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GERAL E DO BRASIL GEOGRAFIA ESPAÇO GEOGRÁFICO E GLOBALIZAÇÃO EUSTÁQUIO DE SENE JOÃO CARLOS MOREIRA 1 GEOGRAFIA ENSINO MÉDIO MANUAL DO PROFESSOR

Geografia geral e do brasil vol 1 112

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  1. 1. GERAL E DO BRASIL GEOGRAFIA ESPAO GEOGRFICO E GLOBALIZAO EUSTQUIO DE SENE JOO CARLOS MOREIRA 1G E O G R A F I A ENSINO MDIO MANUAL DO PROFESSOR
  2. 2. geral e do Brasil GeoGrafia Espao gEogrfico E globalizao v o l u m e 1 Ensino Mdio Geograa 2a edio so paulo, 2013 Joo Carlos Moreira Bacharel em geograa pela Universidade de so Paulo. Mestre em geograa Humana pela Universidade de so Paulo. Professor de geograa da rede pblica e privada de ensino por quinze anos. advogado (oaB/sP). eustquio de sene Bacharel e licenciado em geograa pela Universidade de so Paulo. doutor em geograa Humana pela Universidade de so Paulo. Professor de geograa da rede pblica e privada de ensino Mdio por quinze anos. Professor de Metodologia do ensino de geograa na Faculdade de educao da Universidade de so Paulo. MaNUaL Do ProfeSSor
  3. 3. 2 Diretoria editorial: Anglica Pizzutto Pozzani Gerncia de produo editorial: Hlia de Jesus Gonsaga Editoria de Cincias Humanas e sua Tecnologias: Heloisa Pimentel e Beatriz de Almeida Francisco Editora: Beatriz de Almeida Francisco Superviso de arte e produo: Srgio Yutaka Editora de arte: Yong Lee Kim Diagramadores: Celma Cristina Ronquini e Fbio Cavalcante Superviso de criao: Didier Moraes Design grfico: A+ Comunicao (miolo e capa) Reviso: Rosngela Muricy (coord.), Ana Carolina Nitto, Ana Paula Chabaribery Malfa, Helosa Schiavo e Gabriela Macedo de Andrade (estag.) Superviso de iconografia: Slvio Kligin Pesquisadores iconogrficos: Fabio Yoshihito Matsuura e Sara Plaa; Claudia Balista (assist.) Cartografia: Allmaps, Juliana Medeiros de Albuquerque e Mrcio Santos de Souza Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin Ilustrao de capa: Roberto Weigand (Trabalho de arte sobre fotografia) Ilustraes: Cassiano Rda, Erika Onodera, Formato Comunicao, Mario Kanno e Marcus Penna Direitos desta edio cedidos Editora Scipione S.A. Av. Otaviano Alves de Lima, 4400 6o andar e andar intermedirio ala B Freguesia do CEP 02909-900 So Paulo SP Tel.: 4003-3061 www.scipione.com.br/[email protected] Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Sene, Eustquio de Geografia geral e do Brasil : espao geogrfico e globalizao / Eustquio de Sene, Joo Carlos Moreira. 2. ed. reform. So Paulo: Scipione, 2013. Obra em 3 v. 1. Geografia (Ensino mdio) I. Moreira, Joo Carlos. II.Ttulo. 13-02528 CDD-910.712 ndice para catlogo sistemtico: 1. Geografia : Ensino Mdio 910.712 2013 ISBN 978 85262 9128 7 (AL) ISBN 978 85262 9129 4 (PR) Cdigo da obra CL 712756 Uma publicao Verso digital Diretoria de tecnologia de educao: Ana Teresa Ralston Gerncia de desenvolvimento digital: Mrio Matsukura Gerncia de inovao: Guilherme Molina Coordenadores de tecnologia de educao: Daniella Barreto e Luiz Fernando Caprioli Pedroso Editores de tecnologia de educao: Cristiane Buranello e Juliano Reginato Editores de contedo digital: Beatriz de Almeida Francisco e Aroldo Gomes de Araujo Editores assistentes de tecnologia de educao: Aline Oliveira Bagdanavicius, Drielly Galvo Sales da Silva, Jos Victor de Abreu e Michelle Yara Urcci Gonalves Assistentes de produo de tecnologia de educao: Alexandre Marques, Gabriel Kujawski Japiassu, Joo Daniel Martins Bueno, Paula Pelisson Petri, Rodrigo Ferreira Silva e Saulo Andr Moura Ladeira Desenvolvimento dos objetos digitais: Agncia GR8, Atmica Studio, Cricket Design, Daccord e Mdias Educativas Desenvolvimento do livro digital: Digital Pages GGB_v1_PNLD2015_002_digital.indd 2 15/07/2013 16:15
  4. 4. IntroduoaosestudosgeogrfIcos 3 APRESENTAO D iariamente recebemos uma enorme quantidade de informaes que entram em nossa casa via televiso, rdio, jornal, revistas e internet: catstrofes naturais, problemas ambientais, crises econmicas, desigualdades sociais, guerras, aten- tados terroristas, migraes, novas tecnologias e novos produtos, entre muitos outros temas. Com os avanos nas telecomunicaes e nos transportes, as distncias se encurta- ram e o tempo nos parece acelerado; as informaes vo se sucedendo velozmente: sur- gem e desaparecem de repente. Quando comeamos a compreender determinado acon- tecimento, ele esquecido como se deixasse de existir e os meios de comunicao elegem outro para dar destaque. Parece que no existe passado nem continuidade histrica, tal a instantaneidade dos acontecimentos. Muitas vezes, sentimos uma sensao de impotncia diante da di- culdade de compreender o que est acontecendo em nossa cidade, no Brasil e no mundo. Considerando todas essas questes, procuramos elaborar uma obra que d conta de explicar o espao geogrco mundial e brasileiro, onde os seres humanos interagem entre si e com o meio ambiente. Essas interaes so mediadas por interesses contraditrios do ponto de vista econmico, poltico e social e se materializam nas paisagens. Esta coleo foi feita com base no volume nico da obra, que j est no mercado desde 1997. Abrindo a coleo, o primeiro volume inicia-se com o estudo dos fundamentos da Cartograa, pois o conhecimento da linguagem cartogrca muito importante para a leitura de mapas, cartas, plantas e grcos que aparecem nos trs volumes. Em seguida so estudados os temas da Geograa fsica: estrutura geolgica, relevo, solo, clima, hidro- graa e vegetao, de forma encadeada, para facilitar o entendimento da dinmica e do funcionamento da natureza, assim como sua relao com a sociedade e os crescentes desequilbrios ecolgicos: efeito estufa, chuvas cidas, desmatamentos, eroses, etc. Este volume concludo com o estudo das conferncias internacionais sobre meio ambiente, destacando a importncia do desenvolvimento sustentvel. O segundo volume apresenta alguns aspectos fundamentais da Economia, da Geo- poltica e das sociedades do mundo contemporneo para que se possa compreender os processos socioespaciais globais e a insero do Brasil neles. Estudaremos as diversas fases do capitalismo at a globalizao, as diferenas no desenvolvimento humano, a or- dem geopoltica e econmica e os conitos armados da atualidade. Alm disso, sero abordados os processos de industrializao dos pases desenvolvidos e emergentes mais importantes e o comrcio internacional. Fechando a coleo, o terceiro volume apresenta como principais temas a industria- lizao e a poltica econmica brasileira, a energia, a populao, a urbanizao e a agro- pecuria no mundo e no Brasil. Pretendemos, assim, ajud-lo a compreender melhor o frentico e fascinante mun- do em que vivemos e auxili-lo no acompanhamento das transformaes que o moldam e o tornam diferente a cada dia, para que voc possa nele atuar como cidado consciente. Os AutOres GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 3 3/5/13 8:25 AM
  5. 5. PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO* umapropostabemdosada A Geograa conheceu, num passado recente, um movimento vigoroso de reno- vao terica, que exercitou com radicalidade a crtica s perspectivas tradi- cionais e introduziu novas orientaes metodolgicas no horizonte de investi- gao dessa disciplina. No caso brasileiro, ao contrrio de outros pases, o lti- mo campo a ser atingido por tal processo foi o do ensino pr-universitrio. Tal demora talvez tenha sido a responsvel pela forma na qual nalmente o movimento renovador chegou ao ensino de Geograa de primeiro e segundo graus: um formato revolucion- rio, que radicalizava e empobrecia a politizao introduzida no debate desse campo disciplinar. Tal vis gerou deformaes pedaggicas signicativas, pela carga de dirigismo ideo- lgico contida nas propostas de renovao curricular. Em seu papel indutor, os livros didticos foram agentes desse processo, ao mesmo tempo que sofreram a inuncia do momento. Agora, aps mais de uma dcada de vivncia dessa nova situao, parece que a metfora leninista da curvatura da vara manifesta-se novamente. O salutar questio- namento poltico do mundo em que vivemos parece iniciar uma dissociao, no mbito do ensino da Geograa, do simplismo ideolgico, dos posicionamentos maniquestas. Ensinar Geograa passa a ser problematizar o mundo mais do que explic-lo de forma unilateral. Nesse sentido, a presente obra deve ser saudada como uma manifesta- o desse novo momento, pois associa de forma bem dosada a necessria politizao do temrio geogrco com o distanciamento e rigor exigidos por uma anlise cientca. Trata-se de uma obra bem estruturada, na qual os principais tpicos da reexo geogr- ca contempornea esto contemplados. So Paulo, 2 de abril de 1997. Prof. Dr. Antonio Carlos Robert Moraes Departamento de Geografia, USP * Prefcio da primeira edio do volume nico, publicada em 1997. GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 4 3/5/13 8:25 AM
  6. 6. Sumrio INtrODuO AOs estuDOs GeOGrFICOs 10 uNIDADe 1 FuNDAmeNtOs De CArtOGrAFIA 14 CAPTULO 1 planetaterra:coordenadas, movImentosefusos horrIos, 16 formasdeorientao,17 coordenadas,18 Geogrficas, 18 Alfanumricas, 20 movimentosdaterraeestaesdoano,21 Insolao da terra (infogrfico), 24 fusoshorrios,26 Fusos horrios brasileiros, 28 horriodevero,29 compreendendocontedos,31desenvolvendo habilidades,31dialogandocomoutras disciplinas,33pesquisanainternet,34 CAPTULO 2 representaes cartogrfIcas,escalase projees, 35 representaocartogrfica,35 Evoluo tecnolgica, 35 Tipos de produtos cartogrficos, 37 escalaerepresentaocartogrfica,39 projeescartogrficas,42 Conformes, 43 Equivalentes, 45 Equidistantes, 46 Afilticas, 46 diferentesvisesdomundo,47 compreendendocontedos,50desenvolvendo habilidades,51pesquisanainternet,51 CAPTULO 3 mapastemtIcose grfIcos, 52 cartografiatemtica,53 grficos,59 compreendendocontedos,62desenvolvendo habilidades,62pesquisanainternet,63 Jacek/kino.com.br AlexSilva/AgnciaEstado GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 5 3/5/13 8:25 AM
  7. 7. CAPTULO 4 tecnologIasmodernas utIlIzadaspela cartografIa, 64 sensoriamentoremoto,65 Fotografia area, 66 Imagem de satlite, 67 sistemasdeposicionamentoenavegaopor satlites,68 sistemasdeinformaesgeogrficas,70 compreendendocontedos,72desenvolvendo habilidades,73pesquisanainternet,74 testes e questes 75 enem,75Questesdevestibulares,76testes devestibulares,79 uNIDADe 2 GeOGrAFIA FsICA e meIO AmbIeNte 90 CAPTULO 5 estruturageolgIca, 92 teoria da formao e evoluo da terra (infogrfico), 92 aformaodaterra,93 Tipos de rocha, 95 estruturadaterra,98 derivacontinentaletectnicadeplacas,99 Tsunamis (infogrfico), 104 asprovnciasgeolgicas,107 compreendendocontedos,109desenvolvendo habilidades,109pesquisanainternet,109 DelfimMartins/PulsarImagens CAPTULO 6 estruturaseformasdo relevo, 110 geomorfologia,111 aclassificaodorelevobrasileiro,114 orelevosubmarino,120 morfologialitornea,123 compreendendocontedos,126desenvolvendo habilidades,126pesquisanainternet,126 CAPTULO 7 solos, 127 aformaodosolo,128 Fatores de formao dos solos, 129 conservaodossolos,130 Voorocas, 132 Movimentos de massa, 133 Conservao dos solos em floresta, 134 compreendendocontedos,135desenvolvendo habilidades,135dialogandocomoutras disciplinas,136pesquisanainternet,137 CAPTULO 8 clImas, 138 tempoeclima,139 fatoresclimticos,140 Latitude, 140 Altitude, 141 Albedo, 142 Massas de ar, 142 Continentalidade e maritimidade, 142 Correntes martimas, 144 Vegetao, 145 Relevo, 145 atributosouelementosdoclima,146 tiposdeclima,150 climasnobrasil,153 compreendendocontedos,156desenvolvendo habilidades,156dialogandocomoutras disciplinas,156pesquisanainternet,158 DavidLacina/Alamy/OtherImages GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 6 3/5/13 8:25 AM
