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Clarice lispector- A hora da Estrela

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Análise da obra A hora da estrala

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Perfil biográfico

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Em março de 1922, Clarice e sua família chegaram em Maceió. Sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, mãe de Clarice, e seu marido e primo José Rabin.

Por iniciativa de seu pai, todos mudaram de nome , menos sua irmã Tânia. O pai Pinkhas, passou a se chamar Pedro, Mania, Marieta, Leia, sua irmã, Elisa, e Haia, por fim, Clarice. Com dificuldades de relacionamento com Rabin e sua família, Pedro decide mudar-se para o Recife, centro urbano mais importante da Região Nordeste.

Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade de Recife, onde passou parte da infância no bairro de Boa Vista. Estudou no Ginásio Pernambucano de 1932 a 1934. Falava vários idiomas, entre eles o francês e o inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche.

Sua mãe morreu em 21 de setembro de 1930 (Clarice tinha apenas nove anos), após vários anos sofrendo com as consequências da Sífilis, supostamente contraída por conta de um estrupo durante a Guerra Civil Russa, enquanto a família ainda estava na Ucrânia. Clarice sofreu com a morte da mãe, e muitos de seus textos refletem a culpa que a autora sentia e figuras de milagres que salvariam sua mãe.

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Em 1943, no mesmo ano de sua formatura, casou-se com o colega de turma Maury Gurgel Valente, futuro pai de seus dois filhos. Maury foi aprovado no concurso de admissão na carreira diplomática, e passou a fazer parte do quadro do Ministério das Relações Exteriores. Em sua primeira viagem como esposa de diplomata, Clarice morou na Itália onde serviu durante a Segunda Guerra Mundial como assistente voluntária junto ao corpo de enfermagem da Força Expedicionária Brasileira. Também morou em países como Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, países para onde Maury foi escalado. Apesar disso, sempre falou em suas cartas a amigos e irmãs como sentia falta do Brasil.

Em 10 de agosto de 1948, nasce em Berna, Suíça o seu primeiro filho, Pedro. Quando criança Pedro se destacava por sua facilidade de aprendizado, porém na adolescência sua falta de atenção e agitação foram diagnosticados como esquizofrenia. Clarice se sentia de certa forma culpada pela doença do filho, e teve dificuldades para lidar com a situação.

Em 10 de fevereiro de 1953, nasce Paulo, o segundo filho de Clarice e Maury, em Washington, D.C., nos Estados Unidos.

Em 1959 se separou do marido que ficou na Europa e voltou permanentemente ao Rio de Janeiro com seus filhos, morando no Leme.

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Clarice Lispector foi uma escritora que abordou bastante a questão do feminino em sua obra. Desde o primeiro romance, Perto do coração selvagem (1994), a escritora traz aos seus leitores os conflitos, angústias, dúvidas e desejos do universo feminino através das personagens que criou. Tais personagens femininas, que se convencionou chamar “Perfis Femininos”, atravessam um doloroso processo de desconstrução/reconstrução psicológica, no qual são evidenciados conflitos existenciais e filosóficos. O estudo se faz necessário para um melhor entendimento da literatura de Clarice, pois a maior parte da dessa autora é formada por romances e contos cujas protagonistas são mulheres.

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Em 1975 foi convidada a participar do Primeiro Congresso Mundial de Bruxaria, em Cali na Colômbia. Fez uma pequena apresentação na conferência, e falou do seu conto "O ovo e a Galinha", que depois de traduzido para o espanhol fez sucesso entre os participantes. Ao voltar ao Brasil, a viagem de Clarice ganhou ares mitológico, com jornalistas descrevendo (falsas) aparições da autora vestida de preto e coberta de amuletos. Porém, a imagem se formou, dando a Clarice o título de "a grande bruxa da literatura brasileira". Seu próprio amigo Otto Lara Resende disse sobre a obra de Lispector: "não se trata de literatura, mas de bruxaria."

Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi enterrada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro. Até a manhã de seu falecimento, mesmo sob sedativos, Clarice ainda ditava frases para sua amiga Olga Borelli.

