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ADRIANA REIS ADOMAITIS
A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE ARTE NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
FACULDADE DE VARGEM GRANDE PAULISTA
VARGEM GRANDE PAULISTA
2015
ADRIANA REIS ADOMAITIS
A CONTRIBUIÇÃO DO ENSINO DE ARTE NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
FACULDADE DE VARGEM GRANDE PAULISTA
VARGEM GRANDE PAULISTA
2015
Trabalho de conclusão de curso
apresentado como requisito
parcial para a obtenção do título
de licenciatura plena em
Pedagogia sob a orientação da
Prof.ª Mestra Nadir do Carmo
Silva Campelo.
Agradeço a todos os professores que passaram por toda a minha jornada
acadêmica, em especial, aos Professores Evandro Faustino, Elaine Puntel, Jany
Delourdes, Creuza Avigo, Ana Lenotti e Magda Fulan Belini, por me fazerem
acreditar que é possível uma educação com qualidade.
A Orientadora, Professora e Mestra Nadir do Carmo Silva Campelo por me fazer
perceber que tenho capacidade de realizar aquilo que eu quiser, bastando ter força
de vontade e dedicação.
As crianças que participaram desta minha jornada reafirmando a minha certeza de
que estou no caminho certo.
Dedico a minha formação aos meus pais, Vitor e Nilda, minhas irmãs, Cristina
e Patricia, meus sobrinhos, Vitinho (in memoriam), Gabriel, Ana Livia e Sofia e
em especial a razão da minha vida, meu filho amado Henrico.
“A Arte é importante na escola,
principalmente porque é importante fora
dela. Por ser um conhecimento construído
pelo homem através dos tempos, a arte é
um patrimônio cultural da humanidade, e
todo ser humano tem direito ao acesso a
esse saber.”
Martins, Picosque e Guerra
RESUMO
Adomaitis, Adriana Reis. A Contribuição do Ensino de Artes nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental.2015.43f.Trabalho de Conclusão de Curso – Faculdade de Vargem Grande Paulista, Vargem Grande Paulista,2015.
Este trabalho, cujo tema é “A contribuição do Ensino de Arte nas Séries Iniciais do
Ensino Fundamental”, tem como objetivo principal mostrar que esta disciplina, se
bem trabalhada, pode trazer benefícios que vão além dos cognitivos: ela ajuda na
formação do sujeito como cidadão transformador. Mostrará também, o porquê de se
ensinar Arte e por que esta disciplina não está sendo trabalhada de modo
enriquecedor. Serão apresentados projetos e documentos elaborados e distribuídos
pela Secretaria do Estado da Educação Básica de São Paulo. Apresentaremos as
ferramentas de ensino da Arte que são artes visuais, dança, música e teatro e
mostraremos que através dos eixos que norteiam esta disciplina que são o fazer
artístico – produção, fruição e reflexão – contextualização, podem ser trabalhados
com as demais disciplinas. Tivemos como foco o papel do professor e a importância
que seu trabalho seja feito de modo que qualifique e ponha esta disciplina com o
mesmo grau de importância como as outras. Há também sugestão de como avaliar
esta disciplina. Esta pesquisa foi realizada com base em autores que defendem a
importância do ensino de Arte nas escolas e o seu papel para a formação do sujeito
cultural e cidadão transformador.
Palavras chaves: Ensino, arte, séries iniciais, importância, papel professor.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................ 08
Capítulo I - O ENSINO DE ARTES NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO ESTADO DE SÃO PAULO..................................................
10
2. POR QUE ENSINAR ARTE? .............................................................................
14
3. FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE ARTE...................................................
17
3.1 Artes visuais..................................................................................................... 18
3.2 Dança............................................................................................................... 21
3.3 Música.............................................................................................................. 23
3.4 Teatro............................................................................................................... 25
Capítulo II - EIXOS NORTEADORES DO ENSINO DE ARTE.............................. 28
4.1 O fazer artístico: produção, criação.................................................................. 29
4.2 Apreciar/fruir.................................................................................................. 30
4.3. Contextualizar/refletir....................................................................................... 31
Capítulo III - PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO DE ARTE........................... 33
5.1 Avaliação em arte............................................................................................. 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 41
ANEXO I................................................................................................................. 43
8
INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada tem como objetivo mostrar que o ensino de Arte nas
séries iniciais do ensino fundamental contribui para o desenvolvimento integral dos
alunos, se trabalhado com esse objetivo.
Neste intuito, após a educação infantil, as séries iniciais do ensino
fundamental são os primeiros passos da criança no caminho da aprendizagem e da
alfabetização, e se as disciplinas não forem trabalhadas de forma significativa,
inclusive Arte, pouco o aluno se interessará pela escola, assim ocorrendo a
defasagem na educação e posteriormente no ensino médio.
Apresentaremos no primeiro capítulo o Ensino de Arte nas Séries Iniciais do
Ensino Fundamental no Estado de São Paulo, bem como seus documentos e
projetos propostos pela Secretaria do Estado da Educação para cessar com o senso
comum de que o ensino de Arte seria somente um “passatempo”.
Tivemos como base teórica os documentos “Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Fundamental – Arte” e “Orientações Curriculares e Didáticas do
Ensino de Arte nas Séries Iniciais”, os livros “Para Gostar de Aprender e Ensinar
Arte” de Rosa Lavelberg, “Arte e Didática” de Celso Antunes e “Teoria e Prática do
Ensino de Arte - A linguagem do Mundo” de Miriam Celeste Martins, documentos
estes que fundamentam a importância de se ensinar Arte nas escolas.
Procuramos encontrar a resposta para as seguintes questões: “Por que
ensinar Arte?“ e ”Por que essa disciplina não é prestigiada assim como as demais?”.
Como busca para responder essas questões estudamos as ferramentas de ensino
da Arte: Artes Visuais, Dança, Música e Teatro, bem como a importância de cada
uma delas.
Já no capitulo segundo desta pesquisa, abordaremos os eixos norteadores da
disciplina e o que cada um destes provoca no processo de ensino e aprendizagem,
e ainda, como estes eixos contribuem, não só para a Arte, mas também com as
outras disciplinas.
Com o caminho que o ensino de Arte vem percorrendo, suas mudanças, seus
erros e acertos, podemos perceber que pouco se é valorizado o trabalho com a arte
em si nas escolas. Muitas desculpas são dadas pela maioria dos professores, desde
9
pouco tempo para elaboração de atividades para estas aulas, a falta de apoio
material ou até mesmo não ter conhecimento sobre a disciplina.
Sobre o ensino de Arte nas séries iniciais pouco se é falado, estudado e/ou
trabalhado por grande parte dos professores, Observaremos no capitulo terceiro
desta pesquisa que o papel do professor neste processo de aprendizagem é muito
importante, é ele que pode impulsionar o aluno a gostar ou não de qualquer
linguagem de Arte.
A partir desta problematização, buscou-se fundamentação teórica em autores
que defendem a ideia de que esta disciplina é tão importante quanto às demais e
que proporcionará aos alunos a praticarem a reflexão, produção e contextualização
por meio da Arte que, em conjunto com a aprendizagem das demais formas de
conhecimento, causará a transformação positiva.
Assim sendo, o objetivo maior dessa pesquisa é apresentar esta disciplina
com outro olhar, buscando fazer com que o leitor faça uma reflexão sobre o que se
pode fazer para melhorar o ensino em nosso país.
10
CAPÍTULO I - O ENSINO DE ARTES NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO ESTADO DE SÃO PAULO
Compreendendo a importância do ensino de Arte na formação e
desenvolvimento cognitivo dos alunos dos anos iniciais da educação básica e que,
esta disciplina contribui para a formação de cidadãos sensíveis, reflexivos e
transformadores da sociedade, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
(2002) inseriu o Ensino de Arte no Ciclo I, com aulas ministradas por professor
especialista nas séries iniciais do Ensino Fundamental em 2003, por meio da
Resolução SE n° 184 de 27/12/2002 (Alterada pela Resolução CNE 01/04. Institui
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana):
Dispõe sobre a natureza das atividades de Educação Artística e de Educação
Física nas séries do ciclo I do Ensino Fundamental das escolas públicas estaduais.
O Secretário da Educação considerando:
A importância que a cultura de manifestações artísticas e a vivência de
atividades de socialização, lúdicas e esportivas representam no processo de
formação da criança enquanto estudante-cidadã do ciclo I do Ensino Fundamental;
A necessidade de se intensificar para o alunado dessa faixa etária a
vivência dessas práticas em contextos escolares estimuladores de atividades
sistemáticas, específicas e diversificadas;
A oportunidade de se assegurar a implementação dessas atividades
por meio de um trabalho conjunto entre professores portadores de níveis de
formação diversa e experiências próprias,
Conforme os Artigos:
Artigo 2º- As atividades de Educação Artística e de Educação Física de que
trata o artigo 1º deverão ser objeto de plano específico a ser elaborado em
conformidade com a proposta pedagógica da escola.
