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Acp Improbidade Equipamentos

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALProcuradoria da República no Pará

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARÁ

Procedimento Administrativo nº 1.23.000.000573/2009-20

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador

da República infra-subscrito, vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos

artigos 37, § 4º e 129, III da Constituição Republicana c/c o art. 6º, XIV, f, da Lei

Complementar nº 75/93, e na Lei nº 8.429/92, e com base nos documentos que

compõem o processo acima citado, ajuizar

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, em face de

DUCIOMAR GOMES DA COSTA, brasileiro, portador do CPF 248.654.272-87, Prefeito Municipal de Belém/PA, devendo ser citado na sede da Prefeitura Municipal, situada na Praça Dom Pedro II, s/n, CEP Belém/PA;

Rua Domingos Marreiros, 690 – Umarizal – Belém/PA - CEP 66.055-210 - Fone: (91) 3299-0100www.prpa.mpf.gov.br

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com o propósito de responsabilizar os agentes causadores de

dano à Administração Pública, consoante os fundamentos fáticos e jurídicos a seguir

aduzidos.

1 - DOS FATOS

1. Em 31/12/2003 foi firmado entre a União, por meio do

Ministério da Saúde, e o Município de Belém o Convênio 2536 – SIAFI 497543

(folhas 166/173 do Anexo 1), tendo por objeto a aquisição de equipamentos e

materiais permanentes visando ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde em

Belém.

Para a consecussão do objeto do convênio foi prevista a

transferência de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) de recursos federais, com

contrapartida municipal no valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), perfazendo

o valor total de R$ 3.300.000,00 (três milhões e trezentos mil reais).

Nos termos do referido convênio ficou ainda acordado que todo

o objeto do Convênio seria cumprido de acordo com o Plano de Trabalho

previamente apresentado pelo Município de Belém e aprovado pelo Ministério da

Saúde (folhas 03/139 do Anexo I).

A estratégia de atuação consistia na implantação de unidades

hospitalares em cada distrido administrativo, em um total de sete, nos seguintes

locais:

a) Distrito Administrativo da Sacramenta: Pronto-Socorro

Distrital da Sacramenta;

b) Distrito Administrativo do Outeiro: Unidade de Saúde de

Outeiro;

c) Distrito Administrativo do Entroncamento: Unidade de Saúde

da Marambaia;

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d) Distrito Administrativo de Icoaraci: Unidade de Saúde de

Icoaraci;

e) Distrito Administrativo do Bengui: Unidade de Saúde do

Tapanã;

f) Distrito Administrativo do Guamá: Unidade de Saúde do

Jurunas;

g) Distrito Administrativo do Mosqueiro: Unidade Mista do

Mosqueiro.

O Convênio teve sua vigência iniciada em 31/12/2003 e

término em 01/01/2008. Durante o referido período foi repassado pela União o total

do valor acordado, em duas parcelas, com liberações em 18/06/2004 (R$

1.598.721,00) e 05/11/2004 (R$ 1.401.279,00)

Conforme informação constante no Portal da Transparência

(www.portaldatransparencia.gov.br), o referido Convênio encontra-se atualmente em

situação de inadimplência.

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2. Em 11/10/2005 – quando há quase um ano já havia sido

liberada a totalidade da verba relativa ao Convênio – alguns integrantes do Conselho

Gestor da Unidade de Saúde da Marambaia – um dos estabelecimentos que

deveriam ser beneficiados com os equipamentos adquiridos a partir do Convênio –

procuraram o Ministério Público Federal para denunciar as péssimas condições de

funcionamento da Unidade, o que gerou a instauração, nesta Procuradoria da

República, do Procedimento Administrativo 1.23.000.002007/2005-29.

No curso do referido Procedimento Administrativo, o Ministério

Público Federal realizou vistoria na Unidade de Saúde da Marambaia (folhas

241/248 dos autos principais), em 17/01/2007, tendo constatado graves

irregularidades na execução do Convênio em questão, em especial o

desaparecimento dos autos da Tomada de Preços 30/04 – procedimento licitatório

através do qual os equipamentos previstos no Plano de Trabalho teriam sido

adquiridos com os recursos do Convênio – e a constatação de que a grande maioria

dos equipamentos não se encontravam na referida Unidade.

