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EmoçõesCésar Schirmer dos Santos
Departamento de Filosofia – UFSM
2016
“‘Emoção: Agitação ou distúrbio da mente; estado mental
veemente ou excitado.’ Também é uma governante poderosa e
irracional.”
– Fala do Criminologista do filme Rocky Horror Picture Show
Agito, distúrbio, excitação, irracionalidade
A importância das emoçõesAlegria, autorrealização… as emoções positivas fazem a vida valer
a pena.
Vergonha, desespero… as emoções negativas tornam a vida um
inferno.
As emoções dão qualidade e significado às nossas existências.
Principais tipos de teorias filosóficas sobre as emoções1. Emoções são redutíveis a sentimentos;
2. Emoções são redutíveis a desejos;
3. Emoções são redutíveis a juízos cognitivos e avaliativos
(crenças).
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
Emoções como sentimentosNo cotidiano, emoções são sinônimos de sentimentos.
David Hume: somos escravos das paixões.
Adam Smith fundamenta as emoções sociais na simpatia.
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
David HumeAs emoções são centrais para o caráter e para a ação, pois a razão
é uma escrava das paixões.
Podemos distinguir uma emoção de outra pelo sentimento
peculiar de cada uma.
Adam Smith sobre as emoções sociaisAltruísmo emocional.
Nos colocamos na pele dos outros.
Simpatia.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Altruísmo emocionalMesmo os mais egoístas têm emoções altruístas.
Piedade, compaixão.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Nos colocamos na pele dos outrosNão temos experiência direta do que os outros sentem
(empirismo).
Imaginamos o que os outros sentem.
As variedades dos outros.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Imaginamos o que os outros sentemOperação automática, irrefletida, involuntária.
O imaginado difere no grau, mas não na natureza, daquilo que é
sentido pelo outro.
Recolher um membro, proteger a cabeça… Nossas reações
corporais se explicam pelas emoções que imaginamos ser
sentidas pelo outro.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
As variedades dos outrosPessoas vivas, incluindo adultos, crianças, normais e loucos.
Pessoas fictícias da literatura, teatro e cinema.
Pessoas mortas.
Animais em geral, plantas.
A natureza como um todo, o cosmo.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Simpatia“… nossa solidariedade com qualquer paixão.”
Automática para com emoções positivas (como o riso, a alegria).
Condicionada para com emoções negativas (como a raiva e a
fúria).
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Simpatia com emoções positivasRiso, alegria.
Instantânea, imediata.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Simpatia com emoções negativasRaiva, fúria, ódio.
Condicionada ao conhecimento das causas, pois depende de nos
colocarmos no lugar do outro.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Emoções como desejosHá uma tradição que frisa o vínculo entre emoções e desejos.
Este vínculo seria até mesmo etimológico, pois o termo emoção
tem parentesco com os termos movimento, motivo, comoção.
Nesta tradição, as emoções estão aí para nos levar à ação. Ou seja,
as emoções têm um papel prático.
É a tradição de Spinoza e Damásio – e também do Descartes da
Sexta Meditação.
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
Emoções como desejosDescartes, Spinoza, Damásio
Utilidade, conatus, finalidade
Finalidade das emoções na modernidadeNas teorias de Descartes (Sexta Meditação), Spinoza e Damásio,
as emoções têm como finalidade a autopreservação e o bem-estar
do organismo.
Darwin e Freud estão nas vizinhanças.
Regulação da vidaEmoções são mecanismos básicos de regulação da vida.
Emoções são biologicamente mais antigas do que os sentimentos.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
35.
Expressões do estado da vida“… os sentimentos são a expressão do florescimento ou do
sofrimento humano, na mente e no corpo. … Os sentimentos
podem ser, e geralmente são, revelações do estado da vida dentro
do organismo. … a maior parte dos sentimentos são expressões de
uma luta contínua para atingir o equilíbrio …”
Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
15, grifo do autor.
Conatus, homeostasiaHomeostasia: (boa) regulação da vida. Conatus.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
37–42.
Homeostasia e avaliação da qualidade de vidaReações homeostáticas são maneiras de avaliar as condições
internas e externas.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
43.
Homeostasia Spinoza chama essas reações de apetites; quando acompanhados
de consciência, são desejos – conatus.
Nossos mecanismos automáticos de reação não buscam apenas a
sobrevivência. O Graal das emoções é a vida boa.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
43.
Bem-estar: real, aparenteManipulamos sentimentos com drogas, alimentos, sexo, práticas
sociais, exercícios físicos, tudo o que tenha como meta o
bem-estar.
Digamos que uma dor esteja aí para sinalizar um perigo à
sobrevivência individual ou coletiva. Anestesiá-la é buscar o
próprio bem-estar, não a autopreservação.
Damásio: manipulação dos mapas cerebrais do próprio corpo.
Descartes, As Paixões da AlmaAs Paixões da Alma, de Descartes, marcam o início do processo
moderno de investigação da alma como algo natural, no sentido
de vinculado ao corpo.
Esse longo processo só finda no século 19, quando a alma é
finalmente surrupiada dos teólogos pelos médicos.
Cf. Hacking, Ian. Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2000.