Parágrafo único - Na organização e seleção das atividades de cada uma das
disciplinas deverão ser consideradas as modalidades existentes em cada uma das
áreas de conhecimento e sua adequação às características próprias da faixa etária a
que se destinam.
11
Artigo 3º- As duas aulas semanais de Educação Artística e as duas aulas de
Educação Física, ministradas por professor especialista, deverão ser acompanhadas
pelo professor regente da classe.
Parágrafo único - Na ausência do professor especialista, as aulas de
Educação Artística e Educação Física a que se refere o caput deste artigo, serão
ministradas pelo professor regente da classe.
A partir desta resolução, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
(2003) juntamente com a equipe técnica em Arte, em conjunto com consultoria
especializada, organizaram uma série de ações coletivas, tais como workshops,
reuniões técnicas e grupos de discussão com os Assistentes Técnicos Pedagógicos
(ATP) de Artes das Oficinas Pedagógicas das Diretorias de Ensino do Estado de
São Paulo, para que a implementação do projeto alcançasse a sala de aula das
séries iniciais com sucesso, possibilitando resultados desejados, em termos de
aprendizagem, por parte dos alunos.
Foi então que percebeu a necessidade de elaborar um documento que
norteasse especificamente o ensino de Arte nas séries iniciais no ensino
fundamental, já que como está na resolução citada, na ausência de um professor
especialista, o professor regente poderá ministrar as aulas. A Secretaria do Estado
da Educação, juntamente com a Coordenadoria de Estado da Educação Básica
(2014) elaborou e disponibilizou para a escola e docentes o documento “Orientações
Curriculares e Didáticas de Arte no Ensino Fundamental Anos Iniciais”, que tem
como objetivo pautado na necessidade de apoiar o trabalho realizado nas escolas
estaduais e contribuir para a melhoria da qualidade da aprendizagem dos alunos em
Arte no Ensino Fundamental – Anos Iniciais. Este documento apresenta expectativas
de aprendizagem indicadas para cada uma das linguagens da disciplina “Arte”,
buscando assegurar a igualdade na formação dos alunos, permitindo-lhes o acesso
aos bens culturais e artísticos de nossa e de outras sociedades. (2014, p. 10)
Assim, este documento nos deu embasamento para defender a ideia de que o
ensino de Arte nas séries iniciais do ensino fundamental deve ser trabalhado de
forma mais abrangente e que, parte do trabalho feito com qualidade pelo professor,
sendo este especialista ou não, pode tornar a aprendizagem dessa forma de
conhecimento e suas diversas possibilidades algo realmente significativo, tanto para
professor quanto para alunos.
12
Além de documentos, a Secretaria do Estado da Educação trabalhando com
parcerias procurou desenvolver projetos e programas que propiciam aos alunos e
professores a se socializarem com a Arte e a Cultura, tais como:
PROGRAMA “CULTURA É CURRÍCULO”: Este programa possibilita a
democratização do acesso de professores e alunos a equipamentos, bens e
produções culturais que constituem patrimônio cultural da sociedade, além do
fortalecimento e desenvolvimento do ensino por meio da diversificação das
situações de aprendizagem e de interações significativas do aluno com o objeto de
estudo. Este programa se divide em três segmentos:
1. Lugares de Aprender: A Escola sai da Escola, que realiza visitas a
instituições culturais;
2. Escola em Cena, que leva alunos a apresentações de teatro e dança;
3. O Cinema vai à Escola, que conta com exibições de filmes dentro das
unidades escolares.
INSTITUTO ARTE NA ESCOLA: é uma associação civil sem fins
lucrativos que, desde 1989, qualifica, incentiva e reconhece o ensino da Arte por
meio da formação continuada de professores da Educação Básica, tendo em sua
linha de atuação:
1. Educação Continuada: Ações para a formação continuada dos
professores da Educação Básica por meio de polos em Universidades que formam a
Rede Arte na Escola, de parcerias e de projetos aprovados em Leis de Incentivo;
2. Oferta de Materiais Educativos: Instrumentos produzidos pelo Instituto
que subsidiam o professor em sala de aula, como o acervo de 162 documentários da
DVDteca Arte na Escola e o kit arte br, disponibilizados no site do instituto;
3. Reconhecimento: O Prêmio Arte na Escola Cidadã identifica, valoriza,
documenta e divulga, desde 2000, as melhores práticas pedagógicas no ensino da
Arte em todo o Brasil.
Assim, como afirmam os PCN (1997), é papel da escola incluir as informações sobre
a Arte produzidas nos âmbitos regional, nacional e internacional, compreendendo
criticamente, também, aquelas produzidas pela mídia para democratizar o
conhecimento e ampliar as possibilidades de participação social do aluno. Partindo
desta afirmação, fica claro que, o professor, dos anos iniciais do ensino fundamental,
tem a sua disposição ferramentas que colaboram com seu trabalho no ensino de
Arte.
13
Temos a favor do ensino da Arte nas escolas a lei nº 11.769, sancionada em
18 de agosto de 2008, que determina que a música deve ser conteúdo obrigatório
em toda a Educação Básica. Seu objetivo não é formar músicos, assim como o
ensino de Artes não é para formar artistas, mas sim, desenvolver a criatividade, a
sensibilidade e a integração dos alunos.
Percebemos então, que o ensino de Arte é uma linguagem que fortifica a
aprendizagem dos alunos e que, cada vez mais, está ficando claro que sua
contribuição e seus benefícios ajudarão os estudantes a desenvolverem habilidades
e competências que ficam “encobertas” por diversos motivos, como a falta de
estimulo dos próprios professores e o desencorajamento de trabalhar habilidades
que alguns acham desnecessárias, por não estarem, no caso, em seu cotidiano,
como desenhar, dançar, interpretar e cantar, e que o ensino de Arte ajudará a
desenvolver suas potencialidades.
Está também disponível para pesquisa dos docentes, o Projeto Diagnóstico,
que se transformou em um livro intitulado como “O Ensino de Arte nas séries Iniciais
– Ciclo I”. Esse livro é uma organização do material e registros de parte do processo
de formação dos profissionais de Arte no projeto – Ensino de Arte nas Séries Iniciais
– que tem como principal foco, a orientação e fundamentação de profissionais em
uma proposta de educação estética e artística, baseada em uma concepção de
mundo que se desdobra e que se amplia com questões que integram arte, educação
e cultura. (2006, p. 56)
Portanto, as instituições escolares precisarão ter a boa vontade de propiciar
aos alunos as oportunidades descritas nesta pesquisa para que, desta forma, o
ensino de Arte deixe de ser visto como algo que não agrega em nada a
aprendizagem dos alunos, e para isso acontecer, observamos que, será muito
importante que gestores façam um trabalho que contribua para esta “visão mais
ampla” sobre o ensino de Artes. O interessante seria que, cada escola tivesse um
local para serem ministradas aulas desta disciplina, de modo que a qualidade destas
aulas seja alavancada, assim como, por exemplo, existem nas escolas as salas de
leitura ou bibliotecas, laboratórios de informática ou aulas de química ou física. As
aulas de Arte deveriam possuir uma Oficina de Arte onde os alunos e professores
pudessem contemplar e experimentar todas as ferramentas de ensino de Arte, um
lugar onde pudessem conhecer seu corpo através da dança, que pudessem fruir e
refletir sobre diversos sons por meio da música e que, através de vários debates e
14
conversas, reunissem ideias, assim construindo, uma peça teatral e que, também,
através deste espaço, pudessem observar, produzir e organizar artes visuais, ou
seja, deixar de lado esta velha prática de só distribuir desenhos xerocados para os
alunos e que, somente isso, servirá para eles como conhecimento em arte.
2. POR QUE ENSINAR ARTE?
Partindo da concepção que nos aponta os PCN (1997), que Arte é um modo
privilegiado de conhecimento, levantou-se a seguinte questão: Por que é importante
se ensinar arte nas escolas? A partir desta questão e observando como está o
ensino de arte e a formação dos professores nos dias atuais, constata-se que esta
disciplina ainda não é prestigiada por todos os docentes.
Iavelberg (2010) relata que se observam diferentes tipos de professores de
Artes: os que atuam nos moldes tradicionais com cópias e modelos, preenchimento
de cópias prontas e desenhos para colorir, infelizmente, com cópias estereotipadas
e distantes do mundo da arte. Existem também, professores que atuam no
paradigma da livre expressão sem apresentar a produção sócio-histórica da Arte e
sem ensinar procedimentos técnicos, e ainda, outro conjunto de professores que
acompanha propostas contemporâneas, guiado em geral pelos PCNs do MEC, por
documentos locais e, ainda, articula-se à proposta curricular da professora Ana Mae
Barbosa, que associa fazer a leitura da arte e sua contextualização.
