View
3.558
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA BAHIA - ESTÁCIO FIB
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
CAROLINE GOMES DOS SANTOS
A POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E SUA EFETIVAÇÃO COMO GARANTIA DE DIREITOS.
Salvador
2015
CAROLINE GOMES DOS SANTOS
A POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E SUA EFETIVAÇÃO COMO GARANTIA DE DIREITOS.
Trabalho apresentado à Universidade Estácio FIB como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Orientador: Profª. Mestre Márcia Cristina da Silva Ribeiro.
Salvador
2015
CAROLINE GOMES DOS SANTOS
A POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E SUA EFETIVAÇÃO COMO GARANTIA DE DIREITOS.
Trabalho apresentado à Universidade Estácio FIB como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social.
Aprovado em _____/ ____/ ____
Banca Examinadora:
__________________________________________
Professor Orientador
Márcia Cristina da Silva Ribeiro
Centro Universitário da Bahia – Estácio FIB
__________________________________
Judinália Santos Muniz
Centro Universitário da Bahia - Estácio FIB
__________________________________________
Verinilson Lima
Centro Universitário da Bahia – Estácio FIB
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado força e determinação para concluir essa etapa na
minha vida. Agradeço aos meus filhos, Gabriel e Giovanna pela paciência, compreensão e
que por muitas vezes fui ausente nas horas em que vocês mais precisavam, seja querendo
brincar, sair ou até mesmo conversar, e eu estudando, lendo ou fazendo trabalhos...sei que
não foram anos fáceis, nem pra vocês e nem para mim. A Marcos por ter me ajudado na
realização deste sonho, e que por muitas vezes nunca entendeu o porquê que eu tanto me
dedicava nos estudos.
A minha mãe, que na hora da minha decisão de voltar a estudar, me encorajou e
incentivou e disse: “vá... eu estou aqui” e como sou ousada eu fui mesmo. Aos meus
eternos irmãos Fernando, Adriano e Eduardo que estão orgulhos de mim, obrigada pelo
amor, e por me darem colo sempre que precisei. Minhas cunhadas lindas, Dany e Ane, meu
padastro Ivan por tão bem cuidar de mim.
A minha tia Joy, meu grande exemplo para que eu fizesse Serviço Social, e que a
cada dia, eu possa exercer este papel tão bem quanto você exerce o seu.Meus sogros e
Léo, pelo carinho, atenção, para com Giovanna, durante todo este período.Aos amigos que
fiz no decorrer deste período,que nunca nos percamos pelo caminho, e que Deus sempre
nos una novamente.
Amiga Indy, irmã foi difícil, mas nós chegamos, e juntas... srsrsrs. Meus mestres,
quantos ensinamentos, os levarei para a vida inteira, quantas alegria, tristezas e angústias
foram acalantados por vocês.
A todos do Movimento População de Rua, que me acolheram no período do estágio,
e mesmo após o fim, continuei fazendo parte deste movimento, e que diante de todos os
estudos, seminários, eternas capacitações, resolvi fazer o meu TCC, baseado em tudo que
vi, vivenciei e aprendi em especial Maria Lúcia e Verinilson Lima.
Muito obrigada a todos!!!!!!
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada.Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos:Que não são embora sejam.Que não falam idiomas, falam dialetos.Que não praticam religiões, praticam superstições.Que não fazem arte, fazem artesanato.Que não são seres humanos, são recursos humanos.Que não tem cultura, têm folclore.Que não têm cara, têm braços.Que não têm nome, têm número.Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local.Os ninguéns, que custam menos do que a bala que os mata.
Eduardo Galeano
RESUMO
O presente trabalho problematiza os processos de exclusão e inclusão precária vivenciada por pessoas que habitam as ruas dos grandes centros urbanos, marcados por processos de discriminação e estigmas, não só por parte da sociedade em geral, mas também daqueles que, a partir da oferta de serviços públicos, deveriam buscar a garantia de seus direitos. Analisar a realidade dos sujeitos em situação de rua a partir de dados nacionais e que dão visibilidade a suas características e condições de vida, identificados através da pesquisa bibliográfica. Como se dá a efetivação da Política Nacional da População em Situação de Rua como garantia de Direitos, como as redes socioassistenciais funcionam, ou como deveriam funcionar na realidade. Abordando, de modo sucinto, os eixos, diretrizes e estratégias previstas pela recente política de inclusão social para populações em situação de rua que vem sendo implantada no Brasil e aponta algumas sugestões para a intervenção social nessa área.
Palavra chave: População em Situação de Rua, Política Nacional da População em situação de Rua, Vulnerabilidade e Exclusão Social, Rede Socioassistenciais
RESUME
This paper discusses the processes of exclusion and precarious inclusion experienced by subjects who inhabit the streets of big cities, marked by discrimination and stigmatization processes, not only by society in general, but also those who, from offering public services, should seek to guarantee their rights. Analyzes the reality of the subjects on the streets from national data and give visibility to their characteristics and living conditions, identified through the literature search. How is the realization of the National Population in street situation as Rights warranty policy, such as social assistance networks operate or how they should work in reality. Addresses, succinctly, axes, guidelines and strategies provided by the recent policy of social inclusion for people on the streets that have been implemented in Brazil and points out some suggestions for social intervention in this area.
Keyword: Homeless Population, Population of the National Policy on Street situation, vulnerability and social exclusion, social assistance network
LISTA DE SIGLAS
BPC- BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA
CF- CONSTITUIÇÃO FEDERAL
CPF- CADASTRO DE PESSOA FÍSICA
CAD ÚNICO- CADASTRO ÚNICO
CENTRO POP- CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO PARA PESSOAS EM
SITUAÇÃO DE RUA
CIAMP RUA- COMITÊ INTERSETORIAL DE ACOMPANHAMENTO E MONITORAMENTO
DA POLÍTICA NACIONAL PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
CNAS- CONSELHO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
CREAS – CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSITÊNCIA SOCIAL
CMR – CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
CNBB – CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
CNDDH- CENTRO NACIONAL DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA POPULAÇÃO
DE RUA
CONGEMAS- COLEGIADO NACIONAL DE GESTORES MUNICIPAIS DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL
ECA- ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE
GTI- GRUPO DE TRABALHO INTERMINISTERIAL
GT- GRUPO DE TRABALHO
IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA
INSS- INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
LOAS- LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
MNPR- MOVIMENTO NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
MDS- MINISTÉRIO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE Á FOME
NOB- NORMA OPERACIONAL BÁSICA
PRS- POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
PNPR- POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
PNAS- POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
PSE- PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL
SAGI- SECRETARIA DE AVALIAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO
SENAS- SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
SDH- SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
SUAS- SISTEMA ÚNICO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
SAMU- SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA
SUS- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
UNESCO- ORGANIZAÇÃO DAS NAÇOES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. VULNERABILIDADE SOCIAL E EXCLUSÃO
1.1 O PERFIL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
1.1.2 FATORES QUE LEVAM OS INDIVÍDUOS Á SITUAÇÃO DE RUA
2. A POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
2.1. O SURGIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA
2.2 A ATUAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL Da POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE
RUA
2.3 AS REDES SÓCIAS ASSISTENCIAIS VOLTADAS A POPULAÇÃO EM
SITUAÇÃO DE RUA
3. DIREITOS HUMANOS E POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
3.1 AS FORMAS DE NEGAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO
EM SITUAÇÃO DE RUA
3.2 AS DIFICULDADES DE ACESSO AOS EQUIPAMENTOS SÓCIOS
ASSISTENCIAIS
3.3 A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO SOCIAL NA INSERÇÃO DA PESSOA EM
SITUAÇÃO DE RUA Á SOCIEDADE.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANEXOS
INTRODUÇÃO
As propostas contempladas por esta Política Nacional da População em
Situação de Rua têm por objetivo abarcar questões essenciais concernentes à parcela
da população que faz das ruas seu espaço principal de sobrevivência e de
ordenação de suas identidades.
Estas pessoas relacionam-se com a rua,segundo parâmetros temporais e
identitários diferenciados,os vínculos familiares rompidos, comunitários ou
institucionais presentes e ausentes. Em comum possuem a característica de
estabelecer no espaço público da rua seu palco de relações privadas, o que as
caracteriza como 'população em situação de rua'.
A existência de indivíduos em situação de rua torna patente a profunda
desigualdade social brasileira, e insere-se na lógica do sistema capitalista de
trabalho assalariado, cuja pobreza é extrema ao seu funcionamento. Fenômeno
presente na sociedade brasileira desde a formação das primeiras cidades (Carvalho,
2002), a existência de pessoas em situação de rua, traz na própria denominação
‘rua’ a marca do estigma e da exclusão a que são submetidas.
Sua presença incomoda e desconcerta quem busca ver nas ruas a mesma
tranquilidade asséptica de conjuntos habitacionais com circulação restrita de
pessoas. O Decreto 7.053/09, institui a Política Nacional para a População em
Situação de Rua,reforça os preceitos previstos nas diversas normativas,destinando
como prioridade este público alvo e,assim como o ECA e as LOAS, define como
princípio normativo a integração das ações das diversas políticas para assegurar a
universalidade dos direitos e a integralidade do atendimento,materializada na
construção do trabalho em rede.
A presente Política Nacional faz parte do esforço de estabelecer diretrizes e
rumos que possibilitem a (re) integração destas pessoas ás suas redes familiares e
comunitário, o acesso pleno aos direitos garantidos aos cidadãos brasileiros,o
acesso a oportunidades de desenvolvimento social pleno,considerando as relações
e significados próprios produzidos pela vivência do espaço público na rua.Para
tanto,vale-se do protagonismo de movimentos sociais formados por pessoas em
situação de rua,entre outras ações que contribuam para a efetivação deste
processo.
Conhecer quem são, como vivem, o porque estão naquela situação,conhecer
o Decreto 7.053 , a presente Política da População em Situação de Rua que
fortalece e os reconhece como cidadãos, quebrando barreiras, com um olhar
humanizado.
Sendo assim, a esta realidade, no qual me debruço, nos traz a fatalidade do
que a sociedade e o Estado que são perversos, tem feito para as pessoas em
situação de rua,a partir do momento que faz “higienização” nas cidades,e enquanto
a sociedade não os vê como seres humanos que como qualquer outro, é um
cidadão, é portador de todos os seus direitos, segundo a Constituição de 1988.
Diante disso o objetivo geral da pesquisa é analisar como se dá a efetivação
da Política Nacional da População em Situação de Rua. Para alcança-lo, foram
delineados os seguintes objetivos específicos: Caracterizar a População em
Situação de Rua; Investigar quais são os diretos das pessoas em situação de rua, e
como são assegurados; Identificar de que forma esta Política está sendo usada nos
equipamentos socioassistenciais e a contribuição do Serviço Social.
Justifica-se a escolha do tema por julgá-lo importante, pois estas pessoas que
se encontram em situação de vulnerabilidade social, apesar de todo o seu contexto,
características físicas, são seres humanos, possuidores de direitos, que estão á
margem da sociedade, vítimas de uma sociedade cruel, que os vê como invisíveis e
incapazes de quaisquer mínimos sociais.
As pessoas em situação de rua tem fome sim, mas é fome por direitos, que
estes direitos, os contemplem com a habitação, lazer, cultura, educação, emprego e
saúde de qualidade. Assim como nós, todos que se encontram nesta situação, têm
direitos á atendimento humanizado.
A relevância social desta pesquisa repousa na necessidade de que na
Constituição Federal de 1988, em seu art. 5°, traz a igualdade de todos os cidadãos
brasileiros perante a lei da inviolabilidade do direito á vida, á liberdade, á igualdade,
á segurança e á propriedade. No artigo 6°, lê-se que “são direitos sociais a
educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social,
a proteção á maternidade e a infância, a assistência aos desamparados”, na forma
desta Constituição.
Evidenciar e tornar ao conhecimento da sociedade, que mesmo estes que
estão nas ruas, um dia já tiveram casas, famílias, emprego, e que por múltiplos
fatores, um dia foram se depara nesta situação.
Estes que a sociedade julga invisíveis são pessoas com nomes e
sobrenomes, que merecem respeitos, e tratamento digno, já que a própria
Constituição Federal de 1988, ressalva estes itens. São pessoas tratadas como lixo,
mas que possuem histórias fantásticas e que possuem uma lição de vida a todos
que um dia busquem conhecer.
A inquietação que ratificou a escolha do tema desse trabalho nasceu a partir
do meu campo de estágio, que aconteceu no Movimento População de Rua, que
consistia na observação junto com o profissional de Serviço Social, em que nos
atendimentos, era perceptível que muitos que estavam nas ruas e precisavam de um
atendimento hospitalar, era alvo de preconceito, seja pela falta de documentação, ou
pelas suas vestes, ou até mesmo pela falta de um banho.
Voltavam sempre sem atendimento hospitalar, e quando não iam diretamente
para a Defensoria Pública prestar uma queixa, procuram o Movimento População de
Rua, para que fizesse as queixas no Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos.
Em muitas vezes ainda acompanhada pelo Serviço Social, visitamos
equipamentos socioassitenciais, e nos deparávamos com locais insalubres, em
condições sub-humanas. A equipe técnica que não trabalha em rede, fazendo com
que o indivíduo ao passar por ali, não tenha uma evolução com a finalidade de um
retorno á sociedade.
No que tange a metodologia desse trabalho foi utilizado à pesquisa
bibliográfica e literária. Nesta etapa foram analisados trabalhos já realizados, revisto
de importância, por serem capazes de fornecerem dados atuais e relevantes
relacionados ao tema, assim foram consultados livros, artigos científicos, revistas.. A
fundamentação teórica se baseia em autores como Lúcia Lopes, Robert Castell e
Sarah Escorel dentre outros.
Este trabalho se desenvolve em III capítulos. No primeiro capitulo discorre-se
sobre A Vulnerabilidade e a Exclusão Social como se deu esta exclusão social e
todo o seu contexto, evidenciando o seu histórico, caracterizando este público alvo.
O segundo capitulo, aborda Política Nacional da População em Situação de
Rua, o que contempla, seu surgimento os eventos que fizeram para articulação da
Política, as diretrizes e principais objetivos, de que maneira os equipamentos
socioassistenciais baseados nesta política, contempla as pessoas em situação de
rua, exemplificando os serviços de abordagem social, centro pop e o acolhimento
institucional.
O terceiro capítulo abrange os direitos humanos e a População em Situação
de Rua, as formas de negação da Política, as dificuldades de acesso aos
equipamentos e por fim a importância do Serviço Social, para a inserção destas
pessoas á sociedade.
E por fim as considerações finais na qual, a presente Política Nacional faz
parte do esforço de estabelecer diretrizes e rumos que possibilitem a (re) integração
destas pessoas ás suas redes familiares e comunitárias, o acesso pleno aos direitos
garantidos aos cidadãos brasileiros, o acesso a oportunidades de desenvolvimento
social pleno, considerando as relações e significados próprios produzidos pela
vivência do espaço público na rua. Para tanto, vale-se do protagonismo de
movimentos sociais formados por pessoas em situação de rua, entre outras ações
que contribuam para a efetivação deste processo.