Bento de SpinozaPara Spinoza, as emoções sinalizam um aumento ou diminuição
da capacidade de cada um de preservar a própria vida. As
emoções têm importância ética, pois uma vida boa é durável e
segura (o ideal de Hobbes). Entender o mundo gera emoções
positivas, pois aumenta o poder de autopreservação.
Emoções negativas que se originam do acaso e da ignorância. As
emoções não marcam nenhum conflito entre o corpo e a alma,
pois corpo e alma são dois aspectos de uma única realidade.
Spinoza leitor de DescartesNas Paixões da Alma, Descartes acerta no projeto, pois o
caminho para entender as emoções é investigar a união
mente-corpo.
Mas erra nos pressupostos: dualismo, livre-arbítrio.
O que Spinoza herda de DescartesEmoções têm fundamento no corpo.
Início da naturalização dos sentimentos.
Início da laicização das emoções. É o filósofo, em vez do padre,
quem entende de emoções. Nos antigos (Aristóteles, estoicos) as
emoções fazem parte da esfera moral.
Spinoza sobre dois modos de conhecerPosso conhecer algo pelo intelecto, o que é conhecer algo pelas
causas suficientes para sua produção, ou posso conhecer algo
pelo seu efeito no meu corpo, o que é conhecer por associação de
ideias.
A emoção é um sinal do efeito positivo ou negativo de algo sobre
meu corpo.
(Spinoza antecipa em parte a teoria James-Lange.)
Desejo como potênciaDe afirmar a vida
De produzir efeitos
Flutuação do ânimoAfetos básicos: alegria, tristeza
Alegria: para cima
Amor: alegria + a ideia de algo (Spinoza, Ética 3, DA 6)
Tristeza: para baixo
Ódio: tristeza + a ideia de algo
ConatusTendência ou disposição ao movimento
Esforço para perseverar no ser
Apetite, vontade
Spinoza sobre o conatus“Cada coisa, o quanto está em suas forças, esforça-se para
perseverar em seu ser.” (3p6)
“O esforço pelo qual cada coisa se esforça para perseverar em seu
ser não é nada além da essência atual da própria coisa.” (3p7)
Damásio sobre o conatusSeres vivos são naturalmente aptos a regular a própria vida e
buscar a sobrevivência.
A busca de maior perfeição como alegria.
Tendências e esforços inconscientes.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
21.
AfetosModificações do corpo que favorecem/prejudicam esse corpo,
junto com a ideia dessas modificações (Spinoza, Ética 3def3).
Afetos são psicofísicos.
Os encontros do nosso corpo com outros corpos correspondem,
na alma, a expressões emocionais do aumento/diminuição da
potência de agir.
O afeto vivido no corpo é representado como ideia na mente.
Lógica associativa dos afetosPor contiguidade (na memória)
Por temporalização
Transferência por semelhança
Por identificação
Pelas modalidades metafísicas
Associação afetiva por contiguidade (na memória)Se a alma foi afetada simultaneamente por A e B, ao ser
posteriormente afetada (via percepção ou memória) apenas por
A ou por B, também será afetada (via memória) pelo outro.
A consciência se prende a associações de fundo inconsciente.
Elimina o livre-arbítrio, pois não escolhemos as associações se
formam (3p2e).
Um universo emocionalmente carregadoOs objetos sempre se dão à consciência vinculados a
alegria/tristeza, gerando amor/ódio.
Associação afetiva por temporalizaçãoSe a alma percebeu A em associação com alegria/tristeza, então a
alma lembra de A com alegria/tristeza.
A ausência de A não modifica o afeto.
Caráter alucinatório dos afetos.
Torna o passado e o futuro tão emocionalmente carregados
quanto o presente.
Transferência por semelhançaSe a alma imagina que A é semelhante a B, e a alma sente
alegria/tristeza com A, então a alma sente a respectiva
alegria/tristeza com B.
Ambivalência: se a alma ama A e odeia B, e C é num aspecto
semelhante a A, noutro semelhante a B, então a alma ama e odeia
C.
Por identificaçãoSe amo/odeio A, amo/odeio todos os que identifico como do
mesmo tipo que A.
Contágio emocional: se A ama/odeia B, e eu me tomo por
semelhante a A, então amo/odeio B.
Pelas modalidades metafísicasNecessidade, possibilidade, contingência.
Reação emocional maior quando imaginamos que a ação de
alguém é fruto do livre-arbítrio (3p49e).
Emoções e outros corpos – possibilidadesAumento da potência para agir com atividade
Aumento da potência para agir com passividade
Redução da potência para agir com passividade
Bove, Laurent. 2010. Espinosa e a psicologia social: ensaios de ontologia política e
antropogênese. Vários tradutores. Belo Horizonte: Autêntica.
Aumento da potência com atividadeAumento da potência via ideias adequadas.
O resultado é alegria, pois se dá atividade intelectual em vez de
passividade corporal.
Aumento da potência com passividadeAumento da potência corporal via encontro feliz com outro
corpo.
O resultado é alegria, por aumento da potência relativamente ao
momento imediatamente anterior.
Redução da potência de agir com passividadeImpotência, passividade, tristeza: outros corpos diminuindo a
potência de agir do meu corpo.
Falsidade: ideias da imaginação em vez de ideias da razão.
