SOBRE O MÉDIUM
Pablo de Salamanca nasceu no Rio de Janeiro em 1968. Possui formação de nível superior em
engenharia, graduando-se em 1991. Realizou mestrado a partir de 1992, defendendo sua tese em
1994. Ainda na sua área original de atuação profissional, iniciou doutoramento em 1995,
finalizando sua tese no ano de 2000. Começou seu desenvolvimento mediúnico em 1993,
psicografando a partir de 1994. O presente trabalho, “Vivências de Umbanda II”, é o 23o livro que
se concretiza pelas mãos de Pablo. Atualmente, neste início de 2020, 22 livros já eram
disponibilizados por Pablo ao público: Sabedoria em versos (2001), Depoimentos do Além
(2005), Vidas em versos (2005), O Trabalhador do Umbral (2007), Experiências extrafísicas
(2008), Fundamentos de Psicoterapia Reencarnacionista e um estudo de caso (2009), Reflexões
(2009), Experiências extrafísicas II (2010), Percepções (2011), Sonetos para refletir (2011),
Espiritualismo em foco (2012), Faces da projeção astral (2012), Novas percepções (2013),
Experiências extrafísicas III (2013), Vivências (2014), Projeção astral: perguntas e respostas
via Internet (2014), Guardião (2014), Viagem astral: relatos comentados (2015), Vivências de
Umbanda (2016), Umbanda e experiências fora do corpo (2017), Aqui e Além - Crônicas de
Umbanda (2018) e Experiências extrafísicas IV (2019).
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, aos mentores espirituais pelo amparo e proteção. Pai e mãe, muito
obrigado pelo amor e sacrifício desinteressados. Sou profundamente grato, também, aos amigos
materiais que de forma indireta contribuíram para a execução desta obra. Estes são tantos, que
prefiro não citá-los, para evitar cometer injustiça com alguém. Agradeço especialmente a Terezinha
S. do Carmo e a Nélson Vilhenna, pois colaboraram diretamente na elaboração deste livro.
CAPA
A capa é fotografia de Gerd Altmann, que pertence aos arquivos do site http://pixabay.com/pt/
(acesso em 04/02/2020), e, conforme o mesmo, de uso inteiramente livre.
DIREITOS AUTORAIS - Atenção!
Esta obra possui direitos autorais devidamente registrados, e não será comercializada de forma
alguma. Embora o livro seja oferecido gratuitamente, através de download, pelo site
www.harmonianet.org, ele só poderá ser reproduzido com a autorização do autor, após contato
através do e-mail [email protected], quando será permitido citá-lo em parte ou no todo,
desde que denominando o “autor” e a home page responsável pela sua manutenção na internet.
ÍNDICE
PREFÁCIO 1
INTRODUÇÃO 2
RELATOS DAS VIVÊNCIAS (PARTE 1) 4
1- A ação de Ogum Beira-mar 5
2- A atenção do Exu Caveira 7
3- A chegada do Erê Zequinha 10
4- A corrida dos erês 13
5- A resposta 16
6- A resposta de Iemanjá 18
7- O passe do Caboclo Treme-terra 20
8- A balinha do erê 23
9- A proteção do Exu Pinga-fogo 25
10- A revelação do Erê Crispiniano 28
11- A solução do exu 31
12- A volta da consulente de Pai Cipriano 34
13- Ajuda da malandragem 37
14- Ajuda imprevista do Caboclo Serra Negra 39
15- Armadilha no terreiro 42
16- Cigana Maria de la Cruz 45
17- Clarividência na mata 47
18- Pedrinho da Praia 49
19- O aniversário do terreiro 52
20- Erê Manguinho 55
21- Orientação e previsão do Sr. Pena Verde 59
22- O alerta de Exu-mirim 62
23- Joãozinho da Mata 65
24- Oferenda a Oxóssi e desdobramento espiritual 68
25- Umbanda presente no lar 71
26- Sessão de Umbanda além da matéria 74
27- Oferenda a exu e o resultado no Plano Astral 77
28- O Sr. Pena Verde e meu processo cármico 80
RELATOS DAS VIVÊNCIAS (PARTE 2 – COM PSICOGRAFIAS) 83
A- Pai Cipriano: “Folhas ao vento” 84
B- Um trabalho de Zé Pelintra 86
C- Pai Cipriano: “Pontas soltas” 88
D- O homem julga, mas a justiça é de Xangô 91
E- Pai Cipriano: “Pés sujos” 93
F- Exu Caveira: “Na hora da morte” 95
PALAVRAS FINAIS 98
PREFÁCIO
Este livro é composto por relatos de vivências de Pablo de Salamanca, dentro
da Corrente Astral de Umbanda, após mais de 25 anos de experiência com a
mediunidade umbandista.
Os relatos de vivências foram divididos em duas partes. Na primeira, estão os
que envolvem, em grande proporção, a atuação das entidades de Umbanda em
sessões de terreiro, mas também casos que se passam no cotidiano do autor, ou
mesmo que foram assimilados a partir de experiências fora do corpo. Na segunda
parte, estão os relatos que apresentam psicografias de trabalhadores espirituais do
Umbandismo, através da mediunidade de Pablo de Salamanca. As vivências, de
forma geral, não foram dispostas em ordem cronológica, mas sim, conforme foram
relembradas.
O objetivo desta obra não é ser um mero compartilhamento de casos verídicos
curiosos, mas sim de expressar a Espiritualidade de Umbanda, em sua essência, bem
como apresentar alguns esclarecimentos pertinentes. Além disso, o leitor poderá
aproveitar orientações preciosas trazidas por guias e guardiões da corrente
umbandista, que servirão de apoio as suas jornadas terrenas.
1
INTRODUÇÃO
O presente livro é, de certa forma, uma continuidade do seu predecessor, o
“Vivências de Umbanda”, que veio a público em 2016. Os leitores perceberão, sem
dificuldade, que os personagens encarnados e as entidades são, em sua maioria, os
mesmos do livro anterior, já que o conteúdo trata de minha própria jornada material
e espiritual. Apenas assinalo que, quanto ao amigo Nélson Vilhenna, ele já não se
encontra no Plano Físico, tendo desencarnado em 27/09/2018, e, ao que me consta,
tendo cumprido muito bem a sua mais recente missão terrena.
Ainda recordando o livro anterior, o primeiro do que se pretende ser uma série
sobre as minhas vivências no Umbandismo, lá ficou salientado que, na década de 90,
eu recebia uma entidade da Linha das Crianças, o Pedrinho da Praia, que havia
apontado este aspecto de minha programação mediúnica: escrever sobre a Umbanda.
Então, expresso aqui, mais uma vez, minha gratidão e respeito a esta entidade.
Bem, mas enquanto escrevo este texto introdutório, sinto-me na obrigação de
registrar uma reflexão que me veio à mente há poucos dias. O assunto é relativo a
uma velha história, que muitos devem conhecer, cujo título seria algo como “O
cavalo e a cenoura”. Na história, quem monta o cavalo segura uma vara com uma
cenoura amarrada na ponta de um fio, expondo-a na frente do animal, que marcha em
direção a ela, no intuito de comê-la. Assim, o cavaleiro consegue que o animal ande
para a frente, sem maiores dificuldades, porque o cavalo quer aquela “recompensa”,
ou seja, tem a cenoura como meta ou objetivo. A história é basicamente isto e
pretende demonstrar, de forma metafórica, que com o ser humano não é muito
diferente. Isto é, a pessoa que não têm um ou mais objetivos de vida, perde o rumo e
não consegue ir à frente, ainda que sua meta seja um tanto ilusória.
Entretanto, ao refletir sobre esta história, pensei que, na prática, muitos
cavaleiros usam um chicote para fazer o animal caminhar adiante. Ou seja, na
ausência da apetitosa cenoura, o cavalo é instigado a avançar pela chibata. E isto não
2
acontece com muitos seres humanos, que pretendem apenas a estagnação? Nestes
casos, a vida vai impondo uma caminhada à força…
Contudo, o espiritualista equilibrado compreende que nem tudo é somente
“cenoura” ou “chicote”. A vida não é para ser vivida num ritmo de “oito ou oitenta”.
A harmonia precisa ser encontrada…
No presente livro, “Vivências de Umbanda II”, o leitor encontrará situações
em que pessoas estão como o cavalo que corre atrás da cenoura, sem alcançá-la, bem
como perceberá indivíduos que caminham movidos pela dor da chibata. Assim,
quem tiver interesse em olhar para dentro de si, através das experiências de outros,
poderá caminhar para frente, atrás de sua “cenoura”, mas entendendo que ela não é a
meta em si, mas apenas algo que lhe faz avançar em seu percurso e ir aprendendo em
cada passo. Por outro lado, o leitor atento poderá notar quais caminhos são
estimulados pelo chicote e, assim, avaliarem por si mesmos, se vale a pena...
3
RELATOS DAS VIVÊNCIAS
(PARTE 1)
4
1- A AÇÃO DE OGUM BEIRA-MAR
Na década de 90, quando eu ainda atuava no centro do amigo Nélson
Vilhenna, pude registrar um acontecimento interessante, envolvendo a entidade
Ogum Beira-mar. Nos relatos sobre guias e protetores da Umbanda, geralmente se
contam casos de caboclos, pretos-velhos, exus e crianças, porque essas linhas de
trabalhadores são mais comuns na atividade de consulta. Assim, não podia deixar
este fato relegado ao esquecimento e o exponho a seguir.
Naquela gira, estava uma jovem senhora de nome Leandra. Ela trabalhava
como auxiliar de enfermagem numa tradicional instituição de saúde. Já vinha
frequentando o terreiro há alguns meses, mas, naquela sessão, estava muito chateada.
Cerca de dois ou três dias antes, Leandra havia sido chamada à atenção por um
médico, chefe do setor no hospital, de uma forma muito rude. Além disso, ela não
tinha culpa do acontecimento, o que fazia aquela senhora sentir-se verdadeiramente
injustiçada.
Após a abertura da reunião, ocorreram algumas atividades dentro de cada
corrente vibratória invocada, quando chegou o período de cânticos a Ogum. Eu
recebi, como sempre, o Sr. Ogum Beira-mar. A entidade abordou à senhora Leandra,
colocando que a situação dela não ficaria daquele modo. Confirmou que havia
ocorrido, de fato, um erro, e que este não poderia ficar sem reparo. Ao final, o
espírito-guia disse que ela veria o que ia acontecer mais à frente.
Sete dias depois da citada gira, a convite da companheira de trabalhos
mediúnicos, Tetê Souza, fui com ela ao hospital onde trabalhava Leandra, para
visitar uma pessoa em recuperação. Depois da visita, Tetê Souza me chamou para
irmos até o setor onde trabalhava Leandra.
No caminho, pelos corredores do hospital, Tetê contou-me rapidamente que
Leandra estava muito surpresa. O médico que a havia ofendido, resolveu pedir
desculpas à Leandra, fazendo isso de forma muito educada e reconhecendo que agira
erradamente em relação à auxiliar de enfermagem.
5
Quando estávamos quase no setor de Leandra, terminando de subir um lance
de escadas, solicitei mais detalhes à Tetê Souza sobre o caso. Leandra logo apareceu
e me pediu para falar em tom mais baixo, pois alguém poderia ouvir, e o fato corria o
risco de se tornar uma fofoca em seu ambiente profissional.
Então, a auxiliar de enfermagem nos conduziu a um outro local, explicando
que o médico, quase sempre muito arrogante, a havia abordado com muita
serenidade e até humildade, dizendo que passara do limite e que precisava se
desculpar com ela. Em seguida, assinalou alguns pormenores, mas que não são
relevantes detalhar neste relato.
O que posso acrescentar ao contexto do fato é que, naquela época, eu era um
médium ainda bem novo. Não tinha experiência para compreender que, às vezes, a
ação das entidades de Umbanda pode ser muito rápida, quando necessária e
justificada pela Lei Maior, conforme fui percebendo ao longo do tempo.
Até hoje me pergunto qual teria sido o mecanismo de ação do Sr. Ogum Beira-
mar, com ou sem os seus falangeiros, perante a consciência do médico, de maneira a
promover um despertamento quanto a sua falha. Tenho algumas hipóteses em mente,
mas não percebo uma resposta definitiva...
No entanto, prevalece, em mim, a certeza da atuação positiva dos
trabalhadores espirituais de Umbanda, na direção de uma sociedade humana mais
harmônica. Salve Ogum Beira-mar! Ogunhê!
6
2- A ATENÇÃO DO EXU CAVEIRA
Aquela médium, a quem vou chamar de Samara, para preservar sua identidade,
era uma pessoa que causava muitos problemas naquele terreiro. Ela e seu marido
eram médiuns naquela casa há cerca de 40 anos. Ambos consistiam em um foco de
grande negatividade, porque, embora não dirigissem o centro, se julgavam com
maior sabedoria que os demais. Inclusive, volta e meia, afrontavam a própria mãe de
santo do templo. Era comum, também, que Samara, mas principalmente o seu
esposo, intimidassem os médiuns mais novos, de várias formas.
Contudo, o foco deste relato foi um fato acontecido com Samara, que atuava
muito através de intrigas, que criava no local. Sua mente, seu coração e sua língua
agiam constantemente para envenenarem o semelhante, de modo a trazer
desequilíbrio. Mas, ela não percebia que, aquilo que espalhava, voltava para si. Isto
ficou evidente numa sessão de exu, conforme o texto a seguir.
Naquela oportunidade, trabalhei intensamente com o Sr. Caveira. O exu havia
atendido a sete consulentes, mas, ao final, sempre alguns médiuns da casa o
procuravam para pedir alguma orientação ou a sua proteção. Portanto, o guardião já
havia conversado com mais de 10 pessoas.
No entanto, durante os pontos cantados de subida, o Sr. Caveira demonstrou
que a sua tarefa do dia ainda não havia findado. No seu deslocamento pelo terreiro,
ele foi ao encontro de uma médium. O exu simplesmente enlaçou um braço meu no
da mulher, conduzindo-a até um ponto de firmeza do terreiro. Chegando lá, ele disse:
"Eu vou subir, mas vou levar essas mazelas que estão contigo!"
Após a desincorporação da entidade, através de um tranco forte em meu corpo,
percebi que, ao meu lado, estava Samara. Ela me perguntou se eu estava bem.
Respondi que sim e me dirigi até o local onde estava o ponto firmado do Sr. Caveira,
bem como alguns apetrechos de seu uso.
Depois do fechamento da sessão pela mãe de santo, fui recolher alguns
materiais para depositá-los ao pé de uma árvore, no grande quintal do terreiro. Para
7
minha surpresa, Samara me seguiu, puxando conversa e perguntando se poderia me
ajudar em alguma coisa. Fui cordial com ela, dizendo que estava tudo sob controle.
Mas, ela continuou atrás dos meus passos. Estava solícita e demonstrava querer me
falar algo...
Ao pé da planta, coloquei uma vela remanescente das atividades do guardião,
bem como ervas e um restante de marafo. Então, Samara me abordou. Começou a
contar fatos do seu passado, sendo algumas informações particulares e outras sobre
como havia se agregado àquele centro umbandista. Achei estranha aquela
aproximação, porque eu não tinha afinidade com ela, nem com o seu esposo. Mas,
fui respeitoso e paciente, até porque ela estava falando alguns assuntos quase em tom
de desabafo. Em dado momento, apesar de todas as fofocas que ela sempre promovia
no terreiro, tive pena daquela senhora. Ouvindo-a falar, em certo instante, mirei os
seus olhos. Só então percebi que exprimiam muito cansaço e olheiras fundas.
Em seguida, nos despedimos. Eu precisava trocar de roupas e ir embora.
Dentro do templo, a mãe de santo se dirigiu a mim. Trocamos algumas ideias sobre a
sessão e, na sequência, ela me contou que Samara estivera bem adoentada nos
últimos dias e com muita insônia. Havia um processo obsessivo com ela. Por isso,
quase não tivera forças para ir à sessão. Só então entendi porque o Sr. Caveira se
dispôs a ajudá-la, ao final dos trabalhos do dia. Mas, isso não era tudo...
Troquei o uniforme de médium no vestiário e, com a minha mochila pronta
para a partida, fui até a cantina para comer algo antes de ir embora. Enquanto eu
mastigava um sanduíche, se aproximou um velho cambono do centro. Ele me contou,
espontaneamente, que antes de eu chegar ao templo, naquele dia, o esposo de Samara
a havia destratado na frente de muitas pessoas. Aquela senhora, portanto, estava
muito magoada com o marido. As constantes grosserias que ele fazia com outros
médiuns, bem como com alguns consulentes, havia se voltado contra a própria
esposa. A negatividade de ambos estava causando choques familiares, que, naquela
oportunidade, vieram a público.
8
Assim, entendi de forma mais completa porque o exu a havia ajudado.
Também compreendi o motivo dela estar simpática a minha pessoa, naquele final de
gira, pois ela tivera a atenção do Sr. Caveira.
Bem, neste final de relato, o amigo leitor deve estar perguntando mentalmente
se a Sra. Samara tornou-se um melhor ser humano e uma médium mais equilibrada,
após este episódio. Respondo que, infelizmente, muito pouco se alterou no seu
comportamento. Mas, isso é um fato normal. O ser humano que não deseja, do fundo
do coração, ser alguém melhor, não realiza transformações evidentes. Ela já tinha
recebido várias oportunidades, ao longo do tempo, naquele terreiro. Entretanto,
quase sempre suas características mais negativas se sobressaíam. O futuro, com
certeza, trará consequências para os seus atos...
Contudo, é possível aprender com as falhas e erros de outras pessoas. Desta
forma, quando eu estiver intuído neste sentido novamente, volto a escrever sobre
casos envolvendo a Samara ou ao seu esposo. Salve Umbanda! Laroiê Exu Caveira!
9
3- A CHEGADA DO ERÊ ZEQUINHA
Naquela época, década de 90, eu trabalhava com o Pedrinho da Praia, entidade
sutil, na “Mesa de Umbanda”. No entanto, às vezes, eu sentia a presença de outro
trabalhador espiritual da Linha das Crianças, mais agitado do que o bem-comportado
Pedrinho. Eu não sabia quem era, ou seja, qual o seu nome. Porém, isso não me
preocupava. Apenas fiquei um tanto curioso, como todo médium ainda no início de
sua jornada mediúnica.
Num determinado dia, na universidade, fui comprar algo para comer em um
dos vários quiosques existentes. Ali trabalhavam mãe e filha, mas só a moça estava
presente naquele horário. Ela sabia que eu era espiritualista e começou a puxar
assunto. Embora eu fosse tão jovem quanto ela, aconselhei-a sobre algumas
questões, pois ela passava por problemas e tinha uma personalidade muito impulsiva.
Após um certo tempo, por algum motivo que não recordo mais, ela passou a falar
sobre o erê de sua mãe, cujo nome era Zequinha. E a jovem descreveu suas
características, quando incorporado, salientando que era muito ativo e bagunceiro.
Depois da conversa, fui assistir uma aula e, mais tarde, retornei para casa.
Tomei um banho e, em seguida, aproximou-se o erê que estava me arrodeando já há
algum tempo, inclusive no centro espiritualista onde eu labutava, sob a direção do
amigo Nélson Vilhenna. Fiquei atento, no meu quarto, e pude ouvir a entidade que
dizia repetidamente: “Eu sou Zequinha! Sou eu! Meu nome é Zequinha!”
Sua presença era vívida e marcante. Não tinha dúvida de que estava, ali, o
espírito que já me emitia as suas vibrações há algum tempo. Após uns minutos, ele
se afastou. Entretanto, como eu era médium ainda inexperiente, fiquei um pouco
desconfiado se minha mente não poderia estar me “pregando uma peça”, quanto à
identificação da entidade. Será que eu havia entendido direito? Talvez a moça da
cantina, sem querer, havia me sugestionado quanto ao Erê Zequinha.
Contudo, isso não me incomodou muito. Tendo a entidade este nome, ou não,
era questão de importância relativa. Eu apenas desejava ser um bom instrumento da
10
Espiritualidade. Assim, não contei o fato a ninguém, continuando minhas atividades
normais.
Semanas se passaram e o Nélson Vilhenna me convidou a ir visitar a médium
Ivana, que também pertencia ao nosso grupo espiritualista. Nélson era o dirigente e a
senhora Ivana era a médium mais experiente da casa, à época. Ivana iria fazer uma
limpeza espiritual em sua residência e queria a nossa presença e ajuda.
Uma vez no lar de Ivana, fizemos alguns procedimentos, como a defumação
do ambiente. Em dado momento, com o apoio de Nélson e Ivana, permiti a chegada
de uma entidade para auxiliar na limpeza do local. Para a surpresa de todos, era um
erê. Ele trabalhou através de mim, correndo e rindo pelos cômodos da pequena casa
de Ivana.
Quando ele sossegou um pouco, em plena sala, a senhora Ivana o abordou,
dizendo: “Eu sei o seu nome! O nome que você tinha na terra!” A entidade
incorporada, segundo o Nélson, que assistiu a tudo, ficou parada em frente à
médium, aguardando o que ela iria dizer. Então, a senhora Ivana falou de forma
confiante: “Você se chama José Carlos! Não é isso?” O erê sorriu, satisfeito, e disse:
“Tá certo, tiazinha! Meu nome é Zequinha!” E ela retrucou: “Você não é fácil não,
hein?” O espírito, na sequência, revelou: “Eu sou da calunga, tia! Sou Zequinha da
Calunga e eu vim aqui pra trabalhar!”
