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CAATINGA BIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA P A R A D I D Á T I C O

Caatinga biodiversidade qualidade de vida

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CAATINGABIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA

P

ARADIDÁTICO

CAATINGABIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA

PA

RADIDÁTICO

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2010© Universidade Federal Rural de Pernambuco, Laboratório de Etnobotânica Aplicada.Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.

Tiragem: 1ª Edição – 2010

Autores:Ulysses Paulino de AlbuquerqueAlissandra Trajano Nunes Alyson Luiz Santos de AlmeidaCybelle Maria de Albuquerque Duarte AlmeidaErnani Machado de Freitas Lins NetoFábio José VieiraFlávia dos Santos SilvaGustavo Taboada SoldatiLuciana Gomes de Sousa NascimentoLucilene Lima dos SantosMarcelo Alves RamosMargarita Paloma CruzNélson Leal AlencarPatrícia Muniz de Medeiros Thiago Antônio de Sousa AraújoViviany Teixeira do Nascimento

Diagramação: Pablo Reis

Revisão Técnica: Dr. Elcida de Lima Araújo e Dra. Valdeline Atanazio da Silva (UFRPE)

Este material é fruto de projeto de extensão desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Projeto: Plantas Medicinais e Práticas Médicas Populares na Caatinga – Sustentabilidade Ambiental e Cultural.Equipe Técnica: Dr. Ulysses Paulino de Albuquerque, Biólogo - CoordenadorM.Sc. Ana Carolina Oliveira da Silva, BiólogaLda. Cybelle Maria de Albuquerque Duarte Almeida, PedagogaM.Sc. Fábio José Vieira, BiólogoLda. Luciana Gomes de Sousa Nascimento, BiólogaTéc. Alexsandro Luiz Santos de Almeida, Nível MédioTéc. Leon Denis Athanásio Dantas, Nível MédioTéc. Ricardo Avalone Athanásio Dantas, Nível Médio

Financiamento: Ministério do Desenvolvimento Agrário/ Secretaria de Agricultura FamiliarMinistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome/ Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e NutricionalConselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)Edital: MCT/CNPq/MDA/SAF/MDS/Sesan 36/2007 – Agricultura Familiar

Apoio:Prefeitura do Município de Altinho

O texto completo encontra-se disponível em: http://www.etnobotanicaaplicada.com.br/pandora_proj1.php

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CAATINGABIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA

CAATINGABIODIVERSIDADE E QUALIDADE DE VIDA

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NUPEEA – Núcleo de Publicações em Ecologia e Etnobotânica Aplicada

Copyright © 2010Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Diagramação: Pablo ReisCapa: Pablo ReisRevisão: e autores

Coordenação EditorialUlysses Paulino de Albuquerque

Comissão EditorialÂngelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco)

Elba Lucia Cavalcanti de Amorim (Universidade Federal de Pernambuco)Elba Maria Nogueira Ferraz (Centro Federal de Educação Tecnológica de Pernambuco) Elcida

Lima de Araújo (Universidade Federal Rural de Pernambuco)Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de Pernambuco)

Maria das Graças Pires Sablayrolles (Universidade Federal do Pará)Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina)Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina)

Valdeline Atanázio da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco).

Universidade Federal Rural de PernambucoDepartamento de Biologia, Área de Botânica,

Rua Dom Manoel de Medeiros s/nDois Irmãos – Recife – Pernambuco

52171-030. [email protected]

Copyright© Autor, 2010

Ficha catalográfica desenvolvida pela bibliotecária Mônica Losnak

Caatinga: biodiversidade e qualidade de vida. / Ulysses Paulino de Albuquerque ... [et al.] - - Bauru,SP: Canal6, 2010.

ISBN 978-85-7917-090-4

1.Caatinga – vegetação – aspectos gerais 2. Caatinga e bio-diversidade. I. Albuquerque, Ulysses Paulino de.

CDD: 581

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Apresentação

1. Por que Conservar a Nossa Biodiversidade?

2. A Biodiversidade da Caatinga

3. Plantas com Uso Medicinal

4. Plantas com Uso Alimentício

5. Plantas com Uso Forrageiro

6. Plantas com Uso Madeireiro

7. O Futuro da Caatinga

Glossário

Sugestões de leitura aprofundada

Sumário

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ApresentaçãoEste livro faz um convite a você, caro leitor, para

mergulhar no fascinante mundo de um dos ambientes mais importantes para os que vivem na Região Nordeste: a Caatinga. Certamente você já ouviu falar dela ou leu esse nome em jornais ou programas de televisão. Mas, infelizmente, muitas vezes são passadas informações equivocadas sobre a região e as pessoas que habitam nela. As pessoas que não conhecem a região associam-na diretamente à imagem de seca, ao gado magro e à fome. Mas não é bem assim. Este livro pretende mostrar que temos um tesouro em plantas e animais, por exemplo. E esse tesouro pode contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas e ajudar a desenvolver o nosso Brasil. Você já havia pensando nisso? Vamos falar da necessidade de conservar a nossa biodiversidade e dos benefícios que podemos tirar da natureza, sobretudo das plantas nativas da Caatinga, que, além de fornecerem inúmeros produtos para o consumo e para a renda das famílias, desempenham um importante papel ecológico, evitando, por exemplo, a erosão dos solos, o ataque de pragas às lavouras, a diminuição das chuvas e até mesmo a desertificação de extensas áreas. No decorrer de sua leitura você encontrará algumas palavras em negrito, usualmente termos técnicos, cujo significado você encontra no final do livro. Pois bem, não demore mais para descobrir isso e outras curiosidades. Vire logo a página!

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Quando assistimos à televisão, ouvimos o rádio ou lemos um jornal, facil-

mente encontramos alguma reportagem sobre a derruba-da de florestas, a produção

Por que Conservar a Nossa Biodiversidade?1

Figura 1: Trecho poluído do Rio Capibaribe cortando a cidade do Recife (Foto: Viviany T. Nascimento).

Caro leitor, este capítulo convida você a uma reflexão sobre a atual situação de nossa biodiversidade, sobretudo da Caatinga, que é tema deste livro. Aqui, você terá a oportunidade de conhecer quais atividades têm provocado a destruição desse ecossistema e discutir como podemos rever-ter esse quadro para que as famílias possam continuar fazendo uso dos recursos naturais, que, muitas vezes, são a sua principal fonte de renda, mas com consciência ambiental e de forma sustentável.

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de lixo urbano, a poluição dos rios, a caça de animais silvestres, a emissão de ga-ses poluentes, o aquecimen-to global etc. Esses assuntos ganharam grande importân-cia neste século e, a cada dia

Uma banda pernambucana chamada Eddie gravou uma interessante e divertida música que fala da poluição dos rios. Veja:

Sentado na Beira do Riopor Trummer/Isaar

Tô sentado na beira do rioesperando a sujeira passar.Saco plástico de todas as cores,garrafas boiam junto da espuma,cheiro forte caracteriza Beberibe, como de costume.Como água, um caldo grosso, escura, escorre, como referência.Como tem lixo, como tem doença! Como tem lixo, como tem doença!

Caso você tenha acesso à internet, poderá escutar a música no seguinte endereço: http://letras.terra.com.br/eddie/401354/.

que passa, estão mais pre-sentes na nossa vida. Muitas pessoas se preocupam em não jogar lixo nas ruas, em reduzir a utilização de saco-las plásticas ou em utilizar materiais reciclados.

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A grande repercussão desses assuntos se deve à compreensão de que grande parte das atividades hu-manas destrói os ecossistemas e prejudica a biodiversidade do nosso planeta. Como alguns exemplos: a poluição dos rios mata os peixes e pode causar grandes enchentes; o desflorestamento acaba com a mo-radia de muitos animais; e a polui-ção gerada pelos carros e pelas in-dústrias aumenta o efeito estufa. Um dos efeitos mais trágicos da ati-vidade humana no planeta é a extin-ção de espécies, como aconteceu na Caatinga com a extinção da arari-nha-azul devido à sua caça descon-trolada para o tráfico de animais silvestres. Com toda a preocupação com a biodiversidade, vivemos em uma época na qual as pessoas têm começado a desenvolver uma maior consciência ambiental para conser-var e preservar o meio ambiente e o mundo em que vivemos.

Dessa forma, quando vemos nossos pais, professores, amigos e os meios de comunicação discutindo a preservação do meio ambiente, to-dos estão preocupados com um mes-mo assunto: a conservação da biodi-versidade. Todos estão querendo entender como as atividades huma-nas interferem no meio ambiente, para criar alternativas que não preju-diquem a diversidade de todos os se-res vivos existentes na Terra. Assim,

quem se preocupa em conservar a biodiversidade está preocupado em não destruir os ecossistemas e em proteger todas as formas de vida de nosso planeta, como também a nós mesmos. E qual a importância disso? Como a derrubada de uma mata ou a extinção de uma espécie pode afetar a nossa vida? Os próximos capítulos deste livro tentarão deixar isso mais claro para você.

Nós acreditamos que os seres humanos podem conviver com os animais e as plantas, mas é preciso apenas mudar a forma de lidar com o meio ambiente e pensar sobre ele. Atualmente, muitas pessoas só pen-sam em explorar os recursos natu-rais sem se preocupar com o dia de amanhã. Elas pensam muito mais no lucro do que no bem do nosso plane-ta e, assim, destroem as matas, po-luem os rios. E isso não é diferente com a Caatinga, ambiente que esta-mos estudando neste livro. As pes-soas necessitam rever a sua forma de pensar, os seus valores; precisam criar alternativas de desenvolvimen-to e sobrevivência sem ameaçar os outros seres vivos, ou seja, precisa-mos crescer e, ao mesmo tempo, conservar a biodiversidade.

Quando falamos que as pesso-as devem conciliar os seus interesses com a conservação da biodiversida-de, estamos falando de uma ideia também muito difundida, a ideia de

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PARA VOCÊ REFLETIR:

Dilemas na conservação da biodiversidadeAs últimas décadas têm presenciado um crescente interesse nos

assuntos relativos à biodiversidade. Tem-se discutido os fatores que afe-tam a diversidade do planeta, estando isso ligado ao declínio e à degrada-ção dos recursos naturais. De outra parte, busca-se compreender as im-plicações das atividades humanas como um dos mais importantes fatores de agressão ao ambiente. Apesar de hoje se reconhecer que as diferentes estratégias de conservação precisam respeitar as peculiaridades e carac-terísticas de cada região, como a cultura e a economia, na prática as dis-cussões ainda estão focalizando aspectos puramente biológicos.

Para se ter uma ideia das discordâncias quanto às ações em conser-vação, vale lembrar o comentário do biólogo Daniel Janzen. Para ele, somente os biólogos deveriam decidir sobre o futuro dos recursos natu-rais. Esse autoritarismo biológico surgiu como uma verdadeira cruzada anti-humanista: só o conhecimento biológico poderia produzir resultados relevantes. Essa ideia dominou as ações da Biologia da Conservação.

desenvolvimento sustentável. Esse conceito diz que a humanidade pode satisfazer suas necessidades, mas respeitando a vida de todos os seres vivos e sem comprometer as gera-ções futuras. Crescer e conservar a biodiversidade: seria este o caminho para o verdadeiro desenvolvimento sustentável. Mas por que conservar a biodiversidade?

A primeira e talvez a mais importante razão para conservar a biodiversidade é que todas as espé-cies têm o direito de existir, têm o seu lugar e o seu papel no meio am-biente. Devemos entender que so-

mos apenas mais uma espécie no mundo, sendo que todas merecem sobreviver, grandes ou pequenas, feias ou bonitas; todas apresentam algum tipo de importância que não é necessariamente econômica.

Existe outro motivo para nos preocuparmos com a conservação de toda a biodiversidade: os seres vivos estão ligados entre si, ou seja, um depende do outro para sobrevi-ver e para que o meio ambiente fun-cione direito. Isso ocorre em qual-quer ambiente, como em uma mata. Caso um elo dessa corrente se que-bre, a corrente se desfaz.

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VOCÊ SABIA?

A equipe do Prof. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, da Universidade Estadual da Paraíba, tem feito descobertas muito interessantes. O Dr. Rômulo documentou o uso de cerca de 250 tipos diferentes de animais que são utilizados na medicina popular do Nordeste do Brasil. Por exemplo, o cavalo-marinho é um animal usado em toda a região para tratar problemas respiratórios. É muito fácil você encontrar esses animais sendo comercializados em mercados

É preciso ouvir e trabalhar com as pessoas que vivem em contato com os diferentes ecossistemas, saber de sua experiência e de seus in-teresses. A postura ideal agora é a conscientização do que precisa ser feito urgentemente: conservar para uso atual e futuro, respeitando as tradições de outros povos, buscando elementos científicos sérios para a tomada de decisões.

Ainda estamos numa encruzilhada! Mas uma coisa é certa: a situ-ação exige que diferentes vozes sejam ouvidas. Acreditamos que a me-lhor estratégia para conservar é aquela que prevê a parceria entre todas as pessoas envolvidas (sociedade abrangente) e que respeite a comple-xidade e a pluralidade das questões ambientais.

Texto adaptado de Dilemas na Conservação da Biodiversidade. Usuário Ulysses Albuquerque. Jornal do Commercio, 15/11/2001.

e feiras livres. O grande problema é que alguns deles estão ameaçados de extinção. Então, precisamos refletir muito sobre o seu uso, e não apenas criar proibições. Muitos animais da Caatinga, por exemplo, são também caçados, seja para uso nas práticas da medicina familiar, seja para o consumo da carne. Estas são tradições muito fortes no Nordeste brasileiro que necessitamos discutir. Nós acreditamos que toda a sociedade deve estar envolvida nesse debate —

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cientistas, governantes, caçadores e comunidades — para que se desenvolvam estratégias que permitam dar continuidade a essas tradições sem prejudicar a existência futura desses animais. Vale ressaltar que a caça de animais silvestres é proibida por lei no Brasil. Entretanto, na Caatinga, muitas vezes as

pessoas caçam não por necessidade, mas por divertimento ou aventura. Os animais caçados são descartados, vendidos ou doados a vizinhos e/ou amigos. Esse tipo de prática é muito agressiva ao ambiente, e precisamos discutir fortemente esse assunto!

Figura 2: Produtos de animais comercializados para fins medicinais no Nordeste Brasileiro. A, Couro de jacaré; B, banha de cobras e de peixe-boi (Fotos: Rômulo Nobrega)

Para as diferentes co-munidades rurais da Caatin-ga, esse uso direto dos recur-sos naturais é um dos aspectos mais positivos da biodiversi-dade. Muitas vezes, diferen-temente das pessoas que vi-vem nas grandes cidades, famílias que vivem no meio rural dependem do meio am-

biente e utilizam-no direta-mente, pois extraem recursos para a sua alimentação, cons-trução de casas e cercas, cura de doenças, fabricação de fer-ramentas, entre outras fun-ções. Muitas pessoas acham que, por explorarem da natu-reza os recursos necessários para a sua vida, essas comu-

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Figura 3: Comércio

de plantas e outros produtos

naturais com fins medicinais

em feira livre do Município de Caruaru,

Pernambuco (Foto: Júlio M.

Monteiro).

nidades rurais são a princi-pal causa da degradação da biodiversidade, mas não é bem assim. Algumas vezes, essas comunidades extraem apenas a quantidade neces-sária para sobreviver, o que dificilmente prejudica o meio ambiente. Porém, em algumas situações, especial-mente quando a intenção é vender o que é explorado, a extração de recursos naturais pode comprometer a conser-vação da biodiversidade. É preciso ter controle dessa extração.

Vejam o seguinte exem-plo: apesar de, nas cidades grandes, não necessitarem usar diariamente os recursos naturais, muitas pessoas bus-cam, nos mercados públicos e

nas feiras livres, cascas e se-mentes de plantas da Caatin-ga para tratar alguns proble-mas de saúde. Vamos imaginar outro exemplo: a coleta da casca do angico para o uso medicinal, uma das ativida-des mais comuns na Caatin-ga. Quando essa coleta é feita apenas para o uso local, para curar as doenças da própria família, isso pode não trazer prejuízo ao meio ambiente. Entretanto, quando as cascas são extraídas em muita quan-tidade ou de forma descontro-lada, como fazem algumas indústrias farmacêuticas, cer-tamente podem ocorrer preju-ízos, e essa planta pode, um dia, deixar de existir. Com isso, estamos dizendo que não devemos extrair os recursos

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da natureza para nosso uso? Não é isso. Estamos falando que a extração deve ser feita de forma controlada e adequa-da. Para pensarmos no uso sustentável das plantas e dos animais, temos que compre-ender todas as atividades que prejudicam as espécies alvo de exploração. Por exemplo, no caso do angico, citado an-

teriormente, além das cascas serem utilizadas como produ-to medicinal, elas são muito exploradas na fabricação do couro (curtume), pois têm uma substância que impede que a pele do animal apodre-ça. Além disso, o angico é muito utilizado como lenha e carvão e na construção de cer-cas.

SAIBA MAIS...O curtume é uma das atividades econômicas mais importantes na

Caatinga. O problema é que essa atividade gera uma quantidade de resí-duos (sólidos e líquidos) que são descartados e poluem o meio ambien-te. Existem algumas alternativas para reaproveitar toda a água e os com-postos químicos utilizados no tratamento do couro, diminuindo o impacto ambiental dessa atividade. Uma das cidades que mais se desta-cam nessa atividade é Cabaceiras, no Cariri da Paraíba, onde alguns curtumes chegam a curtir mais de quinhentas peles por dia. Pensando na preservação ambiental e na conservação da biodiversidade, a Prefeitura de Cabaceiras contratou dois profissionais para resolverem o problema ambiental dos curtumes. Como resultado, um investimento de 155 mil reais, foram construídas estações de tratamento de toda a água utilizada nas atividades de curtir couro. Dessa forma, toda a água que era despe-jada nos solos e rios é agora tratada e pode ser reutilizada. Os resíduos químicos, por sua vez, podem ser reaproveitados em outras atividades econômicas.

Texto adaptado de site do Governo da Paraíba (http://www.paraiba.pb.gov.br/), acessado em 11/11/2009. Texto: O Ambiente e o Layout, de Renata Paes de Barros Câmara e Eduardo Vila Gonçalves, publicado nos Anais do XII Simpósio de Engenharia de Produção, Bauru, São Paulo, novembro de 2005.

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Figura 4: A - angico que teve sua casca retirada para curtir couro, B - cascas que serão utilizadas no curtimento do couro, C e D - pequeno curtume evidenciando a pele do animal e as cascas (Fotos: Gustavo T. Soldati).

Falamos dos valores diretos. Já os valores indire-tos são todos os benefícios que o meio ambiente nos dá sem que haja a necessidade de exploração direta dos re-cursos. Vamos citar um exemplo: as matas ajudam a melhorar e controlar o clima, ou seja, deixam os ambien-tes mais frescos, suavizando a temperatura, por exemplo. Isso é muito importante em locais muito quentes, como é o caso da Caatinga. Per-gunte as pessoas que moram com você se não é verdade

que, em lugares mais próxi-mos das matas, o ambiente é um pouco mais frio. As ma-tas ainda aumentam a quan-tidade de chuva que cai numa área. Assim, a agricultura é facilitada em lugares que têm um número maior de ve-getação nativa. A manuten-ção dos ambientes naturais ainda pode ajudar a agricul-tura de outra forma: aumen-tando a produção das plan-tas. Um grande número de plantações, como é o caso do feijão e do amendoim, depende de certos tipos de

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inseto para produzir as suas vagens. Sem os insetos, não há produção. Sabemos que, nas matas, temos uma maior quantidade de insetos que fazem esse papel, dessa for-ma, as plantações próximas a elas irão produzir muito mais. Você pode perceber esse valor indireto observan-do o umbu, outra planta que depende dos insetos para dar os frutos. Olhe para os um-bus perto de sua casa, perce-ba que, quando eles flores-cem, suas flores brancas ficam cheias de abelhas e vespas. São esses animais que vão ajudar a planta a produzir o fruto tão gostoso e apreciado por pessoas de todo o Nordeste.

