UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
AS ALTERAÇÕES DAS NORMAS
E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS NAS RELAÇÕES
DE TRABALHO
Por: Carlos Marcondes Fernandes Caetano
Orientador
Prof.º Jean Alves
Rio de Janeiro
2010
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
AS ALTERAÇÕES DAS
DAS NORMAS E PRINCÍPIOS TRABALHISTAS
NAS RELAÇÕES DE TRABALHO
Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes
como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-
Graduação “ Lato Sensu “ em Direito do Trabalho.
Por: Carlos Marcondes Fernandes Caetano
AGRADECIMENTOS
A todos que de alguma maneira contribuíram para a conclusão
deste trabalho, em especial à minha família e aos meus
professores.
DEDICATÓRIA
A Deus por tudo, e a minha família, principalmente à minha
mãe que sempre me incentivou para tudo na vida, e sempre me
apoiou nos estudos, e minha esposa que sem seu
companheirismo nada disso seria possível.
RESUMO
No universo do direito do trabalho as relações de emprego está em
constante transformações, tendo as empresas a tarefa de gerar emprego para suprir
uma demanda social, e ao mesmo tempo manter os empregos já existentes, tudo
isso sem perder o foco de se tornarem fortes e competitivas para um mercado cada
vez mais globalizado.
Nessa esfera desse contexto que as negociações coletivas têm alcançado
maior destaque no nosso ordenamento jurídico; as alterações das normas e
princípios trabalhistas nas relações de trabalho, tema que será estudado como
fontes formais de direito e formas extra judiciais de solução de conflitos coletivos de
trabalho.
Este trabalho, visa uma reflexão sobre o instituto das alterações nas
relações de trabalho como fenômeno surgido no mundo moderno nas últimas três
décadas, não esquecendo a norma legal vigente brasileira que cuida das propostas
coletivas de trabalho, da globalização e da interpretação das normas e suas
contribuições para o direito do trabalho.
Tendo como objetivo apontar as interpretações das normas e princípios
trabalhistas e sua influência nas relações empregado e empregador.
METODOLOGIA
Este trabalho enfocará o tema alterações das normas e princípios
trabalhistas visando suas interpretações, através de pesquisa a leis ordinárias,
Princípios do Direito do trabalho, legislação Constitucional, as jurisprudências, e
Doutrina.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...............................................................................10
CAPÍTULO I- DIREITO DO TRABALHO
1 Histórico .........................................................................................11
Direito do Trabalho no Brasil............................................................13
CAPÍTULO II – OS CONTEÚDOS QUE APONTAM AS ALTERAÇÕES
DAS NORMAS
2.1. Neoliberalismo ...............................................................................17
2.2. Globalização...................................................................................18
2.3. Avanço da Tecnologia.... ................................................................19
CAPÍTULO III - DAS ALTERAÇÕES DAS NORMAS
3.1. Alteração e Desregulamentação ................................................21
3.2. Princípios trabalhistas ................................................................22
3.2.1. Princípio da Proteção...............................................................23
3.2.2. Princípio da Irrenunciabilidade............................................................24
3.2.3. Princípio da Continuidade........................................................24
3.2.4. Princípio da Irredutibilidade do salário.....................................24
3.2.5. Princípio da Manutenção da empresa................................... 24
3.2.6. Princípio Trabalhista e Alteração Norma................................25
3.2.7.Princípio do não Retrocesso Social.........................................25
3.3 . Forma de Alteração das normas..............................................26
3.3.1. O contrato de trabalho por tempo determinado..................... 26
3.3.2. O trabalho temporário ............................................................27
3.3.3. O contrato de trabalho em Domicílio.....................................28
3.3.4. Contrato de aprendizagem.....................................................28
3.3.5. Alteração da Jornada de Trabalho..........................................29
3.3.6. alteração dos salários............................................................31
3.3.7 . Terceirização .......................................................................31
3.3.8. Conteúdos Favoráveis à alteração ..............................33
3.3.9. Conteúdos Desfavoráveis à alteração.....................34
CAPÍTULO IV – O SINDICATO
4.1 Organização do sindicato no Brasil................................................36
4.2 Importância do sindicato.................................................................37
CONCLUSÃO..................................................................................................39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................42
INTRODUÇÃO
O mundo vive um momento de grandes transformações sociais,
tecnológicas e econômicas e as relações jurídicas e as normas que as regulam são
efeitos que encontram suas causas em fenômenos e relações outras, as quais visam
a regular. O direito nasce do fato e não o fato se origina do direito. Assim, ao
estudar-se o fenômeno das alterações das normas nas relações de trabalho não se
pode esquecer os fatores preponderantes de suas origens, que remonta ao fato
social, econômico e tecnológico, bem como a influência das novas técnicas de
administração que orientam as relações empresariais.
O fenômeno das transformações sociais e econômicas vão ensejar
novos modelos administrativos, visando ao aprimoramento da indústria, suas
necessidades e viabilidade de mercado em um mundo, onde a competição se
massifica. Como causa dessa massificação, como resultado do avanço tecnológico,
do aumento da densidade demográfica mundial, da transformação econômica,
aliadas às novas técnicas de administração empresarias, caminha a tendência que
se visualiza em necessidade de rompimento como antigos modelos, que se firmaram
durante décadas. Tal rompimento se evidencia com as atuais reformas que
assistimos, onde gradualmente, todavia com profundidade, vai se impondo com
alteração de normas e princípios, que ao acompanharem as novas tendências
mundiais, tornam paulatinamente obsoletos os modelos que vigoraram durante
décadas, e aos poucos, caem em desuso. As alterações das normas induz em
menor rigidez das regras jurídicas e, conseqüentemente, na menor proteção aos
trabalhadores.
A história, nos mostra que os direitos garantidos ao trabalhadores foi
obtido através de muita luta e suor no decorrer do tempo, sendo que o Direito do
Trabalho veio com a finalidade de garantir direitos mínimos aos trabalhadores.
CAPÍTULO I
1.1 - histórico
No início foi a escravidão seguido da servidão com o Feudalismo, e
posteriormente as corporações até chegar-mos ao sindicalismo, porém os elementos
de caracterização da legislação flexível encontrados nos distintos países que
compõem a União Européia e nos Estados Unidos da América, avançados na
história da indústria mundial foi onde se verificou com maior ênfase os primeiros
traços das alterações nas relações de trabalho.
A composição dos referidos elementos que estimularam a
maleabilidade das relações trabalhistas, com a releitura do modelo até então
existente, podem ser visualizados através das necessidades cobradas pelo mundo
pós-industrial, nas etapas que se sequem. A primeira dessas etapas surge da
necessidade de adaptação permanente do ordenamento jurídico à mobilidade das
variáveis econômicas. Desta forma, ocorrerá a adaptação do ordenamento jurídico
às necessidades empresárias, isto porque as alterações que as empresas reclamam
se relaciona fundamentalmente com a capacidade de reestruturação e ajuste da
economia às mudanças no setor produtivo. Dentro dessa ótica, as alterações se
relacionam com a capacidade ou rigidez dos sistemas de fixação e comportamento
dos custos do trabalho, para adaptar-se a um mercado em permanente
transformação.
Com a Revolução Industrial, com a invenção da máquina a vapor do
tear mecânico, o homem foi substituído pela máquina, ocorrendo o término de
postos de trabalho e como conseqüência , desemprego. Logo após os mercados
cresceram tanto, entretanto, as jornadas de trabalho se tornaram maiores, os
salários menores, condições de desumanas e se constata a exploração de menores
e mulheres, pois, ao detentor dos meios de produção, o capitalista, não se
preocupava com dignidade, elemento unificar implícito à convivência coletiva; b) o
desejo de dominação mais arraigadamente presente em alguns seres humanos,
impulsionando-as à busca da liderança política, num primeiro momento, no plano
pessoal.( Dallari, Dalmo de Abreu. Ob. Cit., p 69-72). do trabalhador, visava apenas
o lucro. Como o liberalismo imperava na época, o Estado não intervia na situação,
dando liberdade aos agentes econômicos com isso, os trabalhadores resolveram se
unir e reivindicar melhores condições de trabalho, este fato influenciou o
desenvolvimento e o sindicalismo.
