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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

Caraterização de Corantes Sintéticos com Interesse Histórico

por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência Associada à

Espectrometria de Massa Tandem

Ana Maria da Cruz Dias

Dissertação para Obtenção do Grau de Mestre em

Química

Orientador: Doutora Maria Conceição Monteiro André Oliveira

Júri

Presidente: Presidente: Doutora Maria Matilde Soares Duarte Marques

Vogais: Doutora Maria Rosário Beja Figueiredo Gonzaga Bronze

Doutora Maria Conceição Monteiro André Oliveira

Dezembro 2014

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Agradecimentos

Em primeiro lugar gostaria de agradecer á minha orientadora, a Doutora Maria da Conceição

Oliveira, pela transmissão de conhecimentos, pelas conversas, a disponibilidade, incentivo,

pelo contínuo apoio neste trabalho e amizade ao longo desta caminhada.

Ao Doutor Joaquim Marçalo pela sua disponibilidade e ajuda.

Aos meus pais e irmãos, que sempre estiveram do meu lado nos bons e maus momentos.

Gostaria de agradecer á minha mãe e á minha irmã o apoio, o incentivo, a paciência, a

compreensão que sempre me deram.

Gostaria de agradecer ao meu namorado que este sempre ao meu lado nesta etapa pela

paciência e incentivo.

Gostaria de agradecer a todos os colegas do grupo VII, do Centro de Química Estrutural do

IST, em especial á Sara Sousa, Joana Bernardo, Ivânia Cabrita e Ana Godinho pela paciência,

ajuda, incentivo, apoio e amizade.

A Catarina Sousa do grupo II e ao Rogério Chay do grupo V, do Centro de Química Estrutural

do IST, pelo incentivo, ajuda, apoio e amizade.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para este trabalho, os meus sinceros

agradecimentos.

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Abreviaturas

AC Antes de Cristo

ac Corrente alternada

APCI Ionização química a pressão atmosférica

API Ionização à pressão atmosférica

CI Ionização Química

CID Dissociação induzida por colisão

CRM Modelo de carga residual

DAD Detetor de arranjo de díodos

EI

Ionização Electrónica

ESI Ionização electrospray

FAB Bombardeamento rápido de átomos

FTICR Ressonância ciclotrónica de iões com transformada de Fourrier

GC Cromatografia gasosa

HPLC Cromatografia Líquida de alta Eficiência

HPLC-DAD-MS Cromatografia Líquida de alta eficiência acoplada a um detector de

arranjo de díodos e espectrometria de massa

HPLC-DAD-MS/MS Cromatografia Líquida de alta eficiência acoplada a um detetor de

arranjo de díodos e espectrometria de massa tandem

HPLC-DAD-MSn Cromatografia Líquida de alta eficiência acoplada a um detetor de

arranjo de díodos e espectrometria de massa tandem

HRMS Espectrometria Massa de alta Resolução

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IEM Modelo de evaporação do ião

JCE Journal Chemical Education

MALDI Ionização/Dessorção de matriz assistida

MS Espectrometria de massa

MS/MS Espectrometria de massa tandem

m/z Razão massa/carga

NI Ião negativo

NSI Ionização nanopray

QIT Armadilha de iões quadrupolar

QqQ Triplo quadrupólo

RF Radio frequência

RI Índice de refração

RMN Ressonância magnética e nuclear

TFA Ácido trifluoroacético

TOF Tempo de vôo

TIC Cromatograma iónico total

UV-vis Ultravioleta visível

2D Bidimensional

3D Tridimensional

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Resumo

Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais.

Mas, a descoberta da malva, por William Henry Perkin em 1856, impulsionou a síntese de

novos corantes sintéticos. No final do século XIX, os corantes naturais foram substituídos pelos

sintéticos que, além de excelentes propriedades tintoriais, apresentavam uma variada paleta de

cores e eram economicamente muito mais acessíveis.

Na primeira parte do trabalho, procedeu-se à caracterização por HPLC-DAD-MSn

de corantes com interesse histórico extraídos das fibras de amostras do J. Chem. Ed., 1926, 3,

976. O trabalho envolveu a aplicação de métodos de extração e a otimização de métodos de

separação cromatográfica adequados a cada família de corante. Cada corante foi caraterizado

com base no tempo de retenção, espectro de UV-Vis e espectro de massa de iões produto.

A segunda parte do trabalho, envolveu o estudo por HPLC-DAD-MSn de cerca de 35

selos Penny Lilac (1867-1901), e de amostras históricas de sais de mauveína atribuídas a

Henry Perkin e Henrich Caro. Os resultados demonstraram que as amostras históricas eram

distinguíveis com base nos cromóforos da mauveína presentes na sua composição. As

amostras de Perkin contêm mauveína A e mauveína B, enquanto que a de Caro tem

maioritariamente pseudo-mauveína. Da comparação entre os sais de malva e os extratos dos

selos concluiu-se que os selos SG107 a 109 tinham sido impressos com malva de Perkin, e o

selo SG 106 com malva de Caro. Mas, a maioria dos selos analisados, foram impressos com

ácido carmínico, embora as suas cores de impressão sejam semelhantes à da malva.

Palavras Chave: HPLC-DAD-MSn, Corantes Sintéticos, Mauveína, Perkin, Selos Penny Lilac

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Abstract

For about 4000 years, man has used dyes obtained from natural sources. But the

discovery of mauve dye, by William Henry Perkin in 1856, has impelled the synthesis of new

synthetic dyes. In the late nineteenth century, natural dyes were replaced by synthetic ones,

that in addition to excellent dyeing properties, showed a varied palette of colors and were

economically much more accessible.

The first part of the work deals with the characterization by HPLC-DAD-MSn of synthetic

dyes with historical interest, extracted from fibers of the J. Chem. Ed., 1926, 3, 976. The study,

involved the application of extraction and the optimization of chromatographic separation

methods appropriate for each dye family. Each dye was fully characterized on the basis of its

retention time, UV-vis spectrum and product ions mass spectrum.

The second part of the work presents the study by HPLC-DAD-MSn of about 35 stamps

Penny Lilac (1867–1901), and historical samples of mauveine salts, attributed to Henry Perkin

and Henrich Caro. The results demonstrated that historical samples were distinguished on the

basis of the mauveine chromophores present in their composition. The samples prepared by

Perkin contain mauveine A and mauveine B, whereas the Caro´s sample have mainly pseudo-

mauveine. A comparison between the mauve salts and the extracts of stamps allowed to

conclude that stamps SG 107, 108 and 109 were printed with mauve prepared by Perkin, and

the stamp SG 106 contained mauve from Caro. But, mostly of the stamps analyzed were

printed with carminic acid, although their printing colors seems to be mauve.

Keywords: HPLC-DAD-MSn, synthetic dyes, mauveine, Perkin, Penny Lilac Stamps

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Índice

Agradecimentos i

Abreviaturas ii

Resumo iv

Abstract v

Lista de figuras viii

Lista de tabelas xi

Capítulo I: Introdução 1

1.1– Corantes 2

1.1.2 – Corante malva 5

1.1.2.1 – Uma perspectiva histórica 5

1.1.2.2 – Estrutura da malva 6

1.1.2.3 – Selos postais 8

1.2 – Métodos analiticos 9

1.2.1 – Cromatografia Líquida de Alta Eficiência 9

1.2.2 – Espectrometria de massa 10

1.2.2.1 – Ionização por Electrospray (ESI) 11

1.2.2.2 – Analisador de massa de armadilha quadrupolar (QIT) 13

1.2.2.3 – Detetor 14

1.2.2.4 – Espectrometria de massa tandem MS/MS 14

1.2.3 – LC-MS 15

Capítulo II: Parte experimental 17

2.1 – Reagentes 18

2.2 – Equipamento 19

2.3 – Preparação das amostras 19

2.3.1 – Solução 0.2 M de ácido oxálico 19

2.3.2 – Solução de TFA 2 M 19

2.4 – Amostras e métodos de extração 19

2.4.1 – Amostras têxteis 19

2.4.2 – Amostras históricas 20

2.4.3 – Selos postais 20

2.5 – Condições de análise 20

2.5.1 – HPLC-DAD-MSn 20

Capítulo III: Apresentação, tratamento e discussão dos resultados 22

3.1 – Amostras do Journal Chemical Education 23

3.1.1 – Corantes nitro 23

3.1.2 – Corantes azo (monoazo e diazo) 24

3.1.3 – Corantes metano (triaril e difenil) 28

3.1.4 – Corantes azina e xanteno 35

3.1.5 – Corantes antraquinona 37

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3.2 – Identificação de malvas em selos Penny Lilac (1867 – 1901) 39

3.2.1 – Caraterização de amostras de malva históricas 39

3.2.2 – Caraterização de selos Penny Lilac 45

Capítulo IV: Conclusão 54

Bibliografia 57

Anexos

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Lista de figuras

Figura 1.1: Representação da estrutura da benzidina. 4

Figura 1.2: Caracterização estrutural dos produtos isolados a partir das amostras de malva.

Adaptada de. [6]

7

Figura 1.3: Representação esquemática dos componentes básicos de um espectrómetro de

massa. 10

Figura 1.4: Representação esquemática da interface electrospray (ESI). 12

Figura 1.5: Representação de um analisador do tipo armadilha de iões quadrupolar. 13

Figura 1.6: Representação do multiplicador de eletrões. 14

Figura 3.1: Esquema de fragmentação proposto e espectro de massa MS2 do ácido pícrico. 24

Figura 3.2: Padrões de fragmentação dos compostos azo através da ligação –N=N-. 25

Figura 3.3: Espectro de massa MS2 do vermelho cochonilha A e respectiva proposta de

fragmentação. 26

Figura 3.4: Espectro de massa MS2 e esquema de fragmentação proposto para o amaranto.27

Figura 3.5: Esquema de fragmentação proposto e espectro de massa MS2 da Crocein Scarlet.

28

Figura 3.6: Espectro de massa MS2 e esquema de fragmentação proposto da auramina. 29

Figura 3.7: Esquema de fragmentação proposto e espectros de massa MSn (n=2-4) do Patent

Blue V. 31

Figura 3.8: Espectro MS do Light Green SF Yellowish. 31

Figura 3.9: Esquema de fragmentação proposto e espectros de massa MS2, MS

3 e MS

4 do ião

mono carregado do Light Green SF Yellowish. 32

Figura 3.10: : Esquema de fragmentação proposto e espectros de massa MS2, MS

3 e MS

4 do

ião duplamente carregado do Light Green SF Yellowish. 33

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Figura 3.11: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 do Formilo Violeta S4B. 35

Figura 3.12: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 da safranina T. 36

Figura 3.13: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 da rodamina B. 37

Figura 3.14: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 do vermelho Turquia. 38

Figura 3.15: Cromatogramas de HPLC-DAD das amostras históricas dos sais de mauveína a

550 nm para ScM1: Museu da Ciência 1; ScM2: Museu da Ciência 2; ScM3: Museu da Ciência

3; ScM4: Museu da Ciência 4; MS1M1: Museu da Ciência e Indústria Manchester 1; CM:

Museu Chandler; MS1M2: Museu da Ciência e Indústria Manchester; DM-Caro: Museu

Deutsches. 40

Figura 3.16: Cromatograma de HPLC-DAD e cromatogramas de tadem ESI(+) e espectros de

massa MS2 da amostra ScM1 do Museu da Ciência. Os maiores compostos identificados

correspondem ao número de picos: 1 – m/z377, isómero C25; 2 – m/z391, Mauveína A; 3 – m/z

405, mauveína B2; 4 e 5 – m/z 405, mauveína B3 e B4; 6 – m//z 405, mauveína B; 7 e 8 – m/z,

mauveína C e C1; 9 – m/z 433, mauveína D. 41

Figura 3.17: Cromatogramas de HPLC das amostras históricas dos sais de mauveína a 550

nm ScM4 e DM-Caro, e da amostra de malva do JCE. 45

Figura 3.18: Dois selos postais (esquerda Penny Lilac, SG 170-SG 174), e a direita (o selo SG

107 de seis pences) com os respetivos extratos numa solução de metanol. 47

Figura 3.19: Cromatograma de HPLC-DAD, cromatogramas de massa tandem ESI(+) e

espectro de massa MS2 da amostra de selo postal SG 109. Os compostos identificados

correspondem ao pico: 1 – m/z 377, isómeres C25; 2 – m/z 391, mauveína A; 3 e 4 – m/z 405,

mauveína B3 e B4; 5 – m/z 405, mauveína B; 6 – m/z 419, mauveína C; 7 – m/z 433, mauveína

D. 48

Figura 3.20: Cromatograma de HPLC-DAD, cromatograma de massa tandem ESI(+) e

espectro de massa MS2 da amostra de selo postal SG 106. Os compostos identificados

correspondem ao pico: 1 – m/z 363, pseudo mauveína; 2 – m/z 377, isómeros C25; 3 –m/z 391,

mauveína A; 4 – m/z 405, mauveína B. 49

Figura 3.21: Dois selos postais analisados: à esquerda o selo SG 109, impresso com malva de

Perkin; e à direita o SG 106 impresso com malva de Caro. 50

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x

Figura 3.22: Cromatograma de HPLC-DAD e o cromatograma tandem ESI(-) e o espectro de

massa MS2 da amostra do selo postal (SG 170-174). O pico com m/z 491 corresponde ao ácido

carmínico desprotonado. 50

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xi

Lista de Tabelas

Tabela 2.1: Reagentes utilizados e suas características. 18

Tabela 3.1: Análise por HPLC-DAD-MS das diferentes malvas encontradas nas amostras

históricas (analisada anteriormente na ref.[6]

) e a partir de uma amostra sintetizada por Heinrich

Caro (do Museu Deutsches). 44

Tabela 3.2: : Análise por HPLC-DAD-MS/MS dos diferentes tipos de malva (dado em %)

encontrados nos selos Victoria LiLac. 46

Tabela 3.3: Dados de HPLC-DAD-MS/MS dos corantes violeta de Hofmann´s e o corante

natural cochenilha. 52

Anexos

Tabela 1: Tabela 1: Base de dados dos corantes sintéticos extraídos de fibras pertencentes a

um artigo do Journal of Chemical Education, 1926, 3: 9, 973-1007. A1

Tabela 2: Comentários sobre a rotulagem e origem das amostras. A9

Tabela 3: Selos Postais (35) analisados por HPLC-DAD-MS/MS. A11

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Capítulo I

Introdução

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1.1– Corantes

“The total number of dyes discovered is more than three Millions and some 27,000 had been

marketed and about two new ones are appearing each week. Now, it is 2013. Numbers are

certainly much more. Around 34,500 dyes and pigments are listed under 11,570 Color Index

Generic Names in fourth edition of Color Index International of SDC & AATCC” [1]

Durante mais de 4000 anos, os corantes utilizados pelo Homem foram obtidos a partir

de fontes naturais, como plantas, árvores, líquenes e alguns insetos. Estes corantes eram

utilizados para adorno pessoal, decorar objetos, fazer pinturas e sobretudo tingir têxteis com o

qual cobriam o corpo e decoravam as habitações. È de 2600 AC, o primeiro registo conhecido

da utilização de corantes naturais na China. De entre a vasta gama de produtos utilizados,

houve algumas fontes tintureiras que pelo facto de originarem cores belas e persistentes

atingiram grande valor económico, fazendo a sua posse a fortuna de impérios, e sendo

utilizados apenas por imperadores e altos dignatários da igreja.

O indigo (corante azul), um corante natural obtido á partir da planta Indigofera

Suffruticosa é um dos mais antigos e muito utilizado atualmente no tingimento dos jeans. Este

corante foi o ponto de partida na produção do primeiro corante sintético, o ácido pícrico

(corante amarelo), descoberto em 1771 por Woulfe a partir da reação do indigo e ácido nítrico,

sendo usado no tingimento da seda e lã. [1-5]

Outros corantes foram descobertos e utilizados,

tais como a aurina, murexide, anilina negra, alguns corantes azuis, violetas e vermelhos

preparados por Friedrich Runge (1795 – 1867), mas não possuíam boas propriedades de

tingimento, como solidez à lavagem e à luz, apenas eram compostos com propriedades

tintoriais, sem valor comercial. [2-5]

Em 1850, August Wilhelm von Hofmann investigador e professor no Royal College of

Chemistry em Londres, começou por estudar os produtos derivados do alcatrão de carvão, pois

este era uma fonte de compostos orgânicos facilmente recolhidos por destilação. Com os

conhecimentos que possuía na área, iniciou, nessa época, uma investigação nesses

compostos fazendo uma substituição orgânica dos radicais com amónia, o que levou à

discriminação entre bases orgânicas primárias, secundárias e terciárias, isto é, à descoberta

das aminas. [3]

Hofmann tinha o dom de encorajar e puxar pela imaginação de todos os seus alunos,

entre eles William Henry Perkin, que começou a investigar a síntese da quinina. Para esse

efeito usou a anilina e tratou-a com dicromato de potássio, obtendo um precipitado preto. Mas,

curiosamente quando efetuava a lavagem com metanol do recipiente em que realizou a reação

conseguiu isolar uma cor a que chamou “mauve”. Verificando que esta descoberta poderia ter

importância comercial patenteou-o como corante, surgindo assim em 1856 o primeiro corante

sintético, a malva ou púrpura de anilina. [3-5]

Esta descoberta impulsionou a procura por novos corantes sintéticos e os compostos

derivados do alcatrão de carvão foram utilizados como matéria-prima de interesse científico e

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isolados, entre eles, o benzeno do qual naquela época não se tinha nenhum conhecimento,

inclusive da sua estrutura. Ensaios em laboratório, levaram à conversão do benzeno noutros

compostos, tais como a anilina e o nitrobenzeno. Antes disto a anilina era produzida à partir do

indigo por destilação. Outras descobertas foram feitas muito rapidamente, e em 1859 a

Safranina T (Safranine T), um cor-de-rosa vivo foi posto no mercado. [3]

Como Perkin obteve a

malva por oxidação com dicromato de potássio da anilina e toluidina, ambas aminas

aromáticas, pensou-se que o uso de outros agentes oxidantes poderia causar variações na

natureza do produto.

