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Regra-matriz de incidência tributária I: Hipótese tributária e fato jurídico tributário São Paulo, 24 de março de 2014 Profª. Marina Vieira de Figueiredo

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Regra-matriz de incidência tributária I: Hipótese tributária

e fato jurídico tributário

São Paulo, 24 de março de 2014

Profª. Marina Vieira de Figueiredo

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CF

B---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

LEI

A--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

LEI

B---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

S1 - Plano de Expressão (enunciados

prescritivos)

leitura

faturamento, renda, proprietário, lucro

interpretação

S2 - Plano Proposicional

(significações isoladas)

H C S3 - Plano Normativo

(normas jurídicas)

S4 - Plano de Sistematização (relação

entre normas)

Construção do sentido dos textos jurídicos

N1

N2 N3

N4

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O que é norma jurídica?

Onde houver direito há normas jurídicas

Normas Jurídicas em sentido amplo - enunciados prescritivos, proposições jurídicas e textos de lei.

Normas Jurídicas em sentido estrito - significação que atribuímos aos textos jurídicos, estruturadas na forma hipotético-condicional (HC), capaz de orientar condutas intersubjetivas (sentido deôntico completo).

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Normas tributárias

Normas tributárias (normas jurídicas em sentido estrito = antecedente + consequente)

Normas tributárias em sentido estrito – normas que instituem tributos (regra-matriz de incidência tributária).

Normas tributárias em sentido amplo – todas as demais normas, consideradas operativas ou funcionais, que colaboram na incidência e concreção da RMIT.

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Estrutura da norma jurídica

• Estrutura específica para a consecução dos fins visados pelo direito positivo

Se o fato (f) ocorrer em determinada coordenada espaço-temporal, o sujeito (S’) ficará obrigado (O), proibido (V) ou permitido (P) a realizar certa conduta em face do sujeito (S’’)

D [H (f) R (S’(V, O, P) S”)]

• D = dever-ser neutro- indica que a relação de implicação é artificialmente construída pelo direito por um ato de vontade da autoridade competente;

• H = antecedente normativo – indica as notas de fato (f) contingente (de possível ocorrência);

• -> = relação de implicação entre fato e relação jurídica;• R = consequente – indica as notas da relação jurídica a ser instaurada pela implicação

deôntica, em que S’ é o sujeito ativo e S’’ o sujeito passivo;• (V, O, P) – dever-ser modalizado – são apenas três as possibilidades de regulação da

conduta.

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Classificação das normas jurídicas

Normas de estrutura e de comportamento

Normas primárias e secundárias

Normas gerais e individuais / abstratas e concretas

Dado o fato de auferir renda, deve ser o dever de pagar IR

Dado o fato de não pagar IR, deve ser o dever de pagar multa

Dado o fato de não pagar IR e a multa correspondente, deve ser a obrigação de pagar contra a sua vontade mediante atuação do Poder Judiciário

norma primária sancionadora

norma secundária

N.G.A H C

Abstrata - descrição futura(“se…..”)

Geral - sujeitos indeterminados(Sa, Sp)

FJ RjConcreta - descrição

passada(“dado…..”)

Individual - sujeitos determinados(Fisco Municipal e João)

N.I.C

norma primária dispositiva

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Regra-matriz de incidência tributária

Técnica para a interpretação do direito tributário. Construção da Teoria Geral do Direito e da Ciência do Direito Tributário feita com a finalidade de reduzir complexidades inerentes à interpretação e à aplicação dos textos de direito positivo.

Visa responder a 7 questões básicas sobre a norma que institui o tributo: (i) ação? (ii) quando? (iii) local? (iv) a quem pertence o direito? (v) a quem pertence o dever? (vi) sobre o que se paga? e (vii) em que proporção?

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Regra-matriz de incidência tributária

Funções operacionais do esquema lógico da regra-matriz:

Delimitar o âmbito de incidência normativa; eControlar a constitucionalidade e a legalidade da norma instituída

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Regra-matriz de incidência tributária

Norma que estipula a incidência do tributo; Norma tributária em sentido estrito;Norma com sentido deôntico completo (regula a

conduta consistente na obrigação de pagar tributo – traz as notas do fato bem como da relação jurídica);

RMIT = [ H (Cm . Ce . Ct) → C S’R S”)]

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RMIT

H

previsão abstrata de fato contingente

C

previsão geral de relação jurídica de cunho patrimonial

Critério material (v+c)

Critério espacial

Critério temporal

Critério pessoal (Sa . Sp)

Critério quantitativo (bc . al)

Estrutura lógica da RMIT

ser proprietário de bem imóvel

no perímetro urbano municipal

no primeiro dia do ano

o proprietário (sp) fica obrigado a pagar ao fisco municipal (sa)

1% (al) sobre o valor venal do imóvel (bc)

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Processo de positivação da norma tributária

Atribuição de competência para instituir um tributo

Instituição do tributo (RMIT)