Assim, verificou-se a necessidade de intervenção estatal com intuito de
garantir aos trabalhadores condições mínimas de trabalho a serem cumpridas, pelo
empregador marcando ao intervencionismo do Estado.
Com relação aos motivos que levaram ao aparecimento do Estado,
várias são as conclusões. Entre elas; a) uma necessidade natural, já que inerente à
existência humana, a vida em sociedade requer um
Na Inglaterra, surgiu a Lei Peel, em 1802, com proteção quanto a
jornada de trabalho, para menores, em 12 horas e criando deveres com relação à
higiene, educação e local de trabalho
Em 1833, fundaram a União Nacional Consolidada, comandando a
realização de várias graves, no movimento que chamou-se Cartismo, com objetivo
de conquistar os direitos políticos e sociais do homem.
Nos anos de 1870 a 1880 observou-se o reconhecimento e expansão
do Trade Unions na Inglaterra, crescimento do sindicalismo.
Na Enciclíca Rerum Novarum ( 1891) o Papa Leão XIII declarou os
direitos dos trabalhadores, como também, a necessidade da redução da jornada do
trabalho de menores e mulheres e pagamento de salários justos.
No período pós Segunda Guerra, em verdade no meio desta,
expandiram-se de forma surpreendente, as multinacionais e conglomerados
financeiros. Com a reconstrução do Japão e da Alemanha houve a modernização
das indústrias e das relações de trabalho. Esta modernização revelou os limites dos
modelos keynesianos, de gestão público e doutrinas neoliberais e expressaram as
novas realidades apresentadas, convulsionando os modelos de regulação política
tradicionais.
A revolução tecnológica apresentada nas últimas décadas, editou a
quarta etapa do processo de globalização. As rápidas transformações na área da
ciência e da tecnologia, criaram uma acirrada competição nas relações
internacionais, que sofreram constantes ajustamentos. Com efeito, a competição
internacional está concentrada, nos aspectos científico-tecnológicos. A capacitação
tecnológica tem sido apontada como elemento cada vez mais determinante na
aferição do grau desenvolvimento de um país. A capacitação tecnológica e em
recursos humanos tiveram importância nos problemas de ordem geo - política.
1.2. Direito do Trabalho no Brasil
A Revolução Francesa teve papel preponderante no que tange as
bases para a confecção da Constituição do Império, outorgada em 1824 , abolindo
as corporações de ofício, consagrando ao trabalhador ampla liberdade. Entretanto,
não havia dispositivos em defesa dos trabalhadores, já que, a situação da época era
escravagista, pois, o Brasil do Império era predominantemente agrícola.
O setor industrial, era incipiente, e havia pouca densidade operária nas
cidades industriais, já que, as condições geográficas e econômicas não favoreciam
as atividades sindicais. Entretanto, a lei social de maior relevância deste período, foi
a Lei Áurea ( 1888), que aboliu a escravatura.
Na República ( 1989-1930) apresentou o espírito liberal da Revolução
Francesa. A Constituição Republicana, sendo o Brasil um país agrícola, não previu
proteção aos trabalhadores, entretanto, assegurou o direito de associação. Em 1905,
assegurou-se o direito de sindicalização a todos trabalhadores.
A indústria brasileira, naquela época, era incipiente, mesmo assim, em
algumas cidades aconteceram alguns movimento sindicais, tendo como resultado a
lei do seguro de acidente do trabalho em 1919.
Eleito presidente em 1930, Getúlio Vargas, resolve adotar uma
Legislação social trabalhista. Cria, em 26 de novembro de 1930, o Ministério do
Trabalho, Industria e Comércio, legisla sobre as relações individuais e coletivas do
trabalho e da Previdência Social. Datam dessa época, as principais leis do Direito do
Trabalho no Brasil, de natureza intervencionista.
Importantes leis, foram criadas no governo provisório como;
organização sindical previa a unicidade sindical em 19/03/1931, a ação sindical à
defesa de interesses profissionais. Outras leis, também foram criadas neste período
como; decretos legislativos a nacionalização do trabalho a instituição da carteira
profissional em 1932, a jornada de oito horas no comércio e na indústria, a proteção
do trabalho da mulher e do menor em 1932, o seguro obrigatório de acidentes do
trabalho em 1934.
A Constituição de 1934, foi a do Bem Estar Social, incorporou os
direitos adquiridos no governo anterior, como também acrescentou o salário mínimo
e a indenização por dispensa injusta. Neste período a Justiça do Trabalho
desvinculou-se do Poder Executivo.
Normalmente considerada como a geração dos direitos sociais, na
verdade, a eles não se restringe. Esses direitos configuram, entre outros, o direito à
proteção do Estado do Bem Estar Social, o direito ao trabalho e a segurança no
trabalho, o direito à seguridade social, contra o desemprego, o direito a um salário
justo e satisfatório, a proibição da discriminação salarial, o direito a formar
sindicatos, o direito ao lazer e ao descanso remunerado, a proteção especial para a
maternidade e a infância, o direito a educação pública, gratuita e universal. A maior
contribuição que nos pôde proporcionar a Carta de 1934 são os denominados
Direitos Fundamentais de segunda Geração, concedendo status constitucional aos
direitos trabalhistas, típicos direitos sociais.
A Constituição de 1937, garantiu ao sindicato o direito de exercer
funções delegadas, de caráter corporativista-facista, na qual destacava-se o
corporativismo sob controle estatal. Todavia, o art. 139 estabelece a greve e o lock -
out, como recursos anti-sociais nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com
os superiores interesses da produção nacional, em clara invasão à esfera de
liberdade, não só do trabalhador, mas também do indivíduo.
Em 10 de novembro de 1943, entrou em vigor a CONSOLIDAÇÃO
DAS LEIS TRABALHISTAS, com intuito, apenas uma consolidação das leis,
entretanto, fez-se necessário legislar sobre determinados temas.
A CLT, foi influenciada pela Carta Del Lavoro, na parte que trata
organização sindical e inspirou-se nas convenções da OIT, e pela Encíclica Rerum
Novarum , esta compilada pelo Papa Leão XIII.
Com a queda do Presidente Getúlio Vargas, em 1945, promulgou-se,
em 1946 a Constituição de caráter democrático, elaborada e promulgada por uma
Assembléia Constituinte eleita pelo povo, ampliando os direitos sociais, como
destaque, a participação do trabalhador nos lucros da empresa, a remuneração dos
dias de repouso obrigatório e regulou o direito de greve. Quanto aos demais direitos,
recepcionou o da Constituição anterior.
No período, cabe mencionar algumas leis aprovadas; o repouso
semanal remunerado ( nº 605/49), a da indenização pelo término do contrato por
obra ou por serviço certo (nº 2659/56) e a de gratificação de natal- 13º salário (
nº4090/62).
De 1964 até a promulgação da Constituição de 1967, foram publicadas
as seguintes leis; ao direito de greve ( nº 4330/64), ao salário- educação nº4440/64)
e do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço- FGTS- nº5107/66.
Foi promulgada e decretada pelo Congresso Nacional, uma nova
Constituição. Entretanto, o texto foi alterado em 17 de outubro de 1969, quando a
Junta Militar assumiu o poder.
A organização sindical, as funções delegada aos sindicatos e a de
arrecadar contribuições, para custeio dos programas e atividades sindicais, foi a
repetição da Constituição de 1946. Entre os direitos individuais, ampliou-se o
previsto nas constituições anteriores, com referência à integração do empregado na
vida e no desenvolvimento da empresa e também previu o FGTS como alternativa
ao regime de indenização de antiguidade até ser completar estabilidade no emprego.
Na vigência da Constituição de 1967/1969, algumas leis merecem
destaque, que trataram sobre o Programa de integração Social - PIS Lei
Complementar nº 7, de 197017 de 1973, que estendeu direitos sociais dos
empregados domésticos, Lei 5859/72, que tratou da prestação do trabalho
temporário, a Lei 6019, sobre o vale transporte,Lei 7418/85; e sobre seguro-
desemprego, lei 2284/86.
