UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA – PARFOR
LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA
MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ
A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE
EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY
PARAGOMINAS – PARÁ
2017
LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA
MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ
A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO
INFANTIL JOSÉ ADONAY
Trabalho de Conclusão do Curso,
apresentado como pré-requisito parcial
para obtenção do grau de Licenciatura
Plena em Pedagogia pela Universidade
Rural da Amazônia.
Orientador: Prof.ª Esp. Rosenilde Fonseca
Santos.
PARAGOMINAS-PARÁ
2017
LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ
A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO
INFANTIL JOSÉ ADONAY
Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado como requisito parcial
para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia pela
Universidade Rural da Amazônia no PARFOR.
BANCA EXAMINADORA
Profª Rosenilde Fonseca Santos – UFRA
Profª
Profª
Julgado em: / /
Conceito:
Dedicamos este trabalho em primeiro lugar
a Deus e a nossa família.
A Deus Santa Rita de Cassia.
RESUMO
O estudo denominado A importância da organização do espaço na Escola de Educação Infantil José Adonay no Município de, faz uma revisão conceitual referente à organização do espaço educativo necessário ao desenvolvimento das práticas pedagógicas de Educação Infantil na expectativa de sua adequação aos reais interesses e objetivos desta etapa da formação das crianças, destacando a relação com as recomendações decorrentes da legislação vigente e as possíveis propostas metodológicas e/ou pedagógicas a serem implementadas e vivenciadas nesses “locus” educativos. Neste sentido, o estudo traz como referência a experiência vivenciada na Escola de educação Infantil José Adonay, buscando estabelecer os vínculos teoria e prática que permeiam as práticas educativas na educação infantil enquanto etapa precursora do desenvolvimento da Educação Básica. O estudo é relevante ao suscitar as referencias conceituais necessárias a organização dos espaços educativos da educação infantil para irem de encontro as orientações e premissas que permeiam sua organização, bem como, suscitam a realização das práticas educativas junto as crianças nos referidos espaços.
Palavras Chave: Educação Infantil, Ambientes Educativos na Educação Infantil, Metodologias da educação Infantil.
ABSTRACT
The study named The importance of space organization in the school of early
childhood education Joseph Adonay in, makes a conceptual review regarding the
organisation of educational space necessary for the development of educational
practices in early childhood education in anticipation of your suitability to the real
interests and objectives of this stage of training of children, emphasizing the relation
with the recommendations arising from the legislation in force and the possible
methodological and/or pedagogical proposals to be implemented and experienced in
these "locus". In this sense, the study brings the experience at the school of early
childhood education Joseph Adonay, seeking to establish the links between theory
and practice that permeate the educational practices in early childhood education
while precursor step of development of basic education. The study is relevant to give
rise to conceptual references required the Organization of educational spaces of
early childhood education to go against the guidelines and assumptions that
permeate your organization, as well as raise the achievement of educational
practices with children in these spaces.
Key Words: Early Childhood Education, Educational Environments in Early
Childhood Education, Child Education Methodologies.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 07 1. PREMISSAS TEÓRICAS ...................................................................................... 19 1.1 A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR ...................................................... 19 1.1.1 A importância da organização do espaço na Educação Infantil ................ 19 1.1.2 O que dizem as Leis sobre a Educação Infantil ......................................... 25 1.1.3 A implementação da Educação Infantil ........................................................ 28 1.2 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO AMBIENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ... 31 1.2.1 Sobre a Infância e a Educação Infantil ........................................................ 31 1.2.2. A educação infantil na idade média e moderna ......................................... 33 1.2.3 A educação infantil no Brasil ....................................................................... 35 1.2.4 Espaços e ambientes na Educação Infantil ................................................. 39 2. TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................ 47 3. A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................ 55 3.1 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA ............................................................................. 55 3.2 DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA CRIANÇA ............................ 56 4 . CONTEXTUALIZANDO A REALIDADE ............................................................ 61 4.1 A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY .................................. 61 4.2 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
JOSÉ ADONAY ........................................................................................................ 62
4.3 ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ
ADONAY .................................................................................................................. 62
4.4 O ESPAÇO E O AMBIENTE NA ESCOLA JOSÉ ADONAY ............................. 63 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 66 5.1 PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA TRABALHAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 68
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INTRODUÇÃO
A busca por uma educação de qualidade torna-se cada vez mais
importante. E, nesse processo, a relevância da organização do espaço escolar
para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças é algo que deve ser levado
em consideração, já que ele contribui de forma significativa para a aprendizagem
das crianças.
Por conta disso, o espaço escolar, sob esse aspecto, não poderá mais
reproduzir soluções reiterativas e estereotipadas, ainda vigentes em muitas
instituições escolares, que se antagonizam com as necessidades de seus
usuários.
Neste sentido os ambientes construídos para crianças devem atender a
funções relativas ao desenvolvimento infantil, com o intuito de promover:
identidade pessoal, desenvolvimento de competências, oportunidades para o
crescimento, autonomia e liberdade. Dentro dessa perspectiva Bassi e Giacopini
(2007) mostram que a organização dos espaços deve privilegiar os processos de
conhecimentos das crianças e as diversas estratégias cognitivas adotadas por
elas. Andrejew (2007) afirma que os espaços organizados contribuem para
estimular a autonomia e o equilíbrio corporal; ajudam a conhecer o mundo.
Para Barbosa e Horn (2001) ao organizar um espaço os educadores
necessitam considerar que o ambiente é composto por gosto, toque, sons e
palavras, regras de uso do espaço, luzes e cores, odores, mobílias, equipamentos
e ritmos de vida. Assim, devemos entender que uma organização adequada do
espaço e dos materiais disponíveis na sala de aula será fator decisivo na
construção da autonomia intelectual e social das crianças.
No Parecer CNE/CEB n. 20/2009, o relator faz uma revisão das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e assim se refere ao papel do
professor e da professora na organização do tempo e espaço nas creches e pré-
escolas:
A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos e materiais diversificados que contemplem as
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particularidades das diferentes idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias e comunidade regional. (BRASIL, 2009, p. 14).
Dentro desse contexto se faz necessário frisar que o processo de
ensino/aprendizagem na educação infantil ocorre em contextos de brincadeira e
trabalho, e que quando a criança se envolve intensamente nas atividades que
vivencia, através do contato com materiais diversos e nas relações que estabelece
com os outros (crianças e adultos). Neste sentido Barbosa e Horn (2001) asseguram
que as atividades infantis devem ser organizadas tendo presentes às necessidades
biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e
à sua faixa etária. Deste modo, o processo educacional flui com mais facilidade,
sendo esta uma aprendizagem ativa, que ocorre na experiência da criança e não
através de aulas sobre pessoas, lugares ou fatos distantes da realidade em que ela
vive.
Frazatto (1998) explica que na Educação Infantil cabe ao educador
equilibrar as atividades pedagógicas e as brincadeiras entre os momentos de maior
concentração e pouco movimento físico com aqueles mais agitados, em que as
crianças se movimentam com liberdade. Desta forma, é possível observar que no
desenvolvimento do trabalho pedagógico há a necessidade de organização do
cotidiano da escola, o que implica em planejamento e estruturação espaço- temporal
que favoreça uma sequência básica de atividades planejadas em rotina diária com a
participação ativa das crianças, assegurando-lhes a construção das noções de
tempo e espaço.
E esse estudo tem como objetivo evidenciar que a organização do espaço
que é oferecido para a criança influencia diretamente em seu desenvolvimento.
tendo em vista que, a organização espacial é um dos aspectos que favorece ou
dificulta as interações, uma vez que influencia o modo de pensar ou se comportar,
principalmente em ambientes infantis coletivos, nos quais a criança é sujeito de
conhecimento. Para David & Weinstein (1987) a organização da sala de aula tem
influência sobre os usuários determinando em parte o modo como os professores
e os alunos pensam, sentem e se comportam. Desta forma, um planejamento
cuidadoso do ambiente físico é parte integrante de um bom manejo do ensino,
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pois dependendo da maneira como estão dispostos, os materiais, objetos e
móveis podem, ou não, influenciar no desenvolvimento das crianças.
Ao realizar a revisão bibliográfica percebe-se que as instituições que
atende as crianças da Educação Infantil devem ser disponibilizadas de modo que
contemplem diversas possibilidades, dando oportunidade à criança para explorar,
descobrir, agir, selecionar objetos e áreas para a realização de atividades em um
espaço-tempo que é parte integrante da ação pedagógica.
Vale ressaltar a necessidade de oferecer à criança um espaço adequado
e seguro, que vai além de sua sala de atividades, onde possa experimentar
diversas formas de se locomover e de interagir com o outro. Neste sentido
evidencia-se que quando o professor se planeja e organiza o espaço em função
das crianças, ele propicia para elas a brincadeira, a autonomia e as interações
com o outros, e acaba possibilitando seu desenvolvimento, ampliação e a
construção de conhecimentos e isso contribui significativa na melhoria do seu
processo de ensino aprendizado. Contudo, quando o espaço não se é planejado,
nem organizado, podemos estar bloqueado o desenvolvimento destes aspectos.
E esse é o caso da escola que é lócus deste estudo.
Neste sentido, Barbosa & Horn (2001) compartilham a idéia de que o
espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento infantil, na medida
em que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas e
relacionais. Porém, Carvalho & Rubiano (2001) salientam que, em geral, os
ambientes infantis planejados são orientados para atender às necessidades dos
adultos, desconsiderando as necessidades próprias das crianças, caracterizando-
se como ambientes de alto grau de controle e limitação das oportunidades para a
escolha.
Na definição e construção de espaços para crianças, Barbosa & Horn
(2001, p. 73) enfatizam a necessidade de se considerar que “o ambiente é
composto por gosto, toque, sons e palavras, regras de uso do espaço, luzes e
cores, odores, mobílias, equipamentos e ritmos de vida”.
Segundo as orientações do Referencial Curricular Nacional Para a
Educação Infantil – RCNEI (1998), para cada trabalho realizado com as crianças
é preciso planejar a forma mais adequada de organizar o espaço onde as
atividades se desenvolverão, bem como na introdução de novos materiais para a
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reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar novas
descobertas, facilitará o trabalho pedagógico e as atividades dirigidas.
Apoiados no comentário de Oliveira et al. (1992), no qual ela se refere ao
arranjo do espaço para ampliar as oportunidades de contato e interações sociais
pode ser feito pela colocação de zonas de atividades delimitadas por divisórias
baixas. A educadora pode propor as atividades sem centralizar ao seu redor todas
as crianças, gerando um tempo de espera; ou seja, ao arrumar a sala com
algumas crianças, favorece a interação entre as demais crianças. A sala
organizada em zonas de atividades delimitadas por divisórias baixas permite tanto
brincadeiras movimentadas, como descer, subir, saltar, como também,
brincadeiras de linguagem. O essencial no uso deste espaço é que se
descentralize a figura da educadora, que passa a atuar como um elemento
facilitador da interação das crianças em atividades e brincadeiras, sem depender
tanto da mediação do adulto. Este fica mais disponível para observá-las e
estabelecer um contato individual mais efetivo com alguma criança ou grupo de
crianças que o procure ou perceba precisar de uma atenção especial.
(ROSSETTI-FERREIRA e ELTINK, 1998)
Nesse longo percurso da história do atendimento à infância, pesquisas e
práticas vêm buscando afirmar a importância de se promover uma educação de
qualidade para todas as crianças o que envolve diversos aspectos do
atendimento, como espaço adequado, professores qualificados, matérias
didáticos suficientes, dentre outras coisas. No entanto o que se identifica é que
nesse aspecto há sérios problemas a se enfrentar, conforme o diagnóstico
apresentado no Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001).
No Brasil, grande número de ambientes destinados à educação de
crianças com menos de 6 anos funciona em condições precárias. Serviços
básicos como água, esgoto sanitário e energia elétrica, não estão disponíveis
para muitas creches e pré-escolas (BRASIL, 1994). Além da precariedade ou
mesmo ausência de serviços básicos, outro elemento referente à infraestrutura,
atinge tanto a saúde física, quanto o desenvolvimento integral das crianças, entre
eles, está à inexistência de áreas externas ou espaços alternativos que propiciem
às crianças a possibilidade de estar ao ar livre, em atividade de movimentação
ampla, tendo seu espaço de convivência, de brincadeira e exploração do
ambiente, enriquecido. Vale registrar, que segundo dados mais recentes do MEC
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identificam-se melhoras em relação às condições sanitárias encontradas nos
estudos realizados até 1998. Isso pode significar que se tem buscado responder
às novas exigências legais, entretanto, tais informações dizem respeito a
estabelecimentos credenciados (autorizados para funcionar), assim sendo,
podemos afirmar que ainda há estabelecimentos, principalmente os que estão
fora do sistema formal (BRASIL, 2003).
Segundo Horn (2001), falar na Educação de crianças de 0 a 5 anos é
falar de um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para
que aja sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no
contexto da educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento
indispensável a ser observado. Por esse motivo, a organização deste espaço
deve ser pensada tendo como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso
para a criança, isto é, um lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar
suas brincadeiras sentindo-se assim estimuladas e independentes. Pois é no
espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as
pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se insere emoções,
nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-
versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se constitui de
forma linear. E vale ressaltar que em um mesmo espaço podemos ter ambientes
diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se
definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço
organizado.
Com relação ao espaço, pode-se perceber que o espaço criado para a
criança deverá estar organizado de acordo com sua faixa etária, isto é, propondo
desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas
potencialidades. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura
e o meio social em que a criança está inserida. De acordo com Horn (2004):
É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço organizado. (2004, p. 28)
12
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no Art. 29º. Diz
que “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.
Assim, é necessário reconhecer que a criança é fortemente marcada pelo meio social
em que se desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, que
tem a sua família como o seu principal referencial, apesar de todas as relações que
ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil deve priorizar remeter a história
da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de saberes entre as
crianças.
Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente social e a
interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento”. (apud Davis e
Oliveira, 1993, p. 56). Portanto um ambiente estimulante para a criança é aquele em
que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde ela sinta o prazer de
pertencer a aquele ambiente e se identifique com o mesmo e principalmente um
ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares. Um ambiente que
permite que o educador perceba a maneira como a criança transpõe a sua realidade,
seus anseios, suas fantasias. Os ambientes devem ser planejados de forma a
satisfazer as necessidades da criança, isto é, tudo deverá estar acessível à criança,
desde objetos pessoais como também os brinquedos, pois só assim o
desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua
socialização dentro das suas singularidades.
Neste caso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação
Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e recriado
de acordo com as especificidades da criança. De acordo com Oliveira (2000):
O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador, envia mensagens e, os que aprendem, respondem a elas. A influência do meio através da interação possibilitada por seus elementos é contínua e penetrante. As crianças e ou os usuários dos espaços são os verdadeiros protagonistas da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e objetos, que possibilita descobertas pessoais num espaço onde será realizado um trabalho individualmente ou em pequenos grupos. (2000, p. 158)
Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de
acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a
13
disponibilidade de brinquedos deve se dar de acordo com o ritmo de cada criança,
de acordo com as diferentes faixas etárias.
Por tudo isso, e percebendo como o espaço da Escola José Adonay que
é oferecido para as crianças não condiz com as necessidades das crianças,
resolvemos pesquisar um pouco mais sobre a importância da organização do
espaço para a Educação Infantil e o que as leis asseguram para as crianças
matriculadas.
Saber da realidade das escolas que atende a Educação Infantil em
especial a da escola José Adonay, localizada na Comunidade Nova Aliança no
município de São Domingos do Capim nos leva a várias indagações acerca do
que deve ser oferecido às crianças que estão nesta etapa de ensino, e as
condições de infraestrutura que a José Adonay oferece as crianças nela
matriculadas.