Outro valor indireto é a beleza das paisagens natu-rais, algo que é muito impor-tante para o turismo. Muitos turistas procuram regiões de beleza natural, como monta-nhas, praias e cachoeiras, para se divertir e passear. Al-gumas empresas ou profis-sionais do turismo aprovei-tam a visitação dessas áreas naturais a fim de despertar a consciência para a importân-cia de se conservar a biodi-versidade. Esse tipo de turis-

mo é conhecido como ecoturismo. O problema é que, quando essas visitações são feitas sem programação, de forma desordenada ou descontrolada, podem oca-sionar a degradação ambien-tal. Temos um caso muito tí-pico em Porto de Galinhas, no Estado de Pernambuco, uma das praias mais visitadas no Brasil, onde a grande quantidade de turistas está afetando os recifes de corais próximos à praia.

Apesar de tudo o que dissemos, os cientistas e a sociedade como um todo ainda estão buscando cami-nhos para melhor entender a nossa biodiversidade. As pessoas têm diferentes opi-niões sobre o assunto. Aqui, nós procuramos mostrar a você por que esse assunto é tão interessante e importante para a nossa vida. Às vezes, os animais e as plantas, por exemplo, estão tão perto de nós, e não conseguimos va-lorizar ou respeitar a sua existência. Você já havia pa-rado para pensar, por exem-plo, que, se não existissem alguns tipos de inseto, não teríamos os deliciosos frutos do umbuzeiro? Pense nisso!

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Vamos conhecer a Caatinga?

A Caatinga é conside-rada a quarta maior forma-ção vegetacional e a única exclusivamente brasileira; abrange uma área que vai desde o Piauí até o norte de Minas Gerais. Possui várias espécies endêmicas, tanto de plantas quanto de animais. Apresenta diferentes tipos, ou seja, alguns lugares apre-sentam mais árvores; outros, mais arbustos que árvores; ou, ainda, há áreas que apre-sentam muitas ervas, repre-sentando um ambiente muito rico em biodiversidade.

A palavra caatinga é de origem tupi e significa mata branca, referindo-se ao

aspecto da vegetação durante a estação seca, quando a maioria das árvores perde as folhas, e os troncos esbranquiçados dominam a paisagem. O juazeiro e o umbuzeiro são exemplos de plantas que permanecem com as folhas durante a estação seca. Entre as espécies mais comuns e características desse ambiente, destacam-se os cactos, como o facheiro, o mandacaru e o xiquexique; e as bromélias, como a macambira e o caroá.

Na Caatinga, ocorre o fenômeno da sazonalidade climática, em que a maior parte dos meses (de sete a nove) são quentes e secos, restando poucos meses (de

A Biodiversidade da Caatinga2

Neste capítulo, você encontrará informações sobre os aspectos físi-cos e biológicos da vegetação da Caatinga, tais como plantas e famílias botânicas mais comumente encontradas e importantes e os animais ca-racterísticos desse ambiente. Você conhecerá, ainda, as ameaças à biodi-versidade da Caatinga e as curiosidades sobre algumas espécies.

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três a cinco) com chuvas intensas. Logo, podemos diferenciar a Caatinga de acordo com a disponibilidade de chuvas: algumas áreas são mais úmidas, como, por exemplo, os municípios de

Altinho e Caruaru, na região Agreste; e outras, mais secas, como os municípios de Petrolina e Serra Talhada, na região do Sertão, todas localizadas no Estado de Pernambuco.

Figura 5: Área de caatinga. A – durante a estação seca e B – durante a estação chuvosa (Foto: Fábio J. Vieira).

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Vamos conhecer melhor as plantas e os animais da Caatinga?

As plantas que ocorrem na Caatinga têm características que possibilitam o seu desenvolvimento nesse ambiente, que é, na maior parte do tempo, seco. Em geral, elas apresentam espinhos, possuem tamanhos variados — desde plantas peque-nas como as ervas até grandes árvores — e algumas são sucu-lentas ou afilas. A maioria das plantas apresenta caducifolia, que é a perda completa das folhas durante a estação mais seca, e muitas outras têm espinhos no lugar das folhas.

PARA VOCÊ REFLETIR:Atualmente, a Caatinga sofre com a degradação am-

biental, que hoje já atinge mais de 80% de sua área. Em-bora o número de pesquisas tenha aumentado nos últimos anos, ainda é pouco o conhecimento. O número de Unida-des de Conservação no domínio da Caatinga é bastante reduzido. Isso reflete a carência de políticas voltadas para a conservação da diversidade biológica da Caatinga e de seus demais recursos naturais. Por isso, caro leitor, nós precisamos, mais do que nos conscientizar, colaborar para alterar essa situação, propondo atividades conservacionis-tas e de educação ambiental, não só para as pessoas que alteraram os ambientes da Caatinga, mas para toda a so-ciedade proporcionando, dessa forma, melhoria de vida às populações de diferentes regiões.

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VOCÊ SABIA?De acordo com o Centro Nordestino de Informações sobre Plan-

tas (CNIP), na Caatinga conhecem-se, até o momento, 1.041 espécies de angiospermas. As leguminosas (plantas que normalmente apresen-tam um fruto que é uma vagem, como, por exemplo, a algaroba, o mu-lungu e o angico) apresentam o maior número de espécies, com cerca de 40% das plantas conhecidas; seguidas das euforbiáceas (exemplos co-muns são o pinhão, o avelós, a urtiga e o marmeleiro). Embora seja um ambiente muitas vezes identificado por características que lembram uma paisagem seca e com o solo rachado, a Caatinga é muito rica em diversidade e número de plantas.

Você sabia que, assim como as pessoas, as plantas também são agrupadas em famílias e possuem nomes que são conhecidos em qualquer lugar do mundo, chama-dos nomes científicos?

Conhecemos as plantas, as-sim como os animais, pelo nome popular, nome vulgar, nome local ou, ainda, nome comum, que va-riam muito de um lugar para o ou-tro. O ramo da Biologia que se ocupa da classificação e da nomen-clatura dos seres vivos é a Taxono-

mia (do g r e g o t a x o n , catego-ria, gru-po; e no-m o s , conheci-mento). São sete categorias: reino, filo (para animais) ou divisão (para plantas), classe, ordem, família, gê-nero e espécie. Para entender melhor essas categorias, veja a classificação dos exemplos abaixo:

Cão doméstico MandacaruReino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Mammalia

Ordem: Carnívora

Família: Canidae

Gênero: Canis

Espécie: Canis familiares - Linnaeus, 1758

Reino: Plantae

Divisão: Magnoliophyta

Classe: Magnoliopsida

Ordem: Caryophyllales

Família: Cactaceae

Gênero: Cereus

Espécie: Cereus jamacaru D.C.

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Podemos citar algumas plantas importantes nesse ambiente por apresentarem múltiplos usos para as comunidades locais. São elas: umbu (Spondias tuberosa Arruda), pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart.), mandacaru (Cereus jamacaru D.C.), facheiro (Pilosocereus pachycladus F. Ritter), imburana (Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett), jucá (Caesalpinia ferrea Mart.), catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), angico

Como você deve ter observa-do, os nomes das espécies são es-critos na mesma língua (latim) e obedecem a um sistema binomial, ou seja, o nome de cada espécie é formado por dois termos (binômio). Tomando como base o exemplo do mandacaru, temos o primeiro, que chamamos de gênero (Cereus) e o

segundo, que é o epíteto especí-fico (jamacaru). Após o nome da espécie, há também o nome do cientista que descobriu a planta (D.C.), o qual normal-mente está abreviado. Todos juntos representam a espécie Cereus jamacaru D.C., nome conhecido mundialmente.

Importante: Neste livro, o nome científico de plantas e animais irá obedecer ao sistema binomial descrito acima; no entanto, quando aparecer pela segunda vez ao longo do texto, pode estar abreviado. Por exemplo, na primeira vez em que for citada a planta pereiro, seu nome será escrito na forma completa: com gênero, epíteto específico e autor (Aspidosperma pyrifolium Mart.); e, quando aparecer nova-mente, poderá ser abreviado para apenas a primeira letra do gênero e o epíteto específico (A. pyrifolium).

(Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan), imburana-açu (Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.), jurema-preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Benth.), incó (Capparis jacobinae Moric. ex. Eichler), feijão-bravo (Capparis flexuosa (L.) L.), baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl.), pinhão (Jatropha mollissima (Pohl) Baill.), marmeleiro (Croton blanchetianus Baill.), barriguda (Chorisia glaziovii (Kuntze) E.

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Santos), cedro (Cedrela odorata L.), quixaba (Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex. Roem. & Schult.) T. D. Penn.), bom-nome (Maytenus rigida Mart.). Elas podem ser usadas como plantas medicinais, alimentícias, forrageiras; em construções rurais (casas e cercas); como madeira para combustível, dentre outros usos.

Quanto aos animais da Caatinga, eles são bem dife-renciados em relação aos de outros ecossistemas, pois, ao longo do tempo, desenvolve-ram características morfo-lógicas e fisiológicas que per-mitem um melhor desempenho e adaptação nesse tipo de am-biente seco. Alguns estudos sobre a fauna da Caatinga apontaram uma boa diversi-dade de espécies. Só de ani-mais vertebrados, foram en-contrados representantes das cinco classes:

1. Mamíferos – foram registradas 143 espécies. Entre estas, estão os maca-cos e as raposas.

2. Aves – foram en-contradas 348 espécies, das quais quinze são endêmicas da Caatinga. Entre estas,

podemos citar o azulão, a rolinha, a lavandeira e o sa-biá. Dessa lista de aves, in-felizmente uma espécie já está extinta no ambiente natural: a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Em outro estudo, foi registra-do um número maior de aves (510 espécies), das quais 419 se reproduzem apenas na Caatinga.

3. Peixes – já foram registradas 239 espécies; destas, 135 são consideradas endêmicas da Caatinga. É muito difícil identificar quais espécies de peixe são exclusivas desse ecossiste-ma, porque muitas estão dis-tribuídas ao longo dos rios que cortam a Caatinga e ul-trapassam seus limites, al-cançando outros rios de ecossistemas vizinhos.

4. Répteis e anfíbios – já foram registradas 167 espécies, com 47 espécies de lagartos, dez espécies de anfisbenídeos, 52 espécies de serpentes, quatro quelô-nios, três crocodylia, 48 an-fíbios anuros e três gymno-phiona. O grupo está representado por cobras, cá-gados, jacarés, tatus, etc.

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SAIBA MAIS...

Descoberta cobra-de-duas-cabeças no Vale do Catimbau

Considerado o segundo maior parque arqueológico do Brasil, o Vale do Catimbau (Buíque-PE) vem se tornando berço de descobertas de espécies de anfíbios e répteis. A mais recente delas, a A m p h i s b a e n a supernumeraria, um tipo da popularmente conhecida cobra-de-duas-cabeças, foi descoberta na Fazenda Porto Seguro, localidade conhecida como Meu Rei, em Buíque, por pesquisadores das universidades Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (Uast/UFRPE), de São Paulo (USP) e Federal do Mato Grosso (UFMT).

Há dois anos, a equipe realiza o projeto Anfíbios e Répteis do Ecossistema Caatinga: Indicadores de Conservação para o Sertão

de Pernambuco, sob a orientação da professora Ednilza Maranhão, bióloga da UFRPE, com a finalidade de explorar o potencial da região.

Estudos realizados até o momento, para a des-coberta dos hábitos e da origem da nova espécie, revelam que o animal vive enterrado no solo, onde passa grande parte da sua vida, alimentando-se pos-sivelmente de vermes e in-setos. A espécie é pequena — cerca de 20 centíme-tros.

Para a coordenadora da pesquisa, a professora da UFRPE Ednilza Mara-nhão, a descoberta signifi-ca mais uma conquista para o universo acadêmico e um alerta para a valorização merecida da área de pes-quisa científica no País. “Sabemos muito pouco so-bre o que existe de anfíbios

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e répteis em Pernambuco e no Brasil. É necessário mais incentivo aos pesqui-sadores e alunos para que eles possam desvendar a nossa biodiversidade, pois, conhecendo o nosso poten-cial biológico, podemos definir estratégias de con-servação e o melhor uso sustentável dos nossos re-cursos naturais”, informa Ednilza.

Para o Parque Nacio-nal do Catimbau, a desco-berta da espécie destaca ainda mais a importância da reserva como área prio-ritária para conservação, principalmente da herpe-tofauna (anfíbios e rép-teis) no semiárido nordes-tino. Considerada também região de riqueza biológi-

ca por possuir registros de pinturas rupestres e ves-tígios da ocupação pré-histórica, com a continua-ção das pesquisas possivelmente serão des-cobertas novas espécies, reafirmando a necessidade de preservação do vale como verdadeiro local de origens.

Exploração da reserva – A parceria entre a UFRPE e a UFMT e a USP teve início quando, em 2008, foi descoberto, pela equipe, um lagarto de cinco centímetros, conhecido como Escrivão, na região de Buíque. Vivendo nas areias do Parque do Catimbau, o réptil não desenvolveu patas, provavelmente para melhor locomoção.

Texto adaptado de site da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE): http://www.ufrpe.br/noticia_ver.php?idConteudo=6150, acessado em 22/12/2009. Texto: Descoberta Cobra-de-duas-cabeças no Vale do Catimbau, notícia publicada on-line em 25 de novembro de 2009.

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Grupo biológico Número de espécies

Número de espécies endêmicas

Número % do total

Flora

Nordeste 8.760 - -

Caatinga 1.981 318 16,1

Fauna

Aves 348 15 4,3

Peixes 191 109 57,0

Répteis e anfíbios 167 24 14,4

Mamíferos 143 12 8,4

Invertebrados

(abelhas)

187 30 16,0

Tabela adaptada de Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga (Brasil). Cenários para o Bioma Caatinga/ Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga (Brasil). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Recife: Sectma, 2004. p. 224.

A tabela a seguir faz uma compilação de vários estudos segundo o Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga (Brasil), com as espécies encontradas na Região Nordeste, em especial na Caatinga, com destaque para as en-dêmicas, ou seja, aquelas que só ocorrem nesse ecossistema. Esse número poderia ser ainda maior se não fosse a caça pre-datória e o desmatamento dessas áreas, destruindo o hábitat natural dessas espécies.

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SAIBA MAIS...Extinção da Ararinha Azul

Figura 6: A – Casal de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) no zoológico de São Paulo (Foto: René Cardoso dos Santos) e B – Último exemplar de ararinha-azul próximo a um maracanã (Foto: Luis Cláudio Marigo). Fonte: Portal Arara azul: http://www.projetoararaazul.org.br/arara/Home/AAraraAzul/Asararasazuis/Ararinhaazul/tabid/298/Default.aspx, acessado em 02/02/2010.

Reino: Animalia Filo: Chordata Classe: Aves Ordem: Psitaciformes Família: Psittacidae Gênero: Cyanopsitta Espécie: Cyanopsitta spixii

Status: Espécie considerada EXTINTA na natureza. O úl-timo exemplar foi visto em liberdade na cidade de Cura-çá – BA no ano de 2000. Atu-almente cerca de 60 indiví-duos são criados em cativeiros espalhados por todo o mundo.

A ararinha Cyanopsitta spixii, ou ararinha-azul, era uma ave endêmica da Caa-tinga, ocorrendo do extremo norte da Bahia ao sul do Rio São Francisco, na região de Juazeiro. Com coloração de tonalidade azul e presença de uma faixa cinza que se estende da região superior de seu negro e curto bico até os olhos — destacando a cor amarela da íris —, tornou-se alvo frequente do tráfico in-ternacional de animais, em

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razão de sua exuberância. Esse fator, aliado também à invasão de seus ninhos por abelhas-africanas — o que matou fêmeas e filhotes — e, principalmente, à perda de hábitats, permitiu que essa espécie fosse conside-rada como extinta da nature-za desde 2002, quando o úl-timo exemplar em liberdade desapareceu sem deixar ras-tros. Este, um macho de aproximadamente 20 anos de idade, era vigiado por cientistas e voluntários na cidade de Curaçá, BA. Du-rante oito anos, teve uma fê-mea como parceira, sem, no entanto, dar origem a ovos viáveis. Mais tarde, tentati-vas de aproximação entre ele e uma fêmea de cativeiro de sua espécie foram em vão, já que são monogâmi-

cos, e este já considerava a outra como sua parceira.

Assim, a arara C. spixii só pode ser vista em cativei-ros, sendo sua reprodução, nesses locais, um evento bastante raro. Quando ocor-re, fêmeas colocam aproxi-madamente três ovos para cada ninhada, depositando-os em ninhos de madeira, e não em ocos de árvore carai-beira (Tabebuia caraiba), tais como seus exemplares em liberdade faziam. Não há dimorfismo sexual nítido, ou seja: fêmeas e machos são semelhantes.

Sementes de buriti, pinhão e frutos em geral fa-ziam parte de sua dieta, que hoje também inclui ração comercial para psitacídeos e suplementação mineral e polivitamínica.

Por Mariana Araguaia, graduada em Biologia, equipe Brasil Escola.

Texto adaptado do site do Brasil Escola: http://www.brasilescola.com/animais/ararinha-azul.htm, acessado em 22/12/2009. Texto: Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), notícia publicada on-line.

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Os ambientes de Caa-tinga encontram-se bastante alterados, devido à substitui-ção de vegetação nativa por áreas de cultivo e pastagens. O desmatamento e as quei-madas também são práticas comuns para a preparação da terra com fins agropecuários, alterando esses ambientes e tendo como consequência a diminuição da diversidade vegetal e animal.

Em decorrência dessa

devastação de ambientes naturais da Caatinga, o Ministério do Meio Ambiente publicou uma lista com 395 espécies de animais ameaçadas de extinção. Destas, 234 ocorrem nos estados do Nordeste e/ou em Minas Gerais. Quanto à flora, baraúna (Schinopsis brasiliensis) e aroeira (Myracrodruon urundeuva) encontram-se na lista de espécies ameaçadas de extinção.

Ameaças à biodiversidade da Caatinga

VOCÊ SABIA?Existem órgãos governamentais e não governamentais que

são responsáveis por gerenciar as atividades desenvolvidas na Caa-tinga, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), a Re-serva da Biosfera da Caatinga e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Esses órgãos trabalham em parceria com a sociedade, fiscalizando como os recursos naturais são utiliza-dos e orientando as pessoas quanto ao uso racional desses recursos para obter-se o máximo de desenvolvimento, porém com o máximo de conservação e preservação, visando sempre à sua manutenção para as gerações futuras, ou seja, para que o desenvolvimento seja sustentável.

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Finalmente, esse am-biente tem características especiais e paisagens muito bonitas, que representam re-cursos turísticos atraentes, embora esse tipo de ativida-de não seja tão bem desen-volvido. Nos últimos anos, a criação de parques nacionais e outras áreas de conserva-ção possibilitou às pessoas observarem a natureza com uma visão mais próxima da realidade.