A Constituição de 1988 foi promulgada por Assembléia Nacional
Constituinte, é documento típico de um Estado de Bem- Estar, que ostenta ampla
proteção aos direitos sociais, observado o reconhecimento pelo Poder Constituinte
originário da sua condição de direito fundamental. Tal posição acaba, por revelar,
certos princípios jurídicos que tocam de perto o Direito do Trabalho.
Isso é visível a começar pelo Princípio da Valorização Social do
Trabalho, repetido em vários momentos da Carta Constitucional, inclusive, assim
como a dignidade humana, no art. 1º IV. Este princípio, à luz do expresso texto
Constitucional, norteia, também a ordem econômica ( art. 170, Caput). E a própria
ordem social( art.193 ).
Igualmente sobressalta, nesta perspectiva, o Princípio da Justiça Social,
do art 3º e I e III, elevando a justiça social o objeto fundamental da República. Do
mesmo modo que o Princípio da Valorização Social do Trabalho, o Princípio da
Justiça Social inspira a ordem econômica e a ordem social ( arts. 170 e 193 da CF ).
Fundamental, bem assim, é o Princípio da Função Social da
Propriedade, art 5º, XXIII, que assegura o direito a propriedade, apresentando-se
também, como princípio a ser observado pela ordem econômica ( art. 170,III ). a
importância para o Direito do Trabalho deste princípio é significativa, na medida em
que muitos permissivos legais à conduta do empregador são lastreados no seu
direito de propriedade dos meios de produção, como por exemplo; o jus variandi e
o poder diretivo.
Pela forma protetiva da condição social consagrada expressamente
pela Constituição Federal, não há qualquer dúvida que o Direito do Trabalho é um
direito tipicamente social.
CAPÍTULO II
OS CONTEÚDOS QUE APONTAM AS ALTERAÇÕES DAS
NORMAS
Os fundamentos que conclamam o movimento da alterações das normas
trabalhistas caminham junto à história da evolução econômica. O trabalho segue os
movimentos da economia, os bons momentos da produção refletem a melhoria das
condições sociais de uma nação.
As alterações dos direitos trabalhistas, no seu sentido de desregulamentação,
ou ainda, de transferência da produção normativa para a negociação coletiva, é
atualmente bastante defendida como expediente voltado à preservação da
sustentabilidade dos empreendedores insertos numa economia de mercado
extremamente competitiva amplamente difundida pela globalização, o que,
representa a manutenção e a criação de postos de empregos. Grosso modo, quanto
mais encargos para o empregador, menos empregos.
Eis ai uma das teses mais prestigiadas remodelado na fase pós-
segunda grande guerra, o qual, de maneira definitiva, efetivou-se mundialmente,
sobretudo nos últimos vinte e cinco anos do século XX, e que teve por designação
consagrada a expressão neoliberalismo. Portanto, a alteração do Direito do Trabalho
é uma dentre tantas outras medidas propaladas pelos neoliberais, todas voltadas à
implantação da economia de mercado, o que significa, menos regulada pela atuação
estatal.
2.1. Neoliberalismo
Foi após a segunda guerra mundial, que na Europa e na América do
Norte surge o neoliberalismo. Este movimento tem por bandeira combater a postura
intervencionista e protecionista do Estado, defendendo sua atuação mínima em
relação aos direitos sociais e trabalhistas.
O advento do neoliberalismo na América Latina foi oriundo das crises
econômica, governamental e política. A primeira, configurada pela incapacidade do
Estado em defender interesses nacionais em detrimento da soberania nacional. Por
sua vez, a crise governamental decorre do descrédito da sociedade em relação ao
Estado e suas instituições, e por último, a crise política que é fruto das duas crises
anteriores, ou seja, a ausência de resposta estatal em suas funções sociais.
Com a derrota do socialismo , representada pela queda do muro de
Berlim, tempo em que o neoliberalismo vence os últimos focos de resistência,
consolidada nas providências sugeridas pelo famoso “ Consenso de Washington aos
países latino-americanos, que, ao final da década de 1980, experimentaram colapso
do sistema de desenvolvimento baseado na substituição das importações, cujos
principais focos foram a hiperinflação e o déficit público. Abandona-se as idéias do
Estado Bem – Estar Social e se voltando para o mercado, caracterizando então o
modelo neoliberal.
A primeira mostra dessa política esteve presente no governo da
Inglaterra em 1979, já em 1980 foi adotado no EUA, e em 1982 na Alemanha. O
Brasil e os demais países da América Latina passam a perfilhar dessa política por
determinações impostas pelo Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional) e
BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), durante importante reunião
denominada Consenso de Washington.
As alterações do Direito do Trabalho, a ponto de transferir para a
negociação coletiva a regulação do meio laboral, ou mesmo de desregulá-lo, aparece
como medida legitimadora da liberdade de contratação, significando mais uma das
liberdades do neoliberalismo.
2.2. Globalização
No seu sentido amplo, a globalização constitui um processo, que tem o
por escopo integrar o intercâmbio internacional envolvendo as pessoas, as empresas
e as nações como um todo, contemplando vários aspectos, entre os quais o político,
o cultural e o econômico, com consequências mais dramáticas e inquietantes
relativas a este último.
Também a organização das nações em blocos regionais com vistas a
uma expansão de mercados e obtenção de desenvolvimento maior e mais rápido faz
parte dos processos de globalização.
Observa-se que o fenômeno da globalização, caracteriza-se pela
quebra das barreiras alfandegárias, livre circulação de bens, de serviços e de
trabalhadores. Dentro dessa concepção, mister se faz a associação de que as
relações de trabalho de um modo geral devem ser modernizadas, para favorecer a
sintonia no nível regional e quem sabe até, internacional, já que os investidores são
mais atraídos, em outros aspectos, por legislações mais flexíveis com menos
encargos trabalhistas.
A globalização verifica-se no campo financeiro, já que, o comércio
passa a ocorrer a nível global com facilidade do capital financeiro internacional. Além
disso, as empresas se tornaram, transnacionais, instalando-se nos lugares em que
se oferecem os mais baixos custos operacionais, ignorando fronteiras territoriais.
A fim de reduzir os custos e aumentar, a competitividade, surge a idéia
da flexibilização, como forma de permitir a redução de salários e encargos sociais,
minimizando custos e conduzindo a um maior competitividade das empresas. Para o
ideal neoliberal, os direitos trabalhistas são vistos sob uma ótica estritamente
econômica, significando que encargos sociais, custo, passivo trabalhista representam
um verdadeiro entrave para a maior lucratividade da empresa.
A globalização dos mercados se deve à revolução tecnológica nos
campos da informática e automação das ultimas três décadas, torno o mundo
pequeno e integrado. As informações ultrapassam velozmente as barreiras nacionais
e se incorporam nos processos produtivos em todas as partes do mundo, gerando
novas formas de relacionamento entre os produtores, empregados e empregadores.
A competição entre as empresas aumenta a cada dia, com bens e serviços cada vez
mais diversificados, preços mais baixos e melhor qualidade de vida
Para Joseph Sitigliz “globalização fundamental, é a integração mais
estreita dos países e dos povos do mundo que tem sido ocasionada pela enorme
redução de custos de transporte, e de comunicações e a derrubada de barreiras
artificiais aos fluxos de produtos, serviços, capital, conhecimento e sem menor escala
de pessoas através de fronteiras”.
A presente definição é precisa, abrangente e consensual. Depreende-se
que abertura mundial proporcionada pela globalização criou o avanço da
internacionalização dos circuitos econômicos.
Com efeito, a globalização tornou-se fator de influência nas decisões do
governo, dos agentes econômicos aos legisladores.
No Brasil, ocorre ainda o fenômeno da precarização do trabalho, devido
a tal realidade, observa-se grande parte da população ocupada no mercado informal.
2.3. Avanço da tecnologia
A revolução tecnológica apresentada nas últimas décadas, editou etapa
do processo da globalização. As rápidas transformações na área da ciência e da
tecnologia criaram uma acirrada competição nas relações internacionais, que sofrem
constantes ajustamentos. Com, efeito, a competição internacional está concentrada
nos aspectos científicos- tecnológicos. A capacitação tecnológica tem sido apontada
como elemento cada vez mais determinante na aferição do grau de desenvolvimento
de um país. A referida capacitação em tecnologia e em recursos humanos passaram
a ter maior importância, que os problemas de ordem geopolítica, relacionados com os
recursos naturais, que apenas hoje, em virtude do super aquecimento terrestre,
começa a ser notoriamente preocupante. Anteriormente a isto a grande preocupação
mundial era a qualificação da mão-de-obra para lidar com as novas tecnologias, sob
pena de competitividade.