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Em dezembro de 1943, publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem. Escrito quando tinha 19 anos, o livro apresenta Joana como protagonista, a qual narra sua história em dois planos: a infância e o início da vida adulta. A literatura brasileira era nesta altura dominada por uma tendência essencialmente regionalista, com personagens contando as dificuldades da realidade social do país na época. Clarice Lispector surpreendeu a crítica com seu romance, seja pela problemática de caráter existencial, completamente inovadora, seja pelo estilo solto, elíptico e fragmentário. Este estilo de escrita se tornou marca característica da autora, como pode ser observado em seus trabalhos subsequentes.

Na época da publicação, muitos associaram o seu estilo literário introspectivo a Virginia Woolf ou James Joyce, embora ela afirme não ter lido nenhum destes autores antes de ter escrito seu romance inaugural. A epígrafe de Joyce e o título, inspirado em citação do livro de Joyce Retrato do Artista quando Jovem, foram sugeridos por Lúcio Cardoso após o livro ter sido escrito. Perto do coração selvagem ganhou o prêmio da Fundação Graça Aranha de melhor romance de estreia, em outubro de 1944.

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Vale lembrar que João Guimarães Rosa juntamente com Clarice Lispector foram dois grandes destaques da prosa na terceira fase do Modernismo. Extremamente preocupados com a elaboração da linguagem em seu grau máximo de expressão, são chamados pela crítica de romancistas instrumentalistas. Une-os ainda o caráter de sondagem psicológica que insere suas obras entre outras grandes de cunho universalista – isto é, de abordagem de temas atemporais, que refletem a alma humana. Mas as aproximações param por aí: enquanto Clarice Lispector intensificava a abordagem psicológica, afastando seus personagens de um enredo tradicional, Guimarães Rosa preocupou-se em trabalhar enredo e suspense, descobrindo o místico em acontecimentos do cotidiano.

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Escritora nascida na Ucrânia mas radicada no Brasil desde criança, Clarice Lispector (1920 - 1977) é um caso ímpar na literatura nacional, já que sua abordagem intimista, questionadora sobre os tênues limites entre a ficção e a realidade - e sobre o próprio ato de escrever -, surge numa época em que predominava o romance regionalista, com denúncias sociais sobre a vida no Nordeste.

Um estilo novo, Clarice foi imediatamente associado á técnica de vanguarda dos escritores europeus James Joyce e Virginia Woolf.

O impacto de sua prosa foi tamanho, que a escritora e filósofa francesa Hélène Cixous chega a dividir a literatura brasileira em dois momentos: A.C. (Antes da Clarice) e D.C. (Depois da Clarice).

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Clarice Lispector foi acusada, na época, de escritora “alienada”, que se recusava a compreender o objetivo político.

No meio da década era quase impossível ás figuras públicas manterem- se fora da participação política.

A intelectualidade universitária marxista era perseguida pela ditadura militar, que de 1967 a 1969 endureceu, com o início do governo Médici.

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Os anos 70 foram duros para nossa intelectualidade, que tinham que ter criatividade e cautela para se expressar. Surgia um forma marginal de expor suas idéias.Dentro disso, Clarice, foi forçada a se manifestar sobre a crise que envolvia o país, não só ela, como outros escritores.Para isso os escritores deviam se preocupar em simplificar a forma, de uma maneira que todos ficassem cientes.

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O único depoimento dado por Clarice á TV, foi o dado para Júlio Lerner á TV Cultura.

Nessa entrevista ela fala sobre A hora da estrela. E fazendo mistério sobre o livro, dá o resumo da obra.

“-É a história de uma moça nordestina, de Alagoas, tão pobre que só comia cachorro- quente. A história não é só isso não. A história é de uma inocência pisada, de uma miséria anônima.”

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Os dois últimos livros escritos por Clarice foram: “A hora da estrela” e “Um sopro de vida.”

Iniciado em 1974 e concluído em 1977, “Um sopro de vida” foi o último escrito da autora, já escrito em meio às dores da agonia, bem perto da sua morte, e simultaneamente a outra obra sua “A Hora da Estrela”.

E por esse motivo as duas obras apresentam muita semelhança, tanto quanto a sua estrutura, quanto ao narrador masculino que narram a história de uma moça. Mas ao mesmo tempo as personagens se diferem totalmente, uma é contraste da outra.

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Enredo de:

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O narrador Rodrigo interage muito com o leitor, ele conta a história de Macabéa como se realmente ele conversasse com seus leitores.