Depois que a incorporação terminou, Nélson, eu e Ivana conversamos sobre o
acontecimento. O dirigente de nosso grupo explicou que certos erês, que possuem
uma densidade vibratória maior, realmente atuam em trabalhos mais “pesados”,
como a limpeza de ambientes ou desfazendo magias negativas.
Mais tarde, em minha casa, achei muito interessante o fato da médium Ivana
captar intuitivamente o nome do erê, em sua última vida terrena, José Carlos, cujo
apelido associado é Zeca. Ou seja, como o espírito se manifestava na forma infantil,
adotou o nome diminutivo, que é Zequinha.
Aproveito o ensejo, para falar um pouco sobre a insegurança de médiuns
novos que, muitas vezes, somada à ansiedade, não permitem o entendimento sobre
11
qual entidade irá trabalhar através deles. Então, nesse contexto, médiuns
inexperientes não permitem um bom acoplamento na incorporação, de modo que o
falangeiro espiritual possa transmitir corretamente o seu nome. Assim, às vezes, as
entidades passam esta informação através de um sonho ou por outros meios. No meu
caso, à época, eu já sabia o nome do erê, que ainda não havia incorporado. Porém,
mantinha uma certa dúvida, interiormente, que foi debelada de uma maneira muito
curiosa, como descrito acima.
Até hoje trabalho com o Zequinha e existem algumas passagens interessantes,
com ele, na minha jornada mediúnica. Em outras oportunidades, pretendo contar
algo a respeito. Salve todos os erês. Onibejada!
12
4- A CORRIDA DOS ERÊS
Por cerca de sete anos, principalmente dentro da década de 90, trabalhei
mediunicamente no centro espiritualista do grande amigo Nélson Vilhenna. Duas
vezes por mês, realizávamos uma sessão que poderia ser chamada de “mesa de
Umbanda”. Na parte inicial, havia estudos com base no “Evangelho Segundo o
Espiritismo”. A segunda parte da reunião era focada em atendimento a espíritos
desequilibrados, bem como na atuação de entidades da corrente umbandista. Dentre
os guias e protetores do Umbandismo, era muito frequente a presença da Linha das
Crianças. Ali, os erês incorporavam em seus médiuns, à mesa, trabalhando sem se
levantarem, mas, mesmo assim, distribuindo suas orientações e auxílios com a sua
alegria peculiar.
As entidades mais frequentes eram o Zequinha, cujo médium sou eu, e o
Crispiniano, que trabalha através de Tetê Souza. Muitas vezes eles disputavam,
jocosamente, quem chegaria primeiro no seu respectivo médium, no momento
destinado aos ibejis. Em diversas sessões, eles incorporavam praticamente ao mesmo
tempo e ambos diziam que tinham chegado primeiro. E ficavam algum tempo
falando frases do tipo: “Eu venci!”; “Eu sou mais rápido!”; “Cheguei primeiro!”;
dentre outras semelhantes. Além disso, fingiam que estavam cansados, sobretudo o
Crispiniano, que fazia a sua médium respirar de forma ofegante, para demonstrar seu
esforço na suposta corrida.
Os consulentes, bem como os demais médiuns, se divertiam com a brincadeira
deles, nos contando alguns detalhes depois da reunião. Entretanto, a diversão dos
erês não durava muito tempo. Os dois “meninos espirituais” não demoravam a voltar
as suas atenções ao que era necessário fazer. Davam consultas a pessoas doentes,
desfaziam situações complicadas de magia negativa, dentre outros assuntos. Muitas
pessoas se beneficiaram da atuação deles, naqueles sete anos de trabalhos
intensivos...
13
Contudo, em determinado dia, ocorreu um fato interessante sobre esta
“disputa”, entre Zequinha e Crispiniano, para chegar em primeiro lugar. Naquela
oportunidade, a médium Sarah, que estava desenvolvendo a vidência do Plano
Astral, pôde assistir como os dois erês entraram no centro.
Nós realizávamos a sessão de “mesa de Umbanda” sempre com a porta do
salão aberta. Num dado instante, ela viu os dois garotos adentrarem o recinto, pela
porta, em desabalada correria. Um passou a dar cambalhotas, enquanto o outro o
puxou pela camisa. Depois, o primeiro segurou o braço do segundo, em tremenda
algazarra e alegria. Um ria do outro, enquanto “lutavam” para ver quem chegaria
primeiro nos seus respectivos médiuns. Logo em seguida, eles assumiram seus
aparelhos e ambos falaram que tinham vencido.
Este foi o relato de Sarah, minha prima, que pôde nos contar o fato ao final
daquela reunião, inclusive ao dirigente da casa, o Nélson, que sorria com a revelação.
Sarah estava espantada, porque ela pensava que tudo não passava de um pequeno
“teatro” que as entidades realizavam. Não acreditava que eles vinham correndo,
como sempre diziam. No entanto, naquele dia, sua clarividência funcionara muito
bem e ela estava surpresa, bem como achando tudo aquilo bastante engraçado.
Bem, deixando a brincadeira dos erês de lado, aproveito a oportunidade para
assinalar que, em sua maioria, os espíritos que trabalham na Linha dos Ibejis (ou
Ibejada) não são de fato crianças, mas sim seres maduros e experientes que apenas
usam uma forma infantil. Atuando assim, representando a inocência e a pureza
espirituais, atingem melhor aos seus objetivos. Não detalharei aqui, neste breve
relato, outros aspectos desta valorosa linha de trabalhos da Umbanda, que tem obtido
resultados surpreendentes, nos mais variados tipos de problema do ser humano
encarnado. Também não é possível detalhar ou discorrer sobre a questão anímica na
manifestação dos erês, agora. É claro que médiuns inexperientes ou em desarmonia
podem deixar extravasar os seus conteúdos emocionais, interferindo, em algum
nível, no trabalho dos ibejis. Porém, este assunto exige maior espaço e tempo,
ficando para um artigo futuro.
14
Vou finalizar este texto, usando uma frase do meu amigo Zequinha, que
sintetiza muito bem as atividades dos erês: “Eu trabalho brincando e eu brinco
trabalhando!”. E o resultado da ação das crianças, seja no campo psicológico dos
consulentes, seja em fatos bem evidentes e até concretos de suas vidas, têm atestado
a luz dos ibejis. Onibejada! Salve todos os erês!
15
5- A RESPOSTA
Às vezes, nós somos utilizados pela Espiritualidade como veículos de resposta
a nossos irmãos de jornada. E, neste contexto, frequentemente trazemos um
esclarecimento para alguém, sem que, ao menos, percebamos o fato. Em muitas
oportunidades, somente depois da ocorrência consumada, constatamos que fomos
instrumentos dos guias e protetores, para algo útil. Este relato é um bom exemplo
disso.
Naquela manhã, eu estava distraidamente no computador, olhando algumas
mensagens que haviam me chegado. Não era nada muito importante. Apenas fazia
uma checagem de rotina. De repente, tive um lampejo, lembrando que Tetê Souza
vinha recebendo, ultimamente, uma entidade masculina da Linha dos Exus: o Sr.
Tranca Tudo das Almas. Por muitos anos, ela trabalhou constantemente com pomba-
gira, não estando ainda acostumada com o guardião comentado.
Logo em seguida, fui tomado por um sentimento brincalhão, típico da
presença do Zequinha, o erê que atua no meu campo mediúnico. Na minha mente,
veio a seguinte interrogação: “Cadê tu, Tetê do Tranca Tudo?” Então, levantei-me
subitamente, com o desejo de fazer uma brincadeira com Tetê Souza. Percebi que ela
não estava no interior da casa, mas sim no quintal, talvez próxima ao grande portão
de entrada. Planejei rapidamente ir até lá e fazer-lhe a pergunta em voz alta. Isto a
incomodaria, porque ela é muito discreta, e não desejaria que qualquer vizinho
ouvisse a nossa conversa. Desta forma, eu já aguardava uma bronca dela, o que seria
engraçado...
Marchei pelo terreno da residência, com este sentimento travesso (com certeza
Zequinha estava presente), até que encontrei Tetê sentada, de costas para mim, em
profunda divagação. Logo disparei a pergunta, em tom relativamente elevado: “Cadê
tu, Tetê do Tranca Tudo?”
Adiantei-me, sorridente, para receber a reação dela, que não deveria ser das
melhores. No entanto, ela virou o rosto em minha direção, com os olhos
16
sobressaltados, demonstrando grande surpresa. Em seguida, falou muito séria:
“Nossa, meu Deus!” Eu parei de sorrir e indaguei: “O que foi? Aconteceu alguma
coisa?” Então, ela me explicou que já estava ali, há alguns minutos, pedindo algum
sinal da Espiritualidade para elucidar uma dúvida. Ela interrogava, mentalmente, se o
Sr. Tranca Tudo das Almas era de fato o guardião que ficaria trabalhando através da
sua mediunidade. Queria muito uma resposta do céu, mesmo que fosse através de um
simples sinal da natureza, como um passarinho pousar na sua frente, ou uma folha de
árvore cair aos seus pés. Ela esperava qualquer coisa, qualquer sinal, mas não que eu
surgisse daquela forma, falando justamente do assunto que perturbava ocultamente a
sua mente.
Passamos a conversar sobre o seu questionamento, que era oriundo do fato
dela sempre ter trabalhado com a força feminina da Linha dos Exus. Coloquei a ela
que, na realidade, não sabemos qual a totalidade da nossa egrégora espiritual. Não é
raro, conforme o tempo passa, outras entidades de trabalho irem se apresentando e
ocupando os seus lugares, com as suas especialidades e atributos, dentro da missão
mediúnica de cada um.
Depois de um tempo dialogando, tanto Tetê Souza como eu, ficamos muito
surpreendidos com o singelo e belo fato ocorrido naquela manhã de sábado. A
pergunta que ela fazia mentalmente, desejando rápido esclarecimento, teve uma
resposta inesperada, por alguém que ignorava a sua questão íntima. A Umbanda traz,
em seu bojo, um forte traço de surpresa e imprevisibilidade. Talvez isso seja mais
um dos atrativos desta corrente espiritualista, que tem feito tanto bem a milhares de
pessoas...
17
6- A RESPOSTA DE IEMANJÁ
A noite transcorria normalmente. Havia despertado somente por volta das
cinco horas da madrugada, para beber água e ir ao banheiro. Tornei a dormir e, já
quase pela manhã, próximo ao horário do trabalho, tive um sonho simbólico breve,
mas que me deixou curioso quanto ao significado.
O sonho consistiu da visão de uma pequena mesa, forrada com um pano verde.
Sobre o tecido, que parecia-me ser um feltro, havia cartas formando uma sequência
perfeita, todas somente do naipe de copas. Minha visão ficou sobre aquelas cartas
com os coraçõezinhos vermelhos, contrastando com o fundo verde da toalha que
forrava a mesa, até que acordei. De imediato, surgiu um ponto cantado de Iemanjá na
minha mente: “Eu escrevi um pedido na areia...”
Levantei-me e fui para a empresa, mas a imagem era persistente na minha
mente. Volta e meia, entre os afazeres do trabalho, lembrava do sonho e do cântico.
Ao final do dia, fui para casa e, quando foi possível, liguei para Tetê Souza.
Conversei sobre diversos assuntos com a parceira mediúnica de muitos anos.
Em dado momento, de maneira despretensiosa, contei-lhe o meu sonho. Para minha
surpresa, ela disse: "Então, está confirmado!" Eu logo lhe perguntei sobre o que
estaria confirmado. Tetê me falou que, dois dias atrás, ela tinha ido à praia, levando
consigo duas médiuns (Carmem e Liliana) necessitadas de ajuda. Lá, ela realizara
um trabalho na Linha de Iemanjá, de modo a equilibrar as duas jovens. Ao final,
antes de virem embora, a experiente médium orientou as moças a escreverem seus
pedidos na areia, próximos ao mar, e que envolvessem suas súplicas dentro de um
coração riscado. A própria Tetê Souza aproveitou a oportunidade e, mais adiante, fez
o mesmo para si, na areia que beirava o sagrado mar da Grande Mãe. Estas
solicitações foram realizadas, enquanto elas entoavam um ponto a Iemanjá, que
dizia: "Eu escrevi um pedido na areia..."
18
Após ouvir a explicação de Tetê Souza, indaguei de que modo o trabalho
realizado estaria confirmado. Ela, então, me confessou que, um pouco antes de
saírem da praia, havia feito mentalmente um pedido à Iemanjá. Desejava um sinal de
que a tarefa mediúnica e os pedidos foram realmente bem executados e, além disso,
se também foram bem recebidos pela Rainha do Mar. Tetê havia compreendido que a
resposta de Iemanjá viera através do meu sonho, que evidenciava o naipe de copas,
ou seja, os corações que foram riscados na areia (junto com os pedidos), bem como
através do cântico que eu captara pela via intuitiva.
Em seguida, eu sorri ao telefone constatando que, com alguma frequência, a
Espiritualidade me usava para dar algumas sinalizações à Tetê. Comentei com ela,
também, sobre os possíveis mecanismos que estariam envolvidos no meu sonho
simbólico. A primeira possibilidade é que a imagem onírica tenha sido colocada na
minha tela mental, isto é, foi formada dentro de minha mente, a partir da atuação de
alguma entidade espiritual da corrente de Iemanjá. A segunda possibilidade é que eu
estava projetado no Plano Astral e, ali mesmo, algum espírito ligado à Rainha do
Mar teria plasmado a mesinha com as cartas de copas.
Bem, pelas circunstâncias, creio mais na primeira hipótese colocada. No
entanto, o mais importante foi a resposta e confirmação de Iemanjá, bem como o
resultado posterior de reequilíbrio das médiuns e atendimento aos seus pedidos.
Odoyá Iemanjá! Salve a Grande Mãe!
19
7- O PASSE DO CABOCLO TREME-TERRA
Aquele sábado era destinado a uma palestra e, posteriormente, passes ao
público presente. Ou seja, não era uma tradicional gira de Umbanda, com consultas
de entidades aos frequentadores do terreiro. Portanto, aquele centro não receberia,
naquele dia, as cerca de 80 a 120 pessoas que normalmente compareciam à casa.
Após a palestra realizada por um dos integrantes da instituição, o dirigente
espiritual indagou ao corpo mediúnico quem estava bem-disposto para dar passes. Eu
fui um dos voluntários e, com alguns companheiros, nos dirigimos ao salão
destinado aos trabalhos de cura.
Depois de breves minutos, já entrava no cômodo a primeira leva de pessoas
para receber a irradiação bioenergética por parte dos médiuns, postados lado a lado.
O trabalho transcorreu bem, dentro de uma egrégora espiritual positiva e harmônica,
até que todos os frequentadores externos fossem atendidos.
Então, chegou a vez dos médiuns da casa terem a oportunidade de tomar um
passe. Num dado momento, postou-se a minha frente o senhor Osório, antigo
cambono do centro, ainda na ativa. Automaticamente, senti uma aproximação mais
intensa do Caboclo Treme-Terra.
Assim que estendi minhas mãos para a frente, percebi que não deveria me
concentrar em emitir vibrações. O que se fazia urgente, naquele caso, era a dispersão
de agregações energéticas imantadas ao campo áurico do senhor Osório. Desta
forma, claramente conduzido pelo Sr. Treme-Terra, notei meus braços e mãos
fazendo movimentos indicativos de retiradas de cargas.
Em dado instante, sob impulso do Caboclo, solicitei que o senhor Osório se
virasse e ficasse de costas para mim. Logo as minhas mãos passaram a dispersar
bioenergias densas, localizadas ao longo da coluna vertebral do velho cambono.
Ao final de todo o procedimento, percebi fluxos vibratórios da entidade,
através das palmas de minhas mãos, para promover uma energização, trazendo cura e
vitalidade.
20
Quando a sessão de passes terminou e todos os passistas foram liberados,
alguns foram para o setor onde ficava a cantina do centro. Eu ainda permaneci na
área interna, preferindo me dirigir ao vestiário. Troquei de roupa, pensando em ir
logo para casa.
Já sem uniforme do terreiro, atingi o corredor que dava para o quintal da
instituição. Eu estava um pouco cansado, de cabeça baixa, pensando em alguns
compromissos domésticos a realizar mais tarde. Quando ergui a cabeça vi, ao final
do corredor, o senhor Osório se aproximando de braços abertos. Olhei para trás e não
notei ninguém. Ele, então, falou: “É com o senhor mesmo! Preciso te dar um
abraço!”
Em seguida, recebi o amplexo sincero de Osório. O cambono logo passou a
explicar que estava com uma dor de coluna há várias semanas, mas que, depois do
passe, ela havia sumido completamente. Ele estava muito agradecido e detalhou que
vinha tendo muita dificuldade em se locomover, fosse a pé ou com a sua quase
inseparável bicicleta.
Fiquei feliz com o depoimento dele, mas retruquei que aguardasse os próximos
dias, de modo a ter certeza se a dor era devida somente à presença de uma carga
negativa, que fora retirada, ou se ele precisava de algum acompanhamento médico.
Na reunião seguinte, 15 dias depois, o senhor Osório me abordou, muito feliz,
confirmando o sumiço do problema de coluna. Comentou que o "meu passe" era
muito bom e que havia voltado a usar sua bicicleta sem qualquer incômodo.
Respondi a ele que deveríamos agradecer à Espiritualidade.
Bem, concluo este relato assinalando que nós, médiuns, muito pouco podemos
sem a ajuda dos guias espirituais. Sem a presença mais ostensiva, naquele dia, do
Caboclo Treme-Terra, eu não teria identificado o problema oculto do senhor Osório.
Sem a energia do Caboclo, o que poderia eu fazer, apenas com o meu magnetismo
pessoal? O trabalho mediúnico é realizado com a componente física visível,
associada ao fator espiritual, de força e abrangência muito maiores que a nossa, do
21
lado de cá. O que precisamos, como médiuns, é termos o preparo necessário e a boa
vontade em sermos úteis. Salve Sr. Treme-Terra! Salve a energia das matas!
22
8- A BALINHA DO ERÊ
Transcorria uma típica sessão de Umbanda. Após a chamada de diversas linhas
de trabalho, através de pontos cantados, era chegado o momento das crianças ou
ibejis. Um pouco antes, enquanto se entoavam cânticos a Oxum, eu já havia
percebido a aproximação do Erê Crispiniano da Cachoeira, no entorno da médium
Tetê Souza. Eu sabia que eles se manifestariam.
Não demorou muito e, ao som das cantigas, ocorreram incorporações. Pediram
doces e balas, como sempre faziam, trabalhando com estes elementos, distribuindo-
os entre as pessoas presentes. Depois de um tempo, após toda aquela alegria e
agitação, as entidades se despediram e retornaram para o Plano Espiritual, inclusive
o Zequinha da Calunga, que trabalha através da minha mediunidade.
Alguns minutos mais tarde, a reunião espiritualista estava encerrada. Agora, os
médiuns da casa ajudavam a limpar e arrumar o ambiente, todos satisfeitos com a
boa energia desenvolvida. Em seguida à tarefa, eu, Tetê Souza, Fabíola e Leon
dividíamos o carro rumo ao descanso. Logo eu descobriria uma atitude do Zequinha,
por meio de uma narrativa de Fabíola.
Ela contou que Zequinha, carregando um saco de balas, passava por trás dos
médiuns, que estavam em círculo. Então, o erê puxou a gola da camisa dela, Fabíola,
e jogou uma balinha nas suas costas, por dentro de sua roupa.
Na sequência, o espírito, que se manifestava com a sua típica forma infantil,
passou adiante, nada falando. Mas, Fabíola nos confessou que já estava com uma
forte dor nas costas, por algumas horas, não se queixando a ninguém. A jovem
médium não sabia, ao certo, se aquele processo dolorido era algo somente físico, ou
se era provocado ou intensificado pela presença de alguma entidade obsessora.
Assim, em seguida, retirou a bala de dentro do seu vestuário e a desembalou, para,
em ato contínuo, começar a passá-la na área das costas que lhe doía.
23
Enquanto deslizava a bala na região do incômodo, pedia mentalmente para
eliminar aquela aguda dor. Momentos depois, Fabíola levou a bala até um recipiente
com uma oferenda e a depositou lá. Em pouco tempo, não havia mais dor.
Fiquei feliz com a singela ocorrência. Mas, três dias após o fato, enviei uma
mensagem para Fabíola, indagando se, por acaso, o problema havia ressurgido. Ela
respondeu que não, assinalando o completo sumiço do padecimento.
Neste contexto, concluí que o processo dolorido realmente era devido a uma
carga negativa, muito comum em sessões de Umbanda, onde se tratam de pessoas
com problemas e se labuta por encaminhar as chamadas "almas perdidas", ou
mesmo, espíritos francamente mal-intencionados.
A jovem médium agira com inteligência e intuição, ao esfregar a balinha do
erê em suas costas, justamente onde ele tinha depositado o objeto, o que havia sido
uma sinalização, de sua parte, para o problema dela.
Na situação em tela, a bala funcionou como um ímã ou esponja, absorvendo as
bioenergias negativas que provocavam o incômodo. É por este tipo de fato, que a
Linha das Crianças é reconhecida como agregadora de trabalhadores espirituais que
sabem promover a cura de mazelas, dentre outros atributos. Onibejada! Salve todos
os erês!
24
9- A PROTEÇÃO DO EXU PINGA-FOGO
Naquele final de semana, eu e Tetê Souza tínhamos uma missão especial.