Conhecer quem são como vive, o porquê está naquela situação, conhecer o
Decreto 7.053, a presente Política da População em Situação de Rua que fortalece e
os reconhece como cidadãos, quebrando barreiras, com um olhar humanizado.
Sendo assim, a esta realidade, no qual me debruço nos traz a fatalidade do
que a sociedade e o Estado que são perversos, tem feito para as pessoas em
situação de rua, a partir do momento que faz “higienização” nas cidades, e enquanto
a sociedade não os vê como seres humanos que como qualquer outro, é um
cidadão, é portador de todos os seus direitos, segundo a Constituição de 1988.
Diante da situação que os tornam invisíveis, um olhar sobre a realidade, se
despir de todo e qualquer preconceito, se colocar no lugar do outro, estes são
alguns quesitos para que cada um possa enxergar as pessoas em situação de rua,
como um ser humano, e não como um lixo.
O presente tema traz assuntos pertinentes, porém não engessadas a
Constituição Federal de 1988, na qual nos indaga a efetivação de tais direitos
subescritos. Desta maneira, é que ainda se vê o índice desta população que só
tende a aumentar, pois se têm a necessidade de um serviço hospitalar, ou não pode
entrar pelas suas vestimentas, ou porque precisa de um endereço para seu
cadastro.
Não tem como requerer de uma pessoa que faz das ruas a sua morada, tais
exigências, se tem na Política Nacional da População em Situação de Rua, que o
usuário pode até mesmo usar como referência de moradia os Centro-Pops ou
albergues, porém muito se quer passam da porta.
Mostrar a sociedade que eles também têm direitos a ter direitos. Aprendendo
que estas pessoas não tem fome por comidas e roupas, e sim fome por direitos,
pelos quais são extintos de suas vidas a partir do momento em que vão morar nas
ruas, fazendo dela o único lugar de moradia.
No campo da Assistência Social a Política reforça a estruturação da rede de
acolhida de acordo com a heterogeneidade e diversidade da população em situação
de rua, reordenando práticas homogeinizadoras.
1° Capítulo
1.Vulnerabilidade e Exclusão Social
Neste capítulo serão discutidas as desigualdades sociais desde o tempo
escravocrata até os dias atuais, a origem da exclusão social.
A vulnerabilidade social é formada por pessoas ou lugares que estão
expostos a exclusão social, e é um termo ligado á pobreza. Segundo o
economista Francisco Menezes (2010) classifica a pobreza, como sendo cada
vez mais intenso, e se mostra como um fenômeno complexo e multifacetado.
Convencionalmente é identificado por situações de carência de bens e serviços
essenciais, frequentemente associados á escassez de renda para o
atendimento das necessidades básicas individuais.
Quando falamos nas necessidades básicas, entendemos como os direitos
básicos assegurados pela Constituição Federal de 1988, que estabelece que
todo cidadão tenham direitos, a educação, moradia, lazer, alimentação, direitos
estes que são cerceados pela sociedade.
Para entendemos o fenômeno da população em situação de rua, se faz
necessário levantar uma discussão sobre vulnerabilidade e exclusão social,
pois partimos do pressuposto que esta população surge mediante a exclusão
social. O termo vulnerabilidade tem sido bastante empregado por diversos
autores, pois não se pode falar de população em situação de rua, e fazer
distinção destes segmentos.
Para melhor classificar estas desigualdades sociais, temos que retroceder
na história do Brasil colônia, época esta que era predominantemente
escravocrata. No Brasil, a escravidão teve início com a produção de açúcar na
primeira metade do século XVI.
Os portugueses traziam os negros africanos de suas colônias na
África para utilizar como mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar do
Nordeste. Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os africanos
como se fossem mercadorias aqui no Brasil. Os mais saudáveis chegavam a
valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos.
O transporte era feito da África para o Brasil nos porões dos navios
negreiros. Amontoados, em condições desumanas, muitos morriam antes de
chegar ao Brasil, sendo que os corpos eram lançados ao mar. Nas fazendas de
açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram
tratados da pior forma possível.
Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendo apenas trapos de roupa e
uma alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas
(galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentadas para evitar fugas.
Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a
punição mais comum no Brasil Colônia.
Já no período da Idade Média também conhecida como Feudal, foi
caracterizado pela repartição de terras pelo maior número possível de
camponeses, no qual Marx (1988) distingue que, mesmo aqueles que eram
assalariados da agricultura, por utilizar o seu tempo livre trabalhando para os
grandes proprietários, dispunham de habitação e uma área para cultivar.
Usufruíam as terras comuns aos camponeses aos camponeses, nas quais
pastavam seus gados e de onde retiravam combustíveis, como a lenha.
Estes trabalhadores tiveram suas terras roubadas, tomadas assim com o uso da violência A partir desta conjuntura, os trabalhadores que foram expulsos de suas terras não foram selecionados nas indústrias, já que no período ainda estava começando a implantação dos grandes polos industriais. (Marx – 1988)
Ainda segundo o autor essas pessoas por não aceitarem aquela
situação imposta, se sujeitavam a péssimas condições de trabalho e salários
baixos. Os que não aceitavam estas condições que de certa forma, era exposto
à venda de sua força de trabalho.
O que de certa maneira essas condições histórico-estruturais deram
origem ao fenômeno do pauperismo, e trazendo nesta linha a vulnerabilidade e
exclusão. Surge ai os primeiros mendigos, ladrões, malandros por força das
circunstâncias.
Segundo Yazbek (2012), aborda a pobreza como uma das manifestações
da questão social e dessa forma, como expressão direta das relações vigentes
na sociedade, localizando a questão no âmbito de relações constitutivas de um
padrão de desenvolvimento capitalista, extremamente desigual, em que
convivem acumulação e miséria.
Cresce junto com a pobreza, o desemprego e a precarização do trabalho.
Observa-se que durante o desemprego, os laços conjugais são fragilizados,
causando assim um esfacelamento familiar. O indivíduo sem renda e
pauperizado, não tem acesso aos bens fundamentais á vida: alimentação,
habitação, saúde, educação, vestuário adequado, cultura, lazer, infraestrutura
urbana, cidadania e etc.
Para a Safira (2013) nas últimas décadas do século XX o desemprego
assumiu graves proporções no Brasil – vulnerabilidades sociais, tais como
problemas mal resolvidos na área da saúde, educação, saneamento básico e
infraestrutura.
Vivia-se no país um dos períodos mais rigorosos para o trabalhador: mal
acabava a década de 1970 marcados pelo “arrocho salarial”, aumentava o
desemprego, tornava-se mais aguda a precarização dos postos de trabalho
vigorava a expansão das vagas sem proteção social e trabalhista.
Mediante a todo este contexto de desemprego, e falta dos mínimos sociais, é
que aumenta a exclusão, no qual o autor Elimar Pinheiro (2003) caracteriza
assim de que exista 3 tipos de exclusão:
Em primeiro lugar, as diferenças e ás minorias, que ainda não toleradas, não estão formalmente excluídos de direitos , como por exemplos negros e homossexuais formando assim um grupo estigmatizados ; uma segunda cujo não reconhecimento se traduz na exclusão de direitos ,são grupos igualmente estigmatizados , por razões distintas dos primeiros,mas que não alcançam condições mínimas de vida; e ,por último a nova exclusão que vem a ser a recusa ao espaço de obtenção de direitos, passam a “não ter direito a ter direitos.(Elimar Pinheiro, 2003)
Partindo do princípio que o desemprego, a pobreza e a exclusão são
um dos alicerces para que um indivíduo se encontre em situação de rua,
podemos também pontuar que os fatores principais ainda serão discutidos ao
longo deste processo de construção. Quando não se tem a presença do Estado
intervindo para que estejam garantidos os direitos listados na lei, não haverá
dignidade da pessoa humana.
Uma sociedade de consumo e de privilégios é um hábito que precedeu a
nossa sociedade, e somos apenas herdeiros naturais da sociedade feudal e
burguesa, sociedades desigualarias, que estão incorporadas em nosso
subconsciente. A extrema pobreza em que vivem as pessoas sem situação de
rua também é um agravante, pois a pobreza é uma grave violação dos Direitos
Humanos.
1.1 O Perfil da População em Situação de Rua
O fenômeno população em situação de rua surge no seio do pauperismo
generalizado compondo as condições históricas necessárias á produção
capitalista. Para a sociedade, a pessoa em situação de rua, é invisível por
percorrerem as ruas, perambulando, e fazendo das ruas a sua única morada.
Sempre existiram, não é um fato novo, porém, são vistos como lixo ou bichos,
nunca como seres humanos possuidores de direitos.
Em meados do século passado, era comum encontrar-se uma figura
folclórica em certos bairros. Perambulavam pelas ruas, maltrapilhos, acenava
para as pessoas de quem recebia doações de alimentos roupas, e objetos,
sorria para as mesmas, mas raramente conversava com elas. Ao cair da tarde,
desaparecia, resurgindo no dia seguinte.
Excepcionalmente, alguém saberia responder onde satisfazia as
demais necessidades básicas, higiênicas e de sono por exemplo. Não
incomodava, não assustava, não tinha passado e nem futuro. Para o governo
não existia, pois não eram contribuinte nem usuário de serviços. Eram aceitos
pela comunidade, “adotado” como um de seus membros, só que, com estilo
próprio de viver a vida, o que era respeitado.
Segundo Silva (2010), caracteriza assim um grupo populacional
heterogêneo, mas que possui, em comum, a pobreza extrema, os vínculos
familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia
convencional regular, em função do que as pessoas que o constituem
procuram os logradouros (ruas, praças, jardins, canteiros, marquises e baixos
viadutos), as áreas degradadas (dos prédios abandonados, ruínas, cemitérios e
carcaças de veículos) como espaço de moradia e sustento, por contingência
temporária ou de forma permanente, podendo utilizar albergues para pernoitar
e abrigos, casas de acolhida temporária ou moradias provisórias.
Já, segundo o autor Escorel (2000), a característica que mais se
destaca nos estudos e pesquisas sobre o tema é a heterogeneidade dessa
população. O autor enfatiza que as pessoas em situação de rua, são pessoas
que possuem origem, interesses, vínculos sociais e perfis socioeconômicos
diversificados, e por isso não constituem um único grupo ou categoria
profissional.
Com base nos estudos do fenômeno, percebe-se que este grupo, a
população em situação de rua tanto podem estar entre os catadores de
materiais recicláveis, trabalhadores de rua, albergados, catadores nômades,
sem teto, mais ou menos sedentários, andarilhos pivetes, fora da lei ou hippies.
Cada autor, ao fazer suas pesquisas sempre encontram definições, nas
quais em cada estudo os contextos mudam, os motivos são diferenciados.
Porém, sempre rebatem que a ruptura familiar é um dos índices principais, o
indivíduo que chega a um processo deste, ele é oriundo de circunstâncias que
para a sociedade mesmo conhecendo os fatores, se faz de inerente a
realidade, sendo que a pobreza não pode ser desassociada.
Em seguida os vínculos interrompidos, inexistência de moradia
convencional, a falta de um trabalho regular, uso abusivo de álcool e drogas,
ou até mesmo uma desilusão amorosa, a perca dos familiares também consta
nos estudos que como sendo um dos fatores.
Nunca teria acontecido no Brasil uma pesquisa que contemplasse a este
público, fazendo assim com que o Estado não se responsabilizasse nos
direitos, ou seja, os mínimos sociais a esta população em situação de rua.
Entre os anos de 2000 e 2003, acontece na cidade de São Paulo, o
primeiro censo para esta população em situação de rua, e nas estimativas
chegou à conclusão que:
O segmento é de baixíssima renda que, por contingência temporária ou de forma permanente, pernoita nos logradouros da cidade – praças , calçadas, marquises ,jardins , baixos de viadutos – em locais abandonados, terrenos baldios,mocós , cemitérios e carcaças de veículos.Também são moradores de rua aqueles que pernoitam em albergues públicos ou entidades sociais.(São Paulo,2002)
Já os resultados do censo de 2003 apontam que:
Considerando a população de rua baixíssima renda que, por contingência temporária ou de forma permanente, pernoita nos logradouros da cidade – praças, calçadas marquises,jardins , em locais abandonados ,terrenos baldios , mocas, cemitérios e carcaça de veículos.Também são pessoas situação de rua aqueles que pernoitam em albergues públicos ou de organizações sociais.Denominamos os membros dessa população como pessoas de rua ou morador de rua. (São Paulo, 2003)
O que podemos constatar, é que mesmo nas pesquisas terem dado os
mesmos resultados e conclusões, percebe-se que a terminologia “população
em situação de rua” e “pessoa de rua”, traz um conceito para aquele
determinado público. Baseado no censo de Recife 2005, ficando assim
caracterizado:
... grupo populacional heterogêneo constituído por pessoas que possuem em comum a garantia de sobrevivência por meio de atividades produtivas desenvolvidas nas ruas, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a não referência de moradia regular(Recife, 2006)
Para Silva (2010) nas definições adotadas nas diferentes pesquisas,
chama atenção da “pobreza extrema” ou “baixíssima renda” como um dos
elementos caracterizadores da situação de rua, e “utilização da rua como
espaço de moradia”.Sendo que independente do ano, e a nomenclatura
utilizada, eles continuaram a ser invisíveis para a sociedade.
Atualmente para o jurídico, o termo “população em situação de rua”
deve ser evitado, substituindo-se por “pessoas em situação de rua”; pois,
população é uma massa difusa objeto de controle do Estado. Pessoa é um
indivíduo identificado, alguém que possui direitos, alguém capaz de viver uma
vida que vale a pena ser vivida.
Para este indivíduo que se encontra nesta situação, de vulnerabilidade
social, é humilhante estar nas ruas, e serem chamados de mendigos,
sacizeiros, arruaceiros, ladrão, apanhar da polícia, utilizar da medincância para
sobreviver, são fatores da estigmatização por parte da sociedade.
São coagidos pela polícia, e retirados daquele local de forma brutal,
sendo que estamos falando de um espaço público. Sofrem a higienização por
parte do Estado, seus pertences são arrancados de forma grosseira. E onde
está a Constituição Federal de 1988, cadê o direito de ir e vir do cidadão, o
direito a moradia, a educação o lazer, será que só a burguesia pode ter acesso
a estes direitos?
Baseado nos direitos, estabelecidos no artigo 5° da Constituição
Federal – CF88 é pertinente “a igualdade de todos os cidadãos brasileiros
perante a lei e a inviolabilidade do direito á vida, á liberdade, á igualdade, á
segurança e a propriedade”, que grupos se reuniam, com o intuito de minimizar
tamanha exclusão. Organizados politicamente, ocupando espaços públicos, se
reconhecendo, como sujeitos de direitos , rompem com a visão
assistencialistas, que vê o pobre como objeto. Inaugura-se um novo olhar que
começa a mudar a história das pessoas em situação de rua. Hoje está mais em
evidência, sobre tudo pelo surgimento do movimento social e da implantação
de políticas públicas setoriais.
Estas novas práticas se estenderam, inicialmente em São Paulo e Belo
Horizonte, e motivaram a articular os esforços no campo ético, político e
metodológico.
