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AGRESSÃO: Comportamento Inato ou Aprendido? Josilene Soares Carvalho Santos (Criado em 28/8/2011 10:52:00) O comportamento agressivo e seus mecanismos geradores são muito complexos e variáveis dentro do reino animal. Assim, não é possível relacionar uma causa simples e única da agressão (HUNTINGFORD & CHELLAPPA, 2006). Contudo, há algumas pesquisas que apontam o gene mono-amino-oxidase (MAOA), que codifica uma proteína que ajuda a quebrar uma série de sinalizadores químicos no cérebro, incluindo a dopamina e a serotonina, como responsável por respostas agressivas quando apresenta uma variação e a proteína codificada possui baixa atividade (MAOA-L). Em 2006, Bonalume Neto relatou sobre Ralph Greenspan e Herman Dierick, do Instituto de Neurociências de San Diego, na Califórnia, que compararam as moscas mais pacatas e as mais belicosas, e descobriram que cerca de oitenta genes tinham ação mais intensa ou mais fraca, e eram "expressados" de forma distinta. Isso pode apontar a complexidade dos mecanismos que desencadeiam os comportamentos agressivos. Nathalia Fontaine, da Universidade de Indiana, acredita que as mulheres só são violentas quando o ambiente exige (ou seja, a agressão feminina é aprendida), enquanto que os homens são porque são homens, sendo a agressão neles inata. A reportagem de MIOTO na Folha.com, diz que “Fontaine acompanhou mais de 9 mil gêmeos que nasceram no

Agressão: Comportamento inato ou aprendido? por Carvalho-Santos, J. S

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Page 1: Agressão:  Comportamento inato ou aprendido? por Carvalho-Santos, J. S

AGRESSÃO: Comportamento Inato ou Aprendido?

Josilene Soares Carvalho Santos

(Criado em 28/8/2011 07:52:00)

O comportamento agressivo e seus mecanismos geradores são muito complexos

e variáveis dentro do reino animal. Assim, não é possível relacionar uma causa simples

e única da agressão (HUNTINGFORD & CHELLAPPA, 2006). Contudo, há algumas

pesquisas que apontam o gene mono-amino-oxidase (MAOA), que codifica uma

proteína que ajuda a quebrar uma série de sinalizadores químicos no cérebro, incluindo

a dopamina e a serotonina, como responsável por respostas agressivas quando apresenta

uma variação e a proteína codificada possui baixa atividade (MAOA-L).

Em 2006, Bonalume Neto relatou sobre Ralph Greenspan e Herman Dierick, do

Instituto de Neurociências de San Diego, na Califórnia, que compararam as moscas

mais pacatas e as mais belicosas, e descobriram que cerca de oitenta genes tinham ação

mais intensa ou mais fraca, e eram "expressados" de forma distinta. Isso pode apontar a

complexidade dos mecanismos que desencadeiam os comportamentos agressivos.

Nathalia Fontaine, da Universidade de Indiana, acredita que as mulheres só são

violentas quando o ambiente exige (ou seja, a agressão feminina é aprendida), enquanto

que os homens são porque são homens, sendo a agressão neles inata. A reportagem de

MIOTO na Folha.com, diz que “Fontaine acompanhou mais de 9 mil gêmeos que

nasceram no Reino Unido entre 1994 e 1996, e percebeu que uma maior agressividade

em meninas estava ligada aos fatores ambientais: família desestruturada, sentimento de

rejeição, evasão escolar. Entre meninos, o ambiente não parecia importar tanto, eles já

tinham um nível médio de agressividade mais alto naturalmente. Fontaine ainda inferiu

que os irmãos gêmeos idênticos dos meninos mais violentos também eram muito

agressivos, mesmo que os dois tivessem sido criados em famílias separadas; já as

meninas gêmeas idênticas criadas separadas podiam ter comportamentos completamente

diferentes.”

Certamente a agressividade assim como outros comportamentos sociais, é

determinada pelo genoma de cada indivíduo juntamente com as influências ambientais.

Dessa forma, afirmar que apenas um defeito em um gene seja o responsável por

comportamentos agressivos é extremamente arriscado, já que em muitos casos não é

possível encontrar uma ligação de um gene e a violência em algumas pessoas que nunca

sofreram maus tratos.

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Os resultados de pesquisas que apontam a MAOA-L que ajuda a quebrar uma

série de sinalizadores químicos no cérebro, incluindo a dopamina e a serotonina, como

responsável por respostas agressivas, associadas a influências ambientais, podem estar

supervalorizando as atividades do gene MAOA e esquecendo que muitos outros genes

podem estar também associados com o comportamento agressivo.

Alguns desses pesquisadores tratam da agressão como se fosse uma simples

doença que pode ser amenizada ou reparada com drogas, o que pode estar associado

com retornos financeiros e não na busca de elucidação das causas do comportamento

agressivo.

Referências

BONALUME NETO, R. Grupo de cientistas "cria" agressividade em laboratório.

Disponível em

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15016.shtml>. Acesso em:

27 de agosto de 2011.

BBC Brasil.com. Cientistas descobrem 'gene do crime'. Disponível em <

http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/020802_genecrimecg.shtml>. Acesso

em: 27 de agosto de 2011.

Huntingford, F. A.; Chellappa, S. 2006. Agressão. In: Yamamoto, M. E.; Volpato, G. L.

(Orgs.). Comportamento animal. Capítulo 9, Natal – RN, EDUFRN.

MIOTO, R. Agressividade é natural aos meninos e pode surgir nas meninas. Disponível

em <http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/885297-agressividade-e-natural-aos-

meninos-e-pode-surgir-nas-meninas.shtml>. Acesso em: 27 de agosto de 2011.

Yong, E. Gene da Agressão. (Trad. Souza, H. C.) Disponível em

<http://www.traca.com.br/blog-biofilosofia/21-01-2009/12/gene-da-agressao>.

Acesso em: 27 de agosto de 2011.