A muitas passagens do livro que ele diz com tristeza a situação de Macabéa, ás vezes, parece que tem um sentimento que o envolvendo, e ele passa esse sentimento, de estar ali sentindo junto com Macabéa.

Ele sabe de tudo que acontece na história na história e ao mesmo tempo interfere de uma forma direita na história, passando sua visão, sua opinião. Ele faz com que o leitor reflita sobre essa criatura amargurada, a qual somente ele ama.

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Macabéa (Maca), moça magrela e pobre de tudo, pois, além de dinheiro, lhe faltava inteligência, esperteza e auto-estima. Foi criada por uma tia beata, após a morte dos pais quando tinha dois anos de idade. Acumula em seu corpo franzino a herança do sertão, ou seja, todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheia de si e da sociedade. Segundo o narrador, ela nunca se deu conta de que vivia numa sociedade técnica onde ela era um parafuso dispensável.Ignorava até mesmo porque se deslocara de Alagoas até o Rio de Janeiro, onde passou a viver com mais quatro colegas na Rua do Acre. Macabéa trabalha como datilógrafa numa firma de representantes de roldanas, que fica na Rua do Lavradio. Tem por hábito ouvir a Rádio Relógio, especializada em dizer as horas e divulgar anúncios, talvez identificando com o apresentador a escassez de linguagem que a converte num ser totalmente inverossímil no mundo em que procura sobreviver. Tinha como alvo de admiração a atriz norte-americana Marilyn Monroe, o símbolo social inculcado pelas superproduções de Hollywood na década de 1950.

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Um dia, Macabéa conhece Olímpico, também nordestino, e começam a namorar. Ele, ao contrário de Macabéa fala bem, é metido, convencido e pensa no seu futuro, sonhando se tornar deputado. Mas Olímpico rompe o namoro com a nordestina para ficar com Glória, colega de trabalho da mesma. 

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Glória, com certo sentimento de culpa por ter roubado o namorado da colega, sugere a Macabéa que vá a uma cartomante, sua conhecida. Para isso, empresta-lhe dinheiro e diz-lhe que a mulher, Madame Carlota, era tão boa, que poderia até indicar-lhe o jeito de arranjar outro namorado. Macabéa vai, então, à cartomante, que, primeiro, lhe faz confidências sobre seu passado de prostituta; depois, após constatar que a nordestina era muito infeliz, prediz-lhe um futuro maravilhoso, já que ela deveria casar-se com um belo homem loiro e rico - Hans - que lhe daria muito luxo e amor.

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Macabéa sai da casa de Madame Carlota 'grávida de futuro', encantada com a felicidade que a cartomante lhe garantira e que ela já começava a sentir. Então, logo ao descer a calçada para atravessar a rua, é atropelada por um luxuoso Mercedes Benz amarelo. Esta é a hora da estrela de cinema, onde ela vai ser "tão grande como um cavalo morto". Ao ser atropelada, Macabéa descobre a sua essência: “Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci”. Há uma situação paradoxal: ela só nasce, ou seja, só chega a ter consciência de si mesma, na hora de sua morte. Por isso antes de morrer repete sem cessar: “Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou”. Por ter definido a sua existência é que Macabéa pronuncia uma frase que nenhum dos transeuntes entende: “Quanto ao futuro.” (...) “Nesta hora exata Macabéa sente um fundo enjôo de estômago e quase vomitou, queria vomitar o que não é corpo, vomitar algo luminoso. Estrela de mil pontas.”Com ela morre também o narrador, identificado com a escrita do romance que se acaba.

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Clarice Lispector instala o livro num gênero literário um tanto duvidoso, por passar muitos sentidos. Ela o atribui ao gênero novela, o qual geralmente é atribuído aos quais tem um número pequeno de conflitos e de personagens, com uma rápida passagem do tempo.

Já Rodrigo, o narrador de A hora da Estrela, define a história como um “desabafo”, um “melodrama”, entre outros.

E por fim, os críticos de modo geral, atribui o livro ao Romance.

