cabelos lisos ou anelados -; permanece o padrão, o corpo ideal da mulher
brasileira: sonhado e invejado pelas mulheres, ícone de identificação. Apreciado e almejado
pelos homens, objeto de desejo e sedução (FREDERICK et al., 2005).
[...] Nos vídeos brasileiros a cerveja continuará jorrando, generosa e farta, em mensagens que identificam seu consumo à alegria, à jovialidade, ao sucesso, à beleza e às mulheres de biquini. [...] (TOLEDO, 2008, p. 154)
Como entende Morin (1997), a imagem da mulher nos comerciais nacionais cumpre a
dupla função de mulher-sujeito, modelo de identificação a ser seguido pelas mulheres, e mulher-
objeto, alvo de sedução e desejo para os homens. Ao contrário dos homens, a mulher nessas
propagandas não é apresentada, não recebe um nome, não tem uma identidade, não conta uma
história, não possui uma trajetória específica. Elas aparecem em série, como mercadorias,
produtos à escolha do consumidor e, para acessá-las, bastaria “abrir uma cerveja” (FREDERICK
et al., 2005).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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O autor estadunidense George Gerbner (1998) em um estudo, de 1993, sobre o impacto
da televisão na cultura contemporânea afirma que suas imagens e mensagens influem na maneira
de socialização, das relações de convivências entre diferentes gerações. Acrescenta ainda que
atualmente, a imagem que a sociedade tem da velhice é um constructo do marketing comercial.
Soma-se também o relevante estudo de Dail (1988), também na década de 1980, que
mostrou como as pessoas idosas constituíam uma categoria publicitária, vale ressaltar mais do
que qualquer outra, que mais era retratada em suas características desfavoráveis, como o
aparecimento de doenças, a perda das habilidades físicas e motoras, a redução de memória, a
diminuição da capacidade de trabalho, entre outras.
Ao longo dos anos, essa imagem foi se alterando: até a década de 1930, nos comerciais
publicitários, a presença da pessoa idosa estava geralmente associada aos produtos farmacêuticos
ou de prevenção às doenças, a partir da década de 1950 esse indivíduo é retratado junto à família,
em anúncios de alimentação, cosméticos, mas sempre cumprindo papéis secundários, como na
função de avós - por exemplo - (ibidem; ROSS & HEALEY, 2002).
Já na década de 1990, o resultado das pesquisas, também realizadas EUA, reflete outra
constatação, em especial na forma de representação das pessoas idosas como ativas e
emancipadas (ROSS & HEALEY, 2002).
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FIGURA 12: imagem de propaganda publicitária de uma clínica de implantodontia e estética oral em Brasília-DF. Acervo pessoal do autor.
Conforme ilustram as peças publicitárias acima (Figura 12) e na página que se segue
(Figura 13), a imagem outrora negativa, foi substituída por uma mais saudável e ativa da
ancianidade: como motivo de tal mudança, percebe-se claramente que com o aumento
considerável do número de pessoas idosas mostrados nos dados demográficos e com o direito à
aposentadoria, a exclusão ou a representação negativa dessa categoria etária desconsiderava uma
parcela significativa de consumidores com poder aquisitivo e cada vez mais em ascensão no
mercado de consumo. Estes agora dispõem de tempo, saúde e recursos para consumir e realizar
atividades de lazer e com um diferencial; atividades específicas à categoria (ROSS & HEALEY,
2002).
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FIGURA 13: Pro-Age: beauty has no age limit, www.campaignforrealbeauty.com, Dove, 2008.
Dessa forma, uma série de produtos e serviços destinados a essa geração vem sendo
produzida para atendê-la, paralelo a isso a mídia mobiliza os recursos necessários para despertar
nessa categoria, a necessidade do consumo (ROSS & HEALEY, 2002).
Todavia, embora as discussões sobre o tema tenham se complexificado, duas
concepções distintas persistem sobre o envelhecimento (ibidem): a primeira, trata-se de uma
representação de uma situação de abandono, de incapacidade e pauperização da pessoa idosa,
concebida como estorvo e peso para a família. A segunda apresenta as pessoas idosas como
“joviais”, belas, capazes, com condição financeira e tempo disponível para o lazer.
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FIGURA 14: atriz brasileira Suzana Vieira, 65 anos. Desfile de carnaval da Escola de Samba Grande Rio. Rio de Janeiro-RJ, 2003. Acervo pessoal do autor.
É evidente que essa última imagem, especialmente ilustrada pela figura acima (Figura
14), é mais favorável ao Estado capitalista moderno e é esta concepção que a mídia reforça
atualmente: no espaço midiático, a pessoa idosa é incitada a adquirir novos hábitos para
manterem o corpo saudável e jovem, com participação social e valores modernos (ROSS &
HEALEY, 2002).
Para isso, um arsenal de produtos e serviços de rejuvenescimento, emagrecimento,
cosméticos, eletrodomésticos modernos, centros de lazer, agências específicas de turismo,
serviços bancários, e outros produtos são criados e direcionados ao consumo dessa geração:
talvez esse seja o estilo de vida artificialmente criado, baseando em Giddens (2002), que fecha
um “pacote específico de consumo” (p.183).
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E as pessoas idosas começam a ganhar espaço na programação televisa do Brasil; com
efeito utiliza-se - a título de ilustração - o folhetim eletrônico Mulheres Apaixonadas, de autoria
do escritor Manoel Carlos e exibida no horário das 20h00 pela Rede Globo de Televisão, no
período de fevereiro a outubro de 2003: a telenovela trata de uma obra de ficção que poderia se
passar na vida de qualquer pessoa, até mesmo pelo seu formato e facilidade de acesso aos seus
pontenciais consumidores (ALENCAR, 2002; BUCCI, 2000).
Junto ao processo de identificação ou mitificação dos personagens, o telespectador torna-
se capaz de vivenciar uma “realidade” exposta às angústias da vida, aos tormentos do destino e
às dúvidas que se escondem dentro de cada universo pessoal – principalmente o feminino –
explorando histórias limitadas ao círculo familiar, destacando as relações conjugais, de pais e
filhos, irmãos, entre outras (ibidem).
E, nessa direção, como não se recordar dos maus tratos da personagem da supracitada
telenovela (MULHERES Apaixonadas, 2003), a jovem Dóris - interpretada pela atriz brasileira
Regiane Alves -, com seus avós, que colocaram à época - que coincidiu com a publicação do
Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) - em debate uma discussão sobre o respeito à pessoa idosa?
O fato de o autor Manoel Carlos ter retratado em sua obra importantes temas da
sociedade, como o descaso à pessoa idosa, também justifica essa proximidade da telenovela ao
consumidor médio: no desenrolar da trama, os personagens Flora e Leopoldo - interpretados
pelos atores brasileiros Carmem Silva e Oswaldo Louzada, respectivamente -, visivelmente
rejeitados pela neta rebelde Dóris, levaram ao grande público uma polêmica discussão sobre a
violência social às pessoas idosas.
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Em certa medida, essa narrativa folhetinesca tornou possível trazer à baila uma
problemática emergente à sociedade brasileira e que, no entanto, vinha sendo negligenciada.
De outra parte, isso poderia significar uma inclusão responsiva, por meio do veículo
midiático mais consumido no Brasil - as telenovelas (ALENCAR, 2002) - do reconhecimento de
uma das etapas dos ciclos da vida cuja - ao que tudo indica - uma parcela majoritária das pessoas
irá atravessar.
E, atrizes como a brasileira Fernanda Montenegro mostram em seus trabalhos artísticos a
legitimidade de um envelhecimento ativo e bem-sucedido: ser uma pessoa idosa não mais
significaria doenças ou mesmo declínio social, ao contrário, pode até valer uma indicação de
melhor atriz ao prêmio da Academia de Cinema Estadunidense – o Oscar – (ibidem).
Por sua vez, nos programas de auditório, as pessoas idosas mostram porque vivem uma
nova forma de negociar o envelhecimento: Silvio Santos, Hebe Camargo e Raul Gil animam
cada vez mais suas platéias eletrônicas; o programa Tudo a Ver - da Rede Record de televisão -,
ainda sob comando dos jornalistas Patrícia Maldonado e Paulo Henique Amorim, tinha um
quadro dedicado exclusivamente aos brasileiros com mais de 60 anos.
O que pode se deduzir a partir desse novo cenário? Daqui alguns anos poderão ocorrer
programas dirigidos especialmente à esse público, à exemplo, presentemente, das atrações
dedicadas à população infantil e adolescente.
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As diversas mídias atuais de comunicação visual - especialmente os reality shows -
estimulam a transformação e incorporação dos estilos de vida e a construção e pluralização das
identidades: é o caso dos programas 10 Anos Mais Jovem e Esquadrão da Moda, ambos do canal
People + Arts, I Want a Famous Face e Missão MTV, ambos da MTV; Beleza Comprada, da
GNT, e Extreme Makeover, da Sony (KELLNER, 2006).
Em comum, o fato de todos esses programas explorarem a necessidade contemporânea
de atualizar continuamente o visual e as referências de cultura de corporal - muitas vezes,
submetendo seus participantes a cirurgias plásticas radicais e mudanças drásticas no “estilo
individual” -: alterar-se-ia o caráter ordinário da identidade quando se transforma o corpo em um
modelo para ser celebrado.
A beleza e a juventude tornar-se-iam status organizadores da vida pessoal, aquilo que lhe
daria sentido, auto-imagem, reconhecimento e o único referente que lhe permitiria a expressão
do sucesso e da realização pessoal.
A identidade corporal, portanto, tornar-se-ia a identidade pessoal. Mas, essa identidade
estaria sempre em xeque, uma vez que ela só admitiria como sucesso o excelente. Mas este
excelente teria gradações, e o padrão de ontem teria sido conquistado; se o indivíduo não fôsse
diariamente esse herói quebrador de recordes, ele não seria enxergado, reconhecido
(EHRENBERG, 1991).
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Portanto, os canais midiáticos sustentariam a possibilidade de todos serem heróis, desde
que todos assumissem a sua natureza esportiva de ganhador: o heroísmo seria socialmente
transmissível (EHRENBERG, 1991), a ação seria supervalorizada quanto mais rápido fôsse o
tempo em que tudo deveria se dar.
Segundo Ehrenberg (ibidem), não raramente, o “Narciso” que existe em cada um seria
chamado a se manifestar e assumiria o seu lugar de direito permanente: a desmedida, como
sendo a ultrapassagem do parâmetro, seria a medida de todos.
As mídias modernas parecem ter conseguido não apenas romper as barreiras do espaço
geográfico, multiplicando-se em um mercado sem limites, mas teriam derrubado as barreiras do
tempo. Ainda que a evolução tecnológica tenha nisso um importante papel e suporte, é a
mentalidade que fornece o núcleo e o motor da ação renovada sempre, num tempo que só existe
como relações múltiplas no presente (ibidem).
Essa excelência, contrariamente ao que tem sido alardeado como algo que só comporta
um lado positivo pode mascarar uma perversidade e uma força letal não apenas aos indivíduos,
mas à sociedade em seu conjunto.
Para tal, basta imaginar o que ocorre nos bastidores de preparação dos atletas olímpicos:
quando superar é só o que importa, os anabolizantes simbólicos não fazem a menor diferença,
pelo menos não no curto prazo que garante a medalha. Extrapole-se isso à arena competitiva da
imagem corporal (ibidem)!
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Ainda é verdade que, para o homem ocidental, envelhecer seria aproximar-se mais da
morte que da sabedoria (BAZO, 1996): essas mídias, porém, capitalizariam a idade de uma outra
forma. Elas seriam sinal de dinamismo, de sucesso, de potência, de reversão das dificuldades a
seu favor, de poder mergulhar na fonte da juventude, fazendo as cirurgias plásticas “necessárias”
via incorporação de novas técnicas, novos processos e novas práticas - raramente criticados à
medida adequada -.
É quase como se a sociedade tivesse descoberto a fórmula da imortalidade. Seria preciso
negar a morte, seria necessário ser jovem para sempre: a necessidade transformada em qualidade,
em virtude, criando exigências cada vez mais acentuadas de agilidade, rapidez e força, como
oponentes declarados à vetustez e seu cenário de impossibilidades (EHRENBERG, 1991).
O pensar, o refletir com realidade à respeito das (im)possibilidades - e dos temores - de
mais essa etapa dos ciclos da vida seria suplantado pelo dinamismo das ofertas cada vez mais
atraentes produzidas pelos canais midiáticos:
“[...] Ceticismo é o fator fundamental para ter idéias, incluindo o progresso. Mas a nossa cultura está estagnada. ‘O mais você consome, menos você pensa’. Nós temos de questionar tudo. As pessoas precisam saber que toda vez que elas procuram uma palavra no dicionário, ou vêem pinturas em vez de revistas, elas estão resistindo a essas propagandas.” (WESTWOOD apud LOPEZ, 2008, p. 76)
Esse temor, possivelmente, originaria uma orientação de combate ao envelhecimento por
meio da busca da dilatação do tempo de vida e de juventude: com efeito trata-se de encontrar
fórmulas como o elixir da juventude para “vencer” a velhice, símbolo do fim de cada ser humano
- como muito bem representado, a seguir, pela capa da revista brasileira de publicação semanal
Época (grifo do autor), em 28 de abril de 2008 (Figura 15) -.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Figura 15: capa da revista brasileira de publicação semanal Época, em 28 de abril de 2008.Acervo pessoal do autor.
Um dos motivos que tornam a velhice um fantasma é o medo das restrições impostas pelo envelhecimento. O corpo começa a dar sinais de cansaço. A pele perde o viço. O cerébro murcha. Aos 50 anos, o encéfalo pesa em média 1,3 quilo. Quinze anos depois, costuma ter 200 gramas a menos. O sistema nervoso fica mais lento. A massa muscular diminui. A gordura aumenta. Apesar dos avanços da Medicina, que tem contribuído para o aumento da expectativa de vida, a ciência está muito longe de descobrir uma pílula da juventude [...] (RUBERTI, MELO & FRUTUOSO, 2008, p. 70)
Ao apreciar a capa de revista acima (Figura 15), o que se observa é que a construção das
imagens dominantes – positivas ou negativas – sobre a velhice, não têm uma relação exclusiva
com o processo físico de envelhecimento, mas sim, com o contexto comercial e publicitário: o
mesmo corpo envelhecido pode ter representações totalmente diferentes. Portanto, poder-se-ia
afirmar que a velhice, muito mais do que um conceito biológico, seria uma construção social
(BAZO, 1996).
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No entanto, embora indiscutível em seu aspecto biológico, em alguns momentos a pessoa
idosa é sinônimo de doença e incapacidade. Em outros, transforma-se em sábia, experiente e
capaz (DEBERT, 1994). Imagens antagônicas: conceitos diferenciados, em sua grande maioria,
legitimados pelo conhecimento científico (VINCENT, 2007).
Portanto, moldar a cenografia do corpo em torno da juventude e da beleza passa ser o
objetivo comercial de toda uma indústria: o valor na bolsa de valores das ações da L’Oréal, o
maior conglomerado de empresas cosméticas do mundo, é 3 vezes maior do que o da General
Motors - o maior fabricante de automóveis (ABIHPEC, 2007) -.
O volume de vendas da indústria da beleza em todo o planeta movimenta em torno de
U$180.000.000,00: é o setor da indústria que cresce mais que o dobro do resto. Os
estadunidenses gastam anualmente mais dinheiro em estética que em educação; no ano de 2004,
a L’Oréal obteve um volume de vendas de €14.500.000.000,00 com ganhos livres que chegaram
a €2.100.000.000,00 (ibidem).
Na Indía, a venda de cosméticos antiidade aumenta 40% a cada ano e no Brasil existem
mais Avon Ladies - 900 mil mulheres - que homens e mulheres oficialmente registrados nas
forças armadas daquele país (KAY, 2005).
De acordo com Allen (1981) e Kay (2005), o mercado de produção da tecnologia da
beleza pode ser caracterizado como um oligopsônio, ou seja, muitos “vendedores” e poucos
“compradores”.
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Mas, daí, pergunta-se? Poucos compradores? Sim, considerando que se deseja possuir um
corpo belo, entretanto, de fato, mesmo com o crescimento vertiginoso da indústria da beleza, o
volume de reais compradores – aqueles que concretamente efetivam a compra dessas tecnologias
– ainda é inferior à variedade e possibilidades de produtos ofertados e de novos entrantes
(SCRANTON, 2000).
Scranton (ibidem), por sua vez, afirma que a dinâmica desse setor se verifica pela tensão
entre os diversos atores que nele manifestam as suas diferentes lógicas: a de mercado - dos
fornecedores de insumos e da população, como consumidor final -, a técnica - dos profissionais
da assistência - e da sociedade - que busca alinhar os gastos com a estética, beleza e juventude à
progressão das suas possibilidades econômicas -.
Por isso, há também de se considerar que conflitos se instalam e a sua superação é um
processo igualmente dinâmico e envolve uma ampla interação de necessidades, obrigações e
interesses:
Os veículos midiáticos, por serem os agentes mediadores e estimuladores maiores; a
indústria de produção da tecnologia da beleza - de maior base cartelizada, multinacional e
globalizada - e fornecedores, que exercem grande pressão inflacionária, para a incorporação dos
seus produtos ou bens; os profissionais de saúde que operam a tecnologia da beleza, que muito
pressionam pela atualização da sua capacidade instalada, variedade de oferta de serviços e
atualização técnico-científica; e os consumidores finais, por exigirem, nem sempre com a
adequada informação e o necessário poder crítico ou de discernimento, o que se lhes apresenta
uma tecnologia muitas vezes já contestada e que urge ser criticada (ibidem).
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Assim, a garantia da incorporação de tecnologias da beleza que sejam seguras e que
efetivamente venham beneficiar os seus consumidores, harmonizando os diversos interesses
determinados pela lógica do mercado - incluem-se aí os veículos midiáticos -, profissional e
consumidor final, torna-se o grande desafio de um setor cujas diretrizes científicas e de benefício
social nem sempre estão muito claras.
Por exemplo: nas áreas de Cirurgia Plástica, Cosmetologia, Geriatria, Medicina
Antiidade, suplementos nutricionais e de equipamentos às atividades físicas de academias, o
papel que os pesquisadores em seus próprios laboratórios exercem como fornecedores à indústria
da beleza têm grande relevância e pode levá-la a ter uma expressiva vantagem competitiva, no
caso de uma descoberta excepcional (KAY, 2005).
O financiamento da pesquisa básica e a síntese química ou a produção biotecnológica
determinam os custos de obtenção da matéria-prima e de outros insumos, influindo nos custos
finais do produto (ibidem).
Dessa forma, segundo Kay (ibidem), em um setor altamente inovador como é o da
tecnologia da beleza, a rivalidade entre empresas influencia igualmente os custos e os preços,
como também os custos de competir em áreas como desenvolvimento de produto, propaganda e
esforço de venda.
A possibilidade de novos entrantes e a existência de substitutos delimitam a vantagem
competitiva e influi nos preços que essa indústria pode cobrar sobre seus produtos finais, muitas
vezes estabelecendo um teto para os mesmos – até mesmo caracterizando uma prática
cartelizada extremamente velada – (ibidem).
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A correlação dessas forças e a sua associação a barreiras de entrada - área de alta
tecnologia que requer investimentos complexos; novas descobertas; e dependência de normas
rigorosas de aprovação para a utilização - e de saída - regulamentação, contratos, estoques,
número de potenciais clientes que utilizarão essas tecnologias e de pesquisa clínico-tecnológica à
beleza e juventude - resultam na maior ou menor facilidade com que se dá a incorporação de
uma nova tecnologia ao mercado (SCRANTON, 2000).
Isso, sem contar com a influência da força de atuação dos veículos midiáticos,
principalmente quando ele é formador de opinião - e, portanto, exerce uma ação reguladora de
mercado -, co-financiador e possibilitador da incorporação de métodos tecnológicos nem sempre
criticados cientificamente: daí a incorporação acrítica dessas tecnologias (KAY, 2005).
Nisso, a força dos profissionais de saúde que trabalham diretamente a essas tecnologias -
também como reguladores dessa incorporação - passa a ter relevância máxima - tanto no sentido
de criticar uma incorporação técnico-cientificamente segura, como no de pressionar os
organismos governamentais no sentido da caracterização dos meios pelos quais se possa avaliar
adequadamente o impacto social e financeiro dessa incorporação - (ALLEN, 1981;
SCRANTON, 2000).
“[...] Você faz um trabalho de reciclagem, recicla pessoas, expande os seus negócios, que são produtos secundários de outros negócios. Outros negócios que, na realidade, são diretamente competitivos. Como se vê, trata-se de um procedimento operativo muito econômico.” (WARHOL apud ECO, 2007, p. 418)
Portanto, é interessante perceber que além da cultura, também por meio da economia, o
ser humano vê o mundo. Muitas vezes da interação cultura e economia o mundo passa a
depender em larga medida das convenções econômicas e sociais, variáveis de sociedade em
sociedade, de grupo para grupo, de tempo para tempo.
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Guita Debert (apud MOTTA, 1997) destaca:
“[...] dissociação da juventude e uma faixa etária específica e a transformação da juventude em um bem, um valor que pode ser conquistado em qualquer etapa da vida, através da adoção de formas de consumo e estilos de vida adequados.” (p. 123)
A supracitada autora (ibidem) aponta ainda uma dissociação entre a aposentadoria e a
velhice, marcando a aposentadoria não unicamente como meio de subsistência da pessoa idosa,
mas como recurso disponível para o lazer: a diversão.
A autora (ibidem) ressalta as implicações dessa dupla dissociação, entretanto, por hora
deve-se acrescentar que essas ideologias não condizem com a realidade de todos, primeiro
porque as atividades de lazer e serviços não são acessíveis à parcela majoritária de pessoas
idosas, e segundo porque a maioria dos aposentados brasileiros tem grandes despesas com
medicamentos, tratamentos e alimentação que demandam quase toda a renda, muitas vezes, esta
sequer cobre tais despesas (CAMARANO, 2001).
Ou seja, a imagem da pessoa idosa veiculada pela televisão está embasada no
conhecido discurso da qualidade de vida dos mais velhos, contudo, mas, por outro lado, não
constitui uma realidade para todos e seu objetivo concreto está em afirmar um mercado de
consumo em expansão, entretanto, apenas para aqueles que podem pagar pelos benefícios.
O novo estereótipo veiculado pelos meios de comunicação, da pessoa idosa ativa e de
espírito jovem atende mais a uma lógica do mercado de consumo do que a uma tentativa de
socialização do indivíduo idoso e de sua melhor qualidade de vida (VERAS, 1994).
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Esse fato gera algumas implicações no processo de socialização da pessoa idosa, por
um lado, a imagem do “velho jovem” capaz e ativo provoca certa frustração: pois é preciso
reconhecer que mesmo adotando um estilo de vida saudável com cuidados corporais, e a
manutenção de uma interação social, a pessoa idosa irá incondicionalmente se deparar com as
limitações próprias e inevitáveis do envelhecimento - e estas não são exclusivamente
“biofisiológicas”, mas principalmente socioeconômicas, culturais e transgeracionais - (VERAS,
1994).
Afora a “maquiagem” das imagens veiculadas pela mídia, por exemplo: na imagem da
velhice projetada à “categoria da terceira idade”, as demonstrações de um processo de
envelhecimento saudável assegurado por um estilo de vida adequado entram em contraste com o
que incide em idades mais avançadas (GERBNER, 1998).
“O sucesso surpreendente das iniciativas voltadas para a terceira idade é proporcional à precariedade dos mecanismos de que dispomos para lidar com os problemas da velhice avançada.” (DEBERT apud MOTTA, 1997, p 126)
Uma conseqüência dessa nova imagem do “velho jovem”, bem explicitada por Debert
(ibidem), é o que ela denominou de “reprivatização da velhice”, transformando-a em uma
responsabilidade individual, o que por sua vez tende a desobrigar o Estado da elaboração e
manutenção de políticas sociais.
“Engolidos pelas concepções autopreservacionistas do corpo, os Gerontólogos têm agora como tarefa encorajar os indivíduos a adotarem estratégias instrumentais para combater a deteriorização e a decadência. Afinados com a burocracia estatal, que procura reduzir os custos com a saúde educando o público para evitar a negligência corporal, os Gerontólogos abrem também novos mercados para a indústria voltada para o rejuvenescimento.” (p 127-128)
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Outro fator crucial negligenciado pelas produções midiáticas é o lugar da pessoa idosa
na família e no contexto social: após a aposentadoria, o indivíduo idoso exerce uma função
própria no convívio familiar, seja como provedor parcial e mesmo total da renda ou
simplesmente de avós, sobrando pouco tempo ou recursos para atividades de lazer e diversão
(CAMARANO, 2001).
Os que disponibilizam desses benefícios representam uma parcela específica da
sociedade. Para aqueles que não têm acesso a atividades de lazer e até mesmo a uma alimentação
adequada está reservado o lugar de exclusão e abandono (ibidem; DEBERT apud MOTTA,
1997). E de acordo com a autora (1999):
“[...] transformações relevantes ocorridas no curso da vida explicam as novas formas de gestão da velhice e as novas imagens do envelhecimento. As idades, são tidas como mecanismos privilegiados na criação de atores políticos e na definição de mercados de consumo.” (p. 48).
Da Imagem Sexual
Dentre os sinais mais manifestantes do envelhecimento corporal, a “sexualidade é
dimensão ontológica que se manifesta na corporeidade, expressa a maneira de ser e de estar no
mundo mediante o Eros que permeiam o cotidiano humano” (LABRONICI, 2002, p. 19): é uma
característica humana que não se perde com o tempo, mas vai se desenhando, conforme a
história vivenciada pelo corpo vivente em sua trajetória existencial.
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A sexualidade do ser humano foi, é e continua sendo palco de discussões, interpretações e
visões multifacetadas. No envelhecimento essa necessidade básica do sujeito enfrenta muitos
preconceitos socioculturais, construídos de forma atávica a partir de heranças da civilização, em
que as suas normas e dogmas rígidos de comportamento discriminam a pessoa idosa
(KOLONDY, MASTERS & JOHNSON, 1982).
Na velhice, as mudanças hormonais e físicas decorrentes do processo de envelhecimento,
não necessariamente ocasionariam a diminuição da libido, motivo pelo qual a pessoa idosa teria
a sua sexualidade contemplada nessa dimensão. Isso significaria que, apesar das mudanças nos
padrões de resposta sexual entre homens e mulheres durante a trajetória existencial, eles
permaneceriam presentes (ibidem).
Essa compreensão é corroborada por Capodieci (2000) ao afirmar que não existem,
excluindo casos claramente patológicos, “obstáculos fisiológicos para uma normal atividade
sexual nos indivíduos que passam dos 60 anos de idade” (p. 12): no que se refere à
temporalidade, parece apontar para o limite da existência humana mais rapidamente, visto que o
kronos, ou seja, o tempo cronológico torna-se fator determinante à deterioração do corpo em sua
totalidade (LOPES & MAIA apud SÁ, PASSOS & KALIL, 2000).
Por esse motivo não se deve preocupar com ele, porquanto, o tempo mais importante no
processo de envelhecimento é o kairos (ibidem), isto é, o tempo vivido que a cada amanhecer
aponta para uma multiplicidade de possibilidades, transformando a existência em uma grande
tela plena de significados que serão armazenados no corpo que é “memória que guarda, retrata,
conta e faz história”, uma vez que vivencia e experiencia o ser e o estar no mundo
(LABRONICI, 2002, p. 20).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Destarte, o tempo gera desgaste natural do corpo, porquanto são 24 horas por dia o
coração batendo, o pulmão inspirando oxigênio e expirando gás carbônico, milhares de células
morrendo e se renovando, o cérebro funcionando, e assim por diante. Isso faz com que o corpo
jamais seja como ontem - o aqui e agora se configuram como uma sucessão de momentos únicos,
singulares que desencadeiam uma multiplicidade de ações e reações - (LABRONICI, 2002).
Todas as transformações que acontecem no corpo afetam a sua multidimensionalidade, e,
nesse sentido, pode-se pensar nos mitos e preconceitos que permeiam a afetividade e sexualidade
da pessoa idosa, visto que ela, no senso comum, parece estar em declínio ou ser inexistente, e até
mesmo sem função (ibidem).
Historicamente, a compreensão da sexualidade esteve e está centrada na concepção
reprodutiva. Esta concepção não só limita a sexualidade como também a desvaloriza. É
interessante lembrar que, historicamente, a desvalorização da sexualidade inicia-se com a igreja
cristã que considerava o ato sexual vergonhoso conquanto uma prática não reprodutiva. É nesta
concepção que a sexualidade da pessoa idosa se construiu (SANTOS, 2003).
