Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FCF / FEA / FSP
Programa de Pós-Graduação Interunidades em Nutrição Humana Aplicada – PRONUT
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo
- Pesquisa SABE
Renata Pinotti Alves
São Paulo
2006
Dissertação para obtenção do grau de Mestre
Orientadora: Profª Drª Maria de Fátima Nunes Marucci
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RENATA PINOTTI ALVES
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo - Pesquisa SABE
Comissão Julgadora Dissertação para obtenção do grau de Mestre
Profª Drª Maria de Fátima Nunes Marucci (Orientador/Presidente)
__________________________
Prof. Dr. José Maria Pacheco de Souza
__________________________
Prof. Dr. Sami Liberman
São Paulo, 21 de dezembro de 2006.
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AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª. Drª. Maria de Fátima Nunes Marucci, por
todos os ensinamentos, oportunidades, confiança, apoio, compreensão,
carinho e amizade prestados durante estes anos e, principalmente, pelo meu
amadurecimento profissional e acadêmico.
À Profª. Drª. Ana Gambardela, por ter me apresentado à Profª Fátima,
pela confiança no meu trabalho e indicações,.., enfim, por ter direcionado o
rumo certo que minha vida deveria seguir.
Ao Prof. Dr. José Maria Pacheco de Souza, por sua paciência,
dedicação; carinho e preocupação em me ajudar com as análises estatísticas
da dissertação. “Todas as palavras serão poucas para demonstrar o quão
grata eu sou pela ajuda do senhor. Muito obrigada mesmo”.
À Profª. Drª. Sônia Bungermino de Souza por todo carinho, auxílio e
oportunidade de aprendizado na disciplina Dietoterapia, que foi de grande
valia para minha formação como professora.
À minha família: Papai, Mamãe, Rô e Rafa, que eu amo tanto, por toda
força, por acreditarem e torcerem por mim, enfim, por me amarem sempre,
independente da distância que nos separa. Em especial, pela ajuda da minha
mãezinha na configuração da dissertação.
Às minhas queridas estagiárias: Líria, Regicely Aline, Roseane, Lívia,
Silvana e Mariana e ao querido Benê, pela ajuda e “socorro” na Secretaria,
para que eu pudesse cumprir os créditos, ir às reuniões, por tudo!!! Graças a
vocês eu consegui terminar a dissertação!!
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Às minhas amigas, que sempre estiveram do meu lado, mesmo nos
dias mais chatos, em especial:
� À Tatiana, que está sempre ao meu lado, incentivando e apoiando!
� À Mônica, que cumpriu quase todos os créditos comigo, me ajudou em
tudo na dissertação, me avisando sobre os prazos e burocracias afins,
me salvou tantas vezes! “Ai, que saudade dos momentos de café com
chocolate”.
� À Karina, que praticamente virou minha motorista quando eu quebrei o
pé e tinha aula no Campus, buscou documentos para mim no Campus,
sempre do lado me ajudando no que precisava.
� À Mariana, amiga desde o 1º dia de aula na faculdade, sempre me
ajudando com artigos, aulas, sempre me socorrendo.
� À Andréa Latterza e Vera Lúcia de Salvo, que ouviram meus gritos de
socorro e meus surtos de “não vou dar conta”, sempre me acalmando
e me dando forças para continuar.
A todos que, direta ou indiretamente, me ajudaram a atravessar mais
uma importante e difícil fase da minha vida e estão ao meu lado neste
momento, compartilhando mais uma conquista!
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“Dedico esta dissertação aos velhinhos
da minha vida, meus avós queridos”.
(para os que aqui estão e para os que,
infelizmente, já se foram).
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“Curar quando possível, aliviar quase sempre, consolar sempre” “Faz do alimento seu remédio”.
Hipocrates
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RESUMO
Alves, R P. Prevalência de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo - Pesquisa SABE [dissertação de mestrado]. São Paulo: Programa de Nutrição Humana Aplicada – PRONUT – FCF/FEA/FSP da USP; 2006. Orientadora: Profª Drª Maria de Fátima Nunes Marucci Endereço eletrônico: [email protected] Objetivo: Verificar a prevalência de desnutrição e risco de desnutrição em idosos não institucionalizados. Casuística: Idosos (> 60 anos), de ambos os sexos, residentes na área urbana do município de São Paulo (Brasil), que participaram da Pesquisa Saúde, Bem Estar e Envelhecimento (SABE), 2000. Método: a desnutrição foi diagnosticada a partir da Mini Avaliação Nutricional® (MAN), foi aplicado teste de regressão linear ordenada e logística ordenada. Resultados: A amostra foi de 1788 indivíduos, que representaram população de 699.392 idosos. Destes, 2,2% (n=15.600) apresentaram desnutrição e 23,1% (n=161.511) com risco de desnutrição. Houve aumento significativo desta prevalência (P<0,05) em idosos mais velhos, atingindo percentual de 6,6% nas mulheres e 3,9% nos homens acima de 80 anos. Não houve correlação significativa entre desnutrição e sexo (P>0,05). Conclusão: A prevalência de desnutrição foi baixa, dentro do esperado para idosos não institucionalizados (2,2%) e a prevalência de risco de desnutrição foi de 23,1%. O aumento da idade é um fator de risco para desnutrição. Palavras-chave: Desnutrição, idosos, Mini Avaliação Nutricional.
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ABSTRACT Alves, R P. Prevalence of malnutrition and of risk of malnutrition in no institutionalized elderly that sheltered in São Paulo´s city (Brazil)- SABE Research [master thesis]. São Paulo: Human Applied Nutrition Program being - PRONUT - FCF/FEA/FSP from USP; 2006. Instructors: Prof. Drª. Maria de Fatima Nunes Marucci Electronic address: [email protected] Objective: To Verify the prevalence of malnutrition and of risk of malnutrition in no institutionalized elderly. Casuistic: elderly (> 60 years), of both genders, sheltered in the urban area of São Paulo’s City (Brazil), who had participated of the Survey on Aging, Health, Wellbeing (SABE), 2000. Method: The malnutrition and the risk of malnutrition were detected from the Mini Nutritional Assessment® (MAN), and utilized the ordered liner and ordered logistic regression test. Results: The sample was of 1788 persons that had represented the population of 699.392 aged ones. Of these, 2.2% (n=15.600) had presented malnutrition and 23.1% (n=161.511) with risk of malnutrition. It had considerable increase in this prevalence (p < 0,05) in older aged, achieving the percent level of 6,6% in women and 3.9% in men over than 80 years. It did not have noteworthy association between malnutrition and gender (p>0,05). Conclusion: The malnutrition prevalence was low, according to the research expectations to no institutionalized elderly (2,2%) and the prevalence of risk of malnutrition (23,1%). The age is a factor of risk to malnutrition. Keywork: Malnutrition, elderly, Mini Nutritional Assessment.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................... 11
1.1 O envelhecimento populacional .......................................... 11
1.2 O processo de envelhecimento humano ........................... 13
1.3 Desnutrição e envelhecimento............................................. 15
1.3.1 Etiologia da desnutrição em idosos.............................................. 16
1.3.2 Epidemiologia da desnutrição em idosos..................................... 19
1.4 Mini Avaliação Nutricional (MAN)® ........................................ 23
2. HIPÓTESE ................................................................................................ 29
3. OBJETIVOS............................................................................................... 30
4. MÉTODOS................................................................................................. 31
4.1 Delineamento do estudo........................................................... 31
4.2 População de estudo e amostragem.................................. 32
4.3 Variáveis do estudo................................................................... 33
4.3.1 Variáveis explanatórias................................................................ 33
4.3.2 Variável dependente.................................................................... 33
4.3.2.1 Avaliação do estado nutricional....................................... 33
4.4 Análise estatística..................................................................... 43
5. RESULTADOS........................................................................................... 44
6. DISCUSSÃO.............................................................................................. 51
7. CONCLUSÃO............................................................................................ 61
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 62
ANEXOS 70
ANEXO 1 – Aprovação da pesquisa SABE pela CONEP e CEP/FSP/USP 01
ANEXO 2 – Aprovação do projeto de pesquisa pela CEP/FCF/USP 04
ANEXO 3 - Solicitação do uso do banco de dados da Pesquisa SABE 06
ANEXO 4 – Informações aos membros da banca 08
ANEXO 5 – Ficha do aluno 10
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Mini Nutritional Assessment (MNA®). 35
Quadro 2 – Questões do banco de dados da Pesquisa SABE, correspondestes às questões da MAN®.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição da amostra do estudo, segundo sexo e grupo etário.
44
Tabela 2 – Distribuição da população de estudo, segundo sexo e grupo etário.
45
Tabela 3 – Distribuição da população,segundo diagnóstico nutricional.
46
Tabela 4 – Prevalência de idosos desnutridos, com risco de desnutrição e sem risco de desnutrição, segundo sexo e grupo etário.
47
Tabela 5 – Análise de regressão múltipla logística ordenada das três categorias do diagnóstico nutricional, segundo sexo e grupo etário.