O último perfil de professor acima citado, seria no caso, o mais plausível para
que todos os professores seguissem a proposta de um ensino de Arte na
contemporaneidade, o que facilitaria o processo de ensino e aprendizagem
significativo:
“O professor que leva aos alunos novas informações, anima e não abre mão
de significações e os ajuda a correlaciona-las em sua vida ou na maneira de
olhar a realidade, está transformando esse aluno e verdadeiramente o
ensinando.” (ANTUNES, 2010, p. 20)
Ensinar Arte, portanto, não é apenas “sufocar” o aluno de informações que
daqui há algum tempo serão esquecidas, mas sim, apresentar ao aluno
conhecimentos que ele utilizará nas aulas, em seu cotidiano e no restante de sua
15
vida, conhecimentos que ele utilizará, por exemplo, quando não só através da
escola, mas por sua própria iniciativa, ir a um museu, a uma peça teatral, ou seja,
saber ver, saber ouvir, saber olhar, saber refletir, saber fruir e saber produzir, através
da arte que está em toda nossa volta.
Sendo assim, o papel do professor é de “educar o olhar” destes alunos,
aguçando a sensibilidade e não necessariamente formar artistas:
“Um aluno, por exemplo, pode acostumar a olhar todos os dias um mesmo
desenho, mas aprende a ver esse desenho, quando ajudado por um
professor ou um colega, descobrindo uma nova maneira de perceber coisas
que antes não percebia, aguçando a sensibilidade de seu olhar, nesse caso
aprendeu “outra maneira de olhar” o que sempre olhava e, assim, essa nova
maneira o transformou.” (ANTUNES, 2010, p. 20)
Antunes (2010) nos apresenta três problemas ligados ao ensino de Artes no
Brasil, que desencadeiam esta maneira precária e superficial de se ensinar a
disciplina, assim não dando a devida importância.
A primeira é tentar ensinar Arte como que recitando conteúdos,
empobrecendo o universo cultural e o interesse do aluno. O segundo é o número
reduzido de cursos de formação de professores de nível superior e a consequente
atribuição de aulas a pessoas não especializadas, ou especializadas em apenas
uma ou outra expressão artística, e a terceira é a pequena quantidade de livros
editados e divulgados sobre a didática da disciplina.
Isto nos mostra que, ainda é muito “pobre” o ensino de Arte, e o que falta,
portanto, é o professor ter a consciência clara de sua função e uma fundamentação
consciente de Arte como área de conhecimento, fazendo assim, a escola perder a
insubstituível oportunidade de formar alunos em uma área do saber, essencial à
compreensão da pessoa, do espaço, das emoções, tempos em que vive e a
formação completa do cidadão.
Tendo em vista que, o ensino de Arte auxilia outras áreas do conhecimento é
pertinente que se dê a importância necessária para esta disciplina.
De acordo com Antunes (2010), o ensino de Artes não enfatiza sua
importância acima de outras disciplinas do currículo, mas tem consciência que a ela
se iguala como um conhecimento que aproxima pessoas por favorecer a percepção
de semelhanças e diferenças entre as culturas, no tempo e no espaço.
16
Para Martins (2010, p. 13), do mesmo modo que existe na escola um espaço
destinado à alfabetização na linguagem das palavras e dos textos orais e escritos, é
preciso haver cuidado com a alfabetização nas linguagens da Arte.
Isso nos mostra que, por exemplo, para o ensino da Língua Portuguesa é
importante apresentar textos de diversas linguagens, assim está para o ensino de
Artes a ida a museus, espetáculos musicais, teatro, shows, mostras de artes,
fazendo deste jeito, o aluno ter em seu cotidiano a experiência no mundo das artes.
Trabalhar algo que está fora da realidade, tanto dos alunos como dos
professores, dificulta o processo de ensino e aprendizagem.
Segundo Antunes (2010), se ensina Arte para que todos os alunos
matriculados no Ensino fundamental sejam capazes de:
Experimentar, investigar e explorar as diversidades e possibilidades de
diferentes linguagens artísticas, mantendo atitude de busca (pessoal ou coletiva) de
formas de produções artísticas.
Articular sua percepção, imaginação, reflexão e emoção, construindo
uma relação de autoconfiança com a produção artística própria.
Desenvolver o conhecimento estético, aprendendo a respeitar sua
própria produção e a produção artística dos colegas e de sua gente, identificar,
relacionar e compreender arte como fenômeno histórico, contextualizando-o nas
diversas culturas.
Observar e compreender as produções existentes em seu entorno,
podendo percebê-la e relacioná-la com o patrimônio artístico cultural universal,
identificando, compreendendo e relacionando as diferentes funções da arte e do
trabalho artístico, percebendo as relações entre a arte e a realidade, exercitando
plenamente sua sensibilidade.
Pesquisar, investigar e organizar informações sobre arte, identificando
e compreendendo a variedade dos produtos e concepções estéticas presentes em
sua e em diferentes culturas.
A partir desta justificativa de porquê se ensinar arte, compreendemos que
esta disciplina só vem a agregar com as demais disciplinas para transformar a
educação em nosso país.
Assim como nos mostra os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte (1997)
que é importante que os alunos compreendam o sentido do fazer artístico, que suas
17
experiências de desenhar, cantar, dançar ou dramatizar não são atividades que
visam distraí-los da “seriedade” das outras disciplinas, mas sim, contribuir para o
aprimoramento intelectual e cultural, tornando-os capazes de compreender o seu
entorno social.
Entendemos então que, a Arte é importante dentro da escola e que a tratando
e trabalhando com o devido respeito e atenção, o aluno conseguirá “transportar”
esta vivência em arte também em sua vida fora da escola, tornando–se natural este
contato com a arte.
Consta no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012), o ensino
de Arte é mencionado como um grande gerador de aprendizagem e nos mostra os
direitos de aprendizagem em Arte (tabela anexo I).
Assim como está no Pacto da Alfabetização na Idade Certa (2012, p. 22), o
objetivo do ensino de Arte na educação contemporânea reside na ideia de reforçar e
valorizar a herança cultural, artística e estética dos alunos, além de ampliar seus
olhares e escutas sensíveis e formas expressivas através de experiências estéticas
e poéticas, com base nas inter-realidades que eles conhecem ou possam a vir
conhecer.
Portanto, é dever da escola propiciar aos alunos oportunidades para haver
essa interação entre arte, cultura e conhecimento, com a mediação fundamentada
dos professores, assim prestigiando o ensino de Arte como uma disciplina, tão
importante quantos as outras.
3. FERRAMENTAS PARA O ENSINO DE ARTE
O ensino de Arte nos abre um “leque” de possibilidades e para contemplar a
sua importância no processo de aprendizagem será necessário introduzir nos
conteúdos as ferramentas para o ensino de Arte: Artes Visuais, Dança, Música e
Teatro.
Iavelberg (2012) defende o ensino de Arte como uma forma de conhecimento
e expressão e seu ensino têm como objetivo garantir aos alunos acesso ao
patrimônio cultural e histórico, além de possibilitar atos de criação e conhecimento
em diferentes linguagens da arte. Para os alunos aprenderem a gostar de arte, como
a autora intitula um de seus livros, é dever do professor apresentar estas linguagens
18
em suas aulas de Arte para que desta forma, eles possam aprender a conviver com
elas, observando, refletindo e contextualizando-as em suas vidas.
3.1 ARTES VISUAIS
Muitas vezes, por falta de conhecimento dos professores, esta linguagem se
prende apenas a cópias de obras já prontas de artistas como Picasso, Da Vinci,
Michelangelo ou até mesmo, a artistas mais contemporâneos, e que a exemplo,
tornou-se um verdadeiro “vírus” nas escolas como Romero Britto, que são
trabalhados de maneira tão superficial e banal que os trabalhos feitos pelos alunos
não passam de atividades para “enfeitar” as paredes das escolas e dizer que se
ensinou arte para os alunos. Tal fato nos mostra, o quanto está se perdendo não
apresentando aos discentes outras formas de artes visuais, tanto as tradicionais,
como pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial,
como outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações
estéticas a partir da modernidade, como fotografia, artes gráficas, cinema, televisão,
vídeo, computação e performance.
Essas várias possibilidades, dentro da linguagem visual, podem ser
transformadas em objetos de aprendizagens, e como está nos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Arte (1997) geram a necessidade de uma educação para
saber perceber e distinguir sentimentos, sensações, ideias e qualidades e tal
aprendizagem, pode favorecer compreensões mais amplas para que o aluno
desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicione
criticamente.
Fica claro com esta afirmativa que, subestimar a disciplina de Artes como um
momento somente para se colorir desenho pode gerar uma estagnação na
aprendizagem dos alunos. O professor tem o papel de “educar o olhar” dos alunos
para que se torne hábito em seu cotidiano a apreciação, a fruição e a
contextualização das Artes Visuais.
