UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
CURSO DE JORNALISMO
JOÃO SABINO DE MATOS NETO
UM CONCEITO SUBJETIVO O CASO DA OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA NO
GLOBOESPORTE.COM/PB
JOÃO PESSOA 2013
JOÃO SABINO DE MATOS NETO
UM CONCEITO SUBJETIVO O CASO DA OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA NO
GLOBOESPORTE.COM/PB
Monografia apresentada ao Curso de Jornalismo do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo. Orientador: Prof. Dr. Edônio Alves do Nascimento
JOÃO PESSOA 2013
JOÃO SABINO DE MATOS NETO
UM CONCEITO SUBJETIVO O CASO DA OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA NO
GLOBOESPORTE.COM/PB
Monografia apresentada ao Curso de Jornalismo do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Jornalismo.
Aprovada em ____/____/_______
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________________ Prof. Dr. Edônio Alves do Nascimento (Orientador)
Universidade Federal da Paraíba
_____________________________________________________ Prof. Dr. Dinarte Varela
Universidade Federal da Paraíba
_____________________________________________________ Prof. Ms. Victor Braga
Universidade Federal da Paraíba
Este trabalho é dedicado a todas as pessoas que fizeram com que o esporte deixasse de ser um simples passatempo em minha vida e passasse a ser o
meu desejo profissional. A aqueles que jamais me negaram uma boa conversa. Aos meus pais, em especial, que sempre estiveram ao meu lado, que viveram o esporte intensamente comigo, professores, amigos e todas as pessoas que
tornaram este projeto possível.
AGRADECIMENTOS
Acredito que esta monografia seja resultado de anos da minha paixão
pelo futebol. De uma vida quase toda dedica ao esporte. Por isso, confesso, é
difícil elencar todas as pessoas que, ao longo da minha trajetória, contribuíram
para que esta paixão crescesse e fosse transformada e levada para dentro de
um trabalho acadêmico.
Gostaria de agradecer a Deus, primeiramente, porque é costume, e
aos meus pais, em especial, por estarem sempre ao meu lado. Por ter
escolhido o esporte como forma de moldar o meu caráter e a minha
personalidade. Por terem me colocado no meio ainda criança, o que foi
decisivo para o surgimento desta paixão e para minha formação pessoal e
profissional.
Às pessoas que sempre partilharam deste sonho comigo, aos meus
amigos, e também aos meus primeiros chefes, quando fui estagiário de
esportes de uma empresa de comunicação da minha cidade natal, o meu total
agradecimento.
Ao meu orientador: Edônio Alves, por não ter me deixado na mão em
momento algum e pela paciência de conduzir este trabalho junto comigo.
“O jornalista esportivo que se deixa levar pelo ‘canto da sereia’ e não enxerga isso é um bobalhão”.
(José Trajano)
“O futebol é aquilo que permite um pequeno país tornar-se grande”
(Roger Milla)
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar a utilização das regras da
objetividade jornalística em algumas matérias veiculadas no
Globoesporte.com/pb. A intenção, de fato, é analisar se o referido veículo de
comunicação foge das regras da objetividade jornalística propositalmente, por
uma simples questão de tendência, ou se é pela necessidade de alcançar o
seu público-alvo. A investigação se apoiou nos estudos de autores
consagrados sobre objetividade jornalística, como Tuchman (2007), Hackett
(1984), Soloski (1989), Nelson Traquina (2005), Felipe Pena (2012),
Maingueneau (2004) e Paulo Vinícius Coelho (2007). A metodologia da
investigação constou da realização de visitas à redação do
Globoesporte.com/pb e da realização de entrevistas individuais
semiestruturadas com os editores do referido veículo, além das tradicionais
leituras bibliográficas. As análises revelam que a objetividade jornalística é um
recurso impossível de ser alcançado nos dias atuais, que já é uma tendência
consolidada, mas que deve haver um limite para que o jornalismo em si, e em
especial o jornalismo esportivo, não se descaracterize. Dessa forma, perceber
as necessidades, desejos e critérios dos jornalistas na produção de pautas e
matérias é fundamental para que se tenha uma noção exata de como o
jornalismo esportivo atual, ao menos neste caso de webjornalismo, tem fugido
cada vez mais das regras da objetividade jornalística. Nossa análise deste
aspecto do jornalismo apresenta-se a seguir, através de fundamentações
teóricas e das pesquisas sobre os mais variados autores, com discussões
sobre as regras da objetividade e seus aspectos, do jornalismo online como
modalidade jornalística, do jornalismo esportivo e do próprio veículo escolhido
para ser estudado.
Palavras-Chave: Jornalismo. Jornalismo Esportivo. Objetividade. Regras.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 09 2 A OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA E SUAS QUESTÕES.......................... 13
2.1 O lide.......................................................................................................... 16
2.2 A Parcialidade jornalística .......................................................................... 18
2.3 A linguagem e a questão do não-dito......................................................... 21
3 O JORNALISMO ONLINE ............................................................................ 24 4 O JORNALISMO ESPORTIVO ..................................................................... 28
4.1 Esporte não é futebol ................................................................................. 34
4.2 A essência do Jornalismo Esportivo........................................................... 35
5 O CASO DO GLOBOESPORTE.COM ......................................................... 37
5.1 O Campeonato Paraibano 2012................................................................. 39
5.2 O uso da objetividade jornalística............................................................... 41
6 METODOLOGIA ........................................................................................... 50
6.1 A natureza da pesquisa.............................................................................. 51
6.2 Os sujeitos da pesquisa ............................................................................. 52
6.3 As entrevistas............................................................................................. 53
6.4 A descrição dos sujeitos............................................................................. 53
6.5 A Pesquisa de campo................................................................................. 54
6.6 O percurso da pesquisa ............................................................................. 55
7 A ANÁLISE DA OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA NO GLOBOESPORTE.COM/PB............................................................................ 56 CONSIDERAÇÕES FINAISREFERÊNCIAS................................................................................................ 61
9
INTRODUÇÃO
O conceito de objetividade é um dos mais discutidos do jornalismo e,
talvez, o mais antigo. A objetividade é definida por muitos como uma oposição
à subjetividade, o que é um grande erro, pois ela não surge para negá-la, mas,
sim, por reconhecer a sua inevitabilidade. De acordo com Felipe Pena (2012), o
problema do conceito da objetividade jornalística não está no tempo, e, sim, no
seu modo de interpretação.
Falar sobre a questão da objetividade jornalística no jornalismo é algo
que por si só atrai certa subjetividade. A objetividade jornalística é, sim, uma
utopia. É um modelo operacional que os jornalistas se utilizam para se
defender. Seja de eventuais críticas ou de processos judiciais. É necessário
compreender que não existe uma linguagem neutra, isenta e totalmente
objetiva dentro do jornalismo, acima de tudo no jornalismo esportivo, que,
direta ou indiretamente, move sentimentos e paixões exarcebadas.
Algumas correntes teóricas, inclusive, segundo Hackett (1989), dizem
que é impossível registrar os fatos do mundo sem qualquer tipo de preconceito.
Isso porque as avaliações já estão implícitas nos conceitos, na linguagem, que
deve ser encarada mais como um agente estruturador do que como uma
correia de transmissão natural, da qual se fazem as observações e os
registros.
Os estudos destes teóricos, que nem sempre concordam entre si em
todos os aspectos, têm aberto um leque de possibilidades para se
compreender melhor a questão da objetividade jornalística no jornalismo, ou
mesmo até que ponto isso define a atuação profissional de um jornalista ou se
as suas regras são sempre seguidas. Pena (2012), em seus estudos, diz que
o que se observa no jornalismo atual é uma simbiose, não uma separação.
Para ele, a notícia nunca esteve tão carregada de opiniões. E um dos motivos
é justamente atender ao critério da objetividade que obriga o jornalista a ouvir
os vários lados de uma história. No fim das contas, os jornalistas acabam
valorizando mais as declarações do que os próprios fatos. Ou seja, preocupam-
se mais com os comentários sobre os acontecimentos do que com os próprios
acontecimentos.
10
De acordo com Tuchman (2007), a apresentação de pontos de vista
antagônicos pelo jornalista é um dos vários rituais da objetividade, através do
qual os trabalhadores de informação se protegem dos riscos profissionais,
como as horas de entrega falhadas, os processos de calúnia, injúria e
difamação e a reprimenda de superiores.
Nelson Traquina (2005) afirma que nenhum valor no jornalismo tem
sido objeto de tanta discussão, crítica e má-compreensão como a objetividade.
O estudioso diz que, frequentemente, no que diz respeito ao jornalismo, a
discussão sobre a objetividade é reduzida a uma simples dicotomia entre
objetividade e subjetividade.
Segundo Schudson (1978), o ideal da objetividade no jornalismo foi
fundado numa confidência de que a perda da fé nos fatos era irrecuperável. Os
jornalistas chegaram a acreditar na objetividade porque queriam, porque
precisavam, porque eram obrigados pela simples aspiração humana de
procurar uma fuga das suas próprias convicções profundas de dúvida e
incerteza.
Com a ideologia da objetividade, os jornalistas substituíram uma fé
simples nos fatos por uma fidelidade às regras e aos procedimentos criados
para um mundo no qual até os fatos eram postos em causa.
Inegavelmente, é fato que o jornalismo em geral, onde se pode incluir
também o esportivo, passou por uma série de transformações ao longo do
tempo. Em décadas passadas, principalmente nos séculos anteriores, o
jornalismo era muito mais opinativo. Citando o jornalismo esportivo, que está
em questão, mesmo sendo o país do futebol, o Brasil só veio a ter uma
imprensa esportiva propriamente dita a partir dos anos 1960. Antes disso,
apenas as crônicas de Mário Filho e Nelson Rodrigues, carregadas de doses
cavalares de emoção e muita criatividade, tomavam conta dos periódicos.
As crônicas, nesta época, tinham vida própria, ao ponto de alçar
desconhecidos à condição de semideuses de um dia para noite. Entre a lenda
e a verdade, a literatura tem certa preferência por preferir a lenda. O
jornalismo, por outro lado, costuma preferir a verdade. O que pode indicar que
o tipo de crônica supracitado, no caso as que eram de autoria de Mário Filho e
de Nelson Rodrigues, não era exatamente jornalismo.
11
A tentativa de tornar as matérias desta modalidade jornalística mais
leves, mais descontraídas e mais distantes do tradicional, tem chamado a
atenção de estudiosos da área e do próprio público alvo. Criou-se, com isso,
uma nova maneira de fazer esporte, que valoriza, principalmente, a capacidade
de improviso, humorística e a irreverência do jornalista.
Isso acaba fazendo também com que o jornalismo esportivo fuja cada
vez mais das regras da objetividade. É uma tendência que se configurou e que
se consolidou e que tem como principal objetivo diversificar a audiência,
traduzindo aquele público selecionado, de homens em sua maioria, em um
público mais variado, com participação ativa de pessoas de classes e gêneros
diferentes.
Todos esses estudos levam à reflexão sobre de que forma acontece
(se é que acontece!) a presença da objetividade jornalística no jornalismo
esportivo deste tipo, em especial no objeto presente de análise, que é o
Globoesporte.com/pb. Tendo em vista que é o editor quem organiza a rotina de
trabalho das coberturas, com a participação dos outros jornalistas da equipe,
algumas questões se fazem pertinentes: o que os editores pensam sobre isso?
Para que eles acreditam que a objetividade serve? Para quem ela é pensada?
Como é organizada? O que é levado em consideração nessa organização? Os
interesses e necessidades dos jornalistas são considerados no momento de
planejar a matéria e executá-la? De que forma?
Diante de tais indagações, o objetivo principal deste Trabalho de
Conclusão de Curso é identificar por quais motivos o veículo de comunicação
escolhido como objeto de estudo é tratado por esta pesquisa como um
instrumento de comunicação que foge das regras da objetividade jornalística.
Para tanto, pretende-se:
- Identificar o que os editores e demais componentes da equipe
pensam sobre a objetividade jornalística;
- Caracterizar a rotina das redações e quais os procedimentos
utilizados pelos profissionais no momento de fazer as matérias
- Identificar e analisar o que os jornalistas em questão levam em
consideração na construção da matéria, procurando perceber a participação
dos superiores e dos seus preconceitos, no processo de produção das
matérias.
12
No que se refere aos conceitos citados anteriormente, fica clara a
dificuldade de se formular uma teoria definitiva. Até porque a objetividade
jornalística é algo que depende muito do ponto de vista de quem está
comandando, escrevendo e, principalmente, de quem está lendo as matérias.
Por isso, a partir da premissa de que é complicada a construção de um texto
sem nenhuma interpretação, o que dizer, então, das matérias relacionadas ao
jornalismo esportivo e do nosso objeto de estudo, que é o
Globoesporte.com/pb?
O problema de pesquisa, portanto, gira em torno de saber de que
maneira o globoesporte.com/pb, principalmente nas matérias relacionadas ao
futebol, tomando como base o Campeonato Paraibano de Futebol Profissional
2012, foge das regras da objetividade jornalística. O estudo em questão servirá
de embasamento para definir se isso é resultado de transformações culturais
que ocorrem ao longo do tempo, ou seja, uma simples tendência dos moldes
do jornalismo esportivo atual, ou se é pela necessidade de atender um público
maior, menos específico e cada vez mais diversificado, algo que só poderia
alcançado com um jornalismo esportivo mais subjetivo, mais leve e com maior
capacidade de atrair os leigos da área.
Assim, a presente pesquisa está organizada da seguinte forma:
A fundamentação teórica para a realização desta pesquisa subsidia-se
nos estudos de autores consagrados, como Tuchman (2007), Hackett (1984),
Soloski (1989), Nelson Traquina (2005), Felipe Pena (2012), Maingueneau
(2004) e Paulo Vinícius Coelho (2007).
No início do trabalho, é feita uma introdução sobre o assunto, expondo
os principais pontos que serão abordados, os procedimentos que serão
utilizados e alguns dos principais autores que serão analisados, além também
dos objetivos e do problema de pesquisa.
No capítulo 2, a pesquisa trata o conceito da objetividade jornalística e
seus aspectos, com espaço para a discussão sobre algumas particularidades
deste procedimento, como a parcialidade jornalística e a questão da linguagem
do não-dito.
No capítulo 3 a 4, o foco é a fundamentação teórica de duas
modalidades jornalísticas que são estudadas neste trabalho: o jornalismo
online, conhecido também como webjornalismo, e o jornalismo esportivo.
13
No capítulo 5, que é o foco principal da pesquisa, faz-se um paralelo
geral do Globoesporte.com/pb, levando em consideração o seu contexto
histórico, os motivos que o levou a ser escolhido para a realização deste
trabalho, uma breve história sobre o Campeonato Paraibano de Futebol,
também envolvido no processo, e a análise de fato da utilização das regras da
objetividade jornalística no veículo.
No capítulo 6 descreve-se, justifica-se e analisa-se o percurso
metodológico utilizado na pesquisa de campo, explicando assim qual a
natureza da pesquisa, os critérios de seleção dos sujeitos da pesquisa, bem
como suas descrições, aponto as formas de registro utilizadas, encerrando
com a descrição de como ocorreu o trabalho de campo.
O capítulo 7 é onde se expõe as opiniões dos personagens do
Trabalho de Conclusão de Curso, no caso os dois editores do
Globoesporte.com/pb, a respeito dos moldes atuais do jornalismo, com ênfase,
obviamente, na questão da objetividade jornalística no jornalismo esportivo.