  8. 8. CAPTULO 9 Os fenmenos climticos e a interferncia humana, 159 Interferncias humanas no clima, 160 Poluio atmosfrica, 160 O efeito estufa e o aquecimento global, 161 Efeito estufa (infogrfico), 162 Reduo da camada de oznio, 164 Ilhas de calor, 164 As chuvas cidas, 165 Fenmenos naturais, 168 Inverso trmica, 168 El Nio, 169 Principais acordos internacionais, 171 O Protocolo de Kyoto e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, 171 As Conferncias das Partes, 174 Compreendendo contedos, 174 Desenvolvendo habilidades, 175 Pesquisa na internet, 175 CAPTULO 10 Hidrografia, 176 Pode faltar gua doce?, 178 As guas subterrneas, 178 O poo e a fossa, 182 Redes de drenagem e bacias hidrogrficas, 182 Bacias hidrogrficas brasileiras, 186 Compreendendo contedos, 190 Desenvolvendo habilidades, 190 Pesquisa na internet, 191 Sesso de vdeo, 191 CAPTULO 11 Biomas e formaes vegetais: classificao e situaoatual, 192 Cobertura vegetal, 193 Principais caractersticas das formaes vegetais, 195 A vegetao e os impactos do desmatamento, 201 Biomas e formaes vegetais do Brasil, 205 As caractersticas das formaes vegetais brasileiras, 206 A legislao ambiental e as unidades de conservao, 212 Histrico das leis ambientais brasileiras, 212 O Cdigo Florestal, 214 As unidades de conservao, 215 Compreendendo contedos, 217 Desenvolvendo habilidades, 217 Pesquisa na internet, 218 CAPTULO 12 As conferncias em defesa domeio ambiente, 219 Interferncias humanas nos ecossistemas, 220 Evoluo das tcnicas de transformao do espao geogrfico (infogrfico), 221 A importncia da questo ambiental, 222 A inviabilidade do modelo consumista de desenvolvimento, 223 Estocolmo-72, 225 O desenvolvimento sustentvel, 226 Legislao ambiental no Brasil, 226 Rio-92, 228 Rio +10, 228 Rio +20, 229 Compreendendo contedos, 230 Desenvolvendo habilidades, 230 Dialogando com outras disciplinas, 231 Pesquisa na internet, 232 Testes e questes 233 Enem, 233 Questes de vestibulares, 237 Testes de vestibulares, 239 Glossrio 256 SUGESTES DE LEITURAS COMPLEMENTARES 257 ndice remissivo 258 RESPOSTAS DOS TESTES DO ENEM E Dos VESTIBULARES 261 BIBLIOGRAFIA 262 Livros, 262 Atlas, 263 Dicionrios, 264 Sites, 264 PaleZuppani/PulsarImagens GGB_v1_PNLD2015_003a013.indd 7 22/03/2013 14:02
  9. 9. 8 Conhea seu livro Veja nestas pginas como seu livro est organizado. 14 FUNDAMENTOSDECARTOGRAFIA Unidade 1 FUNDAMENTOSDECARTOGRAFIA 15 Fundamentos deCartografia Philippe Lopez/Agncia France-Presse pCentrodeExibiodoPlanejamentoUrbanodeXangai(China),em2009.Amaquetede600metrosmostraoplanourbanstico dacapitalfinanceirachinesapara2020.Trata-sedeumavisotridimensionaleabrangentedoespaogeogrfico,oquecontri- buiparaplanejaraocupaodacidadeeasoluodeseusproblemas.EstaumadasinmeraspossibilidadesdeusodaCar- tografiaedeseusprodutos.Vamosconheceroutrasaolongodestaunidade. 104 GEOGRAFIAFSICAEMEIOAMBIENTE ESTRUTURAGEOLGICA 105 INFOGRFICO TSUNAMIS A ocorrncia de terremotos ou erupes vulcnicas sob os oceanos pode ocasionar a formao de ondas gigantescas, chamadas tsunamis (palavra em japons que significa onda de porto) ou maremotos. Menor que 1: detectado apenas pelo sismgrafo. 1 4 7 Ilustrao esquemtica, sem escala. Adaptado de: ASSUMPO, M.; DIAS NETO, C. H. Sismicidade e estrutura interna da Terra. In: TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. So Paulo: Oficina de Textos, 2000. p. 52. ESCALA RICHTER A magnitude (grandeza) de um sismo pode ser medida por um instrumento chamado sismgrafo, utilizando-se a Escala Richter, que mede a fora de um terremoto em termos deenergialiberada.Essaescalalogartmica, ou seja, de um grau para o grau seguinte a diferena na amplitude das vibraes de dez vezes. Apesar de no indicar os nveis de estragos causados, possvel estabelecer uma relao entre os graus e seus efeitos nos objetos e construes. 1 3 2 Orla martima em condies normais, com uma estreita faixa de areia utilizada pelos banhistas. Momentos antes de elevar-se e atingir a costa, o tsunami, em razo do grande comprimento de onda, pode provocar um rebaixamento do nvel do mar, que recua significativamente: a diminuio da velocidade na base da onda mais pronunciada e o topo tende a tomar a dianteira em relao base. As ondas gigantes avanam sobre o continente. A sequncia de imagens 1, 2 e 3 mostra um trecho da orla martima de Kalutara, no Sri Lanka, em 26 de dezembro de 2004, quando o efeito de um terremoto de magnitude 9.0, com epicentro na costa oeste de Sumatra, propagou-se por milhares de quilmetros. INFOGRFICOINFOGRFICOINFOGRFICO TSUNAMIS A ocorrncia de terremotos ou erupes vulcnicas sob os oceanos pode ocasionar a formao de ondas gigantescas, chamadas tsunamis (palavra em japons que significa onda de porto) ou maremotos. ESCALA RICHTER 7 As ondas gigantes avanam sobre o continente. 4 Dependendo da magnitude do terremoto e da localizao do epicentro, as consequncias podem ser sentidas na outra extremidade do oceano. Neste mapa, vemos uma simulao que mostra o momento em que a onda chega a Nova Zelndia, cerca de 13 horas aps a sua formao. Os tsunamis atingem at 800 km/h e, por isso, percorrem grandes distncias em pouco tempo. O epicentro do terremoto que provocou esse tsunami estava prximo costa do Chile, na outra extremidade do oceano Pacfico. Acima de 7: grande poder de destruio. De 5 a 7: perigoso, sobretudo em reas populosas. De 3 a 5: moderado, podendo causar alguns danos em construes. Pequena profundidade do oceano medida que se aproximam do continente e o mar fica mais raso, as ondas vo desacelerando por causa do atrito com o fundo, diminuindo de comprimento e aumentando de altura (como longe da costa a velocidade das ondas continua alta, as ondas se juntam e a massa de gua se acumula). comprimento da onda altura da onda Quando chegam ao litoral, as ondas podem atingir mais de 10 m de altura, com imenso volume de gua. A partir de ento a gua invade o continente e avana por terra, destruindo quase tudo por onde passa. 2 3 De 2 a 3: pequeno tremor percebido pelas pessoas. 6 Grande profundidade do oceano A propagao de ondas ssmicas liberadas por um terremoto provoca primeiramente um deslocamento vertical de grande volume de gua. A partir da so formadas ondas que, em alto-mar, tm grande comprimento (at 160 km), alta velocidade (at 800 km/h) e baixa altura (at 0,5 m). As ondas podem atravessar o oceano em poucas horas. deslocamento de grande volume de gua As ondas so geradas em todas as direes Fotos:DigitalGlobe/Nasa RogerRessmeyer/Corbis/Latinstock NOAA movimento da placa tectnica A movimento da placa tectnica B epicentro ondas ssmicas hipocentro falha A fonte de onde partem as ondas ssmicas denominada hipocentro ou foco, e o ponto da superfcie localizado diretamente sobre o foco o epicentro. 5 Ilu stra es : Er ika Ono de ra/A rq uivo da ed ito ra OCEANO PACFICO AUSTRLIA NOVA ZELNDIA AMRICA DO NORTE 16 FUNDAMENTOSDECARTOGRAFIA Planeta Terra: coordenadas, movimentos e fusos horrios captulo 1 Se oriente, rapaz Pela constelao do Cruzeiro do Sul [] Gilberto Gil1 , cantor e compositor. pNatirinha,CalvineHaroldoestonosEstadosUnidoseplanejamiraYukon,umterritrio localizadononoroestedoCanad.ParairatlsaindodoestadodeWashington,porexem- plo,necessrioatravessartodaaprovnciacanadensedaColmbiaBritnica,ouseja,cerca de1500quilmetros(emlinhareta)ou2000quilmetros(decarro). Situar-se no espao geogrfico sempre foi uma preocupao dos grupos humanos. Nos primrdios, isso acontecia pela necessidade de se deslocar para encontrar abrigo e alimentos. Com o passar do tempo as sociedades se tornaram mais complexas e surgiram muitas outras necessidades. Isso explica a crescente importncia da Cartografia*, discipli- na encarregada de produzir mapas, plantas e outros produtos cartogrficos, que represen- tam a superfcie terrestre ou parte dela. Um guia de ruas, como o que aparece abaixo, uma planta que nos auxilia em deslocamentos no interior de uma cidade. Alm das representaes cartogrficas feitas em papel, j podemos utilizar sistemas de mapas digitais; para nos orientarmos na cidade ou na estrada possvel usar aparelhos GPS (Sistema de Posicionamento Global). importante tambm nos situarmos no tempo em relao s horas e s estaes do ano, o que suscita perguntas como: Se aqui so 15 horas, que horas so em Londres... eemNovaYork?;Porquetodoanoogo- verno implanta o horrio de vero?. Para responder a essas e outras perguntas, precisamos estudar os movimentos da Terra, as estaes do ano, as coordenadas geogrficas, os fusos horrios. o que fa- remos a seguir. 2010 Bill Watterson/Dist. by Atlantic Syndication/Universal Uclick *As expresses impressas na cor azul so explicadas no Glossrio, no final deste volume. Reproduo/www.vemtudo.com/mapa-do-recife 1 GIL, Gilberto. Oriente. In: ______ . Expresso 2222. [S.l.]: Universal, 1972. CD. Os produtos cartogrficos representam a superfcieterrestreoupartedela.Aolado, plantadaPrefeituradoRecifemostrandoas principaisatraestursticasdacapitalde Pernambuco. Abertura de unidade Estruturada em pgina dupla, apresenta uma imagem significativa e um pequeno texto intro- duzindo o tema que ser estudado. Captulos Em sua abertura, trazem uma epgrafe com ideias de alguma personalidade, atual ou do passado, com destaque em sua rea de conhecimento, e uma pequena introduo com informaes e questionamentos sobre o tema que ser abordado. Essa reflexo introdutria ilustrada com fotos, mapas, grficos, tabelas, quadrinhos, etc. 122 GEOGRAFIAFSICAEMEIOAMBIENTE O Direito do Mar [...] Desde pocas mais remotas, mares e oceanos so usados comoviadetransporteecomofontederecursosbiolgicos.Odesen- volvimento da tecnologia marinha permitiu a descoberta nas guas, no solo e no subsolo marinhos de recursos naturais de importncia capitalparaahumanidade.Adescobertadetaisrecursosfezaumen- tar a necessidade de delimitar os espaos martimos em relao aos quais os Estados costeiros exercem soberania e jurisdio. Assim que, na dcada de 1950, as Naes Unidas comearam a discutiraelaboraodoqueviriaaser,anosmaistarde,aConvenodas NaesUnidassobreoDireitodoMar(CNUDM).OBrasilparticipouativa- mente das discusses sobre o tema, por meio de delegaes formadas, basicamente,poroficiaisdaMarinhadoBrasilepordiplomatasbrasileiros. A CNUDM est em vigor desde novembro de 1994 e constitui-se, segundoanalistasinternacionais,nomaiorempreendimentonormati- vo no mbito das Naes Unidas, legislando sobre todos os espaos martimos e ocenicos, com o correspondente estabelecimento de di- reitosedeveresdosEstadosquetmomarcomofronteira.Atualmen- te,aConvenoratificadapor156pases,dentreosquaisoBrasil. O Mar Territorial, somado ZEE [Zona Econmica Exclusiva], constituem-se nas guas Jurisdicionais Brasileiras Marinhas. Trata-se de uma imensa regio, com cerca de 3,5 milhes de km. Aps serem aceitas as recomendaes da CLPC [Comisso de LimitesdaPlataformaContinental],osespaosmartimosbrasileiros podero atingir cerca de 4,5 milhes de km, equivalentes a mais de 50% da extenso territorial do Brasil. Por seus incomensurveis recursos naturais e grandes