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Psicólogo João Januário Martins – CRP: 06/53413 email: [email protected] site: www.jungpsicologiatranspessoal .com.br Av. Gal. Carneiro, 803 – 3º andar - sala 31 – Sorocaba -SP Tel.: (15) 3013-2114 Página 1 de 6 Jung Psicologia Transpessoal Texto 14 - A Tipologia de Jung – Tipos Psicológicos A Tipologia de Jung – Tipos Psicológicos Os trabalhos de exploração do inconsciente não fizeram Jung perder o interesse pelas relações do homem com o meio exterior. A comunicação entre as pessoas sempre lhe apareceu problema da maior importância. Na vida comum e na clínica via todos os dias que a presença do outro é um desafio constante. O outro não é tão semelhante a nós conforme desejaríamos. Ao contrário, ele nos é exasperantemente dessemelhante. Não é raro ouvir o marido irritado dizer que não entende a esposa e a mãe queixar-se de absolutamente desconhecer a filha. Também nas relações de amizade e de trabalho surgem frequentes desentendimentos, desencontros, que deixam cada personagem perplexa face às reações do outro, sem que os separem sensíveis diferenças de idade, de educação ou de situação social. Jung deteve-se no exame desse problema e apresentou sua contribuição a fim de que nos possamos orientar melhor dentro dos quadros de referência do outro. Modesto como sempre, escreveu: “não creio de modo algum que minha classificação dos tipos seja a única verdadeira ou a única possível”. Distinguiu inicialmente aqueles que partem rápidos e confiantes ao encontro do objeto, daqueles que hesitam, recuam, como se o contato com o objeto lhes infundisse receio ou fosse uma tarefa demasiado pesada. À primeira forma de atitude denominou extroversão e à segunda introversão. Estes termos que se popularizaram, que todo mundo repete aplicando-os bem ou mal, foram criados e introduzidos em psicologia por Jung. O conceito de extroversão e de introversão baseia- se na maneira como se processa o movimento da libido (energia psíquica) em relação ao objeto. Na extroversão a libido flui sem embaraços ao encontro do objeto. Na introversão a libido recua diante do objeto, pois este parece ter sempre em si algo de ameaçador que afeta intensamente o indivíduo. Mas, em movimento de compensação, uma corrente energética inconsciente retrocede para o sujeito na extroversão e, na introversão, um fluxo de energia inconsciente está constantemente emprestando energia ao objeto. Portanto, vista em seu conjunto, verifica-se na circulação da libido um movimento inconsciente de introversão naqueles cuja personalidade consciente é extrovertida, e um movimento inconsciente de extroversão naqueles cuja personalidade consciente é introvertida. Extroversão e introversão são ambas atitudes normais. Claro que a introversão em grau exagerado tornar-se-á patológica, do mesmo modo que a extroversão excessiva será também característica de estado mórbido.

A Tipologia de Jung – Tipos Psicológicos - Jung Psicologia Transpessoal

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Texto 14 - A Tipologia de Jung – Tipos Psicológicos

A Tipologia de Jung – Tipos Psicológicos

Os trabalhos de exploração do inconsciente não fizeram Jung perder o interesse pelas relações do

homem com o meio exterior. A comunicação entre as pessoas sempre lhe apareceu problema da

maior importância. Na vida comum e na clínica via todos os dias que a presença do outro é um

desafio constante. O outro não é tão semelhante a nós conforme desejaríamos. Ao contrário, ele

nos é exasperantemente dessemelhante. Não é raro ouvir o marido irritado dizer que não entende

a esposa e a mãe queixar-se de absolutamente desconhecer a filha. Também nas relações de

amizade e de trabalho surgem frequentes desentendimentos, desencontros, que deixam cada

personagem perplexa face às reações do outro, sem que os separem sensíveis diferenças de idade,

de educação ou de situação social.

Jung deteve-se no exame desse problema e apresentou sua contribuição a fim de que nos

possamos orientar melhor dentro dos quadros de referência do outro. Modesto como sempre,

escreveu: “não creio de modo algum que minha classificação dos tipos seja a única verdadeira ou a

única possível”.

Distinguiu inicialmente aqueles que partem rápidos e confiantes ao encontro do objeto, daqueles

que hesitam, recuam, como se o contato com o objeto lhes infundisse receio ou fosse uma tarefa

demasiado pesada. À primeira forma de atitude denominou extroversão e à segunda introversão.

Estes termos que se popularizaram, que todo mundo repete aplicando-os bem ou mal, foram

criados e introduzidos em psicologia por Jung. O conceito de extroversão e de introversão baseia-

se na maneira como se processa o movimento da libido (energia psíquica) em relação ao objeto.