Em 1859, Verguin obteve um corante vermelho azulado ao qual chamou de magenta,

sendo este o primeiro corante de trifenilmetano, em que três anéis de benzeno estão todos

ligados por um átomo de carbono. Este grupo de compostos era facilmente modificado pela

substituição dos hidrogénios por outros grupos, como os alquil, ou retirando grupos, como as

aminas. [3]

Em 1883, foi descoberto outro corante, a auramina, conhecido como corante de

difenilmetano. [3]

Quimicamente, todos estes corantes eram sais básicos, e ficaram conhecidos

por corantes básicos. De belas tonalidades brilhantes, mas pouco persistentes à luz, foram

praticamente só usados no tingimento da seda.

Em 1866, Peter Greiss começou a fazer reações de aminas com ácido nítrico para

observar o seu comportamento, tendo obtido resultados idênticos aos de Perkin e outros

cientistas. Mas ele continuou os seus estudos e observou que em meio ácido, o ácido nítrico

ataca o grupo aromático na amina, ocorrendo a deslocação de dois átomos de hidrogénio e a

adição de um átomo de azoto, ambos com um radical ácido, que deve estar presente,

formando o composto diazonium, que quando seco era extremamente explosivo, e em solução

entrava em decomposição, especialmente se aquecido, dando origem aos fenóis. [3]

As reações

de diazotação eram difíceis de controlar, por isso para serem produzidas satisfatoriamente

tinham de ser efetuadas em condições climáticas muito frias, uma vez que o gelo ainda não era

produzido. [5]

A diazotação e o acoplamento são as reações básicas da síntese de todos os corantes

azo. O primeiro corante azo, foi produzido em 1865, por reação do ácido nítrico com meta-

fenilo-diamina e chamou-se Manchester Brown. Novos desenvolvimentos neste campo, só

foram possíveis com o aparecimento de novos compostos orgânicos. E, em 1876, é lançada no

mercado, uma cor laranja-acastanhada, a que foi dado o nome de crisoidina. Até esta altura

todos os corantes produzidos eram básicos, mas, ainda em 1876, a firma Poirrier em St. Denis

põe no mercado o primeiro corante azo ácido, o alaranjado II (Orange II). Estes corantes de

grande qualidade, apresentavam cores muito brilhantes, devido à presença de ácidos

sulfónicos. [3]

Em 1878, aparece no mercado um corante ácido vermelho, o Fast Red A, de elevada

qualidade. Começou, assim, a “guerra” entre corantes naturais e corantes sintéticos. O início

deste conflito, já tinha na realidade sido iniciado em 1869, quando a alizarina artificial começou

a ser comercializada, por esta ser quimicamente muito semelhante ao corante natural. Muitos

corantes sintéticos têm a mesma tonalidade que os corantes naturais, mas possuem uma

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estrutura completamente diferente. O progresso na síntese dos corantes levou à produção de

isómeros, com estruturas semelhantes, mas com os grupos substituintes (os grupos sulfónicos)

em posições diferentes na molécula. Descobriu-se, assim, a possibilidade de formação de

corantes com tonalidades diferentes, e nessa série é produzido um corante vermelho idêntico

ao corante natural cochonilha, a que foi dado o nome de vermelho cochonilha A. [3]

Todos os corantes azo sulfonados eram laranja e vermelhos e os corantes básicos,

eram azuis, violetas e verdes. Este facto levou os cientistas a tentar converter os corantes

básicos em corantes ácidos solúveis em água, por sulfonação. Surgiram, assim, os corantes

ácidos trifenilmetano, [3]

corantes azuis e violetas de grande qualidade, produzidos para serem

usados como corantes azo no tingimento da lã. Por exemplo, o ácido magenta foi produzido

por sulfonação direta do magenta em 1877, havendo outros em que sulfonação ocorre num

substituinte ligado ao azoto, como o formilo de violeta SB4 (Formyl Violet S4B). Em 1888 são

introduzidos, pela Meister, Lucius e Brunning, dois corantes azuis de elevada qualidade, o

Patent Blue A e V, cujas estruturas diferiam apenas no tipo de substituintes ligados ao grupo

amina.

Todos os corantes sintéticos produzidos até esta altura eram usados no tingimento da

seda e lã, pois quando utilizados no tingimento do algodão não se obtinha a mesma tonalidade,

a não ser que se usa-se um mordente.[3]

O mordente é um ião metálico como o Al3+

e Cr3+

, que

é adicionado ao banho de tingimento e faz a ligação entre o corante e a fibra, isto é, prepara a

fibra para fixar o corante. Este tipo de corantes que necessitam de mordente são conhecidos

como corantes mordente.

Em 1884, Boettiger descobriu que a presença do núcleo de benzidina ( figura 1.1), num

corante azo conferia propriedades ao corante de tingir o algodão num banho neutro ou

fracamente básico, sem necessitar de mordente ou sal para ocorrer a fixação à fibra. O

primeiro corante reconhecido como corante direto foi o Vermelho Congo (Congo Red). [2]

NH2H2N

Figura 1.1: Representação da estrutura da benzidina

Adolph von Baeyer interessou-se pela química orgânica dos corantes e deve-se-lhe a

descoberta do indigo, e em 1871, a partir da interação entre o anidrido ftálico e fenóis,

descobriu a fluoresceína, um corante amarelado pouco interessante mas com interesse para a

fluorescência. A partir destes estudos, Caro, em 1874, produziu a eosina, um “belo mas fugidio”

corante. Mas o desenvolvimento deste grupo de corantes data depois de 1887, quando se

descobriu ser possível produzir corantes ftaleína pela substituição dos fenóis amino e do

anidrido ftálico, levando assim a uma nova classe de corantes, os corantes xanteno[3]

, como a

Rodamina B, de tonalidade verde-avermelhada característica.

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5

O progresso no fabrico dos corantes sintéticos e da química orgânica foi sempre um

crescimento conjunto, entre o melhoramento nos métodos de controlo das reações orgânicas e

os avanços na compreensão da natureza dos compostos obtidos nestas reações. [3]

O vermelho Turquia (Turkey Red) também conhecido como alizarina, foi sempre

considerado o melhor de todos os corantes, extraordinariamente rápido e de bonito tons claros.

Tinha contudo um problema, era de difícil aplicação. Os químicos voltaram a sua atenção para

o problema, e em 1868, Liebermann e Graebe apresentaram a estrutura da alizarina e

demonstraram que o vermelho Turquia era a cor produzida quando a alizarina era aplicada

num mordente de Al3+

. Em 1869, o corante alizarina era produzido sinteticamente a partir do

antraceno, e a extração a partir da planta garança entrou em declínio.[3]

Embora a química dos

compostos de alizarina fosse bastante complexa, Bohn, Friederich Bayer e Schmit

conseguiram produzir alguns corantes seus derivados, como por exemplo a Alizarin Saphirol B

e Alizarin Indigo Blue S.

O indigo foi o outro corante que despertou a atenção dos químicos, mas a sua

compreensão mostrou-se um processo muito mais complexo do que o da alizarina. Bayer

devotou 20 anos de estudos ao indigo, antes de a sua constituição ser estabelecida, e embora

tenha completado o seu trabalho em 1884, o indigo sintético só foi lançado no mercado em

1894 devido à descoberta do agente condensante adequado para converter a fenil glicina em

indoxil, que por oxidação dá origem ao indigo. [3]

Bohn, após os trabalhos com a alizarina, centrou-se no indigo pois achava que era

possível produzir um derivado do antraceno correspondente ao indigo. Para tal, usou a beta-

amino-antraquinona e fundiu-a com potássio, obtendo um composto que se fosse tratado com

um agente redutor originava compostos azuis muito resistentes, a que deu o nome de

idantrenos, derivado do indigo e do antraceno.[3]

Estes compostos são conhecidos como

corantes de cuba, pois são insolúveis, mas podem ser transformados numa forma solúvel,

chamada “leuco” e assim conseguir tingir a fibra.

1.1.2 – Corante malva

1.1.2.1 – Uma perspetiva histórica

A descoberta do corante malva em 1856, por Perkin foi um marco, um icon na história

dos corantes sintéticos que impulsionou a indústria dos corantes e da química orgânica, pois é

considerado o primeiro corante sintético. [3-6]

A síntese da mauveína ocorreu por acaso, quando Perkin nas férias da Páscoa em

1856, no seu laboratório improvisado em casa, tentava fazer a síntese da quinina, e de modo a

efetuar esta síntese usou sulfato de anilina (obtido do alcatrão de carvão) e tratou-a com

dicromato de potássio obtendo um precipitado negro, mas ao fazer a lavagem do recipiente

onde efetuou a síntese, com metanol, observou a existência de uma solução de cor púrpura, a

que chamou malva. Com a ajuda do seu irmão Thomas Dix Perkin, no jardim da sua casa

melhorou a produção e isolou a mauveína, verificando a sua importância comercial como

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corante ao tingir um bocado de tecido de seda. [4-6]

Este corante também foi chamado de outros

nomes como anilina púrpura (1857), púrpura de Tyrian (1858), corante malva (1859). [4,5]

Obteve o contacto de Robert Puller de uma tinturaria muito respeitada, J Pullar & Sons,

Mill Street Dye Works, UK e mandou-lhe umas amostras de seda tingida para saber a sua

opinião. Robert Puller, respondeu-lhe, dizendo “ nunca ter visto uma cor com uma tão grande

solidez à lavagem e à luz e que era a cor que as classes mais altas desejavam”. [5]

Perkin patenteou a sua descoberta nesse mesmo ano, com a designação de “mauve”,

tendo-lhe sido concedida a 23 de Agosto de 1856 e selada a 20 de Fevereiro de 1857.[4-6]

Construiu uma fábrica com o seu irmão Thomas Dix Perkin e começou a produção da

mauveína em pequena escala. Mas a procura e crescimento público deu-se quando a cor foi

adotada pela Rainha Victoria de Inglaterra, que usou um vestido tingido com mauveína no

casamento da sua filha em 1858, e pela Imperatriz Eugénie, esposa de Napoleão III, em

França.[4-6]

Contudo o seu interesse comercial entrou em declínio, mesmo antes de Perkin vender

a sua fábrica em 1873, pois o auge deste corante durou mais ou menos sete anos (1857-1864).

Durante esse período viu-se outro uso para a mauveína, pois além do tingimento de tecidos, foi

usada na produção de tintas de impressão, aplicação que durou até ao final do reinado da

Rainha Victoria (1837-1901).

E, quando a elegante rainha Victoria usou um vestido cor de “mauve” na grande

exposição mundial de 1862, um selo postal cor de malva de um centavo “a mauve penny

stamp” foi posto a circular pelo Royal Post Office of Great Britain. [4-6]

1.1.2.2 – Estrutura da malva

A procura pela estrutura molecular da malva, começou com o próprio Perkin que,

através da análise elementar, conseguiu observar a presença de toluidina. Definiu a fórmula

empírica da mauveína como C27H24N4, e que esta era o principal constituinte do corante malva.

Mais tarde descobriu que a toluidina e derivados da anilina (xilenos) dão corantes com cores

semelhantes. Tentou efetuar a síntese com a anilina pura e obteve uma cor diferente e deu-lhe

o nome de pseudomalva, com fórmula C24H20N4. Perkin publicou vários artigos sobre a

constituição química da mauveína, e na sua última comunicação definiu “ that mauveine was a

mixture of pseudo-mauveine (C24) and of a trimethylated homologue (C27)”, e que havia “two

different products, namely, a blue shade of mauve prepared from aniline, containing little

toluidine, and a red shade from an aniline containing large quantities of toluidine”.[5]

Perkin

conseguiu determinar a fórmula molecular da mauveína, mas não a sua estrutura molecular.

Só em 1994, Otto Meth-Cohn e Mandy Smith, após análise de duas amostras históricas

de sais de mauveína, uma amostra produzida na fábrica por Perkin e pertencente aos Arquivos

Zeneca at Blackley (Manchester) e outra do Museu Britânico (Londres), demonstraram que os

dois principais cromóferos da malva eram a mauveína A e B, C26 e C27 (Figura 1.2). Estas

amostras foram novamente analisadas recentemente por HPLC-MS e foi possível separar e

identificar vários homólogos metilados da mauveína. Com o isolamento destes dois compostos

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7

foi possível determinar as suas estruturas recorrendo a ensaios de HRMS e RMN. Na Figura

1.2 apresenta-se a caracterização dos produtos isolados a partir de amostras de malva. [6]

NH2

NH2H2N

N

N

H2N NH

Malva B

N

N

H2N NH

N

N

NHH2NN

N

H2N NH

N

N

NHH2N

Malva A Malva B2

Malva C

Pseudo - MalvaMalva C25a

N

H2N NH

Malva C25b

N

N

H2N NH

N

C26

C27

C27

C28

C24C25

C25

Figura 1.2: Caracterização estrutural dos produtos isolados a partir das amostras de malva.

Adaptada de [6]

O composto A (C26) contém duas moléculas de anilina, uma molécula de p-toluidina e

uma molécula de o-toluidina, enquanto que o composto B (C27) contém uma molécula de

anilina e duas moléculas de o-toluidina e uma molécula de p-toluidina. Mais tarde também foi

possível identificar os picos mais pequenos visualizados na cromatografia como sendo

análogos do composto A e B, pela utilização da anilina, o-toluidina e p-toluidina como materiais

de partida. Estes dados, tal como os dados obtidos por Otto Meth-Cohn e Mandy Smit,

contradizem a fórmula empírica da mauveína definida por Perkin, devendo a sua fórmula C27,

estar relacionada com a mauveína B ou um isómero. [5,7]

Como Perkin já tinha verificado e os químicos modernos comprovaram, a estrutura do

corante malva é dependente da presença da o-toluidina e p-toluidina que são mais reativos que

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8

a anilina no processo de acoplamento oxidativo na produção de mauveína, por isso não é um

composto puro, mas sim uma mistura de anilina e toluidinas. [5-7]

1.1.2.3 - Selos Postais [8]

A indústria dos corantes sintéticos foi impulsionada pela descoberta da malva por

Perkin, pois a sua aplicação no tingimento de tecidos de algodão não era bem sucedido, dado

ser necessário a aplicação de um fixador (mordente) apropriado. Contudo, este problema foi

superado em 1860, pois na exposição internacional em Londres existiam telas, produtos

tingidos e impressos com este corante sintético.

Devido à Guerra Civil Americana que precipitou a procura por algodão, este tornou-se

um produto escasso, por isso tornou-se necessário procurar novos produtos para a aplicação

dos corantes. A Roberts, Dale & Co de Manchester considerada a mais progressiva empresa

de impressão inglesa, começou a investigar formas de impressão em papel, pois a impressão

em papel não era como a impressão em materiais têxteis, e esta não possuía um especialista

em impressão em papel.

Em meados de 1860, dados os esforços do químico Heinrich Caro na Roberts, Dale &

Co e Hugo Muller, na empresa de papel de Thomas De La Rue & Co em Londres, aplicar os

corantes sintéticos passaram a ser usados no tingimento em papel, principalmente em selos

postais.

Dado isto, Thomas De La Rue & Co tornou-se um dos maiores fornecedores de selos

postais do governo Britânico e os primeiros a imprimir selos com corantes sintéticos. [5]

No ano

de 1860 esta era a linha de negócio da empresa e o uso de muitos corantes como a cochonilha

(corante natural) extraída de insetos era usada na impressão.

Nesta época, a rainha Victoria, monarca do Império Britânico, tornou-se a face dos

selos postais. Com a associação de Caro e Muller à empresa de papel Thomas De La Rue &

Co, há dados que indicam que nos selos chamados de “ Penny Lilac”, a impressão tenha sido

feita com corante malva produzido por Caro. Contudo não existem referências da aplicação da

malva feita por Perkin em selos postais. Além disso, segundo Reinhardt e Travis nos selos

“Penny Lilac” também foram usados outros corantes sintéticos, como os violetas de Hofmann.

[8]

Neste trabalho pretende-se demonstrar baseado na análise química de corantes de

fibras do artigo Journal Chemical Education, 1926 e a análise de amostras de históricas de

malva de diferentes origens, que o corante malva sintetizado na fábrica de Perkin foi usado

como fonte tintureira na impressão de selos postais “penny lilac” do período vitoriano. Para

estes estudos recorreu-se à espectrometria de massa tandem com ionização por electrospray

acoplada à cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC-MS/MS)

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9

1.2- Métodos analíticos

1.2.1– Cromatografia Liquida de Alta Eficiência[10,11]

A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) é um método de separação dos

componentes de uma mistura, que envolve a sua distribuição por duas fases, uma fase móvel

que elui através de uma fase estacionária. È um método largamente utilizado na análise

qualitativa e quantitativa dos componentes de misturas. Torna-se pertinente saber que a

abreviatura HPLC deriva da designação inglesa High Performance Liquid Chromatography.