“A educação pelas artes visuais requer, portanto, entendimento sobre os conteúdos, materiais
e técnicas com os quais se esteja trabalhando, assim como a compreensão dos muitos
momentos da História da Arte. Para isso, o professor deve colaborar para que os alunos
passem por um conjunto de experiências de aprender a observar e de criar, articulando
percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção.” (ANTUNES, 2010, p.73)
19
Reiterando que o professor como mediador entre o conhecimento e os alunos
tem um papel muito importante, no ensino de Artes Visuais não seria diferente. Sua
metodologia e a didática aplicada a esta ferramenta é um aspecto fundamental para
que a aprendizagem seja concretizada, ou seja, o professor precisará ter
conhecimento sobre técnicas, procedimentos e informações históricas sobre Artes
Visuais para saber utilizá-las e apresentá-las, estimulando assim, os alunos a buscar
com autonomia informações para poder produzir seus próprios trabalhos.
Para Martins (2010), para que o aprendiz possa poetizar, fruir e conhecer o
campo da linguagem visual é necessário que o professor possibilite:
• O Pensamento visual tornado visível, materializado, por meio da forma
e da materialidade;
• A pesquisa e a leitura da estrutura da linguagem visual e da articulação
de seus elementos constitutivos: ponto, linha, forma, cor, textura, dimensão,
movimento, volume, luz, planos, espaços, equilíbrio, ritmo, profundidade etc.;
• A experimentação e leitura dos diferentes modos de linguagem visual:
assemblei, bode arte, cerâmica, colagem, desenho, escultura, fotografia, grafite,
gravura, HQ, livro de artista ou livro objeto, objeto, pinturas, tapeçaria, vídeo arte,
web art, desenho de animação etc.;
• O manuseio e a seleção de matérias, ferramentas, suportes e
procedimentos e suas especificidades como recursos sígnicos expressivos;
• Os processos de criação em artes visuais percebendo os trajetos, as
escolhas, o perseguir ideias, os repertórios pessoais e culturais, tanto em poéticas
pessoais como em processos colaborativos;
• O patrimônio cultural das artes visuais, incluindo monumentos,
edifícios, museus e seus acervos, sítios arqueológicos etc.;
• Relações com outras linguagens, como arquitetura, cenografia, cinema,
design gráfico, figurino, moda, ourivesaria, publicidade etc. (MARTINS, 2010, p.125-
126)
Contudo, as artes visuais estão praticamente em nosso cotidiano, e as que
não estão, o professor deve procurar através dos meios que estiverem disponíveis
apresentá-las aos seus alunos, de modo que eles tenham contato com as mais
variadas linguagens visuais.
20
Ensinando o aluno a ter um olhar mais sensível o impulsionará a ser um
pesquisador, um explorador de novas possibilidades artísticas, assim como afirma
Martins:
“A linguagem visual também pode ser revelada à criança através de um
sensível olhar pensante. O olhar já vem carregado de referências pessoais
e culturais, contudo é preciso instigar o aprendiz também para um olhar
cada vez mais curioso e mais sensível às sutilezas.” (MARTINS, 2010, p.
126)
Portanto, estimular o olhar reflexivo para as artes visuais no cotidiano, uma
sala de aula poderá contribuir para uma aprendizagem mais profunda,
fundamentando que a arte visual pode e deve fazer parte da vida dos alunos, de
maneira que eles percebam sua importância.
Guerra (2014) nos orienta que sempre que possível, busquemos outros
espaços de aprendizagens: sair da sala de aula, da escola, organizar e preparar
visitas a museus, galeria de artes, mostras de fotografia, bienais de arte, cinemas,
buscar relações com as outras linguagens artísticas e as outras áreas do
conhecimento. Então, desenvolver a apreciação estética dos alunos nos anos
iniciais, ou seja, estimulá-los a fazerem leitura de trabalhos de arte, promove o
desenvolvimento de um olhar crítico, sensível, conhecedor e fruidor das imagens da
arte.
Também é importante transformar a escola, expondo os trabalhos dos alunos
nos corredores, refeitório e corredores, assim trabalhando com os alunos a leitura de
obras de arte, estimulando o conhecimento e o respeito de semelhanças e
diferenças do seu trabalho e dos outros. E que esta prática se torne rotina e
significativa, assim, contribuindo para a elevação da autoestima dos alunos como
nos mostrou uma pesquisa feita pela Instituição Filantrópica Americana. Essa,
dedicada a pesquisas sobre o cérebro que se intitulava “Learning Arts and the Brain”
(Aprendizado, Arte e o Cérebro) no ano de 2008, mostrou que “crianças motivadas
para as artes desenvolvem habilidades de atenção e estratégias que ajudam em
outras áreas e que desenvolvem também o senso crítico e estético, a criatividade,
curiosidade e autoestima”.
Observamos então que, arte não é apenas desenhar ou pintar desenhos,
escutar músicas infantis, dançar em datas comemorativas e observar as artes, mas
21
uma gama de conhecimentos que se bem trabalhados, podem trazer benefícios,
tanto para o professor quanto para os alunos e que este, disseminará este
conhecimento conforme aprendeu, por isso o papel do professor também é muito
importante nesta área do conhecimento.
3.2 DANÇA
Encontramos a definição da palavra “dança” no dicionário da língua Portuguesa
(2008) como “série de movimentos cadenciados do corpo, feitos como exercício ou
diversão e quase sempre ao som da música”, mas se tivermos um “olhar pedagógico”,
veremos que a dança pode beneficiar cognitivamente o aluno no processo de
aprendizagem:
“A ação física é a primeira forma de aprendizagem da criança, estando a
motricidade ligada à atividade mental. Ela se movimenta não só em função de
respostas funcionais, mas pelo prazer do exercício, para explorar o meio
ambiente, adquirir melhor mobilidade e se expressar com liberdade.” (PCN-
ARTE, 1997, p. 49)
A dança está em todo lugar e principalmente na vida das crianças. Desde
quando estamos no ventre de nossas mães, vivenciamos seus movimentos e quando
nascemos, ao sermos embalados com cantigas, acalmamos e nos sentimos
confortáveis com o movimento de “ninar” que é uma forma de dança. Conforme
crescemos, quando os adultos querem chamar atenção para algo, logo se
movimentam. Crianças adoram dançar, mesmo que seja dos seus jeitos. Então, por
que não utilizar esta ferramenta da arte para aprender?
Terra e Xavier (2014) nos lança a seguinte questão: “Será que todos podem
dançar qualquer tipo de dança, assim que desejar?”. As autoras nos respondem que,
primeiramente, aquele que deseja aprender que se disponha a experimentar e a
praticar (talvez repetidas vezes), seja vivenciando aprendizados informais, não
formais, ou formais. Isto, nos indica que a utilização desta ferramenta de ensino nas
aulas de Arte motivará os alunos a experimentar e a descobrir as formas de dançar,
seja como aprendizagem em sala de aula, ou por exemplo, em uma festa feita em
suas casas, ou até mesmo, frequentando uma escola de dança.
22
“Dançar implica em aprender sobre o movimento que aborda: o espaço nas
suas relações de direções, níveis e planos; o tempo nas relações de pulsos,
ritmos, pausa e velocidades com e no próprio corpo, tendo a ação e a
reflexão sempre presentes.” (TERRA E XAVIER, 2014, p. 62)
Portanto, não é somente colocar o aluno para dançar diversos ritmos, mas
trabalhar através da dança o movimento, propiciando oportunidades para os alunos
conhecerem, apreciarem, criarem e vivenciarem a dança na escola, assim,
experimentando esta ferramenta da arte com sentido, atribuindo possibilidades na
formação e participação como cidadão. Utilizando esta ferramenta, o professor
proporcionará aos alunos das séries iniciais do ensino fundamental o conhecimento
do próprio corpo com os movimentos que se pode fazer, além de estimular a elevação
da autoestima resultante da alegria que a dança proporciona. Os benefícios são
muitos em relação a aprendizagem, a dança estimula a coordenação motora, a
concentração e a socialização, melhorando o rendimento escolar dos alunos. Em
muitos povos, a dança é uma característica marcante, ela pode representar muito a
cultura de um povo, como podemos observar em nosso país, os índios dançam para
celebrar atos, fatos e feitos relativos à vida e aos costumes. Dançam enquanto
preparam a guerra e quando voltam dela; para celebrar um cacique, safras, o
amadurecimento de frutas e uma boa pescaria; para assinalar a puberdade de
adolescentes ou homenagear os mortos em rituais fúnebres; espantar doenças,
epidemias e outros flagelos.
Então, a dança sendo um bem cultural, cabe à escola motivar esses alunos a
conhecê-la como um meio de comunicação, como cultura, enfim, como forma de
conhecimento.
De acordo com os PCN-Artes (1997) os elementos básicos para introduzir o
aluno das séries iniciais do ensino fundamental na linguagem da dança são:
Estimular a reconhecer ritmos corporais e externos;
Capacitar o corpo para o movimento;
Explorar o espaço;
Inventar sequências de movimento;
Explorar a imaginação;
Desenvolver o sentido de forma e linha;
23
Se relacionar com os outros alunos buscando dar forma e sentido às
suas pesquisas de movimento.
E ainda, ressalta a importância de que a dança seja desenvolvida na escola
com espírito de investigação para que a criança tome consciência da função dinâmica
do corpo, do gesto e do movimento como uma manifestação pessoal e cultural.