CAPÍTULO III
DAS ALTERAÇÕES DAS NORMAS
Os fundamentos que conclamam o movimento das alterações das
normas trabalhistas caminham junto à história da evolução econômica. O trabalho
segue os movimentos da economia. Os bons momentos da produção refletem a
melhoria das condições sociais de uma nação. As crises econômicas, ao contrário,
reduzem o consumo, ensejam o enxugamento dos custos, tornam o trabalho
escasso, fazem incidir a lei da oferta e da procura, onde a redução do número de
postos e o barateamento da produção, banalizam as conquistas sociais do valor do
trabalho humano.
O mundo pós-moderno, com se viu acima, teve a agravante da
evolução tecnológica, com a substituição em larga escala do homem pela máquina,
fato que agravou a crise o emprego, somada a globalização dos mercados, devido a
rapidez das informações. Tal cenário, gerou a volatilidade dos capitais, que visando o
lucro, transfere seus investimentos para países ou locais onde a lei básica menos
intervenha no custo da produção, sendo o trabalho um desses componentes.
Nesse contexto, a indústria procura se instalar nos locais onde a lei
menos intervenha na relação de trabalho, impondo direitos sociais básicos, gerando
perda de empregabilidade nos países socialmente estruturados. Gera crise e
necessidade de mudança. Assim, as causas do movimento das alterações da normas
são geradas pela necessária redução do custo social do trabalho, com fato de
segurar os escassos empregos ainda existentes e com a esperança de criar novos
postos de trabalho, contornando, assim, o problema atual de toas as nações do
mundo, que é o desemprego.
Em outras palavras, pode se dizer que troca-se os direitos sociais e as
conquistas adquiridas durante séculos pela manutenção do emprego. Ou seja, é
melhor ficar mal empregado do que sem emprego.
A tecnologia vem acarretando mudanças paulatinas nas condições de
trabalho, com freqüente automação da produção sem a interferência do fator
humano, ou com a mínima tarefa humana de alimentação e controle da máquina.
Diz-se que a tecnologia está provocando a desintegração da classe dos
trabalhadores, segmentando-a.
Diversas são as denominações atribuídas ao fenômeno que caracteriza
a destituição do rigor das normas jurídicas.
Inicialmente, abordaremos a definição da alteração da norma e a
diferença entre esta, e a desregulamentação. Logo após, será discutida a
abrangência do tema sobre os princípios trabalhistas e após apresentaremos as
formas de flexibilização que são verificadas atualmente.
3.1. Alteração e Desregulamentação
Ambos os temas fazem parte do movimento de modernização das
relações de trabalho. A flexibilização, é a maleabilidade da aplicação das normas
trabalhistas, tendo por característica a atuação dos sindicatos como protagonista e o
Estado como coadjuvante nas relações laborais. Aos sindicatos caberia a função de
regulamentar diretamente e mediante acordos e convenções coletivas, cláusulas
contratuais em consonância com os interesses das classes dos trabalhadores e das
classes patronais. Nos dicionários, encontra-se flexibilização como derivada da
palavra flexível, que significa a possibilidade de sofrer flexão, maleável ou ainda que
não tem força de resistência (SACCONI, 1996, p. 340).
Essas alterações das normas equivalem a uma fenda nos princípios da
inderrogabilidade das normas do ordenamento jurídico e no da inalterabilidade in
pejus, das condições contratuais acertadas em favor do trabalhador, objetivando
preservar a saúde da empresa e a manutenção dos empregos. A legislação persiste
norteando a relação laboral com algumas normas irrenunciáveis e os sindicatos
participam complementando a atuação estatal que passa até então mais discreta.
A desregulamentação como o próprio nome diz, não há intervenção do
Estado nas relações laborais. Consiste na revogação direta das normas trabalhistas,
adentrando assim, como fonte obrigatória do direito disciplinador das relações de
trabalho sem limitações legais, as normas de caráter particular, fruto das convenções
e contratos coletivos.
Por fim ainda que alguns críticos interpretem os dois movimentos como
único, vimos quais são suas diferenças marcantes, assim como suas propostas, que
nada mais são que mecanismos de modernização das relações de rabalho, sendo
que a primeira preserva regras mínimas de proteção ao trabalhador, ao passo que a
segunda subtrai.
Para Amauri Mascaro Nascimento , desregulamentação é vocábulo que
deve ser restrito ao direito coletivo do trabalho, não se aplicando ao Direito Individual
do Trabalho para qual existe a palavra flexibilização. Assim, desregulamenta - se o
coletivo e se flexibiliza o individual. Portanto, desregulamentação seria a política
legislativa de redução da interferência da lei nas relações coletivas de trabalho, para
que se desenvolvam segundo o princípio da liberdade sindical e das representações
de trabalhadores.
E ainda por Sergio Pinto Martins que afirma que:
Alterar não tem, portanto, por sinônimo
desregulamentar, pois é possível, inclusive, flexibilizar por meio
da legislação ,como faz a Constituição ( art 7º VI, XIII e
XIV). Consiste a alteração exatamente em haver menor
rigidez da legislação, proporcionando adaptações no trabalho,
em função das modificações sociais e econômicas. (
Martins,1997, p. 38 )
Verifica-se que a alteração das normas como forma de adaptação às
novas condições econômicas e sociais, mas tal processo deve ser organizado de
maneira que não se perca as conquistas dos trabalhadores ao longo da história.
3.2. Princípios trabalhistas
A alteração provoca as mais diversas reações. Os economistas
possuem uma visão restrita do que é ou dever ser a globalização. Entendem ele que
aumentar a produtividade do trabalho é a chave do desenvolvimento e que hoje em
dia é cada vez mais claro que as relações do trabalho e as formas de remuneração
têm, importância decisiva no aumento de produtividade. Entendem os economistas
que a mão- de- obra do trabalhador é insumo equiparável aos de natureza
meramente física. Para Orlando Teixeira da Costa os juristas possuem ponto de vista
diversos dos economistas, porquanto vêem no trabalhador uma pessoa humana
dotada de dignidade. Para eles a mão- de – obra constitui apenas um fator ativo de
produção, mas um grupo de pessoas com necessidade básicas que precisam ser
satisfeito, através do ganho que auferirem com o seu trabalho.
Segundo Sergio Pinto Martins, a alteração das normas do Direito do
Trabalho visa assegurar um conjunto de regras mínimas ao trabalhador e, em
contrapartida a sobrevivência da empresa, por meio da modificação e ao empregador
a possibilidade de adaptação de seu negócio, mormente em épocas de crise
econômica.
A alteração permite aos, sistemas legais uma previsão de fórmulas
flexíveis de convencionar condições de trabalho, seja, por instrumentos de
negociação coletiva ou pelos contratos individuais de trabalho, seja pelos próprios
empresários, há que se discutir até que ponto a flexibilização desrespeita os
princípios nos quais o Direito do Trabalho se assenta.
Dessa forma, teceremos a seguir, os princípios do Direito do Trabalho e
especificamente aqueles que guardam relação com o processo de alteração.
3.2.1. Princípio da Proteção
Segundo Júlio Ricardo de Paula Amaral, nas relações trabalhistas,
facilmente se identifica a desigualdade das partes, especialmente aquela de cunho
econômico. O empregador possui o poder de dirigir o seu empreendimento, e é
natural que, em tempos de altos níveis de desemprego, o empregado se sinta
temeroso ante o risco de ser despojado de seu emprego. Assim, como poderia o
Direito do Trabalho tratar igualmente aqueles que flagrantemente, são desiguais.
Justamente com a finalidade de igualar os desiguais foi que surgiu o
princípio da proteção no âmbito do Direito do Trabalho. Pode-se afirmar, sem sobra
de dúvidas que este princípio ,reflete a igualdade substancial das partes preconizada
no âmbito do direito material comum e direito processual.