No ano de 2005, acontece o I Encontro Nacional Sobre População em
Situação de Rua, organizado e realizado pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate á Fome, através da Secretaria Nacional de Assistência
Social houve uma tentativa de caracterização do fenômeno:
[...] A população em situação de rua é um grupo populacional
heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades ,
mas que têm em comum a condição da pobreza absoluta ,
vínculos interrompidos ou fragilizados e inexistência de moradia
convencional regular ,sendo compelidos a utilizarem a rua como
espaço de moradia e sustento ,por contingência temporária ou
de forma permanente...(MDS , 2005)
O Encontro tem o objetivo de discutir os desafios e estratégias para a
construção de políticas públicas para a população em situação de rua,
contando assim com a participação de representantes de municípios
pertencentes aos governos municipais, entidades não governamentais e
representativas da população em situação de rua.
Nos anos entre 2007 e 2008, uma parceria do Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate á Fome MDS com a UNESCO são feita
uma Pesquisa Nacional, nos municípios com mais de 300.000 habitantes e em
todas as capitais, exceto Belo Horizonte, São Paulo e Recife (locais no qual já
houve a pesquisa), contabilizando assim um contingente de 31.922 adultos em
situação de rua nos 71 municípios pesquisados.
A seguir, apresentaremos com mais explicitude, alguns resultados desta
pesquisa, que mostre como ficou o perfil e caracterizar esta população de
maneira mais eficaz, procurando relacionar esses resultados como o que foi
estabelecido no Decreto 7053.
Segundo a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua
realizada entre agosto de 2007 e março de 2008, por meio de uma parceria do
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate á Fome – MDS com a
UNESCO, ocorrida nos municípios com mais de 300.000 habitantes e em todas
as capitais, contabilizando assim 31.922 adultos em situação de rua nos 71
municípios pesquisados.
A seguir, apresentaremos com mais explicitude, alguns resultados dessa
pesquisa, destacando o perfil e a caracterização desta população, relacionando
com a Política Nacional.
(82%) Masculino Faixa etário (26 e 45 Anos)
(12%) Feminino Faixa etária (26 a 45 Anos)
Diante deste perfil, a Política Nacional traz em seu quinto artigo o princípio o
“Respeito ás condições sociais e diferenças de origem, raça, idade,
nacionalidade, gênero, orientação sexual e religiosa, com atenção especial ás
pessoas com deficiência”. (Decreto 7.053.2009)
SAÚDE
A realidade que aponta os estudos, é que as pessoas em situação de rua,
no Brasil, já faz parte da exclusão social existente há décadas, tendo a pobreza
como um marco maior. A maioria das pessoas que vivem nas ruas raramente
procura o serviço de saúde, recorrendo á rede ambulatorial somente em última
estância. A vulnerabilidade de quem vive nessa situação e a insuficiência dos
recursos obtidos através RAS (Rede de Atenção á Saúde) são indicadores de
que a saúde da PSR não mudou significativamente. Dentre as demais doenças
diagnosticadas, destacamos:
(10,1%) Hipertensão
(6,1%) Problema psiquiátrico
(5,1%) HIV/ AIDS
(4,6%) Problema de visão ou cegueira
(18,7%) Fazem uso de medicamentos
Dentre os entrevistados, apenas frequentam Postos ou Centros de Saúde
,para assim poder receber os medicamentos , quando doentes procuram em
primeiro lugar os hospitais ou emergências , caso não possam entrar , utilizam
os Postos de Saúde.Um dos motivos que fazem com que estas pessoas não
procurem atendimentos , é a exigência por partes dos hospitais , do uso e
apresentação de quaisquer documento de identificação , ou comprovante de
residência .
A presente Política Nacional, traz legivelmente no seu artigo quinto o
“Atendimento humanizado e universalizado”, ampliando ainda como objetivos,
assegurar o acesso amplo , simplificado e seguro aos serviços e programas
que integram as políticas de saúde , educação, previdência ,assistência social,
moradia ,segurança , cultura,esporte,lazer,trabalho e renda”, e complementa :
“Garantia de atenção integral á as pessoas em situação de rua mesmo sem
familiares ou responsáveis e adequação das ações e serviços
existentes ,inclusive unidades móveis ,assegurando a equidade e o acesso
universal no âmbito do SUS , com dispositivo de cuidados interdisciplinares e
multiprofissionais”.(Decreto 7.053,2009)
EDUCAÇÃO
Quanto á educação formal, a pesquisa aponta que a maioria dos entrevistados
sabe ler e escrever. Revelou também que apesar de não estarem estudando ,
porém fazem algum curso ou curso profissionalizante.
(74%) Sabem ler e escrever
(17%) Não sabem ler e nem escrever
(8,3%) Assinam apenas o próprio nome
(3,8%) Fazem algum tipo de curso
(2,1%) Cursam o ensino formal
(1,7%) Fazem cursos profissionalizantes
Para o quesito educação, a Política Nacional enfatiza no artigo sexto,
dentre as diretrizes: “XIV – disponibilizar programas de qualificação profissional
para as pessoas em situação de rua, como o objetivo de propiciar o seu acesso
ao mercado de trabalho”. (Decreto 7.053,2009)
NECESSIDADES FISIOLÓGICAS
Mediante aos quesitos pesquisados, não se pode deixar passar em
branco, o fator necessidades fisiológicas, já que as pessoas em situação de rua
fazem das ruas a sua morada. Apontam os dados que para uso do banho, é
usado os chafarizes, localizados em praças públicas.
(79,6%) Faz uma refeição ao dia
(27,1%) Compram comida
(4,3%) Utilizam restaurante popular
(19%) Não se alimentam todos os dias
(32,6%) Utilizam albergue para o banho
(31,4%) Utilizam abrigos
(14,2%) Banheiros públicos
(5,2%) Casa de parentes ou amigos
(32,5%) Utilizam a rua para necessidades fisiológicas
(25,2%) Utilizam os albergues ou abrigos
(21,3%) Banheiros públicos
(9,4%) Utilizam estabelecimentos comerciais
(2,7%) Casa de parentes ou amigos.
Nesta especificidade, perante a Política Nacional, podemos destacar o
XIII inciso “Implementar ações de segurança alimentar e nutricional suficiente
para proporcionar acesso permanente á alimentação pela população em
situação de rua á alimentação , com qualidade”. (Decreto 7.053, 2009). Para
estas ações caberá ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á
Fome, sob a Coordenação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República.
IDENTIFICAÇÃO FORMAL
Para que todo e qualquer cidadão estando ou não em situação de rua, faz
necessária a documentação até mesmo para entradas em postos de saúde, e
ser inseridos nos programas governamentais. Este fator, só contribui para a
desinserção aos programas e as inúmeras dificuldades em vários aspectos da
vida em sociedade.
Dificulta também no processo de cadastro para emprego formal e no
exercício da cidadania. Mesmo estando na Constituição Federal de 1988 , no
seu artigo quinto “são gratuitos para o reconhecidamente pobres, na forma da
lei: a) o registro civil de nascimento ; b) a certidão de óbito”.Mesmo constando
na Constituição Federal , muitos dos que necessitam dos documentos , para
que faça valer dos seus direitos , ainda sim , recorrem a Defensoria
Pública.Para este item da pesquisa , fica assim distribuído:
(24,4%) Não possuem documentos de identificação
(21,9%) Possuem documentos
(88,5%) Não recebem nenhum benefício do governo
(3,2%) Recebem aposentadoria
(2,3%) Beneficiários do programa bolsa família
(1,3%) Benefício de prestação continuada- bpc
O BPC é um benefício da assistência social, integrante do Sistema Único
da Assistência Social – SUAS pago pelo Governo Federal e operacionalizado
pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS , cujos beneficiados são idosos
e pessoas com deficiência.Para que o indivíduo possa exercer a sua cidadania
se faz obrigatório o uso da documentação , ou seja ela Identidade (RG) ou
Cadastro de Pessoa Física (CPF) .
VÍNCULOS FAMILIARES
Como índice, a Pesquisa Nacional da PSR, aponta que os pressupostos para o
rompimento familiar são: desemprego, violência dentro de casa , perda de
alguém querido , perda da autoestima , abuso de álcool e outras drogas e as
doenças mentais, quando não são oriundos de outras cidades , e estão sem ter
onde morar.
Dentre os entrevistados, ficou assim catalogado:
(51,9%) Possuem parentes na cidade onde estão
(38,9%) Mantêm contato com os parentes
(14,5) Os contatos são de dois em dois meses
(34,3%) Contato é frequentemente
(39,2%) Bom relacionamento com parentes
(29,3%) Relacionamento ruim ou péssimo
(23,1%) Mantêm contato com parentes fora da cidade
Dentre as perguntas feitas aos entrevistados, uma foi mais pertinente: o que os
leva a escolher a rua como morada? Inúmeros foram os fatores, e destacamos:
(35,5%) Alcoolismo ou drogas
(29,8%) Desemprego
(29,8%) Desavença com pai ou mãe
(29,1%) Os motivos estão todos relacionados um com o outro
Outro destaque da Pesquisa Nacional da PSR é o fato de que os entrevistados
declararam ter vivido em seis cidades ou mais:
(11,9%) Já passaram por mais de seis cidades
(59,9%) Número menos de cidades já passadas
Segundo o Decreto 7.053 de 2009, a Política Nacional PSR, preconiza no seu
artigo 5° o “direito a convivência familiar e comunitária”, no qual há uma
possibilidade de que seja feita esta integração entre as diversas políticas
sociais do governo para que as pessoas que se encontrem em situação de rua
possa se reintegrar á vivência familiar, seja por políticas de habitação e
emprego, ou políticas de saúde voltadas ao combate ao alcoolismo e outras
drogas.
HABITAÇÃO
Como já podemos constar que as pessoas que estão nesta situação de rua,
utilizam o espaço das ruas como sendo a sua morada. Constroem de forma
precária, suas casas de papelões, com restos de materiais recicláveis, e assim
vão vivendo e ocupando as cidades, de uma forma, que incomoda a sociedade,
e em muitos momentos acabam por acontecer ações higienistas, na intenção
de limpar as cidades.
Na Pesquisa Nacional PSR, ficou assim estabelecido:
(46,5%) Preferem dormir na rua
(43,8%) Preferem dormir nos albuergues
(69,3%) Preferem albergues em virtude da violência nas ruas
(45,2%) Preferem albergues pelo desconforto das ruas
(44,3%) Dormem nas ruas, por falta de liberdade nos albergues.
(27,1%) preferem as ruas, em virtude do horário dos albergues
(21,4%) Se queixam da proibição do uso das drogas e álcool nos
equipamentos.
O que não se pode esquecer é a vontade do indivíduo de ir e vir, seja ele nos albergues
casas de passagens ou até mesmo nas ruas. O abrigo ou moradia permanente é muito
complexo, a partir do momento em que envolve comportamentos, nas quais exigem que
a pessoa em situação de rua, cumpram regras estabelecidas em função da necessidade
de organização e convivência, que vão desde as mais básicas como a proibição do uso
de álcool e drogas, não portar arma e tomar banho, como as mais severas como a
mudanças comportamentais.
EMPREGO E RENDA
Para a Pesquisa Nacional PSR, os níveis de renda das pessoas em situação de rua são
baixos. Segundo o Decreto 7.053, preconiza a inclusão da população como público alvo
prioritário na intermediação de emprego, na qualificação profissional e no
estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada e com o setor público para a
criação de novos postos de trabalho, dentre outros.
Mediante a pesquisa, podemos destacar:
(52,6%) Recebe entre r$ 20,00 e r$ 80,00
(70,9%) Exercem alguma atividade remunerada
(27,5%) Catadores de materiais recicláveis
(14,1%) São flanelinhas
(6,3%) São da construção civil
(4,2%) Limpeza
(3,1%) Estivador / carregador
(15,7%) Pedem dinheiro nas ruas
(58,6%) Tem uma profissão
(27,2%) Construção civil
(4,4%) Comércio
(4,4%) Trabalho doméstico
(4,1%) Mecânica
(47,7%) Nunca trabalharam de carteira assinada
(50%) Já trabalharam de carteira assinada
Apesar de todo este censo ter ocorrido, os diagnósticos não foram
suficientes para imediata adoção de políticas públicas uniformes, cogentes e
universais , no dia 21 de março de 2012 , ao participar do 1° Congresso
Nacional do Movimento da População de Rua, em Salvador /BA, a Ministra
Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República (SDH/PR), informou que o Instituto Brasileiro de Estatística e
Geografia (IBGE) irão realizar pesquisa para mapear o número de pessoas em
situação de rua no Brasil.
O evento teve como objetivo discutir políticas públicas, em âmbito
nacional, visando ao fim da indignidade do morador de rua. Um caminho
começou a ser trilhado, mas, para efetiva mudança de realidade da População
em Situação de Rua, outros muitos passos precisam ser dados. O processo de
construção coletiva, com a fundamental participação dos próprios atores
sociais, proporciona uma visibilidade positiva com relação ás pessoas em
situação de rua, permitindo que os mesmos sejam vistos como cidadãos de
direitos.
1.1.2 Fatores que leva os indivíduos á Situação de Rua.
A População em Situação de Rua é resultados do contexto de
desigualdades sociais que caracterizam um sistema de violação de direitos. As
pessoas que vivem nas ruas fazem de logradouros públicos (rua, praças jardins
canteiros, marquises, e baixos viadutos) e das áreas degradadas (prédios
abandonados, ruínas, cemitérios e carcaças de veículos) espaço de moradia e
sustento, por contingência temporária ou de forma permanente, podendo
utilizar eventualmente albergues para pernoitar e abrigo, casas de acolhida
temporária ou moradias provisórias.
Dentre os motivos mais perspicazes, destaco a pobreza extrema, pois é a
partir dela que o indivíduo se vê desempregado, falta educação, moradia,
saúde e lazer. Quando não existe efetividade de direitos, cresce esse abismo
social, existente justamente porque faltam igualdade, justiça e distribuição de
riquezas.
Segundo Silva (2010), a pobreza extrema é uma condição reconhecida
por vários estudiosos e pesquisadores. Reconhecê-la como condição que
ajuda a definir um grupo populacional impõe, inicialmente, uma reflexão sobre
a categoria teórica pobreza.
Sendo assim este é uma das condições definidoras da população em situação
de rua.
A pobreza extrema alcança todas as categorias das diferentes tipologias
de população em situação de rua. Mesmo sendo uma condição especial, não
delimita o que se denomina população em situação de rua.
A segunda condição são os vínculos familiares interrompidos ou
fragilizados. Na presente pesquisa, contatou que muitas das pessoas que se
encontram em situação de rua, possuem referência familiar, embora os laços
afetivos se encontram fragilizados ou completamente interrompidos. É muito
reduzido o número de pessoas que vivem nas ruas com familiares.
Para os autores Vieira, Bezerra E Rosa (2004)
...nem sempre se dá importância suficiente ao fato de que a
população de rua é basicamente masculina, composta
principalmente de homens sós. Trata-se, portanto, de pessoas
que não possuem uma convivência permanente com o grupo
familiar. Essa situação não se explica pelo fato de que essas
pessoas não tenham família. Cerca de 50% declaram ter
parentes em São Paulo [...] Tendo em vista que a família se
constitui , especialmente para as classes trabalhadoras , num
recurso básico de apoio e solidariedade ante as dificuldades de
subsistência , é possível afirmar que a vida solitária dessas
pessoas , em condições tão precárias e sem abrigo , indica a
existência de algum rompimento no nível familiar.