Por fim, nas considerações finas, são reunidos e complementados os
conhecimentos e ideias que foram sendo construídas ao longo da análise dos
dados.
CAPÍTULO 2 – A OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA E SUAS QUESTÕES
Antes de mais nada, é importante ressaltar e deixar claro que não
existe neutralidade ou objetividade no “fazer jornalístico”, pois “qualquer
jornalista carrega consigo toda uma formação cultural, todo um background
pessoal, eventualmente opiniões muito firmes a respeito do próprio fato
testemunhado (...). É realmente inviável exigir dos jornalistas que deixem de
lado todos esses condicionamentos”, ressalta Rossi (1985, p. 10), confirmando
a não neutralidade do jornalista.
O mito da imparcialidade e da objetividade da imprensa e do jornalista
não se sustenta, afirma Rossi (1985, p. 10), pois entre o fato e versão
publicada por qualquer veículo de comunicação, há a mediação de vários
jornalistas e até de profissionais que não exercem a profissão, ou seja, a
cúpula diretiva do veículo em questão.
14
O tema da objetividade jornalística é, por várias razões, um dos mais
discutidos e mais antigos no jornalismo. E carrega uma enormidade de
conceitos, de valores e de crenças ao seu respeito. Fato mesmo que não há
um consenso. Há quem acredite que é possível fazer um jornalismo objetivo,
que tenha uma linguagem neutral, isenta e sem preconceitos, por um lado.
Outra grande parte de teóricos do tema, por outro lado, classifica a objetividade
jornalística como utopia, como algo fora mesmo de cogitação.
Na verdade, o valor da objetividade jornalística nasceu no jornalismo
no Século XX, mas surgiu com base numa mudança fundamental do
jornalismo, que ocorreu no Século XIX, em que a primazia era dada aos fatos,
e não às opiniões. Surge porque há uma percepção de que os fatos são
subjetivos, ou seja, construídos a partir da mediação de um indivíduo que tem
preconceitos, ideologias, carências, interesses pessoais organizacionais e
outras idiossincrasias.
A partir dessa premissa, ou seja, da ideia de que o correto era a
criação de um método objetivo, o que, para muitos, tornaria o jornalismo mais
imune a críticas, e seria, principalmente, uma maneira de amenizar a
subjetividade, o conceito foi perdendo originalidade e atualmente causa muita
confusão, muita diversidade de opiniões. A sociedade confunde a objetividade
do método com a do profissional, e este jamais deixará de ser subjetivo.
A notícia já começa deixar a objetividade de lado desde o momento em
que há a decisão do que pode ou não virar notícia e isso parte da cultura do
próprio jornalista. Essa capacidade que os fatos têm de virar notícia é o que
chamamos de valores notícia ou noticiabilidade. [...] A noticiabilidade são os critérios que vão ser levados em consideração para saber se o fato em questão vai ou não virar notícia. E a noticiabilidade é medida pelo que chamamos de valores notícia, os quais podemos citar: ser factual, ter novidade, boas imagens, personagens, coisas inusitadas, atingir o maior número de pessoas e despertar o interesse do público.
A necessidade de despertar o interesse do público é um dos principais
motivos que leva os jornalistas a fugirem cada vez mais das regras da
objetividade jornalística. Com o advento da internet e o processo de
globalização da comunicação, os profissionais se viram no dever de se
reciclarem. Não era mais suficiente, no caso do telejornalismo, por exemplo,
15
apenas aquele jornalismo de leitura do teleprompter, sem gestos e, acima de
tudo, sem entretenimento. Chegou-se a conclusão, em especial no jornalismo
esportivo, que sempre foi caracterizado por ter um público extremamente
restrito, de fãs do esporte, que era necessário mudar, revolucionar mesmo o
modo de fazer jornalismo. A tendência que se configurou e consolidou é de um
jornalismo mais leve, com jogos de palavras, brincadeiras, profissionais
vestidos de maneira bem mais descontraídas, sem aquela seriedade
costumeira de épocas passadas. É a junção do jornalismo do esporte e do
entretenimento, por assim dizer.
Mas, no fim das contas, no processo jornalístico como um todo, o
público alvo é fundamental para o jornalista desenvolver o seu trabalho,
principalmente porque ele atua como agente moderador. Acaba direcionando,
de uma forma ou de outra, a atuação do repórter.
A socióloga Gaye Tuchman (2007), em seus estudos, diz que a
objetividade jornalística pode ser encarada como um ritual estratégico,
protegendo o jornalista dos riscos da sua profissão, como eventuais críticas e
os processos judiciais, como calúnia, injúria e difamação. Segundo a estudiosa,
a objetividade como ritual estratégico pode ser utilizada por outros profissionais
como forma de se defenderem dos ataques violentos da crítica.
Entre os procedimentos que os jornalistas podem adotar para buscar a
objetividade, Tuchman cita a apresentação de possibilidade conflituais,
apresentação de provas auxiliares, uso judicioso das aspas e estruturação da
notícia.
A apresentação de possibilidade conflituais significa a apresentação de
todos os fatos possíveis, embora não se tenha como comprová-los como uma
verdade absoluta. Na verdade, a apresentação de versões convida o leitor a
exercitar a sua percepção seletiva, e não fomenta o conceito de objetividade na
sua essência.
A apresentação de provas auxiliares é a inclusão de informações
adicionais, como forma de caracterizar um fato, tornando-o incontestável ou
perfeitamente entendível. É uma maneira de expor tudo aquilo que foi coletado,
sem deixar nada de lado, para evitar contestações e qualquer tipo de dúvida.
Levando em consideração a explicação dada por Shibutani (1966), que
diz que a avaliação e a aceitação dos fatos dependem dos processos sociais, e
16
obviamente do repórter, o profissional não poderá afirmar-se objetivo,
impessoal e imparcial no processo jornalístico.
O uso judicioso das aspas, outro recurso do aspecto da objetividade, é
quando os jornalistas veem as citações de opiniões de outras pessoas como
uma forma de prova suplementar. É uma maneira de, mesmo que se concorde
com todas as informações e os termos inclusos entre aspas, o repórter
confirmar que não inserira opiniões. Muitas vezes, o jornalista coloca na boca
de um personagem o que ele quer deixar transparecer, o que ele quer falar e o
que ele pensa. Faz isso pensando em mitigar pressões.
Já a estruturação da notícia numa sequência apropriada, tal como o
lide, por exemplo, é o procedimento que talvez tenha sido criado justamente
com o intuito de indicar a objetividade. Isso quer dizer que a forma como a
notícia está disposta também pode caracterizar a objetividade jornalística. É o
procedimento, dentre esses todos, que pode ser considerado o mais
complicado. É que o lide, o parágrafo de abertura, é de inteira responsabilidade
do jornalista. Parte dos critérios profissionais de quem é o responsável pela
notícia. Neste caso, o senso comum tem participação ativa na estruturação da
notícia, porque é através dele que se determina se uma informação pode ou
não ser aceita como um fato.
2.1 O lide
O lide é o relato sintético dos acontecimentos logo no início do texto,
respondendo às perguntas básicas do leitor (o que? quem? quando? onde?
como? por quê?). Chegou ao Brasil na década de 1950, através de Pompeu de
Sousa1, como mais uma das tentativas de fazer o jornalismo encontrar o
caminho da objetividade.
Nesta época, o jornalismo era dominado pelos interesses das
organizações que faziam com que a notícia fosse apresentada
costumeiramente de maneira diferente. E, segundo Felipe Pena (2012), o 1 Pompeu de Sousa caracterizou no Brasil, com a inclusão do lide direto dos Estados Unidos, o que muitos chamavam de Nova Imprensa. O lide foi usado, pela primeira vez, no Diário Carioca, e fez com que o jornalismo brasileiro deixasse de ser europeu, por assim dizer, e passasse a adotar uma objetividade americanizada.
17
jornalismo passou a ser outro depois da criação do lide. Passou por uma
inegável transformação e se assemelhou ainda mais ao jornalismo norte-
americano, precursor do lide.
Uma singularidade muito forte do lide é a capacidade de manter o
receptor preso, sem qualquer convite à pausa. Isso porque as informações são
apresentadas de forma tão bem articulada que ao receptor só resta ir até o fim.
Na verdade, o lide é um passo estratégico do relato e carrega a
responsabilidade de conter a essência dos fatos.
O lide deve carregar sempre as informações mais importantes, de
forma que a notícia, somente a partir dele, já possa ser entendida. Em síntese,
pode-se afirmar que o lide exerce uma série de funções no relato de qualquer
acontecimento, quais sejam:
Apontar a singularidade da história;
Informar o que se sabe de mais novo;
Apresentar pessoas e lugares de importância;
Oferecer o contexto em que ocorreu o evento;
Provocar no leitor o desejo de ler a notícia;
Articular os elementos de forma racional;
Resumir a história da forma mais compacta possível.
Esses rituais são estratégias que o jornalista usa para se auto-intitular
objetivo, imparcial e pessoal. Principalmente por causa das pressões que
recebe, já que, a partir daí, o jornalista tem que se proteger para afirmar, sem
medo, que é um profissional objetivo.
Apesar disso, da tentativa de utilizar isso a favor de uma reputação de
profissional objetivo, sem juízos de valor, esses procedimentos não significam
alcançar a objetividade jornalística. Eles sugerem apenas um convite à
percepção seletiva, por isso ativa a capacidade de escolha do receptor, uma
insistência errada na ideia de que os fatos falam por si só, um instrumento de
descrédito e um meio de o jornalista fazer passar a sua opinião, limitação pela
política editorial de uma determinada organização jornalística e ilusão, ao
sugerir que a análise é convincente.
18
Em suma, Tuchman assegura que, independente da tentativa de
utilizar os rituais citados anteriormente, existe uma grande distância entre o
objetivo idealizado e o objetivo alcançado.
Segundo Sponholz (2003), “o debate sobre a objetividade não é
exclusividade do jornalismo. A ciência e a justiça conhecem o problema
também. A questão, porém, recebe cores próprias quando se trata de mídia”.
Ao mesmo tempo em que diz isso, a autora critica qualquer tipo de censura à
falta de neutralidade por parte da mídia na representação dos fatos, pois ela
entende que é impossível ler a realidade sem encará-la a partir de uma
perspectiva pessoal.
Para Lage (1982), a objetividade jornalística consiste em descrever os
fatos da maneira como aparecem, sem explicação, da forma mais sucinta
possível. Afirma ainda que a objetividade é um abandono das interpretações,
ou do diálogo com a realidade, cuja finalidade é mostrar o que se evidencia.
2.2 A parcialidade jornalística
A investigação da parcialidade jornalística, um contraponto da
objetividade, assim como o conceito da objetividade no jornalismo, atrai uma
série de dúvidas e questionamentos. Até que ponto pode-se considerar o
jornalismo parcial nos dias atuais? Até que pontos os interesses
organizacionais não são preponderantes, inclusive em relação aos fatos que
originam as notícias? Até que ponto um jornalista pode se declarar imune se
ele pertence a veículos que têm preferências?
Entre os pressupostos-chave ligados à questão da investigação da
parcialidade jornalística, estão, por exemplo, os seguintes:
A notícia pode e deve ser objetiva, equilibrada e um reflexo da
realidade social;
As atitudes políticas dos jornalistas ou dos executivos editoriais
são determinantes da parcialidade jornalística;
A parcialidade no conteúdo noticioso pode ser detectava através
dos mais variados métodos de leitura;
19
A forma mais importante de parcialidade, sem dúvidas, é o
partidarismo.
Hackett (1984), em sua pesquisa a respeito do assunto, diz que, a partir
da realização de um estudo mais detalhado, chegou-se a conclusão que os
conceitos de objetividade e parcialidade são verdadeiramente opostos e que,
de maneira alguma, se equivalem e se assemelham, mesmo que ambos
estejam associados ao papel político e ideológico dos medias noticiosos. Ele
garante, inclusive, que a parcialidade pode ser considerada a falta da
objetividade jornalística.
O conceito mais básico sobre a parcialidade jornalística diz que ela
quer dizer a intrusão da opinião do repórter ou da organização jornalística no
que é pretensamente um relato factual. Isso significa lidar com a subjetividade
do profissional quando o fato deve ser encarado sem juízos de valores.
Assim, segundo MacLean (1981, p.56), quando um artigo não faz a
distinção clara entre as interpretações e os fatos relatados, a notícia pode ser
considerada parcial ou tendenciosa. Já a cobertura de assuntos externos só
poderá ser dita tendenciosa, por exemplo, se a realidade dos fatos for
distorcida por motivações políticas.
Existem várias formas de parcialidade. Três delas podem ser
destacadas:
I – A mentira clara;
II – A distorção através da ênfase dada mais a certos fatos;
III – Enaltecimento de certos valores.
A mentira clara é, talvez, a mais preocupante de todas elas. Foge de
todos os princípios éticos do jornalismo. É o mais inaceitável. Acima de tudo,
porque coloca em xeque a credibilidade do veículo de comunicação como um
todo e, em especial, do profissional responsável pela notícia.
A distorção através da ênfase dada mais a certos fatos, muitas vezes,
significa uma maneira de o jornalista mudar o foco da matéria. Se algo pode
atingir o grupo organizacional ao qual ele pertence ou algo que esteja ligado,
direta ou indiretamente, ao seu veículo de comunicação, o profissional pode
20
dar uma atenção maior a fatos mais irrelevantes e “esconder” o que, de fato,
interessa ao público.
Já o enaltecimento de certos valores é comum. Principalmente em
épocas eleitorais, de campanhas políticas. Como exemplo, podemos citar a
campanha para Presidente da República de 1990, quando Fernando Collor
(PRN) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estavam disputando o cargo. Na
ocasião, a Rede Globo de Comunicação, numa demonstração clara de
preferência a Collor, limitou a participação de Lula no último debate realizado
na véspera do pleito, entre outros favorecimentos que se deram por meio de
uma pesada campanha de marketing político. Assim, o até então desconhecido
governador alagoano passou a ser conhecido nacionalmente, com inserções
garantidas na maior rede de tevê do país, em seu horário nobre. A sua imagem
de caçador de marajás foi construída no imaginário coletivo. Com um
planejamento bem traçado, foram garantidas suas entradas gratuitas em rede
nacional em programas como o Fantástico, o Jornal Nacional, o programa do
Chacrinha e o Globo Repórter. Paralelamente a isso, a sua imagem também foi
“fabricada” em outros importantes veículos da mídia nacional, através de
matérias pagas. Até as novelas realizadas pela Central Globo de Produções
veicularam a ideia da necessidade de o país eleger um “Salvador da Pátria”,
nome inclusive de uma das telenovelas da época, que tinha um personagem
com características do candidato que o país precisava naquele momento e que
a mídia estava “vendendo”.
Entre os fatores preponderantes para a parcialidade jornalística, está a
questão das posições políticas. A participação subjetiva por parte dos donos,
anunciantes ou responsáveis editoriais é o principal inimigo da objetividade.
Isso quer dizer que, a partir do momento em que há uma posição político-
partidária, seja do repórter ou da organização jornalística, a informação
dificilmente vai atingir as regras da objetividade jornalística.
Hackett (1984) diz que todo e qualquer jornalista está disposto e
autorizado a injetar suas preferências e opiniões no conteúdo noticioso. Até
porque é ele quem tem o controle pessoal sobre o produto jornalístico, embora
seja necessário passar pelo crivo da empresa, pelas “mãos” de editores, chefes
de reportagem e até mesmo pelo dono em algumas ocasiões.