Essa referida igualdade substancial tem por finalidade equiparar as
partes desiguais, já que dar tratamento isonômico às partes significa tratar
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas
desigualdades.(1)
O princípio da proteção é desmembrado em outros princípios;
a- Princípio da norma mais favorável que, em virtude de existir
mais de uma norma jurídica aplicável ao caso, privilegia-se a
mais favorável ao trabalhador;
b- Princípio in dubio pro operário , que é aquele que prevê o
benefício do trabalhador, no caso de duas ou mais interpretações de uma norma;
c- Princípios da Primazia da Realidade que pressupõe a
relevância do fato em detrimento do documental; o documento pode ser
desprivilegiado caso se possua fato em contrário. Sérgio Pinto Martins exemplifica o
princípio dizendo:
“Por exemplo se um empregado é rotulado de
autônomo pelo empregador possuindo contrato escrito de
representação comercial com o último, o que deve ser
observado realmente são as condições fáticas que
demonstrem a existência do contrato de Trabalho .”
( Martins, 2003,p.79).
d- Princípio da Intangibilidade do salário que é aquele que
estabelece a impenhorabilidade do salário do trabalhador,
protegendo-o de descontos abusivos e assegurando-lhe posição
privilegiada em caso de insolvência do empregador.
3. 2.2. Princípio da Irrenunciabilidade
As regras trabalhistas são irrenunciáveis. Toda vez que o empregador
tiver por objetivo desvirtuar, impedir ou fraudar os preceitos trabalhistas, seu
procedimento não terá nenhum valor ( art. 9º da CLT). O Enunciado 276 do TST
mostra que o aviso prévio é irrenunciável pelo empregado, salvo se houver prova de
que já obteve novo emprego.
3.2.3. Princípio da Continuidade
A continuidade da relação de trabalho é aquela que prevê, mediante
contrato por prazo indeterminado, já que o trabalhador necessita de estabilidade
econômica para garantir sua sobrevivência.
3.2.4. Princípio da Irredutibilidade do salário
O salário não pode ser reduzido, entretanto, há preceito com tal
permissão, a Constituição Federal de 1988, no art. 7º, VI, condicionado à tutela
sindical.
3.2.5. Princípio da Manutenção da Empresa
O Direito do Trabalho ao proteger o trabalhador, não pode inviabilizar a
existência da empresa, sob pena de ocorre o desemprego, com isso, deixa de
cumprir sua finalidade.
3.2.6. Princípios Trabalhistas e Alteração da Norma
Diante do exposto, cabe esclarecer que a flexibilização acarreta o
desrespeito de certos princípios.
A flexibilização não pode ser entendida como precarização, pois, do
contrário, será a total desregulamentação do Direito do Trabalho, sem garantias de
direitos mínimos ao trabalhador, que não pode ficar desprotegido , sujeito à lei do
mais forte ou à do mercado.
O princípio da proteção e seus desmembramentos, por exemplo, podem
ser desrespeitados quando há negociações coletiva.
3.2.7. Princípio do Não Retrocesso Social
Como evidenciado, o Brasil, juridicamente, comprometeu-se, antes de
progredir, a não retroceder em matéria de garantias sociais, algo que naturalmente
deve decorrer da adoção do regime democrático. Está- se a falar do respeito ao
chamado “ Princípio do Não- Retrocesso Social”, também conhecido como “Princípio
da Proibição do Retrocesso”, cuja fiel conceituação melhor se obtém pelas palavras
de seu precursor, J.J. Gomes Canottilho, a saber:
O princípio da democracia econômica e
social aponta para a proibição de retrocesso social. A idéia aqui
expressa também tem sido designada como proibição de
“contra- revolução social” ou da evolução reacionária. Com isto
quer dizer-se que os direitos sociais e econômicos (ex; direito
dos trabalhadores, direito à assistência, direito a educação ),
uma vez obtido um determinado grau de realização, passam a
constituir, simultaneamente, uma garantia institucional e um
direito subjetivo. A proibição de retrocesso social, nada pode
fazer contra as recessões e crises econômicas ( reversibilidade
prática ), mas o princípio em análise limita a reversibilidade dos
direitos adquiridos ( ex. segurança social, subsídio de
desemprego, prestações de saúde ), em clara violação do
princípio da proteção da confiança e da segurança dos
cidadãos âmbito econômico, social e cultural e do núcleo
essencial da existência mínima inerente ao respeito pela
dignidade da pessoa humana. (...) A violação do núcleo
essencial efetivado justificará a sanção de inconstitucionalidade
relativamente a normas manifestamente aniquiladoras da
chamada justiça social. CANOTILHO, p.p.326/327.
3.3.Formas de alterações das normas trabalhistas
As alterações das normas e princípios trabalhistas se manifesta em
diversos aspectos, dentre eles, na forma de trabalho, na contratação, na
remuneração, o tempo de duração do contrato e na dispensa do trabalhador, dentre
inúmeras outras situações. Pesquisaremos a seguir, de forma breve, algumas
maneiras que tem servido de instrumento para a modernização nas relações de
trabalho, abrindo espaço pra a autonomia da vontade dos participantes das relações
de trabalho. Tal espaço se observa, ora de forma policiada pelo Estado, onde se da-
se maiores opções aos negociantes, ora de forma genérica, onde as partes podem
dispor de forma absoluta dessa autonomia.
Observa-se alguns contratos atípicos de trabalho, como o contrato de
trabalho a tempo parcial, o tele-trabalho, o trabalho temporário que será abordado
neste tópico, como também, faremos a apresentação da terceirização como forma de
alteração.
3.3.1. O contrato de Trabalho por tempo determinado
Esta modalidade de contratação é resgatada pelas legislações em
razão das crises econômicas e do desemprego. Trata-se de forma menos onerosa
para o empregador quando finalizado o pacto laboral já que não cabe a empresa
pagar a indenização de 40% sobre os depósitos do FGTS (fundo de garantia por
tempo de serviço) nem aviso prévio.
Considera o § 1º, do art.443 da CLT como de tempo determinado o
contrato de trabalho cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução de
serviços especificados, ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de
previsão aproximada.
É uma forma de contratação considerada flexibilizadora por retratar o
rompimento com o princípio da continuidade da relação contratual.
Em muitas legislações, como a brasileira, o contrato de trabalho de
tempo determinado só pode ser prorrogado por uma única vez ( art. 451 da CLT ),
visando evitar fraudes por parte do empregador.
3.3.2. O Trabalho Temporário
A lei nº 6019, de 03 de Janeiro de 1974, dispôs sobre o trabalho
temporário nas empresas urbanas.
Segundo o artigo 2° da referida lei, é o trabalho temporário aquele
“prestado por pessoa física a uma empresa, para atender à necessidade transitória
de substituição de seu pessoal regular ou permanente ou acréscimo extraordinário de
serviços”.
O contrato de trabalho temporário continua sendo uma espécie de
contrato de trabalho por tempo determinado, no entanto, preserva características
próprias. Quanto aos sujeitos, fazem parte: o trabalhador, o tomador dos serviços e
ou cliente e a empresa de trabalho temporário. Esta só pode disponibilizar o
trabalhador no tomador de serviços por um período máximo de três meses. Esta
modalidade de contratação visa atender à necessidade transitória da empresa para
substituir pessoal regular e permanente ou pelo acréscimo extraordinário de serviços.
A relação de emprego forma-se no referido período com a empresa de
trabalho temporário, visa o pacto atender à necessidade transitória da empresa para
substituir pessoal regular e permanente ou pelo acréscimo extraordinário de serviços.
Muitas vezes, o trabalho temporário é utilizado pelos trabalhadores para
um período curto de tempo, como por estudantes em férias, mulheres que precisam
de um valor adicional para reforçar o orçamento doméstico e pessoas que não
querem um emprego permanente.
Representa o trabalho temporário uma forma de flexibilização, pois
envolve uma contratação de tempo determinado para necessidades de serviços
temporários, diversa de normal, que é a contratação por tempo indeterminado.
Há ainda que se mencionar o previsto no Enunciado 331,I do TST, que
prevê a legalidade da contratação de trabalhadores por empresa interposta no caso
de trabalho temporário.
3.3.3. Contrato de Trabalho em Domicílio
O trabalho à distância é uma espécie de flexibilização da relação de
emprego, já que as tarefas são prestadas fora do âmbito da empresa.