Sabe-se que desde que nasce a criança precisa de espaços que
ofereçam liberdade de movimentos, segurança e que acima de tudo possibilitem
sua socialização com o mundo e com as pessoas que a rodeiam. Espaços estes
de direito de todas as crianças sejam eles: públicos, privados, institucionais ou
naturais. Segundo Lima (2001, p.16): “o espaço é muito importante para a criança
pequena, pois muitas, das aprendizagens que ela realizará em seus primeiros
anos de vida estão ligadas aos espaços disponíveis e/ou acessíveis a ela”
Neste sentido, o observar os vários problemas da escola José Adonay
identifica-se que teoricamente a criança é bem assistida em todas as maneiras,
seja no espaço escolar adequado, seja na formação de seu professor, seja no
processo de ensino aprendizagem, porém, quando se trata da prática, percebe-se
a ausência de espaços adequados, de professores com formação para trabalhar
com esta etapa de ensino, e isso com certeza reflete de maneira muito negativa
no processo de ensino aprendizagem da criança.
Por isso, o objetivo desta pesquisa é identificar como é importante a
organização do espaço na educação Infantil para que as crianças possam se
desenvolver em plenitude, tendo infraestrutura adequada e professores formados.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(1998), a organização do espaço físico, os materiais, brinquedos, instrumentos
sonoros e o mobiliário não devem ser vistos como elementos passivos, mas como
componentes ativos do processo educacional. O espaço físico das instituições
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sempre reflete os valores que elas adotam e são marcas sugestivas do projeto
educativo em curso.
Por isso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação
Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e
recriado de acordo com as especificidades da criança.
Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de
acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a
disponibilidade de brinquedos deve se dar de acordo com o ritmo de cada criança,
de acordo com as diferentes faixas etárias. Para Zabalza (appud Melis, 2007,
p.11), o espaço educa, assim como faz a linguagem ou as relações interpessoais.
E atua como marco de condições, isto é, tem capacidade para facilitar, limitar e
orientar tudo o que se faz na escola infantil. Tudo o que a criança faz e aprende
acontece em um ambiente, em um espaço cujas características afetam tal
conduta ou aprendizagem. De acordo como é organizado o ambiente, podemos
obter experiências formativas ou outras que serão mais ou menos ricas e
enriquecedoras segundo a organização feita dos espaços e dos recursos. O
espaço é também um contexto de significados e emoções. Cada zona, cada
elemento ou condição do espaço, significa coisas diferentes e o vivenciamos de
formas diferentes. Há espaços para a brincadeira e para o repouso, para
compartilhar e para estarem só, para o trabalho e para o ócio, espaços de prazer
e de obrigações, próprios e alheios.
Segundo Forneiro (1998) o espaço da escola deve atender aos critérios
de organização, que se resumem em estruturação, delimitação, transformação,
estética, pluralidade, autonomia, segurança, diversidade e polivalência, pois os
diversos componentes relativos ao espaço é que irão definir o cenário das
aprendizagens. Ou seja, os espaços destinados às crianças devem ser
diferenciados, garantindo ambientes específicos para as atividades de leitura e
escrita, para contação de histórias, para brincadeiras e jogos, para o repouso,
higiene, alimentação, atividades físicas e demais atividades dirigidas. Necessário
se faz arranjar os espaços constantemente em função das atividades planejadas.
Porém, o espaço oferecido aos alunos da Educação Infantil não condiz aos
critérios citados pelo autor, pois como foi descrito no primeiro capítulo a estrutura
da sala de Educação Infantil não obedece a esses requisitos (estruturação,
delimitação, transformação, estética, etc.)
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Deste modo é importante atentarmos para os espaços que estão sendo
oferecidos para as crianças da Educação Infantil e como eles estão se refletindo
no processo de ensino aprendizado da criança.
Por conta disso, é necessário levantar algumas hipóteses que irão
nortear o desenvolvimento deste trabalho:
O espaço oferecido para as crianças da Educação Infantil da Escola
José Adonay condiz com as necessidades das crianças?
Que importância tem o espaço na educação infantil?
Que espaço deve ser pensado e arquitetado para atender as
propostas de educação que se deseja?
Como os educadores estão organizando este espaço?
O interesse em desenvolver um estudo sobre “A importância da
organização do espaço na escola de Educação Infantil José Adonay”, surgiu por
causa da realidade educacional vivenciada pelas crianças, pois ao refletir nossa
prática pedagógica na escola, durante o ano de 2014, identificou-se que a mesma
não dispõe da infraestrutura adequada para atender a Educação Infantil, pois o
lugar que é oferecido para as crianças não atende as necessidades básicas desta
etapa de ensino, uma vez que o prédio é pequeno e precisa de reforma. Dentro
dessa perspectiva não se pode pensar em falar na organização de um espaço
sem fazer uso da importância dessa organização para o processo de
desenvolvimento da criança.
Neste sentido reflete-se: o espaço oferecido para as crianças da
Educação Infantil da Escola José Adonay condiz com as necessidades das
crianças? Que importância tem o espaço na educação infantil? Que espaço deve
ser pensado e arquitetado para atender as propostas de educação que se
deseja? Como os educadores estão organizando este espaço?
Dentro desse contexto, sabe-se que, podemos utilizar diferentes
espaços, e esses espaços devem ser organizados de forma a desafiar a criança
nos campos cognitivos, sociais e motor. Sendo eles abertos, fechados, salas-de-
aula, bibliotecas, salas de multimeios, brinquedotecas, dentre outros. E assim,
garantir que todos esses espaços promovam o desenvolvimento global da
criança, sua autonomia, liberdade, socialização, segurança, confiança, contato
social e privacidade.
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Tendo em vista que, o fato de o espaço estar organizado de modo a
desafiar suas competências apenas não basta. Deve vivê-lo intencionalmente e
intensamente. Isso se dá através de todo um contexto no qual as crianças
desempenham papéis e formam uma rede de relações entre tudo que as cercam:
móveis, objetos, decoração, rotina, professora, materiais que utilizam suas vidas
fora da escola. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e
o meio social em que a criança está inserida atendendo a sua faixa etária e ao
mesmo tempo possibilitar novos conceitos e novas maneiras de ver e entender o
mundo e outros meios sociais.
Ao passo que se deve considerar que o espaço é elemento importante
para auxiliar no desenvolvimento da criança. Desta forma, cito Zabalza (1998):
O espaço na educação é constituído como uma estrutura de oportunidades é uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. Será estimulante ou, pelo contrário, limitante, em função do nível de congruência em relação ao objetivo e dinâmico geral das atividades que forem colocadas em prática ou em relação aos métodos educacionais, que caracterizam o estilo de trabalho. O ambiente de aula, enquanto contexto de aprendizagem constitui uma rede de estruturas espaciais, de linguagens, de instrumentos e, finalmente, de possibilidade ou limitações para o desenvolvimento das atividades formadoras. (1998, p. 236)
Portanto, falar na Educação de crianças de zero a cinco anos é estar
falando de um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para
que aja sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no contexto da
educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento indispensável a ser
observado. Por esse motivo, a organização deste espaço deve ser pensada tendo
como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um
lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se
assim estimuladas e independentes.
Diante deste contexto, constituem objetivos deste estudo:
Analisar a importância da organização do espaço na escola de
Educação Infantil José Adonay.
Identificar a importância da organização do espaço segundo as
Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil;
Verificar as metodologias que são usadas no processo de
ensino/aprendizagem da criança;
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Promover a organização do espaço oferecido para crianças com a
participação efetiva delas e dos professores;
Descrever como as crianças se relacionam com os espaços criados
para elas.
Este estudo é composto por três módulos, o primeiro será realizado um
levantamento bibliográfico, após este levantamento realizar-se-á, na qual será feito
alguns registros e entrevistas com três pais de alunos matriculados na escola José
Adonay e três professores da referida escola e em seguida será feita a análise dos
dados.
Esta pesquisa se fundamentará em uma pesquisa qualitativa teórica
descritiva. Pois para Esteban (2010):
A pesquisa qualitativa é uma atividade sistemática orientada a compreensão em profundidade de fenômenos educativos e sociais, a transformação de práticas e cenários socioeducativos, a tomada de decisões e também ao desenvolvimento de um corpo organizado e de conhecimento. (2010, p. 127)
Para auxiliar esta pesquisa, também foi utilizado o diário de bordo, uma
ferramenta que contribui para observar as ocorrências ocorridas ao longo da prática
pedagógica. Sendo que, ao observar os dados colhidos na escola e refletir sobre o
que teoricamente é de direito dos alunos que estão matriculados na Educação Infantil
observa-se a grande disparidade existente entre teoria e prática.
Ao usar o diário de bordo nota-se que estamos apropriando-se da pesquisa
descritiva que, segundo Zabalza (2004):
É uma pesquisa que observa, registra, correlaciona e descreve fatos ou fenômenos de uma determinada realidade sem manipulá-los. Procura conhecer e entender as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos que ocorrem na sociedade. (2004, p. 33)
Este trabalho irá enfatizar o cotidiano da Escola de Educação Infantil José
Adonay, localizada na Comunidade Nova Aliança, com a perspectiva de observar a
infraestrutura que é oferecida para as crianças que nela são matriculadas e como
este espaço é organizado.
Para alcançar os fins aqui proposto realizar-se-á prioritariamente, uma
revisão bibliográfica voltada para o tema proposto, “A importância da organização do
espaço na escola de Educação Infantil José Adonay.”, tendo como auxilio o diário de
bordo, no qual descreve-se a nossa prática pedagógica e as contribuições do Curso
de Pedagogia.
18
Sabe-se que é no espaço físico que a criança consegue estabelecer
relações entre o mundo e as pessoas, que ela brinca e se socializa com os colegas,
se desenvolve e é capaz de transformar este lugar num lugar de varias sensações.
Por isso, levar em consideração o espaço oferecido para a criança nos levou a querer
saber mais sobre a contribuição do mesmo para o desenvolvimento dos alunos que
estão passando por esta etapa de ensino. Deste modo, este trabalho além de
contribuir para a nossa formação também nos oportunizará a melhorar e refletir a
nossa prática pedagógica em sala de aula e principalmente criar um ambiente
agradava para os alunos, mesmo que as condições no qual estão inseridos não
estejam de acordo com suas necessidades.
Logo, o espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo
com a faixa etária da criança, isto é, propondo desafios cognitivos e motores que
a farão avançar no desenvolvimento de suas potencialidades. O espaço deve
estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio social em que a criança
está inserida.
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1. PREMISSAS TEÓRICAS
1.1 A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR
1.1.1 A importância da organização do espaço na Educação Infantil
A busca por uma educação de qualidade torna-se cada vez mais importante.
E, nesse processo, a relevância da organização do espaço escolar para o
desenvolvimento e aprendizagem das crianças é algo que deve ser levado em
consideração, já que ele contribui de forma significativa para a aprendizagem das
crianças.
Por conta disso, o espaço escolar, sob esse aspecto, não poderá mais
reproduzir soluções reiterativas e estereotipadas, ainda vigentes em muitas
instituições escolares, que se antagonizam com as necessidades de seus usuários.
Neste sentido os ambientes construídos para crianças devem atender a
funções relativas ao desenvolvimento infantil, com o intuito de promover: identidade
pessoal, desenvolvimento de competências, oportunidades para o crescimento,
autonomia e liberdade. Dentro dessa perspectiva Bassi e Giacopini (2007) mostram
que a organização dos espaços deve privilegiar os processos de conhecimentos das
crianças e as diversas estratégias cognitivas adotadas por elas. Andrejew (2007)
afirma que os espaços organizados contribuem para estimular a autonomia e o
equilíbrio corporal; ajudam a conhecer o mundo.
Para Barbosa E Horn (2001) ao organizar um espaço os educadores
necessitam considerar que o ambiente é composto por gosto, toque, sons e palavras,
regras de uso do espaço, luzes e cores, odores, mobílias, equipamentos e ritmos de
vida. Assim, devemos entender que uma organização adequada do espaço e dos
materiais disponíveis na sala de aula será fator decisivo na construção da autonomia
intelectual e social das crianças.
No Parecer CNE/CEB n. 20/2009, o relator faz uma revisão das Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e assim se refere ao papel do
professor e da professora na organização do tempo e espaço nas creches e pré-
escolas:
A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as
20
crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos e materiais diversificados que contemplem as particularidades das diferentes idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e lingüísticas das crianças, famílias e comunidade regional. (BRASIL, 2009, p. 14).
Dentro desse contexto se faz necessário frisar que o processo de
ensino/aprendizagem na educação infantil ocorre em contextos de brincadeira e
trabalho, e que quando a criança se envolve intensamente nas atividades que
vivencia, através do contato com materiais diversos e nas relações que estabelece
com os outros (crianças e adultos). Neste sentido Barbosa e Horn (2001) asseguram
que as atividades infantis devem ser organizadas tendo presentes às necessidades
biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e
à sua faixa etária. Deste modo, o processo educacional flui com mais facilidade,
sendo esta uma aprendizagem ativa, que ocorre na experiência da criança e não
através de aulas sobre pessoas, lugares ou fatos distantes da realidade em que ela
vive.
Frazatto (1998) explica que na Educação Infantil cabe ao educador
equilibrar as atividades pedagógicas e as brincadeiras entre os momentos de maior
concentração e pouco movimento físico com aqueles mais agitados, em que as
crianças se movimentam com liberdade. Desta forma, é possível observar que no
desenvolvimento do trabalho pedagógico há a necessidade de organização do
cotidiano da escola, o que implica em planejamento e estruturação espaço-temporal
que favoreça uma seqüência básica de atividades planejadas em rotina diária com a
participação ativa das crianças, assegurando-lhes a construção das noções de tempo
e espaço.
E esse estudo tem como objetivo evidenciar que a organização do espaço
que é oferecido para a criança influencia diretamente em seu desenvolvimento. tendo
em vista que, a organização espacial é um dos aspectos que favorece ou dificulta as
interações, uma vez que influencia o modo de pensar ou se comportar, principalmente
em ambientes infantis coletivos, nos quais a criança é sujeito de conhecimento. Para
David e Weinstein (1987) a organização da sala de aula tem influência sobre os
usuários determinando em parte o modo como os professores e
21
os alunos pensam, sentem e se comportam. Desta forma, um planejamento
cuidadoso do ambiente físico é parte integrante de um bom manejo do ensino, pois
dependendo da maneira como estão dispostos, os materiais, objetos e móveis
podem, ou não, influenciar no desenvolvimento das crianças.
Ao realizar a revisão bibliográfica percebe-se que as instituições que atende
as crianças da Educação Infantil devem ser disponibilizadas de modo que
contemplem diversas possibilidades, dando oportunidade à criança para explorar,
descobrir, agir, selecionar objetos e áreas para a realização de atividades em um
espaço-tempo que é parte integrante da ação pedagógica.
Vale ressaltar a necessidade de oferecer à criança um espaço adequado e
seguro, que vai além de sua sala de atividades, onde possa experimentar diversas
formas de se locomover e de interagir com o outro. Neste sentido evidencia-se que
quando o professor se planeja e organiza o espaço em função das crianças, ele
propicia para elas a brincadeira, a autonomia e as interações com o outros, e acaba
possibilitando seu desenvolvimento, ampliação e a construção de conhecimentos e
isso contribui significativa na melhoria do seu processo de ensino aprendizado.
Contudo, quando o espaço não se é planejado, nem organizado, podemos estar
bloqueado o desenvolvimento destes aspectos. E esse é o caso da escola que é
lócus deste estudo.
Neste sentido, Barbosa e Horn (2001) compartilham a idéia de que o
espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento infantil, na medida em
que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas e
relacionais. Porém, Carvalho e Rubiano (2001) salientam que, em geral, os ambientes
infantis planejados são orientados para atender às necessidades dos adultos,
desconsiderando as necessidades próprias das crianças, caracterizando-se como
ambientes de alto grau de controle e limitação das oportunidades para a escolha.
Na definição e construção de espaços para crianças, Barbosa e Horn
(2001, p. 73) enfatizam a necessidade de se considerar que “o ambiente é composto
por gosto, toque, sons e palavras, regras de uso do espaço, luzes e cores, odores,
mobílias, equipamentos e ritmos de vida”.
Segundo as orientações do Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil – RCNEI (1998), para cada trabalho realizado com as crianças é
preciso planejar a forma mais adequada de organizar o espaço onde as atividades
22
se desenvolverão, bem como na introdução de novos materiais para a reorganização
da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar novas descobertas,
facilitará o trabalho pedagógico e as atividades dirigidas.
