UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVO-GRAMATICAL DA CONSTRUÇÃO (X)VS EM
INGLÊS COMO L2: INDÍCIOS DE FORMAÇÃO DA INTERLÍNGUA
Roberto de Freitas Junior
2011
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A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVO-GRAMATICAL DA CONSTRUÇÃO
(X)VS EM INGLÊS COMO L2: INDÍCIOS DE FORMAÇÃO DA INTERLÍNGUA
Roberto de Freitas Junior
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras (Linguística). Orientadora: Profa. Dra Maria Maura da Conceição Cezario
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2011
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A CONSTITUIÇÃO DISCURSIVO-GRAMATICAL DA CONSTRUÇÃO
(X)VS EM INGLÊS COMO L2: INDÍCIOS DE FORMAÇÃO DA INTERLÍNGUA
Roberto de Freitas Junior
Orientadora: Professora Doutora Maria Maura da Conceição Cezario
Coorientadora: Professora Doutora Aurora Maria Soares Neiva
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística
da UFRJ como quesito para a obtenção do Título de Doutor em Letras
Aprovada por:
________________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Maura da Conceição Cezario - UFRJ
________________________________________________________________
Profa. Dra. Aurora Maria Soares Neiva - UFRJ
________________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Eugênia Lamoglia Duarte – UFRJ
________________________________________________________________
Profa. Dra. Christina Abreu Gomes - UFRJ
________________________________________________________________
Prof. Dr. Sebastião Josué Votre - UFF
________________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Angélica Furtado da Cunha - UFRN
________________________________________________________________
Profa. Dra. Silvia Regina Cavalcante - UFRJ (Suplente)
________________________________________________________________
Profa. Dra. Karen Sampaio Braga Alonso - UFRJ(Suplente)
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FREITAS Jr, Roberto de. A constituição discursivo-gramatical da construção (X)VS em inglês como L2: indícios de formação da interlíngua. Tese de Doutorado em Linguística. Faculdade de Letras, UFRJ, 2011, 223p.
RESUMO
A pesquisa trata da transferência de uma estratégia pragmático-discursiva do PB para o discurso acadêmico escrito de inglês como L2 (EL2): o uso da ordenação verbo-sujeito (VS) com sujeitos plenos. Nossa finalidade foi analisar, descrever e explicar o comportamento discursivo e gramatical dessa oração, via manipulação empírica de dados, considerando-se suas características estruturais e informacionais.
A principal hipótese era a de que esta seria uma construção de natureza discursiva transferida da L1 com adaptações sintáticas relacionadas à L2. Esta integração resultaria em uma estrutura atípica nos dois sistemas e serviria de indício favorável ao conceito de interlíngua e a hipótese do período sensível.
A base teórica adotada para o desenvolvimento do trabalho parte de uma integração entre princípios funcionalistas acerca da questão da distribuição da carga informacional, que sobre a ordem VS explicam sua tendência de veiculação de SN sujeito [+ Focal] no PB, e propostas formalistas, a respeito do fenômeno da inacusatividade, que apontam para a tendência de preenchimento da posição X, por um sujeito não referencial ou um adjunto adverbial, à esquerda das construções XVS em línguas de sujeito obrigatório.
A amostra utilizada consiste em trabalhos acadêmicos sobre fonética e fonologia de alunos do curso de português-inglês da UFRJ. Utilizamos 80 relatórios dos quais coletamos 152 cláusulas (X)VS, 58 ativas e 94 passivas, e 1712 cláusulas SV. O estudo foi desenvolvido a partir de cruzamentos entre os fatores escolhidos para a análise e algumas orações SV/VS e entre estes fatores e o grupo total de orações VS ativas/passivas. Tais fatores foram retratados em estudos anteriores como relevantes para o uso da ordem VS no PB (Cf. Duarte, 2003; Spano, 2002, 2008; Naro e Votre, 1999). Foram ainda analisadas, qualitativamente, 18 estruturas (X)VAS de predicação nominal, chamadas ‘small clauses’, também agramaticais na língua alvo (LA).
Constatamos a existência de 4 construções subjacentes ao padrão (X)VS, todas formadas pela interação dos fatores discursivos que explicam o seu uso no do PB como L1 e da supergeneralização, gerada a partir da experiência linguística dos usuários na L2, quanto ao preenchimento à esquerda desses verbos.
Sugerimos, ainda, que as construções ativas e passivas (X)VS estudadas exerçam funções específicas dentro do gênero discursivo em que emergem e que podem apresentar comportamento [+/-gramatical] dependendo de suas semelhanças estruturais com as das orações XVS possíveis na LA.
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FREITAS Jr, Roberto de. A constituição discursivo-gramatical da construção (X)VS em inglês como L2: indícios de formação da interlíngua. Tese de Doutorado em Linguística. Faculdade de Letras, UFRJ, 2011, 223p.
ABSTRACT
This research deals with the transfer of a pragmatic-discursive strategy from Brazilian Portuguese (BP) to academic writing in English as a second language (EL2): the use of verb-subject word order (VS). Our purpose was to analyze, describe and explain the discursive and grammatical behavior of this clause, through manipulation of empirical data, taking its structural and informational status into account.
The main hypothesis was that this would be a discursive-oriented construction transferred from the L1 with syntactic adjustments related to the L2. This integration would result in an atypical structure in both systems and would serve as favorable evidence to the concept of interlanguage and to the sensitive period hypothesis.
The theoretical basis for the development of this study relies on the integration of functionalist principles related to the load of informational structure, which explain the VS word order tendency to present [+ Focus] NP subjects in BP, and formalist proposals concerning the unaccusativity phenomenon and the trend of the X position filling, on left of the verb in XVS constructions of non-prodrop languages, with nonreferential subjects or adverbials.
The sample used for the study consists of academic papers on phonetics and phonology produced by undergraduate students from the Portuguese-English course of UFRJ. We used 80 reports to collect the 152 (X)VS clauses we found: 58 active, 94 passive, and 1712 SV clauses. The study was developed from crosses between the factors chosen for analysis and some SV/VS clauses and between these same factors and the total group of VS active/passive clauses. Such factors have been portrayed in previous studies as relevant to the use of VS order in BP (see Duarte, 2003; Spano, 2002, 2008; and Naro & Votre, 1999). We also developed a qualitative analyzes of 18 (X)VAS nominal structures, so called 'small clauses', still ungrammatical in the target language.
We note the existence of four constructions underlying the (X)VS pattern, all formed by the interaction of discursive factors that explain their use in L1 BP and by the overgeneralization process generated from the linguistic experience of these EL speakers concerning the need of filling the left position of these verbs.
We further suggest that the active and passive constructions have distinct functional behavior within the specific discourse genre in which they emerge and can exhibit [+ /-grammatical] behavior depending on their structural similarities with the grammatical XVS clauses of the target language.
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FREITAS Jr, Roberto de. A constituição discursivo-gramatical da construção (X)VS em inglês como L2: indícios de formação da interlíngua. Tese de Doutorado em Linguística. Faculdade de Letras, UFRJ, 2011, 223p.
RESUMEN
El estudio aborda la transferencia de una estrategia pragmático-discursiva del
portugués brasileño en el discurso académico escrito del Inglés como L2 (EL2): el uso de la coordinación verbo-sujeto (VS) con sujetos plenos. Nuestro propósito fue analizar, describir y explicar el comportamiento discursivo y gramatical de esa oración, a través de manipulación empírica de datos, considerandose sus características estructurales y informacionales.
Se tenía por hipótesis la idea de que esta sería una construcción de naturaleza discursiva transferida de la L1 con adaptaciones sintáticas relacionadas a la L2. Esta integración resultaría en una estructura atípica en ambos sistemas y serviría como evidencia favorable al concepto de interlengua y la hipótesis del período sensible.
La base teórica utilizada para el desarrolo de este estúdio parte de una integración entre principios funcionalistas sobre la cuestión de la distribución de la carga informativa, que, sobre el orden VS, explican su tendencia a la producción de SN sujeto [+ focal] en el PB, y propuestas formalistas sobre el fenómeno de la inacusatividad que apuntan hacia la tendencia a rellenar la posición X a la izquierda de las construcciones XVS en las lenguas de sujeto obligatorio, con sujetos no-refereciales o adverbios.
La muestra utilizada consiste en trabajos académicos sobre fonética y fonología de estudiantes de Portugués-Inglés de la UFRJ. Se utilizaron 80 informes de los cuales hemos recopilado 152 cláusulas (X)VS, 58 activas y 94 pasivas y 1712 cláusulas SV. El estudio fue desarrollado a partir de cruzamentos entre los factores elegidos para el análisis y algunas oraciones SV / VS y entre estos factores y el grupo total de oraciones VS activo / pasivo. Tales factores han sido retratados en estudios previos como pertinentes para el uso del orden VS en el PB (ver Duarte, 2003; Spano, 2002, 2008; Naro y Votre, 1999). También se analizaron cualitativamente 18 estructuras (X)VAS de predicación nominal, denominadas “small clauses”, aún agramaticales en la lengua meta.
Verificamos la existencia de cuatro construcciones que se basa la norma (X)VS, todas formadas por la interacción de factores discursivos que explican su uso en el PB como L1 y por la generalización excesiva, generada a partir de la experiencia linguística de los usuarios en la L2, en cuanto a ubicación de un elemento a la izquierda de estos verbos.
Además, se sugiere que las construcciones activas y pasivas actúen diferentemente dentro del género discursivo específico en que surgen y pueden presentar comportamiento [+/-gramaticales] en función de sus similitudes estructurales con las oraciones gramaticales XVS de la lengua meta.
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AGRADECIMENTOS
Aquele Abraço! (Gilberto Gil)
O Rio de Janeiro continua lindo O Rio de Janeiro continua sendo O Rio de Janeiro, fevereiro e março...
Alô, alô, Realengo, Aquele abraço! Alô torcida do Flamengo, Aquele abraço!
Chacrinha continua balançando a pança E buzinando a moça E comandando a massa E continua dando as ordens no terreiro...
Alô, alô, seu Chacrinha, Velho guerreiro Alô, alô, Terezinha, Rio de Janeiro Alô, alô, seu Chacrinha, Velho palhaço Alô, alô, Terezinha, Aquele abraço! Alô moça da favela, Aquele abraço Todo mundo da Portela, Aquele abraço! Todo mês de fevereiro, Aquele passo! Alô Banda de Ipanema, Aquele abraço!
Meu caminho pelo mundo, eu mesmo traço A Bahia já me deu régua e compasso Quem sabe de mim sou eu, Aquele abraço! Prá você que meu esqueceu, Aquele abraço! Alô Rio de Janeiro, Aquele abraço! Todo o povo brasileiro, Aquele abraço!
.....................................................................................................................................................
A Deus, à querida Maria Maura, à Aurora, meus pais, irmãs e sobrinhas, à Andréa, Gabriela. Aos meus filhos, ao Victor, Gláucio, Carlos Magno, Jaqueline, Zé e Malu, à Maria Spanó, Wanda, ao Mário (com muita saudade), Karen, Priscila(s). À Eugênia (madrinha desta tese), Angélica Furtado, Christina Abreu, Silvia Cavalcante, Vera Paredes, Celso... A tantos amigos queridos: Renata, Kenia, Jaqueline, Alessandro, Lia, Viviane, Rosa, Pe. Luiz Fernando... Enfim, a tanta gente! Por tudo que representam para o ‘outcome’ desse trabalho, muito obrigado e aquele abraço!
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SINOPSE A transferência da estratégia discursiva de introdução de SN sujeito [+Focal] no discurso acadêmico escrito em EL2 de brasileiros, via ordem (X)VS inacusativa. Considerações descritivo-analíticas das ordens SV/(X)VS ativas e passivas para uma evidenciação da interação de fatores discursivos e formais provenientes, respectivamente, da L1 e L2 na formação de uma L3: a interlíngua.
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Sumário
ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS iii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
1.1 Objetivos Específicos ..................................................................................................21
1.2 Hipóteses ....................................................................................................................23
CAPÍTULO 2: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1. Por uma visão funcional-estrutural da linguagem .......................................................28
2.2 Princípios Funcionalistas .............................................................................................32
2.2.1 O Princípio da Iconicidade………......……………………………………...................32
2.2.2 O Princípio da Marcação ........................................................................................36
2.2.3 Informatividade .......................................................................................................38
2.3 Considerações sobre a questão da aprendizagem/aquisição de uma L2 e a Estrutura
Argumental (EA) ………………..........................................................................................39
2.3.1 Modos de Comunicação Pragmático e Sintático …...…………..............................39
2.3.2 A questão da Estrutura Argumental (EA) ..............................................................41
2.3.2.1 Estrutura Argumental da Predicação Verbal: uma associação sintático-
semântica .........................................................................................................................41
2.3.2.2 Transitividade: domínio funcional de natureza escalar, semântica e sintática 44
2.4 Inacusatividade: uma questão sintático-semântica …………………….........................45
2.4.1 A contribuição dos estudos tipológicos: a questão da
ergatividade.......................................................................................................................46
2.4.2 Inacusatividade: uma descrição ............................................................................50
2.4.3 Evidências para a existência de verbos inacusativos ....... ...................................52
2.4.4 A Voz Passiva: Inacusatividade Estrutural.............................................................55
2.5 A visão e a contribuição da Teoria Gerativa ..................................................................56
2.5.1 A Teoria de Princípios e Parâmetros (TPP) ……………………………………..........57
2.6 O Parâmetro do Sujeito Nulo …………………………………………................................57
2.6.1 Propriedades do Parâmetro do Sujeito Nulo …………...………...............................58
2.7 A atribuição do Caso Nominativo ao Complemento de verbos Inacusativos ...…………61
2.8 As Estruturas Passivas…………………..........................................................................67
12
2.9 A relação entre a ordenação vocabular e a estrutura informacional na aquisição da
segunda língua: estratégias e restrições ..........................................................................69
2.10 O conceito de Interlíngua..............................................................................................72
2.10.1 O uso da ordem (X)VS em EL2: uma evidência em favor da hipótese da
interlíngua..........................................................................................................................75
CAPÍTULO 3: A LINGUÍSTICA DE AQUISIÇÃO DE L2: PROPO STAS
3.1 Introdução .......................................................................................................................77
3.2 A transferência L1 – L2 ..... ............................................................................................79
3.3 Transferência, Interferência, Generalização e Supergeneralização ..............................80
3.4 Visões sobre a Transferência ........................................................................................82
3.4.1 Gramática Universal, Parâmetros e Transferência ..................................................82
3.4.1.1 A Transferência Paramétrica ..............................................................................84
3.4.1.2 Propostas Gerativistas de Teoria de Aquisição em L2: resumo .........................85
3.4.2 A Transferência e a perspectiva da Sociolinguística Variacionista ..........................87
3.4.3 Transferência e Discurso ..........................................................................................88
3.5 Transferência Sintática ...................................................................................................90
3.5.1 Discurso, Sintaxe e Transferência ...........................................................................91
3.6 A Hipótese do Período Crítico e a Fossilização ............................................................94
3.7 Conclusões ....................................................................................................................96
CAPÍTULO 4: A NATUREZA SINTÁTICO-DISCURSIVA DA ORDE M (X)VS NO PB E NO
INGLÊS
4.1 O estado da arte da ordem VS no PB: Duarte (1995) e Spano (2002, 2008) .................99
4.1.1 O sujeito nulo no PB: indícios de um processo de mudança ...................................99
4.1.2 Ordem VS e inacusatividade: uma particularidade do PB ........................................103
4.1.3 Spano (2008) ............................................................................................................109
4.2 A ordem VS passiva no PB.............................................................................................114
4.3 A ordem VS e a Inversão Locativa no PB: Pilati (2002) ...... ..........................................116
4.4 A ordem XVS no inglês ..................................................................................................118
4.4.1 Casos de Fronting (topicalizações) e inversão do sujeito no inglês ........................119
4.4.1.1 Predicativos Topicalizados (Fronted predicatives).............................................119
4.4.2 O sujeito invertido em inglês ...................................................................................121
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4.4.3 O sujeito invertido prototípico do inglês ..................................................................122
4.4.4 Outros casos de inversão .......................................................................................123
4.4.5 O sujeito não-referencial ‘there’ (Existential ‘There’)...............................................125.
4.4.6 O sujeito não-referencial ‘it’ (Dummy Subjecct)......................................................128
4.4.7 Considerações sobre a voz passiva no inglês .......................................................130
4.5 Freitas (2006): um estudo funcionalista sobre a ordem VS em EL2 .…........................131
4.6 Considerações Finais do Capítulo …………….............................................................139
CAPÍTULO 5: METODOLOGIA
CAPÍTULO 6: ANÁLISE DE DADOS
6.1 Frequência SV/VS ……………………………………………………...….........................147
6.2 Voz Verbal …………………………………………………………………..........................148
6.3 Status Informacional …………………………………………………….............................155
6.4 Extensão do SN ……………………………………………………....................................163
6.5 Estrutura do SN ……………………………………………...…........................................171
6.6 Preenchimento à esquerda ………………………………………….................................181
6.7 Frequência de Tipo Verbal ………………………………………………………………....193
6.8 As construções (X)VAS …………………………............................................................195
CONCLUSÃO
REFEFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
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Índice de Tabelas, Quadros e Gráficos
Quadro 1: Realização/não-realização fonológica de expletivos nas línguas ____________60
Tabela 1: Preenchedores da posição à esquerda do verbo ________________________102
Tabela 2: Ordem VS, segundo a categoria sintático-semântica do verbo, em construções
não existenciais do PB70 e PB90 _________________________________________105
Tabela 3: Resultados referentes às características do SN da ordem VS (Spano (2002))
____________________________________________________________________107
Tabela 4: Ordem VS, segundo o tipo de preenchedores de fronteiras à esquerda, em
construções não-existenciais do PB70 _____________________________________109
Tabela 5: Distribuição da ordem VS no PB e no PE, segundo o tipo de construção verbal
____________________________________________________________________110
Tabela 6: Distribuição da ordem VS na escrita do PB e PE, segundo o tipo de preenchedor
periférico_____________________________________________________________111
Quadro 2: Cláusulas do Teste de Julgamento de Gramaticalidade __________________132
Tabela 7: Percentuais de Percepção da ordem VS como gramatical em inglês ________133
Tabela 8: Resultados referentes ao SN sujeito das cláusulas VS produzidas pelos alunos135
Tabela 9: Frequência de verbos na amostra ___________________________________136
Gráfico 1: Diminuição do uso da ordem VS em EL2 _____________________________138
Quadro 3: Fatores a ser analisados __________________________________________143
Tabela 10: Ordem VS/SV __________________________________________________147
Tabela 11: Ordem VS/SV X Voz _____________________________________________149
Tabela 12: Frequência de VS X Voz em C1 ____________________________________152
Tabela 13: Ordem VS/SV X Status Informacional _______________________________155
Tabela 14: Voz X Status Informacional das orações VS___________________________158
Tabela 15: Ordem VS/SV X Extensão do SN ___________________________________163
Tabela 16: Voz X Extensão do SN ___________________________________________165
15
Tabela 17: Status Informacional X Extensão do SN das orações VS ________________169
Tabela 18: Ordem VS/SV X Estrutura do SN ___________________________________171
Tabela 19: Ordem VS/SV X Determinantes ____________________________________174
Tabela 20: Voz X Estrutura do SN ___________________________________________176
Tabela 21: Ordem VS/SV X Preenchimento à esquerda __________________________182
Tabela 22: Ordem VS/SV X Tipos de preenchedores – C2 ________________________184
Tabela 23: Frequência de tipos de preenchedores – C1 __________________________189
Tabela 24: Frequência de tipos de preenchedores por voz verbal – C1_______________190
Tabela 25: Frequência de tipos verbais inacusativos _____________________________193
Tabela 26: Tipos de construções (X)VSA ______________________________________196
16
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como finalidade analisar, descrever e explicar o
comportamento discursivo e gramatical das orações com sujeito invertido produzidas por
brasileiros em inglês como segunda língua (EL2). Nosso objetivo é mostrar como tal
ordenação, não usual na língua alvo (LA), se comporta no nível sintático e discursivo,
analisando as características estruturais e informacionais que nela atuam.
Para tal feito, fizemos uma revisão da literatura acerca das características
formais e funcionais da estrutura (X)VS ((X) verbo-sujeito) em português e em inglês e
analisamos dados oriundos de textos acadêmicos escritos em inglês por alunos
brasileiros.
No desenrolar da pesquisa, ao coletarmos os dados para seu
desenvolvimento, percebemos que as orações encontradas com sujeito invertido eram
todas do tipo que a literatura define como construções inacusativas, isto é, orações cujos
verbos não indicam ações e apresentam um único argumento [-agentivo] exercendo a
função de sujeito. Exemplificamos, assim, tal tendência a partir dos exemplos a seguir,
retirados da amostra, produzidos por alunos do 5º período do curso de Letras -
português/inglês - da UFRJ: (1) “It occurred a non-release of the final stop [d], so it
was produced as [en]” e (2) “It was detected any example of this process in the two
recording data” 1.
Torna-se importante, portanto, salientar que, independentemente da
possibilidade de entendimento do sentido dessas orações pelo nativo, tais usos são
considerados agramaticais na língua inglesa, o que nos remeteu a duas perguntas que
nortearam todo o trabalho, a saber: a) por que esses alunos, supostamente de nível
avançado de inglês e capazes de produzir textos acadêmicos altamente formais com
foco na função metalinguística, utilizam sujeitos invertidos nos seus textos em inglês? e
1 Traduções em anexo
17
b) em que contextos esses alunos usam o sujeito na ordem pós-verbal, assim como,
mantém o uso da ordem canônica?
Pesquisas sobre o português do Brasil (cf. Naro e Votre, 1999 ; Spano, 2002,
2008), cada uma dentro de sua proposta teórica, mostram que os contextos com
construções inacusativas são os que mais favorecem a ordem VS em português. Assim,
minha principal hipótese para ambas as perguntas, sobretudo para a pergunta (b), é a de
que os alunos utilizariam a ordem VS em seus textos em contextos discursivos muito
semelhantes aos utilizados na língua materna (L1), o que evidenciaria uma influência da
gramática da L1 relacionada às estratégias discursivas presentes nas situações de uso
desta língua.
O trabalho de Freitas (2006) apresenta os pressupostos iniciais para o
desenvolvimento da presente pesquisa. Adotando a abordagem funcionalista e
baseando-se nos estudos de Naro e Votre (1999) e Pezatti (1994), em seu trabalho, o
autor não associa o uso da ordem VS em EL2 a estruturas com verbos inacusativos, mas
apenas ao Princípio da Tensão Baixa, o qual atribui aos verbos intransitivos do PB a
possibilidade da inversão, fenômeno impactante na aquisição do EL2.
Ao analisar os testes de aceitabilidade ali conduzidos, o autor verifica ampla
aceitação do uso da ordem VS com verbos intransitivos, por parte dos brasileiros falantes
do EL2. Ele percebe, porém, maior tendência de aceitação da ordem em contextos
específicos com certos verbos que “serviriam mais apropriadamente às necessidades do
Princípio da Tensão Baixa e sua característica de contribuir para a construção do plano
de fundo das narrativas” (p84). Indiretamente, já ali, os resultados da pesquisa
apontavam para a associação do uso da ordem VS, não-usual em inglês, a um tipo de
verbo cuja grade temática se assemelhava a chamada predicação inacusativa.
Diante do presente quadro, postulamos que a explicação para o uso da ordem
(X)VS por brasileiros, já apontada no trabalho de Freitas (2006), possa ser melhor
desenvolvida se consideramos, dentre outras hipóteses relacionadas, que a) a ordem
18
(X)VS, embora possível no inglês, seria uma instância de transferência, no nível
discursivo, de uma estrutura do PB como L1, relacionada a questão de veiculação de SN
[focal] e b) pode apresentar características formais do inglês como LA, quanto ao
preenchimento da posição X, já que, por ser uma língua de sujeitos obrigatórios, esta
licenciaria apenas construções do tipo XVS.
Com relação ainda à pergunta (b), de fato, é preciso observar que grande
parte dos dados encontrados tem a estrutura XVS, em que X pode ser o pronome não-
referencial it, um sintagma adverbial/preposicional ou outro elemento. Contextos como
esse demonstram que o informante sabe que a posição de sujeito em inglês sempre é
preenchida. Assim temos, com frequência, um sujeito sintático, (o it ), à esquerda do item
verbal, e um sujeito semântico à sua direita, mostrando que, neste caso, a resposta para
tal pergunta apontaria para a influência tanto da língua alvo (o inglês), como a da língua
materna (o português).
A aquisição de uma L2 é um ambiente de interface em que podem atuar, ao
mesmo tempo, fatores relacionados à LA e à L1. Interagindo, estes fatores podem formar
estruturas de natureza híbrida, com características dos dois sistemas em questão. Tais
estruturas tornam-se, então, evidências a favor da hipótese sobre a formação de um
sistema intermediário, a interlíngua (Selinker, 1972), ao longo do curso aquisitivo, e, por
consequência, a favor da hipótese do período sensível, ou seja, a de que após
determinado período da vida de um indivíduo, não é possível falar mais em aquisição de
L2, no sentido biologicamente orientado da questão, mas apenas em aprendizado, por
sua vez possibilitado por capacidades de diferentes naturezas, não apenas linguísticas.
Embora possa surgir em determinados textos de maior formalidade, a ordem
XVS é tida no inglês como uma estrutura marcada nos diferentes gêneros discursivos.
Não é ela, portanto, uma ordenação frequente nesta língua, apresentando características
gramaticais e discursivas bastante específicas e geradas, principalmente, a partir de uma
19
predicação verbal cujo sujeito também não possui papel semântico [+agente]. Sua baixa
frequência no discurso nativo evidencia, entretanto, que não seria ela de uso comum nas
configurações formais de ensino de idiomas. Não sendo favorecida no input ao qual são
expostos os indivíduos aqui em questão, a pergunta inicial lançada no presente trabalho
aponta para a necessidade de investigação acerca da motivação de uso desse tipo de
construção no contexto de aquisição de inglês por brasileiros.
Se, por um lado, verificamos a restrição da ordenação em inglês, por outro,
em termos sincrônicos, como mencionado, observamos estar o uso da ordem VS no
Português do Brasil (PB) intimamente relacionado a contextos de inacusatividade e
determinado a partir de pressões discursivas ligadas à questão da distribuição da carga
informacional.
Estudos, como o de Duarte (1995), mostram que o PB estaria passando por
um processo de mudança, que coloca a ordem SV como a ordem padrão, inibindo outras
ordenações. No que diz respeito à ordem VS de construções monoargumentais
inacusativas, está também evidenciada a tendência de que essa se constitua em um
contexto de resistência ao uso da ordem SV, (cf. Spano (2002, 2008)), quando seu
sujeito representa uma informação de menor grau de referenciação no nível do discurso,
desempenhando papel mais [+focal]. Esta tendência é observada de modo particular nas
orações existenciais, embora não esteja restrita a este tipo de predicação.
As construções (X)VS aqui estudadas seriam a priori agramaticais na LA, já
que, por ser esta uma língua que restringe a ordem VS, o inglês apenas licencia a quebra
da ordenação SV em contextos específicos e em configurações estruturais próprias.
Exemplificando, as orações aqui tratadas apresentam SN sujeito pleno em sua
constituição, o que seria um fator inibido pelo sistema da LA, em grande parte das
orações XVS possíveis dessa língua.
Em resumo, a emergência desse tipo de ordenação estaria então relacionada
ao seu uso no PB como L1, segundo as motivações sintático-discursivas a ele
20
relacionadas, ocorrendo via processo de transferência, fenômeno comum no contexto de
aquisição de uma L2. Seguido da transferência, encontraríamos o processo de
hipercorreção, postas as características formais do inglês que podem atuar na
configuração VS a respeito do preenchimento à esquerda desses verbos. Tal fato ocorre
por serem eles, categoricamente, inacusativos e, no inglês, requererem realização
fonológica de um sujeito/elemento gramatical, não necessariamente referencial, nesta
posição.
Finalmente, pelo fato de o PB utilizar cada vez mais sujeitos preenchidos, é
possível pensar em características não apenas discursivas, mas de certo caráter formal,
que poderiam ser transferidas para o EL2, como o uso de um advérbio na posição à
esquerda dos verbos, tal como no PB e como apontou Spano (2002, 2008). Por conta
disso ainda, as orações (X)VS aqui tratadas, podem apresentar maior grau de
aceitabilidade na LA, devido a semelhanças gramaticais e discursivas mantidas com as
estruturas de Inversão Locativas, gramaticais no inglês.
A pesquisa está organizada de forma a mostrar como o assunto tratado
permite o diálogo de diferentes linhas teóricas da linguística. Embora parta de uma
perspectiva funcionalista da linguagem, ela também abarca questões formais
relacionadas ao fenômeno, permitindo olhares integradores advindos de diferentes
perspectivas teóricas. Este diálogo mostra, portanto, que, em termos de transferência
linguística L1-L2, não se pode enfatizar apenas abordagens sintático-estruturais,
negligenciando a competência comunicativa dos indivíduos aprendizes, tampouco,
ignorar as restrições e imposições da sintaxe, que claramente emergem no contexto de
aprendizado de uma L2.
Em suma, o objetivo do presente trabalho consiste na análise de fatores
discursivos e sintáticos relacionados ao uso da ordem VS – ativa e passiva – em EL2.
Nosso trabalho visa tentar explicar o fenômeno seguindo a perspectiva do seu uso no
discurso em L2, posto não ser esta uma ordem natural, ao menos frequente, dos falantes
21
nativos de inglês. Tais fatores dizem respeito a características sintático-semânticas do
item verbal e do SN sujeito que estariam associadas a um tipo de predicação verbal
relacionada a estratégia de veiculação de informação nova/inferível no discurso,
transferida do PB como L1, além da atuação de fatores de ordem formal que ocorrem por
influência da gramática da LA.
Passamos, agora, à apresentação dos objetivos e hipóteses que norteiam a
pesquisa e que estão listados na sequência.
1.1 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos do trabalho são:
a) Montar uma amostra com dados de construções em EL2 que não apresentem o
padrão SV da língua alvo, a fim de verificar se a emergência de ordenações marcadas no
contexto de aquisição poderia evidenciar marcas de menor gramaticalidade em relação à
LA.
b) Desenvolver uma pesquisa no campo de estudos da aquisição de L2 buscando
fornecer subsídios que ajudem na explicação da hipótese de aquisição ou de
aprendizado de L2 e que, concomitantemente, também forneça indícios em favor, ou
não, da Hipótese do Período Sensível (cf. seção 3.6 desta tese).
c) Buscar retificar a hipótese geral sobre a questão da ordenação vocabular de que a
ordem VS, por ser menos frequente, de maior complexidade de processamento e,
portanto, marcada tanto no PB, como no inglês, seria menos frequente também no EL2
em relação à ordem SV.
d) Verificar se a suposta variação das ordens SV/VS em EL2 não seria, na verdade, um
22
fenômeno de ordenações em distribuição complementar, posto que o uso de uma ou
outra ordem estaria relacionado à tendência de veiculação de referentes de natureza
informacional distintas, tal como constatado no PB como L1 e no inglês.
e) Analisar as construções de sujeito invertido em EL2 a fim de verificar a tendência de
que sejam inacusativas e verificar, no que tange à possibilidade de uso de estruturas
ativas, as mais frequentes nesse contexto.
f) Pesquisar, considerando-se a questão do gênero discursivo acadêmico, possíveis
diferenças de uso da ordem VS ativa e passiva: em termos de frequência, estruturação
semântico-sintática e de seus papéis pragmático-discursivos.
g) Verificar se o SN sujeito da ordem VS tende a ser [ + extenso ] do que os SN sujeitos
das orações SV. Analisar, ainda, se a extensão do sujeito acontece de modo diferenciado
entre orações VS ativas e passivas, o que também estaria relacionado a diferentes
motivações de uso dessas estruturas.
h) Correlacionar o uso das vozes verbais analisadas à estrutura do SN das cláusulas VS
em questão, tendo por objetivos apontar possíveis semelhanças e diferenças acerca dos
papéis de definitude do SN.
i) Pesquisar se, devido ao fato de o inglês ser uma língua de sujeito obrigatório,
tendência também observada no PB, as construções analisadas apresentam estratégias
de preenchimento de elementos à esquerda do verbo, verificando se acontece o uso de
um sujeito não referencial, como no inglês, ou se emerge algum outro elemento, tal como
um advérbio locativo, nesse contexto.
23
j) Verificar se a questão do preenchimento à esquerda da ordem VS se apresenta de
modo diferenciado em contextos de orações passivas e ativas.
k) Analisar em que medida as construções (X)VS produzidas pelos alunos se afastam,
ou se aproximam, das estruturas XVS legitimadas na LA.
l) Contribuir para o ensino de língua inglesa como L2 no sentido de demonstrar a
professores e alunos como os alunos utilizam estratégias discursivas, além de
gramaticais, da L1 na produção de textos.
1.2 Hipóteses
A principal hipótese da presente pesquisa é a de que o uso do sujeito
posposto em EL2 não seria acidental, mas uma instância de transferência L1-L2 de uma
estratégia discursiva do PB como L1 associada à influência de fatores formais oriundos
ora do inglês como língua alvo, ora também do PB como L1. Esta seria a principal
hipótese norteadora deste trabalho e a ela estariam relacionadas outras apresentadas
abaixo:
a) A emergência de uso da ordem VS no EL2 refletiria uma estratégia discursiva de
organização textual transferida do PB como L1, relacionada a fatores discursivos, tal
como o status informacional do SN sujeito, sua extensão e grau de definitude. Sendo
assim, este seria um indício de que os estudos de transferência L1-L2 não podem se
restringir a questões morfossintáticas e fonológicas, mas alcançar também o nível
discursivo.
24
b) O uso das ordens SV/VS em EL2 não seria um fenômeno de variação2, pois a
emergência da ordem VS estaria relacionada à forte tendência de veiculação de
informação nova/inferível no discurso, o que não seria categórico no uso da ordem SV.
c) As construções de sujeito invertido seriam inacusativas (cf. Capítulo 4), apresentando
sujeito e verbo não-prototípicos. Sendo assim, o verbo tenderia a ser [- cinético] e o papel
temático do SN sujeito apresentaria maior tendência de ser [Tema/Paciente] e [-
definido].
d) A questão da estrutura informacional deve se apresentar de modo diferenciado em
contextos de estruturas ativas e passivas, devido a possíveis motivações de uso
particulares para cada tipo de voz verbal analisada.
e) O gênero discursivo acadêmico pode ser um fator importante para o entendimento
das possíveis diferenças de uso da ordem VS ativa e passiva, portanto, os padrões
sentenciais das orações VS ativas e passivas dentro desse contexto devem estar
relacionados a diferentes funções discursivas.
f) O SN sujeito da ordem VS tende a ser [ + extenso ] do que os SN sujeitos das
orações SV. A extensão do sujeito deve acontecer de modo diferenciado entre orações
VS ativas e passivas, o que estaria relacionado a diferentes motivações de uso dessas
estruturas.
g) Devido ao fato de o inglês ser uma língua de sujeito obrigatório, e de o PB também
estar se encaminhando nessa direção, as construções analisadas devem apresentar
2 O fenômeno não é variável em português nos termos de Labov, ele é entendido aqui como a emergência de duas ordenações, cada qual exercendo funcionalidade própria.
25
estratégias de preenchimento de elementos à esquerda do verbo, seja com o uso de um
sujeito não referencial, como no inglês, seja pelo uso de advérbios, ou outros elementos,
como no PB, e também, de modo mais restrito, no inglês.
h) A natureza discursivo-estrutural da construção estudada retrataria, por ser um
encontro de atuação das gramáticas da L1 e da L2, um fenômeno típico de formação de
uma L3, entendida, aqui, pelo conceito de interlíngua.
i) Diante dos fatos encontrados, no que diz respeito à discussão acerca da
aquisição/aprendizagem, defendemos que a Hipótese do Período Sensível seja a mais
aceitável, já que a natureza das estruturas (X)VS encontradas demonstraria que, já que
os falantes de EL2 as produziram, eles provavelmente foram expostos mais tardiamente
à LA e, portanto, não puderam evitar a produção de estruturas de diferentes níveis de
agramaticalidade.
j) A ordem (X)VS representaria a atuação do modo pragmático de comunicação, o qual,
segundo Givón (1979), pode persistir em contextos de pressão comunicativa em L2,
mesmo em níveis de fluência mais avançados.
k) A natureza da construção (X)VS indicaria também que os usuários da língua aqui
tratados se encontrariam nos níveis 2, 3 e 4 na classificação de Brown (1984) (cf. seção
2.10 desta tese) , na medida em que produzem estruturas mais, ou menos, inteligíveis na
LA e apontam, ao mesmo tempo, para o processo de fossilização, e por consequência,
também para a Hipótese do Período Sensível.
l) O posicionamento epistemológico da tese, que integra diferentes orientações de
análise no tratamento dos fenômenos de SLA, pode contribuir para a visão de Long
26
(1993) e Savignon (1983) quanto à necessidade de uma visão linguística plural neste
nível de abordagem (cf. seção 3.7 desta tese).
No desenvolvimento do trabalho, apresentamos, no Capítulo 2, os
pressupostos teóricos que permeiam esta tese. A tese se dedica ao estudo da ordem
(X)VS no EL2, tomando por base teórica os pressupostos da linguística funcionalista, por
entendermos que o estudo da linguagem não deva estar dissociado de uma explicação
que abarque as funções que os elementos da sentença desempenham no nível
pragmático-discursivo.
Neste capítulo, ainda, discutimos a questão da estrutura argumental (EA)
inacusativa, além do conceito de interlíngua e suas principais características. Discutimos,
ainda, os pressupostos gerativistas, que se constituem em contribuições teóricas e
explicativas acerca de como se estruturam, no nível formal, os elementos aqui
considerados. Como dito, este trabalho dialoga com os pressupostos gerativistas
relacionados ao fenômeno da inacusatividade, por reconhecer a necessidade de
explicação sobre como os mecanismos gramaticais licenciam e/ou restringem a forma
como os constituintes sintáticos podem ou não se realizar na sentença, seja no PB como
L1, no inglês como L1, ou no contexto de uso do EL2. No Capítulo 2, abordamos também
os princípios formadores da interlíngua, seus conceitos e relações possíveis com o
fenômeno aqui tratado.
O Capítulo 3 apresenta uma discussão sobre o fenômeno da transferência,
frequente em contexto de aquisição de uma L2. A possibilidade de transferência é
apresentada como fator inerente ao uso de uma língua estrangeira. A transferência
coloca em destaque a discussão a respeito da questão aquisição/aprendizagem, a qual
tanto se dedicam linguistas de aquisição de segunda língua (SLA), na medida em que
serve de evidência para a atuação de fatores de diferentes naturezas no processo de
aprendizagem. Neste trabalho, diferentemente de diversos que focam a transferência
pela perspectiva fonológica, morfológica, ou sintático-estrutural, apresentamos um
27
abordagem de transferência suprasentencial, que a coloca como processo comum
também no nível discursivo.
A revisão da literatura sobre as relações existentes entre a ordem VS, o
fenômeno da inacusatividade, a ordenação vocabular e a interação sintaxe-discurso
acontece, particularmente, no Capítulo 4, no qual são discutidas as características e
possibilidades desse fenômeno tanto no inglês como no português. Uma visão geral
sobre o fenômeno nas duas línguas contribuiria, sobremaneira, para um melhor
entendimento do fenômeno no contexto de aquisição do EL2. Neste capítulo também
revisitamos os resultados de Freitas (2006), nos quais apoiamos o presente estudo.
Respectivamente, são discutidos a metodologia no Capítulo 5 e os resultados
no Capítulo 6. No capítulo 5 são, então, explicitados os procedimentos metodológicos do
nosso trabalho, a partir da delimitação das hipóteses e objetivos, aqui já listados, além de
serem apresentados os aspectos gramaticais e discursivos a serem analisados nos
resultados. Apresentamos nossos resultados, então, no capítulo 6, capítulo em que são
desenvolvidas análises qualitativas do fenômeno tratado, tendo por base um quadro
quantitativo que auxilia sua interpretação.
No capítulo das conclusões repassamos, em linhas gerais, os achados de
nosso estudo. Recapitulamos suas motivações iniciais e tentamos alinhá-las aos nossos
achados, na tentativa de garantir uma análise larga e ao mesmo tempo sucinta sobre um
fenômeno que em si carrega características que apóiam o repensar empírico-teórico de
diferentes áreas da própria linguística.
28
CAPÍTULO 2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2.1 Por uma visão funcional-estrutural da linguagem
Para o desenvolvimento desta pesquisa, adotamos, primeiramente, os
pressupostos da linguística funcionalista por considerarmos as línguas sistemas
maleáveis, capazes de serem moldados de acordo com propósitos comunicativos
envolvidos em dado espaço discursivo. Nesse sentido, a língua é um objeto dependente
da situação de uso, já que a organização das estruturas refletirá o papel discursivo e
funcional relacionada às necessidades comunicativas do usuário.
Nas palavras de Votre (1991:39), a linguística funcionalista seria a corrente de
estudos acerca do “uso interativo da língua, que busca explicar as regularidades
observadas nesse uso a partir da análise das condições discursivas em que o mesmo se
verifica”. Portanto, a análise de estruturas linguísticas pode e deve acontecer
concomitantemente ao estudo da situação comunicativa global, por sua vez, composta
pelos seguintes fatores:
a) o contexto discursivo: nível em que são consideradas as informações
processadas no discurso para a veiculação de subsequentes informações proeminentes
e periféricas,
b) os aspectos sociointerativos: nível em que levamos em consideração a
interação estabelecida entre os participantes do ato de fala, suas relações sociais, o
conhecimento partilhado, além de fatores externos como idade, sexo e gênero e
c) os propósitos do ato de fala: nível em que se articulam funções
semânticas e pragmáticas, as quais, em nível cognitivo, mostram que os indivíduos
comunicam proposições para além do nível sentencial.
Dessa forma, a aparente estabilidade de sentido de determinada estrutura
sintática é desfeita na medida em que se apresentam diferentes funções discursivo-
pragmáticas para uma mesma estrutura. Por conseguinte, temos a real necessidade de
29
estudarmos os fenômenos da linguagem através da inevitável relação entre a sintaxe, a
semântica e a pragmática. Na abordagem funcionalista, então, apresentam-se
explicações para os fenômenos da língua que extrapolam o nível sintático, estrutural,
objetos de estudo de outras correntes da linguística. Por ter seu foco baseado no uso das
estruturas, ela contribui para um importante entendimento sobre as línguas e seus usos,
ao partir do princípio de que uma dada estrutura só poderá ser proveitosamente
abordada tendo-se em conta sua função no nível sociointeracional.
A idéia central é a de que a língua é usada para satisfazer necessidades
comunicativas e que, portanto, é necessário que a investigação linguística aconteça
dentro do escopo das circunstâncias discursivas e de uso em que se encerram as
estruturas gramaticais. Nesta visão, a linguagem, e em última instância a gramática, não
é vista, em termos absolutos, como objeto autônomo e independente, mas explicada a
partir das diferentes sortes de motivações que a definem, dão forma e perpassam os
processos de mudança das línguas. Em outras palavras, na visão funcionalista, a língua
é tida como um rico sistema de significados e usos expressos por formas que, ao mesmo
tempo, a eles impõem possibilidades e restrições, e são também por eles modificada.
Reconhecemos, por outro lado, o impacto da restrição, em termos sincrônicos,
da sintaxe no nível do discurso, além do fato de que é o próprio uso que determinará os
caminhos para os processos de mudança.
Devido à vocação teórica de análise linguística a partir de fatores não apenas
linguísticos, os funcionalistas tendem a se opor à investigação da sintaxe baseada
apenas na questão estrutural, desassociada de contexto. Todavia, embora a investigação
funcionalista sugira que variáveis discursivas mostram-se impactantes para as
explicações de múltiplos fenômenos na área da linguagem, isso não significa dizer que
funcionalistas descartem o trabalho com foco eminentemente estrutural para a ajuda do
tratamento de seus fenômenos no nível do discurso e da interação verbal, desde que se
30
tenha, na medida do possível, sempre a situação comunicativa como variável a ser
considerada na análise.
Segundo Costa (1995), observam Cunha e Oliveira (1994) que
“Numa primeira etapa do estudo da sintaxe de uma língua particular, a descrição a nível da oração é necessária para que se identifiquem as estruturas gramaticais dessa língua. O objetivo da investigação, contudo, deve ser o de explicar como o falante usa essas estruturas para codificar e comunicar conhecimento. Para atingir esse objetivo, os funcionalistas se dedicam ao estudo das estruturas sintáticas que ocorrem em textos reais, observando seu encadeamento na organização do discurso. O estudo das estruturas sintáticas e sua distribuição em textos reais é crucial na descoberta das condições comunicativas que motivam a ocorrência dessas estruturas”.
Em linhas gerais, assumo, assim, a partir da concepção funcionalista
apresentada, que a sintaxe, ao menos no que diz respeito àquela gramática que emerge
nos contextos interacionais, tem a forma que tem, por razão das estratégias de
organização empregadas pelo falante durante a construção discursiva, estando os
domínios da sintaxe, semântica e pragmática intrincadamente relacionados. Questões
tais como a frequência de uso e a reanálise explicam, por exemplo, a criação da regra
sintática de formação de advérbios terminados em -mente do português, fenômeno
altamente relacionado ao uso da língua.
Parto do princípio, porém, de que a abordagem funcionalista que melhor
abarca, em termos teóricos, o objeto de estudo dessa pesquisa tem por fundamento uma
visão moderada sobre a interface discurso-gramática por reconhecer que, além das
pressões do discurso, temos também as pressões das estruturas gramaticais que limitam
certas opções de uso. De fato, adoto a visão funcionalista por reconhecer as pressões do
discurso sobre a gramática, sem abrir mão de uma análise associada à descrição
sintática, pois entendo que, embora uma abordagem formalista stricto-sensu possa ser
limitada para a explicação de determinados fenômenos da linguagem, ela seja salutar na
exploração de diversas explicações fenomenológicas relevantes da linguística.
31
Sendo a presente pesquisa sobre um fenômeno sintático emergente em
contexto de aquisição de L2, resumidamente, adoto uma visão de gramática no uso por
entender que a sintaxe seja discursivamente motivada e, portanto, há de ser explicada
em função de seu papel no nível comunicativo-interacional. Por se comportar também
dentro de um conjunto de regras e restrições, entretanto, a sintaxe será aqui abordada
não apenas por perspectivas funcionais relacionadas à organização do discurso, pois
também merece, e precisa, ser considerado aqui aquilo que parece ser estritamente
formal, não satisfatoriamente explicável apenas pela gramática no uso, posto que, por
ser uma sintaxe necessariamente híbrida, devido ao seu contexto de interface
intralinguística, a estrutura da chamada interlíngua há de proporcionar o surgimento de
fenômenos, não apenas funcionais, mas também estruturais, típicos de contextos de
aquisição de uma L2, tal como pretendo mostrar neste trabalho.
Apresento nas próximas seções uma discussão sobre os princípios mais
relevantes do funcionalismo americano selecionados para a orientação desta pesquisa.
Na sequência, complemento seu arcabouço teórico, apresentando uma discussão sobre
a questão da estrutura argumental e do fenômeno da inacusatividade, além de breve
apresentação da visão da teoria gerativa sobre assunto, da qual aproveito pressupostos
relevantes para o entendimento do fenômeno. Em seguida, desenvolvo uma breve
reflexão sobre a relação entra a noção da estrutura informacional e a ordenação
vocabular em contexto aquisitivo de uma L2. O delineamento teórico é concluído com
uma argumentação a favor do conceito de Interlíngua, aqui explicada a partir dos
pressupostos previamente apresentados.