A terceira condição é a inexistência de moradia convencional regular e a
utilização da rua como espaço de moradia e sustento, por contingência
temporária ou de forma permanente. A pessoa em situação de rua, por não
haver alternativa, faz das ruas a sua morada, do papelão sua cama e da
mochila seu travesseiro.
Para muitos o fato de estar nas ruas, é por que o indivíduo sente aquela
necessidade de assim fazer... Hipocrisia pensar que o indivíduo ele desperta
em sua casa, e resolve ir morar nas ruas. A triste realidade, nos mostra que
isso acontece desde que algum vínculo seja interrompido.
As principais razões pelas quais essas pessoas estão em situação de rua
são o alcoolismo, desempregado, desavenças com pai/mãe/ irmãos. Do censo
71,3% citaram um dos 3 motivos , 56%vieram do mesmo municípios do mesmo
estado de moradia atual e 72% são oriundos de áreas urbanas.
2 . CAPÍTULO
Política Nacional da População em Situação de Rua
As propostas contempladas por esta Política Nacional da População em
Situação de Rua têm por objetivo abarcar questões essenciais concernentes à
parcela da população que faz das ruas seu espaço principal de sobrevivência e
de ordenação de suas identidades.
Estas pessoas relacionam-se com a rua, segundo parâmetros temporais e
indenitários diferenciados ,os vínculos familiares rompidos, comunitários ou
institucionais presentes e ausentes.
Em comum possuem a característica de estabelecer no espaço público
da rua seu palco de relações privadas, o que as caracteriza como 'população
em situação de rua'. A existência de indivíduos em situação de rua torna
patente a profunda desigualdade social brasileira, e insere-se na lógica do
sistema capitalista de trabalho assalariado, cuja pobreza é extrema ao seu
funcionamento.
Fenômeno presente na sociedade brasileira desde a formação das
primeiras cidades (Carvalho, 2002), a existência de pessoas em situação de
rua, traz na própria denominação ‘rua’ a marca do estigma e da exclusão a que
são submetidas. Sua presença incomoda e desconcerta quem busca ver nas
ruas a mesma tranquilidade asséptica de conjuntos habitacionais com
circulação restrita de pessoas.
O Decreto 7.053/09, institui a Política Nacional para a População em
Situação de Rua ,reforça os preceitos previstos nas diversas normativas
destinando como prioridade este público alvo e, assim como o ECA e as
LOAS ,define como princípio normativo a integração das ações das diversas
políticas para assegurar a universalidade dos direitos e a integralidade do
atendimento materializada na construção do trabalho em rede .
A presente Política Nacional faz parte do esforço de estabelecer diretrizes
e rumos que possibilitem a (re) integração destas pessoas ás suas redes
familiares e comunitárias, o acesso pleno aos direitos garantidos aos cidadãos
brasileiros, o acesso a oportunidades de desenvolvimento social pleno,
considerando as relações e significados próprios produzidos pela vivência do
espaço público na rua. Para tanto, vale-se do protagonismo de movimentos
sociais formados por pessoas em situação de rua, entre outras ações que
contribuam para a efetivação deste processo.
A noção de cidadania para a pessoa em situação de rua, adquire nova
configuração traduzida não pela mudança estrutural desejada, mas pela
conquista de políticas que garantam o exercício cidadão e a luta pela igualdade
de direitos.
Diante deste contexto e da barbárie na violação de direitos que circulava
em torno desta população que movimentos sociais foram crescendo e se
articulando. A participação da sociedade civil na elaboração, na implementação
e no monitoramento de políticas públicas não se dá de forma espontânea. Foi
um esforço e da constituição de uma demanda clara, por parte desses atores,
em se fazer ouvir.
Se por um lado ainda falta muito para a efetiva implantação da Política
Nacional para a População em Situação de Rua, o processo de construção
dela, a partir da articulação da sociedade civil, já representa o descortinar de
avanço na participação dela como protagonista. Cabendo assim, ao Estado
Brasileiro, nesse processo ,assumir essa demanda e colocá-la na agenda do
governo desde 2006.
2.1 – Surgimentos da Política Nacional da População em Situação
de Rua
Este capítulo será especificado como se deu o surgimento da Política
Nacional da População em Situação de rua, os movimentos sociais que foram
fundamentais para que esta Política saísse do papel, os fóruns e reuniões com
a sociedade civil e as pessoas em situação de rua.
A Política foi criada a partir do momento que se via que a necessidade
desta população fosse vista não só como merecedores de políticas sociais, e
sim como sujeitos de direitos. A partir de denúncias e tendo em vista
acontecimentos nas ruas, caracterizaram-se as principais violações: chacinas e
extermínios, espancamentos, retirada dos pertences, jatos de água, coação,
agressão verbal, detenção por vadiagem, impedimento de acessar serviços e
espaços públicos, expulsão das regiões centrais da cidade, cadastro e
abrigamentos obrigatórios, roubo institucionalizado e criminalização da situação
de rua e da pobreza.
Com a morte brutal de moradores de rua da região central da cidade
de São Paulo, ocorridas nas noites de 19 a 22 de agosto de 2004:
O Massacre da Sé... no dia 19 de agosto de 2004, na região da Praça da Sé em São Paulo, ocorreu um massacre. Dez moradores em situação de rua foram atacados, dois deles morreram na hora, quatro faleceram no hospital, outros quatro sobreviveram. Em 22 de agosto, um novo ataque aconteceu, dessa vez, cinco desabrigados foram agredidos da mesma maneira que os anteriores, um deles morreu na hora. Esses acontecimentos ficaram conhecidos como o “Massacre da Sé” ou “Massacre do Centro”. Dez anos após o ocorrido, não houve punição e mais agressões foram cometidas contra pessoas em situação de rua, não apenas em São Paulo, mas por todo o Brasil.
Na época, suspeitou-se de uma chacina promovida por grupos de
extermínio ligados à polícia. Até hoje os crimes não foram solucionados e
ninguém foi responsabilizado pelos assassinatos. O episódio de violência
resultou na criação do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR),
organizado e articulado por pessoas em situação de rua desde 2005.
Diversos movimentos sociais e organizações da sociedade civil
expressaram de várias formas a necessidade de se organizarem como
movimento social, reivindicando a participação no controle social da política
pública de assistência social e, especialmente na elaboração de uma proposta
de política nacional para a população de rua. (Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua, 2010)
Diante desta barbárie se viu a necessidade da articulação de criar uma
política que efetivasse os direitos de cada um destes cidadãos. Podemos assim
observar que só após a chacina e vários encontros, pode enfim concretizar a
Política Nacional da População de Rua, encontros nos quais destaco:
4° Festival Lixo e Cidadania, realizado em setembro de 2005, no qual foi
lançado o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR);
I Encontro Nacional de População em Situação de Rua, 25 de outubro
de 2005, realizado pela Secretaria Nacional de Assistência Social do MDS.
Neste encontro foram lançadas as bases para a construção da Política
Nacional sobre a População em Situação de Rua;
No dia 30 de dezembro de 2005, foi aprovada a Lei n° 11.258 , que
dispõe obre a criação de programas específicos de assistência social para as
pessoas que vivem em situação de rua , procedendo a alteração no parágrafo
único do artigo 23 da Lei n° 8.742 , de 07 de dezembro de 1993 , Lei Orgânica
da Assistência Social- LOAS
Em 25 de outubro de 2006, foi instituída, por Decreto Presidencial, o
Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), com a finalidade de elaborar estudos
e apresentar propostas de políticas públicas para a inclusão social da
população em situação de rua.
Em 2007, iniciou-se o processo de discussão e elaboração do texto da
Política Nacional para População em Situação de Rua, concluída após a
realização de seminários. Também participaram do GTI, representantes do
MNPR, da Pastoral do Povo da Rua e do Colegiado Nacional de Gestores
Municipais de Assistência Social (CONGEMAS).
Entre agosto de 2007 e março de 2008, iniciou-se a Pesquisa Nacional
sobre a População em Situação de Rua, em 23 capitais e em 48 municípios
com mais de 300 mil habitantes, totalizando um universo de 71 cidades
brasileiras, realizado pelo MDS e intermédio das Secretarias Nacionais de
Assistência Social (SENAS) e de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI).
Em 2009, no II Encontro Nacional sobre a População de Rua, de posse
dos resultados da Pesquisa Nacional, concluída em 2008, foi estabelecida e
validada a proposta intersetorial da Política Nacional para a População em
Situação de Rua, consolidada por meio do Decreto n° 7.053 , de dezembro de
2009 , que institui também o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento da Política Nacional para a População de Rua (CIAMP-RUA) .
Através da Portaria n° 3.305, de 24 de dezembro de 2009, o Ministério
da Saúde institui o Comitê Técnico de Saúde para a População em Situação de
Rua. O Comitê tem como objetivo subsidiar as discussões sobre ações em
saúde para a PSR.
Implementação do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da
População de Rua e Catadores de Material Recicláveis: Previstos nos artigos
7° e 15° do Decreto 7.053, o CNDDH torna-se o lugar privilegiado para
recebimento de denúncias e defesa dos direitos da PSR. Em parceria com a
Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Social do Ministério Público de Minas
Gerais, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República -
SDH/PR e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, o Centro está
descentralizando suas ações e atingindo oito estados do País.
Surge neste cenário o Fórum Nacional de Estudos sobre a População,
realizado anualmente em Belo Horizonte que é voltado para os catadores de
material reciclável do qual a População em Situação de Rua participa , é criado
como uma tentativa de articular os vários atores que debruçavam sobre o
fenômeno PopRua.
Reunia entidades e estudiosos, e foi um importante elemento para o
fortalecimento da parceria entre os vários atores sociais do cenário nacional. O
Fórum apoiou a articulação dos catadores de material reciclável no Brasil,
sendo responsável pela realização do Primeiro Congresso dos Catadores e
Primeira Marcha da População de Rua em Brasília 2011.
A população de rua participou assim ativamente dessa mobilização
elaborando pauta reivindicatória e iniciou processos de organização, nos seus
respectivos locais de atuação. Em 2004, no IV Festival Lixo e Cidadania,
(anualmente acontece em Belo Horizonte), apoiados pelo Fórum, apresentaram
suas reivindicações ao Governo Federal, iniciando um processo que acelerou
com a assinatura de Decreto assinado pelo Presidente em 2009.
Esse período foi marcado pela elaboração da Política Nacional para
População em Situação de Rua. Sendo a Pastoral Nacional do Povo da Rua
membro participante do Grupo de Trabalho responsável pela sua formação,
junto com representantes da população de rua dos estados de São Paulo e
Minas Gerais manteve-se uma articulação mais específica para debater sobre
a formulação e melhor forma de contribuição.
Em 2009, amplia-se o Fórum e as suas participações. Atualmente é
formado pelo Movimento Nacional da População de Rua, Universidade Federal
de Brasília, Ministério Público de Minas Gerais, Pastoral Nacional do Povo da
Rua, Fóruns de População de Rua de Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo,
Belo Horizonte, dentre outros. E em virtude da proporção em que o Fórum vai
ganhando força, e das suas participações, promovendo assim um espaço
privilegiado de construção de propostas.
Sendo um interlocutor legítimo da sociedade civil organizada com o
poder público, considerando assim como o Fórum um ator imprescindível no
processo de formulação, implantação e monitoramento de políticas públicas
que contemplam a População em Situação de Rua.
Assim fica instituída a Política Nacional para a População em Situação
de Rua, pelo decreto 7.053 em 23 de dezembro 2009, no sentido de combater
esta dura realidade e estabelecer políticas públicas que possam enfrentar
efetivamente o problema, a Política Nacional para Inclusão Social da
População em Situação de Rua inclui em seu texto a necessidade de garantia
de programas, projetos e serviços governamentais que possibilitem a
emancipação social e econômica de moradores de rua e a contagem dessa
população nos censos demográficos.
Em 2011, Institui o GT de Segurança Pública: Portaria n° 53, de
dezembro, do Ministério da Justiça, a qual prevê a criação de um grupo de
trabalho para elaboração de capacitação para agentes de segurança pública.
No dia 22 de junho de 2012, Institui o GT de Pesquisa de acordo com a
Portaria n° 824 , SDH/PR , criando assim um grupo de trabalho para
elaboração e realização de pesquisa nacional do IBGE sobre a PSR.
Este processo de construção da Política Nacional foi centrado na busca
pela garantia de que os diretos sejam universais, equânimes e respeitem a
diversidade humana. Todas as pessoas, grupos e entidades envolvidos
primaram por instituir um novo olhar sobre a cidade que não seja pautado
exclusivamente na perspectiva da produção e reprodução capitalista, mas na
promoção de igualdade de condições de acesso ás oportunidades.
Segundo Monica Dantas (2007) para a criação desta foi realizados pelo
Brasil vários encontros entre a População em Situação de Rua, Catadores de
matérias recicláveis organizados pelo MDS (Ministério de Desenvolvimento
Social).
O principal objetivo do encontro foi à troca de experiências entre as
entidades que atuam diretamente com este público trazer as demandas,
discussão e estratégias de participação popular na elaboração das políticas
públicas e o conhecimento das ações do MDS que já beneficiavam as pessoas
em situação de rua.
Sendo assim, vários desafios teriam que ser enfrentados como: produção
de dados, preconceito, assistencialismo, mobilizar e adequar os serviços de
segurança e justiça de modo a prevenir ações de violência e responsabilizar os
culpados por crimes cometidos contra esta população.
A Política Nacional para a População em Situação de Rua diz que é dever
do Governo Federal, dos Estados e Municípios implantar a política através de
comitês com a participação de movimentos sociais das pessoas em situação
de rua.
Desta maneira, a Política Nacional da População em Situação de Rua,
abrange não somente a área social como também: direitos humanos, trabalho
e emprego, desenvolvimento urbano e habitação, assistência social, educação,
segurança alimentar e nutricional, saúde e cultura.
Para conferir concretude aos princípios e diretrizes estabelecidos nesta
Política são apresentadas ações concretas balizadas por debates realizados no
âmbito do Grupo de Trabalho Interministerial sobre População em Situação de
Rua.
As propostas assinaladas representam uma agenda mínima de ações,
cuja implementação constitui desafio para toda a sociedade brasileira, tanto
para os gestores governamentais quanto para a sociedade civil, devendo as
mesmas serem detalhadas em programas, planos e projetos dos Ministérios e
órgãos, contendo estratégias e mecanismos de operacionalização.
Vivemos atualmente um processo extremamente acelerado de
urbanização da sociedade, que potencializado pela globalização não menos
galopante, impõe novas formas de lidar com o ambiente urbano e com suas
infinitas implicações.
Podemos constar que a rua é o único lugar onde parte considerável da
população encontra possibilidade de vida e de sobrevivência.
A Política Nacional da PSR estabelece, através de seus princípios
diretrizes e objetivas, a integração entre as políticas públicas federais,
estaduais e municipais e as ações desenvolvidas pela sociedade, de forma que
elas atuem juntas, sistematizadas e voltadas para esse segmento até então
esquecidos. Estabelece também, ser possível firmar parcerias com entes
privados e públicos, conforme o quarto artigo dessa política:
‘ Art.4° O Poder Executivo poderá firmar convênios com entidades
públicas e privadas, sem fins lucrativos ,para o desenvolvimento e a
execução de projetos que beneficiem a população em situação de
rua e estejam de acordo com os princípios ,diretrizes e objetivo que
orientam a Política Nacional para a População em Situação de Rua .
