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FILOSOFIA OS VALORES: ANÁLISE E COMPREENSÃO DA EXPERIÊNCIA VALORATIVA. Jorge Barbosa, 2012 Quinta-feira, 12 de Janeiro de 12

Acção Humana e os Valores

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FILOSOFIA

OS VALORES:

ANÁLISE E COMPREENSÃO DA EXPERIÊNCIA VALORATIVA.

Jorge Barbosa, 2012

Quinta-feira, 12 de Janeiro de 12

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“A verdadeira divindade do homem branco é o metal e o papel forte, a que ele chama dinheiro. Quando se fala a um Europeu do Deus do Amor, ele faz uma careta e sorri. (...) O dinheiro é a sua divindade. (...) Muitos há que, pelo dinheiro, sacrificam o riso, a honra, a consciência, a felicidade e até mesmo mulher e filhos. Quase todos eles sacrificam a saúde (...) ao dinheiro. (...) No mundo dos brancos, a importância de um homem não é determinada nem pela sua bravura, nem pela sua coragem, nem pelo fulgor do seu espírito, mas sim pela quantidade de dinheiro que possui ou que é capaz de ganhar por dia, dinheiro esse que ele fecha no seu grande baú de ferro, o qual nenhum tremor de terra é capaz de destruir.” Tulavil, O Papalagui

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Valores e Valoração.

O texto relata o modo como um chefe da tribo Tiavéa avalia o modo como vive o Homem Branco – o Papalagui. Ele estranha os seus hábitos e comportamentos que são muito diferentes dos do seu povo. A questão que se põe é a de saber o que leva os dois grupos humanos a adoptarem modos de vida tão diversos.

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Valores e Valoração.A resposta é complexa, mas uma das razões dessa diferença é certamente os valores aceites e reconhecidos pelos dois grupos. O Homem Branco elegeu a riqueza e a posse de bens materiais como valor dominante, sobrepondo-o a valores aceites e reconhecidos pelos índios, tais como a bravura, a coragem ou a inteligência.

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Valores e Valoração.

Com efeito, a nossa acção orienta-se em função de valores. O que são então os valores? O que significa a expressão “a coragem é um valor”?

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Valores e Valoração.

O valor não é um objecto ou uma coisa; é uma qualidade que alguém atribui às coisas, às situações, aos acontecimentos. Essa atribuição torna-os desejáveis ou indesejáveis, objecto de adesão ou de rejeição, de preferência ou de repúdio, conforme se trata de valores positivos ou negativos.

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Valores e Valoração.

O valor não é uma qualidade do objecto em si próprio, mas uma qualidade que aparece na relação do homem com as coisas, pois é ele quem confere valor, de acordo com as circunstâncias.

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Valores e Valoração.

Assim, na sociedade arcaica, a que o texto se refere, o dinheiro não é um bem, isto é, não é reconhecido como tendo valor. Por isso, também não é considerado um critério para determinar a importância dos outros objectos.

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Valores e Valoração.

Os valores só surgem no mundo humano e social, sendo criações culturais que tomam forma na linguagem (sem linguagem não há valores) e são interiorizados através da educação.

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Valores e Valoração.

Os valores fixam os fins gerais da acção social e são seus princípios orientadores, determinando as opções e as decisões dos indivíduos e das instituições, e impõem-se exigindo o respeito dos membros do grupo em que vigoram.

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Os valores são os motivos, ou as razões, que justificam as nossas acções tornando-as preferíveis a outras. Dependem da cultura, pois são criados pelo Homem, reflectindo necessidades sociais fundamentais. Por isso, a novas necessidades, corresponde a emergência de novos valores, como, por exemplo, os valores ecológicos, surgidos recentemente nas sociedades tecnologicamente desenvolvidas; há também valores que desaparecem, por já não corresponderem às necessidades dos grupos humanos, onde foram aceites

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Valores e Valoração.

Quando reflectimos sobre a natureza e as características dos valores, costumamos reconhecer que eles:

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Valores e Valoração.

Valem positiva ou negativamente, pois aparecem sempre desdobrados num pólo positivo e num pólo negativo: beleza/fealdade, riqueza/pobreza, coragem/cobardia...

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VALORES E VALORAÇÃO.

