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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTERDISCIPLINAR
Resiliência: revisão bibliográfica na base Scielo
Alice Kindi 4070964-7
São Paulo
2012
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde
Resiliência: revisão bibliográfica na base Scielo
Alice Kindi
Trabalho de Graduação Interdisciplinar, orientado
pela Prof. Dra. Vânia Conselheiro Sequeira.
São Paulo
2012
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Resumo:
Por que algumas pessoas conseguem se desenvolver diante de adversidades e outras
não? O que possibilita com que algumas pessoas superem as adversidades de forma positiva, de
forma a continuar seu desenvolvimento? Para compreender e discutir essas interrogações, se
desenvolveu o conceito de resiliência. Resiliência seria a capacidade do individuo, de
desenvolver habilidades de superação para enfrentar as adversidades e ou eventos traumáticos,
sendo transformado por estes, conseguindo superá-los (CYRULNIK, 2004). O objetivo deste
estudo foi analisar os artigos disponíveis na base de pesquisa Scielo sobre resiliência, buscando
compreender o que foi produzido sobre este conceito nos últimos anos. Foi feito um levantamento
de artigos publicados sobre nessa base de dados em setembro de 2011. Foram encontrados 196
artigos de diferentes temáticas com a palavra-chave resiliência. Optou-se por analisar os artigos
em português publicados nos últimos três anos (2009, 2010 e 2011). Foram encontrados 39
artigos em português com a palavra-chave “resiliência” e foram descartados os artigos que não
faziam um estudo do tema, apenas citavam o assunto. 16 artigos foram resumidos
detalhadamente e analisados por meio da análise de conteúdo. Os artigos foram organizados em
torno de temas que se destacaram e que serviram de organizadores para análise: fatores de
proteção e adversidade, resiliência e adolescentes, resiliência e o idoso, resiliência e moradores
de rua, resiliência e profissionais e, resiliência e psicoterapia. Nos últimos anos, resiliência vem
sendo compreendida como um processo dinâmico que envolve a interação entre fatores sociais e
intrapsíquicos, que se desenvolve ao longo da vida, a partir dos fatores de proteção. Os fatores
de proteção podem ser divididos em três categorias: individuais, familiares e relacionados ao
apoio do meio ambiente. O apoio social contribui fundamentalmente para o bem-estar do
indivíduo e minimiza o efeito provocado pelas situações adversas, e diz respeito à família e ao
meio no qual o indivíduo está inserido. Verificou-se que a resiliência está longe de se referir
apenas aos traços individuais, mas está diretamente relacionada ao lugar social e político
ocupado pelo individuo, sua família e comunidade. Constou-se a necessidade de medidas de
apoio mais amplas à população que vive em condições de adversidade, para que se possa
transformar a condição vivida e propiciar recursos para o enfrentamento das situações adversas.
Palavras-chave: resiliência, fatores de proteção, adversidade, apoio social.
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SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 5
1.1. Apresentação ....................................................................................................................................... 5
1.2. Objetivo Geral ...................................................................................................................................... 5
1.3 Objetivos específicos ........................................................................................................................... 5
II. REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................................................... 6
2.1. Histórico do conceito ..................................................................................................................... 6
2.2. Resiliência - Boris Cyrulnik ........................................................................................................... 7
2.3. Traumas:.......................................................................................................................................... 8
2.3.1 Aspectos internos: ..................................................................................................................... 9
2.3.2. Aspectos ambientais: .............................................................................................................. 10
2.3.3. Posicionamento subjetivo ....................................................................................................... 10
2.4. Fatores de risco e protetores ........................................................................................................... 11
2.4.1. Fatores de risco ou eventos adversos: ............................................................................ 11
2.4.2. Fatores protetores ............................................................................................................... 13
2.5 Diferentes percepções sobre o conceito ......................................................................................... 14
III. MÉTODO ........................................................................................................................................... 17
3.1. Procedimento de coleta do material .......................................................................................... 18
3.2. Procedimento de análise de dados ........................................................................................... 19
IV. DADOS .............................................................................................................................................. 19
V. ANÁLISE DE DADOS .......................................................................................................................... 72
5.1 Moradores de rua e Resiliência ........................................................................................................ 73
5.2 Resiliência e o Idoso .......................................................................................................................... 75
5.3 Adolescentes e Resiliência ............................................................................................................... 78
5.4 Fatores Protetores X Adversidade ................................................................................................... 83
5.4.1 O apoio social como fator de proteção .................................................................................... 85
5.4.2 A família como fator de proteção .............................................................................................. 87
5.5 Resiliência e profissionais ................................................................................................................. 89
5.6 Psicoterapia e Resiliência ................................................................................................................. 92
VI. CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 95
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 98
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I. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação
Observando o comportamento humano e a forma singular que cada ser humano reage as
mesmas situações, pode-se perguntar: Por que algumas pessoas conseguem se desenvolver
diante de adversidades e outras não? O que possibilita com que algumas pessoas superem as
adversidades de forma positiva, de forma a continuar seu desenvolvimento? Para compreender e
discutir essas interrogações, a psicologia apresenta desenvolveu o conceito de resiliência.
Resiliência seria a capacidade do individuo, de desenvolver habilidades de superação para
enfrentar as adversidades e ou eventos traumáticos, sendo transformado por estes, mas,
conseguindo superá-los.
Enquanto algumas pessoas conseguem superar e construir caminhos positivos diante de
situações e fatos difíceis, outras acabam se submetendo aos obstáculos com mais facilidade,
fazendo com que suas vidas sejam circundadas pelo trauma vivido. Atualmente este tema está
sendo estudado e alguns trabalhos visam entender os fatores que promovem a resiliência, de
forma que as pessoas possam conseguir se desenvolver de forma plena e saudável, mesmo
vivendo eventos traumáticos.
Este projeto busca analisar o que foi produzido sobre o conceito de resiliência na base
Scielo, nos últimos anos. A justificativa desse trabalho é acadêmica, para formação da aluna como
pesquisadora, mas também dentro de uma temática inovadora que demanda novos estudos.
1.2. Objetivo Geral
O objetivo geral deste trabalho é analisar os artigos disponíveis na base de pesquisa Scielo
sobre resiliência, buscando compreender o que foi produzido sobre este conceito nos últimos anos.
1.3 Objetivos específicos
- Mapear, os artigos sobre resiliência na base de pesquisa Scielo, tendo como foco artigos
que discutem esse conceito com seres humanos.
- Analisar os artigos que discutam o conceito resiliência, sistematizando seus conteúdos.
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II. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Histórico do conceito
Segundo PINHEIRO (2004), a origem da palavra resiliência vem do latim resiliens.
Significa saltar para trás, recuar, voltar, encolher-se, romper. Pela origem inglesa, resilient remete à
idéia de elasticidade e capacidade rápida de recuperação.
De acordo com Tavares (2001 apud PINHEIRO) pode-se discutir a origem do termo sobre
três perspercivas: física, médica e psicológica. A resiliência sobre o ponto de vista físico seria
referente à qualidade de resistência de um material ao choque, que lhe permite voltar a sua forma
ou posição inicial. Sob o ponto de vista médico seria a capacidade de um individuo resistir a uma
doença, sozinho, sem intervenção medicamentosa. Por fim, a resiliência sob o ponto de vista
psicológico, seria uma capacidade que as pessoas, tanto individualmente, quanto em grupo têm de
resistirem a situações adversas sem perder o equilíbrio inicial, ou seja, refere-se à habilidade de se
acomodar e reequilibrar constantemente.
Assim, a psicologia define resiliência como a capacidade que tem um ser humano de
enfrentar e de se recuperar psicologicamente, quando submetido às adversidades, violências e
catástrofes na vida (PINHEIRO, 2004).
Flach (1991) atribui-se o uso do termo em 1966, visando descrever as forças psicológicas
e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças na vida. Para ele, o indivíduo
resiliente é aquele que tem habilidade para reconhecer a dor, perceber seu sentido e tolerá-la até
resolver os conflitos de forma construtiva (PINHEIRO, 2004).
De acordo com Pinheiro (2004), é possível notar uma divisão na opinião dos autores
quanto à origem da resiliência. Alguns defendem que a versatilidade e flexibilidade são
características das pessoas resilientes, enquanto outros a apontam como sendo traço de
personalidade e temperamento do individuo.
De acordo com Assis (2003, apud LUCAS e GASPARINI 2006), o conceito de resiliência
vem se complexificando e evoluindo ao longo das décadas. Antes entendido como sinônimo de
invulnerabilidade, mais tarde como capacidade de adaptação individual em um ambiente
desajustado. Nos últimos anos essa noção está sendo abordada como um processo dinâmico
que envolve a interação entre fatores sociais e intrapsíquicos, de risco e de proteção. Ou seja, um
processo psicológico que se desenvolve ao longo da visa a partir dos fatores de risco versus
fatores de proteção.
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Sendo assim, a resiliência está atrelada a dois grandes fatores: o da adversidade, dos
eventos desfavoráveis, estressantes, das ameaças e dos perigos. E o outro, como sendo o fator da
proteção, que diz respeito a forças, competências, capacidade de reação e invulnerabilidade. A
combinação resultante desses fatores resulta em uma reconstrução singular diante do sofrimento
causado pela adversidade.
De acordo com Assis, Pesce e Avanci (2006), a resiliência pode ser entendida como uma
capacidade de metamorfosear as adversidades da vida. Esta capacidade existe desde que o
homem é homem e precisa superar ou transformar as adversidades com as quais se depara.
Algumas pessoas conseguem superar e construir caminhos positivos diante de situações e/ou
fatos difíceis, porém, outras se submetem aos obstáculos com mais facilidade, fazendo com que
suas vidas sejam circundadas pelo trauma provocado por tais situações. (ASSIS, PESCE,
AVANCI, 2006).
Resiliência é um processo interativo entre a pessoa e o seu meio, não nasce com o sujeito
e tampouco é uma aquisição exclusivamente de fora para dentro. É um processo que irá fortalecer
e capacitar o indivíduo para lidar com as adversidades de uma forma positiva. A resiliência não é
um estado adquirido e imutável, é um processo que deve ser construído continuamente ao longo
da vida por isso é importante que o indivíduo elabore os conflitos retome o seu desenvolvimento
de forma saudável (ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).
O ser humano, ainda embrião, já está exposto a adversidades. Ainda no período intra-
uterino, o ambiente ecológico criado pela mãe afeta o bebê, de forma diferenciada. Antes de
completar oito meses os canais sensoriais do bebê estão bem desenvolvidos, o que permite a
comunicação entre ele e o mundo, representado pela mãe. Nesse período ele já possui
habilidade de percepção e representação das sensações alimentadas por uma sensorialidade. O
bebê já possui um perfil de comportamento, definido por seu padrão genético e pelas trocas que
fez com o mundo, representado pela mãe. (CYRULNIK 2000 apud ASSIS, PESCE, AVANCI,
2006).
O ser humano se defronta com circunstâncias adversas mesmo antes de nascer e vai
defendendo-se dela ao longo de toda a sua existência, dependendo da sua capacidade de
elaborar e superar problemas e reformular-se continuamente. Dessa forma, adversidades mudam
as vidas e acabam modificando o seu rumo (ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).
2.2. Resiliência - Boris Cyrulnik
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“Eu me sai dessa”, admiram-se os resilientes, que depois de um ferimento
reaprenderam a viver, mas essa passagem da sombra para a luz, a escapada do
porão ou a saída do túmulo implicam a necessidade de reaprender a viver uma
outra vida (CYRULNIK, 2004, p 3).
Boris Cyrulnik, neurologista, etólogo, psiquiatra, psicanalista é um grande pesquisador do
conceito de resiliencia na França. Para ele resiliência é a capacidade de se adaptar a diferentes
meios e de superar adversidades. A resiliência é sistêmica, dinâmica e se dá nas interações entre
a pessoa em permanente desenvolvimento, seu ambiente e as pessoas de seu entorno
(SEQUEIRA, 2009).
Cyrulnik destaca a resiliência como um processo de superação que se dá no encontro
com o outro, resultante de uma interação de fatores pessoais, ambientais, institucionais e sociais.
O autor ressalta que a resiliência não é apenas um processo de adaptação. É mais do que voltar
ao estado anterior a situação traumática. É a partir desta situação, elaborar novos caminhos e
refazer-se do trauma vivido. É a ressignificacão do trauma vivido em direção à retomada do
desenvolvimento (SEQUEIRA, 2009).
Para Cyrulnik a história da mãe e suas relações atuais ou passadas participam da
constituição dos traços de temperamento da criança que está prestes, ou acabou de nascer. O
recém-nascido é apanhado por um mundo de sensorialidade já historizada, e é neste que ele
deverá se desenvolver (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).
2.3. Traumas:
“O primeiro golpe, no real, provoca a dor do ferimento ou a dilaceração da falta. O
segundo, na representação do real,., faz surgir o sofrimento de ter sido humilhado,
abandonado.”(Cyrulnik, 2004, p 4). A palavra trauma vem do grego: ferida e deriva de furar, que
designa ferida com efracção cutânea (LAPLANCHE, 1967; PONTALIS, 1986, apud SEQUEIRA,
2009). Esse termo aparece na obra de Freud com a descoberta da histeria (1895/1995) e vai
sendo modificado até os dias de hoje. O acontecimento traumático desorienta o sujeito, fazendo
com que este perca a noção de quem é. Porém, só se fala em traumatismo, depois da
representação interna que o sujeito faz desse acontecimento. (SEQUEIRA, 2009)
De acordo com Cyrulnik (2004 p.4) o primeiro golpe vem do real, provoca a dor do
ferimento ou a dilaceração da falta, mas o segundo golpe vem da representação do real, que faz
surgir o sentimento de ter sido humilhado, abandonado, violentado.
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Cyrulnik (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006) destaca a importância das
mudanças provocadas pelos traumas, que não podem ser revertidos, pois deixam um traço
cerebral e afetivo que permanece quando a criança retoma seu ciclo de desenvolvimento. Porém,
estes podem ser reelaborados e ressignificados, reduzindo o impacto causado por estes traumas,
estresses e infortúnios.
É possível falar em traumatismo apenas quando ocorre uma violação envolvendo o
sujeito, que faz com que o mesmo se fragilize e tenha dificuldades em sua representação do
acontecimento traumático. A natureza do episódio traumático pode corresponder ao biológico,
afetivo e histórico. Em cada um desses níveis é possível uma resiliência (ASSIS, PESCE,
AVANCI, 2006).
Para Cyrulnik (2004) todo estudo sobre a resiliência deveria abordar três planos: a
aquisição de recursos internos impregnados no temperamento, já nos primeiros anos de vida, no
decorrer das interações pré-verbais; o significado que um golpe adquire na história do ferido e em
seu contexto familiar e social; e a possibilidade de encontrar lugares de afeto, de atividades e de
palavras que a sociedade dispõe, às vezes, em torno do ferido, oferecendo-lhe tutores de
resiliência que lhe permitirão retomar um desenvolvimento marcado pelo ferimento. “Esse
conjunto, constituído por um temperamento pessoal, um significado cultural e um apoio social,
explica a surpreendente variabilidade dos traumatismos” (CYRULNIK, 2004, p.7)
2.3.1 Aspectos internos:
A variabilidade dos traumatismos pode ser explicada por um conjunto de fatores:
temperamento pessoal, significado cultural e apoio social.
Algumas crianças traumatizadas conseguem resistir e superar adversidades. Isso pode
ser explicado através da associação de alguns fatores: recursos internos afetivos e
comportamentais nos primeiros anos de vida; e a disposição de recursos externos sociais e
culturais (SANTOS e ALVES, 2006).
A palavra “temperamento” hoje significa uma disposição para experimentar as coisas do
mundo, para expressar raiva ou prazer de viver. Refere-se a uma força vital que impele a
encontrar algo, uma sensorialidade, uma pessoa ou um episódio. Pode-se dizer que os
determinantes genéticos existem, o que não significa que o homem seja determinado
geneticamente (SANTOS e ALVES, 2006).
As pessoas percebem e reagem às situações de maneiras diferentes. O significado das
vivencias e acontecimentos, é dado pelo contexto em que este ocorre. Depende do contexto
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cultural e da história do indivíduo, o que faz com que um evento possa ter significados diversos
para cada pessoa. Essas diferenças individuais distinguem o modo como estas pessoas
enfrentam os problemas e adversidades. Para uma pessoa um evento pode ser experenciado
como uma adversidade e para outra o mesmo evento pode ser visto como um desafio. Portanto,
mais importante do que conhecer o evento sofrido é necessário entender como o individuo reagiu
a este evento.
2.3.2. Aspectos ambientais:
As aquisições que a criança fará em um meio depende muito mais do ambiente em que
ela está inserida do que dela própria. Portanto, se mudarmos a criança de ambiente ela muda
suas aquisições (SANTOS e ALVES, 2006).
Nota-se que as adversidades mais perturbadoras para as crianças são as que provocam
um rompimento do apoio parental. Estudos com crianças em situação de guerra mostraram que a
forma com que as figuras de apego reagem e se expressam à catástrofe, tem grande influência
sobre as emoções das crianças, podendo afligir ou acalmá-las. Uma situação intensa ou crítica
que não altera as pessoas que cuidam da criança acaba provocando menos estragos psíquicos
do que situações aparentemente menos graves que abalam e mudam o cuidador da criança,
destruindo este referencial afetivo que lhe dá suporte. O meio em que a criança está inserida e a
bolha afetiva que a envolve no dia-a-dia são os principais fatores que podem fazer com que a
criança teça a resiliência, ou seja destruída pela adversidade (CYRULNIK, 2004 apud ASSIS,
PESCE, AVANCI, 2006).
Assim os fatores de resiliência dependem do tipo de agressão, do significado que a
criança lhe atribui e da maneira pela qual sua bolha afetiva é envolvida. Se o meio permitir, diante
de um evento estressante, a parte sadia da personalidade da criança pode expressar-se e
retomar o desenvolvimento, reduzindo o ferimento causado (SANTOS e ALVES, 2006).
2.3.3. Posicionamento subjetivo:
Uma pessoa que foi agredida precisa mudar a imagem que tem do agressor para reparar
essa perda. Sua memória precisa mudar a conotação afetiva. As crianças que foram
maltratradas, abandonadas e traumatizadas antes mesmo de aprenderem a falar adquirem um
distúrbio da emoção, as modificações ocorridas por causa do trauma impedem o controle
emocional. Essas crianças desesperam-se em qualquer situação de separação, sobressaltam
ao menos ruído, sentem medo e acabam sendo frias, buscando sofrer menos. Para que estas
crianças tornem-se resilientes é necessário que estas aprendam a se expressar
emocionalmente de outra forma (SANTOS e AVES, 2006).
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Conforme Cyrulnik (2004 apud SANTOS e AVES, 2006), um entre três adolescentes
traumatizados muda o seu estilo de apego e se torna sereno na adolescência. Essa superação
positiva se dá a partir do momento em que os adolescentes param de sofrer com o traumatismo e
lhe atribuem um novo sentido. Quase todas as crianças maltratadas que se tornaram serenas na
adolescência encontraram uma autonomia precoce. Esses adolescentes demonstram procurar
por algo que lhes daria um rumo, estabelecem metas que acreditam poder alcançar. De acordo
com Santos e Alves (2006) a criação de sentido pode ser representada por palavras chaves
como: projeto, esperança, potência.
2.4. Fatores de risco e protetores
Compreende-se resiliência como o conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que
possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um ambiente não sadio
(PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004). A resiliência não nasce com o sujeito e nem é
desenvolvida por ele. É um processo interativo entre a pessoa e o meio. Entende-se que a
resiliencia é uma forma individual de resposta ao risco, que pode ser vivida de maneiras diversas
por diferentes pessoas. A resiliencia não é um atributo fixo do individuo, ou seja, não há pessoas
resilientes de forma geral e sim, pessoas que em determinadas situações reagiram de forma
resiliente. A resiliencia é um processo resultante da combinação entre o individuo, seu ambiente
familiar, social e cultural. (RUTTER, 1987 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).
2.4.1. Fatores de risco ou eventos adversos:
De acordo com PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA (2004), os fatores de risco, tanto
crônicos como agudos podem estar afetando a capacidade de resiliência das crianças e
adolescentes. Como exemplo, pode-se citar: condições de pobreza, rupturas na família, vivência
de algum tipo de violência, experiências de doença na própria criança ou adolescente, doença na
família e perdas importantes.
Eventos de risco, são eventos considerados como obstáculos individuais ou ambientais
que aumentam a vulnerabilidade da criança, no sentido de aumentar a probabilidade de gerar
resultados negativos em seu desenvolvimento. Atualmente, considera-se que o risco é um
processo e que o número total de fatores de risco a que uma criança foi exposta, o período de
tempo, o momento e contexto da exposição ao risco, são mais importantes do que uma única
exposição grave. (ENGLE, CASTLE, MENON, 1996 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA,
2004). Sendo assim, entende-se que o que determinada situação é a visão subjetiva do individuo,
a sua percepção pode atribuir ao evento o sentido de um evento estressor ou de um perigo, ou
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então, como sendo apenas um desafio. (YUNES, SZYMANSKI, 2001 apud PESCE, ASSIS,
SANTOS e OLIVEIRA).
Não há um numero de eventos de vida negativos suficientes ou necessários para
desenvolver a capacidade de resiliência do indivíduo. É necessário considerar a heterogeneidade
dos tipos de eventos e como o evento afetou o individuo, mais do que como o individuo
respondeu a uma determinada situação. (GARMEZY, 1996; LUTHAR, CUSHING, 1999;
LUTHAR, ZIGLER, 1991 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).
Garmezy (1988, apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004 ) sugere que eventos
agudos podem ser muito mais desastrosos do que condições crônicas a que o indivíduo já está
habituado. Um exemplo desse tipo de evento pode ser a perda ou separação de pessoas
queridas. Ao investigar fatores de risco familiares Garmezy identificou que a presença de um ou
de nenhum evento estressor na vida do individuo produz um aumento de um por cento nas
chances de uma desordem psiquiátrica na criança. Já, dois eventos estressores aumentam em
cinco por cento a possibilidade de desordem e três estressores aumentam as chances para seis
por cento. Quatro ou mais eventos estressores aumentam em vinte e um por cento a
probabilidade de a criança vir a desenvolver uma desordem psiquiátrica. Já o acumulo de
eventos aumenta para trinta e três por cento a ocorrência de problemas psiquiátricos em crianças
(PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).
Seguindo essa linha de cronicidade de eventos Rutter (1981 apud PERCE, ASSIS,
SANTOS e OLIVEIRA) ressalta que eventos agudos podem relembrar que eventos agudos
podem provocar efeitos negativos em curto prazo, mas não necessariamente em longo prazo.
Assim sendo, uma criança que fica hospitalizada por uma semana geralmente não implica em
seqüelas posteriores. Porém, pessoas que já estão expostas a adversidade crônica podem ter
mas dificuldade para lidar com eventos agudos. Por exemplo, no caso de uma pessoa que foi
hospitalizada repetidas vezes, isso pode ter um efeito maior quando associado a adversidades
psicossociais do que em circunstâncias mais favoráveis de vida.( PESCE, ASSIS, SANTOS e
OLIVEIRA, 2004)
Nota-se que o período de vida em que o evento ocorre, bem como a situação enfrentada,
são extremamente relevantes quando pensa-se em diferentes níveis individuais de tolerância ao
estresse. Cada pessoa pode reagir ao evento de risco de uma forma diferente, de acordo com a
forma como este a afeta. Ou seja, algumas pessoas são perturbadas por pequenas mudanças,
outras por eventos maiores, outras ainda quando a exposição a este evento é mais prolongada e
algumas podem alcançar esse limite de tolerância com o acumulo de eventos estressores no dia
a dia. (SAVOIA, 1999 apud PERCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).
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Independente da forma como se constitui o risco, é possível aprender formas de
enfrentamento a partir da convivência com pessoas que já vivenciaram situações parecidas e as
ultrapassaram com sucesso. De acordo com Luthar, Antoni e Koller (1991, 2000 apud PESCE,
ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004) a resposta ao risco é descrita em termos de vulnerabilidade
e resiliência.
2.4.2. Fatores protetores
Para compreender a resiliência é muito importante entender a importância dos fatores de
risco. Além disso, é fundamental entender também a importância dos fatores ou mecanismos de
proteção que o individuo dispõe internamente ou aprende do meio em que vive.
Conforme Brooks, 1994; Emery e Forehand (1996, apud PESCE, ASSIS, SANTOS e
OLIVEIRA, 2004) muitos autores dividem os fatores de proteção em três categorias: fatores
individuais, fatores familiares e fatores relacionados ao apoio do meio ambiente. Os fatores
protetores individuais seriam a auto-estima positiva, o auto-controle, a autonomia e características
de temperamento flexível e afetuoso. Como fatores familiares, pode-se citar a estabilidade, coesão,
respeito mútuo e apoio. Já os fatores relacionados ao apoio do meio ambiente estão associados ao
bom realcionamento com amigos, professores, pessoas significativas para a criança, que tenham
um papel de referência segura para a criança, fazendo com que esta se sinta querida e amada.
(PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).
“A presença de um fator de proteção pode determinar o surgimento de
outros fatores de proteção em algum outro momento. Portanto,
compreender de que forma esses mediadores agem para atenuar os
efeitos negativos do estresse ou do risco é tarefa tão complexa quanto
determinar o que é fator de adversidade para cada ser humano.” (PERCE,
ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004)
Os fatores de proteção são essenciais para modificar a resposta do individuo frente aos
fatores de risco. Estes tem como função reduzir o impacto dos riscos, o que altera a exposição da
pessoa frente à situação adversa. Os fatores de proteção também reduzem as reações negativas
em cadeia que seguem a exposição da pessoa à situações de risco. Além disso, tais fatores
proporcionam com que o indivíduo mantenha a autoestima e autoeficácia, através de relações de
apego seguras e do cumprimento de tarefas com sucesso, criando oportunidades para que os
efeitos do estresse sejam revistos. (RUTTER, 1987 apud PERCE, ASSIS, SANTOS e
OLIVEIRA, 2004).
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Os mecanismos de proteção são tomados como o ponto chave para restabelecer o
equilíbrio perdido diante de fatores potencialmente geradores de desequilíbrio.
2.5 Diferentes percepções sobre o conceito
O termo resiliência, originalmente, vem da física referindo-se à "propriedade pela qual a
energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da
deformação elástica" (FERREIRA, 1975 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003). Como
exemplo que ilustra essa característica pode-se citar, o elástico, que após ser esticado e
submetido a uma tensão inicial, volta ao seu estado anterior. Porém, quando o conceito de
resiliência se aplica ao ser humano, este tem um sentido que é maior do que à volta ao estado
anterior, superação, ou de acordo com alguns autores (BLUM, 1997; RUTTER, 1987 apud
JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003), adaptação, diante de uma dificuldade considerada um risco
ou adversidade. Significa a construção de novos caminhos de vida a partir de um enfrentamento
dessas situações traumáticas. Sendo assim, não se fala de resistência como na física, mas de
uma capacidade de se sair bem diante de eventos estressores. (JUNQUEIRA e DESLANDES,
2003).
A resiliência pode ser vista como resultado da interação entre aspectos individuais e
contextos sociais, entre quantidade e qualidade dos acontecimentos decorrentes ao longo da
vida e os chamados fatores de proteção existentes na família e no meio social. (LINDSTROM,
2001 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).
Kotliarenco et al. (1997, apud JUNQUEIRA e DESLANDES) sintetizam a resiliência como
a interação entre atributos pessoais, os apoios do sistema familiar e aqueles provenientes da
comunidade.
As clínicas psicológica e psicanalítica constatam há muito tempo que algumas crianças
que sofreram maus-tratos passam por esse evento com sofrimento, mas não apresentam o
quadro de consequências descritas pela literatura especializada, o que demonstra que lhes é
possível encontrar caminhos para reconstrução de suas próprias vidas. É exatamente sobre
esses aspectos que o campo da Psicologia se debruça, buscando entender a elaboração
simbólica diante do sofrimento humano, empregando outros conceitos e definições
terminológicas. (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003)
Assim, o debate que existe em torno do conceito de resiliência, a capacidade de
desenvolvê-la e a complexidade que este conceito agrega, está relacionado a uma discussão
sobre um tema central dentro da saúde coletiva, a conexão entre o individual, singular e coletivo.
Junqueira e Deslandes (2003) discutem o conceito de resiliência a partir de uma visão crítica,
15
abordando contradições, avanços e limitações. Elas pretendem refletir sobre as possíveis
contribuições do conceito para intervenção no campo dos maus-tratos contra crianças e
adolescentes (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).