dimen- ses, essa rea chamada de Amaznia Azul. Conceitos importantes No que concerne aos espaos martimos, todo Estado costeiro tem o direito de estabelecer um Mar Territorial de at 12 milhas nu- ticas (cerca de 22 km), uma Zona Econmica Exclusiva (ZEE) e uma Plataforma Continental (PC) estendida, cujos limites exteriores so determinados pela aplicao de critrios especficos. Os Estados exercem soberania plena no Mar Territorial. Na ZEE e na PC, a jurisdio dos Estados se limita explorao e ao aprovei- tamentodosrecursosnaturais.NaZEE,todososbenseconmicosno seio da massa lquida, sobre o leito do mar e no subsolo marinho so privativos do pas costeiro. Como limitao, a ZEE no se estende almdas200milhasnuticas(370km)dolitoralcontinentaleinsular. APCoprolongamentonaturaldamassaterrestredeumEsta- docosteiro.Emalgunscasos,elaultrapassaadistnciade200milhas daZEE.PelaConvenosobreoDireitodoMar,oEstadocosteiropode pleitear a extenso da sua Plataforma Costeira at o limite de 350 milhas nuticas (648 km), observando-se alguns parmetros tcni- cos.ocasodoBrasil,queapresentousNaesUnidas,emsetem- bro de 2004, o seu pleito de extenso da PC brasileira. BRASIL. Marinha do Brasil. Disponvel em: www.mar.mil.br/menu_v/ amazonia_azul/html/definicao.html. Acesso em: 2 set. 2012. AMAZNIA AZUL O PATRIMNIO BRASILEIRO NO MAR Mar territorial (12 milhas) Zona Econmica Exclusiva (ZEE) (200 milhas) Crosta continental Plancie abissal Elevao Talude continental OCEANO ATLNTICO Crosta ocenica Plataforma continental Plataforma Limites do mar 1 milha nutica equivale a 1852 km. Arquiplago de So Pedro e So Paulo Arquiplago de Fernando de Noronha Ilha de Trindade e Arquiplago Martim Vaz OCEANO ATLNTICO Equador 55 O 0 Trpico de Capricrnio km 0 700 Adaptado de: BRASIL. Marinha do Brasil. Disponvel em: www.mar.mil.br/menu_v/ amazonia_azul/html/definicao.html. Acesso em: 2 set. 2012. Amaznia Azul Adaptado de: BRASIL. Marinha do Brasil. Secretaria da Comisso Interministerial para os Recursos do Mar. Disponvel em: www.mar.mil.br/menu_v/ amazonia_azul/html/importancia.html. Acesso em: 2 set. 2012. Brasil Territrio 8500000 Zona Econmica Exclusiva (ZEE) Extenso da plataforma continental Amaznia Azul (ZEE + Extenso da plataforma continental) rea (km2) 12 milhasMar territorial 4 411000 911000 3500000 FormatoComunicao/Arquivodaeditora Allmaps/Arquivodaeditora Textos complementares Ao longo dos captulos, h textos citados ou dos prprios autores que enriquecem e aprofundam o contedo principal. Infogrficos Produzidos em pginas duplas, apa- recem ao longo do volume, represen- tando alguns fenmenos da realidade e complementando o contedo do captulo de maneira bastante atraente. Possui grande riqueza de imagens fotografias, mapas, grficos e ilustra- es acompanhadas de pequenos textos que esclarecem de forma ob- jetiva o assunto abordado. GGB_v1_PNLD2015_003a013.indd 8 22/03/2013 14:02
  10. 10. 9 HIDROGRAFIA 191 Observe tambm este outro infogrfico, que mostra o desperdcio de gua quando esque- cemosatorneiraaberta. Combasenaobservaodosdoisinfogrficos e no que voc estudou sobre o assunto, es- creva um pequeno texto sobre a importncia de evitarmos o desperdcio para a busca do desenvolvimento sustentvel. A seguir, mos- treseutextoparaoscolegasecomparemas respostas. Sesso de vdeo P No rio das Amazonas. Direo: Ricardo Dias. Brasil, 1995. Retrata a travessia feita pelo zologo e msico Paulo Vanzolini no rio Amazonas. Nessa viagem ele desvenda a vida e a cultura das populaes ribeirinhas. Pesquisa na internet P Associao Brasileira de guas Subterrneas Essa associao mantm um site em que disponibiliza vrios textos, revistas e estudos sobre o tema. No campo Educao voc encontra informaes interessantes sobre a disponibilidade e importncia das guas subterrneas. Disponvel em: www.abas. org.br/educacao.php. Acesso em: 10 out. 2012. P Caesb No site da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal h o espao Educativo, onde esto disponveis vrias in- formaes teis e interessantes sobre economia de gua, vazamentos e outros temas. Disponvel em: www.caesb.df.gov.br. Acesso em: 10 out. 2012. P Codevasf No site da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do So Francisco e do Parnaba esto disponveis informaes sobre os recursos hdricos, aspectos sociais, econmicos e ambientais dos vales dos rios So Francisco e Parnaba. Disponvel em: www. codevasf.gov.br. Acesso em: 10 out. 2012. P Ministrio do Meio Ambiente No site do MMA voc encontra vrias informaes sobre gua doce, gua nas cidades, bacias hidrogrficas e outros temas. Disponvel em: www.mma.gov.br. Acesso em: 10 out. 2012. P Sabesp No site da Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo voc encontra um espao dedicado a professores e es- tudantes, onde so tratados assuntos ligados a gua, esgoto e outros temas interessantes. Disponvel em: www.sabesp.com. br. Acesso em: 10 out. 2012. RIO DE JANEIRO (Estado). Companhia Estadual de guas e Esgotos (Cedae). Disponvel em: www.cedae.com.br. Acesso em: 9 out. 2012. Reproduo/CEDAE,RiodeJaneiro,RJ 156 GEOGRAFIAFSICAEMEIOAMBIENTE 1.Qualadiferenaentretempoeclima?Acenadatirinhadaaberturaretrataascondiesdotempooudo clima? 2.Expliqueainflunciadalatitudeedaaltitudenoclima. 3.Qualainflunciadasmassasdearnoclima? 4.Relacioneasmassasdearcomascaractersticasdoclimanoterritriobrasileiro. Compreendendo contedos ObservenovamenteosclimogramasdePortoAlegreeBraslia,napgina154,eresponda: 1.Aquetipodeclimaestassociadocadagrfico? 2.Compareoregimedechuvasnasduaslocalidadeseresponda: a)Quaissoosmesesmaissecosemaischuvososemcadagrfico? b)Qual,aproximadamente,ondiceanualdechuvasemPortoAlegre?EemBraslia? 3.Escolhadoisclimogramaspresentesnestecaptulo.Relacione-oscomosmapasdasclassificaesclim- ticas,compareocomportamentodasmdiasmensaisdetemperaturanasduaslocalidadeseresponda: a)Quaissoosmesesmaisquentesemaisfrios? b)Qualaamplitudetrmicaanualemcadacidade? c) Qualotipodeclimaassociadoacadaumadelas?Descrevaascaractersticasdatemperaturaedaumidadeno invernoenoverodecadaumdeles. Desenvolvendo habilidades NestaatividadeestosendotrabalhadasGeografiaeFsica. AFsicaportrsdasmudanasclimticas Duaspropriedadesfsicasdosmateriaisafetamatemperaturadaatmosfera.Umadelasoalbedo(ter- moderivadodealbus,quesignificabrancoemlatim).Oalbedoumagrandezaqueexprimeaporcentagem daradiaosolarincidentesobreaTerraqueporelarefletidadevoltaparaoespaoexterior. Partedaradiaoincidente,porm,absorvidapeloscorposeirradiadaparaaatmosferasobaforma decalor,quenoescapaparaoespaoporcausadabarreiraformadapelodixidodecarbonoeoutros gases,processoconhecidocomoefeitoestufa(essefenmenoserestudadonoprximocaptulo).Otextoa seguirrelacionaoalbedocomoclimanoplaneta.Leia-oatentamente. [...] Cientistas lanaram [...] a ideia de transformar as cidades em gigantescos refletores da luz solar para ajudar a enfrentar o aquecimento global [...] . Materiais de cores claras ajudam a refletir os raios solares ao invs de absor- v-los e transform-los em calor, um fenmeno conhecido no meio cientfico como albedo. Calamentos e telhados correspondem a mais de 60% das superfcies urbanas e, ao aprisionar a energia solar, so amplamente responsabili- zados por gerar ilhas de calor, locais onde as cidades se tornam verdadeiros fornos. [...] Para o consultor climtico francs Jean-Marc Jancovici, no entanto, as propostas s tm efeito local. [...] DUNAND,Emmanuel.Cientistassugeremcidadesrefletorascontraaquecimentoglobal.Veja. SoPaulo:Abril,13abr.2012.Disponvelem:http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cientistas- sugerem-cidades-refletoras-contra-aquecimento-global.Acessoem:22dez.2012. DIALOGANDOCOMOUTRASDISCIPLINAS Esse cone indica que o contedo que voc est estu- dando aborda assuntos relacionados a direitos e de- veres dos cidados, como respeito diversidade na sociedade, valorizao de gnero e etnia, relaes e condies de trabalho, entre outros. CIDAD ANIA: TRAB ALHO Desenvolvendo habilidades Seo de atividades que trabalha diversas competncias e habilidades, buscando ar- ticular, por meio de linguagens variadas, a teoria que se aprende na escola com a realidade vivida fora dela. Pesquisa na internet e Sesso de vdeo Indicaes de sites, filmes e documentrios que podero auxiliar em pesquisas ou na complementao de seu estudo. Compreendendo contedos Seo de atividades que retoma os conceitos mais importantes e demais pontos fundamentais dos contedos estudados ao longo do captulo. TESTESEQUESTES 233 Testes e questes Enem 1.Paraoregistrodeprocessosnaturaisesociais,devem serutilizadasdiferentesescalasdetempo.Porexem- plo,paraadataodosistemasolar,necessriauma escaladebilhesdeanos,enquantoparaahistriado Brasilbastaumaescaladecentenasdeanos. Assim,paraosestudosrelativosaosurgimentodavida noplanetaeparaosestudosrelativosaosurgimento da escrita, seria adequado utilizar, respectivamente, escalasde: a) milharesdeanos;centenasdeanos. b) milhesdeanos;centenasdeanos. c) milhesdeanos;milharesdeanos. d) bilhesdeanos;milhesdeanos. e) bilhesdeanos;milharesdeanos. 2.Nomapa,apresentadaadistribuiogeogrficade avesdegrandeporteequenovoam. km (no Equador) 0 4940 Ema Avestruz Ema 02_12_m014_1GGBg12eS Hevidnciasmostrandoqueessasaves,quepodem seroriginriasdeummesmoancestral,sejam,por- tanto,parentes.Considerandoque,defato,talparen- tescoocorra,umaexplicaopossvelparaasepara- ogeogrficadessasaves,comomostradanomapa, poderiaser: a) agrandeatividadevulcnica,ocorridahmilhesde anos,eliminouessasavesdohemisfrionorte. b) naorigemdavida,essasaveseramcapazesdevoar, oquepermitiuqueatravessassemasguasoceni- cas,ocupandovrioscontinentes. c) oserhumano,emseusdeslocamentos,transportou essasaves,assimqueelassurgiramnaTerra,distri- buindo-aspelosdiferentescontinentes. d) oafastamentodasmassascontinentais,formadas pelarupturadeumcontinentenico,dispersoues- sasavesquehabitavamambientesadjacentes. e) aexistnciadeperodosglaciaismuitorigorosos,no hemisfrionorte,provocouumgradativodesloca- mentodessasavesparaosul,maisquente. 3. Nvel dgua Sulcos ou ravinas Booroca Zona temporariamente encharcada TEIXEIRA, W. et al. (Orgs). Decifrando a Terra. So Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. Muitos processos erosivos se concentram nas encos- tas,principalmenteaquelesmotivadospelaguaepelo vento.Noentanto,osreflexostambmsosentidosnas reasdebaixada,ondegeralmentehocupaourbana. Umexemplodessesreflexosnavidacotidianademui- tascidadesbrasileiras a) amaiorocorrnciadeenchentes,jqueosriosasso- readoscomportammenosguaemseusleitos. b) acontaminaodapopulaopelossedimentostra- zidospelorioecarregadosdematriaorgnica. c) odesgastedosolonasreasurbanas,causadopela reduodoescoamentosuperficialpluvialnaencosta. d) amaiorfacilidadedecaptaodeguapotvelpara oabastecimentopblico,jquemaioroefeitodo escoamentosobreainfiltrao. e) oaumentodaincidnciadedoenascomoaameba- senapopulaourbana,emdecorrnciadoescoa- mentodeguapoludadotopodasencostas. 4.Achuvadeterminada,emgrandeparte,pelatopo- grafiaepelopadrodosgrandesmovimentosatmos- fricosoumeteorolgicos.Ogrficomostraapreci- pitao anual mdia (linhas verticais) em relao altitude(curvas)emumaregioemestudo. Allmaps/Arquivodaeditora FormatoComunicao/ArquivodaeditoraCassianoRda/Arquivodaeditora FAANO CADERNO Dialogando com outras disciplinas Seo de atividades que prope um trabalho in- terdisciplinar no estudo de aspectos importantes do contedo abordado. Aproveite o momento para trocar ideias e experincias com os professores de outras disciplinas e observe como os conhecimen- tos das diversas matrias escolares se relacionam. Testes e questes Presente em todo final de unidade, esta seo apresenta uma coletnea de exerc- cios do Enem e dos principais vestibulares brasileiros (testes e questes discursivas). Pginas finais No final do volume, voc encontra quatro sees teis ao manuseio do livro: Glossrio: os termos destacados em azul ao longo do volume so explicados nesta seo, auxiliando na compreenso das temticas tratadas. Sugestes de leituras complementares: aqui voc encontra uma relao de obras que podem ajudar em seus estudos. ndice remissivo: traz a relao de conceitos, categorias e nomes fundamen- tais ao estudo da Geografia. As pginas indicadas correspondem s ocorrn- cias mais significativas do termo ao longo do volume. Bibliografia: lista ampla que pode auxiliar em pesquisas e investigaes so- bre determinados temas ou na ampliao de seus conhecimentos. Alm destas sees, no final do volume voc encontra tambm as Respostas dos testes do Enem e dos vestibulares. Este cone indica Objetos Educacionais Digitais relacionados aos contedos do livro. GGB_v1_PNLD2015_003a013.indd 9 22/03/2013 14:02