Vale ressaltar que há várias pesquisas formalistas sobre o uso de VS em
inglês como L2, mas não há pesquisas na linha funcionalista adotada aqui que
investiguem o fenômeno, procurando observar as influências das estratégias discursivas
do português em textos em inglês. Pelo que sabemos o único estudo sobre o assunto é o
32
de Freitas (2006). Assim nossa contribuição principal aqui é mostrar que há fatores
estruturais e discursivos que contribuem na formação da interlíngua.
2.2 Princípios Funcionalistas
2.2.1 O princípio da Iconicidade
Dos princípios apontados por Givón (1991) como os definidores da gramática
do uso, cabe neste trabalho enfatizarmos o papel da iconicidade. De acordo com ele, a
forma linguística tem um propósito comunicativo específico que a ativa, sendo ela
determinada por sua adequação para expressá-lo na organização pragmática geral da
comunicação. Em outras palavras, a iconicidade relaciona a forma linguística a uma
função que a determina, já que, ao produzir uma situação discursiva, fazemos escolhas
lexicais e estruturais de acordo com os nossos objetivos comunicativos e de atuação
sobre os interlocutores. Refiro-me aqui a qualquer tipo de manifestação linguística, seja
ela oral ou escrita.
O princípio da iconicidade diz respeito, assim, a alguma motivação existente
entre a relação entre o plano da expressão e o do conteúdo. A codificação
morfossintática é tida, assim, como resultado do uso da língua, o que implica a
pressuposição da maleabilidade linguística, no sentido de ser sujeita ao uso e, portanto,
ser menos arbitrária do que muitos supõem. A estrutura linguística é concebida como
resultado de processos cognitivos e interacionais não apenas necessariamente
linguísticos.
Os subprincípios icônicos relacionados ao princípio de iconicidade são: (i) o
princípio da quantidade, (ii) o princípio da adjacência e (iii) o princípio da ordenação
linear. Givón (1991) considera que a gramática é construída a partir desses princípios, os
33
quais se combinam com convenções estruturalmente mais arbitrárias e estão assim
descritos:
(i) – Subprincípio da quantidade
Segundo o subprincípio da quantidade, quanto maior a quantidade, a
imprevisibilidade e a importância da informação, maior será o material de codificação
envolvido, de tal modo que a estrutura de uma construção gramatical indica a
complexidade do conceito que ela expressa. O viés cognitivo que justifica o princípio da
quantidade está relacionado à questão da atenção e do esforço mental frente à
complexidade cognitiva relacionada às estruturas. Nessa perspectiva, por exemplo, a
noção de imprevisibilidade e relevância das estruturas processadas está relacionada à
possibilidade de ocorrência de estruturas mais marcadas, posto serem menos frequentes
e, por demandarem maior atenção por parte dos interlocutores, mais complexas e mais
extensas.
Por exemplo, ao analisarmos a estrutura argumental dos verbos, ao menos no
que tange à quantidade de palavras e à extensão dos argumentos, percebemos a
tendência de que o argumento que figura na posição de sujeito, elemento, muitas vezes,
de menor grau de novidade no nível do discurso, tenda a ser [-extenso], se comparado
ao argumento complemento do verbo, o qual, por tender a ser informação nova, ou
mesmo menos recuperável no constructo discursivo, tende a ser mais focalizado e,
portanto, mais extenso.
A formulação mais branda do princípio de iconicidade, embora não refute
radicalmente a noção da arbitrariedade linguística saussuriana, prevê a tendência de
relação direta entre a função e a forma de sua manifestação, o que significa dizer, em
última análise, que não existem duas ou mais formas de se dizer “a mesma coisa”, já que
34
cada elemento da oração, além dela mesma, há de exercer alguma função comunicativa
própria no conjunto discursivo.
Quanto à ordem VS, por exemplo, estudos sobre o SN pós verbal do PB
mostram que, por tender a ser uma informação [ - tópica ], ele também tende a ser
apresentado com um número maior de palavras, devido a sua baixa previsibilidade e
consequente necessidade de proeminência no nível do discurso, tal como ocorre com o
objeto de cláusulas transitivas prototípicas. Por outro lado, o sujeito de construções SV,
por tender a ser [+Tópico], entidade dada no nível do discurso, e a apresentar menos
conteúdo morfofonológico em sua codificação.
(ii) – Subprincípio da adjacência
O subprincípio da adjacência prevê que conteúdos cognitivamente mais
próximos também estarão mais integrados no nível da codificação.
No que concerne à integração do SN sujeito ao verbo da cláusula VS,
podemos dizer que este princípio parece se confirmar. Chafe (1976) mostra, por
exemplo, que o papel semântico dos SN é estabelecido na unidade verbo-nome, a qual
parece guardar relação “mais fundamental do que quaisquer outras, um papel que se
vincula à especificação básica de um verbo como estado, processo, ação ou ação-
processo”. Segundo o autor, estas relações semânticas estão relacionadas ao “universo
conceptual do humano”, dicotomizado inicialmente em duas grandes áreas: a do verbo,
que engloba estados e eventos, e a do nome, que engloba coisas (físicas ou abstrações
coisificadas), de forma que um nome possa, além de cobrir a categoria sintática de
sujeito, também corresponder a um complemento (no caso dos objetos) ou um lugar (no
caso dos circunstanciais).
Muitos estudos sobre a oração VS do PB defendem que os SN pós-verbais
dessas construções, apesar de sujeitos da oração, por deterem características
35
prototípicas de complemento do verbo transitivo, tendam a figurar mais na posição pós-
verbal.
Podemos dizer, grosso modo, que o sujeito prototípico apresenta o traço
morfossintático de concordância, além de tender a ser tópico (informação dada no nível
do discurso), agentivo (em termos semânticos) e animado (considerando-se o evento
transitivo prototípico em que um ser controla a ação verbal e causa mudança de estado
de outro). Podemos dizer, ainda, que o elemento sujeito tende a figurar, no PB, conforme
o padrão canônico SVO, ou seja, à esquerda do verbo. Por outro lado, o ‘nome’ que
figure com características sintáticas, semânticas e discursivas mais próximas do
elemento complemento, tenderá a cumprir semelhante função do dito objeto direto,
tendendo a representar informação nova no nível do discurso, além de estar numa
posição mais típica desse elemento, à direita do verbo, uma posição de maior grau de
adjacência a este elemento verbal.
Assumo aqui que o complemento e o verbo mantém entre si uma relação de
adjacência maior e anterior à existente entre o verbo e o sujeito3. Em alguma medida, tal
fato explica a possibilidade de emergência da ordem VS: o fato de, na verdade, ser este
sujeito um SN de características prototípicas de SN complementos, restando-nos, no
entanto, identificar as explicações acerca das motivações pelas quais os falantes do PB
optam pelo uso da ordem VS ou SV no nível do discurso4.
(iii) – Subprincípio da ordenação linear
O subprincípio da ordenação linear mostra que a informação mais importante,
a mais previsível e a que desempenha função discursiva de contraste (por ser menos
previsível ou menos acessível) tende a ocupar o primeiro lugar da cadeia sintática. Em
3 Trabalhos sobre estruturas argumentais mostram que a relação [V-Complemento] tende a ser primária em relação à
estrutura [Sujeito – V] devido à possibilidade de aquela definir o papel temático do SN sujeito das orações transitivas. 4 Tarefa também já desenvolvida em diferentes pesquisas, tal como a de Naro e Votre (1999).
36
outras palavras, a ordem dos elementos no enunciado revela a sua ordem de importância
para o falante (Martellota, Votre e Cezario, 1996). De acordo com Givón, a informação
mais importante, ao demandar mais atenção, tende a ser colocada em primeiro lugar na
cadeia linguística, pois o elemento inicial do fluxo discursivo é o que controla maior
atenção e é melhor percebido e memorizado pelos interlocutores.
No que diz respeito a esta pesquisa, trazendo à tona, novamente, a questão
da ordenação vocabular, podemos dizer que o falante da língua portuguesa, ao usar a
ordem sujeito-verbo (SV) em seu discurso, pode apresentar um elemento [+tópico],
informação mais importante ou previsível, no discurso. Este elemento será sintaticamente
realizado como sujeito da sentença e, ao mesmo tempo, como depositário das
informações do fluxo narrativo, mantendo a coesão referencial e a continuidade do
discurso, ora com elementos plenos, ora pronominais, ora elípticos. Do mesmo modo, ao
selecionar a ordem VS, ele produz uma estrutura marcada, menos frequente, que
introduz alguma informação relevante para esta narrativa sem, obrigatoriamente, interferir
no fluxo de informatividade.
Nesse sentido, o subprincípio da ordenação linear parece explicar a
distribuição do uso das ordens SV e VS no PB, pois, podemos dizer que, pela ordem, o
falante organiza discursivamente as informações de acordo com a importância, que é
cognitiva e comunicativamente estabelecida por ele dentro da situação comunicativa
global.
2.2.2 O Princípio da Marcação
De acordo com Givón (1991), o princípio da marcação envolve a relação
existente entre a noção de complexidade cognitiva e estrutural. Para Givón, se as
categorias são cognitivamente complexas, elas também tendem a ser estruturalmente
37
complexas, com características próprias, diferentes do que é mais facilmente recuperável
e percebido pelos interlocutores no processo comunicativo.
A noção acerca do que é mais ou menos complexo dentro de um determinado
universo comunicativo define, assim, o conceito de marcação, o que também significa
dizer que tal noção seja dependente do contexto em que as estruturas linguísticas
emergem, posto que uma estrutura marcada em dado ambiente pode não ser marcada
em outro, devido a uma série de questões que podem garantir sua previsibilidade em
dada situação comunicativa.
Podemos definir estruturas marcadas, ainda segundo Givón, pelos critérios
de:
a) complexidade estrutural, pois, por corresponderem a uma estrutura
cognitiva complexa, elas tendem a ser maiores do que estruturas não marcadas,
b) distribuição de frequência, já que a estrutura marcada tende a ser menos
frequente que as correspondentes não marcadas e
c) complexidade cognitiva, o que significa dizer que a estrutura marcada tende
a ser cognitivamente mais complexa e, portanto, demandar mais atenção, esforço mental
e consequente tempo de processamento por parte do interlocutor, fato refletido em
fatores tais como um maior número de palavras na constituição das estruturas, por
exemplo.
Quanto à ocorrência da ordem VS no PB, os principais estudos a seu respeito
mostram que esta se trata de uma ordem marcada, por ser de baixa frequência,
apresentando ainda uma estruturação sintática mais complexa, dado que o SN sujeito
dessa construção tende a ser mais extenso do que o SN sujeito das orações SV
correspondentes. A motivação cognitiva associada a este fenômeno está relacionada ao
fato de que, por tender a ser uma informação nova no nível do discurso e, portanto, sem
possibilidades de referenciação e de difícil processamento, o usuário da língua utiliza um
38
maior número de palavras para equilibrar as forças de atenção na interação (Naro e
Votre, 1999).
2.2.3 Informatividade
A informatividade, ou estrutura informacional, tendo-se em conta seu
fundamento cognitivo, é uma propriedade que diz respeito àquilo que interlocutores
compartilham, ou supõem que compartilham, e ao que eles criam e recriam durante a
interação discursiva (Votre, 1991), levando-se em consideração, principalmente,
conhecimentos de mundo e do nível linguístico-textual. No processo de interação verbal,
o usuário da língua informa sobre algo interno ou externo ao seu mundo, tentando
exercer algum tipo de manipulação sobre o interlocutor. No mesmo caminho, seguem as
estratégias de construção coesiva, via principalmente processos de referenciação das
entidades do texto. Estas seriam consideradas, no âmbito da linguística aplicada, em
nível de conhecimento linguístico-sistêmico, por exemplo, algumas propriedades que
apontam para a negociação de significados e sentidos que fundamentalmente sintetizam
a práxis da interação verbal.
Assim, numa abordagem funcionalista, a questão da informatividade é
compreendida por motivações pragmáticas. Sua fundamentação data da questão já tão
debatida na literatura sobre a distribuição tema/rema, informação nova/ informação dada,
relação tópico-comentário, que retomam a Escola de Praga e a Perspectiva Funcional da
Sentença (PFS) e desembocam nas mais recentes teorias acerca dos esquemas e
frames cognitivos, diretamente relacionados à forma como os constituintes emergem no
discurso dentro de uma situação comunicativa específica. Ao menos em nível cognitivo,
tratamos aqui de algo comum às línguas humanas: a relação de ajuste comunicativo
subentendida no artigo de Chafe (1976) e que aponta para a constante adaptação que o
discurso de locutores e interlocutores reflete, já que “[a] mensagem só é realmente
39
assimilada pelo ouvinte se o falante ajustar o que diz ao que ele assume que o ouvinte
está pensando naquele momento” (Pezatti, 2004,181).
As entidades, assumo aqui, podem ser classificadas segundo a seguinte
taxonomia da informação de referentes nominais, com base em Prince (1981) e em Naro
e Votre (1999), como:
a) novas , quando introduzidos pela primeira vez no discurso,
b) inferíveis/disponíveis , quando, por algum motivo, são facilmente
acessados pelo interlocutor e
c) evocadas/dadas (ou velhas) , quando já mencionadas no texto.
Nesta pesquisa, verificaremos questões referentes à informatividade, quanto
não apenas ao status informacional dos SN sujeitos das construções (X)VS produzidas
no discurso em EL2, mas também as suas características morfossintáticas, visto que
este tenda a se assemelhar ao SN sujeito das orações VS em PB, tal como proposto em
Freitas (2006).
2.3 Considerações sobre a questão da aprendizagem/a quisição de uma
L2 e da Estrutura Argumental (EA)
2.3.1 Modos de Comunicação Pragmático e Sintático
Uma importante contribuição sobre o modo como o indivíduo aprende/adquire
uma segunda língua nos foi proposta por Givón (1979) no seu modelo de modos de
comunicação. Segundo o autor, a evolução da aquisição da sintaxe de uma L2 se
assemelha à evolução do domínio de usos de textos de registro formal e da estabilização
de uma língua crioula como língua natural.
Para ele, os estágios iniciais dessas modalidades de língua são
profundamente marcados por estratégias discursivo-pragmáticas refletidas em sua
ordenação primária, modo pragmático de comunicação, de tal forma que a sintaxe dos
40
períodos iniciais de aquisição de uma L2, por exemplo, pode se afastar do modelo nativo
em função da pressão comunicativa que determina seu uso em certos contextos
comunicativos. Adquirir a sintaxe de uma língua não materna significaria estar mais
sujeito ao uso de uma ordenação vocabular, por exemplo, em que se encontra forte
influência da pragmática muitas vezes gerando o uso de construções não existentes
nessa língua.
O mesmo aconteceria com as línguas de contato (pidgins), as quais, por
serem imediatistas, essencialmente emergem em contextos de forte orientação
pragmática de comunicação. A formação da língua crioula estaria relacionada à
cristalização de uma sintaxe própria e neutra no que diz respeito a essa pressão
comunicativa inicial. Também o controle do registro formal reflete a passagem de um
modelo mais pragmático de comunicação para um modelo mais sintático se pensarmos
que nesse contexto a sintaticização das formas está relacionada a uma menor
dependência da situação comunicativa.
Freitas (2006) constata que alunos brasileiros de EL2 utilizam a ordem VS no
contexto narrativo escrito em L2, por transferir uma estratégia discursiva do PB como L1,
criando construções desviadas da sintaxe da LA. O autor mostra que à medida que o
aluno é por mais tempo exposto aos dados do input da L2, ele se mostra menos sujeito
ao uso da cláusula VS e mais orientado à sintaxe regular da L2, em que são previstas
apenas orações SV. O trabalho apresenta evidência de que o uso de determinadas
construções sintáticas na L2 pode sugerir atuação do modo de comunicação pragmático,
pois, segundo Givón, o indivíduo, ao ser inserido em determinados contextos
comunicativos de maior tensão, como é o contexto de uso de uma L2, pode estar sujeito
à comunicação menos controlada e, portanto, menos ‘sintaticizada’5.
5 Este assunto será novamente abordado no Capítulo 4
41
2.3.2 A questão da Estrutura Argumental (EA) 2.3.2.1: Estrutura Argumental da predicação verbal: uma associação
sintático-semântica Em Givón (2001), vemos que o verbo desempenha o papel de coração
semântico das orações de tal forma a defini-las por diferentes tipos de situação. De fato,
no que concerne às relações gramaticais das cláusulas, é possível posicionar o
elemento verbal não apenas como aquele que denota diferentes tipos de situação, mas
também o que define os números de participantes, seus argumentos, e seus diferentes
modos de participação no evento verbal, seus papéis semânticos.
Negrão et alli (2005,100) citam a sistematicidade de relações entre léxico e
sintaxe “observada em vários conjuntos de fatos linguísticos”. Seria o léxico, então, o
nível em que são estabelecidas as exigências de seleção semântica e
consequentemente de número de argumentos selecionados por determinado predicador.
As autoras citam a atribuição comum a certos itens lexicais de serem capazes de
“determinar o número de participantes da situação que expressam, as características
que esses participantes devem ter e o papel que cada um deles desempenha na
situação”. Tratamos aqui da relação mantida entre núcleos, os argumentos por eles
selecionados e a definição de seus papéis temáticos.
A análise da relação mantida entre o núcleo (o predicador) e tais argumentos
revela, porém, uma hierarquia que admite a concatenação mantida entre o núcleo e o
complemento como precedente às demais. A nomenclatura linguística distingue, então,
argumentos internos e externos pelo tipo de interação existente entre o predicador e um
ou outro argumento, sendo a relação núcleo-argumento interno primária em relação à
existente entre este constituinte e o argumento externo.
Se a atribuição do papel temático do complemento acontece por ligação
direta com o predicador, a atribuição do papel temático do argumento externo é
42
garantida pelo sub-constituinte formado pelo verbo e seu complemento, o argumento
interno.
Para marcar a evidência dessa hierarquia de constituintes, tomemos, por
exemplo, a predicação derivada a partir do item lexical ‘pegar’. Mioto et alli (2005,127)
mostram que, no PB, o verbo ‘pegar’ pode selecionar diferentes argumentos internos,
cujo papel temático, em termos gerais, é TEMA, formando diferentes expressões e
definindo diferentes papeis temáticos aos seus argumentos externos. Ou seja, os papeis
temáticos dos argumentos externos são modificados na medida em que são modificados
os argumentos internos, como vemos em (3a – 3e):
(3a) Astrogildo [pegou [um taxi]] (3b) Astrogildo [pegou [uma gripe danada]] (3c) Astrogildo [pegou [o filho] (no colo)] (3d) Astrogildo [pegou [a xícara sem cabo]] (3e) Astrogildo [pegou [no batente]]6 A recorrência de ‘Astrogildo’ nas sentenças geradas a partir de, a priori, um
mesmo predicador, mostra que, ao menos à respeito do papel temático deste
constituinte, ele se comporta ora como Agente, ora como Experienciador, dependendo
do complexo que o núcleo e seu complemento constituem. De modo inverso, vemos que
o complexo [V + Argumento Interno] estabelece severas restrições temáticas ao SN que
preenche a posição de argumento externo, graças a essas mesmas exigências
temáticas, como vemos em (4a – 4c)7:
(4a) *O papagaio quer gostar do alpiste (4b) *A rocha quer boiar no mar (4c) *A alegria quer acabar
Sobre a atribuição dos papéis temáticos dos pretensos argumentos externos,
vemos que as exigências lexicais do predicador ‘quer’ não são atendidas pelas
6Cf. Mioto, 2005, 127 7 Entendemos, no entanto, que segundo determinadas motivações discursivas e metafóricas, tais sentenças poderiam ser legitimadas. Por razões práticas da pesquisa, optamos por um tratamento menos abrangente dessa questão.
43
possibilidades semânticas desses SN, o que gera a incompatibilidade das predicações,
por serem impedidas justamente pela relação [V – Arg Int].
Em suma, a idéia que subjaz a estes fenômenos é a de que, nas relações
mantidas pelos predicadores verbais e seus argumentos, existem, de fato, traços de
dependência semântica, que são definidos pelas exigências de seleção do item verbal.
Quanto ao argumento externo, a relação de dependência semântica que o define,
particularmente na predicação bivalente, é estabelecida pelo complexo definido pelo
núcleo verbal e seu complemento, o argumento interno. Por outro lado, o papel temático
do argumento interno será definido diretamente na relação semântica mantida com o
verbo. Vale citar, ainda, que, em termos de número de argumentos, as possibilidades de
seleção semântica, por serem específicas de cada predicador verbal, são diversas,
partindo de predicadores que não dispõem de argumentos, chegando a predicadores
que selecionam até três argumentos.
Vemos, desta forma, que os conceitos depreendidos na noção de argumento
externo e interno das predicações verbais, longe de denotarem relações puramente
sintáticas, apontam, a priori, para relações de orientação semântica e que, uma vez
estabelecidos os papéis temáticos dos elementos de determinada predicação, estes não
serão modificados, independentemente de sua posição na sentença, visto ser este um
atributo de nível lexical.
Vale lembrar, ainda, que o surgimento ou desaparecimento de novos
predicadores lexicais são entendidos, segundo a proposta funcionalista em que se apóia
este trabalho, a partir de motivações icônicas, relacionadas a pressões discursivas
oriundas do uso que faz gerar, na gramática explícita das línguas, novas possibilidades
de estruturas argumentais. Além do fato de a possibilidade de ocorrência explícita do
44
argumento ser definida segundo as necessidades e possibilidades da construção no
discurso.8
O fato de a atribuição do papel temático do argumento interno não apenas
preceder, mas, também, definir a atribuição do papel temático do argumento externo
merece algumas observações. Em primeiro lugar, podemos dizer que é justamente por
este fato que essas relações podem ser consideradas assimétricas, posto que a
antecedência de atribuição de papel temático de um definirá o papel do outro. Em
segundo lugar, podemos afirmar que a assimetria de tais relações é espelhada na
própria estrutura sintática interna das sentenças, refletindo os diferentes graus
hierárquicos existentes entre seus constituintes.
Outro fato importante aqui relacionado consiste na existência, por exemplo,
de SN não temáticos, os quais, por possibilidades da sintaxe, podem configurar como
sujeitos das cláusulas, tal como acontece com o pronome não referencial it do inglês em
orações tais como ‘It rains’.
2.3.2.2 Transitividade: domínio funcional, de natur eza escalar, semântica
e sintática :
Hopper & Thompson (1980) isolam diferentes componentes relacionados à
transitividade das orações (traços), examinando o modo como as línguas os codificam e
os identificam como parâmetros definidores de cláusulas [+/- transitivas ]. Em outras
palavras, uma oração deterá maior ou menor grau de transitividade de acordo com o
papel que tais traços desempenham no conjunto oracional.
Nesta perspectiva, a transitividade não é dicotômica, mas um continuum e,
portanto, a presença de S (sujeito) e/ou O (objeto) manifestos, por exemplo, situa a
sentença em algum ponto da natureza escalar da transitividade, visto que a transferência
8 Citamos Furtado da Cunha (2008), por exemplo, a qual mostra como o argumento objeto direto pode ocorrer de forma plena, pronominal ou elíptica de acordo com as vicissitudes das porções discursivas.
45
da ação verbal, evidenciada nas orações, será maior ou menor de acordo com, dentre
outros fatores, o número de argumentos selecionados pelo verbo e seus papéis
temáticos.
Note-se, assim, que a sentença (5) representaria, prototipicamente, maior
transferência da ação verbal, se comparada às demais (6 - 9). Todavia, ao compararmos
o grau de transitividade das sentenças (6 - 9), notaremos que, enquanto sentenças do
tipo (6) selecionam argumento externo com características agentivas, sentenças do tipo
(7 - 9) têm como SN sujeito, um elemento que denota características semânticas
alinhadas com as do objeto de verbos transitivos, ou seja, se comportam não como
agentes da ação verbal, tal como em (6), mas como aquele que, em alguma medida,
sofre a ação expressa pelo verbo:
(5) Pedro chutou José [+ trans] � [AGT [ V Tema/Paciente]] (6) João trabalhou [-/+ trans]* � [AGT [V]]
(7) Não havia nada ali [ - trans] � [ V Tema] (8) Apareceu a Margarida [- trans] � [V Tema] (9) Foi construída uma estrada [- trans] � [V Tema]
Vemos que a natureza semântica das cláusulas (7 - 9) as torna, nesta
perspectiva, de transitividade ainda mais baixa que as do tipo (6). Em termos do papel
semântico, verificamos serem tais SN detentores de papel Tema/Paciente, o que não é
categórico nas construções monoargumentais, como observado em (6). A estrutura
monoargumental mostra, então, como o grau de transitividade das cláusulas varia de
construção para construção, de acordo com as características de sua predicação.
2.4 A Inacusatividade: uma questão sintático-semânt ica
Para o tratamento do fenômeno aqui considerado, a saber, o uso de sujeitos
invertidos em EL2, passo à descrição do fenômeno maior que abarca as construções a
serem analisadas: a inacusatividade. Para entendermos a estrutura inacusativa, farei
uma breve apresentação sobre as questões sintáticas e semânticas relacionadas ao
46
fenômeno, para que possamos entender, de modo abrangente, os desdobramentos do
uso dessa estrutura no nível do discurso em EL2.
2.4.1 A contribuição dos estudos tipológicos: a que stão da ergatividade
Os estudos tipológicos, por sua especificidade voltada a definir as
semelhanças e diferenças existentes entre as línguas, contribuem com a apresentação
de universais linguísticos, de base indutiva, apontando padrões subjacentes que
refletem, em última análise, princípios de unidade linguística que nem sempre são
externamente verificáveis.
Os tipologistas visam focalizar não necessariamente aquilo que representaria
os limites da variação, mas, o que justamente caracteriza a variação, posto serem as
diferenças das línguas seu principal objeto de estudo. De posse de tais informações, os
trabalhos tipológicos, com destaque para o estudo sobre ordem vocabular de Lehmann
(1978) e o anterior sobre os universais de Joseph Greenberg (1973), contribuem para a
formulação de princípios linguísticos regulares que apresentam propostas de
classificação e individualização das línguas a partir das características empiricamente
observadas.
A conceituação do fenômeno da ergatividade possui no campo da tipologia
linguística papel proeminente. Destaca-se, nesse sentido, outro importante modelo
tipológico que diz respeito às possibilidades de marcação de caso atestadas no trabalho
de Comrie (1981).
Em sua pesquisa, Comrie apresenta uma análise que relaciona possíveis
sistemas de marcação de caso e o papel semântico dos constituintes das sentenças,
observando as possibilidades de organização dos constituintes básicos, sujeito, verbo e
objeto, nas gramáticas das línguas.
47
Considerando-se a prototipicidade das construções transitivas, temos que dos
dois argumentos do verbo, um tende a ser agente e o outro paciente. A respeito do verbo
intransitivo, o único argumento da oração poderá ser tanto agente como paciente da
construção.
Sendo assim, Comrie utiliza os símbolos S, A e P – sujeito, agente e paciente
– para substituir os rótulos sujeito e objeto direto. S representaria o único argumento do
verbo intransitivo. A representaria o argumento sujeito de construções transitivas de
línguas não-ergativas, enquanto P representa o argumento que nessas línguas é o objeto
direto. Ao considerar as possíveis relações existentes entre S, A e P, no que diz respeito
aos tipos de morfemas flexionais de caso verificados, Comrie apresenta a seguinte
tipologia de marcação de casos:
1. Neutro: quando encontramos mesma marca morfológica em S, A e P.
2. Nominativo-Acusativo: quando encontramos mesma marca morfológica em
S e A (caso nominativo) e outra para P (caso acusativo).
3. Ergativo-absolutivo: quando encontramos mesma marca morfológica para S
e P (caso absolutivo) e outra para A (caso ergativo).
4. Tripartido: quando encontramos morfemas distintos para S, A e P.
5. Sistema não consistente de marcação de casos, em que A e P detêm
mesma marca morfológica, a qual difere da de S.
Em outras palavras, Comrie constata que nas construções de mais de um
argumento a ambiguidade acerca do papel temático dos constituintes é desfeita a partir
de um sistema de marcação de caso, de base morfológica, salvo quando seja possível
desfazê-la por outros meios, tal como a ordenação vocabular. Ele observa, então, que o
sistema de casos, para refletir as relações gramaticais dos constituintes, tem por função
distinguir A e P.
48
Como vimos, o sistema nominativo-acusativo associa S com A e possui uma
marca flexional especial para P, enquanto o sistema ergativo-absolutivo identifica S com
P com marca distinta para A, ou seja, as chamadas línguas ergativas marcam
diferentemente o sujeito das orações transitivas, A, em relação tanto ao sujeito das
orações intransitivas, S, quanto ao objeto O, via flexão de caso.
Muito importante é, ainda, constatarmos que as diferenças de tratamento
entre A, S e O não apontam para um fenômeno de superfície e de base morfológica,
dado que outras possibilidades, tais como a ordenação vocabular e sistemas de co-
referenciação de concordância verbal, também funcionam como veículos de
interpretação dos casos dos SN.
Segundo a classificação de Comrie, percebemos, então, que há uma estrita
relação entre o grau de controle, ou agentividade, do SN sujeito das construções
intransitivas e a semântica do verbo de tal forma que há distintos processos de marcação
de caso, e consequente interpretação do papel temático, dependendo do grau de
agentividade do SN.
Temos, então, que a possibilidade de cisão na marcação de caso do SN de
orações intransitivas forma duas classes de verbos intransitivos, em que o SN ou será
marcado como A ou como P.
No que diz respeito ao PB, verificamos, assim, a classificação, mais canônica,
de algumas construções monoargumentais como inergativas, já que seu único SN,
apesar de não apresentar flexão de caso evidente, detém características de A, seguindo
o padrão nominativo, previsto nas línguas de caso nominativo-acusativo. Por outro lado,
observamos, também, a existência da marcação de caso nominativo para SN P de outros
verbos monoargumentais. Como visto, em contextos de línguas ergativas, tal diferença
semântica, representaria marcação de caso diferenciada entre o SN A e o SN P, o que
não acontece, em certas orações do PB.
49
Diferentes orientações teóricas da linguística possuem interesse por este
fenômeno, o qual, devido as suas características estruturais, assemelha-se ao que
parece ocorrer em construções de línguas ergativas. Nessas, como visto, o argumento
paciente de verbos intransitivos apresenta mesma marcação de caso do SN
complemento, também paciente, de verbos transitivos. No PB, algumas construções
causativas são tidas como indícios de ergatividade, pois, apesar de não termos marca
morfológica evidente que associe S e P, temos o SN paciente de orações transitivas,
como em ‘João abriu a porta’, desempenhado no papel de sujeito, por concordar com o
verbo, de uma construção monoargumental, como ‘A porta abriu’.
Tais construções apontam para o fenômeno da inacusatividade , o qual
parece deter importante papel na explicação da ocorrência da ordem VS em PB. Por
deter características típicas de objeto direto, tal SN, sujeito dessas orações, tenderia a
ocorrer à direita do verbo.
Em seu trabalho sobre o sujeito, a fim de defender a hipótese de que o SN de
certas construções de ‘sujeito posposto’9 possui, na verdade, características de objeto
direto, Pontes (1986) cita Perlmutter (1980), segundo o qual,
“o estrato inicial de certas orações intransitivas é “inacusativo”, isto é, contém um arco 2 mas nenhum arco 1, enquanto que o estrato inicial de outras orações intransitivas é “inergativo”, isto é, contém um arco 1 mas nenhum arco 2” (Cf. Pontes, 1986: 79).
Segundo Pontes, ao reconhecer que o “arco 1 corresponde à relação de
sujeito e arco 2 à relação de objeto”, Perlmutter distingue sentenças intransitivas que no
nível inicial só tem objeto, as inacusativas, de outras que só tem sujeito - as inergativas.
Verbos intransitivos que apresentam tal distanciamento do padrão ergativo
são chamados de inacusativos e representam um tipo de ergatividade marcada , já que
o papel temático de seu único SN, paciente, não é interpretado via caso acusativo, e sim
9 Utilizo o termo da autora, embora, reconheça que devido a suas características semânticas tal SN talvez pudesse ser considerado como elemento prototípico de posição pós verbal, não sendo, exatamente, ‘posposto’.
50
nominativo, não mantendo, portanto, a simetria de marcação de caso entre S e P,
prevista nas línguas ergativas.
2.4.2 Inacusatividade: uma descrição
Como visto, a estrutura argumental da predicação verbal está relacionada às
regras de seleção semântica dos argumentos do predicador que definem: “a) quantos
são os argumentos requeridos pelo verbo, b) qual é o papel temático (agente, paciente,
experienciador etc.) desses argumentos, e c) qual é a realização sintática (sintagma
nominal, sintagma Preposicional etc) de tais argumentos” (cf. Cyrino et alli (inédito)).
Assim, a moldura semântica de predicadores transitivos prevê dois, ou três,
argumentos, sendo um deles, o argumento externo, em geral, detentor de papel temático
agente ou experienciador e outro, o argumento interno, em geral, detentor de papel
temático TEMA ou PACIENTE. Por outro lado, o verbo intransitivo possui um único
argumento nuclear, o externo, em geral, detentor de papel temático agente (Cf. Mioto,
2004,146)10, por denotar características de volição em relação à ação expressa pelo
verbo, como vemos em (10a-10b):
(10a) Margarida comprou um telefone
(10b) Margarida telefonou
Vimos também que os verbos tradicionalmente arrolados na classificação
intransitiva apresentam dois tipos de seleção semântica. Enquanto alguns selecionam
argumento externo de característica [+AGT], outros selecionam um argumento, o qual,
em alguma medida, sofre a ação verbal, e, portanto, possui papel temático TEMA /
PACIENTE. Resumidamente, o único argumento da construção inacusativa não detém
caráter agentivo em relação ao evento expresso pelo item verbal, embora a ele seja
10 Há ainda a possibilidade de verbos que não selecionam argumentos, como ‘chover’, e verbos que selecionam mais de dois argumentos, como ‘dar’.
51
atribuído Caso Nominativo, assim como acontece com o único argumento agentivo do
verbo intransitivo inergativo.
Em suma, enquanto verbos inergativos são predicadores que, em termos
semânticos, selecionam apenas um elemento agentivo, exercendo o papel de argumento
externo do sintagma verbal, verbos inacusativos selecionam um argumento de
características semânticas semelhantes ao do argumento interno do verbo transitivo, seu
complemento. Tal argumento, porém, não recebe Caso Acusativo, para que seu papel
temático seja interpretado. Diferentemente dos SN complementos de verbos transitivos,
ele é interpretado graças à atribuição de Caso Nominativo, tornando-se sujeito da oração
em que figura e carregando, em geral, marcas de concordância verbal. Em outras
palavras, embora, em termos semântico-estruturais, exista um paralelismo entre verbos
transitivos e inacusativos, já que ambos selecionam um elemento de características
semânticas semelhantes, em termos de atribuição de Caso, tal paralelismo se extingue
se pensarmos na inexistência de orações como (11b) em que a leitura do SN não é
possível via uso de pronome clítico – forma acusativa ainda registrada no PB escrito e na
fala monitorada de indivíduos escolarizados:
(11) a. Chegou a carta
b. *Chegou-a
Sendo assim, podemos representar as diferentes possibilidades de seleção
semântica dos predicadores de estruturas monoargumentais nas estruturas arbóreas
(12a) e (12b), respectivamente a de um verbo intransitivo, como ‘correr’, cujo SN sujeito
tem características semânticas de [+AGT], e a de um verbo inacusativo, como ‘chegar’,
cujo SN sujeito é [+Tema/Paciente]:
52
(12a) SV (12b) SV
3 3
SN V’ V SN g V 2.4.3 Evidências para a existência de verbos inacus ativos Para provar que existem predicadores verbais que selecionam apenas
argumento interno, é preciso mostrar que quando um SN é sujeito desse verbo, ele não
será, de fato, seu argumento externo, mas, outro SN com características semânticas
compatíveis para a configuração de sujeito desse tipo de oração. Por não ser argumento
externo, tal elemento não apresentará traços semânticos previamente determinados pelo
verbo inacusativo, o que o faz passível de se tornar sujeito dessa oração. Em Mioto et alli
(2005), os autores consideram a gramaticalidade/agramaticalidade das sentenças (13a -
13e) para explicar como as exigências de seleção semântica dos predicadores ‘parecer’
e ‘desejar’ evidenciam a existência desse tipo de predicação:
(13a) Parece que a Maria enfrenta problemas (13b) * Deseja que a Maria enfrente problemas (13c) * O João parece que a Maria enfrenta problemas (13d) O João deseja que a Maria enfrente problemas (13e) A Maria parece enfrentar os problemas com coragem
Devido à frequente associação existente entre argumentos externos e a
noção de sujeito, poderíamos imaginar que a oração encaixada em (13a) teria sido
selecionada como argumento externo do verbo ‘parecer’. Porém, como vemos, por
exemplo, na relação existente entre os sujeitos de orações ativas e passivas, o
alinhamento entre sujeitos e a noção de argumento externo não é categórica. Conforme
afirmam Cyrino et alii (2010) “a noção de sujeito fica associada a uma posição estrutural
externa ao Sintagma Verbal (SV) e, enquanto tal, é indiferente ao papel temático do
53
sintagma que venha ocupá-la, admitindo tanto argumentos externos [...], quanto
internos”.
O verbo ‘parecer’, assim como os verbos cópula ser/estar, é um verbo
inacusativo especial, ao possibilitar que um termo pertencente a seu argumento interno
seja alçado à posição de sujeito da sentença, por não ser, tal SN, um elemento de traços
semânticos definidos pela seleção semântica do verbo em questão.
A tradição gramatical prescritiva considera que a oração (13a) tem como
sujeito uma oração subordinada substantiva subjetiva. Reconhece-se, então, que a
interpretação da função sintática de sujeito recai sobre a oração encaixada.
Na verdade, embora a oração encaixada represente o sujeito da oração
expressa por ‘parecer’, vemos que a aceitabilidade da sentença (13a) se deve
justamente pelo fato de o constituinte interpretado como seu sujeito ser originado pela
seleção semântica de um argumento interno, ou seja, com características de
complemento. Este fato pode ser evidenciado pela impossibilidade de ocorrência de
sentenças tais como (13c), as quais mostram que o verbo ‘parecer’ “não tolera que se
postule um argumento temático como sujeito” (Mioto et alii, 2004,148), pois este, o papel
temático, não teria sido atribuído pelo mesmo. Tudo isto nos faz concluir que talvez ele, o
sujeito do verbo inacusativo, tenha sido selecionado para ocupar uma posição
argumental anterior, a de argumento interno deste predicador. Eis a evidência a favor da
existência de verbos que não selecionam argumento externo: o SN ‘O João’ não pode
receber Caso Nominativo para que seu papel temático seja interpretado. Ele não pode
ser sujeito da oração (13c) por possuir papel temático que não é definido pelo predicador
verbal11.
Por outro lado, ao considerarmos as exigências de seleção semântica de
‘desejar’, vemos que a ocorrência de uma oração do tipo de (13b) não é previsível graças
11 Note-se, por consequência, que a existência do argumento externo dos verbos transitivos e atribuição do seu papel temático são dependentes da relação temático-argumental existente, prioritariamente, entre o verbo e seu complemento que há de definir as características do suposto argumento a ser selecionado, como já dito.
54
à ausência de um sujeito agentivo – argumento externo de desejar – tornando-se
aceitável quando da presença de um elemento, com tal atributo como em (13d).
Vemos ainda que sentenças como (13e) não podem funcionar como contra-
evidência para esta hipótese, visto que o SN que figura na posição de sujeito da
construção também não será argumento externo de ‘parecer’, já que não foi definido
semanticamente por este predicador, e sim pelo predicador da oração encaixada
‘enfrentar’, o que também acontece em relação aos verbos ‘pairar’ e ‘acabar’, como em
(14a – 14b)12:
(14a) A pedra parece pairar no vazio
(14b) A felicidade parece ter acabado
Assumo, então, a existência de predicações monoargumentais, das quais o
único SN argumento não é semanticamente selecionado de forma a ocupar a posição de
argumento externo e admito, assim, que o papel temático do sintagma que figura como
sujeito da construção inacusativa não será interpretado por atribuição de Caso Acusativo,
tal como acontece com os complementos dos verbos transitivos, apesar de também
possuir papel temático Tema/Paciente.13
É possível afirmar, também, que a posição à esquerda de verbos
inacusativos, por não ser exclusiva de um SN temático, é passível de ser ocupada por
diferentes elementos, dentre eles: a) o próprio SN semanticamente selecionado como
complemento do predicador, b) um elemento integrante do complemento que é alçado à
posição de sujeito temático, c) um sintagma adverbial (conforme apontado em Spanó
(2002, 2008), Nagase (2007)), d) um pronome não referencial, expletivo, desprovido de
base semântica, tal como acontece em línguas de sujeitos obrigatórios, ou e)
12 Adaptado de Mioto (2004, 149) 13 Salvo quando for elemento alçado e, portanto, possivelmente detentor de outros papéis semânticos.
55
permanecer vazia, o que é verificável em línguas de maior aceitabilidade de sujeitos
nulos, como o PB.
Estas são algumas considerações de ordem semântico-estrutural que
desembocam como proeminentes para o entendimento do uso sincrônico das ordens
SV/VS no PB.
Salientamos o fato de que o uso de sentenças VS no PB acontece, conforme
verificado em diversos trabalhos anteriores, praticamente em contextos de
intransitividade, em particular, com verbos inacusativos. A motivação para a suposta
variação de uso das ordens SV/VS, porém, é vista, principalmente, por questões
relacionadas à estrutura informacional, ou seja, à possibilidade de recuperação e
referenciação de SN velhos no nível do discurso e à introdução de elementos novos
nesse contexto. Assumimos, assim, conforme a visão funcionalista que permeia a
presente pesquisa, que o surgimento das ordens SV/VS no discurso de brasileiros no
EL2 representará um fenômeno de transferência do PB, de ordem discursiva, que poderá
gerar construções sintáticas não verificadas na LA, como veremos mais a frente.
2.4.4 A Voz passiva: Inacusatividade Estrutural
Ao compararmos a estrutura argumental de construções inacusativas e de
orações passivas, verificamos ainda uma instância de inacusatividade que não se define
pela seleção semântica do predicador verbal, mas, a partir da própria estrutura passiva.
Temos na sintaxe passiva, assim como na construção inacusativa lexical, um SN sujeito
não prototípico por ser um constituinte [+paciente]. Novamente, a marcação de Caso do
SN paciente não segue o padrão acusativo, tal como verificado nas construções
monoargumentais inacusativas e se o argumento sujeito, [+AGT], da oração ativa original
aparecer, isto se dará sob a forma de um sintagma preposicional, tradicionalmente, o
agente da passiva, como é verificável em (15a – 15c):
56
(15a) Recife engoliu Olinda
(15b) Olinda foi engolida pelo Recife
(15c) Foi engolida Olinda
Note-se a possibilidade, já observada nas construções inacusativas lexicais
do PB, de que as orações passivas analíticas ocorram na ordem SV, como (15b), e VS,
como (15c). Novamente, apontamos para a tendência já atestada em outros trabalhos
(cf. Spano (2002, 2008)) de que a variação das ordens SV/VS se mostre mais sensível
em contextos de inacusatividade, mesmo na voz passiva.
Tal observação é crucial para o presente trabalho, pois, para tratarmos do uso
agramatical de cláusulas (X)VS em EL2, produzidas por falantes do PB, trabalharemos
também com dados empíricos de construções passivas SV e VS com SN sujeitos plenos,
apresentando explicações ora de ordem discursiva, ora de ordem gramatical, para o
fenômeno.
2.5 A visão e a contribuição da Teoria Gerativa 14
Diferentes variáveis podem interagir na formação dos fenômenos de âmbito
da aquisição de L2. Conforme dito, embora a presente pesquisa seja orientada pela
teoria funcionalista, reconhecemos que as transferências de motivações discursivas
relacionadas à questão da ordenação vocabular e da estrutura informacional vão até os
limites estabelecidos pela sintaxe da LA e estarão, particularmente, relacionadas às
possibilidades da L1, formando, dessa forma, um ambiente propício para o surgimento de
construções nem sempre integrantes do sistema da LA. A respeito de nosso objeto de
estudo, alguns pressupostos da teoria da gramática podem fornecer subsídios
14 Agradeço às Profas. Dras. Maria Eugênia Lamoglia Duarte e Silvia Regina Cavalcante pelas preciosas orientações, teóricas e práticas, a mim prestadas ao longo do presente trabalho.
57
importantes para o entendimento de um fenômeno originário não apenas de forças
pragmático-discursivas, mas particularmente formais.
2.5.1 A Teoria de Princípios e Parâmetros (TPP)
O modelo teórico de Princípios e Parâmetros se constitui na própria base
inatista da gramática gerativa. Nesta concepção, a capacidade linguística de um
indivíduo estaria relacionada à influência do input ao qual ele fora exposto no período de
aquisição de sua L1 e à base de princípios gramaticais, geneticamente determinados,
que constituem a faculdade da linguagem, específica do homem.
Para Hornstein et alii (2005,3), a hipótese da faculdade da linguagem
descreve duas questões importantes sobre a linguagem humana: sua aparente
diversidade superficial e a facilidade com que é tipicamente adquirida apesar da pobreza
de estímulo linguístico disponível15. O conceito de Gramática Universal (GU) traduz a
noção da faculdade da linguagem. A GU seria, então, constituída por propriedades gerais
das línguas e que podem se manifestar, ou não, neste ou naquele sistema. As
propriedades que se manifestam em todas as línguas são chamadas de Princípios e
aqueles que representam opcionalidade de marcação são chamadas de Parâmetros. São
os princípios paramétricos que definem as diferenças superficiais das línguas, estando
eles envolvidos nos processos de mudança, através da remarcação paramétrica.
2.6 O Parâmetro do Sujeito Nulo
Para muitos linguistas da teoria gerativa, a realização fonológica do elemento
sujeito, seja ele referencial ou não, é um fenômeno variável, relacionado ao paradigma
morfológico, e que reflete uma condição paramétrica da Gramática Universal. Sendo
15 “The last five decades of research can be seen as providing a description of this faculty that responds to two salient facts about human natural language: its apparent surface diversity and the ease with which it’s typically acquired despite the above noted poverty of linguistic stimulus”.
58
assim, línguas tais como o Espanhol e o Inglês podem representar as duas
possibilidades de realização deste parâmetro: esta como uma língua [-prodrop], por
licenciar apenas sujeitos fonologicamente realizados, e aquela como uma língua
[+prodrop] por admitir a possibilidade de sujeito referencial nulo.
2.6.1 Propriedades do Parâmetro do Sujeito Nulo
Nesta visão, a opcionalidade de realização do sujeito estaria associada a
demais fenômenos linguísticos que se manifestam conforme é definida a marcação deste
parâmetro. Tratamos aqui de uma associação de fenômenos tipologicamente
evidenciados. Burzio (1987,85), por exemplo, defende a associação da possibilidade de
inversão do sujeito ao parâmetro do sujeito nulo por constatar que este fenômeno
ocorre em línguas românicas que licenciam sujeitos ocultos, mas não em línguas de
sujeito obrigatório16.
