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SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMTICA FACULDADES SPEIIBH INSTITUTO BRASILEIRO DE HIPNOSE APLICADA

PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES

A HIPNOTERAPIA COGNITIVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Rio de Janeiro 2014

PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES

A HIPNOTERAPIA COGNITVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Trabalho de Concluso de Curso apresentado Sociedade Paranaense de Ensino e Informtica Faculdades SPEI e IBH Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Hipnose Clnica, Organizacional, Hospitalar, sob orientao dos professores: Prof. Dr. Gil Gomes, Profa. Dra. Clystine Abram e Profa. Dra. Denise Bloise.

Rio de Janeiro2014PAULO SANTUCCI DIAS MARQUES

A HIPNOTERAPIA COGNITVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Trabalho de Concluso de Curso apresentado a Sociedade Paranaense de Ensino e Informtica Faculdades SPEI e IBH Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada como requisito parcial para obteno do ttulo de Especialista em Hipnose Clnica, Organizacional, Hospitalar, sob orientao dos professores: Prof. Dr. Gil Gomes, Profa. Dra. Clystine Abram e Profa. Dra. Denise Bloise

Banca Examinadora:

Aprovada em: ____________________________________________________

RESUMO

O presente trabalho busca refletir sobre a hipnose e os benefcios que sua prtica pode proporcionar vida de uma pessoa; sobretudo a modalidade de hipnose chamada de Hipnoterapia, que rene os preceitos e mtodos da Terapia Cognitivo Comportamental aos estudos mais avanados sobre o crebro e a cognio. Os Transtornos de Ansiedade foram escolhidos devido ao alto ndice de pessoas que apresentam estas comorbidades em nossa sociedade, assim como de experincias que pude auferir dos pacientes que sofriam com essas comorbidades e de que tratei em consultrio. Outros temas abordados, extremamente pertinentes aos j referidos, so a experincia mental proporcionada pela hipnose, a relao mente-corpo que tm os pacientes ansiosos, as evidncias empricas que a prtica da hipnose sobre a ao da mente no corpo, as solues para os conflitos psicolgicos oferecidas pela hipnose assim como a capacidade que esta modalidade teraputica tem de tornar o indivduo mais integrado emocionalmente e mentalmente.

Palavras-Chave: Hipnose, Terapia Cognitivo Comportamental, Transtornos de Ansiedade.

ABSTRACT

This study aims to clarify what hypnosis is and what are the benefits that your practice can provide to a person's life; especially the type of hypnosis called hypnotherapy, which brings together the concepts and methods of Cognitive Behavioral Therapy for advanced studies on the brain and cognition. Anxiety Disorders were chosen due to the high rate of people who have these comorbidities in our society, as well as experiences that could derive from patients who suffer with these comorbidities than I treated at the therapy clinic. Other extremely relevant themes to those already mentioned, are mental experience afforded by hypnosis, the mind-body conception that have the anxious patients, as the empirical evidence that the practice of hypnosis has over the action of the mind on the body, as the solutions to psychological conflicts offered by hypnosis and the ability of this therapeutic modality has to become an patient more integrated emotionally and mentally.

Keys-words: Hypnosis, Cognitive Hypnotherapy, Cognitive Behavioral Therapy.

SUMRIO

1-INTRODUO pg.072- BREVE HISTRIA DA HPNOSE: DE GASSNER A CHARCOT pg. 083- TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: PRECEITOS BSICOS pg. 094- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA E O ESTADO HIPNTICOpg. 164.1 O que a Hipnoterapia Cognitiva? pg. 164.2 O estado hipntico pg. 17

4.3 A experincia mental proporcionada pela hipnose? pg. 22

5- A RELAO MENTE-CORPO E A HIPNOSE pg.25

6- OS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE pg.277- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA APLICADA NOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE pg.317.1 Panorama dos pacientes ansiosos pg. 31

7.2 A soluo teraputica pg. 35

CONCLUSO pg.41

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS pg. 42

1- INTRODUO

O presente trabalho busca discutir a Hipnoterapia e a forma que pode ser utilizada no tratamento dos transtornos de ansiedade. O texto foi organizado a partir da discusso dos tericos que elaboraram seus preceitos bsicos. Dessa forma, a cada captulo so apresentados os principais conceitos que envolvem a aplicao da terapia. Para tal, primeiramente foi necessrio discorrer sobre a histria da hipnose, partindo do ponto em que seu uso comeou a ser aplicado de forma cientfica e emprica ainda no sculo XVIII. Uma vez que a hipnoterapia calcada nos princpios da Terapia Cognitivo Comportamental, uma explicao pormenorizada desta modalidade teraputica se fez necessria. A hipnoterapia e o estado hipntico so abordados no captulo seguinte. Em seguida a abordagem envolve a descrio dos Transtornos de Ansiedade de acordo com a definio dada pelo DSM-IV_TR, como premissa para o tema principal do trabalho que a aplicao da hipnoterapia nos transtornos de ansiedade. Os recursos possibilitados pela prtica da hipnose, assim como as tcnicas direcionadas para o tratamento dos transtornos de ansiedade, em sua relao contgua ao mtodo da terapia cognitiva comportamental, se tornam o assunto principal a ser debatido ao fim do presente trabalho.

2- BREVE HISTRIA DA HIPNOSE

A prtica do hipnotismo muito antiga, sendo comum em diversas culturas, embora mesclada de supersties e mistrios em alguns momentos da histria, esta prtica fora utilizada em muito por xams, feiticeiros, padres, at vigorar na medicina clssica como mtodo de cura de doentes nervosos ou histricos, sofrendo, deste preciso momento em diante, um processo de aprimoramento em que clebres personagens dedicaram suas vidas para a testagem emprica deste mtodo, num processo que ainda perdura (WEISSSMAN, 1958).Segundo relatos dos historiadores a hipnose j era praticada na antiga Grcia, na velha civilizao babilnica, na Roma antiga, e tambm no Egito, nos chamados Templos dos Sonhos, em que pacientes recebiam sugestes teraputicas em estado de sono profundo. Existem achados histricos, como papiros que datam mais de 3 mil anos, em que pode-se ler instrues minuciosas e sofisticadas para levar o paciente ao transe hipntico, que no deixam muito a desejar daquelas encontradas nos livros dos dias atuais. Com seu uso empregado para fins diversos, a hipnose era utilizada como forma de entrar em transe, como por exemplo para predizer o futuro atravs da clarividncia- suposta utilizao empregada pelas sacerdotisas de sis. Tambm existem relatos do uso da hipnose para provocar anestesia e aliviar a dor de determinados mrtires submetidos a tortura, sendo que este tipo de uso anestsico da hipnose ainda fulgura na prtica realizada pelos hipnlogos contemporneos (WEISSMAN, 1958). O estudo da hipnose foi corrente e comum durante a Idade Mdia, sendo objeto de estudo de filsofos e lderes religiosos, como Avicena no sculo X, e Paracelso no sculo XVI. Entretanto, um grande homem deste campo foi o padre Gassner, que viveu na Alemanha do Sul, no sculo XVIII. Abaixo, um breve resumo cronolgico da histria da hipnose, dos principais hipnlogos e das respectivas diferenas qualitativas, no que concerne ao mtodo e ao embasamento terico empregado.

GASSNER

Gassner realizava sesses pblicas em que empregava a hipnose, e se valia, para tal, de recursos teatrais, tanto em suas vestes, como na sua gesticulao. Em suas sesses, conseguia fazer com que seus pacientes obedecessem completamente s suas instrues, e chegava ao ponto de faz-los correr pelo palco e falar em latim. Em uma de suas demonstraes, que fez com o auxlio de um mdico, conseguiu fazer com que uma paciente tivesse os batimentos cardacos reduzidos, e, ao seu comando, conseguisse elev-los para 120 pulsaes por minuto. Em seguida, sugestionou a paciente que suas pulsaes iriam parar completamente, seus msculos iriam relaxar e que ela morreria temporariamente. O mdico auxiliar, ento, verificou que as pulsaes haviam parado e que tambm no havia sinal de respirao, de modo que a paciente apresentava as condies de uma pessoa morta. Gassner, ento, ordenou que a paciente sasse do transe e ela de imediato recuperou suas condies normais (WEISSMAN, 1958).