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Quanto à linguagem, o livro a apresenta fartamente, em todos os momentos em que o narrador discute a palavra e o fazer narrativo. O recurso usado por Clarice Lispector é o narrador-personagem, pois conforme nos faz conhecer a protagonista, também nos faz conhecê-lo. Ele escreve para se compreender. É um marginalizado conforme lemos: "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra mim na terra dos homens". Quanto à sua relação com Macabéa, ele declara amá-la e compreendê-la, embora faça contínuas interrogações sobre ela e embora pareça apenas acompanhando a trajetória dela, sem saber exatamente o que lhe vai acontecer e torcendo para que não lhe aconteça o pior.Macabéa, a protagonista, é uma invenção do narrador com a qual se identifica  e com ela morre. A personagem é criada de forma onisciente (tudo sabe) e onipresente (tudo pode). Faz da vida dela um aprendizado da morte. A morte foi a hora de estrela.

O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança mão, como recurso, das digressões, o que, aspectualmente parece dar à narrativa uma característica alinear. Não se engane: ele foge para o passado a fim de buscar informações.

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Na maior parte da obra, ocorre a narração da personagem em terceira pessoa (ela, Macabéa) e o 

narrador-personagem em primeira pessoa (eu, Rodrigo). 

Rodrigo S. M. narra às situações existenciais e os fatos psicológicos das personagens muitas 

vezes fundindo ao pensamento delas, criando um texto em que ele pode ver e analisar o mundo com a 

personagem, por meio de seus olhos e de sua experiência interior. 

Seus comentários sobre o estilo, sobre a personagem e sobre si mesmo percorrem por toda obra, 

e tem por hábito dividir com ele a culpa da vida miserável de Macabéa. 

De acordo com Norman Friedman, essa categoria de foco narrativo seria chamada de autor 

onisciente intruso, apesar de Clarice Lispector privilegiar muito a categoria denominada onisciência 

seletiva, pois aborda muito a técnica do discurso indireto livre em suas obras. 

Rodrigo S. M., autor onisciente intruso, tem a liberdade de narrar à vontade, de colocar-se 

acima, ou, como quer adotando um ponto de vista divino, para além dos limites do tempo e espaço. 

Rodrigo S. M. (na verdade, Clarice Lispector) utiliza suas próprias palavras, seus próprios 

pensamentos e percepções, pois a intrusão é a característica mais marcante nesta tipologia. Faz comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres, a moral e até dos seus sentimentos; todos esses fatos podem ou não estar entrosados com a história. 

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A hora da estrela tem sido aclamada pelos críticos como uma “alegoria regional”, expressão usada por Eduardo Portella (1931) em estudo introdutório ao romance.

Macabéa é nordestina feia, miserável, tuberculosa, dolosamente ignorante, profundamente solitária e carente de relações familiares. Sua existência sugere uma imagem preconcebida de pesquisa sociológica em relação ao nordeste.

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No penoso contato com a história que escreve, o narrador vai privando Macabéa de características tradicionais da feminilidade.

Sem desenvoltura para a integração social Macabéa está sempre sozinha. Divide vaga de quarto com quatro moças balconistas, que mal conhece. Na rua do Acre, “entre as prostitutas que serviram a marinheiros, depósitos de carvão e de cimento em pó. Só come em pé e as pressas em balcões de bares. Ninguém a enxerga.”

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A história da moça é “exterior e explícita, literatura de cordel”, como diz seu narrador, destacando- se entre esses fatos o único realmente significativo para o enredo, que é a morte por atropelamento.

Como não há vínculos culturais ou sociais para Macabéa, seu destino desde do começo de sua história era morrer, o que faz disto para o narrador um questionamento crucial.

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Olímpico se apresentava como Olímpico de Jesus Moreira Chaves. E apesar de ter um nome que remete ao Olímpio, lugar onde encontramos os deuses esculturais gregos, de Deus ele não tem nada, como o nome de Macabéa e de Glória, o tom irônico usado por Clarice ao dar este nome ao personagem é bem colocado.

Trabalhava numa metalúrgica e não se classificava como "operário": era um "metalúrgico". Ambicioso, orgulhoso e matara um homem antes de migrar da Paraíba. Queria ser muito rico, um dia; e um dia queria também ser deputado. Um secreto desejo era ser toureiro, gostava de ver sangue.

Trata sempre mal sua namorada, que, por medo de perdê-lo sempre se desculpa quando deveria ser o contrário.