Iríamos ao terreiro de Umbanda, atendendo ao pedido do dirigente espiritual da casa,
para ajudar vários médiuns que estavam desgastados. Não vou entrar em detalhes
sobre os trabalhos realizados, porque foram variados, já que cada pessoa tinha um
problema diferente. Ficamos lá desde as 9:00 h da manhã, até cerca de 16:00 h, ou
seja, foram atividades bastante intensas, mas levadas a bom termo.
Depois disso, fomos para a residência de Tetê Souza, no intuito de descansar.
Embora estivéssemos cansados, estávamos nos sentindo relativamente bem. Além de
tudo, guardávamos o sentimento do dever cumprido.
Após algumas horas, a noite chegou e resolvemos dormir. No entanto, o sono
não chegou tão rápido quanto imaginávamos. Fiquei conversando com Tetê Souza e,
num dado momento, senti uma vibração um tanto negativa. Estava um pouco
nauseado, embora não fosse algo tão significativo.
Paramos de conversar e tentamos dormir. Fechei os olhos. Pensei que, durante
a noite de descanso, alguma sobra de bioenergias densas que porventura pudesse ter
permanecido comigo seria transmutada. Entretanto, logo em seguida tive uma
vidência, enquanto permanecia com os olhos fechados. Notei um homem sem
camisa, no quarto, que vinha caminhando de uma forma razoavelmente lenta.
Percebi que ele tinha algumas dobras de gordura no abdômen, embora não fosse
muito obeso. Era moreno e talvez ele fosse o motivo de eu estar um tanto enjoado.
Para minha surpresa, quando ele passou por onde eu estava, observei que atrás
dele, praticamente o empurrando, havia um outro homem quase grudado nele. Então,
desta segunda pessoa, na altura do seu umbigo, surgiu uma labareda de fogo para o
alto, até a parte superior das costas do homem obeso, que, na sequência, sumiu do
ambiente.
Fiquei espantado com o que havia ocorrido, mas a vidência ainda não tinha
terminado, porque o segundo homem (o que emitiu o jato de fogo) parou próximo de
25
mim. O espírito masculino se virou, para que eu pudesse vê-lo de frente. Ele era um
oriental, aparentemente um japonês, sem camisa e com uma tatuagem. Esta era
formada por três listras semelhantes àquelas que os tigres possuem. As listras
estavam na horizontal, em paralelo, uma sobre a outra. A primeira começava na
junção ombro esquerdo com o braço, se estendendo até o meio do tórax. As outras
duas listras, mais abaixo, começavam no braço esquerdo e tinham seu final
desenhado também no meio do tórax. Era um jovem de cerca de 23 anos de idade
aparente, musculoso e de semblante bastante sério. Na sequência, ele desapareceu.
Abri os olhos, na penumbra do cômodo, e perguntei a Tetê Souza se ela já
estava dormindo. A médium logo respondeu que não. Aproveitei o ensejo e contei-
lhe a vidência que eu acabara de ter. Ela achou interessante e disse para eu
permanecer quieto, pois poderia surgir mais alguma coisa. Fechei os olhos e relaxei
novamente.
Senti um formigamento na testa, mais ou menos na região entre os dois olhos
materiais (chacra frontal). Logo surgia uma imagem sombreada de um homem que
usava um quimono (vestimenta tradicional do Japão). Entendi que a nova vidência
era uma confirmação da origem nipônica daquela entidade, no passado. Achei
interessante porque, alguns anos antes, através de uma regressão de memória, revivi
uma vida antiga como samurai, no Japão Feudal. Isto explicava aquele guardião ali,
no quarto, que acabara de me prestar uma ajuda, encaminhando o quiumba que me
incomodava. Aquele exu era possivelmente um amigo do passado...
Então, voltei a falar com Tetê Souza, contando o que eu havia visto. Depois,
novamente a minha testa, na altura do chacra frontal, voltou a formigar. Pensei que
aquela ativação espontânea, novamente me traria alguma vidência. Contudo, não
percebi mais nada. Eu já não tinha nenhum mal-estar e, antes de pegar no sono,
surgiu-me um cântico de Umbanda na mente, que era um ponto do Exu Pinga-fogo.
Aquele espírito de origem japonesa se manifestava dentro da corrente umbandista, na
falange citada.
26
No dia seguinte, pela manhã, meditei sobre o assunto. Sei que é relativamente
comum termos, próximos a nós, entidades amigas que conviveram conosco no
passado, em outras vidas materiais. Embora eu nunca tenha trabalhado incorporado
com o Sr. Pinga-fogo, ele ali estivera presente para me prestar um socorro. É
relevante, também, salientar que nos trabalhos umbandistas geralmente se lida com
cargas muito negativas e, não raras vezes, quando ajudamos outras pessoas, sejam
consulentes ou outros médiuns umbandistas, na realidade nós “compramos a briga”
de outros indivíduos, ou seja, se estes tinham obsessores os perseguindo, estas
criaturas desequilibradas acabam por tentar prejudicar a quem interferiu em suas
ações. Portanto, nem sempre um trabalho umbandista termina dentro do terreiro,
porque se o médium, junto com seus guias, retiram um espírito perturbado de alguém
necessitado, lá fora geralmente permanecem outros obsessores, que nos iniciam uma
perseguição.
A Umbanda é, frequentemente, ação de choque contra forças bastante
deletérias e, neste contexto, a ajuda dos senhores exus é fundamental antes, durante e
após as atividades. Desta forma, aproveito esta vivência para colocar este assunto em
pauta e também deixar um agradecimento ao guardião que me acudiu naquele dia.
Laroiê Exu Pinga-fogo! Salve suas forças! Exu é mojubá!
27
10- A REVELAÇÃO DO ERÊ CRISPINIANO
Naquela época, eu já tinha uma razoável experiência na Umbanda, quando
assisti a uma manifestação incomum do Erê Crispiniano, através da médium Tetê
Souza. Contarei o fato a seguir, que por ser muito interessante, não poderia cair no
esquecimento. Vamos ao contexto da situação…
Transcorria uma gira, cujo momento pertencia à corrente dos ibejis. Uma
médium nova, Gerusa, havia ficado aparentemente tonta. Suas pernas haviam
afrouxado e amparei-a para que não se machucasse. Ela, muito aérea, acabou
sentando-se no chão, suavemente.
Tudo indicava que ela sentira a presença de uma entidade, mas como nunca
havia incorporado, o processo mediúnico não teve continuidade. Então, algumas
pessoas a chamavam pelo nome, de forma a voltar à normalidade.
Quando o olhar da moça já nos permitia identificar que ela estava plenamente
lúcida, o Erê Crispiniano se aproximou dela para passar uma instrução. O menino
espiritual, quase sempre muito brincalhão, naquela oportunidade tomava um ar muito
sério, para falar: “A tiazinha já fez muita maldade no passado! Agora precisa fazer
caridade!”
Em seguida, Crispiniano se afastou da jovem e eu o acompanhei. Ele, então,
dirigindo-se a mim, reforçou a questão: “A tiazinha foi muito ruim. Já fez muita
ruindade! Precisa fazer a caridade e melhorar…” Não demorou e o erê foi conversar
com outra pessoa, tornando a atuar com a sua alegria e irreverência normais.
De minha parte, embora um pouco surpreso com a revelação da entidade,
sobre o passado espiritual da moça, voltei aos meus afazeres na sessão. Eu estava,
naquele momento, atuando como responsável pela gira, porque eu e Tetê Souza nos
dividíamos naquela tarefa. Enquanto um estava incorporado, geralmente o outro não
estava, de modo a conduzir os trabalhos no Plano Material.
Depois da reunião, fiquei matutando sobre o que a entidade havia falado sobre
Gerusa, uma moça tímida e de aparência frágil. Eu sabia que isso não tinha grande
28
correlação com o passado espiritual de cada um, mas normalmente qualquer ser
humano avalia um outro pela forma externa ou pelo comportamento superficial.
Então, fiquei um pouco surpreso à época, mas não duvidei do erê em hipótese
nenhuma, já que conhecia bem a sua ótima atuação através da médium Tetê Souza.
Os dois formavam uma dupla muito harmônica e de acoplamento energético
profundo.
Cerca de dois anos se passaram e Gerusa ainda estava conosco naquele
período. Eu fizera um curso de terapeuta, que incluía a regressão a vidas passadas.
Eu estava disposto a ajudar pessoas próximas e Gerusa manifestava algumas fobias.
Em determinado dia, perguntei à jovem se queria se libertar de um medo
crônico que alimentava. Ela, entre um estado tímido e de certa descrença, aceitou
passar por uma sessão de regressão a vidas pretéritas.
Apliquei a técnica regressiva recomendada e ela rapidamente entrou em transe,
deitada comodamente num colchão, no local onde eu realizava a terapia. Eu, sentado
em uma cadeira, próximo à moça, anotava as suas impressões, que logo se tornaram
uma história muito angustiante.
Gerusa, numa outra época, havia sido um homem. Ele era uma espécie de
cobrador de dívidas. Perseguia indivíduos e os aterrorizava com ameaças. Chegou a
torturar algumas pessoas, cortando pedaços dos dedos de suas mãos.
A moça narrava os fatos com grande aflição, pois revivia intensamente
algumas cenas, constatando sua própria frieza e maldade, enquanto gesticulava
nervosamente, deitada no colchão.
O clímax daquela sua vida passada foi a sua própria morte, quando ela
explicou que, já meio velho e doente, vivendo num casebre em ambiente rural, foi
dado como morto em seu leito. Mas, não havia morrido ainda. Uma pessoa ateou
fogo ao casebre, para que nada sobrasse, e o torturador morreu entre as chamas.
Bem, esta foi apenas a síntese daquela regressão de memória, cujos demais
detalhes não cabe contar aqui. Além desta sessão, fiz mais duas com Gerusa, sempre
29
revelando vivências sombrias e sofridas. Não pude continuar o processo terapêutico
com a jovem, mas ela superou duas fobias que atrapalhavam sua vida atual.
Logo após as sessões, num determinado dia, lembrei-me subitamente do que
havia falado o Erê Crispiniano, sobre Gerusa, dois anos antes. O menino espiritual
sabia muito bem o que estava revelando, à época. Os guias e protetores da Umbanda
sempre procuram orientar para que o adepto ou consulente se melhore como criatura
humana. Gerusa, com o tempo, se afastou da Espiritualidade, e hoje sei que vive uma
vida bem focada em vaidade e questões materiais. Contudo, ficou uma semente
dentro dela. Um dia há de germinar…
Ao demais, ficou para mim uma boa experiência de vida e mais uma
constatação da presença marcante do Mundo Espiritual entre nós, aqui na Terra.
Salve Crispiniano da Cachoeira! Onibejada!
30
11- A SOLUÇÃO DO EXU
Há alguns anos, eu e um amigo médium fomos conhecer um terreiro de
Umbanda. Assistimos algumas giras e notamos que aquela casa realmente prestava a
caridade pura, não havendo nenhum tipo de cobrança monetária por seus
atendimentos.
Depois de três ou quatro idas ao templo, o meu amigo, a quem vou denominar
"Teobaldo", já que, neste caso, prefiro manter discrição quanto às identidades,
demonstrou interesse em se agregar àquela casa espiritualista como médium.
Não só Teobaldo, mas também eu, fomos aceitos para sermos integrantes do
corpo mediúnico do centro, porém Téo começou a participar das giras antes do que a
minha pessoa, porque eu estava em recuperação de uma doença.
Numa determinada sessão, onde os trabalhos se restringiriam somente às
entidades da Linha de Iemanjá, apenas para passes, de repente ouvi uma gargalhada
típica de exu. Lá fora, ainda como consulente da casa, eu reconheci que aquela
manifestação ocorria pela voz de Teobaldo. Sabia que ele era um médium muito
firme e equilibrado, mas me preocupei com o que pensaria o pai de santo e demais
médiuns da casa. Eu tinha certeza de que o exu não “baixaria” à toa, mas não sabia o
contexto do que ocorria lá dentro. Assim, só poderia esperar o momento do meu
atendimento e o desenrolar dos fatos.
Ao final da gira, encontrei-me com Teobaldo e, no caminho de volta as nossas
respectivas residências, pude conversar com ele. Notei que estava um pouco
constrangido por ter dado passagem ao exu, durante os passes aos consulentes,
dentro da corrente de Iemanjá. Lembro que eu disse, ao médium, que o guardião não
se manifestaria sem um motivo sério. Téo explicou que aquilo havia ocorrido para
ajudar a uma jovem senhora, mas que não sabia o porquê. Confessou que estava
envergonhado, porque, embora tivesse muitos anos de experiência, ali, naquele
templo, era um participante novo. Não pretendia quebrar as regras da casa...
31
Quinze dias depois, na sessão seguinte, eu estava de volta com o meu amigo.
Então, o pai pequeno nos abordou e falou com Téo. A princípio, disse que
normalmente lá não contavam aos médiuns o resultado positivo dos trabalhos de
suas entidades, de modo a não estimular a vaidade. Mas, contou que abriria uma
exceção, porque um problema de vários anos havia sido solucionado.
Zé Maria (nome fictício do pai pequeno) explicou que, na gira anterior, logo
após a incorporação de Téo, o pai de santo notou e sinalizou para encaminhar o
médium em transe e a consulente para uma área específica do terreiro. Ali, o
guardião de Téo pôde dar uma consulta à mulher e realizar um trabalho de limpeza.
Em seguida, o exu disse que iria resolver o problema dela em até sete dias,
demonstrando que sabia detalhes...
Após um intervalo na narrativa de Zé Maria, ele sorriu e revelou que o
problema da Sra. Jane, consulente antiga do templo, era que o marido dela tinha uma
amante de longa data, uma mulher atrevida, que chegava mesmo a telefonar para
Jane, na intenção de afrontá-la.
O pai pequeno, a seguir, expressou um sorriso de satisfação no rosto e
assinalou que, poucos dias após a sessão passada, a amante tomara uma decisão
inesperada, resolvendo voltar em definitivo para o Nordeste, de onde havia vindo há
muitos anos para o Rio de Janeiro.
Teobaldo ficou um tanto surpreso com o acontecimento. Eu não me espantei
muito, porque já havia percebido várias atividades das entidades, através da
mediunidade de Téo, que resultavam em efeito visível e rápido.
Bem, este caso permite algumas boas reflexões. Uma delas é o fato de que
algumas casas umbandistas são rígidas em excesso quanto as suas regras internas.
Embora o regulamento das atividades seja muitíssimo importante para o bom
funcionamento de um centro, evitando ações desequilibradas de médiuns, ou mesmo
de consulentes, é preciso ter o cuidado de não tolher a Espiritualidade. É
fundamental se ter um meio termo entre a disciplina do corpo mediúnico e a atuação
legítima dos trabalhadores espirituais. Ali, naquele dia, o pai de santo notou que
32
havia um bom acoplamento mediúnico entre o exu e Téo, permitindo o desenrolar da
tarefa. O pai de santo também estava verdadeiramente intuído, indo além do que
normalmente faria, ou seja, solicitar que o guardião voltasse para trabalhar em outra
oportunidade, deixando a consulente sem a ajuda esperada há tantos anos...
Aliás, é relevante esclarecer que a Sra. Jane já havia se consultado naquele
terreiro com várias entidades, por diferentes médiuns, em inúmeras vezes. Nada
possibilitava uma solução para o seu dissabor. É claro que aspectos cármicos
deveriam estar envolvidos no seu problema conjugal, mas não posso deixar de
apontar que o terreiro passava por fortes adversidades internas. Eu e Téo, com o
tempo, descobrimos que aquela casa espiritualista estava com o corpo mediúnico
desgastado. Havia questões mal resolvidas, disputas internas, queixas, ciúmes e
outros obstáculos causados pela parte humana daquele templo. Em outras palavras,
faltava um médium firme, saudável e equilibrado, como o Teobaldo, para ajudar na
transformação daquela tribulação pela qual passava a Sra. Jane. Os médiuns daquele
centro umbandista, na verdade, usavam as regras de conduta para vigiarem uns aos
outros, maldando qualquer atitude e criando um clima muito pouco amistoso. Assim,
esqueciam de se dedicarem à própria Espiritualidade, o que é essencial na Umbanda.
Havia uma verdadeira guerra interna...
Para fechar este relato, deixo como uma última reflexão as palavras de Zé
Maria, o pai pequeno: "Muitas vezes se criam regras para isso ou para aquilo e vem
uma entidade e passa por cima disso tudo, mostrando que a Espiritualidade é maior
do que todos nós".
33
12- A VOLTA DA CONSULENTE DE PAI CIPRIANO
Naquele terreiro, já com a experiência adquirida ao longo de mais de duas
décadas, eu comuniquei ao dirigente da casa que só poderia atender sete consulentes
por sessão. As entidades que trabalham através da minha mediunidade, quase
sempre, não dão apenas orientações durante a consulta, mas também descarregam
aos mais necessitados. Neste contexto, compreendi que não deveria ficar muito no
limite de minhas forças, o que quase sempre pratiquei no início de minha jornada
mediúnica, para meu próprio risco. Desta forma, encontrei melhor equilíbrio
energético e de saúde.
Naquela sessão de pretos-velhos, mais uma vez, todos os números de
atendimento de Pai Cipriano foram preenchidos. Seria um dia de atividade intensa
para mim e para o guia. Trabalho na semiconsciência e, quando me é útil, Pai
Cipriano me permite compreender parte do problema do consulente e parte da
solução apontada, conseguindo reter na memória algum conteúdo.
Após um tempo atendendo incorporado, chegou mais um consulente em frente
ao preto-velho. Era uma mulher desconhecida. O que pude entender da conversa
entre ambos é que aquela senhora estava desempregada e pedia ajuda para trabalhar
como acompanhante de idosos. O espírito passou alguns banhos de ervas e ensinou
uma “mandinga”, não registrada pela minha mente. Não pude reter maiores detalhes
da consulta do preto-velho, que costuma ser relativamente longa, já que, não raras
vezes, numa sessão como essa, eu permaneci sentado por cerca de quatro horas,
mediunizado pelo guia. Fazendo uma conta simples, em média, uma consulta com
Pai Cipriano poderia durar cerca de 30 minutos. Entretanto, guardei bem na memória
o rosto da mulher e o seu sentimento de angústia pelos poucos recursos financeiros.
Depois da sessão, já debaixo do chuveiro quente, em casa, a imagem dela e o
seu problema retornaram a minha tela mental. Rezei pela mulher e pedi aos guias que
pudessem lhe abrir os caminhos. Eu, na minha limitação humana, sentia-me
impotente. Pensava na infinidade de pessoas em penúria no País, desejando uma
34
oportunidade, e aquela senhora era apenas mais uma. O que, pessoalmente, eu
poderia fazer a mais? Nada vinha a minha mente... Só poderia, mesmo, entregar nas
mãos dos bons espíritos…
O tempo passou e chegou o dia de uma nova gira de pretos-velhos. À
distância, vi a mulher em meio a outros consulentes, aguardando o início da sessão.
Deveriam ser em torno de 100 pessoas ali, esperando a chance de conversar com
algum dos vários trabalhadores da Linha das Almas. Naquela gira, dentro do meu
processo de semiconsciência, não recordei de ter visto aquela consulente, em frente
ao Pai Cipriano.
Semanas se passaram e, com elas, ocorreram sessões de exu e de caboclos. Às
vezes eu distinguia a presença daquela senhora junto ao público, mas não entre as
pessoas que se consultavam com os meus guias.
Meses foram transcorrendo e a mulher sumiu. Não mais notei a sua presença,
nem mesmo nas datas festivas. Eu havia ficado sem saber se ela tinha conseguido
oportunidade de trabalho. Aliás, essa questão aflige em maior ou menor grau quase
todos os médiuns. Nós temos algum desejo de obter um retorno sobre a eficácia de
nossos esforços mediúnicos e também quanto às orientações que são proferidas pelas
nossas bocas, durante as tarefas executadas em transe. Não devemos ter excesso de
preocupação, mas sim confiar na Espiritualidade, também lembrando que o
consulente receberá conforme o seu mérito. Não basta apenas pedir, mas, além disso,
fazer por merecer.
Contudo, a vida dá voltas. Cerca de um ano e meio depois, numa nova gira de
pretos-velhos, eis que surge à frente de Pai Cipriano, aquela senhora. Ele me deixou
captar razoavelmente o início da consulta, talvez atendendo ao meu desejo interior
de compreender se ela estava bem e também para eu poder ouvir o resultado do
trabalho realizado. Lembro que a mulher estava feliz, porque, segundo a própria,
após a única consulta com o Pai Cipriano, a vida dela havia melhorado muito. Ela
teve várias oportunidades de trabalho e, desde então, estava ganhando o dinheiro
dela sem interrupção. A mulher colocou que, finalmente, havia conseguido um
35
número para se consultar novamente com o Pai Cipriano, já que, por morar longe,
não chegava cedo o suficiente para pegar uma das sete vagas daquela entidade. A
conversa transcorreu. Notei que ela agradeceu muito e veio pedir algo a mais, porém
não registrei o restante da consulta.
Bem, o que pude assimilar daquele último diálogo entre aquela senhora e o
preto-velho foi o suficiente, para eu me dar por satisfeito, dentro de minhas
limitações humanas. Alguns meses depois, tive que me desligar daquele terreiro.