Esses aspectos determinam uma equivalência que necessariamente pode não existir, ou
seja, com a diminuição ou perda da função reprodutiva, também declina a necessidade sexual,
como se a presença do sexo fôsse somente com o objetivo de procriação.
Outro fator que se soma a essa visão está relacionado aos preconceitos que parecem negar
ou condenar a existência da sexualidade, da sensualidade e do afeto nas pessoas idosas
certamente reforçando, assim, a manutenção de tabus.
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Essa seria a razão pela qual a pessoa idosa carregaria o peso da discriminação devido à
existência da construção social de estereótipos assexuados representando o envelhecimento, de
maneira que, o exercício dos relacionamentos afetivos e sexuais tornar-se-ia prejudicado e de
alguma forma reprimido, criando dificuldades em perceber e permitir o exercício da sexualidade
após o período de procriação (RISMAN, 2005).
Por vezes, o preconceito permitiria o entendimento de que a andropausa e a menopausa
seriam os responsáveis pelas dificuldades sexuais, o que impediria de perceber que a sexualidade
da pessoa idosa está além das limitações físicas (ibidem).
Esse impedimento surgiria em nível psicológico e social, e, de certa forma, o preconceito
que habita os jovens ao refutarem a sexualidade do indivíduo idoso, também poderia ser
encontrado neles mesmos acerca de sua própria sexualidade (SANTOS, 2003).
Fica explícito, pelo exposto, que a sexualidade não se limita apenas à reação aos
estímulos eróticos (VIEIRA, 2004); ela ultrapassa o ato sexual, uma vez que inclui o amor, o
carinho, a troca de palavras, o toque, o compartilhar entre as pessoas que se expressam e se
percebem como homens ou mulheres (ELIOPOULOS, 2005), independente da imagem
apresentada, da “tatuagem” feita pela postura, pelo tempo e apresentada pelo cabelo grisalho,
pelas rugas, e outras alterações decorrentes do processo de envelhecimento.
Assim, compreende-se que sexualidade é dimensão humana que está presente em toda a
trajetória existencial, podendo ser vivenciada de diferentes maneiras em cada momento,
manifestando-se mediante a expressão do corpo, ou seja, da corporeidade.
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Todavia, entende-se que a sexualidade não se restringiria à relação sexual per si, mas
envolve muito mais do que uma penetração; estabelece-se na união de dois seres que possuem
afinidades, desejos, e sentimentos semelhantes em qualquer fase do desenvolvimento do ser
humano.
Nesse sentido, o que se percebe é que a pessoa idosa não perde a sexualidade, mas a
redescobre, e nessa perspectiva devem-se olhar as possibilidades criativas construídas pelo corpo
vivido (SANTOS, 2003).
Isso significa percebê-la de outra forma, e esse novo olhar possibilita o vivenciar da
sexualidade de uma maneira diferente, uma vez que se manifesta na corporeidade que é a
expressão do corpo, motivo pelo qual é fundamental compreendê-lo como “primeiro e único
lugar da experiência humana”, a fonte de todos os desejos ou Eros (LABRONICI, 2002, p. 20).
A sexualidade humana é considerada por muitos estudiosos e pesquisadores um
importante campo da experiência humana, porém se revela cheia de mitos e preconceitos. Os
mitos têm servido para criar uma aura de mistério em torno da experiência sexual humana,
contribuindo para a ignorância e interpretações errôneas (PEASE, 2000).
Atualmente, os aspectos relativos à sexualidade da pessoa idosa começam a ser
enfrentados de forma menos preconceituosa, mais tolerada pela família e pela sociedade. O fato
de o Brasil não ser mais um país só de jovens e de vivenciar um maior índice de sobrevivência
(VERAS, 1994), parece que fortaleceram os condicionadores sociais para ampliar a compreensão
de que as pessoas idosas necessitam ser sujeitos e donos de sua própria vontade com escolhas e
desejos (SANTOS, 2003).
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Daí, para a manutenção das atividades sexuais, o corpo dessas pessoas idosas deveria ser
exibido à luz da perfeição estética: nos processos de interlocução relacional para fins sexuais,
nota-se a reprodução de estereótipos presentes que atuam para objetificar tanto o corpo, quanto o
próprio ato sexual (PEASE, 2000).
O que se percebe é que essas formas de trocas relacionais dadas no universo do sexo têm
a função específica de transformar o corpo em objeto a ser apreciado, mesmo que se trate de um
corpo apenas visto/descrito e não tocado (ibidem): a liberdade sexual do corpo é uma conquista
da democracia e dos direitos individuais.
A questão complicadora é que essa liberdade corporal, sexual, foi convertida em
indústria. Portanto, deixou de ser liberdade. Nem libertinagem poderia ser considerada, e a
indústria da exploração do corpo sexualmente desejado é impositiva: numa única palavra,
poderia ser considerada opressora. O escancaramento das ofertas eróticas, em escala industrial,
reprime (ibidem).
O indivíduo pode recorrer a ela para fugir às precariedades das suas relações sociais, mas
não pode fugir à extrema violência que está contida na própria sexualidade industrializada: como
instruem as ciências comportamentais, a sexualidade é uma moeda de troca nas relações
humanas (ABDO, 2000; MCMAHON, ABDO, INCROCCI, PERELMAN, ROWLAND,
WALDINGER & XIN, 2004): esse desejo sexual consumido em privado, e impressivamente às
pessoas idosas, não seria outra coisa senão o avesso do terror sentido diante da dimensão pública
de si mesmos, ou ainda, da vergonha frente ao próprio corpo, de um corpo que coletivamente não
satisfaria, não se enquadraria esteticamente (JENSEN, 2007).
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O corpo seria convidado a produzir, consumir e buscar conforto que ao mesmo tempo em
que lhe daria prazer o distanciaria cada vez mais dos outros corpos. Não haveria mais sentimento
de solidariedade, uma vez que o corpo estaria totalmente voltado às necessidades e prazeres de
sua cenografia estético-corporal (JENSEN, 2007).
Nisso, ao se associar à beleza e à juventude adquirir-se-ia uma sensação de bem
aventurança, sucesso, e até de felicidade que beiraria a euforia. Daí, alguns indivíduos não tão
belos, e até feios, além de velhos, procurarem por pares portadores de uma idade juvenil e de
uma beleza sexualmente extrema: ainda que a outra parte, impressivamente “bela” e “jovem”,
seja mais assediada e até mesmo deixe a relação fragilizada em razão da possibilidade de surgir
uma nova parte interessada e que atrairia este exemplar “belíssimo” e “juvenil”, a parte “feia” e
“velha” preferiria correr o risco da perda do objeto de “beleza” e de “juventude” - de “desejo” -
do que nunca ter tido a sensação de possuí-los (ZAHAVI, 1997).
Karl Marx em seus Manuscritos econômico-filosóficos, em 1884, aponta essa polêmica
de modo provocante:
“O dinheiro, na medida em que possui propriedade de comprar tudo, de apropriar-se de todos os objetos, é o objeto em sentido eminente... Logo, minha força será tão grande quanto maior for a força do meu dinheiro... O que sou e posso não é, portanto, efetivamente determinado pela minha individualidade. Sou feio, mas posso comprar a mais bela entre as mulheres. Logo, não sou feio, na medida em que o efeito da feiúra, seu poder desencorajador, é anulado pelo dinheiro. Sou, como o indivíduo, manco, mas o dinheiro me dá vinte e quatro pernas: donde não sou manco... Meu dinheiro não transforma todas as minhas deficiências em contrário?” (apud ECO, 2007, p. 12)
A bem da verdade, segundo Zahavi (1997), o sentimento de posse do outro, nesse caso,
significaria um sentimento de posse da “beleza-juventude” do outro, que ao despertar desejo,
atração, inveja, cobiça estaria, também, despertando todos estes sentimentos na parte “feia-
velha”.
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Ou seja, a parte “feia-velha” passaria a perceber as mesmas sensações bem-sucedidas
despertadas pela “bela-jovem”, além de se sentir mais integrado em seu meio ambiente, afinal, o
“feio-velho” passaria a ser notado em razão de ter conseguido absorver o “belo-jovem”. Mesmo
que esta “beleza-juventude” significasse, em algum tempo, a ruína completa da parte “feia-
velha”: caracterizar-se-ia, contudo, uma atração sexual absurdamente cara, em todos os sentidos
(ZAHAVI, 1997).
Desse princípio sacar-se-ia uma teoria que inicialmente parece uma trivialidade: nos
termos de uma valoração subjetiva, o “belo-jovem” portaria um preço. Sem dúvida, se chegar às
últimas conseqüências desta hipótese, encontrar-se-ia algo que somente seria deflagrado em
situações de completo aleijamento - ou ausência - da beleza e da juventude: a morte.
Em muitas espécies, os machos mais esplêndidos são os que vivem menos tempo. O
preço de uma descendência numerosa parece significar uma vida mais curta: em um estudo
realizado, uma amostra de grilos campeiros foi alimentada com um concentrado especialmente
rico em proteínas. Surpreendentemente, apenas as fêmeas alimentadas por este preparado
viveram mais. A vida dos machos, ao contrário, foi claramente mais curta, e durante a fase
adulta, possivelmente condicionados pela testosterona, gastaram tanta energia a cantar que
literalmente perderam o alimento (CRONIN, 1991).
O Homo Sapiens não é uma exceção: o fato que o homem viva aproximadamente uma
década a menos que a mulher, dentre inúmeros elementos, se deve também aos hormônios
sexuais (ibidem; RIDLEY, 2000). Os eunucos, por exemplo, têm a mesma expectativa de vida
das mulheres (BUSS, 2003). É dizer que o homem é uma vítima de uma obrigação
geneticamente pré-determinada: a de seduzir e competir (ZAHAVI, 1997).
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Todavia, não importa, a grande maioria procuraria um gozo que faria esquecer a sua auto-
insatisfação, que saciaria e, mais que isso, que aplacaria os sentidos: de um lado o desejo, de
outro a moral, no entanto, o “fiel da balança” às relações sexuais poderia ser o corpo, mesmo
envelhecido, mas, sobretudo, lascivo e erotizado (DEBORD, 2000; HOLMLUND, 2001;
YEHYA, 2004).
Dos Direitos Contemporâneos À Uma Imagem Sociopoliticamente Incluída
Quanto às implicações no processo de envelhecimento individual, a problemática
incidiria sobre dois aspectos:
i. Primeiro, como já mencionado, esse fenômeno conceberia os problemas do
envelhecimento como responsabilidade individual, ou seja, as limitações adquiridas
com a velhice seriam tidas como resultado de negligência da própria pessoa, por não
ter adotado um estilo de vida saudável: seria negado dessa forma, o direito de
envelhecer;
ii. Segundo, essa representação acarretaria uma disparidade entre as classes sociais,
relegando às pessoas idosas de classe menos abastadas a condição de excluídas,
negligenciadas e condenadas ao isolamento social.
Destarte, fazer-se-ia necessária uma apreensão do envelhecimento de maneira mais
adequada à imagem dessa faixa geracional, ou seja, um processo comum a todos, marcado por
outras limitações e mudanças, porém, propício a novas conquistas.
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O envelhecimento da população é uma aspiração natural de qualquer sociedade, mas não
basta per si. Viver mais é importante desde que se consiga agregar qualidade aos anos adicionais
de vida (COLLECTIFE, 2004). Sabe-se que a cultura, bem como as condições de vida, são
influências importantes na experiência do envelhecimento. Elas afetam as percepções da velhice,
os sentimentos de papéis, direitos e responsabilidades, assim como o sistema de cuidado e apoio
às pessoas idosas (SANTOS, 2003).
No entanto, não é exatamente essa realidade que se abre à população de indivíduos
idosos: em países como o Brasil, repletos de limitações sociais derivadas do subdesenvolvimento
e de necessidades cada vez maiores, não raramente as atenções são voltadas à solução de
problemas imediatos (CAMARANO, 2001). Assim, determinados setores da população, como as
pessoas idosas, sofrem pelo abandono e pelas carências (CALDAS, 2003).
Ou quando são lembradas pelos discursos das políticas sociais aparecem como regulações
estatutárias, cartoriais, cuja finalidade é exclusivamente oferecer à sociedade uma imagem de
que o Estado é sim inclusivo e não esquece de nenhum de seus tutelados (ibidem). Caso
exemplar do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003): este documento - sancionado pelo Presidente da
República no ano de 2003 - tramitou durante 6 anos pelas casas do Congresso Nacional.
Seus preceitos, como amplamente divulgado pela mídia, revelam um característico
cuidado protetivo no afã de resgatar o direito à cidadania nacional àqueles com mais de 60 anos
de idade, cuja situação na tradição cultural brasileira é assinalada por um aviltamento maciço,
seja na mísera aposentadoria, na falta de moradia, nas dificuldades de transportes e
principalmente no atendimento Médico-Hospitalar (ibidem; CAMARGOS, MENDONÇA &
VIANA, 2006).
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O que se pretende realçar com tais considerações preambulares é o seguinte: seria
merecida a comemoração de uma Lei que, no plano dos fatos, só corroboraria o desapreço pela
população e pelo próprio legislador, ao texto constitucional? Bem verdade, situações como esta
só ratificariam um fenômeno já identificado por teóricos como “desvalorização da constituição”
ou “erosão da consciência constitucional” (LOEWENSTEIN, 1970; LASSALE, 1933).
Foi preciso que uma Lei, com força jurídica inferior à do texto constitucional, seja
promulgada para que, somente então, se anime o cidadão ao exercício de direitos que de há
muito já estão incorporados ao seu patrimônio jurídico?
De toda sorte, urge que o Estado e a sociedade voltem seus olhos às pessoas idosas, não
para mirá-las com piedade, mas objetivando assegurar-lhes direitos e faculdades condizentes
com a fase existencial em que se encontram. Para tanto, as mudanças legislativas que superam
eventuais incompreensões e removem obstáculos são sempre bem vindas.
Nesse sentido, a concreção de um Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) é um passo
importante: se as normas per si não alteram a realidade, ao menos a sua existência facilita as
transformações. Resta saber se, efetivamente, o seu cumprimento será fiscalizado pelo Poder
Público e pela sociedade e, principalmente, se os serviços públicos e privados passarão a dar
atendimento eficiente à população alvejada pela Lei (CAMARGOS, MENDONÇA & VIANA,
2006).
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De Um Redimensionamento À Imagem Da Pessoa Idosa
De outra parte, no âmbito acadêmico, infelizmente um dos sintomas de negligência à
população de pessoas idosas é o escasso conhecimento que se tem de sua realidade
comportamental, de sua subjetividade e da percepção que elas têm de si mesmas e do mundo
onde vivem. A maioria dos estudos relacionados a essa parcela populacional aborda aspectos
demográficos, socioeconômicos, de seguridade social e de saúde física, deixando de lado a saúde
emocional e os sentimentos que acompanham o envelhecimento (GUERRA & RAMOS-
CERQUEIRA, 2007).
Assim, torna-se imprescindível a compreensão do envelhecimento e as práticas sociais
dirigidas para uma melhor qualidade de vida física e mental da pessoa idosa.
É fundamental que as pessoas em geral, e os profissionais de saúde em especial,
compreendam o processo de envelhecimento e suas peculiaridades de forma a direcionarem seus
esforços para elaboração de ações que favoreçam a construção de um futuro digno e humano
para essa parcela da população.
Nesse contexto, patenteia-se a importância do planejamento de estratégias que visem uma
assistência mais adequada às necessidades próprias dessa faixa etária, e que possam impactar em
resultados efetivos e concretos em termos de produção de saúde a esse grupo.
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É relevante, de toda sorte, desenvolver uma visão crítica desse processo para saber
identificar os signos que retratam o envelhecimento apenas como um novo mercado de consumo,
pois a questão é bem mais complexa: o envelhecimento da população traz implicações de
grandes dimensões e problemáticas ligadas à Economia, à Gerontologia e, sobretudo, às formas
de sociabilidade transgeracionais.
E, neste estudo, essa visão crítica toma concretude por meio da apreensão de uma
discussão que trata da relação da pessoa idosa, especialmente das mulheres, com seu corpo, sua
imagem e sua autopercepção: o processo de envelhecimento permite ao corpo vivido um
momento de reflexão, no qual se pode ir em busca de um sentido individual à existência, o que
possibilita à velhice um renascimento.
Entretanto, a percepção que se tem de corpo inspira-se naquilo que sabidamente
desenvolveu-se e realizou-se no conjunto das experiências anteriores de cada qual, ou seja, a
pessoa que sabe envelhecer bem aprende a escutar o corpo e o mundo, compreendendo seus
próprios recursos (CAPODIECI, 2000).
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‐ 159 ‐
CAPÍTULO III
DA EFETIVAÇÃO DO CAMPO: SEUS RESULTADOS E SUAS DISCUSSÕES
FIGURA 16: The Max Factor Beauty Calibrator - 1932 - (EASTON, 2004, p. 863).
[…] Said to be able to measure good looks to the hundredth of an inch. (ibidem)
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‐ 160 ‐
Os resultados são aqui apresentados concomitantemente à discussão, iniciando-se pelo
perfil socioeconômico e de morbidade da etapa quantitativa - os sujeitos investigados - e
baralhados ao debate qualitativo - os sujeitos em cena -.
Para facilitar a compreensão dos resultados e discussões do presente estudo, este capítulo
foi subdividido nas seguintes seções:
a) Características sociodemográficas - idade, estado civil, arranjo familiar,
escolaridade, situação ocupacional e nível socioeconômico -;
b) Caracterização da autopercepção de estado geral de saúde;
c) Caracterização da autopercepção da imagem corporal;
Das Características Sociodemográficas
A amostra do estudo foi composta por 60 mulheres idosas inscritas em um programa de
promoção da saúde de uma operadora de atenção suplementar em Brasília-DF. As características
sociodemográficas são apresentadas, a seguir, na Tabela 1 e compreendem: idade, estado civil,
arranjo familiar, escolaridade, situação ocupacional, nível socioeconômico e renda familiar.
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Tabela 1: Variáveis sociodemográficas da amostra estudada.
Variável % N Faixa Etária — 60-64 anos 60,7 36 65-69 anos 24,3 16 70-72 anos 15,0 08 Estado Civil — Solteira 15,0 09 Casada/vivendo com parceiro 20,0 12 Viúva 53,0 32 Divorciada ou separada/desquitada 12,0 07 Pessoas na Mesma Residência — Mora só 38,1 23 Só o cônjuge 10,2 06 +filhos 27,2 16 + netos 13,6 08 Residência fixa em Instituições de Longa Permanência - ILP - 00 00 Outros 10,9 07 Escolaridade — Fundamental Incompleto 0 0 Fundamental Completo/Médio Incompleto 1,0 01 Médio Completo/Superior Incompleto 5,0 03 Superior Completo 84,0 50 Pós-Graduação 10,0 06 Ocupação — Aposentada, mas trabalha 30 24 Só aposentada - por instituições governamentais - 60 36 Só aposentada - por outras instituições - 00 00 Só dona de casa 00 00 Pensionista 58 35 Classe Econômica (ANEP) — A 68,8 41 B 25 15 C 6,2 04 Renda Familiar — Até um salário 00 00 1,1 – 3 salários 00 00 3,1 – 5 salários 10,0 06 5,1 – 10 salários 30,7 18 10,1 – 30 salários 60,3 36 Não sabem/não responderam 00 00
A média de idade das mulheres foi de 66,66 anos (Desvio Padrão=4,0), com idade
variando de 60 a 72 anos.
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‐ 162 ‐
A maior concentração de mulheres, em termos de faixa etária, ocorreu entre 60 e 64 anos
(60,7%), consideradas pessoas idosas jovens (VERAS, 1994), seguida de 65 a 69 anos (24,3%).
De acordo com os Indicadores Sociais do IBGE (2001), a população de indivíduos idosos
brasileiros na faixa etária de 60 a 69 anos representa 50% das pessoas idosas e os outros 50% são
representados por sujeitos acima de 70 anos. No presente estudo, 90,0% das mulheres estão na
faixa etária de 60 a 69 anos, e 10,0% estão acima de 70 anos. Em Brasília-DF, as mulheres
idosas entre 60 e 72 anos de idade - faixa de anos correspondente à amostra pesquisada -, perfaz
5% do total de residentes naquela cidade (Secretaria de Estado de Planejamento do Distrito
Federal - SEPLAN -, 2008).
Quando relativizada ao universo amostral: o conjunto de pesquisadas corresponde à
apenas 0,60% do total de mulheres idosas brasilienses na faixa dos 60 aos 72 anos de idade; e,
por sua vez representa 0,29% da população global de homens e mulheres - de 00–80 e mais anos
de vida - em Brasília-DF (ibidem). Entre as mulheres idosas do presente estudo observou-se uma
predominância de viúvas (53,0%), seguidas de casadas (20,0%), depois das solteiras (15,0%) e,
em último, das divorciadas/separadas (12,0%). Essa elevada prevalência de mulheres idosas e
viúvas também foram verificadas em diferentes Regiões Administrativas brasileiras, quais sejam:
Na Região Sul, no perfil da pessoa idosa de Florianópolis, em Santa Catarina-SC, a
prevalência foi de 47,5% de mulheres (BENEDETTI, PETROSKI & GONÇALVES, 2004); na
Região Sudeste, 42,6% na pesquisa realizada no estado de São Paulo-SP pelo projeto SABE -
Saúde, Bem-estar e Envelhecimento (LEBRÃO, 2003) -; e na Região Nordeste, Barreto,
Carvalho, Falcão, Lessa & Leite (2003) constataram uma prevalência no município de Recife, no
estado de Pernambuco-PE, de 44,5%.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Em média, a mulher idosa brasileira de hoje nasceu até o final da década de 1930, e nesse
período a participação dela em atividades fora do lar era pouco freqüente, por isto supõe-se que
ficou preservada de muitas doenças que afetaram os homens - determinando uma maior taxa de
mortalidade na população masculina - (HERÉDIA apud STREY, MATTOS, FENSTERSEIFER
& WERBA, 2000).
Como afirma Mattos apud Strey, Mattos, Fensterseifer & Werba (2000), a mulher possui
uma expectativa de vida maior. Bem como o status de viuvez pertence majoritariamente às
mulheres, não apenas por viverem mais, mas também pelo fato de que os homens, ao
enviuvarem, logo se associam a uma nova companheira. Em relação ao arranjo familiar:
verificou-se um percentual razoável de mulheres idosas que residiam em domicílios
multigeracionais, especificamente trigeracionais - avós, filhos e netos -, 14,0% das pesquisadas
relataram morar na mesma residência que os netos, e 27,2% das mulheres idosas com os filhos.
Esse tipo de arranjo domiciliar multigeracional é um aspecto marcante da estrutura
familiar de países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, verificado principalmente na
população que apresenta condições socioeconômicas mais precárias (VERAS, 1994; COELHO-
FILHO & RAMOS, 1999; FELICIANO, MORAES & FREITAS, 2004; RAMOS, 2003).
Observa-se, ainda, que a residência fixa em Instituições de Longa Permanência - ILPs -
não foi referida pelas pesquisadas: além das questões financeiras, as pessoas idosas ainda sofrem
com questões básicas como solidariedade e dificuldade de inserção social; e, entender-se-ia que a
família, por sua posição nuclear, teria a obrigação de cuidar de seus entes idosos (BELO, 1990;
CAMARGOS, MENDONÇA & VIANA, 2006).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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De pronto, a residência fixa em ILPs deveria ocorrer exclusivamente no caso de completa
ausência de parentes ou como medida preventiva para garantir a sobrevivência da pessoa idosa
(CAMARGOS, MENDONÇA & VIANA, 2006). De acordo com Souza (2008): atualmente, no
Brasil, 1% dessas pessoas vivem em ILPs. Em 2003, cerca de 100 mil pessoas de um total de 2,2
milhões de pessoas idosas com dificuldades auditivas residiam nessas Instituições.
Cerca de 70% dessas ILPs foram abertas a partir dos anos 1980, sendo que cada
Instituição abriga em média 25 pessoas, com gasto per capita/mensal de R$ 600,00: a
multiplicação de estruturas asilares é conseqüência da inserção da mulher no mercado de
trabalho, o que ocasionou a diminuição do apoio assistencial oferecido pelas famílias aos seus
entes idosos (ibidem).
A idade predominante das pessoass idosas residentes nessas ILPs é de mais de 80 anos - o
que correspondeu a 30% do universo de pesquisados -, e cabe destacar o número expressivo de
14% de pessoas idosas consideradas inválidas (ibidem).
Da dimensão do genêro: na Região Sul, 60% dos internos são mulheres - à exemplo do
resto do mundo -, diferentemente das Regiões Centro-Oeste e Norte onde 60% dos residentes são
homens e procedentes de outras regiões brasileiras (ibidem).
Entretanto, nesta dissertação, um número expressivo de mulheres idosas relatou residir
solitariamente. Este dado, de certa forma, corrobora um cenário bem distante do brasileiro, o
correspondente aos países desenvolvidos: a exemplo do Canadá, 38% das pessoas idosas daquele
país vivem sozinhas (PLOUFFE, 2003; VERAS, 1994).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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A caracterização desse comportamento na amostra pesquisada pode se dar em razão das
mulheres idosas integrantes do estudo residirem em uma cidade de grande porte, uma Cidade-
Estado e Capital Federal, e que possui um nível socioeconômico razoavelmente alto quando
comparado ao restante do conjunto nacional - doravante, parceladamente, essa questão será
tratada de forma mais detalhada -: cabe ressaltar como componente inicial à reflexão do contexto
distrital o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH - de Brasília-DF de 0,936 contra uma
média nacional de 0,606 (SEPLAN, 2008).
O IDH é a síntese de quatro indicadores: PIB - Produto Interno Bruto - per capita,
expectativa de vida, taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa de
matrícula bruta nos três níveis de ensino - relação entre a população em idade escolar e o número
de pessoas matriculadas no ensino fundamental, médio e superior - (WATKINS, 2006).
Quando analisado o nível de escolaridade das mulheres idosas: observou-se um alto
índice, onde 84,0% (n=50) das pesquisadas eram portadoras de educação superior; 10,0% (n=06)
possuiam Pós-Graduação; 5,0% (n=3) cursaram o Ensino Médio Completo e apenas 1,0% (n=1)
possuía exclusivamente o Ensino Fundamental Completo.
Esses dados conflitam com os baixos índices de escolaridade evidenciados das pessoas
idosas brasileiras em outros estudos realizados: no estudo de Soares (2001), realizado na cidade
de Lages/SC, 94% das mulheres idosas entrevistadas não completaram o Ensino Fundamental;
em Marechal Cândido Rondon, no estado do Paraná-PR, Conte (2004) revelou que 79,4% das
pesquisadas também não possuíam o Ensino Fundamental Completo; e em Florianópolis/SC,
Mazo (2003) detectou que 92% das mulheres idosas não completaram o Ensino Fundamental.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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No entanto, no caso distrital, em Brasília 29,4% da população residente possui nível
superior completo e, por sua vez, o IDH-Educação é de 0,988, um dos maiores do país,
considerando que a média nacional é de 0,455 (SEPLAN, 2008; WATKINS, 2006).
Para monitorar o desempenho em educação, o IDH-Educação usa dois indicadores: taxa
de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa bruta de matrícula nos 3 níveis
de ensino (WATKINS, 2006). No caso do Brasil, as séries estatísticas internacionais apontam
que a taxa de alfabetização apresentou o inexpressivo aumento de 88,4% para 88,6% - 11,4% de
analfabetismo, 62º no ranking mundial -, e a taxa bruta de matrícula estabilizou-se em 85,7% -
40º no ranking - (ibidem).
Em relação à situação ocupacional: 60,0% (n=36) das pesquisadas são apenas
aposentadas; 30,0% (n=24) continuam exercendo uma atividade remunerada após a
aposentadoria. E, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais (IBGE, 2002), a proporção de
mulheres aposentadas (45,9%) é menor que a de homens (77,7%). As Regiões com proporções
maiores de aposentadas é a Nordeste (63,1%), a Norte (51,6%) e a Sul (44,8%). Há maiores
proporções aposentados no Sul (80,8%), no Nordeste (79,9%) e no Sudeste (77,9%). No Sudeste,
o percentual de aposentadas (36,5%) é bem inferior ao dos homens.
