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Contracultura e Contracultura e educação educação Reflexões sobre Ivan Reflexões sobre Ivan Illich e a Sociedade Illich e a Sociedade sem escolas sem escolas

Edilberto Sastre

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Page 1: Edilberto Sastre

Contracultura e Contracultura e educaçãoeducação

Reflexões sobre Ivan Illich Reflexões sobre Ivan Illich e a Sociedade sem escolase a Sociedade sem escolas

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Entre Prometeu e Frankenstain... Entre Prometeu e Frankenstain...

o fio da navalhao fio da navalha

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“As instituições educacionais que desejo propor estão concebidas para servir uma sociedade que ainda não existe”

“Não é ainda possível pôr isto em prática…”

“Não precisamos, no entanto, esperar até o advento da utopia” Ivan Illich

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Civilização da satisfação Civilização da satisfação

Para os antigos, que viviam em harmonia com os ciclos da natureza, a fertilidade proveniente dela era a idéia mais imediata da divindade generosa que fornecia frutos e satisfação.

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Ao intentar Prometeo obter para os Ao intentar Prometeo obter para os homens mais do que devían receber, homens mais do que devían receber,

arrasta à humanidade á desgraça: arrasta à humanidade á desgraça: Zeus dá aos mortais um dom Zeus dá aos mortais um dom

ambíguo, mistura de bem e mal: em ambíguo, mistura de bem e mal: em diante, a abundâncoa conviveria com diante, a abundâncoa conviveria com a escassez, juventude com velhice, a a escassez, juventude com velhice, a

justiça com a discordia. O mundo justiça com a discordia. O mundo das dualidadesdas dualidades

Civilizaçãoda insatisfação

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Natureza x espíritoNatureza x espírito

Mundo naturalMundo natural

Mundo tribalMundo tribal

RelaçõesRelações

Mundo Mundo simbólicosimbólico

Mundo Mundo civilizadocivilizado

InstituiçõesInstituições

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Pandora x PrometeuPandora x Prometeu

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A história do homem moderno começa com a degradação do mito de Pandora e termina no cofre que se fecha a si mesmo.

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É a história do esforço de Prometeu de criar instituições que capturem todos os males dispersos.

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O estado de ânimo do moderno habitante das cidades aparece na tradição mítica apenas sob a imagem do Inferno: Sísifo.

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PaidéiaPaidéia

Os gregos da era clássica reconheciam como verdadeiros homens apenas os cidadãos que se houvessem adaptado, através da «paideia» (educação) às instituições de seus maiores.

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O homem da era clássica forjou um contexto civilizado para a perspectiva humana. Sabia que poderia desafiar o destino, a natureza, o meio-ambiente, mas correndo seu próprio risco.

O homem contemporâneo vai além; tenta criar um mundo à sua imagem, construir um meio-ambiente totalmente feito pelo homem

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Um mundo de crescentes demandas não é apenas um mal — só pode ser classificado como um inferno.

O homem se acostuma a esperar que tudo o que é produzido não pode deixar de ser demandado

Qualquer bem existente é produto de alguma instituição especializada.

O homem moderno (a criança da cidade) logo conclui que sempre podemos planejar uma instituição para qualquer desejo nosso.

Na cidade tudo é cientificamente desenvolvido, traçado, planejado e vendido a alguém.

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Cercado por instrumentos todo-poderosos, o homem é reduzido a um instrumento de seus instrumentos. Cada uma das instituições destinadas a exorcizar um dos males primeiros tornou-se para o homem um caixão cofre-falso que se fecha a si mesmo.

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Só o planejamento humano é apresentado como razão para o mundo estar assim como

está O homem tornou-se joguete dos cientistas,

engenheiros eplanejadores.

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O homem está enrodilhado nas caixas que faz para prender

os males que Pandora deixou escapar

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Subitamente encontramo-nos na escuridão de nossa

própria armadilha.

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O «ethos» da insaciedade está, pois, à raiz da depredação física, da polarização social e da passividade psicológica.

O valor correspondente do homem é medido por sua capacidade de consumir e esgotar esta produção institucional, e, assim, criar nova — sempre maior — demanda.

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O absurdo das modernas instituições evidencia-se no militarismo. As armas modernas só podem defender a liberdade, a civilização e a vida aniquilando-as.

Não menos evidente é o absurdo subjacente às instituições não militares. Não possuem interruptor para ativar seu poder destrutivo e nem precisam dele.