Observamos que o ensino da dança nas séries iniciais do ensino fundamental
trará desafios para os alunos, os direcionando para uma visão mais ampla sobre
dança. Cabe ao professor mostrar aos seus alunos que há muitas outras
possibilidades para a dança, além de “passos coreografados” de Festas Juninas, por
exemplo. O uso dessa ferramenta favorecerá o aluno a explorar as mais diversas
possibilidades e capacidades por intermédio do seu corpo e do outro.
Assim, como nos afirma Antunes (2010) é importante o professor destacar em
todas as oportunidades possíveis que está ensinando cultura, que o corpo é muito
mais que veículo e que as atividades feitas com esta ferramenta de ensino refletem
em uma aprendizagem consciente, com significado para a vida e expressão para
cidadania.
3.3 MÚSICA
A música está presente na vida das pessoas, alguns a utilizam para expressar
sua indignação por algo, outras para expressar o amor, a alegria, ou até mesmo
contar sua história de vida por meio da música. Muitas vezes, utilizamos a música
para nos acalmar e para nos sentirmos melhores. Na educação é comum utilizar a
música para tornar mais fácil a assimilação de conteúdos, como por exemplo, música
sobre as vogais, tabuada, o alfabeto, entre outros. Mas, observamos que a utilização
dessa ferramenta da Arte vai muito além disso, como nos mostra os PCN - Arte
(1997), que qualquer proposta de ensino que considere essa diversidade precisa abrir
espaço para o aluno trazer música para a sala de aula, acolhendo-a,
contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o
seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação e produção.
Nesse sentido, o trabalho com música na sala de aula não será apenas para
memorizar conteúdo ou simplesmente para descontrair, mas sim, como nos afirma
Antunes (2010), permitir que os alunos explorem, pesquisem, improvisem,
24
componham e interpretem músicas de diversas naturezas e procedências,
desenvolvendo sua autoconfiança, senso estético critico, capacidade de análise e
síntese, além de uma aprendizagem sobre como trabalhar em equipe, desenvolvendo
cooperação e respeito pelos colegas.
E para Martins (2010) é necessário que os alunos se envolvam com:
O pensamento musical, imaginando, relacionando e organizando –
intencional e expressivamente – sons e silêncios, no contínuo espaço-tempo,
utilizando recursos como os parâmetros do som (altura, duração, intensidade e
timbre) na transformação dos sons em linguagem musical, a composição, a
improvisação e a interpretação como meios para o desenvolvimento de tal prática, a
voz, o corpo, os variados instrumentos tonalidades, séries), lendo e produzindo
formas sonoras;
Os modos de notação e registro musical, integrando musicais ou objetos
sonoros;
A estrutura da linguagem musical e seus elementos constitutivos (sinais
e signos sonoros, modos, melodias, ritmos;
A criação de notações ao sistema de leitura e escrita tradicional, bem
como aos códigos de notação musical contemporâneos;
A prática da escuta musical, entrando em contato com as diferentes
formas, gêneros e estilos musicais, analisando e reconhecendo seus modos de
estruturação e organização;
Os processos de criação em música, percebendo seus trajetos,
escolhas, coletas sensoriais, repertórios pessoais e culturais, etc.;
O patrimônio cultural musical, da música erudita, popular étnica;
As relações com as outras linguagens como trilha sonora, o jingle, os
efeitos sonoros, sons para celular, videoclipe, etc. (MARTINS, 2010, p. 121-122)
Em favor da utilização desta ferramenta de artes temos a lei n° 11769/2008 que
determina a presença obrigatória da música nas escolas, e assim tem que ser
cumprida, mas a lei não nos mostra como utilizá-la, por isso como dito anteriormente,
a prática deste ensino se limita apenas superficialmente. Marisa Trench de Oliveira
Fonterrada, musicista e educadora música, nos alerta que “enquanto professores,
pedagogos, autoridades escolares e, também, os próprios educadores musicais não
forem a fundo no reconhecimento de seu valor e na questão do tratamento a ser dado
25
à musica, reconhecendo a importância da Educação pela Arte, ainda teremos
dificuldades em fazer propostas educativas em que a Música e a Arte se apresentem
como fundantes para a formação do ser humano”.
Segundo Hermelino Neder, educador musical e musico/compositor (2008), por
se tratar de uma atividade ritualística e ancorada no compasso, a música exige
coordenação motora e desenvolve a capacidade de trabalhar em grupo. Ainda, afirma
que, a música ajuda os alunos menores a desenvolver a fala e ampliar o vocabulário
ao cantarem e ouvirem várias vezes as mesmas palavras, eles se familiarizam com o
padrão da língua, seja a sua, seja uma estrangeira.
Sendo assim, cabe aos educadores apresentar o ensino de música nas escolas
de modo que qualifique a aprendizagem e que, através da música se ganha muito em
aprendizagem que será utilizada por toda a vida, por isso, a importância de se ensinar
Arte desde a educação infantil e isso, se perdurar até o último ano da educação
básica.
3.4 TEATRO
O faz de conta é uma das características mais marcantes da infância. Quando
a criança cria um personagem e começa a dramatizá-lo, ela está desenvolvendo seu
intelectual e também sua parte motora, se movimentando, gesticulando, se
descobrindo.
Martins (2010) afirma que o encantamento do faz de conta vira teatro e deixa-
se conduzir com um novo significado, isto é, apresentar com parceiros uma história
fictícia para outros. Desse modo, as crianças realizam um jogo que é teatral e que
segundo a autora, tornar a criança parceira de jogo pede o viver estético da
linguagem teatral, e para isso, é necessário proporcionar-lhes um contexto
significativo e que seja possível a experiência com:
Ser capaz de agir de modo artístico-estético, numa situação de jogo
teatral, mostrando algo ou alguém, diferente de si próprio, movido pela imaginação
em ação;
A estrutura da linguagem teatral nos seus elementos constitutivos, lendo,
interpretando e produzindo a ação cênica, o lugar cênico, a personagem, a relação
palco/plateia;
26
Processos compartilhados de criação, tanto a criação coletiva como o
desenvolvimento de processos colaborativos;
A ação improvisada utilizando-se de diferentes recursos cênicos, textos
de diferentes gêneros;
Diferentes procedimentos de trabalho com a voz e o corpo para o fazer
teatral;
O imaginário dramático, a fim de que possa ressignificar poeticamente o
mundo e as coisas do mundo;
A construção e a invenção cênica em conexão com a linguagem da
cenografia, da iluminação, dos trajes de cena, da música, da maquiagem;
De contato com diferentes modos de fazer a linguagem cênica;
O patrimônio cultural e teatral, suas edificações, os acervos de trajes de
cenas e cenografias, os acervos de registros fotográficos e em audiovisual, de
espetáculos etc.
Percebemos que a linguagem teatral permite que os alunos trabalhem diversas
áreas do conhecimento e o professor poderá trabalhar com todas as disciplinas.
Utilizando esta ferramenta para o ensino de Arte poderão reviver o que aconteceu na
história de nosso pais, por exemplo, poderão também informar a comunidade sobre
algo que está ocorrendo na atualidade, como a falta de água, e trabalharão a
criatividade, recontando histórias e elaborando novas peças teatrais.
Segundo os PCN - Arte (1997), a criança, ao começar a frequentar a escola,
possui a capacidade da teatralidade como um potencial e como uma prática
espontânea vivenciada nos jogos de faz de conta, e cabe à escola estar atenta ao
desenvolvimento no jogo dramatizado, oferecendo condições para o exercício
consciente e eficaz para a aquisição e ordenação progressiva da linguagem
dramática.
Na escola, a dramatização está no cotidiano dos alunos e professores, quando,
por exemplo, ao fazer uma leitura compartilhada de uma história, os envolvidos,
alteram a voz para cada personagem, gesticulam, fazem sons, e esse jogo nada mais
é que a vivência com a linguagem teatral:
Segundo os PCN-Arte (1997), o teatro no ensino fundamental proporciona
experiências que contribuem para o crescimento integrado da criança sob vários
aspectos:
27
No plano individual: o desenvolvimento de suas capacidades
expressivas e artísticas;
No plano coletivo: o teatro oferece, por ser uma atividade grupal, o
exercício das relações de cooperação, diálogo, respeito mútuo, reflexão sobre como
agir com os colegas, flexibilidade de aceitação das diferenças e aquisição de sua
autonomia como resultado do poder agir e pensar sem coerção.
Esta ferramenta de ensino de Arte está ligada diretamente ao exercício da
socialização, e com isso, os alunos das séries iniciais do ensino fundamental, ao fazer
uma atividade em grupo, estarão vivenciando o companheirismo, estabelecerão
amizades, e o professor, incentivando essas relações, estará contribuindo para a
formação do cidadão.