Entre as pessoas de 60 anos ou mais, o percentual de pensionistas homens (0,8%) é bem
inferior ao de mulheres (20,7%), devido à quantidade de viúvas nessa faixa etária. Destaca-se
também o percentual de mulheres que acumulam a condição de aposentadas e pensionistas
(8,8%), superior ao dos homens (1,1%) (IBGE, 2002).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Na rápida ampliação da participação da mulher brasileira no mercado de trabalho,
verificada nas últimas décadas, chama atenção uma configuração muito particular: o aumento da
inserção de mulheres com 40 anos e mais nas atividades econômicas, com maior intensidade que
o verificado entre as mais jovens, sobretudo a partir dos anos 1990 (CAMARANO, 2001).
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios - PNAD - (1992; 2003)
parecem sinalizar que as brasileiras têm permanecido por mais tempo no mercado de trabalho.
Em 1981, 38,4% das mulheres de 40 a 49 anos, 27,6% daquelas com 50 a 59 anos e 9,9% do
segmento feminino de 60 anos ou mais estavam ativas, enquanto em 2003 essas taxas, para as
mesmas faixas etárias, passaram a 67,5%, 51,4% e 19,6%, respectivamente (ibidem).
Essa expansão relaciona-se a vários movimentos estruturais em curso na economia e
sociedade brasileira: transformações na estrutura ocupacional, com maior criação de
oportunidades de trabalho feminino; mudanças de caráter demográfico que implicaram o
aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população; e mudanças de caráter
comportamental, que têm se refletido na queda dos níveis de fecundidade e na melhoria dos
indicadores educacionais femininos, que tornam as mulheres mais disponíveis e mais aptas a se
inserirem no mercado de trabalho (CAMARANO, 2001).
Outros fenômenos mais específicos também podem estar concorrendo ao ingresso e a
permanência das mulheres nesse mercado: a queda do poder aquisitivo das famílias e as
dificuldades para a mulher obter aposentadoria, diante da maior precariedade de sua inserção na
vida profissional e, quando a obtém, o valor tende a ser insuficiente para manutenção de sua
família, impelindo-a a buscar complementação para a renda (ibidem).
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O Centro-Oeste é uma Região economicamente bem dimensionada, o que se confirma
por meio do alto nível econômico das pesquisadas, verificadas pelo Critério de Classificação
Econômica Brasil da ANEP (2003) e pela renda familiar referida. Assim, 68,8% (n=41) das
mulheres idosas deste estudo foram classificadas nas Classes A, a Classe B com 25,0% (n=15), e
apenas 6,2% (n=04) das mulheres idosas pertenciam à Classe C.
Quando se observa a renda familiar dessa mulher idosa: nota-se que 60,3% (n=36)
possuem renda igual ou superior a 10 salários mínimos, 30,7% (n=18) de 5,1 a 10 salários
mínimos, e que apenas uma parcela muito pequena de 10,0% (n=6) possuem renda entre 3,1 e
5,0 salários, e nenhuma das pesquisadas referiu portar renda inferior a este valor.
Segundo o IBGE (2005), a renda familiar alta é marcante nas Regiões Administrativas
brasileiras economicamente mais favorecidas. Por outro lado, apesar do alto número de
pesquisadas residindo solitariamente, a aposentadoria da pessoa idosa acaba “completando”
economicamente a família, ou seja, os seus filhos e netos (BACELAR, 1999).
Nunca é demais lembrar que o trabalho das mulheres decorre, freqüentemente, de uma
articulação complexa de características pessoais e familiares que podem influenciar sua decisão
de ingressar ou permanecer na vida profissional, tais como presença de filhos associada ao ciclo
de vida das trabalhadoras, sua posição no grupo familiar - cônjuge, chefe de família, filha, etc. - e
a necessidade de prover ou complementar o sustento do lar (ibidem; VERAS, 1994;
CAMARANO, 2001).
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O nível econômico das pesquisadas demonstrou características similares à distribuição
econômica da população residente da Região Centro-Oeste, classificando-se como nível
econômico alto. E, especialmente no caso do DF, a renda média da população que trabalha é de
605,41 reais (IBGE, 2004/2005). Quando se detalha ainda mais o extrato financeiro: em
Brasília, cidade do DF onde majoritariamente (100%) reside a amostra pesquisada, a renda
domiciliar alcança 25,53 salários mínimos (SEPLAN, 2008). O IDH-Renda é de 0,948. Vale
destacar, o Índice brasileiro não ultrapassa 0,740 (ibidem; WATKINS, 2006).
A dimensão renda do IDH é avaliada pelo Produto Interno Bruto - PIB - per capita
ajustado pelo conceito “Paridade de Poder Compra” - Dólar PPC - (WATKINS, 2006), qual seja:
corresponde ao valor, em cada moeda, de uma cesta de bens e serviços, com composição
proporcional ao PIB, que pode ser adquirida com 1 Dólar nos EUA. O PPC assume valores
diferentes, em cada país, de acordo com os preços desses bens e serviços nas diferentes moedas.
E, para transformar, portanto, valores em Reais correntes em Dólar PPC é preciso dividir o valor
da variável em Reais pelo valor do Dólar PPC do ano correspondente, ou seja, pela “Paridade de
Poder de Compra” do Dólar em Reais (ibidem).
Contudo, soma-se ao conjunto de cenários retro expostos a consolidação da presença
feminina no mercado de trabalho e a competição entre os sexos por funções profissionais mais
elevadas, além do setor de empregos cada vez mais saturado; o que estimula alterações no padrão
comportamental das mulheres idosas e oferecem novas dimensões em relação às suas atitudes e
posturas (CAMARANO, 2001): o alto nível de escolaridade e renda parecem ser os indicativos
que mais contribuem à alta classificação do nível econômico das mulheres idosas aqui estudadas.
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Na velhice devem-se distinguir dois processos profundamente relacionados: o
envelhecimento individual ou “biofisiológico”, e o demográfico. A estrutura social de cada
sociedade condiciona os processos individuais do envelhecimento (CABRERO, 1997). Ao
mesmo tempo, o envelhecimento da população exerce uma forte pressão à transformação dos
status dessas pessoas e das oportunidades de participação a elas oferecidas: diante do fenômeno
da transição demográfica, a velhice assume uma nova dimensão onde a “velhice subjetiva”,
caracterizada pela velhice de algumas pessoas, é obscurecida pela “velhice objetiva”, como um
fenômeno estrutural que concerne a toda a sociedade (ibidem).
As demandas que emergem desse setor da população podem gerar uma crise no sistema
de distribuição dos recursos e das prioridades anteriormente estabelecidas (ibidem): o
envelhecimento populacional conduz a necessidade de reavaliar critérios relativos aos gastos
sociais que sobrevêm do novo perfil da pirâmide etária.
Trata-se de encontrar novas alternativas, por exemplo, à questão do índice de
dependência - contribuintes-não-contribuintes -, argumento que muito se utiliza para justificar a
inviabilidade da Previdência Social (ibidem). Sabe-se, também, que os gastos sociosanitários
aumentam significativamente com a idade (VERAS, 1994; OVERALL, 2004).
Essas, em suma, são algumas das questões que transformam o envelhecimento
demográfico no objeto central das preocupações políticas e científicas. E provocam a
transformação de um enfoque pautado na senescência biológica ou individual para uma
preocupação com os aspectos socioeconômicos e políticos do envelhecimento.
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Da Percepção Subjetiva de Estado Geral e dos Problemas de Saúde
A percepção subjetiva da saúde tem sido utilizada como um indicador da qualidade de
vida, da morbidade e também como boa preditora da mortalidade (RAMOS, 1997). Essa
percepção foi avaliada considerando uma Escala Likert de 04 pontos (MALHOTRA, 2001) -
excelente/muito boa, boa, regular e ruim -, e categorizada em percepção de saúde positiva -
excelente/muito boa e boa - e percepção de saúde negativa - regular e ruim -. Estes achados estão
apresentados na Tabela 2.
Tabela 2: Proporção de mulheres idosas de acordo com a percepção de estado geral de saúde positiva - excelente/muito boa e boa - e negativa - regular e ruim -.
Variável % N Percepção de Saúde — — Positiva 65,3 39 Excelente 49,8 30 Muito Boa 15,5 09 Negativa 34,7 21 Regular 29,8 18 Ruim 4,9 03 Sua saúde comparada com seus pares — — Positiva 89,8 54 Melhor 62,3 37 Semelhante 27,5 17 Negativa 10,2 06 Pior 8,7 05 Muito Pior 1,5 01
Panoramicamente, 65,3% das pesquisadas avaliaram positivamente o seu estado geral de
saúde atual. Destas, 49,8% (n=30) classificaram-se como “excelente” e 15,5% (n=09) como
sendo “muito boa” a sua condição de saúde atual.
Dos 34,7% das mulheres idosas que avaliaram o seu estado geral de saúde como
negativo, 29,8% (n=18) julgaram o estado de saúde “regular” e apenas 4,9% (n=03)
consideraram “ruim”.
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A elevada taxa correspondente à percepção positiva do estado geral de saúde é bem
diferente de outros estudos com a população acima de 60 anos: Lima-Costa, Firmo & Uchoa
(2004) identificaram um alto percentual de pessoas idosas (75,3%) que relataram uma percepção
de saúde negativa, e apenas 24,7% uma percepção de saúde positiva.
Assim como no estudo desenvolvido com indivíduos idosos representativos da população
brasileira por Lima-Costa, Barreto & Giatti (2003), a partir dos dados do PNAD/1998, no qual
constaram que 44,5% das idosas perceberam sua própria saúde como regular ou ruim/muito
ruim.
Deve-se destacar a existência de vários fatores determinantes que influenciam a
percepção do estado geral de saúde da pessoa idosa e que podem ser organizados, de acordo com
Alves (2005), em: fatores demográficos - idade, sexo, arranjo familiar e estado civil -;
socioeconômicos - escolaridade e renda -; doenças crônicas; e capacidade funcional - atividades
da vida diária, atividades instrumentais da vida diária e mobilidade -.
Outro ponto relevante, já considerado anteriormente, é o que trata da peculiaridade
socioeconômica da amostra pesquisada, que muito possivelmente incide comportamentalmente
sobre sua autoperpcepção de estado geral de saúde, e que muitas vezes pode estar mediada por
uma expectativa sociocultural de saúde, ou seja: “o corpo apesar de pertencer a uma pessoa idosa
deve ser bem-sucedido e saudável”.
Para tal, basta conferir que a maioria das entrevistadas (89,8%; n=54) referiram portar um
estado geral de saúde superior aos seus pares, sendo que 62,3% (n=37) emitiram uma opinião de
que estão melhores do que as mulheres que participam do seu grupo de convívio comunitário.
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Nessa direção, Foucault (2007) é quem diz que o controle da sociedade se faz também
pelo corpo e com o corpo, sendo a tecno-ciência o saber que produz poder; esse raciocínio,
segundo o autor, desenvolveu-se concretamente a partir do século XVII e pode ser traduzido por
meio de dois modos: o primeiro entende o corpo como máquina, neste caso, garantido pelo poder
implícito nas formas disciplinares de tratamento dadas ao corpo. Pode-se dizer, portanto, que
houve uma anatomia-política do corpo.
O segundo modo aponta que a partir de meados do século XVIII forma-se uma nova
modalidade de poder ou o que Foucault chama de biopoder (ibidem): este é localizado no corpo-
espécie e garantido pelas intervenções e controles reguladores, que são traduzidos por estratégias
biopolíticas aplicadas à população.
Para Foucault (ibidem), essas são duas formas de poder diferentes, com origens distintas,
mas que não se excluem. Pelo contrário, se o poder disciplinar em um determinado momento
tinha força de esquadrinhar, desarticular os corpos, em um segundo momento, constitui-se, assim
como o domínio aplicado ao corpo-espécie, em um modelo, cuja função, assenta-se no
investimento total sobre a vida (ibidem).
Na organização social, os corpos não valem o mesmo, não significam o mesmo. E para
que a ordem social se mantenha é preciso uma regulação e um controle diferenciados. O valor da
saúde é variável, as doenças e até a morte não são as mesmas para todos: doenças e
desigualdades estão extremamente ligadas (CANGUILHEM, 1990).
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Historicamente, a doença tem, de fato, sido um dos mais significativos fatores que as
instituições políticas e sociais usam para definir os corpos, controlar os seus movimentos e
solidificar as definições de gênero, raça, sexualidade, etc (CANGUILHEM, 1990).
A doença e outras forças que com ela concorrem para a produção do corpo são
inseparáveis desses mesmos corpos onde atuam e estes podem ser lidos pelas marcas neles
inscritas (ILLICH, 1975).
Daí aparecem hipóteses que procurariam oferecer um sentido de investimento às práticas
corporais: Grossman (1972) trabalhou uma teoria onde todos os seres humanos, ao nascerem,
portariam uma “conta corrente” com um grande depósito de saúde - à exceção daqueles que
nasceram com alguma anomalia congênita que depauperaria ou comprometeria o completo
estado de bem-estar da saúde -, e ao longo de suas vidas, de acordo com o meio ambiente,
condições socioculturais e econômicas, estilos e hábitos de vida realizariam saques nessa conta
ou mesmo depositariam novos investimentos.
De fato, o estudo de Grossman (ibidem), permite a realização de uma grande reflexão;
considerando que as questões biológicas poderão ser completamente influenciadas, e até mesmo
comprometidas ou melhoradas, a depender das questões culturais, sociais, ecológicas que
assaltam a vida de cada indivíduo.
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Nessa direção, vale ainda entender que o resultado que o corpo apresenta é sim resultado
de seu estado de saúde, sendo bastante complicado dissociar-se desta variável (PEREIRA apud
PIOLA & VIANNA, 1995; DOORSLAER, WAGSTAFF, BLEICHRODT, CALONGE,
GERDTHAM, GERFIN, GEURTS, GROSS, HÄKKINEN, LEU, O’DONNELL, PROPPER,
PUFFER, SUNDBERG & WINKELHAKE, 1997).
E não necessariamente a ausência de um estado completo de bem-estar de saúde será de
responsabilidade do indivíduo ou de seu corpo, sendo muitas vezes, ambos, reflexos de outros
determinantes que correm autônomos à sua própria vida: as desigualdades em saúde, como
sugerem diversos estudos empíricos são verificadas em praticamente quase todos os países
(ibidem).
Entretanto, nem toda a desigualdade em saúde mensurada pode ser caracterizada como
iniqüidade em termos de bem-estar individual. O estado de saúde de um indivíduo depende de
diversos fatores. Pode-se classificá-los em pelo menos três grupos: fatores associados às
preferências dos indivíduos, fatores exógenos aos indivíduos, fatores associados às condições
socioeconômicas (ibidem).
Os fatores associados às preferências dizem respeito aos hábitos e escolhas dos
indivíduos. Por exemplo: 2 indivíduos com a mesma condição socioeconômica e tendo acesso às
mesmas informações sobre os males que o fumo pode causar, podem realizar escolhas
diferenciadas entre fumar e não fumar, o que pode significar estados de saúde diferenciados entre
os indivíduos, o que resulta, portanto, em desigualdade de saúde (ibidem).
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A despeito da mensuração de desigualdade de saúde entre esses 2 indivíduos: não reflete
diferença de bem-estar, uma vez que o indivíduo fumante tem a perda de bem-estar resultante da
atividade de fumar compensada pelo ganho de bem-estar gerado pelo prazer em fumar
(PEREIRA apud PIOLA & VIANNA, 1995; DOORSLAER et al., 1997).
Os fatores exógenos dizem respeito ao componente que independe das atitudes e das
condições socioeconômicas: é o caso, por exemplo, de doenças genéticas, acidentes e fatores
associados aos ciclos da vida dos indivíduos. É compreensível que um indivíduo de 60 anos
tenha um estado de saúde mais comprometido que um indivíduo de 25 anos, ou ainda, em alguns
casos é razoável supor uma desigualdade de saúde entre homens e mulheres. Este tipo de
desigualdade, entretanto, não se caracteriza como um diferencial de bem-estar entre os pares
(ibidem).
O terceiro grupo diz respeito aos fatores socioeconômicos: existem diversos mecanismos
que podem explicar a relação entre nível de renda ou situação socioeconômica e estado de saúde.
Além disso, a causalidade dessa relação não é única. Um grupo importante de
pesquisadores nessa área enfatiza, por exemplo, a relação entre produtividade e saúde (RIBERO,
1999; GROSSMAN & BENHAM apud PERLMAN, 1974): neste caso supõe-se, por um lado,
que trabalhadores mais saudáveis são mais produtivos e, portanto, auferem níveis de renda mais
elevados.
Por outro lado, pode-se também imaginar que trabalhadores com níveis de renda mais
elevados têm maior acesso a informações sobre saúde podendo optar por tratamento preventivo
e, contudo, apresentar melhores estados de saúde (ibidem).
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Um segundo aspecto que também relaciona renda à saúde, diz respeito às condições de
trabalho e moradia: indivíduos de baixa renda freqüentemente estão expostos a trabalhos que
apresentam altos riscos a sua saúde, além de possuírem habitações com piores condições de
saneamento (RIBERO, 1999; GROSSMAN & BENHAM apud PERLMAN, 1974).
Dessa forma, controlando para os fatores biológicos e para aqueles relacionados às
preferências individuais, os indivíduos de classes socioeconômicas mais baixas têm maior
chance de morrer e adoecer: esta chance é ainda mais acentuada quando a sociedade em que o
indivíduo pertence é marcada por profundas desigualdades sociais (DOORSLAER et al., 1997).
De acordo com hipótese de Deaton (1999), indivíduos que vivem em sociedades mais
desiguais teriam maior probabilidade de adoecer e de morrer em decorrência de alguma
morbidade: essa relação seria diferente da relação entre nível de renda e nível de saúde.
O que o supracitado autor (ibidem) propõe é que a desigualdade de renda pode ser uma
boa aproximação de uma medida das doenças sociais: um exemplo mais óbvio desta relação seria
que sociedades mais desiguais tendem a apresentar maior nível de criminalidade e, portanto,
maior mortalidade precoce.
Do ponto de vista epistemológico, a dificuldade de conceituar saúde é reconhecida desde
a Grécia antiga (CANGUILHEM, 1990): a carência de estudos sobre o conceito de saúde
propriamente definido parece indicar uma dificuldade do paradigma científico dominante nos
mais diversos campos científicos de abordar a saúde positivamente.
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De outra dimensão, tal pobreza conceitual pode ter sido resultado da influência da
indústria farmacêutica e de certa cultura da doença, que têm restringido o interesse e os
investimentos de pesquisa a um tratamento teórico e empírico da questão da saúde como mera
ausência de doença (ILLICH, 1975).
Entretanto, a divisão do corpo humano, a tecnologização das práticas e a fragmentação do
saber, com o surgimento das várias Especialidades Médicas, têm gerado reações contra a
expropriação da saúde e, desde a década de 1970, vêm propiciando um movimento que busca
ressuscitá-la como objeto científico (ibidem).
Do ponto de vista da práxis, os sistemas de saúde do mundo ocidental e, neles, do Brasil,
têm sido questionados por sua dependência em relação a um modelo assistencial individualista,
com ênfase na dimensão curativa da doença, de locus hospitalar, além dos elevados custos e da
baixa efetividade (PEREIRA, 1995).
Todavia, contemporaneamente, quando se pensa em promover a saúde, pensa-se em
promover um corpo belo, jovem, saudável, hígido, fisiologicamente compensado, tanto como se
juventude, beleza e saúde fossem trinônimos ou conceitos inteiramente interdependentes: diante
disto visa-se tomar esta objetivação da promoção da saúde e do corpo por meio de
biotecnologias, e pensá-las como modos de viver constituídos no campo da saúde por meio de
estratégias de produção de si, ou seja, de formas de subjetivação das diversas etapas dos ciclos da
vida - especialmente do envelhecimento -.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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As biotecnologias, nesse contexto, são entendidas como tecnologias da vida que forjam
determinadas maneiras de o indivíduo relacionar-se consigo mesmo, tornando-se objeto de si por
meio de processos de biotecnologização - um “si-mesmo” edificado pela relação que se
estabelece entre saúde, vida e tecnologias - (FOUCAULT, 2007).
Segundo Foucault (1990), a investigação sobre o modo como os indivíduos têm
desenvolvido, na cultura, diferentes saberes sobre si mesmos deve amparar-se na relação entre
regimes de verdade e as tecnologias políticas que prescrevem modos de viver, e inclui-se nesse
cenário o investimento principalmente às questões de ordem econômica e de autopercepção com
a finalidade de potencializar as possibilidades de inserção social exitosa.
Com efeito, a presença de doenças auto-referidas pelas mulheres idosas aumentava à
proporção de pesquisadas com a percepção subjetiva de estado geral de saúde negativo. O
aumento no número de doenças também gerava uma maior insatisfação com a saúde, ou seja,
uma maior percepção de estado geral de saúde negativa pelo conjunto amostral.
As mulheres idosas que relataram uma percepção de saúde positiva apresentavam um
maior nível educacional - 90% completaram o Ensino Superior -, 55,5% pertenciam à Classe
Econômica A, 70,0% declararam uma renda familiar de mais de 10 salários mínimos e 89,5%
não relataram a presença de doenças.
Já aquelas com percepção de saúde negativa tinham baixo nível educacional comparado
ao contexto geral do perfil da amostra estudada, 97,7% apenas tinham concluído o Ensino
Fundamental, pertenciam à Classe Econômica C (72,7%), renda mensal de até 5 salários
mínimos (69,5%) e apresentavam mais de 3 tipos de doenças (91,3%).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Esses resultados também foram evidenciados por Lima-Costa, Barreto & Giatti (2003) ao
constatar que os indivíduos idosos brasileiros, com idade superior a 65 anos, com baixa renda,
apresentavam piores percepções de saúde quando comparado às pessoas idosas portadoras de
renda alta.
A OMS afirma que pessoas idosas com baixo nível educacional têm sua saúde afetada,
apresentando maior risco de deficiência e morte durante o processo de envelhecimento (WHO,
2002).
No presente estudo pôde-se constatar que 55,5% (n=33) das mulheres idosas referiram
nenhum a 2 problemas de saúde, seguidas das pesquisadas com 3 a 4 problemas (39,6%; n=24) e
de 5 a 7 problemas (4,9%; n=03): a mediana do número de doenças referidas pelas pesquisadas
foi de 2 doenças, com mínimo de 0 e máximo de 5 doenças por pesquisada. Em um estudo de
Mazo (2003) com mulheres idosas acima de 65 anos participantes de grupos de convivência na
cidade de Florianópolis/SC: 85,9% relataram a presença de doenças e somente 14,1% vivem
livre de doenças.
Em Fortaleza, no estado do Ceará-CE, Coelho-Filho e Ramos (1999) constataram que
somente 7,6% das 667 pessoas idosas entrevistadas não referiram qualquer problema de saúde,
enquanto que 78,1% dos pesquisados referiram ter de 1 a 5 doenças crônicas e 14,3% mais de 5
doenças crônicas. Na mesma direção, a pesquisa SABE, realizada em São Paulo entre os anos de
1999 e 2000, revelou que 78,9% das mulheres idosas eram acometidas por algum problema de
saúde, com a maior freqüência relatada pelas pesquisadas (42,9%) para 2 a 3 doenças crônicas
(ALVES, 2005).
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À classificação dos problemas de saúde relatados pelas mulheres idosas utilizou-se a
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde em sua
décima revisão (CID-10, 2004), e doravante estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3: Problemas de saúde referidos pelas mulheres idosas e classificados de acordo com a CID-10 (ibidem; U.S. DEPARTAMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1998).
Variável % N Problemas de Saúde — Sistema Cardiovascular 70,9 43Cardiopatias 9,1 04Hipertensão Arterial Essencial 62,9 27Acidente Vascular Encefálico – AVE - 4,7 02Hipercolesterolemia 16,6 07Trombose Venosa Profunda – TVP - 1,5 01Varizes 5,2 02Sistema Respiratório 8,7 05Asma/Bronquite 4,0 02Alergias 4,0 02Faringites/Tosses/Resfriados 2,0 01Pneumonias em Geral 00 00Tuberculose 00 00Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo 15 09Reumatismo/Artrite/Artrose 89,8 08Dores na Coluna - Lombar - 62,3 06Fraturas por Quedas 00 00Osteoporose 27,5 02Fibromialgia 10,2 01Metabólicas 20 12Diabetes Mellitus Tipo II 40,5 05Hipotireoidismo 29,0 03Obesidade 30,5 04Aparelho Digestivo 7,6 05Úlcera péptica/Esofagite de Refluxo Gastrintestinal 5,5 03Hérnias - Umbilical e de Ingüínal - 2,1 02Neoplasias Malignas 18 10Mama 79,9 08Colo Uterino 21,1 02Aparelho Geniturinário 12,9 08Incontinência Urinária 2,9 02Litíase Renal/Infecções Geniturinárias 10,0 06Aparelho Oftálmico 77,5 46Doenças de Refração: Hipermetropia, Astigmatismo, Miopia e Presbiopia 77,5 46
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Sistema Neuropsiquiátrico e Comportamental 48,7 29Enxaqueca Crônica 19,9 06Insônia 45,0 13Depressão 60,0 17Mal de Alzheimer 00 00Parkinson 00 00Transtorno Obsessivo-Compulsivo 8,0 02Transtorno Bipolar 10,0 03Transtorno de Imagem Corporal - Anorexia/Bulimia nervosas - 2,1 01Doenças Hematológicas 6,0 04Anemia Ferropriva 6,0 04Doenças Infecto-Contagiosas e Parasitárias 11 07Doenças Sexualmente Transmíssiveis em Geral - DST -: Candidíase, Gonorréia, Herpes, Molusco Contagioso, Pediculose Pubiana, Sífilis, Tricomoníase
03 02
DST: Condiloma Acuminado - HPV - 04 03DST: Hepatite B 02 01DST: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA - 00 00Helmintíases em Geral 02 01Intervenções Cosmético-Cirúrgicos 84 50Necessidade 97,4 58Desnecessário 2,6 02Preenchimentos Cosméticos Faciais - Restilane, Polimetilmetacrilato, etc. - 25 12Lifting Facial 11 05Fototerapia Cosmética - Luz Pulsada, Lasers, etc. - 36 18Blefaroplastia 15 07Lipoaspiração Corporal - Abdômen, Pernas e Glúteos - 20 10Próteses de Silicone - Mamas - 30 15Próteses de Silicone - Glúteos - 05 03Dermolipectomia Abdominal 18 09Toxina Botulínica 40 20
Um dos problemas de saúde mais prevalentes, classificado em segundo lugar, às
mulheres idosas integrantes a presente pesquisa são as doenças do sistema cardiovascular,
relatadas por 70,9% (n=43) das pesquisadas, destacando-se as cardiopatias, hipertensão arterial
essencial, acidente vascular encefálico - AVE -, hipercolesterolemia, trombose venosa profunda -
TVP - e varizes.
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O terceiro problema mais relatado refere-se às doenças do sistema neuropsiquiátrico e
comportamental (enxaqueca crônica, insônia, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, Mal
de Alzheimer, Parkinson, transtorno bipolar, transtorno de imagem corporal - anorexia/bulimia
nervosas -), acometendo 48,7% (n=29) das mulheres pesquisadas. Esta informação, de certa
forma, corrobora aos objetivos do estudo que é também perceber a ocorrência de dismorfias
corporais em população de mulheres idosas: no conjunto amostral, 2,1% (n=1) identificou-se
portadora de dismorfia corporal - a mulher idosa referiu ter sido anoréxica durante 25 anos de
sua vida, mas que o quadro estava controlado há mais de uma década -.
Sob essa dimensão notam-se os extremos: anorexia e obesidade, angústias da atualidade
que circulam em torno de um padrão de corpo e de beleza; mulheres obesas sofrem por não
corresponderem ao modelo corrente, por isso usam cada vez mais alimentos para “engolir” suas
frustrações em busca do corpo magro (STUNKARD, 1977; ETCOFF, 1999; RENZ, 2007).
Em contrapartida, as possuidoras da “magreza esquelética” temem a obesidade e
“vomitam suas inquietações” (ibidem): obesidade e magreza, excesso e privação alimentar,
talvez não estejam em extremos opostos como parecem. Talvez, um dependa do outro para que
possam co-existir e persistir.
Por meio das imagens construídas na (in)consciência coletiva se desenvolvem
significados que poderão influenciar as vivências corporais - seja na saúde ou na doença -
(STUNKARD, 1977): as crenças sobre as formas ideais do corpo coordenam as impressões
empíricas à instituição dos conceitos de distorção da imagem corporal (ABERASTURY &
KNOBEL, 1992).