Historicamente o conceito é recente visto que a maioria das definições sobre resiliência
foram publicadas a partir dos anos 90. Estas definições nem sempre seguem uma descrição
conceitual detalhada e alguns autores a definiram em termos mais operacionais, porém não
existe um consenso a cerca deste fato. (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003)
Segundo Kotliarenco et al., (1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES) a resiliência pode
ser definida como uma habilidade para suportar a adversidade, adaptar-se, recuperar-se, e
aceder a uma vida significativa e produtiva. Significa a habilidade de enfrentar efetivamente
circunstancias da vida extremamente estressantes, superá-las e ser transformado por estas. A
resiliência é parte do processo evolutivo, sendo assim, deve ser promovida desde a infância.
Refere-se a uma combinação de fatores que permitem o enfrentamento e a superação de
adversidades da vida, é produto de um conjunto de fatores sociais e intrapsíquicos que
possibilitam que um indivíduo tenha uma vida sã em um meio insano. (KOTLIARENCO et al.,
1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES).
Munist et. al. 1998, definem a resiliência como capacidade do ser humano de fazer frente
às adversidades da vida, de superá-las e de ser transformado positivamente por elas (MUNIST et
al 1998 apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003). Diz respeito à capacidade do indivíduo utilizar
fatores protetores para se sobrepor à adversidade, crescendo e desenvolvendo-se apesar de ter
vivido uma situação desfavorável. É desenvolver competências apesar de ter sido criado em
circunstancias que aumentam a possibilidade deste individuo desenvolver patologias mentais ou
sociais. É equivalente a uma capacidade resultante da resistência à destruição, para reconstruir-
se diante de situações adversas. É o equilíbrio resultante de fatores de risco, fatores protetores e
a personalidade do ser humano. A resiliência é um processo dinâmico entre o individuo e o seu
externo, é o enfrentamento de situações adversas, saindo das mesmas fortalecido, embora tenha
sido exposto a fatores de risco. O que enfatiza as potencialidades e recursos pessoais que
propiciam tal superação e enfrentamento. (MUNIST et al 1998 apud JUNQUEIRA e
DESLANDES 2003).
De acordo com Junqueira e Deslandes 2003, os autores Blum, 1997; Herrenkohl et al.,
1994; Rutter, 1987; Steinhauer, 2001, enchergam a resiliência num sentido mais adaptativo, ou
seja, como a capacidade de o indivíduo de recuperar e manter um comportamento após um
dano. Esta capacidade seria adquirida nas relações que restabelecem vínculos afetivos e de
confiança. É também proveniente de características pessoais do indivíduo que lida melhor com
16
situações adversas extraindo destas um aprendizado e desenvolvendo assim, uma capacidade
de adaptar-se de uma forma esperada pela sociedade. (BLUM, 1997; HERRENKOHL et al.,
1994; RUTTER, 1987; STEINHAUER, 2001 apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003)
Há quem defina a resiliência em um sentido de superação do trauma, ou seja, esta
experiência é elaborada simbolicamente e faz parte da historia do individuo ou grupo colaborando
para o fortalecimento destes e preparando-os para enfrentas novas situações. Segundo essa
perspectiva, Bouvier (1999 apud JUNQUEIRA e DESLANDES) define a resiliência como sendo a
capacidade de se recuperar e manter um comportamento adaptado após um dano.
Boris Cyrulnik (1999 apud JUNQUEIRA E DESLANDES 2003) também compartilha desta
visão, ele indica que a capacidade de se adaptar a diferentes meios e superar problemas
distintos de forma a construir-se como sujeito na adversidade é resiliência. Ainda de acordo com
Cyrulnik esta é dinâmica, sistêmica e se dá nas interações entre a pessoa em constante
desenvolvimento, seu ambiente e as pessoas que a cercam.
Haynal, 1999 (apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003) define a resiliência como
capacidade de atribuir significado a um evento traumático.
De acordo com Junqueira e Deslandes 2003, ambos os discursos, tanto adaptação e
superação precisam ser desmistificados. A resiliência funciona como um fator protetivo, porém
não necessariamente é uma experiência agradável. Uma pessoa que desenvolveu a resiliência
diante de um evento traumático não indica necessariamente que esta superou todos estes
eventos. Ou seja uma pessoa não é resiliente a toda e qualquer situação e nem a todo o
momento. (CYRULNIK, 1999 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003) A resiliência não é um
processo definitivo ou linear, o mesmo individuo pode ser resiliente diante de uma situação e não
o ser diante de outra. Dessa forma, não podemos definir as pessoas como resilientes ou não-
resilientes, pois a resiliência é uma capacidade do sujeito desenvolvida em determinados
momentos e situações, de acordo com as circunstancias em que se encontra.
Segundo Junqueira e Deslandes 2003, Kotliarenco et al. (1997) definem a resiliência
apoiando-se na dualidade entre vulnerabilidade-proteção. De acordo com eles a vulnerabilidade
seria uma dimensão contínua do comportamento, que se move a partir de uma adaptação que
pode ser mais ou menos efetiva diante do estresse. A proteção seria o conjunto de influências
que faz com que modifique ou melhore a resposta do indivíduo diante de algum perigo que
predispõe a um resultado não adaptativo. Munist et al. (1998 apud JUNQUEIRA E DESLANDES),
ressaltam que, embora os pontos de vista de risco e de resiliência sejam diferentes, são aspectos
17
complementares. Percebê-los como um conjunto possibilita um olhar do todo, o que permite uma
maior flexibilidade e fortalecimento na aplicação dos conceitos na promoção da saúde.
Junqueira e Deslandes (2003) apontam que Slap (2001) define a resiliência a partir da
interação de quatro elementos, são estes: fatores individuais, contexto ambiental, acontecimentos
ao longo da vida e fatores de proteção. Estes fatores juntos compõem os recursos que protegem
o adolescente e lhe possibilitam o bem-estar. (SLAP 2001, apud JUNQUEIRA e DESLANDES
2003)
“O desafio à pesquisa e às ações de promoção é, portanto, entender como se compõe
cada elemento desse "banco" e qual interação entre eles levaria à resiliência em cada situação
particular.” (JUNQUEIRA e DESLANDES 2003 p.230).Entretanto, esse não é um ponto
consensual entre os autores, trata-se de um conjunto singular de fatores que produzem a
resiliência e que podem não estar presentes em certas situações. O conceito de resiliência
transformou-se num terreno de múltiplas interpretações. A leitura adaptativa pode significar a
conformidade diante da violência e/ou uma perspectiva individualista de lidar com o problema. Na
visão funcionalista, a capacidade de adaptação do individuo indica uma certa conformidade e ao
que lhe é estabelecido. A acomodação pode ser um processo gerado a partir da coerção, do
compromisso, da tolerância ou conciliação que visa diminuir uma situação de conflito entre
indivíduos ou grupos. (JUNQUEIRA e DESLANDES 2003).
De acordo com Lindstrom (apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003) a resiliência não
produz adolescentes melhores, apenas mais capazes de lidar com situações difíceis já que este
não tem necessariamente interesse em conceitos como humanidade, empatia ou solidariedade.
A resiliência pode ainda ser vista de forma "estigmatizadora", ou seja como uma
capacidade e habilidade desenvolvida apenas pelos mais competentes, mais fortes, o que faz
com que os demais sejam considerados não-resilientes (JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003).
III. MÉTODO
Segundo Silva (...) “a pesquisa é um dos possíveis caminhos de enfrentamento da
questão social: afina e reafina os recursos analíticos, captura o significado político-ideológico dos
fatos, produz conhecimentos da realidade na qual intervém e subsidia a ação.” (2005a p.15 apud
BRETAN, 2008)
A partir desta perspectiva, as pesquisas sobre produção de conhecimento têm um
importante papel, pois permitem avaliar a organização dos pesquisadores junto a núcleos ou
centros de pesquisa. (BRETAN, 2008)
18
Conforme Held um determinado discurso (inclusive o científico), numa perspectiva
crítica, pode ser mistificador, apresentando os dados da experiência social como imediatos,
desvinculados do processo que os produziu. A análise dessa produção pode contribuir para se
construir novas bases de consciência social e de ação (apud JUNQUEIRA e DESLANDES,
2003).
Esse projeto trata-se de uma pesquisa sobre a produção de conhecimento sobre o conceito
de resiliência expressa em artigos científicos disponíveis na biblioteca científica eletrônica Scielo
nos últimos anos.
3.1. Procedimento de coleta do material
Em setembro de 2011 foi realizada uma busca na base de dados Scientific Eletronic Library –
Scielo (www.scielo.br) com a palavra-chave Resiliência. Foram levantados um total de 196
artigos de diferentes temáticas com essa palavra-chave.
Essa pesquisa tem como objetivo analisar a produção sobre resiliência na base citada,
porém como são muitos artigos optou-se por analisar a produção do último triênio em língua
portuguesa.
Em 2011, foram publicados 12 artigos, desses artigos, 7 estavam escritos em português,
3 em espanhol e 2 em inglês. Dentre os 7 artigos escritos em português, foi observado que 4 não
faziam um estudo do tema resiliência, apenas citavam o assunto. Optamos por analisar apenas
os artigos cujo tema da resiliência tenha sido minimamente contemplado. Assim, selecionamos
para análise três artigos publicados em 2011 que faziam referência direta ao tema no título ou
nas palavras chaves.
Foram encontrados 34 artigos publicados em 2010, desses artigos, 16 estavam escritos
em português, 14 em espanhol e quatro em inglês. Dentre os 16 artigos em português,
observamos que 5 desses artigos publicados faziam referência ao conceito de resiliência
relacionando-o a aspectos da terra, à sustentabilidade, à conservação do solo e agronomia. Por
não tratarem o conceito sob uma perspectiva humana ou psicológica estes artigos foram
excluídos. Além disso, um desses artigos se referia à resiliência sob um olhar da veterinária,
relacionando-o à adaptações e alterações histológicas de animais, este também foi excluído por
não contemplar nosso tema de interesse. Quatro desses artigos não faziam referência direta ao
tema de resiliência. Sendo assim, foram selecionados para análise 6 artigos publicados em 2010
que faziam referência direta ao tema de resiliência.
19
Em 2009 foram publicados 31 artigos que puderam ser encontrados a partir da palavra
chave resiliência. 16 desses artigos estavam escritos em português, 9 em espanhol e 6 em
inglês. Dos artigos escritos em português 50% não faziam referência direta ao tema de resiliência
e os outros 50%, um total de 8 artigos, foram selecionados para análise por referirem-se à
diretamente resiliência no título ou nas palavras chaves dos artigos.
3.2. Procedimento de análise de dados
A proposta para este projeto é a realização de uma análise de conteúdo qualitativa. Para
isso torna-se necessário que seja realizada uma organização da análise. Esta pode ser dividida
em três fases cronológicas: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados,
interferência e exploração (BADIN, 2009).
A pré-análise é a leitura “flutuante” para a escolha de documentos que serão utilizados
para análise. Constitui-se das regras de recorte, categorização e codificação e formulação de
hipóteses e objetivos. A exploração de material é uma fase que consiste essencialmente em
operações de codificação, decomposição e enumeração em função das regras previamente
formuladas. O tratamento dos resultados obtidos e interpretação, é constituído por operações
estatísticas, síntese e seleção de resultados, interferências e interpretação.
IV. DADOS
4.1 COSTA, M.G.R.; NORONHA, S/ CARDOSO, P.S.; MORAES,P.N.T; CENTA, M.L. Resiliencia: a
nova perspectiva na promoção da saúde da família:: Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.14,
n.2, Mar./Apr. 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232009000200018&lang=pt
Resumo:
Foi realizado um estudo descritivo a respeito de alguns conceitos da resiliência, buscando
um entendimento, considerando os pressupostos de promoção de saúde, no contexto do Programa
de Saúde da Família (PFS). Observou-se que não há um consenso sobre esse tema, mas este
apresenta aspectos relativos à promoção da saúde. O artigo busca destacar o entendimento
moderno de promoção de saúde ilustrando aspectos que se relacionam à resiliência. Considerando
que a promoção de saúde é uma das atribuições do PSF, o estudo contextualiza a criação desse
programa, enfatizando a atuação de profissionais dessa área a sua relação com o tema, buscando a
promoção de saúde e trabalhando com a resiliência.
Método:
20
Revisão bibliográfica o tema da resiliência buscando extrair subsídios que pudessem
instrumentalizar os profissionais da equipe multiprofissional da Saúde da Família na utilização
correta da resiliência como nova perspectiva na promoção da saúde junto às famílias.
Referencial teórico:
Notou-se que a utilização do conceito resiliência nos espaços médico-psico-social é recente.
Inicialmente, a resiliência era entendida como a capacidade de resistência e de vivenciar
prolongadas situações de estresse sem apresentar qualquer tipo de dano emocional eou cognitivo.
Atualmente, essa concepção ainda é presente nos estudos sobre o tema, porém é menos freqüente,
dando lugar a um conceito que procura abranger outras dimensões mais atentas às condições
sociais e menos deterministas
Inicialmente, pensava-se existir condições inatas para resistir e ter imunidade a
adversidades estressantes e não se tornar vítima. A partir da década de 1990, foi se ampliando os
estudos sobre a resiliência e diversos estudiosos passaram a reconhecer a resiliência como um
fenômeno comum e presente no desenvolvimento de qualquer ser humano. Outros estudiosos
enfatizam a necessidade de cautela no uso naturalizado do termo, sendo freqüentemente referido
por processos que explicam a "superação" de crises e adversidades em indivíduos, grupos e
organizações. A partir de uma revisão crítica das publicações sobre resiliência no final dos anos
noventa, verifica-se que o conceito não apresenta uma definição consensual, sendo caracterizado
em termos mais operacionais do que descritivos.
Alguns autores (YUNES, M.A.M, 2001;PINHEIRO,D.P.N, 2004 apud COSTA, M.G.R.;
NORONHA, S/ CARDOSO, P.S.; MORAES,P.N.T; CENTA, M.L., 2009 ) consideram a resiliência
como sendo a capacidade do sujeito lidar com a adversidade, não sucumbindo a ela, alertando para
a necessidade de relativizar, em função do indivíduo e do contexto, o aspecto de superação de
eventos potencialmente estressores apontado em algumas definições de resiliência. “Defendendo
que o termo resiliência traduz conceitualmente a possibilidade de superação num sentido dialético,
representando não uma eliminação, mas uma ressignificação do problema” (COSTA, M.GR;
NORONHA, S.; CARDOSO,P.S; MORAES, T.N.P; CENTA,M.L; 2009)
A resiliência surge, como uma estratégia, habilidade e competência para enfrentar as
adversidades da vida e ser capaz de superá-las, adaptar-se e recuperar-se, sendo transformado por
elas.
Discussão:
21
Várias situações, muitas vezes relacionadas a problemas sociais, como: condições de
pobreza, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências de doença crônica
ou aguda do próprio indivíduo ou da família e outras perdas importantes podem ser consideradas
como fatores de risco e podem afetar a capacidade de resiliência em indivíduos e famílias.
A visão subjetiva de um individuo sobre certa situação, sua percepção e interpretação
define o evento estressor como sendo, ou não, uma condição de estresse. Eventos considerados
como risco podem aumentar a vulnerabilidade da família e seu desenvolvimento. Observou-se que
certos atributos da pessoa têm uma associação positiva com a possibilidade de enfrentar os
fatores de risco no cotidiano, de aproveitar os fatores protetores, de ser resiliente, sendo crítico e
sujeito ativo na sociedade.
Os fatores protetores possuem quatro funções principais: 1) reduzir o impacto dos riscos,
fato que altera a exposição da pessoa à situação adversa; 2) reduzir as reações negativas em
cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; 3) estabelecer e manter a auto-
estima e auto-eficácia, através de estabelecimento de relações de apego segurança [favor rever a
construção] e o cumprimento de tarefas com sucesso; 4) criar oportunidades para reverter os
efeitos do estresse.
O apoio social contribui para o bem-estar do indivíduo e amortece o efeito provocado pelas
situações adversas surgidas. Diversas referências documentam os benefícios físicos e psicológicos
do apoio social e relatam um melhor ajustamento dos sujeitos com apoio social a acontecimentos
indutores de "estresse". Estes se recuperam mais rapidamente da doença recentemente
diagnosticada, diminuindo o risco de mortalidade a doenças específicas e acabam usufruindo de
um qualidade de vida mais satisfatória.
As relações familiares funcionam como promoção da vida e bem-estar social, favorecendo
o desenvolvimento das potencialidades de cada um e do grupo com relação a individualidade e
manutenção do ambiente físico e simbólico favorável às trocas e ao crescimento grupal e pessoal.
O PSF ( Programa de Saúde da Família) como estratégia surgiu para romper com o modelo
hegemônico assistencialista, curativista, medicamentoso e hospitalocêntrico, pautado na compra de
serviços e na especialização das ações de saúde. Este indica que o individuo seja visto de maneira
integral e que seja acompanhado continuamente. As ações devem visar a promoção de saúde e à
proteção de doenças garantindo a qualidade de vida à população de sua abrangência.
Propõe-se que nesta atenção continuada à população, deve ser considerada a história de
vida dos sujeitos, que deverão ser capazes de participar juntamente com a equipe
multiprofissional, intervindo no enfrentamento dos problemas de saúde vividos. Assim, essa
participação deve ir além da construção da proposta de assistência individual ou coletiva, bem
22
como da representação organizada de sua comunidade nos diferentes níveis do SUS, conferências
e conselhos de saúde. Desta forma, o PSF passa a se constituir numa estratégia inovadora no
cenário dos serviços de saúde, priorizando as ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde das pessoas e das famílias de forma integral e contínua.
Estas possibilidades envolvem as possibilidades da família no enfrentamento da doença e
de riscos, e a possibilidade de intervenção da equipe. Entende-se que, somente assim, os
profissionais possam estar intervindo junto os usuários que vivem em estado fragilizado,
angustiante, frustrante e de impotência diante das dificuldades encontradas, resistindo e criando
meios de valorizar a vida, construindo o sentido do cuidar, do respeito, da troca, do sorriso, da
solidariedade.
Ao longo do tempo, o PSF vem se mostrando como excelente estratégia de intervenção e,
visando melhor atuar na comunidade que assiste, encontra-se aberto para propostas inovadoras.
Nesse sentido, as autoras visualizaram a possibilidade de trabalhar com a resiliência, utilizando-a
como nova perspectiva na promoção de saúde. A abordagem focada na resiliência, utilizada pelo
PSF parece fomentar uma adequada rede de apoio social. A “rede de apoio social” é compreendida
pelos recursos estruturais e humanos disponíveis em uma localidade. No caso do PSF corresponde
a sua área de abrangência.
A promoção da saúde tem se tornado cada vez mais presente na prática dos profissionais
de saúde e, na atualidade, é incluída como componente de destaque na organização de novos
modelos de prestação de serviços no campo da saúde pública, como é o caso do Programa de
Saúde da Família.
A promoção, diferentemente da prevenção, caracteriza-se por um conjunto de intervenções
que têm como objetivo a eliminação permanente ou pelo menos duradoura da doença, tentando-se
eliminar suas causas mais básicas e não apenas evitar que se manifestem. Assim, o conceito
moderno de promoção de saúde contempla atividades voltadas tanto à grupos sociais, como à
indivíduos, por meio de políticas públicas abrangentes na busca de melhores condições de saúde.
Desta forma, entende-se que estratégias de promoção da saúde podem modificar estilos
de vida e as condições sociais, econômicas e ambientais que determinam a saúde. Este
movimento pela promoção da saúde revela que a resiliência é um conceito importante nessa área
de conhecimento. A resiliência foi instaurada no campo da promoção da saúde, discutindo-se hoje
a ampliação do conceito para além dos indivíduos, por intermédio de expressões como escolas
resilientes ou comunidades resilientes.
Conclusão:
23
A resiliência é um conceito complexo e amplo contemplado em vários contextos e
abordagens. Nesse sentido, entende-se a resiliência como o conjunto de processos sociais e
intrapsíquicos que possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um
ambiente não sadio. Dessa forma, não pode se pensar a resiliência como característica inata do
ser humano e nem com atributo adquirido ao longo do seu desenvolvimento, mas sim como um
processo interativo entre a pessoa e o meio, sendo vivenciado de maneiras diferentes e por
pessoas diferentes. A equipe multi profissional de saúde da família pode tornar-se um fator de
proteção junto à família, identificando possíveis fatores de risco ao passo que se mostra como rede
de apoio/proteção. Ao exercer esse papel, busca-se fortalecer a resiliência, promovendo saúde.
4.2 SORIA, D.A.C; BITTENCOURT, A.R.; MENEZES, M.F.B; SOUSA, C.A.C.S; SOUZA, S.R.
Resiliência na área da Enfermagem em Oncologia: Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.
22, n. 5 SetOut 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
21002009000500017&lang=pt
Resumo:
Este estudo buscou mapear a produção cientifica nacional e internacional sobre Resiliencia
na Enfermagem em Oncologia e discutir a aplicabilidade do conceito na assistência. Foram
encontrados 116 artigos e selecionados cinco artigos que abordam a resiliência vinculada à
Enfermagem em Oncologia. Verificou-se uma lacuna na utilização do conceito na Enfermagem em
Oncologia na América Latina, e uma incipiência nas produções internacionais além da necessidade
de realização de outras pesquisas nessa área que discutam e reflitam sobre essa temática.
Método:
O estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática sem meta análise. Foram
analisadas algumas bases de dados (Pub Med, Medline, Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem) e em sites da Oncology
Nursing Society e da International Society of Nurses in Cancer Care por se tratar das principais
sociedades internacionais de enfermagem oncológica. As palavras pesquisadas foram: resiliência
e enfermagem; resiliência, câncer e oncologia; resiliência, enfermagem, câncer e oncologia. Foram
encontrados 116 artigos. Destes, foram selecionados cinco para análise com autoria de
enfermeiras e/ou que foram publicados em periódicos de enfermagem. Os artigos foram
categorizados em um quadro analítico que continha: bases de dados, descritor, ano, fonte, título,
tipo do estudo, concepção de resiliência, e a área da oncologia na qual a temática estava inserida.
Após a construção deste quadro foi realizada uma discussão dos resultados dando ênfase à
aplicabilidade do conceito de resiliência na enfermagem em oncologia.
24
Referencial teórico:
Considerando a perspectiva psicossocial a resiliência é definida como a capacidade de
reagir diante das dificuldades e adversidades de uma forma positiva, superando-as e mantendo o
equilíbrio dinâmico durante os desafios que ativam e desenvolvem a personalidade possibilitando
ao sujeito superar-se às pressões, desenvolvendo auto-proteção e autoconfiança.
A resiliência não deve ser apenas um atributo individual, deve estar presente também nas
instituições e organizações de forma a gerar uma sociedade mais resiliente.
Do ponto de vista da Psicologia e da Sociologia a resiliência é a capacidade da pessoas
resistirem à situações adversas sem perder o equilíbrio inicial, é a capacidade de se desestabilizar
e estabilizar-se novamente.
Os fatores de risco devem ser pensados como processo e não como variável em si,
relacionando os fatores de risco com os eventos negativos da vida, que quando presentes
aumentam a probabilidade de o individuo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.
A combinação de dois ou mais estressores pode diminuir a possibilidade de conseqüências
positivas no desenvolvimento, e, a presença de estressores adicionais pode aumentar o impacto
de outros estressores já presentes.
A resiliência tem sido abordada com enfoque na compreensão da relação entre fatores de
risco e vulnerabilidade e fatores de proteção inerentes ao individuo e ao ambiente nas situações do
cotidiano.
Há também um enfoque dos estudos realizados em torno da auto-estima. Estes apontam
que o desenvolvimento da capacidade de resiliência no sujeito passa pela mobilização e ativação
de suas capacidades de auto-regulação e auto-estima. Sendo assim, ajudar as pessoas a
descobrir suas capacidades é uma maneira de torná-las mais confiantes e resilientes para
enfrentar a vida cotidiana incluindo as situações adversas que fazem parte desta.
O câncer, independente da sua etiologia é reconhecido como uma doença crônico-
degenerativa, que atinge milhões de pessoas no mundo independente de sua classe social,
religião ou cultura. O impacto do diagnostico de câncer é geralmente aterrador, pois esta doença é
conhecida por ser dolorosa, incapacitante e mortal. Apesar dos recentes avanços no diagnostico e
tratamento este estigma permanece.
Diante do diagnostico de câncer e do estigma provocado pela doença, é um desafio
colocar a resiliência como um conceito aplicável ao entendimento do processo de adoecimento e
recuperação, considerando a escassez de abordagens da temática e a produtiva fonte de
subsídios para investigação e intervenção para a saúde e a enfermagem na área de oncologia.
O importante para compreensão da resiliência é tentar conhecer como as características
protetoras se desenvolveram e de que modo modificaram o percurso pessoal do indivíduo.
Discussão:
25
O objetivo deste estudo foi um esforço no sentido de mapear a produção cientifica nacional
e internacional sobre a resiliência na Enfermagem em Oncologia e discutir sua aplicabilidade na
assistência.
Foram selecionados cinco artigos que abordavam a resiliência relacionando-a à área de
Enfermagem em Oncologia. Estes representaram 4,3% do total de artigos encontrados.
Um destes artigos não estava disponível online e, portanto, não foi analisado, apenas
contabilizado
Neste estudo verificou-se que a abordagem de resiliência em Enfermagem inicia-se a partir
de 1998 com maior enfoque nos periódicos americanos e europeus, abordando a temática na área
de Pediatria Oncológica.
Verificou-se que nas publicações da enfermagem brasileira (base BDENF) a abordagem
de resiliência em oncologia é inexistente. Dentre os cinco estudos analisados, quatro utilizavam a
abordagem qualitativa na aproximação do conceito. Mesmo que um dos artigos não estava
disponível online notou-se que seu título estava relacionado à Enfermagem eu Cuidados Paliativos
vinculado à resiliência. Apenas um dos estudos era quantitativo, utilizando a resiliência como um
indicador correlacionado com a escala de Esperança, que entende a resiliência como auto-estima,
autoconfiança e autotranscendência.
Observou-se um pequeno acréscimo na temática na Enfermagem em Oncologia a partir de
2005, através de publicações de dois aritgos e dois livros internacionais. Os principais enfoques
associados à resiliência foram a resistência emocional e física, enfrentamento e proteção ante a
situação de adoecimento por câncer.
Além disso, a resiliência aparece incluída na agenda de pesquisas da Oncology Nursing
Society (ONS) e está inserida nos estudos psicossociais, comportamentais, de comunicação e na
abordagem da família de pessoas com câncer. Recentemente a ONS publicou um artigo que
aborda o risco da ocorrência de fadiga entre enfermeiras atuantes na oncologia, citando a
resiliência como um fator de proteção. Destaca-se também a inclusão da resiliência na revista
oficial da ONS, que tem um número temático com artigos relacionados à sobrevida das crianças
com câncer.
Quanto à concepção de resiliência os cinco artigos apresentam visões bastante distintas:
Um dos artigos a descreve como sendo uma força interna dos pacientes em radioterapia que não
se revela apesar das necessidades advindas do tratamento; o segundo artigo refere-se à
resiliência como “dispositivo para tratamento ante a situação de adoecimento por câncer na
26
adolescência.”; já o terceiro artigo percebe a resiliência como “fator da sustentabilidade e das
relações maritais após terapia hormonal pós prostatectomia”.; o estudo quantitativo refere-se à
resiliência correlacionando-a com a escala de esperança e que pode ser entendida como auto-
estima, autoconfiança e auto transcendência.
Na assistência de enfermagem em Oncologia reflexões sobre a resiliência criam
possibilidades de ampliação dos modos de ver e fazer o exercício assistencial e gerencial de
enfermagem.
Apesar de existirem pesquisas e estudos sobre resiliência na enfermagem o conteúdo de
produção cientifica sobre resiliência ainda é considerado escasso.
Conclusão:
Foi verificado que existe uma lacuna na utilização do conceito de resiliência na área de
Enfermagem em Oncologia na America Latina e incipiência em produções internacionais.
Acredita-se que a resiliência pode ser um conceito significativo para o redimensionamento
das pesquisas na Enfermagem em Oncologia, contribuindo para reflexões na assistência, gerencia,
ensino e pesquisa.
Através dos dados encontrados identificou-se a necessidade de familiarização das
enfermeiras relacionadas à importância da resiliência no enfrentamento de doenças como o
câncer, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento e ao plano de cuidados de enfermagem.
Outra aplicabilidade do conceito nesta área refere-se a importância da construção de
resiliência nos profissionais atuantes na área, visando a superação diante da exposição aos fatores
de risco existentes no contato presente com a terminalidade, finitude, dor e desesperança
apresentados no paciente com câncer.
O desafio imposto pela resiliência para a Oncologia é expandir a utilização do conceito,
visando a promoção de bem-estar e qualidade de vida dos pacientes e profissionais.
