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5.1. indiciação

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Page 1: 5.1. indiciação

Fundamentos Epistemológicos da Medicina

8.1. Indiciação

O indício é uma espécie de sinal de alarme que avisa haver algo novo para

ser conhecido, que apareceu algo novo ou aparentemente novo no campo da

consciência e que este objeto pode ser conhecido. Este primeiro momento de

construção do conhecimento marca a emergência de uma nova imagem na

consciência de quem experimenta o ato cognitivo. Este primeiro momento

pode resultar de diferentes meios: da percepção do novo objeto, da recepção

de uma mensagem que comunica sua existência, de uma intuição ou de uma

inferência racional elaborada pelo próprio sujeito.

A indiciação consiste na identificação do objeto ou fenômeno a conhecer

como existente, como algo que existe com alguma autonomia em relação aos

demais objetos e fenômenos; e sua distinção como algo singular no mundo;

alguma coisa diferente das outras já conhecidas. A evidenciação inicia a

individuação e pode se dar a partir da identificação de qualquer característica

que individualize o objeto que começa a ser conhecido como uma

individualidade, confundindo-se, portanto, com o início da descrição, até

porque nenhum dos níveis do processo cognitivo pode ser considerado como

estanque em relação aos demais. Neste momento cognitivo, um objeto, antes

despercebido, se evidencia à consciência e aí se inicia o processo mais ou

menos complexo de conhecê-lo.

Parece desnecessário lembrar que, aqui, o termo objeto está sendo

empregado com o sentido de objeto do conhecimento, isto é, qualquer objeto

material ou conceitual que esteja começando a ser conhecido. Um objeto

material ou conceitual, uma pessoa, um teorema, uma fábula. Qualquer

objeto. Seja qual for o meio pelo qual a imagem daquele objeto novo emerge

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na consciência cognoscente, a evidenciação ou indiciação é invariavelmente

experimentada pelo seu sujeito como o primeiro momento do processo do

conhecimento de um objeto cognitivo e, com isto, produz o estágio mais

elementar de seu resultado. E fenômeno é como se denomina tudo o que

sucede a um objeto.

Acontece a indiciação quando, por qualquer meio, se dá a caracterização de

um certo objeto ou fenômeno novo na consciência e sua separação das

demais coisas já conhecidas, ainda que lhe sejam mais ou menos próximas

ou semelhantes. Há, ao menos um indício de que aquilo é algo novo. Para os

filósofos tomistas, na evidenciação o objeto do conhecimento novo é

distinguido como uma singularidade a ser melhor conhecida. Diziam que algo

é evidente quando sua existência se impõe à consciência.

Como ato perceptivo, a evidenciação consiste na identificação do objeto ou

fenômeno a conhecer como algo novo, diferente daquilo que já se conhece e

sua distinção como algo singular no mundo, diferente de tudo que se

conhecia até então. Mas este momento nem sempre é um fruto da

percepção, pode ser uma conclusão racional ou mesmo uma intuição a ser

confirmada

Os conceitos filosóficos de generalidade, particularidade e singularidade (por

causa de sua importância para o entendimento das relações objetivas das

coisas no mundo) fornecem a base necessária para entender o momento da

evidenciação no procedimento cognitivo. Inicialmente, cada objeto ou

fenômenos aparece a quem o percebe como algo singular.

Em filosofia do conhecimento, os termos individuação e individualização,

como percepção da individualidade através da identificação de algumas de

suas características distintivas, talvez pudessem ser empregados como

análogos à evidenciação. Contudo, em Psicologia e em Psicopatologia, o

termo evidenciação tem sentido bem mais restrito, e quer dizer o surgimento

dos fatores distintivos do indivíduo que sejam suficientes para fazê-lo notado

como algo específico; o processo de construção da individualidade, com o

mesmo significado de identidade, a partir de aptidões, possibilidades e

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estímulos internos (centrífugos) e externos (centrípetos).

Neste sentido, a lei da individuação ou individualização do comportamento

consiste no princípio segundo o qual os padrões de comportamento se

desenvolvem, desde muito precocemente, através de períodos de

crescimento que são unidades perfeitamente integradas e identificadas aos

padrões da espécie, enquanto surgem padrões parciais que se identificam

com o indivíduo.

No passo seguinte, alguns de seus elementos se identificam com

características já conhecidas de outros objetos idênticos, semelhantes ou

análogos ou associáveis a ele de qualquer maneira, impondo-se o

conhecimento daquela particularidade. A particularidade que reúne todos os

objetos de um conjunto geral em um subconjunto particular.

A particularidade está contida na generalidade assim como a individualidade

ou singularidade está contida na particularidade. A seguir, surge a noção de

generalidade pela identificação de características que acontecem em todos

os componentes estudados e a individualidade, assinalada pelas

característica que marcam a singularidade de um indivíduo daquele conjunto.

Neste primeiro momento do processo de construção do conhecimento das

coisas do mundo, a pessoa se dá conta de que existe no mundo da realidade

(ainda que subjetiva ou abstrata) alguma coisa nova a ser conhecida que

pode ser separada das demais; isto é o que aqui se denomina a evidenciação

(ou indiciação).

E é a partir deste momento, desta semente de conhecimento, a evidenciação,

que se inicia a edificação do saber, qualquer que venha a ser sua extensão,

amplitude, profundidade ou complexidade. Porque, embora os objetos e

acontecimentos da natureza sejam realidades naturais, como os enfermos e

suas manifestações patológicas, por exemplo, o conhecimento que se tem

sobre eles são construções culturais com diferentes potenciais preditivos e

explicativos. De onde surge a noção de enfermidade, como condição

essencial para caracterizar um indivíduo enfermo.

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A evidenciação, primeiro momento do processo de conhecer, se dá mais ou

menos da mesma maneira no conhecimento vulgar, no conhecimento

científico e no conhecimento filosófico. O conhecimento científico e o

filosófico se caracterizam pela precisão de seus símbolos e pelo rigor dos seu

procedimentos. Estes talvez sejam os elementos mais importantes para

diferenciá-los do senso comum, há de verificar adiante. Não obstante esta

questão irá se colocar apenas no momento seguinte, na descrição.

O conhecimento médico não é uma exceção a esta organização geral da

construção do conhecimento científico. Distingue-se, no entanto, pela

peculiaridade de seus objetos: coisas como saúde, doença, doente,

terapêutica, diagnóstico, prognóstico, etiologia e tantos outros fenômenos

naturais

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