As propriedades associadas ao Parâmetro do Sujeito Nulo seriam (adaptado
de Marques, 2004):
(i) a opcionalidade de realização de sujeitos referenciais em línguas
[+prodrop] e sua obrigatoriedade de realização em línguas [-prodrop]:
(16a) Ellos se despertaron temprano (16b) They woke up early
(17a) pro se despertaron temprano (17b) *pro woke up early
(ii) a obrigatoriedade de realização de sujeitos expletivos (não referenciais) em
línguas [-prodrop] e sua impossibilidade em línguas [+prodrop]:
(18a) pro expl. Llueve (18b) It rains
(19a) *Ello hace frío acá (19b) *pro is cold here
16 Tendo por base o modelo de Regência e Ligação (GB).
59
(iii) a possibilidade de inversão do sujeito que está ligada a estruturas
apresentativas em línguas [+prodrop] e sua impossibilidade em línguas [-prodrop]:
(20a) Los invitados llegaron (SV) (20b) The guests arrived (SV)
(21a) Llegaron los invitados (VS) (21b) *Arrived the guests (VS)
(iv) a possibilidade de movimento QU de sujeito através de um
complementizador preenchido por ‘que’ (efeito that-trace) em línguas [+prodrop], mas
não em línguas [-prodrop]:
(22a) Quiéni dijiste que ti no conocía a nadie?
(22b) *Whoi did you say that ti knew everybody?
Segundo a TPP, tanto a sentença (17a) como (18a) detêm sujeitos estruturais
não realizados fonologicamente. Apesar de serem nulos no nível fonológico, devem ser
estruturalmente representados pela categoria vazia pronominal pro, por analogia a sua
realização fonológica em línguas [-pro-drop]. Tais sujeitos não são definidos a partir de
seleção semântica, mas são sempre representados na sintaxe na posição de argumento
externo, especificador (Spec), do Sintagma Flexional (IP)17, o que também ocorre com a
sua correspondente realização fonológica, o pronome expletivo em (18b), por exemplo,
uma construção típica de línguas de sujeito obrigatório18.
Nessa linha, é o Princípio da Projeção Estendido (EPP19) que estabelece, por
evidências das predicações como (18b), que todas as sentenças possuem um sujeito
sintático, e que sua realização fonológica vai depender da forma como se comporta a
marcação do parâmetro [prodrop] em cada língua. Em outras palavras, sua realização se
torna uma questão paramétrica.
Sendo assim, o EPP aponta para a existência de uma posição,
eminentemente estrutural, à qual está relacionado o posicionamento do sujeito das
17 Inflectional Phrase. 18 Na estrutura arbórea, o IP caracteriza a realização da concordância verbal, garantindo a atribuição de Caso Nom ao DP, seja ele referencial, ou não. 19 Extended Projection Principle
60
sentenças, independentemente de sua matriz lexical ou de sua relação fonológica.
Segundo esta perspectiva, os constituintes podem se realizar nesta posição a fim de
receber Caso Nominativo, via concordância, e ter seu papel temático interpretado. Em
casos de verbos que não apresentam seleção semântica de um argumento externo, a
concordância pode acontecer entre o verbo e um pronome expletivo, ou um elemento
alçado à posição de sujeito, por não ser detentor de papel temático por ele determinado.
A título de exemplificação, o Quadro 1 apresenta construções com o verbo
‘chover’ em inglês, francês e alemão, línguas [-prodrop], e português, italiano e espanhol,
línguas [+prodrop] e a realização do pronome expletivo nas primeiras e da categoria
vazia (ec20) pro nas segundas:
Expletivos Nulos Expletivos Plenos
pro expl. Chove It rains
pro expl. Piove Il pleut
pro expl. Llueve Es regnet
Quadro 1 – Realização/não realização fonológica de expletivos nas línguas
Vale observar ainda o comportamento das orações (20a) e (21a) as quais
mostram como no espanhol, uma língua de sujeitos nulos, o uso de ambas as ordens
SV/VS seria possível e provavelmente dependente apenas de demandas de pressão
discursiva. O mesmo não ocorre em (21b) em que temos uma oração agramatical em
inglês, dado o uso do sujeito em posição pós-verbal. A ordenação seria legitimada,
porém, se, como em (20b), o SN sujeito figurasse à esquerda do verbo, ou, se nessa
posição, existisse um pronome expletivo, não referencial, saturando as demandas de
preenchimento do sujeito, formando uma construção do tipo XVS em que ‘X’ representa
um sujeito sintático e ‘S’ um sujeito semântico, como em:
(23a) There arrived guests
20 Empty category
61
De qualquer forma, convém observar a baixa ocorrência desse tipo de
ordenação em línguas [-prodrop], se comparadas a línguas genuinamente [+prodrop],
como o espanhol e o português europeu.
2.7 A atribuição de Caso Nominativo ao complemento de verbos
inacusativos
Diante destas informações, algumas considerações devem ser propostas
sobre a atribuição de Caso do único argumento do verbo inacusativo.
O argumento do verbo inacusativo é tido como seu complemento, ocupando a
mesma posição do objeto direto de verbos transitivos e detendo o mesmo papel temático:
[tema/paciente].
Como visto em seção anterior, se compararmos sentenças (X)VS com verbos
inacusativos em diferentes línguas, constataremos a presença de um sujeito expletivo
realizado nas línguas de sujeito obrigatório e, por analogia, a de um expletivo nulo nas
línguas de sujeito nulo como em (24a - 24d), respectivamente, exemplos do inglês,
francês, italiano e português (adaptado de Burzio, 1989:85):
(24a) There have arrived three girls21
(24b) Il est arrive trois filles (sic)
(24c) Ø Sono arrivate tre ragazze
(24d) Ø Chegaram três rapazes22
Com efeito, Burzio (1986), aventa a possibilidade de co-indexação existente
entre o expletivo e o SN pós-verbal, de tal forma que a atribuição de Caso nominativo,
atribuída ao expletivo pelo núcleo I’23, seja transmitida a este SN permitindo a
21 Note-se a agramaticalidade de sentenças inergativas com a presença de sujeito expletivo: *There spoke a man. 22 Em Ø leia-se ec 23O núcleo I’ (o nó sintático em que seria estabelecida a relação de concordância entre o sujeito e o verbo) é considerado na teoria X’ o nível em que os constituintes recebem Caso Nominativo.
62
interpretação de seu papel temático. Esta hipótese, tradicionalmente chamada de
Hipótese de Transmissão de Caso, se torna possível graças ao princípio do Filtro do
Caso que prevê a possibilidade de que o SN que ocorra em posição não prevista para
atribuição de Caso possa recebê-lo via cadeia.
A generalização de Burzio, grosso modo, consiste em dizer que para que um
verbo possa atribuir Caso acusativo ele precisa ter argumento externo. Como o verbo
inacusativo não seleciona semanticamente um argumento externo, posto seu único
argumento deter natureza de complemento, para que o papel temático de seu argumento
seja interpretado é necessário que exista co-indexação entre a ec, que figura na posição
em que os constituintes recebem Caso Nominativo, e a posição de argumento interno.
Assim, associado ao dado de que em línguas de concordância forte, verificam-se as
marcas de concordância entre tais complementos e seus predicadores, presume-se a co-
indexação entre o expletivo e o SN pós-verbal, favorecendo a atribuição de Caso
Nominativo.
A atribuição e co-indexação de Caso Nom aos argumentos internos de
inacusativos nesta perspectiva está representada em:
IP 3
Spec I’ 3
I VP g V’ 3
V XP
63
Uma evidência importante relacionada à atribuição de Caso Nominativo aos
argumentos internos de inacusativos diz respeito à possibilidade de eles ocorrerem na
posição prototípica de sujeito, à esquerda do verbo24, ou à direita, nas línguas de sujeito
nulo. Ocorrer à esquerda do verbo é uma tendência, quase categórica, nas línguas [-
prodrop], não acontecendo apenas quando da realização fonológica do pronome
expletivo nesta posição. As orações XVS (24a – 24d), por exemplo, podem ser
substituídas por outras correspondentes como vemos nas orações SV (25a – 25d):
(25a) Three girls have arrived
(25b) Trois filles est arrive
(25c) Tre ragazze sono arrivate
(25d) Três rapazes chegaram
Tal possibilidade, como vimos, estaria relacionada a estruturas inacusativas,
posto que estas, por não selecionarem argumento externo, permitem o alçamento de um
SN para a posição à esquerda do verbo sem causar a agramaticalidade da sentença.
Como o verbo não definiu as propriedades semânticas de um elemento específico que
figurasse na posição prototípica de sujeito, ficaria aberta a possibilidade de ocorrência do
SN complemento dos verbos inacusativos nessa posição, como já visto. Além do mais, a
interpretação do papel semântico deste SN é garantida em ambas posições, por ser a
atribuição de papeis semânticos, um fator de natureza lexical.
Vale ressaltar, desta forma, que, em línguas de sujeito nulo, os verbos
inacusativos apresentam duas possibilidades de ordenação vocabular: a) a básica em
que o elemento sujeito é gerado como complemento do verbo, mas recebe Caso
Nominativo, via co-indexação com o expletivo nulo e configurando a ordem VS e b) à
esquerda do verbo, configurando a ordem SV.
24 Spec IP
64
As duas possibilidades de representação são apresentadas em (26a) e (26b),:
(26a) Chegou a carta IP 3
pro exp I’ 3
I VP chegouj g
V’ 3
V DP ti a carta (26b) A carta chegou
IP 3
DP I’ A cartai 3 I VP chegouj g V’ 3
V DP tj ti No PB, a possibilidade de ocorrência dessas duas construções: com o
argumento interno in situ ou deslocado, fez com que surgissem diversos estudos
linguísticos funcionalistas, gerativistas e sociolinguísticos, tais como o de Pontes (1986),
Nascimento (1990), Naro e Votre (1999) e Spano (2002, 2008), dentre outros, acerca do
fenômeno da ‘inversão do sujeito’. Os estudos sincrônicos sobre o assunto mostram que
a suposta variação de uso das estruturas SV e VS é um fenômeno discursivamente
motivado, porém, mais restrito a contextos de inacusatividade.
Os verbos cópula, as Small Clauses (SC) e as estruturas passivas formam um
grupo de predicação inacusativa que apresenta a possibilidade de alçamento de um SN,
65
parte do complemento, para a posição à esquerda do verbo, de forma a atender as
motivações formais referentes ao EPP e à Teoria do Caso.
Tal movimento é visto em (27a) – (27d) (adaptado de Cyrino et alii (2010)):
(27a) parece [que a gente se sente até mais...assim por fora] (DID SP 234)
(27b) A gente i parece ti se sentir até mais por fora
(27c) Está bonita a menina (SC)
(27d) A menina i está bonita ti
As duas possibilidades de representação de (27d) e (27c), por exemplo, são
apresentas na sequência:
(27d) A menina está bonita
IP 3
DP I’ A meninai 3 I VP estáj g V’ 3
V SC ti 3
DP AP ti bonita
(27c) Está bonita a menina
IP 3
pro exp I’ 3
I VP estáj g V’ 3
V SC ti 3
AP DP bonita a menina
66
A comparação sugerida a partir dos exemplos de Cyrino et alii (2010) mostra
que, apesar da relação de concordância do verbo ‘parecer’ e o sujeito ‘A gente’, este SN
não é definido por seleção semântica desse predicador, mas pelo verbo ‘sentir’ da oração
encaixada. É na sentença encaixada que se estabelece o papel temático do item lexical
movido, o que também acontece com o SN ‘menina’ em (27c). Sendo uma SC, na
relação ‘menina – bonita’, ‘bonita’ atribui papel temático à ‘menina’ e por isso considera-
se ser esta uma predicação independente.
Em termos estruturais, temos em (27a) e (27c) a projeção de um pro expletivo
desprovido de matriz fonológica em Spec IP. Por ser uma posição vazia no PB, existe a
possibilidade de movimentação do SN selecionado na oração encaixada, tal como em
(27b), e do SN da SC, tal como em (27d), para a posição do sujeito. Vale lembrar que no
inglês, uma língua [-prodrop], a posição à esquerda do verbo apresentará sempre a
expressão fonológica, seja pelo pro expletivo, seja pelo SN alçado, como vemos em (28a
– 28d):
(28a) It seems that Mary arrived late
(28b) Mary i seems tito have arrived late
(28c) It seems to be fun [to be a teacher]
(28d) [Being a teacher] i seems to be funti
Chamamos a atenção para o fato de no inglês haver restrição gramatical de
sentenças XVS em que o sujeito da oração (S) não seja uma oração encaixada, no caso
de predicações tais como as com o verbo ‘to seem’, e com as construções passivas,
como veremos adiante. Também, é importante notarmos a agramaticalidade de orações
tais como (29a – 29b), em que temos uma configuração VS desprovida de pronome
expletivo:
(29a) *Seems that Mary arrived late
(29b) *Seems to be fun to be a teacher
67
A respeito da configuração sintática possível em uma SC do inglês,
verificamos a necessária realização do SN à esquerda do verbo, na posição do sujeito.
Note-se que a seleção categorial da SC prevê a ocorrência de um SN pleno, o qual
precisará ser alçado para a posição à esquerda do verbo para configurar uma oração SV,
tal como (30a), desfazendo a agramaticalidade típica de (30b). Note-se ainda a
impossibilidade de orações como (30c) com it expletivo.
(30a) The girli is beautifulti
(30b) *Is the girl beautifuli
(30c) *It is the girl beautiful
2.8 As estruturas passivas
Ao observarmos o comportamento das orações passivas de modo mais
criterioso, verificamos uma instância de inacusatividade que acontece a partir da própria
estrutura desse tipo de construção.
O elemento complemento da construção ativa tem, na construção passiva,
seu papel temático interpretado, via atribuição de Caso Nominativo, tornando-se sujeito
da oração. Em línguas [+prodrop], a ocorrência do SN sujeito é possível ou na posição in
situ, configurando a ordem VS, ou à esquerda do verbo, configurando a ordem SV.
No inglês, uma língua, [-pro-drop], temos a realização do SN na posição
prototípica de sujeito, à esquerda do verbo, desde que seja um SN pleno, podendo deter
papel temático [paciente], ou mesmo [beneficiário], como em (31a – 31b):
(31a) The pot was given for the Duke
(31b) The duke was given a pot
Cabe observar que tais construções se tornam agramaticais quando na ordem
VS:
68
(32a) *Was given a pot for the duke25
Por outro lado, quando a construção passiva tiver por complemento/sujeito
uma oração encaixada, verificamos a atuação das duas possibilidades, com destaque
para a ordenação em que a oração encaixada seja mantida à direita do verbo, compondo
uma construção XVS com pronome expletivo ‘it’, a qual seria, na visão gerativista, mais
uma evidência a favor da co-indexação do SN pós-verbal à posição de atribuição de
Caso nominativo.
Quirk & Greenbaum (1990,417) em seu capítulo sobre ‘extraposições’ em
inglês, apresenta os seguintes exemplos de construções passivas26, do tipo it VS:
(33a) It is said that she wanted to go into politics.
(33b) It was considered impossible for anyone to escape.
As orações (33a) e (33b) estariam relacionadas às orações (34a - 34b), que
refletem o padrão SV do inglês, mesmo não sendo, estas, de alta frequência:
(34a) That she wanted to go into politics is said
(34b) To escape was considered impossible for anyone
Diferentemente do PB, no inglês, as construções passivas sem movimento de
constituinte selecionam apenas orações encaixadas como complemento. As passivas
correspondentes do PB também aceitam seleção de SN pleno. De qualquer forma,
vemos que, na gramática do inglês, a realização fonológica do pronome expletivo é
categórica também nesse contexto. Voltaremos a abordar as diferenças de usos da
estrutura inacusativa, ativa e passiva, no PB e no inglês no capítulo 4 desta tese.
25 Grifo meu 26 Os autores não abordam a questão da inacusatividade nesse capítulo e nomeiam o que aqui chamamos pronome expletivo de ‘anticipatory subject’ e as orações interpretadas como sujeito de ‘postponed subjects’.
69
Resumidamente, a descrição sintática do fenômeno da inacusatividade, pelo
viés da teoria gerativa, fornece algumas considerações importantes ao objeto de estudo
da presente pesquisa. Primeiramente, o olhar comparativo do fenômeno da
inacusatividade em PB e no Inglês permite apontar para a restrição, no inglês, à
construção inacusativa na ordem VS. Tal impossibilidade é desfeita, porém, em alguns
contextos, diante da presença do pronome não referencial à frente do verbo. Mostra,
ainda, a respeito das construções passivas, a restrição à construção XVS em que (S)
seja um sujeito pleno, permitindo apenas orações encaixadas. Por outro lado, a
descrição do fenômeno mostra como no PB, uma língua a priori [+pro-drop], constata-se
a possibilidade de construções inacusativas nas ordens SV e VS, tanto no padrão lexical,
quanto no padrão de passividade.
Diante do apresentado, retomamos às principais perguntas que se colocam
nesta tese acerca do por quê alunos brasileiros utilizam sujeitos invertidos numa língua
SV rígida e em que contextos de uso uma ou outra ordem é favorecida. Nesse sentido,
complementamos tais questões com uma pergunta final acerca das possíveis
adaptações sintáticas que possivelmente adéquem as construções (X)VS aqui estudadas
às exigências de uma língua de sujeitos obrigatórios.
2.9 A relação entre a ordenação vocabular e a estru tura informacional na
aquisição da segunda língua: estratégias e restriçõ es
Diante do quadro apresentado, podemos afirmar que a ordenação dos
elementos na oração tem na perspectiva linguística funcionalista papel relacionado à
função comunicativa que eles desempenham no nível do discurso. Assim, o objetivo
geral da análise linguística funcionalista é mostrar como as pessoas dominam formas e
estratégias para relacionar adequadamente o relevo discursivo a intenções
comunicativas e que tal habilidade se torna particularmente importante se pensarmos
70
que a tipologia das línguas, embora reflita certa universalidade de uso dessas formas e
estratégias na construção do discurso, também revela diferentes formas de organização
textual, considerando-se aqui não apenas diferenças de ordem semântico-pragmática,
mas, em particular, de restrições sintático-lexicais.
É inegável, portanto, o fato de que os procedimentos de organização funcional
da sentença, aos quais os usuários de uma língua recorrem, estão submetidos a
restrições e regras sintáticas específicas de cada língua. Cabe, então, reconhecer que as
estruturas que participam da organização do discurso serão sempre mapeadas pelos
traços sintáticos próprios de cada sistema.
Neste ponto, então, convivem, nem sempre de modo harmônico, de um lado,
a constatação de que a ordenação dos elementos está relacionada a estratégias
comunicativas de focalização, ênfase, contraste, dentre outras, e do outro, o
reconhecimento de que a ordenação vocabular se encontra, em certo alcance,
sintaticamente restringida.
No que tange aos interesses sobre o que ocorre no percurso aquisitivo de
uma L2, deve-se contemplar, dentre outros aspectos, de que forma o falante manifesta
em seu discurso estratégias de organização da informação tendo em vista objetivos e
intenções. Fato é que o manejo de técnicas tais como a passivização, o uso de
topicalizações, focalizações, deslocamentos e posposições, por exemplo, pode compor
parte de uma competência não apenas sintática, mas, antes, avançada de comunicação
na L1 que pode favorecer a negociação de significados também em textos de L2.
Provavelmente, grande parte das estratégias pragmático-discursivas utilizadas no
discurso humano sejam, em certa medida, universais, por estarem relacionadas à nossa
cognição e ao modo como o homem percebe e atua sobre o mundo. As experiências
vividas pelo ser humano levam-no a formar esquemas cognitivos que podem ser comuns
às línguas e tal fato pode se constituir em uma importante ferramenta para a facilitação
da negociação dos sentidos e significados no discurso em L2.
71
As diferenças formais existentes entre as línguas podem, entretanto, se
tornar, restrições sintáticas para a construção do discurso em L2, ao menos quanto ao
uso de construções aceitáveis na LA, seja no nível sintático, pragmático ou discursivo, se
pensarmos que determinadas estruturas podem se tornar desvios na sintaxe da L2,
comprometendo o processo comunicativo global.
Não se pode garantir, por exemplo, que a questão da informatividade, o nível
das estratégias de organização da informação tida como nova, inferível, ou velha, não
seja comprometida no discurso em L2, devido aos diversos desvios possivelmente
existentes entre a sintaxe da L1 e da L2 - assumindo-se aqui que a sintaxe da L1 e as
estratégias pragmático-comunicativas próprias desse sistema possam ser transferidas ao
longo do processo de aquisição da L2.
Assumo então, neste trabalho, que a sintaxe das línguas reflete também,
independentemente de questões relacionadas à hipótese de sua autonomia, um
conhecimento subjacente que diz respeito à forma como o falante deseja organizar seu
discurso, a partir das possibilidades estruturais por ela licenciadas. O conhecimento de
um segundo idioma diz respeito, portanto, não somente à aquisição de questões lexicais,
estruturais e sintáticas das línguas adquiridas, mas também à forma como a sintaxe
viabiliza a distribuição da carga informacional, e por fim à própria construção do discurso
em L2, seja ele oral ou escrito, nas diferentes possibilidades de gêneros discursivos
existentes. As recentes teorias sobre os gêneros apontam para, dentre outros aspectos,
a historicidade e herança do seu uso no que diz respeito, inclusive, ao uso de
determinadas construções e estratégias comunicativas próprias de cada um. Estas
seriam considerações importantes para o ensino de uma L2, posto que o domínio desse
tipo de conhecimento se trata de uma ferramenta poderosa de inserção social e de, em
última análise, exercício de poder.
Assim, considerando o que acontece no processo de empacotamento
discursivo (packaging) em L2, ou seja, como o fluxo informacional se comporta ao longo
72
da construção do texto, partimos do pressuposto de que qualquer estudo que se dedique
a esse entendimento não pode acontecer desassociado de uma abordagem
eminentemente sintática, tanto no que diz respeito à organização da sintaxe formalmente
abordada, quanto à organização da sintaxe funcionalmente motivada, ou seja, que use a
pragmática e o discurso sem fugir do embate sobre as determinações estruturais das
línguas.
Um procedimento que conjuga variáveis de diferentes naturezas pode permitir
a explicação de fenômenos, por vezes de difícil entendimento, que emergem no curso
aquisitivo de uma L2 e que compõem um sistema linguístico próprio, com fronteiras não
bem definidas em relação às características da L1 e as da LA, seja no nível, fonético-
fonológico, lexical, morfossintático, ou discursivo-pragmático, aqui, chamado de
Interlíngua.
2.10 O conceito de Interlíngua
Sabe-se que diferentes aspectos atuam sob a condição de aquisição de uma
segunda língua. Questões especificamente linguísticas, ou mesmo variáveis, tais como
afetividade, cognição, motivação e idade, atuam no processo de aquisição, contribuindo
ou interferindo, na produção do aprendiz. Estes fatores favorecem a hipótese de um
sistema intermediário entre o da L1 e a o da LA e colocam em cheque a noção acerca de
um processo de aquisição de L2. A este sistema, Selinker (1972) chamou de Interlíngua
e diz respeito a efeitos translinguísticos presentes na aprendizagem/aquisição da L2.
Segundo Moita Lopes (1996:114), para Selinker, a Interlíngua é na verdade
uma “estrutura psicológica latente no cérebro que é acionada no processo de
aprendizagem da L2. Esse processo levará ao desenvolvimento do sistema lingüístico
derivado da tentativa do aluno em produzir a língua alvo (LAL).” Tal sistema é
exatamente o que Selinker chama de interlíngua.
73
A observação de um caráter variável e ao mesmo tempo sistemático de
algumas formas não relacionadas à L1 ou à L2 trouxe a necessidade de não analisarmos
as “produções do aprendiz como uma seqüência de formas enganadas incoerentes”, mas
como formas pertencentes a uma “sistemática subjacente, revelada tanto pelos erros do
locutor quanto pelos seus não-erros, enfim, pelo conjunto de seu discurso (cf. Vasseur,
2006,88)”. Sendo assim, o interesse por este sistema intermediário se revela expoente
na definição de Corder (1973,151) de dialeto idiossincrásico, na de sistema aproximativo
de Nemser (1971) e finalmente no de Selinker (1972) de Interlíngua.
Por consequência, a melhor forma de pesquisar este sistema linguístico seria
pela abordagem direta do discurso escrito e oral do aluno, incluindo-se, neste caso, seus
erros, pois somente através de dados reais de produção poder-se-ia acessar a real
competência linguística do aprendiz, além de todos os fatores que estariam envolvidos
no processo de aquisição (cf. Brown, 1994: 204). Ellis (1997:33) resume, assim, o
conceito de interlíngua como um “sistema lingüístico particular”, o que significa que é
específico para cada indivíduo. O autor aponta premissas sobre a aquisição de L2 e
interlíngua, algumas listadas aqui (cf. Ellis, 1997: 33,34):
a) A gramática do aprendiz é permeável, ou seja, ela é passível
de influências externas (o próprio input) e de influências internas
que dizem respeito a omissões, processos de generalizações e
de erros de transferência,
b) A gramática do aprendiz é transicional. O aprendiz muda sua
gramática de tempos em tempos, acrescentando regras,
desprezando outras e reestruturando todo o sistema. Isto resulta
num processo denominado interlanguage continuum o qual
significa que o aluno constrói uma série de gramáticas mentais
ou interlínguas quando gradualmente aumenta a complexidade
de seu conhecimento da L2 e
74
c) O aprendiz emprega várias estratégias de aprendizagem para
desenvolver sua interlíngua. Os diferentes tipos de erros que
cometem refletem diferentes estratégias de aprendizado. Por
exemplo, erros de omissão sugerem que ele está de alguma
forma simplificando a tarefa de aprender, ignorando fatores
gramaticais que ele não está preparado para processar. Erros
de generalização e transferência também podem ser vistos
como estratégias de aprendizado.
Brown (1994, 211-213), baseado em Corder (1973), propõe quatro estágios,
relativamente sistemáticos, que compreenderiam o percurso desenvolvimental da
interlíngua. Ele delineia este percurso a partir de observações quanto ao tipo de ‘erro’
observado na produção de diferentes indivíduos, de diferentes L1s, em processo de
aquisição de uma L2. O autor esclarece, porém, que estabelecer o processo
desenvolvimental da interlíngua apenas baseando-se nos erros dos aprendizes não
resumiria vários outros fatores envolvidos na aquisição de uma L2, tais como questões
sociolinguísticas, estratégias funcional-discursivas, ou mesmo não verbais (cf. Brown,
1994, 213).
O primeiro estágio compreende o período em que o aprendiz ainda não
reconhece, ao menos de modo mais abrangente, a existência de uma ordem para
determinada classe de elementos, o que o leva a produzir erros inconsistentes,
randômicos e variáveis a respeito de uma mesma construção.
O segundo estágio é classificado como estágio emergente e compreende o
período em que o aprendiz passa a apresentar certa consistência de produção linguística
na L2. Ou seja, o aprendiz reconhece a sistematicidade da língua e mostra a
internalização de algumas regras, embora estas regras possam ser incorretas para
determinados padrões da língua. Neste estágio o aprendiz ainda não é capaz de
reconhecer determinadas construções equivocadas, muitas agramaticais, mesmo que
indiretamente apontadas pelo interlocutor.
75
O terceiro estágio diz respeito ao período em que a produção do aprendiz é
ainda mais consistente com o sistema da L2. Segundo o autor, nesta fase,
diferentemente do que ocorre na anterior, o indivíduo reconhece seus erros quando são
evidenciados na interação.
O último estágio aponta para a estabilização do sistema da interlíngua, o que
pode ser entendido pelo conceito de fluência e domínio da capacidade de utilização da
língua como ferramenta interacional. O indivíduo é capaz de corrigir seus próprios erros,
independentemente de possíveis indicações externas sobre o mesmo. Neste estágio,
que prevê a estabilização do sistema em L2, também podem ocorrer erros que não são
mais percebidos pelo falante e que indicam o fenômeno, classificado por Selinker e
Lamendella (1979) de fossilização. A fossilização fala a favor da hipótese do período
sensível (cf. Capítulo 3 desta tese), colocando a tese de aquisição de L2, nos moldes
biológicos da aquisição da L1, em posição menos favorecida.
2.10.1 O uso da ordem (X)VS em EL2: uma evidência e m favor da
hipótese da Interlíngua
Recapitulando, a estrutura argumental das predicações verbais permite a
identificação de diferentes relações semânticas relacionadas às exigências de seleção
impostas pelo verbo. No que diz respeito à visibilidade do papel temático do único
argumento das construções monoargumentais, podemos dizer que ela é garantida pela
atribuição do Caso Nominativo (Caso Nom), o que pode ser tratado, tipologicamente, a
partir das observações de Comrie (1981), ou em consonância com os princípios da
Teoria do Caso (Mioto et alli, 2004). A observação cuidadosa acerca do papel temático
do item sujeito dessas construções, como visto, nos permite, ainda, identificar a
existência de elementos sujeitos detentores de papel temático ora AGENTE, ora
TEMA/PACIENTE. Esta é, então, uma constatação importante sobre a natureza das
76
construções monoargumentais por estabelecer a existência de dois grupos distintos
pertencentes ao um mesmo universo, tradicionalmente classificado de verbos
intransitivos.
O conjunto de informações até aqui apresentados sobre o fenômeno da
inacusatividade e do papel funcional e gramatical das ordens SV/VS no PB contribui para
o desenvolvimento da presente pesquisa sobre a ocorrência de construções ativas e
passivas (X)VS, quase sempre, agramaticais em EL2. Como dito, por hipótese geral, o
uso dessa construção reflete a transferência para o EL2 da estratégia sintático-discursiva
relacionada ao uso da construção VS em PB: a de introdução de elementos [+Foco] no
discurso, além da influência direta de aspectos formais referentes à sintaxe do inglês, a
qual, por ser considerada uma língua [-pro-drop], exige o preenchimento da posição não
argumental à esquerda de construções inacusativas.
O encontro de características provindas de diferentes fontes aponta para a
atuação das gramáticas da L1 e da L2 na formação da gramática do aprendiz, a
Interlíngua, entendida aqui como uma L3. Na medida em que a ordem (X)VS emerge no
contexto de aquisição de uma língua SV, percebemos, grosso modo, a atuação da L1,
via processo de transferência, associado a uma adaptação sintática de preenchimento da
posição à esquerda do verbo, por influência da L2, apontando para um processo de
supergeneralização27.
27 Apresentamos uma discussão mais específica sobre transferência e generalização no Capítulo 3.
77
CAPÍTULO 3. A LINGUÍSTICA DA AQUISIÇÃO DE L2: PROPO STAS
3.1 Introdução
O avanço das pesquisas de aquisição de segunda língua (SLA28) ainda não
possibilitou a explicação da questão em sua amplitude. Linguistas há muito debatem
sobre a influência tanto de um suposto conhecimento linguístico anterior do aprendiz
(Chomsky, 1961), como de sua competência comunicativa (Hymes, 1967, 1974), ao
longo do processo de aprendizagem. Na verdade, sobre o processo de
aquisição/aprendizado de um segundo idioma, o que as pesquisas mostram é que ele
ainda se revela um importante e vasto campo de investigação, longe de ser plenamente
explicado.
Teorias de SLA buscam o entendimento do desenvolvimento da interlíngua,
além do papel exercido por universais linguísticos, comunicativos e dos ambientes de
aprendizagem/aquisição. Por serem em grande número, em geral, elas divergem e
terminam por fornecer descrições parciais de um fenômeno maior. A recente literatura
em SLA, entretanto, já fornece evidências fortes sobre os fatores mais salientes para a
formulação de qualquer teoria de aquisição.
Seriam vários os fatores relevantes para a formação de uma teoria nessa
área. Uma teoria de SLA deve considerar, para além de fatores de ordem estritamente
linguísticas e comunicativas, o papel do aprendiz e suas especificidades e habilidades de
aprendizado (p.ex.: inteligência), além de sua motivação e atitude frente ao idioma,
fatores que interagem e influenciam o desenvolvimento da interlíngua (cf. Long,
1993,479).
Além desses, os papéis do input da L2 e do ambiente em que acontece o
processo de aquisição também são tidos como relevantes para o processo de formação
28 Second Language Acquisition
78
da interlíngua. Por fim, destaca-se o papel da L1 através de transferências que podem
auxiliar, ou mesmo dificultar, o processo aquisitivo e a interação verbal na LA.
Todas essas variáveis apontam para a própria conceituação da interlíngua,
visto que aprendizes de diferentes idades e graus de instrução traçam trajetórias
desenvolvimentais semelhantes do sistema da L2, apresentando sempre uma
variabilidade aparentemente caótica, embora governada por algum sistema subjacente
de regras (c.f.: Long, 1994: 480).
Na presente investigação, assumimos a perspectiva de que o indivíduo
aprende uma L2, e não exatamente a adquire, sendo, por consequência, a gramática
emergente nesse contexto, por mais próxima que possa ser do modelo nativo, um
conjunto estrutural-discursivo particular e não biologicamente/cognitivamente
determinado tal como seria a L1. Este sistema, em alguma medida, dependendo dos
fatores atuantes em sua formação, apresentará características da L1 do aprendiz e da
LA, além de estruturas nem sempre aceitáveis em nenhum dos dois sistemas, fenômeno
comum nesse tipo de gramática.
Nesse sentido, a interlíngua seria um recorte adaptado de um sistema
linguístico, o qual é, potencialmente falando, um modelo a ser adquirido/aprendido. Seria
ela construída em diferentes fases e com características fonético-fonológicas, lexicais,
morfossintáticas e discursivas que muitas vezes são distorções e agramaticalidades na
L2, podendo comprometer a inteligibilidade do processo comunicativo.
Portanto embora, ao longo deste capítulo utilizemos o termo ‘aquisição’,
ressaltamos que não entendemos o processo aquisitivo de uma L2 como possível, dado
ser incompleto, já que os usuários de L2 não fornecem evidências de que, de fato,
adquiram, de modo absoluto, uma gramática, além de sua própria L1, o que seria
evidenciado, como já dito, por fatores de diferentes naturezas, como a identidade e
língua do usuário, a memória, a cognição, além das experiências linguísticas e de mundo
que parecem atuar no processo de aprendizado de uma L2.
79
3.2 A Transferência L1-L2
A questão da transferência L1-L2 é controversa no sentido de sua aceitação
quanto a ser importante para os estudos de SLA. Para muitos linguistas a transferência
nem sempre explica diferentes fenômenos presentes na aquisição de diferentes línguas
(cf. Odlin, 1989,3). Apesar de possíveis contra-argumentos para a importância de
estudos de transferência, pesquisadores na área de SLA reconhecem sua relevância e
mostram que, embora talvez não expliquem todos os fatores relacionados à questão da
aquisição, eles representam forte contribuição para o entendimento de várias questões
relacionadas ao assunto. De certa forma, as pessoas recorrem a estruturas cognitivas
complexas para dar conta de suas necessidades comunicativo-interacionais em L2 e a
transferência é um caminho que quase sempre surge para a execução desta tarefa.
O conceito de transferência sofreu transformações ao longo da história dos
estudos de SLA. Data da proposta audiolingual, de base behaviorista, o conceito de
interferência, mais tarde reformulado, no âmbito da proposta inatista, por transferência
paramétrica. Essa proposta é hoje reconhecida por ser, ao menos parcialmente,
responsável pela formação da interlíngua. Diferentemente, como já dito, Givón (1979)
ainda abarca, no que formula por modo pragmático de comunicação29, forças
pragmáticas oriundas do discurso presentes na sintaxe do segundo idioma. Enfim,
propostas formalistas, funcionalistas, sociais e cognitivas já se propuseram a explicar,
dada sua importância, a questão da transferência para os estudos e teorias de SLA.
Divergências nos estudos de transferência são originárias, por exemplo, da
impossibilidade de generalizações sobre a discussão aquisição/aprendizado da L2.
Questões tais como a Hipótese do Período Crítico (Lenneberg, 1967) e a da Fossilização
(Selinker & Lamendella, 1979) podem evidenciar tais diferenças.
29 Cf. Capítulo 2
80
3.3 Transferência, Interferência, Generalização e S upergeneralização
A literatura de SLA apresenta dois termos que se destacam como fenômenos
recorrentes na aquisição de uma L2: a transferência e a generalização. Embora sejam
processos distintos, eles se aproximam no sentido de serem manifestações de um
mesmo princípio: o do encontro de material já adquirido com o material em processo de
aquisição.
Para Brown (1994,90), a transferência é um termo geral que abarca o uso de
conhecimentos prévios no aprendizado da L2. Quando o conhecimento auxilia o
aprendizado, temos transferência positiva, mas quando o deturpa, é considerada
negativa e é traduzida, principalmente pela abordagem behaviorista, como interferência.
No passado muitos entendiam a aquisição de um segundo idioma como a superação de
efeitos ‘negativos’ transpostos da L1.
Neste cenário, emerge a Hipótese da Análise Contrastiva (CAH30) que,
enraizada na noção behaviorista de condicionamento de hábitos e na abordagem
linguística estruturalista vigente em sua época, apontava a interferência da L1 como o
fator inibidor mais importante para o comprometimento do aprendizado de uma L2. Para
a CAH, uma abordagem científica e estruturalista das duas línguas em questão permitiria
apontar suas diferenças e contrastes e assim prever o que poderia ser objeto de
dificuldade para o aprendiz (cf. Brown, 1994,193). Da mesma forma, seriam previsíveis
ambientes que não favoreceriam a interferência e não dificultariam a aquisição. Logo, a
influência da língua materna representaria a influência de hábitos anteriores do aprendiz,
alguns potencialmente úteis e outros potencialmente perigosos para o processo de
aquisição.
30 Contrastive Analyses Hypothesis
81
A generalização aponta para o papel do indivíduo como ator importante em
seu próprio processo de aprendizagem. A partir de regras e conhecimentos já adquiridos,
o falante de uma L2 poderá apresentar dados novos no uso da LA, sem
comprometimento de sentidos por não serem erros.
A partir dos anos 70, segundo Odlin (1989,17), a análise contrastiva passa a
ser questionada, principalmente devido à evolução dos estudos empíricos sobre
transferência e de análise de erros. Dentre as causas para seu questionamento
apontamos:
a) as diferenças entre línguas que nem sempre representam importante
dificuldade de aprendizado;
b) a ocorrência de erros que não parecem ser explicados por influência da
L1, mas por universais linguísticos empíricos;
c) a ocorrência de erros que não parecem ser explicados por influência da
L1, mas por influência de como o aluno é ensinado - erros induzidos (cf. Stenson, 1974) -
e
d) a ocorrência de erros espontâneos – overgeneralizations.
Assim, apesar da CAH apresentar evidências de influência da L1, a
comparação da L1 com a LA só seria útil se feita para explicar a previsibilidade de
ocorrência de certos tipos de erros, e ainda assim, segundo Odlin (1989,19), sem dados
reais dos erros dos aprendizes, pouco pode ser realmente considerado previsível.
Se a generalização diz respeito a nossa habilidade de, a partir de inferência
de regras e leis aprendidas, projetar conhecimentos anteriores em contextos novos em
que as regras se adaptam, o termo overgeneralization (supergeneralização de regras) é
usado na referência de aplicação de regras em contextos em que elas não são
necessárias, ou mesmo permitidas.
82
A transferência, positiva ou negativa, a generalização e a supergeneralização,
em certos estágios da aquisição de L2, podem, ou não, ser processos considerados
específicos dessas fases, embora não exclusivas do curso de aquisição de L2, já que
estudos em diferentes línguas mostram a generalização e a supergeneralização, por
exemplo, acontecendo com aprendizes de diferentes L1.
Além do mais, muitos linguistas defendem que, se na aquisição da língua
materna o indivíduo apresenta diferentes estágios desenvolvimentais, este mesmo fato
poderia sugerir a influência de outros fatores no processo de SLA, tais como a atuação
de universais de aquisição os quais seriam também responsáveis por estágios
desenvolvimentais da L2.
3.4 Visões sobre a Transferência
A transferência ainda pode ser tratada segundo a Teoria de Princípios e
Parâmetros (Chomsky, 1981), a partir de pressupostos de orientação sociolinguística ou
de abordagens comunicativas (cf. Givón, 1979).
3.4.1 Gramática Universal, Parâmetros e Transferênc ia
A proposta gerativista trata da possível atuação da Gramática Universal e da
transferência paramétrica na aquisição de uma L2.
Como vimos no capítulo anterior, para a teoria formal, a arquitetura da
linguagem é inata, é inerente ao homem e responsável pelo aprendizado das línguas, via
exposição prévia da criança aos dados do input do L1.
A aquisição acontece, então, pela exposição à língua e graças a um
dispositivo de aquisição da linguagem (LAD31), também específico do homem. Segundo
White (1993:452), a GU consiste em princípios fixos que perpassam o conhecimento do
falante nativo e em parâmetros, os princípios variantes de língua para língua. A
31 Language Acquisition Device
83
aquisição é determinada, como visto, pela exposição à determinada língua, o que
também funciona como ‘gatilho’ para a fixação de seus parâmetros específicos.
Esta proposta é postulada na Teoria da Regência e Ligação - Government
and Biding (Chomsky, 1981) - e atrai especial atenção dos estudiosos no campo de
aquisição de L2, por fornecer subsídios para explicar o conhecimento subjacente do
falante, sua ‘competência linguística’ e para investigar a atuação da GU no processo de
aquisição.
Se o argumento da ‘pobreza de estímulo’ justifica a atuação, ou mesmo
existência, da GU na aquisição da L1, segundo gerativistas, ele também poderia justificar
sua existência na aquisição de uma L2, visto que, assim como o falante nativo apresenta
um nível representacional na língua materna anterior ao seu input, assim também o faz o
aprendiz de uma L2.
White (1993,453) mostra que é inevitável considerarmos a possível
transferência de fatores da L1 ao longo do processo de SLA mesmo em uma abordagem
em que se considere a atuação da GU. Ainda assim, tal como ocorre na aquisição de
uma L1, em uma abordagem que contemple a atuação da GU na aquisição de uma L2,
pode estar implícito o pressuposto de que a atuação dos princípios universais não seja
acompanhada de fenômenos que remetem à questão da transferência.
De qualquer forma, segundo a autora, traços paramétricos podem significar a
explicação para a interpretação de diferenças entre a L1, a L2 e a interlíngua.
Assim, as propostas vigentes seriam duas:
a) se a GU estiver disponível na aquisição da L2, a partir dos parâmetros da
L1 poderíamos explicar e prever fenômenos de transferência, pois os indivíduos
poderiam transferir o valor dos parâmetros da L1 para a L2;
b) por outro lado, a transferência também pode ser argumento contra a
presença da GU na SLA, se considerarmos que, se os aprendizes somente são capazes
de adotar os princípios e parâmetros da L1, isso indicaria que o suposto acesso à GU
84
seria parcial, ou mesmo nulo, determinando uma diferença importante entre os processos
de aquisição de L1 e de L2.
A teoria inatista passa a ser, portanto, uma possível fonte para o
entendimento da questão da transferência na aquisição de uma L2, por inserir, ou não, a
atuação da GU no conjunto de fatores que podemos apontar como relevantes na SLA.
Este fato retoma a discussão acerca da aquisição ou aprendizagem de uma L2, já que a
não atuação da GU seria a explicação a favor do aprendizado e não aquisição de uma
língua materna.
3.4.1.1 A Transferência Paramétrica
As pesquisas formalistas recentes sobre SLA enfatizam, então, a possível
influência dos parâmetros da L1 na aquisição da L2. Contudo, os pesquisadores
gerativistas diferem, em termos gerais, quanto a precisa influência da L1 no campo da
aquisição (White,1993,454). A primeira diferença diz respeito à crença de que os
parâmetros da L1 sejam a base para a interpretação dos dados da L2. Ou seja, a crença
de que eles estão presentes na interlíngua do aprendiz até que ele tenha este parâmetro
remarcado segundo a perspectiva da língua adquirida. A segunda diz respeito à crença
de que os parâmetros da L1 não são efetivamente transferidos e realizados na
interlíngua, mas possuem um efeito de tardiamento da marcação do parâmetro da L2.
Neste caso, não fica claro qual é, então, a natureza da interlíngua, se ela é influenciada
pela GU, pela L1, ou outra possibilidade.
Associar a questão da transferência L1-L2 à TPP poderia parecer mera
atualização da antiga CAH, porém, diferentemente da CAH, a Teoria da Regência e
Ligação oferece uma perspectiva genuína para a questão da transferência com
diferentes predições que não ficam no nível superficial das semelhanças e diferenças
entre as línguas.
85
A associação da teoria gerativista à questão da transferência L1-L2 difere das
abordagens anteriores em vários aspectos, em termos de (cf. White, 1993, 455):
a) níveis, já que a teoria da gramática assume que a transferência pode
atingir diferentes níveis representacionais sintáticos;
b) grupo de propriedades, já que alguns parâmetros reúnem conjuntos de
propriedades e, portanto, adotar a possibilidade da transferência paramétrica significaria
adotar a transferência de tais conjuntos;
c) interação paramétrica, pois, aceitar que a GU atua na aquisição da L2
significa aceitar a presença de parâmetros, não necessariamente relacionados à L1 ou à
L2, que podem compor a interlíngua, fazendo desta um sistema linguístico atípico em
relação às duas e
d) considerações de aprendizagem, relacionadas, por exemplo, ao fato de
que o princípio de marcação pode ser adotado para auxiliar nas predições sobre as
formas que são ou não favorecidas na aquisição (p. ex. Eckman, 1977).
3.4.1.2 Propostas Gerativistas de Teoria de Aquisi ção em L2: um resumo
Segundo a literatura, é possível classificar as hipóteses defendidas nos
trabalhos em SLA de linha gerativista, tendo por base as duas questões aqui
apresentadas: o possível acesso à GU e a questão da transferência paramétrica, como
vemos abaixo (apud Garrão Neto, 2006, 7):
(a) No Transfer / No Acess – hipótese defendida por aqueles que não
acreditam na atuação da GU, tampouco na transferência paramétrica (e.g.: Clashen &
Muysken, 1986)
(b) No Transfer / Full Access – hipótese de que há apenas atuação da GU no
processo de aquisição e nenhuma transferência da L1(cf. Platzack, 1996)
86
(c) Partial Transfer / No Access – hipótese de que há transferência parcial da
gramática da L1 sem atuação da GU (cf. Eubank, 1996)
(d) Partial Transfer / Full Access – hipótese de que há transferência parcial e
acesso total à GU (cf. Vainikka and Young-Scholten, 1994)
(e) Full Transfer / No Access – hipótese de que há transferência total e
nenhum acesso à GU (cf. Sauter, 2002)
(f) Full Transfer / Full Access – hipótese de que há transferência total da L1,
além de total acesso à GU (cf. Schwartz, 1998).
Como vemos, dentro de uma mesma linha teórica há diferentes visões a
propósito de um mesmo assunto. Venturi (2006,121) explica que:
[a]pesar de haver opiniões divergentes entre os próprios adeptos da teoria gerativista, uma explicação mais ou menos comum tem sido a de que a disponibilidade à GU não é tão óbvia em casos de aquisição de segunda língua por adultos. Ou seja, a aquisição de segunda língua depois da adolescência não é mais função da GU, mas é um processo cognitivo de aprendizagem de habilidades. Daí, explicam-se as fossilizações e julgamentos limitados de gramaticalidade.
Tudo isso mostra que a busca de explicações que abarquem um número
importante de fatores relacionados à transferência na SLA não é simples. Tal busca
talvez nem seja possível se não levarmos em conta, além de fatores linguísticos, fatores
cognitivos e externos ligados à situação comunicativa e de natureza extralinguística.