48
Tabela 6 – Análise de regressão logística das duas categorias de diagnóstico nutricional, segundo sexo e grupo etário.
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LISTA DE FIGURA
Gráfico 1 - Prevalência de desnutrição em idosos, de diferentes cenários, segundo países desenvolvidos.
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Gráfico 2 – Prevalência de idosos desnutridos e com risco de desnutrição, segundo sexo e grupo etário
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LISTA DE SIGLAS
AMB Área Muscular do Braço
DNT Desnutrição
IMC Índice de Massa Corporal
MAN® Mini Avaliação Nutricional
PNSN Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição
RDNT Risco de desnutrição
S/RDNT Sem risco de desnutrição
SABE Pesquisa Saúde, Bem Estar e Envelhecimento
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1. INTRODUÇÃO
1.1 O envelhecimento populacional
O envelhecimento populacional, caracterizado pelo aumento de
indivíduos idosos na população total, tanto em números absolutos
quanto em números relativos, é hoje uma realidade, não apenas
dos países desenvolvidos, mas do mundo todo (SILVA, 2000; PALLONI e
PELÁEZ, 2003).
São considerados idosos indivíduos com 65 e mais nos países
desenvolvidos e com 60 anos e mais nos países em desenvolvimento, entre
eles o Brasil (BRASIL, 1994; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Segundo os resultados da amostra do Censo Demográfico feito pelo
IBGE, em 1996, havia 836.223 idosos no município de São Paulo,
correspondendo a 8,1% da população. No ano 2000, o percentual de idosos
aumentou para 8,9% da população, o que equivale em números absolutos, a
973.007 idosos.
Espera-se que a fração da população com 60 anos e mais, em alguns
países da América Latina, aumente acentuadamente e se aproxime dos
valores alcançados pelos Estados Unidos e Japão (PALLONI e PELÁEZ,
2003). A projeção para 2025 é que o Brasil possuirá cerca de 32 milhões de
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idosos, o que o caracterizará como o sexto país do mundo com o maior
número de idosos (KALACHE e col., 1987; FLORENTINO, 2002).
Entretanto, nos países desenvolvidos, este processo se deu de forma
lenta e gradativa. Já nos países em desenvolvimento, a velocidade de
envelhecimento populacional está surpreendentemente acelerada. Esta
brusca transição demográfica deve-se à queda nos coeficientes de
fecundidade e de mortalidade concentrada em poucos anos, concomitante à
introdução de métodos de controle da natalidade; melhoria nas condições de
vida (alimentação, moradia) e evolução tecnológica e científica, propiciando
diagnósticos e tratamentos mais precoces (PALLONI e PELÁEZ, 2003;
WALDMAN, 2000).
Estes fatores contribuíram para o aumento da esperança de vida e
mudança na estrutura etária da população, ilustrada atualmente no Brasil
pela pirâmide populacional de base estreita, alargando-se para o topo
(MARUCCI e PINOTTI, 2006).
A transição demográfica presenciada atualmente não influenciou
apenas a estrutura etária da população, como também levou a uma mudança
no perfil de morbi-mortalidade, ou seja, à transição epidemiológica. Em 1950,
as principais causas de morte na população eram as doenças infecciosas e
parasitárias (40%). Hoje, são as doenças crônicas não transmissíveis
(doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer) que
predominam, correspondendo atualmente a 30%, sendo que, em 1950,
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representavam apenas 12% da taxa de mortalidade nesta população
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002).
Além disso, como há um excedente de mortalidade nos homens com
relação às mulheres, em todas as idades, o aumento da expectativa de
vida também favoreceu a predominância do sexo feminino dentre os
idosos. De acordo com a pesquisa SABE (Saúde, Bem-Estar e
Envelhecimento), realizada no município de São Paulo em 2000, o número
de mulheres acima de 60 anos é maior do que de homens, correspondendo
a 58,6% e 41,4% da população, respectivamente (LEBRÃO, 2003).
Considerando que o processo de envelhecimento tem repercussões
diretas nos setores sociais, econômicos, políticos, de assistência e serviços
de saúde, o grande desafio é saber como lidar com tal situação, uma vez que
tanto a população como os órgãos públicos nunca estiveram preparados para
isto.
1.2 O processo de envelhecimento humano
O envelhecimento humano é considerado um processo natural,
dinâmico, progressivo e irreversível, em que ocorrem alterações
morfológicas, bioquímicas, fisiológicas, comportamentais e psicossociais
(PAPALÉO NETTO e BORGONOVI, 2002).
Tais alterações acarretam perdas progressivas da capacidade de
adaptação ao meio ambiente e prejuízo na forma de se alimentar, tornando o
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idoso mais vulnerável e propício a desenvolver má nutrição e processos
patológicos (PAPALÉO NETTO e BORGONOVI, 2002; FLORENTINO, 2002).
Segundo Jacob Filho e Souza (1994) é preciso ter um aprofundado
conhecimento das alterações decorrentes do envelhecimento e dos fatores a
que estes indivíduos estão vulneráveis para a prevenção de dois tipos de
vícios de interpretação, que infelizmente são muito comuns:
1. considerar, erroneamente, todas as alterações encontradas no
idoso como processo natural de envelhecimento, prejudicando o diagnóstico
de enfermidades passíveis de tratamento e/ou cura;
2. diagnosticar de forma equivocada doenças a partir dos sinais e
sintomas decorrentes das alterações fisiológicas do processo de
envelhecimento, levando profissionais da saúde a tratarem o envelhecimento
como uma enfermidade.
Löwik e col. (1989) e Westenbrink e col. (1989) citam que pessoas
idosas são mais vulneráveis à desnutrição.
As alterações decorrentes do envelhecimento, como diminuição da
independência, mudanças no estilo de vida e nas condições sócio-
econômicas, alterações orgânicas e fisiológicas, presença de enfermidades
influenciam diretamente o estado nutricional do idoso, caracterizando-o como
um segmento da população com características peculiares no que diz
respeito à ingestão de alimentos e absorção de nutrientes, diagnóstico
nutricional e resposta à terapia dietética (PAPALÉO NETTO e BORGONOVI,
2002; SILVA, 2000).
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1.3 Desnutrição e envelhecimento
Diferentes estudos, em diferentes países, vêm mostrando a elevada
prevalência de distúrbio nutricional na população idosa, em que a desnutrição
e o excesso de peso predominam sobre os indivíduos com peso adequado
(AMERICAN ACADEMY OF FAMILY PHYSICIANS, THE AMERICAN
DIETETIC ASSOCIATION e NATIONAL COUNCIL ON THE AGING,
Inc.,1994).
Caldwell e col. (1981) definem desnutrição como “um estado mórbido
secundário a uma deficiência, relativa ou absoluta, de um ou mais nutrientes
essenciais, que se manifesta clinicamente ou é detectado por meio de testes
bioquímicos, antropométricos e topográficos ou fisiológicos”.
Em idosos, a desnutrição, quando avançada, pode apresentar-se na
forma de sarcopenia, caracterizada pela perda involuntária de massa
muscular, que está associada à diminuição da força muscular,
comprometimento da capacidade funcional e, consequentemente, da
independência (LAURETANI e col., 2003; ROLLAND e col., 2003).
Entretanto, frequentemente, a desnutrição não é diagnosticada neste
grupo etário, pois é mascarada pelos fatores decorrentes do envelhecimento.
Outro fator que caracteriza tal realidade é a ausência ou baixa qualidade na
utilização de métodos diagnósticos e registros de diagnóstico do estado
nutricional nos serviços de saúde do país (WAITZBERG e col., 1999; SILVA
2000; OTERO e col., 2002).
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1.3.1 Etiologia da desnutrição em idosos
Denominam-se fatores de risco para o pobre estado nutricional as
situações que estão associadas ao aumento da probabilidade de desnutrição
ou de outro tipo de má nutrição, como: presença de doenças agudas ou
crônicas, ingestão alimentar inadequada, pobreza,
dependência/incapacidade, uso crônico de medicamentos (AMERICAN
ACADEMY OF FAMILY PHYSICIANS, THE AMERICAN DIETETIC
ASSOCIATION e NATIONAL COUNCIL ON THE AGING, Inc.,1994).
O próprio processo de envelhecimento humano pode acarretar
alterações fisiológicas, morfológicas, socioeconômicas, culturais e
psicológicas que favorecem a perda de peso e, conseqüentemente, a
desnutrição (WHITE, 1994; BATES e col., 2002).
A mudança na composição corporal, caracterizada pela redução de
massa magra (água, tecido ósseo, tecido muscular) e de massa adiposa
inicia-se a partir da terceira década de vida, podendo chegar a uma perda de
0,3kg/ano, o que pode predispor a uma desnutrição protéica e até sarcopenia
(WHO, 1995; MORIGUTI e col., 2001, ACUÑA e CRUZ, 2004). Segundo
Bates e col. (2002), a redução de massa magra é acentuada após os
70 anos, podendo diminuir até 40%, quando comparado a um adulto jovem
(5kg nas mulheres e 12kg nos homens).