Um sistema de HPLC é constituído normalmente por um sistema de distribuição de

solvente (reservatórios de solventes e bomba), uma válvula de injeção da amostra, uma

coluna, um detetor e um sistema de controlo e de aquisição de dados. Alguns equipamentos

contêm ainda um forno de modo a controlar a temperatura da coluna. No HPLC, são utilizadas

colunas de enchimento, vulgarmente de aço inoxidável que possuem enchimento com

partículas entre 3 a 20 µm. As colunas analíticas usuais têm 3 a 30 cm de comprimento e de 2

a 5 mm de diâmetro e, por terem um custo elevado, são por vezes utilizadas pré-colunas com a

mesma fase estacionária, para proteger a coluna de possíveis impurezas presentes na amostra

que possam diminuir o seu tempo de vida.

No HPLC, a amostra dissolvida normalmente na fase móvel (eluente) é transportada,

ao longo dos diversos componentes do sistema cromatográfico, por uma ou mais bombas que

asseguram a passagem controlada da mesma. Os componentes da amostra são separados de

acordo com a sua interação com a fase estacionária (coluna com diferente empacotamento) e

a fase móvel, estabelecendo-se equilíbrios sucessivos de distribuição dos componentes entre a

fase móvel e estacionária. Considerando a existência de uma interação diferente dos

componentes da amostra com as duas fases, estas vão deslocar-se a diferentes velocidades

ao longo da coluna. Os componentes com maior afinidade pela fase estacionária vão ficar

retidos na coluna, isto é, vão ter um tempo de retenção maior, enquanto que os compostos

com maior afinidade pela fase móvel vão ser eluídos mais rapidamente, apresentando tempos

de retenção menores.

As bombas devem manter o fluxo do eluente constante, sem oscilações na pressão ou

fluxo e ser constituída por material que seja compatível com a vasta diversidade de solventes.

Os solventes em HPLC devem ser de elevada pureza e não conter resíduos sólidos, devem ser

desoxigenados antes da sua utilização, pois as bolhas de ar no sistema cromatográfico podem

causar variações na pressão do sistema e perturbações no sinal do detetor. O seu

desarejamento pode ser efectuado por um desarejador colocado logo a seguir aos solventes de

eluição, utilizar um banho de ultra-sons, ou por deslocamento de gases recorrendo a um fluxo

de gás inerte. No caso de se ter tampões como eluentes, estes devem ser filtrados num

sistema próprio, para evitar a formação de sais no interior do sistema e deste modo bloqueá-

lo. A eluição pode ser realizada mantendo a composição do eluente (eluição isocrática), ou

variando a sua composição (eluição por gradiente).

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10

Após a eluição da amostra o detetor apresenta uma resposta que permite identificar e

quantificar o composto a partir dos dados registados no cromatograma (tempo de retenção e

área do pico). Mas para identificar um determinado composto numa matriz complexa, primeiro

tem de se realizar um ensaio com o composto padrão que se quer identificar ou quantificar

nesta, exatamente nas mesmas condições, pois se houver alterações nos solventes de eluição

ou no gradiente, os resultados obtidos vão ser diferentes. Para se obter uma largura ou altura

de pico adequada, podem se fazer ajustes nos parâmetros ou trocar a coluna de modo a

melhorar a deteção e a sensibilidade do método de análise.

Existem vários tipos de detetores que podem ser usados em HPLC. Os detetores mais

comuns são os de absorção de radiação ultra violeta e visível (UV-Vis), índice de refração (RI),

fluorescência, eletroquímico e espectrometria de massa (MS).

1.2.2- Espectrometria de massa

A espectrometria de massa (MS) é uma técnica analítica usada para obter informação

qualitativa, massa molecular, características estruturais de compostos, sua composição e se for

o caso, das proporções isotópicas de átomos na amostra bem característicos (presença de Cl,

Br, S, entre outros), e quantitativamente no caso de se pretender quantificar um analito numa

matriz complexa. É definida como a passagem dos analitos da fase condensada para a fase

gasosa seguida da sua ionização e separação de acordo com a razão m/z.[12]

Um espectrómetro de massas é constituído por três componentes básicos: a fonte de

iões, o analisador e o detetor. De uma forma resumida pode dizer-se que a amostra é

introduzida na fonte de iões onde o analito é transferido para a fase gasosa e ionizado. De

seguida os iões são direcionados para o analisador onde os iões vão ser separados de acordo

com a sua razão m/z, e posteriormente transferidos para o detetor onde a corrente iónica é

transformada em sinal elétrico, que é transmitido a um computador que processa os dados e

gera o espectro de massa, um gráfico, em que o eixo das ordenadas apresenta a intensidade

relativa (%) do sinal e no eixo das abcissas a razão m/z. De forma a tornar possível a livre

circulação dos iões no seu percurso, até atingirem o detetor, sem colidirem/interagirem entre si

ou com outras espécies, o espectrómetro de massa é mantido em alto vácuo (10-5

a 10-10

Torr).

[12]

Figura 1.3: Representação esquemática dos componentes básicos de um espectrómetro de

massa.

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11

O alcance e a utilidade do método de espectrometria de massa são determinados pelo

método de ionização e pelo tipo de analisador. Dentro das técnicas de ionização, as mais

comuns são a ionização electrónica (EI, a ionização química (CI), a ionização por desadsorção

laser assistida por matriz (MALDI) e a ionização por electrospray (ESI). A escolha da fonte de

ionização vai depender das características físico-químicas do composto a analisar, como a

sua polaridade e estabilidade térmica. Também existem vários tipos de analisador, sendo os

mais vulgares, o triplo quadrupólo (QqQ), as armadilhas de iões lineares (LIT e quadrupolares

(QIT), os de tempos de voo (TOF), os de ressonância ciclotrónica de iões com transformada de

Fourier (FTICR) e o orbitrap. Estes tem diferentes características (poderes de resolução,

sensibilidade e intervalos de massa), por isso a escolha por um deles também vai depender do

tipo de analito e do tipo de análise que se pretende efetuar.

Neste trabalho, utilizou-se um espectrómetro de massa com uma fonte de ionização

por electrospray e com um analisador de armadilha de iões quadrupolar (QIT).

1.2.2.1- Ionização por Electrospray (ESI)

Em 1968, M. Dole apresenta pela primeira vez a técnica de electrospray para transferir

iões da fase líquida para a fase gasosa, baseada no principio de nebulização descrito pelo

físico J. Zeleny, em 1917. Contudo, os grandes avanços desta técnica ocorreram a partir de

1983, quando J. Fenn a usou na análise de macromoléculas. Fenn e seus colaboradores,

demonstraram que esta fonte poderia ser útil na análise de péptidos e proteínas, dado ter a

capacidade de produzir iões multiplamente carregados, reduzindo assim a razão massa/carga

do ião e tornando possível a análise de compostos de elevada massa molecular.[12]

O principio do ESI baseia-se na aplicação de um campo elétrico elevado (± 2-5 kV) à

solução que contém a amostra e é bombada a um fluxo baixo (1-20 µlmin-1

) através da agulha

de electrospray (capilar metálico). O campo elétrico, obtido pela aplicação de uma diferença de

potencial entre a agulha e um contra elétrodo (shield), separados por 0.3 – 2 cm, vai induzir a

acumulação de cargas na superfície da gota localizada na ponta da agulha, que sofre uma

deformação, formando-se o chamado cone de Taylor. Quando a densidade de carga na

superfície da gota aumenta e a repulsão entre as gotas carregadas supera a tensão superficial

do líquido, há uma libertação de gotas mais pequenas (formação do spray) com uma

densidade de carga elevada, conhecida como explosão de Coulomb. [9,10]

Posteriormente estas

gotas passam por um processo de evaporação de solvente (desolvatação) que é favorecido

pela contra corrente de um gás de secagem inerte (azoto). A evaporação de solvente pela gota

aumenta a densidade da carga nesta, até que as forças de repulsão superam a densidade

superficial ocorrendo a libertação de gotas ainda mais pequenas. Este processo ocorre até que

a gota atinja um diâmetro de 0.1µm. [12,13]

Durante este processo ocorre a formação dos iões na

fase gasosa que são focalizados para o analisador.

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12

Figura 1.4: Representação esquemática da interface electrospray ((ESI)

Contudo, o mecanismo de formação dos iões na fase gasosa, não está completamente

compreendido. Existem dois modelos propostos que tentam explicar essa formação, o modelo

de carga residual (CRM) proposto por Dole em 1968, em que considera que a evaporação

consecutiva de solvente e a explosão de Coulomb leva a formação de gotas com um raio de

aproximadamente 1 nm e possui apenas uma molécula de analito.[12]

O outro modelo proposto

por Iribarne e Thomson, considera que repetidas evaporações de solvente e a explosão de

Coulomb, leva a que o raio da gota tenha 10 nm e possua cerca de 70 cargas, ocorrendo assim

a emissão dos iões diretamente destas gotas mais pequenas e altamente carregadas. Segundo

este modelo, a gota não sofre rutura, mas pode emitir iões para a fase gasosa, Este modelo

aplicado sobretudo a pequenas moléculas, é conhecido por modelo de evaporação do ião

(IEM). [12]

Como a ESI é aplicada a amostras em solução, a possibilidade de acoplamento com

técnicas de separação, como a cromatografia líquida, revelou-se fundamental na análise de

amostras biológicas. Por se tratar de uma técnica de ionização “suave”, a fragmentação do

composto a analisar é nula ou reduzida durante o processo de ionização. Além disso o ESI é

uma técnica que opera à pressão atmosférica. O aparecimento das técnicas API (ionização à

pressão atmosférica) provocou um grande avanço na análise de amostras pouco voláteis e

termolábeis, conduzindo a um aumento do limite prático de ionização para valores de massa na

ordem dos 150 a 200 kDa, com uma elevada eficiência de ionização. A ionização por ESI é

sensível à concentração do analito, mas não à quantidade de amostra que é introduzida na

fonte e o facto de se ter um fluxo baixo, há um aumento na sensibilidade, pois aumenta a

concentração do analito no solvente de eluição. [12-14]

Os analitos a ser introduzidos em solução

devem estar diluídos em solventes orgânicos de baixo ponto de ebulição (como água, metanol

e acetonitrilo) e ser estáveis a baixas concentrações. [15

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13

1.2.2.2 – Analisador de massa de armadilha quadrupolar (QIT)

O analisador de massa é o coração da espectrometria de massa, pois é responsável

pela separação dos iões de acordo com a sua razão m/z. [12]

Os analisadores de massa do tipo armadilha de iões (ion trap) podem ser de dois tipos,

armadilhas lineares ou 2D, e armadilhas quadrupolares ou 3D. Neste trabalho vamos dar

enfâse à armadilha quadrupolar ou tridimensional, que consiste em três elétrodos, o elétrodo

de entrada, um elétrodo hiperbólico (anel) e o elétrodo de saída, separados por separadores

de quartzo. Estes elétrodos juntos formam um campo elétrico hiperbólico onde é possível

armazenar os iões provenientes da amostra a analisar. Existe um buraco nos elétrodos de

entrada e saída, que permite aos iões entrar na armadilha, e sair para o detetor. O elétrodo

anel situa-se no meio dos dois elétrodos de entrada e saída[16-18]

como se pode observar na

figura 1.5.

Figura 1.5: Representação de um analisador do tipo armadilha de iões quadrupolar.

Os iões produzidos na fonte são transferidos pelo capilar de transferência para um

sistema de lentes que focaliza o feixe de iões no elétrodo de entrada da armadilha. Um

potencial de RF e ac constante é aplicado ao elétrodo de anel e vai formar um campo de

potencial quadrupolar 3-D dentro da armadilha. Este campo vai aprisionar os iões numa

trajetória oscilante e estável, sendo esta dependente do potencial aplicado e da razão m/z dos

iões. Durante a deteção, o potencial de RF aplicado aos elétrodos é aumentado, tornando a

trajetória dos iões instável, e estes vão sendo ejetados de acordo com a sua razão m/z na

direção do elétrodo de saída para o dínodo de conversão e depois para o multiplicador de iões.

[16]

Estes analisadores apresentam elevada sensibilidade, boa resolução e permitem a

realização de experiências de espectrometria de massa de multiestágios.

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14

1.2.2.3 – Detetor

O detetor é responsável por converter o feixe de iões no sinal elétrico que depois é

processado pelo sistema de aquisição de dados, o computador.

O detetor mais utilizado no espectrómetro de massa com analisador QIT é o

multiplicador de electrões. Os iões são convertidos em eletrões através do dínodo sendo

depois esses eletrões direcionados para o multiplicador de eletrões. Esses eletrões ao

atingirem a superfície interna do multiplicador levam á geração de mais eletrões, isto porque o

multiplicador é curvo. O sinal dos electrões é recolhido e transferido para um amplificador que

está dentro do tubo de vácuo diretamente a seguir ao multiplicador, onde o sinal vai ser

aumentado exponencialmente, e finalmente transferido ao computador. [12,16]

Figura 1.6: Representação do multiplicador de electrões.

1.2.2.4 – Espectrometria de massa tandem MS/MS

Quando se deseja obter informação estrutural ou aumentar a selectividade de métodos

quantitativos por espectrometria de massa, a fragmentação passa a ser desejada.

Os ensaios de espectrometria de massa MS/MS podem ser concebidos de dois modos

distintos, isto é, pode ser efectuada em espaço, pelo acoplamento de dois analisadores

fisicamente diferentes, ou em tempo, pela realização de uma sequência de eventos no mesmo

dispositivo, isto é, ocorre em condições controladas dentro do próprio analisador.

Qualquer análise por espectrometria de massa tandem MS/MS envolve três etapas

distintas: seleção, fragmentação e análise de massa dos iões produto. A experiência consiste

em isolar um ião com uma determinada razão m/z, o ião percursor, fragmentá-lo por acção de

colisões energéticas com um gás inerte (hélio ou argon), e analisar e separar os iões produto

de acordo com a sua razão m/z. [19]

Numa armadilha de iões, o ião precursor é isolado, ocorrendo assim um aumento do

sinal. Este ião percursor é fragmentado em iões produto por dissociações induzidas por colisão

(CID), pois este vai colidir com átomos de hélio (gás inerte) introduzido na armadilha de iões.

Embora estas colisões envolvem pequenas energias, a energia cinética do ião vai aumentar a

vai ser transformada em energia interna vibrational, aumentando assim a orbita hiperbólica dos

iões, e levando a uma quebra das ligações químicas, isto é, ocorre a fragmentação do ião e a

formação dos iões produto. Se o ião tiver uma única carga, os iões formados vão possuir uma

razão m/z inferior ao ião percursor, mas no caso de iões multiplamente carregados os iões

produto podem ser observados em todo o intervalo de massa, isto é, podem se observar iões

produto com razões m/z superiores a razão m/z do ião precursor selecionado. [19]

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15

Uma das vantagens das armadilhas de iões (IT e FTICR) é a possibilidade de realizar

múltiplas fragmentações (MSn)

dentro do mesmo analisador, tendo-se sequências separadas

em tempo. [12]

Podem-se efectuar vários processos de isolamento e fragmentação dos iões,

resultando numa série de espectros MSn, em que “n” representa o número de espectros obtidos

e (n-1) representa as vezes que o ciclo de isolamento e fragmentação foi realizado.[12]

O número máximo de passos (n) neste tipo de instrumentos é geralmente 7 ou 8,

apesar de teóricamente ir até 10 e a propagação de iões transmitidos ser elevada, mas em

cada passo a massa dos fragmentos torna-se cada vez mais baixa.

1.2.3 - LC-MS

A espectrometria de massa pode ser acoplada a outros métodos de análise, como a

cromatografia líquida (LC) e a cromatografia gasosa (GC), entre outros.

Neste trabalho será apenas apresentada a cromatografia líquida acoplada a

espectrometria de massa (LC-MS), que foi a técnica utilizada neste trabalho, dado ser

considerada uma técnica analítica adequada à análise de uma grande diversidade de

moléculas, misturas complexas e análise de isómeros.

O método de LC por si só, não consegue identificar todos os compostos numa mistura,

a não ser que se tenha uma análise dos padrões, mas mesmo assim existem compostos

diferentes que possuem o mesmo tempo de retenção, enquanto que a espectrometria de

massa não consegue separar os compostos numa mistura, mas uma vez estes separados, tem

a capacidade de os identificar. Logo o acoplamento destes dois métodos, permite separar,

identificar e quantificar os compostos numa mistura, devido à combinação das características

de cada um dos métodos.