Muitas espécies de plantas e animais que ocor-rem na Caatinga são úteis

para as pessoas. Só as plan-tas possuem diversos usos, como medicinal, alimentí-cio, forrageiro e madeirei-ro, como veremos nos pró-ximos capítulos deste livro. Além de saber um pouco mais sobre esses usos, você terá a oportunidade de co-nhecer estratégias simples que podem contribuir, e muito, para que as famílias continuem utilizando esses recursos, sem afetar a sus-tentabilidade e a biodiver-sidade da Caatinga.

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O uso de plantas me-dicinais é uma das práticas mais antigas da população humana. É tão antiga quan-to a própria existência dos seres humanos. A Organi-zação Mundial de Saúde (OMS) estimou, na década de 1990, que cerca de 70% das pessoas que vivem em países em desenvolvimen-to dependiam de plantas medicinais como sendo a única maneira de cuidar da saúde. Em nosso país, a medicina popular é fruto da mistura de saberes de diversos grupos indígenas,

juntamente com os euro-peus e africanos vindos para o Brasil. Esses povos, quando vieram, trouxeram consigo uma grande quan-tidade de plantas. Então, podemos dizer que a maio-ria das formas de uso das plantas medicinais, hoje, é o resultado da interação de pessoas de diferentes cul-turas. No Nordeste, nós te-mos uma grande diversida-de cultural, representada por diferentes grupos, como os quilombolas e os grupos indígenas.

3Plantas com Uso Medicinal

Neste capítulo, você encontrará informações sobre o conheci-mento tradicional e o uso das plantas, em especial as utilizadas no tratamento de doenças: as medicinais. Verá também que uma mesma planta pode ser utilizada para diferentes enfermidades, sendo, por isso, importante não fazer uso delas sem a devida orientação. Encon-trará, ainda, algumas dicas sobre a melhor forma de coletar essas plantas sem prejudicar suas propriedades químicas nem o seu desen-volvimento, de forma que elas estejam sempre disponíveis no ambiente.

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Existem 43 grupos in-dígenas na Região Nordeste, distribuídos em sete dos nove estados locais. Apenas os estados do Piauí e do Rio Grande do Norte não têm tribos. Já o Estado da Bahia e o de Pernambuco se desta-cam por terem os maiores números de grupos indíge-nas, treze e onze, respectiva-

men-t e . Como p o d e -mos ver na tabela seguinte, poucos falam uma língua própria. Na tabela, também observa-mos quais são essas tribos e que outros nomes elas po-dem receber.

Índios do Nordeste

Alagoas–7gruposindígenasNome Outrosnomesougrafias Família/Língua

Jiripancó Jeripancó,GeripancóKarapotó

Kariri-Xocó Cariri-xocóTingui-BotóTuxáWassu

Xukuru-Kariri Xucuru

Ceará–8gruposindígenasNome Outrosnomesougrafias Família/LínguaAnacé PayakuJenipapo-KanindéKariri Potiguara,PitaguariPitaguaryPotiguaraTabajara Tapebano,Perna-de-pauTapebaTremembé

Tribos Indígenas do Nordeste do Brasil

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Bahia–13gruposindígenasNome Outrosnomesougrafias Família/Língua

Atikum AticumKaimbé

KantaruréCantaruré,Pankararu

Kiriri Kariri

PankararéPankaru Pankararu-Salambaia

Pataxó MaxacaliPataxóHã-Hã-Hãe Maxacali

Truká

Tumbalalá

Tupinambá TupinambádeOlivençaTuxáXukuru-Kariri Xucuru

Pernambuco–11gruposindígenasNome Outrosnomesougrafias Família/Língua

Atikum AticumFulni-ô IatêKambiwá CambiuáKapinawá CapinauáPankaiukáPankaráPankararuPipipãTrukáTuxáXukuru Xucuru

Paraíba–1grupoindígenaNome Outrosnomesougrafias Família/LínguaPotiguara

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Mas você sabe o que os cientistas entendem por plantas medicinais? São plantas que possuem um ou vários princí-pios ativos, podendo tratar do organismo de pessoas ou até mesmo de animais de uma for-ma geral, assim como apenas combater sintomas de doenças. Ou seja, são plantas que pos-suem substâncias capazes de tratar não apenas do nosso cor-po, eliminando patógenos, como vermes e fungos, mas também dos sintomas que uma doença causa como dor e fe-bre, por exemplo. Além de curar, as plantas também po-dem prevenir, protegendo nos-so corpo de enfermidades cau-sadas, por exemplo, pelo acúmulo de gordura no san-gue, conhecido como coleste-rol. Já descobriram plantas que diminuem os níveis de co-lesterol no sangue, reduzindo,

Maranhão–2gruposindígenasNome Outrosnomesougrafias Família/LínguaTabajara

Tembé Tenetehara Tupi-Guarani

Sergipe–1grupoindígenaNome Outrosnomesougrafias Família/Língua

Xokó Chocó,Xocó

Tabela adaptada de http://pib.socioambiental.org/pt/c/quadro-geral, acessado em: 20/12/2009.

assim, o risco de infarto.As plantas medicinais são

muito conhecidas na Caatinga. Elas desempenham uma função muito importante, pois, em mui-tos lugares, são a única forma existente de preparar um remé-dio para se melhorar de alguma doença ou para diminuir os sin-tomas que ela causa. Atualmen-te, os cientistas reconhecem que, na Caatinga, existem cerca de 400 espécies utilizadas me-dicinalmente para os mais dife-rentes problemas de saúde.

Muitas vezes, o acesso a médicos e a postos de saúde não existe, e, quando existe, es-tes ficam muito distantes das vilas, dos sítios e das fazendas onde algumas pessoas moram. Imagine que podemos morar em comunidades em áreas ru-rais que ficam a dezenas de quilômetros do centro da cida-de, onde estão os serviços de

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saúde — hospitais, médicos, medicamentos. Isso reforça a importância dos vegetais para a melhoria da nossa qualidade de vida.

As plantas medicinais da nossa Caatinga são usadas pelas pessoas para combater vários tipos de problema de saúde. Dentre as doenças mais tratadas

com o uso de plantas medici-nais, estão as que atacam o sis-tema respiratório, como gripes, resfriados, tosses; e também as que atacam o sistema digestivo, como problemas de digestão, sensação de estômago cheio (empachamento), azia, diarréia, prisão de ventre, entre outros problemas.

Muitas pessoas têm a cren-ça de que, por estar tomando um remédio à base de plantas, não podem sofrer nenhum mal, já que é algo natural. Mas isso não é verdade, pois o preparo e/ou uso errado de um remédio caseiro po-dem trazer complicações graves. Então, quais os cuidados que você deve ter ao usar um remédio feito com plantas?

Tenha sempre cuidado na preparação de um medicamento caseiro, pois um erro durante o preparo pode transformá-lo em algo extremamente perigoso. Por isso, tenha sempre certeza de que você está preparando o remédio com as plantas certas e na quanti-dade recomendada pelo médico ou pessoa experiente no assunto; do contrário, não terá efeito ou

Usar um remédio feito de planta medicinal é perigoso? p o d e r á

agravar a d o e n ç a , podendo le-var à morte.

Sempre que for preparar um remédio, utilize água limpa e tratada para evitar micro-organismos que possam contaminá-lo durante o pre-paro. Além disso, use sempre partes sadias da planta, isto é, que não este-jam contaminadas com fungos ou que não tenham um cheiro não carac-terístico.

Tenha cuidado para não exage-rar na dose ou tomar o remédio por um período muito longo, pois usar um chá, uma garrafada, um xarope ou outro medicamento por muito tempo pode ser perigoso. Caso o remédio prepara-do não esteja fazendo efeito, suspenda o seu uso e consulte um médico para aconselhar o seu tratamento.

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Algumas plantas nati-vas da Caatinga merecem uma atenção especial, pois estão sofrendo forte pressão extra-tivista devido à sua grande utilidade e também ao seu va-lor comercial. Destas, desta-cam-se a aroeira e o angico, pois ambas estão na lista ofi-cial da flora ameaçada de ex-tinção, publicada pelo Minis-tério do Meio Ambiente. As

SAIBA MAIS...Testes comprovam ação de plantas medicinais

As propriedades medi-cinais de três espécies da Caatinga — a moricica, a catingueira-rasteira e a ba-raúna — foram testadas na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O tra-balho teve duração de quatro anos e estudou mais vinte espécies.

A primeira etapa da pesquisa foi concluída no ano de 2000 pelo Programa Xin-

gó/Chesf. Ela consistiu em uma relação de 190 plantas da Caatinga, das quais as três citadas foram escolhidas. “Levamos em conta, princi-palmente, se a planta é nativa e se é amplamente usada na medicina popular”, explicou a coordenadora do trabalho, a professora Maria Bernadete Maia. Depois, a equipe pro-duziu um banco de dados com informações sobre a flo-

plantas que apresentaremos em seguida estão entre as mais conhecidas e usadas pelas pessoas que moram em áreas de Caatinga, e, com isso, fo-caremos nas indicações popu-lares, relatando como essas pessoas costumam usar essas plantas. Mas precisamos ter cuidado, pois não devemos tomar remédio sem a orienta-ção de um médico.

Conheça melhor algumas plantas medicinais da Caatinga

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ra e fauna da Caatinga.Uma das plantas, a ba-

raúna, tem suas folhas e cas-cas empregadas em remé-dios caseiros contra asma, dor de dente e inflamação. A planta, que atinge 12 metros, também é encontrada no Cerrado. Já a moricica, tem suas folhas e raízes usadas como no tratamento de gas-trite. A catingueira-rasteira, por sua vez, é indicada, pela medicina popular, para gri-pe, flatulência e gastrite, além de ser empregada como afrodisíaco.

A terceira etapa con-sistiu na identificação e ca-racterização química, far-macológica e toxicológica das plantas. As plantas fo-ram testadas não apenas para as afecções indicadas pela medicina popular. Os testes, que tiveram a colaboração da Universidade Federal da

Paraíba (UFPB), foram fei-tos no Laboratório de Far-macologia de Produtos Na-turais da UFPE.

Durante a primeira etapa, os pesquisadores ano-taram os usos medicinais das plantas listadas, fazen-do uma triagem para verifi-car, de fato, para que serve cada planta. A coordenadora do projeto, Profa. Bernadete Maia, ainda destacou o es-tudo toxicológico.Este estu-do é para identificar o quanto a planta é tóxica.

A partir dos estudos fi-toquímicos é que podem ser realizados os testes do extra-to retirado da planta em ani-mais e, posteriormente, em humanos. A pesquisa sobre as três espécies envolveu, ainda, a determinação do seu princípio ativo, que é a subs-tância que possui o efeito terapêutico.

Texto adaptado de: Caderno de Ciência/Meio Ambiente - Testes comprovam ação de plantas medicinais, Jornal do Commercio, publicado em 12/12/2001.

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Aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão)

A aroeira é uma árvore que pode chegar a 10 metros de altura e é dioica, ou seja, apresenta sexo separado, existindo o pé de aroeira fê-mea e o pé de aroeira-macho. No período seco, suas folhas podem cair, o que faz com que a denominemos planta decídua. No Brasil, ela está presente por toda a Caatinga, em áreas de Mata, Agreste e Sertão. Essa planta é uma das mais conhecidas e utilizadas pelo povo nordestino e, em especial, por aqueles que mo-ram na Caatinga.

Devido a suas proprie-dades terapêuticas anti-in-flamatórias e cicatrizantes, as pessoas utilizam essa planta para diversos tipos de inflamação, como inflama-ções na garganta, no útero e no ovário, e também para curar ferimentos na pele, podendo estar infeccionados ou não. Além disso, é usada para tratar úlcera gástrica e hemorroidas, ferimentos e cortes. Alguns estudos cien-tíficos vêm demonstrando a

eficiência dessa espécie para tratar doenças como infla-mações, dores em geral, problemas gástricos e na pele. Foram encontrados, nesses estudos, substâncias capazes de curar ou tratar alguns desses problemas, mas isso não quer dizer que podemos usar essas plantas livremente.

Suas cascas são, prefe-rencialmente, a parte coleta-da para o preparo dos medi-camentos. Elas contêm elevadas concentrações de tanino, substância que auxi-lia na formação de uma ca-mada protetora sobre a pele, ajudando, assim, na cicatri-zação de feridas.

Além de seu uso medi-cinal, a aroeira é uma das espécies mais úteis na Caa-tinga. Devido à dureza de sua madeira, é intensamente utilizada para a construção de casas, cercas, postes, en-tre outros. Graças à intensi-dade dos seus usos, ela é considerada uma das espé-cies com alto risco de extin-ção, de acordo com uma lis-ta publicada pelo Ibama (Figura 7).

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Figura 7: Aroeira. A - porte da planta e B – flores (Fotos:

Fábio J. Vieira).

A

B

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Angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan)

O angico é uma árvore de 12 a 15 metros de altura, também conhecida como an-gico-preto ou angico-de-ca-roço. Essa árvore é monoica, ou seja, apresenta o sexo fe-minino e o masculino em uma mesma planta, e seu tronco é coberto por acúleos, que podem estar densos ou até mesmo dispersos, daí ser chamada de angico-de-caro-ço. Suas flores são brancas, e os seus frutos são longos e achatados. Ocorre em todas as regiões da Caatinga e em algumas áreas do Cerrado, mas também pode ser encon-trada desde o Maranhão até o Paraná. É uma planta inten-

samente utilizada para várias finalidades, que vão desde a construção de casas, cercas e artesanato até o curtimento artesanal de couros e peles de animais para a fabricação de calçados, entre outras pe-ças.

Na medicina popular, o angico ajuda na eliminação de produtos do metabolis-mo. Também é utilizado para estancar pequenas hemorra-gias e no tratamento de leu-correia e gonorreia. Assim como a aroeira, devido à alta concentração de tanino em suas cascas, é utilizado para o tratamento tópico de feri-mentos e cortes. Essa planta também é empregada no tra-tamento de doenças respira-tórias, como: bronquite, co-queluche, tosse e inflamações no pulmão. É também utili-zada como expectorante (fi-gura 8).

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Figura 8: Angico. A - porte da

planta, B – flores e C – detalhe do

tronco repleto de acúleos (Fotos: A e B - Fábio J.

Vieira; C – Nélson L. Alencar) A

B C

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Cumaru (Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm.)

Essa árvore é também conhecida como imburana-de-cheiro, amburana ou cumaru e apresenta de 4 a 10 metros na vegetação mais seca, alcançando até 20 metros em áreas mais úmidas. Assim como a aro-eira, a imburana-de-cheiro é dioica e perde as folhas durante o período seco. As flores são brancas, e seus frutos são pequenos, do tipo vagem. Seu tronco possui descamação seme-lhante à encontrada em troncos de goiabeira, e essa camada que foi descamada recebe o nome de ritido-ma. A imburana-de-cheiro ocorre na Caatinga e tam-bém nos estados do Espíri-to Santo e de Minas Gerais. Sua distribuição não é fre-quente, sendo, inclusive, apontada como uma planta que sofre riscos de extin-ção devido à sua baixa

ocorrência nas matas e à sua intensa exploração. Sua madeira é utilizada no fabrico de móveis, devido à sua boa qualidade, e em esculturas, além de outros usos nobres. Tradicional-mente, suas sementes são usadas como odorizante de roupas em armários e guar-da-roupas por causa do seu aroma agradável.

Como medicamento, é usada popularmente no tratamento de problemas respiratórios, a exemplo de bronquite, asma, sinusite, gripe, resfriado; e como expectorante, o que pode ser devido à sua ação bron-codilatadora. Suas semen-tes são utilizadas no trata-mento de inflamações nos dentes e de dores reumáti-cas. Estudos científicos de-monstram que essa planta parece ser promissora no tratamento da doença de Alzheimer, mas devemos ter cuidado, pois essa fun-ção ainda não foi totalmen-te comprovada (figura 9).

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Figura 9 - Imburana de cheiro. A - porte

da planta, B - detalhe do tronco mostrando

os ritidomas e C – flor (Fotos: Fábio J. Vieira). A

B C

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Juá (Ziziphus joazeiro Mart.)

Conhecida popular-mente como juazeiro, é uma árvore monoica de 15 a 20 metros, nativa da Caatinga. Possui flores amarelo-es-verdeadas, pequenas e pou-co vistosas; o fruto é peque-no, porém doce e de sabor agradável, e costuma cair bastante no período chuvo-so. Durante a estação de seca, não perde suas folhas, daí ser considerada uma planta perenifólia. É uma das poucas plantas que re-sistem às frequentes secas da região, graças às suas grandes raízes, que retiram água das regiões mais pro-fundas do solo. Seus frutos, suas folhas e seus ramos são

utilizados para a alimenta-ção de bovinos, caprinos e suínos. O juá ocorre em todo o Nordeste brasileiro, desde o Piauí até a Bahia, e também no norte de Minas Gerais.

Na medicina popular, são utilizadas a casca e a fo-lha do juazeiro para aliviar alguns problemas relacio-nados aos aparelhos diges-tório e respiratório, como, por exemplo, gripe e tosse. Mas apenas a casca é usada como anti-inflamatório, to-nificante para os cabelos e anticaspa. Apesar de serem poucos os estudos científi-cos sobre essa planta, ela vem demonstrando ter uma boa atividade antibacteria-na, agindo sobre algumas bactérias (figura 10).

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Figura 10 - Juazeiro. A - porte

da planta, B - folhas e frutos e C - flores, frutos jovens e folhas (Fotos: A e C -

Fábio J. Vieira; B – Nélson L.

Alencar). A

B C

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Mororó (Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud.)

Conhecida também po-pularmente por pata-de-vaca ou unha-de-vaca, devido às suas folhas serem semelhan-tes a uma pata de vaca. É um arbusto monóico nativo da Caatinga que mede de 5 a 7 metros de altura e tem como

traço mais evidente suas fo-lhas, apesar de haver outras espécies desse mesmo gêne-ro com essa característica. Sua madeira é usada para fa-zer estaca, cabo de ferramen-tas, lenha e carvão.

Popularmente, essa planta é usada para o trata-mento de diabetes, proble-mas respiratórios (tosse, in-flamações na garganta, gripe, asma), distúrbios nervosos,

Figura 11: Pata de vaca. A - porte da planta, B - flor e C – frutos (Fotos: Fábio J. Vieira).

A

B

C

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enxaqueca e como expecto-rante e calmante. Atualmen-te, não existem trabalhos com avaliação farmacológi-ca dessa planta. Os estudos que existem são de plantas aparentadas, ou seja, da mes-ma família. Essas plantas de parentesco próximo do mo-roró vêm demonstrando se-rem interessantes no trata-mento de diabetes por

Bom-nome (Maytenus rigida Mart.)

Conhecida como bom-nome ou rompe-gibão, é uma planta de 4 a 8 metros de altura, com copa arre-dondada, muito densa e ra-mificada. É presente na Ca-atinga, crescendo em terrenos pedregosos e se-cos. Desenvolve-se princi-palmente em terrenos com alta incidência luminosa. Na Caatinga, sua madeira é utilizada para fazer cabo de ferramentas, estaca, lenha e carvão. Sua casca é usada

no preparo de remédios para problemas renais e do fíga-do. Além disso, há também relatos de usos para reuma-tismo, impotência sexual, distúrbio da menstruação, asma, tosse, anemia, pro-blemas cardíacos e na cir-culação sanguínea e infla-mações em geral, inclusive na garganta e no ovário. Apesar de ser uma planta muito conhecida pelas pes-soas da Caatinga, ainda são poucos os estudos científi-cos a seu respeito.

diminuírem as concentrações de açúcares no sangue; além disso, parecem ser importan-tes para diminuir as taxas de colesterol e triglicérides, que são duas gorduras forte-mente associadas a doenças cardíacas. Mas isso não quer dizer que o mororó da nossa região também tenha essas mesmas características (figu-ra 11).