  11. 11. 10 Introduo aos estudos geogrficos Vista area de trechos da floresta Amaznica e do rio Negro no Parque Nacional de Anavilhanas (foto de 2010). Localizado nos municpios de Novo Airo e Manaus, estado do Amazonas, este par- que nacional foi criado para preservar o arquip- lago fluvial de Anavilhanas, assim como permitir o estudo e a preservao desse bioma. O turismo sustentvel permitido em uma rea restrita do parque para fins de educao ambiental. Introduo aos estudos geogrficos Ao longo da Histria os grupos humanos gradativamente foram transformando a na- turezacomoobjetivodegarantirsuasubsistnciaemelhoraraqualidadedevida.Comisso, oespaogeogrficofoificandocadavezmaisartificializado.Pelaaodotrabalhohumano, novas tcnicas foram desenvolvidas e incorporadas ao territrio. De um meio natural o ho- memavanouparaummeiocadavezmaistcnico:expandiram-seasreasagrcolas,desen- volveram-seascidadeseasindstrias,construram-seestradas,portos,hidreltricas,etc.De acordo com o gegrafo Milton Santos (1926-2001), em diversas regies a incorporao de cincia e tcnica, de informao e conhecimento ao territrio constituiu o chamado meio tcnico-cientfico-informacional1 . Poucasreasdasuperfcieterrestreaindanosofreramtransformaes.Emesmona- quelas intocadas, como muitas no interior da floresta Amaznica ou do continente antrti- co, o territrio est delimitado e sob controle poltico sujeito a soberania nacional ou a acordos internacionais. Sobre esses territrios atuam interesses de diferentes grupos, que buscam sua preservao ou que desejam explor-los: uns de forma sustentvel, outros de forma predatria. Assim, podemos dizer que mesmo em um meio natural, aparentemente intocado, existem relaes polticas, econmicas, culturais e ambientais que nem sempre so visveis na paisagem. A paisagem a aparncia da realidade geogrfica, aquilo que nossa percepo, espe- cialmenteavisual,capta.Emboraaspaisagensmaterializemrelaessociais,econmicase polticas travadas entre os grupos humanos, essas relaes no so facilmente percebidas. Desvend-lasrequerobservao,estudoepesquisa,sendoesseocaminhoparaqueoespa- o seja apreendido em sua essncia. Podemos dizer, ento, que o espao geogrfico for- mado tanto pela sociedade como pela paisagem permanentemente construda e recons truda por aquela. A paisagem expressa a sociedade e a natureza; composta de objetos ar- tificiais ou culturais (construdos pelo trabalho humano) e de objetos naturais (frutos dos processos da natureza). O espao materializa todos esses objetos mais as relaes humanas que se desenvolvem na vida em sociedade. Para ilustrar essas relaes e evidenciar a diferena entrepaisagemeespao,MiltonSantosafirmou que, se eventualmente a humanidade fosse ex- tinta,teramosofimdasociedadeeconsequen- temente do espao geogrfico, mas a paisagem construda permaneceria2 . 1 SANTOS, Milton. A natureza do espao. So Paulo: Hucitec, 1996. p. 190. 2 Durante a Guerra Fria, os labo- ratrios do Pentgono chegaram a cogitar da produo de um engenho, a bomba de nutrons, capaz de ani- quilar a vida humana em uma dada rea, mas preservando todas as cons- trues. O presidente Kennedy afinal renunciou a levar a cabo esse projeto. Seno, o que na vspera seria ainda o espao, aps a temida exploso seria apenas paisagem. (SANTOS, Milton. A natureza do espao. So Paulo: Hucitec, 1996. p. 85). JooMarcosRosa/Nitro GGB_v1_PNLD2015_003a013.indd 10 22/03/2013 14:02
  12. 12. IntroduoaosestudosgeogrfIcos 11 Para compreender o espao geogrfico, portanto, precisamos entender as relaes sociaiseasmarcasdeixadaspelosgruposhumanosnapaisagemnodecorrerdaHistria.Na verdade, precisamos entender as relaes prprias da natureza, as relaes prprias da so- ciedade e, de forma integrada, as relaes entre a sociedade e a natureza. a isso que a Geografia,comocincia,sededicahojeeporissoqueestudamosessadisciplinanaescola. A origem da Geografia antiga. Desde a Antiguidade muitos pensadores elaboraram estudos considerados geogrficos, embora o conhecimento fosse disperso e desarticulado, vinculado Filosofia, Matemtica e s cincias da natureza. Na Grcia antiga, Herdoto (484a.C.-420a.C.),Eratstenes(275a.C.-194a.C.)eEstrabo(63a.C.-entre21e25d.C.),entre outros, analisaram a dinmica dos fenmenos naturais, elaboraram descries de paisagens e estudaram a relao homem-natureza. Mesmo durante o perodo em que estiveram sob o do- mnio romano, os gregos continuaram desenvolvendo seus estudos tericos3 . Nas obras de CludioPtolomeu,comoSintaxeMatemtica eGeographia,encontram-seimportantes regis- tros geogrficos, cartogrficos e astronmicos. Ele viveu em Alexandria, aproximadamente entreosanos100e180denossaera,perodoemqueoEgitoerapartedoImprioRomano,mas seusestudossforamredescobertossculosdepoisnomundoocidental(osrabespreserva- ram esses conhecimentos e os legaram aos europeus). Os conhecimentos herdados de Ptolo- meu,comoodeumsistemadeprojeoecoordenadas,ajudaramnaproduodemapasmais precisos, fundamentais para a expanso martima europeia a partir do final do sculo XV. No sculo XVIII diversos filsofos contriburam para o desenvolvimento da Geografia, comdestaqueaoalemoImmanuelKant(1724-1804),umdosprimeirosasepreocuparcom a sistematizao do conhecimento geogrfico. Kant influenciou fortemente seus compatrio- tasfundadoresdaGeografiacomocincia:AlexandervonHumboldt(1769-1859)eKarlRit- ter (1779-1859). Humboldt foi um importante explorador, fez viagens pela Amrica e em Cos mos, sua obra maior, sintetizou anos de estudos geogrficos. Em meados do sculo XIX esses dois cientistas alemes iniciaram a sistematizao do arcabouo terico-metodolgico da Geografia, que gradativamente se transformou em disciplina acadmica, passando a ser pes- quisadaeensinadanasuniversidades4 . No sculo XIX, em diversos pases europeus, comearam a ser implantados os sistemas nacionais de ensino, e a Geografia apareceu como uma das disciplinas escolares. Entretanto, diferentemente do que muitos pensam, a Geografia escolar no derivada da Geografia acad- mica. Ao contrrio, foi a presena da disciplina nos sistemas escolares nascentes que levou necessidade de criao de cursos universitrios voltados para a formao de professores da escola bsica5 (no incio, o ensino de Geografia ficava a cargo de profissionais formados em outras reas). Isso aconteceu no apenas na Alemanha, mas na Frana, na Gr-Bretanha, entre outros pases europeus, e, embora um pouco mais tarde, tambm no Brasil e em outros pases latino-americanos(nosEstadosUnidos,athojeaGeografiapoucodifundidanocurrculoda escola bsica, cerca de metade dos estados norte-americanos no a oferecem aos estudantes). Em nosso pas a Geografia entrou, em 1837, no currculodoColgioPedroII,entofundadonoRiode Janeiro para ser uma escola-modelo para o pas6 , mas somente quase cem anos depois foi criado o primeiro cursosuperiordeGeografianaFaculdadedeFilosofia, CinciaseLetrasdaUniversidadedeSoPaulo,funda- da em 19347 . Foi a partir da dcada de 1930 que come- ou a gradativa expanso do sistema escolar no Brasil e a Geografia manteve-se em todos os anos do Ensino FundamentaleMdio. arranha-cusnobairrodeshinjuku,tquio(japo).ao fundo,omontefuji,omaisaltodopas.localizadoa cercade100kmasudoestedacapital,podeservisto emdiasclaros,comonafotode2011. 3 CLAVAL, Paul. Histria da Geogra fia. Lisboa: Edies 70, 2006. p. 29. 4 A primeira ctedra de Geografia foi criada na dcada de 1820, na Universidade de Berlim (fundada em 1810), e foi ocupada por Karl Ritter. Em 1870 somente trs universidades alemsofereciamocursodeGeografia Berlim, Breslau e Gttingen , mas em 1890 praticamente todas as uni- versidades do pas passaram a ofe- rec-lo. (CAPEL, Horacio. Filosofa y ciencia en la Geografa contempornea. Barcelona: Barcanova, 1981. p. 97). 5 CAPEL, Horacio. Filosofa y cien cia en la Geografa contempornea. Barcelona: Barcanova, 1981. p. 94; GOODSON, Ivor. Tornando-se uma matria acadmica: padres de expli- cao e evoluo. TeoriaEducao. Porto Alegre, v. 2, 1990. p. 234-235. 6 ROCHA, Genylton Odilon Rgo da. A trajetria da disciplina Geografia no currculo escolar brasileiro (1837 1942). Dissertao de mestrado. So Paulo: PUC-SP, 1996. 7 O Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP tem sua origem no ano de 1934, na antiga subseo de Geografia e Histria da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras. Naquele ano, o primeiro ensino universitrio de Geografia foi inaugurado com a ctedra de Geo- grafia, sob a responsabilidade do professor Pierre Deffontaines, que veio especialmente da Frana para ocup-la. Em 1935, a ctedra passou para a responsabilidade do professor Pierre Monbeig. (O Departamento de Geografia. Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP. Disponvel em: www.geografia.fflch. usp.br. Acesso em: 20 ago. 2012). P KazuhiroNogi/AgnciaFrance-Presse GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 11 3/5/13 8:26 AM