A diminuição da acuidade do olfato; da gustação, caracterizada pela
redução da sensibilidade por gostos primários (doce, amargo, ácido e
salgado); xerostomia, dificuldade de mastigação, devido à ausência de
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dentes, próteses inadequadas, gengivites, são alterações comumente
presenciadas no idoso e acarretam prejuízos na quantidade e na qualidade
dos alimentos ingeridos (BATES e col., 2002; SILVA, 2005).
Algumas situações, como a perda do cônjuge, morar sozinho ou estar
institucionalizado, a sensação de abandono, diminuição da mobilidade e
independência, a perda do papel social diante da sociedade com a vigência
da aposentadoria, os constantes conflitos e quadros de depressão e
demência, normalmente levam o idoso à solidão e ao isolamento social,
acarretando desinteresse nas atividades diárias, dentre elas a de
preparar refeições variadas e até de se alimentar (FLORENTINO, 2002;
SCATTOLIN e col., 2005).
A presença de doenças aguda ou crônica também afeta o estado
nutricional, seja pela necessidade de restrição dietética, pela alteração nas
necessidades diárias, ou por alterarem os processos metabólicos de
digestão, absorção e excreção de nutrientes. Concomitante à presença de
enfermidades, há a necessidade de medicação, que neste grupo etário
geralmente é elevada. A interação entre drogas, drogas e nutrientes e efeitos
colaterais (como xerostomia, anorexia) podem prejudicar a digestão de
alimentos e absorção de nutrientes, debilitando ainda mais o estado
nutricional (ALENCAR e CURIATI, 1994, MARUCCI e GOMES, 1997,
MARUCCI e col,, 2007; BATES e col., 2002).
Os resultados de um inquérito domiciliar publicados em 1993,
realizado com 1.602 idosos, residentes no distrito de São Paulo, mostraram
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que 86% da população apresentaram pelo menos um tipo de doença
crônica (RAMOS e col., 1993).
O custo despendido com o tratamento de indivíduos com doenças
é alto e onera o serviço público e o orçamento familiar, uma vez que o
serviço púbico de saúde nem sempre consegue atender a todos os que
dele necessitam. Considerando que grande parte dos idosos possui uma
baixa renda orçamentária, em decorrência dos insuficientes recursos
econômicos provenientes de aposentadorias e/ou pensões, os custos com
o tratamento das pessoas doentes acabam sendo priorizados, prejudicando a
aquisição de alimentos (MARUCCI 1998; 2000).
A estimativa média é que mais de 15% dos idosos apresentam
alimentação diária, cujo valor calórico é inferior a 1.000 kcal/dia,
aumentando esta porcentagem entre as populações menos favorecidas
economicamente. Além da diminuição na quantidade calórica, como os
idosos tendem a consumir alimentos de menor custo e mais fácil
preparo, como pães, bolachas, normalmente fontes de carboidrato, a
oferta de alimentos mais caros, como carnes e laticínios, acaba ficando
prejudicada, contribuindo para a monotonia da alimentação, deficiência
de alguns nutrientes (proteínas, cálcio, ferro, vitamina B12) e,
conseqüentemente, para a deficiência nutricional (MARUCCI, 1998; 2000;
CAMPOS e col., 2000).
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1.3.2 Epidemiologia da desnutrição em idosos
No início da década de 90, a freqüência de baixo peso em idosos era
de 20,75% em homens e 17% das mulheres, o que representava em
números absolutos 1,3 milhões de idosos com baixo peso no Brasil. Os
idosos de baixa renda eram os mais atingidos, visto que, à medida que
aumentava a renda per capita, reduzia o percentual de baixo peso (CAMPOS
e col., 2000).
A Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), realizada em
1989 para verificar as condições nutricionais da população brasileira, mostrou
que a prevalência de desnutrição em idosos ( >65 anos), diagnosticada
através do IMC < 20 kg/m², foi de 16,75% nos homens e 13,37% nas
mulheres (COUTINHO e col., 1991).
Tavares e Anjos (1999) avaliaram os dados da PNSN com outros
pontos de corte de IMC (<18,5 kg/m²) e verificaram que a prevalência de
magreza nesta população foi de 7,8% nos homens e 8,4% nas mulheres.
Os resultados de estudo realizado por Landi e col. (1999), com idosos
vivendo no domicílio, na cidade de Rovereto na Itália, no período de 1994 a
1996, mostraram que 33,3 % da população apresentavam desnutrição (IMC <
22kg/m²).
DELACORTE e col. (2004) realizaram estudo para avaliar o estado
nutricional de idosos, vivendo no domicílio, na cidade de Ribeirão Preto,
localizada no estado de São Paulo, Brasil. Os resultados mostraram que,
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dos 42 idosos avaliados, 13 apresentaram risco de desnutrição e 9 estavam
desnutridos, usando a Mini Avaliação Nutricional®.
GUIGOZ e VELLAS (1999) verificaram que, em diferentes países da
Europa e nos EUA, a desnutrição prevaleceu nos idosos hospitalizados e
institucionalizados aos não institucionalizados, como mostra o gráfico 1.
Gráfico 1. Prevalência de desnutrição em idosos, de diferentes cenários, segundo países desenvolvidos.
Legenda: RU = Reino Unido; Fr = França, Hol = Holanda; Sue = Suécia; Sui = Suiça; Ale = Alemanha; EUA = Estados Unidos da América. Fonte: Guigoz e Vellas, 1999.
A desnutrição é característica marcante de anciãos internados,
institucionalizados e/ou que moram sozinhos (GUIGOZ e VELLAS,1999).
Segundo VELLAS e col. (2001), a desnutrição em pacientes idosos
hospitalizados, institucionalizados e/ou sob cuidados de algum sistema de
atendimento domiciliar, apresenta uma prevalência de 30-60%, enquanto
em idosos não institucionalizados a prevalência é de 5-10%.
0102030405060708090
Hol1992
Sue1992
Fr1992
RU1972
RU1979
Ale1992
Sue1992
Fr1990
Sui1985
EUA1989
EUA1990
EUA1992
Não Institucionalizados Hospitalizados Institucionalizados
2-7%
22-59% 30 – 85%
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Scattolin e col. (2005) avaliaram o estado nutricional de idosos
internados na enfermaria do Hospital Leonor Mendes de Barros – Conjunto
Hospitalar de Sorocaba, São Paulo, Brasil, por meio da Mini Avaliação
Nutricional® . Os resultados mostraram que, dos 51 pacientes avaliados,
25% apresentaram desnutrição, 44%, risco de desnutrição e apenas 31% não
apresentavam risco de desnutrição.
No Brasil, foi realizado pela Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e
Parenteral o Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar
(IBRANUTRI), estudo epidemiológico, transversal, que avaliou o estado
nutricional de 4.000 pacientes adultos e idosos, internados na rede pública
hospitalar de 12 estados brasileiros e Distrito Federal, entre 1° de maio e 15
de novembro de 1996 (WAITZBERG e col., 1999). O método de avaliação
nutricional usado neste estudo foi a Avaliação Nutricional Subjetiva. Os
resultados mostraram que 48,1% dos pacientes doentes internados eram
desnutridos e a porcentagem de pacientes desnutridos aumentava,
progressivamente, com o tempo de internação; 81,2% dos pacientes não
tinham qualquer referência de estado nutricional registrada em prontuário,
sendo que havia balança a menos de 50 m de distância do leito dos
pacientes; os indivíduos desnutridos apresentavam tempo maior de
internação (13 dias) do que os não desnutridos (6 dias) (WAITZBERG e col.,
1999).
Os resultados do IBRANUTRI enfatizam o que também foi verificado
por outros autores, que um estado nutricional deficiente está associado
diretamente a um pior prognóstico clínico, maior susceptibilidade a infecções,
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
22
maior incidência de morbi-mortalidade, maior tempo de internação e redução
da qualidade de vida (CHUMLEA e col., 1998; SILVA, 2000; SHINTAKU
2003).
Otero e col. (2002) realizaram estudo para verificar a incidência de
mortalidade em idosos por desnutrição no Brasil, de 1980-1997. Os
resultados mostraram que ocorreram 36.955 óbitos por desnutrição em
idosos no país neste período, sendo que 64,9% do total (23.968) foram na
região Sudeste.
Landi e col. (1999) verificaram associação entre taxa de mortalidade e
IMC em idosos italianos não institucionalizados. Os resultados mostraram
que idosos com IMC < que 22 kg/m² apresentavam maior risco de morrer
(IMCxtaxa de mortalidade:>27kg/m²=4%; 22-27kg/m²=6,5%; <22kg/m²=22%).
A melhor forma de prevenir as complicações decorrentes da
desnutrição é prevenindo-a e/ou tratando-a precocemente, antes que o idoso
seja hospitalizado, institucionalizado ou acometido por outra enfermidade.
Para isto, a implantação de métodos eficazes que permitam a avaliação e
diagnóstico nutricional destes pacientes se faz cada vez mais necessária.