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Figura 12: Ramos de catingueira floridos (Foto: Luciana G.S. Nascimento).

Catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.)

Conhecida popular-mente como catingueira ou catinga-de-porco devido ao cheiro da planta, essa árvore é monoica e possui de 4 a 10 metros de altura. Suas flores são amarelas, e seus frutos são do tipo vagem, que, quando secos, estouram para lançar suas sementes. Suas folhas podem cair durante as estações secas, ficando a planta completamente sem folhas. Cresce em todos os ambientes de Caatinga, tan-to nos úmidos como nos se-cos, porém, nas Caatingas

mais secas, é vista apenas como um arbusto. É utiliza-da em projetos de refloresta-mento de áreas da Caatinga. Sua madeira é intensamente utilizada como lenha e car-vão, além de servir para o fabrico de cercas e pequenas construções.

Na medicina popular, o chá de suas flores e sua casca é usado para proble-mas respiratórios, como gri-pes e resfriados, e também como expectorante. Mas apenas suas folhas são usa-das no tratamento de gastri-te, cólicas, febre e diarreias. Estudos realizados por cien-tistas mostraram a eficiência dessa planta no tratamento de diarreia e disenterias.

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Jatobá (Hymenaea courbaril L.)

Conhecida popular-mente como jatobá, é uma árvore de 8 a 18 metros de al-tura, com uma copa vistosa devido a seus amplos ramos; folhas perenes, inclusive na estação seca; tronco curto; e casca bem grossa. A flor é de cor creme, seu fruto é uma vagem (figura 14) de casca rí-gida e polpa constituída de uma massa amarelada e sabor fortemente adocicado muito apreciado.

Medicinalmente, seus

frutos são utilizados no fabri-co de remédios para tosse, gripe, bronquite, entre outros problemas respiratórios; além de anemia, dor de cabeça e gastrite. A resina pode ser usada em lambedores para a cura de gripe ou como chá para tosse e catarro. Da casca, é feito o chá para dores em geral e problemas no sistema respiratório, funcionando também como calmante. De-vido à qualidade de sua ma-deira, é empregada na cons-trução de vigas e confecção de caibros. Seus frutos são comestíveis para as pessoas e os animais.

Figura 13: Frutos do jatobá (Foto: Thiago A.S. Araújo).

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Mulungu (Erythrina velutina Willd.)

Conhecida popular-mente como mulungu, é uma planta de 8 a 12 metros de al-tura e com tronco espinhento. Suas flores são alaranjadas e bem vistosas devido ao seu tamanho e também por ocor-rerem durante o período em que a planta perde suas fo-lhas. Seus frutos, quando se-cos, abrem-se e liberam, no ambiente, suas sementes, que são de cor avermelhada. Ocorre em toda a Região Nor-deste até Minas Gerais e é bem adaptada a ambientes com forte incidência lumino-sa, apesar de estar frequente-mente associada a ambientes úmidos, como leito de rios ou várzeas. Sua madeira é bem leve e úmida e, por isso, pos-sui pouco interesse econômi-co, já que é atacada por de-compositores rapidamente. Mas, mesmo assim, é usada para fazer estacas e gamelas e no fabrico de caixotes ou brinquedos.

Popularmente, sua casca é utilizada no fabrico de chás para o tratamento de insônia, cólicas e prisão de

ventre e como calmante e an-ti-inflamatório. A literatura reporta usos para tratar de in-flamações dos dentes, dores de cabeça, febre e até mesmo como estimulante da produ-ção de leite materno. Já exis-tem estudos que mostram que, futuramente, poderemos ter bons remédios com efeito tranquilizante à base de mu-lungu.

Quixaba (Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex Roem. & Schult.) T. D. Penn.)

Conhecida como quixa-ba, é uma árvore dioica de até 15 metros de altura, com vá-rios troncos partindo do solo. Possui caule com muitos es-pinhos grandes e pontiagu-dos. Sua madeira é dura e uti-lizada no fabrico de pequenas ferramentas, como enxadas e foices. É nativa da Caatinga e ocorre desde o Piauí até Mi-nas Gerais. Sua flor é de cor amarelo-esverdeada, e seu fruto, por ter sabor adocica-do, é consumido pelas pesso-as e pelos animais da Caatin-

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ga, como aves e pequenos mamíferos.

Na medicina popu-lar, sua casca é utilizada no preparo de remédios para pancada, inflama-ções crônicas internas — como gastrite e inflama-ções ovarianas — e problemas renais. Seus frutos servem para a ali-mentação humana; e sua madeira, para a produção de estacas.

Caro leitor, fizemos uma breve descrição de algu-mas das plantas bem conheci-das da Caatinga. No próximo tópico, veremos alguns cui-dados que precisamos ter com as plantas na hora de coletar alguma de suas partes para fazer um remédio.

Quais os cuidados que devemos ter ao coletar partes de uma planta medicinal?

Quando vamos coletar alguma parte da planta, deve-

Figura 14: Detalhe do tronco de quixabeira com marcas de extração de casca (Foto:

Ulysses P. Albuquerque).

mos tomar alguns cuidados, pois o uso sem controle de plantas pode levar, com o pas-sar do tempo, à sua escassez na região. Devemos coletar folhas, cascas, frutos, látex, raízes, caules subterrâneos, sementes ou flores em uma quantidade ideal para evitar o desperdício.

Para cada parte utiliza-da, tem-se um cuidado espe-cífico. Na coleta de casca, você deverá ter o cuidado de não retirá-la anelando (figu-ra 15) o tronco, pois isso le-

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vará à morte da planta. É pre-ciso compreender que toda retirada da casca de uma planta, por si só, já compro-mete, de alguma forma, a sua sobrevivência; por isso, de-ve-se coletar o mínimo possí-vel. Devemos também evitar coletar casca em plantas com

caules muito finos, pois isso pode torná-las frágeis, fazen-do-as quebrarem facilmente e até mesmo afetando o seu desenvolvimento. A casca, além de proteger a planta, também é o local onde passa o floema, os vasos conduto-res de seiva elaborada.

Figura 15: Planta com grande retirada de cascas do caule (Foto: Ulysses P. Albuquerque).

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No caso da flor, deve-mos ter o cuidado de não re-tirá-la em excesso, pois isso poderá prejudicar a reprodu-ção da planta no ambiente. É importante termos em mente que a flor é o seu órgão re-produtor. Já para a retirada de raízes, ter o cuidado de não derrubar toda a árvore para não prejudicar o hábitat de outros animais que preci-sam desse local para sobrevi-ver.

Neste capítulo, vimos que as plantas medicinais são bastante utilizadas pelas pes-

soas residentes em regiões de Caatinga, sendo, assim, um recurso muito importante para melhorar a qualidade de vida. A diversidade da flora da nossa Caatinga tem sido uma fonte importante para a produção de novos remédios. Por isso, caro leitor, devemos ter bastante cuidado com as plantas, principalmente na hora de extrair alguma parte delas, para não prejudicar a sua vida e também para tê-las disponíveis e podermos fazer algum uso para melhorar nos-sa saúde e bem-estar.

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Uma das necessidades básicas para nós, seres huma-nos, é a alimentação. Desde os primórdios da humanida-de, as pessoas utilizam os re-cursos naturais, tanto os de origem animal quanto os de origem vegetal, para satisfa-zer essa necessidade. Em se tratando destes últimos, a contribuição das plantas para a alimentação humana é bas-

tante considerável, basta lem-brar das nossas refeições diá-rias para constatarmos que a maior parte da nossa dieta vem das plantas, como, por exemplo, o feijão, o arroz, o milho, a ervilha, a soja, o tri-go, a aveia, a cevada, as hor-taliças em geral etc. Todas essas plantas, e muitas outras, foram domesticadas há mi-lhares de anos.

Plantas com Uso Alimentício4

Este capítulo quer chamar sua atenção para um tipo de uso que algumas vezes tem sido negligenciado: o uso alimentício das plantas da Caatinga. Aqui, você encontrará informações sobre algumas plantas que podem ser utilizadas na alimentação das pessoas — em especial de quem vive em regiões semiáridas, onde a oferta desse recurso é maior —, além de conhecer a importância delas para o desenvolvimento eco-nômico e a conservação do meio ambiente.

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VOCÊ SABIA?

Não se tem um número exato das plantas alimentícias em todo o mundo, porém um pesquisador alemão, Günther Kunkel, em seu livro Plantas para o Consumo Humano, publicado em 1984, forneceu uma das listas mais completas sobre plantas alimentícias, na qual se contabi-lizaram cerca de 12.500 espécies com potencial uso alimentício. No entanto, a incerteza desses números levou outros pesquisadores a esti-marem, posteriormente, algo entre 27 mil e 75 mil espécies potencial-mente alimentícias.

Apesar do grande núme-ro de espécies com potencial alimentício, a alimentação hu-mana é baseada principalmente em apenas cem plantas. Esse número reduzido de plantas na nossa dieta tem como principal consequência o mau aproveita-mento de outras espécies com potencial nutricional, principal-mente a flora alimentícia nati-va de uma região. O grande problema é que o interesse econômico mundial destina-se a um conjunto reduzido de aproximadamente vinte espé-cies vegetais, como soja, mi-

lho, sorgo, trigo, cevada, ar-roz. Toda a forte influência da mídia e os interesses econô-micos culminaram no aumen-to da procura e do uso desse grupo reduzido de vegetais, em detrimento do consumo de plantas nativas de uma re-gião. A incorporação destas últimas na dieta, além de fa-zer com que ela seja mais va-riada, proporcionaria às po-pulações humanas uma fonte alternativa de alimentação, podendo, inclusive, melhorar a renda familiar através de sua comercialização.

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SAIBA MAIS...

Muitas foram as influências que o Brasil recebeu ao longo de sua história. Povos de todas as partes do mundo aqui chegaram, e, com eles, também vieram seus costumes e suas crenças, somando-se à cultura dos povos indígenas que aqui estavam. Assim se origi-nou a complexa mistura cultural que caracteriza o povo brasileiro. Um dos aspectos que simbolizam bem isso é a culinária, a qual so-freu fortes influências, principalmente indígenas, europeias — com destaque para a portuguesa — e africanas.

A principal influência indígena na dieta brasileira é a mandio-ca, mais especificamente a farinha da mandioca, sendo a tapioca um dos seus principais produtos. Além dessa planta, outras foram incorporadas, por etnias indígenas, na alimentação do povo brasi-leiro, como batata-doce, cará, cacau, amendoim, buriti, cupuaçu e caju, só para citar alguns exemplos.

Os europeus, principalmente os portugueses, também deram a sua contribuição. Dos navios lusitanos, desembarcaram cereais, trigo, couves, alfaces, pepinos, abóboras, lentilhas, etc.; além de temperos, como alho, cebola, cominho, coentro e gengibre, os quais são heranças das primeiras hortas portuguesas em terras brasilei-ras.

Dentre as plantas alimentícias introduzidas pelos africanos, encontra-se a banana. Essa planta é considerada a maior contribui-ção africana para a alimentação do Brasil, em termos de quantida-de, distribuição e consumo. Dentre outras plantas trazidas pelos africanos, destacam-se a manga, a jaca, o quiabo, o jiló, a cana-de-açúcar, etc. O coqueiro e o leite de coco, à primeira vista tão tupini-quins, na verdade também vieram do continente africano, bem como o dendê e o azeite dele extraído, tão característico da culiná-ria baiana.

Texto adaptado de Alimentação e Cultura. Disponível em: (<http://nutricao.saude.gov.br/documentos/alimentacao_cultura.pdf>).

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VOCÊ SABIA?

No entanto, ainda que muito variadas as influências na culinária brasileira, a maior parte das plantas que chegam à nossa mesa é de origem euro-peia, ocupando o lugar das plantas locais; com isso, não só a tradição do que é nosso se perde, mas também o conheci-mento dos vegetais nativos que podem ser empregados como

alimento. Outra consequência disso é a perda das próprias plantas, já que, muitas vezes, estas são cortadas para abrir es-paço para o plantio das princi-pais monoculturas (milho e fei-jão, por exemplo). Por que, então, não transmitir o conheci-mento das plantas silvestres a nossos filhos e promover o uso controlado destas?

Para termos uma ideia de como são poucas as plantas que consu-mimos diariamente, convidamos você para fazer uma rápida lista dos vegetais que comeu no dia anterior. Procure colocar tudo: frutas, verdu-ras, legumes, temperos, cereais, bebidas, etc. Depois que você terminar sua listagem, tente compará-la com a de outros colegas e você verá que, na maioria das vezes, o número não é superior a vinte plantas.

Mas nem sempre isso foi assim. Os nossos antepassados tinham hábitos alimentares diferentes dos nossos e incluíam, na sua alimenta-ção, um grande número de espécies vegetais, coletadas ao se desloca-rem de um lugar para outro. Uma história bastante interessante que exemplifica essa afirmação é a das duas múmias encontradas na Euro-pa, conhecidas como homem de Tollund e homem de Grauballe. Essas múmias são datadas da Idade do Ferro, período compreendido entre os anos 1200 a.C. a 1000 d.C. A análise do conteúdo de seus estômagos revelou que, antes da morte, essas pessoas tinham consumido cerca de 66 espécies de plantas. Sugiro agora que você compare o número de plantas consumidas por essas pessoas com o número de plantas consu-midas por você e seus colegas. Será que, hoje em dia, alguém se ali-menta de forma tão diversificada?

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Em relação às plantas com potencial alimentício, a quantidade desses recursos na Caatinga é muito maior do que, à primeira vista, se poderia imaginar. Apenas para citar alguns exemplos de plantas usadas na alimentação, temos o trapiá (Crataeva tapia L.), o coco-catulé (Syagrus cearensis Noblick), o icó (Capparis jacobinae Moric. ex Eichl), a ubaia (Eugenia uvalha Cambess), o facheiro (Pilosocereus pachycladus), o umbu (Spondias tuberosa Arruda), dentre outras.

O fato de essas plantas poderem servir de alimento para nós, seres humanos, faz com que sejam vistas com es-pecial destaque, pois o seu uso controlado e sustentável pode melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas que vivem nas regiões semiáridas do Nordeste brasileiro. O uso sustentável das plantas ali-mentícias se dá pela utiliza-ção e/ou coleta em quantida-des que satisfaçam as necessidades humanas, sem prejudicar a preservação da flora. Dependendo da parte, a sua retirada não produz gran-des prejuízos às plantas, como

ao se usarem frutos e folhas. No entanto, se a estrutura usada for o caule ou a raiz, a coleta excessiva deve ser evi-tada, para que se possa garan-tir a sobrevivência das plantas e a manutenção da oferta de alimentos para todos.

Como nós vimos, exis-te um grande número de plantas usadas na alimenta-ção das pessoas que vivem em regiões semiáridas do Nordeste brasileiro. Sabendo da riqueza e do potencial da flora do ecossistema Caatin-ga, escolhemos seis das mais conhecidas por seus usos ali-mentícios para um maior aprofundamento.

Umbu (Spondias tuberosa Arruda)

Dentre as plantas mais conhecidas pelas populações do semiárido, está o umbu-zeiro, ou imbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), uma frutei-ra nativa do Brasil. A princi-pal parte comestível do umbu é o fruto, podendo ser consu-mido in natura, em refrescos, sorvetes e na tradicional um-buzada (polpa dos frutos in-chados de umbu cozida com leite e açúcar). Só que esta

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não é a única forma de se con-sumir a umbuzada, ela pode ser preparada com os frutos maduros do umbu espremi-dos e misturados com farinha — esse preparado também é

conhecido por pirão de umbu.Segundo estudos desenvolvi-dos na Caatinga, os frutos do umbu são ricos em vitamina C e sais minerais, como cál-cio, potássio e magnésio.

Figura 16: Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda). A – porte da planta, B – fruto e C – inflorescência (Fotos: Ernani M.F. Lins-Neto).

A

B C

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O umbuzeiro é uma planta importantíssima para populações do semiárido nor-destino, sendo considerada uma árvore muito consumida no Sertão devido à sua mar-cante característica de flores-cer e frutificar no período de

seca da região, surgindo como uma ótima alternativa de sub-sistência e renda para as po-pulações humanas dessas áre-as. Como visto nas palavras de Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, o umbuzei-ro

Além dos frutos, a bata-ta (nome popular para uma parte da raiz da planta) do umbuzeiro também é uma parte da planta bastante usa-da. Com ela, pode-se preparar desde doces e geleias até fari-nhas. As batatinhas das plan-tas jovens do umbuzeiro tam-bém podem ser consumidas in natura e/ou em conserva,

É a árvore sagrada do Sertão. Sócia fiel das rápidas horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros [...]. Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrelaçados parecem de propósito feitos para a armação das redes bamboantes. E, ao chegarem os tempos felizes, dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da umbuzada tradicional.

denominadas picles. Essa for-ma de aproveitamento do um-buzeiro também pode gerar uma fonte alternativa de ren-da, mas deve-se ter sempre cuidado com excessos, uma vez que o uso exagerado das batatinhas do umbu possivel-mente provocará danos à re-novação das populações de umbuzeiro de uma região.

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SAIBA MAIS...Para evitar que a coleta da batata do umbu acabe com as popu-

lações naturais da planta, as indústrias de processamento dos frutos do umbuzeiro que desejam trabalhar também com os picles costu-mam destinar uma área para o plantio das sementes que excedem do processamento dos frutos. Pesquisadores e técnicos da Embrapa Se-miárido divulgaram instruções técnicas explicando detalhadamente como produzir picles do umbuzeiro. Vamos conferir!

Devem-se plantar as sementes dos frutos em canteiros com 1 metro de largura e com profundidade de 40 centímetros, em substra-to formado de areia de riacho ou areia grossa lavada. As sementes devem ser semeadas numa proporção de, aproximadamente, 120 se-mentes por metro quadrado, com uma cobertura de 2,5 a 3,0 centí-metros de areia. Os canteiros devem ser irrigados três vezes por se-mana até o início da germinação. Após esse período, a irrigação deve ser semanal. Ao se completarem 120 dias após o plantio, as batatas das mudas atingem 17 centímetros de comprimento e 1 centímetro de diâmetro, com peso médio de 47,5 gramas. A partir dessa fase, já podem ser utilizadas para o consumo in natura e para o processa-mento de picles. Este último consiste das seguintes etapas: lavagem das batatas em água corrente por 5 minutos; descascamento; imer-são da batata em solução de 10 a 20 partes por milhão de cloro para 10 litros de água por 30 minutos; acondicionamento em vidros; adi-ção da salmoura. A salmoura deve ser preparada com 50 gramas de sal de cozinha e o suco de dois limões, adicionados a 2 litros de água. Após a adição da salmoura, deve-se realizar o branqueamento em água aquecida a 80 graus Celsius por 30 minutos; posteriormen-te, completa-se a salmoura nos vidros, e realiza-se o tratamento tér-mico por 40 minutos em banho-maria a 96 graus Celsius.