Constituição do crédito tributário

Inscrição em dívida

Execução fiscalExtinção da obrigação tributária

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Subsunção: operação lógica que se verifica entre linguagens de níveis diferentes. Há subsunção quando o fato jurídico tributário guardar absoluta identidade com o desenho normativo da hipótese de incidência. Esse quadramento tem de ser completo, preenchendo todos os critérios. NGA: hipótese de incidência tributária e consequência NIC: fato jurídico tributário e relação jurídica tributária

Processo de positivação: subsunção do fato à norma e fenomenologia da incidência

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Incidência tributária

Teoria tradicionalIncidência automática e

infalível

Teoria modernaIncidência não é automática e

infalível

No momento em que se verifica um acontecimento que

preenche as características descritas no antecedente de uma norma jurídica (“fato gerador”), este é por ela

juridicizado, desencadeando os efeitos correlatos.

Enquanto o “fato gerador” não for relatado em linguagem

competente, nada existe para o mundo do direito e, como

consequência, nenhum efeito de ordem jurídica é constatado.

Incidência ≠ Aplicação Incidência = Aplicação

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Teorias sobre a incidência e o crédito tributário

Marina Vieira de Figueiredo

Teoria tradicional Teoria moderna

Premissa: Incidência é automática e infalível

Premissa: Incidência NÃO é automática e infalível

Crédito é um elemento da obrigação (é o direito de que está investido o sujeito ativo de exigir o montante da prestação)

Obrigação e crédito nascem no mesmo instante: com o lançamento (ou ato equivalente)

Obrigação ≠ CréditoObrigação nasce com o “fato gerador”, mas sua exigibilidade apenas com o ato de constituição.Crédito é um estágio da obrigação: surge quando ela se torna exigível pelo lançamento (é formalizada)

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Fenomenologia da incidência

Incidência = subsunção + implicação

Marina Vieira de Figueiredo

Norma geral e abstrata

Norma individual e

concreta

Dado o fato de ser proprietário

de imóvel

Deve ser o dever de pagar

IPTU

Dado o fato de Maria ser

proprietária de um imóvel

Deve ser o dever de Maria

pagar IPTU

Maria é proprietária de

um imóvel

Implicação

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Subsunção:operação lógica que se verifica entre linguagens de níveis diferentes.ocorre quando o fato jurídico tributário guardar absoluta identidade com o desenho normativo da hipótese de incidência. Esse quadramento tem de ser completo, preenchendo todos os critérios.

Implicação: desencadeamento dos efeitos previstos no consequente da norma geral e abstrata, ou seja, instalação da relação jurídica tributária e, consequentemente, do dever de pagar o tributo.

Norma Geral e Abstrata: norma que institui o tributo (RMIT)

Norma Individual e Concreta: fato jurídico tributário e relação jurídica tributária

Fenomenologia da incidência

Marina Vieira de Figueiredo

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Fato jurídico tributárioFato jurídico tributário

Incidência da RMIT = norma individual e concreta

Marina Vieira de Figueiredo

Incidência da RMIT

Norma individual e

concreta

Antecedente: fato determinado no tempo e no espaço

Consequente: relação jurídica com sujeitos (ativo e passivo) e

objeto determinados

Relação jurídica tributáriaRelação jurídica tributária

Acontecimento passado que se enquadra na descrição abstrata

prevista na hipótese da RMIT

Acontecimento passado que se enquadra na descrição abstrata

prevista na hipótese da RMIT

Relação entre duas pessoasespecíficas, com objeto determinado

que atende os critérios doconsequente da RMIT

Relação entre duas pessoasespecíficas, com objeto determinado

que atende os critérios doconsequente da RMIT

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Fato e evento

Fato: elemento linguístico capaz de organizar uma situação existencial como realidade

Evento: é a situação existencial organizada linguisticamente pelo fato. É um acontecimento empírico descrito pelo fato.

•O fato nunca captura a completude do evento (curva assintótica)

•O evento se perde no tempo e espaço de sua realização

•Só temos acesso aos fatos (experiência colateral)

Fato jurídico tributário: enunciado protocolar, denotativo, posto na posição sintática de antecedente de norma individual e concreta. É o relato, em linguagem competente do evento que se subsome à hipótese tributária.

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Fato gerador: ambiguidade do termo

Hipótese de incidência ou fato jurídico tributário: ambiguidade do termo.

Art. 114, CTN: fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência.

Trata-se da hipótese de incidência (conceito normativo previsto em lei), fato jurídico (situação concreta) ou a conjugação de ambos?

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Hipótese X Fato jurídico

A dicotomia hipótese normativa X fato jurídico corresponde à diferença entre abstração e concretude.

Abstrato: que não é concreto; que resulta da abstração, que opera unicamente com ideias, com associações de ideias, não diretamente com a realidade sensível.

Concreto: que ou o que é real, existente, verdadeiro; ligado à realidade, ao que é palpável, ao que pode ser captado pelos sentidos.