(Decreto 7.053,2009)
Os princípios da Política Nacional para Inclusão Social da População em
Situação de rua são:
I – Promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos
II – Respeito á dignidade do ser humano, sujeito de direitos civis, políticos,
sociais, econômicos e culturais;
III – Direito ao usufruto, permanência, acolhida e inserção na cidade:
IV – Não – discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, sexual,
origem étnica ou social, nacionalidade, atuação profissional, religião, faixa
etária e situação migratória;
V- Supressão de todo e qualquer ato violento e ação vexatória, inclusive os
estigmas negativos e preconceitos sociais em relação á população em situação
de rua.
As diretrizes definidas para a Política Nacional para as Pessoas em
Situação de Rua:
I – Implementação de Políticas nas esferas federal, estadual e municipal,
estruturando as políticas de saúde, educação, assistência social,habitação
geração de renda e emprego , cultura e o sistema de garantia e promoção de
direitos , entre outros, de forma intersetorial e transversal garantindo a
estruturação de rede de proteção ás pessoas em situação de rua:
II – Complementaridade entre as políticas do Estado e as ações públicas não
estatais de iniciativa da sociedade civil;
III – Garantia do desenvolvimento democrático e de políticas públicas
integradas para promoção das igualdades sociais, de gênero e de raça;
IV – Incentivo á organização política da população em situação de rua e á
participação em instâncias de controle social na formulação, implementação,
monitoramento e avaliação das políticas públicas, assegurando sua autonomia
em relação ao Estado;
V- Alocação de recursos nos Planos Plurianuais, Leis de Diretrizes
Orçamentárias e Leis Orçamentárias Anuais para implementação das políticas
públicas para a população em situação de rua;
VI – Elaboração e divulgação de indicadores sociais, econômicos e culturais,
sobre a população em situação de rua;
VII – Sensibilização pública sobre a importância de mudança de paradigmas
culturais concernentes aos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais
da população em situação de rua;
VIII – Incentivo á formação e á capacitação de profissionais para atuação na
rede de proteção ás pessoas em situação de rua; além da promoção de ações
educativas permanentes para a sociedade;
IX – Ação intersetorial para o desenvolvimento de três eixos centrais: a
garantia dos direitos; o resgate da auto-estima e a reorganização dos projetos
de vida.
Os princípios dessa política são convencionáveis a qualquer política , seja
ela voltada para a sociedade dita tradicional, seja para a população em
situação de rua. São princípios voltados para o artigo 5° da Constituição
Federal de 1988 e, portanto garantem os direitos da pessoa humana.
No que diz á respeito das diretrizes, é notório que são voltadas para as
necessidades próprias dessa população reveladas pela Pesquisa Nacional
sobre a População em Situação de Rua e discutidas no Encontro Nacional. Os
dois primeiros princípios estão relacionados ás necessidades mais citadas na
pesquisa que são saúde, habitação, emprego, reinserção na sociedade, dentre
outras.
Os dados levantados na pesquisa revelam que a necessidade mais básica
a ser sanada pelo poder público diz respeito á saúde. Embora a habitação seja
a mais óbvia das necessidades, a pesquisa ainda revela que mais da metade
(51,9%) possuem parentes na cidade e isso indica que eles possuem um lugar
onde poderiam morar.
Contudo, existem os albergues e abrigos nas cidades pesquisadas, no qual
oferece um lugar para a permanência dessas pessoas enquanto elas não
encontram um abrigo permanente, porém (46,5%) dos pesquisados revelou
preferir dormir na rua.
Sendo assim, se vê a necessidade com que a política habitacional deva
ser desenvolvida a partir das diretrizes da Política Nacional deva ser
relacionada a uma conscientização da necessidade de trocar o que eles
dominam “a liberdade da rua” por uma habitação mais convencional, que
ofereça segurança higiene e abrigo permanente.
Quando a Política Nacional foi formulada, foi a partir da Pesquisa Nacional
sobre a População em Situação de Rua, e não contemplou as necessidades
dessa população de forma específica, mas de forma mais regulatória sobre
como os estados e municípios deveriam elaborar suas próprias políticas
públicas.
As ações estratégicas apresentadas pela Política Nacional para Inclusão
Social da População em situação de Rua, apoiadas em princípios, diretrizes e
objetivos, constituem agenda mínima de ações, cuja implementação deverá ser
feita pelos gestores governamentais e sociedade civil.
Na agenda mínima, está dividida em 8 tópicos , que contemplam várias
áreas e que estabelecem diretrizes básicas para prover a melhoria da vida das
Pessoas em Situação de Rua.São elas:
DIREITOS HUMANOS
Capacitação dos operadores de direito do Estado, inclusão nos cursos de
formação conteúdo sobre o tema população em situação de rua; fortalecimento
da ouvidoria para receber denúncias de violação de Direitos Humanos;
combate á impunidade dos crimes e atos de violência ampliando assim, que a
rua seja um espaço mais seguro; assistência jurídica e disponibilização de
mecanismos de acesso a direitos, incluindo documentos básicos em parceria
com os órgãos de defesa de direitos.
TRABALHO E EMPREGO
Inclusão da população em situação de rua como público alvo prioritário
na intermediação de emprego; promoção de capacitação, qualificação e
requalificação profissional; incentivo ás formas cooperadas de trabalho;
incentivo das ações que visem á inclusão produtiva e reserva de cotas de
trabalho;promoção de oficinas sobre economia solidária com apoio do
Ministério de Trabalho e Emprego ; ampliação de cartas de crédito e do crédito
solidário ; garantia do acesso a seus direitos trabalhistas e á aposentadoria.
DESENVOLVIMENTO URBANO / HABITAÇÃO
Criação de alternativas de moradia para este público alvo, visando a
participação dos projetos habitacionais financiados pelo Governo Federal;
desenvolvimento e implementação de uma política de Locação
Social,articulada em outros ministérios e a governos municipais e estaduais,
contemplando a possibilidade da bolsa aluguel ; desenvolvimento de projetos
de reforma de imóveis públicos para uso habitacional e enquadramento da
população em situação de rua nos programas de habitação de interesse social
existente; disponibilização de imóveis vazios nos centros urbanos;
incorporação de projetos de geração de emprego e renda ; mobilização e
articulação dos atores no que tange a habitação e trabalho social ; garantia de
integração entre habitação e meios de sobrevivência ; promoção de diálogo
entre o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal para revisão e
reformulação das modalidades previstas em programas de habitação de
interesse social.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Tendo como elemento chave da assistência social, a estruturação da rede
acolhida, de acordo com a heterogeneidade e diversidade , reordenando
práticas homogeneizadoras , massificadores e segregacionistas na oferta dos
serviços , especialmente albergues ; produção ,sistematização de
informações , indicadores e índices territorializados das situações de
vulnerabilidade e risco pessoal e social ; inclusão no Cadastro Único do
Governo Federal para subsidiar a elaboração e implementação de políticas
públicas sociais ; assegurar a inclusão de crianças e adolescentes em situação
de rua no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil ; inclusão no Benefício
de Prestação Continuada e no Programa Bolsa Família ; promoção de novas
oportunidades ou inclusão produtiva em articulação com as políticas públicas
de geração de renda para pessoas em vulnerabilidade social.
EDUCAÇÃO
Promoção da inclusão das questões de igualdade sócia, gênero, raça e
etnia nos currículos ,reconhecendo e buscando formas de alterar as práticas
educativas , a produção do conhecimento , educação formal , a cultura e a
comunicação discriminatórias, especialmente com relação á população em
situação de rua; constituição de grupos de estudo que discutam maneiras de a
educação ser feita em meio aberto , sem necessidade de deslocamento até as
escolas ; oferta regular de educação de jovens e adultos , especialmente no
que se refere á alfabetização , com facilitação de ingresso em sala de aula em
qualquer época do ano ; oferta de incentivos assiduidade escolar ,inclusão nos
programas de apoio ao desenvolvimento de atividades educacionais , culturais
e de lazer ;inclusão do tema população em situação de rua,suas causas e
consequências ,como parte dos debates sobre esta realidade nacional ;
adequação dos processos de matrícula e permanência nas escolas ás
realidades ,flexibilização da exigência de documentos pessoais e de
comprovante de residência ; promoção de políticas de inclusão Digital para
pessoas em situação de rua.
SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
Promoção do direito á segurança alimentar e nutricional da população em
situação de rua, por meio de restaurantes populares.
SAÚDE
Garantia da atenção integral á saúde das pessoas em situação de rua ,
assegurando equidade e o acesso universal no âmbito do Sistema Único de
Saúde ,com dispositivos de cuidados interdisciplinares e multiprofissionais ;
fortalecimento das ações de promoção á saúde , a atenção básica , com
ênfase no Programa Saúde da Família sem domicílio , incluindo prevenção e
tratamento de doenças com alta incidência junto a essa população, como
doenças sexualmente transmissíveis/ AIDS, tuberculose , hanseníase ,
hipertensão arterial , problemas dermatológico entre outras ; fortalecimento das
ações de atenção á saúde mental das pessoas em situação de rua , em
especial aquelas com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras
drogas, facilitando a localização e o acesso aos Centros de Atendimento
Psicossocial (CAPS I , II , III E AD).
Instituição de instância de organização da atenção á saúde nas três
esferas do SUS; inclusão no processo de educação permanente em saúde dos
gestores e trabalhadores de saúde , destacando-se as equipes do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) ; divulgação do canal de escuta do
usuário : Sistema Nacional de Ouvidoria , Disk –Saúde (0800611997) ; apoio á
participação nas instâncias de controle social do SUS e ao processo de
mobilização junto aos movimentos sociais representantes dessa
população ;seleção de agentes comunitários de saúde , considerando como um
dos critérios a participação de pessoas em situação de rua e pessoas que já
estiveram nessa situação.
CULTURA A principal meta desse tópico é promover, para a População em Situação
de Rua, o amplo acesso aos meios de informações, criação, difusão e
apreciação cultural, visando desenvolver a potencialidade da linguagem
artística como meio de reintegração social, através de atividades artísticas
especificamente voltadas para esta população, tais como aulas práticas de
teatro, literatura e artesanato;
Apoiar ações que tenham a cultura como forma de inserção social da
cidadania e geração de ocupação e renda e promover ações de
conscientização que alterem a forma de conceber as pessoas em situação de
rua, desconstruindo estigmas e promovendo ressignificações positivas também
são metas da agenda; apoio aos programas voltados para o esporte e o lazer
da população em situação de rua, incentivo a projetos culturais que tratem dos
temas presentes na realidade de quem vive nas ruas, além do financiamento
de projetos voltados para esse público , seja em seu desenvolvimento artístico
e cultural , seja para a facilitação de seu acesso aos bens culturais disponíveis
na sociedade estão previstos na agenda firmar uma parceria com os
Ministérios das Cidades e da Educação.
2.2 A POLÍTICA ESTADUAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
No dia 10 de fevereiro de 2014, Institui a Lei n° 12.947, referindo-se a
Política Estadual para a População em Situação de Rua, na qual traz no seu
art. 2° “a Política Estadual para a População em Situação de Rua, em
consonância com o Decreto 7.053, de 23 de dezembro de 2009, tem por
objetivo assegurar os direitos sociais da população em situação de rua, criando
condições para promover a garantia dos seus direitos fundamentais, da sua
autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”.
Traz como princípios: igualdade e equidade; respeito á dignidade da
pessoa humana ; direito a convivência familiar e comunitária ; valorização e
respeito á vida e a cidadania ; atendimento humanizado e universalizado ;
respeito ás condições sociais e diferenças de origem , raça ,idade
nacionalidade ,gênero ,orientação sexual e religiosa , com atenção especial ás
pessoas com deficiência.
Concernente às diretrizes assim fica estabelecido: promoção dos direitos
civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais; intersetorialidade e
transversalidade na elaboração e execução da Política Estadual;
responsabilidade do Poder Público pela elaboração, execução e financiamento
da Política Estadual.
Integração e articulação das políticas públicas em todos os níveis de
governo; colaboração do Poder Público e da sociedade civil para sua
execução; participação da sociedade civil, em especial a população em
situação de rua, na elaboração, acompanhamento e controle social das
políticas públicas, inclusive por meio dos fóruns e organizações; respeito ás
singularidades de cada território e ao aproveitamento das potencialidades e
recursos locais e regionais na elaboração, desenvolvimento, acompanhamento
e monitoramento das políticas públicas.
A presente Política Estadual tem como objetivo, assegurar o acesso
amplo simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as
políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia,
segurança, cultura, esporte e lazer. Sobretudo, garantir a formação e
capacitação permanente de profissionais para atuação no desenvolvimento de
políticas instersetoriais e transversais direcionadas a população em situação de
rua, dentre outros.
A realidade dessas pessoas descrita na Política Nacional sobre a
População em Situação de Rua permite concluir que as que vivem em situação
de rua sofrem várias formas de violação de seus direitos humanos , seja na
área de segurança , seja na área de saúde ou em relação ao mercado de
trabalho e tem que se utilizar de diferentes estratégias para poder sobreviver.
A falta de interação das pessoas em situação de rua com os programas
sociais do governo não significa, que eles tenham acesso aos serviços
públicos. A prova está na própria pesquisa nacional quando aponta o índice
atendimentos nas instituições, a má qualidade de atendimentos, seja nos
hospitais, albergues, casa de passagem, abrigos públicos, vivenciados por
estas pessoas em situação de rua.
Fruto dos esforços de articulação do Movimento Nacional da População
em Situação de Rua com o poder público, a lei representa um momento inédito
para a sociedade baiana, já que inclui no centro das políticas públicas um
grupo populacional historicamente excluído dos serviços dispostos para todos
os cidadãos.
Uma das ações para a implementação da Política Estadual é a
reestruturação e ampliação da rede de acolhimento temporário, com
transferência de recursos aos municípios. Entre os objetivos da política, estão o
acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as
políticas públicas de saúde, educação, previdência, assistência social, moradia,
segurança, cultura, esporte, lazer, emprego e renda; implantar centros de
defesa dos direitos humanos e de referência especializados para a população
em situação de rua e criar articulação entre o Sistema Único de Assistência
Social (Suas) e o de Saúde (SUS), para qualificar a oferta de serviços.
2.3 A ATUAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
A presente Política Nacional da População em Situação de Rua é fruto
das reflexões e debates do Grupo de Trabalho Interministerial para Elaboração
da Política Nacional de Inclusão Social da População em Situação de Rua,
instituído pelo Decreto s/nº, de 25 de outubro de 2006, e composto pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério das
Cidades, Ministério da Educação, Ministério da Cultura, Ministério da Saúde,
Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Justiça, Secretaria Especial de
Direitos Humanos e Defensoria Pública da União.