MESMER

Franz Mesmer, nascido em 1743, na Alemanha, foi tambm um importante personagem nesta pr-histria da hipnose e da psiquiatria moderna. Diferentemente do Padre Gassner, no atribua s enfermidades causas religiosas, mas to somente a influncia astral. O Magnetismo Animal, de Mesmer, afirmava como sendo a causa das patologias nervosas, uma frequncia irregular dos fluidos astrais, que assim ento perturbavam o organismo. Era necessrio que os pacientes sofressem crises, caracterizadas por convulses e condicionadas pela hipnose, para que assim ento Mesmer pudesse canalizar esses fluidos atravs de uma interveno magntica (WEISSMAN, 1958). Na mesma poca, o padre Maxiliano Hell, professor da Universidade de Viena e tambm astrlogo, comeou a utilizar ims em seus pacientes, e Mesmer se apropriou desta tcnica, integrando-a em seu mtodo. Os pacientes eram submetidos a transe hipntico enquanto as tcnicas com os ms eram aplicadas. Mesmer foi muito importante por imbuir prtica da hipnose um rigor cientfico, tendo conseguido curar centenas de pacientes. Contudo seu mtodo se mostrou falho em alguns aspectos, e no funcionou com os membros da Academia Francesa, que se colocaram na posio de pacientes e alegaram no terem sentido quaisquer efeitos do banho magntico. Diante de tal fato, Mesmer fora desacreditado e acusado de charlatanismo, e acabou por se retirar da profisso. Todavia, seus esforos foram importantes na trajetria da hipnose como tcnica teraputica de carter cientfico, e justia seja feita, ainda so muitos os mistrios que cercam a mente e o crebro humanos, sendo que Mesmer fez o que pode, dispondo dos parcos recursos tecnolgicos de sua poca (WEISSMAN, 1958).Mesmer viria a ter outros seguidores da cura magntica, como o mdico Dr. John Ellioston, figura eminente da histria mdica britnica, responsvel por introduzir o estetoscpio na Inglaterra, assim como mtodos de examinar o pulmo e o corao; e James Esdaile, mdico escocs, que realizou cirurgias sem anestesia, fazendo uso somente da hipnose. Schopenhauer alegou ser o mesmerismo a mais fecunda de todas as descobertas sob o ponto de vista filosfico, embora, de momento, oferea mais enigmas do que solues (WEISSMAN, 1958).

ABADE FARIA

Logo aps o falecimento de Mesmer, surgiu em paris um padre portugus chamado Jos Custdio Farias, que teria sido a inspirao para o personagem Abade Faria, de O Conde de Monte Cristo. Foi responsvel por modificar o mtodo da hipnose, lanando a doutrina da sugesto. Foi incisivo na importncia da relao entre sujet e hipnotizador; utilizava a hipnose acordada, e atribua como fator do sucesso teraputico o envolvimento do sujet com a tcnica, e a forma como este se deixava aprofundar na sua mente, descartando, assim, aspectos como a questo anmica no processo da cura, de modo que se ateve nica e exclusivamente ao aspecto psicolgico dos efeitos da hipnose (WEISSMAN, 1958).

BRAID

Em 1841, o mdico James Braid, foi o responsvel por afastar o magnetismo animal do estudo cientfico, utilizando o termo hipnotismo para esta prtica. A palavra hipnotismo deriva do vocbulo grego hypnos, que significa sono. Contudo, o sono constatado na hipnose, diferente do sono normal ou fisiolgico, e devido s suas caractersticas era chamado por Braid de sono nervoso (nervous sleep). Braid se valeu, no incio de sua carreira de mtodos que causassem cansao visual, entretanto, os abandonou quando se tornou convicto de que o fator preponderante para o transe era a sugesto, de modo que a utilizava para assim produzir fenmenos como a anestesia, a amnsia, a catalepsia e mesmo as alucinaes sensoriais (WEISSMAN, 1958).

CHARCOT

Jean Martin Charcot, neurologista renomado, conduziu seus estudos sobre a hipnose em sua escola intitulada grand hipnotisme, em Paris, concomitantemente aos esforos desprendidos por seus contemporneos Libault e Bernheim, que representavam a escola de Nancy. Charcot formulou a teoria dos trs estados hipnticos: a letargia, a catalepsia e o sonambulismo. O primeiro estgio era produzido fechando-se os olhos do sujet e tinha como caractersticas a surdez e a mudez; no segundo estgio, com os olhos abertos, era definido como uma gradao entre a rigidez e a flexibilidade dos membros, que permaneciam na posio em que os sujets os largassem. O terceiro estgio, chamado de sonambulismo, era produzido friccionandose energicamente a parte superior da cabea do indivduo. Para Charcot, e em contradio aos seus colegas da escola da Nancy, somente os histricos eram hipnotizveis. Todavia, do ponto de vista de seus hipnotizadores contemporneos o hipnotismo por ele praticado era rudimentar (WEISSMAN, 1958).

O HIPNOTISMO NO BRASIL

Em meados dos anos 50, a hipnose cientfica surgiu no Brasil, e teve como seus percussores nomes como Karl Weissman, Prof. Ramon Molinero e Dra. Galina Solovey. No Brasil temos registro da utilizao da Hipnose em medicina desde 1832 segundo biografia presente na obra de Leopold Gamard. A Sociedade de Propaganda e Jury Magntico do Rio de Janeiro foi reconhecida pelo Imperador D Pedro II em 1862, que demonstrou interesse na experincia e aplicao por mdico competente. Seguindo uma tendncia mundial o hipnotismo no Brasil ressurge a partir de 1950. e teve como seus percussores nomes como Karl Weissman, Prof. Ramon Molinero e Dra. Galina Solovey. Na mesma poca, o Dr. Paulo Paixo, juntamente com Irmo Vitrcio, conduziu cursos e conferncias sobre a hipnose. A principio desperta interesse do pblico em programas de TV, entrevistas e imprensa. O primeiro curso de hipnotismo a suas tcnicas modernas foi ministrado a uma turma de mdicos e dentistas, em outubro de 1955, a convite de Associao Brasileira de Odontologia, no Rio de Janeiro.Em 1957 seria fundada a Sociedade de Hipnose Mdica no Rio de Janeiro. Em 1956 foi fundada a sociedade Paulista de hipnotismo, e em Porto Alegre, no mesmo ano, a sociedade de hipnologia do Rio Grande do Sul. Em seguida, novas associaes surgiram na Bahia, em Santos e em Belo Horizonte. No ano de1961, o presidente Jnio Quadros proibiu a prtica da hipnose queles que no fossem mdicos (PAIXO, 1961).Em 1997 foi reconhecido como ato mdico pelo Conselho Federal de Medicina, sob a denominao de Hipniatria, o procedimento que utiliza a Hipnose como meio predominante teraputico.

3- TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL: PRESSUPOSTOS BSICOS

A Terapia Cognitiva Comportamental tem como princpio que os indivduos constroem significados sobre as pessoas, os acontecimentos e o meio em que esto inseridos, e que este sistema de crenas permanece ativo nas mais diversas experincias vividas, de modo que a forma como uma pessoa reage depende em muito da maneira como a pessoa analisa esta situao em funo de suas aprendizagens anteriormente feitas. Destarte, crenas ou esquemas construdos durante o desenvolvimento do indivduo atuam em nvel inconsciente, podendo causar reaes agradveis ou perturbadoras quando eliciados por estmulos diversos. A terapia cognitiva tem seus alicerces em correntes filosficas e religies antigas, como estoicismo grego, o taosmo e o budismo, que atinavam sobre a fora das ideias sobre as emoes (SILBERFARB, 2011). Esses filsofos afirmavam que os homens no eram perturbados pelas coisas, mas sim pela viso que tinham destas, que as ideias no s podiam controlar os sentimentos mais intensos de uma pessoa, como tambm eram capazes de modific-los. (SILBERFARB, 2011, pg. 20).Mais recentemente, a nfase da experincia subjetiva consciente advinda do movimento fenomenolgico, as experincias feitas pelo movimento comportamentalista de Skinner, e a teoria do processamento da informao, teriam sido responsveis pelo enfoque cognitivo despendido pelos tericos que formularam esta modalidade de terapia. Segundo Adler (1955), experincias reprimidas como traumas infantis, no so to preponderantes em uma psicopatologia como a percepo e os significados que os indivduos relacionam aos eventos. De acordo com Lima (1990), em meados da dcada de 50, Aaron Beck conduziu uma intensa pesquisa sobre as neuroses, especialmente sobre a depresso, em que, contraps s abordagens vigentes, utilizadas em clnica, novos dados cientficos, que evidenciavam ser o contedo cognitivo do paciente a grande causa da patologia, e que esses pacientes no sofriam de hostilidade retrofletida ou tinham desejos masoquistas de machucar a si prprios. Haveria tambm sintomas comuns um grande grupo de paciente tais quais a autopunio, a exacerbao de problemas externos, uma viso negativa de si mesmo, desamparo e expectativa negativa sobre eventos futuros, tendo como base os comportamentos passados. Este trabalho, realizado com a Universidade da Pensilvnia, nos EUA, deu origem ao livro Depresso: causas e tratamento (LIMA, 1972).A terapia cognitiva tem como fundamento que as emoes e comportamentos de um indivduo em sua vida diria so influenciados por sua percepo de determinada situao. O modo como pessoa interpreta uma situao est estritamente ligada s aprendizagens anteriormente feitas. Os tericos que formularam a terapia cognitiva postulam a hiptese de que existe um nvel de pensamento mais profundo que opera simultaneamente ao nvel mais superficial de pensamento, e que neste nvel de pensamento mais profundo que ocorrem os chamados pensamentos automticos ou disfuncionais, aos quais as pessoas costumam responder peremptoriamente, e que causam grande mudana emocional. Contudo, devido ao carter emotivo destas situaes, muito comum o fato de uma pessoa esquecer o que a fez mudar subitamente, e assim acabar por no descobrir o que foi pensado num exato momento de perturbao emocional (BECK, 1997). Partindo do princpio que a cognio afeta o comportamento, a terapia cognitiva comea na explorao e identificao das crenas desenvolvidas pelo paciente. O que se vislumbra conhecer o processamento da informao feito por um paciente, e assim, pouco a pouco, ajud-lo a mudar certas estruturas cognitivas e representaes distorcidas de sua realidade. dado ao paciente a chance de enfrentar seus sistemas de crenas pessoais em relao s suas consequncias e funcionalidade, de traar uma argumentao dialtica no sentido de levar o paciente refletir sobre maneiras melhores de encarar os fatos de sua vida, e tambm de testar possveis estratgias de enfretamento para os problemas identificados.A dificuldade de adaptao de um indivduo um determinado ambiente e/ou contexto, est intrinsicamente ligada ao significado que o indivduo atribuiu a isto. Os significados no precedem a realidade, de modo que so construdos pelos prprios indivduos, e atuam como estruturas cognitivas que so ativadas por estmulos externos ou internos, influenciando intensamente na forma como este indivduo se comportar em determinada situao ambiental (BECK, 1997).Todavia, os significados podem ser alterados, e o terapeuta age como uma lente de aumento, ajudando o paciente a enxergar minuciosamente a sua prpria vida, e refletir acerca da especificidade do contedo cognitivo desses significados. Deste modo, uma realidade antes vista como desagradvel ou aflitiva, pode se tornar agradvel e promissora (SILBERFARB, 2011). tambm percebido, que em cada tipo sndrome existe um sistema de significados coequivalente, sendo constantemente reforado atravs de comportamentos condicionados. Os significados mal adaptativos, encontrados em determinada psicopatologia, se acham organizados na chamada Trade Cognitiva, e correspondem aos significados construdos em relao a si mesmo, ao mundo, e ao futuro (expectativas) (SILBERFARB, 2011). Esses significados so organizados em esquemas, que so como estruturas cognitivas que se desenvolvem desde cedo, e que so ativados nas mais diversas experincias pelas quais um indivduo atravessa. Como dito por Beck (1997):Um esquema uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os estmulos aos quais o organismo submetido... Com base na matriz de esquemas, o indivduo consegue orientar-se em relao ao tempo e espao e categorizar e interpretar experincias de maneira significativa. (BECK, 1997, pg. 200).

4- A HIPNOTERAPIA COGNITIVA E O ESTADO HIPNTICO

4.1 O que a Hipnoterapia Cognitiva?

A Hipnoterapia Cognitiva uma modalidade de hipnose clnica que tem como base os fundamentos da Psicologia Cognitivo Comportamental. Ela funciona como uma ferramenta, e no um mtodo que possa ser aplicado de forma isolada, sem o vis teraputico.Assemelha-se a hipnose clssica apenas no uso das tcnicas de induo ao transe, pois seu fundamento psicolgico calcado nos princpios da Terapia Cognitivo Comportamental. Atravs das tcnicas da hipnose, pode-se levar um paciente um estado emocional mais ameno, faz-lo retroceder uma memria remota ou reprimida, ou provocar no paciente sensaes agradveis atravs do uso de imagens mentais e da sugesto, sendo que esta uma caracterstica do efeito ideossensitivo da hipnose (SILBERFARB, 2011). A hipnose ganhou considervel importncia no sc. XX, e recebeu diversos estudos, inclusive na rea da neurofisiologia. J foram identificados, atravs do uso do eletroencefalograma (EEG), mais de vinte estados de conscincias; contudo, so trs os principais nveis de conscincia que podem ser encontrados no transe hipntico: viglia, sono lento e sono rpido. A viglia caracteriza-se pelo estado desperto, e o indivduo pode-se encontrar em alerta ou relaxado. O sono lento ou sincronizado tem efeito de repouso, o indivduo nesse estado no costuma se recordar dos sonhos. O sono rpido ou dessincronizado no tem efeito repousante, e caracteriza-se pela alta atividade psquica e nele os sonhos so recordados, sendo tambm chamado de sono REM.