Dentre os métodos de avaliação do estado nutricional que existem
atualmente, a Mini Avaliação Nutricional (MAN®) e a Avaliação Subjetiva
Global (ASG) são considerados métodos rápidos, práticos, não invasivos e
eficazes. Entretanto, a ASG não é específica para idosos, sendo usada em
pacientes hospitalizados de uma maneira geral (MARUCCI e col., 2007). Já a
MAN® é específica para este grupo etário, pois aborda os principais
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
23
indicadores de risco de desnutrição comuns em idosos (VELLAS e col. 1998;
BARONE e col., 2003).
1.4 MINI AVALIAÇÃO NUTRICIONAL (MAN) ®
A MAN® é um método de avaliação nutricional, desenvolvido por
pesquisadores franceses, americanos e suíços com o objetivo de
diagnosticar a desnutrição e o risco de desnutrição em idosos de forma
precoce e favorecer a intervenção quando necessária (GUIGOZ e col., 1996).
A validação e a validação cruzada deste método foram decorrentes de
um conjunto de pesquisas, realizadas nos departamentos de medicina interna
e gerontologia clínica do Hospital Universitário de Toulouse, França; do
programa de nutrição clínica da Faculdade do Novo México, EUA, e do
Centro de Pesquisa Nestlé em Lausanne, Suíça. Foram realizados 3 estudos
sucessivos, com mais de 600 idosos, incluindo indivíduos saudáveis e ativos,
frágeis, restritos ao lar ou internados (GUIGOZ e col., 1996).
O primeiro estudo foi realizado no ano de 1991 em Toulouse (França)
com o objetivo de testar a MAN® em 155 idosos. O segundo estudo, também
realizado em Toulouse, em 1993, teve o objetivo de validar e avaliar o
potencial discriminatório da MAN® com 120 idosos saudáveis e frágeis. Os
resultados destes estudos mostraram que 70 a 75% dos indivíduos
poderiam ser diretamente classificados como desnutridos ou não
desnutridos pela MAN®, sem a necessidade de exames bioquímicos. O
terceiro estudo foi realizado em Albuquerque (Novo México), em 1993, com o
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
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24
objetivo de avaliar a MAN® em uma população saudável e não
institucionalizada e também validá-la num contexto de cultura diferente
(GUIGOZ e col., 1996; VELLAS e col., 1999).
A MAN® é constituída por 18 questões divididas em 4 seções:
(1) avaliação antropométrica;
(2) avaliação global;
(3) avaliação dietética;
(4) avaliação subjetiva.
Cada pergunta recebe uma pontuação, totalizando 30 pontos. Os
indivíduos com pontuação ≥24, são considerados sem risco de desnutrição;
entre 17 e 23,5 pontos, com risco de desnutrição e <17 pontos
como desnutridos (GUIGOZ e col., 1996; VELLAS e col., 1999).
As questões abordadas na MAN® são consideradas indicadores de
desnutrição em idosos, pois além de serem alterações normalmente
encontradas em idosos desnutridos, elas apresentam correlação direta com
os fatores de risco para o pobre estado nutricional (AMERICAN ACADEMY
OF FAMILY PHYSICIANS, THE AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION e
NATIONAL COUNCIL ON THE AGING, Inc., 1994).
Vários estudos realizados com idosos de diferentes locais
(hospitalizados, institucionalizados, em suas casas, em clínicas) e diferentes
países (Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Irlanda, Itália, Polônia, Espanha,
Suécia, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos), também apresentaram
resultados satisfatórios com relação à sensibilidade e especificidade da
MAN® quando comparada com métodos objetivos de avaliação do estado
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
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25
nutricional, como com um conjunto de variáveis antropométricas e
bioquímicas, com métodos subjetivos e com métodos que auxiliam na
avaliação do risco para desnutrição como o Mini Mental Status Exam (MMSE)
e as Activies of Daily Living (ADL) (GUIGOZ e col., 1996; VELLAS e col.,
1999). No Brasil, FERREIRA (2005) verificou, em seu estudo com idosos
institucionalizados de Guaratinguetá, São Paulo, Brasil, que a MAN®
apresenta boa sensibilidade (84%), mas baixa especificidade (36%).
Segundo Guigoz e col. (1996), os estudos realizados para validação
da MAN® verificaram que ela apresenta uma boa correlação com
indicadores objetivos do estado nutricional (variáveis antropométricas e
bioquímicas). Foi verificado por Vellas e col. (1999) que indivíduos com
pontuação menor que 17 também apresentavam valor de IMC e albumina
inferior ao valor de referência para indivíduos não desnutridos. Por esta
razão, estes autores consideram possível classificar idosos com pontuação
<17 com desnutrição protéico-calórica.
Como a MAN® avalia uma série de fatores biopsicossociais
decorrentes do processo de envelhecimento, os quais são considerados
fatores de risco nutricional para esta população, não verificando
apenas as variáveis antropométricas, ela pode sinalizar precocemente o
risco de desnutrição, antes mesmo de haver alguma alteração de peso ou
composição corporal (GUIGOZ e col., 1996; VELLAS e col., 1999,
KONDRUP e col., 2002).
Alguns estudos também têm usado o IMC como indicador de avaliação
do estado nutricional de idosos. Entretanto, os pontos de corte de IMC
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
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26
sugerido pela WHO, 1995 e 2000, para peso adequado (18,5-24,9 kg/m²) não
é considerado ideal para a população idosa, uma vez que maiores reservas
de gordura seriam consideradas fator protetor, garantindo maior expectativa
de vida ao idoso. A American Academy of Family Physicians, The American
Dietetic Association e National Council on the Aging Inc. (1994) sugerem
que os pontos de corte de IMC para classificação de peso adequado
nesta população sejam entre 22 e 27 kg/m². Já a Organização Pan-America
de Saúde (OPAS) (2002), utilizou valores entre 23 e 28 kg/m² na
pesquisa SABE.
Estudo realizado na Suécia, por SALETTI e col. (2000), avaliou o risco
de desnutrição e desnutrição em 872 idosos institucionalizados através da
MAN e do IMC, durante o ano de 1992. Foi verificado que 71% da
população estudada apresentaram desnutrição pela MAN (<17 pontos),
enquanto apenas 33% dos idosos foram classificados como desnutridos
segundo o IMC ( <20 kg/m²). Entretanto, estes autores verificaram que,
agrupando-se os indivíduos que apresentaram IMC < que 23 kg/m², a
prevalência de desnutrição foi de 70%, ou seja, valor similar à porcentagem
de idosos com pontuação <17 pela MAN (71%), obtendo a mesma proporção
de desnutridos por ambos os métodos.
Bleda e col. (2002), após estudo realizado em Barcelona, Espanha,
Europa, com 67 pacientes idosos, em que foi feita avaliação nutricional
destes indivíduos através da MAN por 2 enfermeiras treinadas, verificaram
que este método além de prático e rápido, também apresentou boa
reprodutibilidade.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
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Com relação à execução da MAN, na grande totalidade dos estudos
realizados, os autores referenciam-na como sendo um método sistemático,
objetivo, rápido (cerca de 10-15 minutos para preenchimento), relativamente
fácil, não invasivo, além de não requerer um especialista em nutrição para
realizá-la e dispensar a necessidade de realização de exames bioquímicos,
tornando-a também mais barata que outros métodos (GARRY e VELLAS
1999; VELLAS e col., 1999; GUIGOZ e col., 1996; BLEDA e col., 2002).
Entretanto, Ferreira (2005) verificou em seu estudo com idosos
institucionalizados na cidade de Guaratinguetá, São Paulo, Brasil, que a
MAN® não pode ser realizada por profissionais de qualquer formação, uma
vez que possui questões de competência específica de algumas áreas da
saúde, como aferição de medidas antropométricas e inquérito sobre hábitos
alimentares, e a utilização da MAN por profissionais não aptos pode
comprometer o resultado final. A autora também observou que o tempo
despendido para a realização da MAN® é maior que o citado por outros
autores (10-15 minutos), devido à complexidade das questões e à dificuldade
de se abordar o idoso, principalmente em casos de demência, em que é
necessário um cuidador para responder às questões. Com relação à
avaliação do estado cognitivo do idoso, Ferreira (2005) recomenda que seja
feito a partir de métodos de triagem específicos, como o Mini Mental Status
Exam (MMES).
A MAN® é um bom método de avaliação da desnutrição e risco de
desnutrição precoce, pois ela também aponta quais são os fatores
determinantes da desnutrição, sinalizando onde deverá ser realizada a
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intervenção nutricional, favorecendo a reversão do quadro de forma precoce
(VELLAS e col., 1998; GARRY e VELLAS, 1999).
Além disso, a MAN também pode ser utilizada na determinação de
diretrizes para o tratamento dietético deste grupo etário, como citado por
Garry e Vellas (1999).
Segundo Murphy e col. (2000), a prevalência de desnutrição em idosos
não institucionalizados é baixa. Apesar de as alterações biopsicossociais,
decorrentes do processo de envelhecimento, serem consideradas fatores de
risco para desnutrição, espera-se que idosos não institucionalizados
apresentem melhores condições de saúde, maior ingestão de alimentos e
menor exposição a tais fatores de risco, consequentemente, menor
prevalência de desnutrição do que idosos institucionalizados como verificado
por Guigoz e Vellas (1998) e Löwik e col. (1992).