Uma das maiores dificuldades nesta combinação foi a diferença entre as condições de

funcionamento da cromatografia líquida e da espectrometria de massa, dado que o fluxo da

fase móvel do cromatógrafo é elevado, e normalmente incompatível com o sistema com as

condições de vácuo do espectrómetro de massa (na ordem 10-3

a 10-6

Pa). Apresenta também

algumas limitações, como a velocidade de separação dos compostos, resolução do pico, o

tamanho do sistema e custo e na impossibilidade de detetar e resolver moléculas muito

grandes. [20]

Mas devido á descoberta das interfaces à pressão atmosférica (como ESI, APCI, entre

outras) passou a ser possível acoplar as duas técnicas. Mas existem alguns parâmetros que

afetam a estabilidade do spray como a tensão superficial, a constante dielétrica, a viscosidade,

a condutividade e a velocidade de fluxo do solvente. O spray possui estabilidade numa variada

gama de solventes (voláteis), mesmo com misturas complexas e com velocidades de fluxo

baixas, pois se o fluxo for elevado a amostra não consegue ser toda vaporizada e acaba por

condensar na fonte. Por isso, normalmente no LC-MS usa-se fluxos baixos e colunas pequenas

(15 cm) com um poro de 3 a 5 µm, para garantir uma determinada pressão no sistema e assim

ocorrer a separação da amostra e esta ser totalmente ionizada na fonte de electrospray. [20]

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Em determinadas situações a informação obtida por LC-MS, nomeadamente os tempos

de retenção e a informação retirada do espectro de massa são insuficientes para identificar

todos os componentes presentes na amostra, sendo necessário obter mais informação sobre a

molécula alvo, que não é possível por uma simples análise de massa. Recorre-se por isso a

ensaios LC/MS/MS, podendo assim estimar-se a estrutura dos iões produto formados e

analisar os intervalos de massa isotópica dos iões produzidos se for o caso disso.[20]

Hoje em dia, a técnica de LC-MS á aplicada a análise de amostras provenientes de

áreas muito diversas, como amostras ambientais, polímeros sintéticos, produtos farmacêuticos

(medicamentos e seus metabolitos), amostras de artefactos históricos e produtos naturais,

permitindo obter tanto informação qualitativa como quantitativa. Em síntese, é usado para

análise de qualquer mistura de compostos complexos, em que o HPLC é a técnica escolhida

para a separação e o espectrómetro de massa fornece a seletividade e sensibilidade para dar

informações qualitativas ou estruturais que não podem ser obtidas por outros detetores.

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Capítulo II

Parte Experimental

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18

Neste capítulo estão descritos os reagentes utilizados na realização do trabalho, bem

como a instrumentação usada e as condições experimentais aplicadas para o método

aplicado.

2.1 – Reagentes

Os reagentes utilizados foram de elevada pureza, sendo o ácido oxálico e o TFA

preparados para uma concentração mais baixa (0.2M e 2M, respetivamente), os restantes

foram utilizados sem nenhum tratamento prévio.

Tabela 2.1: Reagentes utilizados e suas características.

Fórmula

Molecular

Massa

Molecular

Marca Grau de

Pureza

Frases de

risco

Frases de

segurança

Metanol

CH3OH

31.99

Fisher

Scientific

99.9%

11-

23/24/25-

39

7-16-

36/37-45

Acetonitrilo

CH3CN

41.00

Fisher

Scientific

99.9%

11-

20/21/22-

36

16-36/37

Ácido

Fórmico

CH2O2 46.03 Agros

Organics

98% 10//35 23/26/45

Ácido

oxálico

anidro

C2H2O4

90.03

BDH

98%

21/22

24/25

Ácido

clorídrico

HCl

36.46

Carlo Erba

37%

35-

36/37/38

1/2-9-23-

26-36/37-

39-45-60

Acetona C3H6O 58.08 Sigma

Aldrich

99.8% 11-36-66-

67

9-16-26-46

TFA CCl3COOH 163.4 Alfa Aesar 99% 35 1/2-26-

36/37/39-

45-60-61

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19

2.2 - Equipamento e Material

- Balança analítica – Mettler AT 201 (±0.00001g).

- Banho de ultra-sons – Bandelin Sonorex.

- Aparelho de filtração de solventes – Millipore equipado com filtros de membrana de acetato

de celulose de 0.20 µm.

- Aparelho de purificação de água – Millipore de Simplicity Simpak 2, R=18MΩ, USA.

- Placa de aquecimento e agitação – VWR Advance; VMS – C4.

- Material volumétrico de classe A.

- Material de vidro diverso.

2.3 - Preparação de soluções

2.3.1 – Solução 0.2 M de ácido oxálico

Pesou-se uma pequena quantidade de ácido oxálico anidro (0.45008g) e dissolveu-se

para um balão volumétrico de 25 mL, perfazendo o seu volume com água desionizada.

2.3.2 – Solução de TFA 2M

Para preparar 10 mL de solução de TFA 2M retirou-se 1.5 mL de TFA e perfez-se o

volume com água ultra-pura (Millipore).

2.4 - Amostras e métodos de extração

2.4.1 – Amostras Têxteis

As fibras de têxteis com interesse histórico foram obtidas a partir de amostras que

integram um artigo publicado por R. E. de Rose “Growth of the Dyestuffs Industry: The

Application of Science to Art”, Journal of Chemical Education, 1926, 3: 9, 973-1007,

pertencente à Biblioteca do Departamento de Química da Universidade de Coimbra.

Diferentes tipos de extração foram efetuadas nas fibras antes da análise por HPLC-

DAD-MSn: a) CH3OH:H2O (1:1 v/v); b) HCl (37%) / CH3OH - 300µL de metanol e uma gota de

HCl; c) TFA (2M). Para cada família efetuou-se um método de extração diferente, para quebrar

as ligações corante-fibra. Uma pequena amostra de fibra foi extraída com 100 µl da solução de

extração escolhida em eppendorfs de 1.5 mL durante 30 min, a 60˚C num banho de água com

agitação constante. Depois da extração, cada solução de extrato foi seca num sistema de

vácuo, e os resíduos sólidos restantes foram reconstituídos com 50 µL CH3OH/H2O (4:1, v/v )

antes da análise por HPLC-DAD-MS, exceto as amostras que foram extraídas com CH3OH:H2O

(1:1 v/v) que foram injetadas diretamente.

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20

2.4.2 – Amostras Históricas

As amostras históricas de sais mauveína foram cedidas pelo: Museu da Ciência,

Londres (UK) (ScM 1-4), Museu da Ciência e Indústria, Manchester (UK) (MS1M1,2), Museu

Chandler, Chandler, Arizona (USA) (CM); Museu Deutsches, Munique (Alemanha) (DM –

Caro; esta amostra é conhecida por ter sido sintetizada por Heinrich Caro).

As soluções padrão das amostras históricas (0.15 mg) foram preparadas em metanol e

alíquotas de cada solução foram dissolvidas em CH3OH /H2O (4:1) e analisadas por HPLC-

DAD-MS/MS.

A malva é constituída por cromóforos, a “pseudo mauveína” e “mauveína” A, B, C, que

está presente em várias proporções dependendo do método de síntese.

Foram preparadas soluções metanólicas de fuchsina (CI 42510, violeta de Hofmann's),

violeta de metilo (CI 42535) e violeta de cristal (CI 42555) a partir do corante em pó. Foi

também preparado um extrato de cochonilha em água a partir de amostras de insetos Kerrie

spp. Todas as soluções foram analisados por HPLC-DAD-MS/MS.

2.4.3 – Selos Postais

A maioria dos selos postais foram obtidos a partir da firma Arthur Ryan & Co. Richmond

(UK). Alguns exemplares Penny Lilacs foram adquiridos na Net COLLECTOR Philatelic

Heritage, Haverfordwest (UK). Os selos foram convenientemente identificados usando a sua

Stanley Gibbons, (SG), número de catálogo. Uma pequena amostra de selo (cerca 1-2mg) foi

extraída com uma solução de 100µL de 0.2M ácido oxálico/CH3OH/Acetona/H2O (1:3:3:4,

v/v/v/v) em eppendorfs de 1.5mL durante 30min, a 60˚C num banho de água com agitação

constante. Depois da extração, cada solução de extrato foi seca num sistema de vácuo, e os

resíduos sólidos restantes foram reconstituídos com 50µL CH3OH/H2O (4:1, v/v ) antes da

análise por HPLC-DAD-MS.

2.5 – Condições de análise

2.5.1 – HPLC-DAD-MSn

As análises do corante extraído das fibras e dos selos foram realizados num sistema

LC-MS constituído por um amostrador automático ProStar 410, duas bombas cromatográficas

210-LC, num detetor de matriz de díodos ProStar335 e um espectrómetro de massa com

armadilha de iões 500-MS, equipado com uma fonte de iões ESI ( Varian, Inc., Palo Alto, CA,

EUA). A aquisição e processamento de dados foi realizada utilizando o software Varian MS

Control 6.9.6. Uma amostra (20 µL) foi injetada na coluna através de um injetor Rheodyne com

um loop de 100 µL, no modo de injeção µL pickup. As separações foram realizadas a

temperatura controlada de 30 ˚C, usando uma coluna Polaris C18 A (150mm x 2mm, 5µm;

Varian). A fase móvel consiste em 0.8% (v/v) ácido fórmico em água (A) e metanol (B).

O seguinte gradiente foi utilizado para a análise das amostras: 0-2 min isocrático 15%

B, 2-8 min linear 50% B, 8-25 min linear 75% B, 25-30 min linear 90% B e 30-40 min isocrático

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21

15% B, a um fluxo de 200 µLmin-1

. Os picos cromatográficos foram monitorizados a diferentes

comprimentos de onda nas amostras retiradas do JCE, devido a variedade de cores

apresentadas na zona do visível; as amostras históricas e os selos postais foram monitorizados

a 550 nm.

Dependendo do tipo de corante, assim foi usada ionização ESI em modo positivo ou

negativo. Os parâmetros instrumentais foram otimizados para a amostra ScM1: voltagem do

spray de ionização ±5.0 kV, voltagem do capilar, 20 V e RF, 80%. O azoto foi utilizado como

gás de nebulização e secagem, nas pressões de 50 psi e 31 psi, respetivamente, a

temperatura do gás de secagem foi de 350 ˚C. O espectro de MS/MS foram obtidos com uma

janela de isolamento de 2 Da, os valores de energia de excitação variaram entre 0.9 a 3.4 V e o

tempo de excitação de 10 ms.

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Capítulo III

Apresentação, tratamento de discussão dos resultados

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23

Neste capítulo são apresentados os resultados HPLC-DAD-MS e HPLC-DAD-MSn dos

ensaios dos extratos das fibras retiradas das amostras do Journal Chemical Education [3]

, das

amostras históricas de sais de malva provenientes de vários Museus e das amostras dos selos

postais ingleses que cobrem o período 1847-1901 e apresentam, em comum, uma cor púrpura.

3.1 – Amostras do Journal Chemical Education[3]

Os corantes foram agrupados por famílias e a extração efetuada também de acordo

com a família. De facto verificou-se necessário utilizar métodos diferentes de extração, pois

nem sempre o método de extração empregue era o mais adequado para extrair, isto é retirar o

corante de fibra. Cada tipo de corante estabelece uma ligação única com a fibra na qual está

aplicado, e quanto mais forte for a ligação corante-fibra, mais difícil é quebrar estas ligações,

logo é necessário usar métodos de extração mais agressivos.

Para a família dos corantes nitro, azo (monoazo e diazo) e metano (difenil e triaril)

utilizou-se o método de extração com MeOH:H2O (1:1, v/v). A solução obtida foi centrifugada e

diretamente analisada por LC-MS, sem ser necessário efetuar secagem. Na família dos

corantes xanteno e azina utilizou-se o método de extração mais agressivo, com 300 µL de

metanol e uma gota de ácido clorídrico; na família dos corantes antraquinona a extração foi

efetuada com uma solução de TFA 2 M. As soluções obtidas com as duas últimas extrações

foram levadas à secura, em linhas de vácuo, e reconstituídas como descrito na parte

experimental.

Os corantes estudados possuem caraterísticas diferentes, dado pertencerem a famílias

diferentes e possuírem na sua estrutura diferentes grupos funcionais. Todos os extratos

analisados foram eficientemente separados com um gradiente binário constituído por água

acidulada 0.8% de ácido fórmico e metanol. A análise por HPLC foi efetuada ao comprimento

de onda de absorção máxima para cada corante, na região do UV-visível, e a análise de massa

foi realizada em modo negativo (molécula com capacidade de doar protões) e em modo

positivo (molécula com capacidade de aceitar protões).

3.1.1 - Corantes nitro

O cromatograma HPLC-DAD-MS do extrato de ácido pícrico mostrou um pico a

tr= 13.01 min, e um máximo de absorção a um comprimento de onda de 359 nm (região do UV-

vis amarela). O espectro de ESI-MS em modo negativo deste corante nitro exibe um ião a

m/z 228 atribuído á molécula desprotonada [M-H]-.

O ião precursor m/z 228 foi isolado e traçado o espectro MS/MS. O ácido pícrico

apresenta um padrão de fragmentação característico da presença do grupo nitro [2]

: perda de

NO e NO2 que originam, respetivamente, iões a m/z 198 e 182. Observa-se ainda uma

clivagem associada com a presença do grupo nitro e hidroxilo na molécula, que leva à

formação do ião m/z 154, atribuído à perda consecutiva de NO2 e CO. Na figura 3.1

apresenta-se o espectro MS2

bem como a proposta de fragmentação para o ácido pícrico.

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24

O-

N+

O

O-

N+

-O O

N+

O-

O

O-

N+

O

O-N+

O-

O

O•

C•

O-

N+

O

O-N+

O-

O

C•

N+

O-

O-N+

O

m/z 228

m/z 182m/z 198

m/z 154

- (NO.)- (NO

2

.)

- (CO+ NO2 )

Figura 3.1: Esquema de fragmentação proposto e espectro de massa MS2 do ácido pícrico.

3.1.2 - Corantes Azo (monoazo e diazo)

Foram analisados sete corantes azo (Tabela 1, anexo) entre os quais existem dois

isómeros estruturais, o amaranto e o vermelho cochenilha A. Nos cromatogramas HPLC-DAD

estes corantes foram detetados a tempos de retenção de 7.05 min e 8.13 min, respetivamente.

Como se pode ver pela tabela 1, em anexo, os corantes azo estudados apresentam tempos de

retenção muito distintos desde 7.05 min (amaranto) até 25.14 min (Fast Red A). Como os

compostos têm estruturas moleculares diversas, a sua afinidade para a coluna vai ser

diferente; os compostos com tempo de retenção mais longo são os que têm maior afinidade

com a coluna e vice-versa.

Os corantes azo estão, normalmente, na forma de sal (sódio), e devido à sua

instabilidade estão dissociados em iões RSO3- e Na

+. A maioria destes corantes possui mais do

que um grupo sulfónico na sua estrutura molecular, e o espectro de ESI-MS em modo negativo

exibe iões típicos do tipo [M+(x+y)H-yNa]x-.

[22]

Os corantes monoazo, como o alaranjado II (Orange II) e Crocein Scarlet, apresentam

no espectro ESI-MS um ião correspondente a [M-Na]-, os di-sulfonados como o vermelho

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Congo mostram picos a [M-2Na+H]-, e os tri-sulfonados, como o vermelho cochenilha A e o

amaranto apresentam iões correspondentes a [M-3Na+2H]- (ver tabela 1 em anexo). Este tipo

de corantes contêm na estrutura vários átomos de azoto, e o valor m/z a que aparecem estes

picos pode dar informação acerca do número de átomos de azoto presentes na sua estrutura.

Nos elementos encontrados nos compostos orgânicos, existe uma correspondência

entre os elementos de massa isotópica mais abundante e a sua valência, pois ou são ambos

numerados pares ou ambos numerados ímpares, sendo o azoto a única exceção. De acordo

com a regra do azoto [21]

, um composto que contenha um número par de átomos de azoto ou

nenhum azoto na sua estrutura, o ião molecular (OE+.) aparecerá a um valor m/z par de massa

molecular. Se o composto tem um número ímpar de átomos de azoto, o ião molecular terá um

número ímpar de massa molecular. No caso de moléculas ionizadas por ESI a regra inverte

dado que se formam espécies (EE+). Quando estes iões são dissociados, ocorre também a

formação de iões produto (EE+) com perda de uma molécula neutra.

Os compostos azo apresentam fragmentações características nos espectros ESI-MS2,

nomeadamente iões produto correspondentes à perda dos grupos sulfónicos (-SO2 e/ou SO3) a

partir de [M+(x+y)H-yNa]x-. Estes azo-compostos contêm na sua estrutura o grupo funcional

R-NN-R’, em que R e R´ são normalmente grupos alquilo, podendo ocorrer um equilíbrio

entre a forma hidrazona e a forma azo, como exemplificado na figura 3.2. [2]

Assim, a

dissociação do ião precursor pode envolver quebra da ligação NH-N ou da ligação C-N. Estes

processos de fragmentação levam, normalmente, à formação de iões produto radicalares, isto

é, há formação de espécies OE+., e consequentemente há inversão da regra do azoto.

Figura 3.2: Padrões de fragmentação dos compostos azo através da ligação –N=N-.

A análise MSn foi fundamental na caracterização molecular dos corantes, pois permitiu

uma caraterização específica para cada um, como no caso dos dois isómeros azo analisados,

que apresentaram tempos de retenção muito próximos, espectros de UV-visível similares, e no

espectro de full scan (MS) ambos os corantes apresentaram um pico base a m/z 537 atribuído

à espécie [M-3Na+2H]-.

A análise de massa tandem (MS/MS) revelou distintos padrões de fragmentação para

cada um dos corantes. O espectro de massa MS2

do vermelho cochonilha A, apresentou o ião

a m/z 509 como pico base do espectro, porque há a possibilidade de saída de CO e/ou N2.

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26

Só por ensaios de massa exacta, é que de facto é possível comprovar se ocorrem as duas

fragmentações e qual é a mais favorável. Os iões a m/z 473, 457, 429 formados,

respetivamente, por perda de SO2, SO3, SO3+N2 e dois iões produto radicalares, m/z 376 e 302

que correspondem, respetivamente à perda SO3+SO3H•

e C10H7N2O3S•. Na figura 3.3

apresenta-se o espectro MS2 da cochonilha bem como a proposta de fragmentação.