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Um dos principais alvos - em termos de vunerabilidade - para distorção da imagem
corporal são as mulheres, principalmente as residentes nos grandes centros urbanos brasileiros,
sendo a etapa dos ciclos da vida correspondente ao envelhecimento uma das mais preocupantes,
pois é nesse momento - também na adolescência, nas fases gestacionais e de lactação - que
ocorrem várias transformações hormonais que alteram a estrutura física do corpo feminino
(ABERASTURY & KNOBEL, 1992; BRANDÃO, 2002; BUSSE, 2003).
Destarte, apesar de estatisticamente não muito expressivo, a retrocitada percentagem
aponta, de certa forma, que a direção dada ao campo de pesquisa estava coerente às propostas do
estudo e, ainda, aos achados epidemiológicos utilizados à análise desse tipo de situação de saúde
(ver p. 90 no Capítulo II).
À percepção - diga-se superficial em razão de não ter sido realizada aqui uma
investigação mais aprofundada de análise do discurso - das pesquisadas em relação a si mesmas:
verificou-se que estas se consideram vaidosas, e que a vaidade associa-se diretamente a beleza
que, por sua vez, significaria saúde como se observa no juízo emitido, e registrado pelo autor,
por uma das pesquisadas: “[...] a mulher é vaidosa, ela pinta o cabelo, ela se cuida, vai ‘no’
ginecologista [...]”.
Esse fato certificar-se-ia por meio dos dados relacionados ao campo de intervenções
cosmético-cirúrgicos que, na concepção das mulheres investigadas, tratam-se de procedimentos
“necessários” (97,4%; n=58), e encontram-se em primeiro lugar em termos estatísticos (84%;
n=50), em todo o rol de problemas de saúde auto-referidos pelas pesquisadas: isto poderia
sugerir que para este grupo o “problema de saúde” mais relevante é o que cinge à estética e a
beleza corporal, e que de alguma forma resgatasse a “juventude perdida”.
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No elenco dessas intervenções destacam-se: 25% (n=12) de preenchimentos cosméticos
faciais - restilane, polimetilmetacrilato, etc. -, 11% (n=05) de lifting facial, 15% (n=07) de
blefaroplastia, 36% (n=18), fototerapia cosmética - luz pulsada, lasers, etc. -, 20% (n=10) de
lipoaspiração corporal - abdômen, pernas e glúteos -, 30% (n=15) de próteses de silicone -
mamas -, 05% (n=03) de próteses de silicone - glúteos -, 18% (n=09) de dermolipectomia
abdominal e, por fim, 40% (n=20) de toxina botulínica.
Conforme Mattos apud Strey et al. (2000), o envelhecimento do corpo é uma
problemática voltada ao feminino, pois se trata de uma questão de gênero ligada às questões
socioeconômicas: a posição, em primeiro lugar, das intervenções cosméticas em detrimento dos
demais problemas de saúde poderia, no mínimo, presumir uma distorção importante a respeito da
autopercepção do estado geral de saúde; ou seja, ao fazer uma extrapolação, às pesquisadas estar
saudável remeteria a um corpo esteticamente belo, jovem, o que, portanto, as tornariam
portadoras de uma saúde e bem-estar plenos e dissociados de doenças.
O fato de “necessitar” - conforme a autopercepção das pesquisadas - da dissimulação do
envelhecimento por intermédio da cirurgia cosmética seria uma imposição sociocultural que
inicidiria mais sobre as mulheres; em especial no campo da saúde mental, o que significaria,
inclusive, a caracterização de morbidades psquiátricas preocupantes (STUNKARD, 1977;
RENZ, 2007).
Veloz, Nascimento-Schulze & Camargo (1999), em sua pesquisa a respeito das
representações sociais sobre a saúde na velhice, traz que as mulheres possuem a imagem de
pessoa idosa saudável como aquela que é independente, pois mantém a capacidade de viajar,
passear e cuidar do seu lar.
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E, supõe-se que as mulheres idosas aqui pesquisadas associariam a maneira de viver com
atividades sociais e físicas, destacando ainda que o lazer, a cirurgia cosmética, o entretenimento
e o cuidado com a alimentação poderiam prolongar a jovialidade.
Dentre as intervenções elencadas convém ressaltar os procedimentos associados aos
preenchimentos cosméticos faciais - restilane, polimetilmetacrilato, etc. -, que perfizeram 25%
desse conjunto.
Os processos associativos entre a necessidade de ser saudável para ser belo e jovem,
decorrem do desenvolvimento dos cuidados estéticos e práticas de beleza. Conforme Gilles
Lipovetsky (2000) foi preciso esperar a chegada do século XX para, pela primeira vez, os
produtos e as práticas de embelezamento deixarem de ser um privilégio das classes mais
favorecidas, iniciando-se uma era democrática da beleza, resultante da difusão dos cuidados
estéticos.
Na realidade, a história da cosmética é a história dos métodos que foram inventados para
clarear a pele (ibidem): a “distinta” palidez sempre esteve na moda, do mesmo modo que a pele
morena tenha sido percebida como um sinal de classe baixa (ETCOFF, 1999; RENZ, 2007).
Desde tempos imemoráveis se tem buscado o clareamento da pele das mulheres - e
também dos homens - com todo o tipo de substâncias tóxicas: conta-se que as mulheres gregas e
romanas embranqueciam a pele do rosto, dos seios, e depois desenhavam em cima pequenas
veias azuis para conseguir um efeito de palidez translúcida (REDMOND, 2003).
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Tanto no Japão quanto na China, a pele muito branca é própria das pessoas pertencentes
às classes mais nobres daquelas sociedades (VIGARELLO, 2006).
Qual será a origem dessa moda? Em todos os povos a pele da mulher tem a tendência a
ser mais clara que a dos homens. A produção de melanina, que é a origem da coloração escura da
pele e do cabelo, está estreitamente ligada ao metabolismo dos estrógenos (REDMOND, 2003).
A cor clara é um sinal de femininidade. E mais, com a puberdade, a pele das meninas se
torna cada vez mais clara enquanto a dos meninos escurece. A gravidez também pode escurecer a
pele (ibidem).
Isto é: na pele branca se conjugam os dois grandes fatores da beleza; a juventude e o
dimorfismo sexual (ibidem). Não obstante, essa preferência é algo fixo e constante, como
demonstra a mudança produzida nos anos 1970 – pela primeira vez na história – quando se
entrou na moda a pele morena, bronzeada. De pronto, o que durante séculos se havia desprezado
tornou-se sexy (VIGARELLO, 2006).
O sol e o vento deixaram de ser símbolos de trabalho – hoje, pelo contrário, o trabalho é
realizado em lugares fechados e protegidos de sol – e passaram a ser sinais de prazer;
considerando que um ideal de beleza multicultural tenha influenciado a pele morena nos padrões
de moda e beleza (ibidem).
Em sua gênese, o cosmético remonta aos tempos antigos, e é caracterizado como um
produto que trata superficialmente da pele a fim de embelezá-la (BAUMANN, 2002).
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Ao longo do tempo, várias modificações de caráter funcional, que interferem em sua
aplicabilidade têm ocorrido (BERTIN & MACHET, 2003).
[...] Ovídio, em Os Remédios para o Rosto Feminino, mesmo dedicando-se à cosmética, advertia que, acima de qualquer produto, o que realmente embeleza a mulher é a virtude. O problema da cosmética é retomado no mundo cristão por Tertuliano, com impiedoso rigor, recordando que “segundo as Escrituras, os adornos para a beleza sempre formam um todo com a prostituição do corpo”. À parte a condenação moral (e a clara intenção de polemizar com a licenciosidade do mundo pagão), fica evidente a insinuação de que a mulher se maquila com cremes e outros artifícios para mascarar seus defeitos físicos, na vaidosa ilusão de ser atraente para o marido ou, pior, para os estranhos. (ECO, 2007, p. 159)
Baumann (2002) define cosmético - especialmente os cremes faciais - como “substância,
ou preparado, fabricado em larga escala, com consistência, coloração e fórmulas específicas,
produzido química e industrialmente em laboratório, e armazenado em embalagens apropriadas.
Essa substância é destinada a embelezar, preservar ou alterar a aparência do rosto, por meio de
processos de limpeza, rejuvenescimento, hidratação, dentre outros”. (p. 37. trad. autor.)
Etimologicamente, o vocábulo cosmético provém do grego kosmetikós, cuja raiz é
kosmein - adornar - e mais remotamente kósmos - ordem -: significa a arte do enfeite considerado
como uma ordenação harmoniosa de diferentes elementos, cuidando inicialmente da higiene
interna e externa, de acordo com os conselhos de Hipócrates, que recomendava jejum regular,
exercícios físicos e banhos freqüentes (ibidem).
De acordo com Faux, Lannelounge, Mohrt, Rousso, Chahine & Vormese (2000), já no
século XX, em 1911 na cidade de Hamburgo, um farmacêutico inicia os primeiros passos de um
produto de cuidados para a pele fabricado industrialmente, produzindo um creme que batizou de
Nívea - em latim, “branca como neve” -, uma verdadeira revolução econômica, pelo fato de ter
confeccionado o primeiro creme que não custava caro.
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Esse creme marcou uma evolução na técnica: foi a primeira emulsão “água com óleo”,
composição um pouco gordurosa, e a única capaz de amortizar o processo de evaporação hídrica
da epiderme (FAUX et al., 2000; BAUMANN, 2002).
Em sua criação, o creme Nívea era apresentado numa caixa redonda, amarela, com um
motivo ingênuo (ibidem). Por volta de 1914 surgem os primeiros pós-compactos da Coty,
vendidos em pequenas caixas de metal, providos de espelhos incorporados à tampa. Nessa época,
a guerra selou definitivamente o fim da Belle Époque: obrigadas a assumir o controle da vida
cotidiana familiar e econômica, as mulheres puseram-se a trabalhar (ibidem).
O consumo de cosméticos aumentou moderadamente até a Primeira Grande Guerra e se
acelerou nos anos 1920 e 1930. O batom fez um imenso sucesso a partir de 1918 e os
bronzeadores e esmaltes de unhas causaram furor nos anos 1930 (FAUX et al., 2000).
Após a Primeira Guerra Mundial, as mulheres queriam cada vez mais ser belas e dedicar
a isto tempo e dinheiro. Helena Rubinstein e Elizabeth Arden perceberam a possibilidade de
grandes negócios: Rubinstein abriu um salão de beleza em Paris em 1912, depois de ter feito
fortuna na Inglaterra e na Austrália com seu famoso creme Valaze (ibidem).
Rubinstein foi a primeira a ter idéia de oferecer cosméticos sob medida, fazendo um
inventário de diferentes tipos de pele e abrindo, em Londres, o primeiro Instituto de Beleza.
Logo, Helena passou a cuidar do corpo, criando massagens fortalecedoras, aconselhando uma
higiene e regime alimentar. Estava sintonizada com todo o movimento de cultura física que
estava emergindo na Europa: pregava-se ginástica como fonte de saúde. A homeopatia e a
naturopatia estavam em pleno desenvolvimento (ibidem).
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Outra mulher a marcar essa época: Nadia Gregoria Payot foi uma das primeiras mulheres
dermatologistas que, realizando um tratamento na dançarina Anna Pavlova, elaborou uma
ginástica ao rosto e pescoço para preservar a firmeza da pele (FAUX et al., 2000).
Hoje, a beleza é plural e se define individualmente, apesar de ser coletivamente balizada
pela mídia. O efeito dessa busca de si mesmo e o trajeto percorrido ao longo do século passado
se fazem visíveis (ibidem).
Esse estilo individual desenvolveu-se marcadamente a partir dos anos 1960 (ibidem). Na
atualidade, considera-se às vezes excessiva a diversidade dos estilos de beleza, de
comportamento e de gênero, um vasto leque de escolhas que se tem de enfrentar para satisfazer o
desejo de parecer único (BERTIN & MACHET, 2003). Ainda: percebe-se que o cosmético não
só embeleza a pele, mas promete rejuvenescê-la, alterá-la, corrigi-la (ibidem).
Embora seja ancestral o inconformismo do homem frente ao processo de envelhecimento,
a busca pela manutenção da juventude pode ser compreendida como um dos emblemas da
cultura contemporânea: nos anúncios publicitários de cosméticos, as alusões à juventude
representam um estado ideal de ser (VIGARELLO, 2006).
Convém assinalar que o destaque constante a estados de juventude/jovialidade constitui-
se em um amplo referencial temático a nortear a construção de mensagens publicitárias de
inúmeros outros produtos – peças de vestuário, sapatos, automóveis, gêneros alimentícios, etc. –
e não somente do cosmético, em particular (ibidem).
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As associações provenientes da busca pela juventude denunciam uma clara predileção
pelo padrão de beleza relacionado com estados de vigor, boa forma, energia. No campo
lingüístico, há todo um leque de adjetivações que reforçam o ideal de ser jovem e a instauração
deste ideal, como uma forma recomendada a todos aqueles que se encontram na fase adulta ou
para além dela (VIGARELLO, 2006).
A crescente afirmação do uso do cosmético nas sociedades urbanas contemporâneas traz
em si mesma um curioso paradoxo: teóricos que analisam epistemologicamente a comunicação
publicitária afirmam que a idéia de pasteurização, homogeinização e padronização do consumo
já não abarca a amplitude de estilos, diversificação, segmentação do mercado de consumo e da
linguagem publicitária sobre seus produtos (ibidem).
Contudo, no caso específico do produto cosmético, constata-se uma clara intenção do
discurso publicitário em difundir - além de instituir como um padrão de uso - mais amplamente
possível o uso do cosmético, em fazer com que cada homem e mulher entendam que,
independentemente de sua inserção social, o cosmético é produto de uso obrigatório por toda a
vida (BERTIN & MACHET, 2003).
A partir desta concepção, a pele deve ser nutrida todos os dias, pelo menos 2 vezes: pela
manhã - a fim de prepará-la para enfrentar o dia; sol, poluição, vento, frio, chuva - e à noite - a
fim de limpá-la, nutri-la, e deixá-la pronta para o repouso do sono -. O processo de nutrição da
pele é constante e inexoravelmente associado ao grau de importância que o alimento possui nas
vidas das pessoas (BAUMANN, 2002).
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Não é sem conseqüência que se presencia a criação da chamada Cosmética Médica, ou
Cosmiatria, que atribui a determinados produtos o estatuto de medicamento: há alterações, tanto
referentes ao conteúdo, quanto à forma de apresentação do cosmético (BAUMANN, 2002). O
processo de transformação do cosmético para um outro estatuto parece seguir certa tendência que
perpassaria as sociedades de consumo atuais.
Rocha (2005) afirma que a atual lógica do consumo não é, como poderia parecer, a de
induzir a compra de determinados bens, como um fenômeno que pode ser interpretado como da
ordem da manipulação, mas o fato de qualquer coisa poder ser convertida ao serviço dos bens e
transformada em mercadoria: produzida, distribuída e consumida.
A supracitada autora (ibidem) exemplifica que, se há um shampoo que se adapta a um
tipo específico de cabelo - se afro, liso, oleoso, seco na raiz e oleoso nas pontas, louro, tingido
etc. -, há produtos que se adaptam a uma atitude de engajamento, de displicência, de revolta,
como aqueles que podem fazer com que o consumidor se sinta único, ao usar uma roupa que foi
especialmente concebida para ele. O mecanismo da publicidade e da sociedade de consumo da
qual é expressão mais pura é o de traduzir um espírito, atitude ou estilo de vida em um objeto
que pode ser adquirido (VIGARELLO, 2006).
Em virtude de fatores como os progressos científicos, os métodos industriais, a elevação
do nível de vida: os produtos de beleza tornaram-se - na sociedade - artigos de consumo corrente,
um luxo ao alcance de todos (ROCHA, 2005)
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E como importante tecnologia da indústria cosmética mundial advém o Botox®: no
presente estudo, 40% do conjunto de pesquisadas que referiram a necessidade de utilização de
intervenções cosmético-cirúrgicas apontaram o uso dessa substância.
Dysport® e Botox® são os nomes comerciais da toxina botulínica tipo A, um potente
paralisante muscular: atualmente, devido ao seu uso cada vez mais freqüente, tem obtido
expressivo destaque por meio de sua difusão pelos canais midiáticos. Essa toxina impede a
transmissão do impulso elétrico entre o nervo e o músculo - bloqueando a liberação de
acetilcolina -. Com isto, o músculo é inativado (BAUMANN, 2002; BERTIN & MACHET,
2003).
A utilização da toxina botulínica no campo da estética deve-se ao fato de que as rugas
dinâmicas da face - “pés de galinha”, rugas da testa ou entre as sobrancelhas - são devidas à
contração muscular. Logo, se inativados os músculos que as produzem, não haverá mais
formação de rugas. É nestes músculos específicos que o Profissional Médico - Cirurgião
Plástico, Dermatologista, Especialista em Medicina Estética (área não reconhecida como
Especialidade Médica pelo Conselho Federal de Medicina - CFM) - administra a toxina
botulínica, por meio de uma injeção de agulha extremamente fina (BAUMANN, 2002).
Para ilustrar a técnica: a aplicação é breve - a depender da extensão facial a ser tratada
pode durar em torno de 5 minutos - e pouco dolorida. A paralisação muscular ocorre após 48
horas, se mantém em média por 6 meses e não deixa o seu usuário sem expressão facial. Por ser
de execução rápida e proporcionar atenuação importante das rugas dinâmicas com resultados
quase que imediatos, a toxina botulínica tornou-se a principal “solução” da contemporaneidade
no campo da cosmética (ibidem; BERTIN & MACHET, 2003).
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Entretanto, observa-se um uso exagerado das aplicações dessa substância: as pessoas
chegam a retornar de 3 a 4 vezes por ano aos consultórios dermatológicos ou às clínicas de
cirurgia plástica para uma nova sessão, enquanto os especialistas recomendam a reaplicação a
cada 6 meses - no máximo - (BAUMANN, 2002).
O fato é que não se pode banalizar um procedimento que, mesmo com baixos riscos, pode
trazer complicações. No ano de 2006, as aplicações com toxina botulínica representaram cerca
de 40% das intervenções estético-cosméticas realizadas nos consultórios de Dermatologia e
Medicina Estética brasileiros (ABIHPEC, 2007).
Exceder na dose ou ser assistido por um profissional inexperiente pode resultar em
hematomas, evasão de expressão facial, queda palpebrar e enfraquecimento muscular. Por
exemplo: as altas doses aplicadas nas rugas do pescoço podem causar prejuízos aos músculos
flexores e, ocasionalmente, dificuldade temporária para deglutir (BAUMANN, 2002).
É o paradoxo do veneno: essa toxina quando não manipulada à finalidade terapêutica
pode ser extremamente tóxica e fatal, um verdadeiro veneno, por outro lado, a depender da sua
manipulação poderá se tornar um “antídoto” adequado ao envelhecimento e à feiúra.
De toda forma, a sociedade encontrar-se-ia no momento “antifeiúra” e “antiidade” e o
centro de gravidade estético desloca-se das técnicas de camuflagem às técnicas de prevenção
(LIPOVETSKY, 2000), ainda que 83% dos cosméticos popularmente comercializados em todo o
mundo não comprovem cientificamente as promessas feitas em suas publicidades milionárias
(BAUMANN, 2002).
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O Brasil é hoje o oitavo país em termos de indústria de cosméticos do mundo: o volume
de negócios do setor, em 2006, foi de US$ 15,1 bilhões. O mercado de beleza emprega direta e
indiretamente 2,5 milhões de pessoas, ou seja, 2,7% da população economicamente ativa
brasileira e vem se revelando como de especial atratividade para novos investimentos e negócios
(ABIHPEC, 2007).
Com efeito, para ilustar essa mulher “neo-idosa” - da contemporaneidade - usuária das
tecnologias da beleza, ocorre a Primeira-Dama do Brasil, Dona Marisa Letícia da Silva, que
também se submeteu às “maravilhas corporais” alcançadas por esses procedimentos, e
incrementou consideravelmente sua imagem para que a composição corporal do casal de
consortes presidenciais pudesse ficar cenograficamente adequada à nova plataforma estético-
corporal da presidência da República Federativa do Brasil.
Aos 57 anos, a primeira-dama Marisa Letícia da Silva está bem mais magra, mais elegante e com aparência bem mais jovial do que em 2002, ano em que Lula foi eleito presidente da República pela primeira vez. Colaboraram para essa transformação um figurino mais moderno, uma dieta equilibrada e uma rotina de caminhadas diárias, além de dois liftings faciais e duas lipoaspirações na região abdominal – para não falar das inevitáveis aplicações de Botox, é claro. (LINHARES, 2008, p. 84)
FIGURA 17: Primeira-Dama da República Federativa do Brasil,
D. Marisa Letícia da Silva (ibidem). Acervo pessoal do autor.
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Essa “neo-idosa”, gradualmente, interpõe uma nova figura ao antigo contexto social
referente à pessoa velha, onde sua atuação era exclusiva aos afazeres domésticos menores,
geralmente culinários e de marcenaria - quando muito -. (DEBERT, 1994; VERAS, 1994).
Pois bem, muito possivelmente a boa aparência estético-corporal poderá render votos: por
meio dos veículos de mídia coletiva, especialmente da televisão, o eleitor poderá construir uma
identidade do político que pretende ter como sua representação no cenário parlamentar; se seu
penteado, roupa e maquiagem estão bem concebidos, o candidato passa uma idéia de juventude,
de disposição e de simpatia (RENZ, 2007).
Nesse início de século a pessoa idosa dissente do antigo modelo e se coloca como um ser
expedito: novas ciências, como a Medicina Antiidade, trazem a possibilidade de toldar o
envelhecimento por meio da propalação das operações estéticas que dão atenção especial aos que
estão envelhecendo com algum frescor juvenil, ainda que estritamente psicológico, e buscam
sem pejo por vaidades até pouco tempo não habituais entre os seus pares de mais idade.
No Brasil, no ano de 2005, foram realizados 822.000 procedimentos cosmético-cirurgicos
- sendo 81% em mulheres e os 19% restantes em homens - o que classificou este país como o
segundo que mais realizou esses procedimentos naquele ano (SBCP, 2006). E as três Unidades
Federadas que mais recorreram a essas tecnologias da beleza no mesmo ano foram: São Paulo -
1º lugar -, Rio de Janeiro - 2º lugar - e Distrito Federal - 3º lugar - (ibidem).
“Já não existe mais aquele mito de que cirurgia plástica é só para gente rica. Há alguns anos esse serviço estava restrito a população mais abastada que realizava cirurgias por questão de status e para contar aos amigos. Hoje com a globalização e a abertura do mercado de trabalho para as mulheres isso mudou e as cirurgias plásticas ficaram mais acessíveis. Com tanta procura já é possível encontrar bons preços, parcelar o tratamento e ainda contar com os melhores Médicos e os hospitais mais qualificados”. (KORN, 2007)
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Dartigues (1925) definiu, classicamente, a cirurgia estética como sendo “o conjunto de
todas as operações destinadas a remediar todas as afecções congênitas ou adquiridas que venham
prejudicar, por deficiência plástica ou estética o valor social do individuo” (p. 314. trad. autor).
De acordo com esta definição, a chave esquemática comportaria duas subdivisões principais:
1) A correção dos defeitos congênitos; 2) A correção dos defeitos adquiridos. Na primeira se enumerariam, por exemplo, o lábio leporino, a guela de lobo, micro ou macrostomia, prognatismo da mandíbula, nariz em sela, nariz cifótico, dismorfias auriculares, etc. Na segunda: a) os defeitos conseqüentes a uma evolução fisiológica, como o prolapso dos seios, deficiências plásticas acarretadas pela maternidade, etc.; b) de um trauma, cujo protótipo é a desfiguração da face que tanto demente o valor social e profissional do individuo; c) de uma afecção patológica como o nariz em sela, fraturas mal consolidadas do maxilar inferior, paralisia facial, etc.; d) de um tratamento anterior, quer cirúrgico, quer fisioterápico, como as depressões frontais remanecentes das curas de sinusite, as cicatrizes, etc.; e) finalmente, do ultrage dos anos, rugas faciais e todas as formas de prolapsos cutâneos como o empapuçamento das pálpebras, sub-mentoneano, do ventre, o prolapso mamário, etc. (GLICENSTEIN, 2003, p. 262, trad. autor).
Esse simples enunciado não deslinda, antes agrava, a confusão entre a cirurgia reparadora
e a cirurgia estética. Davis (1917) procurou traçar entre as duas um limite mais nítido -
atualmente também considerado clássico -: ao passo que a cirurgia reparadora seria um ramo da
cirurgia geral, com preocupação predominantemente formadora ou reconstrutora, ocupando-se
“incidentemente” com a melhora da aparência, a cirurgia estética cuidaria, principalmente, do
segmento ornamental, da plástica pura, da beleza (ibidem).
Prefere-se esse modo de ver, se bem que, na prática, perdure a dificuldade na demarcação
dos limites. Assim, se a redução de uma cifose nasal como a que ilustra a monografia de
Bourguet (1931) - La Correction Esthétique des Diverses Dèfomations Nasales - pertence à
cirurgia reparadora, esta mesma correção, num defeito menos pronunciado estaria incluida no
limite da cirurgia estética (GLICENSTEIN, 2003).
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A correção dos defeitos mamários pode prestar-se também a confusão como, por
exemplo, nutri caso de macrostomia ou de simples ptose. Considerando, pois, em suma, a
cirurgia estética seqüência natural da cirurgia reparadora, distinguindo-se desta por ser a
correção ortomórfica pura a sua preocupação “dominante” (GLICENSTEIN, 2003).
De toda forma, movidos pelo desejo autêntico de portar uma aparência adequada aos
padrões dimanados pelos canais midiáticos, um volume expressivo de pessoas recorrem à
cirurgia plástica como quem “vai às compras”. À título de reflexão seguem alguns discursos
publicados em um veículo de imprensa de grande alcance (MING, 2007):
[...] ‘Mulher de rico conhece rico’[...] ‘Eu não inventei nada de bom na cirurgia plástica. Mas tenho bom senso estético’ [...] ‘Se eu acho que não vai ficar bom, falo mesmo. Se a paciente insistir, digo para procurar outro Médico.’ [...] ‘É muito difícil mudar o rosto sem mudar a fisionomia. Não se pode tirar muita cicatriz e evitar o liso artificial’ [...] ‘Valentino - sobre o designer italiano - não tem o rosto esticado; ele tem uma expressão que não favorece e passa essa imagem’ [...] (Carlos Fernando, cirurgião plástico – O Doutor Mão Leve; p. 110)
[...] ‘Escolhi o Carlos Fernando porque ele faz os melhores peitos que já vi’ (Paula Bulamarqui, atriz brasileira - O Doutor Mão Leve; p. 110)
[...] ‘Quando coloquei silicone, meus peitos incharam muito. Ele pegou um avião e foi até Salvador ver como eu estava’ [...] ‘Depois disso, indiquei o Carlos Fernando para boa parte de Savador’ (Flora Gil, empresária e esposa do Ministro da Cultura, Gilberto Gil - O Doutor Mão Leve; p. 110-111)
[...] ‘Mando as pacientes ir para a casa, tirar um cochilo de duas horas, comer, tomar banho, lavar a cabeça e, à noite, sair e se divertir. É importante que elas se movimentem.’ [...] ‘Para acomodar o tecido da pele’ [...] ‘Por ser rápido o método, a dose de sedativos é baixa, o que agiliza a recuperação, e o sangramento é mínimo.’ [...] ‘A cicatrização depende do trauma gerado durante a cirurgia. Na minha técnica, esse trauma é bem pequeno.’ (John Tebbetts, cirurgião plástico – Silicone a jato; p. 111)
[...] ‘A recuperação de implantes de silicone tem de ser cuidadosa e exige uma semana de repouso. Tebbetts é talentoso, mas sua cirurgia se ressente de certa falta de prudência.’ (Oswaldo Aranha, Médico presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica - Silicone a jato; p. 111)
Outro dado que merece destaque é o correspondente ao implante de próteses mamárias de
silicone: no elenco de intervenções cosmético-cirúrgicas, 30% das pesquisadas referiram
necessidade de utilização dessa tecnologia.
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Talvez, essa preocupação com a estética mamária do universo de pesquisadas possa ser
legitimada em razão de que 21,1% das mulheres idosas ter referido a ocorrência de neoplasia
maligna da mama: o que, de certa forma, deflagaria a atenção oferecida àquela estrutura
anatómo-corporal.