Espero que aquela consulente faça uma boa jornada nesta sua vida terrena e agradeço
a Pai Cipriano pelo aprendizado. Nós médiuns precisamos trabalhar com serenidade
e entregar os resultados à Espiritualidade Maior. Salve as Almas!
36
13- AJUDA DA MALANDRAGEM
No sábado, eu participara de uma sessão com consulta de pretos-velhos. Pai
Cipriano havia trabalhado através da minha mediunidade, atendendo a sete
consulentes. A reunião foi finalizada com todos os presentes sentindo-se bem,
embora houvesse um certo cansaço por parte dos médiuns incorporantes e daqueles
mais ativos no período.
Porém, como a maioria dos umbandistas já sabe, a sessão termina, mas não o
trabalho espiritual. Aliás, as atividades espirituais iniciam-se antes da reunião formal
no Plano Terreno e alongam-se para além desta. Assim, já no domingo à tardinha,
comentei com Tetê Souza, parceira nas tarefas mediúnicas, que estava sentindo uma
corrente vibratória bem densa. Coloquei para ela que eu precisava tomar um banho
de ervas e que aquele fluxo de energias era devido a alguém do nosso grupo. Após o
banho, houve um bom alívio das sensações desagradáveis.
Na segunda-feira, pela manhã, recebi mensagem através do WhatsApp de um
componente do grupo espiritualista. Ele solicitava alguns esclarecimentos para o seu
filho, que não pudera comparecer à sessão dos pretos-velhos. Fiz alguns áudios,
passando informações, e recebi a notícia de que o jovem se sentira mal justamente no
domingo à tardinha, o período que eu afirmara estar sob impacto de uma corrente
vibratória negativa. Depois, ficou tudo bem com o rapaz e comigo, o que me
permitiu bom desempenho na atividade profissional ao longo da segunda-feira.
Contudo, ao final da tarde deste dia, já em casa, tive uma dor de cabeça
persistente, perceptivelmente provocada por nova corrente espiritual densa. Tomei
um banho comum e jantei, ainda dentro do quadro relatado. Antes de ir dormir, fui
firmar a entidade da Linha dos Malandros que me acompanha, o que faço todas as
segundas-feiras à noite. Ouvi sua risada típica e não demorei a deitar-me.
Na cama, eu sabia que haveria uma transformação da situação, durante o meu
sono. Porém, não conseguia dormir. Então, após deitar-me em várias posições,
resolvi ficar em decúbito dorsal (de barriga para cima) e utilizar uma técnica de
37
relaxamento. Após alguns minutos, para minha surpresa, tive uma visão. Notei uma
mulher desencarnada, de frente, com expressão facial tensa. Era uma morena clara e
seus olhos foram se abrindo mais, até ficarem arregalados. Na sequência, abriu a
boca e soltou um grito longo, que não pude ouvir. Então, a imagem sumiu da minha
tela mental.
Poucos segundos depois, o meu telefone fixo tocou. Levantei rapidamente da
cama para atendê-lo. Eram 23:00 horas e uma amiga queria falar comigo, antes que
eu dormisse. Conversei com ela rapidamente e desliguei o aparelho. Então percebi,
muito surpreso, que a dor de cabeça e o mal-estar haviam sumido totalmente.
Logo entendi que a entidade feminina em desequilíbrio, acessada pela minha
clarividência um pouco antes, havia sido levada. Possivelmente, se minha amiga não
tivesse me ligado naquele instante, eu poderia ter esquecido a vidência noturna, após
adormecer. Agradeci ao Sr. Camisa Preta, trabalhador espiritual da Linha dos
Malandros que atua por mim, e deitei-me novamente. Em outra oportunidade, vou
contar sobre a chegada deste espírito, que tem me ajudado muito ultimamente, bem
como às pessoas que o procuram. Salve Sr. Camisa Preta! Salve a malandragem!
38
14- AJUDA IMPREVISTA DO CABOCLO SERRA NEGRA
Naqueles dias, eu me encontrava bastante cansado. Era o final do ano de 2019
e estava com muitas tarefas no trabalho, bem como me sentia sobrecarregado devido
a algumas preocupações, inclusive em relação a três pessoas amigas, que passavam
por problemas. Além disso, volta e meia percebia um assédio espiritual sobre a
minha pessoa. Quando se ajuda a alguém, as entidades obsessoras a ela associadas
acabam por nos julgar inimigos, passando a nos seguir por um tempo, até que os
guias espirituais as encaminhem.
Nesse contexto, fui me deitar naquele domingo não muito animado. Na
segunda-feira, precisaria levantar-me de madrugada para chegar ao trabalho bem
cedo e participar de uma reunião que duraria o dia inteiro. Seria um grande desafio
para quem já tinha permanecido em insônia por três dias seguidos. As poucas horas
de repouso, no período citado, não tinham sido suficientes para me manter em bom
estado, de maneira a realizar uma boa apresentação técnica e debater positivamente
na longa reunião programada.
Deitei-me depois das 23:00 h e, felizmente, logo adormeci. No entanto, um
tempo depois, despertei abruptamente com o barulho de algo quebrando. Era uma
caneca d'água que ficava numa mesinha ao lado de minha cama. Ela acabara de cair
no chão, devido a um acidente noturno. Levantei rapidamente, constatando o fato, e
passei a limpar a bagunça, apanhando todos os cacos. O relógio marcava 01:20 h,
início da madrugada.
Após a limpeza, dormi rapidamente. Depois de um tempo, encontrei-me lúcido
no Astral, com uma amiga projetada, que estava acompanhada de uma outra mulher
desconhecida. Caminhamos por várias ruas e conversamos por um tempo razoável.
Não consigo recordar de detalhes da conversa, mas sei que o tema era xamanismo.
Então, chegamos numa espécie de casa. Adentramos o local e ficamos numa
sala, sendo eu por um curto tempo. Eu logo me dirigi a um quarto, deixando as
mulheres para trás, movido por uma força estranha. Estando ali, logo vi um homem
39
com fisionomia indígena. Entretanto, ele estava trajado com uma roupa social
comum, ou seja, não vestia trajes tradicionais de qualquer etnia indígena. Fiquei
surpreso com a sua presença, mas ele não mostrou estar surpreendido. Apontou-me
um banco e entendi que ele me convidava a sentar. Obedeci e ele se aproximou de
mim. A seguir, sentou num outro banco a minha frente. Não sei de onde ele tirou um
pequeno cocar, formado por penas não muito longas, talvez de um palmo e meio.
Todas as penas eram pretas com as pontas brancas, numa proporção de 2/3 para a cor
negra e 1/3 para a cor branca. Na sequência, me falou em português bem claro:
“Conheço técnicas amazônicas”.
Em seguida, ele manuseou um cachimbo, que também não percebi de onde
retirou, logo fazendo fumaça. O espírito parecia dominar muito bem as plasmagens
naquele ambiente extrafísico. Então, baforou a minha direita e a minha esquerda.
Logo após, ele fez um gesto que me induziu a olhar para baixo. Assim, notei que
entre mim e ele havia um tronco escavado como se fosse um vaso tosco. Dentro dele
haviam resíduos semelhantes a folhas secas e outras coisas que não pude distinguir.
A fumaça do cachimbo era relativamente intensa e, por isso, facilmente
perceptível. Contudo, o seu cheiro era suave e não se assemelhava a fumo queimado,
mas sim a incenso misturado com ervas. Aquele processo não durou muito tempo e
logo eu despertei na cama.
Levantei-me sem delongas e fui olhar o relógio. Eram 05:30 h da madrugada.
Como eu me sentia muito energizado, desliguei o despertador, antes que fizesse
barulho. Fui me arrumar para ir ao trabalho, sentindo-me muito bem. Durante o dia,
desempenhei positivamente as minhas funções. Aquela entidade havia me ajudado
de uma forma evidente. Ele realizou uma retirada de cargas negativas e trouxe-me
vitalidade. Fiquei muito grato àquele ser, no meu entendimento, um caboclo.
Terminei de escrever o presente relato, numa quarta-feira. Na sexta-feira, pela
manhã, lembrei-me do texto subitamente e pensei que deveria publicá-lo no final de
semana. Enquanto idealizava a publicação, veio-me à mente uma melodia. Enquanto
eu fazia a barba, a letra foi ficando clara e finalmente a recordei de forma completa:
40
“Seu Serra Negra vem descendo pirambeira. Ele vai caçar lá na mata da jurema. Seu
Serra Negra vem descendo pirambeira. Ele vai caçar lá na mata da jurema. Seu Serra
Negra! Ele não vem só! Ele gira na Umbanda! Ele é rei no Catimbó! Seu Serra
Negra! Ele não vem só! Ele gira na Umbanda! Ele é rei no Catimbó!” Então, tive a
identificação da entidade que me ajudara, no Astral, há poucos dias. Um pouco
depois, me lembrei do Caboclo Treme-Terra, que é o guia que atua pela minha
mediunidade nas giras de Oxóssi. Há cerca de 25 anos, ainda no início de minha
jornada na Umbanda, ele dizia que trabalhava junto com o Caboclo Serra Negra, no
Plano Espiritual. Eram como irmãos. Desta forma, depois de tanto tempo, pude ver o
Sr. Serra Negra. Gratidão a esta entidade e a outras que trabalham, muitas vezes,
ocultamente. Okê Arô Oxóssi!
41
15- ARMADILHA NO TERREIRO
O centro estava ficando cheio, naquele dia em que se realizava uma sessão de
pretos-velhos. Cerca de 100 pessoas seriam atendidas e alguns consulentes já saíam
do salão de trabalhos, pois, tendo chegado cedo, haviam sido os primeiros a assinar a
lista de consultas.
Uns se dirigiam à cantina, de modo a fazerem um lanche, enquanto outros
preferiam retornar as suas casas, pois outros afazeres, certamente, os esperavam. No
entanto, uma senhora, ao sair do terreiro, logo após a sua consulta com um preto-
velho, parou em frente a um cambono que tomava conta da entrada do salão. Ela
disse que precisava confessar algo. Afirmou que uma força irresistível a impelia a
contar o que havia realizado.
Tendo ouvido isso, o cambono conduziu a senhora para um canto mais
reservado. Ela, então, revelou que estivera ali, a pedido de uma pessoa, para inventar
histórias e problemas ao Pai Manoel, que se manifestava através do médium Sérvio
(nome fictício). A mulher estava arrependida de aceitar aquela proposta e de ter
ocupado uma entidade com mentiras.
Espantado com o fato, o cambono indagou quem a havia estimulado a
promover aquela farsa. A mulher disse que Samara, sua amiga e médium antiga
daquele centro umbandista, havia lhe contado que Sérvio fingia a incorporação. Por
isso, Samara queria desmascará-lo, através de uma falsa consulta, onde ficaria
evidente o suposto fingimento de Sérvio.
Aqui faço um parênteses neste texto, para lembrar que Samara é a mesma
médium que citei no relato "A atenção do Exu Caveira", e que o nome dela também é
fictício. O objetivo deste conteúdo não é execrar publicamente ninguém, mas sim
mostrar uma atitude negativa que deve ser evitada por qualquer umbandista.
Voltando ao relato, a mulher que estava com a consciência pesada concluiu
sua confissão ao cambono, pedindo perdão, e dizendo que não retornaria mais àquele
terreiro. Depois, o cambono revelou os acontecimentos à mãe de santo e a mais
42
quatro integrantes do centro, todos de confiança dela, dentre eles, eu e Sérvio. Aliás,
Sérvio reagiu de forma muito nobre à armadilha que lhe fora feita por Samara.
Preferiu ficar sereno e confiante na Justiça Divina, que a todos avalia
equanimemente, agindo no reequilíbrio e correção quanto às ações mal pensadas, no
tempo certo. Creio que o conteúdo da conversa entre a falsa consulente e Pai Manoel
vai ficar oculto de todos nós...
Nesta fase do relato, cabe explicar sobre a questão anímico-mediúnica. Os
médiuns que estudam, ao menos um pouco, sabem que durante uma incorporação
ocorre sempre uma participação do indivíduo incorporante. A porção da mente
humana, chamada por uns de inconsciente, e por outros de subconsciente, pode
influenciar na comunicação das entidades, em determinado grau. Isso é denominado
animismo, ou seja, há uma contribuição da alma do médium (anima, do latim alma)
nas orientações transmitidas. Isto é mais intenso nos dias de hoje, quando a grande
maioria dos médiuns trabalha através de incorporações mais leves, mantendo um
grau significativo de lucidez, durante as manifestações mediúnicas. Ou seja, a
interferência da mente humana tende a ser maior. Atualmente, são muito raros os
médiuns com um nível de acoplamento mediúnico bem profundo com os seus guias,
de forma que, no retorno do transe, nada recordem das consultas.
Porém, o animismo não deve ser tão temido. Se o indivíduo realizar bons
estudos e preencher sua mente com conhecimentos úteis e normas de conduta éticas,
poderá contribuir positivamente com o guia espiritual, durante uma orientação a
alguém. Não é objetivo do médium honesto passar à frente do seu mentor, mas os
conteúdos de sua própria alma (anima) poderão atuar no contexto de um animismo
colaborativo.
Contudo, o que Samara estava julgando, no comportamento de Sérvio, é que
ele estaria sendo um médium não apenas com alto grau de animismo, mas sim, que
estava fundamentalmente fingindo durante as incorporações. Ou seja, era uma
desconfiança de algo grave. Entretanto, esta tarefa de vigilância sobre a mediunidade
de alguém, naquele terreiro, não cabia exatamente a ela, mas sim à direção da casa.
43
Ela estava usando o "Orai e vigiai" não para si própria, mas sim vigiando o
procedimento de um irmão médium. E não satisfeita com isso, que já era uma atitude
de ultrapassar as suas atribuições, realizou uma ação extremamente desleal com um
parceiro de terreiro, tentando desmascará-lo quanto a um suposto fingimento, hoje
também chamado "marmotagem".
Porém, a Espiritualidade agiu e a senhora que serviu de instrumento para a
armadilha arrependeu-se, conforme relatado. O escândalo desejado e planejado por
Samara, para Sérvio, voltou-se contra ela, uma médium que fazia parte daquele
terreiro há cerca de 40 anos. O que ela havia aprendido em todo aquele período?
Havia se tornado um ser humano melhor? Parece que não...
Numa tentativa de elucidar melhor este caso, assinalo que Samara me
segredou, numa conversa informal anterior, que sempre teve um grande desejo de
trabalhar com a preta-velha dela, dando consultas. Sua atitude contra Sérvio apenas
evidenciou uma espécie de "inveja mediúnica". Ela gostaria de estar no lugar de
Sérvio, trabalhando com as Santas Almas Benditas. No entanto, para isso, o médium
precisa ter essa missão específica. Não é uma questão de querer individual. Além
disso, o médium que vai trabalhar com um "vovô" ou "vovó" precisa ter traços de
caráter próximos da humildade, paciência e amor dos pretos-velhos. E isso,
infelizmente, ainda não estava no coração de Samara.
Termino este relato, que é um alerta para todos nós médiuns umbandistas. A
nossa religião, bem como qualquer outra, tem a função básica de nos ajudar a sermos
indivíduos mais solidários e com maior capacidade de amar. Não estamos aqui,
encarnados, para mantermos os velhos hábitos de julgarmos ao semelhante, de
apontarmos suas falhas, enquanto agimos no dia a dia com obscuridade. Precisamos,
fundamentalmente, melhorarmos a nossa própria essência. Salve as Almas!
44
16- CIGANA MARIA DE LA CRUZ
O início de uma jornada mediúnica é sempre muito importante, porque, a
partir deste período, podemos ter boas impressões e aprendizados, bem como
verdadeiras fontes de inspiração. Infelizmente, para algumas pessoas, esta fase
inicial pode ser conturbada. Mas, para mim, posso afirmar que tive mais exemplos
positivos do que negativos, muito embora, não posso deixar de assinalar que também
aprendemos com os exemplos negativos.
Um dia desses, pela manhã, veio-me à mente o ponto de uma Senhora Cigana
que trabalhava no primeiro terreiro em que atuei como médium, há 26 anos. A
cantiga surgiu claramente e passei a cantarolar: “Ela é Maria de la Cruz. Ela é Maria
de la Cruz. Maria das Sete Encruzilhadas do Cruzeiro! Ela é a Maria da luz!”
Então, recordei da médium que era a intermediária para aquela Cigana tão
formosa em seu jeito de trabalhar. A senhora Rosângela era de origem portuguesa e
trabalhava como costureira. Fazia vestidos finos, para se sustentar materialmente,
não faltando a nenhuma gira do terreiro. Ela deveria ter em torno de 55 anos de
idade, à época, mas parecia remoçar muito enquanto estava incorporada com a
Cigana.
A Senhora Maria de la Cruz, sempre que vinha à Terra, pedia um lenço
vermelho para cobrir a cabeça da médium. Usava também algumas pulseiras e
pequenos apetrechos, característicos de sua linhagem, e que eram permitidos pelas
regras daquele terreiro. Cada centro de Umbanda tem as suas normativas e
especificidades de doutrina, sendo isto muito importante respeitar.
A entidade dançava em giros harmônicos, junto de outras pomba-giras, no
início de cada sessão de exu. Dava consultas com uma elegância sóbria. Não se
percebia qualquer exagero ou deslize, porque era notável o bom acoplamento
energético entre médium e entidade. Além disso, a senhora Rosângela tinha uma boa
educação mediúnica. Ela sabia que deveria permitir a manifestação e colaborar com
a sua Cigana, de modo que a atuação daquele espírito fosse a mais pura o possível.
45
Pude observar os trabalhos daquela Cigana, com algum detalhamento, durante
os meses em que tive a função de cambono naquele centro. Depois, passei à
incorporação e, nas sessões de esquerda, eu recebia o Senhor Sete Encruzilhadas.
Mas, sempre que possível, analisava as atividades das entidades, através de seus
médiuns mais experientes. Não os assistia com uma mentalidade crítica, mas sim no
intuito de aprender ou assimilar algo construtivo.
Numa determinada oportunidade, após o meu exu ter subido, acabei por
receber uma mensagem da Senhora Maria de la Cruz. Eu ainda estava meio grogue,
do lado do cambono que havia assessorado ao Senhor Sete Encruzilhadas, quando a
Cigana se aproximou. Ela dirigiu-se ao cambono, falando sobre mim: "Este moço aí
vai trabalhar no santo até ficar bem velho. Enquanto estiver vivo, vai trabalhar com o
povo dele, de pés no chão."
Levantei a cabeça na direção dela e a entidade sorriu sutilmente, para, em
seguida, se afastar. Já cantavam um ponto de subida e a Cigana iniciava alguns giros
dançantes. Era hora de "sacudir a poeira..."
Bem, enquanto termino de escrever este relato, em setembro de 2019, conto
com 51 anos de idade. Ainda não estou exatamente velho, mas espero manter um
bom percurso e cumprir bem a minha missão mediúnica, como apontou a Senhora
Cigana, até o ponto final da minha estrada.
Agradeço a ela e às demais entidades e seus médiuns, que me orientaram ou se
constituíram como verdadeiras fontes de inspiração. Salve Senhora Maria de la Cruz!
Salve todo o Povo Cigano!
46
17- CLARIVIDÊNCIA NA MATA
Estávamos em um trabalho fora do terreiro, com um foco principal na Linha
de Oxóssi. Para nós, sempre que possível, é bastante relevante iniciarmos o ano na
busca das energias das matas e das cachoeiras.
Assim, o nosso grupo chegou cedo àquele belo espaço da natureza e, após as
devidas firmezas, procedeu-se a uma limpeza da coroa de cada médium, nas águas
daquela linda cachoeira.
Em seguida, as oferendas foram colocadas num altar natural, formado por uma
pedra relativamente achatada. Orações foram feitas e alguns cânticos foram
entoados, de modo a que as bioenergias (ectoplasma) daqueles alimentos, velas e
bebidas fossem utilizados da melhor forma pelos guias espirituais de Umbanda.
Na sequência, as entidades foram chamadas através de pontos cantados e
fomos devidamente atendidos pela Linha de Oxóssi. Primeiramente, os caboclos e
caboclas vieram nos abençoar com as suas presenças, nos beneficiando com
descarregos, desenvolvimento mediúnico para os mais novos e algumas consultas.
Entretanto, essas consultas foram breves, porque aquele dia era programado mais
para um trabalho energético do que para orientações mais profundas.
Depois, a gira na mata foi direcionada aos boiadeiros. Eles se manifestaram
através da incorporação e algumas atividades intensivas foram realizadas. Quando
todos os boiadeiros subiram, eu relaxei. Senti que eu tinha cumprido grande parte da
minha missão, naquele dia. Eu havia trabalhado antes com o Caboclo Treme-terra e,
há poucos minutos, com o Boiadeiro Sete Estrelas.
As cantigas, daquele instante em diante, seriam entoadas para os demais
orixás, basicamente para homenageá-los. Eu ajudava a puxar os pontos, no círculo de
médiuns, e podia observar as pessoas do lado oposto. Bem a minha frente, a cerca de
oito metros, estava Tetê Souza, ladeada por dois integrantes do grupo. Em dado
momento, tive uma surpresa. Vi um volume expressivo de "fumaça esbranquiçada",
47
saindo do topo da cabeça de Tetê Souza. Não durou muito o fenômeno e logo deixei
de enxergar aqueles estranhos vapores.
Então, parei de entoar os cânticos e observei fixamente, novamente, a cabeça
dela. Nada ocorreu. A seguir, mirei os dois médiuns que estavam à direita e à
esquerda de Tetê Souza. O fenômeno de clarividência não se repetiu, em relação a
eles.