Apoiados no comentário de Oliveira et al. (1992), no qual ela se refere ao
arranjo do espaço para ampliar as oportunidades de contato e interações sociais pode
ser feito pela colocação de zonas de atividades delimitadas por divisórias baixas. A
educadora pode propor as atividades sem centralizar ao seu redor todas as crianças,
gerando um tempo de espera; ou seja, ao arrumar a sala com algumas crianças,
favorece a interação entre as demais crianças. A sala organizada em zonas de
atividades delimitadas por divisórias baixas permite tanto brincadeiras movimentadas,
como descer, subir, saltar, como também, brincadeiras de linguagem. O essencial no
uso deste espaço é que se descentralize a figura da educadora, que passa a atuar
como um elemento facilitador da interação das crianças em atividades e brincadeiras,
sem depender tanto da mediação do adulto. Este fica mais disponível para observá-
las e estabelecer um contato individual mais efetivo com alguma criança ou grupo de
crianças que o procure ou perceba precisar de uma atenção especial. (Rossetti,
Ferreira e Eltink, 1998)
Nesse longo percurso da história do atendimento à infância, pesquisas e
práticas vêm buscando afirmar a importância de se promover uma educação de
qualidade para todas as crianças o que envolve diversos aspectos do atendimento,
como espaço adequado, professores qualificados, matérias didáticos suficientes,
dentre outras coisas. No entanto o que se identifica é que nesse aspecto há sérios
problemas a se enfrentar, conforme o diagnóstico apresentado no Plano Nacional de
Educação (BRASIL, 2001).
No Brasil, grande número de ambientes destinados à educação de crianças
com menos de 06 anos funciona em condições precárias. Serviços básicos como
água, esgoto sanitário e energia elétrica, não estão disponíveis para muitas creches e
pré-escolas (BRASIL, 1994). Além da precariedade ou mesmo ausência de serviços
básicos, outro elemento referente à infraestrutura, atinge tanto a saúde física, quanto
o desenvolvimento integral das crianças, entre eles, está à inexistência de áreas
externas ou espaços alternativos que propiciem às crianças a possibilidade de estar
ao ar livre, em atividade de movimentação ampla, tendo seu espaço de convivência,
de brincadeira e exploração do ambiente, enriquecido. Vale registrar, que segundo
dados mais recentes do MEC identificam-se melhoras em relação às
23
condições sanitárias encontradas nos estudos realizados até 1998. Isso pode
significar que se tem buscado responder às novas exigências legais, entretanto, tais
informações dizem respeito a estabelecimentos credenciados (autorizados para
funcionar), assim sendo, podemos afirmar que ainda há estabelecimentos,
principalmente os que estão fora do sistema formal (BRASIL, 2003).
Segundo Horn (2001), falar na Educação de crianças de 0 a 5 anos é falar
de um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para que aja
sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no contexto da
educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento indispensável a ser
observado. Por esse motivo, a organização deste espaço deve ser pensada tendo
como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um
lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se
assim estimuladas e independentes. Pois é no espaço físico que a criança consegue
estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de
fundo no qual se insere emoções, nessa dimensão o espaço é entendido como algo
conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa
relação não se constitui de forma linear. E vale ressaltar que em um mesmo espaço
podemos ter ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que
sejam iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o
espaço organizado.
Não podemos falar apenas em organização do espaço sem falarmos
também na importância da organização do ambiente, cujo termo refere-se ao conjunto
do espaço físico e às relações que as crianças estabelecem, sejam elas afetivas,
interpessoais, entre as próprias crianças, crianças e adultos e com a sociedade em
geral.
Por meio do espaço físico a criança é capaz de estabelecer relações entre
as pessoas e o mundo, convertendo-o em um pano de fundo em que se introduzem
as emoções. “Essa qualificação do espaço físico é o que o transforma em ambiente”
(Horn, 2004, p. 28).
O ambiente é aqui entendido como uma estrutura com quatro dimensões: a
física; a relacional, ou seja, as distintas interações que se produzem; a funcional, a
forma de utilização dos espaços; e, também, a temporal - organização do tempo, os
momentos em que serão utilizados os diferentes espaços (op. cit.).
Horn (2004) acrescenta:
24
As escolas de educação infantil têm na organização dos ambientes uma parte importante de sua proposta pedagógica. Ela traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser humano do educador que atua nesse cenário. Portanto, qualquer professor tem na realidade, uma concepção pedagógica explicitada no modo como planejar suas aulas, na maneira como se relaciona com as crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de aula. Por exemplo, se o educador planeja as atividades de acordo com a idéia de que as crianças aprendam através da memorização de conceitos; se mantem uma atitude autoritária sem discutir com as crianças as regras do convívio em grupo; se privilegia a ocupação dos espaços nobres das salas de aula com armários (onde somente ele tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é eminentemente fundamentada em uma prática pedagógica tradicional. Conforme Farias (1998), a pedagogia se faz no espaço realidade e o espaço, por sua vez, consolida a pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da relação pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda explicitando, em uma concepção educacional que compreende o ensinar e o aprender em uma relação de mão única, ou seja, o professor ensina e o aluno aprende, toda a organização do espaço girará em torno da figura do professor. As mesas e as cadeiras ocuparão espaços privilegiados na sala de aula, e todas as ações das crianças dependerão de seu comando, de sua concordância e aquiescência. (2004: p.61).
Faz-se necessário salientar o quanto à organização do espaço e do
ambiente é fundamental para que a qualidade na Educação Infantil, pois de nada
adiantaria um espaço e um ambiente organizado sem uma proposta pedagógica
excelente, sem que esta proposta fosse planejada para respeitar as interações de
cada criança.
Com relação ao espaço, pode-se perceber que o espaço criado para a
criança deverá estar organizado de acordo com sua faixa etária, isto é, propondo
desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas
potencialidades. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o
meio social em que a criança está inserida. De acordo com Horn (2004):
É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço organizado. (2004: p. 28)
O RCNEI (1998), fala que organização dos espaços e dos materiais se
constitui em um instrumento fundamental para a prática educativa com crianças
pequenas. Isso implica que, para cada trabalho realizado com as crianças, deve-se
planejar a forma mais adequada de organizar o mobiliário dentro da sala, assim
25
como introduzir materiais específicos para a montagem de ambientes novos, ligado
aos projetos em curso. Além disso, a aprendizagem transcende o espaço da sala,
toma conta da área externa e de outros espaços da instituição e fora dela. A pracinha,
o supermercado, a feira, o circo, o zoológico, a biblioteca, a padaria etc. são mais do
que locais para simples passeio, podendo enriquecer e potencializar as
aprendizagens.
Visando entender um pouco mais sobre o universo da criança o seguinte eixo
apresenta uma abordagem sobre o que a legislação assegura para a Educação
Infantil.
1.1.2 O que dizem as Leis sobre a Educação Infantil
(1998):
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais. As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam as mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. (Texto adaptado do documento “Política Nacional de Educação Infantil”. MEC/SEF/DPE/COEDI, dez/1994, p. 16-1)
Segundo a LDB 9394/96, no Art. 29º. Evidencia-se que “A educação
infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Assim, é
necessário reconhecer que a criança é fortemente marcada pelo meio social em
que se desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, que tem
a sua família como o seu principal referencial, apesar de todas as relações que
ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil deve priorizar remeter a
história da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de saberes
entre as crianças.
26
Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente social e a
interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento”. (apud Davis e
Oliveira, 1993, p. 56). Portanto um ambiente estimulante para a criança é aquele em
que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde ela sinta o prazer de
pertencer a aquele ambiente e se identifique com o mesmo e principalmente um
ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares. Um ambiente que
permite que o educador perceba a maneira como a criança transpõe a sua realidade,
seus anseios, suas fantasias. Os ambientes devem ser planejados de forma a
satisfazer as necessidades da criança, isto é, tudo deverá estar acessível à criança,
desde objetos pessoais como também os brinquedos, pois só assim o
desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua
socialização dentro das suas singularidades.
Neste caso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação
Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e recriado
de acordo com as especificidades da criança. De acordo com Oliveira (2000):
O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador, envia mensagens e, os que aprendem, respondem a elas. A influência do meio através da interação possibilitada por seus elementos é contínua e penetrante. As crianças e ou os usuários dos espaços são os verdadeiros protagonistas da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e objetos, que possibilita descobertas pessoais num espaço onde será realizado um trabalho individualmente ou em pequenos grupos. (2000: p. 158)
Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de
acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a disponibilidade
de brinquedos devem se dar de acordo com o ritmo de cada criança, de acordo com
as diferentes faixas etárias.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
– RCENEI (1998), a organização do espaço físico, os materiais, brinquedos,
instrumentos sonoros e o mobiliário não devem ser vistos como elementos passivos,
mas como componentes ativos do processo educacional. O espaço físico das
instituições sempre reflete os valores que elas adotam e são marcas sugestivas do
projeto educativo em curso.
Por isso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação
Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e
recriado de acordo com as especificidades da criança.
27
Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de
acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a disponibilidade
de brinquedos deve se dar de acordo com o ritmo de cada criança, de acordo com as
diferentes faixas etárias. Para Zabalza (appud Melis, 2007, p.11), o espaço educa,
assim como faz a linguagem ou as relações interpessoais. E atua como marco de
condições, isto é, tem capacidade para facilitar, limitar e orientar tudo o que se faz na
escola infantil. Tudo o que a criança faz e aprende acontece em um ambiente, em um
espaço cujas características afetam tal conduta ou aprendizagem. De acordo como é
organizado o ambiente, podemos obter experiências formativas ou outras que serão
mais ou menos ricas e enriquecedoras segundo a organização feita dos espaços e
dos recursos. O espaço é também um contexto de significados e emoções. Cada
zona, cada elemento ou condição do espaço, significa coisas diferentes e o
vivenciamos de formas diferentes. Há espaços para a brincadeira e para o repouso,
para compartilhar e para estar só, para o trabalho e para o ócio, espaços de prazer e
de obrigações, próprios e alheios.
Segundo Forneiro (1998) o espaço da escola deve atender aos critérios de
organização, que se resumem em estruturação, delimitação, transformação, estética,
pluralidade, autonomia, segurança, diversidade e polivalência, pois os diversos
componentes relativos ao espaço é que irão definir o cenário das aprendizagens. Ou
seja, os espaços destinados às crianças devem ser diferenciados, garantindo
ambientes específicos para as atividades de leitura e escrita, para contação de
histórias, para brincadeiras e jogos, para o repouso, higiene, alimentação, atividades
físicas e demais atividades dirigidas. Necessário se faz arranjar os espaços
constantemente em função das atividades planejadas. Porém, o espaço oferecido aos
alunos da Educação Infantil não condiz aos critérios citados pelo autor, pois como foi
descrito no primeiro capítulo a estrutura da sala de Educação Infantil não obedece a
esses requisitos estruturação, delimitação, transformação, estética, etc.
Ao passo que se deve considerar que o espaço é elemento importante para
auxiliar no desenvolvimento da criança. Desta forma, cito Zabalza (1998):
O espaço na educação é constituído como uma estrutura de oportunidades é uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. Será estimulante ou, pelo contrário, limitante, em função do nível de congruência em relação ao objetivo e dinâmico geral das atividades que forem colocadas em prática ou
28
em relação aos métodos educacionais, que caracterizam o estilo de trabalho. O ambiente de aula, enquanto contexto de aprendizagem constitui uma rede de estruturas espaciais, de linguagens, de instrumentos e, finalmente, de possibilidade ou limitações para o desenvolvimento das atividades formadoras. (1998: p. 236)
Portanto, falar na Educação de crianças de 0 a 5 anos é estar falando de
um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para que aja
sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no contexto da
educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento indispensável a ser
observado.
Por esse motivo, a organização deste espaço deve ser pensada tendo
como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um
lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se
assim estimuladas e independentes. Desta forma, este trabalho trás a investigação
“importância da organização do espaço na educação infantil” vislumbrando como
organizar o ambiente em parceria com as crianças pode contribuir com seu
desenvolvimento, sendo que, quando o professor cria e recria o espaço com e para a
criança ele esta proporcionando uma nova alternativa de aprendizagem e
principalmente despertando o interesse deles para novas descobertas.
1.1.3 A Implementação da Educação Infantil
Atualmente a educação infantil passa por uma série de transformações.
Neste sentido, destacam-se os avanços obtidos e por que não as conquistas tidas
ao longo desses 20 anos. Entretanto, vale lembrar que durante muito tempo, o
cuidado e a educação das crianças pequenas eram vistas como tarefas da família,
principalmente das mães e de outras mulheres. Depois do desmame, a criança era
percebida como um pequeno adulto, quando já alcançava certo grau de
independência, passava a ajudar os adultos nas atividades cotidianas e a aprender o
básico para sua inserção social. Não se considerava a identidade pessoal da
criança.
Devido ao caráter familiar do atendimento à criança pequena, as primeiras
denominações das instituições infantis fazem uma referência a esse aspecto, como o
termo francês “creche” que significa manjedoura, presépio. Nas sociedades
primitivas, as crianças que se encontravam em situações
29
desfavoráveis, como o abandono, era cuidado por uma rede de parentesco, ou seja,
dentro da própria família. Na Idade Antiga, os cuidados eram oferecidos por mães
mercenárias, que não tinham nenhum tipo de preocupação com as crianças, sendo
que muitas morriam sob os seus cuidados. Na Idade Média e Moderna, existiam as
“rodas” (cilindros ocos de madeira, giratórios), construídos em muros de igrejas ou
hospitais de caridade, onde as crianças deixadas eram recolhidas. Dentro dessa
perspectiva, fica evidenciado nas palavras de Oliveira (2002) que:
As idéias de abandono, pobreza, culpam e caridade impregnam assim, as formas precárias de atendimento os menores nesse período e vão permear determinadas concepções a cerca do que é uma instituição que cuida da Educação Infantil, acentuando o lado negativo do atendimento fora da família (2002: p. 59).
Diante dessa situação, ficam claras as raízes da desvalorização do
profissional de Educação Infantil, pois antes tinham a idéia, de que para se trabalhar
com crianças não é necessária qualificação profissional, pois grande parte dos
profissionais que atuam nessa área é de leigos, o que demonstra que, mesmo com
tanto avanço no que diz respeito ao conceito de criança, ainda persiste um tipo de
atendimento que só visa os cuidados físicos, deixando de lado os aspectos globais
no atendimento das crianças.
Na Europa com a Revolução Industrial, a sociedade agrário-mercantil
transforma-se em urbano-manufatureira, num cenário de conflitos, onde as crianças
eram vítimas de pobreza, abandono e maus-tratos, com grande índice de
mortalidade. Aos poucos o atendimento às crianças torna-se mais formal, como
resposta a essa situação, foram surgindo instituições para o atendimento de crianças
desfavorecidas ou crianças cujos pais trabalhavam nas fábricas (Oliveira, 2002).
Nos séculos XVIII E XIX é originado dois tipos de atendimento às crianças
pequenas, um de boa qualidade destinado às crianças da elite, que tinha como
característica a educação, e outro que servia de custódia e de disciplina para as
crianças das classes desfavorecidas.
Dentro desse cenário aumenta-se a discussão de como se devem educar
as crianças. Pensadores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel e
Montessori configuram as novas bases para a educação das crianças. Embora eles
tivessem focos diferentes, todos reconheciam que as crianças possuíam
características diferentes dos adultos, com necessidades próprias (Oliveira, 2002).
30
No século XX, após a primeira Guerra Mundial, cresce a idéia de respeito
à criança, que culmina no Movimento das Escolas Novas, fortalecendo preceitos
importantes, como a necessidade de proporcionar uma escola que respeitasse a
criança como um ser específico, portanto, esta deveria direcionar o seu trabalho de
forma a corresponder as características do pensamento infantil.
Na psicologia, na década de 20 e 30, Vygotsky defende a ideia de que a
criança é introduzida no mundo da cultura por parceiros mais experientes. Wallon
destaca a afetividade como fator determinante para o processo de aprendizagem.