Segundo Yalom (1997), a fantasia existente ao longo dos tempos sobre mulheres com
seios volumosos se origina da associação entre o corpo feminino, a natureza e a criação:
representações dos seios femininos como tetas ou frutas numa árvore têm tradicionalmente
confinado as mulheres aos reinos animal e vegetal, isolando-as do reino “pensante” ou
“espiritual” reservado aos homens.
Como as mulheres têm seios e a capacidade de prover leite, têm sido vistas como mais
próximas da natureza e lhes têm sido atribuídas mais responsabilidades por toda a alimentação
humana no cotidiano (ibidem). Curiosamente, por essa razão que os seios da mulher semprem
estão aí, diferentemente do resto dos mamíferos, que só tem seios quando são requeridos no
processo de lactação (ZAHAVI, 1997). Como se explica semelhante desperdício? Na opinião de
Zahavi (ibidem), os seios mostram, de forma sensível e comovente, aos humanos as reservas de
gorduras que uma mulher possui, precisamente onde são mais sensíveis.
A peculiaridade consiste na limitação da liberdade de movimento que supõe um
“desperdício de energia produzido por uma maior perda de calor” (ibidem, p. 86). Pode ser feita
uma objeção à explicação de Zahavi (ibidem), que em última instância vale para todos os
intentos de explicar a beleza humana nos termos do autor: “Os seios deveriam ser mais atraentes
quanto maior fora seu tamanho, posto que, quanto maior é sua atração, maior a qualidade que
deveria indicar” (ibidem, p.87, trad. autor).
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De acordo com Low (2000), a mama não é em absoluto um sinal verdadeiro. Por uma
parte, os seios grandes parecem prometer ao homem uma alimentação abundante para sua prole.
Sem dúvida, a abundância do peito não guarda a menor relação com seu conteúdo lácteo, nem a
produção de leite nada se afina ao tamanho dos seios.
Outra explicação, que procede de Low (ibidem), se funda no mesmo princípio do engano:
segunto esta tese, na “eterna guerra dos sexos” , os seios são um instrumento de que a mulher se
vale para enganar o homem; a função da camada de gordura dos seios é ocultar o verdadeiro
estado em que a mulher se encontra. Esconde do homem a possibilidade de saber quando sua
parceira estará nos dias férteis, de modo parecido como ocorre com a ovulação. Assim, se vê
obrigado a vigiá-la constantemente.
Morris (1987) considera os seios como uma conseqüência da “nova técnica” de
acasalamento que trouxe consigo o fato de caminhar ereto. Desde que o homem e a mulher
aprenderam a aproximar-se de frente, a zona erógena das nádegas não teve mais remédio que
emigrar até a parte da fachada. Na mesma lógica, ante tanta filigrama teórica, a hipótese mais
evidenciada pelos cientistas da beleza que se pôde oferecer sobre os seios ecoa absurda: segundo
esta explicação, os seios não teriam outra função que a de indicar ao homem que a mulher já está
sexualmente madura (ibidem).
FIGURA 18: Breast Augmentation Photos - Patient 3649, Scott J. Zevon MD, New York City Breast Augmentation, 2006 (CARIOU, 2003, p. 47).
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Os seios - quando muito pequenos ou quando muito grandes - poderiam caracterizar uma
verdadeira atração (ZAHAVI, 1997): logo, a mulher contemporânea e sua imagem da beleza
feminina perfeita compreenderiam que os seios quando mais volumosos mais atraentes seriam -
independentemente da sua procedência nacional, seria uma questão de ordem mundial -
(VIGARELLO, 2006; RENZ, 2007).
FIGURA 19: 1979, Pierre et Gilles, 1979 (PAUME, 2007, p. 7).
Entretanto, ainda assim, a estética da mama responde a costumes étnicos, sociais e
culturais. Segundo a SBCP (2006) há não muitos anos, no Brasil, as mulheres solicitavam a
diminuição do volume dos seios, quando a aspiração do inconsciente coletivo estético era o de
mamas com pequenas proporções, seguindo a cultura francesa. Já nessa mesma época nos EUA,
a aspiração era por mamas de grande volume, algumas de sensualidade até duvidosa, que
pareciam mesmo anormalidades, dado seu gigantismo - aí a atração - (ZAHAVI, 1997).
De acordo com a supracitada Sociedade Científica (SBCP, 2006), nos anos recentes se
observou uma rápida e marcante diferença no Brasil, quando as mulheres começaram a solicitar
aumento das mamas, não nas proporções estadunidenses, mas em volumes inimagináveis na
década anterior.
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Pérez-Escamilla, Pollitt, Lönnerdal & Dewey (1994), Bramwell (2001) e Fairbank,
O'Meara, Sowden, Renfrew & Woolridge (2001) apontaram que na América do Sul e no Caribe
as propagandas governamentais - de estímulo ao aleitamento materno - exibindo mulheres belas
com mamas volumosas influenciaram a forma dos seios das mulheres daquela Região.
De acordo com os autores (ibidem): uma mama voluptuosa não apenas representaria
beleza e sedução, mas significaria mais fertilidade e adequação aos cuidados da prole,
especialmente na fase de lactação - o que era defeito passou a ser aspiração -, no ano de 2006,
18% das cirurgias plásticas brasileiras foram realizadas ao aumento da mama (SBCP, 2006).
Gisele se diverte com os boatos sobre seus seios serem de silicone. Aliás, ela garante que a marca registrada é de família – todas as irmãs são bem-dotadas nesse sentido. É tudinho dela [...] o cabelo ondulado que todo mundo quer, o 1,79 metro de altura, as pernas longas, os 55 quilos... Falando em peso, as más-línguas, mordidas pela inveja, andaram dizendo que a Über tinha engordado 7 quilos depois de parar de fumar. A resposta de Gisele? Surgiu estonteante de biquíni, e agora com o pulmão bem mais saudável. As medidas nunca foram problema para ela. Quando começou a fazer sucesso no mundo fashion, desbancou a moda da magreza excessiva. Verdade que os genes ajudaram: Gisele tem o biótipo perfeito para modelar. [...] (HOLLO, 2008, p. 92-93)
É importante ter presente o fato das tecnologias da beleza - das intervenções cosmético-
cirúrgicas - tanto concretamente executadas nas mulheres idosas, quanto àquelas aspiradas em
um plano dos desejos mais íntimos, não serem assistidas - custeadas - pelo sistema de atenção
suplementar à saúde (ARAÚJO, 2004; PINTO & SORANZ, 2004), ou seja, o custeio desses
“investimentos bioestéticos” teria que ser dispensado diretamente pelas próprias beneficiárias. E
não apenas demandariam somas importantes de recursos financeiros, como também
significariam um incremento de gastos “plus” supostamente dirigidos aos cuidados à saúde: o
que poderia reforçar a hipótese - à luz da percepção dos sujeitos analisados - da compreensão de
que beleza, corpo, juventude e saúde seriam elementos em franca interdependência e baixa
dissociação.
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O curioso é que dicotomicamente, neste estudo, as doenças metabólicas representam o
terceiro problema mais prevalente e estão presentes em 20,0% (n=12) das pesquisadas, com
predominância do diabetes mellitus tipo II (40,5%; n=05) seguida do hipotireoidismo (29%,
n=03) e, por fim, da obesidade (30,5%; n=04). O que sugeriria que o discurso emitido não é, de
fato, executado na sua prática cotidiana.
Além dos problemas de saúde supra elencados no protocolo de investigação como os
mais prevalentes, também foram auto-referidos às doenças correspondentes ao sistema
respiratório (asma/bronquite, alergias, faringites/tosses/resfriados, tuberculoses, pneumonias), ao
sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (reumatismo/artrite/artrose, dores na coluna –
lombar -, osteoporose, fraturas por quedas, fibromialgia), ao aparelho digestivo (úlcera
péptica/esofagite de refluxo gastrintestinal, hérnias - umbilical e de ingüínal -), às neoplasias
malignas (mama e colo uterino), ao aparelho geniturinário (incontinência urinária, litíase
renal/infecções geniturinárias), ao aparelho oftálmico (doenças de refração: hipermetropia,
astigmatismo, miopia e presbiopia), às doenças hematológicas (anemia ferropriva) e infecto-
contagiosas e parasitárias (DST: candidíase, gonorréia, herpes, molusco contagioso, pediculose
pubiana, sífilis, tricomoníase, SIDA, condiloma acuminado, hepatite B, e helmintíases em geral)
Os dados refletem a progressão das doenças crônico-degenerativas: essa prevalência,
principalmente as do aparelho circulatório, também foi verificada em outros estudos com
amostras portadoras das mesmas características (BENEDETTI et al., 2004; GIATTI &
BARRETO, 2003; LEBRÃO & LAURENTI, 2003; SILVA, 2005).
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Essas doenças - com destaque às cardiovasculares - são as maiores responsáveis pela
mortalidade no Brasil (LESSA, 2001; MONTEIRO, CONDE & POPKIN, 2002; YUSUF,
HAWKEN & OUNPUU, 2004; ROSENGREN, HAWKEN, ÔUNPUU, SLIWA, ZUBAID,
ALMAHMEED, BLACKETT, SITTHI-AMORN, SATO, & YUSUF 2004; GREGG et al.,
2005), acompanhando o panorama de boa parte dos países do resto mundo (WHO, 1998;
COLLECTIFE, 2004).
O aumento da morbidade pelas doenças cardiovasculares à população de pessoas idosas
pode ser visualizado em diferentes Regiões Administrativas do Brasil: no estudo do perfil da
pessoa idosa de Florianópolis/SC realizado por Benedetti et al. (2004), 39,1% dos pesquisados
eram acometidos por doenças cardiovasculares, e entre as mais prevalentes estão a hipertensão
arterial, arritmia, infarto e AVE.
Giatti e Barreto (2003), analisando os dados da PNAD de 1998, constataram que tanto em
homens idosos que trabalhavam como nos aposentados prevaleciam as DCNTs - Doenças
Crônicas Não-Transmissíveis -: hipertensão arterial sistêmica - HAS -, artrite, reumatismo e
doenças cardíacas. Em levantamento realizado por Silva (2005), em Goiânia, Goiás-GO, com
pessoas idosas de 60 a 92 anos, detectou-se: 62,4% das mulheres pesquisadas portavam alguma
DCNT, sendo a HAS a mais predominante nos homens idosos (34,8%).
Em São Paulo-SP: a pesquisa SABE revelou que 56,3% das mulheres idosas portavam
HAS, 18,8% comprometimentos cardíacos, 18,7 diabetes mellitus tipo II, além de um alto
percentual de doenças do sistema osteomuscular, sendo 39,6% das pesquisadas àquela pesquisa
eram portadoras de artrite, artrose e reumatismo, e 22,3% de osteoporose (LEBRÃO &
LAURENTI, 2003).
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De um modo geral, indivíduos idosos possuem doenças coexistentes, alcançando, em
média, 6 condições crônicas aos 75 anos de idade, entre as mais comuns: HAS, diabetes,
artroses, afecções respiratórias, acidentes vasculares, insônia, cardiopatias diversas, infecções
urinárias, deficiências visuais, entre outras (RAMOS, 1999).
Esse quadro de cronicidade revela-se como incapacitante e causador de dependência e de
fragilidades (BRASIL, 1999; MERCADANTE, 1996): entre as dificuldades no tratamento de
pessoas idosas destaca-se a existência desse quadro de múltiplas morbidades em que as
enfermidades interferem entre si e se agravam em decorrência das condições socioeconômicas
que implicam a dificuldade de acesso a serviços e tecnologias de saúde (TRAD, 2002; RAMOS,
1999).
Sobrepõe-se a esses fatores o desconhecimento dos indivíduos acerca de suas doenças
e/ou a falta de esclarecimentos sobre seus direitos e medidas de controle e prevenção
(CARVALHO-FILHO, TELAROLLI Jr. & SILVA, 1998; NAVARRETE & PEREZ, 1998).
O processo de compreensão e aceitação do adoecimento apresenta fases em que o
indivíduo identifica-se como: “estou-doente”, “sou-doente” e “sou-paciente”. O “estou-doente”
possui um sentido abrangente da consciência de sentir-se mal, que se confirma no “sou-doente”
que, por sua vez, caracteriza-se pela impossibilidade da produção/criação, o que torna o
indivíduo “sujeito-da-doença”. Em um momento seguinte, experimenta-se a consciência do “sou-
paciente” que implica a busca de atendimento e a “entrega” aos cuidados Médicos e familiares
(GOMES & MENDONÇA, 2002; ALVES & RABELO apud MINAYO & DESLANDES, 1995;
HERZOG, 1991).
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A doença “fala” por meio dos sinais e sintomas no corpo do indivíduo, e cada pessoa tem
uma maneira própria de vivenciar, interpretar e narrar suas enfermidades, num processo
intersubjetivo que se dá a partir do diálogo. À elaboração desses significados individuais e
coletivos faz-se necessário evidenciar e compartilhar os códigos em um determinado contexto
(ALVES & RABELO, 1995; MINAYO, 2002).
Do mesmo modo que o adoecer seria determinado pela inserção social, o processo de
significação também estaria enraizado na realidade, ou seja, na dependência das condições
socioculturais conformar-se-iam experiências de enfermidade que permitiriam aos indivíduos
expressá-las.
“as doenças agudas é preciso conduzir o exame da seguinte forma: em primeiro lugar, observar se o rosto do doente assemelha-se ao dos sãos, mas sobretudo se é semelhante a si mesmo em condições normais, e esse seria o melhor caso, pois será tanto mais grave, ao contrário, quanto mais dessemelhante for. [...]” (Hipócrates apud ECO, 2007, p. 250)
As Biociências, as Ciências Médicas e as Biotecnologias viajam pelo corpo medicalizado,
tentando romper a densidade oculta do corpo, de modo a torná-lo descritível e explicável em
termos “biofisiológicos” (RENZ, 2007). Ao fazê-lo definem fronteiras, instituem normas,
definem modos de nomeação e estratégias para lidar com os transgressores (FOUCAULT, 2007).
A Medicina e suas ciências correlatas definem a saúde como norma e policia as suas
fronteiras, separando os saudáveis e os doentes, os tratáveis e os intratáveis, os puros e os
infectados, os feios e os belos, os jovens e os velhos, isolando os grupos de riscos (ibidem).
Nunca será demais frisar a importância reguladora e normativa das disciplinas e práticas à volta
da doença e da saúde, da vida e da morte (ibidem, 1996).
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Como diz Foucault (1996):
O poder Médico está no centro da normalização social. Os seus efeitos estão por todo o lado: na família, na escola, nas fábricas, nos tribunais, no sujeito da sexualidade, no trabalho, no crime. A Medicina tem uma função social genérica: infiltra a Lei, liga-se a ela e permite o seu trabalho. Constitui hoje um complexo Jurídico-Médico como a forma principal do poder. (p. 197)
Atomize-se o corpo social e observe-se como governar os corpos atomizados. Note-se
como estabelecer ou reforçar normas e como delinear estratégias de normatização que
territorializam os espaços dos normais e dos excluídos. E - atenção - se faça cientificamente:
“A doença é sempre a causa do feio quando comporta a deformação de ossos, esqueletos e músculos, como a tumefação dos ossos na sífilis, nas devastações gangrenosas. E igualmente quando tinge a pele, como na icterícia, quando cobre a pele de exantemas, como na escarlatina, na peste, em certas formas de sífilis, na lepra, no herpes, no tracoma. [...] De maneira geral, a doença é a causa do feio quando modifica de modo anormal a forma: é o caso também da hidropsia, da timpanite e outras semelhantes. [...] O corpo na sua transparente “fragilidade” já não tem mais significado por si só, ele é, em tudo e por tudo, apenas a expressão do espírito que se afasta dele, independentemente da natureza. [...] Pelos mesmos motivos, não é evidente que a morte produz sempre um enfeiamento dos traços do rosto: pode deixar para trás de si até mesmo uma expressão da beleza, de beatitude.” (Rosenkranz apud ECO, 2007, p. 256)
O instituir-se como “sujeito-da-doença” passa pelo saber/discurso Médico e pela
representação do indivíduo como um corpo, cuidado pelo profissional da assistência, que serve
para o trabalho/lazer; configurando o caráter histórico e complexo deste processo (HERZOG,
1991; ALVES & RABELO apud PITTA, 1995; MINAYO, 2002).
Na sociedade, valoriza-se o tempo e o trabalho, relacionando-se saúde com capacidade
laboral, ou seja, estar doente significaria não poder exercer atividades (VELOZ,
NASCIMENTO-SCHULZE & CAMARGO, 1999; MINAYO, 2002).
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O adoecer tem múltiplas representações, e na população trabalhadora é percebido,
principalmente, pela incapacidade à atividade laboral (ALVES & RABELO, 1995; MINAYO,
2002): é referido também como um descontrole sobre o próprio corpo, confundindo-se com a
heteronomia, num processo de perda que representa inutilidade (VELOZ et al., 1999;
MERCADANTE, 1996).
O envelhecer, como apontado, é entendido como incapacidade e dependência,
necessitando-se de cuidados especiais. A depressão e alterações do estado de ânimo - de alta
prevalência entre pessoas idosas, mas pouco diagnosticadas - geralmente são referidas pela
literatura médica enquanto transtornos altamente incapacitantes (BRASIL, 1999;
MERCADANTE, 1996).
A cronicidade é uma característica fundamental do adoecer no envelhecimento: as
enfermidades apresentam-se, em geral, de forma insidiosa e assintomática, e na dependência do
acesso aos cuidados de saúde, podem ser diagnosticadas somente após complicações, ou
consideradas distúrbios próprios da idade e não passíveis de tratamento (CARVALHO-FILHO,
SAPORETTI, SOUZA, ARANTES, VAZ, HOJAIJI, ALENCAR & CURIATI, 1998).
Em conseqüência de se conceber o envelhecer e o adoecer como incapacidades, há na
pessoa idosa um processo, ainda mais profundo do que na população geral, de subjugação à
doença, de “ser-paciente” e entregar-se nas mãos dos Médicos e familiares (GOMES &
MENDONÇA, 2002; ALVES & RABELO, 1995). Pode-se, por meio dessas percepções, refletir
e compartilhar a aceitação ou negação do envelhecer e do adoecer com cada indivíduo
(HERZOG, 1991).
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A caracterização das doenças por parte das pessoas idosas ocorre das mais diversas
formas e baseia-se, principalmente, no reconhecimento de sintomas e sinais, ou seja, no
reconhecimento da enfermidade no próprio corpo (NAVARRETE, 1998; MINAYO, 2002): é
patente a dificuldade de se entender e explicar problemas crônicos multifatoriais tais como, por
exemplo, diabetes e hipertensão - que foram expressivamente morbidades auto-referidas pelas
mulheres idosas aqui pesquisadas -.
Isso, em outra parte, demonstra de certa maneira a insuficiência da Medicina em explicar
e cuidar efetivamente de transtornos psicossociais e degenerativos tão comuns às pessoas idosas,
o que implica a somatização à obtenção de cuidados: o envelhecer e o adoecer apresentam uma
dimensão contingencial e situacional decorrente da pluralidade de experiências, narrativas e
interpretações. Como fenômenos socioculturais e “biofisiológicos”, cada indivíduo reage com
base em suas referências (UCHÔA, FIRMO & LIMA-COSTA apud MINAYO & COIMBRA,
2002).
A compreensão adequada dos profissionais de saúde em relação à maneira da pessoa
idosa expressar-se e entender seu processo de adoecer e envelhecer permitiria um relacionamento
mais eficiente, contribuindo tanto para o diagnóstico precoce das morbidades como para seu
acompanhamento (GOMES & MENDONÇA, 2002).
Ora, pois, trata-se de uma preocupação que não se limitaria à prática assistencial, mas à
possibilidade de ampliação do diálogo e da negociação dentro de uma ética de respeito às
diferenças que, expressas, poderão ser discutidas em busca de autonomia e independência no
cuidado da saúde, com responsabilização compartilhada (ibidem; MARTÍNEZ & BOSI apud
BOSI & MERCADO, 2004).
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Da Caracterização da Percepção da Imagem Corporal
Na Tabela 4 estão apresentados os dados relativos à percepção da imagem corporal
apontada como silhueta real e ideal.
Tabela 4: Freqüência absoluta e freqüência relativa das mulheres idosas segundo a escala da percepção da imagem corporal real e ideal - escala de nove silhuetas (STUNKARD, SORENSEN & SCHLUSINGER apud KETY, ROWLAND, SIDMAN & MATTHYSSE, 1983).
Escala N % Silhueta Real 1 03 5,3
2 06 10,6
3 07 12,1
4 09 21,5
5 18 26,0
6 12 15,8
7 04 7,2
8 01 1,1
9 00 0,0
Total 60 100
Silhueta Ideal 1 02 2,6
2 07 11,7
3 11 18,9
4 19 31,7
5 13 21,5
6 05 9,1
7 02 3,0
8 01 1,1
9 00 0,0
Total 60 100
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As mulheres idosas escolheram como silhueta real e ideal desde a silhueta 1 - magreza -
até a silhueta 9 - obesidade severa -, sendo que, para a silhueta real, a maior proporção de
pesquisadas (26%) escolheu a silhueta 5, enquanto que, para a silhueta ideal, a maior proporção
(31,7%) escolheu a silhueta 4.
As silhuetas foram agrupadas em 3 categorias, onde as silhuetas 1 e 2 representariam a
magreza, as silhuetas 3 e 4 a normalidade, e as silhuetas 5 a 9 o sobrepeso (Gráfico 1).
Gráfico 1: Percentual de mulheres idosas agrupadas em 3 categorias de silhuetas.
Em relação à silhueta real, 50,6 % das mulheres idosas escolheram as silhuetas que
representam sobrepeso - 5 a 9 silhuetas -, 33,6% as silhuetas 3 e 4, consideradas normais, e
15,8% escolheram as silhuetas muito magras. Na escolha da silhueta ideal, houve uma inversão,
na qual a maioria das pesquisadas (50,6%) escolheu as silhuetas consideradas normais, ou seja,
as silhuetas 3 e 4, enquanto que 35,1% escolheram as silhuetas que expressam sobrepeso, e
14,3% as silhuetas de magreza.
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Essa diferença na escolha das silhuetas poderia gerar insatisfação com a aparência
corporal, que no presente trabalho foi avaliada pela diferença no escore da escala entre a silhueta
real e ideal escolhida pelas mulheres idosas: a percentagem das pesquisadas satisfeitas com a
imagem corporal e insatisfeitas, seja pela magreza ou pelo excesso, está apresentada na Tabela 5.
Tabela 5: Percentagem de mulheres idosas satisfeitas e insatisfeitas - magreza e excesso - com a imagem corporal.
Satisfação com a Imagem Corporal % N Satisfeitas 46,0 28 Insatisfeitas 54,0 32 Insatisfeitas pela magreza 18,9 11 Insatisfeitas pelo excesso ponderal 35,1 21 Total 100 65
No presente estudo, 46% (n=28) das mulheres idosas estavam satisfeitas com sua imagem
corporal, pois escolheram a silhueta real igual à ideal, e 54% (n=32) insatisfeitas. Das
pesquisadas insatisfeitas, 18,9% (n=11) estavam insatisfeitas com a “magreza”, e 35,1% (n=21)
insatisfeitas com o excesso ponderal.
Resultados diferentes foram evidenciados no estudo desenvolvido por Braggion (2002),
utilizando o mesmo instrumento de medida do presente estudo, com mulheres de 50 a 80 anos,
de classe média-baixa, com mais de 5 anos de escolaridade, que freqüentavam as aulas de
ginástica do “Projeto Longitudinal de Aptidão Física e Envelhecimento” de São Caetano do Sul-
SP.
A supracitada autora (ibidem) constatou que apenas 28,2% das mulheres estavam
satisfeitas com a aparência corporal, e 71,7% insatisfeitas, sendo que 67,4% das mulheres
desejavam possuir uma aparência mais magra, e 4,3 % das mulheres uma aparência mais gorda.
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No entanto, ressalta-se que as mulheres idosas desta dissertação apresentam um IMC
elevado, 75% apresentavam sobrepeso - p=25 kg.m2 -: a aparência do corpo exerce grande
influência na vida do ser humano, considerando a maneira como serão os relacionamentos, as
atitudes e reações, bem como as relações afetivas e profissionais (STUNKARD, 1977; NUNES,
2006).
Entretanto, não é somente a visão alheia, mas a concepção individual da própria imagem
que exerce maior influência. Essa concepção interna e subjetiva sobre o corpo, somada às
atitudes externas do ambiente, inclui-se na formação da imagem corporal (ibidem).
A busca por um corpo perfeito tão intensamente agenciado pela sociedade de consumo,
quando não alcançado, traz angústias e tristezas, que associados a outros fatores podem
desencadear os chamados transtornos alimentares (MENDES & PRÓCHNO, 2004, p. 149).
De um modo geral, o sexo feminino é o mais atingido (OLIVEIRA & STIPP, 2003, p.
48). Demonstração disto é o aumento no número de mulheres descontentes com o próprio corpo
relacionado à incidência de distúrbios alimentares (ARAÚJO & ARAÚJO, 2003, p. 238). Para se
diagnosticar o transtorno alimentar e não confundi-lo apenas com uma insatisfação relacionada à
aparência física, deve-se integrar a distorção da imagem corporal aos inúmeros critérios clínicos,
socioantropológicos, comportamentais, dentre outros (STUNKARD, 1977; NUNES, 2006).
Portanto, a compreensão dos aspectos que influenciam a satisfação da imagem corporal
na pessoa idosa seria determinante na elaboração de intervenções direcionadas ao bem-estar da
mesma.
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Entretanto, no presente estudo, não foram evidenciadas associações significativas da
percepção da imagem corporal - satisfeitos e insatisfeitos - com as variáveis sociodemográficas -
faixa etária, estado civil, arranjo familiar, escolaridade, classe econômica e renda familiar - e
indicadores de saúde - percepção de saúde e problemas de saúde auto-referidos -. Esses
resultados podem ter sido influenciados pelas características homogêneas das mulheres idosas,
ou seja, há uma concentração de pesquisadas com alto nível escolaridade, classe econômica e
renda familiar.
Esta dissertação também apresentou resultados divergentes dos evidenciados por
Anderson, Eyler, Galuska, Brown & Brownson (2002), ao analisar a associação entre fatores
sociodemográficos, percepção de saúde e satisfação corporal com mulheres de 40 anos ou mais
de diferentes etnias: evidenciou-se uma maior satisfação corporal em mulheres com menor nível
educacional, melhor percepção de saúde - excelente/muito boa - e maior faixa de idade - 70 anos
ou mais -.
A associação da percepção da imagem corporal - satisfeito e insatisfeito - com a idade
também foi verificada por Braggion (2002) pela análise de regressão logística, mostrando que
mulheres com idade entre 50 e 60 anos têm 5,2 vezes mais chances de estarem insatisfeitas com
a aparência corporal, e mulheres com 61 a 70 anos têm 3 vezes mais chances de estarem
insatisfeitas quando comparadas àquelas que têm idade entre 71 e 80 anos.
A mediana de idade das mulheres idosas satisfeitas com a imagem corporal não diferiu
significativamente - U=8220,5 e p=0,42 - das pesquisadas insatisfeitas - Tabela 6, a seguir -,
mesmo quando analisada a percepção da imagem corporal em 3 categorias: satisfeita, insatisfeita
pela magreza e insatisfeita pelo excesso - X2=5,87 e p=0,53 -.
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Tabela 6: Mediana e rank médio da idade, massa corporal, estatura e IMC das mulheres idosas de acordo com a percepção da imagem corporal.
Variáveis Mediana Rank Médio U P Idade (anos) — — — — Satisfeita 70,5 137,12 — — Insatisfeita 70,0 129,49 — — Total 70,0 — 8220,5 0,419 Massa Corporal (Kg) — — — — Satisfeita 53,7 112,27 — — Insatisfeita 61,7 150,69 — — Total 57,7 — 6194,0 0,000 Estatura (Cm) — — — — Satisfeita 150,0 127,25 — — Insatisfeita 150,5 137,91 — — Total 150,5 — 8021,5 0,259 Índice de Massa Corporal (K/gm2) — — — — Satisfeita 24,29 111,66 — — Insatisfeita 27,77 151,21 — — Total 25,31 — 6119,0 0,000
Na Tabela 6, acima, pode-se observar que a mediana da massa corporal das mulheres
idosas foi 57,5 kg, sendo que as insatisfeitas com a imagem corporal apresentaram maior massa
corporal (61,70 kg) quando comparadas às pesquisadas satisfeitas com a imagem corporal (53,70
kg), com diferença estatisticamente significativa, p=0,000.