Texto adaptado de: Instrução Técnica da Embrapa Semi-árido. Texto: Cavalcanti, N. B. e colaboradores. Picles do Xilopódio do Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), publicada em maio de 2007. e disponível em <http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/CPATSA/35969/1/INT82.pdf>, acessado em 02/02/2010.

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SAIBA MAIS...Receitas de umbu

E já que o umbu é uma planta abundante na Caatinga e muito nutritiva, por que não aprender novas receitas para aproveitar me-lhor e consumir de diferentes modos os seus frutos?

Doce de umbu1 - Escolha dos frutosPara o preparo do doce, os frutos podem ser colhidos em todas

as fases de amadurecimento: • Umbu inchado (entre verde e maduro).• Umbu muito inchado (entre o inchado e o maduro).• Umbu maduro.• Umbu muito maduro (este estraga muito rápido).

2 - Como preparar a polpaPara obter a polpa, proceda do modo seguinte:• Lave os frutos em água corrente.• Leve-os ao fogo numa vasilha com água de beber até o início

da fervura.• Escorra a água e espere os frutos esfriarem.• Passe os frutos numa peneira para separar os caroços da pol-

pa.

3 - Preparando o doce• Ingredientes: açúcar em quantidade mais ou menos igual à

metade da quantidade de polpa.• Como fazer: misture o açúcar com a polpa; em seguida, po-

nha a mistura no fogo e mexa-a até chegar ao ponto de massa firme e fácil de cortar.

Rendimento do doce: Como o umbu inchado é o que produz mais polpa, o doce fei-

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to com ele é o que apresenta maior rendimento. Depois vem o doce de umbu muito inchado e o de umbu maduro. Portanto, o doce de menor rendimento é o feito com umbu muito maduro, pois este pro-duz menos polpa.

Para obter mais receitas e informações sobre o umbu, consulte: Umbuzeiro: valorize o que é seu. Disponível em http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/item/11950/2/00081270.pdf.

SAIBA MAIS...

Umbu gigante

Pesquisadores da Embrapa Semiárido, em Petrolina, estão às voltas com um enigma genético desde que colheram, no Sertão baiano, um umbu com peso cinco vezes maior que a média. O fruto do umbuzeiro pesa, em média, 20 gramas, incluindo a polpa, o ca-roço e a casca. O gigante tem 107 gramas. “É cinco vezes e meia maior que a média”, diz Carlos Antônio, pesquisador da Embrapa. O material foi depositado na Embrapa Semiárido, mais especifica-mente numa plantação de umbuzeiros silvestres que ocupa três hec-tares da unidade. São 78 tipos diferentes da fruteira, que atinge 6 metros e é exclusiva da Caatinga, não sendo encontrada em nenhum outro lugar do planeta. Há umbuzeiros gigantes, os que frutificam em cachos e os geminados. O umbu-de-cacho, coletado também no Sertão baiano (município de São Gabriel), apresenta 25 frutos num mesmo cacho.

Essas são apenas algumas das peculiaridades dessa fruteira, conhecida por armazenar água em raízes modificadas denominadas popularmente de batatas do umbu. Outra característica é o apareci-mento de flores antes de folhas.

Adaptado da reportagem Umbu Gigante Intriga Cientistas, publicada no Jornal do Commercio, Recife, 26/03/2006.

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Quixabeira (Sideroxylon obtusifolium (Humb. ex Roem. & Schult.) T. D. Penn.)

A quixabeira é uma ár-vore natural da região da Ca-atinga muito encontrada em regiões úmidas próximas a rios. Você provavelmente já deve ter ouvido falar dessa planta, ela é muito conhecida porque sua casca é utilizada para tratar ferimentos. Tam-bém é possível que, na sua região, ela seja chamada de quixaba. A parte comestível é o fruto, de coloração roxa-es-cura e produzido entre os me-ses de janeiro e fevereiro. São frutinhos ingeridos in natura pela população e possuem sa-bor bastante adocicado graças à grande quantidade de açú-cares em sua polpa. Por essa razão, são bastante aprecia-dos pelas crianças, que, ao consumi-los em excesso, cos-tumam ficar com a boca roxa e “grudada” por causa do lá-tex que é produzido em dife-rentes partes da planta, inclu-sive nos frutos.

Mandacaru (Cereus jamacaru D.C.)

O mandacaru é um cacto que está entre as plan-tas mais lembradas quando se fala em vegetação da Ca-atinga. Sua forma é bem ca-racterística, tornando-se quase impossível não o di-ferenciar no meio das outras plantas que formam a vege-tação. O caule é coberto por grandes espinhos, com ra-mificações próximas ao topo e de coloração verde. Essa planta é cercada por muitos “causos” sertanejos. O mais comum deles e que já virou até assunto de mú-sica é que a abertura de suas flores brancas é um indica-tivo de chuva próxima.

Além disso, é muito comum ouvir que o caule do mandacaru tem muita água, que é utilizada para matar a sede de quem anda pelo mato. A principal parte co-mestível da planta são os seus frutos, que nascem gru-dados ao caule. A casca do fruto é bastante avermelha-da e carnosa, e seu conteú-do, comestível, é de cor

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branca, com grande número de sementes pretas e muita mucilagem. A polpa tem sabor bastante adocicado, o que faz com que as crianças sejam suas maiores admira-doras. Também é um ali-

mento bastante apreciado pelas aves, que descartam as sementes derrubando-as no chão e favorecendo o nascimento de novas plan-tas.

Xote das Meninas Luiz Gonzaga e Zé Dantas

Mandacaruquando “fulora” na secaé o sinal que a chuva chegano Sertão.Toda menina que enjoada bonecaé sinal que o amorjá chegou no coração.Meia comprida,não quer mais sapato baixo,vestido bem cintado,não quer mais vestir timão.Ela só quer,só pensa em namorar.Ela só quer,só pensa em namorar.De manhã cedo, já está pintada,só vive suspirando,sonhando acordada.

O pai leva ao “douto”a filha adoentada.Não come nem estuda,não dorme nem quer nada.Ela só quer,só pensa em namorar.Ela só quer,só pensa em namorar.Mas o “douto” nem examina,chamando o pai do lado,lhe diz logo na surdina:que o mal é da idade,que, pra tal menina,não tem um só remédioem toda a medicina.Ela só quer,só pensa em namorar.Ela só quer,só pensa em namorar.

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VOCÊ SABIA?

Figura 17: Mandacaru (Cereus jamacaru D.C.). A – detalhe da flor, B – fruto no topo da planta e C – fruto aberto revelando sua polpa bem característica cheia de pequenas sementes de coloração escura (Fotos: ).

Em outros países, os frutos e até mesmo o “miolo” dos cactos são muito utilizados na alimentação diária das pessoas. Um desses países é o México, nosso vizinho aqui da América Latina. Lá existe uma planta muito parecida com o nosso man-dacaru, conhecida como pitaia (Hylocereus undatus (Haw.) Britton & Rose). Seus frutos são utilizados para fabricar bebi-das, sucos, geleias e até sorvetes. A pitaia é tão popular que já foi motivo de estudos científicos, que comprovaram que ela possui minerais e vitaminas, incluindo a vitamina C. Agora, pense conosco: se o mandacaru é tão parecido com a pitaia, será que ele também não pode ser usado para fabricar doces ou sorvetes nutritivos? Que tal tentar, hein?

A

B

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cacto nativo do Brasil e uma das plantas mais frequentes e comuns na Caatinga. Devido à facilidade de germinação de suas sementes, o facheiro pode crescer quase que em qualquer lugar, sendo comum encontrá-lo tanto em terrenos

Sorvete de pitaia

Ingredientes

- 02 xícaras (chá) de polpa de pitaia- ½ xícara (chá) de adoçante em pó- 01 xícara (chá) de creme de leite light- 04 claras em neve

Ingredientes da calda

- ½ xícara (chá) de polpa de pitaia- ½ xícara (chá) de suco de laranja- 02 colheres (sopa) de adoçante em pó- 01 colher (chá) de amido de milho

Modo de preparo

Misture os ingredientes e coloque a mistura em uma va-silha com tampa. Leve-a ao freezer por cerca de 2 horas. Bata-a com o auxílio de uma batedeira e leve-a de volta ao freezer até a hora de servir. Para a calda, misture os ingredientes e leve a mistura ao fogo até engrossar. Sirva fria sobre o sorvete.

Receita disponível em http://cybercook.terra.com.br/sorvete-de-pitaya-e-salada-de-frutas-exoticas-na-comunidade.html?codigo=25444.

Facheiro (Pilosocereus pachycladus F. Ritter)

O facheiro pertence à mesma família que o manda-caru e, assim como este, é um

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úmidos quanto crescendo em cima de rochas. Geralmente, essa planta apresenta um cres-cimento ramificado e se en-contra totalmente coberta de espinhos amarelos; tem flores azuladas e frutos que, quando maduros, tomam uma colora-ção avermelhada e adquirem uma concentração de açúcar

que os faz muito apetitosos, não só para os animais, mas também para os seres huma-nos. Além disso, os miolos são tradicionalmente utilizados na elaboração do tão conhecido doce de facheiro. Veja o que dizem as doceiras de Altinho (Agreste de Pernambuco) so-bre a sua preparação:

O primeiro passo que deve ser feito para preparar o doce de facheiro é ir buscar a planta, tirar alguns de seus ramos — os quais devem estar nem muito novos nem muito velhos —, tirar os espinhos da planta e raspar o miolo. Esse material, que constitui a parte comestível da planta, deverá ir para a panela, na qual será adicionado açúcar ou rapadura segundo o gosto da pessoa, e terá que ir para o fogo durante várias horas. O tempo de cozi-mento do doce depende da quantidade a preparar, mas o indicativo de que já está ficando pronto é quando o caldo vai ficando cada vez mais grosso.

Figura 18: Facheiro (Pilosocereus pachycladus F. Ritter). A – porte da planta, B – detalhe do caule espinhoso e C – detalhe dos frutos (Fotos: C – Margarita P. Cruz).

A

B

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Gogoia (Solanum aculeatissimum Jacq.)

A gogoia é um erva que ocorre desde a América Cen-tral até o norte da Argentina. Na Caatinga, cresce em cer-cas, quintais, áreas de pasto e cultivo. No seu caule, cres-cem numerosos espinhos, ca-racterística que deu origem ao seu nome científico. A planta tem flores brancas ou

amarelas e estames amarelos, além de frutinhos esféricos — que são consumidos in na-tura — de cor vermelha, quando maduros, e de várias tonalidades de verde, quando imaturos. Devido aos nume-rosos espinhos que tem essa planta, muitas pessoas não costumam coletar e comer os frutinhos, deixando, assim, de aproveitar uma valiosa fonte de vitaminas e mine-rais.

Figura 19: Gogóia (Solanum aculeatissimum Jacq.). A – porte da planta, B - detalhe da flor e C – detalhe do fruto (Fotos: Margarita P. Cruz).

A B

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Coco-catolé (Syagrus cearensis Noblick)

O coco-catolé é uma das plantas alimentícias mais amplamente conhecidas na Caatinga. É uma palmeira pa-recida com o coqueiro, que apresenta pequenos coqui-nhos com os quais se podem fazer inúmeras receitas. Po-

dem ser consumidos in natu-ra, verdes ou maduros (se-cos), com açúcar ou pulverizados para preparar uma farinha que pode ser adi-cionada aos alimentos. Algu-mas pessoas preparam deli-ciosas cocadas com esses frutos, que, ainda que peque-nos, são muito abundantes; outras, usam-nos para elabo-rar molhos.

Figura 20: Coco catolé A – porte da planta, B - detalhe do cacho e C –

detalhe dos cocos, frutos, separados (Fotos: Lucilene L. Santos).

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VOCÊ SABIA?

Na Caatinga, além das plantas nativas que são consumi-das normalmente, há outro grupo de plantas que também ser-vem como alimento, mas que só são consumidas quando as outras fontes de alimento já se acabaram. Isso acontece porque essas plantas são difíceis de encontrar ou de preparar; então, as pessoas só se dão ao trabalho de procurá-las quando os outros alimentos mais fáceis não estão mais disponíveis, ou seja, em uma situação de emergência, como em tempos de seca, por exemplo. Por essa razão, essas plantas receberam dos cientis-tas o nome de alimentos emergenciais.

Diante disso, você pode nos perguntar: como é que essas plantas conseguem sobreviver ao período da seca? Pois bem, muitas delas possuem alguma característica especial que faz com que suportem, por longos períodos, a falta de água, como, por exemplo, a existência de caules ou raízes que armazenam água.

Você já deve estar bastante curioso para conhecer algum exemplo de alimento emergencial. Por que você não aproveita essa curiosidade para perguntar às pessoas mais velhas da sua família se já ouviram falar de algum desses alimentos?

Vamos matar sua curiosidade citando alguns exemplos que você deve conhecer muito bem. O primeiro é o xique-xi-que (Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Bly. ex Rowl.), um cacto muito usado na alimentação do rebanho. Para servir de alimento para as pessoas, é necessário retirar cuida-dosamente todos os espinhos, cortar o miolo em rodelas, lavar, deixar secar ao sol e, por fim, assá-lo. Ficou cansado só de pensar no trabalhão que dá? Então vamos falar agora de outra planta, conhecida como mucunã (Dioclea grandiflora), uma trepadeira cujas sementes resistentes são armazenadas durante o inverno, para serem usadas em caso de necessidade, ou cole-tadas do chão na época seca. Para consumir essas sementes, é necessário quebrá-las, ralar até que virem farinha e lavar mui-tas vezes, pois elas contêm substâncias tóxicas que, se ingeri-

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das, podem matar uma pessoa. Após todas essas lavagens, utiliza-se essa farinha para fazer um cuscuz que, segundo as pessoas que já o saborearam, não é muito gostoso. Outros exemplos bem conhecidos de alimentos emergenciais são a macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. f.), que pode ser utilizada na preparação de cuscuz, e a maniçoba (Manihot dichotoma Ule), que é lavada e torrada para fabricar uma fari-nha que substitui a farinha de mandioca.

Hoje em dia, o uso desses alimentos é muito raro, mas já foi muito recorrente em épocas passadas, quando longos períodos de seca atingiam a Região Nordeste e, assim, não era possível cultivar ou coletar alguma outra planta da vegetação para comer. Foi a melhoria nas condições financeiras da população que permitiu que as pessoas do Sertão trocassem o uso dos alimentos emergenciais pelos produtos adquiridos no comércio durante os períodos de longa estiagem. Mas este é um tipo de informação que nunca deve ser esquecido, pois nunca se sabe quando será preciso utilizá-lo novamente.

A partir de tudo que vi-mos aqui, podemos verificar o quão importantes são as plantas alimentícias nativas de nossa região, as quais são merecedo-ras da nossa atenção não so-mente por serem fontes de ali-mentos alternativos, como

também pelo forte potencial econômico que possuem. Por isso, devemos, cada vez mais, conhecer a nossa flora, valori-zá-la e protegê-la, não só para o nosso uso, mas também para que as futuras gerações possam igualmente aproveitá-la.

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Em determinadas regiões do País, as condições climáticas dificultam a vida das pessoas. Na Caatinga, sabemos que o principal problema é a falta de água, que constitui um grande obstáculo para a população e para a sobrevivência de alguns animais. Entretanto, ao longo do tempo, a população buscou minimizar essa situação desenvolvendo estratégias de sobrevivência.

Uma das atividades mais praticadas para fins de subsistência é a agropecuária, a qual se destina ao cultivo de plantas, especialmente as ali-mentícias, para o sustento da

família; e à criação de animais domésticos, como bois, cabras e ovelhas.

As plantas forrageiras são aquelas usadas na alimen-tação dos animais domésticos e são encontradas facilmente na mata, no quintal, no roçado e na beira da estrada, ocorren-do nas mais variadas formas de vida, desde herbáceas (er-vas) a plantas arbustivas e ar-bóreas.

Na estação chuvosa, há uma grande riqueza de herbá-ceas, que, dependendo da re-gião, podem ser suficientes para alimentar o rebanho lo-cal; além disso, são considera-das pela população da região

Plantas com Uso Forrageiro 5

Neste capítulo, você conhecerá um pouco a respeito das plantas forrageiras, ou seja, as usadas na alimentação de animais. Esperamos acrescentar ao seu conhecimento informações sobre esse grupo de plan-tas e as suas principais curiosidades. Ao fim do capítulo, você poderá compreender o porquê de uma planta ser considerada uma boa forragei-ra, a sua importância na vida das pessoas e o quanto contribui para a qualidade de vida da população e para a economia da Região Nordeste.

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como um alimento valioso para os animais, especialmen-te as gramíneas, mais conheci-das como capim. Já na estação seca, a maioria das ervas desa-parece, acarretando uma dimi-nuição na oferta de alimento e

aumentando, assim, as dificul-dades para manter essa práti-ca. No entanto, a própria re-gião oferece excelentes alternativas que iremos mos-trar adiante.

O Brasil possui um dos maiores re-banhos bovinos comerciais do mundo! Se-gundo dados de 2004 do Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística (IBGE), são mais de 195 milhões de cabeças, isto é, mais que o número de habitantes do Brasil. A Região Nordeste destaca-se pela criação de ca-prinos — 93% de todo o País —, e a maior parte desse rebanho está em Pernambuco e na Bahia. No sudeste da Bahia, a exportação de carne e seus derivados tem gerado excelentes expectati-vas: só no ano de 2004, foram 6 bilhões de dólares.

A criação de caprinos no Nordeste passou a ser uma prática expres-siva, e muitos criadores investem no melhoramento genético das raças, algumas delas já conhecidas pela população local, como Moxotó (animal branco com listra preta no dorso e membros igualmente pretos), Parda Sertaneja (pelagem parda), Graúna (pelagem preta), Azul (pelagem cin-za-azulada), Canindé (pelagem escura com a barriga e região em torno dos olhos claras), Marota (pelagem branca), dentre outras.

Após o ano de 1971, trabalhos de melhoramento — postos em prá-tica por Manelito Dantas Vilar e Ariano Suassuna, na Fazenda Carnaúba, no município de Taperoá (PB) — foram realizados com sucesso, regene-rando raças nordestinas. Segundo Ariano Suassuna, com esse trabalho o rebanho da Carnaúba passou a ser constituído por cabras ibero-brasilei-ras, vermelhas, brancas, negras e azuis, fazendo referência ao povo bra-sileiro, na sua síntese entre brancos europeus, negros africanos e índios brasileiros.

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Com esses cruzamentos, os resultados foram extremamente pro-missores em termos de ganhos em produtividade na função leiteira. Para se ter ideia da importância desse trabalho, animais das três raças, que antes pouco produziam, atingiram, nas gerações melhoradas subsequen-tes, uma produção média de 1,7 litros de leite por dia.

Adaptado do texto Caprinos: uma Pecuária Necessária no Semiárido Nordestino, de João Suassuna, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em <http://www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/cabra.html>

Enquanto as gramíneas espontâneas “desaparecem” na estação seca, algumas plan-tas permanecem durante todo o ano. Isso acontece porque essas espécies estão adaptadas à falta de água, como acontece com o umbuzeiro e o juazeiro, exemplos de plantas que man-têm suas folhas e, muitas ve-zes, seus frutos. Assim aconte-ce também com a algaroba, planta comumente encontrada

na Região Nordeste, perten-cente ao grupo das legumino-sas, já mencionadas nos capí-tulos anteriores. Seus frutos são do tipo vagem, semelhan-tes ao feijão, e, embora não seja uma planta brasileira, ela se desenvolve muito bem em regiões secas, pois possui raí-zes muito profundas que po-dem ultrapassar 50 metros de profundidade, o que facilita a obtenção de água.