4.2 O Estado HipnticoMesmo com todo o avano da tecnologia, o EEG ainda limitado para distinguir outros nveis de conscincia, devido ao fato de serem captados somente os neurnios das camadas I e II do crtex, que se difundem na camada dendrtica. Curiosamente, ainda no identificvel alterao da atividade cerebral dos estados de viglia e sono relaxado em relao atividade cerebral apresentada nas situaes rotineiras da vida de um indivduo. Entretanto, devido s caractersticas apresentadas durante estes estados, tais quais as regresses de memrias, a sugestionabilidade e alucinabilidade, as regresses e analgesias espontneas, possvel diferenciar esses estados da conscincia ordinria. Estes fenmenos indicam apenas uma diferena no que concerne atividade lmbico-hipotalmica (PAVLOV-1961). Embora o EGG ainda seja limitado, justamente pelas caractersticas desses fenmenos que pode-se considerar o estado hipntico como um quarto estado de conscincia, como o fez Chertok (1982).Para se alcanar um estado hipntico, necessrio que haja concentrao sobre um nico estmulo, de forma que este se torne preponderante aos demais estmulos que estejam atingindo os sentidos do paciente. Para tal, o hipnotista conduz a sesso utilizando uma voz suave e persistente, ou tambm outros estmulos sensoriais impessoais, podendo ser auditivos ou visuais, desde que sejam de baixa intensidade, e montonos. necessrio que o sujeito esteja concentrado, de tal modo que os estmulos hipnognicos se tornem isolados na conscincia do indivduo, em detrimento dos demais. A esta capacidade denomina-se ateno seletiva, e gerada pela formao reticular ascendente (FRA) (SILBERFARB, 2011). O sistema lmbico est associado ao estado hipntico, e evidenciado que em fenmenos tais quais a rememorao, a revivificao de experincias, as amnsias espontneas que acontecem logo aps o trmino do transe, a aprendizagem acelerada, a estimulao do sistema imunolgico e as vivncias alucinatrias, h grande ativao da formao hipocampal do sistema lmbico (SILBERFARB, 2011). Para muitos, o efeito da hipnose pura sugesto, e esse argumento muito utilizado para rebaixar a hipnose e desmerecer o seu potencial. Entretanto, necessrio refletir sobre o que sugesto. Segundo Warren: a sugesto a induo ou tentativa de induo de uma ideia, crena, deciso ou ato realizado por outro por meios estmulos verbais, ou outros, base de uma argumentao exclusivista. (SILBERFARB, 2011, pg. 56). Se olharmos bem para a nossa sociedade, veremos que a sugesto age como uma fora motriz no meio social, sendo em muito empregada por publicitrios, polticos, e por todos os rgos que intencionam influenciar as pessoas. Pavlov (1961) reconheceu que as palavras tambm podem ser estmulos condicionados, at mesmo mais eficazes do que os estmulos sensoriais condicionados. Durante uma sesso hipntica, a ateno sobre os estmulos que acontecem dentro do corpo aumentam, de modo que uma pessoa percebe melhor a sua respirao, os seus batimentos cardacos e a sua musculatura, e tambm na mente, na medida em que o paciente consegue transformar o comando do hipnotista em sua realidade mental. Destarte, a sugesto um estmulo ou um conjunto de estmulos que desencadeiam outros estmulos, mentais ou fisiolgicos: As sugestes podero ser da seguinte ordem: ideomotoras, sensoriais, gustativas, tteis, auditivas, trmicas, sinestsicas), cognitivas (modificao da percepo e memria), sonora verbal, no verbais, visuais, imagticas ou combinadas entre elas. (SILBERFARB, 2011, pg. 58)A sugesto na verdade uma autossugesto, pois necessrio um grau de confiana naquilo que est sendo sugerido para que a hipnose ocorra. como se o paciente afirmasse para si aquilo que est ouvindo de seu hipnoterapeuta. Para se obter o xito de uma sesso necessrio o estabelecimento de uma sintonia entre hipnotizador e paciente, assim como tambm entram em questo as caractersticas deste paciente, como por exemplo a sua capacidade de imaginar, abstrair e se concentrar. O grande xito da hipnoterapia est na capacidade imediata de causar bem estar no paciente, prescindindo do uso de frmacos, ou de prolongadas sesses para se produzir algum efeito benfico. As sugestes provocam alteraes fisiolgicas, cognitivas e comportamentais (SILBERFARB, 2011). As sesses acarretam em mudanas internas nos indivduos na medida em que estes ganham controle sobre suas emoes, aumentam a sua percepo corporal e sua capacidade mental de abstrao, de modo que podem, mesmo quando sozinhos -e desta forma a hipnoterapia se assemelha uma forma de aprendizado- alterar um estado emocional de angstia ou aflio, para um estado agradvel, de alegria e felicidade, causando sensaes de prazer, relaxamento muscular profundo, e alterao fisiolgica significativa. Pode-se dizer que a hipnoterapia tem como objetivo aumentar o poder do Ego sobre o aspecto irracional da conscincia, que tem maior atividade no subcrtex (SILBERFARB, 2011). Durante o transe acontece uma canalizao da atividade psquica para aquilo que est sendo sugestionado. Os estmulos do ambiente perdem fora de ao, e o indivduo tem uma experincia nessa realidade mental, condicionada pela autosugesto. Muitos pacientes relataram experimentar uma sensao de profundidade, e a isto se deve a alterao neurobiolgica causada pelo transe, que consiste na diminuio da noradrenalina no crebro. O sujeito em transe sente-se como num estado de sono, ou mesmo como se estivessem vendo um filme, estando totalmente absorvido pela realidade proposta:O transe ou estado hipntico um processo interno de transio pelo qual a atividade eletroqumica do crebro reorganizada dinamicamente, permitindo que ela se desloque suavemente entre seus estados coletivos. Ela efetua isso, desestabilizando os estados existentes e permitindo a reorganizao espontnea de novos estados. A informao disponvel em cada estado ou fase do crebro ser diferente. (HUMPHREYS,2000 apud SILBERFARB, 2011, pg. 66) Benomy Silberfarb ilustra bem este processo de transio, comparando-o s fases da gua:Na fsica, a gua pode ser slida, lquida, gasosa. Imagine que voc, ao lado de um poo, pega seis pedras e atira no poo. O impacto das pedras na gua resulta num padro de seis crculos concntricos interferindo uns com os outros. E se esse padro representasse uma certa memria? Se a gua estivesse no ponto de congelamento e voc atirasse o seixo no mesmo lugar, voc esperaria que aparecesse o mesmo padro de crculos? A resposta no. E se o estado da gua fosse gasoso? A gua poderia ser capaz de produzir o mesmo padro a partir do mesmo input? De novo a resposta no. (SILBERFARB, 2011, pg. 90).O estado hipntico possui quatro etapas: a hipnoidal, o transe ligeiro, transe mdio e transe profundo ou sonamblico. O primeiro estado caracteriza-se to somente pela letargia mental parcial, relaxamento muscular profundo, caracterstica de cansao fsico, aparente sonolncia, tremor nas plpebras, e leves contraes no rosto e mos. No estado do transe ligeiro, o paciente experimenta uma sensao de como todo seu corpo estivesse muito pesado e tambm de alheamento parcial; apresenta catalepsia ocular dos membros e rigidez catalptica, contudo, permanece consciente do que acontece sua volta. A respirao mais profunda, o paciente tem dificuldades de falar, e encontra-se num estado que pode-se caracterizar como uma gradao entre a aceitao parcial do que est sendo sugestionado aceitao completa, quando j no h mais resistncia (SILBERFARB, 2011). No terceiro estgio, que o de transe mdio, o sujeito apresenta alguma conscincia do que acontece sua volta, reconhece que est em transe, mas se encontra profundamente ligado ao hipnotizador, de modo que neste estado que se estabelece o rapport entre paciente e hipnoterapeuta. Como caractersticas podem ser citadas a catalepsia completa dos membros, a possibilidade de alucinaes ideomotoras, e at mesmo efeitos analgsicos em relao percepo da dor. No quarto estado, de transe profundo, ocorrem contraes intensas do globo ocular, e h uma sensao de leveza ou flutuao. O sujeito aceita totalmente as sugestes, que ocorrem em nvel profundo, sendo possvel, inclusive, a permanncia no estado de transe mesmo com os olhos abertos. tambm possvel a anestesia ps-hipntica, em que o terapeuta indica a regio a ser anestesiada, e o dia em que anestesia surtir efeito (SILBERFARB, 2011). O hipnotista pode assumir controle de sugestes para efeitos orgnicos, como mudana de pulsao, presso arterial, processos metablicos. A hiperminsia (acesso fcil s memrias pregressas), a regresso da idade, as alucinaes visuais e auditivas, negativas e positivas e sugestes ps-hipnticas esto entre outros tantos atributos do transe profundo ou sonamblico (ERICKSON, 1980, In: SILBERFARB, 2011, pg. 68). Ademais, o uso da hipnose para provocar analgesia e anestesia comum, tendo sido testado e corroborado empiricamente, na medicina e odontologia. Para muitos analgesia e anestesia so termos equivalentes, o que no verdade. A anestesia caracteriza-se pela no sensao da dor, e a analgesia consiste numa diminuio da dor, podendo ainda haver a percepo da mesma (WEISSMAN, 1958).Outros fenmenos correntes do estado hipntico so a catalepsia e a amnsia. A catalepsia caracteriza-se pela sensao de peso ou imobilidade que o sujeito sente em seu corpo. muito comum, como mtodo de se alcanar o transe, provocar a fadiga ocular atravs de um estmulo, e a catalepsia das plpebras atravs da sugesto, de modo que muitos pacientes podem ficar incapazes de abrir as plpebras, e de recuperarem esta capacidade aps o comando do hipnoterapeuta. Durante o transe, tambm pode ocorrer a amnsia, de tal forma que o sujeito no se lembre da experincia hipntica, ou fique sem lembrar o prprio nome temporariamente, como acontece em muitos shows de hipnotismo. Muitos clnicos se valem do potencial amnsico da hipnose para fazer com que os pacientes esqueam, propositalmente, de hbitos ruins ou sintomas incmodos, como por exemplo, roer as unhas. O uso da hipnose como mtodo de combater os sintomas controverso, e h muita discusso entre psiquiatras, psicanalistas e hipnoterapeutas. Contudo, existem casos de sucesso tratados por Charles Baudoin e citados em seu livro Suggestion et autosugestion (WEISSMAN, 1958).4.3 A experincia mental proporcionada pela hipnose

Durante a induo ao transe comum pedir ao sujeito que se visualize dentro de um cenrio que seja de seu agrado, ou conforme seja aquele o objetivo proposto pelo hipnotizador. provado cientificamente, que a ativao do crtex visual a mesma quando se percebe imagens mentais durante o transe, ou quando so verdadeiramente percebidas pelos olhos. A isto deve-se ao potencial da faculdade da imaginao, como descrita por B. Silberfarb (2011):Ela uma forma de elaborao do pensamento que ordena e coordena em mltiplas combinaes os elementos j existentes no depositrio cognitivo pessoal, evocados quando necessrio pela memria, para dar formatao a coisas novas e s concepes originais, de uma forma cada vez mais perfeita, culminando, s vezes, com criaes geniais. A imaginao pode reproduzir representaes j vivenciadas e submet-las a grandes variaes imagticas de cenrios, contedos emocionais, etc. (SILBERFARB, 2011:, pg. 74).Muitas vezes durante uma experincia hipntica, possvel confundir uma memria que tenha sido realmente vivenciada de algo que foi simplesmente imaginado, e induzido. Alguns autores erram ao diferenciar a imaginao de uma memria evocada, ao afirmaram, erroneamente, que um dado proveniente da memria tenderia ser reproduzido fidedignamente. Todavia, existe uma propenso inata das pessoas fantasia, o que torna muito difcil uma diferenciao entre ambas.Weinberg E Gould (2001) conceituam a visualizao ou mentalizao como sendo a criao ou a recriao mental de uma experincia. Ela a recriao da experincia sensorial (ver, sentir e ouvir), porm ocorrida apenas na mente. A visualizao pode tambm criar imagens de situaes que ainda no foram vividas. Apesar de a imaginao basear-se intensamente na memria, possvel construir imagens baseando-se em diversas partes da memria. Os autores afirmam ainda que a mentalizao, mesmo quando chamada de visualizao, deve conter o mximo possvel de sentidos (sinestsico, ttil, auditivo, olfativos, por exemplo).(SILBERFARB, 2011, pg. 74).A visualizao praticada durante uma sesso de hipnose proporciona uma experincia, que, para a memria, to verossmil quanto aquela realmente feita, na realidade. Assim, muitas vezes o indivduo se lembra de uma experincia mental ocorrida em determinada sesso como se fosse to real quelas tantas outras que ele vive cotidianamente, devido justamente ao modo de como esta experincia armazenada nas redes de memria. Ligget e Hamanda (1993) realizaram estudos com ginastas, em que submetiam atletas ao transe hipntico para realizar simulaes das atividades feitas em campos de treinamento e, surpreendentemente, as experincias com a hipnose foram to produtivas que acarretaram numa diminuio significativa do tempo usual despendido nas atividades, assim como numa melhora significativa do desempenho das mesmas. Outro atributo impressionante do estado hipntico a facilidade com que as memrias podem ser evocadas, e a isto denomina-se hiperminsia. Em experimentos realizados durante o curso de formao de hipnoterapeutas do Instituto Brasileiro de Hipnose Aplicada, era possvel constar como imagens e outros aspectos mnemnicos (aromas, sons) reapareciam em estado hipntico, provando que nada descartado pelo nosso crebro (WEISSMAN, 2011). Como exemplo deste fato, nos experimentos dos quais era pedido que se criasse um cenrio mental, como por exemplo uma sala ou um quarto, era possvel ver determinado abajur de cor vermelha, que mobiliava a casa de um parente, h mais de vinte anos. A maneira como a memria ativada durante estes estados extraordinria, e assim imagens diversas que foram percebidas anteriormente, sejam de objetos ou pessoas, prdios, casas, paisagens, reaparecem espontaneamente nesta nova percepo proporcionada pela hipnose. Este um exemplo que denota o aspecto inextricvel dos dados armazenados em nossas redes de memria (KANDEL, 2009). A distoro do tempo tambm muito comum durante os transes, de modo que os pacientes que so hipnotizados durante uma hora, ao retornarem viglia, afirmam terem permanecido em estado hipntico durante somente 10 minutos, ou algo aproximado. Outro fenmeno hipntico a hiperestesia, em que possvel experimentar sensaes tteis atravs da sugesto. Como exemplo de experimentos realizado entres colega de classe do j referido curso de hipnose, era pedido que se entrelaasse os dedos e ento o hipnotizador sugestionava que havia cola sendo derramada em cima dos dedos, de modo que aps o trmino da sugesto, o hipnotizado sentia imensa dificuldade em abrir os dedos, assim como a sensao de que os dedos realmente estivessem colados O que foi evidenciado, nestas prticas, que de fato as mos se encontravam rgidas e que era difcil separ-las, assim como todos sentiram esta sensao especfica, de ter os dedos grudados. Haja vista, tal movimento muscular complicado de se realizar normalmente, mas a partir do momento em que o paciente se encontre sob o efeito da sugesto, pode-se perceber a facilidade com que uma ideia ou sugesto se transforma numa sensao ou em um movimento muscular extremamente difcil de ser executado.