Foram solicitadas também informações ao Ministério da Saúde,

através de sua Divisão de Convênios e Gestão, informações sobre a prestação de

contas do Convênio em questão, tendo este, em resposta, encaminhado o Relatório

de Verificação 55-2/2006 (folhas 261/284 dos autos principais), realizado em

06/06/2006 pelas servidoras Regina Macedo Lima e Marilda de Fátima dos Santos

Anchieta.

A equipe igualmente não teve acesso aos atos da Tomada de

Contas 030/2004, mas apenas à ata de abertura, realizada em 26/07/04, tendo

constatado que o objeto da licitação foi adjudicado pelas sociedades empresárias

Comercial Conect Ltda., Imperador da Máquina e Perfil Móveis e Comércio Ltda

(termo de homologação às folhas 315 dos autos principais).

Foi constatado que os bens adquiridos não estavam em

conformidade com as especificações previstas no Plano de Trabalho Aprovado e

que, a ocasião, havia sido cumprido apenas 60% do valor do Convênio, dos quais 48

% estavam de acordo com o Plano de Trabalho e 12% em desacordo. O

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inadimplemento, portanto, era de R$ 1.716.000,00 (um milhão e setecentos e

dezesseis mil reais) – 52% do valor total do Convênio – sendo R$ 1.320.000,00 (um

milhão e trezentos e vinte mil reais) – 40% – não executados e R$ 396.000,00

(trezentos e noventa e seis mil reais) – 12% – executados em desconformidade.

Em resposta ao Ministério da Saúde, tendo em vista as

constatações acima mencionadas, o Prefeito Municipal de Belém, ora demandado,

confirmou ter ciência e concordância com o remanejamento ilegal dos equipamentos

adquiridos, justificando, de maneira lacônica, que isto se deu de acordo com o

objeto maior do convênio (folhas 285 dos autos principais).

Ante as ilegalidades constatadas, e os gravíssimos efeitos que

dela estavam advindo, já que as Unidades que deveriam ser beneficiadas com o

Convênio enfrantavam inúmeras dificuldades, foi ajuizada, em 11/09/07, Ação Civil

Pública (folhas 06/41dos autos principais) com o pedido de promover o efetivo

cumprimento do Convênio celebrado, com a alocação dos equipamentos previstos

no Plano de Trabalho nas Unidades para as quais foram destinados.

3. A referida Ação Civil Pública, autuada sob o número

2007.39.00.008412-5, foi distribuída à 2ª Vara Federal da Seção Judiciária do

Estado do Pará, na qual, após despacho inicial para que o Município de Belém e a

União apresentassem manifestação sobre o pedido de liminar (folhas 401 dos autos

principais) e com a manifestação da União (folhas 405/407 dos autos principais) e

Município (folhas 413/419 dos autos principais) foi proferida decisão, em 08/10/07 (folhas 448/453 dos autos principais), concedendo a medida liminar requerida, para

que o Município de Belém, no prazo de 60 dias, cumprisse as recomendações

constantes no já mencionado relatório de vistoria 55-2/2006, em especial com a

correta destinação de todos os bens e equipamentos, de acordo com o previsto no

Plano de Trabalho do Convênio.

O Município de Belém foi citado e intimado da referida decisão

em 10/10/07, com o mandado tendo sido junto aos autos do processo em 19/10/07 (folhas 459 e 460 dos autos principais).

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Em 30/01/08 o Ministério Público Federal comunicou ao Juízo o

descumprimento da decisão liminar pelo Município de Belém (folhas 466/468 dos

autos principais), o qual, ouvido pelo Juízo, aifrmou, em 24/02/08 já ter concluído o

remanejamento dos bens para adequá-los aos termos do Convênio (folhas 473/475

dos autos principais)

A fim de se resolver o impasse foi feito o pedido de nova

vistoria, a qual restou cumprida através do Parecer Técnico 03/2008 do DENASUS

(folhas 626/634 dos autos principais), proferido em 24/06/08, que confirmou a

continuidade no descumprimento do pactuado no Convênio, sendo devido ao Fundo

Nacional de Saúde ressarcimento no valor de R$ 1.539.379,49 (um milhão e

quinhentos e trinta e nove mil e trezentos e setenta e nove reais e quarenta e nove

centavos)

Foi proferida então, nova decisão, em 27/06/08 (folhas

636/642), em que doi cominada multa pessoal contra a então Secretária Municipal

de Saúde, para garantir o cumprimento da decisão, além de se enviar cópia do

processo a esta Procuradoria da República a fim de que fosse averiguada a possível

prática de ato de improbidade administrativa.