S

HO

O

O N

N

S

S O-O

OOHO

HO

O

N

N

S

S O-O

OOHO

O

O

m/z 457

HO N

N

S

S O-O

OOHO

O

O

m/z 473

N

N

C

S O-O

O

O

m/z 376

S

O

HO

O

HO

S

S

O

OH

O

O-O

O

O

S

S

O

OH

O

O-O

O

m/z 509

m/z 429

- (S

O2)

- (SO3)

- (SO3+N2

)

- (SO

3 H+S

O3 )

- (N

2 o

u C

O)

C

S

S O-O

OOHO

HO

O

m/z 302

- (C

10H

7N

2O

3S

)

m/z 537

OU

S

HO

O

O NH

N

S

S O-O

OOHO

O

m/z 509

Figura 3.3: Espectro de massa MS2 do vermelho cochonilha A e respectiva proposta de

fragmentação.

O ião precursor m/z 537 gerado a partir do amaranto originou no espectro MS2 (figura

3.4) produtos a m/z 519, 509, 473, 457, 429, 317, 302 e 234 atribuídos, respetivamente, à

perda de H2O, N2, SO2, SO3, N2+SO3, C10H6NO3S•, C10H7N2O3S

• e C10H7O7S2

•,de acordo com o

proposto no esquema da figura 3.4.

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N N

HO

HO3S

SO3H

S

O

O

O-

317473

457

519

234

302 - (H2O)

- (SO3)

- (SO2)

- (C10H6NO3S )

- (C10H7N2O3S )

- (C10H7O7S2)

509

- (N2)

Figura 3.4: Espectro de massa MS2 e esquema de fragmentação proposto para o amaranto.

Os espectros de massa MS2 de ambos os corantes apresentam fragmentos idênticos,

embora com intensidade relativa diferente, exceto, no caso do ião m/z 519 que só é observado

no espectro do amaranto, e foi atribuído à perda de uma molécula de H2O. Com efeito, o

amaranto possui um grupo funcional –SO3H na posição adjacente ao grupo hidroxilo, havendo

assim a possibilidade de abstração de um protão e saída de uma molécula de H2O e impede a

saída de CO.

A crisoidina foi o único corante azo, desta série, analisado em modo positivo devido a

ausência de grupos sulfónicos e à presença de grupos amina na sua estrutura. O espectro

ESI-MS em modo positivo exibiu um pico a m/z 213 correspondente à molécula protonada

[M+H]+. No espectro MS/MS observaram-se quatro iões fragmentos a m/z 196, 185, 168 e 121

que correspondem à perda de NH3 (amónia), N2 (azoto), N2+NH3 e C6H6N•, respetivamente. A

perda de C6H6N• ocorre por clivagem da ligação N=N.

O vermelho Congo e o Crocein Scarlet são ambos corantes diazo, pois possuem duas

ligações N=N, sendo o primeiro conhecido como corante direto.

O espectro ESI-MS em modo negativo, do vermelho Congo exibe como pico base a

m/z 651 o ião [M-2Na+H]-. O espectro MS

2 exibe iões produto característicos da família azo,

nomeadamente, iões a m/z 623, 587, 571, 543, 416 e 235 correspondentes à perda de N2, SO2,

SO3, N2+SO3, C10H7N2O3S• e C12H16N4O3S, respetivamente.

O Crocein Scarlet apresentou no espectro ESI(-)/MS um pico base a m/z 511 atribuído

ao ião [M-2Na+H]-. Este ião precursor foi isolado e sujeito a CID originando iões a m/z 483,

431, 403 302 correspondentes à perda de N2, SO3, N2+SO3 e C12H9N4•, respetivamente, como

se pode observar no espectro de massa MS2 e proposta de fragmentação apresentados na

figura 3.5.

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N N

HO

N

SO3-

HO3S

N N N

O

SO3-

HO3S

- (N2)

N N

O

N

-O3S

N

- (S

O3)

N N

O

-O3S

- (N 2

+SO 3)

C

O

SO3-

HO3S

- (C12 H

9 N4 )

m/z 483

m/z 302

m/z 431

m/z 403

Figura 3.5: Esquema de fragmentação proposto e espectro de massa MS2 da Crocein Scarlet.

Como se pode verificar pela tabela 1 em anexo todos os corantes azo apresentam

fragmentos formados por perda de N2; e aqueles que possuem grupos sulfato perdem SO3 e

em alguns casos verifica-se a perda de SO2, tal como a clivagem da ligação azo (N=N) que é

caraterística deste tipo de compostos.

3.1.3 - Corantes Metano (Triaril e difenil)

Os corantes triarilmetano e difenilmetano (Tabela 1, anexo) são usualmente misturas,

de que é exemplo o metilo violeta. As condições cromatográficas escolhidas separaram

eficientemente os vários cromóforos, permitindo a sua identificação e caracterização estrutural.

Os cromóforos que possuem um maior número de grupos metilo como o metil violeta e cristal

violeta revelam uma maior afinidade com a fase orgânica (MeOH) e foram eluídos a tempos de

retenção elevados (tr=20.87 min e tr=20.55 min, respetivamente).

Os corantes metano são, usualmente, produzidos na forma de cloretos de triarilmetano

e difenilmetano, por isso em solução encontram-se dissociados e são analisados em modo

positivo, se na sua estrutura estiverem presentes grupos metilo, mas outros, são analisados em

modo negativo devido à presença de sais sulfato na sua estrutura. Em modo positivo os

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29

corantes metano exibem um catião molecular [M]+

como pico base, enquanto que em modo

negativo é identificado um pico correspondente ao ião [M-2Na]-.

A auramina, o único corante difenilmetano analisado, apresenta em modo ESI positivo

um catião a m/z 268 ([M]+), que origina iões fragmento observados a m/z 253, 148, 122 e 107,

atribuídos à perda de •CH3, C8H10N

•, C9H10N2 e C10H13N2

, respetivamente, como se pode

observar pelo esquema de fragmentação proposto e espectro de massa MS2 da figura 3.6

Figura 3.6: Espectro de massa MS2 e esquema de fragmentação proposto da auramina.

Os corantes trifenilmetanos Patent blue V, Patent blue A, Light green SF yellowish,

Formilo violeta S4B e Guinea Green, foram analisados em modo ESI negativo devido à

presença de grupos sulfónicos na sua estrutura. O espectro massa exibe um ião [M-2Na]-,

caraterístico deste tipo de corantes.

O espectro de massa do Patent blue V apresentou um ião a m/z 559 ([M-2Na]-), que no

espectro MS2 mostrou apenas o fragmento m/z 479 formado por perda de SO3. Este ião

produto foi isolado e fragmentado e, no espectro MS3

foram identificados os iões fragmento

m/z 451, 435 e 399 formados por perda de C2H2 ou CO, C2H4+CH4 e SO3, respetivamente.

Com o objetivo de obter mais informação estrutural, procedeu-se ao ensaio MS4 do ião produto

m/z 435 que originou fragmentos a m/z 391, 355 e 311 que correspondem à perda de CO+CH4,

SO3 e SO3+CO+CH4, respetivamente. Na figura 3.7 apresenta-se os espectros de iões

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30

fragmento MS2, MS

3 e MS

4 bem como uma proposta de fragmentação para o Patent

Blue V.

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31

Figura 3.7: Esquema de fragmentação proposto e espectros de massa MSn

(n=2-4) do Patent

Blue V.

O Patent blue A, que apresenta na sua estrutura grupos fenilo, apresentou um ião a

m/z 683 ([M-2Na]-) no espectro de full scan, e iões fragmento MS

2 a m/z 603 resultante da

perda de SO3, e m/z 577, 512 e 497 resultantes das perdas conjugadas de SO3+C2H2,

SO3+C7H7 e SO3+

C7H7+CH3, respetivamente.

O espectro de massa do corante Light Green SF Yellowish (figura 3.8), apresentou dois

picos, um pico pouco intenso a m/z 769 correspondente ao ião mono carregado [M-2Na]-, e um

pico mais intenso (pico base do espectro) a m/z 373, que com base na distribuição isotópica foi

atribuído à espécie duplamente carregada [M-3Na]2-

. Como já foi referido anteriormente na

ionização por ESI há a possibilidade de formar iões multicarregados, desde que a molécula

tenha local para adquirir duas ou mais cargas, como se verifica neste caso.

Figura 3.8: Espectro MS do Light Green SF Yellowish.

O espectro MS2 do ião m/z 769 apresentou a perda característica de 64 u (-SO2) com

formação do fragmento ião a m/z 705, que se fragmentou posteriormente com formação do ião

m/z 511 por perda de C7H7SO3Na. No último estágio dos ensaios de fragmentação (MS4),

isolou-se o produto m/z 511 e obtiveram-se fragmentos com m/z 484, 469, 261 e 170

resultantes, respetivamente, da perda de •C2H3, C2H4N

•, C15H13NO+

•C2H3 e C15H13NO+C8H8N

•.

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32

Na figura 3.9 apresenta-se o esquema de fragmentação proposto e os espectros de MS2, MS

3

e MS4 deste composto.

Figura 3.9: Esquema de fragmentação proposto e espectros de massa MS2, MS

3 e MS

4 do ião

mono carregado do Light Green SF Yellowish.

Procedeu-se também ao estudo da fragmentação da espécie duplamente carregada

m/z 373. No espectro MS2, este ião mostrou apenas um fragmento resultante da perda de uma

molécula de SO2 que foi atribuído a um ião produto duplamente carregado detetado a m/z 341.

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33

Este ião deu origem a iões fragmento mono carregados: um par de iões a m/z 512 e 170

associados à clivagem da ligação N-C; dois produtos a m/z 479 e 170 correspondentes à perda

de •CH3. O ião a m/z 479 foi isolado e fragmentado e deu origem aos fragmentos m/z 453, 427

e 170 formados por perda do radical C2H6N•, C7H6SO3 e C22H19N2O

•, respetivamente, de

acordo com o esquema de fragmentação proposto e espectros MS2, MS

3, e MS

4 apresentados

na figura 3.10.

Figura 3.10: Esquema de fragmentação proposto e espectros de massa MS

2, MS

3 e MS

4 do

ião duplamente carregado do Light Green SF Yellowish.

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34

Com base na fórmula molecular C41H44N3NaO6S2 (MM= 761,93 gmol-1) descrita no JCE

para o corante Formilo Violeta S4B era esperado, no espectro ESI(-)/MS, um pico a m/z 738

correspondente ao ião [M-Na]-. No cromatograma HPLC-DAD-MS do extrato Formilo Violeta

S4B traçado a = 550 nm e adquirido no modo ESI negativo identificou-se apenas um pico a

tr=16.12 min, que no espectro de massa mostrou um ião a m/z 682, que foi atribuído a um ião

[(M-Na-(C2H4)2]-, com base em ensaios MS/MS. O espectro MS

2 (figura 3.11) do ião precursor

m/z 682 apresentou iões produto a m/z 668, 651, 602, 561 e 510 correspondentes à perda de

•CH3, CH3NH2, SO3, C2H4+C6H7N e C7H8SO3, respetivamente, conforme se apresenta no

esquema de fragmentação da figura 3.11. Estes resultados indicam que o corante usado no

tingimento da amostra de tecido do JCE não corresponde ao Formilo Violeta S4B, mas sim a

um composto com uma estrutura e tonalidade semelhante.

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35

Figura 3.11: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 do Formilo Violeta S4B.

De acordo com o descrito no JCE, o corante Guinea Green tem uma fórmula molecular

C37H35N2NaO6S2 a que corresponde uma MM= 690,80 gmol-1

, sendo esperado no espectro

ESI(-)/MS um ião a m/z 667 ([M-Na]-). Contudo, o cromatograma HPLC-DAD-MS do extrato da

fibra do livro, mostrou um pico maioritário a tr=12,85 min, e um pequeno pico a tr=12,11 min, a

que correspondem a iões com m/z 571 e 543, respetivamente. Foram traçados os espectros de

MS/MS destes iões, mas os resultados obtidos não foram conclusivos, e não foi possível

propor uma estrutura para o corante usado no tingimento da fibra.

O metil violeta é composto por vários cromóforos eluídos com diferentes tempos de

retenção. O espectro de ESI exibe o catião molecular [M]+ para cada um dos crómoforos (iões

com m/z 330, tr=16.64 min (cromóforo 1), m/z 344, tr=18.09 min (cromóforo 2), m/z 354,

tr=19.53 min (cromóforo 3) e m/z 372, tr= 20.87 min (cromóforo 4). Os iões fragmento típicos

são a perda dos grupos metilo, fragmento m/z 315 para o crómoforo 1, e no caso do crómoforo

3, observa-se também a perda do anel aromático com um grupo amina (ião m/z 251). O

cromóforo 4 que corresponde ao composto completamente metilado do metil violeta tem a

mesma estrutura molecular do cristal violeta. Mas o seu espectro de MS2 mostra um padrão

diferente de fragmentação; o cristal violeta possui um fragmento com m/z 328, que

corresponde à perda de C2H5N que o metil violeta não possui na fragmentação do seu

crómoforo 4.

3.1.4 - Corantes Azina e Xanteno

Foram analisados três corantes desta família: a malva, a safranina T e a rodamina B,

conforme se mostra na Tabela 1, anexo

Os corantes azina existem na forma de sal de cloreto, logo no espectro de ESI-MS em

modo positivo observa-se como pico característico, o catião molecular [M]+ ou [M-Cl]

+.

O espectro em modo positivo ESI-MS para a safranina T apresenta o catião molecular

[M-Cl]+

a m/z 315, e dado conter na sua estrutura grupos amina e metil, apresenta iões

fragmento caraterísticos a m/z 300, 299 e 298 formados por perda de CH3, CH4, NH3,

respetivamente. O ião radical m/z 238 resulta da perda do anel aromático C6H5, presente na

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estrutura molecular, como se pode observar pelo esquema de fragmentação e o espectro de

massa MS2 na figura 3.12.

N

N

H2N NH2

CH3H3C

N

N

CH3C

NH2H2NN

N

H3C CH3

NH2H2N

N

N

H2C

NHH2N m/z 300

m/z 299

- ( CH3 )

- (CH

4 )

- ( C

6H6)

m/z 238 N

N

HN

CH2H3C

- (N

H 3)

m/z 298

Figura 3.12: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 da safranina T.

O corante malva é uma mistura complexa de vários cromóforos (a mauveína), contendo

todos o núcleo 7-amino-5-fenil-3-(fenilamino)-fenazina-5-ium com diferentes números de

grupos metilo na sua estrutura molecular. O corante malva extraído da fibra do JCE, foi

analisado por LC-MS e detetou-se a presença de 5 cromóforos, dois dos quais não estão

descritos na literatura, respetivamente, iões m/z 509 e 523 a tr=13.14 13.51 min, não sendo

possível caraterizá-los. Os outros três cromóforos são descritos na literatura [6]

e foi possível

atribuir o pico 1 à pseudo mauveína ([M]+, m/z 363), pico 2 – mauveína C25a e C25b ([M]

+, m/z

377) e pico 3 – mauveína A ([M]+, m/z 391) (ver tabela 1 em anexo).

Estes três cromóforos têm padrões de fragmentação característicos, como se pode

verificar pela tabela 1 em anexo. O ião precursor m/z 363, pseudo-mauveína (C24H19N4)+,

apresenta iões fragmentos a m/z 336, 285 e 270 que correspondem à perda de HCN, C6H6 e

C6H7N, respetivamente. O ião m/z 377 conhecido como mauveína C25a (C25H21N4)+, possui

como fragmentos os iões m/z 362, 361, 360, 299, 285 e 284, formados por perda de CH3, CH4,

NH3, C6H6, C6H5N e C6H6N respetivamente. Este é o cromóforo maioritário, sendo o de maior

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contribuição para a cor total do corante malva usado para tingir a amostra do JCE. O ião m/z

391 atribuído à mauveína A (C26H23N4)+, apresenta como principais fragmentos os iões m/z

376, 375, 374 formados por perda de CH3, CH4 e NH3, o ião m/z 313 correspondente à perda

de C6H6 e os iões m/z 285 e 284 resultantes da perda do radical C7H8N e do neutro C7H9N,

respetivamente.

Um extrato da fibra da rodamina B foi também analisado por HPLC-DAD-MS. Este

corante de cor característica vermelho azulado possui um catião molecular [M]+ a m/z 443; a

análise dos iões fragmento MS2 exibe o efeito dos grupos etilo pela típica perda de C2H5 (ião

m/z 413), perda de CO2 (ião m/z 399) também caraterística deste tipo de corantes, devido à

presença de grupos carboxílico na sua estrutura, e perda de C4H6+C2H4 que origina o

fragmento m/z 385, de acordo com o publicado na literatura [2]

, e como se pode observar pela

figura 3.13 onde se apresenta o esquema de fragmentação e o espectro MS2 deste corante.

Figura 3.13: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 da rodamina B.

3.1.5 - Corantes antraquinona

O vermelho Turquia é um corante que pertence á família das antraquinonas e na sua

estrutura observa-se a presença de grupos hidroxilo e carbonilo. Na análise por LC-MS verifica-

se que o tempo de retenção é elevado (tr=17.10 min), o que nos leva a dizer que o composto é

pouco polar, apesar da presença dos grupos hidroxilo, o que se pode dever à presença dos

grupos carbonilo que tornam a molécula menos polar.

Verifica-se também que o vermelho Turquia possui o ião percursor [M-H]- com m/z 239.