Entretanto, no Brasil, não existem estudos utilizando amostra
representativa da população, sobre a prevalência de desnutrição em idosos
não institucionalizados. Coutinho e col (1991) e Tavares e Anjos (1999)
publicaram trabalhos sobre o estado nutricional de adultos e idosos no Brasil,
porém os dados destes estudos são provenientes da Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição (PNSN), coletados em 1989.
Por esta razão, faz-se necessária a realização de estudos que
mensurem a prevalência de desnutrição em idosos uma vez que possibilitam
o tratamento precoce, a prevenção de maiores agravos à saúde, além de
direcionar programas e políticas públicas destinadas à promoção da saúde e
prevenção de doenças neste grupo etário.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
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2. HIPÓTESE
As prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não
institucionalizados são baixas.
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3. OBJETIVO
Estimar as prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em
idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo,
segundo sexo e grupo etário.
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4. MÉTODOS
4.1 Delineamento do estudo
Para este trabalho foi utilizado o banco de dados da Pesquisa SABE,
que é um estudo epidemiológico, transversal, multicêntrico, de base
populacional (LEBRÃO e DUARTE, 2003) .
A pesquisa SABE (PELÁEZ e col., 2003) foi realizada em sete países
da América Latina (Argentina, Barbados, Cuba, Uruguai, Chile, México e
Brasil) e Caribe, com idosos não institucionalizados. Os métodos utilizados
pelos entrevistadores foram padronizados em todos os locais em que a
pesquisa foi realizada, sendo utilizado um questionário multidimensional
[http://www.fsp.usp.br/sabe].
No Brasil, a pesquisa foi realizada no município de São Paulo,
coordenada por docentes da Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo.
A pesquisa SABE foi aprovada pela CONEP e o pelo Comitê de Ética
da Faculdade de Saúde Pública da USP, e financiada pela FAPESP,
processo nº 99/05/25-7, Ministério da Saúde e OPAS (Anexo 1).
Para a realização deste trabalho, o projeto foi encaminhado e
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências
Farmacêuticas da USP, protocolo CEP nº 342 (Anexo 2).
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4.2 População de estudo e amostragem
A população estudada foi constituída por indivíduos com 60 anos e
mais, de ambos os sexos, residentes em domicílio na área urbana do
município de São Paulo no ano 2000, que concordaram em participar da
Pesquisa sobre Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), organizada
pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) (SILVA, 2003).
O trabalho de campo para a coleta de dados foi realizado no período
de janeiro de 2000 a março de 2001 (SILVA, 2003).
De acordo com o recenseamento realizado pela Fundação do IBGE,
em 1996, o número de idosos na cidade de São Paulo era de 836.223,
correspondendo a 8,1% da população. Com base neste dado, para atender
ao plano de análise estatística, o tamanho inicial da amostra seria de 1.500
idosos, distribuídos segundo sexo e grupo etário. Entretanto, esta amostra foi
ampliada para a população acima de 75 anos, devido à baixa densidade na
população deste grupo etário, e a amostra do sexo masculino foi ajustada
para um número igual ao sexo feminino, devido ao excesso de mortalidade
entre os homens (SILVA, 2003).
Por esta razão, a amostra final, constituída por 2.143 idosos foi
composta por dois segmentos (SILVA, 2003):
(1) Amostra probabilística (1568 entrevistas), resultante de sorteio;
(2) 575 entrevistas a partir de composição livre para os grupos
ampliados.
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Dos 2.143 idosos entrevistados, 1.893 realizaram a avaliação
antropométrica, apresentando 11,7% de perdas (NAZÁRIO, 2003). Este é um
dado relevante para este trabalho, uma vez que, para a avaliação do estado
nutricional, serão necessários dados sobre peso e estatura, para o cálculo do
IMC, circunferência do braço e da panturrilha.
4.3 Variáveis do estudo
4.3.1 Variáveis explanatórias
� Sexo;
� Grupo etário (60 a 69,9 anos; 70 a 79,9 anos e > 80 anos).
4.3.2 Variável dependente
� Estado Nutricional (desnutrido, com risco de desnutrição e sem risco
de desnutrição).
4.3.2.1 Avaliação do estado nutricional
Para a avaliação da desnutrição e do risco de desnutrição da
população estudada foi utilizada a Mini Avaliação Nutricional (MAN®).
Segundo Guigoz e col. (1996), a MAN® (Quadro 1) é constituída por 18
questões, divididas em 4 seções:
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(1) avaliação antropométrica, em que as variáveis avaliadas são IMC
(peso/altura²), circunferência do braço, circunferência da panturrilha e perda
de peso nos últimos 3 meses;
(2) avaliação global, que inclui questões como dependência,
mobilidade, úlcera por pressão, uso de medicamentos, problemas
neuropsicológicos e presença de doenças ou estresse agudo;
(3) avaliação dietética, em que são avaliados o número de
refeições/dia, consumo de alimentos protéicos e lácteos, consumo de frutas e
hortaliças, ingestão hídrica, perda de apetite e/ou dificuldade de se alimentar
nos últimos 3 meses e capacidade de se alimentar sozinho;
(4) avaliação subjetiva, que avalia a percepção do idoso com relação
à sua saúde e sua condição nutricional.
Cada questão apresenta de 2 a 4 alternativas como resposta, sendo
que apenas uma alternativa deve ser escolhida por questão. Para cada
resposta há uma pontuação, que pode variar de 0 a 3 pontos, totalizando 30
pontos.
As questões do banco de dados da pesquisa SABE foram agrupadas
da forma como propõe a MAN®, a fim de se obter uma pontuação
correspondente, para então classificar os idosos segundo o escore proposto
pela MAN®.
Como nem todas as questões da Pesquisa SABE eram iguais às da
MAN®, foi elaborado o Quadro 2, de correspondência entre as questões da
Pesquisa SABE que melhor reproduziam as da MAN®..
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A questão 5 pergunta se o indivíduo vive independente em sua própria
casa, não em instituições de longa permanência ou hospital. Como todos os
idosos da pesquisa SABE não são institucionalizados, atribuiu-se “sim” para
todos os indivíduos.
A questão 7 refere-se à presença de doença aguda ou estresse
psicológico nos últimos 3 meses. Como não havia no questionário do SABE
uma pergunta semelhante, atribuiu-se a resposta “sim” para os idosos que
internaram pelo menos 1 noite nos últimos 4 meses que antecederam à
pesquisa.
A questão 8 refere-se à mobilidade. Infelizmente, no questionário
SABE não havia uma única questão que contemplasse todas as alternativas,
sendo necessário agrupar 3 questões distintas para esta pergunta. Para a
primeira alternativa, confinado ao leito ou cadeira de rodas, como na
pesquisa SABE não havia qualquer registro sobre pacientes acamados,
foram considerados apenas os que estavam em cadeira de rodas. Com
relação aos que apresentavam dificuldade de deitar ou levantar, a questão da
SABE correspondente considerava os que precisavam de ajuda para deitar
ou levantar.
A questão 9, problemas neuropsiquiátricos, foi baseada nos
instrumentos utilizados na Pesquisa SABE, Mini Mental Status Exam (MMSE)
e o questionário Pfeffer Functional Activities Questionnaire (PFAQ). O
MMSE é considerado um instrumento de rastreamento de deterioração
cognitiva, e foi utilizado como um filtro para PFAQ, idosos com pontuação
maior ou igual a 13, foram considerados sem deterioração cognitiva. Já, os
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idosos com pontuação menor ou igual a 12 no MMSE, foram encaminhados
para responder o PFAQ, com objetivo de verificar se a deficiência cognitiva
estava ou não acompanhada de limitações de capacidade funcional.
Pontuação maior ou igual a 6 no PFAQ, foi indicativo de indivíduos que
precisavam de ajuda para desenvolver atividades cotidianas, denominadas
instrumentais, portanto, considerados com demência grave pela MAN®;
pontuação menor ou igual a 5 no PFAQ foram considerados com demência
leve pela MAN®. Vale ressaltar que os idosos que apresentaram pontuação
menor ou igual a 12 no MMSE contaram com um informante substituto ou
auxiliar para o resto da pesquisa (CERQUEIRA, 2003).
A única questão da MAN® que não foi abordada na pesquisa SABE foi
com relação à presença ou não de úlcera por pressão (questão 10 da MAN®).
De acordo com estudos analisados, a incidência de úlcera por pressão em
idosos é de 11,4% a 20% em desnutridos e de 3,6% em eutróficos
(LANDI e col., 1999, SALETTI e col., 2000). Como o esperado é que a
prevalência de desnutrição neste estudo seja baixa e, considerando que
idosos não institucionalizados estão em melhores condições de saúde, optou-
se por utilizar a maior pontuação para todos os indivíduos estudados nesta
questão, esperando que nenhum idoso tenha apresentado úlcera por
pressão.