5- A RELAO MENTE-CORPO E A HIPNOSE

A partir das experincias relatadas, possvel crer que a prtica da hipnose oferece provas empricas de um predomnio da mente sobre o corpo, ou, de como afirmava Wundt (1892), da existncia de uma assimetria entre o lado mental e o lado fsico, em que a perspectiva fsica mais limitada em relao mental. Wundt atribuiu a isto o conceito de Paralelismo Psicofsico:

Do ponto de vista do tratamento emprico da vida mental, o princpio do paralelismo psicofsico contm apenas o pressuposto de que todo evento mental tem um processo fsico correspondente, enquanto que o inverso disso no de modo algum exigido, uma vez que inmeros processos fisiolgicos no tm relao alguma no s com os prprios fenmenos da conscincia, mas tambm com seus processos auxiliares, que ocorrem no sistema nervoso central. (WUNDT, 1889, pg. 584-585).De fato, as experincias corroboram esta afirmao. A partir de inmeros casos catalogados na histria da hipnose e observados na clnica, pode-se comprovar o efeito fsico causado por uma atividade mental, ou da predominncia de uma atividade mental condicionada pela sugesto, em detrimento mesmo ao da atividade autonmica do sistema nervoso. Assim, em determinados casos pode-se evidenciar a capacidade que possui a mente, seja para anular os estmulos provenientes do organismo (como no uso anestsico, analgsico ou na induo ao transe profundo), seja tambm para criar efeitos no organismo atravs de uma simulao mental como no uso da hipnose para relaxamento ou para causar sensaes.Wundt (1892) afirma que grande parte dos eventos mentais, como exemplo o pensamento, acontecem dentro de uma base sensorial, e causam excitaes fisiolgicas correspondentes:No h um processo mental sem processos fsicos simultaneamente correspondentes, pelo menos enquanto houver nele quaisquer contedos de sensao. A validade geral do paralelismo psicofsico realmente uma consequncia necessria do fato de que toda nossa vida mental tem um fundamento sensorial, e de que, portanto, no podemos pensar nenhum conceito, por mais abstrato que seja, e nenhuma ideia, por mais distante que esteja do mundo sensvel, sem empregar, para isso uma representao sensorial qualquer (WUNDT, 1892, pg. 485).O pensamento capaz de produzir os mais diversos efeitos sensveis no corpo, o que denota justamente o fato desta atividade mental tambm ser encontrada findada numa base fsica sensorial. A sugesto capaz de provocar uma sensao de calor ou frio, de estar flutuando em um rio, de ver as mais diversas cores, experimentar aromas, de sentir a imobilidade dos membros, sensaes de peso ou leveza, entre outras. A relao entre o pensamento e a sensao (o efeito ideosensitivo) foi muito explorada durante a prtica da hipnose, e o seu uso para provocar relaxamento profundo, diminuio da ansiedade, ou emoes agradveis comum na hipnoterapia. Entretanto, no so se pode limitar toda a atividade mental determinados processos fisiolgicos correspondentes, sobretudo no que concerne s dimenses valorativa e normativa da vida mental. O que Wundt afirma que existe uma correspondncia entre o mental e o fsico, mas que no possvel reduzir uma dimenso outra.Para a prtica da hipnose, o conceito de paralelismo psicofsico serve para ilustrar alguns aspectos da relao mente e corpo, que podem ser auferidos e verificados atravs de experimentos. A capacidade que um estmulo verbal como a sugesto tem de produzir os mais diversos efeitos fsicos e mentais justamente um atributo que a prtica da hipnose possui, e que esta prtica, quando utilizada adequadamente, capaz de proporcionar ao paciente uma ampliao de seu autoconhecimento assim como um domnio maior sobre a mente, o corpo e as emoes.

