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SEMANA DA LEITURA
40 anos de abril: refazer a revolução
Biblioteca Escolar | 17 – 21 de fevereiro de 2014
«Havia na terra muitos pobres que apareciam aos sábados em bandos (…). Mas
o Búzio aparecia sozinho, não se sabia em que dia da semana, era alto e direito,
lembrava o mar e os pinheiros, não tinha nenhuma ferida e não fazia pena. Ter
pena dele seria como ter pena de um plátano ou de um rio, ou do vento.»1
A sua dignidade transparecia para os outros, mas não tinha muitos amigos, pois
de quem ele realmente gostava era do seu grande amigo, o mar. Como tinha
poucos amigos, sentava-se sozinho na praia, a falar com o mar, o seu único
confidente. Contava-lhe as suas desventuras e como as pessoas o tratavam mal,
dando-lhe um tostão e mandando-o embora. Embora, triste… O Búzio sempre
quisera ter alguém… alguém que lhe desse amor, carinho… tudo aquilo a que ele
nunca teve direito…
Um dia, o Búzio encontrou a sua amada Estrela que desaparecera há muitos
anos atrás. Logo que a viu, sentiu-se muito feliz. Começou a falar com ela,
contando-lhe histórias do tempo em que ainda não era mendigo. A seguir, a Estrela
também lhe falou sobre o que havia debaixo do mar.
Falaram muito, matando saudades, até cair a noite e adormecerem.
Ao amanhecer, o Búzio acordou e reparou que a sua amiga Estrela já não
estava ao seu lado, mas que lhe tinha deixado uma mensagem a dizer que voltaria
no dia seguinte.
No dia seguinte, não regressou. Então, o Búzio foi à procura da sua amiga.
Durante a sua procura, descobriu uma pista e seguiu-a. Essa pista levou-o a
uma terra completamente diferente. Era um local deserto, sem água e com
caminhos arenosos. Devido ao calor sufocante que se fazia sentir, Búzio viu ao
longe a Estrela, mas, sempre que se aproximava do sítio onde ela se encontrava, a
figura da amiga parecia ficar cada vez mais distante, como uma miragem.
Búzio andou, andou e andou sem rumo, nessa incessante busca até anoitecer.
Deparou-se, então, com umas ruínas de pedra e ficou curioso. Ao entrar, encontrou
um lago onde estavam refletidas imensas estrelas. Em cada uma delas, Búzio
procurou reconhecer a sua amiga, mas, apesar do brilho intenso, as estrelas do
céu não partilhavam com ele memórias e sentimentos.
De repente, começou a ouvir uns ruídos. Pareciam tique-taques de um relógio.
O seu volume ia aumentando e acelerando. Búzio olhou à sua volta à procura da
origem do barulho. As pedras pareciam deslocar-se. Definitivamente, as paredes
MOTE 1Sophia de Mello
Breyner Andersen, «Homero», Contos
exemplares
7º 4ª
[Orientação:
Dr.ª Mariana
Dias]
7º 3ª
[Orientação:
Dr.ª Mariana
Dias]
Conto Colet ivo
7º ANO
PORTUGUÊS
2
estavam a estreitar. Assustado, Búzio olhou à sua volta, tentando procurar uma
saída. Não encontrou nada. Em pânico, deu um passo atrás e reparou numa cobra
que passava por seus pés, afastando-se. Na areia do chão, ela desenhava
enigmas.
Búzio estava demasiado nervoso para perceber: as paredes não paravam. Num
impulso, decidiu seguir a cobra. Estranhamente, a cobra mergulhou no lago.
Com a entrada obstruída e com as paredes cada vez mais perto, não lhe
restava outra solução se não mergulhar. Mas o fundo do lago era escuro. Búzio
estava com medo. De repente, uma das pedras da parede que se deslocava veio
na sua direção. Bateu-lhe na nuca e ele tombou desmaiado no lago.
Do outro canto do lago, estava Estrela que teve um mau pressentimento e foi
logo a correr pedir ajuda às suas amigas estrelas do céu, para descobrirem lá de
cima onde este se encontrava. Disseram-lhe que Búzio estava do outro lado do
lago desmaiado.
Estrela apressou-se a socorrê-lo. Quando chegou, bastou dar-lhe um beijo na
testa para ele acordar refeito. Entretanto, sem quê nem porquê, veio uma cheia que
os levou para o fundo do lago.
Mas, felizmente, lá estava o peixe vermelho, atento, pronto a salvá-los. Cheio de
coragem, com as suas longas barbatanas, abraçou o par, trazendo-o suavemente à
superfície. À tona da água, Búzio e Estrela olharam-se meigamente nos olhos,
felizes por estarem vivos.
E o que é que pensam que aconteceu a este tão apaixonado par?
O destino ter-lhe-á guardado o maior tesouro que se pode imaginar.
Mas deixemos o destino para mais tarde.
Búzio e Estrela repararam que a seus pés estava a cobra que tinha mergulhado
no lago. A cobra estava a crescer. A felicidade do casal passou a medo. Os dois
correram para o que lhes pareceu ser a entrada de uma gruta. Chegaram à gruta
cada vez mais ansiosos. Mas havia qualquer coisa de estranho: o chão era húmido
e do teto saíam umas estalactites que lembravam uns dentes afiados.
Hesitaram e olharam em redor. A cobra continuava a crescer. Apanhou-os,
envolveu-os e começou a estrangulá-los. Búzio procurou, desesperadamente, um
instrumento afiado. Conseguiu agarrar uma pedra e feriu a cobra. Esta rebentou
como um balão.
Entre os restos da cobra encontraram uma chave.
A Estrela pegou na chave e eles procuraram sair calmamente dali. Olharam em
frente e viram um brilho.
- Seria o sol? Ou era ouro?
7º 1ª
[Orientação:
Dr. Nuno
Soares]
7º 5ª
[Orientação:
Dr.ª Anabela
Ferreira]
7º 6ª
[Orientação:
Dr.ª Graciela
Nunes]
7º 2ª
[Orientação:
Dr. Nuno
Soares]
SEMANA DA LEITURA | 40 anos de abril: refazer a revolução | Biblioteca Escolar | 17 – 21 de fevereiro de 2014