A algaroba (Prosopis juliflora (Sw.) D.C.) foi trazida do Peru e introduzida no Brasil em 1942, em Serra Talhada (PE), especial-mente devido às suas qualidades como forrageira, produtora de le-nha e carvão. Durante a década de 1990, houve um grande incenti-vo, por parte do governo, para o plantio da algaroba em vários estados do Nordeste. Isso aconteceu devido à facilidade de adapta-ção da planta a diferentes tipos de solo e ao seu bom desenvolvi-mento em regiões secas e quentes; além disso, a planta produz fru-to mesmo no período mais seco do ano. Esses frutos podem ser

SAIBA MAIS...

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utilizados tanto na alimentação animal, em especial de bovinos, como na humana, em forma de biscoitos, bolos, licores, pães, entre outros. Em função dessas vantagens, por algum tempo a planta foi considerada a “salvação do Sertão”. Entretanto, devido à forma inadequada de manejo, a algaroba tornou-se um grave problema, o que acabou com as expectativas do seu cultivo, pois a planta inva-diu, com facilidade, a vegetação da Caatinga, representando uma ameaça à conservação da biodiversidade. Estima-se que existe uma área superior a 500 mil hectares ocupada pela espécie. O problema partiu do governo, que incentivou o plantio, mas não o gerenciou de forma correta e ainda cortou os incentivos para a produção, não desenvolvendo nenhum projeto visando o controle da espécie.

Adaptado de CAMPELO, C. R. Algaroba: Planta Mágica. Recife: Edições Edificantes, 1997. 84 p. & PEGADO, C. M. A. et al. Efeitos da Invasão Biológica de Algaroba – Prosopis juliflora (Sw) D. C. sobre a Composição e a Estrutura do Estrato Arbustivo-arbóreo da Caatinga, Paraíba. Acta Botânica Brasilica. v. 20. 2006.

Queremos, agora, cha-mar a atenção para outro grupo de plantas muito típico da re-gião, os cactos ou as cactáceas, que se destacam especialmente por sua resistência à seca e por acumularem água em algumas de suas partes. Essa característi-ca é de suma importância, espe-cialmente para uma planta for-rageira, pois a água acumulada, além de servir como reserva de nutrientes, é capaz de suprir a necessidade de líquido do ani-mal para a sua sobrevivência.

Os cactos apresentam formato diferenciado em rela-

ção às outras espécies de plan-tas e podem ter muitos espi-nhos. Dentre as espécies mais utilizadas na alimentação ani-mal, está a palma forrageira, que, apesar de não ser originá-ria da Caatinga, é muito culti-vada nesse ambiente. Outras, como o facheiro e o mandaca-ru, são bem utilizadas pelo ho-mem como suplemento alimen-tar na seca e geralmente são ofertadas aos bovinos. Todavia, é necessário um tratamento di-ferenciado para que o animal possa consumir essas plantas. No decorrer do capítulo, essas

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formas de uso serão mais de-talhadas, lembrando que você poderá rever a descrição des-

sas espécies no capítulo sobre plantas alimentícias.

A palma (Opuntia fícus-indica L.) foi trazida do México para o Brasil no início do século XX. De início, a intenção com a espécie era cultivar um inseto conhecido por cochonilha-do-carmim, que, quando bem cuidado, sobrevive da planta sem causar danos a ela. Esse inseto produz um corante valioso para a indústria. Entretanto, a experiência falhou, e a planta passou a ser utilizada como ornamental, até que houve uma seca muito severa na Região Nordeste, por volta de 1932, e a palma passou a ser reconhecida, então, como uma excelente fonte de alimen-tação animal, permanecendo, até os dias atuais, cultivada em boa parte da região e somando mais de 460 mil hectares de área plantada.

Adaptado de Manejo e Utilização da Palma Forrageira (Opuntia e Nopalea) em Pernambuco. Recife: IPA, 2006. 48 p. (IPA. Documentos, 30.)

Xique-Xique (Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Byl. ex Rowl)

É um cacto arbustivo e fa-cilmente encontrado na região. Atinge, no máximo, 4 metros de altura, com ramos cilíndricos (pa-recem pequenas colunas) repletos de espinhos. Suas flores, de cor variando de alvo-esverdeada a le-vemente avermelhada, abrem à

Conheça melhor algumas plantas forrageiras da Caatinga

noite e são comumente visitadas por morcegos. Os frutos, verme-lho-escuros, também são aprecia-dos por outros animais. Como forragem, é oferecida nos perío-dos mais críticos de seca, pois os espinhos dificultam o manejo e o consumo da planta, sendo neces-sária a queima para sua retirada. Contudo, vale ressaltar que o seu elevado valor forrageiro faz com que essa espécie seja muito valo-rizada pelos agricultores da re-gião.

SAIBA MAIS...

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Figura 21: Xique-xique (Pilosocereus gounellei (A. Weber ex K. Schum.) Byl. ex Rowl), porte da planta (Foto: Alissandra T. Nunes).

Figura 22: Palmatória (Tacinga palmadora (Britton & Rose) N. P. Taylor & Stuppy). A – planta florida. B – detalhe das flores com insetos polinizadores (Fotos: Viviny Teixeira).

Palmatória (Tacinga palmadora (Britton & Rose) N. P. Taylor & Stuppy)

É um cacto comum na Re-gião Nordeste, chegando a atin-gir até 3 metros de altura, com caules achatados semelhantes às raquetes da palma forrageira. As raquetes são suculentas, e nelas encontram-se os espinhos, que medem até 1 centímetro de com-primento. As flores são grandes e belíssimas, de cor avermelha-

da. Algumas comunidades tradi-cionais usam o fruto na alimen-tação humana; já na alimentação animal, ele é amplamente usado na estação seca. É considerada excelente forragem, mas, como os demais cactos, é de difícil manejo devido aos espinhos. São poucos os estudos científicos so-bre a planta, entretanto sabe-se que ela possui bom conteúdo nu-tricional e tem grande potencial como forrageira.

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Cumbeba (Tacinga inamoena K. Schum.)

Planta comum em toda região de Caatinga, conhecida popularmente por outros nomes, como quipá e gogoia. Mas não confunda essa espécie com a citada no Capítulo 4, lembrando que o nome popular das plantas varia con-forme a região, por isso fique atento. A cumbeba pode variar em tamanho de 20 a 100 centí-metros de altura, possui caule achatado e, assim como a pal-matória, também se assemelha à palma forrageira com relação ao formato das raquetes, também chamadas de cladódio. O fruto, de formato globoso, pode apre-sentar cores variando entre o amarelo e o laranja. Assim como ocorre com a palmatória, há poucos estudos sobre o conteú-do nutricional e mineral dessa planta. Entretanto, sabe-se que os frutos são muito valiosos como alimento humano e ani-mal, com valores consideráveis de cálcio, magnésio e potássio. As características químicas do fruto da cumbeba são muito pró-ximas ao da palma forrageira.

Figura 23: Cumbeba (Tacinga inamoena K. Schum.) em período chuvoso (Foto: Alissandra T. Nunes).

Feijão-de-boi (Capparis flexuosa (L.) L.)

Conhecida também por fei-jão-bravo ou feijão-brabo, é uma planta de porte arbustivo, com 3 a 6 metros de altura. Possui folhas simples de formato oval; as flores vão de cor verde-clara a quase ver-melha; e os frutos secos do tipo va-gem, de cor verde passando a cre-me-alaranjada, abrigam de três a dez sementes. O interessante nessa espécie é que, na seca, ela produz mais brotos e folhas do que na chu-va, sendo muito apreciada pelos animais. Vários estudos foram rea-lizados com essas plantas, espe-cialmente do ponto de vista quími-co, os quais comprovam a sua importância nutricional quanto à presença de proteínas e minerais.

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Figura 24: Feijão-de-boi (Capparis flexuosa (L.) L.). A – detalhe do fruto em forma de vagem, B – ramo com flores (Fotos: Fábio J. Vieira).

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Macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex. Schult. f.)

É uma planta de porte herbáceo, sem caule, com cerca de 60 centímetros de al-tura. Possui folhas resistentes de cor verde e ápice em tons róseos com acúleos circun-dando-as. O fruto é uma baga com cerca de 6 centímetros de comprimento. Assim como acontece com as cactáceas, essas espécies também são de difícil manuseio, especial-mente para a retirada da parte a ser consumida, que fica en-terrada e precisa ser queima-

da antes do uso na alimenta-ção dos animais. A parte consumida corresponde ao pseudocaule (cabeça), mas as pessoas a conhecem por batata e afirmam que essa parte da planta é riquíssima, além de constituir um ele-mento importante para os ani-mais na estação seca.

Figura 25: Macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex. Schult. f.) (Foto: Ulysses P. Albuquerque).

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Marmeleiro (Croton blanchetianus Müll. Arg.)

Espécie de porte arbus-tivo com cerca de 6 metros de altura, possui caule ereto com casca de cor vermelho-escura. Suas flores são alvas e melí-feras. Os frutos possuem for-ma de cápsula, com três se-mentes que servem de alimento para aves e roedo-res. As folhas, em especial, são forragens para bovinos, caprinos e ovinos.

Figura 26: Marmeleiro (Croton blanchetianus Müll. Arg.), porte da planta

(Foto: Fábio J. Vieira).

Como as plantas forrageiras são manejadas na caatinga?

Manejar é o mesmo que cuidar de ou administrar algo. Quando nos referimos ao manejo de espécies, seja de plantas ou animais, signifi-ca algo um pouco complexo, mas é importante que você entenda o processo, que pode ser algo muito bom ou um grande problema quando rea-lizado de forma inadequada.

Durante a estação seca, ocor-re uma mudança no cenário da Caatinga, e é nesse perío-do que as pessoas usam de seus conhecimentos tradi-cionais, buscando soluções para contornar as dificuldades e melhorar a qualidade de vida. Uma das alternativas mais comuns é a utilização das plantas que as cercam.

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Falamos, anteriormen-te, que, em períodos de longa estiagem, os cactos e a ma-cambira passam a fazer parte da alimentação animal, mas há um grande problema quan-to ao uso dessas espécies, pois elas necessitam de um manejo diferenciado para se-rem consumidas. Nesse caso, o procedimento mais comum é um pouco agressivo devido à queima dos espinhos, o que pode ser um problema para o ambiente e para a própria planta, que perde a chance de rebrotar.

Essas espécies são nu-tritivas e importantes para a sobrevivência, tanto das pes-soas quanto dos animais, mas é necessário ampliar os estu-dos sobre as formas de mane-jo para garantir a ocorrência desse rico alimento e melho-rar a qualidade de vida da po-pulação.

Quando falamos em “manejo sustentável”, esta-mos nos referindo à forma mais fácil, prática e correta de utilizar um recurso. Para que isso ocorra, as pessoas preci-sam conhecer os limites da natureza, fazendo uso desta de forma consciente, ou seja, respeitando o que ela oferece.

Um manejo adequado, além de manter o recurso, pode au-mentar o número de plantas e, assim, garantir a conservação da natureza para gerações fu-turas.

Com um manejo estra-tégico das pastagens, é possí-vel elevar consideravelmente a sua produtividade e manter a sustentabilidade do sistema de produção. É importante que as pessoas aprendam a li-dar com a natureza de forma não exploratória, ou seja, sem querer tirar todo o lucro pos-sível, apenas utilizando o ne-cessário à sobrevivência. O grande problema que aconte-ce com a maioria das pessoas é imaginar que a natureza sempre se recupera sozinha. Felizmente, a percepção das pessoas está mudando, e mui-tos já tem consciência de que os recursos naturais não são inesgotáveis.

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6Plantas com Uso Madeireiro

Neste capítulo, você observará que as plantas da Caatinga pro-dutoras de madeira, podem ser utilizadas de diferentes formas — em construções, como combustíveis e para artesanato —, mas que, infe-lizmente, a exploração inadequada dessas espécies tem levado ao es-gotamento de algumas no ambiente. No entanto, este capítulo chama a sua atenção para algumas medidas simples, mas que podem contri-buir para reverter esse quadro, favorecendo o desenvolvimento sus-tentável da Caatinga.

As pessoas fazem uso dos recursos que a natureza oferece para suprir as suas necessidades diárias, tais como alimentar-se, curar doenças e construir abrigos. Para este último propósito, diversos materiais foram e são usados; dentre os mais importantes, podemos citar as pedras e a madeira. Além da construção de abrigo, o ser humano usou sua criati-vidade para trabalhar a ma-deira e dela construir muitos outros objetos e produtos que facilitaram sua vida, como, por exemplo: armas, jangadas, barcos, utensílios

domésticos, armadilhas para capturar animais e cercas que ajudam a delimitar e proteger as propriedades.

No Brasil, até o sécu-lo XVI, a extração de madeira das nossas imensas florestas era realizada apenas pelos in-dígenas, que, nessa época, fa-ziam uso desses recursos. A vegetação era derrubada ape-nas para abrir espaço para suas aldeias e lavouras, e a madeira era utilizada na cons-trução de casas e na produção de tintas, armas para caça, ferramentas de trabalho e ins-trumentos musicais, entre ou-tros fins. A exploração inten-

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siva da madeira, com finalidade comercial, teve iní-cio, no nosso país, com a che-gada dos colonizadores por-tugueses, que viram em nossas florestas, ricas em es-pécies madeireiras de boa qualidade, uma excelente fonte de lucro.

A exploração madeireira em nosso país foi tão intensa que muitas espécies começa-ram a se esgotar, como o pau-brasil (Caesalpinia echinata Lam.), e os portugueses tive-ram que buscar outra forma lucrativa de explorar as nos-sas terras. Atualmente, parce-las do que restou de nossas florestas são protegidas por leis que objetivam amenizar o acelerado processo de degra-dação das regiões naturais. No entanto, ainda não conse-guimos impedir a derrubada clandestina de árvores e apa-gar o efeito de séculos e sécu-los de exploração.

Uso da madeira para construção

Embora atualmente sejam conhecidos muitos ma-teriais para construção que duram muito tempo (cimento,

concreto, ferragens, estacas, vigas e postes metálicos), muitas pessoas ainda preci-sam recorrer aos materiais vegetais. Essa situação é cla-ramente observada, principal-mente em países em desen-volvimento, como é o caso do Brasil. A lenha e o carvão ve-getal, por exemplo, ainda es-tão entre as fontes de energia mais importantes para cozi-nhar alimentos e aquecer as casas.

Como você já deve ter percebido em outros textos deste livro, a Caatinga possui uma grande variedade de plantas, e estas podem ser usadas para as mais diversas finalidades, de acordo com as vontades, habilidades e ne-cessidades das pessoas que vivem na região. Por exem-plo, você sabia que nem todas as plantas da Caatinga servem para certos tipos de constru-ção?

Isso mesmo, pois gran-de parte das espécies que for-necem madeira para as pesso-as não se apresenta com o fuste (tronco) adequado para a construção de casas, currais, portas e outros utensílios do-mésticos do meio rural. Isso devido à característica falta

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de água da região, que está re-lacionada com a forma de cres-cimento das plantas, deixando-as ora com tamanhos reduzidos, ora com formatos irregulares, o que, muitas vezes, torna algu-mas inadequadas para determi-nados tipos de uso. Um exem-plo disso é o cajueiro (Anacardium occidentale L.), que, na maioria dos casos, cres-ce com troncos retorcidos, além de ter uma madeira que absorve muita umidade, o que dificulta sua utilização em de-terminadas construções, pois rapidamente se deterioraria.

Se pensarmos que muitas das plantas da Caatinga têm esse tipo de crescimento irregular, parece bem razoável uma conclusão: a atenção das pessoas está diretamente voltada para um grupo pequeno de espécies. Mas o que isso pode ocasionar?, Bem, se nós sabemos que poucas plantas são realmente boas para serem usadas nas construções — porque são mais resistentes, por exemplo —, então, em pouco tempo, os estoques naturais de madeira na Caatinga podem se esgotar. E parece que é isso mesmo que está ocorrendo, pois muitas espécies que

fornecem madeiras nobres já não são encontradas com tanta facilidade e até já correm sérios riscos de extinção. Um exemplo significativo disso que acabamos de falar é a aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All.), que, além de servir como planta medicinal, tem uma madeira de ótima qualidade para ser usada nas principais partes dos telhados das casas.

Cercas vivas

Em algumas localida-des da Caatinga, existe um tipo de construção chamado de cerca viva. Esse tipo de cercado possui árvores e ar-bustos no lugar de estacas e mourões e é mais facilmente encontrado em regiões de Caatinga mais chuvosas, pois a água da chuva favorece a sobrevivência das plantas colocadas na cerca. Se na sua região não existem cercas vi-vas, veja, nas imagens abai-xo, algumas que encontra-mos em cidades do Agreste pernambucano.

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Figura 27: Cercas vivas utilizadas em propriedades

rurais do Agreste

pernambucano (Fotos: Viviany

T. Nascimento).

Pelas imagens, você pode perceber que esse tipo de cerca é muito utilizado nas margens das estradas, o que ajuda a proteger as pro-priedades da entrada de pes-soas estranhas e animais; note também que as plantas utilizadas são muito altas, por esse motivo também são usadas como barreiras para conter a força dos ventos. Outra função bem interes-sante dessas cercas é que, dependendo da planta que é utilizada, esta pode fornecer para as pessoas produtos como frutos, remédios, le-nha e estacas para novas

cercas. Mas cuidado para não

pensar que qualquer planta pode ser colocada em uma cerca viva. Para que isso seja possível, a planta tem que ter uma característica muito especial, que é a ca-pacidade de rebrotar quando é cortada em estacas. Co-nheça, agora, algumas plan-tas naturais da Caatinga que são muito boas para cons-truir cercas vivas:

• Imburana (Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett) – É uma árvore de madeira fraca e quebradiça

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cuja cor da casca varia do verde, quando jovem, ao laranja-avermelhado, quan-do a planta é adulta. As es-tacas feitas a partir dessa planta enraízam facilmen-te, tornando-se árvores em pouco tempo, como se ti-vessem nascido de uma se-mente; por esse motivo, elas são muito procuradas para a construção de cercas vivas. O único cuidado que se deve ter é com seus es-pinhos, que são uma carac-terística positiva da planta (pois ajudam a cercar me-lhor o terreno), mas podem machucar as pessoas e os animais que passem próxi-mo à cerca.

• Pinhão-bravo (Jatropha mollissima (Pohl) Baill.) – É uma das plantas mais utilizadas atualmente em cercas vivas. Seu caule é bastante úmido, facilitando seu enraizamento. Quando já está firmada na cerca, ela é excelente fornecedora de novas estacas. Muitas pessoas gostam de tê-la próximo às residências, pois o látex do seu caule é utilizado na cicatrização de ferimentos.

Uso da madeira como combustível

Outro emprego comum de plantas é como combustí-vel. Na nossa região da Caa-tinga, quase todas as árvores e os arbustos podem ser usados como lenha. Mas isso não sig-nifica que eles sejam iguais. As plantas não servem da mes-ma maneira para uso como le-nha e carvão. Existem aquelas com características mais favo-ráveis para uso como combus-tível. Algumas dessas caracte-rísticas vantajosas são: madeira que “pegue fogo rápi-do”, ou seja, com facilidade para ignição; madeiras que durem muito tempo até que queimem totalmente; madei-ras com alto poder calorífico, que fazem com que a tempera-tura do fogo seja maior; ma-deiras com cheiro agradável e que não produzam muita fu-maça e cinzas. Estima-se que de 0,5% a 1% de toda a vege-tação da Caatinga seja perdida por ano, apenas pelo corte para uso como lenha e carvão em padarias, em alguns setores in-dustriais — como na fabrica-ção de gesso — e na cozinha de residências rurais.