6- Os TRANSTORNOS DE ANSIEDADE

Os transtornos de ansiedade esto entre os mais comuns de todos os transtornos psiquitricos, e costumam prejudicar severamente a vida de um indivduo. Esses transtornos causam morbidade desordenada, uso de servios de sade e comprometimento de desempenho incomum. Segundo o Estudo Americano de Co-morbidade (National Comobirdity Study) uma a cada quatro pessoas possuem algum tipo de transtorno de ansiedade (SADDOCK, 2010). Entretanto, os tratamentos em voga das abordagens cognitivo-comportamentais e psicodinmicas, contiguamente ao farmacolgica, tm-se demonstrado extremamente eficazes. O tempo de tratamento costuma ser relativamente curto (SADDOCK, 2010). A ansiedade se caracteriza como um sinal de alerta para um perigo iminente, e tem como funo biolgica capacitar a pessoa para tomar medidas e lutar contra essa ameaa. Entretanto, no caso da ansiedade, esse perigo iminente de origem interna mas tambm incerto, desconhecido e conflituoso, ao contrrio do medo, que costuma estar ligado uma causa conhecida e externa. Como exemplo, uma pessoa que v diante de si um carro em alto velocidade e sente medo, bem diferente daquela pessoa que sente desconforto em virtude de lidar com uma pessoa desconhecida (SADDOCK, 2010).Aproximadamente um sculo atrs, Freud criou o termo neurose de ansiedade, que seria causada pela libido contida. Haveria assim um aumento fisiolgico da tenso sexual, que implicaria num aumento correspondente na libido e na representao mental desse evento fisiolgico. A soluo para diminuir estas tenses seria a relao sexual. Como exemplos de neuroses causadas pelo bloqueio da libido, Freud citava a neurastenia, a hipocondria e as neuroses de ansiedade (SADDOCK, 2010).A ansiedade normalmente sentida por todos, sendo considerada uma manifestao normal do organismo. Tambm tem funo adaptativa na medida em que adverte o organismo de uma ameaa externa ou interna.Contudo, o fator incisivo para se considerar um transtorno o grau de ansiedade sentido, e os comportamentos subsequentes. Como exemplo de sintomas autonmicos da ansiedade esto a cefaleia, transpirao, palpitaes, aperto no peito, leve mal-estar epigstrico, e inquietao motora (SADDOCK, 2010). O indivduo que sofre de ansiedade tem uma experincia que se caracteriza por dois componentes diversos: a percepo das sensaes fisiolgicas e a percepo do fato de estar nervoso. Afora os sintomas motores e viscerais a ansiedade afeta o pensamento, a percepo e o aprendizado. Outra caracterstica do estado de ansiedade, a incapacidade que o indivduo sente em ampliar o foco de ateno, e assim expandir o universo de fenmenos que o afeta, de modo que estmulos diversos, como por exemplo estmulos considerados agradveis, poderiam estar sendo percebidos; consequentemente este indivduo no se encontraria to vulnervel quilo que o ameaa (SADDOCK, 2010).Obviamente, uma experincia de ansiedade no sentida e interpretada igualmente por todos. Essa questo depende em muito de como se encontra o ego da pessoa, das defesas psicolgicas empregadas para lidar com a tenso, da capacidade de abstrao de estmulos externos ou internos, entre outros.O desequilbrio pode ser externo, quando um indivduo entra em conflito com as exigncias de sua vida social e o seu ego, interno quando h conflito do ego com os impulsos do organismo, e tambm h casos em que ambos os tipos de desequilbrio esto presentes, como por exemplo a situao de um empregado que obrigado a aceitar as imposies de seu chefe e que, para tal, necessita controlar seus impulsos durante o tempo em que exerce as suas atividades. O autor descreve na atualidade trs linhas de teorias psicolgicas se destacam no tratamento de pacientes que sofrem com algum dos transtornos de ansiedade: a teoria psicanaltica, a comportamental e a existencial (SADDOCK, 2010). No entendimento da teoria psicanaltica, a ansiedade causada no somente pelo acmulo fisiolgico da libido -Freud reiterou sua opinio sobre este ponto durante a sua carreira-, mas pela presena do perigo no inconsciente. O indivduo ansioso sofre, assim, um conflito entre seus desejos sexuais e seus desejos agressivos, e a ao de seu superego recriminando-o e a sua posio perante a sua vida cotidiana (SADDOCK, 2010). A ansiedade acarreta em represso e no o seu contrrio, fato que entra em acordo com os estudos da neurobiologia sobre a amgdala e o seu papel no sistema nervoso. provado que a amgdala responde emoo de ansiedade sem que haja algum resqucio na memria consciente, corroborando as afirmaes da Freud sobre o sistema de memria inconsciente envolvido nas respostas de ansiedade. Na perspectiva psicanalista, a finalidade da terapia no eliminar a resposta de ansiedade, mas sim aumentar a tolerncia do indivduo perante, e utiliz-la como uma direo na busca do conflito inconsciente (SADDOCK, 2010). Para os comportamentalistas, a ansiedade se resume uma resposta condicionada a estmulos especficos de uma situao ambiental, e que, atravs de um condicionamento operante, teriam se generalizado para estmulos diversos, dito neutros. Nos ltimos anos, os tericos da psicologia comportamentalista engendraram os estudos da psicologia cognitiva para criar novos mtodos teraputicos. Quando no h ansiedade fbica, possvel reconhecer determinados padres de pensamento como agentes eliciadores de ansiedade. Os tericos desta teoria concebem que o tratamento deve tanto combater o aspecto cognitivo, de onde provm os estmulos internos que exasperam a situao (crenas, pensamentos disfuncionais), como tambm necessrio se expor aos estmulos ambientais eliciadores de medo e ansiedade, gradualmente, at que esta situao perca sua significncia. Durante este processo, o paciente instrudo a lidar com as suas emoes, utilizando tcnicas de autocontrole e relaxamento, e pode tambm ser assistido pelo terapeuta na parte inicial da exposio de estmulos. Estudos comprovam que esta modalidade de terapia tem se mostrado a mais eficaz no tratamento desses transtornos (SADDOCK, 2010).Na concepo das teorias existenciais, no existe um estmulo especfico para causar a ansiedade, mas sim um sentimento de vazio profundo que toma o paciente, deixando-o vulnervel s emoes consideradas como negativas. Segundo estudos da psiquiatria moderna, as reaes do sistema nervoso autnomo so comuns nos transtornos de ansiedade, embora no sejam exclusivas destes tipos de transtornos, apenas. Os sintomas podem ser cardiovasculares, musculares, gastrintestinais e respiratrios. Segundo a teoria de Walter Cannon, ao longo do desenvolvimento desses transtornos, a ansiedade subjetiva aumenta, e est associada ao medo das reaes perifricas. Assim, mesmo na ausncia de estmulos eliciadores, o medo e ansiedade esto presentes, e podem estar mais associados s sensaes do corpo do que s situaes ambientais perturbadoras. Atualmente, sabe-se que so trs os principais neurotransmissores associados ansiedade: norepinefrina, serotonina, e cido Y-aminobutrico (GABA).De acordo com o DSM-IV-TR so 12 os transtornos de ansiedade: 1) Transtorno de pnico com agorafobia, 2-) Transtorno de pnico sem agorafobia. 3-) Agorafobia sem histrico de transtorno de pnico, 4-) Fobia especfica, 5-) Fobia social, 6-) Transtorno obsessivo-compulsivo, 7-) Transtorno do estresse ps-traumtico, 8-) Transtorno do estressa agudo, 9-) Transtorno de Ansiedade Generalizada, 10-) Transtorno de Ansiedade devido uma condio mdica geral, 11-) Transtorno de Ansiedade Induzido por uma Substncia, 12-) Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificao.