Surgem as pesquisas de Piaget, que revolucionam a visão de como as crianças
aprendem, a teoria dos estágios de desenvolvimento. As teorias pedagógicas se
apropriam gradativamente das concepções psicológicas, especialmente na
Educação Infantil, impulsionando o seu crescimento.
No contexto de pós-segunda Guerra mundial, surge a preocupação com a
situação social da infância e a idéia da criança como portadora de direitos. A ONU
promulga em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança, em decorrência da
Declaração dos Direitos Humanos, esse é um fator importante para a concepção de
infância que permeia a contemporaneidade, a criança como sujeito de direitos.
Desse modo, nota-se que a Educação infantil sofreu grandes
transformações nos últimos tempos. O processo de aquisição de uma nova
identidade para as instituições que trabalham com crianças foi longo e difícil. Durante
esse processo surge uma nova concepção de criança, totalmente diferente da visão
tradicional. Se por séculos a criança era vista como um ser sem importância, quase
invisível, hoje ela é considerada em todas as suas especificidades, com identidade
pessoal e histórica.
Essas mudanças originaram-se de novas exigências sociais e
econômicas, conferindo à criança um papel de investimento futuro, esta passou a ser
valorizada, portanto o seu atendimento teve que acompanhar os rumos da história.
Sendo assim, a Educação Infantil de uma perspectiva assistencialista transforma-se
em uma proposta pedagógica aliada ao cuidar, procurando atender a criança de
forma integral, ou seja, a implementação de Leis que asseguram a educação infantil
valorizam não só a criança com sujeito social, mas também deram a oportunidade
para que elas tenham acesso a educação.
. Portanto, evidencia-se que as mudanças que ocorrem com as crianças,
ao longo da infância, são muito importantes e devem ser respeitadas. Por tais
31
razões, as instituições de Educação Infantil são hoje indispensáveis na sociedade.
Elas tanto constituem o resultado de uma luta constante pela valorização da criança
como são responsáveis pela formação de crianças que nesta fase precisam ser
acompanhadas e inseridas em um ambiente que contribua para o seu
desenvolvimento integral.
1.2 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO AMBIENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL
1.2.1 Sobre a Infância e a Educação Infantil
O homem é um ser histórico social, que constrói sua história no decorrer
dos anos. A partir desse pressuposto a noção ou sentimento de infância foi construído
ao longo da história. Nos registros da história Medieval não se encontra nenhum
relato sobre o tema até o meio do século XII.
Segundo o historiador Phillipe Áries em seu livro História Social da Criança
e da Família (1981) no qual elaborou estudos sobre a infância na Europa “É difícil
crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais
provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo”. A conceituação de
infância que conhecemos é recente, está ligada a noção de família e ao
desenvolvimento escolar no século XVII.
Recorrendo-se ao seu significado literal, a palavra infância oriunda do latim
infantil significa “incapacidade de falar”, pois se considerava que antes dos sete anos
acriança era incapaz de falar e expressar seus pensamentos e desejos. Desde a
antiguidade apalavra infância estava atrelada a incapacidade, a criança era menos
que o adulto, por isso era representada como adulto em miniatura.
Por se tratar de uma construção histórica nos séculos X e XI havia profundo
desinteresse pela infância, sendo considerada como um período de transição sem
nenhuma lembrança ou importância para a vida adulta. No século XIV surgem novos
modelos para representar a infância. No primeiro as crianças as crianças aparecem
na forma de anjos, deixando a antiga idéia de adultos em tamanho reduzido. O
segundo modelo de criança seria a imagem da criança sagrada representada pelo
Menino Jesus ou por Nossa Senhora Menina, nessa
32
época a idéia de infância estava ligada a Maria. O terceiro modelo de criança é a
representação da criança nua.
No século a densidade demográfica da época explica a indiferença com
relação às crianças, já que a possibilidade de perda das mesmas era muito alta. As
crianças começaram a sair do anonimato quando os adultos iniciaram o gosto pelo
retrato.
Sobre este aspecto destaca Aries (1981):
O gosto novo pelo retrato indicava que as crianças começaram a sair do anonimato em que sua pouca possibilidade de sobreviver as mantinha. É notável, de fato, que nessa época de desperdício demográfico se tenha sentido o desejo de fixar os traços de uma criança que continuaria a viver ou uma criança morta, a fim de conservar sua lembrança (1981, p.23)
No século XVII passou-se a conservar a imagem da infância através da
arte. A criança passou a ser representada sozinhas sendo modelos favoritos dos
pintores da época. No século XIX substitui-se a pintura pela fotografia, porém a
valorização da imagem da criança permaneceu e consolidou-se então a noção de
família. Todas essas características demonstram que nem sempre escola, infância e
família existiram da mesma forma.
Segundo a pesquisadora Kramer (2003) entende-se comumente, “criança”
por oposição ao adulto: oposição estabelecida pela falta de idade ou de “maturidade”
e “de adequação integração social”.
Para a pesquisadora Kramer (2003) a idéia de infância não existiu sempre e
foi modificada com o passar do tempo, historicamente de acordo com a modificação
nas formas de organização da sociedade. Ela aparece com a sociedade capitalista,
conforme ocorrem as mudanças na relação social da criança. Se para a sociedade
feudal a criança se tornaria adulta assim que a mesma ultrapassasse o período de
alta mortalidade e já pudesse trabalhar para a sociedade burguesa a criança deve ser
amparada e escolarizada.
A visão contemporânea de infância se depara com uma série de mudanças,
novos olhares e algumas rupturas com o modelo de infância concebido até então. A
nova visão de infância possui outras características, novos interesses e necessidades
que não existiam antes, essas necessidades estão atreladas ao novo sistema vigente,
o capitalismo, o consumismo e a globalização.
Por muitos anos a escola e a família eram os grandes responsáveis pela
socialização e interação da criança com o mundo, nos dias de hoje outras mídias
33
como a televisão e a internet responsáveis por essa função. Segundo Pfron Neto as
crianças tem interesse pela televisão a partir dos 6 meses de vida, passando a assistir
com maior regularidade a programação por volta dos 2 a 3 anos de idade.
Outro fator que convém ressaltar na mudança da concepção de infância
está ligado à nova característica da sociedade contemporânea, a individualização das
pessoas. Os pais presos a sua rotina estressante profissional, deixam seus filhos
aprisionados em suas casas, permanecendo sozinhos por um longo tempo. Com isso
a televisão por sua vez invade a vidadas crianças pregando determinado estilo de
vida, com modismos e ideais, ditando regras, brincadeiras, formas de ver o mundo.
Estimulando a consumir casa vez mais, transformando as crianças em consumidores
desenfreados.
Nesse sentido a mídia altera a noção de infância construída até os dias de
hoje, reduzindo a criança a um sujeito-consumidor, conforme destaca Ghiraldelli Jr.
(1996):
Ser criança é ter corpo que consome coisa de criança. Que coisas são essas? Primeiras coisas que a mídia define como tendo sido feitas para o corpo da criança. Segundo coisas que ela define como sendo próprias do corpo da criança. Respectivamente, por um lado bolachas, danoninhos, sucos, roupas, aparatos para jogos, etc., por outro gesto, comportamento, posturas corporais, expressões, etc. Ser criança é algo definido pela mídia na medida em que é um corpo que consome corpo (1996, p. 38).
Nesse aspecto a mídia constrói um significado diferente de infância, deixando
de ser uma fase natural da vida, pois sendo então objeto de manipulação, construído,
ditado, instruído pela mídia. Diferentemente da visão que prega a criança feliz,
protegida, educada, segura. Ou seja, o que vemos hoje é a simulação da noção de
infância.
1.2.2. A educação infantil na idade média e moderna
Assim como o conceito de infância, a escola infantil do modo como a se
conhece é muito recente e sua concepção se confunde com a concepção de infância.
A percepção de escolarização em tempos passados se resumia ao convívio das
crianças em grupos adultos e como eles aprendiam a se tornar membros desse
grupo. Sem que houvesse a percepção de que a infância é uma fase distinta da vida,
que como tal tem suas próprias características, especificidade e necessidades.
34
Na Idade Média ao completar sete anos de idade, a criança entrava em
outra família para aprender os afazeres domésticos e costumes, adquirindo
conhecimento e experiência prática. Apenas os clérigos de todas as idades,
principalmente do sexo masculino é que podiam freqüentar os colégios existentes na
época dirigidos pela Igreja Católica. Nas famílias em que os meninos estudavam as
meninas não aprendiam nada.
Nessa época não havia trajes para diferenciar as crianças dos adultos, os
trajes eram diferentes apenas para as classes sociais, sendo assim serviam apenas
para perpetuar as diferenças de classes. Áries (1981) explica que a idade Média
vestia indiferentemente todas as classes de idade, preocupando-se apenas em
manter visíveis através da roupa os degraus da hierarquia social. Nada, no traje
medieval, separava a criança do adulto. Segundo Áries (1981):
Essa função demográfica da escola não surgiu imediatamente como uma necessidade. Ao contrário, durante muito tempo a escola indiferente à repartição e à distinção das idades, pois seu objetivo essencial não era a educação da infância. (1981, p.124)
Na Idade Moderna, o crescimento da população urbana, a Revolução
Industrial e o Iluminismo proporcionaram uma nova etapa à educação infantil, a
ruptura de paradigmas considerados arcaicos trouxe modificações sociais e
intelectuais à criança.
Surgem as primeiras propostas de educação dissociando o
desenvolvimento social do desenvolvimento da educação. A obrigatoriedade da
escola foi bastante discutida entre os séculos XVIII e XIX, nesta época questionava-
se a eficácia das escolas mistas. A disciplina na idade escolar era rigorosa e efetiva,
por considerar a criança frágil e incompleta.
A Reforma Protestante trouxe a idéia da universalização da escola, surge
então uma nova perspectiva sobre a educação infantil levando em consideração
como ensinar.
As idéias de Pestalozzi e Froebel deram origem ao conceito de educação
compensatória, seguidas por Montessori e Mc Milam no final do século XIX e sua
aplicação efetivamente ocorreram no século XX. A educação pré-escolar era
encarada de forma a compensar a pobreza, miséria e a carência das famílias.
Sobre este contexto destaca Kramer (2003)
A educação pré-escolar começou a ser reconhecida como necessária tanto na Europa quanto nos Estados Unidos durante a depressão de 30. Seu principal objetivo era o de garantir emprego a professores, enfermeiros e
35
outros profissionais e, simultaneamente, fornecer nutrição, proteção e um ambiente saudável e emocionalmente estável para crianças carentes de dois a cinco anos de idade. (2003, p.23)
Com a Segunda Guerra Mundial o atendimento pré-escolar tomou novo
rumo, passando a atender os filhos de mães que trabalhavam na indústria bélica e
daquelas que substituíam o trabalho masculino. Por ter caráter de urgência a
necessidade desse tipo de atendimento teve índices elevados e culminou com duas
medidas importantes para o âmbito da educação pré-escolar.
Por um lado, a educação pré-escolar assumiu caráter assistencialista de
grande importância para a comunidade, já que a partir de então as mães poderiam
trabalhar. Assim, despertou interesse por novas formas de pensar a educação de
crianças, surgiu então à preocupação com as necessidades sociais e afetivas das
crianças. Nesse momento aumentaram os estudos sobre a as teorias do
desenvolvimento da criança e sobre psicanálise no âmbito pré-escolar.
Na década de 60 as pesquisas na educação pré-escolar seguiam a linha do
pensamento sobre o pensamento da criança e sobre a influência da linguagem no
desenvolvimento escolar. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos sobre testes de
inteligência indicavam que as crianças que freqüentaram a jardins de infância ou
creche eram melhores do que as que não freqüentaram nenhum tipo de instituição
escolar.
Atualmente os objetivos da educação na Europa têm sido o
desenvolvimento integral do indivíduo e a aprendizagem de diversos meios de
expressão para o ensino básico.
1.2.3 A educação infantil no Brasil
Ao analisar o histórico da Educação Infantil, devemos considerar que sua
construção está ligada à concepção histórico-social de instituições como a família e
da infância.
Para estudar alguns aspectos históricos ligados à história da educação no
Brasil, a pesquisadora Kramer (2003), divide a história em três períodos sendo eles:
1º período vai desde o descobrimento até 1874, 2º período de 1874 até 1889 e o 3º
período de 1889 até 1930.
36
Segundo Kramer (2003) do período do descobrimento até 1874, no Brasil
não se pensava na infância tanto do aspecto jurídico quando do atendimento as
crianças. Nesse período havia apenas casas para os abandonados de primeira idade
e uma escola para os abandonados com mais de doze anos.
Já no 2° período de 1874 até 1889 há registros de projetos assistencialistas
elaborados por alguns grupos especialmente médicos, porém muitos projetos não
saíram do papel. Os poucos projetos que se concretizaram durante este período
segregavam as crianças negras filhas de escravos das crianças da elite filhas dos
senhores. Podemos observar que a assistência às crianças pequenas era praticada
por médicos sanitaristas e associações de damas beneficentes sendo deixada de
lado pelos órgãos públicos.
Na análise de Krammer (2003):
Mas, se existiam algumas alternativas provenientes de grupos privados (conjuntos de médicos, associações de damas beneficentes etc.), faltava, de maneira geral, interesse da administração pública pelas condições da criança brasileira, principalmente a pobre (2003, p.50).
No 3° período, até 1930, a criança já estava sendo assistida por diversas
leis e instituições que principalmente durante as duas primeiras décadas prestavam
atendimento médico, escolar e higiênico. Neste período predominou o desejo de
alguns grupos em diminuir o desinteresse do governo em relação às políticas para as
crianças.
Em 1899 foi criado o Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Brasil
para receber menores de oito anos, com o objetivo de privilegiar as necessidades das
crianças pobres e as crianças com necessidades de alguns cuidados, criar leis para a
proteção dos recém-nascidos, criar creches, maternidade e jardins de infância.
Ainda segundo estudos de Krammer (2003):
A fundação do instituto foi contemporânea a certa movimentação em torno da criação de creches, jardins de infância, maternidades e da realização de encontros e publicações. Em 1908, teve inicio a “primeira creche popular cientificamente dirigida” a filhos de operários até dois anos e, em 1909, foi inaugurado o Jardim de Infância Campos Salles, no Rio de Janeiro. (2003 p.52).
Em 1919 inicialmente sob-responsabilidade do Estado foi criado o
Departamento da criança no Brasil, porém foi mantido por doações. Este
departamento possuía diferentes tarefas, dentre as quais: monitorar a proteção da
infância no Brasil, promover iniciativas de amparo à criança e mulher grávida pobre,
37
promover congressos, divulgar boletins e uniformizar as estatísticas brasileiras sobre
a mortalidade infantil.
Nesta breve revisão histórica do contexto educacional da educação Infantil
no Brasil pré 1930 percebeu-se que a educação da criança pequena se baseou no
assistencialismo médico e na psicologização da educação, atribuídos a “concepção
abstrata da infância”. Surgiu então o Estado autoritário preocupado com as crianças
consideradas não aproveitadas. A valorização da criança pelo Estado ocorreria
gradativamente pós 1930.
Ainda segundo Krammer (2003):
A década de 30 é considerada aqui como limite pelas modificações políticas, econômicas e sociais ocorridas no cenário nacional - em estreita relação com o cenário internacional - e que se refletiriam na configuração das instituições voltadas às questões de educação e saúde, como também na sua política. (2003 p.56).
O Estado cria vários órgãos de amparo assistencial e jurídico para a
infância afirmando a política de valorização da criança, como adulto em potencial,
sem vida social. Dentre os órgãos criados pelo governo se destaca: o Departamento
Nacional da Criança em1940; Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição em 1972;
SAM – 1941 e FUNABEM;
Legião Brasileira de Assistência em 1942 e Projeto Casulo; UNICEF em
1946; Comitê Brasil da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar – OMEP em
1953 E 1969; Conselho Nacional de Educação - CNAE em 1955; e Conselho
Educacional Pré-Escolar - COEPRE em 1975. Mesmo com esforços empreendidos, a
política de assistência social não atingiu a todos, sendo que sua prática foi muito
desigual, com recursos escassos e atendimento voltado mais para os problemas de
saúde do que para os da educação propriamente ditos. Acentuando assim os
problemas de desigualdade social já existente na sociedade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961) discorre dois
artigos sobre a educação pré-escolar. O primeiro é dedicado à educação de crianças
até sete anos em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes. O
segundo sugere o estimulo para que as empresas instalem instituições de ensino
para os filhos das mães trabalhadoras.
