Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Tabagismo e adiposidade abdominal em doadores de
sangue
Cássia da Silva Faria
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva para obtenção do
título de Mestre em Saúde Coletiva.
Área de Concentração: Saúde Coletiva
Orientadora: Profª Drª Márcia Gonçalves Ferreira
Lemos dos Santos
Cuiabá - MT
2011
Tabagismo e adiposidade abdominal em doadores de
sangue
Cássia da Silva Faria
Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação
em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do
título de Mestre em Saúde Coletiva.
Área de Concentração: Saúde Coletiva
Linha de pesquisa: Alimentos, Nutrição e Promoção da
Saúde
Orientadora: Profª Drª Márcia Gonçalves Ferreira Lemos
dos Santos
Cuiabá - MT
2011
É expressamente proibida a comercialização deste documento,
tanto na sua forma impressa como eletrônica. Sua reprodução
total ou parcial é permitida exclusivamente para fins
acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a
identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.
Dedico esta conquista...
... a toda minha família, que sempre acreditou em mim, e que
mesmo a longas distâncias tentaram ao máximo se fazer
presente em todos os momentos de minha vivência em busca
desta vitória.
AGRADECIMENTOS
Existem muitas palavras que poderiam expressar a gratidão que tenho por
muitas pessoas que me apoiaram durante todo o período de realização deste trabalho,
entretanto, como muitas vezes as palavras se perdem ao vento, aproveito para
registrar meus agradecimentos naquilo em que investi todo meu tempo e dedicação
nos últimos anos.
Agradeço primeiramente a Deus que me serviu de refúgio e consolo em todos
os momentos de sofrimento.
À Profª. Drª Márcia Gonçalves Ferreira Lemos dos Santos, minha
orientadora, por todo ensinamento, que me proporcionaram um intenso crescimento
profissional e pessoal. Também pela paciência, dedicação e carinho ofertado.
Às professoras Regina Maria Veras Gonçalves da Silva e Edna Massae
Yokoo pela preciosa colaboração para concretização desse trabalho, com as
contribuições da pré-banca e da banca final.
A minha mãe Mariana, minhas irmãs, meu irmão e meus sobrinhos por terem
aproveitado comigo todos os momentos de descanso nos períodos em que estive
longe da faculdade.
As minhas amigas Magda, Adda, Vanessa, Rosália, Andressa e Bárbara que
mesmo com as dificuldades e desencontros da vida, foram essencialmente essenciais
em momentos difíceis, em que sem uma palavra de carinho eu não teria conseguido
superá-los.
Por fim agradeço imensamente ao meu ―namorido‖ Rafael, por todo amor,
carinho, companheirismo e paciência durante todos os momentos de TPM, estresse e
nervosismo ocorridos durante todo o mestrado.
“Que todo achado e toda descoberta, sirva para de alguma maneira
ajudar a amenizar as dores e sofrimento da humanidade”.
Cássia da Silva Faria
RESUMO
Faria CS. Tabagismo e adiposidade abdominal em doadores de sangue. [dissertação
de mestrado]. Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva da UFMT; 2011.
Introdução: A obesidade é considerada uma doença epidêmica, de fator multicausal
e pode ocorrer em todas as idades e grupos socioeconômicos. Representa um dos
principais riscos para o desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo as
cardiovasculares como o acidente vascular cerebral e a hipertensão arterial, além de
certas formas de câncer e diabetes tipo 2. O tabagismo, que apresenta alta
prevalência de usuários, aumenta o risco de acometimento de uma série de doenças e
parece estar associado à localização de gordura no abdômen. Objetivo: Analisar a
associação entre tabagismo e acúmulo de gordura na região abdominal em doadores
de sangue. Métodos: Estudo de corte transversal, com 1235 homens doadores de
sangue, com idade entre 20 e 59 anos, no município de Cuiabá-MT. Foram coletadas
informações para compor as variáveis socioeconômicas, demográficas, de estilo de
vida e antropométricas como: o peso, a estatura, a circunferência da cintura e a
circunferência do quadril. A circunferência da cintura e a relação cintura/quadril
foram utilizadas como marcadores de localização abdominal de gordura. A
associação entre tabagismo e adiposidade abdominal foi analisada por regressão
linear múltipla, com modelos distintos para os marcadores de localização de gordura,
ambos ajustados por potenciais fatores de confusão. Resultados: A média da idade
dos entrevistados foi de 30 anos. A maioria dos doadores de sangue (55,2%) declarou
ser de cor parda, solteiro (50,6%) e com mais de oito anos de estudo (73%). Com
relação ao estilo de vida 22,1% declararam ser fumantes e destes, 36,3% relataram
fumar mais do que 15 cigarros por dia. As médias dos marcadores antropométricos
de gordura corporal (total e localizada) foram menores para os mais jovens (p
<0,001). O tabagismo mostrou-se associado à circunferência da cintura para
fumantes de 6-10 cigarros/dia (β =1,86; p <0,001) e de 11 ou mais cigarros/dia (β
=3,44; p <0,001) e à relação cintura/quadril para os mesmos níveis de exposição (β
=0,03; p <0,001 e β =0,07; p <0,001, respectivamente). Esses resultados foram
observados após ajustes para as variáveis confundidoras dessas associações.
Conclusão: O tabagismo se associou positivamente com os indicadores da
adiposidade abdominal (cintura e relação cintura/quadril), independente do consumo
de bebida alcoólica.
Descritores: tabagismo, adultos, obesidade abdominal, antropometria
ABSTRACT
Faria CS. Smoking and abdominal fat in blood donors. [master dissertation]. Cuiabá:
Social Health Institute of the UFMT; 2011.
Introduction: Obesity is an epidemic disease, and multi-causal factor can occur at
all ages and socioeconomic groups. Represents a major risk for developing chronic
diseases including cardiovascular diseases like stroke and hypertension, and certain
forms of cancer and type 2 diabetes. Smoking, which has a high prevalence of users,
increases the risk of involvement of a number of diseases and appears to be
associated with the distribution of fat in the abdomen.Objective: To asses s the
association between smoking and abdominal fat among blood donors. Methods: A
cross-sectional study of 1,235 male blood donors, aged between 20 and 59 years,
from the city of Cuiabá. Information were collected on the socioeconomic,
demographic, lifestyle and anthropometric as weight, height, waist circumference
and hip circumference. Waist circumference and waist-to-hip ratio were used as
markers of abdominal fat. The association between smoking and abdominal fat was
analyzed by multiple linear regression with separate models, both adjusted for
potential confounders. Results: The mean age of respondents was 30 years. Most
blood donors (55.2%) reported being of mixed ethnicity, single (50.6%) and more
than eight years of study (73%). With respect to lifestyle 22.1% reported being
smokers, and 36.3% reported smoking more than 15 cigarettes per day. The mean
anthropometric markers of body fat (total and local) were lower for younger people
(p <0.001). Smoking was associated with waist circumference for smokers of 6-10
cigarettes/day (β =1,86, p <0.001) and than 11 or more cigarettes/day, (β =3,44, p
<0,001) and waist-to-hip ratio for the same levels of exposure (β =0,03, p <0.001 and
β =0,07, p <0.001, respectively). These results were observed after adjusting for
confounding variables such associations. Conclusion: Smoking was positively
associated with indicators of abdominal fat (waist circumference and waist-to-hip
ratio), independent of consumption of alcoholic beverages.
Key words: smoking, adult, obesity, abdominal fat, anthropometry.
ÍNDICE
1. APRESETAÇÃO 13
2. REVISÃO DE LITERATURA 16
2.1 OBESIDADE E DEPÓSITO ABDOMINAL DA GORDURA
CORPORAL
17
2.1.1 Considerações Gerais e Prevalência 17
2.1.2 Indicadores da Adiposidade Corporal 21
2.1.3 Circunferência da Cintura e Relação Cintura/quadril como
Preditoras de Risco para o Desenvolvimento de Doenças
Crônicas Não-Transmissíveis
22
2.1.4 Determinantes da Adiposidade Abdominal 24
3. OBJETIVOS 31
3.1 OBJETIVO GERAL 32
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 32
4. MÉTODOS 33
4.1 DESENHO DO ESTUDO 34
4.2 ENTREVISTA 35
4.3 ESTUDO PILOTO 35
4.4 COLETA DE DADOS 36
4.4.1 Variáveis do Estudo 37
4.5 DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL PELA
BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA
40
4.6 CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL 41
4.7 PROCESSAMENTO DE DADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA 42
4.8 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS 43
5. REFERÊNCIAS 44
MANUSCRITO 52
6. CONCLUSÕES 76
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 78
ANEXOS 79
ANEXO 1. Questionário 80
ANEXO 2. Comprovante de Aprovação pelo Comitê de Ética 83
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Classificação do Estado Nutricional de Adultos, pelo Índice de
Massa Corporal, segundo Organização Mundial da Saúde, 1998
41
MANUSCRITO
Tabela 1 - Distribuição da população de doadores de sangue segundo
características sociodemográficas e do estilo de vida. Cuiabá,
MT, 1999-2000 (n = 1235)
71
Tabela 2 - Média e erro padrão (ep) das variáveis do estilo de vida e
variáveis relacionadas ao estado nutricional e à composição
corporal segundo a faixa etária. Cuiabá, MT, 1999-2000 (n =
1235)
72
Tabela 3 - Média e intervalo de confiança de 95% da circunferência da
cintura e relação cintura quadril em doadores de sangue, segundo
as variáveis sociodemográficas. Cuiabá, MT, 1999-2000 (n =
1235)
73
Tabela 4 - Média e intervalo de confiança de 95% da circunferência da
cintura e relação cintura quadril em doadores de sangue, segundo
as variáveis do estilo de vida. Cuiabá, MT, 1999-2000 (n = 1235)
74
Tabela 5 - coeficiente de regressão linear bruto (β), ajustado (βaj) e p-valor
(p) associado entre marcadores da localização de gordura e
tabagismo de homens doadores de sangue. Cuiabá, mt, 1999-
2000 (n = 1235)
75
Siglas utilizadas
ASP - Proteína Estimulante de Acilação
DCNT - Doenças Crônicas Não Transmissíveis
ENDEF - Estudo Nacional de Despesa Familiar
IBGE - Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística
IL - Interleucina-6
IMC - Índice de Massa Corporal
OMS - Organização Mundial de Saúde
PAI - Plasminogênio Ativado-1
PCR - Proteína-C Reativa
PNSN - Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição
RCQ - Relação cintura/quadril
TNF - Fator de Necrose Tumoral
VIGITEL - Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças
Cardiovasculares
1. APRESENTAÇÃO
Esta dissertação é baseada na análise secundária do estudo transversal
realizado com doadores de sangue, no período de agosto de 1999 a Janeiro de 2000,
intitulada ―Associação entre marcadores antropométricos de distribuição de gordura
corporal, perfil lipídico e raça em doadores de sangue de Cuiabá‖.
As seções que compõem esta dissertação são: apresentação, revisão de
literatura, métodos, sendo que os resultados são apresentados sob a forma de um
manuscrito original, com todas as seções habituais desse tipo de publicação
A obesidade é considerada doença epidêmica de proporção mundial.
Globalmente mais de um bilhão de adultos estão com sobrepeso, e destes, pelo
menos 300 milhões são clinicamente considerados obesos (WHO, 2003). Nos
Estados Unidos, aproximadamente 300 000 mortes por ano têm sido associadas às
doenças do aparelho circulatório (JACOBY, 2004), que representam a principal
causa de óbitos em todas as regiões do Brasil, atingindo, principalmente, a população
adulta e idosa (MS, 2008). Um dos principais riscos para toda carga de doenças do
aparelho circulatório tem sido representada pela ocorrência da obesidade e
principalmente da localização de gordura central (BERLIN, 2008). As estatísticas
mais recentes do Ministério da Saúde mostram que, em 2005, a taxa de mortalidade
por doenças do aparelho circulatório no Estado do Mato Grosso foi de 28,29%
(BRASIL, 2007).
Pesquisadores têm considerado a obesidade e o sobrepeso como uma doença
multicausal e têm associado suas causas às mudanças sociais, culturais, ambientais e
comportamentais, expressas especialmente nas mudanças no padrão alimentar. As
mudanças ocorridas nos hábitos alimentares envolvem aumento da ingestão de
alimentos mais energéticos, ricos em gorduras saturadas e pobres em nutrientes, que
combinados com a atividade física reduzida e menor dispêndio energético em
atividades caseiras, resultam no risco aumentado de ganho de peso (PEREIRA, 1998;
XAVIER e PI-SUNYER, 2002; WHO, 2003).