Uma das perguntas mais feitas quando o assunto é a parcialidade
21
jornalística é se há alguma maneira de descobri-la. Através de alguns estudos,
fica clara que as investigações a respeito da parcialidade centram-se muito
mais no conteúdo da notícia do que nas condições de produção do material. E
a análise do conteúdo está ligada à parcialidade por, pelo menos, três razões
diferentes.
I – Termos quantitativos;
II – Tabulação de frequência;
III – Mensagem intencional e motivos do comunicador.
2.3 A linguagem e a questão do não-dito
Na concepção de Ducrot (1987), a língua perde o caráter de um
simples código, pois existe o implícito, que supera este pensamento. Ele diz
que a língua não é constituída de significados restritos e homogêneos. Não é
um instrumento de comunicação fechado. O estudioso garante que se a língua
for aceita como um simples código está se admitindo de antemão que todos
“[...] os conteúdos expressos graças a ela são exprimidos de maneira explicita
[...] assim, o que é dito no código é totalmente dito, ou não é dito de forma
alguma”, (DUCROT, 1987, p. 13).
O não-dito, no caso, significa o conteúdo implícito que aparece nas
mensagens. O que, muitas vezes, não pode ser dito diretamente pelo jornalista,
mas é “exposto” de uma maneira que fica facilmente subentendido para o
público alvo. Em razão disso, justifica Ducrot (1987, p. 15) “[...] recorre-se para
as formas implícitas de expressão, pois permitem deixar entender sem
acarretar a responsabilidade ter dito”.
A utilização do não-dito, em diversas ocasiões, nada mais é do que
uma estratégia. É que a enunciação explícita ou afirmação explicitada é aberta
e passível de discussões, fazendo com que tudo o que é dito desperte a
possibilidade de contradição, daí o jogo linguístico entre os falantes se fazer
com o implícito, que não permite uma contestação imediata por parte dos
interlocutores.
Ainda segundo Ducrot (1987, p. 16), a questão da fala envolve uma
série de fatores. E tem uma série de propósitos. Não é gratuita. Ele explica que
22
toda a fala é “motivada por algo, como respondendo a certas necessidades ou
visando certos fins”. Por que o sujeito falou, como falou, quais as suas reais
intenções, quais os pontos objetivos, os subjetivos e intersubjetivos contidos
em seu discurso? Quem disse o que? Com que intenções? Por que disse de tal
maneira tal coisa? O que não disse? Essas são as indagações básicas que
necessitam de respostas para quem se propõe a realizar a análise de discurso.
A conclusão que se chega, nesse âmbito, em relação ao sentido da
fala é que ninguém fala simplesmente só por falar; sempre existe um interesse
em jogo, interesse que pode partir de vários lugares, seja do locutor, do
destinatário ou de qualquer outra pessoa envolvida.
Em seus estudos sobre a questão da análise do discurso jornalístico,
Ducrot também afirma que em todos os casos ou atos de fala existe uma
significação explícita, que é a que fica visível para todos os receptores, e uma
significação implícita, que, de acordo com ele, não pode ser procurada no nível
do enunciado, mas em um nível bem mais profundo e complexo, como uma
condição de existência do ato de enunciação.
A significação implícita é de inteira responsabilidade do receptor. Até
porque a língua não é apenas um instrumento de comunicação, uma forma de
passar o que se deseja, e, sim, um poderoso instrumento de dominação, a
serviço, principalmente, de interesses, ideologias, vontades e desejos.
Segundo Freitas (1999), em sua obra sobre a análise do discurso
jornalístico, em razão de todos esses aspectos que foram apontados, tanto de
caráter interno ou linguísticos, quanto os elementos externos ao discurso ou
extra-linguísticos, existe a hipótese de que tudo que é dito traz em si vários
discursos ou enunciados não ditos.
O não-dito está diretamente ligado a questão da objetividade
jornalística. De maneira que pode ser considerada uma forma de comprovar
que a objetividade é efetivamente um mito, pela existência de fatores de
manipulação das notícias, que moldam os acontecimentos por meio de uma
série de fatores que não nos permite atingir a objetividade no jornalismo.
O repórter até tem os seus critérios para definir o que vai ser explicitado
e o que vai ficar implícito, mas as “influências externas” podem intervir. É que a
notícia percorre um tortuoso e desgastante caminho até ser publicada. Desde a
sua inclusão na pauta até o processo redacional, ela passa por uma série de
23
procedimentos, uma filtragem significativa, e a subjetividade da linguagem se
faz presente no processo de produção do produto noticioso dentro das
redações, até atingir a sua forma final, quando estará pronta e “embalada” para
consumo.
O processo de produção de uma notícia, até pelo fato de ela ser um
produto da indústria cultural, é um verdadeiro labirinto. Inicia-se pela pauta, que
desde já é um direcionamento por parte da empresa para o trabalho do
repórter, e passa pelo estilo adotado pelos veículos, que, através de manuais
de normas e estilo impõem uma segunda limitação na hora de escrever um
texto, chegando o filtro até a figura do editor.
Desta forma, para Rossi (1985 p. 27), o material produzido pelo
repórter passa por uma “primeira distorção entre o que aconteceu, na visão do
repórter, e o que será publicado”. A notícia passa por um amplo processamento
em cadeia, típico da produção em série da indústria cultural, descaracterizando
o fato ou o acontecimento inicial, e, sendo assim, descaracterizando também
as normas da objetividade jornalística.
Quando se tem que analisar o não-dito, faz-se necessário levar em
consideração uma série de fatores. É preciso, acima de tudo, se fazer uma
leitura contrastiva, pois o discurso quer dizer isso e não aquilo, tendo em vista
a possibilidade do aparecimento de implicações discursivas. Outro ponto
fundamental é saber quem é o sujeito, a que classe pertence, os valores que
defende e de que lado político-ideológico ele está.
Entre outros dados que remetem ao não-dito, temos: quem fala? A quem
fala? O que significa o que se fala? Por que se fala? Como fala? Quem ouve?
Através de quais instituições o discurso é feito ou justificado?
De acordo com Freitas (1999), as pistas que induzem ao não-dito são
dadas pela coesão léxica, pelo jogo semântico, a presença e a forma de
utilização dos operadores argumentativos, que indicam quais noções são
aceitas e quais noções são rejeitadas. O uso da paráfrase, das metáforas, dos
dêiticos e das marcas da subjetividade, bem como as formas de utilização dos
verbos num dado discurso, assim como os tempos verbais empregados,
contribuem para uma compreensão melhor das intenções implícitas no
discurso.
24
CAPÍTULO 3 – O JORNALISMO ONLINE
Uma série de fatores dá ao jornalismo online a condição de
preponderante, e até certo ponto hegemônico nos dias atuais. É uma tendência
já consolidada, que acabou fazendo com que o jornalismo impresso perdesse
grande parte da sua força, embora o seu tradicionalismo e as suas
particularidades ainda o mantenham vivo. Alguns desses fatores são os
seguintes:
I - A comunicação rápida, intensa, momentânea e ágil entre jornalista,
fonte e leitor;
II - A busca com maior facilidade de ideias que possam se transformar
em notícia;
III – A ajuda ao repórter para encontrar fontes autorizadas e levantar o
contexto dos fatos e acontecimentos a serem cobertos;
IV – O monitoramento da discussão de diversos assuntos em áreas
específicas;
V – O acesso a arquivos em todo o mundo para a busca de documentos
que auxiliem o jornalista no levantamento de informações prévias sobre o
assunto de uma matéria pautada pelo editor;
VI – A consulta a grandes bases de dados e bibliotecas que são
repositórios de vasta gama de informações.
Embora seja difícil especificar uma data, pode-se dizer que abertura da
internet comercial ocorreu no Brasil em maio de 1995, deixando de ser
exclusivamente de uso acadêmico e estendendo o seu acesso a todos os
setores da sociedade, mesmo que relativamente, já que, no início, acima de
tudo, o contato da população com a internet era restrito, em especial devido
aos altos preços que envolviam a utilização de computadores.
Apesar de um emaranhado de razões ter contribuído para a sua
“explosão”, a expansão vertiginosa da internet foi estimulada pelo contínuo e
maciço ingresso no ciberespaço de governos, organizações, instituições,
empresas comerciais, industriais e de serviços. Aos poucos, com o passar do
25
tempo, até mesmo as empresas de comunicação tradicionais se renderam e
migraram para a rede mundial buscando oferecer aos internautas conteúdo e
informação durante 24 horas do dia, todos os dias.
Atualmente, o jornalismo marca sua presença na internet por meio das
versões online de jornais e jornais impressos, de agências de notícias, de
serviços de distribuição de notícias e de sites noticiosos especializados, como
é o caso do globoesporte.com/pb, que é objeto de estudo deste Trabalho de
Conclusão de Curso.
Segundo Pinho (2003), a internet, por ser uma tecnologia emergente e
promissora, exige que os seus recursos tecnológicos e as suas principais
aplicações sejam mais bem conhecidas em suas características, possibilidades
e mesmo limitações. A sua força é tão grande que há quem diga que a internet dividiu a
humanidade em antes e depois do advento. E, no jornalismo, não foi diferente.
Desde que surgiu, o jornalismo online criou um novo e irreversível universo da
indústria da notícia. Evidenciou uma concorrência fora do normal, com disputas
acirradas, com a máxima de que é necessário se publicar o maior número de
matérias na menor quantidade de tempo possível.
A internet se desenvolveu a partir da busca da humanidade por uma
maior facilidade de comunicação e, consequentemente, por informação, que é
o que rege o jornalismo. É um meio que engloba os recursos de todos os
veículos de comunicação (telefone, televisão, rádio, impresso, etc) e reafirma-
se, cada vez mais, como um dos grandes espaços de interação social.
No universo da internet, onde o código apresenta constantes variações,
faz-se necessário segmentar o conteúdo. É que todo produto virtual é
considerado como informações, seja as cores, imagens, vídeos, textos, sites
blogs, entre outros.
De acordo com o pensamento do teórico Marshall McLuhan (1974), a
internet hoje significa a maior expansão do homem. Extensão que, no Brasil,
ainda não atingiu a maioridade e, no mundo, vem de origem duvidosa.
O computador foi concebido entre outono de 1944 e o verão de 1945 (data não coincidente) em meio a Segunda Guerra Mundial, quando os engenheiros Mauchly e Eckert haviam construído o ENIAC, um enorme calculador financiado pelo
26
exército e destinado a calcular as tábuas de tiro balísticas [...] O computador foi pensado para fins militares, seu maior desenvolvimento foi no período da Guerra Fria. (BRETON; PROULX, 2002, p. 76)
Nos dias atuais, a rede virtual interliga o mundo. Possibilita um contato
imediato entre país que estão localizados há milhares de quilômetros de
distância. Em um piscar de olhos, numa velocidade que há alguns anos era
inimaginável. Hoje, levando em consideração algumas pesquisas que foram
realizadas, mais de 35 milhões de brasileiros são internautas.
Essa população de consumidores de internet e também de informação,
obviamente, foi moldada pelas características do meio. Isso quer dizer que, a
partir do momento em que a internet oferece a possibilidade de interatividade,
agilidade, atualizações com tempo real, recursos audiovisuais e velocidades
para disponibilizar a informação da melhor maneira possível, os receptores
alimentados por este tipo de jornalismo, naturalmente, acostumam-se a
consumir informação neste mesmo ritmo.
O sociólogo Castells (1997), em seus estudos, diz que a tecnologia
molda a sociedade, mas é também moldada e modificada pelos sujeitos que as
utilizam. Além da sociedade, a tecnologia molda a própria estrutura das
redações. De maneira que acaba “ignorando” alguns princípios básicos do
jornalismo.
Na prática, a realidade das redações sugere alguns efeitos colaterais
que não eram previstos pela construção do jornalismo online. Ou seja, ao
passo que os recursos tecnológicos facilitam a construção da notícia,
permitindo ao jornalista desfrutar das possibilidades que o advento oferece,
dificulta, por outro lado, a execução de algumas normas triviais do jornalismo,
como a apuração in-loco, a captação de informações por meio de comunicação
não-verbal, a observação direta e limita o olhar jornalístico fora das redações,
que é a onde a notícia está.
Talvez uma das maiores preocupações dos estudiosos do jornalismo
online diz respeito a qualidade da informação. Isso porque a prioridade de
todos os sites de notícias é o tempo. A preocupação é de superar a
concorrência. Uma das provas mais evidentes da valorização do tempo sobre o
27
conteúdo da notícia é o formato unânime dos sites em sempre postar
primeiramente o horário, e só depois o título da notícia.
Sendo a velocidade o novo paradigma, o desafio que cabe, cada vez
mais, aos profissionais da comunicação, é tentar vencer os paradoxos deste
tempo sem tempo, dos quais o maior talvez seja apontado por Luís Fernando
Veríssimo: “Vivemos num tempo maluco em que a informação é tão rápida que
exige explicação instantânea e tão superficial que qualquer explicação serve”.
No jornalismo online, é permitida uma grande variação, com adaptação
na linguagem, do código e até do formato, mas sempre tem que existir a
preocupação em não alterar a estrutura jornalística, que deve ser seguida por
todos os meios de comunicação. É preciso reforçar a tese de que, quando se
fala em jornalismo, alguns conceitos referentes ao exercício da profissão
devem se manter íntegros e estratificados. Independente de ser rádio,
televisão, internet ou impresso, o veículo serve, e deve servir, apenas como
canal.
Por ser uma “febre”, o jornalismo online acaba atraindo a maior
quantidade de estudiosos e críticos. A sua qualidade é constantemente
questionada, acima de tudo por causa do paradigma que se criou de que a
velocidade é mais importante do que a precisão das informações a serem
disponibilizadas.
Sendo assim, conceitos como objetividade, imparcialidade, apuração,
transparência, credibilidade, isenção, busca pela verdade, ouvir todos os lados
(fontes), investigar, entre outros, são sempre colocados em xeque pelo
jornalismo de internet.
Para Carvalho (2000), qualidade é um termo que pode ser definido de
várias maneiras, para cada conceito existem vários níveis de abstração; na
visão popular pode ser diferente do seu uso profissional, porém em todas as
definições a essência é preservada. A origem da palavra qualidade vem do latim “Qualitas” que significa diferença de itens, ou quão bom ou ruim é um produto. Na visão chinesa, o caractere é o mesmo usado para definir “alta classe” ou “precioso”. Muitas definições de qualidade são usadas em setores diferentes em ciências diferentes. Não existe um conceito único de qualidade. Várias ciências (filosofia, economia, marketing, produção) elaboraram conceitos sobre qualidade, cada uma delas enfatizando aspectos que lhe são próprios (CASTELLI, 1998).
28
No jornalismo online, além da qualidade da notícia inerente ao bom
jornalismo, faz-se necessário também avaliar a eficiência do veículo, pois não
adianta produzir uma boa mensagem direcionada ao receptor, com código
adequado, se houver ruídos nessa comunicação. No caso do jornalismo online,
os ruídos podem vir do meio/canal, ou seja, o site de notícias.
Em suma, o ambiente virtual modificou vários aspectos da vida
humana. No jornalismo, em especial, influenciou todos os tipos de veículos, em
todas as fases de produção e recepção da notícia. Na própria internet, os
conceitos mudam a uma velocidade impressionante, embora a linguagem para
congregar todas as suas potencialidades ainda não tenha sido encontrada.
Portais, websites e blogs descentralizam a informação.