No espectro ESI-MS/MS, dado a presença dos grupos carbonilo, observa-se a perda de CO

(28u) e CO+CO (56u), que levam aos iões produto m/z 221 e 183, respetivamente. Na figura

3.14 apresenta-se o esquema de fragmentação e o espectro de massa MS2.

ON

COOH

N

CH3

H3CCH3

CH3

- (C 2

H 6)

399

- (CO2)

413

385

- (C2H6+C2H4)

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Figura 3.14: Esquema de fragmentação e espectro de massa MS2 do vermelho Turquia.

O-

O

O

O

211

- (CO)

183

- (CO+CO)

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3.2 – Identificação de mauveínas em selos Penny Lilac (1867 – 1901)

A descoberta da malva por Perkin, a história da sua manufatura e utilização tem sido

objeto de vários estudos históricos.[8]

A aplicação da malva na estampagem de selos foi

sempre objeto de controvérsia, pois se há referências [5]

de que a malva preparada por Perkin

foi usada na impressão de selos durante o período de 1856-1877, há outros autores que

defendem que os selos cor lilás desse período foram impressos com outros corantes,

nomeadamente com violetas de Hoffmann, outros corantes também descobertos nessa época,

e ou cochenilha. [8]

O objetivo deste trabalho foi comprovar que há selos penny lilac impressos na Grã-

Bretanha no período 1856-1877 que foram realmente impressos com malva preparada por

Perkin. Para isso, analisaram-se por HPLC-DAD-MS/MS várias amostras históricas de sais de

mauveína cujos resultados foram comparados com os resultados obtidos na análise de cerca

de 35 selos penny lilac.

3.2.1 – Caraterização das amostras históricas de sais de mauveína

Neste trabalho foram analisadas oito amostras históricas de sais de mauveína: quatro

provenientes do Museu da Ciência, Londres (UK) (ScM1-4), duas pertencentes ao Museu da

Ciência e Indústria, Manchester (UK) (MS1M1,2), uma do Museu Chandler, Chandler Arizona

(USA) (CM) e uma amostra cedida pelo Museu Deutsches, Munique (Alemanha) (DM-Caro).

Estas amostras datam de um período entre 1857-1881 e detalhes sobre a sua proveniência

estão descritos na tabela 2 em anexo.

As soluções das amostras preparadas como descrito na parte experimental foram

analisadas por HPLC-DAD-MS2, e monitorizadas ao comprimento de onda (λ) de 550 nm.

Como se pode observar pelos cromatogramas da figura 3.15 as amostras ScM1, ScM2, ScM3,

ScM4, MS1M1 e CM apresentam um perfil cromatográfico semelhante, apresentando picos

maioritários a Tr=17.9 min e 22.10 min, que foram atribuídos à mauveína A (C26) e mauveína B

(C27). Os picos minoritários que eluem a Tr = 16.1 e 19.0 min correspondem à mauveína C25

(C25a+C25b+C25c); os picos a Tr = 15.1, 19.7 e 20.7 min a vários isómeros da mauveína B C27

(B2+B3+B4), os picos a Tr = 22.9 e 23.1 min aos isómeros (C+C1) da mauveína C28 e o pico a

Tr = 24 min foi atribuído à mauveína D. A atribuição dos picos foi feita com base nos dados

MS/MS e por comparação com dados da literatura.[6]

A intensidade relativa entre os vários

cromóforos difere de amostra para amostra, havendo contudo algumas amostras em que a

diferença entre essas intensidades não é tão significativa como noutras.

As amostras históricas de mauveína MS1M2 e DM-Caro apresentam um perfil

cromatográfico completamente diferente das amostras anteriores, como se pode ver pela figura

3.15 em que o pico maioritário apresenta um Tr = 14.7 min, e foi atribuído à pseudo-mauveína

(C24), e os picos minoritários a tr = 16.1; 19.0min e Tr = 17.9min pertencem a mauveína C25 e

mauveína A C26, respetivamente.

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Figura 3.15: Cromatogramas de HPLC-DAD das amostras históricas dos sais de mauveína a

550 nm para ScM1: Museu da Ciência 1; ScM2: Museu da Ciência 2; ScM3: Museu da Ciência

3; ScM4: Museu da Ciência 4; MS1M1: Museu da Ciência e Indústria Manchester 1; CM:

Museu Chandler; MS1M2: Museu da Ciência e Indústria Manchester; DM-Caro: Museu

Deutsches.

O método HPLC-DAD permitiu caracterizar os diferentes isómeros da mauveína de

acordo com os seus tempos de retenção, e medir a intensidade relativa de cada pico

cromatográfico. Mas para complementar a informação foram feitos ensaios HPLC-DAD-MS/MS

e os cromóforos da malva presentes nas amostras históricas foram atribuídos com base na sua

razão m/z e respetivos padrões de fragmentação. Na figura 3.16 apresenta-se o cromatograma

HPLC-DAD-MS/MS, e os respetivos espectros de massa MS2 para a amostra ScM1 do Museu

da Ciência.

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Figura 3.16: Cromatograma de HPLC-DAD e cromatogramas de tadem ESI(+) e espectros de

massa MS2 da amostra ScM1 do Museu da Ciência. Os maiores compostos identificados

correspondem ao número de picos: 1 – m/z 377, isómero C25; 2 – m/z 391, Mauveína A; 3 –

m/z 405, mauveína B2; 4 e 5 – m/z 405, mauveína B3 e B4; 6 – m//z 405, mauveína B; 7 e 8 –

m/z 419, mauveína C e C1; 9 – m/z 433, mauveína D.

Como já foi referido, o método analítico permitiu uma separação eficiente dos

diferentes isómeros da mauveína possibilitando a caracterização por MS e MS/MS de cada um

dos isómeros dos vários cromóforos que constituem a malva. Como se pode observar pelo

cromatograma iónico os picos 3, 4, 5 e 6 possuem o mesmo ião percursor a m/z 405 e os

espectros de MS2 são idênticos, o que varia é a intensidade relativa de cada um dos iões

produto. O mesmo acontece com os picos 7 e 8 a m/z 419. Esta análise foi importante porque

permitiu distinguir as amostras SCM1-4, MS1M1 e CM das amostras MS1MS2 e DM-Caro.

Com efeito, os cromóforos mauveína maioritários no primeiro conjunto de amostras são

diferentes dos identificados nas outras duas amostras históricas. Este resultado permite afirmar

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42

que estas duas últimas amostras não tiveram o mesmo processo de síntese que as anteriores,

pois o pico mais intenso no cromatograma a tr = 14.7 min atribuído à pseudo-mauveína, não é

detetado nos cromatogramas das outras amostras.

Desta análise pode concluir-se que todos os sais de mauveína que foram sintetizados e

purificados por Perkin são na verdade misturas complexas de 13 compostos diferentes, todos

contendo como núcleo 7-amino-5-fenil-3-(fenilamina)-fenazina-5-ium (ver figura 1.2).

Mas várias amostras históricas identificaram-se um composto C24 sem grupos metilo

(pseudo mauveína), três isómeros mono-metilados C25 denominados C25a, C25b e C25c, um

composto dimetilado C26, quatro isómeros trimetilados B, B2, B3, B4 e um composto

pentametilado D. A identificação deste último composto (D), mostra que a anilina comercial

utilizada por Perkin não possuía só toluidinas, mas também anilinas metiladas (xilidinas).

A partir dos cromatogramas HPLC-DAD analisados a = 550 nm, mediram-se as áreas

de cada pico cromatográfico atribuído a cada um dos isómero que constituem as diferentes

amostras históricas, e construiu-se a tabela 3.1. Da análise desses dados calculou-se a razão

entre a mauveína A (C26) / mauveína B (C27) para cada amostra analisada.

Os resultados mostram que a distribuição dos compostos de mauveína entre os sais

ScM1- 4, MS1M1 e CM não apresenta grandes diferenças, sendo os dois cromóforos

mauveína A (C26) e mauveína B (C27), os que contribuem com a maior percentagem para a

cor total do composto; os o cromóforos C25 (C25a+ C25c) contribuem com aproximadamente

5%, os cromóforos C27 (B2+B3+B4) embora sejam minoritários, contribuem com

aproximadamente 25% da cor total, assim como a mauveína A (C26) e a mauveína B (C27). Já

a mauveína D a sua contribuição é muito pequena aproximadamente 1% na amostra ScM1 e

2.3% na amostra ScM3, enquanto que nas outras é quase inexistente.

Nos sais MS1M2 (Schunk) e DM-Caro, a maior contribuição para a cor total,

aproximadamente 60% provem da pseudo mauveína (C24), enquanto que os cromóforos

mauveína C25 e mauveína A (C26) contribuem respetivamente com aproximadamente 35% e

6%, para a cor total do composto.

As amostras foram agrupadas de acordo com a razão entre a mauveína A (C26) /

mauveína B (C27): as amostras (ScM2,ScM4 e MS1M1) apresentam razões semelhantes

tendo como compostos maioritários os isómeros C27 isto é, contêm maioritariamente mauveina

B; as amostras ScM1, ScM3 e CM têm como principal cromóforo a mauveína A (isómero C26);

as amostras MS1M2 e DM-Caro são maioritariamente constituídas por pseudo-mauveína.

É importante salientar que a amostra denominada de “original” do Museu da Ciência

(ScM1) e a amostra do Museu Chandler (CM) apresentam uma constituição semelhante. Esta

semelhança poderá apoiar a hipótese de que a mauveína oferecida por Perkin a Charles

Chandler aquando da sua visita a NovaYork na altura do Jubileu, seja do mesmo lote que a

“original” (ScM1). Nas amostras MS1M2 (Schunk) e DM-Caro, foi encontrada uma impressão

digital ligeiramente diferente, o maior cromóforo púrpura observado foi a pseudo mauveína,

C24 (60%), juntamente com três derivados mono metilados (C25a, C25b e C25c, (36%)), nos

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cromóforos minoritários verificou-se uma proporção diferente entre a mauveína A (6%) e a

mauveína B2+B3+B4 (2%), e nenhuma evidência de mauveína B, C ou D.

As amostras MS1M2 e DM-Caro embora preparadas com um processo de síntese

semelhante ao que Perkin desenvolveu na produção da mauveína, na sua síntese foi usado

maiores quantidades de anilina e pequenas quantidades de toluidinas, pois este é o processo

que leva á formação maioritária de pseudo mauveína.

A amostra DM-Caro, cuja síntese é atribuída a Caro, deve ter sido preparada usando

como agente oxidante o cloreto de cobre enquanto que Perkin usava o dicromato de potássio,

sendo considerados os melhores agentes oxidantes na síntese da mauveína.[23]

A mauveína

produzida por Perkin e Caro são bem distintas, isto é, possuem perfis diferentes, impressão

digital diferente, por isso são facilmente distinguidas quando uma análise deste tipo é efetuada.

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Tabela 3.1: Análise por HPLC-DAD-MS das diferentes mauveínas encontradas nas amostras históricas (analisada anteriormente na ref.[6]

) e a partir de uma

amostra sintetizada por Heinrich Caro (do Museu Deutsches).

C24 Pseudo

Mauveína

C25 Mauveína C25

(C25a+C25b+C25c)

C26 Mauveína

A

C27 Mauveína B

C27 Mauveína B (B2+B3+B4)

C28 Mauveína

C

Mauveína D

(C26/C27)a (C26/C27)

Ref. [6]

(m/z 363) Tr=14.7min

(m/z 377) Tr=16.1; 19.0min

(m/z 391) Tr=17.9min

(m/z 405) Tr=22.10min

(m/z 405) Tr=15.1; 19.7; 20.7min

(m/z 419) Tr=22.9; 23.1

(m/z 433) Tr=24.1

ScM1 0.28 4.59 37.08 17.13 20.91 19.39 0.62 1.4 1.3 ScM2 0.05 2.21 23.25 21.50 27.90 25.09 0.00 0.7 0.8 ScM3 0.56 4.11 ScM1 0.28 22.82 12.23 2.21 1.7 1.8 ScM4 0.13 1.58 ScM2 0.05 25.08 15.75 0.00 0.7 0.8 MS1M1 0.04 0.14 22.57 26.19 21.46 29.59 0.01 0.7 0.8 CM 0.00 0.92 37.22 23.19 19.96 18.72 0.00 1.2 1.4 MS1M2 (Schunk)

51.71 35.32 9.00 0.21 3.75 0.01 0.00 (3.4) b

DM-Caro 56.11 35.70 6.14 0.13 1.91 0.01 0.00 (4.5) -

a Estes dados foram corrigidos de acordo com o processo descrito na ref.

[6] considerando os fatores de correção 0.6 para a mauveína A; 0.8 para a mauveína B; 0.9 para a mauveína B2, e

mauveína C25 1.0 (neste trabalho). b No trabalho anterior não se reportou este valor, devido à pequena quantidade de mauveína B; na realidade no trabalho da ref.

[6], as mauveínas com menos de

2% não eram consideradas. No presente trabalho fomos capazes de descriminar as frações com um limite inferior a 0.5%.

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45

Estando as amostras históricas caracterizadas considerou-se importante comparar o

extrato da fibra da amostra de malva retirada do JCE com essas amostras, para tentar

perceber se tinha sido produzida segundo o procedimento utilizado por Perkin ou Caro. Como

se pode observar na figura 3.17 pelos cromatogramas de HPLC-DAD das amostras históricas

ScM4 do Museu da Ciência e DM-Caro do Museu Deutsches e da amostra do JCE, esta última

possui um perfil cromatográfico distinto, apresentando um pico maioritário a tr=16.1 min, que

por MS/MS foi atribuído ao cromóforo mauveína C25 (m/z 377). Concluiu-se que a amostra do

JCE foi tingida com um corante malva produzido provavelmente mais tarde, segundo um

processo de síntese em que as proporções entre a anilina e toluidina eram diferentes das

usadas por Perkin e Caro e em que outro agente oxidante pode ter sido utilizado.

Figura 3.17: Cromatogramas de HPLC das amostras históricas dos sais de mauveína a 550

nm ScM4 e DM-Caro, e da amostra de malva do JCE.

3.2.2 – Caraterização dos selos Penny Lilac

Neste trabalho foram analisados cerca de 35 selos postais da Grã-Bretanha, do

período 1867-1901, entre os quais alguns exemplares da série designada de Penny Llilac.

Todas as amostras de selos foram extraídas de acordo com o procedimento descrito na

parte experimental e na sua análise usou-se a mesma metodologia HPLC-DAD-MS aplicada ao

estudo das amostras de sais de malva históricas, tendo-se contudo adquirido os

cromatogramas iónicos não apenas no modo ESI positivo, mas também no modo ESI negativo.

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46

Tabela 3.2: Análise por HPLC-DAD-MS/MS dos diferentes tipos de mauveína (dado em %) encontrados nos selos Victoria LiLac.

C24 Pseudo

mauveína

C25 Mauveína

C25[b]

C26 Mauveína

A

C27 Mauveína

B

C27 Mauveína

B[c]

C28 Mauveína

C[d]

Mauveína D

Cochonilhal[e]

(C26/C27)[f] Origem da

Mauveína Data

m/z tr[min]

363 14.7

377 16.1, 19.0

391 17.9

405 22.10

405 15.1,

19.7, 20.7

419 22.9, 23.1

433 24.1

491 11.0

SG 109 0.00 3.10 34.42 27.89 27.28 6.76 0.55 0.00 0.9 Perkin 1867-1880

SG 108 0.00 3.25 30.29 11.43 31.20 22.88 0.96 0.00 1.0 Perkin 1867-1880

SG 107 0.00 25.15 41.46 8.20 23.50 1.68 0.00 0.00 1.9 Perkin 1867-1880

SG 106 34.15 40.21 22.37 2.34 0.94 0.00 0.00 0.00 9.4 Caro 1867-1880

SG 109(2) 0.00 7.15 51.47 4.30 37.08 0.00 0.00 0.00 1.8 Perkin 1867-1880

SG 170-174

0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 100 0.00 _ 1881-1901

[a] Devido ao baixo sinal dos cromóforos da mauveína nas amostras extraídas dos selos, a atribuição dos isómeros foi baseada nos dados de MS/MS (ver figuras3.20;3.21). [b] C25a+C25b. [c]

B2+B3+B4. [d] C+C1. [e] Ácido carmínico. [f] Estes dados foram corrigidos de acordo com o processo descrito na ref.[6]

considerando os fatores de correção 0.6 para a mauveína A; 0.8 para a

maauveína B; 0.9 para a mauveína B2, B3 e B4; para a pseudo mauveína e mauveínaC25 o fator é 1.0 (neste trabalho).

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47

Só apenas em quatro selos foi detetado o perfil cromatográfico característico da malva,

como se observa na tabela 3.2, que sumariza os resultados da análise HPLC-DAD-MS/MS dos

diferentes cromóforos de mauveína, de acordo com a sua razão m/z, tempo de retenção e

intensidade relativa (percentagem), identificados nos 4 selos postais SG106-109 do período

Vitoriano, 1867-1880. Estes selos foram definitivamente impressos com malva. Todos os outros

selos que também apresentavam uma cor púrpura mostraram o ácido carmínico como principal

composto corante. É interessante notar que embora estes selos exibam uma cor púrpura, muito

próxima da dos selos que foram impressos com mauveína, quando se procedeu à extração do

corante do selo, e se reconstituí o extrato seco com metanol, verificou-se que apresentavam

uma cor diferente dos outros 4 extratos, uma cor vermelho pálido, característica do ácido

carmínico como se pode ver na figura 3.18. Isto mostra que o tingimento dos selos do período

em estudo, era ainda usado o corante natural cochenilha, e que na impressão eram criadas

condições de tingimento capazes de mimetizar a cor púrpura da mauveína com ácido

carmínico.