O estilo de vida da população tem sido apontado como fator causal do
excesso de peso e tem se caracterizado pela redução da atividade física, prática do
tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e pelo estresse (XAVIER e PI-
SUNYER, 2002; WHO, 2003; SKRZYPCZAK et al., 2008; CAKS e KOS, 2009).
Por outro lado, o tabagismo também tem sido considerado como um grande
problema de saúde publica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é
responsável por cerca de cinco milhões de mortes (quatro milhões em homens e um
milhão em mulheres) por ano em todo o mundo (WHO, 2002). Segundo pesquisas
Brasileiras realizadas pelo Vigitel - Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, em 2006, 2007 e 2008 a
frequência de fumantes de ambos os sexos foi de 16% em média, sendo maior (20%)
entre os homens (MS, 2009).
A freqüência cada vez maior da obesidade e do tabagismo estão associados ao
aumento expressivo na incidência de doenças cardiovasculares no Brasil, por serem
considerados fatores de risco para a ocorrência das mesmas (SBC, 2007; PISTELLI
et al., 2009).
Assim, estudar a associação entre adiposidade abdominal e tabagismo torna-
se imprescindível, sendo essa uma recomendação da OMS, para embasar medidas de
promoção da saúde, que possam evitar a ocorrência destes fatores de risco e assim
reduzir a frequência das doenças cardiovasculares (WHO, 2005).
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 OBESIDADE E DEPÓSITO ABDOMINAL DE GORDURA
CORPORAL
2.1.1 Considerações Gerais e Prevalência
A ocorrência da obesidade, do sobrepeso e da localização de gordura central
representam um dos principais riscos para toda a carga de doenças crônicas,
incluindo doenças cardiovasculares como acidente vascular cerebral e hipertensão
arterial e certas formas de câncer e diabetes tipo 2 (MUST et al., 1999; USDHHS,
2001; XAVIER e PI-SUNYER, 2002; WHO, 2003; REZENDE et al., 2006; SARNO
e MONTEIRO, 2007). A ocorrência destas doenças tem associação com as alterações
metabólicas ocorridas no organismo de indivíduos com sobrepeso e obesidade como
a alteração da pressão arterial, dos níveis de colesterol e de triglicerídeos, da
resistência à insulina e intolerância a glicose (CARNEIRO et al., 2003; WHO, 2003;
REZENDE et al., 2006; INO, 2010).
As alterações metabólicas ocorridas no organismo com sobrepeso e obesidade
têm como fator causal a presença de adipócitos em tamanho e número aumentados
que produzem vários fatores denominados adipocinas. As adipocinas são compostos
protéicos e não protéicos que agem sobre os próprios adipócitos e/ou outros tecidos
do organismo (HSUEH e LAW, 2003), destacando-se dentre eles o fator de necrose
tumoral-alfa (TNF-α), a interleucina-6 (IL-6), o inibidor de plasminogênio ativado-1
(PAI-1), a proteína-C reativa (PCR), a resistina, a proteína estimulante de acilação
(ASP) e os fatores envolvidos no sistema renina angiotensina. Estes fatores em sua
grande maioria estão relacionados, direta ou indiretamente, ao desenvolvimento de
toda a carga de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares, e diabetes tipo
2 (HSUEH e LAW, 2003; GUIMARÃES et al., 2007). No organismo do indivíduo
obeso a situação é de maior risco, pois os depósitos de gordura corporal estão
aumentados, apresentando elevação da expressão das adipocinas em quantidade
proporcional ao maior volume das células adiposas (REXRODE et al., 2003).
Muitos estudos têm voltado atenção à distribuição da gordura corporal e têm
apontado associações entre doenças não transmissíveis e a localização de gordura na
região abdominal (DOBBELSTEYN et al., 2001; OLINTO et al., 2004; FERREIRA
et al., 2006). Tal relação se justifica, pois a gordura central ou andróide é
sinalizadora da presença de tecido adiposo visceral, que representa o depósito de
gordura mais fortemente relacionado com as anormalidades metabólicas da
obesidade (OKOSUN et al., 2003; LEMOS-SANT0S et al., 2004; CANOY et al.,
2005; HAN et al., 2006), como a síndrome metabólica, diabetes, doenças
cardiovasculares (HAN et al., 2006) e, principalmente, resistência à insulina (WHO,
2003; INO, 2010).
Esta relação é explicada pela diferente expressão de adipocinas entre os
diferentes compartimentos do tecido adiposo corporal. Algumas pesquisas mostram
que o tecido adiposo visceral produz mais adipocinas que o tecido adiposo
subcutâneo abdominal e o subcutâneo glúteo-femural (WAJCHENBERG, 2000;
GIACCHETTI et al., 2002). Além de ser mais ativo mais sensível à lipólise e mais
resistente à ação da insulina, o tecido adiposo visceral libera maior concentração de
ácidos graxos livres diretamente na veia porta, acarretando em hiperlipidemia que irá
inibir o metabolismo da glicose via ácido graxo/glicose (KELLEY et al., 2000;
ARNER, 2003). Assim irá desenvolver o quadro de resistência à insulina, que se
apresenta com grande prevalência em patologias tais como a obesidade (HABER et
al., 2001; INO, 2010).
O quadro de resistência à insulina contribui para o desenvolvimento de várias
comorbidades, sendo a principal delas a hipertensão arterial, que é resultado do
quadro da hiperinsulinemia que promove ativação do sistema nervoso simpático,
culminando com a reabsorção tubular de sódio, contribuindo para aumentar a
resistência vascular periférica e a pressão arterial (GIGANTE et al., 1997;
CARNEIRO et al., 2003; REZENDE et al., 2006). Em estudo realizado com
indivíduos hipertensos na cidade de Cuiabá foi identificado que a presença do quadro
de resistência à insulina estava fortemente associada com a ocorrência de síndrome
metabólica (FRANCOet al., 2009), representada por uma situação clínica
caracterizada por um agrupamento de fatores de risco para doença cardiovascular,
entre eles, a hipertensão arterial, a dislipidemia, a obesidade visceral e as
manifestações de disfunção endotelial (WHO, 2003)
A obesidade pode ocorrer praticamente em todas as idades e grupos
socioeconômicos. Estudos têm apontado alguns determinantes biológicos como a
idade, o sexo e a raça para o ganho de peso (PEREIRA, 1998; XAVIER e PI-
SUNYER, 2002).
Para JANSSEN et al. (2002), a faixa etária entre 30 e 50 anos é a de maior
risco. Pesquisa americana realizada em 2003-2004 que estudou adultos americanos
com idade superior a 20 anos, identificou prevalência de 66,3% de sobrepeso, 32,3%
de obesidade e 4,8% de obesidade mórbida. Nesta mesma pesquisa as mulheres com
idade entre 20 e 59 anos apresentaram maior prevalência de obesidade (33,8%), do
que os homens com 31,4% (OGDEN et al., 2006).
Alguns estudos sobre a associação entre obesidade e fatores
socioeconômicos, verificaram que o aumento de peso varia com a renda entre
homens e mulheres. Em todas as regiões brasileiras os homens apresentaram
aumento de peso proporcional ao aumento da renda (IBGE, 2010), já entre as
mulheres a maior prevalência de excesso de peso foi encontrada no grupo de
indivíduos de baixa renda (GIGANTE et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2007).
PEREIRA (1998), com o objetivo de investigar o fenômeno da transição
nutricional, realizou um estudo com indivíduos da cidade do Rio de Janeiro, e
analisou a diferença da prevalência de sobrepeso entre os estratos da escolaridade
baixa e média entre os indivíduos com idade acima de 18 anos e observou que entre
os homens não foram encontradas diferenças significantes entre os dois grupos. Já
entre as mulheres observou que a prevalência de excesso de peso apresentou-se
maior entre aquelas com escolaridade baixa. Estes mesmos resultados são reforçados
por pesquisa recente realizada pelo Vigitel também na população brasileira (MS,
2009).
De acordo com os quatro inquéritos realizados no Brasil sobre o estado
nutricional da população (Estudo Nacional da Despesa Familiar – ENDEF/1974-
1975; Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição – PNSN/1989; Pesquisa de
Orçamento Familiar - POF/2002-2003 e 2008-2009) pode-se notar alterações
importantes no perfil nutricional dos brasileiros ao longo do tempo. Nos últimos 34
anos, o excesso de peso quase triplicou entre homens, (prevalência de 18,5% em
1974-75 para 50,1% em 2008-09), e aumentou em quase duas vezes no sexo
feminino (prevalência de 28,7% para 48%). No mesmo período, a prevalência de
obesidade aumentou em mais de quatro vezes para os homens (de 2,8% para 12,4%)
e em mais de duas vezes para mulheres que aumentou de 8,0% para 16,9% (IBGE,
2010).
Estudo realizado por JACOBY (2004) evidencia que de maneira geral as
taxas de indivíduos com obesidade têm aumentado em vários países além do Brasil, a
exemplo dos Estados Unidos e da maioria dos países da América Latina e Caribe.
Países como o Peru, o Chile, a Venezuela, a Jamaica e o México apresentam dois
terços de sua população adulta com sobrepeso ou obesidade.
Na pesquisa brasileira realizada pelo Vigitel, em 2008, em 27 cidades, a
freqüência encontrada para o excesso de peso foi de 43,3%, sendo maior entre
homens (47,3%) do que entre mulheres (39,5%), mostrando associação positiva com
a idade em ambos os sexos (MS, 2009), de maneira semelhante à identificada por
PEREIRA (1998). No conjunto da população adulta das 27 cidades, a freqüência de
adultos obesos foi de 13%, sendo ligeiramente menor entre homens (12,4%)
comparados às mulheres (13,6%).
Na cidade de Cuiabá, o sobrepeso acomete 52% dos homens, sendo a média
nacional para este grupo de 47,3%. A obesidade atinge 14,% das mulheres e 15%
dos homens, sendo maior que a média nacional para ambos os sexos (13%) (MS,
2009).
OLIVEIRA (2009), avaliando fatores associados ao excesso de peso e
concentração de gordura abdominal em adultos com idade de 19 a 59 anos da cidade
de Salvador - Bahia, mediante Índice de Massa Corporal (IMC) e da circunferência
da cintura encontrou maior prevalência de mulheres com sobrepeso (26,3%) e
obesidade (15,1%) quando comparada a dos homens. Considerando indivíduos desta
mesma faixa etária, na cidade de Cuiabá/MT a prevalência de indivíduos com
sobrepeso foi de 33,1% e obesidade 19% para ambos os sexos (BARBOSA et al.,
2009), resultados idênticos foram encontrados em Pelotas/RS, em estudo que incluiu
indivíduos com até 69 anos (GIGANTE et al., 2006).
Em distintas pesquisas realizadas nas cidades de Viçosa/MG e São Paulo/SP
analisando indivíduos de ambos os sexos, as prevalências encontradas para a
presença de sobrepeso foi de 41,3% e 19,8% respectivamente, e de obesidade foi
33,5% e 10,3% (REZENDE et al., 2006; SARNO e MONTEIRO, 2007).
2.1.2 Indicadores da Adiposidade Corporal
A obesidade, enquanto doença resultante do acúmulo do excesso de gordura
corpórea tem sido tradicionalmente diagnosticada pelo IMC, traduzido pela razão do
peso pela estatura ao quadrado (WHO, 1998). Este índice reflete a proporção de
tecido adiposo presente no total da massa corporal, independente de sua localização
(MUST et al., 1999). Estudos têm apontado associação entre IMC e as alterações
metabólicas associadas à obesidade (MARTINS e MARINHO, 2003; OLIVEIRA et
al., 2007; SARNO e MONTEIRO, 2007; OLIVEIRA, 2009). Porém, na categoria
sobrepeso, tanto entre homens, quanto entre mulheres, é possível encontrar medida
de circunferência da cintura na faixa de risco, confirmando a presença de obesidade
abdominal, mesmo entre indivíduos que apresentam IMC inferior a 30 Kg/m2
(REZENDE et al., 2006).
A medida dos depósitos de gordura na região das vísceras pode ser feita com
maior acurácia por meio da tomografia computadorizada e ressonância magnética,
que são métodos de alto custo, tornando-se inviáveis para estudos populacionais.
Entretanto, estudos epidemiológicos têm mostrado eficiência na utilização de
indicadores antropométricos no diagnóstico da obesidade centralizada (WHO, 1998;
MARTINS e MARINHO, 2003; FERREIRA et al., 2006).