28
CAPÍTULO II - EIXOS NORTEADORES DO ENSINO DE ARTE
A arte é a linguagem do mundo, como nos afirma as autoras do livro de nossa
pesquisa “Teoria e Prática do Ensino de Arte (2010)”, com ela podemos nos
comunicar, nos conhecer e conhecer o outro e também compreender e respeitar a
diversidade do nosso planeta. Utilizamos a arte desde os primórdios da terra,
quando nossos antepassados desenhavam em cavernas suas vivências, seus
medos e suas conquistas. Então, por que não utilizar a arte a nosso favor? E por
que não ensinar através da arte?
Para ser compreendido por todos que o ensino de Arte na escola é muito
mais que “colorir desenhos”, principalmente nas séries iniciais do ensino
fundamental, e que podemos, como pedagogos, romper com este paradigma de que
esta disciplina serve para “desestressar”, ou seja, deixar de utilizar esta disciplina
apenas como um momento de descontração, mas utilizá-la como ferramenta de
aprendizagem, como uma linguagem para conhecermos nossos alunos e estes,
conseguirem através da arte, seja por meio da música, da dança, do teatro ou até
mesmo, por meio de produção de artes visuais, que se conheçam, que se auto
estimulem a ser pessoas melhores, pois através desta disciplina podemos permear
por conhecimentos que, por muitas vezes, nos passam despercebidos e que a arte
está aí para nos ajudar a desvendá-los e utilizá-los por toda nossa vida.
Podemos observar que logo na introdução do documento “Orientações
Curriculares e Didáticas de Arte – Anos Iniciais” (2014), este nos mostra a
concepção do ensino de Arte e a divide em dois pontos essenciais:
Arte é a área do conhecimento humano, patrimônio histórico e cultural
da humanidade;
Arte é linguagem, portanto sistema simbólico de representação.
Ao analisarmos estes dois pontos essenciais, percebemos que podemos
utilizar a Arte para apresentarmos aos alunos das séries iniciais do ensino
fundamental a história da humanidade e que, através desta linguagem e seus
sistemas simbólicos, desenvolveremos um ensino e aprendizagem com mais
entendimento, visando alunos que exercitarão a reflexão e o olhar crítico, para que
29
na vida em sociedade possam ser capazes de exercitar sua cidadania de forma
perspicaz e sábia.
E para que possamos entender a Arte como forma de conhecimento, teremos
que analisar e compreender os eixos norteadores dessa disciplina que foram
elaborados pela arte-educadora Ana Mae Barbosa, em 1987, que desenvolveu essa
“Abordagem Triangular” pensando em algo que pudesse ser construído
coletivamente.
4.1 O FAZER ARTÍSTICO: PRODUÇÃO/CRIAÇÃO
Muitas vezes, os professores confundem esta prática - o momento da criação-
com o exercício da cópia, e deixam de lado um conhecimento que se usará por toda
a vida. Percebemos isso quando Martins (2010) nos afirma:
“De fato uma série de desvios vem comprometendo o ensino de Arte. Ainda
é comum essas aulas serem confundidas com lazer, terapia, descanso das
aulas mais “sérias”, o momento de fazer a decoração da escola, as festas,
comemorar determinada data cívica, preencher desenhos mimeografados
ou retirados do computador, fazer o presente do Dia dos Pais, pintar o
coelho da Páscoa e a árvore de Natal. Memorizam algumas “musiquinhas”
para fixar conteúdos de Ciências, fazem-se “teatrinhos” para entender
conteúdo de História e “desenhinhos” para aprender a contar.” (MARTINS,
2010, p. 11)
O professor deve se atentar e não cair nesse comodismo, conscientizando-se
de que é possível produzir e criar sem ter a necessidade de copiar o que já foi
criado. É necessário que se estimule sempre a criatividade dos alunos,
proporcionando a eles uma vivência em Artes e que, através de suas próprias
produções, é possível dar forma as suas ideias e reflexões, seja desde pintura a
produções mais elaboradas como a representação em uma peça teatral escrita por
eles.
Assim como nos mostra o documento “Orientações Curriculares e Didáticas
de Arte - Anos Iniciais (2014)”, o exercício de pensar/construir/fazer estético e
artístico compreende procedimentos técnicos e inventivos de modificar, alterar e
produzir novas formas nas diferentes linguagens por meio de informações
30
proporcionadas pelo mundo da natureza e da cultura em que vive o educando, e que
é necessário, pesquisar, experimentar, testar, avaliar e recomeçar em busca do
conteúdo e da forma que representará a sua ideia, seu pensamento e seu
sentimento por meio dos códigos não verbais.
Percebe-se então que a partir do fazer artístico, o aluno compreenderá que
faz parte do todo, e essa representação artística que possui sua identidade mostrará
a visão que este aluno tem de mundo, sua maneira de refletir e sentir a vida, o que
está vivendo naquele momento, enfim, “pôr a mão na massa” contribuirá para a
formação de forma positiva para este aluno, assim nos afirma:
“É importante que os alunos compreendam o sentido do fazer artístico; que
suas experiências de desenhar, cantar, dançar ou dramatizar não são
atividades que visam distraí-los da “seriedade” das outras disciplinas. Ao
fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que
propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo.
Além disso desenvolvem potencialidades (como percepção, observação,
imaginação e sensibilidade) que podem alicerçar a consciência do seu lugar
no mundo e também contribuem inegavelmente para sua apreensão
significativa dos outros conteúdos da outra disciplina do currículo.” (PCN
ARTES, 1997, p. 32)
4.2 APRECIAR / FRUIR
É importante que o professor das séries iniciais do ensino fundamental
pratique com seus alunos a percepção e análise das obras de artes produzidas por
eles, por outros alunos e por artistas variados. Como observamos no primeiro
capítulo desta pesquisa, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo realiza
programas e projetos que levam os alunos a arte e a arte para a escola, e para
poder apreciar essas oportunidades a que nos são oferecidas, se faz necessário
uma “educação do olhar”, ou seja, despertar nos estudantes a percepção reflexiva
buscando compreender melhor o que se observa e com isso, aguçando a
sensibilidade, descobrindo emoções e transformando a curiosidade em
aprendizagem. Através da apreciação/fruição o aluno com sua vivência com as mais
diversas formas de arte e com sua própria produção artística poderá desenvolver
habilidades que poderão ser utilizadas em todas as fases de sua vida, tornando-o
31
capaz de fazer uma reflexão antes de qualquer ação. Por isso que o trabalho do
professor deve ter sentido, cabendo a ele, então, buscar sempre estar informado,
pesquisando sempre, como veremos no próximo capítulo desta pesquisa.
Assim, como afirma Martins (2010), o professor não deve correr o risco de
oferecer desafios que apenas trabalhem o sujeito cognitivo, é preciso criar situações
em que o olhar, o ouvir, juntamente com o olfato, tato e paladar, possam ser filtros
sensíveis no contato com o mundo.
Paralelamente a percepção/fruição é necessário trabalhar a imaginação do
aluno, já que esta também é uma maneira de conhecer e que exercitando o pensar
imaginativo, pode-se encontrar soluções inovadoras e ousadas, seja no campo da
ciência, seja no da arte.
Entendemos então, que é necessário além de conviver com as mais diversas
formas de arte que o aluno consiga “conversar” com elas, ou seja, ter um olhar mais
aprofundado, ampliando seu repertório de conhecimentos e utilizando em suas
produções artísticas, seja na formulação de um desenho, compondo uma música,
escrevendo uma peça teatral ou criando uma forma de dançar.
4.3 CONTEXTUALIZAR/REFLETIR
Os eixos norteadores para o ensino de Artes foram potencializados com a
ajuda de leis como a n° 10.639/2003, onde se inclui no currículo oficial da rede de
ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira”, ou seja,
olhando pelo lado reflexivo, o eixo contextualizar e refletir contribuirá para que esta
temática seja trabalhada de forma a integrar o aluno na cultura de sua sociedade e
também, integrá-lo a cultura de outras sociedades.
Como nos mostra os PCN - Artes (1997), além do conhecimento artístico
como experiência estética direta da obra de arte, há também o conhecimento
artístico como reflexão, gerado pela necessidade de investigar o campo artístico
como atividade humana, e se delimita em três abordagens:
Como produto das culturas: a utilização da produção artística das
mais diversas culturas para o exercício da reflexão, do respeito e da compreensão
do aluno se sentir parte da história, ou seja, se enxergar dentro de sua própria
32
cultura, e a partir disto praticar a cidadania de forma a contribuir de forma positiva a
ela;
Como parte da história: reconhecer que por meio das mais variadas
formas artísticas, que a Arte se encontra como parte da história, ou seja, se utilizou
e utiliza-se da produção artística para se relatar e mostrar fatos históricos;
Como estrutura formal na qual podem ser identificados os elementos
que compõem os trabalhos artísticos e os princípios que regem sua combinação:
ter um olhar analítico de uma obra de arte como todo, ter um olhar reflexivo sobre
todos os aspectos de uma obra, seus elementos, a técnica utilizada, enfim, ter o
conhecimento de técnicas.