A estatura das pesquisadas não diferiu significativamente entre as satisfeitas e as
insatisfeitas com a imagem corporal e teve mediana de 150,5 cm - variação de 116,0 cm a 172,0
cm -. Quando analisado o IMC das mulheres idosas em relação à percepção da imagem corporal
em 2 categorias - satisfeito e insatisfeito -, verificou-se diferença significativa no valor do IMC -
U=6119,0, p=000 -: as satisfeitas apresentaram um IMC de 24,29 kg.m2, classificado como
normal, enquanto que as insatisfeitas apresentaram valor superior para o IMC, 27,77 kg.m2,
classificado como sobrepeso.
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A análise do Teste de Kruskal-Wallis (BRESLOW, 1970) revelou diferença significativa
na distribuição do IMC em relação à percepção da imagem corporal em 3 categorias: satisfeito,
insatisfeito pela magreza e insatisfeito pelo excesso - x2=91,57 e p=0,000 -. No Gráfico 2,
abaixo, pode-se constatar o aumento significativo do valor da mediana do IMC entre a categoria
do insatisfeito pela magreza, satisfeito e insatisfeito pelo excesso.
Gráfico 2: Distribuição do IMC das mulheres idosas em relação à percepção da imagem corporal - satisfeito, insatisfeito pela magreza e insatisfeito pelo excesso -.
Schwartz & Brownell (2004), em seus estudos, demonstraram evidências na literatura
que apontam um incremento da insatisfação corporal com o aumento dos níveis de sobrepeso e
obesidade, principalmente em populações femininas.
Quando Braggion, Matsudo, Andrade & Araújo (2000) compararam as variáveis
antropométricas com a satisfação com a aparência corporal em um estudo que envolveu 114
mulheres, com idade entre 50 e 83 anos, participantes de um programa de atividade física
estruturado, observaram que o grupo com maior grau de insatisfação apresentou valores
significativamente maiores - p<0,01 - de peso (13 a 20%), adiposidade (25 a 29%) e IMC (15 a
21%) do que os grupos que referiram menor grau de insatisfação corporal.
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Hill e Williams (1998) também evidenciaram esse aumento da insatisfação corporal ao
investigar 179 mulheres obesas, com média de 45 anos de idade, divididas em 3 categorias de
IMC - 30-34,9, 35-39,9 e p40 kg.m2 -, onde constataram um aumento progressivo de
insatisfação corporal com o aumento da categoria do IMC.
Em estudo realizado por Loland (1998) com 768 mulheres na faixa etária de 18 a 67 anos
de idade, foi constatado que menores níveis de IMC estavam associados com maiores níveis de
satisfação com o peso em todos os grupos de mulheres segundo o nível de atividade física:
inativas (-0,48), pouco ativas (-0,52), moderadamente ativas (-0,27) e muito ativas (-0,54),
p<0,001, corroborando os dados encontrados na amostra deste estudo, que apresentaram maior
insatisfação nos grupos de IMC mais elevado, independente da atividade física.
No estudo desenvolvido por Stevens, Kumanyika & Keil (1994), que avaliaram a
percepção do tamanho corporal de 404 mulheres de 65 a 105 anos de idade, por meio da escala
de nove silhuetas, evidenciou-se que as mulheres que apresentavam sobrepeso reportaram fazer
mais dietas e ter menor satisfação com aparência corporal em relação às mulheres de peso
adequado, independente da etnia - negra ou branca -.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa desenvolvida por Mack, Anderson, Galuska,
Zablotsky, Holtzman & Ahluwalia (2004) com 98.387 mulheres acima de 18 anos, de diferentes
etnias - branca, negra e hispânica -, revelou que 70% de mulheres em cada grupo estavam
insatisfeitas com sua aparência física e desejavam pesar menos, e apenas metade dessas mulheres
estava tentando reduzir o peso de forma ativa em busca de uma melhor aparência corporal.
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Contudo, existem diferentes dimensões da distorção da imagem corporal nos transtornos
alimentares. Segundo Nunes (2006, p. 79) são categorizados 3 diferentes tipos de transtorno da
imagem corporal, quais sejam:
1. Perceptual: engloba a autopercepção consciente das dimensões do
corpo. Caracterizada por superestimar, no caso da anorexia ou
subestimar, na obesidade, a superfície corporal;
2. Cognitivo-emocional: mal-estar ou desconforto quanto ao próprio
corpo, sendo comum o uso de adjetivos pejorativos em relação a si
mesmo;
3. Social: expectativa quanto ao alcance de um corpo ideal imposto
pela cultura. É uma situação de difícil diagnóstico, tendo em vista o
desejo irrealista de emagrecimento culturalmente reforçado nesta época.
Ao extrapolar a interpretação, os resultados evidenciados no presente estudo poderiam se
encaixar como socioperceptual, o que reafirma a necessidade de intervenções direcionadas ao
controle ponderal a grupos etários mais idosos, assim como instruções de hábitos alimentares
saudáveis a fim de minimizar a insatisfação com a imagem corporal e promover uma melhor
saúde e qualidade de vida para essa população.
Nesse sentido, pôde-se ainda notar uma tendência das pesquisadas à incorporação do
desejo pela magreza, caracterizando uma provável insatisfação com suas estruturas corporais, o
que também é confirmado por meio da Escala de Figuras de Stunkard (STUNKARD,
SORENSEN & SCHLUSINGER, 1983).
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Essa associação poderia significar uma autopercepção distorcida da imagem corporal. E
pressuporia uma associação importante entre os transtornos alimentares, a insatisfação com a
imagem corporal, o desejo de emagrecer, as dietas restritivas e os demais comportamentos
deletérios para a saúde cujo objetivo central seria a redução ponderal à aproximação de padrões
de beleza idealizados pela sociedade contemporânea (NUNES, 2006). Nessa direção:
– E o que você me conta de novo sobre seu corpo? – Nada! Não quero mais nada desse corpo que não presta, que se estraga, que fica doente, que atrapalha meu pensamento e dificulta a minha própria razão... Não sou mais um corpo! Cogito ergo sum: Sou um puro espírito, um ser inteligente. Adeus corpo! (LE BRETON, 2003, p. 230).
A influência do ambiente social à construção da imagem corporal conectada a uma
precária auto-estima vem sendo balizada por uma tendência da valorização de corpos esguios
como padrão de beleza ideal, que pode ser um marcador comportamental relevante ao aumento
da incidência dos distúrbios alimentares: uma pessoa adulta constrói sua imagem corporal com
partes que são colocadas em evidências e partes que são voluntariamente negligenciadas, e
quanto mais velha vai se tornando essa pessoa mais acentuado se torna o processo de
“camuflagem” das partes negligenciadas (STUNKARD, 1977; OLIVEIRA & STIPP, 2003).
Com base nesse raciocínio, as partes colocadas em evidências poderiam ser aquelas
responsáveis por determinar uma sensação de sucesso pessoal e inserção social, e as partes que
são voluntariamente negligenciadas são aquelas em grande medida responsáveis por uma
preocupação intensa, em relação às potenciais fragilidades da imagem corporal em termos de
estética, beleza e juventude, e que precisam ser agressivamente combatidas para que se consiga
manter uma imagem social minimamente bem-sucedida e atraente (ibidem).
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A população de pessoas idosas brasileiras - em especial as mulheres - é alvo de
mensagens que, de acordo com os padrões culturais de beleza ocidental, ressaltam a magreza
corporal como um capital ao sucesso físico, ao passo que o excesso ponderal e o envelhecimento
são considerados repulsivos e responsáveis pelo fracasso em vários setores das relações
humanas: conjugal, familiar, financeiro, intelectual, profissional, sexual, etc. (DEBERT, 1994;
OLIVEIRA & STIPP, 2003).
Nisso, a desconexão entre o peso real e o ideal leva a um estado de insatisfação constante
com o próprio corpo, e as dietas para redução ponderal intensa tornam-se um hábito ordinário ao
cotidiano social. Portanto, a percepção do peso corporal se sobrepõe ao IMC, ou seja, a forma
como a pessoa se percebe é mais decisiva do que a própria composição corporal, podendo
repercutir alterações importantes no comportamento alimentar (STUNKARD, 1977; NUNES,
2006).
A mulher idosa de hoje foi a jovem dos anos 1950 e 1960, considerada a “era de ouro” da
cinematografia mundial – em especial a estadunidense – (HOLMLUND, 2001), soma-se àquela
época o glamour dos concursos de beleza, dos concursos de Miss. E, muito possivelmente, todo
um constructo cultural do ideal de beleza corporal – pautada em um corpo cada vez mais esguio
– foi elaborado pela atual geração contemporânea das mulheres idosas ao longo de suas vidas.
Na visão “biologicista”, quando limitada à exclusividade da análise quantitativa, a mulher
idosa pesquisada à este estudo passa a existir, sobretudo, aos pedaços - seio, cintura, perna, pele,
rosto, unha, mão, nádega, olho, lábio, cílio, coxa e o que mais se puder destacar como um quebra
cabeças invertido cujas peças desencaixam - escondendo a imagem corporal que nunca se forma.
Esta imagem do corpo, e corpo aos pedaços, não pode sustentar o indivíduo como totalidade.
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Sobra da imagem da mulher um corpo, ou melhor, pedaços, restos, fragmentos que, sem
alternativa, delegam a palavra aos produtos: desta forma, essa mulher, tal como se descreve por
meio dos dados quantitativos aqui apresentados, ao existir, principalmente, por meio de um
corpo fragmentado, inviabiliza a construção de um espaço interno e, com ele, a possibilidade de
proferir um discurso mais libertador e contundente a respeito dos supostos efeitos deletérios da
ancianidade.
Por outro lado, mesmo que essa mulher esteja fragmentada, ao se reunir as partes pode
ser (re)composta uma imagem que pretende passar determinação, independência, femininidade,
e, sobretudo, juventude, beleza e sensualidade: compõe-se, portanto, uma mulher maravilhosa,
uma verdadeira Mulher-Maravilha.
Ocorre a ‘medicalização’ da beleza. Dermatologistas oferecem métodos de rejuvenescimento. A personagem Mulher-Maravilha representa o ideal de beleza: seios grandes, músculos definidos e cabelos compridos. (RUBERTI, MELO & FRUTUOSO, 2008, p. 71)
Tal qual a super heroína das histórias em quadrinhos que depois foi transportada para os
desenhos animadas, e também eternizada em um seriado televisivo estadunidense, nos anos
1970, com a atriz Linda Carter – Miss Mundo 1972 – atualmente com 60 anos (GRESH &
WEINBERG, 1992).
Sabe-se que ela é representada como uma guerreira, alguém independente, agraciada
pelos deuses, muito mais poderosa que os homens comuns - exatamente à luz da imagem
elaborada pelas mulheres jovens da geração dos anos 1960 e 1970 (WOLF, 1992) -. É alguém
que veio da Ilha Paraíso, terra natal das amazonas, que prescindem do masculino para
governarem a si próprias (GRESH & WEINBERG, 1992).
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A personagem foi criada em 1941, por William Mouton Marston, um psicólogo e
jornalista simpatizante do movimento feminista, a pedido do editor Max Gaines, que buscava
uma forma de atrair o público feminino para os quadrinhos (GRESH & WEINBERG, 1992).
Por conseguinte, incide a cenografia: dentre as suas indumentárias destacam-se os
“braceletes”, que poderiam ser considerados uma lembrança da época mitológica em que as
amazonas haviam sido vencidas por Héracles e escravizadas pelo mesmo (BULFINCH, 2002).
Outro adereço importante é o “laço mágico”, que nada mais é do que uma corda dourada
que fica presa a cintura da heroína e é utilizada para capturar e aprisionar seus inimigos, além de
ser dotada de poderes que obrigam seus reféns a falarem somente a verdade (GRESH &
WEINBERG, 1992).
O uso que a Mulher-Maravilha faz de seus “braceletes”, que a permite desviar dos
projéteis de armas de fogo desferidos pelos seus algozes, bem como de seu “laço mágico”, seria
um discurso que diria algo assim: “Homens, estou usando contra vocês aquilo que vocês usaram
contra nós, mulheres, para nos aprisionar! O que antes era instrumento de escravidão e
submissão, agora será uma ferramenta de liberdade e da vitória feminina !”
Ademais, soma-se ao seu aparato tecnológico o “Jato Invisível”, um avião totalmente
translúcido que não consegue ser visto a olho nu, e também não pode ser rastreado por radares,
além voar em velocidade supersônica (ibidem).
Isso significaria, no mínimo, uma mulher sintonizada aos avanços de seu tempo, de tão
virtuosa e destemida é capaz de pilotar uma aeronave invisível! No entanto, é comum perder-se
de vista que a Mulher-Maravilha, embora seja uma super-heroína e supere de longe os homens, é
uma representação tanto para atrair o público feminino quanto para responder uma expectativa
masculina.
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Nota-se ainda que a heroína constitui-se fisicamente, nos traços dos artistas que a
desenharam, com os típicos seios grandes do modelo estadunidense de beleza, rosto maquiado,
cabelo armado à moda dos anos 1940 - quando fora criada - e botas de salto alto (GRESH &
WEINBERG, 1992).
No princípio, Diana - nome da princesa que se tornou a Mulher-Maravilha - também
usava saia. Todo o seu traje - uma verdadeira bandeira estadunidense, com uma águia dourada
que perfaz o sutiã - também obedece à época e ao esforço bélico, justamente no momento em que
os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial (ibidem).
FIGURA 20: atriz estadunidense Linda Carter como a heroína Mulher-Maravilha. Cartão Postal. Acervo pessoal do autor.
Ora, por mais que a intenção de
valorizar o feminino estivesse à frente dos
objetivos dos produtores da personagem
é, de fato, exótico que delicadas botas de
salto alto, maquiagem com rímel e batom,
além dos cabelos escovados, ficassem
íntegros enquanto a heroína aniquilava
nazistas, saltava de aviões sem para-
quedas e enfrentava divisões de soldados
em campos de batalhas, afora o vento que
devia adentrar sua aeronave invisível.
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Com efeito, existem imagens onde se percebe claramente uma aposta no apelo sexual
sugeridas, por exemplo, pelas nítidas curvas dessa heroína: enquanto os principais e mais
famosos super-heróis trajam uniformes que cobrem todo o corpo - ainda que modelem
explicitamente suas formas -, a Mulher-Maravilha desfila desde os anos 1950 com um maiô bem
sensual.
Além disso, por mais que ela seja uma representação tida à época como “positiva” para a
mulher, acaba por revelar-se um constructo do feminino sob os olhos masculinos, em razão de
sua expressão idealizada:
Grega como a Atena que representa, quando transubstanciada na Minerva romana
(BULFINCH, 2002), a República, mas vestida com a bandeira dos Estados Unidos da América
do Norte. Uma mulher cuja beleza e juventude permanecem na imagem, mas cujas histórias a
mantêm em situação de castidade.
Talvez seja exatamente essa a proposta: a mulher idosa da contemporaneidade tem que
ser uma “mulher maravilha”, ou seja, consorciar equilibradamente - e de modo bem-sucedido -
os afazeres domésticos, profissionais, intelectuais, familiares - filhos, netos e, quiçá, bisnetos! -,
conjugais, profissionais, sexuais, sociais e ainda se manter com um corpo literalmente
maravilhoso e sempre jovem e belo.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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FIGURA 21: Venus Marine, Laetitia Casta, Pierre et Gilles, 2000 (PAUME, 2007, p. 242). Uma eterna Vênus (BULFINCH, 2002)! Intui-se, em uma extrapolação, que essa seria a
aspiração das mulheres idosas aqui pesquisadas: John Berger (1999) poderia concordar com essa
exclamação e acrescentaria:
Mas a forma essencial de ver a mulher, o uso básico a que se destina sua imagem, não mudou. A mulher é representada de uma maneira bem diferente do homem – não porque o feminino é diferente do masculino – mas porque se presume sempre que o “expectador” ideal é masculino, e a imagem da mulher tem como objetivo agradá-lo. (p. 66)
Berger (ibidem), em seguida completaria seu raciocínio, desafiando aqueles que por
ventura tenham dúvidas quanto as suas afirmações a experimentar a transformação da imagem da
jovem e bela modelo nua acima - Figura 21 -, a francesa Laeticia Casta, em uma mulher idosa,
também despida, e não exatamente bela tal qual a Figura 2 - ver p. 51 -: “Em seguida observe a
violência que essa transformação faz. Não à imagem, mas às expectativas de um possível
expectador” - são modos de perceber: “você é o que você vê” -. (ibidem, p. 66)
Ao realizar a referida experiência fica bastante difícil não crer que o supra comentado
autor (ibidem) tenha razão.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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E, segundo Chauí (2006), a imagem corporal manobrada pelos veículos de mídia limita
os espaços de reflexão cultural; em lugar de tomar a cultura como uma das chaves da prática
social, deixa-se de lado a dimensão crítica e reflexiva do pensamento e das artes e simplesmente
adere-se à concepção instrumental da cultura, própria da sociedade capitalista: o pensamento e o
discurso publicitário, apenas variando, alterando e atualizando o estoque de imagens, reiteram o
senso comum que permeiam toda a sociedade e que constituem o código imediato de explicação
e interpretação da realidade, tido como válido para todos (ibidem).
Eis porque é fácil falar, persuadir e convencer, pois os interlocutores já estão
identificados com os conteúdos dessa fala, que é também a sua na vida cotidiana (ibidem): os
meios de comunicação oferecem opções onde as cenografias corporais podem ser reproduzidas,
ainda que não exata e integralmente copiadas. Logo, como uma necessária formadora de opinião,
aparece a indústria cinematográfica:
O cinema renovou o mundo imaginário. Renovou também os modelos de aparência, inspirando-se nas tendências de seu tempo. As “estrelas”, cujo brilho atravessa a tela desde os anos 1920, adquirem uma presença que excede seus personagens, paira sobre seus filmes, impondo um modelo, forçando a adesão até o mito: o de seres excepcionais vivendo entre homens, o de seres “feitos para amar e serem amados” [...] É o que dizem as revistas de cinema, que multiplicaram as confidências das estrelas sobre a arte da maquiagem, a fotogenia, o “segredo de ser bela”, ou as páginas com anúncios prometendo “cílios longos e espessos”, um corpo “depilado”, uma pele “cuidada”, um “olhar mágico”, um “nariz perfeito”. (VIGARELLO, 2006, p.157)
Não seria exagero dizer que a indústria cinematográfica - em especial a estadunidense -
foi o sistema que regulou a cultura de massas no século XX. Nele, as estrelas não apenas ditaram
modas, mas corporificaram e deram um enlevo carnal aos estereótipos (ibidem; HOLMLUND,
2001).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Com o advento do cinema falado, em 1928, o rosto passaria a ter um destaque
importante: as proporções hiperdimensionadas das telas de projeções, e a necessidade de colocar
em relevo a ação da fala, fizeram com que o rosto devesse ser manobrado em toda sua extensão
de sorte que os diálogos pudessem, de fato, ter o impacto expectado. Nisso, reuniram-se dois
elementos que se tornaram indissociáveis e fundamentais à emissão bem-sucedida do raciocínio
cinematográfico, close up: o rosto e a voz, como se representassem a união entre o corpo e a
alma. Ademais, naquela ocasião o rosto apresentou uma dimensão de corpo, quer dizer, resumiu-
se o corpo ao rosto (HOLMLUND, 2001).
Portanto, cabe destacar que até a década de 1930 a imagem facial, ainda que de certa
forma tivesse alguma autoridade na história da humanidade, tomou um vulto nunca antes
explorado: o rosto se desconectou do conjunto corporal, era autônomo, depois, novamente
combinou-se ao corpo - que mais adiante, na década de 1980 também teve sua posição de
protagonista - e, finalmente, ao final dos anos 1990, tornaram-se uma única massa plástica
requerida ao extremo para portar-se bela (ibidem).
[...] Olhem que corpo! Tudo feito sob medida. Olhos amendoados: 80 mil. Nariz: 200 mil [...] Vou continuar; peitos: dois, porque não sou nenhum monstro. 70 mil cada um [...] Silicone nos lábios, testa, maçã do rosto, quadris e bunda. O litro custa umas cem mil. Calculem vocês, porque eu já perdi as contas. Redução das mandíbulas: 75 mil. Depilação definitiva a laser. As mulheres também vêm dos macacos, até mais do que os homens: 60 mil [...] Bem, como eu estava contando, sai muito caro ser autêntica. E, nestas coisas, não se deve ser avarenta. Porque nós ficamos mais autênticas quanto mais nos parecemos como o que sonhamos que somos. (TUDO Sobre Minha Mãe, 2003. trad. bras.)
Lipovetsky (1999) reconhece a sedução despertada pelo cinema, na afirmação de uma
beleza plena e de personalidade singular – e tolhida em prol da singularidade –, além da
capacidade de suscitar paixões e “comportamentos miméticos em massa” (p. 208) naqueles que
reproduziam gestos, cortes de cabelos, posturas e maquiagens que os tipificavam.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Ou seja, em parte, o frisson que o cinema ocasionou na cultura de massas era devido à
cristalização dos estereótipos de personagens (LIPOVETSKY, 1999). Então, se um ator ou atriz
poderia estender ao longo de décadas um padrão de beleza e comportamento, o cinema descobria
as possibilidades físicas desses padrões.
Entretanto, os “indivíduos-resultados” da criação da imagem cinematográfica, na sua
forma e medida ideais, padecem com o alto nível de cobrança a que são submetidos, chegando,
muitas vezes, a perderem a autocrítica em decorrência da necessidade coletiva: a projeção
individual é mediada pela expectativa grupal. E seguem alguns trechos sobre estrelas
internacionais que hoje muito possivelmente seriam mulheres idosas - se estivessem vivas -:
Se para uma mulher comum já é difícil
conviver com os efeitos da menopausa sobre o corpo, pode-se ter uma idéia de como foi duro para uma pessoa cujo fascínio estivera tão fortemente ligado à sua beleza. De repente, a geografia do rosto de Grace Kelly começou a mudar. Suas feições eram como continentes que se deslocavam insidiosamente pelos mares. [...] e, agora estava sendo traída por seu melhor amigo, seu corpo. Gastou uma fortuna com Médicos parisienses que fizeram transfusões de sangue e aplicaram-lhe injeções, sem resultado. No desejo de conservar a beleza, o desespero a levou a se envolver numa batalha que jamais seria capaz de vencer e, em meio à ilusão, chegou pensar que estava ficando louca. (LACEY, 1995, p. 301)
Em tempo: presentemente, se Grace
Kelly estivesse viva teria 78 anos de idade (nota do autor).
FIGURA 22: Grace Kelly, Howell Conant, 1955. Cartão Postal. Acervo pessoal do autor.
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FIGURA 23: Audrey Hepburn, Breakfast at Tiffany’s, Howell Conant, 1961. Cartão Postal. Acervo pessoal do autor.
Perto dos 38 anos, Audrey estava a apenas a
dois dos temidos quarenta, o que no seu caso era uma dupla ameaça. Além de representar teoricamente um limite para a maternidade, era a idade em que uma atriz romântica começa a ser considerada pronta para a descida da ladeira. Era uma infeliz realidade da profissão o fato de que esses papéis, sobretudo no cinema e na televisão, onde o desgaste do tempo é mais difícil de esconder do que no teatro, ficassem geralmente com as mulheres na casa dos 20 ou no começo dos 30. (HARRIS, 1995. p. 237)
Em tempo: presentemente, se Audrey
Hepburn estivesse viva teria 79 anos de idade (nota do autor).
FIGURA 24: Marilyn Monroe, Bert Stern, 1962. Cartão Postal. Acervo pessoal do autor. Marilyn viveu o mito da beleza à exaustão [...] tudo em sua trajetória de vida foi intenso e, ao mesmo tempo, arquitetado em torno da criação de um registro mitológico que pudesse transcender gerações [...] Até a sua imagem e seu corpo foram recriados à envergadura do mito, tudo! Norma Jean Baker/Marilyn Monroe, figuras diametralmente opostas. Ao se perceber à porta do envelhecimento recuou amedrontada, aterrorizada, afinal se tornar uma senhora poderia significar a perda da juventude e, conseqüentemente, da beleza. O mito, portanto, seria depreciado e, por não ser tão mitológico assim, ora, pois, não era imortal; enlouqueceu ante à possibilidade de não ser mais bela, de não ser mais mito. Tornou-se mortal, e como qualquer mortal, uma pessoal comum, empenhou-se na adoção de um ordinary way of life, acelerando com toda a sorte de drogas e barbitúricos o encerramento das cortinas do seu solitário espetáculo. (GILMORE, 2007, p. 190. trad. autor)
Em tempo: presentemente, se Marilyn
Monroe estivesse viva teria 84 anos de idade (nota do autor).
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Contudo, ocorre a eclosão de uma “cultura video-clip” (LIPOVETSKY, 1999, p. 212),
caracterizada pela produção acelerada e pouco seletiva de produtos culturais, voltadas para a
estimulação de cadeias. Assim, uma vez que um objeto despertasse a paixão no público, aqui o
corpo, seria enveredado, pelas grandes corporações detentoras dos direitos autorais, pela trilha
das múltiplas mídias, na qual um veículo auxiliaria no sucesso do outro: a multiplicação das
mídias e dos lucros. Como explica o supracitado autor (ibidem):
As novas estratégias chamadas multimídia permitem não só distribuir por diferentes filiais os riscos muito elevados inerentes ao mercado cultural, mas igualmente promover produtos com vocação multimídia. ssim, os conglomerados multimídia organizam-se de tal maneira que crescimento de uma atividade beneficia às outras – um filme de sucesso conduz a um programa de televisão; de um livro tira-se um filme ou uma série; as histórias em quadrinhos dão origem à filmes. (...) Cada produto amplia o fenômeno de notoriedade, cada um revigora os outros. (...) tudo é recuperado de maneira sinérgica. (ibidem, p. 208-209)
A própria indústria cinematográfica estadunidense, em atitudes insólitas, critica com certa
perspicácia o seu movimento de “fundamentalismo da beleza”:
FIGURA 25: poster, Dead Becomes Her, 1992. Acervo pessoal do autor.
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É o caso de filmes como A morte lhe cai bem (2003, trad. bras. de Death Becomes Her),
onde uma estrela de Hollywood, Madeline Ashton - interpretada pela atriz Meryl Streep - , enlaça
o noivo, um consagrado cirurgião plástico, Dr. Ernest Menville - interpretado pelo ator Bruce
Willis - de sua amiga escritora. A amiga traída, Helen Sharp - interpretada pela atriz Goldie
Hawn -, transformou-se um uma mulher obesa e deprimida.
No entanto, alguns anos se passaram e ela, surpreendentemente modificada em um típico
exemplar de “beleza comprada”, publica o livro “Eternamente Jovem”.
Por outro lado, o cirurgião plástico - Dr. Ernest Menville - tornou-se alcoólatra e,
inabilitado para exercer seu metiê, optou pela profissão de maquiador de cadáveres. A amiga
traidora - Madeline Ashton -, sentindo-se cada dia mais feia e envelhecida, descobre e compra,
por um valor nada módico, um novo elixir da beleza e da juventude eternos, também utilizado
pela sua “amiga-adversária” - Helen Sharp -, por meio de uma enigmática “especialista” em
estética - Lisle Von Rhoman, interpretada pela atriz ítalo-estadunidense Isabella Rosselini - cujas
realizações não têm a menor consagração científica; ao contrário, se apóiam exatamente nos
fabulosos resultados práticos exibidos pela sua clientela.
FIGURA 26: atriz estadunidense Meryl Streep como “Madeline Ashton” em Death Becomes Her, 1991. Acervo pessoal do autor.
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A representação social do corpo cenograficamente belo, a cada dia, manifesta uma
sociedade que em verdadeiro pânico em relação à possibilidade do envelhecimento e sua “feiúra”
pseudo-associada recorre ao que pode, gasta o que não pode, e se submete ao que não quer para
poder finalmente estampar uma imagem que represente minimamente um corpo que conseguiu
desafiar o feio, vencer a velhice e tornar-se belo (LIPOVETSKY, 1999).
Nesse filme, a história de vida, por mais importante e identificadora que seja para um
indivíduo só passa a ter mérito e possibilidade de ser confortavelmente exposta quando essa
trajetória conecta-se a uma história de corpo belo e jovem, que represente socialmente a beleza.
Então, parte-se, aqui, da representação social da beleza juvenil suscitada por essa obra
cinematográfica.