Contudo, quando voltei a olhar para a Tetê, percebi uma expansão
razoavelmente luminosa no topo de sua cabeça. Então, aquela borda foi se dilatando
mais e mais, até formar uma massa de “gases”, que rompeu-se. Rapidamente uma
“fumaça esbranquiçada” estava subindo. Desta forma, compreendi que aquilo era
ectoplasma e achei muito interessante a clarividência espontânea. Apenas lamento
que o fenômeno não perdurou.
Aproveito o ensejo para salientar que o processo de liberação daquelas
bioenergias, durante os pontos cantados, deve ser favorecido pela própria melodia
entoada e o pelo bom ritmo das palmas. Ou seja, enquanto se louva aos orixás, um
trabalho oculto está em andamento...
A sessão terminou com os exus e pomba-giras. Após o fechamento, tive a
intuição de que me permitiram ver o desprendimento das bioenergias (ectoplasma)
de uma médium, de modo a lembrar que não bastavam as oferendas entregues na
mata, para executar os trabalhos densos que realizamos. Neste contexto, e aliás em
qualquer situação mediúnica típica de Umbanda, as bioenergias dos médiuns são
fundamentais para a produção de bons resultados nas atividades espirituais. Em
síntese, combinando-se o ectoplasma dos alimentos, com o ectoplasma dos médiuns,
há maior efetividade em casos difíceis como os de desmanche de magia negativa.
Muito axé a todos.
48
18- PEDRINHO DA PRAIA
A partir de setembro de 1993, eu iniciava meu desenvolvimento mediúnico. A
entidade da Linha das Crianças que se apresentou, para me ajudar neste processo, foi
o Pedrinho da Praia. Ele explicava que vinha na irradiação de Xangô e de Iemanjá.
De início, eu não sabia que ele estava basicamente me preparando para a chegada de
outro erê, o Zequinha da Calunga, cuja vibração estava mais afinada com a minha
tarefa mediúnica, ligada a atividades mais densas.
No entanto, aquela fase do Pedrinho da Praia foi de grande aprendizado para
mim. Durou cerca de três anos e neste período o menino espiritual realizou alguns
trabalhos, mais frequentes na chamada "mesa de Umbanda". Alguns conteúdos
dessas atividades chegaram ao meu conhecimento, ficando registrados na minha
memória.
O Pedrinho, sempre que possível, gostava de conversar com a minha tia
Emereciana. Numa dessas oportunidades, enquanto incorporado, ele falou para ela
que a tinha visitado à noite, enquanto minha tia dormia. Após esta informação, não
demorou e Emereciana lembrou-se de ter sonhado, há dois dias, com um pequeno
menino. Ela narrou que a criança estava sobre um muro e parecia que ia cair. Isso fez
com que ela fosse até ele, de modo a ampará-lo, impedindo uma suposta queda.
Em seguida, Pedrinho sorriu e confirmou a experiência noturna fora do corpo
da minha tia, dizendo que ela o vira de fato. Entretanto, naquele dia, estava presente
Sarah, minha prima e filha de tia Emereciana. O erê voltou sua atenção à jovem
mulher, que era mãe de dois garotos que, à época, não ultrapassavam os 10 anos de
idade.
Então, Pedrinho falou um pouco sobre as origens espirituais de seus dois
filhos, dando ênfase ao Gilberto, o mais novo, assinalando que ele era um espírito
guerreiro. Comentou, inclusive, um aspecto bem interessante sobre uma espada, que
volta e meia surgia em nível sutil junto à cintura do garoto. Aquela ferramenta de
49
combate, invisível aos olhos humanos, era "arrastada" por Gilberto em certas
circunstâncias...
Aqui faço um parênteses quanto a este fato narrado por Pedrinho, que, naquele
tempo, explicou que aquele objeto sutil era decorrente da memória daquele espírito,
quanto a vidas passadas, quando empunhou a espada em reencarnações voltadas à
guerra. Assim, aquela arma era plasmada no Astral com alguma frequência, por um
acionamento mental inconsciente do garoto Gilberto. Hoje, além disso que a
entidade apontou, penso que Gilberto deve também ter a proteção do campo
vibratório correspondente ao orixá Ogum.
Bem, retornando ao relato, Sarah ouviu com muita atenção ao Pedrinho da
Praia, mas ela retrucou, dizendo que tinha maiores dificuldades com o seu filho mais
velho, o Laércio, que era frequentemente rebelde. E em relação ao Gilberto, disse
que era muito amoroso com ela, não causando maiores problemas e tendo quase
sempre um legítimo bom humor.
Neste momento, é necessário um adendo. Na verdade, na época, Sarah
desconhecia que tinha forte dívida cármica com Laércio, enquanto que, com relação
ao Gilberto, os laços anteriores eram bem mais positivos.
Voltando à conversa entre a entidade e a minha prima, Pedrinho reafirmou que
Gilberto era um espírito muito guerreiro e que o futuro iria mostrar isso. A seguir,
ocorreram outros diálogos, mas não são relevantes para este relato.
Os anos se passaram, na realidade, mais de duas décadas, até chegarmos à data
de 5 de outubro de 2019. Este dia era um sábado e eu iria visitar a tia Emereciana,
que se encontrava numa instituição geriátrica. Eu me dirigia para lá com o filho dela,
meu primo Márcio. Quando o carro foi estacionado, Márcio comentou comigo que
Gilberto, filho de Sarah, agora um homem-feito, visitaria Emereciana num outro dia.
Márcio colocou que Gilberto era bombeiro militar e que trabalhava próximo da casa
de repouso onde se encontrava minha tia.
50
Ao ouvir isso, algo aconteceu na minha mente. Recordei, repentinamente,
quase tudo o que descrevi desde o início deste relato. Naquele instante, eu acabara de
decidir que precisava escrever sobre esta ocorrência, acontecida há mais de 20 anos.
Pedrinho da Praia, na década de 90, havia dito que, no futuro, o aspecto
guerreiro de Gilberto iria se manifestar. Hoje, ele é um “soldado do fogo”! O jovem,
nesta vida, resolvera trocar a velha espada de outrora, que ainda se plasmava em sua
cintura enquanto criança, pelo combate a incêndios. Provavelmente, no passado,
Gilberto tirava vidas. Agora, veio com um dever íntimo de salvar vidas.
Por fim, assinalo que estou bastante satisfeito em compartilhar este caso. Sou
grato pela vivência com o Pedrinho da Praia e pelo tempo que esteve comigo,
naquele início do meu desenvolvimento mediúnico. Salve Pedrinho, onde quer que
esteja! Onibejada!
51
19- O ANIVERSÁRIO DO TERREIRO
Aquele era um dia festivo no terreiro de Umbanda. A casa completava pouco
mais de 40 anos de existência. A sessão, naquela data, seria composta pela abertura
tradicional, por um trabalho de passes com os guias, mas sem consultas, finalizando
com uma confraternização entre médiuns e consulentes.
Ali não era estimulado um contato mais próximo entre médiuns e consulentes,
no dia a dia dos trabalhos. Porém, naquela data comemorativa, se fazia uma exceção.
Então, ao final da atividade mediúnica, os médiuns foram chamados ao pátio
interno da instituição, onde se encontrava um grande bolo, bem como os consulentes
que desejaram permanecer na casa, para cantar o “parabéns” e interagir.
Enquanto o dirigente do centro fazia uma oração de agradecimento, permaneci
junto aos demais médiuns, em expectativa. A seguir, as velas do bolo foram acesas e
cantou-se o “parabéns”.
No momento de distribuição das fatias do bolo, preferi ficar num canto,
conversando com Amanda, uma tarefeira da casa, como eu. Contudo, percebi que, a
certa distância, uma senhora olhava para mim sorridente. Seu rosto não me era
estranho, mas não recordava de onde poderia conhecê-la. Preferi deixar isso de lado
e focar minha atenção em Amanda.
Num dado instante, a nossa conversa foi interrompida gentilmente pela
senhora mencionada, que disse: “Bom dia, o senhor não me conhece, mas eu
precisava falar... Eu precisava agradecer ao senhor.” Eu e Amanda nos calamos,
aguardando o que ela diria a mais. E ela continuou: “As suas entidades me ajudaram
muito! O senhor nem imagina! Eu não dormia direito. Quase nada o meu estômago
digeria. Eu vivia dando trabalho para o meu marido, um homem tão bom!
Preocupava os meus filhos. Eu só vivia doente, me sentindo imprestável. Eu tinha até
vergonha do meu estado! Os médicos não davam jeito na minha situação. Eu tinha
muita vergonha de não ter forças para nada!”
52
Então, lembrei-me daquela senhora, ainda que um tanto vagamente. Durante
os transes mediúnicos do caboclo, do preto-velho e do exu, seu rosto havia sido
registrado em minha mente. Até os assuntos que ela vinha apontando, em
agradecimento, passaram a ter alguma lógica para mim. Aquela senhora era um dos
consulentes mais frequentes, para as entidades que trabalhavam através da minha
coroa. Nas memórias esparsas da semiconsciência de minhas atividades mediúnicas,
realmente constava a presença daquela pessoa.
Ela, agora, passava a falar detalhes de sua melhora, exaltando sua alegria e
satisfação, até que se emocionou e foi às lágrimas. Nesse contexto, intervi e disse
que eu estava muito feliz por ela ter recuperado sua saúde, e que deveríamos
agradecer a Deus. Ela me perguntou se poderia me dar um abraço e eu a abracei. Em
seguida, ela se desculpou por estar tão expansiva, mas comentou que precisava ter
vindo me agradecer pessoalmente. Então, afastou-se.
Amanda, que acompanhou a nossa conversa, também estava emocionada. A
médium me falou: “Isso já aconteceu uma vez comigo! É tão bom, não é mesmo?”
Respondi que sim e acrescentei que esta é a verdadeira recompensa do médium.
Ao final deste relato, necessito salientar que, num centro umbandista, nem
sempre há irmandade suficiente. Às vezes, alguns médiuns preferem estimular
sentimentos menos nobres, como o ciúme e a inveja. Preferem também praticar a
maledicência e a fofoca, bem como outras atitudes destrutivas. Não é raro, nos
terreiros, “filhos-de-santo” atuarem negativamente contra o dirigente espiritual da
casa, mas também o próprio não ser muito equilibrado ou justo.
Bem, mas isso tudo não é privilégio da Umbanda. Em todas agremiações
religiosas está o elemento humano e, desta forma, ali reside a imperfeição. Mas,
porque estou colocando estes aspectos agora? Já respondo. Quero salientar que
devemos trabalhar fundamentalmente pela nossa própria melhoria, dando
oportunidade também às entidades para evoluírem e uma chance aos consulentes
que, verdadeiramente, sofrem. O restante não importa!
53
Por fim, acrescento que, naquele dia do aniversário do terreiro, quem recebeu
um presente fui eu. Salve Umbanda!
54
20- ERÊ MANGUINHO
Eu estava no computador, montando uma palestra sobre Xangô e Nanã,
principais correntes espirituais da próxima sessão no terreiro. Em dado momento, um
pensamento súbito surgiu em minha mente: eu receberia uma criança que não podia
andar.
Parei de elaborar a palestra por um instante, recordando que eu já tinha
presenciado uma situação assim. Há mais de 20 anos, num determinado centro, o pai
pequeno da casa trabalhava com um erê que se mantinha como na sua última
encarnação, com uma deficiência nas pernas. Em seguida, voltei a trabalhar na
palestra, deixando qualquer possibilidade futura para depois.
Após cerca de 10 dias, estávamos no dia da sessão de Xangô e Nanã. Os
preparativos, desde a manhã, estavam intensos, arrumando-se o terreiro e realizando-
se as oferendas. Em certo instante, senti a presença de um espírito da Linha das
Crianças, que soprou no meu ouvido que viria à Terra pela incorporação. Colocou,
também, que não podia andar. Então, lembrei da minha intuição ocorrida há um
pouco mais de uma semana. Eu havia esquecido completamente do fato. Entretanto,
respondi mentalmente: “Tudo bem.”
Antes do início da sessão, ao longo do dia, o erê se aproximava e se afastava
intermitentemente. Eu não o conhecia e, por isso, a entidade estava irradiando suas
energias de maneira a estabelecer um vínculo comigo.
Quando a gira foi iniciada, o menino espiritual voltou a falar e suas palavras
foram: “Eu preciso descer!” Eu, logo argumentei: “Agora não dá! Vamos esperar um
momento mais adequado, está bem?”
Durante os cânticos a Xangô, ele voltou a pedir: “Eu preciso descer, tio!”
Novamente, através do diálogo mental, respondi: “Percebi que você é da Linha de
Nanã. Vamos esperar os pontos dela...”
O trabalho transcorreu e chegamos ao período de louvar Nanã. Alguns pontos
foram cantados e houve a necessidade de descarrego de algumas pessoas presentes.
55
Desta forma, passou-se a entoar cânticos a Obaluaê/Omulú, acontecendo
incorporações nesta corrente vibratória. Nesta fase, o erê voltou a se aproximar,
perguntando: “Pode ser agora, tio?” Logo, retruquei: “Espere um pouquinho mais...”
Quando os descarregos terminaram, tornou-se a cantar para Nanã. Então, dei
passividade ao menino espiritual. Tetê Souza, médium muito experiente, foi lidar
com ele. Ela me relatou que o garoto se manifestou sentado no chão, com minhas
pernas de lado, sem qualquer movimento. A criança se apresentou como
“Manguinho”. Ele disse à Tetê Souza que queria se aproximar de uma oferenda que
estava depositada no solo, mais à frente. Ela disse que podia.
O menino espiritual, com agilidade, se deslocou pelo chão, usando os braços
do médium (eu) como alavancas. Ao chegar na borda da oferenda, disse à Tetê Souza
que precisava arrodear o trabalho ofertado. A médium permitiu e lá foi ele se
deslocando com rapidez inesperada.
Então, após ter arrodeado metade da circunferência, comentou: “Preciso dar
uma volta completa, tia!” Tetê falou: “Aí entre a mesa e a oferenda é muito apertado
pra você passar...” O erê, rapidamente, disse: “Dá sim, tia! E foi passando por ali,
habilmente, como se tivesse vivido desta forma, na Terra, por alguns anos. Depois
que deu a volta completa, ficou feliz e retornou ao Plano Espiritual.
O que posso dizer, após a desincorporação de Manguinho, é que a entidade me
deixou uma vibração muito boa. Eu tinha ido para aquela sessão meio adoentado,
com problema na garganta e baixa vitalidade. Levantei-me do solo, sentindo-me
tranquilo e bem-disposto. O erê da corrente de Nanã havia me ajudado. Se houvesse
mais duas ou três horas de gira, eu teria participado sem problema...
À noite, após a janta, não tinha sono e não apresentava cansaço. Deitado na
cama, não era possível adormecer. Mesmo depois de uma hora em repouso, o sono
não vinha. Mantive-me relaxado e, espontaneamente, começaram a surgir imagens
coloridas na minha tela mental. A clarividência fora ativada por alguma entidade.
Primeiramente, vi um muro comprido, com cerca de 1,80 de altura, todo
grafitado. Era uma espécie de mosaico em tons verde, vermelho, amarelo e azul. Em
56
seguida, vi o interior de uma casa. Para ser mais exato, era um cômodo, talvez um
quarto, pintado de branco, com algumas rachaduras na parede.
As imagens se dispersaram e senti fome. Era o início da madrugada e ainda
não tinha sono. Estava energizado e tranquilo, resolvendo fazer um lanche. Após
comer um sanduíche e um suco de laranja, tornei a deitar-me.
Ainda estava extremamente desperto e, após fechar os olhos, procurei relaxar
novamente, no intuito de dormir. Entretanto, a clarividência voltou a funcionar,
involuntariamente. Passei a enxergar uma área de manguezal. O solo cinzento
acabava de receber um fluxo de água modesto, aparentemente água do mar, já que os
mangues se comunicam com os oceanos. Vi, nitidamente, quando uma onda bem
pequena se chocou com outra lateralmente, se espalhando pelo terreno.
Então, lembrei-me do Erê Manguinho, ao qual dei passagem horas antes, na
sessão umbandista. Entendi que deveria ser ele que ativava minha "terceira visão".
Veio a minha mente que ele transmitia imagens guardadas na sua própria memória,
da época em que fora encarnado. Estava confirmando sua identidade, através da
visão proporcionada do manguezal, que é campo vibratório de Nanã. Percebi,
também, que o local onde ele residia, quando tinha um corpo material, era próximo a
uma área de mangue.
A seguir, passei a ver um canal escavado no solo acinzentado, por onde corria
uma água não muito limpa. Ela desaguou num terreno mais baixo, também de
tonalidade cinza. Na sequência, vi um muro mal construído, cuja uma parte estava
semitombada, pendente num ângulo de cerca de 30 graus. Pela fresta formada, pude
enxergar uma casa muito humilde, cuja parte externa era de tijolos de barro, sem
qualquer reboco. Logo compreendi que Manguinho vivera naquele lugar, quando na
matéria.
Para minha surpresa, a entidade presente em meu quarto quebrou o silêncio.
Passou a me contar algumas coisas através de frases curtas, mas objetivas. Uma delas
foi: “Vivia ali e foi uma vida curta.” Um pouco depois, falou: “Morri de problemas
57
respiratórios.” Após isso, pude visualizar mentalmente o seu corpo. Percebi um certo
estreitamento de seu tórax. Ele nascera assim...
Depois de um intervalo, Manguinho tornou a se comunicar: “Minhas pernas
eram mirradas, sem movimento.” Permaneci prestando atenção e ouvi: “Me
deslocava com os dois braços, pelo chão”. Mantive-me relaxado e escutei: “Eu
aprendi a ler e a escrever. Gostava de desenhar...” Achei essa informação
interessante e ele argumentou: “Se me derem uma pemba, quando estiver na Terra,
eu mostro que sei escrever...”
Gostei das revelações da entidade e permaneci quieto, na cama, quando ele
comentou: “Os outros erês da minha linhagem não são iguais a mim não. Eles
andam...” Quanto a isso, pensei que o que definia a vibração desses erês era a energia
deles em si, e não o fato de terem apresentado alguma deficiência na última
encarnação. Após eu pensar nisso, o erê colocou: “Conheço o Exu do Lodo. Já vi ele
trabalhando...” Então, recordei que recebi este guardião, há uns anos, por duas ou
três ocasiões específicas. Mas, o menino não parava de falar e explicou: “Trabalho
sentado, porque a minha última vida foi importante pra mim. Prefiro lembrar o que
aprendi nela e ser um bom trabalhador.”
Fiquei emocionado com a história deste Erê Manguinho. Senti a sua
humildade e determinação em ser útil, quando ele interrompeu meus pensamentos,
dizendo: “Sou feliz trabalhando e trabalho sentado porque até ajuda a movimentar
melhor as energias da terra.” Após eu ouvir ele comentando os tipos de doces que
utilizava, fui sentindo sono. Ele se calou e eu adormeci.
Pela manhã do dia seguinte, tudo estava ainda na minha memória. Assim que
foi possível, registrei tudo em papel. O encontro com o Erê Manguinho foi muito
positivo e fico no aguardo e à disposição de uma nova interação. Salve Manguinho e
que a sua luz, sustentada pelo Orixá Nanã, a “Avó do Mundo”, possa se fazer
presente sempre que possível ou necessário.
58
21- ORIENTAÇÃO E PREVISÃO DO SR. PENA VERDE
Em meados da década de 90, eu estava presente a um trabalho espiritual do
Caboclo Pena Verde, que atuava e ainda atua através de uma médium amiga, com
excelente conexão espiritual.
A entidade estava em frente ao seu gongá, tendo chamado a senhora Yara, que
desejava uma consulta. O caboclo ouviu as queixas da consulente, que, em resumo,
queria uma ajuda para as suas dores reumáticas. Ela era constantemente afligida por
fortes incômodos nas articulações dos membros superiores e inferiores.
Quando a senhora Yara parou de descrever seus sintomas, o Sr. Pena Verde
disse que passaria para ela uma série de procedimentos, que deveria seguir com
grande disciplina. Ele enfatizou bastante que deveria também mudar radicalmente a
sua alimentação e, se não cumprisse persistentemente o que iria orientar, acabaria, ao
final de sua vida, entrevada numa cama. Falou ainda que precisaria modificar seus
sentimentos, evitando brigas e discussões.
A senhora Yara, pessoa de personalidade muito difícil, com fortes
características de arrogância, estava com os olhos arregalados. Ficou um tanto
assustada, mas logo se recompôs e disse ao caboclo que obedeceria os seus
conselhos à risca.
Então, o Sr. Pena Verde dirigiu-se a mim, pedindo-me para anotar suas
orientações. Rapidamente consegui papel e lápis, pondo-me a ouvir a entidade, que
passava uma forma relativamente complexa de uso do limão e do alho em sua dieta,
com horários bem definidos. Também falou de alimentos que deveria evitar e outros
que deveria adicionar às refeições. Enfim, eram vários procedimentos dos quais não
me recordo mais na totalidade e que ficaram registrados naquela folha de papel, que
passei às mãos da senhora Yara.
Semanas depois, encontrei-me com Yara. Ela seguia criteriosamente as
orientações da entidade. Falou-me que estava bem melhor das dores. Mostrou-me
59
como as suas mãos já fechavam e abriam, sem maiores dificuldades. Porém,
queixou-se que era difícil manter a disciplina indicada pelo caboclo.