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Hipótese X Fato jurídico

Quando o legislador descreve um fato, trata de apontar os traços (notas conceituais) que permitam a sua identificação. Estes aspectos correspondem aos critérios material, espacial e temporal.

O preenchimento dos critérios ocorre mediante enunciação dos fatos jurídicos. Transformam-se os eventos em fatos.

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Tempo do fato X Tempo no fato

Tempo do fatoTempo do fato instante da constituição do crédito

(lançamento, auto de infração ou lançamento por homologação);

legislação que deve ser observada na confecção do lançamento (procedimento e sujeito competente): é vigente na data do ato de constituição do crédito.

Tempo no fatoTempo no fato instante em que ocorreu o evento; legislação que deve ser observada no que

respeita à definição do conteúdo do lançamento: é vigente na data da ocorrência do evento tributário.

Tempo do fatoTempo do fato instante da constituição do crédito

(lançamento, auto de infração ou lançamento por homologação);

legislação que deve ser observada na confecção do lançamento (procedimento e sujeito competente): é vigente na data do ato de constituição do crédito.

Tempo no fatoTempo no fato instante em que ocorreu o evento; legislação que deve ser observada no que

respeita à definição do conteúdo do lançamento: é vigente na data da ocorrência do evento tributário.

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Fato jurídico e teoria das provas

O fato jurídico tributário é a representação do evento jurídico tributário em uma linguagem competente. Sem a representação em linguagem adequada para efeitos de teoria das provas os eventos correspondentes às hipóteses normativas não desencadearão os seus efeitos legais, não propagarão os direitos e deveres correlatos.

“Qualquer fato social que pretenda ingressar no reino da facticidade jurídica precisa revestir-se da linguagem própria que o direito impõe.” (PBC)

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Hipótese de Incidência Tributária

Função: estabelece os critérios de identificação do fato jurídico tributário.

• Hipótese de Incidência Tributária: descrição fáctica contida no antecedente da regra-matriz de incidência tributária. É um conceito conotativo (ex: se for proprietário de veículo auto motor, no Estado de São Paulo, no 1º dia do ano civil).

Cm (v + c) Ce Ct

. Fjt

. FsSer

Dever Ser

RMIT - Hipótese

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Verbo + complemento (núcleo de hipótese):

- conduta humana (fazer algo), ou estado (ser algo)

- a conduta ou estado deve estar no campo das possibilidades

- verbo pessoal, no infinitivo, de predicação incompleta

• Critério Material: é a expressão, ou enunciado, da hipótese que delimita o núcleo do acontecimento a ser promovido à categoria de fato jurídico tributário.

Ex: importar (v) produto industrializado (c) realizar (v) operação de circulação de mercadorias (c) prestar (v) serviços (c) ser (v) proprietário de bem imóvel (c)

Critério Material

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Critério espacial

• Critério espacial: é a expressão, ou enunciado, da hipótese que delimita o local em que o evento deve ocorrer para configuração do fato jurídico tributário.- Nem sempre o critério espacial coincide com o âmbito territorial de vigência da norma jurídica tributária

4 níveis de detalhamento:

i) local determinado II, IE (repartições aduaneiras)

ii) área específica IPTU, ITR (zona urbana, rural)

iii) campo de vigência territorial ICMS, IPVA (território estadual)

iv) universal IR (qualquer lugar)

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Critério temporal

• Critério temporal: é a expressão, ou enunciado, da hipótese que demarca o instante em que se considera ocorrido o evento tributário.

- Frequente confusão do Ct como a totalidade da hipótese (art. 19, 23 e 46 CTN):

Art. 19 CTN “O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional”

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Critério temporal

- Fatos geradores instantâneos, continuados e complexivos

Instantâneos - se verificariam e se esgotariam em certa unidade de tempo (IPI, ICMS)

Continuados - configurariam situações duradouras (IPTU, ITR)

Complexivos - se completariam com o transcurso de certo período de tempo (IR)

- Crítica à classificação em função do momento de sua ocorrência (PBC)

Confusão de planos: evento (realidade social) e fato jurídico (realidade para o direito)

Nenhum deles, isoladamente, faz nascer a relação obrigacional tributária, que somente nasce no momento do relato em linguagem jurídica legalmente estipulada.

O fato jurídico nasce em determinado momento, de acordo com o determinado legalmente. Todo fato jurídico é instantâneo.

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RMIT e presunções

- Presunções: permitem que a fiscalização, a partir de um fato qualquer, eleito pelo legislador como indício: (i) repute ocorrido um evento que preenche as características prescritas na hipótese da regra-matriz de incidência tributária; (ii) descreva-o em linguagem competente, constituindo o fato jurídico tributário; e, como consequência, (iii) constitua a relação jurídica tributária entre o Fisco e o contribuinte, tendo como objeto o pagamento de determinado tributo.

- Não se altera a RMIT tributária. Se fosse alterada, não seria necessária a presunção.

- Altera-se o fato que precisa ser comprovado para que se constitua a relação jurídica tributária.