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SECAO II
Princípios Básicos
Introducão6
Bertram G. Katzung, MD, PhD
A farmacologia pode ser definida como o estudo das substâncias
que interagem com sistemas vivos através de processos químicos,particularmente através de sua ligação a moléculas reguladoras eativação ou inibição dos processos orgânicos normais. Essas substâncias podem ser compostos químicos administrados com a finalidade de obter um efeito terapêutico benéfico sobre algum processo no paciente, ou pelos seus efeitos tóxicos sobre processos reguladores em parasitas que infectam o paciente. Essas aplicações terapêuticas deliberadas podem ser consideradas como o papel fundamental da farmacologia médica, que é freqüentemente definida
como a ciência das substâncias utilizadas na profilaxia, diagnósticoe tratamento das doenças. A toxicologia é o ramo da farmacologiaque trata dos efeitos indesejáveis das substâncias químicas sobre ossistemas vivos, incluindo desde células individuais até ecossistemas
complexos.
História da Farmacologia
Não há dúvida de que o homem pré-histórico já conhecia os efei
tos benéficos ou tóxicos de muitos materiais de origem vegetal eanimal. Os primeiros registros escritos da China e do Egito citammuitos tipos de remédios, incluindo alguns que ainda hoje são reconhecidos como fármacos úteis. Todavia, a maioria dessas subs
tâncias era inútil ou, na verdade, prejudicial. Nos 2.500 anos, aproximadamente, que precederam a era moderna, houve tentativasesporádicas de introduzir métodos racionais na medicina, porémnenhum deles foi bem-sucedido, devido ao predomínio de sistemasde crença que procuravam explicar toda a biologia e as doenças semrecorrer à experimentação e observação. Essas escolas promulgaramnoções bizarras, como a idéia de que as doenças eram causadas porexcesso de bile ou de sangue no organismo, de que as feridas podiam ser cicatrizadas com a aplicação de ungüento à arma que causara o ferimento, e assim por diante.
Por volta do final do século 17, a observação e a experimentação começaram a substituir a teorização em medicina, seguindo oexemplo das ciências físicas. Quando o valor desses métodos noestudo das doenças tornou-se claro, os médicos na Grã-Bretanha e
em outras regiões da Europa passaram a aplicá-l os aos efeitos demedicamentos tradicionais utilizados em sua própria prática clínica. Assim, a matéria médica - isto é, a ciência da preparação e douso clínico de medicamentos - começou a desenvolver-se como
precursora da farmacologia. Todavia, qualquer conhecimento re
lativo aos mecanismos de ação das drogas era impedido pela ausência de métodos de purificação de agentes ativos provenientes desubstâncias brutas disponíveis e - talvez ainda mais - pela faltade métodos para testar as hipóteses formuladas sobre a natureza das
ações das drogas.No final do século 18 e princípio do século 19, François Ma
gendie e, mais tarde, seu aluno Claude Bernard começaram a desenvolver os métodos de fisiologia e farmacologia experimentais emanimais. Os avanços na química e o desenvolvimento posterior dafisiologia nos séculos 18, 19 e princípio do século 20 proporcionaram a base necessária para compreender os mecanismos de atuação
das drogas no nível dos tecidos e órgãos. Paradoxalmente, os avanços reais na farmacologia básica durante esse período foram acompanhados de uma explosão de propaganda não-científica por partede fabricantes e vendedores de "remédios patenteados" inúteis.Somente quando os conceitos de terapêutica racional, particularmente aqueles dos estudos clínicos controlados, foram reintroduzidos na medicina - há cerca de 50 anos - é que se tornou possível avaliar de modo acurado as alegações terapêuricas.
Há cerca de 50 anos, testemunhou-se também uma notável ex
pansão nos esforços de pesquisa em todas as áreas da biologia. Coma introdução de novos conceitos e novas técnicas, surgiram informações sobre a ação das drogas e o substrato biológico dessa ação,o receptor. Durante a segunda metade do século 20, foram intro
duzidos muitos grupos de drogas fundamentalmente novos, bemcomo novos membros de grupos antigos. As últimas 3 décadas testemunharam um crescimento ainda maior nas informações e co
nhecimentos sobre a base molecular da ação das drogas. Hoje emdia, já foram identificados os mecanismos moleculares de ação demuitas drogas, e numerosos receptores foram isolados, caracterizados na sua estrutura e clonados. Com efeito, o uso dos métodos
de identificação de receptores (descritos no Capo 2) levou à descoberta de muitos receptores órfãos - isto é, receptores cujo ligante ainda não foi descoberto e cuja função só pode ser deduzida. Os estudos do ambiente molecular local dos receptores mostraram que os receptores e efetores não funcionam isoladamente- isto é, são acentuadamente influenciados por proteínas reguladoras associadas. A descodificação dos genomas de muitas espécies - desde bactérias até o homem -levou ao reconhecimen
to de relações até então ignoradas entre as famílias de receptores.
2 / FARMACOLOGIA
A farmacogenômica - a relação da constituição genética do indivíduo com a sua resposta a drogas específicas - está prestes a
tornar-se uma área aplicada de terapia (ver Boxe: Farmacologiae Genética). Grande parte desse progresso está resumida nestelivro.
A extensão dos princípios científicos na terapia cotidiana continua se expandindo, embora o público consumidor ainda seja, infelizmente, exposto a uma enorme quantidade de informações nãocientíficas, imprecisas e incompletas a respeito dos efeitos farmacológicos das substâncias químicas. Essa situação levou a modismos
no uso de inúmeros remédios caros, ineficazes e, por vezes, prejudiciais, bem como ao desenvolvimento de uma enorme indústria
de "terapias alternativas". Por outro lado, a falta de compreensãodos princípios científicos básicos de biologia e estatística e ausênciade um pensamento crítico a respeito das questões de saúde públicalevaram à rejeição da ciência médica por um segmento da população e a uma tendência comum a pressupor que todos os efeitosadversos das drogas resultam de negligência médica. Existem doisprincípios gerais que devem ser sempre lembrados pelos estudantes: em primeiro lugar, o princípio de que todas as substâncias podem, em determinadas circunstâncias, ser tóxicas; e, em segundolugar, o princípio de que todas as terapias promovidas como trata
mentos que melhoram a saúde devem preencher os mesmos padrõesde comprovação de eficácia e segurança, isto é, não deve haver nenhuma separação artificial entre a medicina científica e a medicina"alternativa" ou "complementar".