Ressalta-se que este é um estudo preliminar, e recomenda-se que sejam realizadas novas
pesquisas com o objetivo de ampliar a discussão sobre resiliência na Enfermagem em Oncologia.
4.3 SORIA, D.A.C; BITTENCOURT, A.R.; MENEZES, M.F.B; SOUSA, C.A.C.S; SOUZA,
S.R. Resiliência na área da Enfermagem em Oncologia: Acta Paulista de Enfermagem, São
Paulo, v. 22, n. 5 SetOut 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-21002009000500017&lang=pt
Resumo:
Este estudo buscou mapear a produção cientifica nacional e internacional sobre Resiliencia
na Enfermagem em Oncologia e discutir a aplicabilidade do conceito na assistência. Foram
27
encontrados 116 artigos e selecionados cinco artigos que abordam a resiliência vinculada à
Enfermagem em Oncologia. Verificou-se uma lacuna na utilização do conceito na Enfermagem em
Oncologia na América Latina, e uma incipiência nas produções internacionais além da necessidade
de realização de outras pesquisas nessa área que discutam e reflitam sobre essa temática.
Método:
O estudo teve como objetivo realizar uma revisão sistemática sem meta análise. Foram
analisadas algumas bases de dados (Pub Med, Medline, Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem) e em sites da Oncology
Nursing Society e da International Society of Nurses in Cancer Care por se tratar das principais
sociedades internacionais de enfermagem oncológica. As palavras pesquisadas foram: resiliência
e enfermagem; resiliência, câncer e oncologia; resiliência, enfermagem, câncer e oncologia. Foram
encontrados 116 artigos. Destes, foram selecionados cinco para análise com autoria de
enfermeiras e/ou que foram publicados em periódicos de enfermagem. Os artigos foram
categorizados em um quadro analítico que continha: bases de dados, descritor, ano, fonte, título,
tipo do estudo, concepção de resiliência, e a área da oncologia na qual a temática estava inserida.
Após a construção deste quadro foi realizada uma discussão dos resultados dando ênfase à
aplicabilidade do conceito de resiliência na enfermagem em oncologia.
Referencial teórico:
Considerando a perspectiva psicossocial a resiliência é definida como a capacidade de
reagir diante das dificuldades e adversidades de uma forma positiva, superando-as e mantendo o
equilíbrio dinâmico durante os desafios que ativam e desenvolvem a personalidade possibilitando
ao sujeito superar-se às pressões, desenvolvendo auto-proteção e autoconfiança.
A resiliência não deve ser apenas um atributo individual, deve estar presente também nas
instituições e organizações de forma a gerar uma sociedade mais resiliente.
Do ponto de vista da Psicologia e da Sociologia a resiliência é a capacidade da pessoas
resistirem à situações adversas sem perder o equilíbrio inicial, é a capacidade de se desestabilizar
e estabilizar-se novamente.
Os fatores de risco devem ser pensados como processo e não como variável em si,
relacionando os fatores de risco com os eventos negativos da vida, que quando presentes
aumentam a probabilidade de o individuo apresentar problemas físicos, sociais ou emocionais.
A combinação de dois ou mais estressores pode diminuir a possibilidade de conseqüências
positivas no desenvolvimento, e, a presença de estressores adicionais pode aumentar o impacto
de outros estressores já presentes.
A resiliência tem sido abordada com enfoque na compreensão da relação entre fatores de
risco e vulnerabilidade e fatores de proteção inerentes ao individuo e ao ambiente nas situações do
cotidiano.
28
Há também um enfoque dos estudos realizados em torno da auto-estima. Estes apontam
que o desenvolvimento da capacidade de resiliência no sujeito passa pela mobilização e ativação
de suas capacidades de auto-regulação e auto-estima. Sendo assim, ajudar as pessoas a
descobrir suas capacidades é uma maneira de torná-las mais confiantes e resilientes para
enfrentar a vida cotidiana incluindo as situações adversas que fazem parte desta.
O câncer, independente da sua etiologia é reconhecido como uma doença crônico-
degenerativa, que atinge milhões de pessoas no mundo independente de sua classe social,
religião ou cultura. O impacto do diagnostico de câncer é geralmente aterrador, pois esta doença é
conhecida por ser dolorosa, incapacitante e mortal. Apesar dos recentes avanços no diagnostico e
tratamento este estigma permanece.
Diante do diagnostico de câncer e do estigma provocado pela doença, é um desafio
colocar a resiliência como um conceito aplicável ao entendimento do processo de adoecimento e
recuperação, considerando a escassez de abordagens da temática e a produtiva fonte de
subsídios para investigação e intervenção para a saúde e a enfermagem na área de oncologia.
O importante para compreensão da resiliência é tentar conhecer como as características
protetoras se desenvolveram e de que modo modificaram o percurso pessoal do indivíduo.
Discussão:
O objetivo deste estudo foi um esforço no sentido de mapear a produção cientifica nacional
e internacional sobre a resiliência na Enfermagem em Oncologia e discutir sua aplicabilidade na
assistência.
Foram selecionados cinco artigos que abordavam a resiliência relacionando-a à área de
Enfermagem em Oncologia. Estes representaram 4,3% do total de artigos encontrados.
Um destes artigos não estava disponível online e, portanto, não foi analisado, apenas
contabilizado
Neste estudo verificou-se que a abordagem de resiliência em Enfermagem inicia-se a partir
de 1998 com maior enfoque nos periódicos americanos e europeus, abordando a temática na área
de Pediatria Oncológica.
Verificou-se que nas publicações da enfermagem brasileira (base BDENF) a abordagem
de resiliência em oncologia é inexistente. Dentre os cinco estudos analisados, quatro utilizavam a
abordagem qualitativa na aproximação do conceito. Mesmo que um dos artigos não estava
disponível online notou-se que seu título estava relacionado à Enfermagem eu Cuidados Paliativos
vinculado à resiliência. Apenas um dos estudos era quantitativo, utilizando a resiliência como um
indicador correlacionado com a escala de Esperança, que entende a resiliência como auto-estima,
autoconfiança e autotranscendência.
29
Observou-se um pequeno acréscimo na temática na Enfermagem em Oncologia a partir de
2005, através de publicações de dois aritgos e dois livros internacionais. Os principais enfoques
associados à resiliência foram a resistência emocional e física, enfrentamento e proteção ante a
situação de adoecimento por câncer.
Além disso, a resiliência aparece incluída na agenda de pesquisas da Oncology Nursing
Society (ONS) e está inserida nos estudos psicossociais, comportamentais, de comunicação e na
abordagem da família de pessoas com câncer. Recentemente a ONS publicou um artigo que
aborda o risco da ocorrência de fadiga entre enfermeiras atuantes na oncologia, citando a
resiliência como um fator de proteção. Destaca-se também a inclusão da resiliência na revista
oficial da ONS, que tem um número temático com artigos relacionados à sobrevida das crianças
com câncer.
Quanto à concepção de resiliência os cinco artigos apresentam visões bastante distintas:
Um dos artigos a descreve como sendo uma força interna dos pacientes em radioterapia que não
se revela apesar das necessidades advindas do tratamento; o segundo artigo refere-se à
resiliência como “dispositivo para tratamento ante a situação de adoecimento por câncer na
adolescência.”; já o terceiro artigo percebe a resiliência como “fator da sustentabilidade e das
relações maritais após terapia hormonal pós prostatectomia”.; o estudo quantitativo refere-se à
resiliência correlacionando-a com a escala de esperança e que pode ser entendida como auto-
estima, autoconfiança e auto transcendência.
Na assistência de enfermagem em Oncologia reflexões sobre a resiliência criam
possibilidades de ampliação dos modos de ver e fazer o exercício assistencial e gerencial de
enfermagem.
Apesar de existirem pesquisas e estudos sobre resiliência na enfermagem o conteúdo de
produção cientifica sobre resiliência ainda é considerado escasso.
Conclusão:
Foi verificado que existe uma lacuna na utilização do conceito de resiliência na área de
Enfermagem em Oncologia na America Latina e incipiência em produções internacionais.
Acredita-se que a resiliência pode ser um conceito significativo para o redimensionamento
das pesquisas na Enfermagem em Oncologia, contribuindo para reflexões na assistência, gerencia,
ensino e pesquisa.
30
Através dos dados encontrados identificou-se a necessidade de familiarização das
enfermeiras relacionadas à importância da resiliência no enfrentamento de doenças como o
câncer, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento e ao plano de cuidados de enfermagem.
Outra aplicabilidade do conceito nesta área refere-se a importância da construção de
resiliência nos profissionais atuantes na área, visando a superação diante da exposição aos fatores
de risco existentes no contato presente com a terminalidade, finitude, dor e desesperança
apresentados no paciente com câncer.
O desafio imposto pela resiliência para a Oncologia é expandir a utilização do conceito,
visando a promoção de bem-estar e qualidade de vida dos pacientes e profissionais.
Ressalta-se que este é um estudo preliminar, e recomenda-se que sejam realizadas novas
pesquisas com o objetivo de ampliar a discussão sobre resiliência na Enfermagem em Oncologia.
4.4 CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C.; Auto-Regulação, Resiliência e Consumo de Substâncias
na Adolescência: Contributos da Adaptação do Questionário Reduzindo de Auto-Regulação.
Psicologia, Saúde e Doenças, Lisboa, v. 10, n. 2, 2009. Disponível em:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-
0862009000200005&lang=pt
Resumo:
O estudo realizado neste artigo tem o objetivo de analisar a relação entre auto-regulação,
consumo de substâncias e resiliêcia na adolescência a partir do questionário reduzido de auto-
regulação.
O estudo mostrou que existe uma relação entre a autorregulação e o consumo de
substâncias e entre o estabelecimento de objetivos e a resiliência e uma relação moderada entre o
controle de impulsos e a resiliência.
Referencial teórico:
De acordo com pesquisas realizadas, as experiências de consumo de substâncias
ocorrem, geralmente no início da adolescência (CALLEJA, SEÑORÁN E GONZALEZ,1996 apud
CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009). Diversas teorias têm sido desenvolvidas para explicar
este fenômeno, entre elas: o modelo de crenças de saúde (BECKER, 1974 apud CASTILLO, J. A.
G. D.; DIAS, P. C., 2009), a teoria da aprendizagem social (BANDURA, 1977 apud CASTILLO, J.
A. G. D.; DIAS, P. C., 2009), o modelo das vulnerabilidades individuais(KAPLAN,1980 apud
31
CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009), o modelo dos factores de risco e de proteção
(HAWKINS, CATALANO E MILLER, 1992 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C.).
A teoria de Hawkins, Catalano e Miller, tem maior destaque pois, durante três décadas,
pesquisaram o maior número de fatores que colocavam o sujeito em maior risco ao consumo de
substâncias. Quanto maior o número de fatores de risco, maior a probabilidade que o indíviduo tem
para o consumo na adolêscencia.
Porém, Dillon (2007 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009), apresentou algumas
limitações à teoria dos fatores de risco, entre elas “a dificuldade em distinguir quando os fatores
são causas ou apenas fatores correlacionados (FARRINGTON, 2000 apud CASTILLO, J. A. G. D.;
DIAS, P. C., 2009). Dessa forma, novas teorias surgiram para reforçar a teoria de Hawkins. Entre
elas a teoria que se foca na promoção de fatores de proteção e resiliência, deixando de lado os
factores de risco e se preocupando com o psicológico do indivíduo e seu desenvolvimento
saudável (FERGUS E ZIMMERMAN, 2005 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).
“Indivíduos resilientes são capazes de operacionalizar um esquema em que percebem, por
exemplo, o consumo de substâncias como um risco para si mesmo e assim evitam esse
comportamento; estabelecem outros objetivos focados na resiliência; e tentam fortalecer o seu
sentido de eficácia para manter estas decisões em prática” (DILLON, 2007 apud CASTILLO, J. A.
G. D.; DIAS, P. C., 2009). Dillon et.al(2007) apresenta alguns fatores que estão relacionados com a
resiliência, entre eles a auto-regulação. A Auto-regulação é um processo em que o indivíduo
assume um papel ativo na construção do seu destino (REIDER, WIT, 2006 apud CASTILLO, J. A.
G. D.; DIAS, P. C., 2009), através da ativação, monitorização, inibição, preservação e adaptação
do comportamento, emoções e estratégias cognitivas para alcançar os objetivos desejados
(BARKELEY, 1997; DEMETRIOU, 2000; DIAZ e FRUHAUF, 1991; LENGUA, 2003; NOVAK,
CLAYTON, 2001 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).
Já o autocontrole tem um papel fundamental na medida em que o sujeito deve resistir às
tentações imediatas para atingir objetivos a longo prazo.
Método:
Os autores realizaram uma pesquisa com alunos de escolas secundárias do norte de
Portugal, utilizando o Questionário Reduzido de Auto-Regulação (CAREY, NEAL e COLLINS, 2004
apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009) O instrumento constitui-se de 31 itens para a obter
um índice total de auto-regulação, que posteriormente foi dividido em dois fatores: Controle de
32
Impulsos e Estabelecimento de Objetivos (NEAL e CAREY, 2005 apud CASTILLO, J. A. G. D.;
DIAS, P. C., 2009). Para a avaliação de Resiliência se utilizou a Escala da Resiliência adaptada
para a populacao de Portugal (VARA, SANI, 2006 apud CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).
A avaliação do consumo de substâncias foi realizada através de questões sobre o consumo atual
como: “atualmente você consome algum tipo de substancia?”, “você consome álcool? Tabaco?”,
“Quantos cigarros você fumou no ultimo mês?”.
Participaram do estudo 248 alunos do ensino secundário, com idades entre 14 e 19 anos,
em sua maioria de sexo feminino de escolas secundárias do norte de Portugal.
Discussão:
No estudo da relação entre autorregulação, sexo e idade se percebeu apenas diferenças
na subescala controle dos impulsos, que foi mais elevada nas meninas. Porém, com relação a
idade não se encontraram diferenças significativas.
Do total da amostra 31 participantes disseram consumir tabaco atualmente (12,9%) e 42
consomem álcool (16,9%). Os indivíduos que consomem tabaco ou álcool apresentam uma
pontuação significativamente mais baixa nas escalas Controle dos Impulsos e Estabelecimento de
Objetivos.
Verificou-se que 188 adolescentes não consumiram qualquer cigarro (88,68%), 15
consumiram de 1 a 5cigarrospor dia (7,08%) e 9 adolescentes consumiram mais de 6 cigarros
(4,24%). No estudo da relação entre o consumo de cigarros e as dimensões da autorregulação,
verificou-se uma diminuição das pontuações médias nas subescalas de Controle de Impulsos
(M=52,42 entre os sujeitos que não consumiram, M=45,73 nos que consumiram entre 1 e 5, até
aos M=46,67 entre os sujeitos que consumiram mais de 6 cigarros por dia) e Estabelecimento de
Objetivos (dos 65,69 entre os sujeitos que não consumiram, 60,85 dos que consumiram entre 1 e
5, e 59,70 entre os adolescentes que consumiram mais de 6 cigarros por dia). As diferenças
encontradas foram estatisticamente significativas em ambas as subescalas: Controle de Impulsos
e Estabelecimento de Objetivos.
De acordo com as respostas verificou-se que 132 adolescentes não consumiram bebidas
alcoólicas durante o último mês (64,08%), 61 consumiram 1 a 5 bebidas alcoólicas (29,61%) e 13
adolescentes consumiram mais de 6 bebidas no último mês (6,31%). Os adolescentes que
consumiram bebidas alcoólicas, apresentaram pontuações médias inferiores nas subescalas de
Controle de Impulsos (dos 53,28 dos sujeitos que não consumiram, 48,84 nos que consumiram
entre 1 e 5, até aos 47.08 dos que consumiram mais de 6 bebidas alcoólicas no último mês) e
33
Estabelecimento de Objetivos (M= 66,55 entre os sujeitos que não consumiram, M=62,82 dos que
consumiram entre1 e 5,e M=61,46 entre os adolescentes que consumiram mais de 6 bebidas
alcoólicas no último mês). Também foram encontradas diferenças estatisticamente significativas
em ambas as subescalas.
Perceberam-se também correlações moderadas entre Resiliência e o Controle de
Impulsos. Além disso, perceberam-se elevadas correlações entre resiliência e o Estabelecimento
de Objetivos.
Conclusão:
No estudo da relação entre autorregulação e consumo de substâncias, verificou-se que os
sujeitos que consomem álcool e tabaco e os que relataram o consumo intensivo dessas
substâncias no ultimo mês apresentaram pontuações mais baixas nas subescalas Estabelecimento
de Objetivos e Controle de Impulsos.
Encontrou-se, uma correlação moderada entre resiliência e o controle de impulsos e
elevada entre resiliência e o estabelecimento de objetivos. Percebe-se, portanto, a importância do
estudo da autorregulação no desenvolvimento dos adolescentes.
4.5 SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.; FILHO, W. D. L.; Processos
que sustentam a resiliência familiar: um estudo de caso. Texto e contexo – enfermagem,
Florianópolis, v. 18, n. 1, Jan/Mar 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072009000100011&lang=pt
Resumo:
Foi realizado em estudo com uma família que vive em condições de adversidade,
buscando identificar fatores que proporcionam à família superar tais adversidades de maneira
positiva. Foi observada a capacidade do pai responder às necessidades dos filhos com
sensibilidade e o quanto isso é um fator de proteção para o enfrentamento das condições adversas
e desafios do dia-a-dia dessa família.
Método:
Foi desenvolvido um trabalho com uma família constituída por: pai (51 anos) e cinco filhos,
sendo quatro do sexo masculino (28, 21, 11 e 9 anos) e uma filha de 22 anos, casada com três
filhos. A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas, realizadas
inicialmente na casa-abrigo onde os dois filhos mais novos estiveram institucionalizados durante
34
um ano e, posteriormente, no domicílio da família. Em algumas ocasiões estas foram realizadas
nas dependências de um Ambulatório de Saúde Mental que o pai frequentava. Estas entrevistas
realizadas entre 2005 e 2007 foram gravadas, transcritas e o material submetido à análise de
conteúdo.
Referencial teórico:
A resiliência tem sido objeto de estudo em diversas áreas do conhecimento. As ciências
sociais e da saúde a entende como capacidade de amenizar ou evitar os efeitos negativos que
situações consideradas com alto potencial de risco podem causar sobre a saúde e o
desenvolvimento das pessoas, da família e inclusive da comunidade.
A resiliência tem sua importância potencializada quando num contexto de adversidades
sociais, políticas e econômicas, bem como um contexto de adversidades sociais, políticas e
econômicas que se agravam cada vez mais nos centros urbanos, principalmente nas regiões
menos favorecidas. Assim, a resiliência anuncia a possibilidade de as pessoas se desenvolverem
bem apesar de viverem num contexto com alto potencial de risco. É importante ressaltar que isso
não significa necessariamente que pessoas que passaram por situações adversas sejam mais
resilientes.
A resiliência pressupõe a maneira de administrar as adversidades, reconhecendo o seu
potencial de risco, sem perder a capacidade de mobilizar recursos para enfrentar estas situações.
A resiliência pode ser considerada como uma trajetória de vida que se constrói de maneira
gradativa a partir de uma seqüência de eventos adversos vivenciados, que possibilitaram uma
administração dessas adversidades, de uma maneira que se encontre respostas e soluções para
tais.
Assim, a resiliência pode ser entendida como um fenômeno complexo que é construído na
interação do sujeito com os diversos contextos em que vive ao passar por situações adversas.
Discussão:
O objetivo deste estudo foi identificar os processos no plano individual e familiar que
acabam propiciando com que os efeitos negativos das adversidades sejam evitados ou
amenizados.
O estudo foi realizado com uma família constituída por: pai (51 anos) e cinco filhos, sendo
quatro do sexo masculino (28, 21, 11 e 9 anos) e uma filha de 22 anos, casada com três filhos. O
35
pai é viúvo dos dois primeiros casamentos e separado do terceiro, com quem teve os dois últimos
filhos de 11 e 9 anos. Esses dois meninos passaram um ano institucionalizados em uma casa-
abrigo para menores por terem sido vitimas de abuso sexual praticado por um vizinho e devido à
falta de condições da família para protegê-los.
O pai, principal responsável pelos menores é alcoolista e a mãe é portadora de um
transtorno mental grave, já foi internada diversas vezes em hospitais psiquiátricos e hoje vive em
outra cidade com sua família de origem e não tem contato com os filhos.
A família encontra-se numa situação econômica de extrema pobreza, pai não tem emprego
fixo e a maior parte da renda da família vem da coleta de materiais reciclável realizada pelo pai e
pela execução de alguns serviços gerais de vez em quando. Além disso a família conta com
fromas de auxilio que recebe de dois serviços sociais comunitários que monitoram o processo de
reinserção familiar dos garotos. Os dois meninos freqüentam regularmente a escola pública desde
que retornaram para casa e apresentam um bom rendimento escolar.
A coleta dos dados foi realizada através de entrevistas semi-estruturadas, realizadas
inicialmente na casa-abrigo onde os dois filhos mais novos estiveram institucionalizados durante
um ano e, posteriormente, no domicílio da família. Em algumas ocasiões estas foram realizadas
nas dependências de um Ambulatório de Saúde Mental que o pai freqüentava. Estas entrevistas
realizadas entre 2005 e 2007 foram gravadas, transcritas e o material submetido à análise de
conteúdo.
O processo vivenciado entre as pessoas e o ambiente pode funcionar como proteção para
as situações de risco. Assim, foram apontadas algumas competência evidenciadas ao longo do
estudo que podem ter sido construídas à partir de uma vivencia com do pai com os filhos e/ou do
pai com o ambiente. Esses dois funcionam de forma complementar.
Foi observado que o pai possui uma capacidade de responder às necessidades
emocionais e físicas dos filhos, capacidade percebida durante o acompanhamento com a família.
O pai afima que as crincas devem ser tratadas com respeito, carinho e conversa.
Vários estudos apontam a importância do contexto afetivo e do suporte familiar do qual a
criança vive como fatores protetores para o desenvolvimento da capacidade de resiliência.
Já o fato de o pai conseguir responder às necessidades dos filhos mesmo em um ambiente
com diversas restrições vai ao encontro da literatura que considera que a precariedade das
condições de vida gera estresse e insegurança podendo afetar a dignidade dos pais, sua paciência
e disponibilidade para com os filhos.
36
Outro fator observado foi a capacidade do pai para criar um espaço relacional que permita
a expressão do potencial dos filhos. Esse fato mostra que o pai tem a capacidade de ver e projetar
a família no futuro em uma condição melhor. O pai estimula os filhos a estudarem dizendo-lhe que
assim eles terão uma melhor condição de vida.
Compartilhar emoções e opiniões que demonstram a preocupação de um membro da
família com o outro é um fator de proteção. Ajuda a resolver a resolver conflitos e reduzir a tensão
vivida pelos mesmos.
A família em estudo vive em um espaço relacional que permite interações positivas entre o
pai e os filhos, que inclui a expressão de opiniões, sentimentos e preocupações. Tal fato parece
estimular a confiança dos membros da família na capacidade de sobreviver os desafios que
enfrenta. Pode-se considerar a existência de um fator de proteção pois impulsiona o
desenvolvimento de autonomia e reconhece o papel do filho como um dos provedores da família.
Foi observado também a capacidade do pai para aceitar ajuda no exercício de seus papeis
tanto da família mais distante (avó, irmã, tia dos meninos) quanto da rede de apoio formal (posto
de saúde, serviço de acompanhamento casa-abrigo). Essa capacidade proporciona uma sensação
de segurança e de pertencimento à comunidade e ao mundo social, o que é de extrema
importância para o enfrentamento de situações adversas.
O tempo compartilhado em família que tem uma importância bastante significativa, pois
favorece a importância que uma pessoa tem para a outra, os valores que vão sendo passados de
geração em geração e o lugar que cada um dos membros ocupa na família. Assim, a realização
partilhada de atividades mutuamente gratificantes entre o pai e os filhos inclui os momentos de
lazer como caminhar na praia aos domingos, passear na praça, ver televisão juntos e dormir.
Esse tempo compartilhado é um recurso através do qual a família elabora os problemas
cotidianos e cria um sentido para a situação em que vive e desenvolve estratégias para enfrentar o
dia-a-dia.
Dessa forma pode-se considerar que a realização de atividades mutuamente gratificantes,
compartilhadas pelos membros da família é um fator de proteção, pois estabelece rotinas que dão
continuidade à vida da família e qualificam o tempo que seus membros compartilham.
Conclusão:
Esse estudo aponta apenas os processos que mostram a importância de se trabalhar
promovendo as capacidades individuais e coletivas que ajudam a minimizar as situações de
risco.
37
Percebeu-se que a intervenção dos profissionais não deve estar apenas nas crianças
como no genitor e/ou cuidados destas, principalmente porque na infância e adolescência o
desenvolvimento dos filhos está muito atrelado à qualidade de interações que estes vivenciam,
principalmente na família.
Em uma situação de pobreza ou ambientes de adversidades que dificilmente mudam no
curto prazo, a capacidade do pai preservar seu vinculo, com uma rede social efetiva e agir de
maneira sensível com seus filhos, pode reduzir os efeitos negativos e riscos de um ambiente
adverso, funcionando com fatores de proteção no desenvolvimento das crianças.
Porém, para que a relação pais-filhos possa se desenrolar dessa forma, relacionando-se
de forma sensível em contextos desfavoráveis é necessário que estes pais também vivenciem este
tipo de experiência.
4.6 BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.; Eventos estressores e estratégias
de coping em adolescentes: implicações na aprendizagem. Psicologia Escolar e Educacional,
Campinas, v. 13, n. 2, Jul/Dez 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572009000200014&lang=pt
Resumo:
O artigo relaciona eventos de vida estressores, estresse e estratégias de coping em
adolescentes, discutindo as possíveis implicações desses fatores na aprendizagem.
Método:
Revisão bibliográfica
Referencial teórico:
Anteriormente o prejuízo na capacidade de aprender era atribuído a déficits cognitivos.
Porém, nos últimos anos, este tem sido associado à exposição de eventos estressores
específicos (BRANCALHONE, FOGO, WILLIAMS, 2004; LIPP, 2004; LIPP, NOVAES, 2000;
SBARAINI, SCHERMANN, 2008 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,
2009).
O período da adolescência é muito marcado por conflitos relacionados à identidade, pela
perspectiva de futuro e pelas transformações corporais. Assim, o estresse pode se manifestar a
partir das modificações sociais, cognitivas e biológicas vivenciadas neste processo.
38
O evento estressor por si só não é determinante para a manifestação de sintomas de
estresse ou de patologias, depende da forma como o individuo exposto a tais eventos reagirá. O
impacto do evento estressor pode ser bastante variável dependendo do processo de resiliência,
que facilita a superação das adversidades.
Dente as variáveis que contribuem para uma maior resiliência pode-se destacar as
estratégias de coping, que são os esforços feitos pelo indivíduo para tentar lidar com as situações
estressoras (DELL´AGLIO, 2003; DELL´AGLIO, HUTZ, 2002 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER,
L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).
O estresse é desenvolvido quando o individuo avalia as dificuldades que vivencia como
sendo maiores do que a capacidade dele em superá-las, que impossibilita de resistir e criar
estratégias para lidar com elas. Esta diferença entre as demandas do ambiente e os recursos
pessoais do individuo para resistir ao estímulo estressor pode trazer prejuízos como alterar a
qualidade de vida, diminuir a motivação necessária nas atividades diárias, provocar a sensação
de incompetência, promovendo uma queda na auto-estima.
Discussão:
Este artigo explora as relações entre eventos de vida estressores , estresse e estratégia de
coping em adolescentes. Devido as especificidades dessa fase de desenvolvimento o estudo
discute as possíveis implicações destes fatores na aprendizagem. São descritos aspetos
psicossociais e neurobiológicos associados ao estresse, além do papel da resiliência no
enfrentamento de situações adversas.
Cada individuo reage aos eventos estressores de maneiras diferentes, o que depende das
condições psicológicas que ele dispõe e da sua capacidade de resiliência. Assim, não é a
gravidade do evento que determina a resposta do indivíduo e sim a avaliação que cada pessoa
faze do estímulo estressor (FELTEN, 2002; RUTTER, 1987 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER,
L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).
Os autores distinguem estratégias de coping de estilo de coping. O primeiro refere-se a um
processo situacional que inclui ações cognitivas dirigidas a um episódio de estresse específico
enquanto estilos de coping refere-se a um processo disposicional relacionada a trações de
personalidade do indivíduo. As estratégias de coping, situacionais, podem mudar conforme o
momento e o estágio da situação estressante. Sendo assim, estas podem ser classificadas na
emoção, referente aos esforços para administrar ou regular as emoções negativas associadas ao
episodio de estresse, ou, focalizados no problema, que são os esforços do indivíduo para mudar
aspectos do ambiente, pessoa ou relação estressante (DELL´AGIO, HUTZ, 2002 apud
39
BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Sendo assim, nas situações
consideradas modificáveis a pessoa tende a utilizar estratégias focalizadas no problemas
enquanto em situações entendidas como imutáveis as pessoas tendem a utilizar estratégias
focalizadas na emoção. Ambas as estratégias, focalizadas no problema e focalizadas na
emoção, são utilizadas em praticamente todas as situações estressantes. (COMPAS, 1987 apud
BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).