  13. 13. 12 IntroduoaosestudosgeogrfIcos No final do sculo XIX, outro importante pesquisador alemo Friedrich Ratzel (1844-1904) definiu a Geografia como cincia humana, embora na prtica a tenha tratado como cincia natural. Considerou a influncia que as condies naturais exercem sobre a humanidadecomoobjetodeestudodadisciplina.Seusdiscpulosradicalizaramsuasideias, dando origem ao determinismo geogrfico8 . Alm disso, Ratzel foi um dos principais for- muladores da Geopoltica. A relao entre o Estado e o espao central em sua obra mais importanteAntropogeografia.Segundoele,apartirdomomentoemqueumasociedadese organiza para defender um territrio, transforma-se em Estado9 . Donde se depreende que o territrio o espao geogrfico sob o controle de um poder institudo o Estado nacional. Porm,hsituaesemqueoutrosagentespodemcontrolarumterritrio,porexemplo,um grupo guerrilheiro, muitas vezes, em disputa com um Estado legalmente constitudo. No incio do sculo XX, um gegrafo francs Paul Vidal de la Blache (1845-1918) passouacriticaromtodopuramentedescritivoeadefenderqueaGeografiasepreocupas- se com a relao homem-meio, posicionando os seres humanos como agentes que sofrem influncia da natureza, mas que tambm agem sobre ela, transformando-a. Ele inaugurava, emcontraposioaodeterminismo,umacorrentetericaconhecidacomopossibilismo, ambas posteriormente rotuladas como Geografia tradicional. A Geografia lablachiana, embora tenha avanado em relao viso naturalista de Ratzel, no rompeu totalmente com ela; a disciplina continuava sendo uma cincia dos lugares, no dos homens10 . Assim,atmeadosdosculoXXagrandemaioriadosgegrafosselimitavaadescrever as caractersticas fsicas, humanas e econmicas das diversas formaes socioespaciais, procurando estabelecer comparaes e diferenciaes entre elas. Nesse perodo desenvol- veu-se a Geografia regional, fortemente influenciada pela escola francesa, e o conceito de regio ganhou importncia na anlise geogrfica. Aregiopodeserconceituadacomoumadeterminadareadasuperfcieterrestre,com extenso varivel, que apresenta caractersticas prprias e particulares que a diferencia das demais.Desdeentooconceitoderegioficouassociadocategoriadeparticularidade11 e podeserdefinidopordiversoscritrios.Aregiopodesernatural,quandoocritriodedistin- o a paisagem natural, ou geogrfica, se a diferenciao for econmica, social ou cultural. AntesasregiestinhamrelativaautonomiasocioculturaleeconmicaeosestudosdeGeogra- fiaregionaleramdominantes.Atualmente,comoavanodaglobalizaocapitalista,asregies semodernizameestabelecemcadavezmaisrelaesentresiasconexesaumentaramsig- nificativamente,oquetemreduzidooisolamentoeadiferenciaoentreelas. pcolheitadeirasemaoduranteacolheitadesojanasafrade2012emfazendalocalizadano municpiodetangardaserra(mt). 8 MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena histria crtica. 20.ed. So Paulo: Annablume, 2005. p. 71. 9 A sociedade que consideramos, seja grande ou pequena, desejar sempre manter sobretudo a posse do territrio sobre o qual e graas ao qual ela vive. Quando esta socie- dade se organiza com esse objeti- vo, ela se transforma em Estado. (RATZEL, Friedrich. Geografia do homem (antropogeografia). In: MORAES, Antonio Carlos Robert. Ratzel. So Paulo: tica, 1990. p. 76). 10 MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena histria crtica. 20.ed. So Paulo: Annablume, 2005. p. 79. 11 CORRA, Roberto Lobato. Tra jetrias geogrficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 191. PauloFridman/PulsarImagens GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 12 3/5/13 8:26 AM
  14. 14. IntroduoaosestudosgeogrfIcos 13 Embora tenha um importante papel no desenvolvimento da Geografia como cincia, a Geografia tradicional nos legou um ensino escolar centrado na memorizao de lugares, dadosestatsticossobrepopulaoeeconomia,caractersticasfsicasderelevo,clima,vege- tao e hidrografia. Essa estrutura perdurou at a segunda metade do sculo XX, quando a descrio das paisagens, com seus fenmenos naturais e sociais, passou a ser realizada de forma mais eficiente e atraente pela televiso. A partir da, os gegrafos foram obrigados a buscar novos objetos de estudo que permitissem Geografia sobreviver como disciplina escolarnoEnsinoBsicoecomoramificaodascinciashumanasemnveluniversitrio12 . O processo de mudana do objeto de estudo da disciplina teve seu divisor de guas na dcada de 1970, quando a Geografia universitria e escolar passou por uma efervescente renovaoemsuasbasesterico-metodolgicas.Esseprocessotevecomopioneiroogegrafo francs Yves Lacoste (1929), que em 1976 publicou A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Essa obra balanou as estruturas da Geografia tradicional ao denunci-la comoinstrumentoideolgicoaserviodeinteressespolticoseeconmicosdominantes.Mas, aomesmotempo,indicoucaminhosparaarenovaocrticadadisciplina.Lacostedenunciou a existncia da Geografia dos Estados-maiores a servio do Estado e do capital, ou seja, a GeopolticaedaGeografiadosprofessoresensinadanassalasdeauladeuniversidadese escolas bsicas e materializada nos manuais didticos. Segundo ele, a ltima acabava cum- prindoafunodemascararopapeldaGeopolticaeseusvnculoscomosinteressesdominan- tes.NoBrasil,umdospioneirosnesseprocessoderenovaofoiogegrafoMiltonSantos,com aobraPorumaGeografianova,de1978. Enquanto a renovao na Frana e no Brasil teve forte influncia do pensamento de esquerda,sobretudodomarxismo,nosEstadosUnidosacontraposiocorrentetradicio- nal foi a Geografia quantitativa ou pragmtica. Essa vertente da renovao condenava o atrasotecnolgicodaGeografiatradicionalepassouautilizarsistemasmatemticosecom- putacionais na interpretao do espao geogrfico. Essa corrente tecnicista e utilitarista, que mascarava os conflitos e as contradies sociais denunciados pelos gegrafos crticos, era uma perspectiva conservadora, a servio do status quo. Ofimdosocialismorealreduziuainflunciadomarxismonascinciashumanas,oque abriu caminho para a difuso de outras correntes terico-metodolgicas na Geografia crti- ca, como a fenomenologia e o existencialismo, ao mesmo tempo que as correntes crticas passaram a valorizar as novas tecnologias computadores, satlites, sistemas de informa- es geogrficas (SIG), etc. na leitura e interpretao do espao geogrfico. Atualmente, depois de mais de um sculo nos currculos escolares, de mais de trs dcadas de renovao terica e com o avano da globalizao, em suas dimenses econ- mica, social e cultural, consolida-se a certeza de que a Geografia uma disciplina funda- mental para a compreenso do mundo contemporneo e de seus problemas a produo e o consumo, a questo ambiental, o caos urbano, as crises financeiras, entre tantos ou- tros, em diferentes escalas geogrficas e para a formao de cidados e tra- balhadores mais bem preparados. Como vimos no incio, cabe Geo- grafia universitria e escolar com- preender as relaes prprias da natu- reza, as relaes prprias da sociedade e, de forma mais abrangente e integra- da, as relaes entre a sociedade e a na- tureza e suas consequncias socioam- bientais. Ento, vamos comear os estudos da Geografia do mundo e do Brasil? 12 SEABRA, Odette et al. Territrio e sociedade: entrevista com Milton Santos. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2000. p. 50. foca-leopardonadandoemtorno deumicebergempleneauIsland, antrtida,noverode2009. P RyanT.Pierse/GettyImagesReproduo/Ed.Papirus GGB_v1_PNLD2015_001a013.indd 13 3/5/13 8:26 AM
  15. 15. 14 fundamentosdecartografia Unidade 1 fundamentos decartograa GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 14 3/5/13 8:29 AM
  16. 16. fundamentosdecartografia 15 Philippe Lopez/Agncia France-Presse pcentrodeexibiodoPlanejamentourbanodeXangai(china),em2009.amaquetede600metrosmostraoplanourbanstico dacapitalnanceirachinesapara2020.trata-sedeumavisotridimensionaleabrangentedoespaogeogrco,oquecontri- buiparaplanejaraocupaodacidadeeasoluodeseusproblemas.estaumadasinmeraspossibilidadesdeusodacar- tograaedeseusprodutos.Vamosconheceroutrasaolongodestaunidade. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 15 3/5/13 8:29 AM
  17. 17. 16 fundamentosdecartografia Planeta Terra: coordenadas, movimentos e fusos horrios captulo 1 Se oriente, rapaz Pela constelao do Cruzeiro do Sul [] Gilberto Gil1 , cantor e compositor. pnatirinha,calvineHaroldoestonosestadosunidoseplanejamiraYukon,umterritrio localizadononoroestedocanad.ParairatlsaindodoestadodeWashington,porexem- plo,necessrioatravessartodaaprovnciacanadensedacolmbiaBritnica,ouseja,cerca de1500quilmetros(emlinhareta)ou2000quilmetros(decarro). Situar-se no espao geogrfico sempre foi uma preocupao dos grupos humanos. Nos primrdios, isso acontecia pela necessidade de se deslocar para encontrar abrigo e alimentos. Com o passar do tempo as sociedades se tornaram mais complexas e surgiram muitas outras necessidades. Isso explica a crescente importncia da Cartografia*, discipli- na encarregada de produzir mapas, plantas e outros produtos cartogrficos, que represen- tam a superfcie terrestre ou parte dela. Um guia de ruas, como o que aparece abaixo, uma planta que nos auxilia em deslocamentos no interior de uma cidade. Alm das representaes cartogrficas feitas em papel, j podemos utilizar sistemas de mapas digitais; para nos orientarmos na cidade ou na estrada possvel usar aparelhos GPS (Sistema de Posicionamento Global). importante tambm nos situarmos no tempo em relao s horas e s estaes do ano, o que suscita perguntas como: Se aqui so 15 horas, que horas so em Londres... eemNovaYork?;Porquetodoanoogo- verno implanta o horrio de vero?. Para responder a essas e outras perguntas, precisamos estudar os movimentos da Terra, as estaes do ano, as coordenadas geogrficas, os fusos horrios. o que fa- remos a seguir. 2010 Bill Watterson/Dist. by Atlantic Syndication/Universal Uclick *As expresses impressas na cor azul so explicadas no Glossrio, no nal deste volume. Reproduo/www.vemtudo.com/mapa-do-recife 1 GIL, Gilberto. Oriente. In: ______ . Expresso 2222. [S.l.]: Universal, 1972. CD. os produtos cartogrficos representam a superfcieterrestreoupartedela.aolado, plantadaPrefeituradorecifemostrandoas principaisatraestursticasdacapitalde Pernambuco. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 16 3/5/13 8:29 AM
  18. 18. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 17 formasdeorientao O ser humano sempre precisou de referncias para se orientar no espao geogrfico: um rio, um morro, uma igreja, um edifcio, direita, esquerda, acima, abaixo, etc. Mas para ter referncias um pouco mais precisas inventou os pontos cardeais e colate- rais, como mostra a figura abaixo. Norte (N) Sul (S) Leste (E) Sudeste (SE)Sudoeste (SW) Nordeste (NE)Noroeste (NW) Oeste (W) Pontos cardeais: N, E, S, W Pontos colaterais: NE, SE, SW, NW Organizadopelosautores. Ilustraes: Cassiano Rda/Arquivo da editora Rosa dos ventos parosadosventospossibilitaencontraradireodequal- querpontodalinhadohorizonte(numaabrangnciade 360).onomefoicriadonapocadaexpansomartima (sculoXV)pornavegadoresdomarmediterrneoemasso- ciaoaosventosqueimpulsionavamsuasembarcaes. A rosa dos ventos indica os pontos cardeais e co- laterais e aparece no mostrador da bssola, que tem uma agulha sempre apontando para o norte magnti- co (veja a foto direita). OrienTaO Umdosaspectosmaisimportantesparautilizaoeficazesatisfa- tria de um mapa diz respeito ao sistema de orientao empregado por ele.Overboorientarestrelacionadocomabuscadooriente,palavrade origem latina que significa nascente. Assim, o nascer do sol, nessa posio,relaciona-sedireo(ousentido)leste,ouseja,aooriente. Possivelmente, o emprego dessa conveno est ligado a um dosmaisantigosmtodosdeorientaoconhecidos.Essemtodose baseia em estendermos nossa mo direita [brao direito] na direo donascerdosol,apontando,assim,paraadireolesteouoriental;o brao esquerdo esticado, consequentemente, se prolongar na dire- o oposta, oeste ou ocidental; e a nossa fronte estar voltada para o norte,nadireosetentrionalouboreal.Finalmente,ascostasindica- ro a direo do sul, meridional, ou ainda, austral. A representao dospontoscardeaissefazporleste(EouL);oeste(WouO);norte(N); e sul (S). A figura apresenta essa forma de orientao. Importante: Deve-se tomar cuidado ao fazer uso dessa maneira de repre- sentao, j que, dependendo da posio latitudinal do observador, nem sempre o Sol estar exatamente na direo leste. FITZ,PauloRoberto.Cartograabsica.SoPaulo:OcinadeTextos,2008.p.34-35. Forma de orientao pelo Sol Organizadopelosautores. A bssola, associada rosa dos ventos, permite encontrar rumos em mapas, desde que tanto o mapa quanto a bssola estejam com a direo norte apon- tada corretamente. Assim, o usurio pode encontrar os outros pontos cardeais e os colaterais, orientan- do-se no espao geo- grfico. Nos mapas, caso a direo nor- te no esteja indi- cada, convencio- nou-se que est no topo. a bssola foi inventada peloschineses,masnose sabeaocertoquando.segun- doolivroBssola A inveno que mudou o mundo, de amir aczel, h registrosqueapontamparaosculoi,masmesmooschineses sautilizaramparanavegaobemmaistarde.nosculoXiii foiaperfeioadaporamaltanosepassouaserutilizadaem embarcaesvenezianas(antesdaunicaoitaliana,ocorrida em1871,amaleVenezaeramcidadesindependentes).apartir donaldosculoXV,abssolafoiinstrumentofundamental paraorientarosmarinheirosduranteasgrandesnavegaes. Com o avano tecnolgico, hoje em dia muito mais preciso se orientar pelo GPS. Mas se algum no dispe de uma bssola nem de um aparelho GPS, possvel se orientar de forma aproximada no espao? Sim, veja a indicao no texto a seguir: P Jacek/kino.com .br GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 17 3/5/13 8:29 AM