Além da fundamental participação de representantes do Movimento
Nacional de População de Rua (MNPR), da Pastoral do Povo da Rua e do
Colegiado Nacional dos Gestores Municipais da Assistência Social
(CONGEMAS), representando a sociedade civil organizada. Ressalte-se o
protagonismo que o público-alvo desta Política Nacional, por meio do MNPR,
tem em todo o processo de avaliação e discussão das propostas.
Assim como as pessoas em situação de rua têm por direito constitucional
serem consideradas cidadãs integrais, também as políticas públicas que as
contemplam devem ser pensadas desde uma perspectiva interdisciplinar e
integral, deslocando-se da Assistência Social a responsabilidade exclusiva pelo
atendimento a este segmento.
Atualmente, a população em situação de rua pode ser atendida em centros de serviços tipificados, dependendo de sua demanda ou violação de direito sofrida:
- Creas - Serviço Especializado em Abordagem Social;
- Acolhimento - Serviços de Acolhimento;
- POP - Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.
Há uma conexão entre os serviços oferecidos e, destes, com o Cadastramento para Construção do Processo de Saída da Situação de Rua.
A Política Nacional para a População em Situação de Rua possui os
seguintes princípios: promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos;
respeito à dignidade do ser humano, sujeito de direitos civis, políticos, sociais,
econômicos e culturais; direito ao usufruto, permanência, acolhida e inserção
na cidade; não-discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, origem
étnica ou social, nacionalidade, atuação profissional, religião, faixa etária e
situação migratória; supressão de todo e qualquer ato violento e ação
vexatória, inclusive os estigmas negativos e preconceitos sociais em relação à
população em situação de rua.
2.4 AS REDES SÓCIAS ASSISTENCIAIS VOLTADAS A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA
Neste capítulo, trataremos de que maneira as redes sócio assistenciais
trabalham com as pessoas em situação de rua, seu funcionamento, técnicos e
como lidam com este público.
O Estado brasileiro, ao reconhecer e garantir á pessoa em situação de
rua todos os direitos devidos á pessoa humana, com base nos princípios de
igualdade e equidade, reconheceu que esses direitos ainda não lhes foram
totalmente garantidos.
Este contexto representou um importante avanço, no campo da legislação
brasileira, a aprovação da Lei n° 11.258, de 30 dezembro de 2005 que alterou
o art.23 da Lei n° 8.742, de 7de dezembro de 1993, incorporando á LOAS a
criação de programas de proteção social ás pessoas em situação de rua no
campo da Assistência Social, o que reafirmou o dever do Estado com a
proteção social aos cidadãos brasileiros que se encontram em situação de rua
no Brasil.
Em linhas gerais, a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, aprovada a
partir da Resolução 109/09, do Conselho Nacional de Assistência Social,
procura organização a prestação dos serviços aos diversos usuários
signatários das ações no campo da assistência social.
Esta organização compreende nas definições de padrões mínimos de
qualidade na oferta desses serviços, uma vez que a realidade apontava para
uma prestação calcada na concepção individual de quem o executa, gerando
incompreensões e desvios de conduta que se contrapunham os princípios da
legislação brasileira.
A Proteção Social Especial (PSE) organiza a oferta de programas,
projetos e serviços socioassistenciais de caráter especializado. Tem por
objetivo contribuir para a proteção social de famílias e indivíduos nas situações
de risco pessoal e social, por violação de direitos, visando a superação destas
situações.
Atuando junto a uma realidade multifacetada, (violência física, psicológica
e negligência, abandono, violência sexual, histórico de vida envolvendo tráfico
de pessoas, situação de rua, trabalho infantil, cumprimento de medidas
socioeducativas em meio aberto, afastamento do convívio familiar, etc.)
demandando intervenções complexas e exigindo maior presença, flexibilidade
e articulações coma rede socioassistencial, das demais políticas públicas e
com órgãos de defesa de direitos.
Em relação ás pessoas em situação de rua, a oferta da atenção
especializada na PSE tem como objetivo a construção do processo de saída
das ruas e o alcance da referência como sujeitos na sociedade brasileira.
Segundo a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, constituem
serviços de PSE cuja oferta da atenção especializada volta-se para pessoas
em situação de rua.
A Proteção Social Especial de Média Complexidade organiza oferta de
serviços, programas e projetos de caráter especializado que requerem maior
estruturação técnica e operativa, com competências e atribuições definidas,
destinados ao acompanhamento a famílias e indivíduos em situação de risco
pessoal e social, por violação de direitos.
Constituem unidades de referência para oferta de serviços especializados
no âmbito da PSE de Média Complexidade: Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS) e Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua (CENTRO POP).
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a
População em Situação de Rua CENTRO Pop Rua, é um equipamento público
de abrangência municipal ou regional, inserido no âmbito da Proteção Social
Especial, no nível da proteção de média complexidade, gerido pela esfera
municipal, previsto na Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, de
atendimento específico ás pessoas que estão em situação de rua, atendendo
ao dispositivo do Decreto 7.053/09, em seu art. 7°, item XII que orienta a sua
implementação.
A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social – NOB-
SUAS, também ratifica a sua implantação quando orienta:
Nos territórios em que se identificar a existência de população em
situação de rua deverá ser implantado o serviço especializado para
pessoas em situação de rua, cuja prestação também deve se dará
exclusivamente no âmbito do Centro, como equipamento específico
para tal provisão. (NOB-SUAS,2010)
Ao definir que há uma diferenciação dos Centros voltados ao atendimento
dos outros segmentos populacionais, determinando que o Centro Pop Rua seja
constituído “como equipamento específico para tal provisão”, apresenta
também a necessidade de se trabalhar com uma metodologia apropriada para
as características desses usuários.
Sendo assim, dizer que se dará no âmbito do Centro, significa chamar a
atenção para as características do equipamento enquanto sendo criado e
mantido pelo poder público, de abrangência municipal ou regional e de
referência especializada.
Exigindo adaptações na sua dinâmica de funcionamento que atendam
adequadamente á complexidade encontrada na população em situação de rua,
prevendo serviços complementares que podem ser partilhados com a rede não
governamental.
O Decreto 7.053/09 atende ao que dispõe a Política Nacional de
Assistência Social- PNAS, compreendendo a população em situação de rua
como público portador de todas as características próprias para sua inclusão
no rol de seus usuários. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate a Fome – MDS:
Constitui o público da Política de Assistência Social cidadãos e
grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos,
tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos
de afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida;
identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual;
desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela
pobreza e, ou, no acesso ás demais políticas públicas ; uso de
substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do
núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não
inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e
alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar
risco pessoal e social (MDS,2005)
A lei Orgânica de Assistência Social foi acrescida em seu parágrafo único
do artigo 23, item II, por conta da lei n° 11.258 de 2005, como um dos públicos
alvos para a criação de programas de amparo da assistência social, a
população em situação de rua.
Ainda, no que diz a Constituição Federal de 1988, em diversos artigos,
garante á pessoa em situação de rua, direitos inalienáveis, tantos os sociais
previstos no artigo 6°, quanto na igualdade de acesso a esses direitos
garantidos no artigo 5°.
Tais artigos firmam também a solidariedade de todos os níveis de
governo, bem como de todas as suas pastas na implantação e implementação
de políticas públicas, posto que os direitos sociais dos cidadãos não se
resumem ao plano de assistência social.
A instituição do Decreto 7.053/09 inova quando explicita com
singularidade uma parcela da população que até então se valia
preferencialmente das políticas da assistência social e de forma difusa, já que
não se considerava toda a sua complexidade para o seu devido atendimento
nos equipamentos públicos, ou quando simplesmente nem se quer era levada
em consideração dada a sua invisibilidade para a sociedade, sendo
frequentemente discriminada e mal atendida.
A população em situação de rua tem urgência... cada pessoa que está
em situação de rua tem a sua história e quando no atendimento,você trabalha a
escuta, percebe que o problema tem algo de mais complexo no que tange a
sua problemática.
Segundo Cristina Bove, Coordenadora da Pastoral do Povo da Rua e
Membro do Comitê Nacional Intersetorial para Acompanhamento e
Monitoramento das Políticas Públicas para a População em Situação de Rua,
ressalta que um dos motivos da invisibilidade dessa parcela da população é
que “eles não fazem parte da contagem do IBGE”. O que há de concreto é uma
perspectiva que haja para 2020, para tanto, eles continuarão a ser invisíveis
para a contagem do censo.
Centro Pop
O Centro Pop Rua deve ter como princípios no seu atendimento aos
usuários o disposto no artigo 5° do decreto 7.053/09, acrescentando para além
da igualdade e equidade, os princípios:
I-respeito á dignidade da pessoa humana;
II- direito a convivência familiar e comunitária:
III- valorização e respeito á vida e a cidadania;
IV- atendimento humanizado e universalizado
V- respeito ás condições sociais e diferenças de origem,
raça, idade, nacionalidade, gênero, orientação sexual e
religiosa com atenção especial ás pessoas em deficiência.
O Centro Pop Rua deve buscar a construção de espaço de acolhida e
escuta qualificada, reconstruir as relações familiares, estar inserido no contexto
social, e fortalecer recursos para a superação da violação de direitos.
O que se tem de concreto, é a total falta de respeito para este público,
violando mais uma vez seus direitos, falta de informações por parte da equipe
técnica, o uso da força policial dentro dos equipamentos, local insalubre, e total
falta da rede para fortalecimento tanto dos equipamentos como também dos
técnicos.
Segundo a Tipificação, a quem se beneficia, são as famílias e indivíduos
que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência, tendo como
formas de acesso, encaminhamentos de serviços especializados em
Abordagem Social, de outros serviços sócio-assistenciais, das demais políticas
públicas setoriais e dos demais órgãos do sistema de Garantias de Direitos
como demandas espontâneas.
Admitir também as entidades civis como geradoras de demandas para o
Centro Pop Rua, compreendendo tais instituições como parte integrante da
rede de proteção, mesmo as que não são subsidiadas pelo Estado, uma vez
que elas também possuem experiência significativa e contribuem para o
enfrentamento da situação de rua.
Por sua vez, o alcance da integralidade da proteção social e do acesso a
direitos das pessoas em situação de rua exige a busca permanentemente de
articulação e integração intersetorial, tendo em vista o acesso dos usuários aos
demais serviços, programas, projetos e benefícios da rede socioassistencial,
das demais políticas públicas e órgãos de defesa de direitos, que têm por
função a defesa e a responsabilização em casos de violação dos direitos, tais
como o Poder judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Organização da
Sociedade Civil (como Centros de Defesa e Fóruns de Defesa de Direitos).
O trabalho em rede tem como objetivo a integração entre ações das
diversas políticas e órgãos de defesa de direitos, de modo a superar a
fragmentação e potencializar recursos, exigindo a prática da intersetorialidade
e o reconhecimento da incompletude institucional.
A dinâmica do trabalho em rede pode, inclusive, resultar na elaboração
de fluxos e protocolos que venham a definir responsabilidades entre os
serviços e órgãos envolvidos, considerando a realidade, os recursos existentes
e o respeito ás competências de cada um.
Articulação em rede consiste em: Serviços socioassistencias de
Proteção Social Básica e Proteção Social Especial; Serviços de Políticas
Públicas setoriais; Redes sociais locais; Órgãos do Sistema de Garantia de
Direitos; Sistema de Segurança Pública; Instituições de Ensino e Pesquisa;
Serviços, programas e projetos de instituições não governamentais.
E como resposta a eficiência dos serviços, os impactos sociais esperado
são: redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos
ou reincidência; proteção sócia e familiar e indivíduos; redução de danos
provocados por situações violadoras de direitos; construção de novos projetos
de vida.
Serviço Especializado em Abordagem Social.
A sociedade em geral desenvolveu uma forma preconceituosa de olhar
as pessoas em situação de rua, por isso também compreende
equivocadamente os modos mais adequados de atendimento a este público.
Via de regra, as solicitações advindas do comércio e de moradores das
zonas nobres da cidade, seguem na direção da higienização humana, ou seja,
do recolhimento indiscriminado dessas pessoas, sem se preocupar com o
destino delas, contanto que não se precise mais vê-la em suas portas.
O serviço de abordagem social é muito assediado para fazer essa
limpeza, é preciso que os profissionais deste serviço estejam muito conscientes
de qual é o seu papel na execução desta atividade. O Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), em sua resolução 109/2009, tipifica o serviço de
abordagem com o objetivo de assegurar direitos, corrigir e evitar a violação dos
mesmos, não de constituir como mais um mecanismo violador.
Várias são as queixas da forma como as pessoas ligadas ao poder
público se aproximavam das pessoas em situação de rua. Em alguns casos, de
forma truculenta, objetivando tão somente a higienização humana, a retirada a
todo custo das pessoas de locais onde a sociedade julgava impróprios para
sua permanência, na maioria das vezes, motivada pelo preconceito.
Segundo a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, são locais para
abordagem:
Deverão ser consideradas praças, entroncamento de estradas,
fronteiras, espaços públicos onde se realizam atividades laborais,
locais de intensa circulação de pessoas e existência de comércio,
terminais de ônibus, trens, metrôs e outros. (Resolução 109, CNAS,
2009)
Por fim, vale ressaltar, que o acolhimento que pode parecer um
mecanismo em meio a tantos outros, no entanto, se pensando a partir da
Política Nacional de Humanização, terá a oportunidade de provocar o debate e
perceber a capacidade mobilizadora desta estratégia na prática de cada
profissional, a fim de melhor atender ás necessidades da pessoa, de forma
resolutiva e com vistas ao cumprimento do princípio da integralidade.
Serviço de Acolhimento Institucional e Repúblicas:
Serviços da rede socioassistencial destinados ao acolhimento provisório
de pessoas em situação de rua e desabrigo, em decorrência de abandono,
ausência de moradia ou migração, no caso de pessoas em trânsito e sem
condições de auto-sustento. Sua articulação com o Serviço Especializado para
pessoas em situação de rua representa importante elemento para a construção
do processo de saída das ruas.
Estes serviços possuem competências complementares, sendo que a
vinculação a ambos pode favorecer sobremaneira a construção do processo de
saída das ruas. Quando da implantação do Centro Pop, ás pessoas acolhidas
nos serviços de Acolhimento Institucional deve ser assegurado a possibilidade
de inserção nas ações desenvolvidas pelo Serviço Especializado para Pessoas
em Situação de Rua.
Em virtude do próprio conceito que define a população em situação de
rua, um dos maiores desafios será manter o padrão desta acolhida que deverá
ser abalizada por parâmetros humanitários, de solidariedade e cidadania,
visando fortalecer a construção de uma relação de confiança com o público
demandante dos serviços prestados como também um real compromisso da
equipe de profissionais com o serviço prestado.
3- DIREITOS HUMANOS E POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.
Os Direitos Humanos têm por oportunidade real de efetividade,
primeiramente quando passam a compor as Constituições, passando, então da
nomenclatura de Direitos Humanos para a nomenclatura de Direitos
Fundamentais.
A população de rua vive o extremo da exclusão social. A exclusão
daquele que vive na rua é tão estrema que, na sociedade, ele é quase um “não
vivente”, ou melhor, quase um corpo que apenas sobrevive. Enquanto no
âmbito da inclusão os seres humanos contam como pessoas (sujeitos de
direitos, eleitores, empregados etc.), no âmbito da exclusão estes “parecem
importar apenas como corpos” (Luhmann, 2007).