Segundo o documento “Orientações Curriculares e Didáticas de Arte - Anos
iniciais”, a contextualização pode ocorrer das seguintes formas:
Sincrônica: a contextualização acontece por meio da análise do objeto
em relação à época e a sociedade que o gerou;
Diacrônica: a contextualização acontece através dos tempos, isto é,
como objeto estudado é utilizada em diferentes tempos e quais relações possuem
com objetos semelhantes de épocas anteriores;
Interativa: relaciona o objeto de estudo com o presente e sua função
na atualidade.
Compreende-se então que, o ensino de Arte nas séries iniciais do ensino
fundamental contribui de forma significativa no desenvolvimento cognitivo dos
alunos, além de melhorar o aprendizado em outras disciplinas.
33
CAPÍTULO III - PAPEL DO PROFESSOR NO ENSINO DE ARTE
Observa-se que responsabilidade do professor nas aulas de arte vai muito
além de simplesmente transmitir conteúdo. Além da mediação entre aluno e
conhecimento, o professor tem que pôr “a mão na massa”, ou seja, interagir com os
alunos em suas aulas de forma a deixá-las mais atrativas, dinâmicas, deixando de
lado a impressão que o aluno tem de que, o professor “quer as respostas certas,
então temos que fazer como ele faz”. O educador tem que trabalhar junto e não
fazer pelo aluno, assim diminuindo o “vão” entre professor e alunos que, por muitas
vezes, se faz por falta de diálogo e afeto. Deste modo, fará com que cada
aprendizagem não afete apenas os alunos, mas também a ele, pois neste momento
não é só os alunos que aprendem.
E para trabalhar de acordo com a orientação dos PCNs, Iavelberg (2003)
afirma que o professor precisa de vivências de criação pessoal em arte que lhe
propiciem a assimilação de conhecimentos técnicos para realizar a transposição
didática nas situações de aprendizagens que envolvem o fazer, a apreciação e a
reflexão sobre arte como produto cultural e histórico.
Para Iavelberg (2003) os alunos devem aprender por interesse e curiosidade,
e não por pressão externa. Isso não implica a não–diretividade, mas a proposta de
conteúdos de ensino e incentivo a cada aluno para navegar pelas relações que
estabelece entre os conteúdos da aprendizagem, a própria cultura e vida social.
Sabendo–se que o ensino de arte transforma e ajuda na formação da
cidadania, reconhecemos o quanto o seu ensino pode contribuir para a educação
integral do ser humano. Partindo desta reflexão, fica claro que o professor é o “elo”
entre o aluno e conhecimento:
“O papel do professor é importante para que os alunos aprendam a fazer
arte e a gostar dela ao longo da vida. Tal gosto por aprender nasce também
da qualidade da mediação que os professores realizam entre os aprendizes
e a arte. Tal ação envolve aspectos cognitivos e afetivos que passam pela
relação professor/aluno e aluno/aluno, estendendo-se a todos os tipos de
relações que se articulam no ambiente escolar.” (IAVELBERG, 2010, p. 10)
34
Então, para que esta aprendizagem seja significativa, é dever do professor ter
conhecimento, estudo, emoção e sensibilização. Sua missão é fazer cada dia em
cada sala de aula um privilegiado espaço para que seus alunos pesquisem,
organizem, investiguem e identifiquem as linguagens artísticas no mundo em que
vivem.
Complementando a afirmação de que é importante a maneira de como o
professor irá ministrar as aulas de Arte, Iavelberg (2003) reafirma que, para o aluno
a consciência de si como alguém capaz de aprender é uma representação que pode
ser construída ou destruída na sala de aula, daí a enorme responsabilidade das
escolas e dos professores no ato de ensinar a gostar de aprender Arte.
Quanto a formação pessoal do professor, Iavelberg nos diz que é necessário
que o professor seja um constante pesquisador, além da formação continuada:
“A atualização do professor em relação à cultura é importante, pois poderá
apresentar aos alunos os conhecimentos mais avançados de sua época. Ao
mesmo tempo seus conhecimentos prévios merecem todo o respeito, o
papel do professor só se completa no exercício de uma atividade constante
de pesquisa, de estudo e de produção escrita reflexiva, de modo que ele
possa avançar, garantindo um conteúdo substantivo e atualizado, em
relação à cultura e à educação, para si e para aqueles que pretende educar,
ampliando progressivamente seu círculo de experiência.” (IAVELBERG,
2003, p. 54)
Também é necessário lembrar que o professor não pode cair na rotina,
reproduzindo somente ideias alheias, as quais se encontra em planejamentos
prontos ou em livros didáticos que não estimulam a reflexão, a palavra-chave é
criatividade, mas com embasamento teórico.
De acordo com Antunes (2010), um excelente professor, em toda sua aula e
para qualquer nível de ensino, necessita assumir plenamente sua tarefa de:
“Ajudar seus alunos a aprender, sugerindo caminhos, propondo desafios,
fazendo de cada resposta apresentada pelos alunos uma porção de novas
perguntas, desafiando o aluno a se fazer uma pessoa com cultura artística e
assim perguntar muito, buscar sempre, descobrir que aprender Artes não
significa decorar nomes de artistas e de suas obras, mas analisar e
compreender as contradições de criações de uma época em outras épocas,
envolvendo os alunos a descobrir a arte em eventos políticos, sociais,
econômicos e culturais.” (ANTUNES, 2010, p. 41)
35
Em suma, para o conhecimento de Arte ser alcançado de forma a transformar
a vida do aluno é necessário um trabalho competente do professor. É a partir desta
mediação significativa do docente que ao aluno será permitido vivenciar esta área do
conhecimento tão banalizada, e isto acontece por conta dos próprios professores
não terem bem claro que esta disciplina só vem a enriquecer a aprendizagem.
Além de documentos disponibilizados como os citados no primeiro capítulo
desta pesquisa, a Secretaria do Estado da Educação de São Paulo informa que os
cursos para professores de Arte que os docentes da rede estadual podem participar
são:
Cursos presenciais e virtuais de formação continuada, oferecidos pela
Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores do Estado de São Paulo –
EFAP, sobre as quatro linguagens da arte: artes visuais, dança, música e teatro.
Programa Descubra a Orquestra na Sala São Paulo, sobre Educação
Musical.
Cursos regionais de formação continuada, oferecidos pelas 91
Diretorias Regionais de Ensino.
Além das ações formativas locais que são disponibilizadas pelas diretorias de
ensino coordenadas pelo Professor Coordenador da Oficina Pedagógica de Arte
(PCNP) de cada Diretoria de Ensino.
Tal fato nos mostra, o quanto o docente está equiparado de documentos e
formação continuada para trabalhar esta disciplina de forma produtiva.
Vale a pena ressaltar que, o documento “Orientações Curriculares e Didáticas
da Arte – Anos Iniciais”, contém um capitulo que aborda como trabalhar com alunos
da Educação Especial, dando orientações específicas para os docentes,
apresentando recursos que podem ser utilizados para facilitar o processo de
aprendizagem e também orientações sobre como trabalhar as deficiências mais
comuns, tais como, deficiência visual, auditiva, altas habilidades ou superdotação,
deficiência intelectual, transtornos globais do desenvolvimento (TGD), além de uma
breve explicação sobre os benefícios de se trabalhar com o auxílio das ferramentas
do ensino de Arte (artes visuais, música, dança e teatro) com esses alunos.
Outro ponto crucial que deve ser debatido é sobre quem ministra as aulas de
Arte. Há uma grande polêmica, mesmo que a resolução citada no primeiro capítulo
dessa pesquisa diz que na ausência de um professor especialista, o professor
36
regente pode ministrar as aulas de Arte, pois na grade curricular dos cursos de
pedagogia, atualmente, encontra-se a disciplina “Metodologia do Ensino de Arte”,
que causa uma grande discussão: os Professores desta disciplina no Ensino
Superior têm alguma formação específica?
Em uma reportagem realizada pelo Instituto Arte na Escola, intitulada “Ensino
da arte: pedagogo ou especialista?” (2015), Betânia Libanio Dantas de Araújo
(Graduada em Artes plásticas, mestre em artes visuais e doutora em educação) nos
responde que “Já no ensino superior deve ser o especialista a ministrar metodologia
do ensino da Arte, porém é preciso que suas vivências e formação possibilitem o
encontro da arte e da educação, com percepção do currículo especifico dos grupos
e suas faixas etárias da educação básica”.
Miriam Celeste Martins, autora de um dos livros usados para a realização
dessa pesquisa e que também coordena o Grupo de Pesquisa Arte na Pedagogia
(GPAP), argumenta “por isso lutamos pela Arte nos cursos de Pedagogia, não se
trata de afirmar que os pedagogos têm que lecionar Arte, ou substituir o professor de
arte, mas sim que eles precisam conhecer arte para lecionar também outras áreas
do conhecimento”. E diz ainda, “o professor necessita conhecer o potencial da arte
para que possa utilizá-la como contribuição interdisciplinar, conectada em projetos”.