Na questão 12, todos os itens foram abordados pela MAN®, entretanto
a freqüência de consumo dos alimentos não era a mesma nos dois
questionários.
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Na questão 14, como não havia uma única questão na Pesquisa SABE
que abordasse tudo, foram agrupadas as respostas de 2 questões: (1) se
houve diminuição na ingestão alimentar decorrente de problemas dentários e
(2) por problemas digestivos e falta de apetite.
As questões 1, 2, 3, 4, 6, 11, 13, 15, 16, 17 e 18 da MAN® estavam
contempladas do questionário da Pesquisa SABE.
A partir da pontuação final da avaliação do idoso, o diagnóstico foi
determinado mediante o escore proposto pela MAN® (GUIGOZ e col. 1996;
VELLAS e col. 1999):
≥≥≥≥24 pontos = sem risco de desnutrição
17-23,5 pontos = com risco de desnutrição
< 17 pontos = desnutrido
A MAN® foi desenvolvida para identificar idosos com desnutrição e
com risco de desnutrição. Assim, neste trabalho, não foram diferenciados os
idosos obesos dos eutróficos, sendo classificados como sem risco de
desnutrição todos os indivíduos que não estavam desnutridos e nem em risco
de desnutrição.
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4.4 Análise estatística
A população de estudo foi classificada segundo estado nutricional
como: desnutridos, com risco de desnutrição e sem risco de desnutrição.
As prevalências de idosos desnutridos, com risco de desnutrição e
sem risco de desnutrição foram apresentadas com seus respectivos
intervalos de confiança.
A comparação das prevalências foi realizada entre os sexos
(masculino e feminino) e os grupos etários ( 60 a 69,9 anos, 70 a 79,9 anos;
maior ou igual a 80 anos), usando modelo de regressão múltipla logística
ordenada.
Utilizou-se o modelo de regressão logística para a comparação entre
os sexos e grupos etários, agrupando-se os diagnósticos de desnutrição e
risco de desnutrição.
Para todas as análises, foram consideradas as unidades primárias da
amostragem e a ponderação do plano de amostragem.
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5. RESULTADOS
A amostra total do estudo foi de 1.788 idosos (> 60 anos), sendo 1.059
do sexo feminino e 729 do sexo masculino, como mostra a tabela 1.
Tabela 1. Distribuição da amostra do estudo, segundo sexo e grupo etário, São Paulo, 2000.
SEXO FEMININO SEXO MASCULINO TOTAL Grupo
Etário
(anos) N % N % N %
60-69,9 421 39,8 258 35,4 679 38,0
70-79,9 407 38,4 285 39,1 692 38,7
> 80 231 21,8 186 25,5 417 23,3
TOTAL 1.059 59,2 729 40,8 1.788 100,0
Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE.
A tabela 1 mostra que, dos 1893 idosos entrevistados que realizaram a
avaliação antropométrica na pesquisa SABE, 1.788 responderam a todas as
questões correspondentes à MAN, o que representou apenas 5,5% de perda
da amostra.
O número de mulheres idosas na amostra é maior que número de
homens, correspondendo a 59,2% e 40,8%, respectivamente.
Com relação à distribuição da amostra segundo grupo etário, nota-se
uma concentração maior na faixa etária dos 60 aos 69,9 anos, diminuindo
progressivamente, no sexo feminino. Entretanto, com relação à amostra total
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e ao sexo masculino, a maior concentração está entre os 70 e 79,9 anos,
como mostra a tabela 1.
De acordo com o plano de amostragem, a população de estudo é de
699.391 idosos, como pode ser observado na tabela 2.
Tabela 2. Distribuição da população de estudo, segundo sexo e grupo etário. São Paulo, 2000.
SEXO FEMININO SEXO MASCULINO TOTAL Grupo Etário
(anos) N % N % N %
60-69,9 238.269 57,7 177.235 61,9 415.505 59,4
70-79,9 128.706 31,2 85.187 29,8 213.893 30,6
> 80 46.073 11,1 23.921 8,3 69.993 10,0
TOTAL 413.048 59,2 286.343 40,8 699.391 100,0
Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE.
Na tabela 2, observa-se que a amostra de estudo representa 699.391
idosos residentes no município de São Paulo.
Ao expandir a amostra de forma ponderada para a população, nota-se
que a densidade de idosos entre os 60-69,9 anos é maior, diminuindo
progressivamente com o avançar da idade, tanto na população total como
entre os sexos, como mostra a tabela 2.
Na população estudada, observa-se, na tabela 2, que o sexo feminino
é predominante ao masculino em todos os grupos etários.
A tabela 3 mostra as prevalências de desnutrição, risco de desnutrição
e ausência do risco na população de estudo.
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Tabela 3. Distribuição da população, segundo diagnóstico nutricional. São Paulo, 2000. Diagnóstico
Nutricional N %
Intervalo de Confiança
(95%)
DNT 15.600 2,2 1,6 - 3,1
R.DNT 161.511 23,1 20,8 - 25,5
S/R.DNT 522.280 74,7 72,0 - 77,2
TOTAL 699.391 100,0 Legenda: DNT = desnutridos R.DNT = risco de desnutrição S/ R.DNT = sem risco de desnutrição Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE, 2000.
A tabela 3 mostra que, na população idosa não institucionalizada do
município de São Paulo, a prevalência de desnutrição foi de 2,2% (n=15.600)
e o risco de desnutrição foi de 23,1% (n=161.511), ou seja, ¼ (25,3%) da
população apresenta algum déficit do ponto de vista nutricional.
A tabela 4 mostra a comparação do diagnóstico nutricional entre os
sexos e grupos etários.
Tabela 4. Prevalência de idosos desnutridos, com risco de desnutrição e sem risco de desnutrição, segundo sexo e grupo etário.
GRUPO ETÁRIO
60-69,9
70 a 79,9
> 80
TOTAL SEXO D.N.
N % I.C. (95%) N % I.C. (95%) N % I.C. (95%) N % I.C. (95%)
DNT 3.812 1,6 0,8 - 3,4 3.475 2,7 1,5 - 4,8 3.041 6,6 3,8 - 11,4 10.326 2,5 1,7- 3,8 X² = 3,23
R DNT 47.177 19,8 16,8 -23,3 39.127 30,4 25,7 - 35,5 15.987 34,7 28,6 - 41,3 102.436 24,8 22,4 -27,3 MULHER
S/R DNT 187.280 78,6 74,7 - 82,0 86.104 66,9 61,7 - 71,8 27.045 58,7 52,1 - 65,1 300.286 72,7 69,8 -75,5 P = 0,0000
TOTAL 238.269 100,0 - 128.706 100,0 - 46.073 100,0 - 413048 100,0 -
DNT 2.304 1,3 0,4 - 4,0 1.959 2,3 0,8 - 6,3 933 3,9 1,9 - 7,9 5.154 1,8 1,0 - 3,4 X² = 1,48
R DNT 31.548 17,8 13,9 -22,6 18.997 22,3 17,6 -28,0 8.683 36,3 28,9 - 44,4 59.273 20,7 17,5 - 24,4 HOMEM
S/R DNT 143.383 80,9 75,9 - 85,0 64.231 75,4 69,2 -80,7 14.305 59.8 52,0 - 67,1 221.916 77,5 73,8 - 80,8 P = 0,0079
TOTAL 177.235 100,0 - 85.187 100,0 - 23.921 100,0 - 286.343 100,0 -
Legenda:
DN = Diagnóstico Nutricional DNT = desnutridos
R.DNT = risco de desnutrição S/ R.DNT = sem risco de desnutrição
Fonte: Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE, 2000.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
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Pode-se observar, na tabela 4, que a prevalência de desnutrição e de
risco de desnutrição aumenta progressivamente com o avançar da idade, de
forma estatisticamente significativa (P<0,05).
A prevalência de desnutrição entre as mulheres com 60-69,9 anos é
de 1,6%, de 2,7% entre os 70 e 79,9 anos, atingindo percentual de 6,6% com
80 anos e mais.
Entre os homens, este aumento da prevalência também ocorre,
atingindo percentual de 1,3%, 2,3% e 3,9%, respectivamente nos grupos
etários de 60-69,9 anos; 70-79,9 anos e > 80 anos, porém, não é de forma
tão expressiva quanto entre as mulheres.
Foi utilizado o modelo de regressão múltipla logística ordenada para
verificar se havia correlação significativa do estado nutricional (desnutrição,
risco de desnutrição e sem risco de desnutrição) com os sexos e grupos
etários, como mostra a tabela 5.
Tabela 5. Análise de regressão múltipla logística ordenada das três categorias do diagnóstico nutricional (desnutrição, risco de desnutrição e sem risco de desnutrição), segundo sexo e grupo etário.
Diagnóstico Odds
Ratio P Intervalo de confiança (95%)
Sexo 0,8 0,066 0,63 - 1,01
70-79,9 anos 1,6 0,000 1,28 - 2,08
> 80 anos 2,7 0,000 2,11 - 3,50
Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE, 2000.