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Polo gesseiro trocará lenha por gásCom a intensificação das ações do Governo Federal contra a

queima irregular de lenha em Pernambuco, as empresas do polo gesseiro, no Sertão do Araripe, buscaram se legalizar. Elas agora utilizam lenha de manejo legal. Mas nem todas usam apenas essa matriz energética. A busca é por uma matéria-prima que, com um preço mais baixo, viabilize uma maior eficiência dos fornos das em-presas do Araripe. Agora, a Companhia Pernambucana de Gás (Co-pergás) iniciou um estudo para verificar se é viável, do ponto de vista financeiro, que transportadores levem em caminhões, para o Sertão, gás natural na forma líquida. É o chamado gás natural com-primido (GNC). Uma longa viagem, nos dois sentidos: pela distân-cia entre Araripina e o Recife e pelo prazo do estudo, ainda não de-finido.

No ano de 2008, o Estado já foi alvo de duas operações do Ministério do Meio Ambiente. Na primeira, inclusive, o foco foi exatamente o polo gesseiro. No Araripe, existem 152 calcinadoras, 143 fábricas de pré-moldados e 52 mineradoras.

Por meio do Programa Cooperar, a consultoria alemã BFZ vem promovendo estudos a fim de aumentar a eficiência dos com-bustíveis usados no polo.

Adaptado de Jornal do Commercio, Economia, 21.09.2008.

SAIBA MAIS...

Algumas das melhores plantas da Caatinga para uso combustível, conforme são citadas pelas comunidades rurais, são o marmeleiro (Croton blanchetianus Baill.),

a catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.) e o angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Reis).

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Mais de 2 bilhões de pessoas usam lenha e carvão vegetal como principal combustível para cozinhar e para outras atividades domésticas. O Brasil é o terceiro maior consumidor de lenha e carvão vegetal (cerca de 160 milhões de metros cúbicos em 1994), perdendo apenas para a Índia (256,5 milhões de metros cúbicos) e a China (204 milhões de metros cúbicos).Adaptado de FAO – Consumo, Produção, Comércio e Preços de Produtos Florestais Globais: Projeções para 2010 – 1999.

Outros usos da madeira

Além de serem utilizadas em construções e como combustíveis, as madeiras da

Caatinga também são muito usadas na confecção de ferramentas de trabalho (como cabos para enxadas, foices, machados e martelos) e de artesanato (como brinquedos, esculturas, entre outros) (figura

AB

Figura 28: Produtos feitos com madeira. A – Gamelas de mulungu, B – parte de uma cangalha, C – Ferramentas com cabos de madeiras da caatinga e D – artesanato com base de angico(Fotos: Patricia M. Medeiros; B C D Nelson L. Alencar)

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SAIBA MAIS...Na região do Vale do São Francisco, é muito comum a confecção de

um tipo de escultura de madeira conhecido como carranca. São escultu-ras de cabeças com expressões feias e sombrias, indicando mau humor. Sua popularidade parte da crença popular de que existe um ser mitológico habitando as águas do Rio São Francisco: o Nêgo-D’água, que costuma virar as embarcações que passam pelo rio. As carrancas são postas nos barcos e servem como amuleto, porque, também segundo a crença popu-lar, elas soltam três gemidos, avisando ao barqueiro quando o barco está em perigo de naufrágio e dando a ele uma chance de salvamento.

Essas carrancas tornaram-se símbolo da região do Vale do São Fran-cisco e hoje são comercializadas, nos mais diversos tamanhos, como lembranças para tu-ristas que passam pelo local. Também por isso, plantas como o mulungu sofrem bastan-te, pois a retirada da madeira para fazer car-rancas tem sido bastante frequente e tem afe-tado essa e outras espécies da região.

Tomando o mulungu ainda como exem-plo, devido à qualidade de ser uma madeira leve e fácil de trabalhar, é utilizada para fabri-cação de utensílios domésticos e bonecos. A madeira dessa planta também serve para a construção de cangalhas, tábuas, cochos, ga-melas e principalmente carrancas, o que está

28). As plantas mais conhecidas para fazer cabo de ferramentas são o pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart.) e a quixabeira (Sideroxylon obtusifolium (Roem. et. Sch.) Penn.), que têm madeira com a grossura adequada ao tamanho das ferramentas. Já para a confecção

artesanal de brinquedos e esculturas, são usadas madeiras mais macias, para facilitar os cortes e o manuseio do material. Algumas dessas plantas com madeira macia são o mulungu (Erythrina velutina Willd.) e a imburana (Commiphora leptophloeos).

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contribuindo para a diminuição da planta na vegetação da Caatinga.

Fonte: Adaptado de MACHADO, Regina Coeli Vieira. Carrancas do São Francisco. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>.

Problemas no uso da madeira

A utilização de madeira em construções apresenta alguns problemas: um deles é a degeneração da madeira provocada pelas adversidades climáticas, tais como a frequente exposição ao sol e à umidade do ar e da chuva. Um exemplo de construção que sofre bastante com esse tipo de exposição são as cercas feitas com estacas mortas, comumente utilizadas na região da Caatinga para delimitar currais, áreas de pasto e propriedades. De forma geral, esses materiais têm uma vida útil relativamente curta, tendo que ser repostos em intervalos de dois a dez anos, dependendo da planta que foi utilizada. Assim, algumas plantas cuja madeira é mais resistente tornam-se mais cobiçadas do que outras para a construção de cercas. É o que acontece

com o sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth) e o angico (Anadenanthera colubrina (Benth.) Brenam).

Além da degradação pelo tempo e clima, outro problema que pode incomo-dar os usuários de madeira em suas construções é a pre-sença de cupins, insetos que, muitas vezes, são transporta-dos juntamente com ela quan-do é retirada da floresta. Os cupins cavam túneis dentro da madeira em busca de água e celulose para se alimentar; assim, lentamente eles vão destruindo portas, telhados, janelas, móveis e todo tipo de material feito com madeira.

Outro problema que atualmente atinge os usuários de madeira nas construções é a dificuldade para encontrar plantas de boa qualidade, ou seja, que apresentem tamanho e formato adequados para a extração. Na Caatinga, por exemplo, esse problema tem sido cada vez mais comum devido ao desmatamento, que

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avança diariamente, derru-bando a vegetação nativa e dando lugar a áreas de pastos, plantações, casas, estradas, etc. Assim, para suprir as ne-cessidades madeireiras, as pessoas têm que adquirir es-tacas ou toras de outras regi-ões em armazéns ou serrarias. Para os que não têm condi-ções, o que resta é uma busca ainda mais desgastante e du-radoura para encontrar, den-tro da vegetação remanes-cente da Caatinga, plantas que se prestem às suas neces-sidades.

No caso dos combustí-veis de origem vegetal, o uso inadequado de lenha e carvão pode trazer alguns problemas à saúde das pessoas. O uso de madeira em fogões que estão dentro das casas pode trazer complicações respiratórias por causa do acúmulo de fu-maça em locais fechados. Além disso, a fumaça da le-nha e do carvão pode afetar a visão das pessoas. Por isso, recomendamos que os fogões de lenha e carvão sejam feitos em um ambiente externo à casa, como uma cozinha ex-terna. Se isso não for possí-vel, a solução é usar canos para expulsar a fumaça para

fora da casa, como pode ser visto na figura 30.

Figura 30: Casa que apresenta saída de fumaça para fogões de lenha e carvão(Foto: Alyson L. S. de Almeida)

Para diminuir a fre-quente retirada de madeira para combustível, uma solu-ção é o uso de fogões eficien-tes, ou seja, fogões que apro-veitam, ao máximo, a queima da madeira, chegando a altas temperaturas e evitando o desperdício. Dessa forma, se-ria necessária uma menor quantidade de madeira para realizar as mesmas atividades que antes eram feitas com fo-gões convencionais. O grande problema é que muitas pesso-as não teriam condições de ter esse tipo de fogão eficien-te, pelas dificuldades econô-micas que existem na nossa região.

Vimos que a madeira é muito importante, na Caa-

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tinga, para os mais diversos usos. Por isso, é preciso ga-rantir que sempre haja madei-ra disponível para atender às necessidades da população. Assim sendo, o uso responsá-vel desse produto é importan-te para assegurar a sua dispo-nibilidade. E como, então, a madeira pode ser usada de forma responsável? Essa res-posta não é tão simples, mas os primeiros passos são:• Quando possível, usar

madeira seca em vez de madeira viva e galhos em vez de troncos, principal-mente no caso do uso de lenha.

• Optar por usar cercas vi-vas em vez de cortar ma-deira para fazer cercas mortas.

• Ao invés de usar sempre uma mesma planta, utili-ze plantas diferentes, evi-tando, dessa forma, a ex-tinção local de uma espécie.

• Sempre que possível, praticar o plantio (reflo-restamento) das princi-pais plantas de uso ma-deireiro.

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O Futuro da Caatinga

Ao longo deste livro, você teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre a importância da Caatinga para a conservação da biodi-versidade brasileira. Ao mesmo tempo, você deve ter percebido a im-portância desse ambiente, por abrigar uma grande variedade de plan-tas com potencial para serem usadas em tantas coisas, não é mesmo? Neste último capítulo, discutiremos sobre o papel que cada um de nós temos para garantir que a Caatinga continue a existir pelas próximas gerações.

Ultimamente, temos escutado que o nosso pla-neta já não anda muito bem. São tantos os proble-mas ambientais que, se você parasse agora para enumerá-los, com certeza teria uma lista bastante rica e diversa. Todos nós sabe-mos disso, todos nós fala-mos sobre o assunto, mas o que estamos fazendo para mudar essa situação? Você concorda, prezado leitor, que é necessário começar-mos a agir de alguma for-ma?

O passo inicial é mu-

dar a nossa forma de pen-sar. É preciso acreditar que a responsabilidade pela conservação não é apenas do governo, dos cientistas, das grandes indústrias po-luidoras ou mesmo de seu vizinho. A responsabilida-de é sua, é de cada um de nós que vive e se beneficia dos valores diretos e dos valores indiretos gerados pela biodiversidade. Jun-tos, podemos mudar a nos-sa rua, a nossa escola, a nossa cidade. Podemos fa-zer uma grande transfor-mação no mundo!

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Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) analisou os maiores problemas mundiais e esta-beleceu oito objetivos do milênio, que são conhecidos como 8 Jeitos de Mudar o Mundo. Esses objetivos fo-ram criados com a finalidade de melho-rar a qualidade de vida de todas as pesso-as. Vamos conhecê-los?

1. Acabar com a fome e a miséria.2. Oferecer educação básica de qualidade para todos.3. Promover a igualdade entre os sexos e a valorização da

mulher.4. Reduzir a mortalidade infantil.5. Melhorar a saúde das gestantes.6. Combater a Aids, a malária e outras doenças.7. Garantir a qualidade de vida e o respeito ao ambiente.8. Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.Que tal contribuir para o sucesso dessa campanha? Lem-

bre-se de que a soma de pequenas ações pode fazer uma grande diferença e mudar o mundo.

Mas esteja ciente de que, antes de querermos solu-cionar os problemas ambien-tais das nossas florestas, ga-rantindo o direito de sobrevivência para os seres vivos que vivem nelas, preci-samos buscar soluções no ambiente em que vivemos. É isso mesmo, caro leitor.

Quando falamos em meio ambiente, também estamos falando do lugar onde vive-mos, da nossa própria casa, seja ela numa área urbana ou mesmo em um sítio na zona rural. Não faz sentido querer discutir sobre a conservação da Caatinga se nem consegui-mos resolver os problemas de

Adaptado de BRAGA, L. J. et al. 8 Jeitos de Mudar o Mundo, Editora Educar. Disponível no site <http://www.facaparte.org.br/new/download/odms%20escolas.pdf>

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nossa própria casa. Parece es-tranho, mas, por incrível que pareça, muitas vezes ela está precisando de mais cuidados do que muitas das florestas naturais. E, muitas vezes, re-solvendo os problemas em casa, estaremos contribuindo para ajudar a resolver os pro-blemas do planeta!

Então, o que podemos fazer para conservar a Caatinga?

Não temos dúvida de que a Caatinga possui um grande potencial, fornecendo plantas de grande valor medi-cinal, forrageiro, madeireiro e alimentício. Por isso, acre-ditamos que não seria justo recomendar, como estratégia de conservação, tornar esse ambiente intocável, proibin-do as pessoas de usarem os recursos, você concorda co-nosco? O que precisamos fa-zer é utilizar esses recursos de forma racional e sustentá-vel, evitando o desperdício e a coleta desordenada, que po-dem comprometer a sobrevi-vência dos seres vivos.

Ao longo deste livro, foram feitas várias propostas de uso sustentável das plantas da Caatinga, você está lembra-do? Abaixo, trataremos um pouco mais dessas questões, para relembrar que essas ações só terão efeito se você praticá-las e também ensiná-las para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer esse assunto. Que tal começar repassando esses conhecimen-tos para seus pais, irmãos, avós ou vizinhos?

É muito comum, por exemplo, utilizarmos cascas de árvores para fazer alguns remédios — já comentamos sobre isso anteriormente. Para esse tipo de extração, não po-demos fazer o anelamento do tronco da árvore, porque isso fatalmente causará a morte da planta. Já os usos que preci-sam da extração de folhas, flores e frutos podem ser me-nos danosos para a árvore, mas é preciso que a coleta seja realizada em quantidades que não prejudiquem as fun-ções que cada um desses ór-gãos possui na planta. Lem-bre-se de que as folhas representam um órgão de ex-trema importância para reali-zar a fotossíntese e as trocas

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VOCÊ SABIA?

gasosas com o ambiente ex-terno. As flores, por sua vez, são os órgãos reprodutores, que, após sofrerem poliniza-ção, irão formar os frutos; es-tes vão guardar, em seu inte-rior, as sementes com um embrião (planta em miniatu-ra), que vai germinar para produzir uma nova planta.

A coleta de raízes e ma-deira das plantas é que preci-sa de maior atenção, pois a extração dessas partes é res-ponsável pelos principais da-nos causados às plantas. Por isso, quando for necessário fazer uso dessas partes, a principal recomendação é co-letar quantidades que satisfa-

çam as nossas necessidades sem comprometer a vida do vegetal. É preciso coletar o mínimo possível e evitar ex-trair sempre de uma mesma espécie. Prefira a extração de recursos naquelas plantas que existem em maior quantidade na região onde você mora, ao invés de coletar em plantas raras. Lembre-se de que qual-quer forma de coleta apresen-ta o potencial de gerar algum impacto ambiental, seja com-prometendo a sobrevivência do vegetal ou a de outros se-res vivos que vivem associa-dos a ele. Por isso, reforça-mos mais uma vez: evite o desperdício!

Qualquer forma exa-gerada de extrair recursos pode gerar impactos am-bientais. Por exemplo, usar madeira morta, caída no solo da floresta, para lenha é uma estratégia recomen-dada, pois evita a coleta de material vivo na planta. Po-rém, se isso for feito de for-ma excessiva, pode dimi-nuir o fornecimento de

nutrientes ao solo, pois não vai existir madeira para entrar em decomposição no local. Ou, então, pode alterar a di-versidade de organismos que se desenvolvem sobre a ma-deira em estado de decompo-sição. Assim, colete sempre apenas o necessário e utilize o recurso da forma mais efi-ciente, aproveitando todo o seu potencial.

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Outra atitude importan-te que pode ajudar a conser-vação da Caatinga é promo-ver o plantio de árvores. Você já fez isso? Se você mora em um sítio, por exemplo, pode aproveitar o espaço de seu quintal para promover o plan-tio de espécies nativas. Aqui vão algumas dicas: 1) escolha uma espécie que seja natural de sua região; 2) selecione uma planta que forneça im-portantes usos para você e sua família, pois assim evita a ne-cessidade de ter que recorrer aos recursos da floresta; 3) faça o plantio em um lugar adequado e com espaço sufi-ciente para a árvore crescer. Mas, se você mora em uma zona urbana e também quer colaborar para a arborização de seu município, é necessá-rio que você entre em contato com a prefeitura da sua cida-de para se informar sobre as regras de plantio de árvores em calçadas, praças e parques públicos.

Estamos falando bas-

tante da conservação das plantas, mas não podemos deixar de mencionar a impor-tância de proteger os animais que vivem na Caatinga e que precisam ter sua sobrevivên-cia garantida. A caça de ani-mais silvestres é uma tradição antiga no Nordeste brasileiro, mas é proibida por lei — in-clusive, já falamos um pouco desse assunto para você no início deste livro. Não quere-mos negar o direito à continu-ação dessa tradição, pois sa-bemos que existem muitas famílias que caçam por ne-cessidade. Mas o grande pro-blema é que muitas pessoas ainda caçam por divertimen-to, ou seja, como uma ativi-dade esportiva. Caçar por es-porte é errado, e não podemos concordar com esse tipo de atividade, não é mesmo? É necessário que cada um de nós conscientize as pessoas que têm essa prática, pois, muitas vezes, elas não sabem que estão provocando um problema ambiental.

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Caçadores humanos estão fa-zendo com que suas presas sofram alterações em suas populações de forma mais rápida do que o natural. As atividades de caça estão resultan-do em indivíduos (presas) menores e mais jovens com o passar do tempo. Isso é a consequência da preferência dos caçadores por animais maiores, o que acaba aumentando o número de animais menores para reprodu-ção.

O biólogo Chris Darimont, da Universidade da Califórnia, re-lata que a tendência a se ter ani-mais menores e de idade reprodu-tiva precoce também ocorre 50% mais rápido como resultado da caça do que de outros impactos humanos, como poluição e perda de hábitat.

Exemplos podem ser obser-vados no tamanho do corpo e dos chifres do carneiro selvagem, por exemplo, que diminuíram cerca de

Caçadores promovem alterações no ciclo de vida das espécies

20% nas últimas três décadas devido à caça humana.

Em geral, os humanos ca-çam em um ritmo mais elevado do que os predadores naturais. A preocupação é que o funciona-mento do ecossistema possa mu-dar se uma espécie diminuir tão rapidamente.

Uma estratégia sustentável exige que as pessoas deixem de preferir caçar os animais maiores e mais férteis das populações, focando-se mais em uma alterna-tiva que preserve a estrutura do tamanho normal das espécies. A melhor maneira de manter tama-nhos saudáveis de animais alvos de caça é “imitar os predadores naturais”. “Isso significa reduzir amplamente nossas caças e abrir mão dos animais maiores”, afir-ma o biólogo.

Texto extraído e adaptado de uma matéria publicada na revista National Geographic/Terra (fevereiro de 2009). Disponível também no site <http://animals.webcontente.com/?p=318>

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Proteger a Caatinga é garantir uma melhor qualidade de vida

Você pode estar se per-guntando por que falamos tan-to em conservar a Caatinga. Nós acreditamos e insistimos nessa ideia porque sabemos que esse ambiente pode ofere-cer, a todas as pessoas que vi-vem nele, uma qualidade de vida melhor. Viver com quali-dade não quer dizer que sua família precise ter uma renda mensal muito alta nem está re-lacionado com o número de bens que sua família possui. Ter qualidade de vida é saber desfrutar dos benefícios que a natureza nos fornece, como uma sombra agradável ofere-cida por uma árvore, a beleza natural de um local. É poder usar um remédio que produza pouco ou nenhum efeito cola-teral e também se alimentar de forma saudável com os recur-sos provenientes da natureza.