O trabalho em domicílio é o prestado na residência do empregado e não
na sede do empregador. É o que ocorre, em certos casos com o tele-trabalho.
Diz o art. 6º da CLT que não se distingue entre o trabalho realizado no
estabelecimento do empregador e o executado no domicílio empregado, desde que
esteja caracterizada a relação de emprego.
O empregado tanto pode trabalhar na sede do empregador como em
seu próprio domicílio. É certo que em seu domicílio poderá fazer o horário que
desejar mostrando que a subordinação pode ser mais leve.
Difere-se o empregado em do domicílio do trabalhador autônomo, pois
este, apesar de poder trabalhar em casa, não tem subordinação, mas autonomia na
prestação dos serviços, assumindo riscos de sua atividade.
3.3.4. Contrato de Aprendizagem
O contrato de aprendizagem, é o contrato realizado com menor entre 14
( quatorze anos ) e 18 ( dezoito anos), na condição de aprendiz, sendo contrato por
prazo determinado, não superior a 2( dois anos ),devendo o menor estar inscrito em
programa de aprendizagem e cabendo ao empregador fornecer “ formação técnico-
profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e
psicológico, e o aprendiz, a executar, com zelo e diligência, as tarefas necessárias a
essa formação “ ( art. 428 da Lei nº 10097/2000).
3.3.5. Alteração da Jornada de Trabalho
Finalmente, estando constitucionalmente autorizada a flexibilização que
se submete a julgamento e permanecendo preservada dignidade do trabalho, o
Principio Protetor, inerente ao Direito do Trabalho exige, como condição de validade
de negociação coletiva, que a vantagem do trabalhador que tenha sido suprimida ou
reduzida.
Dessa forma, é necessário que o julgador proceda à analise do conjunto
de concessões e renúncias que constam do instrumento negocial, novamente sendo
levado a ponderar a natureza dos direitos e obrigações abrangidos e sua
razoabilidade dentro do produto final.
Nesse passo, a jurisprudência vem demonstrando reconhecimento da
necessidade de interpretação da validade de determinado sacrifício da categoria
profissional, explicitada, em norma coletiva, fazendo uso da Teoria do
Conglobamento.
A Constituição Federal, se por um lado impõe, como regra geral, a
observância de condições mínimas de trabalho, de outro consagra a proteção às
convenções e acordos coletivos de trabalho ( art. 7º, inciso XXVI) , especialmente
permitindo a negociação coletiva visando, à redução de salários e a flexibilização da
jornada de Trabalho ( art. 7,inciso, VI,XIII e XIX ) da Constituição Federal.
Na mesma direção está o seguinte acórdão proferido pela 5 ª Turma do
TST; relator Ministro João Batista Brito Pereira- Proc. nº RR 270/2004-054-03-00.8)
“ Na fixação de foras in intinere, deve-se prestigiar
o pactuado entre empregados e empregadores, por meio de
convenções e acordos coletivos de trabalho, sob pena de
violação do disposto no art. 7, inciso XXVI, da Constituição da
República. A flexibilização no Direito do Trabalho, fundada na
autonomia coletiva privada, permite a obtenção de benefícios
para os empregados com concessões mútuas. Portanto, se as
partes decidiram que as horas in intinere não serão
consideradas como jornadas de trabalho, não se pode deferir
essas horas de acordo com o tempo dispendido no percurso.”
O Constituinte criou norma visando à preservação da saúde dos
trabalhadores, também assegurou flexibilização, conferindo às entidades sindicais
ampola possibilidade de pactuarem alterações contratuais, o patamar flexibilizatório
pela via negocial se desvincula dos argumentos de que o inciso XXVI do art. 7º da
CF afasta qualquer hipossuficiência.
Nesse passo, o acórdão da 4ª Turma da Corte Superior Trabalhista,
entendeu admissível e proporcional a supressão do intervalo intrajornada em troca da
redução da jornada semanal e do término antecipado da jornada diária.
RECURSO DE REVISTA- REDUÇÃO DO
INTERVALO INTRAJORNADA PECULIARIDADE DA
ATIVIDADE DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE URBANO.
VALIDADE. NÃO APLICABILIDADE DA ORIENTAÇÃO
JURISPRUDENCIAL nº 342 DA SBDI-1
I-O Precedente da OJ nº 342 da SBD1-1 foi
baixado tendo em conta o padrão da empresa que opera
mediante unidade técnica fixa, em relação a qual se torna
inteligível a norma do § 3º, do art. 71, da CLT, segundo a qual,
para a supressão ou redução do intervalo intrajornada, é
indeclinável que o estabelecimento atenda integralmente as
exigências relativas à organização de refeitórios.
II- Não sendo materialmente possível a existência
do refeitório no caso de empresas de transporte de passageiros,
decorrente da própria natureza ambulante da sua atividade, é
de se admitir excepcionalmente a validade de claúsula
convencional em que tenha sido ajustada a redução do intervalo
intrajornada, mesmo sem a intervenção do Ministério do
Trabalho.
III- Isso não só em razão da prevalência da
vontade coletiva privada, consagrada no art. 7º, XXVI da
Constituição Federal, como também pela evidência de a
redução do intervalo, não implicando, objetivamente, prejuízo, à
saúde e segurança dos motoristas, vir ao encontro dos seus
interesses,na medida em que, liberados de um recesso
forçado de uma hora, são beneficiados com um menor tempo a
disposição do empregador com o conseqüente elastecimento
do tempo para proveito próprio e convívio familiar.”
Com isso, a jurisprudência cuidou da flexibilização pela negociação
coletiva.
Assim, a Constituição Federal, criou permissão para que se altere a
jornada de trabalho, através da negociação coletiva.
3.3.6. Alteração dos Salários
São formas de alteração do salário a remuneração variável, em que o
empregado pode receber uma importância fixa mensal, mas depender dos fatores
ligados à produção, como de comissões sobre vendas, de bônus pela produtividade
atingida ou então participação nos lucros ou resultados da empresa, decorrente do
incremento que ajudou a conseguir para esta.
O inciso VI do art. 7º da Constituição permite a redução de salários,
porém apenas por convenção ou acordo coletivo. A redução salarial não pode ser
feita por acordo individual ou em dissídio coletivo. A norma coletiva não pode reduzir
adicionais de insalubridade e periculosidade.
A alteração é necessária, mas que não chegue atingir um salário
indigno.
3.3.7. Terceirização
Terceirização é palavra criada pela cultura do mercado do Trabalho das
últimas três décadas sob influência principal da área de Administração de Empresas
,porém com grandes repercussões no Direito do Trabalho.
No entendimento de Maurício Godinho Delgado;
“O modelo trilateral de relação Jurídica que surge,
desse mecanismo é francamente distinta do clássico modelo
empregatício, que funda em relação de caráter essencialmente
bilateral ( empregado e empregador). Chocando-se com a
estrutura teórica e normativa original do Direito do Trabalho,
esse novo modelo propicia tratamento socioecônomico e
jurídico ao prestador de serviços muito inferior ao padrão
empregatício tradicional. Em conseqüência, dá origem do
debate acerca da extensão aos, trabalhadores terceirizados dos
princípios antidiscriminatórios que presidem a ordem
constitucional do país ( Godinho, 2008, p. 803 7ª Edição).
A terceirização expandiu-se, no mercado de trabalho brasileiro, nas
últimas décadas, não apenas nos moldes tipificados na Lei 6019/74, mas também, e
principalmente, através de fórmula jurídica não tipificada em qualquer outro diploma
legal.
A terceirização admite vantagens e desvantagens. Como vantagens
para a empresa tomadora verifica-se a melhoria da qualidade do produto ou serviço e
da produtividade, diminuição dos custos e dos encargos trabalhistas e
previdenciários. Como desvantagens temos a dependência do terceiro, e a empresa
terá quie escolher adequadamente seu parceiro. O trabalhador terá como
desvantagem a perda da tutela trabalhista, pois, a maioria das contratações são por
prazo determinado.
A Jurisprudência, porém tem considerado inválida essa fórmula
originalmente construída . Excluída a hipótese de trabalho temporário, os tribunais
têm acolhido a terceirização como fórmula de prestação de serviços por uma
empresa a outrem, e não exatamente como fórmula de locação de mão-de obra. A
331 do TST.