Percebe-se então que, cabe ao professor buscar conhecimento sobre esta
disciplina. Ainda nessa reportagem, a Pedagoga, especializada em metodologia do
ensino e em arte na educação infantil e anos iniciais, Adelir Aparecida Quintino
Zimmermann, diz que “acima de tudo e independente da formação inicial, o
professor precisa ser pesquisador, um professor que faz perguntas, curioso que
registra e documenta a sua prática, é assim que nos constituímos professores por
inteiro”.
Assim, o pedagogo que ministra as aulas de Arte nas séries iniciais do ensino
fundamental deve procurar sempre atualizar sua profissão, buscando se aprimorar
em todas as disciplinas para, assim, fazer um trabalho digno, pois é nas séries
iniciais que os alunos se animam, ou não, para continuar sempre a querer aprender
mais. O professor tem que ter consciência de sua responsabilidade no processo de
ensino e aprendizagem e o ensino de Arte está aí para auxiliá-lo a educar o olhar de
seus alunos para a sensibilidade e antes disso, trabalhar também seu “olhar”, sua
sensibilidade, sua reflexão, por isso que é muito importante o professor nunca parar
de estudar:
37
“Para o professor em exercício, o aprender com satisfação e orgulho de seu
papel de estudante em formação permanente está ligado à consciência que
adquire sobre as transformações constantes que ocorrem no conjunto de
conhecimentos necessários para seu desempenho profissional. Não se trata
de um ideário moral, mas ético, de conduta respeitosa, que, ao mesmo
tempo, é acompanhada de um sentimento de identificação e entusiasmo
que se experimenta na profissão, ao promover educação de crianças,
jovens e adultos. O professor exerce de fato sua profissão quando pode
participar como alguém que permanentemente cresce em sua ação
profissional e colabora com ela.” (IAVELBERG, 2003, p. 62)
5.1 AVALIAÇÃO EM ARTE
Para Martins (2010) a avaliação em Arte tem de ser transparente, tanto para o
educador quanto para os seus aprendizes, e em uma avaliação em Arte, todos
participam discutindo regras e critérios, tendo clareza dos pontos de partida e dos
pontos de chegada. Também nos afirma que a avaliação acontece durante todo o
desenvolvimento da experiência artística e também no final, e nos sugestiona:
“O uso de Portfólios, que podem ser construídos individualmente, em
pequenos grupos ou envolvendo toda classe são mais interessantes quando
a sua organização deixa de lado a sequência do que foi realizado e
consegue mostrar percursos do pensamento, levantar questões que ainda
ficam abertas, cruzar dados e conceitos, seu testemunho da experiência
vivida. Portfólios assim, são obras de arte, tem marca pessoal.” (MARTINS,
2010, p.132)
Como podemos observar, a produção de portfólios faz parte das aulas de Arte
e a elaboração destes, permitirá avaliar os alunos e também os próprios poderão se
avaliar. Isso, nos reafirma que a disciplina Arte está “enraizada” em todas as outras
disciplinas, pois as construções de portfólios podem ser feitas também nelas. Os
alunos poderão apreciar, fruir e contextualizar também através dos portfólios
realizados.
Já o documento “Orientações Curriculares e Didáticas de Arte – Anos Iniciais”
(2014) nos diz que o professor poderá adotar ainda, dentro da avaliação processual,
registro dos avanços e dificuldades sobre a apropriação dos conhecimentos pelos
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alunos, observando-os durante o processo de trabalho. A relação com os colegas,
participação e empenho durante as propostas, o respeito pela produção pessoal e
dos colegas, as atitudes de autoconfiança, a valorização das diferentes formas
artísticas, o reconhecimento de que todos os processos de criação possuem
obstáculos e desacertos que devem ser superados, a valorização do patrimônio
cultural entre outras atitudes e valores, também devem fazer parte da avaliação.
Nesse sentido, o professor precisa estar com sua formação atualizada para
assim conseguir caminhar junto com as inovações do processo de aprendizagem,
como o método de avaliação citado, o que não combina com aquele professor que
se estagna no método tradicional e não provoca em seu aluno o desejo de ir além do
esperado.
Compreendemos então, que dependerá da postura do professor, seu modo
de agir e de pensar acarretará ou não um bom trabalho no ensino de Arte, e que
também, não adiantará em nada ser um especialista na área se não tiver uma
metodologia pedagógica que alcance os alunos, e mesmo não possuindo
especialidade, e por causa disso deixar de fazer um trabalho com mais
comprometimento com a aprendizagem.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É perceptível através desta pesquisa que o ensino de Arte vai muito além do
que imaginávamos pensar em saber sobre o que é realmente ensiná-la.
Observamos que não necessariamente precisamos dos materiais mais sofisticados a
infraestruturas nas escolas para podermos aplicar esta disciplina, e se tivéssemos
tais recursos, não seria certeza que o ensino fosse de fato proveitoso. O que
precisamos ter é a consciência de que a arte está em nosso cotidiano e não
percebemos, e o que será realmente necessário mudar é a postura de grande parte
dos professores que se acomodam por motivos que vão de pouco estímulo salarial a
falta de formação profissional.
Trabalhar com o que nos é oferecido, como vimos no primeiro capitulo, e
perceber que podemos utilizar a Arte nas demais disciplinas como ferramenta para
estimular os alunos a serem pesquisadores, assim contribuindo para uma melhor
aprendizagem e para uma formação para a cidadania da transformação, onde se faz
necessário ser reflexivo, possuidor de diversas habilidades que o ensino de Arte só
vem agregar de forma positiva a humanidade.
Como pedagogos, temos que procurar ensinar além do que já sabemos e
ensinamos todos os dias, procurando sempre estarmos dispostos e disponíveis para
novas possibilidades, assim deixando de lado a ideia de que a disciplina de Arte é
apenas uma “válvula de escape” que não precisa ter conteúdo.
Analisamos, no capitulo terceiro desta pesquisa, que o professor sendo
especialista em Arte não deve apenas ficar em sua especialização, mas procurar
uma formação que o torne capaz de transmitir sua especialidade, que o pedagogo
ou professor vigente da sala, tem condições de ministrar a aula da disciplina em
questão, pois como percebemos, o pedagogo é aquele que está capacitado para ser
o mediador de diversas aprendizagens, e que através de sua formação, que no caso
nunca deve parar, pois este é o profissional que sempre terá que atualizar seus
conhecimentos já adquiridos e possuir novos.
Como podemos perceber, refletir, produzir e contextualizar, se bem
trabalhado com Arte, o aluno conseguirá transpassar este conhecimento além da
sala de aula utilizando em sua vida e, sem dúvida, um conhecimento adquirido de
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forma positiva jamais será esquecido, com certeza, ele será transmitido da maneira
que foi ensinado e compreendido.
Contudo, a responsabilidade do professor que pretende ensinar Arte é de
transmitir este conhecimento de maneira abrangente, de forma que o aluno perceba
também a Arte nas demais disciplinas, pois este é um conhecimento transdisciplinar,
por isso, reafirmamos que a essa, só vem a contribuir nas séries iniciais, pois esta é
a fase mais importante no processo de aprendizagem.
Enfim, a arte está enraizada dentro do ser humano, cabe então ao educador
desabrochar e mediar de forma satisfatória o ensino de Arte para que o aluno possa
compreender que é preciso ser futuramente um cidadão que perceba o que está ao
seu redor, para assim conseguir ser o que os educadores empenhados a
transformar a sociedade através da educação lutam para formar: sujeitos críticos,
reflexivos praticantes da cidadania e mediadores da paz.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ESCOLA. Disponível em www.cchla.ufrn.br .Acesso dia 26/01/2015
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2ªed.São Paulo. Companhia Ed. Nacional,2008
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FOLHA DE SÃO PAULO. Caderno Equilíbrio e Saúde, ”Aulas de Arte
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42
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professores/Rosa Iavelberg. Porto Alegre: Artmed,2003.
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www.planalto.gov.br - acesso dia 20/02/2015
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São Paulo: FTD,2010. – (Coleção Teoria e Prática)
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www.educacao.sp.gov.br – acesso dia 16/01/2015
SÃO PAULO (SP). Secretaria de Estado da Educação. Coordenadoria de
Gestão da Educação Básica. Orientações Curriculares e Didáticas de Arte –
Ensino Fundamental –Anos Iniciais Governo do Estado de São Paulo
SEE/CGEB ,2014.
SÃO PAULO (SP). Secretaria Municipal da Educação. Diretoria de Orientação
Técnica. Orientações Curriculares e Proposição de Expectativas de
Aprendizagem para o Ensino Fundamental: Ciclo I/Secretaria municipal da
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SÃO PAULO (Estado) Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e
Normas Pedagógicas. O Ensino de Arte nas Séries Iniciais: Ciclo I/Secretaria
da Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas;
organização de Roseli Cassar Ventrella e Maria Alice Lima Garcia.- São
Paulo: FDE,2006 .
SELBACH Simone (Supervisão Gera)l Arte e Didática-Petrópolis, RJ:
Vozes,2010. (Coleção Como Bem Ensinar/coordenação Celso Antunes)
vários autores.2010.
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ANEXO I