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Filha de um açougueiro, nascida e criada no Rio de Janeiro, Glória rouba Olímpico de Macabéa. Tem um quê de selvagem, cheia de corpo, é esperta, atenta ao mundo. Amiga de trabalho (e a única) de Macabéa, possuía todo o charme e “carnes” que a outra não tinha. “Carioca da gema” (razão forte pela qual Olímpico atrai-se por ela). Em uma passagem do livro, há uma ótima descrição da personagem: “Glória possuía no sangue um bom vinho português e também era amaneirada no bamboleio do caminhar por causa do sangue africano escondido. Apesar de branca, tinha em si a força da mulatice. Oxigenava em amarelo-ovo os cabelos crespos cujas raízes estavam sempre pretas. Mas mesmo oxigenada ela era loura, o que significava um degrau a mais para Olímpico. (...) apesar de feia, Glória era bem alimentada.”

E é essa “amiga” que recomenda Macabéa a procurar a cartomante que ela indicou.

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Madame Carlota, é a mulher de Olaria que porá as cartas do baralho para "ler a sorte"de Macabéa. Contará que foi prostituta quando jovem, que depois montou uma casa de mulheres e ganhou muito dinheiro com isso. Come bombons, diz que é fã de Jesus Cristo e impressiona Macabéa. Na verdade, Madame Carlota é uma enganadora vulgar.  Trata a protagonista com um carinho que ninguém jamais dirigiu à protagonista. “Era enxundiosa, pintava a boquinha rechonchuda com vermelho vivo e punha nas faces oleosas duas rodelas de ruge brilhoso. Parecia um bonecão de louça meio quebrado.” Tornara-se cafetina quando começara a engordar e perder os dentes. O narrador coloca Madama Carlota como o ponto alto da existência de Macabéa, já que seria a informante do seu futuro, que mudaria (e realmente mudou) a partir do momento em que Maca saísse da casa da Madama.

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Mistura de santa e prostituta, madame Carlota é a entidade mística responsável por mostrar para Macabéa a sua verdadeira condição social e existencial, e por prometer- lhe coisas que ela desejava: beleza, saúde, amor e dinheiro.

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O Rio de Janeiro é o espaço. Ocorre que o espaço físico, externo, não importa muito nesta história. O "lado de dentro"das criaturas é o que interessa aos intimistas.

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Rodrigo S. M., autor onisciente intruso, tem a liberdade de narrar à vontade, de colocar-se acima, ou, como quer adotando um ponto de vista divino, para além dos limites do tempo e espaço.

Rodrigo S. M. (na verdade, Clarice Lispector) utiliza suas próprias palavras, seus próprios pensamentos e percepções, pois a intrusão é a característica mais marcante nesta tipologia. Faz comentários sobre a vida, os costumes, os caracteres, a moral e até dos seus sentimentos; todos esses fatos podem ou não estar entrosados com a história.

O tempo dele é cronológico, ao mesmo tempo em que ele para de escrever diversas vezes, tentando encontrar uma maneira de passar a história de Macebéa.

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Pelos indícios que o narrador nos oferece, o tempo é época em que Marylin Monroe já havia morrido - possivelmente a década de 60 em seu fim ou a de 70 em seus começos - mas faz ainda um grande sucesso como mito que povoa a cabeça e os sonhos de Macabéa.

O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem linear: há flashbacks iluminando o passado, há idas e vindas do passado para o presente e vice-versa.

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Simplicidade no uso das palavras é a ordem. A rigor, a escolha do estilo em A hora da estrela, está associada à natureza do foco narrativo, que é uma escolha formal e também ideológica da autora.

Rodrigo S. M., é uma figura um pouco semelhante a Clarice. Ao autor homem é atribuído um estilo próprio e uma biografia.

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A vida comum e sem graça de Macabea; a história do narrador Rodrigo; e a reflexão dele sobre a escritura. A habilidade de Clarice está em articular esses planos de uma maneira que não dificulta a leitura ou deixa o texto empolado ou pernóstico.Seu namoro com Olímpico de Jesus, nome pleno de ironia, já que ele não tem nada das poderosas divindades gregas que habitavam o Monte Olimpo e muito menos do lado humano da Santíssima Trindade católica, não tem futuro algum.

Macabea é trocada por Glória, colega de trabalho que, por ter um pai açougueiro, parecia oferecer ao também nordestino Olímpico uma possibilidade de ascensão econômica e social. A desilusão afetiva soma-se a uma progressiva degradação do corpo, causada por uma tuberculose.