Na adolescência tem sido sugerido um aumento do estresse. Nesse período, os eventos
estressores incluem: discussões com colegas, amigos e familiares, imagem corporal, incertezas
sobre o futuro entre outros (SEIFFGE-KRENGE, 2000 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S;
KRISTENSEN, C. H., 2009). Estudos revelaram que problemas escolares e familiares são
comuns nessa etapa da vida (KRISTENSEN, LEON, D´INCAO, DELL´AGLIO, 2004 apud
BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Segundo Aysan (2001 apud
BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009), testes e provas de avaliação
acadêmica bem como a ansiedade causada por estes pode tornar-se uma importante fonte de
estresse para os adolescentes, principalmente quando o desempenho influencia oportunidades
futuras relacionadas à vida profissional.
Nas pesquisas sobre coping em crianças e adolescentes observou-se diferenças entre
gêneros e idades. Por exemplo, a vulnerabilidade ao estresse depende do estressor envolvido,
na comparação entre gêneros. (CALAIS, COLS. 2003 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S;
KRISTENSEN, C. H., 2009). Meninos costumam utilizar estratégias competitivas enquanto que as
meninas utilizam estratégias pró-sociais. Outro estudo mostrou que os meninos acabam tendo
um perfil mais voltado para a busca de apoio externo, enquanto que as meninas apresentam um
perfil mais autodirecionado (CÂMARA, CARLOTTO, 2007 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L.
S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Em outra pesquisa (KRISTENSEN, SCAEFER E BUSNELO,
2009) constatou-se que os meninos tendem a utilizar mais estratégias de afastamento e
aceitação de responsabilidade do que as meninas. Por outro lado, Dell’Aglio e Hutz (2002 apud
BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009) mostraram que entre crianças
de 8 a 10 anos de idade, as estratégias de busca de apoio social são as mais utilizadas, sem
diferenças quanto ao gênero.
Compas, Banez, Malcarne & Worsham, (1991 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S;
KRISTENSEN, C. H., 2009) verificaram que as estratégias de coping focalizadas no problema
são adquiridas mais cedo (até 8 ou 10 anos) enquanto que as estratégias focalizadas na emoção
aparecem mais tarde, no final da infância ou início da adolescência.
40
A aprendizagem ocorre durante todo o ciclo vital. O impacto negativo que os diferentes
eventos estressores causam na vida do adolescente é evidenciado, também, na aprendizagem. A
aprendizagem ocorre tanto em ambientes formais como a escola e ambientes acadêmicos quanto
em ambientes informais, fora desses contextos. Alguns estudos recentes evidenciam a influencia
de eventos estressores no desempenho escolar dos estudantes (BRANCALHONE, 2004; LIPP,
2004; LIPP, NOVAES, 2000; SBARAINI, SCHERMANN, 2008 apud BUSNELLO, F. B.;
SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009) Dentre esses fatores, o ambiente escolar parece
ser mais significativo no desempenho acadêmico dos estudantes do que questões relacionadas
ao contexto familiar (Rutter, 1989 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,
2009). Sendo assim, as dificuldades de aprendizagem tem sido associadas a fatores
relacionados à família, como por exemplo: a escolaridade dos pais, a importância que os pais dão
à aprendizagem, condições socioeconômicas, problemas de drogadição, alcoolismo,
desemprego; e à escola, como: condições físicas da sala de aula, condições pedagógicas,
material didático e relacionamento com o professor. (ENUMO, FERRÃO, RIBEIRO,2006;
OATLEY, NUNDY, 2000 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).
Observou-se na literatura revisada uma divergência de opinião dos autores na tentativa de
estabelecer uma relação entre causa e efeito entre os problemas emocionais e o fracasso
escolar. Alguns autores (GUAY, BOIVIN, HODGES, 1999 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L.
S; KRISTENSEN, C. H., 2009) sugerem que os problemas psicológicos induzem as dificuldades
acadêmicas, enquanto que outros (GOLDENSTEIN, PAUL, SANFILIPO, 1985; MARTINEZ,
SEMRUD-CLIKEMAN, 2004 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,
2009) afirmam que as dificuldades acadêmicas e o fracasso escolar acabam prejudicando o
funcionamento psicossocial, uma vez que torna o individuo vulnerável ao desajustamento escolar
e a problemas emocionais.
Conclusão:
Este estudo visou explorar os aspectos envolvidos na aprendizagem relacionando eventos
estressantes, estresse e estratégias de coping utilizadas pelos adolescentes em situações
adversas.
Verificou-se que apenas a exposição a um evento estressor não é pré-condição para o
desenvolvimento do estresse. Alguns fatores como a capacidade de resiliência e estratégias de
coping eficientes, proporcionam ao indivíduo um enfrentamento adequado de tais situações,
proporcionando um crescimento positivo. Porém, quando o individuo não dispõe de recursos para
lidar com as situações adversas, estas podem impactar sua vida de uma maneira negativa,
41
podendo inclusive, repercutir no processo de aprendizagem e gerar um baixo desempenho
escolar.
Ressalta-se a importância de outros estudos que priorizem o entendimento dos fatores que
possam estar implicados nos processos de aprendizagem, permitindo a elaboração de ações
direcionadas no sentido de minimizar o impacto das situações adversas que impactam no
aprendizado e no desempenho escolar.
4.7 ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D; Histórias de vida de moradores de
rua, situações de exclusão social e encontros transformadores: Saude &Sociedade, São Paulo,
v.18, n. 2 Abr./Jun 2009. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902009000200009&lang=pt
Resumo:
Este estudo busca analisar as características do processo de transformação propiciado pelo
“encontro transformador” entre dois moradores de rua e uma professora. Entende-se por
“encontro transformador” uma interação de pessoas que possibilita a transformação destas, no
sentido de retomar o rumo e o sentido da vida, promovendo a resiliência. Assim, este artigo
mostra como se deu um “encontro transformador” a partir do acolhimento da professora, do
resgate de historias de vida e de processo criativos dos moradores de rua.
Método:
Foi realizado um estudo de 1998 a 2003 que acompanhou as trajetórias de vida de seis
moradores de rua e de duas professoras aposentadas (não moradoras de rua) que os
amparavam e lhes ministaravam aulas se alfabetização e ensino fundamental.
O estudo baseou-se na hipótese de que haveria uma interação especifica entre os seres
humanos que poderia possibilitar uma ”transformação” nos envolvidos, despertando
potencialidades. Além disso, essa interação chamada de “encontro transformador” poderia
despertar-lhes o sentido da vida, o rumo de suas existências de forma a promover a resiliência.
Neste artigo buscou-se reter alguns aspectos de “encontro transformador” entre dois dos
moradores de rua observados e uma das professoras que acabou se tornando um ponto de apoio
positivo em suas vidas.
Para análise e interpretação dos dados, foram utilizados conceitos da Psicologia, Geografia,
Antropologia, Sociologia e Direito.
42
Referencial teórico:
Alguns dos moradores de rua observados moravam em cabanas improvisadas ou albergues.
Nestes ambientes, vivendo em grupo e sem proteção estes acabavam muitas vezes se
entregando à embriaguez, às drogas, a violência, e à exposição à criminalidade.
Ao longo deste estudo observou-se um aumento desta população, bem como, um aumento
no uso e no tráfego de drogas. Esse modo de viver acabou por desenvolver em muitos uma
indiferença, depressão, drogas e mendigância.
Porém, apesar do sucesso dessa configuração psíquica para a sobrevivência nas prisões e
nas ruas, ficou evidente ainda uma insatisfação e uma procura por si mesmo por parte dos
moradores de rua. Assim, foi necessário o estabelecimento do sentimento positivo de confiança
(ERIKSON, 1976 apud ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009) para
que eles pudessem se olhar e se reconhecerem como sujeitos desejantes. “Suas potencialidades
estavam à espera de outro significativo que pudesse acompanhá-los no processo de
autorrealização” (ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).
Discussão:
As professoras saíram dos seus circuitos de relacionamentos indo ao encontro do morador
de rua, aceitando-o tal qual ele se apresentava, fazendo com que este se sentisse
incondicionalmente aceito. Assim, o morador de rua pôde confiar nelas, abrindo-se para a
transformação.
Durante as aulas da professora Silvia, eram fornecidos folhas e lápis coloridos e revistas e
gravuras para serem utilizados pelos moradores de rua em seus processos criativos.
Observou-se o processo de transformação de Marcos e de Soviético, ambos moradores de
rua, porém com histórias de vida distintas. Em ambos os casos observou-se que o processo
criativo fez parte do processo de transformação. As produções criativas puderam satisfazer as
necessidades de expressão da psique, de forma que o sujeito pôde criar-se a cada instante ao
impulso das forças em movimentos (SILVEIRA, 1982 apud ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA,
A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).
Sendo assim, percebeu-se que o processo criativo acabou por expressar emoções, traumas,
sonhos e desejos que propiciaram o processo de transformação. No caso de Marcos, observou-
se uma transformação através da recuperação de sua historia de vida passada seguida por uma
busca de sentido na vida. Em Soviético o processo de transformação se deu quando este
43
conseguiu confiar no ambiente, de forma a flexibilizar o seu falso self para então, resgatar e
constituir o seu self verdadeiro.
Os momentos de encontro foram proporcionados pelo processo de “encontro transformador”
que envolveu a capacidade da professora ir até o sujeito, encontrá-lo e trazê-lo de volta
(BENJAMIN, 1988 apud apud ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).
Conclusão:
Os sujeitos de observação deste estudo, ignorados pela maioria dos cidadãos, criaram
estratégias de defesa, de sobrevivência física e psiquica e acabaram criando ou despertando a
honestidade no espaço de confiança junto ao próximo. Eles sentiram-se recebidos como pessoas
humanas, o que fez com que este encontro fosse prazeroso para eles.
As professoras conseguiram promover o retorno à esperança e à transformação para a
vida destes moradores de rua. Porém, além de ações deste tipo identificou-se a necessidade de
medidas de apoio mais amplas para esta população, envolvendo outros segmentos da sociedade
brasileira. Aponta-se a responsabilidade do Estado na consolidação da cidadania além da
instrução de políticas publicas que introduzam um tratamento diferenciado e especial aos grupos
sociais que sofrem de um padrão discriminativo (PIOVESAN, 2003 apud ALVAREZ, A. M. S.;
ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).
É necessário que se promova a inclusão social dos moradores de rua através e ações
afirmativas, que busquem remediar um passado discriminatório, objetivando acelerar o processo
de igualdade (PIOVESAN, 2003 apud ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D,
2009). Porém, além disso é necessário também cuidar para que tais ações não agravem mais as
barreiras entre os moradores de rua e os demais cidadãos brasileiros.
4.8 PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S.; A resiliência em estudantes do ensino médio:
Psicologia Escolar e Educacional, Campinas, v.14, n.1, Jan/Jun 2010. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572010000100010&lang=pt
Resumo:
Foi realizada uma pesquisa quantitativa com uma amostra de 140 alunos do ensino Médio de
uma escola pública de Porto Alegre. O objetivo foi avaliar a resiliência nos estudantes com
variáveis sociodemográficas além da contribuição da escola em seu desenvolvimento pessoal.
Foram utilizados um questionário para levantamento das variáveis sociodemográficae e sociais e
a Escala de Resiliência, que constitui-se de três dimensões: Independência e Determinação,
44
resolução de ações e valores e Autoconfiança e Capacidade de adaptação às situações. Os
resultados mostraram que quanto maior a renda familiar menor a média na dimensão de
“independência e determinação”. Identificou-se uma associação positiva entre a dimensão da
Resolução de ações e valores com a percepção de que a escola contribui para o
desenvolvimento pessoal.
Referencial teórico:
De acordo com Rutter (1999 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) a
resiliência é um fenômeno de superação de estresse e de adversidades e não se constitui numa
característica ou traço individual. Poletto (2007 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M.
S. 2010) indica que o termo refere-se à capacidade humana de superar adversidades que é
resultante da interação dos fatores de risco e proteção.
A definição do conceito evolui do indivíduo, com os traços de personalidade, para a família,
construção relacional, e posteriormente, para as redes sociais mais amplas, visão ecológica.
(Souza & Cerveny, 2006 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010).
Os autores Papalia e Olds (2000 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010)
explicam que alguns fatores de proteção podem contribuir para a resiliência. Estes fatores
geralmente estão relacionados à personalidade da criança, à família, às experiências de
aprendizagem, à exposição reduzida ao risco e às experiências compensadoras proporcionadas,
por exemplo, por um ambiente escolar favorável.
De acordo com Poletto (2007 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) a
escola pode atuar diretamente na promoção de resiliência no momento em que desenvolve e
incentiva as capacidades da criança. Porém, por outro lado a escola pode representar um fator
de risco para o desenvolvimento saudável.
A base da resiliência já aparece na infância e tem de ser considerada na construção da
resiliência na adolescência (LINDSTRON, 2001 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO,
M. S. 2010).
De acordo com Garcia (2001 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) existem
três tipos de resiliência: social, acadêmica e emocional. A social tem como fatores de proteção o
fato de ter um grupo de amigos e um sentimento de pertencimento, além de modelos sociais que
promovem uma aprendizagem construtiva. A resiliência acadêmica pode ser propiciada pela
escola, que pode fortalecer as habilidades de resolução de problemas e a aprendizagem de
45
novas estratégias. A escola tem sido vista como um dos ambientes mais ricos para a promoção
de resiliência.
Conforme Pesce e cols. (2005 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S. 2010) a
resiliência constitui-se de três dimensões: 1) A resolução de ações e valores, que indica as ações
relacionadas a energia, persistência, disciplina. E os valores que dão sentido a vida como
amizade, realização pessoal e significado da vida; 2) a independência e determinação, que
refere-se a capacidade de resolução de situações difíceis, a capacidade de lidar com diversas
situação ao mesmo tempo, e aceitação de adversidades; 3) autoconfiança e capacidade de
adaptação a situações, que refere-se a acreditar que se pode resolver seus problemas e que isso
depende mais do indivíduo por si só do que de outros, além de realizar ações contra sua
vontade.
Método:
Para a realização da pesquisa foi utilizada uma amostra com 140 alunos do Ensino Médio de
uma escola pública de uma cidade metropolitana de Porto Alegre (RS). 55% do público eram
meninas com em média 17,9 anos. 97,3% dos alunos mora com os pais ou algum familiar. A
maioria informa renda superior a 3 salários mínimos (72,1%).
Para a realização da pesquisa foram utilizados 2 instrumentos autoaplicáveis: o questionário para
levantamento de variáveis sócio-demográficas, escolares e psicossocial que tinha como base o
referencial teórico sobre resiliência. O segundo instrumento foi a Escala de Resiliência de
Wagnild e Young que avalia a adaptação psicossocial positiva em face de eventos de vida
importantes.
Discussão:
Este estudo buscou contribuir para o conhecimento do conceito de resiliência investigando a
relação entre variáveis sócio-demográficas, escolares e a contribuição da escola para a
resiliência de estudantes do Ensino Médio de uma escola pública.
Como resultado desse estudo, obteve-se uma média mais alta na dimensão “Resolução de ações
e valores” seguida pela “Autoconfiança e capacidade de adaptação” nas situações. A menor
média foi a de “independência e determinação”. Verificou-se também que quanto mais elevada a
renda familiar menor a independência e determinação. Além disso, quanto maior a percepção de
que a escola contribui para o desenvolvimento pessoal maior é a dimensão de resolução de
ações e valores. Não foi identificada a associação das variáveis pesquisadas com a dimensão de
“autoconfiança e capacidade de adaptação às situações”.
46
Sapienza e Pedromônico (2005 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010)
relacionam risco, proteção e resiliência. Considera-se que as adversidades não são isoladas.
Estas envolvem fatores políticos, sócio-econômicos, ambientais, culturais, familiares e genéticos.
Sendo assim, quando os fatores de risco associam-se de maneira interativa estes aumentam a
probabilidade de comprometer negativamente o desenvolvimento do indivíduo.
Por outro lado, existem também os fatores de proteção dizem respeito aos recursos pessoais os
sociais que acabam diminuindo o impacto do risco. Estes acabam atuando como um “escudo” a
favor do desenvolvimento humano. Esta capacidade de enfrentar os fatores de risco e usufruir
dos fatores protetores torna o indivíduo resiliente. Assim, resiliência pode ser considerada
também um fator de proteção para o próprio indivíduo. As principais características encontradas
em crianças e adolescentes resilientes são: bom funcionamento intelectual, sociabilidade e
expressão adequada, autoconfiança e auto-estima elevada, talentos e fé. Estas crianças
apresentam em seus contextos vantagens socioeconômicas, conexões com redes familiares
ampliadas e apoiadoras além de práticas parentais competentes. Fora do contexto familiar estas
crianças mantêm vínculos com adultos e organizações pró-sociais e freqüentam a escola.
Segundo Padovani (2006 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010), a
resiliência surge, como um processo construído a partir da interação da pessoa com o meio.
Independentemente de qual for o contexto (família, instituição ou escola), este pode configurar-se
como risco ou proteção. Porém esta configuração dependerá da qualidade das relações que os
ambientes proporcionarem, ou seja, quando houver conexões positivas entre os contextos, maior
a probabilidade de promoção da resiliência e de favorecer uma melhor qualidade de vida e
adaptação/saúde das pessoas e da sociedade (POLETTO, KOLLER, 2008 apud PELTZ, L.;
MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010).
A vulnerabilidade é composta por elementos que agravam a situação de risco impedindo
respostas satisfatórias diante de situações adversas. A vulnerabilidade apresenta-se em três
planos: 1) Individual: relacionado a comportamentos não conscientes ou “involuntários”; 2) Social:
relacionado ao acesso a informações, a serviços de saúde e condições de bem estar social; 3)
Institucional: relacionado a ações desenvolvidas por instituições que visam diminuir oi eliminar os
riscos que tornam os indivíduos mais vulneráveis. (PADOVANI, 2006 apud PELTZ, L.; MORAES,
M.G.; CARLOTTO, M. S., 2010).
De acordo com Sapienza e Pedromônico (2005 apud PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO,
M. S., 2010). Existem períodos de vida nos quais o indivíduo está mais vulnerável. A
adolescência é um deles já que neste período ocorrem mudanças físicas e psicológicas, é a fase
47
do desenvolvimento na qual o indivíduo tem que lidar com uma variedade de situações novas.
Assim, de acordo com alguns estudiosos os adolescentes apresentam uma alta vulnerabilidade.
Conclusão:
A escola pode promover ou não o desenvolvimento da capacidade de resiliência, depende das
interações que ocorrem na instituição e o que é construído nesta relação indivíduo-sociedade.
Porém para que a pessoa consiga ter sucesso na escola é de extrema importância que esta
tenha uma família, uma instituição ou uma rede de apoio que a ajude a manter suas
necessidades afetivas, sociais e cognitivas. (PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S,
2010)
Através do resultado desta pesquisa percebeu-se que a escola tem uma participação
fundamental nos contextos de valorização e desenvolvimento dos jovem, principalmente na
resolução de ações e construções de valores. Esta, juntamente com a família, ajuda a promover
a cidadania e a construção de sujeitos conscientes que reconhecem sues direitos e
correspondem com os deveres da sociedade. Se a escola apresentar as experiências como
desafios e não como ameaças esta acaba promovendo a resiliencia construindo interações
positivas e compondo uma rede de apoio para o indivíduo.
Destacou-se que a literatura sobre resiliência no Brasil é incipiente, o que dificulta a comparação
entre os estudos nacionais. Hoje a influencia de aspectos culturais e contextuais sobre a
resiliência é bastante clara, o que destaca mais a necessidade de serem realizados mais estudos
nacionais sobre este tema.
4.9 RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.;
SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M; Envelhecer atuando: bem-estar subjetivo, apoio social e resiliência
em participantes de grupo de teatro: Factal: Revista de Psicologia, Rio de Janeiro, v.22, n.3,
Jan/Dec 2010.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
02922010000900010&lang=pt
Resumo:
Foi realizada uma pesquisa com 12 idosos participantes do grupo de teatro “Os mais vividos”. O
estudo teve como objetivo investigar o bem-estar subjetivo, averiguar a resiliência, a percepção
do suporte social e correlacioná-los. Os resultados indicaram que os participantes avaliaram seu
bem-estar subjetivo como positivo. Percebeu-se que quanto maior a idade do participante, maior
48
o grau de resiliência apresentada por idéias de determinação e independência. Quanto maior o
tempo de participação no grupo, maior a vitalidade, e quanto maior a percepção de suporte
social, maior o numero de afetos positivos exerimentados. Além disso, mostrou-se que quanto
maior o número de afetos negativos experenciados, maior a capacidade de resiliência.
Método:
Participantes: 12 idosos com média de 68 anos, participantes do grupo “Os mais vividos” do Sesc
Uberlândia – MG. 91, 67% eram mulheres. 50% dos idosos viviam sozinho, sendo 58,33%
responsáveis pelo seu próprio sustento.
Foram aplicados os seguintes instrumentos: Ficha de Informações sócio-demográficas e Medida
de bem-estar subjetivo (Escala de Vitalidade, Escala de Afetos Positivos e Negativos,Escala de
Satisfação com a Vida, Escala de Resiliência, Escala de Percepção de Suporte Social).
Como resultados, pode-se observar uma correlação significava entre resiliencia e idade, ou seja,
quanto maior a idade, maior o grau de resiliência apresentado por idéias de independência e
determinação. Percebeu-se também que quanto maior o tempo no grupo, maior o resultado
apresentado no quesito vitalidade. Também houve correlação entre afetos positivos e suporte
social. Ou seja, quanto maior a percepção de suporte social, maior o número de afetos positivos
experimentados. Além disso, percebeu-se que quanto maior o escore de afetos positivos, maior o
escore de satisfação com a vida. E, quanto maior o escore de afetos negativos, maior o escore
de resiliência, ou seja, quanto mais se experenciam afetos negativos, mais se tornam resilientes.
Referencial teórico:
O bem estar subjetivo refere-se a avaliação que a própria pessoa faz à partir de um
julgamento sobre a satisfação que sente com relação a sua vida de uma forma geral ou em
alguns domínios específicos. O bem-estar subjetivo diz respeito à felicidade, satisfação, estado
de espírito e qualidade de vida. Diencer (2000 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES,
G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) afirma que
estudos indicam que a felicidade e satisfação com a vida são extremamente importantes para se
viver bem.
De acordo com Freire (2000 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;
ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) a vida pode ser
satisfatória quando há disposição para enfrentar desafios, lutar pelos direitos e colocar em prática
projetos viáveis dentro das condições pessoais do ambiente que vive, quando a pessoa conta
com uma rede de suporte social.
49
O bem-estar subjetivo refere-se ao âmbito da experiência privada. O afeto positivo é
referente ao entusiasmo da pessoa, que pode ser subdividido em alegria, afeição e orgulho. O
afeto positivo é considerado um fator de proteção frente a situações de estresse, já que pessoas
que mantém estados emocionais positivos apresentam manos problemas físico. O afeto negativo,
refere-se à angustia, pouca motivação, subdividindo-se em vergonha, culpa, tristeza, raiva e
ansiedade.
A vitalidade subjetiva é outro indicador de bem-estar referente a sentir-se vivo, alerto e ter
energia para si (CHAVES, 2003 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;
ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010.) É um conceito que
faz parte do pleno funcionamento do individuo e inclui mais que senso de bem esta, inclui amor,
ser eficiente, e ter algo a realizar (RYAN; FREDERICK, 1997 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA,
A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010).
Pessoas com maior nível de bem-estar subjetivo são indivíduos mais resilientes e
apresentam maior capacidade de lidar com advesidades, conseguindo transformá-las e superá-
las (SILVA Et. al. 2003 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES,
F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010).
De acordo com Pinheiro (2004 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;
ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) a resiliência é
definida como habilidade que o indivíduo tem de reconhecer a dor, perceber seu sentido e tolerá-
la de resolvendo seus conflitos de forma construtiva. A resiliência pode ser traduzida como a
capacidade de lidar de forma consistente com os desafios e dificuldades, reagir de forma flexível
diante das situações desfavoráveis, conseguindo apresentar diante de tais situações uma atitude
otimista e perseverante. (YUNES;SKYMANSKY, 2001 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.;
NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010).
Existem concepções esteriotipadas, veiculadas pela mídia, que referem-se à idade adulta
avançada e velhice como uma fase de vida marcada por pouca capacidade de resiliência. Porém
alguns pesquisadores (RYFF, 1989; DIENER e SUH, 1998; FREIRE, 2001; CAPRARA e
STECA,2005; KAROLY e RUEHLMAN, 2006; LARANJEIRA, 2007 apud RESENDE, M.C.;
FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU,
S.A.M, 2010) apontam a resiliência como fator de grande importância no envelhecimento
psicológico como fenômeno na ocorrência natural e como característica que pode ser promovida
por interações favoráveis com as redes sociais. O apoio social fornece aos indivíduos ajuda
emocional, material, e;ou de informação para o enfrentamento de situações que geram tensão
50
emocional. É um processo recíproco que beneficia tanto quem recebe apoio como quem oferece,
proporcionando a ambos mais sentido no controle de suas vidas.
Siqueira (2008 apud RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES,
F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010) afirma que existem diferentes
tipo de apoio proporcionado pelas redes sociais: 1) suporte emocional: refere-se ao que as
pessoas fazem ou dizem como conselhos, ouvir problemas, transmitir empatia e confiança; 2)
suporte instrumental, refere-se a ajudas tangíveis e práticas, como ajudas com tarefas
domésticas, provisões de transporte, empréstimos de dinheiro; 3) suporte informacional, referente
a receber dos outros noções com as quais o indivíduo possa guiar e orientar suas ações para
solucionar um problema ou tomar alguma decisão.
Discussão:
Os idosos participantes indicaram níveis de adaptação psicossocial positiva frente a eventos de
vida importantes, avaliada pela resiliência, sendo no "Fator 1", que indica resoluções de ações e
valores que dão sentido à vida como amizade, realização pessoal, satisfação e significado da
vida), "Fator 2" indica idéias de independência e determinação; "Fator 3", indicando
autoconfiança e capacidade de adaptação à situação.
Percebeu-se uma correlação significativa do Fator 2 de resiliência com a idade, ou seja, quanto
maior a idade, maior o grau de resiliência apresentado por idéias de independência e
determinação. Houve também uma correlação significativa entre o tempo de participação no
grupo e vitalidade, ou seja, quanto maior o tempo no grupo, maior a vitalidade. Observou-se uma
correlação entre afetos positivos e suporte social, quanto maior a percepção de suporte social,
maior o número de afetos positivos experimentados.
Outra constatação foi que quanto maior o escore de afetos positivos, maior o escore de
satisfação com a vida e quanto maior o escore de afetos negativos, maior o escore do Fator 2 de
resiliência. Assim, quanto mais sentimentos positivos apresentam, maior o nível de satisfação
com a vida, como também quanto mais experienciam afetos negativos, maior a capacidade de
resiliência. Além disso, o apoio social pode amenizar os efeitos do estresse na vida do idoso, é
uma experiência pessoal e subjetiva que leva a um maior senso de satisfação com a vida.
Conclusões:
Os participantes dessa pesquisa relatam bem-estar subjetivo positivo indicado por
satisfação com a vida, afetos positivos e vitalidade. Os participantes que apresentaram maior
satisfação com a vida foram os que recebiam mais suporte afetivo, ou seja, participar do
51
grupo Os Mais Vividos proporcionou aos seus integrantes sentimentos de compreensão, atenção
e companheirismo. O apoio social é considerado capaz de gerar efeitos benéficos tanto para a
saúde física como mental, e está relacionado diretamente com o bem-estar.
A capacidade das pessoas de administrar produtivamente suas relações com os outros
promove uma melhor visão positiva que elas têm sobre elas mesmas, sobre sua vida e sobre o
futuro. E, quanto mais sentimentos positivos apresentados, maior o nível de satisfação com a
vida.
Além disso, mostrou-se que quanto mais as pessoas experenciam afetos negativos, mais
estas se tornam resilientes. O que indica que a pessoa desenvolve esta capacidade durante a
vida, mediante a exposição, enfrentamento e superação de situações adversas.