Em 03/07/08 o Municípo de Belém (folhas 653/665) apresentou

justificativas e requereu a revogação da decisão que cominara multa pessoal,

alegando que a liminar já estaria, naquele momento, sendo cumprida, tendo o Juízo

determinado, em 09/07/08 (folhas 1024/1027 dos autos principais), que fosse

realizada diligência, através de Oficial de Justiça, para verificar o cumprimento da

decisão liminar.

Referida diligência, realizada no período de 21/07/08 a

24/07/08 pelos Oficiais de Justiça Aldrin José Guiomarino de Lucena, Júlia Toshiko

Nagashima, Rafael Correa Lessa e Sandoval Roberto de Castro Lacerda, tendo sido

acompanhada por representantes do Ministério Público Federal, Advocacia Geral da

União, Município de Belém e Ministério da Saúde, gerou Laude de Vistoria (folhas

1060/1100), que confirmou a continuidade no descumprimento do pactuado no

Convênio e da decisão liminar proferida, já que diversos bens teoricamente

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adquiridos com recursos do Convênio não foram localizados nas Unidades para as

quais haviam sido destinados

Tão grave quanto a reiteração do descumprimento, no entanto,

foi a constatação de que alguns bens haviam sido remanejados à Unidades devidas,

mas se encontravam ainda guardados, dentro das respecivas caixas, em um

flagrante caso de desperdício de dinheiro público e grave lesão à sociedade, que é

privada de usufruir da utilidade que referidos bens poderiam proporcionar, não se

perdendo de vista que se tratam de bens voltados à atividade de saúde,

fundamental para garantir o direito à vida da população.

A título de exemplo, foram constatados, entre outros, os

seguintes equipamentos não instalados: 01 equipamento de ultra-som (folhas 1061 dos autos principais); 08 microcomputadores (folhas 1062 dos autos principais); 01 unidade de radiodiagnóstico (folhas 1062 dos autos principais); 02 processadoras automáticas de filme para raio X (folhas 1063 dos autos principais); 01 protetor portátil para raio X (folhas 1063 dos autos principais); 01 passa-chassis (folhas 1063 dos autos principais); 01 negatoscópio 4 corpos (folhas 1063 dos autos principais); 01 cama fawkker adulto (folhas 1063 dos autos principais); 01 esfignomanômetro de pedestal adulto (folhas 1064 dos autos principais); 02 negatoscópios 01 corpo (folhas 1064 dos autos principais); 01 esfignomanômetro de pedestal infantil (folhas 1054 dos autos principais); 07 condicionadores split 12.000 btus (folhas 1066 dos autos principais); 01 berço com grade (folhas 1058 dos autos principais); 01 esfignomanômetro de pedestal adulto (folhas 1069 dos autos principais); 02 negatoscópios 01 corpo (folhas 1069 dos autos principais); 01 esfignomanômetro de pedestal infantil (folhas 1069 dos autos principais); 01 equipamento de ultra-som (folhas 1071 dos autos principais); 01 protetor portátil para raio X (folhas 1073 dos autos principais).

4.Tendo em vista que as inúmeras ilegalidades constatas

indicavam a ocorrência de atos de improbidade administrativa, a Ação Civil Pública

para para garantir o efetivo cumprimento do Convênio não mais abrangia a

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totalidade dos aspectos envolvidos, motivo pelo qual foi aberto o Procedimento

Administrativo 1.23.000.000573/2009-20, que deu origem a esta Ação de

Improbidade Administrativa.

Instaurado o procedimento, foram solicitadas informações ao

Ministério da Saúde acerca da prestação de contas do Convênio 2536/2003, tendo

este respondido (folhas 1135 dos autos principais) com a informação de que foi

emitido o Parecer Gescon 1563/09 (folhas 1140/1142 dos autos principais), pela não

aprovação das contas do Convênio, no valor de R$ 939.472,10 (novecentos e trinta

e nove mil e quatrocentos e setenta e dois reais e dez centavos).