É justamente Glória, outro nome bastante crítico, já que ela pouco tem para ser glorificado, que aconselha a deprimida Macabea a encontrar uma orientação para a sua vida, aparentemente sem sentido, numa cartomante, Madame Carlota, que anuncia um futuro pleno de felicidade com um estrangeiro.

 A força da temática social, é centrada na miséria brasileira.

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Macabéa não tem, basicamente, traços femininos, por ser muito magra e por não ter beleza, tanto exterior quanto interiormente e não tinha desenvoltura para se comunicar com outras pessoas. Chegava ao ponto de se rebaixar e a sentir um pouco de inveja de sua “amiga”, Glória.

Ela mesma não via algo de bom em si, era seca, sem peito e sem bunda e, além de tudo isso, não podia ter filhos.

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Ao rastrear em seu livro o perfil feminino, Clarice Lispector atribui algo muito importante à reflexões sobre a morte e o morrer.

Estas reflexões estão ligadas a última década de sua vida, já que durante a criação do enredo, Clarice já estava doente.

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A obra A Hora da Estrela mostra o retrato da mulher na vida urbana, ao mesmo tempo em que tenta ver a propria função do escritor na literatura procurando ajudar essas pessoas. Clarice já usou em sua escrita diversas classes literarias como romance e cronica tentando achar sua propria identidade onde sempre teve dificuldade, ao criar Rodrigo projeta sua amargura ao escrever se sentindo fracassada, estando literalmente em uma crise existencial. "Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser (...) (p. 35) Clarice vivia sem esperança se sentindo "diante da morte", a maioria dos escritores contemporâneos se sentem assim, estão sempre tentando escontrar seu proprio lugar, criando assim uma nova forma de vida em um mundo ficticio.

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Sempre que se comenta a respeito dos filmes que são produzidos no cinema nacional, à mente de quase todos vêm as produções mais recentes, que usualmente retratam a marginalização de um grupo social, principalmente voltadas à questão de crimes, violência, morte.

No entanto, é válido buscar na memória e na história nacional de produções cinematográficas que abordavam uma temática diferente que trouxeram obras fílmicas importantes para o Brasil.

A Hora da Estrela, adaptado em 1985 da obra literária de Clarice Lispector, que publicou o romance em 1977, é um deles.

Se comparadas as obras fílmica e literária, perceberemos que no filme falta muito da riqueza presente no livro.

Talvez o grande acerto de Suzana Amaral tenha sido confinar Macabéa à sua própria pobreza. A personagem, bastante rica quando analisada, é tão pobre que causa no espectador uma sensação angustiante – sua pobreza não exclusivamente financeira: falta-lhe carinho, falta-lhe discernimento, e também compreensão. Decerto modo, pode-se dizer que lhe falta pensamento crítico. Sua alienação é tão absurdamente grande – e tão magnificamente interpretada por Marcelia Cartaxo – que ela parece fadada a todas aquelas situações infelizes que lhe cercam.

Em certos quesitos o filme passa bem alguns dos detalhes da obra.

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A segunda imagem nos chega através de depoimento de Olga Borelli, que está no esboço para um quase retrato escrito pela amiga e confidente. Lembra que Clarice “dizia que os problemas da justiça social despertavam nela um sentimento tão básico, tão essencial que não conseguia escrever sobre eles. Era algo óbvio. Não havia o que dizer. Bastava fazer...”.

Olga Borelli sintetiza: "Defini-la é difícil. Contra a noção do mito, de intelectual, coloco aqui a minha visão dela: era uma dona-de-casa que escrevia romances e contos. Dois atributos imediatamente visíveis: integri dade e intensidade. Uma intensidade que fluía dela e para ela refluía. Procurava ansiosamente, lá, onde o ser se relaciona com o absoluto, o seu centro de força — e essa convergência a consumia e fazia sofrer. Sempre tentou de alguma maneira solidarizar-se e compreender o sofri mento do outro, coisa que acontecia na medida da necessidade de quem a recebia. O problema social a angustiava. Sabia o quanto doíam as coisas e o quanto custava a solidão."

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Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores.

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Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.

(Texto extraído do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004.)

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Clarice,veio de um mistério, partiu para outro.