__________________________________________________________________________ 48
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
12
A tabela 5 confirma os dados da tabela 4, mostrando, de forma
estatisticamente significativa, que a chance do idoso apresentar desnutrição
e risco de desnutrição aumenta com o avançar da idade.
Entretanto, apesar de parecer que o sexo feminino está mais
associado à desnutrição que o sexo masculino, a diferença não é
significativa.
O gráfico a seguir mostra a média das prevalências de desnutrição, ao
se agrupar os idosos desnutridos e com risco de desnutrição, segundo sexo e
grupo etário.
Gráfico 2. Prevalência de idosos desnutridos e com risco de desnutrição, segundo sexo e grupo etário.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
60 65 70 75 80 85 90
Grupo Etário
Pre
valê
ncia
de
desn
utriç
ão
sexo masculino sexo feminino
Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE, 2000.
O gráfico mostra que a média das prevalências de desnutrição e risco
de desnutrição entre as idades é uma curva ascendente.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
13
O gráfico mostra que há uma tendência aparente de que o sexo
masculino esteja menos associado à desnutrição que o feminino.
A tabela 6 mostra a análise de regressão logística realizada com
apenas duas categorias de diagnóstico nutricional: (1) desnutridos, em que
foram agrupados os idosos desnutridos e com risco de desnutrição, e (2) sem
risco de desnutrição.
Tabela 6. Análise de regressão logística das duas categorias de diagnóstico nutricional, segundo sexo e grupo etário.
Diagnóstico Odds
Ratio P Intervalo de confiança (95%)
Sexo 0,8 0,069 0,63 - 1,02
70-79,9 anos 1,6 0,000 1,28 - 2,08
> 80 anos 2,6 0,000 2,05 - 3,42
Fonte: Banco de dados da Pesquisa SABE, 2000.
Agrupando-se os idosos desnutridos e com risco de desnutrição,
observa-se na tabela 6, que a chance de apresentar desnutrição aumenta
com a idade de forma significativa, confirmando que a idade é um fator de
risco para desnutrição. Porém, o sexo ainda não influencia significativamente
na chance dos idosos apresentarem desnutrição.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
14
6. DISCUSSÃO
Este é o primeiro estudo brasileiro sobre prevalência de desnutrição e
risco de desnutrição em amostra representativa da população idosa,
utilizando a MAN®. Não foi encontrado na literatura qualquer estudo com as
mesmas características no país.
A população de estudo se aproximou do total de idosos recenseados
pelo IBGE, em 1996, no município de São Paulo, mantendo a
proporcionalidade entre sexo e grupo etário, apesar da perda de 5,5% na
amostra.
Esta perda na amostra ocorreu pelo fato de alguns idosos não terem
respondido e/ou participado de todas as perguntas e/ou etapas do
questionário da Pesquisa SABE.
A predominância do sexo feminino ao masculino confirma a maior
sobrevida das mulheres, resultante da maior mortalidade dos homens em
todas as idades, devido à maior exposição ao risco (RAMOS e col., 1993;
COELHO FILHO e RAMOS, 1999).
A diminuição na densidade de idosos, em ambos os sexos, com o
avançar da idade, também é verificada em vários estudos nacionais
realizados com indivíduos deste grupo etário, confirmando o predomínio de
uma população idosa jovem no Brasil, com maior concentração entre
os 60 e 69,9 anos (RAMOS e col, 1993; COELHO FILHO e RAMOS, 1999;
TAVARES e ANJOS, 1999; LEBRÃO, 2003). Tavares e Anjos (1999)
referem que tal realidade influencia no perfil de saúde da população, uma vez
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
15
que idosos mais velhos seriam mais frágeis, mais suscetíveis a doenças,
além de requerer serviços de maior complexidade.
A maior concentração no número de idosos entre 70 e 79,9 anos
encontrada na amostra é decorrente da técnica de amostragem usada para a
população acima de 75 anos, a fim de compensar o menor número de idosos
nesta faixa etária. Porém, esta diferença não afeta a população de estudo,
uma vez que foram feitas as ponderações pertinentes.
A prevalência de desnutrição foi de 2,2% na população total de
estudo. Este resultado condiz com os valores encontrados por Guigoz e
Vellas (1999), 2-7%, ao estudarem idosos não institucionalizados de países
da Europa e EUA, utilizando o mesmo método.
Groot e col. (1998) avaliaram 1.161 idosos europeus não
institucionalizados, de ambos os sexos, através da MAN®. Os resultados
mostraram que 1% da população de estudo apresentou desnutrição,
44% risco de desnutrição e 55% ausência de risco de desnutrição. Estes
dados são semelhantes aos encontrados neste estudo com relação aos
indivíduos desnutridos, porém, apresentou uma prevalecia maior de idosos
em risco de desnutrição.
Kicklighter e Duchon (2002) ao avaliarem o estado nutricional de
51 indivíduos hispânicos, com 52 anos e mais, atendidos na Universidade
do Estado da Geórgia, através da MAN®. Os resultados mostraram que
2% da amostra apresentaram desnutrição, 33% risco de desnutrição e
65% ausência de risco de desnutrição, dados estes muito semelhantes aos
encontrados no presente trabalho.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
16
Observa-se a partir dos estudos citados, que a população idosa do
município de São Paulo apresenta perfil nutricional semelhante ao de países
desenvolvidos.
Tavares e Anjos (1999) verificaram o perfil antropométrico de idosos
brasileiros (> 60 anos), que participaram da PNSN (Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição) em 1989, de acordo com o índice de massa
corpórea (IMC), segundo a classificação da OMS, 1995. Os resultados
mostraram que 1,7% da população geral do Brasil apresentaram magreza
severa (IMC <16 kg/m²), 1,7% magreza moderada (16 < IMC < 17 kg/m²) e
5% magreza leve (17 < IMC < 18,5 kg/m²), ou seja, uma média de 8,4% de
idosos desnutridos.
Esse valor é maior que o encontrado neste estudo, entretanto não é
possível dizer que o estado nutricional da população melhorou, uma vez que
esse estudo foi realizado no Brasil inteiro, não apenas em São Paulo, além
de ter utilizado um método de avaliação do estado nutricional diferente do
utilizado neste estudo.
Porém, Marucci e Barbosa (2003) verificaram que os valores
médios de IMC, para ambos os sexos, dos idosos de São Paulo, avaliados
na Pesquisa SABE em 2000, eram maiores que os valores médios de
IMC encontrados na PNSN, em 1989.
Delacorte e col (2004) avaliaram o estado nutricional de idosos não
institucionalizados atendidos pelo Programa de Saúde da Família em
Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Neste estudo, os autores verificaram que,
dos 49 voluntários avaliados, 9 estavam desnutridos e 13 apresentaram risco
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
17
de desnutrição pela MAN. Tais valores mostram uma proporção de idosos
desnutridos maior do que o presente trabalho, entretanto, a amostra não é
representativa da população, além de apresentar um nível sócio-econômico
baixo, uma vez que eram, na sua totalidade, atendidos pelo SUS.
Matos (2005) avaliou o estado nutricional de 98 idosos não
institucionalizados, na zona urbana de Bonfim Paulista, cidade do
interior de São Paulo, Brasil, através da MAN. Os resultados mostraram que
11,2% estavam desnutridos, 37,7% com risco de desnutrição e 51,1% sem
risco de desnutrição. Os percentuais de indivíduos desnutridos e com risco
de desnutrição foram maiores do que os encontrados no presente estudo,
porém Matos (2005) também não avaliou uma amostra representativa da
população.
Os resultados do estudo realizado por Tavares e Anjos (1999), com a
população da PNSN/89, mostraram que há associação entre precárias
condições de vida e magreza na população idosa como um todo e que, o
aumento da renda, do grau de escolaridade e da qualidade da moradia,
associados ao maior acesso a bens e serviços, reduziram e/ou até
eliminaram os problemas de deficiência nutricional nos idosos mais
privilegiados (TAVARES e ANJOS, 1999). Tais evidências podem justificar a
diferença nas prevalências de desnutrição deste estudo e dos estudos
realizados no interior de São Paulo, considerando o perfil sócio-econômico da
população estudada.
Com relação aos sexos, 2,5% (n=10.326) das mulheres estavam
desnutridas e 24,8% (n=102.436) com risco de desnutrição. No grupo do
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
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sexo masculino, a proporção foi de 1,8% (n=5.154) e 20,7% (n=59.273)
respectivamente. Esta diferença entre os sexos se torna ainda mais evidente
com o aumento da idade, apesar de não ter sido encontrada correlação
significativa entre desnutrição e sexo.
Tavares e Anjos (1999) verificaram que a prevalência de desnutrição
em idosos nas áreas urbanas da região sudeste foi de 5,7% para as
mulheres e 5,6% para os homens.
Segundo a publicação do National Diet and Nutrition Survey (NDNS),
apenas 3% dos homens e 6% das mulheres acima de 65 anos, não
institucionalizados do Reino Unido, apresentavam desnutrição (IMC<20kg/m²)
(MURPHY e col, 2000).