Apenas assim, em conjunto, tais fatores talvez contribuam para a formulação de uma
teoria abrangente de aquisição/aprendizagem de L2, por contemplar as diferentes
variáveis relacionadas ao assunto.
Apresento tal argumentação para justificar minha opção por uma proposta que
dê suporte não a uma visão de aquisição de L2, mas a de seu aprendizado, dada a
limitação da formação de uma gramática genuinamente idêntica a da LA.
87
3.4.2 A Transferência e a perspectiva da Sociolingu ística Variacionista
Um ponto importante para estudos de SLA diz respeito aos aspectos
sociolinguísticos envolvidos na produção da L2. Segundo Tarone (1988), observa-se os
seguintes tipos de variação no discurso aquisitivo em L2 (adaptado de Bezerra, 2003):
a) variação de acordo com o contexto linguístico;
b) variação de acordo com fatores psicológicos de processamento;
c) variação de acordo com o contexto social;
d) variação de acordo com a função da linguagem.
A variação no uso de formas semanticamente semelhantes mostra que talvez
a aquisição de determinada estrutura ainda não tenha ocorrido. Ao aplicarmos os
pressupostos teóricos da teoria variacionista a teorias de SLA, encontraremos,
inevitavelmente, instâncias de transferências explicáveis a partir de fatores que na L1
favorecem o uso de uma ou outra construção, influenciando a probabilidade de que
determinada forma também apareça no discurso em L2.
Aos fatores listados por Tarone (op.cit.) podemos ainda adicionar aqueles que
tradicionalmente compõem análises variacionistas: idade, sexo, comunidade de fala e
classe social. Tais fatores podem explicar, ao menos sugerir explicações, acerca das
instâncias de transferências, positivas ou negativas, presentes no discurso individual dos
aprendizes de L2.
Embora alguns teóricos acreditem que apenas a competência linguística seja
importante para o entendimento da aquisição de uma L2, descartando abordagens que
contemplem fatores relacionados ao desempenho do aprendiz, Mitchell e Myles
(1998,179) repudiam tal tendência e afirmam que o descarte da visão variacionista não
seria apropriado para uma discussão ampla de SLA, por ela fornecer, por exemplo,
valiosas informações sobre contextos de ocorrência de determinadas formas.
88
3.4.3 Transferência e Discurso
Como já apresentado no Capítulo 2 desta tese em From discourse to syntax:
grammar as a processing strategy (1979), Givón argumenta que o curso de aquisição de
L2 pode ser interpretado como um processo, ao qual o autor chama de sintaticização, em
que a linguagem se torna menos suscetível a forças pragmáticas e de necessidade de
comunicação, submetendo-se mais às pressões gramaticais da língua a ser adquirida.
Segundo o autor, esta é uma trajetória que parte do modo pragmático em direção ao
modo sintático de comunicação.
Givón (op.cit.) apresenta estudos diacrônicos que revelam processos pelos
quais passam as principais construções sintáticas das línguas. Tais processos, no campo
da SLA, consistem na passagem de estruturas originadas por motivações discursivas
que se tornam estruturas sintáticas cristalizadas, compactas e gramaticalizadas. Nessa
visão, a ordenação vocabular e a sintaxe são definidas a partir das necessidades
discursivas dos usuários e, portanto, são mais flexíveis por conta dos condicionamentos
discursivos, tornando-se mais rígidas após a fixação da gramática da L2.
Também nessa proposta, podemos supor que a transferência exerce papel
importante, visto que ela representa um processo estratégico-cognitivo presente no curso
de aquisição da L1 que é reutilizado em contextos de aprendizado de L2. O uso do
modo pragmático de comunicação está presente em estágios iniciais de aquisição de L1
e é transferido para a aquisição de uma L2 para ser utilizado de acordo com as
necessidades comunicativas dos falantes, independentemente das implicações formais
do idioma a ser adquirido.
O modo pragmático de comunicação estaria, então, presente nos processos
de aquisição de L1 e L2 e corresponderia a um modo comunicativo inicial, cuja trajetória
em direção ao modo sintático espelharia a trajetória das línguas em geral, em que
verificamos o obscurecimento gradual da iconicidade.
89
Assim, tendo como base Givón (1979), assumo que o discurso aquisitivo em
L2 se assemelha ao discurso aquisitivo em L1, o qual, por sua vez, se constitui em um
modelo mais dependente de estratégias comunicativas. Assumo que a L1 dos adultos e a
L2 de falantes fluentes também se assemelham no sentido de serem mais planejadas e
refletirem o uso de uma sintaxe menos frouxa, embora ainda suscetível, sob
determinadas condições, a usos de estratégias discursivas, comuns ao modo pragmático
de comunicação.
O aprendiz de uma L2 parece, então, se servir também de noções
pragmáticas de comunicação e não apenas de estruturas sintáticas propriamente ditas. O
modo comunicativo inicial traz à tona características do arcabouço pragmático/cultural
dos falantes e é utilizado em contextos que se assemelham aos que outrora eles foram
expostos, fazendo desse fenômeno uma instância de transferência. Falamos aqui de
situações de stress comunicativo, falta de background pragmático partilhado e contexto
imediatamente óbvio, situações que não propiciam discurso controlado, ou seja, mais
gramaticalizado ou sintaticizado.
Pode-se dizer, então, que no campo do fenômeno das transferências
linguísticas entre L1 e L2 também se encontra, além de questões fonético-fonológicas,
sintáticas e semânticas32, a transferência de aspectos discursivos, provenientes da L1,
que guiam o usuário da língua através do discurso e segundo suas intenções. Em suma,
parece que o próprio modo de comunicação pragmático, que permanece latente na
codificação linguística do falante nativo, também é transferido para o discurso em
segunda língua durante os diferentes estágios de estabilização da gramática da L2.
Falantes de um segundo idioma transferem para a L2 o uso do modo pragmático de
comunicação para dar conta de suas necessidades comunicativas.
32 Estudos recentes como os de Domingues (2002), Fragoso (2006), Marta (2004) e Marques (2004) tratam dessas esferas de transferência.
90
A análise sobre a transferência de traços da língua materna na aquisição de
uma segunda deve, assim, contemplar também questões do campo discursivo. Uma
teoria que deseja tratar do processo de aquisição de L2, a partir de uma perspectiva
global, não poderá se deter apenas ao nível sentencial, mas se organizar segundo o
princípio de que a linguagem é um “instrumento de interação social empregado por seres
humanos com o fim primário de estabelecer relações de comunicação entre
interlocutores reais” (Pezatti, 1994: 38). Isto também mostra a necessidade de
incorporarmos ao campo da SLA outras disciplinas e teorias que possam explicar melhor
as diversas questões relacionadas ao assunto. Foi assim que propostas
interdisciplinares, desenvolvidas principalmente no âmbito da Linguística Aplicada,
surgiram como fonte de investigação do fenômeno da aquisição em L2.
3.5 Transferência Sintática
A ordenação vocabular é tradicionalmente uma importante área de estudos de
SLA. Estudos sobre ordem contribuem não apenas para o entendimento de pontos
centrais quanto à transferência L1-L2, em si, mas também para o entendimento de
questões discursivas, de tipologia linguística e outros fatores envolvidos na SLA.
De acordo com Odlin (1989,85), grande parte das línguas apresenta as
ordens VSO, SVO ou SOV como ordenação básica, apesar de variarem em termos de
rigidez / flexibilidade de seus usos. Para o autor, o grau de rigidez de uso das formas
pode ser transferido no curso de aquisição de L2. Obviamente, isso fará com que
falantes de línguas com maior flexibilidade de ordenação possam apresentar o uso de
diferentes possibilidades de ordenações apesar da LA apresentar um sistema de
ordenação mais rígido.
Parece claro também que a rigidez de ordenação afeta não apenas questões
de produção, mas também de compreensão e inteligibilidade. O estudo de Gilsan (apud,
91
Odlin, 1989,87), por exemplo, mostra que falantes de inglês, aprendizes de espanhol
como L2, apresentam dificuldades de compreensão, associadas ao menor grau de
rigidez sintática da língua adquirida.
3.5.1 Discurso, Sintaxe e Transferência
Se, por um lado, em termos de percepção, o uso de ordenação mais rígida
auxilia a aquisição, por outro, a ordenação vocabular mais flexível pode sinalizar tentativa
de simplificação do processamento linguístico. A ordenação maleável pode indicar
possibilidades discursivas transferidas da L1 ou ainda indícios discursivos presentes em
todas as línguas (cf. Odlin, 1989:88). O trabalho de Freitas (2006), por exemplo, mostra
que o uso da ordem VS, em inglês, por aprendizes brasileiros, indica forte transferência
proveniente da L1 de um recurso discursivo de introdução de novos tópicos no nível do
discurso.
Sobre esse assunto, Odlin (op.cit.) afirma que o próprio termo “ordenação
vocabular livre” pode ser equivocado, se pensarmos que mesmo línguas de suposta
ordenação livre apresentam condicionamentos discursivos que favorecem determinadas
ordens em detrimento de outras33. Na verdade, os usos dessas ordens podem ser
explicados por motivações ou restrições específicas das línguas, em geral, transferidos
para o processo de SLA.
Algumas dessas restrições são evidentes nos limitados padrões de definição
de tópico discursivo . Vale lembrar que a noção de tópico não deve ser confundida com
a noção de sujeito, embora a interrelação entre estas entidades seja previsível e, de fato,
frequente. Deve-se, no entanto, estabelecer que a noção de tópico esteja, na verdade,
inversamente associada à noção de foco informacional, tanto na escrita quanto na língua
33 De acordo com o autor, estudos como o de Givón (1984) e Slobin (1982) podem demonstrar essa tendência. O trabalho de Freitas (2006) também trata desse fenômeno.
92
falada. O que o falante elabora acerca do tópico é denominado comentário e
frequentemente é organizado no discurso segundo a ordem tópico-comentário, a qual
também frequentemente coincide com a ordem sujeito-verbo em diversas línguas.
No que diz respeito à SLA, Odlin (1989,88) afirma que, para minimizar a
dificuldade de se estabelecer o tópico de determinado trecho discursivo, o falante-
aprendiz de uma L2 usa mais a ordem tópico-comentário em seu discurso. Conforme
mostra Givón (1984), quando o falante apresenta dificuldade de estabelecer um novo
tópico discursivo, ou quando ele prevê que o ouvinte possa ter essa dificuldade de
percepção, ele utiliza a estratégia de assegurar o papel do tópico no discurso e só então
apresentar a informação nova. Para Odlin, há diversas evidências de que aprendizes de
L2 em estágios mais iniciais de aquisição utilizem mais a ordem tópico-comentário.
Mesmo estudos que sugerem que esta seria transferência de um tipo de ordenação
comum na L1 não se constituem em contra-argumentos para esta afirmação, visto que
muitas pesquisas mostram que o uso da ordem tópico-comentário nem sempre aponta
para influência da L1 (cf. Odlin, 1989,89).
Tratando da interface transferência e sintaxe em L2, Givón (1984) estabelece
princípios universais de inclusão e continuidade de tópico, mostrando que o uso de
ordens tais como VS, VO, SV e OV pode não ser aleatório, mas motivado. Segundo
Givón (op. cit.), “[d]os tópicos plenos, expressos por uma palavra independente ou
pronome, os que forem mais contínuos ou previsíveis apresentarão a ordem comentário-
tópico (VS, VO), enquanto os menos contínuos e previsíveis apresentarão a ordem
tópico-comentário (SV, OV)”34.
Apesar desta tendência, translinguística, alguns trabalhos mostram que
muitos dos erros são reconhecidamente de transferência e que nem sempre estes
34 Of topics that are fully expressed as an independent word or pronoun, those that are most continuous/predictable will display COMMENT-TOPIC (VS, VO) word order; while those that are less continuous/predictable will display TOPIC-COMMENT (SV,OV) word order (Givón, 1984,126)
93
universais acompanham de modo amplo as questões de tópico em L235. Além do mais,
estudos comparativos de Granfors e Palmberg (apud Odlin, 1989,91) sugerem que
falantes nativos de L1 com ordenação vocabular rígida tendem a cometer menos erros
de ordenação do que falantes de línguas de ordenação mais flexível.
Propostas com orientações discursivas, sociolinguísticas e inatistas podem
não tratar da questão da transferência sintática da mesma forma. A questão da
transferência é discutida, entretanto, em todas as propostas teóricas, ora por orientações
mentalistas de aquisição de L2, ora por orientações acerca de universais de organização
discursiva típicas de estágios aquisitivos iniciais de L2. Em todas elas, por mais
adequados que possam parecer certos contra-argumentos, o que se sabe é que as
pesquisas que tratam da transferência de padrões de ordenação vocabular terão sempre
papel de destaque, quando contribuírem, tanto no plano teórico como no empírico, para o
entendimento da aquisição de uma L2.
Lembramos que associados aos fatores estruturais e discursivos que possam
estar envolvidos na transferência sintática, encontram-se também questões que podem
inibir a transferência. Fatores como o conhecimento de mundo, sistêmico e linguístico do
indivíduo, além de questões de natureza sociolinguística, podem representar forte
argumento contra certas propostas comparativas, como as análises contrastivas menos
analíticas, por representarem argumentos contra previsões formatadas.
35 Novamente, citamos o trabalho de Freitas (2006) por tratar especificamente de transferência negativa da ordem VS do português para o inglês como L2, sendo o sujeito desta construção uma entidade não tópica.
94
3.6 A Hipótese do Período Crítico e a Fossiliza ção
A Hipótese do Período Crítico (CPH36) de Lennberg (1967), embora não
originária de estudos linguísticos, é uma das mais utilizadas nos estudos de aquisição de
L1 e L2 (cf. Ferrari, 2007).
De acordo com Ellis (1997,67), a HPC supõe a existência de um período
específico, em que a aquisição de uma língua seja possível e que fora dele ela seria
dificultada e incompleta. Para justificar sua existência, toma-se por base a atuação
principalmente de mecanismos inatos na aquisição da linguagem, posto que este período
de tempo seria biologicamente determinado37.
Pesquisas em SLA apontam para a possibilidade de extrapolação da HPC
para contextos aquisitivos de L2. O pressuposto que tentam estabelecer é o de que
existe um período crítico para aquisição de uma L2, o qual ocorreria até a puberdade e
para além do qual aprendizes não seriam verdadeiramente capazes de adquirir a
gramática de uma L2, tal como um falante nativo (cf. Brown, 1994,53).
Existem evidências importantes que favorecem a incorporação da HPC no
estudos de SLA . Segundo Ellis (1997,68), indivíduos que emigram para os EUA antes da
adolescência adquirem o idioma nativo, alcançando níveis de proficiência, tanto no nível
da gramática quanto no fonológico, muitas vezes indistinguíveis da proficiência nativa, o
que não acontece com os que emigram mais tardiamente.
Existem, entretanto, evidências de que algumas pessoas não são
condicionadas por questões etárias no que concerne à aquisição de L2. O autor cita
casos de indivíduos que apresentaram performance oral em L2 similar a de nativos,
apesar de terem adquirido o idioma na fase adulta. Diversos fatos indicam que a L2 pode
ser adquirida com igual competência de uma L1, mesmo por adultos, se o input for 36 Critical Period Hypothesis 37 A hipótese é baseada em pesquisas que mostram como pessoas que sofreram acidentes antes da puberdade e perderam suas capacidades linguísticas as recuperaram após o acidente, o que não acontece com as que sofreram após a puberdade (cf. Ellis, 1997,67).
95
robusto e não ordenado. Casos como o do escritor Joseph Conrad, polonês, naturalizado
inglês, e que dominava perfeitamente a sintaxe da língua inglesa, tornando-se
romancista nesse idioma, favorecem essa possibilidade.
Portanto, tais considerações apontam para uma possível inadequação do
conceito de período crítico, ao menos, nos termos em que é costumeiramente
apresentado. Por exemplo, a aquisição do nível fonético e sintático acontece de modo
diferenciado, pois muitas vezes, embora indivíduos adultos apresentem aparente domínio
sintático do segundo idioma, no nível fonético-fonológico, eles continuam apresentando
indícios, quase sempre importantes, de transferência e influência da L138. Tantos indícios
contra uma formulação forte acerca da HPC fizeram com que hoje falemos em período
sensível em vez de período crítico para aprendizagem de línguas.
Com a hipótese do período sensível não seria possível ao indivíduo não
nativo adquirir, em termos de competência linguística, de modo integral e homogêneo a
L2, posto ser isso possível apenas nos primeiros anos de vida do homem. Dadas as
evidências relacionadas à melhor ou pior performance de indivíduos de diferentes faixas
etárias, postula-se que até determinada idade o ‘aprendizado’ de uma L2 seria mais
facilitado, quando comparado ao aprendizado de indivíduos mais velhos. A hipótese do
período sensível passa a ser interessante por não impor condições absolutas para a
explicação do processo de SLA, já que não impede a explicação de fenômenos menos
frequentes, como o caso ‘Joseph Conrad’.
Faz-se necessário abordar aqui o termo fossilização . Recorrente na literatura
em SLA e formulado inicialmente por Selinker (1972), o termo diz respeito ao uso
frequente, ao longo do desempenho da L2, de construções não apenas anômalas às
construções da L2, mas também de difícil alteração no discurso do aprendiz, não
importando o grau de exposição ao input. Trata-se de um conceito que se aproxima da
38 Podemos dizer que mesmo a sintaxe não reflete a real produção do nativo, sem consideramos ainda os níveis discursivos e pragmáticos que fortemente interagem e ainda podem apresentar indícios de transferência da L1. Eis aqui a justificativa para nossa posição em favor do conceito de aprendizado e não de aquisição de L2.
96
noção de estabilização, embora trate especificamente de formas incorretas e explicáveis
a partir de diversos princípios, dentre eles, pela transferência. Em outras palavras, a
fossilização apontaria para a cristalização da interlíngua, o que é evidenciado pela
dificuldade de que a gramática do aprendiz evolua em direção ao modelo a ser adquirido,
Propostas como a do período sensível e a da fossilização confirmam as
diferenças que se dão no campo de aquisição L1-L2 e mostram que a questão da
transferência pode atuar de modo diferenciado em cada nível da gramática e em cada
indivíduo, evidenciando a posição instável da noção de aquisição em detrimento à noção
de aprendizado.
3.7 Conclusões
Tendo em vista os pontos aqui apresentados, podemos dizer que qualquer
teoria de aquisição de L2 necessariamente deverá ser multidisciplinar. As descobertas
nesse campo de pesquisa mostram que é necessário conjugar variáveis linguísticas e
individuais de seus aprendizes. Em outras palavras, o estudo da SLA, deve ser
conduzido por uma visão ampla de análise dos fenômenos.
Segundo Long (1994,480), aqueles que buscam explicar a aquisição de uma
L2 por uma única perspectiva teórica tornam as análises potencialmente incompletas, ou
mesmo, ineficazes. Para o autor, oito condições para o desenvolvimento de uma boa
abordagem de SLA podem ser definidas, algumas citadas abaixo:
a) padrões desenvolvimentais de aquisição reconhecidos no discurso de
diferentes aprendizes e sob diferentes condições de aprendizado mostram que qualquer
teoria que não contemple a atuação de universais na relação língua/cognição é
incompleta ou inadequada.
b) diferenças quanto ao tempo de aquisição e o nível de proficiência de
crianças e adultos em situações de aquisição semelhantes exigem que a teoria
97
especifique diversos mecanismos desenvolvimentais, a partir da idade em que se inicia o
processo de aquisição, além das diferentes formas como esses mecanismos são
acessados.
c) uma teoria que explica o desenvolvimento da interlíngua com base
somente em fatores afetivos pode estar apenas lidando com questões mais ou menos
facilitadoras do processo de aquisição, mas que não necessariamente construam uma
teoria de aquisição.
d) o fato de que algumas construções linguísticas exigem atenção específica
para fins de aprendizado mostra que uma teoria que assegura o processo de aquisição
como fator inconsciente será inadequada.
e) a impossibilidade de aprendizado de alguns fenômenos da L2 apenas pela
evidência positiva mostra que uma teoria que defende que a aquisição acontece somente
pela exposição à língua alvo pode ser inadequada.
f) a sistematicidade da interlíngua, sua trajetória desenvolvimental e
produção sistemática de construções não típicas da LA indicam uma contribuição
cognitiva forte por parte do aprendiz e mostram a inadequação de teorias
comportamentais.
Savignon (1983,57) também defende uma visão múltipla do processo de SLA.
O autor agrupa as variáveis de aprendizagem em quatro macro categorias, apresentadas
abaixo (adaptado de Bezerra, 2003). Segundo o autor, ao abordarmos a questão da
aquisição de uma L2, devemos olhar para:
a) quem aprende, pois se deve considerar certas idiossincrasias do aprendiz,
tais como, sexo, idade, cognição e conhecimento de mundo em geral,
b) o que é aprendido, considerando-se a questão da competência
comunicativa, numa proposta ampla que englobe a competência gramatical,
sociolinguística, discursiva e estratégica,
98
c) onde se aprende, já que contextos e situações comunicativas impactam o
de aprendizado da L2 e
d) como se aprende, levando em conta estratégias e processos que permeiam
a aprendizagem (p. ex. o grau de identificação com a L2, estilos de aprendizagem e
abordagens de ensino).
Estas parecem ser propostas que alcançam certo equilíbrio quanto não
apenas ao papel da transferência, mas também ao processo aquisitivo mais geral: suas
implicações, restrições e fatores facilitadores. Mostram que a interatividade de fatores
envolvidos no processo será de real importância para seu entendimento, restringindo o
desenvolvimento de abordagens singulares, quase sempre limitadas, do assunto.
É calcado nesta visão, a de que a abordagem deve ser multidisciplinar e
abrangente, que proponho o modelo de análise desta tese, contemplando a atuação de
variáveis formais e funcionais que atuam no fenômeno estudado e apoiado, sempre,
numa visão de aprendizagem e não de aquisição de L2.
99
CAPÍTULO 4. A NATUREZA SINTÁTICO-DISCURSIVA DA ORDE M (X)VS NO PB E
NO INGLÊS
Para entendermos os aspectos gramaticais e discursivos relacionados à
ordem (X)VS no EL2, precisamos tratar do comportamento da cláusula VS no PB e no
inglês. Assim, apresentamos na sequência alguns estudos que possibilitam decifrar o
funcionamento dessa ordenação vocabular, cujo uso é amplamente definido a partir de
aspectos discursivos, vinculados, principalmente, à estrutura argumental inacusativa.
.
4.1 O estado da arte da ordem VS no PB: Duarte (19 95) e Spano (2002, 2008)
4.1.1 O sujeito nulo no PB: indícios de um process o de mudança
O estudo de Duarte (1993) mostra que o PB passa por um processo de
mudança favorecendo o preenchimento de sujeitos plenos ocasionado pelo surgimento
de novas formas pronominais retas, como você e a gente, que se combinam com formas
verbais não marcadas morfologicamente, gerando a redução do seu paradigma flexional.
Essa mudança, relacionada no âmbito da teoria gerativa à mudança do parâmetro do
sujeito nulo, levou a alterações na ordem dos constituintes da oração, favorecendo a
cristalização da ordem SVO.
Seria então de se esperar que a possibilidade de uso da ordem VS, uma
variedade de ordenação associada às línguas de sujeito nulo (Chomsky (1991);
Haegman (1994), Carnie (2007)), sofresse restrição de ocorrência. Entretanto, estudos
sobre a sintaxe do PB sugerem que as construções inacusativas ainda são suscetíveis à
ocorrência em ordenação VS, devido a pressões discursivas que favorecem a introdução
de elementos focais no nível do discurso, tal como posto pelo Princípio da Tensão Baixa
(Naro e Votre, 1999), fato relacionado à grade temática do predicador inacusativo
(Spano, 2002; 2008; Santos, 2008).
100
Os estudos de Duarte (1995 e 1999) também propõem que o PB seja
considerado, em relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo, uma língua em curso de
mudança paramétrica devido ao gradativo aumento de uso de sujeitos referenciais e não
referenciais. Sua hipótese inicial (Duarte, 1995), como dito, é justificada pelo
enfraquecimento da morfologia verbal no PB que faz com que os traços do pro nulo
referencial não possam ser identificados, gerando a necessidade de sua realização
fonológica.
A mudança do paradigma flexional se deve à substituição dos pronomes retos
tu39 e vós pelo pronome você, além da substituição de nós por a gente tomando por
flexão verbal a morfologia com desinência zero. Assim, o paradigma verbal flexional
reduzido do PB apresentaria a seguinte configuração:
(35) eu fal-o
você/tu fal-a
ele fal-a
a gente fala-a
vocês fal-am
eles fal-am
Tal mudança também faz com que a referência de 3ª pessoa não seja livre e
com que o uso de sujeito nulo permaneça apenas em contextos de língua escrita.
Tomando por base teórica o conceito de encaixamento de mudanças
(Weinreich, Labov e Herzog, 1968), o qual propõe que uma mudança estaria sempre
associada à outra, Duarte (1999) aventa a hipótese de que ao se tornar uma língua que
restringe sujeitos nulos, o PB pudesse apresentar uma possível segunda mudança em
curso: o aumento do preenchimento de sujeitos não referenciais de diferentes estruturas.
Com efeito, a autora observa que, além do preenchimento do sujeito lexical,
no PB, desenvolvem-se outras estratégias de preenchimento dessa categoria em
39 Mesmo nas variantes em que ‘tu’ é usado, ele aparece em variação com ‘você’ sem marcação morfológica do verbo: <-s>
101
contextos que favorecem a ordem VS. Em relação aos verbos inacusativos, a autora
mostra a tendência do preenchimento da posição à esquerda desse verbo por pronomes
demonstrativos não referenciais, por constituintes lexicais alçados para tal posição, o que
também ocorre em construções de verbos climáticos, além do aumento do surgimento de
estruturas de tópico. As sentenças (36a – 36c), retiradas de seu estudo, exemplificam
tais estratégias (Duarte, 1999):
(36a) cv Era em torno de dez pessoas.40
Isso era em torno de dez pessoas.
(36b) Sempre que ela come carne de porco, cv soltam [umas bolinhas na mão dela]
Sempre que ela come carne de porco, ela i solta [umas bolinhas na mãoti ]
(36c) Chove muito [nessas florestas]
[Essas florestas]i chovem muito [t]
A realização fonológica do sujeito por um pronome não referencial pelo
alçamento de um item lexical ou pela emergência de uma estrutura de tópico, nesse
sentido, atende às exigências a respeito do preenchimento da posição à esquerda do
verbo em línguas de sujeito obrigatório, formando orações de ordenação SV.
Ainda, Duarte (2002), em relação às construções existenciais, apresenta
resultados de pesquisas sobre a posição à esquerda dos verbos ‘ter’, ‘haver’ e ‘ver’ que
mostram o preenchimento desse espaço por expressões locativas, temporais, pronomes
demonstrativos e pessoais que ora se comportam como elementos adjuntos ao VP, ora
como sujeitos da oração, como observável abaixo (cf. Duarte (2002: 128):
(37) a. O Brasil não tem nenhum político
b. Você não tem nenhum político no Brasil.
c. Eu tenho um Xerox lá perto de casa que tira cópia baratinho.
40 Categoria Vazia
102
Esta tendência seria “um “efeito colateral” da mudança que começa a se
insinuar dentro do nosso sistema passando a concorrer com sentenças que ainda
mantém o sujeito expletivo nulo” (p125). A autora apresenta seus resultados sobre o
preenchimento dessa posição com verbos existenciais em uma amostra dos anos 80 e
outra de dados mais recentes, cujos números são apresentados na Tabela 1 (Cf. Duarte
(2005,127)):
Tabela 1 – Preenchedores da posição à esquerda ao verbo
Preenchedores Amostra 80 Amostra 2000
SNs complementos topicalizados
SADVs e SPs
SNs Locativos
Demonstrativo
Pronomes pessoais
38/471 (8%)
276/471 (59%)
64/471 (13%)
9/471 (2%)
84/471 (18%)
10/328 (3%)
169/328 (52%)
23/328 (7%)
4/328 (1%)
122/328 (37%)
Dessa forma, dentro dessa visão, o PB é atualmente considerado uma língua
prodrop parcial: embora apresente evidências de uma língua de opcionalidade de uso de
sujeito nulos, surgem, ao mesmo tempo, mudanças no sistema que estão associadas à
fixação da ordem SV(O). O preenchimento da posição à esquerda de verbos inacusativos
por um elemento não selecionado semanticamente é um exemplo dessas mudanças,
visto que é por esse processo que estruturas VS perdem sua configuração original em
favor da configuração SVS41. É preciso notar, no entanto, que o PB não desenvolveu um
pronome expletivo lexical, certamente pelo fato de, segundo alguns estudos, estar se
tornando também uma língua de tópico, o que não favorece a realização de elementos
sem conteúdo semântico nesse contexto (cf. Pontes (1987), Vasco (2006))42.
41 SVS – Sujeito sintático – Verbo – Sujeito semântico. 42 Os trabalhos citados propõem que o PB esteja se tornando uma língua de tópico discursivo, como o chinês, em que algum elemento figura à esquerda da sentença, introduzindo/enfatizando o assunto a ser tratado na sequência sentencial, independentemente da relação tópico-comentário.
103
A menor probabilidade de ocorrência de estruturas VS, considerando-se que o
surgimento de sujeitos pospostos é uma propriedade ligada às línguas de sujeito nulo [-
prodrop], serviria de evidência para tal processo de mudança, por ser esta, a ordem VS,
restringida em línguas de sujeitos obrigatórios. Estudos como os de Berlinck (1989,
1995), Spano (2002, 2008) e Santos (2008) sugerem que a inversão no PB sofre
diminuição inversamente proporcional ao aumento de ocorrência de sujeitos preenchidos.
O que se torna curioso no PB, entretanto, é o fato de que a ordem VS se mantenha
estável em relação a sua possibilidade de uso em estruturas com verbos inacusativos,
fato explicado por pressões relacionadas ao traço de definitude do SN sujeito, único
argumento da grade temática inacusativa, além de seu estatuto informacional.
4.1.2 Ordem VS e inacusatividade: uma particularida de do PB
Outro estudo sobre a ordem VS no PB é o de Spano (2002), no qual a autora
desenvolve uma pesquisa, à luz da sociolinguística paramétrica, em que também
relaciona o enrijecimento do sistema de ordenação do PB ao fenômeno do
preenchimento do sujeito (Duarte, 1993, 1999, 2002), a fim de verificar uma possível
influência do fenômeno nas construções inacusativas. A autora tem por primeira hipótese
a possibilidade de que a posição do argumento externo dessas construções possa ser
preenchida, tornando-a uma construção SV. Para tal, utiliza uma amostra de sincronia
antiga (70) do PE (Português Europeu) e do PB, além de outra sincrônica (90) do PB.
Seu objetivo é verificar o possível aumento de preenchimento da posição à esquerda do
verbo no período de vinte anos e constatar diferenças sintáticas entre o PB e PE que os
pudessem caracterizar como diferentes sistemas gramaticais.
104
Para o desenvolvimento de sua pesquisa, a autora relaciona variáveis
linguísticas sobre a natureza do sujeito pós-verbal43 a essas orações e verifica que no
que tange especificamente às construções inacusativas existenciais a ordem VS ocorreu
em cerca de 90% dos dados, nas três amostras verificadas, favorecidas pelos traços do
sujeito [-definido] e [novo]. Conclui-se, então, que este contexto ainda não seja afetado
pela mudança que favorece a ordem SV.
Spano (op. Cit.) elenca a ocorrência dos verbos existenciais, intransitivos e
inacusativos da amostra e adota uma subclassificação para os verbos inacusativos que
prevê, por exemplo, que alguns verbos de “movimento” detêm caráter inacusativo maior
que outros, o que favoreceria, ainda mais, o preenchimento do sujeito. Também os
verbos inacusativos de mudança de estado teriam características inacusativas mais
acentuadas por “apresentarem um sentido “sem” deslocamento concreto” (p20),
favorecendo comportamento mais próximo dos verbos inacusativos propriamente dito.
A autora percebe que verbos inacusativos de mudança de estado
representam o segundo contexto menos afetado pelo processo de perda da ordem VS.
Segundo ela, a produtividade da construção VS com tais verbos se mantém estável no
PB, não apresentando percentuais significativos de mudança, seguindo a análise
diacrônica, assemelhando-se, inclusive, aos percentuais referentes à modalidade
européia. Em outras palavras, verbos tais como ‘acontecer’, ‘aparecer’, ‘começar’,
‘ocorrer’ e ‘surgir’ constituiriam, no estudo, alguns dos itens verbais que de modo mais
categórico ocorrem em construções de sujeitos invertidos. Vale lembrar, ainda, que
outros verbos inacusativos apresentaram resultados pouco mais favoráveis ao processo
de mudança, além dos verbos intransitivos prototípicos que na amostra sincrônica
43 Variáveis relacionadas ao SN sujeito: categoria morfológica, animacidade, função temática, definitude, estatuto informacional e extensão do SN. Variáveis relacionadas ao item verbal: intransitivos, inacusativos, verbos de movimento
105
apresentaram percentuais de resistência à ordem VS (2%)44, como vemos na Tabela 2
(adaptado de Spano, 2002,74):
Tabela 2 – Ordem VS, segundo a categoria sintático-semântica do verbo, em construções não-existenciais do PB70 e do
PB90
PB70 PB90
CATEGORIA
SINTÁTICO-SEMÂNTICA
Apl./T % P.R. Apl./T % P.R.
Intransitivo (ação) 5/104 5 .09 2/81 2 .06
Movimento
(deslocamento concreto)
20/157 13 .42 20/172 12 .48
Movimento (sentido
inacusativo)
34/39 87 .96 14/20 70 .86
Inacusativo (mudança
de estado)
72/145 50 .73 67/128 52 .84
Inacusativo
(permanência de estado)
2/13 15 .38 1/8 13 .08
Total 133/461 29 104/426 24
Os resultados da pesquisa de Spano (2002) ratificam o trabalho de Berlinck
(1995), ao mostrarem, tal como a autora, que a ocorrência da ordem VS não está
associada apenas ao status sintático-semântico do verbo, já que ela verifica que os SN
pospostos também são marcados com os traços [-definido], [novo] e [+extenso] e são mais
frequentes na amostra da sincronia atual, o que estaria relacionado ao viés discursivo da
ordem VS no PB.
Essa informação nos remete aos estudos funcionalistas de Votre e Naro
(1989), Naro e Votre (1999) e Pezatti (1994) acerca da ordem VS, que associam o
fenômeno a estratégias discursivas de organização da estrutura informacional e que
mostram que, conforme afirma Spano (2002), no que concerne à ordem VS com verbos
44 Coelho (2000) também atesta esta diferença: a de que as construções intransitivas (as que selecionam argumento externo [+agente]) não são contextos favoráveis à posposição do sujeito.
106
inacusativos, o fenômeno pode ser explicado pela “predominância de fatores semântico-
discursivos sobre fatores estritamente sintáticos” (p94).
Em linhas gerais, como já visto, esses estudos mostram que a ordem VS no
PB se constitui numa estratégia discursiva de introdução de elementos novos/inferíveis no
discurso. Trata-se de um artifício sintático de organização, ou reorganização, da estrutura
informacional, que define uma relação especial quanto à questão perceptual do texto,
integrando o corpo das estratégias de definição do relevo discursivo, em particular,
narrativo.
Em termos gramaticais, porém, se pensarmos que o único argumento do
verbo inacusativo possui papel temático [+tema], fica evidente a possível associação
desse elemento com as características discursivas apresentadas. Se, por um lado, o papel
temático [+agente] favorece características acerca da volição, animacidade e de causa e
controle da ação verbal, típicas do SN sujeito prototípico, por outro, as características do
papel temático [+tema] concorrem para noções que descaracterizam traços de volição,
animacidade, menor controle agentivo da ação verbal, apresentando, por consequência, o
afetamento do SN pela ação expressa pelo verbo. Sabemos, é claro, que a caracterização
de tais papéis temáticos a partir dos traços apresentados não é categórica, podendo variar
de acordo com exigências específicas da seleção semântica definidas pelo verbo em
determinados contextos. Há de se reconhecer, porém, uma associação produtiva
verificada há tempos na literatura e que explica as restrições sintáticas que limitam a
anteposição do argumento de verbos inacusativos.
Os atributos do papel temático [+tema] favorecem as características
prototípicas do sujeito posposto, já que um sujeito [+agente], por praticar a ação verbal,
tenderá a ser, no discurso, um elemento com características de tópico e, por analogia,
mais recorrente: [dado]. Sendo recorrente, aumenta a possibilidade de ser retomado por
uma forma pronominal ou mesmo elíptica: ele tende a ser [-pesado]. O fato de ser
[+agente] favorece ainda a possibilidade de ser [+definido] e [+animado]. Verificamos,
107
então, que a ocorrência da ordem VS no PB se constitui num fenômeno de forte influência
de interface sintático-discursiva.
Quanto aos resultados referentes a estatuto informacional do SN, definitude e
sua extensão na amostra sincrônica do PB, Spano (2002) apresenta os seguintes
números (adaptado de Spanó (2002)):
Tabela 3 – Resultados referentes às características do SN da ordem VS (Spano (2002))
Apl./T. % P.R.
[Novo] 31/47 66 .84 [Disponível] 37/63 59 .68 [Dado] 36/316 11 .40 [-definido] 46/73 63 .83 [+definido] 58/353 16 .42 [+pesado] 25/37 68 .76 [-pesado] 79/389 20 .47 Total 104/426
Como podemos observar, os resultados para a ordem VS referentes ao
estatuto informacional do SN modificam-se na medida em que este se torna mais ou
menos conhecido no discurso. De fato, como vimos, este é o principal fator difundido
também nos estudos funcionalistas acerca da ordem VS em PB. Embora, em termos de
estrutura sintática, pode-se apontar uma associação para a ordem VS a verbos
inacusativos, em termos de estrutura informacional, o uso do sujeito anteposto ou
posposto ao verbo se define por motivação discursiva de introdução de elementos novos
ou inferíveis. Quanto maior for o grau de dadidade45 do SN, maior a chance deste ocorrer
na posição SV. Os resultados em Spano (2002) apresentam pesos relativos de .84 e .68,
respectivamente, ao caráter [novo] e [disponível], comprovando tal tendência, se
considerarmos o valor de .40 para o fator [dado].
Associado ao fato de serem estruturas com verbos inacusativos, os resultados
referentes à definitude do SN pós-verbal mostram tendência em favor do fator [-definido].
45 Ver também Berlinck (1997)
108
Segundo o estudo, tais sujeitos se apresentam mais sensíveis ao fator indefinitude,
configurando peso relativo de .83 em relação a apenas .42 para estruturas de valor
[+definido].
Com efeito, há de existir uma relação inversamente proporcional entre o
caráter mais ou menos tópico do SN e seu grau de definitude, visto que elementos dados
no discurso passam a deter esse caráter pelo contexto. Porém, mais uma vez, é possível
também atribuir ao fato de o único argumento do verbo inacusativo possuir papel temático
[+tema] a explicação para tal, por tender a deter papel de informação nova, devido as suas
características semânticas prototípicas, sendo mantido à direita do verbo e não marcando
valor de tópico, o que é confirmado pelo seu caráter de indefinitude.
Por fim, a autora identifica o caráter [+pesado] do SN pós-verbal, que na
amostra configurou .76 de peso relativo. Confirmando uma tendência já apresentada em
estudos anteriores sobre a ordem VS (cf. Lira (1986) e Naro e Votre (1999)), os números
da pesquisa revelam a tendência de que sujeitos extensos, pesados, ocorram após o
verbo. No viés funcionalista, essa tendência é explicada pela necessidade de recuperação
de saliência informacional do SN sujeito de VS, já que ele não possui caráter de tópico
discursivo. A existência de estruturas extensas na posição à direita se alinha com a
relação tópico-comentário, em que, grosso modo, tem-se no elemento à direita, a
informação nova, o comentário, e consequentemente a carga informacional mais
importante46, não existindo, nessa estrutura, um elemento à esquerda do verbo com
caráter [+tópico].
Spano observou ainda a atuação de preenchedores de fronteiras nos dados
referentes à amostra PB70. Segundo ela, este foi um fator selecionado pelo programa
VARBRUL como terceiro da ordem de importância para a ocorrência da ordenação VS. A
pesquisa revela que, quando não havia um elemento à esquerda do verbo, havia também
46 Considere-se aqui a própria universalidade proposta nas dicotomias tema/rema, tópico/comentário, dado/novo, de que a informação nova tenda a ocorrer sempre à direita, enquanto a informação dada tenda a ocorrer à esquerda.
109
uma importante diminuição da posposição do sujeito. O estudo mostra que os itens mais
frequentes diante da ordem VS seriam a negação, SAdvs ou SPreps de lugar/tempo47,
além de outros advérbios, o que pode ser observado na Tabela 4 (adaptada de Spano,
2002):
Tabela 4 - Ordem VS, segundo o tipo de preenchedores de fronteiras à esquerda, em construções não-existenciais no
PB70.
Fator Apl./Tot. % P.R.
Negação 6/6 100 - SAdv ou SPrep
lugar/tempo 30/49 61 .92
Advérbios aspectuais 1/3 33 .69 Advérbios multi-focais 1/3 33 .28 Outros advérbios 5/11 45 .60 (...)
Total 133/461 27 -
Spano (op. Cit., 86) sugere que a frequência de preenchimento da posição à
esquerda do verbo, por estes elementos, evidencia que talvez o sistema tenha encontrado
“uma forma de ocupar/preencher a posição do sujeito com material fonético, uma vez que
restrições estruturais e discursivas impedem a anteposição do argumento interno” e
chama atenção para o fato da diminuição de preenchimento desta posição quando o verbo
é intransitivo, inergativo, ou com características mais próximas desta categoria verbal.
4.1.3 Spano (2008)
No estudo de 2008, Spano retoma a descrição do comportamento da ordem
VS em construções declarativas e interrogativas na escrita padrão do PB e do PE, tendo
como intuito apontar semelhanças e diferenças relativas a tal estrutura em comparação
aos seus achados a respeito da fala culta do PB e PE em Spano (2002). A autora utiliza
47 Sintagmas Adverbiais e Preposicionais – aqui consideramos os sintagmas adverbiais com valor locativo e os sintagmas preposicionais que exercem a mesma função adverbial
110
como amostra textos jornalísticos escritos entre 2005 e 2008, com dados mais recentes
sobre o uso da ordem VS nas duas variedades.
Uma observação sobre os dois estudos é que dos grupos de fatores por ela
definidos para a condução do trabalho atual estudo, apenas o ‘tipo de construção verbal’
foi selecionado pelo programa Varbrul como o primeiro grupo de fatores mais
significativos. Nas duas variedades, respectivamente, as construções passivas sintéticas e
os verbos inacusativos prototípicos lideraram como os ambientes mais suscetíveis de
distribuição da ordem VS, como vemos na Tabela 5:
Tabela 5: Distribuição da ordem VS no PB e no PE, segundo o tipo de construção verbal
PB PE
Tipo de Construção Verbal
Apl./T % PR Apl./T % P.R..
Construções Passivas Sintéticas
17/20 85% .97 32/37 86% .98
Verbos inacusativos prototípicos
47/95 49% .92 43/96 45% .92
Verbos inergativos 1/16 6% .45 1/20 5% .43 Construções copulativas 10/240 4% .44 19/237 8% .52 Construções passivas
analíticas 5/77 6% .38 3/57 5% .36
Verbos transitivos 21/517 4% .36 22/529 4% .33 Total 101/965 10% 120/976 12%
O primeiro ponto que chama atenção nos resultados de Spano (2008) diz
respeito ao comportamento bastante semelhante entre o PB e o PE, inclusive em
construções com verbos transitivos, os quais, nos dois sistemas seriam os contextos mais
inibidores da ordem VS, representando percentual de 4% das duas amostras, com pesos
relativos de apenas .36 para o PB e .33 para o PE.
Temos em destaque o grupo ‘construções passivas sintéticas’ como ambiente
mais propício à VS nas duas variedades, figurando com peso relativo .97 e .98 no PB e no
PE, respectivamente. Em segundo lugar, aparecem as construções inacusativas que em
ambos os sistemas se mostram como ambiente de forte tendência de configurarem na
111
ordem VS tanto no PB como no PE, representando .92 de peso relativo nos dois
contextos.
De acordo com a autora (p137), uma análise mais apurada do SN pós verbal
das construções inacusativas mostra a tendência de “os traços do SN serem tipicamente
[-animado], [+nominal], [+novo] e, nas construções inergativas, [+animado], [+nominal]”.
Ela também constata que
“[a] forma de realização do SN [+lexical] está relacionada ao fato de as construções monoargumentais inibirem a ordem VS com pronomes pessoais e demonstrativos, uma vez que estes se referem a um elemento mencionado no contexto precedente e, portanto, possuem uma carga informacional diversa daquela característica desse tipo de construção de um argumento (função apresentativa/informação nova). No caso dos pronomes pessoais, há uma tendência maior de não ocorrerem na ordem VS, porque, quando carregam traços [+humano] [...] ou [-humano] [...], apresentam, respectivamente, um alto e “médio” grau de referencialidade [...]. Por isso, os pronomes pessoais são deslocados para a posição de sujeito”
Assim como no estudo anterior, a autora constata, também, que a existência
de preenchedores periféricos, ou seja, à esquerda do verbo, se mostra como um grupo de
fator relevante para a marcação da ordem VS no PB, embora também seja no PE:
Tabela 6– Distribuição da ordem VS na escrita do PB e PE, segundo o tipo de preenchedor periférico:
PB PE
Preenchedores periféricos
Apl./T % P.R Apl./T % P.R..
Sintagma Adverbial ou Preposicionado
25/140 18% .71 22/110 20% .69
Elemento qu- (relativos, interrogativos)
7/60 12% .71 9/79 11% .61
Conjunção Adverbial 16/99 16% .68 8/76 11% .60 Marcador Discursivo 5/85 6% .43 10/102 10% .49 Ausência de elemento 22/413 5% .43 36/447 8% .47 Conjunção Integrante 2/104 2% .24 3/103 3% .18 Advérbios Aspectuais 11/11 100% -- 16/22 73% .91
Total 77/923 8% _ 104/939
112
Pelos resultados, observamos que no PB os Sintagmas Adverbiais continuam
sendo na atual sincronia importantes elementos na estruturação da ordem VS,
configurando peso relativo de .71 na amostra. Elementos qu- e conjunções adverbiais
também surgiram com maior destaque nessa sentido, representando peso relativo de .71
e .68, respectivamente. Tal como no estudo de 2002, os advérbios se apresentam como
elementos definidores para a ordem VS no PB, gerando uma estrutura do tipo (X)VS,
mais comum, de fato, do que a configuração VS sem a presença do elemento pré-verbal.
Considerando-se os resultados dos outros elementos pré-verbais, é possível afirmar,
conforme mesmo faz Spano (op. Cit.), baseada em Kato e Duarte (2003) para a fala, que
“o PB escrito também evitaria a posição inicial de uma sentença com um verbo (V1)”48
(p164). Em outras palavras, a tendência de que se configure um elemento à esquerda
dos verbos inacusativos estaria relacionada ao fato de o PB estar se tornando uma
língua de sujeitos obrigatórios, assim como o inglês, gerando, dentre outros tipos de
estruturas, as chamadas Inversões Locativas também nesta língua49.