REZENDE et al. (2006) chamam atenção para a necessidade da utilização de
métodos antropométricos mais específicos para avaliar o padrão central de gordura
na avaliação do risco de acometimento por comorbidades, pois, mesmo sem o
diagnóstico de obesidade, muitos indivíduos já se enquadram no grupo de risco para
desenvolvimento de alterações metabólicas em decorrência do excesso de gordura na
região abdominal. Esses autores ressaltam ainda a utilidade dos métodos
antropométricos em estudos populacionais.
Nesse sentido, considerando-se a necessidade de avaliar a
distribuição/localização da gordura corporal, a OMS (WHO, 1998) recomenda a
utilização de dois indicadores antropométricos amplamente utilizados na
caracterização da gordura abdominal: a circunferência da cintura e a relação
cintura/quadril (RCQ).
2.1.3 Circunferência da Cintura e RCQ como Preditoras de Risco para o
Desenvolvimento de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis
A OMS define alguns pontos de corte para a caracterização da localização de
gordura em diferentes populações, visando identificar o risco de desenvolver doenças
crônicas não-transmissíveis. O ponto de corte definido para avaliar a RCQ
aumentada nos homens é ≥ 1,00 e nas mulheres é ≥ 0,85. Para aferição da medida de
risco metabólico pela circunferência da cintura são definidos como pontos de corte
para homens 94 cm e para mulheres 80 cm (WHO, 2000a).
JANSSEN et al. (2002) identificaram algumas vantagens que justificam a
utilização da circunferência da cintura como marcador de gordura abdominal e
preditor de doenças crônicas não transmissíveis, que são: fácil aceitação da medida
pela população, baixo custo, facilidade de transporte da fita em relação ao
antropômetro e à balança, comprovando a praticidade da medida, além do resultado
imediato e de fácil leitura do indicador, sem necessidade de cálculos elaborados.
Considerando todos os possíveis fatores associados à variação da gordura
abdominal entre as populações e as variações nos pontos de corte para associações
com risco de comorbidades, a circunferência da cintura mostra-se um bom indicador
de doenças crônicas o que fala a favor do seu uso em estudos populacionais. O
estudo de REZENDE et al. (2006), que analisou os fatores de risco cardiovasculares
associados ao IMC e a circunferência da cintura abdominal em, 231 servidores da
Universidade Federal de Viçosa, encontrou que entre homens e mulheres que
apresentavam valores de circunferência abdominal elevada ocorreu uma freqüência
de aproximadamente 31% de síndrome metabólica.
Em estudo realizado para avaliar a acurácia da circunferência da cintura e da
RCQ como preditores de dislipidemias em homens adultos de Cuiabá, foram
identificados valores de 0,85cm para circunferência da cintura e 0,90 para RCQ
como melhores pontos de corte para detecção de hipertrigliceridemia e relação
colesterol/HDL elevado, os quais são menores que os recomendados pela OMS
(FERREIRA et al., 2006).
Outros estudos brasileiros encontraram melhor desempenho da RCQ na
identificação de desfecho como hipertensão arterial (PEREIRA et al., 1999), relação
colesterol/HDL elevada (FERREIRA et al., 2006) e risco coronariano elevado
(PITANGA e LESSA, 2005). FERREIRA et al. (2006) identificaram a cintura como
bom preditor de hipertrigliceridemia. Contudo, estudo brasileiro de base
populacional publicado recentemente não mostrou associação entre circunferência da
cintura e hipertensão arterial (BARBOSA et al., 2009).
Avaliando a eficácia destes marcadores na predição de doenças,
BJORNTORP (1997) identificou que a circunferência da cintura seria o melhor
indicador da massa visceral, estando fortemente relacionada com as doenças
cardiovasculares ateroscleróticas. Por outro lado, a RCQ, que contém a medida da
região glútea com numerosos tecidos musculares, foi associada aos principais
reguladores da sensibilidade à insulina sistêmica, sendo assim mais fortemente
associada à resistência à insulina. Esta afirmação é corroborada por MARTINS e
MARINHO (2003), que encontraram associação entre a RCQ e baixos níveis de
HDL/colesterol e circunferência da cintura com a hipercolesterolemia. Todavia,
avaliando a influência da distribuição de gordura sobre a pressão arterial,
CARNEIRO et al. (2003) não encontraram associação entre a RCQ e a elevação dos
níveis da pressão arterial.
As diferenciações na distribuição da gordura corporal das populações,
relativas à raça e ao desfecho em questão, têm implicações nessas avaliações sobre o
poder de detecção dos indicadores e definição dos melhores pontos de corte
conforme apontado por FERREIRA et al. (2006) e PEREIRA et al. (1999). Assim é
imprescindível definir os indicadores e pontos de corte adequados a serem utilizados
em pesquisas para que sejam capazes de detectar a comorbidade avaliada nos grupos
populacionais, de acordo com suas características raciais (PEREIRA et al., 1999;
TSENG et al., 2010).
2.1.4 Determinantes da Adiposidade Abdominal
Existem algumas variáveis que influenciam a concentração de gordura
abdominal e a pré-disposição às doenças, tais como os fatores associados à genética,
à idade, ao gênero, à paridade, à raça, a fatores comportamentais como alimentação,
prática de atividade física, ingestão de bebida alcoólica e tabagismo e aos fatores
socioeconômicos como a renda e a escolaridade (CASTANHEIRA et al., 2003).
Alguns estudos mostram associação linear e direta entre localização de
gordura abdominal e idade, em ambos os sexos (OLINTO et al., 2006; OLIVEIRA et
al., 2007; SKRZYPCZAK et al., 2008; CAKS e KOS, 2009). Pesquisa realizada por
OLIVEIRA (2009) encontrou associação direta entre excesso de peso e obesidade
central com a idade, apenas entre as mulheres. Entre os homens esta tendência
crescente perde significância estatística entre os 40 e 49 anos, e volta a elevar-se na
faixa de 50 a 59 anos. Neste mesmo estudo, o excesso de gordura abdominal,
avaliado pela circunferência da cintura acompanha a tendência da obesidade, com
prevalência 2,7 vezes mais elevada entre as mulheres (35,7%) quando comparada à
estimada entre os homens (12,9%).
Reforçando este achado, as análises de MARTINS e MARINHO (2003)
confirmaram que as mulheres têm sete vezes mais risco do que os homens de
apresentarem obesidade abdominal. No estudo de CASTANHEIRA et al., (2003) os
autores concluíram que entre as mulheres a idade em que ocorre maior acúmulo de
gordura situa-se entre 20 e 50 anos, ou seja, durante o período reprodutivo.
A associação entre obesidade abdominal e raça é apontada por alguns
estudos. No Brasil, pesquisa realizada com a população de Cuiabá-MT, encontrou
valores menores de circunferência da cintura entre negros quando comparados aos
brancos (< 2,0cm) e entre pardos quando comparados aos brancos (< 1,3cm). Esses
resultados foram observados por análises que controlaram potenciais fatores de
confusão (FERREIRA et al., 2007). Confirmando esses achados, CASTANHEIRA et
al., (2003), em estudo de base populacional realizado na cidade de Pelotas-RS,
avaliando uma população adulta de ambos os sexos, também observaram que
homens brancos tinham cerca de 4,0 cm a mais de perímetro da cintura comparados
aos negros. Assim é possível inferir que ser pardo ou negro é um fator de proteção
para o acúmulo de gordura abdominal (OLIVEIRA et al., 2008).
Esta variação na concentração da gordura localizada em relação à raça
também é evidenciada em estudos com populações de outros países como na
população africana, mexicana, japonesa, tailandesa e chinesa. Nestes grupos, os
pontos de corte encontrados para identificação de alterações na localização de
gordura foram inferiores aos preconizados pela OMS como padrão (WHO, 2000a).
Outro fator associado à localização de gordura é a alimentação. Esta
associação é comprovada com os achados do estudo realizado por OLIVEIRA
(2009), onde os entrevistados que realizavam três ou menos refeições ao dia,
apresentaram uma prevalência de excesso de peso e adiposidade abdominal maior,
quando comparada com a prevalência destes eventos entre aqueles que realizavam
mais de três refeições ao dia. Tal resultado pode ser interpretado pela resposta
fisiológica à adoção de uma prática alimentar inadequada, uma vez que a redução do
número de refeição ao dia induz o indivíduo a fazer alta ingestão de alimentos, com
consequente elevação da concentração energética por refeição.
Estudo realizado por MACHADO e SICHIERI (2002), no Rio de Janeiro,
analisou a associação entre consumo de nutrientes específicos e depósito abdominal
de gordura, avaliado pelo marcador RCQ. Não foi encontrada associação entre
consumo de lipídeos e RCQ. No entanto, as autoras observaram associação positiva
da RCQ com o consumo de carboidratos, em ambos os sexos. TOELLER et al.,
(2001) também avaliaram a associação da RCQ e da circunferência da cintura com
nutrientes diversos. Esses autores demonstraram que a ingestão de fibras e
carboidratos foi associada a uma menor circunferência da cintura, enquanto que o
consumo de gordura e proteínas mostrou-se associado a uma maior RCQ, em homens
e mulheres.
No estudo de MACHADO e SICHIERI (2002), as autoras também
encontraram associação inversa entre RCQ e prática de atividade física. No entanto,
existem controvérsias entre a associação da atividade física e o acúmulo de gordura
abdominal. CASTANHEIRA et al., (2003), em estudo transversal com homens que
praticavam atividade física, observaram maior acúmulo de gordura abdominal nesses
indivíduos comparados aos que não praticavam. Esses resultados podem ser
interpretados como um possível efeito de causalidade reversa, comumente notado
nesse tipo de estudo.
Já em estudo transversal realizado por OLINTO et al., (2006), foi evidenciada
associação inversa para as mulheres entre prática de atividade física e acúmulo de
gordura na região abdominal, mesmo após ajustes para o IMC. Corroborando com
esses achados, OLIVEIRA et al., (2007), em estudo com amostra de mulheres
usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), mostraram que a realização de atividade
física esteve associada a um menor acúmulo de gordura abdominal.
CASTANHEIRA et al., (2003) ressaltaram que informações sobre a duração
do exercício, o tipo de atividade física e há quanto tempo se realiza a atividade física
devem ser consideradas para melhor avaliar o efeito da prática de exercícios nos
depósitos de gordura. Para avaliar a associação entre estes dois fatores, seria
necessário realizar um estudo de seguimento que permitiria inferir relação de
causalidade entre a exposição (atividade física) e o desfecho (obesidade abdominal).
Estudos de seguimento são mais eficazes para avaliar a verdadeira associação
entre nível de atividade física e depósitos abdominais de gordura. Um estudo de
coorte realizado na Dinamarca, com 6279 indivíduos adultos com idade entre 20 e 78
anos examinou o efeito em longo prazo do tempo de atividade física de lazer sobre o
desenvolvimento posterior de obesidade e o efeito do peso do corpo sobre a
inatividade física. Os autores concluíram que o tempo de atividade física realizada
apresentou associação inversa com a obesidade, e que a redução da carga de
atividade física se associou com o ganho de peso (PETERSEN et al., 2004), que pode
estar relacionado com a redução do gasto energético que não é compensado pela
redução da ingestão energética.
OLIVEIRA et al., (2007) estudando 827 mulheres com idade entre 12 e 65
anos, identificou como fator de exposição para concentração de gordura abdominal a
paridade, especialmente aquelas que tiveram quatro ou mais gestações. Mulheres
multíparas podem apresentar até 12cm a mais de perímetro abdominal quando
comparadas às nuligestas (CASTANHEIRA et al., 2003).
Outro possível fator determinante da adiposidade abdominal para ambos os
sexos é a renda, sendo que entre os homens a associação é direta (CASTANHEIRA
et al., 2003) e inversa entre as mulheres (OLINTO et al., 2006; OLIVEIRA et al.,
2007). A Diretriz Brasileira de Obesidade destaca que a associação entre o acúmulo
de gordura e a menor renda pode ser explicada pelo consumo aumentado de
alimentos de grande densidade energética, como açúcar e gorduras que possuem a
maior palatabilidade e baixo custo comparado aos alimentos saudáveis (ABESO,
2009).
Outra variável que parece interferir nos depósitos abdominais de gordura é a
escolaridade. Alguns autores mostraram que essa associação é inversa entre as
mulheres, o que pode ser justificado pela prática de cuidados da saúde mais comum
entre aquelas que adquiriram maior conhecimento intelectual (CASTANHEIRA et
al., 2003; OLINTO et al., 2006).
Estudos que verificaram a associação da circunferência da cintura com outros
fatores de risco para obesidade abdominal encontraram prevalência crescente em
homens e mulheres que estavam casados ou vivendo em união (CASTANHEIRA et
al., 2003; OLINTO et al., 2006). Da mesma forma, entre as mulheres que viviam
com companheiro, a média do perímetro abdominal aumentou quando comparado à
média observada para aquelas que viviam sozinhas, após ajustes para a idade
(CASTANHEIRA et al., 2003).
As pesquisas direcionadas a avaliar variáveis comportamentais, como a
ingestão de bebida alcoólica associada ao acúmulo de gordura abdominal ainda
surtem resultados controversos. OLIVEIRA (2009) encontrou associação positiva
entre o consumo de bebida alcoólica e aumento de gordura abdominal para homens.
Da mesma forma FERREIRA et al., (2008), mostraram que indivíduos que
consumiam 10 copos de cerveja por semana apresentaram um aumento de 0,3cm de
cintura em relação aos não consumidores. Neste mesmo estudo, para os
consumidores de aguardente, 10 doses por semana aumentariam 2,4cm dessa medida.
No estudo conduzido por MACHADO e SICHIERI (2002) foi identificada
associação positiva entre a ingestão de quatro copos ou mais de cerveja diários e a
inadequação da RCQ. Em outra pesquisa realizada com indivíduos de ambos os
sexos verificou-se que entre as mulheres que consumiam quantidades moderadas de
álcool foi encontrada uma cintura mais fina e um menor IMC, porém após ajustes
para idade, exercícios físicos e tabagismo, esta associação não se manteve
(TOELLER et al., 2001).
Resultado semelhante foi encontrado em estudo de base populacional
realizado na Espanha, no período entre 1999 e 2000 com 2.868 indivíduos de ambos
os sexos, com idade entre 24 e 75 anos. Os autores constataram que o consumo de
álcool estava diretamente associado com a circunferência da cintura e com um maior
risco de obesidade abdominal nos homens, mas não em mulheres (SCHRÖDER et
al., 2007).
É bem documentada na literatura a relação do tabagismo com a redução do
peso corporal (CHATKIN e CHATKIN, 2007; PISTELLI et al., 2009). O estudo
realizado por CANOY et al., (2005) aponta que essa redução pode estar associada
principalmente à redução de massa magra nos indivíduos tabagistas em quantidade
superior a massa gorda. Fumantes apresentam menor IMC comparados aos não
fumantes e ex-fumantes (JEE et al., 2002). A ação do tabaco na redução de peso
pode ser resultado da ação da nicotina que reduz o apetite e assim não contribui para
o ganho de peso dos indivíduos (MARTINS e MARINHO, 2003; CHATKIN e
CHATKIN, 2007).
No entanto não está claro o mecanismo metabólico da relação do tabagismo
com a oscilação do peso corporal (BERLIN, 2008). CHIOLERO et al., (2008)
apontam para uma possível relação entre as mudanças no metabolismo de oxidação
de gordura e de lipoproteínas e o aumento do peso nos indivíduos que pararam de
fumar. Outros estudos direcionados à localização de gordura apontam formas
distintas para ação do tabagismo no aumento da gordura na região abdominal, que
podem estar ligadas à alteração da atividade da lipase lipoprotéica na região
abdominal e glútea, ao aumento da captação e armazenamento de triglicerídeos e
ácidos graxos pelos adipócitos da região abdominal (CANOY et al., 2005) e pela
maior liberação de cortisol induzida pela presença de substâncias existentes no
tabaco (CHIOLERO et al., 2008).
Alguns estudos encontraram associação direta entre o uso do tabaco e a
obesidade abdominal. CANOY et al., (2005) em estudo com adultos britânicos com
idade entre 45 e 79 anos demonstraram que entre os homens o uso de 20 ou mais
cigarros por dia foi associado a maiores médias de perímetro da cintura e da RCQ.
Em contrapartida, outros estudos mostraram maiores médias de perímetro da cintura
em ex-fumantes e menores valores em fumantes atuais, em relação aos que nunca
haviam fumado (OLINTO et al., 2006; SNEVE e JORDE, 2008; CAKS e KOS,
2009).
Outro estudo brasileiro (MACHADO e SICHIERI, 2002) encontrou maior
prevalência de RCQ inadequada em indivíduos fumantes comparados aos que nunca
fumaram. Concordando com esse achado, REZENDE et al., (2006) encontraram
maior adiposidade abdominal em fumantes, mesmo entre indivíduos com menor peso
corporal. Em contraposição, OLIVEIRA et al., (2007), estudando mulheres de um
Centro de Saúde de Belo Horizonte-MG, não encontraram associação entre
obesidade abdominal e tabagismo.
Observa-se que a participação do tabagismo na questão da distribuição
centralizada da gordura corporal é assunto que ainda merece maiores investigações.
No entanto, é notória a participação do tabaco no aumento ou agravamento de
doenças cardiovasculares (WHO, 2003), pois causa resistência à insulina, redução
dos níveis do HDL/colesterol (GESLAIN-BIQUEZ et al., 2003; HAN et al., 2006;
PRIGOL et al., 2007; BERLIN, 2008), níveis séricos elevados de triglicerídeos,
aumento da pressão arterial (GEISLAIN-BISQUEZ et al., 2003; DZIEN et al., 2004),
elevação da fração VLDL e LDL/colesterol (GEISLAIN-BISQUEZ et al., 2003;
PRIGOL et al., 2007) e hiperglicemia (DZIEN et al., 2004). Ressalta-se que muitas
dessas reações são as mesmas que surgem no quadro de ganho de peso e obesidade
abdominal (REZENDE et al., 2006; WILLI et al., 2007).
Além disso, o tabagismo isolado dobra a possibilidade de doença cardíaca.
Quando associado à alteração do colesterol ou à hipertensão, multiplica esse risco
por quatro, e, quando os três fatores estão juntos o risco é multiplicado por oito vezes
(FRANKEN et al., 1996). O tabaco está associado à mortalidade por doenças como
câncer de traquéia, brônquios e pulmão, doença isquêmica do coração e DPOC
(OLIVEIRA et al., 2008). Além disso, predispõe os indivíduos fumantes a acidentes
cérebro-vasculares e ataques cardíacos mortais (CRITCHLEY e CAPEWELL,
2003).
O tabagismo tem sido associado a aproximadamente 5,4 milhões de mortes
por ano em todo o mundo, com estimativas para 2030 de esta cifra subir para oito
milhões (WHO, 2008). No Brasil, a prevalência de fumantes regulares de cigarros
varia entre as capitais brasileiras, com taxas que vão de 12,9% a 25,2%, sendo os
homens o grupo que mais se expõe a este fator de risco (MS, 2009).
Diante da prevalência elevada de fumantes regulares de cigarros, de todas as
comorbidades associadas ao tabagismo e, considerando uma possível ação no
acúmulo de gordura abdominal, torna-se imprescindível avaliar a associação entre o
uso de tabaco e a distribuição de gordura abdominal, visando aumentar os
conhecimentos sobre o risco de desenvolvimento das Doenças Crônicas Não
Transmissíveis, com a finalidade de subsidiar ações de promoção à saúde embasadas
no combate ao tabagismo e à obesidade.
O presente estudo pretende contribuir para esse conhecimento, analisando o
efeito independente do tabagismo na obesidade abdominal, controlando-se potenciais
fatores de confusão dessa associação inclusive o consumo de bebidas alcoólicas que
frequentemente se encontra associado com o tabagismo e vários desfechos de
interesse para a saúde.
3. OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Analisar a associação entre tabagismo e acúmulo de gordura na região
abdominal em doadores de sangue de Cuiabá/MT.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Estimar a prevalência do uso de tabaco na população estudada;
Caracterizar a população de estudo quanto às variáveis sociodemográficas e
de estilo de vida;
Descrever o estado nutricional e a composição corporal da população
estudada;
Verificar a associação das variáveis sociodemográficas e de estilo de vida
com os indicadores antropométricos de adiposidade abdominal;
Analisar o efeito independente do tabagismo na adiposidade abdominal.
4. MÉTODOS
4.1 DESENHO DO ESTUDO
O presente trabalho é baseado na análise secundária do estudo transversal
realizado com doadores de sangue, intitulada ―Associação entre marcadores
antropométricos de distribuição de gordura corporal, perfil lipídico e raça em
doadores de sangue de Cuiabá‖, no período de agosto de 1999 a Janeiro de 2000.
Essa pesquisa incluiu homens com idade entre 20 e 59 anos, que compareceram ao
Hemocentro Regional Navantino Borba, na cidade de Cuiabá, Mato Grosso para
doação de sangue.
O universo amostral da pesquisa incluiu todos os indivíduos que
compareceram ao hemocentro para doar sangue (doadores de sangue aprovados ou
não como tal), totalizando uma população inicial de 1749 indivíduos. Destes, uma
minoria era representado por mulheres (249), motivo pelo qual foram excluídas do
estudo. Excluídas as mulheres, foram selecionados todos os indivíduos elegíveis com
idade entre 20-59 anos (1500).
Também foram excluídos da pesquisa 15 indivíduos que apresentaram
redução de peso nos últimos dois meses precedentes à pesquisa; 12 por fazerem uso
regular de medicamento para dislipidemia; 15 se encontravam em tratamento
dietético; 15 por apresentarem IMC <18,5 kg/m2
e 164 porque tinham IMC 30,0
kg/m2, totalizando 1235 participantes. Esses critérios de exclusão foram
estabelecidos na pesquisa inicial. Recusaram-se a participar do estudo 29 doadores e
outros 15 indivíduos ultrapassaram a capacidade de atendimento pelos
entrevistadores, devido ao grande fluxo de doadores no mesmo momento.
Todos os participantes que fizeram parte da amostra final foram submetidos à
entrevista, avaliação antropométrica e avaliação da composição corporal.
4.2 ENTREVISTA
A pesquisa foi realizada por entrevistadores treinados que coletaram
informações sobre os dados socioeconômicos e demográficos, estilo de vida
(tabagismo, atividade física, consumo de álcool) e dados relativos à antropometria e
composição corporal. Para coleta destas informações foi utilizado um questionário
semi-estruturado desenvolvido para atender os propósitos da pesquisa (Anexo 1).
Durante a coleta de dados, contou-se com a participação de cinco alunos
graduandos do curso de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso. Estes
estudantes foram submetidos a um treinamento em período anterior ao início da
pesquisa, no qual aprenderam a preencher os questionários, a manusear
adequadamente os equipamentos e a realizar a coleta dos dados da composição
corporal, seguindo os procedimentos padronizados para obtenção de dados
antropométricos e de bioimpedância. O treinamento foi ministrado pela pesquisadora
responsável pelo projeto, com uma duração total de seis horas divididas em dois
encontros de 3 horas.
Durante a realização da pesquisa de campo a pesquisadora responsável fez-se
presente no hemocentro para esclarecer qualquer dúvida que pudesse surgir e para
detectar a necessidade de possíveis alterações no questionário utilizado.
4.3 ESTUDO PILOTO
O estudo piloto realizado contou com a participação de 94 doadores de
sangue que não foram incluídos no estudo. Estes indivíduos responderam ao
questionário elaborado para a pesquisa e foram submetidos à avaliação
antropométrica e da composição corporal.
A realização deste teste piloto possibilitou a identificação de possíveis falhas,
dificuldades e dúvidas que poderiam surgir no preenchimento do questionário, bem
como na compreensão do mesmo. Foram também identificadas as dificuldades
operacionais do processo de abordagem aos indivíduos e verificado o nível de
treinamento dos avaliadores com relação à aferição de medidas.
Na sequência das atividades, foram feitas as alterações necessárias no
questionário e procedeu-se o reforço do treinamento para os entrevistadores que
necessitaram de maior tempo de preparo para a realização das atividades da
entrevista.
4.4 COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada no período de agosto de 1999 a janeiro de
2000, período em que a freqüência de indivíduos para doar sangue ocorreu dentro da
média normal, quando comparado ao mesmo período nos anos anteriores.
Após passar pela triagem com os funcionários do Hemocentro, os doadores
eram abordados antes da doação de sangue, por um dos entrevistadores da pesquisa
que se identificavam e informavam sobre a finalidade da mesma e os convidavam a
participar. A abordagem e a entrevista foram realizadas, em sua maioria, pela
pesquisadora responsável, contando com o apoio dos alunos como auxiliares.
As entrevistas foram realizadas nas próprias dependências do Hemocentro. O
tempo médio gasto com cada entrevista, avaliação antropométrica e da composição
corporal foi de aproximadamente 30 minutos.
4.4.1 Variáveis do Estudo
Variáveis demográficas
- Idade: foi informada em anos completos, subtraindo-se a data da entrevista
da data de nascimento, conforme constava na carteira de identidade do participante.