4.10 SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.; TOMÉ, G; Risco e resiliência em adolescentes
com necessidades educativas especiais: Desenvolvimento de um programa de promoção da
resiliência na adolescência: Psicologia, Saúde & Doenças, Lisboa, v.11 n.1, 2010. Disponível
em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-
00862010000100008&lang=pt
Resumo:
Foi realizado um amplo estudo que teve como objetivo conhecer os comportamentos e estilos de
vida dos adolescentes com necessidades educativas especiais através de um estudo quantitativo
e qualitativo. Além disso, desenvolveu-se um programa de promoção de saúde e resiliência
direcionado a pais, professores e técnicos, bem como uma sessão experimental deste programa.
Método:
O projeto “Risco e resiliência em adolescentes com necessidades educativas especiais” dividiu-
se em quatro etapas:
1) Aplicação do questionário buscando conhecer os fatores e comportamentos associados à
saúde e à resiliência (questões sociodemográficas, comportamentos e estilos de vida dos
adolescentes, escala de acontecimentos de vida, escala de resiliência) – estudo quantitativo
– Participaram deste estudo 494 sujeitos de 143 escolas do ensino regular. 57, 7% sexo
masculino e 42,3% sexo feminino. 23,7% referia-se como tendo dificuldade de aprendizagem,
9,7% deficiência motora, 9,5% problema na fala ou comunicação, 6,7% deficiência visual,
5,5% deficiência auditiva e 8,1% doença crônica. ¼ dos alunos não referiu ter problemas e
10% refere-se a outros, como perturbações no desenvolvimento.
52
2) Disseminação dos resultados obtidos (encontros regionais de grupos de discussão com
adolescentes com NEE) – estudo qualitativo – objetivo de aprofundar os dados obtidos no
estudo quantitativo. Foram realizados grupos focais com 33 alunos com NEE, de 10 a 16
anos.
3) Desenvolvimento de um programa de intervenção direcionado a pais, professores e outros
técnicos, tendo como base a promoção de saúde e da resiliência. Este programa foi
fundamentado em aspectos teóricos de referências bibliográficas na área da saúde e da
resiliência, bem como aspectos obtidos nos estudos das fases anteriores.
4) Formação de pais e técnicos no âmbito do programa desenvolvido, possibilitando a
participação ativa neste processo – foram realizadas 5 ações de formação em cinco regiões
com uma média de 15 participantes. Esta ação teve duração de 10 horas (divididas em 2 ou
3 dias).
RESULTADOS:
1ª etapa: verificou-se que adolescentes com NEE passam por etapas do desenvolvmento
semelhantes às dos adolescentes sem NEE. De forma geral, observou-se que os garotos têm
maior tendência para comportamentos de risco (como envolvimento em lutas e consumo de
drogas ilícitas) enquanto as garotas apresentam mais sintomas psicológicos e uma maior
tendência a terem problemas relacionados à sua imagem corporal. Com relação à idade,
mostrou-se que adolescentes mais novos praticam mais atividades físicas, falam mais facilmente
com o pai, tem mais tempo para eles mesmos, fazem mais atividades que gostam, divertem-se
mais com os amigos e tem uma melhor percepção sobre sua saúde. Em contrapartida os
adolescentes mais velhos consomem tabaco, bebidas alcoólicas e maconha mais
frequentemente, sentem-se mais tristes e sozinhos, ficam mais tempo na Internet, e referem mais
freqüentemente que gostariam de alterar alguma coisa no corpo e que já tiveram relações
sexuais.
Ao comparar adolescentes com NEE aos adolescentes sem NEE, as diferenças ficam ainda mais
evidentes. Os adolescentes com NEE revelam mais dificuldades de comunicação com os pais e
maiores dificuldades na escola. Estes praticam menos atividade física, têm menos amigos e
afirmam com mais freqüência que os professores consideram que eles têm uma capacidade
acadêmica inferior à média. Referem menos frequentemente que se sentem felizes, são mais
vezes provocados na escola, sentem mais pressão com os trabalhos de casa e apresentam pior
percepção sobre sua saúde.
O estudo mostrou que todos os recursos externos (família, escola, comunidade, pares) e
recursos internos (autoconceito) constituem-se como fatores de proteção para o bem-estar.
53
Assim, adolescentes com níveis mais elevados de recursos apresentam níveis de bem-estar mais
elevados. Porém, verificou-se que apenas os recursos na família e o autoconceito apresentam
um efeito moderador do impacto dos acontecimentos de vida negativos no bem-estar geral. Ou
seja, apenas estes fatores parecem manter os níveis de bem-estar independentemente dos
níveis de acontecimentos de vida negativos.
2ª etapa: Os resultados do estudo qualitativo vão de encontro aos resultados obtidos no estudo
quantitativo. Verificou-se que adolescentes com NEE referem-se a interesses, necessidades e
problemas comuns a esta fase da vida. Com relação aos comportamentos associados à saúde
observou-se que as questões levantadas envolvem uma alimentação pouco equilibrada,
experimentação de substancias, envolvimento em comportamentos de bulliyng, preenchimento
do tempo livre com atividades sedentárias como ver TV e jogar no computador, problemas
emocionais e com o corpo e iniciação de atividade sexual. Neste estudo confirmou-se que
adolescentes com NEE possuem menos amigos que adolescentes sem NEE, bem como o fato
dos adolescentes com NEE valorizarem muito a escola, o que também foi verificado no estudo
qualitativo.
3ª etapa: O programa desenvolvido tinha como objetivo a promoção de competências pessoais e
sociais determinantes para autonomia, resiliência e inclusão dos jovens com NEE. Este
apresentou 10 componentes: Recursos externos (família, pares, escola, comunidade); Ligações
afetivas; Expectativas elevadas; Oportunidades de participação; Recursos internos; Cooperação
e comunicação; Empatia; Resolução de problemas; Auto-eficácia; Autoconhecimento; Objetivos e
aspirações e Auto-estima.
4ª etapa: 60% dos participantes considerou que a formação foi muito útil e muito interessante
enquanto o restante afirmou que foi útil e interessante. A maioria dos formandos disse ter
adquirido conhecimento nas áreas da adolescência e da resiliência.
Discussão:
Durante a vida, as pessoas se debatem com diversas situações que ameaçam o seu
equilíbrio. Quando se consegue responder aos problemas da vida de forma positiva, e quando se
consegue lidar com sucesso diante da adversidade, existe uma capacidade de resiliência.
(GAMERZY, 1999; MASTER et. al., 1999; RUTTER, 1996; WERNER, SMITH, 2001 apud
SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.; TOMÉ, G.; 2010).
A capacidade de resiliência nas crianças e adolescentes envolve habilidade de
ultrapassar fatores de risco aos quais estão expostas, evitando conseqüências negativas como
problemas de comportamento, problemas emocionais e dificuldades acadêmicas (HAUSE,
54
VIEYRA, JACOBSON, WERTEIB, 1985 apud SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.;
TOMÉ, G, 2010).
As pessoas resilientes possuem algumas características que lhes permite ultrapassar
adversidades: capacidade de tomada de decisões, capacidade de comunicação, assertividade,
empatia, auto-controle, auto-estima, auto-eficácia, otimismo, bom humor, flexibilidade,
inteligência, boa saúde física e mental. Estas características podem ser consideradas como
fatores de proteção individuais que colaboram para que a resposta diante de situações adversas
seja mais efetiva.
A resiliencia é um processo bastante importante ao longo de toda a vida principalmente
no confronto com situações difíceis. A adolescência é considerada uma etapa difícil devido às
múltiplas transformações que ocorrem neste momento da vida. Nesta etapa surgem vários
desafios: a adaptação à uma nova condição biológica, a conquista de autonomia, a progressão
acadêmica. Além disso, o adolescente precisa se sentir valorizado como pessoa, sentir-se útil,
fazer escolhas informadas e acreditar num futuro com oportunidades reais.
Os adolescentes com Necessidades Educativas Especiais podem ter mias dificuldades
para lidar com estas condições de desafios, principalmente quando o ambiente não é visto como
facilitador para isto. Um estudo (ANDERSON, CLARK, 1982 apud SIMÕES, C.; MATOS, M.G.;
FERREIRA, M.; TOMÉ, G, 2010) mostrou que adolescentes com deficiência motora revelam falta
de independência, de controle sobre suas vidas, e dificuldades de adaptação na transição da
escola para a vida adulta. Outro estudo do Health Behaviour in School-aged
Children/Organização Mundial de Saúde (HBSC/OMS) realizado em Portugal (MATOS, EQUIPA,
2003 apud SIMÕES, C.; MATOS, M.G.; FERREIRA, M.; TOMÉ, G ) mostrou que os adolescentes
que têm problemas de saúde como deficiência ou doença crônica que freqüentam o Ensino
Médio são mais vítimas de bullying, e acabam ficando mais sozinhos na escola, se sentindo
menos felizes do que os adolescentes que não apresentam estes tipos de problemas.
Sendo assim, fica evidente é fundamental que seja feita algum tipo de intervenção o mais
cedo possível buscando promover fatores de proteção que permitam a estes adolescentes lidar
positivamente com os desafios e com as adversidades da vida. Para que esta intervenção seja
eficiente é fundamental a realização de uma pesquisa dos fatores associados a este processo
junto aos adolescentes com Necessidades Educativas Especiais.
Neste sentido foi desenvolvido o projeto “Risco e resiliência em adolescentes com necessidades
educativas especiais” objetivou conhecer os comportamentos e estilos de vida dos adolescentes
55
NEE, buscando desenvolver um programa destinado à promoção da saúde e resiliência
direcionado a pais e professores.
Conclusão:
O conceito de resiliência tem uma especial importância para os adolescentes com
Necessidades Educacionais Especiais, para que eles consigam superar os múltiplos desafios que
lhes confrontarão. Para que tenham um desenvolvimento positivo, é de extrema importância a
promoção de fatores de proteção e de resiliência no contexto familiar, escolar e comunitário, bem
como recursos pessoais (competências pessoais e sociais).
Este estudo destaca a importância da família e do autoconceito que se mostraram ser
verdadeiros fatores de resiliência, por conseguirem manter os níveis de bem estar global
elevados, apesar da presença de eventos adversos.
Diante dos resultados obtidos desenvolveu-se um programa de promoção da saúde e da
resiliência tendo como base a promoção de ligações afetivas e o reforço de expectativas positivas
e o desenvolvimento de competências pessoais e sociais.
A aplicação do programa junto aos pais, professores e técnicos indica que o programa
contribui para aquisição de conhecimentos relacionados à adolescência, à resiliência e à
aquisição de competências que promovam fatores de proteção e resiliência junto a estes
adolescentes.
4.11 LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M.; Resiliência oculta: a construção social do conceito e suas
implicações para práticas profissionais junto a adolescentes em situação de risco: Psicologia:
reflexão e crítica, Porto Alegre; v. 23, n. 3, 2010. Disponível em:
http://www.scielo,br/scielo.php?scrigt=sci_arttext&pid=S0102-79722010000300008&lang=pt
Resumo:
O objetivo deste artigo é apresentar e discutir os principais conceitos de resiliência baseado na
abordagem de Michael Ungar. O artigo apresenta e discute o conceito de hidden resilience, ou
resiliência oculta como uma forma alternativa de resiliência, que também pode ser um caminho
para o fortalecimento pessoal e para a promoção de bem-estar.
Método:
56
Revisão bibliográfica dos principais conceitos de resiliência baseado na abordagem de Michael
Ungar.
Referencial teórico:
Em seus estudos mais recentes Ungar define o conceito de resiliência como sendo a capacidade
dos indivíduos navegarem por recursos que mantém bem-estar. Em segundo lugar refere-se à
capacidade dos ambientes físicos e sociais oferecerem tais recursos. Em terceiro lugar, refere-se
à capacidade dos indivíduos, suas famílias e comunidades negociarem recursos culturalmente
significativos a serem partilhados. É o processo de navegação através de recursos disponíveis e
a negociação por recursos a serem proporcionados de forma valorizada pelos adolescentes,
envolvendo tanto o individuo e seus ambientes, em um processo dinâmico, conduzindo a bem
estar. (UNGAR et al., 2008 apud LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M).
A Resiliência é um estado dinâmico de tensão entre os indivíduos, as famílias, comunidades e,
culturas, e não um estado permanente do individuo.
Discussão:
O objetivo deste artigo é apresentar e discutir os principais conceitos de resiliência baseado na
abordagem de Michael Ungar, devido ao fato de não haver uma publicação em português do seu
material.
As considerações de Michael Ungar podem ser muito úteis aos leitores de língua portuguesa,
pois muitos de seus questionamentos sobre a literatura de resiliência são baseados na literatura
da língua inglesa.
Ungar entende a resiliência como sendo “associada à capacidade do individuo navegar seu
caminho em direção a recursos de bem-estar”, bem como a capacidade de suas comunidades
oferecerem estes recursos de forma culturalmente significativas (UNGAR, BROWN,
LIEBENBERG, CHEUNG, LEVINE, 2008 apud LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M, 2010). Sendo
assim, a resiliência é vista como um processo definido pelas comunidades como funcionamento
saudável e socialmente aceito, como também a capacidade de suas comunidades preverem
recursos significativos.
O autor questiona as metodologias de pesquisas utilizadas para o estudo da resiliência e a sua
definição, muitas vezes articulada com resultados positivos esperados para o estudo da
experiência de populações minoritárias e marginalizadas.
57
Ungar levanta outro questionamento referente à fragilidade dos estudos de resiliência e a sua
implicação prática de pesquisa propiciada por uma possível falta de significação do desenho
metodológico da pesquisa e desconsideração de uma interpretação de dados mais articulada
com a cultura que está sendo estudada.
Michael Ungar critica os limites de uma abordagem mais individualizante de resiliência, que não
leva em consideração os problemas estruturais da sociedade e a ausência de políticas publicas
necessárias para que as famílias e comunidades se fortaleçam e possam propiciar a resiliência
nas crianças e adolescentes para o enfrentamento das adversidades. Assim a resiliência está
longe de se referir apenas aos traços individuais, esta está diretamente relacionada ao lugar
social e político ocupado pelo individuo, sua família e comunidade. Essa maneira menos
individualizante de conceber a resiliência minimiza a tendência de atribuir o sujeito de forma
singular e de culpabilizá-Io por seu insucesso.
O estudo de Ungar mostra que os processos de navegação das crianças e adolescentes em
direção a recursos protetivos dependerá da qualidade dos recursos que têm maior relevância
para eles, assim como da capacidade de negociação com aqueles que fornecem os recursos aos
quais as crianças e adolescentes percebem que são necessários para seu bem-estar.
Ungar ampliou o conceito de resiliência, criando o termo hidden resilience, resiliência oculta, que
relaciona comportamentos específicos associados ao perigo, fora dos padrões, delinquência e
desordem que funcionam como caminhos não padronizados de acesso à saúde que podem estar
presentes nas vidas de jovens e adolescentes de alto risco. A resiliência oculta se manifesta
quando se utiliza formas não convencionais para o fortalecimento da identidade e para promoção
da resiliência. Assim, os comportamentos não convencionais como uso de drogas, associação a
gangs, trabalho infantil, entre outros, não são apenas sinais de vulnerabilidade como podem ser
manifestações culturalmente e contextualmente significativas e resiliência. Uma forma oculta, que
muitas vezes é negligenciada por profissionais que não fazem parte do contexto e da
comunidade desses jovens.
O conceito de resiliência oculta traz a possibilidade de diferentes e inesperados caminhos de
acesso a este fenômeno. Refere-se a tentar obter o melhor dos recursos disponíveis e acessíveis
no sentido de propiciar a resiliência. Como exemplo, pode-se pensar em um adolescente que não
frequenta a escola, mas esse fato não o impede de desenvolver relacionamentos significativos,
auto-valorização, independência e reconhecimento da comunidade que podem ser obtidos
através de sua participação como membro de um grupo de moradores de rua, ou em gangs ou
através de um trabalho (BOTELHO, 2008; INVENVERNIZZI, 2003; LlBÓRlO, PESSOA, 2008;
LIEBEL, 2004; UNGAR, 2007; WOODHEAD, 2004 apud LlBÓRlO, R. M. C.; UNGAR, M, 2010).
58
Se se pretende oferecer para este adolescente formas mais "convencionais" de acesso à
resiliência, esta substituição deve ser realizada através de soluções realistas, acessíveis e
significativas para ele e para sua comunidade. Assim, este deve ter os mesmos benefícios que
obtinha com a utilização de recursos não convencionais na utilização de recursos "convencionais"
a serem oferecidos. Essa concepção implica nas intervenções, na resistência ao atendimento e
na condução de uma prática profissional que leve em conta as diferentes formas de acesso a
resiliência.
A pesquisa Intemational Resilience Project (IRP) realizada em 14 comunidades nos cinco
continentes examinou padrões de coping e processos protetivos nas vidas de aproximadamente
1500 adolescentes expostos a situações de risco, avaliados conforme consultores da pesquisa
dos diferentes países, que apresentavam distintas realidades culturais. Dentre os ricos
encontram-se: pobreza, guerra, deslocamento social, desintegração cultural, genocídios,
violência, marginalização, abuso de álcool e drogas, quebra dos vínculos familiares, doenças
mentais nas crianças e/ou pais e gravidez precoce. Foram obtidos dados qualitativos junto a 89
jovens de 12 a 23 anos, do sexo masculino e feminino de diferentes regiões do mundo: Canadá,
África do Sul, Colômbia, Palestina, China, Israel, Estados Unidos, Gambia e Rússia. Estes
estavam expostos a no mínimo três situações de riscos significativos de acordo com sua cultura e
possibilitou a heterogeneidade dos contextos culturais nos quais os adolescentes buscavam os
recursos para sustentar seu próprio bem-estar.
A partir desta pesquisa (lRP), verificou-se sete temas em comum que apareceram nas narrativas
dos 89 adolescentes participantes: acesso a recursos materiais, experiências de justiça social,
acesso a relacionamentos interpessoais que oferecem apoio, identidade pessoal desejável,
senso de coesão, experiências de poder e controle pessoal, aderência cultural. Ao serem
resolvidos de diversas formas, estes auxiliavam o adolescente em seu caminho para um
desenvolvimento psicossocial "positivo", associado com bem-estar e resiliência, conforme
critérios de suas culturas e contextos. A resolução das tensões é um processo dinâmico e pode
encaminhar os adolescentes em direção a processos de resiliência, por caminhos convencionais
ou não convencionais, relacionados à resiliência oculta.
Foi levantado que não há evidências que uma forma de resolver as sete tensões é melhor do que
outra, o que indica que cada jovem encontra maneiras únicas de obter sucesso na superação das
tensões. Assim, não há critério objetivo para avaliar "resultados positivos", porque esta avaliação
pode ser influenciada por aspectos pessoais, e o sujeito é quem avalia se sua vida pode ser
entendida como sendo ou não "bem-sucedida", num determinado período.
59
Conclusão:
Ao elaborarem-se políticas publicas ou projetos de intervenção na fase da infância e
adolescência em situação de risco, deve-se atentar-se à estruturação dos serviços, sistemas de
atendimento, para que estes possam atender às necessidades e desejos que as crianças e
adolescentes obtêm nas condições consideradas adversas pelos profissionais, pois não é bem
sucedida uma intervenção que não considere o lugar ocupado pela situação de risco, como por
exemplo, situação de rua, trabalho infantil, e gangs na vida do sujeito.
As intervenções devem valorizar a aderência cultural, enfrentar os preconceitos e demais
injustiças sociais, favorecer a expressão de poder e controle pessoal, autodeterminação, oferecer
oportunidade de se estabelecer relacionamentos significativos e construir identidades
fortalecidas. Além disso, deve-se atentar à forma como os profissionais que atuam em projetos
sociais encaram comportamentos não convencionais, não aceitos socialmente, que são
apresentados pelos jovens e crianças com os quais trabalham.
Ungar sugere que se olhe com mais rigor e proximidade os significados que podem estar
invisíveis pelos usuários dos serviços disponíveis, como a resiliência oculta que também é uma
forma possível de se fortalecer pessoalmente e de alcançar o bem-estar.
4.12 BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A.; A resiliência em
trabalhadores da área da enfermagem. Estudos de Psicologia, Campinas, v.27 n.2, Abr/Jun
2010. Disponível em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-
00862010000100008&lang=pt
Resumo:
Foi realizada um pesquisa quantitativa com enfermeiros e auxiliares de enfermagem da rede
pública de saúde. Os instrumentos utilizados foram: uma ficha de dados sociodemográficos e o
Questionário do Coeficiente de Resiliência. O objetivo do estudo foi investigar o nível de
resiliência dos trabalhadores de enfermagem buscando conhecer suas fraquezas e fortalezas
diante das adversidades as quais estão submetidos.
Referencial teórico:
O termo resiliência aparece em contraposição aos termos invencibilidade e invulnerabilidade que
apresentam resistência absoluta frente ao estresse. Yunes (2001 apud BELANCIERI, M. F.;
BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010) ressalta que a resiliência é a
60
capacidade de superar adversidades, não significando que o individuo saia da crise ileso, como
sugerem os termos invencibilidade e invulnerabilidade.
De acordo com Ralha-Simões (2001 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;
GASPARELO, E. A., 2010) a resiliência pode ser entendida como a capacidade pessoal de
enfrentar adversidade, não no sentido se resistir, mas de ultrapassá-la e superá-la de forma
eficiente.
Conforme Trombeta e Guzzo (2002 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;
GASPARELO, E. A., 2010) a presença de fatores de risco não prediz psicopatologias, porém a
presença de fatores de proteção pode promover a resiliência.
Ressalta-se que desenvolver a resiliência não significa que a pessoa deva superar todas as
experiências traumáticas. O indivíduo pode ser resiliente em algumas situações e não em outras.
Acredita-se que o sujeito pode desenvolver a resiliência ao longo de sua vida, quando ele se
apropria de sua realidade, transformando-a e, ao mesmo tempo, transformando-se com ela.
Método:
Foi realizado um estudo quantitativo com pesquisadores da área de enfermagem, como
enfermeiros e auxiliares de enfermagem, da rede pública. Para isso, foi utilizada uma ficha de
dados sociodemográficos, que visava a coleta dos dados pessoais e profissionais, e o
Questionário do Coeficiente de Resiliência-RQ-Test, que visava a avaliar os níveis de resiliência.
Discussão:
A enfermagem é a categoria que tem mais contato com o ambiente de saúde e com os doentes.
É parte integrante e fundamental nas equipes de saúde e constitui-se o maior grupo de
trabalhadores na área. O ambiente de trabalho da enfermagem é constituído por vários
elementos estressores, o que pode acabar comprometendo a saúde e a qualidade de vida dos
trabalhadores.
Dentre os 430 trabalhadores da área de enfermagem da rede pública de saúde, 53,2%
responderam à coleta de dados, sendo destes, 90,4% mulheres e 9,6% homens.
A maioria dos trabalhadores trabalha 40 horas semanais (76%) e alguns (13,5%) trabalham mais
de 70 horas semanais, o que é bastante preocupante.
61
25,8% dos participantes mantêm dois ou mais empregos visando complementar a renda familiar.
Conforme Belancieri (2003 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;
GASPARELO, E. A., 2010) esses fatos podem comprometer a saúde e, consequentemente, a
qualidade de vida do trabalhador da área de enfermagem.
A maioria dos participantes tem entre 31 e 50 anos, é casada, com casa própria, possui filhos, é
católica e possui um nível médio/técnico de escolaridade. A maioria é auxiliar de enfermagem,
trabalha na área há mais de 17 anos e apresenta um salário entre R$ 600,00 e R$ 1500,00.
Os níveis de resiliência aparecem constituídos de sete fatores: regulação das emoções, controle
dos impulsos, otimismo, análise causal, empatia, autoeficácia e exposição, em seus aspectos
positivos e negativos.
Observou-se que a maioria dos participantes encontra-se abaixo da média (56,8%) em relação ao
fator regulação das emoções, porém no fator controle dos impulsos a maioria dos participantes
está acima da média (83%). Já no fatores otimismo (79,5%), análise causal (77,8%), empatia
(66,8%), autoeficácia (47,2%) e exposição (51,5%), a maioria encontra-se na média.
De acordo com Reivich e Shatté (2001 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.;
GASPARELO, E. A., 2010) pessoas que não tem habilidade para regular suas emoções têm mais
dificuldades para construir e manter relacionamentos. Para ser resiliente o sujeito precisa
expressar suas emoções de forma adequada, sejam elas positivas ou negativas.
Notou-se que os trabalhadores da área de enfermagem estão submetidos a condições
estressantes em seus ambientes de trabalho. Estas, aliadas à dificuldade na regulação das
emoções e do excessivo controle dos impulsos podem propiciar uma redução na capacidade de
resiliencia.
Demonstrou-se que os sujeitos resilientes são otimistas e acreditam que as coisas podem
melhorar. Assim, o otimismo e a autoeficácia geralmente caminham juntos.
O fator análise causal refere-se à flexibilidade cognitiva das pessoas para identificar as causas de
seus problemas. É a capacidade de ser realista e não culpar as outras pessoas por seus erros,
visando preservar sua autoestima.
O fator empatia refere-se à capacidade da pessoa de ler os indícios de estados emocionais de
outras pessoas através da interpretação da linguagem não verbal. As pessoas que não
desenvolveram esta habilidade não são capazes de se colocar no lugar dos outros. Esta
capacidade é importante nas funções de gerenciamento, nas quais é necessário identificar
62
técnicas para motivação dos colaboradores, bem como a valorização do outro. O estudo revelou
que a capacidade de empatia dos participantes encontra-se na média, o que mostra que eles
possuem a habilidade de se colocar no lugar no outro.
O fator exposição refere-se à capacidade de expor-se, explorando os seus limites, na busca de
atenção e feedback de outras pessoas. Nesta pesquisa os sujeitos encontram-se dentro da
média em relação a esse fator.
Ressalta-se que os resultados encontrados nesse estudo foram bastante semelhantes aos
resultados encontrados em outros estudos anteriores.
Sugere-se que para melhorar a capacidade de resiliência nos trabalhadores da área de
enfermagem se possa promover uma reflexão do processo saúde-doença desde sua formação,
expandindo-se para especialização e aprimoramentos, desenvolvendo suas habilidades internas
necessárias para o fortalecimento da resiliência. (BELANCERIE, CAPPO BIANCO 2004 apud
BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010).
Defendem-se mudanças nas características internas e externas visando desenvolver novas
estratégias de enfrentamento de situações estressantes através da promoção da resiliência no
contexto da saúde.
Conclusão:
A partir deste estudo pôde-se observar que a maioria dos trabalhadores da área de enfermagem
é constituída de mulheres, 90,4%. A maioria dos participantes da pesquisa apresentou uma
discrepância entre os fatores regulações de emoções e controle de impulsos. Regulações de
emoções encontrou-se abaixo da média (56,8%) enquanto que controle de impulsos ficou acima
da média (83%). Isso pode acabar resultando em um elevado consumo de energia, prejudicando
as atividades laborais dos trabalhadores.
Os fatores otimismo (79,5%), análise causal (77,8%), empatia (66,8%), autoeficácia (47,2%) e
exposição (51,5%), ficaram na sua maioria, acima da média.
Tais resultados podem estar associados ao perfil sociodemográfico dos participantes,
especialmente nos quesitos carga horária e salário. Sendo assim, percebe-se como urgente a
aprovação do Projeto de Lei 2.295/2000, a fim de aprovar e regulamentar a jornada de 30 horas
semanais de trabalho na área da enfermagem.
63
Destacou-se também a resistência dos trabalhadores da área de enfermagem em responder aos
instrumentos de pesquisa. Apesar da rotina intensa de trabalho e da grande demanda de
pacientes, entende-se que há uma falta de envolvimento coletivo para a construção de uma
categoria profissional mais forte. Assim, discutir o caráter social e político da prática dos
trabalhadores de enfermagem e refletir sobre a importância de sua participação nos rumos da
profissão, pode minimizar o estado de alienação observado.
Essas medidas podem proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores da
área de enfermagem além de promover uma melhoria na assistência à saúde dos usuários da
Rede Municipal de Saúde.
4.13 MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S.; Psicoterapia de criança com alopecia areata
universal: desenvolvendo a resiliência. Paidéia, Ribeirão Preto, v. 20, n. 46, May/Ago 2010.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2010000200013&lang=pt
Resumo:
Este artigo apresenta um estudo de caso de uma criança portadora de alopecia areata universal,
vitiligo e transtorno de ansiedade generalizada. A paciente foi atendida durante cinco anos em
uma clínica-escola de psicologia. A psicoterapia tinha como objetivo diminuir os sintomas e
promover o desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento da doença crônica. Durante o
processo, a paciente demonstrou adaptar-se positivamente à doença, diminuir os sintomas de
ansiedade e o desenvolver comportamentos resilientes que indicaram a alta terapêutica.