Para o professor Elias Machado, presidente da Sociedade Brasileira de
Pesquisadores em Jornalismo, a matriz tecnológica do jornalismo digital
implode o modelo de conteúdos centrado no profissional, pois grande parte das
tarefas de apuração, atualização e monitoramento dos fatos fica por conta dos
agentes inteligentes, programas de buscas especializados capazes de uma
rotina ininterrupta de trabalho durante 24 horas por dia.
“O grande desafio do jornalismo digital é encontrar a sua linguagem e
democratizar suas interfaces”. (PENA, 2005, p. 183).
CAPÍTULO 4 – O JORNALISMO ESPORTIVO
O jornalismo esportivo é considerado, por muitos, como uma
modalidade “marginalizada”. E já foi muito mais. É que estar no jornalismo
esportivo, no século passado, significava lutar contra o preconceito de que só
os de menor poder aquisitivo poderiam tornar-se leitores desse tipo de diário. A
prova disso é que várias revistas e jornais, por causa deste preconceito, foram
surgindo e desaparecendo com o passar do tempo.
Embora seja complicado estabelecer uma data precisa para o
surgimento do jornalismo esportivo no Brasil, há quem considere o nascimento
do Jornal dos Sports, fundado nos anos 30 no Rio de Janeiro, como o
percussor deste ramo jornalístico. A rigor, ele foi o primeiro diário dedicado
29
exclusivamente aos esportes. O primeiro a lutar contra a dura realidade que
tomou conta dos diários esportivos a partir daí.
Na verdade, quando o futebol começou a se fazer presente de forma
definitiva no Brasil, com a sua respectiva profissionalização, boa parte da
sociedade, apesar de achar uma verdadeira atração assistir aos jogos,
classificava como absurdo pagar aos jogadores. Julgavam, e ainda tem quem
julgue, que os jogadores de futebol ganham dinheiro demais para exercer
atividade que quase não exige esforço intelectual.
O mais curioso é que, mesmo o futebol já podendo ser considerado
uma febre nacional desde a década de 1920, o Brasil só veio a ter uma
imprensa esportiva propriamente dita a partir da segunda metade da década de
60, com cadernos esportivos mais presentes e de maior volume. Aí, sim,
passou a entrar na lista dos países com imprensa de larga extensão.
Antes disso, os jornais dedicavam espaços mínimos ao que já parecia
ter um forte e considerável apelo popular. Os diários destinavam ao esporte o
espaço que lhes era possível. Sem mais, nem menos. E, se fosse para mudar,
era para menos. Havia apenas pequenas colunas, mas muito mais por falta de
espaço do que por falta de interesse.
O jornalismo esportivo começou a ganhar forma com Mário Filho e
Nelson Rodrigues, em especial. Mesmo que muito distintamente do que vimos
atualmente. Eles deram ao jornalismo esportivo, na década de 1940, relatos
apaixonados e em espaço bem maiores do que antes. Na verdade, até hoje há
discussões a respeito de se de aquilo era jornalismo. As crônicas tinham vida
própria e carregavam doses cavalares de dramaticidade, de forma que alguns
meros desconhecidos poderiam ser alçados à condição de super heróis.
A partir de Mário Filho, o tema futebol deixaria de ser tratado apenas
como discussão pública para se tornar uma grande narrativa, dando inicio a um
processo de mudanças fundamentais e significativas no campo do jornalismo
esportivo.
As primeiras experiências de Mário Filho a respeito do assunto foram
desenvolvidas em 1928, quando ele já está à frente da seção de esportes do
jornal A Manhã, depois de ter ocupado, por um tempo, a página literária do
periódico. Foi, a partir disso, que ele iniciou suas experiências com a linguagem
30
que se estabeleceria como uma verdadeira e efetiva modernização da
imprensa desse ramo no país.
Mas foi só em 1931, já no jornal O Globo, que Mário Filho passou a
conviver com uma batalha entre o velho e o novo modo de fazer jornalismo
relacionado ao futebol. O pano de fundo desse processo será aqui rapidamente
sintetizado, apenas para que se possa compreender adequadamente o alcance
geral dos seus desdobramentos futuros.
A atuação de Mário Filho, no campo da imprensa esportiva brasileira,
na verdade, se inclui na trajetória de redefinição de rumos da vida nacional,
que se acentuaria a partir dos acontecimentos da revolução de 1930. No fim
das contas, uma série de fatores, como a repressão política, as sucessivas
decretações de estado de sítio, a emergência da Lei da Imprensa de 1922, o
surgimento do movimento tenentista, os levantes militares de 1922 e 1924, a
fundação do Partido Comunista e a Coluna Prestes, entre outros, acenderam
os sinais de alerta para um estado de ebulição social que a Revolução de 1930
viria consolidar, abrindo novos horizontes para a vida nacional.
A perspectiva, diante de tudo isso, e também do consequente
movimento modernista, marcado pela Semana de Arte Moderna de 1922,
possibilitou a construção de uma identidade nacional a partir das raízes
genuínas da nossa formação social.
Estava em pleno curso, portanto, neste período, uma reorganização
dos valores e, no âmbito esportivo, não foi diferente. A década de 1920
apresentou o mesmo ambiente efervescente e estruturador, que se configurou
e consolidou através de Mário Filho.
Segundo o pesquisador Marcelino Rodrigues Silva, esse momento é
decisivo no percurso da imprensa brasileira, acima de tudo pelas
consequências que implicarão a própria história da interpretação do jogo de
futebol, por exemplo, no Brasil. Além de registrar a convivência e a disputa entre [ ] duas maneiras de noticiar e interpretar os acontecimentos esportivos, ele marca o início da longa passagem de Mário Filho por esse jornal [O Globo], quando suas iniciativas inovadoras deslancham e ganham maior consistência. É a virada de jogo, o episódio decisivo em que a hegemonia da interpretação elitista do futebol é posta em xeque por um novo discurso sobre o esporte. (SILVA. M. R., 2006, p. 98).
31
Vejamos, pois, como operava simbolicamente o jornalismo esportivo
antes de Mário Filho, e como passou a operar agora, depois de suas
intervenções remodeladoras, o discurso social sobre o futebol no jornalismo
brasileiro.
De acordo com Alves (2011), em seu estudo sobre as representações
do futebol no campo da literatura, no que tange à imprensa esportiva, o que se
tinha até então era a prática já desgastada de um modelo de discurso apegado
ainda às formas canonizadas pelo parnasianismo brasileiro, baseado no
beletrismo ostentatório e bacharelesco das elites culturais que insistiam em
edulcorar a realidade por meio de um olhar próprio, monolítico e auto-centrado,
de forma semelhante ao ambiente social onde estavam inseridos.
No geral, o modelo anterior às inovações produzidas por Mário Filho se
estruturava da seguinte maneira.
O texto geralmente começa com alguns comentários, em que o cronista apresenta a sua visão geral do evento e suas opiniões pessoais sobre ele. Após esses comentários iniciais, passa-se à escalação dos teams e à narração da partida e, por fim, adicionam-se pequenas notas que retomam e concluem os temas tratados anteriormente ou acrescentam informações sobre os assuntos relacionados ao jogo. (SILVA, M. R., 2006, p. 44).
Ou seja, no que se refere objetivamente à descrição de uma partida em
si, o que ainda imperava eram as impressões particulares do cronista, exposta
geralmente sob forma de comentário. Com a sua reinterpretação, o panorama
do jornalismo esportivo brasileiro será reordenado, como se verá.
Partindo do pressuposto da linguagem do jornalismo em sua noção
mais geral, chega-se a conclusão que foi sobre esta plataforma discursiva da
imprensa que o jornalista Mário Filho desenvolveu suas ações de renovação da
linguagem de esportes no Brasil.
Retomemos, então, o ponto em que tanto o futebol quanto o jornalismo
esportivo ainda se apoiavam sobre os valores vigentes da sua fase pré-
moderna. E retomemos com esse texto que segue sobre o qual serão tecidos
comentários pertinentes.
Urge, sim, que os vinte e dois jogadores em campo mostrem aos príncipes o estado de sua educação, sabido que na
32
Inglaterra se rendem atenções maiores à disciplina do que à própria técnica. Já fartamente, neste “Reparo” temos dito que, quando o inglês chama o outro de sportman, quer significar que este outro é homem de educação perfeita, é cavalheiro de apuradas maneiras. É, pois, preciso, na grandiosa exibição que vai se realizar, que Eduardo e Jorge empreguem a palavra enobrecedora, o que equivale na afirmativa cabal e terminante da nossa educação sportiva. Que sejamos absolutamente sportmen, diante dos príncipes! (SILVA, M. R., 2006, p. 101).
Alves (2011), embora classifique este tipo de jornalismo como um
jornalismo francamente esportivo, claro, considera-o vestido de terno e gravata,
em que os traços mais marcantes eram reforçados para servir à imagem da
classe de leitores que dele participava enquanto tema referente de suas
matérias e que, por isso mesmo, o consumia mais diretamente. Tal era o
quadro, portanto, que se tinha àquela época no âmbito da imprensa esportiva
brasileira.
A iniciativa de Mário Filho se pautou em duas perspectivas
fundamentais da pauta de cobertura de trabalho da imprensa: a linha editorial
que orienta as publicações e as formas de apuração da notícia, que
fundamentam toda a plataforma discursiva dos veículos de comunicação
informativa.
No âmbito do sistema linguístico, houve de imediato uma radical
modificação nos procedimentos de investigação, captação e obtenção dos
fatos jornalísticos. E, assim como nos moldes atuais, a Rede Globo de
Comunicação foi que iniciou a o processo de inovação do fazer jornalístico no
esporte. Ao contrário de outros veículos, que se limitavam a receber
informações oficiais dos clubes e ligas esportivas e que dificilmente
compareciam aos jogos para relatar os eventos, o jornal O Globo enviava seus
repórteres aos treinos dos times, aos vestiários dos jogos, à casa dos atletas e
aos bares e cafés que eles frequentavam. Eles aproveitavam as oportunidades,
de estar em meio aos bastidores, para realizar a produção de matérias mais
detalhadas, interessantes e consistentes.
A partir daí, já era possível ver uma mudança na linguagem, que,
segundo Marcelino Rodrigues, abandonou o tom oratório da crônica esportiva
tradicional e se tornou mais simples, coloquial, acompanhando de perto, e
coerentemente, a nova temática. Novamente em termos de linguagem, os
33
textos passaram a ser redigidos de maneira diferente. Passou-se a escrevê-los
em tom narrativo, com ampla utilização do discurso direto, por exemplo, para
reproduzir os diálogos flagrados pelo repórter e, com isso, aproximar mais o
leitor do fato relatado.
Neste ponto, Marcelo Rodrigues observa que a linguagem do
jornalismo esportivo da época começa a caminhar lado a lado com o
coloquialismo, com o uso aberto de expressões de bastidores do futebol, que
tentava reproduzir o ritmo da conversa. Em sua pesquisa, o estudioso avalia
que esse novo estilo editorial “[...] provocou um verdadeiro abalo no balanço das forças que disputavam o controle simbólico do esporte mais popular do mundo, produzindo efeitos que extrapolaram o âmbito jornalístico para atingir, em cheio, todo o modo como o futebol era vivido e interpretado pela sociedade brasileira”. (SILVA, M. R., 2006, p. 140-141).
Outra contribuição de Mário Filho que pode ser considerada
extremamente significativa é o seu modo de ver e tratar o jornalismo esportivo.
Com aquela concepção do jornalismo não apenas como espaço de divulgação
de informações, mas, sobretudo, também como veículo gerador e propulsor
dos acontecimentos sociais de que, por fim, acabaria por se beneficiar
sinergeticamente.
Em suma, Mário Filho deixou, no Brasil, com sua vida e obra, um
legado exploratório das questões da construção e da nossa formação e
identidade sócio-histórica em que é possível perceber perfeitamente a fusão da
grande narrativa histórica do futebol com o próprio sentido de ser do brasileiro.
Ficou, através dele, o sentimento que o esporte, e não as instituições formais, é
que representava as singularidades constitutivas da nação brasileira.
Esta imprecisão característica das crônicas, que estavam mais
preocupadas em descrever o ambiente e os lances de maneira meio que
surreal, de transformar os jogadores em verdadeiros mitos, diminuiu a partir
dos anos 1970, que foi justamente quando a imprensa esportiva começou a
tomar forma, trazendo junto consigo a necessidade de ter o compromisso de
contar a verdade.
Essa preocupação acabou gerando um efeito contrário. O medo de
tornar o produto do jornalismo esportivo tão fantasioso como era antigamente
34
fez com que alguns atletas que certamente mereceram lugar na história fossem
deixados de lado.
Segundo Coelho (2008), a noção de realidade que o jornalismo
esportivo carrega atualmente torna a cobertura esportiva tão brilhante quanto
qualquer outra no jornalismo. O ponto fundamental é que, muitas vezes, tal
cobertura exige muito mais do que a noção de realidade, defende um
jornalismo esportivo menos objetivo e mais subjetivo, sem um total apego à
realidade dos fatos.
Esse tipo de cobertura sempre misturou muita emoção com realidade
em proporções quase que equivalentes nas mais diversas ocasiões,
principalmente pela capacidade que o esporte tem de mexer com emoções e
sentimentos humanos.
É por motivos como este que talvez o jornalismo esportivo seja
considerado, em alguns estudos realizados, como uma das modalidades
jornalísticas que mais foge das regras da objetividade. Acima de tudo, de um
tempo para cá, em que a tecnologia e a necessidade de tornar o produto mais
rentável mudaram os moldes do “fazer esporte”.
4.1 Esporte não é futebol
O futebol é o carro chefe do jornalismo esportivo. Isso não se discute,
ao menos no Brasil, onde pode ser tratado como quase que uma verdade
absoluta. Mas também não é a única opção. Quem tiver paixão por outras
modalidades e sonha em ser especialista no esporte que lhe atrai, tal
possibilidade não está descartada. Muito pelo contrário. O problema é que, se,
no futebol, já é difícil ter reconhecimento e espaço, é muito mais complicado
chegar ao topo com outro esporte.
A verdade é que o jornalismo esportivo atrai muita gente para a área
pela paixão de grande parte da população pelo futebol. Há casos de pessoas
que não conseguem seguir a carreira de jogador e, por isso, vão para o
jornalismo esportivo, aliando-se com o gosto pela escrita, para se manterem
ligadas ao futebol.
Nas editorias de esporte, a equipe de esporte costuma ficar bem
separada da que cobre outras modalidades. Não quer dizer que quem se
35
dedica ao futebol não precise cobrir outro esporte. Cobre, sempre que a
necessidade aparecer. Mas é mais clara a divisão nas outras modalidades.
Quem faz basquete também faz vôlei, atletismo, tênis, etc. Mesmo que se
dedique com mais afinco a um esporte específico.
Em um estudo dedicado ao campo do jornalismo esportivo, Coelho
(2007) chega à conclusão que não existe jornalista de esportes. Existe o
jornalista, aquele que se dedica a transmitir informações de maneira geral, o
especialista em generalidades. Que se torna, muitas vezes, melhor quando é,
de fato, conhecedor do assunto específico.
O problema disso tudo, ainda de acordo com Coelho, é que o mercado
só permite a criação de jornalistas de futebol, de automobilismo e, por vezes,
de tênis. No fim das contas, o mercado não contempla quem quer aventurar-se
nessas áreas específicas. Esse aventureiro até que poderá ter bastante
sucesso, mas vai que ter brigar muito mais por isso.