Foi solicitado também o envio, pelo DENASUS, da última

vistoria realizada em relação ao Convênio, tendo este enviado cópia da Auditoria

9226 (folhas 1160 e seguintes dos autos principais), realizada em 03/11/09 a

10/11/09 pelo sservidores Aurora Maria Pires Caldas, Domingos Hilário Paiva

Cordovil e Eucineide do Carmo Esteves, em que foi constatada a falta de 324

materiais / equipamentos nas Unidades de Saúde inspecionadas, além de uma série

de equipamentos sem tombemento e sem utilização.

Verifica-se ainda que, por conta do Parecer GESCON 6302, de

11/12/09, o Ministério da Saúde concluiu pela não aprovação das contas do

Convênio, notificando Edmilson Britor Rodrigues e Duciomar Gomes da Costa, ex-

Prefeito e atual Prefeito de Belém, a recolherem, respectivamente, R$ 4.778.416,12 (quatro milhões e setecentos e setenta e oito mil e quatrocentos e dezesseis reais e

doze centavos) e R$ 1.157.445,72 (um milhão e cento e cinquentae sete mil e

quatrocentos e quarenta e cinco reais e setenta e dois centavos), totalizando o

montante de R$ 5.935.861,84 (cinco milhões e novecentos e trinta e cinco mil e

oitocentos e sessenta e um reais e oitenta e quatro centavos).

5. Do exposto, conclui-se que o demandado praticou atos de

improbidade administrativa em diversas ocasiões, ao a) não apresentar bens que

teriam sido adquiridos em decorrência do Convênio, b) não apresentar o

procedimento de licitação a partir do qual teriam sido adquiridos, c) permitir o

descumprimento das cláusulas pactuadas em Convênio celebrado com a União

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Federal; d) prestar em diversas ocasiões afirmações falsas em Juízo, e) descumprir

reiteradamente decisão judicial e f) permitir que bens adquiridos permanecessem

longo período de tempo sem utilização, incidindo, portanto, nas infrações previstas

nos artigos 10, X, 11, caput e II da Lei 8.429/92.

Os atos praticados acarretaram prejuízo no valor total de R$ 5.935.861,84 (cinco milhões e novecentos e trinta e cinco mil e oitocentos e

sessenta e um reais e oitenta e quatro centavos).

2– DO DIREITO

1. A questão da improbidade administrativa é de extrema

relevância em nosso ordenamento jurídico, merecendo posição de destacada

importância na Constituição Federal, que, em seu art. 37, elenca os princípios

básicos que devem reger toda a atividade administrativa no Estado brasileiro:

legalidade, moralidade, publicidade, impessoalidade e eficiência.

A par disto, estabeleceu, em seu art. 37, § 4º as conseqüências

que o ato de improbidade administrativa acarreta ao seu responsável:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos

Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,

ao seguinte:

(...)

§4º Os atos de improbidade administrativa importarão a

suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a

indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e

gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

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Estabeleceu, ainda, em seu art. 37, § 5º, que, embora deva

haver previsão legal acerca do prazo prescricional para a aplicação das penalidades

aplicáveis em decorrência da improbidade administrativa, a pretensão de

ressarcimento ao Erário pelos prejuízo causado é imprescritível, podendo ser

exercida a qualquer tempo.

Acerca da importância da questão da probidade administrativa

em nossa sociedade, vale a pena transcrever a seguinte passagem:

A corrupção, em verdade, é um fenômeno social que surge e se desenvolve em proporção semelhante ao aumento do meio circulante e à intepenetração de interesses entre os componentes do grupamento. Sob esta ótica, os desvios comportamentais que infrinjam a normatividade estatal ou os valores morais de um determinado setor em troca de uma vantagem correlata, manifestar-se-ão como formas de degradação dos padrões ético-jurídicos que devem reger o comportamento individual nas esferas pública e privada.(Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, Improbidade Administrativa, Lumen Juris, 3ª ed., p. 3).

Objetivando regular o disposto no artigo retro transcrito, foi

editada a Lei nº 8.429, de 02/06/92, que define os atos de improbidade

administrativa, em seus arts. 9, 10 e 11, onde são considerados como atos

atentatórios à probidade administrativa os que importem em enriquecimento ilícito,

prejuízos ao erário ou que atentem contra os princípios da administração pública.

A referida lei classificou os atos de improbidade administrativa

em três categorias: a) os que importam em enriquecimento ilícito (definidos no art.