Na extroversão a libido flui sem embaraços ao encontro do objeto. Na introversão a libido recua

diante do objeto, pois este parece ter sempre em si algo de ameaçador que afeta intensamente o

indivíduo. Mas, em movimento de compensação, uma corrente energética inconsciente retrocede

para o sujeito na extroversão e, na introversão, um fluxo de energia inconsciente está

constantemente emprestando energia ao objeto.

Portanto, vista em seu conjunto, verifica-se na circulação da libido um movimento inconsciente de

introversão naqueles cuja personalidade consciente é extrovertida, e um movimento inconsciente

de extroversão naqueles cuja personalidade consciente é introvertida. Extroversão e introversão

são ambas atitudes normais. Claro que a introversão em grau exagerado tornar-se-á patológica, do

mesmo modo que a extroversão excessiva será também característica de estado mórbido.

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Cedo Jung deu-se conta de que dentro de cada uma das duas atitudes típicas havia muitas

variações. Um introvertido podia diferir enormemente de outro, embora ambos reagissem de

modo análogo face aos objetos. Idem no interior do grupo dos extrovertidos. O que ocorria então?

Como bom empirista, Jung foi acumulando observações até concluir que essas diferenças

dependiam da função psíquica que o indivíduo usava preferentemente para adaptar-se ao mundo

exterior.

São quatro essas funções de adaptação, espécie de quatro pontos cardeais que a consciência usa

para fazer o reconhecimento do mundo exterior e orientar-se: sensação, pensamento, sentimento

e intuição.

A sensação constata a presença das coisas que nos cercam e é responsável pela adaptação do

indivíduo à realidade objetiva. O pensamento esclarece o que significam os objetos. Julga,

classifica, discrimina uma coisa da outra. O sentimento faz a estimativa dos objetos.

Todos possuímos as quatro funções, entretanto sempre uma dentre elas se apresenta mais

desenvolvida e mais consciente que as três outras. Daí ser chamada função principal.

Cada indivíduo utiliza de preferência sua função principal, pois manejando-a consegue melhores

resultados na luta pela existência...O ótimo seria que as quatro funções se exercessem em

proporções iguais a fim de conhecermos satisfatoriamente o objetos sob seus quatro aspectos, e

também porque assim haveria distribuição equivalente da carga energética necessária à atividade

de cada função. Isso, porém, raramente acontece. Na maioria das pessoas uma única dessas

funções desenvolve-se e diferencia-se, roubando energia às outras. Jung chega a admitir que a

atividade dessas funções, quando se realiza em graus muito desiguais, possa causar perturbações

neuróticas. Se uma função não é empregada, diz ele, há o perigo de que escape de todo ao

manejo consciente, tornando-se autônoma e mergulhando no inconsciente, onde vai provocar

ativação anormal. Isso diz respeito especialmente à quarta função ou função inferior. De outra

parte, justo por sua ligação profunda com o inconsciente, a função inferior poderá ser utilizada

terapeuticamente como uma ponte de união entre consciente e inconsciente e assim vir

representar um meio para restaurar conexões de vital importância no organismo psíquico. A

terapêutica ocupacional tem aí um rico filão a explorar.

Essas funções dispõem-se duas a duas, em oposição. É fácil compreender que, se a intuição é a

função principal, necessariamente a sensação será a função inferior. Desde que o intuitivo

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apreende as coisas no seu conjunto e aquilo que o atrai é o clima onde elas se movem para seus

destinos ainda incertos e obscuros, certamente ele não será perito no exame detalhado dos

objetos nem saberá encontrar para si firmes posições de relacionamento no mundo real, com suas

exigências concretas e imediatas. O contrário acontece quando a sensação é a função mais

desenvolvida.

Entre o pensamento e o sentimento ocorre incompatibilidade semelhante. O pensamento

trabalha para conhecer as coisas, sem maior interesse pelo seu valor afetivo, valor que decerto

viria interferir em julgamentos que pretendem ser neutros. O sentimento faz, antes de tudo, a

estimativa do objeto, julga do seu valor intrínseco. Portanto são funções que se excluem, não

podendo ocupar, ao mesmo tempo, o mesmo plano. Se o pensamento for a função principal, o

sentimento será a inferior, e reciprocamente.