4.2 A essência do jornalismo esportivo
No jornalismo esportivo, o que importa é saber construir uma boa
história, priorizar a informação, ter noção exata de qual é o lide da matéria que
está por nascer e o encadeamento de ideias para tornar a história
suficientemente atraente para o leitor. Tudo isso é bom jornalismo. É a síntese
da profissão, e, para o jornalismo esportivo, não poderia ser diferente. O
jornalista vive de apurar informações inéditas e construir matérias corretas e
atraentes. Quanto mais bem informado for o profissional, mais fácil será de
adquirir a técnica.
E digamos que não é tão difícil ser jornalista esportivo, se o profissional
for, de fato, um profundo conhecedor da área e lidar bem com as regras
jornalísticas. É que o leitor/espectador não quer entender o esporte, não quer
se aprofundar sobre o assunto, sobre os saberes do esporte. Ele quer a
divulgação mais rápida e completa possível de fatos acerca de jogadores,
técnicos, dirigentes, autoridades, campeonatos, olimpíadas, copas e etc. Quer
é ficar sabendo dos placares, dos jogos e uma série de informações mais
superficiais, mas que envolvam diretamente os seus interesses.
36
De acordo com Messa, em seu artigo científico intitulado de “jornalismo
esportivo não é só entretenimento”, o que se tem construído, na verdade, é
uma cadeia de mitificações cíclicas, viciadas, que todos nós, jornalistas e
leitores, acatamos e achamos que este é o jornalismo esportivo.
Messa é mais enfático quando afirma que não existe uma essência no
jornalismo esportivo. Segundo ele, o jornalismo esportivo diário é, na realidade,
um jornalismo de variedades, amenidades, cujo tema não é o esporte em si,
mas os seus conglomerados e personagens que compõe essa rede
mercadológica. Para o estudioso, não existe no jornalismo factual informação
sobre esportes, existe propaganda sobre o esporte, publicidade de marcas e
logos, propaganda ideológica sobre as suas relações de poder,
sensacionalismo e merchandsing.
A proposta de Messa é a criação de um jornalismo esportivo de caráter
científico. Ele até cita que não quer declarar repúdio ao jornalismo esportivo
factual, até porque considera este fato como irreversível, partindo do
pressuposto de que o público já foi adestrado para isso. O que ele pretende é
despertar outros ou novos ângulos de interesses ao receptor, com o objetivo de
suprir a demanda do conhecimento sobre os esportes. A proposta de um
jornalismo esportivo-científico só tem razão de ser devido a essa conjuntura.
Os moldes do jornalismo esportivo atual não chegaram a este ponto
por uma mera obra do caso. Uma série de mutações transformou-o nisso que é
confundido por muitas pessoas como um mero entretenimento. A linguagem
cada vez mais descontraída, a forma leve de apresentação dos conteúdos e
outras mudanças características tornam o jornalismo esportivo cada vez mais
distante das regras da objetividade jornalística.
Ao constatar um olhar genérico e panorâmico em direção ao jornalismo
esportivo, fica claro que ele é, sim, uma forma de entretenimento, mas que é
também, ao mesmo tempo, uma especialização do gênero informativo, assim
como é o jornalismo policial e o jornalismo político.
Entre as alterações que mais podem ser destacadas no jornalismo
esportivo, está a linguagem, que, neste caso, nunca teve uma escola bem
definida. O surgimento de um estilo próprio sempre dependeu da tentativa de
erros e acertos. Hoje, a linguagem jornalística esportiva varia de veículo para
veículo. Alguns veículos adotam a ideia de que é preciso “viver” aquela emoção
37
para o telespectador, de que o ideal não é apenas passar a informação. É
natural ver repórteres participando de escaladas, mergulhos, é normal vê-los
chorando, lutando, jogando e vivendo a emoção do esporte, o que os torna tão
protagonistas quanto os atletas.
A partir de uma análise a respeito do veículo escolhido pelo referido
trabalho, é possível perceber que, de um tempo para cá, existe uma
preocupação de seguir a tendência de que o texto do jornalismo esportivo
“deveria ser como um ponto final de bloqueio triplo no vôlei, um gol sensacional
ou uma quebra de recorde mundial na natação”. (BARBEIRO; RANGEL, 2006.
p. 51).
Os autores sugerem a fuga da normalidade, dos clichês, do quase
banalizado, e pedem um texto criativo, sem chavões, sem amarras, com
paixão, mas sem abdicar dos rigores da informação – paixão jornalística, e não
clubística.
Para um texto ser considerado atraente, é necessário que haja a maior
quantidade de informações relevantes possíveis, e que elas sejam distribuídas
de maneira clara e criativa. A criatividade é fundamental para isso. Vai ser
decisiva para diferenciar um texto comum de um texto especial, que vai fazer
com que cada linha chame a leitura da próxima e que cada parágrafo desperte
o interesse pela leitura do seguinte. “A emoção deve passar por meio da
atmosfera narrativa sem apelar para a utilização de adjetivos românticos”.
(BARBEIRO; RANGEL, , 2006. p. 52).
5. O CASO DO GLOBOESPORTE.COM
Dentre todos os sites especializados em jornalismo esportivo, o
globoesporte.com é o que detém a maior audiência. Isso foi confirmado através
de pesquisa realizada pelo Ibope, em 2012, que consolidou a liderança isolada
do veículo. São aproximadamente 11 milhões de visitantes por mês, superando
largamente a margem do UOL Esportes, que é de 7,4 milhões, e do Terra
Esportes, que é de 3,2 milhões.
O Globoesporte.com é um site de esportes das Organizações Globo
com a convergência entre os programas esportivos da Rede Globo: Globo
Esporte, Auto Esporte e Esporte Espetacular. Também insere conteúdo do
38
canal de esportes da Globosat, o Sportv. Além de mostrar informações em
tempo real de jogos esportivos, o portal disponibiliza informações de todos os
esportes, seja a nível nacional e até mesmo mundial, com foco, obviamente, no
futebol.
O site foi lançado em 2005 como Esporte na Globo e só em 2006 é que
passou a se chamar Globoesporte.com. Em 2007, dois anos após a sua
fundação, já assumiu a liderança de audiência no mercado de esportes na
internet brasileira. Surgiu como uma dissidência do Globo.com, que viu a
necessidade de ter um espaço destinado única e exclusivamente ao mundo
dos esportes.
A partir do sucesso do Globoesporte.com, refletido na enorme
audiência, houve a necessidade de expandir a cobertura. Faltavam dados mais
detalhados dos campeonatos estaduais menos badalados. Faltavam, por
exemplo, informações curiosas e matérias específicas sobre o esporte
paraibano, e não apenas o que vinha à tona nacionalmente, já que as redações
estavam todas localizadas nas regiões mais desenvolvidas.
Até o início desta década, na Paraíba, poucos eram os meios
comunicacionais que se detinham prioritariamente ao jornalismo esportivo.
Para ser mais preciso, fosse pelos meios impresso, televisivo, radiofônico ou
virtual, este setor do jornalismo abordava de forma sucinta – a não ser por
alguns programas de TV ou rádio – os eventos esportivos do estado e, em se
tratando de futebol, dava enfoque aos centros mais desenvolvidos nesta
modalidade, sabidamente Sul e Sudeste do país.
Eis que, especificamente no jornalismo online, ainda nos últimos anos, o
público esportivo paraibano carecia de um veículo que se voltasse
exclusivamente à cobertura dos eventos de esporte, fossem quais fossem,
preferencialmente, o maior número possível. E, em agosto de 2011, a Rede
Paraíba de Comunicação estreou o Globoesporte.com/pb, vinculado ao G1
Paraíba, já sob a chancela da Rede Globo de Comunicação, que mantém no
ar, já há alguns anos, sites especializados em jornalismo esportivo.
Entre as várias modalidades esportivas que o site pode abordar em seu
trabalho cotidiano, destaca-se o futebol, como acontece em todos os estados
do país em que o esporte ainda ostenta a condição de mais apaixonante e
mais praticado, profissional ou amadoristicamente.
39
Depois de ter feito a cobertura da Copa Paraíba de Futebol Sub-21 –
além da participação dos times locais em duas competições nacionais: séries C
e D do Campeonato Brasileiro de Futebol –, o Globoesporte.com/pb cobriu, no
início de 2012, a principal competição de futebol no seu estado: o Campeonato
Paraibano de Futebol Profissional. Foi a primeira experiência do veículo na
cobertura do maior evento futebolístico local.
E é justamente as matérias vinculadas ao Campeonato Paraibano 2012
que serão objetos de análise deste Trabalho de Conclusão de Curso. Nelas,
serão discutidas as regras da objetividade jornalística, em especial, os critérios
de noticiabilidade e todo o procedimento destinado à produção das notícias,
desde a possibilidade de indicações organizacionais para adotar um
determinado estilo, passando também pela questão de se o gosto pessoal do
profissional é levado em consideração.
5.1 O Campeonato Paraibano 2012
Objeto do nosso estudo, o Campeonato Paraibano de Futebol
Profissional 2012 foi realizado entre os dias 5 de fevereiro e 13 de maio.
Contou com a participação de dez equipes. Ao final da competição, o
Campinense ficou com o título, derrotando o Sousa na grande decisão, e o
Esporte de Patos e Flamengo Paraibano foram rebaixados para a Segunda
Divisão.
A primeira edição do Campeonato Paraibano é datada de 1908,
quando o já extinto Parahyba FC, da cidade de João Pessoa, se sagrou
campeão estadual. Daí em diante, vários clubes diferentes conseguiram
terminar na primeira colocação, sendo o maior campeão de todos o Botafogo ,
que contabiliza 25 títulos estaduais.
O detalhe é que de 1908 até 1949, quando se instituiu a atual
Federação Paraibana de Futebol, os campeonatos estaduais eram realizados
por várias entidades. A primeira foi criada em 1914, que era a Liga Parahybana
de Futebol, e depois vieram, respectivamente, a Liga Desportiva Paraibana
(1919-1941) e, por último, antes da então Federação Paraibana, existiu a
Federação Desportiva Paraibana.
40
Durante todo este período, vários clubes foram surgindo e
desaparecendo ao longo do tempo. São os mais variados exemplos de equipes
que, inclusive, chegaram a vencer a principal competição da Paraíba, mas que
depois não resistiram e acabaram se extinguindo. Entre elas, o Esporte Clube
Cabo Branco, que só funciona amadoristicamente nos dias atuais, e o próprio
Parahyba FC, primeiro campeão estadual.
Entre alguns acontecimentos que marcaram o Campeonato Paraibano
2012, destaque para a tradicional polêmica da liberação dos estádios, que
costuma sempre “manchar” o início da competição. Mais uma vez com
problemas de infra-estrutura, as praças esportivas só foram liberadas de última
hora pelo Ministério Público, que ameaçou o início da competição e, no final,
emitiu a liberação por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta.
A briga do Auto Esporte com a Federação Paraibana de Futebol foi um
fato que também chamou a atenção. Principalmente por causa dos debates
acirrados entre os presidentes das duas entidades, na época Watteau
Rodrigues, do Auto Esporte, e a então mandatária da Federação, Rosilene
Gomes. A confusão foi originada por causa do repasse de um cheque da
Confederação Brasileira de Futebol referente a participação do Auto Esporte na
Copa do Brasil, direito adquirido pelo clube depois da conquista do título da
Copa Paraíba 2011.
Além disso, pode-se ressaltar a situação periclitante que viveu o
rebaixado Flamengo Paraibano, com alguns atletas chegando a passar fome,
as atuações do atacante Warley, que já vestiu até a camisa da Seleção
Brasileira de Futebol e foi o artilheiro isolado do campeonato, e ainda os
desentendimentos e crises que marcaram a temporada do Botafogo, em
especial, além de algumas derrotas surpreendentes jogando diante de sua
torcida, contratações frustradas, a briga familiar entre os primos Nelson Lira
(atual presidente) e Carlos Lira (antigo gerente de futebol do clube) .
Por meio de uma pesquisa levantada pela própria equipe do
Globoesporte.com/pb, percebeu-se que, decididamente, a época de disputa do
Campeonato Paraibano é a que atrai mais leitores para o site. A audiência
cresce consideravelmente. E costuma marcar o período em que a “praça”
paraibana mais consegue emplacar matérias na página nacional do veículo – o
41
que inclui apenas aquelas matérias que fogem do comum e se tornam de
interesse totalmente público, inclusive de outros Estados.
De acordo com o editor do Globoesporte.com/pb, o jornalista Phelipe
Caldas, os meses que englobam o Campeonato Paraibano exigem uma
preparação e participação especial de toda a equipe, inclusive com a
realização de horas extras, seja através de plantões de final de semana ou em
dias normais de trabalho. Ele diz que existe uma sugestão da direção nacional
e local de jornalismo de que é necessário tentar, ao máximo, prestigiar todos os
times, mas sempre dando maior valor aos de maiores torcidas na Paraíba,
sabidamente Botafogo, Treze e Campinense. Estes são os clubes que
garantem maior audiência e os quais geralmente dão maiores visibilidade e
repercussão às notícias publicadas.
5.2 O uso da objetividade jornalística no veículo
A escolha do Globoesporte.com/pb como objeto de análise deste estudo
levou em consideração uma série de fatores. O principal deles é o fato de ele
ser o veículo online especializado em esporte com a maior audiência e por se
tratar de uma iniciativa pioneira no nosso Estado. A facilidade de acesso aos
integrantes da equipe, em especial os editores Phelipe Caldas e Expedito
Madruga, também foram avalizadas.
A partir da sua criação, que aconteceu em 2007, nota-se que o
Globoesporte.com seguiu a tendência do jornalismo esportivo atual. Antes, os
textos eram mais “duros”, mais tradicionais, com o lide de abertura contendo as
informações principais e alguns parágrafos descritivos sobre determinadas
situações, geralmente com declarações de todas as partes envolvidas.
Embora a discrepância com o jornalismo televisivo ainda seja grande,
este, cada vez mais ligado ao entretenimento e a necessidade de ampliar a
audiência do jornalismo esportivo, o “fazer jornalístico” praticado pelo
Globoesporte.com, onde se insere o Globoesporte.com/pb, tem seguido
caminho semelhante. Os moldes atuais têm gerado, inclusive, dúvidas entre os
próprios membros da imprensa.
É possível ver, de um tempo para cá, uma série de recursos utilizados
nas matérias que, em outras épocas, eram inimagináveis. Existe tentativa de
42
reprodução de som, uma quantidade fora do normal de jogo de palavras, uso
excessivo de jargões tradicionais do meio e, acima de tudo, algumas
comparações que podem fugir ao senso comum de boa parte do público, como
a inserção de personagens fictícios, de novelas da televisão brasileira, e
algumas outras iniciativas que, muitas vezes, podem ser consideradas
frustradas, de tornar as matérias mais próximas das crônicas, semelhantes,
mesmo que de longe, ao que era praticado pelos saudosos jornalistas Mário
Filho e Nelson Rodrigues.
Dentre as três matérias compiladas e destacadas para serem
analisadas, uma delas foge um pouco dos limites impostos pelo título deste
Trabalho de Conclusão do Curso. Partindo do pressuposto de que o mais
importante é fazer uma observação geral da questão das regras da
objetividade jornalística e de que é necessário uma matéria de repercussão
nacional para que se entenda melhor a lógica local, decidiu-se utilizar a matéria
sobre os minutos posteriores ao rebaixamento do Palmeiras, de São Paulo,
para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, fato que se concretizou no
dia 18 de novembro de 2012. Ei-la, a seguir.