A composição do indivíduoCorpos são feitos de corpos. Chegamos a um indivíduo quando
um corpo opera de modo a buscar se autopreservar e aumentar
seu poder (conatus).
Indivíduos suprapessoais
Indivíduos subpessoais
Indivíduos suprapessoais: a sociedadeAlianças. Venho a fazer parte de um indivíduo mais complexo, o
qual converge para o mesmo efeito que é útil para minha
sobrevivência. Alegria coletiva.
Conflitos e confrontos. Outros indivíduos, os quais se dirigem a
efeitos contrários à minha sobrevivência, entram em choque
comigo. Eu mesmo posso estar subdividido. Tristeza coletiva.
Ciências sociais como física do choque entre os corpos.
A força dos afetos“Um afeto não pode ser coibido nem suprimido a não ser por um
afeto contrário e mais forte do que o afeto a ser coibido.” (4p7)
Enfrentar uma emoção negativa e irracional com outra positiva e
racional mais forte.
Emoções como crençasUma abordagem bastante comum das emoções, na segunda
metade do século XX, as reduzia ou assimilava a crenças
racionais sobre desejos.
Abordagem cognitiva
Abordagem cognitivaUma boa parte das teorias contemporâneas trata das emoções em
termos cognitivos.
Por exemplo, minha raiva de alguém supõe minha crença que
essa pessoa fez algo errado. Sem essa crença, não se explica
minha raiva.
Os estoicos defendiam uma teoria das emoções nessa linha.
Emoções como juízosNo livro Upheavals of thought, de 2001, Martha Nussbaum
defende um neo-estoicismo sobre as emoções.
Emoções são juízos de valor com aspectos cognitivos. Esses
juízos são condições suficientes para haver as emoções.
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophical and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 451.
Um exemplo de emoção como crençaQuero ir na sessão das 20h de cinema.
Agora são 19h30, e levo uns vinte e poucos minutos para chegar
lá.
Assim sendo, tenho que sair agora – significando: Quero sair
agora, pois esta crença é suficiente para este desejo.
AmokPalavra malaia, designa homicídios coletivos cometidos por
homens que perderam um amor, dinheiro ou honra.
Durante o ato, o homem está fora de si, sob o domínio da fúria.
Antes do ato, o homem delibera friamente sobre o que fazer.
Cf. Pinker, Steven. 1998. Como a mente funciona. Traduzido por Laura Teixeira Motta.
2oed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 383–384.
A razão antes da fúriaAntes do ato, o homem em estado de amoque…
… reflete sobre sua situação;
… planeja cuidadosamente seu atentado.
Ideias, não paixões, nem a química do cérebro, precedem o
furioso ato homicida.
Cf. Pinker, Steven. 1998. Como a mente funciona. Traduzido por Laura Teixeira Motta.
2oed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 383–384.
Emoções resistentes a razõesO problema é que, em alguns casos, crenças parecem não ser
nem necessárias nem suficientes para emoções.
Uma criança tem medo do escuro, daí sua mãe explica que não
há nada a temer. A criança entende a explicação, e a aceita, mas
continua sentindo medo do escuro.
Acrasia
Acrasia O problema desse modelo, como mostrou Donald Davidson, é
que somos acráticos, temos vontade fraca.
Acrasia: ver que um caminho é preferível, concordar que esse
caminho é preferível, mas seguir por outro caminho.
Emoções como crenças e acrasiaNo caso do raciocínio querer-ir-ao-cinema-sair-agora, podemos
aceitar suas premissas, podemos aceitar sua conclusão, podemos
aceitar que as premissas são suficientes para sustentar a
conclusão, e ainda assim podemos ficar paradinhos.
Isso indica muitas coisas.
Uma delas é que talvez não devamos reduzir emoções a crenças.
Dimensões das emoçõesAvaliativa – Intencional – Temporal – Modal – Intensidade –
Polaridade – Expressão comportamental – Disponibilidade à
avaliação racional – A fronteira entre a natureza e a cultura – A
direção de ajuste – Passividade
Dimensão avaliativa das emoçõesEmoções têm um aspecto avaliativo. Se alguém me elogia e eu
me sinto feliz, a felicidade que sinto é fruto de uma avaliação do
elogio como algo bom ou positivo para mim. Do mesmo modo,
se alguém me ofende, a raiva que sinto é fruto da avaliação do
insulto como algo negativo para mim.
Assim sendo, em uma emoção há uma avaliação (positiva,
negativa) de como a situação fica (boa, ruim) após certo evento.
Como opera a avaliação emocional?Modelo judicativo: uma emoção é um juízo avaliativo pelo qual a
pessoa é plenamente responsável, tanto do ponto de vista
epistêmico quanto do ponto de vista ético.
Modelo instintivo: a nível subpessoal, uma percepção acarreta
uma avaliação de risco ou segurança, o que acarreta uma resposta
comportamental estereotipada. Esse processo não é disparado
por um juízo, mas pode ser modificado por um juízo.
Emoções salientam aspectosUm aspecto do objeto apresenta-se como ameaçador, o que
dispara mecanismos subpessoais de autodefesa, e o sentimento
de medo.
No caso das emoções mais básicas, aquelas encontráveis em
todas as culturas, a atenção ao aspecto é automática, não requer
consciência. É obra do Sistema 1, não do Sistema 2.
A racionalidade pura não é suficiente para a açãoA noção de racionalidade se associa às noções de coerência e
consistência na esfera das crenças, e à noção de otimização dos
resultados na esfera da ação.
No entanto, essas são noções negativas, no sentido de que elas
servem para criticar as falhas de uma crença ou de um plano de
ação, mas são insuficientes enquanto guias positivos para a
fixação de uma crença ou um plano de ação.
Redução da quantidade de alternativas a escolherVárias são as crenças coerentes e consistentes que podemos ter.
Por quais optar?
Vários são os planos de ação que otimizam os resultados. Qual
seguir?
A quantidade de alternativas a considerar pode ser infinita, e
infinito pode ser o tempo requerido para escolher através da
mera racionalidade.
Máquinas versus animaisEsse é um problema para máquinas, mas não para animais, pois
somos dotados de emoções.
As emoções dirigem e restringem nossa atenção, reduzindo
consideravelmente a quantidade de alternativas a levar em conta.
Disso resulta que somos capazes de escolher em uma quantidade
de tempo finita.
Dimensão intencional das emoçõesO objeto, se houver, da emoção.
O objeto focado na emoção, não o objeto que causa a emoção.
Dimensão intencional das emoções e causalidadeÉ preciso diferenciar o objeto e a causa de uma emoção.
Uma mãe pode estar irritada com seu filho (o objeto da irritação)
não porque seu filho tenha causado a irritação, mas porque a
privação de sono causou a irritação.
Emoções sem dimensão intencional Há emoções que têm um objeto, como a inveja e o remorso, e há
emoções que podem ou não ter um objeto, como a tristeza.
Ontologia do objeto intencional da emoçãoO objeto intencional de uma emoção é aquilo que a torna
inteligível.
Pode ser uma coisa existente ou inexistente.
Os fervorosos seguidores de falsos ídolos são fanáticos, apenas da
inexistência dos seus deuses.
Objetos intencionais e definições de emoçõesO tipo de objeto intencional de uma emoção é fundamental para
defini-la.
O ciúme é o ódio a outro que possui algo que você ama e é de
usufruto exclusivo, o amor é a alegria ligada à ideia do objeto que
te faz sentir melhor do que você estava antes etc.
Objetos intencionais e emoções apropriadasO objeto intencional explica quando e porque uma emoção é
inapropriada.
Ter medo da própria sombra parece inapropriado, pois se trata
de um objeto inofensivo.
Dimensão temporal das emoçõesHá emoções necessariamente vinculadas ao passado, presente ou
futuro.
Esperança, desespero: vinculação com o futuro.
Dimensão modal das emoçõesHá emoções vinculadas ao caráter necessário ou contingente de
um evento.
Sentimos mais raiva quando achamos que a pessoa que nos
ofendeu podia ter feito diferente do que se sabemos que a pessoa
não teria podido ter agido de outro modo.
Intensidade das emoçõesUma emoção pode ser forte, ou fraca.
Reprovamos os outros por sentir a emoção certa na intensidade
errada (A. Smith).
Polaridade das emoçõesUma emoção pode ser polaridade positiva (alegria, prazer) ou
negativa (tristeza, dor).
Expressão comportamental das emoçõesAs emoções compartilhadas em várias culturas são fáceis de ler
no comportamento e difíceis de ser fingidas.
Disponibilidade à avaliação racionalUma emoção expressa no comportamento e transparente para S
pode ser avaliada racionalmente por S.
A psicanálise se ocupa de emoções indisponíveis à avaliação
racional. Suas técnicas buscam a transparência e a expressão no
comportamento.
Transparência/opacidade das emoçõesUma emoção é transparente para S se S é capaz de lê-la através
do comportamento ou outro indício. Uma emoção é opaca, caso
contrário.
S pode ser o próprio sujeito que sofre a emoção ou outra pessoa.
A psicanálise investiga as emoções opacas perturbadoras, suas
causas e seus tratamentos.
Relativismo cultural ou emoções universais?A pesquisa de Ekman nos dá razões para crer que há um
pequeno número de emoções que são reconhecidas por todas as
pessoas em todas as culturas.
No entanto, muitas emoções são típicas de uma cultura, e
algumas estão muitíssimo bem localizadas na geografia e na
história.
Direção de ajusteUma crença tem uma direção de ajuste da-mente-ao-mundo, pois
a mente tem que se ajustar ao mundo.
Um desejo, no entanto, tem uma direção de ajuste do-mundo-
à-mente, pois o mundo tem que se adequar ao desejo.
Assim sendo, crenças são objetivas, enquanto desejos são
projetivos.
O problema de EutifronUma visão cognitivista das emoções as assimila às crenças, não
aos desejos.
Assim sendo, voltamos ao problema de Eutifron, e é preciso que
o objeto da emoção seja objetivamente bom ou mau, louvável ou
reprovável.
Objetividade e projetividadeObjetividade: querer porque é bom.
Projetividade: é bom porque é desejado.
Assim sendo, na visão cognitivista, o desejável tem que ser
objetivamente desejável, e o indesejável tem que ser
objetivamente indesejável.
Passividade Há um elemento de passividade em ao menos algumas emoções.
Nisso, as emoções são parecidas com as sensações. Não posso
escolher as sensações que tenho, e (ao menos em parte) não
posso escolher as emoções que tenho.
Não se observa o mesmo tipo de passividade nas crenças, pois
tenho que buscar crer no que é verdade, e ter crenças coerentes.
Questões filosóficas sobre as emoçõesQuestões ontológicas
Questões éticas e políticas
Questões epistemológicas
Questões ontológicasDiferentes teorias das emoções propõem diferentes ontologias
das emoções, o que leva a disputas ontológicas sobre o que as
emoções são, se é que elas são alguma coisa.
Ontologia das emoções. Emoções podem ser:Processos fisiológicos
Percepções de processos fisiológicos
Comportamentos
Juízos avaliativos (automáticos ou pessoais)
Fatos sociais
(Talvez todas as anteriores.)
Tipos de entesSubstâncias
Propriedades
Eventos, incluindo fatos
Processos
Uma emoção é uma substância?Alguns povos transformaram emoções em divindades. Vênus, por
exemplo.
Substância: ente capaz de sobreviver à mudança (ganho ou perda
de propriedades).
Emoções parecem ser mudanças de substâncias, não substâncias.
Substâncias são indivíduos. Emoções parecem ser ocorrências
(tokens) ou tipos (types) de mudanças que se dão em indivíduos.
Uma emoção é uma propriedade?Propriedade: ente que (na leitura imanentista das propriedades)
é ou (na leitura transcendentista das propriedades) se manifesta
espaçotemporalmente em (imanentismo) ou através de
(transcendentismo) outro ente.
Emoções como propriedades. De quais entes? Animais. Mas
talvez máquinas possam vir a ter emoções. Então, emoções como
propriedades de indivíduos dotados de certos tipos de almas.
Uma emoção é um evento? Um evento é um indivíduo quadridimensional, isto é, localizado
no espaço-tempo.
Há tipos de eventos: shows de rock, choros, euforias etc.
Fatos podem ser entendidos como eventos. Fato: que estou
alegre, que tenho esperança etc.
Uma emoção é um processo?Processo: evento estruturado em etapas.
Etapa anterior é condição necessária de etapa posterior. Nascer,
adolescer, morrer etc.
Problema ontológico e motivação (questão de método)As emoções são tão complexas que é difícil, e talvez pouco
iluminador, simplesmente dizer que uma emoção é uma
propriedade, um evento ou um processo.
Talvez o melhor ponto de partida seja motivar a classificação
ontológica da emoção.
O poder explicativo é uma boa motivação.
Proposta de metodologiaDistinguir entre níveis de explicação.
Uma explicação é um porquê. Explicações diferentes podem
conviver sem conflito, desde que pertençam a diferentes extratos
explicativos.
Modelo proposto: os três níveis explicativos de David Marr.
Marr, David. 1982. Vision. New York: W.H.Freeman & Co.Ao lado, a capa da reedição de 2010.
Níveis de explicaçãoNível computacional/semântico (finalidade, objetivo)
Nível algorítmico/sintático (esquema
input-processamento-output)
Nível físico (implementação, realização)
McClamrock, Ron. 1991. “Marr’s three levels: A re-evaluation”. Minds and Machines 1 (2): 185–96. doi:10.1007/BF00361036, p. 189.
Emoções no nível computacional/semânticoQual o objetivo das emoções?
Que estratégia pode ser adotada para se chegar ao objetivo?
Por que emoções são apropriadas para chegar ao objetivo?
Qual o objetivo ou finalidade das emoções?Antigos versus modernos
Alguns modernos notáveis
Bem-estar aparente
Meta das emoções na antiguidade e na modernidadeFilosofia antiga: autorrealização, felicidade, florescimento
(Aristóteles, Ét. Nic.; obras de P. Hadot sobre a filosofia antiga).
Filosofia moderna: autopreservação, conatus, instinto de
sobrevivência, realização do desejo.
Nível algorítmico/sintáticoOs processos que permitem a realização da meta.
Um comportamento de fuga, por exemplo, é um meio de realizar
a meta da autopreservação em uma situação de perigo que não
pode ser enfrentado sem risco injustificado à integridade do
organismo.
Esquema input-processamento-output.
Emoções no nível algorítmico/sintáticoComo a estratégia de chegar ao objetivo da autopreservação via
emoções pode ser implementada?
Quais os inputs que produzem emoções? Quais os outputs de um
computação emocional? Qual o algoritmo que transforma os
inputs em outputs?
Esquema input-processamento-outputInput: um evento externo ou interno manifestado no próprio
corpo. Ver uma cobra, por exemplo.
Processamento: arranjos fisiológicos para realizar um esquema
estereotipado e automático de resposta. Taquicardia, por
exemplo.
Output: comportamento de fuga ou luta. Correr na direção
contrária àquela da cobra, por exemplo.
Damásio sobre emoções e sentimentosEmoção é diferente de sentimento.
Emoção é expressão corporal pública.
Sentimento é evento mental privado.
A emoção é filogeneticamente anterior ao sentimento.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras.
Fundamento da distinção entre emoção e sentimentoA impossibilidade de exprimir uma emoção acarreta a
incapacidade de ter o sentimento correspondente, mas alguns
doentes incapacitados de certos sentimentos ainda podem
exprimir as emoções correspondentes.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
13–14.
Processo emoção-sentimento“As emoções ocorrem no teatro do corpo. Os sentimentos
ocorrem no teatro da mente.” (Damásio 2004, 35)
Emoção: parte inicial, pública. Ações, movimentos manifestados
no corpo, no rosto, na voz, em comportamentos.
A mente como ideia do corpo“O objeto da ideia que constitui a mente humana é o corpo, ou
seja, um modo certo da extensão, existente em ato, e nada outro.”
(Spinoza, Ética 2p13)
Há princípios naturais por detrás das manifestações paralelas da
mente e do corpo. Mapeamentos cerebrais do corpo.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
21.
Damásio sobre os sentimentos Sentimentos são o fechamento privado do processo que se inicia
publicamente com a emoção.
Invisíveis para o público, tal como as imagens mentais. Privados.
Sentimentos são o pano de fundo da mente – a tonalidade afetiva
de cada momento.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
35.
Emoções precedem sentimentosNunca se observa um sentimento antes da respectiva emoção.
O que está escondido em nós, o sentimento, é o efeito da emoção
– não é a causa da emoção.
Sentimentos são sombras de emoções.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
36–37.
Biologia evolutivaEmoções são evolutivamente anteriores a sentimentos. Emoções
são mais antigas do que cérebros.
Comportamentos de prazer e dor são evolutivamente anteriores
às experiências (sentimentos) de prazer e dor. A experiência de
prazer ou dor não é condição necessária do comportamento de
prazer ou dor.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
37–41.
Alguns comportamentos emotivos de seres muitíssimo simplesPulsões, fome e sede.
Motivações.
Comportamentos exploratórios, lúdicos e sexuais.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
41.
Entre os genes e o aprendizadoReações mais simples são cortesia do genoma, reações mais
complexas exigem aprendizado.
A finalidade de todas essas reações é regular a vida.
Homeostasia: (boa) regulação da vida – conatus.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
37–42.
Emoções no nível físico da implementaçãoComo podem ser implementados fisicamente a computação da
autopreservação via emoções e o algoritmo que transforma
inputs em outputs?
Lesões cerebrais e ciência dos sentimentosPesquisa das emoções a partir de doenças neurológicas. Lesões
afetam input, processamento ou output.
Por exemplo, lesões que impossibilitam sentir vergonha ou
compaixão, mantendo intacta a capacidade de sentir alegria,
tristeza ou medo. Ou lesões que impossibilitam sentir medo,
mantendo intacta a capacidade de sentir compaixão ou vergonha.
De Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 168.
Hipóteses de DamásioLesões em certos setores do cérebro impossibilitam certas
emoções.
Diferentes setores cerebrais se ocupam de diferentes
sentimentos.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
13.
Nível físicoA mídia, o hardware.
A mídia das emoções é diferente em seres sem córtex e em seres
com córtex (A. Damásio).
Como o organismo realiza a meta.
Processamento subpessoal de informação e cumprimento de
comportamento esperado, por exemplo.
Uma emoção explicada em três níveis: medoNível da finalidade: o medo é uma emoção que, a partir de dicas
ambientais ou sinestésicas avaliadas como perigosas, dispara
comportamentos de fuga ou luta para autopreservação.
Nível do input-processamento-output: percepção → avaliação
como perigo → fuga ou luta.
Nível físico: um evento de fuga ou luta singular, localizado no
espaço-tempo.
Questões éticasComo reduzir a proporção de obsoletas emoções
neolíticas/primatas/mamíferas/animais negativas operando na
minha vida hipster e urbana? (Exemplo: medo e raiva dos de fora
do meu grupo.)
Emoções são um obstáculo para a racionalidade? Ou será que as
emoções proporcionam um tipo de avaliação que é irrealizável
em tempo finito pela razão pura?
Emoções na política: o grande paradoxoAs pessoas com a vida mais destruída pelas políticas
conservadoras são as mais propensas a votar com os
conservadores.
Por quê?
O conatus e o conservadorismoNos EUA, há correlação entre votar pela desregulamentação
ambiental e ou morrer mais cedo, ou ter menos qualidade de
vida por causa da brutal poluição industrial literalmente no
quintal de casa.
Exatamente as pessoas que mais precisam de imunidades
(direitos) são aquelas que votam pela desregulamentação. O
resultado é o autossacrifício em nome do capitalismo.
Conservadorismo mataNos EUA, há mais mães adolescentes, mais divórcios, piores
condições de saúde, mais obesidade, mais mortes violentas, mais
bebês abaixo do peso e menos matrículas escolares nos estados
mais conservadores.
As pessoas dos estados mais conservadores dos EUA vivem, em
média, cinco anos menos do que as pessoas dos estados mais
liberais e progressistas.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Poluição e conatus nos EUAQuanto mais conservador você é, mais provável é que você esteja
exposto à poluição.
Poluição ou mata, ou reduz a expectativa de vida, ou diminui a
qualidade de vida. Uma pessoa que vê a poluição como um
sacrifício exigido pelo capitalismo (não é) toma decisões a partir
dessa visão contraria seu próprio conatus.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Empresas e meio ambienteEstudos da Organização para a Cooperação Econômica e
Desenvolvimento (OECD) mostram, conclusivamente, que a
regulamentação ambiental gera empregos. Ainda assim, sem
bases igualmente sólidas, conservadores do Tea Party preferem
acreditar no contrário.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Qualidade de vida dos conservadores dos EUAQuanto mais conservador você é, pior é sua vida, e mais provável
é que você morra mais cedo do que os outros.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
O grande paradoxoAs pessoas com a vida mais destruída pelas políticas
conservadoras são as mais propensas a votar com os
conservadores.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Tea PartyMisoginia
Homofobia
Desregulamentação ambiental
Racismo, xenofobia, islamofobia
Como prever se o eleitor vai de Trump?Simples. Basta descobrir se ele é hostil às mulheres em geral.
Ressentimento contra pessoas do sexo feminino é um indicador
seguro de preferência por voto em Trump, contra Hillary.
Cf. Nelson, Libby. 2016. “Hostility toward women is one of the strongest predictors of
Trump support”. Vox. novembro 1.
http://www.vox.com/2016/11/1/13480416/trump-supporters-sexism.
Eleitores do Tea PartyNos EUA, os eleitores típicos do Tea Party são homens, brancos,
velhos, cristãos, com baixa escolaridade.
Eles sabem que estão atrás dos outros brancos na escala social, e
esperam ser os próximos a ter a riqueza, sucesso e dignidade dos
outros brancos.
Inveja “A Inveja é o Ódio enquanto afeta o homem de tal maneira que
se entristece com a felicidade do outro, e, inversamente,
regozija-se com o mal do outro.”
Spinoza, Ética 3, DA 33.
“Injustiça”Mas daí eles veem que mulheres, pessoas de outras etnias,
pessoas mais novas, pessoas de outras religiões, pessoas com mais
escolaridade os ultrapassam.
E se sentem injustiçados.
Menos que genteMesmo animais, mesmo o meio ambiente recebe mais atenção
do que eles.
Isso os faz sentir-se muitíssimo diminuídos.
Valores Além disso, eles são criticados por causa da interpretação estreita
dos valores cristãos. A essa interpretação eles vinculam
sentimentos identitários valiosíssimos.
São esses valores que os fazem discriminar mulheres, pessoas de
outras etnias, pessoas de outras religiões, pessoas com outras
orientações sexuais.
Mas eles querem ser valorizados, mesmo desprezando os outros.
Voto emocional O resultado dessa conturbada sopa biográfica é o voto não no
próprio interesse econômico, mas no próprio interesse
emocional.
Isto é, o voto que propõe colocar mulheres, pessoas de outras
etnias e pessoas de outras religiões lá atrás.
Mesmo quando esse voto leva a menos qualidade de vida para si
mesmo.
Alvos emocionaisOs outros que estavam atrás e os ultrapassam são tratados como
os culpados pela sua vida ruim e curta dos brancos cristãos de
baixa escolaridade, não as empresas e políticos que deles se
aproveitam. Quem tem discurso contra esses outros leva o voto,
ainda que esse voto diminua o tempo e a qualidade de vida do
eleitor.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Questões epistemológicasO conhecimento das nossas próprias emoções é uma questão
problemática, pois, apesar de parecer que estamos
imediatamente cientes das nossas próprias emoções, nada tem
mais poder de nos levar ao autoengano do que nossas próprias
emoções.
As múltiplas fontes do autoconhecimento emocionalAutodetecção, introspecção
Autoformatação, autoconstituição
Autoexpressão, comportamento
Inferência teórica, descoberta via terapia
Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness,
organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University
Press, p. 36–37.
Autodetecção (propriocepção) e inferência teórica Sentimento da posição do próprio corpo: se vejo uma cobra e
sinto meu corpo parado, então não tenho medo.
Sentimento de impulsos: se vejo uma cobra e não sinto vontade
de fugir, então não tenho medo.
Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness,
organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University
Press, p. 36–37.
Autoformatação e autoexpressão Digo que não tenho medo de cobras. Isso ajuda a formatar meu
sentimento.
Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness,
organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University
Press, p. 36–37.
História da filosofia das emoçõesOs clássicos
A pesquisa contemporânea
Os clássicosNão há nada de surpreendente no fato de que alguns dos mais
importantes filósofos clássicos (Platão, Aristóteles, Hobbes,
Descartes, Spinoza, Hume) tenham proposto teorias muito bem
delineadas das emoções, nas quais as emoções são concebidas
como respostas a certos tipos de eventos que despertam interesse
ou preocupação no sujeito, provocando mudanças corporais e
motivando comportamentos característicos.
Teorias clássicasFilosofia antiga: Platão, Aristóteles, estoicos.
Filosofia moderna: Descartes, Spinoza, Hume, Adam Smith
Platão O que normalmente se diz, sobre a teoria das emoções de Platão,
é o seguinte:
Platão tinha uma teoria tripartite da alma. Partes intelectual,
desejante e emotiva. Essa teoria se mostra instável e
problemática.
O caso é um pouco mais complicado…
Annas, Julia. 2012. Platão. Traduzido por Marcio de Paula S. Hack. Porto Alegre: L&PM, p. 72.
Aristóteles Para Aristóteles, as emoções são de grande importância para o
bem viver e o bem agir, pois essas duas coisas resultam do sentir
as emoções certas, na proporção certa, nas circunstâncias certas.
EstoicosPara os estoicos, as emoções são juízos de valor sobre as coisas.
Esses juízos de valor são fontes de sofrimento.
De modo que, se pudéssemos extinguir as emoções (se
pudéssemos deixar de fazer tais juízos avaliativos…), nos
tornaríamos indiferentes, e felizes.
Terapia estoicaAo ver seu filho, você julga que ele estará aí amanhã para
alegrá-lo. Esse juízo é o amor.
Você tem que se habituar a pensar que não está no teu poder
fazer com que seu filho esteja por perto amanhã. Você tem que
desaprender a amá-lo.
Assim, você será feliz.
A pesquisa contemporâneaApós um período de negligência, a investigação das emoções tem
prosperado nos nossos dias, e filósofos podem fazer pesquisas
frutíferas sobre o tema a partir de interações com investigadores
da psicologia, neurologia, biologia e economia.
As emoções e a vida mental – alguns modelosTeoria do senso comum
Teoria James-Lange
Teoria composicional
Atomismo emocional
Teoria do contínuo emocional
Teoria da base biológica
Teoria do senso comum das emoçõesPara o senso comum, uma emoção é um tipo de sentimento que
se diferencia qualitativamente das sensações (incluindo
propriocepção).
Emoções têm valor ético. Posso me ofender caso outro não
manifeste a emoção apropriada no grau apropriado no contexto
apropriado (A. Smith).
Teoria James-Lange das emoçõesAtribuída a William James e Carl G. Lange
Emoções são nossa consciência de mudanças nas condições
fisiológicas relacionadas a funções motoras ou fisiológicas do
corpo.
Essa teoria tem Descartes, na Sexta Meditação, como precursor.
Além de Spinoza.
Exemplos da teoria James-LangeAo perceber alguém em perigo, várias respostas corporais se
iniciam em mim, e o medo é minha consciência dessas respostas
corporais.
Meu corpo responde à falta de açúcar, e a fome é minha
consciência dessa mudança corporal.
Meu corpo responde à falta de água, e a sede é minha
consciência dessa mudança corporal.
Insuficiência da teoria James-Lange Apesar do poder explicativo dessa teoria, em alguns casos ela não
é suficiente para distinguir entre uma emoção e outra.
Se tudo o que temos é nossa resposta corporal – por exemplo, a
taquicardia – então pode ser que eu esteja apaixonado, ou
apavorado.
Teoria James-Lange e contextoAo que parece, também precisamos de elementos contextuais
para diferenciar as emoções umas das outras.
Mas, se é assim, não é suficiente descrever uma emoção como
consciência apenas da resposta corporal.
Teoria James-Lange e contágio emocionalUm elemento contextual importante parece ser as emoções
sentidas pelos outros ao redor.
Novamente, isso indica que não é suficiente descrever uma
emoção como a consciência apenas da resposta corporal.
Goldie e a teoria James-Lange das emoçõesHá, no entanto, uma nova proposta, com vista ao retorno à teoria
da emoção como consciência da resposta corporal.
Peter Goldie propõe que se considere as respostas corporais
como carregadas de conteúdo intencional.
Assim sendo, as respostas corporais se ligam a contextos.
Emoções são nossa consciência dos nossos estados corporais
carregados de significado contextual.
Teoria composicionalDescartes e Spinoza defendem que há um número pequeno e
limitado de emoções básicas.
As outras emoções são compostas a partir das emoções básicas
mais outros elementos (p. ex. objeto, tempo, modalidade
metafísica).
Atomismo emocionalCada emoção é simples e primitiva, em vez de composta por
outros elementos (outros estados ou eventos mentais, outros
objetos).
Teoria do contínuo emocionalAs emoções formam um contínuo analisável em diversas
dimensões (p. ex. objeto, tempo, modalidade metafísica, nível de
excitação, intensidade, prazer ou dor).
Esse contínuo não pode ser fragmentado em partes, eventos ou
processos discretos.
Teoria biológica das emoçõesProcessos fisiológicos são condições necessárias de emoções.
Descartes, Sexta Meditação, como precursor.
As emoções mais básicas são respostas estereotipadas a
necessidades fisiológicas, de acasalamento, de abrigo e proteção
contra predadores e de sociabilidade.
Sistemas biológicos subpessoais orientam o organismo para a
satisfação de necessidades básicas como evitar predadores,
defender-se, buscar alimentos e cuidar da prole.
Ecletismo metodológicoNo momento, não temos nenhuma razão para preferir um
modelo explicativo em detrimento de outro.
Isso nos abre a oportunidade para o ecletismo justificado com
respeito às teorias das emoções.
AgradecimentosAos alunos da disciplina de Filosofia da Mente do Curso de
Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Santa
Maria do segundo semestre de 2016. Estas aulas foram
preparadas para vocês, e foram reformuladas a partir do
generoso retorno de vocês.
Uma versão atualizada destes slides está disponível aqui.