O conceito de história de vida pode ser entendido como: “cada ator social tem um
conhecimento de sua experiência e atribui relevância a determinados temas, aspectos ou
situações, de acordo com sua própria história anterior” (MINAYO apud GUARESCHI &
JOVCHELOVITCH, 1995, p.93).
Para a autora (ibidem), porquanto da representação social, dois fatores são importantes
para seu real entendimento, quais sejam: o primeiro seria a fala, a comunicação verbal. Seria por
meio das falas que as pessoas refletiriam as suas formas contraditórias de pensar e agir na
sociedade, na qual a resistência estaria dialeticamente relacionada à submissão (ibidem, p. 94).
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O segundo fator seria o Habitus, conceito criado por Bourdier (2005), que significa o
inconsciente, ou seja, o indivíduo teria idéias sobre os fatos de maneira “natural” e “posta”, que
não necessitariam de ser questionadas, seriam então verdades absolutas, e que refletiriam no
modo em que os indivíduos vivem e se relacionam socialmente (ibidem).
Representação social da beleza e habitus, aqui, ensejarão sua caracterização por meio de
A morte lhe cai bem: neste filme, após tentativas frustradas de parecer cenograficamente mais
bela e jovem, Madeline Ashton resolve ir ao encontro da misteriosa expertise em beleza, Lisle
Von Rhoman, recomendada pelo esteticista do centro de beleza que se recusou em atendê-la em
razão do esgotamento das possibilidades tecnológicas para o incremento e rejuvenescimento de
sua beleza corporal.
Ao corpo deste estudo optou-se pela manutenção dos diálogos em língua inglesa - a
traduação à língua portuguesa encontra-se nos ANEXOS, ver p. 308 - para poder preservar na
íntegra o teor e o conteúdo essenciais à mensagem passada pelas personagens do filme (SERGEI,
2007, p. 30-31 & 33-37):
Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “May I say that I've always thought yours... to be one of the most beautiful faces... ever to grace the silver screen.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Oh.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “And that husband of yours, i can only say that his reputation is unsurpassed.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Oh.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “I just arrived in town. I follow the spring. I haven't seen an autumn or winter in years. We are creatures of the spring, you and i.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Uh-huh. I'm not really quite sure why i came.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “You're scared as hell... of yourself, of the body you thought you once knew.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “I beg your pardon?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “I am the one of who understands. I am the one of who knows your secret.” [...] Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “So warm, so full of life. And already it ebbs away from you.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “This is life's ultimate cruelty. It offers us the taste of youth and vitality...”
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Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “and then makes us witness our own decay.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Well, it is the natural law.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Screw the natural law!” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “What is that? What you came for? A touch of magic...” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “in this world obsessed with science.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “A tonic. A potion. What does it do?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “How old would you guess am i? I wouldn't... Come on. Don't try to flatter me.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Thirty eight. Oh, twenty eight. Twenty... three?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “I am seventy-one years old. That's what it does. It stops the aging process dead in its tracks... and forces it into retreat. Drink that potion and you'll never grow even one day older. Don't drink it... and continue to watch yourself rot.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “How much is it?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “The sordid topic of coin… I'm afraid is not so simple.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Well, for me, how much?”
Lisle writes the value, an astronomical amount, on a piece of paper and shows for Madeline. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Well, thank you very much. I think i should be going.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Sit! Hold out your hand.”
Lisle sticking Madeleine’s hand and then put a drop of youth and beauty tonic. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “What are you, nuts?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Watch.”
The Madeline’s hand - in a fraction of seconds -, before old and full of age patches, turns into a smooth, soft, beautiful young person’s hand. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Check okay?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Fine. But you must make me a promise: the secret that we share must never become public. You may continue your career for ten years, ten years of perfect, unchanged beauty. But at the end of that time, before people become suspicious, you have to disappear from public view forever. You can retire. You can stage your own phony death... or...as one of my clients simply said - in allusion to the Greta Garbo -, ‘I want to be alone, yah’." Madeline Ashton (Meryl Streep) – “No! She's not! Wow!” Bottoms up. Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Now, a warning”. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Now, a warning?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Take care of yourself. You and your body are going to be together a long time. Be good to it. Siempre viva!!!! Live forever!!!”
Ao analisar esse instigante diálogo, primeiramente evidencia-se o quanto é difícil um
indivíduo assumir sua idade biológica: Madeline Ashton mostra uma preocupação excessiva com
a beleza e a juventude. Para tal, utiliza-se de toda a sorte de estratégias cosméticas para driblar a
passagem do tempo e o conseqüente esmaecimento da beleza juvenil.
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Isso não significa dizer que a personagem confirmou seu envelhecimento, o que se
afirmou foi a importância dada à representação social da cenografia da juventude e, o mais
relevante, não importa como a sociedade classifica tal ação e identifica tal comportamento, seja o
que for, o habitus de querer ser jovem e bela era maior do que qualquer pré-conceito.
Madeline em seu desespero clamava por ajuda ao empreendimento de seu périplo
“antiidade” e “antifeiúra”, entretanto, exaurida por inúmeras peripécias mal-sucedidas não
acreditava nas fabulosas propostas de Lisle que, por sua vez, resolveu o ceticismo da cliente
mostrando os efeitos benéficos do seu produto em si própria. Depois, como qualquer vendedora
de cosmético, fez a cliente com uma infíma – no entanto, extremamente eficaz e efetiva –
amostra do seu produto tornar-se completamente crédula e confiante naquilo que lhe foi vendido
- ainda que em valores financeiramente absurdos -.
Portanto, é possível traçar por meio do diálogo entre Madeline e Lisle uma significação à
inversão de valores, onde o valor estético ocorre por meio de uma representação social da beleza
estritamente mercantil e fetichista: entende-se que o corpo é a própria mercadoria, é um tipo de
consumo, passando-se de insumo a produto final, pertencente ao mundo da fantasia, dos desejos
e do modelo ideal de perfeição.
De toda sorte, em resumo, as consumidoras da fabulosa poção cosmética têm que lidar
com uma suposta vida eterna onde suas belas cenografias corporais não necessariamente serão
eternas, antagonicamente decomporão no mesmo ritmo e velocidade dos (des)cuidados
excessivos e equivocados que forem sendo incorporados.
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Nisso, a tecnologia da beleza seria a maior determinante da deterioração da representação
social da imagem e do encanto corporal: para Madeline e Helen, a morte lhes “cairia bem” ou a
beleza e a juventude “lhes cairiam mal”? Contudo, os mitos e suas cenografias corporais seriam
então pulverizados, evocados numa intensa roleta russa de consumismo e adoração, de posse e
devoção das estrelas por meio do consumo (VIGARELLO, 2006).
Se para Vigarello (ibidem), a cultura de massas no início do Século XX exercia forte
apelo junto ao público feminino, ofertando uma proposta de intimidade e diálogo com os ídolos
nas revistas de fotonovelas e bastidores das produções culturais; Lipovetsky (1999) aponta uma
mudança na relação entre o fã e o objeto de culto, tanto no que diz respeito ao gênero e à faixa
etária, quanto no que toca ao teor dessa intimidade, baseada numa extinção da distância entre os
dois, sendo que o corpo, sua beleza e sua juventude seriam os grandes autenticadores do sucesso
de um mito cultural.
E um consumidor da indústria cinematográfica não necessariamente precisaria vestir a
mesma peça de vestuário ou adotar o corte de cabelo de um de seus mitos, o ato mesmo de
“aderir” à tradução em seu próprio corpo de um padrão de beleza corporal emanado por essa
indústria, que se propaga e prolifera inclusive em outros canais, constituiria um gesto de paixão,
que no âmbito da cultura de massas, implicaria na devoção do consumo: trazer as celebridades
para casa, forjando uma proximidade com os grandes, significaria democratizar o social,
nivelando às estrelas ao patamar do fã, extingüindo as hierarquias.
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O corpo, nessa dimensão, adquiriria um aspecto de vitrine, a vitrine do espetáculo, a face
mais visível da exposição corporal narcísea, seu monólogo ininterrupto e auto-elogioso, é
composta por esse complexo sistema de mídias que Debord (2000) entende como modelo
socialmente dominante, como “afirmação onipresente” da lógica da produção industrial e do
consumo de massa, “presença permanente” das justificações do sistema ocupando o tempo livre
do indivíduo, das mais variadas formas de produtos espetaculares: informação, lazer,
publicidade, enfim, tudo aquilo que de alguma forma permita o realce estético-corporal.
No entanto, a construção do belo atingiria um aspecto de maldição quando o objeto
central seja a comercialização da cenografia ideal e da plástica perfeita por meio de concursos de
beleza: o “candidato vencedor” é laureado por cetros, cinturões, coroas, faixas, mantos,
medalhas, troféus, etc., além de algum dinheiro, do dúbio destaque social e de uma relativa fama.
FIGURA 27: Concorrentes do Miss Universo 1955. Cartão Postal. Acervo pessoal do autor.
De outra parte, todos esses símbolos adquiridos poderão ser biologicamente perecíveis, se
tornar facilmente datados e não franquear o sucesso permanente, até mesmo porque se baseiam
em critérios cujas marcas serão volúveis e temporais - caracterizadas por laços sociais
marcadamente fracos - (SFEZ, 1994).
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A manutenção daquele corpo cenograficamente premiado, espetacular, provavelmente
não poderá mais ser superada per si, e poderá ser desdobrada em uma sensação posterior de
fracasso e não adequação social, fazendo com que o agora “mito-modelo” tenha que se refugiar
em subpadrões de lugar social ou mesmo ter que congelar esse lugar no tempo e no espaço onde
sua glorificação foi alcançada, tornando-se uma mercadoria depassada (SFEZ, 1994; BERTIN,
S. & MACHET, B., 2003).
Não raramente, as fábulas infantis, de alguma maneira, apresentam o belo como algo
sedutoramente arriscado, onde as princesas são caracterizadas com feições frágeis e vitimizadas,
enquanto os vilões geralmente portam expressões astutas, ladinas, explicitamente medonhas e
envelhecidas: visualize iconograficamente as imagens abaixo, a heroína e a vilã, a juventude e a
velhice...
FIGURAS 28 e 29: respectivamente Branca de Neve e a Bruxa Má, cenas do longa metragem de animação A Branca de Neve e os Sete Anões, Walt Disney, 1937.
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A Bela Adormecida literalmente repousou por um século, o Patinho Feio sofreu uma
infinidade de agruras até se “transformar” em Cisne, o “Príncipe” virou um sapo, a Branca de
Neve foi envenenada e a Cinderela foi submetida a toda a sorte de caprichos e maldades; ora se
tornava uma sofisticada nobre da corte, ora se tornava uma criada maltrapilha (GRIMM &
GRIMM, 1993; TOWBIN, HADDOCK, LUND & TANNER, 2004) - são discursos dirigidos ao
controle da produção do corpo jovem e belo -.
Esse raciocínio permitiria especular que a beleza e a juventude também poderiam ser
pensadas como potencialmente perigosas; além de despertarem inveja, por mais que a sociedade
as valorize, também faz críticas a certos comportamentos despertados por elas. É como patenteia
o senso comum: “os belos são burros, os feios são inteligentes”, ou, “ainda é muito jovem, o
tempo a ensinará” (ambos de autoria desconhecida).
Portanto, a beleza e a juventude suscitariam um sentimento de desfavorecimento social:
contemporaneamente existe uma hipótese que aventaria uma tributação à beleza (OTÁLORA,
2007), ou seja, provoca-se um debate sobre o culto à beleza e sua influência em setores como a
política, a economia e a educação; e propõe-se um “imposto” que deveria ser cobrado dos
“belos” para subsidiar os “feios” e reparar seu suposto “sofrimento” (ibidem).
Em sua teoria (ibidem), a beleza física associar-se-ia aos modelos e atores que aparecem
nos meios de comunicação, e as pessoas seriam consideradas mais ou menos belas conforme se
aproximassem ou se distanciassem desses parâmetros. A idéia de um “imposto sobre a beleza”
poderia parecer um devaneio literário. No entanto, caso esse debate possua uma condução
adequada tornar-se-ia um ponto de partida à discussão de outros temas, e enumeram-se alguns
assuntos que mereceriam uma reflexão (ibidem):
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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“Que nos desfiles de moda estejam representados todos os tipos de constituição física, que na escola se crie um ambiente que desestimule o deboche e que se controle a importância que as empresas dão à aparência na hora de selecionar seus funcionários” (OTÁLORA, 2007, p. 14. trad. autor).
Onde estariam os limites?! Portanto, com apoio do Dr. Renz (2007) convidam-se os
profissionais Dr. Pró e Dr. Contra para realizarem um breve debate sobre a questão:
- Estimado doutor Pró, estimado doutor Contra, quais métodos de embelezamento são, de fato, permitidos? Contra: Sou totalmente contra as cirurgias cosméticas. Cada um é como é... Pró: O senhor também tem algo contra a maquiagem? Pertence a alguma seita fundamentalista? Não esqueça que um sutiã serve também para enganar... Contra: Certamente, mas o senhor estará de acordo comigo se digo que uma intervenção com anestesia geral é algo muito menos natural que o uso de sutiãs e batons. Pró: E o que é natural? É natural uma cirurgia de apendicite? Contra: Não, mas é necessária. Não sou contra ao que é necessário do ponto de vista Médico. Pró: Mas, quem decide o que é necessário do ponto de vista Médico? Se o rosto de uma pessoa desfigura-se após um acidente automobilístico, então é lícito que seja operado? Pois é certo que, desde um ponto de vista estritamente Médico, haveria uma grande necessidade... Contra: Se a desfiguração é grande, claro que poderia ser operado... Pró: Mas, qual é a diferença? Um desfigurou-se em razão de um acidente, outro deformado em razão de um acidente genético, isto é, também por uma casualidade do destino. E quem define o que é uma deformação? Se lhe falta um dente, por um acaso o senhor não procuraria um dentista para repará-lo? Ou se fôsse necessário, os seus filhos usariam aparelhos ortodônticos... Contra: uma cirurgia estética não tem nada a ver com uma correção ortodôntica! Pró: Em qual medida? Contra: Uma pessoa pode falecer em uma mesa de cirugia plástica. Pró: Nesse caso, não se oporá aos tratamentos anti-rugas com aplicações de botox: se trata de uma técnica que não se conhecem casos mortais... Contra: Eu sei. Mas, deve-se utilizar então tudo o que estiver ao alcance? O envelhecimento é parte da vida. As rugas são sinais de amadurecimento. Pró: E quando uma vendedora de qüarenta anos de idade de uma loja de roupas de grife tem medo de perder seu trabalho... É culpa dela que seu posto de trabalho corra risco em razão das rugas que aparecem em seu rosto? Contra: Por um acaso quando completamos cinqüenta anos temos todos que nos parecermos com a Britney Spears? Pró: Se nos sentirmos melhor assim, por que não? Contra: E se não puder fazer nada porque não tenho dinheiro para pagar todas essas técnicas milagrosas? Pró: Não estamos discutindo questões de justiça social. Contra: Não, mas, de todo modo me preocupa o que possa ocorrer com a sociedade. Por mais que uma cirurgia possa beneficiar o indivíduo, a moda de cirurgia cosmética supõe uma pressão a mais para todos nós. Chegará o momento em que alguém com cinqüenta anos que pareça ter cinqüenta anos será considerado uma fracassado ou um perdedor. Estaremos rodeados por corpos normatizados e por essa razão nos parecerão feios todos os demais... Parece-me perverso. Os seios flácidos parecerão tão terríveis como o bócio foi no passado... Pró: E qual é o problema? O mundo ficou pior desde que o bócio desapareceu de nossa vista? (RENZ, 2007, p. 336-338. trad. autor)
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Seria parvoíce, em suma, raciocinar que as sociedades contemporâneas continuam a fazer
uso dos mesmos mitos da Antigüidade e, ainda, das mesmas formas nas quais tais narrativas
atravessaram o tempo até a época atual: cada sociedade constrói suas próprias formas de mito à
medida das suas aspirações culturais (WOLF, 1992; ECO, 2004; 2007; LE BRETON, 2003;
VIGARELLO, 2006).
Ademais, intercedido pelas investigações executadas ao estudo, talvez, por ilação, parece
que a tônica dominante deste princípio de século seja a “beleza-juventude-saúde-eternidade”, em
antítese à quadriangulação “feiúra-envelhecimento-adoecimento-morte”.
Todavia, de dois traços mínimos - “biofisiológico” e sociocultural - poderia provir a
cenografia corporal: quando ela despertasse um desejo de moto próprio teria a possibilidade de
atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte, onde a cronometria temporal
adquiriria um caráter de menor relevância.
Esse corpo contemporâneo se configuraria cenograficamente como um caleidoscópio:
uma pessoa se veria de uma certa forma, outra o perceberia de outra (POLIERI, 1971). Assim,
sucessivamente, coordenar-se-ia um arranjo em mosáico de imagens que cinzelariam uma
cenografia modulada por um desejo sociocoletivo, no entanto, sobretudo, cultural (SILVERS,
1998).
Destarte, os resultados apresentados por esta dissertação não certificam integralmente o
discurso explorado. Não obstante, apontam uma tendência à incidência de distorção da imagem
corporal entre um grupo específico de mulheres idosas pesquisadas, inclusive nos estágios mais
impressivos das escalas técnicas frente aos protocolos adotados.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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CAPÍTULO IV
DAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
FIGURA 30: atriz francesa Catherine Deneuve, de 66 anos de idade, campanha publicitária da griffe Louis Vouitton, 2003. Cartão Postal. Acervo pessoal do autor.
Voilá, apareceu a Mme. Deneuve! Sua imagem glamourosa assegura a venda de qualquer produto (por menos glamour que tenha): bela, burguesa e fria... quando saio da sala de cinema após assistir os filmes de La Deneuve, a impressão que tenho é que o significado da palavra sofisticação passou a ter concretude com Catherine, sua beleza é classuda, distante do ritos mortais rotineiros, gélida... de tão gelada o tempo está encarregando de derretê-la [...] (LAURENT, 2005, p. 13. trad. autor)
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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O envelhecimento, historicamente enfocado como um fenômeno relativo ao processo
físico e restrito à esfera familiar ou privada, torna-se uma questão central nos debates sobre o
relacional da sociedade: o aumento quantitativo das pessoas idosas, o transforma numa questão
coletiva, tornando-se um dos principais desafios sociais ao século XXI.
Seja nos países centrais ou nos periféricos, a ONU (WATKINS, 2006) considera que os
diversos Estados Nacionais, por meio de suas políticas sociais, são ineficientes e não priorizam a
busca de alternativas às demandas de uma sociedade envelhecida: essa conjuntura provoca a
necessidade de definir novos espaços nas diversas estruturas sociais às pessoas idosas e reforça o
debate sobre as respectivas atribuições da sociedade moderna.
Portanto, tanto o envelhecimento da população de muitos países, como as modificações
de conceitos e tratamentos frente à este, nos últimos anos, vêm suscitando o surgimento de novas
abordagens ou conceituações teóricas acerca dessa temática.
Para Oliveira, Pasian & Jacquemin (2001) existem pesquisas que salientam a existência
de dois caminhos teóricos: um considera o envelhecimento como a fase de sabedoria, de
maturidade e serenidade, enquanto que outro caminho conceitua a senescência como etapa final
da vida, a fase que antecede a morte.
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Segundo Felippe, Sandmann, Merhy, Fernandez & Bulgacov (1999) envelhecer refere-se
ao processo da vida que inicia com o nascimento e termina com a morte, dando a idéia de um
processo contínuo e não apenas uma etapa.
As mudanças, enfatizadas pelas pessoas idosas como decorrentes do envelhecimento,
referem tanto a realização de atividades que não puderam ser exercidas até aquele momento, bem
como o surgimento de limitações físicas, porém, não impeditivas de continuidade, ou início de
atividades físicas (ibidem).
Essa acepção corrobora com as considerações de que as pessoas idosas têm consciência
de suas potenciais limitações físicas; no entanto, não são impedidas totalmente de realizar
atividades, sejam elas motoras ou não. Pelo contrário: “vivenciam as diferentes e novas
experiências, sem a preocupação exagerada com os preconceitos que a sociedade manifesta em
relação aos seus corpos” (NERI & CACHIONI apud NERI & DEBERT, 1999, p. 130).
O fato de as mudanças corporais se processarem rapidamente, conforme Motta (2002),
gera um sentimento de brusquidão na autopercepção do envelhecimento. Porém, há sempre
partes do corpo que se mantêm mais jovens e conservadas ou mais sadias do que outras, pois a
velhice nunca é um fato total: ninguém se sente velho em todas as situações.
A velhice deve ser então considerada a partir de vários fatores: contexto cultural, social,
político, econômico, da história pessoal, enfim, várias são as influências que interferem na vida
das pessoas (MATTOS, TRUCCOLO, MEDEIROS, SILVA & MELLO, 1998), inclusive as
questões de gênero estão fortemente imbricadas.
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A questão de gênero, também pauta deste estudo, é apontada por Debert (1994): esta
autora destaca a distinção de significações, papéis sociais, valores e atitudes entre homens e
mulheres. Segundo ela, na maturidade, tais elementos tenderiam a se combinar, caracterizando
esta fase pela androgenia. Porém, as pesquisas atuais apontam que existem diferenças
significativas influenciadas pelo gênero e, portanto, a velhice não pode ser vista de maneira
homogênea.
Porém, a maneira com que cada um lida com a sua vida reflete no processo de
envelhecimento: Herédia & Casara (2000) lembram que saúde na velhice não é ausência de
doença, mas autonomia e independência: “Autonomia é o autodiscernimento. É a capacidade de
decisão. Independência é não precisar de ajuda para fazer as coisas” (p. 109).
Parece que, como refere Motta apud Minayo & Coimbra (2002), as pessoas idosas saem
do “aprisionamento da 'natureza' socialmente (im)posta para – aí, sim! – usarem, ou pelo menos
representarem, o corpo de maneira mais natural ou – até o ponto em que a cultura ocidental
permita – menos fragmentada: andam, dançam, alegram-se” (p. 45-46).
Conforme Santos & Belo (2000), pode-se observar uma mudança na representação e
percepção da velhice e a formação de uma nova identidade da pessoa idosa, o que se opõe a um
tradicional discurso de uma velhice passiva: as mulheres idosas que participaram desta pesquisa
apontariam para uma velhice ativa, com possibilidade de realização, reforçando a importância da
autonomia e da independência.
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Por outro lado, ficariam mais expostas aos efeitos nocivos dos comportamentos de uma
sociedade que regula o corpo como um verdadeiro objeto de consumo rápido e oportunista.
Ganha força, portanto, a idéia de promover a saúde, e não apenas de curar a doença, emergindo
daí os conceitos de vigilância em saúde, políticas públicas saudáveis e cidades saudáveis,
articulados à noção de promoção da saúde pela mudança das condições de vida e de trabalho da
população (SOUZA apud ROUQUAYROL, 1994; MENDES, 1996).
Surgem, assim, propostas para uma nova atitude à saúde que estão centradas em uma
formulação positiva de teoria e prática, buscando romper com concepções estabelecidas sobre a
tríade saúde-doença-cuidado (MENDES, 1996; PAIM, 1992; 1994; 2000).
Com relação à noção de saúde, a pretensão tem sido de pensá-la positivamente, e não
apenas como ausência de doença. Embora o conceito de promoção da saúde tenha surgido na
década de 1940, com Sigerist (MENDES, 1996), ainda hoje essa perspectiva vem se sustentando,
muitas vezes apenas no plano retórico e ideológico, visto que tanto as políticas e as ações quanto
as pesquisas no campo da saúde têm-se pautado predominantemente pelo conceito de doença.
As mulheres idosas constituintes da presente investigação estão formalmente inseridas em
um programa de promoção da saúde - todas estão matriculadas há no mínimo 90 dias -, inclusive
sob supervisão permanente de um Profissional Médico que estaria se ocupando de ao menos uma
vez por mês consultá-las para monitorar a qualidade dos seus estados gerais de saúde, bem como
antever quadros adversos futuros e realizar ações presentes de contenção, o que caracterizaria, de
fato, uma intervenção em Medicina Preventiva (ibidem).
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Soma-se a esse cenário a média de idade de 66 anos das mulheres idosas, sendo a maior
concentração de pesquisadas na faixa etária de 60 a 64 anos (60,7%), ou seja, um grupo senhoras
relativamente jovens.
A maioria das pesquisadas são viúvas (53%), recebem aposentadoria por meio de
organismo governamental (100%), residem solitariamente (38,1%), possuem o Ensino Superior
Completo (84%), apresentam um rendimento mensal médio de 10 salários mínimos (60,3%) e
pertencem majoritariamente à Classe Econômica A (68,8%).
E, em termos de indicadores de saúde, 65,3% das mulheres idosas têm uma percepção de
saúde positiva, o que pode estar associado ao alto nível escolar, classe econômica, renda familiar
e presença/ausência de doenças auto-referidas.
Ou seja, trata-se de um conjunto de mulheres que seriam ideais à absorção dos conceitos
fomentados pelas dimensões teóricas da promoção da saúde e da prevenção de agravos. Por
outro lado, a maior parte do grupo de pesquisadas referiu como a presença mais relevante de
“problemas de saúde” a necessidade de realização de intervenções cosmético-cirúrgicas (97,4%),
sendo que 84% referiram ter realizado algum procedimento deste talhe, e o mais predominante
foi à aplicação de toxina botulínica (40%).
De sua parte, da percepção da imagem corporal obtida para este estudo por meio de sua
mensuração a partir da escala de nove silhuetas: 26% das mulheres idosas escolheram para a
imagem corporal real a silhueta 5, enquanto que, para a imagem corporal ideal, a 4 (31,7%),
sugerindo que mais de 50% das pesquisadas estavam insatisfeitas com a imagem corporal,
principalmente em razão do excesso ponderal.
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A percepção da imagem corporal quando analisada em 2 categorias, satisfeito e
insatisfeito, não apresenta associação com as variáveis sóciodemográficas - faixa etária, estado
civil, arranjo familiar, escolaridade, classe econômica e renda familiar - ou com os indicadores
de saúde - percepção subjetiva de saúde e problemas de saúde auto-referidos -: entre as mulheres
idosas satisfeitas e insatisfeitas, não houve diferenças em relação à idade e à estatura, apenas
evidenciaram-se diferenças na massa corporal, que apresentou valor menor às pesquisadas
satisfeitas.
Quando analisado o IMC, verificou-se um aumento no valor desse marcador entre as
mulheres idosas insatisfeitas pela magreza, satisfeitas e insatisfeitas pelo excesso; e uma
associação em que, quanto mais elevada à categoria do Índice, maior era o percentual de
pesquisadas insatisfeitas com a imagem corporal.
As questões de atividade física, por não terem sido incorporadas nesta primeira
investigação, não apresentaram articulações com a percepção da imagem corporal. Contudo, em
linhas gerais, pode-se dizer que as mulheres idosas entrevistadas, em sua maioria, estavam
insatisfeitas com sua imagem corporal, e que essa insatisfação foi associada ao IMC, mas não à
idade, à escolaridade, ao arranjo familiar, à classe econômica, à renda familiar, à percepção de
saúde e a problemas de saúde auto-referidos pelas pesquisadas.
E observou-se ainda a prevalência do padrão ideal de um corpo magro, considerando que
o grupo de pesquisadas com peso aparentemente adequado apresentou descontentamento com
relação a sua imagem corporal, desejando alterá-la para adequar-se aos modelos esteticamente
bem-sucedidos.
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Ademais, dicotomicamente, as mulheres idosas aqui pesquisadas auto-referiram um
estado geral de saúde positivo. Entretanto, a bem da verdade, mesmo que o discurso seja
saudável a intenção não necessariamente o será (SFEZ, 1994).
Possivelmente pretender-se-ia com a justificativa de um “discurso saudável” buscar um
corpo belo - se será realmente saudável não é um fato tão importante, mesmo que as tecnologias
utilizadas e seus resultados conseqüentes não sejam benfazejos - (ibidem).
Essas tecnologias, a princípio ornamentais, foram se transformando em manipuladoras, à
transformação da imagem; alteraram não apenas a forma, mas o funcionamento do corpo com
implantes, extrações, reduções de estômago, fármacos laxantes, inibidores de apetite,
aceleradores de metabolismo, atividade física com anabolizantes, cirurgias, entre outras técnicas:
vale tudo para estar sincronizado com o padrão estético corporal de cada tempo (ibidem).