Apesar de os métodos utilizados para a avaliação do estado
nutricional não serem os mesmos nos trabalhos mencionados, observa-se
uma tendência maior de desnutrição no sexo feminino em todos os estudos.
Tais resultados podem ser decorrentes da maior densidade de mulheres do
que de homens após os 60 anos, acarretando uma maior influência da
diminuição da renda e solidão, uma vez que a grande maioria é viúva
(RAMOS e col., 1998; TAVARES e ANJOS, 1999).
Além disso, segundo Santos (2003), apesar da taxa de mortalidade ser
maior entre os homens, as mulheres são mais frágeis, ou seja, são mais
suscetíveis a apresentar algum tipo de incapacidade.
Com relação aos grupos etários, os resultados mostraram, de forma
estatisticamente significativa, que a prevalência de desnutrição e risco de
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
19
desnutrição em idosos, de ambos os sexos, é diretamente proporcional à
idade, sendo ilustrada por uma curva ascendente.
Idosos entre 60-69,9 anos apresentam menor prevalência de
desnutrição e risco de desnutrição do que idosos de idade mais avançada,
em ambos os sexos.
Idosos de 70-79,9 apresentaram quase 2 vezes mais desnutrição do
que os idosos com 60-69,9 anos. A partir dos 80 anos de idade, estes valores
aumentaram ainda mais, atingindo uma prevalência 4 vezes maior de idosas
com desnutrição (6,6%) e 3 vezes maior de idosos desnutridos (3,9%),
quando comparado aos idosos de 60-69,9 anos.
Estudos realizados na Europa, com o objetivo de definir padrões
antropométricos de referência para a população idosa, mostraram que
indivíduos com idade superior a 70 anos, apresentam menores reservas
de massa gordurosa, massa muscular e valores de índice de massa
corporal (IMC), quando comparados com idosos mais jovens (BURR e
PHILLIPS, 1984; DELARUE e col, 1994; BANNERMAN e col., 1997;
KUCZMARSKI e col, 2000; PERISSINOTTO e col 2002).
Barbosa e col (2006), em estudo realizado com idosos no município de
São Paulo, que participaram da Pesquisa SABE, também verificaram que os
valores de IMC e área muscular do braço (AMB) eram menores em idades
mais avançadas, sendo este declínio mais acentuado após os 80 anos. A
área muscular do braço é um indicador que estima as reservas de massa
muscular, usada para diagnosticar desnutrição protéica (GURNEY e
JELLIFFE, 1973).
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
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Valores menores do peso corporal e do IMC em idades mais
avançadas também foram verificadas por Menezes e Marucci (2005) em
estudo sobre idosos residentes em instituições geriátricas de Fortaleza.
Ferreira (2005), em estudo que avaliou o estado nutricional de idosos
residentes em instituição de longa permanência, através da MAN®, na cidade
de Guaratinguetá, também verificou um percentual maior de idosos
desnutridos e em risco de desnutrição com 80 anos e mais, do que em
idades menores.
Segundo Chernoff (2004), além da diminuição nas reservas de massa
muscular, com a idade também há redução nas proteínas plasmáticas, nos
componentes sangüíneos e na imunidade, sendo este declínio potencializado
após os 70 anos.
Os estudos citados enfatizam os resultados encontrados nesse
trabalho, mostrando que a idade apresenta uma correlação positiva com a
desnutrição.
Este estudo não avaliou a evolução dos idosos com o passar dos
anos, mas, a partir dos resultados, é possível levantar a hipótese de que os
idosos com risco de desnutrição aos 60 anos, podem se tornar desnutridos
aos 70 anos e assim progressivamente.
Este dado é de grande relevância científica, pois a desnutrição,
principalmente em idosos, está diretamente associada à maior
incidência de infecção, maior número e tempo de internação hospitalar e
aumento da morbi-mortalidade (BIENIA e col., 1982; TROIANO e col., 1996;
SHINTAKU, 2003).
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
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Otero e col. (2002) publicaram estudo sobre o número de óbitos por
desnutrição em idosos na Região Sudeste do Brasil, de 1980 a 1987. Seus
resultados mostraram que, nas maiores taxas encontradas, os coeficientes
foram de 11 óbitos por 10.000 habitantes na faixa etária de 70 anos e mais, e
de 3,34 óbitos por 10.000 habitantes com idade entre 60 e 69 anos.
Isto mostra que a prevalência de desnutrição, além de aumentar com a
idade, também influencia no prognóstico clínico e na expectativa de vida
destes idosos.
Apesar da prevalência de desnutrição verificada neste trabalho ter sido
baixa, dentro do percentual esperado para a população não
institucionalizada, em números absolutos representa 15.700 idosos
desnutridos e 161.511 com risco de desnutrição. O somatório destes idosos
totaliza um número de impacto no âmbito da saúde pública, chegando a
177.111 indivíduos com 60 anos e mais que requerem atenção nutricional
especial.
Segundo Dinsdale (2006) o custo estimado da desnutrição na
Inglaterra é de 73 bilhões de libras britânicas ao ano, uma vez que idosos
desnutridos realizam um número muito maior de exames, apresentam mais
complicações clínicas e demoram mais tempo para se recuperar das
enfermidades.
Arnaud-Battandier e col. (2004) realizaram estudo com uma coorte de
378 idosos, com 70 anos e mais, na França, com o objetivo de avaliar o custo
da desnutrição e comorbidades associadas entre os idosos não
institucionalizados e determinar o impacto da prática da terapia nutricional na
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
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sustentação destes resultados. Eles avaliaram o estado nutricional dos
idosos através da MAN® e dividiram a amostra em dois grupos (1) que
raramente recebia algum suporte nutricional e (2) que frequentemente
recebia suplementação nutricional. Após 12 meses de acompanhamento foi
verificado que o grupo 2 teve uma evolução muito mais rápida do estado
nutricional e o custo com cuidados médicos e de saúde tiveram uma
economia de 195 Euros por paciente, incluindo os custos com os
suplementos utilizados. Os autores concluíram que o fornecimento de um
adequado suporte nutricional direcionado para idosos não institucionalizados
com desnutrição pode contribuir para reduzir os custos e cuidados de saúde.
Segundo Mccormack (1997), muitos idosos já são admitidos, nos
hospitais e/ou em instituições de longa permanência, com desnutrição ou
com algum comprometimento do estado nutricional.
Kruizenga e col. (2005) verificaram em seu estudo que padronizar
métodos de diagnóstico e ntervenção nutricional em pacientes
desnutridos no ato da internação favorece sua reabilitação em tempo
hábil e os custos adicionais do cuidado nutricional precoce são
relativamente baixos (76 euros /91 dólares por pessoa), especialmente em
pacientes ainda com risco de desnutrição, quando comparado aos custos de
tratamento de indivíduols com comorbidades decorrentes da desnutrição.
Considerando as repercussões clínicas da desnutrição, bem como sua
influência na mortalidade e no tempo de sobrevida dos idosos, é necessário
que ela seja prevenida e, por esta razão, diagnosticada e tratada ainda no
ambiente domiciliar, pois após a internação e/ou a ocorrência de algum
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
23
agravo de saúde, isto poderá ser irreparável, complicando ainda mais o
quadro clínico destes indivíduos.
Uma alternativa para tal problemática seria a realização de algum
método de triagem nutricional (IMC, Determine sua saúde nutricional - NSI ou
MAN®) pelas Unidades Básicas de Saúde, como já é sugerido pelos
programas municipais (Caderno de Atenção Básica no Envelhecimento) e
federais (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – MS), a fim de
diagnosticar o idoso em risco de desnutrição e encaminhá-lo posteriormente
a um serviço que tenha atendimento nutricional. Desta forma, seria possível
prevenir e tratar a desnutrição em tempo hábil.
De acordo com Bienia e col (1982), a exata prevalência de desnutrição
depende do critério usado para o diagnóstico. Para este estudo foi utilizada a
MAN® como método de avaliação do estado nutricional dos idosos,
entretanto alguns estudos citados utilizaram o IMC e com pontos de cortes
diferentes. Por esta razão, a escassez de estudos sobre este tema e,
principalmente, que tenham utilizado os mesmos métodos, dificultaram a
comparação dos resultados com outros estudos.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
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7- CONCLUSÃO
A prevalência de desnutrição foi baixa, dentro do esperado para idosos
não institucionalizados (2,2% n=15.600). A prevalência de risco de
desnutrição foi de 23,1% (n=161.511).
O aumento da idade é fator de risco para desnutrição, uma vez que foi
verificado um aumento significativo nas prevalências, tanto de desnutrição,
como de risco de desnutrição em idosos mais velhos, atingindo percentual de
6,6% nas mulheres e 3,9% nos homens acima de 80 anos.
Não houve correlação estatisticamente significativa entre prevalência
de desnutrição e sexo.
Prevalências de desnutrição e de risco de desnutrição em idosos não institucionalizados, residentes no município de São Paulo – Pesquisa SABE
Alves, RP
25
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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