9º); b) os que causam prejuízo ao Erário (previstos no art. 10); c) os que atentam

contra os princípios da Administração Pública (mencionados no art. 11).

As respectivas sanções encontram-se cominadas no art. 12,

nos incisos I, II e III, conforme a natureza do ato praticado.

Vejamos o que estabelece a referida Lei:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa

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lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que

enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou

dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º

dessa Lei, e notadamente:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta

contra os princípios da administração pública qualquer ação ou

omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,

legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

Devemos relembrar que os incisos do art. 10 e 11 da referida

Lei são exemplificativos e não taxativos. Sendo assim, o prejuízo ao erário e

violação aos princípios administrativos não constantes em qualquer dos incisos

destes artigos serão punidos da mesma forma que aqueles fatos devidamente

exemplificados.

O combate à improbidade administrativa mostra-se como uma

preocupação de natureza mundial. A Declaração de Direitos do Homem e do

Cidadão, em seu art. 15, expressamente consigna que a sociedade tem o direito de

pedir contas a todo agente público pela sua administração e, em seu art. 14, aduz

ainda que todos os cidadãos têm o direito de verificar, por si ou por seus

representantes, da necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente,

de observar seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a cobrança e a

duração.

Vale ressaltar ainda que, de acordo com a Convenção

Interamericana Contra Corrupção (CICC), firmada em Caracas em 29 de março de

1996, e aprovada no Brasil mediante o Decreto Legislativo 152/2002 e promulgada

pelo Decreto 4.410/02. prevê que a corrupção solapa a legitimidade das instituições

públicas e atenta contra a sociedade, a ordem moral e a justiça, bem como contra o

desenvolvimento integral dos povos.

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Chega-se, portanto, à conclusão de que a probidade na

Administração Pública reveste-se do caráter de direito fundamental de toda a

sociedade, em razão de seu caráter difuso:

Muito embora patrimônio público moralidade administrativa se liguem de forma intensa, senão na integralidade, às manifestações do Estado, e, por conseguinte, restem avaliadas ante o cariz do interesse público, ao que parece, em termos de classificação, estariam mais voltadas a pertencer aos chamados direitos fundamentais de terceira geração, ou terceira dimensão, e, mais especialmente, “direitos de solidariedade”.(Fernando Rodrigues Martins. Controle do Patrimônio Público. RT, 3ª ed., p. 62).

2. A legitimidade do Ministério Público para atuar em defesa

dos interesses difusos e coletivos, propondo as ações cabíveis visando a reparação

dos danos causados, no caso presente, para salvaguardar o patrimônio público,

advém do próprio texto constitucional, o qual, em seu art. 129, assim preleciona:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:III - Promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

O doutrinador Hugo Nigro Mazzili, tecendo considerações sobre

o tema, coloca com muita propriedade:

Como se viu, a Constituição de 1988 quebrou o sistema anterior em que as ações civis públicas eram conferidas ao Ministério Público caso a caso, por lei expressa (v.g., LC 40/81, art. 3o, III). Em muito a nova Constituição ampliou a titularidade da ação civil pública para o Ministério Público, destinando-a, agora, à proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, em disciplina mais ampla do que a que lhe dera a própria Lei n. 7.347/85. A norma de extensão da Lei n. 7.347/85, que tinha sido vetada, hoje acabou consagrada no texto constitucional, que permite a defesa, pelo Ministério Público, de outros interesses difusos e coletivos, além dos que expressamente

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enumerou.

Por outro lado, a Lei Complementar n.º 75/93 (Lei Orgânica do

Ministério Público da União), dispõe:

Art. 6º Compete ao Ministério Público da União:(...)IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para:(...)b) a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, dos bens e direitos de valor estético, histórico, turístico e paisagístico.

No caso presente, onde se pretende resguardar o patrimônio

público da União, ferido por omissão do Chefe do Poder Executivo, Municipal, resta

o Ministério Público legitimado, da mesma forma, nos exatos termos dos dispositivos

acima transcritos.