Outros grupos de fatores que novamente se mostraram relevantes para a
realização da ordem VS são a definitude, a extensão e o estatuto informacional do SN
sujeito.
A autora observa que o traço [-definido] está mais correlacionado à ordem VS
do que o traço [+definido] nas duas variedades. No cruzamento entre o traço definitude e
o tipo de construção verbal, ela ainda verifica, conforme esperado, que nas duas
variedades, o traço [-definido] atua mais fortemente nas construções sintéticas (100%),
seguidas pelos verbos inacusativos (74%), construções copulativas (16%) e passivas
analíticas (13%) em favor da ordem VS e conclui que “também a definitude está
submetida à influência do tipo de construção do verbo” (p167).
48 V1 – Posição verbal inicial 49 Como veremos na seção 4.4 à frente
113
No que tange aos traços extensão e estatuto informacional para a definição
da ordem VS no PB, Spano verifica que 54% dos dados analisados de construções
inacusativas detinham o sujeito invertido. Embora o estatuto informacional não tenha sido
selecionado pelo programa Varbrul como influente para a ordem VS no PB, ela resolve
analisar o cruzamento entre os tipos de construções e o estatuto informacional e verifica
que esses dois grupos de fatores atuam conjuntamente na realização da ordem VS, o
que estaria relacionado à oposição entre o SN [novo], mais associado à ordem VS, e os
SN [dado], [disponível], mais propícios à ordem SV.
Outro ponto do trabalho de Spano (2008) relevante para a presente pesquisa
tem a ver com as construções copulativas por ela coletadas na amostra do PB. Por se
constituírem em um tipo de construção inacusativa, as construções com verbo cópula
também foram tratadas no estudo. A incidência de orações copulativas na ordem SV,
segundo a autora, foi superior a 90%, ficando a ordem VS limitada a determinados
contextos.
Dentre as configurações possíveis com verbos cópula, a mais comum no PB
(7 dos 10 dados) é a que a autora chama de configuração VXS, exemplificada em (40),
retirado de seu trabalho (p148):
(38) “Para esses jovens assassinos, o Estado que se resume à polícia e ao juiz, só surge em suas vidas para apontar o crime e lavrar a pena. Não tem sido diferente com jovens de classe média e ata e aqui podemos dizer que o estado não é o único responsável. Sim, somos todos nós responsáveis por aquela cena de hor ror”
Em sua análise qualitativa sobre a ordenação copulativa VXS Spano, atesta,
tendo por base Kato e Tarallo (1993) e Berlinck (1995), que “o sujeito de VXS, ao ocupar
a posição final da sentença sem ser deslocado, constitui o foco da sentença [...] o SN
dessa construção é marcado pelos traços [-definido] e [novo]” além de o verbo
apresentar um elemento à sua esquerda.
114
Novamente, a autora apresenta a associação inevitável da ordem não
canônica a motivações discursivas de estratégias de focalização.
4.2 A ordem VS passiva no PB
Em sua pesquisa sobre as construções passivas no PB, Furtado da Cunha
(1989) trata, dentre outros assuntos, das motivações discursivas para o uso da
construção passiva analítica na ordem SV e VS.
A autora comprova que, com relação ao domínio de atribuição do elemento
[+Tópico] na estrutura passiva do PB, ao optar pela ordenação SV o falante estaria
posicionando o argumento paciente na posição de sujeito e caracterizando um papel de
maior topicidade para este elemento, por ele estar: a) mais relacionado ao assunto do
parágrafo, ou b) ligado a um participante da oração imediatamente anterior.
Estas seriam, então, as motivações que explicariam, no nível do discurso, o
uso da voz passiva SV no PB: “como consequência do seu caráter altamente tópico, o
paciente é promovido à função de sujeito e tópico da oração passiva, preservando-se,
desse modo, a textualidade” (p127). Em outras palavras, mantém-se a coesão textual,
posto ser, em dada porção comunicativa, o SN paciente, e não o SN agente, o referente
sob o qual o falante/escritor transmite uma informação, ou seja, mantém determinado
ponto de vista.
A pesquisa também mostra sobre o uso da construção passiva na ordem VS,
que tal motivação discursiva não se aplica. Segundo a autora, as passivas na ordem VS
não apresentam um enunciado que remete a um tópico. No contexto de passividade de
ordem VS, o que teríamos, na verdade, seria justamente a quebra da estrutura
informacional tópico-comentário, o que estaria relacionado à quebra da ordenação
vocabular SV. Passaria, então, a estrutura VS passiva a funcionar como um ‘bloco de
informação’ composto também pelo sujeito-paciente em posição de [Foco].
115
No exemplo (39), abaixo, a autora mostra como o ponto de vista do contexto
comunicativo passa a estar centrado no referente paciente após a estratégia de quebra
da ordenação da ordem canônica. Inicialmente a comunicação não estaria centrada no
referente, mas é “apresentada como um todo do qual o referente é somente uma parte”,
o que não acontece nas orações subsequentes em que ele se torna tópico discursivo
(p141):
(39) Graças à influência do ministro do Império João Alfredo, fora elevado ao
cargo de bispo da diocese de Olinda (Pernambuco) fr ei Vital Maria Gonçalves de Oliveira , com apenas 27 anos de idade (SM, p304)
Via de regra, esta seria uma função secundária, já apontada em Naro e Votre
(1987), sobre o uso da ordem VS: alimentar o discurso com informações à linha
comunicativa central, que podem ser elevadas ao status de elementos tópicos.
Assim, as motivações discursivas que determinariam a quebra da relação
tópico-comentário não estariam resumidas apenas à necessidade de destopicalização do
SN agente da oração transitiva prototípica elevando o SN paciente ao status de tópico,
mas também à própria destopicalização do referente paciente, posto não ser ele,
também, o ponto de partida para o desencadeamento da informação. Dessa forma, no
que tange esta ordem,
“por um lado, a passiva é usada, em lugar da ativa, para que o agente não seja apresentado como o elemento central do enunciado, por outro lado, a ordem VS é usada, em lugar da SV, para que o paciente não seja apresentado como tópico. A passiva VS é, portanto, uma oração sem tópico, neutra: não há empatia nem pelo agente nem pelo paciente” (p133)
As bases teóricas para a análise de Furtado da Cunha encontram-se no
estudo de Naro e Votre (1987). A autora conclui, sobre a passiva SV e VS, em termos de
motivações comunicativas de uso, que o que determinaria a emergência de uma ou outra
ordem estaria relacionado aos diferentes propósitos comunicativos aos quais cada uma
das orações se relaciona. A ordem VS seria usada para contextualizar, apresentar um
116
SN ou fornecer subsídios de apoio à linha central de comunicação, por ser seu sujeito
em geral um elemento novo e, portanto, não central ao fluxo informacional principal,
enquanto a ordem SV estaria mais relacionada, principalmente, à manutenção da
estrutura tópico-comentário, via estratégia de topicalização do SN paciente.
4.3 A ordem VS e a Inversão Locativa no PB: Pilati (2002)
Em seu estudo sobre as construções de sujeito posposto no PB, Pilati (2002)
também aborda as chamadas Inversões Locativas (ILs) nessa língua. A autora descreve
as ILs como sentenças apresentativo-descritivas, baseando-se nos pressupostos
gerativistas de Levin e Rappaport (1992, 1995). Neste trabalho a autora enfatiza como a
inversão pode ser motivada por fatores discursivos.
Dentre outros padrões, Pilati aborda o grupo de construções apresentativo-
descritivas com Inversão Locativa, as quais apresentam ordem não canônica - PP VP
NP50 – e, que, tal como no inglês, teriam como principal função discursiva a de introduzir
um elemento novo no nível do discurso. Segundo a autora, as inversões locativas no PB
seriam “formadas por algumas classes de verbos inergartivos ou inacusativos (ou seja,
verbos que possuem um argumento)” (p 68), embora nem todos os verbos dessas
categorias servissem a tal função.
Seguindo a hipótese dos verbos informacionalmente leves, Pilati argumenta
que os verbos das ILs descrevem, muitas vezes, as características semânticas do SN
sujeito [- agentivo] a eles ligados, de tal forma que a relação existente entre eles e os SN
é quase semanticamente previsível. Por serem verbos que não veiculam uma informação
de maior peso informacional, embora tenda a ser nova, eles seriam mais passíveis de
configurarem em contextos de SPreps pré-verbais, locativos ou direcionais, os quais
seriam, por outro lado, de maior peso informacional. Esta também seria uma explicação 50 Prepositional Phrare, Verb Phrase, Noun Phrase – Sintagmas preposicional, verbal e nominal, respectivamente.
117
para o menor índice de verbos transitivos nesse contexto, visto que o SN sujeito de
construções transitivas tende a representar informação mais recuperável no contexto
comunicativo-situacional.
Para Pilati, as características da Inversão Locativa no PB assemelham-se às
do inglês e podem ser resumidas assumindo as seguintes propriedades: a) configuram-
se na ordem PP VP NP, sendo o PP um elemento locativo ou direcional, b) os verbos são
informacionalmente leves e c) SN sujeitos apresentam características [- agentivas], como
no exemplo (46), abaixo (p70):
(40) Neste brinquedo, brincam crianças de 0 a 6 anos.
De acordo com a autora, o verbo ‘brincar’ em (46) significa que as crianças
“costumam brincar” ali e não que o estejam fazendo no momento da fala, o que pode ser
evidenciado pelo menor grau de agentividade do SN sujeito. O que claramente
percebemos nas considerações da autora é que a Inversão Locativa em PB também
estaria profundamente relacionada à questão da manutenção, recuperação ou introdução
de referentes no nível do discurso, ou seja, estaria profundamente relacionada à
estratégia de focalizar determinadas entidades dentro de contextos comunicativos
específicos.
Uma questão que se coloca, então, é a que aponta para os reais motivos para
a presença de um elemento locativo à esquerda do item verbal. É claro que uma análise
discursivo-funcional aos moldes de Pilati oferece importantes visões acerca do fenômeno
e da ordem (X)VS no PB; por outro lado, não se deve ignorar a constatação, tal como
empiricamente visto em Duarte (2002) e Spano (2002 e 2008), de que a presença de
elementos adverbiais, à esquerda do verbo da ordem VS, poderia estar relacionada à
mudança que sofre o PB em favor de se tornar uma língua de sujeitos obrigatórios, como
o inglês, o qual por, por sua vez, também apresenta construções de inversões locativas,
118
que, embora raras, estariam igualmente ligadas à questão da informatividade, como
veremos a seguir.
4.4 A ordem XVS no inglês
A ordenação vocabular no inglês é restrita, favorecendo a ordenação SV(O).
Portanto, a ordenação canônica atenderia de modo mais neutro às funções discursivas
relacionadas à questão da informatividade.
O uso de sentenças com a quebra do padrão de ordenação e consequente
uso de sujeitos não referenciais, ‘it’ e ‘there’, como veremos à frente, é uma possibilidade
do inglês, mas pode causar dificuldades para alunos de EL2 de línguas de maior
maleabilidade de ordenação não apenas em termos sintáticos, mas também discursivos.
Nesta seção, apresento uma revisão dos pontos desenvolvidos nas
gramáticas inglesas Longman Grammar of Spoken and Written English (LGSWE; Biber
et alli, 2002) e The Grammar Book: An ESL/EFL Teacher's Course (TGB) a respeito do
uso da ordenação XVS no inglês, a qual, por ser marcada nesse sistema, é menos
frequente e de menor produtividade.
Nosso objetivo com essa revisão é apresentar a constituição sintática dessas
estruturas, mostrando sua constituição e as associações discursivo-funcionais a elas
relacionadas. Tal distinção será importante para que, num segundo momento, possamos
utilizá-las para compararmos a produção dos alunos brasileiros de EL2 e verificar em
que medida as cláusulas XVS emergentes no contexto de EL2 se aproximam ou se
afastam da construção correspondente na LA.
119
4.4.1 Casos de Fronting (topicalizações) e inversão do sujeito em inglês
4.4.1.1 Predicativos topicalizados (fronted predicatives)
De acordo com os dados apresentados na LGSWE uma das possibilidades
de inversão do sujeito em inglês é a que está relacionada à topicalização do predicativo,
que pode estar acompanhada de um sujeito invertido, como vemos em (41) (p902):
(41) Far more serious were [the severe head injuries] ; in particular a bruising of the
grain51. (News)52
Esse tipo de construção em inglês se organiza de acordo com os princípios
informacionais de estruturação da sentença, em que a informação inicial, no caso o
tópico, possui maior grau de referenciação, enquanto a informação final apresenta maior
grau de novidade discursiva.
Outras possibilidades de construções XVS com predicativos topicalizados
estariam representados em (42a – 42c), abaixo:
(42a) I think the better the players are treated in these respects, the more enthusiastic is
[the response to the challenges before them]. (News)
(42b) So preoccupied was [she] at this moment, she was unaware that Diana was
standing in the arched doorway to the sitting room (Fict)
Respectivamente, as cláusulas (42a) e (42b) apontam para uma possibilidade
de inversão em orações correlatas proporcionais, marcadas com o artigo ‘the’, e para
casos de predicativos modificados por um intensificador, como ‘so’, o que introduz uma
‘that- clause’ comparativa.
51 Os exemplos da LGSWE foram retirados de corpora formado pelos autores e composto por textos de gêneros discursivos de naturezas distintas: jornalístico (News), ficção (Fict), conversacional (Conv) e acadêmico (Acad). 52 Na seção ANEXOS encontram-se as traduções das diferentes orações em inglês desta tese.
120
A topicalização dos chamados ‘-ed e –ing predicatives’ também está
associada à possibilidade de inversão do sujeito, como podemos perceber nos exemplos
(43a) e (43b), abaixo:
(43a) Enclosed is [a card for our permanent signature file which w e request you to
sign and return to us] (Fict)
(43b) Coming to Belfast this month are [The Breeders and Hevellers], while next month
sees Jethro Tull in Town (News)
Os dados iniciais de predicativos topicalizados que retiramos da LGSWE já
nos mostram que apesar da restrição sintática de ordenação vocabular, é possível a
verificação de estruturas marcadas, na ordem XVS, nesse sistema, fato diretamente
relacionado à questão da informatividade.
Relacionado a este ponto está outro, o qual diz respeito, à frequência desse
tipo de fenômeno, a saber, a topicalização de construções predicativas, no inglês. De
acordo com a gramática, a presença de ‘fronting’ é rara nessa língua ficando restrita à,
por exemplo, possibilidade de 50 – 100 ocorrências por milhão de palavras nos gêneros
conversacional e jornalístico, aumentando para 200 – 300 ocorrências na prosa
acadêmica e no gênero ficcional.
Para a contribuição de uma melhor análise dos dados apresentados pelas
gramáticas, chamamos atenção aqui para a pesquisa de Cavalcante (2005) sobre o
inglês, em que ela verifica a possibilidade sincrônica de ocorrência de construções XVS,
as quais, mesmo não sendo frequentes, podem ocorrer tanto na voz passiva, quanto na
voz ativa, principalmente em contextos com verbos ‘to come’ e ‘to be’.
Conforme explica a autora, esta tendência estaria relacionada à mudança
sofrida pelo inglês ao se tornar uma língua de sujeitos obrigatórios. Tendo sido ele uma
língua V2, ou seja, em que o verbo sempre aparece na segunda posição, ele deveria ser
precedido ou pelo SN sujeito ou por algum outro constituinte. Ao se tornar uma língua
SV, o inglês passaria a restringir a presença de demais constituintes na posição X, à
121
esquerda, o que não aconteceu de modo categórico, quando, por exemplo, tal elemento
é um sintagma locativo, ou, como podemos ver, determinadas estruturas de tópico
marcado. Sendo assim, a possibilidade do inglês atual de apresentar construções XVS
com ‘to be’ e ‘to come’ seria um resquício dessa mudança.
4.4.2 O sujeito invertido em inglês
De acordo com a LGSWE, a priori, existem apenas duas possibilidades de
sujeito posposto no inglês: a) a inversão total em que o SN se encontra pleno à direita do
verbo ou b) a inversão parcial em que um operador, como um verbo auxiliar, se encontra
à esquerda do SN, configurando uma estrutura XVS diferente do padrão de sujeito pleno
invertido.
Biber et alli (2002) argumentam que a ordem VS pode ser encontrada no
inglês dentro dos seguintes padrões:
a) a cláusula é iniciada por um SAdv, principalmente locativo, funcionando
como elemento coesivo por fazer referência a um cenário, recuperável pelo contexto
situacional, o qual também poderia ser um predicativo topicalizado, tal como visto em
4.4.1.1,
b) o verbo é intransitivo ou cópula e seria de menor peso informacional do que
o SN sujeito, expressando apenas a emergência ou existência de um SN novo na cena
comunicativa e
c) o fim da cláusula é constituído por um SN sujeito [+extenso], o qual introduz
informação nova no nível do discurso e é, quase sempre, [ - definido ].
Passamos agora a listar as possibilidades de orações VS no inglês para que
possamos, mais à frente, compará-las à produção dos indivíduos brasileiros falantes de
EL2.
122
4.4.3 O sujeito-invertido prototípico do inglês
A presença de um SAdv no início da cláusula é, com certeza, um fator
preponderante para desencadear a ordem VS no inglês. Os exemplos (44a – 44d)
apresentam as possibilidades de SAdv ocorrendo na posição X das orações XVS em
inglês, respectivamente com SAdv locativo, temporal e outros:
(44a) On the long wall hung a row of Van Gogh (Fict)
(44b) Again came the sounds of cheerfulness and better heart (Fict)
(44c) Within the general waste type shown in the figures exists a wide variation
(Acad)
A gramática LGSWE ainda aponta para a possibilidade de inversão de
cláusulas complexas com SN sujeitos extensos, provavelmente, SN novos no nível do
discurso, como em (51):
(45) Here is provided a pathwork of attractive breeding sites [...] (Acad)
De acordo com as análises encontradas em Biber et alli (2002) a
possibilidades de uso do sujeito invertido estão diretamente relacionadas à
complexidade e valor informacional do verbo e do SN sujeito. Em outras palavras, a
análise apresentada associa a possibilidade de inversão à extensão do SN, o qual, por
ser extenso, e, por deter maior peso informacional, tenderia a estar à direita do verbo.
Os exemplos (46a - 46b) mostram como os autores tratam do assunto:
(46a) Then the words came out in a rush (News) (1)
(46b) Then came the call from Sergio Leone (Fict) (2)
Segundo eles (p914),
“The regular SV order is the natural choice in 1 when the subject is a simple definite NP and the verb is accompanied by elements complementing the verbal meaning. In contrast, inversion is just as natural as in 2, where there is a simple intransitive verb followed by a longer and more informative subject. Subject-Verb
123
inversion is excluded with a light-weight pronoun as subject, although ordinary SV order is possible”53
Ora, os pressupostos funcionalistas que utilizamos para desenvolver esta
pesquisa apontam para o fato de que, por ser uma informação nova, o SN sujeito de
orações VS, no PB, tenderá a ser mais extenso e cognitivamente mais adaptado às
necessidades de recuperação, manutenção e memória da informação por parte do
locutor.
Cabe salientar, aqui, que também no inglês a alternância de uso das ordens
SV/VS aponta para um condicionamento relacionado à questão da estrutura
informacional, diretamente ligada a cláusulas com verbos inacusativos, ou a estruturas
passivas, as quais, como sabido, também compõem o fenômeno da inacusatividade.
4.4.4 Outros casos de inversão
Outra possibilidade de inversão em inglês não é exatamente considerada
inversão plena do sujeito, posto que este se localiza em posição entre o verbo principal e
um verbo auxiliar ou algum outro elemento, em geral de natureza adverbial ou conectiva,
posicionado à esquerda do SN, como em (47a – 47f), abaixo54:
(47a) And she said, you know, [on no account] must he strain. (Conv)
(47b) [So badly] was he affected that he had to be taught to speak again
(47c) Gail’s in, and [so] is Lusa (Conv)
(47d) Long live King Edmund (Fict)
(47e) May God forgive your blasphemy […]
53 A ordem SV regular é a escolha natural em 1 quando o sujeito é um SN simples e definido e o verbo é acompanhado por elementos que complementam o significado verbal. Em contrapartida, a inversão é tão natural como em 2, onde há um verbo intransitivo simples, seguido por um sujeito mais extenso e mais informativo. A inversão do sujeito é excluída com um pronome simples como sujeito, embora a ordem SV comum seja possível. 54 O uso de SN pronominais nestes contextos evidencia que a questão da distribuição informacional talvez não atue diretamente nesse tipo de construção.
124
(47f) Don’t you forget about me!
Respectivamente, os exemplos apresentados acima fazem referência a
possibilidades de quebra da ordem SV no inglês, favorecendo principalmente uma
construção do tipo XSV, nos contextos: a) iniciados por elementos de negação ou
restritivos, como neither, nor, never, not only, hardly etc; b) após um advérbio de
gradação - so - seguido de um SAdj; c) seguidos de formas correlatas como so, nor,
neither etc; d) expressões formulaicas e e) construções imperativas.
Os autores também apresentam contextos de inversão em cláusulas
dependentes, embora reconheçam que o fenômeno seja relacionado às orações
principais do inglês (p918), em geral, relacionadas aos tipos de inversão apresentadas
em 4.5.1. Eles verificam, ainda, que 90% dos casos de inversão identificados ocorreram
em contextos de orações principais, em particular no gênero acadêmico, em que tiveram
75% das inversões aferidas (p926).
Um ponto importante da gramática de Biber et alli (2002) diz respeito à
contagem de construções com sujeitos invertidos na amostra por eles trabalhada. De
acordo com os autores, conforme esperado, a inversão do sujeito é fenômeno
relativamente raro em inglês, excluindo-se, é claro, a das cláusulas interrogativas. Os
autores verificaram que no gênero conversacional, por exemplo, ocorrem entre 300-400
casos de inversão por milhão de palavras, o que é superado apenas em contextos de
gênero acadêmico, no qual ocorrem de 500-600 inversões e no gênero ficção e
jornalístico em que ocorreram cerca de 1000 casos por milhão de palavras.
Para eles, o fenômeno da inversão do sujeito não pode ser adequadamente
estudado como simples fenômeno sintático e que, portanto, seria importante levar em
consideração a interação entre sintaxe, léxico e registro, além de fatores não sintáticos
que hão de influenciar a forma como as cláusulas são adaptadas em função de
estratégias de focalização e ênfase.
125
Ao abordamos o uso da ordem XVS no inglês, deparamo-nos, então, com
uma tendência que se apresenta tanto no PB, como no inglês: a de que o uso do sujeito
à direita do verbo em estruturas inacusativas esteja relacionado a estratégias de
veiculação de informação [+foco] no nível do discurso, o que nos serviria como dado
importante para a análise das estruturas (X)VS emergentes no contexto de aquisição de
EL2.
4.4.5 O sujeito não referencial there (Existential ‘there’ )
Na seção em que tratam das cláusulas existências com o verbo ‘there to be’ e
suas variações – ‘there has been, there will be, there used to be’ etc – os autores,
novamente, mostram que tais orações detêm a função de introduzir novos elementos no
nível do discurso e classificam o vocábulo ‘there’ como (p943)
“a formal device used, together with an intransitive verb, to predicate the existence or occurrence of something (including the non-existence or non-occurrence of something). Most typically a clause with existential ‘there’ has the following structure: there+be+indefinite NP (+place or time position adverbial)”55
Segundo os autores, o item ‘there’ seria, então, uma palavra funcional que
por um processo de gramaticalização seria originária do locativo ‘there’, portanto,
originalmente um caso de Inversão Locativa, e que perdeu, ao longo do tempo,
características fonológicas e semânticas, além de ter passado a funcionar como sujeito
gramatical, não semântico, da construção existencial, e não mais como SAdv.
Novamente, lembrando que o verbo ‘to be’ também é considerado um verbo
inacusativo, chama-nos a atenção o fato de que diante de um verbo de tal natureza, em
línguas de sujeito preenchido, um elemento formal figura na posição à esquerda do
verbo quando o sujeito nocional, o sujeito semântico, se apresenta na posição pós-
55 Um dispositivo formal usado, juntamente com um verbo intransitivo, para predicar a existência ou ocorrência de algo (incluindo sua não-existência ou não ocorrência). Mais precisamente uma cláusula com existencial "there" tem a seguinte estrutura: there + ser/estar + SN indefinido (+ adverbial de lugar ou tempo)
126
verbal. Neste caso, de alguma maneira, o sistema novamente desenvolve um
mecanismo de preenchimento de tal posição, a qual não pode ficar vazia nesta língua.
Os autores atestam a existência de outras orações existenciais com outros
itens verbais, basicamente intransitivos, que denotam sentido de existência ou
ocorrências, como podemos atestar em (48a - 48c):
(48a) Somewhere deep inside her [there] arouse a desperate hope that he would
embrace her. (Fict)
(48b) [There] came a roar of pure delight as it closed around him and carried him on
(Fict)
(48c) In all such relations [there] exists a set of mutual obligations in the instrumental
and economic fields (Acad).
Na amostra, as cláusulas existenciais com demais verbos intransitivos, em
que o sujeito nocional é um SN pleno, se constituem em menos de 5% nos gêneros
ficção e acadêmico e menos de 1% em textos de gêneros jornalísticos e na
conversação. Os itens verbais mais frequentes detectados nesse trabalho foram os
verbos ‘to seem, to come, to occur e to exist’ e tem frequência de uso, destacadamente
maior, em textos acadêmicos, sendo muito menos frequentes, todos os itens, na
conversação.
Chafe (1970) defende que a função do sujeito não-referencial ‘there’ seria a
focalização daquilo que segue o item verbal. O status informacional da informação em
questão seria, então, de alguma forma, novo ou, ao menos, informacionalmente distante
do presente ato comunicativo de modo a necessitar ser reativada por parte do
interlocutor.
Em TGB os autores também tratam da questão do uso do sujeito ‘there’ não-
referencial e mostram que a emergência de estruturas [‘there + Intransitive V + Subject’]
está diretamente relacionada a três possibilidades:
127
a) com verbos existenciais e de posição: ‘to exist, to stand lie, to remain etc, como em:
At the edge of the forest there dwelt a troll ;
b) com verbos de evento: ‘to develop, to arise, to appear, to emerge, to happen, to
occur, como em: There arouse a conflict ;
c) com verbos de moção/direção: ‘to come, to go, to walk, to run, to fly, to approach,
como em: Along the river there walked an old woman ;
Nesse trabalho, os autores apontam para a indefinitude do sujeito nocional,
ou seja, para a associação entre as restrições gramaticais relacionadas à quebra da
ordem canônica. Eles citam, por exemplo, o trabalho de Langacker (1991) em que o
autor discute o uso do sujeito não-referencial ‘there’ e sua função apresentacional, em
que, por resultado, o que o segue teria status de informação nova, respeitando-se então
a distribuição de informação nova/velha mais comum.
Um trabalho também citado pela gramática é o de Lakoff (1987) em que,
invocando a noção de prototipicalidade da teoria da gramática das construções, o autor
associa a coincidência de formas entre ‘there’ dêitico e ‘there’ sujeito gramatical. Para
ele, isto não seria acidental, mas estaria relacionado ao fato de o sujeito não-referencial
guardar características e semelhanças com o locativo, sendo uma extensão do sentido
locativo ao representar um espaço mental para o qual alguma entidade deva apontar.
Essa possibilidade estaria também evidenciada, segundo Bolinger (1977), pelo fato de
que retomar a localização de certa entidade significa também afirmar sua existência.
Desta forma, o autor associa a noção prototípica de locativo ao sujeito não-referencial e
a sua função existencial/apresentacional.
As afirmativas citadas servem de base para que esses mesmos autores
defendam a dissociação entre as idéias de ‘dummy subject’ e a de ‘anticipatory subject’
visto que, ao cumprir determinada função no nível do discurso, o sujeito não-referencial
‘there’ não poderia ser tratado exclusivamente como elemento formal ligado aos verbos
128
inacusativos, tal como acontece com o sujeito não-referencial ‘it’, que parece espelhar
somente as relações gramaticais referentes a esse tipo de construção.
Os dados da LGSWE e da TGB mostram que o tipo de estrutura de ordem
XVS a qual poderia corresponder as orações de sujeito posposto produzidas por
brasileiros, devido a sua baixa frequência, dificilmente serviria de evidência para que
através da exposição aos dados do input da L2, eles pudessem aprendê-la de modo a
influenciar o seu discurso na LA. Ao contrário, por se tratarem de orações de rara
frequência, típicas de textos mais controlados, as estruturas aqui apresentadas não
poderiam servir de evidência para o aprendizado da L2.
4.4.6 O sujeito não referencial It (Dummy Subject )
Outro ponto importante a ser observado nessa pesquisa diz respeito ao uso
do pronome it como sujeito não-referencial, apenas gramatical, de certas construções do
inglês. Este, conforme vimos em seção anterior, seria um elemento não selecionado
semanticamente pelo predicador verbal e que apenas atende as exigências gramaticais
de preenchimento do sujeito em inglês, aparecendo em contextos que tratam do clima
(49a), da hora (49b) e distâncias (49c), saturando as necessidades estruturais
requeridas em função da gramaticalidade da cláusula:
(49a) It was not as cold as on the previous night (Fict)
(49b) By the time you get back it ’s nine o’clock (Conv)
(49c) It was seven miles to the nearest town and I had to bus or walk everything
Além dos contextos citados, o chamado ‘dummy subject’ pode ser
denominado sujeito antecipatório, pois também é usado como sujeito de uma oração
129
principal antecipando uma oração subordinada subjetiva, reduzida ou não, em casos de
extraposição, como vemos em (50a – 50b)56:
(50a) It was hard to believe [that he had become this savage with the bare knife.] (Fict)
[That He had become this savage with the bare knife] was hard to believe
(50b) It really hurts me [to be going away]
[To be going away] really hurts me
Tal como acontece no uso do sujeito ‘there’ não-referencial, o ‘it’ expletivo
permite a saturação das exigências sintáticas relacionadas ao preenchimento do sujeito
geradas pelas motivações discursivas de organização da cláusula. Ao usar a ordem
VCS57 em (50a) e (50b), em que temos em (C) o predicativo e em (S) um sujeito
oracional longo na posição pós-verbal, o espaço à esquerda do verbo fica vazio e,
portanto, o sujeito expletivo emerge nesse contexto para atender as demandas sintáticas
típicas de uma língua de sujeitos obrigatórios, formando uma construção do tipo XVCS.
Note-se que o movimento de extraposição das orações subjetivas em inglês
parece ser restrito a contextos de sujeitos oracionais, dado que a extraposição de SN
plenos para a posição (S) de construções VCS dessa natureza parece gerar
agramaticalidade da cláusula conforme podemos ver em (51a – 51b);
(51a) *It is important the person (XVPS) / The person is important (SVC)
(51b) *It is hard the subject (XVPS) / The subject is hard
56 Os chamados antecipatory subjects em inglês também são usados nas sentenças clivadas (cleft- sentences) e em casos de objetos duplos como em We leave it to the reader to appreciate that. 57 Verbo, complemento, sujeito
130
4.4.7 Considerações sobre a voz passiva no inglês
Como é sabido, o conceito de ‘voz verbal’ aponta para uma estratégia
gramatical relacionada aos papéis temáticos dos constituintes sujeitos das orações. As
possibilidades de estruturas de vozes verbais variam de língua para língua, causando
distorções no uso, principalmente de construções menos prototípicas, no contexto de
aquisição de uma L2.
No inglês, uma língua SVO, a posição de sujeito será mais frequentemente
preenchida por um SN agentivo, podendo também ser preenchida pelo SN paciente da
ação expressa pelo verbo, via voz passiva.
Em referência às vozes ativas e passivas no inglês, Langacker (1987)
defende que sua diferença de uso estaria relacionada a um ajuste de focalização
análogo a cada estrutura. Em outras palavras, para o autor, o uso das vozes
passiva/ativa nesse idioma, creio eu que em todos, permitiria ao usuário trabalhar com
estratégias de manutenção ou quebra de papéis mais ou menos focais dos constituintes.
Por seguir a tendência de ordenação vocabular SVO, a língua inglesa
apresenta com maior frequência construções passivas segundo tal ordenação e, de
acordo com a The Grammar Book (p345) e LGSWE principalmente na configuração
[S+TENSE+ be/get/have+ V PartPas] para as passivas curtas, como em (52a), e
[[S+TENSE+ be/get/have+ V PartPas] + SPrep] para as passivas longas, como em
(52b)58:
(52a) Paul McCartney was knighted
(52b) Paul McCartney was knighted by the Queen
58 Note-se também a possibilidade de detectarmos o uso, menos frequente, da ordem SV passiva em que o sujeito é oracional como em That he will get the job has been decided
131
Nesta língua, existe ainda a possibilidade de que o sujeito da oração passiva
apareça na posição à direita do verbo. Isso é possível em sentenças em que eles sejam
oracionais, em estruturas [it+TENSE+be+V PartPas+that/infinitive clause], como as de
(53a – 53d) (LGSWE p1019):
(53a) It can be seen that…
(53b) It should be noted that…
(53c) It has been shown that…
(53d) It has been suggested that…
É importante lembrarmos que a estrutura passiva, uma instância de
inacusatividade, possibilita que o inglês, ao menos nesses casos, apresente o sujeito,
muito frequentemente oracional, na posição pós-verbal, além de tender a se constituir
em informação [+nova] e seja extenso. O que convém notarmos é que em nenhum dos
exemplos apresentados detectamos a existência de um SN pleno na posição de sujeito.
4.5 Freitas (2006): um estudo funcionalista sobre o uso da ordem VS em EL2
Em sua pesquisa sobre o uso da cláusula VS por alunos brasileiros de EL2,
Freitas (2006) apresenta os resultados de dois testes que, apesar de distintos no que se
propunham a verificar, seriam complementares no sentido de fornecer explicação acerca
do uso e da aceitabilidade da ordem VS no EL2. A emergência e a aceitabilidade desse
tipo de construção, por hipótese, estariam relacionadas à estratégia discursiva de
introdução de elementos [+ foco] no texto narrativo, tal como acontece no PB como L1,
apontando para um processo de transferência L1-L2 no nível sintático-discursivo.
Sendo o inglês uma língua SV, o autor visava identificar as motivações de uso
da ordem VS no contexto de sua aquisição como L2, já que os dados do input não
132
justificariam sua ocorrência. Mesmo atestando a possibilidade de uso de ordenação não
canônica, como no caso da Inversão Locativa, a frequência de uso de estruturas XVS é
muito baixa, o que mostraria que a ordem VS poderia estar mais relacionado à influência
da L1 do que à influência da sintaxe da LA.
Assim, tendo por base a pesquisa funcionalista de Naro e Votre (1999), o
estudo se desenvolve a partir da hipótese geral de que o uso da cláusula VS seria uma
instância de transferência de estratégia discursiva, relacionada à organização da
estrutura informacional do PB como L1.
A pesquisa acontece inicialmente a partir da aplicação de testes de
julgamento de aceitabilidade em que algumas cláusulas agramaticais, apresentadas a
255 alunos de nível básico, intermediário e avançado de inglês, estavam na ordem VS
com verbos intransitivos. Caberia aos alunos apontar as orações que eles julgavam
erradas e corrigi-las. O Quadro 2, abaixo, apresenta tais orações59:
Quadro 2 – Cláusulas do Teste de Julgamento de Gramaticalidade
a) Then appeared five boys at the door asking for money.
b) I want to see the place where happened the accident with the Twin Towers
c) She was waiting for the bus, but came a man to take her.
d) Yesterday, on my street, disappeared cars and radios
e) I was in the bank line when crashed two cars in front of the bank
f) Mary said that happened a crime in the pool
g) Agitated, shouted the woman to the man: “The house is in the garage”
h) Ten minutes later, returns the man from the garage with the hose
Os resultados apresentados na Tabela 7 mostraram a ampla aceitabilidade
do uso da ordem VS nas sentenças apresentadas:
59 As orações (g) e (h) encontram-se dentro de um contexto discursivo, enquanto as demais foram apresentadas isoladamente e não foram apresentadas aos alunos de nível básico.
133
Tabela 7 – Percentuais de Percepção da ordem VS como gramatical no inglês
Cláusula Básico Intermediário Avançado
A 96,5% 96,5% 87,1%
B 96,5% 97,6% 83,5%
C 87,1% 81,2% 60%
D 89,4% 90,6% 75,3%
E 90,6% 71,7% 51,7%
F 92,9% 94,1% 72,9%
G _ 83,5% 70,6%
H _ 75,3% 77,6%
Dos resultados mais gerais apresentados nessa fase da pesquisa, alguns
merecem destaque. Quanto ao teste de julgamento, em números totais, o autor identifica
forte aceitação, nos três níveis de aprendizado, de todas as cláusulas VS testadas, com
destaque para as orações (a) e (b), que foram reconhecidas como corretas, ambas, por
mais de 96% dos alunos dos níveis básico e intermediário e por 87% e 83%,
respectivamente, dos alunos de nível avançado.
Por outro lado, o autor também identifica importante diferença de
aceitabilidade da ordem entre as sentenças, de tal forma que esta observação o levou a
classificar as orações em dois grupos, a partir das características semânticas que elas
partilhavam entre si. Tais características estariam relacionadas aos parâmetros
apresentados na Hipótese da Transitividade de Hopper e Thompson (1980), utilizada
pelo autor. Segundo ele, embora ambos os grupos fossem formados por verbos
intransitivos, um deles apresentaria comportamento de maior transitividade que o outro
devido às características transitivas mais ou menos prototípicas do SN sujeito e do item
134
verbal. Observe-se, por exemplo, as cláusulas (c) e (e) que apresentaram os mais baixos
índices de aceitabilidade no nível avançado, configurando apenas 60% e 50% de
aceitabilidade, respectivamente.
Assim, quando as orações apresentam menor transitividade, ele verificou que
os informantes identificaram menos a ordem VS como sendo uma ordem não prevista no
inglês, considerando as orações como corretas, o que ocorreu menos com as do outro
grupo, posto que houve um número maior de alunos que as corrigiram, passando-as para
a ordem SV.
Dessa forma, os dados mostraram que, apesar da ampla aceitabilidade da
ordem VS no EL2, características de volição, animacidade, definitude do SN sujeito e de
cinese verbal, dentre outras, podem levar um informante a achar a ordem VS mais, ou
menos natural/aceitável em inglês, apesar de provavelmente esse informante nunca ter
tido acesso a dados desse tipo de construção nesse sistema. Esta seria uma primeira
evidência, embora não abordada pelo autor, de que os verbos inacusativos seriam os
mais propensos a ocorrer na ordem VS no EL2 em se tratando de SN [+novos].
A segunda fase do teste consistiu em um texto narrativo produzido pelos
alunos. O autor encontrou apenas 37 dados de cláusulas na ordem VS nas narrações,
das quais uma parte era composta por um verbo cópula (V2) e a outra por itens lexicais
intransitivos (V1). O baixo número de ocorrência já servira como evidência para o baixo
uso dessa ordem mesmo no contexto de EL2.
Os resultados da análise mostraram que o comportamento das orações VS no
EL2 ia ao encontro dos pressupostos apresentados por Naro e Votre (1999) por estarem
vinculados à questão da estrutura informacional. As características do SN sujeitos
verificados em Freitas (2006) também estavam alinhadas ao apresentado em Naro e
Votre (1999), como vemos na Tabela 8:
135
Tabela 8 – Resultados referentes ao SN sujeito das cláusulas VS produzidas pelos alunos
Essa fase da pesquisa mostra, então, dentre outros aspectos, a tendência de
que o SN Sujeito da ordem VS em EL2 seja informação nova no discurso em 91% das
cláusulas com verbos intransitivos e 71% com verbos cópula.
O SN ainda tende a apresentar tendência de ser [ - individuado ], [ + extenso]
e [ - volitivo ], o fenômeno detém características de quebra do fluxo informacional e a ele
está associado o uso de verbos [- cinéticos], como é possível verificar nos exemplos
abaixo, retirados da pesquisa (54a - 54c):
(54a) I had dinner and go out with my mom (…) but, suddenly, appeared the most beautiful and perfect boy in the world . Wow! What a boy! (BAS) (54b) But only one week before the day, happened one thing that changed all their lives. The father was fired from work (AVD) (54c) When he got there, it was horrible, inside the cave lived the ugliest monster anyone could imagine (AVD)60 Em outras palavras, a cláusula ali abordada seria a de mais baixa
transitividade, segundo o modelo de Hopper e Thompson (1980). O autor defende que
estes seriam fatores que colocariam a ordem VS no contexto de EL2 como típica de
porções de fundo dos textos narrativos, tal como ocorre no PB como L1, apesar de
agramaticais no sistema da LA.
Segundo o autor, ainda, a análise da frequência dos itens verbais da amostra indica
60 (BAS) – Nível básico, (AVD) – Nível Avançado
Sujeito
VS
Status
Informacional
Novo
Sujeitos
Longos
Sujeito
Não volitivo
Sujeito
Não Individuado
V1 21 / 91,3% 14 / 61% 17 / 74% 14 / 61%
V2 10 / 71,4% NA* 14 / 100% 9 / 64%
Total 31 / 83,8% - 31 / 83,8 23 / 62,2%
136
“a tendência das cláusulas VS serem constituídas por verbos de baixa transitividade, que as organizam no plano discursivo de fundo - porção do texto narrativo que corresponde a descrições, avaliações e localização de participantes na narrativa (Martellota et alli, 1996), em outras palavras, o plano marcado pelas orações periféricas do fluxo de narração” (p102).
A Tabela 9 apresenta os percentuais de frequência dos verbos intransitivos
retirados das redações (adaptada de Freitas (2006)):
Tabela 9 – Frequência de verbos da amostra
Vemos, então, que o item verbal em contexto VS mais frequente na amostra foi
to happen, o qual apresentou percentual de frequência de 39,1% seguido do item to
appear o qual apresentou 26,1% de ocorrência. Outros verbos, oito no total, surgiram uma
única vez, representando, cada um, 4,35% de frequência.
O autor verifica que, seguindo a teoria da transitividade de Hopper e Thompson
(1980), tais verbos, “considerando-se seu nível semântico como um todo, possuem graus
de transitividade mais baixos” (p103) e chama a atenção para o traço ‘cinese verbal’, pois,
segundo ele, este não estaria presente nos verbos atestados. A presença desse traço
sugeriria maior transferência de ação entre participantes, representando um grau de
transitividade maior das cláusulas, o que, em última análise apontaria justamente para a
diferenciação semântica existente entre verbos inacusativos e inergativos.
Tais achados apontam, assim, para o forte viés semântico-discursivo do
fenômeno, se pensarmos que o uso da ordem VS no PB, apesar de restrito em termos da
escolha dos itens verbais nesse contexto, parece ser de tal modo produtivo em termos de
Item Verbal Ocorrência %
to happen 9 39,1% to appear 6 26,1% Outros 8 34,8%
137
sua função no uso na L1 que influenciaria o discurso aquisitivo em EL2, um contexto em
que tal estratégia geraria sentenças menos frequentes, diversas vezes agramaticais.
Ao compararmos a análise qualitativa e quantitativa da pesquisa de Freitas
(2006) aos resultados de outros trabalhos sobre a ordem VS no PB, percebemos que o
contexto apontado como o mais suscetível ao uso do sujeito à direita do verbo em EL2 é o
da inacusatividade, contextos em que estão envolvidas questões acerca do traço
semântico do SN sujeito, fato por sua vez diretamente relacionado às determinações de
seleção sintático-semântica do item verbal. Note-se que Spano (2002, 2008) e Coelho
(2000) também apontam tal diferença ao elencarem os diferentes tipos de verbos
intransitivos/inacusativos em diferentes grupos de categorias sintático-semânticas do
verbo, as quais, em outras palavras, apontam para um menor grau de transitividade
dentro do escopo dos chamados verbos intransitivos.
Outro ponto importante apontado em Freitas (2006) está relacionado a como o
aprendiz brasileiro de EL2 se mostra menos sujeito às pressões discursivas relacionadas
à ordem VS em sua L1 na medida em que se torna falante de nível avançado. Este foi um
resultado que se mostrou relevante tanto a respeito da aceitabilidade de ordem VS em
inglês, quanto ao seu uso propriamente dito. Para explicar este fenômeno, o autor se
apóia em Givón (1979), quando aborda a passagem do modo pragmático ao modo
sintático de comunicação manifestada na evolução aquisitiva de uma L2. Como visto,
segundo essa hipótese, o usuário fica mais vulnerável as pressões discursivas e
pragmáticas, típicas do discurso não controlado da L1, nos estágios iniciais da aquisição,
enquanto falantes mais fluentes se mostram menos sujeitos a tal tendência, apresentando
ordenação vocabular mais próxima da sintaxe da língua alvo. Sendo assim, o gráfico 1
mostra a diminuição do uso da ordem VS nessa amostra:
138
Gráfico 1 – Diminuição do uso da ordem VS em EL2
Considerando-se 1, 2, e 3, respectivamente, alunos de níveis básico,
intermediário e avançado, notemos a diminuição de uso da ordem VS na amostra. Vemos,
porém, que apesar de a ordem VS diminuir drasticamente em particular na passagem do
nível básico para o intermediário, ela ainda pode ocorrer nos níveis mais avançados de
fluência, o que invalida a hipótese de aquisição de uma L2, defendo eu, posto a
possibilidade de que os aprendizes ainda retornem ao uso de estruturas típicas da L1,
segundo determinadas demandas do contexto comunicativo-situacional que podem fazer
com que os alunos utilizem certas estruturas de orientação discursiva, típicas da L1.
Segundo Givón (op.cit), de fato, apesar da previsibilidade do processo de sintaticização no
curso do aprendizado de uma L2, o modo pragmático de comunicação ainda emerge
nesse contexto, em particular, em momentos de maior pressão comunicativa.
Freitas (2006), embora contribua para o entendimento do uso do sujeito
‘invertido’ em EL2, não abarcou questões estritamente formais, identificadas na presente
tese, acerca do fenômeno, como a formação de estruturas XVS. Além do mais, o trabalho
se ateve apenas ao uso da ordem VS com itens lexicais, excluindo o estudo do uso das
cláusulas SV correspondentes, além de não abordar o possível uso da passiva analítica
VS, gramatical no PB como L1, no contexto da EL2. Também, o número de dados
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
0 1 2 3 4
Ciclo de Aprendizagem
Tax
a de
Oco
rrên
cia
do F
enôm
eno
139
produzidos pelos informantes foi pequeno, uma vez que a amostra era composta por
redações de alunos que escreveram pouco, o que justifica a presente pesquisa, já que,
além de ser uma tentativa de corroborar os achados sobre as pressões discursivas da L1
na L2, ela também abarca desdobramentos sintáticos e discursivos não contemplados no
estudo anterior, além de tentar apontar a emergência de estruturas (X)VS que não são
necessariamente agramaticais na L2.
4.7 Considerações Finais do Capítulo
Diante desse quadro, a saber, das possibilidades estruturais e informacionais
impostas pelo inglês como LA, e do PB como L1, as questões, relacionadas àquelas
apresentadas no capítulo introdutório, que se colocam na presente pesquisa são:
a) em que medida a estrutura informacional implica em uma quebra da ordem
canônica do inglês, SV, no contexto de aquisição de L2?,
b) os achados acerca do fato de estruturas inacusativas estarem mais
suscetíveis à ordem VS contribuem para tal entendimento?,
c) quais fatores sintáticos, em línguas de sujeito obrigatório, como o inglês,
associados ao uso da chamada ‘posposição do sujeito’ influenciariam a formação das
construções (X)VS em EL2?,
d) é possível estabelecer que todos os usos de cláusulas (X)VS são de fato
agramaticais na língua alvo? e, finalmente,
e) quais seriam os contextos de ocorrência das ordens aqui analisadas?