Ficamos sem saber a essência do mistério.Ou o mistério não era essencial,era Clarice viajando nele.

Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,onde a palavra parece encontrarsua razão de ser, e retratar o homem.

O que Clarice disse, o que Clariceviveu por nós em forma de históriaem forma de sonho de históriaem forma de sonho de sonho de história(no meio havia uma barataou um anjo?)não sabemos repetir nem inventar.São coisas, são jóias particulares de Clariceque usamos de empréstimo, ela dona de tudo.

Clarice não foi um lugar-comum,carteira de identidade, retrato.De Chirico a pintou? Pois sim.

O mais puro retrato de Claricesó se pode encontrá-lo atrás da nuvemque o avião cortou, não se percebe mais.

De Clarice guardamos gestos. Gestos,tentativas de Clarice sair de Claricepara ser igual a nós todosem cortesia, cuidados, providências.Clarice não saiu, mesmo sorrindo.Dentro delao que havia de salões, escadarias,tetos fosforescentes, longas estepes,zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,formava um país, o país onde Claricevivia, só e ardente, construindo fábulas.

Não podíamos reter Clarice em nosso chãosalpicado de compromissos. Os papéis,os cumprimentos falavam em agora,edições, possíveis coquetéisà beira do abismo.Levitando acima do abismo Clarice riscavaum sulco rubro e cinza no ar e fascinava.

Fascinava-nos, apenas.Deixamos para compreendê-la mais tarde.Mais tarde, um dia… saberemos amar Clarice.

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Um dia, Clarice Lispectorintercambiava com amigosdez mil anedotas de morte,e do que tem de sério e circo.

Nisso, chegam outros amigos,vindos do último futebol,comentando o jogo, recontando-o,refazendo-o, de gol a gol.

Quando o futebol esmorece,abre a boca um silêncio enormee ouve-se a voz de Clarice:Vamos voltar a falar na morte?

Retirado de: AGRESTES (Poesia – 1981/1985),

Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1985

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Há muita gente Apagada pelo tempo Nos papéis desta lembrança Que tão pouco me ficou Igrejas brancas Luas claras na varandas Jardins de sonho e cirandas Foguetes claros no ar Que mistério tem Clarice Que mistério tem Clarice Pra guardar-se assim tão firme, no coração Clarice era morena Como as manhãs são morenas Era pequena no jeito De não ser quase ninguém Andou conosco caminhos De frutas e passarinhos Mas jamais quis se despir Entre os meninos e os peixes Entre os meninos e os peixes Entre os meninos e os peixes 

Do rio, do rio Que mistério tem Clarice Que mistério tem Clarice Pra guardar-se assim tão firme, no coração Tinha receio do frio Medo de assombração Um corpo que não mostrava Feito de adivinhações Os botões sempre fechados 

Clarice tinha o recato De convento e procissão Eu pergunto o mistério Que mistério tem Clarice Pra guardar-se assim tão firme, no coração Soldado fez continência O coronel reverência O padre fez penitência 

Três novenas e uma trezena 

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Mas Clarice Era a inocência Nunca mostrou-se a ninguém Fez-se modelo das lendas Fez-se modelo das lendas Das lendas que nos contaram as avós Que mistério tem Clarice Que mistério tem Clarice Pra guardar-se assim tão firme, no coração Tem que um dia Amanhecia e Clarice Assistiu minha partida Chorando pediu lembranças E vendo o barco se afastar de Amaralina Desesperadamente linda, soluçando e lentamente E lentamente despiu o corpo moreno E entre todos os presentes Até que seu amor sumisse Permaneceu no adeus chorando e nua Para que a tivesse toda Todo o tempo que existisse Que mistério tem Clarice Que mistério tem Clarice Pra guardar-se assim tão firme, no coração.

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Bianca Katerine nº02

Claudiane Vieira nº05

Flavia de Souza nº06

Giuliane Alves Berchele nº07

Jhayni Ayla nº14

Leonardo da Silva Brito nº18

Micaela de Jesus nº22

Rebeca dos Santos de Moraes nº26

Tayna Bruner nº29

Teylor Moraes nº30

Thalia Alves nº31

Alunos do 1º Ano A E.M.-

Escola: E.E. Drª Iracema Bello Oricchio.

Embu das Artes, 2013.