A idade foi trabalhada de maneira agrupada em duas categorizações. Na primeira
categorização, foram estruturados dois grupos com base na média da idade: mais
jovens com idade entre 20 e 30 anos; mais velhos com idade entre 31 e 58 anos; Na
segunda, as faixas etárias definidas foram de 20 a 29 anos; 30 a 39 anos e 40 a 59
anos.
- Raça/cor: foi identificada pelo entrevistador, segundo classificação do
Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) como indivíduos brancos, negros
e pardos (IBGE, 1997).
- Situação conjugal: foi categorizada como indivíduos casados, solteiros,
viúvos e divorciados, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
(IBGE, 1997).
Variáveis socioeconômicas
- Escolaridade: foi questionada seguindo a nomenclatura das categorias
apresentadas no documento da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
(ABEP) classificada em Analfabeto/até 3ª. Série Fundamental; até 4ª. Série
Fundamental; Fundamental completo; Médio completo; Superior completo (ABEP,
2008). Para realização das análises esta variável foi agrupada segundo anos de
estudo: até 8 anos de estudo e acima de 8 anos de estudo.
- Moradores por residência: foi questionado sobre o número de moradores na
residência, excluindo empregados domésticos.
- Renda: representada por salário mínimo familiar per capita, foi obtida pela
divisão da renda total da família pelo número de moradores do domicílio e analisada
segundo o valor do salário mínimo vigente no período da coleta (R$136,00 – cento e
trinta e seis reais). A renda per capita foi classificada em <1,0 salário, entre 1,0 e 2,0
salários e >2,0 salários.
Variáveis relacionadas ao estilo de vida
- Tabagismo: os entrevistados foram classificados nas seguintes categorias:
a) Não fumantes: indivíduos que informaram nunca terem fumado na vida;
b) Ex-fumantes: aqueles que referiram ter fumado no passado, mas que não fumam
há pelo menos seis meses;
c) Fumantes: aqueles que informaram fumar ao menos 1(um) cigarro por dia no
último ano.
- Intensidade do tabagismo: calculada em unidade maços/ano, pela razão
entre número de cigarros fumados e a quantidade de cigarros existentes em um maço
(20 unidades), multiplicados pelo número de anos do tabagismo. Nas análises esta
variável foi categorizada em tercis (0,1 a 5,1 maços/ano; 5,2 a 12 maços/ano e mais
de 12 maços/ano. Para o cálculo desta variável foram coletadas informações quanto
ao número de cigarros fumados por dia e o tempo de tabagismo (em anos). Esse
cálculo está apresentado na equação abaixo:
Intensidade tabagismo = nº de cigarros fumados x nº anos do tabagismo
20
- Atividade física: foi classificada como indivíduos que praticavam e os que
não praticavam atividade física de lazer, referente ao mês que antecedeu a data da
entrevista.
- Consumo de bebidas alcoólicas: referiu-se à ingestão ou não de bebidas
alcoólicas, com informações sobre o tipo de bebida, freqüência do consumo e
quantidade consumida. A quantidade do etanol ingerido foi calculada utilizando-se as
informações coletadas e considerando a graduação alcoólica média dos diferentes
tipos de bebidas mais comuns no mercado como a cerveja (5%), vinho (12,5%) e o
aguardente (39%). A classificação da quantidade consumida foi expressa em
unidades de etanol por semana. Cada unidade de etanol equivale a 10 gramas de
etanol ingeridas por semana. Classificou-se o consumo de bebida alcoólica em níveis
de consumo: leve, o consumo abaixo de 21 unidades de álcool por semana;
moderado de 22 a 50 unidades/semana e elevado o consumo acima de 51
unidades/semana (WHO, 2000b).
Variáveis antropométricas
Para realização das medidas antropométricas foram utilizadas
técnicas/procedimentos padronizados para cada mensuração. Todas as medidas
foram aferidas antes da doação de sangue.
Para a aferição das circunferências circundava-se a fita no local do corpo que
se desejava medir, colocando-se a mesma com firmeza, sem esticar excessivamente,
evitando-se assim a compressão do tecido subcutâneo. Em seguida, procedia-se a
leitura no centímetro mais próximo, no local de cruzamento da fita com o ponto zero.
Para garantir a validade e fidedignidade das medidas, observou-se rigorosamente a
posição da fita no momento da medição, mantendo-a no plano horizontal. As
circunferências foram aferidas com o indivíduo trajando apenas roupa íntima, em
posição ortostática, abdômen relaxado, braços ao lado do corpo, sem sapatos e com
os pés juntos.
As medidas da circunferência da cintura e do quadril foram realizadas em
duplicata, seguindo a padronização descrita por CALLAWAY et al. (1988). Foi
considerada nas análises a média obtida das duas medições de cada circunferência. O
instrumento utilizado na mensuração foi uma fita métrica flexível e inextensível de
200 cm de comprimento, com variação de 0,1 cm.
- Circunferência da cintura: a medida foi aferida na altura da cintura natural
do indivíduo, que é a parte mais estreita do tronco, por ser considerado o ponto que
reflete com maior acurácia o tecido adiposo visceral (LEAN et al., 1995; CLASEY et
al., 1999).
- Circunferência do quadril: a medida do quadril foi realizada na altura da
extensão máxima das nádegas, na maior protuberância do músculo glúteo.
- Peso: foi registrado em Kg, obtido por meio do aparelho de bioimpedância
(Tanita, modelo TBF-305), com corrente de 500µA, de baixa freqüência (50kHz),
com variação mínima de 0,2 Kg. Para a pesagem, o indivíduo manteve-se em posição
ortostática, braços estendidos ao longo do corpo e sem sapatos conforme a técnica
recomendada no manual de utilização do equipamento e empregada por NUÑEZ et
al., (1997).
- Gordura corporal: foi quantificada em percentual e foi estimada pelo método
da bioimpedância elétrica, com o mesmo analisador de composição corporal usado
para avaliação do peso.
- Estatura: foi aferida utilizando-se uma trena metálica acoplada à haste de
madeira, que foi fixada na parede sem rodapé. Buscando alcançar maior precisão na
obtenção desta medida, foi adaptado ao procedimento um instrumento auxiliar de
madeira no formato de esquadro, cujos lados do ângulo reto foram assim ajustados:
um acima da cabeça do indivíduo e o outro no metro. Durante a aferição o indivíduo
se manteve em posição ortostática, sem sapatos, pés unidos e braços estendidos ao
longo do corpo, encostado no plano vertical da haste, olhando para frente (GORDON
et al., 1988). A leitura da estatura foi realizada no centímetro mais próximo
(GIBSON, 1990).
4.5 DETERMINAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL PELA
BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA
A composição corporal dos indivíduos foi quantificada pela percentagem de
gordura corporal, avaliada pelo método da bioimpedância elétrica, por meio do
analisador Tanita, modelo TBF-305 (Illinois, USA), utilizando uma corrente de 500
uA, de baixa freqüência (50 kHz). No momento da aferição o indivíduo se manteve
em pé sob uma plataforma medidora, sem sapatos, sem meias, quando foi medida a
resistência elétrica dos tecidos corporais entre as duas pernas, com os eletrodos (em
número de quatro) localizados no calcanhar e na planta dos pés.
Para análise da composição corporal por meio da impedância elétrica, o
aparelho de bioimpedância emite o valor do percentual de gordura corporal (%GC)
que é obtido através do cálculo da densidade corporal (DC). Para o cálculo da DC se
utiliza os dados obtidos da impedância, do peso e da estatura. Dispondo do valor da
DC é calculado então o %GC. Para estes cálculos, o aparelho utiliza-se das fórmulas
de regressão, padronizadas por BROZEK et al., (1963) que são inseridas no aparelho
pelo fabricante:
DC = 1,100696 – 0,107903 x P x Z
E2 + 0,000170 x Z
% GC = (4,570/DC – 4,142) x 100
Todas as medições antropométricas e de bioimpedância foram realizadas
estando os participantes sem ingerir alimentos sólidos ou líquidos pelo menos nas
últimas três horas anteriores à avaliação (SEGAL et al., 1988).
4.6 CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL
O IMC foi utilizado para classificar o estado nutricional dos participantes do
estudo. Esse índice foi obtido pela razão entre o peso e o quadrado da estatura.
Foram utilizados os pontos de corte preconizados pela OMS (WHO, 1998), para a
classificação do estado nutricional (Tabela1).
Tabela 1 Classificação do estado nutricional de adultos, pelo Índice de
Massa Corporal, segundo Organização Mundial da Saúde, 1998.
Classificação IMC (kg/m2)
Baixo peso < 18,5
Normal 18,5 – 24,9
Sobrepeso 25 ,0 – 29,9
Obesidade 30,0
Fonte: WHO, 1998.
4.7 PROCESSAMENTO DE DADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados coletados foram digitados em duplicata no programa Epi Info 6.0.
Após a tabulação dos mesmos foi realizada análise de consistência dos dados. As
análises estatísticas foram realizadas no programa SPSS versão 11.0.
Inicialmente, foi realizado o escrutínio das variáveis de estudo para análise de
suas distribuições. Para a descrição das variáveis categóricas foi utilizada a análise de
freqüências absolutas, com seus Intervalos de Confiança (IC) de 95%. Para a
descrição das variáveis contínuas, foi utilizada a média e o erro padrão. A
comparação de médias entre as variáveis que apresentaram distribuição não simétrica
foram realizadas por meio dos testes não paramétricos de Mann Whitiney e Kruskal-
Wallis. Análise de regressão linear múltipla foi realizada para avaliar a associação
entre o tabagismo e os depósitos abdominais de gordura, ajustando-se pelos
potenciais fatores confundidores desta associação. O nível de significância crítico
adotado para rejeição da hipótese nula foi de 5% (p ≤0,05).
A variável dependente do estudo foi a localização abdominal de gordura,
representada pela circunferência da cintura ou pela RCQ, em modelos distintos.
Tanto a circunferência da cintura quanto a RCQ foram transformadas em logaritmos,
para atender ao pressuposto de normalidade das variáveis respostas, exigido no
modelo de regressão linear. Considerando-se que os resultados das análises dos
modelos com transformação e sem transformação apresentaram médias e erro padrão
com valores similares, optou-se por apresentar os valores obtidos com as variáveis
dependentes sem transformação. A principal variável independente do estudo foi o
tabagismo, que foi tratada como variável dummy, para testar o seu efeito na
adiposidade abdominal em diferentes níveis de exposição. testando-se na associação,
a carga tabágica em relação ao não fumante.
O percentual de gordura corporal foi utilizado no modelo para remover o
efeito da adiposidade total. O estudo realizado por LEMOS-SANTOS et al., (2004),
nesta mesma população, aponta que este indicador apresenta maior eficiência quando
comparado ao IMC na remoção do efeito da gordura corporal total, principalmente
em indivíduos mais velhos.
A análise da correlação entre os índices antropométricos e as variáveis de
consumo de bebida alcoólica e intensidade do tabagismo foi feita por meio do
coeficiente de correlação de Sperman.
4.8 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
No momento da abordagem dos doadores a pesquisadora fazia os
esclarecimentos necessários sobre os propósitos da pesquisa, esclarecia sobre a
adesão ao estudo, que era totalmente voluntária e informava que a participação não
implicava em quaisquer riscos. Os entrevistados também eram informados quanto à
possibilidade de desligar-se da pesquisa a qualquer momento, sem prejuízos.
Os doadores também foram orientados sobre os aspectos éticos da pesquisa,
como a garantia da confidencialidade dos dados coletados, assegurando-se total
sigilo quanto às informações adquiridas.
Atendendo ao estabelecido pela Portaria 196/96, sobre os critérios para
realização de pesquisa em seres humanos, fez-se necessário a submissão da pesquisa
atual ao Comitê de Ética, devido ao longo intervalo de tempo entre a mesma e a
pesquisa realizada em 1999. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller (CEP/HUJM) da Universidade
Federal de Mato Grosso, sob Processo nº. 703/CEP-HUJM/2009 (Anexo 2).
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tabagismo e adiposidade abdominal em doadores de sangue
Smoking and abdominal fat in blood donors
Tabagismo e adiposidade abdominal
Smoking and abdominal fat
Descritores: tabagismo, adultos, obesidade, gordura abdominal, antropometria.
Key words: smoking, adult, obesity, abdominal fat, anthropometry.
RESUMO
Introdução: Embora fumantes apresentem índice de massa corporal menor do que
não fumantes, o tabagismo pode associar-se ao maior acúmulo de gordura
abdominal. O depósito abdominal de gordura é um fator de risco mais importante do
que a gordura total para a morbidade e mortalidade por doenças crônicas não
transmissíveis.
Objetivo: Analisar a associação entre tabagismo e obesidade abdominal em
doadores de sangue de Cuiabá/MT.
Métodos: Estudo de corte transversal, com 1235 homens doadores de sangue, com
idade entre 20 e 59 anos, da cidade de Cuiabá-MT. As variáveis socioeconômicas,
demográficas e de estilo de vida foram coletadas por meio de entrevista. As medidas
antropométricas avaliadas foram peso, estatura, circunferência da cintura e a
circunferência do quadril. A circunferência da cintura e a relação cintura/quadril
foram utilizadas como marcadores de adiposidade abdominal. A associação entre
esses marcadores e o tabagismo foi analisada por regressão linear múltipla, em
modelos distintos, ambos ajustados para potenciais fatores de confusão.
Resultados: Do total de entrevistados, 22,1% declararam ser fumantes e destes,
36,3% relataram fumar mais do que 15 cigarros por dia. A média do índice de massa
corporal foi menor entre os fumantes quando comparados aos não fumantes (p
<0,001). O tabagismo mostrou-se associado à circunferência da cintura para
fumantes de 6-10 cigarros/dia (β =1,86; p <0,001) e de 11 ou mais cigarros/dia (β
=3,44; p <0,001) e à relação cintura/quadril para os mesmos níveis de exposição (β
=0,03; p <0,001 e β =0,07; p <0,001, respectivamente). Esses resultados foram
observados após ajustes para as variáveis confundidoras dessas associações.
Conclusão: O tabagismo associou-se positivamente com os indicadores da
adiposidade abdominal (cintura e relação cintura/quadril), independente de potenciais
fatores de confusão, inclusive do consumo de bebida alcoólica.
ABSTRACT
Introduction: Although smokers have lower body mass index than non-smokers,
smoking may be associated with a higher accumulation of abdominal fat. The
deposition of abdominal fat appears as a risk factor more important than total fat to
morbidity and mortality from non-communicable chronic diseases.
Objective: To assess the association between smoking and abdominal fat among
blood donors in the city of Cuiabá-MT, Brazil.
Methods: A cross-sectional study of 1,235 male blood donors, aged between 20 and
59 years, from the city of Cuiabá. Socio-economic, demographic and lifestyle
variables were collected through interviews. Anthropometric measures were assessed
for weight, height, waist circumference and hip circumference. Waist circumference
and waist-to-hip ratio were used as markers of abdominal fat. The association
between these markers and smoking was analyzed by multiple linear regression in
separate models, both adjusted for potential confounders.
Results: Of the respondents, 22.1% reported being smokers, and 36.3% reported
smoking more than 15 cigarettes per day. The average body mass index was lower
among smokers as compared to nonsmokers (p <0.001). Smoking was associated
with waist circumference for smokers of 6-10 cigarettes/day (β =1,86, p <0.001) and
than 11 or more cigarettes/day, (β =3,44, p <0,001) and waist-to-hip ratio for the
same levels of consumption (β =0,03, p <0.001 and β =0,07, p <0.001, respectively).
These results were observed after adjusting for confounding variables such
associations.
Conclusion: Smoking was positively associated with indicators of abdominal fat
(waist circumference and waist-to-hip ratio), independent of potential confounding
factors, including the consumption of alcoholic beverages.
INTRODUÇÃO
A obesidade é considerada doença epidêmica de proporção mundial.
Globalmente mais de um bilhão de adultos estão com sobrepeso, e destes, pelo
menos 300 milhões são clinicamente considerados obesos1. O peso dos brasileiros
vem aumentando nos últimos anos. O excesso de peso quase triplicou entre homens,
de 18,5% em 1974-75 para 50,1% em 2008-09, e entre as mulheres, essa proporção
aumentou de 28,7% para 48% no período2.
A ocorrência da obesidade e principalmente da localização de gordura central
representam um dos principais riscos para toda carga de doenças do aparelho
circulatório1,3
, que são a principal causa de óbitos em todas as regiões do Brasil,
atingindo, principalmente, a população adulta e idosa4.
No Estado do Mato Grosso,
em 2005, a taxa de mortalidade por esta causa foi de 28,3%5.
A adiposidade abdominal é um sinalizador da presença de gordura visceral e
tem perfil aterogênico6, sendo responsável pelo quadro de complicações
metabólicas3,7,8
, que aumentam o risco de mortalidade dos indivíduos.
O depósito de gordura abdominal é influenciado por diversos fatores, alguns
já bem conhecidos tais como a idade, o sexo9-11
e a ingestão de bebidas
alcoólicas10,12,13
. O efeito protetor da atividade física parece ser mais evidente para
indivíduos que mantém atividades físicas regulares por um período mais
prolongado14
. A associação do uso do tabaco com os indicadores de localização de
gordura tem sido menos explorada, sendo que poucos estudos têm mostrado de forma
consistente essa associação, quando potenciais fatores de confusão são controlados
nas análises.
O mecanismo biológico que explica a associação entre o tabagismo e a
localização de gordura abdominal, aponta para elevação dos níveis de cortisol que
incrementa a lipogênese, a diferenciação de adipócitos e a deposição de gordura
nesta região15
. Esta deposição é acelerada com a alteração da atividade da lipase
lipoprotéica da região abdominal e glútea, devido à maior captação e armazenamento
de triglicerídeos e ácidos graxos pelos adipócitos6.
O tabagismo tem sido considerado um grande problema da saúde pública pela
Organização Mundial de Saúde, sendo fator de risco modificável16
, para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares3,8,17
. É responsável por cerca de cinco
milhões de mortes (quatro milhões em homens e um milhão em mulheres) por ano
em todo o mundo16
.
A freqüência cada vez maior da obesidade e a prevalência ainda elevada do
tabagismo4 estão associados ao aumento expressivo da incidência de doenças
cardiovasculares no Brasil, por serem fatores de risco para ocorrência das
mesmas18,19
. O objetivo deste estudo é analisar a associação independente do
tabagismo com marcadores antropométricos de adiposidade abdominal, controlando-
se potenciais fatores de confusão.
MÉTODOS
Este estudo foi baseado na análise secundária dos dados do estudo transversal
realizado com doadores de sangue, no período de agosto de 1999 a Janeiro de 2000,
intitulado ―Associação entre marcadores antropométricos de distribuição de gordura
corporal, perfil lipídico e raça em doadores de sangue de Cuiabá‖. A amostra foi
composta por 1235 homens adultos, doadores de sangue do Hemocentro de Cuiabá,
com idade entre 20 e 59 anos. Maiores detalhes sobre o processo de desenho
amostral do estudo podem ser obtidos em publicação anterior12
.
Os dados foram obtidos por meio de um questionário semi-estruturado,
desenvolvido para atender os propósitos da pesquisa. Informações sobre
características socioeconômicas (escolaridade e renda), demográficas (idade raça/cor
e situação conjugal) e de estilo de vida (tabagismo, atividade física e consumo de
álcool) foram obtidas por entrevista. Entrevistadores treinados coletaram também
dados antropométricos e aqueles relativos à composição corporal.
Quanto ao tabagismo, os indivíduos foram classificados em não fumantes,
fumantes e ex-fumantes. Foram considerados não fumantes aqueles que informaram
nunca ter fumado na vida; ex fumantes aqueles que referiram ter fumado no passado,
mas que abandonaram o uso do tabaco e fumantes, aqueles que informaram fumar ao
menos um cigarro por dia no último ano. A intensidade do tabagismo foi mensurada
em unidade maços/ano, pela razão entre o número de cigarros fumados e a
quantidade de cigarros existente em um maço (20 unidades) multiplicados pelo
número de anos de uso do tabaco. Em relação à prática de atividade física, os
indivíduos foram classificados em praticantes e não praticantes de atividades físicas
de lazer, no mês que antecedeu a data da entrevista.
O consumo alcoólico referiu-se à ingestão ou não de bebidas alcoólicas, com
informações sobre o tipo de bebida, frequência do consumo e quantidade consumida.
A quantidade do etanol ingerida foi calculada utilizando-se as informações coletadas
e considerando a graduação alcoólica média dos diferentes tipos de bebidas mais
comuns no mercado como a cerveja (5%), o vinho (12,5%) e o aguardente (39%).
A quantidade de etanol consumida foi expressa em unidades/semana, sendo
que cada unidade de etanol correspondeu a 10 gramas de etanol ingeridas por
semana. Classificou-se como leve, o consumo abaixo de 21 unidades/semana;
moderado, o consumo entre 22 e 50 unidades/semana e elevado, o consumo acima de
51 unidades/semana20
.
Todas as medidas foram aferidas antes da doação de sangue. A circunferência
da cintura foi aferida na altura da cintura natural do indivíduo, que é a parte mais
estreita do tronco, por ser considerado o ponto que reflete com maior acurácia o
tecido adiposo visceral A circunferência do quadril foi medida na extensão máxima
das nádegas, na maior protuberância do músculo glúteo. O instrumento utilizado na
mensuração foi uma fita métrica flexível e inextensível de 200 cm de comprimento,
com variação de 0,1cm. As medidas da circunferência da cintura e do quadril foram
realizadas em duplicata, seguindo a padronização descrita por Callaway et al.21
. As
circunferências foram aferidas com o indivíduo trajando apenas roupa íntima, sem
sapatos, em posição ortostática, abdômen relaxado, braços ao lado do corpo e os pés
juntos. A média obtida de duas medições de cada circunferência foi considerada nas
análises.
A aferição do peso e da composição corporal foi realizada por meio de um
aparelho de bioimpedância (Tanita, modelo TBF-305), com corrente de 500µA, de
baixa freqüência (50kHz), com variação mínima de 0,2 Kg. A estatura foi aferida
utilizando-se uma trena metálica acoplada à haste de madeira, que foi fixada na
parede sem rodapé, estando o indivíduo em posição ortostática, sem sapatos, pés
unidos e braços estendidos ao longo do corpo, olhando para frente, de acordo com o
plano de Frankfurt.
Os dados coletados foram digitados em duplicata no programa Epi Info 6.0,
sendo realizada análise de consistência após a digitação. As análises estatísticas
foram realizadas no programa SPSS versão 11.0.
Inicialmente, foi realizado o escrutínio das variáveis de estudo para análise de
suas distribuições. Para descrição das variáveis categóricas, foi utilizada a análise de
freqüências absolutas, com seus Intervalos de Confiança (IC) de 95%. Para descrição
de variáveis contínuas, foi utilizada a média e o erro padrão. A comparação de
médias entre as variáveis que apresentaram distribuição não simétrica foram
realizadas por meio dos testes não paramétricos de Mann Whitiney e Kruskal-Wallis.
A análise de regressão linear múltipla foi realizada para avaliar a associação entre o
tabagismo e os depósitos abdominais de gordura, ajustando-se pelos potenciais
fatores de confusão. O nível de significância crítico adotado para rejeição da hipótese
nula foi de 5% (p ≤0,05).
A variável dependente do estudo foi a localização abdominal de gordura,
representada pela circunferência da cintura ou pela RCQ, em modelos distintos.
Ambas as variáveis dependentes não apresentaram distribuição normal, sendo
necessária a transformação logarítmica para atender ao pressuposto de normalidade
exigido em modelos de regressão linear.
Considerando-se que os resultados das análises dos modelos com
transformação e sem transformação apresentaram médias e erro padrão com valores
similares, optou-se por apresentar os valores obtidos com as variáveis dependentes
sem transformação. A principal variável independente do estudo foi o tabagismo, que
foi tratada como variável dummy, para testar o seu efeito na adiposidade abdominal
em diferentes níveis de exposição, comparando-se os fumantes aos indivíduos que
não fumaram.
Os modelos foram ajustados para idade, raça, escolaridade, renda, percentual
de gordura corporal, atividade física e consumo de bebida alcoólica. O percentual de
gordura corporal foi utilizado nos modelos para remover o efeito da adiposidade
total. Estudo realizado por Lemos-Santos et al.22
, nesta mesma população mostrou
que o percentual de gordura corporal apresenta maior eficiência quando comparado
ao IMC, para controlar o efeito da gordura corporal total.
Conforme estabelecido pela Portaria 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
de 10 de Outubro de 1996, este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Muller, sob o registro n° 703/CEP-
HUJM/2009.
RESULTADOS
A média da idade dos participantes desta pesquisa foi de 30 anos (dp =8,32
anos). Dos 1235 indivíduos entrevistados, a maioria (60,2%) possuía entre 20 e 30
anos de idade, era de cor parda (55,2%) e tinha mais de oito anos de estudo (73%). A
avaliação do estilo de vida do grupo estudado permitiu identificar uma elevada
prevalência de consumidores de bebida alcoólica (52%) e de não praticantes de
atividade física de lazer (45%). Quanto ao tabagismo, 22,1% declararam ser
fumantes, sendo que 36,3% relataram fumar mais do que 15 cigarros por dia. Os ex
fumantes totalizaram 16,3% da amostra e 61,6% eram não fumantes (Tabela 1).
Indivíduos mais jovens apresentaram média de intensidade do fumo menor do
que os maiores de 31 anos (p =0,05). Da mesma forma, as médias dos marcadores
antropométricos de gordura corporal (total e localizada) foram menores para os mais
jovens (p <0,001). A ingestão alcoólica (g etanol/dia) foi maior entre os mais jovens
(p =0,01). Esses dados são mostrados na tabela 2.
As médias e intervalos de confiança de 95% (IC 95%) da circunferência da
cintura e da RCQ segundo variáveis sociodemográficas são apresentadas na tabela 3.
A circunferência da cintura foi maior para os indivíduos mais velhos (p <0,001), da
cor branca (p =0,05) e com menor nível de escolaridade (p =0,01). As médias da
RCQ segundo as variáveis sociodemográficas apresentaram comportamento
semelhante àquelas observadas para a circunferência da cintura, mostrando
associação direta com a idade e inversa com o nível de escolaridade (p <0,01).
Quanto às variáveis do estilo de vida, nota-se que as médias da circunferência
da cintura e da RCQ foram maiores em consumidores de bebidas alcoólicas. Os ex
fumantes apresentaram maior média da circunferência da cintura e os fumantes maior
média da RCQ (Tabela 4). Observa-se um efeito dose-resposta nessas associações,
com o aumento das médias ocorrendo de maneira linear com o aumento do consumo
de bebidas alcoólicas e da intensidade do fumo (p <0,001). Para os praticantes de
atividade física no lazer, as médias da circunferência da cintura e da RCQ foram
menores quando comparadas àquelas observadas para os não praticantes (p <0,001)
Após ajustes dos modelos de regressão linear para os fatores de confusão, o
tabagismo manteve-se associado à circunferência da cintura e à RCQ (p <0,001),
mostrando efeito independente sobre a localização abdominal de gordura para os
fumantes de mais de cinco cigarros/dia, quando comparados aos não fumantes
(Tabela 5).
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo mostram uma associação positiva entre o uso de
tabaco e a localização abdominal de gordura, sendo essa associação observada tanto
para a circunferência da cintura, quanto para a RCQ, independente de outros fatores,
para os fumantes de mais de cinco cigarros/dia.
Muitos estudos têm investigado a associação entre o tabagismo e o peso
corporal23-26
. Algumas pesquisas mostram que indivíduos fumantes apresentam
menor peso corporal do que os que nunca fumaram9,13,26,27
. De fato, no presente
estudo observou-se que fumantes apresentaram índice de massa corporal
estatisticamente inferior ao de não fumantes e ex-fumantes (p <0,001). Essa
evidência muitas vezes é um argumento para fumantes não abandonarem o uso do
tabaco9,15
, o que ocorre, principalmente entre as mulheres23
. O ganho de peso que
atinge os que tentam parar de fumar é em média de 2kg para homens e 3,1kg para
mulheres, no período relativo ao primeiro ano de cessação do tabagismo3.
Na presente investigação, as médias das variáveis indicadoras da obesidade
abdominal de acordo com o comportamento tabágico foram consistentes com outro
estudo brasileiro. Castanheira et al.28
em estudo realizado na região sul do país,
também observaram que ex fumantes apresentaram maiores médias de perímetro
abdominal comparados aos fumantes e não-fumantes.
Estudar a associação entre o tabagismo e a adiposidade abdominal é de
grande importância, tendo em vista que o maior risco associado à obesidade diz
respeito à gordura visceral6,29
. Estudos mostram que o tabagismo pode alterar a ação
da enzima lipase lipoprotéica, promovendo também o aumento dos níveis de cortisol
sanguíneo, induzindo ao acúmulo de gordura nos adipócitos da região abdominal6,15
.
O padrão de distribuição central da gordura, comparado à adiposidade total,
apresenta maior associação com desfechos tais como dislipidemias, hipertensão
arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus22,30,31
.
Estudos que se propõem a investigar a associação entre tabagismo e
localização de gordura devem controlar possíveis variáveis de confusão em modelos
matemáticos de análise multivariada. Dentre os confundidores dessa associação,
chama especial atenção o consumo de bebidas alcoólicas, que é um forte preditor de
localização abdominal de gordura e está muito associado ao uso do tabaco12,32-34
.
Pesquisa realizada com mulheres polonesas mostrou que quem fuma consome
mais bebidas alcoólicas11
. Em um estudo longitudinal realizado nos EUA, por Kaster
et al.27
também ficou evidente esta relação direta entre tabagismo e consumo
alcoólico. Concordando com esses achados, Schroder et al.35
observaram que a
prevalência de tabagismo era maior entre os indivíduos que consumiam maior
quantidade de álcool. A associação apontada entre etilismo e tabagismo certamente
se deve ao fato de que o consumo de álcool induz ao uso do tabaco e vice-versa34
.
Ainda existem controvérsias com relação à influência do uso do tabaco na
localização abdominal de gordura. Na presente investigação, a análise multivariada
por meio da regressão linear, permitiu confirmar a associação entre marcadores
antropométricos de adiposidade abdominal (circunferência da cintura e RCQ) e
tabagismo, após os ajustes necessários, inclusive pelo consumo de bebidas
alcoólicas. Os resultados encontrados mostram um efeito dose-resposta nessas
associações para ambos os marcadores de localização de gordura. Os indivíduos que
fumavam entre 6 a 10 cigarros/dia apresentaram cerca de dois cm de acréscimo na
circunferência da cintura em relação aos que nunca fumaram. Os fumantes de 11
cigarros/dia ou mais, mostraram um aumento de quatro cm na cintura em
comparação aos não fumantes. No entanto, alguns estudos têm falhado em mostrar
essa associação9,10,24
.
Similarmente aos resultados deste estudo, Castanheira et al.28
e Filozof et al.23
mostraram que a intensidade do tabagismo quantificada em unidades de maços por
ano provocou um aumento linear na prevalência da inadequação da circunferência da
cintura e da RCQ, evidenciando portanto, um gradiente positivo nessa associação.
Outro estudo realizado com 21.828 homens e mulheres, com idade entre 45 e
79 anos, residentes em Norfolk, Reino Unido, encontrou que indivíduos que tiveram
uma maior exposição cumulativa (avaliada pelo número de maços/ano fumados)
apresentaram maior RCQ comparados com não fumantes, mesmo após ajustes para
os fatores de confusão, incluindo o consumo de álcool6.
Os distúrbios metabólicos que se associam com o tabagismo têm risco
aumentado com a intensidade da carga tabágica36
. Esta idéia é reforçada pelos
resultados de uma coorte realizada nos EUA com indivíduos de ambos os sexos, com
idade entre 50 e 71 anos, com o objetivo de analisar a relação entre adiposidade,
tabagismo e mortalidade. Os resultados encontrados mostraram que, indivíduos
fumantes atuais e aqueles ex-fumantes de longo período e com grande carga tabágica
apresentaram maior risco de mortalidade. Os autores notaram ainda que, entre os
fumantes atuais que apresentavam circunferência da cintura elevada, o risco
identificado de mortalidade foi 5 vezes maior comparado àqueles que nunca
fumaram26
. Por outro lado, parar de fumar implica em redução do risco de morbi-
mortalidade. Em pacientes com insuficiência coronariana, a cessação do tabagismo
pode levar à redução de 36% na relação do risco de todas as causas de mortalidade,
independente da idade e sexo17
.
Uma metanálise realizada por Willi et al.36
, que investigou a associação entre
o tabagismo e o desenvolvimento de diabetes, encontrou que o risco de DM foi maior
para os fumantes pesados (>20 cigarros/dia; risco relativo de 1,61 [IC 95%: 1,43-
1,80]) do que para fumantes leves (risco relativo de 1,29 [IC 95%: 1,13-1,48]) ou do
que para ex-fumantes (risco relativo de 1,23 [IC 95%: 1,14-1,33]) comparados com
fumantes atuais. Esta mesma relação positiva foi encontrada em uma coorte
prospectiva que também avaliou o risco de DM entre adultos com idade entre 45 e 64
anos3,8
.
É tão importante a ação do tabaco nos riscos à saúde que existem estudos
demonstrando associação entre o tabagismo na gestação e o desenvolvimento de
obesidade nos filhos. Uma metanálise realizada por Ino7, comprova que existe uma
forte associação entre a prática do tabagismo durante a gestação e o desenvolvimento
do quadro de obesidade futura pela criança, com uma odds de 1,64 (IC 95%: 1,42-
1,90). Esta mesma conclusão foi encontrada em estudo realizado por Pormoleau et
al.37
.
A média da carga tabágica dos fumantes deste estudo foi maior entre os
indivíduos mais velhos em relação aos mais jov
ens (16,6 maços/ano versus 5,7 maços/ano), o que provavelmente se relaciona
ao maior tempo de uso do tabaco entre eles, resultando em maior intensidade do
fumo. Em pesquisa brasileira foi encontrada esta mesma tendência entre os homens,
sendo que a freqüência do consumo intenso de cigarros (>20) tendeu a aumentar com
a idade, mais do que duplicando entre as faixas etárias dos 18-24 até os 55-64 anos
de idade, declinando a seguir4. Essa condição de maior exposição ao fumo,
adicionada ao risco inerente ao aumento da idade intensifica o risco de vida desses
indivíduos.
Neste estudo, o IMC, assim como os indicadores de adiposidade abdominal,
apresentou média menor entre os indivíduos mais jovens (p <0,001). Concordando
com estes achados estão os resultados do estudo conduzido por Skrzypcak et al.9,11
que observaram aumento linear das médias dos marcadores da gordura corporal com
o aumento da idade. Estudos brasileiros mostraram aumento linear da prevalência de
indicadores de adiposidade abdominal elevados com o aumento da idade10,13,28,33
.
Portanto, a idade é um forte preditor tanto da obesidade, quanto da adiposidade
abdominal, sendo muito importante o seu controle nas análises, para que se possa
identificar outros possíveis fatores associados a esses desfechos.
Na análise da associação entre tabagismo e indicadores antropométricos de
adiposidade abdominal do presente estudo foram considerados potenciais fatores de
confusão. Mesmo assim foi possível verificar uma associação direta entre a
exposição e os desfechos avaliados. No entanto, possíveis limitações desta
investigação devem ser consideradas. O delineamento transversal do estudo não
permite inferir relação de causalidade entre a exposição (tabagismo) e o desfecho
(circunferência da cintura e RCQ). Além disso, os achados aqui apresentados dizem
respeito a uma amostra do sexo masculino. Portanto, as interpretações dos resultados
devem ser feitas com cautela, com base nas características deste estudo.
Considerando a tendência crescente do tabagismo e o aumento da prevalência
do sobrepeso, obesidade e sobretudo da obesidade abdominal na população, o
resultado deste estudo que comprova a associação entre o tabagismo e a adiposidade
abdominal poderá servir para embasamento de ações de intervenção que visem a
prevenção e redução do tabagismo, como forma de diminuir o risco da obesidade
central, reduzindo assim as chances de desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis na população.
CONCLUSÃO
Os achados deste estudo comprovam a evidência de que o tabagismo está associado
com a adiposidade abdominal, independente da ação do álcool e de outros fatores de
confusão dessa associação. Identificar os fatores de risco associados à adiposidade
abdominal é relevante, considerando que está bem documentada na literatura a
presença de risco elevado de morbidade e mortalidade para indivíduos que
apresentam acúmulo de gordura na região abdominal.
POTENCIAL CONFLITO DE INTERESSES
Declaro não haver conflito de interesses pertinentes
AGRADECIMENTO
Ao conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela
concessão de bolsa de estudo para o desenvolvimento do mestrado.
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Tabela 1 – Distribuição da população de doadores de sangue segundo características
sociodemográficas e características do estilo de vida. Cuiabá, MT, 1999-2000 (n =
1235)
Variável N % IC 95 %
Idade (anos)
20 a 30 744 60,2 57,4; 63,0
31 a 58 491 39,8 37,0; 42,6
Raça / cor
Branca 441 35,7 33,0; 38,5
Parda 682 55,2 52,4; 58,0
Negra 112 9,1 7,6; 10,8
Situação conjugal
Solteiro 625 50,6 47,8; 53,4
Casado 563 45,6 42,8; 48,4
Viúvo / divorciado 47 3,8 2,8; 5,1
Escolaridade (anos de estudo)
até 8 anos 333 27 24,5; 29,5
> 8 anos 902 73 70,5; 75,5
Renda (salário mínimo per capita)
< 1 372 30,1 27,6; 32,8
1 a 2 392 31,7 29,2; 34,4
> 2 471 38,1 35,4; 40,9
Consumo de bebida alcoólica
Sim 641 51,9 49,1; 54,7
Não 594 48,1 45,3; 50,9
Prática de atividade física de lazer
Sim 687 55,6 52,8; 58,4
Não 548 44,4 41,6; 47,2
Tabagismo
Não fumante 761 61,6 58,8; 64,3
Fumante 273 22,1 19,8; 24,5
Ex-fumante 201 16,3 14,3; 18,5
Tabela 2 – Média e erro padrão (ep) das variáveis do estilo de vida e variáveis relacionadas ao estado
nutricional e à composição corporal segundo a faixa etária. Cuiabá, MT, 1999-2000 (n = 1235)
20 – 30 anos > 31 anos
Média ep Média ep p*
Ingestão alcoólica (g etanol ∕ dia) 9,8 0,64 6,5 0,54 0,01
Intensidade do tabagismo (maços ∕ ano) 5,7 0,40 16,6 1,03 0,05
Índice de Massa Corporal (kg / m2) 23,6 0,10 25,2 0,12 <0,001
Gordura corporal (%) 17,4 0,21 20,5 0,26 <0,001
Circunferência da cintura (cm) 78,3 0,26 84,4 0,34 <0,001
Relação cintura quadril 0,861 0,002 0,901 0,002 <0,001
* p valor associado ao Teste de Mann-Whitney.
Tabela 3 - Média e intervalo de confiança de 95% da circunferência da cintura e
relação cintura quadril (RCQ) em doadores de sangue, segundo as variáveis
sociodemográficas. Cuiabá, MT, 1999-2000 (n = 1235)
Variáveis N Cintura
Média (IC 95%)
RCQ
Média (IC 95%)
Idade (anos) *
20 a 29 700 78,23 (77,70; 78,76) 0,86 (0,85; 0,86)
30 a 39 363 82,88 (82,14; 83,61) 0,89 (0,88; 0,89)
40 a 59 172 86,61 (85,46; 87,76) 0,91 (0,91; 0,92)
p < 0,001 p < 0,001
Cor *
Branca 441 81,44 (80,69; 82,18) 0,88 (0,87; 0,88)
Parda 682 80,54 (79,95; 81,12) 0,87 (0,87; 0,88)
Negra 112 79,53 (78,06; 80,99) 0,87 (0,86; 0,88)
p = 0,05 p = 0,23
Situação Conjugal*
Casados 563 78,19 (77,60; 78,77) 0,86 (0,85; 0,86)
Viúvos 47 81,99 (79,56; 84,42) 0,90 (0,87; 0,91)
Solteiros 625 83,00 (82,39; 83,60) 0,89 (0,88; 0,89)
p < 0,001 p < 0,001
Renda*‡
< 1 372 80,22 (79,46; 80,98) 0,88 (0,87; 0,88)
1 a 2 392 80,53 (79,75; 81,31) 0,87 (0,86; 0,87)
> 2 471 81,39 (80,65; 82,12) 0,88 (0,87; 0,88)
p = 0,06 p = 0,75
Escolaridade (anos de
estudo)†
até 8 anos 333 81,70 (80,85; 82,54) 0,89 (0,88; 0,89)
> 8 anos 902 80,42 (79,91; 80,93) 0,87 (0,86; 0,87)
p = 0,01 p < 0,001
* p-valor associado ao teste de Kruskal-Wallis;
† p-valor associado ao teste de Mann-Whitney;
‡Salário mínimo per capita.
Tabela 4 - Média e intervalo de confiança de 95% da circunferência da cintura e relação
cintura quadril (RCQ) em doadores de sangue, segundo as variáveis do estilo de vida.
Cuiabá, MT, 1999-2000 (n = 1235)
Variáveis N Cintura
Média (IC 95%)
RCQ
Média (IC 95%)
Consumo de bebida
alcoólica †
Sim 641 81,36 (80,75; 81,97) 0,88 (0,87; 0,88)
Não 594 80,12 (79,50; 80,75) 0,87 (0,86; 0,87)
p = 0,01 p < 0,001
Unidades etanol/semana*
Não consome 594 80,12 (79,50; 80,75) 0,87 (0,86; 0,87)
0,1 a 21 565 81,23 (80,59; 81,87) 0,88 (0,87; 0,88)
> 22 76 82,30 (80,28; 84,32) 0,89 (0,87; 0,89)
p = 0,01 p < 0,001
Prática de atividade física
de lazer †
Sim 687 79,24 (78,70; 79,79) 0,86 (0,86; 0,87)
Não 548 82,67 (81,99; 83,35) 0,89 (0,88; 0,89)
p < 0,001 p < 0,001
Tabagismo*
Fumantes 273 82,10 (81,17; 83,03) 0,91 (0,90; 0,91)
Não fumantes 761 79,68 (79,15; 80,22) 0,86 (0,86; 0,87)
Ex-fumantes 201 83,03 (81,88; 84,17) 0,88 (0,87; 0,88)
p < 0,001 p < 0,001
Intensidade do tabagismo*‡
Não fumantes 962 80,38 (79,89; 80,88) 0,86 (0,86; 0,87)
0,1 a 5,1 102 78,20 (77,05; 79,35) 0,86 (0,85; 0,87)
5,2 a 12 94 82,77 (81,38; 84,15) 0,91 (0,91; 0,92)
> 12 77 86,46 (84,47; 88,44) 0,96 (0,95; 0,97)
p < 0,001 p < 0,001
* p-valor obtido pelo teste de Kruskal-Wallis;
† p-valor obtido pelo teste de Mann-Whitney;
‡ Unidade de maços/ano.
Tabela 5 - Coeficiente de regressão linear bruto (β), ajustado (βAJ) e p-valor (p) associado
entre marcadores da localização de gordura e tabagismo de homens doadores de sangue.
Cuiabá, MT, 1999-2000 (n = 1235)
Tabagismo
(número de
cigarros/dia)
Circunferência da cintura * RCQ *
β p† βAJ p
†
β p
† βAJ p
†
1 a 5
- 2,09
0,07
0,28
0,63
-0,004
0,60
0,007
0,22
6 a 10 0,79 0,38 1,86 <0,001 0,03 <0,001 0,03 <0,001
11 e mais 3,44 <0,001 3,90 <0,001 0,07 <0,001 0,07 <0,001
* Modelos ajustados para idade, raça, escolaridade, percentual de gordura, atividade física, renda e
consumo de bebida alcoólico. †
p valor ≤ 0,05.
6. CONCLUSÃO
A maioria dos entrevistados tinha idade entre 20 e 30 anos, mais de oito anos
de estudo e era da raça/cor parda;
Em relação ao estilo de vida, pouco mais da metade da população consumia
bebida alcoólica e praticava atividade física de lazer. A maioria era não
fumante e 22,1% eram fumantes;
Indivíduos mais jovens apresentaram maior média de ingestão de álcool,
enquanto as médias da intensidade do tabagismo e dos marcadores
antropométricos (de gordura corporal e total) foram maiores entre os mais
velhos;
A adiposidade abdominal manteve-se associada com o aumento da idade, a
cor branca, com o menor nível de escolaridade, com o consumo de bebida
alcoólica e com o tabagismo;
O tabagismo manteve-se associado à adiposidade abdominal, independente de
outros fatores de confusão.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta dissertação esclarecem um ponto importante sobre a associação
da adiposidade com o tabagismo, mostrando que, o uso do tabaco não é uma
estratégia eficaz de controle do peso, pois incrementa a deposição de gordura na
região abdominal, resultando em maior risco para a saúde quando comparado ao
risco gerado pela presença da gordura corporal total. Esse risco aumentado se
justifica pela maior associação da gordura visceral com as Doenças Crônicas Não
Transmissíveis. Esses achados poderão contribuir para fomentar políticas de
prevenção e controle do tabagismo.
Anexo 1 – Questionário de avaliação individual dos participantes entrevistados
QUESTIONÁRIO
PESQUISA: COMPOSIÇÃO CORPORAL DE DOADORES DE SANGUE
DATA DA ENTREVISTA: / / FICHA Nº ...............
1.0. DADOS GERAIS
1.1. Nome: ............................................................1.2. Data de nascimento: / /
1.3. Endereço:
.......................................................................................................................................................
1.4. Local de referência: ........................................................... 1.5. Fone: ........................
1.6. Ocupação: ..........................................................................................................................................
1.7. Cor ou Raça: ( ) branca ( ) negra ( ) parda ( ) amarela ( ) indígena
1.8. Você atualmente é : ( ) solteiro ( ) casado ou em união consensual
( ) viúvo ( ) separado
1.9. Qual foi o último ano que você completou na escola? ........................................
Classificar a escolaridade em: ( ) analfabeto ( ) 1º g. incompleto ( ) 1º g. completo
( ) 2º g. incompleto ( ) 2º g. completo ( ) 3º g. incompleto ( ) 3º g. completo ou mais
1.10. Quantas pessoas moram em casa? .......... 1.11. Quantas recebem pagamento? ............
1.12. Renda mensal de cada um .............................................. SMPC.....................
1.13. Você tem algum problema de saúde? ( ) sim ( ) não
Caso positivo, qual é esse problema? ......................................................................
1.14. Você está usando algum medicamento nessas últimas 2 semanas? ( ) sim ( ) não
Caso positivo, qual é esse medicamento?...........................................................
1.15. Você está fazendo alguma dieta epecial? ( ) sim ( ) não, ir para o item 1.19
Caso positivo, qual é essa dieta? ..........................................................................
1.16. Seu peso se modificou com essa dieta nas últimas 2 semanas? ( ) sim ( ) não, ir para o item 2.1
1.17. Você perdeu peso? ( ) sim ( ) não. Caso positivo, quantos quilogramas você perdeu? .................
1.18. Você ganhou peso? ( ) sim ( ) não. Caso positivo, quantos quilogramas você ganhou? ...............
2.0. ATIVIDADE FÍSICA
2.1. Você faz alguma atividade física? ( ) sim ( ) não. Caso positivo, preencher o quadro abaixo:
Tipo de atividade Freqüência na semana Tempo médio gasto por vez (min.)
Futebol
Caminhada
Bicicleta
Corrida
3.0. CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS
3.1. Você tomou alguma bebida alcoólica no último ano? ( ) sim ( ) não. Caso negativo, ir para o
item 4.0 referente ao hábito de fumar
3.2. Você tomou alguma bebida alcoólica nos últimos 15 dias? ( ) sim ( ) não. Caso positivo,
preencher o quadro a seguir:
Tipo de bebida Freqüência de consumo
na semana
Quantidade consumida
Cerveja ou chopp
Pinga
Vinho
Whisky
4.0. HÁBITO DE FUMAR
4.1. Você fuma atualmente pelo menos 1 cigarro por dia? ( ) sim ( ) não
4.2. Você já fumou pelo menos 1 cigarro por dia durante um ano? ( ) sim ( ) não
*SOMENTE PARA FUMANTES
4.3. Com que idade você começou a fumar? .................................................................................... ........
4.4. Quantos cigarros você fuma por dia? .................................................................................................
4.5. Há quanto tempo você fuma?
...............................................................................................................
*SOMENTE PARA EX-FUMANTES
4.6. Com que idade você começou a fumar? .................................................................................... .........
4.7. Quantos cigarros você fumava por dia? ................................................................. ............................
4.8. Há quanto tempo você deixou de fumar? .................................................................................. .........
HÁBITO DE FUMAR: ( ) Fumante ( ) Ex-fumante ( ) Não fumante
5.0. AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL
ANTROPOMETRIA
Estatura (cm): Peso (Kg): IMC (Kg/m2):
Circunf. da. cintura (cm): Circunf. do quadril (cm): RCQ:
BIOIMPEDÂNCIA
%GC: GCT (Kg): %MM:
%ACT: ACT (Kg): MM (Kg):
6.0. AVALIAÇÃO LABORATORIAL
Colesterol total: HDL-colesterol: LDL-colesterol:
Triglicerídeos:
____________________________________
Entrevistador
Anexo 2 – Termo de aprovação ética do Projeto de Pesquisa Intitulado Tabagismo e
Adiposidade Abdominal em doadores de sangue.