Não demorou muito e eu soube que Yara deixara completamente de lado as
recomendações do guia espiritual, voltando também a se alimentar desregradamente,
bem como retomando atitudes muito agressivas com familiares e pessoas próximas.
Os anos passaram e Yara foi decaindo de saúde, passo a passo. Em 2014, a
visitei e andava penosamente, se escorando em objetos ou pessoas. No ano de 2015,
pude observar que só caminhava com muletas. No final de 2016, chegou-me a
notícia de que ela estava entrevada numa cama. Em 2017, ela teve que ser internada,
por efeitos colaterais devido às fortes medicações que usa há anos. Recuperou-se e
agora, em 2018, permanece sem conseguir se locomover, presa ao seu leito em casa.
Só pode sair da cama, através de uma cadeira de rodas.
O Sr. Pena Verde havia prevenido a ela sobre esta possível situação futura. A
possibilidade tornou-se realidade. O aviso do caboclo tornou-se previsão certeira.
Mas, porque tudo isso? Bem, posso responder a esta indagação, pois atuei um
tempo como terapeuta, utilizando-me da regressão de memória como boa ferramenta
de auxílio. Numa oportunidade, promovi a regressão de um parente da senhora Yara,
a uma vida passada que ocorreu na época da escravidão, em solo brasileiro. Este
parente narrou sua própria vida e assinalou que conviveu com Yara naquela época.
Ambos eram donos de escravos mas, em especial, Yara era muito severa, ambiciosa
e arrogante. Ou seja, em síntese, ela ainda hoje mantém uma personalidade muito
endurecida, praticamente não se alterando em relação ao passado recente.
Portanto, pela Lei Cármica, como Yara não se modificou em praticamente
nada, acabou recebendo os impactos de seus próprios atos, muito negativos no
pretérito, agora. Por não ter esboçado maior esforço, está colhendo frutos amargos,
sem maior abrandamento. A vida é feita de escolhas. Ela escolheu como agir no
passado e, na vida atual, teve nova oportunidade e um aviso direto de um guia
espiritual. Porém, sua escolha mais uma vez não foi das melhores...
60
O que me resta é vibrar, positivamente, para que Yara possa despertar o lado
luminoso que todo espírito tem. Agradeço à Espiritualidade, por eu estar presente no
dia em que o Sr. Pena Verde tentou ajudá-la. E, por fim, deixo minha saudação ao
nobre caboclo: Okê Arô Oxóssi!
61
22- O ALERTA DE EXU-MIRIM
Cerca de sete anos atrás, numa sexta-feira, antevéspera de Domingo de Páscoa,
eu acabava de entrar num ônibus tipo “frescão”, rumo a minha residência. A viagem
demoraria algo em torno de uma hora e meia, como de costume. Eu levava uma
mochila, com objetos pessoais, e uma grande sacola plástica com várias caixas de
bombom, para distribuir entre os mais novos da família.
Sentei junto a uma janela, colocando a mochila aos meus pés. Na cadeira ao
lado, pus a sacola com chocolates, porque sabia que, naquele horário, aquele ônibus
sempre trafegava mais vazio. Então, fechei os olhos e relaxei, de modo a realizar um
método de meditação, que vinha praticando há alguns meses.
Não demorou muito e ocorreu uma inesperada vidência. A minha direita, no
corredor do ônibus, surgiu um garoto aparentando ter uns 12 anos. Ele simplesmente
abriu a sacola com as caixas de bombons e começou a mexer no interior dela, como
se fosse furtar algo. Fiquei surpreso com a vidência e abri os olhos, interrompendo o
processo meditativo.
Examinei a sacola e ela estava intacta. Não havia nenhum garoto no coletivo.
Apenas era possível notar seis ou sete passageiros, mais à frente de onde eu estava, e
um senhor atrás de mim, quase na última poltrona do ônibus. O menino que tinha
surgido no meu campo visual mediúnico apresentava a pele clara e cabelos negros.
Estava meio sujinho, assemelhando-se a um garoto de rua. Desconfiei que ele me
alertava sobre algo negativo e, desta forma, resolvi não fechar mais os olhos.
Naquela viagem, eu não entraria novamente em meditação.
O ônibus, então, atingiu a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de
Janeiro. Na altura da Central, entraram dois rapazes, sendo que um deles portava
uma mochila. Ambos foram para o fundo do veículo. Poucos minutos depois, um
deles atravessou o coletivo, indo na direção do motorista com um revólver em
punho, anunciando um assalto. O outro rapaz, logo em seguida, também foi à frente
62
do ônibus, avisando que era para não reagir e colocar dinheiro e pertences de valor
na sua mochila.
Naquele momento, recordei que eu estava com cerca de 1.500 reais no bolso
da camisa. Era um valor alto, porque eu precisava pagar um pedreiro, que realizava
uma obra na residência. No entanto, mantive o sangue-frio. Como os dois
delinquentes estavam lá na frente do veículo, retirei sutilmente o dinheiro do bolso e
o guardei na cintura, por dentro da cueca. Na sequência, planejei o que ia dar ao
ladrão, que vinha se aproximando. Eu tinha cerca de 80 reais no bolso direito da
calça e um celular de qualidade apenas razoável. Era isso o que eu ia entregar, de
modo a que ele pudesse ficar satisfeito.
O rapaz chegou e logo passei estes pertences. Mostrei o interior de minha
mochila, que só continha roupas sujas. Ele ficou feliz com a minha “colaboração”,
seguindo adiante sem ter me ameaçado, o que acabou fazendo com um homem alto e
forte, bem como com um rapaz que tinha um laptop guardado numa bolsa.
Em certo trecho da Avenida Brasil, os dois ladrões saltaram próximo a uma
área de favela. O motorista, muito nervoso, perguntou aos passageiros se desejavam
ir até a uma delegacia. Nós, que éramos poucos no coletivo, dissemos para ele seguir
viagem. O rapaz que quase foi agredido, e que inclusive foi ameaçado de morte,
lamentava não ter um único centavo para pagar outro ônibus, no trajeto seguinte que
seria necessário para ele chegar até a sua casa. Então, retirei parte do dinheiro que eu
havia escondido e dei dez reais ao jovem, para ele não ficar a pé.
É relevante ressaltar que consegui manter uma calma anormal em todo o
evento, o que reputo à presença da Espiritualidade, em meu amparo e inspiração.
Não fui agredido. Não fui ameaçado verbalmente ou por gestos. A sacola cheia de
bombons não foi tocada pelos ladrões, que ao revistarem alguns passageiros, fizeram
uma verdadeira bagunça com suas bolsas, mochilas e sacolas.
Assinalo que o espírito que me apareceu na vidência, no início deste relato,
pertence à Falange de Exu-mirim. Assim, aproveito a oportunidade para fazer umas
breves considerações sobre esta linhagem de exus. No meio umbandista, existem
63
variadas versões sobre Exu-mirim. Essas versões ou visões sobre este agrupamento
de trabalhadores espirituais são respeitáveis, mas não posso ignorar a minha
experiência pessoal com estes guardiões. Deste modo, coloco que já me encontrei
com vários exus desta falange no Plano Astral, através de meus desdobramentos
espirituais ou projeções da consciência. Nestes encontros diretos, ou seja, sem
intermediários, pude interagir com eles e vê-los em ação por diversas vezes.
Constatei que são espíritos que se manifestam com a aparência de garotos, de
adolescentes e até de rapazes. A idade aparente gira em torno de 11 a 18 anos. Boa
parte deles se apresentou como se fossem meninos de rua, mas não todos. A maioria
demonstrou inteligência e esperteza. Poucos se mostraram com alguma timidez.
Por outro lado, aqui no Mundo Terreno, durante trabalhos mediúnicos, pude
conversar com entidades desta falange, incorporadas em seus médiuns. Posso atestar
que conhecem profundamente magia, manipulando como mestres as bioenergias
disponíveis. Não são exatamente garotos ou jovens, pois detêm raciocínio maduro.
Não podemos esquecer que cada espírito já reencarnou muitas vezes e, no
inconsciente de cada um, estão armazenadas suas experiências e habilidades, que
podem ser acessadas e externadas, quando há preparo para isso.
As entidades que labutam dentro da linhagem de Exu-mirim apenas se
apresentam de um jeito brincalhão, meio malandro ou meio infantil, porque isso faz
parte de seu método de trabalho. Por exemplo, eles têm me comunicado que usam
formas e modos infantojuvenis no Astral, porque assim podem enganar seres
obscuros, verdadeiros quiumbas (obsessores), que não lhes dão valor, justamente por
se mostrarem como garotos ou meninos. Então, neste contexto, Exu-mirim desfaz
magias negativas, atua em atividades de limpeza difíceis e “desata nós” bastante
complicados…
Naquele dia, no ônibus, fui ajudado por Exu-mirim. Fui alertado pelo que
estava por acontecer, evitando ficar passivo no veículo, à mercê dos ladrões. De
outra forma, eu seria pego de surpresa. Laroiê Exu-mirim! Exu-mirim é mojubá!
64
23- JOÃOZINHO DA MATA
Ainda na primeira metade da década de 90, eu frequentava os trabalhos de
“Mesa de Umbanda”, na residência da Sra. Divina. Foram oportunidades de
aprendizado muito valiosas para um médium novato, como eu, à época. O saudoso
amigo Nélson Vilhenna também colaborava ali e dirigia as sessões, a convite da Sra.
Divina.
Naquele dia, a mesa tinha sete ou oito componentes. Não recordo o número
exato. Um fato curioso é que lá existiam quatro cachorros, que sempre vinham
participar da reunião, ficando deitados e quietos em torno da mesa, colocada junto à
garagem da bela casa. Os animais de estimação se acomodavam no gramado, assim
que a prece de abertura era feita, não latindo mais.
Depois do início da sessão, se lia o trecho de um livro, geralmente o
“Evangelho Segundo o Espiritismo”, para, em seguida, uma ou mais pessoas fazerem
suas colocações sobre o tema abordado.
Então, se chegava à fase ostensivamente mediúnica, com a manifestação de
possíveis espíritos desequilibrados. Estes, quase sempre, eram esclarecidos pelo
Nélson, que argumentava com eles no sentido de se renovarem e aceitarem a ajuda
dos guias presentes, que os levariam para hospitais espirituais ou colônias afins.
Mas, naquela oportunidade, um desencarnado em estado muito precário estava
no ambiente. A entidade se manifestou através da médium Cinira, dizendo que
estava muito fraca. Falecera doente e abandonada. Sentia muito frio e solidão. Não
conseguia ouvir com atenção às palavras do Nélson. Seu estado era, de fato,
lamentável.
Devido a este contexto, ocorreu a presença do Joãozinho da Mata, através da
Dona Divina. O menino espiritual, com a sua simpatia de sempre, pediu aos demais
médiuns que espalmassem suas mãos e enviassem energia na cor verde para aquele
ser em sofrimento, que chorava copiosamente através de Cinira.
65
Eu já sabia, naquele tempo, que bioenergias em tons esverdeados têm função
de curar. Levantei minhas mãos na direção da entidade sofredora, tendo, naquele
instante, um sentimento de grande compaixão. Entretanto, quando emiti minhas
vibrações, acabei por mentalizar uma cor rosada. Foi um fluxo muito forte que
envolveu, inclusive, o meu chacra cardíaco.
Na sequência, abri os meus olhos materiais e observei que os demais médiuns
ainda emitiam os seus magnetismos. Ergui novamente minhas mãos, no intuito de
vibrar mais uma vez para o espírito necessitado. Tentei mentalizar uma cor verde,
mas o fluxo foi em tom rosa de novo. Não entendi o que ocorria comigo. Por que eu
não conseguia obedecer à orientação do Joãozinho?
No entanto, o trabalho estava terminando. A entidade em desarmonia havia se
acalmado, passando do choro para o adormecimento. Em seguida, foi levada pelos
espíritos de luz. Cinira voltou a si, embora um pouco atordoada.
Eu estava um pouco cansado. Havia me envolvido emocionalmente com
aquela situação, fazendo uma doação muito intensiva. Também estava cismado com
a cor que havia mentalizado, meio que involuntariamente. Só tonalidades em rosa é
que eu havia conseguido vibrar. Mas, permaneci quieto.
Contudo, para minha surpresa, Joãozinho da Mata começou a falar:
- Tem alguém que não mandou energia verde! Tem uma pessoa que não mandou o
verde!
Ele sorria e repetia aquilo, olhando para mim. Fiquei encabulado e até estupefato
pela entidade ter percebido o teor diferenciado de vibração que eu emitira. Mas, o
menino espiritual colocou:
- Não fica chateado não, tiozinho! Foi o seu guia que jogou o rosa. Sabe o porquê?
Eu balancei negativamente a cabeça e Joãozinho arrematou:
- Precisava também do rosa, tio. Aquele irmãozinho precisava de energia de amor.
Essa energia que você jogou, completou a outra que eu tinha pedido.
Naquele dia, pude constatar como é bonito poder assistir uma entidade bem
acoplada em seu médium. A dupla Sra. Divina/Joãozinho da Mata trabalhava com
66
grande afinidade, promovendo singelas, mas marcantes, comprovações da presença
da Espiritualidade aqui no Plano Terreno. Este fato demonstrou, para mim, a forte
visibilidade, no Plano Astral, daquilo que emitimos. Se estamos, por exemplo,
guardando mágoa ou irritados com alguém, enviamos bioenergias de má qualidade
para outras pessoas. Imaginemos que, no dia a dia, em casa ou caminhando pela rua,
que ao pensarmos negativamente, estamos mandando, para os nossos desafetos,
verdadeiros petardos mentais em vibrações e cores que denunciam a nossa atividade.
Visualizemos, ainda que brevemente, a nós mesmos, naqueles momentos de
desarmonia, emitindo energias escuras ou rubras de irritação na direção de alguém.
Somos responsáveis por isso, ao longo de nossas vidas. Mais à frente, colheremos o
que semeamos…
Numa outra oportunidade, pretendo contar pelo menos mais um fato
envolvendo a Dona Divina e o adorável Joãozinho da Mata. Salve todos os erês!
Onibejada!
67
24- OFERENDA A OXÓSSI E DESDOBRAMENTO ESPIRITUAL
Num certo 20 de janeiro, dia comemorativo de São Sebastião, eu e Tetê Souza
fizemos uma oferenda à Linha de Oxóssi. Nossa intenção era não somente
homenagear aos caboclos e demais trabalhadores ligados à energia das matas, mas
também pedir ajuda para um grupo de pessoas vinculadas a nós. Assim, ofertamos
aqueles grãos tradicionalmente preparados, de maneira a que aquelas bioenergias
fossem utilizadas pelos guias e guardiões da citada linha de trabalho, em favor de
todos nós, estimulando saúde e harmonia em nossas vidas.
Na madrugada de 22 de janeiro, para minha surpresa, ocorreu um
desdobramento espiritual. Eu estava num local amplo, onde ocorria uma reunião com
várias pessoas conhecidas projetadas, dentre elas Tetê Souza e meu primo Márcio.
No entanto, naquele encontro familiar, no Astral, havia um intruso. Era um homem
desencarnado, muito falante e irônico, um típico espírito que pode ser avaliado como
zombeteiro.
Enquanto ele se movimentava naquele ambiente, tentando interagir com uma
ou outra pessoa, pude observá-lo com alguma atenção, até que uma voz me disse:
“Ele quer afastar o Márcio, para ficar com a mulher dele!” Este aviso, de um guia
mais sutilizado, invisível a mim naquele recinto, deixou-me mais atento.
Assim, passei a observar melhor o obsessor, acompanhando-o a uma certa
distância de seus passos, no lugar, que se parecia com um sítio, cujo portão tinha a
aparência de ser de madeira.
Em certo momento, nos sentamos em cadeiras e bancos, todos brancos. A
nossa frente, pessoas estavam indo falar aos presentes, alternando-se em suas
mensagens. Então, após um tempo, meu primo Márcio levantou-se, pois desejava
prestar um depoimento pessoal. Ele relatou um período de sacrifício em sua vida,
destacando um esforço extra que teve que realizar, para superar uma situação
desagradável.
68
Logo a minha frente estava sentado o zombeteiro, prestando muita atenção às
palavras do Márcio. O espírito perturbador, ao ouvir a conclusão do meu primo, logo
se manifestou: “E depois disso, o que aconteceu com você? Conte aí!”
Eu me aborreci com a intromissão dele, pois compreendi que o obsessor queria
que o Márcio discorresse sobre a doença que o afetou, naquele período de lutas
terrenas. O ser queria humilhar ao meu primo e talvez ele estivesse, até mesmo,
envolvido ou contribuído para a patologia. Então, tive um impulso para fazer algo.
Comecei a olhar concentradamente para as costas da entidade. Lancei um cordão
energético até o meio de sua coluna e subi até o seu pescoço, já na base do crânio.
Quando foquei neste ponto, virei a minha cabeça para a esquerda, de forma abrupta.
Quase no mesmo instante da minha ação, o obsessor também virou a sua cabeça
involuntariamente, de maneira brusca, à esquerda.
Logo a seguir, ele exclamou: “Ai! Dei um mau jeito! Fiquei até com dor de
cabeça!” Na verdade, ele não havia percebido a minha manobra bioenergética, que
fora induzida por um guardião de Umbanda, invisível a todos nós no recinto.
Eu guardei, em minha mente, que ele havia ficado com dor de cabeça. Concluí
que era ali que eu devia atuar, no restante daquela reunião no Astral, de modo a
expulsá-lo sutilmente do local. Talvez, até mesmo, ele pudesse ser levado pelos
exus...
Com este propósito, após a fase de mensagens e depoimentos daquele encontro
no Mundo Extrafísico, passei a seguir o intruso por todos os lugares que ele
perambulava, naquele ambiente. Conforme eu irradiava bioenergias para pressionar a
sua cabeça, ele punha uma mão ou a outra, alternadamente, sobre ela, devido ao
desconforto. Assim, fui o empurrando até o portão do sítio e esta foi a última
imagem que retive na memória, após retornar para o meu corpo material.
Dias depois, encontrei com o meu primo e sua esposa, contando-lhes a minha
experiência extracorpórea. Ela não estranhou o fato e me relatou duas viagens astrais
recentes dela. Na primeira, ocorrida em 18 de janeiro, portanto antes da oferenda
para Oxóssi, ela disse ter encontrado no Astral dois homens. Um deles dizia que ela
69
deveria se casar com o outro, que estava ao seu lado. Porém, este tinha a mesma
fisionomia de Márcio, seu marido. Conforme o homem, ela deveria assinar um
documento para concluir o “casamento”. Ela achou aquilo esquisito, desconfiando,
pois já era casada com o meu primo. Depois, despertou e não esqueceu a vivência.
Na segunda projeção dela, em 22 de janeiro (mesmo dia que o meu
desdobramento), ela me revelou que, no Astral, o “Márcio” (na verdade, o espírito
que tentava se passar por ele) dizia que ia para uma “balada”, apresentando-se mais
jovem e sorrindo muito, o que não condiz com a personalidade do verdadeiro esposo.
Portanto, ela estava passando por um assédio sexual no Plano Extrafísico,
confirmando a minha viagem astral, que teve a função de tentar afastar pelo menos o
obsessor principal. Este caso é bem interessante, demonstrando que as bioenergias
disponibilizadas em oferendas são utilizadas para trabalhos fora da matéria, já que os
espíritos zombeteiros e similares são bem densos vibratoriamente. Estas entidades,
até mesmo, conseguem alterar as suas aparências, com o intuito de nos ludibriar no
Mundo Sutil. É preciso estar sempre atento, seja aqui, como nas dimensões
imateriais...
70
25- UMBANDA PRESENTE NO LAR
Corria o ano de 2010. Eu atravessava um período em que não trabalhava
regularmente em nenhum centro espiritualista, por motivo de força maior. Naquela
oportunidade, tive uma prova de que a Espiritualidade está sempre por perto. Era
noite e naquela época minha nora e meu enteado residiam temporariamente em meu
lar, até que uma obra terminasse na casa deles. Recentemente, no final de 2009,
haviam nascido minhas netas gêmeas que, obviamente, também estavam conosco na
residência de dois andares. No andar térreo, ficavam o meu enteado, a minha nora e
as duas pequeninas.
Bem, como dizia, estávamos em 2010. Era uma noite e fazia calor. Eu não
conseguia dormir, pois eu ouvia, lá do andar de baixo, os resmungos de uma de
minhas netas, no colo de sua mãe. A criança não dormia, embora sua genitora
estivesse a niná-la com muito esforço. O relógio próximo de minha cama marcava
bem mais que 23 horas.
Então, comecei a escutar o preto-velho, que dizia: "Um espírito perturbado
está incomodando a criança!" Fiquei triste com a notícia e logo se instalou uma
dúvida em minha mente. Como eu deveria agir? Descer e interferir diretamente na
questão, ou simplesmente orar? Depois de alguns instantes, comecei a pedir pela
menininha, entrando em oração. Senti grande compaixão pela minha neta e também
pela mãe, uma jovem que atingira a maternidade recentemente, pela primeira vez,
numa gravidez dupla. Porém, Pai Cipriano voltou a se comunicar: "Tem um obsessor
perturbando a criança!" Angustiei-me, pois queria ajudar sem interferir nos tratos da
mãe em relação a sua filha. Mas, na minha mente, agora, ecoava repetidamente: "É
um obsessor! É um obsessor! ..."