7- A HIPNOTERAPIA APLICADA AOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE7.1 Panorama dos pacientes ansiosos Uma caracterstica comum dos pacientes que sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade perda da noo de causa e efeito ou ao e reao, de modo que em determinados momentos vivem tranquilamente, e em outros, so acometidos por alguma forte emoo que causa muito sofrimento e da qual desejam imperiosamente se afastar. Com o prolongar desta situao, o processo de avaliao mental voluntrio enfraquecido, e as reaes tendem a ocorrer de modo mais automtico (SPINELLI 2011).A ansiedade pode ser caracterizada como o efeito de uma reao neuroendocrinolgica em decorrncia de uma situao objetiva ou subjetiva de perigo, em que h uma descarga na corrente sangunea dos hormnios de adrenalina e noraadrenalina atravs das secrees das suprarrenais. Diferentemente do medo, que costuma estar relacionado como uma causa externa identificvel, o objeto temido nos transtornos de ansiedade no sempre evidente (SADDOCK, 2010).Esta emoo em especfico age como um agente intrusivo, um corpo estranho do qual necessrio se afastar- de acordo com o parecer dos pacientes, e na maioria das vezes este sofrimento visto com distanciamento, como se fosse apenas o corpo que estivesse sofrendo, e no houvesse alguma razo para tal. Na medida em que as reaes de ansiedade aumentam, o indivduo passa a apresentar uma estrutura psicolgica propensa aos sentimentos angustiosos e neurticos, de modo que os estmulos eliciadores das perturbaes emocionais se generalizam, e assim os estmulos neutros passam a ocasionar as mesmas reaes que os estmulos primrios de um transtorno (SPINELLI, 2010).Os comportamentos mais comuns so o de fuga ou evitao, que justamente pelo fato de no poderem se dar concretamente, devido a impossibilidade de serem realizados literalmente, passam ento a ocorrer atravs de aes mentais e de pequenas aes fsicas muito comuns nos casos de TOC. Com o prolongar destes estratagemas, o indivduo passa a agir de forma condicionada, e se afasta, mais e mais da causa primordial. Ademais, a tendncia a fugir da ansiedade tambm pode se tornar medo. Em meio a este turbilho de eventos, o corpo bombardeado de adrenalinas e neurohormnios, e a sade comea a apresentar sinais de fraqueza; h baixa das defesas imunolgicas, perda da motivao, cansao fsico e mental, e alienao parcial do mundo interno e externo. O crebro possui trs tipos de memria associadas s estruturas cerebrais e so elas: a memria declarativa, procedimental e emocional. provado que nos transtornos de ansiedade a memria emocional a mais afetada, embora tambm possa haver prejuzos nos outros dois tipos de memria. Esta memria tem grande ativao na amgdala, sobretudo no que concerne recordao do medo. Este fator incisivo no que diz respeito capacidade de uma avaliao de maior escrutnio dos estmulos que possam eliciar emoes de medo e ansiedade (SIMURRO, 2010) . Com o prolongar de um transtorno, muitas crenas errneas comeam a ser formadas, especialmente sobre o que est acontecendo no mundo interior, que reaes so estas e o que elas podem causar, se isto sinal de loucura ou se normal ser acometido por emoes to intensas. Devido aos tipos de crenas que permeiam a sociedade e que so perpetuadas atravs de condicionamentos socioculturais, muito comum o fato de um indivduo entender as perturbaes que o afetam como sendo algo de sua cabea, de tal maneira que assim que isto passar ele voltar a sua normalidade, bastando para tal, se esquecer deste fato ou usar remdios que aliviem o sofrimento, e que o permitam, assim, voltar ao estado anterior, quela condio considerada como sendo de normalidade. muito comum esta viso segregada, em que corpo est separado da mente, ou que crebro e corao representam entidades distintas ou opostas (SPINELLI, 2010). Outrossim, a velha dicotomia entre a razo e emoo, leva o indivduo ansioso a relegar ao corpo pois em sua concepo apenas o corpo que sofre- o papel desempenhado por uma mquina orgnica, sem sentimentos, que deve responder de forma operacional e se ater s funes que lhe forma delegadas, na mesma medida e intensidade que sua vida usual requere. Com o prolongar dos ataques de ansiedade, um grande desconhecido paira sobre o indivduo, que aumenta gradativamente, na medida em que este busca se afastar do conflito sem conhecer a causa; o conflito emocional usualmente representado de forma fria, distante e falsamente objetiva, como se fosse algo egodistnico, separado de si e sem relao com a sua estrutura psicolgica at ento (BARLOW, 2009). Alm disto, o meio social em que est inserido continua exigindo que este indivduo produza na mesma intensidade ou mais, e esta obrigao, que responsvel por seu sustento, tambm um agente coercitivo, que gera muitas angstias. O ambiente social em que est inserido se manifesta ora de forma concreta provendo estmulos que podero causar ansiedade -a demanda de seu trabalho, as expectativas das quais precisa corresponder, o exerccio de suas tarefas, como tambm se far presente em suas redes de memria, de modo que as emoes de medo, ansiedade ou angstia podero se manifestar nos mais diversos momentos e locais (SAUAIA, 2010). Uma vez que a causa do sofrimento ainda no tenha sido descoberta, a maneira impulsiva de agir e de reagir se tornar mais intensa. H tambm o aumento da reao subjetiva, que se caracteriza pelo medo de sentir as reaes perifricas que ocorrem no corpo (BARLOW, 2009). Um fator crucial nesta etapa que se situa entre o incio de um transtorno ao seu desenvolvimento pleno a homeostase do organismo entre os momentos de sofrimento e o prazer, aqui citado em seu significado extenso, no se restringindo somente ao prazer da vida amorosa mas tambm abrangendo o prazer de ler um livro, ver um filme, ouvir uma msica, enfim, do prazer proporcionado nos mais diversos momentos de diverso e alegria (ANDRADE, 2010). H de se considerar igualmente a ao de vrios neuro-hormnios como as dopaminas, serotoninas e noradrenalinas, que so estimulados durante determinada rotina de atividades; fato este que ser crucial para definir o grau de intensidade que um transtorno poder afetar a vida de um indivduo, assim como a capacidade de seu organismo de suport-lo. comprovado que uma situao de stress capaz de ativar o sistema nervoso somtico, o nervoso autnomo, o neuroendocrinolgico e imunolgico (SIMURRO, 2010).O crebro humano dotado da capacidade de avaliar subjetivamente mesmo quilo que acontece de forma irracional, como por exemplo, as reaes emocionais primrias. Esta caracterstica possibilita ao ser humano no ceder compulsoriamente aos seus instintos. Em decorrncia desta capacidade, percebe-se nos pacientes ansiosos, muitas crenas sobre o corpo e o efeito decorrente das emoes, sendo tambm comum alguns destes pacientes apresentarem a hipocondria como sintoma. Segundo Damsio, existe a emoo e a sensao da emoo em relao ao objeto que a despertou, assim como h tambm a relao entre objeto e o estado emocional do corpo (DAMASIO, 2007). Um dos grandes desafios da neurocincia atualmente desvelar sobre as ligaes entre corpo e mente, soma e psique. Atravs dos estudos das estruturas neurobiolgicas, tem-se como fato irretorquvel que o funcionamento do corpo indissocivel do estado emocional, assim, como por sua vez, que as emoes no se dissociam de um estado do corpo (SIMURRO, 2010). William James salientou bem este fato no dizer abaixo:-me muito difcil, se no mesmo impossvel, pensar que espcie de emoo restaria se no se verificasse a sensao de acelerao do ritmo cardaco, de respirao suspensa, de tremura dos lbios e de pernas enfraquecidas, de pele arrepiada, e de aperto no estmago. Poder algum imaginar o estado de raiva e no ver o peito em ebulio, o rosto congestionado, as narinas dilatadas, os dentes cerrados e o impulso para a ao vigorosa, mas, ao contrrio, msculos flcidos, respirao calma e um rosto plcido? (DAMASIO, 2007, pg. 56).Carl Jung define o corpo como sendo uma entidade vital captada pelos sentidos. Em contrapartida, o paciente que sofre com um transtorno de ansiedade, sente-se desagregado e desconexo, perdido em meios s sensaes corporais desagradveis, emoes intensas e interpretaes sobre essas emoes; tem pensamentos conflituosos, que geram as mais diversas emoes que, subsequentemente, tambm so gerados e estimulados por estes prprios estados corpreos (SPINELLI, 2010). Conforme o indivduo permanea nesta situao, torna-se mais passivo sobre a atividade irracional e instintiva de sua conscincia, seu organismo sofre com o desencadear das emoes nocivas, que liberam toxinas e neuro-hormnios na corrente sangunea, a baixa imunolgica o deixa propenso doenas, e o cansao instaura-se. Com a baixa da atividade mental consciente, a avaliao voluntria dos estmulos comprometida; todavia a atividade do sistema lmbico no diminui, as reaes automticas ou inconscientes aumentam de fora, e tudo vai sendo armazenado nas redes de memria (ANDRADE, 2010). Os chamados pensamentos automticos pululam na conscincia, gerando sentimentos neurticos. Analogamente, os pensamentos so como as palavras do teste de associao de palavras com uso de um galvmetro, realizado por Jung. Como comprovado por estes testes, as palavras causam alteraes fisiolgicas imediatas, assim como os pensamentos disfuncionais ou ilgicos (BECK, 1997).Esses tipos de pensamento, caracterizados por provocar o chamado afeto negativo, na medida em que so correspondidos e reforados, aumentam sua fora na conscincia conforme estas situaes com as quais correspondam continuem ocorrendo, gerando assim crenas mais profundas, que se destinaro ao mundo externo e interno deste indivduo, e tambm as suas expectativas sobre a vida. 7.2 A soluo Teraputica Uma etapa preliminar estimular a atividade cognitiva benfica, e combater crenas irracionais que se tornaram preponderante justamente por terem sido associadas emoes intensas de medo e ansiedade. Instrui-se o indivduo a no responder automaticamente essas emoes, ensinando-o tcnicas de respirao e relaxamento para atenuar o sofrimento causado e diminuir a ao da atividade autonmica do sistema nervoso; ele tambm aconselhado a tentar identificar os pensamentos tidos durante esse momento de perturbao emocional, assim como tambm relatar numa espcie de dirio o que estava fazendo neste momento, o local e o que acontecia sua volta. O intuito desta tcnica listar as possveis fontes de estmulos tanto provenientes da situao ambiental -da percepo, como tambm daqueles oriundos da cognio (BARLOW, 2009).Conforme sejam identificados os pensamentos disfuncionais, o terapeuta trava dilogos com o paciente a fim de refletir sobre o que estas crenas representam e no quanto afetam sua vida, e inclusive d oportunidade ao paciente de realizar uma argumentao dialtica consigo prprio, fazendo-o entrever os lados opostos de uma crena ou assero, ajudando-o a examinar minuciosamente certos significados que estabeleceu. possvel extrair a partir de tcnicas como a do ABC (antecedents, behavior e consequences) fatos com os quais determinados pensamentos ilgicos esto associados, e, a partir de ento, tenta buscar a partir da anlise do desenvolvimento do indivduo, as aprendizagens que foram feitas anteriormente e as razes que expliquem o porqu de determinados comportamentos e representaes mentais. Tambm possvel, atravs das tcnicas de hipnose, buscar na memria experincias passadas que tenham causado abalo emocional, e ajudar os pacientes revivenciar os fatos, trazendo tona um contedo mental que possa ser trabalhado na clnica. O terapeuta o instrui a representar determinada situao, descrevendo as caractersticas mais marcantes da mesma, assim como tambm o ajuda a expressar que sentiu.O tratamento dos transtornos de ansiedade possui duas diretrizes ou metas que podem ser trabalhadas concomitantemente. A primeira est em buscar entender as razes e motivos que estejam causando esta perturbao emocional, e para tal, so utilizadas as tcnicas advindas da Terapia Cognitiva Comportamental. A segunda se caracteriza por lidar diretamente com os sintomas (SILBERFARB, 2010).Durante a primeira etapa, um grande entrave a resistncia do paciente para relatar seus pensamentos, de tal forma, que necessrio o terapeuta esclarecer que a terapia tambm uma forma de aprendizado que se estabelece numa relao mtua, e que necessrio esforo e vontade para superar um conflito. pedido ao paciente que mude a sua postura em relao ao transtorno e a si mesmo-, e que aja de forma mais ativa em frente aos acontecimentos de sua vida. As tcnicas de exame do pensamento e das emoes incutiro num maior conhecimento sobre sua a conscincia, e a medida que este comportamento de reflexo seja reforado, o paciente agir de forma menos automtica e mais racional. Mediante as tcnicas de induo ao transe, possvel alterar a frequncia das ondas cerebrais e levar o paciente um estado de paz e relaxamento, sem necessitar do auxlio de frmacos. Desta forma, pode-se fazer o paciente compreender que possvel viver de outra maneira, que o seu corpo e sua mente no so locais temidos, e que possvel sentir tranquilidade e prazer com maior frequncia em sua vida diria. Durante a sesso, o hipnoterapeuta pode utilizar de imagens e frases motivadoras, que sero gravadas na memria, e consequentemente atuaro na conscincia. Quando identificados os primeiros conflitos, este uso direcionado justamente para pelejar ideias conflituosas e crenas associadas s emoes de medo e ansiedade. Atravs da hipnose, possvel estimular uma reestruturao cognitiva, valendo-se de imagens e sugestes verbais. Segundo Epstein (1989), a imagem mental a mente pensando atravs de imagens. As imagens sempre foram utilizadas durante a histria para expressar valores e ideias para os quais a linguagem limitada; seja na artes, na espiritualidade e em outros segmentos da cultura, assim como no incio da psicologia cientfica, sendo que o seu uso voltou a ser relevante e corrente na segunda metade do sculo XX em virtude das pesquisas realizadas pela neurocincia cognitiva. Para Telles (2007): (...) as imagens mentais so uma forma de como fotografamos nossas sensaes, nossas emoes, e quem faz a busca dos referenciais so nossos pensamentos. As imagens so fotografadas com nossas lentes, nossos filtros, nossa forma de interpretar os eventos. Um sentimento para um sujeito tem uma imagem especfica e para outro tem outra imagem representativa. As caractersticas do que fotografamos dependem do que a gente compila nas nossas experincias de vida que funcionam como forma de darmos um colorido pessoal a cada evento, a cada cenrio (TELLES, 2007, pg. 88).Ainda em 1898, Pierre Janet, descobriu que experincias traumticas geravam memrias que ao serem evocadas surgiam na qualidade de imagens. Freud e Breuer tambm direcionaram seus estudos para compreender o que significavam s imagens que apareciam em sonhos, e os conflitos que poderiam estar sendo representados nelas. Carl Jung tambm enxergou nas imagens onricas uma forma de mensagem advinda da mente inconsciente (SILBERFARB, 2010).De acordo com Epstein, Janet criou uma tcnica chamada de substituio imaginria, que visava fazer com que os pacientes pudessem reexperienciar situaes perturbadoras, e substituir imagens perturbadoras por imagens agradveis e mais adaptativas. Em sua concepo, o processo imagtico envolve todos os sentidos, e no somente a viso. Quando se altera uma imagem, altera-se tambm a sensao e emoo que estavam conectadas com esta imagem (SILBERFARB, 2010).As imagens so representaes internas atribudas experincia do indivduo com determinada situao. Atualmente alguns terapeutas fazem uso das imagens para tentar modificar esquemas mal adaptativos, ou para dar outra significao um determinado acontecimento perturbador (SLBERFARB, 2010).A partir dos dados auferidos com diversos pacientes que sofrem de algum tipo de transtorno ansiedade, certas imagens relatadas possuem uma caracterstica e um significado comum cada tipo especfico de transtorno: no transtorno de fobia social a imagem mental de estar sendo olhado por outra pessoa, no transtorno do stress ps-traumtico, o contedo da imagem traz uma revivncia do trauma, no transtorno do pnico a imagem de estar sofrendo um infarto, no de fobia especfica, a do objeto ansiognico temido. Pode-se utilizar imagens como formas de integrar pensamentos lineares (racional) e sistmicos (subjetivo), uma vez que o pensamento por imagem tem com caracterstica no ser racional, lgico ou verbal. Alguns terapeutas se valem de tcnicas de exposio s imagens para esmaecer o nvel do medo atribudo ao objeto ansiognico, como utilizado nos transtornos do Estresse Ps-Traumtico (TEPT) e Obsessivo Compulsivo (TOC); este uso tambm vlido para se criar novas associaes entre o objeto temido e crena subjacente, atravs de tcnicas da hipnoterapia cognitiva (SILBERFARB, 2010). Para se aprofundar nos relatos trazidos pelo paciente podese aplicar a hipnoterapia, para fazer um paciente revivenciar determinada situao ansiognica, a fim de descrever todos os componentes desta situao: como era o ambiente em que estava, o que sentiu, quais foram as sensaes causadas em seu corpo, que pensamentos, ideias ou imagens lhe ocorreram (SILBERFARB, 2010). Quando se consegue fazer com que o paciente retorne mentalmente um evento traumtico, recriando a situao tal como era, possvel induzir uma imagem mental benfica que traga uma nova significao sobre o evento. A hiptese subjacente esta tcnica, que, contiguamente construo mental trazida tona, se encontra o afeto, e que as sesses de hipnose podem criar na memria uma nova associao entre o afeto e esta nova construo mental (SILBERFARB, 2010).Da mesma maneira, a partir do momento em que se tenham identificados os primeiros conflitos, possvel utilizar a hipnose para simular estratgias de enfrentamento. No prosseguir das tcnicas de reestruturao cognitiva, o terapeuta deve instruir o paciente a suportar o sentimento pungente para assim no realizar o comportamento com o qual este sentimento estava condicionado, que so em sua grande maioria comportamentos de fuga e evitao (BARLOW, 2009). Como por exemplo, no caso do Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma vez que j se tenha discutido e elucidado sobre a irracionalidade de determinadas crenas, o paciente instrudo a se abster de realizar determinado comportamento ou ritual, de recobrar seu equilbrio emocional, e alterar o foco de sua conscincia para temas e pensamentos mais agradveis. Este enfrentamento situao ou ao objeto ansiognico pode ser feito de maneira gradual, sendo possvel averiguar a diminuio do grau de intensidade de uma emoo e dos comportamentos compulsivos subsequentes, at o transtorno se extinguir completamente (CORDIOLI 2008). No transtorno de ansiedade social, uma vez que o terapeuta tenha explorado as representaes mentais atribudas s situaes ansiognicas, e argumentado com o paciente sobre determinadas crenas irracionais e pensamentos ilgicos, ele deve prosseguir a com a Exposio e Preveno de Rituais (EPR), e instruir o paciente a enfrentar s situaes ansiognicas, se valendo para tal, de instrues teraputicas como por exemplo refutar pensamentos disfuncionais, e de utilizar, quando necessrio, tcnicas de autocontrole e relaxamento (BARLOW, 2009). Haja vista, no momento em que o paciente lida com uma situao anteriormente temida, ele constitu uma nova experincia, que poder proporcion-lo prazer e felicidade, e assim ser armazenada em sua memria, trazendo tambm uma nova significao acerca da sua realidade (SILBERFARB, 2010). Muitos psiclogos criticam esta modalidade de terapia argumentando que os sintomas podem desaparecer durante um tempo, havendo, posteriormente, o retorno. Entretanto, a remisso de sintomas no algo totalmente provado, e existem estudos feitos com centenas de pacientes que realizaram a terapia cognitivo comportamental, e, mediante um pedido do terapeuta, retornaram clnica anualmente durante trs anos, e alegaram que os conflitos relatados desapareceram por completo, e de que tambm as tcnicas aprendidas durante a terapia se mostraram muito produtivas e fortuitas em suas vidas dirias.