Apresentam-se-nos sempre ordenados, de acordo com o grau de importância que lhes reconhecemos, implicando o estabelecimento de prioridades. Uns apresentam-se como sendo superiores a outros. Esta escala ou tábua de valores é variável e discutível. Podemos, por exemplo, em abstracto, considerar a liberdade como valor supremo ou considerar que, em certas circunstâncias, o valor segurança deve prevalecer.

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Valores e Valoração.

Sendo componentes essenciais da cultura, existem em todas as sociedades (carácter absoluto dos valores), podendo variar apenas o que é valorizado, isto é, o que é digno de apreço ou repúdio (carácter relativo dos valores).

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Valores e Valoração.

Implicam uma componente afectivo-emocional, pois lidamos com s valores de forma apaixonada. As nossas opções, em termos axiológicos, nem sempre têm uma justificação racional.

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Há uma Crise de Valores Espirituais?

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HÁ UMA CRISE DE VALORES ESPIRITUAIS?

“Se não se encontrar uma valor supremo, escreve André Malraux, dentro de cinquenta anos, a nossa civilização, que se acredita ser uma civilização da ciência, tornar-se-á uma das mais submissas aos instintos e aos sonhos elementares que o mundo já conheceu, por lhe faltar uma espécie de alimento espiritual que tenha domínio sobre o poder científico do homem moderno. Está claro, agora, que a ciência é incapaz de ordenar a vida. Uma vida é ordenada por valores.” Paulo Gusmão

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Há uma Crise de Valores Espirituais?

O texto de Paulo Gusmão faz referência a um sentimento de crise de valores, considerando que, faltando os valores espirituais, a humanidade será governada pelos instintos.

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HÁ UMA CRISE DE VALORES ESPIRITUAIS?

O desenvolvimento científico-tecnológico deu aos seres humanos um poder imenso, que tem de ser usado em seu benefício, e não contra eles. O autor chama a atenção para a necessidade de valores espirituais, que orientem a acção humana no sentido da humanização e do respeito pela pessoa, numa época em que se assiste a uma alteração dos critérios valorativos: valorização do poder económico e desvalorização, ou indiferença, perante valores como a solidariedade, a compaixão, a paz.

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Há uma Crise de Valores Espirituais?

Há autores que falam mesmo de ausência de valores, ou de vazio axiológico, que é responsável:

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Há uma Crise de Valores Espirituais?

Pelo enfraquecimento da capacidade crítica, criando condições para a fácil manipulação dos indivíduos, por parte daqueles que apelam aos instintos mais primários – à justiça popular, ao fanatismo religioso, ideológico ou rácico.

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Há uma Crise de Valores Espirituais?

Pela indiferença e descomprometimento político-social e pela desresponsabilização do indivíduo, face aos problemas sócio-políticos e à sua resolução. Parece ter-se caído num certo individualismo egoísta, que só valoriza as necessidades e interesses próprios.

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Há uma Crise de Valores Espirituais?

Pela perda de unidade e de coesão social, com o consequente isolamento dos indivíduos e comunidades, geradora de insegurança, violência, marginalidade, racismo e xenofobia.

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HÁ UMA CRISE DE VALORES ESPIRITUAIS?

Alguns autores, afirmam que esta mudança dos critérios valorativos e a crise dos valores espirituais e humanistas se devem à perda das crenças religiosas, já que eram elas a justificação e a razão de ser da existência e do reconhecimento de tais valores. No entanto, seria lamentável que os valores estivessem tão dependentes das crenças religiosas.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Há, então, autores que acreditam que o ateísmo do mundo moderno seria o responsável essencial pela crise dos valores e pela consequente crise civilizacional.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

No entanto, outros autores consideram positiva a separação entre os valores humanistas e a religião. Estes autores consideram positivo o facto de os valores passarem a justificar-se com base no próprio Homem.

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OS VALORES DOMINANTES NO MUNDO OCIDENTAL.

Para estes autores, é o valor da dignidade da pessoa humana que passa a servir de fundamento e de valor supremo, a que todos os outros se devem subordinar. Estes autores fazem um diagnóstico mais optimista da sociedade ocidental, reconhecendo inúmeros sinais de progresso axiológico e moral. Reconhecem que as sociedades ocidentais, pelo menos, ao nível dos valores e dos princípios:

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Combatem todas as formas de discriminação.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Defendem os direitos dos mais fracos e das minorias.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Eliminam a tortura e todas as formas de abuso de autoridade.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Lutam contra todas as formas de tirania e opressão.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Promovem o reconhecimento, a todos os seres humanos, de direitos fundamentais e de condições mínimas de desenvolvimento: direito à educação, à saúde, à alimentação e habitação, liberdade de culto...