Não bastasse tais dispositivos legais que garantem ao

Ministério Público a defesa dos direitos difusos e coletivos, o Superior Tribunal de

Justiça assim reconheceu:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. LEGITIMAÇÃO ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ARTS. 127 E 129, III. LEI 7.347/85 (ARTS. 1º, IV, 3º, II, E 13). LEI 8.429/92 (ART. 17). LEI 8.625/93 (ARTS. 25 E 26). 1. Dano ao erário municipal afeta o interesse coletivo, legitimando o Ministério Público para promover o inquérito civil e ação civil pública objetivando a defesa do patrimônio público. A Constituição Federal (art. 129, III) ampliou a legitimação ativa do Ministério Público para propor Ação Civil Pública na defesa dos interesses coletivos. 2. Precedentes jurisprudenciais. 3. Recurso não provido

Sendo, portanto, a preservação do patrimônio público um

direito coletivo a ser protegido, inquestionável é a legitimidade do Ministério Público

para atuar em sua defesa, em especial o erário, fruto do esforço e do trabalho de um

povo que pretende lhe seja dado um destino certo e principalmente legal.

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3. Quanto à legitimidade passiva, verifica-se que o ora

demandado é o administrador municipal desde o ano de 2005, estando, portanto, à

frente de todo o funcionamento administrativo do Município desde a primeira ocasião

em que foi constatada a ausência dos equipamentos relativos ao Convênio dos

locais para os quais estavam destinados, em vistoria realizada pelo Ministério da

Saúde em 06/06/06.

Ademais, o demandado demonstrou ter plena ciência e

concordância de toda a situação, uma vez que, em ofício dirigido a esta

Procuradoria da República em 21/11/06 (folhas 285) afirmou que as alterações

haviam sido realizadas para atender ao fim maior do Convênio.

Ademais, no decorrer da Ação Civil Pública foram proferidas

diversas decisões judiciais determinando o cumprimento do Convênio celebrado, as

quais foram simplesmente ignoradas pelo ora demandado, que ainda prestou

informações falsas, por meio de sua Procuradoria, já que, conforme já narrado

acima, em mais de uma ocasião foi informado o devido cumprimento integral do

Plano de Trabalho do Convênio, sendo que em todas as ocasiões a informação foi,

logo em seguida, desmentida pelas vistorias realizadas.

4. DOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS

1. Fora a prova documental já produzida, protesta este parquet,

em especial, pelo depoimento dos requeridos, oitiva de testemunhas, juntada de

novos documentos e por outras provas que se fizerem necessárias para o deslinde

do feito.

5. DO REQUERIMENTO

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Ante as evidências de improbidade, já que constatado que os

requeridos praticaram atos causando lesão ao Erário e violação ao princípios

administrativos, ao não observar a legislação vigente, postula o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL:

A) a notificação do réu para apresentação de defesa preliminar;

B) o recebimento da petição inicial e a citação do réu no endereço mencionado

no preâmbulo para, se quiser, contestar a presente ação, no prazo legal, sob pena

de revelia, devendo da carta citatória constar a advertência de que não sendo

contestada a ação, presumir-se-ão como verdadeiros os fatos articulados, ensejando

o julgamento antecipado da lide, como prescreve o art. 330, inciso I, do CPC;

C) a intimação da União, na pessoa de seus representantes legais, para que tome

ciência da propositura da ação e, demonstrando o interesse jurídico, participe da

mesma;

D) seja a presente ação julgada procedente para, reconhecendo a

responsabilidade do requerido pelas irregularidades apontadas, condená-lo, a teor

do art. 12, inciso II, da lei 8.429:

d.1. à perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente aos patrimônios e ao ressarcimento integral dos danos causados ao erário, com os acréscimos legais;d.2. à perda das funções públicas, caso estejam ou venham a exercerd.3. à suspensão dos direitos políticos por 10 (dez) anos;d.4. ao pagamento de multa civil de 3 vezes o valor do acréscimo patrimonial ou prejuízo ao erário.d.5. à proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios fiscais ou creditícios, direta e indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 10 (dez) anos.

E) a arcar com o pagamento das custas processuais em sua integralidade e com

os ônus da sucumbência;

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F) o deferimento de todos os meios de prova admitidos em direito, em especial

oitiva de testemunhas e perícias técnicas nos documentos, sem embargo das

demais a serem especificadas em fase posterior;

Dá-se à presente causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 5.935.861,84 (cinco milhões e novecentos e trinta e cinco mil e oitocentos e

sessenta e um reais e oitenta e quatro centavos).

Pede deferimento.

Belém (PA), 13 de maio de 2010.

BRUNO ARAÚJO SOARES VALENTE Procurador da República

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