A jurisprudência tem-se se posicionado que a terceirização seria lícita
terceirização não poderia propiciar pessoalidade e subordinação diretas do
trabalhador terceirizado perante o tomador de serviços, mas, essencialmente, apenas
em face da própria empresa terceirizante , inciso III da súmula somente, nos casos
de trabalho de vigilância especializada ( Lei nº 7102/83 ), de conservação e limpeza,
bem como a de serviços especializados ligados à atividade meio do tomador, desde
inexistente a pessoalidade e subordinação direta.
O que se observa é a autorização para terceirização de serviços de
vigilância, de conservação e limpeza de serviços especializados ligados à atividade-
meio do tomador, salvo quando há pessoalidade e subordinação direta.
3.3.8. Conteúdos Favoráveis à Alteração
O direito do trabalho percorre três fases diferentes a fase da conquista,
que procura resguardar os direitos apoderados pelos trabalhadores (que transformou
as fontes materiais “conquistas sociais” em fontes formais “normas rígidas e
inderrogáveis”), a fase promocional, e por fim a fase na qual ocorre a adaptação
desses direitos à realidade, com maior atuação das convenções coletivas de trabalho
desenvolvendo cláusulas in meluis e in pejus, no anseio de fornecer atendimento às
condições de cada época e de cada setor. Assim, no momento de estabilidade
econômica, aplica-se a lei, e o período em que as crises surgirem, recorre-se às
alterações das normas, tanto para pior quanto para melhor.
Como se vê, quando se fala em alterações da normas trabalhistas surge
polêmica. Há autores que a defendem, entre eles destaca-se : Octavio Bueno
Magano, Amauri Mascaro Nascimento, José Pastore e Rosita de Nazaré Sidrim
Nassar.
Esses autores argumentam que os avanços das conquistas trabalhistas
tornaram-se excessivamente onerosos para as em empresas e isto provoca
inevitáveis cortes de pessoal e como conseqüência o desemprego. Defendem ainda
a substituição do sistema atual, com o objetivo de permitir a prevalência do processo
negocial sobre o processo estatal de formação das normas jurídicas, ou seja, o
negociado prevalecendo sobre o legislado
Como enuncia o professor Octavio Bueno Magano ; “ O tema
contratação coletiva encontra-se na ordem do Dia “. Há justificada curiosidade em
torno do mesmo, e divergência também. Alguns são decididamente favoráveis ,
outros são céticos. Os seus defensores brandam contra a interferência do Estado,
acreditando que as organizações sindicais dispõem de força que lhes permite
dialogar a partir de posições idênticas aos dos empregadores. Assim ao invés de
rígida técnica de regulação através da lei, substituir-se –ia esta forma de tutela do
empregado por outras, como acordos e convenções coletivas, mediação , conciliação
ou arbitragem.
José Pastore, referindo-se aos encargos sociais, sustenta que o Brasil é
considerado o campeão de impostos e encargos sociais, sendo um país de encargos
e salários baixos, o que faz o trabalhador receber pouco e custar muito mais para a
empresa.
Robortella afirma ; que se os resultados da flexibilização não são os
esperados, nem por isto haverá de negar os aspectos positivos da flexibilidade, como
a valorização da liberdade individual.
Os adeptos à flexibilização sustentam que deve ser reintepretado o
princípio do “ favor laboratoris”, nos casos com empresas com dificuldades
econômicas, pois será mais favorável continuar empregado em condições inferiores,
do que transformar-se em desempregado .
O maior argumento dos defensores da flexibilização está no aumento
do emprego que tais medidas podem gerar. Porém na Europa, a flexibilização levou a
uma generalizada diminuição dos níveis salariais, e não houve uma melhoria no nível
de emprego.
No entanto, a flexibilização não produziu os resultados esperados, no
campo da melhoria de vida do trabalhador, pois o desemprego continua grande nos
países europeus, e os padrões salariais, e não apresentam elevações, mas ao
contrário são inferiores aos de outras épocas.
3.3.9. Argumentos Desfavoráveis à Alteração
Os seguidores desta corrente entende ser a proposta da alteração da
norma mero pretexto para minimizar os direitos conquistados pelos trabalhadores. Os
defensores deste posicionamento vislumbram a possibilidade de agravamento das
condições de trabalho dos menos favorecidos economicamente, sem qualquer
empenho em promover o fortalecimento das relações laborais
Os trabalhadores como já dito, são contrários a idéia de flexibilizar os
seus direitos. Para os proletariados a alteração seria um retrocesso social. Everaldo
Gaspar Lopes de Andrade contesta as idéias favoráveis à alteração, assim se
pronunciando.
“É muito simples pregar Livre Negociação num ambiente como esse
marcado pelo desemprego , ou subemprego, a misérias, baixíssimos salários , a
miséria, baixíssimos salários, concentração de rendas, índices alarmantes de
lucratividade. É muito simples porque um dos atores enfraquecido, preocupado em
preservar os empregos existentes e ameaçado pela instabilidade e pela imensa
legião de desempregados que batem as portas das fábricas , não tem qualquer
possibilidade de sucesso, no sentido de implementar melhorias nas condições de
vida e de trabalho dos seus representados “.
Argumenta ainda Everaldo Gaspar Lopes de Andrade que pregar a livre
negociação no discurso da flexibilização parece ser fácil, porém não são a maioria
dos trabalhadores que possui o” poder de barganha.
Os números e a repercussão social contrariam as afirmações pró-
flexibilização, já que as medidas tomadas apenas agravaram a precariedade das
relações de trabalho e foram ineficazes quanto à questão do desemprego.
Para Alberto Rimoldi; “a flexibilização é um fenômeno que só pode
florescer em países ricos , onde há uma filosofia em metodologia do consenso muito
desenvolvida, a participação dos trabalhadores é intensa, a convenções bastante
desenvolvidas e os sistemas de seguridade social muito eficientes “.
Para este mesmo autor, há ainda uma dificuldade nos países latino-
americanos de assimilação da flexibilização no sentido de eliminação ou atenuação
da proteção legal ao trabalhador, com o objetivo de aumentar emprego, fomentar o
investimento e a competitividade das empresas.
No entanto, sendo o Brasil um país pobre adotou em sua Constituição
Federal de 1988 algumas medidas de alteração em relação à irredutibilidade do
salário ( art. 7º, VI ), à duração da jornada de oito horas e à carga horária semanal de
quarenta e quatro horas, quando previstas em acordo coletivo ou convenção coletiva
( art.7º, XIII e XIV e art. 8º, inciso VI da CB/1988), por vezes delegando a
participação de trabalhadores e empregadores em colegiados que tratem de
interesses profissionais ou previdenciários, livres, para discussão e deliberação.
Assim, assegura meios de permitir o trato das relações de trabalho em reuniões
preliminares, evitando a rigidez das normas trabalhistas ( Artigo 10 da CR/1988 ).
CAPÍTULO IV
O SINDICATO
Ensina Amauri Mascaro Nascimento que a palavra síndico é encontrada
no direito romano para designar os mandatários encarregados de representar uma
coletividade. Ainda conceitua Nascimento :”Sindicato é uma organização social
constituída para, segundo um princípio de autonomia privada coletiva, defender os
interesses trabalhistas e econômicos nas relações coletivas entres os grupos”.
Salienta Valentin Carrion que “ sindicato de empregados é o
agrupamento estável de membros de uma profissão, destinado a assegurar a defesa
e representação da respectiva profissão para melhorar as condições de trabalho. O
Sindicato patronal congrega os empregadores com a finalidade de defender seus
interesses econômicos”.
4.1. Organização do Sindicato no Brasil
A meta dos sindicatos, além das lutas cotidianas da classe operária, é
constituir-se como força organizadora visando à emancipação econômica, social,
social e política.
Uma das primeiras finalidades dos sindicatos era melhorar as condições
de trabalho, época em que era precária a situação na Europa devido a Revolução
Industrial, pois o grande desenvolvimento das máquinas consolidava o capitalismo
que ingressava na fase industrial.