Segundo Luhmann, as pessoas que se entram nesta situação, para a
sociedade, são invisíveis, são os sobrantes, é a degradação do ser humano.
Não são vistos como pessoas e sim como bichos e lixos, uma totalidade
excluída, e que nem são possuidores de seus direitos.
A Constituição Federal de 1988, a lei maior do país, garante direitos
individuais e coletivos dos cidadãos e estabelecem como princípio, em seu
artigo 1°, a cidadania e a dignidade da pessoa. A garantia da dignidade
humana se expressa no compromisso efetivo de um país na proteção e acesso
a direitos, tais como direito á vida, á liberdade, á igualdade e á segurança,
contidos no artigo 5° da Constituição Federal de 1988.
Mesmo estando na Constituição Federal de 1988, os direitos dos
cidadãos, estes possuem seus diretos violados a todo e a qualquer instante.
Várias ocorrências de denúncias chega até a Defensoria Pública e Ministério
Público, de maus tratos, abuso de poder, ações higienistas, roubo
institucionalizado, agressão verbal, espancamentos, detenção por vadiagem,
impedimento de acessar serviços e espaços públicos, cadastramento e
abrigamento obrigatórios, não atendimento do SAMU, coação, expulsão das
regiões centrais da cidade , dentre outras.
Durante o século XVII, os direitos eram vistos como qualidades
necessárias aos indivíduos e finalmente reconhecidas enquanto tais: a própria
individualidade dos homens era dada por sua característica de sujeito de
direitos. Hoje ao contrário podemos analisar que a compreensão de que o
sujeito que se constitui no campo de luta pela efetivação de direitos não é um
sujeito previamente definido, não se constitui como sujeito dado, e, portanto,
possui características e necessidades que se formam de maneira singular e a
cada momento.
É um sujeito em constante reformulação que determina e é determinado
pelos universos de forças das relações. Neste âmbito, a rua, a “população de
rua”, se revela como a experiência mais latente e, nesse sentido,
assustadora,das indefinições que permeia a (trans) formação da subjetividade
humana.
Sendo assim a análise da perspectiva histórica dos Direitos Humanos,
portanto, revela que tanto o conceito de “direito” quanto o de “humano” são
conceitos construídos em sociedade e que determinam quem é “digno” de
possuir quais direitos. (COIMBRA,2008)
Segundo o autor, a construção dos Direitos Humanos vem para dar mais
alicerce a não violação dos direitos em relação ao indivíduo, principalmente
quando se trata das pessoas que se encontram em situação de rua. A
Declaração dos Direitos Humanos garante que todos devem ser reconhecidos
e protegidos por lei sem discriminação.
Temos como base, a possibilidade de que um indivíduo esteja com
alguma pendência na justiça, terá direito a ser defendido por um advogado
gratuitamente e ter uma audiência justa e pública porque é cidadão.
No Brasil, esses direitos, mesmo aqueles que não têm moradia, estão
assegurados na Constituição Federal de 1988, lei que está acima de todas as
leis. O Estado por meio de seus governantes deveriam assegurar estes direitos
garantidos na Constituição brasileira
Diante das constantes violações de direitos sofridas pela população em
situação de rua e catadores de materiais recicláveis, da dificuldade de acesso á
justiça, além de políticas públicas ineficazes, os Movimentos Nacionais da
População de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis, juntamente com o
Fórum Nacional da População de Rua, demandou a implantação de um centro
de defesa.
O Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em
Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis
(CNDDH/PSR/CMR) foi implantado através da Secretaria Nacional de Direitos
Humanos da Presidência da República (SDH), em abril de 2011, ao atender o
Decreto 7.053/2009. Ele nasce com a missão de ser referência na defesa dos
direitos humanos dessa população, a fim de efetivar seus direitos fundamentais
como cidadãos.
O CNDDH possui três eixos de trabalho, todos voltados para o acesso á
justiça. O enfrentamento ás violações, a sistematização de dados e produção
de conhecimento e atividades de formação orientam a ação do Centro de
Defesa, que recebe denúncias, sistematiza informações e combate as
situações de violações de direitos da população em situação e dos catadores
de materiais recicláveis.
Este Centro de Defesa é mais uma articulação visando assim amenizar
a violação de direitos destas pessoas que tanto são marginalizadas. Com o
desenvolvimento de um trabalho pioneiro, o CNDDH está direcionado em
atividades de assessoramento político e técnico pela defesa e garantia de
direitos, tendo como eixos principais de ação: enfrentamento às violações,
sistematização de dados, produção de conhecimento e formação.
O CNDDH tem como missão ser referência na defesa dos direitos
humanos da população em situação de rua e catadores de materiais
recicláveis, a fim de efetivar seus direitos fundamentais como cidadãos que
constroem e participam do poder popular.
3.1 - As FORMAS DE NEGAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA.
A população em situação de rua é, um fenômeno que compõe as
cidades e que traz em si todos os estigmas de um processo de constantes
violações dos direitos que, por sua vez, encontra-se vinculado ao modelo
econômico vigente á ausência de efetivas políticas públicas.
A PNPR, ao propor ações e estabelecer responsabilidades para
diferentes áreas das políticas públicas, reconheceu o significado histórico das
lutas e os direitos das pessoas que vivem nas ruas das grandes cidades em
condição indignas, incompatível com o estágio de desenvolvimento alcançado
pela humanidade.
“Depois que alguém recebe o rótulo da rua tudo fica mais
difícil”. Esse enunciado, que surgiu durante uma Ouvidoria
Itinerante ao Refeitório Pena Forte Mendes, simboliza bem a
discriminação que age contra a população em situação de rua.
Uma de suas formas é a segregação física, manifestada na
ação das tecnologias de vigilância do espaço urbano, de forças
policiais ou de agentes urbanísticos. Outra forma de
discriminação, a sócio-pessoal, é exercida através de
humilhações e ofensas à pessoa em situação de rua.(Clínica
de Direitos Humanos Luiz Gama. Dezembro,2011)
Mesmo nos serviços públicos, seja nos ditos universais (SUS, SUAS),
nos de uso obrigatório como de registros públicos, seja nos voltados à
população de rua, as categorias do “vagabundo”, do “drogado” do “perigo
social” marcam a atuação da maior parte dos agentes institucionais e privados,
dificultando assim que os usuários sejam atendidos.
Uma pesquisa nacional empreendida pelo Ministério do
Desenvolvimento Social, intitulada “Rua: aprendendo a contar”, traz dados
importantes para dimensionar este problema: a grande maioria dos
entrevistados afirmou não tentar entrar em certos estabelecimentos,
principalmente comerciais, para evitar constrangimentos que podem chegar à
expulsão do local.
A pesquisa demonstra, ainda, que 1/3 da população de rua já foi
barrada em órgãos públicos, número que pode ter sido subestimado devido à
metodologia utilizada na pesquisa. A discriminação e a decorrente falta de
acesso a órgãos públicos são tamanhas que, muitos das pessoas em situação
de rua, são barrados na porta de albergues sem nenhum motivo declarado.
Nega-se, assim, por motivos discriminatórios, a entrada em um aparato
público que pretende ser instrumento de assistência básica a este segmento
social, extremamente vulnerável.
Na Ouvidoria Comunitária têm sido recorrentes os relatos que tratam a
dificuldade da população em estabelecer vínculos duradouros de trabalho, uma
vez que o uso de endereços de albergues como referência domiciliar atrapalha
as relações de emprego e dificulta a obtenção e manutenção da vaga.
Preocupantes são os relatos que mostram que serviços básicos de saúde
são negados à população em situação de rua devido a sua condição. Três
casos da Ouvidoria apresentaram queixa contra o SAMU, serviço de
atendimento móvel de urgência, denunciando-o por negligência ao recusar-se a
assistê-los a partir do momento em que descobriam se tratar de um morador de
rua.
Podemos assim mencionar as ações higienistas, que acontecem pelo
Brasil, e na sua maioria é efetuado pela força policial e equipes municipais de
limpeza, usando o pré-texto que estão fazendo “limpeza urbana”, no qual se
refere a retirada do indivíduo das ruas, local que é público, e mesmo ele sendo
um morador em situação de rua, tem o direito de permanecer.
Tais operações atuam, geralmente, acordando as pessoas que dormem
na rua, retirando-lhes pertences como cobertores, bolsas e papelões, e lavando
os espaços com água de um caminhão pipa. Trata-se, aqui, de uma concepção
errônea da população em situação de rua, para quem se dirige um aparato de
gestão orientado não para a garantia de sua dignidade, mas para disciplina e
controle de um espaço urbano que deve privilegiar sempre o trânsito e a
circulação de bens (mercadorias) e corpos, jamais sua permanência ou fixação.
Essas ações agravam-se quando se lança mão de água de reutilização, a qual
não é destinada para o contato humano, a fim de expulsar pessoas destes
locais.
3.2- AS DIFICULDADES DE ACESSO AOS EQUIPAMENTOS SÓCIOS ASSISTENCIAIS.
Em situações transitórias, algumas pessoas ficam na rua como
consequência de uma circunstância, na qual o indivíduo, destituído de
condições econômicas, possivelmente resultado do desemprego ou situação
de ruptura familiar, e pernoitando dias nas ruas. A rede de vínculos construída
na rua passa a ser uma referência progressiva para aquele indivíduo, e sua
vinculação á rua passa a ser mais forte que outros laços construídos em outros
espaços.
As dificuldades de acesso aos serviços públicos de qualidade e, por falta
de respostas ás necessidades e demandas, com a devida agilidade e respeito
á dignidade, contribuem para que a rua se configure como um espaço de
resistência e sobrevivência.
Quando se trata de pessoas em situação de rua, falamos de
vulnerabilidade social, no qual trata destas pessoas que estão “jogadas a
própria sorte”, pois onde os seus direitos são o tempo todo negados. Seja ele á
educação, saúde, lazer, alimentação, moradia, cultura e emprego.
A Constituição Federal de 1988, em seu capítulo II- da Seguridade
Social, art.203, 204, 226 e 227, traz o fundamento lega para a proteção social a
pessoas, famílias e, especialmente, a crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade e de risco pessoal e social.
A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, Lei n° 8.742, de 07 de
dezembro de 1993, vem regulamentar os pressupostos constitucionais,
conferindo a Assistência Social o status de Política Pública, Direito do Cidadão
e Dever do Estado.
A LOAS atribuem alto grau de responsabilidade á esfera estadual quanto
ao cofinanciamento das ações desenvolvidas em âmbito local, devendo
assumir diretamente o desenvolvimento de atividades consideradas de maior
complexidade ou de abrangência regional ou estadual.
Após as mudanças com a regulamentação da LOAS, vêm sendo
exigidas nas práticas de intervenção adotadas pelas instituições, no que se
refere ao atendimento á população em situação de extrema vulnerabilidade, em
particular, aquelas em situação de rua.
Ao que se refere às mudanças, está à superação das práticas
assistencialistas, fortemente arraigados nos programas de atendimento a essa
população, para modelos baseados na visão de cidadania e no reconhecimento
dessas pessoas como sujeitos de direitos.
A aprovação da Lei n° 12.435, de 6 julho de 2011( Lei SUAS), que altera
a LOAS veio fortalecer ainda mais esse processo, assegurando bases sólidas
para a consolidação da institucionalidade da política de Assistência Social e do
SUAS no país.
O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) tem origem na
formatação e aprovação da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) que
atribui á Assistência Social um novo significado: política pública, dever do
Estado e direito do cidadão que dela necessitar.
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS), de 2004, e a
NOB/SUAS estabeleceram diretrizes para a efetivação da política de
Assistência Social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado.
É importante assegurar aos cidadãos, usuários da política de Assistência
Social, os direitos socioassitencias: á equidade rural e urbana; ao acesso á
rede socioassistencial; á convivência familiar; comunitária e social; á proteção
social por meio da intersetorialidade; ao controle social e á defesa dos direitos
socioassistenciais.
As ações desenvolvidas no Serviço Especializado para Pessoas em
Situação de Rua devem pautar-se no reconhecimento dos seus usuários como
sujeitos de direitos. Para tanto, devem ser identificados os direitos e serviços
que possam acessar para sua inclusão em uma rede de proteção social, de
modo a contribuir para a superação da situação vivida, muitas vezes
relacionada, dentre outros fatores, á falta de acesso a serviços e direitos
assegurados nas normativas.
No desenvolvimento das ações, é importante garantir aos usuários o
direito de ser informado sobre as possibilidades de acesso a programas,
projetos e benefícios socioassistenciais, á rede das demais políticas públicas e
aos órgãos de defesa de direito.
Nesse sentido, é importante que os profissionais estejam atentos, por
exemplo, aos procedimentos necessários para viabilizar o acesso á
documentação, inclusão no CAD ÚNICO para Programas Sociais e acesso a
benefícios socioassistenciais, quando contemplado o perfil, destacando-se aqui
o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Diante da Constituição Federal de 1988, da Política Nacional da
População em Situação de Rua e da LOAS, é triste se deparar com
equipamentos voltados basicamente para este público, com atendimento
ineficaz, técnicos carregados de preconceitos e espaços em péssimos estados.
O Estado por sua vez, inaugura espaços, mas esquece de que estes
espaços serão habitados por seres humanos, e que por diversos fatores foram
parar em situação de rua. Por muitas vezes, os equipamentos sócio
assistenciais são coordenados por pessoas que não tem uma sensibilidade
para este público, e acarreta no preconceito, na falta do conhecimento de quem
são estas pessoas, suas histórias, todo o seu alicerce familiar.
O que de fato existe é imposição ao equipamento por parte de seus
coordenadores, quando estipulam horários de entrada e saída, sabendo-se que
muitos que utilizam estes espaços, fazem seus trabalhos informais como
frentistas, lavadores e guardadores de carro, vendendo balas dentro dos
ônibus, e como podem simplesmente parar o trabalho, para estarem nos
equipamentos com horários determinados.
Em muitos casos a pessoa em situação de rua, se quer conseguem que
o SAMU, dê atendimento, eles se negam a prestar socorro, e quando
conseguem o atendimento em rede hospitalar, pelas suas vestes ou por falta
de um documento de identidade, ou a falta de um comprovante de residência é
negada os direitos básicos de atendimento a saúde.
O preconceito social e os comportamentos estigmatizantes fazem com
que a população em situação alvo de atitudes que vão extremos da total
indiferença, invisibilidade e ausência de respeito e sensibilidade por parte da
sociedade, até as práticas de violência física que reforçam uma visão de
naturalização e imutabilidade dessa condição.
Diante do exposto, as ações públicas para a população em situação de
rua devem ter um caráter de conscientização da sociedade e da afirmação de
direitos, no sentido de fortalecer as possibilidades para reconstrução da
trajetória de vida que incluam a saída das ruas.
Nesta mesma direção, destaco que os serviços e programas devem ser
revestidos de uma atitude positiva, desvinculada de práticas higienistas e
culpabilização e agravamento dessa condição de vida. A rede de atendimento
deve estar atenta a essas questões, para que não se agravem ainda mais as
barreiras entre população em situação de rua e os demais cidadãos brasileiros.