Sendo a função principal de cada indivíduo a arma mais eficiente de que este dispõe para sua

orientação e adaptação no mundo exterior, ela se torna o seu habitus reacional. É esta função,

pois, que vem dar a marca característica aos tipos psicológicos. Desde que as quatro funções

podem ser extrovertidas ou introvertidas, resultam oito tipos psicológicos: Pensamento

extrovertido, sentimento extrovertido, sensação extrovertida, intuição extrovertida; pensamento

introvertido, sentimento introvertido, sensação introvertida, e intuição introvertida.

(Nise da Silveira – Jung, Vida e Obra).

Assim como o conteúdo consciente pode desvanecer no inconsciente, novos conteúdos que nunca

foram conscientes, podem ‘emergir’. Podemos ter a impressão, por exemplo, de que alguma coisa

está a ponto de tornar-se consciente - que “há alguma coisa no ar” ou que tem “aqui tem dente de

coelho”. A descoberta de que o inconsciente não é um simples depósito do passado, mas que está

também cheio de germes de idéias e de situações psíquicas futuras. Além de memórias de um

passado consciente longínquo, também pensamentos inteiramente novos e idéias criadoras

podem surgir do inconsciente – idéias e pensamentos que nunca foram conscientes. Como um

lótus, nascem das escuras profundezas da mente para formar uma importante parte da nossa

psique subliminar.

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O papel da Função Inferior no desenvolvimento Psíquico

A Função Inferior é a porta pela qual todas as figuras do inconsciente chegam à consciência. Nosso

reino consciente é como um quarto com quatro portas, e é pela quarta porta que a Sombra, o

Animus, a Anima, e a personificação do Si Mesmo entram...A F.I. está tão perto do inconsciente e

permanece tão bárbara, inferior, e não desenvolvida que naturalmente o ponto frágil da

consciência, através do qual as figuras do inconsciente podem passar...A F.I. é a ferida sempre

aberta da personalidade consciente mas , através dela, o inconsciente pode sempre entrar e assim

ampliar a consciência e gerar uma nova atitude.

Numa pessoa que desenvolveu apenas uma função superior, as duas funções auxiliares

funcionarão como a função inferior e aparecerão em personificações da Sombra, do Animus e da

Anima. Quando se conseguiram desenvolver e fechar três das portas internas, o problema da

quarta porta ainda permanecerá, pois esta é a que não deve, aparentemente, ficar fechada. Nela

temos de sucumbir, temos de ser derrotados, a fim de nos desenvolvermos mais.

A Função Inferior tende a ter, em seu aspecto negativo, um caráter bárbaro. A F.I. pode causar um

estado de possessão: se por exemplo, os introvertidos caírem na extroversão, eles o farão de uma

maneira bárbara e possessa. Na maioria das sociedades normais, as pessoas cobrem a sua função

inferior com uma Persona. Uma das principais razões pelas quais se desenvolve uma Persona é

para não se exporem inferioridades, em especial as da quarta função. A Persona é contaminada

pela nossa natureza animal e pelos nossos afetos e emoções inadequados...É espantosa a

profundidade com que a F.I. pode ligar-nos com o domínio da natureza animal que há dentro de

nós. A F.I. é realmente a conexão com os instintos mais profundos, com as raízes interiores, e é,

por assim dizer, o que nos liga com todo o passado da espécie humana...A passagem para uma

função auxiliar ocorre quando se sente que a atual maneira de viver se tornou ‘sem vida’, quando

se fica, de modo mais ou menos constante, entediado consigo mesmo e com as próprias

atividades.

Região intermediária, a F.I. não pode ser assimilada nos limites da consciência; está por demais

implicada com o, e contaminada pelo, inconsciente. Ela pode ser “elevada”, mas, no processo de

elevá-la, a consciência é rebaixada. No processo dessa interação dinâmica, a região intermediária

é estabelecida. Tocar a função inferior se assemelha a um a colapso interior num certo ponto

crucial da vida. Isso tem, contudo, a vantagem de vencer a tirania da função dominante no

complexo do Ego. A F.I. é uma ponte importante para a experiência das camadas profundas do

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inconsciente. Ir até ela e ficar com ela, e não fazer-lhe uma rápida visita, produzem uma enorme

mudança em toda a estrutura da personalidade. O Ego assimila a primeira função e fica satisfeito

por algum tempo. Posteriormente, ele assimila uma segunda função e vive alegremente, uma vez

mais. Ele arrancou ambas do inconsciente. Então o ego arranca uma terceira função, levando-a

para o plano da consciência. Agora já estão assimiladas, num nível civilizado, superior, com o qual

tentamos viver normalmente, três funções. Quanto à quarta função, já não é possível trazê-la para

o mesmo nível. Se fizer uma tentativa muito exagerada, acontecerá o contrário ela levará a

consciência do Ego para um nível completamente primitivo. Uma pessoa pode se identificar com a

quarta função e com os seus impulsos de forma absoluta, ocorrendo então aquelas mudanças

repentinas em que as pessoas de repente regridem a um nível animal.