Nesse contexto, levantei-me do leito e desci as escadas rumo ao primeiro
andar. Chegando à sala, vi minha nora com os olhos vermelhos de sono e, em seus
braços, minha neta. A jovem mãe estava sentada no sofá, com um semblante cansado
71
e bem desanimado, enquanto minha neta contraía seu corpinho e esticava os
bracinhos alternadamente, como se tentasse se libertar de algo.
Sentei-me do lado das duas e disse que eu estava com insônia também. Em
seguida, calei-me. Minha nora comentou: "Ela não quer dormir de jeito nenhum!" Na
sequência, descansei meu braço esquerdo na poltrona do sofá e virei a palma da mão
para cima. Pedi, mentalmente, que descesse do Alto a energia necessária ao
abrandamento daquela situação, de modo que eu a absorvesse pela mão esquerda e,
após circular pelo meu corpo, a transmitisse para minha neta através de minha mão
direita. Em ato contínuo, coloquei minha mão destra bem próximo a testa do bebê.
Então, aconteceu algo inesperado: a menininha adormeceu em dois ou três segundos!
Foi como aplicar uma anestesia na criança, que entrou em sono profundo, parecendo
até mesmo estar desmaiada.
A mãe, com os olhos um tanto arregalados, exclamou: "Pablo, ela dormiu!"
Seu olhar parecia indagar como eu havia realizado aquilo. Eu preferi não falar nada,
pois na realidade não esperava um efeito tão drástico e rápido. Eu também estava
espantado, mas, ao mesmo tempo, muito agradecido a Deus e aos guias espirituais.
Fiz um sinal a minha nora, que se levantou com a menina prostrada, levando-a
para o berço. Em seguida, levantei-me e fui até a escada. Ao subir os degraus, senti
uma pressão na cabeça. Logo entendi o que aconteceu. A energia transmitida à
criança não só a anestesiou, como também desacoplou a entidade perturbadora, que
agora estava atrelada a mim magneticamente.
Fui me deitar numa situação um tanto desconfortável, mas eu sabia que, não
raras vezes, durante a noite, os guias ou guardiões da Umbanda acabam por levar
espíritos desequilibrados. Eles atuam, utilizando o ectoplasma do médium, para
imobilizar entidades obsessoras, encaminhando-as para um local adequado ao seu
tratamento.
Na manhã do dia seguinte, despertei com boa disposição. Na noite anterior, se
não tivesse conseguido adormecer após a ajuda a minha neta, teria que tomar alguma
72
providência, como fazer um banho de ervas para mim, por exemplo. Assim como eu,
minha neta acordou bem e sem sinais de qualquer problema. Salve Umbanda!
73
26- SESSÃO DE UMBANDA ALÉM DA MATÉRIA
Naquele 26 de outubro, data próxima ao dia de São Crispim e São Crispiniano
(25 de outubro), aconteceria uma festa de crianças no terreiro. Em alguns centros que
apresentam a corrente espiritual dos erês Crispim e Crispiniano, não é incomum uma
sessão específica de ibejis nesta época.
A citada reunião transcorreu positivamente, mas este relato não é sobre os
trabalhos realizados no Plano Físico, no período normal, mas sim no que veio
depois...
Bem, no dia seguinte (27 de outubro), eu e Tetê Souza voltamos ao terreiro
para limpar o local e retirar as oferendas. Naquela oportunidade, teríamos a ajuda
valiosa de duas médiuns da casa, Sofia e Branca.
Entretanto, eu e Tetê Souza acabamos por acordar muito cedo naquele dia e
resolvemos partir logo para o centro. Assim, chegamos antes que as nossas
colaboradoras.
Em dado momento, enquanto eu lavava algumas louças, ocorreu a
aproximação do Zequinha da Calunga, que trabalha pela minha mediunidade há
muitos anos. O menino espiritual me falou: "Pergunte para a Branca se ela não teve
um sonho esta noite!"
Minutos a seguir, a campainha foi tocada. Desci para atender e eram as
médiuns amigas aguardadas. Depois de poucos instantes, estávamos todos no andar
de cima da instituição, onde aconteciam os trabalhos de terreiro, e onde estava a
necessidade da tarefa de limpeza. Lavei mais um pouco de louça e, então, indaguei à
Branca se, por acaso, havia tido algum "sonho" na noite passada.
Ela, que varria o salão, ficou um pouco atônita com a pergunta. Porém, após
alguns segundos, Branca lembrou-se subitamente de ter estado ali naquele ambiente.
Disse, em síntese, que parecia que a festa de ibejada, da qual participara como
médium no dia anterior, havia continuado mesmo após o encerramento dos trabalhos
no Plano Material. Narrou que, no entanto, havia uma diferença marcante: a
74
quantidade de crianças que ela viu, no salão, era muito maior do que o número de
entidades que incorporaram nos médiuns. O terreiro, segundo ela, estava com muitos
meninos e meninas em intensa atividade, em meio aos doces que permaneceram às
mesas.
Então, entendi porque o Zequinha, talvez meia hora antes, havia me falado
para perguntar se ela tivera algum "sonho". Ele, na verdade, se referia a um
desdobramento espiritual que a médium realizara, com certo grau de rememoração.
Em seguida, Branca me informou que, quando fiz a indagação, ela ficou um
tanto atônita porque sabia que eu me referia a uma projeção astral, imaginando que
eu havia me projetado e encontrado a ela no Astral. Porém, Branca não se recordava
de ter me visto no Mundo Extrafísico, ou sequer de um sonho comum comigo.
Contudo, a minha pergunta acabou por fazê-la lembrar que havia estado no terreiro.
Ela, inclusive, afirmou que se eu não tivesse indagado, provavelmente esqueceria por
completo sua experiência noturna.
A seguir, fiquei satisfeito com a ocorrência e com a interferência positiva de
Zequinha, de modo que o fato não ficasse “perdido” no inconsciente da mente de
Branca. Porém, ao descer a escada mais uma vez, para realizar uma tarefa no
primeiro piso do centro, o erê se aproximou novamente de mim. Ele me passou que
eu deveria escrever um relato sobre o acontecimento e assinalou alguns pontos
importantes a explicar, que coloco a seguir.
O primeiro é sobre as diversas crianças que estavam no Astral. Algumas delas,
que não incorporaram nos médiuns, eram também trabalhadores espirituais. Quando
um erê se manifesta por um médium, ele não vem sozinho, mas, na realidade, traz
consigo seus companheiros de tarefa, que integram uma falange.
O segundo aspecto apontado pelo Zequinha foi sobre a presença, ali, de
crianças desencarnadas em um período relativamente recente. Como por questões
cármicas tiveram uma vida material curta, ainda são espíritos infantilizados que
precisam de carinho e ambientes alegres, de modo a superarem o afastamento
abrupto de suas famílias terrenas. Assim, esta fase de transição se torna menos
75
difícil, até se adaptarem à família espiritual que habita no Plano Astral. Em outras
palavras, estes seres assinalados não são tarefeiros da Umbanda, mas sim espíritos
sendo beneficiados.
A terceira questão, que me foi pedida pelo erê para abordar no texto, foi
relativa à presença de Branca desdobrada na camada energética imediata ao terreiro.
Ele me passou que a médium estava no local, em tarefa, interagindo com os espíritos
ali presentes e doando sutilmente suas bioenergias (ectoplasma), ou seja, sem
perceber. Por outro lado, ela estava recebendo as vibrações espirituais positivas da
corrente dos ibejis, isto é, ocorreu uma troca benéfica para todos.
Bem, estes eram os três pontos que Zequinha solicitou neste relato. Porém,
aproveito a oportunidade para discorrer sobre questões adjacentes ao fato. Uma delas
é assinalar que a experiência fora do corpo de Branca demonstrou, na prática, que as
atividades de um centro espiritualista continuam após o término da sessão no
ambiente material. E é por isso que, em boa parte dos terreiros, se pede que, após o
fim da reunião, as pessoas não fiquem no local conversando sobre temas alheios às
atividades espirituais. Nesses casos, abordar temas negativos ou excessivamente
mundanos pode perturbar as tarefas que perduram no Astral.
Por fim, assinalo uma questão: como Branca retornou, em desdobramento, ao
centro umbandista? Há algumas hipóteses possíveis. Uma delas é que ela, pelos
vínculos magnéticos estabelecidos durante a sessão, retornou naturalmente para o
local, durante a noite, enquanto seu corpo repousava em seu lar. Porém, creio mais
na possibilidade de um amparo espiritual mais direto sobre a médium, ou seja, um
guia dela a trouxe ao terreiro, ou mesmo o próprio Zequinha junto com a entidade
que pertence à coroa mediúnica de Branca.
Fecho este relato, agradecendo a mais esta vivência, que foi especialmente
"patrocinada" pelos nossos amigos espirituais da Linha das Crianças. Onibejada!
76
27- OFERENDA A EXU E O RESULTADO NO PLANO ASTRAL
Naqueles dias, estávamos nos movimentando para transformar um local que
fora residência (num passado distante) e, depois, um sítio de festas, em um ambiente
adequado para realizar sessões espiritualistas. Em resumo, era preciso formar uma
egrégora espiritual naquele lugar, de maneira a possibilitar trabalhos mediúnicos
com segurança e efetividade.
Primeiramente eu, Tetê Souza, George e Vânia realizamos uma limpeza no
local, na Linha de Ogum. Um tempo depois, foi preparada uma oferenda bem
consistente e ampla a exus e pomba-giras. O objetivo da limpeza e da oferenda era a
retirada e encaminhamento de possíveis espíritos desequilibrados, que estivessem
morando ou frequentando aquela propriedade.
Nos dias subsequentes à entrega dos padês à Linha de Exu, a cada noite, eu era
retirado do corpo físico durante o sono e levado para o Astral, de modo a ver o que
estava acontecendo no espaço relativo ao sítio. Nessas oportunidades, também fui
chamado a atuar por lá, somando as minhas bioenergias com aquelas ofertadas nos
padês. A combinação das forças dos médiuns (ectoplasma humano) com as energias
das oferendas (ectoplasma dos alimentos) permite uma maior eficácia nos trabalhos
mediúnicos, sobretudo em situações de maior densidade vibratória.
Na segunda e terceira noites após o trabalho para os guardiões, fui levado em
desdobramento para constatar várias entidades apegadas à Terra por questões
sexuais. Elas transitavam pelo local e não posso narrar o que vi, pois é impublicável
num relato espiritualista. Apenas assinalo que presenciei orgias de espíritos
perturbados. A antiga casa de festas deve ter abrigado, obviamente, não apenas
aniversários e comemorações familiares, mas também fora alugada para esbórnias.
Na quarta noite, também projetado lucidamente, percebi que aquela conotação
sexual mais forte havia sido transformada. Muitos espíritos haviam sido
encaminhados, mas restavam alguns. Estes remanescentes eram, na sua quase
totalidade, adolescentes ou jovens. Haviam falecido prematuramente e estavam
77
muito afinados com ambientes festivos, como aquele que tinha perdurado naquele
sítio por sete anos.
Um jovem, em especial, me chamou fortemente a atenção naquela experiência
extracorpórea. Ele transitava pelo local como um zumbi. Seus olhos eram meio
vidrados. Parecia ver o ambiente, mas estava muito focado no seu mundo interno.
Agia como um autômato. Ele havia sido conduzido para fora do sítio, pelo portão,
por duas ou três vezes, por meio de uma corrente energética invisível para mim. No
entanto, de onde eu estava, pude notar ele retornando pela entrada teimosamente,
como se estivesse sonâmbulo, pouco tempo após as saídas.
Entretanto, na última oportunidade em que o vi adentrando o quintal frontal,
fui tomado por uma força. Eu estava influenciado mediunicamente em pleno Mundo
Astral. Era a energia decidida de um guardião, num nível vibratório mais sutil que o
meu, invisível às entidades presentes, que se assenhoreava do meu corpo
perispiritual.
Em seguida, fui em direção ao jovem e, sem qualquer cerimônia, foi aplicada
uma verdadeira surra na entidade perturbada. Eu percebia meus braços e pernas
atuando com vigor, sobretudo no rosto do jovem. Pude perceber, durante os golpes,
que os olhos dele continuavam perdidos no vazio. Ele não despertava por nada. Até
mesmo parecia estar anestesiado. Não demonstrava dor.
Sentia pena dele, mas eu praticamente não tinha controle sobre o que fazia. Eu
questionava mentalmente a surra, até que o rapaz caiu ao solo. Joguei-me por cima
dele e alguns socos ainda foram desferidos no seu rosto astral, que já estava meio
amarrotado. Então, em dado instante, observei que seus olhos já me viam. Parecia ter
despertado do seu transe. Agora ele tinha um olhar mais humano e presente, estando
surpreso.
Na sequência, meus braços pararam e voltei a ser eu. A energia do guardião se
afastou e pude conversar com o desencarnado. Expliquei-lhe que aquele lugar estava
se modificando e que ele não poderia morar mais ali. Coloquei que seria melhor
78
aceitar e ir para outro ambiente, onde seria esclarecido. Teria uma nova
oportunidade, mas não ali. Não precisava ficar preso ao passado...
Tendo dito isso, ergui-me. Em seguida, vi o rapaz caminhar, meio assustado,
para fora. Contudo, ele tinha um semblante desperto. Havia acordado, depois de um
sono ou transe muito longo. O exu, através do meu corpo astral e bioenergias mais
densas, havia provocado o despertar daquele desencarnado, através de um método
rude, mas eficaz (há outros meios, sem dúvida, conforme a situação). A minha parte
plenamente consciente na tarefa foi travar aquele curto diálogo. Parece que deu
certo…
Depois, conversei com vários outros jovens que permaneciam no ambiente.
Tinham fisionomias tristes, porque já estavam cientes de que não poderiam
permanecer ali. Tive pena deles, mas coloquei que ficariam muito melhor em postos
socorristas e comunidades astrais acima do Plano Terreno. Havia um clima de
despedida…
No momento posterior, eu despertava na minha cama, com o meu corpo todo
doído. Houve um reflexo de toda a ocorrência sobre o meu perispírito, com alguma
somatização no físico. Mais uma vez, eu constatava que trabalhos densos
vibratoriamente não são nada fáceis...
79
28- O SR. PENA VERDE E MEU PROCESSO CÁRMICO
No início de minha jornada mediúnica, quando eu já participava de
descarregos, cortes de demanda e processos desobsessivos, às vezes sentia os
impactos mais fortes de bioenergias e entidades negativas. Um sintoma
relativamente comum, naquela época, era ficar com um quadro de tonteiras mais ou
menos intenso, depois que eu colaborava em atividades vibratoriamente densas.
Em determinada semana do ano de 1997, após um trabalho desobsessivo, eu
vinha sentindo um certo desconforto que incluía um pouco de enjoo e tonteiras
intermitentes. Na sessão seguinte do centro espiritualista, em um sábado, comentei
isso com o Caboclo Pena Verde, que se manifestava através da médium Tetê Souza.
Indaguei: "Essas tonteiras não são uma labirintite?” Ele, com a firmeza que sempre o
caracterizou, me disse: "Moço, isto que você está tendo não é doença não!” Em
seguida, o Sr. Pena Verde colocou: "Faça esse trabalho que eu vou indicar e vou
provar pra você que isso não é doença!"
Aceitei realizar a breve oferenda, da qual não me recordo mais, e a médium
Tetê Souza me auxiliou nos procedimentos. Na segunda-feira, eu retornei às minhas
atividades profissionais e, para minha surpresa, mesmo tendo que digitar muitos
textos em frente ao computador, não senti qualquer sinal dos desagradáveis sintomas
de antes. Fiquei muito bem e, na próxima oportunidade, no terreiro, agradeci ao
Caboclo.
Em 1999, o problema ressurgiu. O contexto da minha vida não era nada fácil
naquela época. Eu tinha que trabalhar cotidianamente como funcionário de uma
empresa, ao mesmo tempo em que estava escrevendo a minha tese de doutorado.
Além disso, nos finais de semana, participava intensivamente das sessões
umbandistas. Desta forma, as tonteiras vieram mais fortes e constantes, o que me
tornou um ser irritadiço em boa parte do tempo. Havia um estresse, mas logo entendi
que a origem da questão não era apenas devido ao desgaste.
80
Quando tive chance de recorrer ao Sr. Pena Verde, indaguei ao Caboclo
porque eu estava passando por aquela situação novamente, já que eu era tão dedicado
à Umbanda. O guia espiritual me respondeu com outra pergunta: "Você sabe quantas
cabeças você já cortou?" Fiquei atônito por um tempo com a resposta e nada falei,
pois obviamente não recordava minhas vidas passadas. Então, coloquei: "Mas, eu
não trabalho na Umbanda forçado por nada. Eu vou porque gosto!" Na sequência, o
Caboclo assinalou: "Continue assim, meu filho, porque se você agisse de outra
forma, o seu destino seria a psiquiatria."
Essa foi a essência do diálogo. Ele me falou mais algumas palavras e
orientações, não deixando de me ajudar. Porém, fiquei ciente de que teria um período
desafiador em minha vida, o que de fato aconteceu até o ano de 2002. Foi uma
travessia muito difícil para mim, com tantas tarefas e, ao mesmo tempo, com uma
saúde flutuante e um tanto combalida. Naquela fase, percebi que a Lei Cármica se
impõe em certa "dose", apesar de todo esforço e dedicação que possamos exercer no
"aqui e agora", que às vezes não é o suficiente para contrabalançar totalmente os
desvios que cometemos no passado, em sã consciência. Contudo, superei todos os
obstáculos, não deixando de cumprir minhas metas.
Alguns anos depois, enveredei pelo estudo sobre regressão a vidas passadas.
Não só realizei um curso, como também me submeti ao processo, podendo acessar e
revivenciar diversas vidas pretéritas. Descobri que boa parte de minhas antigas
experiências estava ligada a guerras e, em algumas ocasiões, atuando no campo da
magia negativa. Numa das últimas sessões de regressão, em especial, retornei à
época em que fui um samurai. Quase ao final da experiência regressiva, lá estava eu
cortando a cabeça de muitos prisioneiros, no Japão Feudal.
Somente dias depois de ter novamente vivenciado o que fiz no passado,
recordei as palavras do Sr. Pena Verde: "Você sabe quantas cabeças você já cortou?"
Então, finalmente compreendi melhor porque, anos antes, eu havia passado por
aquele período de tonteiras tão desagradáveis.
81
Ao final deste relato, é importante salientar que, quando tive o problema de
saúde, fiz uma longa bateria de exames que incluiu, até mesmo, uma tomografia
cerebral. O médico apenas me disse, à época, que os meus sintomas não tinham uma
causa orgânica clara, talvez sendo algo de fundo emocional. Bem, o médico fez o
que pôde. Quem realmente sabia da origem do meu problema, ajudando-me dentro
dos limites da Lei de Ação e Reação, foi o Sr. Pena Verde. Okê Arô Oxóssi!
82
RELATOS DAS VIVÊNCIAS
(PARTE 2 – COM PSICOGRAFIAS)
83
A- PAI CIPRIANO: “FOLHAS AO VENTO”
Há cerca de quatro anos, o preto-velho que trabalha através da minha
mediunidade me ditou algumas mensagens. Guardei-as zelosamente, mas acabei
esquecendo-as, já que minhas atividades do dia a dia são intensas. Ontem, 13 de
agosto, neste mês em que vibra forte a irradiação de Obaluaiê/Omulu, acabei
achando uma mensagem de Pai Cipriano. Li com atenção e senti que era um bom
momento de divulgá-la. O texto está exposto na sequência e foi intitulado “Folhas ao
vento”.
A natureza sempre ensina. Todos já devem ter notado que, por um motivo
ou por outro, as folhas das árvores se soltam e caem. Umas amareladas, outras
escurecidas e algumas ainda verdes. E qualquer vento leva essas folhas na
direção para onde sopra. Essa direção, quem sabe dizer qual é? Às vezes, por
um capricho da natureza, o vento rodopia e rodopia. As folhas giram e
praticamente não saem do lugar.
Bem, quem sabe observar a natureza e olha para o ser humano, vê que é
tudo a mesma coisa. Então, tem algumas pessoas que se deixam levar por
qualquer vento. Preferem não pensar e acabam por serem levadas pela “sorte”
ou pelo “azar”. Ah filhos de fé! Não existe sorte ou azar. O que existe é o
resultado do que se pensa. O “azar” acontece a quem não pensa direito. É
preciso planejar um pouco mais a sua própria vida. Se você quer um teto,
precisa trabalhar e economizar. Se você quer uma boa esposa ou bom marido,
precisa aprender a amar e respeitar outro ser humano. Se você quer que
tenham paciência com os seus erros, precisa aprender a perdoar os outros.
Ah filhos de fé! Se permitirem que os maus ventos carreguem vocês,
facilmente uns vão cair no atoleiro, outros em buracos fundos e alguns em
verdadeiros precipícios. É bom sempre evitar o vento do egoísmo, o vento da
intolerância e o vento do ódio. Tem outros ventos também bastante ruins, mas
84
os filhos de fé devem saber quais são... Não preciso apontar cada tipo que leva à
infelicidade. Mas, preciso lembrar que não se deixem levar por qualquer
engano. A natureza ensina! Mas, é muito importante querer observar e
aprender...
Para aqueles que não estão entendendo, vou deixar um último comentário
nesta mensagem. Você que me lê, agora, pense um pouco na própria vida.