Referencial teórico:
A psicoterapia de orientação psicanalítica sustenta-se no pressuposto de que os conflitos
internos inconscientes estão diretamente relacionados aos sintomas (SOURS, 1996 apud
MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S, 2010). Assim, um distúrbio psicológico é entendido
como um obstáculo ao desenvolvimento emocional do indivíduo, que pode se caracterizar como
imaturidade da capacidade de relacionar-se com as pessoas e com o ambiente. A psicoterapia
objetiva visa desfazer esse obstáculo permitindo que o desenvolvimento "tenha lugar onde
anteriormente não era possível" (WINNICOTT, 1986/1996, apud MENEZES, M.; LÓPEZ, M.;
DELVAN, J. S, 2010).
A psicoterapia lúdica e a orientação sistemática aos pais são as formas mais utilizadas para
atingir a superação de conflitos das crianças. O terapeuta, ao favorecer o surgimento de
64
comportamentos mais adaptados na criança através da psicoterapia e da orientação aos pais,
está auxiliando o desenvolvimento de comportamentos resilientes na criança.
O desmame, a retirada de fraldas são exemplos de tarefas evolutivas da infância e são desafios
que requerem que a criança desenvolva mecanismos de adaptação. A doença crônica infantil
pode levar certas crianças a enfrentas maiores dificuldades e podem estar associadas ao
desenvolvimento ou surgimento de psicopatologias (CASTRO, JIMÉNEZ, M. 2002 apud
MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S, 2010).
Conforme Bianchini e DellAglio (2006 apud MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J. S, 2010) a
relação entre a resiliência e a situação de doença é entendida como a capacidade do indivíduo
lidar com a doença e suas limitações, colaborando e aderindo ao tratamento e assim, readaptar-
se e sobreviver de forma positiva.
Método:
Foi realizado um estudo de caso do processo psicoterapêutico de uma criança do sexo feminino,
com diagnóstico de alopecia areata universal, vitiligo e transtorno de ansiedade generalizada.
O atendimento começou em 2002, quando a paciente tinha cinco anos e terminou em 2007. O
material clínico analisado foi constituído a partir da sistematização dos registros do atendimento.
Discussão:
O objetivo do estudo é relatar e discutir a experiência clínica e o desenvolvimento de
comportamentos resilientes da paciente portadora de doenças crônicas como alopecia areata
universal e vitiligo, durante os cinco anos em que esteve em psicoterapia em uma Clínica-Escola
de Psicologia.
A paciente, filha única, apresentou a primeira queda de cabelos aos oito meses de idade.
Durante este período seus pais vivenciaram uma crise conjugal e separaram-se
temporariamente. Neste período a mãe apresentou sintomas depressivos.
De acordo com Sacristán, Oyola e Andaluz (2000 apud MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN, J.
S, 2010), a presença de separações, maus tratos e transtornos mentais nos genitores está
associada a uma maior probabilidade de a criança apresentar dificuldades psicológicas na
infância e adolescência.
65
Logo depois o casal voltou a conviver e mudu-se de cidade. A criança passou a apresentar
repilamento parcial, que alternava com a queda de cabelos, estes episódios passaram a ser um
constante na vida da paciente.
Além disso, a paciente também apresentava manchas pelo corpo, vitiligo, localizadas no rosto,
braços e abdômen.
Durante as entrevistas de avaliação identificou-se que os pais demonstravam culpa e
superproteção devido a dificuldade de lidar com a doença da filha.
Identificou-se também que a despigmentação da pele se acentuava em períodos de ansiedade e
estresse elevado, como apresentações e festas escolares.
Foi diagnosticado que a paciente possuía um transtorno de ansiedade generalizada e por conta
disso ela passou a toma Fluoxetina.
Durante o primeiro ano de psicoterapia a paciente usava chapéus ou toucas que a protegiam dos
olhares provocados pela ausência de cabelos.
Neste primeiro ano, foram realizadas intervenções que visavam estimular o fortalecimento da
auto-estima na criança e nos pais, bem como a aceitação da aparência física para desenvolver
os comportamentos mais adaptativos diante dos aspectos físicos e sociais relacionados a
doença. Os temas abordados no encontros de orientação aos pais eram desenvolvimento da
autonomia da criança e o enfrentamento da doença crônica e da ansiedade.
Durante o segundo ano o novo terapeuta introduziu o tema presença e ausência da cabelos
através de livros, recortes e outros. A paciente demonstrava-se irritada quando o tema cabelos
surgia nas sessões e passou a raiva e esperança de que seus cabelos crescessem. Estes
sentimentos, simbolizados, indicaram uma maior capacidade de representação do conflito.
No terceiro ano, a paciente aceitou a transição do terapeuta com mais tranquilidade e
demonstrou aceitar as atividades que incluíam desenhos sobre seus sentimentos e o uso de
figuras para compor histórias propostas pelo terapeuta. Em uma das sessões a paciente disse
estar pronta para conversar sobre cabelos e sobre o impacto da ausência dos mesmos em sua
vida. Durante este ano observou-se uma diminuição dos comportamentos de superproteção por
parte dos pais, e uma maior aceitação da condição da filha.
No quarto ano de psicoterapia a paciente começou a expressar seus pensamentos e sentimentos
em relação a possibilidade de usar perucas ao invés de toucas ou chapéus. A paciente indicou
66
apresentar menos comportamentos ansiosos e maior flexibilidade para mudanças. Em função da
remissão dos sintomas de ansiedade, a medicação foi suspensa por ordem médica.
Durante o quinto ano, tanto a paciente como seus pais apresentaram comportamentos mais
adaptativos em relação à doença. A paciente demonstrou mais autonomia e relatou sentir-se
melhor em relação à não ter cabelos e à vergonha de ser diferente. Durante o processo de
psicoterapia, a paciente demonstrou ter capacidade para lidar com tais adversidades, o que
sugere o desenvolvimentos de características resilientes. Acredita-se que durante a psicoterapia
estas características puderam emergir.
A paciente demonstrou ter se beneficiado do processo psicoterapêutico, paesar das contentes
trocas de terapeutas. As habilidades para enfrentar doenças crônicas, o reconhecimento de suas
limitações, a adesão ao tratamento e o suporte social e familiar, ou seja, características
resilientes, puderam ser estimuladas e desenvolvidas rpomovendo a adaptação da paciente de
forma positiva.
Observou-se que os fatores de proteção da paciente foram ampliados através da psicoterapia e
da orientação dos pais.
Assim, após estes cinco anos de tratamento psicoterapêutico, o atendimento foi encerrado. Nota-
se que durante este processo a paciente desenvolveu comportamentos resilientes que
potencialmente estavam nela e que foram incrementados através da psicoterapia.
Conclusão:
Crianças resilientes são aquelas que passaram por sérios traumas e que apresentam uma
diminuição ou até ausência do diagnóstico psicopatológico. A criança resiliente é aquela que
apresenta maturidade diante da situação conflitante e consegue se adaptar em sua vida
cotidiana.
Sugere-se que o psicólogo clinico infantil, através da psicoterapia, reafirme para a criança e
importância da sua autoestima, o respeito por seu próprio corpo, reforce o diálogo e a tolerância
da família, possibilitando o desenvolvimento de aspectos positivos de adaptação e a prevenção
de psicopatologias.
4.14 NORTE, C. E.; SOUZA, G. G. L.; PEDROZO, A. L.; SOUZA, A. C. F. M.; FIGUEIRA, I.;
VOLCHAN, E.; VENTURA, P. R.; Impacto da terapia cognitivo-comportamentas nos fatores
neurobiológicos relacionados à resiliência; Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 38, n. 1,
67
2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
60832011000100009&lang=pt
Resumo:
Realizou-se um estudo de caso com um homem de 45 anos que sofreu dois assaltos com arma
de fogo. Este tentou um tratamento farmacológico com proxetina, porém, não respondeu
adequadamente ao tratamento. Sendo assim, o paciente foi encaminhado para um tratamento de
psicoterapia cognitivo-comportamental que promoveu um redução dos sintomas de transtorno de
estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, afeto negativo, apoio social e promoção da
resiliência.
Referencial teórico:
Existem muitos estudos sobre os estados psicológicos negativos, porém, pouca atenção tem sido
dada aos estados positivos. A psicologia positiva é um campo crescente de pesquisa sobre
aspectos positivos e bem-estar. A psicologia positiva e a resiliência tem sido negligenciadas
como foco de tratamento no campo terapêutico apesar da vasta literatura sobre o assunto.
O estudo dos fatores psicofisiológicos tem sido fundamental para entender uma adaptação bem-
sucedida ao estresse. Estudos recentes dos autores trouxeram evidências de que a recuperação
cardíaca de um estresse psicossocial agudo depende de predisposições individuais como o tônus
vagal cardíaco e o traço de resiliência. A literatura indica que o hormônio de-
hidroepiandrosterona (DHEA) pode ser um possível fator de resiliência e de proteção ao estresse.
Alguns estudos mostram que a mudança no comportamento é considerado um tratamento
psicológico efetivo para o transtorno de estresse pós-traumático.
Método:
O estudo foi realizado com um homem de 45 anos, que sofreu duas vezes assaltos com armas
de fogo no banco, onde trabalhava como tesoureiro.
Na avaliação clinica ele foi diagnosticado com transtorno de estresse pós traumático, depressão
maior, transtorno de pânico e transtorno obsessivo compulsivo. O paciente recebeu tratamento
com paroxetina durante 32 meses e apresentou remissão total dos sintomas de transtorno de
pânico e transtorno obsessivo-compulsivo e remissão parcial dos sintomas de estresse pós-
traumático e depressão maior. Os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático
caracterizam-se por: pesadelos recorrentes, flashbacks, pensamentos intrusivos relacionados ao
68
trauma, entre outros. Estes sintomas se mantiveram e o paciente foi encaminhado para a terapia
cognitivo comportamental.
Durante todo o tratamento com a terapia cognitivo-comportmental, o paciente manteve a
medicação, paroxetina (40 mg/dia). O tratamento psicológico foi conduzido a partir da
psicoeducação, relaxamento e treino de respiração, exposição imaginária, exposição gradual in
vivo, reestruturação cognitiva e prevenção de recaída. O estudo foi conduzido em uma clínica
ambulatorial, em um contexto de constante exposição a eventos traumáticos, especialmente
assalto à mão armada.
Para avaliação clínica foram utilizados os seguintes instrumentos: PTSD Checklist-Civilian (PCL-
C), Inventário Beck de Depressão (BDI), Inventário Beck de Ansiedade (BAI), Escala de Afeto
Positivo e Negativo – Versão Traço (PANAS-T), Escala Ego-Resiliency e Escala de Apoio Social
do Medical Outcomes Study.
Discussão:
O objetivo deste estudo foi levantar evidências com relação aos fatores relacionados à resiliência
no parâmetros psicométricos e biológicos como medida de eficácia em ensaios clínicos.
Este estudo de caso demonstra o impacto da terapia cognitivo comportamental nas variáveis
autonômicas e neuroendócrinas, bem como nas escalas relacionadas à resiliência, sintomas e
predisposições afetivas.
A terapia cognitivo-comportamental promoveu uma redução nos parâmetros psicométricos
desfavoráveis como os sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e
ansiedade e dos escores de afeto negativo. Paralelamente houve uma redução nos níveis
fisiológicos basais da frequência cardíaca, frequência respiratória, condutância da pele e cortisol
salivar.
Ressalta-se que a terapia aumentou os escores de apoio social e resiliência, níveis basais do
tônus vagal cardíaco e o hormônio de-hidroepiandrosterona, fatores relacionados à resiliência de
uma forma geral. Levando em consideração que o tratamento com terapia cognitivo-
comportamental foi iniciado após 32 meses de tratamento farmacológico com paroxetina (que
não obteve os resultados esperados) os efeitos observados neste estudo sugerem fortemente
que a melhora do paciente tenha sido causada pela TCC.
Tais resultados destacam a importância da terapia cognitivo-comportamental, ajudando o
paciente a atenuar os aspectos negativos do transtorno, e ainda, auxiliando na construção de
69
algumas características como resiliência, apoio social e uma fisiologia saudável. O aumento dos
recursos positivos pode também auxiliar a neutralizar os sintomas negativos e a prevenir futuras
recaídas.
Este estudo de caso mostra que a resiliência deve ser considerada como mais um fator
importante para medir a eficácia em ensaios clínicos. A eficácia terapêutica é comumente focada
em um único domínio de desfecho, priorizando a redução de sintomas psicopatológicos e acaba
negligenciando a avaliação de outros fatores importantes como qualidade de vida e resiliência. A
avaliação de diversos fatores é essencial, considerando que isso captura a complexidade e a
riqueza do sofrimento associado ao transtorno de estresse pós traumático, estendendo a
avaliação de acordo com a dimensão dos sinais e sintomas.
Conclusão:
Como principal diferencial desse estudo destaca-se a avaliação simultânea dos parâmetros
psicométricos, psicofisiológicos e comportamentais relacionados ao sofrimento e bem-estar em
um contexto de intervenção psicoterapêutica.
4.15 RIBEIRO, P. M.; GUALDA, D. M. R.; Gestação na adolescência: a construção do processo
Saude-Resiliência; Revista Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, abr/jun 2011.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
81452011000200020&lang=pt
Resumo:
O estudo tem como objetivo compreender a vivencia das adolescentes durante a gestação e o
processo de nascimento de seu filho. Para isso foi feita uma pesquisa qualitativa através de
entrevistas semi-estruturadas com adolescentes no processo de gestação. As entrevistas foram
transcritas e criadas em forma de narrativas, o que propiciou a organização de categorias.
Verificou-se o desenvolvimento da resiliência nas adolescentes durante o processo de gravidez e
superação das adversidades.
Referencial teórico:
Hoje, os estudos mais recentes sobre gestação na adolescência apontam uma mudança de
interpretação dessa situação. A gravidez e a maternidade rompem com a trajetória de vida que as
famílias esperam para suas filhas, ou seja, que estas obtenham uma formação escolar, consigam
um trabalho, atinjam a independência financeira, para depois, constituir uma família.
70
A gravidez na adolescência está frequentemente associada a um contexto de desvantagem
sócia. Esta ocorrência acontece em um âmbito de restritas oportunidades e poucas opções de
vida e interrupções na trajetória escolar.
No intuito de buscar uma forma humanizada do cuidar no processo da gestação na adolescência,
utilizou-se a Antropologia Médica, que fundamenta a abordagem compreensiva e o acesso às
vivências, aos significados e às experiências vividas pelas adolescentes.
Neste estudo, utilizou-se um enfoque anglo-saxônico ou psicobiológico da resiliência que dá
importância à interação pessoa-ambiente e às diferentes formas nas quais os indivíduos
respondem ante as ameaças e aos desafios do meio.
Método:
O estudo realizou uma pesquisa qualitativa ancorada na Antropologia Médica. Os participantes
da pesquisa eram adolescentes entre 10 e 19 anos que estavam em idade gestacional de 4 a 20
semanas e que haviam iniciado o acompanhamento pré-natal. O estudo foi realizado em um
município do sul de Minas Gerais.
Foram realizadas vária entrevistas semi-estruturadas com cada colaboradora, pretendendo-se
acompanhar todo o processo gestacional, parto, puerpério e a nova vida da mãe adolescente.
Discussão:
O objetivo desse estudo é compreender a vivencia das adolescentes durante a gestação e o
processo de nascimento de seu filho.
O processo de análise de dados começou através da transcrição das entrevistas que levou a
construção de narrativas e identificação dos tons vitais. Essas narrativas, criadas a partir das
entrevistas foram categorizadas em um processo de sistematização de dados.
Foram selecionadas sete categorias principais e suas subcategorias:
1) Identidade e Situação Familiar: refere-se à identificação da adolescente no contexto
familiar. Esse estudo mostrou que o grupo de colaboradoras fazia parte de famílias com a
presença de pai, mãe e irmãos.
2) Planejamento da gravidez: subdividiu-se entre as colaboradoras que desejavam a
gravidez e as que não desejavam e acabaram engravidando.
71
3) Descobrir-se Grávida: subdividia-se em constatação da gestação e comunicação da
gravidez aos familiares.
4) Suporte social durando o processo: esta categoria subdividia-se em: reconciliação após
quebra de relacionamento com a família; apoio dos pais e familiares; apoio e participação
do companheiro; e apoio material e financairo.
5) Mudança de comportamento
6) Vivência do papel materno
7) Perspectivas para o futuro: subdividido em planos em relação à criação dos filhos e
planos pessoais.
Este estudo mostrou que a trajetória da gestação na adolescência levou à construção da
resiliência. As adolescentes vivenciaram situações adversas, como expulsão da casa paterna,
brigas, desentendimentos familiares, mas foram capazes de desenvolver atributos pessoais, a
partir de uma figura de confiança, alguém de seu entorno que elas acreditavam amar-lhes
incondicionalmente, como sogras, mães ou companheiros.
As adolescentes relataram que a responsabilidade pela gestação e pela criação da nova família
foi um evento muito positivo em suas vidas. Elas desenvolveram esses atributos pessoais
durante a experiência da gestação e após o parto, pois as situações de adversidade não são
estáticas, estas mudam e requerem mudanças nos comportamentos resilientes. Este fato se
evidenciou durante toda a gestação por este ser um processo que muda constantemente e
portanto, exige mudanças no comportamento resiliente.
A gestação acaba exigindo da adolescente uma superação de conflitos, medos e
insegurança, mas, ao mesmo tempo, propicia a preparação e o aprendizado das
adolescentes na construção do seu projeto de vida. Entende-se que a "superação" é
também um processo, pois permite que a adolescente se saia fortalecida, transformada e
vencedora de situações adversas.
A leitura dos dados acabou resultando na elaboração de três temas:
a) Suporte Social: percebeu-se que a partir do apoio recebido, as adolescentes conseguem
desenvolver habilidades resilientes e vivenciam a gestação com capacidade para criar
expectativas em relação aos filhos e ao futuro. Este estudo mostrou uma maior aceitação
por parte dos pais das adolescentes durante a gravidez e após o nascimento dos bebês,
o que demonstra a mudança de comportamento dos pais diante da gestação na
adolescência. Sendo assim, nota-se que o suporte social é extremamente importante
para a adolescente, visto que nenhuma das colaboradoras ficou desamparada durante
72
todo o desenvolvimento da gestação, parto, puerpério e na nova vida com sua família
nuclear.
b) Mudança: essa mudança que ocorre na vida das adolescentes é revelada como um
acontecimento positivo, que traz felicidade e satisfação apesar das adversidades. Essa
mudança vivida faz com que a adolescente tenha mais autonomia quando o processo é
vivenciado de forma resiliente, propiciando uma maior independência, responsabilidade,
sugurança e uma confiança no futuro.
c) Mesmo sendo adolescente, sou mãe e gosto de ser assim: o ser mãe-adolescente é
valorizado pelo grupo e é verbalizado de forma positiva. As colaboradoras se revelaram
cuidadoras responsáveis e se sentem felizes como tal. Elas relatam que a gestação
possibilitou o amadurecimento e o domínio da situação por parte da adolescente.
A gestação não foi verbalizada como um acontecimento negativo que impossibilitasse ou
prejudicasse a trajetória de vida das adolescentes. A gravidez acabou propiciando mudanças de
comportamento, amadurecimento, mudanças familiares e desenvolvimento dos fatores resilientes
que propiciaram a construção da resiliência. Essas adolescentes gestantes vivenciaram o
desenvolvimento do processo gestacional, elaboraram os fatores da resiliência, foram capazes de
superar as adversidades e se tornaram mães adolescentes conscientes do seu papel e
responsáveis.
Conclusão:
O apoio dos pais e o ajuste da família à situação de gestação das adolescentes foi extremamente
importante na construção da resiliência por parte das adolescentes estudadas.
A gestação foi entendida pelas adolescentes como um acontecimento positivo que acabou
propiciando o amadurecimento e autonomia das mesmas.
V. ANÁLISE DE DADOS
De um total de 16 artigos analisados, 43,75% foram publicados no ano de 2009; 37,5%
foram publicados no ano de 2010 e 18,75% publicados em 2011.
Quanto ao local de publicação de artigos, 56,25% foram publicados no Estado de São
Paulo: destes, 44,4% foram publicados em Campinas, 44,4% na cidade de São Paulo e 11,1% em
Ribeirão Preto; 18,75% do total de artigos foram publicados no Rio de Janeiro, 12,5% no Rio
Grande do Sul e 12,5% foram publicados em Portugal (Lisboa).
Em relação ao tipo de pesquisa utilizada nos artigos, 37.5% foram empírico qualitativo,
31,25% foram empírico quantitativo, 6,25% foram quantitativos e qualitativos e 25% foram teóricas.
73
Quanto aos sujeitos de pesquisa, 25% artigos utilizaram adolescentes, 25% utilizaram
documentos, 12,5% utilizaram moradores de rua, 12,5% utilizaram idosos, 6,25% utilizaram
trabalhadores da área de enfermagem, 6,25% utilizaram uma família que vive em condições de
adversidade, 6,25% utilizaram um homem que passou por situações traumáticas e 6,25%
utilizaram uma criança com alopecia areata universal.
A partir dos temas encontrados nos artigos organizou-se algumas categorias que serão
analisadas ao longo deste trabalho.
5.1 Moradores de rua e Resiliência
Conforme os autores PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA (2004), os fatores de risco,
tanto crônicos como agudos podem afetar a capacidade de resiliência. Como exemplo, pode-se
citar: condições de pobreza, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências
de doença na própria criança ou adolescente, doença na família e perdas importantes. Sendo
assim, a situação de rua é considerada um evento de risco que pode afetar a capacidade de
resiliência, aumentando a vulnerabilidade dos sujeitos que se encontram em tais condições.
Foram encontrados dois artigos que discutem a situação do morador de rua, ambos os
artigos foram escritos pelos autores ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, um
no ano de 2009 e outro em 2011. Observou-se nos artigos que os sujeitos em situação de rua
eram ignorados pela maioria dos cidadãos. Esses seres humanos vivem situações existenciais
extremas, morando nas ruas, em barracos ou albergues.
ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D (2011) afirmam que os
moradores de rua consideravam a sua situação de morar na rua como uma situação difícil de sair.
As relações desenvolvidas, o uso de drogas, o abandono e a exclusão os empurrava cada vez
mais para as sarjetas. Assim, os autores observaram que vários moradores de rua acabaram
mergulhando na indiferença, drogas, depressão e mendicância, criando padrões de conduta que
lhes permitiam sobreviver no ambiente destrutivo ao qual estão expostos.
ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D (2009) identificaram que em
alguns moradores de rua observados havia a presença de certa unidade psíquica que acabou lhes
permitindo sobreviver nas prisões e nas ruas. Esta seria um falso self, aspecto que se sobrepõe e
oculta o verdadeiro self e que acaba sendo muito bem sucedido. Porém, o sucesso desse falso self
não foi suficiente para permitir a extinção da insatisfação e da procura de si mesmos. As
potencialidades deles estavam a espera de um “outro significativo" que pudesse acompanhá-los no
processo de autorrealização.
Flach (1991) atribui-se o uso do termo resiliência em 1966, visando descrever as forças
psicológicas e biológicas exigidas para atravessar com sucesso as mudanças na vida. (PINHEIRO,
2004). Sendo assim, pode-se destacar a criação do falso self como uma força psicológica para
74
poder lidar com as condições adversas. Contudo, esta por si só não pode configurar essa reação
como sendo uma forma de resiliência uma vez que os moradores de rua observados não se
sentiam satisfeitos com este falso self, viviam buscando sua verdadeira identidade e não viam
sentido em suas vidas.
Assis, Pesce e Avanci (2006), afirmam que a resiliência pode ser entendida como uma
capacidade de metamorfosear as adversidades da vida. É uma capacidade existe desde que o
homem é homem e precisa superar ou transformar as adversidades com as quais se depara.
(ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).
A Resiliência é um processo que fortalece e capacita o individuo para lidar com as
adversidades de uma forma positiva. É um processo interativo entre a pessoa e o seu meio, não
nasce com o sujeito e tampouco é uma aquisição exclusivamente de fora para dentro. (ASSIS,
PESCE, AVANCI, 2006). Pode-se dizer que os moradores de rua estudados, em ambos os artigos,
acabaram lidando com a adversidade e conseguindo sobreviver a esta, escondendo-se atrás de
um falso self. Porém, os sujeitos poderiam lidar com as adversidades de forma positiva,
transformando-se e fortalecendo-se.
Com esse objetivo buscou-se promover um “encontro transformador” entre os moradores
de rua observados e uma professora que pudesse se tornar um ponto de apoio positivo em suas
vidas. Esta professora saindo do seu circuito de relacionamento, indo ao encontro do morador de
rua e aceitando-o tal qual ele se apresentava, fez com que este se sentisse incondicionalmente
aceito, dessa forma o morador de rua pôde confiar nela, abrindo-se para a transformação.
(ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009)
Os pesquisadores relatam que fornecia-se folhas, lápis coloridos, revistas e gravuras para
serem utilizados pelos moradores de rua em seus processos criativos. Estes foram de grande
importância para o processo de transformação destes moradores de rua. Nos casos analisados,
observou-se que o processo criativo fez parte do processo de transformação. O processo criativo
propiciou a expressão de emoções, traumas, sonhos e desejos que propiciaram o processo de
transformação (ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009).
A experiência relatada no artigo de ALVAREZ, A.M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C.
S.A.D, 2009 confirma o que diz o autor Cyrulnik, que destaca a resiliência como um processo de
superação que se dá no encontro com o outro, resultante de uma interação de fatores pessoais,
ambientais, institucionais e sociais. Ele destaca que a partir deste encontro, o sujeito pode elaborar
novos caminhos e refazer-se do trauma vivido, ressignificando o trauma vivido em direção à
retomada do desenvolvimento (SEQUEIRA, 2009).
Foi justamente o que aconteceu com os moradores de rua observados por ALVAREZ, A.M.
S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D, 2009, estes puderam resgatar sua historia de vida e
passar para uma busca de sentido na vida. Observou-se que através da confiança no ambiente foi
possível que os sujeitos flexibilizassem o seu falso-self para então resgatar e constituir o seu
75
verdadeiro self. Através desta experiência pode-se entender que estes sujeitos conseguiram
ressignificar as condições vividas e encontrar novos significados para suas vidas, o que mostra-se
coerente com a teoria de Cyrulnok apresentada anteriormente.
No outro artigo encontrado (ALVAREZ, A. M. S.; ALVARENGA, A.T.; RINA, S. C. S.A.D,
2011) o “encontro transformador” se deu sem cobranças propiciando com que o morador de rua
conseguisse iniciar um processo de flexibilização, desconstruindo suas defesas, foi assim que suas
psiques permitiram rever os seus conteúdos congelados e, “através da percepção do amor vindo
por parte da professora”, se proporcionou a constituição de aspectos fundamentais do self e das
potencialidades. Assim, diante deste encontro os sujeitos constituíram potencialidades, aspectos
fundamentais do self, que até então estavam sem realização. Esses novos conteúdos internos
foram considerados pontos de apoio que os alavancaram na resistência à criminalidade, e lhes
indicaram um sentido de vida, um rumo que dissesse não à violência, a morte ou a cisão psíquica,
o que lhes favoreceu a resiliência.
De acordo com CYRULNIK (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006), o meio em que a
criança está inserida e a bolha afetiva que a envolve no dia-a-dia são os principais fatores que
podem fazer com que a criança teça a resiliência, ou seja destruída pela adversidade. Acredita-se
que o mesmo processo pode ser aplicada para os moradores de rua.
Assim, percebe-se a necessidade de medidas de apoio mais amplas à população que vive
em situação de rua, promovendo uma inclusão social que possa transformar a condição vivida por
esta, propiciando recursos para o enfrentamento da situação adversa, bem como colaborando para
o desenvolvimento da capacidade de resiliência dessa população, para que esta possa enxergar
um rumo e um sentido na vida, o que pode ser considerado um primeiro passo para a promoção de
mudança dessa condição.
5.2 Resiliência e o Idoso
Dentre os artigos estudados, dois utilizaram idosos como sujeitos de pesquisa e ambos
fizeram estudos quantitativos. No primeiro artigo, FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.;
ARGIMON, I. I. L., 2009 houve a aplicação da Escala de Resiliência e utilizaram os escores dos
instrumentos Percepção Subjetiva de Queixa de Memória e Miniexame do Estado Mental. No
segundo artigo, de RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.;
ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 aplicou-se um questionário
sociodemográfico e Medida de bem-estar subjetivo.
Ambos os estudos visavam o estudo da resiliência do idoso e sua relação com as variáveis
sócio-demográficas como gênero, idade, renda e escolaridade. Os dois estudos ressaltaram a
importância e a necessidade de redes sociais e apoio para a qualidade de vida do idoso. Verificou-
76
se que uma rede de apoio provoca um efeito significativo na vida dos idosos tendo uma grande
influencia na qualidade de vida deles.