140
CAPÍTULO 5. METODOLOGIA
A pesquisa é desenvolvida com a utilização de uma amostra composta por
textos acadêmicos escritos por alunos do 5º período do curso de Letras – Português-
Inglês da UFRJ. Tais textos foram apresentados como trabalho final do curso Inglês V –
English Phonology – do curso de Português - Inglês da UFRJ. Neste trabalho, os alunos
redigem uma análise de sua produção oral em inglês como L2, levando em consideração
o nível fonético-fonológico. Os alunos tinham por objetivo apontar e explicar, a partir de
seu discurso em L2, usos convergentes e divergentes dos padrões da LA61. As orações
(55a e 55b) abaixo exemplificam a natureza das construções coletadas:
(55a) We can find the <-ed> morpheme in regular verbs in the simple past tense or in the past participle perfect. This process is very similar to the processes of <-s> morpheme. hen the word ends with the alveolar stops [t,d] occurs a dissimilation by the insertion of [id] (55b) The objective of this work is an analysis of my speech and how the words are produced, pointing the difference between a foreign English speaker and the American Standard English Pronunciation. It was used a pronunciation dictionary to transcribe the original text that was the base to check the data of my speech
Coletamos da amostra todas as orações de ordenação não canônica e
encontramos apenas orações monoargumentais na ordem (X)VS. Este seria nosso
primeiro conjunto de dados a ser analisado e ao qual decidimos chamar C1, sendo ele
composto por orações ativas e passivas, com o sujeito invertido62.
Como dito, na construção de C1, detectamos quebra do padrão sentencial SV
apenas com verbos monoargumentais. Foram considerados para a análise, então, os
textos em que encontrássemos ao menos uma cláusula (X)VS cujo sujeito fosse um SN
não pronominal. Trabalhamos, assim, com um total de 80 textos (todos com ao menos 1
dado na ordem VS), de onde foram coletadas 152 orações ativas e passivas e, como 61 Agradeço à Professora Dra. Aurora Neiva pela contribuição com a formação da amostra, sendo esta apenas uma das diferentes formas pelas quais sua ajuda foi fundamental nesta tese. 62 Agradeço a aluna de IC/UFRJ, Gabriela Lamim de Almeida, por toda a dedicação e o profissionalismo na ajuda para a construção do banco de dados e na análise.
141
percebido, todas de natureza inacusativa. Para constar, o número total de orações ativas
coletadas foi 58 e percebemos que todas eram compostas apenas por verbos do tipo ‘to
happen’ e ‘to occur’, com sujeitos de natureza semântica [-agentiva]. As 94 orações
passivas coletadas também apontam para construções de natureza inacusativa, na
medida em que apresentaram, obviamente, SN sujeitos [+paciente], como já explicado
anteriormente.
Na sequência, passamos à construção do segundo conjunto de dados,
doravante C2. Estas orações foram coletadas de um subgrupo de 31 textos do total dos
80 utilizados. Destes textos, coletamos todas as cláusulas ativas SV e construções
passivas que pudessem configurar instâncias de uso de sujeito pós-verbal, nos moldes
das orações previamente coletadas, ou seja, com SN sujeitos de características
prototípicas dos contextos de inacusatividade. Trabalhamos somente com 31 dos 80
textos, pois o número de orações SV é muito alto e somente com esses textos, já era
possível fazer a comparação com os usos de VS.
Os dados das duas amostras foram analisados a partir do cruzamento com os
fatores selecionados para a análise e que serão apresentados mais à frente. Para a
análise de C1, selecionamos o fator voz verbal e para a de C2 a alternância SV/(X)VS
para o cruzamento com os fatores escolhidos.
Adotamos tal padrão metodológico, para que, após submissão dos dados ao
programa estatístico, e tendo por base o conjunto de trabalhos e resultados sobre a
ordem VS aqui já apresentados, pudéssemos analisar as construções (X)VS do EL2 nos
diferentes contextos de vozes verbais e segundo a hipótese de que o uso das ordens
SV/(X)VS se daria por motivações de uso distintas.
Devido ao grande número de dados na ordem SV, frente ao baixo número de
orações VS, muito relacionado ao fato de essa ser a ordenação canônica do inglês,
decidimos trabalhar apenas com um número de dados de orações SV que fosse
representativo para a análise aqui sugerida. Fazendo assim e tendo por base estudos
142
anteriores sobre a ordem VS (cf. Spano (2002, 2008) etc), poderíamos analisar
qualitativamente e quantitativamente o que haveria de discursivo e de gramatical no
fenômeno tratado, tornando-nos capazes de: a) identificar o que seriam indícios de
transferência do PB como L1 e o que seria influência do inglês como LA na formação do
fenômeno aqui considerado, e b) apontar as estruturas ora mais, ora menos aceitáveis
na língua em curso de aprendizado, além de seus contextos de uso.
Optamos por trabalhar apenas com percentuais de frequência de ocorrência,
descartando análises probabilísticas, adotando, para tal, resultados de pesquisas
bastante convergentes, quanto ao comportamento das ordens SV/VS no PB como ponto
de partida de nossa análise. Partimos das tendências já apontadas nos referidos
trabalhos para desenvolver a análise e descrição do fenômeno no EL2.
Sendo assim, foram encontradas 1712 cláusulas SV, além das já coletadas
(cf. página anterior) 56 cláusulas VS, ativas e passivas. Tais orações passaram a compor
o novo conjunto de dados, C2, e seriam analisadas comparativamente. Apenas para
lembrar, as 56 orações (X)VS de C2 estavam contidas no grupo total de orações (X)VS
de C1.
A análise dos dados de C2 visou verificar se o uso de cláusulas (X)VS em
contexto de EL2 também apresenta comportamento discursivamente motivado, tal como
apontado em Freitas (2006), fato relacionado à quebra do fluxo informacional, em que o
referente tende a ser uma entidade [+Foco]. Independentemente do gênero discursivo
eleito para o estudo, o acadêmico, postulamos que a ocorrência de orações (X)VS esteja
vinculada mais fortemente a sequências narrativas e que apresente comportamento
diferenciado das orações SV correspondentes, no que diz respeito ao processo de
referenciação e de introdução de elementos textualmente e/ou cognitivamente novos no
discurso. A manipulação dos dados de C2 também permitiu descrever e comparar,
dentre outras, as características sintáticas e semânticas do fenômeno em questão, no
que tange aos traços do SN sujeito, tanto na ordem SV, como na VS, e à possibilidade
143
de preenchimento à esquerda do verbo dessas estruturas.
Ao trabalharmos com os dados de C1 visamos descrever e analisar como o
fenômeno acontece nas duas vozes observadas: passiva e ativa, também a fim de
verificar semelhanças e diferenças sintáticas e discursivas entre as cláusulas (X)VS em
cada um dos contextos. Consideramos, sempre, também baseados na análise dos dados
de C2, a hipótese de que os diferentes tipos de vozes verbais na ordem (X)VS poderiam
representar diferentes funções comunicativas, além de apresentarem características
gramaticais distintas. Por compreender um conjunto de dados com um número maior de
cláusulas (X)VS, a análise de C1 também contribuiria para o estudo das ordens
SV/(X)VS.
Os conjuntos de dados foram submetidos ao programa estatístico SPSS,
versão 1.5.
Tomando por base os achados anteriores dos trabalhos referentes ao uso da
ordem VS no PB (Cf. Duarte, 2003; Spano, 2002, 2008; Santos, 2008; Naro e Votre,
1999), selecionamos os seguintes fatores para analisarmos os dados coletados:
Quadro 3 - Fatores a ser analisados
Voz Verbal Ativa / Passiva
Status Informacional Novo/ Disponível / Dado
Estrutura do SN Definido + SN
Indefinido (c/ artigo/pronome) + SN
Indefinido (com Quantificador +
SN)
Ø + SN (def)
Ø +SN (indef)
Extensão do SN [+ extenso]
[ - extenso]
Preenchimento à esquerda Ø
It
SPrep (Adv)
SAdv
Conjunção
144
Ademais dos conjuntos de dados apresentados em C1 e C2, também foram
coletadas para análise as estruturas (X)VS de predicação de natureza nominal: as
orações chamadas ‘small clauses’ (SC), por serem elas também agramaticais na LA,
quando o constituinte selecionado como sujeito da oração for um SN pleno, ou seja, não
pronominal ou oracional. Novamente, as hipóteses que norteiam a explicação para a
emergência desse tipo de construção apresentam fatores de base gramatical e
discursiva, relacionadas a sua natureza híbrida, influência, ao mesmo tempo, do PB
como L1 e do inglês como L2.
Falamos aqui de 18 orações (X)VS com verbo cópula (to be), ‘to become’ e ‘to
sound’ selecionando um SN sujeito pleno como complemento. Optamos por trabalhar
com tais orações separadamente dos dados de C1 e C2, por serem de muito baixa
produtividade se comparadas às orações SV correspondentes. Tal desvio poderia
prejudicar a construção dos bancos de dados, o que nos levou à opção por uma análise
qualitativa independente, mas que levasse em conta os mesmos pressupostos referentes
aos dados anteriores. As orações em questão podem ser representadas pela sentença
(56) na sequência:
(56) *It is very clear the influence of writing
Resumidamente, então, após a constatação de que o único tipo de ordenação
não canônica da amostra era a do tipo (X)VS, a pesquisa se desenvolveu a partir da
análise de estruturas em que constassem SNs plenos, não pronominais, à direita de
verbos intransitivos, sendo também consideradas para a análise, embora
Pronome Relativo
Conjunção Adverbial
Outros
145
separadamente, as chamadas ‘Small Clauses’ encontradas. De antemão, estas seriam
construções de aceitabilidade/gramaticalidade questionável no sistema da L2, tornando-
se, portanto, objeto de análise.
Foram desconsideradas do estudo, obviamente, orações com verbos de
alçamento, de ligação e passivas que selecionassem outra oração como complemento. O
descarte desses dados foi necessário, posto serem elas orações gramaticais em inglês.
Para exemplificar, temos em Quirck & Greenbaum (1990,305-313) exemplos de ‘ing finite
nominal clauses’, as subordinadas substantivas reduzidas de gerúndio, que se
comportam como SN lexicais, exercendo a função sintática de sujeito e podem ocorrer
em posição ‘pós-verbal’, como nos exemplos de estrutura ‘it VS’, adaptados da obra:
(57a) It was tough answering the questions
(57b) It seems tough answering the questions
(57c) It was considered tough answering the questions
Pensamos, ainda, na possibilidade de descarte de orações VS com sujeito
oracional em que não ocorresse o sujeito gramatical ‘it’ à esquerda do verbo. Ora, por
serem gramaticais, a inclusão de possíveis orações nominais VS sem a presença do ‘it’
expletivo seria justificável se esse estudo focalizasse apenas o preenchimento / não
preenchimento do sujeito não-referencial, o que não é o objeto de estudo da pesquisa,
embora a ela esteja relacionado. Por este mesmo motivo, também foram
desconsideradas as orações clivadas.
Foram também descartadas orações SV cujos sujeitos fossem pronomes
relativos. Além da impossibilidade de ocorrência desse tipo de pronome em sentenças de
ordenação VS, em termos de estrutura informacional, necessariamente, um pronome
relativo será sempre informação dada no discurso, o que enviesaria o estudo da hipótese
acerca da transferência de estratégia discursiva L1-L2 no uso da ordem (X)VS no EL2.
146
Passemos agora à apresentação dos resultados, tendo em vista a descrição e
análise dos aspectos discursivo-gramaticais do fenômeno, para a checagem das
diferentes hipóteses apresentadas.
147
CAPÍTULO 6. ANÁLISE DOS DADOS
6.1 Frequência SV/VS
Apresentamos, a seguir, a descrição e análise dos resultados referentes ao
uso de orações (X)VS/SV encontradas na amostra. Como dito, trabalhamos com duas
amostras: (a) uma contendo apenas orações (X)VS - (C1) - em que o fator voz verbal foi
testado com os fatores apresentados e (b) outra contendo orações SV e (X)VS - (C2) -
também testados com os fatores selecionados.
Foram encontradas 152 orações (X)VS, ativas e passivas, e que compuseram
C1. No que diz respeito à frequência de uso das ordens de C2, porém, os resultados são
os seguintes:
Tabela 10 - Ordem VS/SV
Percebemos a prevalência das orações SV, num total de 1712 cláusulas. Os
resultados das ordenações encontradas em C2 caracterizam a ordem (X)VS como uma
instância de ordem marcada também no contexto de EL2, se considerarmos o percentual
que ela representa no conjunto de dados, que foi de apenas 3%.
Embora numa língua de sujeitos nulos o uso da ordem VS seja possível, ele
tenderá, sempre, a ser menos frequente. A baixa frequência do uso de VS já fora
constatada nos estudos de Naro e Votre (1999) e Spanó (2002, 2008) no PB sincrônico e
também nos estudos referentes ao uso de ordenações não-canônicas no inglês. O que
nos chama atenção, entretanto, é a sua ocorrência em contexto de aquisição de uma
língua de sujeito obrigatório. Por hipótese, independentemente de sua baixa frequência,
ORDEM N %
SV 1712 97 VS 56 3 Total 1768 100
148
tal fato apontaria para a possibilidade de transferência de seu uso a partir da experiência
sintático-discursiva do nativo, em sua L1.
Aqui, consideramos que a emergência e o comportamento de uso da ordem
(X)VS em EL2 sejam reflexos de seu uso na L1 desses indivíduos. Associamos tanto o
surgimento, quanto a baixa frequência da ordem, ao seu funcionamento no PB, o que
constituiria um fenômeno de transferência de base discursiva L1-L2, tendo em conta
também os resultados das pesquisas sobre a ordem VS no PB. Corrobora, ainda, esta
questão, o fato de a LA, como dito, não favorecer o uso de construções diferentes da
ordem SV, apesar dos raros casos de sujeito invertidos/inversões locativas,
apresentados no capítulo 4. Em outras palavras, hipoteticamente, por serem, as
construções XVS, de menor frequência na LA, isto justificaria, em um primeiro momento,
o seu baixo uso pelos falantes não nativos. Seria preciso considerar, ainda, a própria
formação morfossintática da construção na LA para postularmos a favor de seu uso, já
que a estrutura das orações (X)VS aqui analisadas se afasta do padrão mais encontrado
no discurso nativo em inglês.
Diante de tal resultado, assumindo a hipótese de que a emergência da ordem
(X)VS no EL2 seria uma questão, a priori, de transferência da gramática/discurso da L1,
fez-se necessário analisar as 56 orações de C2 e apontar as características sintático-
gramaticais do fenômeno, para a comprovação de que elas surgiriam, ao menos em
parte, por motivação discursiva da L1, como se propõe a presente pesquisa.
6.2 Voz Verbal
No que diz respeito ao uso das ordens SV/(X)VS ativa e passiva em EL2,
encontramos os seguintes resultados:
149
Tabela 11 - Ordem VS/SV X Voz
Voz Ordem
Ativa Passiva Total
N / % N % N % N % SV 493 29% 1219 71% 1712 100% (X)VS 27 48% 29 52% 56 100% Totais 520 29% 1248 71% 1768 100%
De imediato, pela análise qualitativa dos dados, constatamos que a ordem
(X)VS surge categoricamente como fenômeno restrito a contextos de inacusatividade, ou
seja, o verbo apresenta um único argumento e este é um sujeito não-agentivo, que tende
a apresentar características [-cinéticas].
A Tabela 11 mostra que os resultados referentes ao cruzamento entre os
fatores Ordem e Voz dos dados de C2 apontam para um aparente equilíbrio de
frequência de uso de estruturas ativas e passivas na ordem VS. Respectivamente, os
resultados do total de orações da amostra apontam para a ocorrência de 48% de
construções no primeiro e de 52% no segundo contexto. O aparente equilíbrio de uso se
desfaz, entretanto, ao considerarmos o nível vertical da tabela, por constatarmos certa
tendência de que o SN sujeito aconteça posposto ao verbo particularmente nas orações
ativas.
De fato, uma observação mais cuidadosa dos dados de C2 revela que do total
de orações ativas encontradas, 5% estavam na ordem VS, enquanto apenas 2% das
orações passivas emergiram na ordem não canônica. Em outras palavras, apesar da
maior incidência de dados na voz passiva, 1248 dados, o falante de EL2 parece estar
pouco mais pretenso ao uso do SN sujeito posposto em contextos de voz ativa, ou seja,
em contextos de inacusatividade lexical, e menos em contextos de inacusatividade
estrutural.
150
Esses dois dados, a saber, a grande incidência de orações passivas e a maior
proporção de orações VS ativas, em relação à ativa SV, podem ser explicados por
motivações de duas naturezas: a) a questão do gênero discursivo e b) um equilíbrio entre
as ordenações e o princípio funcional da marcação.
Em linhas gerais, considerando-se os contextos de construções inacusativas,
houve forte preferência pelo uso de estruturas passivas em toda a amostra, como visto,
com destaque para a cláusula SV. Atribuímos a este dado uma explicação à luz da teoria
dos gêneros discursivos. Se pensarmos que os dois conjuntos de dados foram
constituídos a partir de textos acadêmicos em EL2, a alta tendência de uso de estruturas
passivas parece ser justificada, por ser esta uma construção frequente em textos de
registro formal.
A relação entre os gêneros textuais e os modos de organização do discurso,
com base na variedade de textos produzidos na sociedade, apontam para a
compreensão de cada gênero como combinação harmoniosa de recursos linguísticos,
situacionais e ideológicos.
Assim, os estudos sobre gêneros apontam para a questão da interação verbal
e da competência, de natureza discursiva, que no plano de SLA pode, ou não, facilitá-la.
Havendo convergência, por exemplo, entre as marcas linguísticas comuns a certo
gênero, historicamente herdadas e caracterizadas na L1, e o que é possível na L2, o
usuário apresenta domínio de um importante instrumento comunicativo, ao transferi-lo,
no processo de aquisição, para o discurso em L2. O mesmo não acontece quando estas
marcas não são licenciadas pela LA.
Seria devido a essa razão, então, o fato de encontrarmos tantas estruturas
passivas na amostra. O aluno transfere do uso da L1 seu conhecimento acerca das
estruturas sintáticas comuns ao gênero acadêmico, e nesse sentido a construção
passiva se destaca.
151
De fato, pelo que vimos no capítulo 4, o uso de construções passivas também
é comum no gênero acadêmico de língua inglesa e provavelmente em todas as línguas.
Ainda assim, esta seria uma transferência que favorece a interação na L2, refletindo não
apenas o domínio da sintaxe da L2, mas também controle sobre a construção do próprio
gênero discursivo acadêmico. A interferência da L1 acontece justamente quando do uso
da passiva (X)VS, inclusive no que tange a sua menor incidência, ao ser comparada com
a SV passiva. Nesse sentido, o domínio de certas construções típicas de textos
acadêmicos, transferidos da base da L1, não favorece o uso na L2.
Se por um lado, a questão do gênero pode explicar a alta incidência de uso
de passivas, ela não explica a preferência da ordem (X)VS ativa, em relação à (X)VS
passiva. Atribuímos a esta tendência uma explicação de natureza funcional relacionada
ao uso das duas construções.
Postulamos que, em termos gerais, a ordem VS possa ser explicada, no que
diz respeito à sua restrição de uso, também pela atuação de fatores cognitivos e de
processamento que tendem a favorecer o uso de estruturas que demandam menor
esforço de produção, tais como as orações SV. Em termos de orações mais ou menos
marcadas, podemos afirmar que, num continuum de complexidade, a ordem SV seria a
mais favorecida, seguida da ativa VS e, só então, da passiva em questão.
É possível afirmar que a própria complexidade sintática da oração passiva
SV explicaria sua menor frequência de uso, mesmo em contextos em que ela é
previsível. Como vimos, baseados em Furtado da Cunha (1989), o uso da passiva SV no
PB estaria relacionado a uma estratégia de topicalização do elemento paciente, o qual,
prototipicamente falando, a priori, apresentaria características [+Focais]. Tal movimento
em si já marcaria maior esforço de produção e tempo de processamento que
dificultariam sua frequência.
O uso da ordem VS passiva seria também uma estratégia comum do texto
acadêmico, se comparado ao de textos de outras orientações discursivas. De qualquer
152
forma, ao promover o SN sujeito, [+paciente], ao status de foco, via ordenação (X)VS,
quebrando a estrutura tópico-comentário, o usuário estaria produzindo uma construção
ainda mais complexa e, portanto, ainda mais marcada que a ordem VS ativa, ou mesmo
a SV passiva correspondente. Talvez esta seja a razão pela qual o uso da ativa VS seja
um pouco maior, em relação ao conjunto de orações ativas, do que o uso da passiva VS,
em relação ao conjunto de passivas. Como visto, percebemos leve preferência pelo uso
de orações ativas (X)VS.
A manipulação empírica dos totais de C1 mostrou que os índices isolados de
VS passivas foram, no entanto, maiores do que o atestado na análise dos dados de C2.
Sobre a frequência de orações VS ativa e passiva nessa amostra, obtivemos o seguinte
resultado:
Tabela 12 – Frequência de VS X Voz em C1
(X)VS N %
Ativa 58 38
Passiva 94 62
Total 152 100
O resultado dos dados de C1 nos remete à maior frequência de passivas VS
no conjunto total dos dados.
Novamente, a associação do uso da ordem (X)VS passiva ao contexto
específico de determinado gênero discursivo é inevitável. Os resultados sugerem que a
transferência de uso de estruturas (X)VS não reflete apenas motivações discursivas de
organização do fluxo informacional na L1 (cf. Freitas, 2006), mas também aponta, como
já colocamos, para determinado conhecimento linguístico advindo da língua materna que
também influencia o discurso em L2: o domínio de estruturas típicas do gênero discursivo
acadêmico. O uso das inversões passivas, ao menos no PB, é comum no texto
acadêmico. Dessa forma, o uso de estruturas (X)VS passivas no EL2, podemos assim
153
dizer, apontaria para duas instâncias de transferência da L1, discursivamente
relacionadas e integradas.
Em termos sintáticos, no entanto, ao longo do processo de transferência, é
possível que ocorram interferências da L1 e da L2 que podem comprometer a
gramaticalidade tanto das orações ativas, como das passivas.
Nas orações (58a - 58b), abaixo, apresentamos exemplos de cláusulas (X)VS
ativas, retiradas da amostra, e que evidenciam tal tendência:
(58a) “but in <until> and <formal> occurs a vocalization of the lateral alveolar appearing [w] in the coda position”
(58b) The –s morpheme is pronounced in three different ways: [s], [z] and [iz]/[az]. After a voiceless consonant sound the –s morpheme becomes [s], except a sibilant. After a voiced consonant sound and a vowel, it becomes [z], except a sibilant. This is a process of assimilation of sounds. The [Iz]/[az] sounds are pronounced as dissimilation, after a sibilant sound. It occurs an insertion of the [I] or [a] between th e word final sibilant and the –s morpheme and it becomes the voiced sound [z].
Em (58a) temos um exemplo recorrente em textos de alunos de EL2: o uso do
sujeito invertido. Essa oração é agramatical no inglês, por ser realizada na ordem VS
desprovida do preenchimento do sujeito expletivo ‘there’ à esquerda do verbo. Vale
lembrar que, apesar de a presença do sujeito expletivo gerar uma oração gramatical –
‘there occurs a vocalization of the lateral alveolar’ –, ela se constituiria numa oração
marcada (em termos de frequência) nesse sistema e, portanto, de baixa produtividade, o
que por si seria um fator para não favorecer seu uso na L2. A ausência desse tipo de
construção no input, associada à forte tendência de uso da ordem SV correspondente,
mostra que o exemplo configura um fenômeno linguístico que emerge no contexto de
aquisição de EL2: uma estratégia de organização do discurso transferida da L1, com
características funcionais próprias da L1, as quais trataremos ao longo deste capítulo. Na
sentença (X)VS do exemplo (58b), apresentamos outro exemplo de uso de construções
(X)VS no EL2, de natureza sintático-discursiva semelhante a de (58a). Note-se,
154
entretanto, que em (58b), o usuário captura a exigência formal da gramática do inglês, ao
preencher com um pronome não referencial, ‘it’, na posição à esquerda da construção
VS. Estas seriam evidências para pensarmos que a natureza desse tipo de oração,
específica de contextos de uso de EL2 por falantes do PB, manifeste atuação de fatores
de diferentes ordens, ora da L1, ora da L2.
Nas orações (59a – 59b), abaixo, apresentamos dados de uso de passivas
(X)VS, as quais também seriam transferidas da L1, com adaptações decorrentes de
pressões da gramática da LA:
(59a) “In some cases were also found influences of the English phonologi cal system and its spelling”
(59b) The objective of this work is an analysis of my speech and how the words are produced, pointing the difference between a foreign English speaker and the American Standard English Pronunciation. It was used a pronunciation dictionary to transcrib e the original text that was base to check the data o f my speech.
A oração (59a) mostra o uso da inversão do sujeito, numa construção passiva
a qual, como dito, configura uma instância de inacusatividade. Assim como aconteceu no
exemplo anterior, o indivíduo produz uma oração de gramaticalidade duvidosa no inglês
por não usar a ordem SV que seria a forma não marcada nesse sistema.
Independentemente de questões formais relacionadas ao fenômeno da inacusatividade,
a construção reflete a transferência de uma estratégia discursiva relacionada à ordem VS
em PB: o de introdução de elementos [- tópicos] no discurso, no caso das orações
passivas, via focalização do SN paciente. O fato, porém, de o SN sujeito se constituir em
um SN pleno, ‘influences of the English phonological system and its spelling’, torna a
oração menos aceitável, já que este tipo de construção só prevê uma oração encaixada
como sujeito.
Em (59b) encontramos outro exemplo de uso agramatical da oração passiva
(X)VS. Além da agramaticalidade causada pelo tipo de sujeito em questão, nota-se a
155
influência da gramática da LA. Ao transferir esse tipo de estrutura da L1, o usuário
brasileiro percebe a necessidade de preenchimento da posição de sujeito não referencial
à esquerda do verbo, o que satura as necessidades formais desse sistema. Este seria
um exemplo típico da atuação das duas gramáticas na formação da interlíngua.
Em termos da função à qual tais orações se relacionam, sugerimos que o uso
da ordem (X)VS como veículo de informação [+Foco] aconteça, quase categoricamente,
seja pelo uso de sentenças ativas, seja pelo uso de sentenças passivas. Como vimos em
capítulos anteriores, convém lembrar que em termos estruturais ambas as sentenças
possibilitariam tal tipo de estratégia discursiva, graças à grade temática inacusativa em
que temos a seleção de um sujeito de características não agentivas. A semântica desse
tipo de construção monoargumental define um SN sujeito com características temáticas
prototípicas dos SN objetos das transitivas, os quais na construção discursiva são mais
passíveis de se constituírem em foco informacional.
6.3 Status Informacional
Os resultados da análise do cruzamento entre o uso das ordens (X)VS/SV e o
status informacional de SN sujeitos confirmam a tendência, já apontada em estudos
anteriores, de que o SN de cláusulas VS não seja elemento tópico, por se constituir em
informação nova ou inferível no nível do discurso, como vemos na Tabela 13:
Tabela 13 - Ordem VS/SV X Status Informacional
SInfo Ordem
Novo
Inferível
Dado
Total
N / % N % N % N % N % SV 33 2% 94 5% 1585 93% 1712 100% (X)VS 50 89% 2 4% 4 7% 56 100% Totais 83 5% 96 5% 1589 90% 1768 100%
156
Como visto, estudos sobre a ordem VS no PB sugerem que seu uso esteja
fortemente associado à distribuição da carga informacional. Precisamente, defende-se
que o uso do chamado ‘sujeito invertido’ esteja associado à quebra do fluxo
informacional, o que contribui para a composição do plano de fundo, quando em
contextos de tipo textual narrativo, principalmente via introdução de elementos não
centrais no momento da interação ou por funcionar como informação suporte para a
textualidade (Naro e Votre, 1999).
Como dito no capítulo introdutório, os referentes foram classificados, com
base em Prince (1981) e em Naro e Votre (1999), como:
a) novos , quando ainda não estabelecidos como centrais no texto sendo,
geralmente, sendo introduzidos no texto pela primeira vez,
b) inferíveis/disponíveis , quando apesar de não terem sido mencionados no
conjunto discursivo, são facilmente acessados, em geral, por estarem subordinados a
outros conceitos e
c) evocados (ou velhos) , quando já mencionados no texto.
Os resultados do cruzamento entre o fator status informacional e as possíveis
ordenações analisadas mostram que se, por um lado, apenas 2% das orações na ordem
SV constituíram, no nível do discurso, instâncias em que o SN sujeito veiculava
informação nova, por outro, as orações (X)VS se comportaram de modo mais fortemente
relacionadas à veiculação de informação dessa natureza, já que 89% apresentaram SN
novos, confirmando a tendência de que tais sujeitos detenham característica de foco
discursivo.
No extremo oposto dos resultados, verificamos a alta frequência, 93%, de
orações na ordem SV em contextos de informações em que o sujeito se constitui em um
elemento dado no discurso e, portanto, tendendo a deter papel de tópico em seu
contexto de ocorrência. Os resultados mostram, então, que as orações SV são mais
157
facilmente utilizadas para a veiculação de informação velha, enquanto as orações (X)VS
estão mais relacionadas à introdução de informação [+focal], o que contribui para
confirmar nossa hipótese de transferência de uso de uma estratégia sintático-discursiva
do PB como L1 para o EL2. A respeito da veiculação de informações inferíveis no
discurso, obtivemos os seguintes resultados: 5% das cláusulas SV e 4% das cláusulas
VS apresentaram SN sujeitos inferíveis. Podemos dizer que também o uso de estruturas
SV com SN inferíveis não é tão favorecido se considerarmos o universo de 1712 dados,
quando comparados, proporcionalmente falando, aos 4% de orações (X)VS exercendo
tal função.
Dos SN inferíveis, 94 dados, do total de 96 (98%), foram introduzidos via
cláusulas SV, provavelmente devido ao maior grau de referencialidade do SN, o que
motiva a anteposição do sujeito. A referencialidade relativa desse constituinte também
seria a explicação para o número mais alto de SN inferíveis na ordem (X)VS.
Considerando-se o total de dados analisados como casos de informação
nova, 83, percebemos que a veiculação de informação dessa natureza aconteceu na
construção SV em apenas 33 dados (40%), enquanto 50 orações com SN sujeito novos
(60%) estavam na ordem (X)VS, confirmando a hipótese de que esta seria uma
construção sintática fortemente vinculada a uma estrutura informacional preferida.
A tendência de que as estruturas SV tendam a veicular SN tópicos se
confirma na análise horizontal dos resultados, em que verificamos que apenas 2% das
orações SV veiculavam informação nova, enquanto 93% estariam em contextos de SN
mais centrais, ou seja, recuperáveis no nível do discurso e, portanto, tendendo a ser
tópicos do discurso.
Por outro lado, vemos que 89% dos SN sujeitos das orações (X)VS foram
considerados novos e que somados aos 4% de SN inferíveis compuseram 93% dos SN
da amostra, restando apenas 7% - 4 dados - de SN velhos.
158
Os resultados de C1 mostram como a tendência de veiculação de informação
nova/inferível se diferencia nas orações ativas e passivas (X)VS, como percebemos pela
análise da Tabela 14:
Tabela 14 – Voz X Status Informacional das orações VS
SInfo Voz
Novo
Inferível
Dado
Total
N / % N % N % N % N % Ativa 47 81% 8 14% 3 5% 58 100% Passiva 60 64% 27 29% 7 7% 94 100% Totais 107 70% 35 23% 10 7% 152 100%
Considerando-se a questão da estratégia informacional, tendo por ponto de
vista o eixo horizontal da tabela, chama atenção a forte associação existente entre tanto
a estrutura (X)VS ativa quanto a passiva e a veiculação de SN novos. Há de se notar
também o favorecimento de uso de estruturas (X)VS passivas na veiculação de
informação inferível, para o qual, utilizando os resultados de pesquisas anteriores e
conjugando os pressupostos advindos das teorias dos gêneros, propomos algumas
explicações.
Observamos a prevalência do uso da ordem (X)VS para a veiculação de
informação nova, com destaque para a estrutura ativa, cujo índice de uso foi de 81%
para esta função. Da mesma forma, percebemos no uso da voz passiva maior
associação desta estrutura à função discursiva de veiculação de informação nova, posto
que 64% dos dados representam SN dessa natureza, ao menos nesses contextos
comunicativo-situacionais.
Um dado que nos chama atenção é o fato de 29% das orações passivas
estarem relacionadas a contextos de veiculação de informação inferível. Este pode ser
considerado um índice importante, se comparado ao papel desta mesma função ao uso
da estrutura ativa que foi de 14%.
159
Cabe reforçar, porém, que, independentemente de os resultados de
frequência apontarem para um uso maior de estruturas (X)VS passivas na veiculação de
informação inferível, ao considerarmos os totais referentes ao seu caráter informacional,
percebemos que ambas as possibilidades de vozes verbais cumprem com a função
comunicativa de veiculação de SN [+focais], ao menos nesta amostra em contexto de
gênero acadêmico em EL2. A soma dos resultados aqui referidos mostra que 95% das
estruturas ativas e 93% de estruturas passivas emergiram em contexto de veiculação de
informação nova/inferível. Tal equilíbrio sugere certa tendência de uso das formas para a
função de focalização do SN.
Observando a preferência para o uso de cláusulas (X)VS ativas na veiculação
de SN novos (81%), sugerimos que a frequência deste uso via inacusatividade lexical,
seja uma instância de transferência da L1. Tal fato se daria graças à forte ocorrência da
ordem VS em gêneros discursivos diversos do PB, tais como a conversação e o próprio
gênero acadêmico, compostos, dentre outros, pelo tipo textual narrativo em que tal
ordenação seria uma construção de ordem menos marcada e que cumpre,
principalmente, a função apresentativa de elementos novos no nível do discurso (cf.:
Naro e Votre (1999), Pezatti (1994), Spano (2002), Freitas (2006)).
O mesmo aconteceria com o uso da passiva (X)VS. Todavia, à maior
frequência da estrutura passiva em contextos de veiculação de informação inferível,
associamos também a sua função em textos de gênero acadêmico no PB.
Se o uso da ordem VS no PB é entendido, sincronicamente falando, como
restrito, discursivamente motivado e mais atrelado ao tipo textual narrativo, no discurso
acadêmico, ou nos discursos mais formais em geral, a ordem VS passiva se torna uma
possibilidade mais frequente e aparentemente menos vinculada à função apresentativa,
podendo ser utilizada para compor a própria argumentação e textualidade típica desse
gênero discursivo, ou seja, figurar nas porções de fundo da composição textual.
160
Sabemos que o uso da estrutura passiva, em geral, é menos marcado em
contextos formais do que informais; além do mais, a passiva VS no PB, conforme já
apontado por Furtado da Cunha (2000), teria um caráter eminentemente especial, pois,
seria uma oração neutra, sem tópico, que caracteriza um acontecimento: um todo não
analisável via relação direta ‘tópico-comentário’. Tal fato sugere, penso eu, que seu uso
esteja mais relacionado à composição da textualidade e da argumentação, do que,
necessariamente, de introdução de SN novos. De qualquer forma, vemos que a
associação do uso da ordem VS a motivações discursivas relacionadas à estrutura
informacional é inevitável, tanto na inacusatividade lexical, quanto na estrutural, já que
nos dois contextos o SN sujeito sempre estará relacionado, em alguma medida, à quebra
do fluxo informacional. No presente trabalho observamos ainda que tais estratégias são
transpostas para o contexto de uso de EL2.
Apresentamos em (60a – 60c), exemplos de cláusulas (X)VS ativas, que
exemplificam a ocorrência de sujeitos novos no texto:
(60a) “The low, front, lax and unrounded vowel was substituted by the mid, front, lax and unrounded vowel. And also happened the substitution of the voiced alveolar fr icative consonant by the voiceless alveolar fricative conso nant ” (60b) In a general way we have noticed tendency to insert an [i] in all consonant clusters that begin with [s], in words like strange, for example. It probably occurs because in Brazilian Portuguese phonetic system does not exist words beginning with fricative alveolar [s]. (60c)So, it is natural to us to introduce a vowel before its pronunciation in order to make it more “similar” to our system. However, X does not do this “mistake” in all these types of word. A possible explanation is the fact that she had already assimilate that in English phonetic system words beginning with [s] different from Brazilian phonetic system words beginning with [s] different from Brazilian Portuguese pronunciation, we don’t put a vowel before it. In only one case occurred a substitution .
Nas sentenças acima verificamos, então, a mesma estratégia que motiva o
uso da ordem VS no PB para a introdução de elementos novos/inferíveis no discurso.
Nos exemplos, tal estratégia é transferida para o discurso do falante de EL2, via
construção inacusativa ativa. Sendo assim, por ser informação nova no discurso, temos
161
na construção, SN sujeitos que possuem status de [ + Foco ], com possibilidade de
passarem ao status de elemento [+tópico] de acordo com a demanda discursiva.
Note-se, ainda, a tendência de que os SN sujeitos dessas construções
apresentem traços de indefinitude, como em ‘words beginning with fricative alveolar [s]’
cujo núcleo encontra-se no plural e em ‘a substitution’ em que temos um determinante
indefinido. Tais fatores estariam relacionados ao fato desses SN serem novos, o que
também explicaria a tendência de sua maior extensão, como em (69a) e (69b), típico
desse tipo de constituinte.
Nas orações (61a - 61c) encontramos exemplos do uso da ordem (X)VS
passiva com sujeitos [+focais]:
(61a) “By analyzing the referred data, it could be observed some aspects of the pronunciation of English by Brazilians”
(61b)The voiceless stops [p, t, k] are aspirated when they are the very first sound in a word or when the first sound is a stressed syllable. X and Y had difficulties in relation to this process. Curiously, both produced the affricate [ts] instead of producing the initial alveolar stop aspirated [th] in some contexts as in the ones in which the word “to” is mentioned as in “to see” [`tsusiy], pronounced by us in the same way. Therefore, we consider that its caused by the Brazilian Portuguese influence, specially the “carioca” accent which pronounce the affricate [ts] where is expected the dental stop [t] ; i.e.: [tsIa].
(61c)This study will discuss the obligatory phonological processes and the Brazilian Portuguese influence on English pronunciation. To do that, it was made two transcriptions of students’ readings.
Para explicar o uso do sujeito invertido em EL2 é importante exemplificar
também o uso de estruturas passivas como possível veículo de introdução de informação
nova. O uso da voz passiva mostra que tal estratégia possui destaque para entendermos
a construção do discurso no PB, já que ela extrapola o nível da inacusatividade lexical,
atingindo, em termos funcionais, a estrutura passiva VS, como já constatado em Furtado
da Cunha (2000).
Temos em (61a - 61c) exemplos da forte associação entre a organização
discursiva e a inacusatividade no PB que se reflete no discurso de EL2. As orações
162
apresentadas mostram que o falante de EL2, ao produzir uma oração passiva de sujeito
pleno, não reconhece as regras e exigências sintáticas do inglês, no que diz respeito ao
uso da sintaxe passiva, muito por pressões discursivas da L1, relacionadas ao uso do
sujeito invertido.
As pressões discursivas aqui tratadas persistem no curso de aquisição da
nova língua, proporcionando a ocorrência de estruturas agramaticais. Tal fato,
relacionado à interferência da L1 no processo de aquisição, serve como evidência a favor
da Hipótese do Período Sensível. De certo, é possível afirmar, um falante não nativo
estaria todo o tempo passível de produzir construções agramaticais dessa natureza,
evidenciando a hipótese de que a aquisição de uma língua só seria possível dentro de
circunstâncias não disponíveis em períodos de exposição tardia. Na medida em que
falantes, supostamente de nível avançado, muitos fluentes, de inglês como L2,
apresentam em textos de discurso controlado, um tipo de construção de natureza tão
específica e distante da realidade da LA, eles apresentam também evidências contra a
questão da aquisição, colocando a noção de aprendizado de uma L2 como a mais
plausível de ser aceita.
Os SN sujeitos das passivas detêm alto grau de novidade, principalmente se
considerarmos o critério de primeira menção no discurso. Como é verificável nos
contextos apresentados, eles seriam [novos], apesar de estarem diretamente
relacionados aos contextos comunicativos anteriores. Assim, apesar de os SN ‘some
aspects of the pronunciation of English by Brazilians’, ‘the dental stop [t]’ e ‘transcriptions
of students’ readings’ serem, grosso modo, previsíveis de ocorrerem nesses contextos,
por serem [novos], em termos de encadeamento informacional, tenderam a aparecer
pospostos na construção passiva, perdendo o traço de topicidade típico dos SN
posicionados à direita da oração passiva SV.
Esta seria, então, uma estratégia de refocalização do SN [paciente] da oração
transitiva original, o qual ganharia, por tendência, o status de tópico na construção SV,
163
perdendo-o na ordem VS. Como já dito, num novo contexto comunicativo-situacional, tal
SN estaria licenciado a ser novamente elevado ao papel pragmático-discursivo de tópico.
O uso da (X)VS passiva na escrita em inglês por usuários brasileiros seria um evidente
exemplo da influência do discurso do PB como L1 na formação da interlíngua desses
aprendizes.
Notemos ainda o impacto da gramática da LA, pelo preenchimento do sujeito
não referencial ‘it’ à esquerda do verbo em (61a) e (61c). A variação de possibilidade
desse tipo de preenchimento apontaria para motivações gramaticais na formação da
construção independentes da orientação discursiva a qual estaria relacionado seu uso no
EL2. Assim, percebemos o encontro de forças de ordens distintas atuando na formação
do fenômeno.
6.4 Extensão do SN
Os resultados da pesquisa também mostram a tendência de que os sujeitos
das cláusulas (X)VS sejam extensos. Em termos de números de palavras, considerando-
se o limite de 3 palavras para a classificação de SN [ - extensos ], os SN de cláusulas
(X)VS tenderam a ser maiores se comparados aos SN de cláusulas SV, como vemos na
Tabela 15:
Tabela 15 – Ordem VS/SV X Extensão do SN
Extensão SN Ordem
[+ extenso] [- extenso] Total
N / % N % N % N % SV 324 19% 1388 81% 1712 100% VS 39 70% 17 30% 56 100% Totais 363 20% 1405 80% 1768 100%
164
Os resultados referentes aos 56 SN sujeitos das orações (X)VS analisadas
mostram que 70% foram considerados extensos, em oposição aos 19% dos SN das 1712
orações SV que apresentaram tal característica.
Verificamos, dessa forma, que os resultados já apontados, por exemplo, em
Naro e Votre (1999), Spano (2000, 2008) referentes à tendência de uso de SN extensos
nas orações VS são confirmados também em nossa pesquisa sobre seu uso em contexto
de aquisição de inglês como L2. Aqui, novamente, tal como fora constatado em Freitas
(2006), seu uso é determinado por pressões discursivas relacionadas à distribuição de
informação nova/dada: os estudos sugerem que, ao apresentar informação nova no
discurso, o usuário utiliza maior quantidade de forma. Esta seria também uma estratégia
discursiva de tornar mais proeminente, no nível do discurso, um elemento que não detém
caráter tópico e, portanto, é de baixa recuperação referencial.
Claramente, observamos a atuação do princípio funcional da iconicidade em
seus desdobramentos acerca da quantidade das formas, relacionados ao equilíbrio
informacional da ordenação vocabular, além do próprio princípio da marcação.
De certo, o observado estaria relacionado ao subprincípio da quantidade,
tanto no que se refere à quantidade de informação quanto à relevância da informação
naquele contexto. Na medida em que o SN de orações (X)VS tende a ser informação
nova ou mesmo inferível, ele também tende e ser mais extenso, ao apresentar maior
número de constituintes em sua composição. Por outro lado, os SN tópicos das orações
SV tendem a apresentar menos massa fônica, podendo mesmo tornarem-se elípticos
quando de sua clara referencialidade no conjunto discursivo. Acrescente-se o próprio
caráter marcado da ordenação VS que espelha a possibilidade de maior quantidade de
forma relacionada a sua menor frequência de uso.
Os dados de C1 mostram certa tendência, na amostra, de que a presença de
sujeitos extensos ocorra ainda mais em contextos de passividade do que em orações
ativas, como podemos ver na Tabela 16, na sequência:
165
Tabela 16 - Voz X Extensão do SN
Extensão SN Voz
[+ extenso ] [- extenso ] Total
N / % N % N % N % Ativa 39 67% 19 33% 58 100% Passiva 74 80% 19 20% 93 100% Totais 113 75% 38 25% 152 100%
Como vemos, do total de 58 orações VS ativas, 67% dos dados apresentaram
SN sujeitos extensos, ou seja, com mais de 3 palavras em sua composição. Consoante
ao que já fora mostrado nas pesquisas de VS no PB, tal fenômeno é fortemente
associado a esse tipo de cláusula e está relacionado, segundo a proposta de Naro &
Votre (1999), à baixa carga informacional desse SN, o qual, por não se constituir em um
elemento tópico, carece de maior número de palavras para auxiliar sua percepção, o que
favorece a textualidade.
Da mesma forma, o uso do SN sujeito em posição pós-verbal na construção
(X)VS passiva parece ser orientado por esse princípio. De 93 sentenças passivas, 80%
dos SN sujeitos foram considerados extensos, o que sugere, novamente, que a
estratégia de uso do sujeito invertido esteja associada à questão da distribuição da carga
informacional, em particular no que diz respeito à veiculação de informação [+focal].
Cabe apontar, ainda, que 65,5% dos SN extensos - 74 do total de 113 dados -
ocorreram na construção VS passiva.
Atribuímos ao papel exercido pela voz passiva (X)VS nos textos acadêmicos
em inglês uma explicação que associa sua maior frequência com SN sujeitos inferíveis e
a função de construção de uma estrutura de suporte à argumentação e estruturação
típica desse tipo de textos. Mais do que a função apresentativa a qual parece estar mais
fortemente vinculado o uso da ordem (X)VS lexical, a motivação de uso para a voz
166
passiva consistiria não apenas na veiculação de informações focais no discurso, via
introdução de referentes novos, mas também pela recuperação de referentes já
previamente existentes na situação comunicativa e que apresentam a necessidade de se
tornarem, novamente, centrais.
Ora, a reintrodução de um elemento no discurso também requer estratégias
de manutenção da textualidade e, portanto, explica-se a tendência de os SN sujeitos da
passiva, novos ou inferíveis, serem [+extensos]. Ao reposicionar o SN paciente na
posição pós-verbal, originalmente a mesma em que fora gerado na construção transitiva,
o usuário apresenta uma estratégia de refocalização do SN, retirando sua topicidade, em
função de uma argumentação, típica desse gênero no PB como L1, e que não
necessariamente coloca sob um novo sujeito a centralidade, o que o torna provável
depositário do fluxo informacional vigente.
Apesar da tentativa, legítima, atrevo-me a dizer, de compor a textualidade
dos textos acadêmicos pelo uso de uma estrutura/estratégia da língua materna, o usuário
produz uma sentença agramatical, podendo comprometer, é bem verdade, seus objetivos
comunicativos.