Figura 3.18: Dois selos postais (esquerda Penny Lilac, SG 170-SG 174), e a direita (o selo SG

107 de seis pences) com os respetivos extratos numa solução de metanol.

A primeira evidência clara de que o corante malva foi usado na coloração de selos

postais do período vitoriano foi apresentada neste trabalho [9]

, como se comprova por

comparação das tabelas 3.1 e 3.2.

Da análise das tabelas, concluiu-se que no selo postal SG 106 o cromóforo mais

abundante era a pseudo mauveína, C24 (22%), tendo os outros componentes uma contribuição

menor. Já nos selos SG 107 – SG 109, os componentes presentes com maior contribuição

eram a mauveína A, C26 (entre 22 e 51%) e a mauveína B, C27 (entre 30 e 55%), os outros

componentes como a mauveína C28, a mauveína C25 e a mauveína D têm uma contribuição

menor, abaixo de 10% na cor do composto. Contudo, o selo SG 108 tem aproximadamente

13% de mauveína C na sua cor total, e o selo SG 107 possui aproximadamente 25% de

mauveína C25 na sua cor total como se pode verificar pelos dados da tabela 3.2.

A caracterização dos selos foi feita por ESI em modo positivo, os cromatogramas

tandem e os espectros de massa MS/MS claramente identificam os principais cromóforos da

mauveína como se pode verificar nas figuras 3.19 e 3.20, para o selo SG 109 e SG 106,

respetivamente.

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48

Pela figura 3.19 que mostra o cromatograma de HPLC-DAD, os cromatogramas iónicos

de massa tandem ESI(+) e o espectro de massa MS2 da amostra do selo postal SG 109,

observa-se que os picos numerados de 1 a 7 possuem o mesmo tempo de retenção,

correspondem aos mesmos cromóforos (respetivamente aos iões moleculares m/z 377, 391,

405, 419 e 433) e apresentam o mesmo padrão de fragmentação da amostra ScM1 do Museu

da Ciência (figura 3.16), tendo os selos SG 107 – SG 109 apresentado um perfil LC-MS

idêntico.

Figura 3.19: Cromatograma de HPLC-DAD, cromatogramas de massa tandem ESI(+) e

espectro de massa MS2 da amostra de selo postal SG 109. Os compostos identificados

correspondem ao pico: 1 – m/z 377, isómeres C25; 2 – m/z 391, mauveína A; 3 e 4 – m/z 405,

mauveína B3 e B4; 5 – m/z 405, mauveína B; 6 – m/z 419, mauveína C; 7 – m/z 433, mauveína

D.

Os cromatogramas HPLC-DAD-MS/MS para o extrato do selo SG 106 (figura 3.20)

mostram um perfil diferente do anterior. Os espectro de massa MS2 mostraram que o pico 1 a

tr=14.7 min, possui uma razão m/z 363 e os outros três picos 2 a 4 mostraram iões moleculares

com m/z 377, 391 e 405, com tr=16.1; 19.0 e 22.10 min, respetivamente. Este selo tem um

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perfil muito semelhante ao das amostras históricas de mauveína (MS1M2 (Schunk) e DM-

Caro), mas a intensidade dos picos cromatográficos varia ligeiramente.

Figura 3.20: Cromatograma de HPLC-DAD, cromatograma de massa tandem ESI(+) e

espectro de massa MS2 da amostra de selo postal SG 106. Os compostos identificados

correspondem ao pico: 1 – m/z 363, pseudo mauveína; 2 – m/z 377, isómeros C25; 3 –m/z 391,

mauveína A; 4 – m/z 405, mauveína B.

Como se pode observar pela tabela 3.1 e pela figura 3.20, o traço da estrutura da

mauveína de Caro é a presença de uma elevada quantidade de pseudo mauveína C24,

enquanto a mauveína de Perkin é a ausência de pseudo mauveína C24, como se pode ver

pela figura 3.19.

Os dados obtidos neste trabalho indicam claramente que o selo SG 108 (datado de

1867-1880), SG 107 e SG 109 foram impressos com malva obtida pelo processo sintético

usado por Perkin, ao passo que o selo SG 106 foi impresso a partir de material produzido pelo

o processo sintético de Caro.

A figura 3.21 apresenta-se o selo SG 109 impresso com malva produzida pelo

processo de Perkin e o selo SG 106 impresso com a malva produzida segundo o processo

definido por Caro.

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50

Figura 3.21: Dois selos postais analisados: à esquerda o selo SG 109, impresso com malva de

Perkin; e à direita o SG 106 impresso com malva de Caro.

Com já foi anteriormente referido, nos selos Penny Lilac SG 170-174 foi observado um

único pico quando a deteção espectrofotométrica a 496 nm foi utilizada. Os cromatogramas

MS/MS (TIC, o modo NI apresentados na figura 3.22), mostram um pico a tr= 11,1 min a que

corresponde um ião com m/z 491 que foi identificado como sendo a molécula desprotonada do

ácido carmínico (modo de ionização negativo). O seu padrão de fragmentação de acordo com

a literatura [24]

, apresenta perda de uma molécula de CO2, característica da presença de um

grupo ácido, que origina o ião fragmento m/z 447; e os outros iões fragmento a m/z 429, 357 e

327 que correspondem à perda de CO2+H2O, C3H3O4 e a molécula de glicose, respetivamente.

O que é surpreendente, foi não se ter detetado malva em nenhum dos selos Penny Lilac

analisados. Dos selos analisados sabia-se a partir dos carimbos postais que havia selos de

1886, 1898, 1900 e 1901, mas não foi encontrada vestígios de malva em qualquer desses

selos.

Figura 3.22: Cromatograma de HPLC-DAD e o cromatograma tandem ESI(-) e o espectro de

massa MS2 da amostra do selo postal (SG 170-174). O pico com m/z 491 corresponde ao ácido

carmínico desprotonado.

Da literatura [8]

havia evidência que na impressão dos selos Penny Lilac poderiam ter

sido também usados os corantes, denominados à época, derivados de Hofmann (fucsina,

metilo violeta, cristal violeta). Foram obtidas amostras destes corantes, e as soluções foram

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51

analisadas por HPLC-DAD-MS/MS, nas mesmas condições experimentais utilizadas

anteriormente em todas as amostras (tabela 3.3). Nos cromatogramas de LC-MS, estes

corantes aparecem claramente a diferentes tempos de retenção quando comparados com os

sinais obtidos com os selos e as amostras históricas de malva. Observou-se que a fucsina e o

violeta de metilo contêm vários cromóforos que são eluídos em diferentes tempos de retenção.

Os iões extraídos dos cromatogramas iónicos na amostra de fucsina exibem um ião [M]+ para

cada cromóforo, iões com m/z 288 (composto 1), m/z 302 (composto 2), m/z 316 (composto 3)

e m/z 330 (composto 4) com tempos de retenção entre 11.4 min e 13.7 min. Para o violeta de

metilo os picos foram encontrados a m/z 330 (composto 1), m/z 344 (composto 2), m/z 358

(composto 3) e m/z 372 (composto 4) eluídos entre 15.9 min e 19.6 min. O cristal violeta

apresenta um único composto com m/z 372 e o tempo de retenção 19.7 min como se pode

observar pela tabela 3.3.

Os resultados permitiram concluir que no lote de selos analisados não foram usados

derivados de Hoffman para a impressão dos mesmos, mas apenas cochenilha como já foi

concluído.

Na análise do selo SG 200, que apresentava duas cores, sendo a cor da base do selo

uma tonalidade esverdeada diferente dos selos analisados até então, foram extraídos 2

pedaços de selo, um de cada uma das cores, e realizaram-se duas análises distintas. A análise

do extrato de cor verde identificou a presença de um composto natural, o flavonol rutina

(O-ramnosóide-glicosóide), que apresenta uma molécula desprotonada [M-H]- a m/z 609; o

espectro MS2 do ião precursor m/z 609 mostrou dois fragmentos a m/z 463 e m/z 301

correspondentes à perda consecutiva de um resíduo da ramnose e um resíduo da glicose,

respetivamente. A perda destas duas unidades de açúcar levaram a uma aglicona com m/z

301. A confirmação de que a aglicona era uma quercetina foi efetuada com base no espectro

MS3 traçado para o ião produto m/z 301 proveniente do ião precursor m/z 609. O espectro

apresentou fragmentos com m/z 179, 151 e 121 atribuídos, respetivamente, aos iões 1,2

A0-,

1,2A-

CO e 1,2

B-, que são os iões diagnóstico da quercetina [24]

. Na análise HPLC-DAD no extrato de

cor vermelha separaram-se dois compostos que absorviam a 514 nm, e que foram identificados

por MS e MS/MS, o Ponceau 2R e o Orange G. O Ponceau 2R possui um ião com m/z 453 e

como fragmento caraterísticos os iões m/z 355 e 302 que corresponde à perda de SO3 e

C8H9N2, respetivamente. O Orange G possui um ião com m/z 327 e no espectro MS/MS

apresenta iões fragmento a m/z 235 e m/z 207 que correspondem à perda de N2+SO2 e

C6H5N2O, respetivamente.

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52

Tabela 3.3: Dados de HPLC-DAD-MS/MS dos corantes violeta de Hofmann´s e o corante

natural cochenilha.

Composto

HPLC-DAD

Tr (min)

Estrutura

λmax

(nm)

MW

(g/mol)

Fragmentos MSn

m/z (% abundância relativa), (perda

do fragmento neutro, espécies

possíveis)

CI 42510

Fucsina

1 – 11.39

2 - 12.15

3 – 12.92

4 – 13.72

NH2

Z

H2N

X

NH2

Y

Cl- X=H; Y=H; Z=H

X=CH3; Y=H; Z=H

X=CH3; Y=CH3; Z=H

X=CH3; Y=CH3; Z=CH3

1 – 543

2 – 546

3 – 548

4 – 551

323.83

337.87

351.89

365.91

MS

(1) m/z 288 [M]+

(2) m/z 302 [M]+

(3) m/z 316 [M]+

(4) m/z 330 [M]+

MS2

288 273 (8) (-15, CH3)

195 (100) (-93, C6H7N)

168 (6) (-120, C7H8N2)

302 287 (10) (-15, CH3)

209 (100) (- 93, C6H7N)

195 (46) (-107, C7H9N)

316 301 (26) (-15, CH3)

223 (40) (-93, C6H7N)

209 (100) (-107, C7H9N)

330 315 (8) (-15, CH3)

223 (100) (-107, C7H9N)

208 (12) (-122,

C7H9N+CH3)

CI 42535

Metil

Violeta

1 – 15.89

2 – 17.07

3 – 18.34

4 – 19.59

1 – 567

2 – 574

3 – 582

4 – 590

379.94

393.97

MS

(1) m/z 330 [M]+

(2) m/z 344 [M]+

(3) m/z 358 [M]+

(4) m/z 372 [M]+

MS2

330 315 (8) (-15, CH3)

223 (100) (-107, C7H9N)

208 (12) (-122,

C7H9N+CH3)

344 → 329 (60) (-15, CH3)

→ 328 (40) (- 16, CH4)

→ 237 (28) (-107, C7H9N)

→ 223 (14) (-121, C7H9N2)

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358 → 343 (50) (-15, CH3)

→ 342 (45) (-16, CH4)

→ 251 (13) (-107, C7H9N)

→ 237 (10) (-121, C7H9N2)

372 → 357 (76) (-15, CH3)

→ 256 (75) (-16, CH4)

→ 251 (20) (-121, C7H9N2)

→ 208 (12) (122, C7H9N+CH3)

CI 42555

Cristal

violeta

1 – 19.64

1 - 590 407.98 MS

m/z 372 [M]+

MS2

372 → 357 (76) (-15, CH3)

→ 356 (60) (-16, CH4)

→ 251 (12) (-121, C7H9N2)

→ 208 (6) (-122, C7H9N+CH3)

Cochenilha

1 – 11.10

1 - 469 492.38 MS

Ácido carmínico

m/z 491 [M-H]-

MS2

491 447 (100) (-44, CO2)

→ 429 (60) (-62, CO2+H2O)

→ 357, 0.3X (20) (-90, C3O3H4)

→ 327 (12) (-164, C6H12O5)

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Capítulo IV

Conclusão

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55

A utilização de água acidulada com 0.8% de ácido fórmico e metanol como solventes

de eluição permitiu a separação de várias famílias de corantes com diferentes estruturas, como

também a separação dos crómoforos de metil violeta e da mauveína e a análise subsequente

por espectrometria de massa.

Todas as amostras analisadas foram identificadas e caraterizadas pelo seu tempo de

retenção, espectro de UV-vis e padrões de fragmentação que são caraterísticos de cada

composto. A combinação de ambos os detetores, DAD e MS foram fundamentais para a sua

caracterização, dado que muitos corantes possuem estruturas e espectros de UV-vis

semelhantes, a espectrometria de massa é extremamente importante para identificar as

amostras.

Os corantes analisados por HPLC-DAD-MSn revelam padrões de fragmentação

caraterísticos relacionados com a presença de grupos funcionais específicos na sua estrutura

molecular, como grupos carboxílicos, hidroxilos, sulfato, nitro e amina, que podem contribuir

para identificar a família química do corante.

Os corantes com grupos nitro apresentam como fragmentação caraterística a perda

dos radicais NO e NO2.

Os corantes azo, a maioria dos quais, possuem iões sulfato na sua composição,

apresentam perdas associadas ao grupo sulfato (- 64 u, SO2 e -80 u, SO3). Nos espectros de

massa tandem observa-se também a perda de N2, por rearranjo do grupo azo, e outros

fragmentos provenientes da clivagem das ligações N=N e C-N. Estes corantes estão na forma

de sais de sódio, e nos espectros de massa ESI no modo negativo exibem séries de iões

negativos [M-xH]x- e respetivos adutos sodiados, como [M-2Na+H]

-, etc, no geral iões do tipo

[M-(x+y)Na+yH]x-.

Os corantes difenil e triaril metano possuem como fragmentação caraterística a perda

de um anel aromático, e perdas CH3 e CH4 associadas à presença de grupos metilo. Os que

existem na forma de sais de sulfato, apresentam também os fragmentos associados às perdas

do grupo sulfato, já descritos anteriormente.

Os corantes azina e xanteno também apresentam caraterísticas de fragmentação

semelhantes aos corantes triaril metano, pois perdem iões CH3, CH4 e um anel aromático; os

que contêm como grupo funcional o ácido carboxílico, exibem perdas de 44 u devidas à saída

de CO2.

A última família estudada, os corantes antraquinona, caracterizam-se por perdas de

28 u (CO), e encurtam o anel em menos uma molécula de carbono.

O corante malva pode ser definido como uma mistura complexa de vários cromóforos

que contém o núcleo 7-amino-5-fenil-3-(fenilamino)-fenazina-5-ium com diferentes números de

grupos metilo na sua estrutura. Dependendo da proporção dos reagentes de partida (anilina e

toluidina) assim se obtêm diferentes percentagens dos cromóforos presentes na sua

composição, originando compostos com cores muito semelhantes.

Todas as amostras históricas de sais de mauveína foram identificadas e caracterizadas

por HPLC-DAD-MSn, com base no tempo de retenção e padrão de fragmentação. A partir das

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áreas dos picos cromatográficos calcularam-se as percentagens relativas de cada cromóforo

nas várias amostras, e determinou-se a razão entre os cromóforos mauveína A e B. Com base

nesta razão foi possível discriminar as várias amostras em função do método de síntese.

A comparação entre os cromatogramas das amostras históricas de malva e da amostra

do JCE, mostrou que a última, embora contenha os mesmos cromóforos, tem um perfil

cromatográfico distinto das amostras históricas. O cromóforo com maior contribuição para a cor

do corante é a mauveína C25, o que nos leva a propor que na sua síntese, a proporção de

reagentes de partida e/ou o reagente oxidante, eram diferentes dos usados na síntese dos

corantes históricos.

Na última parte do trabalho foi apresentada a análise de selos Penny Lilac dos finais do

século XIX, sendo o objetivo provar que o corante malva do tempo de Perkin tinha sido usado

na impressão desses selos. O objetivo foi alcançado, pois provou-se que 4 dos selos

apresentavam o perfil cromatográfico da malva, e foi ainda possível concluir que na impressão

de 3 selos (SG 107 – SG 109), tinha sido usada malva da manufatura de Perkin, mas que

noutro selo (SG 106) a malva usada tinha a impressão digital da malva de Caro. Na grande

maioria dos restantes selos, embora apresentem à vista uma cor púrpura, identificou-se ácido

carmínico nos seus extratos. Concluiu-se que estes selos tinham sido impressos com o corante

natural cochenilha, tendo sido usado um processo que imitava a cor púrpura. No conjunto de

selos analisados, não foram detetados violetas de Hoffmann, não sendo possível corroborar a

nota histórica de que estes corantes foram utilizados na época 1886-1901.

Este, foi o primeiro trabalho analítico que envolveu o estudo de selos Penny Lilac, e a

identificação do corante malva em quatro selos foi uma contribuição importante para o debate

histórico sobre a utilização da malva na impressão de selos durante a vida de Perkin.