CONCLUSO

Ao longo dos estudos tericos sobre a hipnose e a experincia proporcionada pelo Curso de Ps-Graduao, pude constatar aspectos relevantes que a modalidade de hipnose intitulada hipnoterapia pode oferecer ao campo da psicologia, e em especial, ao campo da psicologia clnica.A hipnoterapia uma ferramenta muito til ao terapeuta, pois seu uso possibilita no somente o relaxamento, mas tambm torna possvel uma investigao acerca do funcionamento mental do paciente. Por exemplo, pode-se ajudar o paciente acessar a sua memria, no que concerne um evento traumtico afim de extrair desta situao dados valiosos que possam ser trabalhados na clnica. Tambm possvel simular estratgias de enfrentamento determinada situao ansiognica, com o intuito de ajudar o paciente a enfrent-la; ou mesmo para ajud-lo a alterar a sua representao de uma situao ou de um objeto temido.A hipnoterapia realizada de forma contgua terapia cognitivo comportamental, de tal forma que as sesses de hipnose complementam o trabalho cognitivo realizado em clnica; o enfoque deste trabalho se caracteriza por ajudar o paciente a alterar determinada representao distorcida da realidade que ele desenvolveu, a partir de suas diversas experincias, que vo da infncia idade adulta. Para tal, so usadas tcnicas que visam combater crenas irracionais, pensamentos disfuncionais ou ideias ilgicas. Na medida em que o paciente altere uma concepo errnea do mundo, a sua adaptao vida torna-se mais fcil. Destarte, medos, fobias, e representaes distorcidas, somem com o tempo, permitindo, assim, que o paciente crie novos comportamentos, mais saudveis e de maior valor adaptativo.

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