Em sua casa, você usa lenha ou conhece algum vizi-nho que utilize? Já observou o trabalho que dá ter que coletar esse recurso? Saiba que exis-tem famílias vivendo em

regiões de Caatinga que pre-cisam andar mais de quatro qui-lômetros por dia para poder ob-ter o mínimo de madeira necessário para cozinhar suas refeições. Se essas árvores esti-vessem mais próximas das resi-dências, ou seja, se as florestas não tivessem sido tão desmata-das, com certeza as pessoas so-freriam menos para conseguir os recursos de que precisam.

Outra satisfação promo-vida por um ambiente bem conservado é a possibilidade de contemplar a sua beleza. Caso você ainda não conheça a Caatinga, pode ter a imagem desse ambiente como um local desolado, entristecido e pobre. Às vezes, ficamos com essas ideias na cabeça porque asso-ciamos a Caatinga com um ambiente seco e sem cores. Mas convidamos você a uma bela experiência, a de contem-plar esse ambiente após a chu-va, quando as cores surgem, trazendo alegria, renovação e mais vida (figura 31). Temos certeza de que, nessa oportu-nidade, sua mente irá silenciar e se afastar dos pensamentos e das preocupações do dia a dia. Você será tomado por um esta-do de alegria e conforto. Viva essa experiência!

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Figura 31: Diversidade de plantas da Caatinga (Fotos: Autores).

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Diante de tantos benefícios gerados por esse rico ambien-te natural, todos nós devemos assumir a responsabilidade de manter um padrão de consu-mo que facilite a sua conser-vação. Vamos ter e também incentivar atitudes ecologica-mente corretas. Vamos garan-tir que o direito de desfrutar

os recursos oferecidos pela Caatinga possa ser de toda a sociedade, independentemen-te da classe social. Especial-mente, não vamos ser egoís-tas: devemos garantir que as próximas gerações (seus fi-lhos e netos, por exemplo) te-nham o direito de se beneficiar e conhecer esse ambiente.

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Acúleos – Projeções na superfície da planta, sobretudo no cau-le, semelhantes a espinhos.Adversidades climáticas – Alterações no clima de uma região que podem provocar situações desfavoráveis.Afecções – Conjunto de sintomas provenientes de uma doença.Afilas – Plantas sem folhas.Alimentos emergenciais – Alimentos utilizados em períodos de escassez alimentar, ou seja, quando pouco ou nenhum outro alimento está disponível. Ameaçada de extinção – Espécie de planta ou animal cuja população está diminuindo ao ponto de colocá-la em risco de não existir mais.Anelando – Em formato de anel. Diz respeito ao corte na cas-ca da planta de forma que a casca é retirada formando um cír-culo, ou anel, ao redor do tronco.Anfisbenídeos – Répteis raros e parentes próximos das cobras e dos lagartos. Eles são diferentes destes; não possuem patas; os crânios são grossos; as caudas, curtas; e o pulmão direito, menor do que o esquerdo.Angiospermas – Plantas que apresentam frutos envolvendo as sementes.Arbórea – Termo relativo à árvore.Arbustiva – Termo relativo a arbusto.Biocentrismo – Corrente de pensamento que defende que to-dos os seres vivos são igualmente importantes e devem receber igual atenção, proteção e direitos. Biodiversidade – Riqueza de seres vivos de um local qualquer ou de todo o planeta, ou seja, a totalidade dos animais, das plantas e dos micro-organismos de um lugar.

Glossário

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Biologia da Conservação – Ciência que estuda os efeitos das atividades humanas no meio ambiente para desenvolver formas de prevenir a extinção de espécies e proteger os ecossistemas. Bovinos – Grupo composto de bois e vacas, animais ruminantes e mamíferos domesticados pelo homem e muito importantes para a economia, principalmente para a produção de carne e leite. Broncodilatador – Substância que promove a dilatação dos brônquios, usada na crise de asma, por exemplo. Ela auxilia os brônquios por permitir uma maior entrada e saída de ar e, as-sim, uma melhor respiração.Caducifolia – Fenômeno em que as plantas perdem completa-mente as folhas em uma determinada época do ano.Calcinadoras – Fábricas que produzem gesso usando, como fonte de energia, o calor vindo de combustíveis como a lenha e o carvão.Cangalha – Armação que se coloca no pescoço de alguns ani-mais, como cavalos e bois, para sustentar uma carga. Caprinos – Grupo composto de bodes domésticos e cabras. São animais capazes de sobreviver em condições de alimenta-ção escassa e de baixa qualidade; no entanto, nessas condições, seu desenvolvimento é pouco satisfatório.Características fisiológicas – Características internas, relati-vas ao funcionamento do organismo.Características morfológicas – Características externas, rela-tivas à forma.Celulose – Molécula que faz parte da estrutura das células ve-getais. Cladódios – Ramos ou galhos de caules das cactáceas, como o mandacaru, o facheiro e a palma. Colesterol – Um tipo de gordura encontrada em nossas células e transportada no sangue.Combustível – Qualquer produto que libera energia na forma de calor, chamas e gases, como é o caso da lenha, do gás de cozinha e do carvão vegetal e mineral.

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Conhecimento tradicional – Saber que caracteriza um deter-minado grupo social. Conservação – O mesmo que conservar. Qualquer atividade ou quaisquer ideias que ajudem a manter as espécies de um lugar determinado ou de toda a Terra. Reflorestamento, coleta seletiva, uso de materiais reciclados são exemplos de ativida-des que ajudam na conservação da biodiversidade. Crocodylia – Uma ordem de répteis que inclui os jacarés. Cultura – Conjunto de conhecimentos, costumes e valores de uma determinada sociedade.Curtimento artesanal – Processo de beneficiamento do couro cru com a finalidade de deixá-lo utilizável para a indústria e o atacado. Diz-se artesanal pelo fato de ser um trabalho manual, produzido por um artesão.Curtume – Atividade econômica que transforma a pele de ani-mais, como de cabra e de boi, em couro para produção de cha-péus, bainhas de facas e facões, etc. Decompositores – Seres vivos, como bactérias e fungos, que degradam matéria orgânica, como, por exemplo, folhas, trans-formando-a em sais minerais, gás carbônico e água para serem utilizados pelas plantas.Desenvolvimento sustentável – Desenvolvimento que procu-ra satisfazer as necessidades dos seres humanos sem degradar o meio ambiente e a biodiversidade, conservando os recursos naturais e toda a riqueza do planeta para as gerações futuras. Desflorestamento – Derrubada das florestas de uma região.Deteriorado/degenerado – Estado em que um material se estraga ou se danifica.Digestório – Relativo ao sistema digestivo.Dimorfismo – Diferenças entre machos e fêmeas da mesma espécie, podendo estas serem no tamanho (normalmente a fê-mea é maior) ou na coloração (frequentemente, o macho é mais colorido, o que ajuda na hora de atrair as fêmeas).Diversidade – O mesmo que conjunto de coisas diferentes em uma ou várias características.

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Doença de Alzheimer – Doença progressiva que compromete o cérebro das pessoas, causando diminuição da memória, difi-culdade no raciocínio e alterações comportamentais.Domesticação – Prática exercida pela Humanidade sobre plantas e animais, visando suprir as necessidades. Na verdade este é um conceito muito complexo, pois envolve alterações genéticas nesses organismos, por exemplo, o milho que come-mos hoje é fruto de um processo que levou anos de manipula-ção. Quando as pessoas começaram a prestar a atenção no mi-lho, essa planta era muito diferente do que é hoje.Ecossistemas – Conjunto formado pelos seres vivos e pelo meio ambiente. Efeito estufa – Processo natural que permite a vida na Terra, pois aquece o planeta até uma temperatura ideal para todos os seres vivos. O problema atual é que os gases e poluentes libe-rados pelas indústrias e automóveis estão aumentando esse efeito, levando a uma elevação da temperatura fora do ideal. Com isso, pode haver um grande aquecimento em nosso pla-neta, provocando graves problemas.Endêmica – Planta ou animal que é exclusivo de determinada região, como é o caso do umbu.Erva – Planta efêmera, ou seja, que não está presente durante todo o ano e não cresce muito como as árvores e os arbustos. Exemplo de ervas são os capins.Estames – Órgãos sexuais masculinos das plantas, de forma alongada e fina, presentes no interior das flores, onde se encon-tra o pólen.Expectorante – Que provoca ou facilita o escarro; que promo-ve a expulsão do catarro.Extinção – Desaparecimento total de alguma espécie da natu-reza.Farmacológica – Relativo à farmacologia, parte da medicina que estuda as drogas e os seus efeitos no organismo.Fauna – Conjunto de espécies de animais de uma região.

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Fitoquímicos – Relativos à fitoquímica, ciência destinada ao estudo dos componentes químicos das plantas.Floema – Tecidos da planta que funcionam transportando ali-mentos no seu interior. O conjunto desses alimentos é chama-do de seiva elaborada.Flora – Conjunto de espécies de plantas de uma região.Florescer – Ato de a planta produzir suas flores durante sua reprodução.Formação vegetacional – Conjunto de plantas de uma região que apresenta características muito específicas.Fuste – Parte correspondente ao tronco da árvore, sem consi-derar os ramos. Gamela – Vasilha com forma de tigela ou bacia geralmente feita com madeira. Serve para armazenar água e alimentos, para dar de comer a animais, etc.Gastrite – Inflamação na parede do estômago. Gonorreia – Doença sexualmente transmissível (DST) causa-da por uma bactéria chamada Neisseria gonorrheae.Gramíneas – Plantas da família Poaceae, também conhecidas popularmente como capins e gramas. Muito importantes para a economia devido à utilização na produção de forragem e grãos para a alimentação, como o arroz e o milho.Gymnophiona – Ordem de anfíbios que se caracterizam pela ausência de patas e parecem-se com minhocas e cobras. Esses anfíbios são popularmente chamados de cobra-cega, devido à sua semelhança com a cobra e à sua aparente ausência de olhos.Hábitat – Ambiente de um organismo, local onde é normal-mente encontrado.Herpetofauna – Conjunto de répteis de um ambiente.Ibama – Sigla do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, entidade responsável por execu-tar e desenvolver diversas atividades para a preservação e con-servação dos recursos naturais (água, flora, fauna, solo, etc).

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Ignição – Dispositivo ou qualquer elemento com a capacidade de provocar (inflamar) o fogo.Imaturo – não amadurecido.In natura – Modo de consumo de algumas estruturas de plan-tas alimentícias que consiste em ingerir a parte comestível do vegetal tal como é achada, quer dizer, sem nenhuma prepara-ção prévia.Infarto – Ataque cardíaco.Látex – Substância de coloração geralmente branca presente em algumas plantas. Pode ser produzido por diferentes partes do vegetal, tais como o caule, as folhas, os frutos e até mesmo as raízes; costuma ser notado quando a planta sofre algum corte. Exemplos de látex bem conhecidos são o do avelós (Euphorbia tirucalli L.) e o do pinhão (Jatropha mollissima Muell. Arg.), os quais são usados por suas propriedades medicinais.Leucorreia – Corrimento vaginal caracterizado por causar ir-ritação, coceira ou ardência na vagina e vontade de urinar fre-quentemente, podendo ter ou não cheiro desagradável. Madeira nobre – Madeira que naturalmente dura muito e que se presta a finalidades consideradas muito importantes.Manejo legal – Uso de um recurso natural de acordo com as leis ambientais.Metabolismo – Conjunto de transformações que as substân-cias químicas sofrem no interior do nosso corpo para a produ-ção de energia.Micro-organismos – Nome que se dá aos organismos vistos apenas por microscópio, como, por exemplo, vírus e bactéria.Monogâmico – Animal que apresenta apenas uma parceira se-xual durante toda a sua vida.Mucilagem – Substância viscosa resultante da mistura de al-guns elementos sólidos da planta com água e que pode ser en-contrada envolvendo algumas sementes. Provavelmente, tem

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função protetora.Nativo – Que é próprio e originário de uma determinada região.OMS – Sigla da Organização Mundial de Saúde, agência espe-cializada em saúde e que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU). A OMS tem por objetivo combater as doenças que ocorrem em todo o mundo, promovendo campanhas de prevenção e cura, como as de vacinação e até mesmo as de aleitamento materno.Ovinos – Grupo composto de ovelhas e carneiros. São geral-mente criados em rebanhos e de manejo muito trabalhoso por se tratar de animais sensíveis. Países em desenvolvimento – Países com padrão de vida re-lativamente baixo quando comparados aos países desenvolvi-dos, mas que estão em processo de desenvolvimento, como é o caso do Brasil, da Índia, do México e da África do Sul.Patógenos – Organismos capazes de causar doenças, como al-guns tipos de fungo, bactéria e vírus.Perene – Termo empregado em botânica para designar uma planta que vive por mais de dois anos.Perenifólia – Termo empregado em botânica para designar uma planta que mantém suas folhas durante todo o ano.Picles – Conserva de produtos vegetais em vinagre (legumes, por exemplo).Polo gesseiro – Área onde há forte produção de gesso.Pré-moldados – Peças (de gesso, por exemplo) fabricadas em formatos que só necessitam ser montados para se fazer uma construção.Pressão extrativista – Ação humana de retirada de recursos naturais com grande intensidade.Princípios ativos – Substâncias responsáveis por uma deter-minada atividade biológica em nosso organismo. Os princípios ativos podem ser fabricados pelas pessoas, como no caso de alguns medicamentos, ou produzidos pelas plantas.

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Prisão de ventre – Dificuldade de evacuar, ou defecar.Psitacídeos – Grupo de aves caracterizadas por possuírem uma cabeça larga e robusta, em que se apoia um bico forte, alto e curvo especializado em quebrar e descascar sementes. São exemplos a arara-azul e o papagaio.Quelônios – Répteis de vida longa e que possuem uma carapaça resistente que serve de proteção (exemplos: jabuti e cágado). Recifes de corais – Formações marinhas que crescem espe-cialmente nos trópicos. Os recifes são compostos de muitos animais microscópicos que produzem uma carapaça dura. Como resultado, os recifes de corais formam verdadeiras bar-reiras marinhas. Resíduos – Vulgarmente conhecidos como lixo, os resíduos são materiais resultantes das atividades domésticas, industriais e comerciais e considerados inúteis. São divididos em líquidos, sólidos e gasosos. Como resíduo líquido, temos os exemplos dos esgotos e do chorume; como exemplos de resíduo sólido, temos os copos plásticos e as latinhas de refrigerante. Ritidoma – Designação dada às porções mais velhas de cascas de alguns caules que se vão destacando da superfície do tronco das plantas. Ruminantes – Mamíferos que se alimentam de vegetais e que possuem o estômago dividido em várias partes. O termo rumi-nante é proveniente do fato de esses animais ruminarem, isto é, depois de ingerirem rapidamente o alimento, entre os perío-dos de alimentação, eles tornam a regurgitar o alimento para a boca, onde é de novo mastigado (ruminado) e engolido. Exem-plos: bois e vacas.Sazonalidade climática – Alteração do clima típico de am-biente semiárido: em uma parte do ano, o clima é seco; e, na outra, é chuvoso.Seiva elaborada – Solução aquosa composta principalmente de produtos derivados da fotossíntese, atividade na qual a planta produz seus próprios alimentos.

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Silvestre – Designação dada às plantas ou aos animais que ocorrem de forma espontânea em um determinado ambiente, isto é, sem intervenção humana direta.Suculentas – Plantas que apresentam grande quantidade de água em sua estrutura.Tanino – Substância presente em alguns vegetais para defen-dê-los do ataque de animais. Percebemos essa substância quan-do sentimos um travor na língua ao ingerirmos banana-verde ou chupamos caju.Toxicológica – Relativo à toxicologia, ciência que estuda os efeitos nocivos que as substâncias químicas causam nos orga-nismos.Tratamento tópico – Tipo de tratamento em que a aplicação do medicamento é feita diretamente na pele ou em áreas de superfície de feridas, tais como o uso de pomadas, cremes, sprays e loções.Triglicérides – Forma de gordura originária da alimentação, mas que pode ser produzida por nosso corpo. Altos níveis em nosso organismo podem levar a problemas no coração.Valores diretos – Todos os produtos e recursos naturais que são diretamente colhidos e usados pelas pessoas, como água, lenha, frutas e animais. Valores indiretos – Todos os benefícios que os ecossistemas oferecem para a sociedade quando estão íntegros, como o ciclo da água, que produz a chuva, ou a produção de oxigênio pelas plantas. Valores – Normas e princípios que regem a vida em uma so-ciedade, como respeitar os mais idosos e não roubar.Vegetação nativa – Vegetação típica de uma área que sofreu pouca ou nenhuma interferência humana. Vegetação remanescente – Parte da vegetação original de uma área. Vertebrados – Animais que apresentam coluna vertebral.

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Sugestões de leitura aprofundada

ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino; MOURA, Ariadne do Nascimento & Araújo, Elcida de Lima (organizadores). Biodiversidade, potencial econômico e processos eco-fisiológicos em ecossistemas nordestinos. Volume 2. Bauru: Canal 6/Recife: NUPEEA, 2010. 544p.

ARAÚJO, Francisca Soares; RODAL, Maria Jesus Noguei-ra, BARBOSA, Maria Regina de Vasconcellos (organizado-res). Análise das variações da biodiversidade do bioma caatinga. Suporte a estratégias regionais de conservação. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA. Secretaria de Biodiversidade e Florestas. Brasília: Ministério do Meio Am-biente, 2005. 446 p.

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga. Cenários para o Bioma Caatinga/ Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga (Brasil). Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Recife: Sectma, 2004. 224p.

LEAL, Inara Roberta, TABARELLI, Marcelo & SILVA, José Maria Cardoso (organizadores). Ecologia e conservação da Caatinga. Editora Universitária. Universidade Federal de Per-nambuco, Recife. Brasil, 2003. 804p.

MAIA, Gerda Nickel. Caatinga - Árvores e arbustos e suas utilidades. 1ª. ed. São Paulo: D&Z, 2004. 413 p.

MOURA, Ariadne do Nascimento; ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino & Araújo, Elcida de Lima (organizadores). Biodiversidade, potencial econômico e processos eco-fisiológicos em ecossistemas nordestinos. Volume 1. Recife: Comunigraf/NUPEEA, 2008. 361p.

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SAMPAIO, Everardo; GIULIETTI, Ana Maria; VIRGÍNIO, Jair & GAMARRA-ROJAS, Cíntia. (organizadores) Vegetação & Flora da Caatinga. Recife: APNE, 2002. 176p.

SILVA, José Maria Cardoso; TABARELLI, Marcelo; FONSECA, Mônica Tavares & LINS, Lívia Vanucci (organizadores). Biodiversidade da Caatinga: áreas e ações prioritárias para a conservação. Brasília: Ministério do Meio Ambiente: Universidade Federal de Pernambuco, 2004. 382p.

TABARELLI, Marcelo & SILVA, José Maria Cardoso (orga-nizadores). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco. Volume 1. Recife, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana, 2002. 356 p.

TABARELLI, Marcelo & SILVA, José Maria Cardoso (orga-nizadores). Diagnóstico da Biodiversidade de Pernambuco. Volume 2. Recife, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana, 2002. 722 p.

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