• Título da matéria 1: Após sofrer no ônibus, Palmeiras é rebaixado no
km 322 da Via Dutra; Autor: Diego Ribeiro; publicada às 21h37, no dia
18 de novembro de 2012
Em campo, o Palmeiras não conseguiu o principal objetivo: vencer o Flamengo. Empatou por 1 a 1, em Volta Redonda, e colocou o próprio destino nas mãos dos adversários. Restou ao Verdão segurar as lágrimas - de alegria ou tristeza - até o fim do jogo da Portuguesa contra o Grêmio, no Canindé. Acabada a partida no Raulino de Oliveira, o time entrou em um ônibus para percorrer a Rodovia Presidente Dutra de olho no que o destino reservava: uma estrada com um oásis no fim ou o inferno da Série B à espera em algum lugar entre Rio e São Paulo.
Após o empate, a delegação palmeirense ainda ficou em silêncio por cerca de uma hora no vestiário. Choro, só no campo, de forma modesta. Os jogadores ficaram quietos, cabisbaixos, sem reação.
- Já viram velório? Foi isso que aconteceu depois do jogo - resumiu o técnico Gilson Kleina.
O grupo caminhou para o ônibus com a expressão de quem perdeu realmente um amigo ou parente próximo. A viagem seria de muita tensão. Afinal, o time deixou o estádio às 20h, quando Portuguesa e Grêmio já se enfrentavam no Canindé, com o placar de 0 a 0. Um empate já seria suficiente
43
para rebaixar o Palmeiras, que precisaria torcer como nunca por uma vitória dos gaúchos.
Na Via Dutra, mais silêncio. Apenas as luzes de tablets e celulares iluminavam o ambiente fúnebre. Todos acompanhavam pela internet o jogo da Lusa sem emitir qualquer som. Parecia que, se alguém falasse, algo poderia dar errado. O primeiro barulho veio quando a Portuguesa fez o primeiro gol, aos sete minutos do segundo tempo, com Moisés. Em algum lugar na estrada, entre as cidades de Barra Mansa e Resende, ainda em solo fluminense, Maurício Ramos não segurou as lágrimas. Chorou como uma criança. Caía a ficha. Em poucos minutos, não estava sozinho: outros jogadores também choraram.
A marretada na cabeça veio com o segundo gol da Portuguesa, aos 15 minutos, com Léo Silva. Alguns desligaram seus aparelhos eletrônicos, pois tudo estava acabado, acreditavam. Mas sempre tem alguém que não desiste, que não consegue se isolar no silêncio da estrada enquanto o destino está sendo jogado lá fora. Em um dos celulares, veio a notícia: gol do Grêmio! André Lima marcou, aos 28. A esperança se renovava. Em quatro minutos, o sentimento cresceu e se fortaleceu: gol do Grêmio! Zé Roberto, aos 32.
Será que ainda dava? O empate no Canindé seguia rebaixando o Palmeiras, mas o gol do Grêmio parecia estar tão perto. Era tudo o que o Verdão precisava. Apesar de carregado de tensão, o ambiente voltou a ficar silencioso. Sabe aquela sensação de que, se alguém falar, tudo desanda? Ela havia retornado. Enquanto isso, a Polícia Militar do Rio, que fazia a escolta do ônibus, se despedia aos poucos dos palmeirenses. Alguns carros ainda seguiriam até o posto de pedágio que marca a divisa entre Rio e São Paulo. Era a hora de a Polícia Rodoviária assumir o restante do trajeto.
Minutos de sofrimento. Vai dar, não vai dar. Não deu. O árbitro apitou o fim da partida às 21 horas e 22 minutos, com 47 minutos de segundo tempo. O 2 a 2 estampou os celulares e tablets palmeirenses. As lágrimas já haviam se esgotado, apenas a tristeza profunda era companheira de viagem de cada um naquele ônibus. E, na altura de Itatiaia, no quilômetro 322 da Via Dutra, a 15 km de alcançar a divisa com o estado de São Paulo, o Palmeiras chegou ao inferno.
O lide da matéria faz um resumo sintético da situação em que se
encontrava o Palmeiras naquele momento. Cita o empate diante do Flamengo,
que o fez depender de outros resultados, e, logo, alerta para o foco da matéria,
que é o percurso de volta para São Paulo, dentro do ônibus, enquanto o jogo
que definiria seu futuro, envolvendo Portuguesa e Grêmio, estava acontecendo.
Ainda no parágrafo de abertura, o jornalista faz uso de cenários fictícios.
Compara a possibilidade de o clube permanecer na elite do futebol brasileiro a
um oásis do deserto e o rebaixamento ao inferno, em uma tentativa de
estimular o imaginário do leitor.
A partir daí, começa um verdadeiro enredo de cinema. Cenas
estritamente descritivas, desde o mínimo detalhe, como a luz de um aparelho
44
eletrônico, ao comportamento pessoal de alguns personagens, uma pequena
fala do treinador Gilson Kleina sobre a situação, e até mesmo a utilização de
recursos que, por muitos, não são muito bem aceitos em uma matéria
jornalística, entre os quais se podem citar a utilização dos pontos de
interrogação e exclamação.
Embora as informações essenciais devam aparecer no primeiro
parágrafo, o ponto alto do texto, neste caso, é o parágrafo de encerramento.
Nele, o autor da matéria tenta reproduzir o que passava pela cabeça dos
personagens, através do “vai dar, não vai dar”, e é bastante enfático e emotivo
quando descreve o exato instante em que o Palmeiras teve o seu rebaixamento
decretado. Nota-se claramente que houve uma tentativa de representar
fielmente o que os palmeirenses estavam sentindo. Houve também uma
tentativa de reproduzir por meio do texto a imagem que costumamos ver
quando um time é rebaixado: de pessoas cabisbaixas, com olhos marejados,
muitas lágrimas e até certo desespero.
Ao fechar a matéria com “e, na altura de Itatiaia, no quilômetro 322 da
Via Dutra, a 15 km de alcançar a divisa com o estado de São Paulo, o
Palmeiras chegou ao inferno”, o jornalista, sem precisar de maiores detalhes,
explica a escolha do título e ainda por cima simboliza bem o que aquilo
representava aos envolvidos.
Percebe-se uma fuga quase que total das regras da objetividade
jornalística. Acima de tudo, pela maneira que o texto foi conduzido. É possível
ter a certeza que o subjetivo do repórter está incluso na matéria, principalmente
no que tange aos inúmeros detalhes descritivos, às tentativas de evidenciar a
emoção, e a escolha do elemento direcionador da notícia, que é o trajeto da
delegação do Palmeiras no retorno a São Paulo.
Os critérios de noticiabilidade até alertam para o fato de que a notícia
em questão é óbvia, mas a forma de condução do material que lhe foi
disponibilizado foi de inteira responsabilidade do repórter, assim como as
impressões descritas, a linguagem utilizada e os personagens escolhidos, o
que já descaracteriza uma notícia totalmente objetiva.
Vamos analisar, a seguir, a nossa segunda matéria, esta, sim, do
jornalismo local.
45
Título da matéria 2: Bota-PB e Fla-PB estreiam clássico que começa
com os dias contados; Autor: Phelipe Caldas; publicada às 9h30, no dia
10 de março de 2012:
Ao falar do clássico entre Flamengo e Botafogo, a primeira imagem que vem à tona, certamente, é a de um estádio lotado ou até mesmo de jogos memoráveis que ficaram marcados na trajetória de ambos os clubes, como a final do Campeonato Brasileiro de 1992. Na Paraíba, a história do confronto envolvendo estas equipes deve tomar um rumo totalmente diferente. Botafogo-PB e Flamengo-PB se enfrentam pela primeira vez neste domingo, às 16 horas, no Estádio Almeidão, em duelo válido pela nona rodada do Campeonato Paraibano.
As perspectivas de repetir a rivalidade das ''matrizes'', iniciada no dia 13 de maio de 1913, no entanto, são remotas. Neste caso, estamos falando de um novo duelo que já nasce ameaçado. Existe, inclusive, a possibilidade de esta já ser a penúltima partida entre os dois times (o outro confronto está previsto para o dia 22 de abril, também no Almeidão).
Imerso em uma crise sem precedentes, que parece não ter fim, o rubro-negro paraibano chegou ao cenário do futebol local com o pensamento de repetir o sucesso do homônimo carioca. Apostou até no ex-presidente do Fla, Márcio Braga, para ser o padrinho do clube. O baiano Ricardo, do vôlei de praia, que é radicado na Paraíba, é outro padrinho de peso. A ideia do presidente Ranieri Fonseca, que garante ser apaixonado pelo Flamengo, era de fazer uma parceria. Esbarrou no não de Patrícia Amorim.
A falta de apoio dos patrocinadores e, principalmente da torcida imaginária, trouxe para o dirigente, em vez de satisfação, uma extrema decepção. O choro com o acesso para a elite do Campeonato Paraibano, ao terminar a Segundona 2011 como vice-campeão, era de quem acreditava no projeto. Faltou avisar aos torcedores flamenguistas que havia um Flamengo em João Pessoa. Talvez até hoje não saibam.
Se souberem, é através do bombardeio de notícias ruins que tomou conta do rubro-negro paraibano. Entre elas, um depoimento emocionante do antigo treinador Danilo Augusto, que confessou ter chorado enquanto voltava para sua cidade natal. O dia a dia dos atletas do Fla-PB, segundo ele, é assustador.
Para se ter uma ideia, o local que serve de concentração para os jogos "é uma casa velha, com apenas um banheiro, e com uma descarga quebrada". Os treinamentos estão sendo realizados no município de Sapé, localizado a 55 km da capital. Falta campo; falta estrutura; falta dinheiro. Os salários estão atrasados. A situação é preocupante. Antes de Danilo Augusto, foi a vez de Washington Lobo abandonar o barco. Alegou incompatibilidade de tempo para justificar o que parece injustificável.
O sonho de ser jogador de futebol é a única maneira de entender o que faz estes atletas conviverem com uma realidade que parece inimaginável para astros como Ronaldinho Gaúcho, Vágner Love, Léo Moura e Felipe. Lá, enquanto se ensaia várias coreografias para comemorar os gols marcados, incluindo o famoso 'Bonde do Mengão sem Freio' e a atual 'Que é isso, novinha?', a luta aqui é para não 'dançar na vida'.
46
- Vi muita gente triste. Os jogadores chegavam até mim, reclamavam da situação e diziam que não aguentavam mais aquilo tudo. Quase todos querem abandonar o time. Não sou hipócrita. Como iria passar alegria para um elenco se eu mesmo estava triste? Chorei no ônibus, na volta para Fortaleza. Sou guerreiro e vencedor e queria erguer aquilo lá. Mas não me senti capaz de trabalhar sem uma estrutura mínima. Sem campo para treinar, com jogador dormindo e comendo mal e viajando de van, como poderíamos vencer? - declarou Danilo Augusto.
A incômoda posição do Flamengo Paraibano na tabela de classificação, onde amarga a lanterna, com apenas dois pontos conquistados, é o retrato do caos e do amadorismo presentes no clube. Nada que diminua o otimismo do atual técnico, Zenóbio Damásio, que também dirige as categorias de base da entidade.
- A cada jogo temos dívidas de mais de R$ 2 mil e arrecadamos em média R$ 500. Não temos como saldar isso só com o que conseguimos. Estamos tentado pagar e a expectativa é de reagir o mais rápido possível. Vivendo o outro lado da moeda, o que não significa dizer que não convive com dias difíceis, a versão paraibana do Botafogo sonha com o fim do jejum de nove anos sem conquistar o título do campeonato local. Começou a temporada bem, fazendo jus ao rótulo de maior campeão do estado (25 títulos), e já está na vice-liderança, somando 14 pontos.
Fundado no dia 28 de setembro de 1931, o Belo já tem na história um confronto contra a equipe que inspirou o seu nome. Foi na inauguração do Estádio Almeidão, em 1975, que terminou com vitória dos cariocas pelo placar de 2 a 0. Apesar das diferenças consideráveis, não tão grandes como no caso dos rubro-negros, Botafogo-PB e Botafogo-RJ carregam uma grande semelhança: é no design do símbolo, já que apenas a cor da estrela o diferencia (enquanto o carioca tem a estrela branca, o paraibano tem ela na cor vermelha).
Já em jogos contra o outro Flamengo, o do Rio, o Botafogo da Paraíba tem algumas marcas inesquecíveis. A mais famosa aconteceu em 6 de março de 1980, quando o clube paraibano venceu o carioca por 2 a 1, em pleno Estádio do Maracanã. Os gols do Belo foram marcados por Zé Eduardo e Soares e o Mengo descontou com Tite. Aquele Flamengo tinha ainda nomes como Raul, Júnior, Adílio, Zico, Paulo César Carpegiani, Andrade e Reinaldo. Era o mesmo time que venceria todos os campeonatos nos anos seguintes.
Vejamos, também, a terceira matéria, de produção e publicação no
Globoesporte.com Paraíba.
Título da matéria 3: Jales cobra autoria do gol da virada do Bota-PB: “foi
meu, Nino, foi meu”; Autor: João Sabino; Publicada às 18h10, no dia 16
de abril de 2012.
Por um instante, os torcedores do Botafogo-PB imaginaram que o segundo gol da vitória por 2 a 1 diante do Treze, neste domingo, no Estádio
47
Almeidão, fora marcado pelo meio-campista Nino Paraíba. Era o que menos importava para eles no momento. Não para o atacante Jales, verdadeiro autor do gol, que fez questão de 'cobrar os créditos'.
A aflição do jogador, enquanto corria para comemorar com os seus companheiros, era visível, principalmente quando viu Nino festejando como se tivesse sido o responsável pelo gol. Primeiro, ele olhou para o próprio Nino e disse, em tom de súplica: “foi meu, Nino, foi meu!”. Depois, chegou para o treinador Neto Maradona e falou: “fui eu quem fiz!”.
Ainda atônito, o técnico alvinegro abriu um largo sorriso e deu um abraço caloroso em Jales. Ali, talvez, já fosse suficiente para o camisa 19 alvinegro se sentir recompensado. Mas ele queria o reconhecimento da torcida, que, na opinião do atacante, significa a valorização do seu trabalho. Por isto, aquele esforço tremendo.
- É que venho treinado sério em busca de um golzinho, me esforçando bastante, aí, quando consigo, a torcida achou que não foi meu. É complicado, né? Ficou uma confusão na área, porém pelo replay ficou claro que fui eu quem testei a bola para o fundo do gol. Isso me deixa bastante aliviado, até porque foi em um clássico de tradição e minha participação foi determinante para conquistarmos os três pontos.
Aos que não lembram, Jales chegou ao clube para ser titular. O 'cartão de visitas' foi marcar quatro gols no primeiro coletivo realizado na fase de pré-temporada. Uma lesão muscular na panturrilha o prejudicou e ele foi parar no banco de reservas. Depois, até recebeu algumas chances, mas não conseguiu se firmar. Na justificativa, ele garante que foi sacrificado.
- Acabei sendo um pouco sacrificado. Sou o tipo do jogador que gosta de jogar dentro da área, esperando a bola chegar para tentar fazer os meus gols. Infelizmente, tivemos problema com essa transição do meio para o ataque e, muitas vezes, eu tinha que ir lá ao meio campo buscar o jogo. Agora, tenho tudo para evoluir e ajudar minha equipe na sequência da competição.