No Brasil, a Constituição de 1988 prestigia as relações coletivas de
trabalho. Reconhece, como um direito dos trabalhadores, as convenções e acordos
coletivos de trabalho. A estrutura sindical brasileira está baseada na unicidade
sindical, organizada por categorias, na qual os sindicatos têm participação obrigatória
nas negociações coletivas de trabalho e liberdade de criação.
Ao firmar a autonomia sindical ( art. 8º da CR/1988), estabelece a
liberdade sindical e em seus incisos são definidas as condições nas quais se
estrutura a organização sindical brasileira.
Inicialmente, o inciso I do referido artigo prevê a liberdade de criação
dos sindicatos, sem intervenção ou interferência do Estado, entretanto, eles devem
ser registrados no órgão competente para o registro é o Ministério do Trabalho e
Emprego, conforme é definido na Súmula nº 677,do STF.
O inciso II estabelece o sistema de unicidade sindical, em que só pode
ser criada uma organização sindical, em qualquer grau, de categoria profissional ou
econômica, em uma mesma base territorial ou seja, no mesmo município. Ensina
Sergio Pinto Martins que “ a Lei Maior estabelece que a unicidade envolve a base
territorial, impedindo a existência de vários sindicatos de uma mesma categoria,
inclusive de sindicatos por empresa” (MARTINS SERGIO PINTO,2003,p.678).
O inciso III prevê a função de representação dos sindicatos, defendendo
dos direitos coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou
administrativas.
O inciso IV define a maneira do custeio dos sindicatos, através da
contribuição definida em assembléia geral, para custeio do sistema confederativo e
da contribuição prevista em lei ( contribuição sindical ).
O inciso V estabelece a liberdade de associação aos trabalhadores e o
inciso VI a obrigatoriedade de participação dos sindicatos nas negociações coletivas.
Com isso, o que se verifica é um sistema que privilegia a
representatividade dos sindicatos, ao conceder-lhe prerrogativa de negociar os
interesses da categoria.
4.2. Importância do sindicato
Nesse passo à organização sindical brasileira, tem importância e a
necessidade da tutela sindical frente à tendência de flexibilização hoje em dia.
Há necessidade da proteção dos direitos dos trabalhadores pelos
sindicatos, através de celebração consciente das convenções e acordos coletivos de
trabalho.
A Constituição Federal de 1988, admite a flexibilização da jornada de
trabalho e dos salários, mediante convenção ou acordo coletivo, tem suma
importância nesse processo.
O sistema de unicidade sindical, nem sempre permite que os sindicatos
representem adequadamente, impondo à categoria decisões que por vezes, não
traduzem à realidade de determinada empresa.
Além disso, observa-se o enfraquecimento dos sindicatos devido à
desestruturação da categoria, conforme afirma Arnaldo Süssekind em:
“ A negociação coletiva, em quase todos os
países, vem sendo prejudicada pelo enfraquecimento dos
sindicatos, resultante da crise gerada pela globalização da
economia com o endeusamento das leis do
mercado, que ampliou consideravelmente o desemprego e
reduziu significamente ( salvo algumas exceções: países
escandinavos e Espanha o número de trabalhadores filiados
aos correspondentes sindicatos” (SÜSSEKIND 2002,p. 573)
Diante disso, devemos nos preocupar se os sindicatos representam
efetivamente a categoria, pois, são eles os responsáveis pela definição de certas
condições de trabalho, já que, podem prejudicar o trabalhador. Ao Sindicato, cabe a
função de tutela do trabalhador, pois, o Estado delegou poder em alguns casos.
CONCLUSÃO
Em uma história de civilização, onde a evolução da economia e do
trabalho avançaram juntos, nota-se por um lado as conquistas econômicas, da
produção, da tecnologia, da informação e do mercado. Em sintonia, as conquistas
sociais do trabalho humano e da valorização da dignidade da pessoa do trabalhador.
O estudo da evolução das relações laborais, sempre, acompanhou a evolução
econômica através da história, sendo que, nos momentos de crise econômica, devido
a regulamentação jurídica das relações de trabalho, esta última quase sempre se
mostrou menos voláteis, mais estáveis que as mutações econômicas.
As inúmeras conquistas sociais obtidas pela classe trabalhadora ao
longo de décadas, que muito se deve ao progresso da economia que igualmente
evoluir, chegou a um momento de crise. Se a economia anda mal, as relações sociais
e do trabalho que seguem à sua garupa entram também em crise. Se a economia e a
produção perde, todos perdem.
O rompimento da tradição da luta operária e das conquistas sociais,
geram o divórcio com princípios que sempre foram considerados básicos, como o da
proteção ao hipossuficiente, o da estabilidade no emprego, da continuidade da
relação de emprego, da irredutibilidade salarial, da alteração das condições
contratuais apenas nas situações de melhoria da condição social do trabalhador.
Segundo o pacto social, tudo pode variar, mas não somente para melhor. A regra e os
fatores do tempo ensejerão as mudanças a que o momento exige.
O problema do desemprego não é exclusividade do Brasil, é um
problema global e seu atributo não é o Direito do Trabalho e nem o sistema de
relações de trabalho, o problema do desemprego é o sistema econômico e sua
política. As variações macroeconômicas possibilitam muito mais o desemprego que a
rigidez legal ou sua deficiência.
Não se pode permitir que as leis do mercado sejam as ditadoras das
normas a serem obedecidas em relação do trabalho, porquanto o mesmo tem um
valor social e humano que deve ser levado em conta ao lado do fator econômico.
As normas legais trabalhistas vêm se flexibilizando muito antes da
Constituição Federal de 1988, começou com a criação do FGTS em 1966. As
adequações legais para enfrentar a internacionalização da economia, não devem
abalar o sistema intervencionista brasileiro, porquanto a legislação trabalhista, neste
aspecto é atual e tampouco criou os elevados encargos trabalhistas, não podendo,
portanto, ser reponsabilizado pelo elevado custo dos encargos sociais.
A flexibilização deverá ocorrer de forma assistida a fim de possibilitar,
através da negociação coletiva, mudanças que atendam às necessidades
empresariais, tecnológicas para reduzir o desemprego, sem contudo ferir os
princípios universais do direito do trabalho, isto é, as garantias mínimas do
trabalhador, visto que no direito laboral prevalece o trabalhador como ser humano.
Dessa forma, há que se deixar clara a necessidade de controle sobre as
relações de trabalho sob pena de as empresas estabelecerem condições que
agridam a dignidade humana do trabalhador, retroagindo na história.
Nesse passo, a Constituição Federal de 1988 permitiu a flexibilização
no Brasil sobre o salário e a jornada de trabalho, acarretando então permissão a
outras flexibilizações de menor impacto nos direitos laborais.
O Direito Laboral visa a preservar o trabalhador na relação contratual,
garantindo a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, pois, ele é hipossuficiente na relação contratual.
Cabe mencionar ainda que a influência da flexibilização nas relações de
trabalho ocorre de forma positiva no que se refere ao aumento da oferta de trabalho (
e não de emprego), entretanto se dá de forma negativa às condições de trabalho,
pois, na maioria dos casos verifica-se salários mais baixos ligados à diminuição das
garantias aos trabalhadores. O que chama-se de precarização do trabalho.
Dessa forma, o futuro das relações trabalhistas está associado ao
fenômeno da flexibilização do trabalho. Com isso, deve-se acompanhar com cuidado
as mudanças, sob pena de retrocesso na história, garantindo os direitos
fundamentais dos trabalhadores. Outras formas de regulamentação não só do
emprego, mas também as novas situações de trabalho.
Na verdade, todos devem fazer a sua parte. Cabe ao governante
elaborar a implementar políticas públicas que incentivem todos agentes econômicos
a criarem condições para a queda da taxa de desemprego. Cabe ao legislador
entender e adequar os anseios da sociedade às constantes mudanças impostas pela
globalização, sem esquecer de garantir justiça social e, finalmente, cabe ao juiz
interpretar à lei de modo social, sem contundo, deixar de atender o bem comum, isto
é, atender às necessidades de empregados e empregadores, avaliando de forma,
efetivamente, equânime as questões por este, analisadas.
Através destas medidas, pode-se pensar que o Brasil venha a ser tornar
um país viável, ou seja, economicamente sustentável e socialmente justo.
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