A educação pré-escolar (educação compensatória) foi instituída para
amenizar a evasão escolar e alta taxa de repetência no 1ª série do 1º grau entre as
crianças carentes nos anos 1970.
38
Neste sentido a educação compensatória visava preencher o “vazio”
cultural que atingia as crianças carentes antes que entrassem no 1º serie, essa
carência existia porque os pais das famílias pobres não conseguiam proporcionar
oportunidades para um bom desenvolvimento escolar, que faria com que seus filhos
repetissem o ano letivo. A pré-escola serviria para suprir a carência educacional e
suprir os requisitos básicos que não foram anteriormente transmitidos por seu meio
social para garantia do sucesso escolar.
Nota-se que a educação era fragmentada, sendo regulamentada por vários
órgãos e continuava a ser vista como assistencialista. Com caráter compensatório
que visava suprir a falta de condições sociais, culturais e nutricionais. Sendo assim a
maioria das creches e pré-escolas públicas tinham essa função assistencialista.
Enquanto as instituições particulares caminhavam na direção contraria visando o
desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças atendidas.
Sobre este contexto os estudos de Krammer (2003,p,107) destacam:
A crença na pré-escola e na educação compensatória como solução para os problemas sociais pressupõe uma dada posição perante o mundo e a sociedade. O fracasso dos programas nela fundamentados pode significar um retrocesso na medida em que sirva para justificar uma pretensa inferioridade das crianças (2003 p.107).
Nos anos 80 a educação pré-escolar passou por problemas dentre os quais
o caráter assistencialista da educação, a insuficiência de docentes qualificados,
escassez de recursos e ações concretas para sua viabilização, fragmentação dos
programas educacionais e de saúde e ausência de uma política integrada para a
educação.
Com a Constituição de (BRASIL, 1988) a educação pré-escolar passou a se
vista como um direito da criança e dever do Estado. Deveria ser integrada ao sistema
de ensino. A partir de então a educação pré-escolar passou a seguir uma concepção
pedagógica que completava a ação da família deixando a atuação assistencialista
para trás. Essa visão pedagógica tinha a criança como ser histórico e social,
pertencentes a uma determinada classe cultural e social tornando obsoleta a prática
da educação compensatória.
Em 1990 com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os
municípios se tornaram responsáveis pela infância e adolescência. Retirando a
responsabilidade de o Estado atuar sobre os programas de educação infantil.
39
Contudo o direito a educação pré-escolar até os 05 anos está longe de ser
concretizado para a boa parte das crianças das camadas populares. Seu
reconhecimento começa a ser notado nos documentos oficiais e em
pronunciamentos, bem como nas ações desenvolvidas por iniciativas estadual,
municipal e beneficente. No entanto a educação compensatória é vista como solução
para o problema da educação e sociedade brasileiras.
1.2.4 Espaços e ambientes na Educação Infantil
Discutir sobre a importância da organização do espaço na escola destinado
às crianças da Educação Infantil implica em repensar a forma como esse vem sendo
organizado através dos tempos e descrever as dimensões que o configuram como
ambiente de aprendizagem que potencializa e orienta a prática educativa.
A escola da antiguidade era pensada para atender, cuidar e transmitir
informações aos seus alunos, mas não tinha a preocupação de organizar um
ambiente que favorecesse e oportunizasse, constantemente, momentos de interação
e desenvolvimento integral das crianças.
Era comum a própria escola organizar seus espaços como modo de
controle e de disciplina dos corpos, com a maioria das salas organizadas em filas,
com corredores estreitos que limitavam o acesso a circulação e a interação entre as
crianças. Até mesmo os corredores da escola eram construídos de forma a induzir as
crianças a andar em fila atrás de seu professor. Além disso, as janelas eram
pequenas, o que dificultava a interação com o meio externo e a exploração de outros
espaços.
É importante salientar que essa realidade não é encontrada apenas na
antiguidade, essa prática foi e ainda é muito utilizada em nosso cotidiano. Para que
essa organização se diferencie das tradicionais e se prepare para dar suporte às
necessidades infantil, ela precisa levar em consideração que as crianças, quando
pequena, agem diretamente sobre o meio, e à medida que se vai conquistando
autonomia motora, adquire uma linguagem mais avançada, alcança meios mais
refinados para interagir com o mundo que a rodeia.
Para as crianças bem pequenas os espaços de correr, saltar e rolar são
fundamentais, como também são necessários os espaços para as atividades
40
diversificadas como pintar, desenhar, brincar de faz-de-conta, de fazer barraca e tudo
o que a imaginação criar, por isso, a necessidade de se preparar um ambiente
diferenciado para ela, que permita sua exploração e atuação constante. Os espaços
de atividades das crianças da educação infantil precisam levar em conta suas
necessidades e possibilidades de atuação, pois as crianças interagem nos ambientes
por meio do uso de seu corpo, arrastando-se, tocando, cheirando, engatinhando, e
explorando, conhecendo e interferindo no cotidiano através de suas percepções.
As crianças crescem e se desenvolvem rapidamente e em conseqüência
disso suas necessidades e interesses se modificam. As crianças têm características
diferentes. O contexto socioeconômico e cultural deverá ser considerado (Lopes;
Mendes; Farias, 2005, p. 20).
Na medida em que as crianças vão crescendo, vão estabelecendo novas
relações, e dessa forma se faz necessária a incorporação de outros móveis e
acessórios, os quais vão se tornando indispensáveis para povoar o espaço que elas
freqüentam, dando novas possibilidades de ação no ambiente da instituição.
Dentre os objetos móveis estão as mesas adequadas para pintar e
desenhar, diferentes tipos de tintas, pincéis, colas e tesouras, papéis de diferentes
formatos, texturas e tamanhos, livros de histórias que permitam explorar e criar, tendo
como suporte móveis adaptados as necessidades infantis, valorizando o ser criança.
De acordo com o documento da Secretaria de Educação, Proinfantil afirma
que: Fröebel e Montessori privilegiaram a organização do espaço e o tornou, na
realidade, parte integrante da ação pedagógica. O que houve de inovador neste
aspecto foi o fato de adequá-lo às necessidades de crianças pequenas, distanciando-
se dos modelos escolares vigentes na época. Fazendo uma verdadeira revolução no
que diz respeito aos espaços e ambientes destinados à Educação Infantil, foram os
grandes precursores da importância dos arranjos espaciais na metodologia do
trabalho com crianças pequenas (Lopes; Mendes; Farias 2005, p. 30).
Os elementos que compõem os espaços podem ser variados, desde
prateleiras baixas, pequenas casinhas, caixas, biombos baixos, dos mais diversos
tipos e que favoreçam a criança a ficar sozinha, se assim o desejar. Também na área
externa, há que se criar espaços que permitam que as crianças corram,
41
balancem, subam, desçam e escalem ambientes diferenciados, pendurem-se,
escorreguem, rolem, joguem bola, brinquem com água e areia, escondam-se sem que
corram perigos. As pesquisas e estudos realizados a respeito da concepção de
criança, de infância e de seu desenvolvimento e aprendizagem demonstram que
muitas concepções já mudaram de forma considerável, mas ainda ocorre a insistência
em moldar e disciplinar tais concepções.
Para Horn (2004, p. 37): O espaço é algo socialmente construído, refletindo
normas sociais e representações culturais que não o tornam neutro e, como
conseqüência, retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Até então, na
história, os espaços foram se construindo como uma das formas de controlar a
disciplina, constituindo-se como uma das dimensões materiais do currículo.
Nesta perspectiva, o espaço não se torna potencializador das capacidades
infantis, torna-se, apenas, pano de fundo para as relações de autoritarismo,
centradas na figura do professor detentor de todo o conhecimento. Segundo Zabalza
(1998) “o termo espaço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais para a
atividade caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário e
pela decoração”, sendo assim, o espaço está ligado aos objetos e aos elementos
que ocupam o espaço, para as crianças pequenas ele diz respeito a tudo aquilo que
o compõem, os móveis, os objetos, a mobília, é tudo aquilo que se vê, que se faz e
que se sente.
Já o ambiente “refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que se
estabelecem no mesmo”, ou seja, os afetos, as relações interpessoais entre as
crianças, entre elas e os adultos, entre elas e a sociedade em seu conjunto. O
ambiente é um todo que não se distancia do espaço, dos objetos, das mobílias, ele
transmite sensações, passa segurança e independentemente de como é organizado
sempre expressa algum sentimento, nunca se torna um espaço indiferente. Dessa
forma, considera-se, por meio de estudos, que o espaço escolar pode ser um aliado
importante que poderá contribuir de maneira significativa para as aprendizagens
infantis. Assim, a forma como o ambiente esta organizado pode contribuir, tornando-
se um ampliador ou inibidor da aprendizagem. Dependendo de como o organizamos,
ele pode estimular, constantemente, as crianças, ou reprimi-las, desse modo, é
função de cada professor, antes de organizar sua sala de aula, refletir sobre o que irá
conduzir sua prática pedagógica, o que pretende potencializar e
42
desenvolver nas crianças e qual sua concepção de educação e de desenvolvimento
infantil. A partir dessas reflexões, o professor poderá organizar não só sua sala, mas
também toda a escola, de modo que o ambiente, realmente, faça seu papel de
educador e que, juntamente com professores preparados e qualificados para tal
função, possa garantir o acesso e permitir que as crianças exerçam sua autonomia,
independência e criatividade, possibilitando novas descobertas, potencializando
aprendizagens e garantindo uma educação de boa qualidade. O ambiente deve fazer
sentido para a criança, proporcionando acesso aos meios que contribuem para o seu
desenvolvimento integral.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: O espelho é um
excelente instrumento na construção e na afirmação da imagem corporal recém-
formada, é na frente dele que meninos e meninas poderão se fantasiar, assumir
papéis, brincar de pessoas diferentes, e olharem-se, experimentando todas essas
possibilidades (BRASIL, 1997, p. 38). Com o uso dos objetos e instrumentos
disponibilizados pelo professor no espaço, as crianças têm a oportunidade de
vivenciar e interpretar diferentes papéis, reelaborando situações de seu dia a dia,
assumindo diferentes posturas. “Diante do espelho, a criança consegue perceber que
sua imagem muda, sem que modifique a sua pessoa”.
A partir da progressiva evolução de sua independência dentro da instituição
de educação infantil, as crianças podem usufruir de sua autonomia a fim de interferir
diretamente nas possibilidades de atuar sozinho, para tanto, se faz necessário que os
materiais, brinquedos e objetos estejam ao alcance das crianças, em ambientes
preparados e organizados para brincar.
As mudanças de perspectivas nas instituições de educação infantil
influenciam também as concepções dos educadores que atuam nestas instituições,
refletindo, então, na organização das salas de aula, nos encaminhamentos
metodológicos, nas atitudes e condutas dos educadores, abrangendo também as
ações das crianças.
Espaço na educação é constituído como uma estrutura de oportunidades. É
uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento
pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. Será estimulante ou, pelo
contrário, limitante, em função do nível de congruência em relação ao objetivo e
dinâmico geral das atividades que forem colocadas em prática ou em relação aos
43
métodos educacionais e instrutivos que caracterizem o nosso estilo de trabalho.
(Zabalza, 1998, p. 236).
O espaço, quando bem organizado, pode estimular a investigação,
desenvolver capacidades, manter a concentração e fazer as crianças se sentirem
parte integrante dele, dando a elas uma sensação de bem estar. O espaço pode,
também, favorecer o autoconhecimento, o desenvolvimento das habilidades,
tornando-se desafiador ou inibidor do desenvolvimento e da aprendizagem. [...] O
espaço físico é visto como pano de fundo das relações e desempenha um papel
importante na aprendizagem, ou seja, o espaço condiciona as relações entre as
pessoas e as atividades, o ritmo e o tempo, dependendo do contexto nele organizado,
são visto como um dos elementos fundamentais para uma pedagogia da educação
infantil que garanta o direito à infância e uma educação de qualidade [...] (Vieira,
2009, p. 17).
Na medida em que defendemos uma visão de que as crianças têm o direito
de se desenvolver plenamente em um ambiente no quais se sintam estimuladas e
protegidas, precisamos elaborar ambientes que se tornem desafiadores e ao mesmo
tempo acolhedores, pois, assim, iremos proporcionar e possibilitar interações entre as
crianças e os adultos.
Para isso, é necessário um amplo espaço, no qual as crianças possam
explorá-lo e movimentar-se com liberdade, usando este espaço com criatividade e a
favor de seu desenvolvimento. [...] A escola deve ser um espaço socialmente
organizado para o desenvolvimento das aprendizagens das crianças, deve tornar
possível inúmeras mediações, qualitativamente diferentes. A escola de educação
infantil e seus diferentes espaços físicos internos e externos compõem parte
significativa do processo de ensino e aprendizagem das crianças pequenas [...]
(Vieira, 2009, p.16).
O primeiro contato com a escola da primeira infância pode ser para
algumas crianças um momento um pouco tumultuado, já que é um dos primeiros
momentos sem a presença constante da mãe. Geralmente, antes do contato com a
escola, a maioria das crianças convivia, apenas, com pessoas de seu meio familiar e,
repentinamente, percebe que está em um espaço novo, no qual as pessoas são
desconhecidas.
Nesse ambiente novo, cheio de informações, nada lhe é familiar e, além
disso, a criança passa pela sensação de ter que se separar de sua mãe. Para que a
44
sensação de desconforto e desconhecimento possa ser minimizada, as instituições
escolares precisam estar preparadas para atender as crianças, criando ambientes
que se tornem acolhedores, aconchegantes e que transmitam a sensação de
segurança, ao mesmo tempo desafiando-as a participarem ativamente deste
momento, exercendo sua autonomia e liberdade em suas escolhas, sentindo-se
membro importante e valorizado daquela instituição.
Para tanto, é preciso que se conheçam as características das crianças da
faixa etária a ser atendida, pois se entende que a concepção de criança é uma noção
historicamente construída e que, consequentemente, vem mudando ao longo dos
tempos. A criança indiferentemente das outras pessoas, é um sujeito social e histórico
e faz parte de uma organização familiar e social, que possui uma determinada cultura,
e está inserida dentro de um contexto histórico. As crianças possuem uma natureza
singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito
muito próprio.
Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são
próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para
compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam e,
por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e
seus anseios e desejos (BRASIL 1998, v. 1, p. 21).
No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam as
mais diferentes linguagens e usam de sua criatividade de buscar idéias e hipóteses
sobre aquilo que querem desvendar. As crianças aprendem também a partir das
interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. Por
isso, os espaços nas instituições de educação infantil devem propiciar condições para
que as crianças possam usá-los em benefício do seu desenvolvimento e
aprendizagem, devem ser pensados e rearranjados, considerando as diferentes
necessidades de cada faixa etária e os propósitos aos quais se desenvolverá as
atividades.
Particularmente, as crianças pequenas necessitam de um espaço
especialmente preparado para elas, no qual possam circular livremente, andar,
brincar, interagir com outras crianças e também repousarem quando sentirem
necessidade. O espaço precisa ser pensado para que permita a organização de
atividades que exijam maior concentração, ou trabalhos grupais, para isso, os móveis
e objetos precisam ser de fácil manuseio para que se possa reorganizar
45
constantemente de acordo com a necessidade do grupo. Assim, é necessário, e de
suma importância, que as crianças tenham a oportunidade de participarem
ativamente da construção desses espaços, dando opiniões e fazendo escolhas.