Os corantes analisados neste trabalho são considerados os primeiros corantes

sintéticos, e nesse contexto têm interesse na análise de artefactos históricos. Quando se

trabalha com peças históricas a quantidade de amostra disponível é muito pequena (caso dos

selos). Por isso, a caracterização dos extratos exige o recurso a técnicas analíticas de elevada

sensibilidade e especificidade. O trabalho aqui apresentado mostra que o recurso a

metodologias HPLC-DAD-MS/MS são fundamentais para a identificação e caracterização de

corantes sintéticos em amostras provenientes de objetos com interesse histórico.

Page 69: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

57

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58

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Analyte, J. of Analytical Chemistry. DOI: 1155/2012/282574.

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Gas Phase, What we Know Now, Wiley InterSciense. DOI 10.10021/mass.20247.

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Suen, HL Tai, Electrospray Ionization Mass Spectrometry: Principles and Clinical Applications,

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Jonh Wiley & Sons, Second Edition, New Jersey.

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Anexos

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A1

Tabela 1: Base de dados dos corantes sintéticos extraídos de fibras pertencentes a um artigo do Journal of Chemical Education, 1926, 3: 9, 973-1007.

Composto Estrutura Cromatograma (tr, min)

Espectro UV-vis

(max, nm)

MM (g/mol)

Fragmentos MSn

m/z (% abundância relativa) (espécies possíveis)

Nitro

Ácido pícrico

OH

NO2O2N

NO2 200 300 400 500

0,0

1,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

229.10 MS

m/z 228 [M-H]-

MS2

228 198 (100) (-30, NO)

182 (18) (-46, NO2)

154 (7) (-74, NO2+CO)

Monoazo

Crisoidina

N N

H2N

NH2.HCl

200 300 400 500 600

0,0

1,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

212.25 MS

m/z 213 [M+H]+

MS2

213 196 (80) (-17, NH3)

185 (5) (-28, N2)

168 (40) (-45, N2 + NH3)

121 (100) (-92, C6H6N)

Alaranjado II N N

HO

NaO3S

200 300 400 500 600

0,0

1,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

350.32 MS m/z 327 [M-Na]

-

MS2

327 299 (4) (-28, N2)

263 (5) (-64, SO2)

247 (8) (-80, SO3)

171(100) (-156, C6H4SO3)

492

461

359

Page 73: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A2

Fast Red A N N

HO

NaO3S

400.38 MS m/z 377 [M-Na]

-

MS2

377 297 (25) (-80, SO3)

269 (4) (-108, N2+SO3)

221 (100) (-156, C10H6NO)

143 (15) (-234, C10H6SO3+N2)

Amaranto N N

HO

NaO3S

SO3Na

SO3Na

200 400 600

0,0

1,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

604.47 MS m/z 537 [M-3Na+2H]

-

MS2

537 519 (30) (-18, H2O)

509 (2) (-28, N2)

473 (100) (-64, SO2)

457 (15) (-80, SO3)

429 (10) (-108,N2+SO3)

317 (60) (-222, C10H6NO3S)

302 (8) (-235, C10H7N2O3S)

234 (15) (-303, C10H7O7S2)

Vermelho cochenilha

A

N N

HO

NaO3S

NaO3S

SO3Na

200 400 600

0,0

2,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

604.47 MS m/z 537 [M-3Na+2H]

-

MS2

537 509 (100) (-28, N2 ou CO)

473 (8) (-64,SO2)

457 (10) (-80,SO3)

429 (30) (-108, N2+SO3)

376 (10) (-161,SO3+ SO3H)

302 (5) (-235, C10H7N2O3S)

509

521

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A3

Diazo

Vermelho Congo

N

SO3Na

NH2

N N N

NH2

SO3Na

200 300 400 500 600

0,0

0,7

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

696.66 MS m/z 651 [M-2Na+H]

-

MS2

651 623 (5) (-28, N2) → 587 (8) (-64, SO2)

571 (100) (-80, SO3) → 543 (15) (-108, N2+SO3)

→ 416 (15) (-235, C10H7N2O3S)

→ 235 (10) (-416, C22H16N4O3S)

Crocein Scarlet

N N

HO

N

SO3Na

NaO3S

N

200 400 600

0,00

1,25

Inte

nsi

ty (

a.u

.)

Wavelength (nm)

556.48 MS m/z 511 [M-2Na+H]

-

MS2

511 483 (75) (-28, N2)

431 (20) (-80, SO3)

403 (10) (-108, N2+SO3)

302 (100) (-209, C12H9N4)

Difenilmetano

Auramina C N(CH3)2(H3C)2N

NH

200 400 600

0,00

0,12

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

303.83 MS m/z 268 [M]

+

MS2

268 253 (5) (-15, CH3)

148 (100) (-120, C8H10N)

122 (25) (-146, C8H12N2)

107 (50) (-161, C10H13N2)

517

501

374

441

Page 75: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A4

Trifenilmetano

Verde Malaquite

C

N(CH3)2Cl(H3C)2N

200 400 600

0

3

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

329.46 MS m/z [M]

+

MS2

329 314 (70) (-15, CH3)

313 (30) (-16, CH4)

285 (50) (-44, N(CH3)2) → 284 (40) (-45, NH(CH3)2)

251 (100) (-78,C6H6)

208 (40) (-121, C8H11N) → 165 (20) (-164, C2H5N+C8H11N)

Patent Blue V SO3Na

OH

NaO3S

(C2H5)2N N(C2H5)2

200 300 400 500 600 700

0

3

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

605.65 MS m/z 559 [M-2Na]

-

MS2

559 479 (100) (-80, SO3) MS

3

479 451 (5) (-28, C2H4 ou CO)

435 (100) (-44, C2H4+CH4)

399 (7) (-80, SO3)

MS4

435 391 (100) (-44, CO+CH4)

355 (20) (-80, SO3)

311 (9) (-124, SO3+CO+CH4)

Patent Blue A

C

N N

SO3Na

OH

NaO3S

729.79 MS m/z 683 [M-2Na]

-

MS2

683 603 (100) (-80, SO3)

577 (50) (-106, SO3+C2H2)

512 (5) (-171, SO3+•C7H7)

497 (25) (-186, SO3+•C7H7+

•CH3)

630

616

Page 76: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A5

Light Green SF Yellowish

C

NC

2 H5 C

H2

NC

2 H5 C

H2

SO3NaSO3Na

SO3Na

200 300 400 500 600 700

0,0

2,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

815.84 MS m/z 769 [M-2Na]

-

MS2

769 705 (30) (-64, SO2) MS

3

705 511 (50) (-194, C7H7SO3Na) MS

4

511 484 (15) (-27, C2H3)

469 (7) (-42, C2H4N)

261 (7) (-250, C15H13NO+C2H3)

170 (25) (-341, C15H13NO+C8H8N

MS

m/z 373 [M-3Na]2-

MS2

373 341 [C37H34N2O7S2]2-

(50) (-64, SO2) MS

3

341 512 (20) (C30H28N2O4S)+ 170 (5) (C7H6SO3)

479 (28)(C29H25N2O4S)+106 (50)(C7H6O) (-79, CH3)

MS4

479 453 (4) (-44,C2H6N)

327 (5) (-170, C7H6SO3)

170 (28) (-327, C22H19N2O)

Formilo violeta S4B

783.93 MS m/z 682 [M-2Na-(C2H4)2]

-

MS2

682 668 (15) (-15, CH3)

651 (100) (-31, CH5N)

602 (65) (-80, SO3)

561 (10) (-121, C2H4+C6H7N)

510 (45) (-172, C7H8SO3)

631

Page 77: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A6

Guinea Green

C

NC

2 H5 C

H2

NC

2 H5 C

H2

SO3NaSO3Na

713.79 MS m/z 571 m/z 543

Metil Violeta

X=H, Y=H, Z=H

X=CH3, Y=H, Z=H

X=CH3, Y=CH3, Z=H

X=CH3, Y=CH3, Z=CH3

1 – 16.64 2 – 18.09 3 – 19.53 4 – 20.87

200 300 400 500 600 700

0,0

0,1

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

379.94

393.97

MS m/z 330[M]

+

m/z 344[M]+

m/z 358[M]+

m/z 372[M]+

MS2

330 315 (8) (-15, CH3)

223 (100) (-107, C7H9N)

208 (12) (-122, C7H9N+CH3)

344 329 (60) (-15, CH3)

328 (40) (-16, CH4)

237 (28) (-107, C7H9N)

223 (14) (-121, C7H9N2)

358 343 (50) (-15, CH3)

342 (45) (-16, CH4)

251 (13) (-107, C7H9N)

237 (10) (-121,C7H9N2)

372 357 (76) (-15, CH3)

356 (75) (-16, CH4)

251 (20) (-121, C7H9N2)

208 (12) (-122, C7H9N+CH3)

588

Page 78: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A7

Cristal Violeta

200 300 400 500 600 700

0,00

0,35

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelength (nm)

407.98 MS m/z 372 [M]

+

MS2

372 357 (76) (-15, CH3)

356 (60) (-16, CH4)

251 (12) (-121, C7H9N2)

208 (6) (-122, C7H9N+CH3)

Azina

Safranina T

N

N

H3C CH3

NH2H2N

Cl-

200 300 400 500 600

0

1

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

350.84 MS m/z 315 [M-Cl]

+

MS2

315 300 (13) (-15, CH3)

299 (7) (-16, CH4)

298 (25) (-17, NH3)

238 (6) (-77, C6H5) Malva

Mauveína A: X=CH3, Y=CH3, Z=H, W=H

Mauveína B:

X=CH3, Y=CH3, Z=CH3, W=H

Mauveína C:

X=CH3, Y=CH3, Z=CH3, W=CH3

Mauveína C25a

X=H, Y=CH3, Z=H, W=H

1 – 15.2

2 – 16.1

3 – 17.9

200 300 400 500 600 700

0,000

0,012

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

363.2

377.2

391.2

MS m/z 363 [M]

+

m/z 377 [M]+

MS2

363 346 (35) (-17, NH3)

285 (100) (-78, C6H6)

270 (70) (-93, C6H7N)

377 362 (35) (-15, •CH3)

361 (60) (-16, CH4)

360 (30) (-17, NH3)

299 (100) (-78, C6H6)

284 (75) (-93, C6H7N)

271 (8) (-107, •C7H8N)

530

547

592

Page 79: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A8

Rodamina B

ON

COOH

N

CH3

H3CCH3

CH3

Cl-

200 300 400 500 600 700

0,0

1,6

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

477.04 MS m/z 443 [M]

+

MS2

443 413 (15) (-30, C2H6)

399 (100) (-44, CO2)

385 (5) (-58, C2H6+C2H4)

Antraquinona

Vermelho da Turquia

OH

OH

O

O 200 300 400 500 600

0,0

2,5

Inte

nsity (

a.u

.)

Wavelenght (nm)

240.20 MS m/z 239 [M-H]-

MS2

239 211 (100) (-28, CO)

183 (5) (56, CO+CO)

391 376 (50) (-15, •CH3)

375 (100) (-16, CH4)

374 (5) (-17, NH3)

313 (3) (-78, C6H6)

285 (5) (-107, •C7H8N)

284 (15) (-108, C7H9N)

Xanteno

557

434

Page 80: UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO · Durante cerca de 4000 anos, o Homem usou corantes extraídos de fontes naturais. Mas, a descoberta da malva, por William Henry

A9

Tabela 2: Comentários sobre a rotulagem e origem das amostras.

Identificação Fonte Comentários PJT Morris*

Museu da Ciência 1

ScM1

Museu da Ciência

(1952-175),

anteriormente no

Imperial College

Esta amostra foi proveniente do Imperial

College e tem um rótulo que diz “Malva

Original preparada por Sir William Henry

Perkin em 1856”

Museu da Ciência 2

ScM2

Museu da Ciência

(1947-115/1)

Esta amostra de sal de malva (não

especificada) foi doada ao museu por Miss A

F Perkin in 1947.

Museu da Ciência 3

ScM3

Museu da Ciência

(1947-115/2)

Esta amostra de hidrocloreto de malva foi

doada ao museu por Miss A F Perkin em

1947.

Museu da Ciência 4

ScM4

Museu da Ciência

(1947-115/3)

Esta amostra de acetato de malva foi doada

ao museu por Miss A F Perkin in 1947.

Manchester 1

MS1M1

Museu da Ciência e da

indústria em

Manchester,

antigamente nos

arquivos dos Corantes

ICI, Blackley,

Manchester

Esta amostra foi dada pelo ramo Kirkpatrick

da família Perkin ao ICI e posteriormente

transferida para o museu. Tem um selo da

fábrica quebrado na rolha e parece vir à

partir do trabalho em Greenford Green de

Perkin & Sons. Ele é rotulado de “Crude de

acetato de malva”. Ele foi datado e arquivado

nos Corantes ICI em 1862, mas esta data

pode não estar correta.

Manchester 2

MS1M2

Museu da Ciência e

Indústria em

Manchester

[A] “amostra de malva da coleção Schunck,

apenas rotulado 'malva C27 H24 N4'. A

caligrafia parece-se com outras amostras da

coleção e provavelmente foi escrita por

Schunck ou pelo seu assistente”.

Comunicação pessoal de Jenny Wetton,

então curador da Ciência em Manchester,

10 Maio 2006. Edward Schunck (1820-1903)

foi um investigador químico, independente

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A10

em Manchester que trabalhou principalmente

em corantes naturais.

Columbia

CM

Museu Chandler,

Universidade da

Columbia, Cidade de

Nova York

Esta amostra foi dada ao Professor Charles

Chandler por W. H. Perkin durante a sua

visita a Nova York em outubro de 1906.

Museu Deutsches

DM - Caro

Museu Deutsches, em

Munique (Alemanha)

Esta amostra é conhecida por ter sido

sintetizada por Heinrich Caro, em que no

procedimento de síntese utilizava como

agente oxidante o cloreto de cobre.

*PJTMorris é Investigador Coordenador das “ Collections Unit of the Science Museum, UK”.

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A11

Tabela 3: Selos Postais (35) analisados por HPLC-DAD-MS/MS.

Stanley Gibbons catalogou o número

dado em negrito; para as amostras

nominalmente duplicadas, um subscrito

indica o número da nossa amostra

duplicada

Composto

(comentário)

Datas

Datas da produção genérica são de

um catálogo de Mark

Sargent GB Stamps, Hornchurch,

UK.

http://www.stampsforsale.co.uk/co de/queen_victoria_great_british_st

amps.asp?t=40.

Em alguns casos a data da última

produção está disponível a partir do

carimbo postal, estas datas são

mostradas em itálico

SG 109 Six Pence

Malva

Malva

(Padrão idêntico ao encontrado

nas amostras do Museu da

Ciência)

1867-80

SG 108

Six Pence

Malva

Malva

(Padrão idêntico ao encontrado

nas amostras do Museu da

Ciência)

1867-80

SG107

Six pence Malva

Malva

(Padrão idêntico ao encontrado

nas amostras do Museu da

Ciência)

1867-80

SG 105 Six pence

Malva

Não identificado

1867-80

SG 104

Six pence

Malva

Provavelmente ácido carmínico

1867-80

SG 106

Six pence Malva

Malva

(Padrão idêntico ao encontrado na

amostra Caro, do Museu

Deutsche)

1867-80

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A12

SG 109(2) Six pence

Malva

Malva

(Padrão idêntico ao encontrado

nas amostras do Museu da

Ciência)

1867-80

SG (170-174)(3)

1900 Carimbo Postal 00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-1900

SG (170-174)(9)

1900 Carimbo Postal

00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-1900

SG (170-174)(11) 1900 Carimbo Postal

00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-1900

SG (170-174)(13) 1900 Carimbo Postal

00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-1900

SG (170-174)(19)

1900 Carimbo Postal 00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-98

SG (170-174)(21)

1900 Carimbo Postal

00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-86

SG (170-174)(23)

1900 Carimbo Postal 00 Penny Lilac

Ácido carmínico

1881-1901

SG (170-174)(28) 1900 Carimbo Postal

00 Penny Lilac

Ácido Carmínico

1881-1901

SG (170-174)(29) 1900 Carimbo Postal

00 Penny Lilac

Ácido Carmínico

1881-1901

SG 58

Ácido Carmínico

1847-54

SG 69

Não identificado

1855-57

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A13

SG 83

Não identificado

1862-64

SG 141(1) 2 1/2d. Malva

Placa 5

Não identificado

1873-80

SG 141(2)

2 1/2d. Malva

Placa 9

Não identificado

1873-80

SG 162

Ácido carmínico

1880-83

SG 171(1)

Ácido carmínico

1881

SG 171(2)

--- 1881-85

SG 173

Ácido carmínico

1881-1901

SG 174

Ácido carmínico

1881-1901

SG 159 3d

Ácido carmínico

1880-83

SG 178

Ácido carmínico

1880-84

SG 188

Ácido carmínico

1880-84

SG 197

Não identificado

1887-1900

SG 198

Ácido carmínico

1887-1900

SG 200

Verde

Flavonol

Rutina (O-Rhm-Glc)

(λ max 352 nm,

1887-1900

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A14

[M-H]- m/z 609)

Vermelho

Mistura de dois

Corantes sintéticos

Ponceau 2R (CI 16150)

λ max 514 nm,

[M-H]- m/z 453

MS2 355 (-80, SO3)

302 (-133, C8H9N2)

Orange G (CI 15970)

λ max 514 nm,

[M-H]- m/z 327

MS2 357 (-90, N2+SO2)

207 (-120, C6H5N2O)

SG 201

Mistura de ácido carmínico com

um flavonoide (não identificado)

1887-1900

SG 202

-

1887-1900

SG 210

Ácido carmínico (parte interior

lilás)

1887-1900