Conforme Kotliarenco et al. (1997, apud JUNQUEIRA e DESLANDES) a resiliência é
propiciada de uma a interação entre atributos pessoais, os apoios do sistema familiar e aqueles
provenientes da comunidade. Sendo assim, os artigos estudados conseguiram abordar estas três
esferas, buscando uma maior abrangência e entendimento da resiliência e da qualidade de vida
dos idosos.
Os autores FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.; ARGIMON, I. I. L., 2009 destacam
que a maior parte dos idosos pesquisados eram do sexo feminino, o que pode indicar que as
mulheres acabam vivendo mais do que os homens. Além disso eles obsevaram que a
hospitalização era um fator frequente na vida dos idosos estudados, a maioria possuía duas ou
três hospitalizações prévias no último ano. Porém, a média obtida para a Escala de Resiliência foi
de 84,9, uma média alta, que indica que os idosos pesquisados conseguiram enfrentar as
adversidades que surgiram em suas vidas.
FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.; ARGIMON, I. I. L., 2009 verificaram que a alta
capacidade de resiliência não apareceu relacionada à renda mensal econômica, essa
característica apareceu independentemente da classe econômica do pesquisado. Destacou-se
também que quanto mais queixas relacionadas à problemas de memória, menor os índices obtidos
na escala de resiliência, verificou-se uma associação significativa e inversa. Observou-se também
uma correlação significativa entre Escala de Resiliência e Miniexame do Estado Mental, ou seja,
quanto maior o desempenho cognitivo, maior a capacidade resiliência.
Tais resultados indicam que a saúde e o desempenho cognitivo estão relacionados a
capacidade de resiliência, quando mais saudável for idoso e quanto maior for o seu desempenho
cognitivo maior a probabilidade de ele apresentar altos índices na escala de resiliência. Identificou-
se assim, que problemas de memória e dificuldades no desempenho cognitivo estão diretamente
relacionados à baixa capacidade de lidar com adversidades.
RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.;
SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 fizeram um estudo com participantes de um grupo de teatro.
Eles identificaram uma correlação entre a idade e a resiliência e ideias de independência e
determinação, ou seja, quando maior a idade maior o grau de resiliência. É interessante ressaltar
que esta ralação não foi observada por FORTES, T. F. R; PORTUGUES, W. M.; ARGIMON, I. I. L.,
2009 que verificaram em seu estudo que a resiliência não estava relacionada com a idade dos
participantes.
77
Além disso, RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.;
ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 identificaram que quanto maior o tempo de
participação dos idosos no grupo de teatro, maior a vitalidade. Acredita-se que esta correlação é
verdadeira devido ao fato de que os idosos que participam há mais tempo do grupo sentem-se
parte dele, ou seja, sentem-se pertencentes ao grupo e acabam possuindo uma relação mais
sólida com os demais. Essa relação é entendida como um suporte social e, como os autores do
artigo verificaram, quando maior a percepção de suporte social, maior o numero de afetos positivos
experimentados.
RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.; ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.;
SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010 ainda constataram que quanto maior o escore de afetos
positivos, maior o escore de satisfação com a vida e quanto maior o escore de afetos negativos
vivenciados, maior foi resultado do escore do fator de resiliência. Pode-se pensar, que devido aos
afetos negativos vividos, o sujeito teve que desenvolver uma alta capacidade de resiliência, para
poder conseguir superá-los.
Este suporte social que pode amenizar os efeitos do estresse na vida do idoso, leva a um
maior senso de satisfação com a vida. Boris Cyrulnik destaca que a resiliência é um processo de
superação que se dá no encontro com o outro, resultante de uma interação de fatores pessoais,
ambientais, institucionais e sociais (SEQUEIRA, 2009). Dessa forma, pode-se entender que o
suporte social, as redes, o grupo de teatro constituem-se como sendo um interação, um “encontro
com o outro” e que acabam propiciando uma maior capacidade de enfrentamento de adversidades,
uma capacidade de resiliência.
Hoje, a população idosa é bem mais expressiva, o aumento da capacidade de resiliência
dessa população é muito bem vinda, já que terão que enfrentar eventos estressores ou situações
adversas típicas dessa fase da vida. Verificou-se que a resiliência não depende de fatores pessoais
pré-determinados, mas é uma capacidade que pode ser desenvolvida por todos os seres vivos.
Ressalta-se a importância do suporte afetivo, social, dos sentimentos de compreensão,
atenção e companheirismo que, no artigo de RESENDE, M.C.; FERREIRA, A.A.; NAVES, G.G.;
ARANTES, F.M.S.; ROLDÃO, D.F.M.; SOUSA, K. G. ABREU, S.A.M, 2010, acabaram
proporcionando uma maior satisfação com a vida dos participantes. O apoio social está diretamente
relacionado com o bem-estar e é considerado capaz de gerar efeitos benéficos tanto para a saúde
física como mental.
Pode-se concluir que quando mais as pessoas conseguem administrar produtivamente
suas relações com os outros melhor será a visão positiva que elas têm sobre elas mesmas, sobre
sua vida e sobre o futuro. ou seja, quanto mais sentimentos positivos apresentados, maior o nível
de satisfação com a vida. Por outro lado, nota-se que quanto mais afetos negativos experenciados,
78
maior a capacidade de resiliência. Essa análise indica que a pessoa pode desenvolver a
capacidade de resiliência durante a vida, mediante a exposição, enfrentamento e superação de
situações adversas.
ASSIS, PESCE e AVANCI, 2006 já fizeram esta constatação afirmando que a resiliência é
um processo interativo entre a pessoa e o seu meio, não nasce com o sujeito, nem é uma aquisição
exclusivamente de fora para dentro. Resiliência é um processo que deve ser construído
continuamente ao longo da vida, não é um estado adquirido e imutável. Por isso é tão importante
que o individuo elabore os conflitos retome o seu desenvolvimento de forma saudável.
5.3 Adolescentes e Resiliência
Conforme Lindstrom (apud JUNQUEIRA e DESLANDES 2003) a resiliência não produz
adolescentes melhores, esta produz apenas adolescentes mais capazes de lidar com situações
difíceis, já que estes não têm necessariamente interesse em conceitos como humanidade,
empatia ou solidariedade.
Dentre os artigos analisados, foram encontrados cinco artigos que abordavam
diretamente o tema de adolescentes e o relacionavam à resiliência. Destes, dois foram pesquisas
empírico quantitativa, um pesquisa empírico qualitativa, um pesquisa empírico qualitativa e
quantitativa um, pesquisa teórica. Quatro deles tiveram adolescentes como sujeitos de pesquisa
e o quinto realizou uma pesquisa bibliográfica que abordava o tema da adolescência.
Castillo, J. A. G. D.; Dias, P. C. (2009) realizaram um estudo que buscou analisar a
relação entre auto regulação, consumo de substâncias e resiliência na adolescência. O artigo de
Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H. (2009) relaciona eventos de vida estressores,
estresse e estratégia de coping em adolescentes, discutindo as possíveis implicações destes na
aprendizagem. Já Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S. (2010) realizam uma pesquisa
quantitativa com o objetivo de avaliar a resiliência nos estudantes, as variáveis
sociodemográficas e a contribuição da escola no desenvolvimento pessoal. Simões, C.; Matos,
M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G; (2010) realizam um estudo que tem como objetivo conhecer os
comportamentos e estilos de vida dos adolescentes com necessidades educativas especiais.
Além disso, desenvolvem um programa de promoção de saúde e resiliência direcionado a pais,
professores e técnicos, bem como, uma sessão experimental do programa. Por outro lado, o
artigo de Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R., (2011) buscou compreender a vivência das
adolescentes durante a gestação e o processo de nascimento de seu filho.
De uma forma geral, todos os artigos encontrados ressaltam que a adolescência é
considerada uma etapa difícil devido às diversas transformações físicas e psicológicas que
ocorrem neste momento. É durante esta etapa que surgem vários desafios, como lidar com essa
79
variedade de situações novas, adaptação às novas condições biológicas, a conquista de
autonomia e a progressão acadêmica. Sendo assim os adolescentes acabam sendo um público
que normalmente apresentam uma alta vulnerabilidade.
É sugerido que na adolescência existe um aumento do estresse. Nesse período, os
eventos estressores incluem: discussões com colegas, amigos e familiares, imagem corporal,
incertezas sobre o futuro entre outros (SEIFFGE-KRENGE, 2000 apud BUSNELLO, F. B.;
SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009). Além disso, revelou-se que problemas escolares e
familiares são comuns nessa etapa da vida (KRISTENSEN, LEON, D´INCAO, DELL´AGLIO, 2004
apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).
Segundo Aysan (2001 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H.,
2009), os testes e as provas de avaliação acadêmica, bem como a ansiedade causada por estes
pode tornar-se uma importante fonte de estresse para os adolescentes, principalmente quando o
desempenho influencia oportunidades futuras relacionadas à vida profissional.
Pode-se dizer que o impacto negativo que os diferentes eventos estressores causam na
vida do adolescente é evidenciado, também, na aprendizagem. A aprendizagem ocorre tanto em
ambientes formais como a escola, quanto em ambientes informais, fora desses contextos
(ENUMO, FERRÃO, RIBEIRO,2006; OATLEY, NUNDY, 2000 apud BUSNELLO, F. B.;
SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009).
Através da pesquisa realizada, Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S, (2010) aponta-se
que a escola pode, ou não, promover o desenvolvimento da capacidade de resiliência, isso
depende das interações que ocorrem na instituição e o que é construído nesta relação indivíduo-
sociedade. Mas, para que o adolescente possa ter sucesso na escola é de fundamental que ele
tenha uma família, uma instituição ou uma rede de apoio que a ajude a manter suas
necessidades afetivas, sociais e cognitivas.
Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G, (2010) constataram que os adolescentes
com Necessidades Educativas Especiais podem ter mias dificuldades para lidar com estes
desafios que surgem na adolescência, principalmente quando o ambiente não é visto como
facilitador para isto. Dessa forma, os autores ressaltam que é necessário se fazer algum tipo de
intervenção o quanto antes com o objetivo de promover nestes adolescentes fatores de proteção
que os permita lidar positivamente com os desafios e adversidades da vida. Visando a efetividade
de tal intervenção é fundamental a realização de uma pesquisa dos fatores associados a este
processo junto aos adolescentes com Necessidades Educativas Especiais.
80
Conforme Kotliarenco et al. (1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES), a resiliência é
parte do processo evolutivo, e, sendo assim, deve ser promovida desde a infância. É produto de
um conjunto de fatores sociais e intrapsíquicos que possibilitam o enfrentamento e a superação
de adversidades da vida.
Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G; (2010) relatam que as pessoas
resilientes possuem algumas características que lhes permite ultrapassar adversidades,
características que podem ser consideradas como fatores de proteção individuais que colaboram
para que a resposta diante de situações adversas seja mais efetiva, por exemplo: capacidade de
tomada de decisões, capacidade de comunicação, assertividade, empatia, autocontrole,
autoestima, autoeficácia, otimismo, bom humor, flexibilidade, inteligência, boa saúde física e
mental.
Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S., (2010) verificaram que as principais
características encontradas em crianças e adolescentes resilientes são: bom funcionamento
intelectual, sociabilidade e expressão adequada, autoconfiança e autoestima elevada, talentos e
fé. Os autores verificaram que tais crianças apresentaram em seus contextos vantagens
socioeconômicas, conexões com redes familiares ampliadas e apoiadoras além de práticas
parentais competentes. Notou-se também que estas crianças mantêm vínculos fora do contexto
familiar, com adultos, organizações pró-sociais e também frequentam a escola.
Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H., (2009) identificaram que a exposição a
apenas um evento estressor não é pré-condição para o desenvolvimento do estresse. A
capacidade de resiliência e estratégias de coping eficientes proporcionam ao indivíduo um
enfrentamento adequado de tais situações, proporcionando um crescimento positivo. Contudo, se
o indivíduo não dispõe de recursos para lidar com as situações adversas, estas podem impactar
sua vida de uma maneira negativa, podendo inclusive, repercutir no processo de aprendizagem e
gerar um baixo desempenho escolar.
Conforme Lindstrom (2001 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003), a resiliência pode
ser vista como resultado da interação entre aspectos individuais e contextos sociais, entre
quantidade e qualidade dos acontecimentos decorrentes ao longo da vida e os chamados fatores
de proteção existentes na família e no meio social.
Cyrulnik (2004 apud SANTOS e AVES, 2006) destaca um entre três adolescentes
traumatizados muda o seu estilo de apego e se torna sereno na adolescência. De acordo com o
autor, essa superação positiva se dá a partir do momento em que os adolescentes param de
sofrer com o traumatismo e lhe atribuem um novo sentido.
81
Sendo assim, ressalta-se claro a importância da rede social, da família e dos vínculos
estabelecidos pelos adolescentes fora do contexto familiar, que funcionam como um fator de
proteção para estes, colaborando intensamente para a promoção de resiliência. Estes inclusive
podem colaborar para que os adolescentes a atribuam um novo sentido na adversidade
vivenciada, proporcionando a superação positiva destas.
O estudo de Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G; (2010) destaca também a
importância da família e do autoconceito que se mostraram ser verdadeiros fatores de resiliência,
por conseguirem manter os níveis de bem estar global elevados, apesar da presença de eventos
adversos.
Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011) ressaltaram em seu estudo, que o apoio dos pais
e o ajuste da família à situação de gestação das adolescentes foi extremamente importante na
construção da resiliência por parte das adolescentes estudadas. Por causa deste apoio, a
gestação pode ser entendida pelas adolescentes como um acontecimento positivo que acabou
propiciando o amadurecimento e autonomia das mesmas.
O estudo de Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011) mostrou que a trajetória da gestação
na adolescência levou à construção da resiliência. As adolescentes vivenciaram situações
adversas, como expulsão da casa paterna, brigas, desentendimentos familiares, mas foram
capazes de desenvolver atributos pessoais, a partir de uma figura de confiança, alguém de seu
entorno que elas acreditavam amar-lhes incondicionalmente, como sogras, mães ou
companheiros.
Desta forma as adolescentes puderam desenvolver atributos pessoais durante a
experiência da gestação e após o parto. A gestação acaba exigindo da adolescente uma
superação de conflitos, medos e insegurança, da mesma forma que propicia a preparação e o
aprendizado das adolescentes na construção do seu projeto de vida. Esta "superação" foi
entendida como um processo, permitindo que a adolescente se saia fortalecida, transformada e
vencedora de situações adversas.
Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011) destacaram a importância do suporte social para
a adolescente, visto que nenhuma das colaboradoras ficou desamparada durante todo o
desenvolvimento da gestação, parto, puerpério e na nova vida com sua família nuclear. Ressalta-
se que essa mudança vivida faz com que a adolescente tenha mais autonomia quando o
processo é vivenciado de forma resiliente, propiciando uma maior independência,
responsabilidade, segurança e uma confiança no futuro.
82
Assis, Pesce e Avanci (2006) afirmam que a resiliência pode ser entendida como uma
capacidade de metamorfosear as adversidades da vida. Algumas pessoas conseguem superar e
construir caminhos positivos diante de situações e/ou fatos difíceis, porém, outras se submetem
aos obstáculos com mais facilidade, fazendo com que suas vidas sejam circundadas pelo trauma
provocado por tais situações. (ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006).
E foi assim, conforme verificaram Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R. (2011), que as
adolescentes puderam superar as adversidades e construir caminhos positivos através da
gestação, visto que a gestação não foi verbalizada como um acontecimento negativo que
impossibilitasse ou prejudicasse a trajetória de vida das adolescentes, elas tiveram a capacidade
de promover mudanças no seu comportamento, amadurecer, promover mudanças familiares,
desenvolvendo resilientes que propiciaram a construção da resiliência.
Por outro lado, através do resultado da pesquisa de Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M.
S, (2010) percebeu-se também a fundamental participação que a escola tem nos contextos de
valorização e desenvolvimento dos jovens, principalmente na resolução de ações e construções
de valores. Esta, junto da família, pode ajudar a promover a cidadania e a construção de sujeitos
conscientes capazes de reconhecerem seus direitos e corresponderem aos deveres da
sociedade. Visto que, se a escola conseguir apresentar as experiências como desafios e não
como ameaças, esta pode promover a resiliência construindo interações positivas e compondo
uma rede de apoio para o indivíduo.
Verificou-se também que quanto maior a percepção dos adolescentes de que a escola
contribui para o desenvolvimento pessoal maior é a capacidade de resolução de ações e valores
dos mesmos. (PELTZ, L.; MORAES, M.G.; CARLOTTO, M. S, 2010).
Observou-se na literatura analisada por Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H.,
(2009) uma divergência de opinião dos autores na tentativa de estabelecer uma relação entre
causa e efeito entre os problemas emocionais e o fracasso escolar. Alguns autores (GUAY,
BOIVIN, HODGES, 1999 apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009)
sugerem que os problemas psicológicos induzem as dificuldades acadêmicas, enquanto que
outros (GOLDENSTEIN, PAUL, SANFILIPO, 1985; MARTINEZ, SEMRUD-CLIKEMAN, 2004
apud BUSNELLO, F. B.; SCHEFER, L. S; KRISTENSEN, C. H., 2009) afirmam que as
dificuldades acadêmicas e o fracasso escolar acabam prejudicando o funcionamento
psicossocial, uma vez que torna o individuo vulnerável ao desajustamento escolar e a problemas
emocionais.
83
Busnello, F. B.; Schefer, L. S; Kristensen, C. H., (2009) ressaltam a importância de outros
estudos que priorizem o entendimento dos fatores que possam estar implicados nos processos
de aprendizagem, para que se possam realizar ações direcionadas, que visem minimizar o
impacto das situações adversas que acabam comprometendo o aprendizado e o desempenho
escolar.
No estudo da relação entre autorregulação e consumo de substâncias, notou-se que os
adolescentes que consomem álcool e tabaco e os que relataram o consumo intensivo dessas
substâncias no ultimo mês apresentaram pontuações mais baixas em Estabelecimento de
Objetivos e Controle de Impulsos. Estes adolescentes, que consomem tabaco ou álcool
apresentam uma pontuação significativamente mais baixa nas escalas Controle dos Impulsos e
Estabelecimento de Objetivos. Portanto, percebe-se a importância do estudo da autorregulação
no desenvolvimento dos adolescentes (CASTILLO, J. A. G. D.; DIAS, P. C., 2009).
Já a pesquisa realizada por Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S., (2010) mostrou que
quanto mais elevada a renda familiar menor a independência e determinação dos adolescentes.
O que pode indicar que devido a renda familiar elevada o adolescente acabe se acomodando
pois não tem a necessidade de ser independente ou determinado para conquistá-la.
Peltz, L.; Moraes, M.G.; Carlotto, M. S, (2010) destacam que a literatura sobre resiliência
no Brasil é incipiente, o que dificulta a comparação entre os estudos nacionais. Hoje se percebe
que a influencia de aspectos culturais e contextuais sobre a resiliência é evidente, o que destaca
ainda mais a necessidade de serem realizados mais estudos nacionais sobre este tema.
5.4 Fatores Protetores X Adversidade
O conceito de resiliência vem se complexificando e evoluindo com o passar do tempo.
Antes a resiliência era entendida como sinônimo de invulnerabilidade, mais tarde foi sendo
entendida como capacidade de adaptação individual em um ambiente desajustado. Nos últimos
anos essa noção está sendo abordada como um processo dinâmico que envolve a interação
entre fatores sociais e intrapsíquicos, de risco e de proteção, sendo um processo psicológico que
se desenvolve ao longo da vida a partir dos fatores de risco versus fatores de proteção. (ASSIS
2003, apud LUCAS e GASPARINI 2006)
Assim, a resiliência está atrelada a dois fatores, o da adversidade e ao fator de proteção.
O primeiro refere-se aos eventos adversos,
às ameaças, aos perigos e aos eventos estressantes, já o segundo, refere-se às forcas,
competências e à capacidade de reação diante da vulnerabilidade. Esses dois eventos juntos
resultam em uma reconstrução singular do sofrimento causado pela adversidade.
84
Ao estudar os artigos encontrados percebeu-se a presença de diversos eventos adversos
vivenciados pelos sujeitos das pesquisas e como os fatores protetores acabam contribuindo e
propiciando a construção da resiliência.
O artigo de Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa,
M.L.(2009) realizou um estudo descritivo a respeito de alguns conceitos da resiliência, buscando
um entendimento, considerando os pressupostos de promoção de saúde, no contexto do
Programa de Saúde da Família (PFS). Conforme os autores várias situações, muitas vezes
relacionadas a problemas sociais, como: condições de pobreza, rupturas na família, vivência de
algum tipo de violência, experiências de doença crônica ou aguda do próprio indivíduo ou da
família e outras perdas importantes podem ser consideradas como fatores de risco e podem
afetar a capacidade de resiliência em indivíduos e famílias.
Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa, M.L.(2009) sugerem
que a visão do individuo sobre certa situação, sua percepção e interpretação define o evento
estressor como sendo, ou não, uma condição de estresse. Observou-se que certos atributos da
pessoa têm uma associação positiva com a possibilidade de enfrentar os fatores de risco no
cotidiano, de aproveitar os fatores protetores, de ser resiliente, sendo crítico e sujeito ativo na
sociedade.
Essa percepção vem de encontro com SANTOS e ALVES (2006) que afirmam que os
fatores de resiliência dependem do tipo de agressão, do significado que a criança lhe atribui e da
maneira pela qual sua bolha afetiva é envolvida. Se o meio permitir, diante de um evento
estressante, a parte sadia da personalidade da criança pode expressar-se e retomar o
desenvolvimento, reduzindo o ferimento causado.
Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa, M.L.(2009) indicam que
os fatores protetores possuem quatro funções principais: reduzir o impacto dos riscos, fato que
altera a exposição da pessoa à situação adversa; reduzir as reações negativas em cadeia que
seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; estabelecer e manter a auto-estima e auto-
eficácia, através de estabelecimento de relações de apego segurança e o cumprimento de
tarefas com sucesso; e, criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse.
De acordo com Brooks, 1994; Emery e Forehand (1996, apud PESCE, ASSIS, SANTOS
e OLIVEIRA, 2004) é possível dividir os fatores de proteção em três categorias: fatores
individuais, fatores familiares e fatores relacionados ao apoio do meio ambiente. Os fatores
protetores individuais seriam a auto-estima positiva, o auto-controle, a autonomia e
características de temperamento flexível e afetuoso. Como fatores familiares, pode-se citar a
85
estabilidade, coesão, respeito mútuo e apoio. Já os fatores relacionados ao apoio do meio
ambiente estão associados ao bom relacionamento com amigos, professores, pessoas
significativas para a criança, que tenham um papel de referência segura para a criança, fazendo
com que esta se sinta querida e amada. (PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004).
5.4.1 O apoio social como fator de proteção
Conforme Rutter (1987 apud PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004) a resiliência é
um processo resultante da combinação entre o individuo, seu ambiente familiar, social e cultural.
Nos artigos estudados, percebeu-se também que o apoio social contribui para o bem-
estar do indivíduo e minimiza o efeito provocado pelas situações adversas.
Conforme Cyrulnik (2004) todo estudo sobre a resiliência deveria abordar três planos: a
aquisição de recursos internos impregnados no temperamento; o significado que um golpe
adquire na história do ferido e em seu contexto familiar e social; e a possibilidade de encontrar
lugares de afeto, de atividades e de palavras que a sociedade dispõe, às vezes, em torno do
ferido, oferecendo-lhe tutores de resiliência que lhe permitirão retomar um desenvolvimento
marcado pelo ferimento.
No estudo realizado por Libório, R. M. C.; Ungar, M.(2010) entende-se a resiliência como
sendo “associada à capacidade do individuo navegar seu caminho em direção a recursos de
bem-estar” alinhada à capacidade de suas comunidades oferecerem estes recursos de forma
culturalmente significativas (UNGAR, BROWN, LIEBENBERG, CHEUNG, LEVINE, 2008 apud
LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M, 2010). Assim, a resiliência é vista como um processo definido
pelas comunidades como funcionamento saudável e socialmente aceito, como também a
capacidade de suas comunidades preverem recursos significativos.
Libório, R. M. C.; Ungar, M.(2010) ressaltam que a resiliência está longe de se referir
apenas aos traços individuais, esta está diretamente relacionada ao lugar social e político
ocupado pelo individuo, sua família e comunidade. Observa-se que esta maneira menos
individualizante de conceber a resiliência minimiza a tendência de atribuir o sujeito de forma
singular e de culpabilizá-Io por seu insucesso.
Ungar ampliou o conceito de resiliência, criando o termo hidden resilience, resiliência
oculta, que relaciona comportamentos específicos associados ao perigo, fora dos padrões,
delinquência e desordem que funcionam como caminhos não padronizados de acesso à saúde
que podem estar presentes nas vidas de jovens e adolescentes de alto risco. A resiliência oculta
se manifesta quando se utiliza formas não convencionais para o fortalecimento da identidade e
86
para promoção da resiliência. Os comportamentos não convencionais como uso de drogas,
associação a gangs, trabalho infantil, entre outros, não são apenas sinais de vulnerabilidade
como podem ser manifestações culturalmente e contextualmente significativas e resiliência. Uma
forma oculta, que muitas vezes é negligenciada por profissionais que não fazem parte do
contexto e da comunidade desses jovens. (LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M.,2010)
Por outro lado, Menezes, M.; López, M.; Delvan, J. S.(2010) sugerem em seu artigo, que
o psicólogo clínico infantil, através da psicoterapia, pode reafirmar para a criança e importância
da sua autoestima, o respeito por seu próprio corpo, reforçar o diálogo e a tolerância da família,
possibilitando o desenvolvimento de aspectos positivos de adaptação e a prevenção de
psicopatologias. Desta forma, pode-se inferir que a psicoterapia também é entendida como uma
forma de apoio social e consequentemente, configura-se como um fator de proteção para o
paciente.
Já as autoras Costa, M.G.R.; Noronha, S; Cardoso, P.S.; Moraes,P.N.T; Centa,
M.L.(2009) visualizaram a possibilidade de trabalhar com a resiliência utilizando-a como nova
perspectiva na promoção de saúde. A abordagem focada na resiliência, utilizada pelo PSF
parece propiciar ao usuário uma adequada rede de apoio social. A “rede de apoio social” é
compreendida pelos recursos estruturais e humanos disponíveis em uma localidade. No caso do
PSF corresponde a sua área de abrangência. (COSTA, M.G.R.; NORONHA, S; CARDOSO, P.S.;
MORAES,P.N.T; CENTA, M.L., 2009)
Sendo assim, entende-se que estratégias de promoção da saúde podem modificar estilos
de vida e as condições sociais, econômicas e ambientais que determinam a saúde. A resiliência
foi instaurada no campo da promoção da saúde, discutindo-se hoje a ampliação do conceito para
além dos indivíduos, por intermédio de expressões como escolas resilientes ou comunidades
resilientes. Além disso, aponta-se que a equipe multi profissional de saúde da família pode tornar-
se um fator de proteção junto à família, identificando possíveis fatores de risco ao passo que se
mostra como rede de apoio e proteção. (COSTA, M.G.R.; NORONHA, S; CARDOSO, P.S.;
MORAES,P.N.T; CENTA, M.L., 2009).
Porém, os autores Libório, R. M. C.; Ungar, M.(2010) ressaltam que ao elaborarem-se
políticas publicas ou projetos de intervenção na fase da infância e adolescência em situação de
risco, deve-se atentar-se à estruturação dos serviços, sistemas de atendimento, para que estes
possam atender às necessidades e desejos que as crianças e adolescentes obtêm nas
condições consideradas adversas pelos profissionais, pois não é bem sucedida uma intervenção
que desconsidere o lugar ocupado pela situação de risco, como por exemplo, situação de rua,
trabalho infantil, e gangs na vida do sujeito.
87
Sendo assim, aponta-se que as intervenções devem valorizar a aderência cultural,
enfrentar os preconceitos e demais injustiças sociais, oferecer oportunidade de se estabelecer
relacionamentos significativos e construir identidades fortalecidas (LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR,
M., 2010).
5.4.2 A família como fator de proteção
As relações familiares funcionam como promoção da vida e bem-estar social,
favorecendo o desenvolvimento das potencialidades de cada um e do grupo com relação a
individualidade e manutenção do ambiente físico e simbólico favorável às trocas e ao crescimento
grupal e pessoal.
Conforme Santos e Alves (2006), o fato de algumas crianças traumatizadas conseguirem
resistir e superar adversidades pode ser explicado através da associação de alguns fatores:
recursos internos afetivos e comportamentais nos primeiros anos de vida; e a disposição de
recursos externos sociais e culturais.