Quando o espaço reflete os desejos e as características de seu grupo e quando ela
sente que é parte integrante do ambiente, reconhecendo-se como participante e
colaboradora, a criança se posicionará como construtora, e, como componentes
desse grupo, atuarão como participantes e valorizarão a si e aos demais. [...] nessa
concepção de criança que é vista como sujeito, faz-se necessário pensar e oferecer
um espaço educacional significativo, feito para a criança e também pela criança, um
espaço bonito, cálido, familiar, alegre, com diversos materiais e objetos acessíveis
nos mobiliários em altura adequada para as crianças para que elas possam
desenvolver atividades do seu interesse, criar novos interesses e expressar sua
autonomia, sua criatividade e seu respeito às regras desenvolvendo a ética, o
respeito ao outro, sua identidade e sua sociabilidade [...] (Vieira, 2009, p. 18).
Constatamos a importância de organizar espaços que propiciem oportunidades de
viver a riqueza cultural das crianças, estabelecendo condições em um espaço de
qualidade.
Para isso, as instituições devem oferecer um espaço educacional
significativo, no qual possam desenvolver atividades interessantes, que possibilitem à
criança expressar sua autonomia, criatividade, respeito ao outro e sociabilidade,
fazendo com que ela sinta-se parte do espaço, o que é extremamente importante. De
acordo com Vieira (2009, p. 24), “a escola para crianças pequenas precisa
proporcionar a construção da „cultura infantil‟, ou seja, valorizar a cultura que é
produzida pela própria criança”.
Dessa forma, nada mais justo do que permitir que a criança participe da
organização de seu próprio espaço, personalizando-o de acordo com sua
personalidade, em parceria com outras crianças, que conheçam as preferências de
seus amigos e que juntos organizem um espaço no qual seja demonstrado a
identidade individual e coletiva da turma. [...] percebe-se, então, a necessidade de
organizar espaços para a educação de crianças pequenas que ofereçam
oportunidades de experiências diversificadas para que elas se apropriem dos
significados socialmente construídos, atribua sentido ao que aprendem e realizam [...]
(Vieira, 2009, p. 37).
46
De acordo com os documentos oficiais que afirmam a necessidade da boa
qualidade da organização dos espaços de educação infantil, pode-se afirmar que é de
fundamental importância se pensar em como organizar o espaço que receberemos as
crianças pequenas, de modo que as acolha e as respeite.
Segundo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil: Ao
organizar um ambiente a adotar atitudes e procedimentos de cuidado com a
segurança, conforto e proteção da criança na instituição, os professores oferecem
oportunidades para que ela desenvolva atitudes e aprenda procedimentos que
valorizem seu bem-estar (BRASIL, 1998, v. 2, p. 51,).
Assim, se faz necessário considerar os cuidados relacionados com o
espaço interno da instituição, tais como ventilação, segurança, conforto, higiene, além
da segurança dos brinquedos, objetos, utensílios e móveis da instituição. As cadeiras,
mesas e os sanitários precisam ser adaptados ao tamanho das crianças e as suas
necessidades, permitindo que possam usá-los com independência e segurança, os
ambientes precisam estar organizados de modo que facilite sua manutenção e
higienização, oferecendo oportunidade das crianças permanecerem livres para
explorar o ambiente.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.
67) “é importante salientar que o espaço de aprendizagem não se restringe à escola,
sendo necessário propor atividades que ocorram fora dela”, para tanto se faz
necessário explorar todos os ambientes que existem na instituição, além da sala de
aula, como pátio, áreas verdes, biblioteca, corredores, quadras, entre outros e que
podem se tornar ambientes com alto potencial de aprendizagens e descobertas, além
de criar programações extraclasses, as quais levem as crianças a conhecer os
espaços que os cercam, dentro da própria comunidade e que fazem parte da
realidade das crianças.
O ambiente deve ser organizado a fim de proporcionar a exploração de
novas descobertas, uma vez que a proposta de valorizar os espaços da educação
infantil permite que as crianças realizem suas atividades individualmente ou em
grupo, tornando o convívio, na instituição, agradável e atraente, disponibilizando para
as crianças momentos de trocas de experiências, de compartilhar idéias e dúvidas,
fazendo com que elas aprendam a trabalhar em parceria e a se respeitarem acima de
tudo. [...] O ambiente é visto como algo que educa a criança; na verdade,
47
ele é considerado o “terceiro educador”, juntamente com a equipe de dois
professores.
A fim de agir como um educador para a criança, o ambiente precisa ser
flexível; deve passar por uma modificação frequente pelas crianças e pelos
professores a fim de permanecer atualizado e sensível as suas necessidades de
serem protagonistas na construção de seu conhecimento. Tudo o que cerca as
pessoas na escola e o que usam – os objetos, os materiais e as estruturas – não são
vistos como elementos cognitivos, passivos, mas, ao contrário, como elementos que
condicionam e são condicionados pelas ações dos indivíduos que agem nela [...]
(Edwards; Gandini; Forman, 1999, p. 157).
2. TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O dia a dia das creches e pré-escolas é repleto de atividades organizadas
por educadores que, de uma maneira ou de outra, lidam com o espaço e o tempo a
todo o momento. Como organizar tempos de brincar, de tomar banho, de se alimentar,
de repousar de crianças de diferentes idades nos espaços das salas de atividades, do
parque, do refeitório, do banheiro, do pátio? É tarefa dos educadores organizar o
espaço e o tempo das escolas infantis, sempre levando em conta o objetivo de
proporcionar o desenvolvimento das crianças.
Maria Carmen Silveira Barbosa e Maria da Graça Souza Horn pesquisam a
organização do espaço e do tempo na escola infantil e afirmam: Organizar o cotidiano
das crianças da Educação Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma
seqüência básica de atividades diárias é, antes de tudo, o resultado da leitura que
fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades.
É importante que o educador observe o que as crianças brincam como estas
brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem
ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais tranquilos
ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-
temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o contexto
sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da instituição, que deverão
lhe dar suporte. (Barbosa e Horn, 2001, p. 67).
48
Para as pesquisadoras, no que se refere à organização das atividades no
tempo, nas escolas de Educação Infantil, são necessários momentos diferenciados,
organizados de acordo com as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e
históricas das crianças (menores ou 2 EDUCAÇÃO INFANTIL: ABORDAGENS
CURRICULARES maiores). Nesse sentido, a organização do tempo nas creches e
pré-escolas deve considerar as necessidades relacionadas ao repouso, alimentação,
higiene de cada criança, levando-se em conta sua faixa etária, suas características
pessoais, sua cultura e estilo de vida que traz de casa para a escola (Barbosa e Horn,
2001).
Assim como o tempo, o espaço também deve ser organizado levando-se
em conta o objetivo da Educação Infantil de promover o desenvolvimento integral das
crianças. Maria da Graça Souza Horn ajuda-nos a pensar sobre esse tema. A partir
de suas pesquisas, escreve: O olhar de um educador atento é sensível a todos os
elementos que estão postos em uma sala de aula. O modo como organizamos
materiais e móveis, e a forma como crianças e adultos ocupam esse espaço e como
interagem com ele são reveladores de uma concepção pedagógica.
Aliás, o que sempre chamou minha atenção foi a pobreza frequentemente
encontrada nas salas de aula, nos materiais, nas cores, nos aromas; enfim, em tudo
que pode povoar o espaço onde cotidianamente as crianças estão e como poderiam
desenvolver-se nele e por meio dele se fosse mais bem organizado e mais rico em
desafios. (Horn, 2004, p. 15). Horn acrescenta: As escolas de educação infantil têm
na organização dos ambientes uma parte importante de sua proposta pedagógica. Ela
traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e aprendizagem, bem
como uma visão de mundo e de ser humano do educador que atua nesse cenário.
Portanto, qualquer professor tem, na realidade, uma concepção pedagógica
explicitada no modo como planeja suas aulas, na maneira como se relaciona com as
crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de aula.
Por exemplo, se o educador planeja as atividades de acordo com a idéia
de que as crianças aprendem através da memorização de conceitos; se mantém uma
atitude autoritária sem discutir com as crianças as regras do convívio em grupo; se
privilegia a ocupação dos espaços nobres das salas de aula com armários (onde
somente ele tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é
eminentemente fundamentada em uma prática pedagógica tradicional.
49
Conforme Farias (1998), a pedagogia se faz no espaço realidade e o
espaço, por sua vez, consolida a pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da relação
pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda exemplificando, em uma
concepção educacional que compreende o ensinar e o aprender em uma relação de
mão única, ou seja, o professor ensina e o aluno aprende toda a organização do
espaço.
As mesas e as cadeiras ocuparão espaços privilegiados na sala de aula, e
todas as ações das crianças dependerão de seu comando, de sua concordância e
aquiescência. (Horn, 2004, p. 61).
Diante das análises de Maria da Graça, como pensar a organização dos
espaços nas creches e pré-escolas? Alguns educadores e pesquisadores têm voltado
sua atenção para a organização dos espaços para o cuidado e educação de bebês.
Cândida Bertolini e Ivanira B. Cruz enfatizam que “Os espaços e objetos de uma
creche devem estar a favor do desenvolvimento sadio dos bebês, propiciando- lhes
experiências novas e diversificadas” (Rossetti – Feirreira et al, 2007, p. 149). Maria A.
S. Martins, Cândida Bertolini, Marta A. M. Rodriguez e Francisca F. Silva, no capítulo
intitulado “Um lugar gostoso para o bebê”, publicado na obra de Rossetti- Ferreira et
al, (2007) observam que, normalmente, o espaço destinado aos bebês na grande
parte das creches é tomado por berços, restando poucas possibilidades para que os
pequenos explorem o ambiente e se locomovam por toda parte, com segurança.
As educadoras pensaram em uma organização espacial diferente desta, na
tentativa de proporcionar aos bebês um espaço atraente para seu desenvolvimento.
Para elas, “O berçário deve ter espaços programados para dar à criança oportunidade
de se movimentar, interagindo tanto com objetos como com outros bebês. Deve
oferecer ao bebê situações desafiadoras, possibilitando o desenvolvimento de suas
capacidades.” (Rossetti – Ferreira et al, 2007, p. 147).
As educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca pensaram o espaço de
seu berçário, levando em conta três partes da sala: o chão, o teto e as paredes. Em
cada uma dessas partes, elas enxergaram possibilidades de garantir experiências
interessantes e desafios para as crianças, por meio do uso de divisórias de diversos
tamanhos e em diversas alturas, caixas de papelão recortadas e transformadas,
brinquedos, canaletas para os bebês passarem por dentro, muretas para impedi-los
de seguir em frente e obrigá-los a experimentar outros trajetos, cortinas, espelhos,
50
móbiles etc. Ainda a respeito do espaço para os bebês, as educadoras alertam: “Os
espaços devem ser sempre atraentes e estimulantes para os bebês. Portanto, eles
devem ser observados, avaliados e mudados pelos educadores na medida em que
eles se desenvolvem e se interessam por coisas novas.” (Rossetti – Ferreira, 2007,
p. 148). As educadoras trazem ainda algumas sugestões para pensarmos acerca do
espaço para os bebês nas creches. Ainda segundo Rossetti e Ferreira (2007), a partir
da observação de sua própria prática, percebe-se que:
[...] existe uma boa forma de arrumar o berçário, organizando-o com colchonetes, caixas vazadas, móveis baixos, que permitem ao educador observar todo o movimento da sala e o bebê também. Dessa forma, o bebê pode tranquilamente ir em busca de um objeto que tenha despertado sua curiosidade, pois ele está vendo que o educador continua na sala. Isso possibilita a ele interagir mais com outros bebês. O educador fica então disponível para aqueles que estão exigindo sua atenção naquele momento. (2007, p. 147).
De acordo com Lilian Pacheco S. Thiago (2006, p78.), a experiência de
estágio com crianças de onze meses a um ano e três meses notou suas conquistas
ao reorganizar o espaço dos bebês de uma escola de Educação Infantil. Indo ao
encontro das reflexões feitas pelas educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca,
Lilian desenvolve o projeto “Criando... e recriando espaços” e percebe que [...] é
preciso oferecer espaços com propostas diferenciadas, situações diversificadas, que
ampliem as possibilidades de exploração e ‘pesquisa’ infantis. As crianças realmente
ampliaram suas possibilidades de exercitar a autonomia, a liberdade, a iniciativa, a
livre escolha, quando o espaço está adequadamente organizado. Percebi, também,
que poderia ficar mais livre para atendê-las individualmente, conforme suas
necessidades, para observá-las e conhecê-las melhor.
Dessa forma, ainda, poderia me envolver com um pequeno grupo de
crianças, propondo uma atividade específica, como na situação relatada
anteriormente, quando me pus a brincar de carro com uma caixa de papelão com
algumas crianças, enquanto outras se envolviam com diferentes objetos e lugares na
sala. (Thiago, 2006, p. 60) Lilian compartilha conosco as formas como reorganizou os
espaços oferecidos aos bebês da sala onde realizou seu estágio do curso de
Pedagogia e oferece algumas ideias importantes para o uso adequado dos espaços
como parceiros do professor e da professora de Educação Infantil no
desenvolvimento das crianças.
Lendo a forma como ela descreve o espaço que reorganizou, tente
imaginar como ficou a sala dos bebês: O espaço da casinha; as tentativas de
51
organizar zonas circunscritas utilizando bancos, mesas, prateleiras de plástico
colorido com gavetas para pino de encaixe; o balcão baixo de madeira formando uma
divisória; os colchonetes; o painel com gravuras de animais conhecidos (cavalo, gato,
pássaros, cachorro, leão, peixe etc.); o espelho com duas poltroninhas ou almofadas
em frente, sobre o tapete (espaço de busca de identidade) – tudo isso permitiu
gostosa movimentação pela sala. As crianças andavam de um lado para outro, ora
em busca de um objeto, ora de outro; ora apontando os dedinhos para as gravuras,
mostrando conhecer algo que ali se apresentava. [...] Em outra ocasião, coloquei
sobre as mesas, no centro da sala, livros de história, revistas infantis e outras revistas
e fiquei a observá-las. Algumas pegaram livros e foram se sentar sobre os
colchonetes para folheá-los à sua maneira; outras manuseavam os livros na própria
mesa; outras crianças preferiram buscar brincadeiras alternativas que o espaço lhes
oferecia intencionalmente. Não é possível pretender que as crianças pequenas façam
tudo ao mesmo tempo ou que todas façam a mesma coisa ao mesmo tempo. (Thiago,
2006, p. 59)
Conseguiram ir imaginando como ficou o espaço organizado por Lilian? Ao
organizar as zonas circunscritas, Lilian se fundamenta nas contribuições de Mara
Campos de Carvalho e Renata Meneghini, presentes no capítulo intitulado
“Estruturando a sala”, publicado no livro “Os fazeres na Educação Infantil” (Rossetti e
Ferreira et al., 2007,p 89.). Vocês já ouviram falar de zonas circunscritas? Quem já
atua na Educação Infantil certamente ouviu falar de “cantos”. A organização de
“cantinhos” nas salas de Educação Infantil é bastante discutida hoje nas creches e
pré-escolas.
Muitos educadores tentam organizar suas salas em cantos de atividades
diversificadas, mas, nem sempre essa organização está fundamentada em uma
concepção de criança e de educação que a sustente. Então, os cantos acabam não
funcionando, e sendo deixados de lado, substituídos pela organização anterior,
muitas vezes pautada no uso do espaço que coloca o professor ou a professora no
centro das atenções, com as crianças em volta deles na maior parte do tempo. Então,
vamos tratar um pouco mais das zonas circunscritas, para entendermos melhor o que
fundamenta a organização espacial que se vale dessas áreas delimitadas. Carvalho e
Meneghini (2007, p107.) enfatizam que “O educador organiza o espaço de acordo
com suas idéias sobre desenvolvimento infantil e de acordo com seus objetivos,
mesmo sem perceber” (p. 150). Quando o educador ou a
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educadora de Educação Infantil organiza sua sala em espaços vazios, com poucos
móveis, objetos e equipamentos, ele se vale, conforme escrevem as educadoras na
obra de Rossetti e Ferreira et al. (2007) de um arranjo espacial aberto.
Para as educadoras Mara e Renata, nesse tipo de arranjo acontece
aquilo que descrevemos no parágrafo anterior, ou seja, a maioria das crianças fica
em volta do educador, solicitando sua atenção, sem ter outra atividade a fazer.