  19. 19. 18 fundamentosdecartografia Alm da orientao pelo Sol, como mostra o texto da pgina anterior, possvel orientar-se tambm pelas estrelas, como sugere a cano Oriente, de Gilberto Gil.noite,nohemisfriomeridional,possvelencon- trar a direo sul aproximada observando a constela- o do Cruzeiro do Sul (essa constelao est represen- tada em bandeiras nacionais de diversos pases meri- dionais,comooBrasil,aAustrliaePapua-NovaGuin). possvelencontraradireosulaproximadaprolongando4,5 vezesotamanhodobraomaiordaconstelaodocruzeirodo sule,apartirdesteponto,traandoumaperpendicularem direoaohorizonte,comosepodevernailustraoaolado. masissosvaleparaohemisfriomeridional,ondeocruzeiro dosulpodeserobservado.nohemisfrioboreal,paraencontrar adireonorteaproximadabastalocalizaraestrelaPolaris (tambmchamadadePolaroudonorte)eprojet-lanohori- zonte:scostasdoobservadorestarosul,direita,oleste,e esquerda,ooeste.essaestrelaencontra-senormamentonum pontosobreopolonorte,comosefosseumaextensodoeixoda terra,porissoaosnossosolhospermanecexanocu.aPolaris aestrelamaisbrilhantedaconstelaodeursamenorepode serfacilmenteobservada.Porsculosorientouosnavegadores nohemisfrionorte(elaspodeservistada),antesdainveno deinstrumentosquedispensamaobservaodocu. p horizonte ponto cardeal sul polo celeste sul prolongando 4,5 vezes brao m aior Constelao do Cruzeiro do Sul Norte Sul Leste Oeste Forma de orientao pelo Cruzeiro do Sul Adaptado de: CENTRO DE DIVULGAO DA ASTRONOMIA. Disponvel em: www.cdcc.sc.usp.br. Acesso em: 29 ago. 2012. FormatoComunicao/Arquivodaeditora Voc j percebeu que, quando uma pessoa est perdida em algum lugar, costuma-se dizer que ela est desnorteada(perdeuonorte)oudesorientada2 (perdeu o oriente)? Perceba que tanto o verbo orientar como o substantivo orientao derivam da palavra oriente. 2 Com o passar do tempo, essas expresses, alm da conotao geogrfica, ganharam tambm um sentido figurado de cunho psicolgico, como sinnimos de confuso mental, perplexidade. coordenadas As coordenadas nos auxiliam na localizao pre- cisa de elementos no espao geogrfico. Elas podem ser geogrficas ou alfanumricas. GeOGrficas O globo terrestre, como veremos nas figuras a se- guir, pode ser dividido por uma rede de linhas imagin- rias que permitem localizar qualquer ponto em sua su- perfcie.Essaslinhasdeterminamdoistiposdecoordena- das:alatitudeealongitude,queemconjuntosochama- das de coordenadas geogrficas. Num plano cartesia- no, como voc j deve ter aprendido ao estudar Matem- tica,alocalizaodeumpontodeterminadapelocruza- mento das coordenadas x e y; numa esfera, o processo semelhante, mas as coordenadas so medidas em graus. As coordenadas geogrficas funcionam como en- dereos de qualquer localidade do planeta. O equador corresponde ao crculo mximo da esfera, traado num planoperpendicularaoeixoterrestre,edeterminaadivi- so do globo em dois hemisfrios (do grego hemi, meta- de,esphaera,esfera):onorteeosul.Apartirdoequador, podemos traar crculos paralelos que, medida que se afastam para o norte ou para o sul, diminuem de dime- tro.Alatitudeadistnciaemgrausdessescrculos,cha- mados paralelos, em relao ao equador e varia de 0 a 90 tanto para norte (N) quanto para sul (S). Conhecer apenas a latitude de um ponto, porm, no suficiente para localiz-lo. Se procurarmos, por exemplo,umponto20aosuldoequador,encontraremos noapenasum,masinfinitospontossituadosaolongodo paralelo 20 S. Por isso necessria uma segunda coorde- nadaquenospermitalocalizarumdeterminadoponto. Para determinar a segunda coordenada, a lon- gitude, foram traadas linhas que cruzam os parale- los perpendicularmente. Essas linhas, que tambm GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 18 3/5/13 8:29 AM
  20. 20. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 19 cruzam o equador, so denominadas meridianos (do latim meridinus, de meio-dia, relativo ao meio- -dia). Observe na figura que os meridianos so se- micircunferncias que tm o mesmo tamanho e convergem para os polos. Como referncia, conven- cionou-se internacionalmente adotar como meri- diano 0 o que passa pelo Observatrio Astronmi- co de Greenwich, nas proximidades de Londres (Inglaterra), e o meridiano oposto, a 180, chama- do de antimeridiano. Esses meridianos dividem a Terra em dois hemisfrios: ocidental, a oeste de Greenwich, e oriental, a leste. Assim, os demais me- ridianos podem ser identificados por sua distncia, medida em graus, ao meridiano de Greenwich. Essa distncia a longitude e varia de 0 a 180 tanto para leste (E) quanto para oeste (W). Trpico de Cncer Trpico de Capricrnio Equador Crculo Polar rtico MeridianodeGreenwich 60 N 75 N Polo Norte Paralelos (latitudes) 45 S 45 N 30 N 15 N 0 15 S 30 S 60 N 45 S 45 N 30 N 15 N A grade de paralelos e meridianos (coordenadas geogrficas) 0 15 S 30 S 150W 135W 120W 105W 90W 75W 60W 45W 30W 15W 0 60W 45W 30W 15W 0 15E 30E 45E 60E 75E Meridianos (longitudes) Latitude 30 N Longitude 90 W As coordenadas geogrficas Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3rd ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 8. potrpicodecncereotrpicodecapricrniosolinhasimaginriassituadaslatitudeaproximadade23nede23s,respec- tivamente.oscrculospolarestambmsolinhasimaginriassituadaslatitudeaproximadade66nede66s.nagura,o crculopolarantrticonoapareceporcausadaposiodarepresentaodaterra. Se procurarmos, por exemplo, um ponto de coor- denadas 20 S e 44 W, ser fcil encontr-lo: estar no cruzamento do paralelo 20 S com o meridiano 44 W. Consultando um mapa, verificaremos que esse ponto est muito prximo do municpio de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Para localizar com exatido um ponto no territ- rio, indicam-se as medidas em graus, minutos e se- gundos. As coordenadas geogrficas do centro de Belo Horizonte, por exemplo, so 195515 S e 435616 W. aolado,omeridiano0traadonosjardinsdoobservatrio astronmicodegreenwich,situadonasproximidadesdelon- dres.nochohalongitudedediversascidades.novaYork, porexemplo,esta7350'Wapartirdegreenwich(0000'),e tquioa13945'e.osturistascostumamtirarfotoscomum pnohemisfrioocidentaleoutronohemisfriooriental, comopodemosobservarnafotode2012. p DanitaDelimont/GalloImages/GettyImagesAllmaps/Arquivodaeditora GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 19 3/5/13 8:29 AM
  21. 21. 20 fundamentosdecartografia alfanuMricas Podemos tambm utilizar as coordenadas al- fanumricas para localizarmos algo em um mapa ou em uma planta. Elas no so to precisas como as coordenadas geogrficas, mas auxiliam na localiza- o de elementos da paisagem, como uma rua, uma praa, um teatro, uma estao de trem ou de nibus, num guia de uma cidade. Se um turista quiser locali- zar algum desses elementos, basta consultar a lista dos principais pontos de interesse, que aparecem em guias tursticos acompanhados de sua respectiva coordenada, e localiz-los na planta turstica da ci- dade. Imagine que voc esse turista e quer visitar o Teatro Municipal, na Praa Ramos de Azevedo, em So Paulo, alm de outras atraes interessantes prximas dali. Veja suas coordenadas e localize-o na planta urbana a seguir. Planta turstica do centro de So Paulo (SP) Adaptado de: SO PAULO TURISMO S.A. (SPTURIS). Mapas: principais atraes. Disponvel em: www.spturis.com/download/arquivos/folder-mapas-v11.pdf. Acesso em: 22 ago. 2012. PRINCIPAIS ATRAES Reproduo/SEMPLA,SoPaulo,SP. m 0 180 GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 20 3/5/13 8:29 AM
  22. 22. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 21 moVimentosdaterraeestaesdoano RubensChaves/Acervodofotgrafo No se sabe exatamente quando o ser humano descobriu que a Terra esfrica. Os antigos gregos, ob- servando a sombra da Terra sobre a Lua durante os eclipses, j tinham certeza da esfericidade de nosso planeta. O desaparecimento progressivo das embar- caes que se distanciavam no horizonte do mar tam- bm fornecia argumentos aos defensores dessa ideia. Eratstenes (276 a.C.-194 a.C.), astrnomo e matemtico grego, foi o primeiro a calcular, h mais de 2 mil anos, com uma preciso impressionante, a circunferncia da Terra. A diferena entre a circunfe- rncia calculada por Eratstenes (40000 quilmetros) e a determinada hoje, com o auxlio de mtodos muito mais precisos (40 075 quilmetros, no equador), como se v, bem pequena. A esfericidade de nosso planeta responsvel pela existncia das diferentes zonas climticas (polares, temperadas e tropicais), porque os raios solares atingem a Terra com diferentes inclinaes e intensidades. Prxi- mo ao equador, os raios solares incidem perpendicular- mente sobre a superfcie terrestre, porm, quanto mais nosafastamosdessalinha,maisinclinadaessaincidn- cia.Consequentemente,amesmaquantidadedeenergia se distribui por uma rea cada vez maior, diminuindo, portanto, sua intensidade. Esse fato torna as temperatu- ras progressivamente mais baixas medida que nos aproximamos dos polos (observe a incidncia de raios solares na Terra no infogrfico das pginas 24 e 25). O eixo da Terra inclinado em relao ao plano de sua rbita ao redor do Sol (movimento de transla- o). Uma consequncia desse fato a ocorrncia das estaes do ano, conforme se pode verificar na ilus- trao sobre o movimento de translao e as estaes do ano, no infogrfico das pginas 24 e 25. ptrechodocentrohistricodacidadedesoPaulo(sP)emfotode2012.emprimeiroplanoapareceoviadutodoch,quecruza ovaledoanhangaba;aofundo,oteatromunicipale,suafrente,apraaramosdeazevedo.esseteatrofoiprojetadopelo arquitetobrasileiroramosdeazevedoemconjuntocomositalianosclaudiorossiedomizianorossi(suaconstruoteveincio em1903esuainauguraoocorreuem1911).omunicipalummarcoculturalnavidadacidade:abrigouasemanadearte modernade1922e,aolongodaHistria,importantesespetculosteatraisemusicais. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 21 3/5/13 8:29 AM
  23. 23. 22 fundamentosdecartografia msdefevereiro,s20horas, semhorriodevero. nessas duas imagens de satlite, pode-seobservarainsolaosobreo Brasilnomsdefevereiro,seme comhorriodevero. Fotos:TheLivingEarthInc./EarthImaging msdefevereiro,s20horas, comhorriodevero. p Em 21 ou 22 de dezembro (a data e a hora de in- cio das estaes varia de ano para ano, conforme mos- tra a tabela na pgina ao lado), o hemisfrio sul recebe os raios solares perpendicularmente ao trpico de Capricrnio; dizemos, ento, que est ocorrendo o solstcio de vero. O solstcio (do latim solstitium, Sol estacionrio) define o momento do ano em que os raios solares incidem perpendicularmente ao trpico de Capricrnio, dando incio ao vero no hemisfrio sul. Depois de incidir nessa posio, parecendo esta- cionar por um momento, o Sol inicia seu movimento em direo ao norte. Esse mesmo instante marca o solstcio de inverno no hemisfrio norte, onde os raios esto incidindo com inclinao mxima. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 22 3/5/13 8:29 AM