Encontramos em (62a – 62c) alguns exemplos de construções (X)VS com
sujeitos extensos na voz ativa:
(62a) The hypothesis we can formulate about it is that, in use to turn the articulation easier, the speaker end up to make a progressive assimilation in which an originally voiced sound (that would be the result of a regressive assimilation) becomes voiceless due to this new process. Simplifying, occurs a progressive assimilation that blocks a regressive assimilation , which be that first phonotatic strategy a Brazilian speaker would go for.
(62b) Talking about the consonant clusters, our work had a positive result, the students did not have trouble to produce initial clusters starting with [s], for example on “street”. Many students, however, could face this problem because it does not exist in Portuguese a similar sequence of consonants in the beginning of a word. (62c) Some optional processes are presented in our report such as flapping of alveolar stops, weakening of unstressed vowels of function words, deletion of voiceless alveolar stops and the aspiration of final stops. […] In our data appears aspiration of final
167
voiceless stops in some words such as work, Arabic and group but all the rest are not marked since this process does not exist in Portuguese so it is very difficult to produce it in English.
Como vemos nos exemplos, a tendência de que o sujeito posposto seja mais
extenso do que o sujeito anteposto é um dos atributos mais importantes do fenômeno da
inversão do sujeito no PB. Estudos sugerem que o baixo grau de topicidade do SN e sua
consequente baixa, ou mesmo nula, possibilidade de recuperação no discurso faz com
que o interlocutor atribua mais ‘peso’ a esse SN para que o torne proeminente no
contexto (cf.: Naro e Votre, 1999). Mais uma vez, a respeito do uso de VS com verbos
inacusativos em inglês, essa tendência também se verifica.
Os sujeitos ‘a progressive assimilation that blocks a regressive assimilation’, ‘a
similar sequence of consonants in the beginning of a word’ e ‘aspiration of final voiceless
stops in some words such as work, Arabic and group’ servem de exemplos na medida em
que apresentam, respectivamente, 8, 11 e 1463 palavras cada um. Se comparados aos
SN sujeitos plenos das orações SV correspondentes, percebemos essa diferenciação, já
também atestada em Naro e Votre (1999), Spano (2002 e 2008) e Freitas (2006). Vale
salientar o fato de serem SN com características de sujeitos focais, caracterizados,
dentre outros fatores, por seus baixos graus de definitude.
Cabe notar também, de antemão, as diferentes configurações possíveis e
mais frequentes de preenchimento da posição à esquerda do verbo. Como já dito, em
línguas de sujeitos nulos, por hipótese, a posição à esquerda do verbo, numa oração VS,
poderia estar vazia, tal como ocorre em (62a), configurando uma estrutura transferida
diretamente do PB como L1, tanto em termos discursivos, como em termos gramaticais.
Em (62b), por outro lado, verificamos a presença do pronome não referencial ‘it’ na
posição esquerda e em (62c) a presença de um SAdv locativo. Tais orações constituem,
assim, exemplos da atuação da gramática da língua alvo, por requererem o
63 Considero que os SAdv dessas construções podem ser interpretados como adjuntos do SN sujeito e não da oração como um todo
168
preenchimento da posição prototípica de sujeito gramatical, apesar de se constituírem
em estruturas de aceitabilidade duvidosa na L2. Tal aceitabilidade pode ser considerada
maior, se pensarmos, por exemplo, na semelhança com construções de inversões
locativas típicas, no caso de (62c), apesar da ausência do sujeito expletivo ‘there’ por ela
requerida. De qualquer forma, mantenho a argumentação de que seu uso é originado por
motivações discursivas transferidas da L1 desses usuários.
Abaixo, em (63a - 63c) apresentamos exemplos de orações (X)VS passivas
que também refletem essa tendência:
(63a) “Concerning the consonants, it could be noticed the occurrence of two processes typically related to the Carioca dialect” (63b)This study will discuss the obligatory phonological processes and the Brazilian Portuguese influence on English pronunciation. To do that, it was made two transcriptions of students’ readings. (63c) Concerning the obligatory processes, most of the times I apply them well as much as could notice but the pronunciation of the –s morpheme, which is still problematic sometimes for me. It was noticed any problem with the pronunciation o f the regular past and the past participle in this text – all the assimilations and/or dissimilations important were applied in each case as in “recognized” [zd], “rated” [tid], “influenced” [ct] and in “affected” [id].
As orações passivas destacadas em (63a - 63c) mostram que também nesse
tipo de construção a ordem (X)VS em EL2 tende a ocorrer com um número mais elevado
de palavras do que em construções com sujeitos antepostos. Os SN em questão
possuem 11, 5 e 16 palavras em sua constituição, o que é, novamente, evidência para a
confirmação desse princípio tão importante relacionado à cláusula (X)VS que é
transferido para seu uso em EL2.
Insisto em questionar a aceitabilidade dessas estruturas na língua alvo, ou
seja, em que o sujeito seja um SN pleno. Embora, como apresentado em exemplos de
LGSWE, seja possível encontrarmos orações passivas com SN sujeitos dessa natureza,
pospostos, novos e extensos, estes seriam restritos a certos contextos, provavelmente
diacronicamente herdados e, portanto, não presentes no conjunto de dados do input
169
comum. Ou seja, a explicação mais econômica para sua emergência no processo de
aquisição estaria relacionada à influência do discurso da L1.
Os dados da Tabela 17, ainda sobre C1, mostram como os fatores extensão e
status informacional estão fortemente associados também nesse ambiente:
Tabela 17 - Status Informacional X Extensão do SN das orações VS
Os resultados do cruzamento entre os fatores extensão do SN e seu status
informacional parecem ratificar os achados de pesquisas anteriores que apontam para a
tendência de que a informação focal, veiculada pelo SN sujeito, se apresente na forma
de um SN com maior número de palavras.
Os números mostram, por exemplo, que do total de 107 construções
analisadas com SN novos e do total de 34 construções com SN disponíveis, 77% e
76,5% dessas, respectivamente, veiculavam informação contida em SN [ + extensos ].
Percebemos que, das 10 cláusulas (X)VS que veicularam SN dados, 50%
apresentaram sujeitos [ + extensos ]. Esse resultado foi contra nossas expectativas, pois
esperávamos mais sujeitos dados [-extensos]. Mas sabemos que os sujeitos dados, [ -
extensos ], tendem a aparecer na ordem SV. De qualquer modo, na ordem VS, há
tendência maior para os sujeitos serem novos ou inferíveis e serem [+extensos].
Confirma-se a hipótese geral de que o uso de estruturas (X)VS no contexto
aquisitivo do EL2 por alunos brasileiros estaria, tal como fora sugerido em Freitas (2006),
Extensão SN Status
[+ extenso] [- extenso] Total
N / % N % N % N % Novo 83 77% 25 23% 107 100% Inferível 26 76,5% 8 23,5% 34 100% Dado 5 50% 5 50% 10 100% Total 114 75% 38 25% 152 100%
170
diretamente relacionado a sua motivação discursiva de uso no PB como L1. A
emergência dessas construções nesse contexto, longe de representar apenas uma
instância de transferência da sintaxe da L1, também revela uma estratégia de
referenciação e retomada da carga informacional, associada a adaptações linguístico-
cognitivas específicas.
Percebemos a tendência de associação entre a extensão do sujeito posposto
e seu status informacional [-velho], também, nos exemplos (64a – 64b) abaixo:
(64a) In memorial, it might have occurred a change of the nature of th e vowel , influenced by the previous and following consonants, as the [m] is bilabial, they produce a [i] so that the vowel can be in a fronter and higher position, something that is frequently done in Brazilian Portuguese. (64b) According to Prator and Robinett’s “Manual of American English Pronunciation”, a consonant cluster in final position in the English language can present up to four different sounds. The most commonly used word to express this kind of cluster is the word “strengths” [strengths]. Such structure is not common in many other languages, Portuguese included. In our native language, is allowed only one consonant sound in final position as on “maldade”, “legal”, “batata”, “girafa”, “banana” Mais uma vez, encontramos no SN ‘a change of the nature of the vowel’ um
constituinte novo no nível de discurso, evidenciado pelo traço de indefinitude e pela
própria extensão típica de elementos [-dados]. O mesmo parece ocorrer em ‘only one
consonant sound in final position’, tanto em termos de grau de novidade como de
extensão e de definitude.
Parece importante, mais uma vez, citar a variação de presença do pronome
expletivo à esquerda do item verbal. O mesmo ocorre na oração ativa, mas não na
oração passiva, muito provavelmente dado ao fato de existir um SAdv locativo nessa
posição, apesar da possibilidade de coexistência do pronome expletivo e do SAdv nesse
ambiente, como veremos mais à frente.
171
6.5 Estrutura do SN
Tendo por base os estudos sobre a ordem VS no PB, decidimos verificar se a
natureza estrutural do SN pós-verbal das construções (X)VS em EL2 se aproximaria do
observado nas referidas pesquisas. Segundo Spano (2002 e 2008), por exemplo, a
ordem VS apresentaria sujeitos com características de menor grau de definitude do que
os sujeitos de cláusulas SV. Na pesquisa de Freitas (2006) também vemos que o sujeito
das construções VS agramaticais em inglês detinha características que apontavam para
menor grau de definitude.
Os números do cruzamento entre os fatores Ordem X Estrutura do SN de C2
apontam para esta mesma tendência, como podemos verificar nos dados da Tabela 18:
Tabela 18 – Ordem VS/SV X Estrutura do SN
Como visto, o percentual de frequência de SN [+definidos] das orações (X)VS
foi de 55%, enquanto os SN sujeitos definidos das orações SV representaram 92% do
total de 1712 orações. Este seria outro sinal de que as cláusulas inacusativas, ativas e
passivas, que emergem no contexto de EL2 apresentam forte condicionamento
discursivo relacionado a estratégias de topicalização e focalização de seus SN, também
representadas no grau de definitude de seus sujeitos. Em outras palavras, é possível
afirmar que, na medida em que as orações (X)VS veiculam informação nova ou inferível,
Estrutura SN Ordem
[+ Definido] [- Definido] Total
N / % N % N % N % SV 1561 92% 151 8% 1712 100% VS 31 55% 25 45% 56 100% Total 1592 73,5% 176 6,5% 1768 100%
172
o SN sujeito apresenta maior tendência de ser [ - definido], como foi constatado no índice
de 45% de frequência de indefinitude de SN.
Pelos resultados podemos atestar a maior probabilidade de SN indefinidos na
ordem (X)VS, ao menos em comparação às orações SV correspondentes, que
apresentaram apenas 8% de ocorrência de sujeitos [-definidos].
A explicação acerca dos 55% de SN definidos das cláusulas (X)VS estaria
relacionada ao número relativamente mais alto de orações (X)VS passivas com sujeitos
inferíveis no corpus.
Nos exemplos (65a - 65d) verificamos os possíveis comportamentos
estruturais atestados para o SN sujeito dessas construções, considerando a tendência de
seu caráter de indefinitude:
(65a) “but in <until> and <formal> occurs a vocalization of the lateral alveolar appearing [w] in the coda position ”
(65b) In TEXT A, the context was: “Bill Slade…”, in this case we see that Bill ends with a voiced sound (lateral alveolar – which, as we commended before became vocalized) and Slade second sound also is a voiced sound (lateral alveolar). As a result, very often happens what X and Y did . Insert a vowel and moreover, vocalized the sound [s] transforming it in [z]. In [ispeysow] did not occur the vocalization of the [s] because the following sound is [p], voiceless. (65c) But, in terms of Phonetics and Phonology, the schwa is a mid-central unrounded vowel sound which exists in English vowel chart. In Portuguese, as we know, the schwa sound does not exist, so Brazilians have some difficulties on how to pronounce it. On the schwa table based on texts A and B, it is observed a great influence from spelling to sound. (65d)The students will act giving data and, at the same time, collecting data. They both read two texts in English and recorded his readings to give it to each other. The purpose is transcribing and analyzing separately and, together, compare the results and find explanations for the differences that may constitute “the Brazilian accent”. More specifically, it will be observed the schwa sound, the <S>, the < L> and the <ED> in final-word position . This research intends to be a humble contribution from these students for the phonetic and phonological studies of English Brazilian speakers.
173
Trouxemos para essa argumentação exemplos de orações ativas e passivas
com SN sujeitos definidos e indefinidos. Em (65a) e (65c), por exemplo, encontramos,
respectivamente em uma oração ativa e em uma passiva, sujeitos [-definidos].
Claramente, nas construções (X)VS com sujeitos indefinidos, os SN tendem a
veicular informações com maior grau de novidade, tal como acontece com o de (65a): ‘a
vocalization of the lateral alveolar appearing [w] in the coda position’, o qual seria uma
explicação dada para a ocorrência do fenômeno ali mencionado. Tais SN ainda podem
apresentar certo grau de referenciação, apesar de não serem tópicos discursivos como o
sujeito da oração passiva, ‘a great influence from spelling to sound’, o qual, embora
relativamente novo, seja uma informação mais relacionada à situação comunicativa
imediatamente anterior, em que o assunto diz respeito a interferências que atrapalham a
pronúncia do indivíduo na L2.
A marca de estrutura indefinida nos dois exemplos consiste na presença do
artigo indefinido ‘a’, o qual estabelece o menor grau de referencialidade e, por
consequência de definitude dos constituintes.
Vale notar, ainda, a maior extensão dos dois SN analisados, além da
ausência do sujeito expletivo à esquerda do verbo em (65a), presente, contudo, na
oração passiva (65c).
Nos dados (65b) e (65d), por outro lado, encontramos SN sujeitos [+definidos]
e é fácil verificarmos que tal característica estrutural está diretamente ligada ao seu
status informacional e ao grau de intimidade do interlocutor à informação veiculada.
Em (65b), por exemplo, o SN é dado no contexto imediatamente anterior, em
que se fala de sonorização do fonema [s], o que justifica o maior grau de definitude do
sujeito, marcado pelo artigo ‘the’. Na oração (65d), porém, embora o sujeito em questão
possa ser analisado como novo, por ser mencionado pela primeira vez naquela porção
174
discursiva, ele se constitui em uma informação que denota certa expectativa naquele
contexto e, portanto, o artigo definido emerge mais uma vez como seu determinante64.
A Tabela 18 apresenta resultados generalizantes que serão mais detalhados
a partir dos resultados apresentados na Tabela 20, em que são listadas as
características mais específicas sobre a definitude dos SN: a presença/ausência de
determinantes e/ou quantificadores em sua composição.
Sendo assim, diferenciamos SN que apresentaram, ou não, determinantes,
artigos e pronomes, à sua esquerda. Àqueles que não os detiveram, chamamos de SN
‘nus’. Uma subdivisão ainda foi feita dentro do grupo de SN indefinidos. Como os estudos
sobre a ordem (X)VS apontavam para a tendência do SN sujeito ser [-definido],
resolvemos observar se no contexto de aquisição de L2 eles seriam mais modificados
ainda por um quantificador:
Tabela 19 - Ordem VS/SV X Determinantes
Estrutura SN Ordem SV/VS
Definido (Art/Pro)
+ SN Ø+SN(Def)
Indefinido (Art/Pro)
+SN
Indefinido (Quant)+
SN
Ø+SN (Indef)
N / % N % N % N % N % N % SV (1712) 901 53% 660 39% 64 4% 77 4% 10 0%
VS (56) 28 50% 3 5% 15 27% 7 13% 3 5%
Totais (1768) 929 53% 663 37% 79 4,5% 84 4,8% 13 0,7%
Os resultados referentes ao grau de definitude do SN sujeito das cláusulas SV
mostram que, do total de 1712 orações, 53% dos SN foram analisados como definidos
64 Note-se a dificuldade de estabelecermos, por vezes, a distinção entre SN novos/inferíveis nesse contexto, tornando a generalização SN [+Foc] / [-Foc] uma classificação mais fiel em relação ao SN sujeito da ordem (X)VS no EL2.
175
modificados por determinante, 39% como definidos nus e apenas 8% foram considerados
[-definidos].
Essa informação deve estar diretamente associada ao fato de os elementos
sujeitos dessa cláusula tenderem a ser tópicos, ou seja, a ser informação dada, e
portanto, já possuírem, ao longo da construção discursiva, informações suficientes para
sua referenciação e retomada, não apresentando comportamento estrutural típico de
elementos focais. De fato, um total de 92% dos SN nesse contexto apresentaram maior
grau de definitude.
As orações (X)VS apresentaram um total de 55% (50% + 5%) de sujeitos
definidos, porém, apresentaram um percentual bem mais alto de sujeitos [-definidos], se
comparados aos das orações SV. Nesse contexto, 45% (27% + 13% + 5%) dos SN,
modificados por determinantes ou não, foram analisados como [-definidos], sugerindo
que a construção (X)VS esteja mais suscetível ao licenciamento de informação [+Foco],
fato relacionado ao status informacional desse constituinte no nível do discurso. Embora
o papel semântico do SN dos verbos inacusativos tenda a ser TEMA, ele poderá
apresentar maior ou menor caráter de definitude dependendo de sua informatividade, o
que estaria refletido na opção pelas ordens SV ou VS.
Em outras palavras, podemos dizer, a posposição e antecipação do SN sujeito
das orações analisadas poderiam ser explicadas por motivação discursiva relacionada ao
seu caráter [+/- Focal].
Associamos a frequência maior de sujeitos definidos na ordem (X)VS, 55%,
ao fato, já apresentado em seção anterior, de que muitas delas apresentaram informação
inferível e, portanto, com certo grau de referencialidade, o que os faz deter caráter de
[+definidos].
Sendo assim, sugerimos que, também no contexto de aquisição de EL2, o
falante brasileiro manifeste o uso da ordem (X)VS com características discursivas tal
como o faz no uso coloquial em sua língua materna. Podemos afirmar que, pelo fato de o
176
SN sujeito da ordem (X)VS em EL2 apresentar alta tendência de ser [ - definido ], se
comparado ao sujeito na ordem SV, ele está mais relacionado à questão da distribuição
da carga informacional, tal como na sua L1.
Decidimos, na sequência, verificar como seria a ocorrência dos SN dentro de
C1, respeitando-se, como já visto, o cruzamento do fator Estrutura do SN com o fator voz
verbal, tal como apresentado na Tabela 20:
Tabela 20 – Voz X Estrutura do SN
Estrutura SN Voz
Definido (Art/Pro) +
SN Ø+SN (Def) Indefinido
(Art)+SN
Indefinido (Quant)+
SN
Ø+SN (Indef)
N / % N % N % N % N % N % Ativa 25 43% 8 14% 24 41% 0 0 1 2% Passiva 48 51% 7 7% 13 14% 23 25% 3 3% Totais 73 48% 15 10% 37 24% 23 15% 4 3%
Os resultados do cruzamento entre os fatores Estrutura do SN e Voz não
apresentou diferenças significativas sobre como o SN sujeito se manifesta em termos de
grau de definitude em contextos ativos e passivos. O somatório dos valores de SN
definidos e indefinidos foi respectivamente 57% e 43% para os SN na voz ativa e 58% e
42% para os SN na voz passiva. Novamente, não se pode afirmar que haja, ao menos de
modo categórico, tendência de frequência de uso de SN definidos e/ou indefinidos em
cada contexto, embora, vale salientar, haja maior incidência de SN sujeitos [ - definidos ]
nos dois contextos analisados.
Sendo assim, o que parece chamar atenção nos resultados da Tabela 20 é a
constatação de que dentro do universo de cláusulas (X)VS, o uso de SN [ - definidos ] é
muito amplo se comparado, por exemplo, à tendência já observada nas tabelas
177
anteriores, de maior ocorrência de SN [ - definidos ] em contextos SV. Vale lembrar que
apenas 8% das orações SV apresentaram SN [ - definidos ].
Esperávamos uma maior incidência de sujeitos definidos na voz passiva,
devido ao fato de ela apresentar um maior número de SN inferíveis. A diferença entre os
índices de frequência entre orações ativas e passivas não foi muito significativa, embora
percebamos que haja uma frequência maior de sujeitos modificados por um determinante
nesse contexto. Por hipótese, então, os SN nus emergentes no contexto de passividade
detiveram menor grau de referenciação, provavelmente por serem referentes únicos,
apresentando comportamento de informação [+nova].
Encontramos em (66a – 66c) alguns exemplos de construções (X)VS, através
dos quais poderemos analisar qualitativamente o comportamento estrutural dos sujeitos
na voz ativa:
(66a) Student one and three spoke the [z] sound instead of [s] in disobeyed, disarmed, disappeared, case and baseball. They were probably influenced by the fact that in Portuguese, the letter <s> between two vowels is produced [z]. Moreover, all of the words in chart (except prosecution and besides) are cognates, which could be possibly the cause for a possible mispronunciation. Concerning the word baseball, it was assumed that since the following sound is voiced, it might have occurred voicing assimilation , which is a strong feature of the Brazilian Portuguese system.
(66b) Considering the data presented, we noticed that we insert the vowel [i] as Brazilian Portuguese phonotatic rules when a consonant follows the <s> in word-initial position as we can see in the words mentioned. In Brazilian Portuguese, it may cluster two consonants in word-initial posit ion , but the letter <s> can not be the first consonant (onset position), so it’s the reason that we insert the vowel as nucleus to form a syllable.
(66c) In this paper, it is noticed that the group did not apply all <ed> sounds according to the General American English Standard. For instance, when the last sound was voiceless, as in [ri’pelyst] (TEXT A) the group pronounced <ed> it voiced: [riyphleysd], [ripleysid], [ripleysid]. The opposite also happened when after a voiced sound Y pronounced a voiceless sound: [akyuwzt]. There was cases where the rule was apply as the obligatory processes, as in X did in [‘pablist] (TEXT B). Also occurred the supression of the sound as in [pe form].
Podemos dizer que os sujeitos das orações ativas (66a – 66c) compreendem
informações [+ novas], na medida em que não faziam parte do fluxo informacional
178
corrente. Embora relacionados em alguma esfera ao conjunto de informações
antecedentes, eles foram introduzidos na situação comunicativa de modo a permitir a
continuidade da argumentação.
Devemos notar que, embora os três SN selecionados sejam considerados de
maior grau de novidade, eles apresentam comportamento estrutural diferenciado, o que
estaria relacionado ao grau de relação entre a informação por eles veiculada e o
conteúdo informacional que os antecedem.
Assim, é possível generalizar a partir do comportamento do SN de (66a), por
exemplo, que sujeitos ‘nus’ podem surgir mais em contextos de maior grau de novidade,
seja através de construções no plural, seja via termos generalizantes, tal como ocorre em
‘voicing assimilation’, que denomina um fenômeno fonológico.
Em (66b), apesar de considerarmos o SN ‘two consonants in word-initial
position’ novo no discurso, reconhecemos sua referencialidade ligada a palavra
‘consonant’ previamente usada. Entretanto, há de se observar que o usuário muda o
referente para consoantes do português, o que explica nossa opção para analisar o SN
como [+novo]. Neste caso, diferentemente do que ocorreu no SN nu anterior, o uso de
um determinante, numeral ‘two’, marca o grau de novidade, nesse sentido se
comportando de modo distinto de determinantes pronominais e artigos, já que eles se
mostram mais presentes em contextos de informação velha, ou com maior grau de
previsibilidade, como em (66c).
O sujeito ‘the supression of the sound as in [perform]’, embora novo, é de
certo modo previsível se pensarmos que o assunto proeminente no contexto
comunicativo aponta para usos fonológicos não previsíveis no inglês como L2. Em outras
palavras, o grau de interação informacional entre as informações anteriores e o SN
introduzido explicaria o uso do artigo ‘the’, apesar deste ser um sujeito novo.
O comportamento estrutural do SN das orações (X)VS ativas pode ser
generalizado a partir dos exemplos acima. Em termos gerais, esperávamos que o grau
179
de definitude dos SN analisados fosse menor do que o ocorrido nos dados e a este fato
atribuímos a tendência de que, embora os SN veiculassem informação [+nova], em nível
de encadeamento referencial, ela era em maior ou menor grau relacionada ao contexto
comunicativo global, na medida em que o assunto do trabalho era fonética/fonologia,
tornando determinados termos e expressões mais previsíveis. Vale notar, no entanto,
que ainda assim, muitos sujeitos foram classificados como contendo marcas de
indefinitude prototípicas, além do fato de não encontrarmos SN agentivos e animados em
C1. Estas seriam características semânticas facilmente associadas a trechos
informacionais com menor carga referencial.
Sugerimos, então, que o fator ‘estrutura do SN’ das orações (X)VS do EL2
reflita os diferentes comportamentos do SN sujeito da ordem VS na L1 desses
aprendizes. O falante não nativo usaria funcionalmente também na L2 as estratégias
sintáticas disponíveis para a continuidade do fluxo informacional, o que estaria refletido
na composição estrutural dos SN emergentes.
Nos dados (67a – 67c), abaixo, apresentamos orações passivas encontradas
na amostra C2:
(67a)The aim of this paper is to analyze varieties of English speeches of two Brazilians-Portuguese speakers, X and Y. Both of them are students of Liberal Arts ((Portuguese/English course – 5th term) at UFRJ. X studied at CCAA for two and half years and also at Cultura Inglesa for four years where she got an English Advanced Certificate and Y studied at Oxford for nine years where she got Teacher Certificate. In the following is described the methodology applied in this paper:
(67b) When a letter has a sound which does not exist in Portuguese they will be avoided (not pronounced) or they will be pronounced with a similar sound. The letter <a> can be pronounced [ae]. However that sound does not exist in BP. So it will be pronounced something similar to it, [E] for instance. (67a) We can find other syllabic orders in English such as CCC# in final coda position, In NEIVA & FREITAS (2002:37) we can find the following comment: “As we can see (…) the ordering of consonants in a cluster is even more complex in English than it is in Portuguese, not only in terms of number of segments but the order and nature of consonants sequence in a cluster” What can be implied by the extract above? The appropriate answer is that the order of consonant elements in a cluster is quite complicated to be dealt with by EFL students. For example, in our data we have one
180
sample of consonants that follows this pattern CCC# and even it can be found this one in English CCCC#. Ao considerarmos os contextos de passividade e a estrutura do SN,
verificamos certa tendência de que estes apresentem algum determinante,
particularmente um quantificador, em sua composição. Tal fato pode estar relacionado a
um maior grau de referenciação entre o SN e o contexto comunicativo precedente, o que
provocaria um maior número de sujeitos inferíveis nesse contexto, já que estes
quantificadores tendem a funcionar coesivamente no conjunto textual. Assim, embora
não seja possível afirmar tal fato de modo categórico, uma análise mais qualitativa sobre
os dados aponta para essa generalização: as orações (X)VS ativas estariam mais ligados
à função de veicular informação nova, enquanto as passivas apresentariam
funcionalidade mais abrangente, ligada à questão da argumentação acadêmica.
Na oração (67a) temos um exemplo de SN novo sendo introduzido no
discurso via voz passiva (X)VS. Apesar de novo, ele seria um referente único, particular,
o que explicaria o uso do artigo definido. De fato, o núcleo ‘methodology’ aponta para
uma única entidade e, portanto, de maior grau de definitude.
Os exemplos (67b) e (67c), entretanto, parecem espelhar mais a função
comunicativa da ordem (X)VS passiva do EL2: servir como contextos de argumentação e
construção da textualidade. Apesar de apresentarem elementos focais e, portanto, não
tópicos, seus SN são de menor grau de novidade, o que nos leva a considerá-los como
inferíveis. Note-se o adjetivo ‘similar’ de (67b), que remete a uma entidade mencionada,
e o pronome ‘this’ de (67c) que, apesar de sua função explicitamente catafórica de
introduzir ‘CCCC#’, amarra a continuidade informacional do SN novo ao referente
‘sample of consonants’ do contexto anterior.
Temos, desta forma, o uso das orações passivas (X)VS, agramaticais no
inglês, com funcionamento similar ao uso da passiva VS no PB: uma estratégia de
181
focalização de toda uma oração ou, em particular, de seu SN sujeito, para a construção
da textualidade.
6.6 Preenchimento à esquerda
Apresentamos agora os resultados referentes ao uso de elementos à
esquerda das sentenças (X)VS em EL2. A presença de um elemento à esquerda das
construções VS inacusativas do PB já foi apontada em diferentes estudos (cf. Spano
(2002, 2008)) e é categórica no inglês como L1, nos contextos em que a ordem XVS é
aceita nesse sistema.
No PB, conforme apresenta Spano (op.cit.), em termos sincrônicos, há a
tendência de preenchimento à esquerda de VS, dentre outros elementos, por um
advérbio, seja ele preposicionado ou não. Já vimos aqui também que no inglês as
construções inacusativas podem ser antecipadas por um sintagma adverbial, o que forma
as chamadas ‘inversões locativas’, ou por um sujeito expletivo ‘it/there’.
Alguns trabalhos, como o de Cezario, Machado e Soares, 2009, evidenciam,
ainda, a tendência de uso de SAdv no PB às margens da oração, seja à esquerda ou à
direita. O que chama atenção no caso do elemento à esquerda das construções aqui
apresentadas é o fato de tais advérbios tenderem fortemente a ser de natureza locativa,
um fato que parece ser uma especificidade do fenômeno aqui tratado.
No contexto de aquisição de EL2 por brasileiros, algumas estruturas (X)VS
utilizadas seguem, em alguma medida, essa mesma tendência, posto que podem ser
antecipadas ou por um pronome expletivo ou um sintagma adverbial. Tal fato mostra que,
embora seu uso seja considerado incomum, ou mesmo agramatical em inglês, a ordem
(X)VS nem sempre apontará para uma oração de menor inteligibilidade nesse sistema.
Assim, considerando-se a baixa produtividade dessa ordenação na LA, além
de sua agramaticalidade quando seu sujeito é um SN pleno, para entendermos o uso das
182
orações (X)VS produzidas pro brasileiros, resolvemos abordar a possibilidade de
surgimento de elementos à esquerda das orações de C2, como vemos na Tabela 21:
Tabela 21 – Ordem VS/SV X Preenchimento à esquerda
Os resultados da Tabela 21 refletem sobremaneira a interação de aspectos
discursivos e gramaticais que determinam a ordem (X)VS no EL2.
Se a ordem VS fosse transferida para o discurso acadêmico escrito em EL2,
basicamente, como uma estratégia de focalização típica do PB, a tendência de que o
aluno brasileiro apresentasse algum tipo de preenchimento à esquerda do verbo refletiria
mais as restrições formais, típicas de línguas de sujeitos obrigatórios, de que tal posição
fosse preenchida por algum elemento, possivelmente de caráter tópico, como aconteceu
em 95% das orações de C2.
Ao observamos os números referentes aos elementos que antecedem a
ordem SV, notamos como o percentual de ausências de elementos à esquerda dessas
orações é superior ao que ocorre com orações VS: enquanto 37% das orações SV
emergiram sem apresentar determinados elementos à sua esquerda, apenas 5% das
orações VS apresentaram o mesmo comportamento65.
Em outras palavras, além da transferência de uma estratégia discursiva do
PB, o aluno brasileiro, de alguma forma, percebe a necessidade de que haja um
65 Tais como SAdvs, Conjunções etc.
?(VS) Ordem
Ø
X
Total
N % N % N %
SV 623 37 1089 63 1712 100 VS 3 5 53 95 56 100 Total 626 35 1142 35 1768 100
183
elemento formal na posição X das construções (X)VS inacusativas por ele mesmo
produzidas. Esta seria uma observação importante se consideramos que a inversão de
sujeitos detectadas nesta amostra só aconteceu em contextos de inacusatividade, já que
não encontramos sequer uma oração intransitiva com sujeito agentivo, como já dito. Esse
fenômeno demonstra a relação direta entre inacusatividade, ordem VS e preenchimento
à esquerda nas chamadas línguas em que o sujeito gramatical e/ou semântico é
obrigatoriamente expresso.
Assim sendo, os dados da presente pesquisa servem para demonstrar
empiricamente o que em nível teórico já foi sugerido pelos gerativistas acerca do padrão
estrutural da ordem VS com verbos inacusativos em línguas SV rígidas. Nesses
contextos, a presença de um elemento adverbial, de um sujeito não referencial ou algum
outro tipo de elemento parece ser bastante comum. O mesmo também é verificável nas
estruturas híbridas (X)VS da presente amostra: são híbridas porque apontam para uma
estratégia discursiva transferida da L1, porém apresentam marcas formais determinadas
pelo padrão de ordenação da L2.
Essas questões nos fazem pensar, novamente, na conceituação de
aquisição/aprendizagem de uma L2. À medida que brasileiros falantes de inglês
apresentam preenchimento da posição à esquerda de verbos inacusativos, poderíamos
pensar que eles recuperam de alguma forma informações linguísticas disponíveis na, por
tantos defendida, arquitetura da gramática, ou Gramática Universal. Entretanto, no
campo de aquisição de uma L2, prefiro argumentar em favor da noção de aprendizado
por conta da própria questão do uso da ordem VS numa gramática que restringe
altamente tal ordenação e que quando a licencia impõe que ela apresente características
estruturais diferentes das aqui apresentadas – com destaque para a voz passiva.
Com a atuação de aspectos formais da L2 não detectáveis na L1 e, portanto,
não passíveis de serem tratados como transferidos, a análise sobre a ordem VS, por
apresentar também características estruturais e discursivas tão comuns do PB, nos
184
coloca diante de uma construção não presente em nenhuma das duas línguas
envolvidas, posto que mesmo o uso desses elementos é anômalo dentro do padrão da
L2.
Concluímos, então, que o uso de construções agramaticais (X)VS, em
particular com preenchimento de sujeito expletivo, como veremos, refletiria um fenômeno
de supergeneralização que apontaria para uma junção de duas gramáticas. Tal fato
contribuiria para a formação de uma terceira gramática, a qual apresenta, ao mesmo
tempo, características sintático-discursivas da L1 e gramaticais da L2 na composição de
uma L3, aqui interpretada nos moldes do conceito de interlíngua (Selinker, 1972).
Ao olharmos de modo pouco mais cuidadoso os números referentes à C2,
verificamos, porém, que nos contextos de preenchimento à esquerda, percebemos ora
influência total do inglês, via uso de um sujeito não referencial e desprovido de papel
semântico, ora algum paralelo com o tipo de preenchimento detectado tanto no PB, como
no inglês, via uso de SAdvs e SPreps de sentido adverbial. Tantas forças interagindo na
formação do fenômeno terminam por caracterizar certa ambiguidade acerca do que teria
engatilhado esse tipo de preenchimento à esquerda dessas orações, conforme podemos
verificar na Tabela 22:
Tabela 22 – Ordem VS/SV X Tipos de preenchedores – C2
(X)VS
Ordem
It
SPrep
Sadv
Conj
Rel
Conj Adv
Outros
N % N % N % N % N % N % N %
SV 0 0 191 11 91 5 264 15 81 5 336 20 126 7
VS 26 46 6 25 6 11 5 9 1 2 1 2 0 0
TOTAL 26 1,5 97 12 97 5,5 269 15 82 5 337 19 126 7
185
O primeiro ponto observado diz respeito à forte tendência de que as
construções (X)VS em EL2 apresentem o uso do sujeito não-referencial ‘it’ à esquerda do
verbo, ao menos no nível de fluência aqui trabalhado.
No que tange ao uso do pronome, 46% das cláusulas analisadas em C2
apresentaram esse tipo de preenchimento. Obviamente, devido ao próprio caráter
gramatical do pronome expletivo, ele não ocorreu à esquerda de nenhum contexto SV.
Essa é uma informação importante e que aponta para o fato de que o entendimento do
fenômeno do uso da ordem (X)VS em EL2 não será alcançado apenas se considerarmos
os aspectos discursivos envolvidos nesse fenômeno no PB como L1.
O uso do expletivo no contexto de aquisição de EL2 pode estar apontando, na
verdade, ao mesmo tempo, para a sintaxe da língua inglesa, uma língua de sujeitos
obrigatórios, e para o PB como L1, devido a sua tendência de se tornar uma língua de
sujeitos plenos, lexicais ou não, como verificado em (Duarte, 1995)66. Acreditamos,
entretanto, ser a exposição a dados do input da L2, tais como as construções XVS
passivas gramaticais do inglês, as orações clivadas, de fenômenos da natureza e
quaisquer outras que exijam a presença do pronome não-referencial, a responsável por
esse fenômeno de supergeneralização.
As orações (66a - 66b) abaixo, assim como diversos outros dados
anteriormente apresentados nesta tese, servem de exemplos do uso do sujeito não-
referencial da ordem (X)VS aqui tratada:
(66a) All the groups of vowels <ea>, <ee> and <ey> have the possibility of being pronounced as [iy]. In these cases they were always mispronounced, it were used the sound [I], [i] and [ey], again the reason for the mispronunciation was the fact that the sound does not exist in Portuguese, besides, a misunderstanding of the combination <ey>.
(66b) The English language has obligatory and optional processes, which are, in most cases, used by people that know the language very well and by native speakers who apply them naturally. According to the tables, it was observed that the process of vowel
66 Apesar de não ter desenvolvido um pronome expletivo próprio, já encontramos em muitos contextos do PB o uso do pronome ‘você’ como sujeito não referencial.
186
nasalization, which is an obligatory one, was applied, for this is a process that also exists in Portuguese. Besides, it was also applied the process of vowel weakening, in the article “an”, in the verb form “was” and in the wor d “of”.
Os dados da Tabela 22 mostram ainda que a tendência de preenchimento por
um SAdv/SPrep também se confirma nas construções inacusativas em EL2. Segundo os
resultados, 25% dos sintagmas preenchedores dessa posição, ao menos em C2, foram
SPreps com sentido adverbial e 11% SAdv plenos, os quais, juntos, representaram 36%
dos elementos preenchedores, só perdendo para os expletivos.
Associamos o alto índice de uso da ordem [SAdv [VS]] aos achados de Spano
(2002, 2008). Nesse estudo, como visto, a autora mostra a preferência de preenchimento
dessa posição por um SAdv no PB.
As orações (67a - 67f) mostram como se comportam estruturalmente as
orações (X)VS, com SAdv/SPrep de sentido locativo, no EL2:
(67a) Interdental fricatives: In Portuguese, do not exist interdental consonants. (67b) The second case occurred the assimilation of the v oiceless sound , the rule is correctly applied because the previous sound is not a non-nasal alveolar stop (67c) In this case occurred interlanguage and hypercorre ction too (67d) After the analysis of the corpus we found strong influences of the Portuguese spelling rules and the Brazilian Portuguese phonological system. In some cases were also found influences of the English phonological s ystem and its spelling (67e) In Aline and Vanessa’s pronunciation was not detect ed any aspiration of voiceless stops (67f) It can be explained by the fact that in Portuguese does not occur aspiration in this context
Em todos os exemplos acima, como podemos perceber, temos a presença de
um Sprep antecedendo a construção inacusativa e caracterizando uma espécie de
Inversão Locativa similar à da LA.
187
No inglês sincrônico, construções cujo elemento à esquerda seja um
SAdv/SPrep são possíveis, embora não frequentes, principalmente com os verbos ‘to
come’ e ‘to be’, conforme, como vimos, explica Cavalcante (2002) em sua pesquisa sobre
a mudança do inglês ao se tornar uma língua [-prodrop]. Segundo a autora, estes seriam
resquícios dessa mudança e só seriam licenciados justamente pela presença do
sintagma locativo na posição à esquerda dos verbos na ordem VS.
Nagase (2007) ainda mostra, baseada em Levin e Happaport (1995), que a
inversão locativa do inglês é bastante restrita a verbos inacusativos, expressões
passivizadas e alguns verbos intransitivos, embora lembramos que todos os trabalhos
aqui abordados tenham mostrado que seu uso é de menor frequência. Enfim, o que
buscamos apontar com a análise dos presentes dados é a probabilidade de que o uso da
ordem [SAdv/SPrep [VS]] no contexto abordado esteja associado não à exposição ao
input, mas principalmente a motivações sintático-discursivas do PB como L1.
No inglês, as chamadas Inversões Locativas, apesar de serem gramaticais,
não seriam estruturas marcadas apenas em determinados contextos do sistema, sendo,
portanto, menos frequentes no input comum, o mesmo costumeiramente encontrado nas
salas de aulas de curso de idiomas. Portanto, não atribuímos a explicação do uso de
Inversões Locativas no discurso em EL2 de brasileiros à exposição a dados do input,
mas ao forte uso de SAdvs/Spreps em construções inacusativas do PB que talvez tenha
favorecido esse uso também na L2.
O preenchimento à esquerda dessas orações pode ainda estar relacionado a
um caráter eminentemente sintático de um sistema em mudança, já que o PB, a L1 dos
alunos, também desenvolve estratégia de topicalização do SAdv à esquerda do SN de
estruturas inacusativas atendendo, ao mesmo tempo, a demandas do discurso e à
tendência de ocorrência de um elemento nessa posição.
Questionamos aqui, de qualquer forma, se as supostas construções de
Inversão Locativas criadas pelos brasileiros seriam, de fato, inteligíveis no inglês ou ao
188
menos aceitáveis por seus falantes nativos. Destaco, para tal argumentação, em menor
proporção, o uso de inversão locativa ativa, e em maior destaque a oração passiva de
SN sujeito pleno, a qual não parece mesmo ser encontrada em discursos comuns,
mesmos formais, desse sistema. Esta seria então uma oração agramatical surgida a
partir das pressões discursivas oriundas de nossa língua materna, o PB.
Assim, o uso da ordem (X)VS nos contextos de EL2 segue a tendência de que
o elemento sujeito de tais construções se apresentem como estruturas focais,
desprovidas do caráter tópico comumente atribuído a esse elemento, como verificado
anteriormente. A oração [SAdv/SPrep [VS]] seria assim uma construção de tópico
marcado: uma tendência também atestada em diversos trabalhos sobre o PB, como o de
Vasco (2006).
Um tipo de oração muito frequente encontrada na amostra apresenta a
ocorrência de, ao mesmo tempo, SAdv/SPrep e pronomes expletivos atuando em sua
constituição. Trata-se de cláusulas que formam a ordem [SAdv/SPrep [it[VS]]], como
podemos ver em (68a – 68d):
(68a) Aspiration of final voiceless stops – in English it occurs the aspiration of [p, t, k] when they are the end of a word. (68b) In Carla’s speech it was not detected the voicing a ssimilation of the ‘s’ after a voiced sound according to the rule (in ‘stories’ the student should have said [stórz]. (68c) In SAE it is permitted up to three consonant cluste rs in word initial position while in Portuguese only two consonants
Essas construções podem estar refletindo um caráter interessante a respeito
da integração do SAdv/SPrep na ordem (X)VS. Ao usar o sujeito expletivo na posição
prototípica de sujeito, e de tópico, o caráter aparentemente mais integrado dos advérbios
ligados às orações inacusativas passa a ser questionável. Numa inversão locativa
prototípica o SAdv/SPrep estaria saturando as exigências sintáticas referentes à
realização do sujeito nesse sistema, podendo ser interpretado como tópico da sentença.
Nas orações acima, independentemente de serem tópicos discursivos, eles estariam em
189
posição de adjunção mais transparente, não podendo ser interpretados como uma
estratégia de saturação de um elemento nesta posição. De qualquer forma, devido ao
caráter mais funcional ao qual se propõe o presente trabalho, este não seria um ponto a
ser aqui enfatizado.
As outras orações (X)VS foram preenchidas por diferentes elementos
gramaticais, de menor ocorrência, tais como as conjunções coordenadas que
representaram apenas 9% do total, ou mesmo por pronomes relativos, que
representarem 2% de frequência e são exemplificados em (69a) abaixo:
(69a) It is notable that in the two case where occur the use of [d] instead of [t] , the word that comes before ends in [d]
As cláusulas SV, por sua vez, apresentaram diferentes elementos à esquerda
com índices aleatórios de frequência. Como não é objetivo primeiro deste trabalho
descrever ou mesmo entender de modo mais preciso o uso da ordem (X)SV em EL2,
optamos por não enfatizar esses resultados aqui.
Considerando-se agora os dados da amostra C1, com os números totais de
cláusulas (X)VS, percebemos que o preenchimento à esquerda acontece, como previsto,
em maior escala com o uso do expletivo, tal como apresentado na Tabela 23:
Tabela 23 – Frequência de tipos de preenchedores – C1
Elementos N %
Ø 5 3 It 93 61 SPrep (adv) 28 18 SAdv 7 5 Conjunção 6 4 Pronome Relativo 6 4 Conjunção Adverbial 4 3 Outros 3 2 Total 152 100
190
Em números absolutos, a presença do ‘it’ expletivo parece ser muito marcante
na construção (X)VS do inglês como L2. O mesmo ocorreu em C2, contexto em que
houve maior frequência de preenchimento com expletivos. A contagem final das
sentenças VS analisadas de C1 apresentou um total de 147 cláusulas com
preenchimento, sendo dessas 93 com uso do expletivo, representando 61% do total da
amostra. Esse resultado aponta então para a forte tendência de que as orações (X)VS
em EL2 sejam preenchidas por um sujeito não semanticamente selecionado, como
previsto pela LA, embora percebamos que grande parte das orações VS seja de fato
agramatical. Vale lembrar que apenas 23% das orações poderiam ser interpretadas
como inversões locativas e, portanto, de maior aceitabilidade.
Apresentamos na Tabela 24, os resultados do cruzamento entre os fatores
Voz Verbal e Preenchimento à esquerda a fim de verificarmos como essa distribuição
aconteceu nas duas vozes verbais consideradas: ativa e passiva.
Tabela 24 – Frequência de tipo de preenchedores por voz verbal – C1
(X)VS
Ordem
It
SPrep
SAdv
Conj
Rel
Conj Adv
Outros
N / % N % N % N % N % N % N % N %
Ativa 18 31 18 31 4 7 4 7 4 7 4 7 2 3
Passiva 75 80 10 11 3 3 2 2 2 2 0 0 1 1
TOTAL 93 61 28 18 7 5 6 4 6 4 3 2 3 2
Os resultados revelam, primeiramente, que o preenchimento é favorecido nos
dois contextos observados. Apenas 5% dos dados em voz ativa e 2% dos dados na voz
passiva não apresentaram preenchimento à esquerda (cf. Tabela 23), o que sugere, mais
191
uma vez, que o uso dessa construção em EL2 siga a tendência de que haja algum tipo
de elemento nessa posição. Apresentamos em (70a - 70b) exemplos desse tipo de
ocorrência:
(70a) Are included in the paper all the obligatory process and some optional ones a s well as some mispronunciation s due to the Brazilian Portuguese influence. (70b) Some samples of mispronunciation were detected due to failure in the following rules when we compare them to the Brazilian Portuguese ones. First, were detected some of them which involve insertion in the words, when a consonant or a vowel is inserted at the beginning, in the nucleus or in the coda position of a word.
Tal como na Tabela 22 os novos resultados mostraram a tendência de uso do
expletivo como o elemento mais comum nessa posição; note-se, porém que é na
construção passiva que ele é, de fato, favorecido. Como podemos observar, 80% dos
elementos à esquerda do verbo na construção passiva são expletivos, seguidos de 14%
de elementos adverbiais. O mesmo não acontece nas orações ativas em que 38% dos
elementos à esquerda foram advérbios (SPrep/SAdv), enquanto apenas 31% foram
expletivos.
Resumidamente, então, sobre o uso de estruturas inacusativas (X)VS
antecedidas por pronome expletivo aqui observadas, podemos dizer que elas, ativas e
passivas, não seriam produzidas por indivíduos nativos na língua inglesa, ao menos nos
moldes apresentados.