Título da matéria 4: Torcida perde a paciência e instala crise no
Botafogo-PB”; Autor: Expedito Madruga; Publicada às 17h03, no dia 19
de março de 2012.
A paciência da torcida do Botafogo-PB chegou ao limite. Agora, definitivamente. Não tem mais essa de o presidente Nelson Lira dizer que não existe crise. O cargo dele está à disposição desde o empate por 1 a 1 diante do Sousa, neste domingo, quando os torcedores xingaram bastante a diretoria, inclusive mostrando notas de dinheiro junto com o coro de ''queremos jogador''.
- Eu assumo a responsabilidade por tudo o que está acontecendo no Botafogo. Estou na presidência do clube atendendo a uma solicitação da torcida. A partir do instante que acharem que não posso mais representar o clube da melhor maneira, eu saio. Se tiver alguém que possa fazer melhor do que o que estou fazendo, meu cargo está à disposição.
A postura do torcedores, segundo Nelson Lira, não é motivada apenas pelo mau momento que a equipe vive no Campeonato Paraibano da atual temporada, onde ocupa a quinta colocação, somando 15 pontos. É reflexo da
48
ausência de títulos, já que o Belo não sabe o que ganhar a competição há nove anos.
Apesar das críticas, o dirigente agradeceu o apoio que vem sendo dado ao time. Para se ter uma ideia, pouco mais de 2500 pessoas estiveram presentes no Almeidão no duelo contra o Sousa. E não se trata de nenhuma novidade. O alvinegro tem a melhor média de público do campeonato até então.
- A gente sabe que é normal esse tipo de coisa no futebol. Vivemos isso no nosso dia a dia, então estamos todos acostumados. Não tem ressentimento algum. Apenas achei que não devia comemorar na hora.
Autor do gol solitário diante do Sousa, Anderson Cavalo garante que não está surpreso com a reação dos torcedores. Ele reconhece que a equipe está deixando a desejar em alguns aspectos e que a pressão só vai diminuir caso o Botafogo vença o CSP, nesta quarta-feira, às 20h15, no Estádio Almeidão.
- O torcedor está no direito dele de cobrar resultados, uma atitude melhor do grupo. Infelizmente, o que estamos planejando não está ocorrendo. Agora, tem mais um confronto difícil, contra o CSP, e precisamos estar focados. Temos que ter tranquilidade e colocar a cabeça no lugar. O Neto chegou recentemente e vai fazer de tudo para consertar os erros.
Tomando como base as matérias compiladas e a rotina do veículo, que
foi observada de perto por este trabalho de pesquisa, fica evidenciada a linha
editorial do Globoesporte.com, inclusive da matriz paraibana. Existe uma
preocupação em fugir do convencional, de atrair o leitor, de mantê-lo preso,
impreterivelmente, até a última palavra, de exprimir sentimentos, de invocar o
imaginário coletivo e, principalmente, de tornar as matérias menos entediantes,
menos “normais”, e, com isso, alcançar um público mais diversificado e uma
audiência cada vez menos específica.
Nota-se, inclusive, que, na maioria dos casos, não há preocupação
com a utilização da objetividade jornalística como ritual estratégico, assim
como detalhou Tuchman (2007) em seus estudos sobre o assunto. É mais do
que comum ler uma matéria que não tenha todas as possibilidades conflituais,
provas auxiliares, uso judicioso das aspas e a estruturação da notícia de
acordo com o modelo padrão. Percebe-se, na verdade, uma hegemonia do “eu
jornalístico”, do subjetivo do repórter, dos seus valores pessoais, até
preconceitos e juízos próprios.
Em suma, quem parar para analisar minuciosamente o
Globoesporte.com/pb, vai chegar à conclusão que o veículo é mais um a
49
seguir os novos moldes da imprensa esportiva, e até da imprensa em geral. De
um jornalismo menos atrelado às regras, em especial as da objetividade
jornalística.
Na matéria 2, é possível observar, desde o título, a inclusão da
percepção do repórter. Neste caso, mais especificamente, uma opinião, que se
apoiou em fatos que serão descritos ao longo do texto. Para se referir ao jogo
entre o Botafogo e o Flamengo Paraibano, o autor convoca o imaginário do
leitor para os famosos homônimos do Rio de Janeiro, com o intuito de explicitar
a diferença enorme que existe entre eles. E, logo, começa a explicar porque
acredita que o “clássico genérico”, expressão escolhida pelo autor para
designar o jogo entre os clubes e que, na época, gerou bastante polêmica, não
vai durar muito tempo. Em determinado momento, faz-se uma comparação da
torcida do Flamengo Paraibano com o “verdadeiro” Flamengo, considerado o
time que tem mais torcedores no Brasil. Através da utilização do recurso do
não-dito, fica clara a inexistência de torcida por parte do Flamengo da Paraíba.
O texto também traz à tona toda a situação caótica que vivia o
Flamengo Paraibano e faz uma comparação da realidade encarada pelos
jogadores paraibanos com a realidade vivida pelos então astros do Flamengo
do Rio de Janeiro, sabidamente Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves, Vágner
Love e Felipe. Ao dizer que “antes de Danilo Augusto, foi a vez de Washington
Lobo abandonar o barco. Alegou incompatibilidade de tempo para justificar o
que parece injustificável”, o autor, por meio da questão da linguagem do não-
dito, pretende deixar claro que o que motivou a mudança de técnica, na
verdade, foram as condições extremamente precárias que tomam conta do
clube.
A matéria 3 é bem característica da política editorial que segue o
Globoesporte.com e suas filiais. Com o intuito de aproximar o leitor do texto, o
autor apela para o lado descritivo das ações. Procura ressaltar todos os
detalhes, incluindo a própria fala do personagem da matéria durante a
comemoração de um gol que na hora não se sabia de quem havia sido.
Termos como “abriu um largo sorriso”, “disse em tom de súplica” e “abraço
caloroso” são expressões que, descaracterizam, de alguma forma, as regras
da objetividade jornalística na sua totalidade. É a precisão do repórter que
assume o lugar de uma linguagem neutra, isenta e objetiva.
50
Por fim, na matéria 4, logo no seu primeiro período, já se pode ver uma
maneira de descaracterização da objetividade jornalística. O repórter usa fatos
para fazer uma afirmação. E em tom enfático, quando utiliza o “agora,
definitivamente”. Nesta perspectiva de análise, vê-se que o jornalista estava
atento, desde o princípio, para a força social do jogo: longe de ser um mero
passatempo sem sentido, o profissional intuíra que o esporte é capaz de
inspirar “paixões e ódios”. O autor também se apropria do recurso do não-dito,
pelo menos, em duas ocasiões distintas. Primeiro, quando se fala que “não se
sabe se haverá tempo”, para, no caso, consertar os erros e promover
mudanças. Depois, quando atenta para a situação de insatisfação dos
torcedores e do incômodo dos jogadores, o repórter dá a entender que o fato
de o atacante Edgard não ter comemorado o gol marcado, diferentemente do
que ele falou, foi, sim, uma representação de descontentamento com a forma
que a torcida vinha se comportando durante as partidas.
O que se verifica, através das leituras, é que a medida que o futebol vai
se modificando, se entranhando cada vez mais nas malhas capilares da
sociedade brasileira, a linguagem também vai acompanhando este processo.
Deixa de um mero acento factual, referencial e informativo (notação das
notícias e reportagens) para ter um tratamento ensaístico e opinativo.
6. METODOLOGIA
Este capítulo se propõe descrever as opções metodológicas no
decorrer da pesquisa. Partilho aqui os caminhos que percorri para a elaboração
e realização da mesma.
Foi feita uma pequena abordagem sobre a natureza da pesquisa.
São descritos aqui os critérios que usei para selecionar os sujeitos da
pesquisa, como também o método usado para a coleta de dados. Em seguida,
apresento as pessoas entrevistadas e como se deu a pesquisa de campo.
Todas estas informações estão organizadas da seguinte forma: A natureza da
pesquisa, Os sujeitos da pesquisa, As entrevistas, Descrição dos sujeitos e, por
fim, o Percurso das entrevistas.
51
6.1 A natureza da pesquisa
A pesquisa em questão não procurou enumerar ou medir os eventos
estudados, mas envolver a obtenção de dados sobre a questão da utilização
das regras da objetividade jornalística em um veículo selecionado pelo
pesquisador.
Caracteriza-se como uma pesquisa de caráter qualitativo, na medida em
que: [...] a abordagem qualitativa realiza uma aproximação fundamental e de intimidade entre sujeito e objeto, uma vez que ambos são da mesma natureza: ela se volve com empatia aos motivos, às intenções, aos projetos dos atores, a partir dos quais as ações, as estruturas e as relações tornam-se significativas. (MINAYO, SANCHES, 1993, p. 224)
Segundo Taylor e Bogdan (1986), uma das características da pesquisa
qualitativa é que o investigador busca entender as pessoas com os fatos
materiais a partir de suas próprias referências, dando igual importância a todas
elas. Reforçando esse argumento, Miles e Huberman (1994), relatam que
nesse tipo de investigação, entender e explicar as formas com que as pessoas,
em situações particulares, entendem, contam, trabalham e lidam com suas
situações cotidianas personaliza-se como tarefa fundamental do pesquisador.
Godoy (1995a, p.62) enumera um conjunto de características
essenciais capazes de identificar uma pesquisa do tipo qualitativa. Dentre elas,
destacam-se:
1- O ambiente natural como fonte direta de dados e o investigador como
instrumento fundamental;
2- O caráter descritivo;
3- O significado que as pessoas dão às coisas;
Portanto, essas características foram tomadas como base para subsidiar
e concretizar o que propõe esta pesquisa.
52
6.2 Os sujeitos da pesquisa
Para a realização desta pesquisa, além da opção de utilização do
Globoesporte.com/pb (fato material), foram escolhidos os dois editores do
veículo, que são pessoas ou sujeitos do processo jornalístico: Phelipe Caldas e
Expedito Madruga.
As razões que motivaram minha escolha é que ambos, segundo eles
próprios revelaram, debatem constantemente sobre a utilização da objetividade
jornalística e são estudiosos, mesmo que de maneira não tão aprofundada,
deste tema.
Os critérios para a escolha dos sujeitos foram:
- ambos são referências no que tange o jornalismo esportivo paraibano;
- os jornalistas deveriam ter, no mínimo, um ano de experiência nessa
instituição, pelo fato de que passa uma segurança maior por ter um
conhecimento qualificado sobre o veículo estudado;
- um deveria estar no veículo em questão desde a sua fase de
planejamento, onde se pode incluir o processo de direcionamento da linha
editorial a ser seguida e a formação da equipe. Acredito que esse fator poderia
influenciar a percepção do editor sobre o objeto de pesquisa, uma vez que o
contato mais próximo com a realidade certamente interfere na forma de
conceber essa realidade. Assim, parto do pressuposto de que o profissional
que esteve em contato com o veículo desde o seu período embrionário teria
mais argumentos para expor o assunto, acima de tudo pelas impressões que
lhe foram passadas durante a fase de desenvolvimento do projeto.
A instituição foi escolhida por causa do fácil acesso para mim, uma vez
que precisaria me deslocar algumas vezes para manter contato, bem como
para a realização das entrevistas. A escolha pela instituição, mesmo sendo da
iniciativa privada, se deveu ao fato de ela ser uma iniciativa pioneira no
jornalismo esportivo paraibano. A escolha do assunto “objetividade jornalística”
foi motivada pelas discussões que teóricos cada vez mais vêm travando, no
campo jornalístico em relação ao tema, principalmente depois que a Rede
Globo de Comunicação, falando do jornalismo esportivo, claro, começou a
mudar significativamente a maneira do “fazer jornalístico”.
53
6.3 As entrevistas
Para a seleção e coleta das informações que ajudaram a atingir os
objetivos propostos nesta investigação, foi realizada uma entrevista individual
semi-estruturada com cada editor selecionado, que tem como característica a
utilização de um roteiro previamente elaborado.
A opção por trabalhar com essa forma de entrevista se deu por acreditar
que ela, ao mesmo tempo em que valoriza a presença do investigador, oferece
muitas chances para que o entrevistado alcance a liberdade e a
espontaneidade necessárias, favorecendo a investigação.
Para Triviños (1987), a entrevista semi-estruturada tem como
característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e
hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Ele afirma ainda que a
entrevista semi-estruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos
sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]”.
Oferece amplo campo de interrogações, frutos de novas hipóteses que vão
surgindo à medida que se percebem as respostas do entrevistado.
Neste sentido, as entrevistas foram realizadas em torno de quatro eixos
principais: dados pessoais/formação, experiência profissional, concepções
profissionais e rotina de trabalho. Estes eixos foram compostos por questões
que serviram de apoio à investigação.
6.4 A descrição dos sujeitos
Phelipe Caldas é editor do Globoesporte.com/pb, tem 30 anos, é
casado e não tem filhos. Ocupa este cargo desde a criação do portal, fundado
em agosto de 2011. Iniciou a carreira há oito anos e, embora tenha decidido
pelo jornalismo para trabalhar com a sua grande paixão, que é o esporte, só
veio a fazer parte da imprensa esportiva de fato quando assumiu o
Globoesporte.com/pb. Antes, ocupou a função de repórter nas mais variadas
editorias jornalísticas, como cultura, política, por exemplo, onde passou mais
tempo, cidades e até mesmo policial. “Ingressei no jornalismo por amor ao
esporte e ao futebol, mas só estou fazendo isso desde 2011”. Apesar disso, ele
54
deixa claro que gostou muito das experiências anteriores. “Mesmo não sendo o
que eu queria de verdade, aprendi bastante em outras editorias, principalmente
na de cultura, onde nunca me imaginei trabalhando e pude fazer boas
matérias”. É formado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no ano de
2002, e, ao mesmo tempo em que desempenha a função de editor do
Globoesporte.com/pb, comanda o tradicional blog do veículo, intitulado
“Carrinho por trás”. Nele, Phelipe traz os mais variados assuntos e trata de
algumas polêmicas do esporte paraibano. Segundo ele, “é um espaço
destinado a abordar os bastidores do esporte local, analisando os problemas
de gestão provocados pela cartolagem”. Phelipe é também jornalista
investigativo, certificado, inclusive, e autor do livro “Academias de Bambu –
boemia e intelectualidade nas mesas de bar”.
Expedito Madruga também é editor do Globoesporte.com/pb, tem 38
anos, casado e tem 1 filha, ainda criança. É uma espécie de editor assistente,
já que ele ocupa esta função no Jornal da Paraíba, onde dirige o caderno de
esportes, e no GloboEsporte, noticiário televisivo que é apresentado de
segunda a sábado na TV Cabo Branco – ambos também pertencentes ao
Sistema Paraíba de Comunicação. É, talvez, um dos grandes nomes do
jornalismo esportivo paraibano, principalmente pela experiência que carrega no
currículo. Decidiu pelo jornalismo também por causa da paixão pelo esporte. E
diz que não se arrepende. “Sou apaixonado por esportes e pelo jornalismo. Uni
um ao outro e posso garantir que sou um profissional feliz”. Expedito é formado
pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no ano de 1995, e é o
comandante da coluna “De Primeira”, que sai todos os dias no caderno de
esportes do Jornal da Paraíba.
6.5 A pesquisa de campo
As entrevistas foram realizadas no mês de janeiro de 2013 e tiveram
duração de aproximadamente 30 minutos cada uma.