Procure lembrar os acontecimentos dos últimos meses ou anos. Se você está
recordando de algumas tristezas ou derrotas, que se repetem de tempo em
tempo, é porque está dentro de um rodamoinho que você mesmo criou ou se
deixou levar. Não é hora de você mudar a direção de sua própria vida?
Ao reler o texto de Pai Cipriano, pude fazer uma proveitosa reflexão sobre a
minha jornada até este momento. Espero que bons ventos levem esta mensagem aos
amigos leitores e que tenham também esta oportunidade. Salve Pai Cipriano! Salve
as Almas!
85
B- UM TRABALHO DE ZÉ PELINTRA
Era uma noite agradável de 29 de agosto de 2011. Aproximava-se uma
entidade conhecida. Logo entendi que o “Seu Zé” vinha me contar, sobre um caso
em que ele ajudou uma pessoa. Busquei papel e aguardei o influxo psicográfico. Não
demorou e surgiu a mensagem a seguir, cujo título era “Mulher soturna”.
Estava, eu, numa casa noturna. Uma mulher olhava para o vazio, soturna,
e parecia me ver. Eu, ali, atuava como guardião. Buscava alguém, cujo coração
precisasse de proteção. Sabia que ela não me via, nem pressentia. Apenas queria
uma “solução”, para sua mais recente decepção. Eu conhecia o seu caso, que era
o da vaidade feminina que vai ao chão. Então, ali estava ela, com um copo na
mão, remoendo desilusão. Não era o primeiro copo, nem o segundo. O seu
pequeno mundo se esvaía, através de cada copo que fluía, pelo balcão, em sua
direção. E ela tinha companhia de uma entidade que foi, em vida, um beberrão.
Não era coisa boa, não! Estava se metendo em “buraco sem fundo”, acreditando
que tudo poderia ser esquecido, através do álcool, estimulada pelo intruso.
Assim, acompanhei a mulher de mais perto. O beberrão desencarnado,
acreditando ser muito esperto, tentou me “peitar”. Mas, não pôde me encarar,
porque eu estava agindo pelo lado certo. A luz, que hoje me guia, ajudou e ele
teve que respeitar. Fiquei perto dela, soberano, e pude lhe falar. De alguma
forma ela me ouviu e começou a enjoar. O copo, de sua mão, no chão foi parar.
A mulher foi para casa chorar suas mágoas, afastando-se de certos perigos.
Cumprido estava o serviço, deste Poeta do Rio Antigo.
Após o término do texto, levantei-me e fui beber um pouco de água. Retornei e
li com calma o conteúdo. Tratava-se de uma atividade de proteção espiritual do Sr.
Zé Pelintra, narrada por ele mesmo. Achei muito interessante a mensagem, bem
86
como bastante autoexplicativa. Qualquer pessoa de boa vontade leria o assunto e o
compreenderia bem. Eu não teria nenhum comentário adicional a fazer.
No entanto, fiquei bastante curioso em conhecer outros trabalhos espirituais do
“Seu Zé”. Acreditei que ele voltaria, em outras oportunidades, para narrar mais
casos. Quem sabe até ele me ditasse um livro sobre suas tarefas?! Aguardei com boa
disposição, por novas visitas do amigo espiritual...
Bem, estou esperando até hoje, fevereiro de 2017, e ele não voltou para
escrever. Aproximou-se de mim, algumas vezes, mas por outros propósitos. O que
ele tinha que me passar, pela psicografia, já o fez. Quem sabe no futuro?
Nos trabalhos psicográficos, como na mediunidade no geral, o médium precisa
aguardar o que vem do Plano Espiritual. Não pode ter ansiedade e “passar à frente da
entidade”. O médium precisa, simplesmente, ter a boa vontade de cumprir a missão
que foi programada, antes do reencarne. Como não recordamos a nossa programação
espiritual, vamos vivenciando o “fluir da vida”. Aproveito para deixar um “salve” ao
Sr. Zé Pelintra. Laroiê Exu! Exu é mojubá!
87
C- PAI CIPRIANO: “PONTAS SOLTAS”
Naquela manhã de segunda-feira, eu estava me sentindo um tanto letárgico,
mas também muito tranquilo. Não estava preocupado com o horário de ir trabalhar.
Uma força maior do que a minha me impelia a ficar em contemplação. Tudo o que eu
fazia no quintal de casa era meio demorado e sistemático. Em definitivo, embora
pudesse me atrasar, não estava com pressa de sair para o trabalho. Um tempo depois,
notei que, na verdade, eu estava irradiado pela presença espiritual de Pai Cipriano.
Lembrei que, no sábado imediato, portanto há dois dias, ele havia dado consultas
através da minha mediunidade no centro. Então, percebendo que a entidade queria
passar uma mensagem, providenciei papel e caneta, anotando as palavras do mentor.
O texto está exposto, a seguir, sendo intitulado “Pontas soltas”.
A vida de uma pessoa é como um fio grosso, formado por muitos fios
finos. Cada fio deste, mais fino, é uma tarefa ou missão. Quando esses fiozinhos
têm um bom início e um bom fim, eles ficam juntos, bem ajustados uns aos
outros. Nesse caso, a vida da pessoa é quase como uma corda forte. E sendo
assim, dá sustentação e segurança a quem precisa.
Ah, filhos de fé! Mas quando cada ação tem um início meio torto e não
chega ao final, começam a aparecer pontas soltas. Elas são um problema que só
cresce, ao longo do tempo. Pontas soltas podem se embolar com outras também
soltas, surgindo até nós-cegos, bem difíceis de desamarrar.
Uma vez, alguém falou com esse velho, aqui presente, que precisava ter
uma casa para morar. Estava difícil pagar o aluguel... Então, perguntei porque
o dinheiro dele não estava sobrando. E ele me respondeu que tinha muitos
gastos. Trabalhava muito, mas precisava distrair a cabeça... Esse velho aqui,
então, perguntou se não era bom deixar a bebida de lado. O homem coçou a
cabeça e disse que precisava dela para relaxar um pouco. Esse velho, que de vez
em quando tem que mexer na ferida, disse que ele não estava bebendo só nos
88
finais de semana. Era quase todo dia! O dinheiro estava indo embora, junto com
a cerveja...
O homem, sentado à minha frente, passou a reclamar que o emprego não
era bom. Pagava pouco... Esse velho teve que perguntar porque não tinha
terminado os estudos. Ele teve chance, mas desistiu. A resposta foi que nunca
teve muita paciência com os livros. Confirmou que sua família lhe deu condições
de estudar, mas preferia “botar a mão na massa” e ir ganhar dinheiro.
Então, esse velho teve que cutucar outra ferida. Perguntei porque havia
dispensado a companheira de jornada, porque havia rejeitado a esposa... O
homem mostrou surpresa e tristeza. Tive que dizer a ele que havia trocado o
certo pelo duvidoso. A beleza da matéria nem sempre vem junto com o caráter.
Tive que apontar que ela era também um braço forte no lar. Trabalhava e
ajudava a sustentar a casa.
Mas, esse velho não podia negar ajuda para aquele que estava sentado em
frente. Dei meus conselhos. Indiquei caminhos. Mas, tive que falar para ele que
tinha muitas “pontas soltas” na vida dele. Estava se enrolando nelas cada vez
mais. Era a hora de terminar tudo o que começou, da melhor maneira possível.
E você, filho de fé, que lê as palavras desse velho? Tem muitas pontas
soltas na sua vida? Não vale a pena examinar bem direitinho, com bastante
atenção? Ainda dá tempo... Sempre há tempo para melhorar...
Ao ler o texto de Pai Cipriano, recordei de algumas pessoas que estão quase
sempre por perto na minha vida. São amigos e amigas que têm algumas dificuldades
em suas jornadas terrenas. O conteúdo da mensagem seria útil para eles. Entretanto,
não pude me furtar a fazer uma breve revisão dos meus próprios passos. Pude
assinalar algumas “pontas soltas”, mas, no geral, minha autoavaliação não foi das
piores. Espero que eu esteja sendo lúcido o suficiente para chegar a conclusões
realistas. De qualquer forma, mantenho-me de prontidão para evitar novas “pontas
soltas”. Desejo que este relato seja útil a quem tenha a paciência de lê-lo ou ouvi-lo
89
pela internet. Agradeço a presença frequente de Pai Cipriano! Salve as Santas Almas
Benditas!
90
D- O HOMEM JULGA, MAS A JUSTIÇA É DE XANGÔ
Numa madrugada fria de inverno, eu acabava de despertar. Eu precisava
dormir mais! Pelo menos, era isso o que eu desejava. Entretanto, não conseguia
adormecer, mesmo permanecendo quieto, deitado debaixo de dois edredons.
Em determinado momento, algumas palavras vieram a minha mente. Logo
formaram-se frases e estas rimavam. Ignorei o fato espontâneo e inesperado. Preferia
descansar. As tarefas dos últimos dias haviam sido intensas...
No entanto, as frases continuavam a brotar dentro de minha cabeça. Rimavam
e faziam sentido. Achei o processo interessante, mas, mesmo assim, não dei maior
importância. Porém, em dado instante, compreendi melhor o contexto geral,
percebendo, também, que eu estava sendo inspirado por uma inteligência externa.
Levantei-me e acendi a luz do quarto. Fui até uma escrivaninha e consegui
papel. Apanhei uma caneta e deixei fluir, sem maiores questionamentos, o conteúdo
que chegava do Plano Espiritual. Logo estava materializada uma mensagem em tom
poético, que ponho na sequência, intitulada “O homem julga, mas a Justiça é de
Xangô”.
Eu sou o certo e o puro.
Você é errado e chulo.
Eu sou lúcido e iluminado.
Tu és estúpido e alienado.
Eu sou amparado por Deus,
Enquanto, você, inspirado pelo diabo.
Eu sou misericordioso: a própria Piedade...
Tu és indecoroso, torto, inclemente e enviesado.
Minhas palavras são corretas: a límpida justiça!
Você é como estrada incerta: cada passada o incrimina.
Minha visão do mundo é única e perfeita!
91
A sua é estreita, típica de um vagabundo!
Eu sou culto! Naturalmente, mereço o melhor...
Você já nasceu bruto e será sempre exemplo do pior...
Minhas escolhas são discernimento!
Tuas decisões são como excremento!
Tudo isto parece um absurdo,
Mas apenas é o que acontece a cada momento.
O ser humano é cego e surdo!
Se julga superior e isento.
Mas, verdadeiramente isento é o Senhor da Justiça.
Não mora na Terra e não joga palavras ao vento.
Sua balança é Perfeição Divina.
Sua força a tudo permeia e ensina.
Nos meandros da vida,
Pelos tortos caminhos humanos,
Em meio a falsidades e complôs,
Reina com infinita sabedoria
A luz de Pai Xangô.
(16 de julho de 2019)
Em seguida ao fluxo inspirativo, levantei e fui beber água. No retorno, peguei
as folhas de papel e li o texto. Gostei do que estava escrito. Ao pousar as folhas
numa mesinha, reconheci a energia da entidade, ainda presente, que havia
transmitido o conteúdo. Agradeci, um tanto surpreso, mas logo lembrei que, dentro
de 11 dias, participaria de uma gira de Xangô. Tudo fazia sentido e o tema abordado
poderia ser bem útil para diversas reflexões. Kaô kabecile, meu pai!
92
E- PAI CIPRIANO: “PÉS SUJOS”
Naquela tarde eu voltava de um trabalho de Umbanda, com certo cansaço,
após tantas tarefas. Entrei no banheiro, em ritmo lento, ainda pensando nas várias
atividades desenvolvidas. Ao entrar debaixo do chuveiro, que tinha uma boa água
quente, pensei: “Vou esfregar bem esses meus pés. Não gosto deles assim, tão
sujos!” Ali, passei vigorosamente uma bucha com sabão, até tirar todo o pó e a
fuligem típicos de um terreiro, após uma sessão umbandista.
Então, num dado momento, ouvi o preto-velho dizendo: “Seus pés ficam sujos,
mas seus caminhos estão ficando limpos.” Não entendi exatamente o que ele quis me
passar naquele momento, mas guardei sua frase na minha mente.
Alguns dias se passaram e, às vezes, a frase de Pai Cipriano ainda me voltava à
memória. Eu senti que meu entendimento estava incompleto e, dessa forma, emiti
um desejo de compreender melhor. Então, quando surgiu uma oportunidade, em
atendimento aos meus pedidos mentais, houve uma nova aproximação do preto-
velho, para trazer um esclarecimento mais profundo. Ele me passou as explicações,
que estão expressas na sequência.
No passado, muitas pessoas dedicaram-se à magia, movidas por interesses
próprios, que nada mais eram que suas paixões, fome de poder e de riqueza
material. Não viam seu semelhante como irmão de jornada, na estrada da vida.
Em boa parte das vezes, esses “bruxos” ou “feiticeiros” apenas se utilizaram do
conhecimento das forças da natureza, para manipular outras pessoas e tirar
proveito, prejudicando àqueles a quem deveriam considerar como irmãos.
Assim, nesta caminhada egoísta, cheios de vaidade e orgulho, foram sujando a
estrada percorrida, a cada passo, a cada vida. Diversos conhecedores da magia
foram deixando rastros de dor, sangue e revolta, ou seja, os caminhos
percorridos ficaram muito sujos.
93
Hoje, muitos desses antigos magistas estão reencarnados como médiuns
umbandistas, para prestar a caridade. Assim, quando vejo que um trabalhador
espiritual da Umbanda volta para casa suado, cansado e com os pés sujos, meu
coração se alegra. E junto comigo, outros pretos-velhos, também antigos
praticantes da magia, nem sempre positiva, ficamos felizes, pois amparamos
àqueles que erraram como nós.
É preciso limpar a estrada que, aparentemente, ficou para trás. Então,
meu filho, quando chegar em casa com os pés sujos, devido ao trabalho
umbandista, repare bem que seus pés ajudaram a limpar um pouco a sujeira
que espalhou no passado. Seus caminhos estão ficando limpos.
Ao terminar o influxo psicográfico do conteúdo passado por Pai Cipriano,
fiquei satisfeito e agradecido à entidade. Olhei a minha volta e reparei num sabiá,
que acabava de pousar a poucos metros de distância. Eu estava debaixo de algumas
árvores, sentado com o bloco na mão, onde tinha anotado as orientações do guia.
Alguns raios de sol chegavam ao solo. Um passarinho, que não identifiquei, cantava
no alto de uma árvore. Havia verde e algumas flores a minha volta. Senti-me
abençoado por aqueles instantes de paz, nessa vida tão atribulada que vivemos hoje.
Nesse contexto, espero que o leitor que absorve este pequeno relato possa
também sentir esses momentos de serenidade, que agora sinto, enquanto finalizo este
texto. Salve as Almas! Axé a todos!
94
F- EXU CAVEIRA: “NA HORA DA MORTE”
Uma semana após o chamado “dia dos mortos”, em 2018, eu recordava
situações em que soube sobre o apego excessivo à vida física e sobre lamentações
quanto ao desencarne de parentes ou amigos. Eu meditava acerca de todo o
sentimento tristonho ou angustiado emitido pelos seres humanos, no geral, quanto ao
passamento físico. Infelizmente, nem todos compreendem que a vida continua após a
trajetória material. E mesmo aqueles que sabem disso não deixam de se entregarem à
melancolia, quando ocorrem desencarnes em família ou de pessoas próximas. Eu me
incluo neste último grupo, de certa forma.
Em dado momento de minhas reflexões, senti a presença de um espírito amigo,
um guardião da Umbanda que atua através da minha mediunidade. Ele, captando
meus pensamentos sobre o tema, sem delongas, passou a ditar uma mensagem. Logo
busquei papel e lápis e pus o texto poético, numa folha disponível, que consta a
seguir, intitulado "Na hora da morte".
Quando chegar a hora de tua morte, abrace-a com toda a força e volúpia,
porque é nos braços dela que te libertarás da carne, que já se torna camisa de
força e cálice de amargura.
Quando chegar a hora de tua morte, entenda que ela é libertação. Perde-
se o corpo que maltrata e constringe, como dura e apertada prisão.
Quando chegar a hora de tua morte, não a veja com horror ou como
escuridão. Saiba que ela é rua estreita, rumo à infinita amplidão.
Quando chegar a hora de tua morte, aceite-a, não com resignação, mas
sim com alegria n'alma, com a energia de uma incrível canção.
Quando chegar a hora de tua morte, sorria com forte emoção. Não
permita o apego ao corpo, em decaimento, nem às posses em franca corrosão.
Sejas livre! Sejas livre! Sejas livre! Teu irmão de trabalho, teu irmão nos
caminhos, teu irmão de fé e de coração, Exu Caveira (09/11/2018).
95
Quando o processo mediúnico terminou, li e reli a poesia, achando-a bela e
muito coerente. Mas, obviamente, o trabalhador espiritual se referia ao desencarne de
forma natural, ou seja, não provocado pelo indivíduo que tenta fugir as suas
responsabilidades pelo suicídio. O suicida não tem na morte uma libertação, mas
sim, carrega consigo suas angústias e aflições não resolvidas na matéria, para o
"outro lado", aumentando o seu sofrimento.
Fiquei pensando como deve ser positivo viver uma vida produtiva e
equilibrada, até chegar ao momento do desenlace, com a consciência tranquila.
Então, sim, a morte vem como uma libertação rumo a novos aprendizados no mundo
mais leve, que é o Plano Espiritual.
Bem, em 24 de junho de 2019 redescobri a mensagem poética do Sr. Caveira,
que estava guardada numa mochila. Ela estava esquecida por mim, mas o próprio
guardião me fez encontrá-la, após eu sentir que deveria remexer em vários papéis da
referida mochila, de modo a fazer uma limpeza nela. Isto me levou a escrever este
relato e eu já concluía que tudo se devia, fundamentalmente, à proximidade do exu,
pois dentro de poucos dias iria trabalhar com ele num terreiro...
No entanto, para minha surpresa, na tarde do dia 25 de junho de 2019, ao
trocar mensagens pelo WhatsApp com minha prima Sarah, soube que um amigo
espiritualista, William, estava em fase terminal de uma doença. Eu o conhecera na
década de 90, quando já era muito mais experiente que eu. Recordei que, naquela
época, William deu passagem a um Exu Caveira, na única sessão de Umbanda em
que estivemos juntos, e ele dizia que aquele espírito não pertencia a sua coroa
mediúnica. Ele comentou que aquele guardião era da corrente de algum médium ali
presente. Eu, na época, trabalhava com o Sr. Sete Encruzilhadas, que permaneceu
por mais de 10 anos à frente das minhas atividades com a Linha de Exu. Porém, há
alguns anos, atuo com o Sr. Caveira, já que a missão de um médium pode variar
conforme as necessidades cármicas e programação reencarnatória. Então, liguei os
fatos passados ao presente, compreendendo que aquele espírito que se manifestara
96
pelo William, no passado, era possivelmente o mesmo que atua comigo no período
atual. Ele estava mostrando a sua presença já naquela época.
Pela manhã de 26 de junho de 2019, ao despertar e ligar o aparelho celular, vi
a mensagem de que William falecera no dia anterior, à noite. Então, tive convicção
de que a mensagem “Na hora da morte” estava relacionada ao William. E
compreendi que ele podia ir em paz e que estava partindo com a consciência de que
fez o melhor possível nessa sua trajetória terrena. Além disso, estava amparado por
seus guias, protetores e amigos espirituais. Deixo um abraço sincero ao William, que
muitas vezes encontrei, visitando meu pai doente numa clínica, onde precisava de
um suporte especial devido a um derrame cerebral. Quem é solidário, não fica ao
desamparo...
Antes de terminar este relato, faço mais um adendo. Algumas pessoas
poderiam questionar como um exu poderia transmitir uma poesia, se são
trabalhadores que enfrentam as sombras, atuando em ambientes densos
energeticamente. Porém, lembro que muitos guardiões e guardiãs, em suas vidas
pretéritas, foram médicos, advogados, padres, professores e outras profissões ou
atividades "letradas". Tiveram estudo e assimilaram culturas diversas, assim como
nós, hoje, estamos tendo a oportunidade de evoluir. Em cada ciclo reencarnatório,
vivenciamos aquilo que é mais relevante aprendermos. E aprendemos na vida física e
na vida espiritual. Em verdade, simplesmente não há morte! Ela somente é a
passagem para outra dimensão de vida! Exu é mojubá! Salve Sr. Caveira!
97
PALAVRAS FINAIS
Caros amigos leitores, chegamos ao término desta obra “Vivências de
Umbanda II”. Na totalidade, foram 34 relatos, sendo 28 casos práticos sem textos
psicografados e seis em situações que incluíam psicografias de guias ou guardiões da
corrente umbandista.
Espero que essas vivências possam ser úteis a todos aqueles que buscam
compreender a Espiritualidade, em suas diversas formas de manifestação, neste
nosso planeta ainda tão denso vibratoriamente...
Deverei escrever outro livro, que, de certa forma, seja uma continuação deste.
Para isso, preciso de mais tempo, nesses dias acelerados que passamos, de modo a
buscar na memória o que vivenciei e o que tenho vivenciado na minha jornada
umbandista. Pretendo fazer isso, mais uma vez, sem mistificar ou exagerar sobre os
fatos. A Umbanda não precisa de ilusões ou de interpretações distorcidas. A verdade
sempre deve bastar...
Assim, me despeço e deixo um “até logo”, aguardando também a inspiração
dos mentores, para que, em futuro talvez breve, possamos nos encontrar através de
novas vivências compartilhadas. Abraço a todos.
98