  24. 24. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 23 Seis meses mais tarde, em 20 ou 21 de junho, quando metade do movimento de translao j se completou, as posies se invertem: o trpico de Cncer passa a receber os raios solares perpendicu- larmente (solstcio), dando incio ao vero no hemis- frio norte e ao inverno no sul (observe a figura sobre a variao da insolao ao longo do ano no infogrfi- co das pginas 24 e 25). Em 20 ou 21 de maro e em 22 ou 23 de setem- bro, os raios solares incidem sobre a superfcie ter- restre perpendicularmente ao equador. Dizemos ento que esto ocorrendo os equincios (do latim aequinoctium, igualdade dos dias e das noites), ou seja, os hemisfrios esto iluminados por igual. Nesses momentos, iniciam-se, respectivamente, o outono e a primavera no hemisfrio sul, ocorrendo o inverso no hemisfrio norte. O dia e a hora do incio dos solstcios e dos equi- ncios mudam de ano para ano; consequentemente, a durao de cada estao tambm varia. Consulte na tabela as datas e os horrios dos solstcios e equin- cios no hemisfrio sul para os anos de 2013 a 2020. ESTAES do ANo Ano Equincio de outono Solstcio de inverno Equincio de primavera Solstcio de vero dia Hora dia Hora dia Hora dia Hora 2013 20 mar. 08:02 21 jun. 02:04 22 set. 17:44 21 dez. 15:11 2014 20 mar. 13:57 21 jun. 07:51 22 set. 23:29 21 dez. 21:03 2015 20 mar. 19:45 21 jun. 13:38 23 set. 05:20 22 dez. 02:48 2016 20 mar. 01:30 20 jun. 19:34 22 set. 11:21 21 dez. 08:44 2017 20 mar. 07:29 21 jun. 01:24 22 set. 17:02 21 dez. 14:28 2018 20 mar. 13:15 21 jun. 07:07 22 set. 22:54 21 dez. 20:22 2019 20 mar. 18:58 21 jun. 12:54 23 set. 04:50 22 dez. 02:19 2020 20 mar. 00:50 20 jun. 18:43 22 set. 10:31 21 dez. 08:02 INSTITUTO DE FSICA DA UFRGS. Astronomia e Astrofsica. Disponvel em: http://astro.if.ufrgs.br/sol/estacoes.htm. Acesso em: 7 ago. 2012. Os raios solares s incidem perpendicularmente em pontos localizados entre os trpicos (a chamada zona tropical), que, por isso, apresentam temperaturas maiselevadas.Naszonastemperadas(entreostrpicos e os crculos polares) e polares, o Sol nunca fica a pino, porque os raios sempre incidem obliquamente. Outra consequncia da inclinao do eixo terrestre, associada ao movimento de rotao da Terra, a de- sigualdurao do dia e da noite aolongodoano.Nos dois dias de equincio, quando os raios solares incidem perpendicularmente ao equador, o dia e a noite tm 12 horas de durao em todo o planeta, com exceo dos polos, que tm 24 horas de crepsculo. No dia de solstcio devero,ocorremodiamaislongoeanoitemaiscurtado ano no respectivo hemisfrio; j no solstcio de inverno, acontecemanoitemaislongaeodiamaiscurto.Observe a ilustrao e o grfico no infogrfico das pginas 24 e 25. Como possvel observar na ilustrao e no gr- fico sobre a variao da insolao ao longo do ano, no equador no h variao no fotoperodo, e a diferena aumenta medida que nos afastamos dele. Conforme aumenta a latitude, tanto para o norte como para o sul, os dias ficam mais longos no vero e as noites mais longas no inverno. A tabela a seguir mostra isso para o hemisfrio norte. Nas regies polares o dia, no vero, e a noite, no inverno, duram meses. Latitude Vero Inverno dia mais longo Noite mais curta Noite mais longa dia mais curto 25 N 13h42min 10h18min 13h25min 10h35min 40 N 15h02min 8h58min 14h40min 9h20min 60 N 18h53min 5h07min 18h08min 5h52min U.S. NAVY. The United States Naval Observatory (Usno). Comparative Length of Days and Nights. Disponvel em: www.usno.navy.mil/USNO/astronomical-applications/ astronomical-information-center/days-and-nights. Acesso em: 21 jan. 2010. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 23 3/5/13 8:29 AM
  25. 25. 24 FUNDAMENTOS DE CARTOGRAFIA INFOGRFICO AS ESTAES Durante o movimento de translao h dois solstcios e dois equincios que permitem dividir o ano em quatro estaes com caractersticas climticas diferentes e bem denidas nas zonas temperadas: primavera (primeiro vero), estao amena que antecede o vero (perodo mais quente), seguido pelo outono (perodo da colheita) e depois inverno (perodo de hibernao), associado ao frio. 20 OU 21 DE JUNHO SOLSTCIO INSOLAO DA TERRA A insolao a quantidade da energia emitida pelo Sol (radiao eletromagntica) que incide sobre a Terra, nos provendo de luz e calor. Atinge a superfcie terrestre de forma desigual, por causa da esfericidade do planeta, da inclinao de seu eixo, do movimento de rotao alternncia dia-noite e do movimento de translao alternncia das estaes. noite polar dia polar Hemisfrio norte incio do vero Hemisfrio sul incio do inverno 0 2330 6630 2330 6630 VARIAO DA INSOLAO AO LONGO DO ANO A inclinao do eixo da Terra em relao ao plano de sua rbita em torno do Sol determina, de um lado, dias mais longos e maior insolao no hemisfrio em que est ocorrendo o vero e, de outro, dias mais curtos e menor insolao no hemisfrio em que est ocorrendo o inverno. INCIDNCIA DA RADIAO SOLAR NA TERRA Devido esfericidade do planeta, uma mesma quantidade de energia solar incide sobre reas de tamanhos diferentes nas proximidades do Equador e dos polos. medida que aumenta a latitude e, portanto, a inclinao dos raios solares em relao superfcie terrestre, a rea de incidncia vai se ampliando. No esquema abaixo, pode-se observar esse fenmeno. Incidncia solar no solstcio de dezembro Trpico de Cncer Crculo Polar rtico Crculo Polar Antrtico Trpico de Capricrnio noite e dia com mesma durao noite longa dia curto noite curta dia longo Equador GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 24 25/03/2013 11:29
  26. 26. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 25 Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 25 Ilustraes:MarcusPenna/Arquivodaeditora 20 OU 21 DE MARO EQUINCIO 22 OU 23 DE SETEMBRO EQUINCIO 21 OU 22 DE DEZEMBRO SOLSTCIO noite polar dia polar Hemisfrio norte incio do inverno Hemisfrio norte incio da primavera Hemisfrio norte incio do outono Hemisfrio sul incio do vero Hemisfrio sul incio do outono 0 0 0 2330 2330 2330 6630 6630 6630 2330 2330 2330 6630 6630 6630 Hemisfrio sul incio da primavera Adaptado de: OXFORD Atlas of the World. 18th ed. New York: Oxford University Press, 2011. p. 72. Ilustrao esquemtica, sem escala. Ilustraes: Marcus Penna/Arquivo da editora noite e dia com mesma durao noite e dia com mesma durao noite e dia com mesma durao noite e dia com mesma durao noite e dia com mesma durao noite e dia com mesma durao noite e dia com mesma duraodia longo noite curta dia curto noite longa SoL: NASCENTE E PoENTE A durao do dia e da noite varia muito dependendo da estao e da latitude. Por exemplo, o primeiro grco mostra que em 21 ou 22 de dezembro (solstcio de vero no hemisfrio sul) o Sol nasce por volta de 5h15min na latitude 20 S (regies Sudeste e Centro-Oeste do Brasil) e em torno de 2h30min na latitude 60 S (quase na Antrtida). O segundo grco mostra que, nestas mesmas latitudes, o Sol se pe, aproximadamente, s 18h30min e s 21h15min, respectivamente. Adaptadode:OXFORDAtlasoftheWorld.18th ed.NewYork:OxfordUniversityPress,2011.p.72. Equincio(primavera) Horas J 9 8 7 6 5 4 3 2 F M A M J J A S O N D Equincio (outono)Nascer do sol Latitude 20 N 20 S 60 S 60 N 0 (Equador) Meses do ano Equincio (primavera) Horas J 21 20 19 18 17 16 15 14 F M A M J J A S O N D Equincio (outono)Pr do sol Latitude 20 S 20 N 60 N 60 S 0 (Equador) Meses do ano GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 25 3/5/13 8:30 AM
  27. 27. 26 fundamentosdecartografia fusosHorrios Por causa do movimento de rotao da Terra, em um mesmo momento, dife- rentes pontos longitudinais da superfcie do planeta tm horrios diversos. Para adotar um sistema interna- cional de marcao do tempo foram criados os fusos horrios. Dividindo-se os 360 graus da esfera terrestre pelas 24 horas de durao aproximada do movi- mento de rotao3 , resultam 15 graus. Portanto, a cada 15 graus que a Terra gira, passa-se uma hora, e cada uma dessas 24 divises recebe o nome de fuso horrio. Observe a figura. Em 1884, 25 pases se reuniram na Conferncia Internacional do Meridia- no, realizada em Washington, capital dos Estados Unidos. Nesse encontro fi- cou decidido que as regies situadas num mesmo fuso adotariam o mesmo horrio. Foi tambm acordado pela maioria dos delegados dos pases parti- cipantes (a Repblica Dominicana vo- tou contra, a Frana e o Brasil se absti- veram) que o meridiano de Greenwich seria a linha de referncia para definir as longitudes e acertar os relgios em todo o planeta. Para estabelecer os fusos horrios, definiu-se o seguinte procedimento: o fuso de referncia se esten- de de 730 para leste a 730 para oeste do meridiano de Greenwich, o que totaliza uma faixa de 15 graus. Portanto, a longitude na qual termina o fuso seguin- te a leste 2230 E (e, para o fuso correspondente a oeste, 2230 W). Somando continuamente 15 a es- sas longitudes, obteremos os limites tericos dos demais fusos do planeta. As horas mudam, uma a uma, medida que passamos de um fuso a outro. No entanto, como as linhas que os delimitam atravessam vrias unidades poltico-administrativas, os pases fizeram adapta- es estabelecendo, assim, os limites prticos dos fusos, na tentativa de manter, na medida do possvel, um horrio unificado num determinado territrio. No caso dos fusos tericos, bastaria, para se determi- nar a diferena de horrio entre duas localidades, saber a distncia leste-oeste entre elas, em graus, e dividi-la por 15 (medida de cada fuso). Porm, com a OCEAN O NDIC O OCEAN O PACFI C O Linha Internacional de Mudana de Data Adaptado de: NATIONAL Geographic Student Atlas of the World. 3rd . ed. Washington, D.C.: National Geographic Society, 2009. p. 13. Ilustrao esquemtica sem escala. Movimento de rotao, datas e fusos horrios penquantonamaiorpartedoBrasilso9horasdanoitedosbado,noJapo, dooutroladodoglobo,so9horasdamanhdodomingo.oplanetatem, simultaneamente,duasdatas,quemudamemdoispontos:nofusoemque formeia-noiteenofusoopostoaomeridianodegreenwich,pontopeloqual passaalinhainternacionaldemudanadedata. CassianoRda/Arquivodaeditora 3 Uma volta completa da Terra em torno de seu eixo dura 23 horas, 56 minutos e 4 segundos. adoo dos limites prticos, em alguns locais os fu- sos podem medir mais ou menos que os tradicionais 15. Observe o mapa da pgina ao lado. O mapa-mndi de fusos mostra que as horas aumentam para leste e diminuem para oeste, a par- tir de qualquer referencial adotado. Isso ocorre por- que a Terra gira de oeste para leste. Como o Sol nas- ce a leste, medida que nos deslocamos nessa dire- o, estamos indo para um local onde o Sol nasce antes; portanto nesse lugar as horas esto adianta- das em relao ao local de onde partimos. Quando nos deslocamos para oeste, entretanto, estamos nos dirigindo a um local onde o Sol nasce mais tar- de; logo, nesse lugar as horas esto atrasadas em relao ao nosso ponto de partida. Alm da mudana das horas, tornou-se neces- srio definir tambm um meridiano para a mudana da data no mundo. Na Conferncia de 1884 ficou es- tabelecido que o meridiano 180, conhecido como antimeridiano porque est exatamente no extremo oposto a Greenwich, seria a Linha Internacional de Mudana de Data (ou simplesmente Linha de Data). GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 26 3/5/13 8:30 AM