Portanto, segundo Easton (2004), as tecnologias dirigidas à beleza oferecem uma
sensação de progresso, de estar pari passu com o que existe de mais novo no mercado da estética
corporal: a imagem desse corpo se constrói a partir de uma parametrização midiática que não
admite fracasso; e é formada por figmentos de desejos mediados – marcadamente – pelos
veículos de comunicações.
Cada figmento representa uma parte, quando isolada detém uma representação particular,
mas o seu conjunto revela finalmente a imagem aspirada coletivamente. Até mesmo porque, ao
portar um corpo jovem, belo e “exteriormente saudável” imprime-se uma imagem
“cosmeticamente saudável” - ainda que, “internamente”, o corpo esteja completamente
“depauperado” -.
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Contudo, toda a beleza corporal que se vê é verdadeira? É uma pergunta que já não pode
ser respondida. Na atualidade, sintentiza-se digitalmente a beleza humana da mesma forma que
se obtém um diamante sintético, um diamante que, sem a ajuda dos expertises, não poderá ser
distingüido de uma peça original, salvo por um pequeno detalhe: é mais duro do que o original.
No futuro - próximo?! - será preciso as pessoas portarem certificados de autenticidade e
originalidade?
Acredita-se, pois, ter contribuído à ampliação e construção do conhecimento sobre a
pessoa idosa, sua autopercepção, seu corpo e sua beleza porque o fenômeno vivido já estava lá,
armazenado no seu corpo, aguardando ser desvelado: ao desvelá-lo, crê-se ter apontado para
novas possibilidades de expressão da maturidade saudável apropriando-se da experiência dos
corpos das mulheres idosas que fizeram parte deste estudo para gerar conhecimento, além de
possibilitar uma visão declaradamente gerontológica sobre o processo de envelhecimento.
Não obstante, improvavelmente, pouco antes de nascer, caso fosse oferecida uma única
alternativa de escolha aos seres humanos: optar-se-iam por serem eternamente jovens e
belíssimos no sentido literal da estética da beleza, entretanto, para todo o sempre
economicamente pobres? Ou ser-se-iam milionários, porém, esteticamente feios e passíveis do
efeito do tempo sobre o corpo e seu decurso cronológico como em qualquer ser humano mortal?
A resposta, além de complexa, também poderia ser polêmica. No entanto, “costuma-se
repetir em toda parte que hoje em dia se convive com modelos opostos porque a oposição
feio/belo não tem mais valor estético: feio e belo seriam duas opções possíveis a serem vividas
de modo neutro, o que parece se confirmar em muitos comportamentos juvenis” (ECO, 2007, p.
426).
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Os seres humanos empreendem uma contenda que muito extraordinariamente triunfarão:
“Ao querer viver eternamente, destruímos a vida, de forma que expressamos a perda do prazer se
desejamos desfrutá-lo eternamente. Todo prazer busca a eternidade, mas a eternidade é sua
perdição. Se não existisse a morte, teríamos que inventá-la para não termos de viver uma vida
mortalmente chata” (SCHMID, 2000, p. 26. trad. autor).
Na perspectiva da mudança corporal, GEIS (2003) comenta que o tempo deve ser
compreendido como um continuum, no qual o ser humano apresenta-se em constante
desenvolvimento, e não envelhecendo. Assim, não se devem focar as perdas, mas sim à
conquista e redescoberta de um novo corpo que é e será, vivendo um novo mundo a cada
amanhecer que se inicia.
A prática da atenção geriátrica e gerontológica à saúde da pessoa idosa é decididamente
vocação dos países que evoluem na escala de desenvolvimento socioeconômico (SILVESTRE &
COSTA, 1993; PLOUFFE, 2003): nesse aspecto, é de fundamental importância um planejamento
global das instituições que se dediquem à prestação de atenção à saúde a essa camada geracional,
não só para melhor desempenho da atividade assistencial como para melhor adequação e
segurança do estado geral de saúde de seus usuários (VERAS, 1994).
Ultimamente, conforme cada vez mais freqüentes divulgações por meios de estudos
científicos (BELO, 1990; SILVESTRE & COSTA, 1993; CARVALHO-FILHO et al., 1998;
FLORIANI & SCHRAMM, 2004; OVERALL, 2004; FANTINO, VOIRIN, LAURENT,
FANTINO, CHRETIN & GANSE, 2006; GORZONI & PIRES, 2006; SOUZA, 2008) ocorrem
importantes prejuízos aos indivíduos idosos, inclusive com óbitos, evidenciando-se a frágil
estrutura de acompanhamento dos mesmos.
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No entanto, infelizmente, com repercussão na área médica, menos em virtude da
competência de profissionais e mais em decorrência de deficiente organização estrutural das
instituições prestadoras de assistência geriátrica e gerontológica à saúde da pessoa idosa
(OVERALL, 2004; FANTINO et al., 2006).
Sob essa dimensão produzem-se certas indagações:
Estaria o Profissional Médico da operadora de atenção suplementar ciente dos estados
gerais de saúde aventados por meio das percepções autoreferidas pelas mulheres idosas aqui
investigadas cientificamente, e que estão sob seu monitoramento clínico?
E, em caso afirmativo: as diretrizes técnicas que regulam o programa de saúde no qual as
mulheres idosas estão matriculadas possui instrumental mínimo, tecnicamente consagrado, ao
tratamento dessas morbidades, e essas ferramentas estão livremente disponibilizadas tanto ao
conhecimento quanto à atuação do Profissional Médico da assistência?
Nesse contexto, portaria o Profissional Médico prestador do programa da operadora de
plano de saúde formação técnico-científica básica dirigida à assistência à pessoa idosa e, mais, à
detecção precoce de transtornos da imagem corporal?
Enfim, é realizada alguma estratégia dirigida à atenção dessas questões ou elas são
tratadas como situações de menor relevância frente ao conjunto de diversidades assistenciais
apresentadas pelas pesquisadas?
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Outrossim, acontecem certos questionamentos que não podem ser negligenciados; quais
sejam:
a. estariam as mulheres idosas integrantes desta pesquisa recorrendo às intervenções
cosmético-cirúrgicas para resgatarem a juventude de outrora? Ou;
b. ao recorrem às intervenções cosmético-cirúrgias, essas senhoras estariam ensejando
tornarem-se mais belas, e possuindo a beleza almejada, de certa forma, estariam aplacando os
sinais estético-corporais do envelhecimento? Ou bem;
c. sob esse raciocínio, ao sentirem-se inteiramente belas e, por conseguinte, supostamente
jovens, portariam, contudo, um corpo mais saudável? Ou ainda;
d. porquanto se autoperceberem belas, esteticamente jovens e portadoras de uma saúde
plena: essas mulheres idosas sentiriam-se mais bem-sucedidas e menos subordinadas aos
preconceitos sociais, profissionais, financeiros, afetivos, sexuais e familiares decorrentes do
envelhecimento e suas perspectivas pejorativas provocadas pelo senso comum? Ou, de toda
sorte;
e. seria a vaidade a força motriz que impulsionaria essas senhoras ao consumo – não
raramente acriticado e muitas vezes influenciado pelos canais midiáticos – das tecnologias da
beleza? Ou, contudo;
f. ao se apropriarem da autopercepção de uma imagem corporal bela, jovem e saudável:
estariam essas mulheres idosas negando o envelhecimento enquanto estágio temporal comum aos
ciclos da vida?
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Diante disso caberia ainda perceber, ensejar outras respostas: quais seriam os
comportamentos que uma mulher idosa deveria ter para ser “jovem”? O que esta mulher deveria
fazer para se tornar referência de beleza e juventude para o seu grupo de convívio? Poderia ser
definido um conceito para o envelhecimento saudável na contemporaneidade, e caso seja
possível, qual seria? Sob que dinâmica social o envelhecimento estaria sendo influenciado? O
embelezamento e a vaidade seriam significados de uma mulher idosa mais saudável?
Assim, advertem-se ingerências que visem ao desenvolvimento de ações estruturadas de
atenção geriátrica e gerontológica à saúde das pessoas idosas que estejam articuladas à
orientação médica, nutricional, de atividade física e de apoio psicoterapêutico cujas repercussões
possam proporcionar alterações corporais que transformem o estado geral de saúde - e sua
percepção de bem-estar -.
Isto é: perceber o processo de envelhecimento aspirando aos múltiplos aspectos que o
acompanha denota ir além das transformações, perdas e degenerações e, conseqüentemente,
possibilita a valorização das experiências vividas, do acúmulo de vida encontrado na pessoa
idosa.
Como profissionais, em maior expressão os Geriatras e Gerontólogos - especialmente no
caso desta dissertação, cuja formação básica do autor é a Graduação em Medicina -, inseridos na
cena contemporânea da saúde coletiva brasileira: acredita-se que é necessário conhecer as
peculiaridades dos corpos idosos viventes, respeitar as suas singularidades e as suas
possibilidades.
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Ademais, não se pode esquecer de reconhecer e de incentivar as potencialidades de cada
um durante o processo de envelhecimento, e de contemplar ações direcionadas à promoção da
saúde e do bem-estar - não apenas um procedimento técnico determinado às doenças e suas
medicações -; transcender isto possibilitaria um cuidado estético e ético voltado à pluralidade
humana: é a imagem que se abriria - à semelhança de uma “Flor de Lótus” - às novas dimensões
de um corpo portador de tempo próprio, apenas seu, dissociado das preocupações
“cronobiofisiológicas” coletivas.
Para tal: sugere-se que se aprecie a transformação da iconografia feminina, especialmente
da mulher idosa, por intermédio de certas ilustrações utilizadas no escopo desta dissertação -
com efeito, veja e compare as Figuras 1 na p. 15, 2 na p. 51, 16 na p. 159 e 30 na p. 242 -.
Cabe salientar, nesse contexto, uma oportunidade impressiva descortinada pelo presente
estudo: da realização de outros trabalhos que incorporem à mesma dimensão a partir de uma
abordagem diretamente qualitativa e que analise o discurso das mulheres idosas - até mesmo por
meio de base etnográfica - a respeito das expectativas sobre suas imagens corporais, atuais e
desejadas, ante as motivações que estimulam suas escolhas de hábitos e estilos de vida.
E que as razões das insatisfações corporais das pesquisadas sejam substancialmente
identificadas e discutidas, além da realização de novas pesquisas com populações de mulheres
idosas brasileiras à utilização do Protocolo de Stunkard (STUNKARD, SORENSEN &
SCHLUSINGER, 1983), ou escala de nove silhuetas.
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De sorte, também, que sejam produzidas informações - tanto quantitativa como
qualitativamente - validadoras do uso desse instrumento no âmbito da assistência geriátrica
nacional à realização de screening, ou rastreamento preambular, para que os sujeitos que
potencialmente apresentarem perfis que requeiram um atendimento especializado sejam
direcionados pelos profissionais Geriatras às demais áreas médicas e de saúde: o que permitiria a
efetivação de mecanismos planejados de referência e contra-referência de atenção à saúde da
pessoa idosa.
Por hora, a grosso modo, certas inquietações permaneceram em sobrestado. No entanto,
segundo entendimento deste pesquisador, este é um estudo elementar que poderá ensejar
possibilidades exploratórias ulteriores às diversas áreas do conhecimento do setor da saúde:
gerando reflexões extramuros à comunidade acadêmica e, principalmente, para todo o grupo
social direta e indiretamente envolvido com a temática aqui examinada.
Em suma, conforme registros informais proferidos por uma das mulheres idosas no
transcurso das entrevistas ocorridas no campo de pesquisa - e gravados pelo autor desta
dissertação -:
“[...] É como um mantra... Todo dia pela manhã, após acordar e fazer a minha ‘toilete’, me ponho de frente ao espelho de cristal bisotado da penteadeira e pergunto: ‘espelho, espelho meu’... Existe uma mulher da minha idade mais jovem do que eu? [...]”
“[...] Doutor, veja bem: sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha! [...]” - na seqüência, esta entrevistada emitiu uma forte e contagiante gargalhada -.
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MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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ANEXOS
Instrumentos para coleta de dados:
Data:___/___/2008. Local:________________________________________________
I - Informações Sociodemográficas
1. Data de Nascimento: ____/____/____ Idade: ______
2. Estado Civil:
1[ ] Solteiro 2[ ] Casado/vivendo com parceiro 3[ ] Viúvo 4[ ] Divorciado/separado
3. Quantas pessoas residem com a senhora no mesmo domicílio?
1[ ] Mora só 2[ ] Só o cônjuge 3[ ]+ filhos 4[ ] + netos 5[ ] Residência fixa em Instituições de
Longa Permanência - ILPs - 6[ ] outros______________
4. Qual é o seu nível de escolaridade?
1 [ ] Ginasial incompleto 2 [ ] Ginasial completo/colegial incompleto 3 [ ] Colegial
completo/superior incompleto 4 [ ] Superior completo 5 [ ] Pós-Graduação
5. Qual é a sua ocupação atual?
1[ ] Aposentado, mas trabalha 2[ ] Só aposentada – por instituições governamentais 3[ ] Só
aposentada – por outras instituições 4[ ] Só dona de casa 5[ ] Pensionista
As questões 6 e 7 têm por finalidade estimarem o poder de compra das pessoas e famílias
urbanas, classificando-as em relação às respectivas classes econômicas.
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6. Por favor, informe se em sua casa/apartamento existem e estão funcionando em ordem os
seguintes itens e a quantidade que possui?
7. Indique qual o grau de instrução do chefe da família?
8. Qual a sua renda mensal?
Valor: __________reais ou _______salários mínimos.
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III – Levantamento de Comportamentos de Risco à Saúde/ Problemas de Saúde Auto-Referidos
Protocolo à abordagem de problemas de saúde auto-referido, que tenham ocorrido a partir dos últimos 03 anos de vida, pelas mulheres idosas e classificados de acordo com a CID-10 (2004; USDHHS, 1998) - instrumento adaptado aos objetivos do estudo e validado por meio de teste preambular em campo portador de condições similares ao universo amostral definitivo -.
PROTOCOLO DE PROBLEMAS DE SAÚDE AUTO-REFERIDOS Elenco - segundo CID-10 (2004) - S NSistema Cardiovascular Cardiopatias Hipertensão Arterial Essencial Acidente Vascular Encefálico - AVE - Hipercolesterolemia Trombose Venosa Profunda - TVP - Varizes Sistema Respiratório Asma/Bronquite Alergias Faringites/Tosses/Resfriados Pneumonias em Geral Tuberculose Sistema Osteomuscular e do Tecido Conjuntivo Reumatismo/Artrite/Artrose Dores na Coluna - Lombar - Osteoporose Fraturas por quedas Fibromialgia Metabólicas Diabetes Mellitus Tipo II Hipotireoidismo Obesidade Aparelho Digestivo Úlcera Péptica/Esofagite de Refluxo Gastrintestinal Hérnias - Umbilical e Ingüínal - Neoplasias Malignas Mama Colo Uterino Aparelho Geniturinário Incontinência Urinária Litíase Renal/Infecções Geniturinárias Aparelho Oftálmico Doenças de Refração: Hipermetropia, Astigmatismo, Miopia e Presbiopia
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Sistema Neuropsiquiátrico e Comportamental Enxaqueca Crônica Insônia Depressão Mal de Alzheimer Parkinson Transtorno Obsessivo-Compulsivo Transtorno Bipolar Transtorno de Imagem Corporal - Anorexia/Bulimia nervosas - Doenças Hematológicas Anemia Ferropriva Doenças Infecto-Contagiosas e Parasitárias Doenças Sexualmente Transmíssiveis em Geral - DST -: Candidíase, Gonorréia, Herpes, Molusco Contagioso, Pediculose Pubiana, Sífilis, Tricomoníase
DST: Condiloma Acuminado - HPV - DST: Hepatite B DST: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA - Helmintíases em Geral Intervenções Cosmético-Cirúrgicos Necessidade Desnecessário Preenchimentos Cosméticos Faciais - Restilane, Polimetilmetacrilato, etc. - Lifting Facial Fototerapia Cosmética - Luz Pulsada, Lasers, etc. - Blefaroplastia Lipoaspiração Corporal - Abdômen, Pernas e Glúteos - Próteses de Silicone - Mamas - Próteses de Silicone - Glúteos - Dermolipectomia Abdominal Toxina Botulínica
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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IV - Dados Antropométricos Escala de Nove Silhuetas - Escala de Figuras de Stunkard (STUNKARD, SORENSEN & SCHLUSINGER, 1983) -.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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IV - Dados Antropométricos
5. Pontos de corte utilizados para análises dos dados antropométricos - peso em quilogramas e
estatura em metros - por meio do IMC (CERVI, FRANCESCHINI & PRIORI, 2005;
SAMPAIO & FIGUEIREDO, 2005; PERISSINOTTO, PISENT, GRIGOLETTO &
ENZIAND, 2007; SÁNCHEZ-GARCÍA, GARCÍA-PEÑA, DUQUE-LÓPEZ, CEDILLO,
CORTÉS-NÚÑEZ & REYES-BEAMAN, 2007):
a. (LIPSCHITZ, 1994).
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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GEAP – Fundação de Seguridade Social SHC AO SUL – EA 02/08 – Lote 05 – Torre B – 2º, 3º e 4º Andares Terraço Shopping – Octogonal Sul CEP: 70660-900 – Brasília – Distrito Federal – Telefones: (61) 2103-4550
CARTA COPROM/DISER/DIREX/Nº. 001/2008
Brasília-DF, 11 de Janeiro de 2008. Ao Senhor, Dr. Caio Alencar Mendonça SHS 06 C. A L. 01 B. F EDIFÍCIO MELIÁ CONFORT - AP. 402 - CEP 70. 316-000
Considerando solicitação feita pelo Sr. discente da Universidade Católica de Brasília - UCB -, Dr. Caio Alencar Mendonça, por meio de reunião em gabinete com o Sr. Coordenador Nacional de Promoção da Saúde da Fundação de Seguridade Social, Dr. Clayton Neves Camargos, para tratar de cessão de espaço assistencial para campo de pesquisa ao desenvolvimento de uma dissertação de mestrado ao Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da UCB, localizada em Taguatinga, Cidade-Satélite do Distrito Federal - DF -.
Considerando que a Fundação de Seguridade Social - GEAP - é uma operadora de atenção supletiva à saúde, de 65 anos de idade, dirigida aos servidores públicos federais em âmbito nacional, com uma carteira de aproximadamente 1.000.000 (um milhão) de beneficiários em todo território brasileiro, e deste conjunto 40% são pessoas idosas;
Considerando que a Coordenadoria de Promoção da Saúde - COPROM - da Diretoria de Serviços aos Clientes - DISER - da Diretoria Executiva - DIREX -, por meio de seu Coordenador supra mencionado, que compõe o núcleo central-executivo de fomento às diretrizes políticas da operadora em todo o Brasil ao que cinge à Medicina Preventiva, Promoção e Educação em Saúde é responsável pela liderança das ações programáticas e estratégicas no supracitado caráter assistencial para todas às Unidades Federadas, e em foco da atenção à saúde das pessoas idosas por meio de programas de gerenciamento de riscos;
Fundação de Seguridade Social - GEAP Protocolo 1017332
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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GEAP – Fundação de Seguridade Social SHC AO SUL – EA 02/08 – Lote 05 – Torre B – 2º, 3º e 4º Andares Terraço Shopping – Octogonal Sul CEP: 70660-900 – Brasília – Distrito Federal – Telefones: (61) 2103-4550
Considerando que a retro mencionada Coordenadoria possui uma ação sistemática de atenção à saúde, por essa Fundação denominada Programa de Promoção da Saúde e Gerenciamento de Riscos – PPGR (regulado pelo MPP/NTE - 007/06). E que a Superintendência da Fundação de Seguridade Social do Distrito Federal - SUPES-DF , unidade administrativa autônoma e descentralizada do nível central, já possui tal Programa funcionante e com operações assistenciais na cidade de Brasília, com possibilidade de expansão às Cidades-Satélites até o final do ano corrente;
Considerando a relevância da pesquisa que será empreendida pelo pesquisador da UCB, Dr. Caio Alencar Mendonça, à área médica geriátrica e também ao aspecto gerontológico das investigações correspondentes ao fenômeno do envelhecimento, e, ainda, por entender que essa operadora de atenção supletiva à saúde porta uma carteira com um volume expressivo de pessoas idosas: entende-se a procedência de tal pesquisa. Para tal, autoriza-se o profissional credenciado à prestação assistencial ao PPGR, Dr. Marcos Antônio dos Santos - CRM 14301- DF -, a realizar a liberação de um campo de pesquisa na base do território distrital, qual seja: o consultório do próprio Médico supracitado e sua clientela de mulheres idosas que estejam formalmente inscritas no Programa há pelo menos 90 (noventa) dias;
Considera-se ainda que, de acordo com reunião técnica ocorrida em dezembro do ano anterior, essa concessão de espaço de pesquisa poderá ocorrer conquanto não sejam divulgadas, de nenhuma ordem, informações internas relacionadas à operadora de atenção supletiva à saúde, ao escopo estrutural do Programa, atuação do Profissional Médico credenciado e sua prática clínico-assistencial e, também, a respeito de qualquer condição das beneficiárias idosas assistidas pela Fundação que não estejam diretamente articuladas aos aspectos éticos da pesquisa que será empreendida.
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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GEAP – Fundação de Seguridade Social SHC AO SUL – EA 02/08 – Lote 05 – Torre B – 2º, 3º e 4º Andares Terraço Shopping – Octogonal Sul CEP: 70660-900 – Brasília – Distrito Federal – Telefones: (61) 2103-4550
Comunica-se, também, que tal espaço de pesquisa estará aberto, exclusivamente, apenas do dia 01 a 20 de março do presente ano. Na oportunidade, o projeto da pesquisa será encaminhado às Superintendências Estaduais de todas as Unidades Federadas para ciência, e caso seja do interesse dos gestores locorregionais, estes contactarão o pesquisador da UCB à realização de projetos/consultorias que abarquem o tema de investigação em questão.
Desde já agradecemos essa parceria solidária e colocamo-nos à disposição para dirimir eventuais dúvidas ou questionamentos.
Atenciosamente,
Dr. CLAYTON NEVES CAMARGOS
Coordenador Nacional da Coordenadoria de Promoção da Saúde - COPROM -
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezada Sra. ___________________________________________________________________
Considerando a Resolução nº 196, de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde e as determinações da Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, tenho o prazer de convidá-la a participar da pesquisa intitulada: “A autopercepção do envelhecimento a partir da dimensão da imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora de plano de saúde em Brasília - Distrito Federal - Brasil”, como projeto de dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília - UCB -.
O objetivo central deste estudo é ampliar a compreensão a respeito do envelhecimento e suas interrelações à imagem corporal constituída pelos sinais autopercebidos do estado geral de saúde e sua mediação por fatores comportamentais, culturais e sociodemográficos. Espera-se que esta investigação, de natureza descritiva transversal, possa fornecer informações que servirão de subsídio à melhoria da qualidade das ações oferecidas pelas instituições públicas, privadas, governamentais ou não, e também acadêmicas, porquanto à constituição efetiva de programas de promoção da saúde e prevenção de agravos.
Assim, a Senhora poderá colaborar com a pesquisa respondendo um questionário em forma de entrevista com perguntas referentes à sua satisfação corporal, estado geral de saúde, e permitir que sua massa corporal e estatura sejam medidas - em caso de necessidade -. As informações obtidas, bem como o anonimato de sua pessoa serão mantidas em sigilo, sendo utilizada somente ao desenvolvimento desta pesquisa e sua publicação. E esclareço, desde já, a senhora tem total liberdade de abandonar a pesquisa em qualquer momento, se assim desejar. E para isto, todas as dúvidas e esclarecimentos poderão ser obtidos pelo e-mail: [email protected].
Agradeço antecipadamente a atenção dispensada e coloco-me à sua disposição para dirimir eventuais dúvidas ou questionamentos.
_______________________________________ Caio Alencar Mendonça - CRM 9083 - DF -
Pesquisador: discente do Programa de Pós-Graduação, Strictu Sensu, em Gerontologia da UCB-DF
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB - PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO - PRPG - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GERONTOLOGIA - PPGG -
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
307
Eu,____________________________________________________________________,
de acordo com o esclarecido, aceito participar da pesquisa “A autopercepção do envelhecimento
a partir da dimensão da imagem corporal de mulheres idosas assistidas por uma operadora de
plano de saúde em Brasília - Distrito Federal - Brasil”, fornecendo as informações solicitadas, e
tenho conhecimento de que posso solicitar para ser excluída da pesquisa se assim preferir.
Brasil, Brasília, Distrito Federal, _____ de __________________ de 2008.
Assinatura:___________________________________________________.
RG:__________________________________________________________.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB - PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO - PRPG - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GERONTOLOGIA - PPGG -
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Traduação à língua portuguesa dos diálogos de um trecho do filme estadunidense A
Morte Lhe Cai Bem (SERGEI, 2007, p. 30-31 & 33-37, trad. autor):
Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Você deve saber e dizer para si própria... ser um dos mais belos rostos... que passaram pelas telas cinematográficas.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Oh.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “E o seu marido, eu só posso dizer que a sua fama é insuperável.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Oh.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Eu acabei de chegar na cidade. Eu sigo a primavera. Há muitos anos eu não vejo um outono ou inverno. Nós somos criaturas da primavera, você e eu.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Uh-huh. Eu não sei ao certo porquê vim até aqui.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Você está assustada... consigo mesma, com o que o seu corpo se tornou.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Eu não te entendi, ‘pardon’?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Eu sou uma das pessoas que pode entendê-la. Eu sou uma das pessoas que sabe o seu segredo.” [...] Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Tão quente, tão cheia de vida e pronta para se afastar de você.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “É o cruel últimato da vida. Ela nos oferece beleza, juventude, vitalidade...” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “E depois nos faz testemunhas da nossa própria decadência”. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Bom, são as leis naturais.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Veja a lei natural!” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “O que é isto? Porque você veio para cá? Um toque de mágica...” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Neste mundo obcecado pela ciência”. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Um tônico. Uma poção. O que isso faz?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Quantos anos você me dá? Não se intimide... Vamos. Não tente me agradar.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Trinta e oito. Oh, vinte oito. Vinte... três?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Eu tenho setenta e dois anos. É isto que isso faz. Paralisa o depauperante processo de envelhecimento... e força o retorno da juventude. Tome a poção e não envelhecerá um dia a mais. Não tome... e continue a assistir de camarote a sua própria derrocada”. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Quanto custa?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “A sordida conversa financeira… Não é tão simples.” Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Bem, para mim, quanto?”
Lisle escreve o valor, uma qüantia astronômica, em um pedaço de papel e mostra a Madeline. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Bom, muito obrigado. Acho que chegou a hora de partir.” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Sente! Abra a sua mão.”
Lisle perfura a mão de Madeleine e então adiciona a poção da beleza e juventude. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “O que é isso, ficou louca?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Veja.”
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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A mão de Madeline - em frações de segundos -, antes envelhecida e repleta de manchas senis, torna-se novamente lisa, macia, belal, tal qual a mão de uma pessoa jovem. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Aceita cheque?” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Muito bem. Mas você precisa me prometer: o nosso segredo nunca poderá vir a público. Você poderá continuar sua carreira por mais dez anos, dez anos de perfeita e intocável beleza. Mas, após esse tempo, antes das pessoas suspeitarem, você tem que desaparecer da vida pública. Você pode se retirar. Você pode forjar sua própria morte... ou...como uma das minhas clientes simplesmente disse - em alusão a Greta Garbo -: ‘Eu quero ficar só. ’" Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Não! Ela não! Wow!” Os glúteos de Madeline se enrijecem novamente. Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Agora, um aviso”. Madeline Ashton (Meryl Streep) – “Agora, um aviso?!!!” Lisle Von Rhoman (Isabella Rosselini) – “Cuide-se. Você e seu corpo ficarão juntos por muitos e muitos anos. Seja boa com ele. ‘Siempre viva’!!!! Vida eterna!!!”
MENDONÇA, C. A. “Sou jovem, sou bela, sou saudável... Mas não pareço uma velha!”: Strictu Sensu em Gerontologia, UCB-DF, Jun. 2008.
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Do Autor:
Caio Alencar Mendonça possui Graduação em Medicina pela Universidade
Federal do Ceará - UFCE - 1992 -, Especialização em Coagulopatias pelo Hôpital
Henri Môndor em Paris, França - 1994 -, Residência em Clínica Médica - 1997 - e
Hematologia - 1999 - pela Fundação Hospitalar do Distrito Federal - FHDF -. Desde
1999 é Médico da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação - Associação das Pioneiras
Sociais -. (Texto gerado automaticamente pela aplicação CVLattes).
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8683737989819318