“O um se torna dois e o dois, três; e do terceiro vem o um como o quarto”, Jung, citando a

alquimista Maria Prophetissa. Pode-se ilustrar isso de outra maneira: há um rato, um gato, um cão

e um leão. Os três primeiros animais podem ser domesticados se forem bem tratados, mas então

vem o leão. Ele se recusa a ser acrescentado como o quarto e devora os outros; no fim, só sobra

um animal. É assim que se comporta a F.I.; quando se manifesta, devora o resto da personalidade.

A quarta função é sempre o grande problema da vida; se não a vivemos, ficamos frustrados e meio

mortos, e todas as coisas se tornam tediosas; se a vivermos, o seu nível é tão baixo que não a

podemos usar...Então o que fazer? Nesse momento, deve ser usada a receita alquímica: fazer o

esforço de lidar com a quarta função, colocando-a num recipiente esférico, dando-lhe uma

estrutura de fantasia. Podemos seguir, não vivendo a quarta função de uma maneira concreta,

exterior ou interior, mas dando-lhe a possibilidade de expressar-se na fantasia, quer escrevendo,

pintando, dançando, ou através de qualquer outra forma de Imaginação Ativa. Jung descobriu que

a I.A. era praticamente o único meio de lidar com a quarta função.

A Sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; O pensamento mostra-

nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição dir-nos-á de

onde vem e para onde vai. Por exemplo: Um tipo racional cuja função mais diferenciada (superior)

é o ‘Pensamento’ (no sentido do intelecto), dispõe também de uma ou duas funções auxiliares de

natureza irracional, ou sejam, a Sensação (no sentido de função do real) e a Intuição (no sentido

de “percepção” por meio do inconsciente). Sua função inferior, portanto é o ‘Sentimento’ (a

função do valo), que se acha num estado de regressão, contaminada pelo inconsciente.

(Marie-Louise Von Frans – A Tipologia de Jung – A Função Inferior)

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Três das quatro funções de orientação psíquica se acham ao alcance da consciência. Isto concorda

com a experiência psicológica segundo a qual um tipo racional, por exemplo, cuja função mais

diferenciada (superior) é o pensamento (no sentido do intelecto), dispõe também de uma ou duas

funções auxiliares de natureza irracional, ou sejam a sensação (no sentido da função do real) e a

intuição (no sentido de percepção por meio do inconsciente). Sua função inferior, portanto, é o

sentimento (a função do valor), que se acha num estado de regressão, contaminado pelo

inconsciente.

A conexão com a atitude primitiva é mantida pela circunstância de que uma parte da

personalidade permanece na situação precedente, isto é, no estágio da inconsciência, e configura

a ‘Sombra’. A “falha” nem sempre aparece como uma ausência total, isto é, a função secundária

pode ser inconsciente ou consciente, mas é ‘autônoma’ e ‘obsessiva’, e jamais se deixa influenciar

pela vontade...Assim é que as pessoas de admirável amplitude de consciência sabem menos a

respeito de si próprias do que uma criança; tudo isto porque “o quarto não quis vir”: ficou em

cima ou embaixo, no reino do inconsciente.

A ‘Quaternidade’ é um Arquétipo que representa a ‘Totalidade’ que se encontra, em toda parte e

em todos os tempos, exemplos: juramento Pitagórico, ‘tetraktys’, tem as raízes da natureza

eterna; totalidade do horizonte – quatro pontos cardeais; quatro evangelistas; quatro estações do

ano; quatro castas na Índia; quatro caminhos no sentido da evolução espiritual no Budismo.

Por esta razão há também quatro aspectos psicológicos de orientação psíquica. Para nos

orientarmos psicologicamente, precisamos de quatro funções: a primeira diz-nos se existe alguma

coisa (Intuição); a segunda indica-nos em que consiste esta coisa (Sensação); a terceira nos diz se

tal coisa nos convém ou não (Sentimento); e uma quarta diz-nos de onde provém tal coisa e qual o

seu destino (Pensamento)...E isto precisamente porque o aspecto quaternário constitui o mínimo

exigido para a perfeição integral de um julgamento. O ideal de perfeição é o ‘redondo’, o círculo

(ex. mandalas), mas sua divisão natural e mínima é a Quaternidade.

(Jung – Psicologia da Religião Ocidental e Oriental – Obras Completas, vol. XI).