Como vimos ao longo da argumentação teórica, as construções XVS ativas
são extremamente marcadas no inglês e quando ocorrem são antecedidas pelo pronome
expletivo ‘there’, ou são Inversões Locativas. Tal fato nos leva a questionar a motivação
de uso desta estrutura no contexto de EL2, já que mesmo as construções gramaticais
semelhantemente mais próximas ocorrem menos e quase sempre em discursos
controlados, ficando distantes do input natural ao qual são expostos os indivíduos aqui
observados67.
67 Excluindo-se aqui o uso do verbo ‘there to be’, o qual é de maior frequência em qualquer contexto.
192
Postulamos, assim, que esteja ocorrendo na ordem (X)VS, dentre outros
fatores, um fenômeno de supergeneralização em que o indivíduo identifica a necessidade
estrutural do preenchimento da posição de sujeito, via uso do sujeito expletivo mais
frequente: ‘it’. Uma regra de supergeneralização gerada a partir dos contextos
gramaticais, na LA, de uso do sujeito não-referencial.
Também as estruturas cujo elemento à esquerda seja um SAdv não parecem
ser frequentes em inglês e, portanto, não estariam presentes no input de modo a justificar
seu uso pelo falante não nativo, tornando a explicação acerca da transferência de
estruturas do PB mais plausível.
Vimos, então, que o uso da ordem (X)VS aponta para fatores de ordem
discursiva e sintática do PB. Conforme já argumentava Freitas (2006), a ordenação VS
ativa em EL2 refletiria a estratégia de focalização do SN e de veiculação de informação
nova do PB como L1. Destacamos também o trabalho de Spano (2002, 2008) acerca da
tendência de preenchimento da posição à esquerda do verbo inacusativo de estruturas
VS no PB, um fenômeno relacionado ao processo de mudança pelo qual passa esse
sistema ao se tornar uma língua de sujeito obrigatório. Há de se considerar ainda, a
respeito da voz passiva, o fato de a amostra analisada ser um conjunto de trabalhos de
gênero acadêmico, o qual, na língua materna, favorece a construção passiva de
ordenação VS.
O uso de estruturas passivas (X)VS com pronome expletivo ‘it’ e um sujeito
nocional pleno também é de menor aceitabilidade em inglês68. Atribuímos a principal
explicação para seu uso à alta frequência da oração passiva com sujeito oracional, a
qual, diferentemente do que acontece com a voz ativa, é legítima e tende a ocorrer no
ordem ‘it VS’.
68 A construção XVS só é usual quando o elemento à direita do verbo for uma oração encaixada, seja ela finita ou reduzida.
193
Postulamos, portanto, que o aluno cometa um erro de supergeneralização do
uso de ‘it’ não referencial. Por conseguinte, a voz passiva ‘it VS’ cujo sujeito é um SN
pleno deve-se não apenas às motivações discursivas relacionadas à estrutura
informacional e o uso da ordem VS em PB, mas por inferências relacionadas a contextos
gramaticais e frequentes.
A oração (X)VS passiva cujo elemento à esquerda seja um SPrep/SAdv,
também não apresentaria maior aceitabilidade na L2, assim como talvez também não
apresentem as orações ativas.
Acreditamos, então, que o uso da ordem (X)VS seja um caso de transferência
sintático-discursiva da língua materna, relacionado à organização da estrutura
informacional da L1. O fenômeno também estaria relacionado ao uso de estruturas mais
frequentes em determinado gênero discursivo, à forte influência da sintaxe da língua
inglesa, a qual favorece o preenchimento da posição X, além da própria sintaxe do PB
que, conforme apontam as pesquisas sincrônicas sobre a ordem VS, tende a preencher a
posição à esquerda do verbo inacusativo também com um advérbio.
6.7 Frequência de tipo verbal
Analisamos ainda a frequência de tipo de verbo das 58 orações ativas da
amostra e chegamos ao seguinte resultado:
Tabela 25 – Frequência de tipos verbais inacusativos
Item Verbal N %
to occur 40 69%
to happen 9 15%
to exist 5 9%
to appear 2 3,5%
to cluster 2 3,5%
Total 58 100%
194
Os resultados referentes ao tipo verbal mais frequente na pesquisa apontam o
uso do verbo ‘to occur’ como preferido, surgindo em 69% das orações ativas, seguido do
item ‘to happen’, por sua vez, presente em 15% das orações da amostra.
Com menor representatividade, os verbos ‘to exist’, ‘to appear’ e ‘to cluster’
aparecem na sequência, representando 16% do total de verbos inacusativos
encontrados.
Estes resultados se afastam um pouco do atestado na pesquisa de Freitas
(2006), pois nesta o verbo ‘to happen’ se destacou como o mais frequente, 39,1% do
total, seguido do verbo ‘to appear’ com 26,1%. Uma diferença importante verificada nos
dois trabalhos diz respeito à ocorrência do verbo ‘to occur’, o qual não emerge nos
dados de Freitas (2006), mas apresenta papel de destaque na presente pesquisa.
Atribuímos a esta diferenciação de ocorrência de tipos verbais nos dois
trabalhos a natureza textual das amostras analisadas. Em Freitas (2006), os dados eram
provenientes de narrativas recontadas, situações em que os indivíduos estiveram
envolvidos e que deveriam ser recontadas em inglês escrito. Parece, portanto, previsível
o destaque dos itens verbais ‘to happen’ e ‘to appear’ nesse contexto. Do mesmo modo,
o gênero acadêmico, de sequências tipológicas narrativo-descritivas bastante fortes,
parece ter determinado a ocorrência do item ‘to occur’ e ‘to happen’, já que os alunos
tinham de reportar o que ocorreu em sua produção oral em inglês, não apenas narrando,
mas descrevendo processos.
De qualquer forma, independentemente das preferências lexicais de um ou
outro tipo textual, o processo de transferência da estratégia de uso da ordem (X)VS com
verbos inacusativos da L1 para o EL2 está, em ambos os trabalhos, relacionado à
questão do fluxo informacional e a características estruturais de seu SN.
195
6.8 As construções (X)VAS
Um tipo comum de oração não licenciada no inglês e que emerge no uso
desta língua por brasileiros é a de ordenação (X)VAS, em que em A temos um SAdj69
precedendo o SN pleno em estruturas de verbo de alçamento ou cópula, como nos
exemplos abaixo:
(71a) Besides it was nearly categorical the use of the morpheme – ed as [ əd] or the omission of the morpheme. The dissimilation insertion of [id]/[əd] was used indiscriminately by the two students, probably, they were influenced by the regular spelling (71b) The combination /sm/ does not occur n the Portuguese system, and when the voiceless alveolar fricative consonant – [s] – is the firs consonant in onset position it’s became common to Brazilian speakers the use of high , front, lax and unrounded vowel – [l] – preceding it. (71c) Sounds strange the <o> as < ə>
Como vimos em capítulos anteriores, a literatura associa tais verbos ao
fenômeno da inacusatividade, já que sua predicação prevê uma Small Clause (SC) e
não um SN agentivo. Uma SC, em si, como já discutido, seria uma predicação do tipo
nominal existente entre um SN e um SAdj, que funciona como o complemento do
predicador verbal inacusativo e de onde um constituinte pode ser alçado à posição de
seu sujeito, configurando a ordem SV, o padrão gramatical do inglês.
Encontramos na nossa amostra, 18 orações desse tipo: 16 com o verbo
cópula ‘to be’ (exemplo 71a) e apenas duas com verbos de alçamento ‘to become’ (71b)
e ‘to sound’ (71c).
Como visto no Capítulo 2, em línguas de sujeitos obrigatórios, como o inglês,
nas construções inacusativas, quando o SN não ocupa a posição prototípica de sujeito,
acontece o preenchimento desta posição por um pronome expletivo. Além disso, é
possível afirmar que a opção de uso de uma ordenação do tipo VS ou SV, neste caso,
69 Sintagma Adjetival
196
também estaria relacionada ao status informacional dos SN, ao menos no inglês, como
vimos no Capítulo 4.
Nos exemplos acima, a questão do preenchimento do sujeito seria uma
obrigatoriedade da gramática da L2 observada em (71a) e (71b), mas não em (71c). Tal
fato demonstra que as exigências da gramática do inglês acerca do uso do pronome
não-referencial nem sempre é observada, também nesse tipo de construção.
Acontece, ainda, que no inglês, como também já visto neste trabalho, as
construções VS possíveis não apresentam SC à direita do verbo, já que o SN deve ser
alçado à posição de sujeito. Nas orações (X)VS copulares temos apenas orações
encaixadas. Sendo assim, as orações (X)VAS coletadas da amostra representariam
outra instância de transferência sintático-discursiva do PB, já que seriam construções
licenciadas pela L1, em tese, relacionadas à questão da distribuição da carga
informacional, mas não possíveis na LA.
As orações (X)VAS coletadas emergiram nos seguintes padrões e
respectivas quantidades:
Tabela 26 – Tipos de construções (X)VAS
Padrão de Oração N
(1) [it/Ø [to be/become [SN – SAdj]]] 11
(2) [SAdv/SPrep [to be [SN – SAdj]]] 2
(3) [Wh [to be [SN – SAdj]]] 4
(4) [Ø [to sound [SN – Sadj]]] 1
O tipo mais comum de construção atestada foi o de (1) em que acontece o
preenchimento da posição à esquerda do verbo pelo ‘it’. O item verbal mais comum foi o
verbo cópula, ocorrendo apenas uma sentença com o verbo de alçamento, já
apresentada em (71b). A única oração sem preenchimento, padrão (4), foi (71c) também
apresentada anteriormente.
197
Abaixo, em (72a- 72f) apresentamos alguns exemplos de cláusulas XVAS:
(72a) However, in coda positions, the difference are even more significant. In English, it is possible even four consonants , and in Portuguese the possible number is one.
(72b) In Portuguese, the first consonant in onset position can be <s> followed by another consonant, so it is not possible the sounds [sp] and [sn] in port uguese’s word-initial onset (72c) It is a big process the voicing of the lateral liqu id
(72d) Like in the other cases above it would be necessary more cases to state this rule, because two students are not enough to affirm it (72e) It was also problematic the process that regards pa st
(72f) It is very clear the influence of writing in this case where both students pronounced the consonant letter
Como podemos verificar nos exemplos, os falantes brasileiros de EL2
apresentam o uso do sujeito posposto em que, tal como no PB, temos uma predicação
nominal mantida à direita do verbo. Esta seria parte da explicação para o uso desse tipo
de construção agramatical na L2: uma influência direta da sintaxe e do discurso da L1.
Argumento ainda em favor de uma estratégia discursiva transferida, por
perceber, pela manipulação dos dados, que tais SN e SAdj não constituem informações
de caráter tópico, dado não terem sido previamente mencionadas no contexto
interacional. Observe-se, por exemplo, os SN ‘more cases’ (72d), ‘ the process that
regards past’ (72e) e ‘ the influence of writing’ (72f), claramente apontam para uma nova
argumentação ou para a introdução de entidades não previamente mencionadas.
O SN ‘more cases’ engatilha uma argumentação acerca do que fora dito,
não contendo características de um elemento a ser retomado, mas o qual permitiria uma
nova linha de enunciação por parte do escritor. Os SN ‘the process that regards past’ e
‘the influence of writing’, por outro lado, apresentam-se como fortes candidatos a
perderem o status de SN focais, por serem passíveis de serem retomados, tornando-se
o assunto principal dos parágrafos subsequentes. Tais observações nos levam a crer
198
que, novamente, a distribuição da carga informacional pode estar atuando na
determinação pela opção, agramatical nesta língua, da ordenação (X)VAS.
A outra explicação para a natureza do fenômeno, como já dito, diz respeito ao
preenchimento do sujeito não referencial à esquerda do verbo cópula. Aqui também, tal
estratégia parece apontar para uma espécie de supergeneralização, a qual reflete a
percepção do aluno acerca da necessidade meramente formal, na LA, de preenchimento
dessa posição. Quase a totalidade dos dados coletados apresentou preenchimento do ‘it’
à esquerda do verbo.
Encontramos ainda dois exemplos de sentenças (X)VAS do tipo (2): em que
X seja um SAdv/SPrep. A presença de um SAdv/SPrep também seria uma tendência
das orações inacusativas em PB e no inglês, porém, no inglês, as predicações (X)VAS,
por exigirem o alçamento do SN em questão para a posição prototípica de sujeito, à
esquerda do verbo, não licenciaria uma inversão locativa dessa natureza.
Nas construções (X)VAS do EL2, de alguma forma, os SPrep/SAdv parecem
ocupar e exercer a mesma função formal do ‘it’ não referencial, apesar de espelharem
um papel semântico locativo mais evidente e também se constituírem como tópicos das
sentenças. Uma questão que também colocamos aqui, portanto, é a que aponta para a
possibilidade desses elementos serem adjuntos ou de deterem papel mais sintático,
devido a sua posição na oração, com características [+topicais]. Embora este, como já
dito, não seja objeto primeiro do presente estudo.
Abaixo, em (73a – 73b) apresentamos os dois únicos casos de ordenação
[SAdv VSA] coletados:
(73a) It happens because in BP phonotatic constrain is possible only one consonant in coda position , this way, sounds like [rd], [md], [id] were not possible. (73b) In English, is common words that begin with a <s> f ollowed by a consonant
199
Podemos dizer que, também aqui, a natureza do SN sujeito desse tipo de
construção não parece fugir a sua tendência nas construções VS do PB, por serem
extensos, indefinidos, vide dado (73b), e com característica de informação [+foco].
Uma última construção (X)VAS detectada na amostra é a que segue o padrão
(3) e que apresenta à esquerda do verbo algum tipo de pronome interrogativo (wh-
pronoun).
Estas seriam sentenças que, embora ainda possam ser analisadas como
fenômeno de transferência da L1, apresentam uma natureza funcional aparentemente
diferente da ordem VS prototípica, dado que, no PB, nas construções em que temos um
pronome interrogativo é categórica a presença do verbo à sua direita e, portanto,
anteposto ao seu sujeito. Assim, a explicação para o uso agramatical do sujeito posposto
em inglês, neste caso, aconteceria por influência da L1, mas não necessariamente pela
estratégia de organização do discurso, via uso de estruturas inacusativas, à qual é
frequentemente associada.
As orações (74a – 74d) mostram o acima citado, porém, ainda chamam
atenção para o fato de apesar de não existir a possibilidade de no PB tais sujeitos virem
antepostos aos seus verbos, eles não deixam de apresentar características de
informação [+foco]:
(74a) Besides that, some hypothesis were formulated by us which let us explain why something happens in our speech and, also, to show how strong is the influence of the native language (Portuguese) into a second language. (74b) It is important to say that this research can help students to improve their English speech since we become aware on what and where are the mistakes we usually make and correct ourselves (74c) Each language has its own sounds and rules, which will influence how the speaker will formulate the structures and pronounce each sound of other languages, according to how similar are those languages (74d) Because of that we can notice how important is the study of phonetic and phonology for foreign students of any language
200
O que é possível generalizar sobre os SN apresentados é que, muito por
conta da própria natureza semântica dos sujeitos de orações inacusativas, eles ainda
tendem a se apresentar como informação [+foco] nos contextos em que estão inseridos.
Em relação ao uso da ordem VS nas frases apresentadas não é possível
ignorar a explicação referente ao inglês como LA de que nas sentenças interrogativas os
verbos ou auxiliares passam a configurar à esquerda do sujeito, logo, após o pronome
interrogativo. Tal fato serviria como mais um argumento a favor do uso agramatical das
orações apresentadas: uma influência gerada a partir da frequência de uso das
interrogativas com pronomes wh-, que também favoreceria o uso agramatical do sujeito
posposto nesse contexto.70
70 Quirk & Greenbaum (1990) apontam para a possibilidade, embora ocasional, de uso do sujeito invertido em textos literários quando seguidos de pronome interrogativo, como em ‘She told us how strong was her motivation to enguage in research’ (p307)
201
CONCLUSÃO
A pesquisa linguística no Brasil encontra, sobre o uso da ordem VS, vasta
literatura, que em muito contribui para seu entendimento. Algumas delas, apenas para
citar, são estudos de orientação gerativista (cf. Nascimento, 1990; Kato e Tarallo, 1988),
funcionalista (Naro e Votre, 1999), sociolinguista (Berlinck, 1989, 1995), dentre outros.
Posto isso, propusemos nesta tese mostrar a forma como aspectos funcionais
e formais interagem na emergência dessa ordem no contexto de uso do EL2. As visões e
revisões geradas pelos estudos do fenômeno tornaram-se, para o tratamento do
fenômeno aqui apresentado, propostas complementares, por se dedicarem a diferentes
olhares acerca de um mesmo objeto.
A abordagem funcionalista na qual se apóia a pesquisa é, então,
complementada por um tratamento formal do fenômeno, já que esta se mostrou a forma
mais eficaz de abordarmos o assunto. Tal posicionamento é justificado por diferentes
estudiosos da questão do aprendizado de uma L2, como Long (1994), que defende a
necessidade de maior interação teórica para a explicação de certos fenômenos.
Portanto, a decisão pela opção de trabalho com estruturas inacusativas
acontece devido à percepção de que os dados analisados em Freitas (2006) vão ao
encontro dos achados de Duarte (2002) e de Spanó (2002, 2008), pesquisas
desenvolvidas dentro do âmbito da sociolinguística paramétrica, e que mostram que o
uso da ordem VS no PB sincrônico está mais fortemente associado a este tipo de
construção.
Os estudos referentes à interlíngua revelam, ainda, a alta incidência da
transferência, de diferentes naturezas, na aquisição de uma L2. A formação da
interlíngua ainda é complementada pela atuação de hipercorreções, generalizações e
supergeneralizações, que podem colocar em cheque a questão da aquisição de L2 em
favor da noção de aprendizado. Posto isso, seriam os ‘erros’, e não apenas os acertos
202
dos aprendizes, que evidenciariam melhor os diferentes níveis de fluência/fases de
aquisição, tal como visto no capítulo 3.
Tínhamos por principal hipótese a idéia de que a ordem (X)VS do EL2 seria
uma construção de natureza discursiva transferida da L1 com adaptações sintáticas
relacionadas à L2. Esta integração resultaria em uma estrutura atípica nos dois sistemas
e serviria de indício favorável ao conceito de interlíngua e da hipótese do período
sensível. Postulamos que este uso refletiria a atuação de duas gramáticas na
composição da Interlíngua (Selinker, 1972), entendida aqui como um sistema adaptativo
apenas parcialmente independente da atuação da L1 e da LA.
Em suma, a base teórica adotada para o desenvolvimento do trabalho parte
de uma integração entre princípios funcionalistas sobre a questão da distribuição da
carga informacional, referenciação tópica e veiculação de informação focal na ordem VS
e pressupostos empíricos acerca da estrutura argumental inacusativa que dão conta da
necessidade de saturação sintática de preenchimento da posição X, à esquerda do verbo
de construções XVS inacusativas em línguas de sujeito obrigatório.
A amostra utilizada consistiu em um conjunto de trabalhos acadêmicos sobre
fonética e fonologia de alunos do curso de português-inglês da UFRJ. O estudo foi
desenvolvido a partir de cruzamentos entre os fatores escolhidos para a análise e as
orações nas vozes ativas e passivas e entre estes mesmos fatores e orações SV/(X)VS,
assim como pela análise qualitativa das estruturas (X)VAS, ‘small clauses’, tidas como
agramaticais na LA.
Inicialmente verificamos que o falante de EL2 está mais propenso ao uso do
SN sujeito posposto em contextos de voz ativa, ao menos neste grupo de dados
analisados, apesar do alto número de orações passivas na amostra, fato, por sua vez,
explicável à luz da teoria dos gêneros, posta a maior tendência de uso de estruturas
passivas em contextos de registro formal. O uso da ordem (X)VS passiva revela
203
importante influência da competência comunicativa oriunda da L1 atuante no discurso em
L2, já que esse tipo de construção não ocorreria no uso comum da LA.
A questão do gênero explica o aumento do uso de orações passivas, mas
não explica a preferência, em termos proporcionais, de uso da ordem (X)VS ativa. Nesta
tese, a incidência da ordem (X)VS ativa é explicada pela diferença de frequência de
orações mais ou menos marcadas: num continuum de complexidade, a ordem SV ativa,
inacusativa ou não, seria a mais favorecida, seguida da SV passiva, da cláusula (X)VS
ativa e, finalmente, pela oração (X)VS passiva. A complexidade sintática da oração
passiva explicaria sua menor frequência em relação à ativa (X)VS. A estratégia de
refocalização do SN sujeito aqui defendida marcaria maior esforço de produção e tempo
de processamento que dificultariam o uso mais frequente da construção.
Verificamos, pela forte frequência de estruturas passivas, que o uso de (X)VS
não reflete apenas motivações discursivas de organização do fluxo informacional
oriundas da L1 (cf. Freitas, 2006), mas também a transferência de determinado
conhecimento advindo da língua materna acerca do domínio de estruturas típicas do
gênero discursivo acadêmico da L1.
Os resultados sobre o fator status informacional e as ordenações SV/VS
analisadas mostraram que as orações SV são mais facilmente utilizadas para a
veiculação de informação dada, enquanto as orações (X)VS o são para a veiculação de
informação [+focal]. Esta seria a confirmação da hipótese de transferência de uso de
uma estratégia sintático-discursiva do PB como L1 para o inglês como L2, com destaque
para o uso da ordem (X)VS ativa para a veiculação SN novos.
A ordem (X)VS passiva estaria menos vinculada à função apresentativa,
sendo utilizada mais para compor a própria argumentação e textualidade típica do gênero
acadêmico. Conforme já apontado por Furtado da Cunha (2000), a ordem (X)VS passiva
teria um caráter eminentemente especial, pois, seria uma oração neutra, sem tópico, que
204
caracteriza um acontecimento: um todo não analisável via relação ‘tópico-comentário’ e
com função mais relacionada à composição da textualidade e da argumentação.
Verificamos, ainda, que, ao apresentar informação nova, o SN sujeito tende a
ser composto por maior quantidade de forma, tornando-se mais proeminente, no nível do
discurso. Sendo assim, também no EL2 observamos a tendência de que o SN sujeito
seja extenso, apresentando maior número de palavras em sua composição,
particularmente na voz passiva e seguindo os princípios da iconicidade e marcação
apresentados no capítulo introdutório.
Os resultados mostraram também a forte tendência de que o sujeito da ordem
(X)VS do EL2 detenha caráter específico de indefinitude. Este seria outro sinal de que as
cláusulas inacusativas, ativas e passivas, que emergem no contexto de EL2 apresentam
forte condicionamento discursivo relacionado a estratégias de topicalização e focalização
de seus SN, já que, por veicularem informação nova ou inferível, seus sujeitos
apresentam maior tendência de serem [ - definidos], o que acontece menos com o SN
sujeito das cláusulas SV.
Quanto aos resultados referentes ao uso de elementos à esquerda das
sentenças (X)VS em EL2, algumas orações são antecedidas, principalmente, por um
pronome expletivo ‘it’, um SAdv, ou um SPrep com sentido adverbial. Argumentamos
que, como o uso da ordem XVS é considerado incomum, ou mesmo agramatical em
inglês, as estruturas aqui apresentadas não poderão ser categoricamente aceitas na L2,
embora algumas apresentem maior caráter de inteligibilidade.
Quanto ao preenchimento pelo pronome ‘it,’ seria a exposição a outros dados
do input com uso de um pronome não-referencial ‘it’ à esquerda do verbo de certas
construções gramaticais, a responsável por esse fenômeno de supergeneralização que
se mostrou particularmente marcante na voz passiva.
Atribuímos, apoiados em Spano (2002) e (2008), entretanto, à influência do
PB, o uso de SAdv e SPrep de sentido adverbial antes do verbo, independentemente da
205
possível atuação das Inversões Locativas no input da LA. O uso de SAdv/Sprep em
construções (X)VS no EL2 poderia estar relacionado ao uso frequente de elementos à
esquerda do verbo, em estruturas inacusativas. Ele também pode estar relacionado à
topicalização de outros elementos diferentes do referente-sujeito, elementos com noção
de tempo e espaço, uma tendência de orientação discursiva, que pode estar relacionada
a uma necessidade de preenchimento de elementos à esquerda, como parte da
mudança geral na ordenação do português, uma tendência de orientação estrutural. De
qualquer modo, vemos a influência do uso do português nas estratégias de uso de
sujeitos invertidos em inglês como L2.
Encontramos, ainda, a ocorrência de, ao mesmo tempo, SAdv/SPrep e
pronomes expletivos à esquerda dos verbos. Consideramos que, nesse contexto, os
SAdv, embora tópicos, estariam em posição de adjunção à sentença, enquanto o
pronome ’it’ saturaria as restrições da sintaxe da LA quanto ao preenchimento do sujeito
à esquerda do item verbal.
O item verbal mais frequente na amostra foi ‘to occur’, surgindo em 69% das
orações ativas, seguido de ‘to happen’, presente em 15% das orações.
Ainda, das 18 orações (X)VAS encontradas, 16 apresentaram o verbo cópula
‘to be’, e 2 os verbos de alçamento ‘to become’ e ‘to sound’. Tais orações emergiram
nos seguintes padrões e quantidades: [it/Ø [to be/become [SN – SAdj]]], (11); [SAdv [to
be [SN – SAdj]]], (2); [Wh [to be [SN – SAdj]]], (4) e [Ø [to sound [SN – SAdj]]], (1).
Também nesses casos a opção de uso da ordenação (X)VS foi relacionada ao status [+
Foco] dos SN, com preenchimento do ‘it’ à esquerda do verbo em quase a totalidade dos
dados coletados.
Outro padrão (X)VAS detectado é o que apresenta advérbio/pronome
interrogativo à esquerda do verbo. No PB, é categórica a presença do verbo à direita do
advérbio interrogativo e, portanto, anteposto ao seu sujeito, o que mostra que aqui não
há transferência de uma estratégia discursiva da L1, apesar de também tenderem a
206
apresentar SN sujeito [+foco]. Ainda assim, este padrão de ordenação seria transferido
da L1, com uso reforçado pelo fato de nas sentenças interrogativas do inglês os verbos
configurarem à esquerda do sujeito, logo, após o pronome interrogativo.
O uso da ordem (X)VS seria, assim, um caso de transferência sintático-
discursiva do PB como L1, ligado à organização da estrutura informacional. O fenômeno
também estaria relacionado ao uso de estruturas mais frequentes em determinado
gênero discursivo, à forte influência da sintaxe da LA, pelo preenchimento da posição X,
além da sintaxe da L1, a qual também tende a preencher a posição à esquerda do verbo
inacusativo com um SAdv/SPrep.
Estas seriam forças gramaticais e discursivas que atuariam na formação de
uma estrutura pertencente a uma L3, a interlíngua. Ademais, os resultados favorecem a
hipótese do período sensível, pois mostram que o curso de aquisição de uma L2 sofre
transferências, interferências e supergeneralizações que emergem no discurso de
indivíduos, provavelmente, expostos à língua em idade e espaço menos propícios à
aquisição e possibilitando a inevitável ocorrência de estruturas fossilizadas e
inimagináveis em um ou outro sistema.
O fenômeno mostra também, tal como defendido por Givón (1979) quanto ao
modo de comunicação pragmático, que, segundo situações específicas de pressão
comunicativa, falantes não nativos de uma L2 podem ignorar, mesmo em nível de
fluência mais avançado, certas imposições gramaticais da língua adquirida, em função de
atender suas necessidades comunicativas e pragmáticas mais imediatas.
É possível afirmar também que os indivíduos que produziram as orações aqui
estudadas encontram-se entre o segundo, terceiro e quarto estágios de aquisição
propostos por Brown (1994). Defendo a referida hipótese por constatar nos dados a
frequente variação de erros relacionados a uma mesma construção. Além do mais é
importante considerarmos a possibilidade de esses falantes não serem mais capazes de
identificar e corrigir seus ‘erros’, mesmo em uma porção discursiva de texto
207
controlado/escrito, o que sugere que eles talvez estejam em estágio de fossilização na
L2, reforçando a hipótese do período sensível.
Nossa pesquisa, além de descrever e explicar usos de diferentes estruturas
em escrita acadêmica em inglês como L2, levou-nos a uma maior compreensão acerca
das estratégias discursivas utilizadas por informantes brasileiros no momento de
escrever textos em inglês. Ao produzir textos, alunos, mesmo do nível avançado,
recorrem a informações gramaticais acerca de sua própria língua e acerca da língua
estrangeira. Mais do que isso, como não dominam bem as estratégias discursivas da LA,
transferem para os textos recursos que conhecem muito bem pelo uso da L1. Assim, ao
codificar as informações em inglês, usam estruturas semelhantes às do português e nos
remetem às questões importantes relacionadas ao processo aquisitivo e à estrutura
informacional. Por exemplo, como codificar informação nova e velha em inglês? Como
codificar informação menos ou mais previsível? Como codificar a manutenção ou
mudança de tópico?
Como tais estratégias não são ensinadas formalmente nos cursos de língua,
os indivíduos usam os recursos que aprenderam no dia-a-dia como falantes do
português. Assim usam a ordem (X)VS em inglês, por exemplo, quando o sujeito não é
tópico, quando traz informações novas e menos previsíveis e usam o it expletivo, do
inglês, além de outros recursos, para atender às adaptações formais do sistema alvo.
208
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Traduções dos exemplos retirados das gramáticas LGS WE e TGB e das orações dos alunos 71 (1) Ocorreu a não realização da oclusiva final, portanto ela foi produzida [en] (2) Não foi detectado nenhum exemplo deste processo nos dois grupos de dados gravados
(41) Muito mais grave foram os ferimentos graves na cabeça; em particular, uma contusão do grão. (42a) Eu acho que quanto melhor os jogadores são tratados nestes aspectos, mais entusiasmada é a resposta aos desafios diante deles. (42b) Tão preocupada estava ela nesse momento, ela não sabia que Diana estava em pé na porta de arco para a sala. (43a) Está incluso um cartão para o nosso arquivo de assinatura permanente o qual pedimos que você assine e devolva para nós. (43b) Vindo de Belfast este mês estão The Breeders e Hevellers, enquanto no mês que vem vê-se Jethro Tull na cidade. (44a) Na longa parede estava pendurada uma fila de Van Goghs. (44b) Novamente vieram os sons de alegria e de bom coração. (44c) Dentro dos tipos gerais de desperdícios mostrados nas figuras existe uma grande variação. (45) Aqui está disponível um Pathwork de criação de sites atraentes. (46a) Então as palavras saíram com pressa. (46b) Então veio a ligação de Sergio Leone. (47a) E ela disse, você sabe, em nenhuma condição deve ele ficar tenso. (47b) Tão mal foi ele afetado que ele tinha que ser ensinado a falar novamente. (47c) Gail está dentro, e também está Lusa. (47d) Vida Longa ao rei Edmundo. (47e) Que Deus perdoe a sua blasfêmia. (47f) Não se esqueça de mim! (48a) Em algum lugar dentro dela suscitava uma esperança desesperada de que ele iria abraçá-la.
71 As traduções referentes aos dados produzidos pelos alunos respeitaram os possíveis ‘erros’ e inversões. Reconheço que, por vezes, tornou-se difícil entender o que eles realmente pretendiam afirmar.
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(48b) Veio um rugido de puro deleite, uma vez que fechou em torno dele e o levaram. (48c) Em todas essas relações existe um conjunto de obrigações mútuas no domínio instrumental e econômico. a) Na borda da floresta habitava um troll. b) Emerge um conflito. c) Ao longo do rio lá andava uma mulher velha. (49a) Não estava frio como na noite precedente. (49b) Quando você voltar são nove horas. (49c) Foram sete milhas da cidade mais próxima e eu tive de ir de ônibus ou andar tudo. (50a) Era difícil acreditar que ele tinha se tornado selvagem com uma faca nua. Que ele tivesse se tornado selvagem com uma faca nua foi difícil de acreditar. (50b) Realmente dói ir embora.
Ir embora realmente dói. (52a) Paul McCartney foi nomeado cavaleiro. (52b) Paul McCartney foi nomeado cavaleiro pela rainha. (53a) Pode ser visto que ... (53b) Note-se que ... (53c) Tem sido demonstrado que ... (53d) Tem sido sugerido que ... (57a) Foi difícil responder as perguntas (57b) Parece difícil responder as perguntas (57c) Considerou-se difícil responder a perguntas (58a) "mas em <until> e <formal> ocorre uma vocalização da lateral alveolar aparecendo [w] na posição de coda" (58b) O morfema-s é pronunciado de três formas diferentes: [s], [z] e [iz] / [az]. Depois de um som consonantal surdo o morfema-s torna-se [s], exceto uma sibilante. Depois de uma consoante sonora e uma vogal, torna-se [z], exceto uma sibilante. Este é um processo de assimilação dos sons. Os sons [iz] / [az] sons são pronunciados com dissimilação, depois de um som sibilante. Ocorre uma inserção do [I] ou [o] entre as sibilantes finais e o morfema -s e ele se torna [z]. (59a) "Em alguns casos, também foram encontradas influências do sistema fonológico inglês e sua ortografia"
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(59b) O objetivo deste trabalho é uma análise da minha fala e como as palavras são produzidas, apontando a diferença entre um falante estrangeiro de Inglês e a pronúncia americana padrão. Foi utilizado um dicionário de pronúncia para transcrever o texto original, que foi base para verificar os dados do meu discurso. (60a) "A vogal baixa, anterior, distensa, não-arredondada foi substituída pela vogal média, anterior, distensa e não arredondada. E aconteceu também a substituição da consoante fricativa alveolar pela consoante fricativa alveolar surda" (60b) De modo geral, temos notado uma tendência de inserir [i] em todos os encontros consonantais que começam com [s], em palavras como strange, por exemplo. Isso provavelmente ocorre porque no sistema fonético do Português Brasileiro não existem palavras que começam com a fricativa alveolar [s]. (60c) Assim, é natural para nós introduzir uma vogal antes de sua pronúncia, a fim de torná-lo mais "similar" ao nosso sistema. Entretanto, X não comete esse "erro" em todos estes tipos de palavra. Uma explicação possível é o fato de que ela já tinha assimilado que no sistema fonético inglês, palavras começam com [s] diferentemente do sistema fonético brasileiro em que começam com [s]. Diferentemente na pronúncia do Português do Brasil, nós não colocamos uma vogal antes. Em apenas um caso ocorreu uma substituição. (61a) "Ao analisar os dados referidos, pode-se observar alguns aspectos da pronúncia do Inglês pelos brasileiros" (61b) As oclusivas surdas [p, t, k] são aspirados quando são o primeiro som de uma palavra ou quando o primeiro som é uma sílaba tônica. X e Y tiveram dificuldades em relação a este processo. Curiosamente, ambos produziram a africada [ts] em vez de produzir a oclusiva alveolar inicial aspirada [th], em alguns contextos, como naqueles em que a palavra to é mencionada como em to see [tsusiy], pronunciado por nós da mesma forma. Portanto, consideramos que isto seja causado pela influência do Português brasileiro, especialmente o sotaque carioca, o qual pronuncia a africada [ts], onde é esperada a oclusiva dental [t], ou seja: [tsia]. (61c) O presente estudo discutirá os processos fonológicos e obrigatórios e a influência na pronúncia do Português brasileiro na pronúncia do Inglês. Para fazer isso, foram feitas duas transcrições das leituras dos alunos. (62a) A hipótese que podemos formular sobre isso é que, em função de transformar a articulação mais fácil, a falante termina por fazer uma assimilação progressiva na qual um som originalmente sonoro (que seria o resultado de uma assimilação regressiva) torna-se surdo devido a este novo processo. Simplificando, ocorre uma assimilação progressiva que bloqueia uma assimilação regressiva, a qual será a primeira estratégia fonotática que um falante brasileiro seguiria. (62b) Falando sobre os consonantais, nosso trabalho teve um resultado positivo, os alunos não tiveram dificuldade para produzir encontros iniciais começando com [s], por exemplo, "rua". Muitos alunos, porém, puderam enfrentar esse problema porque não existe em Português uma sequência semelhante de consoantes no início de uma palavra. (62c) Alguns processos opcionais são apresentados em nosso relatório como a vibração simples o bater de oclusivas alveolares, enfraquecimento das vogais átonas das palavras funcionais, supressão de oclusivas alveolares surdas e a aspiração de oclusivas finais. [...] Em nossos dados aparece aspiração de oclusivas finais surdas em algumas palavras, como
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‘work’, ‘Arabic’ e ‘group’, mas todo o resto não são marcadas uma vez que este processo não existe em Português por isso é muito difícil produzi-lo em Inglês. (63a) "No que diz respeito as consoantes, pode ser observada a ocorrência de dois processos tipicamente relacionados ao dialeto carioca (63b) Este estudo discutirá os processos fonológicos obrigatórios e a influência do Português brasileiro na pronúncia do Inglês. Para fazer isso, foi feita duas transcrições das leituras dos alunos. (63c) No caso dos processos obrigatórios, na maioria das vezes eu as apliquei, bem tanto quanto pude perceber, mas a pronúncia do morfema -s, que ainda é problemática, por vezes, para mim. Foi notado qualquer problema com a pronúncia do passado regular e do particípio passado no presente texto - todas as assimilações e / ou dissimilações importantes foram aplicadas em cada caso, como em ‘recognized’ [zd], ‘rated’ [td], ‘influenced’ [st] e em ‘afected’ [kt]. (64a) Em ‘memorial’, pode ter ocorrido uma mudança da natureza da vogal, influenciada pelas consoantes anteriores e seguintes, como o [m] é bilabial, eles produzem um [i], de modo que a vogal possa estar em uma posição mais anterior e mais elevada, algo que é feito com frequência no Português Brasileiro. (64b) De acordo com o "Manual of American English Pronunciation’ de Prator e Robinett, um encontro consonantal em posição final no idioma Inglês pode apresentar até quatro sons diferentes. A palavra mais comumente usada para expressar esse tipo de encontro é a palavra ‘strenghts’. Essa estrutura não é comum em muitas outras línguas, incluído-se o Português. Em nossa língua nativa, é permitido apenas um som consonantal em posição final como em "maldade", "legal", "batata", "Girafa", "banana" (65a) ", mas em <until> e <formal> ocorre uma vocalização da lateral alveolar aparecendo [w] na posição de coda" (65b) No texto A, o contexto era: "Bill Slade ...", neste caso, vemos que Bill termina com um som sonoro (lateral alveolar - que, como comentado antes tornou-se sonoro) e em ‘Slade‘ o segundo som também é um som sonoro (lateral alveolar). Como resultado, muitas vezes acontece que X e Y fizeram. Inserir uma vogal e, além disso, sonorizaram o som [s] transformando-o em [z]. In [ispeysow] não ocorreu a sonorização do [s], porque o som que se segue é [p], surdo. (65c) Mas, em termos de Fonética e Fonologia, o schwa é um som vogal média-central não-arredondada que existe no quadro de vogal em Inglês. Em Português, como sabemos, o som schwa não existe, então os brasileiros têm algumas dificuldades em como pronunciá-lo. Na tabela de schwa, baseando-nos em textos A e B, é observada uma grande influência da grafia som. (65d) Os estudantes atuarão dando dados e, ao mesmo tempo, coletando os dados. Ambos leram dois textos em Inglês e gravaram suas leituras para trocar entre si. O objetivo é transcrever e analisar separadamente e, juntos, comparar os resultados e encontrar explicações para as diferenças que podem constituir "o sotaque brasileiro". Mais especificamente, será observado o som schwa, o <S>, o <L> e o <ED> na posição final de palavra. Esta pesquisa pretende ser uma humilde contribuição desses alunos para os estudos fonéticos e fonológicos sobre falantes brasileiros de inglês.
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(66a) O aluno um e três falaram o [z] em vez de [s] em ‘desobeyed’, ‘desarmed’, ‘desapared’, e caso baseball. Eles provavelmente foram influenciados pelo fato de que, em Português, o <s> carta entre duas vogais é produzida [z]. Além disso, todas as palavras no quadro (exceto acusação e, além disso), são cognatos, o que poderia ser, possivelmente, a causa para uma pronúncia possível. No que diz respeito a palavra de beisebol, assumiu-se que, desde o som que se segue é expresso, que pode ter ocorrido a assimilação sonoridade, que é uma característica forte do sistema brasileiro Português. (66b) Considerando os dados apresentados, percebemos que nós inserimos a vogal [i] como Português brasileiro regras phonotatic quando uma consoante segue o <s> na posição de início de palavra, como podemos ver nas palavras mencionadas. Em Português Brasileiro, ele pode agrupar duas consoantes em posição de início de palavra, mas o <s> carta não pode ser a primeira consoante (posição de início), por isso é a razão pela qual inserimos a vogal como núcleo para formar uma sílaba. (66c) Neste trabalho, percebe-se que o grupo não se aplica <ed> todos os sons de acordo com o general norte-americano Standard Inglês. Por exemplo, quando o último som estava mudo, como em [ri'pelyst] (TEXTO A) o grupo pronunciado <ed> ele expressou:] [riyphleysd [ripleysid], [] ripleysid. O contrário também aconteceu quando depois de uma boa voz Y pronunciado um som surdo:] akyuwzt [. Houve casos em que a regra era aplicável a processos obrigatórios, como fez em X] pablist ['(TEXTO B). Também ocorreu a supressão do som como em [] peform. (67a) O objetivo deste trabalho é analisar as variedades de discursos dos dois alto-falantes Inglês-Português brasileiros, X e Y. Ambos são alunos do Liberal Arts ((Português / curso de Inglês - 5 ª legislatura) da UFRJ. X estudou na CCAA de dois anos e meio e também na Cultura Inglesa por quatro anos, onde ela tem um Certificado de Inglês Avançado e Y estudou em Oxford por nove anos, quando ela começou professor certificado. A seguir é descrita a metodologia aplicada neste trabalho: (67b) Quando uma carta tem um som que não existe em Português, serão evitados (não pronunciado) ou eles vão ser pronunciado com um som similar. O <a> carta pode ser pronunciada] [AE. No entanto o som que não existe no BP. Por isso, será algo semelhante a ele pronunciada, [E], por exemplo. (67c) Podemos encontrar outras ordens silábica em Inglês como CCC # em posição de coda final, em Neiva & FREITAS (2002:37), podemos encontrar o seguinte comentário: "Como podemos ver (...) a ordem das consoantes em uma cluster é ainda mais complexa do que em Inglês é em Português, não só em termos de número de segmentos, mas a ordem ea natureza da seqüência de consoantes em um cluster "O que pode estar implícito no trecho acima? A resposta adequada é a de que a ordem dos elementos conformes em um cluster é bastante complicada para ser tratada por estudantes de EFL. Por exemplo, em nossos dados, temos uma amostra de consoantes que segue este modelo # CCC e ainda pode ser encontrado um presente em Inglês CCCC #. (66a) Todos os grupos de vogais <ea>, <ee> <ey> e tem a possibilidade de ser pronunciado como [] iy. Nestes casos, eles sempre foram mispronounced, foram utilizados o som [I], [i] e [] ey, mais uma vez a razão para a pronúncia foi o fato de que o som não existe em Português, além disso, um mal-entendido da combinação <ey>. (66b) O idioma Inglês tem processos obrigatórios e facultativos, que são, na maioria dos casos, utilizado por pessoas que conhecem muito bem a língua e por falantes nativos que aplicá-las naturalmente. De acordo com as tabelas, foi observado que o processo de
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nasalização da vogal, que é uma uma obrigatória, foi aplicada, pois este é um processo que também existe em Português. Além disso, também foi aplicado o processo de enfraquecimento da vogal, no artigo "an", na forma verbal "era" e na "palavra". (67a) Fricativas interdentais: Em Português, não existem consoantes interdentais. (67b) O segundo caso ocorreu a assimilação do som mudo, a regra é aplicada corretamente, pois0 o som anterior não é uma oclusiva não-nasal alveolar (67c) Neste caso, ocorreu interlíngua e hipercorreção também. (67d) Após a análise do corpus, encontramos fortes influências das regras de ortografia do Português e do sistema fonológico do Português Brasileiro. Em alguns casos, também foram encontradas influências do sistema fonológico inglês e sua ortografia (67e) Na pronúncia de X e Y não foi detectada qualquer aspiração de oclusivas surdas (67f) Ele pode ser explicado pelo fato de que em Português não ocorre aspiração neste contexto (68a) Aspiração de oclusiva final surda - em Inglês ocorre a aspiração de [p, t, k] quando estão no final de uma palavra. (68b) No discurso de Carla não foi detectada a assimilação de vozeamento do 's' depois de um som sonoro de acordo com a regra (em 'stories’ o aluno deveria ter dito [stórz]. (68c) No SAE é permitido até três encontros consonantais em posição inicial de palavra enquanto, em Português, apenas duas consoantes (69a) É notável que, nos dois casos onde ocorre o uso de [d] em vez de [t], a palavra que vem antes termina em [d] (70a) Estão incluídos no documento todos os processos obrigatórios e alguns opcionais, bem como alguns erros de pronúncia, devido à influência do Português Brasileiro. (70b) Alguns exemplos de erros de pronúncia foram detectadas devido a uma falha nas regras a seguir quando comparadas com as do Português Brasileiro. Primeiro, foram detectados alguns deles que envolvem a inserção, nas palavras, quando uma consoante ou uma vogal é inserida no início, no núcleo ou na posição de coda de uma palavra. (71a) Além disso, foi quase categórico o uso do morfema -ed como [əd] ou a omissão do morfema. A inserção de dissimilação [id] / [əd] foi usada indiscriminadamente pelos dois alunos, provavelmente, eles foram influenciados pela ortografia regular (71b) A combinação /sm / não ocorre no sistema do Português, e quando a consoante fricativa alveolar surda - [s] - é a primeira consoante em posição de onset tornou-se comum para os falantes brasileiros o uso da vogal alta, anterior, distensa, não-arredondada - [l] - o precedendo. (71c) Soa estranho o <o> como <ə> (72a) No entanto, em posições de coda, a diferença é ainda mais significativa. Em Inglês, é possível até quatro consoantes, e em Português é possível uma.
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(72b) Em Português, primeira consoante em posição de início pode ser <s> seguida por outra consoante, por isso não é possível os sons [sp] e [sn] no início de palavra em português . (72c) É um grande processo a sonorização da lateral líquida (72d) Como nos outros casos acima, seria necessário mais casos para atestarmos esta regra, porque dois estudantes não são suficientes para afirmá-la. (72e) Foi igualmente problemático o processo que diz respeito ao tempo passado (72f) É muito clara a influência da escrita, neste caso em que ambos os alunos pronunciaram a letra consonantal. (73a) Isso acontece porque na restrição fonotática do PB só é possível uma consoante em posição de coda, desta forma, parece que [rd], [md], [id] não foram possíveis. (73b) Em Inglês, é comum palavras que começam com um <s> seguidas por uma consoante (74a) Além disso, algumas hipóteses foram formuladas por nós, as quais nos permite explicar por que algo acontece em nosso discurso e, também, mostrar o quão forte é a influência da língua nativa (Português) em uma segunda língua. (74b) É importante dizer que esta pesquisa pode ajudar os alunos a melhorar sua fala em Inglês desde que nos tornemos conscientes sobre o que e onde estão os erros que costumamos fazer e corrigir-nos (74c) Cada língua tem seus próprios sons e regras, que irão influenciar a forma como o falante irá formular as estruturas e pronunciar cada som de outras línguas, de acordo com o quão semelhantes são aquelas línguas (74d) Por isso podemos perceber o quão importante é o estudo da fonética e fonologia para estudantes estrangeiros de qualquer língua