Dessa forma, “O educador acaba não tendo muita chance de manter um contato
mais prolongado com nenhuma criança. Às vezes nem pode atender a todas,
mesmo que rapidamente” (Rossetti e Ferreira et al., 2007, p. 150).
É claro que, muitas vezes, o professor ou a professora desejam reorganizar
o espaço de sua sala, mas encontram alguns obstáculos como falta de recursos,
faltam de apoio da equipe gestora da escola, condições inadequadas da própria
escola de Educação Infantil. Mas, em muitos casos, há mesmo uma lacuna na
formação do professor que o impede de pensar a organização de sua sala em termos
de um arranjo espacial semiaberto.
Nesse tipo de arranjo, sugerido por Mara Campos de Carvalho e Renata
Meneghini na obra “Os fazeres na Educação Infantil”, são utilizados móveis baixos
para formar cantinhos ou zonas circunscritas, que “[...] são áreas delimitadas em três
ou quatro lados, com uma abertura para a passagem, onde cabem com conforto
cerca de seis crianças” (p. 151). Conforme explicam Mara e Renata, A característica
principal das zonas circunscritas é seu fechamento em pelo menos três lados sejam
qual for o material que o educador coloca lá dentro, ou que as próprias crianças
levam para brincar.
Dessa maneira, você pode delimitar essas áreas usando mesinhas ou
cadeirinhas. Elas também podem ser constituídas por caixotes de madeira ou
cabaninhas, desde que contenham aberturas. As cabaninhas podem ser criadas
aproveitando o espaço embaixo de uma mesa e colocando por cima um pano que
caia para os lados, contendo uma abertura, tipo porta. As cortinas também podem ser
úteis para delimitar um ou dois lados. É importante que a criança possa ver facilmente
a educadora, senão ela não ficará muito tempo dentro dessas áreas circunscritas.
(Rossetti e Ferreira et al, 2007, p. 151)
Quando as crianças brincam nas zonas circunscritas, ficam mais tempo
interagindo com outras crianças e com a atividade que está sendo ali realizada.
Solicitam menos a atenção do educador que, dessa forma, pode acompanhar o
53
desenvolvimento das diversas crianças, focalizando ora uma, ora outra, se desejar,
observando se os materiais oferecidos estão atendendo aos objetivos que deseja
alcançar em termos de desenvolvimento de cada criança, em particular, e do grupo
todo, de modo geral, percebendo o momento de reorganizar ou modificar os cantos
propostos para motivar mais as crianças e proporcionar a elas novas aprendizagens.
Mara Campos de Carvalho, no capítulo “Por que as crianças gostam de áreas
fechadas?”, da obra de Rossetti e Ferreira et al. (2007), observa que a zona
circunscrita oferece proteção e privacidade para as crianças, de modo que elas ficam
mais atentas na atividade e no comportamento dos colegas, envolvendo-se por mais
tempo nas brincadeiras proporcionadas pelo canto organizado pelo professor ou
professora.
Agora, também é importante que os professores e professoras de
Educação Infantil saibam que as crianças precisam aprender a trabalhar com zonas
circunscritas, especialmente se já estavam habituadas a trabalhar no arranjo espacial
aberto, com o educador sempre dirigindo as atividades, sempre interferindo
diretamente nas suas ações e relações com os colegas e o ambiente. A educadora
Mara também alerta os professores e professoras da Educação Infantil para o fato de
que, mesmo no arranjo espacial semiaberto, as áreas circunscritas não devem tomar
todo o espaço das salas das creches e pré-escolas. Outras áreas que não sejam
necessariamente delimitadas por três ou quatro lados também devem ser oferecidas
para as crianças como, por exemplo, espaços com mesinhas e cadeiras para
execução de atividades de colagem, pintura, lápis e papel, espaços sem delimitação
com almofadas e tapetes para leitura de livros de histórias.
Ainda contribuindo para que professores e professoras pensem sobre o
espaço que oferecem para as crianças em creches e pré-escolas, a educadora Mara
Campos de Carvalho (Rossetti e Ferreira et al, 2007) faz algumas análises dos
ambientes infantis e conclui que eles devem estar organizados de modo a promover o
desenvolvimento da identidade pessoal de cada criança, o desenvolvimento de
diversas competências como, por exemplo, poder tomar água sozinha e alcançar o
interruptor de luz, oportunidades para movimentos corporais diversos, a estimulação
dos sentidos, a sensação de segurança e confiança e, finalmente, oportunidades para
contato social e privacidade.
Paulo de Camargo (2008, p 67.) analisa os “Desencontros entre Arquitetura
e Pedagogia” em reportagem na qual conversa com arquitetos e
54
educadores sobre os espaços nas escolas de Educação Infantil. Os arquitetos
entrevistados por Paulo de Camargo ressaltam a necessidade de que as creches e
pré-escolas sejam construídas levando-se em conta que elas serão ocupadas e
utilizadas por crianças.
Um dos arquitetos entrevistados, Paulo Sophia, esclarece que, para
conceber uma escola, tenta se colocar no lugar da criança, procurando notar como
ela irá olhar ou perceber o espaço. Para esse arquiteto, as crianças têm uma relação
própria com o espaço, bastante diferente daquela dos adultos. Outra arquiteta
entrevista por Paulo de Camargo é Ana Beatriz Goulart de Faria, envolvida com
diversos projetos de arquitetura educativa. Ana Beatriz observa que na maioria dos
municípios brasileiros, os espaços de Educação Infantil seguem modelos-padrão
elaborados muito longe daqueles territórios, desconsiderando sua geografia, sua
história, sua cultura, suas políticas para a infância. Para ela, “São projetos-modelo
elaborados para uma infância sem fala” (Camargo, 2008, p. 46).
Paulo de Camargo também entrevista a arquiteta Adriana Freyberger,
segundo a qual é preciso que se dê mais atenção aos espaços da escola de
Educação Infantil que vão além da sala de atividades. Pátios e refeitórios devem ser
cuidadosamente organizados, já que são espaços de aprendizagem. Para Adriana,
pensar o espaço significa pensar além da estrutura física. É preciso, segundo ela,
planejar os materiais, jogos e brinquedos adequados ao projeto pedagógico da
instituição.
A arquiteta ressalta a importância do uso de materiais de qualidade nas
creches e pré-escolas e da atenção ao número adequado de crianças para cada
espaço, evitando-se o excesso de crianças por sala. Para finalizar esse texto sobre a
organização do tempo e do espaço nas creches e pré-escolas, vejamos a fala
transcrita a seguir que expressa à opinião da arquiteta Ana Beatriz Goulart de Faria
(entrevistada por Paulo de Camargo).
Os espaços de nossa infância nos marcam profundamente. Sejam eles
berço, casa, rua, praça, creche, escola, cidade, país, sejam eles bonitos ou feios,
confortáveis ou não, o fato é que influenciam definitivamente nossa maneira de
vermos o mundo e de nos relacionarmos com ele. (Camargo, 2008, p. 45) Vocês
concordam com a arquiteta Ana Beatriz? Quais espaços marcaram a sua infância?
Como eram esses espaços? Por quais motivos foram marcantes? Quais lembranças
esses espaços trazem para vocês? Nada melhor que finalizar a leitura deste texto
55
com estas reflexões. Pensem também em como vocês lidavam com o tempo na sua
infância. Havia tempos marcados para determinadas atividades ao longo do dia?
Estas reflexões sobre o espaço e o tempo em sua infância devem sempre estar
presentes nas suas reflexões sobre o espaço e o tempo que devemos, como
professores e gestores, proporcionar para as crianças nas creches e pré-escolas.
3. A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA
Falar da infância é mencionar uma aventura que se constrói no ato do
desenvolvimento da infância por quais todas as crianças devem vivenciar, pois a
infância deve ser vivida experimentada em sua plenitude. Entretanto, vale lembra
que a concepção de infância dos dias atuais é bem diferente de alguns séculos
atrás.
Neste caso é importante salientar que a visão que se tem da criança é
algo historicamente construído, por isso é que se podem perceber os grandes
contrastes em relação ao sentimento de infância no decorrer dos tempos. O que hoje
pode parecer uma aberração, como a indiferença destinada à criança pequena, há
séculos atrás era algo absolutamente normal. Por maior estranheza que se cause a
humanidade nem sempre viu a criança como um ser em particular, e por muito
tempo a tratou como um adulto em miniatura.
De um ser sem importância, quase imperceptível, a criança num processo
secular ocupa um maior destaque na sociedade, e a humanidade lhe lança um novo
olhar. Para entender melhor essa questão é preciso fazer um levantamento histórico
sobre o sentimento de infância, procurar defini-lo, registrar o seu surgimento e a sua
evolução. Segundo Áries (1978):
O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem (1978, p.99).
Nessa perspectiva, o sentimento de infância é algo que caracteriza a
criança, a sua essência enquanto ser, o seu modo de agir e pensar, que se
diferencia da do adulto, e, portanto, merece um olhar mais específico.
56
A concepção de criança é uma noção historicamente construída e
consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de
forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim
é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam diferentes maneiras de
se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem
do grupo étnico do qual fazem parte.
Nessa perspectiva sabe-se que a infância é uma construção social e
histórica. Neste período da vida, meninos e meninas como todo o ser humano são
considerados sujeitos históricos e de direitos, o que constitui formas de estar no
mundo, manifestada nas relações e práticas diárias por elas vivenciadas,
experimentando a cada instante suas brincadeiras, invenções, fantasia, desejos que
lhes permitem construir sentidos e culturas das quais fazem parte permitindo- nos
afirmar que são ativos, capazes, com saberes diversos, que se manifestam com
riqueza demonstrando suas capacidades de compreender e expressar o mundo.
As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como
seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que
estabelecem desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio que
as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que
vivem as relações contraditórias que presenciam e, por brincadeiras, explicitam as
condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. Elas brincam
individual ou coletivamente e neste ato experimentam e descobrem a vida que pulsa
em diferentes ritmos a partir das linguagens com as quais aprendem a relacionar-se
com os outros.
Deste modo, quando falamos de infância muitas vezes nos deparamos
com concepções que desconsideram que os significados que damos a ela
dependem do contexto no qual surgem e se desenvolvem e também das relações
sociais nos seus aspectos, econômico, histórico, cultural, político, entre outros
aspectos, que colaboram para a constituição de tais significados e concepções que,
por sua vez, nos remetem a uma imagem de criança como essência, universal,
descontextualizada ou então nos mostram diferentes infâncias coexistindo em um
mesmo tempo e lugar.
57
3.2 DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA CRIANÇA
As atividades naturais e espontâneas da criança são seus primeiros
recursos de interação com o mundo, portanto seus primeiros recursos de
aprendizagem. Posteriormente, o meio vai exigir outras aprendizagens, a aquisição
de outros recursos para responder às exigências da cultura, que serão mais bem-
sucedidas se respeitar as características motoras, afetivas e cognitivas naturais da
criança.
Por isso, vale ressaltar que a aprendizagem é como um dos motores do
processo de desenvolvimento, ela também é um processo continuo, constante, em
aberto. Ao se relacionar com o meio físico, a criança está sempre aprendendo, ou
seja, em constante desenvolvimento.
Dessa forma, O desenvolvimento da criança se constitui no encontro, no
entrelaçamento de suas condições orgânicas e de suas condições de existência
cotidiana, encravada numa dada sociedade, numa dada cultura, numa dada época.
Nessa trajetória, a criança dispõe, a cada estágio, de recursos próprios
que habilitam a conhecer o mundo e, ao mesmo tempo, se conhecer: reações
circulares, jogos, brincadeiras, atenção distribuída, habilidade de concentração,
memória, percepção de diferenças e semelhanças, etc; tendendo para maior rigor
uma representação simbólica e cada vez menor dependência do concreto e do
presente. Esses recursos, uma vez adquiridos, serão usados nos diferentes
estágios, porém com conteúdos diversos.
Dessa forma, podemos dizer que a criança aprende e se desenvolve,
também, brincando. Todas as vezes que os trabalhos desenvolvidos para ela forem
realizados de forma lúdica, a criança se interessará e participará com prazer e
intensidade dessas atividades. Com base na interação que ocorre durante as
brincadeiras propostas, a criança organizará as suas percepções em forma de
estruturas cognitivas, pois as crianças estruturam seus pensamentos e emoções
através das brincadeiras.
O ato de brincar e as atividades lúdicas são ferramentas indispensáveis
para o desenvolvimento da criança, por serem atividades completas, ajudam em seu
desenvolvimento como um todo, pois ao brincar elas criam e recriam a realidade que
as cerca. Os fatos abordados nos remetem à proposta do desenvolvimento integral
das crianças, e às suas necessidades enquanto “alunos”
58
da Educação Infantil. Também, traz à tona o conhecimento adquirido pelos seus
professores e auxiliares sobre o processo de desenvolvimento da criança dentro das
Instituições de Educação Infantil.
Sobre o brincar, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil
do Brasil MEC/SEF, no seu volume 01 propõe:
Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. (BRASIL, 1988, p. 27).
Todos os movimentos experimentados pela criança estão diretamente
ligados ao pensamento, sendo que ambos com o tempo se desenvolverão
dependendo dos estímulos recebidos dos profissionais que lidam com a criança. Por
isso, podemos afirmar que enquanto a criança brinca, ela aprende e se desenvolve.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
MEC/SEF o movimento é descrito como:
(...) Uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. (...) Ao movimentarem-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as necessidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. (BRASIL, 1998, vol 03, p. 15)
Kishimoto (1998) cita Froebel (1912c) sobre a importância do brincar na
infância que diz:
É a fase mais importante da infância - do desenvolvimento humano neste período – por ser a auto-ativa representação do interno – a representação de necessidades e impulsos internos. ... A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica de vida humana enquanto um todo- da vida natural interna no homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... A criança que brinca sempre, com determinação e auto-ativa, perseverando, esquecendo sua fadiga física, pode certamente tornar-se um homem determinado, capaz de auto- sacrifício para a promoção de seu bem e de outros... Como sempre indicamos o brincar em qualquer tempo não é trivial, é sério e de profunda significação. (1998, p. 68)
O brincar apresenta como características: ser uma atividade
representativa, realizada com prazer, autodeterminação, valorização do processo,
seriedade, expressão de necessidade tendências internas, tornando-se importante
para o desenvolvimento da criança, principalmente nos primeiros anos (Kishimoto,
59
1998). Ele possibilita a criança vivenciar experiências significativas como, resolver
conflitos, lidar com regras e valores, respeitar o outro, superar dificuldades com
ajuda do professor, cooperar, vivenciar papéis, aprender e apropriar-se de elementos
da sua realidade e cultura (Imai, 2005, p. 231).
Segundo Lima (2005, p. 176), quando a criança brinca, desenvolve
também os conhecimentos, habilidades, atitudes e competências, destacando entre
elas o pensamento, a imaginação e a memória, à vontade, a concentração e a
atenção, a linguagem e a comunicação, os valores, a orientação espaço-temporal, a
autoestima e a motricidade.
Muitas vezes o brincar é visto pelos profissionais das instituições de
Educação Infantil, como algo inato, permitindo que ele aconteça como se fosse algo
da natureza biológica da espécie, assumindo uma concepção espontaneísta de
Educação que afasta o professor cada vez mais do papel de interação e parceiro da
criança em seu processo de desenvolvimento. (Oliveira, 1996 p. 137)
O desenvolvimento da criança deixará de ser trabalhado em alguma de
suas esferas, se o profissional que atua com a criança não for o mediador e utilizar a
pedagogia do brincar e do jogo de forma inadequada nas situações cotidianas e não
tiver condições de fazer as relações bem feitas.
De acordo com Dahlberg, Moss e Pence (2003), a pedagogia pós-
moderna se baseia nos relacionamentos, encontros e diálogos com outros co-
construtores, tanto os adultos como crianças. Portanto, esta “pedagogia de
relacionamento” é definida como uma participação ativa e envolvida das crianças na
co-construção do conhecimento e das identidades próprias e dos outros.