As aquisições que a criança fará em um meio depende muito mais do ambiente em que
ela está inserida do que dela própria. Portanto, se mudarmos a criança de ambiente ela muda
suas aquisições (SANTOS e ALVES, 2006). Sendo assim, pode-se entender que a família
constitui o ambiente do indivíduo, uma vez que ela é a rede social mais próxima deste,
principalmente quando se trata de uma criança ou adolescente.
Por isso, pensou-se ser relevante levantar os artigos encontrados que discutiam a
especialmente a relação da família com o sujeito que está exposto às adversidades. Foram
encontrados três artigos que deram ênfase à família e ao seu suporte no enfrentamento de
adversidades: Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.; Lunardi, V. L.; Filho, W. D. L.; (2009)
realizaram um estudo com uma família que vive em condições de adversidade, buscando
identificar fatores que proporcionam à família superar tais adversidades de maneira positiva;
Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G;(2010) realizaram um estudo que teve como
objetivo conhecer os comportamentos e estilos de vida dos adolescentes com necessidades
educativas especiais; e Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R, (2011) que buscaram compreender a
vivência das adolescentes durante a gestação e o processo de nascimento de seu filho.
Os três artigos apontam a importância do suporte e do apoio da família como fator de
proteção que colabora para a promoção na resiliência.
O primeiro artigo (SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.;
FILHO, W. D. L.,2009) realiza um estudo com uma família que vive em condições de
88
adversidade. A família é constituída por um pai, e cinco filhos, dois meninos menores moram com
ele. O pai é alcoolista e a mãe dos menores é portadora de um transtorno mental grave e hoje
vive com sua família de origem em outra cidade. A família se encontra em situação econômica
de extrema pobreza, o pai não tem emprego fixo, sobrevivendo da renda da coleta de materiais
recicláveis. Os meninos sofreram abuso sexual e passaram um ano institucionalizados, em uma
casa-abrigo. Neste estudo observou que o pai consegue dar conta das necessidades emocionais
e físicas dos filhos.
Cyrulnik (2004 apud ASSIS, PESCE, AVANCI, 2006) afirma que o meio em que a criança
está inserida é a bolha afetiva que a envolve no dia-a-dia,isso pode fazer com que a criança teça
a resiliência.
A postura do pai, sujeito da pesquisa de Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.;
Lunardi, V. L.; Filho, W. D. L.; (2009) pode ser entendida como um fator de proteção para esta
família uma vez que eles compartilham emoções e opiniões, demonstrando a preocupação que
um membro da família tem com o outro. Esses comportamentos ajudam a resolver e reduzir a
tensão vivenciada pela família e estimula a confiança de seus membros na capacidade de
enfrentar os problemas.
Pode-se considerar que o relacionamento dos membros dessa família atua como um
fator de proteção, ao passo que permite relações positivas entre o pai e os filhos, incluindo a
expressão de opiniões, sentimentos e preocupações.
Neste estudo (SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.; FILHO,
W. D. L.; 2009), percebeu-se a importância significativa do tempo compartilhado em família, que
favorece o sentimento de importância que uma pessoa tem para a outra, os valores que vão
sendo passados de geração em geração e o lugar que cada um dos membros ocupa na família.
Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.; Lunardi, V. l.; Filho, W. D. l. (2009) puderam
perceber que esse tempo compartilhado é um recurso por meio do qual a família elabora os
problemas cotidianos e cria um sentido para a situação em que vive e desenvolve estratégias
para enfrentar o dia-a-dia.
O estudo realizado por Simões, C.; Matos, M.G.; Ferreira, M.; Tomé, G;(2010) destaca a
importância da família, que se mostra um verdadeiro fator de resiliência, que consegue elevar os
níveis de bem-estar das pessoas, apesar das adversidades.
Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R (2011), mostram em seu estudo que a trajetória da
gestação na adolescência levou à construção da resiliência. As adolescentes vivenciaram
89
situações adversas e desentendimentos familiares, mas conseguiram desenvolver qualidades
pessoais, por meio de uma figura de confiança, de alguém de seu entorno que elas acreditavam
amar-lhes incondicionalmente, como sogras, mães ou companheiros.
Dessa forma, na pesquisa realizada por Ribeiro, P. M.; Gualda, D. M. R (2011) o apoio
social recebido proporcionou o desenvolvimento das habilidades resilientes. Mostrou-se também
que o suporte social é extremamente importante para a adolescente, visto que nenhuma das
colaboradoras ficou desamparada durante todo o processo da gestação.
Assim, conclui-se que o apoio dos pais e da família é extremamente importante na
construção da resiliência, o que foi constatado nos artigos estudados.
Pode-se considerar também que a realização de atividades mutuamente gratificantes,
compartilhadas pelos membros da família é um fator de proteção, pois estabelece rotinas que
dão continuidade à vida da família e qualificam o tempo que seus membros compartilham.
(SILVA, M. R. S.; LACHARITÉ, C.; SILVA, P. A.; LUNARDI, V. L.; FILHO, W. D. L.; 2009)
Sendo assim, fica evidente a importância de promover a capacidade da família de
oferecer apoio ao sujeito e ajudar a minimizar os eventos adversos, porque o desenvolvimento da
criança e/ou do adolescente está atrelado a qualidade das relações e das interações que eles
estabelecem.
No estudo de Silva, M. R. S.; Lacharité, C.; Silva, P. A.; Lunardi, V. L.; Filho, W. D. L.;
(2009) verificou-se que a capacidade do pai de preservar seu vinculo com os filhos, conseguindo
reduzir os impactos negativos do ambiente adverso.
Assim de acordo com Santos e Alves (2006) os fatores de resiliência dependem
do tipo de agressão, do significado que a criança lhe atribui e da maneira como sua bolha afetiva
lhe envolve. Se o meio permitir, diante de um evento estressante, a parte sadia da personalidade
da criança pode expressar-se e retomar o desenvolvimento, reduzindo o ferimento causado. A
família tem um papel importante nisso.
5.5 Resiliência e profissionais
A resiliência pode ser definida como uma habilidade para suportar a adversidade,
constituindo uma vida significativa. É a habilidade de enfrentar efetivamente circunstancias da
vida extremamente estressantes, superá-las e ser transformado por estas. (KOTLIARENCO et
al.,1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES, 2003)
90
A enfermagem é uma categoria profissional que tem maior contato com doentes. É parte
integrante e fundamental nas equipes de saúde e constitui-se o maior grupo de trabalhadores na
área. O ambiente de trabalho dos profissionais dessa área é constituído por vários elementos
estressores, o que pode acabar comprometendo a saúde e a qualidade de vida dos
trabalhadores.
Foram encontrados dois artigos que buscam estudar a resiliência em trabalhadores da
área de enfermagem. No primeiro, de Soria, D.A.C; Bittencourt, A.R.; Menezes, M.F.B; Sousa,
C.A.C.S; Souza, S.R., 2009, foi realizado um estudo bibliográfico que buscou mapear a produção
cientifica nacional e internacional sobre Resiliência na Enfermagem em Oncologia e discutir a
aplicabilidade na assistência aos doentes. Já no segundo artigo, de BelancierI, M. F.; BELUCI, M.
L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A, 2010, foi realizada um pesquisa quantitativa com
enfermeiros e auxiliares de enfermagem da rede pública de saúde , cujo objetivo era investigar o
nível de resiliência dos trabalhadores de enfermagem buscando conhecer suas fraquezas e
fortalezas diante das adversidades as quais estão submetidos.
Verificou-se que a resiliência aparece inserida nos estudos psicossociais,
comportamentais, de comunicação e na abordagem da família de pessoas com câncer. No
estudo de Soria, D.A.C; Bittencourt, A.R.; Menezes, M.F.B; Sousa, C.A.C.S; Souza, S.R., 2009,
foram encontradas concepções de resiliência muito distintas. Foi encontrada a concepção de que
a resiliência é uma força interna do paciente em radioterapia que não se revela apesar das
necessidades advindas do tratamento. Verificou-se também que a resiliência foi entendida como
um dispositivo para o tratamento de câncer. A resiliência também foi percebida como um fator da
sustentabilidade e das relações maritais após terapia hormonal pós prostatectomia”. Além dessas
concepções a resiliência também foi correlacionada com a escala de esperança, sendo entendida
como autoestima, autoconfiança e auto transcendência.
Reflexões sobre resiliência criam possibilidades de ampliação nos modos de entender e
realizar o exercício assistencial e gerencial de enfermagem. Foi identificada a necessidade de
familiarização das enfermeiras sobre a importância da resiliência no enfrentamento de doenças
como o câncer, favorecendo a adesão do paciente ao tratamento e ao plano de cuidados de
enfermagem (SORIA, D.A.C; BITTENCOURT, A.R.; MENEZES, M.F.B; SOUSA, C.A.C.S;
SOUZA, S.R., 2009).
Conforme estudo de BelancierI, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A,
(2010) notou-se que existe uma divisão na opinião dos autores referente ao conceito de
resiliência, como já havia afirmado Pinheiro (2004), apontando que alguns autores defendem que
91
a versatilidade e flexibilidade são características das pessoas resilientes, enquanto outros a
apontam como sendo traço de personalidade e temperamento do individuo.
Conforme de BelancierI, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A, 2010 a
grande maioria dos trabalhadores da área de enfermagem da rede pública de saúde são
mulheres, 90,4%. A maioria dos trabalhadores trabalha 40 horas semanais (76%) e alguns
(13,5%) trabalham mais de 70 horas semanais, o que ultrapassa muito das condições ideais de
trabalho. Além disso, grande parte dos profissionais possuem um outro emprego, ou seja, a
maioria desses trabalhadores ultrapassa a jornada de trabalho recomendada e regulamentada
por lei. Esse fato pode propiciar fadiga e acabar comprometendo a qualidade do trabalho desses
profissionais além de comprometer a saúde e qualidade de vida do trabalhador e,
consequentemente, comprometer a sua capacidade de resiliência.
O artigo de BelancierI, M. F.; B, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.; A, 2010, também
cita o risco da ocorrência de fadiga entre enfermeiras atuantes na oncologia, citando a resiliência
como um fator de proteção. A jornada de trabalho e a fadiga são assuntos bastante recorrentes
nos estudos sobre profissionais de enfermagem, o que é bastante preocupante. Conforme
Kotliarenco et al., (1997 apud JUNQUEIRA e DESLANDES) a capacidade de resiliência refere-se
a uma combinação de fatores que permitem o enfrentamento e a superação de adversidades da
vida, é produto de um conjunto de fatores sociais e intrapsíquicos que possibilitam que um
indivíduo tenha uma vida sã, mesmo em um meio insano.
Ao estudar a resiliência nos profissionais da área de enfermagem (BELANCIERI, M. F.;
BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A.; A, 2010) observou-se que no fator
regulação das emoções, a maioria dos participantes encontra-se abaixo da média (56,8%), porém
no fator controle dos impulsos a maioria dos participantes está acima da média (83%). Reivich e
Shatté (2001 apud BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A.,
2010) indicam que pessoas que não tem habilidade para regular suas emoções têm mais
dificuldades para construir e manter relacionamentos. Sendo assim, para ser resiliente o sujeito
precisa expressar suas emoções de forma adequada, sejam elas positivas ou negativas. Logo os
enfermeiros, devem desenvolver mais a habilidade de regular emoções e de construir
relacionamentos, o que lhes proporcionará um aumento da capacidade de resiliência.
Visto que os trabalhadores da área de enfermagem estão submetidos a condições
bastante estressantes em seus ambientes de trabalho, e estas, aliadas à dificuldade na
regulação das emoções e do excessivo controle dos impulsos podem propiciar uma redução na
capacidade de resiliência. Esse excessivo controle de impulsos e a dificuldade na regulação das
emoções acarretam grande gasto de energia por parte do trabalhador, uma vez que ele não pode
92
exteriorizar suas emoções, especialmente no ambiente de trabalho, justificando o alto índice de
estresse entre os enfermeiros. (Belancieri, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.,
2010)
O conceito de resiliência antes era entendido apenas como sinônimo de
invulnerabilidade, hoje este é entendido como a capacidade de adaptação individual em um
ambiente desajustado. (ASSIS 2003, apud LUCAS e GASPARINI 2006). Sendo assim, os
trabalhadores de enfermagem que vivem em difíceis condições de trabalho e convivem
diariamente com situações desajustadas relacionadas à finitude, doenças e morte tem uma
grande necessidade de desenvolver a capacidade de resiliência para lidar com essas situações
presentes em seu cotidiano.
Em ambos os artigos ficou evidente a necessidade de proporcionar condições que
propiciem aos trabalhadores da área de enfermagem o desenvolvimento da resiliência.
Ressalta-se a importância da construção de resiliência nos profissionais atuantes na área
de enfermagem, visando a superação diante da exposição aos fatores de risco existentes no
contato presente com a terminalidade, finitude, dor e desesperança apresentados no paciente
com câncer (BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010)
Entretanto, o desafio imposto pela resiliência para a enfermagem é expandir o
entendimento e a utilização do conceito, visando à promoção de bem-estar e qualidade de vida
dos pacientes e profissionais (Belancieri, M. F.; Beluci, M. L.; Silva, D. V. R.; Gasparelo, E. A.,
2010) .Além disso, percebe-se como urgente a aprovação do Projeto de Lei 2.295/2000, a fim de
aprovar e regulamentar a jornada de 30 horas semanais de trabalho na área da enfermagem
(BELANCIERI, M. F.; BELUCI, M. L.; SILVA, D. V. R.; GASPARELO, E. A., 2010). Essas medidas
podem proporcionar uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores da área de
enfermagem e ainda promover uma melhoria na assistência à saúde dos usuários da Rede
Municipal de Saúde.
Ressalta-se também que apesar de existirem pesquisas e estudos sobre resiliência na
enfermagem o conteúdo de produção cientifica sobre resiliência ainda é considerado bastante
escasso (Soria, D.A.C; Bittencourt, A.R.; Menezes, M.F.B; Sousa, C.A.C.S; Souza, S.R., 2010).
5.6 Psicoterapia e Resiliência
Conforme Assis, Pesce e Avanci (2006) se pode falar em trauma, quando uma violação
envolvendo o sujeito acontece, que faz com que este se fragilize e apresente dificuldades na
93
representação do evento traumático. A natureza do episódio traumático pode corresponder ao
biológico, afetivo e histórico e a resiliência é possível em cada um desses níveis.
Cyrulnik (2004) destaca a importância das mudanças provocadas pelos traumas que
deixam um traço cerebral e afetivo que não pode ser revertido, pois permanecem quando a
criança retoma seu ciclo de desenvolvimento. Porém, pode ser reelaborado e ressignificado,
reduzindo o impacto causado por estes traumas, estresses e infortúnios ( apud ASSIS, PESCE,
AVANCI, 2006).
Foram encontrados dois artigos que analisam o trabalho psicoterapêutico e seus
benefícios para com indivíduos que passaram por situações traumáticas: Menezes, M.; López,
M.; Delvan, J. S. (2010) realizaram um longo um estudo de caso com uma criança portadora de
alopecia areata universal, vitiligo e transtorno de ansiedade generalizada. Esta paciente foi
atendida durante cinco anos em uma clínica-escola de psicologia; Norte, C. E.; Souza, G. G. L.;
Pedrozo, A. L.; Souza, A. C. F. M.; Figueira, I.; Volchan, E.; Ventura, P. R. (2011) realizam um
estudo de caso com um homem de 45 anos que sofreu dois assaltos com arma de fogo. Este
tentou um tratamento farmacológico com proxetina, porém, não respondeu adequadamente ao
tratamento. Assim, o paciente foi encaminhado para um tratamento de psicoterapia cognitivo-
comportamental.
Ambos os artigos analisam os efeitos da psicoterapia cognitivo-comportamental no
tratamento e o desenvolvimento da resiliência nos pacientes que sofreram traumas, buscando
reduzir o impacto causado por estes.
No estudo de Menezes, M.; López, M.; Delvan, J. S. (2010) a psicoterapia teve como
objetivo diminuir os sintomas e promover o desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento
da doença crônica. Já no estudo realizado por Norte, C. E.; Souza, G. G. L.; Pedrozo, A. L.;
Souza, A. C. F. M.; Figueira, I.; Volchan, E.; Ventura, P. R. (2011) o objetivo foi levantar
evidências com relação aos fatores relacionados à resiliência nos parâmetros psicométricos e
biológicos como medida de eficácia em ensaios clínicos.
Os dois estudos destacaram a efetividade da relação terapêutica, da confiança
proporcionada por esta e do processo psicoterapêutico cognitivo-comportamental no tratamento
com pessoas que passaram por situações estressantes e traumáticas. Ambos os pacientes
mostraram-se ter se beneficiado significativamente do processo psicoterapêutico.
Notou-se, no primeiro estudo, que características resilientes puderam ser estimuladas e
desenvolvidas promovendo a adaptação da paciente de forma positiva diante de sua doença
crônica. O reconhecimento de suas limitações, a adesão ao tratamento e o suporte social e
94
familiar foram fundamentais para dar suporte ao tratamento psicoterapêutico. Durante este
processo a paciente pode desenvolver comportamentos resilientes, que ela potencialmente já
possuía e que foram incrementados com a psicoterapia. (MENEZES, M.; LÓPEZ, M.; DELVAN,
J. S.,2010)
No segundo estudo, a terapia cognitivo-comportamental promoveu uma redução nos
parâmetros psicométricos desfavoráveis como os sintomas de transtorno de estresse pós-
traumático, depressão e ansiedade e dos escores de afeto negativo, ao passo que se notou uma
redução nos níveis fisiológicos basais da frequência cardíaca, frequência respiratória,
condutância da pele e cortisol salivar.
Santos e Alves (2006) afirmam que algumas crianças traumatizadas conseguem resistir e
superar adversidades, o que pode ser explicado através da associação dos recursos internos
afetivos e comportamentais nos primeiros anos de vida, e a disposição de recursos externos
sociais e culturais.
Dessa forma, o artigo de Menezes, M.; López, M.; Delvan, J. S. (2010) sugere que o
psicólogo clínico infantil, reafirme para a criança e importância da sua autoestima, o respeito por
seu próprio corpo, através da psicoterapia, reforçando o diálogo e a tolerância da família,
possibilitando o desenvolvimento de aspectos positivos de adaptação e a prevenção de
psicopatologias.
Santos e Alves (2006) apontam que as crianças que foram maltratadas, abandonadas e
traumatizadas antes de aprenderem a falar, adquirem um distúrbio da emoção e as modificações
ocorridas por causa do trauma impedem o controle emocional. Tais crianças desesperam-se em
qualquer situação de separação, sobressaltam ao menor ruído, sentem medo e acabam sendo
frias, buscando sofrer menos. Contudo, para que estas crianças tornem-se resilientes é
necessário que estas aprendam a se expressar emocionalmente de outra forma.
Assim, observou-se que ambos os estudos destacam a importância da terapia cognitivo-
comportamental, que ajuda o paciente a atenuar os aspectos negativos do trauma. Ressalta-se
que o aumento dos recursos positivos pode também auxiliar a neutralizar os sintomas negativos e
a prevenir futuras recaídas.
Os estudos também abordam o tema da eficácia terapêutica que muitas vezes é focada
ma redução de sintomas psicopatológicos e acaba negligenciando, a avaliação de outros fatores
importantes como qualidade de vida e resiliência.
95
VI. CONCLUSÃO
Este trabalho buscou analisar o que foi produzido sobre resiliência na base Scielo nos
últimos anos com o objetivo de analisar a produção desse período. Ao longo desse estudo foram
analisados 16 artigos que discutem o tema resiliência, a maioria foi publicada no Estado de São
Paulo. O ano de 2009 teve maior quantidade de artigos publicados (43,75%) e percebe-se que há
uma diminuição de artigos publicados desde então, no ano de 2010 foram encontrados 37,5% e
esse índice caiu para 18,75% em 2011.
Os artigos foram organizados em torno dos seguintes temas que se destacaram: fatores
de proteção versus adversidade, resiliência e adolescentes, resiliência e o idoso, resiliência e
moradores de rua, resiliência e profissionais e, resiliência e psicoterapia. Temas que apareceram
com frequência e, portanto, serviram de organizadores para a análise.
Nota-se que o conceito de resiliência vem se desenvolvendo com o passar do tempo.
Antes, entendido como sinônimo de invulnerabilidade e, depois, foi sendo entendido como
capacidade de adaptação individual em um ambiente desajustado. Nos últimos anos, vem sendo
abordado como um processo dinâmico que envolve a interação entre fatores sociais e
intrapsíquicos, de risco e de proteção, sendo um processo psicológico que se desenvolve ao
longo da vida, a partir dos fatores de proteção (ASSIS, 2003, apud LUCAS e GASPARINI, 2006).
Os fatores de proteção, conforme Brooks, 1994; Emery e Forehand (1996, apud PESCE,
ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA, 2004), podem ser divididos em três categorias: fatores individuais,
fatores familiares e fatores relacionados ao apoio do meio ambiente. A autoestima positiva, o
autocontrole, a autonomia são entendidos como fatores protetores individuais. Os fatores
familiares estão relacionados à estabilidade, coesão, respeito mútuo e apoio, enquanto que os
fatores relacionados ao apoio do meio ambiente estão associados ao bom relacionamento com
amigos, professores, pessoas significativas para o individuo, que tenham um papel de referência
segura, fazendo com que este se sinta querido e amado. (PESCE, ASSIS, SANTOS e OLIVEIRA,
2004).
Grande parte dos artigos estudados mostram que o apoio social contribui
fundamentalmente para o bem-estar do indivíduo e minimiza o efeito provocado pelas situações
adversas. Esse apoio social diz respeito à família e ao meio no qual o indivíduo está inserido,
como por exemplo, a escola, a comunidade e às relações sociais e afetivas de uma maneira
geral.
Nota-se que a família pode se mostrar como um verdadeiro fator de resiliência quando
consegue elevar os níveis de bem-estar das pessoas apesar das adversidades. Percebeu-se
96
também a importância do tempo compartilhado em família, que favorece o sentimento de
importância que uma pessoa tem para a outra, os valores que vão sendo passados de geração
em geração e o lugar que cada um dos membros ocupa na família.
Além disso, percebe-se a importância que uma pessoa de confiança, alguém que faça
parte do entorno do sujeito, na colaboração para o desenvolvimento de qualidades pessoais e
resiliência. Sendo assim, ressalta-se a importância da rede social e dos vínculos estabelecidos
pelos adolescentes fora do contexto familiar, que funcionam como um fator de proteção para
estes, colaborando intensamente para a promoção de resiliência. Inclusive, podendo colaborar
para que os adolescentes atribuam um novo sentido na adversidade vivenciada, proporcionando
a superação positiva destas.
Foi visto também que a resiliência está longe de se referir apenas aos traços individuais,
está diretamente relacionada ao lugar social e político ocupado pelo individuo, sua família e
comunidade. Observa-se que esta maneira menos individualizante de conceber a resiliência
minimiza a tendência de atribuir ao sujeito seu insucesso (LIBÓRIO; UNGAR, 2010).
Nesse estudo ficou claro que a escola pode, ou não, promover o desenvolvimento da
capacidade de resiliência, isso depende das interações que ocorrem na instituição e o que é
construído nesta relação. A escola tem uma participação fundamental nos contextos de
valorização e desenvolvimento dos jovens, principalmente na resolução de ações e construção
de valores. Se a escola conseguir apresentar as experiências como desafios e não como
ameaças, estas podem promover a resiliência, construindo interações positivas e compondo uma
rede de apoio para o indivíduo.
Por outro lado, entende-se que a psicoterapia também pode ser entendida como uma
forma de apoio social, configurando-se um fator de proteção para o indivíduo/paciente. Menezes;
López; Delvan.(2010) sugerem em seu artigo, que o psicólogo clínico infantil, através da
psicoterapia, pode reafirmar para a criança a importância da sua autoestima, o respeito por seu
próprio corpo, reforçar o diálogo e a tolerância da família, possibilitando o desenvolvimento de
aspectos positivos de adaptação e a prevenção de psicopatologias.
Além disso, foi possível visualizar a possibilidade de trabalhar com a resiliência,
utilizando-a como nova perspectiva na promoção de saúde. Entende-se que estratégias de
promoção da saúde podem modificar estilos de vida e as condições sociais, econômicas e
ambientais que determinam a saúde. A resiliência foi instaurada no campo da promoção da
saúde, discutindo-se hoje a ampliação do conceito para além dos indivíduos, por intermédio de
97
expressões como escolas resilientes ou comunidades resilientes (COSTA; NORONHA;
CARDOSO; MORAES; CENTA, 2009).
Observou-se que reflexões sobre resiliência criam possibilidades de ampliação nos
modos de entender e realizar o exercício assistencial e gerencial de enfermagem. Ressalta-se a
importância da construção de resiliência nos profissionais atuantes na área de enfermagem,
visando à superação diante da exposição aos fatores de risco existentes no contato presente
com a terminalidade, finitude, dor e desesperança apresentados no paciente com câncer
(BELANCIERI; BELUCI; SILVA; GASPARELO, 2010)
Ademais, foi visto que a atuação dos trabalhadores da área de enfermagem fica
comprometida devido à extensa jornada de trabalho, a fadiga afeta a saúde e qualidade de vida
desses profissionais. Os trabalhadores da área de enfermagem estão submetidos a condições
bastante estressantes em seus ambientes de trabalho, e estas, aliadas à dificuldade na
regulação das emoções e do excessivo controle dos impulsos podem propiciar uma redução na
capacidade de resiliência. Esse excessivo controle de impulsos e a dificuldade na regulação das
emoções acarretam grande gasto de energia por parte do trabalhador, uma vez que ele não pode
exteriorizar suas emoções, especialmente no ambiente de trabalho, justificando o alto índice de
estresse entre os enfermeiros. (BELANCIERI; BELUCI; SILVA; GASPARELO, 2010). Assim, fica
evidente a necessidade de proporcionar condições melhores de qualidade de vida aos
trabalhadores da área de enfermagem.
Com relação aos estudos que relacionam resiliência e idosos, percebeu-se que a saúde e
o desempenho cognitivo estão relacionados à capacidade de resiliência, quanto mais saudável
for o idoso e quanto maior for o seu desempenho cognitivo, maior a probabilidade de ele
apresentar altos índices na escala de resiliência. Identificou-se que problemas de memória e
dificuldades no desempenho cognitivo estão diretamente relacionados à baixa capacidade de
lidar com adversidades.
Além disso, identificou-se que idosos que fazem parte de um grupo, como por exemplo,
de teatro, apresentam maior vitalidade devido ao fato de sentirem-se pertencentes a um grupo e
de possuírem uma relação com os demais participantes. Essa participação pode ser entendida
como um suporte social, e de acordo com os artigos analisados, quanto maior a percepção de
suporte social, maior o número de afetos positivos experimentados (RESENDE; FERREIRA;
NAVES; ARANTES; ROLDÃO; SOUSA, ABREU, 2010).
Com relação aos estudos relacionados aos moradores de rua e resiliência, observou-se
que estes consideravam a sua situação de morar na rua como uma situação difícil. Por isso,
98
observou-se que diversos moradores de rua acabaram envolvidos com drogas e mendicância,
desenvolvendo depressão, criando padrões de conduta que lhes permitiam sobreviver no
ambiente destrutivo ao qual estão expostos.
Além disso, identificou-se que em alguns moradores de rua observados havia a presença
de certa unidade psíquica, um falso self, que acabou lhes permitindo sobreviver nas prisões e nas
ruas. Este falso self tem a função de se sobrepor e ocultar o verdadeiro self e, acaba sendo muito
bem sucedido. Porém, o sucesso desse falso self não é suficiente para permitir a extinção da
insatisfação e da procura de si mesmos. As potencialidades desses sujeitos estavam à espera de
um “outro significativo" que pudesse acompanhá-los no processo (ALVAREZ; ALVARENGA;
RINA, 2009). Foi observado que no encontro com alguém que proporcionasse uma relação
positiva de confiança, servindo como ponto de apoio para os moradores de rua, fazendo com que
estes pudessem se sentir incondicionalmente aceitos e assim, pudessem se abrir para uma
transformação. Através da confiança no ambiente foi possível que os sujeitos flexibilizassem o
seu falso-self para então resgatar e constituir o seu verdadeiro self. Através dos artigos
analisados pôde-se entender que estes sujeitos conseguiram ressignificar as condições vividas e
encontrar novos significados para suas vidas. Ressalta-se mais uma vez, a importância do
ambiente e do apoio social na construção da resiliência.
Assim, conclui-se a evidente necessidade de medidas de apoio mais amplas à população
que vive em condições de adversidade, para que se possa transformar a condição vivida e
propiciar recursos para o enfrentamento da situação adversa. Este estudo aponta também a
necessidade de ampliação de pesquisas nesta área, para estudos sobre políticas públicas que
garantam direitos à população que vive em condições adversas.
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2008.
CYRULNIK, B. - Os patinhos feios. São Paulo: Martins Fontes, 2004
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