De antemão, explico que foi muito fácil conseguir a aceitação dos
editores, até porque eu fazia parte da equipe até pouco tempo antes de iniciar
esta pesquisa e sempre tive muito contato com ambos. A não resistência por
55
parte dos dois profissionais foi um agente facilitador deste Trabalho de
Conclusão de Curso.
Outra facilidade foi que o uso do gravador não inibiu os entrevistados,
principalmente porque eles estão acostumados a conviver com este tipo de
situação, mesmo que seja, nas mais diversas ocasiões, em situação contrária.
Sendo assim, todo o material desejado foi devidamente coletado sem maiores
problemas.
A escolha do local para as entrevistas ocorreu conforme indicação dos
entrevistados. Assim, a entrevista com ambos foi realizada no próprio
Globoesporte.com/pb. As condições do ambiente (luminosidade, conforto,
ventilação, privacidade, etc) foram favoráveis à realização da entrevista. A
estrutura disponibilizada foi excelente, evitando-se, inclusive, interferências de
pessoas e de ruídos, o que poderia, de certa forma, prejudicar a coleta do
material.
Após o processo de realização das entrevistas, as falas dos editores
foram organizadas e a análise realizada.
É importante destacar que não foi tarefa simples analisar as
entrevistas, visto a complexidade do assunto em questão.
6.5.1 O percurso das entrevistas
No início dos dois encontros com os editores, foi realizada breve
explicação sobre os objetivos da pesquisa, sendo enfatizada a importância da
participação de cada uma deles e solicitada autorização para gravar a
entrevista, o que, como dito anteriormente, não gerou desconforto algum entre
os entrevistados. Esse momento foi importante para que os editores pudessem
retirar dúvidas sobre os motivos de terem sido escolhidos e outras questões
que porventura tivessem surgido.
A entrevista com ambos aconteceu na sede do veículo escolhido para
ser analisado. A opção do local foi feita pelos entrevistados, mas de maneira
consensual com o pesquisador. Cheguei ao local com dez minutos de
antecedência e os mesmos já estavam a me aguardar.
56
A sala onde aconteceu a entrevista era bem iluminada, silenciosa, sem
influências externas. O local dispunha de mesa e cadeiras e um ar-
condicionado. No geral, o ambiente propunha um bom nível de privacidade.
Preparei o material da entrevista com antecedência e o dispus sobre a mesa
para facilitar o meu trabalho dando um bom andamento à entrevista. Como
estava em um local que, para mim, era familiar, já que fui estagiário da
empresa durante dois anos, os editores me trataram muito bem e se mostraram
disponíveis e pacientes para responder a todas as questões.
Desde o início, não houve tensão alguma durante as entrevistas e, até
pelo fato de os dois profissionais serem comunicadores, a conversa fluiu da
melhor maneira possível, com alguns momentos de descontração que tornaram
a colheita de informações ainda mais enriquecedora.
Gostei bastante da entrevista. Achei que houve muita sinceridade e
objetividade nos relatos. Também considerei interessante a forma como fomos
ficando a vontade ao longo da entrevista. Acredito ter passado confiança para
os editores, contribuindo para que eles se sentissem à vontade e fossem, aos
poucos, transmitindo todo o conhecimento a respeito do assunto.
Considero que este momento de entrevista com os dois editores foi de
grande valia para este trabalho e para o meu crescimento como pesquisador.
7. A ANÁLISE DA OBJETIVIDADE JORNALÍSTICA NO GLOBOESPORTE.COM/PB
Este capítulo apresenta as perspectivas dos dois editores do
Globoesporte.com/pb a respeito da utilização das regras da objetividade
jornalística.
As falas a seguir expressam a opinião dos profissionais sobre o que
eles pensam da objetividade jornalística no jornalismo esportivo atual, em
especial o praticado no veículo escolhido para análise deste Trabalho de
Conclusão de Curso. Não podemos nos apegar a modelos pré-definidos. Como já disse anteriormente, o jornalismo esportivo na minha opinião (e falando a grosso modo) tem que estar dividido em dois grandes blocos. A cobertura do jogo em si e a cobertura dos bastidores do esporte. No primeiro você está livre para ousar, inventar e "brincar" com o texto. Você se insere na realidade e narra a
57
paixão do esporte da forma mais próxima possível do torcedor. Na segunda, você escreve sobre esporte, mas não é necessariamente (ou apenas) um jornalista esportivo. Você tem compromissos sociais e éticos que devem ser respeitados e aí a isenção torna-se imprescindível. Você se afasta da parte apaixonante do esporte para narrar de forma fria e clara o que se passa. (PHELIPE) A objetividade jornalística está cada vez mais longe de ser objeto direcionador do jornalismo esportivo. (EXPEDITO)
Expedito Madruga, por sua fala, deixa claro que a imprensa atual,
principalmente a esportiva, não tem conseguido seguir as regras da
objetividade jornalística.
Muitas vezes, a imprensa nem mesmo tenta buscar a objetividade. Em parte, porque é passional, em parte, porque cede aos interesses de clubes e dirigentes. Isso é devastador para um bom jornalismo. É até importante dizer que o rádio é um veículo que, sendo bem usado, a objetividade jornalística pode ser quebrada sem que isto possa ser considerado algo negativo. Mas isto tem que ficar restrito às transmissões dos clubes onde fica a rádio e não pode haver exageros. O bom senso tem que prevalecer. (EXPEDITO).
Phelipe Caldas defende os moldes atuais do jornalismo esportivo. É a
favor do “diferente”, do “lado torcedor” do jornalista em determinadas ocasiões.
Mas faz algumas restrições. Ele pede seriedade e uma aproximação total das
regras da objetividade jornalística sempre que uma matéria tiver um tom mais
investigativo.
No caso do esporte, acredito que a fuga da objetividade jornalística acontece justamente para que o texto fique mais próximo da linguagem e da paixão do torcedor. É impossível descrever o gol de um título, por exemplo, de forma burocrática e imparcial. Nestes casos, ousar faz bem e traz emoção ao texto. Insisto apenas que algumas pautas, apesar de estarem inseridas no jornalismo esportivo, que trazem à tona questões políticas e policias, devem ser tratadas com mais distanciamento. (PHELIPE).
Sobre o Globoesporte.com/pb, Phelipe revela que não há recomendação
alguma para seguir ou destoar das regras da objetividade jornalística, embora o
chamado “Padrão Globo” tenha sido praticamente o precursor deste novo estilo
de fazer jornalismo esportivo. Editor da página paraibana do veículo
58
especializado em esportes do país, ele diz que a única sugestão é invocar ao
máximo a criatividade pessoal do jornalista, o que, de certa forma, já dá uma
descaracterizada na objetividade, já que o subjetivo do profissional vai ser
levado em consideração sempre.
Não há nenhum tipo de recomendação por parte da direção geral do Globoesporte.com para que se fuja das regras da objetividade, tampouco que é necessário segui-las a risca. O que existe é uma liberdade para que o repórter ouse e inove na hora de escrever. Mas ainda insisto em dizer que esta liberdade deve existir em pautas essencialmente esportivas, que fale de jogo, da torcida ou das paixões. Matérias esportivas que tenham um teor mais investigativo, ao meu ver, deve e requer um maior cuidado para evitar exageros. (PHELIPE).
Em relação ao questionamento de que a objetividade jornalística é uma
utopia ou uma realidade possível, Phelipe é enfático ao dizer que ela jamais
poderá ser esquecida, mesmo que não utilizada de maneira apropriada e
efetiva:
Por mais que a objetividade jornalística seja hoje uma questão polêmica e de difícil alcance, ela tem que continuar sendo um guia para o jornalista, principalmente quando se depara com pautas de teor mais crítico. Em campos como o do esporte, entretanto, este é um desafio ainda mais difícil, porque o jornalista lida essencialmente com paixões. Note que inicialmente falo das pautas mais críticas, quando a abordagem, por exemplo, é sobre a cartolagem ou os subterrâneos do futebol (termo de João Saldanha). Mas justamente por lidar com paixões acredito que, em algumas pautas mais específicas do esporte, como a de uma festa de torcida ou de algum feito histórico, a lógica da objetividade jornalística pode e deve ser quebrada. Em casos como estes, o jornalista tem que vivenciar o momento e narrá-lo da mais forma mais intensa possível para o receptor.
É importante observar que pelos relatos apresentados até aqui, a busca
pela objetividade jornalística no veículo analisado é quase inexistente, embora
seja possível perceber também que ainda existe uma preocupação com ela.
Apesar de deixarem claro que não são seguidores totais das regras da
objetividade, o que os coloca dentro dos moldes atuais do jornalismo esportivo,
os editores não ignoram a sua importância e deixam claro a sua
imprescindibilidade para algumas situações.
59
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar este trabalho, que teve como objetivo analisar a
objetividade jornalística no Globoesporte.com/pb, procurando perceber de que
forma as suas regras são utilizadas pelo veículo, ficou evidente que o assunto
ainda gera muitas discussões e está longe de ser unanimidade entre os
profissionais da área.
Contudo, é possível perceber um avanço na questão da sua utilização e,
acima de tudo, na maneira que a objetividade tem interferido no “fazer
jornalístico” quando o assunto é o jornalismo esportivo e a imprensa esportiva
propriamente dita.
Tal realidade, apesar de ainda se tratar de uma centelha, traz a
reflexão sobre as possibilidades de mudança que o uso ou não da objetividade
jornalística pode promover no que tange ao jornalismo esportivo, já que é uma
tendência que está cada vez mais configurada e consolidada. Nesse sentido, a
formação pessoal do jornalista, onde se pode incluir seus valores,
preconceitos, idiossincrasias, costumes e competência intelectual e técnica, é
fator fundamental!
Ao longo da pesquisa, algumas dificuldades foram encontradas. A
principal delas está relacionada ao fato de o assunto não ter um conceito bem
estabelecido na prática. De ainda ser um ponto de muitos questionamentos e
dúvidas.
Apesar disso, a escolha do veículo a ser analisado e dos personagens
que foram entrevistados, facilitaram bastante o desenrolar da pesquisa, não só
pelo conhecimento de ambos sobre a questão das regras e da utilização da
objetividade jornalística, como também pela facilidade que os dois tiveram de
transmitir os seus pontos de vistas.
Ao tentar identificar e analisar o que os editores levam em
consideração na construção das matérias e no planejamento das mesmas, é
interessante ressaltar que nenhum deles revela ter algum direcionamento
superior para seguir algum modelo pré-estabelecido. Eles reafirmam a
necessidade de o jornalismo se distanciar cada vez mais do tradicional, mas
sempre com limites e restrições para determinadas situações.
60
A organização de um texto jornalístico, desde o seu planejamento ao
que nele será inserido, de acordo com o que foi levantado por esta pesquisa, é
de inteira responsabilidade do autor, que carrega consigo a preocupação de se
aproximar do leitor. Nesta perspectiva, uma linguagem neutral, isenta e objetiva
acaba sendo descaracterizada pelos interesses pessoas de quem está
escrevendo a matéria, ou em alguns casos, dos próprios interesses
organizacionais.
Portanto, ao finalizar este trabalho, percebo que o jornalismo em geral,
em especial o esportivo, está, de fato, passando por uma transformação visível
no que diz respeito aos procedimentos que são adotados pelos seus
respectivos profissionais. E, por não haver uma opinião ainda definitiva sobre o
assunto e os moldes que devem ser seguidos, ou seja, pelo fato de ser apenas
uma tendência, muito ainda se tem a estudar sobre o tema, entendendo-se que
o jornalismo está constantemente passando por modificações.
61
REFERÊNCIAS
ALVES, E. A esfera como metáfora: representações do futebol no campo da literatura. Natal, 2011. BARBEIRO, H.; RANGEL, P. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2006. BISTANE, L.; BACELLAR, L. Jornalismo de TV. 2 ed. Contexto, 2008.
BOURDIEU, P. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
CAMARGO, I. A. A construção do objeto noticioso na edição da mídia impressa: fotografia, legenda e texto. Porto Alegre: PUCRS, 2000.
CARVALHO, J. L. M. ; TOLEDO, J.C. Reestruturação produtiva, programas de qualidade e certificações ISO 9000 e ISO 14000 em empresas
brasileiras: pesquisa no setor químico/petroquímico. Polímeros, São Carlos, v.
10. n.4, p. 179 – 192, 2000
CASTELLI, G. Excelência em hotelaria: uma abordagem prática. Brasil:
Qualitymark Editoria, 1998.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo, 1997, Paz e Terra.
COELHO, P. V. Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2008.
DUCROT, O. O dizer e o dito. Campinas. Pontes, 1987
FERNANDES, C. Análise do discurso: reflexões introdutórias. Goiânia: Trilhas Urbanas, 2005.
FOER, F. Como o futebol explica o mundo. Zahar, 2005
FREITAS, A. F. de. Análise do discurso jornalístico: um estudo de caso. Maceió: UFAL, 1999. Artigo.
GODOY, A. Introdução à Pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, nº 2, p. 57-63. 1995ª
GUTERMAN, M. O futebol explica o Brasil: uma história da maior expressão popular do país. Contexto, 2009.
HACKETT, R. Declínio de um paradigma? A parcialidade e a objetividade nos media noticiosos, in TRAQUINA, Nelson (org.) Jornalismo: questões, teorias e estórias. Lisboa, Vega, 1993, p. 101-132. LAGE, N. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979.
62
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2004.
MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. Tradução de Décio Pignatari. 4º Ed. São Paulo: Cultrix, 1974
MESSA. F. C. Jornalismo Esportivo não é só entretenimento. 8º Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo. Disponível em: <www.fnpj.org.br>. Acesso em: 10 de janeiro de 2013
MILES, M. B.; HUBERMAN, A. M. Qualitative data analysis: an expand source book. California: Sage, 1994.
MINAYO, M. C.; SANCHEZ, O. Quantitativo-qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Cad. Saúde Publ., Rio de Janeiro, v.9, n.3, jul. / set., 1993.
ORLANDI, E. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999.
PENA, F. Teorias do Jornalismo. Brasil: Contexto, 2005.
PINHO. J.B. Jornalismo na Internet: planejamento e produção de informação online. São Paulo, 2003, Summus.
PINTO, M. J. Comunicação e discurso. 2 ed. - São Paulo: Kacker, 2002.
ROSSI, C. O que é jornalismo. Editora Brasiliense, São Paulo, 5ª edição, 1985.
SILVA, M. R., Mil e uma noites de futebol; o Brasil moderno de Mário Filho. Editora UFMG, Minas Gerais, 2006.
SOLOSKI, J. O jornalismo e o profissionalismo: alguns constrangimentos no trabalho jornalístico, in TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questões, teorias e estórias. Lisboa, Vega, 1993, P. 91-100.
SPONHOLZ, L. Objetividade em Jornalismo; uma perspectiva da teoria do conhecimento. Revista Famecos, Porto Alegre, v.1, nº 21, p.110-120, ago 2003.
TAYLOR, S. J. e BOGDAN, R. Introdución a los métodos cualitativos de investigación. Buenos Aires: Paidós, 1986.
TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo: porque as notícias são como são. São Paulo: Insular, 2005. TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo: a tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transacional. 2 ed; São Paulo: Insular, 2005. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
63
TUCHMAN, G. A objetividade como ritual estratégico: uma análise das noções de objetividade dos jornalistas, in TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: questões, teorias e estória'. Lisboa, Vega, 1993, P. 74-90.
UNZETE, C. Jornalismo Esportivo: relatos de uma paixão. Saraiva, 2009.
VIZEU, A. A produção de sentido no jornalismo: da teoria da enunciação a enunciação jornalística. 2003.