  28. 28. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 27 pParaevitarostranstornosprovocadospeladiferenadehorrioemregiesmuitopovoadase/ouintegradaseconomicamente, vriospasesoptarampelosfusosprticos,adaptaesquefazemcomqueoslimitesdosfusoscoincidamcomlimitesadmi- nistrativos.achina,porexemplo,apesardesercortadaportrsfusostericos,adotouapenasumhorrio(+8h)paraopas inteiro.algunspoucospasesutilizamumhorriointermedirio,comoandia,queadotaumfusode+5h30minemrelaoa greenwich,eaVenezuela,queadotouem2008umfusode4h30min. Adaptadode:OXFORDAtlasoftheWorld.18th ed.NewYork:OxfordUniversityPress,2011.p.73. km 0 2470 Aores Is. Falkland (Malvinas) Cabo Verde Is. Galpagos Is. Madeira Is. Canrias Is. Maldivas Is. Fiji Is. Hava Is. Aleutas Is. Tonga Is. Pitcairn Nova York OttawaVancouver Los Angeles Washington Cidade de Mxico Bogot Lima Braslia So Paulo Buenos Aires Cidade do Cabo Maputo Luanda NiameiDacar Madri Paris Bucareste Trpoli Cairo Argel Londres Reykjavik Berlim Moscou Astana Pequim Teer Riad Nova Dlhi Adis Abeba Nairbi Tquio Hong Kong Manila Jacarta Seul Melbourne Sydney -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5 +6 +7 +8 +9 +10 +11 +12 Horrio fracionado em meia hora Linha Internacional de Mudana de Data Crculo Polar rtico Crculo Polar Antrtico 0 6060 120120 180180 Trpico de Capricrnio MeridianodeGreenwich(GMT) Trpico de Cncer Equador 0 30 30 60 90 60 90 segunda- -feira domingo Fusos horrios prticosAllmaps/Arquivodaeditora O fuso horrio que tem essa linha como meridiano central tem uma nica hora, como todos os outros, entretanto em dois dias diferentes. A metade situada a oeste desta linha estar sempre um dia adiante em relao metade a leste. Com isso, ao se atravessar a Linha de Data indo de leste para oeste necessrio aumentar um dia. Por exemplo, numa hipottica viagem de So Paulo (Brasil) para Tquio (Japo) via Los Angeles (Estados Unidos), um avio partiu s 19 horas de um domingo e entrou no fuso horrio da Linha de Data s 10 horas desse mesmo dia; imediatamente aps cruzar essa linha, ainda no mesmo fuso, continuaro sendo 10 horas, mas do dia seguinte, uma segunda- -feira (identifique essa rota no mapa acima). Ao con- trrio, a viagem de volta ser de oeste para leste e quando o avio cruzar a Linha de Data deve-se dimi- nuir um dia. Esse exemplo pode causar certa estra- nheza: estamos acostumados a observar, no planis- frio centrado em Greenwich, o Japo situado a leste, mas como o planeta esfrico, podemos ir a esse pas voando para oeste. Como observamos no mapa de fusos horrios, a partir do meridiano de Greenwich, as horas vo aumen- tando para leste e diminuindo para oeste. Entretanto, diversamente do que muitas vezes se pensa, ao atraves- sar a Linha de Data indo para leste deve-se diminuir um dia e, ao contrrio, para oeste, aumentar um dia. E por que isso ocorre? Leia na pgina 28 o trecho do livro A volta ao mundo em 80 dias, romance ficcional doescritorfrancsJlioVernelanadoem1873,eobser- ve novamente o mapa de fusos horrios acima. Em 2 de outubro de 1872, Phileas Fogg, protagonista da histria, apostou com seus amigos que faria uma viagem ao re- dor do mundo em 80 dias e retornaria ao Reform Club, em Londres, at s 8h45 da noite de 21 de dezembro. Como se pode observar no mapa acima, assim como os meridianos que definem os fusos horrios ci- vis, a Linha Internacional de Mudana de Data tam- bm adota limites prticos, caso contrrio alguns pa- ses-arquiplago do Pacfico, como Kiribati, teriam dois dias diferentes em seus territrios. Observe tambm que na metade do fuso localizada a leste da Linha In- ternacional de Mudana de Data domingo e na me- tade a oeste, segunda-feira. Perceba que a referncia aqui considerada foi a Linha de Data, assim a metade do fuso situada a leste dela est a oeste em relao a Greenwich (portanto, no hemisfrio ocidental) e a ou- tra metade, situada a oeste dela, est a leste do meri- diano principal (no hemisfrio oriental). Lembre-se: a definio dos pontos cardeais (e colaterais) depende sempre de um referencial. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 27 3/5/13 8:30 AM
  29. 29. 28 FundamentosdecartograFia Em que fca provado que Phileas Fogg nada ganhou fazendo a volta ao mundo, a no ser a felicidade [...] Orelgiomarcavaoitohorasequarentaecinco,quandoapare- ceu no grande salo. Phileas Fogg tinha completado a volta ao mundo em oitenta dias!... Phileas Fogg tinha ganhado sua aposta de vinte mil libras! E agora, como que um homem to exato, to meticuloso, tinha podidocometeresteerrodedia?Comoseacreditavanosbadonoite, 21dedezembro,aodesembarcaremLondres,quandoestavanasexta, 20dedezembro,setentaenovediassomenteapssuapartida? Eis a razo deste erro. Bem simples. Phileas Fogg tinha, sem dvida, ganhado um dia sobre seu itinerrio e isto unicamente porque tinha feito a volta ao mundo indoparaleste,eteria,pelocontrrio,perdidoestediaindoemsenti- do inverso, ou seja para oeste. Comefeito,andandoparaoleste,PhileasFoggiafrentedoSol, e, por conseguinte os dias diminuam para ele tantas vezes quatro minutos quanto os graus que percorria naquela direo. Ora, temos trezentos e sessenta graus na circunferncia terrestre, e estes tre- zentos e sessenta graus, multiplicados por quatro minutos, do pre- cisamente vinte e quatro horas isto , o dia inconscientemente ganho. Em outros termos, enquanto Phileas Fogg, andando para leste,viuoSolpassaroitentavezespelomeridiano,seuscolegasque tinhamficadoemLondressovirampassarsetentaenovevezes.Eis porque, naquele dia, que era sbado e no domingo, como supunha Mr. Fogg, eles o esperaram no salo do Reform Club. VERNE, Jlio. Avoltaaomundoem80dias. Domnio pblico. p. 760-762. Disponvel em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000439.pdf. Acesso em: 8 ago. 2012. Fusos horrios brasilEiros O Brasil, por ter uma grande extenso territorial na direo leste-oeste (344730 W a 735932 W), de 1913 a 2008 dispunha de quatro fusos horrios, e, ape- sar da adoo do fuso horrio pr- tico, dois estados brasileiros Par e Amazonas permanece- ram cortados ao meio. Em 24 de abril de 2008 foi aprovada uma nova legislao (Lei11 662) que eliminou o antigo fuso de 5 horas em relao a Greenwich e reduziu a quantidade de fusos horrios brasileiros para trs. O extremo-oeste do Amazo- nas e todo o estado do Acre, que antes estavam no fuso 5, foram incorporados ao fuso 4 horas. O estado do Par deixou de ter dois fusos horrios e seu territrio pas- sou a ficar inteiramente no fuso 3horas em relao a Greenwich. Observe o mapa. Compare o mapa de fusos horrios com o que mostra os es- tados brasileiros em que vigora o horrio de vero (na pgina 31) e perceba que, durante sua vigncia, a hora oficial do pas se iguala ao horrio do nosso primeiro fuso e que o horrio dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que esto no terceiro fuso, iguala-se ao horrio do Par e dos estados da re- gio Nordeste, localizados no segundo fuso. km 0 535 OCEANO ATLNTICOOCEANO PACFICO Equador 55 O 0 Arquiplago de So Pedro e So Paulo Arquiplago de Fernando de Noronha Ilhas de Trindade e Martim Vaz Boa Vista Manaus Porto Velho Rio Branco Belm Macap So Lus Fortaleza Teresina Cuiab Campo Grande Natal Joo Pessoa Recife Macei Aracaju Salvador Vitria Rio de JaneiroSo Paulo Curitiba Florianpolis Porto Alegre Belo Horizonte Goinia Braslia Palmas Trpico de Capricrnio RR AM RO AC PA AP PI CEMA TO GO BA MG ES RJ RN PB PE SE AL SP PR SC RS MS MT DF 5 horas 4 horas 3 horas 2 horas Fusos horrios prticos (referncia: UTC*) 4 horas 3 horas 2 horas Fusos horrios tericos Brasil: fusos horrios Adaptado de: IBGE. Atlas geogrfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro, 2009. p. 91. p notequeagorashdoisfusosnoterritriocontinental:3hemrelaoagreenwich (ohorriodeBraslia,aHoraofcialdoBrasil)e4h;ofuso2hexclusivodeilhas ocenicas,comoFernandodenoronha.ParaacertarorelgiodeacordocomaHora LegalBrasileira,medidapelorelgioatmicodecsiodoobservatrionacional, acesseositedainstituio(vejaindicaonaseoPesquisa na internet). Allmaps/Arquivodaeditora CaPtulo XXXVii * Sigla em ingls para Tempo Universal Coordenado, que definido com base em relgios atmicos muito precisos. GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 28 6/21/14 8:53 AM
  30. 30. Planetaterra:coordenadas,moVimentosefusosHorrios 29 Esse fato, alm de exigir cuidados com o pla- nejamento de viagens e horrios diferenciados para o funcionamento dos bancos, faz com que, em mui- tos estados brasileiros, os programas de televiso transmitidos ao vivo do Sudeste sejam recebidos num horrio mais cedo em outras regies. Por exemplo, um telejornal produzido e exibido em So Paulo ou Rio de Janeiro s 20h locais (Hora Oficial) visto no Amazonas s 19h. Quando vigora o hor- rio de vero no fuso de Braslia, o programa visto s 18h, quando a maioria das pessoas ainda est voltando do trabalho. HorriodeVero A origem do horrio de vero data do incio do sculo XX. No Brasil, foi adotado pela primeira vez em 1931. Tinha como objetivo economizar energia, mas no foi adotado permanentemente desde en- to. S a partir de 1985 vem sendo implantado to- dos os anos. Com a publicao do Decreto 6 558, de 8 de setembro de 2008, o horrio de vero passou a ter carter permanente: adotado em parte do ter- ritrio brasileiro (veja o mapa da pgina 31) entre zero hora do terceiro domingo de outubro e zero hora do terceiro domingo de fevereiro do ano se- guinte. Nesse perodo, nos estados em que for im- plantado, os relgios so adiantados em 1h em rela- o Hora Legal Brasileira. Princpio bsico Durante parte do ano, nos meses de vero, o Sol nasce antes queamaioriadaspessoastenhaselevantado.Seosrelgiosforem adiantados, a luz do dia ser melhor aproveitada pois a maioria da populaopassaraacordar,trabalhar,estudar,etc.,emconsonn- cia com a luz do Sol. O comeo As origens do Horrio de Vero remontam ao ano de 1907, quandoWilliamWillett,umconstrutorbritnicoemembrodaSocie- dadeAstronmicaReal,deuincioaumacampanhaparaadoodo horrio de vero naquele pas. Naquelesdiasoargumentoutilizadoeraquehaveriamaistempo paraolazer,menorcriminalidadeereduonoconsumodeluzartifi- cial.Surgiramopositoresdetodasasreas:fazendeiros,paispreocu- padoscomascrianasqueteriamqueacordarmaiscedo,etc.Willett no viveu o suficiente para ver a sua ideia ser colocada em prtica. O primeiro pas a adot-la foi a Alemanha em 1916, no que foi seguida por diversos pases da Europa, devido Primeira Guerra Mundial. A economia de energia eltrica foi vista como um esforo de guerra, propiciando uma economia de carvo, a principal fonte de energia da poca. OBSERVATRIO NACIONAL. DivisoServiodaHora.Histricodohorrio devero. Disponvel em: http://pcdsh01.on.br. Acesso em: 8 ago. 2012. hisTricO dO hOrriO de VerO poinciodohorriodeverodivulgadoemdiversosmeiosdecomunicao.acima,ojornalO Estado de S. Paulo,de 20deoutubrode2012(sbado),informaquemeia-noitedaqueledia(ouzerohoradodia21,domingo)comeavao horriodevero,queseestendeuatzerohorade17defevereirode2013. Reproduo/OEstadodeS.Paulo/AgnciaEstado GGB_v1_PNLD2015_014a034_U1C01.indd 29 3/5/13 8:30 AM