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Seja como for, parece consensual que, na sociedade ocidental, prevalecem os valores económicos, o egoísmo e o individualismo. Estes acabam por dominar todos os outros. Por exemplo, os direitos dos mais fracos e das minorias podem ser postos em causa por razões de ordem económica.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Esta hierarquização de valores, onde os valores económicos são prioritários, coloca em segundo plano da escala axiológica valores como a lealdade, a honestidade, o interesse colectivo, a solidariedade, etc., e legitima comportamentos de marginalização dos menos aptos.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Trata supostamente os seres humanos de acordo com o seu mérito, mas esquece que o mérito e as capacidades de cada um dependem das condições sociais.

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Usa os seres humanos como meios e instrumentos, postos ao serviço dos interesses de outros (indivíduos ou povos).

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Os Valores Dominantes no Mundo Ocidental.

Parece, portanto, que há razões para estarmos preocupados e para falar de crise axiológica e valorativa.

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OS VALORES DOMINANTES NO MUNDO OCIDENTAL.Vivemos, para além disso, numa época de multiplicidade e conflitualidade axiológica, pois coexistem diferentes critérios de avaliação, que são defendidos pelos agentes sociais. As próprias instituições transmitem e procuram impor valores contraditórios, o que confunde as novas gerações e enfraquece o poder impositivo dos valores e das normas.

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Valores e Cultura.

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Valores e Cultura.

Já vimos que os valores são relativos e históricos. Esta característica dos valores permite que, em cada época histórica, e em cada cultura, surjam valores diferentes, ou que eles sejam hierarquizados de modo diferente.

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Definição de Cultura.

O Homem já foi definido como um ser biocultural, ou seja, o homem tem uma natureza estritamente biológica (é um animal) e uma outra essencialmente cultural, e que também define a sua natureza humana.

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Afinal, o que é a cultura?

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Valores e Cultura.

A cultura, em sentido amplo, pode ser definida como os aspectos de ordem material e de ordem espiritual que, relativamente a uma sociedade ou a um grupo, foram adquiridos com base em formas de vida ancestrais comuns.

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Valores e Cultura.Assim sendo, um grupo social apresenta crenças, tradições, valores e práticas que, por um lado, permitem uma ligação ao passado e, por outro lado, garantem a sua continuidade no futuro. Podemos até afirmar que: “Sem Homem, não há cultura. Mas sem cultura, também não há Homem.”

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Valores e Cultura.As aprendizagens, que visam a integração do indivíduo numa cultura, iniciam-se no momento do nascimento e só terminam no fim da vida. Uma destas aprendizagens é, justamente, a dos valores preferidos no seu meio social.

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Valores e Cultura.Há diferentes grupos humanos que valorizam e adoptam diferentes atitudes e comportamentos. Esta diversidade de práticas depende e condiciona os valores, fazendo evoluir os próprios critérios valorativos. Cada nova geração recebe um conjunto de valores mais ou menos institucionalizados, e transforma-os.

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Valores e Cultura.

A este fenómeno, chamamos dinâmica cultural.

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Valores e Cultura.Assim, a cultura e os valores transformam-se, e a própria diversidade cultural e valorativa é um valor, ou seja, as sociedades ocidentais avaliam positivamente a existência de uma sociedade multicultural, em que se valoriza o respeito pelas diferenças de padrões culturais e dos valores que os fundamentam

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Valores e Cultura.

Esta atitude, face à diversidade cultural, é uma aquisição recente.

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Valores e Cultura.No passado, a tendência era para cada sociedade avaliar os padrões culturais dos restantes grupos humanos, em função dos seus próprios valores. Esta tendência etnocêntrica alimentou fenómenos como o racismo e a xenofobia, tendo, em alguns casos, conduzido à destruição de povos e culturas que, na avaliação ocidental, eram considerados inferiores.

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Valores e Cultura.

Actualmente, apesar da aceitação do diálogo cultural e da valorização da multiculturalidade, continua-se a perseguir minorias étnicas, religiosas e sexuais.

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Valores e Cultura.A facilidade de comunicação a nível planetário permite uma troca de informações e de influências que pode conduzir à formação de padrões culturais, segundo os valores das culturas dominantes. São os interesses político-económicos das economias mais poderosas que orientam os padrões culturais a nível mundial.

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