A Natureza das Drogas
Em sua acepção mais geral, uma droga pode ser definida comoqualquer substância capaz de produzir alteração em determinada
função biológica através de suas ações químicas. Na grande maioria dos casos, a molécula da droga interage com uma molécula
específica no sistema biológico, que desempenha um papel regulador. Essa molécula é denominada receptor. A natureza dos re-
ceptores é discutida de modo mais pormenorizado no Capo 2.
Numa proporção muito pequena de casos, certas drogas, conhecidas como antagonistas químicos, podem interagir diretaménte
com outras drogas, enquanto algumas drogas (por exemplo, agentes osmóticos) interagem quase exclusivamente com moléculas deágua. As drogas que podem ser sintetizadas no organismo (porexemplo, hormônios) ou podem consistir em substâncias químicas não sintetizadas no corpo, isto é, xenobióticos (do grego xe
nos, estranho). Os venenos são drogas. As toxinas são habitual
mente definidas como venenos de origem biológica, isto é, sintetizadas por vegetais ou animais, em contraste com os venenos inorgânicos, como o chumbo e o arsênico.
Para interagir quimicamente, com seu receptor, a molécula de
uma droga deve ter tamanho, carga elétrica, forma e composiçãoanatômica apropriados. Além disso, a droga é freqüentemente administrada num local distante de seu pretenso local de ação, como,por exemplo, um comprimido tomado por via oral para aliviar umador de cabeça. Por conseguinte, uma droga, para ser útil, deve apresentar as propriedades necessárias para ser transportada do local desua administração até o local de sua ação. Por fim, uma droga, para
ser eficaz, deve ser inativada ou excretada pelo corpo em taxa razoável, de modo que sua ação tenha duração apropriada.
A. NATUREZA FíSICA DAS DROGAS
As drogas podem ser sólidas em temperatura ambiente (por exemplo, aspirina, atropina), líquidas (por exemplo, nicotina, etanol) ou
gasosas (por exemplo, óxido nitroso). Esses fatores é que determinam freqüentemente a melhor via de administração de um fármaco. Algumas drogas líquidas evaporam-se facilmente e podem serinaladas nessa forma, como, por exemplo, halotano e nitrito deamila. As vias mais comuns de administração estão relacionadas no
Quadro 3.3. As diversas classes de compostos orgânicos - carboi
dratos, proteínas, lipídios e seus componentes - estão todas representadas na farmacologia. Muitas drogas consistem em ácidos ou
FARMACOLOGIA E GENÉTICA~---------------------_._-----------------------------------------------------------------------------------------------------~--
No decorrer dos últimos 5 anos, os genomas dos seres humanos,camundongos e muitos outros organismos foram descodificadoscom considerável detalhe. Esseavanço abriu as portas para umanotável variedade de novas abordagens em pesquisa e tratamento. Sabe-se, há séculos, que certas doenças são herdadas e, hojeem dia, já está bem estabelecido que os indivíduos portadoresdessasdoenças apresentam uma anormalidade hereditária no seuDNA. No caso de algumas doenças hereditárias, é atualmente possíveldefinir com rigorosa precisão quais os pares de basesanormaisdo DNA, e em qual cromossomo aparecem. Em um pequeno número de modelos animais dessas doenças, foi possível corrigir aanormalidade com "terapia gênica", isto é, a introdução de umgene "sadio" apropriado nas células somáticas. Já houve tentativas de terapia gênica com células somáticas humanas, porém as dificuldades técnicas encontradas são muito grandes.
Os estudos de um receptor ou de um ligante endógeno recémdescoberto são freqüentemente complicados pelo conhecimentoincompleto do papel exato desempenhado por esse receptor ouligante. Uma das novas técnicas genéticas de maior potencial é acapacidade de criar animais (geralmente camundongos), cujo genepara o receptor ou seu ligante endógeno foi "nocauteado", istoé, sofreu mutação, de modo que o produto gênico está ausente
ou não-funcional. Em geral, os camundongos "nocaute" homozigotos apresentam supressão completa dessa função, enquantoos animais heterozigotos apresentam, em geral, supressão parcia!. A observação do comportamento, da bioquímica e da fisiologia dos camundongos nocaute freqüentemente estabelece demaneira muito clara o papel desempenhado pelo produto gênicoausente. Quando os produtos de determinado gene são essenciais a ponto de os heterozigotos não conseguirem sobreviver aonascimento, é algumas vezes possível criar versões" knockdown",com supressão apenas limitada da função. Por outro lado, foi efetuada a reprodução de camundongos" knockin", que hiperexpressam certos receptores de interesse.
Alguns pacientes respondem a determinadas drogas com maiorsensibilidade do que o habitual. (Essasvariações são discutidas noCapo 4.) Atualmente, ficou bem claro que essa sensibilidade aumentada deve-se, com freqüência, a uma modificação genéticamuito pequena, que resulta em diminuição da atividade de determinada enzima responsável pela eliminação dessa droga. A farmacogenômica (ou farmacogenética) é o estudo das variaçõesgenéticas que causam diferenças individuais na resposta a drogas.Os futuros médicos poderão submeter cada paciente a triagem, àprocura dessas diferenças, antes de prescrever um fármaco.
INTRODUÇÃO / 3
'Dados de Ruffolo RR et ai: The pharmacology 01 carvedilol. Eur J Pharmacol1990;38:582.
Quadro 1.1 Constantes de dissociação (Kd) dosenantiômeros e do racemato de carvedilol. A Kd é aconcentração para uma saturação de 50% dos receptores,sendo inversamente proporcional à afinidade da drogapelos receptores1
ciso para a estrutura específica de uma droga. Assim, se desejarmosdesenvolver uma droga de ação curta e altamente seletiva para de
terminado receptor, devemos evitar moléculas altamente reativas queformem ligações covalentes e escolher moléculas que formem ligações mais fracas.
Algumas substâncias que são quase totalmente inertes no sentido químico exercem, entretanto, efeitos farmacológicos significativos. Por exemplo, o xenônio, um "gás inerte", possui efeitos anestésicos em pressões elevadas.
Inverso daAfinidade pelos
Forma do Receptores aCarvedilol (Kd• nmol/L)............................................................
Enantiômero R( +) 14
Inverso daAfinidade pelos
Receptores 13(Kd• nmol/L)...................................................
45
0,4
0,9
16
11
Enantiômero S( -)
Enantiômeros R,S( +/-)
o tamanho molecular das drogas varia desde um tamanho muitopequeno (íons de lítio, com PM de 7) até muito grande (por exemplo, alteplase [t-PAlo uma proteína com PM de 59.050). Todavia,as drogas têm, em sua grande maioria, pesos moleculares situadosentre 100 e 1.000. O limite inferior dessa estreita faixa é provavelmente estabelecido pelos requisitos de especificidade de ação. Parater um bom "encaixe" a apenas um tipo de receptor, a molécula dadroga deve ter uma forma, carga etc. singulares o suficiente paraimpedir sua ligação a outros receptores. Para essa ligação seletiva,parece que a molécula deve possuir, na maioria dos casos, um tamanho de pelo menos 100 unidades de PM. O limite superior dopeso molecular é determinado primariamente pela necessidade demovimentação das drogas no interior do corpo (por exemplo, dolocal de sua administração até o local de sua ação). As drogas comPM muito acima de 1.000 não se difundem facilmente pelos com
partimentos do corpo (ver Permeação, adiante). Por conseguinte,as drogas muito grandes (em geral, as proteínas) devem ser administradas diretamente no compartimento onde exercem seus efeitos. No caso da alteplase, uma enzima que dissolve coágulos, a droga é administrada diretamente no compartimento vascular por infusão intravenosa.
B. TAMANHO DAS DROGAS
bases fracos. Esse fato tem implicações importantes no modo de
processamento das drogas pelo organismo, visto que a existência dediferenças de pH nos vários compartimentos do corpo pode alteraro grau de ionização dessas drogas (ver adiante).
C. REATIVIDADE DAS DROGAS E LIGAÇÕES
DROGA-RECEPTOR
As drogas interagem com receptores através de forças ou ligaçõesquímicas. Estas são de três tipos principais: covalentes, eletrostáticase hidrofóbicas. As ligações covalentes são muito fones e, em muitos casos, não são reversíveis em condições biológicas. Por conseguinte, a ligação covalente estabelecida entre a forma ativada dafenoxibenzamina e o receptor a da noradrenalina (que resulta embloqueio de receptor) não se rompe facilmente. O efeito bloqueador da fenoxibenzamina dura muito tempo após o desaparecimen
to do fármaco da corrente sangüínea, sendo revertido apenas coma síntese de novos receptores a, um processo que leva cerca de 48horas. Outros exemplos de drogas altamente reativas que formam
ligações covalentes incluem os fármacos alquilantes do DNA, quesão utilizados na quimioterapia do câncer para desorganizar a divisão celular no tecido neoplásico.
A ligação eletrostática é muito mais comum do que a ligaçãocovalente nas interações droga-receptor. As ligações eletrostáticas
variam desde ligações relativamente fones entre moléculas iônicascom cargas permanentes até ligações de hidrogênio mais fracas einterações muito fracas entre dipolos, como as forças de van derWaals e fenômenos semelhantes. As ligações eletrostáticas são maisfracas do que as covalentes.
Em geral, as ligações hidrofóbicas são muito fracas e provavelmente são importantes nas interações de drogas altamente lipossolúveis com os lipídios das membranas celulares e, talvez, na intera
ção de drogas com as paredes internas das "bolsas" dos receptores.A natureza específica de determinada ligação droga-receptor tem
menos importância prática do que o fato de que as drogas que seligam a seus receptores por ligações fracas são, em geral, mais seletivas do que as que se ligam através de ligações muito fortes. Isso sedeve ao fato de que as ligações fracas exigem um encaixe muitopreciso da droga a seu receptor para que ocorra interação. Apenasalguns tipos de receptores tendem a proporcionar esse encaixe pre-
D. FORMA DAS DROGAS
A forma da molécula de uma droga deve permitir sua ligação a seusítio receptor. Idealmente, a forma da droga deve ser complementar com a do sítio receptor, da mesma maneira que uma chave seencaixa numa fechadura. Além disso, o fenômeno de quiralidade
(estereoisomerismo) é tão comum em biologia, que mais da metade de todas as drogas úteis são moléculas quirais, isto é, existem naforma de pares de enantiômeros. As drogas com dois centros assimétricos possuem quatro diastereômeros, como, por exemplo, a
efedrina, um fármaco simpaticomimético. Na grande maioria doscasos, um desses enantiômeros é muito mais potente do que a suaimagem especular, refletindo um melhor ajuste à molécula do receptor. Por exemplo, o enantiômero (5)( +) na metacolina, umadroga parassimpaticomimética, é mais de 250 vezes mais potentedo que o enantiômero (R)( -). 5e imaginarmos o sítio receptor comouma luva à qual a molécula da droga deve ajustar-se para produzirseu efeito, fica claro porque uma droga" orientada para a esquerda"será mais eficaz na sua ligação a um receptor esquerdo do que o seuenantiômero "orientado para a direita".
O enantiômero mais ativo em determinado tipo de sítio recep
tor pode não ser mais ativo em outro tipo, como, por exemplo, umtipo de receptor pode ser responsável por algum efeito indesejado.Por exemplo, o carvedilol, um fármaco que interage com os recep
tores adrenérgicos, possui um único centro quiral e, portanto, doisenantiômeros (Quadro 1.1). Um desses enantiômeros, o isômero
(5)( -), é um potente bloqueador dos receptores [3. O enantiômero (R) (+) é 100 vezes mais fraco no receptor [3. Todavia, os isômeros são aproximadamente equipotentes como bloqueadores dosreceptores a. A cetamina é um anestésico intravenoso. O enantiômero (+) é um anestésico mais potente e menos tóxico do que oenantiômero (-). Infelizmente, o fármaco ainda é utilizado comomistura racêmica.
Por fim, como as enzimas são habitualmente estereosseletivas,
um enantiômero de uma droga é freqüentem ente mais suscetíveldo que outro às enzimas envolvidas no metabolismo de drogas. Em
4 / FARMACOLOGIA
conseqüência, a duração de ação de um enantiômero pode ser muitodiferente da do outro.
Infelizmente, os estudos de eficácia clínica e eliminação de drogas em seres humanos foram efetuados, em sua maioria, com mis
turas racêmicas de drogas, e não com os enantiômeros separados.Na atualidade, apenas cerca de 45% das drogas quirais utilizadasclinicamente são comercializadas na forma do isômero ativo - o
restante só está disponível como misturas racêmicas. Em conseqüên
cia, muitos pacientes fazem uso de doses de drogas, das quais 50%ou mais são inativos ou ativamente tóxicos. Todavia, existe um
interesse crescente - tanto em nível científico quanto em nível
regulador - em aumentar a disponibilidade de drogas quirais naforma de seus enantiômeros ativos.
E. PLANEJAMENTO RACIONAL DE DROGAS
o planejamento racional de drogas implica a capacidade de ante
ver a estrutura molecular apropriada de uma droga com base nasinformações sobre o seu receptor biológico. Até pouco tempo, nenhum receptor era conhecido de modo suficientemente detalha
do para permitir esse planejamento de drogas. Na verdade, as drogas eram desenvolvidas através de testes randômicos de substân
cias químicas ou modificação de drogas com algum efeito já conhecido (ver Capo 5). Todavia, no decorrer das últimas 3 déca
das, foram isolados e caracterizados numerosos receptores. Algumas drogas de uso atual foram desenvolvidas através de planejamento molecular, com base no conhecimento da estrutura tridi
mensional do sítio receptor. Hoje em dia, dispõe-se de programasde computador capazes de melhorar reiteradamente as estruturasde drogas para que possam se ajustar a receptores conhecidos. Oplanejamento racional de drogas deverá tornar-se cada vez maisviável, à medida que for obtido mais conhecimento acerca da estrutura dos receptores.
F. NOMENCLATURA DOS RECEPTORES
O notável sucesso dos mais novos e eficientes métodos de identifi
car e caracterizar os receptores (ver Capo 2, Boxe: Como São Descobertos Novos Receptores?) levou ao desenvolvimento de uma
variedade de diversos sistemas para designá-los. Isso, por sua vez;levou ao aparecimento de numerosas sugestões sobre métodos mais
racionais de designação. O leitor interessado no assunto poderá obtermais detalhes na International U nion ofPharmacology (IUPHAR)Committee on Receptor Nomenclature and Drug Classification (incluído em várias publicações do Pharmacological Reviews) e nas publicações anuais dos Receptor and Ion Channel Nomenclature Supple
ments em edições especiais pela revista Trends in PharmacologicalSciences (TIPS). Os capítulos neste livro utilizam principalmenteessas fontes para a designação dos receptores.
Interações entre Droga e Corpo
As interações entre uma droga e o corpo são convenientemente
divididas em duas classes. As ações da droga sobre o organismosão conhecidas como processos farmacodinâmicos, cujos princípios são apresentados de forma mais detalhada no Capo 2. Essaspropriedades determinam o grupo em que a droga é classificadae, com freqüência, desempenham o principal papel na decisão dequal dos grupos constitui a forma apropriada de terapia para de
terminado sintoma ou doença. As ações do corpo sobre a drogasão denominadas processos farmacocinéticos, que são descritosnos Caps. 3 e 4. Os processos farmacocinéticos controlam a ab
sorção, distribuição e eliminação de drogas e são de grande importância prática na escolha e administração de uma droga espe-
cífica a determinado paciente, como, por exemplo, um pacientecom comprometimento da função renal. Os parágrafos que seseguem fornecem uma breve introdução à farmacodinâmica e farmacocinética.
Princípios de Farmacodinâmica
Conforme assinalado anteriormente, as drogas devem, em sua mai
oria, ligar-se a um receptor para produzir algum efeito. Todavia,em nível molecular, a ligação da droga representa apenas a primeira de uma seqüência freqüentem ente complexa de etapas.
A. TIPOS DE INTERAÇÕES DROGA-RECEPTOR
As drogas agonistas ligam-se de algum modo ao receptor e o ati
vam, produzindo direta ou indiretamente o efeito. Alguns receptores incorporam na mesma molécula o mecanismo efetor, de modoque a ligação da droga produz diretamente o efeito, como, por exemplo, a abertura de um canal iônico ou a ativação de uma atividade
enzimática. Outros receptores estão ligados a uma molécula efetora separada através de uma ou mais moléculas de acoplamento in
tervenientes. Os diversos tipos de sistemas de acoplamento drogareceptor-efetor são discutidos no Capo 2. As drogas antagonistas
farmacológicas, através de sua ligação a um receptor, impedem a ligação de outras moléculas. Por exemplo, os bloqueadores dos receptores da acetilcolina, como a atropina, são antagonistas, visto queimpedem o acesso da acetilcolina e drogas agonistas semelhantes ao
receptor de acetilcolina e estabilizam o receptor no seu estado inativo. Esses fármacos reduzem os efeitos da acetilcolina e de drogassemelhantes do organismo.
B. "AGONISTAS" QUE INIBEM SUAS MOLÉCULAS DE
LIGAÇÃO E AGONISTAS PARCIAIS
Algumas drogas imitam drogas agonistas ao inibir as moléculas res
ponsáveis pelo término da ação de um agonista endógeno. Por exemplo, os inibidores da acetilcolinesterase, ao retardar a destruição daacetilcolina endógena, produzem efeitos colinomiméticos, que se
assemelham estreitamente às ações de moléculas agonistas dos receptores colinérgicos, apesar de os inibidores da colinesterase não
se ligarem - ou apenas fazê-lo de modo incidental- aos receptores colinérgicos (ver Capo 7, Drogas Ativadoras dos Receptores
Colinérgicos e Inibidores da Colinesterase). Outras drogas ligamse a receptores e os ativam, porém não produzem uma resposta tãopronunciada quanto aquela observada com os denominados agonistas integrais. Assim, o pindolol, um "agonista parcial" dos recep
tores l3-adrenérgicos, pode atuar como agonista (na ausência deagonista integral) ou como antagonista (na presença de agonistaintegral, como o isoproterenol). (Ver Capo 2.)
C. DURAÇÃO DE AçÃO DAS DROGAS
O término da ação de uma droga no nível do receptor resulta deum de vários processos. Em alguns casos, o efeito dura apenas enquanto a droga estiver ocupando o receptor, de modo que a suadissociação do receptor determina automaticamente o término doefeito. Todavia, em muitos casos, a ação pode persistir após a dissociação da droga, visto que, por exemplo, ainda existem algumasmoléculas acopladoras na forma ativada. No caso de drogas que seligam ao receptor de forma covalente, o efeito pode persistir até adestruição do complexo droga-receptor e síntese de novos receptores, conforme descrito anteriormente para a fenoxibenzamina. Porfim, muitos sistemas de receptor-efetor incorporam mecanismos dedessensibilização para impedir uma ativação excessiva quando as
moléculas do agonista permanecem por um longo período de tempo. Ver o Capo 2 para maiores detalhes.
D. RECEPTORES E SíTIOS DE LIGAÇÃO INERTES
Para funcionar como receptor, uma molécula endógena deve inicialmente ser seletiva na escolha dos ligantes (moléculas de drogas) para ligar; em segundo lugar, deve modificar a sua função como processo de ligação, de modo a alterar a função do sistema biológico (célula, tecido etc.). A primeira característica é necessária
para evitar a ativação constante do receptor pela ligação promíscua de grande número de ligantes diferentes. A segunda característica é claramente necessária para que o ligante produza algumefeito farmacológico. Todavia, o corpo contém numerosas moléculas que têm a capacidade de ligar drogas, e nem todas essasmoléculas endógenas consistem em moléculas reguladoras. A ligação de uma droga a uma molécula não-reguladora, como a albumina plasmática, não resulta em qualquer alteração detectávelna função do sistema biológico, de modo que essa molécula endógena pode ser denominada sítio de ligação inerte. Entretanto,essa ligação não é totalmente desprovida de importância, visto queafeta a distribuição da droga no organismo e irá também determinar a quantidade de droga livre presente na circulação. Ambosesses fatores têm importância farmacocinética (ver adiante, bemcomo o Capo 3).
Princípios de Farmacocinética
N a prática terapêutica, uma droga deve ter a capacidade de chegar a seu local efetivo de ação após a sua administração por alguma via conveniente. Em alguns casos, uma substância química,que sofre rápida absorção e distribuição, é administrada e, a se
guir, convertida na droga ativa por processos biológicos no interior do corpo. Essa substância química é denominada pró-droga.Somente em algumas situações é que existe a possibilidade deaplicar diretamente uma droga a seu tecido-alvo, como, por exemplo, através da aplicação tópica de um agente antiinflamatório à
pele ou mucosa inflamada. Com mais freqüência, a droga é administrada em determinado compartimento corporal, como, porexemplo, o trato digestivo, a partir do qual deve deslocar-se até o
seu local de ação em outro compartimento, como o cérebro, porexemplo. Isso exige a absorção da droga no sangue a partir de seulocal de administração e a sua distribuição até o local de ação,permeando através das várias barreiras que separam esses compar
timentos. Para que uma droga administrada por via oral produzaalgum efeito no sistema nervoso central, essas barreiras incluem
os tecidos que compõem a parede do intestino, as paredes doscapilares que perfundem o intestino e a "barreira hematoencefá
lica", formada pelas paredes dos capilares que perfundem o cérebro. Por fim, após produzir seu efeito, a droga deve ser eliminada
numa taxa razoável por inativação metabólica, excreção do corpoou combinação desses processos.
A. PERMEAÇÃO
A permeação de drogas ocorre através de quatro mecanismos primários. A difusão passiva em meio aquoso ou lipídico é comum,porém os processos ativos desempenham um papel no movimentode muitas drogas, particularmente as moléculas que são demasiadograndes para sofrer difusão rápida.
1. Difusão aquosa - A difusão aquosa ocorre no interior dos grandes compartimentos aquosos do corpo (espaço intersticial, citosoletc.) e através das junções ocludentes das membranas epiteliais eporos aquosos no revestimento endotelial dos vasos sangüíneos, que
INTRODUÇÃO / 5
- em alguns tecidos - permitem a passagem de moléculas comPM de até 20.000/30.000.*
A difusão aquosa das moléculas de drogas é habitualmente impulsionada pelo gradiente de concentração da droga permeante,um movimento "descendente" descrito pela lei de Fick (ver adiante). As moléculas de drogas que se ligam a grandes proteínas
plasmáticas (por exemplo, a albumina) não irão permear atravésdesses poros aquosos. Se a droga tiver alguma carga elétrica, seu
fluxo também é influenciado pelos campos elétricos (por exemplo, o potencial de membrana e - em partes do néfron - opotencial transtubular).
2. Difusão lipídica - A difusão lipídica constitui o fator limitante
mais importante na permeação de drogas, devido ao grande númerode barreiras lipídicas que separam os compartimentos do corpo. Comoessas barreiras lipídicas separam compartimentos aquosos, o coeficiente de partição lipídico:aquoso de uma droga determina o grau defacilidade com que a molécula se desloca entre os meios aquosos elipídicos. No caso de ácidos e bases fracos (que ganham ou perdemprótons portadores de carga elétrica, dependendo do pH), a capacidade de passar de um meio aquoso para um meio lipídico ou viceversa varia de acordo com o pH do meio, visto que as moléculas comcarga elétrica atraem moléculas de água. A relação entre forma lipossolúvel e forma hidrossolúvel para um ácido fraco ou uma base fracaé expressa pela equação de Henderson-Hasselbalch (ver adiante).
3. Transportadores especiais - Existem moléculas transportado
ras especiais para certas substâncias, que são importantes para afunção celular, porém demasiado grandes ou insolúveis em lipídiospara sofrer difusão passiva através das membranas, como, por exemplo, peptídios, aminoácidos e glicose. Esses transportadores causammovimento por transporte ativo ou difusão facilitada e, ao contrário da difusão passiva, são passíveis de saturação e inibição. Comomuitas drogas são peptídios, aminoácidos ou açúcares de ocorrên
cia natural ou a eles se assemelham, podem usar esses transportadores para atravessar as membranas.
Muitas células também contêm transportadores de membranamenos seletivos, especializados na expulsão de moléculas estranhas,
como, por exemplo, a P-glicoproteína ou o transportador de resistência a múltiplas drogas tipo 1 (MDRl, multidrug-resistancetype 1) encontrado no cérebro, nos testículos e em outros tecidos,
bem como em algumas células neoplásicas resistentes a drogas. Umamolécula transportadora semelhante, a proteína associada à resis
tência a múltiplas drogas tipo 2 (MRP2, multidrug-resistanceassociated protein-type 2), desempenha importante papel na excreção de algumas drogas e seus metabólitos na urina e na bile.
4. Endocitose e exocitose - Algumas substâncias são tão grandesou impermeantes que só podem penetrar nas células por endocitose, processo pelo qual a substância é englobada pela membrana celular e transportada na célula pelo desprendimento de uma vesícuIa recém-formada no interior da membrana. A seguir, a substânciapode ser liberada no citosol através da decomposição da membranada vesícula. Esse processo é responsável pelo transporte da vitamina B12' complexada com uma proteína de ligação (o fator intrínseco), através da parede intestinal para o sangue. De forma semelhante,o ferro é transportado em precursores eritróides que sintetizamhemoglobina, em associação à proteína transferrina. É necessária a
*Os capilares do cérebro, dos testículos e de alguns outros tecidos caracterizam-sepela ausência dos poros que permitem a difusão aquosa das moléculas ·demuitas drogas no tecido. Além disso, podem conter concentrações elevadas de bombas de exporração de drogas (bombas MDR; ver o rexro). Por conseguinte, esses tecidos constituem locais "protegidos" ou "santuários" contra muitas drogas circulantes.
6 / FARMACOLOGIA
B. LEI DE DIFUSÃO DE FICK
O fluxo passivo de moléculas ao longo de um gradiente de concentração é fornecido pela lei de Fick:
C. IONIZAÇÃO DE ÁCIDOS FRACOS E BASES FRACAS;
A EQUAÇÃO DE HENDERSON-HASSELBALCH
QuaternáriaR
R:N:+R
R
TerciáriaR
R:N:R
SecundáriaR
R:N:
H
PrimáriaH
R:N:H
no. A equação de Henderson-Hasselbalch relaciona a razão entre
ácido fraco ou base fraca protonados e não-protonados com a pK.da molécula e o pH do meio da seguinte maneira:
109 (Protonado) = pKa - pH(Não-protonado)
Essa equação aplica-se tanto a drogas ácidas quanto básicas. Ainspeção confirma que, quanto menor o pH em relação à pK.,maior a fração da droga na forma protonada. Como a forma semcarga elétrica é a mais lipossolúvel, haverá maior quantidade deácido fraco na forma lipossolúvel em pH ácido, enquanto maiorproporção de uma droga básica estará na forma lipossolúvel em
pH alcalino.Uma aplicação desse princípio é observada na manipulação da
excreção de drogas pelos rins. Quase todas as drogas são filtradasno glomérulo. Se a droga estiver numa forma lipossolúvel durantea sua passagem pelo túbulo renal, uma fração significativa será reabsorvida por difusão passiva simples. Se o objetivo é acelerar a excre
ção da droga, é importante impedir a sua reabsorção do túbulo. Issopode ser freqüentemente obtido ao ajustar o pH urinário para assegurar que a maior parte da droga esteja no estado ionizado, conforme ilustrado na Fig. 1.1. Em conseqüência desse efeito de separação do pH, a droga ficará "retida" na urina. Assim, os ácidos fracossão, em geral, excretados mais rapidamente na urina alcalina, en
quanto as bases fracas costumam ser excretadas mais rapidamentena urina ácida. Outros líquidos corporais em que as diferenças depH em relação ao pH sangüíneo podem ocasionar retenção ou reabsorção incluem o conteúdo do estômago e do intestino delgado, o
leite materno, o humor aquoso e as secreções vaginais e prostáticas(Quadro 1.3).
Conforme sugerido pelo Quadro 1.2, grande parte das drogasconsiste em bases fracas. Essas bases consistem, em sua maioria, em
moléculas que contêm amina. O nitrogênio de uma amina neutratem três átomos associados a ele, juntamente com um par de elétrons não-partilhados - ver a representação adiante. Os três átomos podem consistir num carbono (designado por "R") e dois hidrogênios (amina primária), dois carbonos e um hidrogênio (amina secundária) ou em três átomos de carbono (amina terciária).
Cada uma dessas três formas pode ligar-se reversivelmente a umpróton com os elétrons não-partilhados. Algumas drogas apresentam uma quarta ligação carbono-nitrogênio, constituindo as deno
minadas aminas quaternárias. Todavia, a amina quaternária apresenta carga elétrica permanente e não tem elétrons não-compartilhados para ligar-se reversivelmente a um próton. Por conseguinte,as aminas primárias, secundárias e terciárias podem sofrer protona
ção reversível e variar a sua lipossolubilidade de acordo com o pH,enquanto as aminas quaternárias estão sempre na forma carregadae pouco lipossolúvel.
Grupos de Drogas
PrótonÂnion de
aspirina
Aspirinaneutra
onde C] é a concentração mais alta, C1 a concentração mais baixa,
a área é a área através da qual está ocorrendo difusão, enquanto ocoeficiente de permeabilidade é uma medida da mobilidade das
moléculas da droga no meio da via de difusão, e a espessura referese à espessura (extensão) da via de difusão. No caso da difusão lipí
dica, o coeficiente de partição lipídico:aquoso constitui um importante determinante da mobilidade da droga, visto que determina ograu de facilidade com que a droga penetra na membrana lipídica apartir do meio aquoso.
A carga eletrostática de uma molécula ionizada atrai dipolos de águae resulta num complexo polar, relativamente hidrossolúvel e inso
lúvel em lipídios. Como a difusão lipídica depende de uma lipossolubilidade relativamente alta, a ionização das drogas pode reduzir acentuadamente a sua capacidade de atravessar as membranas.
Uma parcela muito grande das drogas em uso consiste em ácidosfracos ou bases fracas (Quadro 1.2). No caso de fármacos, um áci
do fraco é mais bem definido como uma molécula neutra capaz de
sofrer dissociação reversível num ânion (molécula de carga negativa) e próton (íon hidrogênio). Por exemplo, a aspirina dissocia-seda seguinte maneira:
presença de receptores específicos das proteínas de transporte paraa atuação desse processo. O processo inverso (exocitose) é responsável pela secreção de muitas substâncias das células. Assim, porexemplo, muitas substâncias neurotransmissoras são armazenadas
em vesículas delimitadas por membrana nas terminações nervosas,a fim de protegê-Ias da destruição metabólica no citoplasma. A ativação apropriada da terminação nervosa causa fusão da vesícula dearmazenamento com a membrana celular e expulsão de seu con
teúdo no espaço extracelular (ver Capo 6).
Uma droga que é uma base fraca pode ser definida como molé
cula neutra capaz de formar um cátion (molécula de carga positiva)através de sua combinação com um próton. Por exemplo, a pirimetamina, um agente antimalárico, sofre o seguinte processo deassociação-dissociação:
C,2HllCIN3NH3+~ C'2H"CIN3NH, + H+
Cátion de Pirimetamina Prótonpirimetamina neutra
Fluxo (moléculas por unidade de tempo) =Área x coeficiente de permeabilidade
((1 - (2) x -------Es-p-e-s-su-r-a-----
Observe que a forma protonada de um ácido fraco é a formaneutra mais lipossolúvel, enquanto a forma não-protonada de uma
base fraca é a forma neutra. A lei de ação das massas exige que essasreações se movam para a esquerda em ambiente ácido (pH baixo,excesso de prótons disponíveis) e para a direita em ambiente alcali-
Aprender cada fato pertinente acerca de cada uma das muitas centenas de drogas mencionadas neste livro seria um objetivo impraticável e, felizmente, desnecessário em qualquer caso. Quase todas asdrogas atualmente disponíveis, cujo número atinge vários milhares, podem ser classificadas em cerca de 70 grupos. Muitas das drogas em cada grupo são muito semelhantes nas suas ações farmaco-
Quadro 1.2 Constantes de ionização de algumas drogas comunsI
Droga pK~ pK~ Droga
INTRODUÇÃO / 7
pK.'
Ácidos fracos Bases fracas (cont.)Bases fracas (cont.)Acetaminofeno
9,5Amilorida8.7IsoproterenolAcetazolamida
7,2Amiodarona6,56Lidocaína
Ácido etacrínico2,5Anfetamina9,8Metadona
Ácido salicílico3,0Atropina9.7Metanfetamina
Ampicilina
2,5Bupivacaína8,1Metaraminol
Aspirina
3,5Canamicina7,2Metildopa
Ciprofloxacina
6,09,8,74'Ciclizina8,2MetoprololClorotiazida
6,8, 9,4'Clonidina8,3Morfina
Clorpropamida
5,0Clordiazepóxido4,6Nicotina
Cromoglicato
2,0Clorfeniramina9,2Noradrenalina
Fenitoína
8,3Cloroquina10,8,8,4'Pentazocina
Fenobarbital7,4Clorpromazina9,3Pilocarpina
Furosemida3,9Cocaína8,5Pindolol
Ibuprofeno
4,4, 5,2'Codeína8,2Pirimetamina
Levodopa
2,3Desipramina10,2Procaína
Metildopa
2,2,9,2'Diazepam3Procainamida
Metotrexato
4,8Difenidramina8,8Promazina
Penicilamina
1,8Difenoxilato7,1Prometazina
Pentobarbital8,1Díidrocodeína3Propranolol
Propiltiouracil
8,3Efedrina9,6Pseudo-efedrina
Sulfadiazina
6,5Epinefrina8,7Quinidina
Sulfapiridina
8,4Ergotamina6,3Terbutalina
Teofilina
8,8Escopolamina8,1Tioridazina
Tolbutamida5,3Estriquinina8,0,2,3'Tolazolina
Warfarina5,0Fenilefrina9,8
Bases fracasFisostigmina7,9,1,8'
Albuterol
9,3Flufenazina8,0,3,9'
(salbutamol)
Guanetidina11,4, 8,3'
Alopurinol
9,4, 12,3Hidralazina7,1
Alprenolol
9,6Imipramina9,5
'A pK, é o pH em que as concentrações das formas ionizada e não-ionizada são iguais.'Mais de um grupo ionizável.
8,67,98,410,08,610,69,87,97,9,3,1'8,67,96,9, 1,4'8,67,09,09,29,49,19,49,88,5,4,4'10,19,510,6
dinâmicas e, com freqüência, também nas suas propriedades farmacocinéticas. Para a maioria dos grupos, é possível identificar um
ou mais protótipos, que exemplificam as caracrerísticas mais importantes do grupo. Isso permire a classificação de outras drogasimportantes no grupo como variantes do prorótipo, de modo que
só precisamos conhecer detalhadamente o protótipo e reconhecerapenas as diferenças em relação ao protótipo para as drogas remanescentes.
Fontes de Informação
Os estudantes que desejam rever o campo da farmacologia para a
preparação de um exame devem consultar Pharmacology:Examination and Board Review, de Trevor, Katzung e Masrers (McGrawHill, 2002) ou USMLE Road Map: Pharmacology,por Katzung eTrevor (McGraw-Hill, 2003).
As referências apresentadas ao final de cada capítulo deste livroforam selecionadas para proporcionar informações específicas emcada um dos capítulos.
A melhor maneira de responder a perguntas específicas relativas
à pesquisa básica ou clínica consiste em recorrer a periódicos defarmacologia geral e especialidades clínicas. Para o estudante e omédico, podemos recomendar três publicações como fontes particularmente úteis de informações atualizadas sobre drogas: The NewEngland Journal o/ Medicine, que publica muitas pesquisas clínicasoriginais relacionadas a drogas, bem como freqüentes revisões detópicos de farmacologia; The' Medical Letter on Drugs andTherapeutics, que publica revisões breves e críticas de terapias no-
Membranas
Sangue
do nélronUrina
pH7,4~ pH6,0
1,0~M
DIFUSÃO
1,0~M
HH
II
R-N-HL1PíDICAR-N-H
W11
IrH
HI
I
R-W-H)(R-N+-H0,4 ~!M ~
~10'0 ~M
1,4 ~M
11,0~M
Fig. 1.1 Aprisionamento de uma base fraca (pirimetamina) na urina, quando esta é mais ácida do que o sangue. No caso hipotéticoilustrado, a forma da droga sem carga elétrica e passível de difusãoentrou em equilíbrio através da membrana, porém a concentraçãototal (com carga e sem carga) na urina é quase oito vezes maior quea do sangue.
8 / FARMACOLOGIA
Quadro 1.3 Líquidos corporais com potencial de "aprisionamento" de drogas através do fenômeno de partição do pH
líquido Corporal Faixa de pH
Relações de Concentraçãonos líquidos Totais: Sangue para a
Sulfadiazina (ácido, pK. 6,5)'
Relações de Concentração noslíquidos Totais: Sangue para
a Pirimetamina (base, pK.7,O)'
0,21 3,25-1,0, .
0,114 2.848-452
Urina
Leite materno
Conteúdo do jejuno, íleo............................................
Conteúdo do estômago.....................................
Secreçôes prostáticas
Secreções vaginais
5,0-8,0
6,4-7,6'
7,5-8,03
1,92-2,59'........... , " " .
6,45-7,4'
3,4-4,23
0,12-4,65............... , .
0,2-1,77........ ,...............................••....................................
1,23-3,54.....................
72,24-0,79..... , .
3,56-0,89..................... " .
0,94-0,79•••• " ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• O"
85.993-18386
'As relações entre droga protonada e não-protonada nos líquidos corporais foram calculadas ao utilizar cada um dos extremos citados de pH; foi utiíizado um pH sangüíneo de7,4 para a relação sangue:droga. Por exemplo, a relação urina:sangue em estado de equilíbrio dinâmico para a sulfadiazina é de 0.,12 em pH urinãrio de 5,0.; essa relação atinge4,65 com pH urinãrio de 8,0.. Por conseguinte, a sulfadiazina é separada e excretada com muito mais eficiência na urina alcalina.'Lentner C (editor): Geigy Scientilic Tables, vai 1, 8th ed. Ciba Geisy, 19813Bowman WC, Rand MJ: Textbook 01 Pharmacology, 2nd ed. Blackwell, 1980..4Alteração insignificante nas relações dentro da faixa de pH fisiológico.
vas e antigas, em sua maior parte farmacológicas; e Drugs, que publica extensas revisões de drogas e grupos de drogas.
É preciso mencionar também outras fontes de informações pertinentes aos Estados Unidos. A "bula do produto" é um resumo das
informações sobre o fármaco que o fabricante é obrigado a colocarna embalagem; o Physicians, Desk Reference (PDR) é um compêndio das bulas publicadas anualmente, com suplementos duas vezespor ano; o Facts and Comparisons é uma publicação em folhas sol
tas mais completa sobre informações de drogas, com atualizaçõesmensais; e o USP DI (voI. 1, Drug Information for the Hea!th Care
Professiona~ é um grande compêndio sobre drogas, com atualizações mensais, que atualmente é publicado na internet pelaMicromedex Corporation. A bula consiste numa breve descriçãoda farmacologia do produto. Embora contenha muitas informaçõespráticas, é também utilizada como meio de transferir a responsabilidade por reações adversas ao fármaco do fabricante para o médico. Por isso, o fabricante tipicamente relaciona todos os efeitos tóxicos já relatados, independentemente de sua raridade. Um manual útil e objetivo que fornece informações sobre toxicidade e inte
rações farmacológicas é o Drug Interactions. Por fim, a FDA possuium site na Interner World Wide Web, que traz notÍcias a respeitode drogas recentemente aprovadas, retiradas do mercado, avisos etc.
Esses dados podem ser obtidos com um computador pessoal equipado com um software para internet em http://www.fda.gov.
Os endereços a seguir são fornecidos para uso de leitores quedesejarem obter qualquer uma das publicações anteriormente citadas:
Drug Interactions
Lea & Febiger600 Washington SquareFiladélfia, PA 19106
Facts and Comparisons111 West Porr Plaza, Suite 300St. Louis, MO 63146
Pharmaco!ogy: Examination 6- Board Review, 6th ed
McGraw-Hill Companies, Inc2 Penn Plaza 12th Floor
Nova York, NY 10121-2298
USMLE Road Map: Pharmaco!ogyMcGraw-Hill Companies, Inc2 Penn Plaza 12th Floor
Nova York, NY 10121-2298
The Medica! Letter on Drugs and Therapeutics56 Harrison Street
New Rochelle, NY 10801
The New Eng!and Journa! o/ Medicine10 Shattuck Street
Boston, MA 02115
Physicians' Desk ReferenceBox 2017
Mahopac, NY 10541
United States Pharmacopeia Dispensing InformationMicromedex, Inc.
6200 S. Syracuse Way, Suite 300
Englewood, CO 80111