Segundo Malaguzzi (1993, apud Dahlberg, Moss e Pence, 2003) a
pedagogia de relacionamentos revela que:
As crianças aprendem interagindo com seu ambiente e transformando ativamente seus relacionamentos com o mundo dos adultos, das coisas, dos eventos e, de maneiras originais, com seus pares. A interação entre elas é uma experiência fundamental nos primeiros anos de vida. A interação é uma necessidade, um desejo, uma necessidade vital que cada criança carrega dentro de si... A autoaprendizagem e a co-aprendizagem (construção de conhecimento pelo self e co-construção de conhecimentos com os outros) das crianças, apoiadas por experiências interativas construídas com a ajuda de adultos, determina a seleção e a organização de processos e estratégias que são parte de –coerentes com- os objetivos gerais da educação da primeira infância... Os conflitos construtivos [resultantes do intercâmbio de ações, expectativas e idéias diferentes] transformam a experiência cognitiva do indivíduo e promovem aprendizagem e desenvolvimento. Se aceitamos que todo o problema
60
produz conflitos cognitivos, então acreditamos que conflitos cognitivos iniciam um processo de co-construção e cooperação. (2003, p. 82)
Desta maneira, são importantes termos consciência de que as crianças,
passando por diferentes estágios de desenvolvimento, terão, por conseguinte,
necessidades diversas também em relação ao meio no qual estão inseridas. Quando
muito pequena, a criança age diretamente sobre o meio humano, utilizando-se das
pessoas para se inserir em seu contexto.
Ressalto que as crianças nessa faixa etária estão em período muito
especial do ponto de vista de seu desenvolvimento e de sua aprendizagem. Para
elas a mediação de sujeitos mais experientes é algo fundamental. Assim, poder-se-
ia dizer que as crianças não aprendem apenas quando se tem a intenção de ensiná-
las, embora esta seja uma das características específicas da escola de educação
infantil, mas aprendem todo o tempo em função, também, da maneira como os
adultos se comportam com elas, com outras crianças entre si.
Para Wallon, preocupado com a transformação da criança sob a ação do
meio social, a função motora (motricidade) é objeto de uma metamorfose que faz
com que a criança passe da condição de um ser biológico para a de um ser
simbólico.
Sendo assim, entende-se que a forma como se dão as relações no interior
da escola é de suma importância, já que tais relações representam verdadeiros
modelos para as crianças. Do mesmo modo, a forma como a escola se relaciona
com as famílias é percebida pelas crianças como um referencial. Por isso, o espaço
que é oferecido para a criança nesta fase deve ser levado em consideração visando
o desenvolvimento da aprendizagem e de suas habilidades motoras e cognitivas.
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4 . CONTEXTUALIZANDO A REALIDADE
4.1 A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY
A Escola Municipal de Educação Infantil “José Adonay” está localizada na
Comunidade Nova Aliança, Rua Principal S/N, no Município de São Domingos do
Capim – PA, a 30 km da sede. Atende crianças na faixa etária de 02 a 05 anos e
onze meses de idade. Em junho de 1996, no mandato do Sr. Candido Luz a diretora
da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Elizeu Maria Corolli, direcionada
pala Professora Socorro Alexandre de Oliveira que em festividade Junina publicou a
comunidade local o nome da Nova Escola de Educação Infantil “ESCOLINHA JOSÉ
ADONAY” que substituirá o “CASULO” extinto nesse período. Recebeu este nome
em homenagem a uma criança da localidade chamada de José Adonay de Brito de
Oliveira, nascido no dia 20 de setembro de 1995.
Nos anos de 1997 a 2000, no mandato do Sr Marçal Palheta a Professora
Socorro Alexandre de Oliveira ainda como diretora oficial da Escola Dom Elizeu
ficou respondendo também pela Escolinha José Adonay. E no ano de 2001, o
prefeito em exercício o Sr. Francisco Feitosa Farias eliminou a educação infantil
alegando que o município não poderia assumir essa faixa etária. Com isso a
Associação Rural Comunitária Aliança – ARCA tomou algumas providencias para
que a escola não chegasse a fali assumindo assim, todas as responsabilidades
relacionadas à mesma. Pediu do Conselho Comunitário de Aliança uma casa que
antes era conhecida como a igrejinha da localidade, e lá passou a funcionar a José
Adonay, também convocou os pais dos alunos para uma reunião na qual foi
combinado um valor insignificante para dar a professora Ilma Maria Pantoja que se
disponibilizara em trabalhar com as crianças.
A comunidade onde a escola está inserida é de uma população
consideravelmente pequena, por isso ela atende crianças das comunidades vizinhas
na faixa etária de três a cinco anos, nos turnos matutino e vespertino.
Desde 1996 a Escola José Adonay vem prestando atendimento a crianças
de três a seis anos. Em 2013 passamos a atender crianças de dois anos até cinco
anos e onze meses, sendo que hoje contamos com cinco turmas. Estamos
engatinhando neste processo e temos dificuldades por falta de espaço infraestrutura.
A formação continuada e o trabalho coletivo no planejamento das
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ações pedagógicas é o nosso carro chefe. O trabalho dos funcionários é bem visto
pela comunidade local, que demonstra sua satisfação nas reuniões realizadas com
os pais.
Esta unidade escolar tem uma grande procura por vagas no inicio do
ano, devido sua localização dá acesso a várias comunidades vizinhas, e o perfil de
seu quadro funcional que trabalha com autoestima e afetividade, base necessária
para uma infância saudável. O ritmo acelerado das transformações vivido pela
sociedade no final do século passado atinge também a educação, que como as
demais ciências evoluíram e a idéia que se tinha de criança, de conhecimento, de
escola, de método de trabalho de ensino. Tudo evoluiu. Assim busca-se acompanhar
o ritmo da vida que é puro movimento.
4.2 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ
ADONAY
A escola dispõe de uma equipe gestora formada por uma diretoria, uma
coordenadora pedagógica que atenda os turnos manhã e tarde, duas auxiliares de
secretaria que organizam as documentações dos alunos e demais funcionários.
O tipo de gestão adotada na escola é participativa e democrática, onde o
relacionamento entre os membros que nela freqüentam se dá de forma liberal, fato
que contribui de maneira significativa no processo ensino-aprendizagem das crianças.
4.3 ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ
ADONAY
As setenta e cinco crianças da escola são acompanhadas por uma
coordenadora pedagógica e pela professora responsável. O trabalho pedagógico
acontece diariamente entre coordenação, professora e aluno, para facilitar o processo
educacional da escola, as mesmas trabalham com projetos pedagógicos seguindo um
seqüência didática.
Tendo uma gestão participativa a relação entre gestão, coordenação
pedagógica é muito boa, gerando assim êxito nos trabalhos e promovendo a
participação de todos os profissionais que ali trabalham.
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4.4 O ESPAÇO E O AMBIENTE NA ESCOLA JOSÉ ADONAY
Para os profissionais de educação que almejam proporcionar educação
de qualidade e lutam por um espaço digno para seus alunos vivenciar uma realidade
como essa, pois observar-se a precaridade do espaço fisico que é oferecido a
sessenta crianças.
Neste sentido, relata-se o descaso que o nosso país enfrenta com relação
a grandes obras inacabadas. Esta imagem faz referencia a uma realidade de muitos
alunos espalhados pelo Brasil que necessitam de um espaço aconchegante, bonito,
equipado com moboliarios e materias didáticos, mas que no entanto, são submetidos
a condições fisicas precárias como no caso da Escola José Adonay.
Carvalho e Rubiano (1994, p. 58), ao se referirem à organização do
espaço em instituições pré-escolares, citam David e Weinstein, que afirmam a
necessidade de os ambientes construídos para crianças atenderem às seguintes
funções relativas ao seu desenvolvimento: identidade pessoal, desenvolvimento de
competências, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança,
oportunidades para contato social privacidade. Ao estruturar o espaço dos
pequenos, durante a pesquisa, a idéia de reorganizar o espaço da sala esteve
presentes em minhas intenções e foram se concretizando à medida que junto com a
professora as colocava em prática.
Refletindo acerca da LDB 9493/96, nota-se que hoje a escola possui um
caráter formador, aprimorando valores e atitudes, desenvolvendo desde a educação
infantil, o sentido da observação, despertando a curiosidade intelectual das crianças,
capacitando-as a serem capazes de buscar informações, onde quer que elas
estejam a fim de utilizá-las no seu cotidiano.
Dentro dessas perspectivas, a Educação Infantil deve permitir que as
crianças fossem pensadores, aprendam a refletir sobre seus modelos mentais,
aprendam a instruir-se em equipe e a construir visões compartilhadas com os outros.
E o espaço que é oferecido para a criança nesta etapa da Educação Básica
influencia diretamente na construção desses valores.
Partindo desse princípio nos propomos enquanto professoras da EI e
pesquisadoras, analisar o comportamento da educadora na sala de aula e suas
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dificuldades com relação ao desenvolvimento das atividades, uma vez que o espaço
da sala é pequeno e impossibilita a realização de algumas atividades.
No decorrer da observação identifica-se um ponto muito relevante no que
diz respeito à organização didática pedagógica da professora, é que ela ainda não
tem formação acadêmica e isso dificulta muito seu fazer pedagógico e principalmente
a organização do espaço. Ou seja, nota-se que ela organiza a sala deixando as
cadeiras enfileiradas e usa muito o quadro negro. Dentro desse contexto é importante
fomentar que o espaço já é pequeno impossibilitando algumas atividades, entretanto,
o fazer pedagógico criativo do profissional deve ser colocado em prática para que
mesmo com todas as restrições da sala as crianças possam aprender de maneira
descontraída e divertida.
Deste modo, vale evidenciar a importância da formação continuada, pois
ela é um requisito indispensável para se trabalhar com a Educação Infantil.
O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. (PCN 1998, p41).
Durante a observação verifica-se que além do espaço apertado da sala de
aula, a falta de material didático, mobiliário (cadeiras, mesas, etc) adequados para
trabalhar com crianças de quatro e cinco anos e a inexistência do plano de aula da
professora que é um instrumento valioso para o desenvolvimento de sua didática em
sala de aula.
A organização do espaço físico deve ser aconchegante, com almofadas, iluminação adequada e livros, revistas etc. organizados de modo a garantir o livre acesso às crianças. Esse acervo deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos em seus portadores de origem: livros de contos, poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Também aqueles que são produzidos pelas crianças podem compor o acervo: coletâneas de contos, de trava-línguas, de adivinhas, brincadeiras e jogos infantis, livros de narrativas, revistas, jornais etc. Se possível, é interessante ter também vários exemplares de um mesmo livro ou gibi. Isso facilita os momentos de leitura compartilhada com o professor ou entre as crianças (RCNEI 1998, p.145)
Dentro desta perspectiva vale ressaltar, que não basta que a criança
esteja inserida em um espaço prazeroso, bonito e aconchegante, é necessário que
ela possa construir e reconstruir, ou seja, que ela seja inserida nele como sujeito do
processo educativo. Por isso, as contribuições do RCNEI são enormes, pois ele nos
orienta a realizar o planejamento tendo como base as experiências da prática de
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sala de aula levando em consideração os conhecimentos individuais de cada criança.
É importante lembrar que nesta fase de descobertas os professores devem buscar na
ludicidade um aliado para desenvolver o ensino das crianças, essa ferramenta é de
suma importância nesse processo. De acordo com Antunes (2004):
A atividade lúdica ou a habilidade de brincar é dotada de uma ação fundamental na estruturação do psíquico da criança. É no brincar que a criança une elementos de fantasia e realidade e começa a distinguir o real do imaginário. Brincando, a criança desenvolve não só a imaginação, mas também fundamenta afetos, elabora conflitos e ansiedades, explora habilidades e, à medida que assume múltiplos papéis, fecunda competências cognitivas e interativas. (2004. p.34-35)
Feijó (1992, p.61) descreve que “O lúdico é uma necessidade básica da
personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da
dinâmica humana”. Ou seja, ao trabalhar com o lúdico o educador vai proporcionar
para a criança atividades que enriquecem seu cognitivo e por sua vez reflete de
maneira positiva no processo de ensino/aprendizagem nesta faze que é tão
importante para o seu desenvolvimento.
Deve ser levada também em consideração a organização do ambiente
dentro do espaço que é oferecido para a criança. Neste sentido, o educador deve ter
a consciência de que diferentes ambientes podem formar-se num mesmo espaço e
as sensações que estes provocam também variam de acordo com os estímulos que
os ambientes proporcionam ao educando podendo mudar ainda conforme a ação do
educador e sua relação para com as crianças. Por isso, se faz necessário que o
educador com o auxílio das crianças construa um ambiente que estimule as crianças
e querer participar das aulas e das atividades com mais satisfação. De acordo com o
Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 21):
Nessa perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de intenso trabalho de criação, significação e ressignificação.
Dentro desse contexto evidencia-se a singularidade de cada criança e a
necessidade do professor realizar essa observação para favorecer o conhecimento e
a interação com os colegas da melhor maneira possível.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA TRABALHAR NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
No decorrer da observação foi possível identificar que o fazer pedagógico
da professora necessitava ser melhorado e uma das alternativas adotadas para isso
foi realizar uma conversa informal com ela visando orienta-la da importância da
organização do espaço para o processo de ensino/aprendizagem dos alunos.
Assim, foi possível mostrar para ela que o professor pode construir
ambientes agradáveis mesmo em um espaço apertado e inadequado para trabalhar
com crianças. Com relação a isso, expomos a professora varias possibilidades de
construir junto com as crianças ambientes de aprendizagem valorizando o espaço
que se tem.
No começo a professora não mostrou muito interesse em querer trabalhar
didáticas diferenciadas, mais com o decorrer do trabalho mostramos com mais
clareza como a criança na educação infantil precisa ser olhada e cuidada com mais
atenção.
Assim, a sala que antes era organizada desta maneira passou a dar lugar
para novos ambientes, que valorizam a criança como sujeita do processo do
conhecimento e proporcionam mais qualidade na educação das mesmas.
Ao observar as figuras constata-se que o fazer pedagógico da professora
ficou mais dinâmico e que as atividades desenvolvidas proporcionam interação de
todas as crianças. Neste sentido ressalta-se que organizar o espaço escolar não é
uma tarefa fácil. Exige muito trabalho, dedicação e força de vontade. Identifica-se
então, que esse espaço deve incluir toda a comunidade, privilegiar todas as áreas do
conhecimento, desenvolvendo projetos que incentivem a participação e desperte o
interesse das crianças considerando a utilização desse espaço e o tempo disponível
para tais atividades.
Sabe-se que o espaço da Escola José Adonay ainda deixa a desejar,
entretanto com a contribuição da pesquisa foi possível voltar a atenção da
professora que diferentes ambientes podem ser construído junto com as crianças e
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que atividades lúdicas também ajudam a trabalhar de maneira mais participativa e
eficaz.
Neste caso, sendo a escola um lugar de descobertas de convivência e de
ralações sociais interpessoais, é necessário construir ambientes que respeitem a
singularidade da criança para que ela possa se sentir confortável e segura diante
dos novos desafios. E o educador é a pessoa que responsável por proporcionar este
espaço acolhedor, afetivo, divertido e alegre que possa estimular a aprendizagem
das crianças. Segundo Zabalza (1998):
Não apenas porque nesta etapa do desenvolvimento os aspectos emocionais desempenham um papel fundamental, mas porque, além disso, constituem a base ou a condição necessária para qualquer progresso nos diferentes âmbitos do desenvolvimento infantil (1998: p.51)
Deste modo, observa-se que a organização do espaço é fundamental
para o desenvolvimento da criança, pois se ela não se interessar pelo ambiente que
lhe é oferecido vai demonstrar insatisfação e com certeza reflexos negativos em seu
desenvolvimento. Neste sentido, essa insatisfação era percebida no início da
pesquisa quando a professora não construía ambientes estimulantes, apenas
colocava as cadeiras enfileiradas e escrevia no quadro.
Hoje, com nossa contribuição pode-se perceber a diferença tanto na
organização do ambiente da sala como também no fazer pedagógico, ou seja, as
crianças estão sendo sujeito do conhecimento e gozando de ambientes construídos
com e para elas.
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