É fundamental que os serviços para a população em situação de rua
oportunizem espaços de discussão sobre o impacto que as representações
sociais negativas provocam nas identidades pessoais das pessoas em situação
de rua, nas dificuldades encontradas para acessar direitos, na violência
simbólica a qual são submetidos e na interiorização de imagens e esquemas
estigmatizantes, que acarretam sentimentos de humilhação, segregação e
rebaixamento da autoestima.
3.3 A IMPORTÂNCIA DO SERVIÇO SOCIAL NA INSERÇÃO DA PESSOA EM SITUAÇÃO DE RUA Á SOCIEDADE
O Assistente social como trabalhador da Assistência Social tem como
finalidade básica o fortalecimento dos usuários como sujeito de direitos e o
fortalecimento das políticas públicas. Tendo em vista que o Assistente Social é
um profissional comprometido com a autonomia dos sujeitos, com a crença no
potencial dos moradores e das famílias das populações referenciadas pelo
CRAS, para que rompam com o processo de exclusão /marginalização,
assistencialismo e tutela.
O profissional de Serviço Social trabalha na emancipação de famílias e
comunidades, sendo que, uma das mais importantes dimensões do papel do
assistente social, sempre na perspectiva de cumprir com o desafio de integrar
as políticas sociais. Uma integração que, respeitadas as especificidades de
cada área, se dá pelo ponto que têm em comum: a defesa da vida, da
dignidade e do desenvolvimento social que possibilite a mais justa distribuição
de bens e riquezas no país.
A Política Nacional da População em Situação de Rua reforça o que diz
á respeito ao Serviço Social:
a) Estruturação da rede de acolhida, de acordo com a heterogeneidade
e diversidade da população em situação de rua, reordenando
práticas homogeneizadoras, massificadoras e segregacionistas na
oferta dos serviços, especialmente os albergues;
b) Produção, sistematização de informações, indicadores e índices
territorializados das situações de vulnerabilidade e risco pessoal e
social acerca da população em situação de rua;
c) Inclusão de pessoas em situação de rua no Cadastro Único do
Governo Federal para subsidiar a elaboração e implementação de
políticas públicas sociais;
d) Assegurar a inclusão de crianças e adolescentes em situação de
trabalho na rua no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil;
e) Inclusão de pessoas em situação de rua no Benefício de Prestação
Continuada(BPC) e no
f) Programa Bolsa Família, na forma a ser definida;
g) Conferir incentivos especiais para a frequência escolar das pessoas
inseridas nos equipamentos da Assistência Social, em parceria com
o Ministério da Educação;
h) Promoção de novas oportunidades de trabalho ou inclusão produtiva
em articulação com as políticas públicas de geração de renda para
pessoas em vulnerabilidade social.
A reflexão a partir do Serviço Social traz como deve ser desenvolvido o
atendimento destas pessoas, pois são os maiores negadores destes direitos.
Como podem ser tão contraditórios, e excludentes se o Código de Ética
reforça:exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar
por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, orientação sexual, identidade gênero, idade e
condição física (Código de Ética do Assistente Social. São
Paulo,2012)
O que se tem na realidade é a falta de conhecimento em trabalhar este
público, que já tiveram seus direitos violados, e mais uma vez as cenas se
repetem. No que se refere às redes socioassistenciais, é de competência do
Assistente Social: orientar a construção de instrumento próprio para realização
de anamnese social; realizar os encaminhamentos nos casos em que seja
imprescindível a sua atuação específica, considerando o que dispõe na sua
formação, na regulamentação oficial e nas orientações das entidades de
classe; orientar os outros membros da equipe quanto aos procedimentos junto
aos usuários que dependam da sua especialidade.
Mesmo tendo todo este arcabouço e aparato, os serviços continuam não
chegando, e quando chegam, são precários, de forma desumana de
atendimento. Prezar para que os próximos profissionais possam ter seus
preconceitos cercados, com a finalidade de prestar atendimento de forma
contínua e humanizada, e que a Política Nacional da População em Situação
de Rua, possa ser alcançada por todos que deles necessitam.
O desafio está em descobrir como, em uma sociedade tão diversificada,
cheia de contradições e contrastes, é possível criar políticas que, ao mesmo
tempo em que procurem mudar a vida das pessoas em situação de rua, a
façam de maneira integrada e sistematizada, atuando nas diferentes áreas que
compõem a assistência social e que possam, de maneira eficaz e efetiva,
resolver esse problema tão grave na nossa população.
Precisamos de Direitos Humanos, para os Humanos de Direitos! Antonio Bezerra
Considerações Finais.
Com base nas revisões bibliográficas, foi possível fazer uma reflexão
sobre a problemática referente à Política Nacional da População em Situação
de Rua, no qual se percebe a preocupação da falta de efetivação da Política,
que luta por seus direitos. Compreender que a vulnerabilidade e a exclusão são
resultantes desta sociedade perversa, que exclui mais que inclui.
Através dos estudos, percebe-se que mesmo com a Constituição
Federal de 1988, assegurando todos os direitos, se fez necessário à
articulação de mais uma Política, que contemplasse as pessoas que se
encontram em situação de vulnerabilidade.
Mediante a este contexto, que é perceptível a violação de tantos direitos,
tais como a moradia, educação, saúde, lazer, cultura e emprego, para estas
pessoas em situação de rua, só aumenta ainda mais a sua situação de
vulnerabilidade social.
O primeiro objetivo, estabelece assim a Política Nacional da População
em Situação de Rua foi criada a partir do momento que se via a necessidade
que esta população fosse vista não só como merecedores de políticas sociais,
e sim como sujeito de direitos. Mediante ás denúncias e tendo em vista
acontecimentos nas ruas, caracterizam-se as principais violações: chacinas e
extermínios, espancamentos, retirada de pertences, jatos de água, coação,
agressão verbal, detenção por vadiagem, impedimento de acessar serviços e
espaços públicos, expulsão das regiões centrais da cidade, cadastramento e
abrigamento obrigatório e não atendimento do SAMU.
Para que haja uma efetivação da Política Nacional da População em
Situação de Rua, se faz necessário, que a rede funcione, pois depende dela e
dos técnicos este diálogo seja eficaz, para que o indivíduo que faça parte dela
passe por todo um círculo, até enfim sair desta situação.
A esta aliança, não se pode esquecer que o Estado tem o dever de
participar, e não se eximir das suas responsabilidades, fazendo que somente
os movimentos sociais lutem para estes direitos, devolvendo assim a dignidade
humana para cada indivíduo.
No que diz á respeito do segundo objetivo, evidenciou-se que a presente
Política Nacional da População e Situação de Rua, caracteriza assim “um
grupo populacional heterogêneo, mas que possui, em comum, a pobreza
extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de
moradia convencional regular, em função do que as pessoas que o constituem
procuram os logradouros públicos, as áreas degradadas como espaço de
moradia e sustento, por contingência temporária ou de forma permanente,
podendo utilizar albergues para pernoitar e abrigos, casas de acolhida
temporária ou moradias provisórias” (Silva, 2009).
A maioria das pessoas em situação de rua é coberta pelos programas
governamentais. A realidade dessas pessoas descrita na Pesquisa Nacional
sobre a População em Situação de Rua permite concluir que as que vivem em
situação de rua sofrem várias formas de violação de seus direitos humanos,
seja na área de segurança, seja na área de saúde, ou em relação ao mercado
de trabalho e tem que se utilizar de diferentes estratégias para poder
sobreviver.
Verificou-se que mesmo tendo a Constituição Federal de 1988,
assegurando os direitos dos indivíduos, se fez o necessário a construção de
uma Política para reforçar e dá uma legitimidade a Carta Magna ao que tange á
respeito das pessoas em situação de rua.
Demonstrou-se mediante a pesquisa que as pessoas em situação de
rua, possuem todos os direitos tanto quanto a qualquer cidadão. Que o fator
estar nas ruas, não os fazem assim merecedores dos seus direitos negados.
Segundo as bibiografias pesquisadas, entende-se que este fator de estar nas
ruas, não seja definitivo, e sim uma situação passageira no qual todos tem
direito ao acesso na rede de saúde, educação, esporte, cultura, lazer, moradia,
trabalho e alimentação.
No que diz á respeito às redes socioassistenciais, se vê a necessidade
de uma rede que funcione para que atenda aquele indivíduo na perspectiva
que ele saia daquela situação. Uma rede com uma equipe de técnicos que não
tenham preconceitos em atender este público, que os atenda de maneira mais
humanizada, fazendo os encaminhamentos, cadastros em programas sociais
do governo, para que este indivíduo não fique nos equipamentos desassistidos.
No terceiro objetivo, evidenciou-se que os direitos destes também são
violados dentro dos equipamentos socioassistenciais, a partir do momento em
que não há um trabalho voltado para a inserção do indivíduo á sociedade.
A população em situação de rua é, então, um fenômeno que compõe as
cidades que traz em si todos os estigmas de um processo de constantes
violações dos direitos que, por sua vez, encontram-se vinculado ao modelo
econômico vigente e á ausência de efetivas políticas públicas.
Uma vez que as políticas públicas são constituídas a partir das
informações coletadas nos dados oficiais, identifica-se aqui uma lacuna
importante. Alerta-se para a necessidade da inclusão da pessoa em situação
de rua nas pesquisas do IBGE. Tal discussão encontra-se em andamento na
esfera estatal.
Além das necessidades de recenseamento, outra situação muito
pertinente, são as constantes ações de violência contra a População em
situação de Rua em várias cidades do País. Muitas vezes motivadas pelo
preconceito, são comuns os casos de espancamento, tentativas de homicídio,
assassinatos e chacinas.
Cabe aqui destacar a gama de situação ás quais as pessoas em
situação de rua estão expostas em virtude do processo de desvinculação no
qual são inseridas. Por um lado, a PSR, é resultado de um modelo de
reprodução capitalista. Por outro lado, as pessoas em situação de rua são
culpabilizadas por esta inclusão marginal.
Criando assim verdadeiro círculo vicioso em que o rompimento da
identidade social e a fragilização e/ ou rompimento dos vínculos somam-se á
invisibilidade á total negação de direitos.
REFERÊNCIA:
AMMANN, Safira Bezerra. Expressões da Pobreza no Brasil: Análise a partir
das desigualdades Regionais. São Paulo: Cortez, 2013.
BRASIL. Política Nacional de Assistência Social. MDS- SNAS, 2004
----------, Constituição de República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
1988.
----------, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á Fome. I Encontro
Nacional sobre População em Situação de Rua: relatório. Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate á Fome, Secretaria de Avaliação e Gestão
da Informação, Secretaria Nacional de Assistência Social. Brasília, 2006.
----------,Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á Fome. Secretaria
de avaliação e Gestão da Informação. Meta Instituto de Pesquisa de Opinião.
Sumário executivo.Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de
Rua.Brasília, 2008.
Disponível em: http//WWW.mds.gov.br/institucional/secretaria-de
avaliacao-e gestão-da-informacao-sagi/pesquisas.Acesso: Outubro,2015.
----------, Diário Oficial. Política Estadual para a População em Situação de Rua.
Salvador, 2014.
---------, Política Nacional para a População em Situação de Rua. Disponível
em:http//www.planalto.gov.br/ccivil_03/Ato2007-2010/2009/Decreto/D7053.htm.
Acesso: Outubro 2015
--------, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á Fome. Rua:
aprendendo a contar: Pesquisa Nacional do Desenvolvimento Social e
Combate á fome, Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação, Secretaria
Nacional de Assistência Social, 2009.
------------, Secretaria Nacional de Renda e Cidadania e Secretaria Nacional de
Assistência Social e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate á
Fome.Orientações Técnicas:Centro de Referência Especializado para a
População em Situação de Rua – CENTRO POP; SUAS E População em
Situação de Rua. Brasília, 2011.
----------, Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate á Pobreza, Instituto
de Saúde Integral: Qualificando os Serviços Socioassistenciais para a
População em Situação de Rua. Salvador, 2013.
---------,Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate á Pobreza;
Superintendência de Assistência Social; Coordenação de Proteção Especial:
Caderno de Orientações. Centro Pop, Centro de Referência Especializados de
Assistência Social para População em Situação de Rua. Salvador, 2010
BARROCO, Maria Lucia Silva; TERRA, Sylvia Helena. Código de ética do/a Assistente Social Comentado; Conselho Federal de Serviço Social – CFESS,
(organizador). São Paulo: Cortez, 2012.
CARVALHO, José Murilo de. Bestializados: O Rio de Janeiro e a República que não foi(os).3.ed.São Paulo: Companhia das Letras,2002.
CASTEL, Robert, A dinâmica dos processos de marginalização: da
vulnerabilidade a “desfiliação”.Salvador ,1997.
COIMBRA, Cecília; Lobo, Lilia Ferreira; Nascimento, Maria Lívia do. Por uma
invenção ética para os direitos. Scielo,Psicol.clin [online] 2008.
COSTA, Ana Paula. População em Situação de Rua: contextualização e
caracterização. Revista Virtual Textos & Contextos.Dezembro 2005.
DANTAS, Monica, Construção de Políticas Públicas para a População em
Situação de Rua no Município do Rio de Janeiro: Limites, Avanços e Desafios.
2007.
ESCOREL, Sarah. Vivendo de Teimoso: moradores de rua da cidade do Rio de
Janeiro.IN: BURSZTYN, Marcel (org). No meio da rua: Nômades, excluídos e
viradores. Brasília: Garamond, 2000.
GRINOVER. Alda Pellegrini;et al [orgs].Direitos Fundamentais das Pessoas em Situação de Rua.Belo Horizonte,Editora D’ Plácido, 2014.
MARX,Karl.O Capital: crítica da economia política: livro primeiro: o processo
de produção do capital: volume I tomo II (cap. XIII a XXV). São Paulo: Nova
Cultural,1998.
MARIA, Francisca Pinheiro Coelho; Tapajós, Luziele Maria de Souza;
Rodrigues, Monica. Políticas Sociais para o Desenvolvimento: superar a
pobreza e promover a inclusão. Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate á Fome. Brasília, 2010.
NASCIMENTO, Elimar Pinheiro. Dos excluídos desnecessários In
BURSZYTIN,Marcel (org). No meio da rua: Nômades, excluídos e viradores.
Rio de Janeiro: Garamond, 2003.
ROSA,C. Vidas de rua,destino de muitos.Pesquisa documental: Reportagens
jornalísticas publicadas sobre População de Rua na cidade de São Paulo de
1970 a 1998.São Paulo: Instituto de Estudos Especiais da PUC- São
Paulo,1999.
RUIZ,Jefferson Leede Souza. Direitos Humanos e Concepções Contemporâneas.São Paulo: Cortez,2014.
SILVA,Maria Lucia Lopes da. Trabalho e População em Situação de Rua no Brasil. Cortez.São Paulo, 2009.
SPOSATI, Aldaíza; CARVALHO,Maria do Carmo; TEIXEIRA, Sonia Maria
Fleury. Os Direitos (dos desassistidos) sociais,.7 ed.Cortez. São Paulo
2012.
VIEIRA, M. Antonieta da Costa; BEZERRA, Eneida Maria Ramos; ROSA,Cleisa
Moreno Maffi (orgs).População de Rua: Quem é, como vive, como é vista.
3 ed.São Paulo,2004.
ANEXO: