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Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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Page 1: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste
Page 2: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O Laboratório da Paisagem, núcleo do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, desenvolve atividades de pesquisa, ensino e projeto no ãmbito da conservação da paisagem, dos jardins históricos l' dos espaços públicos. Reúne professores, arquitetos e alunos de graduação e do Programa de Pós­graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU) da Lff PE e integra rede nacional de pesquisa sobre "Sistema de Espaços Livres" e "Jardins de Burle Marx'; esta também no âmbito internacional.

Lançou sua primeira publicação. "Espaços Livres do Rccik''. cm 2000, cm parceria com a Prefeitura do Recife. Em 2001, iniciou os estudos sobre os jardins do paisagista, culminando no restauro de três deles entre 2003 t' 2008. Posteriormente, publicou "Os jardins de Burle Marx no Recife" (2009), cartilha em comemor<H;üo ao cenlt'núrio desse artista; "Jardins l listóricos Brasileiros l' Ivkxicanos" (2009); "Parque e Paisagem: um olhar sobre o Recili:" (2010) e "Jardins do Rl'<ife: uma histúria do paisagismo no Brasil, 1872- 1937" (2010).

JARDINS DE BURLE MARX NO NORDESTE DO BRASIL

Page 3: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

••

JARDINS DE BURLE MARX NO NORDESTE DO BRASIL

Ana Rita Sá Carneiro

Aline de Figueirôa Silva

Joelmir Marques da Silva

ORGANIZADORES

Editora ~ UniversltáriWUFPE

RECIFE 1 2013

Page 4: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

\ /11IH 1•ld 1ulc l'~Mrol d~ 11tr1111111l>l1<.0

ltcllor 1'1111 , A11l,le1 llrn<llcir(I de l'rc ila• Dour,1do.

Vice ltcllor \1111f. Sllvio Romero Marques.

J)lrctora do fülllorn Uf PE: Prof• Maria josé de Matos Luna.

ComlssAo F.dlt<>rial

P residente: Prof• Maria José de Matos Luna.

T itularca: Ana Maria de Barros, Alberto Galvão de Moura f ilho, Alice Mirian Happ Boúer, Antonio Motta,

Helena Lúcia Augusto Chaves, Liana Cristina da Costa Cirne Lins, Ricardo Bastos Cavalcante Prudêncio,

Rogélia Hcrc ulan<> Pinto, Rogério Luiz Covaleski, Sônia Souza Melo Cavalcanti de Albuquerque, Vera Lúcia

Menezes Lima.

Suplentes: Alexsandro da Silva, Arnaldo Manoel Pereira Carneiro, Ed igleide Maria Figueiroa Barretto,

Eduardo Antônio Guimarães Tavares, Ester Calland de Souza Rosa, Gemido Antônio Simões Galindo,

Maria do Carmo de Barros P ime ntel, Marlos de Barros Pessoa, Raul da Mota Silveira Neto, Silvia Helena

l.ima Schwambom, Suzana Cavani Rosas.

Editores Executivos: Afon so Henrique Sobreira de O liveira e Suzana Cavani Rosas.

Capa: Bruno Faria e Lúcia Veras.

Projeto gráfico: lldemberg ue Leite.

Revisão do texto: Aline de Figueirôa Silva e Maríza Pontes.

Revisão botânica: foelmir Marques da Silva.

Tradução: Aline de Fíg ueirôa Silva.

Revisão da t radução: James Dubeux Raffety.

Impressão e acabamento: Ed itora Universitária da UFPE.

\ Catalogação na fonte

Bibliotecária Kalina Ligia França da Silva, CRB4-1408

f37 Jardins de Burle Mau no Nordeste do Brasil I Ana Rita Sá Carneiro, Aline

Realização

Lnboratório dopelaagom

"' ,.

de Figueirôa Silva, Joelmír Marques da Silva. Organi1.adores. - Recife :

Ed. Universitária da UFPE, 2013.

251 p. : íl,

Vários autores.

Inclui referências bibliográficas.

ISBN 978-85-415·0224-5 (broch.)

1. Marx, Roberto Burle, 1909-1994. 2. Arquitetura paisagblica - Brasil,

Nordeste. 3. Jardins histó ricos - Brasil, Ncrdestc. 4. Jardm; Projetos -

Brasil, Nordeste. I. Sá Carneiro, Ana Rita (Org.). li. Silva, Aline de Figueirôa

(Org.). III. Silva, Joelmir Marques da (Org.). IV. Titulo.

712 CDD (23.ed.) UFPE (BC20 13-065)

Apoio m BURLE MARX & CIA LTDA

---

- u · =< ~u -= --= x ==i..a

EDITORA ASSOCIADA Ã

llMAIUO

7

t)

11

37

57

89

107

Prefácio

Prcfacc

Snnia lk1·j1111111

Introdu\i\o

lntroduct ion

Ana Rita s,\ Carneiro

Aline de Figucirôn Silva

Joelmir Marques <la Si lva

Praça Arlnr Oscar no Recife: a modernidade no Jardim de Burle Marx

Fátima Maria Alves da Silva Mafra

O Jardim da Capela da Jaqueira: um monumento preservado por Burle Marx no Recife

Ana Rita Sá Carneiro

Aline de Figueirôa Silva

Joelmir Marques da Silva

Burle Marx em Salvador: o_ Jardim do Terreiro de Jesus

Paulo Costa Kali!

Um Jardim de Burle Marx em João Pessoa: Residência Cassiano Ribeiro Coutinho

Heignne Jardim

Paula Dieb

Page 5: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

l '.17

159

187 \ -,

213

241

247

l'nládo dos Leões: 11111 Jurdim de Burle Marx em São Luís

Barbara [rene Wasinski Prado

Jardins de Burle Marx para o Theatro José de Alencar em Fortaleza

Ricardo Figueiredo Bezerra

Pernanda Cláudia Lacerda Rocha

Temístocles Anastácio de Oliveira

Antônio Sérgio Farias Castro

Burle Marx em Teresina: a Praça Monumento Da Costa e Silva

Wilza Gomes Reis Lopes

Karenina Cardoso Matos

José Hamilton Lopes Leal Júnior

Roseli Farias Melo de Barros

Jardins de Burle Marx em Natal

Paulo José Lisboa Nobre

Marizo Vitor Pereira

Isaías da Silva Ribeiro

Apêndice: Projetos de Burle Marx no Nordeste

Os Autores

< ~rn110 ci<lranjera amante dei Brasil, los nombres del Terrero

ili• lc'~úi. cn Salvador, dei Jardín del Palacio de los Leones en São

l 1d11 o t•I Jardín del Teatro Alencar en Fortaleza -para mencionar

11111 s111lo a Lres de los ejemplos estudiados en este volurnen- son

p.1rndlgmMicos del patrimonio cultural del país con rango

1111111dial, y por ello algunos están incluidos en la lista del

11.11 rimonio de la Humanidad de la UNESCO como componentes

1 I<' l l'lll ros históricos de valor singular y universal.

C :omo turista frecuente que ha gozado de varias visitas a esos

l11g.1rcs, me pregunto por qué razón nunca me informaron que

cslos sitios únicos tan visitados habían contado, en su desarrollo,

1 011 intcrvenciones de Roberto Burle Marx.

Como profesional dei paisaje, considero a este brillante

hrnsile.õo el mayor paisajista dei siglo XX en el mundo occidental y

lamento que todavía no haya logrado la trascendencia que su obra

lll t:rcce, debido sobre todo al desconocimiento cabal y científico

de ésta, aún en círculos profesionales.

Como colega, celebro y aplaudo la labor que desde hace afíos

l lcva adelante el grupo dei Laboratorio dei Paisaje de la Universidad

J hleral de Pernambuco con el trabajo líder y pionero de la Dra.

Ana Rita Sá Carneiro y sus cada día más y más integrantes -hoy

ya son 20 especialistas- que se han propuesto develar los orígenes

y estados actuales de las obras de Burle Marx en el Nordeste del

Brasil.

/n r,lins ele Burle Marx no Nordeste do Brasil 7

Page 6: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Como leuora, dcbo dcjar constancia dei placcr que me han

prod ucido eslos textos y sus imágenes pues, además de su aporte

científico, han sido amenos e ilustrativos. El inventario total de

los jardines de Burle Marx, así como su restauración, es una

tarea ineludible y perentoria. Ha sido iniciado por Ana Rita en

2005 y de forma más que humilde. Su enorme capacidad, tesón

y compromiso a través de los anos están produciendo sus frutos,

cada vez más grandes y sabrosos.

Espero que el círculo (tanto de ejemplos como de geografias

y de participantes) se siga ampliando y que en un futuro no muy

lejano contemos con un más que necesario corpus de esos oasis

de naturaleza creados a lo largo de su existencia por un artista sin

igual que han ayudado en tanto a mejorar la calidad de vida de

infinitas personas, en su país natal, en Argentina, en Venezuela,

en Estados Unidos y en otros sitios.

Coronaría de modo supremo esta ardua tarea la nominación

por parte de la UNESCO de un "itinerario de los jardines de Burle

Marx': Y... como la vida profesional de Burle Marx nació en

Pernambuco ... no <ludo de que esa iniciativa y esa tarea también

se llevarán a cabo en esa región y por el extraordinario equipo

que hoy presenta este libra imprescindible para la historia de los jardines del mundo.

Dra. Sonia Berjman. Miembro de Honor.

o

Comité Científico Internacional Paisajes Culturales.

International Council of Monuments and Sites.

Buenos Aires, enero de 2013.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

/\s a foreigner who laves Brazil, the namcs of Jesus Yard in

S.ilvador, Lions Palace Garden in São Luís, and José de Alencar

' l heatcr Garden in Fortaleza, mentioning only three garckns

studicd in this edition, are paradigmatic of the cultural herilagc

oi" this world-ranging country. That is why some of them are

i ncluded on the list of the World Heritage Sites of UNESCO as

historie centers with outstanding universal value.

As a usual tourist who has enjoyed many visits to the cit ícs

mcntioned above, 1 ask myself why I was never told that Lhosc

wideJyvisited places had counted on Roberto Burle Marx's design.

As a landscape professional, I consider this brilliant Brazilían

Lhe greatest landscape designer of the 2Qth century in the western

world. I regret thathis workhas not achieved the acknowledgement

[t deserves due to the lack of a broad scientific knowledge, even Ln

professional circles.

As a colleague, 1 celebrate and acclaim the labor that thc

researchers of the Landscape Laboratory of the Federal Universi t y

of Pernambuco have developed for years under the leadership

and the pioneer work of Professor Ana Rita Sá Carneiro and her

collaborators. Today, there are twenty specialists that aim to revcal

the origins and the current situation of Burle Marx's gardens ín

the northeast region of Brazil.

As a reader, 1 must leave evident the pleasure 1 felt through 1 hc

reading of those texts and their images since they are pleasant and

Jardins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil ')

Page 7: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

/

J illuslni ll ve, in add itio n lo thci r scicnli ítc conlribut ion. 'l he whole

invenlory or Burle Marx's gardens as well as their restoration is an

u navoidable and urgent task. Although the process started in 2005

by Ana Rita in a very humble way, her great capacity, tenacity, and

rnmmitment throughout the years are now bearing richer fruits

f rom her labor.

1 hope the circle of examples, geographies, and participants

continues its growth and that in the near future we can count on

more than simply the necessary corpus of those oases created by

an incomparable artist who helped improve the quality of life of

many people in his native country, Argentina, Venezuela, United

States of America, and other places.

The nomination of an "Itinerary of Burle Marx's gardens" by

UNESCO would crown this hard work in a supreme way. And ...

as Burle Marx's professional life started in Pernambuco ... I have

no doubt this initiative and task will also be carried out in that

region by the extraordinary team who presents now such an

essential book to garden history in the world.

10

Dra. Sonia Berjman. Honor Member.

International Scientific Committee ofCultural Landscapes.

International Council oíMonuments and Sites.

Buenos Aires, January, 2013.

Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

<) Nordeste brasileiro é um a região diversificada, que abrange

dn111l11ios llorístico-vegetacionais representados pela Floresta

AI ln 11 1 ica e ecossistemas associados (rest inga e manguezal), pela

• nntinga e pelo cerrado, bem como uma pluralidade de traços

llllmanos e culturais, p orém historicamente associada à seca e à

l 1 ad ição, entre outros enunciados forjados pelas mais diferentes

l'Slralégias políticas, institucionais e intelectuais.

Por ter a maior extensão de caatinga, sua paisagem, nas

representações predominantes, transmite aridez pelas formas

duras, mas que adquire, como num passe de mágica, um aspecto

viçoso e verdejante após uma chuva esperada.

Nessa região de fortes contrastes, o paisagista Roberto Burle

Marx (1909- 1994) realizou seus primeiros jardins públicos,

plantando os princípios do paisagismo moderno brasileiro,

contemplando as paisagens nordestinas do interior - algumas

experiências por ele denominadas de verdadeiro espetáculo

e configurando paisagens urbanas. Disse Burle Marx em

pronunciamento no "Seminário de Tropicologia" de 1985, a

convite de Gilberto Freyre:

Se meu conhecimento a respeito de plantas é muito

maior, se passei a denunciar, com todas as minhas forças,

os crimes contra a natureza, se viajei sistematicamente

pelo interior do País coletando plantas potenci almente

utilizáveis em jardins, se organizei uma das mais

jardins de Burle Marx no No rdeste do Brasi l 11

Page 8: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1 J

l111port anll'S cok~oc~ dt.: plan1as cm nosso l'als, nao Lenho

d liviJas que cm Pernambuco começou Ludo.1

A partir de 1935, Burle Marx realizou seus primeiros projetos

110 Recife, dirigindo o Setor de Parques e Jardins da Diretoria de

A rquilctura e Construção do Governo do Estado de Pernambuco.

Dada a proximidade, no final da década de 1930, iniciou projetos

cm João Pessoa e, em seguida, na cidade de Salvador, nos anos

1940. Atuou em Fortaleza e em São Luís no final dos anos 1960 e

cm Teresina, Maceió e Natal na década de 1970.

Se o Recife está na origem de sua atividade paisagística,

também cristalizou o debate propulsor da presente coletânea,

por ocasião do Encontro Regional "Paisagem na história:

jardins e Burle Marx no Norte e Nordeste': que ocorreu em

junho de 2007 e reuniu pesquisadores, técnicos e profissionais

liberais predominantemente oriundos das capitais dos estados

nordestinos, havendo ausência de representação nortista.2 A

produção científica do evento está compilada nos anais do

Encontro, que abrange comunicações sobre a obra de Burle Marx

na Bahia, no Ceará, no Maranhão, em Pernambuco, no Piauí e

no Rio Grande do Norte, ausentando-se os estados de Alagoas,

Paraíba e Sergipe.3

Ainda em 2007, como resultado do Encontro, foi formalizado

no Diretório de Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de

1 MARX, Roberto Burle. Minha experiência em Pernambuco. l n: MIRANDA, Maria do Carmo Tavares de (Org.). A11ais do Seminário de Tropicologia " l lomem, Terra e Trópico~ Recife: Massangana, 1992, p. 73.

2 Evento promovido pelo Laboratório da Paisagem/UFPE e coordenado pelas professoras Ana

Ili ta Sá Carneiro e Vera Mayrinck.

' ENCONTRO REG IONAL PAISAGEM NA HrSTÓRJ/\ : JAllDJNS E BURLE MARX NO

NORTE E NORDESTE, l , 2007, Recife. Anais ... Recife: UFPE; Olinda: CECI. 2007. 1 CD-ROM.

12 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

l lt•141•11volvl11w11lo C:k11tlli rn L' 'l 't·rnológl rn (CNPq) o grupo

d1 r1tl11do ")nnlins de Burle Marx·~ liderado pelo Laboratório

ilu l'l" ""HL'lll do lkpart;1111cnlo de /\rqu ilctura e Urbanismo da I

l J11IH 1 ... 1d:1<.k Federal de Pernambuco ( U FPE) e pelo Laboratório

il l' 1 tudos cm Arquitetura e Urhanismo (LEAU) da Universidade

1 1•d1'1.il do Ceará (UFC).

1 ksdc então, uma sondagem realizada pelo grupo aponta a

q1111111 llirnção e a distribuição dos projetos elaborados por Burle

M11rx 11:1 região Nordeste e a sua predominância em Pernambuco,

1 11111 \111l total de 58, entre 1935e1990. Na Bahia, estão registrados

, 1 11rojclos. No Ceará, 19, até o ano de 1994, seguido pelo estado

d.1 l'.1raíba, com 13 projetos. E, finalmente, os estados que tiveram

11111.1 produção mais reduzida: Rio Grande do Norte, com quatro,

1· Piauí, Maranhão e Alagoas, cada um com três projetos.

<) Nordeste brasileiro sempre esteve na trajetória de Burle

Marx, seja no início de sua carreira, criando ou reformando

divl'rsas praças no Recife, de 1935 a 1937, seja ao final de sua

111tcnsa vida profissional, quando concebeu, entre 1992 e 1994,

11111 de seus últimos projetos, o Jardim Botânico de Fortaleza,

porém não executado. Ou, ainda, com a construção póstuma do

1.1rdim interno da Oficina Cerâmica Francisco Brennand (atual

Praça Burle Marx), projetado em 1984 e inaugurado em 1994, ano

t• m que o paisagista faleceu.

A lista de projetos apresentada no Apêndice sumariza o que

está registrado em publicações sobre o paisagista4 e indicado pelo

l ~scritório Burle Marx & Cia. Ltda. No entanto, está atualizada

l' l11 relação à sua quantidade, entre planos, estudos preliminares e

,1 MOITA, Flávio. Roberto Burle Marx e a nova visão d<t paisagem. São Paulo: Nobel, 1983; l.E ENHARDT, Jacques (Org.). Nos jardins de Burle Marx. São Paulo: Perspectiva, 2000.

J.ll'lli ns de Burle Marx no Nordeste d o Brasil 13

Page 9: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

I i

prnjt•tos l'XL'Cll t ivos, c, sempre que possível, contém informações

sobre dalas e se foram implemenlados, posto que decorre do

l'Sforço de pesquisa empreendido pelo grupo.

Dianle de um significativo número de projetos na região

aproximadamente 124 -, não seria possível abranger toda a

produção de Burle Marx no Nordeste num livro desta natureza,

que não se propõe a ser um panorama. Por outro lado, procurou­

sc alcançar a maior extensão possível dessa geografia, na medida

cm que comparecem no livro sete dos nove atuais estados

nordestinos, todos existentes à época de cada um dos projetos

esludados (Mapa 1).

Mapa 1. Região Nordeste do Brasil, onde Burle Marx desenvolveu cerca

<k 124 projetos, desenho de Juan David Strada Rincón, 2013. Fonte: l ,;1horatór io da Paisagem/UFPE.

14 Jardins d e Burle Marx no Nordeste do Brasil

1 ~"" '''' \ l ,.,, 1 ,,,

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1 1111.,1 ·- \••~'L "',

Nt•'i tt• M'11 lido, .u1~t·n t 11111 Sl' d.1 prt'SL' tll t• t0ktn11ea os e:-i l ado~

ili !11·1gqH'. Sl'lll rt·gistrns da passagem de Burle Marx, e de

\l111tº•'"· onde o paisagista deixou ao menos três obras - os jardins

1111 l1.1111uo do Governador (1974), da Residência Emílio Maya

1 11111%1 ( 1976) e do Ministério da Fazenda (1979) - que, espera-se,

1 111~~11111 ser aglutinados ao grupo na medida de sua consolidação.

Alguns autores aprofundaram o conteúdo apresentado no

1°111 011lrn de 2007, consolidando o estágio atual de suas pesquisas.

1 h 1t1 os preferiram investigar um jardim específico que promovesse

11111 dl·bale, por exemplo, sobre o patrimônio moderno.

A seleção dos jardins, ainda que tenha privilegiado uma

pt·quena amostra, em comparação com o amplo conjunto de

pr oposlas elaboradas para as capitais estudadas, revela o arco

dt· atuação de Burle Marx, já conhecido na sua obra e agora

dt•monstrado na geografia do Nordeste do Brasil. E contempla

dikrcntes esferas, escalas, objetos e paisagens: projetos públicos,

d.1 praça ao parque, e privados, no âmbito residencial ou

inslilucional, projetos inteiramente novos ou reformas de jardins

preexistentes, lúdicos, solenes, domésticos e palacianos.

O Recife abre a coletânea, não apenas por ter sediado o

i:.ncontro que deu origem ao grupo, mas também por ser o berço

dn obra paisagística de Burle Marx e ter a maior representatividade

de projetos em termos numéricos. A capital pernambucana reúne,

.1inda, o maior número de pesquisadores e trabalhos sobre a

obra de Burle Marx no Nordeste do Brasil, levados a cabo pelo

l .aboratório da Paisagem/UFPE, cuja produção científica pêrfaz

mais de uma década. A seguir, sucedem-se os projetos nas outras

capitais nordestinas em ordem cronológica. No Recife, são

/.1rdi11 s de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 10: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

/ I

lrnt ados clols jardins rclalivos a pcdodos dislinlos da presença do

paisagista em Pernambuco.

Em 1936, a concepção da Praça Artur Oscar valorizou sua

condição de espaço público numa área comercial da cidade, tendo

um piso de lajes locais rejuntadas com grama e um canteiro central

de plantas herbáceas e arbustivas, em sua maioria da rest inga.

Nesse jardim, Burle Marx quis dar notoriedade ao arranjo e

distribuição de plantas com texturas e colorações variadas para

ser apreciado pelos recifenses e viajantes que chegavam pelo

porto. Por tais características, é o passo que antecede a definição

do traçado do Jardim do Ministério da Educação e Saúde no Rio

de Janeiro.

Nas intervenções pelas quais passou a Praça Artur Oscar,

espécies vegetais e elementos do mobiliário foram acrescidos,

desconsiderando o projeto de Burle Marx. Hoje, a praça guarda

de sua concepção original apenas a cortina de vegetação arbórea

que a circunda.

O Jardim da Capela da Jaqueira, concebido por volta de 1951,

é trazido a público num dos únicos, se não no primeiro estudo

monográfico que lhe foi inteiramente dedicado. A pedido da

então Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(DPHAN), Burle Marx elaborou um projeto paisagístico para o

entorno da Capela de Nossa Senhora da Conceição da Jaqueira,

essencialmente composto de plantas herbáceas das mais variadas

tonalidades de cores e palmeiras-reais (Roystonea regia), com

vistas à preservação do monumento.

A proposta ainda abarcou uma significativa área para a

recreação da população, com campo de espor tes, brinquedos

e substantiva cobertura vegetal arbórea. Esse trecho do projeto,

16 Jardins de Burle Ma rx no Nordeste do Brasil

11111.! 1 qw• p1·ovuv(.•lml'll l(1 11: o rt:alll'.ndo, lnaugun1vt\ u11111 11ovt1

1 11111t'I'~110 de pa n.Jtic pú b l lco J1U cidade do Rccifo em u m t1 t\rea jt\

111lll:iiHla pnrn pnllicas esportivas, impulsionando o alL1al Parque .1

tl11 Jnqlldrn , hoje bastante frequentado pelos recifenses.

() t•st w.lo dessa obra aponta a envergadura do projeto à época,

('ti programa inovador e a associação a uma edificação histórica

lt11 lih1.:at iva para a cidade, considerando o valor simbólico

11.1 rnpcla e do parque que lhes foi imputado pela população

1111.1lmcnte, sobretudo pelos moradores do entorno do bairro da

J11qt1eira.

Em Salvador, o Terreiro de Jesus foi selecionado entre as obras

dl· l)urle Marx na Bahia por sua localização no sítio histórico,

dd'ronte ao Colégio e à Capela dos Jesuítas, por ser o primeiro

t•spaço público projetado pelo paisagista na cidade, pelo seu

desenho inovador e por sua repercussão à época.

No século 19, o terreiro era o centro de comunicação da cidade

t dispunha de um chafariz em bronze para abastecimento d'água.

O projeto de Burle Marx, idealizado a part ir de 1948, explorou a

potencialidade do espaço para o convívio do público, em que o

chafariz como ponto focal relacionava-se com um único canteiro

ílorido, ao passo que o coreto móvel preservava a visibi~idade para

o conjunto religioso. A manutenção do chafariz e os materiais de

revestimento do piso, como a pedra portuguesa, os seixos e as

conchas da região, reforçavam o caráter do sítio histórico.

Hoje, o Terreiro de Jesus encontra-se descaracteriza~o face à

substituição de espécies vegetais, bancos e materiais construtivos,

mas é ocupado por grupos de capoeira, vendedores ambulantes e

baianas de acaraj é.

Jardins de Burle Marx no No rdeste do Brasil 'l 7

Page 11: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

( O capítulo sobre João Pessoa elege como objeto de estudo o

Jardim da Residência Cassiano Ribeiro Coutinho, de 1957, devido

à riqueza do projeto paisagístico, considerando sua extensão,

diversidade florística, presença de elementos escultóricos e

zoneamento prevendo diferentes usos. Mas também, por se tratar,

juntamente com a edificação na qual está inserido, de um bem

tombado corno patrimônio paraibano. Do projeto participaram

Fernando Tábora, Julio Cesar Pessolani, John Stoddart e Maurício

Monte, que mantiveram sociedade com Burle Marx até 1965.

A vegetação existente no terreno foi mantida, sugerindo linhas

do traçado e contrastes entre espécies arbustivas e herbáceas.

Monólitos e bancos de granito, seixos e pedras portuguesas,

espelhos d'água, gaiolas e playground indicam a diversidade

de materiais, usos e recintos do jardim. Destacam-se, ainda, a

indicação de 73 espécies vegetais e a previsão de um horto, no

fundo do lote, para a produção e reposição de plantas.

A residência, projetada pelo arquiteto Acácio Gil Borsoi,

constitui a primeira obra moderna de João Pessoa reconhecida

oficialmente como patrimônio histórico e artístico da Paraíba. Um

símbolo da modernidade pessoense que, em meados do século 20,

passou a modificar a paisagem e o cotidiano da cidade.

No texto de São Luís, o Jardim do Palácio dos Leões foi o objeto

do estudo porque seus usos, derivados de colonização variada,

culminaram num jardim brasileiro segundo projeto paisagístico

de Burle Marx, iniciado em 1968 e retomado em 1973. Como um

espaço simbólico da administração política e mirante da história

maranhense, esse jardim cristaliza a passagem do tempo e as

transformações sociais, culturais e econômicas experimentadas

pela capital São Luís em quatrocentos anos.

18 Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

ll11tl 1• Mnl'x 11H111kvc tis palmeiras Imperiais (lfoys to11ca

11/1•1r111•1 1), ~·xis l L' lll<.'s ao menos desde a década d.e 1950, criou

, 1 11 11;10~ d\\gua e lanqucs para plantas aqu<lticas. Também utilizou

ltllllJ 11~ 1~·s de malcriais inertes (seixos de cor clara, pisos em pedra

l i!i':-1 L l't'11micas) e ele vegetais (com cores e alturas diferentes).

Nn l id11dc de Fortaleza, os Jardins do Theatro José de Alencar

1 .. 1i1n .1ssociaclos ao caráter público e à importância histórica

, 111 q11 ltetô11ica dessa t radicional casa de espetáculos. Teatro e

1111 dl11s sílo catalisadores da vida social e cultural fortalezense,

M1•11do visi tados por moradores e turistas. Num lapso de quase 20

11 1111 ."1, l'lll rc 1973 e 1990, os jardins foram objeto de dois projetos

li 1 1·, 1 ~1 1 1t c distintos, elaborados pelo Escritório Burle Marx & Cia.

1 1d.1.

No projeto de 1973, assinado também pelos arquitetos

l l,11 uyoshi Ono e José Tabacow, um grande espelho d'água com

1111w fonlc luminosa domina toda a composição, abrigando várias

1"q ,él,:ics de plantas aquáticas. No de 1990, em parceria com

11.11 uyoshi Ono e Leonardo de Almeida, uma extensa superfície

1 11t11 desenho regular valoriza a edificação do teatro.

Até então, o primeiro projeto encontrava-se ausente da

história escrita sobre a cidade e oculto na oralidade dos que o

vive nciaram. O texto sinaliza, portanto, a relevância do estudo

para Ltma futura restauração dos jardins.

No artigo de Teresina, a escolha recaiu sobre a Praça

Momunento Da Costa e Silva por se tratar do único espaço público

projetado por Burle Marx na cidade, entre 1975 e 1976, tendo

1·m mente a importância das praças como locais de integração e

l11zcr da comunidade. Mais uma obra concebida em parceria com

J.11.l l11s de Burle Marx no Nordeste do Brasil 19

Page 12: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

(

1

\ o arquiteto Acácio Gil Borsoi, que projetou o monumento cm

homenagem ao "poeta das águas': Antonio Francisco da Costa e

Silva.

O desenho marcante do espelho d'água, de linhas irregulares,

parece lançar um diálogo com as águas do Rio Parnaíba, ao passo

que a carnaúba (Copernicia prunifera), símbolo dos estados

do Piauí e do Ceará, tem presença destacada no projeto. A

descaracterização da concepção original está relacionada à retirada

de espécies vegetais especificadas por Burle Marx, bem como

ao plantio de novas espécies. O traçado foi pouco modificado,

permanecendo quase inalterado, enquanto caminhos com piso de

concreto foram acrescidos seguindo as linhas de desejo existentes.

Em Natal, são conhecidos quatro jardins projetados por Burle

Marx, nenhum dos quais foi executado. Até o presente momento,

estão mais documentados o Parque das Dunas - Via Costeira,

jardim à beira-mar cujas especificações botânicas e detalhamento

são desconhecidos, e o Pátio Interno da Biblioteca Central da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), de

1976. Este projeto teve a colaboração dos arquitetos Haruyoshi

Ono e José Tabacow e foi enfatizado no último capítulo, uma vez

que estão disponíveis os detalhes construtivos e a especificação

botânica.

A configuração projetual permite a observação tanto do

pavimento inferior quanto do superior, de modo que o jardim

se apresenta a partir de diferentes perspectivas. Destacam-se as

"esculturas de xaxim" ou esculturas vegetais de espécies herbáceas

da flora tropical, tanto pela variedade de cores, como pelas

diferenças de altura dos volumes criados, ao passo que canteiros

20 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

1111111d1111•• t· st·ixos 1 oludos sao elementos do rep1.•rt <'>rio do

I' 11 H~l ~ lu .

) 1 111h111.1 degcndo um jardim especifi co como objeto de estudo,

llu.1111 .111 ton:~ o relacionaram com out ros projetos de Burle Marx

111111up1 Íll Lida<lc ou em diferentes locais, na tentativa de articu lt\-

111 11011 p1 lndpios de concepção do paisagista, estratégia ulilizadu

d1 111mlo manifesto em Pernambuco, na Bahia, na Paraíba e no

Uh1 e ;1nndc do Norte.

( :c11110 resultado de um grupo de pesquisa constituído hó

1 1111 o .1nos e do trabalho acumulado pelos autores em estudos e

I ''li 11 icnçê>es anteriores, os textos, em seu conjunto, compartilharn os

.q1,11inlcs procedimentos metodológicos: levantamento de fontes

1 lt >l 11 mentais - plantas, desenhos, fotos, jornais, ofícios, pareceres

, visitas e observações em campo, entrevistas, identificação da

\'t'gl'l ação original e/ ou atual, recurso às simulações e confrontação

e· 11t1 e os dados, consubstanciando a análise de cada projeto.

Consideradas as diferenças temporais entre os projetos, a

1 ondição de terem sido realizados (parcial ou totalmente) ou não

11nplantados, o estágio de pesquisa em cada estado e a diversidade

ou a escassez de registros, os artigos perseguiram uma estrutura

g<: ral comum, procurando relatar a origem de cada jardim, sua

1 l·a lização, transformações e perspectivas atuais relativas à sua

I' rcservação.

Este livro deve-se ainda ao apoio de muitas instituições e

pessoas, a quem os organizadores dirigem seus agradecimentos:

;1 Sonia Berjman, pelo constante incentivo ao estudo da obra

de Burle Marx e por assinar o prefácio; ao Escritório Burle

Marx & Cia. Ltda., no Rio de Janeiro, especialmente Haruyoshi

e Isabela Ono, pelas fotos, plantas e informações gentilmente

Jardin s de Burle Marx no Nordeste do Brasil 21

Page 13: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

cedidas; ao CNPq e demais agtncias de fomento, pelo suporte

financeiro em diferentes períodos desde a constituição do

grupo; à Superintendência do IPHAN em Pernambuco, pela

disponibilização da documentação oficial do Jardim da Capela da

Jaqueira; aos bolsistas fuan David Strada Rincón e Luísa Acioli

dos Santos e à Profa Lúcia Veras do Laboratório da Paisagem/

UFPE; a todos os estudantes, profissionais, técnicos e gestores

que contribuíram com a produção dos artigos através da cessão

de documentos, relatos e auxílio nos levantamentos de campo e

arquivo em cada estado do Nordeste.

Além do esforço de documentar a obra de Burle Marx no

Nordeste do Brasil, os autores não renunciaram à questão da

preservação, ao buscarem registrar o estado atual dos jardins e

ventilarem ora sua restauração, ora a realização dos projetos não implantados.

Os jardins de Burle Marx aqui retratados guardam uma

profunda relação com a paisagem natural e seus ecossistemas

específicos, como a restinga, o manguezal, a caatinga e o cerrado,

e com a paisagem urbana de cidades consolidadas, marcada por

monumentos coloniais, barrocos, neoclássicos e ecléticos.

Ora nasceram da relação com a cidade tradicional, como a

Praça Artur Oscar, no Recife, e o Terreiro de Jesus, em Salvador, ou

em complementaridade a monumentos arquitetônicos já alçados

à condição de patrimônio pelos órgãos oficiais de preservação, a

exemplo dos jardins da Capela da Jaqueira, no Recife, do Palácio

dos Leões, em São Luís, e do Theatro José de Alencar, em Fortaleza.

Ora surgiram a partir da própria invenção do monumento

moderno, seja na criação arquitetônica, como no caso dos jardins

da Biblioteca Central da UFRN, em Natal, e da Residência

22 Jardins de Burl e Marx no Nordeste do Brasil

1 1Nll l 111n l~ll1t• l10 C o 11li11ho , \.' 111 )mio l't:-;:-oa, scj :1 11<1 dclini~·ao do

r I ''' '• " 111 h .1110, ,1 t• xcmplo da !' raça Monumcnlo Da Costa e Silva ,

1 111 ' l '1{11·-. i11,1, l'~l <.:s dois últimos at ravés da parceria com o mestre 1

1 '" 1 ~ 1 1 i il Bor~oi. A prn1,ósito, Burle Marx elaborou projetos paisagísticos

11u111 ,., l'di fi caçõcs palacianas onde funciona a administração

d11 g11vl' r 11 0 de Pernambuco (Palácio do Campo das Princesas,

H1•1 111·, i.'111 1936), da Paraíba (Palácio da Redenção, João Pessoa,

1•111 1 t) \9), elo Maranhão (Palácio dos Leões, São Luís, em 1968

1• 1 'r/ !), do Piauí (Palácio de Karnak, Teresina, em 1972) e de

1\ l.1goas (Palácio Marechal Floriano Peixoto, em 1974).

l'or seu interesse ecológico e histórico, os jardins de Burle

M.11 x na região Nordeste devem ser conduzidos à condição

1k 111onumentos vivos, conforme os dispositivos e instituições

prl'scrvacionistas em nível nacional e mundial.

O conhecimento sobre sua obra consubstancia o

<" 11 frcntamento de dois desafios imputados à cidade e à sociedade

l onlemporâneas: o condicionamento ecológico global e a

preservação do patrimônio histórico local, cujo debate este livro

se propõe a fomentar.

Ana Rita Sá Carneiro.

Aline de Figueirôa Silva.

Joelmir Marques da Silva.

Organizadores.

Recife, janeiro de 2013.

ja rdins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil 2:1

Page 14: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

I í 1

INTltODUCTlON

The northeast of Brazil is a region that consists of different

ecosystems as well as a plurality of human and cultural features.

However, it is historically associated to the dry season and to

traditional knowledge among other concepts shaped by different

political, institutional, and intellectual strategies.

Dueto the large extension of dry soil andxerophytic vegetation,

its landscape usually passes on the idea of aridity through its

hard shapes, which acquire a lush and green appearance after an

awaited rain as if it were magic.

ln that region of such strong contrasts, the landscape designer

Roberto Burle Marx (1909-1994) made his first public gardens

by planting the principies of the Brazilian Modem Movement

based on the inland northeastern landscapes - an experience he

described as a true sight - and shaping urban landscapes. Invited

by the great anthropologist Gilberto Freyre, Burle Marx gave a

speech in the Tropicology Seminar in 1985 and said:

If my knowledge on plants is much bigger, if I started

denunciating with my whole strength the crimes against

nature, if I systematically travelled through the inland of

Brazil collecting plants potentially useful to gardens, if I

organized one of the most important plant collections of

our country, 1 am sure it all started in Pernambuco.

From 1935, Burle Marx made his first projects in Recife when

he directed the Section of Parks and Gardens of the Board of

Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

Page 15: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

\ An.hit t l.lurc and Co11structi o11 of Lhe (;ovcrnmcnl of Lhe SLatc

of' Pernambuco. Duc Lo Lhe proximily, al tbe end of thc J 930s be

starlcd dcsigning gardens in João Pessoa and then in Salvador ln

lhe 1940s. He worked in Fortaleza and São Luís during the late

l 960s and in Teresina, Maceió, and Natal in the 1970s.

The city of Recife also boosted the debate that brought about

Lhis book as it hosted the Seminar "Landscape in history: gardens

and Burle Marx in the north and northeast of Brazil" in 2007.

'111e event brought together researchers, technicians of Recife's

City Council, and self-employed professionals, who mainly carne

from the northeastern states, missing northern participants. The

presented papers were compiled in the annals of the seminar,

edited by Professors Ana Rita Sá Carneiro and Vera Mayrinck.

Some of them <leal with the work of Burle Marx in the states of

Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, and Rio Grande do

Norte, missing the states of Alagoas, Paraíba, and Sergipe.

As a result of the seminar, the study group "Gardens of Burle

Marx" was registered at the Directory of Research Groups of the

National Council of Scientific and Technological Development

in 2007 under the leadership of the Landscape Laboratory of the

Federal University of Pernambuco, coordinated by Professor Ana

Rita Sá Carneiro, and the Laboratory of Studies on Architecture

and Urbanism of the Federal University of Ceará, coordinated by

Professor Ricardo Figueiredo Bezerra.

Since then, a survey made by the team showed the quantity

and distribution of the projects developed by Burle Marx in the

northeast of Brazil and its predominance in Pernambuco, where

he designed fifty-eight gardens between 1935 and 1990. He

conceived twenty-one projects in Bahia, nineteen in Ceará from

26 Jardins de Burle Marx no Nord este do Brasil

1•Jc.H 111 l 'J'J1I, a11d thi t ll'Cll ln P.1rulb.1. ln Rio Crandc do Nmk,

tl 1c•tt• ;ll'l· four projc<.I~ dcs igncd by hitn and nine in thc slalcs or l' l.11 tf; Maranhfo, and /\lagoas, Lhrcc in each.

·( hc northcast region of Brazil was parl of the wbole trajcclory

ui Bu rlc Marx whether at the beginning of his career ar at the end

oi his intense professional life. Firstly, he created or redesigned

111any squares in Recife from 1935 to 1937. ln the early 1990s,

lil' conceived one of his last projects, the Botanical Garden of

i:ortaleza, which was not built. Also in Recife, the Francisco

Brcnnand Ceramic Factory Garden (currently known as Burle

Marx Square) was a posthumous tribute. It had been designed in

1 984 but was opened in 1994, the year the great landscape artist

passed away. The list of projects presented in the Appendix points out the

gardens conceived by Burle Marx in the northeast of Brazil, in

accordance with the main publications on his work and the official

information given by the Burle Marx & Co. Office. However,

the collaborative effort has updated it with regard to the total

quantity of projects in that region, about 124, which include both

preliminary studies and detailed studies, their dates and whether

they were built or not. Thus, it would not be possible to include all these gardens

in this edition, which is not supposed to be a panorama but an

effort of combining an overview of Burle Marx's work with the

monographic approach. This book tried to reach the biggcst

extension of the current nine northeastern states as possible sincc

it encampasses seven of them. The state ofSergipe is omitted from

the study because the information available at present suggcst:-.

that Burle Marx has never been there. Alagoas is also omittcd

jardins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil 'J.7

Page 16: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

although he left at least three gardens thcrc, whicb may hopcfully

be added to the study as time goes by and the group solidifies.

Some authors deepened the content presented in the seminar

in 2007 and consolidated the current stage of their research

whereas others preferred to look into specific gardens in order to

discuss the modem heritage.

On one hand, the gardens chosen by the authors surely

compose a small sample in comparison to the wide set of proposals

conceived by Burle Marx in the northeast of Brazil. On the other

hand, they reveal the largeness of his work, already known in other

places and now shown in the northeastern states. They also consist

of public and private projects, residential and institutional ones,

new gardens or others that were redesigned, whether domestic,

playful, solemn or palatial with different features and scales.

The city of Recife begins this edition due to four reasons.

Firstly, it represents the origin of Burle Marx's work. Secondly, it

hosted the seminar that brought about the study group "Gardens

of Burle Marx'~ Thirdly, the maj ority ofhis projects in the northeast

region of Brazil are located there. Fourthly, it counts on the greatest

nurnber of studies in this region that have been carried out by the

researchers of the Landscape Laboratory since 2001. Then, the

gardens of the other cities are chronologically presented.

ln 1936, the creation of the Artur Oscar Square emphasized

its character as a public space in Recife's historie downtown.

Its floor comprised of local stone slabs was connected by grass

with a central flower-bed with herbaceous and shrubby plants,

mostly from the coastal ecosystem. Burle Marx highlighted the

set and distribution of plants with different colors and textures

to be enjoyed by the local population and the travelers dueto the

28 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

p1oxl111l1y lo lhe lrn1bnr. 'lhc.·sc reatures fon:wc.·1111 hc.· l11yo111 oi llw

wrll known gardcn of thc Minist ry of Educal iou nnd 1 ln dlh ln

lli!1 de Janeiro. 1

Ovcr Lhe lasl dccades, some actions changcd Burk Mll rx's

dc.•s ign of Lhe Artur Oscar Square concern ing thc layoul, lhe.·

original plant speciesand theurban fumiture. Today,a pcrimctricnl

t. urluin of trees is ali that remains ofhis original proposal.

'J hc Jaqueira Chapei Garden is the target of thc sccond

chaptcr, which is the first monographic study on this mallcr.

ln 1951, Burle Marx designed a garden in the surrou ndings of

Lhe Our Lady of the lmmaculate Conception Chapei in Lhe so

called district of Jaqueira requested by the National Historie and

Artistic Heritage Direction. The garden was mainly composed by

herbaceous colored plants and palm trees aiming to preserve Lhe

religious historie monument. The proposal included an area for leisure with spor ts ficld,

playground equipment, and a great amount of trees, but it was

not probably built. ln spite of that, it embodied new concepls

regarding the design of public parks in Recife and boosted lhe

Jaqueira Park, which is widely used by the population cu rrenlly.

ln fact, the park was built in a large lot already used for sports

activities and was opened in 1985.

The study of this project shows its relevance due to its

innovative design proposal and its relationship with a hislor i<..

monument at the time as well as the current symbolic va]ue of thc

chapel and the park assigned by the neighboring population.

ln Salvador, the Jesus Yard was chosen as a case sludy

among other Burle Marx's gardens in Bahia because it is lhe fil'st

public space designed by him as well as its innovative laym11 a111l

Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 17: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1:011sl rucl ion materiais, ils localion i n lhe historie downtown,

righl in fronl of lhe Jesuits Chapei, and aJso in consideration of

lhe discussion it motivated at the time.

ln lhe 191" century, the garden was the center of the social

lifc and its popularity increased when a bronze fountain was built

lo supply water. From 1948 to 1950, Burle Marx emphasized its

polential as a public space by creating a single flower-bed and

a moveable bandstand to ensure the visibility of the religious monument.

The preservation of the fountain and the use of local surface

materials, such as pebble stones and shells, highlighted the

character of the historie site. Today, the garden is mischaracterized

as the original plant species, benches, and construction materials

were replaced, but it continues to be used by popular performers,

sellers, and residents.

The fourth chapter looks at the Cassiano Ribeiro Coutinho

Residence Garden in João Pessoa as a case study due to the

richness of the design concerning its extension, zoning, sculptural

elements, and the diversity of the vegetation. The study also takes

into account the importance of the residence and the garden as

part of the modem heritage in the state of Paraíba. Both are a

symbol of the local modernity and became landmarks in the mid-201" century.

The residence was designed by the Brazilian architect Acácio

Gil Borsoi whereas Burle Marx's team involved in the garden

design included Fernando Tábora, Julio Cesar Pessolani, John

Stoddart, and Maurício Monte.

They made use of the original vegetation on the lot since it

suggcsted footpaths and contrasts between the shrubby species

30 Ja rd ins de Burle Marx no Nordeste do Bras il

111.t 1 IH· la·rh;1H·ous 01ws ,111d l ll'll l cd a nursery i11 order lo prodL1ce

111.I H'pln((.' thc planls. Monolilhs anti gran ilc bcnchcs, pcbblc

1,101H1<>, waler mirrors, cagcs, playground equipmcnt, and 73 plant I

'•l'l'l H'S i ndicalc thc diversity of materiais, uses, and features of the

g.utkn.

'I hc fiflh essay <leais with the Lions Palace Garden in São Luís

ht'l a use il is a result of a multicultural colonization and it embodies

t he social, cultural, and economic changes that the city underwent

during four centuries. The palace and its garden have hosted the

ild 111 inistration of the government of the state of Maranhão since

l hcy were built.

Dueto the significance of the garden, Burle Marx was invited

lo redesign it in 1968 but only conduded the project in 1973.

l lc kept the palm trees supposedly remaining from the 1950s

and added water mirrors, and ponds for herbaceous plants. ln

addition, he exploited contrasting materials, like white pebble

stones and ceramic slabs, and vegetation with different colors and

heights.

ln Fortaleza, the José de Alencar Theater is among the main

cultural assets of the early 2011i century in Brazil dueto its historical

and architectural importance. The building and its garden are

rooted in the social and cultural life of the city and are often visited

by residents and tourists. The garden was conceived in 1973 and

redesigned in 1990 by Burle Marx and his partners.

ln the first project, Burle Marx, Haruyoshi Ono, and José

Tabacow created a monumental water mirrar With a luminous

fountain for aquatic plants. In the second project, also developed

by Leonardo de Almeida, the sobriety of the design highlighted

the vegetation and the edectic features of the building through

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 31

Page 18: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

an orthogonal tloor, cuncrctc bcnchcs, and abscncc of sculptural clcmcnls.

1he first design was unknown in the historical literature of

the city and was kept alive in the memories of those people who

visited the theater in the l 970s. Therefore, this study is relevant to

discuss the garden restoration in the future.

The Da Costa e Silva Monument Square was the only public

space designed by Burle Marx in Teresina. It was built to honor

the poet Antonio Francisco da Costa e Silva, known as the "water

poet': as a result of the partnership with the architect Acácio Gil

Borsoi from 1975 to 1976. lts main attributes show a deep respect

to the natural resources because the irregular layout of the water

mirrar dialogues with the Paraíba River and the carnauba palm

tree is the symbol of the local ecosystem.

Today, the original vegetation is mischaracterized because

new species replaced those specified by Burle Marx but the layout

remains almost unchanged, except for the addition of concrete

footpaths in response to new uses.

ln the city of Natal, Burle Marx developed four projects but

nane of them were built. At present, there is documentation

available concerning the Sand Dunes Park - Coastal Route and

the UFRN Central Library Garden, which is the main subject of

the last chapter.

ln 1976, Burle Marx and his partners, architects Haruyoshi

Ono and José Tabacow, designed a garden for the Central Library

of the Federal University of Rio Grande do Norte, which was a

two-floor modem building.

The plant sculptures made by herbaceous species of the

l ropical flora showed a variety of colors, textures, and heights that

32 Jardins de Burle Ma rx no Nordeste do Brasil

11111 ld ht· upprc.·dakd lro111 both i11kr1or and ~n1 pl!rior lloors. 'lhe

Ir nwil 11r layoul oi' thc !lowcr-bcds and thc pchblc stoncs are parl

111 11111 k Marx's design principies alrcady experienced in many

11llll'; g.mlens.

·1 hus, cach author chose a specific garden as a case study but

1á11nl il lo other projects in order to broaden the understanding

011 Burle Marx's artistic and botanical background. That was

,, methodological strategy mainly used by the authors from

P(:rnambuco, Bahia, Paraíba, and Rio Grande do Norte based on

thci r prcvious publications.

Moreover, the researchers followed these methodological

slcps: documental survey (by collecting historical sources such as

pictures, drawings, newspapers, and reports, among others), field

survey, interviews, botanical survey regarding the original and

the current plant species, the use of hypothetical sketches, and

comparison of the bibliography with the field and archive data.

They also dealt with some specificities concerning the gardens

in the northeastern states. Firstly, the chronological difference

among the projects. Secondly, the current research stage in each

state. Thirdly, the diversity or unavailability of primary sources

and information. Finally, some gardens were only partially built

whereas others were not.

This book is dueto the support of many institutions and people,

to whom the editors are grateful: Sonia Berjman, for signing the

preface; the Burle Marx & Co. Office in Rio de Janeiro, specially

the architects Haruyoshi and Isabela Ono for the photos, drawings

and information ldndly donated; the National Council of Scientific

and Technological Development and other local sponsors, for thc

financial support; the National Historie and Artistic Herilagc

Jardi ns de Burle 'Marx no Nordeste do Brasil

Page 19: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Institute, which owns the official documcnlalion of thc Jaq uc.:ira

Chapel Garden; the seholars Luísa Acioli dos Santos and Juan

David Strada Rincón and Professor Lúcia Veras of the Landscape

Laboratory of the Federal University of Pernambuco; all the

students who eoped with the field survey and the data eollection;

__ _ / the professionals and the technicians who were interviewed and

contributed for the production of the articles.

Besides the effort of documenting Burle Marx's work in the

northeast of Brazil, the authors dealt with its preservation by

registering the current stage of the gardens and discussing their

restoration or the development of the non-built projects. Burle

Marx's gardens dialogue with the natural landscape and its specific

ecosystems as well as the historie urban landscape eharacterized

by colonial, baroque, neoclassical, and eclectic monuments.

In other words, Burle Marx's gardens dialogue with the

traditional urban fabric in the Artur Oscar Square in Recife and

the Jesus Yard in Salvador and the historie buildings such as the

Jaqueira Chapel in Recife, the Lions Palace in São Luís, and the

José de Alencar Theater in Fortaleza. Or, in contrast, they shape

the idea of modem heritage itself whether related to the Cassiano

Ribeiro Coutinho Residence in João Pessoa and the UFRN Central

Library in Natal or in the Da Costa e Silva Monument Square in

Teresina.

In addition, Burle Marx redesigned the gardens of the palatial

buildings of the government of Pernambuco (Princesses Field

Palace, Recife, 1936), Paraíba (Redemption Palace, João Pessoa,

1939), Maranhão (Lions Palace, São Luís, between 1968 and 1973),

Piauí (Karnak Palace, Teresina, 1972) and Alagoas (Marechal

Floriano Peixoto Palace, 1974).

34 jardins de Burle Marx no Nordes te do Brasil

1>11t• 1 o I hdr crnlogkal and historiu1l sign lfiL ;111l L\ lh1 rk M.11 x 's

H•ll d1·11 s i11 lhe northc.:asl rc.:gion oí Brazi l :-; hould bc a..:knowkdgl·tl

Ili l1:v111g monumcnls in accordancc wilh Lhe worl<lwidc hcr il ag1.•

11w;1 l.11 ions, chartcrs, and institulions.

' I hc knowledge on thcm embodies Lhe discussion on l wo

ll' llll i remcnts of thc conlemporary society, that is, thc global

1 ·~ ological management and the local historie preservation, which

1 li is book highlights.

Ana Rita Sá Carneiro.

Aline de Figueirôa Silva.

Joelmir Marques da Silva.

Editors.

Recife, January, 2013.

Jardins de 13 urle Marx no Nordeste do Brasil

Page 20: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

j

l'IV\ÇJ\ ARTUR OSCJ\lt NO RECIFE: /\MODERNIDADE NO JARDIM DE BURLE MARX

11,11l111ü M;tria Alves da Silva Mafra

Introdução

A Praça Artur Oscar localiza-se no Bairro do Recife, centro

histórico da cidade, resultado de aterros de áreas alagadas. Ainda

110 século 19, era uma área descampada, onde existia o Arco do

Bom Jesus, que demarcava a entrada da antiga cidade (BRAGA,

2000) e estava localizado no fim da Rua do Bom Jesus ou Rua dos

Judeus. No entorno e aproveitando o material de sua demolição,

ocorrida em 10 de maio de 1850 (ARLEGO, 1987), foi erguida

a Torre do Arsenal da Marinha, atual Torre Malakoff, que,

juntamente com o casario, dá forma ao espaço da praça (SILVA,

20 10).

A sua construção se deveu à comemoração do término da

Guerra do Paraguai (1865-1870), pois lá se formou o Batalhão dos

Voluntários da Pátria e, por esse motivo, recebeu o nome inicial de

Praça dos Voluntários da Pátria. Anos mais tarde, foi renomeada

de Praça Artur Oscar para homenagear o general Artur Oscar

Andrade Guimarães, que derrotou o movimento revolucionário

de Canudos (1893-1897), como ressaltam Braga (2000) e Silva

(2010). Contudo, dada a presença do edifício do Arsenal da

Marinha, a praça passou a ser também conhecida como Praça do

Arsenal da Marinha.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil :n

Page 21: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O Bairro do Recife, no inicio <lo século 20, passou por unrn

gra nde reforma urbana, cujo objetivo foi modernizar o centro,

implantando melhorias de infraestrutura. Por ocasião das obras

de reaparelhamento do porto, modificaram-se o traçado urbano e /

o casario existente. As obras foram iniciadas em 1909 e só foram

concluídas em 1926 (ZANCHETI; LACERDA e MARINHO,

1998).

A reforma do Bairro do Recife contribuiu para a valorização

dos edifícios e lotes e instalação de grandes companhias financeiras,

firmas de comércio exportador e importador, escritórios, bancos

e confeitarias (MOREIRA apud SILVA, 2005) . A foto a seguir

captura esse momento de transformação (Fig. 1).

Apesar de não mostrar a praça por inteiro, a figura notifica um

desenho de influência francesa e revela a presença de um obelisco.

Chamado de Monumento Sete de Setembro, foi, segundo Silva

Fig. 1. Praça Artur Oscar, provavelmente durante as obras de reforma do Bairro do

Recife, início do século 20. Edifício do Arsenal da Marinha à esquerda e, ao centro, em

obras, o edifício da firma Western Telegraph. Fonte: Fundação Joaquim Nabuco.

38 Ja rdins de Burle Marx no Nordes te do Brasil

()O 1 O), l 11 n11gu rado no governo de Sigism u ndo Gonçalves ( l 904-

1'>0H).110 mesmo tempo cm que a praça foi ajardinada.

1 ·:m ou tras fotografias verificou-se que a vegetação implantada 1

1111·nl'IL' rizava-sc por uma cobertura arbustiva, como a taioba

(Alomsia sp.), e rasteira, compondo os canteiros, e por uma

1 orti11n de árvores, a exemplo do oiti-da-praia (Licania tomentosa)

1· do coração-de-negro (Terminalia catappa), amplamente usadas

1rn ;1rborização da época, contornando o espaço.

O aspecto inicial de área de campina foi substituído no início

do século 20 por um projeto com traçado retilíneo, apresentando

caminhos axiais que dividiam a praça em quatro canteiros de

forma triangular, conduzindo os transeuntes para o centro, onde

estava localizado o obelisco.

É possível dizer que a Praça Artur Oscar, nas primeiras

décadas daquele século, encerrava em seu aspecto físico um

projetar que tinha corno horizonte os espaços públicos europeus

e a prática de erguer neles monumentos em homenagem a heróis

e feitos nacionais.

Década de 1930: o moderno na Praça Artur Oscar

No início dos anos 1930, a cidade passou por novas

transformações e, perseguindo o objetivo de modernização do

Recife, o governador Carlos de Lima Cavalcanti ( 1935-1937) criou

a Diretoria de Arquitetura e Construção da Secretaria de Viação

e Obras Públicas. Sua equipe multidisciplinar era composta por

engenheiros, urbanistas e arquitetos, além do artista Roberto Burle

Marx, que assumiu a chefia do Setor de Parques e Jardins, tendo,

Page 22: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

entre suas atrlbuições, a reforma de praças, largos e projetos para

nov9s)ardins.

Dentre os jardins concebidos pelo paisagista figuravam o da

Praça de Casa Forte e o da Praça Euclides da Cunha ou Cactário

da Madalena, além do jardim da Praça Artur Oscar. Pesquisas

e estudos realizados pelo Laboratório da Paisagem/UFPE em

torno da obra paisagística inicial de Roberto Burle Marx revelam

que os três projetos guardam entre si princípios de composição

semelhantes, pontuados ao longo do texto.

Para o paisagista, o jardim deveria semear a alma brasileira e,

assim, cumpriria um papel na história da humanidade. O crítico

de arte Mário Pedrosa revela no texto "A arquitetura paisagística

no Brasil" a preferência pelos "jardins já inscritos nos livros" e

comenta que as flores nativas eram ignoradas e tidas "como mato

brabo" (PEDROSA e AMARAL, 1981, pp. 281-283). Para figurar

nos jardins era preciso observar "uma hierarquia vegetal segundo

as origens das flores e plantas" (PEDROSA e AMARAL, 1981, p.

282). Em seguida, depois de tecer considerações sobre a herança

portuguesa do medo de florestas, observa a originalidade do

jovem paisagista:

Foi então que chegou Burle Marx( ... ) e acabou com todos

os preconceitos. ( ... ) as plantas nacionais plebeias, como,

por exemplo, os crótons nativos de que temos mais de uma

dúzia de variedades, nos tons mais belos e transparentes,

obtiveram carta de entrada nos novos jardins (PEDROSA

e AMARAL, 1981, p. 283).

Retirando as plantas nativas do ostracismo, Burle Marx

projeta seus três primeiros jardins públicos, destinando, a cada

um, espécies de diferentes regiões fitogeográficas. O jardim

40 Ja rdins de Burle Marx no l\'ordeste do Brasil

d11 l'r.1~.1 At tur Osc.1r ll'V{' 11111 rndtc1 mais i111 i111i s111 • nhdgo11

l''ll1't'•1 ll-11 lornb, cm sua maioria da restinga, enqunnlo o J11nl lni dn

11111\•I Lu~ lides da Cunha acolheu espécies da caatinga. Casn Jt'orh' 1

lc vi· .1 missao de abrigar a flora de diferenlcs regiões nacionais

i: i11lt•rn,1donais: as plantas aquáticas das íloreslas tropicais,

lm l11i11do espécies da Mata Atlântica, d a Floresta Amazônico l'

C'X(11 it as.

Seguindo os ensinamentos da arquitetura moderna, o

po isagista declara que as praças ou os jardins, como foram

designados à época, destinavam-se a cumprir funções na cidade:

proporcionar higiene, educação e arte. Os espaços públicos

L 11mpriam a função higienizadora, pois, quando bem arborizados,

ofereciam sombra para o descanso e o lazer e amenizavam as

alias temperaturas, à medida que equilibravam com sua massa

arbórea a relação entre área construída e espaços vegetados. As

novas espécies vegetais introduzidas nestes três jardins tinham a

finalidade de informar à população sobre a riqueza e diversidade

e.la flora brasileira, cumprindo a função educativa.

Relatos colhidos nos jornais de época indicavam que o uso

da vegetação nos espaços urbanos era feito de forma tímida e

homogênea. Os relatos fazem referência, também, ao uso dos

espaços públicos para a colocação de monumentos comemorativos

e bustos em homenagem aos heróis da pátria brasileira.

Tratando o jardim como obra de arte, Burle Marx ofereceu

à sociedade a possibilidade de apreciá-los, por justaposição de

diferentes espécies vegetais, cores, texturas, contrastes, além de

introduzir obras do escultor Celso Antônio.

As esculturas especificadas para compor os espaços foram

obras projetadas dentro do tema de cada jardim e não introdu:dd<is

Jardins de Burle ;v1arx no Nordeste do Brasil

Page 23: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

para homenagear um fe ito histó rico ou retratar um herói (SILVA,

2010). Assim, para o lago central da Praça de Casa Forte, ded icado

às espécies aquáticas tropicais, Burle Marx especificou uma índia

a se banhar num espelho d'água com ninfeias (Ninphaea sp.) e

a vitória-régia (Victoria amazonica) e, para a Praça Euclides da

Cunha, com vegetação da caatinga, indicou a escultura de um

-hómem de tanga, que retratava um tipo nordestino.

Os princípios de higiene, educação e arte considerados por

Burle Marx ao projetar os jardins eram oriundos do pensamento

que regia a arquitetura moderna (de cunho racionalista e

funcionalista) da escola corbusiana, ao passo que o resgate da

identidade provinha do movimento de arte moderna nacional,

deflagrado com a Semana de Arte Moderna de 1922. O artista

moderno no Brasil tinha um papel "prometeico" de difundir a

consciência de nação, tendo como mote a identidade brasileira

(GONÇALVES, 2007, pp. 17-32), que era cunhada considerando­

se as culturas indígena e africana, além da europeia.

Burle Marx e os intelectuais da época abraçaram essa causa

e, por isso, a flora autóctone e as esculturas de tipos humanos

brasileiros tiveram lugar de destaque nas praças e jardins,

resgatando e valorizando as origens nacionais.

A Praça Artur Oscar, dada a sua localização, funcionava

como uma espécie de antessala para os viajantes que chegavam

ao Recife pelo porto. Em 1936, Burle Marx recebeu do prefeito

João Pereira Borges (1934-1937) a solicitação para reformá-la e

projetou um espaço de convivência e contemplação, estruturado

com uma cortina de vegetação arbórea de grande porte nas

bordas, cujo objetivo era criar sombra, sob as quais dispôs bancos

para descanso (SILVA, 2005).

42 Jardins d e Bur le Marx n o Nordeste d o Brasil

1 l ru gi .1ntk piso pl.1110 de lajol,1s l'l'ju111.1dus urn1 gr 1111111

M' t'"ilt·1Hli;1 por loda a úrea da prnça, parn tjUC ns pt'SM>.1.,

p11d)L's1w111 circula r li vremente (SlLVJ\ , 2005). A grande lhca

.1ht·1

1'l.I , tlcl imila<la somente pela cortina de <Í rvorcs da pcriforln,

I'' 0111ovt•u a integração de todo o entorno (Pigs. 2 a '1) . Para o

l l'lll ro, lh1rlc Marx projetou um grande canteiro circular com 10 111et ros <le diâmetro, destinado a abrigar espécies vegetais de

diversos estratos (Figs. 2 a 4) .

Fig. 2. Praça Artur Oscar, 19 de junho de 1942, foto

de JCRC (José Césio Rigueira Costa). Fonte: Museu da

Cidade do Recife.

Jardins de Burle Mar x no Nordeste do Brasil

Page 24: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

I

/

Analisando os desenhos de Burle Marx (Figs. 4 e 5) e seus

pronunciamentos publicados nos jornais "Diario da Manhã" e

"Diario da Tarde", é possível afirmar que o paisagista adotou os

mesmos princípios de composição que embasaram os projetos

das praças de Casa Forte e Euclides da Cunha (SILVA, 2005;

MAFRA, 2007). Os espaços dos três jardins são circundados por

uma cortina de vegetação de porte arbóreo e o centro ocupado

com vegetação arbustiva e rasteira.

Com esses três projetos, Burle Marx proporcionou à população

a oportunidade de vivenciar sensações antes desconhecidas

perante arranjos vegetais. Houve quem reprovasse e quem

aplaudisse. Causou espanto e admiração a ousadia de um artista

que, vendo mais longe, propôs uma mudança no paisagismo

brasileiro, dando ênfase à vegetação autóctone.

44

Fig. 3. Praça Artur Oscar, detalhe do canteiro central

com as árvores do entorno, foto de Alexandre Berzin.

Fonte: Museu da Cidade do Recife.

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Apt•s,11 dt' lh11 ll· M.11 x l11dil.1r a vcgl'hl\,IO pa1.1 oi. jardl11i.; cll•

e '.1s.1 Fo1 lc e l\l1didcs da e :unha, 11ao h;\ registros da wgl·l.t\110

l'~u1lhida para a Praça Artur Oscar. Contudo, segundo Jodml1 I

Silv.1 1, biólogo e pesquisador e.lo Laboratório da Paisagcm/UFl'E,

unn base no desenho em perspectiva deixado pelo paisagista l '

cm algumas fotografias, foi possível verificar que Burle M.11 x

LOIKcnlrou esforços na implantação do canteiro cenlral, ao passo

que, para o perímetro externo do jardim, ele aproveitou as árvort•,-.

existentes, acrescentando outras de mesma tip ologia.

Fig. 4. Desenho de Burle Marx para a Praça Artur Oscar, 1935.

Fonte: Escritório Burle Marx & Cia. Ltda.

No canteiro da Praça Artur Oscar, Burle Marx empregou

espécies "arbustivas e herbáceas que faziam parte do ambiente

da restinga e/ou suportavam a salinidade do ar'', destaca Jocl111i1

l Entrevista realizada em 8 de maio de 2012.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 25: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

) Sllv.1. E esdnn:cc oindu que, diante dos deLalhcs cfo n10rfologi<1

t'xterna da vegetação, muito bem detalhada nos seus <lcscnbos,

se pode alcançar "a classificação taxonômica dos espécimes" que

compuseram o canteiro central (Tabela 1). Complementando a

análise, Joelmir Silva diz que a vegetação proposta pelo paisagista

Lhama mais atenção pela:

Morfologia externa das folhas (dos mais variados tons

de verde), dos caules e das inflorescências. As flores

destacavam-se na composição por se apresentarem

formando pendões e não pela diversidade de cores, onde

havia a predominância do branco.

Para o pesquisador, "a vegetação se assemelha a de dois outros

projetos do paisagista análogos à Praça Artur Oscar, o jardim da

Praça Dezessete e o do Largo das Cinco Pontas", localizados na

mesma área da cidade.

Tabela 1: Composição florística da Praça Artur Oscar

identificada a partir do desenho de Burle Marx, 1935.

Nome científico Nome popular

J\gave attenuata Salm -Dyck Agave-dragão

!\loe barbadensis Mill. Alo e

!\loe vera (L.) Burm. f. Alo e-vera

Caladium sp. Caládio

Cf usia fiuminensis Plan ch. & Triana Clúsia

Sansevieria trifasciata Prain Espada-de-são-jorge

Yucca elephantipes var. ghiesbreghtii Molon Yuca

l'onte: )oelrnir Marques da Silva, 2012.

Jardins d e [{urle Marx no Nordeste do Brasil

< >11 dl'Sl'l1hos ddxt11Jo11 1m1 Hul'le Marx indicam que o Lrnçado

dn Pr.1~·a /\rllir Oscar é o passo que antecede a elaboração de

11111 l!os 111ais rcpresenlali.vos projetos do paisagista, o Jardim

do Ministério da Educação e Saúde (MES), no final da década

d1.• 1930 (MAFRA, 2007). Tal constatação pode ser percebida ao

Sl' observarem cuidadosa e paralelamente as Figuras 5 e 6. Na

Pigura 5, as hachuras indicando o arranjo das espécies vegetais do

canteiro central projetado para a Praça Artur Oscar se espraiam

e ganham o espaço no jardim suspenso do MES, como mostra a

Figura 6.

Ressalta-se que a atuação de Burle Marx no Recife promove

uma reflexão sobre os princípios que regem a criação de um

jardim e o contexto artístico nacional e internacional que influem

e

Fig. 5. Canteiro central da Praça Artur Oscar (hachura). Fonte: Mafra,

2007, a partir do projeto original de Burle Marx pertencente ao

Escritó r io Burle Marx & Cia. Ltda.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 26: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 6. Jardim do MES, atual Palácio Gustavo Capancma. O visitante

anda entre os arranjos de plantas, dispostos em canteiros de formato

ameboide. Fonte: Flcming, 1996.

na manifestação paisagística. Ele também dá início a uma

sistematização de procedimentos para a criação e manutenção

de jardins urbanos. O projeto da Praça de Casa Forte deixa

isso bem claro, à medida que traz a relação das plantas a serem

utilizadas, cortes do perfil da vegetação e detalhes arquitetônicos

dos canteiros e espelhos d'água.

Além da sistematização de procedimentos, Burle Marx

instituiu outra prática, que Dourado (2009, p. 208) aponta como a

mais árdua: a coleta de espécies vegetais nas regiões próximas, já

que "os viveiristas não se interessavam por essas plantas': Apesar

de tantos avanços, o jardim da Praça Artur Oscar, concluído em

1936, se manteve somente até o final da década seguinte. Em 1948,

a Marinha Brasileira homenageou o seu patrono retirando toda a

vegetação do canteiro central e colocando em seu lugar o busto

do almirante Joaquim Marques Lisboa (Fig. 7), o Marquês de

Tamandaré, herói da Guerra do Paraguai (BRAGA, 2000).

48 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Fig. 7. Praça Artur Oscar, 1951. À esquerda, em segundo plano, vê-se o

busto do almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré.

Fonte: Museu da Cidade do Recife.

Da década de 1960 aos dias atuais

Como foi dito anteriormente, a reforma do Bairro do Recife,

realizada no início do século 20, trouxe comércio e serviços

voltados para consumidores de alto poder aquisitivo, práticas que

não se consolidaram. Ao mesmo tempo, as atividades do porto e

a população de trabalhadores ligados à carga e descarga geravam

demanda de comércio e serviços para o consumo de baixo poder

aquisitivo.

As atividades portuárias se consolidaram na década de 1960

com a construção de grandes armazéns, do terminal açucareiro

e do parque de tancagem. À época, ruas foram incorporadas ao

pátio de manobra dos caminhões e trens. O bairro perdeu prestígio

jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il

Page 27: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

e imóveis ociosos foram ocu.pados por cortiços, prnslfbu los e

bares. Na década de 1970, repartições públicas se instalaram

numa área de aterro que foi destinada a um parque metropolitano

(ZANCHETI, LACERDA e MARINHO, 1998).

No ano de 1975, a Praça Artur Oscar, palco de tantas

comemorações, encontrava-se abandonada. A área que Burle

Marx havia destinado ao convívio e à contemplação quatro décadas

atrás era ocupada pelos automóveis, servindo de estacionamento

para funcionários de órgãos militares das imediações. Os bancos

desenhados pelo paisagista, que emolduravam os troncos d as

árvores, foram retirados e o canteiro central, ponto focal da

composição e ocupado em 1948 com o busto do Marquês de

Tamandaré, servia de abrigo para cachorros. Ante tal degradação,

o espaço foi reformado pela Prefeitura do Recife na gestão de

Augusto Lucena (1971-1975), que instalou, em 1973, a Empresa

de Urbanização do Recife (URB).

Em 1975, com o objetivo de reparar a praça, a Prefeitura

Municipal realizou uma intervenção. Um dos elementos do

projeto foi um grande banco de concreto, que circundava toda a

praça com a intenção de impedir o acesso de automóveis. 2 Partindo

do banco, em aclive, criou-se uma área gramada, com grade,

que elevou a cota de todo o interior da praça. No canteiro com

vegetação de restinga, projetado por Burle Marx, foi colocado um

piso de pedra e foram plantadas palmeiras-imperiais (Roystonea

oleracea), dispostas em círculo, delimitando uma área destinada

ao estar que poderia ser alcançada por um único acesso.

2 Relato obtido em entrevista realizada em 6 de março de 2012 com a arquiteta Inês Mendonça de Oliveira.

50 far<lins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

\

A.~ p.illlll'irns iinpt• r 111111 lm.11 11 l'Srnlhidus porq lll', l'l11 s111

l.1M' .u.lu lta, se dcsl;1tari;im pelo l ontrnste com a allu l'll tl.1

v{w·1 a ~ ao arbórea já existente e con!Cririam ao espaço aspet lo dt•

1111po11ência, à semelhança de outros jardins da cidade.

Além das palmeiras, foi criado um bosque de casua1 i11;1s

( ( :a .... wir;na littorea) com mudas de grande porte, encontradas

l' lll abundância na sementeira da Prefeitura. A vegctaçüo do

perímetro, composta por oiti-da-praia (Licania tome11losr1) l'

coração-de-negro (Terminalia catappa), foi recuperada e arranjos

de primavera (Bougainvillea spectabilis) complementavam o

projeto, conferindo cor ao conjunto.

Com esta configuração que visou ocupar o interior da pra, a

com gramados e outras espécies, a integração visual e física do

entorno, presente no projeto de Burle Marx, foi alterada. 1 ~ o

centro, apesar de ser marcado por palmeiras-imperiais e expor

o busto do Marquês de Tamandaré, deixou de ser o pon to de

convergência dos transeuntes, à medida que os percursos e os

espaços de convívio foram concentrados ao longo do perímetro.

Desde a década de 1980, a praça é palco de eventos musicais

e festas populares, principalmente durante o carnaval, sendo

frequentada nos finais de semana p or causa do funcionamento da

feira de artesanato da Rua do Bom Jesus. Em 1988, foi acrescen lado

um acesso ao centro e ao longo do perímetro dispuseram se

bancos de estilo veneziano e jarros acompanhando a linha ck

palmeiras-imperiais (Fig. 8).

No início da década de 1990, foi elaborado o Plano de

Revitalização do Bairro do Recife, que teve como meta principal

"aumentar a oferta de serviços de interesse turístico" com o apoio

do Governo do Estado de Pernambuco (ZANCHETI, LACERI )/\

Ja rd ins d e Burle Marx no Nordeste do Brasil 51

Page 28: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

e MARINHO, 1998). Desde enlão, cm períodos de pouca ou

muita efervescência, bares, restaurantes e equipamentos culturais

foram aos poucos instalados no bairro.

Fig. 8. Praça Artur Oscar, planta baixa do projeto de intervenção, 1988.

Fonte: Acervo de Inês Mendonça de Oliveira.

Entre 2001 e 2002, durante a primeira gestão do prefeito João

Paulo Lima e Silva (2001-2004), investiu-se na instalação de fontes

ou esguichos em alguns espaços públicos da cidade: o Açude de

Apipucos, a Praça Dr. Lula Cabral de Melo ou do Parnamirim, a

Praça Parque Amorim e também a Praça Artur Oscar. O modelo

escolhido para a Praça Artur Oscar ocupou a área central e,

por suas características de forma, altura e diâmetro, acabou

eliminando a área de convívio criada em 1988 com os ajustes ao

projeto de 1975. Com a colocação da fonte, o busto do Marquês

52 Ja rd ins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

ili• T1 111 1. 1111l11rt· f(1i ~il-s lorndo pnrn um dos rn11los tio nn111111do 1

p1• 111 ~· 11 di:<.;l tltJll<.'.

Considerações finais

No in ício do século 20, por ocasião das reformas e mdhorius

j,•11as no Bairro do Recife, a Praça Artur Oscar, palco de

1l l 0111l'cimentos e homenagens, foi ajardinada e seu projeto seguiu

os moldes de jardins europeus.

/\ mudança ocorreu com a chegada de Burle Marx ao Recife.o . qm• inovou defendendo a relevância do jardim e do seu papel como

l':-.paço público, com o propósito de difundir a origem brasileira

l'lll ações atreladas a um contexto de efervescência cultura l. 1\,

.li nda, chamou atenção para o uso, sistematizou procedimentos

de elaboração e conservação de espaços vegetados. Contudo,

o projeto implantado em 1975 procurou atuar no controle cio

uso do espaço público e as questões levantadas por Burle Marx,

desconhecidas, não foram resgatadas à época.

A trajetória da Praça Artur Oscar está diretamente ligada :'t

história da arte do paisagismo no Brasil. Com a atuação de Burle

Marx no Recife, os ideais modernistas de retorno às origens e

afirmação da identidade nacional foram elaborados e revelados

por meio dos jardins. Num gesto de ousadia e compromisso com

valores da época, Burle Marx expôs à sociedade os variados lipos,

formas, cores e texturas dos vegetais. As plantas, principalmcnll'

as autóctones, assumiram lugar de destaque e figuravam como

elemento principal dos jardins. E a modernidade do jardim

brasileiro iniciou-se com a criação das praças de Casa Forte l'

Euclides da Cunha, juntamente com a Praça Artur Oscar.

Jard in s de Burle Marx no Nordes te d o Brasil

Page 29: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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54 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

/\f:11·:aclcclmc11los

l · 1111d 1 1c_~w Jonqu im Nab uco ( l;UNDAJ) e Museu da Cidade do Recife.

l1mli11s de Burle Marx: no Nordeste do Brasil

Page 30: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

- -...........

O JAIU>IM OI\ CAPEI.A DA JAQUEIRA: IJ M MONUMENTO PRESERVADO PO 1\ BURLE MARX NO RECIFE

J\11.i Rita Sá Carne iro

l\llru· de Figueirôa Silva

Jo1•l111ir Marques da Silva

Introdução

O Jardim da Capela da Jaqueira é um jardim de contemplação

de um monumento arquitetônico1, atualmente localizado dentro

de um parque urbano, portanto, ligado às necessidades recreativas

dos usuár ios. Na década de 1950, a Capela da Jaqueira encontrava­

se em estado de abandono e deterioração, motivo pelo qual a

então Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

(DPHAN), hoje IPHAN2, solicitou ao paisagista Roberto Burle

Marx um projeto para a construção de um jardim no entorno do

pequeno templo, de modo a preservá-lo e valorizá-lo.

Sua implantação ocorreu provavelmente em 1953, em uma

área de 14.000 m 2, conforme a planta baixa do projeto original.

1 A Capela ou Igreja de Nossa Sen hora da Conceição da Jaqueira é um m onumento nacional, segundo inscrição nº 160 no Livro de Tombo das Belas Artes, fol ha 28, em 7 de julho de 1938, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

2 Serviço do Patrimônio Histórico e Ar tístico Nacional (SPHAN), d e L937 a 1946; Diretoria do Patrin1ônio Histórico e Artístico Nacional ( DPHAN), de 1946 a 1970; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), de 1970 a 1979; Secretaria do Patrimônio H istórico e Artístico Nacional (SPHAN), de 1979 a 1990; Instituto Brasileiro do Patri mônio Culturn l (IBPC), de 1990 a 1994; Instituto do Património Hi stó rico e Artístico Nacional {IPHAN), 11

p artir de 1994 (PESSÔA. 2004, p. 11).

Ja rdins de Burl e M arx no Nordeste do Brasil

Page 31: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Mas, hoje, encontra-se inserido no Parque da JaqLtcira, que, ao

todo, dispõe de 70.000 m2 e está localizado no bairro homônimo,

na zona norte do Recife.

O projeto de Burle Marx concretizou o que foi almejado

pelo arquiteto Lúcio Costa em 1951, à época chefe da Divisão de

Estudos e Tomb~ntos (DET) da DPHAN, isto é, a utilização

da vegetação para enaltecer a capela. Já em 1956, este projeto

foi mencionado pelo historiador Henrique Mindlin como obra

relevante da arquitetura moderna no Brasil. Na década de 1980,

compareceu em Motta ( 1983, p. 84), ao afirmar que "a simplicidade

de um jardim transformou um terreno baldio em local aprazível",

e, segundo Laurence Fleming ( 1996), foi um dos mais gratificantes

projetos para o paisagista.

Embora referido na bibliografia especializada como "Garden

for Jaqueira Chapei" (MINDLIN, 1956), "Garden of Jaquera

Chapei" (BARDI, 1964), ''Adro ajardinado da Capela da Conceição

da Jaqueira" (GONÇALVES, 1997) ou "Praça Nossa Senhora da

Conceição da Jaqueira" (LEENHARDT, 2000), o projeto assinado

por Burle Marx compreende um jardim no entorno da capela

e um extenso parque para a recreação da população do Recife.3

Àquela época, a capital pernambucana ultrapassava meio milhão

de habitantes e dispunha unicamente do Parque 13 de Maio,

planejado desde o século 19 e apenas concretizado em 1939.

O projeto de Burle Marx para a Jaqueira é possivelmente um

dos primeiros parques urbanos projetados segundo princípios

do modernismo brasileiro, inaugurando uma nova concepção

3 O projeto de Burle Marx, intitulado Jardim para a Capela da )aqueira, em escala 1:200, pertence ao acervo da Superintendência do IPHAN em Pernambuco, com sede no Recife.

58 fardins de Burle Marx no No rd este do Brasil

de• p.ll'<llll' púhlko nn e id.HIL· do Recife cm uma :\n•a ljllC j~\ c1 a

ui il1z,1da para campeonatos de fu tebol e, portanlo, propensa às

p1 .\t itas recreativas. Esta proposta adquire relevo na história do I

p<ll!-.ilgismo de Pernambuco e do Nordeste por contemplar um

novo programa de recreação urbana na perspectiva dos usuários

do espaço verde e público e, ao mesmo tempo, um jardim

umtcmplativo de dimensões modestas visando à preservação de

um monumento colonial.

Por volta de 1936, como chefe do Setor de Parques e Jardins

do Departamento de Arquitetura e Urbanismo do Governo de

Pernambuco, Burle Marx já havia projetado a reforma da Praça

Pinto Damaso, no bairro da Várzea, prevendo "uma grande área

pavimentada, um coreto, um pergolado, um lago central com

fonte, dois playgrounds (parques infantis), arborização e bancos

de granito sem encosto, com o aproveitamento de árvores e

palmeiras já crescidas" (SILVA, 2010, pp. 192-193). Este projeto,

caso tivesse sido realizado, teria dotado o tradicional subúrbio

da Várzea de um dos primeiros jardins públicos com área para

recreação infantil no Recife.

Tais preocupações recuam à década de 1920, quando o

Governo de Pernambuco desenvolveu, em 1923, um amplo

projeto, não implantado, para o Parque 13 de Maio no Recife, com

área para prática de esportes, recreação infantil, quadra de tênis e

rinque de patinação (SÁ CARNEIRO, 2010, pp. 90-92). O Parque

13 de Maio, inaugurado em 1939, privilegiou fontes nos lagos e

espaços de contemplação.

A implantação de playgrounds ou parques infantis em praças

e colégios do Recife sinaliza a ênfase na recreação infantil durante

a gestão de Pelópidas Silveira, que chefiou a Prefeitura do Recife

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 59

Page 32: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

enlrc 1955 e 1959 (PONTUAL, 2001). A propósito, no furnl da

década de 1950, dois projetos paisagísticos foram concebidos

por Roberto Burle Marx a convite do prefeito Pelópidas Silveira:

a Praça Ministro Salgado Filho (1957) - jardim de entrada da

estação de passageiros do Aeroporto dos Guararapes - e a Praça

Faria Neves (1958), no bairro suburbano de Dois Irmãos.

Neste sentido, embora não tenha sido inteiramente

implantado, o projeto de Burle Marx para o entorno da Capela

da Jaqueira cristaliza demandas sociais pretéritas e vincula­

se a realizações futuras. Por um lado, representa a retomada

de princípios paisagísticos moldados desde meados da década

de 1930. E, por outro, em razão do seu caráter contemplativo e

recreativo, antecipa-se a práticas urbanísticas do final da década

de 1950 na história da cidade do Recife. Articula dois períodos

significativos da produção de jardins públicos em Pernambuco e,

apesar dos lapsos temporais, coloca-se como uma mediação da

atuação do paisagista na capital pernambucana.

A origem do jardim

As origens do bairro da Jaqueira remontam ao século 17,

quando, em 1633, suas terras foram palco de um combate entre

as forças comandadas por Felipe Camarão e os holandeses, na

sua tentativa frustrada de tomar o Forte do Arraial do Bom Jesus,

em Casa Amarela. Em 1766, o capitão Henrique Martins, então

proprietário do sítio, construiu uma capela sob a invocação de

Nossa Senhora da Conceição de Ponte d'Uchôa (SÁ CARNEIRO

e MESQUITA, 2000). Seu nome foi mudado pela população, que

60 Jardins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil

pw;i;ou ,, lhl' chamar de C<1pt:lt1 de Nossa Senhora da Conceição da

)111 111t•irn cm alusão às frondosas árvores que a circundavam.

Antes de ser jardim e, posteriormente, parque, esse espaço

~ 0tl li t·c..eu um período de abandono que ameaçou a permanência

d.t capela. Durante vários anos, sediou o Campeonato

11<.· rnambucano de Futebol e a Feira do Comércio e Indústria de

Pernambuco (FECIN), um dos maiores eventos anuais da cidade

(SÁ CARNEIRO e MESQUITA, 2000).

A capela está entre os primeiros tombamentos efetuados pelo

então SPHAN em 1938, quando da seleção dos monumentos que

iriam compor os bens do patrimônio histórico e artístico nacional,

condição imputada a cidades remanescentes do período colonial e

a diversas edificações de cunho religioso, priorizadas, sobretudo,

por seu valor artístico.

Na década de 1940, a capela foi alvo de saques e arrombamentos,

como sinaliza a correspondência entre o diretor geral da DPHAN,

Rodrigo Melo Franco de Andrade, e o engenheiro Ayrton

Carvalho, então chefe do 1 ° Distrito da instituição. Consta no

Ofício nº 122/51, expedido pelo chefe do 1° Distrito em 22 de

maio de 1951 e intitulado "Ainda sobre o assunto da Jaqueira":

Snr. Diretor Geral, encaminhamos a Va. Sa., anexo ao

presente, um recorte do "Diário da Noite'; reportagem

do jornalista Dias da Silva, sobre o saque da Capela da

Jaqueira. Queremos comunicar ainda que conseguimos

com o nosso amigo Edgar Amorim, agora à frente

da Diretoria de Obras Municipais fosse efetuada a

capinagem em tôrno da Capela, o que está sendo

realizado. Outrossim, temos a promessa, do referido

Diretor de Obras, da execução do ajardinamento da

área circundante, na condição da DPHAN projet ar e

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil <> l

Page 33: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

executar o j.1rd i rn. Nl·st.1 oporl 11111dildl', 111for111.111 H>s, 1•,\ (,\

sendo feito o plano de ajard inamento pdo t'Sludant c dl·

arquitetura Adricn Kiss, ora entre nós e que se mosl'"

interessado pelo assunto. Logo esteja concluido o projeto.

teremos a satisfação de encaminhá -lo a Va. Sa., para o

devido julgamento, antes de entregá-lo à Municipalidade

para a sua realização. Atenciosamente, Ayrton Carvalho,

Chefe do 1° Distº. da D.P.H.A.N.

Portanto, em 1951, devido aos atos de vandalismo praticados

contra a Capela da Jaqueira, a DPHAN decidiu implantar um

jardim em seu entorno, que, conforme entendimentos mantidos

com a Municipalidade, seria projetado e executado pela Diretoria

~- -- de Patrimônio. Como relata o referido ofício, o estudante de

arquitetura Adrien Kiss estava desenvolvendo um projeto

paisagístico a título de colaboração com a DPHAN.

Foi localizada no acervo da Superintendência do IPHAN

em Pernambuco uma planta, em escala 1:200, denominada

''.Ajardinamento em torno da Capela da Taqueira': sem data e

assinatura. É bastante provável que esse projeto seja de autoria

do estudante de arquitetura Adrien Kiss, segundo confrontação

com a correspondência interna da DPHAN de 1951. Através do

Ofício nº 137/51, de 7 de junho de 1951, remetido a Rodrigo

Melo Franco de Andrade, Ayrton Carvalho submete o projeto do

estudante Adrien Kiss à apreciação superior.

62

Com o nosso Of. nº 122/S l , de 22/05/51, comunicávamos

a Va. Sa. que havíamos tido a promessa da Diretoria de

Obras Municipais do Recife, de fazer o ajardinamento

das áreas circundantes da Igreja de N. Sa. da Conceição

das Barreiras (sic), caso nos comprometêssemos a

projetar e executar o jardim. Aproveitando a estada no

Jardins de Burle Mar x no Nordeste do Brasil

llt ,1 11 111do1·~t11d,111(1 • d1 ,11q11lkl111.1 J\d iltll l\i'.'•' n 'i l i!

i111l' H'%t' dt' t<>l,lhCll ,11 tOl l0,10 110 .l'\llll(O, IOl l li\'f\ llillHl h

qul' hn''M' o prOJl'lo de ·•J.11d111.1 111l'11l11 q111· 111 .1 1 \ (,111111

1 l·nwt;:ndo ,1 essa l)i rcc,ao < ;l'1,il, P•ll a ljlll' .,1111 .1, '"'~

~t·cçocs téuiicas o meretido estudo l' rt'll"h<l , dq1111s, 1111

nao, a aprovaçao exigida. () referido prn1cto (• 11111111111>"º

e poderá servir-nos bem. Caso aprovado, cr11..cl.11 1·1110'

de novo os cnlcndimcnlos da (sic) Diretoria de Olir.1\

Municipais, para a sua breve execução. Üsle J >isl 111 0,

nesta oportun idade, sente-se obrigado a elogiar o l'spfr ito

de trabalho e de colaboração do Snr. Adricn, a cuja lw;1

vontade e capacidade profissional, devemos o Lr;1 \l;ill10

técnico agora remetido. Sem outro assunto no rnomcn lo,

aguardando a deliberação superior sôbre o assunto.

firmamo- nos. Anexo: l Projeto de ajardinamcnlo d.1

area em tôrno da Capela da Jaqueira, no Rccifr. 1'1·

Atenciosamente, Ayrton Carvalho, Chefe <lo 1° Disl". d.1

D.P.H.A.N.

Apesar de seu destacado espírito de cooperação, o projeto de

ajardinamento do estudante Adrien Kiss não foi aprovado. Por

isso, na Informação nº 124, de 22 de junho de 1951, o arquit:clo

José Souza Reis, chefe da Secção de Projetos, sugeriu uma consulta

ao paisagista Roberto Burle Marx e submeteu seu curto parecer

ao responsável pela Diretoria de Conservação e Restauro (DCR),

Renato Soeiro, que, por sua vez, o encaminhou ao arquiteto Lúcio

Costa, o qual emitiu o seguinte juízo:

Capela da Jaqueira (ajardinamento): Estou inteiramenll'

de acôrdo com o parecer do arquiteto José Souza Rci11.

1° Porque a intenção de compor um jardim elahor;1do

segundo os principias pictoricos e plasticos apli Ladm

com exito à jardinagem pelo pintor Roberto Burle Mnr x,

resultou apenas, no caso em apreço, em manifcsta,.10

Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 34: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

de falso modern ismo, ou seja, 110 arrcr ncdo, sem prl' vlo

aprendizado e assimilação das leis que dão si.:nl ido c

coerência formal, da arte paizagistica tal como passou a ser

compreendida e praticada depois da fecunda intervenção

do pintor Burle Marx, que pode ser considerado, sem

favor, o Le Notre do século XX. Ora, é indispensável o

artista identificar-se, primeiro, com a técnica de compor

dos pintores e escultores da velha-guarda contemporanea,

para então poder aplicar com proveito a lição desses

mestres ao material vivo de flora, sem o que se perderá

no emaranhado de curvas e contra-curvas artificiais,

dispostas arbitrariamente e destituídas de unidade

plastica e significação. 2° Porque semelhante concepção,

visando de preferência a composição de conjuntos de

sentido deliberadamente ornamental, não se deve aplicar

no caso, senão na forma parcial ou complementar, com

a finalidade de guarnecer determinadas partes da area

interessada, tais, por exemplo, o oitão desaigetado da

capela e a sua empena posterior, ou de um modo geral,

alguns dos setores do amplo perímetro ajardinado; no mais

deveria prevalecer o proposito de agrupar arborisaçâo de

porte, disposta com naturalidade e visando sabiamente

a criação de zonas densas de sombra, entremeadas de

areas peneiradas de luz e clareiras de sol, sobre chão de

terra-batida com gramado contínuo - grama para pisar

- com bancos simples de encosto resguardados ou não,

conforme o caso, por vegetação de menor porte e variada

floração. Lucio Costa.

É possível perceberasensibilidade de Lúcio Costa interpretando

o projeto em questão como um simples traçado artificial sem

expressão artística, comparado à precisão dos "princípios

pictóricos e plásticos" que o artista Burle Marx já incorporava

na arte do paisagismo. O arquitelo descreveu como deveria ser o

64 Jnrdi11s de Burl e Marx no Nordeste do Brasil

I'' 11lt'lo 1111 1'1\ l 'SSL' J u1 dl111 , 11 11 ~ 1 11.11 n Yl'gl'in~·i o n:ssn l1:1ria 11 11411111.iN

vl'l tm• 1' 11 l11·hmi:.wçüo dl..' porlc L'SLal"ill \ lisposln com 1rn l11 rn lld11tk':

111j ~ t·jo, 1)rivi lcgíando zonas de sombra e luz sobre um grn m11 do

1 1;111f1H10. Sua scnsibil ldade é tamanha que menciona dctnl lH's

111 Nt' 1·dcrir aos bancos de en costo tendo ao lado "vcgclaç:10 dL'

111t'1H>1 porte e variada floração''. A tais observações Burle Marx

p.1n'í. L' ler respondido com seu projeto. Após emissão do pal'L'U'I'

dt• Lúcio Costa, Rodrigo Melo Franco de Andrade expôs a Ayrton

< :.1rva lho no Ofício nº 917/51, de 29 de junho de 1951, que:

Embora sensibilizado com a desinteressad;i e r\ ll1l\Vl' I

colaboração do Sr. Adrien Kiss, deliberei arquivn r o

referido projeto e solicitar um substitutivo ao paisagi sl.1

Roberto Burle Marx, de acôrdo com o pronuncialll L' lllo

daquelas Divisões. Atenciosos cumprimentos. Rodrigo

M. F. de Andrade. Diretor.

Portanto, é provável que o desenvolvimento do projeto

de Roberto Burle Marx tenha ocorrido em 1951, apesar da

d ivergência de datas apontadas por alguns autores, como Mindlin

( 1956) e Bardi (1964), que sugerem o ano de 1954, e Motta (1983),

Gonçalves (1997) e Leenhardt (2000), que indicam 1951. As obras

de execução, segundo o Ofício nº 113/53, de 12 de junho de 1953,

leriam ocorrido nesse ano.

Temos a grata satisfação de comunicar a Va. Sa. que 11

Municipalidade do Recife já deu início aos trabalho~ tk

ajardinamento do terreno circundante da Capelh1 hn da

Jaqueira, nesta Capital. O projeto de ajardinamento é de

autoria de Roberto Burle Max (sic), que, a pedido dcss:1

Diretoria o elaborou. Permita-nos Va. Sa. afirmar-lhe qut·

fazemos essa comunicação com muita alegria, pelo foto dt·

vermos, agora, quase concretizada, velha aspiração Mslt'

Jardins d e Burle 1\.farx no Nordeste do Bras il

Page 35: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

____ /

Distrito, qual scj <1 a d1: cons1: rvar mu i~ vigliíd11 e ll ll'lhul'

protegida, dos seus inimigos crimi nosos, a lincl:i CapcJi 11 llll .

Sem outro assunto, firmamo-nos, atenciosamente, Ayrlo11

Carvalho, Chefe do 1° Distº. da D.PH.A.N.

Considerando a escassez de registros documentais, é difícil

indicar até que ponto este projeto, mais mencionado do que

suficientemente estudado, foi executado, bem como afirmar com

precisão o ano de conclusão das obras.4 A iconografia disponível

mostra o banco ondulado, as palmeiras-reais (Roystonea regia)

indicadas no projeto e as árvores existentes atendendo à orientação

do paisagista.

O governador de Pernambuco entre 12 de dezembro de 1952

e 31 de janeiro de 1955, Etelvino Lins de Albuquerque, destacou,

na seção "Parques e Jardins" do discurso de encerramento de sua

administração, a criação da "Praça da Jaqueirá: referindo-se ao

jardim no entorno da capela:

Cujo interêsse e importância artística e histórica são de

todos conhecidos. O jardim da Jaqueira, cujo projeto foi

uma gentileza do famoso arquiteto Burle Marx, através do

engenheiro Airton Carvalho, do serviço do Patrimônio

Artístico e Histórico Nacional, aí está, valorizando 0

antigo e pitoresco templo, admirado de todos, louvado pela

originalidade de seu desenho e apreciado pelo equilíbrio

de seus elementos intrigantes, desde as massas de árvores

aos originais bancos ali construídos (LINS, 1955, p. 134).

4 Foram consultados os jornais "Diario de Pernambuco" (fevereiro a maio de 1953 e setem~ro a outubro de 1953) e "Jornal do Commercio" (agosto a outubro de 1953), mas nao foram encontrados registros sobre o projeto nem referência à inauguração da obra.

66 Jardins de Burle Ma rx no Nordeste do Brasil

) 10·0Jolo de Hurlc Marx

A t•x 1wrl~t1dt1 <.k Burle Marx no Recife, de J 935 <1 1937, foi

d1•1 l~1v,1 par:1 a criação do jardim artíst ico moderno como um

1111v11 gw•to que parte da paisagem existente. Esse gesto vem <fr 1111.11 u1 iosidaclc no campo da botânica, escolhendo a planta como

111l1 h 1 p:ll elemento e ponto de partida do projeto paisagístico l'

ldrntlfinmclo aquelas mais representativas das regiões Norte e

Noi <kste elo Brasil. Assim, ele expressou essa primeira fase d.e sua

111rrc.·ira. Sua atuação no Recife o levou a elaborar projetos para o

vl1.i11ho estado da Paraíba, ao mesmo tempo em que se fixava no

11.in de Janeiro.

Em 1940, após o projeto do Jardim do Ministério da Educação

,. Saúde, elaborou os jardins do complexo da Pampulha em Belo

1 lorizonte, à beira de um lago artificial, unindo uma capela com

painéis de Portinari, um iate clube, um cassino e um restaurante,

concebidos pelo arquiteto Oscar Niemeyer (FLEMING, 1996). De

uma paisagem de características físicas especiais nasceram jardins

coloridos de formas curvas e irregulares, permeados por espécies

arbóreas nativas para emoldurar a arquitetura moderna.

É um período, portanto, de grande efusão na criação de

jardins, no propósito de trazer o embelezamento, o saneamento e

a recreação urbana. Por essa época, Burle Marx preparava-se para

formalizar a sociedade com os arquitetos John Stoddart, Fernando

Tábora, Maurício Monte e Julio Cesar Pessolani em Caracas.

No início da década de 1950, a Capela de Nossa Senhora da

Conceição da Jaqueira, situada numa área bastante arborizada,

quase margeando o Rio Capibaribe, encontrava-se em estado de

conservação precário, praticamente inativa e pouco valorizada

Ja rdins de B LLrle Marx no Nordeste do Bras il 67

Page 36: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

na paisagem. O espaço livre que se cs lcndia além do seu entorno

compreendia aproximadamente 70.000 m2, era utilizado para a

prática de futebol, contendo mais de um campo instalado pelos

próprios frequentadores, e sediava feiras e campeonatos.

O projeto "Jardim para a Capela da Jaqueira': elaborado por

Burle Marx, não contém data e corresponde à planta baixa com a

lista de vegetação que seria utilizada e a legenda de um playground,

detalhes construtivos do banco e da rampa de concreto (Fig. 1).

A intenção principal de Burle Marx foi focar o monumento

histórico em primeiro plano e oferecer equipamentos para

/ atividades recreativas, que, juntos, foram denominados pelo

próprio paisagista de playground, revelando o caráter esportivo

do local. Na sua concepção, as duas partes propostas estão

interligadas por um banco de concreto com curvas regulares como

uma serpentina, que se apresenta logo após a superfície gramada

de caráter contemplativo. O banco ondulado se relaciona com o

desenho barroco da capela, combinado com o plantio de vegetação

arbórea. Flávio Motta {1983) assim se reporta à integração entre a

intervenção de Burle Marx e o monumento colonial:

Junto a um exemplar significativo da arquitetura religiosa

brasileira do século XVIII, um grande banco, de moderno

despojamento, sem ornato, de cor, material e textura

semelhante à igreja, desenha sobre o gramado, com novas

grandezas, a sinuosidade comum a um passado barroco

(MOTTA, 1983, p. 84).

O mesmo desenho de banco também aparece logo a seguir

no projeto marcadamente regular da Praça da Independência

(1955) em João Pessoa. As curvas do banco ainda são mantidas

68 Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

N

©

Fig. 1. Jardim para a Capela da Jaqueira, projeto de Roberto Burle Marx,

Esc. 1:200, cerca de 1951, digitalizado a partir do original pertencente

ao IPHAN-PE. desenho de Luísa Acioli dos Santos, 2013. Segundo a

legenda: A - capela; B - Adro; C - banco; D - voleibol; E - basquetebol; F

- barra e paralela; G - pórtico (escadas e cordas); H - escada horizontal;

I - armação de tubos; J - tubos coloridos de concreto; K- escorregador;

L - caixa de areia; M - gramado para jogos coletivos; N - plataforma­

rampa; O - trave de equilíbrio; P - placas coloridas de concreto; Q

monólitos. Fonte: Laboratório da Paisagem/UFPE.

Jardins de Burle Mar x no Nordeste d o Brasil

Page 37: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

nos projetos da Praça Salgado Filho ( 1957) e <la Pra~·a de Dois Irmãos (1958) no Recife.

Tendo como moldura fileiras de palmeiras- reais (Roystoneo

regia), a capela se impõe sobre um amplo gramado onde ficam

assentados mais dois bancos de concreto, um de cada lado,

além de dois indivíduos de mulungu (Erythrina glauca), que

provavelmente já existiam. Junto ao banco ondulado intercalado

por sete abricós-de-macaco (Couroupita guianensis), segundo

sua indicação, as palmeiras-reais arrematam o espaço dedicado

à capela, acentuando sua imponência e sobriedade. Pedras

irregulares definem um acesso ao monumento, interligando-o ao banco mais próximo.

Canteiros de espécies herbáceas e arbustivas, como, por

__/ exemplo, espada-de-iansã (Tradescantia discolor), vedélia (Wedelia

paludosa var. vialis), sino-amarelo (Allamanda nobilis) e nuvem

(Plumbago capensis), com flores e folhagem de cores marcantes,

embelezam um dos lados de cada banco de concreto.

A ideia do paisagista parece antever o destino daquele espaço

livre, que, em 1985, adquiriu a condição de parque urbano com

área ampliada. A quadra de esportes e os tipos de brinquedos

foram sugeridos em reposta à função recreativa como oferta do

poder público a uma população urbana crescente e praticamente

desprovida de tais recursos.

A área do playground, como ele se refere, corresponde a cerca

de um terço do terreno e compreende espaços para a prática de

voleibol e basquetebol por grupos de jovens e adultos. As barras

e paralelas, a trave de equilíbrio e os tubos servem para exercícios

físicos e brincadeiras das crianças, além da rampa para exercitar

o equilíbrio sobre uma superfície de areia. O escorregador sugere

70 Jard ins de Burl e Marx no Nordeste do Brasil

, ...... \ 1 ~ \lll 1

1'1

111111.1 .1( 1vld.1d c.· '-'o gl'll1 n .1do pnl'n jogmi (.:olel lvos, po1 s u11 Vl''I., 111 111

111111m 11su;\l'ios parti a rcaliza\·üo de pnHlcas mais dc.•sc:o 111 11dd ui

('Ili~~· J.). ( )bscrva se que várias atividades podem ser dcs '1wolvld,1'l

; p.11t 1r dos di(ercnlcs tipos c.lc mobiliário de modo a ongrt•g,11

u111 l'Xprcssivo e diversificado público.

S;IO equipamentos típicos de um pequeno parque dt•

v11l11hança, proposto pela primeira vez como conjunto t'

1 l'l.1l ivnmente à escala da cidade. Pela leitura do projeto, a intcnç, o

loi proporcionar um espaço recreativo para a população, Lendo

1 omo foco a contemplação do monumento, e oferecer atividadcH

para as crianças e jovens permanecerem desfrutando o cspn ~·o

llvre e vegetado.

D

N

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E Gr-L--f

Fig. 2. Jardim para a Capela da Jaqueira, detalhe do projeto de Roberto Buril· M111 ~ .

Esc. 1:200, cerca de 1951, digitalizado a partir do original pertencente ao IPI l/\N 111 1,

desenho de Luísa Acioli dos Santos, 2013. Fonte: Laboratório da Paisagem/VFPll,,

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 7 1

Page 38: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Destacam-se, na extremidade ocslc do playgro1111d, duas

fileiras de cássia-grande (Cassia grandis) servindo para delimilar

o lote e resguardar os usuários durante as atividades recreativas.

Sob sua sombra, um espaço lúdico é formado por placas coloridas

de concreto e dois grupos de monólitos ligados por um passeio

de seixos. Tal combinação estaria presente alguns anos depois no

Jardim da Residência Cassiano Ribeiro Coutinho (1957) em João Pessoa.

Pesquisas anteriores mostram que a ideia do playground (área

para brinquedos infantis) foi propalada por Burle Marx no Recife

no projeto da Praça Pinto Damaso, aproximadamente em 1936

(SILVA, 2010), urna das preocupações do paisagista ao criar jardins

nos bairros residenciais. Ou seja, considerando as necessidades

dos futuros usuários e também a função educativa de informar

às crianças sobre a flora brasileira, estimulando-as a usufruir

"" um espaço público para trocas sociais. Nas palavras da escritora,

antropóloga e crítica de arte Lélia Coelho Frota (in GONÇALVES,

1997, p. 15), estes são traços da obra de Burle Marx:

Comprometida com a comunicação democrática da

natureza e da cultura existentes nos jardins construídos,

que significavam para ele uma experiência educativa e

aprazível, que propicia o encontro do indivíduo com o

outro, com o diferente, com o igual, ou consigo mesmo:

cabeça e corpo.

O projeto paisagístico proposto para o Jardim da Capela

da Jaqueira acentua a ideia geral de estética perseguida pelo

paisagista. A planta baixa permite identificar a intensidade de

vegetação que se distribui por toda a extensão da área, em diálogo

com o monumento, com um passeio sinuoso de pedras e o

72 jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

1 ~lr11•g1111111tl. E111 nola regi si rnd .1 11a planln, lh1l'k Mal'x ('XJll <':, 111

' 1'11d,1~ ,\s ;1 1 von.·s existentes devemo ser mantidas''. ·1:11 pt ,\f lt .1

\L' '•' 1111111 constante em o utros projetos, a exemplo d.is prn~ 11'i 1 1

do 1 k 1 by, República e Pinto Damaso. J\ informaçao <.k ~111<' j.\

1· hlr.1111 tfrvorcs de grande porte no local também consta 11Cl

11·f l'rido parecer do arquiteto José Souza Reis, do Rio de J:111t•i 1 o,

d1· > 2 de junho de 1951, a respeito do projeto do estudante Atltil•11

l\l -:s, 110 qual se lê:

Examinamos as fotografias da Capela e freamos L0111

a impressão de que o tratamento mais adequado nm

terrenos que a envolvem, que já contam com i 111po1w11k

vegetação, será o de maior simplicidade, lptaSL' q11 1•

somente na forma de amplos gramados. Entrclanlo, ~1·

for considerada a necessidade de um traçado geral 1k

ajardinamento, sugerimos uma consulta ao paizagl,1.1

Roberto Burle Marx que aliás conhece o local por j;\ 11·1

trabalhado durante muito tempo em Pernambuco. joM\

Souza Reis.

Como uma das grandes preocupações de Burle Marx era u

in terpretação da paisagem local, é possível afirmar que no )ardi 111

da Capela da Jaqueira ele organizou a vegetação de modo a rnanlvr

o caráter da paisagem urbana, indicando espécies arbóreas t'

palmeiras, empregadas, por exemplo, nas praças de Casa Forl<'

(1935), do Derby (1937) e da República (1937), portanto, parte do

seu repertório botânico. No entanto, introduziu espécies herbácea-:

que não aparecem nem em projetos anteriores nem posteriores 1rn cidade do Recife (Tabela 1).

A partir da capela, a ondulação do caminho de pedras suge1 ~·

um passeio atraente ao visitante, conduzindo-o a um bnnrn

emoldurado com vegetação herbácea de floração e folhugrn.'I

jardi ns de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 39: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

coloridas, que compõem diforcntcs ccn<frios. A con1posi~·:lo procura manter a simetria de projetos anleriorcs, porém, ao

mesmo tempo, insere no entorno do monumento vegetação

rasteira e palmeiras-reais, de modo a sugerir possibilidades de

percepção da paisagem e destacar a edificação no jardim.

A simetria e a monumentalidade da composição foram

acentuadas por quatro renques de palmeiras-reais, três atrás

da capela e um usado para separar a área de culto da área de

recreação, delimitando um espaço eminentemente religioso e um

espaço essencialmente laico. Sua disposição, como pano de fundo

do jardim, prolonga o verde da área do playground. Do mesmo

modo, palmeiras-imperiais foram utilizadas nas praças do Derby

e da República na década de 1930.

Esta composição também foi usada no Terreiro de Jesus, em

Salvador, em cuja planta baixa Burle Marx ressaltou o uso das

palmeiras-imperiais nos jardins do século 19, por tanto, realçando

o caráter de sítios e monumentos históricos.

2

3

4

74

Tabela l: Especificação da vegetação por Burle Marx

para o Jardim da Capela da Jaqueira, cerca de 1951.

Especifü:a~ão por Nome científico Nome popular Estrato Burle Marx atualizado

Roystonea regia Roystonea regia (Kunth) O.F. Cook

Palmeira-real Palmeira

Parkia pendula Parkia pendida Visgueiro Arbóreo 13enth. (Willd.) Bentl1. ex Walp.

Couroupita * Abricó-de-macaco Arbóreo guianensis Aubl.

Cassia grandis L.F. Cassia gra11dis 1 .. f. Cássia-grande Arbóreo

Ja rdi ns de Burle Marx Jlo No rdeste do Brasil

N"

,,

H

1)

10

11

12

13

14

15

16

17

fl. ~ 11!' ( lli1li\110 1101·

1111111- Mnn

l 1•1 111111 1 l11•/ili1/1f rylla ( V« ll) M,11·1.

/ r l'lli ri 1111.~/i111rn Willd.

l o/>111111/em f11d1•scc11s Duckc

Sclrede<i osrnanlha 11. lt.

1'/11111bago capensis ' lhunb

Codiaeum variegatum !31ume.

Lagerstroemia indica L.

Cordyline terminalis Kunth

Iresine herbstii Hook

Wedelia paludosa D.C. var. vialis DC.

Rhoeo discolor Hance

Allamanda nobilis T.Moore

Stenotaphrum americanum Sch rank

Noi111· 1:k111l li~ 11

11t1111 ll:tndo

'liilll'l111it1

illlfJCliJiillOSll (Marl. ex DC.) St;111dl.

Loplimrtlrera facl escens Ducke

Scheelea osmantha Barb. Rodr.

Plumbago capensis Thunb.

Codiaeum variegatum (L.) Rumph. ex A. Juss.

*

Cordyline termina/is (L.) Kunth

!resine herbstii Hook.

Wedelia paludosa var. vialis DC.

Tradescantia discolor L'Hér.

*

(*) Sem alteração de nomenclatura.

Noml' pop11l111 1 1 ~111110

ip0 IOXO 1\ 1 hn 11·11

Mulungu 1\1 h611·11

Lanterneira A1hú11·11

Ataleia J>ainwlru

Nuvem l lc1 h;\u·11

Cróton Arbu,t1vo

Felício A1·b6n:u

Dracena-vermelha Arbustlv11

Coração-de-maria Arb11,t ivo

Vedélia Herh~Cl'O

Espada-de iansã Hcrb;\c\:o

Sino-amarelo Herbáceo

Grama-inglesa Herbáceo

Na área do playground, Burle Marx usou fileiras duplas de

vegetação arbórea com a finalidade de proporei onar sombreament o

e fechamento, a exemplo das praças de Casa Forte e Euclides da

Cunha. Espécies como visgueiro (Parkia pendula), lanterneira

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 75

Page 40: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

(Lophantera Lactescens), ipê-roxo (1abeúuia impeliginosu), abricó

de-macaco e cássia-grande até então somente tinham sido usadas

pelo paisagista no projeto da Praça de Casa Forte.

As ilustrações identificadas em arquivos públicos do Recife

não permitem revelar até que ponto o projeto de Burle Marx foi

implantado. Ao se cotejar o desenho do paisagista com o espaço

atualmente, detecta-se que, do programa proposto, os bancos

foram construídos, alguns em locais não coincidentes com o projeto original.

Além disso, o único vestígio da vegetação proposta pelo

paisagista aparece justamente com o renque de palmeiras-reais

separando a capela da área recreativa e, ainda assim, mesclada

a indivíduos de macaibeira (Acrocomia inturnescens) (Fig.

3). O abricó-de-macaco proposto para compor com o banco

Fig. 3. Jardim da Capela da Jaqueira, década de 1950, foto de Marcel Gautherot. Fonte: Motta, 1983.

76 J:irdins d e Hurle Marx no Nordeste do Brasil

11111hd,1do foi suhsl i!ufdo por llamhoya11! (/ k/c111/\ 1 1·.~/11 ) (11111 .

•I) A substituic;ão foi relatada por l.;wrcncc Fkmi11g ( 19%), .in

: 11 w111.ionnr (]llC:

Um de seus mais grntihca ntcs pn>Jt'IO~ d.1 ~p111 1 1 1111

o jardim da capela da Jaqucira cm Rclik , 1101.1vd p1•l11

soberbo banco de concreto que serpent eava po1 l' 11l11

fileiras de flam boyant, uma árvore de florei; l 'Sl.11 h1l 1' \ d1

Madagascar, a Poinciana regia ( FLEMI NG, 19%, ll, '/O).

Percebe-se ainda que o maciço arbóreo por trás d(I l"Hpd11

permaneceu até os dias atuais. Possivelmente, a ideia de Burle M.11·x

seria a de que, na medida em que a vegetação fosse morrendo, n

projeto se concretizasse aos poucos (Figs. 3 e 4), já que, por s11 ,1

própria sugestão, as espécies existentes deveriam ser preservada ~ .

Entretanto, não se pode assegurar que outros equipamentos 11.111

Fig. 4. Banco em forma de serpentina projetado por

Burle Marx. Fonte: Bardi, 1964.

Jardins de Burle Marx no Nordesle do Brasil 77

Page 41: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

.j

foram implantados, pois, decorridas seis décadas da proposla de

Burle Marx, alguns aspectos podem ter sido descaraclerizados.

A inclusão do Jardim da Capela da Jaqueira em alguns

importantes títulos sobre a obra de Roberto Burle Marx ou

referentes à produção do modernismo brasileiro sinaliza a

relevância atribuída por alguns autores a este projeto. É notável 0

fato de comparecer numa das obras mais emblemáticas relativas à

difusão da arquitetura moderna brasileira, "Modern Architecture

in Brazil", seção "Transportation, City Planning, Landscape

Architecture", de Henrique Mindlin, publicada em 1956. Nesta

seção, Mindlin inclui nove projetos, sendo seis de Burle Marx, dos

quais quatro eram no Rio de Janeiro e dois no Recife: 0 croqui da

Praça Artur Oscar e o Jardim da Capela da Jaqueira.

78

Uma capela do século XVIII em Pernambuco, restaurada

pelo SPHAN, exigiu a mais simples moldura para realçar

seus contornos barrocos. Em vez do jardim francês

primeiramente sugerido, Burle Marx plantou wn discreto

e rústico gramado através do qual um caminho de

pedras desiguais conduz à porta da capela. Na época das

navegações, tais pedras foram trazidas de Portugal como

lastro dos porões vazios das embarcações. Ko gramado,

bancos em concreto em forma de "S" com flamboyants

plantados na parte mais profunda da curva permitem

uma excelente visão da capela sob a sombra de árvores

íloridas. O planejamento consciente para o efeito artístico

global é regra-guin de Bllrle Marx; nada é deixado ao

;1caso e ele csl(> rça-se para conciliar o próprio jardim com

o esti lo arquitetônico, com os materiais construtivos, 0

meio ambiente e as exigências da função e da manutenção.

No caso deste lugar sagrado e histórico, a solução repousa

n<.1 correlação, não no contraste. Os poucos canteiros de

Jardins de Bur le Marx no Nordest e do Brasil

llo1l'S l k 11111 l.1do dH l1\lll'I.\ \1 >1 11h 1 l· .1dll~ p111 111111111111•1111 ,

l' ,1 gi.1111;1 rlistit.1 L1dlil .11 11 .1 ll\1llH1il' ll <, .lll lks i l' p 1 q1 w1111

j:1rdi 111 pl1bli i.:o (M I NDl.I N, 11"1Cl, l1\1llu1, .ln 11ms.1)

As palavras do historiador ena ltecem a linguagem do pmjl•to,

q1H', uimbinando de forma artística a arquitetura e os dc1m·nto•.

11,1l11rais, prioriza a fácil manutenção para a conscrva~·no do

J.11dirn do monumento histórico, a simplicidade na eswlh.i

d;1 vegetação e dos materiais construtivos. Já naquela épm .1,

Mindli n (1956) referia-se aos flamboyants entrelaçando o ba11LO,

que, quatro décadas depois, seriam mencionados por I.aurcllll'

Fll'ming (1996) , consubstanciando a hipótese sugerida de tjlll'

os abricós-de-macaco indicados por Burle Marx nunca fo r \1 11 1

plan tados. Curiosamente, ao afirmar que "em vez do jardi111

f'rancês primeiramente sugerido, Burle Marx plantou um d iscrel o

e rústico gramado': Mindlin (1956) leva a crer que es lava st•

referindo ao projeto atribuído ao estudante Adrien Kiss, segundo

confrontação com a planta baixa localizada no acervo do IPT 1 A N

e a documentação escrita.

Por uma conservação do Jardim da Capela da Jaqueira

O Jardim da Capela da Jaqueira integra o atual Parque dn

Jaqueira (Fig. 5), inaugurado em 1985 na gestão do prefe ito

Joaquim Francisco (1983-1985), consolidando a voc<1çno

recreativa do local. O projeto foi elaborado por Carlos Bellaudi,

técnico da Prefeitura do Recife, que procurou arborizar e equipar

o parque com playgrounds para diferentes faixas etárias, pista tk

caminhada, pista de ciclismo, gramado para piquenique e <Ín.'.1

para apresentações comunitárias. Mas o caráter da paisagem do

Jardi ns de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 42: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

novo espaço não priorizo u a continuidade da área bislórica da

capela (SÁ CARNEIRO, 2010).

O Parque da Jaqueira se transformou em um dos espaços

livres mais populares da cidade do Recife, considerando a sua

localização em bairro de classe média alta, o que garante maior

visibilidade e conservação. Outro fator muito positivo se deveu à

participação intensa dos usuários durante sua construção, o que

implicou a criação da Sociedade Defensora do Parque da Jaqueira (SÁ CARNEIRO, 2010).

/ (

! ( /

, Praça J 1 \ ', Fleming j j

1 ' / \ / I

:\ // // \....'

-----·--.

Fig. 5. Parque da Jaqucira (incluindo o jardim no entorno da capela). Fonte: Sá Carneiro e Mesquita, 2000.

-, __ "'

. ---'--~ - ~ .... __

80 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

( > J.udlm da Capela da Jaqucirn foi reduzido devido à abcrlurn

d1• 1111111 n10 interna e modificado ao longo do tempo, visto que

,u lqui riu prestígio como local de celebração de casamentos, o que 1

d1':-.l,\rnclcrizou a transparência da paisagem então concebida

prn Burle Marx de modo a privilegiar o monumento histórico.

AlL1nlmcnte, esse jardim também desempenha o papel de palco

p.irn apresentações de orquestras e outras manifestações artísticas

l' culturais.

A composição florística atual do Jardim da Capela da Jaqueira

l'Slá representada por um total de 22 espécies pertencentes a 20

gC:neros e 15 famílias botânicas (Tabela 2). Contudo, espécies

t:omo a mangueira (Mangifera indica), a macaibeira, o jatobá

(Hymenaea courbaril), o coqueiro (Cocos nucifera), a azeitoneira

(Syzygium malaccense) e o sapotizeiro (Manilkara zapota),

presentes principalmente por trás da capela, remontam a uma

época anterior à proposta de Burle Marx. E o local onde hoje

existem coqueiros segue a indicação do paisagista para o plantio

da ataleia (Scheelea osmantha).

Tabela 2: Composição florística do Jardim

da Capela da Jaqueira> 2012.

Nome Científico

Hypoestes sp.

Mangifera indica L.

Catharanthus roseus var. a/bus G.Don

Catharanthus roseus var. roseus (L.) G. Don

Cocos nucifera L.

Roystonea oleracea (Jacq.) 0.F. Cook

Roystonea regia (Kunth) O.E Cook

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Nome popular Estrato

Cr6ton Herbáceo

Mangueira Arbóreo

Bom-dia Herbáceo

Boa-noite Herbáceo

Coqueiro Palmeira

Palmeira-imperial Palmeira

Palmei ra-real Palmeira

81

Page 43: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Noml' Cientifico N omc 1 >o ~Ili 1:11· Eslrulo

Acroco111i11 i11t11111!:.m:11s Drudc Macníba P:ilnwira

Livis/01111 chinensis (Jacq.) R. Br. ex Mart. Palmeira-leque-da-eh i na Palmeira

Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) lpê-roxo Arbóreo Standl.

]acaranda mimosifolia D. Don Jacarandá Arbóreo

Pachira aquatica Aubl. Carolina Arbóreo

Adansonia digitata L. Baobá Arbóreo

Hymenaea courbaril L. Jatobá Arbóreo

Spathodea campanulata P. Beauv. Espatódea Arbóreo

Artocarpus heterophyllus Lam. Jaqueira Arbóreo

Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Azeitoneira Arbóreo Perry

lxora macrothyrsa Teijsm. & Binn. Ixória Herbáceo

Manilkara. zapola (L.) P. Royen Sapotizeiro Arbóreo

Duranta repens L. Pingo-de-ouro Herbáceo

Thuja sp. Tui a Arbustivo

Híbiscus tiliaceus L. Algodoeiro-da-praia Arbustivo

Ao confrontar a vegetação atual com a do projeto original,

constata-se que só a palmeira-real está presente e, ainda assim,

disposta em locais diferentes do que foi indicado pelo paisagista.

A introdução de plantas arbóreas, arbustivas e herbáceas

inadequadas, a exemplo do baobá (Adansonia digitata), da tuia

(1huja sp.), do jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia) e do

algodoeiro-da-praia (Hibiscus tiliaceus) , em torno da capela,

concorre para alterar o aspecto bucólico da paisagem, que deveria

configurar uma área dedicada a um grande gramado, como propôs

o paisagista. Algumas dessas espécies em sua maturidade irão

constituir uma barreira, impedindo a visibilidade do monumento,

que deixará de ser o ponto focal (Figs. 6 e 7) .

82 Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Fig. 6. Vista frontal da Capela da Jaqueira, 2012. Fonte: Laboratório da

Paisagem/UFPE.

Fig. 7. Vista lateral da Capela da Jaqueira, onde as espécies arbóreas

impedem a sua visibilidade, 2012. Fonte: Laboratório da Paisagem/

UFPE.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 44: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Por estar situado dentro de um parque, o Jardim da Capela

da faqueira está razoavelmente protegido. Há uma relação de

continuidade da paisagem, que une o monumento ao Cais da

f aqueira e atrai grande número de pessoas nos finais de semana

(Fig. 8). A presença de edifícios de mais de 30 pavimentos não

interfere diretamente na área específica do jardim, mas configura

um limite vertical que se contrapõe à morfologia horizontal da

paisagem do parque. Segundo Burle Marx:

A defesa da paisagem faz parte da proteção dos

monumentos históricos e artísticos, assim como está

na lei, e jamais na prática, nem na consciência dos

governantes e das autoridades de inumeráveis municípios

brasileiros (TABACOW, 2004, p. 113).

Fig. 8. Parque da Jaqueira no entorno da capela, mostrando o cais e a

verticalização ao longo do Rio Capibaribe, 2007. Fonte: Laboratório da

Paisagem/UFPE.

84 Jard in s de Burle Marx no Nordeste do Brasil

c:onsldcraçõcs finais

()projeto de Burle Marx para o Jard im da Capela cfa Jaq\1t•l1· 1

; l \ por extensão, para o Parque da Jaquei ra, conci lia pri11dplo11

<trlfsticos e ecológicos moldados desde suas primeiras rcaliznçüc•t.

paisagísticas no Recife - entre as quais as praças de Casa Fmk t

fatcl ides da Cunha são as mais conhecidas, mas não as Linlrn~.

Mas também, aproxima dois temas que se tornariam presentei..,

se não recorrentes, em seus pronunciamentos: a importância dot<

parques e dos espaços verdes em áreas urbanas e a preservação d~·

monumentos históricos. Uma ilustração das "complexas parccrl;1s

que o artista manteve com a natureza e o urbano em qutUH'

sete décadas que sua criação abrange" e da fusão, no campo do

paisagismo, entre a arte e a ciência, como sintetiza Lélia Coelho

Frota (in GONÇALVES, 1997, pp. 9-11).

Se um pequeno templo histórico foi propulsor do projeto do

Parque da Jaqueira, comprometido com a vanguarda moderna,

com a convivência entre natureza e cultura, com a experiênclu

lúdica e educativa, imagina-se que o conhecimento, cada vi:z

maior, dos jardins de Burle Marx possa, em última - ou primeira

instância, reabilitar a capacidade de preservar os recursos natu rnis

e o patrimônio de arte e história que eles encerram.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil nr.

Page 45: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Bibliografia e Fontes Documentais

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Renato Soeiro e Lúcio Costa ao Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Rodrigo M. F. de Andrade.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO

NACIONAL. Bens móveis e imóveis inscritos nos Livros do Tombo do

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 4. ed. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994.

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OFÍCIO nº 113/53, de 12 de junho de 1953, do Chefe do 1° Distrito Airton Carvalho ao Diretor Geral da DPHAN Rodrigo M. F. de Andrade.

OFÍCIO nº 122/51, de 22 de maio de 1951, do Chefe do 1° Distrito Airton Carvalho ao Diretor Geral da DPHAN Rodrigo M. F. de Andrade.

OFÍCIO nº 137/51, de 7 de junho de 1951 , do Chefe do 1° Distrito Airton Carvalho ao Diretor Geral da DPHAN Rodrigo M. F. de Andrade.

86 Jardins el e 13urle Marx no Nordeste do Brasil

1 H•IC Hl ll" 111/'d, d l• t ' dl' .1goslu 1k l'J'il, do C:ht·il' do I" 1 > 1~ 111111

1\1 11011 < ,,11 vallw ao I >irdur (;cra l d.11 >PI IAN l~od1 'Kº M , F dl• Amli ,1il1

(? I · I< 10 n" 8 \ ')/SJ, de 2J de sl'letnbro lk J l)') ' ·do Di H'lrn do P,111111111111< 1 1·'11.,1011rn e Artístico Nacional Rodrigo M. F. de J\mk1dt• .H> !'ll·1d1111

e lwll' do I" Distrito Airlon Carva lho.

<li :f <.10 nº 917 /5 1, de 29 de junho de 195 1, do IJirctor do P;1lr111H)11111

l listórico e Artístico Nacional Rod rigo M. F. de Andrade no Sc11li111

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Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 117

Page 46: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

nu IU.E MARX EM SAl.VAOOH.: O J.l\HDIM DO TERREIRO DE JESUS

; l1,1ulo Cosln l<alil

Introdução

Trazido pela primeira vez à Bahia pelo arquiteto Paulo Ant u 1ws

Ribeiro, Roberto Burle Marx é convidado, em 1946, para projl' l.11

os jardins da cobertura do Edifício Caramuru, como pertcnccnk 11

u 111 grupo de prestígio que está pensando a arquitetura brasiki1 .1,

a escola carioca. Projeto de Antunes, o edifício está situado ;\

Avenida das Nações, no bairro do Comércio. Esse terraço-jardi111

é o quinto projeto de Burle Marx desse tipo e o primeiro rora do

Rio de Janeiro. Anteriormente, ele já havia realizado experiências

semelhantes, como os jardins da residência Alfredo Schwartz, dn

Associação Brasileira de Imprensa, do Instituto de Resseg uros do

Brasil e do Ministério da Educação e Saúde.

O Edifício Caramuru, um dos principais representantes da

arquitetura moderna em Salvador, foi premiado na Prim<.:irn

Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, de 1951, além

de inspirar artigos publicados em revistas internacionais, como

a francesa "I:Architecture daujourd'hui", em 1952, a ila li n11,1

"Domus" e a inglesa "Architectural Review'', em 1954.

Em 1948, na gestão do prefeito José Wanderley de Aral1Jo

Pinho (1947-1951), a Comissão do Plano de Urbanismo da Cidade

Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 47: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

do Sa lvador (CPUCS), coordcnacfa pelo arquilclo Diógenes

Rebouças, solicita ao diretor geral da Diretoria do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (DPHAN), Rodrigo Melo Franco

de Andrade, a presença de Roberto Burle Marx na elaboração de

projetos para praças e jardins de Salvador. 1 Matérias publicadas

nos jornais "Diário de Noticias" e "A Tarde" davam conta da

passagem do paisagista pela Bahia.

A convite do prefe ito da Capital, engenheiro Wanderley

de Pinho se encarregará da criação dos jardins de cinco

praças naquela capital, o arquiteto, pintor e paisagista

Roberto Burle Marx ( ... ) procuramos ouvi-lo sobre os

seus projetos e conhecer as suas impressões daquela

terra que agora visitou pela primeira vez (DIÁRIO DE

NOTICIAS, 28 de julho de 1948, p. 8; A TARDE, 30 de julho de 1948, p. 2).

Sua primeira visita a Salvador, de acordo com publicação na

imprensa local, ocorreu em 1932. Não há registro de sua vinda

para projetar o Edifício Caramuru, que foi construído de 1946 a

1949. E, quando esteve na capital baiana em 1978 para presidir o

XVI Congresso Internacional de Paisagismo, manifestando a sua

insatisfação com a descaracterização da cidade, declarou:

Quando eu estive pela primeira vez na Bahia, em 1932,

disse o arquiteto -fiquei impressionado com o "eldorado"

que era Salvador, decididamenle a cidade mais estupenda

do Brasil. Hoje, a vegetação eslá rareando, à proporção em

que se torna maior a especulação imobiliária (TRIBUNA

DA BAHIA, 26 de setembro de 1978, p. 3).

1 Representante elo modernismo na Bahia, Diógenes Rebouças é o arquiteto de maior import<lncia no estado no período ele 1950 a 1970 e responsável por grandes transformações na cidade.

90 Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

A tidade de S:.i lvador, 11nqucla época, dividia sua centralidade

l'lll l t ' a Cidade Baixa e a Cida<lc Alta, Lendo, na primeira, a praia, o

porlq e seus armazéns, e, na segunda, o seu centro administrativo, I

político e religioso, assim como sua área residencial. A Praça

Municipal era o núcleo da Cidade Alta, para onde convergiam

todos os caminhos e onde se concentravam os principais edifícios

públicos, desde sua fundação até meados do século 20.

Mais ao norte, na mesma cumeada, encontrava-se o Terreiro

de Jesus. Ali, estava o antigo prédio do Colégio dos Jesuítas, que,

no século 19, passou a abrigar a Faculdade de Medicina da Bahia.

Era o maior centro de comunicações da cidade, como proclamava

o periódico "O Alabama": "quem quiser saber da vida alheia, vá ao

chafariz do Terreiro" (LIMA, 1988) (Fig. 1).

Fig. 1. Terreiro de Jesus no século 19, foto de Camillo Vedani, 1860

1865 . Fonte: Ferrcz, 1988.

Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasi 1

Page 48: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O chafariz a que se refere lima (1988) t:. um lrabalho cm

bronze feito na França em 1855. Representa a Deusa Ceres da

Agricultura e faz parte de uma série de chafarizes implantados

em Salvador pela Companhia de Água do Queimado, inaugurado

em 1857. A capital baiana foi a primeira cidade brasileira a ter

uma concessionária de serviços de distribuição de água potável à

população.

Burle Marx e os espaços públicos de Salvador

Dos cinco projetos de espaços públicos contratados a Roberto

Burle Marx por indicação de Diógenes Rebouças em 1948, foram

encontrados apenas três: o da Praça 13 de Maio, conhecida

como Praça da Piedade2, o da Praça 2 de Julho, conhecida como

Campo Grande, ambos não executados, e o do Terreiro de Jesus,

posteriormente denominado Praça 15 de Novembro, cujas obras

foram iniciadas e concluídas em 1950.

O desenho referente ao projeto da Praça do Campo Grande

parece não ter sido finalizado. Nele, o acesso ao lago em placas

não delimita o espaço. Também não se define o material a ser

utilizado. A especificação botânica, com 55 espécies vegetais,

inclusive aquáticas, não se encontra totalmente locada na prancha.

Alguns fatores podem ter contribuído para a não realização

dos projetos das praças da Piedade e do Campo Grande. Um deles

foi a descontinuidade administrativa, com a saída de Wanderley de

Pinho da Prefeitura em 1951. Outro, foi a resistência da sociedade

2 Em 1888, em homenagem à data da assinatura da Lei Aurea, a praça passa a ser denominada de 13 de Maio. No entanto, como a população não conseguia identificá­la por esse nome, ela volta a ser chamada, em 1967, de Praça da Piedade.

92 Jardins de Burle Marx no No rdeste do Bras il

1111111 11 .1, ;\ t~poca, ao r oncc ilo do novo, do mn<k·rno, prindpn l11 lt'1111'

1111 Imante às áreas aj;rrdinadas da cidade.

O Terreiro de Jesus, que pc rlcncc ao desenho fundnciorrnl d 11

, 1d.1dc, foi escolhido como obje to de estudo dcslc artigo pdo l .110

de IL'I' sid o o primeiro projeto público de Burle Marx rcaliz~H.lo

1rn <.:idade e porque deve ser considerado um jardim hi stó rko,

rL·<.:onhecido como patrimônio por seu valor artístico, ccológiw

e social. Em seu artigo 1°, a Carta de Florença diz que um j<rn.lim

histórico é "uma composição arquitetônica e vegetal que, do ponto

de vista da história ou da arte, apresenta um interesse públirn.

Como tal é considerado monumento" (CURY, 2000, p. 253).

Em sua composição arquitetônica, ele apresenta uma

morfologia diferente daquela usada no período, utilizando no

piso desenhos com mosaicos em pedra portuguesa e seixos qll l'

refletem as mudanças provocadas pelo Movimento Moderno da

década de 1950.

O convite feito a Burle Marx pelo governo baiano partiu

da iniciativa de revitalizar e modernizar os espaços públicos no

estado, tema que vinha sendo debatido nesse período na capital. E,

para fazê-lo, uma referência de sucesso, trazida do Rio de Janeiro,

era Roberto Burle Marx. A presença de um renomado paisagisl;1

para "fazer as praças e parques de Salvador" foi motivo de matér ias

em jornais da cidade, que cobravam os projetos do poder público.

Nesse sentido [a Prefeitura de Salvador] encomendou

vários projetos a Burle Marx, arquiteto paisagist,1

brasileiro, que com seu espirito e a sua arte de vanguarda.

vem realizando obras do melhor gosto e qualidade no sul

do país e no estrangeiro, salientando-se como autoridnd t•

digna de respeito no assunto. ( ... ) Prontos os projt•toN

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il

Page 49: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

para os jardins c aproveilarni.:n lo tlc rc<.:a ntos aprai'.ivcls

de Salvador, remeteu-os à prcícilura local. Es ta não ÍCi',

ir além a simpatia in icial demonstrada pela questão.

Arquivou os excelentes projetos de Burle Marx, tem

privado o publico do conhecimento dos mesmos, em

vista do desinteresse pela sua divulgação, dando mais

uma prova da sua inépcia para a solução dos assuntos de

interesse coletivo (DIÁRIO DE NOTICIAS, 12 de maio de 1950,p. 4).

A cobrança da imprensa deve-se ao fato de que Burle Marx

havia sido chamado no início da gestão de Wanderley de Pinho e,

dois anos depois, os projetos ainda não tinham sido executados.

Com a denúncia jornalística, deu-se início às obras do Terreiro de Jesus.

O projeto de Burle Marx para o Terreiro de Jesus

O projeto de reforma do Terreiro de Jesus, idealizado por

Burle Marx a partir de 1948 e iniciado em maio de 1950, propunha

a retirada de todo o piso existente e a incorporação de um novo

desenho, de formas orgânicas, sinuosas, inovadoras para a cidade

e até então pouco conhecidas em projetos de praças no país (Figs.

2 e 3). Cabe, inclusive, revisar a bibliografia existente, que aponta

1952 como o ano de elaboração da proposta.

Em outros projetos dessa época, Burle Marx utiliza os mesmos

princípios, como na Praça de Cataguazes, em Minas Gerais, na

Praça Santos Dumont e Largo do Machado, no Rio de Janeiro,

sendo o Terreiro de Jesus o primeiro no Nordeste.

Os materiais utilizados no piso, como a pedra portuguesa,

os seixos rolados pretos e as conchas da região, assim como a

94 Jardins de l3urle Marx no Nordeste do l3rasil

Fig. 2. Jardim para a Praça lS de Novembro (Te~ reiro de Jesus) , prnjl'lo

de R. Burle Marx, S. Salvado r, Bahia, Esc. 1: LOO, s/dala. Fon te: Escritório

Burle Marx & Cia. Llda.

Fig. 3. Terreiro de Jesus após a conclusão da obra. Fonte: Fundaçno

Gregório de Mattos/PMS.

jardins de Burle Mar x no Nordeste do Brasil 95

Page 50: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

11

permanência do chafariz, reforçariam a identidade do lugar. A Sllíl

proposta de um coreto móvel. retirado quando assim se desejasse,

e a criação de apenas um canteiro com plantas potencializariam

o terreiro como espaço de encontro e não apenas como local de

passagem, resguardando a vista para o Colégio dos Jesuítas e sua

capela. Os bancos previstos no projeto seriam dispostos sob as

árvores para aproveitamento da sombra existente.

Consta na especificação e na locação do projeto o plantio

de dez árvores de duas espécies: quatro lofanteras-da-amazônia

(Lophanthera lactescens) e seis sibipirunas ( Caesalpinia

peltophoroides). Não há informações sobre as espécies

preexistentes na praça, mas o que se observa nos registros

fotográficos e no depoimento do arquiteto Assis Reis é que o

número de espécies arbóreas é maior que o especificado e que

elas foram mantidas após a conclusão do projeto.3 A vegetação

especificada por Burle Marx consta na Tabela 1.

Quanto às palmeiras, o paisagista manteve as impena1s

(Roystonea oleracea) existentes e plantou outras. No único

canteiro, colocou cinco espécies de herbáceas e arbustivas, que,

pelas características, davam um colorido especial ao espaço: as

pequenas folhas marrom-avermelhadas e alaranjadas do periquito

(Alternanthera amoena), as variadas formas e cores dos crótons

(Codiaeum variegatum), o vermelho salpicado de branco do

confete (Hypoestes sanguinolenta), a folhagem verde com nervuras

amarelas das sanquésias (Sanchezia nobilis) e a dupla-face verde­

escura e roxa do abacaxi-roxo (Tradescantia discolor).

3 O arquiteto Assis Reis trabalhou com Diógenes Rebouças no CPUCS e foi o responsável pelo levantamento topográfico do logradouro. Entrevistado por Paulo Kali! em 22 de julho de 2010.

96 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

'lhhclo 1: l\spt1dfü:11\1 o dn v1.•gd11,·ílo por Buril• M,11·x

pum o Terreiro de Jesus, cerco de 1950.

;N" l1.N1wd Hcnçílo por Burle M11rx

'•

111J1!11111ll1cm ladescens ll11d\l'

< :111•.\1tlpi11ir1 pellopfwroides lknlh.

/\ltl'm1111tliera amoena ltq~d

( :odia.eum variegatum IUume

1 lypoestes sanguinolenta l look.

Sanchezia nobilis r. l-look.

fl.hoeo disco/ar 7

Hance

Oreodoxa oleracea 8

Mart.

( •) Sem alteração de nomenclatura.

Nome cicutifico atualizado

*

Altemanthera arnoena Back. & Sloot.

Codiaeum variegatum (L.) Rumph. ex A. Juss.

No111c po1n1l111·

Lol'anlcrn da-a111az611 ia

Sibipi mna

Periquito

Cróton

Hypoestes sanguinolenta Confete (Van Houtte) Hook. f.

*

Tradescantia disco/ar L'Hér.

Roystonea oleracea (Jacq.) O.F.Cook

Sanquésia

Abacaxi­roxo

Palmeira­imperial

l\Nlr'll(ll

Árll61 1•11

Ar·bór''º

1 h:rb:lu·11

J\ rbust Ivo

1 Jcrb;\l ('O

Arhuslivo

l lcr btlct·o

Palmci rn

A Praça 13 de Maio ou Praça da Piedade (Fig. 4), por sua

vez, foi idealizada no mesmo período do Terreiro de Jesus. Os

detalhes construtivos de ambos encontram-se, inclusive, em urna

única prancha (Fig. 5). Assim como o terreiro, existem erros de

referência em relação à Praça 13 de Maio. A planta baixa e as

informações bibliográficas nominam a praça como 3 de Maio e o

seu projeto como sendo de 1954.

Nesse projeto, Burle Marx manteve os mesmos princípios

utilizados no Terreiro de Jesus: um desenho sinuoso e orgânico,

com pavimentação em mosaico de pedras portuguesas prclall t•

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 97

Page 51: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

,,

... 1 J _J - l - j --·--. ···-:::::::..._---=-:--~:: -------·------

:-:.::::.: . .:.:::..--::::_ -==-~:= .. --~'-~~--· .:.~ 'ª'._ ... ,.«

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··-·----1 r--·-- ,r-~ ~ ---,-- r=---7"--- - \------J --------.:__ . • •

--:::-:--/, J /~ !/{ ~-:-T\· \ 1 . • 11 .· ·1.· , ·,. \

Fig. 4. Jardim para a Praça 3 de Maio (Praça 13 de Maio ou Praça da

Piedade), projeto de R. Burle Marx, S. Salvador. Bahia, Esc. 1: 200, si data. Fonte: Escritório Burle Marx & Cia. Ltda.

brancas. Diferentemente da praça anterior, ele propunha a criação

de alguns canteiros com vegetação e a manutenção de todas as

árvores existentes, que eram abundantes. Sugeria, ainda, o retorno

do chafariz que havia sido retirado do local em 1931, além de

bancos em granito no entorno das árvores.

98 Tardins de Bu rle Marx no Nordeste cio Brasil

lL

• = .

• IL

,. 1

-:-"-'11. " 1 •

Fig. 5. Detalhes construtivos para as praças 15 de Novembro ('ll't ll' i111

de Jesus) e 3 de Maio (Praça 13 de Maio ou Praça da Piedade), proj1·10'

de R. Burle Marx, S. Salvador, Bahia, s/data. Fonte: Escritório lll11 k

Marx & Cia. Ltda.

Para Burle Marx, a preocupação com a preservação do

patrimônio histórico e cultural e com a manutenção da vegeLaç<fo

existente na elaboração de seus projetos é "também um crilério

que envolve conhecimento e sensibilidade': como afirma Flávio

Motta (1986, p. 100) ao se referir ao projeto para a Praça cio

Largo do Machado, no Rio de Janeiro, de 1954, no qual foram

preservadas e valorizadas as árvores existentes.

O princípio adotado para a especificação botânica foi comum

aos dois projetos: o uso reduzido de arbustivas e de herbáceas em

um total de seis espécies, a repetição de algumas dessas espécies e a

Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 99

Page 52: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

11

formação de um conjunto de cores quase que permanentes, como

dos periquitos, dos abacaxis-roxos, das heras-roxas (llemigraphis

alternata), dos confetes, das acalifas (Acalypha wilkesiana) e dos

pseudoerântemos (Eranthemum reticulatum) (Tabela 2).

Tabela 2: Especificação da vegetação por Burle Marx

para a Praça 13 de Maio, cerca de 1950.

Nº Especificação Nome científico Nome popular Estrato por Burle Marx atualizado

Alternanthera Alternanthera

amoena Regei amoena Back. & Periquito Herbáceo Sloot.

2 Rhoeo discolor Tradescanlia discolor

Abacaxi-roxo Herbáceo Hance L'Hér.

Hemigraphis Hemigraphis 3 alternata (Burm.f) Hera-roxa Herbáceo colorata Hallier

T.Anderson

Hypoestes Hypoestes 4 sanguinolenta (Van Confete Herbáceo sanguinolenta Hook

Houlte) Hook. f.

Acalypha wilkesiana Acalypha wilkesiana 5 Muell. Arg. var. Acalifa Arbustivo

miltoniana Hort. Müll. Arg.

Pseudoeranthemum Eranthemum 6 reticulatum Radlk. reticulatum A. Pseudoerântemo Arbustivo

de Vos

Apesar de ser um renomado paisagista, seu projeto para

o Terreiro de Jesus sofreu severas críticas da imprensa, que

apontava a necessidade de um projeto paisagístico mais adequado

aos elementos clássicos do local, inclusive às características

apresentadas pelo conjunto arquitetônico de seu entorno.

100 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

< ;(l ill 1 dn~ .10 .111 l Jl ll' lol ldto llll l' rn\'.I 1 ' l de• Novc·111lu 11, d11

dllllS u111;1: ou o sr. i\ul'lc M:1rx l l' Vl' os p li11wk h1111tl l111 d11H,

011 cntan cng,1111n1 se lamc 11lavl'lnl l'll lt' 110 q1w ~t' 11111•

aos canteiros do Terreiro de Jesus. /\qul'ln p111,·11 p1•tl h1

realmente um jardim, mas um jnrdim \.Olllpk•tn111c•11t c

dife rente do que foi feito. Logradouro fo111111do prn

um conjunto arquitetônico de gosto ch\ssko, 1111 l 11~lv1•

templos centenários, Lendo ao centro 11111 d111f.1111 ,

também ao gosto da escola tradicional, ped ia um Jn1dl111

que se adaptasse às exigências aluais e não qucbra~sc• d1 maneira alguma a harmonia da praça consti tu{d,1 p111

velhos casarões, por edifícios an tigos que guarda11 1 '"'

sobriedade de suas linhas todas as tradições u rba 11 bt ll.1~

de épocas passadas. ( .. . ) De qualquer forma , seja cstl' 1111

aquele o motivo, é de esperar que fatos como esse 111 11 Nc

repitam, porque do contrário a cidade não passaria lk 11111

gigantesco prato de salada urbanística (A T/\RDI \, 11 dr

novembro de 1950, p. 3).

É possível que a repercussão negativa na imprensa e :t

expectativa frustrada em relação aos resultados do trabnlho

realizado tenham influenciado a opção pela não execução dos

demais projetos. Pode-se afirmar, a partir de notícias de jornais dn

época, que, pouco depois de ser redesenhado com base no projdo

de Burle Marx, o Terreiro de Jesus já havia sido esquecido pelo

poder municipal, convertendo-se em dormitório e local de del i los,

O jardim do Terreiro vive uma de suas p iores f.1sC''l

de sua existência, pois, de um dia para o outro, viu HI'

transformado em albergue, mercado e centro de rc 1111 l1111

de malandros (DJALMA GUEDES in DlÁRIO 1 )H

NOTICIAS, 13 de maio de 1953, p. 5).

Jardins de Burle Ma rx n o Nordeste do Brasil IOI

Page 53: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O Terreiro de Jesus hoje

/\o longo dos anos, o terrei ro vem sofrendo altcraçôcs na

sua <.:onliguração, com substituição do canteiro de p lantas por

piso e remoção dos bancos, fechamento da fonte com gradil e

supressão quase que total de sua vegetação. No decorrer do tempo,

la mbém teve usos e funções modificados, tornando-se um lugar

de passagem, principalmente devido à retirada dos bancos e do

canteiro de plantas e à inexistência de árvores e sombreamento, 0

que dificulta a permanência de pessoas no local (Fig. 6).

1 louve, ainda, a troca de postes de iluminação e a incorporação

de novos equipamentos, como telefones públicos e lixeiras (Fig.

7). Atualmente, o local é usado por transeuntes, em sua maioria

turistas que visitam o centro histórico da cidade e o Colégio dos

Hg. 6. Terreiro de Jesus, 201 O. Fonte: Lucy Kalil.

102 Jardins de Bur le Marx no Nordeste d o Brasil

Fig. 7. Terreiro de Jesus, 2010. Fonte: Lucy Kali!.

Jesuítas, cuja capela denomina-se Catedral Basílica Primacial de

São Salvador, e é ocupado por grupos de capoeira, vendedores

ambulantes e baianas de acarajé.

Considerações finais

Os projetos de Rober to Burle Marx para praças, parques

e jardins foram idealizados e executados segundo conceitos até

hoje inovadores e atuais. Seu pioneirismo pode ser observado

pelo menos em dois elementos utilizados no Terreiro de Jesus: seu

desenho, que o potencializa como local de reunião e não apenas

para circulação de pessoas, e a presença de um pequeno repertório

botânico, o que facilita a aquisição de plantas, reduzindo parte dos

problemas enfrentados pelo poder público em sua implantação.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 10:1

Page 54: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

No entanto, o Terreiro de Jesus, a principal obra pública de

Burle Marx na Bahia, demonstra que a manutenção não vem

acontecendo. O piso em mosaico de pedra portuguesa branca

e preta tem sido reparado sem o necessário apuro técnico,

concorrendo para a sua descaracterização. O friso com as conchas

desapareceu e as reposições dos seixos pretos estão sendo feitas

com pedra portuguesa da mesma cor. A vegetação original do

projeto praticamente não existe mais e, a cada dia, vão sendo colocados objetos estranhos ao local.

O estado precário em que se encontra o Terreiro de Jesus

explicita o descaso com que o poder público tem tratado 0 seu

patrimônio, sem perceber a necessidade urgente de empreender

ações de restauração e tombamento de uma obra que é

representativa da passagem do maior paisagista brasileiro pela Bahia.

104· Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Ulhllograffa e Fontes Documcnlais

1\ 1 A Ili >I\. 11., n1111t•111omço1•~ do IV Cc11/c111írio tio /fo/i111 , rn jul. l 1>•1H,

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Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 10ã

Page 55: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

IJM JAUDIM DE BUH.l..E MAl~X EM JOÃO PESSOA: HES ID ÊNCIA CASSIANO RIBEIRO COUTINllO i

l IHgnnC' jard im

l\ 111 1,1 Dicb

Introdução

A obra de Burle Marx na Paraíba é marcada pela divcrsidad1.•

de escalas de projeto, abrangendo praças, parques, jardi m,

privados e institucionais. Ao todo, foram elaborados 13 projctoi,

paisagísticos, sendo a maioria deles para a cidade de João Pcsson.

As suas propostas para a Paraíba são relevantes visto que expressa lll

muitos traços característicos da sua obra, como a valorização <.l n

vegetação nativa.

Para João Pessoa, Burle Marx elaborou 11 projetos, dos quais

apenas um - o Jardim da Residência Cassiano Ribeiro Coutinho

- foi executado e, pelos seus atributos culturais, foi tombado pelo

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba

(IPHAEP) no ano de 2008.

Além desses, foram idealizados dois jardins públicos em outras

cidades do estado da Paraíba: o Parque Açude Velho em Campin ,1

Grande (1952) e uma praça para a cidade de Areia (1943- 194 'I) ,

conforme consta no acervo do Escritório Burle Marx & Cia. Llda.

Jardins de Burle Marx no Nordeste d o Brasil I07

Page 56: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Burle Marx em João Pessoa

A Praça Venâncio Neiva, o Parque Arruda Câmara, conhecido

popularmente como Bica, e o Jardim do Palácio da Reden ção

foram os pr imeiros projetos concebidos em João Pessoa em 1939,

período p osterior ao que Burle Marx foi diretor do Setor de

Parques e Jardins do Governo do Estado de Pernambuco.

Em 1940, Burle Marx projetou para o Parque Solon de Lucena

um aparelho esportivo comp osto de escorregador, balanço e

gangorra, segundo consta no acervo do Escritório Burle Marx &

Cia. Ltda., e indicou a criação do bosque de pau d'arco (Tabebuía

chrysotrícha) e de bambuzais, os quais sempre gostava de visitar

quando estava em João Pessoa, conforme se recorda o arquiteto

Mário di Lascio em entrevista concedida em março de 2012.

Durante uma visita à capital, em 1981, em entrevista a um jornal

local, Burle Marx criticou algumas práticas de manutenção

aplicadas à vegetação do referido parque.

Os erros continuam sendo praticados, tanto é que

sou completamente contrário à pintura das árvores e

das palmeiras; acho isso de um aspecto monstruoso e

desnecessário, só para mostrar que essa cidade está sendo

cuidada (JORNAL A UNIÃO, 24 de maio de 1981).

Posteriormente, em 1985, Roberto Burle Marx foi convidado

pelo então prefeito Oswaldo Trigueiro do Valle (1983-1986) para

elaborar um projeto de reordenamento do Parque Solon de Lucena.

Para isso, preparou um relatório no qual elencou melhoramentos

no âmbito paisagístico, infraestrutura] e de iluminação, conforme

ilustra o trecho seguinte:

108 Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Bra sil

Colm ·'\ lltl d l· ;\l'VO l l'~ ( Oll lO l ·11 ,\l1I n:u·ll 111 , ( ''"'I" n111111l111

l' C.1~s i.i ro~.1 , 11a lml'1 1,1 ll.1vrn.tl :1 , V"gt11·1111,, P1d1111• li 11

Com C:1Lo lt'.· e C lt'1si:is 11s:i r pl :1111.1 d(' 1wq11 ,·110 p111 11•

nha ixo d os postes de ilumi1iaç<'ks (siL ) , n· planl•ll 11111IM

Pau brasi l, planta r palmeiras regiona is 1:0 1110 M111 ,lfl111 ,

Pindoba e outras dar uma conti nui{ladl· ~bll' lli.\ l il .I 1111

manutenção do parque; plantar Cassia listola l'lll l 11• 1\l t'

ao cassino da lagoa; disciplinar o plantio da~ d 1 vl·1 ~. 1

espécies, ordenando também as áreas desti nadas p 111 .i

jard ins floridos. Disciplinar o estacionamento, dar u 11 1.1

melhor dimensão à pavimentação, const rução de 1111! 10 ~

estacionamentos. Restaurar a iluminação dcrnrnt iv.1,

instalar mais iluminação efetiva - amplia r a i ns lal n~ ,1o d.1 fonte lum inosa dando uma dimensão proporcion.d ,\ ;\11'.1

da lagoa (O NORTE, 28 de jun ho de 1985, p. 6).

Ainda na década de 1940, foram elaborados dois projctos

paisagísticos para a Praça da Avenida Cruz das Armas e Pra\'-'

1817. Foi durante a década de 1950 que ele desenvolveu dois dos

seus principais projetos para a Paraíba: a Praça da Independê ncia

(1955) e o Jardim da Residência Cassiano Ribeiro Coulinho

(1957).

Seguiram-se os três últimos trabalhos do paisagista em João

Pessoa: o projeto da Praça Cívica da Universidade Federal da

Paraíba {1971), um estudo para o Jardim da Residência Emíl io de

Carvalho Coutinho (1976) e, por fim, o anteprojeto do Parque do

Cabo Branco (1981), conforme pesquisa no Escritório Burle Marx

& Cia. Ltda.

Antes de abordar o Jardim da Residência Cassiano Ribeiro

Coutinho, para seu estudo, destaca-se a Praça da Independência,

Ja rdins de Burle Mar x no Nordeste do Brasil t º''

Page 57: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

por ter sido veiculada em alguns livros sobre o paisagista e por ser

até hoje um espaço de referência da cidade de João Pessoa.

A Praça da Independência

Localizada no bairro de Tambiá e com uma área de 70.000

m2

, a Praça da Independência foi construída e inaugurada no

ano de 1922, como um marco comemorativo do Centenário da

Independência do Brasil. O projeto executado, encomendado pelo

então gestor municipal, Walfredo Guedes Pereira (1920-1924), de

autoria do arquiteto Hermenegildo di Lascio, possui um traçado

geométrico, típico das praças francesas (DIEB, 1999).

Antes, no local existiu um sítio de propriedade da família de

Walfredo Guedes Pereira, que doou esta área à municipalidade

com o fim específico de se construir uma praça, havendo uma

cláusula na escritura segundo a qual caso lhe fosse dada outra

destinação, esta seria revertida aos seus legítimos herdeiros (DIEB, 1999).

Na década de 1950, o prefeito Luís de Oliveira Lima (1952-

1955) solicitou a Burle Marx um projeto de melhoramentos

paisagísticos para a Praça da Independência. Na sua concepção,

foi possível identificar uma ordenação geométrica mais precisa,

na qual "os conjuntos de vegetais se definem volumetricamente"

(BARRA, 2011), com a utilização de contrastes de cores, texturas,

massas e intervalos, perspectivas e soluções espaciais imprevistas.

A proposta para a Praça da Independência explora o sutil

contraste entre as aleias de palmeiras, diante das mudanças

de cores de seus estipes. Grandes aleias de palmeira-imperial

(Roystonea oleracea) estão ligadas às de açaí (Euterpe sp.) e

110 farclins ele Burle Marx n o Nordeste cio Brasil

""'' .tlhdrn (Acmco111iu i11/1tl/ll'SCl'llS), COlll SCLI t•sl ip1.· illl h.1d11.

1 >1flon·11t t•s formas são criadas a partir do pau d'an.o e, 1101.•nlrn110

do ' l.igo ;w.ul, alinhadas com o mosa ico de vidro cm st11lldo

pi·r 'pcmlicular, estão as aningas (Montriclrnrdia sp.), pl ll ill i l ~

du.oralivas cujo efeito <lo reflexo na água aumenta duas vezes Slltl

,li1urn (ADAMS, 1991).

o projeto, que não foi executado, também possui áre;1s dt•

LOll lcmplação e convivência, intercaladas por painéis compostos

de elementos como vidrotil, pedras e trepadeiras floridas (Fig. l ).

1\ vegetação existente foi considerada por Burle Marx e adensada

Fig. I. Projeto para a Praça da Independência, 1955. Fonte: Moita, 191! 1,

fardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 111

Page 58: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

em forma de grandes maciços vegetados como, por exemplo, n

aleia de abricós-de-macaco (Couroupita guianensis), espécie até hoje existente no local.

A Residência Cassiano Ribeiro Coutinho

Na década de 1950, a cidade de João Pessoa se apresentava

em pleno crescimento populacional e expansão urbana para além

do seu centro tradicional. 1 A crise na produção e comercialização

do algodão, causada pela perda de mercado para os produtores

da região sudeste, fez com que o governo seguisse uma política

desenvolvimentista e industrialista, atuando a favor da expansão

da cidade. Entre as diversas ações empreendidas na época pelo

governo, destaca-se a pavimentação da Avenida Epitácio Pessoa

na década de 1950.

Aberta em 1920 por iniciativa do então governador Camillo

de Holanda (1916-1920), com o objetivo de estabelecer a ligação

entre o centro e o porto que se almejava instalar em Tambaú, a

Avenida Epitácio Pessoa foi alvo de sucessivos investimentos do

poder público a fim de se tornar um grande eixo de circulação e

expansão da cidade nas décadas subsequentes (VIDAL, 2004).

No mez de abril, indo ao encontro de uma Idea

predominante, qual a de se fazer na enseada de Tambaú

o nosso ancoradouro externo, iniciei os trabalhos de uma

avenida de 4862 metros de extensão por 36 de largura

ligando a Capital áquelle ponto do littoral (HOLLANDA, 1918, pp. 39-40).

l Segundo Villaça (2001), os centros tradicionais correspondem às antigas áreas centrais das quais se originaram as cidades brasileiras e também onde há uma maior concentração de atividades de comércio e serviços e diversificação de empregos.

112 fardins de Burl e Marx no Nordeste do Brasil

llll l i.li11wi11L'. at ollll'lL'll 1111H1 sl'· 1 il' dl' t• 111pL'l ililos I'·" ,1 •'

, 111 1t lw.ao d.is obras, Lomo o L'1Ko11tro da nova vi.1 LOlll .1 l ~sl1.1d.1

cli• 'l'.~111 hi {i, a grande inclinaçao da descida do platô p111 .1 ·'

pL111 k ,il· litorânca, a fragilidade da ponte sobre o Rio Jaguariht• 1.· ·'

l 'lt'l .Uiedade dos aterros nas margens do referido rio. Com isso,·'

popula~·ao continuou utilizando a antiga estrada de Tambaú pai·'

.ll l'ssar a praia (COUTINHO, 2004).

Tais empecilhos foram desvencilhados ao longo da dcca<la dl'

l ').)0, com as obras de corte no platô, o aterro das margens do

ll io Jaguaribe e a ligação da avenida à Praça da Independência,

l onfcrindo uma entrada mais imponente à via, atraindo assim a

população para o local.

Apesar de o porto não ter sido implantado em razão de

uma série de fatores, a avenida acabou apresentando novas

runções à medida que suas obras foram sendo concluídas, face ao

crescimento da população e expansão da cidade. Sua ocupação

ocorreu de forma fragmentada e diversa ao longo do último

século. Inicialmente, as áreas ocupadas limitavam-se às suas

extremidades: os bairros de Tambaú e da Torre. Durante este

período, a avenida serviu como ligação do centro tradicional com

a praia de Tambaú, local de veraneio e lazer dos cidadãos da então

Cidade da Parahyba.

De acordo com Coutinho (2004), o período compreendido

entre os anos de 1936 e 1970 foi marcado pela construção de

residências de um ou dois pavimentos, alterando, desta forma, o

seu entorno, ou seja, uma época de transição na paisagem urbana.

Sua ocupação se deu de maneira lenta até a década de 1950,

quando a via foi totalmente pavimentada com paralelepípedos

e ocorreu a implantação de bairros de classe média e alta, como

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 113

Page 59: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Expedicionários, Torre, Estados e Conjunto Pedro Gondim, ondl.'

as residências das famílias mais abastadas situavam-se nos lotes

adjacentes à referida via.

Tal ocupação se deu sob o ideal de vida social burguesa,

difundido a partir do final do século 19 nas cidades brasileiras,

que, de acordo com Rolnik (1988), resultou na redefinição da

noção de espaço público e privado, em que a casa, cercada por

muros, se afasta dos vizinhos e da rua, que passa a ser encarada

como local de passagem de veículos e pedestres.

As residências da elite pessoense, localizadas nas principais

ruas da cidade, passaram a ser símbolo de modernidade e

sofisticação a partir da utilização de novas soluções formais . As

ricas famílias passaram a convidar arquitetos modernistas para

projetar espaços que representassem bem as novas aspirações da

capital da Paraíba. Este é o caso da Residência Cassiano Ribeiro

Coutinho, localizada na Avenida Epitácio Pessoa, no bairro da

Torre, em João Pessoa, projetada por Acácio Gil Borsoi.

O projeto arquitetônico de Acácio Borsoi

Carioca radicado no Recife, Borsoi, assim como outros

arquitetos modernistas, realizou obras na cidade de João Pessoa

durante a segunda metade do século 20, a convite da elite

pessoense. Tais obras compreendem relevantes trabalhos, tanto

para a carreira do arquiteto, quanto para a produção da arquitetura

moderna brasileira.

Contratado por Cassiano Ribeiro Coutinho por indicação do

seu irmão, Odilon Ribeiro Coutinho, que era amigo do arquiteto,

Borsoi iniciou suas atividades na Paraíba através do planejamento

114 Jardi ns de Burle Marx no No rd este do Brasil

I'•" •' 1 Usinn S:\o Joao (Sanln Rita) e a Usi n;i Su nlu 1 kk'lhl ( S,1pt~ ) .

lll'1 lt•11ct•ntes à famil ia Ribeiro Coutinho (PEJrnl Ili\, WOH) .

A R~·sid6ncia Cassiano Ribeiro Couli nbo, de 1956, é um dos

11H1 is relevantes projetos desse arquiteto, não apenas por suas

l 11rnclcríslicas arquitetônicas, mas também por apresentar um,i

proposta paisagística de autoria do seu amigo Roberto Bu1fr

Marx. Borsoi afirmou que:

Essa casa surgiu quando conheci o Odilon lO\w lro

Coutinho, um ótimo amigo. Dei uma assistência na pa ri('

de arquitetura na usina deles. E o irmão dele, Cassiano,

me pediu para fazer a casa. Burle Marx também cm 1m·u

amigo, então eu o indiquei para fazer o jardim (Ff:.LJ X,

2009, p. 49).

Nessa época, o arquiteto paraibano Mário Glauco di Lascioz,

cujo aprendizado prático se deu através de contato direto com as

atividades projetuais e construtivas realizadas pelo seu pai ou por

meio de acompanhamento das obras realizadas por Borsoi em

João Pessoa, quando do seu estudo no Recife, ficou incumbido de

acompanhar a execução da referida residência.

Foi uma correria danada para mim, eu tinha que sair de

Recife, era uma viagem cansativa de 4 horas, com a estrada

cheia de buracos, e ir direto à obra para anotar tudo o

que estava acontecendo e depois entregar o relatório para

Borsoi... ele me perguntava tudo o que eu tinha visto.3

2 Filho do arquiteto Hermenegildo di Lascio, Mário iniciou seus estudos em 1950 1\l\

Mackenzie, que foram interrompidos por problemas de saúde de seu pai e retomado~ no Recife, onde se formou em 1957 na Escola de Belas Artes de Pernambu<.0 (PEREIRA, 2008).

3 Relato obtido em entrevista realizada cm 13 de março de 2012 com o arquiteto M:hlo Glauco di Lascio.

Jardins de Burle _'vlarx no Nordeste do Brasil 115

Page 60: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Jnscrida originalmente cm um lote com 7.tl 7'1 mi de :\rca e

topografia pouco acentuada, apresentando um suave declive cm

direção à Avenida Epitácio Pessoa, a residência foi implantada

com consideráveis recuos em relação aos limites do terreno,

possibilitando uma extensa área livre em seu entorno, utilizada

por Burle Marx.

Nesta edificação, a arquitetura moderna se expressa de forma

completa com a exploração plástica e utilização de grandes vãos,

permitidos pelo uso do concreto armado em sua estrutura.

No que se refere à sua forma, destaca-se o volume suspenso

dos dormitórios sobre o térreo, ocupado de maneira difusa e

transparente, utilizando pilotis (Fig. 2). Tal arranjo é característico

de outras obras do arquiteto na década de 1950.

Fig. 2. Residência Cassiano Ribeiro Cout inho vista a partir da entrada

principal do lote, foto de José Vlolf. Fonte: Wolf, 1999.

116 jardins de 13urlc Marx no Nordeste do Brasil

< l t'XlL'llSO progr;una de IH.'Ll'Ss idadt·s dn rcl<.idt 111 i.1 lo l

11",olvido por Borsoi ao longo de qualrn níveis i11lt•r11H·di,\l'im,

nndL· Jê)rarn distr ibuídos seus ambientes, levando c111 <.onsidern~ 110

lls u,"nd icionantcs topográficos e climáticos <lo terreno, visando

;, 111dhor acomodação da edifi cação no lote e ao conforto dos

usuários. Os ambientes sociais estavam voltados para o sudeslt'

orientação dos ventos predominantes - e os íntimos, t.:onrn

os quartos, salas e áreas de lazer, distribuídos ao longo dos dois

níveis mais altos da edificação, que se comunicavam entre si por

meio de rampas e escadas. Nos outros dois níveis, localizav;-1111 S<.'

a cozinha e a área de serviço, voltadas para o oeste.

Seguindo um conceito da vanguarda moderna, a edificaçiio

era marcada pela integração visual e fluidez dos espaços, tanto

entre os seus diferentes níveis internos, quanto entre o seu

interior e o exterior, por meio da utilização de mezanino, rampas

e escadas, além de extensas esquadrias de vidro. De acordo com

Pereira (2008), a residência não apresentava urna distinção rígida

entre interior e exterior, havendo assim uma ruptura com a ideia

tradicional de casa, tida como um espaço de reclusão, fechado e

delimitado por paredes. A Residência Cassiano Ribeiro Coutinho

originalmente possuía dois acessos, os quais se davam pela

Avenida Epitácio Pessoa e pela Avenida Júlia Freire.

Ao projetar a casa, Borsoi não levou em consideração apenas

os aspectos funcionais, mas também a relação interior/exterior na

filtragem da luz e na vista para o jardim, como pode ser constatado

na sua implantação com afastamentos generosos dos limites do

terreno, dando destaque ao recuo frontal, diferenciando-se das

construções do seu entorno e garantindo continuidade, integração

com a natureza, transparência, iluminação e ventilação naturais.

Ja rdin s de Bur le Marx no Nordeste do Brasil 117

Page 61: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O projeto paisagístico de Burle Marx

O paisagismo presentemente discutido trata-se do primeiro

projeto elaborado por Burle Marx para a Residência Cassiano

Ribeiro Coutinho e data de 1957 (Fig. 3). Dele também participaram

Fernando Tábora, Julie Cesar Pessolani, John Stoddart e Maurício

Monte. Existe nos arquivos do Escritório Burle Marx & Cia. Ltda.

um segundo projeto, prevendo a aquisição de dois lotes vizinhos

ao da residência, quando esta ainda estava em construção, a fim de

aumentar a área do jardim. Contudo, tal ampliação só foi realizada

parcialmente, visto que apenas um dos lotes foi comprado.

118 Jardins d e Burle Marx no Nord este do Brasil

1), posslwl kknl 1 fh. nr, i.:01110 po11 lu 1101 \l'.1dot d 1•1 N1

p1 nj1•10, a inlcnç~o do paisagisla de preservar a wgell11i 11

1·x Is\ en te, adequando sua loca lização no lolc p;Ha a l' hlh01 .1~ .10

do ·1 raça do e procurando valorizar os espaços com grn11d1•.,

11ianLhas contrastantes de espécies arbustivas e hcrbáu.•ni., .

e :omplcmentando as características do perfil natural do lcrn·no,

Burle Marx promoveu, em sua proposta, pequenos movimentos

de terra a fim de cr iar elevações ou depressões em certas árcn11,

principalmente na parte frontal do terreno, onde se enconl rn o

espelho d'água, assegurando sua inserção no entorno (Fig. 4).

I' l

Fig. 3. Projeto de jardim para o Sr. Ca~si,11111

Ribeiro Coutinho, Roberto Burle Marx, M. Monll',

J. Pessolani, J. Stoddart, F. Tábora, Esc. l: 100, l 1l'i 7

Fonte: Acervo de Juliano Carvalho.

Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil t 1 ~

Page 62: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 4. Residência Cassiano Ribeiro Coutinho, vista da latera l do

jar<lim, 1957. Fonte: Acervo de Juliano Carvalho in Félix, 2009.

Juntamente com o projeto do jardim foram previstos também

o de irrigação automatizada e o luminotécnico, com fotocélulas

que acendiam diariamente às 18 horas, consideradas uma

novidade para a época, o que valorizava ainda mais o paisagismo da residência.

O projeto apresentava traços da fase mineira de Burle Marx,

com espelho d'água em forma ameboide e espaços configurados

por caminhos sinuosos gerando composições formais de harmonia

cromática. O paisagista utilizou 73 espécies de plantas (Tabela

1), sendo seis na área do mezanino, entre as quais predominam

as herbáceas e arbustivas, proporcionando interligação e

complementação dos espaços.

120 Jardins de Bur le Ma rx no Nordeste do Brasil

'Jhhcln J: Espcd lic11~·;'.lo da vcgctaç;\o por Burle M111·x pnn1

o Jard im da Res idência Cassiano Ribe iro Coutinho, 1957.

N" E~pcd fkação Nome cien t ífico Nome popular Estrnlo "º" B111·le Marx at ualizado

C)'/1cms p11pyrus I ,. Papiro A rln1slivo

2 Pmiledcria cordala L. Mururé l lcrb<k<:o

'fl1t1!i11 dc'alhata Fraser Caeté Hcrb<lu:u

,, Nyillphaea arnpla DC. Nymphaea ampla Ninfeia Herbáceo (Salisb.) DC.

5 Nymphaea ampla var. Ninfeia- rosa Herbáceo rosea D C.

6 Nyrnphaea capensis Nymphaea capensis Ninfeia-roxa Herbáceo Thunb. Var. var. zanzibariensis Zmmbariensis Casp. Conard

7 l\'yrnphaea rudgeana Nyrnphaea Aguapé-da- Herbáceo G.F.WJvlay rudgeana G. Mey. meia-noite

8 Codiaeum variegatum Codiaeum variegatum Cróton Arbustivo Blume (L.) Rumph. ex A. Juss.

9 Setcreasea purpurea Sp. Setcreasea Trapoeraba- Herbáceo purpurea Boom roxa

10 Alia manda nobilis Alamanda- Trepadeira T. Moore amarela

11 Heliconia psittacorum Heliconia Paquevira Arbustivo L. psittacorum L. f.

12 Stenotaphrurn Stenotaphntm sp. Grama- Herbáceo arnericanurn Schrank de-santo-var. va riegatum Hort. agostinho

13 Stenotaphrum * Grama- Herbáceo arnericanum Schrank de-santo-

agostinho

14 Plumbago capensis Bela -emília Arbustivo Thunb.

15 Barleria cristata Linn. Barleria cristata L. Barléria Herbáceo

16 Plumiera alba L. Plumeria alba L. jasmim -manga Arbóreo

Jardins de Burle .Y1arx no Nordeste do Brasil 121

Page 63: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

N" Especificação Nome científico Nome popular Estl'Oto N·• l '~ 111: 1. llic11ç1\o Nome ele 111 llirn Nome po1,ul11r 11Ntr11to por Burle Marx atualizado 1wr llurlc Marx ntuulbado

17 Pentas lanceolata Pentas lanceolata Show-de- Herbáceo l i ;\nilyplw l1ispida Burm. Acalyp/111 ltispid11 R:1bo de ga lo A1 hu~1 lvo K. Schum. (Forssk.) Deflcrs estrelas . lA. ~.rnJcr i) Bu rm. f . ve rmelho 18 Canna indica L. * Cana-da-índia Herbáceo 1:; 1\er1/yplw wilkesia11n Acalyphn wi/kesia11a Acalifo A rlHl'l ivo 19 Musa Musa sp. Bananeira Ar bustivo Mud. Arg. var. Müll. Arg. Mr.

111ilto11iana llort. Mifloniana Firedragon 20 Xanthosoma Xanthosoma violaceum Taioba-roxa Arbustivo

\6 l lcmigmphis colorata Hemigraphis colorata Hera-roxa l lcrh<fr1.·o violaceum Schott. Schott l lall ier (Blume) Hallier f.

21 Phaeomeria magnifica Phaeomeria magnifica Bastão-do- Herbáceo .17 Polyscias guilfoylei Polyscias guilfoylei (W. Arália-cortina Arbustivo K. Schum. (Roscoe) K. Schum. imperador

Bailey Buli) L. H . Balley 22 Alpinia nutans Roscoe Alpinia nutans Alpínia- Herbáceo

38 Alocasia macrorrhiza Alocasia macrorrhiza Orelha-de- I-lerbücco (L.) Roscoe zerumbeti Schott. Schott. elefante-

23 Ravenala * Arvore-do- Arbóreo gigante madagascariensis Sonn. viajante

39 Achras zapota Li nn. Manilkara zapota (L.) Sapotizeiro Arbóreo 24 Philodendron Philodendron Guaimbê Arbustivo P. Royen bipinnatifidum Schott. bipinnatifidum

Schott ex Endl. 40 Polyscias fi/icifolia Polyscias fi/icifo/ia ( C. Arália- Arbustivo Bailey Moore ex E. Fourn. ) samambaia 25 Philodendron Philodendron Filodendro- Arbustivo L.H. Bailey speciosum Schott. speciosum Schott imperial

41 Polyscias fruticosa Polyscias fruticosa var. Arvore-da- Arbustivo exEndl. Harms. var. plumata plumata (W. Bull ex W. fortuna 26 Scindapsus aureus Eng!. Scindapsus aureus Jiboia Herbáceo Bailey Richards) L.H. Bailey (Pothos aurea Lind. (Linden &André) Polyscias sambucifolia Polyscias sambucifolia Sabugueiro- Arbustivo et André) Eng!. & K. Krause 42 Hort. (Sieber ex DC.) Harms cinza 27 Ca/athea makoyana Calathea makoyana Maranta-pavão Herbáceo

Alocasia variegata K. Inhame- Herbáceo Nichols E. Morren 43 .<llocasia Schott. var. variegata Hort. Koch & Bouché variegado 28 Wedelia paludos DC. Wede/ia paludosa Vedélia Herbáceo

Papoula Arbustivo var. viafis DC. var. via/is DC. 44 Hibiscus rosa-sinensis L. * 29 Graptophyllum Graptophyllum pictum Graptofilo Arbustivo 45 Braunia grandiceps Brownea Rosa-da- Arbóreo pictum Griff. (L.) Griff. grandiceps Jacq. montanh a 30 Pilea cadierei Gagnep. Pilea cadierei Gagnep. Pileia Herbáceo 46 Anherrtra nobilis Wall. Amherstia nobilis Wall Rainha-das- Arbóreo

& Guillaurnin árvores 31 Zebrina pendula Zebrina pendula Lambari -roxo Herbáceo 47 Couroupita guianensis * Abricó-de- Arbóreo Schnitzlein Schnizl.

Aubl. macaco 32 Acalypha wilkesiana Acalypha wilkesiana Chapéu-de- Arbustivo 48 Calycophyllum Calycophyllum Pau-mulato Arbóreo Muel. Arg. Müll. Arg. couro spruceanum Hook. spruceanum (Benth.) 33 Acalypha wi/kesiana Acalypha wilkesiana Crista -de-peru Arbustivo Hook. f. ex K. Schum.

Muel. Arg. var. Müll. Arg. var. 49 Salix L. Salix sp. Arbóreo musaica Hort. Musaica Firedragon

122 Jardins de Burle lvl arx 11 0 Nordeste do Brasil Jardins de Burle Marx no Nordeste d.o Bras il 123

Page 64: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

N° Especificação por Burle Marx

50 Sola11um violaefolium Schott.

51 Persea americana Mill.

52 Philode11dron melobarretoanum Graz. Barr.

53 Philode11dron undulatum Eng!.

54 Tetrapanax papyriferus C. Koch.

55 Philodendron corcovadensis Kunth Enum

56 Musa rosacea Jacq.

57 Cyclanthus bipartitus Poiret.

58 Carludovica palmata R. et P.

59 Sanchezia nobílis Hook.

60 Althernathera amoena Voss

61 Lagerstroemia indica L.

62 Lagerstroemía jlos-reginae Retz.

63 Parkia pendula Benth

64 Euterpe oleracea Mart.

65 Dracaena umbraculifera Jacq.

66 Alocasia metallica Hook. f

124

Nome cientifico atualizado

Lycia11thes asarifolia (Kunth & Bouché) Bilter

Philodendro11 mello­barretoanum R. Burle­Marx ex G.M. Barroso

*

Tetrapanax papyrifer (Hook.) K. Koch.

Cyclan thus bipartitus Poit. Ex A. Rich.

Carludovica palmata Ruiz&Pav.

Alternanthera amoena (l.em.) Voss

Nome populul' E~ L1·11to

Solano-violeta J lcrb~lCco

Abacateiro A[bóreo

Guaimbê Arbustivo

Guaimbê-da- Arbustivo folha-ondulada

Árvore-do- Arbustivo papel-de-arroz

Imbé- trepador Arbustivo

Banana-flor Arbustivo

Mapuá

Chapéu-de­panamá

Sanquésia­amarela

Periquito

Resedá

Arbustivo

Herbáceo

Arbustivo

Herbáceo

Arbóreo

Resedá-gigante Arbóreo

Parkia pendu/a (Willd.) Visgueiro Benth ex Walp.

Arbóreo

*

Alocasia metallica Schott

Açaí

Dracena­gua rda-sol

Taioba

Palmeira

Arbustivo

Herbáceo

Jardins d e Burle Marx no Nordeste do Brasil

N" 1 ~11n lli~11,·1lu pur• ll111'il' Mnrx

" ' O['lil11J10g1111 JllJll>llicllS

j-:1·1 ( ;,1wl.

hX /l,,,n1c•111111rl10n'111..K. H

Nome dcnt lllrn 11lunli:111do

OpliioJ1C1g(l11 j11/1c11111 " ·'

(L. f.) Kcr c;awl.

nrocae1w 11rbarea (Willd.) Link

h'I ('/ii/odc·11 rlro11 meli11011ii Philode11dron nielinonii

Nome popuh11

( 11.1111;1 p 1 l'l .1

Dracc11a /\ rbórca

Filodcndro-da Amazônia

l l1·1li.h1•11

l\rnngn. " Brongn. ex Regei ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

'/O /l/1i/ot/e11rlro11 specíosf.lm Philodendron Sd10ll. '' speciosum Scholt ex

Endl

71 f)ieffc11úachia bausei l lort. '*

72 Scl1efflera sp. ••

73 Aglaonema costatum N.E. Br. **

Dieffenbachia bm~sei Rege!

( •) Sem alteração de nomenclatura.

(' ') Espécies utilizadas no mezanino.

Filodcndro ­imperial

Comigo- l lcrhácco ninguém-pode

Cheflera Arbustivo

Café-de-salão l lcrbáccn

Estruturado a partir de espaços setorizados, o jardim possui

setores contemplativo, de lazer ativo e de serviços. O sclor

contemplativo se encontra na parte frontal da edificação, onde

estão localizados o espelho d'água de forma ameboide e canteiros

aquáticos, uma área de estar com banco curvo sombreado por

uma mangueira (Mangifera indica), ainda existente no local, e

três caminhos sinuosos que promovem ligação entre o térreo,

o mezanino e a parte posterior do terreno. Disposto de forma a

convidar o visitante a entrar, o jardim alcança a calçada pública, de

onde pode ser contemplado a partir da Avenida Epitácio Pessoa.

Na intenção de proporcionar a contemplação do jardim,

Burle Marx inseriu um banco de granito apicoado curvo no limilc

do mezanino. Nesse pavimento ainda se encontram a piscina,

jardins de Bu rle Ma rx no Nordeste d o Bras il 125

Page 65: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

' 1 •

!

canteiros sombreados dispostos nos pilares <la edificação e uma

parede curva que serve de painel com tijolos aparentes, criando

um ambiente mais reservado.

Um caminho em pedra portuguesa interliga as duas avenidas

que delimitam o terreno. Ao longo do muro lateral que limita o

lote, foi disposto um canteiro contendo coqueiros (Cocos nucifera)

já existentes, formando uma cortina verde. Outros dois canteiros

marcam o acesso principal da edificação, destacando um painel

de cobogós na cor azul, elementos muito explorados em projetos

residenciais na época.

Na parte posterior da residência, encontra-se um pequeno

lago circular com monólitos de granito agrupados para o cultivo

de peixes, onde seixos de rio servem de forração e complementam

o espaço contemplativo, emoldurando a visada para as duas

gaiolas em concreto armado e tela de arame, projetadas para a

criação de pássaros (Fig. 5).

Proporcionando um lazer ativo, foram dispostos dois bancos

curvos de concreto e um espaço para o playground, composto

de brinquedos metálicos - gangorra, balanço e escorregador

- e batentes circulares em concreto com diferentes alturas. Foi

demarcada uma pequena área para o horto, que, localizado no

fundo do lote, é constituído por um espaço separado para a

produção e reposição das plantas existentes no jardim, bem

como por uma edificação de apoio. Tal conjunto é delimitado por

muros, ora lineares, ora sinuosos, com tijolos aparentes dispostos

de forma vazada, promovendo uma visão parcial da Avenida Júlia

Freire.

É possível identificar algumas espécies comuns entre esse

projeto e o Jardim da Capela da Jaqueira no Recife, criado alguns

126 Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

Fig. 5. Parte posterior do jardim exibindo o pequeno

lago com monólitos de granito. Ao fundo, o playground

e o banco curvo, 1957. Fonte: Haruyoshí Ono.

anos antes, tais como: visgueiro (Parkia pendula), abricó-de­

macaco, bela-emília (Plumbago capensis), cróton ( Codiaeum

variegatum), alamanda-amarela (Allamanda nobilis) e grama­

santo-agostinho (Stenotaphrum americanum). A parte frontal que ordena os acessos constitui o setor principal

da proposta paisagística elaborada por Burle Marx. O ponto focal

deste cenário é o espelho d'água com canteiros para o cultivo

de espécies aquáticas, tais como a ninfeia (Nymphaea ampla), a

ninfeia-rosa (Nymphaea ampla var. rosea) e o aguapé-da-mcia

Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil 127

Page 66: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

noite (Nympltaea rudgecma). 1 lavia organizações cromt\ tic<1s rn1 11

nuances que variavam do verde ao roxo, passando pelo vermelho, amarelo e azul.

Explorando-a em grandes extensões, tanto na parte fronta l,

quanto na parte posterior, Burle Marx utilizou a grama-santo­

agostinho como a principal espécie de forração deste jardim. O

paisagista compôs o espaço com o amarelo da alpínia-zerumbeti

(Alpinia nutans), onde se encontravam dois exemplares de

açaí, que, por sua vez, interagia com o vermelho do bastão-do­

imperador (Phaeomeria magnifica) e da cana-da-índia (Canna

indica), passando por tonalidades rosadas da espécie show-de­

estrelas (Pentas lanceolata), encontrando as belas folhagens da

árvore-do-viajante (Ravenala madagascariensis), tendo como

forração as delicadas flores amarelas da vedélia (Wedelia paludosa

var. vialis).

No entorno do espelho d'água, o paisagista explorou as

tonalidades verde e roxa, passando pelo lilás. O verde-escuro da

grama-santo-agostinho contrasta com nuances roxa da trapoeraba

(Setcreasea purpurea) e lilás da barléria (Barleria cristata).

Em toda a extensão do canteiro que delimita a via interna,

Burle Marx utilizou espécies arbustivas com diferentes colorações

que vão do tom amarelado dos crótons, passando pelo vermelho

das papoulas (Hibiscus rosa-sinensis) e pelos tons de verde

da grama-santo-agostinho e da árvore-do-papel-de-arroz (Tetrapanax papyrifer).

Na outra extremidade, onde se localiza um canteiro separando

a via principal da via privativa, foram especificados dois exemplares

de abricó-de-macaco e forração em diversas tonalidades de

128 Jardins de Bu rle lv!arx no Nordeste do Brasil

1 ow.1, ,. 1 il:iscs com hera 1·oxa ( lf em igmphls colo mi" ), ht1rlfrh1 l'

1't·1 lq11 ito (Alterna11tltera amoena). Subindo a rampa cm din.: ~·õo

110 111c·1.a11ino, encontra-se Lm1a jardineira cm que o paisagísla

v.tlori;ou dive rsas folhagens, como taioba (Alocasia melallica),

d1 aLl' trn -guarda-sol (Dracaena umbraculifera) e orelha-de

t•ldirn tc-gigante (Alocasia m acrorrhiza) , tendo como forração a Jiboia (Scindapsus aureus) .

Em direção à parte posterior do jardim, valorizando o painel

de cobogós azuis, Burle Marx explorou tonalidades de verde com

a fórração verde-escuro da grama-santo-agostinho e a folhagem

l'X uberante da árvore-do-papel-de-arroz.

No mezanino, encontram-se canteiros dispostos em formas

similares às existentes na piscina, com plantas resistentes à

meia-sombra. O paisagista utilizou-se de folhagens exuberantes

com várias tonalidades de verde, tais como as do filodendro­

da-amazônia (Philodendron melinonii) e do filodendro-imperial

(Philodendron speciosum). Mas também, o tom roxo do lambari

(Zebrina pendula) como forração para agrupar folhagens de

guaimbê (Ph ilodendron mello-barretoanum) e de dracena-arbórea

(Dracaena arborea). Em outro canteiro, ele propôs uma folhagem

verde-clara com manchas amarelas do comigo-ninguém­

pode (Dieffenbachia bausei), associada aos agrupamentos do

filodendro-da-amazônia e do filodendro-imperial. No canteiro

interno, localizado na passagem da residência para a área de

serviço, o paisagista especificou um exemplar de visgueiro a fim de

proporcionar sombreamento e marcar a imponência da paisagem.

Na parte posterior do jardim, onde se localiza o pequeno lago

com monólitos de granito, criou um pequeno espaço protegido

pela sombra de pau-mulato (Calycophyllum spruceanum) , uma

Jardins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil 129

Page 67: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 8. Situação atual do local antes ocupado por um espelho d'água, 2012. Fonte: Heignne Jardim.

monólitos, e algumas espécies vegetais, como jasmim-manga,

paquevira (Heliconia psittacorum), açaí, trapoeraba-roxa e o cróton.

Em entrevista à Revista Artestudio, em 2009, Borsoi lamentou

a situação do espaço projetado por seu amigo Burle Marx,

afirmando de modo veemente que o jardim é mais importante

como patrimônio do que a própria residência (FELIX, 2009).

Considerações finais

Devido às constantes mudanças de uso que o imóvel vinha

sofrendo e à iminente possibilidade de uma futura demolição

para a implantação de outra edificação que permitisse maior

n2 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

iprnvl'il.111H·11lo da ;Írca do lote, o poder plibliw tb :idiu, p01

11 iv1t1dita1;ao da sociedade, preservar este importante exemplar

dt' ,1rq\1itctura moderna, munindo-o de leis e responsáveis pela

111.11wtcnção de sua integridade.

l ·'. rn J J de agosto de 2008, foi aprovado, por unanimidade,

pdo Conselho de Proteção dos Bens Históricos Culturais do

liistiluto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico do Estado

da Paraíba (CONPEC) o tombamento da Residência Cassiano

llibeiro Coutinho, abrangendo a edificação e seu jardim. Trata­

sc do primeiro imóvel com características modernistas e fora

do perímetro do centro histórico da cidade a ser tombado pelo

IPHAEP.

Classificado como um bem de conservação parcial, o imóvel

deverá ser preservado, podendo ser adaptado a novos tipos de usos,

contanto que sua unidade formal seja mantida. No que se refere

ao jardim, se prevê uma restauração a partir da reconstituição da

vegetação e do traçado proposto por Burle Marx, já que ainda

existe a planta do projeto original.

A importância desse projeto, resultante de uma parceria tão

bem sucedida de dois grandes mestres do movimento moderno

brasileiro, se dá não apenas pelo fato de constituir uma obra

modernista, mas por se tratar de um marco da expansão da cidade

de João Pessoa. A restauração do jardim seria um gesto simbólico

para marcar a produção paisagística de Burle Marx no estado da

Paraíba.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 133

Page 68: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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134 Jardins de Bur le Marx no Nordeste do Brasil

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Ja rdins de Burle Marx no No rdeste do Brasil

Page 69: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

PALÁCIO DOS LEÕES: li M JARDIM DE BURLE MARX EM SÃO LUfS

1111i·b,11·a Irene Wasinski Prado

Introdução

O Palácio dos Leões e seu jardim foram construídos sobre o

sítio fundador da cidade de São Luís, no Maranhão. O espaço do

jardim, do palácio e seu entorno se assenta numa falésia às margens

dos rios Anil e Bacanga. De frente para o mar, esse promontórjo

tem uma história de ocupação de mais de 400 anos. Já foi parle

da ocara dos Tupinambás, terreiro do Forte de São Luís, o cimo

do baluarte, a praça de armas do forte que defendeu as posses dos

franceses, portugueses, holandeses e novamente dos portugueses.

Como parte desse conjunto, o Jardim do Palácio dos Leões

guarda aspectos arquitetônicos, paisagísticos e urbanísticos dL·

interesse histórico e cultural, condições essenciais de um jardi 11\

histórico de acordo com os preceitos da Carta de Florença, de

1981. Pode ser considerado um importante jardim histórico no

Brasil, que tem como diferencial as intervenções de Roberto Burle

Marx, um dos maiores paisagistas da modernidade e de destaque

internacional pela concepção e concretização dos seus projetos,

inspirados na flora tropical. Em seus trabalhos, destacavam-se

os aspectos estéticos e ecológicos das plantas nativas, conforme

apontou Leenhardt (1994). Tais características explicam a

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 137

Page 70: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

longevidade de seus jardins e contribuem para o sucesso ccol6gico de seus projetos.

O paisagista nunca pretendeu imitar a natureza, seus

jardins eram "um acontecimento cromático onde os volumes

se ligavam e estabeleciam relações ( ... ) estritamente ordenados

e harmonicamente naturais" (TABACOW, 2004, p. 62). Para

Dourado (1997), sua característica projetual trazia quadros

intercalados formando cheios e vazios a partir das texturas e

brilhos, dos "verdes e azuis ou verdes de todos os tons das plantas.

Nesse jardim as águas refletidas contrastam com o castanho e o

cinza dos pisos': O desenho de Roberto Burle Marx era concebido

buscando no passado a melhor expressão da arte e da adaptação vegetal (GUERRA, 2006).

Dos jardins de Roberto Burle Marx, mesmo onde hoje o acervo

vegetal já pode ter sido descaracterizado ou até desaparecido, há

ainda o acervo arquitetônico-paisagístico que continua a marcar

a sua versão marxiana de um jardim. Ele "prior izava as plantas

brasileiras como tema, de modo que a vegetação nativa era o

elemento principal da linguagem da paisagem" (SÁ CARNEIRO, 2005, p. 59).

Seu desenho, porém, era também singular, marcando uma

forma arquitetônico-artística de jardins que os distingue de

outras expressões paisagísticas. Para Oliveira (2000, p. 2), o que

singulariza o seu jardim é "a ideia de construção de uma forma

contraposta à matriz compositiva do jardim clássico".

Esta arquitetura paisagística inconfundível se aplicou em

inúmeros projetos e obras pelo mundo, alguns no Maranhão,

sendo o mais importante o Jardim do Palácio dos Leões em São

Luís, que chegou a ser construído. Leenhardt (1994) e também

138 Jard ins d e Burle Marx no Nordeste do Brasil

M111alt•10 (2001) rdacionam tr~s i 11lcrwn~rn.·s L'lll S.IO l.ttb do Mi1rn11hao, sendo: o J:.mlim do Palácio dos !.coes L' lll n· 19(18 l

l '>7~1; 0 ]<lrdim da Alcoa Alumínio S.A., elaborado para a c111pn'N.1

dos. arq uilclos Harry Roitman e Reinaldo Marques cm 1982.; 11

Avt·nida Litorânea em 1985. Os projetos de 1982 e 1985 nao fora111

urnslruídos, como explicou o arqui teto Reinaldo Marques l'lll

depoimento dado em 2012.

Destaca-se a intervenção de Roberto Burle Marx no jardi111

do palácio em dois momentos. Em 1968, quando descnvolVl'u

um projeto de paisagismo que alterou a configuração do jardim

eclético existente até então, e, em 1973, quando foi chamado

para concluir o projeto original, conforme o depoimento ela ex

primeira dama do estado do Maranhão, Sra. Eney Santana, cm

2008.

Ambas as intervenções apontam hoje o valor histórico, cultura 1

e paisagístico do monumental Jardim do Palácio dos Leões. Por sua

localização e história, o jardim permanece como um espaço liv rt.·

de notável importância para a arquitetura paisagística brasileira.

Este texto discute os precedentes históricos do Jardim do

Palácio dos Leões e enfatiza a permanência desse espaço livre

durante mais de quatro séculos, apesar das mudanças de uso

ocorridas ao longo do tempo.

Precedentes históricos do Jardim do Palácio dos Leões

A arquitetura da fortaleza reservava, entre a construção dn

sede e os muros, um espaço livre utilizado para a ordem unida,

pátio de munição e as atividades militares (Fig. 1). A sede dos

governos na fortaleza foi demolida em 1766 para dar origem a um

• catÕlJ1·º

'

03<\\l1

" ' \\ote'" Df1'i'. \ \,·~ o-e -jardins de Burle Marx no No rdeste do Brasil

Page 71: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

palácio no estilo arquilclônico do Império, por Joaquim de Melo

Povoas (MELLO, 2004). O palácio sofreu inúmeras reformas,

sendo que a de 185 7 alterou a localização da entrada principal. Em

1863, foram implementados a iluminação a gás e o lajeamento do

passeio na testada do edifício com pedra de cantaria portuguesa

(MELLO, 2004). É possível que nesse período, a exemplo de

outras cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo, tenha

havido o plantio das palmeiras-imperiais (Roystonea oleracea),

considerando-se as pesquisas de D'Elboux (2006) e Nepomuceno (2008).

Fig. 1. Croqui da sobreposicão do traçado de 1640 e localização do

Palácio dos Leões (planta de 1863), primeira cortina de 134 metros

ligando os baluartes, segunda cortina do forte e a terceira cortina que

suporta o Palácio. Fonte: Barbara Prado a partir de levantamento do mapa de 1863 in IPHAN, 2001.

140 Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

No Rio de Jnncirn, o l'a~·o de S;\o Cristóv,,o l' 11 C. 1 ~., d11

Moeda receberam renques de palmeiras imperiais dcsn·ndt•11l1• fl

d.ij f'o/111r1 Maler, planlada no jardim bolânico da cidade. A a11lig.1

pr~l\él de armas do Palácio dos Leões pode Ler c.la<lo lugnr a 11111

J.irdim , onde teriam sido implantados os renques de P~\lnwi1 .is.

i:.sludos sobre a difusão do uso dessa arecácea em significativa~

conslruções brasileiras e imagens fotográficas do Paládo do1.

I .cões em períodos posteriores às gravuras de Friedrich Hagcdorn,

de 1857, apontam nessa direção.

Em 1896, o palácio recebeu uma grande reformn 1111

administração de Manuel Inácio Belfort Vieira, o que lhe deu 1111\

novo estilo arquitetônico e uma fachada neoclássica (MEU .O,

2004).

Mais tarde, muitas mudanças paisagísticas ocorreram em S;10

Luís. Em 1901, o "Diário do Norte" publicou o "Edital de n" 1J

x: de ordem do diretor da Intendência Municipal da Capital do

Estado do Maranhão, que tratava do projeto de aformoseamcnlo

do "Largo de Palácio", onde os edifícios mais importantes da

cidade se localizavam, e de obras em outras praças.

No edital, apareciam como autores do projeto o engenhci ro

Palmerio de Carvalho Cantanhede e seu substituto Anísio dt

Carvalho Palhano. E determinava ainda para a implantação do

aformoseamento o "jardineiro Manoel Barboza, encarregado

da arborização e tratamento dos jardins de todas ellas, e cuja

proficiência no assunto é geralmente conhecida" (DIÁRIO DO

NORTE, 1901, p. 4).

Essa obra do "Largo de Palácio" foi executada em 1904 e potk

ter tido contribuição do arquiteto Charles Thays em 1900, como

Jardins de Burle M arx no Nordeste do Brasil 141

Page 72: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

sugere o projeto publicado por Sonia Bcrjman ( l 998). A proposla

de Charles Thays incluía o projeto da praça, da avenida-bulcvar Pedro II e da beira-mar.

Os estudos de Costa e Prado (2006) e Prado (2007), embora

não confirmem a presença física de Charles Thays no Maranhão,

tampouco a contratação efetiva de seu projeto, conferiram que

houve algumas semelhanças da obra executada em 1904 com

a proposta do arquiteto. Esses estudos também mostraram o

rigor e o cuidado do levantamento feito em 1900, base para o

desenvolvimento da proposta de Charles Thays. E apontaram,

ainda, que a maquete desse projeto foi exposta no Rio de Taneiro,

em 1901, como noticiado na "Gazeta de Notícias" em 19 de julho de 1901.

A partir da revisita ao desenho de Charles Thays, observa­

se uma proposta para o Tardim do Palácio dos Leões que busca

integrá-lo à beira-mar através de uma entrada na terceira cortina

e a criação de um novo baluarte entre os de Cosme e de Damião (Fig. 2).

Em 1906,nagestão do governador Benedito Leite (1906-1908),

o palácio foi ampliado, estendendo-se uma ala nos fundos dele,

destinada à residência do governador. Foram adquiridos objetos

de adorno, muitos trazidos da Europa. Em 1911, entretanto, ao

assumir o governo, Luís Domingues, aponta Vieira Filho (1971),

encontrou pouca mobília e muitas salas requerendo reparos.

Nesse período, a fachada do palácio trazia algumas alterações e

um brasão heráldico em azulejo com leões pintados e no pátio

"um jardim zoológico de vida efêmera" (LIMA, 2002, p. 63).

Em uma reforma por volta de 1922, o palácio recebeu um

acréscimo de adornos na fachada neoclássica. Na ocasião, houve

142 Jardins de Bu rl e Marx no Nordeste do Brasil

Fig. 2. Croqui da proposta de Charles Thays para o Jardim do Palácio dos Leões em 1901. Fonte: Barbara

Prado a partir de Berjman, 1998.

ainda uma intervenção na Avenida Pedro II, antigo "Largo de

Palácio", mas muitas destas mudanças na paisagem de São Luís

não foram bem recebidas.

Hoje a avenida Pedro II tem aspecto moderno com luí'

de mercúrio, embora lembre um pátio mourisco pelo

descampado das aléias que sofrem duramente o cáustico

da soalheira inclemente. Foram-se os fícus bejamin

de outrora e mais recuadamente as amendoeiras qul'

juncavam o chão com o vermelho e o amarelo ele s11;1s

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il

Page 73: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

folh;is ... l~m seu lugar cn:sccm ou morrem ...• 1rvon::rJ11l111s

raquíticas, fana<las, que n em dão sombra amiga . Os

"lenhadores': ou seja, os destruidores <le árvores das

praças e ruas de que fala Leandro Tocantins no seu

formoso "Santa Maria de Belém do Grão Pará': continuam

impunes fazendo as suas vítimas em São Luís (VIEIRA

FILHO, 197 1, p. 25).

Entre 1926 e 1929, Magalhães de Almeida assumiu o governo

do estado e, durante sua gestão, o prédio recebeu reformas internas

e alterações na fachada, além de "canalização de esgoto, pintura

geral e aquisição de roupa de cama e mesa" (LIMA, 2002, p . 63).

À época, foi alvo de ironias por parte de seus opositores através

de uma comparação feita entre o governo e o seu gabinete com

leões. Conta-se que "Palácio dos Leões" foi o apelido dado, que

se tornou, ao longo do tempo, o nome oficial da sede do governo

(MELLO, 2004).

No decorrer do século 20, outras reformas se sucederam,

criando ampliações de espaços internos e adaptações para

atender às modernidades e ao gosto dos residentes. No ano de

1967, sofreu intervenções que culminaram com a reforma do

jardim por Roberto Burle Marx em 1968. No entanto, nem todos

os elementos do projeto foram implantados nessa ocasião. Anos

mais tarde, em 1973, o paisagista foi chamado para finalizá-lo

conforme sua proposta original. 1

1 Foram colhidos depoimentos da Sra. Eney Santana, que contratou Roberto Burle Marx em 1973; do arquiteto Carlos Alberto dos Santos Pereira, que era diretor de Patrimônio do Estado e chefiou a extinta Superintendência de Obras do Maranhão -SOMAR, fiscalizando na época as 14 empresas envolvidas com a reforma do Palácio, entre 1969 e 1973; e do engenheiro João Pinto Lima, também funcionário da SOMAR, que fiscalizou as obras de restauro do Palácio. Ambos são atualmente professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Tais depoimentos foram coletados pela bolsista de Iniciação Cientifica da UEMA

144 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

() Conjunto ArquilL' lÔnirn <.' l';iisagfslko d<1 Cidadl' dl' S,\o

l ids somente foi tombado no Livro de ' lbmbo J\ rqucológiLo,

Fl nngr-.llico e Paisagístico cm 1974 pelo Governo Federal alravés

do 1 PI IAN (MARANHÃO, 1987), o que deveria marcar o fim de

t1 1lenH1ôes e descaracterizações nas obras do conjunto. No entanto,

outras obras ocorreram. Entre elas, a grande reforma do paládo

l' ll l 1993. O projeto foi elaborado por Acácio Gil Borsoi em 1992,

que, ao lado de Janete Costa, adaptou seus interiores. Muitas das

alterações feitas permanecem até hoje.

Os vários detalhes acrescidos ao longo dos anos foram

retirados e criamos novas soluções para que tudo ficasse

integrado à ideia original do projeto, de características

clássicas renascentistas (MOURA, 2004, p. 5).

Essa reforma no Palácio dos Leões em 1993, todavia, seguiu

sem 0 auxílio das pesquisas arqueológicas que teriam sido

necessárias (BANDEIRA, 2004). Ela também não foi a última,

mas se pode considerar que as posteriores trouxeram menores

adaptações e descaracterizações, apesar da proteção legal existente

e do significado cultural do conjunto monumental.

No jardim, observa-se a implantação de uma piscina onde

havia um tanque para plantas aquáticas. Houve retirada das

palmeiras-imperiais sem reposição de novos exemplares e de

outras plantas e jardineiras, principalmente após a instituição dos

mecanismos de preservação em 1974 e 1997.

Adriana Sekeff Costa em 2008. Os depoimentos do arquiteto Reinaldo. Marque~, contratante de Roberto Burle Marx cm t 982, e do engenheiro Francisco Luiz .de Ass is Leda sobre as contratações de 1985 para o projeto da Litorânea foram colh1doi; por Barbara Prado em 2012.

Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Bras il 145

Page 74: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Em 4 de dezembro de 1997, o Centro J lislórico de São J .ufs l(>i

agraciado com o título de "Patrimônio Cultural da Humanidade"

na Assembleia Geral do Comitê do Patrimônio Mundial da

UNESCO em Nápoles (ALCÂNTARA e ALCÂNTARA, 1997).

Porém, não consolidou a preservação do conjunto face às

descaraterizações que ainda ocorrem em razão da inadequação de

algumas intervenções.

O Jardim do Palácio dos Leões e as contribuições de Roberto Burle Marx

O Palácio dos Leões passou por muitas reformas ao longo dos

últimos 246 anos. Seu espaço livre foi transformado do uso militar

para o deleite contemplativo e recreativo de seus ocupantes. Além

de estar localizado num sítio histórico e ser parte integrante

da edificação, o jardim é também um espaço livre precedente à

própria cidade de São Luís. Pode se constituir, assim, num dos

mais antigos espaços livres do Brasil, uma vez que forma um

mirante (hoje ajardinado) do qual se contempla a paisagem da

baía de São Marcos há mais de quatro séculos e sua história se

mescla com a história da fortaleza, da cidade e do palácio.

Quanto às reformas do Jardim do Palácio dos Leões, algumas

imagens a partir de meados do século 20 (Fig. 3) possibilitam

compreender as transformações paisagísticas ocorridas nos anos

1960. O jardim, nesse período, é eclético, conforme classificação

das linhas projetuais de Macedo (1999). Apresentava, em 1950,

renques de palmeiras-imperiais, nem todas de mesma altura

(JORGE, 1950). Relacionando o plantio com a construção,

estima-se que tais plantas possuíam cerca de 20 metros de altura

146 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Fig. 3. Croqui do Jardim do Palácio dos Leões nos

anos 1950. Fonte: Barbara Prado a partir de fotografias

constantes em Jorge, 1950.

(relação entre a altura do edifício e a altura das plantas). Isso pode

indicar urna idade entre 70 e 90 anos, levando-se em conta dados

do Jardim Botânico e do Horto Botânico do Rio de Janeiro2 para

essa espécie de palmeira.

Considera-se ter havido 20 palmeiras-imperiais na sua

composição, em função do ritmo de plantio (distância entre as

plantas). Quanto aos arranjos vegetais, esses eram dispersos e

aparentam ser dracenas (Dracaena sp.), entre outras plantas.

Também havia forração gramínea, conforme identificado cm

fotografia de Jorge (1950).

2 Disponível em: www.jbrj.gov.br

Jardins de Burle Marx no No rdeste do Brasil 147

Page 75: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Os caminhos em pedrisco formavam um dcscn ho

característico do jardim eclético do século 19. O jardim era

ladeado por bancos de madeira nas áreas internas junto aos

caminhos e por bancos de alvenaria no mirante (pavimentado)

formado entre a área ajardinada e a terceira cortina. A forma oval

do medalhão central também guardava certa relação com a versão

de Charles Thays. Depois desse jardim dos anos 1950, identificou­

se uma intervenção ocorrida durante o governo de José Ribamar

Ferreira Araújo da Costa Sarney, entre 1965 e 1969.

Em 24 de dezembro de 1967, foi publicada no jornal "O

Imparcial" uma relação de diversas obras públicas em andamento,

entre elas a reforma do palácio. No processo de afirmação de

modernidade, o Palácio dos Leões recebeu um projeto de Roberto

Burle Marx em 1968. O jardim passaria por modificações quanto

à forma e ao conteúdo vegetal.

O novo projeto apresentava tanques e alguns espelhos d'água

com profundidades variáveis para receber as plantas aquáticas.

Também havia canteiros onde foi introduzida vegetação gramínea.

O piso teve revestimento de lajotões numa parte e de pedras em outras.

Essa intervenção de Burle Marx foi apontada por Leenhardt

(1994) e Montero (2001) e consta no próprio site do Sítio Burle

Marx. 3

Entretanto, esse jardim não foi implantado totalmente

conforme o projeto original. Também não foram encontrados em

São Luís mais registros dessa intervenção, além de notas de jornal.

3 Disponível cm: V.'1-vw.sitioburlemarx.blogspot.corn.br

14·8 Ja rdins de Bur le Marx no No rdeste do Brasil

1: 1 t17 ~ 11 0 governo de Pl·dro NL·lva dl· S1111tan.1, Rolw1111 ,fll 'J • ,

111 11 lt- Marx: foi convidado pcl:-1 cnlüo primeira dama E1wy Sn 11L111.1

11.11 ;l'wnduir o seu projeto, de acordo com a conccpçfo o1 igin.d

(< :e >STA e PRADO, 2006).

A imagem publicitária do ano de 1975 mostra o jardim

r. d Roberto Burle Marx podendo ser observadas as ti.' orma o por ,

l · ·stentes (Fi·g 4) Algumas delas foram dcslocadns pa mc1ras ex1 · ·

Fig. 4. Croqui da intervenção de Roberto Burle Marx

em 1973 no Jardim do Palácio dos Leões. Fonte: Barbara

Prado a partir da capa do livro comemorativo do

governo estadual in Maranhão, 1975.

Jard ins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil 149

Page 76: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

e alguns lanqucs foram refo rmados pa n1 receber ns planlus

aquáticas e palustres. Um chafariz de ferro foi levado ao jardi 111 •

Foram aplicadas bordas de seixos de cor clara em contrasle com

pisos de pedra e lajotões de cerâmica.

Os canteiros, observando-se a altura das plantas, 0 jogo

de cores, o tipo de folhagem (com base na fotografia do livro

"Quatro Anos de Governo': de 1975)4, formavam quadros que

contornavam parte do jardim e neles foram plantadas espécies

rasteiras contrastantes entre si. Algo como uma forração roxa

(possivelmente a Tradescantia pallida) em contraste com uma

forração verde (possivelmente a Tradescantia zebrina). Também se

observaram inúmeros jarros inseridos em vários pontos do jardim.

Nas demais áreas, aparece um tipo de grama não identificado.

Nessa segunda intervenção, conforme depoimentos de 2008

do arquiteto Carlos Alberto dos Santos Pereira e do engenheiro

João Pinto Lima, as alterações encontradas por Roberto Burle

Marx teriam sido a baixa profundidade de alguns canteiros

destinados a suportar as árvores de raízes mais profundas e a dos

tanques para plantas aquáticas, especialmente para as vitórias­

régias (Victoria amazonica), que teriam sido trazidas de Manaus.

Para o plantio, foram realizadas diversas incursões na ilha )

visitando áreas alagadiças na Vila Maranhão, Maracanã, Maiobinha

e Maioba, extraindo as plantas que seriam utilizadas nos tanques.

O engenheiro João Pinto Lima declarou que acompanhou Roberto

Burle Marx em diversas incursões, conforme depoimento de 2008.

O jardim incluía ainda uma área situada entre a terceira cortina

4 Fot.ografia colorida da capa <lo livro Quatro Anos de Governo, publicado na gestão de Pedro Neiva de S<inlana, entre 1971 e1975 (.MARANHAO, 1975).

150 Jardi ns de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

q11l' 'o llprn 1.1 o l'dlf'fl lo l' i lll'HIJ1 1tlu wrtl1111 de pc:drn. Co1110 ~·s t.1

' " l'· ' l ' rtl cm dcsnlvcl , !oi t rh1dn u mn escudaria de acesso ao pót lo.

Af>> longo do lcmpo, essa imporlanlc contribuição de Roberto

Burle 'Marx foi sendo descaracterizada. O jardim, que teve 13

p.dmciras-imperiais em 1975, apresentava apenas nove em 1977.

() aulor do Plano Diretor de São Luís de 1977, Wit Olaf Prochnick,

,tprcscntou sua proposta para o Viaduto na Praça Pedro II, dando

uma nova concepção ao Jardim do Palácio dos Leões.

As intervenções em meados dos anos 1990, apesar da

descaracterização do projeto de 1973, ainda conservaram alguns

elementos estruturantes do jardim de Burle Marx, corno os

Lanques entrelaçados, alguns caminhos de pedras e de lajotas e,

principalmente, a força de conjunto do desenho. Nota-se que

as descaracterizações mutilaram partes de um conjunto, mas o

desenho global ainda persiste.

A reforma de 1993, de Acácio Gil Borsoi, contratado no

governo de Edison Lobão (1991-1994), também pretendia

realizar alterações no jardim. Alguns tanques foram substituídos

por uma piscina, bem como os pisos no entorno dela (Fig. 5). O

projeto executado adaptava algumas formas do jardim original de

Roberto Burle Marx e pretendia a recomposição de boa parte das

palmeiras-imperiais e seu ritmo de plantio.

O Jardim do Palácio dos Leões é citado nas memórias

arquitetônicas de Acácio Gil Borsoi. Não é, no entanto, registrada

a idealização de Roberto Burle Marx. Em suas memórias, Borsoi

comenta uma solução que pretendia implementar na reforma de

1993: "criar sob a Praça Nobre seus jardins e estacionamentos,

uma área que permita gerar área de expansão funcional da equipe

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il 151

Page 77: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 5. Vista aérea do Palácio dos Leões, 2002. Fonte: Grupo Tático

Aéreo in Costa e Prado, 2007.

de apoio ao governador e outros serviços" (BORSOI, 2006, pp. 54-

55). Esta solução para o monumento nacional não foi realizada,

evitando-se a descaracterização do sítio.

Considerações finais

Hoje, o desenho geral de Roberto Burle Marx permanece

sobreposto aos resquícios vegetais e arquitetônicos de um mesmo

espaço a cada tempo, como um palimpsesto de concepções

neoclássicas, ecléticas, modernistas e outras ainda por serem

descobertas. O Jardim do Palácio dos Leões tem valor histórico '

artístico, cultural e paisagístico e, por isso, relevância para a

arquitetura da paisagem de São Luís e do Brasil.

152 Jardins de Hurlc Marx no Nordeste do Brasil

S1111 irnport~nda tcrn s ido, tk lCI ta lormu, n.·conhcddll pdo:.

1111v1·111:1nlcs, uma vez que buscaram arquitetos de renome parn

1111! ;\ lo. Ainda assim, os riscos de descaracterização se renovam

,, u1d<í quatro anos. Em parte, porque alguns governantes

dcsl·jam deixar sua marca administrativa e, por outra, por não

l nmprccnderem que este não é apenas mais um espaço livre. É um

monumento nacional e a ele se prestam todos os cuidados para a

preservação da história brasileira.

A contribuição de Roberto Burle Marx, transformando o

Jardim do Palácio dos Leões num jardim moderno, se deu em um

Lcmpoemqueamodernidadetinhaoutraconotação,numBrasilem

outra fase histórica. Em 1968, já havia diversas cartas patrimoniais

e acordos internacionais sobre a preservação dos monumentos,

obras arquitetônicas e sítios histór icos, especialmente a Carta

de Veneza, de 1964. Entretanto, tais recomendações foram

solidariamente ignoradas por autores e governantes, embora os

jardins ainda não recebessem uma devida atenção, o que começou

a ocorrer com a Carta de Florença, de 1981.

As cartas de preservação formam argumentos para a

restauração do projeto original, que não tem sido protegido

rigorosamente, principalmente das adaptações contemporâneas e

dos gostos pessoais dos ocupantes do palácio.

Hoje, no jardim, há ainda oito palmeiras-imperiais das 20

que se estima terem existido nos anos 1950. Seria necessária uma

análise botânica especializada para atribuir a idade e identificar a

origem dessas plantas. Muitas não foram repostas e outras foram

retiradas para facilitar a entrada de carros e até para a realização

de eventos.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il 153

Page 78: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

A prospcc~ão arqueológica requer um lc.:vantamenlo uidust ra l

rigoroso da sua arquitetura, assim como da bolânica, não só

quanto à idade e movimentação das palmeiras-imperiais dcnlro

do jardim, mas quanto à sua origem, respondendo se ainda há

espécies que possam ter vindo da Palma Mater do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Os projetos de Roberto Burle Marx em São Luís são muito

~ouco divulgados. Não são sequer apontados nos principais

impressos oficiais do Maranhão. O passo fundamental adiante

será avançar para o resgate da obra do paisagista a partir de seu

reconhecimento oficial e efetiva valorização.

154 Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Blhllografia e l~ontc.\s 1Jon1111cntajs

i\ 1.< ' i\~ ' l 'ARA, Dora; ALCAN'l'AllA, Pedro. Proposta de luclustro

tio e 'm iro l lislórico de Süo Luís na Lista do Patrimônio Mundial da

1 IN /!SCO: Documento Complementarnº 1 - Apontamentose Indicações lll'lc rcnlcs ao Centro Histórico de São Luís do Maranhão, Brasil, e à lldcvi\ncia Histórica Mundial do Patrimônio Cultural Situado na Zona de 'fombamento Federal e seu Entorno. São Luís: IPHAN, 1997.

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COSTA, Adriana Sekeff; PRADO, Barbara Irene Wasinski. Os traços de Burle Marx na capital do Maranhão. ln: ENCONTRO REGIONAL PAISAGEM NA HISTÓRIA: JARDINS E BURLE MARX NO NORTE E NORDESTE, 1, 2007, Recife.Anais ... Recife: UFPE; Olinda: CECI, 2007.

1 CD-ROM.

D'ELBOUX, Roseli Maria Martins. Uma promenade nos trópicos: os barões do café sob as palmeiras imperiais, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 193-250, 2 06.

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 155

Page 79: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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156 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

t..Jlll't lMU< :t\NO, Ro~a. O /11rd/1111h· l>. Joiro: a nvcnlu ra tia adimal u~·.-10

d,1., pl.ant ;1s ashlt irns à beira da lagoa e o desenvolvimento do J'.ud1m

llut.\ 111 ~ 0 , do !tio de janeiro, que vence dois séculos d~ L11:11dade,

1 IH lwnles, transformações da cidade, novos padrões c1enl1fi~os e

111,111 tc.'.·in se exuberante, com seus cientistas e suas árvores. Rio de

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Agradecimentos

Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico

e Tecnológico do Estado do Maranhão (FAPEMA) e Universidade

Estadual do Maranhão (UEMA).

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasi l 157

Page 80: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

JJ\ltDINS DE BURLE MARX PARA O TllEATH.O JOSf~ DE ALENCAR EM FORTALEZA

ltlr.1nf o Figueiredo Bezerra

l"t•rnanda Cláudia Lacerda Rocha

T<•mf slocles Anastácio de Oliveira

Antônio Sérgio Farias Castro

Introdução

Este trabalho investiga um momento peculiar da vida

profissional de Roberto Burle Marx, entre 1973 e 1990, quando

ele teve a oportunidade de fazer dois projetos para um mesmo

local, o Theatro José de Alencar, num lapso de quase 20 anos; mais

interessante ainda porque são, vis-à-vis, projetos bem distintos em

termos formais e programáticos.

Diversas publicações sobre a obra do paisagista indicam 1973

como o ano do primeiro projeto, embora pranchas existentes no

acervo do teatro sejam datadas de março de 1974.

A escolha desse projeto se justifica, principalmente, por seu

caráter público e sua decorrente visibilidade no ambiente urbano

de Fortaleza, pela importância do equipamento cultural a que

serve, pelo ineditismo em relação às publicações sobre a obra

do paisagista e pela curiosa realização - pelo escritório de Burle

Marx - de dois projetos para o mesmo espaço.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 159

Page 81: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O nascimento de um jardim há muito "prometido"

Em 17 de setembro de 191 O, as portas do Theatro José

de Alencar (TJA) se abriram pela primeira vez·. O prédio era

admirável. Segundo Castro (1993, p. 125), este poderia ser inscrito

como um daqueles de "maior valor nos quadros do ecletismo

brasileiro''. O seu foyer seguiu as tendências afrancesadas da época,

valendo, no entanto, ressaltar a magnífica sala de espetáculos

composta de uma ampla estrutura metálica, grande parte em ferro

fundido, projetada e produzida em Glasgow (Escócia) por Walter

MacFarlane & Co. Afirma Castro (1993, p. 125) que essa estrutura

"mistura elementos compositivos de reminiscências art nouveau

com vocabulário ao gosto da arquitetura vitoriana", configurando,

assim, o eminente caráter ec1ético do edifício.

Apesar de ser chamado de "teatro de jardim" - em razão de

sua destinação descrita em catálogo -, a construção, encaixada

entre os prédios do Quartel da Polícia e da Escola Normal

(posteriormente ocupada pelas faculdades de Medicina e

Farmácia e Odontologia e depois pelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional-IPHAN), apresentava apenas uma

pequena área descoberta, sem a presença de qualquer elemento

vegetal entre o Joyer e o corpo principal. Era, portanto, um "teatro

de jardim" sem nenhum jardim, de fato.

Defronte ao prédio, uma extensa praça do centro da cidade,

denominada, à época, Praça Marquês do Herval, fazia as vezes

de jardim para o teatro. Azevedo (1980, p. 70) a descreve como

um "verdadeiro Jardim de Afrodite" repleto de rosas, dálias,

borboletas1 "e mais uma infinidade de flores e crótons''. Além disso,

1 f provável que o autor esteja se referindo à espécie Caw1a x general is.

160 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il

111 11 pnvilh:10, lllll <.Ol'rlo, bancos dl' ferro e matkin1 <.' t nlu11.1 '> t rn11

v11sos t hincscs repiei os de plantas, entre outros, compkmt.•111L1v.1111

,, 1}1.:kza do jardi 111, que, ainda segundo Castro ( 1987, p. 21<>), l' J ,1

111;11luada por cópias da estatuária grega pertencente ao Musru do

Louvre cm Paris. Essa praça, hoje denominada José de l\lc1H .11,

havia sido ajardinada em 1903, como parte de um projeto di'

ajormoseamento da capital.

Da sua inauguração, em 1910, até os dias de hoje, transcorrido

mais de um século, a cidade e o seu teatro, este e sua pra~·n,

passaram por imensas t ransformações. De urna cidade com poul 11

menos de 50 mil habitantes no começo do século 20, Forlak·:,1,,1

se encontra hoje entre as cinco maiores metrópoles brasileira1',

com uma população beirando os 2,5 milhões de habitantes. Essas

transformações vieram. a reboque de um processo de crescimento

urbano desordenado, provocado por diversos condicionantt.•s

políticos, econômicos, culturais e ambientais, reflexo de mudanças

semelhantes ocorridas nacionalmente em outras cidades.

De pacato logradouro, palco de retretas vespertinas e do

passeio t ranquilo de "gente de famílià' até a primeira metade do

século 20, passando por caótico e barulhento terminal de ônibus

urbanos por quase cinco décadas, até 1990, hoje - após uma

reforma modernizadora inconclusa, objeto de concurso em 1999

- a Praça José de Alencar é uma verdadeira arena do circo urbano.

Dessa forma, o TJA e sua praça têm passado por processos

sucessivos de degradação e recuperação. O teatro, ao longo do

tempo, passou por várias restaurações parciais e uma grand<.•

reforma. As primeiras foram em 1918, 1938, 1957, 1973 e a últinw

foi em 1990 (THEATRO JOSÉ DE ALENCAR, 2002, pp. 47-50).

Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Bra sil 161

Page 82: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Nas intervenções de 1973 e l 990, Roberto Burle Marx participou

ativamente da revitalização desse importante patrimônio cultura l

brasileiro, projetando os seus jardins.

Burle Marx e o Theatro José de Alencar

Apesar de o Nordeste, mais especificamente a cidade do

Recife em meados dos anos 1930, estar diretamente ligado ao

início da sua trajetória profissional, Burle Marx só produziu seu

primeiro projeto em Fortaleza em 1968 - a residência Benedito

Macedo, em conjunto com o arquiteto Acácio Gil Borsoi. De

acordo com Diógenes e Paiva (2007), a colaboração entre esses

dois profissionais seria responsável pela "inserção do paisagismo

moderno em Fortaleza''.

Sua trajetória em Fortaleza segue em projetos esparsos,

principalmente para residências, até sua segunda versão para os

jardins do Theatro José de Alencar, em 1990. Entre 1992 e 1994, ele

produz o que seria seu último projeto (não executado) no Ceará

e um dos últimos da sua vida: o desenho para o Jardim Botânico

de Fortaleza, na Fazenda Raposa (BEZERRA e MOURA, 2007).

O primeiro desenho (1973): o jardim-espetáculo

Corria o ano de 1973. A essas alturas, o edifício do TJA

encontrava-se em péssimas condições e o Governo do Estado

resolveu não somente recuperar o prédio, como também demolir

a edificação vizinha, antigo Quartel da Polícia e, posteriormente,

Centro de Saúde, para aí ser criado um jardim para o teatro

(THEATRO JOSÉ DE ALENCAR, 2002). Desse modo, 63 anos

162 J:11·d ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

.1p1h Sll•\ inaugunH,:ao, o 'J'JA poderia hli'.cr jus;\ su,1 1 l.1i-silll ,1~.111

<k "ll'alro de jardim". E, para criar esse novo espaço,(' tlin111.1tlo

lloh~·rto Burle Marx, por sugestão do arquileto José Lihl'rnl dl' 1

(:astro.

A indicação de Roberto Burle Marx para elaborar o t}Ut.' Sl'I i,1

a primeira versão do projeto dos jardins do TJA, em l 973, seria

natural, já que ele estava, naquela época, desenvolvendo alguns

Lrabalhos para a Prefeitura Municipal de Fortaleza.

O primeiro desenho para os jardins do TJA, cujo projeto e também assinado pelos arquitetos Haruyoshi Ono e José Tabacow,

é bem representativo da linguagem formal criada por Burle Marx :

um equilibrado jogo de linhas retas, paralelas e oblíquas, ligadas

por arcos de circunferência, produzindo uma sensação de planos

superpostos onde se definem canteiros, áreas pavimentadas,

elementos aquáticos e de mobiliário.

Um grande espelho d'água, com uma fonte luminosa, domina

toda a composição. Este elemento, que cobre cerca de um quarto

daquele jardim, divide em dois o espaço disponível para circulação

e convivência, dando-se a ligação através de uma pequena ponlc

sobre o espelho d'água (Figs. 1 a 3).

Percebe-se, igualmente, que esse projeto elaborado em 1973

valoriza, principalmente, o aspecto contemplativo do conjunto:

um verdadeiro espetáculo de plantas e água em movimento.

Apesar de não existir nesse projeto qualquer alusão ao estilo

eclético do edifício a que se presta, conforme Tabacow, cm

entrevista concedida aos autores por telefone no dia 14 abril de

2009, havia uma posição firmada pelo paisagista de criar, em

seus projetos para prédios históricos, um desenho mais simples,

buscando assim valorizar a edificação em si.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 163

Page 83: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 1. Planta baixa do projeto de 1973. Fonte: Temíslocles Oliveira.

Fig. ~· Desenho simulando o projeto de 1973. fonte: Temístodes

Oliveira. Desenho sobre foto de arquivo do jornal "O Povo" (27 de dezembro de 1986).

__ _J

164 Jardins d e llurl c Ma rx no Nordeste do Brasil

Fig. 3. Desenho simulando o projeto de 1973. Fonte:

Temistocles Oliveira. Desenho sobre foto de arquivo do jornal

"O Povo" (27 de dezembro de 1986).

Após uma busca exaustiva e infrutífera por fotos da fase

logo após a sua implantação, optou-se por essas simulações em

desenho, procurando retratar a exuberância do jardim, expressa

pelos seus elementos dominantes: o grande espelho d'água e sua

fonte.

Este jardim, no entanto, teve vida muito curta, principalmente

devido à sua extensa fonte. Como esse equipamento, dependente

de sistemas hidráulico e elétrico para bombeamento e iluminação,

era acionado muito esporadicamente, cada vez que era preciso usá

lo, havia necessidade de serviços de manutenção. Nesse sentido,

os custos de manutenção estavam além dos recursos disponíveis

e o jardim, em dois ou três anos, entrou em pleno processo de

degradação (O POVO, 27 de dezembro de 1986).

Jardins de Burl e Marx no Nordeste do Brasil 165

Page 84: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O arquilclo .Francisco Veloso, participante das equipes qL1c

trabalharam tanto no projeto de 1973 como no de J 990, lembra

que, em uma das visitas que o paisagista fez a Fortaleza junto com

o arquiteto José Tabacow, foi aventada a possibilidade de integrar

o jardim a ser criado à Praça José de Alencar. Por intervenção de

Liberal de Castro, essa medida não foi adotada, justificando ele

que o espaço estaria, em pouco tempo, indevidamente ocupado

por camelôs, principalmente considerando-se que, àquela época,

funcionava na praça um dos mais movimentados terminais de

ônibus da cidade. Aceita a argumentação, foi adotado um gradil

que permitiu a visualização dos jardins a partir do espaço público,

restringindo, no entanto, o seu acesso através do teatro.

Levando em consideração que o principal elemento focal

do jardim, sua extensa fonte, não mais funcionava e que a área

projetada para convivência era relativamente de difícil acesso, o

espaço perde importância e apressa-se, assim, seu processo de

deterioração. Isso prossegue até que, numa iniciativa do governo

estadual, dá-se início a uma grande reforma do TJA.

O segundo desenho (1990): o jardim utilitário

No final dos anos 1980, uma nova geração de políticos

cearenses, liderada por Tasso Jereissati, havia assumido o

comando do governo estadual após uma sucessão de governantes

ligados ao regime militar. Nessa composição política, é indicada,

então, para a Secretaria de Cultura, Violeta Arraes Gervaiseau.

Esta intelectual, que foi para Paris em exílio imposto pelo governo

militar, em 1964, de família originária do Cariri cearense (irmã

de Miguel Arraes de Alencar), com extensa carreira de militância

166 Jardi ns de Burle MarJ< no Nordeste do Brasil

polfl i\ il, pt•ssm1 dL: l'l'lOllhn:ida lilpalidadl' agiu! in;1do1·,l, idt•. d1:1,:

i· h1111~1 a frente de u111 amplo projeto <.k rcformn do '1 lwa l rn J o~t·

dl' /\km.ar.

b ., .. 1 por notória espccializaçao, (• Para executar a o 'ª c1v1, ,

Método empresa com sede cm Suo sl'kcionada a construtora ' . e d ·ardim é novamente contratado o Paulo, e para a re1orma o J " , . ·' tório de Roberto Burle Marx. O projeto elaborado dessa ~cz

<.:SCI J teto , .. · do além de Burle Marx, por Haruyoshi Ono como argui assina ,

1 b 1 ·

. d d Almeida como paisagista co a orat or associado e Leonar o e . . • . l t do primeiro: é um jardim mtnnsecamcnk d1verge por comp e 0

utilitário (Fig. 4). , 1

da ampla fonte e seu espetáculo de agua e u:.-., Agora, em vez • . . de recorte ortogonal, em tijolo ceranrn:o tem-se um extenso piso,

. d . l de 1990· o J'ardim utilitário formado po1 Fi 4 Planta baixa o proJe o · g. · . . .· l usado para os mais diversos even t o~ . um grande pátio que tem s1c o .

Fonte: Temístocles O liveira.

fardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 167

Page 85: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

vcrmcJho e ladrilho bidn\ulko cinza, com discretos detalh<.·s cm

granito cinza (Figs. 4 e 5), o mesmo utiJizado na área descoberta

entre o foyer e o corpo principal, anteriormente referida,

estendendo-se como elemento de identidade formal ao pátio do anexo.

No conjunto formado, sobressai, ao fundo, um palco descoberto

que surgiu como uma feliz e oportuna solução de projeto para

camuflar vários equipamentos técnicos (condicionadores de ar,

cisterna, subestação e quadros elétricos), bem como um camarim.

O projeto desse elemento é do arquiteto Ricardo Rodrigues,

membro da equipe técnica responsável pela reforma.

À frente dele, um grande espaço central livre, praticamente

circundado por extenso banco em concreto, tem servido para

múltiplos fins, principalmente eventos ligados à própria pauta do

Fig. 5. O projeto de 1990: o pátio de múltiplos u~os com seu extenso

piso cm tijolo cerâmico e ladrilho hidráulico. Fonte: Ricardo Bezerra.

168 Jardins de Bu rle Marx n o Nordeste do Bras il

11·11110. Esl<.' cspa<yo verde, cm pleno centro da cidad e, representa

11m 1 d rigério para o caos urbano à sua volta.

Comparado ao projeto anterior, de 1973, contrasta a

si rnplicldade da nova proposta, que não apresenta as características

peculiares da obra de Burle Marx. Excetuando a maestria do plano

de vegetação, nada ali poderia revelar, mesmo a um estudioso do

paisagismo, a mão daquele artista. Não se veem seus magníficos

pisos de mosaico português, nem seus canteiros em desenhos

de sofisticada geometria, tampouco seus costumeiros elementos

ornamentais como painéis, murais e esculturas. Ao contrário, no

conjunto, como um todo, realçam a sobriedade e singeleza de

linhas e volumes.

Desta forma, o projeto destaca dois elementos principais: a

edificação do próprio teatro e a vegetação, que tem hoje, depois

de crescida, o importante atributo de isolar o jardim da rua,

atualmente repleta de bancas de camelôs, mendigos e barulhentos

ônibus.

Esse é um trabalho que, de certa forma, foge aos padrões de

desenho de Burle Marx, mas se sobressai, no conjunto da obra

produzida por seu escritório, pela demonstração de saber adotar

um partido próprio para a situação. Nele, as características

peculiares daquele gênio criador dão lugar a uma solução

consciente da sua adequação, mostrando uma preocupação com

a utilização do espaço, tanto para a realização de grandes eventos,

como para o convívio em áreas sombreadas e, principalmente,

respeito à edificação histórica a que serve.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 169

Page 86: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1 J

O jardim do anexo

Até aqui fez-se uma análise do jardim principal do 'l'JA cm

suas duas versões. No entanto, para que se possa entender os

projetos na sua totalidade, em ambos os casos existe uma parte

de jardim, no lado oeste do teatro, que precisa também ser vista.

Quando o teatro foi construído, no início do século 20, na

sua lateral oeste já se encontrava o prédio da Escola Normal. Esta

edificação, construída entre 1881 e 1884, conforme o Guia dos

Bens Tombados do Estado do Ceará, veio posteriormente a ser

a sede da Escola de Medicina e, em seguida, da Faculdade de

Farmácia e Odontologia. Para servir a estas, foi construído um

anexo na extensão sul do terreno.

Na versão de 1973, Burle Marx propõe derrubar esse prédio

anexo, mantendo a edificação da antiga Escola Normal para

abrigar os serviços administrativos do teatro (Fig. 1). No entanto,

na época da implantação do jardim, nesse anexo ainda funcionava

a referida faculdade, ficando, por esse motivo, postergada a sua

demolição.

Analisando o projeto, nota-se que esse lado não tem maiores

ligações formais com o jardim principal. Os elementos mais

marcantes são as várias áreas de convivência propostas, criadas

sob as copas de árvores, e urna aleia formada por 14 palmeiras­

reais (Roystonea regia). Além desses, nota-se um estacionamento

com 12 vagas e um acesso para veículos de serviço. O grande

valor da ideia seria soltar o prédio do teatro, dando espaço para

sua visualização por três das suas fachadas (Fig. 1). No entanto,

devido à rápida deterioração sofrida pelo jardim principal, ficou

170 Ja rd ins de Burle Marx 110 Nordeste do Brasil

lnra d< . .' coglla1;t10 derrubar o pn'.-tlio ,llll'XO, qut• linh.1 t11 1111 ho,1

l ondi~ao <:onstrut iva.

· Alguns anos depo is, a faculdade foi transferida para o rn111/'"'

do ,Porangabussu (onde se concentram os equipamentos da :\ll'•I

de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Cearú) e os doii.

prédios foram desocupados. Então, através de um acordo c:nl 1t'

0 Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, a SPI 11\N/

Pró-Memória (Secretaria do Patrimônio Histórico e ArLístiLO

Nacional), hoje IPHAN, passou a utilizar o prédio histórico corn

um projeto de ocupação igualmente do anexo. Com tal silua~· ;\o,

Geou, então, totalmente descartada a implantação do jardim ocslt'

nessa versão de 1973.

Quando Burle Marx elabora o projeto de 1990, nele cst:\

incluído o prédio do anexo, que, após uma extensa reforma, passa

a abrigar os serviços administrativos e de apoio ao teatro. Apcsa I'

de o IPHAN haver chegado a elaborar um projeto para ocupar

esse edifício anexo, a secretária Violeta Arraes, através de acertos

políticos, conquista o espaço para a expansão do Theatro José de

Alencar. Mantido, portanto, esse prédio, que tem características

modernistas, um pátio central que aí existia passa a ser o ponto

focal do pequeno jardim.

Considerando o clima de poucas chuvas e as temperaturas

relativamente elevadas o ano todo, dá-se a esse espaço, numa

escala menor, uma solução semelhante à do jardim principa l,

sendo aí instalado um pequeno palco para a realização de eventos

artísticos. Os materiais de pavimentação de piso e mobiliário

seguem a mesma linguagem do jardim principal (Fig. 6) e no

plano de vegetação destacam-se alguns exemplares de macaubci ra

(Acrocomia intumescens), palmeira nativa do Nordeste.

Jardins de Burle Marx no Nordeste <lo Brasil 17l

Page 87: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 6. Vista parcial do pátio do anexo, notando-se

o emprego da mesma linguagem formal do jardim

principal. Fonte: Ricardo Bezerra.

Os planos de vegetação para o jardim principal

A descrição e a análise dos planos de vegetação das duas

versões serão feitas conjuntamente. Desta forma, poderemos

compreender como, num espaço de quase 20 anos, modificações

e adaptações foram feitas.

Vale salientar que era bastante comum o paisagista fazer

mudanças na indicação de espécies vegetais nos seus projetos

durante a execução. Essas mudanças - fossem por dificuldade de

aquisição, de adaptação ao local, ou mesmo por considerar que seria

uma melhor solução de desenho - dificilmente eram registradas,

constituindo um sério problema interposto à documentação e

172 Jardins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil

pt ('M' rvn~ ,10 da obra de Bu rle Marx, l'O nsi<.krando, ainda, ~1uc

podiam ouHTer mudanças não autorizadas, o que soma, então,

11111 p,rat\ ex tra de difi culdade a essa tarefa (OLIVEIRA, 2008). )

No entanto, antes que sejam analisados os planos de vegetação

propostos nas duas versões do projeto do TJA, é importante

rl'fcrir-se aos velhos oitizeiros que lá estão. Quando da derrubada

do Centro de Saúde para dar lugar ao jardim principal do teatro,

1 rês oitizeiros (Licania tomentosa) foram salvos e incorporados ao

projeto paisagístico. É muito provável que essas árvores de porte

magnífico já existissem desde o tempo do Quartel da Polícia que

ali havia. Aliás, é curioso notar que o uso urbano dessa espécie, em

fortaleza, havia sido recomendado por Pereira Passos - o grande

artífice da reforma urbana do Rio de Janeiro, no início do século 20

- em matéria publicada no jornal "Ceará Ilustrado': em edição de

janeiro de 1925. Na época do primeiro projeto, essas árvores, já de

grande porte, passam a ser um importante elemento no desenho

da vegetação, servindo como fonte de generosa sombra e pano de

fundo para o jardim, por sua localização na parte posterior deste.

Fazendo uma análise comparativa da seleção vegetal para

os dois projetos (Tabelas 1 e 2), nota-se em ambos a mescla de

espécies exóticas e nativas, dispostas harmonicamente lado a

lado, seguindo uma tendência natural do seu trabalho. Ressalte­

se aqui que Burle Marx foi responsável pela introdução, inclusive

no Ceará, de várias espécies vegetais exóticas e nativas brasileiras,

principalmente das famílias das bromeliáceas, musáceas,

orquidáceas, marantáceas, velosiáceas e apocináceas (MOTTA,

1983).

jardins de Burle Marx no Nordeste d o Bras il 173

Page 88: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Tabela l: Espedficação da vegetação por Burle Marx 11NIH'dlli:n\llll Nome rknll ltco Nt1lllC l \~lrn l u

para os Jardins do Theatro José de Alencar, 1973. 1u11· 11111 k Mur" ;1tuali:radn po1mlur

( 1lc'\11(/' '""' l'.111 h1.1"I A 1 l m11•11

Especificação Nome científico Nome Estralo ,.. }rJmli•' l .. 1111

por Burle Marx atualizado popular N r/11111/10 1111ci/i-rr1 Cacrtn. Flor Jc 1 krh;\u•o

lótus Pontederia cordata L. ~ Aguapé Herbacco

Limnocharis flava Golfo Herbáceo / lyclmclcys sp. (Bahia) .. ! lcrb:\u:o

(L.) Buchenau Mure ré ! rcrb:\u:o / icJr/WJ 11i11 ll Z /lf('<I

7halia dealbata Fraser * Mimosa Herbáceo (~w.) Kunlh

Cyperus papyrus Linn Cyperus papyrus L Papiro Herbáceo \lic/ori11 cruziona Victoria cruziana Nenufar L lcrbác.:co

Canna indica Canna indica L. Borboleta Arbustivo Orhign A.D.Orb.

L (vermelho) Xant lwsoma sp. (Goiás) .. HcrbúCCl'

Cassia fistula L. Chuva-de- Arbóreo ''(~ran1a- tostãd,**IO;- Dichondra microcalyx Grama- ! lcrbúcco

ouro (Hallier f.) Fabris tostão

Bauhinia Bauhinia x blakeana Dunn Pala-de- Arbóreo Neomarica caerulea * Íris Herbáceo

blakeana Dunn vaca (Ker GawL) Sprague.

Caesalpinia Libidibia ferrea Jucá Arbóreo Heliconia psittacorum L.f. * Pacavira Herbáceo

ferrea Mart. (Mart. ex Tui.) L.P.Queiroz Alam anda Arbustivo Allamanda cathartica L. *

Couroupita * Abricó-de- Arbóreo Herbáceo

guianensis AubL macaco Crinum asialicum L Açucena

Sterculia chicha Sterculia chicha Xi xá Arbóreo Plumbago Phtmbago Mimo-do- Herbáceo

A.St.Hil. A. St.-HiL ex Turpin capensis Thunb. auriculata Lam. céu

Plumeria alba L. " Jasmim- Arbóreo Setcreasea Tradescantia pai/ida (Rose) Manto- Herbáceo

branco purpurea Boom D.R. Hunt sagrado

Roystonea regia Palmeira- Palmeira Lantana camara Lantana camara L. Lantana- Arbustivo

(Kunth) O. F. Cook. real L. (amarela) amarela

Nymphaea ampla " Ninfeia Herbáceo Ctenanthe Ctenanthe Maranta- Herbáceo

(Salisb.) DC. kammeriana Eichl. kummeriana Eichler variegada

Ziziphus joazeiro Mart. Juazeiro Arbóreo Alpinia purpurata * Panamá Herbáceo

Moquilea tomentosa Licania tomentosa Oit izeiro Arbóreo (Vieill.) K. Schum.

Benth . (Benth.) Fritsch Bougainvillea Bougainvil/ea Buganvilia Arbustivo

Tecoma chrysotricha (Marl. Handroanthus chrysotrichus Ipê-arnarelo Arbóreo spectabilis Willd. spectabilis Will d.

ex A. D C.) (Mart. ex A. DC.) Mattos var. parviflora Mart.

facaranda " Jacarandá Vinca major L * Vinca Herbáceo

Arbóreo mimosifolia D. Don Alpinia nutans Rose. Alpinia zerumbet (Pers.) Colônia Herbáceo

Cassia grandis L.f. Cássia-rosa Arbóreo B.L. Buril & R.M. Sm.

174 jardi ns de Burle Marx n o Nordeste do Brasil Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

175

Page 89: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Especificação Nome cienl ifico Nome Eslrnlo l '~ 111· 1 llu, .u;1\o IHlr Burle Nmnl' dcnllfico No1111.• 1w1111l111 1'~111110 por Burle Marx atualizado popuhu· M11r1< ulun lizndo 1hunbergia

Trepadeira \/jn11 111 J•111 /11 m 1111 K. i>,111aan;\ 1 h·1h,\1rn grandiflora Roxb. Tumbérgia \, jlll m. Wedelia paludosa Sphagneticola Agrião Herbáceo ·\11/tc/f/111/m si11d11irir111a Afdan<lra A1hu~llv11 DC. var. via/is DC. tri/obata (L.) Pruski N1·t'~

Zebrina Tradescantia Lambari Herbáceo l\ //11111r1111/rr cutlwrlica L. .. Ala ma nda A 1h11~tl v11 pendula Schnizl. zebrina Heynh. ex Bosse

l le/ico11irr psil/acorum .. 11 L• ili.iu·o Pacavira (*) Sem alteração de nomenclatura. 1.. r. (*")Sem atualização em função de indefinição da espfoe na lista original. lxora coccinet:1 L. * Lacre Arhu'>llvu ('**)Espécie originalmente listada apena s por nome popular.

limnthemum nervosum Eranthemurn Filônia A rhusl Ivo (Vahl) R. Br. pulchellum Andrews

Tabela 2: Especificação da vegetação por Burle Marx C:arissa grandif/ora DC. Carissa macrocarpa Laranjinha J\rhu~ti vo (Eckl.) A. DC.

para os Jardins do Theatro José de Alencar, 1990. Monstera deliciosa Liebm. Costela-de- l lcrb;\n ·o adão

Especificação por Burle Nome científico Nome popular Estrato * l lcrhán·o Marx atualizado Crinum asiaticum L. Açucena

Pritcha,.dia pacifica Palmeira-Wedelia paludosa D.C. Sphagneticola trilobata Agrião l lcrb;kco

Seem. & H. Wendl. Palmeira var. vialis DC. (L.) Pruski leque-de-fiji

Cassia grandis L.f. Cássia-rosa Zebrina pendula Schnizl. Tradescantia zebrina Lambari I 1 e rb;\cco

Arbóreo Heynh. ex Bosse Cassia fistula L. Chuva-de-ouro Arbóreo Neomarica caerulea (Ker 1ris Herbáceo Caesalpinia echinata Pau-brasil Arbóreo Gawl.) Sprague. Lam .

Syngonium podophyllum Syngonium Singônio Herbáceo Plumeria rubra L. Plumeria rubra L. Jasmim-branco Arbóreo Schott angustatum Schott (branca)

Scindapsus aureus Eng!. Epipremnum aureum Jiboia Herbáceo Cassia bicapsularis L. Senna bicapsidaris Sena Arbustivo (Linden & André)

(L. ) Roxb. G.S.Bunting

Clusia fluminensis Clúsia Arbustivo Bulbine frutescens (L.) Bulbine frutescens Bulbine Herbáceo Planch. & Triana Willd. (laranja e amarela) (L.) Willd.

Brassaia actinophylla F. Schefflera actinophy/la Guarda-chuva Lantana camara L. (rosa) * Camarazinho Herbáceo Muell (Endl.) Harms

Arbóreo

Schizocentron elegans Heterocentron Quaresmeira- Herbáceo Schejflera arborícola Cheflera Arbustivo Meisn. elegans (Sch ltdl.) rasteira (Hayata) Merr. Kuntze

Philodendron Philodendron Banana-de- Arbustivo Turnera ulmifolia L. Turnera subulata Sm. Chanana Herbáceo

bipinnatifidum Schott bipinnatifidum imbê Plumbago capensis Plurnbago Mimo-do-céu Arbustivo Schott ex Endl.

Thunb. auriculata Lam.

176 Ja rdi ns de Bur le Marx no No rdes te do Brasil Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 177

Page 90: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

ENpt•dfü:u\ilo por llul'lc Nome dcntlhco No me pop11lnl' 11.NI l'U IO Morx nlu nllznd o

1\norn111i11 Mawíiba P.1 l111L·li11 l11111111c.1ffll~ 1 >rude.

/!1m111/11 l'('/ll'llS J.. D1mmta crecta L. Duranta Arbustivo

/>0 •1nki11 grr111dijáli11 [ law. Ora-pro-nobis Arbust ivo

ll .1y~t11s i11 g1111getica (L.) * Asistásia Arbust ivo 'I'. A11dcrson (amarela)

1\l/111111111ti11 vio/11ce11 Aliam anda Alamanda-roxa Arbustivo ( ;,,rdn & Ficld . blanchetii A. DC.

'/111111/Jcrgia crecta * Tumbérgia- Arbustivo ( llc11lh.) T. Anderson arbustiva

< '/11111c111orplra fragrans Chonemorpha fragrans Cipó-de-leite Arbustivo (Moon) Alston . (Moon) Alston

I >id10risa11dra Dichorisandra Dicorisandra Herbáceo 1/1yr.>ijlora J.C. Mikan. thyrsiflora J.C. Mikan

l'11d1yslachys Pachystachys Camarão- Herbáceo l111c'11 Nccs. lutea Nees amarelo

( .'111/111mnthus roseus Catharanthus Boa-noite Herbáceo (1 .. ) C. Don. (branca) roseus (L.) G. Do n

'/ Jr 1111/Je1gia grandiflora 1hunbergia Tumbérgia Trepadeira lloxb. (alba) grandiflora Roxb. b ranca

(.) s~111 alteração de nomenclatura.

('·)Sem atualização em função de indefi nição da espécie na lista original.

No que concerne à questão da origem das espécies utilizadas

nos dois projetos, nativas e exóticas se equivalem. A grande

mudança que se pode perceber entre os dois planos de vegetação

ref cre-se ao clima de origem daquelas espécies: tropical seco

e tropical úmido. Tomando como fonte de referência básica

o trabalho do Instituto Plantarum, dirigido pelo engenheiro

agrônomo Harri Lorenzi (1992; 1995; 2003; 2004), nota-se que,

enquanto no primeiro projeto essas categorias se equivalem,

110 segundo projeto - não mais existindo a fonte -, há um forte

178 Jardi ns de Burle Marx no No rdeste do Brasil

11H·dt 1111111io d.is t'Spl•des de cli11w tropical sem. Nl·ssa sl'gund;1

., 1 • 1l·~•IO, das passam a representar cerca de Lrês quartos das espécies

11 11li ~. ;ul.1s 'pcrccbe-sc, nesse caso, uma preocupação na definição

do pl:ino d~ vegetação, com a escolha de espécies mais resistentes

,10

dima local: daí a mudança, que se retlele diretamente no nível

1k manutenção requerido. No projeto de 1990, o grande ponto focal do jardim é uma aleia

de palmeiras-leque-de-fiji (Pritchardia pacifica) que domina toda

;1 parle frontal do espaço, sendo esta, inclusive, bem visualizada a

partir da rua (Fig. 7). No plano de 1973, foram especificadas para

0 local palmeiras-reais (Roystonea regia). Em relação ao desenho

dos canteiros do jardim, nessa versão de 1990, a subdivisão rígida

do desenho de 1973 dá lugar a uma apresentação mais solta das

espécies, com um uso reduzido de delimitadores separando os

Fig. 7. Aleia de palmeiras-leque-de-fiji (Pritchardia pacifica). Fonte:

Ricardo Bezerra.

Jar dins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 179

Page 91: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

agrupamen tos de arbustos, J1crbáccas e forraçocs. l·, importantt•

notar, ainda, que três exemplares de jucá (Libidibia ferrca), qw: haviam se desenvolvido a contento no projeto de 1973, foram

mantidos, bem como os velhos oitizeiros que já estavam lá .

O estado do jardim atual merece, aqui, uma ressalva. Algumas

plantas foram introduzidas, alterando a proposta de Roberto

Burle Marx ao longo destes anos, como identificado no inventário

florístico efetuado em 2006. Algumas podem, de certo modo, ser

consideradas como contribuições positivas: a grande touceira

de pândano-amarelo (Pandanus sp.) (Fig. 8), o denso arbusto de

Fig. 8. O grande pândano-amarclo (Pandanus sp.) visto a partir da

calçada da Praça José de Alencar. Fonte: fernanda Rocha.

180 fardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

11 111.1 plt•omclc ({)r11c<1t'1tr1 n'.fll'Xrl) e lr~s 1.•x1.·111pla1cs dl· pa l1 1w11,1

11 i.111gular (Dypsis decary i). J\pcsar de esforços cmprct·11didos,

1.011sit1crnndo a discordância entre as informações obtidas, 11 :10 foi

possí~c l uma definição precisa dessa espécie do gênero P(J11cf,11111s.

Deste modo, julga-se que a estrutura geral do jardim cst:l

manlida, carecendo hoje de uma recuperação para a qual sejam

avaliadas as condições de permanência ou supressão de plantas

introduzidas, o controle de crescimento e a reposição das espécies

significativas existentes na proposta original de 1990, considerando

as preexistências da proposta de 1973. Um dos elementos mais

marcantes do projeto merece destaque: a cascata de tumbérgia. Já no projeto de 1973, foi indicada a implantação de uma trepadeira

(1hunbergia grandiflora) na parede de fundo do jardim principal,

com a :finalidade de camuflar a edificação vizinha que se ergue

colada ao limite do terreno. Essa trepadeira foi implantada de um

em um metro, de forma a subir num alambrado afastado cerca de

dez centímetros do muro, criando, assim, uma cortina verde de

ponta a ponta do plano de fundo do jardim principal (Fig. 9).

Quando da implantação do projeto de 1990, no entanto, o

prédio vizinho teve mais dois pavimentos adicionados, elevando­

se 0 muro a uma altura acima de 10 metros. Na época, apesar de não

constar no plano de vegetação de 1990, sugeriu-se complementar

0 alambrado até o topo do muro. Burle Marx, conforme lembra

0 arquiteto Haruyoshi Ono, ficou em dúvida sobre se a planta

conseguiria subir tão alto. Na verdade, ela não só conseguiu, como

é hoje um dos pontos de destaque do jardim.

Jardins de Bu rle Ma rx no Nordeste do Brasil 181

Page 92: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1 1:

!

1 1

1

Fig. 9. A chamada "cascata" de tumbérgia. Fonte:

Ricardo Bezerra.

Considerações finais

Hoje, muitos são os caminhos a trilhar . . ~ na importante

~issao ~e preservar a obra ele Roberto Burle Marx, que alcançou

d1~ensao planetária e é citado, mundo afora, como um dos

art_1stas mais influentes do século 20. Sua obra, em nível nacional

e mternacional, é de grande vulto, incluindo seus trabalhos

produzidos no Nordeste brasileiro. Mesmo considerando as

182 Jardins de Burle i\l arx no Nordeste do Brasil

111.1H 11 11 tes desigualdades rq~ion.lis no Hrn~ il . s~·ui; p111J1·10•, ,d

1 l'ô\ li:tados são Lao irnportanlcs quan to os dcnwis. \ t·:stc estudo, de ccrlo modo, busca resga tar um 111011w11l11 1 ph·dido na rnemória da cidade, o do primeiro jardim do ' ll11:11 l111

José de Alencar, de l973. Esse projeto, que se saiba, jamnls ht1vl11

rnnslado das inúmeras publicações acerca da obra do paisagisl.t l'

hoje já quase se perde na oralidade dos que presenciaram aqut·lt·

magnífico jardim. Por outro lado, este estudo busca també111

faze r uma análise do projeto remanescente de 1990, o qual pndl'

vir a servir de base para um necessário trabalho de restaurn~·t1 0 1

considerando sua inserção num espaço tão afetivamente caro 1\

população cearense. Neste sentido, são fundamentais o registro, a comprccns;w

e, por fim, a preservação desse patrimônio cultural, artíslico,

histórico e ambiental que o Nordeste possui através dos jardins <.k

Burle Marx, para seu usufruto pela geração atual e pelas gcraçfws

vindouras, pois ele retrata a obra de um artista fundamental nn

invenção do Brasil moderno.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 1 u:1

Page 93: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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OLIVEIRA, Ana Rosa de. A conservação de obras modernas: estudo de caso de jardins restaurados de Roberto Burle Marx. ln: CORREIA, Maria Rosa (Org.). Oficina de estudos da preservação, Coletânea 1. Rio

de Janeiro: IPHAN, 2008. p. 203-214.

O POVO. Teatro é imagem do abandono e tristeza: jardins negam as

glórias do José de Alencar. 27 dez. 1986.

PASSOS, Pereira. A arborização da cidade. Ceará Ilustrado. Fortaleza,

ano 1, n. 28, jan. 1925.

THEATRO JOSÉ DE ALENCAR. Theatro José de Alencar: o teatro e a cidade. Fortaleza: Terra da Luz Editorial, 2002.

Agradecimentos

Arquiteta Ana Rita Sá Carneiro, engenheiro Argos Mesquita,

arquiteto Francisco de Sales Veloso, arquiteto Haruyoshi Ono,

diretora do Theatro José de Alencar Izabel Gurgel, arquiteto José

Tabacow, professor Liberal de Castro, arquiteto Ricardo Rodrigues,

alunos da disciplina de Paisagismo da UNIFOR (turmas 2006.1 e

2006.2), que iniciaram o inventário desses jardins.

jard ins de Burle Marx no Nordest e do Bras il 105

Page 94: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

UU llLE MARX EM TERESINA: J\ PRAÇA MONUMENTO DA COSTA E SJLVA

\ Wil z~\ Gomes Re is Lopes

Karcnina Cardoso Matos

josé llamilton Lopes Leal Júnior

Roseli Farias Melo de Barros

Introdução

A preservação do patrimônio histórico e cultural é de

importância fundamental para a sociedade, a fim de que se possa

legar às gerações futuras o conhecimento de aspectos relacionados

à sua ident idade e seus significados. Além dos elementos

construídos, os jardins também fazem parte do patrimônio

cultural das cidades, podendo ser reconhecidos como jardins

históricos.

Na Carta de Florença, jardim histórico é definido como "uma

composição arquitetônica e vegetal que, do ponto de vista da

história ou da arte, apresenta um interesse público. Como tal é

considerado monumento'' (CURY, 2000, p. 253). Na visão de Sá

Carneiro (2009a, p. 212), "jardins históricos são gestos humanos

marcantes de um tempo sobre a paisagem cultural':

Um dos grandes nomes na arte de projetar jardins é Roberto

Burle Marx, um dos mais reconhecidos paisagistas no cenário

nacional e internacional. Na visão de Dourado (2009, p. 25),

"nenhum outro paisagista do século XX teve seu trabalho tão

Jardins de Burle Ma rx no Nordeste do Brasil 187

Page 95: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

associado à llorn hr;1sikira': devendo ser lembrado por Sll lt

"obsti nação pelo conhecimento, valorização e defesa das p lantas

au tóctones''. O paisagista associou seus conhecimentos de artes

plásticas aos da vegetação tropical. O entendimento da diversidade

das espécies tropicais só foi possível mediante pesquisas realizadas

cm expedições à Amazônia e a outros ecossistemas. Segundo

Oliveira (2009, p. 197), Burle Marx tinha "amplo conhecimento das

correntes artísticas e paisagísticas internacionais, bem como um

vasto repertório relativo aos costumes, tradições e apropriações locais da flora".

Roberto Burle Marx desenvolveu projetos em vários países

e em diversas cidades brasileiras, nos quais sempre estava

presente sua preocupação com a harmonia, prazer estético e

integração ecossistêmica da paisagem. Uma das características

mais marcantes em seus projetos era o uso extensivo da vegetação

brasileira, enfocando também o conhecimen to das espécies

nativas da região em que seria inserido cada jardim.

Os jardins projetados por Burle Marx em cidades do Nordeste

do Brasil foram criados tendo por base os elementos da paisagem

cultural de cada cidade. Dessa forma, segundo Sá Carneiro

(2009b, p. 55), "as características da paisagem dos jardins

expressavam o tipo de vegetação local, da planta como elemento

da concepção, de modo que as pessoas, os habitantes urbanos

enfim, se identificassem com a paisagem e vice-versa, ou seja, o

jardim desempenhasse uma função memorial''.

Na cidade de Teresina, são encontrados três espaços projetados

por Roberto Burle Marx: os jardins do Palácio de Karnak, sede do

Governo do Estado do Piauí (de caráter semi-público), a Praça

188 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Bras il

Mo1n1rncn lo Da Cosln l.' Si lv01, l ' os j;1rdi11s do l~ío l'oly l loll'I, que

se.· lrnta de um exemplo de cspa\:O privado.

O ~rquiteto Hamyoshi Ono participou dos três projetos

realizados em Teresina, sendo, atualmente, o responsável pelo

Escritório Burle Marx & Cia. Ltda. O projeto dos jardins do Palácio

de Karnak, datado de 1972, e o da Praça Monumento Da Costa

e Silva, iniciado em 1975 e concluído em 1976, tiveram ainda a

participação do arquiteto José Tabacow, enquanto o projeto dos

jardins do Rio Poty Hotel, de 1986, teve Hugo Biagi Filho como

paisagista colaborador. No projeto da praça, a concepção do

monumento ao poeta Antonio Francisco da Costa e Silva ficou

sob a responsabilidade do arquiteto Acácio Gil Borsoi.

Este trabalho aborda a Praça Monumento Da Costa e Silva

por se tratar do único espaço público projetado por Burle Marx

em Teresina e pela importância que as praças representam como

locais de integração e lazer da comunidade. Segundo Gehl e

Gemz0e (2002), o espaço público, mesmo com mudanças durante

a história, era o lugar onde as pessoas se reuniam, circulavam e

comercializavam, lugar de encontro dentro da cidade.

A Cidade de Teresina

Teresina foi criada em 1852, planejada para ser a capital do

Piauí em substituição à cidade de Oeiras. Hoje, o Piauí é o terceiro

maior estado em extensão da região N ardeste, com área de 251.529

km 2 e cujo processo de ocupação se caracterizou pela introdução

da pecuária extensiva no século 17.

Diferente de outros estados do Nordeste, sua ocupação se deu

do interior para o litoral. É a única capital nordestina localizada

Jardins d e Burle Marx no Nordeste do Brasi l 189

Page 96: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1; 1

1 i

no interior, não dispondo, dessa fo rma, do csp;1ço dcmocri.\lko

de lazer representado pelas áreas litorâneas e demandando mais

espaços livres de edificação onde possam ser realizadas atividades

recreativas. Embora situada longe do litoral, Teresina é banhada

pelos rios Parnaíba e Poti.

A cidade apresentou rápido crescimento desde os seus tempos

primordiais, pois, após dois anos de fundação, Já contava com 8.000

habitantes (LIMA, 2002). Segundo Cardoso (2006), até a década

de 1940, era conhecida como "entre rios': pois seu perímetro

urbano era praticamente limitado pelos rios Parnaíba e Poti.

Somente a partir da segunda metade do século 20, decorrente de

um processo migratório, a configuração da paisagem de Teresina

se torna mais dinâmica.

Neres e Araújo (2010) afirmam que o Estado foi o principal

agente do processo de urbanização da capital, investindo em

políticas públicas de saúde, educação, energia elétrica, habitação

popular, criação da malha viária, melhorando a estética pública

e a infraestrutura e resultando no crescimento populacional,

sobretudo no contingente de imigrantes.

A década de 1970 foi uma época de desenvolvimento para o

Piauí, que contou com o investimento maciço de recursos federais,

o que possibilitou ao governo estadual a execução e inauguração

de várias obras em Teresina. De acordo com Ferraz ( 1992 ), isso foi

determinante para que o então governador Alberto Tavares Silva

(1971-1975) se tornasse um mito no estado, como o homem das

obras grandiosas. Entre suas realizações no primeiro mandato,

Santos e Kruel (2009) citam a implantação da Universidade Federal

do Piauí, a construção do estádio Albertão e da Maternidade Dona

Evangelina Rosa, a reforma e ampliação do Teatro 4 de Setembro

190 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

,. a rclornrn do J>;1ltki11 de Karnak e dl' Sl'llS j1mli11:-. , projl' l,1do:-. po1

l\urk Marx. Santos e Krucl (2009, p. 400) alirm t11n ainda q11 t• '\• 11 1

1 · ' d 'Mllagre Brasileiro' ( ) Alberto Silva rccstrulttro11 p c n <~ cpoca o . < ...

l. · 0 a adm·1111·stração pública estadual , mudando a cara do ct 1nam1z llc ' ·

Piauí, dentro e fora do Estado". Logo após a gestão de Alberto Silva, o governo piauicnsc foi

·d Di'rceu Mendes Arcoverde (1975-1978), lembrado, assumi o por ainda hoje, pela grande quantidade de obras que realizou

no estado. Segundo Santos e Kruel (2009), foi uma época de

grandes construções no Piauí, beneficiado com o bom momento

• · d Pai's destacando-se o Centro Administrativo, o econom1co o ' Centro de Convenções, o Ginásio de Esportes Dirceu Arcovenk

(o "Verdão"), o Parque de Exposições Agropecuárias e o Hospital

da Polícia Militar. Foi neste período, em pleno "milagre econômico

brasileiro" e ainda na ditadura militar, que foi criada a Praça

Monumento Da Costa e Silva.

A Praça Monumento Da Costa e Silva

O projeto para a Praça Monumento Da Costa e Silva, datado de

1976, surgiu no período em que existia um esforço govername~1tal

f ' sociedade teresinense equipamentos constrmdos puao ere~ra .

1 'mboli'smos capazes de mexer com a autoestima envo tos por s1 , da população. Por isso, grandes avenidas foram abertas, foram

construídos o suntuoso estádio de futebol e o grande Parque

zoobotânico, além de reformas de praças.

Naquele período, a Prefeitura Municipal estava sob o

comando de Wall Ferraz (1975-1979), que ficou conhecido pela

jardins de Burle M arx no Nordeste do Brasil 191

Page 97: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

preocupação com a população de menor renda e também pl'l l\

implantação de áreas verdes e parques públicos como opção de

lazer.

O governador do Piauí, Dirceu Arcoverde, convidou o

arquiteto Acácio Gil Borsoi e o paisagista Roberto Burle Marx para

criarem uma praça-monumento, com a intenção de homenagear

um dos mais famosos poetas do estado, autor da letra do Hino do

Piauí, Antonio Francisco da Costa e Silva. Este ilustre piauiense

foi "um dos poetas que ressaltaram o Rio Parnaíba( .. . ) conhecido

corno Da Costa e Silva, ou poeta da Saudade, nasceu em 1885,

na cidade de Amarante-PI, também banhada pelo Parnaíba"

(MATOS et al, 2007, p. 9).

O arquiteto e o paisagista eram profissionais reconhecidos,

tendo desenvolvido vários trabalhos juntos, além de serem muito

amigos. Em entrevista à revista "Projeto Design': afirma Borsoi:

"Janete e eu tínhamos um carinho muito especial por Roberto

Burle Marx e sentimos muita falta dele" (MOURA, 2001, p.

3). Borsoi deixou obras relevantes na capital, como o Fórum

Judiciário de Teresina (1972), a reforma do Palácio de Karnak

(1972) e, posteriormente, o projeto da Assembleia Legislativa

(1982). A construtora responsável pela obra foi a do engenheiro

Lourival Parente, também amigo de Roberto Burle Marx.

A ideia era criar um espaço de lazer que transmitisse o

desenvolvimento e o processo de modernização pelo qual passava

a cidade de Teresina, no momento em que o país também crescia

economicamente com o chamado "milagre econômico brasileiro':

O objetivo era criar um lugar-monumento para homenagear o

poeta que sempre ressaltava o Rio Parnaíba em suas obras. Como

afirmaram Matos et al (2007, p. 7):

192 Jardins de Hurle Marx no Nordeste do Brasil

A~~illl, l i.IS\ li1 11 ,10 ·' ll\' 11 ,1, Ili.li' 11 111,1 111 •l\ll. ll hl~ 1111111

Pr:1<;n Mo lllllll l' lll O u mHl co11vl11 h11 o 1111 11 111•1 1! 11,

nao uma simples ;\rea dt.• b ·1.1.·r, 1 1w ~ 1111111 f\llllldl11~11

referência cul Lural da Lidadc, uma ho11w11,1w·111 1\~

águas, representada pelas fontes. pelos 1.·~pl'll10:. d',\111111 ,

pela cascata, pelas plantas <iqualicas e, solm·tudo 111 111

testemunho elas placas ele aço escovado, que cspelli,w11 111

a beleza, a leveza e a ternura dos poemas do pcwt,1 11 1<11111

das águas cio Parnaíba, o poeta Da Costa e Silva.

O projeto da praça

Para implantação da praça foi escolhido um terreno dl·

forma trapezoidal ao longo da Avenida Maranhão, em frcnt L' ~

Companhia Energética do Piauí (CEPISA), localizado e11 1 ll'

a Avenida José dos Santos e Silva, Rua João Cabral e Rua Sanl.1

Luzia, bairro Centro, às margens do Rio Parnaíba. Trata-se de L1 111

terreno com desnível, onde a parte mais alta corresponde à pari<•

mais larga, na lateral sul, que foi aproveitada para implantação do

monumento com a cascata.

Antes da construção da praça, segundo antigos moradores dn

bairro, existia no local uma grande lagoa, circundada por mult.1

vegetação espontânea, tendo sido necessária a execução de aterro

para dar início às obras, cujo material empregado foi regislrndo

em jornal da cidade.

A Praça Monumento Da Costa e Silva foi constrn fd,1 c•111

uma área de 20 mil metros quadrados e obrigou, dun11111•

a sua construção, um movimento de terra em torno de•

22.000 metros cúbicos, tendo sido empregados HOO

m3 de concreto, 70 toneladas de aço, cinco mil nwllm

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasi l

Page 98: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

quadrados de pedra de J>irat uruc1, ah1 ig.111do t•111 Sl'll

espaço um grande lago de 2.000 111 2 (JORNJ\ L O DI J\, J.7

de agosto de 1977, p. 3).

A criação do espaço público na área, então, foi motivo de

júbilo e de aceitação por parte da população do entorno. No local,

existiam ainda algumas habitações populares e outra construção

na parte sul, que foram retiradas (Fig. 1). Não havia vegetação

expressiva no local, mas existiam indivíduos de mamoneira

ou carrapateira (Ricinus com munis) e carnaúba ( Copernicia

prunifera), que foi especificada posteriormente no projeto.

Inicialmente, o bairro Centro era, em sua maior parte,

residencial. O entorno do terreno era constituído basicamente

Fig. 1. Terreno onde foi construída a Praça Monumento Da Costa e

Silva, vendo-se, à esquerda, o Rio Parnaíba, 1975. Fonte: Escritório

Burle Marx & Cia. Ltda.

194· Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

por· 1·t•s id(l11cias, destacando se, ai11da, IH\ lah:rnl sul. o l·dll (1 111

d11 Cl ~ PISA, aluai Elctrobrós, e, no lado oeste, o Rio Pa111 ,dli11,

elf nwnto bastante presente na paisagem.

· No crogui inicia] do espaço, realizado pelo pai:-;•1glsl l ,

observa-se a definição de piso e da vegetação, destacando Sl' o

grande círculo à esquerda, que possui uma versão moderna do

coreto tradicional, também circular, circundado por bancos, l' o

grande espelho d'água no centro da praça (Fig. 2).

Voltado para o Rio Parnaíba, o espaço foi projetado rn11 1

extensas áreas de saibro, revestidas de grama ou pedra, propkins

para circulação, brincadeiras das crianças e passeios de biciclelo.

Os bancos foram agrupados em quatro locais da praça, t rês c.leks

localizados na calçada voltada para o rio e sombreados por grupos

de árvores, com a intenção de valorizar a visão para o Parnafb,1

(Fig. 3).

Fig. 2. Croq ui do projeto da Praça Monumento Da Costa e Silva, 1975.

Fonte: Escritório Burle Marx & Cia. Lida.

Ja rd ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 1')5

Page 99: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

' 1

'i

\ \

e::===:=====================-==================:::=.: Av. Maranhão

N (/) Legenda:

01 Monumento 02 Espelho d'água 03 Coreto 04 Bancos

Fig. 3. Projeto da Praça Monumento Da Costa e Silva, 1976, digitalizado

a partir do original pertencente ao Escritório Burle Marx & Cia. Ltda. Fonte: Os autores.

Percebe-se, desta forma, a intenção de possibilitar a interação

e integração entre a praça e o rio. Nos dias atuais, já não existe

integração, nem mesmo a valorização visual do Rio Parnaíba, pois

o gradil presente no local e a Ponte José Sarney, construída em

2002, podem ser considerados barreiras visuais.

Segundo Silva (2005, p. 182), em seus projetos no Recife,

Burle Marx buscava "criar em cada jardim um motivo diferente

relacionado à paisagem': seguindo três princípios básicos, que são:

a relação com o entorno, a hierarquia de caminhos e a presença de pontos focais.

196 Jard ins de Burle Marx nu Nordeste du Brasil

NL·sse projeto, pode ser visua l izad.1 a prl'st•n1;a dl'Slt'S prl 11L lplos,

11,1 impl;rnlaçao da cascata , que desce sobre o mollllllll'l1l11 l'

uTsce 110 horizonte, numa referência clara ao "Velho Mo11gL'0

,

denominação que os piauienses dão ao Rio Parnaíba; a hicrnrqui.1

se faz presente, pois os caminhos são mais largos quanto maii.

próximos do coreto e do lago artificial, elementos que podem st·1

considerados como pontos focais do espaço, situados cm lados

opostos, não existindo, portanto, a intenção de concentrar os

usuários em apenas um local.

Do lado direito da praça, foi idealizado o memorial cm

Pelo arquiteto Acácio G i 1 homenagem ao poeta, projetado

Borsoi. Era composto de uma marquise de concreto aparente, cm

balanço, por onde corria a água que alimentava o espelho d'água,

formado por linhas retas e irregulares (Fig. 4), conforme croqu i

do arquiteto, datado de junho de 1975.

Fig. 4. Vista da marquise e dos painéis, 1978. Fonle: Funda\t1o

Monsenhor Chaves.

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 197

Page 100: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

' 11

'i

1

1

Abaixo da marqulse foi colocada uma placa de concrclo, no

piso, contendo resumo da biografia de Da Costa e Silva, e foram

dispostos painéis de acrílico nas paredes, com trechos de suas

poesias. A intenção do arquiteto Borsoi era que no monumento,

embaixo da marquise, fosse guardada a urna com os restos mortais

do poeta. i

Nos painéis estavam gravados trechos de poemas de Da Costa

e Silva, como "Madrigal de um louco", "Saudade'', "A queimada':

"'Ae h t"''Ad bd""'A nc en e , erru a a, moendà', ''Amarante'', "A cantigà',

''A balsa'', "O aboio", "Elêusis" e "Sob outros céus" (JORNAL O

ESTADO, 6 de setembro de 1977).

O espelho d'água foi projetado com linhas retas e irregulares,

contendo vários jatos d'água e canteiros com espécies aquáticas.

Por meio de passeios se caminhava sobre ele, onde também

estavam inseridas estruturas de ferro como apoio às trepadeiras.

Em 5 de setembro de 1977, com muita festa, foi realizada a

inauguração da praça, digna de um "monumento': que ocorreu

aliada às festividades em comemoração à Semana da Pátria na

cidade. Na ocasião, 21 escolas, tanto públicas como particulares,

desfilaram, trazendo, cada uma delas, um tema sobre a obra

do poeta Da Costa e Silva. Cerca de dez mil pessoas estiveram

presentes no local, incluindo políticos e empresários (JORNAL O

DIA, 6 de setembro de 1977).

Após a inauguração, o espaço já era aproveitado por muitas

pessoas de diferentes segmentos sociais, que se divertiam com as

atividades que lá aconteciam, apresentando grande movimentação.

1 Informação dada por Acácio Gil Borsoi em entrevista concedida a Wilza Gomes Reis Lopes, cm outubro de 2007, em Olinda-PE.

198 Ja rd ins de Burl e Marx n o Nordeste do Brasil

1.-•'"'"\ \

1 ,.111••1"'"' \ 1111' 11111

1 "'

/\os súbados c domingos, o lurn l h l.IV\\ 1Tpkto tk ll s11:11111s. /\ IL'• 111

tl 1sso, rn.:orri;1 111 programa~ocs cspcd;1is para o " l >i.1 d;1s ( ' 1 i.111' ,,., .. ,

(~" ! )ia dos Namorados': o "Dia <la Cultura" e outros, prnn10v1d.1

1'1clo poder público. Segundo moradores mais antigos, lt\ ltavl.1

uma felrinha que atendia aos banhistas <la coroa <lo Rio 1'~111\illllll, com venda de comida e pequenos objelos, constílu indo 11111

atrativo durante os fi nais de semana. Em foto de 1978, é possível observar o uso da praça pt·l.1

população, logo após a inauguração (Fig. 5). No primeiro plo 110,

visualizam-se a formação das palmeiras e o coreto e, ao fund o, as

fontes em funcionamento.

Fig. 5. Vista geral ela Praça Monumento Da Costa e Silva, pouco ll' l11JH•

após a inauguração, 1978. Fonte: Fundação Monsenhor Chaves.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil I C)C)

Page 101: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

' ' 1

A vegetação da praça

Ao analisar a composição florística da Praça Monumcnlo

Da Costa e Silva (Tabela 1) foi possível perceber a diversidade de

espécies e de estratos empregados por Burle Marx, o que refletiu

no ritmo, na textura e nos volumes das massas vegetais.

Os agrupamentos de indivíduos de mesma espécie, uma

constante nos projetos de Burle Marx, apresentam-se na Praça

Monumento Da Costa e Silva, criando ambientes harmônicos e

valorizando cada espécie por possibilitar a percepção de todos os detalhes estruturais e/ou morfológicos.

Tabela I: Especificação da vegetação por Burle Marx

para a Praça Monumento Da Costa e Silva, 1976.

Especificação por Burle Marx

Mauritia flexuosa, L

Copernica cerifera, Mart

Orbignya martiana, Barb. Rodr

Cenostigma gardnerianum, Tul

Platonia insignis, Mart

Tecoma chrysotricha, Mart

Moquilea tomentosa, Benth

Tecoma heptaphylla, Mart

Couroupita guianensis, Aubl

200

Nome científico atualizado

Mauritia flexuosa L. f.

Copernicia prunifera (MiU.) H. E. Moore

Attalea speciosa Mart. ex Spreng.

Cenostigma gardnerianum Tui.

Platonia insignis Mart.

ffandroanthus chrysotrichus (Mart. ex A. DC.) Mattos

Licania tomentosa (Benth.) Fritsch

Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos

Couroupita guianensis Aubl.

Nome popular

Estrato

Buriti Palmeira

Carnaúba Palmeir a

Babaçu Palmeira

Caneleiro Arbóreo

Bacuri Arbóreo

!pê-amarelo Arbóreo

Oiti Arbóreo

[pê-roxo Arbóreo

Abricó-de- Arbóreo macaco

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

F~1•cdliu11r:10 i•rn· lh1rlc Murx

Nome clcntlfü.o alunli:r.a<.lo

( '1u:mlp111i11 ji·rrc11, Marl. C11csolpinio fcrre11 v;1r.

Nome po1111lur

1';111 ferro · J 1 J ceare11sis J Jubcr v;1 r!n·arc11~s1.'.'..s.'...'..'.t'...'..1 1::_· ___ _::.::.:.:__:_ _____ ~----:~~-

1:i ythriua glauw, Willd. Erythrinagla11ca Willd. Mulungu

Caesaiphtia Caesalpinia Sibipiruna ArhÓl<'O

_1~1c~i~lo~p~li~o~ro:id~e~s~, B~e~1~1l~h'__ __ p~e~l~to~p~h~or~o_id_es-:--B_e_n_1h_. __ -:::-~--;---~~-~ Baullt.nia x blakeana Pata-de-vaca Arb61<'0 Bouhinia

blakeana, Dunn. Dunn ~~~~~'.'..'.'._'.:._ ____ =-:::::..::_:_/ ___ t ____ -:G:-r-a-n-1a:--_---~fl;::c::;:rlxkco

Paspalum Paspa um nota um notai um, }'luegge Alain ex Flüggé batatais

Allamanda cathartica, L A/Jamanda cathartica L.

Brunfelsia uniflora, Benth

P/umbago capensis, Thumb.

Lagerstromenia indica, L.

f\'ynphaea ampla, DC.

Nynphaea capensis, Thumb.

Nynphaea caerulea, Auct.

Nynphaea ampla, DC Var.rósea

Victoria regia, Lindl

Hydrocleys sp

Nelumbo nucifera, Gaertn

Limnocharis flava , Buch

Eichhornia crassipes, SolJns

Vinca rosea, L.

Brunfelsia uniflora (Pohl) D. Don

Plumbago capensis Thunb.

Lagerstroemia indica L.

Nymphaea ampla (Salisb.) DC.

Nymphaea capensis Thunb.

Nymphaea caerulea Savigny

Nymphaea ampla (Salisb.) DC.

Victoria amazoriica (Poepp.) T.C. Sowerby

*

NeJumbo nucifera Gaertn.

Limnochads flava (L.) Buchenau

Eichhornia crassipes (Mart.) Solms

Catharanthus roseus (L.) G. Don

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Alamanda

Manacá-de­cheiro

Bcla-cmília

Extremosa

Ninfeia

Arbustivo

Arbu~tivo

Arbustivo

Arbóreo

Herbáceo

Ninfeia Herbáceo

Ninfeia Herbnceo

Lírio d'água Herbáceo

Vitória-régia Herbáceo

Herbáceo

Flor-de-lótus Herbáceo

Mureré Herbáceo

Aguapé Herbáceo

Boa-noite Arbuslivo

201

Page 102: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

hpcdfü íl\ <ICl Nome lknlifü.o Nome !\Ntrnlo por llu rlc Marx ;11 ua lizad o populnr I ft·linmio l le/ico11ia Cactczi nho J\ rhu, I i vo ps1l l11coru 111 , L. psiltawrum L. f. Weclrlia p11/11dosa, Sphagne/ icola Mal-me-quer l lcrbkco DC var. vialis DC trilobata (L.) Pruski

Vi11rn major, Vinca major L. Boa-noite 1 Icrb:ícco 1 •. var.alba hor t.

1\ na/Jidaea Arrabidnea mag11i.fica 111agníjica, Spragu (W Bull) Sprague

ex Steenis

Sariteia Trepadeira

'J lrumbergia 1hunbergia Azulzinha Trepadeira gm1uliflora, Roxb grandiflora Roxb.

Congea tomentosa, Rxb Congea Congeia Trepadeira tomentosa Roxb.

A carnaúba tem presença destacada no projeto, tendo sido

colocada em um renque que envolve parte do espelho d'água e

do coreto e, também, em adensamento no lado direito da praça.

Convém lembrar que a carnaúba é a árvore símbolo dos estados

do Piauí e do Ceará, sendo muito presente na paisagem piauiense;

inclusive, como citado anteriormente, foi encontrada no terreno antes da construção da praça.

A árvore Couroupita guianensis, conhecida como abricó­

de- macaco, foi especificada por Roberto Burle Marx, não só na

praça, mas também em seus outros dois projetos na cidade. No

lado direito da praça, indivíduos desta espécie foram reunidos formando um pequeno bosque.

Em levantamento realizado no primeiro semestre de 2010

na Praça Monumento Da Costa e Silva, foram encontradas 17

espécies, distribuídas em 10 famílias, que não foram especificadas

110 projeto de Roberto Burle Marx (Tabela 2).

202 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Tnbcla 2: Vcgclaçao acrcs«.:cnlada ;\ Praça

Monumento Da Cosia e Silva.

Nome clcntífko

1blro11i11111 f ra.>..i11ifoli11m Schott ex Spreng.

C:ryplostegia grandiflora R. Br.

/foyslcmea o/eracea (Jacq.) O.F. Cook

C:rescentia cujete L.

jacaranda sp

Tecoma stans (L.) )uss. ex Kunlh

Pseudobombax sp

Pachira aquatica Aubl.

Capparis flexuosa (L.) L.

Cassia sp

Delonix regia (Bojer ex Hook.) Raf.

Hymenaea courbaril L.

Anadenanthera sp

Enterolobium contorlisiliquum (Vell.) Morong

Pithecellobium diversifolium Benth.

Bougainvillea spectabilis Willd.

Bambusa sp

Nome popular

Gonçalo-alves

Alam anda-roxa

Palmeira-imperial

Cuiuba

Caroba

!pezinho

Paincira

Mamorana

Feijão-bravo

Cássia

Flamboyant

Jatobá

Angico-branco

Orelha-de-negro

Mata-fome

Buganvile

Bambu

Fonte: Profa. Dra. Roseli Farias Melo de Barros e MSc. Fábio José Vieira. 2010.

Estrato

Arbóreo

Arbusti vo

Palmeira

Arbóreo

Arbóreo

Arbustivo

Arbóreo

Arbóreo

Arbustivo

Arbóreo

Arbóreo

Arbóreo

Arbóreo

Arbóreo

Arbóreo

Arbustivo

Atualmente, na praça, há apenas seis espécies das 34

especificadas no projeto original, que são: o ipê-amarelo

(Tabebuia chrysotricha), o oiti (Licania tomentosa), o ipê-roxo

(Handroanthus heptaphyllus), o abricó-de-macaco, a carnaúba e a

alamanda (Allamanda cathartica).

Como observado, não resta nenhuma das espécies herbáceas,

seja aquática ou terrestre, nem trepadeiras indicadas. Pelo porte

desenvolvido de algumas árvores e pela forma como estão

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 203

Page 103: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

plantadas, seguindo o desenho proposto, supôc se que te11ha111 sido colocadas desde a · 1 t - d · É imp an açao o projeto. -:. o caso, por

exemplo, de indivíduos da espécie angico-branco (Anadenanthem

sp ), que foram encontrados no local onde deveria existir a pata

de-vaca (Bauhinia x blakeana).

Algumas espécies podem ter sido introduzidas a partir do

gosto pessoal dos responsáveis pelo local ou nascidas por meio

de outros vetores naturais, como pássaros ou morcegos, mas não

estão integradas ao projeto da praça, como é o caso da palmeira­

imperi~l (R?stonea oleracea) e do exemplar de flamboyant (Delomx regia) (Fig. 6).

Fi~. 6. Flamboyant (Delonix regia) e, ao fundo, o coreto, 20 LO. Fonte:

Wdza Gomes Reis Lopes.

204 Jard ins de Burle Ma rx no Nordeste do Bras il

/\ sllua\·ão atual da pl'.t\'•'

~) entorno da prt1\íl, í11il i.d111l'llll' composto de rcsid0m i,1s,

tornou se basicamcnlc comercial, com predomínio de lojas dl'

venda a atacado, que não envolvem grande movimcnla<i-ao dl'

pessoas. Além disso, a sociedade se modificou e pcrc.ku se o

costume da vivência nas calçadas. Dessa forma, as ruas próximas

passam a maior parte do tempo vazias, tornando o lugar insegu rn.

Em 1993, devido ao aniversário de 141 anos da cldadc de.•

Teresina, a praça passou por uma reforma realizada pela Prefci lura.

Nesse período, o espaço foi cercado com gradil de ferro, visando

aumentar a segurança, foi ampliado o número de bancos e foram

recolocadas as poesias no monumento ao poeta. Um jornal da

cidade disse: "Wall Ferraz lembrou que a Praça Da Costa e Silva

estava depredada e que a Prefeitura reconstruiu o logradouro parn

resgatar a história e a memória do poetà' (JORNAL DA MANl li\,

18 de agosto de 1993, p. 8). As placas de acrílico em que estavam

trechos dos poemas foram substituídas por outras de aço escovado,

que também terminaram por ser roubadas, restando hoje apenas

a placa de concreto com resumo da biografia do poeta (Fig. 7).

O traçado original do projeto foi pouco modificado,

permanecendo quase inalterado. Foram acrescidos caminhos com

piso de concreto, seguindo as linhas de desejo existentes. Ainda

foram inseridos alguns bancos, do mesmo padrão dos já existentes,

mas em outros locais, acompanhando a circulação, e foi colocado

um busto do poeta homenageado. O espelho d'água encontra se

desativado e o local do monumento está completamente pichado.

Quem conheceu o espelho d'água e as fontes em pleno

funcionamento sempre destaca a beleza destes equipamcnlos

fardlns de Burle Marx no Nordeste do Brasil 205

Page 104: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 7. Foto do memorial em 2011, visualizando-se a placa de concreto no piso. Fonte: Wilza Gomes Reis Lopes.

e da praça como um todo. Ela servia de cenário para fotos dos

moradores do entorno e de usuários, registrando momentos

da vida dos habitantes da cidade. Posteriormente, as fontes e o

espelho d'água foram desativados (Figs. 8 e 9).

Durante o final da década de 1990, muitos adolescentes

utilizavam este espaço para andar de bicicleta em grupo, depois

para a prática de patinação. Após o ano de 2000, houve a presença

de soldados do Exército, que usavam o espaço para se exercitarem,

e de grupos de malabaristas realizando ensaios. Foi observada,

ainda, a presença de atletas do Le Parcour e de Kung Fu, usando o

local para a prática destes esportes.

206 Jardins de Burle Mar x no Nordeste do Brasil

Figs. g e 9. Dois momentos distintos do espelho d'água, vendo-se as fon tes 1•11 1

movimento e depois desativadas. Fonte: Acervo particular de moradores do cnto11111

(década de 1970) e Arquivo Público do Piauí (década de 1990).

Apesar da predominância de lojas de comércio atacadist.1

no entorno da praça, esta apresenta, de forma modesta, certa

diversidade e possui algumas residências, escolas de nívd

fundamental e médio, restaurantes, biblioteca e a Casa da Cultura

de Teresina, onde ocorrem aulas de dança, pintura e desenho. As

residências, em sua maioria, diferem totalmente das que existiam

na época da inauguração.

A comunidade deixou de usar a Praça Monumento Da Cosi a

e Silva em determinados horários por causa da marginalização

do espaço, consequência das modificações socioeconômicas que,

ao longo de 30 anos, ocorreram no entorno, e do surgimento <.k

outras opções de lazer, a exemplo dos shoppings centers. Atualmente, durante o dia, a praça é usada por trabalhado res

para descansar em horário de almoço, nos bancos ou no chão.

Eles ocupam, principalmente, o lado direito da praça, onde st•

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 207

Page 105: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

silua o monu 11 1cnto, devido à proximidade com a Cl\PISA, poii:i

os usuários são, em sua maioria, funcionários lcrccirizados dcsla empresa.

Ao se analisar o histórico da praça, percebe-se que em ncnhu m

momento o local deixou de ter usuários, embora tenha havido

preferência de certos usos em determinados horários. Trata-se

de um local bem arborizado, com um traçado que tirou partido

do desnível para criação da cascata, resultando num ambiente diferenciado.

Segundo Sá Carneiro (2010, p. 65), na Praça Monumento

Da Costa e Silva, Burle Marx criou um "ambiente contemplativo,

que explora a vegetação local distribuída no entorno do espelho

d'água central ( ... ).O espelho d'água reflete a beleza e os detalhes

da vegetação, atraindo os olhares dos visitantes':

Considerações finais

A Praça Monumento Da Costa e Silva reúne três aspectos

importantes relacionados ao patrimônio cultural da cidade de

Teresina, representados pela ligação do espaço com o Rio Parnaíba,

o espaço como monumento ao poeta mais importante do Piauí e o

único espaço público projetado por Roberto Burle Marx.

A presença de atletas e crianças no local mostra que ainda

existe a possibilidade de revitalização da área. Dessa forma, por se

Lratar de um espaço público que acumula história e significados,

fazendo parte da identidade e do patrimônio cultural da cidade, é

i rnportante que seja revitalizado para cumprir seu papel social e ressaltar seu valor arquitetônico e paisagístico.

200 Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

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Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 209

Page 106: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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210 Jardins d e Burle Marx no Nord este do Brasil

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1.uls. Rccirc: Bagaço, 2005. p. t 7J 20 1.

Agradecimentos

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológk o

(CNPq), pelo auxílio financeiro a esta pesquisa.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 211

Page 107: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

JARDINS OE BUIU,H M/\UX EM NAT/\t

P,1\ilo josé Lisboa Nohrc '

M<Írizo Vítor Pereira

lsa(as da Silva Ri beiro

Introdução

Os projetos de Roberto Burle Marx e Arquitetos Associados

(Escritório Burle Marx & Cia. Ltda.) realizados para a cidade d~·

Natal integram a fração imaterializada de uma obra grandiosa. As

razões para a não execução dos jardins projetados para a capital

potiguar são diversas, embora não sejam suficientes para explicar

o esquecimento dessa importante contribuição à paisagem

natalense. Como resultado, as marcas do trabalho do mui()l

paisagista brasileiro estão ausentes da cidade e as suas idci<lS

seguem ignoradas pela maioria da população.

Alguns exemplares desse pequeno conjunto de quatro jardins

são citados por importantes pesquisadores da obra de Burle Marx,

embora os registros gráficos desses projetos permaneçam inéditos

na bibliografia sobre o paisagista. Dois deles integram o elenco dos

seus principais projetos, segundo Flávio Motta (1983) e Jacqu •s

Leenhardt (2000). Trata-se da Praça Kennedy (1979) e da Alcalis

do Rio Grande do Norte S.A., Alcanorte (1980).

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil Z l '1

Page 108: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1 I 1 ;

A Praça Kennedy

A Praça Kennedy está localizada no tradicional "Grande

Ponto" - a esquina da Avenida Rio Branco com a Rua João

Pessoa - no bairro da Cidade Alta, onde se encontra instalado

um monumento em homenagem ao presidente norte-americano

assassinado em 1963.

O pequeno monumento (um busto de Kennedy e um<1

frase de sua autoria) foi erguido na Rua Toão Pessoa no

local então designado, pela mídia, de Praça da Imprensa.

O referido monumento foi inaugurado no dia 1° de maio

de 1965, pelo embaixador norte-americano no Brasil,

o Sr. Lincoln Gordon, em cujo discurso agradeceu, em

nome da família Kennedy, a homenagem que o povo de

Natal lhe prestava naquele momento (SOUZA, 2008, p. 183).

No dia 12 de julho de 1979, o Jornal "Tribuna do Norte" citou

o projeto paisagístico de Burle Marx para essa praça, atestando

que o paisagista havia estado em Natal no dia anterior.

Em ligeiro contato com o Prefeito José Agripino, prometeu

fazer o projeto do bosque da Beira Canal e Capitania dos

Portos, onde a Prefeitura pretende construir um parque,

Praça Augusto Severo e Kennedy, no Centro (TRIBUNA

DO NORTE, 12 de julho de 1979, p. 1).

Nenhum registro desses projetos foi localizado nos arquivos

do Departamento de Paisagismo da Secretaria Municipal de

Serviços Urbanos (SEMSUR), órgão da Prefeitura Municipal de

Natal responsável por administrar as áreas públicas da cidade.

Considerando que o projeto para a Praça Kennedy é citado por

214 Jardins de l3u rle Marx no Nordeste do Brasil

Moll ,1 ( 198 ~) L' l.et:11h,1rd1 (2000) , plldl' se rnnclu ir qu ~· .\p t•1w 11

l'~ l t' loi dcilcnvolvido, t:nl n· aqut·ks aL i ma relacionados.

r ornparando registros folog rc\fiCOS publicados (.! Ili 1979

(ll1g. 1) e outros da mesma época (MIRANDA, 198 1, pp. '19 50)

mm a siluação encontrada em 2002 (DIÁRIO DE NATAL, J 9 <fr setembro de 2002, p. 3), pode-se constatar que, nesse interva lo dl'

tempo, a Praça Kennedy foi objeto de intervenções parciais, como

a substituição do piso, do mobiliário e desenho dos canteiros.

Porém, nada lembra o traço marcante da concepção paisagíslicn

de Burle Marx, menos ainda na conformação atual do espaço,

após passar por uma ampla reforma em 2004.

Fig. 1. Praça Kennedy em 1979. Fonte: Biblioteca Setorial do Curso di·

Arquitetura e Urbanismo da UFRN.

Ja rdins de Burle Marx no Nordeste d o Brasil 215

Page 109: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Em 2002, o roubo do bL1sto e de oulras peças de bronzt•

que compunham o monumento a John Fitzgerald Kennedy foi

denunciado pela imprensa (DIÁRIO DE NATAL, 19 de setembro

de 2002, p. 3). Um ano depois, nenhuma providência havia sido

tomada e a praça se encontrava em estado de abandono, o que

motivou a seguinte declaração do então prefeito:

Essa é uma praça simbólica que guarda a memória de

um grande líder mundial. Além do novo busto, vamos

recuperar a estrutura do local (DIÁRIO DE NATAL, 13

de setembro de 2003, p. S).

A reposição do busto foi marcada para o dia 22 de novembro

daquele mesmo ano, data do assassinato do homenageado, porém

a reinauguração da praça só ocorreu alguns meses depois.

AAlcanorte

Esta praça e o referido monumento foram restaurados e

reinaugurados pelo prefeito Carlos Eduardo Nunes Alves,

em 13 de fevereiro de 2004 (SOUZA, 2008, p. 184).

O segundo projeto atribuído a Burle Marx é o jardim para a

sede da Álcalis do Rio Grande do Norte S.A. - Alcanorte, edifício

de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer. Conforme mencionado

anteriormente, a proposta para este jardim não foi publicada, mas

apenas citada por Flávio Motta ( 1983) e Jacques Leenhardt (2000).

Porém, o alto custo dessa construção foi alvo de denúncia da

"Revista Veja" em artigo denominado "Palácio da Seca" (REVISTA

VEJA, n . 640, 1980, p. 136). Tal artigo motivou a seguinte carta do

arquiteto:

216 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

l.l ,, "º'" 'it1h1 1• 11 i\ 11 >1 11111 l t', 1 ujo l h ulo "l 1.tl.h lo .\,1 S1•1 , ,·~

í.· til' 1·vld1·111l' 111 .1 k ( ltEV IS'l'A V E)i\ 11 . MO). O 41111

..:araLlni1.1 11111 p.il.11 io sao n~ gr;111des l'~pa~o:-. l1vn·~ 1· 11•,

acabamentos lu xuosos que lhe düo a impo11<'.'ncí.1 dl'M'J.1d11 .

Ora, a sede da Alcanortc se constitui de dois andares,'º"'

salas de trabalho, a maior - a sala <lo presidente u1111

apenas 6 x 6, isto é, 36 melros quadrados. E os matei ials

adotados são simples e despretensiosos: pintu ra brn11l.I

nas paredes, piso de tapete colado, tetos caiados, etc. As

plantas da Alcanorte estão no meu escritório à disposiçao

dos interessados. É pena que uma revista respo ns~\wl

como Veja leve aos seus leitores informação dessa

natureza (REVISTA VEJA, n. 644, 1981, p. 8).

Essa descrição se refere ao edifício cuja maquete é mostrada a

seguir (Fig. 2). Não obstante a defesa feita por Oscar Niemeycr, a

obra foi suspensa pelo Governo Federal: "Alertado por um artigo

do Jornal do Brasil, o ministro da Indústria e Comércio, Camilo

Penna, decidiu adiar por tempo indeterminado a construção da

suntuosa sede da Alcanorte em Natal" (REVISTA VEJA, n. 642,

1980, p. 71).

Fig. 2. Projeto para a Akanorte, Oscar Niemeyer, 1980.

Fonte: Revista Veja, n. 640, 1980.

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 217

Page 110: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Assim, a cidade deixou de receber um conjunlo arqui lctónko

e paisagístico idealizado por esses dois renomados profissionais,

que trabalharam juntos em diversos projetos emblemálicos do modernismo brasileiro.

O Parque das Dunas - Via Costeira

Outro jardim projetado para Natal foi destacado por José

Tabacow, arquiteto associado do Escritório Burle Marx & Cia.

Ltda., ao se referir à colaboração entre Burle Marx e os botânicos , no caso Luiz Hemygdio de Mello Filho.

A parceria prolongou·se por toda a vida do paisagista,

concretizando-se em importantes trabalhos, entre os

quais se destacam o Parque do Flamengo, no Rio de

Janeiro, e o Parque das Dunas, em Natal, Rio Grande do

Norte (TABACOW, 2009, p. 108).

A elaboração do projeto paisagístico do Parque das Dunas

- Via Costeira (1981) está registrada na historiografia local pela

sua inserção numa polêmica que marca o avanço do movimento

ambientalista na cidade, na transição entre as décadas de 1970 e

1980. Na época, o arquiteto Luiz Forte Netto foi contratado pelo

Governo do Estado para desenvolver o projeto urbanístico de uma

avenida litorânea de cerca de 1 O quilômetros, ligando as praias de

Areia Preta e Ponta Negra, ao longo das quais seriam dispostas

Unidades Turísticas, conforme descrição:

218

A pista terá uma calçada com quatro metros de largura,

ciclovia com 2,5 metros, canteiro central e uma pista de

rolamento com 12 metros de largura. Percorrendo todo

Jardins de Burle Mar x no No rdeste do Brasil

o l 11\)l' lo do 11111 11, l111Vl' l".I sq.1u11do o l·ngl' ilhl•iro l llo11 w 11

(;onH.' ' So,\l l'' I· .i ~ 11111dadl·s lurb l ii.:ah cm n11mero de l r6:.

('J'RJllUNJ\ DO NOll'l'E, 21 de novembro de 1979 , p. \) .

Por se tratar de uma intervenção em área de dunas dispostas

ao longo de praias quase inacessíveis, num cenário natural

praticamente intocado e com baixíssima ocupação, a sociedade

civil começou a se manifestar temendo a degradação ambiental.

As críticas motivaram contrapartida em defesa do projeto e o

então secretário de Planejamento, Marcos Formiga, teve a ideia

de convidar Burle Marx: "Com toda a polêmica que existia na

época, era preciso a opinião de um especialista, de um ecologista"

(JORNAL DE HOJE, 12 de setembro de 2008, p. 8).

Inicialmente visto como uma orquestração de grupos de

orientação política contrária ao governo, o movimento popular

recebeu o apoio de associações profissionais (arquitetos e

geólogos), professores e estudantes, alcançou grande repercussão

e teve como principal resultado a contratação de Burle Marx pelo

Governo do Estado.

Na véspera de encerrar o seu mandato, no dia 14 de

março de 1979, o Governador Tarcísio Maia contratou,

por Cr$ l milhão e 580 mil cruzeiros, a empresa Burle

Marx & Cia, do Rio de Janeiro, para fazer o projeto

paisagístico do Parque das Dunas, visando, sobretudo,

à preservação daquela área ( ... ). A contratação de Burle

Marx, que era o maior especialista em paisagismo no

Brasil, tinha por objetivo calar a boca dos legítimos e

dos pseudo-ecologistas de Natal. E Conseguiu! {SOUZA,

2008, p. 660).

Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Bras il 219

Page 111: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

A presen<;a de Burle Marx deu respeitabilidade ;\ in k iuli va

do poder público e a imprensa empenhou-se cm divu lgar·

amplamente sua participação, procurando desqualificar 0 deb::itc

ambientalista, como pode ser constatado nas citações abaixo:

220

A contratação do paisagista Burle Marx, considerado

um dos maiores "experts" no ramo, foi o ultimo ato d o

Governador Tarcísio Maia. Desse modo, os que condenam

a Via Costeira ficam sem poder criticar o projeto, já que

Burle Marx é considerado um dos maiores defensores da

ecologia (TRIBUNA DO NORTE, 18 de março de 1979, p. 8).

Demonstrando claramente a preocupação com o assunto,

assumindo a responsabilidade pela obra, o Governo partiu

para dir imir firmemente as dúvidas e as indagações. E essa

resposta veio na presença, no prestigio e na autoridade do

paisagista Roberto Burle Marx, responsável pelo aspecto,

digamos ecológico, da iniciativa. ( ... ). Burle Marx, que

sobrevoou toda a área e depois percorreu-a para uma

análise inicial, disse a respeito que as polêmicas em torno

do assunto a nada estão levando, a não ser dizemos nós,

ao obscurantismo disfarçado em posição de vanguarda

ecológica, à promoção pessoal de grupos minoritários,

simulando a defesa do interesse coletivo (TRIBUNA DO

NORTE, 13 de julho de 1979, p. 4).

Burle Marx chegou e disse: "a construção da Via Costeira

não vai ocasionar o desequilíbrio ecológico e 0 projeto

do Parque das Dunas preservará toda a flora existente

na área" ( ... ). Está reafirmando o bom senso de quantos,

desde os primeiros instantes, defenderam a construção

da via Costeira contra a fúria dos "ecólogos" de beira de

praia (TRIBUNA DO NORTE, 24 de outubro de 1979, p. 2) .

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

O pnisngisla co11H·dt·11 t•nl n•vtsla ari r111a11do sua preocupa\'10

l om a preservação do meio a111hicntc e corno aspecto educacional,

n illu rah e estético - marcas registradas das suas intervenções. 1

<)uestionado sobre a polêmica em torno do projeto, declarou:

"Aceitamos com muito prazer''. Foi como respondeu à

indagação ( ... ). Eu defendo aquilo que justifica defender.

Vou fazer uma coisa que seja útil para a coletividade,

estamos acima de facções ( ... ) o trabalho tem que ser

unânime, não apenas arquitetos, mas todos os interessados

em dotar a área de um sistema que realmente promova

a preservação (TRIBUNA DO NORTE, 12 de julho de

1979,p. l).

Burle Marx concebeu o projeto a partir do uso da flora local

e, para tanto, foi necessário executar o inventário florístico do

Parque das Dunas - realizado por equipe local sob a supervisão

do botânico Luiz Hemygdio de Mello Filho. Durante dois anos,

foram desenvolvidos estudos num horto experimental criado na

Via Costeira, visando identificar as espécies vegetais nativas mais

adequadas às condições adversas do local.

O projeto, disse Burle Marx, será desenvolvido

lentamente, "e mais importante ainda é que será

aproveitada toda a flora da região" ( ... ). Sobre o início

do projeto, disse que agora vai depender de como será

desenvolvido, mas confirmou que será montado em

Natal um horto experimental para que sejam acentuadas

a vegetação existente e não trazer de outras regiões.

Bastante entusiasmado, à medida que falava, Burle Marx

fez ver que em certos lugares é necessário o plantio de

árvores, mas em outros "é saber coadunar a arquitetura

para um plantio urbanístico" (TRIBUNA DO NORTE, 12

de julho de 1979, p. 1).

jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 221

Page 112: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

A <>~l1p.1~ 1\o p1 l'Vin i11 k i:tl111 L'll ll", .d\'.· 111 Lk til'~ lJnld. tdl'~ 'l'urfstkas com ti11co holéis, :t.ona de t'lfUi punH' lllos tk

lu'l.cr, :\rcas de cumping, bclvcdcrc e 'l.0 11 as lk prnlt\:lo

rigorosa. 1 lavcria também a cri:ição de 11 111 horlo

experimental u ser utilizado na recuperação de p:irlcs

desnududas ao longo do parque ( ... ). O projeto do horto

foi desativado e a comissão interdisciplinar [Comissão

de Acompanhamento Técnico e Negociação do Projeto

Parque das Dunas] constatou o seguinte: "Comparando­

se o registro original das unidades turísticas efetuadas em

cartório, observou-se uma total discordância em termos

de configuração geométrica, entre aquele registro original

e os registros das áreas individuais"( ... ). Segundo 0 autor

do projeto, o arquiteto Luiz Forte Netto, foram negociadas

áreas reservadas à preservação, de equipamento de lazer,

estacionamentos e até mesmo o belvedere. Não sabendo­

se até o momento que critérios foram usados pela empresa

governamental [EMPROTURN] para as presentes

alterações. Comenta o autor do projeto no seu parecer

que se a atual situação for consolidada será "altamente

prejudicial para a cidade de Natal e desmoralizante para

o Governo" (SOUZA et aJ, 1987, pp. 3-4).

É possível identificar o rebatimento dessas ideias no projeto

paisagístico. Em termos formais e funcionais, os jardins propostos

não apenas oferecem espaços de lazer (esporte, recreação e

contemplação), mas valorizam as características do cenário

rialu ral e integram os equipamentos previstos para as Unidades Turísticas à paisagem (Fig. 3).

A prioridade dada ao uso social pode ser verificada através

da profusão de acessos públicos e espaços de permanência

distribuídos em patamares que se convertem em belvederes,

li gados por escadas, rampas e passeios.

222 Jard ins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

O u>lll rn lo p,1rn o p1 o)l' l<> p.lis.1gísl lrn pr ev1a a arboril'<.t\ no

1.• o ajard inamento da fiH:t' do Parque das Dunas que l<1dcava a

Via Coslci(ª · O projclo prop6s a recomposição das dunas, pois a

construção implicou drásticas modificações na feição natural do

terreno. Como é notório em sua obra, Burle Marx não procurou

copiar a paisagem natural, mas tomou a natureza como referência

para criar uma nova paisagem. Em suas palavras:

Nossos urbanistas também precisam abrir os olhos para

a riqueza dessa flora. Nossas cidades são projetadas de

maneira empírica, com fontes luminosas forradas de

ladrilho de banheiro, hermas inexpressivas, para não falar

na vegetação, na maioria das vezes exótica, arrasando a

vegetação natural existente, numa ambição medíocre de

pastichar a flo ra de caráter internacional ( ... ). B preciso

proteger a natureza como um repositório de beleza,

na esperança de que as árvores floresçam por muitos e

muitos anos. Afinal, é essa esperança que dá um sentido

superior à vida (TRIBUNA DO NORTE, 9 de setembro

de 1979, p. 5).

A proposta original da Via Costeira sofreu diversas alterações.

A diretriz de ocupação do espaço em Unidades Turísticas, em

cujos interstícios se conformava um sistema de espaços livres, foi

sucessivamente modificada, permitindo a ocupação por hotéis em

toda a extensão da orla. Assim, foram inviabilizados os generosos

jardins públicos à beira-mar pensados por Burle Marx. Diante da

m agnitude desse projeto, constata-se que a cidade perdeu uma

oportunidade ímpar e que, em função da falta de interesse político

e da omissão dos gestores públicos, os cidadãos foram privados de

desfrutar um parque singular.

223

Page 113: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

flg. 3. Projeto do Parque das IJunas Via C :oslcira, Robc1 to Burle Marx, Haruyoshi Ono, josé 1àbacow, Esc. 1 :500, 1981 . Fonte: Arquivo do Parque das Dunas, IDEMA, Nata l-RN.

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224 Jardins de Bur le Marx no :-.Jordeste do Brasi l

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Jardins de Bu rle Marx no Nordeste do Brasil

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225

Page 114: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

O Pátio Interno da Biblioteca Central da U fllN

O quarto jardim de Burle Marx para Natal não está registrado

em sua biografia oficial. É praticamente desconhecido, mesmo

na instituição para a qual foi criado, a Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. O projeto paisagístico do Pátio Interno

da Biblioteca Central da UFRN foi elaborado em julho de 1976,

período de plena execução do Campus Universitário, cujas obras haviam sido iniciadas em 1972.

A instalação da UFRN no campus universitário se deu

na década de 70. O projeto do campus, cuja implantação

é iniciada em 1972, durante o reitorado do Prof.

Genário Alves Fonseca (1971-1975), consolida-se na

gestão do Prof. Domingos Gomes de Lima (1975-1979),

espraiando-se por uma área aproximada de 130 hectares.

O Plano Geral do Campus foi elaborado pela equipe do

arquiteto paraense Akyr Meira, responsável, também,

por algumas de suas primeiras edificações {NEWTON JÚNIOR, 2008, p. 27).

No relatório do seu primeiro ano de administração, o reitor

Domingos Gomes de Lima declarou que a primeira medida adotada

com referência ao Campus Universitário foi o redimensionamento

do seu Plano Diretor (LIMA, 1976, p. 42). No Relatório de

Atividades de 1977, o reitor informou o prosseguimento das obras

e, embora não faça qualquer alusão à contratação do Escritório

Burle Marx & Cia. Ltda., relacionou a Biblioteca Central entre as

construções realizadas ou complementadas naquele ano (LIMA, 1977, p. 115) (Fig. 4).

A Biblioteca Central integra o primeiro conjunto de edifícios

composto de obras de feição brutalista construídos no Campus

226 Jardins d e Burle Marx no Nordeste do Brasil

\Jnivcrsittfrio. Nesse sentido,''° d1srnrrcr sobre n arquitclun1 d.1

Universidade Federal do Rio (;rande <lo Norte, Edja Trigueiro

aprcs~nla as seguintes considerações: 1

O conjunto arquitetônico-urbanístico inicial do Campus

da UFRN evidencia, de modo exemplar, as contradiçol'S

embutidas na fase de disseminação internacional

da proposta brutalista, a começar pela implantaç;io,

estruturada segundo rígido zoneamento fun cional, talvez

o alvo maior de crítica por parte das vanguardas dos anos 1950 ( ... ). Na origem do "New Brutalism" estava

também a busca pela adequação às especificidades locais:

aos condicionantes climáticos, às formas preexistentes.

Na maioria dos edifícios inicialmente construídos

Fig. 4. Biblioteca Cent ral da UFRN em construção, 1975, projeto de

Alcyr Meira, de 1973. Fonte: Seção de Coleções Especiais da Bibl ioteca

Central Zila Mamede/UFRN.

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 227

Page 115: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

no Campus. ns ma teriais t' clc1 nc11tos dt• vnl11~ 1\11 s1w in leiramenlc inadequados ao cli ma quente t' (unido lornl,

como comprovam estudos de conforto ambil'nlal ll l l

realizados. Concreto, pedra, ftbrocimento, vid ro; janelos

que mesmo abertas barram a entrada do ar, esquecidas

a telha cerâmica e as janelas de grandes aberturas

que acompanharam todas as tendências estilísticas

anteriormente presentes em Natal (TRIGUEIRO, 2008,

pp. 63-64).

Entre os jardins de Burle Marx para Natal, o projeto para

o Pátio Interno da Biblioteca Central da UFRN é 0 que melhor

permite apreciar sua concepção, uma vez que, ao contrário dos

demais, o registro gráfico detalhado da proposta encontra-se

integralmente disponível para consulta.1 Portanto, escolheu-se

esse projeto, ao que tudo indica nunca executado, para 0 estudo

detalhado da paisagem idealizada por Burle Marx em Natal.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte instalava

a Reitoria do Campus Universitário Central, no ano de 1976,

nas dependências do edifício da Biblioteca Central, atualmente

denominada Zila Mamede. Nesse mesmo ano, Roberto Burle

Marx concebia um projeto de ajardinamento do pátio interno

desta edificação, em que se oferece mais uma oportunidade

para que sejam observados os elementos, formas, cores, ritmos

e volumes que registram um momento no seu processo criativo.

Assinado pelo Escritório Burle Marx & Cia. Ltda., tendo como

arquitetos associados José Tabacow e Haruyoshi Ono, 0 jardim foi

idealizado num ano em que predominavam projetos residenciais

1 A U~iversidade Federal do Rio Grande do Norte detém a posse do projeto executivo arqmvado na Superintendência de lnfraeslrulura (SIN/UFRN). '

228 Jardins de Burl e Marx no Nordeste do Brasil

11.1 p1mlw;;\o do p;lisagistll , 1.k ,1, 01do uim n n.•ln~ no ,1p1'<.·1w 11l l1 d t1

por Jticqucs Lccnhardl (2000) . ~çgurH.lo Newton júnior (2008), o cdi fk io <\brigou a rcito1111

,\IL' 1979, quando a administração universitária foi trnnsfcridt1

para seu endereço definitivo. Embora ainda sejam desconhecidas

as motivações para a encomenda desse jardim, o fato de o edifício

comportar a reitoria naquele momento pode justificar o empenho

em qualificar o espaço interno, que, no projeto arquitetônico de

Akyr Meira (1973), está indicado apenas com o um "vazio'~ No interior da biblioteca, o jardim projetado por Burle Marx

surge como um oásis: sombreado e revigorante. A proposta

pode ser apreciada sob alguns aspectos, como o seu traçado e os

materiais indicados (Fig. 5). Situado no térreo da edificação - de linhas retas e concreto

aparente2 - e ocupando uma área de aproximadamente 100 m2

,

o jardim está estruturado em dois retângulos, nos quais são

distribuídas as espécies vegetais que trazem a natureza ao interior

da biblioteca. A proposta, apresentada em duas partes, define uma

única mancha, interrompida por uma passarela. Um caminho

central convida o observador a desfrutar toda a extensão do

jardim, oferecendo um espetáculo visual para os que caminham

no piso térreo e no pavimento superior.

A vegetação revela os canteiros de formas sinuosas e

assimétricas, a exemplo dos traçados ameboides que foram

utilizados no emblemático Jardim do Ministério da Educação

2 O edifício é descrito como um prisma de base retangular e estrutura aparente, ck horizontalidade predominante intensificada pelas vigas, paredes cegas e aberturas

contínuas (VILAR et ai, 2007).

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 229

Page 116: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

e Saúde (Rio de Janeiro, l 938), no que diz respeito às mtHlthas

que o compõem e definem seu caráter de conjunto. Esse aspecto

também aponta para o repertório formal do artista através d<1s marcas de experiências anteriores.

O projeto da Biblioteca Central da UFRN proporciona um

visual que revela sua riqueza de texturas, cores e formas. Cada

planta assume seu valor plástico - presença da natureza na

construção. Uma proposta recorrente em projetos posteriores,

'. , __ .( ~> ~-~; .. ·- . ·- -····---

.l .. -+--· + . , --·!'"'"

i 1 ~ ------.. :::::::::.._--::--- - r=-1• --.J-ll•W' ...... lil °'-..... ... - l -

Fig. 5. Projeto para o Pátio Interno da Biblioteca Central da UFRN,

Roberto Burle Marx, Haruyoshi Ono, José Tabacow, 1976. Fonte: Superintendência de Infraestrutura da UFRN.

230 Jardins de Burle Marx n o Nordeste do Brasil

w 1110 o j:mlim i11l l'l'1H> d11 iH'llt• do Ha11rn do Nordcsl L' BNU

(Fortaleza, 198'1) e o 'l'L'a trn Nndonal Claudio Santoro (Urnsfll,1 ,

1981).

No espaço periférico, estão dispostos canteiros de formas

orgânicas e geométricas, para os quais foram especificadas 16

espécies vegetais retiradas do sub-bosque da flora tropicnl,

adequadas às condições de sombreamento observadas nesse

jardim interno. Criando volumes, os elementos verticais, de

í - i ....... - - - .... -

-·--m===11 ----~11

- 111 L

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

'jFi 1 • 1 " 1 1. ••

·----.. 41 _____ -

....... --- ­.. ---.- ...... .. ---·~--.. ___ ...., ...... .. -~ .... ~

231

Page 117: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

alturas variáveis, são inlilulados no projeto como '\:strutu rns dt•

~axi~: Tais e~truturas- montadas sobre um "tubo de ctcrnH': cujo

mtenor contem um sistema de irrigação - conformam 0 suporte

adequado para a vegetação especificada. Um "misto" orgânico

envolve as estruturas cobertas por placas de xaxirn, arrematadas

por uma tela de arame galvanizado. A lista de plantas do jardim é

apresentada na Tabela 1.

Tabela l: Especificação da vegetação por Burle Marx para 0

Pátio Interno da Biblioteca Central da UFRN, 1976.

Especificação Nome científico Nome Estrato por Burle Marx atualizado popular

Alpinia nutans, Rose. Alpinia nulans (L.) Colônia Roscoe

Herbáceo

Alpinia Alpinia purpurata purpurata, K Schu. (Vieill.) K. Schum.

Alpínia Herbáceo

Caladiurn hybridum, Hort.

Caladium sp. Tinhorão Herbáceo

Calathea Calathea ínsignis Maranta-insignis, Hort. Petersen cascavel

Herbáceo

Calathea Calathea lietzei E. lietzei, E. Morr. Morren

Calateia Herbáceo

Calathea Calathea makoyana makoyana, E. Morr. E. Morren

Cal ateia Herbáceo

Calathea Calathea zebrina zebrina, Lindl. (Sims) Lindl.

Cal ateia-zebra Herbáceo

Cordyline Cordyline terminalis Dracena-termina/is Kunth. (L.) Kunth vermelha

Arbustivo

Phaeomeria Phaeomeria magnifica Bastão-do-111agnífica, K. Schum. (Roscoe) K. Schurn. imperador

Herbáceo

Philodendron Philodendron l11rilobum, Schott. /atilobum Schott

Imbé Herbáceo

z:sz Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

11.NIWd li\;11\'1\0 NOllU' .1t111tllk11 Nome P.~ll'llh>

por llurlc M1irx 11 t1ml 1'1.~ul11 popula r

f '/1lf<J1 ft'f11/nn1 l'ill /0</1·111l1(li1 lmhé /\ rhu~l Ivo

11111\·i111i1111 , K. Krn11se. 111axi11111111 K. Krausc

l'hil<lllemiro11 Phi/odendr011 pinnatifidum lmbé l lcrb<lu:o

pi111wtijidu111, Schott. (Willd.) Schott

Philodendron Philodendron Imbé 1 Ic rbáceo

pittieri, Eng/. pittieri Eng!.

Pilea nummularifolia, Pilea nummulariifolia Dinheiro- Hcrbkco

Griseb. (Sw.) Wedd. em-penca

Polypodium Polypodium Samambaia Herbáceo

subauricuiatum, Blume. subauriculatum Blume

Scindapsus Scindapsus aureus (Linden & André) Jiboia Herbáceo

aureus, Engl. Engl. & K. Krause

Os elementos verticais são encobertos pela folhagem e

cumprem a função estrutural dos troncos das árvores, que, na

natureza, hospedam plantas epífitas e escandentes. Diferem de

outros tipos de estruturas similares por não participarem do

jardim através de suas cores e formas visíveis, como é o caso dos

suportes para bromélias existentes no Sítio Roberto Burle Marx,

criados pelo artista a partir de composições que fazem alusão à

pintura neoplasticista de Piet Mondrian e Theo van Doesburg

(SIQUEIRA, 2001, p. 15). Na biblioteca, o resultado que se espera dessas estruturas

verticais é que possam ser vistas como "esculturas vegetais'',

formadas de maneira imprevisível e independente do homem

pela ausência de poda. Pode-se pensar estar diante de um

exercício escultórico de volumes virtuais ou transparência

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 233

Page 118: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

construli v~1 , a1 >t111 ·,1s 1 ··1so s, 1 1 .... <. • e esqueça que esses ( cscn w s no

espaço n5o possuem autonomia. Porém, o tempo irá recordar a

lodo o m om ento que se está presenciando o nascimento de um<i

escultura (vegetal), estruturas que "são fatos espaciais concretos e

não vi rtuais, são materiais e não transparentes, são instáveis e não

formas estabelecidas de arranjo plástico livre e qualidade abstrata"

(SIQUEIRA, 2001, p. 27). Os totens cobertos de vegetação - nas

palavras de Burle Marx, um volume lançado no espaço do jardim

- intensificam a dinâmica estabelecida pelas diferenças de altura dos volumes criados.

Os detalhes que integram a proposta dissolvem a monotonia

do plano, valorizando o conjunto, sem, contudo, comprometerem

as características individuais de cada elemento. Contornando 0

plano de forma geométrica, definida por seixos rolados e lajes

de piso, desenvolve-se a circulação interior que possibilita 0

deslocamento e a contemplação do jardim.

A configuração projetual favorece a observação pelo

movimento, tanto no pavimento inferior quanto no superior, a

partir do qual o jardim se apresenta em uma nova perspectiva.

Variedades de cores e tons, indo do verde ao vermelho, passando

pelo cinza e pelo roxo, e totens de alturas diversas preenchidos de vegetação marcam a composição.

Nenhum mobiliário é proposto, nem qualquer artefato que

convide ao descanso e à fruição. A princípio, parece configurar-se

como um jardim de passagem. No entanto, no interior das formas,

os caminhos convidam o usuário a desviar seu itinerário e passear

pelo oásis. Um pequeno e revigorante passeio que faz a ligação

entre o jardim e a arquitetura. Os seixos rolados que forram 0

solo,

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

11 11 porc,. no interior dos canteiros, Lri a111 u111 a c;11m1d<1 inlcrmedi ;fria

l' lllre os caminhos e a vegetação.

Es~c jardim de passagem dialoga com a arquitetura, ao

sugerir' o ritmo do fluxo das pessoas nessa área da construção.

O paisagista isolou a porção que lhe foi oferecida, colaborando

com a arquitetura, acentuando o partido e o programa da

edificação. A planaridade conferida pelas linhas horizontais que

marcam os lados dos retângulos é interrompida pela volumetria

que irrompe por meio dos "objetos-vegetais" e conduz o olhar do

espectador em direção ao "vazio" da construção. A solução amplia

o espaço no qual o jardim está localizado, fazendo pensar que

"Burle Marx queria ativar as relações físicas entre verticalidade e

horizontalidade, entre superfície e profundidade, entre extensão e

limite" (SIQUEIRA, 2001, p. 15).

Considerando a imagem parcial do jardim em 1981 (Fig.

6), pode-se inferir que o projeto de Burle Marx não havia sido

executado até aquela ocasião, embora a identificação de duas

espécies vegetais oriundas da flora tropical, com características

semelhantes àquelas especificadas pelo paisagista, possa sugerir

uma tentativa de execução parcial. São elas: a costela-de-adão

(Monstera deliciosa), em primeiro plano, e a dracena-de­

madagascar (Dracaena marginata), ao fundo.

Como pode ser constatado na figura seguinte (Fig.

7), atualmente o jardim perdeu identidade, exuberância e

tropicalidade. Observa-se que, exceto pela existência de um piso

de pedriscos que permite a circulação interior, a configuração

atual em nada se assemelha à proposta de Burle Marx, que pode

ser apreciada em realidade virtual (Fig. 8).

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 235

Page 119: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Fig. 6. Aspecto do jardim em 1981. Fonte: Seção de Coleções Especiais

da Biblioteca Central Zila Maniede/UFRN.

1:ig. 7. Aspecto atual do jardim . .Fonte: Os autores.

Jardins d e Burle Marx no Nordeste do Brasil

Fig. 8. Desenho simulando o projeto de Burle Marx. Fonte: Ana Cláudia

Sousa Lima e Miss Lene Pi:reira.

Considerações finais

O desejo expresso pela atual gestão da Biblioteca Central

Zila Mamede é de executar o projeto original e poder divulgar a

obra nos meios acadêmicos e na cidade, além de oferecer um belo

espaço de convívio aos seus usuários.

Tomando como exemplo as iniciativas de restauração dos

jardins de Burle Marx no Recife, promovidas pelo Laboratório

da Paisagem/UFPE, a realização desta pesquisa é motivada pelo

desejo de resgatar do esquecimento os projetos do paisagista em

Natal.

Espera-se também chamar a atenção da comunidade

universitária para a oportunidade de executar o projeto do jardim

para o Pátio Interno da Biblioteca Central Zila Mamede, legando

para as gerações futuras a marca da passagem do maior paisagista

brasileiro pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

jardins de Burle Marx no No rdeste do Brasil 237

Page 120: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

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z:rn Jard ins de Burle Marx no Nord este do Brasil

N< lBlrn, 11.1ulo: l'l :lll '. l llA, f\. 1111 1111 Vl1 111 N,,, pl'g.1d,1' 1k 11111 ll• M.11 x: ' 11.1

p:1ssagl'111 por Nat ;ll/RN. 111 . l ~ Nl '( >N'l' llO Ili ·'.< ; 10N~ ·I.· t>~ I SA<;t "~ .. ~~ lllS'l'() IU/\: )/\Rl)I NS 1\ IH JIU .I·'. M/\ l\X NO NOH:ll .. I·. NORDl .. S l h,

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Jardins d e Burle Marx no Nord este do Brasil 239

Page 121: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

'f'IU IHJN/\ do No1 te;-. V111 ( '0.1/t'im /"'""''voo 11111/J11•11t1•, 11/i H111/1• fllt111 , 1111 0 .10, n. 90, 12 jul. 1979.

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Agradecimentos

Afonso Martins, Ana Cláudia Sousa Lima, Ana Luiza Silva Freire,

Márcia Monteiro de Carvalho, Miss Lene Pereira e Nilberto Gomes de Souza.

240 Jard ins de Burle Marx no Nord este do Brasil

J\pfüHlicc: Projetos de! Uurlc Marx no Nordeste

A 1.MiOi\S

Não Projeto Cidade Ano Realizado

realizado

Pal:\cio cio Governador Maceió 1974 X

(Palácio Marechal Floriano Peixoto)

Residência Emllio Maya Omena Maceió 1976 X

Ministério da Fazenda Maceió 1979 X

BAHIA

Não Projeto Cidade Ano Realizado

realizado

Edifício Caramurn Salvador 1946 X

Terreiro de Jesus Salvador 1948/1950 X

(Praça 15 de Novembro)

Praça l3 de Maio Salvador 1950 X

Praça 2 de Julho Salvador 1950 X

Hotel da Bahia Salvador 1950 X

Reitoria da Universidade da Bahia Salvador 1952 X

Residência Fernando Goes Salvador 1952 X

Biblioteca Juracy Magalhães Itaparica 1968 X

Plano Patamares Salvador 1971 X

Bahia Othon Palace Hotel Salvador 1972 X

Centro Administrativo da Bahia Salvador 1973 X

Edifício Mansão Alfred Nobel Salvador 1974 X

Metalquímica da Bahia S.A. Salvador 1982 X

(Xerox do Brasil S.A.)

Robson Club Praia do Forte Salvador 1984 X

Feira de 1985 X Parque Feira de Santana

Santana

Condomínio Helena Chaves Salvador 1985 X

Parque São Sebastião Salvador 1986 X

Residência Helenilson jorge Salvador 1986 X

de Almeida Chaves

Jardins d e Burle Marx n o Nordeste do Brasil 241

Page 122: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Edifício Mans:io Cario~ Co~la Pinto Salv.1drn l<JHC> ,\ li 11.1 Ah1111h1l11 S.A 11111)

Co!llpanhia de Mineração Coil iteiro Salvador MiningS.A. 1987

1'111'1

Edifício Maison Bougainvillea Salvador 1989 X PAll1\(llA

CEARÁ Rcnl i7nd u N~o

l'rojcto C idndc Ano rcn ll111<lo

Projeto Cidade Ano Realizado Não realizado

Residência Benedito Dias Macedo Fortaleia 1968 X

Av. Aguanambi Fortaleza 1972 X

l'tm1uc Arruda Câmara João Pessoa 1939 X

!'raça Venâncio Neiva João Pessoa 1939 X

l'alúcio do Governador João Pessoa 1939

(Palácio da Redenção) (•)

Posto de Abastecimento da Petrobrás Fortaleza 1972 X Parque Solon de Lucena João Pessoa 1940 Avenidas Leste-Oeste e José Bastos Fortaleza 1973 X Praça em Areia (•) Areia 1943/1944 Prefeitura Municipal Fortaleza 1973 X Praça 1817 João Pessoa 1943/1944 X

'fheatro José de Alencar Fortaleza 1973/1990 X Praça na Av. Cruz das Armas João Pessoa 1943/1944

Hotel Colonial For taleza 1975 X

Min istério da Fazenda Fortaleza 1975 X

Pan1ue Açude Velho (') Campina

1952 Grande

Residência Denise Pontes Fortaleza 1980 X

Praça da l ndependência João Pessoa 1955 X

Edifício da Tecelagem Vicunha Fortaleza Nordeste S.A. 1983 X

Residência Cassiano Ribeiro Coutinho João Pessoa 1957 X

Praça Cívica da UFPB João Pessoa 1971 X

Banco do Nordeste do Brasil S.A. -Centro Administrativo Fortaleza 1984 X

Residência Emílio de Carvalho João Pessoa 1976 X

Coutinho {aluai Romildo)

Edifício Portal da Enseada For taleza 1985 X Parque do Cabo Branco João Pessoa 1981 X

Tiffanys Sea Flat Hotel Fortaleza 1987 X

Centro Empresarial C lóvis Rolim Ltda. Fortaleza 1988 X

Residência Pio Rodrigues Neto Fortaleza 1988 X

PERNA;\IBUCO

Realizado Não

Projeto Cidade Ano realizado

Caesar Park Hotel Fortaleza 1990 X Praça de Casa Forte Recife 1935 X

Jardim Botânico de Fortaleza -Fazenda Raposa Maracanaú 1992/1994 X

Av. Beira Mar - Trecho Caesar Park Fortaleza 1993 X

Edifício Coast Sea Tower Fortaleza 1994 X

Praça Euclides da Cun l1a Recife 1935 X

Parque Amorim Recife 1935 X

Residência Luis Paulo de Freitas (*) 1935/1937

Praça Lau ra Bandeira (Vila Naval) Olinda 1935/J 937 X

s1ARANHÃO Parque Dois Irmãos (*) Recife 1935/1937

Projeto Cidade Ano Realizado Não realizado

E.~cola Apr endizes Marinh eiros Olinda 1935/1937 X

Parque 13 de Maio (') Recife 193511937 Palácio do Governador (Palácio dos Leões) São Luís 1968/ 1973 X

Palácio do Governador Recife 1936/1937 X

(Palácio do Campo das Princesas)

242 Jard in s de Burle Marx no Nordeste d o Brasil Jardin s de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Page 123: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

11111111M 111h•l11111 l1d111 ll1'1ll1• Jll.111

lksld~ ll\ hi hnill ( :111.,11<'1 dt• 11111 rns l~ 1·1lk 11)7 \ l 1111111 cl11 l'o11 (. ) ll t'l lft• 11)16

Comp.inhia de Elclnudade 110 Estado llcdfc 1974

--de Pernambuco,- CEJ. PE

1'111111 Co1111110 dt· Jt·sus (l'1111u <:l1rn.1 Mc11 l110) Rcdfc 1936 X

E<li fído Lc Corbusicr Recife 1976 1'1111" do h1111 onc.1111 cn10 Rcciíc 1936 X

1 ndústria e Comércio 1976

111111·:1 /\rt11 r Os,111· Rcciíe 1936 X Sotave Nordeste (')

Edifício Oscar Niemeyer (•) Recife 1976

1'1,11·.1 Pinlo D.1111<1!.<> Recife 1936/1937

X 1'1111 ,1 <· 111 frcnlc ao quar1cl

Centro de Exposições e Convenções Olinda 1977 X

d.1 l(un do l lospício (' ) Recife 1936/1937

do Estado de Pernambuco 1'1.11 .1 Barão de Lucena Recife 1936/1 937

Residência Glauco Carneiro Leão (') 1978 X

l1r,11.1 das Cinco Pontas (*) Recife 1936/1937

Camaragibe 1980 X Bering do Nordeste S.A. 1•1,11,.1 do lkrby

Recife 1937 X

Jaboatão dos 1982 X

1'1.11.1 ela República Recife 1937 X Hotel Sheraton Petribu

Guararapes l'ra1·a Dezessete (*) Recife 1937

Sil 10 São João da Várzea Centro Social Tecanor S.A. 1982 X Recife 1940

Banco Nacional do Norte S.A. (*) Jaboatão dos

1982

( lks1dência Cornélio Brennand) X

Guararapes < :.1pda da jaqueira

Recife 1951 X

Centro Administrativo Banorte -Recife 1982 X

1'1,t\ a Ministro Salgado Filho Recife 1957 X

CENAB 1'1,1\·a Faria Neves

Recife 1982 X Recife 1958

Banco Safra S.A. ( l'r.11·a de Dois Irmãos)

X

Jaboatâo dos X 1983

1 '" lalcza de Pau Amarelo Paulista 1968 X Parque do Curado

Guararapes ll.111.:0 do Desenvolvimento de

Recife 1983 X

1'1•1 nambuco - Bandepe Recife 1969 Mar Hotel X (11.mco Santander)

Residência José Goiana Leal Jaboatão dos

1984 X Guararapes

lksid~ncia José Oliveira Recife 1969 ( ll.111co Santander)

X

Oficina Cerâmica Francisco Brennand Recife 1984 X

h lilTcio MichelangeJo Recife 1969 X

(Praça Burle Marx)

1985 X Petrolina

lks ld~nc ia António Galvão Recife 1970 X Parque Nilo Coelho l'd1fkio Transatlântico Recife 1971 X

Plano Diretor de Urbanização do Arquipélago Fernando de 1986

< .. 1111pus Universitário da UFPE Recife 1972 X

Território de Fernando de Noronha (*) Noronha

S11p1Tintcndência Nacional para o

Parque Memorial Arcoverde Olinda 1986 X

1 lt•,cnvolvirnento do Nordeste - Recife 1972 X SUl>"NE

Marlin Royal Flat Apart Hotel Recife 1986 X lk,idência João Pereira dos Santos Recife 1972 X

Hotel Arrecifes (' ) 1990 t .1•111it ério Parque das Flores Ja boa tão dos 1973

BSE/NE Office (*) 1990 Guara rapes X

:ltf4 Jardin s de Burle Marx no Nordeste do Bras il

Jardins d e Burle Marx no Nord este do Brasil 245

Page 124: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

PIAUf

Projeto Ci<l:tdc Ano Jtc:11i11ulo NO o

1<·oll 1111lo

Palácio cio Governador (Palácio de Karnak)

Teresina 1972 X

Praça Monumento Da Costa e Silva Teresina 19í5/1976 X

Rio Poty Hotel Teresina 1986 X

RIO GRANDE DO NORTE

Projeto Cidade Ano Realizado Não

realizado

Pátio Interno da Biblioteca da UFRN Natal 1976 X

Praça Kennedy Natal 1979 X

Álcalis do Rio Grande do Norte S.A. -Alcanorte

Natal 1980 X

Parque das Dunas - Via Costeira Natal 1981 X

Fonte: ~ott~ (1983); Leenhardt (2000); Escritório Burle Marx & Cia. Ltda.; Pesquisadores do

Grupo Jardms de Burle Marx''. Revisão: Ana Rita Sá Carneiro, Aline de Figueirôa Silva, Joel mir

Marques da Silva, 2013.

(') A ser confirmado.

(·)Cidade não identificada.

Observação!: A lista de Motta (1983) compreende o período de 1932 a 1983.

Observação 2: A lista de Leenhardt (2000) compreende o período de 1932 a 1989.

246 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasi l

Os Autores

Aline de Figueirôa Silva

Arquiteta e Urbanista/UFPE. Mestre em Desenvolvimento Urbano/U Pl' l\. Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo/USP. Pesquisadora do Laboratório d ,1

Paisagem/UFPE, onde foi bolsista do CNPq (2001-2004; 2008-2010). Coautora de "Os jardins de Burle Marx no Recife" (2009). Autora de "Jardins do Recií<.: : uma história do paisagismo no Brasil (1872-1937)" (2010). (o-organizador•\

de "Crítica de arquitetura: ensaios latino-americanos" (2013). Premiada pcln Getty Foundation para participar da Conferência Anual da Association for Preservation Technology lnternational (APTi), Charleston, Estados Unidos,

2012. Atualmente, é bolsista da FAPESP.

[email protected]. br

Ana Rita Sá Carneiro

Arquiteta e Urbanista/UFPE. Doutora em Arquitetura/Oxford Brookcs

University. Professora da graduação e pós-graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo/UFPE. Coordenadora do Laboratório da Paisagem/ UFPE. Líder do grupo de pesquisa "Jardins de Burle Marx''. Membro do Comitê Internacional de Paisagens Culturais, do CECI e da ABAP. Co-organizadora de "Jardins histór icos brasileiros e mexicanos" (2009). Coautora de "Os jardins de Burle Marx no Recife" (2009) e de "Roberto Burle Marx e o Theatro José de Alencar: um projeto em dois tempos" (2012). Autora de "Parque e Paisagem: um olhar sobre o Recife" (201 O). Consultora para a resturação dos jardins de

Burle Marx no Recife. Atualmente, é bolsista de produtividade do CNPq.

[email protected]

Antônio Sérgio Farias Castro

Engenheiro Agrônomo/UFC. Especialista em Botânica/UFC. Pesquisador sobre a flora nordestina, principalmente do Ceará, desde 1994. Autor do site www.floradoceara.com.br (2006; 2011) e de "Flores da Caatinga" (2011 ).

Fundador do Movimento Pró-Árvore.

[email protected]

Jardins de Burle Marx n o No rd este do Brasil 24·7

Page 125: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

IJurhnra Irene W.1sinski Pnulo

/\ rqu ilcta e Urbanisla/FAU !K. Mcst rc cm Dcscnvolvirncnto lir'b,1110/U 11p1 :.

Doutora cm Urban ismo/UFRJ. Professora do Ocpartamcnto til• Arqultc1111 11 1•

Urbanismo/UEMA. Coordenadora do Núcleo da ABAP/M/\.

[email protected]

Fátima Maria Alves da SiJva Mafra

Arquiteta e Urbanista/UFPE. Artista Plástica. Especialista em Geslão do

Patrimônio Cultural Integrado ao Planejamento Urbano da América Latina (ITUC/AL)/CECI/UFPE. Mestre em Desenvolvimento Urbano/UFPE. Pesquisadora do Laboratório da Paisagem/UFPE. Coautora de "Os jardins de Burle Marx no Recife" (2009).

[email protected]. br

Fernanda Cláudia Lacerda Rocha

Arquiteta e Urbanista/UFC. Especialista em Paisagismo/PUC-PR. Especialista

em Arquitetura Paisagística/USP. Mestranda em Geografia/UECE. Professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo e da Pós-Graduação em Paisagismo e Coordenadora do Laboratório da Paisagem/UNIFOR. Pesquisadora da "Rede Quapá-Sel"/USP e do grupo de pesquisa "Espaço, Cultura e Educação"/UECE.

Coautora de "Roberto Burle Marx e o Theatro José de Alencar: um projeto em dois tempos" (2012). Desenvolve projetos de arquitetura, arquitetura de interiores e paisagismo.

[email protected]

Heignne Jardim

Arquiteta e Urbanista/UFPB. Especialista em Paisagismo pela Faculdade

Castelo Branco. Pós-graduada em Master em Arquitetura pelo IPOG. Técnica da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Desenvolve projetos de arquitetura, arquitetura de interiores e paisagismo.

heignne@gmaiLcom

Isaías da Silva Ribeii-o

Arquiteto e Urbanista/UFRN. Artista Plást ico. Mestre e Doutorando em Arquitetura e Urbanismo/UFRN. Professor do Departamento de Engenharia Civil/UFRN.

[email protected]. br

248 Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Joclmir Mnrqu cs dn Silvn

Hiólogo/UPE. Mestre e Doutorando cm l>cscnvolvi 111cnlo Urbano/U Fl11\.

Pesquisador cl,o Laboratório da Pnisagem/Ul~PE. Atualmente, é holsisla d.1

CAPES. ! joelmir [email protected]

José Hamilton Lopes Leal Júnior

Arquiteto e Urbanista/UFPI. Mestrando em Arquitetura e em Urbanismo/

UFSC. Pesquisador do Laboratório Urbano da Paisagem (LUPA)/UFPJ.

Membro do grupo de pesquisa "Ambiente Construído" do CNPq. Atualmente,

é bolsista da CAPES.

[email protected]

Karenina Cardoso Matos

Arquiteta e Urbanista/UFPE. Especialista em Ciências Ambientais/UFPI.

Mestre em Arquitetura e Urbanismo/UFRN. Doutoranda em Urbanismo/

Universidad Politécnica de Cataluna. Professora do Departamento de

Construção Civil e Arqwtetura/UFPL Coordenadora do Laboratório Urbano

da Paisagem (LUPA)/UFPI.

[email protected]

Marizo Vitor Pereira

Arquiteto e Urbanista/UFPE. Mestre e Doutorando em Arquitetura e

Urbanismo/UFRN. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo/

UFRN. Filiado ao DOCOMOMO Brasil.

[email protected]. br

Paula Dieb

Arquiteta e Urbanista/UFPB. Mestranda em Arquitetura e Urbanismo/UFPB.

Técnica da Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de João Pessoa.

Pesquisadora do Projeto "Praças de João Pessoa: estudo de impacto'', do qual

resultou o livro "Da Casa à Praça" (2011). Integrante da equipe vencedora do

Concurso Público Nacional de Ideias do Parque Zoobotânico Arruda Câmara,

Prefeitura Municipal de João Pessoa (2008).

[email protected]

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 249

Page 126: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

1'111110 Costu l(ulll

A 1 q111klo c li rb.111 isl n/U 1:111\. l \spL'dal isla cn 1 1 kscnvolviirn:nlo ll111 •1I l 11l rw.1do/Cc:nl ro de 1 ksc·nvolvi111c11 lo da Admin isl raç~10 Pliblica. Ml·~I rc• c' lll

A 1q11i1 c1 ura c Urhanismo/U 1;i~A. Professo r da UNlM E. Técnico do l nsl it ulo do Jl11lri111611 io Artfslico e Cultural da Bahia (JPAC/BA).

/lft 11 lc>k11/i/(r!)pauloka/il. com. br

Puulo José Lisboa Nobre

Arc1uilcto e Urbanista/UFRN. Mestre e Doutor em Arquitetura e Urbanismo/ UFRN. Professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo/UFRN. Pesquisador do grupo de pesquisa "História da Cidade, do Território e do Urbanismo" (HCUrb)/UFRN. Pesquisador da "Rede Quapá-Sel"/USP. {lt111/[email protected]

Ricardo Figueiredo Bezerra

Arquiteto e Urbanista/UFC. Mestre em Arquitetura Paisagística/University of' Arizona. Doutor em Planejamento Urbano/ University of Nottingham. i'rofcssor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo/UFC. Pesquisador do l .aboratório de Estudos em Arquitetura e Urbanismo (LEAU)/UFC. Vice-líder do grupo de pesquisa "Jardins de Burle Marx". Coautor de "Roberto Burle Marx L' o 'íl1eatro José de Alencar: um projeto em dois tempos" (2012). Premiado por excelência no estudo de arquitetura paisagística pela American Society of l ,a ndscape Architects ( 1986).

r/Jezerra@arquitetura. ufc. br

Roscli Farias Melo de Barros

llióloga/UFPE. Mestre e Doutora em Botânica/UFRPE. Professora do 1 >cpartamento de Biologia e da Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA)/UFPI. Curadora do Herbário Graziela Barroso (TEPB)/UFPI.

ri 111 rros. [email protected]. br

Tcmístodes Anastácio de Oliveira

Arquiteto e Urbanista/UFC. ·Pesquisador do Laboratório da Paisagem/ U N 1 FOR. Co-organizador de "Catálogo de Espécies Vegetais de Interesse i'aisagístico no Ceará" (2006). Coautor de "Roberto Burle Marx e o Theatro José de Alencar: um projeto em dois tempos" (2012). Desenvolve projetos de .1rquilctura, desenho urbano e paisagismo.

<'[email protected]

250 Jardins de Burle Mar x no Nord este do Brasil

Wll:t11 (:omcs ltcls J.01wH

· u I · · t· / ' JFl'F M~·~I H' cm Arq11ilctura e Urbanismo/USP. A rqu 1 I t'I a t' n ,111 1i- .1 ' .. .

1 )oulora , cm Engenha ria Agrlcola/UNICA MP. Professora do Dcparl~ mcnlo

de Consirução Civil e Arquitetura e da Pós-graduação cm Dese1~~~lv1mc.nto e Meio Ambiente (PRODEMA)/UFPI. Coordenadora do Laboratouo Urbano

da Paisagem (LUPA)/UFPI. Membro da Rede Ibero-Ame~ic~n~ ~RO~ERRA.

C · d de "Cerrado Piauiense· uma visão mult1d1sc1phnar (2007) o-orgamza ora · , . d e de "Sustentabilidade do Semiárido" (2009). Atualmente, e bolsista e

produtividade do CNPq.

[email protected]

Ja rdins de Burle Marx no Nordeste do Brasil 2!H

Page 127: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste

Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil

Formato

15,5 x 22 cm Tipografia

Minion (texto)

Cambria (títulos)

Montado e impresso na oficina gráfica da

Editora ~ UniversitáriWUFPE

Papel

Capa em Triplex 250g/m2

Miolo em Oífset 90glm2

Rua Acadêmico Hélio Ramos, 20 1 Vánea, Recife - PE 1 CEP: 50740-530 Fones: (81) 2126.8397 / 2 126.8930 / Fax: (81) 2126.8395

www.ufpc:.br/edufpe 1 [email protected]

Page 128: Carneiro silva jardins de burle marx nordeste