O absurdo das instituições não-militares é mais difícil de identificar. São ainda mais aterradoras porque operam inexoravelmente.

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o homem moderno precisa aprender a encontrar sentido em muitas estruturas às quais está ligado apenas marginalmente.

Sempre ocorreram, através da História, epidemias de insaciáveis expectativas intramundanas, especialmente entre os grupos colonizados e marginalizados de todas as culturas.

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A educação que nos faz necessitar do produto está incluída no preço do produto.

A escola é a agência publicitária que nos faz crer que precisamos da sociedade tal qual ela é.

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A escola tem todas as características para ser a Igreja Universal de nossa decadente cultura.

A escola prepara para a institucionalização alienante da vida ensinando a necessidade de ser ensinado.

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O poder de a escola dividir a realidade social não tem limites: a educação torna-se não-do-mundo e o mundo torna-se não-educativo.

A escola nos inicia também: O Mito do Consumo Interminável. O Mito do Progresso Auto Perpetuável. O mito das burocracias guiadas pelo

conhecimento científico como sendo eficientes e benévolas.

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Não apenas a educação, mas também a própria realidade social tornou-se escolarizada. Dá quase na mesma escolarizar obres e ricos nas mesmas dependências.

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Em todo o mundo a escola tem um efeito antieducacional sobre a sociedade.

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A ideologia da obrigatoriedade escolar não aceita limites lógicos. A escola tornou-se a religião universal do proletariado modernizado, e faz promessas férteis de salvação aos pobres da era tecnológica.

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A qualquer custo, a escola força o aluno ao nível do consumo curricular competitivo e a prosseguir para níveis sempre mais elevados.

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AlternativasAlternativas

A desescolarização está, pois, na raiz de qualquer movimento que vise à libertação humana.

Cada um é pessoalmente responsável por sua própria desescolarização; unicamente nós temos o poder de fazê-lo.

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Para a sociedade, a parada é bem maior quando uma significante minoria perde sua fé na escolarização. Isto poria em perigo não só a sobrevivência da ordem econômica, construída sobre a co-produção de bens e demandas, mas também, da ordem política, construída sobre o Estado-nação, ao qual a escola entrega seus alunos.

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Desescolarizar os artefatos educativos significa tornar disponíveis os artefatos e os processos e reconhecer seu valor educativo.

Desescolarizar significa abolir o poder de uma pessoa de obrigar outra a freqüentar uma reunião. Também significa o direito de qualquer pessoa, de qualquer idade ou sexo, convocar uma reunião.

Desescolarizada significa incrementar — em vez de sufocar — a procura de pessoas com conhecimentos práticos que estejam dispostas a amparar o novato em sua aventura educacional.

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Contra culturaContra cultura

São muitos os que recusam os títulos escolares e se preparam para uma vida na contracultura, fora dessa sociedade de diplomados.

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A emergente contracultura reafirma os valores do conteúdo semântico sobre a eficácia da sintaxe que se torna cada vez maior e mais rígida. Valoriza a riqueza de conotações mais do que o poder da sintaxe de produzir riquezas. Valoriza mais os resultados imprevisíveis de encontros pessoais livremente escolhidos do que a qualidade dos certificados de instrução profissional.

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A alternativa sintática é uma rede ou teia educacional que permite a reunião autônoma de recursos sob o controle pessoal de cada aprendiz.

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CARACTERÍSTICAS GERAIS DE NOVAS INSTITUIÇÕESEDUCATIVAS E FORMAIS

Um bom sistema educacional deve ter três propósitos:

1. dar a todos que queiram aprender acesso aos recursos disponíveis, em qualquer época de sua vida;

2. capacitar a todos os que queiram partilhar o que sabem a encontrar os que queiram aprender algo deles;

3. dar oportunidade a todos os que queiram tornar público um assunto a que tenham possibilidade de que seu desafio seja conhecido.

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A mais radical alternativa para a escola seria uma rede ou um sistema de serviços que desse a cada homem a mesma oportunidade de partilhar seus interesses com outros motivados pelos mesmos interesses.

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O sistema escolar repousa ainda sobre uma grande ilusão, de que a maioria do que se aprende é resultado do ensino.

A maior parte da aprendizagem ocorre casualmente e, mesmo, a maior parte da aprendizagem intencional não é resultado de uma instrução programada.

Na realidade, a aprendizagem é a atividade humana menos necessitada de manipulação por outros

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Ou talvez tenham aprendido o que sabem num noviciado ritual que precedeu à sua admissão num grupo de bairro; pela admissão em um hospital, no parque gráfico de um jornal, na oficina de um bombeiro ou noescritório de uma companhia de seguros.

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Enquanto o indivíduo não estiver explicitamente consciente do caráter ritual do processo pelo qual foi iniciado às forças que modelam seu cosmos, não poderá quebrar o encanto e criar a imagem de um novo cosmos.

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A alternativa para nossa dependência das escolas:

Criação de um novo estilo de relacionamento educacional entre o homem e o seu meio-ambiente.

Concomitantemente com a promoção desse estilo devem mudar as atitudes para com o crescimento, os instrumentos da aprendizagem, a qualidade e estrutura da vida cotidiana

Homem- naturezaHomem- natureza Homem- SociedadeHomem- Sociedade Homem – si mesmoHomem – si mesmo Homem- DeusHomem- Deus

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Não a esquemas: professorizados (teacher-centered)

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O direito igual de cada pessoa de exercer sua competência para

aprender

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PremisasPremisas

1. Idade — A escola agrupa as pessoas com base nas idades. Esse agrupamento fundamenta-se em três inquestionáveis premissas. O lugar das crianças é na escola. As crianças aprendem na escola. Só se pode ensinar as crianças na escola.

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2. Escola sagrada x mundo profano2. Escola sagrada x mundo profano

O professor profissional cria um meio sagrado.

A sabedoria institucionalizada das escolas diz aos pais, alunos e educadores que o professor que quer ensinar deve exercer sua autoridade num recinto sagrado

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A freqüência escolar preserva as crianças do mundo cotidiano da cultura ocidental e as mergulha num ambiente bem mais primitivo, mágico e muito sério.

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Metade dos habitantes desse planeta jamais colocou os pés numa escola.

Apesar disso aprendem com relativa eficiência a mensagem transmitida pela escola: precisam de escola sempre e sempre mais.

A escola os instrui na sua própria inferioridade

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O projeto de desmitologização que proponho não pode limitar-se exclusivamente à universidade.

Somente uma geração que cresça sem escolas obrigatórias será capaz de recriar a universidade.

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Creio que o futuro promissor dependerá de nossa deliberada escolha de uma vida de ação em vez de uma vida de consumo; de nossa capacidade de engendrar um estilo de vida que nos capacitará a sermos espontâneos, independentes, ainda que inter-relacionados,

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Instituições manipulativas

As instituições à direita são geralmente processos de produção complexos e dispendiosos em que a maioria de esforço e gastos são feitos para convencer consumidor de que não pode viver sem o produto ou o tratamento oferecido pela instituição.

«Instituições conviviais»

As instituições à esquerda tendem a ser redes que facilitam a comunicação ou cooperação dos clientes que tomam a iniciativa

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Coisas, modelos, colegas e adultos

A criança se desenvolve num mundo de coisas, rodeada por pessoas que lhe servem de modelo das habilidades e valores. Encontra colegas que a desafiam a interrogar, competir, cooperar e compreender; e, se a criança tiver sorte, estará exposta a confrontações e críticas feitas por um adulto experiente e que realmente se interessa por sua formação.

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InformaçãoInformação

CoisasCoisas

PessoasPessoas

CríticaCrítica

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1°) Serviço de consultas a objetos educacionais:

2°) Intercâmbio de habilidades — 3°) Encontro de colegas — uma rede

de comunicações 4°) Serviço de consultas a

educadores em geral

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Os pais precisam de orientação para dirigir seus filhos no caminho que leva para a independência educacional responsável. Os aprendizes precisam de líderes experientes quando encontram terreno árido

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Essas duas necessidades são bastante distintas: a primeira é a necessidade de pedagogia; a segunda, de liderança intelectual em todos os demais campos do saber.

A primeira necessita de conhecimentos sobre a aprendizagem humana e sobre recursos educacionais;

A segunda, de conhecimentos baseados na experiência em qualquer tipo de pesquisa. Ambas as espécies de experiência são indispensáveis para um efetivo esforço educacional.

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O relacionamento de mestre e aluno não está restrito. à disciplina intelectual.

Seu relacionamento é literalmente incalculável e, de maneiras bem diversas, um privilégio para ambos.

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Contra as certificações: Precisamos de uma legislação que

generalize a liberdade acadêmica. O direito de ensinar qualquer habilidade deveria cair sob a proteção da liberdade de falar. Uma vez removidas as restrições do ensino, serão também e logo removidas da aprendizagem

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